Livro Alcinópolis - Digital - 02
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Alcinópolis, MS
A352 Alcinópolis : uma galeria natural de arte rupestre / Marcos Antonio dos
Reis (organizador). – São Bernardo do Campo : Avante, 2023.
100 p. : il. (algumas color). 21 cm.
ISBN 978-65-84767-58-4
IMPRESSO NO BRASIL
Sumário
Apresentação Sucupira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Marcos Antonio dos Reis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Abrigo do Areia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Casa de Pedra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Introdução Arco de Pedra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Lia Raquel Toledo Brambilla Gasques Painel do Antropomorfo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Laura Roseli Pael Duarte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Tampa do Limeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Arco do Limeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Amostragem fotográfica e breve análise descritiva Rocha do Limeira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
dos sítios arqueológicos com “arte rupestre” em Pedra do Conforto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Alcinópolis Barro Branco I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Gilson Rodolfo Martins Barro Branco II. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .74
Emília Mariko Kashimoto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Barro Branco III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Barro Branco IV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Templo dos Pilares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Barro Branco V. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Pata da Onça. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Barro Branco VI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Gruta do Urutau I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Barro Branco VII. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Gruta do Urutau II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 São José. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Gruta do Amblipígio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Fidalgo I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Gruta da Mesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Fidalgo II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Morro das Torres. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Fidalgo III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Gruta da Tapera. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Gruta Montanha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
Gruta Bonita. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Primavera. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
Gruta da Claraboia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 Varjão I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
Gruta do Pitoco 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Varjão II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Gruta do Pitoco II. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
9
Apresentação
A
arte rupestre em suas diversas formas é encontrada até nos mais complexos da natureza humana, acrescentando, assim, novos capítulos
recônditos cantos do planeta e testemunha o passado humano nas narrativas sobre os primeiros povoadores humanos do centro-oeste
e sua evolução em povos e civilizações muito diferentes. Como brasileiro.
nós, cada uma dessas pessoas também tinha sua própria visão de mun- Com a publicação e circulação deste livro pretendemos com-
do e de si mesma e, assim, os autores dessas manifestações artísticas partilhar, por meio de fotografias, os registros remanescentes das nos-
deixaram registradas para a posteridade suas impressões, suas neces- sas primeiras expressões “artísticas” grafadas nas rochas. Fique assim
sidades, cenas quotidianas e ritualísticas, além de elementos abstratos, atestado que, havia muito tempo, as pessoas sabiamente escolheram
culturais e ambientais que figuravam em suas vivências. Desse modo, viver por aqui... como nós!
concederam um legado às futuras gerações que felizmente se conservou
ao longo do tempo como o rico patrimônio cultural e artístico fortuita-
mente encontrado no município de Alcinópolis-MS e que será apresen- hhh
tado ao leitor, de forma panorâmica, nas páginas seguintes desta obra.
É fascinante saber que esse passado, casualmente, segue conos-
co, preservado nas paredes de abrigos, grutas e rochas espalhadas nas Marcos Antonio Dos Reis
unidades de conservação e áreas particulares dessa região, formando (Marcão)
assim uma galeria natural de arte rupestre. Diversos painéis represen- Organizador
tativos do mosaico cultural composto pelos diferentes povos que habi-
taram nesse território, em um passado remoto, muito antes, ainda, da
chegada dos primeiros índios, estão disponíveis para a apreciação dos
estudiosos e daqueles que buscam se aproximar das raízes culturais do
ser humano, até mesmo para ressignificá-las. Mesmo para as pessoas
leigas sobre o conhecimento da pré-história de Mato Grosso do Sul, a
admiração, a curiosidade e a sensação de embarcar em uma viagem ao
passado toma conta do nosso imaginário quando nos deparamos com a Marcos Antonio dos Reis
presença da realidade arqueológica através da arte rupestre. (Marcão)
O intuito desta obra é contribuir modestamente com meios au- Organizador
xiliares para um melhor conhecimento dos aspectos mais profundos e
11
Introdução
R
upestre se diz daquilo que pertence ou que é relativo às rochas. nidades pretéritas aqueles sentidos que lhe são atribuídos no presente.
Por extensão, esse adjetivo é usado com referência ao que é pri- Entretanto, alguns signos figurativos ou até mesmo abstratos, são relati-
mitivo, não confundir com não elaborado. A arte pré-histórica vamente passíveis de identificação e reconhecimento no presente quan-
é extremamente diversa e contém não apenas desenhos e entalhes (os do são postos em um determinado contexto e são analisados através de
quais chamamos de petróglifos), mas também utensílios, artefatos de um exercício cognitivo minucioso e analítico.
uso geral, adornos para fins funerários, etc. Apesar de ser uma atividade complexa a de interpretar o sig-
Hoje em dia, encontramos nas paredes externas e internas de nificado das mensagens do passado, pode-se, ao mínimo, perceber o
cavernas, abrigos e até mesmo em lajedos representações de cenas de movimento social em um território e como esses humanos que habita-
caça, cotidiano, mapas, astronomia e símbolos indecifráveis. A tendên- ram no lugar conhecido hoje como Alcinópolis se relacionavam com a
cia é tentar associá-los a algo que conhecemos e a algo que nos é fa- região e faziam uso desse espaço através de uma análise comparativa a
miliar, mas o anacronismo pode nos levar a entender erroneamente os respeito da disposição das imagens, da localização do sítio arqueológico
seus significados e as verdadeiras pretensões do que está exposto nessas e do seu entorno, do período temporal obtido através de datação, técni-
mensagens. ca e estilos empregados na produção dessa ”arte rupestre”. Mas o que é
Será que realmente tudo o que foi produzido era intencional? isso realmente? Porque aos povos originários deixaram essas inscrições
Será que as pessoas contavam histórias ao redor do fogo e as ilustravam e pinturas nas paredes rochosas da região? Como eles as produziam?
nas paredes? Será que faziam marcas de família ou deixavam pistas e Seria um legado para nós?
