Claudia Maria Leal Marques
Claudia Maria Leal Marques
Claudia Maria Leal Marques
FRANCA
2006
CLÁUDIA MARIA LEAL MARQUES
Presidente: _____________________________________________________
Nome: Profª Drª Maria Aparecida Tedeschi Cano
Instituição: Universidade de Franca
Titular 1: ______________________________________________________
Nome: Profª Drª Cristiane Paulin Simon
Instituição: Universidade de Franca
Titular 2: ______________________________________________________
Nome: Profª Drª Telma Sanchez Vendruscolo
Instituição:
Franca, _____/____/___.
DEDICO este meu trabalho aos meus Pais.
Quero, neste momento, agradecer-lhes primeiramente pelo dom da
vida, pelo amor que sempre me dedicaram e por me presentearem
com a riqueza do estudo.
Mãe, obrigada pela dedicação e a confiança que sempre depositou
em mim.Você colaborou em todos os momentos com palavras de
incentivo, de força, garra, sempre entusiasmada com a construção
desta pesquisa.Viva intensamente a realização deste sonho, que
mais que nunca é uma Vitória sua. AMO-TE MUITO1
Pai, na verdade é difícil não te-lo presente neste momento Mas sei
que, de uma forma ou de outra, você estará sempre comigo.
A você, minha Luz, dedico também esta vitória!
Esteja onde estiver receba meu beijo e o meu: AMO MUITO
VOCÊ! SAUDADES!
AGRADECIMENTOS
reconhecer que o ser humano jamais poderá lograr para si o dom de ser auto-suficiente.
A Deus: a ti rendo glória, louvores e elevo do fundo do meu coração, todo amor e
gratidão.
Á você Larissa muito obrigado por todas às vezes que me apoiou, me ouviu.Na
validade da minha luta, nos méritos de minha conquista há muito da sua presença.Minha
A você minha filha Amanda que abriu mão dos momentos de convívio, que sofreu
com minha ausência todos os fins de semana, como foi difícil, a mamãe é que sabe, minha
Aos meus irmãos: Ivanny, Ana Lúcia, Sônia Cristina, Juninho e Renata grandes
muito vocês.
Aos meus cunhados (a), meus sobrinhos que sempre me apoiaram e incentivaram:
A você minha Orientadora Cida Cano, meus agradecimentos é pouco. Você foi
de amor.Saiba que em minha memória estarão sempre presentes seus ensinamentos, suas
atitudes.E no meu coração, um enorme respeito, muita gratidão e eterna saudade...Meu
Muito Obrigado!
Às Professoras Dra Cristiane Paulin Simon e Dra Telma Sanches Vendruscolo, pela
concretizava nossos ideais, assim o tempo foi passando cada vez mais rápido, e ao
percebermos chegou o grande dia. Não há despedidas, pois a felicidade está profundamente
presente dentro de nós, ela retrata as vossas imagens “AMIGOS”. Por isso um até breve e
de ficar.
mais uma turma de mestrado que parte, uma mera rotina, mas a convivência nos tornou
A Clínica Infantil Dom Bosco onde aprendi amar e cuidar das nossas
Ao pequeno Felipe, objetivo maior deste trabalho e aos muitos Felipes deste nosso
país, para que tenham dias melhores.Tenho saudades de você meu pequeno príncipe...
A minha grande amiga- irmã Santinha, obrigada pela força, apoio e incentivo. Você
é demais!
A minha amiga Mônica, minha eterna gratidão, pelo tempo disponibilizado, pela
INTRODUÇÃO……………………………………………………………………12
PRESSUPOSTO…………………………………………………………………………...16
OBJETIVO……………………………………………………………………..……….....17
DE AMPARO......................................................................................................................18
VINCULO MÃE-FILHO-FAMILIA......................................................................27
A ASSISTÊNCIA Á CRIANÇA.............................................................................32
2.METODOLOGIA............................................................................................................36
2.1.REFERENCIAL METODOLOGICO......................................................................36
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................................46
3.1- A CHEGADA.........................................................................................................46
3.2- O COTIDIANO......................................................................................................52
3.3- A ESPERA..............................................................................................................65
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................78
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICA................................................................................81
ANEXOS...............................................................................................................................
RESUMO
Neste contexto muitas delas são provenientes de Abrigos, que são instituições
Estas crianças são acompanhadas pelo cuidador social durante todo período de
famílias e esta é uma realidade presente nas famílias brasileiras. A vulnerabilidade das
do que é ter uma família, acolhimento, segurança, relação afetiva mãe-filho ou cuidador-
uma vinculação afetiva estável e constante e dos prejuízos causados por um empobrecido e
de um tempo menor possível, oferecendo toda assistência e vínculos que só a família pode
oferecer; toda a sociedade encontra ou deveria encontrar na família o seu ponto de partida.
bio-psico-social.
Convivência Familiar e Comunitária-Art. 19: “Toda criança tem direito de ser criado no
verbalizar seus sentimentos, suas angústias, tem o direito à convivência, ao viver junto.
A família natural como o próprio nome sugere, é a que encontra seu ponto de
unidos por laços de consangüinidade. Família Substituta é a que substitui a família natural;
é a que vem em segundo plano, e isso não significa dizer que a família substituta seja
e mais persistente dos vínculos é geralmente entre a mãe e o filho, um vinculo que
amadurecimento antes de sofrer mudanças que levem a um rompimento desse laço afetivo.
