3953 1 PB
3953 1 PB
3953 1 PB
Abstract: The Constitutions have been modified according to the evolution of the
State and, with the conformation of the Democratic State of Law, began to
incorporate values and principles, these began to ensure their normative force, which
it was already defended by Konrad Hesse, in 1959. With the acknowledgment of
normative force of the Constitution, it triggered the institutional rise of the Judiciary,
the body responsible for its defense and fundamental rights, which came to play a
more active role, often occupying the space reserved for the Legislative and
Executive , which resulted in significant judicialization of politics and gave rise to the
phenomenon of judicial activism.
1
Mestre em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC. Membro do Grupo de
Pesquisa: “Controle jurisdicional de Políticas Públicas: análise da atuação do Supremo Tribunal
Federal no controle de políticas públicas de inclusão social e a relevância da atuação do amicus
curiae como instrumento de legitimação dessas decisões no Brasil”, vinculado e financiado pelo
CNPQ e coordenado pela professora Pós-Drª. Mônia Clarissa Hennig Leal. Professora do Curso de
Graduação em Direito da Universidade da Região da Campanha. Advogada. E-mail:
civana@rosulonline.com.br.
2
Mestre em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC. Pós-graduação "Lato Sensu"
em Direito Empresarial e Tributário pela Faculdade de Direito de Santa Maria - Fadisma e em Direito
Processual Civil pela Universidade da Região da Campanha -URCAMP. Membro do Grupo de
Pesquisa "Intersecções Jurídicas entre o Público e Privado" e o "Direito de Autor",
ambos coordenados pelo Professor Pós-Doutor Jorge Renato dos Reis. É Advogada atuante.
1 INTRODUÇÃO
2
direitos não possuem uma ”origem única” e decorrem de diferentes momentos
históricos. ( MACHADO, 2011, p. 85)
O Estado Liberal3, motivado pelos interesses da burguesia e como
revelação do processo de racionalização do poder caracteriza-se pela limitação das
atividades e do poder estatal ( BÖCKENFÖRDE, 2000, p. 19 e 40) . Os direitos do
indivíduo apresentam-se como uma limitação aos objetivos e as tarefas do Estado e
a separação dos poderes é entendida como uma distribuição de competências
estatais e nunca deve ameaçar esta unidade de poder.
Este modelo, que parte do “pressuposto que o homem é anterior ao
Estado, isto é, a partir da compreensão de que ele é o seu fundamento”, traz uma
inversão na perspectiva da garantia dos direitos dos cidadãos e dos deveres do
Estado que passa a ser conduzido pelo princípio da distribuição e pelo princípio da
organização. De acordo com o primeiro princípio, verifica-se uma intervenção
mínima do Estado e uma ampla liberdade dos cidadãos, o que contrapõe a noção de
esfera pública e esfera privada, que apresentam-se como dois pólos paralelos e
independentes. Todas as relações sociais precisam fazer parte de somente uma
destas esferas que não podem intervir no âmbito da outra. O segundo, é o
responsável pela procedência do Princípio da separação dos poderes, forma ideal
para por em prática o princípio da distribuição, e determina que o poder se divide
em competências limitadas, estimulando a limitação da atuação estatal. (LEAL,
2007, p. 8-10)
Neste cenário surge a ideia de Constituição e de sua superioridade
hierárquica em relação às demais normas, aparecendo como um documento jurídico
que tem como principal objetivo impor limites a atuação estatal e garantir os direitos
3
Nesse sentido, reforça GERVASONI (2011, p. 16-17): “Na passagem do Estado Absolutista para o
Estado Liberal, inclusive, pode-se notar que a soberania do monarca foi substituída pela soberanía da
lei, apoiada e sustentada pela soberanía da nação, representada por sua vez, pela Assembléia, que
enquanto representativa da vontade geral da soberanía do povo passa a ser um espaço destacado
de atuação, caracterizando-se o Legislativo como órgão privilegiado desta nova estrutura de poder.
Sustenta-se que, como contraposição ao modelo absolutista, o modelo liberal se formaliza como
Estado de Direito, afastando-se de uma simplista formulação como Estado legal, pois pressupõe não
apenas uma regulação jurídico-normativa qualquer, ma suma ordenação calcada em determinados
conteúdos. A partir, disso, como liberal. O Estado de Direito sustenta jurídicamente o conteúdo
próprio do liberalismo, orientando-se pela limitação estatal e tendo a lei como orden geral abstrata,
cuja efetividade normativa é garantida, genéricamente, atravéns da imposição de sanções diante de
eventuais atitudes desconformes com a hipótese normativa”.