mapas gravados para outras pessoas? Ou crianças primeiramente per- Para realizar esses registros gráficos nos suportes rochosos,
ceberam que podiam rabiscar com os minerais e plantas que estavam primeiramente, aqueles homens e mulheres do passado deveriam ter
ao redor delas? uma autonomia de pensamento, uma capacidade imaginativa, o desper-
Aparentemente tudo pode estar correto... ou não! Como hoje, tar de uma técnica e método para a elaboração e aplicação de sua ideia
os signos pintados ou cravados nas rochas podem ter inúmeros signifi- em um suporte através da manipulação de pigmentos e tinturas, entre
cados e seus sentidos têm a ver com o tempo e a cultura em que foram diversas outras capacidades psicomotoras e cognitivas necessárias para
criados. Grande parte do conhecimento gerado no campo da compre- essa ação que envolviam elementos culturais e sociais. “A arte rupestre
ensão da “arte rupestre” está calcada no sistema de comparação e as- não era uma manifestação individual, isolada e fortuita, mas tinha uma
sociação de padrões. Embora se idealize a pretensão em compreender, função social: registrar graficamente certas mensagens” (GUIDON,
desvendar e interpretar algum motivo representado, já se sabe de an- 1986, p.09 citado em LIMA, 2018). Não é somente uma informação
temão que essa é uma atividade complexa em se realizar, pelo simples que está presente nesse tipo de expressão iconográfica. Essa forma de Lia Raquel Toledo B
fato de que a percepção humana e o contexto cultural no passado eram construção simbólica constitui-se em um tipo de linguagem visual cul- Gasques
bem diferentes do contemporâneo. Assim, tais signos registrados nas turalmente apreendida e aceita, dotada de sentido e identificável para
Laura Roseli Pael D
paredes rochosas, talvez, não representassem para os autores e comu- o grupo, carregada de valores sentimentais, perceptivos, cognitivos e
12 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
tantos outros atributos da capacidade humana possíveis de expressão ção dos grafismos pictográficos existiam, basicamente, duas formas de
por meio da arte. Portanto, partimos do pressuposto que as representa- aplicação dos pigmentos na rocha: na primeira, o material era aplicado
ções rupestres apresentadas nesta obra não são somente vestígios de um seco e na segunda, era feita uma mistura de consistência pastosa e mo-
“passatempo” (embora não se desconsidere isso) ou algo solto e aleatório lhada na cor a ser impressa.
no espaço. Consideramos que essas produções gráficas são construções Uma vez definida a categoria do registro gráfico (pintura ou
simbólicas que testemunham crenças e escolhas sociais de diferentes gravura), o próximo passo dos estudiosos de “arte rupestre” ou “grafismo
coletivos que habitaram nessa região em tempos pretéritos. rupestre” é identificar quais foram as técnicas, os métodos e os estilos
Vale acrescentar ainda que mesmo se tais representações icono- empregados na produção artística encontrada no sítio pesquisado. Pois,
gráficas fossem uma distração ou apenas uma forma de passar o tempo, a partir disso, os pesquisadores podem traçar uma linha interpretativa
elas são, sobretudo, uma forma de comunicação e, portanto, de lingua- como, por exemplo, das técnicas desenvolvidas naquela região, da per-
gem. Sendo assim, são uma importante fonte histórica para a compre- cepção e uso do espaço geográfico, das noções de território, entre tantas
ensão de como esses homens e mulheres do passado utilizavam os seus outras situações. Para tal, há a necessidade, inclusive, de se conhecer a
espaços, se organizavam e se percebiam neles. Desse modo, é possível fauna e a flora do local onde estão as unidades rupestres estudadas. Para
afirmar que, da mesma forma que hoje em dia os livros, os programas de favorecer o entendimento do padrão encontrado nos sítios, os cientistas
TV, as redes sociais e as vestimentas retratam costumes e modo de viver recorrem a um arcabouço intelectual já consolidado no tempo que orga-
das sociedades atuais, a “arte rupestre”, embora não consigamos decifrar niza essas manifestações artísticas em determinadas categorias chama-
de forma completa e definitiva o sentido dessas mensagens impressas das de “tradições”. Cada uma delas agrupa produções iconográficas com
nas paredes rochosas, refletem o modo de viver das pessoas que habita- elementos comuns entre si. A partir da análise de tipos semelhantes em
vam o território hoje conhecido como Alcinópolis – MS. estilo, forma, técnica e pigmento empregado, além da observação da
Diante dessas enigmáticas manifestações artísticas, é comum incidência recorrente em um espaço delimitado é possível diferenciar
as pessoas se perguntarem: O que significa esse sinal? É uma cruz? É uma “tradição” de outra e perceber que diferentes grupos com culturas
uma pessoa de braços abertos? Estavam contando algo? Tentando as- diversas habitaram as cinco regiões do atual território brasileiro.
sociar aqueles curiosos signos a algo do cotidiano delas. Assim, grande A partir de um olhar panorâmico das representações gráficas
parte do conhecimento científico gerado no campo da compreensão da gravadas ou pintadas nos suportes rochosos da região conhecida hoje
“arte rupestre” partiu também do sistema de comparação e, posterior- como Alcinópolis-MS (as quais serão ilustradas por meio de fotogra-
mente, evoluiu para uma associação de padrões. fias nas próximas páginas deste livro), é possível notar que essa área é
Conceitualmente, podemos entender que a arte parietal consis- dotada de uma rica iconografia rupestre, com grande variação de técni-
te em todo tipo de representação iconográfica executada por sociedades cas picturais e unidades figurativas e abstratas (tanto em pictográficos
pré-históricas em cima de um suporte rochoso por meio de inúmeras como em petróglifos1). Evidências indicam que algumas figuras foram
técnicas de elaboração. As produções artísticas desse período podem realizadas com os dedos e outras, com ferramentas manuais. Deduz-
ser divididas em duas categorias: pintura e gravura. A primeira é feita -se, também, que a realização de certas pinturas ou gravuras exigiram
sobre a rocha por meio da adição de matéria-prima e a segunda, a partir a montagem de suportes ou a invenção de estratégias criativas para se
da remoção de material do dispositivo rochoso. No que tange à elabora- atingir locais de dif ícil acesso, seja no alto ou em fendas no interior de
1 A “arte rupestre” é geralmente dividida em dois tipos: os petróglifos, também chamados gravuras rupestres, realizadas diretamente na rocha por meio de uma incisão, uma
escoriação, uma escavação etc., e os pictogramas, também chamados pictógrafos, que envolviam o ato de pintar ou desenhar símbolos nas superf ícies.
