Desenvolvendo Projetos de Grade e Mancha Gráfica: Material para A Disciplina Projeto Visual 3

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Projeto Visual III – UFRGS – Desenvolvendo projetos de grade e mancha gráfica

Material para a disciplina Projeto Visual 3


Desenvolvendo projetos de grade e
mancha gráfica

Prof. André Furtado

www.ufrgs.br

Capa, imagens, texto e organização elaborados pelo professor André Furtado


Elaborado pelo professor André Furtado
Projeto Visual III – UFRGS – Desenvolvendo projetos de grade e mancha gráfica

O projeto da grade é importante, pois ele torna consistente a distribuição e


posicionamento de elementos como figuras, gráficos, tabelas e massa de texto em toda a
peça editorial. Assim, é possível estabelecer todas as relações de posição e de interação
entre elementos de texto e elementos gráficos na página.

Existe uma tendência atual em não mais se privilegiar o uso da grade em projeto
gráfico, porém, a grade é sim importante. Não que seja inviável projetar sem o uso de
grade. O design contemporâneo admite a não utilização de regras de layout, onde é
possível desenvolver um design inconsistente e imprevisível, porém, sempre que o
requisito for a ordenação, a consistência, a harmonia e previsibilidade na forma, na
estética e na estrutura de um projeto gráfico, é necessário que se defina de forma muito
criteriosa a grade.

O designer pode optar por sistemas de grade simples ou básicos ou sistemas de


grade complexos.

Sistemas de grade básicos apenas estruturam as dimensões das margens interna,


externa, superior e inferior, a quantidade de colunas e a distância entre colunas. Em
muitos casos, estes são de fato os principais elementos necessários a serem
desenvolvidos numa grade.

Nos sistemas de grade complexos o designer além de definir todos os elementos


de projeto que envolvem os sistemas básicos, irá também determinar as linhas de base
às quais o texto é fixado, determinará o formato e o tamanho reservado para as imagens,
posição dos títulos, dos números de página, das notas de rodapé, das legendas, etc.

A primeira decisão do designer com relação ao projeto da grade é se ela será


simétrica ou assimétrica. As grades simétricas apresentam a mesma distância em relação
a calha central (guter), tanto na página ímpar como na página par.

As grades geométricas: Foram criadas na idade média, quando a Europa ainda


não possuía sistemas de medida padronizados. Diversas técnicas foram desenvolvidas e
aqui serão apresentadas algumas destas:

Margens iguais: A forma mais simples de se desenvolver uma mancha gráfica


que apóie uma grade é o desenho de margens iguais, ou seja, as margens interna,
externa, superior e inferior terão a mesma medida. Andrew Haslan, designer gráfico e
autor do livro “O Livro e o Designer 2 – Como criar e produzir livros“ afirma que é
preciso ter muito cuidado ao projetar desta forma, pois corre-se o risco de a calha do
livro parecer “engolir” a massa de texto no caso de um livro com muitas páginas. É
curioso, mas seu próprio livro apresenta este mesmo problema. De forma que, no citado
livro, a mancha interna apresenta 13mm, e o livro possui 256 páginas. Para que o efeito
apontado por Andrew Haslan fosse contornado em seu livro, sua margem interna
deveria ser de 26mm, ou seja, o dobro pelo projetado pelo referido designer. Já o livro
“A Herança do Olhar – O Design de Aloísio Magalhães”, de João de Souza Leite,
possui 280 páginas e em nenhuma destas observa-se o problema apontado por Andrew
Haslan. Porque na verdade, o efeito da calha do livro parecer engolir a mancha gráfica
pouco tem a ver com o fato das margens serem iguais ou não, e sim com a dimensão da
margem interna propriamente dita. O livro A Herança do Olhar apresenta uma margem
interna de 31 mm. O mesmo ocorre com o livro “Work Book Illustration” produzido por

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Paul Mussa, Jay Nichols e Colin Yeung. É um livro de capa dura, com 1080 páginas, e
em nenhuma delas se observa o efeito apontado por Andrew Haslan. Exatamente em
função do cuidado com a margem interna. Não ocorre nenhuma outra diferença técnica
entre os livros citados a não ser a margem interna. Os três livros foram produzidos com
técnicas semelhantes, os cadernos são costurados e não grampeados, para garantir maior
flexibilidade, assim como são fixados entre si com cola hot-melt. É verdade que o livro
de ilustração é de capa dura e isso costuma minimizar o efeito descrito por Andrew
Haslan, conferindo maior flexibilidade à lombada interna entre os cadernos, porém,
tanto o livro A Herança do Olhar como o livro O Livro e o Designer, são em brochura e
apresentam o mesmo tipo de material de capa. Ou seja, é fundamental dar atenção à
margem interna.

O mais do que consagrado designer carioca, Gilberto Strunck, em seu livro


Como Criar Identidades Visuais Para Marcas de Sucesso, também em brochura,
encontra-se no limite do conforto na legibilidade de seu livro ao apresenta-lo com uma
margem interna de 22 mm. Seu livro apresenta 160 páginas.

O livro O Que É Design de Embalagens? de Giles Calver, apresenta-se em


brochura e com 256 páginas, é um livro moderno e com margens variáveis. É fato que
toda a vez que a margem interna apresenta dimensões inferiores a 20mm, tem-se a
leitura da massa de texto comprometida. Este é um erro que a Companhia das Letras
realmente não costuma cometer, não importa o número de páginas, mesmo o formato de
bolso adotado para o livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago, com
376 páginas apresenta uma margem interna de 21mm.

De forma que diante das evidências empíricas, mas facilmente verificáveis, não
parece ser recomendável aplicar margem interna inferior a 20 milímetros, pelo menos
não em páginas de texto.

