Emoção, Memoria e Aprendizado
Emoção, Memoria e Aprendizado
Emoção, Memoria e Aprendizado
EMOÇÃO, MEMÓRIA E
APRENDIZADO
Ao acordar pela manhã, a jovem mãe vê o sorriso fofo do seu bebê e sente
acelerar as batidas do coração, ao mesmo tempo que as mãos parecem suar. Na
calçada, o senhor idoso dá um pulo para ao lado e percebe o esvaziar de sangue
em seu rosto, ele está pálido, o carro que deu uma freada bem em sua frente
arranca em disparada. O vendedor sai da reunião com o seu chefe sentindo dor
de estômago e uma sensação de azia. Essas pessoas não param a fim de avaliar
se o que sentiram de manhã, na calçada ou na reunião foi amor, medo ou
vergonha. Na verdade, nós não nos detemos para verificar quais ou quantas
sensações expressamos durante um dia inteiro, mas por certo elas são tantas
quem sequer sabemos nominá-las.
Se você tivesse um sensor cerebral de suas emoções, no momento em que
estivesse sentindo tristeza, ele detectaria movimentos na amígdala e no córtex
pré-frontal esquerdo, áreas do “cérebro emocional”. Talvez essa tristeza pudesse
ter surgido quando você percebeu a pessoa ao lado no ônibus, ou porque você
ficou esperando o seu parceiro no restaurante para aquele jantar previamente
combinado e ele não apareceu.
Como seria viver sem as “sensações” aqui referidas?, Imagine alguém
como Cyberdyne Systems Model 101 Series 800, ou simplesmente “o
exterminador”, como as pessoas chamam T-800, o androide matador do filme “O
Exterminador do Futuro”. Mesmo que a máquina interpretada por Arnold
Schwarzenegger tenha trocado de lado na sequência da série para proteger John
Connor, na guerra contra as máquinas, ele não passava de um robô e, como tal,
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sem emoções, embora trabalhasse com capacidades como razão, percepção,
pensamento, memória e tomada de decisão.
As sensações da jovem mãe, do idoso na calçada ou do vendedor após a
reunião com seu chefe são reações a estímulos que ativaram áreas do cérebro
de cada um deles. Essa área, chamada de córtex, está presente nos humanos e
mamíferos e ausente na maioria dos animais. A essa altura, você já percebeu que
estamos nos referindo às respostas do organismo diante de um determinado
estímulo, ou, melhor dizendo, as emoções. Se um cão balança o rabo ou um
humano sorri, isso que entendemos por emoção vem dos mesmos circuitos de
sobrevivência do cérebro, que é similar em todos os mamíferos. Todavia, animais
e humanos sentem as emoções de forma diferente, especialmente porque as
emoções humanas, na visão da neurociência, são mais complexas.
Nós, seres humanos, nos orgulhamos de nos diferenciarmos das outras
espécies pela inteligência e pela razão, mas, diante de uma autoanálise sobre o
que acontece apenas durante um dia de vida de um de nós, quantas vezes o que
decidimos pretensamente pela razão foi influenciado pela emoção? É costume
ouvirmos referência de que a capacidade de gerenciar nossas emoções é a chave
para o sucesso em muitos campos. A toda hora ouvimos dizer que determinadas
pessoas são hábeis e talentosas, mas não progridem porque lhes falta inteligência
emocional.
A Psicologia Cognitiva nos faz entender que a maioria dos nossos
problemas emocionais não são sempre causados por eventos ou circunstâncias,
mas também por nossas crenças, atitudes e reações. Os comportamentos
humanos responsivos às emoções têm efeitos profundos em nossas vidas, quer
em decisões pessoais, quer em escalas mais amplas, como as políticas públicas
e os assuntos internacionais geradores de decisões conflitantes e críticas.
Se você estiver caminhando no parque e, de repente, vê uma cobra
rastejando em sua direção, a amígdala organiza sua resposta e outra região do
cérebro, o hipocampo, armazena aquela sensação. Estudiosos e especialistas se
interessam em saber como sensações de medo e outros sentimentos avisam o
nosso organismo de que algo está errado e de que é preciso se preparar para
lutar ou fugir. Isso implica saber como o corpo responde às emoções e se elas
surgem do cérebro.
Por meio da neurociência, nos detemos ao cérebro, que usa o oxigênio da
atmosfera terrestre, nos possibilita existir por intermédio de redes neuronais
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complexas e nos ajuda a entender melhor nossas emoções e nossos
comportamentos. Armory e Vuilleumier (2013, p. 1) entendem que o avanço no
entendimento biológico da emoção “é bastante recente, especialmente em
comparação com outros processos mentais, como visão, linguagem, atenção ou
memória”. Isso é atribuído em grande parte ao surgimento de técnicas de
neuroimagem funcional não invasivas (tomografia, eletroencefalografia,
magnetoencefalografia e ressonância magnética.). Afinal, o que é emoção?
Saiba mais
Emoção são sentimentos que envolvem avaliação subjetiva, processos
psicológicos e crenças cognitivas.
É certo que cada um de nós tem uma noção individual sobre a emoção,
mesmo que seja por meio de um processo intuitivo. Definir, porém, o seu
significado, é algo mais complexo. Assim pensa Gazzaniga e Heatherton (2005,
p. 315) ao dizerem que, “para cientistas psicológicos, a emoção (ou o afeto) se
refere a sentimentos que envolvem avaliação subjetiva, processos fisiológicos e
crenças cognitivas”.
O entendimento de uma subjetividade na emoção mostra que não há ainda
um consenso sobre o que é a emoção, qual o seu lugar em uma teoria da mente
e do comportamento, e as controvérsias existentes incluem quantas emoções
existem e quais delas são mais básicas que outras (Ledoux, 1995).
A convicção de que a emoção envolve componentes cognitivos, fisiológicos
e comportamentais aparecem na definição de Weiten (2010, p. 286): “emoção
envolve (1) experiência subjetiva consciente (o componente cognitivo), (2)
acompanhada de uma estimulação corporal (o componente fisiológico) e (3) de
claras manifestações características (o componente comportamental)”.
Ao conhecer os componentes fisiológicos, psicológicos e sociais da
emoção, é possível aproximá-la de uma visão neurobiológica como a que propõe
Marinho (2005, p. 44, citado por Silva, 2019, p. 81, no prelo):
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O corpo, o cérebro e a mente parecem estar conectados durante todo o
tempo de nossas vidas, e para usar a expressão textual de Damásio (2011):
“corpo e cérebro executam uma dança interativa contínua. Pensamentos
implementados no cérebro podem induzir estados emocionais que são
implementados no corpo, enquanto este pode mudar a paisagem cerebral e,
assim, a base para os pensamentos”.
Sobre este autor, tendo como referência a ansiedade, é oportuno destacar
a presença de elementos como avaliação, sensação, intencionalidade,
sentimento, comportamento motor e componente interpessoal. Vamos imaginar
uma situação de alguém que precisa entregar um relatório de trabalho em um
determinado prazo e avalia que não conseguirá concluí-lo no tempo certo
(avaliação). Ele sente o coração bater mais rapidamente (sensação), foca o
pensamento sobre o quanto pode ser competente com a tarefa (intencionalidade),
passa a vida de forma negativa (sentimento), seu corpo se agita (comportamento
motor) e expressa aos outros que está tendo um dia ruim (interpessoal). Dois
pontos merecem esclarecimento: (1) o entendimento do cérebro quanto às
emoções e (2) saber quais emoções se vinculam às regiões cerebrais. Qual parte
de nós faz com que tenhamos sentimentos de felicidade, paixão, medo ou
aversão? De onde vem o estado emocional que procuramos para compensar uma
explosão de raiva?
Saiba mais
Comportamental Fisiológico Cognitivo
Manifestações e Estimulação corporal Experiência subjetiva
expressões consciente
Os momentos mais significativos da existência humana são caracterizados
pela emoção. Lembre-se da jovem mãe encantada com o sorriso do seu bebê, o
susto do idoso ante a manobra arriscada do carro, a irritação e vergonha do
vendedor ao ter uma reunião humilhante com o seu chefe. Pense em você mesmo
na hora de encontrar uma pessoa amada que não vê há muito tempo, no pesar
por perder alguém também amado, na irritação quando alguém lhe trata de
maneira rude, na consternação pela doença do seu cãozinho. Com certeza, pela
importância que tem para os seres humanos, justifica-se o impulso crescente das
pesquisas sobre a emoção nos dias de hoje.
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Por ser uma experiência singular, considerando-se as contribuições de
Gazzaniga, Weiten, Marinho e Damásio, é essencial discutir a emoção com base
em seus elementos de caráter subjetivo, fisiológico e cognitivo.
Sabe-se que há uma série de emoções que se apresenta como universal e
básica pela espécie humana. Em um estudo, foram mostradas fotos a pessoas de
cinco países, Chile, Argentina, Brasil, Japão e Estados, e depois solicitado às
pessoas que julgassem a emoção exposta em cada expressão facial. A maioria
chegou a uma mesma conclusão, indicando a existência de emoções universais.
Esse foi um dos experimentos relatados por Ekman (2011, p. 21) em um amplo
estudo subvencionado pela Advanced Researcg Projects Agency, a Arpa, dos
Estados Unidos. O trabalho de Ekman de avaliar expressões faciais de milhares
de indivíduos em culturas diferentes durante os 40 anos em que foi professor da
Universidade da Califórnia possivelmente tenha influenciado sua defesa de cinco
emoções humanas básicas: raiva, nojo, alegria, medo e tristeza.
Se, aparentemente, Darwin tinha razão quanto ao caráter universal das
emoções, os estudos continuados mostram que também existe singularidade em
emoções expressadas por cada indivíduo. Nessa lógica, diante de um evento
qualquer, uma pessoa que manifeste sentimentos de raiva e tem tendência de
insultar, quebrar, está tendo uma emoção de viés comportamental que não é
exatamente igual ao de outras pessoas. Diante de um determinado evento, ela
pode sentir o coração bater mais, o calor tomar conta do rosto, expondo o caráter
fisiológico da emoção que é sua, ou ainda, deixar-se emocionar por crenças
pessoais sobre os outros e sobre o mundo em um processo emocional cognitivo.
