Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Bauru
2016
REBECA CASTRO BIGHETTI
Bauru
2016
1
2
DEDICATÓRIA
3
AGRADECIMENTOS
4
RESUMO
5
ABSTRACT
In this term paper is studied the use of models and analogies and it's influences in the study of
chemistry, for learning and understanding of concepts related to the kinetic theory of gases. It
was developed an activity with students of high school second year, enrolled in a State school,
in the city of Bauru-SP. It was built and developed a model using the mechanical vertical
model scheme, based on the proposal of Professor Luiz Ferraz Netto, for the teaching of the
kinetic theory of gases. It was applied a questionary to evaluate the effect of the model in the
classroom, and the analysis of data was done in descriptive qualitative way. t was verified that
the methodology favored the development of conceptual understanding , demonstrating
significant results on the theme of learning.
6
Índice de Quadros
7
Índice de Gráficos
Gráfico 1: Respostas apresentadas pelos alunos por categorias ............................................. 49
8
Índice de Figuras
Figura 1: Diagrama Modelo de Modelagem ......................................................................... 16
9
Sumário
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11
2. METODOLOGIA.............................................................................................. 32
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 52
Apêndices ............................................................................................................... 55
Apêndice A ......................................................................................................... 55
Apêndice B ......................................................................................................... 56
10
INTRODUÇÃO
Atualmente, exercer a função de professor está cada dia mais difícil, devido à
indisciplina em sala de aula, aos baixos salários, a desvalorização da profissão, entre
outros fatores. Porém, aquele que realmente gosta do que faz, não irá desistir tão
facilmente, é por este fato que procuramos novas formas de ensinar, novos
experimentos, formas diferentes de abordar um determinado assunto. Esse foi o
motivo que fez com que eu me interessasse pelos modelos. Não havia tomado ciência
até bem pouco tempo, que quando eu estudava Química minha professora utilizava-se
de modelos para ensinar, seja o modelo atômico, os modelos de ligação, ou outro
qualquer, só sei que na época eu aprendi, e junto disso aprendi a gostar de Química.
Pensando assim, por que não criar um modelo para ensinar um assunto que
não é tão claro para a maioria dos alunos? Então, surgiu a ideia da criação de um
modelo, contudo, um modelo físico, para ensinar a teoria cinética dos gases, que
fatalmente nos levará a estudar a equação de um gás ideal (P.V = n.R.T), e que todo
professor ensina fazendo o aluno decorar alguma frase, e depois esquecemos qualquer
conceito relacionado ao tema, mas não esquecemos a frase. O modelo mecânico
vertical (MMV) tem como objetivo, mudar a relação dos alunos com os conceitos
relacionados aos gases, e que sempre levam ao questionamento: “professor mas eu
nunca vou usar isso na minha vida”. A proposta aqui apresentada pretende de forma
mais didática, simular como acontecem os fenômenos que levaram à proposição da
teoria cinética dos gases, e mostrar que podemos aplicar os conceitos aprendidos, em
problemas do cotidiano.
No primeiro capítulo deste trabalho veremos o que é um modelo, como
acontece a modelagem no Ensino de Química, a relação do modelo com o modelo
cinético dos gases, e por fim as dificuldades relacionadas ao ensino de modelos,
especificamente ao modelo cinético dos gases.
O segundo capítulo trata-se da metodologia utilizada, descrevendo como foi
construído o MMV, de que forma foi aplicada a atividade proposta, e os métodos de
análise de dados que serão utilizados. No terceiro capítulo, teremos a organização dos
resultados obtidos, analisando os dados de forma qualitativa descritiva, e
posteriormente, concluindo o quão eficiente foi a aplicação da proposta de trabalho,
seguido do quarto capítulo, onde são apresentadas as considerações finais.
11
1. REFERENCIAL TEÓRICO
12
“modelos” na sala de aula, na qual o professor de Química espera trazer a teoria mais
próxima possível da “realidade” do aluno. O presente trabalho utiliza a modelagem
para aplicação do tema “Teoria Cinética dos Gases”, um assunto em que os alunos
sentem grande dificuldade em compreender os conceitos envolvidos, e para isso
partimos do “Modelo Cinético dos Gases”.
13
Para Gilbert e Boutler (1995):
Um modelo pode ser definido como uma representação parcial de
um objeto, evento, processo ou ideia, que é produzida com
propósitos específicos como, por exemplo, facilitar a visualização;
fundamentar elaboração e teste de novas ideias; e possibilitar a
elaboração de explicações e previsões sobre comportamentos e
propriedades do sistema modelado (GILBERT e BOUTLER, 1995
apud FERREIRA e JUSTI, 2008, p.32-36).
De acordo com Prins (2010), modelos são geralmente vistos como conexões
entre a teoria e a realidade. Os modelos são definidos como um conjunto de
representações, regras e raciocínios, que permitem gerar previsões e explicações, e
descrever o comportamento, sobre uma ideia, objeto, evento, processo ou sistema.
O papel central que os modelos desempenham na Ciência têm sido claramente
reconhecido, nas últimas décadas. Grande número de filósofos, de diferentes
correntes, que têm discutido sobre o assunto (CARTWRIGHT, 1997; GIERE, 1999;
MORGAN; MORRISON, 1999; SUÁREZ, 1999 apud JUSTI, 2015) evidênciando de
como os modelos estão sendo reconhecidos. Apesar de esses autores apresentarem
visões bem diferentes sobre o significado de modelos, todos concordam que o
processo de modelagem fundamenta a produção do conhecimento científico, e que
modelos são um dos principais produtos da Ciência (JUSTI, 2015). Segundo Justi
(2015):
A grande relevância atribuída a modelos na ciência se deve às
inúmeras funções que eles podem desempenhar como, por exemplo,
favorecer a visualização de entidades abstratas (GILBERT, 2008),
fundamentar a proposição de explicações (GILBERT, BOULTER;
RUTHERFORD, 1998), fundamentar a proposição de inferências,
previsões e simulações (NERSESSIAN, 2002), dar suporte à
elaboração e/ou à ampliação de teorias (MORRISON; MORGAN,
1999). (JUSTI, 2015, p.39)
14
Quando pensamos no Ensino, principalmente na forma como ele vem sendo
tradicionalmente desenvolvido, o conhecimento científico é apresentado como mais
um “conteúdo”, sem que seja estudado o processo de desenvolvimento daquele
conhecimento, sem emoção, sem busca, sem motivação. Pensar sobre como um
fenômeno ocorre se torna cada vez mais difícil, à medida que o saber na escola se
associa à memorização de fatos, equações e procedimentos (FERREIRA e JUSTI,
2008).
