Habilidades Sociais
Habilidades Sociais
Habilidades Sociais
HABILIDADES SOCIAIS
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social. Entre os grandes símios, a substância cinzenta do cérebro é decisiva para
estabelecer alianças para melhores ganhos sociais. Macacos mais valorizados
recebem menos agressões, se alimentam melhor e, entre outros, têm mais filhos.
Podemos dizer que a inteligência social e emocional é mais útil que a força bruta.
Ao longo da evolução, é provável que tenhamos desenvolvido habilidades
sociais sem dar o nome que hoje usamos para definir determinados
comportamentos sociais. Isso nos ajuda a refletir que o desenvolvimento pela
socialização, empatia e compreensão das emoções e pensamentos de outros são
essenciais para a integração e o posicionamento social.
As buscas de raízes históricas sobre HS veem sinais na década de 1930,
em estudos de comportamento social em crianças, o que embora não tenha
reconhecimento tácito, pode sugerir primeiros passos. Há que destacar alguns
vieses importantes: a passagem de visão menos presa a instintos biológicos da
concepção freudiana para modelos mais interpessoais e os experimentos do
fisiologista russo Ivan Pavlov sobre o reflexo condiciona como fonte para estudo
de competências sociais.
Um outro ponto importante foi a descoberta em pesquisas de que quanto
maior a competência social, menor o tempo de internamento de pacientes em
hospitais.
Nesta sequência, a influência das habilidades sociais destacou-se em
estudos sobre a interação homem-máquina por meio dos processos de
informação e das características perceptivas, decisórias e motoras
A referência histórica coloca em aspectos cronológicos a participação de
Andrew Salter a partir de 1949 no estudo das habilidades sociais. Já em 1957, o
psicólogo americano dedicou-se a promover técnicas para aumentar a
expressividade verbal, estratégias que foram aperfeiçoadas no decorrer dos anos
por outros psicólogos. As publicações do Professor de Psicologia Vicente Cabalo
ainda situam o psiquiatra sul africano Joseph Wolpe como o primeiro a usar o
termo “comportamento assertivo” para explicar a expressão de sentimentos
negativos e defesa dos próprios direitos (Bolsoni-Silva, 2002).
Ressalte-se aqui a influência pavloniana, uma vez que o trabalho de Salter
é fundamentado no reflexo condicionado. Aprendemos na psicologia que o reflexo
condicionado conhecido como condicionamento clássico ou pavloniano aumenta
ainda mais a responsividade de um reflexo, além de propiciar efeitos mais intensos
que a sensibilização. Coube a Wolpe dar funcionalidade ao que chamou de
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Treinamento Assertivo com o qual passou a tratar a ansiedade pela expressão de
sentimentos.
O movimento em favor das HS passou a ter impulso na Inglaterra
(Universidade de Oxford) e depois disso temos visto uma literatura crescente
sobre o tema, como ocorre no Brasil com as publicações de Almir e Zilda Del
Prette.
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competente em tarefas interpessoais (Del Prette; Del Prette, 2018,
Arquivo Kindle).
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Heatherton (2005, p. 191) explicam que o condicionamento ocorre quando o
estímulo condicionado passa a ser associado ao estímulo incondicionado. “Para
que ocorra a aprendizagem, o estímulo condicionado precisa ser um preditor
confiável do estímulo incondicionado, não simplesmente contíguo”.
Comportamentos aprendidos que podem ser ensinados e que se
demonstram em situações sociais, visando obter reforço ou auto reforço social
fazem parte de competências da Psicologia Social. Nelas incluímos exemplos
como trabalhar em equipe, socialização, valores, liderança e outros.
Podemos então considerar que as HS se fundamentam em princípios e
conhecimentos estabelecidos e desenvolvidos com base em fundamentos como
a Teoria da Aprendizagem Social, os Modelos Cognitivo-Comportamentais e a
Psicologia Social.
Modelo cognitivo
Modelo comportamental
Modelo interativo
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Expressar-se corporalmente, com repertório verbal e não verbal, perguntar,
responder, variar a postura, gestos e olhar de modo adequado é diferenciar-se de
quem não apresenta estas habilidades, ou seja, o contraditório entre o que é e o
que não é competência social.
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(colocar-se no lugar do outro), expressar compreensão, incentivar a confidência
(quando for o caso), demonstrar disposição para ajudar (se for o caso),
compartilhar alegria e realização do outro (nascimento do filho, aprovação no
vestibular, obtenção de emprego e outros).
A assertividade teria como subclasses: defender direitos próprios e
direitos de outrem, questionar, opinar, discordar, solicitar explicações sobre o
porquê de certos comportamentos, manifestar opinião, concordar, discordar, fazer
e recursar pedidos. Outras classes e subclasses a título de exemplo na concepção
de Del Prette e Del Prette (2018) são:
Comunicação
Civilidade
Expressar solidariedade
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Manejar conflitos e resolver problemas interpessoais
Coordenar grupo
Falar em público
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REFERÊNCIAS
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AULA 2
HABILIDADES SOCIAIS
Importante
Vejamos o texto a seguir, adaptado sobre o caso:
Audrey Gibbons mudou-se com a família de sua Barbados nativa para a
Inglaterra em 1963. Na época, ele era pai de quatro crianças, incluindo algumas
que apresentam problemas de fala e, por isso, as pessoas tinham dificuldade para
entendê-las. Isso poderia ter contribuído para as brincadeiras maldosas por parte
dos coleguinhas da escola. Entretanto, a maior razão de serem ridicularizadas
impiedosamente era o fato de serem as únicas crianças negras de sua escola.
Quando mudaram de escola, aos 11 anos, as brincadeiras maldosas eram tão
pesadas que as gêmeas tinham autorização para sair antes a fim de fugir de seus
torturadores. Mais ou menos nessa época, elas fizeram um pacto: não se
comunicariam com ninguém. Elas não falavam, nem faziam contato visual com
professores, colegas ou inclusive os outros membros da família. Mas falavam uma
com a outra, em uma língua em grande parte ininteligíveis par os outros que
tinham criado como um código especial entre elas.
Uma sucessão de educadores, psicólogos e médicos tentou, sem sucesso,
fazer com que as meninas falassem. Como uma medida drástica, as gêmeas
foram enviadas para internatos diferentes aos 14 anos. Isso foi desastroso. Seu
isolamento auto imposto fundira suas identidades: as duas tinham se tornado uma
e separá-las um pouco fez com que facilitasse sua reabilitação. Mais tarde,
novamente reunidas, as gêmeas cometeram uma série de crimes, incluindo
vandalismo e incêndio premeditado, foram condenadas e enviadas a uma prisão
de segurança máxima para pessoas criminalmente insanas, onde permaneceram
por 14 anos. Tragicamente, Jenifer morreu poucas horas após sua libertação, de
um problema cardíaco não detectado. June atualmente mora em uma casa para
ex-pacientes mentais e ex-detentos, ainda traumatizada por suas experiências
infantis.