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encontro com a pessoa, você teve mudanças de postura, expressões faciais e
vocalizações, comportamento e emoção.
Do ponto de vista comportamental, a emoção possivelmente seja
facilmente observável, o que não significa que seja facilmente compreendida. Isso
ocorre pela tendência das pessoas em descrever o seu comportamento como algo
que não está ligado à emoção em si. É relevante na emoção comportamental a
presença das expressões faciais que, nos diferentes estudos, como no de Paul
Ekman, trazem indicativos de que essas expressões são sim inatas e universais,
pois as pessoas apresentam as mesmas expressões faciais para cada emoção, e
não parece difícil para qualquer um identificá-las. Acredita-se que esse
componente comportamental influencia as relações sociais. Por exemplo, se
vemos alguém chorar, pensamos que ela não está bem e que pode precisar de
ajuda.
O comportamento emocional é um reflexo direto das respostas fisiológicas
de uma pessoa sobre o evento, o que nos leva aos outros componentes da
emoção.
Imagine que você vai ter que apresentar um relatório sobre o trabalho do
seu departamento para um auditório de pessoas que reúne funcionários da sua
empresa e clientes em geral; logo, você que detesta falar em público. Na sua
mente, vem sua última experiência em uma sala pequena com apenas sete
pessoas. Você lembra os olhares de troça, os risos pela sua má performance e
sente medo, taquicardia, sudorese. As reações físicas refletidas no seu corpo
dizem respeito ao componente fisiológico da emoção.
Para Collin et al. (2012, p. 43), a vinculação das emoções às condições
fisiológicas aparece na Teoria das Emoções de James Lange. Diante de uma
situação de medo, de um animal selvagem, por exemplo, a pessoa sai correndo
e, em situações como esta, para Willian James, é a “percepção da mente acerca
dos efeitos físicos de correr – respiração ofegante, batimento cardíaco acelerado
e transpiração intensa” que corresponde à emoção de medo.
No exemplo de alguém que, ante um evento de falar em público, manifesta
no corpo aceleração cardíaca, tremor, tensão muscular, a sensação de vergonha
pode levar a pessoa a corar e essas respostas fisiológicas podem causar
mudanças comportamentais ante o ímpeto de escondê-las.
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O componente fisiológico usa a energia da emoção para alertar para a
defesa, é uma espécie de recurso para nos salvar do perigo e também nos levar
a ser mais efetivos ao responder e provocar mudanças nos neurotransmissores,
como, nesse caso, a adrenalina. Kleinman (2015, p. 155) entende que a Teoria
Cannon-Bard, criada por Walter Cannon e Philip Bard, explica as reações
fisiológicas como um processo simultâneo com as emoções: “a parte do cérebro
responsável pelo controle motor, pelos estados de sono e vigília e pelos sinais
sensoriais envia uma mensagem ao cérebro como resposta a determinado
estímulo.” O resultado dessa mensagem sendo transmitida é uma reação
fisiológica e suas mudanças são verificadas no sistema nervoso simpático.
Parece não haver dúvida de que, em qualquer evento emocional, é visível
a sensação física do tipo “o que estou sentindo em meu corpo”, embora isso não
signifique uma leitura correta aos olhos de outros. A animação pode fazer o
indivíduo andar para lá e para cá da mesma forma que faria se estivesse ansioso,
entretanto, podemos olhar a pessoa ansiosa como alguém que está tendo medo.
Para quem sente a emoção, contudo, é uma sensação fisiológica e pode, por
exemplo, ser sentida como ansiedade ou raiva.
Se o comportamento emocional é um reflexo direto das respostas
fisiológicas das pessoas, é também o reflexo direto de seus pensamentos acerca
do evento.
Após assistir “Os Vingadores”, você e dois amigos comentam sobre o que
aconteceu no filme, especialmente o visual de Thor, o Deus Trovão, que, após o
avanço do tempo, se tornou gordo, cabeludo e barbudo, bem diferente de sua
aparência habitual. Um de seus amigos olha para você e diz: “Nossa! Você é
gordo que nem o Thor”. A sua reação à fala do amigo é subjetiva. Você pode
pensar nas críticas que têm recebido ultimamente por não ter levado adiante uma
dieta, ter pensamentos do tipo “ninguém me leva a sério, por não diminuir o peso”,
“engordo facilmente”, ser gordo significa ser desprezado”. Nesse caso, você
poderá discutir com o amigo, sentir-se rejeitado e envergonhado, entre outros. No
entanto, se você não vê a sua gordura como algo ruim, se você habituou-se com
seu corpo a ponto de não se preocupar com isso, ao ouvir a fala do amigo, você
também ri e até concorda com ele.
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O que se destaca em uma emoção é como eu interpreto a situação. Um
evento surge e eu penso a respeito baseado em eventos anteriores similares. Isso
ocorre pelo grande número de pensamentos que passa pelas nossas cabeças.
Na visão de Wright, Basco e Thase (2008, p. 19),
Diferentes teorias explicam as emoções, o que indica que elas podem ser
consideradas sob distintos pontos de vista. Como vimos anteriormente, as
emoções humanas se assemelham às emoções animais, embora deles também
se diferenciem pela complexidade. A emoção de uma pessoa reflete de certo
modo o seu ambiente social, mas também mostra o entendimento de que é
provável terem sido moldadas pela seleção natural das espécies. Tais
características aparentemente antagônicas dificultam a elaboração de um escopo
teórico que as explique. O que temos são teorias construídas ante o contexto em
que são explicadas e desenvolvidas.
Saiba mais
A experiência da emoção é eliciada por uma resposta fisiológica a um
determinado estímulo.
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Cherry (2019) explica a teoria proposta por William James e Carl Lange
(década de 1920) como resultado de reações fisiológicas a eventos. A resposta
emocional depende de como a pessoa reage às reações físicas. Por exemplo,
diante de um evento que provoque ciúmes, você responde com choro, aumento
da pulsação, sudorese e tremor, que podem estar associados à tristeza e à raiva.
“De acordo com esta visão, padrões diferentes de ativação autônoma conduzem
à experiência de emoções distintas (Weiten, 2010, p. 291).
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Os estímulos ambientais produtores da emoção eliciam tanto uma reação
emocional como uma reação física.
Por essa teoria, criada por Walter Cannon e Philip Bard (década de 1930),
“as emoções ocorrem quando o tálamo – a parte do cérebro responsável pelo
controle motor, pelos estados de sono e vigília e pelos sinais sensoriais – envia
uma mensagem ao cérebro como resposta a determinado estímulo” (Kleinman,
2015, p. 155). O que se percebe nessa teoria é que o resultado do que a pessoa
recebe é uma resposta fisiológica. De uma forma simples, o autor explica que um
determinado estímulo levado ao córtex para definir como a resposta será
encaminhada acaba por estimular o tálamo, o que gera uma interpretação. Se
você estiver a noite em um lugar escuro e ver dois homens se aproximando
rapidamente, você sente o tremor e o coração bate forte e, ao mesmo tempo, a
emoção do medo.
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emoções de determinado modo a qualquer tempo. E na busca para explicar a
estimulação, os sujeitos não se limitam à situação”.
Segundo Moors (2009), a teoria dos dois fatores mostra que o grau de
excitação (elemento somático) determina a intensidade da emoção, enquanto a
atribuição (elemento cognitivo dá a qualidade da emoção.
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A sequência de eventos envolve primeiro um estímulo, seguido de um
pensamento que leva à experiência simultânea de uma resposta fisiológica e
da emoção
Criada por Richard Lazarus (década de 1990), essa teoria postula que,
antes de uma emoção ou excitação fisiológica, ocorre um pensamento. A pessoa
pensa antes de sentir qualquer emoção. No exemplo dado de caminhar no escuro,
o pensamento de que os dois homens que se aproximam são ladrões tem como
resultado alteração cardíaca, tremor, e daí o medo.
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As expressões faciais estão ligadas à experimentação de emoções.
Desenvolvida por Silvan Tomkins (1962), essa teoria afirma que a emoção
é a experiência de alterações musculares faciais que acontecem. Quando o
indivíduo sorri, está feliz, quando franze a testa, está triste, e assim por diante.
Para Kleinman (2015, p. 157). “Essas alterações em nossos músculos faciais são
o que leva o cérebro à especificação de uma base para a emoção, em vez do
contrário”.
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áreas como o córtex pré-frontal e o sistema límbico. A integração da neuroimagem
com a neuropsicologia e neurofisiologia destacam essas estruturas e outras como
o córtex orbitofrontal, relevante no processamento emocional na visão de
Kringelbach (2005).
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Córtex pré-frontal, na região dos lobos frontais, é importante para atenção,
memória funcional, tomada de decisão, comportamento social e personalidade.
Sistema límbico, localizado na superfície medial do cérebro, controla as
emoções e as funções de aprendizado e da memória.
Saiba mais
Hipotálamo é uma pequena estrutura cerebral que é vital para a regulação da
temperatura, a emoção, o comportamento sexual e a motivação.
Amígdala é uma estrutura cerebral com papel vital no aprender a associar as
coisas no mundo com respostas emocionais para processar informações
emocionais.
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A amígdala tem aparência de uma amêndoa e está vinculada a várias
respostas emocionais como amor, medo e raiva. Estudos apontam que a retirada
dessa área cerebral de animais provocou comportamento agressivo. Podemos
nos referir à amígdala como uma espécie de “guardiã das emoções”, capaz de
nos fazer fugir de situações perigosas, mas também nos fazer lembrar de traumas
da infância e de sofrimentos registrados na memória. Quando uma sensação de
raiva, por exemplo, coincide com um comportamento agressivo ou hostil, a
amígdala está ativada, como acontece também com o medo e a ansiedade
(Dougherty, 2019). As expressões faciais podem se estender além das emoções
básicas, com exibição de padrões cognitivos e sociais mais complexos, sugerindo
que danos à amígdala podem prejudicar essas áreas (Shaw et al., 2005).
O hipocampo é quem leva as informações para a amígdala e pode ser a
origem de emoções extremas localizadas no registro de lembranças pessoais.
Uma lesão no hipocampo provoca danos à memória do indivíduo. De acordo com
Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 328), nos dias de hoje, sabe-se que “o
hipocampo é extremamente importante para a memória e o hipotálamo, para
motivação”.
