Clepsidra Camilo Pessanha
Clepsidra Camilo Pessanha
Clepsidra Camilo Pessanha
Clepsidra
Camilo Pessanha
Com Wenceslau de Moraes, em Hong Kong, 1895 Camilo Pessanha e João Vasco, em Macau, por volta de 1900
O período em Macau
Paulo Franchetti
Do grego κλεψύδρα
(klepsydra), retomado no
Latim clepsydra.
Na orgia, ao longe, que em clarões cintila Só, incessante, um som de flauta chora...
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.
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Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas, Cessai de cogitar, o abismo não sondeis.
‑ Fulgurações azuis, vermelhos de hemoptise,
Represados clarões, cromáticas vesânias ‑, Gemebundo arrulhar dos sonhos não sonhados,
No limbo onde esperais a luz que vos batize, Que toda a noite errais, doces almas penando,
E as asas lacerais na aresta dos telhados,
As pálpebras cerrai, ansiosas não veleis. E no vento expirais em um queixume brando,
Abortos que pendeis as frontes cor de cidra, Adormecei. Não suspireis. Não respireis.
Tão graves de cismar, nos bocais dos museus,
E escutando o correr da água na clepsidra,
Vagamente sorris, resignados e ateus,
Referências
O castelo de Axel: estudo sobre literatura imaginativa de 1870 a 1930 / Edmund Wilson ;
tradução José de Paulo Paes. - 2. ed. — São Paulo: Companhia das Letras, 2004.