Imortalidade Da Alma - Samuel Da Silva
Imortalidade Da Alma - Samuel Da Silva
Imortalidade Da Alma - Samuel Da Silva
C*V
rrá
y!t-G ò & ¿fi} c fr f
pJ'dfyC rí ¿C co
D A i
Immortalidade:
D atlm a ^
\
Ao benigno Leitor. y
lofos de fe u bem que lhe pedirão 3 o am oeflaraõ hu ã
3 muy tas vezes tornafte ao caminho que deuia muy-
tos efcritos, de homés fabios lho moflrauam, muyto f e
trabalhou por nao chegar a rigor , nao baftou nada,
3 ynda a/fi f e procedeu com toda a brandura a que
ofeo cafo deu lugar confentindo que ficajfe na terra
por ver f e tornaua em contriçam 3 emendado feus
erros : mas em lugar dijfo v i eu 3 . v ir ao outras pef-
foasd os nojfos efcritos d efu am ao de tantos efú n d a
los 3 infolencias que com rezao pudéramos rafgar as
veftiduras como fa z ia o 3 deuem fa z e r os bosyudeus
quando ouuem blaffem ar o nome d ofn or pois quando
menos dis que todo T fraelfaz culto eftranho, o qual
elle dezeja deftruir, como deftruyo, Guiddon a ara de
Bahai-, 3 a ifo ajunta o que era proprio de quem tal
di/fe que he nao ter temor de Deus nem ter alma, que
tanto monta como nam neuer pois dis que a alma do
homem he mortal 3 corruptiuel, 3 que acaba ju n ta-
com o corpo ajji como as almas dos caualos 3
dos mulos em quem nao ha entendimento. Beft tal, 3
in ju rioft opinião, que nos obriga-aprouar a im m or-
talidade da a lm a , yndaque nos parece impvffiueLq¿!$
efte m al fe pegue a nenhum verdadeiro yudeu ; toda
v ia per que ajfi como ouue hum poder a auer outros
que f e deixem leuar por ignorancia, ou foberba como
fe z efte, moftraremos prim eiro a verdade, 3 defpots
refutaremos as faifas rezots em contrario: 3 tu am i
no 3 bem zelozo leitor conftdcrddotudo com teu bem,
3 deftiiter»ftadojnyzo abracándote fo ccm a verdade
A 3 3 ley
6 Ao benigno Leitor.
& leyfau ta dof n o r dame credito no que agora digo,
que para tomar eñ e trabalho entre as mais caufas me
moueu & moue muy to o dez.ejo de tornar ao grem io
e ñ a ouelha defgarrada & perdida em cuja reñ au -
rapao tepeço que de tua parte te empregues & ajudei
com todas tuas fo rça s ajji Deus tas de & con
f e r ne muy tos annos para as empre
g ar em feu feru iço .
D A
Immortalidade.
D A A L M A .
C a p . I.
Da criaçao do homem ifj defuas
perfeicoins.
M principio criou
Deus os ceos Sc a terra,Sc
tudo o que ha nelles,& na
criaçacn dos ceos tem os
que lè incluye a criaçam
dos a n jo s, de modo que
toda a machina do que
vem ose nam vemos con
fía de tres mundos angélico, celefte, & terre
no; Sc aílí vemos que o Señor bcm dito elle he
chamado formador, ou fortaleza de mundos
cm y efah . cap. 2.6 . & iftoqueriaófignilicaros
Seraphim que viu o mefmo propheta cap. 6 .
que de continuo louuauaõfeu criad or Sc di-
ziaõ :San to Santo Santo,com o dizer Santo em
todos os tres mundos,&: Iouuado Sc iantifàcado
em todos elles ;& que rendo o ScfiorDeus nof-
/ A 4 f o li-
8 Tratado Ja
fo ligar eftes mundos entre íi fazendo que en
tre elles ouucíTe com m uniçaõ porque fem ella
nao fe podia efte mundo ca de baxo conferuar
com o dille o philofopho, & efta communiçaõ
era taó diíHcil com o feria ajuntar os ceos com a
terra , vfou Deus de hum meyo excelente cri
ando o hom em ,& dandolhe 1er & virtudes que
o fizeíTem com o vinculo & ligameda terra com
os ceos nao corporalm ente que iífo repugna ef-
tar hum corpo no mefmo tem po em diuerias
partes, mas com o efp irito q u e no homem he
taó angelico & d iu in o , que com o dis Pindaro
con tem p lao q u e e ftà fo b reos ceo s, & o q u e fe
efconde dcbaxo da terra : he ta ó fo til que no
mefmo ponto paila por todas as partes do mun
do terrefte, fobe ao celeftial difcorrendopor
todas as fpheras, penetra polo angelico ate
chegar a mais alta H yerarch ia, dos a n jo s & o
que mais he naó para ate chegar a primeira
ca u fa :& com o conuinha que efta foberana cri
atura eftando na terra tiueífe trato no ce o , era
necelTarioqueconftalTe de duas partes taó d if-
tantes com o terra & c e o , & allí feguiu que
quanto ao corpo foi tomado da terra,& quanto