A utilização de atividades de modelagem, isto é, atividades voltadas para a
construção, reformulação e validação de modelos, pode resultar em um ensino mais
significativo, que ajude o estudante a desenvolver um entendimento mais coerente e
crítico. Além disso, aprender através da modelagem pode contribuir para que os
estudantes aprendam sobre como o conhecimento científico é produzido – aspecto
coerente com um Ensino de Ciências mais autêntico (COSTA, JUSTI e MOZZER,
2011).
Modelos são essenciais para a produção, difusão e aceitação, do conhecimento
científico em geral. No Ensino de Química, os alunos devem aprender sobre as
principais linhas e resultados da Química como disciplina científica, incluindo os seus
modelos. Como resultado do reconhecimento de que o conhecimento científico tem
como influência na nossa sociedade, a aprendizagem de modelos e modelagem é
atualmente encarada como uma parte integrante da compreensão da linguagem
científica. Esta influência é visível, por exemplo, em novos produtos (por exemplo,
medicamentos, catalisadores), processos mais eficientes (por exemplo, a produção de
alimentos, fornecimento de energia) ou (a longo prazo) políticas (por exemplo,
alterações climáticas, biotecnologia) (PRINS, 2010).
Existe uma tendência crescente para envolver a sociedade civil na tomada de
decisão sobre questões cotidianas, que envolvem conhecimentos científicos. Se a
Educação visa preparar os alunos para se tornarem responsáveis civis, esses devem ter
uma compreensão geral sobre a natureza do conhecimento científico, capturado em
teorias e modelos, incluindo as características da construção do conhecimento. Devido
a isso, o processo de modelagem é uma atividade fundamental produzindo suposições
e simplificando os fenômenos, processos e/ou objetos sob consideração.
Geralmente, envolver os alunos em uma proposta educativa que utiliza um
processo de modelagem é uma maneira eficaz, para ajudá-los a compreender a
epistemologia de modelos e modelagem, em contraste com a "instrução direta de
15
modelos e modelagem projetado por outros” (EDELSON, 1998; GOBERT e
PALLANT, 2004, apud PRINS, 2010, p.11 e 12). Além disso, um dos objetivos da
química é preparar os alunos para um estudo futuro na Ciência, ou Tecnologia, e as
suas atividades profissionais mais tarde, é desejável que os alunos enriqueçam suas
visões epistemológicas sobre modelos e modelagem, nesta fase inicial de estudos
(PRINS, 2010).
Entretanto, pelo fato de não existir uma visão única sobre como o processo de
modelagem ocorre, isso indica que, não existem regras gerais para a construção de
modelos. Aliás, isso é coerente com uma visão ampla de Ciência, que reconhece as
particularidades da produção de conhecimento em cada ramo da Ciência (IRZIK e
NOLA, 2011 apud JUSTI, 2015, p.39). Com certeza, a construção de modelos é um
processo dinâmico e consequentemente, criativo, onde uma grande quantidade de
habilidades é envolvida (JUSTI, 2015).
Na grande maioria dos casos, admite-se que a modelagem ocorre a partir de
produção, teste e modificação de modelos, sem maiores detalhes sobre como cada
uma dessas etapas ocorre. Justi (2015), considera que essas etapas são quatro e que
cada uma delas exerce influência nas demais, como representado na Figura 1 (JUSTI,
2015).
Figura 1: Diagrama Modelo de Modelagem
Por outro lado, a expressão do modelo mental para que este possa se tornar
passível de compartilhamento, ocorre a partir da representação física do modelo
construído. Após esta fase, é preciso que os modelos sejam testados para avaliar sua
coerência, através de testes empíricos ou mentais que atendam a natureza do modelo e
as condições existentes para estes testes.
Para avaliar o modelo é necessário identificar sua abrangência e limitações,
utilizando o mesmo em diferentes situações e contextos (JUSTI, 2015). Esta proposta
diferencia-se de outras abordagens para a modelagem, pois distingue a expressão e a
produção do modelo como diferentes etapas, além da diferença no que é chamado de
avaliação. O que nas demais propostas chama-se de avaliação corresponde à análise
da adequação do modelo aos objetivos, a autora assume que a avaliação está inserida
como análise da utilidade da aplicação do modelo a outros contextos.
A proposta de Ensino baseada em atividades de modelagem fundamenta-se no
papel central dos modelos na Ciência, o que tem levado a literatura da área, segundo
Justi (2015) a enfatizar a importância desta proposta para favorecer a compreensão
das ideias científicas e da Ciência, pelos estudantes. Esta questão indica a necessidade
de discutir a construção dos modelos didáticos e sua importância.
“Para se construir um modelo didático, o modelo inicial proposto é submetido
a muitas etapas e diferenciações em diversos outros tipos de modelo já existente
(JUSTI e GILBERT, 1999a; LIMA, 2007 apud MIRANDA et al. 2015)”. Geralmente
um modelo surge da reflexão, seja individual ou de um grupo, baseada em um
17
determinado fenômeno que se queira modelar: a essa representação chamamos de
“modelo mental”.
Quando apresentado a um público, por meio de desenhos, gráficos, analogias,
diagramas, ou outra forma de linguagem, esse modelo mental passa a ser chamado de
“modelo expresso”. Ao se tornar consenso no âmbito de um grupo, ou seja, quando
esse modelo é aceito por um grupo social, é então denominado “modelo consensual”.