O giro cingulado serve de caminho entre o tálamo (pequena estrutura
acima do hipotálamo) e o hipocampo, e está relacionado á lembrança de situações
emocionais intensas. Depressão, ansiedade e agressividade, segundo Vanderson
et al. (2008, p. 58), estão intimamente relacionados ao giro cingulado,
“observando-se, em humanos, lentidão mental em casos de lesão dessa estrutura.
Auxilia na determinação dos conteúdos da memória, observando-se significativo
aumento de sua atividade quando as pessoas recorrem à mentira”.
Uma estrutura que está relacionada à integração entre emoção e razão é a
ínsula, cujo conhecimento pelos pesquisadores ainda é pequeno, mas que
permite localizá-la no campo da empatia. A explicação de Vanderson et al. (2008)
é de que ela “é ativada durante a indução de recordações de momentos vividos
por um indivíduo, as quais provoquem uma sensação específica, seja de
felicidade, tristeza, prazer, raiva ou qualquer outra”.
Passando para outras áreas cerebrais, a área tegmentar ventral é um
agrupamento de neurônios na parte superior do tronco encefálico envolvido com
emoções e amor. Nela, estão localizadas as vias da dopamina (neurotransmissor
do humor).
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O córtex orbitofrontal, localizado na parte frontal do cérebro, pouco acima
das orbitas oculares, está relacionado à personalidade e às emoções,
especialmente nas relações sociais.
No tronco encefálico, núcleos de nervos cranianos, viscerais ou
somáticos, quando ativados por impulsos nervosos, provocam emoções que são
representadas pelo choro, pela expressão facial, por respostas fisiológicas como
sudorese, salivação e aumento do ritmo cardíaco, entre outros.
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REFERÊNCIAS
KLEINMAN, P. Tudo que você precisa saber sobre psicologia: um livro prático
sobre o estudo da mente humana. São Paulo: Gente, 2015.
LEDOUX, J. E. Emotion: Clues from the Brain. Anntt Rev. Psychol, v. 46, p. 209-
235, 1995. Disponível em: <https://pdfs.semanticscholar.org/63bc/59bd46
b9a93b4eaf640f2fbc54c9fd3fa78e.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2019.
15
MURPHY, F. C.; NIMMO-SMITH, I.; LAWRENCE, A. D. Functional neuroanatomic
of emotions: A meta-analysis. Cognitive, Affective & Behavioral Neuroscience,
v. 3, n. 3, p. 207-233, Sep. 2003.
SHAW, P. et al. Differential Effects of Lesions of the Amygdala and Prefrontal Cortex
on Recognizing Facial Expressions of Complex Emotions. Journal of cognitive
neuroscience, v. 17, n. 9, p. 1.410-1.419, Oct. 2005.
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AULA 2
EMOÇÃO, APRENDIZADO E
MEMÓRIA
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quanto aqueles que não obtém sucesso, ou mesmo os que por infelicidade
provocam sequelas.
O relato mais impactante, amplamente conhecido pela ciência e
generosamente divulgado em jornais e revistas de todo o mundo é a história de
Henry Molaison na década de 1950. Conhecido na psicologia como "HM", Henry
perdeu a memória em uma mesa de cirurgia em um hospital em Hartford (USA),
em agosto de 1953. Ele tinha 27 anos e sofria de ataques epilépticos por muitos
anos.
Citado como HM, Henry padecia de episódios seguidos de epilepsia desde
os 10 anos, um ano após ter sofrido um acidente de bicicleta, segundo diziam
seus parentes. Aos 16 anos, sofria espasmos musculares generalizados, perdia o
controle dos esfíncteres, e também a consciência. A situação foi piorando, a ponto
de, aos 27, Henry ter sido declarado incapacitado para trabalhar. O cirurgião
Willian Scovile, após examiná-lo ofereceu-se para fazer uma cirurgia nos lobos
temporais mediais dos dois hemisférios cerebrais, vistos por ele como a razão das
crises. Após a ressecção cirúrgica dessas regiões encefálicas, percebeu-se
melhora nas crises, porém havia uma sequela. HM passou a apresentar amnésia
anterógrada gravíssima, ou seja, não conseguia lembrar nada do que aconteceu
após a sua cirurgia. Henry Molaison morreu em 2008, com 82 anos de idade. Fazia
palavras-cruzadas com frequência, mas só completava as palavras que aprendera
antes da cirurgia. Após a sua morte, seu cérebro foi guardado na Universidade da
Califórnia para pesquisas anatomopatológicas, e os resultados vêm sendo
divulgados até os dias de hoje.
O que a neurociência aprendeu com Henry Molaison? Os pesquisadores
descobriram que funções complexas, como aprendizagem e memória, estão
ligadas a processos e regiões biológicas distintas do cérebro, incluindo o
hipocampo e a região para-hipocampal. A descoberta abriu caminho para uma
exploração mais profunda das redes cerebrais que codificam memórias
conscientes e inconscientes, assim como das emoções.
O caso HM ainda nos leva a repensar como as emoções acontecem em
nós, ou “não acontecem em nós”, como diriam Davidson e Begley (2013). Para os
neurocientistas americanos, as emoções e os pensamentos não acontecem
conosco, eles são rotineiros, possíveis e enraizados na estrutura de nossos
cérebros, embora a formação de personalidade aconteça sem conhecimento do
cérebro. As emoções se apresentam para nós como “estados ou estilos
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emocionais”, entendidos como processos emocionais curtos ou processos
emocionais mais consistentes em nossa forma de responder à vida (Davidson;
Begley, 2013). Isso nos impele a buscar conhecer a diferença entre ambos e sua
implicação para a memória e a aprendizagem. Teremos, em outro conteúdo, mais
dados sobre os estilos emocionais; por hora, uma outra questão é esclarecer
dúvidas sobre o fato de a emoção estar interligada à cognição, e a memória e à
aprendizagem.
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estejam cientes de terem visto o rosto; (3) pessoas com lesões na amígdala não
conseguem utilizar as informações contidas nas expressões faciais para fazer
julgamentos interpessoais.
Ao falar do papel das emoções sobre o que aprendemos, é oportuno
ampliar o termo “aprendizado” para “ensino/aprendizado”. Todos nós entendemos
as coisas com base em experiências passadas. O professor baseia-se em suas
experiências passadas com “mestres” que lhe deram as primeiras aulas; aquele
que aprende se ampara em coisas que leu, ouviu, tocou, sejam aulas ou outros
eventos. Educadores têm dito que ensinar é aprender a ensinar; aprender é
ensinar a aprender; ou que não pode haver ensino sem aprendizagem e vice-
versa (Freire, 1996; 2003). Nesse seguimento, o que a emoção produz quanto ao
aprender se aplica ao ensinar.
O papel comunicacional-informacional da emoção transcende o uso de
palavras. Olhando para uma pessoa pode-se ter certa sensação, que explicada
em palavras seria algo como “ele está com raiva” ou “ela está com medo” ou ainda
“os dois estão alegres”, mas as sensações vão além dos milhares de palavras que
existem na língua portuguesa ou outros idiomas. Podem ser de 400 a 600 mil,
segundo diferentes fontes de pesquisa, mas se tomarmos apena o Michaelis,
reuniremos para consulta 167 mil verbetes, 350 mil acepções, 27 mil expressões
e 47 mil exemplos e abonações. Entretanto, não precisamos disso quando
comunicamos estados de emoção, humores e necessidades emocionais, pois
elas se revelam não verbalmente.
A interpretação informacional de uma emoção tem influência
particularmente forte na atenção. Tyng et al. (2017) revelam um “controle
atencional e executivo” que na sua visão “está intimamente ligado aos processos
de aprendizagem, pois as capacidades de atenção intrinsecamente limitadas são
mais focadas em informações relevantes”. Os autores ainda complementam a
ação da emoção sobre a aprendizagem pela faculdade de facilitar a codificação e
ajudar a recuperar informações de forma eficiente.
Ao estudar o caráter comunicacional-informacional da emoção, em um
evento emocional intenso e marcante, ela representa uma espécie de memória
emocional. Da mesma forma quando aprendemos determinados comportamentos
que nos fazem mudar padrões de respostas diante de certas situações: é como
se tivéssemos uma aprendizagem emocional. Por fim, sempre que algo se
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apresenta em um determinado evento, nos faz direcionar nossa atenção, por uma
determinada emoção; ela nos afeta como se fosse uma atenção emocional.
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ensino-aprendizado. Podemos ter mais ou menos ganho na memória e no
aprendizado, conforme as nossas emoções. Podemos conhecê-la por saberes de
nossa personalidade, nossa idade, e outros.
A combinação entre neurociência e psicologia é importante para avaliar
aspectos relativos aos processos emocionais, e sua relação com a memória e a
aprendizagem. O que se tem como caminho é a avaliação da emoção em si, para
considerar, a partir disso, possíveis implicações na memória e na aprendizagem.
Aspectos como personalidade e capacidade intelectual são fatores
individuais a serem reconhecidos na emoção. Alguns traços de personalidade
parecem ter efeitos visíveis, como a extroversão e o neuroticismo. Nunes (2010,
p. 130) descreve as características de pessoas com altos níveis de extroversão,
como falantes, com senso de intimidade, e ativas. O autor aborda o neuroticismo
como o que ocorre com pessoas que vivenciam formas mais intensa de
sofrimentos psicológicos, instabilidade afetiva e vulnerabilidade. Essas duas
facetas da personalidade podem por elas mesmas ter influência na vida das
pessoas, ao se revelarem em emoções.
De acordo com Urry e Gross (2010) e Allard e Kensinger (2014), “estudos
também mostraram que adultos mais velhos estão associados à maior
familiaridade com o estresse psicológico e experiências emocionais, causando,
assim, viés de positividade no processamento emocional e melhor controle
emocional do que em adultos jovens” (citados por Tyng, 2017). Outros estudos
parecem confirmar Tyng, e mesmo que não avaliemos os processos emocionais
individuais pela diferença entre o que marca o calendário e o que indica as
emoções, a idade dos participantes em uma amostra da população deve ser
considerada para estudos cognitivos e emocionais.