As crianças que vivem nos Abrigos têm este vínculo afetivo rompido. Sendo assim
dos cuidados para aquelas que ainda apresentam uma patologia e compreender este
processo.
do cuidado.
O papel do enfermeiro não é apenas lidar com as situações de saúde e doença, mas
visto que não são somente as crianças que estão acometidas que deverão ser cuidadas, mas
doenças.
Muitos problemas de saúde não podem ser resolvidos no interior da rede de saúde,
exigindo cada vez mais ações intersetoriais que propõe o reconhecimento dos
avaliação, mas atuação junto à família, aos cuidadores sociais orientando-os promovendo
Diante do exposto o nosso objeto de estudo nesta pesquisa, será o cuidado que é
Com esta pesquisa, esperamos estar contribuindo para que as crianças que estão
encaminhadas para adoção, tenham uma melhor qualidade de vida, uma vez que
entendemo s que o processo de cuidar é um processo interativo entre quem cuida e quem é
cuidado.
PRESSUPOSTO
1. Os cuidadores dos Abrigos não estão capacitados dentro da área de saúde para
como forma de proteção, porém estão sujeitas a uma rotina artificial de relações
estereotipadas que fala por ela, privando-a de seu espaço subjetivo, de seus conteúdos
estão sendo efetuados os cuidados com essas crianças, pois esses cuidados são importantes
Na trajetória histórica das crianças por volta do século XII, encontramos na arte
medieval, que se desconhecia a infância ou não se tentava representá- la.È difícil crer que
habilidade dos artistas.É mais provável que não houvesse lugar para a infância nesse
mundo.(ÁRIES, 1996).
Esse sentimento de indiferença com relação à infância não está demasiadamente
completame nte indefeso e sem condições de sobrevivência, e que necessita ser cuidado de
maneira especial dentro do convívio familiar, incluindo nessa relação avós, tios, madrinhas,
Por muito tempo as crianças foram ignoradas como seres humanos e como pessoas
como por exemplo, no caso de Moisés, e de infanticídio como o caso das crianças de
Belém, mortas por ordem de Herodes. Além dos sacrifícios contumazes de crianças e
adolescentes em oferendas para aplacar a ira dos deuses, para garantir boa colheita,
narrados em prosa e verso tanto na literatura antiga como na de cunho religioso (ABBUD,
1999).
bens, um dos exemplos foi o de Otávio, adotado por Júlio César para ser seu sucessor
(ABBUD, 1999).
Ainda nesta época, no séc. VI e VII, a Igreja instituiu a "oblata" – uma forma de
abandono institucionalizado, onde crianças eram "doadas" aos mosteiros com dupla
finalidade: uma espiritua l, a doação garantia a felicidade na terra e no céu; outra, prática,
evitar a fragmentação da propriedade entre muitos filhos e garantir também a sucessão
dinástica. Pais de qualquer categoria social podiam doar seus filhos de até dez anos de
idade para os mosteiros recebiam estas crianças. Esta forma de abandono substituiu o
Entre os nobres e ricos era comum a prática de envio dos filhos para o campo para
serem criados por amas onde permaneciam até passarem pelas doenças infantis e, se
Entretanto, o infanticídio foi uma prática tolerada até fins do século XVII e as altas
sentimento de indiferença frente ao fato. "As pessoas não se podiam apegar muito a algo
que era considerado uma perda eventual". No século XVII a morte de crianças por asfixia,
prática de se colocar crianças dormindo na mesma cama dos pais, e “o fato de ajudar a
natureza a fazer desaparecer criaturas tão pouco dotadas, insignificantes, não era
confessado, mas tampouco era considerada vergonha. Fazia parte das coisas moralmente
com a situação, assumiu, no decorrer da história, o abrigo dos órfãos, sem, contudo se
(ABBUD, 1999).
para a admissão de amas de leite, há um avanço no controle de doenças e nos cuidados com
aleitamento artificial como: uso de mamadeiras de vidro significaram o fim do sistema das
No Brasil a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo era desde o século XVIII,
uma instituição voltada à caridade, administrada por ordens religiosas de freiras, onde se
(LEME, 2002).
Em 1824, foi instalada a Roda de Expostos na Santa Casa de São Paulo, a qual foi
idealizada em Portugal e servia para que as crianças rejeitadas não fossem colocadas nas
A Roda era um cilindro oco de madeira com abertura em uma das faces onde ficava
uma janela, por onde eram colocadas as crianças. A mãe batia na madeira para avisar ao
porteiro, que ficava do lado de dentro para não ver seu rosto e girava a Roda, recolhendo o
abandonado.
A Roda funcionou até 1948, mas, segundo alguns autores, o ultimo registro é de 23
Roda, as crianças eram abandonadas nos jardins e banheiros da Santa Casa (LEME, 2002).
que de abrigo de expostos, passou a ser local de referência para tratamento e prevenção de
doenças infantis.
praticado no Brasil não como medida transitória, de caráter reparatório, com objetivo final
(IPEA/CONANDA, 2004).
abandonadas (as menores de 18 anos), vadias (os atuais meninos de rua), mendigas (as que
(IPEA/CONANDA, 2004).
justiça, sem possibilidade de veiculação pública dos seus dados (IPEA/CONANDA, 2004).
