Metodologia Ágil
Metodologia Ágil
Metodologia Ágil
Resumo:Este estudo visa identificar quais as limitações que as características do setor público trazem à
utilização das metodologias ágeis. A partir de construção de referencial tratando das características
formalistas e burocráticas da administração públicas e suas limitações na adoção de tecnologias de gestão
menos estruturadas, foi realizada entrevista semiestruturada com especialistas, técnicos e gestores, que
tiveram oportunidade de trabalhar com metodologias ágeis nos setores público e privado. Os resultados
obtidos permitiram sinalizar às barreiras inerentes à implantação dessas metodologias e métodos ágeis no
setor público, entendidas como proxy a modelos flexíveis de planejamento. O levantamento do
referencial teórico indicou que ainda é relativamente incipiente o conhecimento sobre o uso dos métodos
ágeis no setor público, de forma que este estudo espera contribuir para ampliar a compreensão e
limitações quanto a seu uso.
Palavras Chave: Metodologias Ágeis - Setor Público - Cultura Org. - Dificuldades - Inovação
1. INTRODUÇÃO
2. REFERENCIAL TEÓRICO
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• Nossa maior prioridade é satisfazer o cliente, através da entrega adiantada e contínua
de software de valor.
• Aceitar mudanças de requisitos, mesmo no fim do desenvolvimento. Processos ágeis
se adequam a mudanças, para que o cliente possa tirar vantagens competitivas.
• Entregar software funcionando com frequência, na escala de semanas até meses, com
preferência aos períodos mais curtos.
• Pessoas relacionadas a negócios e desenvolvedores devem trabalhar em conjunto e
diariamente, durante todo o curso do projeto.
• Construir projetos ao redor de indivíduos motivados. Dando a eles o ambiente e suporte
necessários, e confiar que farão seu trabalho.
• O Método mais eficiente e eficaz de transmitir informações para, e por dentro de um
time de desenvolvimento, é através de uma conversa cara a cara.
• Software funcional é a medida primária de progresso.
• Processos ágeis promovem um ambiente sustentável. Os patrocinadores,
desenvolvedores e usuários, devem ser capazes de manter indefinidamente passos
constantes.
• Contínua atenção à excelência técnica e bom design aumentando a agilidade.
• Simplicidade: a arte de maximizar a quantidade de trabalho que não precisou ser feito.
• As melhores arquiteturas, requisitos e designs emergem de times auto organizáveis.
• Em intervalos regulares, o time reflete em como ficar mais efetivo, então, se ajustam e
otimizam seu comportamento de acordo (Disponível em:
<https://www.manifestoagil.com.br/principios.html>. Acesso em: 12 de outubro de
2019).
É preciso reconhecer o valor dos profissionais como os responsáveis pelo sucesso dos
projetos com foco na eficácia do gerenciamento, resultado, valores e princípios do “Mindset”
ágil. Podemos citar várias metodologias ágeis: Scrum, XP (Extreme Programming), FDD
(Feature Driven Development), Kanban, Lean Inception etc. Todas são iterativas e
incrementais e seguem os princípios ágeis anteriormente citados (LARMAN et al, 2003).
Desse modo, as metodologias ágeis têm a possibilidade de realizar durante o processo
de criação, pequenos testes, reuniões, adaptações e correções até chegar ao produto final.
Enquanto o foco das metodologias tradicionais era o produto final com planejamento e
orçamento rígidos nas Ágeis há flexibilidade e interação com o cliente. Em outras palavras,
mudou-se o foco do objeto para o sujeito (cliente).
A primeira grande mudança é a entrega rápida de valor ao cliente, isto é, mesmo que a
velocidade não seja uma característica ou qualidade técnica precisará ser desenvolvida e
utilizada. No caso de um software isto poderá ser realizado em etapas nas quais são entregues
conjuntos mínimos de funcionalidades.
Outro aspecto importante é a colaboração entre TI e negócios. Em um mercado cada dia
mais competitivo e incerto é fundamental aproximar a equipe de TI aos gestores para juntos
poderem pensar e propor novas formas de trabalho e estratégias capazes de agregar valores e
inovações aos produtos e/ou serviços. Na prática, significa entregar o maior valor do produto,
uma etapa mais elaborada em curto espaço de tempo (STEVEN, 2017).