Podemos incluir os testes psicológicos sobre as emoções como “um
procedimento sistemático para a obtenção de amostras de comportamento
cognitivo ou afetivo e para a avaliação destas amostras de acordo com certos
padrões” (Urbina, 2007, p. 11). Eles compreendem o “chamado crivo biológico,
que filtra os estímulos para que possam ser adequadamente elaborados pelo
organismo, até as formas mais sofisticadas dos testes psicológicos (Pasquali,
2010, p. 11). Os instrumentos oferecem uma visão psicológica de facetas
emocionais, mas sua análise detalhada pode permitir conhecer melhor domínio
de funcionamento da pessoa, tal como a natureza experiencial da emoção ou
mesmo sua regulação, processos cognitivos ligados à percepção emocional em
8
si e nos outros, e a atenção vinculada a emoção e uso da memória.
Técnicas de imagem cerebral, como tomografia computadorizada (TC),
imagem ótica difusa (DOI), sinal óptico relacionado ao evento (EROS),
Magnetoencefalografia (MEG), eletroencefalograma (EEG), imagens de
ressonância magnética funcional (IRMf), tomografia por emissão de pósitrons
(PET) e espectroscopia funcional próxima do infravermelho (fNIRS), entre outras,
permitem o processamento de informações por centros do cérebro para
visualizações diretas. Para citar duas delas, a IRMf é usada para detectar
alteração do fluxo sanguíneo cerebral associada à atividade neural. Isso permite
acessar imagens de estruturas cerebrais que estejam em atividades (num evento
emocional) durante o momento em que elas acontecem. Já a PET mede emissões
de substâncias químicas que estão ativas na corrente sanguínea, o que permite
avaliar a presença de substâncias neuroquímicas em certos processos
emocionais. Avaliações podem também ser feitas sobre exame de pupilas
(iluminação e movimento ocular), condutância da pele e análise de expressões
faciais.
Emoções negativas que ficam mais tempo do que apenas por um momento
bloqueiam o fluxo de glicose para o cérebro e privam o corpo de energia, o que
afeta negativamente o processo de aprendizagem.
A busca de evidências sobre os efeitos da emoção na memória e no
aprendizado indica que algumas respostas podem ser consideradas. É nosso
entendimento que as emoções positivas facilitam a aprendizagem e contribuem
para o desempenho acadêmico, por meio de automotivação.
As emoções negativas, por outro lado, são vistas como inibidoras em
processos de ensino-aprendizagem, salvo em situações específicas. Uma delas
é apresentada por D’Mello et al. (2014, citado por Tyng, 2017), que relatam em
estudo recente que o estado negativo de aprendizagem (confusão) melhora a
aprendizagem, porque resulta em um foco de atenção maior em material de
aprendizagem, que por sua vez leva a desempenhos mais altos em testes.
Para Vogel e Schwabe (2016) as pesquisas das duas últimas décadas,
identificaram os hormônios e neurotransmissores observáveis durante e após um
evento como os principais moduladores do aprendizado e da memória. Eles
acrescentam que estágios de codificação, consolidação ou recuperação na
9
memória podem ser afetados diretamente por respostas fisiológicas após um
encontro estressante.
Outro dado relevante apresentado por Vogel e Schwabe (2016) é de que o
estresse afeta a memória de uma maneira dependente do tempo, muitas vezes
melhorando a formação da memória na época do encontro estressante, mas
prejudicando a recuperação e a aquisição de informações codificadas muito
depois do evento estressante.
Scot (2008) relata uma metanálise em 113 estudos de estresse:
10
repertório de atenção e pensamento, ações que como vimos anteriormente estão
ligadas à memória e aprendizagem (Fredrickson, 2019).
11
REFERÊNCIAS
DAVIDSON, R. J.; BEGLEY, S. The emotional life of your brain: how its unique
patterns affect the way you think, feel, and live – and how you can change them.
New York: Hudson Street Press, 2012.
FREIRE, P. Cartas a Cristina: reflexões sobre minha vida e minha práxis. São
Paulo: Ed. UNESP, 2003.
12
PASQUALI, L. Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. Porto
Alegre: Artmed, 2010.
SCOT E. How Stress Works With and Against Your Memory Verywell Mind, v. 7,
2008.
13
AULA 3
EMOÇÃO, MEMÓRIA E
APRENDIZAGEM
2
Se no episódio relatado você estivesse tranquilo, poderia processar
informações com o seu neocórtex, usando a lógica. Mas um curto-circuito,
chamado por Goleman (2011) de “sequestro da amígdala”, desviou as
informações da parte lógica (neocórtex) para a parte emocional (amígdala). Isso
ocorre com respostas emocionais imediatas e desproporcionais aos eventos.
Depois de um tempo, a informação reencontra o fluxo dos processos lógicos
podendo levar você a perceber a inadequação emocional.
1.1.1 Autoconhecimento
1.1.2 Autorregulação
3
se refere ao controle de impulsos e objetivos, como montar uma empresa,
solucionar uma equação algébrica ou disputar uma competição.
1.1.3 Empatia
1.1.4 Motivação
4
Warner (2001) reporta a perspectiva da importância de perfil de estilo de
inteligência emocional para aplicação de conhecimentos e sentimentos em
situações de nossas vidas. Cada pessoa, diz o autor, usa suas emoções e
inteligência de maneira diferente, um estilo não é melhor que o outro, não há
respostas certas ou erradas.
Ao nos reportamos à inteligência como algo que também é formado ao
longo da vida, aquilo que aprendemos ao nos observar e a observar os outros
reproduz um senso de capacidade para o comportamento social e, por
consequência, isso nos envia à noção de uma inteligência social, tema a seguir.
Saiba mais
Inteligência social se refere à capacidade de ler outras pessoas e entender
suas intenções e motivações. Abrange a capacidade de efetivamente negociar
relações sociais complexas e ambientes.
Kihlstrom e Cantor (2000, p. 564) citam Dewey (1909) e Lull (1911) como
os primeiros a usarem o termo “inteligência social” e vão além, ao informar que o
conceito moderno tem suas origens em Edward Lee Thorndike (1920), em três
facetas referentes à capacidade de entender e gerenciar ideias (inteligência
abstrata), objetos concretos (inteligência mecânica) e pessoas (inteligência
social). A formulação clássica de Thorndike explicava a inteligência social como a
capacidade de entender e gerenciar homens e mulheres, meninos e meninas, e
para agir com sabedoria nas relações humanas.
Se o conceito de Thorndike parece simples e puro para a amplitude de
interpretações que surgiram nos anos que o sucederam, ele retorna nos dias de
hoje, depois de termos vivido uma primeira metade do século 20 em função da
importância de tratar a inteligência em termos de capacidades racionais como
sugeriam os estudos sobre o Q.I. Os anos 90 mudarem o foco do Q.I. (Quociente
de Inteligência) para o Q.E. (Quociente Emocional) e a capacidade de
compreender e manipular símbolos matemáticos e linguísticos. Deparou-se com
o autoconhecimento, autodisciplina, empatia e consciência social, resgatando-se
de alguma forma o foco da atenção para o ser humano, para a emoção e para a
socialização.
5
O retorno a Thorndike é confirmado nas pesquisas sistemáticas realizadas
por Sternberg. Assim entende Goleman (2011), ao destacar que “a inteligência
social é, ao mesmo tempo, diferente das aptidões acadêmicas e parte-chave do
que faz as pessoas se saírem bem nos aspectos práticos da vida”.
Na nossa visão, percebe-se que em determinados aspectos a inteligência
social parece estar contida na inteligência emocional. Colocá-la num lugar
diferente seria uma espécie de circunscrição conceitual para situar em que ela se
diferencia diante de tantas semelhanças. Na concepção de capacidade social,
aspectos marcantes correspondem a conceitos sobre comunicação, papéis
sociais, habilidades de escuta social, auto-eficácia, e ajuste emocional, entre
outros.
A capacidade comunicacional identifica pessoas socialmente inteligentes
para conversas com diferentes interlocutores e habilidade adequada ao conteúdo
do que se comunica, o que representa habilidades de expressividade social.
Podemos considerar a inteligência social nos papéis sociais e nas regras
sociais, sem desconsiderar seu uso diante do que é informal ou normal. Podemos
pensar em pessoas com inteligência social sabendo jogar o “jogo da interação
social”.
A inteligência social é observável em habilidades de escutar os outros,
entender e observar, e ter sintonia com o que é dito. Isso, de alguma forma,
caracteriza também a inteligência emocional que está a ela integrada.
Na visão de Kihlstrom e Cantor (2000, p. 577) pode-se pensar que o
conceito de inteligência social tenha sobrevivido à sua utilidade e venha a ser
suplantado pela inteligência emocional. Por outro lado, estudos da neurociência
podem trazer novas informações e ampliar os estudos de inteligência social, como
vem acontecendo em outras áreas da psicologia.
Ganaie e Mudasir (2015), ao dizer que inteligência social se refere à
capacidade de ler outras pessoas e entender suas intenções e motivações,
aproximam o conceito do termo consciência: “o cientista Ross Honeywill acredita
que a inteligência social é uma medida agregada de autoconsciência e
consciência social, crenças e atitudes sociais evoluídas, e uma capacidade e
apetite para gerenciar mudanças sociais complexas”.
6
TEMA 3 – AUTOCONSCIÊNCIA
Saiba mais
Indagar sobre quem sou eu e o que é minha consciência é algo que intriga
especialistas e estudiosos da psicologia, neurociência e filosofia há muito tempo.
Nos parece que o que se busca saber é se o que chamamos de consciência é
produto de um todo no cérebro ou conjuntos específicos de circuitos cerebrais
interligados.
Dois momentos merecem destaque na evolução do entendimento do que
seja a autoconsciência a partir do estudo da consciência. Um deles refere-se ao
interesse científico por conhecer a consciência e sua inserção na emoção, que
pode ter sido estimulado primeiramente por William James, para quem a emoção
é uma percepção consciente das mudanças corporais que podem ter origens
inconscientes (Barret; Niedenthal; Winkielman, 2005).
O outro ponto se refere ao debate de caráter filosófico provocado por René
Descartes, ao afirmar ser a mente uma substância ou coisa fisicamente distinta
do cérebro. Ao separar mente e cérebro, Descartes postulou o dualismo, que teve
como alternativa lógica o fisicalismo ou materialismo, entendidos por Gazzaniga
e Heatherton (2005) como a não separação entre mente e cérebro.