Como resultado das negociações para erradicar o Sistema da Roda e a Casa dos
aos genitores que quisessem abandonar seus filhos, garantindo-se em particular o sigilo da
mãe quanto ao seu estado civil e ás condições em que foi gerada a criança
(IPEA/CONANDA, 2004).
Pelo seu artigo 55, o Código de Menores de 1927 conferiu aos juizes plenos poderes
para devolver a criança aos pais, colocá- la sob a guarda de outra família, determinar-lhe o
abrigamento até os 18 anos de idade ou, determinar qualquer outra medida que julgasse
(ECA), que dispõe como obrigação da família, da sociedade e do Estado assegurar, com
às crianças, e no Brasil, ocorreu com a Lei n. 8.069 -13 de julho de 1990, sancionadas
ECA, que foi capaz de levar a conquista de políticas públicas dirigidas a esse segmento
do adolescente.
A legislação avançou nos princípios de proteção especial a criança e ao adolescente,
no Eca no Cap. II- Das Medidas de Proteção Específicas dispõe o Art. 101- VII- Abrigo em
utilizável como forma de transição para colocação em família substituta, não implicando
responsáveis por sua aplicação quanto seus executores entre os quais as Entidades que
partilhe dos seus objetivos e ainda contribuam para que estas crianças e adolescentes sob
institucionalização.
paradigma da proteção integral garantido pelo ECA em muitas Entidades que atendem as
No seu Art. 23 o ECA dispõe que a falta ou carência de recursos materiais não
pobreza(IPEA/CONANDA,2004).
As crianças encaminhadas para Abr igos são vítimas de abandono, as mães que
abandonam seus filhos, geralmente têm uma condição sócia econômica e cultural
pobreza, sem direito a ter infância, sem acesso a serviço de saúde, educação, vivendo uma
estrutura adequada para aplicação de medidas requeridas pelo Conselho Tutelar e pelo
ECA(IPEA/CONANDA,2004).
coordenado por casal social, pai social, mãe social (Lei 7.644, de 18/12/1987) ou, ainda,
18 anos de idade sem condições de retorno as famílias de origem e a quem não foram
propiciadas até o momento família substituta. O desligamento dar-se-á por meio de sua
abordagens na rua.
(IPEA/CONANDA, 2004).
e/ou mendicância (1,8%). Diante destes dados conclui-se que a pobreza familiar é a grande
responsável pelo ingresso de mais da metade (52%) das crianças e adolescentes nos abrigos
(IPEA/CONANDA, 2004).
Diante dos dados é possível supor que grandes partes das crianças abrigadas são de
famílias pobres, onde faltam meios para sustentação e sobrevivência, onde a garantia do
difícil.
sobrevivência de sua família e vêem como opção real de garantia dos direitos básicos de
miséria enfrentadas por suas famílias, nos levam a reflexão de seu possível retorno ao lar
de origem e os limites das instituições que as acolhem, fazendo cumprir seu papel de abrigo
ocorre um vínculo concreto entre mãe e feto. Há uma vinculação orgânica, biológica que
A criança inicia sua história dentro de sua família, de sua comunidade. A família,
com direitos e deveres, buscando na convivência diária, meios para sobreviver exercitando
sua cidadania com o olhar voltado para igualdade, respeito e direitos humanos.
Neste espaço social é que se faz necessário garantir o crescimento e
prejudicar a criança, a pobreza por outro lado, também leva às dificuldades na manutenção
Existe uma confusão conceitual entre abandono e pobreza, uma vez que a imensa
maioria das crianças pobres, mesmo as que estão nas ruas ou recolhidas a abrigos, possuem
pais, mas de famílias e populações abandonadas pelas políticas públicas e pela sociedade.
vínculo afetivo mãe- filho muito forte, trazendo muitas vezes perdas irreversíveis para
saúde mental de ambos, este rompimento pode não ser com a mãe, podendo ser com outras
propensão dos seres humanos a estabelecerem fortes vínculos afetivos com alguns outros, e
afetivos, no que se refere ao vínculo mãe- filho, este ocorre desde a vida intra-uterina até a
idade adulta, o rompimento destes laços gera ansiedades e muitas tristezas (BOWLBY,
1997).
é um direito natural. .
monogâmica, com submissão da mulher ao homem. Esta família não tinha função afetiva.
pág10).
crianças. Essa família foi referência para o surgimento da família patriarcal no século XIX.
No século XIX surge também a família moderna, trazendo consigo novas atitudes
A família não é algo natural, biológico, mas uma instituição histórica e socialmente
criada pelos homens, que vem se constituindo de formas diferentes ao longo de inúmeras
décadas em sua estrutura, passando por diferentes formas de organização, objetivos,
demográficas, econômicas e sociais que repercutiram intensame nte nas diferentes esferas
da vida familiar.
afetou a composição familiar e o tamanho das famílias, assim como o acelerado processo
mulher, levando a uma redefinição dos seus papéis e sua maior participação no mercado de
trabalho.
educação das crianças. Percebemos que as avós têm participado integralmente nos cuidados
diários da vida de seus netos. Ocorre um vínculo afetivo extremamente importante entre as
crianças e as avós que se sentem muito úteis e de fato os são, pois os netos sentem a
necessidade de sua presença no núcleo familiar. Muitas dedicam seu tempo com o
básicas das famílias pobres deve suplantar a mera visão biologista e incluir outras visões
apresente, ela se constitui num canal de iniciação e aprendizado dos afetos e das relações
sociais. Seu estudo é bastante complexo, mas o que se pode afirmar é que o conceito de
Uma definição de família não pode ser fixada, pois existem várias formas delas.