Quando se tornar consenso em uma comunidade ou grupo científico, sendo utilizado
para o desenvolvimento de pesquisas e produção de conhecimento científico, recebe o
nome de “modelo científico”(MIRANDA et al. 2015). Para uma visualização
resumida da ideia de “modelos” foi construído o mapa conceitual apresentado na
Figura 2.
Fonte: Autora
18
O processo de relacionar conceitos por meio das analogias é um componente
essencial do pensamento humano Mendonça et al. (2005, p.2 apud SILVA, 2013,
p.34-35) sugerem que as analogias podem ser definidas como “sendo uma
comparação entre dois domínios: um que é familiar ao aprendiz, denominado na
literatura de “domínio da analogia”, e outro não é familiar, denominado de “domínio
do alvo” (SILVA, 2013).
Na opnião de Ferraz e Terrazan (2003):
Os conceitos científicos considerados pelos alunos um tanto
“indigestos” são mais facilmente compreendidos com o uso destes
recursos que tornam os conceitos mais “palatáveis”. Sendo sistemas
conceituais diferenciados é evidente que “alvo” e “análogo” são de
diferente natureza e, portanto é preciso ter cuidado na hora de avaliar
os tipos de semelhanças e diferenças entre “alvo” e “análogo”
(FERRAZ e TERRAZAN, 2003, p.214).
De acordo com Silva (2013), podemos afirmar que as analogias servem como
meio de ligação entre o conhecimento prévio apresentado pelo aluno e a teoria nova a
ser aprendida. Seguindo esse raciocínio, destacamos a importância deste tipo de
estratégia, bem como o cuidado que devemos ter ao utilizá-la. Outro fator importante
a destacar, é que o professor tenha domínio sobre quais os objetivos que deseja atingir
com esse tipo de estratégia, além de estabelecer analogias que utilizem elementos que
façam parte da rede de conhecimento de todos os estudantes (SOUZA, et al., 2006
apud SILVA, 2013, p. 35).
Wilbers e Duit (2001 apud Ferraz e Terrazan, 2003), acreditam que modelos
mentais que são gerados espontaneamente por estudantes, quando confrontados pela
primeira vez com o fenômeno alvo, ou até mesmo esquemas intuitivos formados pelos
alunos, são essenciais no processo de ensino que utiliza o uso de analogias, essa
proposta se chama modelo de “raciocínio analógico” (FERRAZ e TERRAZAN,
2003).
Uma associação preliminar entre o alvo e o análogo, é favorecida por esse
modelo de raciocínio analógico; dessa forma, o processo da “construção analógica” é
guiado pelas associações espontaneamente geradas. Pode-se dizer que na visão de
Wilbers e Duit (2001 apud Ferraz e Terrazan, 2003), “analogia é um mecanismo de
construção de hipóteses baseado nos modelos mentais e esquemas intuitivos
“disparados” pelo fenômeno-alvo”, portanto o processo de construção analógica, que
utilizamos para explorar melhor o fenômeno a ser trabalhado, está baseado num
19
análogo mais conhecido pelo estudante (mais familiar), fornecendo uma “proto-
teoria” do alvo, que ainda não foi explorado (FERRAZ e TERRAZAN, 2003). Na
Figura 3 apresenta-se um modelo de raciocínio analógico.
Dessa forma, as analogias são utilizadas mais como uma ferramenta para
permitir o levantamento de hipóteses, do que para prová-las. Para provar uma
hipótese, deve-se fazer um teste empírico; por isso usar analogia é insuficiente para
isso (FERRAZ e TERRAZAN, 2003).
Segundo Ferraz e Terrazan (2003), “deve haver uma “etapa” de reflexão entre
a proposição do alvo e do análogo, tanto em relação ao análogo apresentado pelo
professor e os possíveis análogos sugeridos pelos alunos”, essa etapa deve ocorrer
durante a explicação da analogia. O professor deve levar em conta os possíveis
análogos sugeridos pelos alunos e explorar as colocações dos alunos, esperando o que
eles têm para falar sobre o assunto-alvo que está sendo proposto, esse é o período
onde se abre a possibilidade para que estes gerem suas imagens mentais e esquemas
intuitivos sobre o assunto apresentado (FERRAZ e TERRAZAN, 2003).
Para Ferraz e Terrazan (2003), essa é uma forma de tentar evitar que os alunos
sejam simplesmente “confrontados” com os assuntos-alvo, objetos de ensino, e sejam
mais participativos, já que sem a participação e envolvimento dos estudantes, a
efetividade do uso deste tipo de recurso em aula fica limitada. Portanto, o que se
busca, é uma atitude de cooperação entre aluno e professor, na qual, “é fundamental o
20
levantamento das concepções e imagens que os alunos possuem a respeito do conceito
científico a ser ensinado, ou seja, o conceito-alvo, e consequentemente, as concepções
que possuem do análogo que está sendo utilizado pelo professor” (FERRAZ e
TERRAZAN, 2003, p.226). Podemos observar no Quadro 1, algumas categorias
relacionadas ao nível de organização de analogias, para facilitar o ensino-
aprendizagem, esclarecendo a forma como o professor, ou aluno as utilizam.
21
trabalhem de forma colaborativa, construindo assim uma aprendizagem interativa que
vai além da memorização de fatos e informações.
Em geral, estas são razões importantes pelas quais os alunos devem aprender
sobre os modelos e modelagem no Ensino de Química, como na Ciência e outros
domínios. Na Química, o uso dos modelos é essencial para a construção de
explicações para os fenômenos. Consequentemente, no Ensino de Química têm sido
produzidas pesquisas que indicam resultados interessantes no processo de ensino e
aprendizagem (JUSTI, 2015; PRINS, 2010; SILVA, 2013 e MIRANDA et al. 2015
entre outros autores).
