Barros - MUDÉJARES de PORTUGAL - 30 Anos de Historiographia

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 186

MUDÉJARES DE PORTUGAL:

30 ANOS DE HISTORIOGRAFIA

Maria Filomena Lopes de Barros*

Uma comunicação que aborda os últimos 30 anos de historiografia mudéjar em


Portugal não deveria, em rigor, existir. De facto, não se regista uma realidade simi-
lar à espanhola, com uma produção historiográfica centrada na problemática da mi-
noria muçulmana e envolvendo, para mais, uma estrutura institucional e académi-
ca de apoio ao labor de investigação e à edição dos trabalhos dela decorrentes. As
razões para esta disparidade são múltiplas. A própria dimensão territorial e popu-
lacional dos espaços considerados constitui um factor não despiciendo na avaliação
desta discrepância. Mas, seguramente, não o único ou, sequer, o estruturante.
Uma primeira abordagem remete para uma questão mais global, inerente ao pró-
prio discurso dominante da contemporaneidade. Interpelando a “crónica sepa-
ração entre os estudos sobre a componente islâmica da história portuguesa e o es-
tudo sobre a componente islâmica da sociedade portuguesa actual”, a antropóloga
Cristiana Bastos comenta a raridade das abordagens neste último campo e interpreta-a
em função de “alguma dificuldade” demonstrada pelas ciências sociais em Portugal,
até aos anos 80-90, “em identificar fenómenos imediatos que não se enquadram na
tradição intelectual consagrada”1. Tradição intelectual que, contudo, não surge ex
nihilo, mas radica num registo político, no seu sentido mais amplo (incluindo, as ver-
tentes social e cultural), que se revela ainda largamente alheio à problemática das mi-
norias, repercutindo, necessariamente, paradigmas do conhecimento.
E, neste sentido, o discurso histórico não se afasta substancialmente desta reali-
dade. É certo que nos últimos anos se regista um interesse crescente por estas pro-
blemáticas no conjunto das múltiplas disciplinas das ciências sociais e humanas, com
particular relevo para a questão das minorias muçulmanas2. A História Medieval não

* Universidade de Évora.
1. C. BASTOS, Apresentação de Europa e Islão, Análise Social, 173, 2005, p. 761.
2. Neste sentido, avulta a iniciativa do Instituto de História Económica e Social da Faculdade de Le-
tras da Universidade de Coimbra, que, em Janeiro de 2002, organizou um Curso de Inverno subordinado,
justamente, à problemática das minorias em Portugal, numa perspectiva cronologicamente abrangente e

111
MARIA FILOMENA LOPES DE BARROS

se constitui como excepção, apresentando, contudo, particularidades que, durante


bastante tempo, contribuíram para uma visibilidade atenuada do mudéjar face a ou-
tros protagonistas sociais. Com efeito, a problemática judaica emergiu mais preco-
ce e consistentemente, através dos incontornáveis trabalhos de Maria José Pimenta
Ferro Tavares, sobretudo a partir da década de 803. O Judeu eclipsa, de certa forma,
o Mouro, cujos parâmetros vivenciais se revelam bastante menos atractivos, porque
menos participantes de uma esfera de poder, quer seja ela económica, quer financeira,
quer, ainda social. A única sistematização sobre os mudéjares de Portugal, que re-
cua a Leite de Vasconcelos (1858-1941)4, aparentava ter encerrado a temática, cons-
tituindo-se como referência para os discursos sobre a minoria muçulmana que in-
tegraram várias Histórias de Portugal, entre as décadas de 70 e 90, assim como o
Dicionário de História de Portugal, sob direcção de Joel Serrão5.
Publicada pela primeira vez em Outubro de 1977, a História de Portugal (vol. I)
de Joaquim Veríssimo Serrão6 contempla dois apartados dedicados às minorias, com
o título de «Mouros» e «Judeus», resumindo a questão em duas página para cada7,
num esquema que, de resto, corresponde à clássica obra homónima, dirigida por Da-
mião Peres8. Em 1995, sob a direcção de João Medina, a análise sobre a problemá-

multi-disciplina: G. MOTA (coord.), Minorias étnicas e religiosas em Portugal. História e actualidade. Ac-
tas. Curso de Inverno 9-11 de Janeiro de 2002, Coimbra, Instituto de História Económica e Social-Fa-
culdade de Letras de Coimbra, 2003. Mais recentemente, em Abril de 2003, o Instituto de Ciências So-
ciais da Universidade de Lisboa em conjunto com a Associação Portuguesa de Antropologia, promoveu
uma jornada académica subordinada a uma temática mais específica, «Europa e Islão». Os dois eventos
responderam, logicamente, a pressupostos distintos, em função dos próprios organismos que estiveram
na sua origem: o primeiro foi sobretudo marcado por um discurso histórico e diacronicamente transversal
(do período medieval ao contemporâneo), com prestações da área de Sociologia; o segundo consciente-
mente assumido como um conjunto parcelar de contributos, privilegiou o discurso antropológico e so-
ciológico e a problemática da minoria islâmica na actualidade, envolvendo uma participação na área da
Arqueologia. Curiosamente inseriu-se, neste último um balanço sobre a historiografia portuguesa liga-
da aos estudos árabes, da autoria da antropóloga M. CARDEIRA DA SILVA («O sentido dos árabes no nos-
so sentido. Dos estudos sobre árabes e sobre muçulmanos em Portugal», Europa e Islão, Análise Social,
173, 2005, pp. 781-806). Por outro lado, nos últimos cinco anos a editora Hugin, publicou duas obras so-
bre mouriscos na sua colecção «Biblioteca de Estudos Árabes»: I.M.R. MENDES BRAGA, Mouriscos e
cristãos no Portugal Quinhentista: duas culturas e duas concepções religiosas em choque, Lisboa, Hugin,
1999, e A. BOUCHARB, Os Pseudo-mouriscos de Portugal no séc. XVI, Lisboa, Hugin, 2004.
3. Para citar apenas os exemplos mais significativos: Os Judeus em Portugal no séc. XV, vol. I, Lisboa,
Universidade Nova de Lisboa, 1982; vol. II, Lisboa, Instituto Nacional de Investigação Científica, 1982;
Los Judíos en Portugal, Madrid, Mapfre, 1992; Judaísmo e Inquisição, Lisboa, Presença, 1987; «O difí-
cil diálogo entre judaísmo e cristianismo», História Religiosa de Portugal, vol. 1, Lisboa, Círculo de Lei-
tores, 2000, pp. 53-89.
4. J. LEITE DE VASCONCELOS, «Mouros», Etnografia Portuguesa, vol. IV, ampliado com nova informação
de M. Viegas Guerreiro, Lisboa, Imprensa Nacional, 1982, pp. 299-350. Esta sistematização baseia-se nos
apontamentos de Gama Barros de levantamento de fontes sobre as duas minorias, publicado postuma-
mente na Revista Lusitana: «Judeus e Mouros em Portugal em tempos passados», Revista Lusitana, 34,
1936, pp. 165-265; Idem, 35, 1937, pp. 161-238.
5. M. VIEGAS GUERREIRO, «Mouros», Dicionário de História de Portugal, vol. IV, Porto, Livraria Fi-
gueirinhas [imp. 1981], pp. 352-354.
6. J. VERÍSSIMO SERRÃO, História de Portugal, 15 vols., [Lisboa], Verbo [imp. 1977-2003].
7. Respectivamente pp. 192-193 e pp. 193-194 do vol. 1.
8. D. PERES (dir.), História de Portugal, 9 vols., Porto, Portucalense, 1928-1954.

112
MUDÉJARES DE PORTUGAL: 30 AÑOS DE HISTORIOGRAFIA

tica urbana –«As cidades (séculos XII-XV)»–, por Manuela Santos Silva, contempla
os apartados «Os Judeus» e «Os mouros forros»9, sendo a questão das minorias tra-
tada, uma segunda vez, de forma autónoma por Maria José Tavares –«Judeus e Mou-
ros (sécs. XII a XIV)»–. Na Nova História de Portugal (dirigida por Joel Serrão e
A.H. de Oliveira Marques) o volume IV, publicado em 1986 e dedicado ao período
dos séculos XIV e XV, o mouro, em tanto que o judeu, é objecto de análise por par-
te do seu autor, A.H. de Oliveira Marques, enquanto parte integrante da base de-
mográfica da população portuguesa10. No volume III, de 1996, referente à questão
da formação do Reino, Saul António Gomes, sob o título de «Grupos Étnico-Re-
ligiosos e Estrangeiros», levanta novos problemas e interpretações sobre o papel des-
ta minoria e da sua integração no território português11.
Desta análise, que contrasta com o silêncio quase total de duas outras obras de
referência (as dirigidas por José Hermano Saraiva e por José Mattoso12) ressaltam di-
ferentes concepções teóricas sobre o papel das minorias no quadro da medievalida-
de portuguesa. Por um lado, um esquema clássico, que advém já da década de 30,
contemplando uma autonomia artificial da temática, enquanto aspecto considerado,
de facto, como marginal à realidade analisada. Por outro, a necessidade de integração
desse fenómeno num quadro mais complexo, numa articulação contextualizada de
diferentes componentes e protagonistas sociais. Nesta última se inserem as contri-
buições de A. H. de Oliveira Marques, Manuela Santos Silva e Saul António Gomes,
salientando-se, para o último, um significativo salto qualitativo, relativamente às pers-
pectivas tradicionais, advindas de Leite de Vasconcelos, numa análise focada no pa-
pel da minoria muçulmana na colonização do território português. De resto, este au-
tor era já o responsável pela chamada de atenção sobre a presença muçulmana na
região centro do país, através de um estudo em que recupera a documentação tre-
centista sobre a mouraria/comuna de Leiria, até aí desconhecida13.
Esta última orientação corresponde a uma visão estruturada no âmbito da Uni-
versidade Nova de Lisboa, de cuja escola, aliás, advêm os dois últimos historiado-
res e de que o primeiro se constitui como um dos principais criadores e mestre. De
resto, é no seu âmbito (e, justamente, sob a direcção de professores como A.H. de

9. J. MEDINA (dir.), História de Portugal dos tempos pré-históricos aos nossos dias, vol. 2, Alfragide, Clu-
be Internacional do Livro, 1995, pp. 281-286 e pp. 286-290.
10. A.H. de OLIVEIRA MARQUES, Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV (= J. SERRÃO e A.H. de OLI-
VEIRA MARQUES (dirs.), Nova História de Portugal, vol. IV), Lisboa, Presença, 1987, pp. 32-35.
11. S.A. GOMES, «Grupos Étnico-Religiosos e Estrangeiros», in M.H. da CRUZ COELHO e A.L. de CAR-
VALHO HOMEM (coords.), Portugal em Definição de Fronteiras: do Condado Portucalense à Crise do Séc.
XIV (= J. SERRÃO e A.H. de OLIVEIRA MARQUES (dirs.), Nova História de Portugal, vol. III), Lisboa, Pre-
sença, 1996, pp. 309-383.
12. No segundo volume da História de Portugal, dirigida por José Mattoso (Lisboa, Círculo dos Leitores,
1993) e abrangendo um período cronológico que se perspectiva da formação do Reino ao séc. XV, o mou-
ro, enquanto elemento minoritário, encontra-se completamente omisso da primeira parte e apenas epi-
sodicamente mencionado num quadro (p. 406) da segunda, enquanto que na História de Portugal, diri-
gida por José Hermano Saraiva, se contempla apenas um parágrafo sobre os mouros forros, inserido na
análise das cidades (vol. 2, Lisboa, Publicações Alfa, 1984).
13. S.A. GOMES, «A mouraria de Leiria. Problemas sobre a presença moura no centro do país», Estudos
Orientais, II, 1991, pp. 155-177.

113
MARIA FILOMENA LOPES DE BARROS

Oliveira Marques, Maria José Tavares e Ângela Beirante, para nomear apenas alguns)
que se redimensiona a questão dos muçulmanos, numa perspectiva centrada e po-
tencializada pela análise da dinâmica urbana medieval. As monografias das cidades
portuguesas daí resultantes recuperam, pois, o papel das minorias, enquanto parte
integrante e actuante da vida urbana e na própria dimensão espacial, contemplando
a identificação e localização dos bairros próprios, as mourarias e judiarias14. Neste
sentido, avultam os estudos de Ângela Beirante, com as obras Santarém Medieval
(Lisboa, 1980) e, sobretudo, Évora na Idade Média (Lisboa, 1995)15, que configu-
ram um modelo teórico seguido nos demais produções desta escola. Os trabalhos
posteriormente realizados sobre centros urbanos, nomeadamente Silves, Alenquer,
Setúbal, Elvas e Alcácer16, ou os artigos sobre Moura e a Mouraria de Lisboa17, in-
serindo-se numa mesma linha metodológica de pesquisa, contribuem decisivamen-
te para equacionar o papel das comunidades muçulmanas no contexto urbano me-
ridional. Neste sentido, aliás, é de referir o paralelismo cronológico com as
actividades do Campo Arqueológico de Mértola, que decisivamente concorre, até
pela sua projecção mediática18, para um renovado interesse pela recuperação de um
passado islâmico em território português.
A problemática mudéjar renova-se, pois, conquanto numa dimensão acidental,
isto é, complementar e suscitada por outras temáticas, e não ainda como o objecto
de análise conscientemente assumido. Mas outros trabalhos contribuem para inverter
esta premissa. O próprio estudo da minoria judaica concita propostas comparativas,
que se projectam num artigo de Maria José Tavares, cujo título, «Judeus e Mouros
no Portugal dos Séculos XIV e XV (Tentativa de estudo comparativo)»19, imediata-
mente remete para o protagonismo de ambos os grupos minoritários. Ainda na dé-
cada de 80, Pedro Cunha Serra, destacado filólogo, avança com nova documentação,
num pequeno estudo já centrado na problemática da minoria muçulmana e intitu-

14. Deste conjunto estruturado de trabalhos resultará o Atlas das Cidades Medievais Portuguesas (sécs.
XII a XV), ed. A.H. de OLIVEIRA MARQUES, I. GONÇALVES e A. AGUIAR ANDRADE, Lisboa, Centro de
Estudos Históricos da Universidade Nova, 1990.
15. Publicações que correspondem, respectivamente às tese de mestrado e de doutoramento da autora.
16. M.ª de F. BOTÃO, Silves. A Capital de um Reino Medieval, Silves, Câmara Municipal, 1992; J.P. FE-
RRO, Alenquer Medieval (sécs. XII-XV). Subsídios para o seu estudo, Cascais, Patrimonia, 1996; P. DRU-
MOND BRAGA, Setúbal Medieval (séculos XIII a XV), Setúbal, Câmara Municipal, 1998; F.M. RODRIGUES
BRANCO CORREIA, Elvas na Idade Média, 2 vols., Dissertação de Mestrado apresentada à Universida-
de Nova de Lisboa, Lisboa, 1999; T. LOPES PEREIRA, Alcácer do Sal na Idade Média, Lisboa, Colibri, 2000.
17. S. MACIAS, «Moura na Baixa Idade Média: elementos para um estudo histórico e arqueológico», Ar-
queologia Medieval, 2, 1993, pp. 127-157; L. OLIVEIRA e M. VIANA, «A Mouraria de Lisboa no Século
XV», idem, pp. 191-209. Este último trabalho apresenta uma nova leitura sobre o espaço ocupado pela
minoria muçulmana na cidade de Lisboa, na sequência de anteriores análises, nomeadamente. P. de AZE-
VEDO, «Do Areeiro à Mouraria (Topografia Histórica de Lisboa)», O Arqueólogo Português, 5, 1898, pp.
212-224; VI,1890, pp. 257-279; A.H. de OLIVEIRA MARQUES, «A persistência do elemento muçulmano
na História de Portugal após a Reconquista. O exemplo da cidade de Lisboa», Novos Ensaios da Histó-
ria Medieval Portuguesa, Lisboa, Presença, 1988, pp. 96-107.
18. Sobre o “efeito Mértola”, enquanto paradigma de uma arqueologia de sustentabilidade identitária e
modelo de desenvolvimento local, cf. M.ª CARDEIRA DA SILVA, «O sentido dos árabes no nosso sentido.
Dos estudos sobre árabes e sobre muçulmanos em Portugal», especialmente pp. 792-797.
19. Revista de História Económica e Social, 9 (Janeiro-Junho 1982), pp. 75-89.

114
MUDÉJARES DE PORTUGAL: 30 AÑOS DE HISTORIOGRAFIA

lado «Mouros e Mouras»20, desenvolvendo-se, a partir dessa década, todo um tra-


balho de pesquisa e de sistematização que permitirá, finalmente, superar as pers-
pectivas avançadas na síntese de Leite de Vasconcelos. Nesta corrente se insere o já
referido trabalho de Saul Gomes sobre Leiria, o opúsculo de Humberto Baquero
Moreno, justamente intitulado Os Mudéjares no Portugal Medievo (Porto, 1994), al-
guns artigos de António Losa21 e os meus próprios, trabalhos decorrentes de uma in-
vestigação centrada totalmente na minoria muçulmana22.
Novos elementos e perspectivas se introduzem na década seguinte, com dois in-
vestigadores franceses, Stéphane Boissellier e Jean-Pierre Molénat. Para o primeiro,
os estudos que conduz sobre o sul de Portugal necessariamente o confrontam com
a realidade mudéjar. A tese publicada em Portugal em 199923, comporta uma ampla
reflexão sobre esta problemática (um subcapítulo intitula-se, mesmo, «L’insoluble
problème des mudéjars»), a que deu corpo também em numerosos artigos e comu-
nicações24. Para Jean-Pierre Molénat as suas intervenções neste campo situam-se, pre-
ferencialmente, num quadro comparativo decorrente da sua ampla investigação em
Espanha, com especial incidência em Toledo, introduzindo uma profícua proposta
dinâmica entre as várias realidades hispânicas25.
Postula-se, pois, uma tendência, sobretudo evidente a partir dos anos 90, que, fi-
nalmente, aponta para a consolidação dos estudos mudéjares em Portugal e para uma
definitiva superação da perspectiva tradicional e, durante longo tempo, imobilista,
do muçulmano medievo. Vector que, desde logo, se dimensiona não já numa vertente
isolacionista, mas antes numa dimensão integradora com a realidade hispânica e, mais
globalmente, mediterrânea. Sob o ponto de vista histórico o mouro português pas-
sou a integrar, definitivamente, o fenómeno mudéjar. Prova cabal deste facto cons-
titui-se a multiplicidade de produções sobre esta temática divulgadas na revista Al-
jamia, que, em definitivo, parece afastar a hipótese de uma nova redução e assimilação

20. Anais da Academia Portuguesa de História, 29, 1984, 2.ª série, pp. 43-56.
21. Nomeadamente «Les “Mourarias” Portugaises au XVe siècle. Un code de droit successoral», Atti del
XIII Congresso dell’Union Europeénne d’Arabisants et d’Islamisants (Venise 29 sept.-4 oct. 1986), Qua-
derni di Studi Arabi, 5-6, 1987-1988, pp. 457-478.
22. O primeiro artigo surge em 1988: «O conflito entre o Mosteiro de Chelas e Mafamede Ratinho, o
moço, mouro forro de Santarém (1463-1465)», Revista de Ciências Históricas, 3, 1988, pp. 239-244.
23. S. BOISSELLIER, Naissance d’une Identité Portugaise: la Vie Rurale Entre Tage et Guadiana (Xe-XIVe
Siècles), [Lisboa], Imprensa Nacional, 1999.
24. Para referir apenas alguns exemplos, numa biliografia bastante extensa: «Conquête chrétienne et ac-
culturation dans le sud du Portugal aux XIIe-XIVe siècles», in G. AUDISIO (ed.), Religion et Identité, Aix-
Marseille, 1998, pp. 227-239; «Les mudéjars dans le sud portugais: l’étranger, l’intégration et le quotidien
XIIIe-XIVe siècle (une approche globale de l’alterité vécue)», L’étranger au Moyen Âge. Actes du XXXe
Congrès de la SHMESP (Göttingen, 1999), Paris, 2000, pp. 179-190.
25. Como exemplos deste trabalho refiram-se: «L’Élite Mudéjare dans la Péninsule Ibérique Médieva-
le», in F. THEMUDO BARATA (ed.), Elites e redes clientelares na Idade Média. Problemas Metodológicos.
Actas do colóquio, Lisboa, Colibri-CIDEHUS, 2001, pp. 45-54; «Communautés musulmanes de Casti-
lle et du Portugal. Le cas de Tolède et de Lisbonne», Expansion occidentale (XIe-XVe siécles). Formes et
conséquences. Actes du XXXIIIe Congrès de la SHMESP (Madrid, Casa de Velázquez, 23-26 mai 2002),
Paris, 2003, pp. 215-227.

115
MARIA FILOMENA LOPES DE BARROS

do muçulmano do reino português ao dos demais reinos ibéricos, como se registou


em algumas obras do passado26.
No entanto, e retomando o que se começou por afirmar nesta comunicação, en-
contramo-nos ainda longe de uma escola, entendida como tal, e de um estruturado
projecto de pesquisa e de divulgação. O início de uma nova disciplina no curso de
História da Universidade de Évora, justamente intitulada “Minorias islâmicas pe-
ninsulares-Mudéjares e Mouriscos” poderá contribuir decisivamente para alcançar
esses objectivos.

A FRONTEIRA E O REINO DO ALGARVE

Equacionar, mesmo que sinteticamente, os traços gerais desta contribuição his-


toriográfica, revelar-se-ia um exercício ocioso se se omitissem algumas das linhas
orientadoras destes trabalhos, focalizando-as numa perspectiva comparativa com os
demais reinos ibéricos. De facto, se o significante mudéjar projecta semanticamen-
te uma realidade comum e imediatamente perceptível ao observador, os contextos
específicos de inserção destes grupos implicam diferentes níveis de caracterização so-
ciológica, como, de resto, foi bastamente comprovado para as realidades peninsulares
de Castela, Aragão, Catalunha ou, ainda, Valência. O reino português não escapa aos
seus particularismos.
Um primeiro vector surge como determinante na evolução dos parâmetros das
comunidades mudéjares portuguesas: a percepção de fronteira. Ao contrário das Co-
roas de Castela ou de Aragão, os limites meridionais do reino estabelecem-se em mea-
dos do século XIII, com a conquista do Algarve, terminando um confronto poten-
cializado pelo antagonismo religioso e dando lugar a uma outra concepção ideológica,
a da definição de intangibilidade territorial que confronta, doravante, o reino por-
tuguês com o seu poderoso vizinho de Castela e, consequentemente, desloca a figura
do contentor, do muçulmano para o castelhano. Aspecto que não será sem conse-
quências a nível da própria mentalidade. Desde logo é a partir da conquista da re-
gião algarvia que se detecta um esforço reorganizativo da Coroa sobre os seus muçul-
manos, datando justamente do reinado de Afonso III a outorga de cartas de foral aos
mouros forros de Silves, Tavira, Loulé e Santa Maria de Faro (1296-VII-7) e de Évo-
ra (1273-VIII-16), depois de um longo silêncio de cerca de um século, que mediou
da doação do foral de D. Afonso Henriques aos muçulmanos de Lisboa, Almada,
Palmela e Alcácer, em Março de 1170. O decisivo empenho da monarquia na juris-
dição dos muçulmanos do Reino, reflecte-se igualmente no conflito que opõe
Afonso III à Ordem de Santiago, em 1272. O litígio, mediado pela Cúria Régia, é sus-
citado pelos agravos de Paio Peres Correia contra a intervenção do soberano sobre
os mouros que considerava do seu domínio, levando a uma delimitação de com-

26. Refira-se, como exemplo, o artigo de J.F. O’CALLAGHAN, que apesar de se intitular «The Mudejars
of Castille and Portugal in the Twelfth and Thirteenth Centuries» (in J.M. POWELL, ed., Muslims under
Latin Rule, 1100-1300, Princeton, Princeton University Press,1990, pp. 11-56) omite quase por completo
a análise da realidade portuguesa, focando-se, de facto, na castelhana.

116
MUDÉJARES DE PORTUGAL: 30 AÑOS DE HISTORIOGRAFIA

petências entre as duas partes em confronto. Deste modo, os muçulmanos de Por-


tugal e do Algarve que se forrassem não podiam ser recebidos nas cidades (villis) da
Ordem, em dano do rei, considerando-se implicitamente sob a sua jurisdição. Por
outro lado, aos espatários competia administrar os mouros que vivessem nos seus do-
mínios de populacia terra, os que se tinham alforriado ou viessem a fazê-lo nessas
villas, ou, ainda, os que não sendo do reino, aí quisessem morar27.
O Algarve determina, de facto, uma diferente postura política da Coroa portu-
guesa face à população muçulmana estante no reino, tornando-a mais sistemática na
sua ordenação e mais agressiva no que à sua jurisdição se refere. O aproveitamento
desses recursos humanos não se revela, de forma alguma, despiciendo. A própria
questão da região algarvia, opondo Afonso III e Afonso X num processo que ape-
nas se completa com o acordo de 1267, parece determinar o posterior quadro da ac-
tuação da monarquia portuguesa face à minoria muçulmana, distinto das dos demais
reinos ibéricos. Com efeito, duas orientações centrais decorrem da política de
Afonso III: uma primeira na permanência efectiva de população muçulmana, sob di-
recta jurisdição régia e envolvida na exploração do património fundiário do monarca,
na região algarvia; uma segunda, na orientação da Coroa para estender a sua juris-
dição sob o conjunto dos muçulmanos do Reino, o que de facto, se registará pos-
teriormente, pese à oposição senhorial, nomeadamente das poderosas ordens de San-
tiago e de Avis.
Examinem-se, em primeiro lugar, as particularidades desta região, de resto, as-
sumidas plenamente pelo monarca português na adopção de uma nova titulatura,
como rei de Portugal e do Algarve. As disposições régias, nomeadamente foralen-
gas, tomadas sobre o novel território da coroa portuguesa cabalmente expressam essa
especificidade.
Por um lado, o foral dos mouros forros de Silves, Tavira, Loulé e Santa Maria de
Faro constitui-se como caso único, ao contemplar, não uma cidade (como se veri-
ficará posteriormente) ou um conjunto heteróclito de urbes e fortalezas, com carácter
estratégico (como no caso do diploma de 1170), mas um conjunto estruturado e coe-
rente de centros urbanos, polarizadores de toda uma região que se estende do bar-
lavento ao sotavento algarvios, isto é, estruturando, de facto uma região. A sua con-
cessão, posterior ao acordo final com Afonso X, é-o também, muito provavelmente,
em relação aos forais cristãos desses centros urbanos28. Estes, embora seguindo o mo-
delo de Lisboa29, revelam um aspecto original no referente à amplitude da apreensão
de direitos e de propriedades régios, que se demarca claramente dos demais diplo-
mas outorgados até essa data. A magnitude dessas disposições impende de uma for-
ma homogénea sobre os quatro forais algarvios, reservando o soberano para o seu

27. Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (I.A.N./T.T.), Chancelaria de D. Afonso III, liv-
ro 1, f. 155 v; Gavetas, maço 3, doc. 2.
28. O de Silves, o único datada, é de 1266 devendo-se situar os restantes numa data próxima, embora as pos-
sibilidades se situem entre 1249 e 1277; cf. M.H. da CRUZ COELHO e A.L. de CARVALHO HOMEM (coords.),
Portugal em Definição de Fronteiras: do Condado Portucalense à Crise do Séc. XIV (= J. SERRÃO e A.H.
de OLIVEIRA MARQUES (dirs.), Nova História de Portugal, vol. III), Lisboa, Presença, 1996, p. 573.
29. Do mesmo modo, o foral dos mouros foros corresponde ao arquétipo do diploma de 1170, desig-
nado posteriormente, como o “foro de Lisboa”.

117
MARIA FILOMENA LOPES DE BARROS

património tudo aquilo que lhe pudesse garantir o domínio de instrumentos de pro-
dução (tais como azenhas, lagares, tendas), o monopólio de diversos direitos (com,
por exemplo, o de padroado) e o controlo das estruturas de abastecimento local (pes-
ca da baleia, açougues, salinas, vendas do sal, etc.)30.
Esta alargada apreensão de poderes parece inserir-se numa linha política cons-
cientemente assumidas por D. Afonso III, numa perspectiva de legitimação face a
Afonso X. Por uma parte, na revogação das doações feitas pelo rei castelhano, as-
seguradas, por exemplo, com o direito assumido sobre as moendas, construídas e a
construir (exceptuando-se os moinhos que, em Tavira, tinha Domingos Ruiz, alva-
zil de Afonso X, que foram doados a D. João de Aboim) 31, ou com o direito de pa-
droado, doado por Afonso X à Sé e ao Cabido de Silves em Abril de 126132 e re-
servado por Afonso III em todos os forais algarvios, com excepção de Castro Marim.
Noutro sentido, essa afirmação política escuda-se igualmente no recurso à anterior
realidade islâmica, incluindo-se nos forais de Silves, Faro, Tavira e Loulé, a pretensão
do soberano sobre todas as tendas que os reis sarracenos tinham no tempo dos sa-
rracenos, sendo possível, embora não formalmente expresso, que essa influência se
possa alargar também ao monopólio sobre os balneários, que o rei reserva para si.
A incorporação dos bens waqf e de património estatal adscrito aos estados islâmi-
cos da região, poder-se-ia constituir como uma consciente fórmula de legitimação
da apreensão régia patrimonial, adensada, ainda, pelas propriedades daqueles muçul-
manos que abandonam terras algarvias.
De facto, se este vector é intrinsecamente adoptado por todos os soberanos pe-
ninsulares assumindo-se como legítimos possidentes dos bens abandonadas, por mor-
te ou evasão dos seus anteriores ocupantes, não deixa de ser significativo que, no con-
texto do reino português, tão somente para o Algarve se conserva a memória de uma
identidade individualizada de algumas personalidades muçulmanas. Assim, são
apreendidos os bens de Aben Falila, cujas casas e horta se destacam suficientemen-
te para merecer uma referência especial no foral de Tavira (tendo sido, posteriormente
doadas à Ordem de Santiago em Janeiro de 127233), figura que, segundo a Crónica
do Algarve, corresponderia ao senhor daquele centro urbano aquando da sua con-

30. Para a comparação entre os vários forais até 1277 ver I.M.ª LAGO BARBOSA, «D. Afonso III, forais
algarvios e fortalecimento de poder», Actas das III Jornadas de História Medieval do Algarve e Anda-
luzia, Loulé, Câmara Municipal, 1989, pp. 151-162, especialmente os quadros das pp. 154 e 159.
31. No património reservado pela Coroa portuguesa referem-se a horta que tinha D. Martinho Egídio,
as casas, adega e lagar e figueirais do alvazil Domingos Ruiz, as vinhas do mesmo alvazil em Faro, a ade-
ga que tinha o deão de Braga, em Loulé, e, finalmente, a horta do bispo de Silves, em Tavira. Comparem-
se estes elementos com a doação de Afonso X, em 1261-V-8, ao novo bispo de Silves, D. Garcia (que su-
cedeu a D. Roberto, falecido em 1260), inúmeros bens, alguns deles já pertença do anterior, e que
incorporavam algumas moendas, oito cavalarias, em Silves, Albufeira, Faro e Tavira, horta e casas em Ta-
vira, a azenha da ponte da mesma vila (começada a construir por D. Roberto) a que se associam novas
doações (um forno em Silves e um moinho na Asseca), para além da renda do almoxarifado e do dízimo
das adegas do Algarve (M. GONZÁLEZ JIMÉNEZ, ed., Diplomatario Andaluz de Alfonso X, Sevilla, 1991,
doc. 241, pp. 267-268).
32. J. MARQUES, «Afonso X e a Diocese de Silves», Relações entre Portugal e Castela nos finais da Ida-
de Média», Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1994, p. 112 e doc. n.º 1, pp. 115-116.
33. I.A.N./T.T., Chancelaria de D. Afonso III, livro 1, f. 154 v.

118
MUDÉJARES DE PORTUGAL: 30 AÑOS DE HISTORIOGRAFIA

quista34. Em Agosto de 1250 registam-se, ainda, as referências aos bens de Abo-


zaale (Abû Sâlîh), mouro, e de sua mulher, Zaforona (Zuhrûna), doados por Afon-
so III ao chanceler Estevão Anes, cuja enunciação abarca herdamentos situados em
Santa Maria de Faro e em todo o Algarve, casas e vinhas, almuinha, olivais, figuei-
rais, salinas ou marinas, com todos os seus ingressos35. Se bem que esses bens sejam
mais sugeridos do que propriamente descritos, deveriam constituir, no seu con-
junto, um fundo apreciável para serem objecto de doação ao próprio chanceler do
reino.
O discurso de legitimação de Afonso III parece basear-se, pois, na invocação de
direitos advindos do grupo dirigente islâmico da região, numa definição de um Al-
garve aquém-Guadiana que imediatamente serve os seus interesses, numa contra-
posição ideológica à invocação, por Afonso X, da doação do reino taifa de Niebla
pelo seu senhor Ibn Mahfûz, pela qual este receberia bens em troca da entrega da ci-
dade e da “tierra del Algarbe”36. Se os argumentos do rei castelhano quanto a esta
questão são bem conhecidos, uma fonte tardia, conhecida como a Crónica da Con-
quista do Algarve poderá, implicitamente, justificar as pretensões de Afonso III. Com
efeito, embora o protagonismo da conquista se impute a Paio Peres Correia, com uma
intervenção pontual do monarca português na capitulação de Faro, o texto consig-
na uma situação de autonomia das cidades algarvias neste período, que se concreti-
za pelo isolamento das várias praças fortes face à avançada cristã, cuja mobilização
de recursos militares se insere num contexto puramente local. Apenas numa fase ini-
cial da ocupação do território (após a passagem da serra do Caldeirão e da fixação
das forças cristãs na Torre de Estombar e em Alvor, donde saíam as algaras contra
os muçulmanos) se regista uma tentativa de coligação regional, entre os habitantes
de Faro, Tavira e Loulé, cujas tropas, não obstante, teriam sido desbaratadas pelos
espatários. A descrição da tomada das praças é enfocada a partir desse episódio, como
uma questão que implica apenas a população directamente envolvida, sem qualquer
ajuda externa ou política defensiva concertada.
Aspecto que, aliás, é corroborado, pela terminologia aplicada às autoridades lo-
cais, em que a Abem Falila, senhor de Tavira e ao rei de Silves, Alamafom, se con-
trapõem o alcaide e o almoxarife, de Faro, subordinados ao senhorio de Miramolim
Rey de Marrocos, especificando-se, mesmo, o detalhe da existência de uma fusta, com
a qual se comunicaria com o Norte de África, e que justificaria o facto de a cidade
se encontrar particularmente bem fornecida de gentes e mantimentos37. A Crónica
postula, pois, a conquista de um Algarve aquém-Guadinana inscrito num âmbito de
dissensões políticas internas (o que explicaria a relativamente rápida conquista da re-
gião), opondo-se a uma cidade que guardaria ainda a dependência aos almóadas,
como se verificaria para Faro, os poderes dos senhores locais de Silves e Tavira, cuja

34. Crónica da Conquista do Algarve (texto de 1792), comentário e notas de José Pedro Machado, se-
parata de Anais do Município de Faro, 7, 1978, p. 248.
35. I.A.N./T.T., Chancelaria de D. Afonso III, livro 1, f. 106 v; cit. por A. IRIA, O Algarve e os Desco-
brimentos, tomo 1, Lisboa, Instituto Nacional de Investigação Científica, 1988, p. 101.
36. M. GONZÁLEZ JIMÉNEZ, «Andalucía en tiempos de Alfonso X. Estudio Historico», in M. GONZÁ-
LEZ JIMÉNEZ (ed.), Diplomatario Andaluz de Alfonso X, Sevilla, 1991, pp. XLVII-XLVIII.
37. Crónica da Conquista do Algarve (texto de 1792), p. 250.

119
MARIA FILOMENA LOPES DE BARROS

hipotética subordinação ao reino de Niebla nunca é mencionada. A diferenciação en-


tre os designativos de “senhor” e “rei”, poderiam não obstante, referenciar, não tan-
to a preeminência de Silves, como a própria intervenção de Ibn Mahfûz, cujo nome
deturpado se consignaria justamente como Alamafom, identificado apenas em
função da principal cidade algarvia, e não no sentido mais amplo do seu domínio de
Niebla38. Aspecto problemático, tanto mais quanto o texto consigna a morte por afo-
gamento do soberano no Pego do Pulo, no rio Arade39, o que não é, de forma alguma,
consentâneo com a biografia desta personagem40.
Neste sentido, a Crónica, apesar da proeminência dada a Paio Peres Correia e à
acção dos espatários, corresponde a uma leitura regionalista da conquista do Algarve,
porque centrada apenas no território de facto reivindicado pela Coroa portuguesa,
num estruturado discurso ideológico de exclusão de qualquer referência a locais ou
poderes do outro lado da fronteira. A sua imprecisa datação41 não permite situar ca-
balmente a produção do texto, de que algumas partes poderão, contudo, resultar de
um período próximo da conquista42. Neste sentido, a acção limitada do rei na capi-
tulação de Faro, ganharia uma nova dimensão, ao encontrar-se essa cidade nomi-
nalmente subordinada ao poder legítimo dos almóadas, face a uma lógica de auto-
nomia dos restantes senhores islâmicos da região. A situação particular de Faro é, de
resto, corroborado pela crónica merinida, Al-Dhahîra Al-Saniyya’, que omite esse
centro urbano, referindo apenas ter Ibn Mahfûz entregue aos cristãos, em 1247 (645
H), a cidade de Tavira, e Loulé e Silves e Ajaz e Alcazena e Marsuxa e Paderne e Al-
bufeira43.
Numa legitimação coeva ou retrospectiva, a leitura portuguesa da conquista so-
bre o Algarve aquém-Guadiana contesta implicitamente as pretensões de Afonso X

38. Esta perspectiva é adoptada por José Pedro Machado, justificando a viabilidade de intervenção des-
se senhor no que era a segunda mais importante urbe do reino, depois da sua capital, Niebla. J.P. MA-
CHADO, Crónica da Conquista do Algarve (texto de 1792), nota 8, p. 255.
39. O que, segundo José D. Garcia Domingues, teria dado origem a uma lenda que se conservaria até à
actualidade, aparecendo o rei mouro com o seu cavalo, na noite de S. João, e saltando para a água, numa
reprodução da morte de que teria perecido aquando da conquista da cidade. J.D. GARCIA DOMINGUES,
Aben Mafom e a conquista do Algarve pelos portugueses na “Adh-Dhakhyra As-Sanyya”, separata da re-
vista Brotéria, Lisboa, 1955, p. 17.
40. José D. Garcia Domingues aponta várias hipóteses sem, contudo, se comprometer com nenhuma de-
las: a existência de duas personagens distintas com o mesmo nome, sendo uma delas o alcaide de Silves,
ou um putativo irmão ou filho do próprio rei (explicando-se, assim, o laqab comum). Ibidem.
41. A obra é anterior a 1419, encontrando-se reproduzida na designada Crónica de Portugal de 1419. É
editada pela primeira vez como texto autónomo em 1792, com base num manuscrito encontrado, em 1788,
por Fr. Joaquim de Santo Agostinho, que corresponderia a uma versão do séc. XVI, entretanto perdida.
42. Lindley Cintra levanta a hipótese de na génese deste texto compósito poder ter estado um dos par-
ticipantes na própria conquista; L.F. LINDLEY CINTRA, «Crónica da Conquista do Algarve» e «Crónica
de Portugal de 1419», in J. PRADO COELHO (dir.), Dicionário de Literatura, vol. I, Porto, Figueirinhas,
1982, pp. 238-239.
43. J.D. GARCIA DOMINGUES, Aben Mafom e a conquista do Algarve pelos portugueses na “Adh-Dhakhy-
ra As-Sanyya”, p. 17. C. Picard infere uma consequência distinta: de que Faro (Šantmaryya al-Garb ou
al-Harûn) se teria entretanto tornado um centro urbano secundário, ultrapassado por Tavira, jogando,
pois, um papel subalterno na geo-política do Reino de Niebla. C. PICARD, Le Portugal musulman (VIIIe-
XIIIe siècle): L’Occident d’al-Andalus sous domination islamique, Paris, Maisoneuvre & Larose, 2000,
p. 191.

120
MUDÉJARES DE PORTUGAL: 30 AÑOS DE HISTORIOGRAFIA

e legitima a acção da Coroa portuguesa nesse domínio. Para mais, é justamente no


relato da acção de Afonso III na rendição de Faro que se inscreve um discurso que
poderia, na sua origem, advir de um documento de capitulação, tipologia, de resto,
inexistente para o território português. O texto refere: [...] e a auença que ElRey fez
com os mouros foi por esta guiza que elles lhe fizeçem aquelle mesmo foro que em to-
das as couzas fazião ao seo Rey e que elles houveçem todas as suas cazas, vinhas e her-
dades pella guiza e que El Rey os defendeçe e amparaçe asi dos moros como de otras
quaesquer gentes que lhes nojo fizesem e os que quizeçem hir para alguns lugares de
moros que se foçem livremente com todas as couzas e que os cavalleiros moros ficaçem
por seus vaçallos e que andaçem com ElRey quando lhe cumpriçe e elle que lhes fi-
zeçe bem e merces44. Pela sua relativa extensão, o texto contrasta com as breves re-
ferências à acção de Paio Peres Correia na manutenção de população muçulmana, no-
meadamente em Silves (pese à situação de conquista efectiva da cidade) ou em
Aljezur, que teria também capitulado45. Explicitamente consigna-se uma relação vas-
sálica entre os cavaleiros de Faro e o rei português, numa interpretação (provavel-
mente tardia e retrospectiva) dos termos de capitulação, que enfatiza sobremaneira
a legitimação da monarquia portuguesa sobre a região e remete para uma dimensão
ideológica de lídima sucessão dos poderes islâmicos em vigência no contexto local:
à doação da taifa de Niebla, contrapõe-se a vassalagem dos nobres muçulmanos de
Faro. No seu conjunto, aliás, a Crónica do Algarve postula-se como a única fonte
que, de facto, perspectiva a permanência da população islâmica vencida, inscrita na
magnanimidade dos conquistadores.
Este discurso contra as pretensões castelhanas concretiza-se, igualmente, na
praxis política de Afonso III. A pretensa validação de jurisdições, com base numa
legitimação decorrente do domínio islâmico, complementa-se com um efectivo re-
corrência à população muçulmana estante na região algarvia. Recorrência que, se se
extrapola no próprio foral dos mouros forros, outorgado, como foi referido, aos qua-
tro principais centros urbanos do território, impende igualmente em medidas con-
cretas, tendentes não apenas à permanência efectiva dos muçulmanos, como ainda
à sua imediata participação na exploração do património régio. O foral cristão de Ta-
vira refere os figueirais e vinhas, que os sarracenos teriam recebido como reguengos
conforme são demarcados46, referindo-se também, no de Loulé, quarenta arençadas
de vinha, conforme são demarcadas por reguengos, por aqueles que as receberam do
rei47. Embora, neste último caso, não seja explicitamente mencionada a população
muçulmana, a situação seria similar à de Tavira, já que o foral dos mouros forros es-
tabelece, de facto, uma cláusula que vincula a exploração das vinhas do rei justamente
aos muçulmanos. Mais ainda, as referências à circunscrição deste património pare-
ce apontar uma estreita colaboração com o poder régio, à semelhança do que se ve-

44. Crónica da Conquista do Algarve (texto de 1792), p. 251.


45. Idem, p. 249.
46. I.A.N./T.T., Chancelaria de D. Afonso III, livro 1, f. 84; publicado: Portugaliae Monumenta Histó-
rica (PMH). Leges et Consuetudinis, Lisboa, Typis Academicis, 1856, p. 737.
47. I.A.N./T.T., Chancelaria de D. Afonso III, livro 1, f. 83 v; P.M.H. Leges, p. 736.

121
MARIA FILOMENA LOPES DE BARROS

rifica, por exemplo, na delimitação dos termos entre Gibraleón, Huelva, Niebla e
Saltès, em que participam os moros sabidores de la tierra e de los términos48.
Se o duplo dominium régio, sobre a propriedade e a respectiva população, que
se mantém maioritariamente muçulmana, limita, necessaria e, quiçá, deliberadamente,
a necessidade de uma penetração dos poderes senhoriais nos principais centros ur-
banos algarvios e nos seus termos, poderá também ser interpretada como uma po-
lítica simultaneamente oposta e complementar da de Afonso X. A um Al-Garb além-
Guadiana, enquanto herdeiro do reino de Niebla, que se pretende fundamentalmente
cristão, perspectiva-se um outro Algarve o de aquém-Guadiana, cuja definição pas-
sa, não apenas pelo acordo de fronteiras politica e fisicamente delimitadas, como tam-
bém pela própria expressão da sua geografia humana. A uma postura geo-estratégia
do oberano leonês-castelhano, ainda prévio à rebelião mudéjar, que postula o afas-
tamento da população islamizada dos principais centros urbanos (naturalmente agra-
vada pelas condições posteriores à revolta de 1264), Afonso III incrementa uma po-
lítica que, opostamente, se baseia na concentração desses mesmos muçulmanos nas
principais cidades algarvias. O foral, outorgado após a revolta andaluza, poderia fun-
cionar mesmo como um foco de atracção para essa mesma população expulsa das re-
giões limítrofes, referindo-se, de facto, para o território português, ainda em 1298,
os mouros provenientes de Leão e Castela49.
O fenómeno urbano, que caracteriza, de resto, todo o mudejarismo português,
inverte, nesta primeira fase, as premissas da ruralização, do reino leonês-castelhano.
Para o Algarve Oriental a arqueologia comprova as repercussões deste modelo, com
o abandono dos pequenos habitats de montanha e das alcarias em geral50, que re-
flectem não apenas a emigração muçulmana para o dâr al-Islâm, mas também uma
deslocação para os centros urbanos, para onde os muçulmanos seriam forçosamen-
te impelidos em função das medidas de concentração do poder cristão. A exploração
do património fundiário do soberano estrutura-se a partir deles (num controlo fis-
cal que, posteriormente, se definirá em função do conceito de “morador”), repre-
sentando indubitavelmente as cidades os espaços polarizadores do território, nas
quais se estabelece um mais complexo aparelho administrativo, e se faz sentir, com
mais acuidade, a eficácia do poder político e, consequentemente, uma maior efecti-
vidade na subordinação dessas comunidades à jurisdição régia a que estão adscritas.
De resto, presente no espírito do soberano estará, sem dúvida, a dificuldade de
colonização da região mais meridional do país, isolada pelas dificuldades topográ-
ficas representadas pela serra algarvia. A colonização apresenta-se, de facto, como
um fenómeno moroso. A permanência, senão massiva, pelo menos bastante ex-
pressiva da população islâmica é, aliás, sugerida, ainda em inícios da centúria qua-
trocentista, através do rol das igrejas de 1320-132151, que denota um fraca implan-
tação cristã na região. Mas, neste aspecto, a postura do soberano não é inocente,

48. Diplomatario Andaluz de Alfonso X, doc. 323, p. 353.


49. I.A.N./T.T., Chancelaria de D. Dinis, livro 3, ff. 5-5 v.
50. H. CATARINO, O Algarve Oriental durante a Ocupação Islâmica (= Al-’Ulya, 6), vol. 2, Loulé, Câ-
mara Municipal, 1997-1998, pp. 562-563.
51. Cf. A.H. de OLIVEIRA MARQUES, Portugal na Crise dos Séculos XIV, mapa 1, p. 17.

122
MUDÉJARES DE PORTUGAL: 30 AÑOS DE HISTORIOGRAFIA

relevando para outras medidas que postulam a defesa dos seus mouros do Algarve,
numa clara intenção de complementaridade e não de substituição da população pré-
existente. Ilustrativo revela-se o aforamento colectivo dos reguengos de Silves fec-
ta christianis et Sarracenis (1277-VIII-28), determinando-se uma divisão equitativa
de metade das propriedades para cada um dos grupos, sujeitos ao mesmo foro, que
consistia na quarta parte da produção, à semelhança do que se verificava em Lisboa
e nos seus termos, como igualmente a proibição de tais contratos se fazerem com os
habitantes do próprio reguengo52. A parte final do diploma, que postula a ida dos
cristãos junto ao soberano53 remete para uma efectiva deslocação geográfica destes
elementos alienígenas, em contraponto aos mudéjares arraigados na região.
Esta complementaridade, enquanto vector assumido pela própria população, pro-
jecta-se num outro diploma de aforamento, desta feita no termo de Faro, que con-
templa uma parceria já estabelecida entre os membros dos dois credos, possivelmente
fundada na conversão à religião hegemónica de alguns dos elementos anteriormen-
te muçulmanos. Em 1281 (-IV-2) o reguengo do Almargem é aforado a D. Guerao,
a seu genro Gonçalo Domingues, a Juzefo (Yûsuf) Abeixatram, Aben Alcadil, Ma-
fomade (Muhammad) Alatri, seu filho Adela (cAbd Allâh), Aben Duniz, Brafome
(Ibrâhîm), filho do Velho e Azeite (Abû Zayd) Abelcamom, e a todos os seus su-
cessores, contra a entrega da terça parte da produção nos celeiros do rei54.
As medidas conscientemente assumidas pelo poder central no século XIII, mo-
delam o evoluir da região algarvia nas centúrias seguintes. Com efeito, sem preten-
der uma análise exaustiva dos progressos da colonização cristã do Reino do Algar-
ve, considerem-se dois factores que emergem claramente no séc. XV, ambos
interligados, embora com carácter distinto: a polarização entre os centros urbanos
do litoral e os do interior e a oposição entre muçulmanos e cristãos com respeito à
exploração do património fundiário régio.
No primeiro aspecto, e considerando apenas os quatro centros urbanos mais an-
tigos e referenciados no foral dos mouros forros, refiram-se as claras diferenças de-
mográficas da população muçulmana entre as zonas de litoral (Faro e Tavira) e as de
interior (Loulé e Silves, esta última afectada pelo assoreamento do Arade). No pri-
meiro caso, a retracção populacional islâmica é evidente, face ao último, em que, ape-
sar da manifesta diminuição demográfica, a presença muçulmana revela ainda um
peso significativo. O Livro do Almoxarifado de Silves, datado de 147455, se bem que
limitando-se ao levantamento do património régio, indicia cerca de 30% de popu-
lação islâmica, num período em que, saliente-se, a crise é evidente nesta comunida-
de, reflectindo-se, nomeadamente, no abandono de espaços da mouraria. Percenta-
gem similar se regista em Loulé, num códice de receita e despesa do concelho, datado

52. I.A.N./T.T., Chancelaria de D. Afonso III, livro 1, f. 143 v.


53. Et christiani ueniant ad me cum nostra carta et ego dabo eis cartam de foro pro ad se et pro suus su-
ceessoribus pro ad semper. Ibidem.
54. I.A.N./T.T., Chancelaria de D. Dinis, livro 1, f. 32.
55. Livro do Almoxarifado de Silves (século XV), identificação e transcrição de M.ªJ. da SILVA LEAL, Lis-
boa, Livros Horizonte-Arquivo Nacional da Torre do Tombo, 1989.

123
MARIA FILOMENA LOPES DE BARROS

da segunda metade do século XV56, com um total de vinte fólios, integralmente pre-
enchidos pelos registos de recebimento e pagamento de passas e de figos, estritamente
controlado pelas autoridades municipais.
De resto, é neste centro urbano que ressalta uma praxis política única no conjunto
do país, mobilizadora de uma integração de judeus e mouros na própria vida insti-
tucional do município. Com efeito, documenta-se, desde, pelo menos o início da cen-
túria quatrocentista (1402 e 1403) a participação dos elementos minoritários nas reu-
niões plenárias que se efectuam, normalmente, nos Paços do Concelho e que
congregam o conjunto dos moradores, “juntos e chamados e requeridos per concel-
ho apregoado”57. As temáticas congregadoras destas assembleias são heterogéneas,
abordando tanto aspectos da vida institucional (eleição de oficiais municipais, pro-
cessos do concelho contra outras autoridades, nomeadamente o bispo de Silves ou
o fidalgo Nuno Barreto) como da vida económica (arrendamento do almargem de
Bilhas, escoamento da fruta para o porto de Faro), numa percepção do prol colec-
tivo interpretada por todos os actores sociais, independentemente do seu credo re-
ligioso. Que esta cooperação se revela activa e não simplesmente simbólica, docu-
menta-se numa acta da vereação datada de 14 de Outubro de 1487, em que a
discussão incidia na continuidade de um processo judicial que opunha o concelho
a Nuno Barreto, por causa do reguengo da Quarteira. Decidindo a maioria a favor
da prossecução do pleito, apenas dois votos expressam uma vontade contrária: o de
Estevão Vaz, amo do dito senhor e o do muçulmano Adela (cAbd Allâh) Baboso58.
A esta horizontalidade política acresce uma integração económica, estruturada
fundamentalmente, na vitalidade da exploração agrícola. A análise do referido códice
de receita e despesa do concelho transmite um estatuto económico dos muçulmanos
louletanos que os situa num plano médio superior como produtores de passas e de
figos. O seu dinamismo económico, ao longo da centúria quatrocentista, remete, ain-
da, para uma activa participação no arrendamento de bens do concelho, nomeada-
mente em parcerias, que se concretizam também com cristãos. É o caso, por exem-
plo, das várzeas de Bilhas, arrendadas pela oferta mais alta, em 1424, a Ale (cAlî)
Pantorro, representando uma sociedade composta por mais quatro muçulmanos59 e,
em 1488, a Brafome (Ibrâhîm) Vogado, em nome de mais dois cristãos e um muçul-
mano, o capelão da comuna Azmete (Ahmad)60.

56. A.H.M.L., Livro de Receita e Despesa (séc. XV); publicado: A. IRIA, O Algarve e os Descobrimen-
tos, tomo II, doc. 13, pp. 449-476. Remeteu-se a datação do diploma para a segunda metade da centúria
quatrocentista, tendo em consideração os parâmetros cronológicos fornecidos por documentação com-
plementar na referência aos nomes dos muçulmanos e cristãos aí consignados, nomeadamente Nuno Ba-
rreto e o alcaide Ali (cAlî) Baboso, cuja eleição pela comunidade será ratificada pelo soberano em 1468-
I-20; I.A.N./T.T., Chancelaria de D. Afonso V, livro 35, f. 62. Alberto Iria refere as dificuldades de datação,
inexistente no códice por se encontrar incompleto, considerando, contudo, a sua posterioridade relati-
vamente a outro similar de 11-II-1412 (A. IRIA, O Algarve e os Descobrimentos, tomo II, p. 449).
57. Cf. Actas de Vereação de Loulé (séculos XIV-XV), revisão e estabelecimento definitivo do texto de
L.M. DUARTE, separata de Al-‘Ulya, 7, Loulé, Câmara Municipal, 1999-2000, pp. 78-79, 99-102, 234-237;
Actas de Vereação de Loulé (século XV), revisão e estabelecimento definitivo do texto de L.M. DUARTE,
separata de Al-‘Ulya, 10, Loulé, Câmara Municipal, 2004, pp. 53-55.
58. Actas de Vereação de Loulé (séculos XIV-XV), pp. 234-237.
59. Arquivo Histórico Municipal de Loulé, Livro de Receita e Despesa (1423-1425), ff. 12-12 v.
60. Actas de Vereação de Loulé (séculos XIV-XV), pp. 249-250.

124
MUDÉJARES DE PORTUGAL: 30 AÑOS DE HISTORIOGRAFIA

Mas é exactamente em Loulé que se perspectivam os problemas relativos a uma


tipologia das propriedades detidas pelos muçulmanos, em função dos acordos do
século XIII. Em 1431 o infante D. Duarte responde aos agravos da comuna muçul-
mana, representada pelos seus procuradores, Omar (cUmar) Cabeça e Adela Al-
mocadem (cAbd Allâh al-Muqaddim), contra o vigário da vila e prior de S. Clemente,
Martim Eanes, que exigia o pagamento da dízima à Igreja pela reserva islâmica de
propriedade. Alegando o facto de o primeiro rei que a vila tomou aos mouros lhes
ter garantido o quarto dos herdamentos, sob condição de pagarem apenas a dízima
ao soberano, os muçulmanos reivindicam a continuidade dos seus direitos, o que lhes
é outorgado, embora introduzindo-se modulações no discurso régio: nos casos em
que as herdades tivessem sido de mouros e, posteriormente, passado para cristãos,
estes eram obrigados a contribuir com a dízima das novidades, primeiro para o so-
berano e, depois, para a Igreja, o mesmo acontecendo com as propriedades tran-
saccionadas de cristãos para muçulmanos (mesmo que a estes tivessem pertencido ori-
ginalmente). Mais ainda, é legislada a interdição de compra de qualquer propriedade
muçulmana por parte de cristão, perdendo o infractor a quantia da transacção e a res-
pectiva propriedade (que reverteria, curiosamente, para o vendedor), decretando-se
que os muçulmanos apenas transaccionassem os seus bens aos seus congéneres, de
modo a que não caíssem em mãos dos cristãos61.
Esta legislação de defesa na protecção da propriedade muçulmana (e, conse-
quentemente do erário régio) actualiza, na primeira metade do século XV, uma si-
tuação advinda da Reconquista, consignando já a legitimidade da apropriação cristã
do espaço na reserva islâmica (embora subordinada aos interesses da coroa), e, evi-
tando, como tal, um conflito declarado com a Igreja. Mais significativo, ainda é o fac-
to de a mesma se transformar numa ordenação geral do reino (pese à contestação po-
pular), numa singularidade legislativa que escapa à uniformidade propugnada pelo
poder central na produção e aplicabilidade do foro de Lisboa ao conjunto da mino-
ria muçulmana. Por outro lado, consigna-se uma excepcionalidade da região algar-
via a nível dos reinos ibéricos62 e, mesmo do português, na definição de uma tipo-
logia de propriedade islâmica, onerada apenas com o dízimo ao monarca. De facto,
a ambivalência e singularidade desse património projecta-se na designação que, ain-
da em 1496 dele é feito, justamente para Loulé, referindo-se que aos mouros fora
apartada certa terra em modo de reguengo63. Definição ambígua, essa terra em modo
de reguengo, porquanto não encontra correspondente a nível da realidade do país.
É, pois, provável que essa tipologia remeta para o passado e direito islâmicos, na apli-

61. I.A.N./T.T, Gaveta 12, maço 1, doc. 11; livro 1 de Direitos Reais, f. 242. O diploma será posterior-
mente incluído nas Ordenações Afonsinas (ed. de E. BORGES NUNES, Lisboa, Fundação Calouste Gul-
benkian, 1984, livro 2, tit. CXI, pp. 548-552) sem, contudo, incluir o escatocolo do diploma primitivo e,
consequentemente, a respectiva datação, e referindo que o mesmo se deveria a D. Duarte em seendo If-
fante.
62. Que contrasta, por exemplo, com as disposições tomadas em Castela, nas Cortes de Valladolid de 1293,
que apontam justamente em sentido contrário, proibindo aos mudéjares a compra de terras a cristãos e,
para mais, obrigando à venda das suas propriedades no período de um ano e um dia. J. HINOJOSA MON-
TALVO, Los mudéjares. La voz del Islam en la España cristiana, vol. I, Teruel, Centro de Estudios Mu-
déjares, 2002, p. 191.
63. I.A.N./T.T., Livro 1 de Místicos, ff. 40 v-41.

125
MARIA FILOMENA LOPES DE BARROS

cabilidade do cusr (dízima) ou do haraj (imposto sobre a terra dos não muçulmanos)64
sobre a produção agrícola, numa apropriação da Coroa portuguesa dos moldes de
exploração patrimonial pré-existentes.
A ordenação de D. Duarte, ratificando, embora com modificações, este estado de
coisas, ignora duas tendências complementares: o da evidente retracção da população
muçulmana e o do consequente aumento da cristã. O que não será sem consequên-
cias para o evoluir da região algarvia.
Já em período anterior o problema se tinha posto relativamente a Silves, nas Cor-
tes de Elvas de 1361. Os procuradores do concelho denunciaram a situação de Lou-
bite, reserva islâmica da propriedade, onerada apenas com o dízimo ao rei, mas que
os muçulmanos não exploravam convenientemente, deixando terras ao abandono e
prejudicando, assim, as propriedades limítrofes cristãs. Não podendo os sesmeiros
intervir na sua repartição, os procuradores propõem que seja estabelecido um pra-
zo aos muçulmanos para corrigirem a situação, findo o qual as parcelas seriam em-
prazadas, e por esto a terra seria melhor povoada, o que recebe a anuência do sobe-
rano65.
A transformação de Loubite num regime de enfiteuse, favorável aos explorado-
res cristãos, vigora, contudo, apenas até à promulgação da ordenação de D. Duar-
te, ou seja num período de 70 anos. O empenho da Coroa na recuperação dos seus
direitos, mesmo com o risco inerente do abandono da exploração do seu patrimó-
nio fundiária, mostra-se mais forte que os próprios condicionalismos reais das zo-
nas de Silves e de Loulé. De facto, no referido Livro do Almoxarifado de Silves, con-
signa-se a sua aplicação aos cristãos que, entretanto, ocuparam explorações
anteriormente detidas por muçulmanos (maioritariamente situadas, justamente, em
Loubite), através do pagamento da redízima, ou seja da dupla dízima à Coroa e à
Igreja66. Aspecto que, contudo, não deixa de suscitar a veemente oposição das ca-
madas populares.
Logo nas Cortes de Lisboa de 1439, os protestos surgem, justamente pela voz dos
representantes do município de Silves, que comentam uma situação em que os infiéis
que são servos têm razão de enriquecer e os cristãos serem pobres, o que parece cou-
sa estranha67. Cousa estranha que, contudo, não demove o soberano68. Da mesma for-
ma, nas Cortes de Évora-Alvito de 1481-1482, se insurgem os procuradores de Lou-
lé contra a obrigatoriedade, imposta por D. João II, do registo de todas as
propriedades que anteriormente tivessem sido de muçulmanos perante o contador
da comarca do Algrave, sob pena de confisco. E, nesse sentido, alegam que a maior
parte dos moradores do concelho possuíam património nestas condições, os quais

64. Sobre a confusão que se estabelece entre os dois conceitos cf. S. ABBOUD HAGGAR, «Leyes musul-
manas y fiscalidad mudéjar», Finanzas y Fiscalidad Municipal. V Congreso de Estudios Medievales, Ávila,
Fundación Sánchez-Albornoz, 1997, p. 179.
65. A.H. de OLIVEIRA MARQUES e N.J. PIZARRO PINTO DIAS (eds.), Cortes Portuguesas. Reinado de D.
Pedro I (1357-1367), Lisboa, INIC, 1986, pp. 120-121.
66. Cf. «Titulo dos herdamentos que foram de mouros que ssam arredor da dicta çidade de que sse paga
dizima a el Rej», Livro do Almoxarifado de Silves (século XV), p. 57.
67. I.A.N./T.T., Chancelaria de D. Afonso V, livro 20, f. 90 v.
68. Ibidem.

126
MUDÉJARES DE PORTUGAL: 30 AÑOS DE HISTORIOGRAFIA

houveram por herança de seus avós e bisavós por quanto tempo que passa quaren-
ta, cinquenta, cem anos, e mais que a memória dos homens não é em contrário. Os
argumentos colhem alguns frutos (se bem que não todos os pretendidos) decidin-
do o monarca o confisco dos bens que não apresentassem os respectivos confirma-
tivos escritos, mas apenas no período dos últimos quarenta anos69.
O Algarve português continua, pois, a apresentar, até finais do século XV, par-
ticularidades próprias, quer sob o ponto de vista demográfico, pela importância do
estrato populacional muçulmano, quer, ainda, pela originalidade de exploração de um
património fundiário, estruturado nos princípios de direito islâmico. E se, é certo,
que ao lado da excepcionalidade da reserva islâmica de propriedade, onerada apenas
com a dízima ao soberano e documentada, nos séculos XIV e XV, apenas para Sil-
ves e Loulé, coexistem outras tipologias de exploração patrimonial praticadas pelos
próprios muçulmanos, esta estrutura, paradoxalmente defendida pela Coroa, mar-
ca necessariamente a evolução dessas regiões do interior. As dificuldades conscien-
temente colocadas ao acesso dos cristãos a esse património (e, de resto, sempre con-
testadas pelos representantes populares), pese à evolutiva retracção populacional do
estrato mudéjar, contraria a tendência normal de incremento da colonização cristã,
que se impõe nos reinos ibéricos e, nomeadamente, nas restantes regiões portugue-
sas. No século XV, o Algarve constitui-se, ainda, como um reino diferenciado.

JURISDIÇÃO RÉGIA E FORO DE LISBOA

Outro aspecto em que diverge a realidade portuguesa da dos demais reinos ibé-
ricos refere-se à questão das jurisdições que impedem sobre a minoria muçulmana.
Com efeito, a senhorialização do espaço, em Castela como na coroa de Aragão, im-
plica uma ampla diversidade de jurisdições e, consequentemente, uma heterogenei-
dade nas condições impostas, prefigurando uma quase atomização dos vários gru-
pos mudéjares. Vector que se projecta numa mobilidade, nunca interrompida, entre
as terras de realengo e as senhoriais, na procura de conjunturas vivenciais mais fa-
voráveis, pese à legislação inibidora dessa mesma mobilidade. Para Castela, por exem-
plo, Miguel Ángel Ladero Quesada assinala o facto de, na Baixa Idade Média, a ju-
risdição senhorial ser “mais suave” do que a régia, sob o ponto de vista fiscal mas
também jurídico, na não aplicabilidade de legislação restritiva da liberdade dos mu-
déjares ou na lentidão em impor a mesma70.
A tendência do reino português vai, justamente, no sentido inverso: por um lado,
na progressiva imposição da jurisdição régia sobre o conjunto dos seus mouros, por
outra na homogeneização de uma situação fiscal de todos os muçulmanos, baseado
no foro de Lisboa e, consequentemente, nos princípios definidos pelo direito islâ-
mico. Aspecto em que, aliás, emerge outro vector de diferenciação que opõe o con-

69. I.A.N./T.T., Chancelaria de D. João II, livro 23, f. 107; Livro 2 de Guadiana, ff. 15-15 v.
70. M.Á. LADERO QUESADA, «Los Mudéjares de Castilla en la Baja Edad Media», Los Mudéjares
de Castilla y otros estudios de historia medieval andaluza, Granada, Universidad de Granada, 1989,
pp. 59-60.