Assim pode-se encontrar na vida familiar moderna, solteiros, casais sem filhos, casais
Embora quase todo mundo esteja ligado emocionalmente a uma família, existem
alguns indivíduos que não se encaixam dentro de qualquer tipo de família. O que importa e
estabelece uma relação legal de pai e filho, mãe e filho entre pessoas que não se relacionam
por nascimento, porém com os mesmos direitos e obrigações que existem entre as crianças
desenvolvimento da criança.
como a afetividade que as permeiam são orientadas por modelos e padrões culturais
(ROMANELLI, 1991).
receber determinados cuidados, objetivando seu bem estar físico e prevenindo problemas
social individual, que reage como um todo adoece como um todo, devendo ser assistida
portanto devemos avaliar os nichos ecológicos como: berço, quarto, casa ou apartamento,
quintal ou área de lazer, creches, abrigos, parques, escolas e nossa anamnese avaliamos
seus primeiros anos de vida são de importância vital para a sua saúde mental presente e
futura.
considerando a família como uma constante na vida da criança, porém não é somente a
família que desenvolve estes cuidados, a criança abrigada também deverá estar recebendo
A mãe constitui sem dúvida a pessoa de maior influência durante o início da fase de
lactente. Essa pessoa é que satisfaz as necessidades básicas de alimentação, calor, conforto
e amor da criança. Ela fornece a estimulação para os sent imentos da criança e facilita a
Na ausência da mãe, outras pessoas podem substituí- las, como as avós, tias,
madrinhas ou babás, desde que consigam ser adequadas, oferecendo os cuidados físicos e
emocionais adequados.
por esse motivo muitas vezes a criança é confinada ao berço, limitada na locomoção e
inteligência cognitiva, afetividade dentro das faixas etárias de um mês a seis anos
como cuidadores visto que não estudaram o cuidado em sua plenitude, de forma integral,
em uma visão humanista que apresente um toque diferente ao ser visualizado como um
comportamento interativo.
O cuidado até recentemente não havia merecido um olhar mais atento, sendo
considerado algo tão natural e, de forma simplista, encarado apenas como ajudar,
conhecimentos e habilidades necessárias para preencher seu papel se torna essencial para
2.1-Referencial Metodológico
em Minayo (1996).Será feita uma entrevista semi-estruturada com análise de conteúdo das
as estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua
constitui são mutáveis e tudo, instituições, leis, visões de mundo, são provisórios,
uns como os outros vão construir um conhecimento que poderá ser usado em prol daquela
população.
MG.
Governamental.
Possui uma Vara da Infância e do Adolescente que conta com um Juiz, 2 Promotores, 8
município
Abrigo
colaboradores da instituição.
2.3- Sujeitos da Pesquisa
Os sujeitos da pesquisa são os cuidadores das crianças que vivem neste Abrigo e
serviço na função, se têm filhos e serão identificados como atores sociais e quando formos
qualitativa trabalha com pessoas, atores sociais, em relação a grupos sociais, privilegia os
atores sociais que detém os atributos que se pretende conhecer, efetuando entrevistas em
número suficiente para permitir certa reincidência de informações garantindo que estas
Essa relação entre entrevistado e entrevistador não é neutra, uma vez que será
agendamentos prévios por telefone feitos pela Assistente Social do Abrigo e o pesquisador.
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo II), sabendo que teriam
definido um tempo de 30 minutos, porém este foi flexível e a seguir as entrevistas foram
transcritas na íntegra.
aqui no Abrigo cuidando das crianças”. Desta forma pretendemos conhecer como era
realizado o cuidado com as crianças de um modo geral e qual a percepção dos atores
A análise dos dados foi feita através de uma análise de conteúdo, na qual utilizamos
Várias técnicas foram propostas, para análise de conteúdo, sendo que nesse estudo
foi utilizada a modalidade “análise temática” que, constitui-se numa das formas que
organização dos relatos); classificação dos dados (elaboração dos núcleos de sentido) e
com a entrevista e que subsidiaram a análise posterior dos dados, construindo detalhes
que no seu somatório agregou diferentes momentos da pesquisa, fizemos uso sistemático do
diário desde o primeiro instante da ida ao campo até a fase final da investigação.
Na análise final fizemos uma análise dos dados obtidos á luz da teoria estudada no
trabalho; articulamos assim recortes de falas (frases) dos entrevistados com uma possível
3-Resultados e Discussão
Fizeram parte da pesquisa, três cuidadores sociais do Abrigo, com idade entre 20 e
42 anos, grau de escolaridade nível médio, somente uma delas não tem filhos e o tempo de
apresentados a seguir.
3.1- A Chegada
percebemos pelas falas dos atores sociais sujeitos da nossa pesquisa que a violência e os
maus tratos no núcleo familiar são alguns dos fatores, percebidos por eles na chegada a
C-1- “Você vê muita coisa assim revoltante... chegou um aqui que foi espancado...
nossa é dolorido”.
C-2- “Tem crianças que vieram pra cá por causa dos maus tratos”.
que muitas vezes se prolonga por muito tempo uma vez que a família é o “lócus
exclusão que comportam, pela falta de condições da família, como pela forma como esta se
intimamente ligados.