À satisfação do cliente estão relacionadas duas características já citadas: entrega de
valor ao cliente em espaço de tempo reduzido e alinhamento da equipe de TI com os produtos
ou serviços: “Ao tornar o processo de desenvolvimento mais aberto para o cliente, a
implementação de novas funcionalidades tem se tornado algo previsível, transparente e mais
aderente às necessidades dos clientes” (VACARI et al, 2014, p. 07).
4
Outra vantagem do uso de Metodologias Ágeis é a união da equipe e a diminuição da
dependência de empresas contratadas. É certo que cabe à organização pública preparar, treinar
e incentivar seus funcionários para que comecem a desenvolver novas tecnologias, projetos e
ideias diminuindo significativamente a dependência de empresas privadas e motivando os
membros da equipe anteriormente focados em trabalhos burocráticos (VACARI et al 2014).
A organização deve desenvolver e consolidar uma cultura ágil para que as metodologias
ágeis alcancem seus objetivos, ou seja, para que seus colaboradores entendam cada etapa do
projeto e estejam comprometidos da apresentação à conclusão dele.
É necessário impactar a cultura organizacional, pois ela é o maior obstáculo para
qualquer metodologia ágil. As organizações são grupos sociais que tem sua cultura própria, isto
é, seus valores, hábitos e regras que são assimiladas por seus colaboradores. Ela está enraizada
na organização desde a sua fundação:
Todavia, no setor público são inúmeros os desafios a serem superados, como: muita
burocracia, serviços ineficientes e inadequados (em quantidade e qualidade), mínima motivação
e comodismo dos servidores que tem seu emprego garantido, pequeno investimento em cursos
de aperfeiçoamento ou atualização para eles são alguns exemplos (FEITOSA, 2016).
Trata-se de um contexto que requer esforços conjuntos para ser modificado, no qual, na
maioria dos casos, há recursos insuficientes e predomina a morosidade. É preciso pensar em
inovação e criatividade e promovê-las. Surge, assim, uma questão: Como transformar os
recursos humanos das organizações públicas, muitos deles há décadas na mesma função ou
setor em vantagem competitiva, agregando valor ao projeto, criando soluções, sugestões, e com
motivação para aprender? (VACARI, 2015).
Segundo Soares (2011), em muitos casos, há um relacionamento conflituoso entre a
cultura organizacional e as práticas dela nas organizações, causando dificuldades de mudanças
a partir de projetos que utilizem TI. Nestes casos, sugestões ou propostas de implantação de
uma MA devem vir acompanhadas de um conhecimento prévio da cultura organização: setores,
histórico, projetos além da observação da rotina de seus colaboradores.
Feitosa (2016) explica que inovar não é tarefa simples, pois a mudança organizacional
só ocorre quando há alterações significativas no sistema ou no ambiente de trabalho. No setor
público, a resistência é maior, na medida em que o comodismo vem associado com a
estabilidade. A inovação traz “incertezas e turbulências no ambiente organizacional que podem
gerar resistências decorrentes da retirada do indivíduo de uma situação conhecida para uma
situação desconhecida” (FEITOSA, 2016, p. 04).
Equipes ágeis estão produzindo software de maior qualidade que atendem melhor às
necessidades do usuário, com maior rapidez e a um custo menor do que equipes
tradicionais [Ric08]. Isto tem levado também a uma maior satisfação do cliente, bem
como maior grau de previsibilidade [Coh11]. Assim, OP2 poderiam beneficiar-se
desses novos métodos para alcançar resultados melhores do que seria possível
alcançar com métodos ditos como tradicionais (VACARI, 2015, p. 15).
Rainey (1997) enumera características do setor público que permanecem atuais e bem
presentes na realidade das empresas (públicas) brasileiras:
1
Todos os autores citados no texto concordam quanto a este aspecto.
,
6
(g) Características individuais, atitudes e comportamentos relacionados ao trabalho,
como por exemplo, menor sensibilidade a incentivos monetários e maior nível de
motivação em um trabalho público.
(h) Desempenho individual e organizacional diferente do desempenho encontrado na
iniciativa privada. Vários estudos mostram a gestão pública como menos eficiente,
enquanto outros defendem sua eficiência e desempenho geral (RAINEY, 1997, p.
30).