127
MARIA FILOMENA LOPES DE BARROS

servadorismo da coroa portuguesa à modernização tributária de Castela, na unificação


dos diferentes encargos mudéjares na designada pecha, quota global que abonava con-
juntamente toda a comunidade, evoluindo, no século XV, para uma imposição que
recaía sobre a unidade familiar muçulmana71.
De facto, o período formativo consigna a intervenção quer da Coroa quer dos po-
deres senhoriais na ordenação e jurisdição da minoria islâmica. A iniciativa régia re-
vela-se primordial na outorga de forais aos mouros forros do reino, devendo-se-lhe
os quatro diplomas cujos textos subsistiram até aos nossos dias: o de Lisboa, Almada,
Palmela e Alcácer, outorgado por D. Afonso Henriques, em 1170, o de Silves, Ta-
vira, Loulé e St.ª Maria de Faro, de 1269, e o de Évora, de 1273, ambos de D. Afon-
so III, e, finalmente, o de Moura, de 1296, da responsabilidade de D. Dinis. A do-
cumentação guarda, contudo, referências concretas à concessão de documentos
similares a outras comunidades muçulmanas do país, nomeadamente Elvas, Santa-
rém e Beja, No primeiro caso, numa resposta à comuna muçulmana da cidade que,
em 1476, solicitava o treslado do respectivo foral da Torre do Tombo, o qual, se en-
contrava já extraviado, sendo contudo disponibilizada uma carta de privilégio de D.
Dinis, datada de 15 de Agosto de 1294, indiciando a outorga do foral em período an-
terior72. No segundo, numa menção ao foral dos mouros de Santarém, aquando da
doação dos direitos dos muçulmanos da cidade ao infante D. Fernando, irmão de D.
Afonso V, em 15 de Fevereiro de 146473. Finalmente, numa cláusula dos Costumes
de Beja (século XIV) menciona-se o foro dos mouros dessa localidade74.
Ao lado destes diplomas, cujos contextos referenciais indiciam uma origem ré-
gia, é plausível uma perspectiva mais abrangente de concessão foralenga, que não a
exclusivamente imputável ao soberano, tanto mais quanto as comunidades islâmi-
cas, concentradas preferencialmente nas zonas a Sul do Tejo, se repartem geografi-
camente por distintos domínios senhoriais, nomeadamente dos das Ordens Milita-
res de Santiago e de Avis. Destas situações, não obstante, a documentação compulsada
conserva apenas um único vestígio, justamente referente a Avis, sede da Ordem com
o mesmo nome. Numa carta de sentença de D. Afonso IV (de um pleito que opôs
o Mestre à comuna, datada de 10 de Março de 1331), menciona-se o facto de a co-
munidade ter carta do mestre Gil Martins, que lhe outorgara os foros, usos e costu-
mes dos mouros de Elvas75. O arquétipo régio parece, pois, ter servido de modelo
à iniciativa senhorial.
Os conflitos entre a Coroa e estes poderes pela jurisdição e fixação da população
muçulmana arrastam-se até ao século XIV. O já mencionado pleito entre Afonso III
e a Ordem de Santiago, em 1272, prolonga-se no reinado seguinte, revelando uma

71. M. GONZÁLEZ JIMÉNEZ, «Fiscalidad regia y señorial entre los mudéjares andaluces (siglos XIII-XV)»,
Actas del V Simposio Internacional de Mudejarismo (1990), Teruel, Instituto de Estudios Turolenses, 1991,
pp. 221-239; cf., igualmente, as conclusões de Miguel Ángel Ladero Quesada, partindo, em parte, dos cál-
culos sobre esta pecha ou cabezas de pecho, impostas aos cabeças de família, com mais de 20 anos de ida-
de: «Los Mudéjares de Castilla en la Baja Edad Media», especialmente pp. 13-49.
72. I.A.N./T.T., Chancelaria de D. João II, livro 23, f. 16.
73. I.A.N./T.T., Núcleo Antigo, n.º 335, f. 162 bis.
74. P.M.H. Leges, II, p. 58.
75. I.A.N./T.T., Ordem de Avis (Documentos vindos da Repartição das Finanças de Portalegre), doc. 379.

128
MUDÉJARES DE PORTUGAL: 30 AÑOS DE HISTORIOGRAFIA

agudização de tensões patente em dois diplomas régios, datados respectivamente de


1298 e de 1310. No primeiro, o mestre D. João Osório, acusa os funcionários régios
(almoxarife, escrivães e sacadores dos direitos dos mouros) de infracção ao cum-
primento da carta de composição feita com D. Afonso III e, implicitamente, da sua
actuação em terras da Ordem. D. Dinis ratifica os termos desse diploma, especifi-
cando que nas vilas dos espatários possam morar os muçulmanos que aí vivem da
povoação da terra continuadament ou os que, sendo cativos, aí se forraram ou fo-
rrarem, e ainda os mouros forros que vierem de Castela ou de Leão, que nom seja
dos de Alem Mar, sobre os quais, não incidirá qualquer tributação régia. Em con-
trapartida, não poderiam aí ser aceites os que, tendo saído para domínios do monarca,
pretendessem voltar, nem os muçulmanos de Além-Mar (sujeitos, naturalmente, à
alçada régia), sob pena de perderem o referido privilégio76.
Não obstante, essa interferência não parece casual, indiciando antes uma tenta-
tiva propositada do soberano em fazer valer a sua jurisdição (e os consequentes be-
nefícios fiscais) nos domínios da Ordem, como o demonstra a repetição das queixas
em 1310, desta feita pelo mestre D. Diogo Moniz. O endurecimento do discurso é
evidente. O Mestre claramente declara que os muçulmanos dos seu domínios são seus
e de sua jurisdição, responsabilizando directamente o monarca pelas infracções de-
liberadas do seu almoxarife em Setúbal. Face ao acordos anteriores, a D. Dinis não
lhe resta senão ratificar a posição do Mestre e, pelo menos no plano teórico, renunciar
às suas pretensões sobre esta população, sem, no entanto deixar de sublinhar que o
acordo se deve realizar muy bem e dereitamente, sem receber o soberano engano
aciente, sob pena de os espatários perderem os privilégios de seu pai e os seus77.
As questões colocadas com a Ordem de Santiago relevam de um complexo pro-
cesso de que recua a 1170. De facto, o primeiro foral dos mouros forros (texto ma-
tricial do mudejarismo português) propugna a jurisdição régia sobe os muçulmanos
de Lisboa, Almada, Palmela e Alcácer. No entanto, a progressiva militarização do es-
paço leva à doação, em 1186, dos castelos de Arruda, Alcácer, Palmela e Almada aos
cavaleiros de Santiago. Após a conquista definitiva de Alcácer, em 1217, sem a directa
participação do rei, Afonso II procura retomar a iniciativa de jurisdição sobre os
mouros forros abrangidos por esse foral, procedendo à sua confirmação e acres-
centando o privilégio de isenção do serviço de aposentadoria. Esta pretendida in-
terferência sobre a população muçulmana dos domínios da Ordem gera os confli-
tos jurisdicionais posteriores, acabando, contudo, o foral de 1170, por se subalternizar
face à doação de 1186. A assimetria social dos donatários dos diplomas, envolven-
do, no primeiro, os muçulmanos e na segunda, os cavaleiros de Santiago, estabele-
ce prioridades muito concretas no que à aplicação dos poderes se refere.
Mas que este conflito não é gerado apenas por uma subjacente questão de lega-
lidade mas antes, por uma deliberada intenção da Coroa na generalização do seu do-

76. I.A.N./T.T., Chancelaria de D. Dinis, livro 3, ff. 5-5 v.


77. I.A.N./T.T., Chancelaria de D. Dinis, livro 3, ff. 73-73 v; D.P., vol. I, doc. 310; Publicado: História
Florestal, Aquícola e Cinegética. Colectânea de Documentos existentes no Arquivo Nacional da Torre do
Tombo-Chancelarias Reais, vol. I (1208-1483), direcção e selecção de C.M.L. BAETA NEVES, Lisboa, Mi-
nistério da Agricultura, Comércio e Pescas, 1980, doc. 29, p. 53.

129
MARIA FILOMENA LOPES DE BARROS

mínio sob o conjunto da minoria muçulmana do Reino, prova-o outro processo, mais
tardio e em que a monarquia age de forma indirecta. Em 10 de Março de 1331, uma
carta de sentença de Afonso IV revela um conflito entre o Mestre de Avis e D. Gil
Peres e Mafamede (Muhammad) Francelho, acusado, conjuntamente com o comum
dos mouros de Avis, de ter conseguido enganosamente a confirmação do monarca
à sua eleição para alcaide. O primeiro alega que a essa comuna teria sido outorga-
do foral, segundo o modelo de Elvas, mas que a nomeação do alcaide islâmico com-
petia ao respectivo Mestre, desde o povoamento da terra. Percepção diferente im-
pendia sobre a comunidade que, justamente invocando o foral de Elvas, elegera
Mafamede Francelho por alcaide e obtivera a confirmação régia dessa eleição. Cu-
riosa é, no entanto, a postura da comuna e do respectivo alcaide, que recusam apre-
sentar quaisquer documentos comprovativos dos seus direitos e afirmam reiterada-
mente, quer através dessa personagem, quer do procurador, Bochechas (Abû Shayd)
(que, de resto, só se apresenta na Corte, cinco dias passados do início do processo)
não querer pleito com a Ordem, pese à insistência de Afonso IV em afirmar que a
apresentação desses diplomas implicaria a sua validação e o reconhecimento oficial
da situação por eles apresentada. Face à recusa, ao soberano não restou outro recurso
senão o de ratificar a posição da Ordem, revogando a eleição do alcaide e, implici-
tamente, o seu acto de confirmação régia do mesmo78.
Todo o discurso deste caso aponta para a intenção premeditada do soberano em
fazer valer os direitos dos muçulmanos, e por consequência a sua própria jurisdição
em terras da Ordem de Avis. No entanto, a intervenção régia teria de ter uma base
legal, que apenas aos muçulmanos cabia validar. E, neste aspecto, a comunidade va-
cilou; a autoridade da Ordem apresentava-se bem mais coerciva, porque mais ime-
diata e presente, do que a distante alçada régia.
As pretensões da Coroa não se esvaiem, contudo, apesar dos desaires conjuntu-
rais destes processos. Com Afonso IV, a delimitação de jurisdições veicula-se ainda
através da emissão de legislação régia dirigida tão somente aos muçulmanos de seu
senhorio79, exclusora, portanto, dos mudéjares sob alçadas senhoriais. Mas, já em ple-
no século XV, emerge uma outra construção ideológica da Coroa. Numa ordenação
de D. Afonso V, confirmando uma anterior de D. João I sobre a protecção aos ju-
deus, estende-se a sua aplicabilidade aos mouros forros de nosos Reinos e Senhorio,
justificando-se esta lei pelo facto de os monarcas anteriores os terem tido sempre sob
sua guarda e encomenda, e nos bem assy os avemos recebido80. O discurso régio tran-
sita, pois, para uma esfera nacional englobante, para mais com uma intenção re-
trospectiva que, de facto, extrapola e deliberadamente ignora o contexto histórico de
períodos anteriores. A mensagem ideológica adequa-se, contudo, à realidade coe-
tânea, testemunhando o culminar de um processo cujas principais linhas de orien-
tação, iniciando-se com Afonso III, se impõem no reinado de D. João I (1385-1433).
Com efeito, os forais dos mouros forros do Algarve e o de Évora, seguindo, como

78. I.A.N./T.T., Ordem de Avis (Documentos vindos da Repartição das Finanças de Portalegre), doc. 379.
79. E. BORGES NUNES (ed.), Ordenações Afonsinas, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1984, li-
vro 2, tit. CI, p. 534.
80. Ordenações Afonsinas, livro 2, tit. CXX, pp. 562-563.

130
MUDÉJARES DE PORTUGAL: 30 AÑOS DE HISTORIOGRAFIA

os demais, o arquétipo outorgado em 1170, incluem, contudo, uma cláusula que re-
mete para o foro de Lisboa (e em tudo o resto deveis fazer e usar como usam e fa-
zem os meus mouros forros de Lisboa), fórmula igualmente reiterada no diploma mais
tardio de Moura. Neste sentido, a Coroa reserva um amplo espaço de manobra na
manipulação das comunidades envolvidas, segundo um modelo que se desenha a par-
tir da evolução da comuna olisiponense, a de formação mais remota (Almada, Pal-
mela e Alcácer foram recuperadas pela ofensiva almóada de 1190-1191), cujos parâ-
metros de funcionalidade parecem servir amplamente os interesses régios.
A apreensão do foro de Lisboa enformará uma praxis uniformizadora do poder
central. Logo em 1315 se levantam dúvidas quanto aos direitos a pagar pelos muçul-
manos de Moura sobre os respectivos gados, aspecto omisso na respectiva carta de fo-
ral. O esclarecimento desta questão impende ao juiz dos direitos reais de Lisboa, Abel
Focem (Abû-l-Husayn), que envia uma inquirição ao monarca, a partir da qual D. Di-
nis estabelece as regras neste sentido: o pagamento da quarentena sobre o gado va-
cum, caprino e ovino e da dízima das crias dos equídeos, asnos e muares81.
A produção normativa da comuna olisiponense consubstancia uma continuida-
de da aplicabilidade do direito islâmico, cuja definição tributária impende a esse fun-
cionário de nomeação régia. Num diploma posterior, datado do reinado de D. João
I, refere-se o costume que, de antigamente, se guarda aos muçulmanos de Lisboa,
de terem juiz mouro como primeira instância dos pleitos relativos aos direitos
reais82. Costume que, de resto, se verifica no século XV também para a comuna de
Évora, sendo omisso nos demais grupos islâmicos do país. Os moldes fiscais e tri-
butários que regem a actuação desse magistrado radicam nos próprios diplomas de
foral, que consagram o pagamento da alfitria e do azoque, ou seja da esmola legal
islâmica (al-zakâ) e da capitação que impendia sobre todas os muçulmanos, inde-
pendentemente do seu sexo e idade (al-zakât al-fitra). Uma outra capitação é, ain-
da, consignada, embora não pelo seu designativo árabe: a aplicável a todos varões
maiores de idade, correspondendo à jizya, contribuição pessoal que impendia sobre
os não-muçulmanos integrados no dâr al-Islâm, especificando-se, no foral de Mou-
ra, o seu pagamento a partir dos 15 anos de idade. Os forais não participam, pois, de
uma mera concepção mecanicista da aplicabilidade do direito islâmico, implicando,
antes, uma construção consciente e activa na sua manipulação. A aplicação de no-
vos parâmetros legais, que caracterizavam a sociedade islâmica na protecção aos gru-
pos minoritários, revela uma preocupação com a ortodoxia que advirá, indubita-
velmente, de elementos das comunidades compreendidas neste processo.
O reinado de D. João I marca uma nova etapa na fiscalidade da minoria muçul-
mana, não tanto por consignar uma evolução acentuada deste vector processual,
como pelo esforço de sistematização e recuperação das exacções legalmente impos-
tas em períodos anteriores e na sua imposição ao conjunto da minoria islâmica. Efec-
tivamente, as condições particulares da subida ao trono deste monarca, inseridas, para
mais, num contexto de crise generalizada e de confronto bélico com os castelhanos,
propiciam uma ampla reforma administrativa, que incide também sobre o feito tri-

81. I.A.N./T.T., Chancelaria de D. Dinis, livro 3, f. 90.


82. I.A.N./T.T., Inquirições de D. Afonso III, livro 4, f. 13 v; publicado P.M.H. Leges, pp. 98-100.

131
MARIA FILOMENA LOPES DE BARROS

butário islâmico, numa perspectiva de reestruturação maximalista dos proventos do


erário régio.
Neste sentido, já em 1388, o monarca ordena uma inquirição sobre os direitos ré-
gios que incidiam sobre os bens de raiz dos muçulmanos, nos almoxarifados de Évo-
ra e de Estremoz, propugnando a sua efectiva recuperação, mesmo que entretanto ti-
vessem sido transferidos para cristãos83. O diploma consigna igualmente o
levantamento de todos os direitos que pesavam sobre os muçulmanos dessas comarcas,
provavelmente como movimento preparatório da elaboração do extenso diploma em
que foram sistematizados os direitos régios sobre a minoria islâmica. Para o trabal-
ho, executado, entre 1388 e 142984, contribuiu largamente o tabelião da comuna lis-
boeta, licenciado em direitos dos mouros, Yûsuf b. Ibrâhîm b. Yûsuf al-Lahmî, a quem
o soberano encarregou da supervisionar o levantamento efectuado, e que, depois de
o confrontar com a documentação original, o validou com a sua assinatura em ára-
be e em romance. A intervenção deste muçulmano de Lisboa e o seu papel activo na
preparação e na legitimação (de resto, como subscritor único) deste inventário, inte-
gra-o numa linha de continuidade com a tradição anteriormente consignada de legi-
timidade e de apropriação do direito islâmico, reivindicada desde sempre pela Coroa
portuguesa. Preocupação que se sente ao longo de todo o discurso, na recuperação
e dilucidação da terminologia árabe, ou mais explicitamente, ainda, na enunciação glo-
bal do conceito de azaque, que apela directamente a uma linha não interrompida de
domínio temporal: Item os direitos sobreditos que nos forais desses mouros he chamado
aziqui se toma per a dizma de darem al Rey de dez hum e de Rta hum estes outros di-
reitos como davam ao Rey mouro cando a terra era dos mouros85.
A extensa sistematização dos direitos régios que impendiam sobre os muçulmanos
do Reino86 é complementada por um outro diploma, consignando o levantamento
dos casos em que, pela lei islâmica, o rei herdav dos seus súbditos mouros. Uma vez
mais, a responsabilidade do trabalho recai sobre muçulmanos da comuna de Lisboa,
mestre Bucar (Bakr), o capelão Apfeme ou Brafome (Ibrâhîm)87, Mafamede (Mu-
hammad) de Avis e Faras (Faraj), cujo original, escrito e assinado por suas mãos, en-
tretanto se perdeu, e de que nos chegaram apenas dois treslados88. O diploma será
reformulado posteriormente no reinado de D. Afonso V que, na mesma orientação,

83. M. de ALBUQUERQUE e de E. BORGES NUNES (eds.), Ordenações Del-Rei Dom Duarte, Lisboa, Fun-
dação Calouste Gulbenkian,1988, pp. 675-676.
84. Cf. M.ªF. LOPES DE BARROS, A Comuna Muçulmana de Lisboa, sécs. XIV-XV, Lisboa, Hugin, 1998,
pp. 64-66. Gama Barros havia já considerado esta relação como datando, “quando muito” do reinado de
D. João I; H. da GAMA BARROS, «Judeus e Mouros em Portugal em tempos passados», Revista Lusita-
na 34, 1936, p. 228.
85. I.A.N./T.T., Inquirições de D. Afonso III, livro 4, f. 13 v; publicado: P.M.H. Leges, p. 100;
I.A.N./T.T., Gaveta 10, maço 12, doc. 17, f. 11.
86. I.A.N./T.T., Inquirições de D. Afonso III, livro 4, ff. 10 v-14; publicado: P.M.H. Leges, pp. 98-100;
I.A.N./T.T., Gaveta 10, maço 12, doc. 17, ff. 9 v-11.
87. A primeira versão surge no diploma das Gavetas e a segunda nas Inquirições.
88. I.A.N./T.T., Inquirições de D. Afonso III, livro 4, ff. 14 v-15 v; Gaveta 10, maço 12, doc. 17, ff. 9 v-
13. Um resumo do diploma encontra-se em M.L. dos MÁRTIRES MARTINS, Subsídios para o estudo dos Ju-
deus e dos Mouros nos reinados de D. João I e de D. Duarte, diss. de Licenciatura apresentada à Facul-
dade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa, 1961, pp. 146-147.

132
MUDÉJARES DE PORTUGAL: 30 AÑOS DE HISTORIOGRAFIA

delega no alcaide muçulmano da comuna de Lisboa o encargo de fazer outra vez


ajuntar certos Mouros Leterados, e sabedores em sua Ley para corrigir e completar
a anterior declaração, considerada imperfeita e muyto escura89. O texto produzido
por estes muçulmanos, segundo uma estrita ortodoxia sunnita, integra as ordenações
gerais do Reino90, numa característica singular a nível das Coroas ibéricas, que ca-
balmente remete para as percepções diferenciadas das várias monarquias relativamente
à importância da apreensão dos excedentes gerados por essa minoria.
O foro de Lisboa constitui-se, pois, a partir de D. João I, como um modelo de
homogeneização tributária aplicável ao conjunto dos muçulmanos do Reino. Mo-
delo que se pretendia comum já com a outorga foralenga, mas que derivara, natu-
ralmente, em função dos contextos específicos de inserção das várias comunidades
e do desenvolvimento dos respectivos direitos consuetudinários. De um âmbito par-
celar, também determinado pela variedade de jurisdições que impendia sobre as vá-
rias comunidades muçulmanas, a uma dimensão nacional, o processo de imposição
da jurisdição régia sobre o conjunto dos seus muçulmanos expressa-se num discur-
so de uniformidade tributária. Discurso que vai para além de um simples registo de
intenções, e que, por isso mesmo, sofre a contestação interna dos próprios muçul-
manos. Em 1432, a comuna de Évora é julgada pelo facto não pagar a quarentena de-
vida pelos bens, próprios ou alheios, per bem do costume e foral dos mouros de Lis-
boa, cujo paradigma seguiam. Em sua defesa, os muçulmanos alegavam o facto de
não serem obrigados a essa obrigação des tanto tempo que a memoria dos homens
nom he em contrairo e que em esta posse estavam sem avendo elles o forall dos ou-
tros mouros de Lixboa nem tinha com elles de fazer. Percepção distinta revelam os
magistrados régios que, uma vez mais, recorrem a alguns mouros de Lisboa jura-
mentados em sua lei, que, contra a dita comuna, confirmam a necessidade de paga-
mento desse disposição fiscal, pois asi a pagauam em terra de mouros ao seu Rey
mouro, o que contribui para decidir a questão a favor dos interesses do monarca91.
Paralelamente regista-se a confluência do novo paradigma com o processo de cen-
tralização régia e com a progressiva imposição da respectiva jurisdição sobre o con-
junto dos muçulmanos nacionais nos domínios espatários. A doação de D. João I dos
direitos das comunas muçulmanas de Setúbal e de Alcácer do Sal ao seu vassalo Pe-
dro Eanes de Lobato, em 138992, configura claramente esta postura que, de resto, se
materializa claramente quando, no período posterior ao édito de expulsão, se men-
ciona apenas o valor das libras dos muçulmanos de Setúbal, ou seja, da jizya, a úni-
ca tributação ainda em poder da Ordem de Santiago, recaindo as demais sob a alça-
da da Coros93. Alcácer do Sal terá desaparecido como comuna, após 1444, data da

89. Ordenações Afonsinas, Livro 2, tit. XXVIII, p. 223.


90. Ordenações Afonsinas, Livro 2, tit. XXVIII, pp. 222-242.
91. I.A.N./T.T., Livro 2 de Reis, ff. 189 v-190.
92. M.ªF. LOPES DE BARROS, «A Ordem de Avis e a minoria muçulmana», Ordens Militares-Guerra Re-
ligião e Poder (Actas do III Encontro sobre Ordens Militares), Vol. II, Lisboa, Edições Colibri-Câma-
ra Municipal de Palmela, p. 168.
93. Biblioteca Nacional, Manuscritos, 90, n.º 9, ff. 1-1v; I.A.N./T.T., Chancelaria de D. Manuel, livro 13,
f. 50 v, publicado: S. VITERBO, «Ocorrências da vida mourisca», Arquivo Histórico Português, 5, 1907, pp.
258-259.

133
MARIA FILOMENA LOPES DE BARROS

última confirmação régia dos seus privilégios, o que corrobora essa progressiva
apreensão de direitos e de jurisdição, o mesmo acontecendo com Avis, sede da Or-
dem do mesmo nome. Em ambas as localidades, continuem a viver muçulmanos, cujo
reduzido número, contudo, dispensa um enquadramento institucional. Este desa-
parecimento das comunas em terras das Ordens, parece objectivar um movimento
de migração para zonas de realengo, contrapondo uma vitalidade das comunas ré-
gias às de senhorio, tendência que a ingerência da Coroa não consegue inverter. De
facto, ao declínio de Alcácer do Sal, sede dos espatários, corresponde a pujança da
comuna de Setúbal, centro urbano que acaba por passar para a jurisdição régia, o mes-
mo acontecendo com Avis, sede da Ordem com o mesmo nome, relativamente a
Moura, ou Évora, desde sempre sob alçada do rei.
As doações dos direitos das comunas muçulmanas, a partir de finais do século
XIV e ao longo do século XV, reflectem a instauração deste novo paradigma. Ideo-
logicamente, a transmutação passa pelo reconhecimento do imanente direito da Co-
roa sobre estas comunidades, que se projecta no próprio acto da doação. A condição
dos usufrutuários apresenta-se, contudo, sob prismas diferentes. Se, numa primei-
ra fase, incide nas camadas inferiores da nobreza local (e, possivelmente, nas supe-
riores do estrato popular), ao longo da centúria quatrocentista passa para as princi-
pais linhagens senhoriais do Reino, transmudando-se os referentes a estes donatários
de cavaleiro ou vassalo, para fidalgo ou membro do conselho do rei. Diferenciação
que se projecta entre um período claramente demarcado por uma ascensão social, pas-
sível de se concretizar com este tipo de usufruto, e uma cristalização das grandes lin-
hagens senhoriais, visível, não tanto na apreensão deste excedente social de per se, mas
da sua integração num património bastante mais significativo. Em qualquer caso, a
Coroa reserva um amplo espaço de manobra, quer na manutenção de parte da re-
ceita fiscal, quer, sobretudo do controlo da estrutura administrativa comunal, que,
seguindo o foro de Lisboa, propugna a nomeação ou confirmação dos respectivos ma-
gistrados.
Os contextos específicos que determinam o mudejarismo ibérico confrontam-se
nas relações de poder estabelecidas com os próprios grupos, modelando a sua evo-
lução e sociologia próprias. Um reino periférico, como o português, apresenta, ne-
cessariamente, singularidades na manipulação dos parâmetros das minorias e na
definição do respectivo modelo dentitário. O processo de subordinação dos muçul-
manos à Coroa, estruturando-se numa fiscalidade directamente importada do direito
islâmico (numa continuidade que, da conquista do território se prolonga ao longo
do século XV) necessariamente reflecte um paradigma identitário distinto do dos de-
mais reinos ibéricos. Por um lado, na manutenção de uma elite de letrados, conotados
com a comuna de Lisboa, cuja actuação directamente se inscreve no serviço ao rei
e numa produção que proporciona uma apreensão estruturada dos excedentes des-
sa minoria, segundo os seus próprios parâmetros identitários. O foro de Lisboa vei-
cula os recursos de centralização do poder régio e vincula os muçulmanos do Rei-
no à Coroa, num discurso que do particular evolui para o geral, da realidade das
comunas do senhorio, para a dos seus mouros forros do Reino. Neste processo, a rei-
terada postura do rei português como legítimo herdeiro dos poderes islâmicos,
advém também de uma mentalidade em que a noção de fronteira se revela central.
Fronteira que, já no século XIII, define um espaço directamente confrontada com

134
MUDÉJARES DE PORTUGAL: 30 AÑOS DE HISTORIOGRAFIA

a poderosa coroa de Castela e não já com o Islão, numa territorialidade que englo-
ba e homogeneíza os muçulmanos enquanto um estrato populacional mais.
A especificidade da região algarvia remete, por outro lado, para uma profunda co-
nexão entre o património fundiário régio e a exploração singular do que constitui a
reserva islâmica de propriedade, ainda no século XV mantida em Silves e Loulé. As-
pecto que, com única excepção, extrapola o foro de Lisboa, na produção legislativa
geral do Reino. E, neste sentido, a expressão de Boswell, aplicada aos mudéjares da
coroa de Aragão, enquanto The Royal Treasure94, parece encontrar um novo senti-
do para o reino português.

94. J. BOSWELL, The Royal Treasure: Muslim Communities under the Crown of Aragon in the Fourte-
enth Century, Yale University Press, 1977.

135
LA EVANGELIZACIÓN DE LOS MORISCOS
EN EL REINO DE GRANADA

María Velázquez de Castro*

La pretendida evangelización de los moriscos en el reino de Granada fue tan sólo


un espejismo. Desde la Corona y la Iglesia se intentaron todo tipo de estrategias en-
caminadas a adoctrinar a la masa morisca en la fe católica y poder asimilarla, una vez
convertida, a la sociedad castellana. Sin embargo, los métodos empleados fueron to-
talmente ineficaces ante una cultura de tan arraigadas costumbres como la islámica,
en la que la religión regía todos los espacios de la vida privada y cotidiana. Los mo-
riscos, gracias a su cohesión social, su solidaridad grupal y a la ocultación de su ver-
dadera fe, consiguieron mantener vivas sus creencias y sobrevivir en un entorno que
les era hostil hasta el mismo momento de su expulsión en 1570.
Una vez conquistado el reino nazarí a los moros, los Reyes Católicos rehabili-
taron el antiguo arzobispado de Granada y nombraron al que sería su primer pas-
tor: fray Hernando de Talavera. La población musulmana que habitaba Granada en
los últimos años del siglo XV era de unos 170.000 habitantes, concentrándose en el
obispado granadino el 54,44% de la población mudéjar del reino1. Esto explica la im-
portancia que esta comunidad tuvo para la Corona, que desde la reconquista se em-
pleó a fondo en una cruzada para adoctrinarles en la que había de ser la única fe en
un nuevo reino unido tanto política como religiosamente.
Hernando de Talavera, cuya primera tarea fue la de salvar las almas de los anti-
guos mudéjares castellanos, llevó a cabo su misión evangelizadora de una manera pa-
cífica y tranquila, ya que el arzobispo era más partidario del adoctrinamiento me-
diante la palabra y la predicación que por la fuerza. Mantuvo para ello una serie de
casas en las que se enseñaba la doctrina cristiana y animaba a los clérigos a estudiar
la lengua árabe para facilitar su misión a la hora de explicarles el Evangelio, pues mu-
chos de ellos, especialmente los que residían en las zonas del interior, no sabían ha-

* Universidad de Alcalá.
1. A. GALÁN SÁNCHEZ y R.G. PEINADO SANTAELLA, Hacienda regia y población en el Reino de Gra-
nada. La geografía morisca a comienzos del siglo XVI, Granada, Universidad de Granada, 1997.

137
MARÍA VELÁZQUEZ DE CASTRO

blar castellano. Erigió también una serie de parroquias en las zonas más densamen-
te pobladas por mudéjares y se reemplazaron las antiguas mezquitas por iglesias.
Sin embargo los Reyes Católicos, viendo que el proceso evangelizador tal y como
se estaba llevando a cabo podría dilatarse en el tiempo, decidieron acelerarlo y con
este fin enviaron a Granada a Francisco Jiménez de Cisneros, cuyo carácter prag-
mático daría un enérgico impulso al proceso.
Cisneros llegó a la ciudad en 1499 para ayudar al arzobispo Talavera, y una vez
allí advirtió claramente que mientras no se lograra una unidad religiosa, sometién-
dose los vencidos a la misma ley de los vencedores, la unidad política lograda con la
conquista corría graves riesgos de quebranto, por lo que estimaba necesario intensi-
ficar la conversión2. La prudencia y moderación con que Talavera llevaba a cabo el
adoctrinamiento exasperó al cardenal Cisneros, que no veía los frutos de las con-
versiones, motivo por el que se sustituyó a partir de ese momento la filosofía de la
tolerancia por el rigor de la ofensiva y la persuasión. Bajo el auspicio de Cisneros y
apoyado por la reina Isabel, tuvieron lugar en 1502 las primeras conversiones for-
zosas de la población islámica de Granada, comenzando así el proceso de asimila-
ción y aculturación colectiva. La rebelión morisca, que había sido sofocada un año
antes en Las Alpujarras, proporcionó la excusa perfecta para comenzar a coartar las
libertades de los moriscos en materia religiosa y abandonar las conductas toleran-
tes que hasta entonces se habían adoptado.
Los problemas a los que se enfrentaron la Corona y la Iglesia a la hora de evan-
gelizar a los moriscos fueron muchos. Por una parte la precariedad de las iglesias, las
cuales apenas lograban mantenerse con sus propias rentas; por otra, la despreocu-
pación de los clérigos, que además de no conocer la lengua árabe carecían de la for-
mación suficiente para llevar a cabo la misión de instruir a los nuevos conversos. Esto,
unido a la insuficiencia de textos o catecismos adecuados para su adoctrinamiento,
favoreció que los nuevos cristianos siguieran practicando sus rituales de forma clan-
destina bajo una fórmula que el Islam reconocía y permitía: la taqiyya3, y que cons-
tituyó una de las condiciones más importantes del criptoislamismo morisco a lo lar-
go del siglo XVI. Mediante este acto el musulmán aislado en un grupo social hostil
podía abstenerse de practicar su religión fingiendo adoptar exteriormente la religión
que se le quería imponer, siendo fiel en el fondo de su corazón a la fe musulmana4.
El siguiente arzobispo de Granada, Antonio de Rojas Manrique, fue nombrado
en 1507. Sobre él recayó la tarea de convocar una comisión de expertos que estudiara
la situación de los moriscos y su grado de asimilación a la sociedad castellana. Las
conclusiones de este estudio se materializaron en una junta que el emperador Car-
los I celebró en la Capilla Real de Granada en 1526, y en ellas se ponía de manifiesto
el rotundo fracaso de las políticas evangelizadoras llevadas a cabo hasta entonces y
se recogían las quejas de la comunidad morisca ante las vejaciones y abusos que su-

2. A. GALLEGO Y BURÍN y A. GÁMIR SANDOVAL, Los moriscos del reino de Granada según el Sínodo
de Guadix de 1554, Granada, Universidad de Granada, 1996.
3. La doctrina de la taqiyya o “precaución” fue elaborada en los primeros tiempos del Islam, desde que
los musulmanes tuvieron la necesidad de disimular su fe para asegurar la subsistencia del grupo.
4. L. CARDAILLAC, Moriscos y cristianos. Un enfrentamiento polémico, 1492-1640, Madrid, FCE,
1979.

138
LA EVANGELIZACIÓN DE LOS MORISCOS EN EL REINO DE GRANADA

Fig. 1. «Bautismo de moriscos», según F. Heylan (lámina para la Historia Eclesiás-


tica de Granada, de J. Antolínez).

frían por parte de los oficiales de la administración real, que les asfixiaban con de-
sorbitados impuestos.
Para solucionar todos estos problemas se promulgaron una serie de medidas des-
tinadas a definir la política frente al morisco. En primer lugar se exigía la reforma del
clero, haciendo especial hincapié en la importancia de la predicación; se instaba a cam-
biar el trato que los oficiales civiles dispensaban a los moriscos y se introdujeron res-
tricciones en los usos y costumbres de los cristianos nuevos, a la vez que se im-
plantaba el Tribunal del Santo Oficio en Granada para vigilar el cumplimiento de la
ortodoxia cristiana.
Los arzobispos que siguieron a Talavera y Manrique, y que precedieron a Pedro
Guerrero al frente de la diócesis granadina, fray Pedro Ramiro de Alba (1526-1528),
Gaspar de Ávalos (1528-1542) y Fernando Niño (1542-1546), llevaron a cabo polí-
ticas represivas hacia los moriscos, a la vez que la Inquisición, con la excusa de re-
forzar los objetivos de las campañas evangelizadoras, iba aumentando su presencia
en la región.
Los arzobispos edificaron, por encargo de la Corona, colegios para instruir a los
hijos de los moriscos en la fe católica, pero no se consiguió que las medidas refor-
madoras calaran en la población. Gaspar de Ávalos dejó plasmado en una carta el de-
sencanto y poco éxito de la política evangelizadora que había intentado aplicar:

139
MARÍA VELÁZQUEZ DE CASTRO

[...] con gran dificultad se asienta [en los moriscos] doctrina que sea provechosa y sólida,
como ha demostrado en muchos dellos la experiencia y en ninguno de todos ellos lo contrario
hasta agora5.
La entrada en la diócesis del arzobispo Guerrero en 1546 supuso un impulso de-
finitivo a la organización eclesiástica granadina y la revitalización de las prácticas
evangelizadoras hacia la minoría conversa, estancadas durante el arzobispado de Fer-
nando Niño.
En la época de Felipe II había en Granada empadronadas para la farda, pecha ge-
neral que pagaban los moriscos, unas 85.000 casas, y hacia 1568, fecha de la segun-
da revuelta alpujarreña, la población morisca se estimaba ya entre 425.000 y 500.000
personas6. La mayoría habitaba en pueblos agrícolas y no sabía castellano, espe-
cialmente las mujeres y niños, por lo que se hacía necesario no sólo enseñarles la doc-
trina sino también el idioma.
Durante la década de los cincuenta del siglo XVI, fue aumentando la presencia
de la Inquisición en Granada. La actividad inquisitorial hacia los delitos de fe au-
mentaba en consonancia con el temor colectivo que se vivía en Castilla por una po-
sible invasión de los turcos en la Península. Ante el miedo que provocaba el contacto
de los moriscos con los turcos de Argel a través del corsarismo y el peligro de un le-
vantamiento general, entró en escena con más fuerza que nunca el Tribunal del San-
to Oficio.
Entre los procesados predominaban las mujeres, dado su papel de transmisoras
y conservadoras de la herencia cultural dentro de la familia. La procedencia de es-
tos encausados era fundamentalmente rural, lo cual no es de extrañar, ya que tres
cuartas partes de la población morisca vivía en los ámbitos rurales granadinos. La ma-
yoría de ellos eran además de condición modesta, pequeños agricultores, artesanos,
esclavos y berberiscos7.
Al tiempo que se intensificaban los castigos y la persecución de los “enemigos de
la fe”, desde el arzobispado se auspiciaba una política de evangelización encamina-
da a la asimilación y adoctrinamiento de los nuevos cristianos y dirigida desde el Es-
tado, cuyo deber era velar por la unidad religiosa del país, fundamento de la socie-
dad española de este siglo.
Pedro Guerrero –cuyo arzobispado, que duró treinta años, fue el más largo del si-
glo– nunca comprendió ni aceptó a los moriscos, y llegó a pedir en varias ocasiones
al rey su expulsión, la cual no se produjo hasta 1570, una vez sofocada la segunda re-
vuelta alpujarreña. Sin embargo, fue bajo su mandato cuando más esfuerzos se hicie-
ron por adoctrinar a la masa morisca y cuando más medios se dispusieron para tal fin.
Según expone Francisco Bermúdez de Pedraza en su Historia Eclesiástica de Gra-
nada (1638), la evangelización se basó en tres puntos fundamentales: la creación de
escuelas destinadas a enseñar la doctrina a los niños moriscos, la predicación en len-
gua árabe y la utilización de los moriscos evangelizados para convertir a los suyos.

5. M. BARRIOS AGUILERA, Granada morisca, la convivencia negada: historia y textos, Albolote (Gra-
nada), Comares, 2002.
6. J. CARO BAROJA, Los moriscos del Reino de Granada: ensayo de historia social, Madrid, Istmo, 1976.
7. M. BARRIOS AGUILERA, op. cit.

140
LA EVANGELIZACIÓN DE LOS MORISCOS EN EL REINO DE GRANADA

Felipe II, preocupado por la situación de los conversos, escribió a Guerrero ins-
tándole a fundar colegios y seminarios para formar a los cristianos nuevos, recal-
cándole también la importancia de proveer de clérigos a todas las iglesias y parro-
quias cuyas sedes estuvieran vacantes. Siguiendo las directrices reales, el arzobispo
fundó una serie de colegios encargados de la instrucción de la doctrina cristiana, di-
rigida a los morisquillos o hijos de los moriscos, ya que las autoridades le persua-
dieron de que nada podría obtenerse de los adultos que habían sido educados en la
fe del Islam. Valía más centrar todos los esfuerzos en los hijos, siempre que fuesen
separados del ámbito familiar8, pues la familia suponía el principal agente de trans-
misión de la cultura musulmana y se hacía necesario apartarla del proceso educati-
vo de los pequeños para que no injiriera en su formación.
Se levantaron escuelas donde se enseñaba no sólo la doctrina cristiana, sino tam-
bién lengua castellana y rudimentos de artes. A ellas acudían gran cantidad de alum-
nos, en su mayoría morisquillos, y como complemento se establecieron seminarios,
donde se formaba a los jóvenes moriscos conversos. La enseñanza de la doctrina se
realizaba en el ámbito parroquial y eran los clérigos los que debían encargarse de la
instrucción. Para ello, un instrumento de vital importancia del que se valieron los
eclesiásticos fue el catecismo. Se trataba de libros que contenían y explicaban la doc-
trina de la religión cristiana, redactados generalmente en forma de diálogo. La en-
señanza era además diferente según se tratara de niños, adultos o mujeres.
Los niños tenían que ir a su parroquia diariamente a oír misa, desde que sabían
hablar hasta los catorce años, y se les tenía que enseñar la doctrina haciéndoles pre-
guntas sobre ella acordes a la edad que tuvieran, para poder bien entender lo que se
les enseña. La persona encargada de su adoctrinamiento tenía que ser docta y pro-
vista de medios para atraer a los nuevos conversos a la religión católica. Para ello el
arzobispo recomendaba que se les hiciera oír misa y rezar el rosario diariamente y
que se confesaran cada mes.
Por otra parte, a los adultos había que recitarles la doctrina los domingos en la
Iglesia en alta voz, de manera que pueda ser oída por todos, y todos respondan lo mis-
mo que se les dijere. Sin embargo, según Guerrero, para instruir a las mujeres hay mas
dificultad, por lo que su enseñanza catequística tenía que ser diferente a la de los de-
más.
La Iglesia estableció fundaciones educativas para formar un clero recto y sabio
en la diócesis y, siguiendo con su labor pastoral y evangelizadora, recurrió al en-
cuadramiento de los nuevos cristianos en cofradías o hermandades. El arzobispo
Guerrero, en sus sugerencias pastorales, advirtió la conveniencia de crear cofradías
orientadas a los padres de los morisquillos y donde todos los cofrades sean exhorta-
dos a oír misa y vísperas de todas las fiestas en sus parroquias [...] incitándoles a que
en sus casas todos sepan la doctrina cristiana9. Los cofrades tenían que asistir a misa
en sus parroquias y después el párroco conversaba con cada uno de ellos para cer-

8. B. VINCENT, Minorías y marginados en la España del siglo XVI, Granada, Diputación Provincial de
Granada, 1987.
9. Orden que se tiene en el catecismo y doctrina de los moriscos de este arzobispado de Granada que yo
di al patriarca de Antioquia (sin fecha y atribuido a Pedro Guerrero).

141
MARÍA VELÁZQUEZ DE CASTRO

Fig. 2. Traje de casa de las mujeres y niños de los moris-


cos de Granada, según Weiditz.

ciorarse de que habían entendido correctamente la doctrina. Así podrían, a su vez,


enseñar el catecismo a los suyos en sus casas.
Pero a pesar de todos los esfuerzos, los moriscos de Granada sólo practicaban lo
indispensable para que no se recelase demasiado de su cristianismo. Estaban además
sometidos a medidas de presión por parte de los clérigos, que llevaban un riguroso
control de los asistentes al culto y a las fiestas de guardar, multando en público a
aquellos que no cumplían10. Para llevar el control de la población neoconversa se rea-

10. A. GARRIDO ARANDA, Moriscos e Indios. Precedentes hispánicos de la evangelización en México, Mé-
xico, Universidad Nacional Autónoma de México, 1980.

142
LA EVANGELIZACIÓN DE LOS MORISCOS EN EL REINO DE GRANADA

lizaron padrones, con la práctica finalidad de imponerles multas si no cumplían con


las obligaciones religiosas estipuladas.
Una de las armas más poderosas de que se valió el arzobispo Guerrero para ha-
cer efectiva la evangelización de los moriscos en Granada fue la Compañía de Jesús.
El primer colegio que se construyó en Andalucía fue el de Córdoba, en 1552. Y dos
años más tarde, en 1554, Pedro Guerrero permitió el establecimiento de los jesuitas
en su diócesis.
Los padres de la Compañía fundaron colegios destinados al adoctrinamiento de
los morisquillos, pues los [moriscos] ya viejos y endurecidos en su dureza i diabóli-
ca superticion, se quedan de piedra sin rendirse a la cultura evangélica pero espera-
mos que en la tierna edad de los inocentes hará asiento la doctrina y echará hondas
raíces el beneficio11.
Las acciones de los jesuitas fueron por lo general bien recibidas en las ciudades
y pueblos en los que se asentaron, ya que centraban sus esfuerzos en los grupos más
desfavorecidos y marginados de la sociedad y en las minorías religiosas. Su labor pas-
toral consistía en predicar y convencer por medio de la palabra, mediante los ser-
mones que iban recitando en cualquier plaza o calle y con los que pretendían la sal-
vación de las almas del mayor número posible de musulmanes. La predicación la
hicieron en árabe, para poder ser comprendidos por la población, e intentaron ins-
truir a los que podrían convertirse en miembros activos de la evangelización dentro
de la propia comunidad, favoreciendo así la formación de un clero indígena.
Sin embargo, la entrada en vigor de las disposiciones restrictivas hacia la comu-
nidad morisca que la Junta de Madrid aprobó en 1566 y la posterior revuelta dejó
en suspenso los intentos de evangelización pacífica que estaban llevando a cabo los
jesuitas en Granada. El balance que de esta experiencia evangelizadora hace el padre
Bustamante, cuya labor pastoral transcurrió en la Casa de la Doctrina del Albaicín,
se resume en una contundente afirmación: [los moriscos] se estan agora tan moros
como lo eran sus revisabuelos, antes que se tomare Granada12.
El resultado de las prácticas evangelizadoras es evidente. Los colegios y seminarios
que el arzobispo Guerrero auspició fracasaron en su intento de formar un clero in-
dígena que se encargarse de la evangelización de su pueblo y, aunque hubo algunas
excepciones notables, el balance fue bastante desesperanzador para la Iglesia, que veía
también cómo los morisquillos, aunque aprendiesen la doctrina cristiana en las es-
cuelas, después, una vez volvían con sus familias, olvidaban todo lo que se les había
enseñado. Además, las propias familias les reclamaban desde muy temprana edad para
trabajar, por lo que el número de moriscos en los centros de enseñanza fue redu-
ciéndose drásticamente, hasta que en vísperas de la revuelta de 1568 eran práctica-
mente los hijos de los cristianos viejos los únicos que llenaban las aulas.
Tampoco las cofradías o hermandades tuvieron demasiado éxito ni fueron un ins-
trumento efectivo de cristianización, pues participaron muy pocos moriscos, y los

11. Provincial Bustamante. Citado en Historia de la Provincia de Andalucía de la Compañía de Jesús. Si-
glo XVIII, Universidad de Granada, vol. II, cap. 41.
12. A. MARÍN OCETE, El arzobispo don Pedro Guerrero y la política conciliar española en el siglo XVI,
Madrid, CSIC, 1970.

143
MARÍA VELÁZQUEZ DE CASTRO

que lo hicieron eran de los más asimilados. Además, las reuniones que en ellas se ce-
lebraron sirvieron como excusa para conspirar y organizar la posterior rebelión.
Las condiciones precarias de la mayoría de las parroquias, incapaces de afrontar
por sí solas la construcción de iglesias, la despreocupación y falta de interés de al-
gunos prelados y la oposición de los señores que no querían gastar parte de sus ren-
tas en algo que no les reportaba ningún beneficio, son las razones que explican que
en el año de la revuelta la mayoría de las villas y señoríos del reino de Granada ca-
recieran de templos apropiados para el culto, por lo que el nivel de cristianización
de los moriscos que residían en tierras de señorío era muy bajo. También los nobles,
que mantuvieron en muchos casos cierta tolerancia hacia las prácticas musulmanas
de sus vasallos, dificultaron el papel de los clérigos en su labor evangelizadora de es-
tas tierras.
La frustración que la Corona sintió respecto a la política de conversión de los nue-
vos cristianos, y la pasividad con que éstos recibían las enseñanzas religiosas, se tra-
dujo en un endurecimiento de sus prácticas hacia ellos y una mayor represión in-
quisitorial, por lo que el problema se fue agravando y los vínculos entre ambas
comunidades, ya claramente distanciadas, acabaron por cortarse definitivamente.
Prueba de ello fue la publicación de la Pragmática del 1 de enero de 1567, que re-
cogía los acuerdos de la Junta que se había celebrado en Madrid un año antes y en
la que se optaba por la represión ante el fracaso en la evangelización de los conver-
sos. Estas ordenanzas estaban encaminadas a “hacer desaparecer a los moriscos como
grupo cultural”13, y aunque las prohibiciones que ahora se estipulaban ya habían sido
aprobadas en anteriores ocasiones, los moriscos las habían podido ir retrasando me-
diante pagos de elevadas sumas de dinero a la Corona. A partir de este momento la
lengua árabe, los vestidos, los baños públicos, así como sus ritos, ceremonias y bai-
les quedaron prohibidos por ley, lo que provocó un enorme malestar en la comunidad
morisca, que estalló con el llamamiento a la rebelión en Las Alpujarras el 24 de di-
ciembre de 1568.
La raíz esencial del conflicto alpujarreño, además de la presión económica a la que
estaba siendo sometida la población morisca, fue la enorme represión cultural y la
desesperación colectiva ante la pérdida de la identidad individual y social de su pue-
blo, el cual reclamaba su derecho a mantener su propia personalidad, lo que choca-
ba frontalmente con la sociedad castellana de la época, impregnada por el contra-
rreformismo y que les veía como una minoría que nunca podría ser asimilada.
Los moriscos, que una vez sofocada la revuelta fueron expulsados del reino gra-
nadino en 1570, conservaron hasta el mismo momento de su expulsión el dialecto ára-
be, los preceptos coránicos y sus costumbres, continuando aferrados a sus creencias
y constituyendo un bloque prácticamente intacto. Esto fue posible gracias a su co-
hesión, a su solidaridad grupal o asabiyya y a los alfaquíes que mantuvieron viva la
fe en el pueblo, que practicaba sus ritos dentro del ámbito familiar y en la clandes-
tinidad de sus casas a pesar de la asimilación, de las campañas de evangelización y
de la represión que sufrieron por parte de la Corona y la Inquisición.

13. M. GARCÍA ARENAL, Los moriscos, Madrid, Editora Nacional (Biblioteca de Visionarios, Heterodoxos
y Marginados), 1975.

144
VISIÓN GENERAL SOBRE LAS POLÉMICAS
MUSULMANAS ANTICRISTIANAS

Ahmed Ait Belaid*

La polémica religiosa es una forma de refutar y criticar la religión del otro y elo-
giar la propia. Se conoció desde siempre, aunque no tenemos datos exactos, ni prue-
bas concretas de sus orígenes. En esta comunicación nos limitamos a la polémica re-
ligiosa anticristiana en el ámbito musulmán e intentamos dar una visión general sobre
las obras de esta materia tan importante y sus contenidos, pero de forma muy re-
sumida.
El anuncio de una nueva religión, llamada el Islam en Arabia por Muham-
mad/Mahoma1 (paz y oración sean sobre él), provocó una ola de enfrentamientos y
críticas entre los incrédulos de La Meca, los cristianos y los judíos y los seguidores
de esta religión. Estos acontecimientos fueron el origen de la polémica religiosa en-
tre el Islam y las otras dos religiones monoteístas, sobre todo después de la conquista
del Islam de nuevos territorios. En ese momento se empiezan a componer obras en
las que se critica la religión del otro y se elogia la propia, o en las que se discute so-
bre temas religiosos en presencia del público, etcétera. Se sabe que las polémicas re-
ligiosas, en general, tienen dos objetivos principales: Se conquista al otro o se defiende
del otro. El objetivo de conquistar al otro es hacerlo semejante a nosotros; y el ob-
jetivo de defenderse del otro es anularlo y rechazarlo.
La mayoría de los investigadores afirman que la polémica religiosa entre el Islam
y las demás religiones tuvo comienzo con las dos cartas intercambiadas entre Ab-
dallah Ben Ismael al-Hashimi y Abdallah Ben Ishaq al-Kindi (siglo X), pero deci-
mos que su comienzo ha sido en la época del profeta Mahoma, sobre todo entre él
mismo y los judíos y cristianos.

* Universidad Complutense de Madrid.


1. De aquí adelante voy a usar el término Mahoma, que es el conocido entre los hispánicos.

145
AHMED AIT BELAID

Al-Qurtubi Ahmad Ibn Omar (m. 65/1258)2 nos da una visión sobre estas po-
lémicas, inspirándose en Ash-Shifa de al-Qadi Iyyad (544/1149)3. Dice así:
La gente del libro se reunía con él y le acosaba con preguntas. Luego, el Corán descendía
sobre él con sus respuestas y ninguno de ellos las desaprobaba sino que reconocían su acierto
y no rechazaban nada de lo que oían allí. Esto a pesar de su gran enemistad contra el profe-
ta y sus ganas de desmentirle. Sin embargo, él se servía de las pruebas que hay en los libros.
Les atacaba con lo que está contenido en ellos y les mostraba muchas cosas que ocultaban de
las leyes religiosas de sus libros y de las recomendaciones de sus enviados.
A pesar de ello, ellos anhelaban ponerle en dificultades. Con sus preguntas, buscaban in-
tencionadamente humillarle, como su pregunta acerca del espíritu4, del bicorne5, de la gente de
la caverna6, de Jesús, hijo de María7, de la lapidación8, de lo que Israel se había vedado a sí mis-
mo9, de lo que se les había sido prohibido acerca del ganado y de los placeres que le estaban
permitidos, pero que se le prohibieron a causa de su injusticia10 y de otras cosas a las que el Co-
rán había contestado y que ellos no negaron cuando se las han mencionado tal como eran11.
Hay algunas referencias de las polémicas religiosas entre el Islam y las demás re-
ligiones que datan de los dos primeros siglos de la llegada del Islam, y que fueron
encontradas en textos chiíes12. Hay que estudiarlas, lo que seguramente nos permi-
tirá encontrar nuevos datos que puedan enriquecer la bibliografía de esta materia, que
sigue hasta hoy día sin tener el mérito necesario por parte de los investigadores.
Las obras de polémica religiosa son muy divertidas y maravillosas, contienen muchas
referencias de asuntos diferentes que pueden ayudarnos a saber más datos históricos13.

2. Ver su biografía en A. AIT BELAID, «La profecía de Mahoma en la Biblia Sagrada», Anaquel, 16, 2005,
pp. 71-72.
3. Ver AL-QADI IYYAD, Ash-Shifa bi ta`rif huquq al-mustafà, ed. Ali Muhammad, Beirut, Dar al-Kitab
al-`Arabi, 1977, pp. 379-381.
4. Ver Corán, 17: 58.
5. Ver Corán, 18: 82.
6. Ver Corán, 18: 9-26.
7. Ver Corán, 3: 57-58; 4: 170-171; 5: 19 y 74.
8. Ver AL-BUJARI, Kitab al-Manaqib, n.º 3.363; Kitab al-Hudud, n.º 6.320.
9. Ver Corán, 3: 93.
10. Ver Corán, 6: 146.
11. Ver AL-QURTUBI AHMAD IBN OMAR, Al-i`lam bima fi din an-nasarà min al-fasad wa al-awham wa
izhar mahasin din al-islam wa itbat nubuwwat nabiyyina muhammad alayhi as-salat wa as-salam, edi-
ción y estudio: Ahmad Higazi as-Saqqa, El Cairo, Dar at-turat al-`arabi, 1980, p. 343-345; AL-QURTU-
BI, «Itbat nubuwwat Muhammad» (es la tercera parte de la obra mencionada anteriormente), edición y
estudio: Ahmed Ait Belaid, Beirut, Dar al-kutub al-`ilmiyyah, 2004, pp. 130-133. Ver también mi tesis
doctoral, titulada La profecía de Mahoma en Al-i`lam de al-Qurtubi, preparada bajo la dirección del Prof.
Joseph Puig Montada en el Departamento de Estudios Árabes e Islámicos de la UCM, defendida el 5 de
marzo de 2002, y que obtuvo la calificación de sobresaliente cum laude por unanimidad, pp. 140-141.
12. Ver M. RIDA WASIF, «Al-Hiwar al-islami al-masihi fi al-qarnayn al-awwal wa at-tani al-hiyriyyayn.
Dirasa fi nusus shi`iyyah», Al-Minhay, 30, 1424/2003, pp. 35-58.
13. Entre las obras de polémica que contienen datos históricos muy interesantes, citamos por ejemplo,
M. de EPALZA, Fray Anselm Turmeda (`Abdallah at-Taryuman) y su polémica islamo-cristiana. Edición,
traducción y estudio de la Tuhfa, 2.ª ed., Madrid, Hiperión, 1994; y A. IBN QASIM AL-HAYARI, Nasir ad-
din alà al-qawm al-kafirin (The supporter of religion against the infidel), edición, traducción y estudio
de P.S. Van Koningsveld, Qasim al-Samarrai y G.A. Wiegers, Madrid, CSIC y AECI, 1997.

146
VISIÓN GENERAL SOBRE LAS POLÉMICAS MUSULMANAS ANTICRISTIANAS

TEMAS DE LAS OBRAS DE POLÉMICA ANTICRISTIANA

Las obras de polémica anticristiana tratan muchos temas distintos, algunos están
bien detallados y otros no. Entre los que encontramos a menudo, citamos los si-
guientes: Los tres hipóstasis: Dios, Hijo de Dios y Espíritu Santo14, la naturaleza de
Jesús15, la crucifixión de Jesús16, la falsificación de la Biblia Sagrada17, la inimitabili-
dad del Corán18, la confirmación de la profecía de Mahoma19.
Estos son los temas principales, cada autor los desarrolla como quiere, añadien-
do otros o quitando algunos. A veces, podemos encontrar alguna obra que desarrolla
un solo tema, como Ash-Shifa de al-Qadi Iyyad (544/1149), que trata la confirma-
ción de la profecía de Mahoma, y Ar-rad al-yamil li ilahiyyat `isà bi sarih al-inyil20
de Algacel (505/1111). En esta obra, Algacel niega la divinidad de Jesús y dice que
es un hombre como todos los hombres, defendiendo su opinión con citas tomadas
de los Evangelios.

OBRAS DE POLÉMICA ANTICRISTIANA

No podemos citar todas las obras compuestas que nos han llegado, y tampoco
podemos desarrollar todos los temas tratados en cada una de las que vamos a citar,
por eso aludimos a algunas y exponemos dos obras que siguen siendo desconocidas
para muchos investigadores.
Entre las obras citamos las siguientes: Ad-din wa ad-dawlah de Ali Ibn Rabban
at-Tabari21, Al-fisal fi-l-milal wa al-ahwa` wa an-nihal de Ibn Hazm22, Ar-rad alà
at-talatat firaq mina an-nasarà de Abi Ìsà al-Warraq23, Maqami` as-sulban de Ah-
mad Ben Abdassamad al-Jazrayi24, An-nasihah al-imaniyyah fi fadihat al-millah an-
nasraniyyah de Nasr Ben Yahyà al-Mutatabbib25, Ar-rad al-yamil li ilahiyyat `isà bi

14. En árabe: Los autores musulmanes dicen que Dios es Uno


y único.
15. En árabe: Según los musulmanes, Jesús es humano y no divino.
16. En árabe: Jesús no ha sido crucificado, esta afirmación la encontramos también en el
Corán, 4: 156.
17. En árabe:
18. En árabe: _____ ______.
19. En árabe: _____ _____. Todos los apologistas musulmanes tratan este punto en sus obras.. Ver: AIT
BELAID: «La profecía...», p. 73, y sobre todo la nota 94 de la misma página.
20. Abu Hamid Muhammad AL-GAZZALI, Ar-rad al-yamil li ilahiyyat `isà bi sarih al-inyil, ed. Muham-
mad Abdallah Charqawi, El Cairo, Dar al-Hidayah, 1986.
21. _____ _______ ____ __ ____ ___. Ed: Adil Nuwayhid, Beirut, Dar al-Afaq al-Yadidah, 1977.
22. _____ __ _____ ________ ______ ____ . Hay muchas ediciones de este texto, entre ellas la edición de
Muhammad Ibrahim Nasr y Abd ar-Rahman Amirah, Yeddah, Dar Ukad, 1982. Esta obra fue traduci-
da también al español por Asín Palacios.
23. ____ ___ _______ ___ __ _______ ____ ____ ______.
24. _____ _______ _____ __ ___ _____ _____ Ed. Abdelmajid Cahrfi, Túnez, STAG, 1975.
25. _______ _________ __ _____ _____ _________ ____ __ ____ _______ Ed Muhammad Abdallah Char-
qawi, El Cairo, Dar as-Sahwah, 1986.

147
AHMED AIT BELAID

sarih al-inyil de Abi Hamid al-Gazzali26, Tuhfat al-arib fi ar-rad alà ahl as-salib de
Abdallah at-Taryuman27, Mujtasar Tuhfat al-arib fi ar-rad alà ahl as-salib de
Muhammad az-Zuhayri28, Hidayat al-hayarà fi ar-rad alà al-yahud wa an-nasarà
de Ibn al-Qayyim al-Yawziyyah29, Al-aywibah al-fajirah an al-as`ilah al-fayirah de
Ahmad Ben Idris al-Qarafi30, Al-yawab as-sahih li man baddala din al-masih de Ibn
Taymiyyah31, Ar-rad alà an-nasarà de Fajr ad-Din ar-Razi32, Ar-rad alà an-nasarà
de Abi al-Baqa` Salih al-Ya`fari33, Ar-rad alà an-nasarà wa al-yahud de al-Busiri34,
Ar-rad alà an-nasrà de al-Yahiz35, Nasir ad-din alà al-qawm al-kafirin de Ahmad
Ibn Qasim al-Hayari36, Risalat as-sa`il wa al-muyib wa rawd nuzhat al-arib de
Muhammad al-Ansari37.

EXPOSICIÓN DE DOS OBRAS DE POLÉMICA ANTICRISTIANA

Mujtasar Tuhfat al-arib fi ar-rad alà ahl as-salib, de Muhammad az-Zuhayri

Es un resumen de la magnífica obra de Abdallah at-Taryuman (fray Anselm Tur-


meda), su autor es Muhammad az-Zuhayri, que sigue siendo desconocido para no-
sotros. La descubrí casualmente en la biblioteca de al-masyid an-nabawi (la mezquita
del profeta) en Medina, Arabia Saudí.

26. ____ ______ ______ ____ _____ _______ ____ ____ ______. Ed. Muhammad Abdallah Charqawi, El
Cairo, Dar al-Hidayah, 1986.
27. ____ ______ __ ____ ___ ___ ______ ____ ____ ___. Ed. Taher al-Ma`muri, Túnez, Dar Bouslamah,
[1983]. Este texto fue traducido al español y se publicó con un estudio muy interesante por M. de Epal-
za. Ver su obra antes mencionada; también hay traducción al catalán por Míkel de Epalza e Ignasi Rie-
ra Gassiot, con una introducción de M. de Epalza, 2005.
28. _ ____ ____ ______ __ ____ ___ ___ ______ _____ _______. Este texto sigue siendo desconocido
para los investigadores, si bien ya está listo para una publicación dentro de poco, con edición y estudio míos.
29. _____ _______ __ ____ ___ ______ ________ ____ _____ ____ Hay muchas ediciones, entre ellas ci-
to la de Sayf ad-Din al-Katib, Beirut, Dar Maktabat al-Hayat, [1980].
30. _______ _______ __ _______ _______ _____ __ _______. Sin nombre del editor, Beirut, Dar al-Ktub
al-`ilmiyyah, 1976.
31. ______ ______ ___ ___ ___ ______ ____ __ . Sin nombre del editor, Riyad, Matabi`al-magd at-ti-
yariyyah, sin año.
32. ____ ___ _______ ____ _____ ______.Ed. Abdelmayid an-Nayar, Beirut, Dar al-Gharb al-Islami, 1986.
33. ____ ___ _______ ____ ______ ____ __ ______ _______. Ed. Muhammad Muhammad Hasanin, El
Cairo, Dar at-Tawfiq an-namudayiyyah, 1988.
34. ____ ___ _______ _______ ________. Ed. Ahmad Higazi as-Saqqa, al-Madinah al-Munawwarah,
Maktabat al-Madinah al-Munawwarah, 1979.
35. ____ ___ _______ ______.
36. ____ _____ ___ _____ ________ _____ __ ____ _ _____. Ed. Muhammad Razzuq, Casablanca, pu-
blications de la Faculté des Lettres et des Sciences Humaines, 1987. Este texto se tradujo al inglés y se pu-
blicó con una nueva edición. La vocalización del texto árabe está llena de errores. Ed., estudio y traducción:
P.S. Van Koningsveld, Q. Al-Samarrai and G.A. Wiegers, Madrid, CSIC y AECI, 1997.
37. _____ ______ _______ ____ ____ ______.

148
VISIÓN GENERAL SOBRE LAS POLÉMICAS MUSULMANAS ANTICRISTIANAS

Hasta hoy día, no he encontrado ninguna mención a esta obra. Hace unos me-
ses, tuve contacto con el gran profesor Míkel de Epalza, el mejor editor de la Tuh-
fa38, a quien informé del “descubrimiento”, y pedí la autorización para traducir su
estudio de la Tuhfa al árabe y publicarlo con la edición de este resumen y la reedi-
ción de la Tuhfa completa, basándome en dos copias encontradas en la Universidad
Islámica de Medina39. La respuesta ha sido favorable40.
El manuscrito es de 10 folios (18 páginas), hay entre 26 y 29 líneas en cada pá-
gina, la letra es oriental. Creo que es una muswaddah (borrador), sobre todo por-
que encontramos unas frases tachadas en el texto (pp. 1, 9, 12), que está revisado, ya
que contiene algunas correcciones en el margen.
Después de la basmalah, la hamdalah y la tasliyah, empieza el texto así: Fayaqul
al-`abd al-faqir Muhammad az-Zuhayri al-Hanafi: qad ittala`tu alà kitab tuhfat al-
arib fi ar-rad alà ahl as-salib, lil faqir ilà mawlaho ar-Rahman Abdallah at-Taryu-
man, fajtasartu minho hadihi al-`uyalah, fa aqul wa billah al-musta`an [...].
Este resumen no contiene las dos primeras partes de la Tuhfa41, empieza desde su
tercera parte, y no encontramos el índice de los temas tratados como ha hecho Tur-
meda42. Dicho resumen termina así: wa law dakarna yami`a ma fi (kutubi) al-anbiya`i
al-mutaqaddimin min mu`yizatihi latal àlayna al-kitab, wa hasbona allaho wa ni`ma
al-wakil, wa la hawla wa laqowwata illa billahi al-`aliyyi al-`adim.