O caso é do ano 2000 e hoje não há notícias sobre June. O caso salienta
a fusão de identidade das duas gêmeas e suscita uma série de intrigantes
perguntas sobre como seria a vida das duas irmãs se não tivessem passado pelas
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adversidades apresentadas. Mais que isso, o exemplo ilustra como podemos ser
vítimas e ao mesmo tempo algozes de nós mesmos e dos outros quando não
conseguimos ter uma vida social saudável.
A forma como processamos informações sobre nós e os outros tem um
profundo impacto na vida social. Ao julgar e categorizar as pessoas rapidamente
corremos riscos de racismo e estereotipagem como atalhos cognitivos que nos
fazem tomar decisões rápidas sobre o que nos cerca. As habilidades sociais nos
fazem lidar de modo mais adequado com nossas percepções dos outros. Não é
apenas esta capacidade de entender o que pensam os indivíduos com quem nos
relacionamos, que nos diferencia dos animais, mas o nível de avanço que
demonstramos ter sobre isso.
(...) aqueles que têm uma habilidade social bem desenvolvida também
possuem amigos mais íntimos, relações mais satisfatórias, vivem em
relacionamentos melhores e são, de forma geral, pessoas mais felizes.
Essa habilidade influencia todos os campos da sua vida. Os melhores
líderes são aqueles que têm noção do quão bem suas instruções são
compreendidas. Uma chefe só consegue motivar seus colaboradores se
souber quais são as necessidades deles. E obviamente os vendedores
não vendem nada se não entenderem o que seus clientes querem
(Fexeus, 2019, arquivo Kindle).
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O comportamento se refere às ações observáveis: movimentos
corporais, ações intencionais como comer ou beber e expressões faciais
como sorrir. O termo comportamento é empregado para descrever uma
ampla variedade de ações físicas, sutis ou complexas, que ocorrem nos
organismos, das formigas aos humanos. Por muitos anos, os psicólogos
tendiam a focalizar principalmente o comportamento, em vez dos
estados mentais. Eles faziam isso, em grande parte, porque tinham
poucas técnicas objetivas para avaliar a mente. O advento da tecnologia
para observar o cérebro funcional em ação permitiu que os cientistas
psicológicos estudassem estados mentais como a consciência.
Componentes verbais:
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permite maior extensão da resposta do interlocutor e a fechada, cuja formulação
leva a respostas limitadas, por exigir informações específicas.
O modo de responder deve estar em acordo ao tipo de pergunta:
respostas abertas para perguntas abertas e respostas fechadas para perguntas
fechadas.
Expressão facial
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O olhar
O sorriso
A postura
A orientação
Os gestos
Aparência pessoal.
Auto manipulações
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São observáveis ao esfregar as mãos, bater na superfície com os dedos,
balançar ritmicamente um pé para cima e para baixo. Nestas circunstâncias a
comunicação expressa ansiedade, desejo de sair, desespero e outros.
Se até 90% da nossa comunicação é não verbal, como diz Nordquist (2019),
investigar como podemos usar estes recursos é impactante para boas habilidades
sociais. Neste percentual, muito do que percebemos em mensagens transmitidas nos
chega pela inflexão da voz, expressão facial e gestos corporais. A paralinguística é o
estudo dos sinais vocais (e algumas vezes não vocais), além da mensagem ou fala verbal
básica conhecida. Ou seja, voltando a Nordquist (2019) é o que define muito bem como
algo é dito, não o que é dito!
Um modo simples de entender a paralinguística é defini-la como o estudo da voz
e como as palavras são ditas. Ao abrirmos a boca para falar, revelamos muito sobre nós
mesmos e em boa parte das vezes isso não tem nada a ver com as palavras que estamos
falando. Ao ouvirmos uma voz alta estridente percebemos que não é nada sutil. Quando
ouvimos uma voz firme que transmite convicção percebemos mais sutileza do que um
dedo apontando grandes gestos ou invadindo o espaço pessoal de alguém.
O elemento paralinguístico inclui volume, tom, timbre, uso da voz na fluidez verbal,
velocidade, clareza, tempo de conversação, latência responsiva e silêncio.
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Latência de resposta e silêncios: Refere-se ao tempo necessário para
começar a falar assim que a outra pessoa terminar de fazê-lo. Inclui-se aqui
o silencio usado durante uma fala para destacar pontos ou criar incertezas
por exemplo.
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O mau desempenho em habilidades sociais pode ter suas raízes
localizadas em processos cognitivos que incluem atitudes e expectativas
errôneas. A maneira como pensamos pode facilitar a execução de determinados
comportamentos.
De um modo geral, há uma série de variáveis cognitivas importantes no
estudo de habilidades sociais, como conhecimento de habilidades apropriadas,
costumes sociais e sinais de respostas, capacidade de pôr-se no lugar do outro e
de resolver problemas, percepção social ou interpessoal adequada. Cinco
variáveis são, contudo, as mais importantes, elas se referem aos processos
pessoais, como pensamentos e crenças que não são explicitamente manifestados
na comunicação. São eles: competências, estratégias pessoas de codificação
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TEMA 5 – ELEMENTO FISIOLÓGICO
O elemento fisiológico ainda precisa ser mais bem estudado no âmbito das
habilidades sociais. Por que diante de uma situação desastrosa de
relacionamento interpessoal uma das pessoas ao ficar embaraçada sente subir
uma onda de sangue ao rosto que aquece sua face?
“Um erro desastrado faz com que a maioria das pessoas fique embaraçada
e faz subir uma onda de sangue ao rosto, que aquece as faces. Na verdade, as
emoções estão associadas a mudanças físicas. Mas o que causa o que?”. A
questão exposta por Gazzaniga e Heatherton (2005) enseja discutir se a emoção
leva à mudança física, ou, esta leva àquela. Algumas teorias aprofundam esta
discussão como a Teoria James-Lange, a Teoria Cannon-Bard, a Teoria dos Dois
Fatores da Emoção e a hipótese do Feedback Fácil.
No âmbito das habilidades sociais, o que nos implica é a ligação entre o
emocional e o fisiológico. Ao protagonizar relações interpessoais,
experimentamos emoções como raiva, excitação, vergonha, mágoa e isso afeta
nosso ritmo cardíaco e pressão sanguínea, gerando comportamentos alinhados
ao tipo de emoção produzida. A raiva e irritação dá o tom de nossa comunicação
verbal e usamos termos agressivos para manifestar nossa insatisfação. Se nos
entusiasmamos, nossos gestos são amplos e cheio de energia, se a experiência
nos gera tristeza e depressão apresentamos posturas encurvadas e cabeça baixa.
