RESENHA 2-Hissa

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RESENHA 2

Transdisciplinaridade: Breves notas acerca de limites e fronteiras da ciência


moderna
Cássio Hissa

Hissa define o início de sua argumentação por apresentar


gradativamente os conceitos de multidisciplinaridade, interdisciplinaridade, até
chegar, enfim, na transdisciplinaridade, objeto de estudo do trabalho.
O autor a todo tempo se refere à Ciência moderna de maneira
pejorativa, seja pela hipocrisia em negar pluralismos existentes em seu interior
ou ser construtora de subalternidades em oposição ao discurso da
Universidade (território da Ciência) como lócus político.
A transdisciplinaridade viria para questionar a concepção hegemônica de
ciência. Esse questionamento da Ciência fica mais evidente à medida que o
autor argumenta que as concepções quanto à transdisciplinaridade são
identificáveis em dois grupos: o primeiro, representativo de abordagens
convencionais ("mais alinhado à Ciência) e classificado como hegemônico,
trata a matéria como circunscrita ao universo científico.
Já o segundo grupo trata a transdisciplinaridade extrapolando aquele,
alcançando uma intersecção da Ciência com os saberes diversos. Apesar
disso, o autor ressalta que convergem na busca de processos que podem
mobilizar a ciência e a disciplina.
O incômodo do autor está claramente atrelado ao apego dos que
advogam pela transdisciplinaridade, ao modus operandi tradicional de fazer
Ciência, sendo que essa preocupação em a extrapolar a ela mesma, não nasce
com a metodologia científica.
Destaca-se a consideração de Hissa a respeito do esvaziamento e
comprometimento da produção do conhecimento, em virtude do parcelamento
científico em territórios particulares. Ele atrela esse percurso à pobreza de
leituras de mundo, limitada ao respeito por uma hierarquia inventada e
corporativista.
Assim é que o autor elabora de maneira muito interessante a busca pelo
real sentido da interdisciplinaridade ao, de maneira recorrente, referir-se a ele
por "encaminhar-se a espaços de fronteira", "ocupar espaços fronteiriços
interdisciplinares". Neste, inclusive, retomando a concepção de Piaget sobre
uma subsequência da transdisciplinaridade, à interdisciplinaridade, retomando
a ideia de gradação do início do artigo.
Sobre as fronteiras, tamanha é a relevância de se pulverizarem, que
classifica a postura de Nicolescau Basarab ao relativizar a oposição entre
transdisciplinaridade e disciplinaridade, como conciliatória. Advoga ser
impossível ignorar que a mera sobreposição de disciplinas implica as limitações
no processo de produção do conhecimento disciplinar, e o fato de a
transdisciplinaridade ser, em verdade, um movimento que transforma a
disciplina por meio do próprio movimento (sendo que dá especial atenção ao
conceito de "transformação" mais cedo no texto).
Fugir ao convencional, ao circuito da ciência moderna seria, finalmente,
trabalhar para que se referenciassem sujeitos, saberes e práticas do mundo, ou
como melhor elabora o autor: mistura entre o conhecimento científico e os
saberes que circulam nas sociedades.
Ao mesmo tempo que considera que "talvez nos falte sabedoria para
pensar a força da mistura e a fronteira como território fértil da ciência" o que,
apesar da visão pouco otimista, representa adequadamente o lugar-comum a
que chegou não só a Ciência, como ele defende, mas de maneira geral a
produção humana nas mais diversas situações: transformar vale de quê? O
esforço, a fuga do percurso ditado, das regras arcaicas.
O texto, por fim, nitidamente não tece somente (e não é útil somente por
tecer) considerações a respeito da transdisciplinaridade mas, no percurso de
compreendê-la, "suas fragilidades e contradições", oferece um valioso conjunto
de reflexões sobre fazer Ciência, da constituição da Ciência moderna, e
converge na fuga de fragmentações que a perspectiva etnográfica de Magnani
apresenta.
É o que fica evidente ao se aproximar das considerações finais e
elaborar "A expectativa é a de que o conhecimento disciplinar, especializado,
possa fornecer a análise que se aproxima da verdade acerca das coisas e o
mundo fora do eu: a denominada realidade."
E, mais adiante, o que evidencia ao dizer que acima de qualquer
discussão conceitual, a transdisciplinaridade deve buscar o trânsito
interdisciplinar dos sujeitos do conhecimento, o que o autor leva a compreender
que é, inclusive, uma tendência "natural" dos sujeitos ao transitar entre
diversos campos disciplinares, apesar da "orientação disciplinar que recebem
na universidade das especialidades".

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