a alma foi mais que do ceo , pois procedeu im -
mediatam éte do mefmo Deus com o dis o ver-
fo G enef. c . 2 . y crio A. D io al hombre poluo
de la tierra, y foplo en fu naris alma de uidas5&
por fer efta obra taó iníigne & lingular auenta-
Immortalidade. 9
jada de todas as mais da criaçaõ naó fomente
a guardou D eus para o cabo de tudo m oftran-
tio que ella era o remate & fim por cujo refpei-
to le fazia tu d o , mas chegando D eu safazela
vía d eeftilo 8c termos diferentes, porque fen
do tudo a tras dizer & fazer por outrem & 1er
logo obedecido, aqui muda lingoagcm & dis:
façamos o homem, com o chamando as criatu
ras para denotar que fe em Deus coubera to
mar confelho & ajuda a obra era tal que o me
recia , mas com o elle naó ha mifter ajuda nem
confelho , a duuida qu eja alguñs fizeraó enga
nados da palaura façamos crendo que ha muy-
tos Deuzes, logo no verfo feguinte G e n .i . Se
' confunde 8c desfaz dizendo : y crio el D io al
hom bre. E ía y u a o b ra c o m o das maós de tal
artifice, quanto ao corpo com tanta ventagem
com o vemos nas figuras nas cores & nos m em -
v "^>ros:quanto a alma infpirada por bocado mefi-
mo D e u s, 8c de feu proprio bafo : quanto as
perfeiçoins recupilaçaõ & refumo de todas as
que ha em todos os mundos, por cujo refpeito
com rezaóo homem he chamado piqueno mü-
L do, porque nellc fe acha o fer com os elemen-
j l x . to s, a com poíiçaó & tem peram ento com os
I miftos, a faculdade vegetatiua com as plantas,
* a virtude fenfitiua 8c motiua com os brutos, &
enfim a alma intelediua com que affemelha aos
a anjos. Efta he a que dà ao homem o fer de ho-
J " A 5 m e m ,,
IO Tratado da
mem , & efta he a que o faz diferente dos bru
to s ; efta he a que prouaremos 1er im m o rtal,&
incorruptiuel, efta finalmente a que fez fubir o
hoincm em tanto grao, que por elle dis o pfal-
m ífta: y menguaftelo poco de angeles. P f. 8.
Cap. 1 1 .
Das opinioins acerca da alma entre os
Cap. I I I .
Em quefe refutao as opinioins aßima
iff fe poem anverdadeira.
C ap . I V .
h C ap. V .
I Em que fe proua a imortalidade da al
mapor parte da ■vontade.
I s A V ontade por fer propinqua ao enten
dim ento he chamada dos philoíbphos
Ä apetite intele&ual, & com rezaõ por
que nam ha querer fem en ten d er, &
tanto que o entendimento conhece a coufa por
boa, logo a vontade a fegue & procura auer, &
' alcançar ¡ Sc aííi na vontade cabem Sc militatn
as melmas rezoins que no entendim ento,& yn-
da mais claram ente; porque nomeadas as cou
fas boas em geral & feparadas, com o a bem a-
uenturança, afabiduria, a honra todos as de-
zejaõ, Sc as feguem com a vontade, por que e f-
~ " fas coufas aíli coníideradas pertençem à parte
efpiritual; mas quando vem a tratarfe do parti
cular entrando as circumftancias & o s meyos
i para alcançar, en traóos apetites corporais ar-
J remeçandoífe a qui & allí Sc desbaratando o
! dezejo efpiritual : logo he forçado que tenha-
^ * m o s a vontade por independete do corpo,pois
V v eïTi procura a virrude & fedefuela pola alcan-
! çár& p o lT u ir, & de tal maneira viue carregada
j ^ de tudo o corporal que parece dezeja verleli-
ure do corpo vzando Sc fazendo muytas coufas
j B 2 que
1
20 Tratado da
que o deftruem & desberatam : por ccrto que
mal pode ter nada de corporal a vontade que
affi deípreza 8c engeita tudo o do mundo fo
por fe pegar com Deus : & bem fe moftra efta
verdade nos apetites do corpo que fendo elles
tam beftiais, com tudo vemos as almas que yn-
da aííi apegadas nos corpos & com o prezas Cc
catiuas nelles trabalham por viuer com o liures
& y z e n ta sd e lIe sa m o d o d e a n jo s. Bem cegó
efta logo 8c bem furdo quetn vendo & ouuindo
ifto nam reconhece em li mefmo húa alma in
dependente do corpo aííi por parte do enten
dimento com o por parte da vontade. E quan
do ynda aííi fe nam dobre hum obftinado 8c in-
durecidocoraçam que dira aos con flan tes, 8c
valeroíos feruos de Deus que por fantificar feu
nom e fanto entregam a propria vida 8c a de
feus filhos a fogo 8c ferro? dira que fazem mal?