Risalat as-sa`il wa al-muyib wa rawd nuzhat al-arib,


de Muhammad al-Ansari (siglos IX-XV)

Fue el profesor Dr. Bencherifa quien me informó en su intervención de la exis-


tencia de esta obra43, que sigue inédita hasta hoy día. El texto que nos interesa es el
capítulo 35 de esta obra literaria44, que se titula: «Muyadalat an-nasarà»45. Las in-

38. La Tuhfa se editó muchas veces en árabe, la verdad es que la edición del gran arabista español es la
mejor.
39. Son fotocopias de dos manuscritos originales que están en Túnez.
40. Aprovecho esta ocasión para dar las gracias al profesor M. de Epalza y espero que pueda terminar
este trabajo lo antes posible.
41. “La primera parte sobre el principio de mi conversión al-Islam y mi paso de la religión cristiana a la
doctrina musulmana, y sobre los beneficios con que me colmó nuestro soberano el Príncipe de los Cre-
yentes Abu al-`Abbas Ahmad, y lo que me aconteció durante su reinado. La segunda parte: Lo que me
sucedió en tiempos de nuestro soberano Abu Faris `Abd al-`Aziz. Mencionaremos algunos aspectos de
sus hechos admirables y las obras públicas hermosísimas que ha llevado ya a cabo cuando estoy com-
poniendo este libro, es decir en el año 823 de la hégira de Muhammad”. Uso la traducción hecha por M.
de Epalza, ver su obra antes citada, pp. 198-200.
42. Ver M. de EPALZA, Fray Anselm..., pp. 272-277.
43. Bencherifa ha sido uno de los miembros del tribunal de mi tesis doctoral, los demás fueron los pro-
fesores María Jesús Viguera Molins (presidenta), Emilio Tornero Poveda (secretario), Rafael Ramón Gue-
rrero y Juan Pedro Monferrer Sala (vocales). La tesis obtuvo la calificación de sobresaliente cum laude.
44. Nos basamos en el manuscrito n.º 178 de la biblioteca general de Rabat, que es un misceláneo. La Ri-
sala está entre las páginas 227 y 321. El capítulo 35, que es el que nos interesa, se ubica entre la página
301 y la 321.
45. El capítulo ya está editado y estudiado por mí, será publicado en una de las revistas científicas de Ma-
drid en uno de sus próximos números.

149
AHMED AIT BELAID

formaciones que tenemos acerca de la obra son de investigadores árabes y en árabe,


y en total son cuatro. La primera es de Ihsan `Abbas; data agosto 196646, pero se basa
sobre un manuscrito incompleto, que contiene solamente los primeros veintiséis ca-
pítulos47. La segunda información es de Mohamed al-Mannuni48, que nos dio una vi-
sión panorámica del capítulo. La tercera es de al-`Asri49, que nos demostró las reglas
de la polémica y sus normas a través de los textos de al-Qaysi y al-Ansari. La últi-
ma, que es corta, es de Bencherifa50, que nos proporcionó una perspectiva históri-
ca de la convivencia entre las dos orillas del Mediterráneo.
A pesar de estas informaciones que tenemos de la obra, se ignora quién es el ver-
dadero autor de la misma. Sabemos que se llama Muhamad y que pertenece a los an-
saríes51, que se le obligó a dejar su país y dirigirse a la tierra de los cristianos, don-
de permaneció mucho tiempo52, y que luego se escapó, y volvió a la tierra de los
musulmanes53.
El capítulo 35, sobre la polémica contra los cristianos, ha sido el motivo que ani-
mó al autor para componer su Risala54, donde el autor describe “algunas sesiones para
no alargar”55, ocurridas con obispos en distintas ciudades, y el objetivo de citarlas
es “informar a los musulmanes, quienes nunca se pusieron a prueba de sus falseda-
des y sus preguntas”56.
La primera sesión fue en la casa de al-Ansari57, entre él y uno de los grandes obis-
pos y un grupo de catequistas58, la segunda en Salamanca con un obispo59, la terce-
ra en Madrid con un grupo de obispos y sacristanes60, la cuarta en Valladolid con un
obispo61, la quinta en Shiqwina62 con el ujier del rey63, la sexta en Madrid con dos

46. Ver I. `ABBAS, «Risalatani alà girar al-gofran wa at-tawabi` wa az-zawabi`», Mayallat al-lisan al-`ara-
bi, 4, Rabat, agosto 1966, pp. 125-127.
47. Es el manuscrito 1.138 D de la biblioteca general de Rabat, Marruecos.
48. Ver AL-MANNUNI, «Munaqashat usul ad-diyanat fi al-maghreb al-wasit wa al-hadit», Mayallat al-
baht al-`ilmi, 13, Rabat, 1968, pp. 26-28.
49. Ver Muhamed `Abdelwahid AL-`ASRI, «Qawa`id al-munadara wa ajlaqiyyatuha min jilal muyadalat
Muhamad al-Qaysi wa Muhamad al-Ansari li an-nasarà bi al-Andalus», Mayallat at-tarij al-`arabi, 15,
Rabat, 2000, pp. 341-349.
50. BENCHERIFA, «Suwar tarijiyyah mina t-ta`ayush bayna deffatay al-bahr al-mutawassit », Mayallat lla-
mita Ibn Yusuf, 2, Marrakech, 2003, pp. 33-34.
51. Ver I. `ABBAS, «Risalatani...», p. 125.
52. Ver p. 301 del manuscrito.
53. Ver p. 319.
54. Dice el autor: “lo que me empujó para componer este libro es lo que viene de secciones de polémi-
ca”. Ver p. 301.
55. Ver p. 301. Son siete en total.
56. Ver p. 301.
57. El autor no ha dicho en qué ciudad está. Ver p. 306.
58. Ver p. 303.
59. Ver p. 306.
60. Ver p. 310.
61. Ver p. 310.
62. En el texto encontramos la palabra árabe: ______, tenemos que asegurarnos si es Shiqqina o el co-
pista falló en el momento de poner los puntos, y que la ciudad es ______ Segovia.
63. Ver p. 314.

150
VISIÓN GENERAL SOBRE LAS POLÉMICAS MUSULMANAS ANTICRISTIANAS

obispos64. Luego el autor menciona un “capítulo”65, que podemos citar como la sép-
tima sesión con uno de los monjes en el palacio del rey66.

EL CONTENIDO DE «MUYADALAT AN-NASARÀ» DE MUHAMMAD AL-ANSARI

Entre los temas tratados en este capítulo, encontramos los siguientes: la religión
cristiana; la trinidad67; la humanidad y la divinidad68; la unión hipostática de la di-
vinidad y la humanidad en Jesucristo69; la crucifixión de Jesús70; el origen de la cruz71;
algunos ritos musulmanes como la oración, la pureza ritual y el ayuno72; algunos tex-
tos evangélicos que abrogan otros bíblicos, como los del talión, del divorcio, de la
exaltación del sábado y la prohibición del trabajo en el mismo día73.
El autor alude también a algunas características de Jesucristo y a algunas prácti-
cas y ritos suyos que los cristianos dejan de hacer, como la circuncisión y el ascetismo.
Habla también de algunos aspectos, que no proceden del propio Jesús, y que son in-
novación de los cristianos, como la relevancia de las campanas y de las estatuas. Tra-
ta el objetivo del envío de los profetas, de la confirmación de la profecía de Maho-
ma a través de textos bíblicos, de la bebida y la comida en el paraíso y de la
poligamia.

LA IMAGEN DEL CRISTIANO EN LAS OBRAS DE POLÉMICA RELIGIOSA

Como se sabe, las obras de polémica tienen dos objetivos principales: defender
la propia religión y atacar la del otro. En el Corán, encontramos dos versos que de-
muestran el método que hay que seguir para predicar74 y cómo discutir con la gen-
te del Libro75, pero ¿los apologistas musulmanes han seguido estas instrucciones di-
vinas? Una visión general sobre algunos textos nos demuestra que no, que las dejan
aparte, a pesar de que a veces intentan ser más tolerantes y pacíficos.

64. Ver p. 319.


65. Dice: Fasl adkoro fihi [...].
66. Ver p. 320.
67. En árabe: ___ __.
68. En árabe: _______ ____ ____.
69. En árabe: _______ _____.
70. En árabe: ___ __ ____.
71. En árabe: ___ _____ __ ____.
72. En árabe: ___ _______ _________ _______ ________ ___.
73. En árabe:___ ____ _______ ____ ____ ______ ____ __ ________ _____ _____ ___ _______ _______
________ __ ____ ___ _____ ______ _____.
74. Dios dice: “Llama al camino de tu Señor por medio de la sabiduría y la buena exhortación, y discu-
te con ellos con la mejor manera”. Ver Corán, 16: 125.
75. Dios dice: “Y no discutáis con la gente del Libro sino de la mejor manera, a excepción de los que ha-
yan sido injustos. Y decid: Creemos en lo que os ha hecho descender a vosotros, nuestro Dios y vues-
tro Dios es Uno y nosotros estamos sometidos a Él”. Ver Corán, 29: 46.

151
AHMED AIT BELAID

Desgraciadamente, no hay ningún estudio que se interese por este asunto, aun-
que sí lo hay sobre la visión que los cristianos tienen acerca de los musulmanes76, y
será muy útil estudiar la imagen de los cristianos en textos de los polemistas mu-
sulmanes. Intentamos ver la imagen del cristiano y de los cristianos en Al-I`lam de
al-Qurtubi77.
Al-I`lam es una obra escrita por al-Qurtubi como refutación contra una obra es-
crita en Toledo por un cristiano y enviada a Córdoba, titulada Trinidad de la uni-
cidad. Para nuestro al-Qurtubi, el autor de aquella obra es un plagiado de la religión
cristiana, que pregunta lo que no le interesa y habla de lo que no sabe. Es de poca
inteligencia y de malos intentos78. Es un imbécil e ignorante79, un tonto e insensible80,
un vulgo de los cristianos que trata de parecerse a los sacerdotes81. Es un negador,
no es un legislador ni un juicioso82, sino un necio83.
Para el mismo al-Qurtubi, los cristianos contradicen las órdenes de Dios y exal-
tan aparte de Él84, son ignorantes85, unos manipuladores de sus creencias, que no se
basan en unos fundamentos de que se puede contar86. No son juiciosos, ni virtuo-
sos, sino locos y estúpidos87. Los cristianos no conocen a Dios ciertamente y no le
aprecian en su justo valor88. Que sus diferencias se han multiplicado, y su extravío
y su confusión se han exaltado89.
Los cristianos no son aptos para admitir una verdad, ni para rechazar una false-
dad90. No han profesado la religión de Jesucristo y no han conocido la verdad de su

76. Ver M.Á. de BUNES IBARRA, La imagen de los musulmanes y del norte de África en la España de los
siglos XVI y XVII: Los caracteres de una hostilidad, Madrid, Instituto de Filología, 1989; A. ECHEVARRÍA,
The fortress of faith: the attitude towards Muslims in fifteenth century Spain, Leiden, Brill, 1999.
77. Nos basamos en la edición hecha por As-Saqqa, por lo que la paginación es de aquella edición an-
tes citada.
78. Al-Qurtubi dice: “Me he enterado, que Dios te ayude, de un libro escrito por un plagiado de la re-
ligión cristiana [...] Está preguntando lo que no le interesa, hablando de lo que no sabía [...] sus dichos
demuestran su poca inteligencia y sus malos demuestran sus malos intentos”. Ver p. 43.
79. “Lo más extraño del asunto de este que pregunta y la mejor prueba de su imbecilidad y su ignoran-
cia”. Ver p. 49.
80. “Mira las tonterías de este que pregunta y su insensibilidad”. Ver p. 59.
81. “Eres uno de los vulgos de los cristianos que trata de parecerse a los sacerdotes”. Ver p. 166.
82. “Decimos a este negador e ignorante, quien no es un legislador ni un juicioso”. Ver p. 220.
83. “¡Escucha oh necio!”. Ver p. 222.
84. “Vosotros contradecís las órdenes de Dios y exaltáis aparte de Dios”. Ver p. 51.
85. “¿Por qué nos esforzamos con estos ignorantes?”. Ver p. 67.
86. “Esto significa que sois manipuladores en vuestras creencias, porque no os basáis en unos fundamentos
de los que se puede contar”. Ver p. 73.
87. “Todo esto indica que no son juiciosos, no están entre virtuosos, sino que están entre los locos, ig-
norantes y estúpidos”. Ver p. 88.
88. “Vosotros no conocéis a Dios ciertamente y no le apreciáis en su justo valor”. Ver p. 108.
89. “Las diferencias entre los cristianos se han multiplicado y se ha exaltado su extravío y su confusión”.
Ver p. 127.
90. “Para los juiciosos, no sois aptos para admitir una verdad, ni para rechazar una falsedad”. Ver p. 220.

152
VISIÓN GENERAL SOBRE LAS POLÉMICAS MUSULMANAS ANTICRISTIANAS

certeza, sino que han calumniado las falsedades91. Manipulan las legislaciones divi-
nas con sus fantasías92. No conocen los milagros de Jesús93 ni sus estados94.
Esta es una visión general sobre las polémicas religiosas musulmanas anticristianas,
que sigue sin tener el interés merecido de parte de los investigadores, arabistas o ára-
bes. Seguramente, encontraremos asuntos muy interesantes y datos novedosos.

91. “No habéis profesado su religión (es decir la de Jesucristo) y no habéis conocido la verdad de su cer-
teza, sino que habéis calumniado las falsedades”. Ver p. 227.
92. “Todo esto indica vuestra ignorancia y poco éxito que tenéis, y demuestra que manipuláis las legis-
laciones divinas con vuestras fantasías”. Ver p. 234.
93. “Los cristianos no conocen los milagros de Jesús, paz sea sobre él”. Ver p. 241.
94. “Los cristianos no conocen nada de los estados del Mesías y de sus milagros”. Ver p. 251.

153
UN ESPÍA MORISCO AL SERVICIO DE FELIPE III

Jesús Carrasco Vázquez

INTRODUCCIÓN1

Cuando las autoridades españolas decretaron la expulsión de todos los moriscos


que habitaban en suelo hispano (1609-1610), tuvieron la precaución de introducir
dentro de sus filas a espías para que pudieran darles información del comportamiento
posterior de los desterrados. Este fue el caso de Gabriel de Carmona Vanegas, un mo-
risco antiguo, o lo que es igual, un descendiente de los mudéjares que forzosamen-
te hubieron de convertirse al cristianismo en 1502. Natural de Almagro, donde na-
ció en 1586, partió al exilio acompañando a los moriscos castellanos (1610) para
asentarse en el suroeste francés y dar cuenta a la Corona española de las actividades
contrarias a sus intereses que allí pudieran producirse. Paradójicamente, sus infor-
mes no alertaron sobre posibles acciones llevadas a cabo por los expulsados, nada en
ellos alude a contactos entre éstos y la monarquía gala, uno de los temores de las au-
toridades hispanas; por el contrario, las acciones de las que informó el espía estaban
protagonizadas por judeoconversos portugueses afincados en su zona de interés, de-
dicados a traficar con moneda falsa de vellón producida en el Flandes sublevado e
introducida en Castilla a cambio de reales de plata que sacaban sus corresponsales
asentados en la Corte2. El negocio era de tal envergadura y a él estaban entregados
tantos individuos, que Carmona llegó a Madrid en 1615 para dar cuenta de lo que
sabía. El resultado, aunque pueda sorprender, no fue el esperado, y nuestro hombre
sufrió una pena de destierro a manos de la Inquisición, que purgó en Valladolid. Todo
el asunto cobró nuevo interés, en 1620, cuando fue asesinado en Madrid otro espía
de la Corona, un inglés llamado Jorge Coton que llegó desde el suroeste francés
acompañado de un marrano portugués, Bartolomé Méndez Trancoso, un hombre que
había participado intensamente en el tráfico fraudulento y que conocía bien todos

1. Abreviaturas: A.G.S.: Archivo General de Simancas; A.H.N.: Archivo Histórico Nacional; Inq.: Sec-
ción Inquisición; A.H.P.M.: Archivo Histórico de Protocolos de Madrid.
2. Ver mi artículo «Contrabando, moneda y espionaje (el negocio del vellón: 1606-1620)», Hispania,
LVII/3, 197, 1997, pp. 1081-1105.

155
JESÚS CARRASCO VÁZQUEZ

los detalles sobre el mismo. La muerte de Coton reactivó todo el asunto y las au-
toridades volvieron a abrir el proceso indagatorio, aunque las circunstancias políti-
cas que se vivían en la Corte, con dos facciones del mismo clan luchando por el po-
der, produjeron el efecto contrario al deseado, y así los denunciantes, servidores de
la Corona, resultaron damnificados mientras que los delincuentes sortearon airo-
samente su paso por la justicia, gracias a su bien tejida red de corrupción, labrada so-
bre una importante base de cohechos y que llegaba hasta las más altas estructuras del
poder.

LA INVESTIGACIÓN DE LA TRAMA

La noche del 27 de enero de 1620 era herido de muerte en una calle madrileña un
comerciante inglés. Las diligencias para averiguar las causas del atentado fueron lle-
vadas con presteza, desde el mismo momento en que se tuvo conocimiento del mis-
mo, por don Luis de Paredes, alcalde de Casa y Corte, que tuvo oportunidad de to-
marle declaración antes de que falleciese. De resultas de su testimonio, las autoridades
supieron la identidad del agredido, que resultó ser un londinense que trabajaba para
el servicio de información de la Corona. Respondía al nombre de Jorge Coton y, aun-
que su tapadera fuera el comercio, su actividad más destacada se centraba en controlar
las actuaciones delictivas que llevaban a cabo destacados personajes de la comuni-
dad marrana3 asentada en el suroeste francés, y donde actuaban de corresponsales de
sus paisanos ubicados en la Corte. La zona gala era un lugar de gran relevancia des-
de el punto de vista comercial que ponía en relación ambos lados de la frontera, un
espacio donde los conversos portugueses encontraron una envidiable plataforma para
realizar sus negocios4, así como un lugar seguro donde vivir con el consentimiento
de las autoridades francesas y a resguardo de los inquisidores, ya fueran españoles
o portugueses.

3. Utilizo la expresión marrano para definir a un converso de judío que vivió dentro de la sociedad cris-
tiana y practicó una serie de ritos que siempre creyó eran un fiel reflejo del judaísmo seguido por sus ma-
yores; el uso del vocablo y todo lo relativo al mismo se puede consultar en I. REVAH, «Les Marranes»,
Revue des Études Juives, vol. CXVIII, 1959-1960, pp. 29-77. J. CONTRERAS CONTRERAS, «Estructura de
la actividad procesal del Santo Oficio», en J. PÉREZ VILLANUEVA y B. ESCANDELL BONET (dirs.), Histo-
ria de la Inquisición en España y América, 3 vols., vol. II, Madrid, 1993, cap. IV, en particular apartado
D, «Marranisno Hispano. Marranismo “Portugués”», pp. 621-627; P. HUERGA CRIADO, «El problema
de la comunidad judeoconversa», en J. PÉREZ VILLANUEVA y B. ESCANDELL BONET (dirs.), op. cit., vol.
III, Madrid, 2000, en particular pp. 470-472, que dedica a la «Definición del marranismo». De la misma
autora, ver En la raya de Portugal, Salamanca, 1994, concretamente el capítulo V, «El marranismo».
4. Es abundante la bibliografía sobre este particular; por citar sólo algunos ejemplos, ver H. LÉON, His-
toire des juifs de Bayonne, Paris, 1893; J.I. ISRAEL, «El comercio de los judíos sefardíes de Ámsterdam con
los conversos de Madrid a través del suroeste francés», en J. CONTRERAS CONTRERAS et al. (eds.), Familia,
religión y negocio. El sefardismo en las relaciones entre el mundo ibérico y los Países Bajos en la Edad Mo-
derna, Madrid, 2003, pp. 373-390; del mismo autor, La judería europea en la era del mercantilismo, 1550-
1750, Madrid, 1992; M. MORINEAU, «Bayonne et Saint-Jean-de-Luz, relais du commerce néerlandaise vers
l’Espagne au début du XVIIe siècle», Actes du Quatre-Vingt-Quartozième Congrès des Sociétes Savan-
tes, Paris, 1971, pp. 309-330. Para comprender la influencia de Bayona como epicentro de la zona, ver A.M.
AZCONA GUERRA, «La presencia bayonesa en la dinámica del comercio franco-español del siglo XVIII»,
Hispania, vol. LIX/3, 203, 1999, pp. 955-987, en particular pp. 959-960.

156
UN ESPÍA MORISCO AL SERVICIO DE FELIPE III

Jorge Coton sobrevivió a las heridas al menos cuarenta horas, tiempo más que
suficiente para que desvelase al alcalde Paredes lo que sabía. Por su testimonio el juez
tuvo noticia del intenso tráfico mercantil llevado a cabo por judeoconversos asen-
tados en la Corte que mantenían estrechas relaciones comerciales, amparadas en mu-
chas ocasiones por lazos de parentesco, con paisanos suyos afincados en el suroes-
te francés, actores necesarios en la distribución de moneda falsificada de vellón,
elaborada en las cecas de los Países Bajos rebeldes a la Monarquía Hispánica, que lle-
gaba embarcada hasta la región francesa y allí era comprada por numerosos marra-
nos lusos que actuaban de corresponsales de sus paisanos residentes en Madrid. Asi-
mismo, Coton puso al alcalde sobre la pista de sus asesinos señalando de forma
inequívoca a sus agresores, que resultaron ser dos portugueses: Juan Méndez Pas-
tor y un individuo cuya identidad nunca se conoció, aunque nosotros, por las ave-
riguaciones que se llevaron a cabo a raíz del atentado, sabemos que respondía al nom-
bre de Gaspar Fernández, apodado “el sevillano” por haberse criado en la ciudad
hispalense.
El asunto era de tal calado que la noticia llegó a conocimiento del propio Feli-
pe III a través de un informe, que el día 2 de febrero le hiciera don Andrés de Ve-
lázquez Velasco, miembro del Consejo Secreto por su condición de “Espía Mayor”5,
que se dirigió al monarca explicándole con detalle todas las vicisitudes acaecidas así
como la conjura urdida por los portugueses para asesinar a un espía de la Corona sin
que el lugar de la acción, la Corte, en principio un espacio más reservado y prote-
gido por la justicia regia, fuera obstáculo para sus intenciones; tamaña insolencia obli-
gaba a actuar de manera contundente, le decía don Andrés al rey, al tiempo que pe-
día una demostración firme de castigo. La respuesta del monarca fue apoyar la
solicitud que se le hacía y encomendar la investigación al ya citado alcalde, don Luis
de Paredes, con la indicación expresa para que actuase con absoluta libertad6.
Desde el primer momento el juez instructor contó con los dos portugueses que
denunciara la víctima antes de morir. Esa sería la pista que el juez explotaría hasta
sus últimas consecuencias, no dudando en atormentar al segundo, autor material del
asesinato, para conseguir su forzada colaboración. Sus confesiones llevaban direc-
tamente hasta Juan Núñez Saravia7 a través de Salvador Méndez, actor necesario para
la recluta del sicario. La investigación ya tenía en su punto de mira, si no al autor in-

5. El cargo se creó a finales del reinado de Felipe II y su primer titular fue don Juan Velázquez de Ve-
lasco, el padre del citado don Andrés; ver M. GÓMEZ DEL CAMPILLO, «El Espía Mayor y el Conductor
de Embajadores», Boletín de la Real Academia de la Historia, CXIX, 1946, pp. 317-339; D. TÉLLEZ ALAR-
CIA, «El papel del norte de África en la política exterior hispana (ss. XV-XVI), en http://clio.rediris.es/tiem-
posmodernos/articulos/Numero1-2000-ISSN-1139-6237/felipeiiampli.htm, para conocer la amplia red
de espías distribuida por la Corona española en tiempos del Rey Prudente.
6. A.G.S., Estado, Leg. 2.308, exp. 114.
7. Ibídem, Leg. 2.308, exp. 111. Se trata del que años más tarde sería asentista de la Corona durante el
valimiento del conde-duque de Olivares; al respecto remito a mi trabajo La minoría judeoconversa en la
época del Conde Duque de Olivares. Auge y ocaso de Juan Núñez Saravia (1585-1639), tesis doctoral iné-
dita, Alcalá de Henares, 2004. Para el momento de esta investigación, Saravia era un personaje secunda-
rio que estaba bajo la órbita de la familia Pereira; todavía faltaban algunos años para que heredara la ha-
cienda y los negocios de su tío carnal, Juan Núñez Correa, momento en el cual pasó a protagonizar los
hechos señalados de la historia de su familia, los cuales le dieron relevancia.

157
JESÚS CARRASCO VÁZQUEZ

telectual del crimen, al menos a un personaje relevante a través del cual se podría ac-
ceder a la cabeza de los conjurados; al menos eso debió de pensar el alcalde que or-
denó la detención de Saravia. Las declaraciones de éste y el resto de las indagacio-
nes llevadas a cabo no hicieron sino confirmar que el trasfondo de todo el asunto era
la introducción de moneda falsificada, y que el asesinato no fue sino una decisión para
silenciar a uno de los tres testigos que podía acusar a los delincuentes. Los otros dos
resultaron ser el portugués Baltasar Méndez Trancoso y el espía morisco Gabriel de
Carmona Vanegas.
Saravia prestó declaración ante el alcalde el día 11 de febrero. En su interesado
testimonio cambió el papel de víctimas, que asignó a los conversos portugueses, di-
ciendo que eran ellos quienes sufrían las pretensiones engañosas y los intentos de
chantaje de Carmona Vanegas, como ya sucediera en 1615, añadió, cuando le intentó
coaccionar exigiéndole dinero para comprar su silencio y que no acudiera a decla-
rar en su contra, asunto, dijo Saravia, que supo cortó de raíz al poner en conocimiento
de la justicia la propuesta del morisco. Eso es lo que confesó el portugués. Nosotros
sabemos bien que la realidad fue muy distinta y que las autoridades, de la mano del
Espía Mayor, tenían claro el papel que desempeñaba cada uno en aquella trama8.
No pretendo extenderme más allá de lo necesario en todo lo relativo a la cons-
piración y al papel que representaron los marranos portugueses en el asunto de la eva-
sión de moneda de Castilla y la introducción de vellón falsificado, remitiendo nue-
vamente a quienes pudieran estar interesados a mi artículo ya citado en la nota 2 de
este trabajo; pero sí quiero volver a ello aunque sólo sea para explicar y compren-
der mejor el papel clave que tuvo Carmona en el descubrimiento y posterior denuncia
ante las autoridades. La primera vez sucedió en 1615 y le acompañaban como tes-
tigos de cargo Martín de Arizmendi y Luis Hernández. Aquél lapidario y también
espía; éste un arriero que fue a Francia con la caravana que acompañó al duque de
Pastrana en su viaje a la corte parisina. El aristócrata abandonó la Corte el día 5 de
julio de 1612, marchando al frente de un vistoso, a la vez que costoso, cortejo su-
fragado por el noble. Su partida fue precedida por la salida, el día anterior, de una
comitiva compuesta por ciento cuarenta acémilas9. Dentro de este grupo estaba el ya
citado Luis Hernández.

8. A.G.S., Estado, Leg. 2.308, exp. 114.


9. L. CABRERA DE CÓRDOBA, Relaciones de las cosas sucedidas en los reinos de España desde 1599 has-
ta 1614, Madrid, 1857, pp. 472-473 y pp. 487-488, para conocer el motivo del viaje, que no fue otro que
poner el broche final a los pactos matrimoniales establecidos entre España y Francia representado al mo-
narca hispano. Estos servicios prestados a la Corona comportaban grandes desembolsos de capital que
afectaban a la economía de los nobles, aunque sus sacrificios eran recompensados por el monarca, que re-
mediaba en parte estos gastos; en el caso de esta embajada el noble esperaba el título de marqués de Sie-
te Aguas, aunque recibió el de cazador mayor, ver ibídem, p. 561. En relación con el duque de Pastrana
y la apretada situación financiera que atravesaba por estas fechas, ver A. CARRASCO MARTÍNEZ, «Una for-
ma de gestión de las haciendas señoriales en dificultades: los contratos de administración con hombres
de negocios durante la primera mitad del siglo XVII», Cuadernos de Investigación Histórica, 14, 1991,
pp. 87-105, para conocer que el noble, ese mismo año de la partida a Francia, tuvo que acudir al crédito
de banqueros para sostener su casa y criados. Sin pretender extenderme en este tema remito al libro de
B. YUN CASALILLA, La gestión del poder. Corona y economías aristocráticas en Castilla (siglos XVI-XVIII),
Madrid, 2002, que es una obra recopilatoria de trabajos anteriores del propio autor de obligada consul-
ta para comprender mejor este fenómeno.

158
UN ESPÍA MORISCO AL SERVICIO DE FELIPE III

Las denuncias que Carmona, Arizmendi y Hernández hicieron en Madrid


apuntaban contra un grupo de judeoconversos lusos afincado en la Corte, destacando
por su notoriedad y relevancia Diego Pereira y su yerno, Domingo Pereira. Lo que
declararon era de enorme interés para las autoridades porque ponía de manifiesto el
desleal papel jugado por estos comerciantes, que no tenían empacho en traficar con
todo tipo de géneros, sobre todo con aquéllos que pudieran dejarles magros bene-
ficios, y la moneda falsificada introducida en la economía castellana podía dejar már-
genes del 900%10. Diego Pereira era un hombre vinculado al círculo comercial y fi-
nanciero de Oporto11; se había establecido en el País Vasco español en torno a los
años ochenta del XVI, capitalizando una gran parte de las exportaciones de hierro
hacia Portugal12, aunque no sólo el mineral centró su atención porque, como pusieron
de manifiesto las denuncias de los espías, también tenía operaciones mercantiles cru-
zadas con Berbería y Marruecos, donde apoyaba la opción contraria a los intereses
hispanos en la guerra civil desatada tras la muerte del sultán Muley Ahmed el De-
hebi, aunque en este negocio no estuviera solo, pues en él participaba también un mo-
risco de los expulsados en 1610, Francisco de Valencia, muy poderoso y rico que es-
taba en San Juan de Luz y fue expelido13. Las denuncias de los testigos también
pusieron de manifiesto el papel desempeñado por los judeoconversos portugueses
cuando se decretó la expulsión de los moriscos, al ofrecerse para evadir los capita-
les que los desterrados quisieron eludir a las autoridades14. Las declaraciones incul-
patorias no tuvieron el efecto buscado y sus protagonistas, en particular Carmona,
sufrieron las consecuencias del poder e influencia que ejercían los portugueses gra-
cias a su dinero, llegando, incluso, a sufrir un intento de asesinato del que salió ile-
so, aunque finalmente alcanzaron su propósito de desacreditarle y llevarle ante la In-
quisición, para lo que se valieron de las denuncias de falsos testigos, logrando
conseguir una condena de destierro. Este proceso no ha llegado hasta nosotros, aun-
que lo conocemos por el relato que del asunto hiciera el Espía Mayor a Felipe III.
De nada sirvió que de la investigación se encargara otro alcalde de Casa y Corte, don
Fernando Ramírez Fariña. Nuevamente los conversos lusos supieron desmontar las
acusaciones comprando voluntades y cohechando a determinados testigos de la pro-
pia acusación; en todo ello llegarían a gastar más de sesenta mil ducados.

10. Remito a mi artículo ya citado, «Contrabando, moneda y espionaje...», p. 1086.


11. A.J. MORAIS BARROS, «Em busca de um mercado integrado: redes comerciais portuenses e trato in-
ternacional», comunicación presentada al VIII Congreso de la Asociación Española de Historia Econó-
mica, Sesión 24, Entre el Mediterráneo y el Atlántico: España en la formación de un espacio económico
europeo (siglos XV-XVIII), Santiago de Compostela, 13-16 de septiembre de 2005.
12. M. BARKHAM HUXLEY, «El comercio marítimo vizcaíno y guipuzcoano con el Atlántico peninsular
(Asturias, Galicia, Portugal y Andalucía) y con los archipiélagos de Canarias y Madeira al principio de
la Edad Moderna», en Itsas. Memoria, vol. IV, pp. 147-164.
13. Ver mi artículo ya citado, «Contrabando, moneda y espionaje...», pp. 1093-1095.
14. Remito a mi comunicación al III Congreso sobre la Orden Militar de San Juan: Historia de la Or-
den de San Juan en tiempos del Quijote, Alcázar de San Juan, 24 al 26 de febrero de 2005, que llevó por
título: «Moriscos y marranos. Colaboración interesada de dos colectivos marginados en tiempos del Qui-
jote», donde recojo con detalle la necesaria colaboración de ambos grupos para eludir las órdenes res-
trictivas de la Corona en cuanto a la salida de capital, los costos de la misma y los avatares sufridos por
algunos desgraciados moriscos que habían encomendado sus capitales a Juan Núñez Saravia.

159
JESÚS CARRASCO VÁZQUEZ

La situación parecía estancada hasta que, en 1618, Carmona, que vivía desterra-
do en Valladolid, contactó con el citado Ramírez Fariña, miembro desde 1616 del
Consejo de Castilla15 y por aquel entonces de visita de inspección a la Real Chan-
cillería, indicándole que tenía nuevos testigos, de entre los que destacó a Héctor de
Lisboa16, que podrían declarar en la causa que Ramírez Fariña ya había instruido.
Ambos personajes convinieron que la solución pasaba por escribir al Espía Mayor,
de resultas de lo cual éste mandó a Carmona que se presentase en la Corte, adonde
llegó acompañado de Héctor, y que se hospedase en su propia casa, encargándole que
redactase un amplio memorial donde recogiese nombres y situaciones de los de-
fraudadores. El asunto pronto se complicó porque el largo brazo de los conversos
lusos detectó de nuevo la presencia del morisco en Madrid y, bien lo sabían, su lle-
gada no podía depararles buenas consecuencias. Haciendo gala de un descaro y un
atrevimiento impensables, si no tuviéramos en cuenta su capacidad para allegar vo-
luntades, pasaron a la acción y, de forma violenta y tras haber comprado la colabo-
ración del citado Héctor, allanaron la casa del Espía Mayor, donde se cobijaba Car-
mona, y a través del alguacil Arteaga, que exhibió una orden de prisión que luego
se demostró estar anulada, intentaron apoderarse de la persona del morisco y de sus
documentos. El asunto se resolvió con la llegada imprevista del propio Espía Mayor,
quien hizo las oportunas averiguaciones, descubrió el subterfugio de la orden de
arresto caducada y dispuso lo necesario para proteger a su confidente.
Simultáneamente a estos acontecimientos, en Madrid se dieron cita dos personajes
singulares, el marrano portugués Bartolomé Méndez Trancoso17, que llegó acom-

15. J. FAYARD, Los miembros del Consejo de Castilla (1621-1746), Madrid, 1982, p. 90.
16. A.H.N., Inq., Leg. 171, exp. 4, 1ª pzª, f. 142 v, fue primo de Diego Núñez de Acosta, un portugués
que había sido administrador de los Almojarifazgos de Sevilla, entre 1602-1607, y desde 1607-1610 go-
bernador de los Puertos Secos entre Aragón y Valencia; por el puesto que ocupó tuvo oportunidad de
tratar con muchos lusos en sus desplazamientos comerciales y conocer sus negocios y sus habilidades para
eludir los controles. Colaboró con las autoridades, ante las que declaró contra gran número de compa-
triotas denunciando sus comportamientos. Sufrió dos intentos de asesinato y finalmente se vio ante el San-
to Oficio por haber sido acusado, mediante falsos testimonios, de ser un converso que había salido en Auto
de Fe en Coimbra y que se hacía pasar por familiar de la Inquisición. El proceso tuvo lugar en 1622 y el
imputado pudo demostrar la falsedad de las acusaciones, siendo suspendido el expediente; para esto úl-
timo ver ibídem, Leg. 2.106, exp. 22.
17. Personaje arquetipo de aquellos conversos lusos que saliendo del anonimato de la Historia fueron
capaces de labrarse un patrimonio gracias a su capacidad y habilidad para el comercio. Había nacido en
Trancoso (Portugal), en 1555; tuvo una azarosa vida y desarrolló distintos trabajos, tutelado por sus her-
manos mayores hasta alcanzar la edad de dieciocho años, momento en el cual esos mismos tutores le ca-
pitalizaron con trescientos cruzados, y a partir de ahí, de forma autónoma, realizó distintos viajes co-
merciales entre Lisboa y diferentes puntos de España, siempre cargado con género que sabía vender con
ganancia. Tras alcanzar el éxito en sus negocios, decidió asentarse en San Juan de Luz porque vio en la
zona grandes oportunidades de beneficio; llegó a ser propietario, incluso, de un barco bacaladero. Fi-
nalmente se arruinó y pasó a ser comisionista y correo de la citada localidad francesa. Su posición le per-
mitió ver y conocer todo el asunto del contrabando, y cuando su situación personal se volvió precaria y
amenazada, contactó con Jorge Coton y decidió volver a España, no sin asegurarse de que la Inquisición
no tomaría medidas contra él, pues en el tribunal de Logroño había un testimonio que le acusaba de ser
judío; para esto ver A.H.N., Inq., Leg. 130, exp. 1. Para todo lo relativo a sus acusaciones contra los con-
trabandistas ver ibídem, Leg. 62, exp. 5, amplio expediente donde se recogen todas las testificaciones de
Méndez Trancoso. Los detalles y el contexto histórico en mi tesis, La minoría judeoconversa en la épo-
ca del Conde Duque de Olivares..., parte I, pp. 54-77.

160
UN ESPÍA MORISCO AL SERVICIO DE FELIPE III

pañado de su hijo, Juan Méndez Pastor; y el espía inglés Jorge Coton, miembro del
servicio de inteligencia de la Corona, e integrado en el mismo por intermediación del
morisco Carmona. Al primero le movía el deseo de regresar a suelo hispano tras ha-
ber vivido en San Juan de Luz, al menos desde 1606 y resultar su posición personal
afectada por el comportamiento hostil de sus correligionarios, que no dudaron en
urdir contra él testificaciones falsas que acabaron con Trancoso en la cárcel france-
sa. Con respecto al segundo, tenemos que suponer que su venida obedecía al deseo
de cumplir con su papel de espía. No creo necesario extenderme más allá de lo pre-
ciso para recordar cómo acabó todo este nuevo intento de poner frente a la justicia
a los conversos portugueses defraudadores, ya vimos al principio del trabajo que Co-
ton fue asesinado, y con respecto a Méndez Trancoso, tras conseguir romper la unión
entre éste y su hijo, lograron que se sintiera lo suficientemente asustado, llegando a
temer por su vida, como para forzarle al abandono de la Corte, encontrando refu-
gio en Lisboa, lugar donde fue detectado por las autoridades españolas y traído des-
de allí para su comparecencia ante ellas, no sin que el interesado renunciase a su fue-
ro por su interés en salir de un lugar que no consideraba seguro y comparecer ante
la justicia hispana, asunto que traté convenientemente en mi artículo ya citado a lo
largo de este trabajo y al que remito para una más amplia información.

UN ESPÍA MORISCO AL SERVICIO DE LA MONARQUÍA ESPAÑOLA

Gabriel de Carmona Vanegas había nacido en 1586 en Almagro, pertenecía al co-


lectivo de origen musulmán largo tiempo afincado en Castilla que denominamos mu-
déjares, sustantivo que recoge bien a las claras la raíz de nuestro personaje y que mar-
caba la diferencia con el sentido que la palabra morisco llegaría a tener, sobre todo
en vísperas de la expulsión18, perfil que definía con nitidez a un elemento extraño a
la sociedad mayoritaria, cuyos orígenes se hundían en el mundo islámico y que a raíz
de la sublevación de las Alpujarras19 no hizo sino aumentar la animadversión hacia

18. L. CABRERA DE CÓRDOBA, op. cit., p. 396; los contemporáneos tenían muy claro ambos términos,
usando explícitamente el de mudéjares para referirse al colectivo de origen islamita afincado de antiguo
en Castilla: [no fuesen expulsados] [...] ni los que tienen privilegios por servicios hechos a Reyes pasa-
dos, que son muy antiguos en España, y se han conservado con buen nombre, que son llamados mude-
jares; la negrita es mía, pero creo que sobran los comentarios de cómo se diferenciaba a “mudéjares” de
“moriscos”. También sobre este particular ver R. BENÍTEZ SÁNCHEZ-BLANCO, «Las relaciones moriscos-
cristianos viejos: entre la asimilación y el rechazo», en A. MESTRES SANCHÍS y E. JIMÉNEZ LÓPEZ (eds.),
Disidencias y exilios en la España Moderna, Alicante, 1997, pp. 335-361; G. COLÁS LATORRE, «Los mo-
riscos aragoneses: una definición más allá de la religión y la política», Sharq al-Andalus, 12, 1995, pp. 147-
161, estudia el caso aragonés y deja bien claro que la palabra morisco sólo aparece en el lenguaje oficial,
en vísperas de la expulsión y se asocia indefectiblemente con apostasía y connivencia con los enemigos
de España. M.Á. LADERO QUESADA en todo momento utiliza el término mudéjar, ver si no su clásico Los
mudéjares en Castilla en tiempo de Isabel I, Valladolid, 1969; sustantivo que mantiene en otra obra más
moderna, La España de los Reyes Católicos, Madrid, 1999, pp. 397-400. Ciertamente que A. DOMÍNGUEZ
ORTIZ y B. VINCENT utilizan indistintamente ambos términos, ver si no su clásico Historia de los moriscos.
Vida y tragedia de una minoría, Madrid, 1997.
19. No cumple aquí abordar el tema del levantamiento de la población de origen granadino-musulmán;
al respecto remito a la abundante bibliografía publicada; sólo por citar aquélla que considero más signi-

161
JESÚS CARRASCO VÁZQUEZ

la minoría de origen islamita, sin que el hecho del forzado reparto de rebeldes gra-
nadinos por el resto de Castilla ayudase en nada a la integración, antes al contrario,
avivó los sentimientos de rechazo dentro del grupo mayoritario, que veía con rece-
lo a sus nuevos vecinos, pues tenían unas prácticas socio-culturales extrañas con las
que no se identificaban y con unas conductas, al menos en algunos grupos, que alar-
maban y creaban inquietud, de tal forma que cuando tenían oportunidad denun-
ciaban públicamente sus comportamientos20, pero no sólo los cristianos eran críti-
cos, aquéllos que descendían de mudéjares convertidos también marcaban
nítidamente su diferencia con los llegados de Granada, caso de los abulenses21. Fi-
nalmente, en 1610 y tras distintos proyectos de expulsión, se impuso la medida ra-
dical que llevó al exilio a los moriscos, de los que se temía un levantamiento en caso
de agresión externa22 que, a principio del XVII y alejada la amenaza turca, se parti-
cularizó en Francia y en los contactos habidos entre moriscos y Enrique IV23.
Por tanto, es a partir del decreto de expulsión cuando el término morisco alcanza
toda la fuerza explicativa y definitoria que las autoridades quisieron asignar al mis-
mo; por esa razón Carmona, en su declaración al tribunal de la Inquisición, en 1620,
y con objeto de identificarse convenientemente como alguien que no encajaba
dentro del concepto, se refiere a sí mismo como perteneciente al colectivo de “los mo-
riscos antiguos”24; a pesar de ello siguió el camino hacia el éxodo que soportaron sus

ficativa, se puede consultar la visión que tuvieron algunos actores contemporáneos del suceso, caso de L.
de MÁRMOL CARVAJAL, Rebelión y castigo de los moriscos, Málaga, 1991, facsímil de la edición de la B.A.E.
de 1946, con introducción de Á. Galán Sánchez; D. HURTADO DE MENDOZA, Guerra de Granada, Ma-
drid, 1970, edición a cargo de B. Blanco-González; G. PÉREZ DE HITA, La guerra de los moriscos (Segunda
parte de las guerras civiles de Granada), Granada, 1998, facsímil de la edición de Cuenca de 1619, estu-
dios y notas a cargo de J. Gil Sanjuán. El tema fue analizado por la historiografía española y extranjera,
ya desde fines del XIX y principios del XX, con dispar visión; al respecto ver el estudio de R. Benítez
Sánchez-Blanco a la obra de H.C. LEA, Los moriscos españoles. Su conversión y expulsión, Alicante, 1990;
A. DOMÍNGUEZ ORTIZ y B. VINCENT, Historia de los moriscos..., sigue siendo de obligada referencia. Una
síntesis del levantamiento en B. VINCENT, «La cuestión morisca. La sublevación de 1568-1570», en Fe-
lipe II. Un monarca y su época, Madrid, 1998, pp. 285-289. M. de EPALZA, Los moriscos antes y después
de la expulsión, Madrid, 1992.
20. A. DOMÍNGUEZ ORTIZ y B. VINCENT, Historia de los moriscos..., capítulo 7. Por citar un ejemplo, ver
la mala opinión que tenían los vecinos alcarreños de la villa de Yebra sobre el comportamiento de unos
moriscos asentados en tierras bajo jurisdicción de la duquesa de Pastrana pero limítrofes con aquéllos:
[...] no tienen Iglesia donde los digan misa. Viven de su albedrío, de lo cual hay escandalo en toda la pro-
vincia, y ansimismo hablan su lengua, los cuales moriscos hacen notables daños en los terminos comarca-
nos, especialmente en terminos de esta Villa en los pinares cortandolos por el pie y quemandolos, que se ha
hecho quema de mas de diez mil pinos, ver Relaciones topográficas de España. Relaciones de pueblos que
pertenecen hoy a la provincia de Guadalajara, 6 tomos, edición a cargo de J. Catalina García López y M.
Pérez Villamil, publicado dentro de la colección Memorial Histórico Español, tomo XLVI, Madrid, 1912,
pp. 325-326.
21. S. de TAPIA, «Los moriscos de Castilla la Vieja, ¿una identidad en proceso de disolución?» Sharq al-
Andalus, 12, 1995, p. 185.
22. A. DOMÍNGUEZ ORTIZ y B. VINCENT, op. cit., cap. 3; J.H. ELLIOT, La España imperial (1469-1716),
Barcelona, 1986, p. 332.
23. L. SUÁREZ FERNÁNDEZ, «Repercusiones políticas de la cuestión morisca», en G. MARAÑÓN, Expulsión
y diáspora de los moriscos españoles, Madrid, 2004, p. 153.
24. A.H.N., Inq., Leg. 2.106. De la misma manera se refiere el conde de Salazar al dar cuenta del final
del proceso de expulsión de los moriscos de Guadalajara diferenciando entre “granadinos” y “moriscos
antiguos”, ver A. GARCÍA LÓPEZ, Moriscos en tierras de Uceda y Guadalajara, Guadalajara, 1992, p. 164.

162
UN ESPÍA MORISCO AL SERVICIO DE FELIPE III

correligionarios, fruto del decreto de expulsión dictado por la Corona. Si he inten-


tado establecer una clara barrera entre “morisco antiguo” o “mudéjar”, como sinó-
nimos, con respecto al término “morisco” es porque me parece interesante para en-
contrar una explicación al hecho cierto de que Carmona Vanegas fuera al exilio sin
serlo25; por tanto debemos considerar que su partida fue un hecho intencionado, y
que marchó junto a los moriscos para ganarse su confianza, integrarse dentro del con-
junto como uno más, pasar desapercibido y, llegado a su destino en compañía de sus
obligados compañeros, poder dar cuenta de las actividades que llevasen a cabo en
contra de la Corona española. En suma: realizaría labores de inteligencia porque las
autoridades recelaban del comportamiento que podían adoptar los expulsados una
vez que estuvieran fuera de España, sin que se pueda decir que ésta fuese la prime-
ra vez que se infiltraban espías dentro del colectivo morisco26.
Ya vimos en el punto anterior qué dio de sí la actuación de Carmona, contra quié-
nes actuó y qué motivó su comportamiento. Ahora me quiero centrar en la perso-
nalidad de este personaje y lo haré basándome en la documentación que nos ha lle-
gado a través del proceso que le incoó el Santo Oficio en 162027, aunque, ya va
referido, sufrió otro del que no tenemos constancia pero del que sí conocemos el re-
sultado y que le valió una pena de destierro del distrito de la Inquisición toledana28
que, para estas fechas, comprendía también la Villa y Corte de Madrid. Por esa ra-
zón se asentó en Valladolid cuando fue llamado, como vimos en el punto anterior,
por don Andrés de Velázquez Velasco para que diera cuenta de lo que sabía.
El día 27 de marzo de 1620 el tribunal de Toledo solicitaba la prisión de Carmona
Vanegas. Podemos decir que su actuación era de oficio, pues había quebrantado una
sentencia de los inquisidores toledanos, pero en el fondo la actuación inquisitorial
denota un comportamiento comprometido que ponía bien a las claras el grado de ac-
tuación partidista de una institución nacida, en teoría, para velar y custodiar por la
ortodoxia religiosa29. La realidad de los acontecimientos fue que mientras Toledo pe-
día la prisión de Carmona, sin que lograse su propósito, sus enemigos, los judeo-
conversos portugueses, nerviosos, pues no conseguían su objetivo, se movieron con
presteza e iniciaron una maniobra de acoso muy bien urdida, por lo que se verá, ha-
ciendo que tres personas testificasen, el 26 de mayo de 1620, acusándole de practi-

25. A.G.S., Estado, Leg. 2.308, exp. 114, don Andrés de Velázquez Velasco a Felipe III: El año de 615
vino a esta corte Gabriel de Carmona Vanegas, morisco de los expulsos de España aunque tenia pribile-
gio por no lo ser. Sobre los mecanismos de exclusión de grupos no afectados por el decreto de expulsión,
entre otros los ya dichos mudéjares, ver L. CABRERA DE CÓRDOBA, op. cit., p. 396; A. GARCÍA LÓPEZ,
Moriscos en tierras de Uceda y Guadalajara..., p. 164, se hace eco del número de mudéjares no expulsa-
dos, tanto de Guadalajara capital, ochenta casas, como en el señorío de Molina y la villa de Atienza, que
cifra en treinta hogares.
26. S. de TAPIA, op. cit., p. 183, ya atestiguó este caso en 1565 para los asentados en Castilla.
27. A.H.N., Inq., Leg. 191, exp. 30, se halla su proceso; ibídem, Leg. 2.106, exp. 20, Relaciones de cau-
sas del tribunal de Toledo correspondiente a 1620.
28. Ibídem, Leg. 3, carta del tribunal toledano a la Suprema, Toledo, 27 de marzo de 1620.
29. Es un asunto ya largamente debatido, y escapa al sentido de este trabajo denunciar públicamente la
actitud partidista del Santo Oficio; remito a mi tesis La minoría judeoconversa en la época del Conde Du-
que de Olivares..., donde abordo con detalle dicho aspecto; para este propósito ver la parte IV, capítulo
III: «El uso político de la Inquisición».

163
JESÚS CARRASCO VÁZQUEZ

car una suerte de ritual higiénico que, indefectiblemente, fue asociado con su origen
musulmán. Otro testigo, en este caso una mujer, dijo que habiendo coincidido con
él en la Puerta del Sol e interesándose por ese proceso habido ante el Santo Oficio
hoy desaparecido, Carmona le manifestó no estar preocupado, pues tenía el favor
del Espía Mayor del Rey y del señor Inquisidor General y que le quería más que el
de dios y de todos sus santos y apóstoles. Si analizamos con detalle las acusaciones,
aparte de la coincidencia de las fechas, vemos que las mismas apuntaban a dos deli-
tos muy queridos y reprimidos por el Santo Oficio: la herejía y la blasfemia30.
Ya tenía la Inquisición tres testimonios. Ya podía iniciarse el procedimiento31. El
día 4 de junio, don Gaspar de Peralta se dirigía a la Suprema indicando esta cir-
cunstancia y pidiendo que se iniciasen las actuaciones pertinentes. Carmona fue lle-
vado a Toledo el día 8 de julio y su primera declaración la prestó ante los inquisidores
el día 10, siendo acusado de hereje. Reconoció su origen “morisco antiguo” y que
ya había sido preso y condenado al destierro por el Santo Oficio, suponiendo que
su prisión tenía que ver con el quebrantamiento de la condena. Siguiendo los pasos
marcados por el sistema procesal, el reo fue convocado en dos ocasiones más para
solicitar su confesión voluntaria, retornando a la celda tras el trámite y quedando a
la espera de que los inquisidores volviesen a llamarle, sin que el procedimiento de-
terminase ni cuándo ni cómo. Este era un método que daba excelentes resultados a
los ministros del Santo Oficio que controlaban con pericia los tiempos del proceso,
lo que, por otro lado, sumía al reo en un mar de confusión y duda que, en ocasio-
nes y según fueran las circunstancias personales y psicológicas del detenido, podía
llevarle a dar pasos en falso. Eso le aconteció a Carmona, viendo que no podía ima-
ginar qué personas habían testificado contra él para “tacharlas”32, equivocó su
comportamiento e intentó comprar la complicidad del alcaide de las cárceles del tri-
bunal toledano, Diego Madrigal, con cien escudos y cuatro sortijas de oro que, ob-
viamente, no tenía en la prisión, por lo que le indicó que acudiese a Madrid, donde
otro espía del rey, Martín de Arizmendi, se lo facilitaría. Para ayudar a Madrigal a
identificar a Arizmendi le indicó que Luis Hernández, el arriero, le daría razón de
donde posaba. Vemos pues que los dos testigos de cargo del año 1615 volvían a ser
invocados por Carmona en su socorro. Madrigal no tuvo en cuenta la oferta, no sa-
bemos bien por qué razón, pues es de sobra conocido el grado de venalidad de aque-
lla sociedad, quizá el ministro fuera un hombre íntegro, tampoco podemos descar-

30. A.H.N., Inq., Leg. 191, exp. 30, testimonios de Pedro de Santa María, converso de nación hebrea y
natural de Orán, lacayo del conde de Benavente; Miguel Rodríguez, también converso de judío; ambos
le denunciaron por apóstata. Ana M.ª de Espinosa fue la persona que le acusó de blasfemar. Ibídem, Leg.
2.106, exp. 20, no se alude al testimonio de esta mujer.
31. Sobre el sistema procesal de la Inquisición española ver B. AGUILERA BARCHET, «El procedimien-
to de la Inquisición española», en J. PÉREZ VILLANUEVA y B. ESCANDELL BONET (dirs.), op. cit., vol. II,
pp. 334-558; J.M. PÉREZ-PRENDES MUÑOZ-ARRACO, «El procedimiento inquisitorial (Esquema y sig-
nificado)», en Inquisición y conversos, Toledo, 1993, pp. 147-190; J.A. LLORENTE, Discursos sobre el or-
den de procesar en los tribunales de Inquisición, Pamplona, 1999, edición crítica a cargo de E. de la Lama
Cereceda. Una síntesis muy pragmática en R. GARCÍA CÁRCEL y D. MORENO MARTÍNEZ, Inquisición.
Historia crítica, Madrid, 2000, pp. 162-174.
32. Sobre el significado procesal de la tacha de testigos, ver B. AGUILERA BARCHET, «El procedimiento
de la Inquisición...», p. 420, «Testigos de la defensa: tachas, abonos e indirectas».

164
UN ESPÍA MORISCO AL SERVICIO DE FELIPE III

tarlo, persuadido de la importancia de su trabajo y de su papel dentro de la estruc-


tura del Santo Oficio33. La realidad de los hechos es que el día 23 de julio el alcalde
compareció voluntariamente ante los inquisidores y denunció el intento de cohecho.
Por tanto Carmona había dado un paso en falso. Sorprende que un hombre acos-
tumbrado a moverse con soltura entre aguas turbias, equivocara la estrategia y per-
mitiera a la Inquisición acumular un cargo más contra él. A partir de ese momento
los acontecimientos se precipitaron. Había prisa por sustanciar el asunto, decimos
prisa porque si analizamos los tiempos medios de un proceso inquisitorial, el de nues-
tro hombre se resolvió con brevedad. Los inquisidores tenían la pieza apetecida, esto
es a Carmona, y no precisaban de mucho más para dictar sentencia, aunque para eso
era necesario que primero el fiscal le acusara formalmente. Eso sucedió el día 27, mo-
mento en el cual nuestro hombre tuvo conocimiento exacto y preciso de qué se le
acusaba: herejía y encubrimiento de apóstatas.
Un mes después se le publicaron los testimonios acusadores que, como es bien
sabido, ocultaban el nombre del denunciante. Carmona rechazó todas las imputa-
ciones y sólo aceptó el intento de soborno, añadiendo que lo hizo por estar afligi-
do de que le acusaban de algo que era mentira y no podía tachar a los testigos por-
que no sabía quiénes eran. En ese momento, debió de ser consciente de que había sido
abandonado, de que nadie iba a ayudarle. Estaba solo y desorientado ante un pro-
ceso inquisitorial que seguía su curso, sin poder identificar a sus acusadores; él, que
había sorteado tantas pruebas difíciles con relativo éxito, se encontraba ahora a mer-
ced de un tribunal implacable, siempre que no se contase con ayuda en las altas ins-
tancias de decisión34, que haría justicia en su persona, y eso, necesariamente, era un
grave riesgo físico y psicológico, amén de las consecuencias de todo tipo que com-
portaba una sentencia inquisitorial por herejía. Por si tenemos alguna duda de su de-
sorientación, no tenemos más que mirar los nombres de los testigos que le acusaron
y la relación de personas a quienes identificó como enemigos. De la comparación po-
demos apreciar que no fue capaz de adivinar a ninguno de los denunciantes. Sus ene-
migos habían sabido elaborar una buena estrategia de ataque, aunque, bien visto, a
nosotros nos permite saber qué pasaba por su cabeza y hacia qué personas dirigía su
recelo. La relación de enemigos es corta en nombres y situaciones, por esa razón qui-
zá merezca la pena hacer una breve síntesis de la misma:

33. La función de un alcaide dentro del sistema organizativo de la Inquisición era responsabilizarse de
la vigilancia y atención de los presos; sobre esta figura hay abundante bibliografía, al respecto se puede
consultar H.C. LEA, Historia de la Inquisición española, 3 tomos, Madrid, 1983, tomo II, p. 105; J. CON-
TRERAS CONTRERAS, El Santo Oficio de la Inquisición de Galicia (1560-1700), Madrid, 1982, p. 312; J.
MARTÍNEZ MILLÁN, La hacienda de la Inquisición (1478-1700), Madrid, 1984, pp. 234-235; J.P. DEDIEU,
L’administration de la foi. L’Inquisition de Tolède (XVIe-XVIIIe siècle), Madrid, 1989, p. 167; R. LÓPEZ
VELA, «Las estructuras administrativas del Santo Oficio», en J. PÉREZ VILLANUEVA y B. ESCANDELL BO-
NET (dirs.), op. cit., tomo II, Madrid, 1993, p. 171.
34. Al respecto remito a mi tesis para conocer los avatares del proceso de Saravia y el buen resultado fi-
nal obtenido, La minoría judeoconversa en la época del Conde Duque de Olivares..., parte V. Como con-
traposición a ello y como ejemplo de víctima que no tenía apoyos políticos, ver mi artículo «Una fami-
lia de judeoconversos portugueses de Hita ante el tribunal de la Inquisición (1660-1661)», Wad
al-Hayara, 27, 2000, pp. 85-100.

165
JESÚS CARRASCO VÁZQUEZ

Por ser amigos de los portugueses, colaborar con ellos en contra de Carmona, de-
nunció a las siguientes personas: José de Arteaga, hijo del alguacil Arteaga35, el que
allanara la casa del Espía Mayor, como ya vimos en el punto anterior; Andrés Mo-
lina, tejedor de tafetanes y su mujer, Gracia, también llamada María Díaz; Pedro Ba-
llesteros y su mujer doña Luisa Vanegas, y Andrés Ximenes.
Junto a los anteriormente citados, aparecen señaladas como enemigas las si-
guientes personas: Francisca de la Paz y sus hijas, vecinas de Toledo, porque le pi-
dieron en una ocasión que jurase falsamente contra Blas Martín, que había tenido re-
laciones carnales con una de las hijas siendo doncella; María Hernández y sus hijas,
porque Carmona se aprovechó de una de ellas que era doncella y quiso desentenderse
después; Isabel Mensoa, criada de doña Luisa Vanegas, a la que riñó y propinó un
puntapié por hablar con su ama en arábigo, de lo que se deduce que ambas eran mo-
riscas.
Vemos pues que, salvo las situaciones anteriores que se comentan por sí mismas,
Carmona tenía claro que sus enemigos principales eran los portugueses. Por los nom-
bres sabemos que apuntó contra gentes de escasa entidad, “clientes” de los princi-
pales, éstos bien se cuidaban de no actuar directamente. A pesar de ser buen cono-
cedor de sus modos de operar, nuestro hombre no atinó con los que le denunciaron.
Eso demuestra que sus rivales prepararon bien la estrategia.
Nada sucedió, al menos oficialmente y registrado en los documentos, hasta el 20
de octubre. Ese día los inquisidores entendieron que el reo no colaboraba como ellos
esperaban, que ocultaba información y había que conseguir que la declarase. Por esa
razón convinieron en darle tormento. Hasta el día 3 de diciembre no se le aplicó. ¿Por
qué esa demora? Aunque no he podido encontrar noticia en la correspondencia cru-
zada entre el tribunal de Toledo y la Suprema, es bien sabido que, sobre todo a par-
tir del XVII, nada se movía sin su consentimiento, por ello es plausible suponer que
el tiempo transcurrido entre la decisión y la sesión de la tortura es el que ocupó a
quienes tenían que autorizar su ejecución. Así pues, el día señalado se produjo la te-
mida aplicación del mecanismo coercitivo diseñado para conseguir la confesión del
reo, y el verdugo se empleó a fondo, llegando a darle hasta una cuarta vuelta de cor-
del, aunque nunca consiguiera la confesión de Carmona, que siempre proclamó su
inocencia. En esa situación se decidió reconsiderar la estrategia para finalmente, el
día 12 de diciembre, decidir que saliese en auto de fe, que abjurase de vehementi36
y que al día siguiente se le diesen cien azotes y se le condenase a galeras, al remo y
sin sueldo por tiempo de tres años. La sentencia se ejecutó el 20 de junio de 162137.

35. A.H.P.M., protocolo n.º 5.008, f. 1.068 r y ss., se trata de la solicitud de partición de los bienes por
fallecimiento del alguacil, acaecida en 1627. La diligencia es de 1629 y fue hecha por uno de los hijos del
finado, el presbítero Francisco de Arteaga; entre los solicitantes figura José.
36. Era la que hacía el reo cuando su delito estaba semiplenamente probado o existían contra él otros in-
dicios que impedían que pudiera ser absuelto sin infamia; A.H.N., Libro 1.305, f. 3, citado por C. MA-
QUEDA ABREU, El auto de fe, Madrid, 1992, pp. 382-383; también en B. AGUILERA BARCHET, «El pro-
cedimiento de la Inquisición...», p. 488; según J.A. LLORENTE, Historia crítica de la Inquisición en España,
4 vols., Madrid, 1981, vol. I, p. 19, era la pena que se imponía al que está declarado por sospechoso de he-
rejía con sospecha vehemente.
37. A.H.N., Inq., Leg. 2.106, exp. 20.

166
UN ESPÍA MORISCO AL SERVICIO DE FELIPE III

Desde ese momento se pierde su rastro. No es extraño visto el trato que sufrió; por
eso no debe sorprendernos el hecho de que no fuera localizado por la Inquisición
cuando procesaba a Juan Núñez Saravia (1632-1637) y pretendió que el morisco se
ratificase en sus acusaciones38.

CONCLUSIÓN

Cabría preguntarse qué destino les deparó la suerte a cada uno de los actores obli-
gados de esta narración. Hemos de señalar que los delincuentes lograron su objeti-
vo, salvaron su vida y hacienda, según los casos, y siguieron disfrutando de sus ac-
tividades, tanto vitales como mercantiles, superando la prueba con evidente éxito.
Todo lo contrario de lo que les sucediera a los servidores de la Corona: Méndez Tran-
coso resultó ser el mejor parado. Coton falleció de resultas de la herida, y Carmo-
na sufrió en sus carnes, en el sentido moral y literal de la palabra, la justicia sesga-
da y partidista del tribunal de la Inquisición. Gaspar Fernández, “el sevillano”, el
sicario que asesinó a Coton, fue condenado a muerte por ahorcamiento y tras ello
que su cuerpo fuese arrastrado, según consta en un memorial firmado por el algua-
cil Damián Bravo39. La realidad fue muy distinta: sabemos que estuvo detenido en
la cárcel de Corte hasta 1627 o 1628, momento en el cual su caso fue definitivamente
sentenciado sin que podamos precisar si la condena fue a galeras o a las minas de azo-
gue, los testimonios consultados difieren en este punto40, ni tampoco que llegara a
cumplirla. La realidad fue que su castigo duró poco tiempo. En un momento im-
preciso, pero siempre antes de 1633, estaba ya viviendo en la judería de Venecia, don-
de se había circuncidado y adoptado el nombre de Isaac de Zoiza Sevillano41.
Por lo que respecta a Juan Núñez Saravia, hay que señalar que sorteó de forma
espléndida su paso por las cárceles reales. Aunque fuera atormentado, logró supe-
rar la prueba sin confesar nada antes de desmayarse; salió libre sin condena y recu-
peró la administración de su hacienda que había sido puesta en manos de su tío car-
nal, Juan Núñez Correa42. Cuatro años después le eligió para sucederle al frente de
su casa y de sus negocios, iniciando así una fulgurante carrera que le llevó a con-
vertirse en asentista de la Corona en 162743.
Viendo las páginas que anteceden es justo señalar la paradoja en que vivía sumi-
da la Corona en aquellos turbulentos y agitados tiempos: por un lado una parte de

38. Ibídem, Leg. 171, exp. 4, 6ª pzª, f. 123 r.


39. Este hombre había participado en la detención de los implicados en todo el asunto que va narrado;
el escrito lo publicó A. RODRÍGUEZ-MOÑINO, «Catálogo de memoriales presentados al Real Consejo de
Indias (1626-1630)», Boletín de la Real Academia de la Historia, vol. CXXX, p. 487.
40. A.H.N., Inq., Leg. 159, exp. 2, testimonios de Luis Enríquez Albín (26 de mayo de 1634) y de Mi-
guel Núñez (22 de mayo de 1634).
41. Ibídem, testimonio de Francisco Bragarin, alias Elías Mocato (8 de mayo de 1634).
42. A.H.P.M., Leg. 4.016, ff. 598 r-v, Madrid, 11 de abril de 1620.
43. Todos los detalles en mi tesis, op. cit., en particular parte IV, cap. II: «Saravia financiero de la Coro-
na: asientos y negocios».

167
JESÚS CARRASCO VÁZQUEZ

la misma se movilizaba y actuaba contra los infractores. De otro, los delincuentes eran
capaces de ahormar apoyos en su favor venidos de las instancias de poder donde com-
praban voluntades. Eran tiempos de caos, en palabras de Antonio Feros Carrasco44,
los que se vivieron en la Corte entre 1618-1621, con dos facciones del clan de los San-
doval luchando por el control del poder, y todo ello en unos delicados momentos
de política internacional con la implicación directa en la Guerra de los Treinta Años
y con el vencimiento de la Tregua de los Doce Años a la puerta, que tendrían su re-
flejo en una de por sí ya maltrecha economía45. Fue esa tremenda incongruencia en
la que vivía inmersa la Corona la que permitió que sus colaboradores fuesen sacri-
ficados y los infractores sortearan airosos la crisis.