Por outro lado a violência que se desenvolve e se dissemina nas relações sociais e
intrafamiliares prepassa por todas as camadas sociais de uma forma tão profunda, que para
responsáveis sobre seus próprios filhos, abusando do poder que lhe é conferido.
papel do adulto como sendo de força, dominação, superioridade e poder social da criança
ameaçadas. Este estado de privação de direitos ameaça a todos na medida em que se produz
criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio de sua família e
C-1- “No comportamento de algumas crianças por ter visto as brigas dos pais, são
O impacto dos maus tratos sobre as crianças é influenciado por fatores como a
comparadas com as que não sofreram violência são mais agressivas, tem baixa auto
dos 2977 processos, 8,21% foram de violência doméstica, aproximadamente 245 casos,
dos quais 23,51% foram de violência sexual, 62,9% de negligênc ia e 113,58% de
violência física.
Para Minayo (2002), a violência sexual é todo ato praticado por adultos com
outrem. Este tipo de violência pode trazer sérias conseqüênc ias físicas e emocionais para
a criança violentada.
Ribeiro et al (2004) indicam que a violência sexual pode deixar a pessoa mais
aquela que há uso da força física, geralmente do adulto contra a criança, causando-lhe
desde leva dor, podendo passar por danos e ferimentos graves, deixando seqüelas.
1999).
Diante de casos tão complexos, com os quais nos deparamos no cotidiano dos
serviços, muitas vezes nos resta a perplexidade, pois não temos, pelo menos na nossa
outro lado, muitas vezes faltam estrutura física e recursos humanos nos serviços, além das
âmbito familiar, o que contribui para que a violência contra a criança se mantenha
para a redução da morbi- mortalidade sofrida por crianças vítimas de maus tratos garantindo
a violência doméstica de acordo com artigos 13,47 e 245 que regulam a conduta dos
profissionais de saúde.
B-Propor linhas de ação nas áreas de Ensino, Pesquisa e Assistência e Extensão de serviços
E sta p ro post a é de f un dament al imp ort ân cia, p or ém n ão é do conh eciment o de to do s o s p ro fissio nais de saúde, at é po r f alta de
um a disciplina que abor de a quest ão dur ante o cur so de graduação na fo rmação do pr of ission al, esp ecialm ent e naquelas que abor dem a
saúde da cr iança e do ado lescent e. Minh a pr opo sta en quanto p esquisado ra e pr ofission al de saúde é de que devemo s fazer um
ch am am ent o pr in cip alm ent e em no ssa realidade aos p rof ission ais da saúde, da assist ên cia social, do judiciár io e da so ciedade par a junto s
en gajado s n uma f or ça t aref a po der mudar o r um o da h istória so cial das nossas crian ças e ado lescent e, pr io r izando a cr ian ça e o
Mas também concordamos com Maurás e Kayayan (1998) que a atenção á família
3.2- O Cotidiano
Este núcleo retratado nas falas dos atores sociais configurou-se em três subtemas.
Estes subtemas foram construídos a partir das significações dos discursos dos atores
envolvidos:
Rotina
As crianças atendidas no Abrigo têm idade de zero a quatro anos, é uma entidade
crianças carentes, tem orientação de base cristã, mas sem vínculo com nenhuma religião
específica.
e odontológica, além do amparo moral e afetivo, por parte dos membros da instituição.
regulamentos e regimentos são definidos por uma necessidade de ordenação, de dar conta
C-1 “Bom os cuidados a gente chega de manhã dá o banho nos menores de zero a dois
C-2 “Cuido deles á noite, põe para dormir, escovar os dentes, rezo com eles e mais cuidar
deles”.
desenvolver relações sociais amplas e diversificadas. Na instituição não há lugar para trocas
individuais, poucas são as oportunidades de trocas afetivas, muitas vezes determinada pelo
estereotipadas que fala por elas, privando-as de seu espaço subjetivo, de seus conteúdos
C 1- “O rodízio por turno, cria muitas confusões na cabecinha deles. Após algum tempo
eles acostumam e até sabem a hora da gente de ir embora. Se vem substituir, as crianças
transferência da criança de uma instituição para outra são fatores que ocorrem comumente
e que acarretam a descontinuidade dos laços afetivos. A criança, dependendo de sua faixa
empregado pelo programa de abrigamento nem sempre atende de forma personalizada essa
à criança condições adequadas para a satisfação das suas necessidades básicas. Qualquer
falha no atendimento a essas necessidades pode ser sentida pela criança, desencadeando
reações na mesma.
A criança faz uma exploração ativa do ambiente que conduz com o passar do
tempo, a uma série de ‘entendimentos’ ou teorias como o mundo funciona. O caráter dos
importante, pois o apego gera segurança, conforto e pode ser sentido pela criança como
crianças da mesma forma com o mesmo carinho, atenção e afeto, dificultando a formação
do vínculo afetivo.
A relação estabelecida entre as crianças e os seus cuidadores pode não ser forte o
ininterruptos.
oferecendo condições técnicas para que as crianças no abrigo tenham melhorar qualidade
desenvolvimento.