Introdução 13
rochas. Dessa forma, fica evidente, em alguns casos, que houve a inten- pontas bifaciais; 2) tradição de Itaparica – presente no Centro-Oeste/
cionalidade de expor habilidades de técnica e imaginação na materiali- Noroeste do país, é totalmente unificada e os poucos artefatos formais
dade visual realizada nesses suportes rochosos. Percebe-se, ainda, que, são as placas e 3) a indústria “Lagoa Santa” – a qual não possui artefatos
na quase totalidade das imagens representadas, não existe um cenário formais, o que facilitaria a classificação cultural, composta principal-
de ação. As figuras estão estáticas umas em relação às outras. Essa é mente por pequenos flocos de quartzo (Araújo, 2015). Devido a essa
uma das características que diferencia a tradição do Planalto Central diversidade material, fica comprovado que os primeiros povoamentos
daquela do Nordeste brasileiro, onde podemos encontrar cenas repre- do atual território brasileiro aconteceram há pelo menos cerca de 12 mil
sentativas de caça, rituais, etc. anos e nem todos os povos que aqui chegaram inicialmente pertenciam
Deixar impressões no mundo é algo natural e hábito antigo da a mesma cultura. Essa é uma datação consolidada e aceita no meio aca-
humanidade, seja para marcar território por necessidade de sobrevivên- dêmico, mas, existem algumas evidências raras (encontradas no Piauí)
cia, para comunicar ou expressar a imaginação. Essa última, estava lá, que regridem a data da ocupação humana em solo brasileiro para 24.000
guiando “o pintor/artista” rupestre. O ímpeto de riscar e criar coisas mil anos atrás.
pulsa em nós, humanos. É o que nos leva a rabiscar a parede quando be- Na tentativa de desvendar as rotas migratórias que trouxeram
bês ou a “desenhar a mamãe e o papai” na infância e deixar a impressão os primeiros seres humanos à região sul-mato-grossense é necessário
da icônica mão encontrada em todas as partes do mundo e nos jardins lançar um olhar para evidências arqueológicas encontradas em outras
de infância. A imaginação está conosco 24 horas por dia, na hora do regiões do continente sul americano. Nesse sentido, destaca-se o sítio
lazer, nos momentos de trabalho e até no sono. Não devemos cair no arqueológico Monte Verde II, localizado no atual território do Chile,
engano de supor que as pessoas do passado pré-histórico eram menos com datação de aproximadamente 33.000 A.P. Outros sítios com da-
inteligentes do que nós. Além de fazer “arte rupestre”, atividade que en- tas antigas na América do Sul estão associados aos principais sistemas
volve grande habilidade cognitiva, elas faziam, ainda, ferramentas, ar- fluviais do oeste deste continente como a Bacia do Rio da Prata, Bacia
tefatos e produziam mapas com tecnologias bastante eficientes para a do São Francisco e Bacia do Amazonas. Nessas áreas, foram encontra-
época. dos, respectivamente, o Sítio Santa Elina (em Mato Grosso, datado de
27.000 A.P.); o sítio Serra da Capivara e Peruaçu (no primeiro, com da-
A Pré-História do Brasil e de Mato Grosso tas de 27.000 A.P. e no segundo com 12.000 A.P.) e, por fim, o Abrigo
do Sul – uma breve reflexão da Pedra Pintada (com 11.200 A.P.) e Taima-Taima (na Venezuela com
O Leste da América do Sul, onde hoje é o território brasileiro, datas de até 22.000 A.P.). Assim, a possibilidade de que o processo de
levanta interessantes teorias sobre o início da ocupação humana nesse colonização dos Cerrados Tropicais tenha ocorrido por meio de rotas
continente. Três tecnologias líticas totalmente diferentes e contempo- interiores associadas a diferentes pulsos populacionais também se apoia
râneas, as quais datam de 12.000 a 10.000 A.P.2, estão presentes em dife- na distribuição espacial de sítios arqueológicos localizados na região
rentes partes do país: 1) tradição Umbu – típica da região Sul do Brasil Centro-Oeste do Brasil como o Santa Elina no estado de Mato Grosso.
é caracterizada por sua indústria bifacial, raspadores bem retocados e Este depósito está localizado nos limites entre as Savanas Tropicais e
2 Antes do presente (A.P.) é uma marcação de tempo utilizada na arqueologia, paleontologia e geologia, que tem como base de referência o ano de 1950 D.C. Adota-se o ano de
1950 como marcador por conta dos testes atômicos realizados durante a Segunda Guerra Mundial que desequilibraram a concentração química de alguns isótopos na atmosfera.
Esses isótopos, como o carbono-14, por sua vez, são analisados em pesquisas científicas que determinam a idade de restos arqueológicos e fósseis como esqueletos de animais e
restos vegetais.
14 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
a Floresta Tropical, em uma área onde se encontram as cabeceiras dos sazonalmente pelo Rio Paraguai e afluentes. Acredita-se que esse lugar
rios que deságuam na Bacia Amazônica e no Planalto Central e Sudes- tenha sido no passado um grande local de passagem, a partir do qual as
te do país (Vialou, 2005) e do Pleistoceno tardio foi identificada uma pessoas poderiam se deslocar em todas as direções do continente sul
datação aproximadamente de 27.000 anos A.P. relacionada a vestígios americano. Hoje, essa localidade abriga uma das principais áreas de pre-
líticos3 associada a megafauna4 (Glossotherium lettsomi). Este mesmo servação ambiental da região central do Brasil e possui a segunda maior
sítio tem também nove amostras que datam entre 11.841 A.P. e 9.320 concentração de etnias indígenas do país, devido ao grande número de
A.P., associadas a uma indústria lítica caracterizada por uma tecnologia povos pré-históricos que passaram/viveram por este local.
unifacial e um estilo de “arte rupestre” que não corresponde a nenhum Portanto, os registros visuais impressos nas paredes rochosas
outro conhecido no Brasil central para o mesmo período (Vialou, 2017). da região hoje conhecida como Alcinópolis que serão apresentadas de
Santa Elina, por sua proximidade com Mato Grosso do Sul, inclusive maneira panorâmica neste livro irão contribuir para o entendimento do
de Alcinópolis (238 Km), e pela sua cronologia e composição dos arte- território sul-mato-grossense, ajudando a compreender melhor o con-
fatos, pode representar uma possível ligação entre o planalto ocidental texto espacial e temporal dos grupos de caçadores-coletores.
