Asma Grave em Adultos
Asma Grave em Adultos
Asma Grave em Adultos
INTRODUÇÃO ETIOPATOGENIA
A asma é uma doença heterogênea, caracterizada por inflama- Doença multifacetada com etiologia multifatorial. Diferentes fa-
ção crônica das vias aéreas e limitação variável ao fluxo expiratório, tores de risco e interações ambientais são fundamentais para seu sur-
reversível espontaneamente ou com tratamento. gimento. Os fatores que influenciam a asma podem ser divididos em:
Manifesta-se clinicamente por sintomas respiratórios intermi- » Fatores ligados ao hospedeiro: associados ao desenvolvimento
tentes e recorrentes, incluindo sibilância, dispneia, aperto no peito e da doença. Predisposição genética (ex., genes ligados à atopia), idade,
tosse, que variam ao longo do tempo e em intensidade. obesidade.
» Fatores ligados ao ambiente: associados ao desencadeamento
EPIDEMIOLOGIA de sintomas ("gatilhos"). Sensibilizantes ocupacionais, alérgenos, fumaça
de cigarro, poluição ambiental, medicamentos, exercícios, alterações cli-
A asma é uma das doenças respiratórias crônicas mais preva- máticas.
lentes e afeta cerca de 1 a 18% da população mundial. O Brasil está
entre os países com maior prevalência de sintomas de asma, com esti- A alteração elementar na asma é a infla-
mativa de aproximadamente 20 milhões de habitantes vivendo com a mação crônica das vias aéreas caracteri-
doença. Apesar de todos os avanços no conhecimento da fisiopatologia zada pela presença de diferentes células,
da doença e da tendência temporal de redução da mortalidade em todo como eosinófilos, basófilos, mastócitos,
o mundo, a doença ainda está associada à elevada morbimortalidade e linfócitos, macrófagos e neutrófilos, e de
causa importante sobrecarga social e pessoal. citocinas produzidas por elas.
É uma doença de apresentação mais comumente em crianças e
adultos jovens, porém o início dos sintomas pode ocorrer em qualquer
A resposta imunológica na asma é do tipo Th2, a mesma obser-
década da vida, não sendo infrequente o surgimento dos sintomas na
vada na rinite, no eczema e, também, nas infecções helmínticas. Isso é
vida adulta. No sexo masculino, predomina na infância e, no feminino, a
importante porque guarda relação direta com os endótipos da asma.
partir da adolescência.
Uma vez iniciado esse processo, desencadeia-se uma resposta bronco-
constritora exagerada a estímulos normalmente não nocivos, determi-
nando os episódios de sintomas da doença, reversíveis espontaneamente
ou com tratamento. O estreitamento brônquico é resultante não apenas
da contração do músculo liso, mas, também, do edema da mucosa e da
hipersecreção de muco.
Caso esse processo inflamatório não seja controlado e se perpe-
tue, estabelece-se um ciclo vicioso de agressão e reparo, que pode
desencadear o remodelamento das vias respiratórias (irreversível) com
depósito intersticial de colágeno na membrana basal. Por isso, podemos
encontrar a persistência de anormalidades clínicas e funcionais, como
sintomas, limitação ao fluxo de ar e broncoconstrição, mesmo na au-
sência de gatilho desencadeador.
O paciente vítima de uma exacerbação fatal de asma apresenta
como mecanismo desencadeador do óbito a hipoxemia grave e refratá-
ria, resultante da presença de tampões de muco nas vias aéreas que
impedem o fluxo de ar, compostos, principalmente, de eosinófilos e
células epiteliais mucosas descamadas em grande número.
Os elementos característicos vistos na necropsia desses pacientes
incluem os cristais de Charcot-Leyden (coalescência de grânulos eosi-
nófilos livres), corpúsculos de Creola (aglomerados de células epiteliais
mucosas) e espirais de Curschmann (moldes bronquiolares de muco).
Ocorre ainda edema de mucosa e submucosa, com presença de infil-
trado inflamatório local. Diferentemente dos fenótipos, os endótipos agrupam características
fisiopatológicas consistentes, como vias metabólicas, inflamatórias, imuno-
lógicas e de remodelação, envolvidas na patogênese da doença.
FENÓTIPOS E ENDÓTIPOS
ACHADOS NA ESPIROMETRIA CLÁSSICA DO PACIENTE COM ASMA ACHADOS DE EXAMES COMPLEMENTARES COMPATÍVEIS COM ASMA
1. Limitação do fluxo de ar das vias respiratórias: relação VEF1/CVF <0,7. 1. Variabilidade diurna >20% e/ou aumento de, pelo menos, 15% no PFE
2. Presença de resposta broncodilatadora positiva: aumento de VEF1 ≥200 após inalação de broncodilatador ou curso oral de corticoide.
mL e ≥ 12%. 2. Redução de pelo menos 20% no VEF1 basal no teste de broncopro-
vocação.
