A Era Mezozoica 2
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A Era Mezozoica 2
PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO (PAC): RESUMPTION OF THE ROLE OF THE STATE IN THE
DEFINITION OF DEVELOPMENT POLICY?
Edemar Rotta2, Carlos Nelson Do Reis3
1
Pesquisa desenvolvida no estágio pós-doutoral na Escola de Humanidades - Curso de Pós-Graduação em Serviço Social - Mestrado e Doutorado,
PUCRS. Ligada ao Núcleo de Pesquisa em Políticas e Economia Social e ao Grupo de Pesquisa em Economia do Bem Estar Social.
2
Pós-Doutorado no PPGSS/PUCRS. Doutor em Serviço Social pela PUCRS. Mestre em Sociologia pela UFRGS. Professor do PPGDPP/UFFS. E-mail:
erotta@uffs.edu.br
3
Pós-Doutorado na Universidade de Paris 13 Nord. Doutor em Política Econômica/UNICAMP. Mestre em Teoria Econômica/UFRGS. Professor do
PPGSS/PUCRS. E-mail: cnelson@pucrs.br
RESUMO
ABSTRACT:
of the formulations of economic and social policies implanted based on the neoliberal
ideology; it is based on the ideals of the new and social-developmentalism; prioritizes the
axes of social and urban infrastructure, energy and logistics; emphasizes integrated
programs, with maturity in the medium and long term; and seeks to articulate public and
private investments. The PAC reinstated the Brazilian State as a decisive agent in the
development agenda, but without being able to overcome historical contradictions that
govern its organization and operation, hindering the progress towards the promotion of
structural transformations in society, beyond the logic of reproduction of capital and
interests of dominant elites and leaders.
INTRODUÇÃO
Este sentimento contraditório evidencia que, além dos interesses divergentes que disputam
a hegemonia na condução da políticas públicas e no controle do Estado, existe também um
vasto campo de estudos que demandam pesquisas na perspectiva de elucidar os meandros
que envolvem as políticas econômica e social adotadas pelos governos Lula e Dilma, os
casos de corrupção, as eleições de 2014, o impeachment da presidente Dilma, a crise
econômica de 2014-17, entre outros.
Este artigo se propõe a contribuir na reflexão a respeito do PAC, tendo presente que se
trata do programa de referência dos governos Lula e Dilma, em termos de proposta de
desenvolvimento. O PAC se constituiu como referência de uma proposta desenvolvimentista,
com centralidade nas carências de cunho social da sociedade brasileira, representando uma
resposta à crise global do capitalismo, à nova divisão internacional do trabalho e às
transformações societárias (POCHMANN, 2012);
Os resultados econômicos e sociais alcançados pelo PAC não o livram das contradições e das
críticas recorrentes, quer pelo mesmo não ter representado uma ruptura com os
fundamentos macroeconômicos de recortes teóricos neoliberais ou por seus programas e
propostas estarem aquém dos resultados esperados (RODRIGUES e SALVADOR, 2011). Não
houve rompimento com o padrão de acumulação capitalista sob a hegemonia do capital
financeiro. Pode ter ocorrido aumento da renda dos trabalhadores, mas o capital ganhou
muito mais. Os gastos nas áreas sociais também tiveram aumentos, mas em uma proporção
muito menor do que o pagamento dos juros e amortizações da dívida. O aumento das rendas
do trabalho não seguiu o ritmo do aumento das rendas do capital (CASTELO, 2013).
Visando contribuir neste debate tenso e contraditório a respeito do PAC, a partir dos
referenciais do método dialético, recorre-se à pesquisa bibliográfica e documental,
explorando os balanços do PAC, os relatórios oficiais, os materiais de divulgação e estudos
já realizados a respeito do mesmo. Procura-se caracterizar o contexto que lhe dá origem,
suas bases de sustentação ideológica, seus eixos agregadores, áreas prioritárias, programas
e projetos propostos e os montantes financeiros envolvidos. Cada aspecto referido dá
origem a uma subseção deste texto.