Se somos levados a implementar estratégias de enfrentamento para
incrementar o reconhecimento e processamento de reações úteis que como
entende Leahy (2013) podem estimular funcionamentos mais produtivos, é certo
que isso tem utilidade no desenvolvimento de habilidades sociais.
As teorias da emoção a pouco citadas, nos fazem valorizar a importância
do elemento fisiológico. Willian James dizia “nós ficamos tristes porque choramos,
zangados porque agredimos, com medo porque trememos” (Gazzaniga;
Heatherton, 2005). Esta é uma teoria fisiológica que diz que as emoções ocorrem
como resultado de reações fisiológicas a eventos. No relacionamento interpessoal
um estimulo externo provocado pelo que percebemos dos outros, seja no nível
verbal ou não verbal, leva a uma reação fisiológica. A reação emocional depende
de como interpretamos as reações físicas. A explicação (também fisiológica) de
Walter Cannon e Philip Bard para isso é que nossas reações fisiológicas e
emoções podem ser sentidas ao mesmo tempo (Kleinman, 2015).
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Walter Cannon discordou da teoria da emoção de James-Lange por razões
como “experimentar reações fisiológicas ligadas as emoções sem realmente sentir
essas emoções”. Esta teoria também sugere que respostas emocionais ocorrem
muito rapidamente para serem simplesmente produtos de estados físicos.
Poderíamos pensar, por exemplo, em um evento interpessoal, uma comunicação
ameaçadora capaz de gerar medo ante da pessoa sentir fisiologicamente a
emoções.
Para Stanley Shachter, as emoções são a interação de excitação fisiológica
e avaliações cognitivas (Gazzaniga; Heatheront, 2005). Na visão de Richard
Lazarus, primeiro pensamos e depois sentimos a emoção e a excitação fisiológica
(Kleinman, 2015).
A esta altura, é importante que possamos entender o que acontecem
nestas chamadas reações fisiológicas que apresentamos diante de uma emoção.
O elemento fisiológico compreende reações como: a frequência cardíaca, pressão
e fluxo sanguíneo, respostas eletrodérmicas e eletromiográficas e frequência
respiratória.
Deles, aqueles de que o sujeito está ciente são especialmente importantes
em relação à capacidade social. Isso ocorre devido à relação entre ansiedade e
resposta fisiológica a ela (a ansiedade é a principal responsável pelas barreiras
de comunicação causadas pelo emissor).
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as alterações no fluxo sanguíneo devido ao efeito das contrações
cardíacas;
Resposta eletromiográfica: É o registro obtido da atividade elétrica
associada, que precede a atividade muscular. Refere-se a respostas
produzidas por fibras musculares e membranas ao passo que são
submetidas a atividades elétricas. O registro dessa resposta no músculo
frontal pode nos dar uma ideia do relaxamento / ativação de um sujeito.
Respostas eletrodérmicas: Essas medidas refletem a atividade das
glândulas sudoríparas. A condutância da pele e as flutuações neste
parâmetro indicam o estado emocional da pessoa;
Taxa respiratória: A medição da respiração é basicamente composta por
dois parâmetros: a profundidade da respiração e a frequência respiratória,
às vezes, combinadas para obter o volume de ar inspirado por minuto. A
função respiratória é controlada pelo sistema nervoso central com o auxílio
da medula e núcleos do tronco cerebral, sendo igualmente alterada pelos
estados emocionais.
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REFERÊNCIAS
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AULA 3
HABILIDADES SOCIAIS
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conflitos, habilidades de liderança, gerenciamento de mudanças, rapport,
colaboração e cooperação entre grupos ou equipes.
Um indivíduo socialmente inábil tem dificuldades em entusiasmar os outros
e conquistá-los para usar ideias ou cursos de ação propostos. Pessoas
persuasivas, por outro lado, são influentes, leem as correntes emocionais de um
evento e ajustam o que estão dizendo para atrair os envolvidos.
Déficits sociais aparecem quando a pessoa não é capaz de ouvir os outros
e também transmitir seus pensamentos e sentimentos. Ouvir bem as pessoas à
volta, detectar se elas entendem o que foi dito, buscar compartilhamento de
informações de modo completo e aberto são ganhos da habilidade social.
Pessoas socialmente incapacitadas têm dificuldade para gerenciar e
resolver conflitos em casa e no trabalho. Este processo caracteriza ausência de
tato e de diplomacia e como isso pode ser utilizado para neutralizar situações
difíceis. Bons gestores de conflitos levantam as discordâncias e buscam resolvê-
las. Para isso, usam o compartilhamento de emoções, incentivam o debate e a
discussão aberta. Essa é a forma de reduzir embaraços e problemas latentes e
ajudar as partes a reconhecer emoções e a adquirir uma visão lógica.
Para trabalhos em grupos, ou em empresas, há um momento que numa
determinada tarefa habilidades de liderança são essenciais, mesmo que liderar
não seja a característica essencial de qualquer pessoa. Se o indivíduo não estiver
sintonizado consigo mesmo não poderá influenciar positivamente o outro. Alguns
denominam a isso de carisma, mas sem que se esgote a análise deste significado,
podemos incluí-la como um requisito presente na inteligência emocional com
influência em HS. Alguém socialmente hábil é capaz de articular uma visão e
entusiasmar outras pessoas com sua perspectiva, sem que tenha um papel formal
de liderança.
Uma dificuldade típica nas habilidades sociais é não gerenciar mudanças
eficazes, ou forçar mudanças alienando todos os envolvidos. Pessoas ansiosas
diante de uma mudança que naturalmente pode ser estressante, sentem-se
ameaçadas. Os socialmente hábeis são catalizadores de transformações,
reconhecem a necessidade de mudar e remover barreiras.
Psicólogos aprendem em sua formação a importância do Rapport para criar
um processo terapêutico cooperativo com seus pacientes. O Rapport ou a
capacidade de criar um clima favorável de relacionamento com o outro quando
não empregado por algum tipo de déficit, baixa a qualidade dos relacionamentos
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e obstaculiza seguir em frente na vida. Pessoas hábeis nesta área conseguem
boas redes de contatos, constroem e mantêm circuitos de conexões.
Quando alguém não consegue perceber que o relacionamento é tão
importante quanto a tarefa em questão e que em algumas circunstâncias a
valorização das pessoas pode às vezes ser mais necessária que a atividade, elas
deixam de trabalhar para a construção de um todo melhor. Indivíduos socialmente
hábeis buscam ativamente a oportunidade do trabalho colaborativo. Numa
organização, são os funcionários com melhor desempenho. Eles constroem uma
identidade de grupo, comprometem-se e atraem os outros neste propósito.