Entre os temas onde a modelagem pode ser útil para o desenvolvimento de
modelos mentais mais elaborados pelos alunos, está a Teoria Cinética dos Gases. O
estudo dos gases é de grande importância para explicar situações cotidianas das mais
corriqueiras, como a formação dos ventos até questões mais complexas. Para este
trabalho, escolheu-se a Teoria Cinética dos Gases, pois se trata de tema central nos
conteúdos de Química presentes no currículo de Ensino Médio, e se constitui através
de explicações que demandam a caracterização no nível microscópico e simbólico do
conhecimento. Assim, apresenta-se a seguir algumas características da Teoria
Cinética dos Gases, e suas implicações para o processo de Ensino.
A Teoria Cinética dos Gases é um tema que pode explicar muitas situações
cotidianas. Alguma vez, você já se perguntou por que a água ferve mais rápido em
altitudes mais elevadas? Ou por que brinquedos infláveis, ou até uma bola de futebol,
parece ter seu volume diminuído em um dia frio? Como e por que você pode sentir o
cheiro de uma vela ou de um perfume por toda a casa? Todos estes fenômenos e
muitos outros podem ser explicados pela Teoria Cinética dos Gases.
A Teoria Cinética dos Gases (também conhecida como Teoria Cinético-
Molecular) é uma teoria que explica o comportamento de um gás ideal
hipotético. Segundo esta teoria, os gases são compostos de minúsculas partículas, que
se movem rapidamente de forma contínua e aleatória, podendo colidir umas com as
outras e com as paredes do recipiente ou local onde estão confinados. Esta foi a
primeira teoria para descrever a pressão do gás em termos de colisões com as paredes
22
do recipiente, e a Teoria Cinética também explica como os diferentes tamanhos de
partículas de um gás podem ter diferentes velocidades individuais (LARSEN, 2015).
O cientista britânico James Clerk Maxwell e o físico austríaco Ludwig
Boltzmann, no século XIX, trabalharam para estabelecer a teoria, que se tornou um
dos conceitos mais importantes da Ciência Moderna. A Teoria Cinética dos Gases tem
como objetivo descrever o comportamento deste estado de agregação através de um
modelo conceitual simples. Este modelo estabelece um dos exemplos mais bonitos da
relação entre o comportamento microscópico da matéria, e as propriedades que
apresenta à escala macroscópica. A origem da Teoria Cinética possui um caráter
mecanicista (NUNES, 2003).
Daniel Bernoulli, em 1738, apresentou no Tratado de Hidrodinâmica em
Estrasburgo, a chave para a interpretação das peculiaridades do movimento dos
fluidos ideais. Esse tratado se inicia com uma breve história da Hidráulica, seguida de
uma pequena apresentação da Hidrostática. Porém, no decorrer dos treze capítulos, é
aos fluidos elásticos - os gases - que Bernoulli dedica a parte mais importante da sua
obra, esboçando uma Teoria Cinética dos Gases (PAIVA, ALBERTO e PEDROSA,
2005).
Em 1738, Bernoulli, afirmava que a pressão de um gás era consequência do
impacto, das partículas que o compõem, com as paredes do recipiente onde estava
contido. Todavia, a teoria que compreendemos hoje, teve sua origem em 1859,
quando James Clerck Maxwell introduziu o conceito de caos molecular, o que
refletiria o caráter aleatório do movimento das moléculas (NUNES, 2003).
Segundo Paiva, Alberto e Pedrosa (2005), para Bernoulli, esses fluídos são
compostos "de minúsculas partículas que se deslocam de cá para lá, numa
movimentação rápida". A ideia básica da sua Teoria Cinética é a de que a pressão de
um fluído sobre a parede do recipiente que o contém é devida aos inúmeros choques
(contra a parede) das pequenas partículas (moléculas) que compõem o fluído. A
parede fica sujeita a diversas forças que, geralmente, correspondem a uma força
constante, que é distribuída por toda superfície em contato com o fluído. Contudo,
quando os conceitos de átomo e molécula se tornaram mais conhecido na Química,
por volta da metade do século XIX, os pressupostos da Teoria Cinética dos Gases
foram realmente desenvolvidos (PAIVA, ALBERTO e PEDROSA, 2005).
O desenvolvimento da Termodinâmica, no final do século XIX, criou outra
visão em relação ao tema da Teoria Cinética dos Gases. Mesmo que os fenômenos
23
térmicos pudessem ser estudados somente sob o ponto de vista macroscópico, os
físicos imaginaram modelos microscópicos para explicar os fenômenos gasosos
(PAIVA, ALBERTO e PEDROSA, 2005).
Assim em 1850, o alemão Rudolf Clausius formulou o segundo princípio da
Termodinâmica e a Teoria Cinética dos Gases. Nessa teoria, a energia cinética média
das moléculas de gás passa a ser indicada através da temperatura, sendo possível
relacionar o calor específico dos gases com a composição molecular. Devido aos
gases se difundirem lentamente, Clausius concluiu que, mesmo que as moléculas
tivessem uma velocidade elevada, elas deveriam ter um livre caminho médio, muito
pequeno entre as colisões (PAIVA, ALBERTO e PEDROSA, 2005).
James Maxwell também contribuiu para o desenvolvimento da Teoria Cinética
dos Gases, introduzindo a hipótese de que os gases eram compostos por moléculas em
constante movimento, colidindo com as paredes do recipiente e umas com as outras,
assim como Bernoulli tinha descrito anteriormente. Maxwell se interessou
precisamente pela formulação matemática dos fenômenos físicos, e deduziu a
distribuição da velocidade das moléculas num gás em equilíbrio, ou seja, a chamada
“distribuição de Maxwell” (PAIVA, ALBERTO e PEDROSA, 2005).
Maxwell, e Ludwig Boltzmann de forma independente, começaram a utilizar
métodos estatísticos para analisar as grandes variações de velocidade das moléculas
que constituíam os gases, derivando a distribuição de velocidades de Maxwell-
Boltzmann, a partir de 1860. Maxwell também mostrou qual era a dependência dessa
distribuição em relação à temperatura, e que o gás armazenava o “calor” através do
movimento das suas moléculas (PAIVA, ALBERTO e PEDROSA, 2005).