Sem dúvida, esta lista apresenta características do setor público, como questões
políticas, intervenções, escassa relação entre recompensa e desempenho individual
insatisfatório.
São muitos os obstáculos no setor público, em especial, a partir da ampliação da New
Public Management3 e, ainda que a prestação de serviços públicos seja responsabilidade do
estado ela passou por alterações com esta nova forma de gerir na qual o cidadão é o cliente
incluindo e-government ou serviços eletrônicos. Abel (2017) explica que existe uma grande
dificuldade em utilizar software ágil em OP e que elas tem origem na cultura organizacional e
no modo como os servidores estão habituados a trabalhar inovações com ferramentas modernas
como as eletrônicas, porém, de maneira arcaica.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3
O New Public Management (NPM) tem origem nos países anglo-saxões e apresenta soluções para a gestão da
administração pública. No início, estas soluções tinham como objetivo principal a capacidade de criar/desenvolver
mecanismos de ajustamento e transferência dos conhecimentos gerenciais do setor privado para o público para
reduzir a máquina administrativa e aumentar sua eficiência.
7
Quadro 1- Relação de perguntas constantes nas entrevistas
-------------------------------- ---------------------------------
--------------------------------
--------------------------------
Expectativa: Identificar se o
4- O planejamento detalhado do
planejamento é mais importante do
projeto, é mais importante
que a capacidade de adaptação e
do que a capacidade de
resposta à mudança nos projetos.
adaptação às mudanças?
Se a negociação dos contratos é
considerada mais relevante do que
a colaboração com o cliente.
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Soares (2011) e Rainey (1997) afirmam que é necessário conhecer a cultura
organizacional da empresa além de fatores ambientais que podem limitar a utilização de
estratégias específicas facilitadoras no processo de implementação de metodologias ágeis
conforme descrito pelos entrevistados.
Houve alinhamento entre os autores do referencial teórico com o conteúdo das
entrevistas, sobretudo, a partir das seguintes características: proatividade e colaboração
desigual entre os membros da equipe; falta de envolvimento de parte da equipe; cultura
organizacional resistente; burocracia prevalece; estouro de prazos negociados; pouca
transparência e comunicação dentro da equipe (ABEL, 2017).
“Ainda fala mais alto a questão do contrato. Como se num trabalho de um setor muito
fiscalizado as pessoas tivessem receio de estar fazendo coisas que não são corretas.
O contrato é uma marca da empresa pública te “amarrando” ao cliente” (E1).
O E15 afirma, a partir de suas experiências que metodologias ágeis podem ser utilizadas
no setor público com adaptações: “fazendo como na abordagem do pagamento trimestral por
sprints não fica em desacordo com a lei e acredito ser possível aplicar”, isto é, é preciso por um
lado, compreender as especificidades do setor público como exemplifica o E8 ao afirmar que
há, em alguns casos, dificuldades no processo:
“De jeito nenhum. Aqui tem planejamento de 2015 a 2020. Neste período o judiciário
tem 3 gestões (de dois em dois anos muda). Claro que ele é furado. Cada gestor muda
o planejamento.”
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4.3 FORMAÇÃO E CONHECIMENTO: SOBRE A FORMAÇÃO, INTERESSE E
MOTIVAÇÃO PARA APLICAÇÃO DA METODOLOGIA ÁGIL
“Sim. São porque gestores têm esse conhecimento, mas a maioria está amarrado ao
cronograma em Excel. Poucas pessoas entendem o que é um Sprint (...). Muitos tem
uma certa idade e não fizeram reciclagem” (E5).
“Não porque o escopo fixo não funciona em ambientes que requerem adaptação.
Usamos ágil quando o problema não é inteiramente conhecido, nesse caso, fazemos
uma abordagem anterior com design thinking ou design sprint ou quando o problema
é conhecido e a solução não. E em qualquer um dos casos não existe escopo fixo”
(E14).
11
Em relação ao produto, a participação do cliente é determinante. Ele será o usuário e
pode sugerir a inclusão ou exclusão de itens que são desnecessários. Por isso, reuniões rápidas
e com frequência são a base da rotina de troca de ideias, críticas, sugestões e compartilhamento
de informações levando o projeto / produto a ganhar funcionalidades solicitadas pelos clientes
ao final do processo que serão do tamanha e da complexidade do projeto (AGOSTINHO, 2015).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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