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experiências ou processar as emoções (Leahy, 2018). A desativação de emoções
impede o processamento emocional e faz parte de um estilo de enfrentamento
caracterizado por esquiva e que é trabalhado por terapeutas em intervenções com
o uso da regulação emocional.
1 A Sigla DBT refere-se a Dialectical Behavior Therapy em inglês. Aqui usamos a referência ao
transtorno em português: TCD, Terapia Comportamental Dialética.
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com os problemas do dia a dia. Indivíduos submetidos a tratamentos psicológicos
e a habilidades sociais podem vir a ter bom desempenho em casa, na escola e na
comunidade, resultando em melhor qualidade de vida.
1. Feedback.
2. Reforço e Modelagem.
3. Modelação.
4. Role Play.
5. Ensaio Comportamental.
6. Tarefas de Casa.
7. Reestruturação Cognitiva.
8. Resolução de Problemas.
9. Análise de Contingência.
10. Exposição Dialogada.
11. Exercícios Instrucionais.
12. Uso de Recursos de Multimídia.
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Muito embora os recursos para THS sejam variáveis entre os especialistas,
é consenso que eles estão inextricavelmente ligados às habilidades de
comunicação, à inteligência social e à inteligência emocional. Saber se expressar
verbal ou não verbalmente, perceber o outro e gerenciar as próprias emoções são
meios para lidar com conflitos. De alguma forma somos levados a antecipar o que
os outros estão sentindo e adaptamos nossas respostas para que tenhamos
maneiras de resolvê-las de modo favorável.
Num exemplo, percebemos a inabilidade social quando alguém que
conhecemos se junta a um grupo de amigos e fala algo fora de propósito e no
momento mais inadequado possível. Os demais ficam quietos, alguém ri
nervosamente e nos perguntamos: por que ele disse isso naquele momento? Não
teria um outro momento para tal?
Ter conhecimento de si mesmo e dos outros tem a ver com consciência
social, a capacidade de compreender e reagir adequadamente a contextos
interpessoais. Isso se refere a ter ciência de onde estamos e de perceber o que
está à nossa volta, ao mesmo tempo que interpretamos adequadamente as
emoções surgidas naquele contexto.
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os outros. As pessoas com quem conversamos e nos relacionamos tomam
decisões sobre nós em sua mente com base nesta comunicação e estas decisões
influenciam o comportamento em relação a nós.
Há momentos que num processo de discussão entre pessoas deve ser
dado ênfase à argumentação. Em situação de discussão, o argumento é
importante, mesmo que a pessoa não concorde com ele em princípio. Manter a
calma e manter o contato visual são estratégias eficazes na discussão. Além
disso, o modo como organiza os argumentos, se são coerentes, se fazem sentido,
são relevantes.
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A capacidade de motivar-se aproveita o melhor que temos para aprender a
desfrutar as tarefas que realizamos sem precisar de influências externas. Ela nos
faz pôr as emoções a serviço de objetivos e metas em que centramos a atenção,
desenvolvemos controle e criatividade.
Reconhecer a emoção nos outros é a capacidade empática que nos
predispõe a admitir as emoções dos outros, a ouvir e a entender a perspectiva
daquele com que nos relacionamentos. Isso nos faz identificar e compreender os
sentimentos dos outros, mesmo quando não expressos verbalmente.
As habilidades de relacionamento estão vinculadas a fortes habilidades
sociais que nos ajudam a formar e a gerenciar, com eficácia, relacionamentos com
outras pessoas. O que caracteriza este domínio é a capacidade de saber liderar,
de usar aptidões de aproximação, gerenciamento e persuasão.
A relação entre inteligência emocional e habilidades sociais foi testada em
338 estudantes do sexo feminino da Universidade de Damam, na Arábia Saudita,
e os resultados apresentaram correlação positiva. Na pesquisa, comprovou-se
que a inteligência emocional é influenciada tanto pelas características de
personalidade como pelas habilidades sociais. Os pontos mais marcantes do
trabalho mostraram: reconhecimento e consciência de emoções, comunicação por
meio de conversas simples, atmosfera segura, afetuosa e aberta à comunicação,
conscientização sobre forças e fraquezas, expressão de sentimentos positivos e
negativos de modo equilibrado, controle de emoções e auto eficácia (Tamimi; Al-
Khawaldeh, 2016).
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REFERÊNCIAS
ARMIJO J. Social Impairment and Mental Health. Ann of Behav Sci 2017, v. 3, n.
1. DOI: 10.21767/2471-7975.100004. Disponível em:
<http://behaviouralscience.imedpub.com/social-impairment-and-mental-
health.php?aid=18994>. Acesso em: 24 out. 2019.
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AULA 4
HABILIDADES SOCIAIS
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Em psicoterapia, o profissional que não tem a quem encaminhar seus
pacientes para THS e que deseja fazê-lo por si próprio deve tornar o contexto do
treino diferente da sua prática psicoterápica habitual (Linehan, 2018), como, por
exemplo, dedicar reuniões semanais alternadas ou dedicadas apenas a THS. Há
também o entendimento de se caracterizarem os encontros não apenas para
manter o foco em crises ou solução de problemas. É lembrado ainda que o THS
individual em pessoas particularmente difíceis requer supervisão ou consultoria.
Um aspecto vantajoso do THS individual é apontado por Kjobli e Ogden
(2014), ao dizerem que as habilidades podem ser adaptadas e selecionadas de
acordo com o perfil do treinando. Para Caballo (2003), ocorre uma concentração
nos problemas particulares da pessoa, modificando progressivamente o conteúdo
do programa conforme avança o treinamento e observa-se a evolução das
habilidades. Isso se aplica a THS individual para crianças com a escolha de
habilidades específicas para aceitação social e amizade, por meio de técnicas
como discussão, ensaio e feedback do treinador. Nesse contexto, o THS pode
ensinar comportamentos para melhoria de relações interpessoais, incluindo
técnicas para iniciar e finalizar conversas, pedir, ajudar, perguntar, defender-se,
expressar agradado e desagrado, receber críticas e elogios, entre outros. A
infância é um período importante para desenvolvimento de habilidades como
essas.
Algumas considerações de Caballo (2003) são importantes: (1) a relação
mais consistente entre avaliação e tratamento se faz possível empregando-se o
THS com um único indivíduo cada vez; (2) essa modalidade permite uma
avaliação inicial das habilidades e debilidades e propicia a observação contínua;
e (3) uma vantagem em relação ao treinamento em grupo é que este mascara a
variação sofrida pelos sujeitos individuais, e o treinamento individual não o faz.
Na prática, entende Cabalo (2003), a escolha entre o treinamento individual
e o realizado em grupo depende frequentemente do lugar e dos recursos
disponíveis. Como já foi dito, em determinadas situações pode não haver
pacientes suficientes para que se tenha um grupo.