A concepção de que se somos autoconscientes sempre que somos
conscientes nos leva a Damasio (2009), que afirma: “uma parte importante do
processo de estar consciente consiste no fato de o cérebro ser capaz de criar
padrões neurais que mapeiam em forma de imagens aquilo que vivenciamos”.
Os estudos mais recentes veem a autoconsciência como fornecedora de
informações essenciais para o automonitoramento consciente (metacognição),
segundo Lou, Changeux e Rosenstand (2016) que, ao citarem Metha e Mashour
(2013), mencionam a teoria de que nunca temos experiências de nós mesmos,
mas apenas sobre os conteúdos da consciência.
Processos metacognitivos estão relacionados ao “pensar sobre o
pensamento”, ou seja, processos cognitivos que monitoram e controlam outros
processos cognitivos (Zahavi, 2014). Nesse sentido, entende este autor que a
ideia de autoconsciência requer metacognição, embora esta não se restrinja à
autoconsciência, pois pode ser aplicada a outros.
7
O que se depreende do que até aqui foi exposto é a perspectiva de uma
pessoa ser ao mesmo tempo sujeito e objeto de si mesmo. Sujeito quando o eu
pensa sobre o que pensa e objeto quando é pensado pelo eu, a autoconsciência.
Isso sugere uma condição de reflexividade, isto é, a pessoa, em autoconsciência,
processa e armazena informações sobre si mesma. No nosso entender, ser
autoconsciente é poder falar silenciosamente consigo mesmo, é ter uma fala
interna que pode identificar e processar informações sobre o próprio
processamento mental.
Saiba mais
8
vidas e como respondemos ao mundo em nossa volta, ou um processo emocional
dirigido por circuitos cerebrais específicos e identificáveis. Os autores entendem
que o estilo emocional pode ser medido por meio de métodos laboratoriais
objetivos. Além disso, o estilo emocional influencia a probabilidade de
apresentarmos determinados estados emocionais, traços emocionais e humores.
São seis os estilos emocionais: resiliência, que corresponde à velocidade
com que nos recuperamos de uma adversidade; a atitude, que se refere ao tempo
em que conseguimos sustentar emoções positivas; a intuição social, que
compreende a facilidade com que captamos os sinais sociais emitidos pelas
pessoas ao redor; a autopercepção, nossa capacidade de perceber as
sensações corporais relacionadas com as emoções; sensibilidade ao contexto,
a capacidade de regularmos nossas respostas emocionais para que
correspondam ao contexto social; e atenção, quão aguçada e clara é nossa
concentração.
Numa visão geral, os seis estilos emocionais de Davidson e Begley (2012)
nos fazem ver de forma mais ampla o cérebro emocional pelos circuitos cerebrais
e o que pensamos sobre inteligência emocional por certo adquire novos
embasamentos, capazes de ajudar a compreendermos a nós mesmos e aos
outros e usar este entendimento para abordar a vida com os sensos de cada um
dos estilos.
Saiba mais
9
capacidade de lidar com o estresse, itens comuns nas testagens psicológicas de
personalidade.
A nível de experimento, Davidson e Begley (2012) exemplificam uma
avaliação por meio de um bastão cheio de água muito quente, que, ao tocar a
pele, parece queimar, mas não causa nenhuma lesão. Ao examinar o período de
recuperação, poderia ser medido o reflexo do piscar de olhos ou, em outra
modalidade, com eletrodos, a força de contração dos músculos que provocam o
piscar de olhos.
De outro modo, tomando como orientação os questionários autorreferidos,
por exemplo, pede-se aos indivíduos que respondam a perguntas sobre seu
comportamento típico (Weiten, 2005, p. 362). Davidson e Begley (2012)
apresentam questionários com perguntas do tipo verdadeiro ou falso, com um
padrão para medir e quantificar os resultados. Na resiliência, o modelo
apresentado compõe-se de perguntas do tipo: “Se tenho uma discussão boba com
um amigo próximo ou com o meu parceiro, isso me deixa mal durante horas, ou
por mais tempo?”.
Davidson e Begley (2012) nomeiam seis das dez questões como aquelas
que valem 1 ponto para respostas V ou 0 para respostas F. Para outras quatro
questões, destina-se 1 ponto para as questões F e 0 para V. Quanto mais alta for
a pontuação, mais distante a pessoa se encontra do estilo resiliência. Quanto mais
baixa a pontuação, maior proximidade com o estilo.
A atitude é medida em laboratório, segundo Davidson e Begley (2012),
pela observação da quantidade de tempo que os circuitos cerebrais responsáveis
pelas emoções positivas permanecem ativos depois que uma pessoa observa
imagens que os ativam, como de uma mãe alegre ao abraçar o seu bebê ou de
alguém solícito prestando alguma ajuda.
Davidson e Begley (2012) entendem que a atitude relacionada a quanto
tempo conseguimos sustentar as emoções positivas, embora não claramente
presente em conceitos como predisposição para reagir a determinado objeto de
maneira geralmente favorável ou desfavorável (Michener, 2005), estão no campo
conceitual da atitude. De qualquer modo, ao nosso ver, não é algo tão distante de
determinadas facetas psicológicas utilizadas de modo mais amplo nos
procedimentos psicométricos de testes psicológicos. Facetas como assertividade
e realização, por exemplo, são examinadas no NEO-PI-R (Costa Junior, 2007),
10
dinamismo e empenho/comprometimento na Bateria Fatorial de Personalidade –
BFP (Nunes, 2010).
Em questionários de referência, Davidson e Begley (2012) usam asserções
do tipo: “Mesmo nos dias agitados, passo de um evento ao seguinte, sem me
sentir cansado”.
A apuração segue o modelo apresentado sobre o estilo emocional da
resiliência.
Davidson e Begley (2012), ao dizerem que intuição social é a marca de
alguns dos maiores professores, terapeutas e professores que dedicam a vida a
cuidar dos outros, abrem caminho para uma melhor compreensão e avaliação
deste estilo emocional.
No laboratório, lembram Davidson e Begley (2012) é possível avaliar a
intuição social medindo as funções cerebrais e o comportamento. Um aparelho de
laser pode ser utilizado para rastrear os movimentos oculares de uma pessoa
quando mostramos imagens de um rosto.
Um exemplo do questionário para avaliar este estilo: “Muitas vezes, basta
olhar para outra pessoa para saber que algo a está incomodando”.
Davidson e Begley (2012) veem as pessoas autoperceptivas como aquelas
que são plenamente conscientes de seus pensamentos e sensações e estão
atentos às mensagens que o corpo lhes passa.
A avaliação deste estilo emocional em laboratório se faz pela medição da
sensibilidade de uma pessoa por meio de sinais fisiológicos internos. Examina-se
até que ponto o indivíduo consegue detectar seus próprios batimentos cardíacos.
Em teste do tipo V ou F, Davidson e Begley (2012) apresentam perguntas
como: “Quando vejo uma pessoa sofrendo, também sinto esta dor, tanto
emocional como fisicamente”. Os procedimentos de apuração são iguais aos
questionários anteriores.
A capacidade de regularmos nossas respostas emocionais para que
correspondam ao nosso contexto social é o estímulo emocional definido por
Davidson e Begley (2012) como sensibilidade ao contexto social.
Em termos laboratoriais, a sensibilidade ao contexto social pode ser
avaliada pela variação de respostas emocionais segundo o ambiente em que a
pessoa está inserida. Também se fazem exames no hipocampo para medir sua
função e sua estrutura, usando a ressonância magnética. Um exemplo de
asserção do questionário de avaliação que segue os protocolos anteriores de
11
apuração é: “Uma pessoa próxima disse que costumo ser insensível aos
sentimentos dos outros”.
Davidson e Begley (2012) informam que a razão de considerarem a
atenção como um estímulo emocional está no fato de que imagens e sons simples,
embora já nos distraiam bastante, podem ser muito piores quando associados a
uma carga emocional.
Em laboratório, medimos a atenção seletiva e a atenção aberta. Na
primeira, podemos observar, enquanto a pessoa lê, se ela está enxergando as
mãos que seguram o livro, se consegue captar o som em ambiente silencioso, se
percebe os pés tocando o chão, se dá ênfase às sensações corporais. Para medir
a percepção aberta no laboratório, o indivíduo pode ser levado a observar uma
série de letras que, em dado momento, são intercaladas por um número que
aparece algumas vezes. A pessoa deve dizer o momento em que o número
aparece. Isso pode variar com a imagem de uma criança chorando em meio a
outras paisagens.
O questionário que mede a atenção contém perguntas do tipo: “Consigo
me concentrar em um ambiente barulhento”?
Numa visão geral da avaliação dos estilos emocionais, Davidson e Begley
(2012) afirmam que uma pessoa pode ser positiva e de recuperação rápida,
socialmente intuitiva, autoignorante, antenada e concentrada. Também dizem os
autores que a pessoa pode ser negativa, mas de recuperação rápida, desnorteada
em relação ao seu entorno social, autoignorante e desconcentrada. Conhecê-lo,
dizem Davidson e Begley (2012), é importante para entender a própria saúde e
suas relações e como modificá-lo.
12
REFERÊNCIAS
DAVIDSON, R. J.; BEGLEY, S. The emotional life of your brain: how its unique
patterns affect the way you think, feel, and live--and how you can change them.
New York: Hudson Street Press, 2012.
FUMHAM, A. 50 cosas que hay que saber sobre psicologia. Buenos Aires:
Ariel, 2011.
LIU, C. et al. Neuroscience and learning through play: a review of the evidence.
The LEGO Foundation, 2017. Disponível em:
<https://www.legofoundation.com/media/1064/neuroscience-review_web.pdf>.
Acesso em: 12 ago. 2019.
13
83, p. 765-773, 2016. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/301274091_Towards_a_cognitive_ne
uroscience_of_self-awareness>. Acesso em: 12 ago. 2019.
14
AULA 4
EMOÇÃO, APRENDIZADO E
MEMÓRIA
INTRODUÇÃO
2
informações que chegam já resumidas, trazidas pelos oficiais de alto escalão, e
assessores imediatos que recolheram essas informações de escalões inferiores.
Essa forma hierarquizada tem a unidade básica da informação em soldados, que
no cérebro são os neurônios. São bilhões de soldados formando uma rede enorme
que cobre um vasto território.