e a baixada oriental da América do Sul, sugerindo mais uma rota para a Alcinópolis se destaca por seu valoroso Patrimônio Arqueoló-
entrada dos caçadores-coletores na região onde hoje está localizada esta gico e Natural. Esse município está situado na região norte do estado de
unidade federativa. Mato Grosso do Sul, a cerca de 300 km da capital. Possui uma área de
4.399,681 km², fazendo divisa com os munícipios de Figueirão, Costa
Contexto ambiental e Geoeconômico de Rica, Coxim e Pedro Gomes. À luz da Geologia, o município de Alci-
Mato Grosso do Sul e Alcinópolis nópolis apresenta a Formação Caiuá5 que é caracterizada pela predomi-
O território estadual que hoje é denominado Mato Grosso do nância de espessos pacotes de arenitos, com deposição mista (eólica e
Sul fica na região Centro-Oeste do Brasil em uma área de 357.125 km². fluvial) e a Formação Serra Geral6, apresentando o Domínio do Vulca-
Esse estado brasileiro está localizado na região central da América do nismo fissural Mesozoico do tipo platô, com o predomínio de basaltos
Sul, entre o planalto central da Amazônia e o Chaco. Possui biomas e Formação Botucatu7, composta por um espesso pacote de areia de-
como o Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, sendo este último inundado positado pela ação dos ventos, apresentando um pronunciado grau de
arredondamento e frequentemente dois aspectos de tamanho dos grãos
de quartzo. A Formação Vale Rio do Peixe8, composta por camadas ta- O percurso da pesquisa arqueológica em Alcinópolis
bulares de arenitos muito finos a finos e Formação Santo Anastácio9, Os estudos realizados em Alcinópolis, até os dias atuais, colo-
que possui arenitos quartzosos subarcoseanos, de finos a muito finos. cam o município em uma posição de destaque na arqueologia regional
Sua geomorfologia situa-se no macrozoneamento Geoambien- por apresentar o maior número de sítios arqueológicos com “arte rupes-
tal do estado de Mato Grosso do Sul, na Região das Altas Bacias do Ta- tre” do estado de Mato Grosso do Sul: são 24 já cadastrados e 14 em fase
quari e Itiquira, a qual é composta por várias unidades geológicas abran- de registro no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
gendo uma vasta superf ície de topografias, compostas por depressões, (IPHAN10). O organizador desta obra, Marcos Antônio dos Reis, optou
planaltos e chapadões. À luz da Pedologia, o município de Alcinópo- por fotografar novamente os painéis de arte rupestre dos sítios já regis-
lis está alocado em área de Latossolo Vermelho-Amarelo e Neossolo trados em Alcinópolis no IPHAN. Além disso, empreendeu grande es-
Quartzarênico. forço no sentido de registrar fotograficamente novos painéis em novos
Alcinópolis, possui em seu território 04 (quatro) unidades de locais que passaram a ser conhecidos pela população municipal. Esses
conservação. As unidades de conservação municipais são: o Parque recém descobertos sítios rupestres serão devidamente registrados no
Natural Municipal Templo dos Pilares (PNMTP) com a área de 100 IPHAN por Marcos Antonio dos Reis. Vale sublinhar que esse número
hectares, o Monumento Natural Serra do Bom Jardim (MNMSBJ) com pode aumentar com o surgimento de novas pesquisas na região.
6.121,34 hectares e a unidade de conservação Monumento Natural Ser- A história da pequena cidade de Alcinópolis começa com a
ra do Bom Sucesso, criada em 2018, abrangendo uma área com 2776 criação de uma escola primária em 1975. Até então, essa área era dis-
hectares. O Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari, contempla trito do município de Coxim. Antes da criação dessa unidade de ensino,
uma área de 30.618 hectares, sendo uma unidade de conservação es- devido à distância e a dificuldade de se ter acesso à educação formal, os
tadual criado através do Decreto Nº 9.662 de 09/10/99, conforme da- fazendeiros contratavam professores particulares para possibilitar aos
dos publicados no Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul seus filhos o acesso aos estudos. Em 1965, a professora Romilda Costa
(IMASUL). Carneiro foi contratada pelo proprietário da Fazenda Bananal, Sr. Adol-
Este município tem o privilégio de estar inserido em uma das fo Alves Carneiro, por um período de dez meses, para ministrar aulas
sub-bacias hidrográficas mais importantes do bioma Pantanal. O Rio aos seus próprios filhos/as e àqueles de seus empregados. Na década de
Taquari nasce nesta área descendo na direção do Pantanal de Mato 1970, a professora Romilda com seu esposo, Alcino Fernandes Carneiro,
Grosso do Sul, formando o corredor de biodiversidade, principalmen- recorreram à Prefeitura Municipal de Coxim com o intuito de criar a
te o Parque Nacional das Emas com a planície pantaneira. Como vão primeira escola primária na região, assim supririam a necessidade de
poder observar ao longo desta obra, esse local é repleto de paisagens implantação do Ensino Fundamental. A fundação dessa unidade esco-
estonteantes de tirar o fôlego, literalmente! lar foi o que, posteriormente, deu origem à criação do município de
Alcinópolis. A partir desse momento, houve uma movimentação para
transformar a fazenda em uma cidade com toda a estrutura necessária: com relação ao patrimônio cultural do local, especificamente, o arque-
farmácia, mercado, etc. Então, os primeiros moradores começaram a ológico. A expressiva concentração dos sítios rupestres dentro dos li-
chegar em Alcinópolis, famílias vindas de cidades vizinhas e até mesmo mites do município e a rica e variada iconografia existente na região
de outros estados como Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo constituem uma fonte riquíssima para a pesquisa arqueológica, o que
e Rio Grande do Sul. A emancipação do município ocorreu em 22 de conferiu ao município o título de “Capital Estadual da Arte Rupestre”
abril de 1992. em 2012, através da Lei Estadual nº. 4.306, de 21 de dezembro de 2012,
Logo, a localidade ficou famosa no estado devido às impressio- sancionada pelo então governador, André Puccinelli. O título de “Capi-
nantes pinturas e gravuras rupestres existentes no mais emblemático tal Estadual da “Arte Rupestre” foi conferido ao município consideran-
sítio arqueológico da região: o Templo dos Pilares. Pela beleza e varieda- do-se o amplo e relevante patrimônio arqueológico na área municipal” e,
de dos registros rupestres materializados nos impressionantes suportes posteriormente, no ano de 2015, o prefeito Ildomar Carneiro sancionou
rochosos de estrutura singular no mundo, caracterizada por imensos a Lei nº 383/2015 que “Dispõe sobre a criação do Dia Municipal de Ar-
pilares naturais cuja disposição e forma se assemelham, surpreendente- queologia e “Arte Rupestre” no Município de Alcinópolis”, instituída no
mente, à arquitetura daqueles templos construídos por mãos humanas dia 05 de outubro. O ano de 2012 foi significativo para Alcinópolis, pois
na Grécia e Roma Antiga, esse município recebeu o título de “Capital foi marcado pela criação das primeiras unidades de conservação esta-
Estadual da Arte Rupestre”. dual, estabelecidas a partir da existência do patrimônio arqueológico:
No início do ano de 1986 o Prof. Dr. Gilson Rodolfo Martins, Parque Municipal Templo dos Pilares e Monumento Natural Serra do
na época professor no CEUD-UFMS, juntamente com o artista plástico Bom Jardim.