8c toda via Abraham em facrificar feu filho Y f .
h ak, & o filho em obedecer fizeram bem. E fe
nada bafta com efte pedernal gelado 8c duro,
jaque dis profeílâ fer yudeu, íe inim igos o fo r-
çaííem a ydolatrarque faria ? fe efta firme em
fua erro nea ? nam duuidara ydolatrar, 8c fe o
ía z , digame paraque quer 1er yudeu : 8c fe t o - y f
d aviafe deixa matar por honra de Dcus
ley , onde efta entam o premio de obra trnn
m eritoria? oh defcngancífe ja o mifcraucl &
infelice bicho da terra tam ignorante que por "
purav
^ — *
Immortalidade. ii
pura foberba nega a ventagem com que Deus
o apartou d a sb e fta sío p o rfe apartar de todo
Ylrael : faiba que quem nega a immortalidade
'a alma eftá muyto pertod e negar o mefmo
Deus, porq; quem nada tem e nem efpera d’ou-
fti^vida nam tem tem or de D e u s, & onde efte
falta nam ha conhecim ento de D e u s , porque
o tem or de Dcus he a porta daíabiduria &
conhecim ento de Deus . Hora nos coftumes,
nos pcnlam etitos, ñas obras , que vicios , que
infolencias, que maldades Se foberbas nam fe
acharam em quem cuda que defpois de morrer
nam ha de alcançar nem poíTuir mais do que
tinha antes de nacer? enfim fe as almas acabam
com os corpos viua Se triumphe Epycuro co
mo diífe hum antigo curiofo, que com eftes vi
llas & triumphos acabara feus triftes d ia s , qué
-cheg ou a tam infelice eftado que compara fua
L e p rc fa , Se immunda alma com a alma de búa
fapofa, Se de hum cachorro.
ii T r a ta d o da
Cap. V I .
Em quefe iluflra a mefmaproua por
pan e dajufliça divina.
Cap. V I I .
Em quepor pajjos da eferitura fe confirma
de todo efta verdade.
C ap . V I I I .
Da faifa definição da alma do homem íéf
ignorancia do author della.
E N D O noticia que o contrariador
C a p .I X .
One a alma do homem naoprocede da mor
reria como a dos brutos 13 repoßa do
argumento en contrario.
C 3 C ap.
CAP. X. °
Q u e D eus introdus as alm as nos
corpos hum anos por m o d o a nos
o c c u lt o ..
I Z elle. O sq u ed iz en q u ea sa lm a sjlid
CAT.
ïmmortalidade. 41
CAP. XI.
Cap. X I I .
Confirmaffe a verdade do mundo vindou
ro refutando mais as faifas rejoins
cm contrario.
is mais, fcgundo f e prona porque dijfe D e tu
D ao borne:no dia que comeres della morrer mor
reras, logo o homem foy criado mortal, S3 fogeito a
morrer ; doutra maniera f e fu a condicam fo ra im «
mortal ejfa immortalidade omiera de ter no corpo ti
ni mado espirituado com o espirito que Dcus lhe in
spirou, mas nao deuia morrer : outroß lhe di f e Deus
po tu & empo feras tornado, com que manifeßou ao
homemfeu fim , (3 lhe fe z fib e r que pesio que criatu
ra tam principalfeus dias teriam numero & fin , &
ao que dantesfoy a ifo mefmo tornaria.
A efcri--
4<S Tratado da
Aefcritura fagrada nos da be.m a entender
que o homem nam morrera fenam peccara nas
palauras que Deus lhe dis Gen. cap. 2 : de to
do árbol del huerto com er comeras , ß c de ár
bol del faber bien y mal n o 'comeras del, que en
dia de tu com er del morir morirás -, feguefe
logo polo fentido contrario que fe nam'Qome-
ra nam morrera : confirmaíle com a rezam do
m eím o verfo que d is:no dia que comeres mor
reras , Se elle viueu muytos annos ; he logo
çerto que a fentença foi ficar fogeito a morte
no diaque com eu, Sc defpois yr viuendo Sc en
fim morrendo contra o quedantes tinha por
natureza . E moftraífe mais efta verdade pois
ynda afsi pudera preièruarfe da m orte & tinha
no parayzo ter real remedio para iífo , Sc por
que o homem peccador Sc fentençiado a mor
rer nam efeapaífe da morte foi neçeífario de-
fterralo do parayzo com o dis Deus G en.cap. 3
y agoraquiça tendera fu m ano,y comera tam
bién del árbol de las vidas , yviuira parafiem-
pre : & ifto de poder viuer para fempre nada
encontra a boa rezam , porque fe o homem ti
ñera remedio para reftaurar tam bom húmido
radical & taó boa fubftancia com o perde cada
m om ento, eftiuera fempre num fer , Se nunca
m orrera, mas morre porque os mantimentos
com que cobra o que perdeu fempre tem algua
cou fade contrario com que enfraquece as vir
tudes
Im m ortalidade. 47
tudes corporais -, & fe Deus tinha dado & po-
fto naquclla aruore efta virtude de rcftaurar
igual fubftançia da que fe perdeu , & esforçar
as virtudçs corporais, quem duvidara que com
ella podia o homem conferuar a vida para fem
pre : mas deixando de parte tudo iífo , & dado
qpe o homem auia de morrer que tem que fa-
- zer iífo com a alma que por natureza he imor
tal ? & morrer nam he mais que apartarfe a al
ma do corpo & tornar cadahum a feu lugar -, Sc
por iífo dis Deps ao homem Gen. cap. 3 . que
poluo tu y a tu poluo tornaras. Q uem duvi
dara que chama po aquella patte que foi toma
da do po que he o corpo o quai efta em boa re
zad que torne ao que dantes f o i , com o torna
tudo o que natutalmente fe corrom p e. Mas
quem ju lg atao mal que dis que alli fe entende
tambem aim a, & que ella fe torna em pò, pri
meiro ouvera de provar que a aima foi dantes
pò,m as ella nunca foi nem podia fer pò, fenam
efpirito de Deus & fubftançia em tudo con
traria do co rp o , Sc afsi quando nam ouvera
mais rezam impolsivel era tornarfe a aima na-
cjuillo em que fe torna o co rp o , porque duas
iubftançias contrarias quando conçedeífem os
que ambas fe corrompem era forçado que fe
convertelTem em lubftançias contrarias & naó
ambas em húa mefma co u fa. He logo mani-
fefto diíparate dizer que a alm adohcm em a
caba,
•48 ' Tratado da
a Qglja, & fe comprehende no verfo : poluo tu ,
y a tu poluo tornaras, a que Selomoh muyto
antes acodiu dizendo K 0h elet.cap .1 2 . y el e s
pirito tornara al D io que lo dio: & noíTos labi
os tratando da alma diíTeraó.-tornala al D io co
mo te la dio a ti,a íãber tam limpa & taó pura.