3
individuais negativos4 do cidadão (LEAL, 2007, p. 29).
Conforme afirmam Streck e Morais (2012, p. 96)
4
individuais e passam a ter uma abrangência bem mais ampla, alcançando o poder
estatal, a sociedade e o indivíduo em todas as suas relações. (LEAL, 2007, p. 30-34)
Neste contexto,
5
ser tutelados em juízo quando não forem espontaneamente respeitados.” (
SARMENTO, 2004, p. 70)
Destarte, deixa de ser compreendida simplesmente como instrumento de
garantia contra o poder absoluto do Estado ( período liberal clássico), ou meramente
como mecanismo de orientação política ( constitucionalismo social) e passou a ser
considerada como
expressão máxima dos valores eleitos pela comunidade que a adota, isto é,
como materialização do contrato social de uma ordem democrática,
caracterizadora do modelo de Estado democrático de Direito” (LEAL, 2007,
p. 54)
6
boa e duradoura quando “corresponder à Constituição real e tiver suas raízes nos
fatores do poder que regem o país”. Caso contrário, não passará de uma mera
“folha de papel” .( LASSALE, 2013, p. 37)
Discordando desta posição, Hesse esboçou sua teoria que parte da idéia de
que existe um “condicionamento recíproco entre a Constituição jurídica e a
realidade político-social”, ambas merecem relevância e não podem ser
consideradas de forma isolada. (HESSE, 1991, p. 13)
Não se pode mais conceber, como ocorria no passado, um isolamento entre
norma e realidade, característica do positivismo jurídico.
7
econômicas. (HESSE, 1991, p. 15)
8
Desta forma, destaca-se a relevância da tese desenvolvida por Konrad
Hesse, notadamente no Brasil, que tem um ordenamento alicerçado
9
Com este fortalecimento da Constituição e reconhecimento de sua
superioridade , é natural que a jurisdição constitucional que designa a sua
interpretação e aplicação por órgãos judiciais assuma um novo papel e passe a
atuar de forma ativa, assegurando a Constituição, concretude normativa,
principalmente para as normas constitucionais programáticas.” É um instrumento
indispensável para a realização do Estado Democrático de Direito, consistindo na
função estatal responsável pela concretização dos mandamentos constitucionais,
permitindo que as estruturas normativas abstratas possam normatizar a realidade
fática, revelando a vontade de estabilizar as relações sociais, de acordo com os
parâmetros da Carta Magna, evitando o risco do abrandamento de sua força
normativa. (AGRA, 2005, p. 20)
Com este fortalecimento da Constituição e reconhecimento de sua
superioridade , é natural que a jurisdição constitucional que designa a sua
interpretação e aplicação por órgãos judiciais assuma um novo papel e passe a
atuar de forma ativa, assegurando a Constituição, concretude normativa,
principalmente para as normas constitucionais programáticas.” É um instrumento
indispensável para a realização do Estado Democrático de Direito, consistindo na
função estatal responsável pela concretização dos mandamentos constitucionais,
permitindo que as estruturas normativas abstratas possam normatizar a realidade
fática, revelando a vontade de estabilizar as relações sociais, de acordo com os
parâmetros da Carta Magna, evitando o risco do abrandamento de sua força
normativa. (AGRA, 2005, p. 20)
Cabe ao Poder Judiciário zelar pela integridade e a eficácia dos fins do
Estado, controlando as atividades dos demais poderem que possam impedir a
concretização dos direitos fundamentais. Com isso sua atividade vai além da tarefa
de subsunção do fato à letra da lei, tendo a responsabilidade de “examinar se o
exercício discricionário do poder de legislar e de administrar conduzem à efetivação
dos resultados objetivados [...] ( CAMBI, 2011, p. 195).
Para tanto, os juízes não ficam dependentes da estrita legalidade para
garantirem a efetivação dos direitos fundamentais. E como os valores e princípios
constitucionais permitem uma grande abertura de interpretação, surgem muitas
discussões acerca dos riscos de “transformar a desneutralização política do
10
Judiciário no indesejável governo dos juízes.” (CAMBI, 2011, p. 195).