Para o general da metáfora, é impossível estar sempre ciente de cada
manobra, cada adversidade encontrada em algum ponto de grande malha de
caminhos de informações. Em nossa visão, podemos imaginar, espalhados no
território que compreende o organismo humano, unidades e postos que se
comunicam pela via informacional encarregados de controle, de defesa e de apoio
do organismo. Para isso, temos áreas como o neocórtex, o sistema límbico e
setores como a amígdala, o tálamo, o hipotálamo, entre outros.
As informações que chegam ao cérebro estão também vinculadas ao que
vivenciamos em nossas histórias pessoais. Segundo a Teoria dos Estilos
Emocionais de Davidson & Begley (2013), uma parte daquilo que nos caracteriza
emocionalmente é aprendida ao longo de nossas experiências de vida, e isso se
dá pela companhia de outras pessoas. A outra parte, programada biologicamente,
nos faz entender a Teoria do Apego de Bowlby (Livro da Psicologia, 2012). A
presença de outros em nossas vidas parece seguir um rito de vínculo que, ao
sofrer rupturas, acelera nossas emoções, assim como acontece no apego infantil,
no qual os laços seguros entre cuidador e criança criam estabilidade emocional.
Nossas emoções, sociais ou não, primárias ou secundárias, são
inspecionadas – segundo a metáfora de Callegaro (2011) – em postos de controle
cerebral, os quais determinam como o organismo deve se proteger.
3
A adaptação social pode ser investigada sob vários pontos de vista. Um
deles, que nos parece oportuno diante da compreensão da abrangência do termo
“adaptabilidade”, é o estudo de Henry Murray sobre comportamentos que podem
ser trabalhados no sentido de maior adequação a necessidades, situações e
circunstâncias. Sobre isso, Murray apresenta os seguintes motivos:
TEMA 3 – EMPATIA
4
Weeks (2014) conta que, num estudo, estudantes receberam, na
universidade, a tarefa de dar uma palestra sobre a parábola O bom samaritano.
Assim que chegaram, alguns foram informados que estavam atrasados, outros,
que estavam pontuais, e outros, que chegaram cedo. Direcionados à sala, os
estudantes passaram por um homem deitado na entrada, visivelmente precisando
de ajuda. Apenas 10% dos atrasados se apresentaram para ajudar, contra 45%
dos que estavam com certa pressa, e 63% dos que tinham tempo de sobra. Várias
perguntas podem ser feitas sobre essa pesquisa: seria o egoísmo que fez as
pessoas terem dificuldade em perceber o outro? Seriam as circunstancias
relacionadas ao tempo para cumprir a tarefa? Seria o efeito do espectador e os
estudantes não interviram por existir outros que interviram?
Há momentos em que uma pessoa ajuda outra por interpretar em si as
sensações sofridas do outro. É como se alguém emitisse considerações sobre
algo a uma pessoa como se estivesse traduzindo exatamente o que ela pensa
sobre o tema. No estudo da empatia, essa forma de pensar nos remete a dois
conceitos. O primeiro, podemos chamar de paráfrase cognitiva.
5
enviam mensagens rápidas, potentes e de caráter físico que nos permitem
responder ao nosso entorno”. Essa concepção de algum modo facilita a
comunicação de um indivíduo a outros, quer seja de forma voluntária, quer seja
involuntária.
No entender de Braghirolli (2012), há três indicadores utilizados para
identificar as emoções:
1. Relatos verbais;
2. Observação de comportamento;
3. Indicadores fisiológicos.
7
O corpo, a face e os movimentos estão vinculados às respostas fisiológicas.
Ao observarmos os rostos, podemos logo julgar se alguém está feliz ou triste,
contente ou insatisfeito, se é amigável ou perigoso (Mlodinov, 2013, p. 48). Esse
autor acrescenta que “nossas honestas reações a eventos são refletidas em
expressões faciais controladas em grande parte pela nossa mente inconsciente”.
A literatura é vasta em apresentar as emoções não-verbais no
processamento inconsciente da mente (Callegaro, 2011; Mlodinov, 2013; Silva,
2019). No dizer de Callegaro (2011, p. 43), “os sentimentos são mecanismos
reguladores de alto nível que traduzem em linguagem consciente, todo um iceberg
de processamento inconsciente”.
Quando tratamos do tema “O papel da emoção na memória e no
aprendizado”, dissemos que não precisamos das palavras da língua portuguesa
(entre 400 e 600 mil) para expressarmos emoções, pois elas se revelam de
maneira não verbal (Silveira, 2019). Gazzaniga & Heatherton (2005) por sua vez,
de modo específico, afirmam que, embora existam mais de 550 palavras na língua
inglesa referidas especialmente para a emoção, os humanos conseguem se
comunicar muito bem sem a linguagem verbal.
Para quem assistiu à série de TV Lie to Me, deve ter reparado em várias
situações de decodificação facial de expressões humanas para detectar mentiras
ou verdades. O psicólogo Paul Ekman, Consultor da série, é também um pioneiro
no reconhecimento de emoções nos anos 60. Em suas pesquisas, ele encontrou
concordância entre membros de culturas ocidentais e orientais para investigar
micro expressões faciais como felicidade, desgosto, raiva, tristeza, surpresa e
medo.
O trabalho de Ekman (2011) nos ajuda a compreender que um micro
expressão como uma expressão facial breve e involuntária, ao contrário das
expressões faciais regulares e prolongadas, é difícil de ser manipulada. As sete
emoções apresentadas por Ekman, felicidade, tristeza, surpresa, medo, raiva,
8
nojo e desprezo, são hoje, conforme novas pesquisas, apenas quatro: felicidade
(alegria), tristeza, raiva e medo (Cherry, 2019).
5.2 Gestos
5.5 Tocar
5.6 Voz
A voz comunica pela intensidade, pelo tom e pela inflexão. Pode-se dizer
que não é exatamente o que si diz, mas como se diz. Tempo, ritmo e volume são
sons que podem transmitir vários significados emocionais. É interessante
observar que, em determinadas ocasiões, as expressões faciais acompanham a
voz, assim como os gestos e os movimentos corporais.
9
10
REFERÊNCIAS
CHERRY, K. How Many Human Emotions Are There? Verywell Mind. Disponível
em: <https://www.verywellmind.com/how-many-emotions-are-there-2795179>.
Acesso em: 13 ago. 2019.
DAVIDSON, R. J.; BEGLEY, S. The emotional life of your brain: how its unique
patterns affect the way you think, feel, and live--and how you can change them.
New York: Hudson Street Press, 2012.
FURNHAM, A. 50 cosas que hay qye saber sobre psicologia. Buenos Aires:
Ariel, 2011.
HARELI, S.; PARKINSON, B. What's Social About Social Emotions? Journal for
the Theory of Social Behaviour. Haifa Haifa, v. 38, n. 2, p. 131-156, maio 2008.
KLEINMAN, P. Tudo que você precisa saber sobre psicologia: um livro prático
sobre o estudo da mente humana. São Paulo: Editora Gente, 2015.
12
AULA 5
EMOÇÃO, APRENDIZADO E
MEMÓRIA
2
frequentemente, sinais afetivos, os estudiosos passaram a se dedicar à
investigação do que estaria vinculando um caráter emocional às respostas.
A emoção também envolve tomadas de decisão que são orientadas por
marcações privadas em nossa memória. Ao serem acessadas, elas interferem na
forma como pensamentos nos mobilizam a ter este ou aquele comportamento em
resposta a diferentes eventos. Pode-se considerar, nesse processo, o conceito de
pensamento automático desenvolvido pela Terapia Cognitivo-Comportamental
nas tomadas de decisão:
Um grande número dos pensamentos que temos a cada dia faz parte de
um fluxo de processamento cognitivo que se encontro logo abaixo da
superfície da mente totalmente consciente. Esses pensamentos
automáticos normalmente são privativos ou não declarados e ocorrem
de forma rápida à medida que avaliamos o significado de
acontecimentos em nossas vidas. (Wright; Basco; Thase, 2008, p. 19)
4
do cérebro estão relacionadas a quais processos cognitivos. Com a revolução
cognitiva nos anos 1960, e com os estudos dos processos mentais pela psicologia
cognitiva, temos nos dias de hoje uma visão mais avançada dos processos
cognitivos.
Os elementos, pensamento, sentimento, a intuição e a sensação, fazem
parte do perceber e do julgar. Julgar é tomar decisões e formar conclusões com
base em informações disponíveis, que combinamos com a experiência. Neste
processo, incluímos sentimento, intuição e sensação, que são inerentes ao
processo de percepção.
Pela percepção, um estímulo específico nos chega; pela atenção, ao julgá-
lo, nós o interpretamos. Como é que mantemos percepções significativas num
mundo de estímulos aparentemente caóticos? A contribuição da psicologia da
Gestalt é que a mente humana forma um todo global com tendências auto-
organizadas. O nosso cérebro percebe as coisas dentro de um espectro de
agrupamento, não de separação, e assim nos ajuda a organizar o que pensamos,
sentimos e intuímos, além das nossas sensações. Essa tendência nos garante
rapidez e aplicabilidade, mas não garante precisão, o que pode nos levar a
percepções e julgamentos equivocados.
A todo instante, fazemos julgamentos; o modo como eles surgem está
baseado principalmente em percepções sensoriais que, ao se juntar com
marcações privadas de história de vida, produzem o julgamento perceptivo.
Cognições e emoções em movimento nos fazem sentir felizes ou infelizes.
Podemos nos perguntar se, no julgamento perceptivo, vêm primeiramente as
reações fisiológicas ou as reações emocionais, mas trata-se de um longo
caminho. Pelo senso comum, uma emoção como o medo viria antes de reações
físicas, como suor, tremedeira e coração acelerado, e antes de certos
comportamentos, como a fuga. Ao tratar sobre o tema, Weeks (2014) nos lembra
que William James e Carl Lange argumentaram o contrário, ao defenderem que,
diante de algo ameaçador, primeiro suamos e trememos, e isso é que nos causa
medo. Lazarus, por sua vez, afirmou que uma avaliação (processo mental
automático e inconsciente) precede a resposta emocional (citado por Weeks,
2014). Entende-se que a avaliação a que Lazarus se refere, que nos faz julgar e
provocar uma emoção, é parte do viés cognitivo.