Cap. X I I I .
Que ospadres conhecerão o mundo
"vindouro.
iz mais. Terceirof e prom porque os padre nao
D atentaram a outra v id a , nem trataram , dos
bes della comof e nota de fe a s palauras por que d.iz.en-
d o o fe n o r a jib r a h a m q u e fiu premio fe r ia muy to,
elleresfiondeu: fenor Deus que dar as a mi, & eu me
vou fem filhos y& eñ e criado de minha cafa fe r a meu
herdeiro como dizer : Señor eu n am fii em que ei de
auer eñ e premio grande, ou em que moeda me as de
pagar pois eu nam tenho filhos que fejam herdeiros
defies meus bem s, & f e A braham atendera a outra
vida deixara o premio grande para ella,03 nam tra
tara dos bems presentes ■deñes bems tratou T f h a f
na bençam com que bemdijfe a Tahacob, & fobre el
lesfe funda a L e j pondohos por premio dos bons:tam
bem Selomoh confiderando os males que na vida aco
teciam , 03 nam vendo outra milhor,julgou por mais
bemanenturado aquelleque nam naceo.
Defpois
immortaiidade. ' 4^
Efpois que Abraham vençeu, & deipojpu
os iînco reÿs de que conta a efcritura Geïi
c a p .i 4 .L og o n o cap .leg u in tefe moftra Deus
a Abraham , & lhe dis: no temas Abraham , yo
amparo a ti tu precio mucho mucho ; y dixo A -
braham. A. D io que daras a mi ? y yo ando íòlo
& c.q u e a letra pareçam ifto promeffas tem po
rais feitas em tempo que Abraham tinha caufas
de tem er inimigos poderofos Sc ofendidos; íe -
Vgundo iflb vendoffe Abraham fem filhos bem
aifenta o que refponde. A . D io que daras a mi?
& afsi no mefmo lugar a baxo prometendolhe
Deus a herança da terra reinonde: en que fabre
que la heredare ? D e modo que defte lugar íe
moftram bem promeiîàs temporais,vencimen
to de inimigos, pas, herança de terrav& Abra
ham refponde parte como quem nam auia m if-
ter tanto pois nam tinha herdeiros, parte como
quem fe achaua indino pedindo final. E o fenôr
querendo acodir a efta fraqueza & <|efconfian-
ça de Abraham lhe manda logo ftizer aquelle
m ifteriofoiàcrificioalli relatado, moftrando-
lhe em propheçia os muytos cafos que por dif-
curio de tempo auiam de acontecer a feus def-
cendentesem quenam aueria conto. Mas to
mando efte paifo polos bems efpirituais nada
en contra a repofta de Abraham dizendo. A .