A crise das formulações de políticas econômicas e sociais implantadas com base no ideário
neoliberal, nas mais diversas partes do mundo, torna-se amplamente visível a partir do final
da década de 1990. Aspectos dessa crise manifestam-se no crescimento das taxas de
desemprego, na ampliação das desigualdades sociais e regionais, na concentração de renda
e nas baixas taxas de crescimento econômico. “A incapacidade do Consenso de Washington
em fundamentar políticas econômicas capazes de engendrar processos de desenvolvimento
mais duradouros” (CARNEIRO, 2012, p.767), gerou críticas recorrentes às suas concepções
e derrota das coalizões políticas que lhe davam sustentação, em especial na América Latina.
neoliberal foi determinante para a derrota da coalizão política que deu sustentação ao
governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) em seus dois mandatos (1º de janeiro de 1995 a
1º de janeiro de 2003). O candidato que representava esta coalizão, José Serra (38,7% dos
votos válidos), foi derrotado por Luís Inácio Lula da Silva (61,3% dos votos válidos), que
liderou uma coalizão de centro-esquerda.
A ascensão deste novo grupo se consolidou a partir das substituições de José Dirceu por
Dilma Rousseff[2], na Casa Civil da Presidência, em 21 de junho de 2005, e de Antônio
Eixo temático: EIXO 1: Estado, Democracia, Políticas Públicas e Gestão Social do Desenvolvimento
Este novo grupo que se torna hegemônico via os investimentos públicos, especialmente em
infraestrutura, como essenciais para o aumento da produtividade estrutural do sistema
econômico a fim de proporcionar crescimento no longo prazo. Somente esta retomada do
investimento público, aliada à políticas de inovação tecnológica, valorização do salário
mínimo e transferência de renda seriam capazes de viabilizar uma proposta de
desenvolvimento no longo prazo, articulando crescimento econômico e inclusão social, como
constante no Programa de Governo da Coligação Lula Presidente, em 2002 (ABREU, 2014;
BASTOS, 2012) e no Plano Plurianual 2004 a 2007 (BIELSCHOWSKY, 2011).
Os primeiros passos para a formulação do PAC foram dados no final do primeiro mandato do
presidente Lula, mas foi a partir de seu segundo mandato que o programa se tornou
realidade e passou a ser apresentado como referência de desenvolvimento para o país. O
PAC[4], foi criado pelo Decreto nº 6.025, do Presidente da República, de 22 de janeiro de
2007, com os objetivos de acelerar o ritmo de crescimento da economia brasileira, aumentar
o emprego e a renda, diminuir as desigualdades sociais e regionais e manter os
fundamentos macroeconômicos (inflação, consistência fiscal e solidez nas contas externas)
(BRASIL, 2007). Se configurou como um programa de desenvolvimento econômico e social
com suporte de planejamento estratégico, na gestão articulada das ações interministeriais,
no fortalecimento da regulação, na gestão de instrumentos financeiros, na parceria entre o
setor público e o investidor privado e na articulação entre os entes da federação. Seus
programas, projetos e ações estão organizados a partir de três eixos: infraestrutura
logística, infraestrutura energética e infraestrutura social e urbana (BRASIL, 2007).
Concebido para o quadriênio 2007-2010 (PAC 1), ele foi reordenado para o período
2011-2014 (PAC 2) e para 2015-2018 (PAC 2015-18)[5]. O Programa foi coordenado no
âmbito do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, pelo Comitê Gestor do PAC
(CGPAC), possuindo uma estrutura de gestão[6] que envolveu todos os ministérios
implicados, bem como as empresas públicas envolvidas, respondendo diretamente à
Presidência da República, no que toca às ações de governo, e o Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social[7], no tocante às relações com a sociedade civil.
Eixo temático: EIXO 1: Estado, Democracia, Políticas Públicas e Gestão Social do Desenvolvimento
Bresser Pereira (2016) aponta três características que constituem o núcleo central do que
se entende por novo-desenvolvimentismo: a ideia de desenvolvimento como mudança
estrutural (herdada do desenvolvimentismo clássico), a tese do crescimento puxado pela
demanda (herdada de Keynes e Kalecki) e a tendência à sobreapreciação cíclica e crônica da
taxa de câmbio. De outra forma, a proposta novo-desenvolvimentista está calcada em quatro
teses fundamentais: (1) não haverá mercado forte sem um Estado forte; (2) não haverá
crescimento sustentado a taxas elevadas sem o fortalecimento dessas duas instituições
(Estado e mercado) e sem a implementação de políticas macroeconômicas adequadas; (3)
mercado e Estado fortes somente serão construídos por uma estratégia nacional de
desenvolvimento; (4) não é possível atingir o objetivo da redução da desigualdade social sem
crescimento a taxas elevadas e continuadas (SICSÚ, PAULA e MICHEL, 2007).