Henrique Spengler e mais dois alunos, visitaram o sitio Barro Branco I, Pesquisas desenvolvidas pela equipe do Laboratório de Arque-
localizado na Fazenda Santa Maria (Lorenz et al. 1986). Posteriormente, ologia da Universidade Federal da Grande Dourados, há doze anos, es-
os primeiros registros dos sítios rupestres encontrados na região norte tão contribuindo para a identificação dos sítios arqueológicos de “arte
de Mato Grosso do Sul, na área conhecida hoje como Alcinópolis, Co- rupestre” de Mato Grosso do Sul. O projeto de pesquisa, que contou
xim, Pedro Gomes e Costa Rica decorreram dos trabalhos de pré-cata- com o desembolso financeiro da ELETROSUL Centrais Elétricas e com
logação da Profa. Dra. Silvia Moehlecke Copé nos anos de 1986 e 1989 o apoio do IPHAN, contabilizou 79 sítios de “arte rupestre” na região
e foram documentados sob o título de: Preliminar Cadastramento dos norte do estado. Por meio de projeto de Lei apresentado pelo então
Sítios Arqueológicos do Alto Taquari-MS. Alcinópolis era, na época, vereador Marcos Antonio dos Reis, Alcinopólis adotou como símbolo
Distrito de Coxim. Por este motivo os sítios da serra do Barro Branco arqueológico do município um sinal rupestre que seria, segundo a in-
foram registrados inicialmente como sítio MS-CX-01. terpretação dos arqueólogos, a representação da deusa da fertilidade, a
Em 2007, os professores da UFMS, Dr. Gilson Rodolfo Martins qual foi batizada de “Deusa Mãe”. Esse símbolo foi instituído no dia 8
e Dra. Emília Mariko Kashimoto, realizaram estudos preliminares nos de março de 2018, pela Lei nº 430/2018, sancionada pelo então prefeito
sítios, até então, conhecidos em Alcinópolis e produziram um relatório Dalmy Crisóstomo da Silva.
sobre o potencial arqueológico desse município. Foi esse estudo que via- A primeira escavação arqueológica no sítio Templo dos Pilares
bilizou a criação das Unidades de Conservação e fundamentou o pedido ocorreu em 2016, os estudos esclareceram e permitiram situar o início
de obtenção do ICMS Ecológico no município (Martins, 2007). da ocupação humana no abrigo em 10.735 A.P. A ocupação no local
No ano de 2012, os cidadãos alcinopolenses foram contempla- perdurou por mais de mil anos, ocorrendo posteriormente um esvazia-
dos com a sanção de duas leis, sendo uma estadual e a outra municipal, mento humano, atestando a hipótese sustentado por Araújo et al, (2003)
Introdução 17
de hiato do holoceno médio. Esse esvaziamento pode estar associado o domínio do fogo, o manuseio de materiais como a pedra lascada e a
a fenômenos climáticos que podem ter gerado a redução dos recursos pedra polida) e o desenvolvimento de linguagem oral e visual materiali-
hídricos. zada na “arte rupestre”. A aquisição de todas essas habilidades garantiu
A partir de 3 mil A.P. surge uma nova e intensa ocupação hu- a sobrevivência do gênero Homo e a sua difusão pelo globo.
mana de grupos que seriam ligados ao tronco Jê arqueológico, caracte-
rizado pela fabricação de cerâmica própria. Na escavação os carvões e
cinzas indicaram para a produção de enormes fogueiras. No primeiro hhh
estudo foi constatado pouca variação na indústria lítica, quando compa-
rada com a produzida pelos caçadores-coletores-pescadores.
A predominância das gravuras rupestres nos remete à Tradição11 Lia Raquel Toledo Brambilla Gasques
Geométrica Meridional, ao estilo “pisadas”, o que confirmaria a ligação Doutora em Arqueologia
entre os petróglifos e os povos Jê arqueológicos segundo Rodrigo Simas
de Aguiar, arqueólogo que identificou a maioria dos sítios arqueológi- Laura Roseli Pael Duarte
cos com “arte rupestre” da região norte do estado. A pintura permite Doutoranda Em Ensino De Ciências
utilizar variações de cores como, por exemplo, o uso de uma ou mais
cores, empregadas apenas no contorno da figura ou no seu interior e são
chamadas monocrômicas ou policrômicas. O uso dos pigmentos sobre
a rocha é realizado de diferentes formas: por meio de linhas traçadas
com pincéis ou espátulas, estampas e carimbos, ou ainda, pela técnica
denominada aspersão (borrifo).
Os grafismos rupestres encontrados em Mato Grosso do Sul
foram, na maior parte, feitos a partir da técnica da aplicação de uma
mistura molhada e pastosa de pigmentos de origem mineral diluídos a
partir de matérias graxas para obter a tinta final. Em estudos realizados
em outras regiões do Brasil, supõe-se que a origem da cor vermelha uti-
lizada na elaboração dos grafismos rupestres é obtida através do óxido
de ferro (hematita); o amarelo; do mineral goetita; e o branco, da kaolita
ou gipsita.
A pré-história foi, portanto, um período rico em atividade hu-
mana, diverso em diferentes experiências e que é caracterizado pelo de-
senvolvimento cognitivo que resultou no domínio de tecnologias (como
11 No Brasil, as principais tradições arqueológicas propostas para o ordenamento da “arte rupestre” são: Tradição Agreste, Tradição Nordeste, Tradição Planalto, Tradição São
Francisco, Tradição Geométrica, Tradição Litorânea, Tradição Meridional e Tradição Amazônica. Na verdade, são classificações que determinam as semelhanças entre os grafismos,
assim podendo “rastrear” se foram os mesmos povos que passaram por um mesmo local.