D io que daras a mi? como d izer, fe eftou falro
de filhos que he o principal dos bems tem po-
D rais,
yo J. rataao a a
rais, como me prometes bems efpirítuais ? que
eftando eu falto de m erecim entos para os bés
menores donde me víraó para os mayores ? a- v
lem diíTo fabia bem Abraham que a bemauen-
turança para fer perfeita requere os bés efpiri
tuais para a alma no mundo vindouro, & d es
cendencia de filhos no mundo prezente com o
dizia o pfalmifta Pfal. 2 y. falando do jufto te -
m ente de Deus , Sc perguntando quem er£
efte jufto dis : fu alm aenb ienm an ira, y fu fe-
miente heredara tie rra . Bem refponde logo
Abraham nam duuidando da promefla fer efpi
ritu al, mas reprezentando leu eftado Se falta
paraque Deus lha fupriíTe & afsi lhe fizeífe a
bemauenturança cumprida Sc acabada como
fez . E deixadas as muytas provas que conucn-
cem & moftram claro que Abraham conhecia
& efperaua os bés da outra vida para que he
mais que o facrificio de Y shak? porque caula
o lacrificaua Abraham fe por premio diganos
qual ; porque vida ja elle efta cançado della,
velho defenganado do mundo com a experien
cia de tantas prouas, trabalhos & peregrina-
çois : bés do mundo tem muy tos mais do que
ha m ifter, & nenhum podia recompenfar a
morte daquelle filho : & le toda via diífermos
que Abraham teue algúm refpeito humano yn-
daque na verdade o nam teue nem podia ter :
que diremos a Yshak mancebo na flor de fua
ydade,
ydade, porque fe deixa m atar, íe por defobe-
a ecer a feu pai tem e que lhe pode vir algum
mal d efp ois, nenhum mal lhe pode vir que íe
compare a voluntaria m orte a que logo le en
trega : certo que grande defatino feria fe o naö
faz por alcançar o premio dos bés que Deus
tem guardado para os bós que affi o temem, &c
felb een treg aõ p o rfan tificarfeu fanto nome,
tjue eftaó prontos a dar p orelleapropriavid a,
& nefte caíb naó cabe replica a quem tiver al
gum juyzo de razam :& a que fe alega das ben-
çois que prometem fo bés temporais he falía
porque primeiro fe incluyem nellas os bés eí-
irituais ; & por iífo com eça a bençam de Y f-
E ak a Yahacob com húa conjuncam dizendo
G en. 27 : y de a ti el D io de rocío de los cie
los, & c . final çerto que primeiro lhe deu outra
bençam que fe aífi nam fora impropia feria a
conjuncam : quanto mais que a bençam pri
meira ficava expreífamente dita antes no verfo
afsima y bendixolo. E çerto he que qnando fe
poem a palaura de bençam abfolutamente íem
declarar que forte de bençam eífa contem os
bés efpirituais, porque a bençam dos bés tem
porais nam fe poem nunca abfolutam ente, fe-
nam nomeandoos & declarándoos hum por
bum : & conforme ifto dis o texto Gen. 2 6.
defpois da morte de Abraham : y bendixo el
D io aYshak fu hijo : «Se nao declara em que o
D 2 > ben*
bendilTe por fer bençaó de bés eíp iritu ais. E
quanto o que alega de Selomoh que vendo os
males deíta vida & naó conhecendo outra mil-
hor julgou por mais bem aventurado a quelle
que naó naçeo he totalm ente abfurdo & mal
entendido; pois outros muy tos lugares de Se
lomoh moftraó o contrario,m as naquelle lugar
do Koheleth introdus Selom oh hum Epycuro
mao homem & defpois que em leu nome tocá
muytos a co n tecim en to sfemelhantes aos dos
brutos em cujo numero com rezaó fe pode di
zer que eftam os epycuros conclue & dis que
efte tal milhor lhe fora nam naçer, pois que na
çeu para mal tratando fó do corpo,tem o fabio
que menos mal fora ficar em pura privaçam, &
nam perder a alma mas os que naçem para bem,
& ièrviço de feu criad o r, & procuram os bés
do corpo fomente p orvir a alcançar os da al
ma , o mefmo fabio lhe anuncia & promete
grandes bés do mundo vindouro dizendo no
K oheleth cap. 7 : m ejor dia de fu muerte mas
que dia de fu fer naçidojporqucnacendo ynda-
quegozedos bés temporais he com anguftias
& trabalhos nefte mundo , mas morrendo co
meça nova vida em que goze dos bés efpiritu-
ais no mundo vindouro , onde para osbem a-
venturados tudo he bem íem nenhüa miftura
de males como tera os bes defte mundo .
CAF »
ïm m ortalidade. jj
CAP. x ir .
Q u e as almas dos bem aventurados
g o za m da g lo ria d e D eus & o
lo u v a o .
Cap. X V .
Da impertinencia defte contrariador em
alguas respis que alega .
D I Z mais • Os que defendem fe r a al
ma do homem immortal coflumam re
f f onder a algus dosfundamentos que f u
femos furtañdo o corf o , ö “ dando cer-
ois, as quais afsi como fa m pouco ver
dadeira1
6o Tratado da
verdadeiras afftfe caem de fe u ? refpondempols' ao
texto,po tu & em pó feras tornado que alli falouD etu
com o corpo & nao com a alma . repoßa graciofa .