Vieses cognitivos, segundo Furnham (2011), “são como filtros seletivos
através dos quais vemos e interpretamos os acontecimentos”. Para alimentar os
5
filtros, usamos codificações sensoriais, isto é, recorremos aos sentidos. Diferentes
aspectos do ambiente físico são codificados por diferentes impulsos neurais.
Nossos receptores de informação são os neurônios que transmitem dados ao
cérebro, na forma de impulsos neurais. Segundo Gazzaniga e Heatherton (2005),
a maior parte do que obtemos como informação vai primeiro para o tálamo, para
dali ser distribuída ao córtex, onde será interpretada como visão, cheiro, som,
toque ou sabor.
TEMA 3 – ATENÇÃO
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A atenção concentrada refere-se à concentração do cérebro em apenas
uma atividade, excluindo outros estímulos ao redor. Ao dirigir em lugar
desconhecido, ou em alta velocidade, por exemplo, você precisa manter a atenção
concentrada.
A atenção alternada pode ocorrer quando você está dirigindo e o celular
toca. Ao desviar a atenção para o aparelho – o que não é recomendável –, a
pessoa alternou a sua concentração.
Na atenção dividida, ainda podemos usar o exemplo da direção: você
atende o celular e ainda anota alguma coisa em um papel, como um endereço
dado pelo celular. Trata-se de prestar atenção a várias coisas ao mesmo tempo;
é uma capacidade limitada que interfere na quantidade de informações
processadas no cérebro.
Pessoas que usam a atenção seletiva podem prestar atenção a coisas
específicas, enquanto filtram outras. É o caso de não se distrair quando está
voltado para uma outra coisa, não se incomodando por exemplo com barulhos e
outros fatores que poderiam desviar a mente.
TEMA 4 – MEMÓRIA
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na recuperação dessas memórias, aparece em artigo de Pessoa (2009) sobre os
processos mentais na relação entre cognição e emoção
Ao tratar de processos mentais, destacamos três estágios da memória.
Temos a memória sensorial (primeiro estágio), que recebe a informação pelo
órgão dos sentidos (escuta ou vê, por exemplo). Uma informação sensorial é
armazenada na memória por um prazo curto. Kleinman (2015) informa que a
informação auditiva é armazenada por três ou quatro segundos, enquanto a
informação visual é guardada por meio segundo.
A memória de curto prazo retém temporariamente as informações
processadas – algo em torno de 20 ou 30 segundos. Se você tiver que dar os dez
dígitos de um número que lhe passaram, provavelmente será capaz de se lembrar
entre cinco e nove números. O que se sabe na literatura sobre o tema é que a
memória de curto prazo é capaz de reter sete elementos, com uma variação de
dois para mais ou para menos.
Quando as pessoas falam em memória, geralmente se referem à memória
de longo prazo, que diz respeito ao armazenamento contínuo de informações.
Na visão de Sigmund Freud, a memória de longo prazo também poderia ser
inconsciente e pré-consciente (Kleinman, 2015).
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exposição é a exposição repetida ao mesmo estímulo, que produz atitude positiva
em relação a ele (Michener; Delamater; Myers, 2005, p. 625). É o caso de estudos
sobre o fenômeno psicológico, segundo os quais as pessoas tendem a
desenvolver preferência por coisas ou pessoas que são mais familiares.
No cérebro, o processamento inconsciente provocado pela exposição
repetida aumenta a familiaridade e gera, de modo subcortical, respostas
automáticas afetivas, que se integram a respostas cognitivas mais lentas,
produzidas pelo processamento consciente no modo cortical.
No sentido de avançar com uma base anatômica para as interações
cognitivo-emocionais, podemos imaginar a nossa estrutura cérebro-corpo como
um pequeno mundo, onde existem vias de acesso, e onde minúsculas entidades,
os neurônios, diminuem distâncias por meio de sinapses. As áreas corticais deste
pequeno mundo se conectam diretamente, ou através de uma ou mais áreas
intermediárias. Podemos imaginar como exemplo que as áreas pré-frontais estão
mais afastadas da periferia sensorial, supondo que as informações que elas
recebem já passaram por vários caminhos e que, ao chegar, já foram altamente
processadas e integradas (Pessoa, 2009). O autor defende também que isso pode
explicar a maior flexibilidade do cérebro primata, além de sugerir que informações
altamente processadas seriam capazes de suportar igualmente um
processamento mais abstrato, necessário para a cognição. É notável, nesta
concepção, as características da amígdala, que está bem afastada da periferia
sensorial, e que faz projeções muito difundidas. Ou seja, ao nosso ver, a
informação que provoca uma determinada emoção ameaçadora, por exemplo,
chega carregada à amígdala, exigindo defesa imediata. É possível, em nosso
entendimento, que mesmo com a perspectiva de flexibilidade do neocórtex no
pensamento lógico, em interações cognitivo-emocionais, os circuitos que dão
acesso às vias fiquem limitados ao controle da amígdala.
Não há um consenso definitivo sobre as interações cognitivo-emocionais,
já que parte significativa do que se conhece está relacionada a lesões cerebrais,
como o caso HM, já visto, em que o pesquisador pode tirar conclusões de áreas
específicas do cérebro. Isso não parece ser suficiente para uma visão mais
precisa, que fosse capaz de nos ajudar a entender comportamentos cerebrais
complexos. Podemos descobrir uma determinada rota informacional produzida
por sinapses que ligam esta ou aquela estrutura, mas não conseguimos avançar
sobre o processamento mental quando isso ou aquilo é perdido.
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As emoções nos enviam mensagens rápidas, potentes e de caráter físico,
que nos permitem responder ao nosso entorno, além de facilitarem a comunicação
voluntária ou involuntária (Furnham, 2011). Podemos pensar nela como
puramente física, isto é, separada da cognição; porém, desse modo ela não
explica o comportamento humano, que é diferente do “comportamento” das
plantas, das minhocas, das rochas. É como se quiséssemos explicar alguma coisa
apenas em um determinado ponto, sem explicar o todo para onde aquilo vai.
As emoções são produto de sistemas complexos de processamento, que
convertem informações sensoriais em mudanças psicofisiológicas e respostas
emocionais. Komninos (2017), ao tratar do assunto, aponta que cognição e afeto
nos ajudam a converter informações do ambiente em representações sobre o
mundo, com juízos de valor que determinam como reagimos e nos comportamos.
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hidrogênio com dois oxigênios. Quando fazemos a união de um e outro, criamos
uma nova entidade, com novas propriedades.
Interações cognitivo-emocionais, que nos deixam alegres ou tristes,
assustados ou raivosos, podem determinar e ser determinadas por reações
fisiológicas, até onde sabemos. É notório que o conhecimento que temos é
relevante e significativo, mas ainda temos muito que avançar para ter maior
controle consciente do que acontece na interação entre nossas emoções e
cognições.
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REFERÊNCIAS
FURNHAM, A. 50 cosas que hay qye saber sobre psicologia. Buenos Aires:
Ariel, 2011.
KLEINMAN, P. Tudo que você precisa saber sobre psicologia: um livro prático
sobre o estudo da mente humana. São Paulo: Editora Gente, 2015.
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AULA 6
EMOÇÃO, MEMÓRIA E
APRENDIZADO
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Ao longo da história, passamos por várias escolas do conhecimento, nas
quais aprendemos que “As coisas não inquietam os homens, mas as opiniões
sobre as coisas” (Epiteto), e hoje, por meio da psicologia cognitiva, percebemos
que a interpretação é o que dói, não o fato em si.
Há pessoas que não focam o passado, veem o presente com alegria e
parecem não ver correntes em sua volta, algo que os psicólogos chamam de
resiliência, uma espécie de resistência às expectativas desoladoras. Estas
pessoas podem ser influenciadas biologicamente (saúde, genética,
personalidade) ou externamente (ambiente doméstico e estilos parentais). Seria o
3
Por que há pessoas que suportam as crises estressantes e outras não?
Quais as características que marcam quem consegue lidar com os contratempos
da vida? É o que veremos a seguir.
4
ter dificuldades para dormir e outros sintomas. A regulação emocional é como um
termostato homeostático capaz de regular as emoções e mantê-las sob controle
(Leahy, 2013, p. 21).
O autoconhecimento ajuda na autorregulação e na visão, com base na
maior consciência das cognições que marcam a interpretação que a pessoa tem
de si, dos outros e do mundo, influenciando emoções e comportamentos e nos
fazendo lidar com os próprios pensamentos e sentimentos (Cowden; Meyer-Weitz,
2016). Devemos ver o autoconhecimento não apenas como um processo de
voltar-se para as próprias emoções, mas de usar a autorreflexão para tratar de
suas cognições, podendo contestá-las ou alterá-las, com efeito não nas emoções,
mas nos comportamentos disfuncionais tão estudados pela terapia cognitivo-
comportamental.
A inteligência emocional, ao tratar da autoconsciência, aproxima-se do
comportamento resiliente, ao reconhecer um sentimento quando ele acontece,
momento definido por Daniel Goleman (2011) como sua “pedra de toque”. A
importância deste componente da inteligência emocional está na capacidade de
controlar sentimentos e poder pilotar a vida com mais autoconsciência.
O autocontrole compreende a capacidade de confortar-se, de livrar-se da
ansiedade, tristeza ou irritabilidade que a incapacitam; já a automotivação refere-
se a pôr as emoções a serviço de uma meta, o que é essencial para centrar a
atenção, motivar-se e exercer o controle. Goleman fala em entrar em estado de
“fluxo”, o que possibilita um desempenho excepcional (2011, p. 73-74).
A empatia está em sintonia com o comportamento resiliente quando
permite escutar as emoções e os motivos pelos quais gera altruísmo. Goleman
defendia que pessoas empáticas estão em maior sintonia com os sinais do mundo
externo (2011, p. 74).
As habilidades sociais são vistas como a capacidade de se relacionar
com as emoções dos outros, ponto em que aparece mais integrada à resiliência
do que aptidões como popularidade, liderança e eficiência interpessoal, presentes
neste componente da inteligência emocional.
Pessoas resilientes não optam por se tornar vítimas nem pelo sofrimento.