18 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
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21
A
té o momento desta publicação foram contabilizados trinta e turalmente esses sítios conforme suas proximidades, distanciamentos,
seis sítios arqueológicos depositários de manifestações gráficas escolhas topográficas, a “arquitetura” natural ou ainda, principalmente,
expressas por meio de pinturas e gravuras rupestres. É evidente conforme suas possibilidades comparativas em termos culturais inter-
que com o avanço das pesquisas, vários outros sítios com essa natureza sítios, ou seja, cronologias, temáticas gráficas, tecnologias de produção
arqueológica deverão ser registrados na área municipal. Em tempo, das inscrições, estilos nas representações iconográficas, repertórios de
deve-se ressaltar que muitos outros sítios arqueológicos, com certeza, signos, semânticas dos símbolos e dos painéis e relações com outros
existem no município, mas que não têm a visibilidade atual que os sítios vestígios de cultura material. Possivelmente com o avanço das pesqui-
com inscrições rupestres possuem. Todavia não são menos importantes. sas arqueológicas, no futuro, também serão objetos de comparações as
Foi neles que os grupos de caçadores/coletores pré-indígenas pratica- interpretações dos significados e a caracterização étnica de seus autores.
ram a maior parte das atividades cotidianas de subsistência material e Ao se observar a imagem de satélite da área territorial de Alci-
social. Muito provavelmente foram os mesmos indivíduos que também nópolis, integrante deste volume, pode-se verificar que a distribuição
deixaram a maioria desses registros culturais inscritos nas paredes ro- espacial dos sítios no perfil ambiental municipal apresenta alguns “ar-
chosas, transmitindo assim, para seus contemporâneos ou até para as quipélagos” de sítios e alguns outros sítios isolados. Todavia, para os
gerações futuras, seus mitos, representações de suas realidades, visões padrões territoriais estimados no tocante à reprodução do modo de
de mundo, sinalizações culturais em geral e suas escolhas por espaços vida de caçadores/coletores pré-indígenas, as distâncias intersítios
ritualísticos e místicos. constatadas não ultrapassam os limites espaciais do que pode ter sido
Uma análise descritiva desses horizontes arqueológicos deve, uma mesma área cultural arqueológica, onde os habitantes desses sítios
antes de outras abordagens, contextualizar geográfica, ambiental e cul- partilhavam o mesmo território e seus recursos naturais.
1 Há uma discussão acadêmica se podemos chamar de Arte as inscrições rupestres. Com certeza não no sentido que entendemos hoje o termo Arte. Na pré-história o objetivo Gilson
e Rodolfo Martins
a função dessas inscrições não era a busca pelo estético, pelo decorativo ou um entretenimento de quem fez ou quem observava. A iconografia arqueológica deve ser vista e en-
tendida como instrumentos ritualísticos mitológicos ou como símbolos portadores de mensagens a serem encaminhadas a alguém. Emília Mariko Kashimoto
22 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
De um modo geral esses sítios localizam-se entre as altitudes dos Pilares possa no futuro contrariar parcialmente essa hipótese de que
de trezentos e noventa metros (Sítio São José) e seiscentos e vinte e cin- não seriam espaços funerários. Sendo assim, cabe à pesquisa científica
co metros acima do nível do mar (sítios Gruta Bonita e Gruta do Ambli- operar no campo do que se poderia denominar uma arqueologia do
pígio). Logicamente, as estruturas geológicas e geomorfológicas foram pensamento, manejando como material empírico as complexas estru-
determinantes para a presença ou não de ocorrências de sítios com “arte turas de “arte rupestre” existentes nesses sítios. Essas evidências pereni-
rupestre” em determinadas áreas no espaço municipal. Em Alcinópolis zaram, por meio de signos, formas mentais de representação simbólica
existem formas de relevo acidentado cuja natureza mineralógica – pre- da realidade natural e/ou metaf ísica. Tal tipo de abordagem arqueoló-
dominância de rochas areníticas friáveis – permitiram que, ao longo de gica, por sua vez, poderá revelar aspectos mais profundos da natureza
muito tempo, as intervenções erosivas naturais provocadas pelas intem- humana e cultural dos primeiros povoadores da porção setentrional do
péries esculpissem reentrâncias nas paredes rochosas dos morros isola- atual território de Mato Grosso do Sul.
dos e de pequenas serras regionais. Foram essas as condições propícias Em um olhar panorâmico sobre as expressões culturais por
que geraram determinadas superf ícies rupestres apropriadas para a re- meio de inscrições rupestres, nos sítios arqueológicos de Alcinópo-
alização das inscrições gráficas em abrigos sob rocha, cavernas, túneis, lis, algumas características quantitativas se destacam. A maioria dos
paredões rochosos externos e grandes blocos de pedra isolados, locais sítios possui apenas signos pintados (17), os que apresentam apenas
remanescentes de processos geomorfológicos pela exposição à uma lon- petróglifos, sem pintura, são 7 e os sítios que apresentam painéis com
ga temporalidade paleoambiental. pinturas e gravuras são 12. Há uma discussão interna na comunidade
Nesse sentido, destacam-se as concentrações de sítios na serra dos arqueólogos que especula quais tipos de inscrições rupestres são
do Bom Jardim (onze sítios), na serra do Bom Sucesso (sete sítios), além mais antigas, as gravuras ou as pinturas? Predomina a corrente que
do conjunto de sítios na área de relevo rochoso acidentado da serra do opta pelas gravuras, estabelecendo assim um parâmetro cronológico
Barro Branco (sete sítios). Os outros sítios estão localizados dispersa- indireto. Portanto, o número de sítios somente com gravuras ou com
mente por locais onde afloram blocos rochosos residuais. Ainda em ter- gravuras e pinturas, em menor número, é coerente com a demografia
mos de inserção geográfica, levando-se em conta que o espaço rural de dos primeiros povoadores, que seriam em número reduzido.