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treinar habilidades; Vicente Caballo articula as HS entre atitudes, sentimentos,
opiniões e desejos para mudar comportamentos e provocar a felicidade social; e,
por último, Almir Del Prette e Zilda Del Prette, pesquisadores de habilidades e
competências sociais com grande influência nas universidades brasileiras.
Linehan (2018, p. 30) é enfática ao afirmar que a principal vantagem do
treinamento de habilidades em grupo é a eficiência. Ela apresenta cinco razões
para esse entendimento:
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Del Prette e Del Prette (2017) recomendam o treinamento de habilidades
sociais pelas seguintes vantagens:
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Seletivos: atendimentos destinados a pequenos grupos em situação de
risco ou que não se beneficiaram de programas universais.
Indicados: atendimentos em formato individualizado destinados a crianças
com problemas, como na terapia, precedida por avaliação funcional
detalhada da queixa e demais comprometimentos associados.
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tempo livre, para passar mais tempo em frente ao computador, o que pode
produzir problemas psicológicos. A diminuição da habilidade social da empatia
parece ser evidente nesta questão.
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TEMA 4 – TREINANDO HABILIDADES SOCIAIS EM ADULTOS E IDOSOS
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Há uma variedade de programas de THS para idosos, mas essencialmente
devem ser desenvolvidos sem interromper o ritmo de vida deles. Geralmente se
usa uma sala de aula como meio ideal para o treinamento com os recursos
utilizáveis (mesas cadeiras, quadro-negro e outros). O protocolo de treinamento
deve envolver a aprendizagem do que são as habilidades sociais, o entendimento
de HS não verbais, postura, aparência, gestos, tiques, mãos, linguagem corporal
etc. Em outros aspectos, reúne elementos similares às outras faixas etárias.
Del Prette e Del Prette (2017) falam que o THS grupal ou individual, além
de preventivo, pode ser terapêutico e profissional; em nosso entender, é mais
aplicado a adultos e idosos.
Avaliações de THS em idosos têm sido apresentadas na literatura. Em uma
delas, Carneiro e Falcone (2013) avaliaram a eficácia de um programa dessa
natureza no aumento tanto do repertório de HS como da satisfação com a vida de
40 pessoas na terceira idade. As HS foram avaliadas antes e depois de uma
intervenção, por meio de jogos de papéis em sete situações sociais e também da
Escala de Satisfação com a Vida. Os resultados apontaram mudanças positivas
entre os participantes do grupo experimental, com destaque para o
desenvolvimento da habilidade de assertividade.
Os autores dizem que o estudo é concordante com outro trabalho realizado
em 2004 por eles mesmos, quando constataram que a grande maioria dos
estudantes de uma universidade da terceira idade precisava desenvolver a
habilidade assertiva para lidar com situações que envolviam conflito de interesses,
mudar comportamentos, recusar pedidos, responder a críticas e cobrar dívidas.
De modo geral, quase toda tarefa exige habilidades sociais. Para trabalhar
em equipe, é preciso se dar bem com os outros. Alguém que mantenha contato
mais estreito com clientes deve ouvir atentamente perguntas e preocupações. Se
a pessoa é gerente, é solicitada a motivar os funcionários. Empregadores
procuram candidatos com competências básicas. Segundo ressalta Doyle (2019),
entre a lista mais comum de habilidades sociais buscadas em ofertas de trabalho,
estão:
empatia;
cooperação;
comunicação verbal e escrita;
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escuta ativa;
comunicação não verbal.
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sociais como assertividade, empatia, comunicação verbal e não verbal são
importantes em quaisquer contextos sociais.
Melhorar o repertório de habilidades sociais está vinculado ao
desenvolvimento saudável nas áreas cognitiva, emocional, intelectual,
comportamental e é essencial para a realização profissional. Em outras
demandas, Del Prette e Del Prette (2017) lembram que o THS no ambiente de
trabalho é indicado para atender desde a necessidade de preparação de jovens
na transição para o mercado de trabalho até, posteriormente, a melhora nas
condições interpessoais relacionadas à produtividade, à busca de novas
oportunidades e à saúde na aposentadoria.
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REFERÊNCIAS
DEMING, D. J. The growing importance of social skills in the labor market. The
Quarterly Journal of Economics, v. 132, n. 4, p. 1593-1640, 2017.
DOYLE, A. 5 Social Skills for Workplace Success. The Balance Careers, 6 out.
2019. Disponível em: <https://www.thebalancecareers.com/top-social-skills-for-
workplace-success-4142848>. Acesso em: 30 out. 2019.
12
KJOBLI, J.; OGDEN, T. A randomized effectiveness trial of individual child social
skills training: six-month follow-up. Child and Adolescent Psychiatry and Mental
Health, v. 8, n. 31, p. 1-11, dec. 2014. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/269871902_A_randomized_effectiven
ess_trial_of_individual_child_social_skills_training_Six-month_follow-up>.
Acesso em: 30 out. 2019.
PORTINARI, N. 50% do trabalho no Brasil pode ser feito por robô, diz estudo.
Folha de São Paulo, 17 maio 2017. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/05/1884633-50-do-trabalho-no-
brasil-pode-ser-feito-por-robo-diz-estudo.shtml>. Acesso em: 30 out. 2019.
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AULA 5
HABILIDADES SOCIAIS
A palavra estratégia vem do latim stratégia, que deriva dos termos gregos
stratos (exército) e agen (condução, orientação) e significa plano, método,
manobras ou estratagemas usados para alcançar um objetivo ou resultado. Uma
estratégia inclui uma série de táticas que são medidas mais concretas para
alcançar um ou mais objetivos.
Mintzberg (1987) oferece cinco definições para ajudar as pessoas a
desenvolver estratégias. Para ele, estratégia é:
1. Identificar o problema;
2. Estabelecer as metas;
3. Definir as técnicas.
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atrapalham seus objetivos de vida. Diferentes situações podem ser consideradas
nestes aspectos. Em uma pessoa com dificuldade em se socializar, alguns
exemplos são verificar se isso acontece no trabalho, na escola, no relacionamento
amoroso; se ocorre durante reuniões de trabalho, reuniões sociais; se tem a ver
com falar de modo diferente da norma culta, portar com rudeza, mostrar
intolerância etc.
Nesse processo de identificação, cabe ao profissional responsável avaliar
o que está por trás do problema social apresentado. Em algumas circunstâncias,
ele pode ter sido ocasionado por um transtorno mental ou decorrido de um trauma.
Assim que o treinador, com a ajuda da psicologia, conseguir determinar a relação
entre o problema e os motivos desencadeadores, ele pode definir quais
estratégias serão usadas.
Estabelecer metas em THS é semelhante ao que ocorre em psicoterapias,
em que se estabelece a meta geral, com metas focadas que podem ser
desenvolvidas ao longo dos encontros. Em um THS, a meta de socializar pode
ser dividida em submetas, por exemplo, aprender a cumprimentar alguém,
responder de modo adequado.