Acostumados a ver a resiliência explicada como a capacidade de enfrentar uma
5
situação adversa e manter-se forte, a pergunta que surge é: como ser resiliente
diante de eventos negativos?
A história nos revela que a espécie humana tem capacidade de se adaptar
a situações muito adversas. Há dois milhões de anos, nossos primeiros ancestrais
fugiam do fogo porque ele queimava e matava, mas aos poucos foram se
adaptando e, em vez de evitar o que lhes causava mal, eles o usaram para se
aquecer, afastar predadores, cozinhar e tornar digeríveis substâncias orgânicas
que, de outra forma, não estariam disponíveis (Catton Junior, 2005).
Somos o homo sapiens, que sobreviveu a quase 80 mil gerações de
caçadores, predadores e coletores humanos e, para sobreviver, adquirimos
determinados traços biológicos que nos permitiram estar aqui hoje.
Exames científicos de respostas ao sofrimento dão atenção a “como” as
pessoas podem evitar o impacto do que lhes é colocado e atenuar as reações
negativas. McRae e Maus (2016) argumentam que esta conceituação não leva
em conta a capacidade humana de gerar emoções positivas, como felicidade,
esperança, gratidão e amor, mesmo diante de adversidades.
O que se nota na evolução da espécie humana é que os seres humanos
têm capacidade de se adaptar e ser resilientes. Sempre que tocamos no assunto,
trazemos à discussão que é diante de adversidades passadas ou presentes que
a adaptabilidade humana surge.
A resiliência na visão de McRae e Maus (2016) é explicitamente inferencial,
em que duas condições são necessárias para descrevê-la na vida de um
indivíduo: (a) conhecer a adversidade significativa ou ameaça à adaptação do
indivíduo; e (b) observar as razões da adaptação sustentada durante a
adversidade. Estes dados de alguma forma nos explicam que o conceito de
resiliência é contextual.
A perspectiva de haver no ser humano a capacidade de gerar emoções
positivas pode ser observada pela reavaliação cognitiva, ou seja, reavaliar uma
situação difícil pode mudar seu impacto emocional. McRae e Maus (2016)
explicam que é um caminho particularmente promissor para gerar emoções
positivas em situações negativas (reavaliação positiva).
Sobre o que dizem os estudos, alguns indivíduos exibem níveis
significativos de resiliência diante de eventos estressantes da vida. As linhas de
investigação indicam a emoção positiva e a regulação emocional como estratégias
6
cognitivo-comportamentais que, ao ajudar a modular a intensidade e duração das
emoções, fazem a resiliência acontecer (McRae; Maus, 2016).
Fredrickson (2001) explica que a emoção positiva amplia o repertório
momentâneo de ação-pensamento, possibilitando construir recursos pessoais
duradouros, que vão desde recursos físicos e intelectuais até sociais e
psicológicos. Leahy (2013) nos dá exemplos de regulação emocional por meio da
estratégia da reestruturação cognitiva. Ela modifica a interpretação dos eventos,
e o indivíduo pode efetivamente reduzir o impacto emocional. Leahy (2013, p. 179)
entende que “isso condiz com a terapia do esquema emocional (TEE), no sentido
de que os conceitos de durabilidade, perigo, ininteligibilidade e falta de controle
podem ser modificados pela regulação das emoções por meio da reinterpretação
de eventos potencialmente estressantes”.
McRae e Maus (2016) acreditam que dois tipos de reavaliação têm efeitos
importantes na resiliência: a reavaliação positiva, para aumentar a emoção
positiva, e a reavaliação negativa, para diminuir a emoção negativa. Os efeitos de
curto prazo da reavaliação positiva podem ao longo do tempo proporcionar
resiliência e bem-estar; e estudos relatados de neuroimagem demonstram que a
reavaliação negativa diminui potenciais relacionados à excitação emocional,
sugerindo que ela pode ser usada para diminuir a resposta emocional negativa
(McRae; Maus, 2016).
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em situações de estresse. A cria das mães frias, porém, traz situações de estresse
constante.
Estudos nos fazem perguntar se a maior ou menor vulnerabilidade ao
estresse está relacionada ao tipo, à intensidade ou duração com que ele ocorre.
Russo et al. (2015) dão margem para esta reflexão ao falarem da “inoculação do
estresse”. Ratos infantis expostos a choques intermitentes respondem mais
efetivamente quando confrontados com situações novas em comparação com
ratos não estressados. Vários trabalhos divulgados na literatura mostram que
macacos abrigados socialmente e submetidos a breves e intermitentes
separações mostram menos ansiedade e maior exploração do ambiente (Russo
et al., 2015).
Se separações intermitentes precoces aumentam a tolerância ao estresse
e promovem resiliência, traumas agudos parecem ter relação com o cortisol.
Berndt (2018) confirma estudos de Christine Heim, psiquiatra norte-americana que
expôs mulheres abusadas na infância a uma palestra pública, e verificou que o
nível de hormônios de estresse nestas mulheres atingiu um nível seis vezes mais
alto do que em mulheres sem infância traumática.
Traumas fortes parecem se manifestar nas estruturas cerebrais. Berndt
(2018) também relata o experimento da neurobióloga Anna Katharina Braun, que
removeu alguns filhotes de roedores por uma hora do resto de sua família e
descobriu que os nervos nos cérebros desses animais criaram ligações estranhas.
O gyrus cinguli – estrutura do sistema límbico que participa do processamento de
emoções e pulsões – apresentou mais sinapses do que em animais que não foram
isolados. Um ambiente estranho os assustava.
Por sua vez, o córtex pré-frontal, relacionado ao processamento cognitivo,
personalidade, decisão e comportamento social, já estudado por nós, aparece
mais ativo no seu lado esquerdo. Berndt (2018) explica que o lado esquerdo
representa sentimentos positivos, mais entusiasmo e humor melhor, enquanto o
lado direito mostra o mau humor ou o medo.
Berndt (2018) informa que, de acordo com o pesquisador Michael Meaney,
a falta de atenção e de afeto pode ficar gravada diretamente no cérebro – fato
observado em ratos negligenciados pelas mães. O subdesenvolvimento
aconteceu no hipocampo deles.
Percebe-se que estamos apenas no início de um estudo mais definidor da
neurobiologia da resiliência. Pesquisas em humanos ainda não avançaram o
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suficiente, por exemplo, para dados neuroendócrinos experimentais de resiliência
(como a testosterona) e não investigaram animais adequadamente (Russo et al.,
2015).
É esperado que trabalhos de neuroimagem e procedimentos de
estimulação cerebral possam determinar melhor as estruturas e os circuitos
cerebrais que medeiam a resiliência ao estresse. Também são necessários
estudos sobre fatores hereditários envolvidos na capacidade de resiliência da
pessoa. Além disso, mais estudos sobre mecanismos epigenéticos e sua relação
com a resiliência também podem trazer resultados interessantes.
Berndt (2018), ao falar que pessoas com depressão grave possuem
hipocampos pequenos, como no caso de ratos que cresceram com mães
desnaturadas, nos faz refletir sobre vítimas de abuso infantil ou veteranos de
guerra. “Se essa observação for confirmada”, diz a pesquisadora alemã, “será
possível alertar pessoas especialmente vulneráveis e aconselhá-las a evitar uma
profissão com grandes pressões psíquicas”.
Hipocampo, insula e córtex cingulado se juntam a outras estruturas na
resiliência. Carvalho, Rabelo e Fermoseli (2017) reportam, entre as estruturas
neuroanatômicas envolvidas no processamento das emoções (sistema límbico),
o córtex pré-frontal e a amídala.
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Para a APA (2014), boas relações com pessoas próximas, familiares e amigos é
importante. Ao aceitar ajuda e apoio de quem se preocupa com você, fortalece-se
a resiliência.
Lidar com crises: entre as diversas formas de lidar com eventos
estressantes, está a forma de lidar com os pensamentos. É este o modo de mudar
a forma como interpretamos os eventos. Nesta perspectiva, o que vimos aqui
sobre reestruturação cognitiva pode nos ajudar a ser mais resilientes. Wright,
Basco e Thase (2008) falam em “reconhecer e modificar esquemas e
pensamentos automáticos desadaptativos” e recomendam o questionamento
socrático.
Aceitar mudanças: na indicação da APA (2014), determinados objetivos
podem não ser mais atingidos como resultado de situações adversas. Aceitar
circunstâncias que não podem ser alteradas pode ajudar sua concentração nas
que podem mudar.
Estabelecer metas e objetivos: Maglof (2019) entende que estabelecer
metas é benéfico para a vida pessoal, e é importante que não sejam fáceis de
alcançar, nem muito difíceis. A APA (2014) fala em objetivos realistas, com
atitudes frequentes, mesmo que pareçam de pouca importância.
Tomar ações decisivas: é atuar em situações adversas o máximo que
puder. Russo et al. (2015) falam em inoculação do estresse, e Guimarães (2011,
p. 184) fala que isso se relaciona a vivenciar antecipadamente uma situação
estressante, de modo que a pessoa desenvolva recursos pessoais de
enfrentamento durante a situação real temida.
Buscar oportunidades: é o que a pessoa pode aprender sobre si mesma
e descobrir que cresceu em alguns aspectos como resultado de sua luta contra
perdas. A APA (2014) explica que pessoas que passaram por tragédias e
dificuldades relatam melhores relacionamentos e maior senso de força, mesmo
quando se sentem vulneráveis.
Visão positiva: referências pessoais que estabeleçam confiança ajudam a
resolver problemas e confiar nos instintos para exercer a resiliência.
Manter a perspectiva: A APA (2014) recomenda que, mesmo quando
enfrenta eventos muito dolorosos, a pessoa deve tentar considerar a situação
estressante em um contexto mais amplo, além de manter uma perspectiva de
longo prazo.
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Outros pontos apresentados para desenvolver a resiliência são: manter
uma perspectiva de esperança que possibilite esperar coisas boas na vida; e
prestar atenção a suas próprias necessidades e sentimentos, envolvendo-se
sempre em atividades de que goste. A APA ainda recomenda formas adicionais,
como escrever pensamentos e sentimentos mais profundos relacionados a
eventos estressantes, além de meditação e práticas espirituais (2014).
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REFERÊNCIAS
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GAZZANIGA, M. S.; HEATHERTON, T. F. Ciência psicológica: mente, cérebro
e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005.
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