» Espirometria normal não exclui o diagnóstico de asma.
Pensando no fenótipo alérgico, a identificação de atopia por meio
A medida seriada do pico de fluxo expiratório (PFE) pode ser uma de dosagem de IgE sérica total ou específica (RAST) ou por testes
alternativa na ausência da espirometria ou na espirometria normal, ainda cutâneos com aeroalérgenos (prick test) é útil. A medida, direta ou
que menos acurada. indireta, de inflamação eosinofílica em vias aéreas também faz parte
O teste é realizado por intermédio de um aparelho – o peak flow– do arsenal investigativo da asma.
e é considerado positivo e indicativo de asma quando apresenta uma vari-
abilidade diurna exagerada (> 20%), considerando-se medidas matinais e DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
vespertinas obtidas durante, pelo menos, 2 semanas (com, pelo menos, três
medidas de cada vez). Apesar de a história clássica de asma ser de fácil identificação,
Também é indicativo de asma o aumento de, pelo menos, 15% no nem todos os pacientes manifestam o quadro clínico típico, ou não com-
PFE após inalação de broncodilatador ou curso oral de corticoide. preendem a variação de sintomas, fatores desencadeantes ou agravantes
Outro exame complementar capaz de auxiliar-nos diante de uma e fatores atenuantes, dificultando o diagnóstico clínico da doença.
espirometria normal, ou mesmo na ausência de resposta broncodilatadora, Lembre-se de que nem tudo que sibila é asma e de que, aproxi-
é o teste de broncoprovocação. Ele pode ser realizado pela inalação de madamente, 20% dos pacientes com DPOC podem apresentar hiperreati-
agentes broncoconstritores, como a metacolina e a histamina, ou por meio vidade brônquica, tornando a diferenciação ainda mais difícil.
de estímulos, como exercício, inalação de ar frio, solução salina hipertô-
nica, entre outros.
O teste consiste na inalação de doses crescentes desses fármacos,
seguida da medida da resposta broncoconstritora (redução de pelo menos
20% no VEF1 basal – CP20).
Diante de uma exacerbação de asma, outros diagnósticos a
serem considerados são edema agudo de pulmão, tromboembolismo pul- Mesmo que os sintomas estejam controlados, a asma deve ser
monar agudo, corpo estranho e disfunção de prega vocal. considerada não controlada se houver história de exacerbação nas úl-
timas 4 semanas.
Alguns dos principais fatores de risco para as exacerbações são:
TRATAMENTO asma não controlada, uso inadequado ou não prescrição de corticoide
inalatório, VEF1 <60% do predito, uso frequente de broncodilatador de
resgate, gestação, tabagismo ou exposição ocupacional, intubação prévia
MANEJO DA ASMA BRÔNQUICA
ou admissão em UTI e, pelo menos, uma exacerbação grave nos últimos
O principal objetivo do manejo do paciente com asma é a ob- 12 meses.
tenção e manutenção do controle da doença, que compreende o con- Já a gravidade da asma refere-se à quantidade mínima de tra-
trole dos sintomas atuais e a prevenção ou minimização de preditores tamento necessário para manter o controle da doença e só pode ser
de desfechos desfavoráveis da doença, inflamação das vias respirató- realizada de maneira retrospectiva, geralmente, após 12 meses de tra-
rias e, possivelmente, piora da qualidade de vida. tamento/seguimento do paciente, e após a exclusão de causas impor-
Com relação ao manejo não farmacológico, devemos orientar tantes de descontrole, tais como comorbidades não tratadas, uso incor-
medidas específicas de controle ambiental para reduzir a exposição reto do dispositivo inalatório e não adesão ao tratamento.
domiciliar e ocupacional a gatilhos desencadeadores de sintomas da
asma. Além disso, os pacientes devem ser educados quanto à natureza
e evolução da doença, ao reconhecimento precoce das exacerbações e
à utilização adequada e correta dos dispositivos inalatórios prescritos
no tratamento.
A escala da GINA, por ser mais simplificada, é a mais utilizada
atualmente. Classifica a doença em três níveis – asma controlada,
asma parcialmente controlada e asma não controlada – avaliados em
relação às últimas quatro semanas.
Os fármacos disponíveis para o tratamento de longo prazo da
asma podem ser divididos em três categorias: medicações de controle,
medicação de alívio ou resgate e medicações adicionais para o manejo da
asma grave.
GESTANTES
COVID-19
~ EUDIANE ZANCHET ~