Definir as técnicas refere-se a como desenvolver o treinamento. Após a
identificação do problema e o estabelecimento de metas, determinam-se quais
recursos podem ser aplicados a eles. Um treinando em HS na técnica da
modelagem, por exemplo, é levado a observar o treinador ou colegas (THS em
grupos) para ver como exatamente precisa fazer antes de tentar por si próprio.
Depois que a habilidade é modelada, a pessoa é solicitada a interpretá-la. Até que
se pratique a habilidade, é difícil usá-la fora da segurança das sessões de
treinamento, por isso ela é importante. O treinador fornece um feedback ao final
de cada encontro. Este é o feeback necessário para identificação de pontos fortes
e fracos e o que é preciso trabalhar e praticar. Entre os encontros, o treinador
define pequenos desafios para serem exercitados em casa. Trata-se do “dever de
casa”, que é uma continuidade do que se trabalhou na sessão de treinamento,
para a pessoa praticar. Dependendo do grau de sucesso, o treinando é levado a
se concentrar e uma nova habilidade para o próximo encontro.
É importante destacar que, em especial em pessoas com déficits que
interferem nas capacidades cognitivas, emocionais e comportamentais, algumas
das técnicas utilizadas no THS são aplicadas, como ocorre em tratamentos
psicoterápicos. Assim, assertividade, psicoeducação, reestruturação cognitiva e
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mesmo as tarefas de casa, consideradas técnicas psicoterápicas, às vezes
aplicadas ao mesmo tempo que o THS, tornam-se elas mesmas técnicas de
treinamento de habilidades sociais com resultados efetivos na mudança de
comportamento social.
Alguns exemplos de técnicas são:
Técnicas comportamentais
São indicadas para pessoas que possuem baixo repertório de HS. Por
exemplo, em uma Síndrome de Down, pode-se ensinar técnicas comportamentais
em um ambiente controlado e estruturado e depois generalizá-lo em outros
ambientes. Algumas destas técnicas são a modelagem (aprender pela
observação), interpretação de papéis (simular situações) e atividades com o uso
de reforço (material como comida, social como sorrisos)
Técnicas cognitivas
São técnicas que não afetam diretamente o comportamento, mas os
processos cognitivos e emocionais que o sustentam. Envolvem reestruturação
cognitiva (para ajudar o sujeito a perceber e interpretar o mundo ao seu redor),
relaxamento (para reduzir ansiedade e controlar a ativação fisiológica), resolução
de problemas interpessoais (para trabalhar pensamentos que ofereçam soluções).
Técnicas de controle ambiental
Refere-se a técnicas para gerenciar estímulos e contingências ambientais
a fim de fortalecer o repertório de habilidades interpessoais de um indivíduo. Pode
compreender rapport (contexto acolhedor entre treinando e treinador ou outros),
atividades colaborativas (dinâmicas de grupo, por exemplo), aulas particulares
(como tutoria supervisionada de pares).
As HS, de um modo geral, apresentam uma variedade de técnicas que
podem ser aplicadas conforme seja o problema identificado e a meta pretendida.
Um fluxo essencial e de relevância para o bem-estar humano compreende o THS
para habilidades interpessoais, habilidades de autoconsciência, habilidades de
regulação emocional e habilidade de resiliência que serão tratadas na sequência.
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sendo dito com a voz e a linguagem corporal e refletir sobre o que alguém disse
resumindo e parafraseando.
A escuta ativa é ouvir além das palavras que estão sendo ditas – entendo a
mensagem comunicada. A tendência de pensar em como responder em vez de se
concentrar no que o outro diz é um grande desafio. Ao ouvir, realmente, a pessoa
pode fornecer a resposta mais ponderada que leva em consideração pensamentos
e opiniões do orador. Isso faz com que as pessoas ao redor entendam o que a
pessoa valoriza e aceite isso. É importante nesta técnica prestar atenção total ao
orador, em vez pensar na resposta, mostrar ao outro que está sendo ouvido com
interesse, esclarecer a compreensão, não interromper ou redirecionar a conversa,
fornecer uma resposta adequada – que seja honesta, mas educada.
Sobre a linguagem corporal, o treinando desenvolve comportamentos de
postura relaxada, manter contato visual, braços não cruzados, acenas com a
cabeça, sorrir e outros. A linguagem corporal fechada deve ser evitada (por
exemplo, dobrar braços ou pernas, evitar o contato visual, mudar os olhos, remexer
e outros).
Outras técnicas são exercitar a flexibilidade, saber negociar, tomar decisão,
trabalhar em equipe, ter atitudes positivas e ser empático. É relevante falar com
pessoas com opiniões opostas e mostrar interesse no que elas dizem, com o
objetivo de entender o que elas pensam. A negociação ajuda a resolver conflitos
ou criar um contrato. Trabalhar junto com outros e manter objetivos comuns ajuda
o trabalho em equipe. Não é preciso ser incrivelmente sociável, mas desenvolver
relacionamentos positivos é ter atitude positiva. A empatia é fundamental no
treinamento de habilidades interpessoais. Ser empático significa que a pessoa é
capaz de identificar e entender as emoções dos outros, ou seja, imaginar-se na
posição de outra pessoa.
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racionas e ensaio cognitivo que, por sua vez, consiste em praticar uma nova
maneira de pensar por meio da geração de imagens mentais ou role-play.
Um exemplo sobre distorções cognitivas é apresentado por Knijinik e
Kunzler: Melo (2014, p. 34):
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pensamento nas estratégias voltadas para a autoconsciência, pode-se sugerir ser
a cognição predominante nesta discussão. As discussões mostram que tanto a
habilidade de apaziguar ou acalmar a excitação afetiva, caso ela aconteça, e a
habilidade de alterar vieses cognitivos ativados por afetos devem ser úteis para a
regulação emocional.
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Comportamental Diáletica – TCD metas que considera relevantes na regulação
emocional1:
Identificando, entendendo e nomeando as emoções. Estas habilidades
permitem compreender as emoções em geral, bem como entender e
identificar as próprias emoções.
Modificando as respostas emocionais. Estas habilidades ajudam a reduzir
a intensidade das emoções dolorosas ou indesejadas (raiva, tristeza,
vergonha, etc.) e de mudar situações que suscitam emoções indesejadas
ou dolorosas.
Reduzindo a vulnerabilidade da mente emocional. Estas habilidades
permitem reduzir a vulnerabilidade, a tornar a pessoa extrema, ou
dolorosamente emotivas, bem como aumentar a resiliência emocional.
Gerenciando emoções extremas. Estas habilidades ajuda a pessoa a
aceitar as emoções em curso e a gerenciar as emoções extremas.