A explicação de fenômenos como viscosidade, difusividade e condutividade
térmica dos gases, foi feita a partir dessa teoria. Maxwell, com o auxílio da esposa,
descobriu que a viscosidade dos gases era independente da pressão, a partir de
experiências, e que a mesma é aproximadamente proporcional à temperatura,
aumentando com a mesma, o que corresponde ao comportamento inverso dos
líquidos. Devido a isso, Maxwell passou a considerar que as moléculas não colidiam
elasticamente, mas sim se repeliam com uma força inversamente proporcional à sua
distância elevada à quinta potência. Esta conclusão e os trabalhos posteriores de
Boltzmann, de 1868, permitiram o completo desenvolvimento da Teoria Cinética dos
Gases (PAIVA, ALBERTO e PEDROSA, 2005).
24
As propriedades macroscópicas de um gás junto a temperatura ambiente e
pressão atmosférica podem ser descritas pelas leis elementares dos gases (Boyle-
Mariotte, Charles e Gay Lussac e Avogadro) (NUNES, 2003). São leis experimentais
que mostram como varia o volume de um gás quando a pressão e a temperatura desse
gás variam, dando origem à equação dos gases perfeitos. Considerando que essas
variações são transformações físicas, concluí-se que essas leis são mais pertinentes à
Física do que à Química. Algumas expressões comumente usadas são:
• estado de um gás – são as condições de volume (V), pressão (P) e
temperatura (T) em que esse gás se encontra;
• variáveis de estado – são as grandezas V, P e T;
• transformações gasosas – são as variações de V, P e/ou T.
(FELTRE, 2004)
Com base nas variáveis de estado, podemos observar que dentre as
propriedades mais evidentes de um gás, temos a sua grande capacidade de
elasticidade, compressibilidade e sua grande expansão do volume quando é
aquecido. Estas propriedades são quase as mesmas para todos os gases, e praticamente
todos esses gases podem ser descritos com bastante precisão usando a seguinte
equação universal de estado:
PV = nRT
Esta expressão é chamada de “equação do gás ideal” ou perfeito, uma vez que
todos os gases reais mostram pequenos desvios que, embora tornam-se cada vez
menos significativos, conforme a sua densidade diminui. Aqui P corresponde à
pressão, V corresponde ao volume por mol, ou o volume molar, R é a constante
universal dos gases, e T corresponde à temperatura. A expressão eventualmente falha
em altas e baixas temperaturas, devido à ionização a altas temperaturas e à
condensação de um sólido ou líquido a temperaturas baixas (MANSON, 2016).
A equação do gás ideal é uma fusão das três ideais leis dos gases, citadas
anteriormente, que foram formuladas de forma independente. A primeira é a lei
de Boyle, que se refere às propriedades elásticas do gás; foi descrita pelo cientista
Robert Boyle em 1662 no seu famoso”. . . Experimentos. . . Tocando a Primavera do
ar. . . ", Boyle afirma que o volume de um gás a uma temperatura constante é
inversamente proporcional à sua pressão; ou seja, se a pressão de um gás é dobrada,
por exemplo, o seu volume diminui pela metade. A relação também foi descoberta
pelo físico francês Edme Mariotte (1676) (MANSON, 2016).
25
A segunda lei, geralmente é chamada de lei de Charles, e está relacionada à
expansão térmica do gás. É nomeada em honra ao físico experimental Francês
Jacques-Alexandre César Charles, pelo o trabalho que ele realizou por volta de 1787.
A lei diz que o volume de um gás a pressão constante é diretamente proporcional à
temperatura absoluta; ou seja, um aumento de temperatura de 1 ° C à temperatura
ambiente faz com que o volume sofra um aumento de cerca de 1 parte em 300, ou 0,3
por cento. Esta relação empírica foi sugerida pela primeira vez por Charles em 1787, e
mais tarde foi comprovada experimentalmente pelo químico Joseph-Louis Gay-
Lussac (MANSON, 2016).
A terceira lei, incorporada na equação de estado, baseia-se na hipótese do
cientista Amedeo Avogadro, em 1811, que afirmou que volumes iguais de gases à
mesma temperatura e pressão contêm números iguais de partículas. O número de
partículas (ou moléculas) é proporcional ao número de mols de N, a constante de
proporcionalidade que corresponde ao número de Avogadro. No início do século XX,
o francês Jean Baptiste Perrin, professor de físico-química, realizou vários
experimentos que o levaram a concluir que o valor do número de Avogadro estaria
entre 6,5x1023 e 7,2x1023 moléculas em cada mol de substância, e posteriormente foi
descoberto o número mais preciso de 6,02x1023 (SANTOS, s.d.). Assim, a
temperatura e pressão constantes o volume de um gás é proporcional ao número de
mols. Se o total de volume V contém n mols de gás, então, apenas o volume molar
(v = V/M ) aparece na equação de estado. Ao medir a quantidade de gás em mols e
não em massa, a constante R é feita universal. Se a massa for medida em gramas (e,
por conseguinte, v em volume por grama), então Rgás terá um valor diferente para cada
gás (MANSON, 2016).
Reunindo as três fórmulas vistas nas três leis físicas dos gases, chegamos à
fórmula matemática: P1V1T1-1 = P2V2T2-1 ou PVT-1 = CTE, que é a chamada equação
geral dos gases. Isso significa que, por mais que variem o volume (V), a pressão (P) e
a temperatura absoluta (T), a fração PVT-1 permanece constante. Matematicamente,
essa idéia pode também ser traduzida assim:
PVT-1 = P1V1T1-1 = P2V2T2-1 = P3V3T3-1 = ... = P0V0T0-1= constante
Calculando o valor dessa constante, supondo que tivéssemos 1 mol de gás nas
condições normais de pressão (P0 = 1 atm) e temperatura (T0 = 273 K). Sabemos que
26
1 mol de qualquer gás, nessas condições, ocupa o volume molar (V 0 = 22,4 litros.mol-
1
). Consequentemente, teremos:
27
explicar as propriedades macroscópicas de um gás, tal como a pressão e temperatura,
em termos dos seus componentes microscópicos, como átomos. Tal como a lei dos
gases ideais, esta teoria foi desenvolvida em referência aos gases ideais, embora possa
ser aplicada razoavelmente bem para os gases reais.