Deus falou como homem vivo & espirituado, & a
e ile tal fez.faber fu a condi pam , & lhe declarou que
fu a v id a teria termo (3 numero, & opo deixou no po
fe m mais lhe dar levantamento, o que era bem ne
cesario para poder efperar por ijfo . A d a m f e nam
levantou mais avendo tanto que dor me,nem f e levan
tara em quanto o mundo d u r a r, & ouver ceos , que
fe r a para fe m p r e . D a mefma m aneira respondem
aos textos corn que f e prova nam poderem os mortos
louvar a Deus a fa b er que o nam podem louvar cor
poralmente como que n i j f i f o[fe a dizer algiia coufa f e
elles efpiritualmente opudeffem fazer , pois milhor
louvaria o efpirito limpo & livre do corpo, do que
louvaria incorporado & metido nelle : 6? nam era
verdadeiro dizer que os morios nam louvavam a
Deus louvandohoo efpirito delles : antesfe os mortos
louvavam tambem ao fn ó r,em vam fe f a z i a tambem
o argumento para obrigar a Deus a ter compaixam
do homem pondolhe di ante a brevidade de feus dios,
& vaidade dellesf e morto elle f i cav afu a alma & fe u
efp irito, & com cfava a ufar outra vida bem aven
turada , eterna & defcanfada, mas porque i fio afsi
nam he d izia & dira qualquer aflito : lembrate que
nam ha meu olho de tornar a ver bem. Adais refpon-
dem ao verfo : & lembroujfe que carne elles, efpirito
quepajfa & nam tornara, & femelhantes que o efpi-
rito nam tornará aquelle corpo m ortal, mas tornará
a corpo immortal : Cd nam vem que f e o efpirito tor-
! naffe o corpo tal, tornara milhor, Cd nam f e cham aria
e fe tornar nao tornar : enfim fa m difiinpoiss defpre-
pofitndaí Cd defvios mal tomados p a ra fu g ir a v er
dade , a qual como he forte Cd poder oft nao deixa
vencer f e . Ajuntamos que A braham tambem dijfe:
ets agora comejfei a fa la r a meu fn ór , Cd eu po Cd
pfísza : & f e o efpirito de A braham era immortal,
Cd av ia de tornar a tomar corpo im m ortal, nam era
A brah am po' nem p in z a, nem talf e podia na verda
de chamar , antes era A brah am hum ente immor
ta l, Cd do corpo parte menos principal nam f e devia
fa z e r cafo para tomar o nome Cd chamar f e pó,porque
as coufas f e denominam da parte que nellas mais do-
¡ m in a , & m ais v a l no homem feu efp irito, & he a
parte principal : f e e fe efpirito he immortal, Cd ente
por f i , t a lfe a fendo o homem Cd nam f e cham ará po
, j/ndaque fe u corpo of e j a , Cd muy to mais fendo f ó ate
Cap. X V I .
Dos my>os argumentos iff repofias do
contrariador y iff confutacao da p ri *•
metra delias.
c a p . x r i i .
Q u e a alm a d o h om em tem nom e
proprio com que tam bem íe di-
ílin gu e da alm a dos brutos.
CAP. XVIII.
Q u e explica algüs paífos m al en
tendidos do c o n tra ria d o r.
Cap. X XIX.
CAP. XX.
RepeteíTe o argum ento da ju ílíça
d iv in a , & m o fh a ííc a falla ex-
plicaçam do adveifario íobré
e lla .
i z e lle . A o V i l . en mmtos T ftl-
CAP. XXI.
CAP. XXIII.
D
I z • F altanos que r e ff onder ao que diz. o
livro de D aniel: o f muy tos dos que dormem
na terra do p ó deffertaram , eßes para
vida de fem p re, (¿ eßes para deshonra,
para def r e z o de fem pre , & outra fiés, (¿ tu vai
ao fim & defcanqaras (¿ eftaras cm fim dos dias em
tunforte : & dizemos que eße livro de D aniel nam
he recibido dos lúdeos chamados Saduceos , o quefo
baßava para lhe tirar o credito (¿ fe p o r f e dever ao
tefiemunhofimples dos Fharifeos m uj pouco confor- 0
m eaoqu ejad ijfem os, vi fio ferem efies homes tais
que tornaram por oficio ou por locura trocar palan-
immort
ra s , m u d ar, tor fe r , interpretar avenadamente
as efcr itur as par a confir m açam & firm eza de fe m
confufosfonhos , cjucrcndo por efiesfaifas meyosaju-
dalos : quando por f i mefmo n aofe moflrara a pouca
verdade dos lugares referidos , doutrina toda T ha
rtf e a contraria a doutrina da ley eferita na quelle
livro dehaxo do nome de Frophecia para engano do
povo G ctn frm açam da fa ifa pregaçam : mo-
ílrajfe pois apouca verdade dos ditos lugares porque
dis o prim eiro que muytos refucitnram , £? ñam
áis que todos refucitaram , & f e tal refurreiçam
ouveffe de aver era necejfario que foffe geral para
todos os homes ou foffe que refucitajfem para pojfuir
hem ou para poffutr mal conforme ao que cadahum
vivendo mer ceso , & como os F h a rifo s preguem ö
digao que a refurreiçam nam he para todosfenam
fomente para algas como tambem as almas nam fam
todas im m ortais, fen am hitas f i & outras n am , j a
fica claro que a eficritura fo i feita & accomodada
para provar & authorifar fina tam fa ifa & errada
pregaçam : o mefmo f e ve polo verfo ultimo em quan
ta. dis g ofiria D aniel & E ila r ia em fu a forte no
firn dos dias , qoe os F har ¿feos enf nao que no
tempo que vier o A f a j f ah fe levantaram os mor
tos cadahum para poffuir fu a herança na terra de
Tfrael , doudice cÿ locura defitinada para cuja
#prova f e aproveitaram da f i l f a eficritura. Outras
caufas f e acham no livro de D aniel que bem m ofiraõ
& publicaofua artificiofa tnvençam , allí he a p r i
m ei-
metra, ves que achamos nomes de anjos nomeados pot
feus nomes queateli nam aviamos fabido nem por ley
nem por outros livros, id todofeu eslilo & modo ht\
huafabricada compofçam ; id nam pareça a alguenf
dificultofo aver efcritos id efcritores falfós por quef I
quizer abrir os olhos nennua coufa vera que mat. I
ordinaria fe ja nos hom es. quem f z - o livro de Tu-1
dith id o teceo id aquella h t ílo n a , quem o tyceira
id quarto de E fdras , quém o da fabid u ria id oui.