Desta forma, diante da força normativa da Constituição e da indeterminação
de seus conceitos, que ampliam, substancialmente, as possibilidades de
interpretação, ganham destaque os fenômenos da judicialização da política e do
ativismo judicial.
Assim, com a edificação do Estado Democrático de Direito, o Judiciário e,
em especial, a jurisdição constitucional, ganhou destaque com a crescente
participação nas decisões de cunho político de grande repercussão nacional,
surgindo assim os fenômenos da judicialização da política e o ativismo judicial.
11
convierta, cada vez más, em um derecho judicial, construído, em el caso concreto,
por los magistrados.” (LEAL, 2012,p. 38)
O fenômeno, que se caracteriza por uma transferência de poder para juízes
e tribunais, tem várias causas, e para se consolidar depende de um sistema político
democrático; a separação dos poderes; o exercício dos direitos políticos; o uso dos
tribunais pelos grupos de interesse; o uso dos tribunais pela oposição e a
inefetividade das instituições majoritárias.(VALLE, 2009, p. 32-33)
A promulgação da Constituição de 1988, ponto central da redemocratização
do país, com a inserção de matéria novas no seu âmbito, que antes eram
reservadas para o processo político majoritário e para a legislação ordinária, e, a
grande abrangência do sistema brasileiro de controle de constitucionalidade são
fatores que justificam a judicialização no Brasil: (BARROSO,2012, p. 2-3)
Outro conceito igualmente importante para a compreensão do grande
destaque do Poder Judiciário, notadamente do Supremo Tribunal Federal, nos dias
atuais, é o de ativismo judicial.
Embora o fenômeno da judicialização tenha muitos aspectos em comum
com o ativismo eles, não devem ser confundidos. Com efeito, Barroso (2012, p. 6)
assim se refere:
12
O termo ativismo é empregado no âmbito da Ciência do Direito para
designar que o Poder Judiciário está agindo além dos poderes que lhe são
conferidos pela ordem jurídica. Já vem sendo tratado com olhares diferentes há
muito tempo, mas em termos de conceito mais genérico, pode ser associado a ideia
de transformação “normativa e social pela via de solução de casos concretos pelo
Judiciário”. (LEAL, R. G., 2011, p. 1)
Caracteriza por uma participação mais destacada do Judiciário na
concretização dos preceitos constitucionais, interferindo na esfera de atuação dos
demais poderes e manifestando-se através de diferentes práticas, tais como: a
aplicação direta da Constituição a situações não previstas expressamente em seu
texto e independentemente de manifestação do legislador ordinário; a declaração de
inconstitucionalidade de atos normativos emanados do poder legislativo baseada
em critérios mais flexíveis de violação da Constituição; a determinação de
comportamentos ou de abstenções ao Poder Público. (BARROSO, 2012, p. 5)
No panorama atual, verifica-se “tribunais que interferem e decidem, dentre
outras coisas, sobre políticas públicas e sobre quais os direitos devem prevalecer
sobre outros em casos de conflitos, o que conduz ao que se convencionou chamar
de ‘ativismo judicial.” (LEAL, 2011, p. 240)
Na doutrina podemos verificar a percepção do fenômeno ativista por
Cittadino (2002, p. 17), no trecho a seguir transcrito:
14
[...] os juízes e Tribunais, incluindo os Tribunais Constitucionais, não teriam
legitimidade democrática para, em suas decisões, insurgirem-se contra atos
legalmente instituídos pelos poderes eleitos pelo povo. Surge, então, o
denominado contramajoritarismo, que é a atuação do poder judiciário
atuando ora como legislador negativo, ao invalidar atos e leis dos poderes
legislativos ou executivos democraticamente eleitos, ora como legislador
positivo – ao interpretar as normas e princípios e lhes atribuírem juízo de
valor. Os críticos argumentam também que há intromissão do poder
judiciário nos demais poderes da república, ferindo de morte o princípio da
separação e harmonia entre os poderes, bem como o estado democrático
de direito e a democracia.