Na Teoria Cinético Molecular, temos como fundamentos que:
- as substâncias são constituídas de átomos ou moléculas
característicos, que são as menores partes de uma substância
capazes de conservar suas propriedades;
- estes átomos ou moléculas permanecem em movimento contínuo,
caótico e desordenado;
- tais unidades interagem entre si de forma diferenciada dependendo
da distância entre elas (MARQUES et al. 1994).
28
1.3 Dificuldades no ensino e aprendizagem do Modelo Cinético dos Gases
De acordo com Balen e Netz (2005), estudos realizados nas últimas décadas
(p.e. VIENNOT, 1979 apud BALEN e NETZ 2005, p.30) demonstram que os
estudantes ingressantes nos cursos universitários, oriundos das escolas de nível médio,
possuem uma variedade de concepções alternativas (ou ideias ingênuas) resultantes de
suas experiências do cotidiano, as quais, muitas vezes entram em conflito com as
concepções científicas consideradas corretas.
Novick e Nussbaum (1978, apud BALEN e NETZ, 2005) indicam que essas
concepções alternativas podem sobreviver através de muitas etapas da instrução e
mesmo depois da conclusão dos cursos de graduação. Gabel, Samuel e Hunn (1987
apud BALEN e NETZ, 2005, p.30-31) lembram que se os estudantes não entendem
qualitativamente um conceito químico ou físico antes de sua apresentação
quantitativa, e é provável que eles executem manipulações inapropriadas das
equações matemáticas.
As ideias dos estudantes sobre como funciona o mundo estão firmemente
fixadas porque seu conhecimento conceitual é construído a partir do dia-a-dia de cada
um. Para ocorrer a aprendizagem é necessário que o Ensino de Ciências identifique as
visões de mundo dos estudantes e proporcione um caminho que promova a
assimilação das concepções cientificamente aceitas (BALEN e NETZ, 2005). O
Ensino da Física ou da Química deve estimular a aprendizagem que leve à
compreensão conceitual dos fenômenos. Esta aprendizagem ocorre quando o
conhecimento é construído pelo indivíduo.
Grosslight et al. (1991) através da pesquisa “Understanding Models and their
Use in Science: Conceptions of Middle and High School Students and Experts”,
mostraram que os alunos possuem uma limitada compreensão do papel e
funcionamento dos modelos e modelagem em Ciências, também revelaram que os
estudantes geralmente não distinguem claramente os modelos das ideias e/ou fins
subjacentes, e dados experimentais que apoiam ou refutam a validade ou utilidade de
modelos. Em vez disso, os alunos acabam visualizando os modelos como brinquedos
ou miniaturas de objetos da vida real, e poucos alunos entendem porque os modelos
29
são usados na Ciência. Além disso, muitos estudantes não experimentam o significado
do processo de aprendizagem utilizando a modelagem (GROSSLIGHT et al. 1991).
Os problemas que os alunos trazem sobre modelos e modelagem sugere a
necessidade de uma redefinição na trajetória de aprendizagem. Os alunos precisam
compreender como e porque os modelos são construídos na Ciência, e qual processo
de modelagem esta sendo utilizado (PRINS, 2010).
A motivação, estratégias e argumentação ocultam o desenvolvimento, a
avaliação e a revisão dos modelos que são negligenciados no cenário tradicional e,
portanto, ainda não estão claros para alunos. Uma suposição promissora é que “se os
alunos se envolverem em um processo de modelagem efetivamente, seu entendimento
irá contribuir para o desenvolvimento dos seus modelos, e a avaliação e testes dos
modelos contribuirão para a evolução da compreensão dos mesmos” (Penner, Lehrer,
e Schäuble, 1998; Roth, 1998 apud PRINS, 2010, p.12).
Em resposta a esta hipótese, várias estratégias de ensino têm sido
desenvolvidas. Estas incluem, a incorporação de tarefas autênticas baseadas no
modelo de Educação, engajamento em uma linha histórica do desenvolvimento do
modelo, e concepção dos mesmos, incentivando a compreensão conceitual e para
fomentar o desenvolvimento do raciocínio baseado em modelos (PRINS, 2010).
Em Química, para aprender a modelar, é vital conhecer as diferentes
representações que podem ser usadas, em diferentes situações, aprender a aplicá-las e
saber que para um mesmo conceito existem vários tipos de representações possíveis.
Devido a essa situação, Greca e Santos (2005, p. 43-44), afirmam que “a
aprendizagem de um modelo na Química implica aprender, além dos conceitos, as
diferentes representações do mesmo, as regras dessas representações e como essas
regras representam as relações entre os conceitos”.
Já na Física, segundo Greca e Santos (2005, p. 44) “a compreensão deve estar
relacionada com a capacidade dos estudantes para perceber os fenômenos físicos,
segundo uma determinada teoria e a formalização desta compreensão.” Portanto, um
fenômeno ou processo em Física, só pode ser compreendido, se o estudante entender
seus modelos físicos, e os enunciados que conformam a estrutura semântica da teoria,
modificando ao mesmo tempo, a maneira de perceber cada fenômeno.
Os alunos devem entender o significado das equações matemáticas,
percebendo que existem relações entre os conceitos envolvidos e as equações, sendo
capazes, ao mesmo tempo, de perceber os fenômenos, segundo essas equações.