44. El Duque de Lerma. Realeza y privanza en la España de Felipe III, Madrid, 2002, p. 439. J.E. ELLIOT,
El Conde Duque de Olivares, Barcelona, 1990, p. 58 y ss. A.G.S., Estado, Leg. 2.308, exp. 226, don Juan
de Arboláez, correo mayor de Irún al Rey, 21 de marzo de 1620, en este contexto es como debemos en-
tender la carta dirigida por don Juan de Arboláez, personaje clave en todo el entramado de la moneda fal-
sa. Traído a la corte por don Luis de Paredes para su testificación, apeló al monarca por lo que conside-
raba un ataque injustificado a su honor. La respuesta fue rápida y no se hizo esperar, llegó de la mano del
secretario regio, don Juan de Ciriza, quien se dirigió a Paredes pidiéndole explicaciones y reconvinién-
dole por su proceder, ver ibídem, Leg. 2.308, exp. 225, respuesta de Paredes, dada el 24 de marzo de 1620.
Ciriza era un personaje corrupto e indigno, ver J.E. ELLIOT, op. cit., p. 120.
45. A. DOMÍNGUEZ ORTIZ, Política y Hacienda de Felipe IV, Madrid, 1983, pp. 7-9; J.E. GELABERT GON-
ZÁLEZ, La bolsa del Rey. Rey, reino y fisco en Castilla (1598-1648), Barcelona, 1997, p. 60 y ss.

168
LA TORRE DE LA IGLESIA PARROQUIAL
DE BÁRBOLES. ANÁLISIS DE SU FÁBRICA, DECORACIÓN
Y CONTEXTO, A PARTIR DEL LEVANTAMIENTO
PLANIMÉTRICO PREVIO A SU RESTAURACIÓN*

J. Fernando Alegre Arbués**

La torre de la iglesia parroquial de Bárboles, datada por Gonzalo Borrás1 en el


final del siglo XV, es el único elemento conservado de la preexistente edificación me-
dieval. Quedó incorporada al muro suroeste de la nueva fábrica renacentista, edifi-
cio del que se conoce autoría (los maestros Botero, padre e hijo), y fecha de cons-
trucción (se capitula en 1544 y se concluye en 1546)2.
Responde al tipo bien conocido de alminar hispano con escalera desarrollada en
torno a machón central hueco, de medio pie, y formada con bovedillas por aproxi-
mación de hiladas. Los muros exteriores, de pie y medio de espesor, elevan un pris-
ma de base cuadrada, de 3,50 metros de lado y 17 m de altura.
Es en sus aspectos morfológicos, más que en su tipología, donde el análisis de la
fábrica que acompaña al levantamiento planimétrico puede aportar algunos datos al
conocimiento, valoración y contextualización de esta torre.

* Se ha confeccionado en 2004 la planimetría completa del edificio mediante croquización y medición


directa, con apoyo taquimétrico, si bien la primera fase de los trabajos de restauración afectan únicamente
a la cubierta. Agradezco a Agustín Sanmiguel Mateo el estímulo para presentar esta comunicación y a Ja-
vier Ibáñez Fernández sus oportunas informaciones históricas y la posibilidad de contrastar las obser-
vaciones de arquitecto e historiador sobre el monumento.
** Arquitecto.
1. G.M. BORRÁS GUALIS, Arte mudéjar aragonés, Zaragoza, Caja de Ahorros y Monte de Piedad de Za-
ragoza, Aragón y Rioja-Colegio Oficial de Arquitectos técnicos y Aparejadores de Zaragoza, 1985, tomo
II, p. 84.
2. La construcción del templo fue contratada a finales de enero de 1544 (C. GÓMEZ URDÁÑEZ, «Juan
Lucas, alias Botero, y la arquitectura aragonesa de la primera mitad del s. XVI», Artigrama, 5, Zarago-
za, Departamento de Historia del Arte de la Universidad de Zaragoza, 1988, doc. n.º 8, pp. 69-70). El edi-
ficio ya estaría concluido el 8 de junio de 1446, cuando se consagró (J. IBÁÑEZ FERNÁNDEZ, «La iglesia
parroquial de El Pozuelo de Aragón (Zaragoza). Estudio documental y artístico», Turiaso, XVI, Tarazona,
Centro de Estudios Turiasonenses, 2001-2002, p. 223, nota n.º 49).

169
J. FERNANDO ALEGRE ARBUÉS

Foto 1. Fachada sureste. Foto 2. Fachada noreste.

Foto 3. Zona bajo cubierta de la fachada Foto 4. Detalle de los restos de decora-
noroeste. ción cerámica.

170
LA TORRE DE LA IGLESIA PARROQUIAL DE BÁRBOLES

DECORACIÓN

La decoración se dispone a partir de los cinco metros del arranque, en forma de


frisos de esquinillas y lazo. Buena parte de esta decoración permanece inédita, ya que
se encuentra oculta por edificaciones adosadas.
Así, el alzado sureste sólo puede observarse completo desde un pasadizo priva-
do, mientras que parte de los alzados noroeste y suroeste se han podido localizar en
los graneros de la casa vecina.
Otra zona del alzado noreste también se ha podido reconocer en el bajocubier-
ta de la nave, donde ahora se interviene, y donde se observan, por cierto, sucesivas
soluciones para el difícil encuentro entre la cubierta de la nave renacentista y el cam-
panario mudéjar. También es aquí visible la oblicuidad entre las dos fábricas.
Se comprueba que el desarrollo de la decoración es idéntico en las cuatro facha-
das. Carece de impostas, cornisas o cualquier elemento volado que indique super-
posición de cuerpos. El tipo y formato del ladrillo, así como su aparejo, no presen-
ta variación a lo largo de toda su altura.
El tercio superior, cuerpo de campanas, presenta dos vanos por fachada y apli-
cación de cerámica vidriada. Se trata de discos o ataifores dispuestos al tresbolillo,
creando una red de rombos, con algunas irregularidades. Las piezas están incorpo-
radas a la fábrica en su origen, ya que se observa el aparejo interrumpido para en-
cajarlas, al menos en la zona inferior a los vanos. En el resto, el ladrillo aparece con
frecuencia picado para embutir la pieza.
Su conservación es muy fragmentaria, dado que en algún momento las superfi-
cies exteriores se alisaron por completo3, y la mayor parte ha desaparecido, dejan-
do su impronta en el yeso de agarre. Se trata, como se ha dicho, de ataifores vidria-
dos en verde de cobre, aunque hay restos de una pieza morada de manganeso. Sobre
las claves de los dos arcos de la fachada nordeste se habían colocado azulejos cua-
drados, no quedando claro si esto sucedía en el resto.

ALTERACIONES

Lo descrito constituye un único cuerpo de fábrica que presenta alteraciones cla-


ramente identificables.
El acceso se realizaba por su fachada sureste, a través de un arco que se conser-
va muy enmascarado por añadidos externos y por las bóvedas tabicadas que soportan
los escalones nueve al doce, los únicos que no corresponden a la obra original. Se
practicaron algunos vanos nuevos para dar acceso al coro, a un palomar desapare-
cido y al bajocubierta.
El chapitel actual es una reconstrucción del que fue parcialmente demolido por
el Servicio de Restauración de la Diputación Provincial de Zaragoza en 1997, dado

3. En las zonas hundidas de la decoración de ladrillo aparecen rellenos de cascote y yeso. Las piezas vi-
driadas parecen rotas intencionadamente. Todo indica que, en una fecha aún indeterminada, se preten-
dió dar al campanario un aspecto diferente, alisado y enlucido por completo. La poca durabilidad del ma-
terial de recubrimiento utilizado ha dejado a la vista de nuevo su decoración original.

171
J. FERNANDO ALEGRE ARBUÉS

su estado ruinoso4. Conserva de lo original el ochavado de la planta, que se consi-


gue con hiladas en voladizo, y el arranque del remate piramidal. Que tal remate fue-
ra o no el que la torre lució inicialmente es algo que, desde el análisis de lo actual,
no podemos determinar. Lo cierto es que este sistema de ochavado pudo soportar
igualmente un pequeño remate prismático o una cúpula de pabellón.

Fig. 1. Planta general.

CONTEXTO

Conviene anotar los siguientes rasgos de su contexto original, que se infieren del
análisis del estado actual.
La orientación del eje transversal forma un ángulo aproximado de 65 grados con
el eje geográfico norte-sur.
Los vanos de iluminación, en forma de aspillera, se disponen desde el arranque
en las fachadas noreste y noroeste y a partir de siete metros de altura en la suroes-
te. En cuanto a la fachada sureste, la de acceso, no presenta vanos, pero sí decora-
ción a partir de los cinco metros.

4. El arquitecto autor de esta comunicación dirigió posteriormente la reconstrucción sobre la base de


los datos geométricos y de lo subsistente. También se encadenó el remate y se construyó una cornisa de
pisones como protección.

172
LA TORRE DE LA IGLESIA PARROQUIAL DE BÁRBOLES

Fig. 2. Secciones de la torre.

173
J. FERNANDO ALEGRE ARBUÉS

Fig. 3. Sección longitudinal de la nave. Alzado noreste de la torre.

174
LA TORRE DE LA IGLESIA PARROQUIAL DE BÁRBOLES

Fig. 4. Sección transversal de la nave. Alzado sureste de la torre.

175
J. FERNANDO ALEGRE ARBUÉS

Estos datos nos hacen concebir esta torre como una edificación casi exenta en su
estado original. De haber tenido pared común con otro cuerpo edificado, una
nave, ésta debió de ser considerablemente más baja que la actual y situarse al suroeste,
es decir, en el lado opuesto. El acceso a la torre no se realizaría desde este espacio,
sino probablemente desde un anexo o espacio exterior. En esta zona se conserva el
arranque de un arco, que fue incorporado a la fábrica del Quinientos, en una capi-
lla del lado de la Epístola, que bien pudo pertenecer a un edificio medieval.
La naturaleza del edificio al que perteneció en origen tan sólo se intuye a partir
de lo referido, si bien el estudio desde otras áreas disciplinares de la evolución de la
población musulmana de Bárboles en el final de la Edad Media y la investigación ar-
queológica podrían tal vez determinarla.

176
YESERÍAS MUDÉJARES ARAGONESAS:
CARACTERÍSTICAS DE LOS VENTANALES Y ÓCULOS
DE YESO DE UN MAESTRO ACTIVO EN TOBED,
TORRALBA DE RIBOTA Y MALUENDA

Katharina Pieper*

El objeto de análisis de este trabajo es un grupo de ventanales y óculos de yeso


que pertenecen, a mi juicio, a un mismo taller. Muy probablemente están hechos por
un solo maestro. Se trata de los ventanales y óculos del primer tramo de la iglesia de
San Félix en Torralba de Ribota, los del segundo tramo de la iglesia de Santas Justa
y Rufina en Maluenda y los del segundo tramo de la iglesia de Santa María en To-
bed, contando desde la cabecera respectivamente1.
Primero presentaré brevemente las tres iglesias por separado, delimitando los ven-
tanales objeto de este estudio de los demás talleres de yeso existentes en cada edifi-
cio2. Tomando en consideración las restauraciones llevadas a cabo, revisaré la au-
tenticidad de las yeserías aquí estudiadas. En un segundo paso, analizaré algunos de
los elementos formales más notables de estas yeserías (composición, sistemas de ar-
cos entrecruzados, ataurique, lacerías y tracería gótica). Intento tanto destacar sus
singularidades como señalar las características comunes con otros ventanales mu-
déjares aragoneses. Por último, se aborda la datación estilística de las yeserías, co-
tejándola con los datos históricos conocidos de las iglesias en cuestión.

* Historiadora del Arte.


1. Este estudio está basado en algunos resultados de mi tesis doctoral, Der mudejare Bauschmuck im
mittelalterlichen Aragón am Beispiel der Stuckfenster («La decoración arquitectónica mudéjar en el Ara-
gón medieval a través de los ventanales y óculos de yeso»), defendida en la Universidad de Bonn (10 de
mayo de 2005). La tesis ha sido dirigida por el Prof. Christian Ewert, estando pendiente su publicación.
2. Esta delimitación de talleres es en el fondo el resultado del análisis formal de todos los ventanales y
óculos existentes en cada iglesia (véase mi tesis doctoral).

177
KATHARINA PIEPER

SANTA MARÍA EN TOBED

La iglesia de Santa María en Tobed se construye a partir de 1356, pero la deco-


ración de la misma no se termina hasta tiempos del papa Benedicto XIII (1394-1423)3.
Respecto a las yeserías, desde el análisis de José María López Landa4 se ha man-
tenido la tesis de la existencia de dos talleres. El primer taller comprende los venta-
nales y óculos de los dos primeros tramos, coincidiendo con la primera fase de obras
datada hasta ahora por Gonzalo Borrás en 1356-13595. El segundo taller corresponde
al tercer y último tramo de la iglesia y está fechada por la presencia del escudo del
Papa Luna (1394-1423) en la clave de bóveda del mismo tramo.
Aunque los ventanales del segundo tramo (J2Ns y J2Ss)6 repiten la composición
de los ventanales del testero del primer tramo y pertenecen a la misma fase de obras,
el estudio minucioso de las yeserías evidencia a mi juicio la mano de otro maestro.
A este segundo maestro, que es objeto de este estudio, adscribo las yeserías del se-
gundo tramo: dos grandes ventanales (J2Ns y J2Ss) y cuatro óculos (J2No, J2So,
KN2o, KS2o).
Durante las restauraciones ejecutadas en los años setenta del siglo XX bajo la su-
pervisión del arquitecto Francisco Pons Sorolla se intervino en los cuatro óculos del
segundo tramo7. Se conoce el estado del óculo de la capilla lateral el lado sur
(KS2o) por descripciones y fotografías anteriores a la intervención8: el lazo era prác-
ticamente completo, pequeñas roturas han sido cerradas. Algunas fotografías tomadas
durante las restauraciones por Jesús Tricas9 revelan el estado de los demás óculos del
segundo tramo. El óculo KN2o presentaba fragmentos de su lazo alrededor del bor-

3. Para más detalles sobre la historia de la iglesia, véase G.M. BORRÁS GUALIS, Arte mudéjar aragonés,
Zaragoza, 1985, t. 2, pp. 410-413; K. PIEPER, «La Virgen de Tobed. Observaciones sobre la datación de
la iglesia», III Jornadas de Estudio: La Orden del Santo Sepulcro, Zaragoza-Calatayud, 7-10 de abril de
1999, Actas, Zaragoza, 2000, pp. 287-297. El hallazgo de dos inscripciones durante las restauraciones ac-
tualmente en curso con el nombre del maestro de obras Mahoma Qalahorí ha contribuido a una nueva
interpretación de los datos históricos conocidos (véase también la ponencia de Borrás Gualis en este mis-
mo volumen).
4. J.M. LÓPEZ LANDA, «Iglesias goticomudéjares del arcedianado de Calatayud», Arquitectura, mayo
1923, separata, pp. 4-5.
5. G.M. BORRÁS GUALIS, op. cit., 1985, t. 2, pp. 410 y 413.
6. Se trata de los ventanales apuntados del segundo tramo en el lado norte (J2Ns) y en el lado sur (J2Ss).
Aquí se utilizan las abreviaciones empleadas en mi tesis doctoral para la localización de los ventanales y
óculos: J1, J2... (Joch) = primer, segundo... tramo contado desde la cabecera, K (Kapelle, Einsatzkapelle)
= capilla lateral; especificación de la ubicación de la ventana dentro del tramo: N (Norden) = lado nor-
te, S (Süden) = lado sur, O (Osten) = lado oriental (La designación de los puntos cardinales parte del su-
puesto que las iglesias están orientadas hacia el este aunque en la realidad haya variaciones.); diferencia-
ción de la forma de la ventana: s (Spitzbogenfenster) = ventana de arco apuntado, o (Okulus) = óculo,
ventana circular.
7. Los dos grandes ventanales son originales. Su estado inalterado se corrobora por fotografías anteriores
a la restauración, como las publicadas por López Landa en 1923 (J.M. LÓPEZ LANDA, op. cit., sin página).
8. Descripción en J. GALIAY SARAÑANA, Arte mudéjar aragonés, Zaragoza, 1950, p. 160. También exis-
te una fotografía del óculo tomada por el mismo autor (AHPZ, Archivo Fotográfico Galiay, Tobed
n.º 455).
9. J. TRICAS RALLA, fotografías inéditas en posesión del autor.

178
YESERÍAS MUDÉJARES ARAGONESAS

de que correspondían al lazo del óculo KS2o según el cual ha sido reconstruido10. Sin
embargo, los restos originales no eran suficientes para excluir otras posibles re-
construcciones. Por ejemplo, también se hubieran podido completar según el lazo
existente en el óculo J2So de Maluenda. Las yeserías de los óculos de la nave, un lazo
de doce (J2No) y un lazo curvilíneo (J2So), eran en gran parte originales y han sido
completadas. Durante las restauraciones actualmente en curso ejecutadas por la em-
presa Tracer y bajo la supervisión del Ministerio de Cultura y de Patrimonio Cul-
tural de la Diputación General de Aragón, se ha podido constatar que, entonces, el
lazo curvilíneo debió de haber estado roto en pedazos y que las piezas se unieron de
manera algo incoherente, defecto que se ha subsanado en la restauración actual11.

SAN FÉLIX EN TORRALBA DE RIBOTA

En 1367, el obispo de Tarazona manda reconstruir la iglesia parroquial de Torralba


de Ribota, sin que se sepa con qué demora se cumplió este decreto12. La decoración
de la iglesia se termina durante el obispado de Juan de Valtierra (1410-1433), según
se deduce de la existencia de su escudo en la enjuta de la arcada sobre la cual descansa
el coro alto13.
Gonzalo Borrás ha diferenciado dos talleres de yeso en la iglesia de Torralba: por
un lado el ventanal J1Os, de clara tradición islámica, del cual destaca su relación con
el ventanal J2Ss de Maluenda, y por otro lado los demás ventanales de la nave, de len-
guaje gótico14. Parece que atribuye el ventanal J1Os a una primera fase de obras a par-
tir de 1367, mientras que los ventanales con tracerías góticas los adscribe a una se-
gunda fase de obras en tiempos del obispo Juan de Valtierra.
Creo que no sólo el ventanal con los arcos entrecruzados (J1Os) y el óculo con
lazo de doce (J1Oo), ambos situados en el lado este del primer tramo, sino también
los demás ventanales y óculos del primer tramo en su lado norte y sur (J1Ns, J1Ss,
J1No, J1So) corresponden a la primera fase de obras.
Las recientes restauraciones realizadas bajo la supervisión del arquitecto Joaquín
Soro López afectaron también a las yeserías del primer tramo. Las yeserías de los tres

10. En la reconstrucción no se han integrado los fragmentos encontrados. Existen otras copias del ócu-
lo KS2o en Tobed, tanto en el primer tramo (los óculos J1No, J1So, KS1o) como en el tercer tramo (el
óculo KS3o), pero estos son adiciones de la restauración sin base material.
11. Durante la restauración en curso se han limpiado las yeserías y se ha actuado sobre la intervención
de la restauración anterior sin alteración a lo que respecta las yeserías originales.
12. El dato ha sido aportado por López Landa en 1923, que resume su fuente con las siguientes palabras:
“Documentalmente se conoce cuándo comenzó a levantarse la de Torralba de Ribota, por decreto del obis-
po D. Pedro Calvillo, expedido en 1367 [...]” (J.M. LÓPEZ LANDA, op. cit., p. 2). Aunque el documento
original (ADT, Caja 7, Leg. 3, n.º 12, Tarazona 1371. Varios decretos episcopales, f. 63) se encuentra de
momento en paradero desconocido, la regesta realizada del documento por parte de Teresa Ainaga An-
drés en los años ochenta del siglo XX, antes de que se perdiera el códice, confirma que se trata únicamente
de un decreto de levantar una nueva iglesia y de que no se puede deducir del documento si realmente se
empezó a edificar la iglesia por estas fechas, como interpreta López Landa.
13. Ha sido Gonzalo Borrás quien ha llamado por primera vez la atención sobre este escudo (G.M. BO-
RRÁS GUALIS, Arte mudéjar aragonés, Zaragoza, 1978, p. 132).
14. G.M. BORRÁS GUALIS, op. cit., 1985, t. 2, p. 426.

179
KATHARINA PIEPER

grandes ventanales y del óculo oriental con lazo de doce (J1Oo)15 estaban casi intactas
y sólo se cerraron pequeños huecos. En el óculo del lado sur (J1So) faltaba el lóbu-
lo de tres en el centro que ha sido sustituido. Fragmentos de yeso habían indicado
su existencia. El óculo del lado norte (J1No) guardaba restos de yeso más frag-
mentados que correspondían al diseño del rosetón del lado sur (J1So) según el cual
ha sido repuesto. En los óculos de las capillas laterales del primer tramo faltaban las
yeserías. Los que hoy existen no corresponden a restos encontrados.

SANTAS JUSTA Y RUFINA EN MALUENDA

La única referencia respecto a la fábrica de la iglesia es una inscripción por de-


bajo del coro alto que conlleva la fecha de 141316 y que por los pocos fragmentos des-
cifrables hace sospechar una inscripción de terminación de las obras parecida a las
existentes en la iglesia de Santa María de Maluenda o en la parroquia de Cervera de
la Cañada.
Gonzalo Borrás interpreta la fecha de 1413 como terminación de la obra, supo-
niendo el comienzo a mediados del siglo XIV, sobre todo por las características for-
males del ventanal J2Ss17. En contra de esta periodización, María Isabel Álvaro y Pi-
lar Navarro parecen relacionar la fecha de 1413 con el ventanal J2Ss18.
En el análisis formal llevado a cabo en mi tesis doctoral he distinguido tres talleres:
un primer taller que engloba los ventanales de la cabecera y del primer tramo con-
tando desde la cabecera; un segundo taller correspondiente al segundo tramo, que
es él que aquí interesa y que comprende el ventanal J2Ss y los óculos J2No y J2So,
y un último taller que corresponde a la fecha de terminación de 141319.
La restauración de la iglesia a partir de 1965, que se prolongó hasta los años se-
tenta, afectó también a las yeserías. Mientras la originalidad de las yeserías del ven-
tanal del lado sur (J2Ss) está refrendada por una foto más antigua publicada por José
Galiay20, son otra vez fotografías tomadas por Jesús Tricas durante el proceso de res-
tauración las que aclaran la autenticidad de los demás ventanales21. El correspondiente

15. La copia del lazo en la fachada de la misma iglesia y una copia del mismo lazo en la iglesia parroquial
de Cervera de la Cañada son el resultado de restauraciones anteriores, sin ninguna base de evidencias que
acrediten estas actuaciones.
16. Inscripción dada a conocer por López Landa en 1923 y según su lectura: anno a nativitate Domini
milesimo CCCC decimo tercio die miercoles [...] Pedro y [...] Juan bautista [...] invicta eran maestros (J.M.
LÓPEZ LANDA, op. cit., p. 2). Véase también la lectura de Gonzalo Borrás (G.M. BORRÁS GUALIS, op. cit.,
1985, t. 2, p. 218).
17. G.M. BORRÁS GUALIS, op. cit., 1985, t. 2, pp. 217-218.
18. M.ªI. ÁLVARO ZAMORA y P. NAVARRO ECHEVERRÍA, «Las yeserías mudéjares en Aragón», Actas del
V Simposio Internacional de Mudejarismo (1990), Teruel, Instituto de Estudios Turolenses, 1991, p. 309.
19. A este taller adscribo el rosetón gótico de la fachada, el púlpito de yeso (sin su barandilla, que es pos-
terior) y un ventanal en el exterior de la cabecera donde se advierte un cambio de disposición original.
20. J. GALIAY SARAÑANA, op. cit., Lám. LIII. Se observa la falta del capitel izquierdo, que ha sido com-
pletado durante las restauraciones.
21. J. TRICAS RALLA, fotografías inéditas en posesión del autor.

180
YESERÍAS MUDÉJARES ARAGONESAS

ventanal al lado norte (J2Ns) es el resultado de la restauración, mientras que el ócu-


lo del lado sur (J2So) es original y sólo ha sido abierto. El óculo del lado norte (J2No)
parece haber sido completado en su parte derecha, como indica el color más claro
del yeso y la talla más esquemática del relieve.

COMPOSICIÓN
Las formas de las ventanas, ventanales de arcos apuntados y óculos circulares, co-
rresponden a la tradición gótica y condicionan la composición de la yesería, la cual,
por otro lado, pertenece a la tradición islámica.
Los ventanales apuntados se cierran con una arquería apoyada en columnas, en-
tre las cuales están colocadas placas rectangulares ornamentadas con lacerías. La ar-
quería no es parte tectónica de la ventana, sino que los arcos están recortados de una
placa de yeso colocada dentro del vano del arco de la ventana. Mientras que en los ven-
tanales J1Ns y J1Ss en Torralba la arquería forma parte de una tracería gótica, las ar-
querías de los demás ventanales se prolongan en un sistema de arcos entrecruzados
tallado en relieve en la placa maciza que cierra por completo el arco de la ventana. Los
paneles colocados entre las columnas y decorados con lacerías recuerdan a celosías,
pero al contrario de éstas, tales paneles son ciegos y sólo cierran una parte de la ven-
tana. Las placas de yeso predominantemente macizas de los ventanales recortan la luz
a menos del tercio central de la ventana que no está cerrada por placas de yeso.
La composición consistente en una arquería con paneles colocados entre las co-
lumnas no corresponde a una composición típica de ventana islámica, aunque los ele-
mentos aislados evidencian su tradición hispanomusulmana. Se trata de una com-
posición mudéjar que adapta elementos tomados de otros contextos, como la
arcada taifal o celosías como paneles, bajo la influencia de la tracería gótica como sub-
división de la ventana. La composición de ventanal con arquería y paneles coloca-
dos entre las columnas no sólo se observa en este grupo de ventanales, sino que po-
see bastante difusión a finales del siglo XIV y principios del siglo XV en el arte
mudéjar aragonés22.
Los cierres de yeso de los óculos corresponden o plenamente a la tradición gó-
tica, constituyendo tracerías en forma de rosetones en el caso de los óculos J1No y
J1So en Torralba, o bien se trata de auténticas celosías formadas por lacerías de tra-
dición islámica23. Sin embargo, las celosías hispanomusulmanas suelen mostrar un re-
corte de una lacería de desarrollo infinito, mientras que en estos óculos mudéjares,
a excepción del óculo J2So en Tobed con lazo curvilíneo, tienen composiciones ra-
diales adaptadas perfectamente al espacio circular de la ventana. Los modelos islá-
micos parecen ser medallones y no celosías de ventanas24. En los óculos, rara vez se

22. Ejemplos en los demás ventanales de Tobed y de Torralba de Ribota, en el monasterio de Rueda, en
San Pablo en Zaragoza y en las iglesias parroquiales de Cervera de la Cañada y de El Castellar.
23. Tobed J1No, J1So, KS2o, KN2o; Torralba de Ribota J1Oo; Maluenda J2So.
24. En el caso concreto del óculo J2So en Maluenda, Bernabé Cabañero ha podido identificar un medallón
del arco islámico de Maleján como modelo (B. CABAÑERO SUBIZA, «Los restos islámicos de Maleján (Za-
ragoza). Datos para un juicio de valor en el contexto de los talleres provinciales», Cuadernos de Estudios
Borjanos, XXIX-XXX, 1993, p. 29).

181
KATHARINA PIEPER

mezclan formas góticas e islámicas. Estas características generales aquí señaladas se


observan prácticamente en todos los óculos del arte mudéjar aragonés. El único ejem-
plo de los óculos aquí estudiados donde se funde el vocabulario gótico con el his-
panomusulmán es el óculo J2No en Maluenda. Se trata de una ventana de rueda que
incluye elementos islámicos como el entrelazado y hojas de ataurique.

SISTEMAS DE ARCOS ENTRECRUZADOS

En el ventanal del lado norte J2Ns en Tobed, el sistema de arcos entrecruzados


mixtilíneos (fig. 1a) apoya sobre cuatro columnas y está formado por cintas conti-
nuas mixtilíneas que se unen de dos en dos por encima de los capiteles en una unión
en forma de U. Estas cintas de segmentos convexos y angulares alternativamente as-
cienden en sentido diagonal y se cruzan de tal manera que visualmente forman unos
arcos mixtilíneos básicos y una red de rombos, el llamado motivo de sebka. Las cin-
tas constituyen los brazos de los arcos mixtilíneos que se interrumpen cortados por
el intradós de la ventana sin que se pueda establecer la extensión máxima de los bra-
zos de los arcos y las uniones entre las mismas. Se trata de un recorte de un sistema
de arcos entrecruzados más amplio sin poder reconstruir el mismo25. Me parece un
problema de adaptación no resuelto al espacio apuntado del ventanal donde se de-
sarrolla el sistema de arcos entrecruzados, ya que es común a todos los sistemas de
arcos entrecruzados en ventanales apuntados en el arte mudéjar aragonés. Un posi-
ble modelo taifal para el sistema aquí analizado es la arcada N1N26 de la Aljafería,
un sistema de dos series de arcos de dos tramos entrecruzados. Sin embargo, el re-
corte en Tobed es suficientemente amplio para suponer como mínimo cuatro o más
arcos mixtilíneos entrecruzados27, un número mayor que lo usual en sistemas de ar-
cos entrecruzados taifales. Además, la red de rombos como motivo visual prepon-
derante y el tratamiento de los brazos de arcos como meras cintas entrelazadas que
pierden todo sentido arquitectónico corresponden más bien a las características de
sistemas de arcos entrecruzados almohades.
El sistema de arcos entrecruzados del ventanal del lado sur J2Ss en Tobed (fig. 1b)
se diferencia del sistema analizado anteriormente por un motivo de arco invertido
en espejo. Después de formarse los arcos mixtilíneos básicos, constituidos por tra-
mos convexos y angulares, las cintas continúan alternándose a tramos cóncavos y an-
gulares, de tal manera que el arco básico aparece invertido en espejo por un eje de
simetría horizontal que atraviesa la punta de los arcos. Este sistema repite el siste-
ma de arcos entrecruzados del ventanal derecho del testero en Tobed (J1Os.2/2), pero
con más regularidad y claridad en el trazado. Que yo sepa, estos dos ventanales cons-

25. Esto impide una clara descripción y clasificación del sistema según el método empleado por Chris-
tian Ewert para las arcadas de la Aljafería (Ch. EWERT, Spanisch-islamische Systeme sich kreuzender Bö-
gen: III. Die Aljafería, Berlin, 1978, t. 1, pp. 53-116).
26. Denominación según Ch. EWERT, op. cit., t. 1, p. XIV: sala norte, arcada de acceso, fachada norte.
27. Véanse las posibles reconstrucciones en mi tesis doctoral.

182
YESERÍAS MUDÉJARES ARAGONESAS

a b

c d

Fig. 1. Sistemas de arcos entrecruzados: a) To-


bed, ventanal J2Ns. b) Tobed, ventanal J2Ss. c)
Torralba de Ribota, ventanal J1Os. d) Maluen-
da, ventanal J2Ss.

tituyen el único caso de adaptación del motivo de arco invertido presente en la ar-
cada N1S28 de la Aljafería taifal.
El sistema de arcos entrecruzados del ventanal J1Os en Torralba de Ribota (fig.
1c) combina un primer registro de arcos mixtilíneos y un segundo registro de arcos
lobulados. No se cruzan arcos mixtilíneos con arcos lobulados, sino que unas cin-
tas continuas dibujan por su entrelazamiento primero arcos mixtilíneos básicos y a
continuación arcos lobulados. Estos sistemas con distintos arcos entrecruzados ya
se observan en la Aljafería. Un modelo concreto con arcos mixtilíneos y lobulados
es la arcada N9W29. Como los demás sistemas de arcos aquí estudiados, el de Torralba
está también recortado de tal manera que no es posible reconstruir a ciencia cierta
la unidad base del sistema. Pero la existencia de un nudo circular en el vértice del sis-
tema en el cual confluyen dos cintas es un indicio de terminación del sistema, sobre
todo tomando en cuenta que estos nudos también aparecen en el modelo taifal se-
ñalado, la arcada N9W. Aceptando esta interpretación, se trata de un sistema de dos

28. Sala norte, arcada de acceso, fachada sur.


29. Patio central, acceso este, fachada oeste.

183
KATHARINA PIEPER

registros de arcos formado por una sola cinta continua cuya unidad base es un tra-
mo con paso de péndulo30. En el contorno del arco mixtilíneo, claramente distinto
al modelo taifal, se advierte una influencia gótica. El arco mixtilíneo está formado
por dos segmentos circulares contiguos, el primero más grande que el segundo, y a
continuación por un ángulo recto muy pequeño antes de que dos pequeños seg-
mentos lobulados muy aplanados constituyan el vértice del arco. Visualmente se per-
ciben los dos segmentos circulares como dos lóbulos que forman un pico entre ellos.
El contorno recuerda un arco lobulado gótico.
El sistema de arcos del ventanal J2Ss en Maluenda (fig. 1d) tiene gran parecido con
el estudiado en Torralba. Cintas continuas unidas por encima del capitel en forma de
U forman primero unos arcos mixtilíneos básicos y a continuación arcos lobulados.
Aunque existe también un nudo en el vértice el sistema de arcos, los brazos de arcos
no confluyen en éste, sino que se cruzan por debajo del mismo y siguen su trayec-
toria lobulada antes de que se corten por el marco. Se trata de un recorte de un sis-
tema indefinido, pero que tiene como mínimo dos registros lobulados, es decir, uno
más que el sistema en Torralba. El contorno del arco mixtilíneo corresponde al des-
crito en Torralba con el añadido de un pico en el lóbulo mayor que lo divide en dos.
Este pico tiene como relleno un diminuto folio de tres, tal y como aparece en los ar-
cos de las tracerías góticas de los ventanales J1Ns y J1Ss en Torralba. El arco mixti-
líneo de Maluenda reproduce el contorno de los arcos góticos de los ventanales de To-
rralba. Este detalle es, a mi juicio, un claro indicio para la adscripción de estos últimos
ventanales de lenguaje predominantemente gótico al mismo maestro.
Un ejemplo singular es el óculo J2No en Maluenda, donde no se trata de un sis-
tema de arcos entrecruzados, sino de soportes entrecruzados. En esta ventana de rue-
da con doce arcos trebolados apuntados, cada arco descansa en sus propios sopor-
tes, de tal manera que los soportes están colocados de dos en dos sobre el eje central.
Cada arco forma con sus correspondientes soportes una cinta continua que termi-
na sobre el eje central. Son los soportes contiguos que se cruzan entre ellos como dos
sogas de una cuerda. Otra cinta en forma de estrella de doce, que rodea el eje cen-
tral a cierta distancia, se entreteje con los soportes. De este modo, el óculo consti-
tuye una mezcla de ventana de rueda y lacería.

ATAURIQUE

En los ventanales de Tobed, Torralba y Maluenda, el ataurique aparece de relle-


no de los sistemas de arcos entrecruzados tal y como se utiliza en las arcadas taifa-
les de la Aljafería. Aun siendo un relleno de campos caprichosamente recortados por
el contorno de los arcos, se observa una clara composición simétrica e integral que
abarca todos los campos. En todos los ventanales, los campos centrales muestran

30. La unidad modelo es la siguiente: un brazo de arco mixtilíneo ascendente, un brazo de arco lobula-
do ascendente, nudo con cambio de dirección, tramo horizontal de un tramo hacia atrás, nudo con cam-
bio de dirección, un brazo de arco lobulado descendente y un brazo de arco mixtilíneo descendente: +
1/2 + 1/2 – 1 + 1/2 + 1/2 = + 1 tramo (desarrollo en claves matemáticas según el método de Christian
Ewert; véase Ch. EWERT, op. cit., t. 1, p. 72).

184
YESERÍAS MUDÉJARES ARAGONESAS

composiciones simétricas, mientras los campos laterales y su ataurique se comple-


mentan de dos en dos en simetría axial.
El ataurique en J2Ss y J2Ns (fig. 2) en Tobed es casi idéntico. En los tres gran-
des campos centrales resultantes del sistema de arcos entrecruzados se repite la mis-
ma composición simétrica: consiste en dos tallos en forma de S, ocupando cada uno
una mitad del campo, cuyo entrelazado forma ojos de mandorla a lo largo del eje ver-
tical. Sus respectivas hojas digitadas solapan los tallos. Los seis campos laterales, mu-
cho más pequeños, están rellenos cada uno de un sólo tallo en forma de S cuyos ex-
tremos se enrollan en espiral. En el ventanal J1Os en Torralba (fig. 3), el gran campo
central muestra un motivo de árbol de la vida del cual salen dos filas superpuestas
de tallos simétricamente dispuestos a cada lado del tronco que se enrollan en espi-
ral, acabando en una gran hoja digitada y bipartida. Otros dos tallos crecen del pie
del tronco enrollados hacia abajo. Los cuatro campos laterales poseen cada uno un
tallo enrollado en espiral con sus hojas digitadas. El ataurique del ventanal J2Ss en
Maluenda varía ligeramente respecto al de Torralba: el campo central, algo más re-
ducido en comparación con el de Torralba, muestra una variante del árbol de la vida
sin los tallos saliendo del pie del tronco hacia abajo, mientras que en el campo su-
perior del eje central se ve otra versión aún más reducida de un árbol de la vida con
un tronco corto y dos tallos enrollados en espiral. Como en los demás ventanales,
los campos laterales muestran zarcillos enrollados en espiral.
Las hojas digitadas muestran una gran estandarización. Los tallos terminan en ho-
jas bipartidas bastante grandes cuya parte inferior tiene forma de voluta. A lo lar-
go del tallo salen hojas digitadas indivisas, más pequeñas y sin pecíolo, que siguen
semiunidas al tallo. Los bordes de todas las hojas suelen ser ligeramente curvados en

Fig. 2. Tobed, ventanal J2Ns, ataurique.

185
KATHARINA PIEPER

Fig. 3. Torralba de Ribota, ventanal J1Os, ataurique.

forma de S, lo que les confiere cierta elegancia. Aparte de las hojas digitadas, se ob-
servan muy pocos elementos vegetales31. Los tallos de perfil hendido forman curvas
y espirales muy geometrizadas. En la mayoría de los casos el tallo no nace de un pun-
to de arranque con un crecimiento en una sola dirección, sino que el crecimiento se
desarrolla en dos sentidos sin punto de partida definida. Las hojas no forman par-
te del entrelazamiento de los tallos, sino que se sobreponen siempre a éstos, de tal
forma que los tallos forman un segundo plano de finas líneas como fondo detrás de
las hojas.
Estas características de hojas y tallos, su manera de crecer y de entrelazarse di-
ferencian el ataurique de este taller de los demás ejemplos de yesería mudéjar e in-
cluso de los modelos taifales de la Aljafería, sin querer negar en ningún momento su
deuda con el arte taifal. En el ataurique de las yeserías taifales de la Aljafería, las ho-
jas digitadas muy alargadas parecen una simple prolongación del tallo que se inte-
gran plenamente en el esquema de entrelazamiento que crea un entramado complejo
pero sin fondo: los tallos y las hojas se cruzan alternativamente en un mismo plano.
Aquí, la composición simétrica de hojas digitadas estandarizadas con bordes cur-
vados, el crecimiento en dos sentidos y el entrelazamiento de los tallos hendidos con
las hojas superpuestas tiene en estos rasgos diferenciadores del arte taifal parecidos
con ejemplos de ataurique tardoalmorávides e incluso almohades. Un ejemplo es el

31. En el ataurique de los ventanales J2Ns y J2Ss en Tobed existen unas especies de sombrero de bello-
ta; en la ventana J1Os en Torralba se observa un cáliz de tulipán; una piña envuelta por dos hojas digi-
tadas sirve de arranque de pie del gran árbol de la vida en J2Ss en Maluenda.

186
YESERÍAS MUDÉJARES ARAGONESAS

ataurique tallado en madera del mimbar de la Kutubiya de Marrakech (hacia 1125),


salido de un taller cordobés.

LACERÍAS

Entre las lacerías existentes en óculos y ventanales, hay dos lazos de doce muy
singulares. El primero, un lazo radial, se halla dos veces: en el óculo J1Oo en Torralba
de Ribota y en el óculo J2No en Tobed. En el centro de este lazo circular se encuentra
una pequeña estrella de doce, de la cual salen doce calles que terminan en doce es-
trellas de seis. Cada estrella de seis está rodeada de tres hexágonos regulares, uno ha-
cia dentro y dos laterales. Los hexágonos laterales tocan los hexágonos correspon-
dientes de las estrellas de seis colindantes, de tal manera que constituyen un círculo
de hexágonos. Las doce partes radiales de este lazo son perfectamente idénticas.
La lacería está formada por cuatro lazos. De dos en dos son idénticos y están gi-
rados 30º por el punto central del círculo. La estrella central y las calles partiendo
de ella, que terminan en una bifurcación, están formados por dos lazos, cada uno por
sí solo dibuja en el centro una estrella de seis. Los dos lazos sobrepuestos forman la
estrella de doce. Los otros dos lazos dan una vuelta en zigzag cerca del borde del ócu-
lo donde se componen en combinación con las bifurcaciones de las calles el círcu-
lo de hexágonos y las estrellas de seis.
Basilio Pavón Maldonado considera este lazo como único en la península ibéri-
ca32. Bernabé Cabañero lo menciona como ejemplo de las innovaciones importadas
en Aragón en la segunda mitad del siglo XIV33. Desde mi punto de vista, la singu-
laridad de este lazo se explica por su modo de construcción inusitado. La cons-
trucción habitual de un lazo de estrella de doce que está rodeado de estrellas de seis34
sólo hace surgir un círculo de seis estrellas de seis que coinciden con los ángulos de
un gran hexágono que enmarca la estrella de doce. Las otras seis figuras de estrellas
se crean en el centro de los lados de este hexágono. Las seis calles que conducen a
estos puntos son las medianas del hexágono. Por el ángulo recto de intersección en-
tre mediana y lado del hexágono no se pueden dibujar estrellas de seis en estos pun-
tos. Aquí se pueden formar figuras a base de cuadrados, por ejemplo una estrella de
cuatro octogonal. Es decir, la estrella de doce se construye en el punto de intersec-
ción de los diagonales y de las medianas de un hexágono regular. El hexágono for-
ma la unidad modelo de una lacería ampliable al infinito. En cambio, para la cons-
trucción del lazo aquí estudiado, el maestro se ha servido de dos hexágonos
congruentes, superpuestos y girados 30º, en cuyos puntos angulares se dibujan las
doce estrellas de seis. El sistema no es ampliable.

32. B. PAVÓN MALDONADO, El arte hispanomusulmán en su decoración geométrica. (Una teoría para un
estilo), Madrid, 1989 (2.ª ed.), p. 392.
33. B. CABAÑERO SUBIZA, «La mezquita mudéjar de Santa María de Fraga (Huesca)», Artigrama, 4, 1987,
p. 72.
34. Véase ejemplos en B. PAVÓN MALDONADO, op. cit., fig. 29, dibujos 5 y 9.

187
KATHARINA PIEPER

Según mis conocimientos, el lazo de doce presente en los paneles colocados en-
tre las columnas del ventanal J2Ss en Maluenda (fig. 4) es igualmente único, lo que
también se debe a su construcción poco habitual. Las estrellas de doce están situa-
das en campos cuadrados en cuyos ángulos se sitúan estrellas de cuatro octogonal.
A los cuatro lados de estas estrellas de cuatro octogonal colindan directamente cua-
tro estrellas de seis, lo que según una construcción geométricamente correcta es im-
posible. Aprovechándose del ancho de los lazos se consigue el resultado deseado anu-
lando las leyes geométricas.
Hay otra lacería excepcional en Tobed dentro del panorama aragonés, que es el
lazo curvo del óculo J2So formando estrellas esféricas de seis. Su construcción es pa-
recido a un lazo de un fragmento de yeserías de Fraga que Bernabé Cabañero con-
sidera islámico, datándolo por lo tanto antes de 114935.

Fig. 4. Maluenda, ventanal J2Ss, lacería de los paneles.

35. B. CABAÑERO SUBIZA, «Algunas consideraciones sobre la decoración geométrica en la Marca Superior:
estudio de una yesería islámica de Fraga (Huesca)», Seminario de Arte Aragonés, XLV, 1991, pp. 241-257.

188
YESERÍAS MUDÉJARES ARAGONESAS

El lazo del óculo J2So en Maluenda copia un medallón de un arco islámico en Ma-
leján36. A su vez, el óculo KS2o de la segunda capilla lateral del lado sur en Tobed
es una variante singular de este diseño muy extendido en el arte mudéjar aragonés.
Todas las demás lacerías presentes en las yeserías de este maestro, pero no analiza-
das aquí, evidencian claramente su tradición taifal.

LA TRACERÍA GÓTICA

Las tracerías de los ventanales J1Ns y J1Ss de Torralba de Ribota son práctica-
mente idénticas entre sí. Sólo se diferencian en las enjutas laterales entre los arcos lo-
bulados y el arco del vano. Las formas tienen perfil de nacela y están distribuidas en
dos planos. Dos arcos lobulados inscritos en sendos arcos apuntados componen la
arquería. Por encima de ella varios círculos llenan el espacio, aparte de unas vejigas
natatorias en las enjutas. Los cuatro círculos centrales están enmarcados por un cír-
culo grande que sólo se percibe a segunda vista, ya que el círculo grande y los cír-
culos pequeños pertenecen al mismo plano y poseen la misma moldura de nacela. De
hecho, se echa en falta una macroestructuración por boceles que facilite la lectura de
la composición, tal y como es habitual en muchas tracerías. Los lóbulos de tres ins-
critos en los círculos y los folios de tres, algunos diminutos, que llenan todo el es-
pacio sobrante, pertenecen al segundo plano. La tracería se atomiza en una especie
de horror vacui. Esto no se observa normalmente en ventanas góticas, ya que la fun-
ción original de las tracerías es constituir el marco de vidrios coloreados, mientras
que estas tracerías están casi ciegas. Los modelos a estas tracerías, únicas en el arte
mudéjar aragonés, no deben por tanto buscarse en tracerías de ventanas. El mismo
tipo de tracería diminuta ofrece por ejemplo el retablo de Anglesola, actualmente en
el Museo de Bellas Artes de Boston y datable en la primera mitad del siglo XIV, don-
de además predominan también los lóbulos de tres y folios de tres.
Es llamativo que el mismo maestro realice estas tracerías góticas así como otras
yeserías de tradición islámica. Creo que se trata de una yuxtaposición conciente de
dos lenguajes artísticos diferentes. Este mismo hecho también se puede constatar en
los ventanales del primer tramo en Tobed, donde los dos ventanales del testero se ins-
criben perfectamente en la tradición taifal, mientras que los dos ventanales del mis-
mo tramo en los lados norte y sur muestran una influencia gótica.

CARACTERIZACIÓN Y DATACIÓN DE LAS YESERÍAS

Las similitudes descritas en las yeserías de Tobed, Torralba y Maluenda no de-


jan lugar a dudas de su pertenencia a un mismo taller, probablemente hecho por un
solo maestro. Dentro de la gran variedad de composiciones, algunas se repiten en el
mismo edificio (Tobed J2Ns y J2Ss; Tobed K2No y K2So; Torralba J1Ns y J1Ss; To-
rralba J1No y J1So) y otras de manera muy parecida en diferentes edificios (Torralba

36. B. CABAÑERO SUBIZA, «Los restos islámicos de Maleján...», p. 29.

189
KATHARINA PIEPER

J1Ns y Maluenda J2Ss; Torralba J1Oo y Tobed J2No). El análisis de los sistemas de
los arcos entrecruzados, del ataurique, de las lacerías y de las tracerías góticas han
mostrado soluciones sumamente originales, varias de ellas únicas dentro del arte mu-
déjar aragonés. El maestro muestra un profundo conocimiento del arte taifal, como
evidencian algunos motivos adoptados de los sistemas de arcos entrecruzados de la
Aljafería, como por ejemplo los sistemas de arcos mixtilíneos y lobulados, que no
constituyen modelos comunes en el arte mudéjar aragonés. Por otro lado, se han po-
dido detectar múltiples detalles que evidencian el conocimiento de la evolución his-
panomusulmana posterior que en el caso del ataurique y de las lacerías va más allá
de la influencia almohade existente en todo el arte mudéjar aragonés. Sin embargo,
la construcción de los lazos de doce demuestra que el maestro no está familiariza-
do a fondo con el arte hispanomusulmán contemporáneo. Por otra parte, es muy ori-
ginal el manejo de la tracería gótica, cuya fuente de inspiración ciertamente no han
sido tracerías de ventana. Creo que se trata de un maestro local que conoce bien el
arte taifal y que percibe las novedades artísticas tanto cristianas como hispanomu-
sulmanas de su alrededor, y las incorpora de una manera muy creativa a las com-
posiciones de yeserías de ventana.
A mi juicio, las ventanas de Torralba y Maluenda muestran una relación más es-
trecha entre sí37 que con Tobed, mientras que Tobed evidencia a su vez una vincu-
lación más clara con Torralba38 que con Maluenda. Torralba parece el vínculo entre
Tobed y Maluenda. Sospecho que las yeserías de Tobed se hicieron primero y des-
pués los ventanales y óculos de Torralba y de Maluenda39.
Estilísticamente, me inclino a datar este conjunto de yeserías hacia los años ochen-
ta o noventa del siglo XIV. Reflejan la introducción de nuevas formas islámicas en
el arte mudéjar aragonés en el último tercio del siglo XIV a partir de la construcción
de la Parroquieta de la Seo de Zaragoza en los años 1374-1379.
Dentro del margen muy amplio para la construcción y decoración de la iglesia
de Santa María en Tobed entre 1356 y el papado de Benedicto XIII (1394-1423), exis-
ten tanto datos históricos como otros elementos formales que respaldan esta data-
ción estilística. En 1385, el prior de la orden del Santo Sepulcro en Calatayud, Juan
Pérez de Torres, y el capítulo constatan que la iglesia no era acabada de obrar ni era
ornada de vestiments, joyas, ornaments, campanas et otras cosas á ella necesarias etc.40
y acuerdan destinar los ingresos de la iglesia de Tobed para la terminación de la obra
y para su decoración. Entre la multitud de escudos presentes en la iglesia, abunda un

37. Sistemas de arcos entrecruzados mixtilíneos y lobulados, su composición de ataurique y el contor-


no gotizante del arco mixtilíneo en los ventanales Torralba J1Os y Maluenda J2Ss. Incluso los marcos pin-
tados de las ventanas con frisos de ataurique son idénticos.
38. Véase el lazo de doce en Tobed J2No y en Torralba J1Oo y la adaptación en Torralba de la yuxta-
posición de formas islámicas y góticas existente en las yeserías de los dos primeros tramos en Tobed.
39. Los frisos pintados en el intradós de los ventanales y óculos de Torralba y Maluenda demuestran un
tipo de hoja gótica, que se observa también, entre otros, en los alfarjes de Tobed (1400-1409) y de Torralba
(1410-1433) y en la pintura mural de Cervera de la Cañada (1426), lo cual es un indicio más para una da-
tación posterior a las yeserías de Tobed.
40. Citado según V. MARTÍNEZ RICO, Historia del antiguo y célebre santuario de Nuestra Señora de To-
bed, Calatayud, 1882, pp. 39-40.

190
YESERÍAS MUDÉJARES ARAGONESAS

escudo que se observa tanto en el primer y en el segundo tramo como en la facha-


da principal41. Creo que se debe adscribir al prior Juan Pérez de Torres (1385-1396)42,
confirmándose así la ejecución de las obras proyectadas en el acuerdo capitular del
año 1385.
El hecho que la clave de la bóveda del segundo tramo es un racimo de mocára-
bes, que por cierto vuelve a aparecer en el primer tramo de Torralba, donde se en-
cuentran los ventanales aquí estudiados, es un indicio más de que la decoración de
este tramo pertenece a esa época. El mocárabe se conoce en el arte hispanomusul-
mán a partir del arte tardoalmorávide, pero en Aragón no se tiene constancia de su
introducción en el arte mudéjar hasta la construcción de la Parroquieta de la Seo de
Zaragoza en los años 1374-1379. A partir de entonces se advierten nuevas influen-
cias andalusíes, que también son patentes en la capilla del castillo de Mesones de Isue-
la (hacia 1379) y en el retablo relicario del monasterio de Piedra (1390). En Tobed,
aparte de la clave de mocárabes, también la fachada principal está estrechamente re-
lacionada con el muro de la Parroquieta (1374-1379).
El hallazgo de dos inscripciones durante las restauraciones en curso con el
nombre del maestro de obras Mahoma Qalahorí junto con otro nombre de difícil lec-
tura en los dos ventanales del testero corrobora otra vez más la datación, ya que este
maestro de obras está documentado con anterioridad a 1390 y hasta 139443.
Surge la pregunta de si las yeserías aquí estudiadas se pueden atribuir a Maho-
ma Qalahorí, ya que los ventanales del primer y del segundo tramo en Tobed pare-
cen pertenecer a una fase de obras dirigida por dicho maestro. Sin embargo, no me
atrevo a atribuirle estas yeserías, ya que en mi opinión se evidencian dos manos dis-
tintas: los ventanales del segundo tramo se diferencian de los ventanales del prime-
ro en un trazado más logrado de los arcos entrecruzados, en un cambio de los ca-
piteles y sobre todo en el estilo diferente del ataurique: mientras que el ataurique de
los ventanales del testero se inscribe claramente en la tradición taifal, tanto el atau-
rique como las lacerías del segundo tramo revelan influencias postaifales.
Así pues, los ventanales del primer y del segundo tramo se ejecutaron durante el
priorato de Juan Pérez de Torres (1385-1396) y bajo la dirección de Mahoma Qa-
lahorí y de otro maestro. Sólo las yeserías del tercer tramo parecen pertenecer, jun-

41. Dos escudos en losange pintados por debajo de los dos ventanales del testero, dos escudos góticos
pintados por debajo de los ventanales J1Ns y J2Ns, varios escudos góticos pintados en la línea de la im-
posta que divide la zona de las capillas de la zona de las bóvedas, y un escudo esmaltado sobre azulejo
en la fachada principal.
42. Escudo cuartelado: primero y cuarto, en campo de plata una cruz patriarcal de gules; segundo y el
tercero, en campo de gules una torre de plata. El sello del prior Juan Pérez de Torres aplicado sobre el
acuerdo capitular de 1385 lleva dos escudetes con una torre cada uno. Es decir, dicho prior utiliza un es-
cudo parlante. Me parece lo más lógico identificar los escudos hallados en la iglesia de Tobed con dicho
prior. El escudo en cuestión es el único en toda iglesia que lleva una combinación de la cruz patriarcal de
la orden del Santo Sepulcro y otra figura heráldica.
43. Véase J. VISPE MARTÍNEZ, «Aportación documental para el estudio de los maestros mudéjares zara-
gozanos de finales del siglo XIV», en J. CRIADO MAINAR (coord.), Arte Mudéjar Aragonés. Patrimonio
de la Humanidad. Actas del X Coloquio de Arte Aragonés, Zaragoza, 2002, pp. 216-217, 242-245. De es-
pecial interés es el hecho de que Mahoma Qalahorí trabajó en el monasterio del Santo Sepulcro de Za-
ragoza con anterioridad a 1390.

191
KATHARINA PIEPER

to con la clave de la bóveda del mismo tramo y el coro alto con su alfarje, a una fase
posterior datable entre 1400 y 140944.
El mismo maestro que hizo los ventanales del segundo tramo trabajó después en
Torralba de Ribota y en Maluenda, en los últimos años del siglo XIV o incluso en
los primeros del siglo XV.

44. Aunque el papado de Benedicto XIII (1394-1423) y el priorato de Juan Pérez de Torres coinciden en
los años de 1394 a 1396, no me parece lógico atribuir estos elementos a la fase de obras aquí estudiada,
tanto por consideraciones estilísticas (véase el análisis de las yeserías en mi tesis doctoral) como históri-
cas: en mi opinión, parece poco probable que el escudo ostensivo del Papa Luna en la clave de la bóve-
da en el último tramo corresponda a los primeros años de su papado, ya que las relaciones entre la or-
den del Santo Sepulcro y el papa por estas fechas eran más bien malas (véase M. MARTÍNEZ ERASO y J.
ESCRIBANO SÁNCHEZ, «Problemática de la jurisdicción en las iglesias del Sepulcro en el arcedianado de
Calatayud en el siglo XIV», Primer Encuentro de Estudios Bilbilitanos. Calatayud, 18-20 noviembre 1982.
Actas II, Calatayud, 1983, pp. 215-217); una serie de licencias de los años 1401, 1405, 1408 y 1410 para
cuestar para Santa María en Tobed con el fin de, entre otros, terminar la fábrica (véase K. PIEPER, «La Vir-
gen de Tobed...», p. 292) demuestra que no se llegó a acabar todo el edificio; en el ventanal del tercer tra-
mo del lado sur (J3Ss) existe un escudo de los Zapata, que a mi modo de ver se debería relacionar con el
comendador de Tobed Pedro Zapata (1400-1409). Pedro Zapata es mencionado como un familiar papal
desde 1394, ingresa en 1398 como fraile en la orden del Santo Sepulcro, es nombrado comendador de To-
bed en 1400 por bula papal, habiendo sido anteriormente el comendador de Torralba (véase O. CUELLA
ESTEBAN, Bulario Aragonés de Benedicto XIII. I. La curia de Aviñón (1394-1403), Zaragoza, 2003, docs.
155, 229, 729, 820, 843, 845). Es comendador de Tobed hasta su muerte en 1409 (véase O. CUELLA ES-
TEBAN, Bulario Aragonés de Benedicto XIII. II. La curia itinerante (1403-1411), Zaragoza, 2005, doc. 838).
La relación de Pedro Zapata con el Papa Luna explicaría el escudo del papa en la clave de la bóveda, así
como los abundantes escudos relacionados con el papa en el alfarje, sin que por eso haya que suponer ne-
cesariamente una financiación de las obras por parte del Papa Luna.

192
LA IGLESIA MUDÉJAR DE PARACUELLOS
DE LA RIBERA (ZARAGOZA)

Agustín Sanmiguel Mateo*


Ana Isabel Pétriz Aso*

En diciembre de 2001 la UNESCO declaró al conjunto del arte mudéjar arago-


nés como patrimonio de la Humanidad gracias a la eficaz gestión de la Consejería
de Cultura del Gobierno de Aragón. Previamente se elaboró un listado de monu-
mentos pretendiendo incluir todo lo mudéjar por poco mérito que tuviera, pero echa-
mos en falta unos treinta, lo que comunicamos en su momento a quien correspon-
día.
Uno de estos edificios es la iglesia parroquial de Paracuellos de la Ribera, en la
provincia de Zaragoza. La primera referencia que conocemos se debe a Gonzalo Bo-
rrás en 19781, que reproducimos íntegramente: “También de tres naves, de diferen-
te altura y entroncable con la de San Andrés de Calatayud, es la iglesia parroquial
de San Pedro en Paracuellos de la Ribera, aunque las rectificaciones y ampliaciones
posteriores la hayan modificado bastante. Lo más curioso de esta iglesia es que pre-
senta cabecera recta, dato significativo, al haberse transformado en el siglo XVI la
cabecera de San Andrés”. El mismo autor hace alguna alusión más breve en 19852.
También uno de nosotros en 1998 menciona el carácter mudéjar de su torre3. Para
los que piensen en el arte mudéjar como pura ornamentación de influencia islámi-
ca, esta iglesia no les merecería el calificativo de mudéjar. Y es que la raíz islámica de
este pequeño templo está en su desnuda arquitectura.
Paracuellos de la Ribera es un pueblo en la margen derecha del río Jalón, a unos
20 kilómetros aguas abajo de Calatayud, de cuya Comunidad forma parte. Situado
en un alto, a sus pies, además del río, pasa el viejo ferrocarril Madrid-Barcelona, pero
por encima va la línea de Alta Velocidad, AVE. Su población actual rondará los 300

* Centro de Estudios Bilbilitanos.


1. G.M. BORRÁS GUALIS, Arte Mudéjar Aragonés, Zaragoza, Guara Editorial, 1978.
2. G.M. BORRÁS GUALIS, Arte Mudéjar Aragonés, Zaragoza, CAZAR-COATA, 1985.
3. A. SANMIGUEL MATEO, Torres de ascendencia islámica en las comarcas de Calatayud y Daroca, Ca-
latayud, Centro de Estudios Bilbilitanos, 1993.

193
AGUSTÍN SANMIGUEL MATEO Y ANA ISABEL PÉTRIZ ASO

habitantes, si bien hace décadas tuvo bastantes más, como les ocurre a todos los pue-
blos de Aragón. Su economía se ha basado en la fruticultura, de gran tradición y ca-
lidad en esta vega.
La mayoría de los pueblos de esta zona del valle del Jalón, “La Ribera”, estaban
habitados por musulmanes, algunos de ellos, como Purroy, con una población ín-
tegramente islámica. Sin embargo en el estudio de Francisco Javier García Marco4 no
se menciona a Paracuellos como población con mudéjares, lo que resulta algo extraño
dado su emplazamiento y su aspecto morisco.
La iglesia parroquial, dedicada a San Pedro apóstol, está en alto y no llama es-
pecialmente la atención. Un sencillo alero mudéjar de ladrillo y una discreta torre,
también con sencilla decoración mudéjar, es lo único que se aprecia al exterior. En
el interior, a primera vista, tampoco hay nada sobresaliente. Tres naves cuyos tramos
van cubiertos con bóvedas de crucería sencilla o estrellada. Nada de esgrafiados ni
de azulejería. Pero enseguida se aprecia una estructura inhabitual en las iglesias ara-
gonesas. La nave central se separa de las laterales por dos series de arcos formeros
apoyados en pilares de sección rectangular.
En Aragón, a gran escala, son así la catedral de Teruel, con techumbre de made-
ra, y la de la Magdalena en Tarazona, que también tuvo, y conserva en parte, te-
chumbre de madera. A escala menor está la iglesia de San Andrés en Calatayud, que
muy probablemente también tuvo techumbre de madera y cuyo paralelismo con esta
de Paracuellos ya observó Gonzalo Borrás, como se ha mencionado anteriormente.
Los arcos formeros de San Andrés son tres por cada lado, doblados y ligeramente
túmidos, como en iglesias mudéjares sevillanas o en mezquitas almorávides y al-
mohades del sur de Al-Andalus y del Magreb5. No hay ninguna clase de decoración.
Se cubre con bóvedas de crucería sencilla fechables en los siglos XIV y XV, pero hay
razones para pensar que su cubierta original era de madera. Se conserva un canete
de rizos datable en el siglo X o en el XI6. En la restauración que hizo Javier Peña en
19907 se rehizo la forma original de los pilares cruciformes, que estaban muy mu-
tilados, se restituyó el perfil ultrasemicircular perdido en algunos arcos y se diferenció
con colores las dos etapas constructivas: blanca para la de “tipo mezquita” y rojo al-
magre para las bóvedas góticas. La iglesia tuvo una ampliación en su cabecera en el
siglo XVI, con bóvedas de crucería estrellada. Si comentamos todo esto sobre la igle-
sia de San Andrés de Calatayud es porque consideramos muy notables las similitu-
des, no sólo de su construcción inicial, sino de su evolución posterior, con ésta de
Paracuellos.

4. F.J. GARCÍA MARCO, Las comunidades mudéjares de Calatayud en el siglo XV, Calatayud, Centro
de Estudios Bilbilitanos, 1993.
5. A. SANMIGUEL MATEO, «San Andrés de Calatayud: una iglesia con estructura de mezquita», Actas
del Segundo Encuentro de Estudios Bilbilitanos, Calatayud, Centro de Estudios Bilbilitanos, 1989.
6. A. SANMIGUEL MATEO, «Una pila y un modillón hallados en la iglesia de San Andrés de Calatayud»,
Actas del Cuarto Encuentro de Estudios Bilbilitanos, Calatayud, Centro de Estudios Bilbilitanos, 1997.
7. J. PEÑA GONZALVO, «Restos góticos en la iglesia de San Andrés de Calatayud», Actas del Cuarto En-
cuentro de Estudios Bilbilitanos, Calatayud, Centro de Estudios Bilbilitanos, 1997.

194
LA IGLESIA MUDÉJAR DE PARACUELLOS DE LA RIBERA (ZARAGOZA)

Foto 1. Iglesia de San Pedro, hacia la entrada.

Foto 2. Iglesia de San Pedro, nave derecha.

195
AGUSTÍN SANMIGUEL MATEO Y ANA ISABEL PÉTRIZ ASO

Fig. 1. Iglesia de Paracuellos de la Ribera, en su posible estado original.