1 No livro de Marsha Linehan, usa-se a sigla DBT para a Terapia Comportamental Dialética. Neste
texto da disciplina de Habilidades Sociais, a sigla usada é TCD.
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Espaço respiratório de 3 minutos: este exercício é uma forma de
generalização das habilidades da atenção plena, é uma prática
generalizadora, permitindo ao treinando parar o fluxo de agentes
causadores de estresse e retomar uma perspectiva consciente.
Atenção plena do movimento: neste exercício, o treinando aprende a
trazer a qualidade da atenção plena, em particular a conexão com as
sensações físicas momento a momento para o ato de se mover por meio
do espaço e do tempo à medida que caminha.
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Entre as metas buscadas pelo treino em habilidades de resiliências, estão:
desenvolver bons sistemas de apoio, manter relacionamentos positivos,
desenvolver uma boa autoimagem e experienciar atitudes positivas. Derivam
dessas metas: adquirir capacidade para fazer planos realistas, ser capaz de
executar esses planos, ser capaz de gerenciar efetivamente emoções e impulsos
de modo saudável, ter habilidade de comunicação, confiar em pontos fortes e ter
habilidades para resolver problemas.
Um modelo de exemplo para desenvolver habilidades de resiliência pode
incluir as técnicas: atenção plena, recursos cognitivo-comportamentais (como
psicoeducação e reestruturação cognitiva), assertividade e resolução de
problemas e habilidades comunicacionais.
Richard Davidson encontrou evidências de que a atenção plena aumenta a
resiliência e quanto mais atenção plena a pessoa pratica, mais resistente o
cérebro se torna. (Alidina, 2016). A atenção plena reduz a ruminação e, se
praticada regularmente, muda o cérebro para que a pessoa seja mais resiliente a
futuros eventos estressantes. Em entrevista ao Garrison Institute, o psicólogo e
neurocientista Richard Davidson reforçou que a prática da atenção plena recupera
a pessoa diante de estímulos emocionais negativos, contribuindo para a
resiliência, e isso também se observa na prática da compaixão (Davidson, 2015).
As ações da terapia cognitivo-comportamental são usadas em pessoas que
veem o mundo como perigoso e estão sempre sensíveis, como acontece em
cognições desadaptativas. Isso aparece em pesquisas experimentais como a de
Norte et al. (2011), em que cognições vulneráveis como “estou sempre em risco,
algo ruim pode me acontecer a qualquer momento” e “sempre suspeito que as
pessoas e o mundo são perigosos” resultam em melhorias.
A maneira como a pessoa pensa nos desafios e problemas está alinhada à
forma como ela mostra resiliência. Se a assertividade ajuda no sentido de tomar
decisões, a resolução de problemas é o modo como a pessoa lida com desafios.
Isso pode ser trabalhado no treino para identificar o problema real, dividi-lo em
partes menores, gerar soluções, avaliar opções e monitorar resultados.
Aprimorar a comunicação é importante para desenvolver a resiliência, por
exemplo, de líderes, comprometendo-os a expressar-se de modo eficaz ao
comunicar suas intenções a outras pessoas e a garantir que funcionários e
colegas saiam da conversa com um entendimento de suas expectativas e de seus
papéis.
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REFERÊNCIAS
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AULA 6
HABILIDADES SOCIAIS
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Na prática comum, o treinador delimita uma habilidade específica e explica
como executá-la para modelar um determinado comportamento. Picon e Penido
(2011) sugerem dividir comportamentos complexos em partes menores, por
exemplo, como se apresentar, conversar e sair de uma conversa. Junto com isso,
são discutidos comportamentos verbais e não verbais.
Sobre a eficácia do THS no tratamento do TAS, os resultados são ainda
mais significativos quando desenvolvidos junto a outras formas de intervenção
(Cuncic, 2019; Picon; Penido, 2014). Um exemplo é conjugar THS, TCC e
farmacologia.
Sardinha e Nardi (2014) incluem nas estratégias de modulação do estresse
e da ansiedade, treino de controle do estresse, relaxamento muscular progressivo,
exercícios de respiração, dessensibilização sistemática, exposição ao vivo e
virtual, exposição interoceptiva, exposição e prevenção de resposta.
O controle do estresse se dá pela análise funcional dos estressores e da
atuação objetiva e direta. Ela envolve, entre outros, relaxamento, alimentação,
exercício físico e TCC. O relaxamento muscular progressivo – RMP visa induzir
repouso corporal e psíquico. A respiração segue práticas tradicionais como a
yoga. Na dessensibilização sistemática, a pessoa instruída a relaxar é convidada,
após um determinado tempo, a imaginar uma situação geradora de ansiedade.
Cada evento obedece a uma hierarquia graduada de ansiedade. A exposição se
refere a enfrentamentos diversos em situações imaginadas, ao vivo ou virtuais. O
objetivo é a habituação ao medo, pelo enfraquecimento das associações com a
ansiedade, ou pela reestruturação das distorções cognitivas. A exposição
interoceptiva induz sensações físicas temidas e enfraquece respostas de medo
por habituação ou prevenção de respostas. Nessa ocasião, é feita a exposição
sistemática e gradual a situações evitadas, enquanto a pessoa é levada a não
executar rituais aliviadores da ansiedade.
Um programa estruturado para a efetividade interpessoal por meio da
psicoeducação, exposição e tarefas de casa é valorizado por Sardinha e Nardi
(2014). Nessa perspectiva, o treinamento visa manter o foco cognitivo,
ensinando/e ou refinando as habilidades sociais do indivíduos pela prática das
interações sociais. Nesse protagonismo, a psicoeducação informa ao paciente
sobre a natureza da ansiedade e dos temores sociais e modelo cognitivo do TAS.
A exposição, por sua vez, consiste em expor, ao vivo ou na imaginação, o sujeito
a situações ansiogênicas. Já as tarefas de casa visam programar atividades entre
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sessões para a generalização dos comportamentos aprendidos ao cotidiano de
cada um.
Outros fatores de THS são utilizados no TAS, tais como desenvolver a
interpessoalidade por meio de desempenhos verbais e não verbais em situações
de interação, assertividade, empatia, solução de problemas e desenvolvimento da
autoconsciência.
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• Muitos dos reforços positivos mais importantes para adultos são
naturalização interpessoal;
• Um grande número de reforços não sociais depende do comportamento
interpessoal do indivíduo;
• Qualquer grupo de técnicas que ajude o paciente deprimido a aumentar a
qualidade de seu comportamento interpessoal deve aumentar o reforço
positivo contingente à resposta, diminuir o efeito depressivo e aumentar os
comportamentos não depressivos.