Recreação
A recreação retratada nas falas dos atores sociais ocorre no cotidiano das crianças
C-1 “Quando não está frio a gente leva para fora dar banho de sol e quando está
frio ficamos brincando na sala de televisão. A gente não tem um projeto pra fazer com
eles porque são duas cuidadoras de manhã e uma enfermeira, então é difícil, arrumar um
são muitas crianças, muitas atividades essenciais como alimentação, por exemplo,
sobrando pouco tempo para brincar com as crianças, além do número insuficiente de
recreação, lazer a ser desenvolvido no dia a dia. No nosso entendimento ele é tão
Devido sua importância a recreação deve ser inserida nas atividades do dia a dia
mais solidamente.
C-3 “Tem a hora do lazer deles, o espaço é pouco, mas mesmo neste espaço a
gente tem pra brincar: pipa, bola, animais brincadeira do dia a dia”.
cuidadora, que se refere ao ambiente externo, a convivência ao ar livre, com bola, pipa,
entre outros.
brincar da criança, seu relacionamento com as outras crianças, sua timidez, agressão, etc.
Através do meio universal de jogos/brincadeiras, as crianças aprendem o que
ninguém pode ensiná- las. Elas aprendem sobre seus mundos e como lidar com esse
ambiente de objetos, tempo, espaço, estrutura e pessoas. Elas aprendem como agir dentro
desse ambiente o que ela podem fazer, como se relacionar com as coisas e situações, e
como se adaptar as demandas que a sociedade impõe sobre elas (WONG, 1999).
podem ser praticadas e repetidas quantas vezes for necessário para que a criança adquira
desenvolvimento de habilidades.
coordenam o que vêem com o que fazem; e ganham domínio sobre seus corpos.
Descobrem como é o mundo e como elas são. Adquirem novas habilidades e aprendem
usa-las.
C-2 “Durante o dia não sei, a noite não, a noite eles vão lanchar, escovar os
Entendemos que seu plantão é noturno, mas a partir das 19:00 hs é possível
da sua vida. As experiências tanto externas como internas podem ser férteis para a criança
por intermédio de suas próprias brincadeiras e das invenções de brincadeiras feitas por
vida inteira. As mudanças nos relacionamentos com os colegas e nos tipos de brincadeira
que captam seu interesse, da brincadeira imaginativa para os jogos com regras, ilustram
outro salto no desenvolvimento á medida que entram na infância média (PAPALIA, 1998,
pág: 366).
Cuidado
criança.
envolvimento cuidador-criança.
considerados na nossa pesquisa como: higiene corporal e oral, nutrição, sono e repouso,
A responsabilidade do cuidador é grande, pois são eles que passam a maior parte
relação afetiva.
C.1- “A gente dá o carinho também na medida do possível porque não dá pra dar
para todos de uma vez e a gente trata eles como se fossem nossos, mas não é daquele jeito
se torna mais abrangente indo além dos cuidados primários, o cuidador retrata em sua fala
das crianças no dia a dia e relacionam este cuidar aqueles com os filhos em casa com está
C.2- “Estas crianças daqui tem que ser mais especiais que em casa, precisa de
C.1- “Eu assim, eu me espelho em casa com os meus filhos e tento tratar eles da
mesma forma. Passo pra eles o carinho, a hora do educar e tem a hora do castigo porque
onde não tem disciplina não tem como ter uma convivência e então me espelho em casa e
que dar limites na hora certa, não pode fazer isso, não é hora pra isso, é hora disso.
O cuidado desenvolvido pelas cuidadoras é comparado sempre no cuidado que tem
com seus filhos em casa, porém deixam bem claro que “são muitos e não tem como”, em
cuidadores em relação ao número de crianças, uma vez que as atividades dos cuidadores
em relação aos cuidados com as crianças se organizam nas vinte e quatro horas. Neste
contexto faz-se necessário que o cuidador, conheça a criança nas diferentes faixas etárias e
eliminações, controles especiais com sua saúde entre outros o que irá favorecer o
Aprender a realidade do outro tendo sensibilidade para o que ele está sentindo e
limites as crianças aprendem a extensão em que podem manipular seu ambiente, e ganham
aspecto da execução, pois desta forma existirá uma menor necessidade para ação
orientadores estabelecidos. A maneira como a criança é cuidada, pode favo recer ou não o
cuidado, no sentido de promover o seu bem estar e prevenir problemas que possam
(POTTER, 1999).
saúde bucal, a higiene oral ajuda a manter o estado sadio na boca, dentes, gengivas, o ato
desconforto resultante dos odores desagradáveis, pois a criança pode desenvolver cáries
refere as crianças do sexo feminino, pois a forma pela qual se limpa ou se lava a criança
após eliminações das fezes e o uso prolongado de uma mesma fralda pode levar bactérias
das fezes para vagina atingindo o meato urinário, provocando infecção urinária
devem ser preparadas de acordo com as faixas etárias das crianças. A nutrição adequada
está intimamente ligada a boa saúde, regula o crescimento em todo o seu desenvolvimento,
isto pode ser visivelmente percebido pelo cuidador pelo aumento gradual de peso e
podem perceber e orientar cuidados com a mastigação, excesso de comida na boca que
cada criança, algumas se alimentam mais rápido e sentem fome mais cedo do que as
se torna muito difícil para o cuidador, talvez um auxiliar estiver próximo a estas crianças
as ajudem a controlar a rapidez, mastigar melhor os alimentos e se saciar por mais tempo.
pastosos com colher, observar o reflexo de protusão da língua que faz com que ela
empurre o alimento para fora da boca, esta resposta muitas vezes é in terpretada como não
gostar do alimento ou mesmo não querer mais alimentar, e pode deixar de se alimentar a
criança e a mesma ficar com fome, não suprindo suas necessidades nutricionais.