Entrando por la puerta situada a poniente se advierte la estructura de tres naves, más
ancha la central. Hay cuatro tramos de bóvedas, pero pensamos que el último, que co-
rresponde al presbiterio, es un añadido a la estructura original. Así pues, podemos ver
seis arcos formeros, tres a cada lado, sustentados sobre pilares más o menos rectangulares
que evidencian haber sido objeto de varias modificaciones. Estos arcos formeros son
doblados, como en San Andrés, y cuatro de ellos, los de los extremos, son igualmen-
te apuntados, sin indicios de haber sido túmidos, aunque pudieran haberlo sido y ser
posteriormente mutilados, como se hizo en varios de San Andrés.
Pero lo que llama la atención es que los dos arcos centrales, a izquierda y dere-
cha, igualmente doblados, son de medio punto. Esto supone una concepción simé-
trica del edificio no sólo transversal, sino longitudinal. No conocemos ningún caso
equivalente, y no se nos ocurre ninguna explicación para esta disposición. Salvo que,
en origen, el foco de atención de los fieles fuera transversal en vez de longitudinal.
Sobre uno de los arcos, el tercero de la derecha, hay un discreto resalte a modo
de cornisa que podría señalar el arranque de una techumbre de madera, lo normal
para esta tipología de templos. Sin embargo, la cubierta actual es a base de bóvedas
de crucería sencilla y algunas estrelladas. Creemos que ello se debe a una profunda
reforma efectuada entre los siglos XIV y XV, que conllevaría la eliminación de la te-

196
LA IGLESIA MUDÉJAR DE PARACUELLOS DE LA RIBERA (ZARAGOZA)

chumbre de madera y su sustitución por bóvedas de crucería sencilla como se hizo


en San Andrés, sobreelevando el techo de las naves y modificando los pilares para
poder apoyar los nervios de las bóvedas, lo que se hace de una forma un tanto irre-
gular. Al mismo tiempo se ampliaría la iglesia hacia la cabecera con un tramo más,
como también se hizo en San Andrés, y se edificaría a la derecha del presbiterio la
actual torre-campanario. Al exterior esta reforma se reflejaría en el sencillo rafe o ale-
ro de ladrillo con ménsulas en voladizo y banda de esquinillas o dientes de sierra.
Quizá entonces, o después, se hicieron los arcos de arriostramiento en las naves la-
terales, que separan las seis capillas.
La torre merece un comentario aparte. Situada a la derecha del presbiterio, pero
integrada en planta, es de base cuadrada y no tiene estructura de alminar, sino que
es hueca, con escalera adosada a las paredes. El cuerpo inferior es de mampostería
enlucida. El cuerpo de campanas es de ladrillo y se abre con dos ventanas gemelas
por cada lado, con arco apuntado ligeramente túmido, siendo sus claves en cuña con
ladrillo dispuesto horizontalmente. Su única decoración consiste en un rafe de mén-
sulas en pirámide invertida (15 en el lado este) y bajo él una banda de esquinillas (21
en el lado este). La cubierta actual es un sencillo tejado a cuatro aguas, pero desde
el interior del cuerpo de campanas pueden verse cuatro arranques de ladrillo por
aproximación de hiladas en las esquinas, a modo de trompas, lo que creemos que evi-
dencia que la cubierta original era una aguja piramidal de base octogonal.
Posteriormente a estas reformas o ampliaciones de los siglos XIV o XV hubo al-
guna otra en el siglo XVI, pues la misma base de la torre y los dos primeros tramos
de la nave central ostentan bóvedas de crucería estrellada. Y aún en los siglos XVII
o XVIII se añadieron a los lados norte y sur capillas con cúpula y linterna. No sa-
bemos en qué momento se construyó un coro alto a los pies ocultando los arranques
de los dos arcos del primer tramo.
Volviendo a lo que más interesa, al templo original, hay que plantearse su cro-
nología y sus relaciones estilísticas. Comenzando por lo segundo, ya hemos abun-
dado en las similitudes con la iglesia de San Andrés de Calatayud. Sobre ésta ya hace
años planteamos su evidente relación formal con iglesias mudéjares del Aljarafe se-
villano, del siglo XIII, con mezquitas almohades del siglo XII y con mezquitas al-
morávides del siglo XI. La existencia en San Andrés de arcos túmidos y la conser-
vación del canete de rizos califal dan pie a pensar en una mezquita reformada. Pero
no vamos a proponer eso para la iglesia de Paracuellos. Lo más, podría haber sido
una mezquita mudéjar, pero los datos documentales de población no apoyarían esa
hipótesis. Hay que pensar pues en una iglesia cristiana, pero muy temprana y notable
para una pequeña población.
Ya hemos dicho que las bóvedas de crucería nos parecen una modificación del si-
glo XIV o XV para sustituir una techumbre de madera. Si estamos en lo cierto, ello
nos hace deducir que la iglesia primitiva es anterior al siglo XIV. Podría muy bien
ser del siglo XIII. Una iglesia, claramente datable en ese siglo, y también con dos se-
ries de arcos formeros, es la antigua de San Benito, en Calatayud8. Pero ésta es de cla-

8. J. SORO LÓPEZ y A. SANMIGUEL MATEO, «La primitiva iglesia de San Benito de Calatayud», Actas
del Tercer Encuentro de Estudios Bilbilitanos, Calatayud, Centro de Estudios Bilbilitanos, 1992.

197
AGUSTÍN SANMIGUEL MATEO Y ANA ISABEL PÉTRIZ ASO

Fig. 2. Torre de la iglesia de Paracuellos de la Ribera, remate reconstituido.

198
LA IGLESIA MUDÉJAR DE PARACUELLOS DE LA RIBERA (ZARAGOZA)

ra raigambre cisterciense, mientras que las de San Andrés y Paracuellos parecen ins-
pirarse más en modelos islámicos.
Podríamos pensar en la existencia en esta zona de mezquitas en los siglos XI y
XII siguiendo el modelo almorávide –o si se quiere invertir la hipótesis, que los al-
morávides en su corta estancia de diez años en estas tierras copiaran una estructu-
ra autóctona, “zagrí”– y que luego, ya bajo dominio cristiano, los alarifes a los que
se les encargaban las otras siguieran el modelo. Pero sólo dos edificios conservados,
San Andrés de Calatayud y San Pedro de Paracuellos, son una representación muy
exigua. Puede ser que hubiera una generalizada sustitución en época barroca, o más
bien que frente a este modelo de tres naves con arcos formeros, se prefiriera para la
construcción de nuevas iglesias otro más sencillo como el de los arcos diafragma. En
cualquier caso en la Comunidad de Calatayud apenas hay iglesias de los siglos XII
o XIII y sólo unas pocas, contra lo que podría parecer, de los siglos XIV y XV. La
gran mayoría son renacentistas o barrocas.
Por ello creemos que tiene especial interés esta desconocida iglesia de Paracue-
llos de la Ribera. Dicha iglesia necesita un estudio detenido por especialistas en His-
toria del Arte y Arquitectura, y tras él una restauración que permita su “puesta en
valor” y una lectura histórica, como se hizo en San Andrés. Esta iglesia de Paracuellos
ha sido objeto a lo largo de los siglos de profundas modificaciones, añadidos, mu-
tilaciones y modernas y bienintencionadas actuaciones que rozan lo kitch. El pro-
poner que se haga un estudio que aclare dudas sobre su cronología y etapas cons-
tructivas, y que se restaure bien, es el objeto que nos hemos propuesto con esta
comunicación.

199
LA PRESENCIA DEL MUDÉJAR EN LAS IGLESIAS
DOCTRINERAS DEL NUEVO REINO DE GRANADA

Guadalupe Romero Sánchez*

INTRODUCCIÓN

En la arquitectura levantada en el territorio que conformaba el Nuevo Reino de


Granada es muy significativa y visible la huella mudéjar, si bien debemos hacer una
distinción entre los edificios levantados en las ciudades y villas de españoles y los de
los pueblos de indios. En las primeras nos encontramos casos muy destacados de ar-
maduras o alfarjes mudéjares realizados por mano experta, siendo ejemplos de pri-
mer orden de la carpintería de lo blanco. Este tipo de cerramientos lo hallamos prin-
cipalmente en edificios de carácter religioso, como es el caso de las catedrales de
Bogotá y Tunja (fig. 1), o el convento de Santa Clara y la iglesia de San Agustín de esta
ciudad del Departamento de Boyacá.
En los pueblos de indios la situación es muy diferente. Las circunstancias sociales,
políticas y, principalmente, económicas de la población no permitían grandes de-
rroches en la construcción de los edificios; sin embargo, en sus iglesias doctrineras,
bastante modestas, el sello mudéjar es palpable en su conjunto.
Por otra parte, debemos destacar el hecho de que el arte mudéjar en Colombia
pervivió hasta el siglo XIX, adaptándose a edificios de marcado carácter renacentista,
barroco e, incluso, neoclásico en el transcurrir de los años. Esto se debe principal-
mente a que en los gremios de carpinteros era un hecho cotidiano la realización de
techumbres mudéjares, por diversos motivos, entre los que no podemos obviar los
recursos naturales ni el abaratamiento de coste que suponía el realizar techos de ma-
dera, y que se impuso a otros sistemas de cubiertas más novedosos y costosos. Lo
cierto es que la profusión que alcanza es tan alta, que a diferencia de lo ocurrido en
Nueva España, nos encontramos con ejemplos concretos de armaduras realizadas en
pleno siglo XIX, como es el caso de la que encontramos en la iglesia de San Agus-
tín en la ciudad de Mompóx1.

* Investigadora. Universidad de Granada.


1. R. VALLÍN MAGAÑA, «Las armaduras mudéjares en Colombia», en Mudéjar Iberoamericano. Una
expresión cultural de dos mundos, Granada, Universidad de Granada, 1993, p. 307.

201
GUADALUPE ROMERO SÁNCHEZ

Fig. 1. Nave central de la catedral de Tunja, Departamento de


Boyacá.

LOS PUEBLOS DE INDIOS Y LAS IGLESIAS DOCTRINERAS

En 1550 se crea la Real Audiencia en Nueva Granada, que corresponde aproxi-


madamente a los territorios actuales de la República de Colombia. A partir de este
momento uno de los principales problemas a los que se enfrentan las instituciones
será el de la organización territorial, estableciéndose una separación bastante clara
entre el espacio destinado a los indígenas (pueblos de indios) y los de ocupación por
la población de origen hispano (ciudades y villas). Sin embargo, a pesar de las nu-
merosas disposiciones2 que ordenaban el levantamiento y conformación de los

2. Real Cédula de Valladolid de 1559 (por la cual se ordena que se elija el sitio más adecuado para cons-

202
LA PRESENCIA DEL MUDÉJAR EN LAS IGLESIAS DOCTRINERAS DEL NUEVO REINO DE GRANADA

pueblos de los naturales, tendremos que esperar hasta finales del siglo XVI y prin-
cipios del XVII para ver cumplido el deseo de la Corona española de manos de los
oidores visitadores, destacando la labor de Miguel de Ibarra en 1592 y continuada
por los oidores Diego Gómez de Mena, Luis Henríquez y Alonso Vázquez de Cis-
neros como los más destacados, propiciados por la Reforma Agraria de 1591, llevada
a cabo por el presidente de la Real Audiencia, Antonio González.
El cargo de oidor visitador fue uno de los mas importantes de la Real Audien-
cia, ya que de ellos dependía en gran medida el buen funcionamiento de los pueblos
indígenas para propiciar su aculturación, es decir, convertirlos al cristianismo y es-
tablecer las pautas para la vida en policía, y para ello hacían las veces de “juez, ad-
ministrador, fiscal, jefe de policía, gobernante y legislador”3, estando acompañado
en sus viajes por “un séquito administrativo: escribano, escribientes, alguaciles, fis-
cal, protector, poblador, agrimensores o medidores, a cada uno de los cuales encar-
gaba oficios especiales sobre los diferentes aspectos de la visita”4. El primer paso al
realizar una visita era informar de la misma al encomendero, o persona que por fa-
llecimiento o ausencia de éste estuviera en el cargo, para que juntase a todos los in-
dios y se procediera a establecer el censo y empezar el interrogatorio. En el caso de
Beteitiva el auto dice así:
En el repartimiento de Veteitiva a ocho de henero de mil y seisçientos y dos años, el señor
liçençiado Luís Henríquez del qonsejo de Su Magestad, su oidor en la Real Audiençia deste
Reyno y visitador general de las provinçias de Tunja y las demás de sus comisiones, dixo que
por quanto su merced a mandado que todos los yndios de este dicho puevlo de Beteytiva se jun-
ten para hazer la vista y discrepçión dellos e para que tenga efeto [sic] mandava e mandó que
se notifique a Juan de Tordesillas en [...] hijo de doña Juana Marín encomendera del dicho pue-
vlo por su parte, a juntar y recoger todos los yndios chicos y grandes del dicho puevlo, de for-
ma que no se oculten ningunos para el efeto referido, y se le manda se halle presente al hazer
de la dicha discrepçión con aperçevimiento que no lo cumpliendo, se proveherá lo que convenga
y asi lo mando y señalo5.
Estos oidores se informaban principalmente de cómo vivían los indios, si eran
maltratados por el encomendero u otra persona, si cumplían sus obligaciones, si acu-

truir el pueblo, siendo prioritaria la construcción de sus casas e iglesias, dejando tierras para cultivos y
cría de ganados, fomentando el comercio y la buena relación de vecindad y nombrando personas que im-
partan justicia y doctrina); Real Cédula de Madrid de 1560 (en la cual se informa de un capítulo acordado
por la congregación de prelados que tuvo lugar en Nueva España en 1546, instando a las autoridades a
acatarla ya que es prioritario que los naturales aprendan la doctrina y a vivir en policía); Instrucción del
oidor Tomás López de 20 de noviembre de 1559 (sobre cómo se debían realizar los pueblos; se trata del
primer intento serio de organización del territorio destinado a los indígenas, sin embargo, a pesar de que
empezó con buen pie, pronto fracasará). Debemos destacar que, como consecuencia de la Real Cédula
de 1549, en 1575 fray Luis Zapata de Cárdenas convocó una Junta que resolvía la creación de las reduc-
ciones de los naturales. Estos datos han sido tomados de R. VELANDIA, Enciclopedia Histórica de Cun-
dinamarca. El Departamento, 5 vols., Bogotá, Biblioteca de Autores Cundinamarqueses, 1979-1982, pp.
129-134; R. LÓPEZ GUZMÁN, Arquitectura mudéjar, Madrid, Cátedra, 2000, p. 483.
3. R. VELANDIA, op. cit., p. 236.
4. R. VELANDIA, op. cit., p. 237.
5. Archivo General de la Nación de Colombia, Sección Colonia, Fondo Visitas de Boyacá, tomo 6, f.
556 r.

203
GUADALUPE ROMERO SÁNCHEZ

dían a la iglesia o si no eran adoctrinados debidamente por el cura, si contaban con


cacique y qué relación tenían con él, si vivían con ellos españoles, mulatos u otra per-
sona que no fuera de condición indígena y si vivían juntos o no, para lo cual orde-
naban los lugares donde se debía fundar un nuevo pueblo y quiénes debían ocuparlo,
estando atentos de que el sitio contara con condiciones de salubridad, con buenas tie-
rras para el cultivo y que estuviera cerca de las materias primas. Además, se encar-
gaban de establecer el censo diferenciando entre los indios útiles (aquellos en edad
de trabajar), los reservados (que eran los que pronto alcanzarían dicha edad) y la
chusma, entre los que estaba el resto de la población, entiéndase ancianos, enfermos,
niños y mujeres. Sin embargo, de su labor lo que más nos interesa es la preocupa-
ción porque en estos poblados se contara con una iglesia decente donde les fuera
practicada la doctrina y, en el caso de que no contaran con ella o se encontrara en ma-
las condiciones, propiciaban los contratos de obra o las reparaciones pertinentes para
solventar este problema.
Este hecho es muy significativo, ya que debemos tener presente que el principal
motivo por el que se procedía a establecer las reducciones indígenas era propiciar la
conversión de éstos al cristianismo, convirtiéndose la iglesia no sólo en depositaria
de estas funciones sino en el propio corazón de los pueblos, de ahí que vaya pareja
la fundación del mismo y la contratación de la iglesia en el mejor lugar que ofreciere.
Es por ello que a finales del siglo XVI y principios del XVII, cuando se fundan la
mayoría de las poblaciones, se emiten la mayoría de los contratos para la edificación
de las iglesias.
Una vez conformados los resguardos y delimitados en ellos los pueblos de indios
se procedía al acto de fundación, en la mayoría de las veces conservando su nombre
indígena. Para ello se realizaba la traza, que delimitaba el espacio para la plaza (nú-
cleo) y las calles principales; en el mejor de sus frentes se señalaba el lugar de la igle-
sia y la casa cural, y en el resto se establecía la casa del cacique y principales del pue-
blo; se continuaba con la demarcación de los lotes para el resto de la población,
teniéndose muy presente las condiciones sociales de los mismos, respetando la gra-
duación social establecida en época prehispánica.
En algunos casos en los autos de población se nos informa, a grandes rasgos, de
las medidas generales de la iglesia, la plaza, la casa cural e incluso las de las vivien-
das de los indios principales, haciendo alusión a su ubicación dentro de la traza y ex-
tensión de sus tierras. Este es el caso del auto dado para juntar los indios de los pue-
blos de Oicatá y Nemuza en algún sitio no indicado entre ambos, dejando la
elección del lugar en manos de las autoridades competentes con el visto bueno del
cura doctrinero y del poblador, siendo requisito que se cuente con agua y leña y se
elija en el sitio mejor y más superior el neçesario para la yglesia, que tenga çinquen-
ta y quatro varas de largo y doçe de ancho para çimientos, estrivos y hueco della, y
por delante [...] plaza setenta varas en quadro o las neçesarias, y a un lado de la di-
cha yglesia se a de haçer la casa del padre de la dotrina con veinte y çinco varas en
quadro y al otro lado la casa del caçique en la misma forma, y a la redonda de la pla-
za se sitúen las casas de los capitanes y a ellos y a los demás yndios de amvos pueblos
se les señalen sus casas, la [...] recta con veinte varas en quadro de sitio para su casa,

204
LA PRESENCIA DEL MUDÉJAR EN LAS IGLESIAS DOCTRINERAS DEL NUEVO REINO DE GRANADA

despensa y lomas6, y las calles queden limpias y deservadas de seis varas de ancho en-
tre cada ochenta varas en quadro por la forma que se a dicho7.
Pero centrándonos en la construcción de las iglesias doctrineras, debemos dejar
constancia de que en Nueva Granada en esta época carecían de personal suficiente
para llevar a cabo dichas construcciones, y es por ello que constantemente se recu-
rre a los mismos maestros o alarifes para establecer los contratos. Como consecuencia
directa veremos que un mismo albañil podía encontrarse trabajando en siete o más
iglesias a la vez, a veces muy distanciadas unas de otras, lo que acarreaba que los pla-
zos de conclusión de la obra (que generalmente oscilaban entre un año y medio y tres
años) no se cumplieran, o que el inicio de las obras se retrasara bastante.
Con el oficial carpintero Gaspar de Parada se contrató la conclusión de la igle-
sia de Ceniza, la construcción de la de Duitama y la de Paipa; en el albañil Alonso
Hernández recayó la edificación de la iglesia de Chía, la de Tabío y Subachoque, la
de Tenjo y la de Usaquén. Especial interés tiene el caso del maestro de albañilería Juan
de Robles, ya que en un período de cuatro años se le encomendaron las obras de nue-
ve iglesias, cuatro de ellas (las de Nemocón, Suesca, Ubaté y Zipaquirá) se contra-
taron el mismo día 2 de agosto de 1600, la iglesia doctrinera de Une y Cueca el 14
de noviembre de 1600, las de Chipaque y Tocancipá el 28 de mayo de 1601, la de
Chocontá en noviembre de 1602 y la de Pasca en junio de 1604. Como se puede apre-
ciar, las siete primeras iglesias se contratan en el plazo de un año aproximadamen-
te, lo que demuestra por un lado la necesidad tan urgente de construirlas y por otro
la falta de maestros que se pudieran hacer cargo de estas obras, a lo que debemos su-
mar que, probablemente, cuando se establecen estos contratos Robles se encontra-
ra trabajando en alguna otra obra.
Otro caso destacado es el del oficial albañil Juan Gómez de Grajeda, que reali-
zó las iglesias de Cucunubá, Simijaca y Susa, además de las de Gámeza, Monguí,
Mongua de las Monjas y Tutasá contando con la colaboración de Rodrigo Yáñez;
también se le contratará la realización de la iglesia de Tópaga, aunque finalmente ésta
se la cederá a Andrés Carrillo.
Otro caso de interés es el de Domingo Moreno, cantero y albañil, al cual apre-
saron por no cumplir con los plazos de conclusión de las iglesias de Bogotá, Faca-
tativá y Zipacón, que comprendía un año y medio, y al que finalmente pusieron en
libertad para que las acabase:
[...] el dicho señor oidor por ante mi el escribano mandó tomar y tomó asiento a Domin-
go Moreno cantero vezino desta çiudad para que hiziese las dichas tres yglesias acabadas de
todo punto, con çiertas trazas y condiçiones y preçio, y se obligó de dar acabadas de albañiría
y carpintería dentro de año y medio que corre desde nueve de julio la de Zipacón, y la de Bo-
gotá desde treinta y uno del dicho mes y la de Facatativá y Chueca desde dos de agosto que
se otorgaron las escripturas del año pasado de mil y seisçientos y uno como consta por ellas, y
dio çiertos fiadores de que las haría y acabaría, y uno dellos el dicho Joan de Escobar, y des-
pues en doçe de junio pasado deste presente año por auto mandó el dicho señor oidor que aten-

6. Al margen: A la buelta de la [...].


7. Archivo General de la Nación de Colombia, Sección Colonia, Fondo Visitas Venezuela, tomo 15, f.
644 r.

205
GUADALUPE ROMERO SÁNCHEZ

to a que el dicho Domingo Moreno no hazia las yglesias todas tres como se avia obligado es-
tuviese preso en la cárzel real, el qual alegó sobre ello y vistos los autos por los señores presi-
dente y oidores desta Real Audiençia en diez y nueve de julio pasado deste presente año man-
daron que el dicho Domingo Moreno fuese suelto por tres meses para dentro dellos cumpliese
lo que estava obligado y hiziese las dichas yglesias conforme lo que estava a su cargo, dando
fianzas ante todas cosas de cumplirlo asi, en cuya conformidad y de otro decreto de la dicha Real
Audiençia en que se manda que conforme a los proveido le soltasen de la cárzel por esta cau-
sa para que acudiese a las dichas obras aunque sean pasados los tres meses, por tanto los dichos
fiadores dixeron que no ynovando ni alterando las escripturas y fianzas que el dicho Domin-
go Moreno cantero y sus fiadores an hecho como queda referido antes dexándolas en su fian-
za y vigor se obligavan y obligaron que el dicho Domingo Moreno cantero hará y acavará las
dichas tres yglesias de todo punto como está obligado y con las condiçiones y como se refiere
en las dichas tres escripturas [...]8.
Las iglesias doctrineras son por lo general templos de una nave muy profunda,
quedando descompensada la enorme longitud del conjunto en comparación con su
anchura (fig. 2). Lo común es que la longitud sea de 40 a 55 varas (33,44 a 45,98 me-
tros), mientras que la latitud se mantiene en 11 o 12 varas (9,19 o 10,03 m), inde-
pendientemente del largo de la obra. Esta circunstancia viene dada por la longitud
de la madera empleada para la realización de armaduras, condicionando la obra re-
sultante. La iglesia se encuentra dividida espacialmente mediante un arco toral que
sirve de elemento diferenciador entre el cuerpo de la nave y la cabecera donde está
la capilla mayor, en cuyo interior se alberga el altar mayor y en algunos casos los al-
tares colaterales. La capilla mayor es el elemento de máxima importancia y por ello
se le da un tratamiento diferenciado; esto se aprecia en la elevación de su altura a 7
varas (5,85 m), es decir, una vara más que el cuerpo de la iglesia, y en que el acceso
al altar mayor se realiza mediante gradas, generalmente de 2 a 4. Unido al bloque de
la iglesia se realizaría la sacristía, ubicada en uno de los laterales de la capilla mayor,
además de la capilla bautismal, levantada de forma más común a los pies de la nave
e igualmente en uno de sus lados. El baptisterio generalmente repite o se aproxima
a las dimensiones establecidas para la sacristía, que en casi todos los casos se preveía
de 16 pies cuadrados (4,46 metros por lado), siendo ésta una medida estándar. Otro
de los elementos más significativos es la construcción del coro. Es interesante rese-
ñarlo por la importancia que tiene, al facilitar la labor en la evangelización de los na-
turales. En este punto no podemos olvidar la gran profusión de pintura mural que
se manifiesta en toda la iglesia y que cumpliría esta misma finalidad, destacando el
caso de las iglesias de Sutatausa, en el Departamento de Cundinamarca, y de Tur-
mequé, en el de Boyacá, como ejemplos más característicos y que en la actualidad
se conservan casi en su integridad.
Un elemento definidor de esta tipología arquitectónica son los soportales, aun-
que en la construcción de algunas iglesias no se prevea su edificación, como es el caso
del templo de Tocaima. El soportal (fig. 3) es el resultado de la continuación de los
muros laterales de la nave y del cerramiento superior, y cumple las funciones de ca-
pilla abierta. Es muy interesante resaltar que en todos los documentos analizados la

8. Archivo General de la Nación de Colombia, Sección Colonia, Fondo Visitas Cundinamarca, tomo
5, rollo 43, ff. 892 r-892 v.

206
LA PRESENCIA DEL MUDÉJAR EN LAS IGLESIAS DOCTRINERAS DEL NUEVO REINO DE GRANADA

Paipa
E 1:200
capilla mayor

Reja de madera. Separación de la capilla bautismal.

Fig. 2. Iglesia doctrinera de Paipa. Gaspar de Parada, 1605.

longitud del soportal es siempre la misma, siendo ésta de dos varas (o lo que es lo
mismo, 1,67 metros), y que éstas no se incluyen en las medidas totales del edificio
cuando se especifica el largo de la iglesia.
En cuanto a los materiales empleados en la construcción de las iglesias doctrineras,
hay una gran homogeneidad. Las primeras iglesias de que se tiene noticia se reali-
zaron de bahareque9, siendo muy poco resistentes, lo que obligó varios años más tar-
de a reedificarlas. Las iglesias que analizamos se construyeron con posterioridad para
sustituir, por lo general, a estas primeras, realizándose con materiales más resisten-
tes. Son templos de mampostería reforzados con estribos de ladrillo, piedra y cal
(Bosa, Soacha, Chía, Fusagasugá, Gachancipá, Paipa, Monguí, Monguá, Tutasá, Ra-

9. Pared de palos entretejidos con cañas y barro.

207
GUADALUPE ROMERO SÁNCHEZ

Fig. 3. Exterior de la iglesia doctrinera de Tausa Viejo, Departamento de Cundina-


marca.

miriquí, Tenjo, Tocaima, Usaquén, Une y Cueca y Viracachá; en el caso de Facata-


tivá y Zipacón además se le agrega arena y cal en proporción 2:1). Las esquinas de
la sacristía también se refuerzan con ladrillo (Fontibón y Paipa), con ladrillo y pie-
dra (Bosa, Soacha, Monguí, Monguá, Tutasá, Ramiriquí y Viracachá) o con ladrillo,
piedra y cal (Facatativá y Zipacón). Las portadas se realizan en su mayoría de ladrillo
y piedra, y para concluir se procede a encalar toda la fábrica.
Por otro lado, nos encontramos con uno de los elementos más característicos de
este tipo de construcciones, además de los soportales, como es la realización de es-
padañas (fig. 3). Se construyen comúnmente encima de la portada principal sobre un
muro de mampostería o en el testero, no siendo frecuente la realización de torres
campanarios, ya que esto supondría una elevación considerable del precio total de
la fábrica y un alargamiento en el tiempo de su ejecución, retrasando la conclusión
de la obra. Por lo general están proyectadas de tres ojos o tres campanas.

LA PRESENCIA DEL MUDÉJAR EN LAS IGLESIAS DOCTRINERAS

En esta tipología de iglesia que acabamos de definir queda patente la comparti-


mentación espacial propiciada por el arco toral y continuada por los tirantes de la

208
LA PRESENCIA DEL MUDÉJAR EN LAS IGLESIAS DOCTRINERAS DEL NUEVO REINO DE GRANADA

armadura y el coro, que marcan además un sentido longitudinal en estos templos,


que podemos definir como integrantes de la estética mudéjar. De hecho, lo prime-
ro que nos llama la atención al entrar en este tipo de espacios es el contraste pro-
ducido por la estrechez y la profundidad de su única nave (fig. 4).
Este esquema espacial y arquitectónico tan sencillo surge de la necesidad de cons-
truir iglesias con la mayor brevedad posible y el menor coste, adaptándose perfec-
tamente a la urgencia del momento. Por un lado, los materiales en la mayoría de los
casos estaban en lugares próximos y su consecución no suponía ningún problema
añadido, y por otro se contaba con mano de obra indígena para trabajar a pie de obra
y para obtener aquellos materiales que necesitaban de una elaboración previa,
como es el caso de la teja, el ladrillo o la cal.
Ytem, se le a de dar todos los materiales que hubiere que se entiende todo el serviçio neçe-
sario de peones para la dicha obra para haçer cal, teja, ladrillo, traer madera y dar recaudo a
la dicha obra y por todo esto no se le ha de llevar cosa alguna sino que tan solamente a de po-
ner su industria y manos y a de haçer a su costa toda la dicha obra así de ofiçiales de albani-
ría, tejeros y caleros como de carpintería y a de poner toda la clavaçón neçesaria de puertas y
todo lo contenido en la obra hasta que quede acavada10.

Fig. 4. Interior de la iglesia doctrinera de Sutatausa, Departamento de Cundinamarca.

10. Archivo General de la Nación de Colombia, Sección Colonia, Fondo Fábrica de Iglesias, rollo 19,
f. 354 r.

209
GUADALUPE ROMERO SÁNCHEZ

El cerramiento superior se realiza con maderas y tejas mediante la colocación de


armaduras mudéjares, donde predomina el empleo de vigas toscas para la realización,
salvo excepciones, de las de par y nudillo con parejas de tirantes escuadrados, se-
parados cada par por una distancia de diez pies: An se de enmaderar cada una de las
dichas yglesias de tosco con sus nudillos como es costumbre y sus tirantes de dos en dos
diez pies de una a otra y a se de encañar de buen tejado a lomo çerrado y los cava-
lletes amarmolados11.
Destaca el caso de Turmequé, donde existía una armadura de tijeras y se propo-
ne realizar una sustitutoria de par y nudillo por su mayor duración:
[...] y ansí con toda la diligençia hecha dixo el susodicho que haçiéndose este adobio podrá
sustentarse este tejado algún tiempo y no mucho porque el modo de enmaderado que la dicha
yglesia tiene que es de tigeras no es permanente para yglesias ni edifiçios perpetuos sino para
obras de poco mas o menos, dixo que era su pareçer que se desbaratase a trechos por amor de
las paredes y el gasto de pinturas que en ellas ay y se tornase a haçer de armadura de par y nu-
dillos aprovechando toda la madera y clavaçón que se hallase de provecho para la armadura
nueva y que de esta manera quedará perpetuo para siempre [...]12.
Igualmente destaca el caso del templo de Fusagasugá, en el Altiplano Cundibo-
yacense, donde se proyecta una armadura de par y nudillo para el cuerpo y otra de
limas moamares para la capilla mayor, destacando así su mayor importancia:
Es condisión que estando enrasada se a de enmaderar en esta conformidad, que a de lle-
bar quatro tirantes cada solera y las soleras an de ser de a seys baras de largo y las tirantes an
de llebar sus canesillos debajo y an de ser las tirantes de una tersia de grueso y una quarta de
ancho13 y las soleras de la mesma conformidad.
En la capilla mayor se an de acomodar dos soleras por banda y los tirantes en cada solera
tres con sus quadrantes, y todas estas tirantes an de yr clabadas cada una con dos clabos de en-
galabernar.
Y estando asentadas dichas maderas se a de enmaderar de muy buena barasón y a cada
bara dos clabos y sus nudillos, y la capilla mayor a de llebar sus dos limazones, y en el cuerpo
de la yglesia y capilla mayor muy bien arriestrada de dos en dos la riestras.
Es condisión que estando enmaderada se a de encañar y tejar de muy buena teja a lomo
serrado, y los estribos an de subir modo que se teje con el tejado prensipal porque no aga cay-
da el agua de los canales, y el caballete y limazones se a de masisar de cal sobre que carge la
cubierta14.
También se realizan armaduras más sencillas como las de Facatativá y Zipacón,
donde dice que los tirantes deben ir en parejas y separados unos de otros la distan-
cia de diez pies; presuponemos que se trata de una armadura de par e hilera, ya que
no se hace ninguna observación sobre la existencia de nudillos en ella. Lo mismo nos

11. Archivo General de la Nación de Colombia, Sección Colonia, Fondo Fábrica de Iglesias, rollo 19,
ff. 353 v-354 r.
12. Archivo General de la Nación de Colombia, Sección Colonia, Fondo Fábrica de Iglesias, rollo 12,
f. 897 r.
13. La palabra ancho está sobrescrita.
14. Archivo General de la Nación de Colombia, Sección Colonia, Fondo Fábrica de Iglesias, rollo 16,
ff. 398 r-398 v.

210
LA PRESENCIA DEL MUDÉJAR EN LAS IGLESIAS DOCTRINERAS DEL NUEVO REINO DE GRANADA

encontramos en Gachancipá y en Tocaima, donde sabemos se contrató una armadura


de maderas toscas probablemente de par e hilera, puesto que sabemos de la existencia
de los tirantes, pero tampoco se hace referencia a los nudillos. En cuanto a Ga-
chancipá, la referencia es la siguiente: Ytem, tengo de cubrir la dicha yglesia de ma-
dera y teja con tirantes y zapatas y toda la demás madera que fuere menester la qual
a de ser enmaderada de tosco y las tirantes labradas y con vuena clavaçón15.
De todo lo anterior podemos deducir la gran proliferación de este tipo de ar-
maduras por todo el territorio perteneciente a la Real Audiencia del Nuevo Reino
de Granada. Este hecho no es casual, ya que en los contratos de obras se evidencia
frecuentemente la obligación de realizar estas armaduras, siendo rutinario su empleo,
y especificando que es la costumbre en estas tierras realizarlo así. Este hecho queda
confirmado cuando se observa que de las más de sesenta iglesias doctrineras anali-
zadas hasta el momento en la zona del Altiplano Cundiboyacense, en todas se re-
pite este esquema, con ligeras modificaciones.

15. Archivo General de la Nación de Colombia, Sección Colonia, Fondo Fábrica de Iglesias, rollo 17,
f. 1.011 r.

211
JUAN DE ORIHUELA: UN MAESTRO MUDÉJAR
EN LA SOLANA (CIUDAD REAL)

Concepción Moya García*


Carlos Fernández-Pacheco Sánchez-Gil*

EL MUDÉJAR EN CIUDAD REAL

El hecho de que la zona que en la actualidad se corresponde con la provincia de


Ciudad Real fuese un territorio fronterizo durante un largo periodo de tiempo, así
como su tardía repoblación, que no sufrirá un definitivo empuje hasta transcurridas
varias décadas del siglo XIII, tras la batalla de las Navas de Tolosa y su control efec-
tivo, provocó que el arte mudéjar en dicho territorio se estableciera en un momen-
to tardío, pudiendo observar dos períodos en el mudéjar de la provincia.
El primer momento tiene lugar a finales del siglo XIII y comienzos del XIV, en
el que hallamos iglesias de pequeño tamaño, con una sola nave, sencillas y austeras,
en las que predominan las cubiertas de par y nudillo, bien a dos aguas con tirantes
sencillos, como la iglesia de los Pozuelos de Calatrava, en Almodóvar del Campo,
o de par y nudillo con lima bordón y con tirantes apareados, como la de Retuerta
de Bullaque1, combinándose en otros lugares, como la iglesia de Santa María Mag-
dalena de Almedina, con construcciones columnarias. Un bello ejemplo de iglesias
de mayor tamaño y complejidad en sus cubiertas mudéjares lo hallamos en la ar-
madura de la iglesia de Santiago de Ciudad Real, de par y nudillo de tradición
almohade, con un almizate central que incluye numerosos lazos con forma de es-
trellas y decoración vegetal, junto a polígonos de ocho puntas, construida proba-
blemente en la segunda mitad del siglo XIV2.

* UNED.
1. G. ESPARRAGUERA, M.Á. BERDAGUER, T. ZARAGOZA y A.C. ZARZA, «La arquitectura religiosa en la
provincia de Ciudad Real a lo largo de su historia», Actas del I Congreso de Historia de Castilla-La Man-
cha. Tomo VII, Talavera, Servicio de Publicaciones de la Junta de Comunidades de Castilla-La Mancha,
1988, p. 325.
2. E. SÁINZ MAGAÑA, «El arte medieval», Ciudad Real y su provincia. Tomo III. Arte, Sevilla, Gever,
1996, pp. 59 y 60.

213
CONCEPCIÓN MOYA GARCÍA Y CARLOS FERNÁNDEZ-PACHECO SÁNCHEZ-GIL

El segundo momento lo vamos a encontrar a finales del siglo XV y comienzos


del XVI, en el que se combinan elementos tardogóticos con mudéjares, siendo muy
abundantes las construcciones de este tipo, que se extienden por toda la geografía de
la provincia, destacando entre ellas la iglesia de Tirteafuera, aldea de Almodóvar, don-
de hallamos tres cubiertas distintas: en la capilla de planta ochavada con limas moa-
mares, en el crucero de planta poligonal con el mismo tipo de limas, y en la nave de
par y nudillo con tirantes pareados y canes3. Otros ejemplos de este fructífero pe-
ríodo son: la iglesia de San Sebastián en Porzuna, con una armadura sencilla de par-
hilera; la iglesia del monasterio de Nuestra Señora del Rosario de Almagro, con ar-
madura de par y nudillo decorada con lacerías que dan lugar a formas estrelladas y
cuadrangulares4; la de Nuestra Señora de la Asunción de Almodóvar del Campo; las
iglesias de San Juan Bautista y Santo Domingo de Chillón, y las ermitas de Nues-
tra Señora de los Santos en Pozuelo de Calatrava y de San Sebastián en La Solana,
siendo esta última la que vamos a analizar en esta comunicación, destacando la be-
lla cubierta de la capilla de la Epístola, realizada entre 1530 y 1531 por un maestro
de origen levantino que llevó a cabo unas cubiertas mudéjares de gran belleza en una
población del Campo de Montiel: La Solana.

UN MAESTRO MUDÉJAR: JUAN DE ORIHUELA

La primera referencia que encontramos sobre Juan de Orihuela tiene lugar en un


proceso que da comienzo en 1512 contra María López, mujer de Diego Avicena Pes-
cador, quien aparece citado en las declaraciones de algunos testigos como vecino de
Membrilla5, debiendo desplazarse poco después a La Solana, villa que estaba situa-
da a poco más de una legua de aquélla.
Juan de Orihuela aparece citado en La Solana por primera vez a comienzos del
año 1521, cuando tras una reunión que tiene lugar el 25 de diciembre de 1520, en la
que se muestra la preocupación existente en la localidad y en toda la comarca, como
consecuencia de la guerra de Comunidades y de las amenazas de los “agermanados”
de la baylia de Caravaca e Cehixin e otras villas e lugares de su comarca6, se decide
reforzar las defensas de la villa, colocando centinelas en la torre y guardias durante
todo el día, que avisarían de los posibles peligros. Pero se encontraron con el pro-
blema de la falta de armas adecuadas para ello, por lo que decidieron enviar a un
miembro del Concejo junto a un experto en la materia para comprar las armas ne-
cesarias. Los elegidos fueron el regidor Miguel Fernández, junto con el maestro de

3. G. ESPARRAGUERA, M.Á. BERDAGUER, T. ZARAGOZA y A.C. ZARZA, «La arquitectura religiosa...»,


p. 325.
4. E. HERRERA MALDONADO y E. SÁINZ MAGAÑA, «Arte moderno», Ciudad Real y su provincia. Tomo
III. Arte, Sevilla, Gever, 1996, pp. 97 y 98.
5. Archivo Histórico Nacional (A.H.N.), Sección Inquisición, Tribunal de Toledo, Leg. 163, exp. 7, Cau-
sa contra María López por judaizante, 1512-1522, declaraciones de los testigos.
6. Archivo Histórico Municipal de La Solana (A.H.M.L.S.), signatura 1.524, Libro de decretos del Ayun-
tamiento de La Solana (1520-1531), Acuerdos de 25 de diciembre de 1520.

214
JUAN DE ORIHUELA: UN MAESTRO MUDÉJAR EN LA SOLANA (CIUDAD REAL)

carpintería Juan de Orihuela7. Su elección para una misión tan delicada como ésta nos
muestra que estaba asentado en la villa, y que era una persona de confianza y con una
cierta reputación.
A finales de la década de los veinte y principios de la de los treinta, lo encontra-
mos realizando importantes obras en La Solana. Está documentado que es el maes-
tro de dos bellas cubiertas mudéjares que se realizaron entre 1530 y 1532, y que se
han conservado hasta la actualidad, mostrando la gran calidad artística de este
maestro: la cubierta de la capilla de la Epístola de la ermita de San Sebastián y la de
la Sala de Audiencia del Concejo de La Solana, en la actualidad sala de juntas del
Ayuntamiento.
En 1546, con una edad ya avanzada, realizó el proyecto de la tribuna de la igle-
sia de Santa Catalina junto al maestro Domingo de Almaçan, por valor de noventa
y un mil maravedíes8, encargándole a los dos maestros carpinteros la elaboración di-
recta de los trabajos realizados en madera; pero el proyecto se retrasaría varías dé-
cadas, siendo ejecutado por otros.
Hay numerosos elementos que nos indican un origen converso de Juan de
Orihuela, aunque no podemos precisar si éste sería judío o morisco, pues si su apa-
rición en un proceso de judaizantes podría hacernos decantar por lo primero, hay
otros factores que apuntan a una procedencia morisca. El apellido de esta persona,
de origen toponímico, nos indica que se trataría de un cristiano nuevo, ya que éstos
solían tomar como apellido el nombre de alguna ciudad, muchas veces de la que pro-
cedían, en este caso de Orihuela, ciudad alicantina próxima a la región de Murcia,
en la que hubo un importante foco mudéjar en la primera mitad del siglo XVI, des-
tacando el eje formado por las localidades de Orihuela, Totana y Lorca, en la últi-
ma de las cuales hubo una techumbre ya desaparecida en la ermita de Santa Quite-
ria9, similar a la de la capilla de San Sebastián, y cuya única diferencia es la utilización
de limas simples, en lugar de las moamares. Su profesión y el perfecto conocimien-
to de las técnicas mudéjares no hacen sino reforzar la idea de su posible estirpe mo-
risca.
La llegada de un maestro de origen levantino a un territorio que solía estar bajo
la órbita del mudéjar toledano, procedente de una localidad muy próxima a Murcia,
nos puede indicar el origen de las influencias que muestra en su obra, pues los es-
tudios de Pérez Sánchez han demostrado que el mudéjar murciano se encuentra muy
influenciado por el granadino, sobre todo en las armaduras de par y nudillo, en con-
tra de las anteriores teorías de Elías Tormo, que indicaban la dependencia de patrones
valencianos10.

7. Ibídem, Acuerdos de 12 de enero de 1521.


8. A.H.N., Archivo Judicial de Toledo, Santiago, Leg. 21.530, Solicitud de permiso de arrendamiento
de la dehesa de la villa, 1546, Tasación de la tribuna de la iglesia de Santa Catalina de La Solana.
9. R. LÓPEZ GUZMÁN, Arquitectura mudéjar: del sincretismo medieval a las alternativas hispanoame-
ricanas, Madrid, Cátedra, 2000, pp. 370-377.
10. C. GUTIÉRREZ-CORTINES CORRAL, Renacimiento y arquitectura religiosa en la antigua Diócesis de
Cartagena (Reyno de Murcia, Gobernación de Orihuela y Sierra del Segura), Murcia, Colegio de Apa-
rejadores y Arquitectos Técnicos, 1987, p. 435.

215
CONCEPCIÓN MOYA GARCÍA Y CARLOS FERNÁNDEZ-PACHECO SÁNCHEZ-GIL

LA SITUACIÓN ECONÓMICA Y SOCIAL DE LA SOLANA


A COMIENZOS DEL SIGLOXVI

La Solana, una aldea fundada en la segunda mitad del siglo XIII por pastores so-
rianos y dependiente de la Alhambra, vivió en el siglo XV una notable pujanza eco-
nómica y demográfica, gracias a sus fértiles tierras y una pujante ganadería. En 1468
era la cuarta población del Campo de Montiel en número de habitantes, con 200 ve-
cinos, sólo superada por Membrilla, Villanueva de los Infantes y Almedina, y con-
siguió emanciparse y alcanzar el villazgo entre dicho año y 1477. Entre 1468 y 1498
mantuvo un firme crecimiento de la población (70%), llegando en 1507 hasta los 380
vecinos (1.710 habitantes aproximadamente)11. Esta progresión se vio frenada por una
profunda crisis que afectó a Castilla y otros reinos peninsulares, que en los años si-
guientes a 1502 sufrieron un período de malas cosechas, sumado a una epidemia de
peste en los años 1506-1507, a la que se uniría una nueva crisis agraria hacia 151012.
Todo ello provocó la reducción de un 18,4% de la población de la villa entre 1507 y
1511 (de 380 a 310 vecinos), motivada por la peste y las malas cosechas. Tras este gra-
ve período se produjo el efecto contrario, y una vez superada una nueva crisis epi-
démica en 1512, se sucedieron años con muy buenas cosechas, lo que, unido a una
continua subida del precio de los cereales, provocó que el período que abarca de 1512
a 1535 fuera especialmente próspero, como nos muestran varios indicios: el aumen-
to del dezmero excusado que recibe la Iglesia, la realización de numerosas obras ci-
viles y religiosas, y en el aumento del precio del trigo vendido por la iglesia y las er-
mitas de la villa, que casi se duplicará entre 1524 y 1550. Este momento de esplendor
económico se vio acompañado de un importante aumento poblacional, que en la se-
gunda década del siglo XVI (1511-1520) llegó a incrementarse en un 35% (450 veci-
nos), lo que supone un salto espectacular en tan corto período de tiempo, debiendo
ser motivado por la llegada de inmigrantes, posiblemente algunos de ellos moriscos.
Al comienzo de la década de los años treinta, la villa estaba viviendo un momento
de gran auge económico, que se mostrará en las importantes obras llevadas a cabo,
en las que tendrá un notable papel el maestro Juan de Orihuela.

OBRAS DE JUAN DE ORIHUELA

En este capítulo vamos a analizar las dos obras realizadas por Juan de Orihuela
en La Solana que se conservan en la actualidad, y el entorno en el que fueron cons-
truidas. Dichas obras nos van a mostrar la perfecta técnica de este maestro, siendo
realizadas ambas en un corto espacio de tiempo, para dos edificios singulares de la
localidad: la ermita de San Sebastián y el nuevo edificio de la Audiencia de La So-
lana. Es importante destacar que ambas armaduras son dos de los escasos vestigios
de estilo mudéjar que se conservan en la zona del Campo de Montiel.

11. A.H.N., Sección Órdenes Militares, Santiago, Libro 1.233C, visita de 1468, p. 71; Libro 1.068C, vi-
sita de 1498, p. 403; Libro 1.071C, visita de 1507, p. 277.
12. A. DOMÍNGUEZ ORTIZ, El Antiguo Régimen. Los Reyes Católicos y los Austrias, Madrid, Alianza, 1988,
p. 150.

216
JUAN DE ORIHUELA: UN MAESTRO MUDÉJAR EN LA SOLANA (CIUDAD REAL)

LA CAPILLA DE LA EPÍSTOLA DE LA ERMITA DE SAN SEBASTIÁN

La ermita de San Sebastián fue construida probablemente en la segunda mitad del


siglo XIV, recibiendo su advocación como consecuencia de la epidemia de peste que
en esos momentos asolaba Europa, ya que se consideraba a San Sebastián como san-
to protector contra la peste.
Mosén Diego de Villegas, que fue comendador de La Solana entre los años 1440
y 1477, realizó importantes reformas en la villa, y fue sustituido por su hijo Diego
Fernández de Villegas, como consecuencia de no haber acudido al capítulo de
Azuaga, en el que se acabó con el cisma que mantenían dos maestres en la Orden de
Santiago, y su posible apoyo al perdedor, Rodrigo Manrique, frente a Alonso de Cár-
denas13. Sin embargo, mosén Diego de Villegas continuó residiendo en La Solana has-
ta su muerte, acaecida en 1482. En esos años, mosén Diego de Villegas, ya mayor, pre-
paró su enterramiento en la villa, por lo que acondicionó y reformó la ermita de San
Sebastián, antigua parroquia venida a menos tras la construcción de la nueva iglesia
parroquial de Santa Catalina, y la convirtió en el lugar de enterramiento para él y su
mujer, Aldana Osorio. Para asegurar la necesaria financiación a la ermita, le donó una
bula que permitía ganar perdones e indulgencias en los días de San Juan Evangelis-
ta, de la Natividad de Nuestra Señora la Virgen María y el de San Sebastián. La bula
fue una importante fuente de ingresos para la ermita, permitiéndole conseguir una
saneada situación económica, que fue administrada por una cofradía, que aparece ci-
tada por primera vez en 1493, al comprar los cofrades un cáliz para la ermita14. Todo
ello provocó el aumento de la devoción que se tenía en La Solana a San Sebastián,
dando lugar a importantes donaciones.
El templo se caracteriza por una tipología cisterciense: una sola nave, en la que
predomina la austeridad debido a que cuando se construyó no contaba con la rica
capilla de la Epístola, ni con las pinturas murales, pues ambas se realizaron en el si-
glo XVI. Nos encontramos por lo tanto con dos momentos constructivos: uno ini-
cial, que podríamos situar a mediados del siglo XIV, y otro posterior, que pertene-
cería al primer tercio del siglo XVI. La ermita es de planta rectangular, de una sola
nave, con dos puertas, una al poniente y otra al mediodía, siendo esta última la úni-
ca que se conserva en la actualidad, ambas hechas con grandes dovelas de piedra mo-
leña, al igual que las que se utilizaron para las esquinas, propias de esta zona, y con
arco apuntado. El interior era de cal y canto, y contaba con tres ventanas, una de las
cuales es descrita de la siguiente forma: una ventana grande que esta al lado del cam-
panario15. Al decir grande no nos podemos imaginar un ventanal amplio como se en-
tiende en la actualidad, ya que se trataba de ventanas alargadas y estrechas, en for-
ma de aspilleras, típicas del momento constructivo del siglo XIV. Su distribución era
la siguiente: la citada ventana cerca del campanario, una a los pies y otra en el tes-
tero o cabecera, estando todas desaparecidas en la actualidad, ya que las que existen
son de la segunda mitad del siglo pasado. Las paredes estaban recorridas por poyos

13. A.H.N., Sección Códices, 236-B, Opúsculo varia de la Orden de Santiago, de Agurleta.
14. A.H.N., Sección Órdenes Militares, Santiago, Libro 1.080C, visita de 1524, p. 487.
15. A.H.N., Sección Órdenes Militares, Santiago, Libro 1.070C, visita de 1499, p. 275.

217
CONCEPCIÓN MOYA GARCÍA Y CARLOS FERNÁNDEZ-PACHECO SÁNCHEZ-GIL

para sentarse la gente: e tiene sus poyos de yeso doblados16. A los pies tenía una tri-
buna de madera de pino labrada, mandada construir en 1511, que se sustentaba so-
bre tres grandes vigas de madera, la cual fue quemada en la pasada guerra civil. Si vi-
sitamos la vecina localidad de Alcubillas, podemos contemplar una tribuna de
parecidas características en la iglesia de La Magdalena.
La nave está cubierta a dos aguas por un artesonado de madera de pino labrada,
de par y nudillo, típico del estilo mudéjar. Este tipo de armadura está compuesta por
pares dispuestos según la pendiente del tejado, y a dos tercios de altura se sitúa el ele-
mento conocido como nudillo, que sirve para unir los pares; sobre los nudillos en-
contramos una tablazón plana, horizontal, que recibe el nombre de almizate. Los pa-
res se sustentan en los estribos, que transmiten los empujes hacia los muros. Otro
componente que encontramos en esta armadura es el tirante, que se utiliza para anu-
lar los empujes horizontales, aumentando así la estabilidad. El número de tirantes
con que contaba la ermita de San Sebastián era de nueve dobles sobre zapatas, cua-
tro sencillos sobre la cabecera, de los que solamente queda uno, al perderse el res-
to durante la guerra civil, y otros dos que estarían encima de la tribuna, si bien no
sabemos si son los que hay en la actualidad o si serían como el resto de tirantes, es
decir apoyados sobre una zapata; cada tirante mide 18 pies.
En la nave, delante del altar mayor, se encontraba la tumba de mosén Diego de
Villegas, pintada de negro con una cruz de Calatrava en cada esquina y varios cal-
deros alrededor de un campo blanco, perteneciendo todo ello al escudo de armas de
los Villegas. La tumba se hallaba cubierta por un paño de damasco negro, en cuyo
centro había un hábito de la Orden de Santiago17.
Como se ha dicho anteriormente, en la ermita se pueden apreciar dos momen-
tos constructivos, el primero más austero, sin buscar riqueza ornamental, con el úni-
co objetivo de construir una iglesia que satisficiese las necesidades del culto. El se-
gundo se corresponde con el primer tercio del siglo XVI, en el que la ermita fue
enriquecida con la construcción de una capilla en la parte de la Epístola y con la de-
coración de sus muros mediante unas pinturas murales recientemente restauradas,
que fueron realizadas en 1531, gracias a la donación de dos importantes vecinos de
la villa: Juan Díaz Olmo y su mujer, Ana González.
La capilla de la Epístola se empezaría a construir hacia 1530, como nos muestra
el hecho de que el Ayuntamiento de La Solana indica que la capilla de la ermita de
San Sebastián se está haciendo con las limosnas que entrega la buena gente para la
bula, pero que ésta no tiene los maravedíes como son menester, por lo que solicitan
que el mayordomo de la iglesia de Santa Catalina entregue al mayordomo de la er-
mita el dinero que haga falta para terminar la obra, ya que en este momento la igle-
sia parroquial no tiene necesidad de gasto. Desde la villa de Montiel contestan el 5
de agosto de dicho año que, ante la petición realizada por los alcaldes, regidores, ofi-
ciales y hombres buenos de la villa de La Solana y su capellán, y ante la necesidad
de cubrir la capilla de la ermita, y como la yglesia al presente no tiene gastos muy ne-
cesarios, ordenando se tomen de la cuenta de la yglesia diez mil maravedíes si son me-

16. A.H.N., Sección Órdenes Militares, Santiago, Libro 1.080C, visita de 1524, p. 487.
17. A.H.N., Sección Órdenes Militares, Santiago, Libro 1.085C, visita de 1550, p. 1137.

218
JUAN DE ORIHUELA: UN MAESTRO MUDÉJAR EN LA SOLANA (CIUDAD REAL)

Foto 1. Cubierta de la capilla de la Epístola de la ermita de San Sebastián.

nester para la dicha capilla, y que estos sean devueltos a la iglesia cuando sea posi-
ble, debiendo cumplir el mayordomo de la iglesia dicha orden, bajo pena de exco-
munión, y que prestare al mayordomo de la bula de San Sebastián los dichos diez mil
maravedíes para acabar de fazer la abertura de la dicha capilla18. El domingo, vein-
tidós de enero de 1531, los alcaldes Francisco Gómez y Francisco Ruiz, los regido-
res Mingo Alonso, Juan Díaz y Alonso Gómez, y los diputados Alonso Díaz, Juan
González Ortega, Juan Pardo, Fernando Muñoz y Alonso Gómez, platicaron sobre
razón de la capilla que haz Juan de Oriuela en la hermita de San Sebastián, y deci-

18. A.H.M.L.S., signatura 1.534, Libro de decretos del Ayuntamiento de La Solana (1520-1531), Acuer-
dos julio-agosto 1530.

219
CONCEPCIÓN MOYA GARCÍA Y CARLOS FERNÁNDEZ-PACHECO SÁNCHEZ-GIL

Foto 2. Detalle del almizate de la capilla de la Epístola.

dieron que al constructor del techo de la capilla de San Sebastián, Juan de Orihue-
la, le paguen lo que el dijere cobrar por el haz de la dicha capilla se lo manden pa-
gar de la dicha cuenta del señor San Sebastián19, acuerdo por el que conocemos el
nombre de la persona que realizó el bello techo mudéjar de la capilla, y además pa-
rece indicarnos que al final se pagó con el dinero de la bula de San Sebastián, sin que
fuera necesario que la iglesia de Santa Catalina prestara los diez mil maravedíes que
le habían sido solicitados, lo cual es corroborado en la visita de 1535, que nos indi-
ca: por rrazon de la bula que alli tiene ganada por Mosén Diego de Villegas comen-
dador que fue desta dicha villa con la qual limosna sea fecho una capilla20.
Estos documentos nos permiten conocer la fecha exacta de su construcción, y
aunque Pilar Molina Chamizo la data en 1535 basándose en la visita de dicho año21,
lo único que nos dice la citada visita es que en 1535 ya está terminada, sin indicar-
nos el año de su construcción (en la qual sea hecho una capilla)22.
Se trata de una capilla cuadrada a la que se accede mediante un arco carpanel gran-
de de cantería, único elemento hecho totalmente de piedra en el interior de la ermita,

19. Ibídem, Acuerdos de 22 de enero de 1531.


20. A.H.N., Sección Órdenes Militares, Libro 1.082C, visita de 1535, p. 86.
21. P. MOLINA CHAMIZO, Iglesias parroquiales del Campo de Montiel (1243-1515), Ciudad Real, Bi-
blioteca de Autores Manchegos, 1994, p. 92.
22. A.H.N., Sección Órdenes Militares, Santiago, Libro 1.082C, visita de 1535, p. 84.

220
JUAN DE ORIHUELA: UN MAESTRO MUDÉJAR EN LA SOLANA (CIUDAD REAL)

es abocinado y está recorrido por dos finas columnillas que arrancan desde sus ba-
sas y se convierten a partir del salmer en arquivoltas. La riqueza de esta capilla re-
side en su cubierta de madera, de rico sabor mudéjar (de origen almorávide).
La armadura es a cuatro aguas, para lo que se utiliza una técnica más avanzada que
en la de par y nudillo, incorporando faldones en los testeros. Técnicamente son más
estables y complicadas, pero se pueden realizar en un taller. Está formada por cuatro
paños de madera de dimensiones iguales, las aristas de encuentro de los distintos pa-
ños reciben el nombre de limas, en este caso moamares o dobles, ya que al montar cada
paño con su lima éstas se duplican, apareciendo en cada ángulo dos limas separadas
por un pequeño espacio en el que se unen las péndolas, de cada dos paños en forma
de vértice, conociéndose dicho espacio con el nombre de calle de limas.
Los paños están decorados con una serie de estrellas de ocho puntas, enmarca-
das mediante festones ondulados labrados en la madera al igual que las estrellas y que
los recorren de forma horizontal, repitiéndose dicho motivo tres veces en cada paño.
La decoración de los paños es fácil de elaborar, ya que, como hemos dicho, éstos se
realizan en un taller, lo que permite un mejor manejo de las piezas, hecho que no se
daría si se tuviera que realizar la decoración directamente en el techo.
El almizate es el espacio central, en este caso cuadrangular, que resulta del
montaje de los faldones. Para cubrir dicho espacio se utilizó madera de ébano, apre-
ciándose su color negro decorado con pequeñas estrellas doradas de ocho puntas,
todo un lujo para el lugar, puesto que el ébano es una madera pesada, dura, lujosa
y exótica, cuya utilización se reservaba para escasas ocasiones, por lo que su presencia
denota cierto poderío económico.
Sobre la madera de ébano encontramos una decoración geométrica típica del
mundo musulmán, con el que consiguió un importante desarrollo y gran sofistica-
ción. Esta decoración nace del interés mostrado por los árabes hacia las matemáti-
cas. Partiendo de un círculo, se divide tomando como unidad lineal el radio y se lle-
ga a la obtención de estrellas o círculos. En este caso son estrellas de ocho puntas,
para cuya decoración se ha utilizado la técnica de la taracea, consistente en la in-
crustación de láminas de madera de distintos tipos o colores. Por otro lado, también
encontramos incrustaciones de nácar, y el resultado es esta bella techumbre decorada
a lazo, pues así se conoce este tipo de decoración geométrica.

LA SALA DE LA AUDIENCIA DEL AYUNTAMIENTO

En el año 1524 se había realizado un proyecto para ampliar la plaza Mayor de La


Solana, que se había quedado pequeña ante el fuerte aumento de población de la vi-
lla, pero los problemas para conseguir las autorizaciones, y sobre todo la necesaria
financiación, retrasó el comienzo de las obras23. El 20 de noviembre de 1528 se ob-
tuvo la autorización real de Carlos I para el ensanche de la plaza y para que hicie-

23. A.H.N., Archivo Judicial de Toledo, Santiago, Leg. 21.530, Solicitud de permiso de arrendamiento
de la dehesa de la villa, 1546 (contiene documentación entre 1520-1546), Proyecto ensanche de la plaza
Mayor.

221
CONCEPCIÓN MOYA GARCÍA Y CARLOS FERNÁNDEZ-PACHECO SÁNCHEZ-GIL

ren una casa de ayuntamiento, aunque debería pasar más de un año, hasta el 18 de
enero de 1530, antes de que dicha provisión fuera presentada en el pueblo por Lope
Sánchez Becerro, cavallero de Santiago y alcalde de las alcaydias de bien, y el bachiller
Gonzalo Rodríguez, freyle de la Orden y cura de Villanueva de los Infantes, y acep-
tada por sus vecinos tras los interrogatorios de rigor24.
Las causas alegadas por los vecinos que hacen necesaria la construcción de una
casa de Ayuntamiento son de diversa índole: la falta de un edificio para hacer las reu-
niones del Concejo (los oficiales van a muchas partes a hacer los cabildos), la ausen-
cia de confidencialidad (al ser en una casa las cosas se oyen y por la villa publican los
que lo oyen) y la necesidad de un lugar representativo para recibir las visitas de per-
sonalidades (los vecinos reciben mucha afrenta especialmente quando vienen perso-
nas de estado), a lo que se une que la Audiencia es muy pequeña y no caben en ella
los oficiales y las personas que van a pedir justicia25.
El 14 de junio de 1530 es realizada la tasación de la casa de Ayuntamiento y Au-
diencia por los carpinteros Luis de Béjar y Alejo Martín, junto a Martín de la To-
rre, todos ellos vecinos de La Solana, ascendiendo el coste total de la obra a sesen-
ta y dos mil veinticinco maravedíes, de los cuales quince mil corresponden a mano
de obra y el resto a los materiales. El presupuesto es aprobado por los visitadores,
y se ordena que se repartan entre los vecinos los dineros conthenydos en dicha pro-
vision, dando comienzo poco después las obras, que son encomendadas a Juan de
Orihuela26.
El 23 de julio de 1531, los oficiales del Ayuntamiento mandaron que ciertos ma-
ravedíes que se an de dar a Juan de Orivela carpintero de primer terno que se le avie
de dar por haz un camaron para casa de ayuntamiento y audiencia y los oficiales los
busquen donde los hallaren prestados hasta tanto se haze repartimento para los pa-
gar27, al mismo tiempo que se modifican las condiciones para realizar la casa de Au-
diencia, pactadas con Juan de Orihuela, y que es necesario cambiar para que la obra
sea mas perfecta y fuerte, de forma que en las dichas condiciones que los ramales lle-
guen desde la dicha casa hasta donde a de ver morir los corredores que porque les pa-
rece necesidad dello por que mas se abrace la [...], y además, como las portadas y los
corredores de la casa no figuran en las condiciones, ordinaron estando presente Juan
de Orivela que el suso se haga los dichos ramales de tapieria conforme a la otra ta-
pieria hasta donde pretenciese y asymismo las dichas portadas como convenga dicha
obra y que se pague lo que se acordase al dicho Juan de Orivela28.
En estas disposiciones del Ayuntamiento de La Solana observamos cómo Juan de
Orihuela se hizo cargo de la parte más importante de la obra, encargándose de eje-

24. A.H.N., Archivo Judicial de Toledo, Santiago, Leg. 21.013, Autorización para el ensanche de la pla-
za Mayor y construcción de casa de Ayuntamiento, 1530, Provisión de Carlos I y comunicación de los
visitadores de la Orden a los vecinos de la villa.
25. Ibídem, Interrogatorio de los testigos.
26. Ibídem, Tasación de la casa de Ayuntamiento de La Solana.
27. A.H.M.L.S., signatura 1.524, Libro de decretos del Ayuntamiento de La Solana (1520-1531), Acuer-
dos de 23 y 30 de julio de 1531.
28. Ibídem, Acuerdos de 8 de septiembre de 1531.

222
JUAN DE ORIHUELA: UN MAESTRO MUDÉJAR EN LA SOLANA (CIUDAD REAL)

cutar los trabajos en madera, a la vez que supervisaba la obra de “tapiería” realiza-
da por los alarifes.
La actual sala de juntas del Ayuntamiento es un espacio rectangular cubierto por
un artesonado de madera de pino, a par y nudillo, típico del estilo mudéjar. Esta ar-
madura está compuesta por pares, en este caso un total de 42, dispuestos según la pen-
diente del tejado, situándose a dos tercios de altura el elemento conocido como nu-
dillo, que sirve para unir los pares; sobre los nudillos encontramos el almizate, los
pares se sustentan en los estribos, decorados con pequeñas incisiones. Otro elemento
es el tirante, utilizado para anular los empujes horizontales; el número de éstos es de
cuatro simples y tres dobles con entibos en el centro. Todos los pares y nudillos, así
como los tirantes, presentan seis acanaladuras como motivo ornamental. Los tiran-
tes se apoyan sobre zapatas y presentan en su base pequeñas incisiones en forma de
curvas, con movimientos convexos y cóncavos. En los extremos encontramos cua-
tro limas simples o bordón, que desembocan en estrellas de a ocho, al igual que las
de la ermita, aunque en este caso no presentan una decoración tan profusa, limi-
tándose a seis acanaladuras similares al resto de la armadura y algunas incrustacio-
nes de madera, lo que denota cierta austeridad. En total observamos en cada extre-
mo cinco estrellas; esta decoración, como ya hemos indicado, es la que se utiliza en
la capilla de la Epístola de la ermita de San Sebastián, hecho que corrobora que am-
bas armaduras fueron realizadas por el mismo maestro.

Foto 3. Armadura de la antigua Audiencia de La Solana.

223
CONCEPCIÓN MOYA GARCÍA Y CARLOS FERNÁNDEZ-PACHECO SÁNCHEZ-GIL

Foto 4. Detalle de un extremo de la armadura de la Audiencia.

CONCLUSIONES

Como conclusión, podemos decir cómo la llegada a una población manchega, La


Solana, de un maestro mudéjar de origen levantino, Juan de Orihuela, experto en el
arte de techumbres artesonadas y gran conocedor del arte musulmán, en un momento
de notable esplendor económico, supuso la construcción de dos bellas armaduras mu-
déjares de notables influencias murcianas, que como ya hemos indicado transmiten
la belleza y armonía de las granadinas, con lacerías y estrellas de ocho puntas29. Por
otro lado, y en contra de lo que sucede en la mayoría de las localidades del Campo
de Montiel, donde consta que hubo numerosas armaduras mudéjares, aún se con-
servan en buen estado, aunque pensamos que no se les da el valor que en sí poseen.

29. I. HENARES CUÉLLAR y R. LÓPEZ GUZMÁN, Arquitectura mudéjar granadina, Granada, Caja de Aho-
rros y Monte de Piedad de Granada, 1989, p. 75.