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Para isso o treinamento é constante. Ao comunicar-se, o treinando deve ser levado
a fazê-lo de maneira clara, serena e oportuna. Treinar habilidades comunicacionais
envolve aumento da fluência verbal, melhorar componentes verbais e não verbais,
promover o relacionamento com o outro, desenvolver conteúdo apropriado em
conversa, aumentar as redes de apoio, desenvolver capacidade para iniciar, manter
e encerrar conversas, capacidade de mudar de assunto em diferentes conversas e
aumentar a autoestima.
A resolução de problemas visa ensinar ao indivíduo um modo sistemático
para a solução de problemas, o que pode ser feito em cinco passos (Vasquez-
Gonzales, 2002):
1. investigar a capacidade com que a pessoa enfrenta uma situação que a ela
parece ser um problema;
2. definir operacionalmente o problema e estabelecer meta em relação a como
resolvê-lo;
3. gerar soluções para um problema seguindo princípios de quantidade, não
julgamento e variedade de alternativas:
4. exercer a tomada de decisão, isto é a capacidade de escolher a melhor
alternativa; e
5. planejar e implementar a solução escolhida, bem como avaliar o sucesso
obtido.
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adquirir gerenciamento interpessoal e habilidades para melhorar a vida em suas
comunidades. Um grande e crescente corpo de pesquisa apoia a eficácia do
treinamento do THS para a esquizofrenia. Quando o tipo e a frequência do
treinamento estão ligados à fase do distúrbio, os pacientes podem aprender e reter
uma ampla variedade de habilidades sociais e independentes. A generalização da
aprendizagem na vida cotidiana ocorre diante de oportunidades, incentivo e reforço
para praticar habilidades mais saudáveis
O empobrecimento global da vida afetiva, cognitiva e social do indivíduo
esquizofrênico, ao apresentar os sintomas elencados a seguir (Dalgalarrondo,
2008, p. 329), ao nosso ver, é essencial para entender o uso integrado de THS no
tratamento de pacientes:
Mesmo que alguns estudos denotem não ser o THS efetivo no sentido
particular junto a esquizofrênicos não funcionais, dados indicam que, quando
integrado a um serviço de saúde mental com monitoramento adequado de
medicação e acompanhamento individual, ele denota eficácia (Neufeld; Carvalho,
2014, p. 160).
O THS em indivíduos com esquizofrenia, juntamente com outros serviços
baseados em evidências, atenua e compensa os efeitos nocivos dos déficits
cognitivos, a vulnerabilidade neurobiológica, os eventos estressantes e os
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desajustes sociais. Kopelowicz, Liberman e Zarate (2006) dão destaque a isso e
acrescentam que as habilidades de enfrentamento e a competência social
conferem não apenas proteção contra a recaída induzida pelo estresse, mas
também resiliência, apoio interpessoal, afiliação social e melhoria da qualidade de
vida.
Caballo (2007) apresenta uma série de procedimentos para trabalhar THS
na esquizofrenia, por meio de assertividade, habilidades de conversação,
atividades recreativas, comunicação com a família e solução de conflitos. Isso inclui
elementos de modelação, ensaio comportamental e representação de papeis, além
de trabalhar o THS na percepção social. Nesse caso, o objetivo seria treinar o
sujeito a atender e interpretar sinais interpessoais, compreender sentimentos e
motivos de outras pessoas e as variáveis ao redor para determinar respostas
adequadas.
A modelação é usada para encorajar o paciente a observar pessoas, tanto
os colegas e os familiares quanto o próprio terapeuta no exercício de HS para
verificação de respostas apropriadas (contato visual, escuta ativa e outros). Já no
ensaio comportamental, o paciente pratica técnicas sociais em exercícios
estruturados em que ele representa um papel. O terapeuta utiliza feedback corretivo
e utiliza aprovação para reforçar o progresso (Weiten, 2010).
É preciso considerar em nossa avaliação duas particularidades na aplicação
de THS a esquizofrênicos:
1. postura atenta de modo a não permitir sinais de confronto, o que pode facilitar
a interação terapeuta-paciente;
2. postura de reconhecimento e familiaridade para diminuir o quadro de
esquisitice manifestado pelo paciente e também para minimizar a tendência
ao isolamento.
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A história pessoal de Marsha é impulsionadora de seu trabalho atual. Entre
adolescência e vida adulta, ela apresentou autoaversão e autodestrutividade,
sendo hospitalizada por mais de dois anos. Durante esse período, ela se queimava,
se cortava, batia a cabeça repetidamente e tentou se matar várias vezes.
Diagnosticada como esquizofrênica, passou o tempo reclusa, foi submetida a
tratamento de choque e recebeu alta sem cura. Entre idas e vindas, Marsha
percebeu que tinha que se aceitar exatamente como era, mas igualmente tinha que
mudar radicalmente a si mesma de todas as formas diferentes e difíceis. A dialética
de aceitação aparentemente paradoxal, com o compromisso de mudar, e a sua
dedicação à psicologia é que a tiraram das profundezas.
O treinamento de habilidades com influência da TCD ajuda os indivíduos a
modificar padrões comportamentais, emocionais, interpessoais e de pensamento
associados com os problemas na vida. Considera-se nessa perspectiva que o
paciente com TPB apresenta desregulação emocional que é caracterizada por
sofrimento emocional insuportável.
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os problemas da vida cotidiana. Vejamos os detalhes da psicóloga americana
Marsha Linehan (2018) sobre as habilidades a serem trabalhadas.
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e nomear as emoções, identificar suas funções e sua relação com as dificuldades
em modificar emoções e entender a natureza das emoções.
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e na comunicação, além de interesses específicos, atípicos, inflexibilidade e
comportamentos repetitivos. As três áreas têm graus diferentes de acometimento
para cada indivíduo, mas todas mostram-se alteradas no autismo. Esse transtorno
mostra uma tríade sintomatológica.
5.2 Comunicação
5.3 Comportamento
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possa descrevê-lo como feliz ou triste. Ao fazer isso, deve-se buscar o
porquê da emoção;
• Desenvolver a prática em grupo por meio de cumprimentos de papéis ou
cenários cotidianos;
• O treinador pode trocar as fotos convencionais por clipes curtos com
benefício adicional de sons. Videoclipes ajudam a ensinar sobre linguagem
corporal e comunicação
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REFERÊNCIAS
BELLINE, S. Making (and keeping) friends: a model for social skills instruction.
The Reporter, v. 8, n. 3, p. 1-10, 2009. Disponível em:
<https://www.iidc.indiana.edu/pages/Making-and-Keeping-Friends-A-Model-for-
Social-Skills-Instruction>. Acesso em: 5 nov. 2019.
ELLIS, D. Social skills training needed for people with depression. Medical
Xpress, 12 dez. 2014. Disponível em: <https://medicalxpress.com/news/2014-12-
social-skills-people-depression.html>. Acesso em; 5 nov. 2019.
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