Eixo temático: EIXO 1: Estado, Democracia, Políticas Públicas e Gestão Social do Desenvolvimento
procurou articular múltiplas demandas, em uma matriz intersetorial, com vistas a regular e
orientar o processo de desenvolvimento, com prioridade a projetos de médio e longo prazos.
Foram definidos três grandes eixos para a orientação dos investimentos (Quadro 1):
Infraestrutura Logística, Infraestrutura Energética e Infraestrutura Social e Urbana[11]. As
áreas, os programas e projetos para os dois primeiros apontam para a constituição da
infraestrutura necessária ao desenvolvimento da estrutura produtiva do país e que precisam
da atuação direta do Estado na sua viabilização, tanto pelos custos envolvidos quanto pela
sua “maturação” no médio e longo prazos (MOLO, 2016). Para estes dois eixos foram
orientados 44,17% dos recursos do PAC (BRASIL, 2010, 2014 e 2016).
Quadro 01: Eixos, áreas, programas e percentual de investimento: PAC – 2007 a 2016.
Eixo temático: EIXO 1: Estado, Democracia, Políticas Públicas e Gestão Social do Desenvolvimento
Fonte: BRASIL (2007, 2010, 2014 e 2016). Dados organizados pelos autores.
No que tange à Infraestrutura Social e Urbana percebe-se que a maioria absoluta dos
programas, projetos e ações são orientados para a constituição de estruturas ainda não
existentes, algo novo, portanto. O montante das obras dão conta de necessidades, tanto no
meio rural quanto no urbano, que estavam represadas a muitas décadas. No lugar da
parceria público-privada, a maior parte das ações aponta para a parceria com outros entes
da federação, especialmente municípios, e com cidadãos contratantes de financiamento
para projetos habitacionais. Porém é nítido o protagonismo do Estado nesta área, quer
através dos investimentos diretos do Tesouro ou via empresas estatais e de economia mista.
A análise dos montantes financeiros que envolvem o PAC foi realizada tendo presente a
previsão inicial de investimentos, os investimentos realizados, o saldo remanescente entre o
previsto e o não aplicado e o montante envolvido nas ações concluídas (Quadro 2). Na
sequência se fez a comparação proporcional entre os valores executados e o PIB do período.
Toma-se como referência os Balanços Quadrimestrais[15] do PAC, entre 2007 a 2016. São
utilizados os valores constantes nos balanços finais do PAC 1 (11º balanço, de dezembro de
2010), do PAC 2 (dezembro de 2014) e o 3º balanço do PAC 2015-2018, de dezembro de
2016, sem atualizações.
Olhando para os três eixos fica evidente, ao longo de todo o período, que a infraestrutura
social e urbana mobiliza a maior parte dos recursos efetivamente aplicados, vindo, na
sequência, infraestrutura energética e logística. A priorização da área da infraestrutura
Eixo temático: EIXO 1: Estado, Democracia, Políticas Públicas e Gestão Social do Desenvolvimento
CONCLUSÃO
Para além das semelhanças e diferenças na relação com experiências anteriores, o PAC se
constitui como tentativa de o Estado brasileiro, enquanto condensação de relações sociais e
perpassado por interesses de classe, com base no ideário desenvolvimentista, construir
respostas a um contexto histórico específico e a problemas que são recorrentes
(heterogeneidade estrutural, desigualdades sociais e regionais, dependência e
subdesenvolvimento) em uma sociedade que não consegue realizar transformações
estruturais para além da lógica de reprodução do capital e dos interesses das elites
dominantes e dirigentes.