224
SANTA CLARA LA REAL DE GUADALAJARA.
REFORMAS, MUTACIONES Y REINVENCIONES
EN UN MONUMENTO MUDÉJAR

Pedro José Pradillo y Esteban*

Durante la última guerra civil (1936-1939) el templo del real convento de Santa
Clara de Guadalajara fue convertido en almacén castrense, motivo por el que se hi-
cieron desaparecer sus ornamentos, incluido el retablo mayor. Este acontecimiento
posibilitó el descubrimiento del aparejo mudéjar que se ocultaba tras la máquina ba-
rroca y, una vez finalizado el conflicto, del hermoso artesonado de la nave principal
tras los ladrillos y yesones que constituían una falsa bóveda de cañón.
El entusiasmo de Francisco Layna, presidente de la Comisión de Monumentos,
permitió el diseño y ejecución de un proyecto de restauración que echó por tierra
la cubrición barroca y dejó al descubierto la armadura mudéjar. De hecho, ante la
magnitud de lo revelado, se inició el expediente para la protección del templo, for-
malizándose su designación como Monumento Histórico-Artístico en 1946.
Pese a que en aquellos primeros momentos el doctor Layna hubiera preferido una
intervención total que recuperara la traza original de Santa Clara, no será hasta 1968
cuando se emprenda un proyecto general de restauración. Las obras, que se dilata-
ron hasta 1974, se encaminaron a rescatar el aspecto original del templo, haciendo
desaparecer las estructuras introducidas en el siglo XVII, y a recrearlo bajo los cá-
nones de un mudéjar idealizado, aquel que propiciaba el regular empleo del apare-
jo toledano en todas sus fábricas.
Además, en 1988, como epílogo de estos proyectos de regularización, se demo-
lió parcialmente un muro de tapial sobre el que se apoyaban algunos estribos del áb-
side, sin advertir que aquél era resto de una construcción anterior a la iglesia con-
ventual y cuya preexistencia obligó a los constructores del templo a alterar la traza
de la cabecera.
Nuestro objetivo, además de ahondar en estas intervenciones, es tratar de sacar
a la luz los datos inéditos que conocemos sobre las reformas realizadas en el siglo

* Técnico de Patrimonio del Patronato de Cultura. Ayuntamiento de Guadalajara.

225
PEDRO JOSÉ PRADILLO Y ESTEBAN

XVII; no sin antes realizar alguna matización sobre la fundación del convento y la
peculiar disposición de sus casas desaparecidas.

FUNDACIÓN Y ORÍGENES

El momento y la responsabilidad de la instalación de una comunidad de clarisas


en Guadalajara han sido tratados por varios autores, estableciéndose dos teorías dis-
pares. La primera sitúa los hechos en tiempos del reinando de Fernando III y bajo
la tutela de su madre, la reina doña Berenguela, hacia 1222, tal y como lo afirman los
cronistas del siglo XVII1 y otros autores modernos que en algún momento pudie-
ron consultar la antigua documentación del archivo conventual2. Mientras que la se-
gunda retrasa los hechos a unos años más tarde, durante el reinado de Alfonso X, y
bajo el patrocinio de la infanta doña Berenguela, quizás entre 1274 y 12843.
Lo cierto es que la escasa documentación conservada por las clarisas en su con-
vento de Canals para esos años fundacionales se limita a una reducida, pero escla-
recedora, nómina integrada: primero, por un privilegio rodado de Alfonso X, fechado
en 1256, en el que se reconoce la fundación del convento por la reina doña Beren-
guela; y, segundo, por la confirmación del rey Sancho IV de la cesión de la heredad
de Banalaque, datada en Almazán el 13 de mayo de 12884.
Según los cronistas del siglo XVII, ese primer convento, llamado en algún anti-
guo privilegio de San Salvador5, se ubicaba extramuros de la ciudad en un palacio de
la reina doña Berenguela, sito frente a las parroquias de Santa María y San Miguel,
en las casas que hoy posee don Josep Urtado de Valmaseda, regidor de esta ciudad,
en sus maderas viejas se han hallado las armas reales de Castilla6.
El traslado a su emplazamiento definitivo se produjo a finales del siglo XIII, se-
gún voluntad de Sancho IV7 y aprovechando unas casas que la realeza castellana po-

1. A. NÚÑEZ DE CASTRO, Historia Eclesiástica y Seglar de la Muy Noble y Muy Leal Ciudad de Gua-
dalajara, Madrid, 1653, pp. 80-82; Fray H. PECHA, Historia de Guadalajara y como la religión de sn. Je-
rónimo en España fue fundada, y restaurada por sus ciudadanos, Guadalajara, 1977, pp. 45-46 y 100, ma-
nuscrito fechado en 1632; F. TORRES, Historia de la Nobilísima Ciudad de Guadalaxara, manuscrito
fechado en 1647, copia decimonónica conservada en Archivo Municipal, ff. 126-131. Es cierto que éste
último siembra algunas dudas sobre ese acontecimiento.
2. J. DIGES ANTÓN, Resumen histórico del convento de monjas clarisas de Guadalajara, Guadalajara,
1917; L. TORMO SANZ, «Fundación y traslado de las clarisas de Guadalajara», Archivo Ibero-America-
no, 213-214, 1994, pp. 439-453.
3. F. LAYNA SERRANO, Los conventos antiguos de Guadalajara, Madrid, 1943; J. GARCÍA ORO, San Fran-
cisco de Asís en la España medieval, Santiago de Compostela, 1988; A. MUÑOZ FERNÁNDEZ, «Las clari-
sas en Castilla La Nueva. Apuntes para un modelo de implantación regional de las órdenes femeninas fran-
ciscanas (1250-1600)», Archivo Ibero-Americano, 213-214, 1994, pp. 455-472.
4. Documentación citada por L. TORMO SANZ, op. cit., pp. 452-453.
5. Este convento, dada la fecha de su fundación –hacia 1222–, no podría llevar el nombre de la monja
de Asís, dado que santa Clara no sería elevada a los altares hasta 1255, después de haber fallecido en 1253.
6. F. TORRES, op. cit., p. 125.
7. Así lo afirma Diges Antón siguiendo los datos recogidos por el clérigo Martínez Marín, párroco de
Santiago, que pudo ver un privilegio original datado en Atienza el 17 de enero de 1285. J. DIGES ANTÓN,
Resumen histórico del convento..., p. 17. Ese mismo dato ha sido reiterado por otros estudiosos francis-
canos, tal como lo recoge en su artículo L. TORMO SANZ, op. cit., p. 446.

226
SANTA CLARA LA REAL DE GUADALAJARA

Foto 1. Vista exterior de la actual parroquia de Santiago Apóstol.

seía en la judería de la colación de San Andrés8. Detrás de esta empresa estaban la in-
fanta Isabel, primogénita del rey Bravo y María de Molina, y sobre todo doña Ma-
ría Fernández Coronel, aya de la reina e infanta. La culminación de este proceso se
produjo el 3 de julio de 1312, momento en que el papa Clemente V concede a la co-
munidad la aprobación pontificia9.
Para este segundo momento de las clarisas de Guadalajara la serie documental es
mayor. Por un lado, podemos citar las escrituras de compra y cesión de casas en la
judería de San Andrés para la formación de un amplio recinto conventual que se con-
servan en la Sección de Clero del Archivo Histórico Nacional10: comenzando por la
venta de unas casas que fueron de Diego Pérez, por Pero López, a Mayor Gonzá-
lez y Beatriz González, dueñas en la orden de Santa Clara en Guadalajara diecisie-

8. La asociación espacial entre casas regias y dependencias conventuales ha sido suficientemente trata-
da por diversos autores; aunque sigue siendo fundamental el discurso que pronunciara Fernando Chue-
ca para su ingreso en la Real Academia de la Historia: F. CHUECA GOITIA, Casas Reales en monasterios
y conventos españoles, Madrid, 1966. Y, para el caso que nos ocupa, P.J. LAVADO PARADINAS, «Palacios
y conventos: arquitectura en los monasterios de Clarisas de Castilla y León», Actas del Congreso Inter-
nacional: Las Clarisas en España y Portugal, Salamanca, 1996.
9. Citado por A. MUÑOZ FERNÁNDEZ, op. cit., p. 458.
10. Archivo Histórico Nacional, Clero, Carpeta 572. Parte de estos documentos aparecen citados en G.
VIÑUELAS FERREIRO, La Edad Media en Guadalajara y su provincia: Los Judíos, Guadalajara, 2003, pp.
138-142, así como otros de la Carpeta 573 y Legajos 2.076 y 2.092.

227
PEDRO JOSÉ PRADILLO Y ESTEBAN

te días de jullio, era de mill trescientos dos años –año 1264–, seguidas de las de Sa-
muel Cambí y su esposa Jamila a quince días del mes de abril de la era de mill e
tresçientos e veinte e ocho años –año 1290–11. Y, por otro, los conservados en Canals:
las confirmaciones hechas por Alfonso XI en 1325 y en 1328 de los privilegios con-
cedidos para la libertad del pasto de los ganados del convento por su padre, Fernando
IV, en 1309 y 1308, respectivamente12.
Será la iglesia de este segundo proyecto –convertida en parroquia de Santiago
Apóstol– el objeto de nuestra atención, una vez que el resto de las edificaciones fue-
ran demolidas en 1912; momento en que todas las dependencias monacales fueron
adquiridas por el conde de Romanones por la módica cantidad de 60.000 pesetas13.

APROXIMACIÓN A LA TRAMA ARQUITECTÓNICA DEL COMPLEJO MONACAL

Una vez desaparecido el Real Convento de Santa Clara, su interpretación sólo es


posible gracias a los datos gráficos y descriptivos ofrecidos por J. Diges Antón; así,
a la vista del plano incluso en su Resumen histórico...14, el complejo conventual se es-
tructuraba dentro de un perímetro de planta pentagonal acotado por las actuales ca-
lles Teniente Figueroa –Santa Clara–, Teniente Gonzalo Herranz –Travesía de San-
ta Clara–, Ingeniero Mariño –Carretera de Madrid a Francia–, Francisco Cuesta
–Hurones– y Miguel Fluiters –Mayor Baja–. En su interior, a nuestro entender, se
podían distinguir tres unidades constructivas organizadas en torno a la línea de fa-
chada que ofrecía a la antigua calle de Santa Clara y a un amplio espacio abierto, a
modo de huerta, en los frentes de Ingeniero Mariño y Francisco Cuesta.
La primera de esas unidades estaba formada por la iglesia y sus edificaciones afi-
nes: coro y claustro menor; su estructura muraria presentaba un ordenamiento or-
togonal con crujías paralelas a la fachada principal y muros de cerramiento perpen-
diculares. La segunda lo estaba por el claustro mayor, celdas, refectorio y cocinas;
aquí, por el contrario, la planta del patio se presentaba como un cuadrado irregular
ligeramente rotado sobre esa línea exterior, apareciendo como elementos dominan-
tes dos grandes pabellones unidos en ángulo superior a los 90º y que, respectiva-
mente, estaban alineados con las fachadas de las calles Mayor Baja y Hurones. La ter-
cera agrupaba las dependencias auxiliares –almacenes, leñera, habitaciones del
capellán– y portería, en esta unidad la distribución era subsidiaria de la ordenación
del claustro mayor; aunque en el ángulo de intersección de la Travesía con la Ca-

11. Layna Serrano los transcribió erróneamente, transmutando nombres y fecha. Ver F. LAYNA SERRA-
NO, Los conventos antiguos..., p. 108.
12. L. TORMO SANZ, op. cit., pp. 452-453.
13. Las vicisitudes de la exclaustración y demolición del Real Convento pueden seguirse con amplio de-
talle en J. DIGES ANTÓN, Resumen histórico del convento..., pp. 17-19; y en L. TORMO SANZ, op. cit., pp.
440-442. También de Diges Antón debemos citar el artículo «Santa Clara», publicado en el semanario Flo-
res y Abejas el 25 de agosto de 1912, fecha inmediata a la materialización del derribo.
14. La misma disposición se aprecia en el Plano de Guadalajara confeccionado, hacia 1880, por Ibáñez
e Ibáñez de Ibero. M.A. BALDELLOU, Tradición y cambio en la arquitectura de Guadalajara (1850-1936),
Madrid, 1989, pp. 17 y 49.

228
SANTA CLARA LA REAL DE GUADALAJARA

rretera a Francia se alzaba un muro maestro sin conexión con ninguno de los orde-
namientos definidos en la primera y segunda unidad.
Diges Antón, en la descripción formal que hace del templo, se detiene puntual-
mente en señalar los materiales constructivos, advirtiendo del predominio del tapial
en las fábricas de los muros de carga15 y de la restricción del ladrillo a la composi-
ción de los claustros, donde existían arcos de ese material sobre columnas y capite-
les de piedra16.

Fig. 1. Plano del complejo conventual publicado por Juan Diges en 1917.

No obstante, por las fotografías antiguas reproducidas por don Juan Diges, sa-
bemos que el ladrillo fue el único material utilizado durante las reformas del siglo
XVII; momento en que, además de construirse un nuevo coro a los pies de la igle-

15. En los informes de ruina confeccionados por Antonio Adeva y Mariano Medarde, arquitectos mu-
nicipales, sobre el estado de conservación de los muros con fachada a la Travesía de Santa Clara se especifica
que la fábrica es mixta de machos de ladrillo y tapiales de tierra. Documentos fechados respectivamen-
te en 1882 (enero, 22) y 1887 (octubre, 10). Archivo Municipal de Guadalajara, n.º 404.556.
16. J. DIGES ANTÓN, Resumen histórico del convento..., pp. 35-38. Desconocemos en qué momento se
levantaron las galerías del claustro mayor, compuestas por dos pisos de arcos; siendo los vanos del piso
superior rebajados, de menor proporción y su número el doble que los de la galería baja. Este mismo sis-
tema compositivo se utilizó en el desaparecido claustro del convento de La Concepción que, según Fer-
nando Marías Franco, fue diseñado por Alonso de Covarrubias hacia 1530. Citado por J.M. MUÑOZ JI-
MÉNEZ, La arquitectura del Manierismo en Guadalajara, Guadalajara, 1987, p. 306. Quizás habría que
plantearse la hipótesis de una doble intervención de Covarrubias en el diseño de estos dos conventos fran-
ciscanos de Guadalajara.

229
PEDRO JOSÉ PRADILLO Y ESTEBAN

sia conventual y reconstruirse toda la fachada de la calle de Santa Clara, se desarro-


lló un programa de renovación que se prolongó durante los años centrales de la cen-
turia17.
Por ejemplo, sabemos que en 1656 Juan de la Peña, maestro de obras, se encar-
gó de modernizar los dormitorios, abriendo ventanas, colocando rejas y colgando
nuevas puertas por un importe total de 41.205 reales; además se amplió la bodega y
se retejaron casi todas las dependencias por 5.057 reales y se adquirió una casa me-
dianera por 25.500 reales18. En 1659 se repitieron los retejos y se repararon varios me-
tros de la tapia y de una pared de la iglesia; además, entre otras obras, se colocó un
chapitel de plomo para cubrir la fuente, todo por un total de 385.254 maravedíes. Y
en 1663 se volvió a tocar la pared exterior de la iglesia por un monto de 10.880 ma-
ravedíes19.
Aún se prolongaron las obras durante 1665; en ese año Juan de la Peña se ocu-
pó de una importante obra que modificó notablemente el interior de la iglesia, so-
bre la que volveremos más adelante, y de múltiples reparaciones en todas las casas
claustrales por un monto total que se acercaba a los 7.000 reales, de los que 3.250 se
emplearon en un trestexo general que duró más de seis meses20.
En consecuencia, el conjunto de construcciones demolido en 1912 fue el resul-
tado de un dilatado proceso en el que, durante siglos, se alternaron proyectos cons-
tructivos de nueva planta con otros de asimilación de edificaciones preexistentes que,
sin duda, ofrecían un rico panorama edificatorio. No obstante, esa adición de esti-
los y técnicas fue pretexto para que, en muchas ocasiones, algunos justificaran pur-
gas parciales o demoliciones totales:
Los que a comienzo de este siglo éramos chicos, recordamos hoy que ya vamos para vie-
jos un amazacotado inmueble de ladrillo, grande y feo, que ocupaba en Guadalajara toda una
manzana [...] era un caserón vetusto y destartalado compuesto de otros varios de distinta al-
tura y mal disimulados por la fachada homogénea construida hace tres centurias, con escasas
y desiguales ventanas (algunas más bien troneras), sin que bastaran a animar el feo conjunto
la pétrea portada clasicista de la iglesia ni otra coetánea abierta casi al final del muro para in-
gresar al cenobio [...] Ese viejo caserón cuya sencilla arquitectura denotaba el paso de los siglos
sin haber dejado casi ninguno apreciables huellas del Arte21.
Lamentablemente, la desaparición de los inmuebles impide hoy la lectura de los
paramentos que conformaban cada una de aquellas unidades que hemos definido y,
por lo tanto, su datación cronológica. No obstante, la información planimétrica adu-

17. Sobre la renovación estilística y actividad artística durante este período, ver J.M. MUÑOZ JIMÉNEZ,
«Reflexiones sobre la arquitectura barroca en la provincia de Guadalajara», Wad-Al-Hayara, 24, 1997,
pp. 255-296.
18. Archivo Histórico Provincial de Guadalajara, Desamortización, 41. Libro de Cuentas de los Ma-
yordomos de Santa Clara, 1656, Cuentas de 1656.
19. Ibídem, Cuentas de 1659 y 1663.
20. Ibídem, Cuentas de 1665.
21. F. LAYNA SERRANO, Los conventos antiguos..., p. 59. Por el contrario, Francisco de Torres sostenía:
La casa de las monjas es suntuosa y real y los claustros grandes, las enfermerías, dormitorios y cuartos muy
bien dispuestos y grandes. El coro es de grande majestad con buena y curiosa sillería, F. TORRES, op. cit.,
f. 128.

230
SANTA CLARA LA REAL DE GUADALAJARA

cida, la vertida en los párrafos escritos por Diges Antón, la documentación consul-
tada sobre las obras realizadas en el siglo XVII y los indicios visibles hasta hace po-
cos años permitirían aventurar alguna hipótesis para restituir la evolución arqui-
tectónica del Real Convento.
En 1986, año en que se demolieron unos almacenes con fachada a la calle Fran-
cisco Cuesta para edificar un bloque de viviendas, fuimos testigos de la destrucción
de los últimos vestigios de la estructura conventual. Se trataba, por un lado –en la fa-
chada a la citada calle–, de un grueso muro de tapial –de casi un metro de espesor–
izado sobre elevado zócalo de mampostería resuelto con la superposición de tres ca-
jas longitudinales –de al menos 1,50 metros de altura– separadas por una doble hi-
lada de ladrillo sin machones que coincidía con el muro de cerramiento y dependencia
señalada en el plano de Diges Antón en los límites del callejón de Hurones. Y por
otro, la cimentación o zócalo de mampostería correspondiente al muro de la crujía
norte del claustro mayor, en paralelo al muro descrito anteriormente y con un es-
pesor superior a los 1,50 metros.
Precisamente en esa crujía, hasta 1912, existió un arco –tabicado en su mayor par-
te– que servía de comunicación entre el claustro, las celdas allí instaladas y la huer-
ta. Por la fotografía deficientemente publicada en el Resumen histórico... de Juan Di-
ges22 se aprecia que se trataba de un monumental arco, peraltado y de amplias luces,
con una exuberante decoración en el intradós de yesería con angrelado mudéjar; re-
curso muy habitual en la arquitectura religiosa y palatina de finales del siglo XIII y
primera mitad del XIV23.

TRAZA Y REFORMAS DE LA IGLESIA CONVENTUAL

La iglesia conventual de Santa Clara la Real se erigió probablemente entre 1305


y 1309; presenta tres naves, siendo la central de mayor anchura y con remate en áb-
side poligonal de seis lados. La división entre naves se realiza con cuatro pilares de
piedra y planta octogonal que sostienen seis arcos apuntados de doble rosca en-
marcados en alfiz. La techumbre es de estructura de madera: de colgadizo en las la-
terales y de par y nudillo en la central, arriostrada por siete pares de tirantes apoyados
en canecillos de perfil lobulado, análogos a los del oculto artesonado de la parroquial
de Santa María de Guadalajara24.

22. J. DIGES ANTÓN, Resumen histórico del convento..., p. 44.


23. No podemos evitar, pese a la pésima calidad de la imagen, relacionar este arco con los existentes en
los conventos de Santa Isabel de los Reyes y Concepción Francisca en Toledo o en el monasterio de San-
ta Clara en Tordesillas. Ver, entre otros, B. MARTÍNEZ CAVIRÓ, Conventos de Toledo, Madrid, 1990; M.T.
PÉREZ HIGUERA, Arquitectura Mudéjar en Castilla y León, Valladolid, 1993; P.J. LAVADO PARADINAS,
«Mudéjares y moriscos en los conventos de clarisas de Castilla y León», Actas del VI Simposio Interna-
cional de Mudejarismo (1993), Teruel, Centro de Estudios Mudéjares, 1995, pp. 391-419.
24. Sobre la disposición de la iglesia, ver F. LAYNA SERRANO, «La iglesia trecentista de Santa Clara en Gua-
dalajara», Arte Español, 1, 1941, pp. 1-7; también, del mismo, Los conventos antiguos..., pp. 60-62 y 90-
96; L. TORRES BALBÁS, «La iglesia mudéjar de Santa Clara en Guadalajara», Obra Dispersa I. Al-Anda-
lus, Crónica de la España Musulmana, 2, 1944, volumen IX, pp. 332-338; B. PAVÓN MALDONADO,
Guadalajara Medieval. Arte y Arqueología. Árabe y Mudéjar, Madrid, 1984, pp. 43-47.

231
PEDRO JOSÉ PRADILLO Y ESTEBAN

Bajo este armazón, en el lado del Evangelio y rota por los huecos de las venta-
nas –cinco en total, una sobre el eje de cada pilar y otra sobre la clave de cada arco–,
aún se conserva parte de su decoración en yeso. Este recurso, excepcional en un tem-
plo cristiano según Basilio Pavón25, se presenta como un friso de medallones poli-
lobulados anudados con círculos entre cenefas que el autor citado relacionó con las
yeserías de la sinagoga de El Tránsito26. Como motivo ornamental se repiten las ci-
tas heráldicas: castillos y leones en el interior de los medallones –aludiendo al carácter
real de la fundación– y, al exterior y a menor escala, castillos y águilas explayadas –en
referencia a los Fernández Coronel– en compañía de la palabra baraka en caracte-
res cúficos. Ese mismo investigador recaló en los paralelismos existentes entre esta
decoración y las de las yeserías del palacio mudéjar del monasterio de Tordesillas y
las del Salón de Embajadores del Alcázar de Sevilla, y nosotros con las aparecidas
en las excavaciones del Alcázar Real de Guadalajara27.
La presencia de esos frisos sugiere, tal y como apuntó Basilio Pavón28, el enlu-
cido de las naves con yeso blanco, aunque en la actualidad los muros se presentan
sin ningún tipo de revoco, dejando al descubierto el ladrillo que conforman sus ar-
cos y fábricas, bien en hiladas horizontales, bien en aparejo toledano con cajas de
mampuestos calizos.
Además de las ventanas existentes en la nave central, la iluminación se comple-
ta: en el hastial, con un ojo de buey flanqueado por dos ventanas; en los muros ex-
teriores de las naves laterales, con otros huecos alargados de similar disposición abier-
tos en el siglo XX; y en el presbiterio, con seis ventanas ojivales.
Varios son los elementos que destacan en su cabecera. En primer lugar, la dis-
posición irregular que presenta la capilla mayor con respecto al eje de la nave cen-
tral, rotándose el del presbiterio hacia el interior del recinto conventual. Esta com-
posición asimétrica sirvió para que Pavón Maldonado relacionara el templo de
Guadalajara con la iglesia de San Andrés de Toledo, sugiriéndole la posibilidad de
la existencia de dos fases constructivas29. Sin embargo, Torres Balbás, al tratar de este
espacio, plantea la posibilidad de otras dos etapas diferentes, advirtiendo la diferencia
formal existente entre el tramo bajo del ábside –de trazado semicircular peraltado–
y el superior –poligonal de seis lados–30.
Nosotros, sin menoscabar las anotaciones de esos autores, debemos avanzar en
su interpretación, justificando esa anormalidad en las limitaciones espaciales con que
se encontró el maestro de obras para afrontar la construcción de la cabecera, y que
no eran otras que el reducido espacio disponible entre las naves de la iglesia y las fá-
bricas preexistentes; principalmente, las correspondientes a la crujía occidental del

25. B. PAVÓN MALDONADO, op. cit., pp. 45 y 47.


26. En la actualidad, y a diferencia con lo que se observa en las fotografías antiguas, este recurso se con-
cibe como una sucesión de medallones aislados y no como un friso unitario.
27. P.J. PRADILLO Y ESTEBAN, «Yeserías mudéjares en el Alcázar Real de Guadalajara», Goya, 276, 2000,
pp. 131-139.
28. B. PAVÓN MALDONADO, op. cit., p. 47.
29. Ibídem, p. 45.
30. L. TORRES BALBÁS, op. cit., p. 336.

232
SANTA CLARA LA REAL DE GUADALAJARA

claustro mayor: un grueso muro de tapial que sirvió de apoyo al ábside y en el que
se tuvieron que hacer grandes rozas para poder levantar los contrafuertes exterio-
res. Esta restricción espacial –y visual– también justifica la ausencia de la típica de-
coración de arcos ciegos en el flanco exterior de los cuerpos inferiores del ábside,
mientras que en el tramo superior –el que se izaría sobre el volumen del claustro ma-
yor– se practicaron huecos de ventanas con arcos de ladrillo de triple rosca.
Es evidente que esta teoría sólo es válida si aceptamos la materialización del pro-
yecto en dos fases, una primera para la construcción del cuerpo de la iglesia –qui-
zás entre 1305 y 1309– y una segunda para la cabecera; tal vez en 1339, cuando Alon-
so Fernández Coronel, señor de Aguilar y nieto de la fundadora, adquiriera el
patronato de este espacio para establecer allí su capilla funeraria. Otro argumento para
reforzar este planteamiento sería la diferencia que existía entre la composición de las
fábricas de la cabecera y las naves; la primera ejecutada en hiladas de ladrillo o en apa-
rejo toledano, y las segundas con machones del mismo material encintando grandes
cajas de tapial calicastrado, tal y como se aprecia en las fotografías realizadas durante
la restauración de 1968-1974.
En segundo lugar, la planta de esa cabecera: testero recto para las naves laterales
y el mencionado ábside poligonal para la mayor. Esta disposición, según los auto-
res citados, fue alterada en los siglos XV y XVI cuando se batieron sus muros de ce-
rramiento para abrir las capillas funerarias de Diego García y Juan de Zúñiga31. Pero
después de la restauración finalizada en 1974, en la capilla de la Epístola es aprecia-
ble un arco apuntado que se alza por encima de las bóvedas de la capilla de Diego
García –dejando el hueco entrever otra bóveda nervada– hasta alcanzar la línea de
imposta del arco toral de la nave central y que se sustenta sobre unas ménsulas de
caliza idénticas a las que sirven de apoyo a los nervios de la bóveda del presbiterio.
Además, hemos de tener en cuenta que el arco plateresco que abre la capilla de los
Zúñiga mantiene estas mismas proporciones. En definitiva, cabría plantear que, des-
de un primer momento, y siguiendo el modelo del primer mudéjar castellano, las ca-
pillas laterales tuvieran una proyección más allá del muro testero. Aunque en este
caso, dadas las condiciones espaciales que hemos anotado, no culminarían en ábsi-
de curvo o poligonal para así poder adaptarse al espacio físico existente y prolongarse
hasta topar con el citado muro del claustro mayor.
En tercer lugar, es de resaltar la cubrición de este presbiterio: una bóveda de ocho
nervios resueltos con ladrillos aplantillados entre los que se voltearon plementos cón-
cavos en espina de pez. Uno de aquellos nervios discurre hasta el eje del arco toral
de la nave, circunstancia que manifiesta aún más la rotación antes señalada. Además
de los ventanales –ojivales de triple arco– abiertos en la zona abovedada, es de men-
ción la decoración ciega que presenta su fábrica: en el cuerpo bajo, cuatro arcos es-
calonados de traza apuntada en los tramos laterales –dos de ellos abiertos para el trán-
sito de personas–, dejando el frente liso para albergar el altar; y en el superior, largos
arcos de triple rosca enmarcados por las pilastras que sirven de sustento a los ner-
vios de la bóveda.

31. También en esa misma opinión: F. LAYNA SERRANO, «La iglesia trecentista de Santa Clara...», p. 4.

233
PEDRO JOSÉ PRADILLO Y ESTEBAN

Don Leopoldo Torres, en atención a las especiales características –naves latera-


les de testero recto, la elevación de la central por encima del presbiterio, la cubrición
nervada de éste y las ventanas abiertas en la nave central–, relacionó el templo de San-
ta Clara con otros sevillanos del siglo XIV: San Pedro, Santa Marina y San Román;
y planteó la doble incógnita sobre cuál sería el modelo de partida: la iglesia de Gua-
dalajara o las de Sevilla, advirtiendo que monjas del primero fundaron su homóni-
mo en Sevilla32. Sin embargo, además de nuestras dudas sobre la existencia de testeros
planos en las laterales de Santa Clara, debemos valorar el amplio desarrollo que al-
canza el tramo recto en los ábsides de las iglesias hispalenses –Omnium Sanctorum,
San Andrés, o San Marcos–33, característica que no se podía dar en el templo de Gua-
dalajara por las condiciones de espacio que ya hemos apuntado.
Quizás sería más acertado relacionar Santa Clara con la parroquial toledana de San-
tiago del Arrabal, pues con ella comparte, a excepción del crucero, ciertos paralelis-
mos compositivos: el número y disposición de las ventanas de la nave principal, el nú-
mero de pilares que separan a ésta de las laterales, el uso exclusivo del arco apuntado
en su estructura, el tratamiento monumental de la cabecera con tres arcos triunfales
para otras tanta capillas o, aquí, el empleo predominante del ladrillo para ser visto34.

Capillas funerarias

Ya hemos advertido que las naves laterales, en su cabecera, se rematan con dos
capillas funerarias: la de Diego García en la Epístola, y la de Juan de Zúñiga en el
Evangelio, que aprovecharon un espacio preexistente.
La primera de ellas fue adaptada en la segunda mitad del siglo XIV para ente-
rramiento de Diego García de Guadalajara, contador de Juan II, rebajándose la al-
tura inicial de ese espacio con una nueva cubrición gótica por debajo de la línea de
imposta de la bóveda preexistente. La nueva techumbre –articulada en dos cuerpos
por un arco pétreo de festón calado– desarrolla un programa ornamental ambicio-
so que, aparte del friso con la leyenda conmemorativa que ciñe la estancia, cumple
afortunadamente sus objetivos estilísticos, tanto en la decoración que exorna los ner-
vios –con cabezas de bichas enfrentadas– y claves de los arcos –donde se alternan los

32. L. TORRES BALBÁS, op. cit., p. 338.


33. Sobre los templos hispalenses, ver: D. ANGULO ÍÑIGUEZ, Arquitectura mudéjar sevillana de los si-
glos XIII, XIV y XV, Sevilla, 1983 (2.ª ed.); J.M. COVELO LÓPEZ, «El mudejarismo arquitectónico his-
palense: El grupo de 1356», Actas del VIII Simposio Internacional de Mudejarismo (1999), Teruel, Cen-
tro de Estudios Mudéjares, 2002, vol. II, pp. 985-990; A.J. MORALES MARTÍNEZ, «Los inicios de la
arquitectura mudéjar en Sevilla», Metrópolis Totius Hispaniae. 750 aniversario de la incorporación de Se-
villa la Corona de Castilla, Sevilla, 1999, pp. 91-106.
34. Tampoco podemos desdeñar la influencia de ese modelo en otras iglesias de la comarca, como San-
ta María de Guadalajara y San Miguel de Brihuega; ni su difusión, vía mecenazgo de los Mendoza, en Tie-
rra de Campos. Allí se adivinan las trazas arquitectónicas señaladas y se repiten las originales puertas de
arco de herradura apuntado típicas del mudéjar alcarreño. Sobre aquellas, ver: C. DUQUE HERRERO y R.
PÉREZ DE CASTRO, «Génesis e influencia de dos templos mudéjares nobiliarios en el entorno terracam-
pino: San Andrés de Aguilar de Campos y San Miguel de Villalón», Actas del IX Simposio Internacio-
nal de Mudejarismo (2002), Teruel, Centro de Estudios Mudéjares, 2004, pp. 323-360; interesante artí-
culo que, por otra parte, ningunea a las iglesias de Guadalajara.

234
SANTA CLARA LA REAL DE GUADALAJARA

motivos de hojarasca con los heráldicos–35, como en la solución aportada para en-
cajar la bóveda gallonada del segundo cuerpo con el plano recto del testero que cie-
rra la capilla.
La segunda, por el contrario, ocupa en toda su altura el espacio definido por el
arco apuntado preexistente; adaptado a la estética plateresca por un recubrimiento
pétreo con decoración de rosetones y capiteles corintios en las pilastras y casetones
con rosetas en el trasdós del arco. Su planta es cuadrangular y está cubierta por una
bóveda de crucería con decoración estrellada, también atribuible a la etapa cons-
tructiva que modernizó el arco ojival de ingreso36. En su frente hoy se sitúa el mau-
soleo del fundador de la capilla: Juan de Zúñiga, caballero de Santiago y embajador
de Carlos V en Portugal, fallecido, según se lee en la lauda, en Toledo el año 1530.
Esta singular obra plateresca –atribuida por Layna a Alonso Covarrubias–37 anti-
guamente estuvo emplazada en el muro norte, pero en los años cincuenta fue tras-
ladada a su actual ubicación para servir de altar a la imagen del Cristo de la Pasión.

Reformas barrocas

Apuntábamos más arriba que, durante el siglo XVII, las instalaciones del real con-
vento de Santa Clara fueron protagonistas de varias obras de reforma que afectaron
a su estructura, estabilidad y estética. La primera fase, que no hemos podido refrendar
documentalmente, se afrontó en las décadas iniciales de esa centuria cuando se aña-
dió la portada clasicista del convento, tal y como se podía leer en un sillar donde apa-
recía la fecha de 161338. En ésta, el tracista tuvo la decisión de incorporar lo que pa-
recían dos esculturas antiguas: sendos leones recostados y enfrentados, paralelos al
plano, quizás procedentes de la anterior portada mudéjar39.
No sería incorrecto suponer que estos leones, en origen, estuviesen colocados per-
pendiculares a la fachada, sobre unas ménsulas, tal y como hoy se mantienen en la
portada del Santa Clara la Real de Toledo40.

35. Bichas enfrentadas como estas de Santa Clara adornan la bóveda de la capilla de Diego Serrano en
la catedral de Sigüenza. Sobre su interpretación, ver E. BLÁZQUEZ MATEOS, «Las pinturas de la capilla de
Diego Serrano en la catedral de Sigüenza. El programa humanista del Jardín del Edén y de la Ciudad de
la Ultratumba», Wad-Al-Hayara, 24, 1997, pp. 243-254.
36. En el plano de convento publicado por Juan Diges esta capilla se representa con el testero abierto y
como lugar de paso hacia un corredor y escalera embutida entre las fábricas del claustro menor y mayor.
J. DIGES ANTÓN, Resumen histórico del convento...; el arco apuntado que daba paso a ese pasillo toda-
vía se conserva.
37. Para ello, se basa en la documentada estancia del artista en Guadalajara entre 1526 y 1530, años en
que dirigió la construcción y talla del inmediato convento de Nuestra Señora de la Piedad. F. LAYNA SE-
RRANO, «La iglesia trecentista de Santa Clara...», p. 7.
38. J. DIGES ANTÓN, Resumen histórico del convento..., p. 39.
39. Cuando en 1912 se demolió el convento, esta portada se integró en el nuevo edificio erigido para ho-
tel y allí permaneció con todos sus elementos hasta 1967, momento en que este fue derribado para levantar
la oficina principal de la Caja de Ahorros y Monte de Piedad de Zaragoza, Aragón y Rioja.
40. El león como argumento iconográfico es común en el mudéjar toledano en yeso, como los arcoso-
lios funerarios localizados en el convento de la Concepción Francisca; o en la arquitectura civil, como los

235
PEDRO JOSÉ PRADILLO Y ESTEBAN

Después, desde 1656, el maestro de obras Juan de la Peña acometió varios pro-
yectos que culminaron en 1665 cuando, una vez que en 1659 y 1663 se reparan sus
muros exteriores41, se reformó la estructura interior del templo conventual cubriendo
su nave principal con bóveda de cañón y las laterales con otras de arista:
Concertase el convento con Juan de la Peña, maestro de obras de esta çiudad, de que el cuer-
po de la iglesia que es de ora de naves y antes estaba el techo de madera y a texa vana se hiçie-
sen de vóveda, levantando las paredes maestras con las cornisas que al presente le van, por qua-
renta y un mill y quattroçientos reales con las condiçiones en la escriptura contenidas42.
Una vez desaparecida esta intervención, nos vale como descripción de esta obra
lo apuntado por el doctor Layna:
[...] nada tenía de particular, por culpa de la malhadada reforma hecha en el siglo XVIII
y que bastardeó por completo el templo, convirtiendo en uno de tantos con sus tres naves se-
paradas por arcos de medio punto sobre pilares de planta cuadrada, bóveda de cascarón de yeso
semicilíndrica con arcos fajones, cabecera hemipoligonal con bóveda de crucería sencilla y el
todo enlucido de yeso, sin más adorno que los escudos reales pintados en la nave de en medio
para indicar, lo mismo que en la portada, que por algo el convento se llamó Santa Clara la
Real43.
Para insertar las bóvedas de arista de las naves laterales, Juan de la Peña tuvo que
desmontar la cubierta de madera mudéjar e izar las paredes maestras prácticamen-
te hasta la cota de la cornisa de la nave principal, soterrando casi por completo las
ventanas que iluminaban el interior. Esta intervención propició, por una parte, la uni-
ficación de la planta de cubiertas en dos grandes faldones –eliminando la diferencia
de volumen existente entre la nave principal y las laterales–; y, por otra, la posibili-
dad de encajar la nueva portada barroca que se elevaría por encima de la cornisa me-
dieval con un frontón partido en el que campea el escudo de los Austrias.
Así, cerradas las ventanas de la nave principal, se tuvieron que abrir nuevos hue-
cos para la iluminación del templo, una vez que cuatro de las seis ventanas del pres-
biterio habían quedado cegadas por el nuevo retablo mayor ensamblado por Pedro
Correoso en 1648 y el tabique que le circundaba44. Según las fotografías que se con-
servan en el archivo de la parroquia de Santiago45, los nuevos huecos se practicaron

de la Casa de las Bulas, la Posada de la Hermandad o el palacio de Fuensalida. B. MARTÍNEZ CAVIRÓ, Mu-
déjar toledano, palacios y conventos, Madrid, 1980.
41. Archivo Histórico Provincial de Guadalajara, Desamortización, 41. Libro de Cuentas de los Ma-
yordomos de Santa Clara, 1656, Cuentas de 1659 y 1663.
42. Ibídem, Cuentas de 1665.
43. F. LAYNA SERRANO, «La iglesia trecentista de Santa Clara...», p. 2. Sobre la bóveda de la nave y el arco
triunfal de la capilla mayor, el mismo Layna pudo ver dos inscripciones pintadas con almazarrón en las
que se indicaba la fecha de ejecución de la obra: 1665. F. LAYNA SERRANO, Los conventos antiguos..., p. 61.
44. Archivo Histórico Provincial de Guadalajara, Protocolos Notariales, escribano Luis Viller. Proto-
colo n.º 646, en Guadalajara a 21 de marzo de 1648. Una fotografía de este retablo y un rasgo descripti-
vo del mismo, en J.M. MUÑOZ JIMÉNEZ y P.J. PRADILLO Y ESTEBAN, Arte perdido en la provincia de Gua-
dalajara. Retablos, Guadalajara, 1999, p. 46.
45. Agradecemos enormemente las facilidades dadas por el párroco don Rafael Iruela para su consulta
y reproducción. Sin este importantísimo corpus documental gráfico hubiera sido imposible comprender
muchísimas actuaciones.

236
SANTA CLARA LA REAL DE GUADALAJARA

en el tramo de prolongación de las paredes maestras, por debajo de las bóvedas de


arista, tres en el muro del Evangelio y otros tres en el de la Epístola; aunque aquí,
por razones obvias, quedaría ciego el central. Todos, al interior, se recercaron con
moldura lisa, prolongándose unos centímetros en las intersecciones inferiores de los
flancos, según el modelo escurialense.
En las cuentas de los mayordomos de Santa Clara siguen otros asientos relativos
a los gastos ocasionados por las distintas intervenciones que acompañaron a esta remo-
delación. Entre ellos, debemos destacar el producido por la instalación de seis vidrie-
ras en otras tantas ventanas –las cinco descritas anteriormente y una sexta abierta en
la capilla de Diego García–; relacionándose el monto de sus marcos de madera, de las
varas de hierro que las anclaron, o de la protectora red de conejo y de sus marcos de
hierro, además de los gastos de su embalaje y transporte desde Madrid, y del salario
y dietas del maestro vidriero Pedro del Sol, encargado de su ejecución y montaje46.
Aparte de la colocación de estas vidrieras, las transformaciones estéticas se de-
sarrollaron en algunas labores de carpintería, como fueron la colocación de una ba-
randilla de madera y celosía en la capilla mayor que costaron 402 reales, de varios
peldaños en los altares y en la escalera que subía al coro –312 reales–, de un marco
para las armas reales que están sobre la rexa del coro –110 reales–, de adereçar el púl-
pito, caxón y confisionario y dos cruçes para las pilas del agua bendita –268 reales–,
y en la colocación de una falleba en la puerta de la iglesia y en tallar las flores de lis
de las barandillas de la capilla mayor –680 reales–.
Otras partidas remiten al ornato pictórico, como los 550 reales gastados en pin-
tar tres escudos que están en la bóveda y otro en el retablo y pintar la grada y haver
retocado ocho escudos antiguos antes de començar la obra y otro que hiço y se vorró
ençima del arco del altar mayor, los 440 empleados en dorar las flores de lis y pin-
tar la barandilla de la capilla mayor, o los 280 reales destinados para repintar las ar-
mas reales de encima de la reja del coro y dorar su marco. Además, se pusieron es-
carpias para colgar los tafetanes que adornarían el templo durante las liturgias
festivas y ocho carrillos de yerro en los cuatro pilares para colocar los altares durante
las procesiones.
También se anotan asientos relativos al revoco y blanqueo de los muros de la igle-
sia; así, 63 reales se destinaron al pago de nueve cántaros de vinagre para el enfos-
cado de la fachada y 70 a la compra del lienzo para el lavado del yeso aplicado en los
paramentos del interior47.
Así permaneció hasta 1912, año en que se convirtió en parroquia de Santiago
Apóstol, después de que el antiguo templo fuera demolido y la institución parroquial
se instalara temporalmente en la conventual de Nuestra Señora de los Remedios48.

46. El gasto total de las vidrieras superó los 2.830 reales. En una fotografía del álbum parroquial se pue-
de examinar la sencilla traza de casetones que ofrecían estas vidrieras.
47. Archivo Histórico Provincial de Guadalajara, Desamortización, 41. Libro de Cuentas de los Ma-
yordomos de Santa Clara, 1656, Cuentas de 1665.
48. El primitivo templo parroquial, inmediato al Infantado, fue demolido en 1902. Sobre el proceso de
ruina de esta iglesia mudéjar, ver J.A. SÁNCHEZ MARIÑO, «La larga agonía de la iglesia parroquial de San-
tiago Apóstol de Guadalajara», Actas del IV Encuentro de Historiadores del Valle del Henares, Alcalá de
Henares, 1994, pp. 659-674.

237
PEDRO JOSÉ PRADILLO Y ESTEBAN

Foto 2. Portada de ingreso al convento Foto 3. Nave del Evangelio. Detalle del
reutilizando leones medievales, obra fe- muro de tapial calicastrado antes de su
chada en 1613. desplome.

Foto 4. La cabecera del templo una vez fi- Foto 5. Vista del ábside durante las obras
nalizadas las obras de restauración, 1974. de su recuperación, 1988.

238
SANTA CLARA LA REAL DE GUADALAJARA

Recuperación de lo mudéjar

Durante los años de la guerra la iglesia de Santa Clara fue convertida en almacén,
para lo cual se hicieron desaparecer los ornamentos y retablos, incluido el de la ca-
pilla mayor49. Esta última y desdichada acción dejó a la vista la traza hexagonal del
ábside y su ornamentación en ladrillo de arcos ciegos; de tal modo que una vez fi-
nalizada la contienda el doctor Layna, como responsable de la Comisión de Mo-
numentos, se interesó por descubrir los secretos mudéjares del templo, aventurán-
dose en examinar su cubierta con el fin de confirmar las afirmaciones publicadas por
Juan Diges sobre el artesonado oculto tras las bóvedas clasicistas:
Dicha techumbre es de sección poligonal (medio hexágono) con pares labrados. El espacio
de tableta comprendido entre cada dos pares está primorosamente pintado a recuadros, alter-
nando con ramos de flores y otros dibujos, castillos y leones. En la parte más alta en vez de di-
bujos hay rosetones tallados.
Las tirantas son gemelas, labradas por la parte inferior, las cuales están apoyadas en el muro
por el intermedio de unas semizapatas de primorosa ejecución50.
Confirmada la permanencia de este armazón, Francisco Layna se propuso la de-
molición de la obra barroca y el descascarillamiento del presbiterio, contando para
ello con la dirección técnica del arquitecto José Luis Valcárcel y las aportaciones eco-
nómicas otorgadas por el gobernador civil de la provincia, del conde de Romano-
nes, por entonces director de la Academia de Bellas Artes, y del marqués de Lozo-
ya, director general de Bellas Artes51.
La intervención, acometida entre 1940 y 1942, dejó a la vista el artesonado y el
friso de yeserías que corría bajo las soleras del lado del Evangelio, pero se enajena-
ron unos rosetones mudéjares que adornaban el plano trapezoidal demarcado sobre
el arco triunfal. Además, se recuperaron las ventanas ojivales de la nave central, los
huecos y ojo de buey del hastial –aunque no se abrieron sus luces–, y los ventana-
les ojivales de la capilla mayor.
Finalmente las obras discurrieron por unos derroteros que no satisficieron ni al
doctor ni al arquitecto municipal, pues, con la premisa de la necesidad inmediata de
abrir el templo al culto, se enlucieron los arcos ciegos de la capilla mayor descubiertos
en ladrillo visto y se mantuvo la traza barroca –semicircular– de todos los arcos, in-
cluido el triunfal de la capilla mayor que fosilizaba el desarrollo de la bóveda hun-
dida.
Para Layna Serrano esta intervención era un paso previo para lograr un com-
promiso de restauración más ambicioso, y que pasaba por la catalogación de la igle-
sia de Santa Clara –declarada Monumento Histórico-Artístico el 4 de enero de 1946–;
pero, pese a sus intenciones, aquél tardó casi tres décadas en afrontarse.
Así en el bienio 1968-1969, al amparo de la Dirección General de Bellas Artes y
bajo la dirección técnica de Juan Manuel González Valcárcel –arquitecto de zona–,

49. Desde entonces se desconoce su paradero, ignorando si fueron destruidos, como las imágenes que
fueron arrastradas por las calles de la ciudad, o si fueron enajenados para obtener fondos económicos.
50. J. DIGES ANTÓN, «Santa Clara», en el semanario Flores y Abejas, 25 de agosto de 1912.
51. F. LAYNA SERRANO, «La iglesia trecentista de Santa Clara...», p. 3.

239
PEDRO JOSÉ PRADILLO Y ESTEBAN

se procedió a levantar la cubierta del templo con el fin de aliviar las cargas que so-
portaba el artesonado mudéjar. Entonces se desmontó el gran faldón desplegado por
Juan de la Peña en 1665, descubriéndose la cornisa de modillones, la doble rosca de
las ventanas apuntadas en ladrillo visto y el aparejo toledano que constituían las fá-
bricas de los muros de la nave principal52. Pese a ello, la solución aportada se limi-
tó a prolongar las paredes maestras de esa nave por encima de la cornisa, instalar una
estructura de cerchas de hierro sobre el artesonado que rompería la unidad volu-
métrica que debería existir entre la cubierta de la nave y la del presbiterio y volver
a ocultar la obra mudéjar con un nuevo faldón de viguetas de cemento sobre las na-
ves laterales.
Fue una primera intervención de un amplio programa de reformas que no fina-
lizaría hasta el 24 de julio de 1974, año en que volvió a abrir sus puertas la iglesia de
Santiago Apóstol gracias al empeño de don Enrique Cabrerizo, su cura párroco.
En una segunda fase, entre 1970 y 1971, se afrontó, primero, la limpieza de los pa-
ramentos de la capilla mayor y los arcos de la nave principal, y después, los muros
maestros de las naves laterales y hastial de cerramiento, liberando paulatinamente el
yeso que cubría las fábricas. La piqueta descubrió importantes desigualdades en la com-
posición de los muros: ladrillo cuidadosamente colocado en los arcos y presbiterio –en
hiladas o en aparejo toledano–, y en machones con verdugadas, encintando longitu-
dinales cajas de tapial con tierra calicastrada, en los muros de cerramiento53.
En una tercera fase, entre 1972 y 1973, los trabajos se destinaron a desmontar los
pilares barrocos de división de naves para recuperar los octogonales soportes me-
dievales de piedra caliza, y bajar el nivel de suelo hasta alcanzar la cota donde estos
arrancaban, vaciando un espesor de más de un metro de escombros54. También se de-
rrumbaron las bóvedas de arista trazadas por Juan de la Peña para las naves latera-
les y se colocó un nuevo faldón de viguetas de cemento más bajo, tratando de apro-
ximarse al esquema original del siglo XIV. Durante esta fase, inesperadamente, se
desplomó parte del muro del Evangelio, procediéndose a su demolición total y pos-
terior reconstrucción. En ese momento la dirección facultativa se inclinó por levantar
una nueva fábrica en aparejo toledano, desdeñando la posibilidad de recuperar el ta-
pial calicastrado antecedente55.
Esa alteración de técnicas constructivas –que multiplicaba los machones y sus-
tituía la tierra por mampostería– se extendió a toda la superficie muraria del interior.
De hecho, cuando Pavón Maldonado abordó el análisis constructivo de Santa Cla-
ra ya anotó esta alteración, pero sin valorar la actuación desvirtuadora: “Incluso los

52. Es significativo el protagonismo otorgado al vano central en cada serie de cinco ventanas para defi-
nir el eje transversal del cuerpo de la iglesia. Para ello, el tracista rompió el ritmo incorporando un hue-
co, de menor luz, rehundido en la fábrica y recercado por un alfiz imitando, de este modo, el modelo que
repiten las ventanas de Santiago del Arrabal.
53. También desaparecieron entonces el coro, baptisterio y zaguán de ingreso que se definieron a par-
tir de 1912, cuando el templo conventual se transformó en parroquia de Santiago.
54. No tenemos noticia del momento en que se produjo ese relleno; de hecho, en el plano de Ibáñez e
Ibáñez de Ibero y el publicado por Diges Antón, se refleja una escalinta similar a la levantada durante las
obras de restauración.
55. En las fotografías realizadas antes del desplome de este muro se observan huecos de ventanas adin-
teladas por debajo de las abiertas en 1665.

240
SANTA CLARA LA REAL DE GUADALAJARA

paramentos fueron de tapial entre verdugadas de ladrillo, modernamente repuestos


con mampostería para mejorar el aspecto interior del templo”56.
Como parte de las actuaciones de esta fase debemos consignar el tratamiento con-
cedido a la techumbre de las naves laterales, donde se colocaron nuevas y postizas
vigas de madera en colgadizo para ocultar las estructurales de fibrocemento; y, a la
central, restaurando la armadura original de tal modo que hoy son inapreciables sus
motivos ornamentales.
Para un último momento se dejó la restauración de las capillas de los Zúñiga y
García de Guadalajara y la reordenación de su fachada exterior, cuyas fábricas que-
darían unificadas por un regular aparejo toledano. El arquitecto director, en aras de
definir su intervención, colocó además una desproporcionada cornisa para remate
de la fachada principal –marcando, incomprensiblemente, una diferencia volumétrica
entre el cuerpo de la iglesia y la capilla de Diego García– y abrió ventanas de ilu-
minación en los muros de las naves laterales –a remedo de los huecos creados por
Juan de la Peña para subsanar los problemas de iluminación del templo barroco– que,
una vez liberados los huecos del siglo XIV, no tenían razón de ser.
Una década después, la Consejería de Cultura de Castilla-La Mancha encargó al
arquitecto Carlos Arnáiz Eguren un proyecto que hiciera desaparecer la escalera de
acceso a la espadaña y desenmascarara la traza original del ábside. Pero las obras, ade-
más de hacer desaparecer los añadidos asociados al campanario, se llevaron por de-
lante el tramo superior del cerramiento del claustro mayor, dejando al descubierto
unos estribos que apenas pudieron encontrar acomodo en aquel muro de tapial –sino
a partir de superada su cota–. Así, en 1988 se definieron los perfiles de unos con-
trafuertes que en origen se alzaron informes, demoliendo sin consideración una obra
anterior a la iglesia, aquella que impidió su perfecto desarrollo.
También, a partir de esta intervención, se pudo comprobar la continuidad cons-
tructiva existente entre el muro del presbiterio y el testero de la capilla de los Zúñiga
–ambas realizadas en aparejo toledano– y que el estribo allí existente nacía del remate
de la capilla; para desarrollarse tan sólo a lo largo del cuerpo de ventanas del pres-
biterio. Al igual que en la fase de los años setenta, don Carlos Arnáiz siguió con la
práctica de disfrazar unas y otras fábricas bajo un homogéneo aparejo toledano.
En consecuencia, la iglesia conventual de Santa Clara en su larga existencia has-
ta convertirse en parroquial de Santiago Apóstol fue protagonista de una serie de re-
formas que adaptaron las capillas de su cabecera para acoger mausoleos particula-
res, la fachada principal para permitir el fácil acceso desde la vía pública, o las
techumbres de su interior para eliminar cualquier referencia a la “España morisca”.
Mutaciones que alteraron su aspecto exterior izando un nuevo cuerpo de cubiertas,
demoliendo muros antiguos que definían espacios originales, o diseñando cornisas
que rompían ritmos constructivos preexistentes. Y reinventando lo mudéjar: haciendo
desaparecer las fábricas de tapial primigenias, extendiendo el uso del aparejo toledano
donde antes no existía, definiendo contrafuertes vistos en un ábside que nunca se con-
cibió para ello y erradicando por completo el enlucido de los paramentos; incluso,
desmembrando un friso de yeserías ornamentales.

56. B. PAVÓN MALDONADO, op. cit., p. 45.

241
LOS RESTOS MUDÉJARES DE LA ARQUITECTURA
CIVIL DE SIGÜENZA. EL EJEMPLO DE LA CASA
DE LA CALLE MAYOR N.º 20

Carlos Clemente San Román*


Aurelio García López*

En la historia de la arquitectura española, la arquitectura doméstica es un capí-


tulo de segundo plano, si bien en los últimos años se están realizando grandes avan-
ces. En el caso de Sigüenza son de destacar las aportaciones de Pilar Martínez Ta-
boada1. No existen publicados muchos trabajos sobre restauración de arte mudéjar
en edificios domésticos, aunque algunos casos han servido de referencia a nuestra ac-
tuación, como han sido: la recuperación de yeserías de la sala noble, ubicada en la
torre meridional del Alcázar de los Velasco, en Medina de Pomar (Burgos)2; la casa
de la calle Soledad n.º 2, en Toledo3, y la casa del Doncel, en Sigüenza. El interés de

* Universidad de Alcalá.
1. Para el caso de Sigüenza tenemos las siguientes publicaciones de P. MARTÍNEZ TABOADA, «El ensanche
renacentista de Sigüenza», Anales Seguntinos, II, 6, 1990, pp. 69-116; «La plaza Mayor de Sigüenza. Aná-
lisis de su ampliación en la segunda mitad del siglo XVI a la luz de los documentos del archivo catedra-
licio», Anales Seguntinos, vol. III, 9, 1993, pp. 7-62; «Obras con incidencia urbanística en la catedral se-
guntina en la primera mitad del siglo XVI (I)», Ábside, 13, abril 1991, pp. 23-26; Ibídem (II), Ábside, 14,
agosto 1991, pp. 30-33; «La apertura de la Plaza Nueva de Sigüenza, actual Plazuela de la Cárcel, en la
primera mitad del siglo XV y su ensanche en el siglo XVI», Boletín de la Real Academia de Bellas Ar-
tes de San Fernando, 78, primer semestre de 1994, pp. 439-464; «La ciudad de Sigüenza en la época del
cardenal Mendoza. Claves de su transformación urbanística a la luz de las Actas Capitulares», Anales Se-
guntinos, vol. IV, 11, 1995, pp. 25-55; «La trascendencia de la Casa de la Tesorería mendozina en la con-
figuración de la primera plaza Mayor seguntina», Anales Seguntinos, vol. V, 1997, pp. 60-68; «El desa-
rrollo urbanístico de Sigüenza en tiempos de Carlos I», Anales Seguntinos, 2000, 16, pp. 7-16; Urbanismo
medieval y Renacentista en la provincia de Guadalajara. Sigüenza, un ejemplo singular, Madrid, Uni-
versidad Complutense, 1990, tesis doctoral inédita dirigida por José María Azcarate; «El urbanismo se-
guntino en inscripciones», Anales Seguntinos, 2003, pp. 7-20.
2. M. SOBRINO GONZÁLEZ, «El Alcázar de los Velasco, en Medina de Pomar (Burgos). Un espacio áu-
lico andalusí en el norte de la vieja Castilla», Logia, 11, 2001, p. 18 y ss.
3. La restauración comenzó en 1996 y, una vez concluida, fue premiada con el premio Europa Nostra
en 1998, junto a otras dos obras de restauración efectuadas en España, la restauración del Centro His-
tórico de Madrid y el edificio Botines de Gaudí (León). «España obtiene tres diplomas en los Premios
Europa Nostra de 1998», Hispania Nostra, 74, mayo, Asociación para la Conservación y el Fomento del
Patrimonio Cultural, 1999, p. 10.

243
CARLOS CLEMENTE SAN ROMÁN Y AURELIO GARCÍA LÓPEZ

estos autores está siendo corroborado por actuaciones integrales que necesitan la con-
fluencia del método arqueológico con la investigación histórica y el análisis arqui-
tectónico de los sistemas constructivos.
El mudéjar es un arte mestizo, producto de una sociedad en la que conviven cris-
tianos, judíos y musulmanes, que no solamente ha dejado su impronta en iglesias, si-
nagogas y mezquitas, sino que lo ha hecho también en la arquitectura doméstica. El
caso que nos ocupa de Sigüenza es un ejemplo más que representativo.
El arte mudéjar en la provincia de Guadalajara ha dejado sus muestras en algu-
nas iglesias y edificios civiles. En la capital destacan las iglesias de San Gil y Santa Ma-
ría de la Antigua. Además de los restos de la ciudad de Guadalajara, existen cuatro
iglesias románico-mudéjares de carácter rural. Se trata de los templos de Aldeanue-
va de Guadalajara, Pozo de Guadalajara, Galápagos y Cubillo de Uceda.
La población mudéjar estuvo muy repartida por toda la provincia de Guadala-
jara durante la Edad Media4. De los datos disponibles de la segunda mitad del siglo
XV, relativos a censos impositivos, comprobamos que los núcleos más numerosos
estaban en Guadalajara y Molina. Según Ladero Quesada5, hacia 1463-1464 había va-
rias localidades con población mudéjar que pagaban impuestos de servicio y medio
servicio6. En líneas generales estuvieron muy distribuidos por toda la región, pero
fueron muy poco representativos, excepto en Guadalajara, donde eran más nume-
rosos. Allí contaban con su aljama y vivían bajo la protección de los Mendoza7.
El arte dejado por estos artistas mudéjares en Guadalajara, según Basilio Pavón
Maldonado, fue considerable8. Finalizada la reconquista, algunas familias de maes-
tros de obras moros tuvieron que permanecer en Guadalajara. Los oficios y traba-
jos relacionados con la carpintería y albañilería estaban mal renumerados y eran poco
deseados por el resto de la población. Sin duda muchos de estos albañiles mantu-
vieron el trabajo de la madera, el ladrillo y el yeso. La arquitectura mudéjar desa-

4. La bibliografía sobre los mudéjares castellanos es muy abundante, en especial recomendamos: F. FER-
NÁNDEZ GONZÁLEZ, Estado social y político de los mudéjares de Castilla, Madrid, 1866, y los trabajos re-
copilatorios sobre la bibliografía del tema en cuestión de M. GARCÍA ARENAL, «Últimos estudios sobre
moriscos: Estado de la cuestión», Al-Qantara, IV, 1983, pp. 101-112; «El problema morisco: Propuesta
de discusión», Al-Qantara, XVII, fasc. 2, 1992, pp. 491-503; «Mudéjares y moriscos en el reino de Gra-
nada y en Murcia», Al-Qantara, XV, 1994, fasc. 1, pp. 257-260.
5. M.Á. LADERO QUESADA, «Los mudéjares de Castilla en la Baja Edad Media», Historia, Institucio-
nes, Documentos, 5, 1978, pp. 297-298.
6. M.Á. LADERO QUESADA, Los mudéjares en tiempo de Isabel I, Valladolid, 1969, pp. 17-18.
7. J. CATALINA GARCÍA, La Alcarria en los dos primeros siglos de la reconquista, Guadalajara, 1981,
p. 48.
8. Son numerosos los estudios sobre el arte mudéjar en la provincia de Guadalajara: L. TORRES BAL-
BÁS, «La iglesia mudéjar de Santa Clara en Guadalajara», Al-Andalus, IX, 1944, pp. 226-232; J.R. LÓPEZ
DE LOS MOZOS JIMÉNEZ, «A propósito de un salmo davídico en la capilla de Luis de Lucena (Guadala-
jara): su simbolismo», Archivo Español de Arte, 210, 1980, pp. 194-201; J.M. CRUZ BALDOVINOS, «No-
ticias sobre carpinteros y armaduras del siglo XVI en parroquias rurales de la archidiócesis toledana», Ac-
tas del II Simposio Internacional de Mudejarismo: Arte (1981), 1982, pp. 215-222. B. PAVÓN MALDONADO,
Guadalajara medieval. Arte y Arqueología árabe y mudéjar, Madrid, CSIC, 1984; P.J. LAVADO PARADINAS,
«Restos artísticos mudéjares en Sigüenza», I Encuentro de Historiadores del Valle del Henares, Guada-
lajara, 1989, pp. 387-394, y «Arte mudéjar en la cuenca del Henares», Actas del II Encuentro de Histo-
riadores del Valle del Henares, Alcalá, 1990, pp. 591-616; A. HERRERA CASADO, La capilla de Luis de Lu-
cena, Guadalajara, 1991.

244
LOS RESTOS MUDÉJARES DE LA ARQUITECTURA CIVIL DE SIGÜENZA

rrollada por ellos tenía numerosas ventajas de carácter económico, los materiales em-
pleados eran muy baratos (ladrillo, yeso y madera), y las obras tenían una mayor ra-
pidez en su ejecución y un coste menor9.
A lo largo del siglo XVI el rastro mudéjar se fue diluyendo y desapareciendo poco
a poco, aunque hubo una transformación de artistas mudéjares, activos en las últi-
mas décadas del siglo XV y las primeras del XVI, al nuevo estilo renacentista que im-
peraba en Castilla durante el siglo XVI. Quizá el ejemplo más claro ha sido el de la
familia de los Orejón, maestros de obras que se convirtieron en 1502 al cristianis-
mo y que se mantuvieron activos durante todo el siglo XVI bajo la protección de la
familia Mendoza. Los Orejón en sus inicios fueron espléndidos artistas mudéjares
que, con el paso de los años, se transformaron en representantes del arte renacentista
en Guadalajara, es decir, cambiaron el molde de yeso por el sillar de cantería.

URBANISMO Y MUDEJARISMO MEDIEVAL, UN CAMINO POR RECORRER

No es frecuente en nuestros días el descubrimiento de nuevos elementos arqui-


tectónicos o decorativos originales en los edificios civiles de viviendas de nuestros
centros históricos. La destrucción interior de los paramentos y el vaciado está sien-
do la norma habitual en el marco de los centros declarados cuya práctica no sólo no
consiguen parar los Planes Especiales, sino que normalmente se aceleran las demo-
liciones, con la pérdida irreversible de la tipología anterior que habitualmente se ha
conservado desde la Edad Media o el Renacimiento.
En el caso de Sigüenza, su arquitectura popular es muy peculiar y digna de con-
servar en su integridad. Los muros de sus edificios son siempre de mampostería de
piedra, con barro o con cal, levantados en hiladas y con las esquinas tratadas con ma-
yor delicadeza, llegando en algunos casos a utilizar sillería labrada. Para las divisio-
nes interiores se utiliza a menudo la madera como elemento de separación. Los va-
nos o ventanas son escasos, de un tamaño medio cuando miran hacia el este y muy
pequeños cuando dan al norte. La puerta de acceso tiene a veces arco de medio pun-
to, pero suele ser adintelada, realizada con grandes bloques de piedra. Los vanos de
la fachada se suelen formar también con grandes bloques de piedra.
El barro se utiliza para asentar las piedras de los muros, para las chimeneas, hor-
nos y, en ocasiones, para los muros. La madera está presente en el interior del edi-
ficio, configurando los pilares, los suelos, la armadura de la cubierta y, sobre todo,
la solana o corredor. Las escaleras interiores también están realizadas en madera.
El tipo de casa es de dos plantas. La baja destinada a cuadras, almacén de aperos,
cocina y despensa; la primera planta de vivienda, y la segunda de desván o sobrado
para granero o para madurar frutas, denominada cámara. Los tejados de las casas son
a dos aguas, con teja árabe.

9. Sobre artistas alcarreños activos en Guadalajara en los primeros años del siglo XVI, véase A. GAR-
CÍA LÓPEZ, «Nuevas aportaciones sobre la actuación de Alonso de Covarrubias en Guadalajara: unas tra-
zas desconocidas de la iglesia del convento de La Piedad de 1525, con algunas noticias sobre artistas al-
carreños de inicio del siglo XVI», IV Encuentro de Historiadores del Valle del Henares, Alcalá de Henares,
1994, pp. 525-537.

245
CARLOS CLEMENTE SAN ROMÁN Y AURELIO GARCÍA LÓPEZ

En los edificios en los que hemos actuado han sido descubiertas y restauradas las
yeserías, pinturas y artesonados o viguerías de madera que fueron ocultadas por las
diversas generaciones de acuerdo con sus características y tipologías a las formas de
vida de cada época. Así ha ocurrido en Sigüenza en la restauración de la casa del Don-
cel, en el barrio de la Travesaña Alta, de fundación del siglo XII, y en el que se ha
encontrado la vivienda gótica de primera urbanización; las modificaciones referidas
se produjeron sobre la vivienda mudéjar del siglo XIV, que prácticamente se man-
tuvo hasta el siglo XX.