No processo do cuidar percebe-se que os cuidados primários são fundame ntais para
deles para se estruturar como sujeito, com identidade própria, são os cuidadores que os
possível, que lhes dão carinho, afeto, que lhes proporcionam oportunidades seguras de
3.3- A Espera
ao Lar e Adoção.
e situações que muitas vezes requer estudos familiares e processos judiciários que são
mais demorados.
Retorno ao Lar
processo complexo.
resistência dos dirigentes e demais funcionários dos abrigos quanto à função social do
abrigo no contexto das políticas públicas atuais (IPEA/CONANDA, 2004, pág: 374).
A criança abrigada por direito deve ter possibilidade de retornar a sua família de
família: 58,2 % das crianças e adolescentes abrigados têm família e mantem vínculo, 22,7%
tem família e sem vínculo, 5,8% tem família, porém por impedimento judicial não mantém
vínculo, num total de 86,7% crianças abrigadas com família, diante deste quadro é possível
possuírem família é uma realidade e direito constituído pelo ECA. Neste relatór io segundo
o Comitê para Reordenamento de Abrigos alguns fatores são determinantes para
podem ser citados: o acolhimento de crianças e adolescentes nos abrigos sem decisão
equivocado por parte dos profissionais de abrigos de que a instituição é o melhor lugar para
pelos Conselhos Tutelares, antes de terem sido analisadas as demais opções viáveis para
65).
Alguns desses fatores vêm retratados na fala dos atores sociais da nossa pesquisa:
C.1- “Alguns vem para o abrigo e são adotados outros a justiça dá uma chance para os pais,
a assistente social vem acompanhando até um certo tempo, aí conforme for reagindo a
C.3- “Uns ficam aqui, a família tem problemas com a justiça e tem que resolver antes,
Este contexto vem relatado nas falas dos atores sociais desta pesquisa:
C.2- “Alguns tem que esperar o pai entrar para pedir a guarda de volta, o pai, a família, um
retornar ao seu lar, conhecer suas idealizações, referências de família: como viveu,
sentimentos em relação ao abandono,do abrigo e perspectivas de futura para sua vida são
essenciais para que ocorra a saída do abrigo com uma preparação gradativa e o menos
Porém para esta pesquisadora, torna -se necessário que o desenvolvimento deste
trabalho seja o mais precoce possível, para que o abrigo cumpra com seu papel de
entidades de apoio para que atuando conjuntamente implementem medidas que atendam o
Juventude não pode exercer o papel somente de fiscalizador há necessidade de ter o papel
uma discussão sobre a atuação em relação às políticas públicas que poderão ser
Adoção
medida de proteção em curto prazo, porém a realidade retrata que as crianças ficam por
longo tempo nos abrigos, até que as autoridades competentes da Vara da Infância e
Não são todas as crianças institucionalizadas que estão inser idas no processo de
adoção, somente aquelas cujos pais sejam desconhecidos ou que tiveram decretado a perda
do poder familiar por sentença judicial, poder familiar constitui um conjunto de direitos e
deveres dos pais em relação aos seus filhos (RECIFE, 2004, pág: 11).
A adoção é garantida pelo ECA Art-41-“ atribui a condição de filho adotado, com
demandas que lhe chegam e o que se observa é uma demora no processo de adoção, desde
Existem crianças para serem adotadas nos abrigos, apesar do processo de adoção
visar a criança como o maior interessado, não ocorre um cadastramento das crianças que
estão aptas para serem adotadas, ocorre um cadastramento dos casais, porém muitas delas
não têm o perfil das preferências dos casais que pretendem adota- las.
• Sexo- feminino-46%;
Diante desta realidade percebemos que as crianças que não estão contempladas
neste perfil terão muitas dificuldades de encontrarem uma família que as adote e acredito
este seja um dos fatores que contribua para a demora do processo de adoção das crianças
abrigadas.
Na fala dos atores sociais desta pesquisa também se preocupam com a demora do
processo:
C.1- “Eu acho errado, porque à medida que vai passando o tempo as pessoas não
querem mais adotar as crianças maiores, aí elas vão ficando aquelas crianças revoltadas,
tristes e até chora e dizem porque minha mãe não me busca? Porque ninguém me quer? È
triste”.
A adoção hoje implica necessariamente em adoções chamadas tardias, de crianças
mais velhas, porém os mitos que constituem a atual cultura da adoção no Brasil
pessoas: teriam medo de adotar crianças mais velhas pela dificuldade na educação; teriam
medo de adotar crianças que viveram muito tempo em orfanatos pelos “vícios” que traria
consigo; medo que os pais biológicos possam requerer as crianças de volta; medo de
adotar crianças sem saber a origem de seus pais biológicos, pois a “marginalidade” dos
pais seria transmitida geneticamente; pensam que uma criança adotada, cedo ou tarde traz
problemas (WEBER, 2005, pág: 77), não relatei todo o teor da pesquisa e procurei relatar
algumas opiniões que mereceram por parte desta pesquisadora maior relevância, pois
acredito que muitas destas opiniões poderiam ser modificadas através de esclarecimentos
com campanhas, panfletos, participação fóruns, que debatessem o tema, estratégias que
Neste contexto os atores sociais desta pesquisa percebem que há famílias querendo
adotar e crianças para ser adotadas, então o processo poderia ser mais fácil:
C.2- “Muito demorado, acho que demora demais a liberar, acho que tinha que ser
mais rápido. Vê a família que vai adotar a criança demora muito. Traz conseqüências
para as crianças esta demora, porque as crianças vão crescendo e crescem sem o
convívio dos pais, chegam aqui novinhas e vão para outra instituição e não foi adotada e
(BRASIL,2006,pág:44).
não podemos colocá- la como a solução para resolver os problemas das crianças
institucionalizadas, mas com certeza representa um dos caminhos para garantir a criança o
Significado do Trabalho
no Abrigo, todas as ações no trabalho que desempenham se voltam para os cuidados com
as crianças.