REFERÊNCIAS
ABREU, Cilair R. de. Orçamento Público: uma análise das transformações do instrumento
para a formulação de políticas públicas de investimento em infraestrutura. Tese (Doutorado
em Administração), PPGA/UnB, Brasília, 2014.
BRASIL. Balanço PAC - 1º ano. O crescimento passa por aqui. Brasília: Ministério do
Planejamento, 2007.
CALIXTRE, André B.; BIANCARELLI, André M.; CINTRA, Marcos A. M. (Orgs.). Presente e
futuro do desenvolvimento brasileiro. Brasília: IPEA, 2014, p. 29-78.
MARQUES, Rosa M.; MENDES, Áquilas. Notas sobre o social no governo Lula: a
construção de um novo populismo em tempos de aplicação de uma agenda neoliberal.
2005. Disponível em: <http://www.desempregozero.org.br/artigos/index.php>. Acesso em:
20 jun. 2006.
POCHMANN, Márcio. Novo desenvolvimentismo como resposta à crise global. In: CASTRO,
Daniel; MELO, José M. (Orgs.). Panorama da comunicação e das telecomunicações no
Brasil. Brasília: Ipea, 2012, p. 15-28.
nov. 2017.
[1] Episódio de compra de votos na Câmara dos Deputados a fim de que votassem de forma favorável
aos projetos do governo. O fato envolveu especialmente os ministros da área econômica
enfraquecendo a hegemonia de seu grupo no núcleo central do governo Lula.
[2] Que ocupava o Ministério das Minas e Energias, desde a posse de Lula, em 2003.
[3] Que havia sido um dos coordenadores do programa econômico da coligação que elegeu Lula.
Assumiu o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, na posse do governo Lula, onde
permaneceu até 2004, quando foi designado para a Presidência do BNDES.
[5] Em novembro de 2017 o Governo Federal lançou o “Programa Agora é Avançar”, em uma clara
disposição de substituir o PAC que ainda havia previsão de continuidade até o final de 2018. Este
novo programa se propõe a “alavancar o setor de infraestrutura e promover investimentos no país”.
Para maiores detalhes vide:
http://www.planejamento.gov.br/noticias/governo-lanca-programa-para-alavancar-infraestrutura-e-in
vestimentos-no-pais
[8] No cenário brasileiro de debates sobre a retomada do desenvolvimentismo, têm autores que
trabalham com outras formulações, a exemplo de Pfeifer (2014), que trata as duas como
“neodesenvolvimentistas” e Castelo (2013), que identifica a presença mais influente do social-
liberalismo. Neste texto optou-se pela caracterização feita por Carneiro (2012), ao identificar o novo-
desenvolvimentismo e o social-desenvolvimentismo por serem as concepções dominantes no núcleo
do governo que formulou o PAC.
[9] Entre eles pode-se destacar Carneiro, Bielschowsky e Bastos, todas produções de 2012
(FONSECA, 2014). Na mesma direção, pensadores ligados ao Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), sob a liderança de Marcio Pochmann, ao Centro Celso Furtado, à Associação
Keynesiana Brasileira e à Rede Desenvolvimentista, passam a produzir e a divulgar estudos
adensando o debate desta vertente (PFEIFER, 2014).
[10] Remetendo à reflexão de Celso Furtado sobre a abordagem de Amartya Sen, no sentido de
contribuir para eliminar as “privações originais” (acesso à terra, à moradia, à educação, entre
outras), que criam um círculo vicioso que reproduz a pobreza de forma intergeracional
(MERCADANTE OLIVA, 2010, p. 18).
[11] No PAC 2 o eixo de Infraestrutura Social e Urbana foi desmembrado em quatro: Cidade Melhor,
Comunidade Cidadã, Água e Luz para Todos e Minha Casa, Minha Vida.
[13] Conforme já referido anteriormente, o PAC não seguiu, como em planos anteriores, a exemplo
do Plano de Metas, uma matriz pré-concebida. Ele foi sendo construído a partir de uma matriz
inicial, mas que ia sendo complementada pelas prioridades dos ministérios e pelas demandas da
sociedade e do mercado.
[14] Nos balanços do PAC, entre 2007 e dezembro de 2016 são apontadas a execução de mais de 40
mil ações.