METODOLOGÍA DE CONSERVACIÓN URBANA

El método desarrollado en estos proyectos de recuperación es el de trabajo si-


multáneo de varias disciplinas científicas y técnicas. También la arquitectura do-
méstica tiene la necesidad imperiosa de contar con un equipo de trabajo multidis-
ciplinar que reúna conocimientos técnicos, artísticos, de restauración y jurídicos
adecuados a la Ley de Patrimonio Histórico Español de 1985. Nos hace contar en
nuestros trabajos de restauración con un método de Patrimonio: comenzando des-
de la documentación, diagnóstico, catalogación, análisis, proyecto, ejecución, do-
cumentación de lo realizado, publicación y difusión.
A la hora de abordar la restauración y rehabilitación de un edificio histórico en
la parte antigua de una ciudad se establece el programa del propietario, normalmente
privado y en división horizontal, por lo que el edificio va a mantener su multipro-
piedad. Esta característica diferencia estas actuaciones de los edificios singulares mo-
numentales, donde habitualmente el programa suele tener propietarios institucionales
o públicos aunque se actúe con varias titularidades de propiedad. Podemos sinteti-
zar los criterios generales de la intervención en cuatro puntos:
1) Recuperar la secuencia histórica del edificio.
2) Adecuar el inmueble para el nuevo uso.
3) Mantener el patrimonio cultural civil doméstico mediante el uso continuado
del edificio restaurado.
4) Mostrar al público una casa restaurada con su secuencia histórica preservada.
El objetivo de la intervención de restauración de los edificios civiles domésticos
de los centros históricos es la recuperación y puesta en valor tanto de la estructura
espacial de origen, como de la de todos los elementos decorativos y constructivos
conservados. Los criterios que empleamos son la conservación y tratamiento de pa-
ramentos en los muros de carga de las fachadas; la estructura del entramado de ma-
dera, con los forjados, y de las estructuras de cubierta que reflejan en su conjunto
la carpintería de armar como sistema constructivo integral desde la antigüedad has-
ta 1950-1960.
La primera actuación referente a la recuperación de elementos de arte mudéjar
tuvo lugar en la casa del Doncel, en Sigüenza, donde se han hallado importantes res-
tos que forman un conjunto de habitaciones tal como se habitaron y diseñaron en
su época. Se trata de una casa del siglo XIII, remodelada en el XIV y ampliada en el
XV y XVI, en la que se han descubierto yeserías y arcos mudéjares, arcadas góticas,
forjados policromados, numerosos escudos, artesonados y ventanas trilobuladas.

246
LOS RESTOS MUDÉJARES DE LA ARQUITECTURA CIVIL DE SIGÜENZA

Otra casa urbana de Sigüenza, en la que estamos interviniendo en la actualidad,


es la situada en la calle Travesaña Baja que da a la calle Mayor n.º 20. Se trata de una
casa del siglo XIV, que fue remodelada en los siglos posteriores, según la docu-
mentación histórica encontrada, y que ha corroborado la prospección arqueológi-
ca. En la primera planta se descubrió oculto por dobles cámaras y un techo macizo
de yeso un gran salón con artesonado de la segunda mitad del siglo XIV y friso de
yeserías con motivos geométricos-heráldicos, y sus dos puertas mudéjares se habían
ocultado amortizándolas de escombros, tapándolas y abriendo otra central en el

Fig. 1. Fragmentos de yeserías de la casa de la calle Mayor nº 20. Dibujos de Ilde-


fonso Ramírez González.

247
CARLOS CLEMENTE SAN ROMÁN Y AURELIO GARCÍA LÓPEZ

muro. En la sala de acceso al salón hay otra estancia con techo de madera de la mis-
ma cronología que el del salón anterior (siglo XIV), así como una pintura al fresco
del siglo XV. En la segunda planta, una sala-taller del siglo XIV con arco mudéjar
de acceso al salón y con tres pares de ventanas conopiales con bancos de trabajo si-
métricos.
Los trabajos previos de emergencia para la consolidación nos han permitido re-
tirar los últimos enlucidos, el doblado con regrueso de paredes y techos, de modo
que han aparecido todas las decoraciones antiguas de yesos policromados, los vanos
amortizados y las pinturas murales. La cronología de estas piezas mudéjares va des-
de la segunda mitad del siglo XIV hasta bien avanzado el siglo XV, incluso los pri-
meros años del siglo XVI.
Restos muy similares a los de la casa de la calle Mayor n.º 20 ya habían apareci-
do en la casa de Travesaña Baja n.º 4 de Sigüenza, que estudió Lavado Paradinas10.
También han sido documentados otros en Guadalajara por Pradillo y Esteban en el
monasterio de Santa Clara, en la capilla de los Orozco de la desaparecida iglesia de
San Gil, en la iglesia de Santa María, en el ábside de Santo Tomé y el Alcázar Real
de Guadalajara11.

LOS PROPIETARIOS DEL INMUEBLE

Casa situada en la calle principal de Sigüenza durante siglos, la que unía el cas-
tillo con la catedral, y que fue construida, según Pilar Martínez Taboada, en tres tra-
mos bien diferenciados12. La manzana de casas situada a la altura de la calle Mayor
n.º 20 esquina con Travesaña Baja, fue trazada a partir de mediados del siglo XIII pa-
ralela al lienzo norte de la segunda muralla seguntina construida en época del obis-
po don Cerebruno. Esta casa estaba adosada a la muralla junto a una puerta de ac-
ceso a la ciudad. La Travesaña Baja, hasta principios del siglo XV, fue el corazón de
la judería seguntina, y en sus más de noventa casas-tiendas y casas-taller habitó una
población de comerciantes, en su mayoría judíos, pero también mudéjares y cris-
tianos. La comunidad judía de Sigüenza, según Marcos Nieto, estaba ya asentada en
la ciudad en 1124, y participaba activamente en la compra y venta de propiedades,
en la recaudación de impuestos y en arriendos. Contaba con su propia aljama, en la
que tenían su sinagoga, carnicería y cementerio. En 1412 se ordenó el apartamien-
to de los judíos13, de modo que éstos se vieron obligados por orden de Juan II a aban-

10. El arte mudéjar en Sigüenza ha sido trabajado por Pedro José LAVADO PARADINAS, véanse sus traba-
jos: «Arte Mudéjar en la cuenca del Henares», Actas del II Encuentro de Historiadores del Valle del He-
nares, Guadalajara, 1990, pp. 591-616; «Restos artísticos mudéjares en Sigüenza», Actas del I Encuentro
de Historiadores del Valle del Henares, Alcalá de Henares, 1988, pp. 387-394; «Yeserías mudéjares en el
Museo Diocesano de Sigüenza», Actas del I Encuentro de Historiadores del Valle del Henares, Guadala-
jara, 1998, pp. 387-393, y «Sigüenza mudéjar. Huellas hispanomusulmanas en la arquitectura medieval se-
guntina», IX Encuentro de Historiadores del Valle del Henares, Guadalajara, 2004, pp. 15-54.
11. P.J. PRADILLO Y ESTEBAN, «La desparecida parroquia de San Gil de Guadalajara: estado de la cues-
tión y nuevas aportaciones», Wad-Al-Hayara, 21, 1994, p. 238.
12. P. MARTÍNEZ TABOADA, «El urbanismo seguntino en inscripciones», Anales Seguntinos, 19, 2003, pp.
10-11.
13. M. NIETO, Las sinagogas de Sigüenza, Madrid, 1998, p. 8.

248
LOS RESTOS MUDÉJARES DE LA ARQUITECTURA CIVIL DE SIGÜENZA

donar el centro de las ciudades e instalarse fuera de las murallas, muchas de sus ca-
sas pasaron a ser propiedad del cabildo de la catedral, que siguió arrendándolas a co-
merciantes y artesanos. Así ocurrió con la casa que nos ocupa en nuestro estudio, que
ya era propiedad del cabildo catedralicio en las últimas décadas del siglo XV, según
se indica en el Libro de Dinero del Archivo de la Catedral de Sigüenza. En 1500 era
arrendada por el racionero Alonso Díez, y tenía incorporado un establo de la pri-
mera casa de la Travesaña Baja14. En 1500 se dice sobre la Travesaña Baja que co-
mienza desde la calle Mayor hasta la Herrería, que la primera casa de la calle Tra-
vesaña se había hecho establo, y que éste se encontraba incorporado a la casa de la
calle Mayor n.º 20: En principio de esta dicha travesaña tienen los señores una casy-
lla que agora esta hecha establo el qual anda con la casa que tiene en el cantón el se-
ñor Alonso Díez Racionero canónigo.
Ambas casas eran arrendadas por el canónigo Alonso Díaz y habían sido dona-
das por el señor obispo al cabildo catedralicio:
Yten las casas que bibe Alonso Díaz canónigo tiene las ad vitam et refactionem cada año
en dos myll maravedíes ficieron de gracia los señores de los derechos. Esas casas dexo el obis-
po de gracia por san Juan por los maitines que docto e funda, con esta cosa un establo que esta
en la travesaña casa del Horno de Anguaçiana esta el contrato en el libro de los contratos15.

RESTOS MUDÉJARES

Han sido muchos los restos mudéjares aparecidos en la casa de la calle Mayor n.º
20 durante la intervención previa de consolidación realizada en el año 2004. Una vez
realizada la limpieza de escombros, de revocos de paredes, la limpieza interior de te-
chumbre y techos de las habitaciones, se ha podido comprobar –y se va constatan-
do día a día– que la casa primitiva era una construcción de los siglos XIV y XV. Los
restos de yeserías mudéjares hallados junto a las pinturas murales nos hacen pensar
que se trata de una decoración mudéjar de la segunda mitad del siglo XV16.

Estructura de la casa. Primera planta

Se ha podido descubrir un salón principal con ventanas a la fachada y un recibidor


de la escalera. El llamado salón principal es una enorme estancia de planta rectangular,
rematada por alcobas cuadradas, y a las que se accede por el propio centro de la es-
tancia, que recuerda a los salones áulicos andalusíes. Esta estancia es propia de algunos
palacios y casas que se realizaron en los siglos XIV y XV en Castilla, en los que se
han asimilado los esquemas andalusíes, tanto planimétricos como decorativos.
El salón principal tiene una gran riqueza artística. Contiene un rico artesonado
mudéjar con su cenefa decorativa y dos puertas con yeserías mudéjares. En la cenefa

14. Archivo Catedralicio de Sigüenza, Libro Dinero, año 1500.


15. Archivo Catedralicio de Sigüenza, Libro Dinero, año 1508.
16. P.J. LAVADO PARADINAS, «Sigüenza mudéjar. Huellas hispanomusulmanas...», pp. 21-22.

249
CARLOS CLEMENTE SAN ROMÁN Y AURELIO GARCÍA LÓPEZ

se aprecia la continua especialización que genera una labor de mayor relieve y com-
plicación, adaptando las formas góticas –la flora naturalista y el escudo heráldico–
al sistema y ritmo de tradición islámica. Cuenta la cenefa con motivos decorativos
y escudos heráldicos enmarcados en un lunel y policromados. Estos escudos se re-
presentan en par, siendo uno de ellos la representación de un castillo con tres torres
y dos pájaros que va alternando con un león, con dos lobos en sotur y con un águi-
la rampante.
Los escudos se insertan en un medallón lobulado que era propio del califato de
Córdoba y que fue adoptado por la España cristiana. En Sigüenza los medallones al-
ternan con cartelas, y su decoración nos recuerda la techumbre de San Miguel de Vi-
llalón (Valladolid). Esta alternancia de medallones y cartelas se ve también en la si-
nagoga de Santa María la Blanca, en Toledo17.
Los medallones lobulados tienen un total de doce lóbulos que se unen entre sí
por medio de un botón. En la parte superior de los medallones y cartelas se diseña
una cenefa con motivos que imitan ladrillos. Los medallones son muy empleados en
la yesería mudéjar, estaban unidos por circulillos. Aquí cada medallón lleva inclui-
do un motivo heráldico, muy similar a lo que ocurre en el vestíbulo del palacio del
rey Pedro I en Tordesillas, hoy convertido en convento de Santa Clara18.
La decoración consiste en escudo heráldico más decoración en lunel seguida de
escudo heráldico. Los medallones de doce lóbulos aparecen hacia el siglo XIII y se
generalizan en el siglo XIV. Los de Sigüenza son de la segunda mitad del siglo XIV,
con cronología muy similar a los empleados en la casa toledana de la Mesa, también
de la segunda mitad del siglo XIV, y los frisos de la Alhambra. Esta circunstancia nos
hace pensar que se trataba de artistas granadinos que vinieron a desarrollar su arte
a Sigüenza y a otras ciudades castellanas19.
El escudo de un castillo con tres torres y dos pájaros en su parte superior iz-
quierda y derecha es similar al del arco de la casa de Travesaña Baja n.º 6. Circuns-
tancia que nos hace pensar que la casa de la calle Mayor llegaba hasta Travesaña n.º
6, es decir, que era una misma casa en su origen. El castillo con tres torres fue emplea-
do por algunos obispos de Sigüenza, como el cardenal don Alonso Carrillo de Al-
bornoz (1422-1434) y el obispo Carrillo de Acuña (1436-1447)20. Se halla en algunas
portadas mudéjares que se conservan en la catedral. En el monasterio de las Huelgas,
en las yeserías del claustro de San Fernando, tenemos ese mismo castillo con tres to-
rres, y en algunas yeserías del siglo XIV de la ciudad de Toledo también se encuen-
tra esa misma representación. El rey Pedro I también la utilizó en Tordesillas, por lo
que creemos que es un símbolo de obediencia real de las ciudades al monarca.
En el otro escudo figuran dos lobos puestos en palo; son dos lobos pasantes, de
sable, uno sobre otro, lampasados, con fondo de gules (rojo). Los dos lobos pueden

17. B. PAVÓN MALDONADO, El arte hispano-musulmán en su decoración geométrica. Una teoría para un
estilo, 2.ª ed. aumentada, Madrid, MAE-Agencia Española de Cooperación Internacional-Instituto de Coo-
peración con el mundo árabe, 1989, p. 73.
18. Ibídem, p. 119.
19. Ibídem, p. 120.
20. F. PECES RATA, Heráldica en la ciudad del Doncel (I. Obispos), Barcelona, Escudo de Oro, 1993, pp.
35-37.

250
LOS RESTOS MUDÉJARES DE LA ARQUITECTURA CIVIL DE SIGÜENZA

Foto 1. Yesería policromada de la cenefa decorativa, representando un castillo con


tres torres y dos pájaros.

representar a varias familias: Solórzano, Díaz de Haro, Cárdenas. El escudo con dos
lobos en sotur lo encontramos en una casa de Sigüenza sita en la calle de la Yedra,
situado debajo del escudo de don Fadrique de Portugal21. En las armas del obispo
don López I Díaz de Haro (1269-1271), figuran dos lobos en sable, pasantes, pues-
tos en palo22. Mientras, el escudo de un águila rampante con el fondo en rojo tam-
bién aparece en algunos escudos de los obispos de Sigüenza, como es el caso de las
armas de don Bernardo de Agen, primer obispo de Sigüenza después de la recon-
quista de la ciudad a los musulmanes.
Los motivos decorativos heráldicos se refieren a familias nobles, clérigos y lina-
jes de la ciudad que decoran el interior de sus casas con yeserías gótico-mudéjares
y pinturas murales hasta bien avanzado el siglo XV.

Primera puerta mudéjar


Se ha conservado un fragmento de un dintel con un arco de yeso e inscripciones
de letra gótica del siglo XV que hacen referencia al mecenas que ordenó hacer esa

21. A. SEVILLA GÓMEZ, «Los escudos heráldicos civiles de Sigüenza», Anales Seguntinos, 16, 2000, p. 81.
22. F. PECES RATA, op. cit., p. 23.

251
CARLOS CLEMENTE SAN ROMÁN Y AURELIO GARCÍA LÓPEZ

obra de yesería. La decoración del arco es muy similar a la del arco de la casa del
Doncel. En la enjuta del arco tenemos una estrella de ocho puntas, que es propia del
arte nazarí del siglo XIV, que se combina con geometrías muy diversas.

Segunda puerta mudéjar

En la puerta de la derecha se conserva otro fragmento de dintel decorado con yeso


policromado. Se trata de una decoración geométrica que utilizaba el color rojo y azul.
La talla de yeso muestra motivos decorativos de profunda tradición islámica –elementos
vegetales estilizados, geometrías sencillas, lazos y estrellas, y epigrafía cúfica–.
La decoración del dintel recuerda a la técnica del alicatado, de raíz califal. Está
compuesto por diversas formas y colores. Es un estilo propio que los artistas mu-
déjares desarrollaron durante toda la época medieval.
En la lacería de la composición destacan los motivos romboidales policromados
en rojo y azul. Motivos que recuerdan a los existentes en el mirador de la torre de
la cautiva en la Alhambra, en concreto su zócalo de cerámica. En el museo Hispa-
no-musulmán de Granada se conservan unos alicatados nazaríes con una composi-

Foto 2. Motivos geométricos policromados de la puerta mudéjar del salón princi-


pal de la primera planta.

252
LOS RESTOS MUDÉJARES DE LA ARQUITECTURA CIVIL DE SIGÜENZA

ción similar a la del dintel de la segunda puerta mudéjar de la casa de Sigüenza23. En


el recibidor del salón principal también se ha conservado un pequeño artesonado con
su cenefa decorativa pintada en color rojo.

Pinturas murales de la planta principal

Han aparecido dos paneles de pinturas murales, el primero en el muro de la puer-


ta mudéjar y el segundo en un lienzo de la pared del recibidor construido con ado-
be. También se han encontrado restos de pintura mural en las distintas dependen-
cias de la primera planta de la casa.
El panel de la pared de adobe contiene motivos heráldicos. La composición está
dividida en dos rectángulos enmarcados por unas líneas gruesas. Entre los dos rec-
tángulos hay motivos de círculos con siete fuegos. En el primer rectángulo se con-
serva un total de cuatro escudos heráldicos. Según las primeras indagaciones que he-
mos realizado de estos escudos heráldicos, pueden representar a varios linajes o
familias hidalgas de Sigüenza. El primer escudo es de tipo español, lleva en el cam-
po una banda. La banda es la pieza del escudo que atraviesa diagonalmente su cam-
po desde el ángulo superior derecho hasta el inferior izquierdo; su anchura es de un
tercio del total del escudo, salvo que haya varias. La banda en sable puede representar
al linaje de los Carvajal, pues se ha conservado un escudo igual en la catedral que re-
presenta las armas del cardenal Bernardino López de Carvajal y Sande, obispo de Si-
güenza (1495-1511)24.
En el segundo rectángulo, muy destruido, sólo se pueden ver dos escudos he-
ráldicos, uno de ellos representado por las insignias pontificias y las llaves de San Pe-
dro, es decir, un escudo de un Papa que una autoridad eclesiástica decidió representar;
en el otro escudo se puede ver un león rampante, que pueden ser las armas del rey
Pedro I de Castilla. El escudo del pontífice lleva las insignias pontificales, como son
la tiara y las llaves de San Pedro. La insignia papal está representada por medio de
la tiara o mitra con tres coronas ducales, sumada de un globo de oro, centrado y cru-
zado con dos ínfulas pendientes, sobre dos llaves puestas en aspa, una de oro y otra
de plata, atadas por una cinta.
En este segundo rectángulo también se puede ver una estrella con letras dentro,
que pueden ser JHS, abreviatura de Jesucristo.

El panel de la pared de la puerta mudéjar

Es una pintura que representa una decoración en rombos, en los que se incluyen
motivos decorativos y un lunel con letras góticas que significan Jesucristo. La pin-
tura representa formas geométricas, rombos, con círculos en blanco y hojas de sie-

23. M. CASAMAR y C. KUGEL, La España árabe. Legado de un paraíso, fotografías de Inge y Anverd Von
der Ropp, Madrid, Casariego, 1990, p. 198.
24. F. PECES RATA, Paleografía y epigrafía en la catedral de Sigüenza, Sigüenza, 1988.

253
CARLOS CLEMENTE SAN ROMÁN Y AURELIO GARCÍA LÓPEZ

Foto 3. Fragmento de yesería mudéjar, con la decoración geométrica y una piña, per-
teneciente al arranque de un arco.

te puntas. Pinturas muy similares a como se adornan las yeserías mudéjares del con-
vento de Santa Clara en Tordesillas.
En la primera planta se encuentra una tercera pieza con pinturas murales muy
fragmentadas de motivos vegetales, heráldicos, flores de acanto, palmeras, flores de
lis, etcétera. Esto quiere decir que la decoración de esta planta era de pintura mural
con motivos heráldicos que representaban castillos y leones adornados con motivos
florales y geométricos.

Segunda planta

En la segunda planta se han encontrado partes de un arco que se conserva ente-


ramente en pequeños trozos o fragmentos, lo que hace que se pueda reconstruir en
su totalidad. Contiene tema epigráfico en letra árabe cúfica, alabando a Alá.

Materiales sueltos aparecidos en los escombros del patio de la casa

Las piezas de yesería encontradas superan el medio centenar, y corresponden a


varios arcos de yesería, tanto de nuestra casa como de los arcos de la de Travesaña

254
LOS RESTOS MUDÉJARES DE LA ARQUITECTURA CIVIL DE SIGÜENZA

Baja n.º 6, que se encuentran en el Museo Diocesano. Entre las piezas aparecidas se
halla un capitel y varias piezas de una columna de alabastro.

CONCLUSIÓN

A raíz de nuestra intervención de consolidación se ha evitado que el interior de


esta casa fuera limpiado, es decir, destruido. La casa no estaba protegida por la Nor-
mativa Urbanística de Sigüenza, de modo que se hubiera procedido a su derribo en
el año 2001, a instancias del informe del arquitecto municipal, quien lo autorizó, y
se habría conservado solamente su fachada.
De esta forma, hemos logrado conservar estos restos mudéjares y ayudar a que
la historiografía sobre el arte mudéjar complete su interpretación sobre este foco lo-
cal de Sigüenza, que se mantuvo activo desde la segunda mitad del siglo XIV hasta
bien avanzado el siglo XVI. Es preciso resaltar que se trata de un arte civil-domés-
tico que tuvo una gran representación, como se ha puesto de manifiesto en los ar-
cos de yesería encontrados en otras casas seguntinas, como son los arcos mudéjares
de la casa de Travesaña Baja n.º 6, en el año 1998 los de la casa del Doncel, y en el
2004 los de la misma Travesaña Baja en la zona no demolida de la calle Mayor n.º 20.

255
LOS RESTOS ISLÁMICOS Y MUDÉJARES HALLADOS
EN EL PROCESO DE REHABILITACIÓN DE LA CASA
DE SAN MIGUEL N.º 3, EN TOLEDO

Carlos Clemente San Román*


Aurelio García López*

El solar del edificio de San Miguel n.º 3 es de planta poligonal de unos 135 me-
tros cuadrados. Consta de tres plantas y semisótano, con cubierta inclinada de teja
curva a dos aguas: fachada principal y patio. La planta semisótano está constituida
por una bóveda de medio punto rebajada. La planta baja se compone de zaguán y
tres salones independientes conectados entre sí por el patio. La planta primera, que
se desarrolla por una galería alrededor del patio, consta de cinco dependencias de dis-
tinto tamaño. La planta segunda se desarrolla igualmente alrededor del patio, y está
formada por seis dependencias que ocupan toda la galería o corredor.
Los estudios arqueológicos e históricos demuestran que era un edificio integrante
de una casa califal de los siglos X-XI que ocupa las actuales casas situadas en calle
Soledad n.º 2 y los números 1, 3 y 5 de la calle San Miguel. Así lo ponen de mani-
fiesto los arcos califales y mudéjares aparecidos en las catas efectuadas y los datos de
que disponemos de la restauración de la casa de la calle Soledad n.º 2. Nos encon-
tramos ante una casa de origen califal que poseía un patio con su estanque y galería
de arcos cordobeses y polilobulados de los siglos X y XI. Esta estructura primitiva
fue reformada entre los siglos XII y XIII, abriendo un arco de yesería mudéjar, pro-
bablemente a caballo entre el siglo XIII y el siglo XIV. Con posterioridad se lleva-
ría a cabo otra reforma, hacia finales del siglo XV o comienzos del XVI, en que se
levantaron las columnas de la crujía oeste y tal vez se erigió la bóveda del sótano. A
finales del siglo XV, como ha demostrado Jean Passini, nuestra casa ocupaba tam-
bién parte de las casas de la calle Soledad n.º 2 y San Miguel n.º 51.

* Universidad de Alcalá.
1. Sobre la ciudad de Toledo destacamos los siguientes trabajos: J. PASSINI y J.P. MOLÉNAT, Toledo a fi-
nales de la Edad Media. I. El barrio de los Canónigos, Toledo, Colegio Oficial de Arquitectos de Cas-
tilla-La Mancha, Delegación de Toledo, 1995; J. PASSINI y J.P. MOLÉNAT, Toledo a finales de la Edad Me-
dia. II. El barrio de San Antolín y San Marcos, Toledo, Colegio Oficial de Arquitectos de Castilla-La
Mancha, Delegación de Toledo, 1997; J. PASSINI, Casas y casas principales urbanas. El espacio doméstico
de Toledo a fines de la Edad Media, Toledo, Universidad de Castilla-La Mancha, 2004.

257
CARLOS CLEMENTE SAN ROMÁN Y AURELIO GARCÍA LÓPEZ

Gracias a los trabajos de investigación de Jean Passini y Jean-Pierre Molénat, que


ponen al descubierto la arquitectura privada de Toledo a finales del siglo XV, hemos
podido completar nuestra investigación. Passini ha utilizado los documentos con-
servados del cabildo catedralicio de Toledo, en concreto, un libro titulado Libro de
las casas mesones e bodegas tiendas almaneras corrales carnseras e solares que los sen-
nores Deán e cabillo de la Santa Iglesia de Toledo han e tienen en esta dicha cibdad
intramuros e de lo que rinden en cada anno, que se conserva en la sección de Obras
y Fábrica (OF-356), y que fue comenzado en 1491 y concluido en 1492.
Entre las casas que poseía el cabildo catedralicio de Toledo entre 1491-1492 es-
taba la casa de San Miguel n.º 32. El tesorero de la catedral de Toledo había cedido
esta casa al cabildo en 1428 para dotar una capilla, y fue arrendada por esos años a
Alonso Martínez por un censo anual de 1.250 maravedís. En 1451, el cabildo cate-
dralicio autoriza la venta de la casa con la condición de que no sea partida, siendo
arrendada por el capellán Juan Martínez, y en 1492 por Pedro de Morales. Se trata-
ba de una casa que lindaba con residencias de herederos del maestre Martín y otra
casa de Diego Sánchez.
Según el inventario de unas casas principales situadas en la colación de San Mi-
guel, que se realizó en 15473, se mencionan un total de cinco casas que pertenecían
en ese momento al convento de San Juan de la Penitencia de Toledo, que según el do-
cumento era actual poseedor de estas fincas. En él se dice que estas casas pertenecieron
al mayorazgo de doña Juana de Luján y habían pasado al señor Joaquín de Medra-
no y Luján, conde de Torrubia.
Hasta el siglo XIX, las casas pertenecían al convento de San Juan de la Peniten-
cia, y en 1836 fueron desamortizadas y vendidas a particulares. Sabemos que la fa-
chada fue reformada, pintada y revocada a finales del siglo XIX, en concreto en 18784.
A raíz de las excavaciones arqueológicas se hicieron catas murarias y estudios de
los paramentos5. En el paramento de la crujía sur de la casa de San Miguel n.º 3 se
documentaron varios restos de gran interés: un arco de herradura con pinturas ca-
lifales, un arco mudéjar con rica decoración y un espléndido artesonado mudéjar.
El arco de herradura carece de la clave y de las dovelas superiores, con un zóca-
lo que conserva pinturas al fresco en color rojo y ocre en una composición a base de
bandas horizontales, siguiendo un esquema típicamente cordobés. Destacan también
las pinturas murales que se han encontrado en la crujía sur, y hay destacar que su mo-
tivo decorativo es un esquema típicamente andalusí, consistente en una cenefa geo-
métrica formada por lozangas que encierran flores esquematizadas en colores rojo,
negro, ocre y blanco.

2. J. PASSINI, op. cit., prólogo de Pierre Toubert (miembro de la Academia de Inscripciones y Bellas Ar-
tes y profesor en el Colegio de Francia), p. 580.
3. Archivo de la Villa de Madrid, Secretaria, 42-328-49. Deslindamiento y medida de unas casas en la Ciu-
dad de Toledo en la Parroquial de San Miguel sobre las quales se hallan los censos perpetuos siguientes.
4. A.M.T., Libro de Alcaldía, 6 de septiembre de 1878.
5. Rehabilitación del número 3 de la calle de San Miguel (Toledo). Memoria de la intervención arqueo-
lógica, Asunción Lavesa Martín-Serrano y Rodrigo Cortés Gómez, 24 de mayo a 7 de junio de 2004, 97
hojas más 22 planos. Manuscrito conservado en el Archivo del Arquitecto Carlos Clemente, s.l.

258
LOS RESTOS ISLÁMICOS Y MUDÉJARES HALLADOS EN EL PROCESO DE REHABILITACIÓN...

El arco mudéjar de yesería contiene inscripciones cúficas. En las enjutas del arco
un castillo de tres torres y un león, y en su clave una mano de Fátima. La inscrip-
ción de este arco también se repite en las obras mudéjares de Burgos, Tordesillas y
Toledo, y data de finales del siglo XIII.
Por último, en la crujía norte se documentó un arco polilobulado de ladrillo, obra
de artesanos mudéjares, pues se observan paralelos prácticamente idénticos en va-
rias de las torres de las iglesias de la ciudad de Toledo (San Miguel y Santo Tomás).

LA CASA CALIFAL

No sabemos realmente cuál era la dimensión de la casa califal que ocupaba la man-
zana del Temple6. Según los restos arqueológicos, está claro que la casa de la calle So-
ledad n.º 2 y San Miguel n.º 1, n.º 3 y n.º 5 eran una misma casa de época califal.
En la manzana del Temple se conocen de momento los arcos califales de la calle
Soledad n.º 2 y en la casa San Miguel n.º 3. Se trata de puertas geminadas con arcos
de herradura que también se han conservado en otras casas de Toledo. Así, por ejem-
plo, tenemos arcos de herradura que pasan a arcos de medio punto en la calle Car-
denal Cisneros n.º 12, en el patio de los naranjos del convento de Santa Clara y en
el callejón del Vicario n.º 12. Además existen otros arcos de herradura que se han
transformado en puertas sencillas, como son los casos de plaza del Seco n.º 5 y en
la calle de las Bulas n.º 217.
En la casa San Miguel n.º 3 tenemos un arco de herradura en la pared de la de-
recha del palacio principal que es muy similar a otro trazado en el cobertizo del Puer-
to Amargo n.º 3, en una puerta del palacio a mano derecha según entramos.
Nuestra casa objeto de estudio se encuentra situada en la colación de San Miguel,
encuadrada en lo que fue la zona de asentamiento de la nobleza musulmana duran-
te la época califal de Toledo. Dicho asentamiento se hallaba cercano a la Alcazaba y
al Hospital de Santa Cruz. Se trata de un barrio de fábrica mozárabe y mudéjar, apre-
ciación que confirma la inscripción arábiga que conserva en una de sus vigas la casa
que estamos estudiando8, lo que explica que en su origen este inmueble fuera una
construcción de la ocupación árabe.
Es una medianería de la casa de la calle Soledad n.º 2, es decir, con la casa de San
Miguel n.º 1 con vuelta a calle Soledad n.º 2. La casa árabe contaba con un amplio
patio árabe separado con una crujía, como se pone de manifiesto en los hallazgos de

6. S.R. PARRO, Toledo en la mano, ó descripción histórico-artística de la magnífica catedral y de los de-
más célebres monumentos y cosas notables que encierra esta famosa ciudad, antigua corte de España, con
una explicación sucinta de la misa que se titula Muzárabe, y de las más principales ceremonias que se prac-
tican en las funciones y solemnidades religiosas de la Santa Iglesia Primada por don..., Toledo, Imprenta
y librería de Severiano López Fando, 1857. En el tomo I, p. 84, y en el tomo II, pp. 10, 11, 277 y 278, se
encuentra un breve comentario sobre la presencia de los templarios en Toledo y sobre la llamada casa del
Temple.
7. J. PASSINI, Casas y casas principales urbanas..., pp. 70-71.
8. En el Archivo Histórico Nacional se conservan más de 250 escrituras mozárabes que proceden de
la catedral de Toledo, más de 140 de las cuales fueron publicadas por Francisco Pons Boigues en 1897,
en la que no se hace alusión a alguna casa de la colación de San Miguel.

259
CARLOS CLEMENTE SAN ROMÁN Y AURELIO GARCÍA LÓPEZ

Fig. 1. Vistas de elementos califales y mudéjares en el proceso de rehabilitación in-


tegral del edificio de la calle San Miguel n.º 3.

ambas casas, en las que han aparecido arcos cordobeses de un patio primitivo y ar-
cos polilobulados. Los arcos cordobeses de los patios fueron reformados en el siglo
XIII, incluyendo en ellos arcos de yesería mudéjar, al ser dividida la casa en varias
viviendas. Parece claro, y así lo admiten los investigadores, que el palacio de la casa
con patio y estanque tiene sus raíces en la casa islámica de la Alta Edad Media.
La casa de la calle Soledad n.º 2 esquina calle San Miguel era propiedad de don
Amador Valdés López, quien comenzó su restauración en 1996 bajo la dirección de
la arquitecta Alicia González Díaz. En el estudio arqueológico efectuado en esta casa,
se concluye el estudio de esta forma:

260
LOS RESTOS ISLÁMICOS Y MUDÉJARES HALLADOS EN EL PROCESO DE REHABILITACIÓN...

La labor de rehabilitación emprendida ha consistido, substancialmente, en ir eliminando


los sucesivos añadidos para permitir que el propio edificio recuperarse su esencia, y ésta ha re-
sultado ser, cómo no, la de una típica estructura andalusí sustentada por las bóvedas del sóta-
no y organizada en torno al patio, con diversos salones y alcobas en la planta baja y algorfas
en la superior.
De esta estructura, configurada en su estado actual hacia el siglo XI-XIII, conservamos el
salón, la alcoba y la algorfa del ala occidental, con su correspondiente alfarje, destacando como
principal modificación la transformación de su acceso desde un arco geminado de herradura
taifa a una yesería mudéjar decorada con motivos vegetales.
El salón del ala meridional conserva también estos elementos, consistiendo la modificación
más importante en la supresión de la parte baja de la fachada (posiblemente ornamentada en
origen con arquería de herradura) para realizar en yesería una magnífica puerta adintelada
flanqueada por sendos prótomos de león y enmarcada por doble arquería geminada de he-
rradura ligeramente apuntada, que presenta sendos medallones con emblemas heráldicos cas-
tellanos. Todo el conjunto se enmarca por arriba con leyenda cúfica inscrita, datable a finales
del siglo XII o principios del XIII.
Enfrente, ocupando el espacio que en origen correspondía a otro salón, encontramos un por-
che elevado, con una terraza sobre la cubierta conformado por dos machones de fábrica (ori-
ginalmente también cubiertos de yesería) que sustentan un complejo entramado de carpinte-
ría que imita una gruesa viga en el que se encuentran talladas parcialmente las suras III y
XLVIII del Corán.
Por último, el salón del ala oriental, en origen salón principal o de aparato del patio, que
no solo conserva la estructura, sino que nos ha transmitido también la cubierta original, com-
puesta por una techumbre a dos aguas que al exterior conserva el alero de canes tallados, que
es posiblemente una de las estructuras en madera conservadas in situ.
Si este salón es importante, la conservación de los aparejos originales de los muros, o el arco
angrelado que enmarcaría la alcoba situada al norte, debemos destacar la conservación en el
subsuelo de los retos de un salón de época califal (siglo X) con paredes estucadas y ornamen-
tado con decoración bicroma de reminiscencias mozárabes, que corresponde al estado anterior
de la edificación, en el que constituía el salón del ala occidental de otro patio situado a su cos-
tado oriental9.
Nos indican claramente que el salón de occidente se correspondía con otro pa-
tio, es decir, el patio de nuestra casa, la casa de San Miguel n.º 3, en el que también
se encuentra un arco cordobés enmarcado con un arco de yesería y en su frente un
arco polilobulado.
En la casa de la calle Soledad n.º 2, durante su restauración se encontraron nu-
merosos restos de la época califal y taifal de la dominación árabe de la ciudad de To-
ledo. En nuestro inmueble se han efectuado catas y estratigrafías en enero de 2004,
en concreto en el patio de la casa, en los canecillos de la cara sur y en su cornisa. Tam-
bién se hicieron en el techo del zaguán para descubrir la viga, y en las galerías del pa-
sillo en su zona este, norte y oeste. Durante estos trabajos previos se descubrieron
numerosos restos mudéjares dignos de ser tenidos en cuenta. Han aparecido un to-
tal de tres puertas en el patio de la casa, una muy similar a la de la casa del temple.
En primer lugar, restos de arcos de la época califal, un arco cordobés del siglo XI y
otro polilobulado de la misma época.

9. XXIV Edición Premios Ciudad de Toledo, Presentación al Premio especial «Sixto Ramón Parro». Re-
cuperación de edificio. Calle de la Soledad, n.º 2, Toledo.

261
CARLOS CLEMENTE SAN ROMÁN Y AURELIO GARCÍA LÓPEZ

Las inscripciones de la jamba izquierda y el dintel del arco de yeserías situado en


la crujía sur del patio dicen lo siguiente: [...] al-mulk lillah al-shukur lillah al-m¿ulk?
lillah al-shukur l[...] / al-shukur lillah al-mulk lillah al-shukur lillah al-mulk lillah
al-baqa’ lillah [¿...?] lillah al-sh¿ukur? [...]. Cuya traducción es: “[...] la soberanía10
es de Dios el agradecimiento es para Dios la ¿soberanía? es de Dios el agradecimiento
es para [...] / el agradecimiento es para Dios la soberanía es de Dios el agradecimiento
es para Dios la soberanía es de Dios la eternidad es de Dios [¿...?] para/de Dios el
¿agradecimiento? [...]”.

Estos hallazgos demuestran que la primera y segunda planta de este inmueble per-
tenecen a una edificación de la época califal que ha sufrido una remodelación pos-
terior, posiblemente en el siglo XIV, y que se ha incorporado un patio renacentista
ya bien avanzado el siglo XVI.
La crujía norte está estructurada en tres alturas. La inferior está ocupada por una
estancia rectangular en la que se abre un arco polilobulado realizado de ladrillo en-
foscado de color negruzco. En el extremo este de esta crujía se documenta asimis-
mo un vano en arco peraltado. Este piso tiene una gran viga de madera. En el pri-
mer piso se abren ventanas adinteladas.
Mientras que el arco de herradura debajo de la escalera contiene policromía de
época califal, los dos fragmentos de pinturas murales de la época califal que rodean
a un arco ciego con motivos epigráficos y vegetales en tonos rojo y azul, así como
otros dos fragmentos de zócalo en un arco califal en tonos rojo y blanco, se en-
cuentran en mal estado de conservación.

LOS RESTOS MUDÉJARES EN LA CASA DE SAN MIGUEL N.º 3

La casa islámica fue dividida y transformada según la moda o estilo arquitectó-


nico de cada época. Sufrió la evolución y estuvo sometida a modas que se traducen
en particular en la forma del arco del vano y en las proporciones de la pieza11.
Así, en la casa de San Miguel n.º 3, el arco de herradura de la pieza principal que
da al patio fue transformado en un arco de medio punto mudéjar, y después se puso
una puerta con un dintel.
La casa, como hemos dicho, disponía de su palacio principal, que consistía en una
habitación donde se desarrollaba la vida, es decir, la habitación principal de la casa.

10. Sura LXVII del Corán, Surat al-Mulk.


11. Sobre este asunto, véanse: C. DELGADO VALERO, «La estructura urbana de Toledo en época islámi-
ca», en VV.AA., Regreso a Tulaytula. Guía del Toledo islámico, siglos VIII-XI, Toledo, Junta de Co-
munidades de Castilla-La Mancha, 1999, pp. 11-160; B. PAVÓN MALDONADO, Arte toledano: islámico y
mudéjar, Madrid, Instituto Hispano-Árabe de Cultura, 1988; J. NAVARRO PALAZÓN y P. JIMÉNEZ CAS-
TILLO, «Casas y palacios de al-Andalus. Siglos XII-XIII», en J. NAVARRO PALAZÓN (ed.), Casas y pala-
cios de al-Andalus. Siglos XII-XIII, Granada, El Legado Andalusí, 1995.

262
LOS RESTOS ISLÁMICOS Y MUDÉJARES HALLADOS EN EL PROCESO DE REHABILITACIÓN...

Dicho palacio era la estancia mejor dotada de yeserías en puertas y ventanas, y de


pinturas sobre las paredes y sobre las vigas del artesonado. Esta decoración es difí-
cil de fechar, entre el siglo XIII al XV. Se trata de un friso perimetral en forma de cin-
ta con motivos figurativos y escritura gótica o cúfica.
A partir de 1146, la huida de mozárabes y judíos ante el avance almohade en An-
dalucía provoca un brusco crecimiento demográfico en Toledo y sus cercanías. Po-
demos atribuir a la actividad de esos mozárabes la aportación de las tradiciones ar-
quitectónicas nazaríes.
Yeserías similares o parecidas a las de la casa de San Miguel n.º 3 se encuentran
por buena parte del casco histórico de Toledo. Así, por ejemplo, se conservan res-
tos de yeserías en la fachada del palacio sur de la casa situada en la calle de San Mar-
cos n.º 812 y las yeserías del convento de Santa Isabel, en la puerta del patio de la en-
fermería13. Además, encontramos otros portales decorados con arcos de yesería en
la casa situada en el n.º 4 de la travesía de Santa Isabel, hoy Colegio de Arquitectos,
y la casa de Arcedianos de Madrid, situada en la plaza del Consistorio n.º 514.
El rico artesonado decorado de pinturas mudéjares es muy típico de los palacios
principales de las casas de Toledo. Ejemplos parecidos a los de esta casa se encuen-
tran en el patio de la casa de la calle San Marcos n.º 815, y en el artesonado pintado
en el techo de la sala capitular del convento de San Antonio de Padua16. Además de
escudos con castillo y león, también lleva las cenefas alrededor con sus motivos. Es-
cudos pintados con motivos heráldicos los tenemos en la calle San Marcos n.º 9. Tam-
bién hay artesonados pintados con escudos de castillo y león en la casa de la calle San-
ta Isabel n.º 22, y en el palacio del rey don Pedro encontramos vigas labradas y
pintadas con representaciones heráldicas, fechadas hacia 1380-1395.
En lo que respecta a la inscripción del arco mudéjar, se trata de una inscripción
en árabe en relieve realizada en un estilo de escritura cúfica, propia de las construc-
ciones mudéjares y granadinas de los siglos XIV y XV, que significa “el éxito per-
petuo y la gloria estable”17. Inscripción similar la podemos encontrar en una viga del
convento de monjas franciscanas de Santa Ana18.
El inmueble de la casa de San Miguel n.º 3 conserva restos mudéjares de los si-
glos XIII y XIV, al igual que ocurre en otros inmuebles civiles de la ciudad de To-
ledo. Ejemplo de ello es la denominada Casa-Museo Taller del Moro, que conser-
va una parte de un palacio del siglo XIV que se transformó en taller de cantería en
el siglo XVIII para atender a las obras de reforma de la catedral. Actualmente es sede
de un museo dedicado al arte y artesanía mudéjares de los siglos XIV y XV.

12. J. PASSINI y J.P. MOLÉNAT, Toledo a finales de la Edad Media. II. El barrio de San Antolín y San Mar-
cos..., p. 8.
13. Ibídem, p. 78
14. Ibídem, p. 70.
15. Ibídem, p. 38.
16. Ibídem, p. 89.
17. Ibídem, p. 84.
18. M. MAROTO GARRIDO, Fuentes documentales para el estudio de la arqueología en la provincia de To-
ledo, Toledo, Diputación Provincial de Toledo, 1991, p. 252.

263
CARLOS CLEMENTE SAN ROMÁN Y AURELIO GARCÍA LÓPEZ

Fig. 2. Estos dibujos, realizados por Boris Lugosvoy, nos sirven para ver cómo pudo
ser la casa en el siglo XI y cómo su estilo califal fue transformado a raíz de su ocu-
pación por los templarios y otras familias medievales a lo largo de los siglos XI al
XIV. El dibujo muestra cómo la casa original era de una planta en su origen, y cómo
la casa de San Miguel n.º 3 era un recibidor con su patio, estanque, palacios, y que
servía de entrada al gran salón de la casa situada en la actualidad en la calle Soledad
n.º 2, que tenía su patio de mayor altura, estanque y dependencias de lujo superior,
situada por encima de la estancia que hacía de recibidor.

264
LOS RESTOS ISLÁMICOS Y MUDÉJARES HALLADOS EN EL PROCESO DE REHABILITACIÓN...

La casa de San Miguel ha conservado un importante arco de yesería del siglo XIII
junto a un rico artesonado policromado con motivos geométricos y heráldicos en los
que se representan tres escudos diferentes: uno la cruz roja del Temple, otro una abre-
viatura de Jesucristo y el tercero una jarrón con azucenas. Símbolos todos ellos re-
lacionados con la Orden de los Templarios, propietarios de la casa tras la ocupación
cristiana de la ciudad árabe de Toledo.
En la crujía sur, el segundo de los lados largos de este patio se eleva a igual altu-
ra que el lado este, de manera que el peristilo presenta una falta de simetría en altu-
ra. En cuanto a la organización del paramento, se articula de igual manera que en el
resto de las paredes de este espacio, y en el piso inferior se observa un pequeño co-
rredor cuyo límite sur es la pared de cierre de una estancia idéntica a la que hay en
el lado norte. Techa este espacio un artesonado similar al de la crujía oeste, decora-
do en esta ocasión con puntos negros en las paredes de los casetones; en ellos tam-
bién se aprecian restos de policromía; en las vigas también se ven decoraciones a base
de líneas paralelas azules que enmarcan una banda más ancha de este mismo color.
En este cuerpo existe un arco mudéjar decorado con yeserías que da acceso a la
sala contigua. Es un arco carpanel ricamente ornamentado con motivos vegetales de
roleos entrelazados, que presenta modillones en su intradós. En la enjuta más hacia
el este se observa un castillo de tres torres con un arco de herradura como acceso.
En la otra enjuta aparece un león rampante. Por otra parte, en la clave del arco se di-
seña una mano, que es la denominada “mano de Fátima”, un motivo decorativo pro-
pio de la época califal, que también se encuentra como motivo en las yeserías del Ta-
ller del Moro, en Toledo19. Curiosamente, el palacio del Taller del Moro se considera
como obra de un acaudalado personaje de la alta aristocracia musulmana. Dicha cir-
cunstancia nos hace pensar que también la casa de San Miguel n.º 3, fuese el palacio
de un importante personaje árabe20.
Remata la composición una banda epigráfica que recorre toda la longitud del arco.
La inscripción, que está rota por el artesonado, repite la siguiente frase en letra ára-
be con caracteres nesji: “La gracia es Dios. El imperio es de Dios. La permanencia
es de Dios”.
Un arco muy similar al que tenemos en la casa de San Miguel n.º 3 existe en el
monasterio de Las Huelgas, en concreto en la comunicación entre el claustro de San
Fernando y el patio de la capilla de Santiago, que está fechado en la era de 1313, es
decir, en el año de 127521.
Hubo un arco anterior, ya que se aprecian los restos de un arco cordobés. Este
arco es muy similar al geminado que aparece en la casa contigua, denominada casa
del Temple, y además están los dos en la crujía sur de los respectivos inmuebles. En
cuanto a la herradura cordobesa, también en la casa del Temple se han documenta-

19. B. MARTÍNEZ CAVIRÓ, Mudéjar Toledano. Palacios y Conventos, Toledo, 1980, pp. 185-186.
20. S. RAMÓN PARRO, op. cit., tomo II, p. 631.
21. Sobre estas yeserías, véanse: B. PAVÓN MALDONADO, Las Huelgas de Burgos...; P.J. LAVADO PARA-
DINAS, «Las yeserías Mudéjares en Castilla La Vieja y León», Actas del V Simposio Internacional de Mu-
dejarismo (1990), Teruel, Instituto de Estudios Turolenses, 1991, p. 421 y ss.

265
CARLOS CLEMENTE SAN ROMÁN Y AURELIO GARCÍA LÓPEZ

do dos ejemplos: los restos de un ajimez en la crujía occidental del patio y un vano
de comunicación entre la sala y la alcoba del ala occidental.
El arco da acceso a una sala techada con un rico artesonado polícromo decora-
do con cuerpos de losanges enmarcados por líneas de puntos negros en las viguetas,
de color rojo, azul y negro. En las cercanías de los paramentos la decoración se tor-
na en un motivo circular indeterminado sobre fondo verde. Las enjutas entre las vi-
gas presentan plafones de yeso pintados con un escudo sobre fondo rojo que se re-
pite en todos los plafones. Se trata de un blasón dividido en cuatro campos; el central
presenta un león rampante a la izquierda de gules en campo de plata. Los restantes
muestran, respectivamente, un campo de bandas horizontales en plata y sable, y una
sola granada de sable en campo de oro.
En esta sala se aprecia la existencia de restos de pintura mural en la esquina sur
del paramento oeste. Muestran los vestigios de una inscripción cúfica de caracteres
similares a los de la viga que hay en el sótano, pintada en azul sobre fondo de de-
coración vegetal en rojo y azul, y encerrada en una banda roja. La inscripción en-
marca el arranque de lo que sin duda fue un arco de herradura de factura cordobe-
sa, del que se ve parte de la rosca y el salmer, así como una enjuta en la parte superior,
decorada con motivos vegetales de roleos entrelazados en azul encerrados por una
franja roja. Cierra la composición una banda decorada también con motivos vege-
tales en rojo.
Encontramos la gruesa viga que hace línea de imposta, y sobre ella los dos cuer-
pos restantes. La primera de estas alturas superiores se articula en torno a cuatro ven-
tanas, tres de ellas de iguales proporciones, y la restante, ubicaba en la esquina este
del paramento, más pequeña. Alrededor de ésta parece haberse retirado el enfosca-
do, de modo que se ve el ladrillo que conforma el muro y un pie derecho que sus-
tenta una viga, ambos de madera, que parecen indicar la totalidad del patio a esta al-
tura. Precisamente sobre la ventana medial de las tres que hemos mencionado más
arriba también se aprecia otro pie derecho y un fragmento de lo que a todas luces pa-
rece ser la misma viga. Por último, en el cuerpo superior únicamente se ve un vano
rectangular bajo la cubierta en el lado más hacia el este.
Los restos de pinturas murales del siglo XIV consisten en un fragmento que apa-
rece debajo del artesonado mudéjar a modo de friso con motivos geométricos y ve-
getales en tonos rojo, azul y ocre. Sus dimensiones son de 50 centímetros de largo
y 30 de ancho. Probablemente sea el único fragmento conservado de la pintura mu-
ral debajo del artesonado, y su estado de conservación es muy deficiente por falta
de adhesión al sustrato en los extremos, manchas de yeso y cal de los añadidos pos-
teriores, y pérdidas de policromía y de enfoscado, ya que se picaron para el agarre
de capas posteriores.
Como conclusión, podemos indicar que la labor de rehabilitación emprendida ha
consistido, sustancialmente, en ir eliminando los sucesivos añadidos para permitir que
el propio edificio recuperase su planta original califal, y ésta ha resultado ser, como
era previsible, la de una típica estructura andalusí, sustentada por las bóvedas del só-
tano y organizada en torno al patio con su estanque, con diversos salones y alcobas
en la planta baja y algorfas en la superior.
A través de la investigación documental y el estudio arqueológico ha quedado cla-
ro que nuestra casa es parte de otra casa original de tipo califal que estaba formada

266
LOS RESTOS ISLÁMICOS Y MUDÉJARES HALLADOS EN EL PROCESO DE REHABILITACIÓN...

Fig. 3. Arco mudéjar y detalles de estratigrafía de la casa de San Miguel n.º 3.

267
CARLOS CLEMENTE SAN ROMÁN Y AURELIO GARCÍA LÓPEZ

también por la casa de la calle Soledad n.º 2, pues parece claro, y así lo admiten los
investigadores, que el palacio de nuestra casa poseía un patio y estanque con su ga-
lería de arcos cordobeses y polilobulados –tiene sus raíces en la casa islámica de la
Alta Edad Media– que servía de acceso a la gran estancia de la casa califal que era la
actual casa denominada del Temple, que ha sido restaurada y convertida en un res-
taurante.

BIBLIOGRAFÍA

BARRIO, C. y MAQUEDANO, B., «El corralillo de San Miguel», en VV.AA., Toledo,


arqueología en la ciudad, Toledo, 1996, pp. 207-224.
DELGADO VALERO, C., «La estructura urbana de Toledo en época islámica», en
VV.AA., Regreso a Tulaytula. Guía del Toledo islámico, siglos VIII-XI, Toledo,
Junta de Comunidades de Castilla-La Mancha, 1999, pp. 11-160.
MAROTO GARRIDO, M., Fuentes documentales para el estudio de la arqueología en
la provincia de Toledo, Toledo, Diputación Provincial de Toledo, 1991.
PARRO, S.R., Toledo en la mano, Toledo, Instituto Provincial de Investigaciones y
Estudios Toledanos, 1857, facsímil, 1972.
PASSINI, Jean, Casas y casas principales urbanas. El espacio doméstico de Toledo a fi-
nes de la Edad Media, prólogo de Pierre Toubert, Toledo, Universidad de Cas-
tilla-La Mancha, 2004.
PASSINI, Jean y MOLÉNAT, Jean-Pierre, Toledo a finales de la Edad Media. I. El ba-
rrio de los Canónigos, Toledo, Colegio Oficial de Arquitectos de Castilla-La Man-
cha, Delegación de Toledo, 1995.
PASSINI, Jean y MOLÉNAT, Jean-Pierre, Toledo a finales de la Edad Media. II. El ba-
rrio de San Antolín y San Marcos, Toledo, Colegio Oficial de Arquitectos de Cas-
tilla-La Mancha, Delegación de Toledo, 1997.
PORRES MARTÍN-CLETO, J., Historia de Tuleytula, Salamanca, 1985.
RAMÍREZ DE ARELLANO Y DÍAZ DE MORALES, R., Las parroquias de Toledo, Tole-
do, 1921.
RODRÍGUEZ ABUSA, Luis, Toledo insólito. Ensayo sobre lo mágico, oculto y misterioso,
Toledo, Bremen Ediciones, 2003.
TÉLLEZ, G., «El estilo mudéjar toledano», Toletum, XXIV-V, XL, 1946.

268
LA SUPUESTA ENFERMERÍA DEL DESAPARECIDO
HOSPITAL DEL REY DE LA CIUDAD DE BURGOS

María Luisa Concejo Díez*

Situado cerca del Real Monasterio de Las Huelgas, al otro lado del paseo del Pa-
rral de la ciudad de Burgos1, el Hospital del Rey fue fundado por Alfonso VIII y
Leonor Plantagenet (1158-1214) en 12122, año que, coincidiendo con la batalla de las
Navas de Tolosa, los monarcas lo hicieron depender del Real Monasterio de Las
Huelgas. Debió de ser levantado durante los últimos años del siglo XII3, pues en 1199
Alfonso VIII lo hizo depender de la Orden del Cister4. Sabemos que el Hospital ya
estaba construido en 1211, año en el que murió el infante don Fernando, hijo de los
fundadores5. Si Alfonso VIII construyó y fundó este Hospital6, su nieto Fernando

* Hemeroteca Municipal de Madrid.


1. J.A. RODRÍGUEZ ALBO, El Real Monasterio de Santa María la Real de Las Huelgas y el Hospital del
Rey de Burgos, Barcelona, Imprenta de la editorial Librería religiosa, 1943, pp. 41-45: “[...] con destino
a los pobres y a los peregrinos de Santiago de Compostela”.
2. E. FLÓREZ, España Sagrada, Burgos, Ayuntamiento, Imprenta Aldecoa, 1772, 2.ª ed. fac. 1983, tomo
XXVII, pp. 708-709; R. AMADOR DE LOS RÍOS, España, sus monumentos y sus artes. Su naturaleza e his-
toria: Burgos, Barcelona, 1888, pp. 761-762; P. MADOZ, Diccionario geográfico, estadístico, histórico de Es-
paña y sus posesiones de Ultramar, Madrid, 1849, ed. fac. 1989, t. IV, pp. 538-539, y P. DOMINGO JIME-
NO, «Recuerdo histórico de la botica del Hospital del Rey», Boletín de la Institución Fernán González,
1952-1953, p. 57: “El 15 de mayo de 1212 el rey de Castilla, Alfonso VIII, expidió en Burgos la Real Cé-
dula otorgando al Hospital el servicio de socorrer a enfermos y peregrinos”.
3. R. AMADOR DE LOS RÍOS, op. cit., p. 761, y Q. ALDEA VAQUERO, T. MARÍN MARTÍNEZ y J. VIVES GAS-
TELL, Diccionario de Historia Eclesiástica de España, Madrid, Instituto Enrique Flórez, CSIC, 1973, t. III,
p. 1535.
4. E. FLÓREZ, op. cit., pp. 706-708.
5. E. FLÓREZ, op. cit., pp. 698-699: "Había ya manifestado particular propensión á esta Real Casa: es-
taba pues fundada años antes”.
6. L. TORRES BALBÁS, «Las yeserías descubiertas recientemente en Las Huelgas de Burgos», Al-Andalus,
VIII, 1943, p. 231: “Como ocurre con Las Huelgas, todos los testimonios históricos, empezando por los
contemporáneos, atribuyen la construcción a Alfonso VIII. Así se afirma en documentos de la Cancillería
Real de los años 1210, 1212 y 1213”. A. RODRÍGUEZ LÓPEZ, El Real Monasterio de las Huelgas de Bur-
gos y el Hospital del Rey, Burgos, Imprenta del Centro Católico, 1907, t. I, Col. dip. n.º 75 y 105 (c), pp.
430-431 y 490: “El Papa Gregorio IX, en 1235, dice que el Hospital había sido construido y enriqueci-
do por Alfonso VIII y Leonor, lo que repite Sancho IV en un privilegio de 1294”.

269
MARÍA LUISA CONCEJO DÍEZ

III (1217-1252) lo debió continuar, y es a éste a quien debemos considerar su orga-


nizador institucional7.
Durante los siglos XVI y XVII el hospital vivió una época de esplendor, que se
manifestó principalmente en la arquitectura8. Durante la invasión francesa fue sa-
queado y en el siglo XX se demolieron sus restos, estando actualmente su empla-
zamiento ocupado por la facultad de Derecho de la Universidad de Burgos.
Al no conservar el edificio, debemos tener en cuenta los textos escritos de
Amador de los Ríos9; Lampérez y Romea10, quien lo define como el prototipo de
hospital de tipo basilical11, el marqués de Lozoya12 y Torres Balbás13.
Amador de los Ríos y Lampérez y Romea se detienen en explicar cómo en el pa-
tio comúnmente llamado de los Romeros de este hospital había dos puertas geme-
las abocinadas, cuyas arquivoltas se adornaban con dientes de sierra14. Una de ellas
daba paso a la iglesia15, y la otra, conocida como Arcos de la Magdalena, conducía,
según Amador de los Ríos, a “un oscuro departamento” o “cuadra” que identificó
como la primitiva iglesia del hospital16. Posteriormente, cuando apenas se conser-
vaban restos, Lampérez y Romea, al no haber razón para que hubiera dos iglesias
contemporáneas, y ante la existencia de dos puertas idénticas, identificó aquel
“gran edificio que, dentro del tipo basílica, no tiene caracteres de templo”17, como

7. E. FLÓREZ, op. cit., pp. 699-702; A. RODRÍGUEZ LÓPEZ, op. cit., I, Col. dip. n.º 70, pp. 422-423; L. TO-
RRES BALBÁS, «Las yeserías descubiertas recientemente en Las Huelgas...», pp. 231-232, y J. SARMIENTO
LASUÉN, «Hospital del Rey. Alfonso VIII, de Burgos», Boletín de la Institución Fernán González, 1954-
1955, XI, p. 48.
8. V. LAMPÉREZ Y ROMEA, Arquitectura civil española de los siglos I al XVIII, Madrid, Saturnino Ca-
lleja, 1922, p. 262: “El conjunto del hospital es muy caótico, por las enormes y constantes variaciones y
reformas sufridas”.
9. R. AMADOR DE LOS RÍOS, op. cit., pp. 756-762.
10. V. LAMPÉREZ Y ROMEA, op. cit., pp. 253-264.
11. V. LAMPÉREZ Y ROMEA, op. cit., p. 259: “Grandes edificios de piedra, con extensas naves abovedadas
sostenidas por macizas columnas, estrechas ventanas, galería claustral, circundante, en el fondo una ca-
pilla, gran chimenea en el otro frente [...]. Tal es, en términos generales, la descripción literaria de un hos-
pital en la Edad Media. Cotejándola con lo que aun hemos conocido del Rey en Burgos, se establece la
analogía y se rehace el tipo, que no es otro que el de una iglesia [...]”.
12. J. de CONTRERAS, Historia del Arte Hispánico, Barcelona, Salvat, 3.ª ed. 1952 (1934, 2.ª ed. 1940), t.
II, pp. 441-461.
13. L. TORRES BALBÁS, «Las yeserías descubiertas recientemente en Las Huelgas...», pp. 231-232, y «El
Hospital del Rey, en Burgos», Al-Andalus, IX, 1944, pp. 190-198.
14. R. AMADOR DE LOS RÍOS, op. cit., p. 757 y V. LAMPÉREZ Y ROMEA, op. cit., p. 263.
15. V. LAMPÉREZ Y ROMEA, op. cit., pp. 263-264: “La iglesia actual tiene una planta característica: cruz
latina con una sola nave”.
16. R. AMADOR DE LOS RÍOS, op. cit., pp. 757-761.
17. V. LAMPÉREZ Y ROMEA, op. cit., pp. 263-264: “Planta rectangular muy alargada; tres naves separadas
por pilares octogonales; cabecera plana (sin ábsides); en las naves bajas, restos de bóvedas de crucería; en
la alta, arcos fajones atirantados por sendas vigas, que en su nacimiento debieron sostener techos planos
encasetonados, de los cuales uno se conservaba; en el frente de la nave central, un altar con pequeña hor-
nacina para una imagen. Son los elementos inconfundibles de un hospital del siglo XIII: las naves late-
rales para los lechos; la alta nave central para la aireación; el altar del fondo para decir la Misa que los en-
fermos veían desde las camas... Tiene todo esto un carácter marcadísimo de arquitectura civil, innegable.
Creo, pues, con creencia firme, que el recinto llamado Arcos de la Magdalena, demolido por ruinoso hace
tres o cuatro años, era el más auténtico resto del hospital del siglo XIII”.

270
LA SUPUESTA ENFERMERÍA DEL DESAPARECIDO HOSPITAL DEL REY DE LA CIUDAD DE BURGOS

Fig. 1. Planta de la enfermería del Hospital del Rey, en Burgos, siglo XIII. Plano de
Moya –publicado por Lampérez y Romea (1922) y Torres Balbás (1944)–.

la antigua enfermería, y así siguieron identificándola el marqués de Lozoya18, Torres


Balbás19, Monteverde20 y Mazuela21.
La planta de la supuesta enfermería, publicada por Lampérez y Romea22 y To-
rres Balbás23 basada en un dibujo del arquitecto Juan Moya, era rectangular alarga-
da de tipo basilical, dividida en tres naves por pilares octogonales y arcos agudos, que
recuerda a la planta de la sinagoga de Santa María la Blanca de Toledo y a la de la ca-
tedral de Teruel24.
Los capiteles de los pilares se adornaban con yeserías mudéjares25, de las que con-
servamos algunas expuestas, todavía con restos de policromía, en la capilla de la

18. J. de CONTRERAS, op. cit., pp. 441-443.


19. L. TORRES BALBÁS, «El Hospital del Rey...», p. 191.
20. J.L. MONTEVERDE, «Esquema de cómo fue el Hospital del Rey de Burgos», Boletín de la Institución
Fernán González, 1960-1961, XIV, p. 454, y «Algunas notas sueltas sobre la antigua vía de Santiago a su
paso por la provincia de Burgos», Boletín de la Institución Fernán González, 1964-1965, XVI, p. 133.
21. R. MAZUELA, «Arte Mudéjar en Burgos: Las huellas musulmanas en Las Huelgas y en el Hospital
del Rey», Reales Sitios, 2.º trimestre de 1987, 92, pp. 37-44: “La enfermería estaba dividida en tres naves,
la del medio tuvo una riquísima techumbre de trazo mudéjar, con nueve pechinas y frisos de yesería col-
gantes”.
22. V. LAMPÉREZ Y ROMEA, op. cit., p. 260.
23. L. TORRES BALBÁS, «El Hospital del Rey...», p. 192.
24. Ibídem, pp. 191-197; J. de CONTRERAS, op. cit., pp. 441 y 461.
25. R. AMADOR DE LOS RÍOS, op. cit., pp. 760-761: “Preciso se hace penetrar en los oscuros departamentos
que sirven hoy de cuadra, para admirar en ellos peregrinos ejemplos de aquel estilo mudéjar, que res-
plandece sobre todo en los bellísimos capiteles de yesería, cuajados de encaje, y donde sobre el labrado
ataurique que constituye el fondo, resaltan recortados con gran arte y destreza el castillo y el león, em-
blemas de los reinos que unió para siempre San Fernando [...] resaltan trazadas en caracteres cúfico-flo-
ridos, propios de la XIII centuria y análogos en su dibujo y en su desarrollo á los de la puerta de la ca-
pilla de San Salvador en el Monasterio de Las Huelgas, algunas palabras arábigas, restos de la vulgar
leyenda que hubo de recorrer el capitel en sus varios frentes [...]”.

271
MARÍA LUISA CONCEJO DÍEZ

Fig. 2. Yesería de los capiteles de la en- Fig. 3. Yeserías de las bóvedas del claus-
fermería del Hospital del Rey, expuesta tro de San Fernando en el monasterio de
en la capilla de la Asunción del monaste- Las Huelgas, siglo XIII.
rio de Las Huelgas, siglo XIII.