30
Quando se atinge esse processo duplo, a respeito de certo fenômeno, pode-se dizer
que o estudante construiu um modelo mental apropriado, do modelo físico da teoria,
de forma que seus “resultados” (explicações e adivinhações) coincidam com os
cientificamente aceitos. Após esse processo “semântico”, faz-se necessária a
utilização do modelo matemático, para que ocorra a tradução dos fenômenos à
linguagem matemática, sendo uma etapa fundamental para completar a descrição dos
fenômenos, segundo os princípios aceitos na Física (GRECA e SANTOS, 2005).
Em geral, o modelo físico é, a descrição quando os enunciados “da teoria se
referem a um sistema ou fenômeno simplificado e idealizado” (GRECA e SANTOS,
2005, p.34). Por isso, pode-se supor, que no modelo físico de um gás, este seja
composto por um conjunto de esferas que interagem através de colisões elásticas, o
gás deixa de ser real para ser “ideal”, podendo assim ser aplicado ao mesmo
enunciado da Teoria Mecânica Clássica (GRECA e SANTOS, 2005).
Portanto, de acordo com Greca e Santos (2005):
Os modelos físicos desenvolvem a potencialidade da teoria,
originando-se de imagens e metáforas que delimitam os fenômenos:
se a teoria científica constitui uma particular “concepção de mundo”
determinando o tipo de perguntas e de explicações que podem ser
formuladas, os modelos físicos determinam a forma pela qual são
“percebidas” as classes de fenômenos vinculadas a eles. Os modelos
são instrumentos de trabalho que permitem representar um problema
de forma simplificada (GRECA e SANTOS, 2005, p.35).
31
2. METODOLOGIA
32
O percurso analítico e sistemático, portanto, tem o sentido de tornar possível a
objetivação de um tipo de conhecimento que tem como matéria prima opiniões,
crenças, valores, representações, relações e ações humanas e sociais sob a perspectiva
dos atores em intersubjetividade. Desta forma, a análise qualitativa de um objeto de
investigação concretiza a possibilidade de construção de conhecimento e possui todos
os requisitos e instrumentos para ser considerada e valorizada como um construto
científico (MINAYO, 2012).
A pesquisa aqui descrita se configura como uma pesquisa qualitativa
descritiva, com base na análise de uma proposta didática estruturada na utilização de
um modelo, especificamente construído para o ensino da Teoria Cinética dos Gases.
A seguir são descritas a construção e aplicação do modelo, os sujeitos de pesquisa e a
coleta e análise de dados realizadas.
33
Figura 4: Esquema do Modelo Mecânico Vertical
34
Figura 5: Modelo Mecânico Vertical construído.
35
deixamos o motor em uma velocidade constante (simulando um processo isotérmico)
e, ao elevar o pistão superior, aumentando o volume, houve uma diminuição da
frequência de colisões (perceptível pelo som). Inversamente, ao se abaixar o pistão
superior, a redução do volume do cilindro acarretou um claro aumento da frequência
de colisões.
Uma vez que, as miçangas representam as partículas que compõem o gás,
demonstrou-se que, ao se introduzir mais delas no cilindro, a frequência de colisões
aumentou, ou seja, uma maior quantidade de matéria confinada em um mesmo
volume e à mesma temperatura implicará em uma maior pressão no sistema.
Adicionalmente, a utilização de miçangas de cores diferentes proporcionou uma
analogia excelente para demonstrar dois conceitos que, frequentemente, são de difícil
compreensão para os estudantes: 1) em uma mistura de gases, cada componente ocupa
a totalidade do volume do recipiente; e 2) a pressão total de uma mistura de gases é a
soma das pressões parciais de cada um deles.
Com base nestas premissas, elaborou-se uma aula sobre "Gases" para
aplicação do modelo científico construído e para verificarmos de que maneira a
utilização do modelo apresentado favorece a explicação de fenômenos ligados ao
comportamento dos gases, tendo por base os conceitos microscópicos relacionados à
Teoria Cinética dos Gases.
Para a aplicação do MMV, foi proposta uma aula sobre gases, onde iniciou-se
retomando conceitos relativos às transformações da matéria, abordando os conceitos
de sistemas homogêneo e heterogêneo, misturas heterogêneas e homogêneas e as
mudanças de estado físico, a fim de que os estudantes fossem capazes de caracterizar
o ar atmosférico como uma mistura de gases.
Foram discutidas, também, as variáveis de estado de um gás, ou seja, pressão,
volume e temperatura, bem como suas influências no comportamento de substâncias
gasosas. Utilizou-se, a seguir, o MMV e dois experimentos descritos a seguir na
tentativa de propiciar aos alunos, com a ajuda dos professores, chegar à construção
36
dos conceitos relacionados às leis gerais que regem o estado gasoso (Lei de Boyle-
Mariotte, Lei Gay-Lussac e Lei de Charles).
No primeiro experimento realizado, dois balões de mesmo diâmetro
preenchidos com ar foram imersos em dois recipientes, sendo um com água quente e
outro com água e gelo, com a finalidade de demonstrar o comportamento de um gás
submetido a uma variação de temperatura (Figura 6), os alunos puderam observar que
pode ocorrer juntamente a variação do volume, sendo a pressão a variável constante.
37
No terceiro experimento, foram feitas diferentes simulações utilizando o
MMV. A primeira simulação foi uma transformação isobárica (pressão constante),
variando a temperatura e o volume. No primeiro estado observado na Figura 8, temos
a velocidade do motor como T1, quando variamos para uma maior velocidade T 2, a
pressão interna do sistema aumenta, tendo como consequencia um aumento do seu
volume para manter a pressão interna constante, observado no segundo estado. Essa
simulação pode confirmar o que ocorreu com a bexiga no primeiro experimento.
Figura 8: Primeira simulação: Transformação Isobárica
38
A terceira simulação representa uma transformação isotérmica (temperatura
constante), variando o volume e a pressão. No primeiro estado observado na Figura
10, temos um volume V1, e a pressão interna P1, quando diminuímos o volume para
V2, temos como consequencia um aumento da pressão interna do sistema para P2,
observado no segundo estado. De acordo com a simulação, podemos afirmar que o
volume é inversamente proporcional a pressão, assim como ocorreu no segundo
experimento.