tros muytos que nao he necejfario refer ir,pois tambem
a bifloria defte he necejfario que entre nefle numerof
naofaltao efcritores ƒalfós,prophetasfonbadores men
tir ofos que atad o f e eflende a malicia humana , a-
moeftafoes temos da ley que nos avizou id quisfazer
acautelados, quem ha fu a verdade f e apegar de todos
oserros efeapara. H e finalmente aquella doutrina e f
crita no livro de D aniel doutrina nova ’contraria d
doutrina da ley , id outros livros que fu as pizadas
feguem , id a j f por tudo nada della curaremos ou de-
vemos curar ; id moflrado que temos fe r o homem
todo mortal, pouca necefßdade tinha d eJe moflrar o
q u e f r a , id nam lhe reflar outra vi da para, v iv e r ,
vejamos os inconvenientes ou males que fe fg u e m do
erro contrario .
Cap. X X I V .
Cap. X X V .
Gap.
144 Tratado da
CAP. XXVI.
cap. xxm.
D o s bes que íe íeguem de eíperar
pola outra vida con tra a ig n o
rancia do a d veríà rio .
C A P . X X n u .
Cap.
rataao üa
Cap. XXIX.
Da ley de boca <Sf 'verdadei
ra tradicam .
S iabicfc das gentes yndaque ex crci-,
■
confirmou na verdade do que tem os & eremos
açerca da elfencia & unidade da primeira cau-
fa dizendo no D eut. cap. 6 . oye Y frael A .nue-
ftro D io A.uno & outros muytos lugares a efte
m odo s os quais yndaque confeiîêm os que por
difeurfo 8c rezõis naturais fe podiam vir a
conhecer , 8c alcançar , toda via para nos affe-
gurar de todo & fer efta verdade certa fiel &
firme fobre nos foi neceífario que Deus o difo
feífe por fua boca 8c iífo ynda por modo que
primeiro preparou feu povo moftrandolhe fi
nais çertos , milagres 8c maravilhas com que o
confirmaífe , 8c aifègurafle no conhecim ento
de feu fa b e r, & poder infinito , & o obrigaífe
a perder & deixar de todo as róis opiniõiS a-
prendidas no Æ g y p to ,& a confefiar a verdade
com o fizeram no mar roxo onde dis o texto
E xod. 14. poios filhos de Yfrael ja redimidos
do cativeiro , & vingados de feus inimigos : y
tem ieron en A .y en M ofeh fu fiervo: Abraham
noífo pay he louvado pola virtude da fe com o
d iso verfo G e n e f.i y:y creyó en A.y contolo a
el por juftedad. David Pfa. 119 dis : carrera de
fé efeogi com o dizer que efte he o caminho
feguro em que o homem Íabio tem erofo de
Deus deve andar * porque nos outros que pen
dem de rezóis humanas fempre ha perigo de
errar : & no mefmo Pfalm o dis mais: todas tus
encomendanças verdad e f e : copio fe différa,
que
ím m of taiiaaae. i jp
que todas as encomendanças da ley yndaque
nellas poffa darfe & le dé rezam , lá tem algúa
coufa mais que as fublima , que he creias por
f é , 8c que nellas ha mais algum fecreto em fe
rem mandadas por Deus $ 8c affi o nam furtar,
nam matar , nam adulterar Vedados tam bem
«as leys das gentes fam ordenados fo por bom
governo, mas na ley de Deus alem do bom go
verno trazem mais aquella prerogativa q ; tem
fer crido por fe que alem da rezam clara, tem
mais o fecreto de 1er mandado por D e u s , em
que ha mifterio tanto que baftou para por effe
refpeito dizer o Pfalmifta Plál. 1 4 7 querendo
moftrar efta ventagcm da ley de Deus & de Y f
rael : no fizo affi a toda la gente : y juyzios no
los conocieron : a fib er em fuas leys nam fou-
beram, nem alcançaram mais que a rezam cla
ra & conhecida ordenada para pas 8c bom go
verno na terra ; mas nos juyzos de Deus ha
grande diferença tanto que o proveito 8c pre
mio de os ter & guardar chega ao outro mun
do como diffe o verfo no P fa l.2 0 . falando def
ies : en fu guardarlos precio mucho, o qual na
ce do mifterio & fecreto que tem crelospor
fé, porque eífa he fó concedida a Yfrael com o
por elle diz Yefah. cap. 2 7 : abrid puertas en
trara gente jufta guardan fieldades . E os que
fora defta verdade & fé fe enclevam com fio-
berba & prefumem faber ley fam os defventu-
rados
rados çcgos Sc ignorantes indinos & incapazes
de eníino & doutrina de quem dizia o prophe
ta Y eíãh. cap. y :g u a y lo s fabios en lus o jo s,
y delante fus faces entendidos. E bem prova
da ja & vifta efta verdade que na ley efcrita te
mos muytas propofíçõis de fé, yndaque nellas
aja & fe polla dar boa rezam , fcgue outra qup
por fé cremos tambem a faber que eifa ley e f.
crita nam pode fer bem & verdadeiramente
entendida, fe nam por meyo da verdadeira
tradiçam dada por Deus a M oíèh no monte
íinay, a qual tradiçam , ou explicaçam da ley
efcrita, fe chama ley d ebo ca , & ynda que a
crem os por f e , recib im cn to , Sc eníinodos
mayores nam deixa de ter outras muytas re-
zõ isfo rço íãsqu em o ftram & convencem que
fem efta ley de boca nam fe pode entender a
ley efcrita fem notáveis & çertos perigos de
errar com o confiara do capitulo feg u in te.