Alcinópolis é contemplado por uma considerável malha hidrográfica, é Verificou-se que apenas sete sítios apresentaram figuras bicolo-
interessante pontuar também que vários desses sítios depositários de res, ocre e amarelo e/ou ocre e branco. Essa característica não é comum
“arte rupestre” não estão necessariamente associados à corpos d’água nos sítios com “arte rupestre” do Brasil Central, os quais integram, em
próximos, o que é muito comum nas escolhas locacionais dos acampa- sua maioria, a chamada Tradição Planalto de “Arte Rupestre”, monocro-
mentos de caçadores/coletores pré-indígenas. mática, onde a cor ocre é muito abrangente. Portanto, perante esse fato,
O fato acima citado indica que a maior parte dos sítios com a bicromia registrada em alguns dos sítios de Alcinópolis parece indicar
inscrições rupestres em Alcinópolis não constituíram locais de habi- uma certa influência, talvez tardia, da presença de indivíduos associa-
tações, mesmo que provisórias, pois são espaços restritos e com pisos dos à Tradição São Francisco, originária da porção leste do território
formados por lajes de pedra, com poucos ou nenhum vestígio arqueoló- brasileiro. De um modo geral, os sítios de Alcinópolis reproduzem as
gico de indústria lítica, carvões ou até mesmo de fragmentos cerâmicos tendências icnográficas da Tradição Planalto.
não-indígenas. Quanto a vestígios de estruturas de sepultamentos, por Quanto à morfologia dos sinais verificou-se a predominância
enquanto, os mesmos não foram observados em nenhum dos sítios co- dos elementos abstratos sobre os figurativos, comportamento também
nhecidos. Talvez o avanço das escavações em sítios tais como o Templo presente na Tradição Planalto. Porém, sempre é bom lembrar que uma
Amostragem fotográfica e breve análise descritiva dos sítios arqueológicos com “arte rupestre” em Alcinópolis 23
imagem figurativa não obrigatoriamente foi executada com a finalidade vação de um quantum mínimo de pessoas no bando era uma condição
de retratar fielmente o elemento representado. Como símbolos, podem fundamental para a sobrevivência.
ser e provavelmente eram alegorias. A ocorrência de signos zoomorfos Alcinópolis foi contemplada pelo passado como sendo um dos
em vários sítios, alguns muito recorrentes como lagartos, por exemplo, lugares de memórias remotas, preciosas e paradigmáticas para a pre-
provavelmente denotavam um outro significado que não aquele apa- servação do conhecimento sobre os processos de evolução cultural da
rente, como se a intenção fosse obter um retrato do animal figurado. humanidade e, portanto, de autoconhecimento. No dia em que a ciência
Por outro lado, figuras aparentemente abstratas como, por exemplo, as conseguir desvendar os significados profundos desses elementos icono-
sequências articuladas de losangos ou “gomos”, poderiam representar gráficos e interpretar os seus conteúdos, esse legado cultural permitirá
a pele de serpentes, como a cascavel, o que não quer dizer que as pin- à humanidade estar muito perto, enfim, de conhecer objetivamente a
turas desses signos eram uma espécie de “placas“ de avisos de que ali si mesma. Dessa forma, a conservação dos sítios arqueológicos é uma
havia cobras. Possivelmente essas e outras pinturas muito reproduzidas providência prioritária e fundamental que compete, no presente, à po-
pelos autores nos sítios de Alcinópolis, tais como os “tridáctilos” (três pulação atual e seus gestores das coisas públicas.
linhas convergentes a um mesmo ponto), gravados ou pintados, eram
representações estilizadas de símbolos fálicos ou do triângulo pubiano
feminino relacionadas, por sua vez, às práticas rituais determinadas por hhh
mitos da fertilidade. Uma observação empírica que contribuiu significa-
tivamente para a formulação da hipótese anterior é o fato de que o único
signo que está presente na quase totalidade dos sítios com gravuras e Gilson Rodolfo Martins
pinturas em Alcinópolis são os tridáctilos (signos que se assemelham a Doutor em Arqueologia
pegadas de aves). Leitura morfológica reconhecidamente adotada pela
maior parte dos estudiosos, no Brasil e no exterior, como uma repre- Emília Mariko Kashimoto
sentação estilizada do triângulo pubiano feminino. Essa constatação se Doutora em Arqueologia
reproduz com grande evidência em outras áreas arqueológicas de Mato
Grosso do Sul e de outros estados brasileiros.
As considerações anteriores são sustentadas por análises cien-
tíficas realizadas em boa parte dos sítios arqueológicos com “arte ru-
pestre” no Brasil e em outros países. É evidente que outras hipóteses
não devem ser descartadas, tais como rituais xamânicos, contemplação
astronômicas/astrológicas e outras manifestações de magias, as quais
poderiam ter sido realizadas no mesmo recinto ou espaço arqueológi-
co. No entanto, a grande maioria de sinais, sejam pinturas ou gravu-
ras, presentes nos painéis dos diversos sítios ora analisados, remetem
à fertilidade e reforçam a ideia de que para essas populações a preser-
Templo dos Pilares 27
Localização:
Monumento Natural
Municipal Serra do
Bom Jardim
28 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
Templo dos Pilares 29
30 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
Templo dos Pilares 31
32 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
Templo dos Pilares 33
34 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
Templo dos Pilares 35
Pata da Onça
Localização:
Monumento Natural
Municipal Serra do
Bom Jardim
38 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
Pata da Onça 39
Gruta do Urutau I Na parede interna do túnel des- fica sugere uma intenção figu-
taca-se uma imagem figurativa rativa, no entanto, indefinida,
Localização: de uma tartaruga/jabuti. Esta podendo ser, talvez, uma ser-
Monumento Natural figura possui ao seu lado uma pente ou algum símbolo fálico.
Municipal Serra do representação abstrata. Além O terceiro elemento pintado é
Bom Jardim desses elementos, pode-se ob- uma espiral simples composta
servar um signo com configura- por dois círculos concêntricos.
ção elíptica, com traços digitais Não há gravuras.
paralelos preenchendo o espaço
interior. Esta representação grá-
42
Gruta do Urutau II
A “arquitetura” natural do sítio
não é favorável à habitação, por-
tanto, pode ter sido um espaço
ritualístico. Não há gravuras,
somente dois signos pintados na
cor ocre. Um deles é composto
por um alinhamento de traços
digitais paralelos e o outro, po-
sicionado separadamente, mos-
tra um agrupamento de pon-
tos digitais contornando uma
figura central que pode estar
relacionada à capacidade repro-
dutiva feminina.
Gruta do Urutau II
Localização:
Monumento Natural
Municipal Serra do
Bom Jardim
Gruta do Amblipígio 43
Gruta do Amblipígio
Localização:
Monumento Natural
Municipal Serra do
Bom Jardim
Gruta da Mesa 45
Localização:
Monumento Natural
Municipal Serra do
Bom Jardim
Gruta da Tapera 49
Gruta da Tapera
Localização:
Monumento Natural
Municipal Serra do
Bom Jardim
50
Gruta Bonita
Este abrigo sob rocha possui
uma área coberta interna espa-
çosa, por isso pode ter sido ha-
bitado. Em termos de pintura,
na cor ocre, observa-se apenas
uma pegada isolada de felino.