15
objetiva de valores, é considerada por Maus como um instrumento à disposição do
tribunal para disfarçar seu próprio decisionismo, que, ao impor a vinculação das
demais instâncias políticas à Constituição por ele interpretada, libera a si próprio,
sob o “manto de uma ordem de valores”, de qualquer vinculação às regras
constitucionais. Além disso, há uma veneração popular da justiça quase religiosa, o
que, somado ao fato de que o tribunal atua com métodos específicos de
interpretação constitucional, faz com que ele atue menos como “guardião da
constituição” e mais como garantidor da própria história jurisprudencial, à qual se
refere legitimamente de modo autoreferencial. (MAUS, 2000, p.185)
Desta forma, acredita-se que a melhor solução seja alcançar um ponto de
equilíbrio. O uso do instituto de forma exacerbada traz sim riscos de se criar um
Estado Jurisdicional, em que o Judiciário seja considerado um super poder,
comprometendo o Estado de Direito.
Por outro lado, não se pode ignorar a Constituição sob a alegação de que as
questões políticas não podem ser enfrentadas pela jurisdição constitucional, pois
vivemos em um Estado de Direito, com supremacia de uma Constituição que vincula
todos os cidadãos e todos os poderes.
Assim a crescente participação do Judiciário, notadamente do Supremo
Tribunal Federal , apreciando temas de grande relevância e repercussão social é
uma realidade que não pode ser desconsiderada, embora receba aplausos, de
alguns, e pesadas críticas de outros.
De qualquer forma, não restam dúvidas de que tanto a judicialização como o
ativismo judicial são reflexos diretos do reconhecimento da força normativa da
Constituição e de seus princípios, que passou a exigir dos intérpretes uma nova
postura, afastando a concepção formalista do método da subsunção, orientando-os
a atentarem para as particularidades do caso concreto, pois sós assim alcançarão a
justiça dignidade humana
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
16
Assim, no Estado Democrático de Direito, com a ênfase aos direitos
humanos e a noção de dignidade humana, a Constituição assume uma função
principiológica firmada em dispositivos de textura aberta que permitem uma
adequação de seus conteúdos à realidade
O Estado Constitucional sofreu várias alterações até a sua conformação
como Estado Democrático de Direito, alterando-se, também, nos distintos
momentos, a noção de Constituição, até que fosse reconhecida como norma
jurídica, com caráter imperativo e cujos comandos podem ser protegidos
judicialmente no caso de serem desrespeitados.
Para combater as concepções constitucionais mais tradicionais que não
atribuíam o devido valor a Lei Maior, Konrad Hesse apresentou, em 1959, a sua
teoria sobre ”A Força Normativa da Constituição”, contrapondo-se, diretamente a
tese de Ferdinand Lassalle que sustenta que uma Constituição escrita só pode ser
considerada boa e duradoura quando corresponder à Constituição real e tiver suas
raízes nos fatores do poder que regem o país, caso contrário, não passará de uma
mera “folha de papel” .
Hesse defende que a norma constitucional não tem existência autônoma em
face da realidade, que existe um condicionamento recíproco entre a Constituição
jurídica e a realidade político-social, ambas merecem relevância e não podem ser
consideradas de forma isolada.
No Brasil, cujo ordenamento se alicerça em uma Constituição de base
principiológica e valores humanitários, comprometida com os direitos fundamentais,
torna-se essencial o reconhecimento da força normativa da Lei Maior que deve
irradiar seus efeitos sobre todo o ordenamento infraconstitucional. Em razão disso,
nos últimos anos ocorreu a ascensão institucional do Judiciário que passou a
desempenhar gradativamente um papel mais atuante, desencadeando os
fenômenos da judicialização e do ativismo judicial.
REFERÊNCIAS
17
ALMEIDA, Vicente Paulo de. Ativismo judicial. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n.
2930, 10 jul. 2011. Disponível em: http://jus.com.br/revista/texto/19512>. Acesso em:
29 out. 2013.
FILHO, José dos Santos Carvalho. Ativismo judicial e política. Revista Jurídica
Consulex. Seção Ciência Jurídica em Foco. Edição 307, de 30/10/2010.
18
sua função justificadora do recurso Extraordinário n. 597.165/DF. Direitos Sociais e
Políticas Públicas desafios Contemporâneos. Tomo 11.Santa Cruz do Sul, 2011.
19
ativismo judicial. São Paulo: Quartier Latin do Brasil, 2010. p. 169-170
STRECK, L. L.; MORAIS, J.L. B. de. Ciência Política e Teoria Geral do Estado. 7. ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012.
20