Figura 10: Terceira simulação: Transformação Isotérmica
39
2.2 Os sujeitos da pesquisa
40
fontes, chegam ao investigador de forma “crua”, necessitando ser processados, para
facilitar o trabalho de compreensão e da interpretação dos mesmos, que é o que se
aspira com a análise de conteúdo. (MORAES, 1999)
De acordo com Moraes (1999), “a análise de conteúdo, em sua vertente
qualitativa, parte de uma série de pressupostos, os quais, no exame de um texto,
servem de suporte para captar seu sentido simbólico”, contudo, esse texto pode ter
diferentes significados, pois o sentido nem sempre é manifesto, podendo ser enfocado
em função de diferentes perspectivas. Com base nisso, Olabuenaga e Ispizúa (1989,
p.185 apud MORAES, 1999) colocam que:
- o sentido que o autor pretende expressar pode coincidir com o
sentido percebido pelo leitor do mesmo;
Fonte: Autora
41
Os alunos responderam à atividade de aplicação dos questionários e entre as
questões utilizadas nesta atividade, foram escolhidas duas questões apresentadas a
seguir, para a análise que se propõe neste trabalho:
1. Quando você descasca uma mexerica, as pessoas a sua volta sentem o cheiro
da fruta. Como você explica o fenômeno do cheiro se espalhar? Porque o cheiro
seria menos perceptível no inverno?
2. Elabore um modelo para explicar por que a sopa esfria quando a sopramos.
As questões acima foram escolhidas, pois eram as mais adequadas para avaliar
se o alunos realmente compreenderam os fenômenos propostos, uma vez que são
aplicações cotidianas dos conceitos aprendidos em sala de aula. O estudante que
realmente entender e compreender esses conceitos, é capaz de responder as questões
de forma clara. A seguir, serão discutidas as respostas dos alunos, que foram
primeiramente separadas em unidades de sentido e posteriormente em categorias.
42
3. ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Movimento
de
partículas
(57)
43
Quadro 3: Continuação da organização e análise dos dados
Acelera a "liberação"
de calor
Expansão (7)
gasosa
(69)
Diferença de Menor temperatura “Pois a temperatura seria menor e o gás não espalharia
temperatura (7) (7) tanto.”
Uma das características importantes presentes nas respostas dos alunos refere-
se à natureza particulada da matéria. A maior parte deles associa a difusão gasosa ao
movimento das partículas, que é afetado pelas variáveis de estado. Em suas palavras,
em relação à justificativa para o resfriamento da sopa ao ser assoprada, temos:
44
“Porque as moléculas que estão na superfície, que estão mais agitadas, liberando vapor,
se soprarmos elas vão sair, e “subirá” outros vapores quentes, e se sopramos, vai subir
outros e assim sucessivamente, até as moléculas diminuírem a velocidade de agitação,
assim esfriando.”
Além do uso inadequado para a ideia de pressão, temos certa “confusão” dos
alunos, em consideração à quantidade de moléculas, e aumento ou diminuição do
tamanho das mesmas, como por exemplo,
45
macroscópicas dos sistemas para explicar fenômenos microscópicos. Em suas
palavras:
“Quando se assopra a sopa, se “disperça” vapor, fazendo que as partículas da sopa diminua”
46
Figura 13: Desenho para justificar o resfriamento da sopa 2
“Se assoprar faz com que haja uma aceleração de diminuição de calor”.
“Conforme se assopra, o vapor da sopa sai, porque acelera a liberação de calor da sopa"
47
Figura 15: Desenho para justificar o resfriamento da sopa 4
48
Nesse desenho, podemos observar que o aluno indica que ao soprarmos, o ar
do nosso sopro, possui uma temperatura mais baixa e afasta o vapor, que apresenta
uma temperatura mais alta, assim facilitando o resfriamento da sopa. O movimento
gerado é que afasta as moléculas quentes mais rapidamente esfriando a sopa. O aluno
expressa sua resposta de forma clara, indicando como o mesmo compreendeu o
conceito abordado.
De uma forma resumida, podemos observar qual foi a maioria das respostas
obtidas dos alunos, considerando 101 questionários respondidos, com
aproximadamente 160 questões analisadas, segundo o gráfico 1:
Fonte: Autora
49
(44,23%), porém, na maioria dessas respostas, muitas citavam “agitação molecular”
na mesma frase, demonstrando que os alunos foram capazes de relacionar mais de
uma categorias para explicação do fenômeno alvo. A segunda categoria que obteve a
maior quantidade de respostas foi a de “agitação molecular” (36,53%), que em ambas
as questões, tanto da sopa quanto da mexerica, os alunos relacionam a resposta ao
conceito ensinado. Um exemplo podemos ver a seguir:
“Quando sopramos a sopa quente, as moléculas que estão em movimento (agitação molecular),
vão se expandindo (expansão gasosa) e diminuindo a movimentação entre elas”
“O calor faz com que haja mais agitação (agitação molecular), dessa maneira o cheiro se expande
(expansão gasosa)”
De certo modo, a utilização do modelo facilitou aos alunos que tivessem uma
melhor visualização dos fenômenos relacionados à Teoria Cinética dos Gases,
fazendo com que a maioria explicasse os conceitos aprendidos, de forma correta,
muitas vezes utilizando analogias múltiplas, nas quais apresentam o conceito alvo e
colocam mais de um análogo para explicar o mesmo alvo.
“Pois no frio as partículas expostas a baixas temperaturas, ficam mais juntas, se emitindo em
menor volume.”
50
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
51
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ago 2011.
54
APÊNDICES
Apêndice A
Nome: Turma:
4. Quando você descasca uma mexerica, as pessoas á sua volta sentem o cheiro da
fruta.
5. Elabore um modelo para explicar por que a sopa esfria quando sopramos.
55
Apêndice B
56
57
58
59