O cuidar faz parte da natureza feminina, as mulheres como cuidadoras, como
pesquisa, que constroem suas atividades com carinho, afeto, criatividade, apego pelas
dos cuidados que tiveram com seus filhos, com sua vida cotidiana.
C.1- “Cuidar destas crianças foi uma lição de vida na verdade, vou te contar uma
história, porque eu era uma pessoa impaciente, foi assim uma terapia na minha vida, que
C.2- “Eu acho muito bom, assim, eu aprendi a gostar deles e eles de mim, sei lá é
pelo trabalho.
Na percepção desta pesquisadora as cuidadoras ao demonstrar o significado deste
trabalho para elas, se colocam disponíveis para cuidar das crianças, um interesse no ser-
cuidado, envolvendo crenças, valores, história de vida das crianças, realizando suas tarefas
C.3- “Esse trabalho que faço aqui é maravilhoso, passou o portão pra dentro, eu
tenho outra vida, saio daqui com o dever cumprido, de alguma coisa que fiz para essas
crianças”.
Percebi no momento das entrevistas, que ao falar do cuidar das crianças, da sua
reconhecido.
dificuldades e acharam que não iriam dar conta de cuidar das crianças:
C.2- “To feliz de trabalhar aqui, no começo pensei que não ia dar conta porque é
no qual está inserida nossa pesquisa, vivenciar diariamente histórias de vida, com
situações de perdas, violência, separações, o estresse está presente, tornando o cuidador
mais sensível e susceptível e com medo de não conseguir desempenhar sua função.
cuidadora.
que ser cuidador é gratificante, como já relatado nas falas dos atores sociais desta
pesquisa.
legais em momento algum foram abordadas, está feliz e o trabalho é gratificante, pois
Treinamento
essencial, pois trabalham num ambiente de cuidado, com crianças de faixas etárias
Neste ambiente de cuidado torna -se necessário garantir que os cuidadores sociais
tem filhos e faixa etária dos mesmos e experiência com crianças, mostrando aproximação
da execução das tarefas que serão desenvolvidas com os afazeres domésticos; com o cuidar
dos filhos, como relatado pelo cuidador social “a experiência maior é que eu trouxe de
Os atores sociais desta pesquisa relatam em suas falas que não foram capacitados
C.1- “Não, no começo não, mas depois teve reunião e falaram que eles dependiam em tudo
de nós, que nós éramos quase mãe social pra eles, que era tudo pra eles aqui dentro”.
Na percepção desta pesquisadora a relação dos cuidados com os seus filhos é uma
cuidador social: “no comportamento de algumas crianças, por ter visto as brigas dos pais,
sejam capacitadas, para que promovam os cuidados visando não somente atender as
como é relatado pelo ator social: ”Antes não era uma equipe, agora sentamos e discutimos
“A responsabilidade de cuidar dos filhos dos outros, é maior que cuidar dos meus”,
destas cuidadoras, dentro de um processo que propicie novos conhecimentos, e que traga
segurança para execução dos cuidados com as crianças.Esse processo deve ser amplo, não
se limitand o ao formal incluindo aspectos informais, como encontro com as colegas, auto
aprendizagem que são experiências que refletem no desempenho das cuidadoras e que
CONSIDERAÇÕES FINAIS
estava no caminho certo, voltando ao nosso objetivo que foi a percepção dos cuidadores
ingresso na instituição.
Uma característica marcante da sociedade brasileira é a desigualdade social, as
famílias trazem consigo as marcas da miséria no qual com certeza associam-se outras
Neste universo do Abrigo estas crianças são cuidadas pelos cuidadores sociais,
sujeitos da nossa pesquisa, que na nossa percepção desenvolvem suas funções de forma
empírica, experenciada na sua vida cotidiana, cuidando-os de forma como cuidam de seus
filhos.
cuidadoras para desenvolvê-los, fica difícil voltar o olhar para o atendimento individual, o
uma vez que são vitimadas no corpo e na alma. E independente da finalização de cada caso,
elas retomarão uma nova etapa de suas vidas, necessitando de segurança e autoconfiança
capacitadas para desenvolvê-los, como efeito pode perceber que no seu “cuidar”, essas
mulheres e essas crianças são expostas a riscos que afetam aos dois lados desse binômio
termos de proteção, fortalecimento emocional, segurança e preparo para a vida. Sendo que
vínculos.
para atuar em um abrigo, uma linha de ação emergencial a ser traçada será um projeto de
é ajudar a crescer.
suas origens.
vários contextos, o que o qualifica para ser inserido na equipe técnica do abrigo, podendo
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