Asunción del Real Monasterio de Las Huelgas26. Se representan en ellas castillos so-
bre fondo de hojas digitadas y anilladas, plenamente configuradas, idénticas a las que
constituyen el fondo de las yeserías de las bóvedas del claustro de San Fernando del
mismo monasterio27, y los castillos son idénticos los unos a los otros. Se levantan so-
bre una plataforma y se componen de una barbacana con una puerta central desta-
cada constituida por un arco, ya sea de medio punto, peraltado o incluso geminado.
Cenefas con motivos zigzagueantes, almenas agrupadas de tres en tres y óculos cie-
gos complementan la barbacana. Las torres laterales y la torre de homenaje llevan

26. V. LAMPÉREZ Y ROMEA, op. cit., pp. 263-264: “Los pilares octogonales son de piedra, con capitel liso;
sobre él se pusieron (acaso en el siglo XIV) unas lujosas composiciones de estuco, con castillos y leones
entre una flora complicadísima, de marcado sabor mudéjar”, y J.L. MONTEVERDE, «Esquema de cómo
fue el Hospital del Rey...», p. 454: “[...] capiteles con atauriques mudéjares de los cuales se conservan al-
gunos trozos en el Monasterio de Huelgas”.
27. L. TORRES BALBÁS, «Las yeserías descubiertas recientemente en Las Huelgas...», p. 231: “El Hospi-
tal del Rey tuvo decoraciones tan semejantes a las del claustro cisterciense, que hay que suponerlas obra
de los mismos artistas. Embellecían la antigua enfermería [...], de la que tan sólo subsisten unos fragmentos
de decoración, de yeso guardados en Las Huelgas. Algunos capiteles ostentaban castillos y leones, labrados
con poca finura, en la misma piedra; otros, recubriéronse de labores de yeso con representaciones de cas-
tillos y atauriques idénticos a los del claustro de San Fernando. El pilar octogonal, cuyo capitel osten-
taba castillos y leones, debió esculpirse después de 1230, fecha de unión de los dos reinos peninsulares”.
Y «El Hospital del Rey...», pp. 191-197: “De arte mudéjar eran las decoraciones de yeso, tan semejantes
a las aparecidas en el claustro de San Fernando del Monasterio de Las Huelgas, que hay que suponerlas
del mismo taller y de época inmediata, es decir, de los treinta años posteriores a 1230, fecha de la unión
de los dos reinos peninsulares, y límite que fija la existencia de leones junto a los castillos entre las de-
coraciones de yeso de los capiteles. La enfermería debió, pues, de levantarse en el reinado de Fernan-
do III”.

272
LA SUPUESTA ENFERMERÍA DEL DESAPARECIDO HOSPITAL DEL REY DE LA CIUDAD DE BURGOS

simples vanos o geminados y como remate las mismas cenefas y almenas. En algu-
nas yeserías se observan todavía restos de policromía.
Arcos fajones se levantaban sobre los capiteles28, y encima de ellos, para salvar la
diferencia de nivel, pues todos los pilares no eran de la misma altura, se dispusieron

Fig. 4. Sección trasversal de la enfermería del Hospital


del Rey, según el plano de Moya.

Fig. 5. Tirante de un arco del Hospital del Rey, conservado en


la capilla de la Asunción del monasterio de Las Huelgas.

28. L. TORRES BALBÁS, «El Hospital del Rey...», pp. 192-193.

273
MARÍA LUISA CONCEJO DÍEZ

columnas empotradas29, o unos segundos pilares según Lampérez y Romea30, cuya


superposición de sistemas de soportes nos lleva a relacionarla con la mezquita de Cór-
doba. Encima de los capiteles de los pilares de la nave central, y por delante de las
mencionadas columnas empotradas, se situaban, tal y como se puede apreciar en la
sección transversal del plano de Moya, unas estatuas o ménsulas de yeso que simu-
laban grandes animales31. Los capiteles de las segundas columnas eran “de arte oc-
cidental”32, y encima de éstos se situaban “grandes cabezas de animales cuyas bocas
mordían los tirantes del arco, de madera, moldurados con yeso”33, de las cuales con-
servamos una, todavía con restos de policromía, expuesta en la capilla de la Asun-
ción del monasterio de Las Huelgas.
Las naves debieron de tener techumbres de madera34, aunque es probable que su-
frieran varias reformas35. Tal y como se aprecia en la planta, tres arcos laterales cor-
taban el último tramo de las naves, originando una cabecera plana tripartita cuyo tes-
tero central originaba “un pequeño nicho semicircular entre dos pilastras, con
disposición que recuerda el mihrab de una mezquita”36. Bóvedas de ojiva cubrían los
dos extremos y un techo de madera horizontal, a mayor altura, el de en medio. Al
parecer37, éste se levantaba sobre un friso de mocárabes, y estaba invadido por nue-
ve cupulillas, igualmente de mocárabes. Entre ellas, sobre el tablero horizontal, “se

29. Ibídem, p. 193.


30. V. LAMPÉREZ Y ROMEA, op. cit., p. 264.
31. Ibídem, pp. 263-264: “Cabalgaban en estos capiteles unas grandes bichas de yeso”, y L. TORRES BAL-
BÁS, «El Hospital del Rey...», pp. 191-197: “Sobre los pilares de la nave central de la enfermería, y por de-
lante de las columnas empotradas, se veían grandes y peludos animales tallados en yeso”.
32. L. TORRES BALBÁS, «El Hospital del Rey...», p. 193.
33. V. LAMPÉREZ Y ROMEA, op. cit., pp. 263-264, y L. TORRES BALBÁS, «El Hospital del Rey...», p. 193:
“Al estilo gótico usado en tierras burgalesas en la primera mitad del siglo XIII pertenecía la disposición
general de la enfermería, la puerta de entrada, la bóveda de ojivas, la moldura de pilares y arcos, el tra-
zado de éstos y los capiteles de los transversales de la nave central, corrientes en la arquitectura gótica ci-
vil francesa, pero muy poco usados en España, son los tirantes de madera situados en el arranque de los
arcos”, y p. 197: “En el arranque de los arcos transversales, había tirantes de madera cuyos extremos sa-
lían de las bocas de los animales monstruosos de yeso”.
34. V. LAMPÉREZ Y ROMEA, op. cit., pp. 263-264: “En las naves bajas, restos de bóvedas de crucería, en
la alta, arcos fajones atirantados por sendas vigas, que en su nacimiento debieron sostener techos planos
encasetonados, de los cuales uno se conserva”. L. TORRES BALBÁS, «El Hospital del Rey...», pp. 192-193,
y «Las yeserías descubiertas recientemente en Las Huelgas...», p. 231: “Era un gran salón rectangular di-
vidido en tres naves longitudinales por pilares ochavados de piedra, unidos por arcos y cubierto por una
rica techumbre de casetones. Las naves extremas terminaban en sendos tramos cubiertos con bóvedas de
ojivas, cuyo perfil era el usado corrientemente hacia 1225”.
35. J.L. MONTEVERDE, «Esquema de cómo fue el Hospital del Rey...», p. 454: “Se hicieron varias refor-
mas, cuyos restos dan diversas variaciones, desde unas pilastras con escudos de la época de Alfonso X,
más bajas que las restantes del tiempo de Felipe II, siendo difícil darse cuenta de como se techaron estas
naves”.
36. L. TORRES BALBÁS, «El Hospital del Rey...», pp. 192-193 y «Las yeserías descubiertas recientemen-
te en Las Huelgas...», p. 231.
37. R. AMADOR DE LOS RÍOS, op. cit., pp. 758-759: “Donde se manifiesta con mayor eficacia la antigüe-
dad del primitivo templo, restaurado seguramente ya por San Fernando, es en las ruinosas y abandona-
das estancias que se abren al costado de la derecha, donde se admira una riquísima techumbre de traza
mudéjar, con nueve pechinas, frisos de yesería de colgantes y capiteles en piedra de estilo románico”.

274
LA SUPUESTA ENFERMERÍA DEL DESAPARECIDO HOSPITAL DEL REY DE LA CIUDAD DE BURGOS

Fig. 6. Testero central de la enfermería del Hospital del Rey. Detalle de la techum-
bre del siglo XIII. Dibujos de I. Gil –publicados por Amador de los Ríos (1888) y
Torres Balbás (1944)–.

sobrepusieron, siguiendo el sistema ataujerado, una serie de piezas dibujando polí-


gonos estrellados”38.
Los mocárabes de esta techumbre tienen su antecedente inmediato en las tres bo-
vedillas de mocárabes en yeso del acceso o nave transversal de la capilla de la Asun-
ción del cercano monasterio de Las Huelgas, fechadas a partir de 1212, tras la bata-
lla de las Navas de Tolosa, y 1214, año del fallecimiento de Alfonso VIII y su mujer.
Debemos relacionar estas bovedillas con las que adornan el intradós de uno de los
arcos de la mezquita de la Kutubiyya de Marrakech, y debemos considerarlas el pre-
cedente inmediato de la bóveda de mocárabes en yeso de la capilla del Salvador ubi-

38. L. TORRES BALBÁS, «El Hospital del Rey...», p. 196: “Octógonos, recortados en el tablero plano del
techo, servían de asiento a variados cupulines, de los cuales imitaban unas pequeñas boveditas de mocá-
rabes, mientras en el fondo otros se tallaron rosas de lóbulos cóncavos, y alguno había que en sus redu-
cidas dimensiones copiaba las bóvedas de arcos entrecruzados de Córdoba y Toledo. Entre estos octó-
gonos, sobre el tablero horizontal, se sobrepusieron, siguiendo el sistema ataujerado, una serie de
piezas dibujando polígonos estrellados, con una estrella de ocho puntas en su centro y una rosa de ló-
bulos en su interior, mientras que las restantes piezas tenían tallas de ataurique. Descansaba el techo, que
estaría policromado, sobre un gran friso de mocárabes”.

275
MARÍA LUISA CONCEJO DÍEZ

cada en el mismo monasterio, repintada sucesivas veces, y de ésta que aquí tratamos
del testero central de la antigua enfermería del hospital de Rey, estas dos últimas no
muy lejanas en el tiempo, en torno al año 1236, tras la reconquista de la ciudad de
Córdoba.

Fig. 7. Bovedillas de mocárabes en yeso en la nave transver-


sal o acceso a la capilla de la Asunción del monasterio de Las
Huelgas, fechada entre el año 1212, tras la batalla de las Na-
vas de Tolosa, y el 1214, fallecimiento de los fundadores.

Fig. 8. Bóveda de mocárabes en yeso de la capilla del Salvador


del monasterio de Las Huelgas, hacia 1236.

276
LA SUPUESTA ENFERMERÍA DEL DESAPARECIDO HOSPITAL DEL REY DE LA CIUDAD DE BURGOS

Anteriores a éstas, las bóvedas de mocárabes en yeso más antiguas que se cono-
cen en España39 son la de la casa n.º 3 del patio de Banderas del alcázar de Sevilla, de
la segunda mitad del siglo XII, que debemos relacionar con la del mihrab de la mez-
quita de Tremecén40 y la del vestíbulo oriental del patio de la mezquita de Sevilla, ac-
tualmente claustro de los Naranjos41. Ya en siglo XIII, pero posteriores a las bóve-
das burgalesas, se construyó entre 1258 y 1267 la bóveda de mocárabes de la capilla
real de la mezquita de Córdoba y la decoración del cuarto real de Santo Domingo
de Granada, que Gómez-Moreno define como obra cumbre del siglo XIII42.
Además de frisos y cupulines de mocárabes, esta techumbre de madera del tes-
tero central de la antigua enfermería del Hospital del Rey se caracterizaba por su téc-
nica ataujerada, lo que llevó a Torres Balbás a definirla como una “obra insólita”. “No
existe ninguna otra del siglo XIII a la que se asemeje. A principios del siguiente, una
en el Generalife y parte de otra en el pórtico del Partal, en la Alhambra de Grana-
da, tienen la misma técnica ataujerada, y disposición muy parecida con un tablero
horizontal calado por cupulines octogonales de mocárabes”43.
Construida en tiempos de Fernando III a partir de 123044, año de unión del rei-
no de Castilla y León, tal y como muestran las armas representadas en las yeserías,
debemos relacionar la supuesta enfermería del Hospital del Rey con las yeserías de
las bóvedas del claustro de San Fernando y con la bóveda de la capilla del Salvador
del Real Monasterio de Las Huelgas, todas ellas más o menos contemporáneas. “Se-
gún los versos de D. Alfonso el Sabio, corresponde decir que el Hospital se labra-
ba al mismo tiempo que el Monasterio”45.
Lástima que durante la invasión francesa este hospital fuese saqueado y que en
el siglo XX se demolieran sus restos46, pues la desaparición de aquel “oscuro de-

39. L. TORRES BALBÁS, «Las yeserías descubiertas recientemente en Las Huelgas...», p. 241, n. 1.
40. L. TORRES BALBÁS, Arte Almorávide y almohade, Madrid, Instituto de Estudios Africanos, 1955, lám.
7 y p. 40.
41. Ibídem, p. 28.
42. M. GÓMEZ-MORENO, «Arte del Islam», Historia del Arte, Madrid-Barcelona, Labor, 1932, tomo V,
p. 85.
43. L. TORRES BALBÁS, «El Hospital del Rey...», p. 197.
44. A. RODRÍGUEZ LÓPEZ, op. cit., I, Col. dip. n.º 75, pp. 430-431, y L. TORRES BALBÁS, «Las yeserías
descubiertas recientemente en Las Huelgas...», p. 232: “El único indicio documental que pudiera referirse
a las obras que supongo hechas en el hospital hacia 1230 es una concesión de Fernando III, en 1228, de
cincuenta modios ad opus Hospitalis”. Y «El Hospital del Rey...», p. 195: “Los leones y castillos repre-
sentados en estas yeserías nos hacen sospechar que fueron realizadas después del año 1230, fecha de unión
de los dos reinos peninsulares. La enfermería debió, pues, de levantarse en el reinado de Fernando III”.
45. E. FLÓREZ, op. cit., pp. 698-699.
46. L. TORRES BALBÁS, «El Hospital del Rey...», p. 197, y Algunos aspectos del mudejarismo urbano me-
dieval, Madrid, Real Academia de la Historia, 1954, p. 34: “[...] yeseros y carpinteros moros dejaron mues-
tras importantes de su arte, pero, bárbaramente abandonado el edificio, desapareció algo menos de me-
dio siglo”. J. GUERRERO LOVILLO, «Un arquitecto poco conocido en el Hospital del Rey», Boletín de la
Comisión Provincial de Monumentos Históricos y Artísticos de Burgos, 1950-1951, IX, p. 216. J.A. GAYA
NUÑO, Burgos. Guías Artísticas de España, Barcelona, Aries, 1978, pp. 21-25: “Es difícil rastrear restos
anteriores al siglo XVI, pues en 1918 se demolieron los vestigios de la enfermería, interesantísima cons-
trucción que componían tres naves cubiertas con crucerías sobre pilares ochavados y capiteles en que pre-
dominaban los motivos heráldicos, datables del siglo XIII”. R. MAZUELA, op. cit., p. 42: “Lo que más nos
interesa es una estancia que aún existía a principios de este siglo, llamada Arcos de la Magdalena y que
ha sido identificada como sala de enfermería. Hacia 1910 se mandó derribar, quedando solo unos frag-
mentos de decoración de yeso en Las Huelgas”.

277
MARÍA LUISA CONCEJO DÍEZ

partamento” o “cuadra”, identificada como la enfermería, con sus yeserías y te-


chumbre mudéjar, supone una gran pérdida para el conjunto del arte mudéjar bur-
galés.

BIBLIOGRAFÍA

ALDEA VAQUERO, Quintín, MARÍN MARTÍNEZ, Tomás y VIVES GATELL, José, Dic-
cionario de Historia Eclesiástica de España, Madrid, Instituto Enrique Flórez,
CSIC, 1973, t. III, pp. 1535-1536.
AMADOR DE LOS RÍOS, Rodrigo, «Estudios Arqueológicos de la provincia de Bur-
gos: Covarrubias», Revista de España, Vigésimo año, tomo CXVIII, sept.-oct.
1847, p. 370.
AMADOR DE LOS RÍOS, Rodrigo, España, sus monumentos y sus artes. Su naturale-
za e historia: Burgos, Barcelona, Daniel Cortezo y Compañía, 1888, pp. 756-762.
AYALA LÓPEZ, Manuel, La ciudad de Burgos, Burgos, Aldecoa, 1952, pp. 119-120.
AZCÁRATE RISTORI, José María, Monumentos Españoles. Catálogo de los declarados
histórico-artísticos, Madrid, CSIC-Instituto Diego Velázquez, 2.ª ed. 1954, t. I, pp.
221-223.
Catalogo Monumental de Castilla y León. Bienes inmuebles declarados, Salamanca,
Junta de Castilla y León, Consejería de Cultura y Turismo, 1995, t. I, Burgos, pp.
136-137.
CONTRERAS, Juan de (Marqués de Lozoya), Historia del Arte Hispánico, Barcelona,
Salvat, 3.ª ed. 1952 (1934, 2.ª ed. 1940), t. II, pp. 439-468.
DOMINGO JIMENO, Pascual, «Recuerdo histórico de la botica del Hospital del
Rey», Boletín de la Institución Fernán González, 1952-1953, t. X, pp. 56-71.
DOMINGO JIMENO, Pascual, «Cerámica farmacéutica del Hospital del Rey, de Bur-
gos», Boletín de la Institución Fernán González, 1954-1955, t. XI, pp. 882-884.
FLÓREZ, Enrique, España Sagrada, Burgos, Ayuntamiento, imprenta Aldecoa,
1772, 2.ª ed. fac. 1983, tomo XXVII, pp. 698-709.
GAYA NUÑO, Juan Antonio, Burgos. Guías Artísticas de España, Barcelona, Aries,
1978, pp. 21-25.
GÓMEZ-MORENO, Manuel, «Arte del Islam», Historia del Arte, Madrid-Barcelona,
Labor, 1932, tomo V.
GÓMEZ MORENO, María Elena, VERRIÉ, F.P. y CIRICI PELLICER, A. (comp.), Mil jo-
yas del arte español: piezas selectas. Monumentos magistrales, Barcelona, Publi-
caciones del Instituto Gallach de Librería y Ediciones, 1948, II, pp. 29-30 y 53.
GUERRERO LOVILLO, José, «Un arquitecto poco conocido en el Hospital del Rey»,
Boletín de la Comisión Provincial de Monumentos Históricos y Artísticos de Bur-
gos, 1950-1951, IX, pp. 216-224.
IBÁÑEZ PÉREZ, Alberto Carlos, Arquitectura civil del siglo XVI en Burgos, Burgos,
Caja de Ahorros Municipal, 1977.
LAMPÉREZ Y ROMEA, Vicente, Arquitectura civil española de los siglos I al XVIII, Ma-
drid, Saturnino Calleja, 1922, pp. 253-264.
LÓPEZ MATA, Teófilo, La provincia de Burgos, en la geografía y en la historia, Bur-
gos, Hijos de Santiago Rodríguez, 1963, pp. 273-276.

278
LA SUPUESTA ENFERMERÍA DEL DESAPARECIDO HOSPITAL DEL REY DE LA CIUDAD DE BURGOS

MADOZ, Pascual, Diccionario geográfico, estadístico, histórico de España y sus pose-


siones de ultramar, Madrid, 1849, ed. fac. 1989, tomo IV, pp. 538-539.
MAZUELA, Rosario, «Arte Mudéjar en Burgos: Las huellas musulmanas en Las Huel-
gas y en el Hospital del Rey», Reales Sitios, 92, 2.º trimestre de 1987, pp. 37-44.
MONTEVERDE, José Luis, «Esquema de cómo fue el Hospital del Rey de Burgos»,
Boletín de la Institución Fernán González, 1960-1961, XIV, pp. 452-456.
MONTEVERDE, José Luis, «Algunas notas sueltas sobre la antigua vía de Santiago a
su paso por la provincia de Burgos», Boletín de la Institución Fernán González,
1964-1965, XVI, pp. 129-135.
NAVEROS, José Miguel, Rutas de España: Soria, Burgos, Palencia, León, Zamora,
Valladolid, Madrid, Publicaciones Españolas, 1966, p. 82.
ONTAÑÓN, Eduado de, «Burgos», Enciclopedia Gráfica, Barcelona, Cervantes,
1930, III, pp. 35-37.
RODRÍGUEZ ALBO, Juan Antonio, El Real Monasterio de Santa María la Real de Las
Huelgas y el Hospital del Rey de Burgos, Barcelona, Imprenta de la editorial Li-
brería religiosa, 1943, pp. 41-45.
RODRÍGUEZ LÓPEZ, Amancio, El Real Monasterio de las Huelgas de Burgos y el Hos-
pital del Rey, Burgos, Imprenta del Centro Católico, 1907, tomo I, Col. dip. n.º
70, pp. 422-423; n.º 75 y 105, pp. 430-431 y 490.
SARMIENTO LASUÉN, José, «Hospital del Rey. Afonso VIII, de Burgos», Boletín de
la Institución Fernán González, 1954-1955, XI, p. 48.
TORRES BALBÁS, Leopoldo, «Las yeserías descubiertas recientemente en Las Huel-
gas de Burgos», Al-Andalus, VIII, 1943, pp. 209-254.
TORRES BALBÁS, Leopoldo, «El Hospital del Rey, en Burgos», Al-Andalus, IX, 1944,
pp. 190-198.
TORRES BALBÁS, Leopoldo, Algunos aspectos del mudejarismo urbano medieval, Ma-
drid, Real Academia de la Historia, 1954.
TORRES BALBÁS, Leopoldo, Arte almorávide y almohade, Madrid, Instituto de Es-
tudios Africanos, 1955.
VV.AA., Ciclo de Conferencias sobre el Románico y el Camino de Santiago, Palen-
cia, Diputación Provincial, 1983.

279
TORRES MUDÉJARES DE LA ANTIGUA DIÓCESIS
DE ÁVILA. APROXIMACIÓN A SU ESTUDIO

Ignacio Hernández García de la Barrera*

INTRODUCCIÓN

El tema y tratamiento de esta comunicación se basan en dos hechos que carac-


terizan la realidad del patrimonio mudéjar morañego. De una parte, la ausencia de
estudios específicos sobre unos elementos tan característicos de esta riqueza como
son las torres de los templos. De otra, intentar aportar o sugerir puntos de vista que
inviten a la reflexión, al debate, que hagan necesario un trabajo más profundo y que
ayuden a superar una situación de cierto estancamiento en la que una y otra vez se
viene citando y refiriendo a los mismos autores.
Es por tanto una propuesta abierta a discusión desde muchos puntos de vista, una
propuesta que pretende compendiar lo dicho hasta ahora y avanzar en la caracteri-
zación de las torres. Así, el ámbito geográfico elegido abarca lo que fue la antigua dió-
cesis de Ávila, debido esto a la necesidad de acercarse más a la realidad que se vivía
en los momentos en que se construyeron muchos de los elementos aquí incluidos,
aquellos años de restauración de la silla episcopal. Por otro lado, se pretende crear
una sistematización de estos elementos que permita, en lo que se pueda, facilitar su
acercamiento, estudio y comprensión.
No se trata por tanto de corregir ni criticar a nadie, se habla de hacer un cesto con
los mismos mimbres. Este es el mío, que el tiempo, sin duda, enmendará.
No puedo terminar estas primeras palabras sin acordarme de los culpables de es-
tar embarcado en esta aventura de la albañilería medieval, José Luis Gutiérrez Ro-
bledo e Isabel López Fernández, para ellos todo lo que puedan tener de bueno las
siguientes páginas.

* Historiador del Arte. Fundación Santa María La Real-CER.

281
IGNACIO HERNÁNDEZ GARCÍA DE LA BARRERA

EL TERRITORIO DE LA DIÓCESIS DE ÁVILA

La elección de este marco geográfico es un elemento cargado de subjetividad, y,


por tanto, sujeto a corrección, si bien ha sido recogido abundantemente por la his-
toriografía moderna el hecho de la confusa visión que origina un acercamiento a la
realidad de los espacios medievales desde las divisiones territoriales decimonónicas,
pues las realidades eran otras. No soy ajeno a que esta subjetividad pueda a su vez
ocasionar confusión, las peculiaridades de la sociedad medieval –en este caso refe-
ridas al ámbito constructivo– hacen pecar de ingenua esta elección, más si, cono-
ciendo la opinión de autores contrastados, parece que el ámbito de aproximación a
dicha realidad debería abarcar el sur del Duero, pero la tierra tira y no parece de-
sacertado centrarnos al menos en una zona concreta de tan amplio espacio, sin que-
rer ni pretender tomar la parte por el todo.
Al tratar la historia de la diócesis abulense es obligado referirse a un profesor re-
cientemente fallecido, a quien todos los que de una manera u otra tratamos estos te-
mas debemos mucho. Ángel Barrios García reunió en sus páginas el saber erudito,
el trabajo concienzudo y el espíritu pedagógico que hacen de su lectura y relectura
tarea indispensable para el interesado en la historia medieval de estas tierras. Su ma-
gisterio, sin duda, perdurará mientras no se pierda ese interés.
Para este autor, los momentos anteriores a la conquista definitiva (Alfonso VI,
c. 1085) por parte del poder cristiano debieron de ser prolongación de lo vivido en
siglos anteriores, donde si bien parece aceptarse que no se produjo una despoblación
absoluta, sí que estuvo presente una desorganización social generalizada, estado al
que hace referencia la conocida expresión “despoblada y yerma”, que Fernando I em-
pleó para calificar el estado de la ciudad, y que podría hacerse extensiva al resto del
territorio.
Es a partir de la toma de Toledo cuando se produce la revitalización de este es-
pacio, toda vez que el monarca encarga a su yerno, Raimundo de Borgoña, las ta-
reas de repoblación. Como bien dice el profesor Barrios, este es el momento de na-
cimiento o consolidación de la mayoría de las localidades abulenses1, caracterizadas
por su abultado número y sus reducidas dimensiones, anticipándose ligeramente las
situadas más al norte, donde más tempranamente se dieron condiciones de seguri-
dad y estabilidad. A partir de este momento, hasta mediados del siglo XIII se pro-
dujo un importante aumento de población, de diferente origen, de distinta etnia, pero
con unas necesidades comunes, que motivó un enorme desarrollo constructivo en
todos los ámbitos.
Se produce por tanto a partir del último cuarto del siglo XII la reorganización
de estos territorios, empleando el establecimiento de las comunidades de Villa y Tie-
rra, sistema además que servía para ordenar el espacio tanto desde el punto de vis-
ta político como eclesiástico. Como bien apunta Martínez Díez para el caso de Ávila,
“Dada la coincidencia casi perfecta entre diócesis y comunidad, hemos preferido se-
guir la división eclesiástica, por una doble razón: primero, por su mayor permanencia

1. Á. BARRIOS GARCÍA, «Los territorios abulenses durante el periodo románico», Enciclopedia del Ro-
mánico de Castilla y León. Ávila, Aguilar de Campoo, Fundación Santa María La Real-Centro de Estudios
del Románico, 2002, p. 19.

282
TORRES MUDÉJARES DE LA ANTIGUA DIÓCESIS DE ÁVILA. APROXIMACIÓN A SU ESTUDIO

histórica, invariable desde los orígenes hasta casi nuestros días, y en segundo lugar,
por su perfecta adaptación a las comarcas naturales”2 (a pesar de las peculiaridades
que presenta el caso de Olmedo, que luego se verá).
Sin querer detenerme demasiado en detallar fechas concretas, pero consideran-
do necesario puntualizar alguna de ellas, traigo aquí un breve repertorio:
– 1090. Alfonso VI otorga al obispo de Palencia la jurisdicción de Arévalo y Ol-
medo (confirmada por Alfonso VII en 1130)3.
– 1121. Consta la presencia de un prelado abulense, Sancho4.
– c. 1140. Arévalo y Olmedo pasan a incluirse en la diócesis de Ávila5.
– 1157-1230. Separación de los reinos de León y Castilla6.
– c. 1140-1250. Límites cronológicos del primer mudéjar abulense, según Gu-
tiérrez Robledo7.
Contaba pues Ávila desde la primera mitad del siglo XII con una restituida si-
lla episcopal, que llegó a abarcar el espacio perteneciente a las comunidades de Aré-
valo, Olmedo y Ávila (desde Olmedo a Plasencia8, para hacerse una idea), que en bre-
ve se organizó eclesiásticamente con los arcedianatos correspondientes a cada una de
las comunidades antedichas.
Difieren ligeramente las cifras del número de núcleos de población que presen-
taba cada arcedianato, según los distintos autores. Barrios García se refiere a 101 pue-
blos para el de Arévalo, 47 para Olmedo (diez de ellos, denominadas medianas, eran
iglesias que alternaban anualmente su pertenencia a Salamanca y Ávila)9 y nada me-
nos que 275 en el de Ávila, que contó posteriormente con algo más de cincuenta nue-
vas localidades al extenderse hacia terrenos más meridionales. Hay que señalar que
cerca del sesenta por ciento de estos núcleos han desaparecido.

LAS TORRES COMO OBJETO DE INVESTIGACIÓN

Dos son los elementos tipológicos que mejor y en mayor número nos han llegado
como testimonio de lo que denominamos arquitectura mudéjar morañega: los áb-
sides y las torres. También dos son los problemas que más veces se han puesto so-
bre la mesa a la hora de acercarnos al estudio de estos elementos: el vacío documental
y lo fragmentado de los restos. Esto no ha sido sin embargo óbice para contar con
una bibliografía de entidad dedicada a la materia, tanto desde un punto de vista ge-

2. G. MARTÍNEZ DÍEZ, Las Comunidades de Villa y Tierra de la Extremadura Castellana, Madrid, Ed.
Nacional, 1983, p. 567.
3. G. MARTÍNEZ DÍEZ, op. cit., pp. 518 y 536.
4. Á. BARRIOS GARCÍA, op. cit., p. 33.
5. Ibídem, p. 36.
6. J.L. GUTIÉRREZ ROBLEDO, Sobre el mudéjar en la provincia de Ávila, Ávila, Fundación Cultural San-
ta Teresa-Instituto de Arquitectura Juan de Herrera, 2001, p. 10.
7. Ibídem.
8. G. MARTÍNEZ DÍEZ, op. cit., p. 554.
9. Á. BARRIOS GARCÍA, op. cit., p. 254.

283
IGNACIO HERNÁNDEZ GARCÍA DE LA BARRERA

neral10 como aquellos estudios centrados en aspectos concretos de la materia11. Re-


sulta también paradójico que las torres no hayan merecido estudios específicos de
la misma profundidad a los realizados sobre los ábsides, si bien en todas las obras
reseñadas se les dedica algún apartado e, incluso, se pone de manifiesto la necesidad
de la realización de ese trabajo12.
La caracterización más completa de estos elementos es la propuesta por Sánchez
Trujillano: “Son de planta cuadrada y se dividen horizontalmente en tres o cuatro
pisos totalmente ciegos o con pequeños huecos de iluminación a modo de saeteras
pero sin ningún realce arquitectónico o decorativo, de modo que al exterior no ofre-
cen más que los muros lisos. El único cuerpo de vanos es el último, el campanario,
que se abre por lo general con dos arcos por cada cara y en algunos casos en otro
cuerpo más, esta vez retranqueado. El remate de las torres sobre este cuerpo de cam-
panas debía ser originariamente en terraza [...] Los pisos van cubiertos con bóveda
de cañón o cañón apuntado pero hay también cúpulas [...] También hay subdivisiones
por medio de techos de madera [...] Los accesos entre los pisos se hace mediante es-
caleras de madera [...] y más frecuentemente por estrechas escaleras de fábrica
practicadas en el grosor de uno de los muros y cubiertas con cortos tramos de ca-
ñón que se va escalonando para ganar altura. La escalera de caracol aparece excep-
cionalmente [...]”13.
A partir de esta descripción, del todo acertada, plantearé una propuesta de sis-
tematización basada en tres aspectos que hay que tener en cuenta a la hora de acer-
carse a las torres de la antigua diócesis. Estos aspectos son: los materiales, la ubica-
ción y la estructura.

Materiales

Los materiales con que se trabaja son los considerados típicos de la arquitectu-
ra de estas comarcas: ladrillo, mampuesto, calicanto, madera..., materiales por tan-
to que desde pronto pertenecieron a la cultura y al paisaje popular de esta arqui-
tectura. Pero estos materiales no se emplean de la misma manera a lo largo del tiempo;

10. M. GÓMEZ MORENO, Catálogo Monumental de la Provincia de Ávila, Ávila, Institución Gran Du-
que de Alba, 1983 (reed. 2002); C. LUIS LÓPEZ, J.L. GUTIÉRREZ ROBLEDO, M. REVILLA RUJAS y T. GÓ-
MEZ ESPINOSA, Guía del románico de Ávila y primer mudéjar de La Moraña, Ávila, Institución Gran Du-
que de Alba, 1982; J.L. GUTIÉRREZ ROBLEDO, op. cit.; M.ªI. LÓPEZ FERNÁNDEZ, La arquitectura
mudéjar en Ávila, Ávila, Institución Gran Duque de Alba, 2004; J.A. RUIZ HERNANDO, La arquitectu-
ra de ladrillo en la provincia de Segovia. Siglos XII y XIII, Segovia, Excma. Diputación Provincial de Se-
govia, 1988.
11. Imposible resulta citar a todos, pero hay que destacar las aportaciones de: M.ªT. Sánchez Trujillano,
M. Valdés Fernández, J.C. Frutos Cuchillero, P.J. Lavado Paradinas, M. Fernández-Shaw Toda, M.ªT. Pé-
rez Higuera, R. Guerra Sancho o J. Díaz de la Torre, entre otros.
12. J.C. FRUTOS CUCHILLERO, «Arquitectura mudéjar en el partido judicial de Arévalo», Actas del I Sim-
posio Internacional de Mudejarismo (1975), Teruel-Madrid, Diputación Provincial de Teruel-CSIC, 1981,
p. 421; J.L. GUTIÉRREZ ROBLEDO, op. cit., p. 13; M.ªI. LÓPEZ FERNÁNDEZ, op. cit., p. 83.
13. M.ªT. SÁNCHEZ TRUJILLANO, «Materiales y técnicas en el arte mudéjar de La Moraña», Actas del III
Simposio Internacional de Mudejarismo (1984), Teruel, Instituto de Estudios Turolenses, 1986, pp. 367-368.

284
TORRES MUDÉJARES DE LA ANTIGUA DIÓCESIS DE ÁVILA. APROXIMACIÓN A SU ESTUDIO

el ladrillo, por ejemplo, se puede caracterizar por sus medidas, sus proporciones y,
sobre todo, por la calidad de su tierra y su cocción. Con el primer aspecto hay que
ser prudente, porque se van a encontrar las mismas medidas en épocas muy distin-
tas (principalmente el que ronda los 35 x 17 x 4,5 cm), pero desde 25 cm de longi-
tud en adelante se puede encontrar prácticamente cualquier medida, eso sí, casi siem-
pre respetando la proporción 2 a 114. En mi opinión, puede ser más útil detenerse en
comprobar la textura del ladrillo y la homogeneidad de su cocción. Considero que
los ejemplos más antiguos disponen de unos ladrillos de grano fino y cocción muy
homogénea, posiblemente motivado por un proceso lento. Similares características
atribuyo al mortero de llagas y tendeles (un estudio técnico detallado, que se esca-
pa a mis posibilidades, de este aspecto sería de gran utilidad), añadiendo aquí ade-
más su diferente disposición formal. Así, en los mismos ejemplos arriba referidos se
puede comprobar la existencia de una cal muy limpia y fina, dispuesta con una pe-
queña panza realizada a paleta pero que, por la delicadeza del trabajo15, bien podría
decirse que está hecha mano (con la presencia de encintados de muy similares ca-
racterísticas hay que tener cautela, puesto que su uso se prolonga más en el tiempo).
En cuanto a la composición de paramentos, hay que volver a referirse a los da-
tos aportados por Sánchez Trujillano al considerar que el ladrillo de modo masivo
sólo se da en testimonio tardíos, a partir del siglo XV16, excluyendo lógicamente las
cabeceras. Por tanto, el empleo de cajones de mampostería, la presencia de rafas y
verdugadas, será otro de las factores que habrá que considerar a la hora situar cro-
nológicamente un testimonio.

Ubicación
Su colocación respecto a las iglesias varía mucho, no estando sometida a norma alguna17.
[...] y no tienen una situación especial dentro del conjunto, por lo que se pueden encontrar jun-
to a la cabecera, o en el crucero, o a los pies18.
Efectivamente, estas torres se pueden encontrar situadas en diferentes disposi-
ciones, aunque se puede buscar cierta regularidad. De los más de sesenta ejemplos
que se pueden encontrar, sin contar aquellos que carecen de estructura torreada, un
número superior a la mitad lo encontramos a los pies del templo19 (unas veces cen-

14. M.ªT. SÁNCHEZ TRUJILLANO, op. cit., p. 365; J.L. GUTIÉRREZ ROBLEDO, op. cit., p. 15; M.ªI. LÓPEZ
FERNÁNDEZ, op. cit., p. 56.
15. “Para su realización se requiere habilidad y una cierta delicadeza [...]”, E. DOMÍNGUEZ PERELA, «No-
tas sobre arquitectura mudéjar», Actas del II Simposio Internacional de Mudejarismo. Arte (1981), Te-
ruel, Instituto de Estudios Turolenses, 1982, p. 7. “[...] caracterizado por los tendeles de limpia cal que
parecen colocados para el descanso de la mirada”, A. FERNÁNDEZ PRADA, «Mudéjar en la Extremadura
del Duero», BSAA, XXVIII, 1962, p. 29.
16. M.ªT. SÁNCHEZ TRUJILLANO, op. cit., p. 365.
17. L. TORRES BALBÁS, Arte almohade, arte nazarí, arte mudéjar, Ars Hispaniae, vol. IV, Madrid, Plus-
Ultra, 1949, p. 264.
18. J.C. FRUTOS CUCHILLERO, op. cit., p. 421.
19. “Las torres no tienen un lugar fijo de colocación, y en Salamanca pocas de este estilo han llegado has-
ta nosotros, pero predomina la colocada a los pies de la iglesia, que aunque sea de construcción poste-

285
IGNACIO HERNÁNDEZ GARCÍA DE LA BARRERA

trado, otras no), siendo la cabecera el lugar elegido para cerca de una veintena de
ejemplos. En estas últimas hay que detenerse a detallar su relación con el resto de la
fábrica, siendo lo más común que se trate de elementos posteriores añadidos, mu-
chos de ellos fechados en los siglos XV y XVI. Templos como San Juan o San Mar-
tín, ambos en Arévalo, son excepciones anómalas fruto de circunstancias peculiares.
De igual manera, las torres ubicadas a los pies pero descentradas, también se pue-
den datar normalmente en época moderna. Ejemplos de esto lo encontramos en
Fuente Olmedo, Bernuy de Zapardiel o Rágama.
Quedarían por tratar aquellas torres exentas (San Esteban de Zapardiel, Muriel
de Zapardiel) o de ubicación indefinida (San Juan, en Mojados) que necesitan un es-
tudio y tratamiento especial, puesto que en mi opinión las centradas en los pies del
templo corresponden a los ejemplos más antiguos.

Estructura

Ya se ha visto el modelo de estructura que propone Sánchez Trujillano y con el


que participo. Se asemeja esta propuesta a la realizada por Abad Castro para las to-
rres toledanas: “[...] nos encontramos con una disposición interna regida por la es-
calera, que gira en torno al machón central. Como sistema de cubrición se emplean
las bovedillas falsas de ladrillo escalonadas [...]”20. Por tanto la estructura canónica,
si se permite la expresión, estaría compuesta por un primer cuerpo macizo a base de
tongadas de tierra y calicanto y una sucesión vertical de espacios abovedados de ejes
invertidos comunicados por escaleras embutidas en los muros, hasta rematar en la
terraza de la parte superior. De su aspecto exterior llama atención la ausencia de va-
nos, limitándose estos a unas mínimas aberturas de iluminación, y el escasísimo uso
de elementos ornamentales. A esto hay que añadir una característica que les atribuye
el profesor Merino de Cáceres, y es su proporción tripla entre anchura y altura.

CONCLUSIONES

La cronología propuesta por Gutiérrez Robledo, a pesar de no poder ser del todo
precisa por la ausencia documental, parece acertada. Guerra Sancho opina que
quizá debería adelantarse unos años debido a la peculiar historia eclesiástica de la co-
munidad de Arévalo: “Por un lado los escasos pero interesantes restos románicos,
la primera época románica de San Martín, que parecen de filiación palentina, o sea,
inmediata a la repoblación, cuando la villa perteneció al obispado de Palencia
[...]”21. Un estudio de los otros ejemplos de escultura románica de la zona, Cristo de

rior, posiblemente sustituye a la primitiva”, M.ªR. PRIETO PANIAGUA, La arquitectura románico-mudé-


jar en la provincia de Salamanca, Salamanca, Centro de Estudios Salmantinos, 1980, p. 37.
20. M.ªC. ABAD CASTRO, Arquitectura mudéjar religiosa en el obispado de Toledo, Toledo, Caja Tole-
do, 1991, p. 186.
21. R. GUERRA SANCHO, Las murallas de Arévalo, Ávila, Caja de Ávila, 2003, p. 27.

286
TORRES MUDÉJARES DE LA ANTIGUA DIÓCESIS DE ÁVILA. APROXIMACIÓN A SU ESTUDIO

la Moralejilla (Rapariegos) y Espinosa de los Caballeros, podría aclarar algo este pun-
to que, a priori, parece un tanto forzado.
Las características cualitativas (grano, limpieza...) de los materiales empleados en
la construcción de estas torres se convierten en clave para fundamentar una datación
aproximada, al igual que la forma de haber sido trabajados.
Por regla general, los muros compuestos masivamente de ladrillo son más tardíos
que aquellos realizados en mampostería o cajeado.
La ubicación primigenia de estas torres era a los pies, otra disposición está ha-
blando de una cronología posterior o de unas circunstancias especiales.
La estructura canónica comentada responde también a modelos originales.
Cuantas más coincidencias con estos parámetros presente una torre de la antigua
diócesis de Ávila, se puede decir que se acerca más a las etapas iniciales de este arte
en estas tierras22.
Como nada surge aisladamente, es necesario relacionar las conclusiones que se
pudieran sacar del estudio de estas torres con el del resto de las características del edi-
ficio: cabeceras, plantas, fajones, áticos, zócalos.
Es necesario realizar un nuevo inventario de los elementos que se pueden con-
siderar mudéjares, puesto que el empleo del ladrillo ha llegado hasta nuestros días,
pero no las técnicas23 ni el sistema de trabajo, que se perdieron en beneficio de una
albañilería popular24 del todo occidentalizada.
El parentesco más cercano que se puede establecer para estas torres son los modelos
toledanos25. Esta idea además se reforzaría por la llegada de población mudéjar pro-
cedente de Toledo que se produjo tras la conquista de aquella ciudad26. Supongo.

22. Intento con esto aportar al debate mi punto de vista, siendo conocedor de lo oscuro del objeto de es-
tudio. “La arquitectura mudéjar rural acusa, pues, su carácter local, marcadamente regional, y de escasa
evolución ya que los modelos se repiten por inercia de modo casi invariable, planteando difíciles problemas
de datación [...]”, M.ªT. PÉREZ HIGUERA, Arquitectura mudéjar en Castilla y León, Valladolid, Junta de
Castilla y León, 1993, p. 36.
23. “Por otra parte, la técnica se corresponde con ellos [los materiales] e incluso en casos específicos se
asienta en lugares donde la tradición constructiva de tales materiales y formas pervive durante siglos, ca-
sos de la argamasa, los encofrados, el ensamblado de la madera, etc.”, P.J. LAVADO PARADINAS, «El arte
mudéjar desde la visión castellana», Actas del II Simposio Internacional de Mudejarismo. Arte (1981), Te-
ruel, Instituto de Estudios Turolenses, 1982, p. 33.
24. M. VALDÉS FERNÁNDEZ, «Arte de los siglos XII a XV y cultura mudéjar», Historia del Arte de Cas-
tilla y León. Tomo IV. Arte Mudéjar, pp. 28-29.
25. A pesar de lo apuntado por M.ªC. ABAD CASTRO, op. cit., p. 180, “[...] la conclusión más clara ob-
tenida es que el lugar escogido para la torre varía constantemente, en contra de la afirmación difundida
de que las torres toledanas se ubican a los pies”.
26. G.M. BORRÁS GUALIS, El arte mudéjar, Teruel, Instituto de Estudios Turolenses, 1990, p. 161; J.C.
FRUTOS CUCHILLERO, op. cit., p. 418; M.Á. LADERO QUESADA, «Los mudéjares de Castilla en la Baja Edad
Media», Actas del I Simposio Internacional de Mudejarismo, Teruel-Madrid, Diputación Provincial de Te-
ruel-CSIC, 1981, p. 354; M.ªT. PÉREZ HIGUERA, op. cit., p. 19; M. VALDÉS FERNÁNDEZ, «Estudio sobre
los ábsides de La Moraña (Ávila)», Asturiensia Medievalia, 5, Estudios en Homenaje al Prof. Eloy Be-
nito Ruano, Oviedo, Universidad de Oviedo, 1986, p. 137.

287
RELACIÓN DE LOS MORISQUILLOS Y MORISQUILLAS
PRESENTADOS EN LOS DIFERENTES PUEBLOS
DESDE LA CIUDAD DE VALENCIA HASTA ORIHUELA,
SEGÚN EL BANDO DE 1611

Ignacio Gironés Guillem

El presente trabajo ofrece una relación de niños, hijos de moriscos, que queda-
ron en la Comunidad Valenciana después de la expulsión de sus padres en el año
1609.
El musulmán español, hasta llegar a esta resolución final, tuvo que pasar por una
infinidad de avatares. Desde la conquista del Reino de Valencia por el rey Jaime I en
el siglo XIII, los hispanomusulmanes soportaron una cadena de calamidades que pu-
sieron a prueba su capacidad (la humillación y sufrimiento, así como la de adapta-
ción a las nuevas circunstancias que les reportaba su “derrota”).
Primero fueron sometidos a través de unas “capitulaciones” que les permitieron
seguir viviendo en sus tierras valencianas, como pueblo vencido, teniendo que
abandonar las ciudades importantes y las tierras más prósperas. Sin embargo, con lo
que suponía este revés, con el tiempo se rehicieron y pusieron en cultivo las tierras
más inhóspitas y degradadas de la comunidad, aun incluso sometidos a la propiedad
real y señorial de los cristianos.
Cuando pudiera parecer que su humillación podía quedar ahí, una nueva ola de
odio y marginación volvió a cernirse sobre ellos. La guerra de la “Germania”, de
1522, les terminó obligando a vivir como cristianos y a sufrir un bautismo forzoso
y colectivo que los convertiría, desde aquel momento, de mudéjares a moriscos.
Pero de aquella situación también se rehicieron. Como una “Ave Fénix” los mo-
riscos sobrevivieron llevando una doble vida: cristianos por fuera y musulmanes por
dentro. Esta nueva “metamorfosis” les permitió prolongar su supervivencia en la pe-
nínsula cerca de un centenar de años más, hasta el año 1609: cuando finalmente el rey
Felipe III tuvo que ceder a todo tipo de presiones para terminar decretando el “ban-
do de su definitiva expulsión”.
Pero ni siquiera de este modo terminarían su calvario los moriscos, ya que, con
motivo de llevar a cabo el bando de expulsión, mentes preclaras de la época alerta-
ron al rey de que los hijos de los que iban a expulsar no eran culpables, por su tier-

289
IGNACIO GIRONÉS GUILLEM

na edad, de los delitos de herejía musulmana que permitían sentenciar a sus padres.
Y, además, reteniéndoles en tierra cristiana se les podría instruir en las “verdades de
la fe”, y ganar sus almas para el cielo. Así se decidió y ejecutó la orden de expulsión
de los padres, quedando la cuestión de la atención a los niños en un segundo lugar,
tal vez por la premura y peligrosidad de la operación del viaje de los mayores.
Tal vez por ello, dos años después, el día 20 de febrero de 1611, el rey mandaría
que se confeccionara un censo con los niños que quedaron. Y este censo es preci-
samente el motivo del presente trabajo.
De hecho, el capítulo de la historia referente a los hijos de moriscos que perdu-
raron a la expulsión de sus padres después de 1609 ha sido ya tratado, de forma de-
tenida y magistral, por grandes doctores valencianos. Pero quizás faltarían un par de
cosas: Primero, la exposición global de todos los niños y de todos los pueblos que
tienen alguna relación con los mismos, bien por ser su origen o su destino, para que
los investigadores no tuvieran que ir “sumando” trabajos aislados para llegar a un
“total”. En segundo lugar, la aportación de un sistema informático que permitiera
trabajar las fuentes con técnicas actuales. A todo ello se le incorpora una nueva do-
cumentación, de fuera de la Comunidad Valenciana, que aportará, con ello, un nue-
vo material que hay que tener en cuenta.
Así, aprovechando que Henri Lapeyre, en su Geografía de la España Morisca, ca-
pítulo segundo apartado tercero, «Sobre las secuelas de la Expulsión», hace mención
a la documentación existente en Simancas (Sección de Estado, legajos 241 y 243), se
ha efectuado esta propuesta de trabajo informático con las listas de los morisquillos
existente en dicho Archivo Histórico Nacional.
De este modo, del Archivo Histórico Nacional de Simancas se han extraído un
total de 2.447 hijos de moriscos que, por diferentes circunstancias, quedaban en la
península en 1611, dos años después de la expulsión de sus padres, sin contar con la
gran cantidad de niños que no alcanzarían a vivir estos dos años o los que fueron
ocultados o vendidos, quedando todos ellos fuera de este censo inicial.
Según la documentación más próxima al tema de la expulsión de los moriscos, pa-
rece que la causa de su permanencia y separación de sus respectivos padres natura-
les estuvo basada en el argumento teológico de que no podían ser acusados de “in-
fieles” dada su inocencia infantil, y por lo tanto no procedía su expulsión, así como
la conveniencia de que, quedando entre “nosotros”, podrían adquirir la “verdade-
ra fe cristiana”.
Aceptado este argumento por la mayoría de los tratadistas de la época, restaba
ahora decidir cuál debía ser la edad “listón” que separara un posible inocente de quien
ya no lo era. Aunque la solución final determinaba la peligrosidad de retener a un
adolescente con suficiente edad como para ser consciente del mal inflingido a su pue-
blo y “poder empuñar un arma”, las estadísticas de la documentación que ahora pre-
sentamos nos demuestran que no estuvo tan delimitada la famosa edad. Así, en-
contramos gran cantidad de niños que ya alcanzaban la edad de los doce y trece años,
edad límite propuesta por el bando del Rey.
Por otra parte, también se argumenta, en más de una ocasión, la conveniencia de
“consensuar” con sus padres naturales la permanencia o expulsión de los mismos.
Sin embargo, dada la gran cantidad de niños retenidos a la corta edad de menos de
tres años, hay que poner seriamente en duda esa cesión “voluntaria” por parte de sus

290
RELACIÓN DE LOS MORISQUILLOS Y MORISQUILLAS PRESENTADOS EN LOS DIFERENTES PUEBLOS...

padres. Así, en la totalidad de niños que quedaron en la península, no resulta nada


inadecuado el admitir que hubo, ciertamente, toda clase de opciones: quienes que-
daron con consentimiento de sus padres; los huérfanos; los secuestrados como bo-
tín y luego vendidos, etcétera.
Amén de todo esto, debemos partir de la base de que los morisquillos que aho-
ra tratamos son los que aparecen “censados” dos años después de la expulsión, des-
contando, por supuesto, la cantidad desconocida de los que murieron en ese perio-
do de dos años (hay autores que han hecho un seguimiento de la esperanza de vida
a partir de estas listas que ahora estudiamos, y sus resultados han sido muy alar-
mantes, dada la gran mortandad). Tampoco podemos contar con aquellos niños que
fueron vendidos a comerciantes italianos y salieron del país, o de aquellos otros que
voluntariamente fueron ocultados a la administración por cualquier motivo, como
exceder el número de dos niños permitidos por familia.
Todo ello nos permite, gracias a la documentación utilizada, pero, sobre todo, gra-
cias al modelo de tratamiento propuesto, tal cantidad de estudios y matizaciones, que
abren un nuevo campo a la historiografía. En realidad, la aportación documental que
aquí se utiliza espero que no sea ninguna novedad. Ciertamente, después de casi cua-
trocientos años (1611), sería espantoso pensar que nadie había utilizado antes esta
documentación. Sin embargo, lo que ahora se propone es la aplicación de las nue-
vas tecnologías a los antiguos documentos. Se trata de ofrecer al investigador un sis-
tema informatizado, basado, como podría haber sido con cualquier otro programa,
en una base de datos de Microsoft Access o Microsoft Excel que permita a cualquier
interesado cortar, seleccionar, relacionar los registros según su interés. Ciertamen-
te, si se entiende este planteamiento, la mayor parte de lo que se puede aportar en
esta publicación ya quedaría como una simple manifestación gratuita.
Así, como un ejemplo de lo que se puede deducir con este método, podemos su-
gerir: ¿cuántos morisquillos tenían más de doce años y fueron capturados en Laguar?,
¿cuántos habitantes debía tener el pueblo de Xarafuel para que permanecieran en la
península tantos niños?, ¿cuántos niños recibió mi ciudad?, ¿qué oficios tenían los
adaptadores?, etcétera.
Como se entenderá, ésa es precisamente la propuesta: Volcar toda la documen-
tación existente en un banco informatizado para que cada estudioso pueda extraer
sus propias conclusiones. De este modo, la parte fundamental del trabajo que aho-
ra se presenta consiste en la edición de un listado informático con todos los regis-
tros; una guía para la comprensión y utilización de la base de datos y una serie de
ejemplos globalizantes para que todos puedan comprender el alcance de esta pro-
puesta.
Paso por tanto a describir una guía para la comprensión de la propuesta de tra-
bajo.

LA BASE DE DATOS

El trabajo inicial consiste en la publicación ordenada en forma de base de datos


y en soporte informático de todos los registros de las siguientes listas de morisqui-
llos consultadas:

291
IGNACIO GIRONÉS GUILLEM

Base documental:
– Vicente Castañeda, artículo publicado en la revista de la Asociación Amigos de
la Historia, publicada en 1923: «Relación de los morisquillos de Ontinyent».
– Archivo General de Simancas, Sección de Estado, legajo 241 (total páginas: 102
páginas de tamaño Din A4).
– Archivo General de Simancas, Sección de Estado, legajo 243 (total páginas: 188
páginas de tamaño Din A4).
Estas fuentes han sido agrupadas y definidas como «Listas de Morisquillos» con
la siguiente nomenclatura y orden:
– Lista n.º 1 (Ontinyent de Castañeda), 31 fichas, 36 moriscos. Su encabeza-
miento dice: Manifestación de los hijos de moriscos que quedaron en la villa de
Onteniente, al verificarse la expulsión de estos del reino de Valencia. 1611. Vi-
cente Castañeda, 1923. De ella se conserva el nombre arcaico de Ontiniente, en
vez del Ontinyent actual. En la base de datos sólo aparece la ficha-registro n.º
7, ya que las otras fichas coinciden con las fichas de la lista número cinco y, para
no duplicar, “L5.1” querrá decir que este morisquillo aparece repetido en dos
listas: la lista 5 y la lista 1.
– Lista n.º 2 (Valencia de Baziero), 369 fichas, 377 moriscos. Su encabezamien-
to dice: Traslado de la primera mano del Registro de los morisquillos presentados
y manifestados por el último vando publicado de orden de su Excelencia. / Me-
moria de los Morisquillos presentados ante el magnifico dotor del Real conse-
jo micer Francisco Pablo Baziero, jues de la espulssión de los moriscos por exe-
cución del último valido echo en la ciudad de Valencia por orden de su
Excelencia. El titular de esta lista parece idéntico a la lista n.º 3, aunque no se
ha hallado ningún morisquillo coincidente. (Sección de Estado, Leg. 241 del Ar-
chivo Histórico Nacional de Simancas).
– Lista n.º 3 (Valencia de Baziero), 221 fichas, 221 moriscos. Su encabezamien-
to dice: Traslado de las morisquillas y morisquillos manifestados ante el doctor
Basiero por execusion del último bando publicado de orden de su Ex.ª recibido
por Marco Antonio Bonavida, notis. Y escrivano del doctor Basiero. / Memo-
ria de los morisquillos Presentados ante el magno doctor del consejo micer Fran-
cisco Pablo Basiero Jues de la espulsion de los moriscos por execucion del últi-
mo bando echo en la ciudad de Valencia en 30 de Agosto 1611 Recibido por
Marco Antonio Bonavida notario. (Sección de Estado, Leg. 241 del Archivo
Histórico Nacional de Simancas).
– Lista n.º 4 (Las montañas a poniente), 367 fichas, 428 moriscos. Su encabeza-
miento dice: Mano de MANIFIESTOS de los hijos y hijas de moriscos deste
Reyno de las montañas hazia poniente. / Su anexo. (Sección de Estado, Leg. 241
del Archivo Histórico Nacional de Simancas).
– Lista n.º 5 (Alcoy a Guadasequies). Incompleto-Cortado, 161 fichas, 190 mo-
riscos. Extracto fraccionado de la sección de Estado, Leg. 243 del Archivo His-
tórico Nacional de Simancas. Esta lista aparece fraccionada, sin encabezamiento,
pero se ha podido deducir el primer pueblo y la fecha de ejecución. (Sección
de Estado, Leg. 243 del Archivo Histórico Nacional de Simancas).
– Lista n.º 6 (La Marina hasta Orihuela), 955 fichas, 1.197 moriscos. Su enca-
bezamiento dice: Manifiesto y Registro que por orden de su Excelencia hizo el

292
RELACIÓN DE LOS MORISQUILLOS Y MORISQUILLAS PRESENTADOS EN LOS DIFERENTES PUEBLOS...

comisario Francisco de Vargas, de los muchachos de menor hedad hijos de mo-


riscos por la parte de la Marina hasta Orihuela, cuyo numero son mil y doscientos
y cinco. / Muchachos seyscientos y cincuenta y cinco y muchachas quinientas y
cinquenta declarados los lugares, dueños, naturalezas, edades y señas. (Sección
de Estado, Leg. 243 del Archivo Histórico Nacional de Simancas).

FUNCIONAMIENTO DE LA BASE DE DATOS

Como no todo el material utilizado presentaba la misma estructura, ha sido ne-


cesario aglutinar y hacer coincidir la misma documentación a través de una serie de
campos comunes. Así, en primer lugar, para facilitar su identificación se han nu-
merado las diferentes “listas” desde L1 a L6 (lista n.º 1 a lista n.º 6).
Pero además nos encontramos con variantes, como es el caso de Castañeda (lis-
ta n.° 1 = L1) que especifica el lugar donde habían sido bautizados los morisquillos,
mientras que las otras listas no lo hacen. Las listas L2 y L3 no especifican el origen
de los adoptadores cristianos por ser la mayoría ciudadanos de Valencia, etcétera.
Algunos secretarios de registro olvidan preguntar el origen de los niños; otros es-
cribanos tienden a anotar los años de los niños con la variante “entre 9 y 10 años”,
lo que se resuelve en la base de datos con el signo + detrás de la cifra menor. En este
caso, el niño tendría 9+ años.
Finalmente, el resultado conjunto de las variables más comunes ha dado un to-
tal común de 14 campos como los que se exhiben a continuación:

1 2 3 4 5 6 7
Id. Documento Ficha Morisquillo Fecha Presentador Oficio
1 L1 7 9 10/10 Vicente labrador
Ferrer
2 L2 1 1 31/8 Jerónimo
Villaraza
8 9 10 11 12 13 14
Población Por cuenta Nombre Origen Edad Sexo Marcas
Ontiniente Jerónimo Laguar 5 V Vista
travada
Valencia Ángela Ares 11+ M Un golpe

Como se ve en el ejemplo expuesto, aparece en primer lugar el campo de número


asignado a cada morisquillo en el total de la base de datos: desde el 1 hasta el 2.447.
En segundo lugar aparece la lista oficial de donde se han tomado estos datos (des-
de L1 a L6). En tercer lugar se muestra el número de registro al que corresponden
los datos del morisquillo. Dicho número no coincide con el campo siguiente, número

293
IGNACIO GIRONÉS GUILLEM

de morisquillo, puesto que había cristianos que en un mismo acto, y por lo tanto en
un mismo registro, presentaban a dos morisquillos (véase ejemplo siguiente).

1 2 3 4 5 6 7
Id. Documento Ficha Morisquillo Fecha Presentador Oficio
20 L2 18 19 31/08 Gaspar
Agustín
Artés
Generosos
21 L2 18 20 31/08 Gaspar
Agustín
Artés
Generosos
8 9 10 11 12 13 14
Población Por cuenta Nombre Origen Edad Sexo Marcas
Valencia Vicente Laguar 2 V Un golpe
Agustín
Valencia Hierónimo Planes 11 V Dentimellado
Baltasar

En estos casos, el “presentador” siempre será la misma persona, aunque también


se dan casos en que la misma persona presenta a dos niños en dos momentos dife-
rentes y, por tanto, se presentan como dos fichas distintas.
De este modo, si volvemos a centrarnos en los campos utilizados, tendremos:
Primer campo: Id. (indicador numérico global de todos los morisquillos tratados
en este trabajo. Sirve de referente para poder localizar finalmente el caso particular
que quisiéramos buscar, desde el 1 al 2.447). Por ejemplo, quiero saber si hay algún
muchacho que tenga el mismo nombre que su adoptador. Una ver realizada la con-
sulta, la base de dados nos dará el Id: el lugar exacto donde se halla este caso.
El campo segundo nos indica la lista a la que pertenece cada registro. Hay, por
lo tanto, seis apartados: desde L1 a L6. Se observa que L1 sólo tiene un registro y
que L5 cuenta con un término confuso: L5.1. Esto quiere decir que los registros coin-
ciden entre las dos listas y, por tanto, no se repiten, pero son válidos los dos casos.
El tercer campo nos muestra el número de registro del legajo determinado. Unas
listas tienen 39 registros o fichas, otras 955, etcétera.
El cuarto campo nos indica el número de morisquillos correspondiente a cada do-
cumento. Como se verá, no siempre coincide con el número de ficha, ya que hay gran
cantidad de adoptadores que declararon dos morisquillos bajo su tutela en el mis-
mo registro. Por eso hay más morisquillos que fichas.
El quinto campo indica el día y mes en que se realizó el registro de los niños en
cada ciudad. No se indica el año, por ser innecesario (1611), pero debo hacer cons-

294
RELACIÓN DE LOS MORISQUILLOS Y MORISQUILLAS PRESENTADOS EN LOS DIFERENTES PUEBLOS...

tar que hay algún error en los documentos, posiblemente descuido del copista, pues
del 16 de octubre pasa al 27, o en otro caso, en ciudades de gran listado se empieza
en el día 22 y, repitiendo siempre la misma fórmula “dicho día”, cuando termina con
esa ciudad e inicia una nueva sesión en otra ciudad ya estamos a 26.
El sexto campo se dedica al “presentador”, es decir, aquella persona que presentó
al morisquillo ante las autoridades. No se utiliza el nombre de “adoptador”, ya que
algunos presentaron a los niños “por cuenta de” otras personas. En este campo se
ha intentado mantener la grafía original de los documentos. Así, escriben Grabiel por
Gabriel. Se han eliminado todos los atributos de las personas, destinando para ello
un campo aparte para que también pudiera ser contabilizado. Sólo el título de Don
se conserva.
El campo séptimo se denomina “oficio”, y en él aparece cualquier indicación so-
bre la personalidad del presentador: Biuda (por viuda), mossen, etc. Cuando el tér-
mino de oficio aparece entre paréntesis, significa que lo que describe no pertenece
al presentador, sino a la persona representada (ejemplo: Juan...-labrador (curtidor)...
presenta a un morisquillo en nombre de Vicente que es curtidor).
El octavo campo, denominado “población”, describe el lugar donde se hizo la ins-
cripción o el origen del presentador. Se ha utilizado este término “población” para
distinguirlo del término “origen”, destinado al pueblo de donde se supone que era
el niño. En todo el documento se han suprimido todas aquellas ciudades o villas
adonde acudieron los notarios para hacer los registros y “no se halló ningún hijo de
moriscos”. Esta parte documental contiene muchos lugares y términos hoy aban-
donados, así como los nombres de los oficiales reales y jurados de las villas, digno
de otra nueva publicación, pero que se han desestimado en esta ocasión.
El campo número nueve se ha reservado a las personas que no acudieron a re-
gistrar a los niños y mandaron a otro en su lugar. Puede ser que sus nombres sean
utilizados para justificar la posesión de más de dos moriscos por persona como man-
daba el bando.
El campo número diez indica el nombre completo de los morisquillos. En él se
observan gran cantidad de nombres repetidos, como Ángela, Buenaventura, Jerónimo
y Jerónima –con G–. También se observa gran cantidad de coincidencias entre los
nombres de los niños y de sus padres adoptivos. Se puede confeccionar una lista de
individuos que presentan nombre y apellido, etcétera.
El campo número once, “origen”, es el pueblo del que procede el muchacho. Aquí
aparece varias veces la frase “tomado en”. También se puede hacer un estudio de los
niños que son adoptados en el mismo pueblo (un presentador de Oliva que tiene a
un morisquillo de Oliva). Resulta curioso el intercambio de niños entre diferentes
pueblos (señor de Oliva con niño de Gandía y señor de Gandía con niño de Oliva).
Confeccionando una lista de morisquillos del mismo pueblo se puede observar el im-
pacto que representó en Laguar, Guadalest, Cortes, Finestrat, etc. También compa-
rando las listas de “población” y de “origen” se puede deducir dónde fueron a pa-
rar la mayoría de los niños de un mismo pueblo (Laguar se reparte entre Valencia,
Alicante, Ontinyent, etcétera).
El campo número doce indica la edad que tienen los niños en el momento de ser
presentados ante la autoridad. Debe tenerse en cuenta que tendrían dos años menos
cuando fueron “recogidos”. Hay varios individuos que no alcanzan el año de vida

295
IGNACIO GIRONÉS GUILLEM

y son indicados en meses. También hay dos personas mayores, una de treinta y nue-
ve años y otra sin especificar.
El campo número trece indica el sexo con los términos V (varón) y M (mujer).
No debería hacer falta dicho campo, dado que el nombre del individuo podría acla-
rarlo, pero este campo nos permite hacer estadísticas entre sexos e incluso pirámi-
des de población.
Por último, el campo número catorce se ha reservado para cualquier indicación
especial del morisquillo, y no tiene un comportamiento informático uniforme,
dada la gran variedad de conceptos.
Con todo ello no se ha pretendido concluir un trabajo, sino facilitar la investi-
gación puntual y concreta de cada historiador o persona incluso ajena al mundo de
la Historia.
Toda esta explicación sólo tiene sentido una vez se ha obtenido la base de datos
de todos los morisquillos, y ésta queda incluida dentro de una página web dedica-
da a los morisquillos que se puede abrir mediante la siguiente dirección: http://perso.
wanadoo.es/ignaciogirones1

296

Você também pode gostar