As gravuras são mais numerosas
e compõem um painel de petró-
glifos, no qual são majoritárias
as representações de tridác-
tilos e sulcos.
Gruta Bonita
Localização:
Monumento Natural
Municipal Serra do
Bom Jardim
Gruta da Claraboia 51
Gruta da Claraboia
Localização:
Monumento Natural
Municipal Serra do
Bom Jardim
52
Nome do Sítio
Bus. Et laborit a voloratem se-
quid que nonsequos ent, ipsum
erum rem nis magnati nimpe-
lit quibus nonsequiam rernam
quatis doluptatia aceratem non-
sequi aut odi comnis nimi, con
conet repudaecepe ressendi se
nonsecusda dendisquis es que la
quodio. Ita conem fuga. Im iur,
andi dolut etur audam, quiae.
Atur sit, alit,
Gruta Bonita
Localização:
Monumento Natural
Municipal Serra do
Bom Jardim
Gruta do Pitoco 1 53
Gruta do Pitoco 1
Localização:
Monumento Natural
Municipal Serra do
Bom Sucesso
54 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
Gruta do Pitoco 1 55
56 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
Gruta do Pitoco II
Localização:
Monumento Natural
Municipal Serra do
Bom Sucesso
58
Sucupira
O sitio é um pequeno abrigo sob
rocha, isolado no campo, com
pouco espaço para que tenha
sido habitado. Possui apenas
alguns petróglifos dispersos, ou
seja, tridáctilos e sulcos parale-
los, ambos em quantidade redu-
zida. Nota-se o serrilhamento
proposital da borda de uma laje
de pedra depositada no piso.
Sucupira
Localização:
Monumento Natural
Municipal Serra do
Bom Jardim
Abrigo do Areia 59
Abrigo do Areia
Localização:
Fazenda Turmalina
Casa de Pedra 61
Casa de Pedra
Localização:
Fazenda Turmalina
Arco de Pedra 63
Arco de Pedra
Localização:
Fazenda Três irmãs
Painel do Antropomorfo 65
Painel do Antropomorfo
Localização:
Fazenda Nossa
Senhora de Fátima
66
Tampa do Limeira
Um grande bloco rochoso resi-
dual, sem cavidade subterrânea,
possui uma face vertical lisa
favorável à realização de pintu-
ras rupestres. Aí se encontram
as unidades abstratas pintadas
em ocre, que não estão articu-
ladas em um painel: tridáctilos
e linhas digitais horizontal-
mente paralelas.
Tampa do Limeira
Localização:
Fazenda Nossa
Senhora de Fátima
67
Arco do Limeira
O abrigo sob rocha espaçoso,
habitável, possui em seu con-
texto um interessante arco de
pedra, resultante de processos
erosivos naturais. Possui signos
rupestres isolados, sem articu-
lação aparente. Um elemento
pintado na cor ocre é composto
por um alinhamento de traços
verticais paralelos. Há uma úni-
ca gravura: um tridáctilo.
Arco do Limeira
Localização:
Fazenda Nossa
Senhora de Fátima
68
Rocha do Limeira
Em um grande bloco rochoso
residual, sem cavidade subter-
rânea, encontram-se pinturas
rupestres na cor ocre em uma
das suas faces externas. As figu-
ras são abstratas e estão muito
apagadas devido à exposição às
intempéries, o que dificulta uma
leitura mais precisa. Observam-
-se alinhamentos horizontais de
traços digitais paralelos.
Rocha do Limeira
Localização:
Fazenda Nossa
Senhora de Fátima
Pedra do Conforto 69
Pedra do Conforto
Localização:
Fazenda Conforto
Barro Branco I 71
Barro Branco I
Localização:
Fazenda Santa Maria
72 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
Barro Branco I 73
Barro Branco II
Localização:
Fazenda Santa Maria
Barro Branco III 75
Localização:
Fazenda Santa Maria
76
Barro Branco IV
Pequena cavidade subterrânea,
não habitável, com apenas 3 ele-
mentos pictóricos na cor ocre:
um tridáctilo, uma figura abstra-
ta de traços paralelos e um ter-
ceiro composto por três linhas
paralelas em zig-zag. Aparente-
mente não há conexão direta en-
tre essas representações. Há um
painel pequeno com gravuras,
composto por 4 tridáctilos e um
pequeno quadriculado.
Barro Branco IV
Localização:
Fazenda Santa Maria
Barro Branco V 77
Barro Branco V
Localização:
Fazenda Santa Maria
78
Barro Branco VI
Pequeno abrigo sob rocha, não
habitável, com pinturas na cor
ocre, na parede externa. Desta-
ca-se, no alto, uma pintura com
o formato sugestivo de uma ser-
pente/cascavel realizando um
movimento ofídico e sobre ela,
um antropomorfo. Há ainda
uma pintura que lembra 2 esca-
das paralelas, acima das quais,
parece ter, por elas, subido, 2 fi-
guras antropomorfas estilizadas.
Barro Branco VI
Localização:
Fazenda Santa Maria
Barro Branco VII 79
Localização:
Fazenda Santa Maria
São José 81
São José
Localização:
Fazenda São José
82 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
São José 83
84 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
São José 85
Fidalgo I
Localização:
Fazenda Fidalgo
88 A lcinópolis | Uma galeria natural de arte rupestre
Fidalgo I 89
Fidalgo II
Localização:
Fazenda Fidalgo
Fidalgo III 91
Fidalgo III
Localização:
Fazenda Fidalgo
Gruta Montanha 93
Gruta Montanha
Localização:
Fazenda Montanha Também é singular uma gravu- bolo fálico. Outras sequências
ra na forma de um casulo onde, de sulcos livres e/ou alinha-
no interior do mesmo, há uma dos, paralelamente, são encon-
sequência de sulcos paralelos, tradas dispersas em blocos ao
talvez representando o guiso redor do abrigo.
da cascavel, evocando um sím-
Primavera 95
Primavera
Localização:
Fazenda Primavera
96
Varjão I
Em um grande bloco rochoso
residual e isolado no campo, há
um pequeno nicho em uma das
faces. Em uma superfície verti-
cal, que deve ter sido preparada
previamente, foi pintada uma
única figura: uma forma ovalada
com traços internos paralelos,
lembrando uma “grade” ou gui-
so da cascavel (possivelmente
um símbolo fálico).
Varjão I
Localização:
Fazenda Alabama
Varjão II 97
Varjão II
Localização:
Fazenda Alabama
98
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