Cap. X X X .
De alguas reçois que provam a verdade
da tradiçam & ley de boca.
Udo o que fabem Sc podem faber os ho
T mes he por hum de tres caminhos ; por
authoridade, por rezaó , por experiencia : por
' expe-
Immortalidade. id i
experiencia fabetnos as coufas fervindonos dos
fentidos corporais provando , vendo & apal
pando : por rezam difcorrendo , diftinguindo
& examinando : por authoridade crendo &
confentindo . Deftes tres modos de faber fó
o que íè fabe por authoridade he firm e, quan
do fabemos que ella procede de principio &
fon te donde naó pode nacer erro . O que fe
fabe por rezam tem mil baxos em que dar,por-
que em quanto ella difcorrendo trabalha com
por & dividir, conhecer & apartar o co n fc-
quentedo repugnante, finalmente diftinguir
entre o falfo & verdadeiro, corre aífas perigos
de errar, para cujo remedio alógica inuentou
os inftrumentos de difinir,dividir,& argumen
tar trazendo tantos modos de propoíiçõis Sc.
fylogifmos fem baftarem para impedir tanta
con fuíàm d eopin ióiscom o vemos nas fcien-
cias , tanta turba de feitas quantas ha nas re-
ligióis, tanta variedade de pareceres quanta le
ve na philofophia natural & politica de modo
que com muyta rezam fediífe ja que quantas
cabeças tantas fentenças . O que fe fabe por
experiencia yndaque mais feguro & certo que
o que fe alcança por rezam , tambem requere
fuas regras & limitaçõis para conhecer os efei
tos contrarios que muy tas vezes nacem d’ella :
com o efquentarfe o corpo humano com a ne
ve fria , esfriarfc com o banho q u en te; m iti-
L 'garfc
16 z T rãtãdqda
garfe a febrc comvinho ¿c açenderfc com agua
Sc femelhanres. Mas aquillo que fe fouber por
todos cftcs tres caminhos quem duvida que fe
ra infalivel & inviolável ? com o he o que te
mos & eremos os do povo l i é Yfrael porque
authoridade nos a temos por tradiçam & enh
ilo dos mayores que nos affeguram fer ella ua-
çida do principio & fonte da mefma verdade
que he o Señor Deus noífo que deu efta ex-
pliçam a M ofeh no monte Sinay & M ofeh a
entregou a Yehofuah , & Yehofuah aos vel
hos, Sc aííi fucceffivamentc , & poftoque húa
tam fundada & verdadeira authoridade nos
baftava , narn deixa de eftar confirmada com o
vinculo da experiencia & rezo in s : & quanto a
experiencia he ella a mais antiga çerta & fe-
gura de quantas pode aver no mundo , co n ti
nuada por milhares de annos, com batida por
tantos inimigos & to rm en tas, fem avernhúa
quepudeíTe diminuir hum ponto a verdadeira
tradiçam fundada nefta divina authoridade, &
tam impreífa nos animos dos bós Yudeus que
nem a mefma morte he baftante nam digo a
extinguila , mas nem ayuda a ofufcala : &
quanto asrezoins poftoque fam muytas apon
tarei fo algúas que podem obrigar ao mais re
beldes & continuas do mundo .
Prim eira porque a ley efcrita nos a crem os
por tradiçam & té, com o fe \é claro porque fe
ella
lmmortaimaae. 10?
^ .
ella fe perdeíTe , &Ndeípois dealgüs annosfe
achalfe por onde lhe dariam credito os homes
fe nam por authoridade , & tradiçam dos vel
hos ? E nam he ífto húa fupohçam fingida,mas
hum cafo acoui^cido na verdade ao povo de
Y írael cm tempo d’el R ey Y ofiyahu , a quem
Hilkyahu faccrdote grande trouxehum livroda
* ley que fe achou ñas paredes do templo como
fo conta no livro 2 . dos R e y sc a p it. 2 2 . &
tendo el R ey aquillo por couía nova , toda via
deu credito a Hilkiyahu que aquelle erao li
vro da le y , & o mandou cumprir & guardar
folénemente . & todo povo fe ouve por obri
gado a o b ed ecer, em que claramente confefi-
íbu quanto credito tem & quanta força as tra-
diçoins &: doutrina dos mayores .
C ap,
Immortalidade. 171
C a p . u ltim o .
F I N I S .
) ■ " v
y _
fa o c M e * ¿ ^ 5
44? efj< jL - <^Ut
/7 / n
•~J¿£ v-; ^ -¿ L