Um desdobramento das margens geométricas idênticas, são as margens


geométricas idênticas duas a duas, ou seja, a margem interna é igual a externa e a
margem superior é igual a inferior. Este tipo de margem é totalmente proporcional ao
formato da página e estará sempre alinhado com as diagonais da página. Para desenhar
este tio de margem, primeiro marque a posição da margem interna e trace uma vertical
até que encontre as duas diagonais da página. A partir destes dois pontos onde a
margem interna encontra com as diagonais, trace horizontais, formando as margens
superior e inferior, até que encontrem as diagonais da página novamente. Finalmente
trace a margem externa. Para desenhar margens distintas, onde cada margem apresenta a
sua própria dimensão, realize os mesmos procedimentos que usou para desenvolver uma
margem idêntica duas a duas e depois desloque a mancha ao longo de uma das
diagonais. Assim, as margens terão valores distintos.

O diagrama de Villard de Honnecourt:

Villard foi um arquiteto do século XIII que elaborou um método geométrico


muito eficiente para dividir por nove qualquer página que apresente o formato áureo,
tanto na disposição em retrato como em paisagem:

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Diagrama de Villard de Honnecourt:

A seqüência acima representa o processo construtivo desenvolvido por Villard


de Honnecourt. Em seu processo, a página é dividida por nove na horizontal e por nove
na vertical. Na representação acima, o designer optou por uma margem interna com 1/9
da página. Como vimos anteriormente, seria mais indicado em livros do tipo brochura a
inversão deste modelo, onde a margem interna teria 2/9 da largura da página e a
margem externa com 1/9 da largura da página.

Para concluirmos nosso projeto, ainda se faz necessário definir a massa de texto.
Geometricamente, a massa de texto é definida pela construção da grade de linha base e
não pelo corpo da fonte e por sua entre-linha. Veremos mais tarde a entre-linha.

Por exemplo, se quisermos construir uma mancha gráfica com uma grade de
linha base com 30 linhas, precisamos dividir por igual os 6/9 de página que formam a
altura de nossa mancha gráfica. Para isso, utilizaremos uma escala qualquer com 30

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divisões equivalentes e posicionaremos esta escala com seu marco zero numa das quinas
da nossa mancha gráfica com um ângulo qualquer de abertura. Uniremos então o
extremo de nossa escala à quina oposta de nossa mancha gráfica formando assim o
cateto menor do triângulo. Se traçarmos linhas paralelas a partir deste cateto passando
por cada uma das trinta divisões de nossa escala, teremos a divisão por 30 da altura de
nossa mancha gráfica. Exatamente como no diagrama a seguir:


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Diagramas Proporcionais

Diagramas proporcionais conferem um grau de sutileza muito interessante ao


design. O uso de diagramas proporcionais permite ao designer justificar de forma quase
científica ou até mesmo filosófica a razão por seguir determinado caminho criacional.
Dá ao projeto um apelo psicológico muito forte. Por exemplo, imagine-se
desenvolvendo um livro sobre um romance onde a história se desenvolve de forma
progressiva até que se atinja o seu clímax. Ou que se esteja desenvolvendo um livro
sobre botânica ou sobre biologia, onde a série de fibonacci é sempre uma forte presença.
Assim, ao adotar uma escala proporcional à sua mancha gráfica, o designer se permite a
contar uma história através da própria estrutura do seu projeto.

Para ilustrar o funcionamento de uma escala proporcional, pense numa


seqüência onde o terceiro número é a soma dos dois primeiros, e onde o quarto número
é a soma do segundo com o terceiro e assim por diante:

Seqüência 1:

1 1 2 3 5 8 13 21 34 55 89

Seqüência 2:

3 4 7 11 18 29 47 76 123 199

Seqüência 3:

3 6 9 15 24 39 63 102 165 267

Seqüência 4:

3 7 10 17 27 44 71 115 186 301 487

Seqüência 5:

3 8 11 19 30 49 79 128 207 335

Seqüência 6:

3 9 12 21 33 54 87 141 228 369

Em todos os exemplos acima, o último número da série é sempre a soma dos


dois números imediatamente anteriores.

Vamos escolher uma das seqüências acima como, por exemplo, a terceira
seqüência:

3 6 9 15 24 39 63 102 165 267

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Temos entre os números o valor 24. Vamos utilizar uma escala em milímetros e
consideraremos 24 como sendo 24 milímetros e adotaremos esta medida como sedo a da
margem interna. Usaremos o mesmo procedimento com todos os outros valores. Assim,
para desenhar a mancha gráfica de uma página de um livro no formato 135mm de
largura por 210mm de altura, o mesmo do livro Ensaio Sobre a Cegueira, de José
Saramago, pela Companhia das Letras, teremos a seguinte mancha:

Observe a mancha proporcional acima. Ela é totalmente baseada na escala 3-6-9-


15-24-39-63-102-165. Todas as medidas contidas nesta série aparecem no esquema
acima.

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A diagramação moderna

A diagramação moderna segue uma grade mais fluida e geralmente com uma
dinâmica em camadas. Privilegia-se o uso da diagramação em módulos ou campos de
grade. Um bom exemplo desta técnica é a diagramação adotada pelo designer Karl
Gerstner para a revista Capital.

Gerstner utiliza subdivisões sucessivas em sua grade. Com uma unidade, com
quatro unidades, com 9 unidades, com 12 unidades, com 25 unidades e com 36
unidades. Sempre usando a mesma calha de coluna, neste caso, ele definiu uma calha
(gutter) de 2 unidades.

Assim, a página com um único módulo ou unidade ficou com 58 unidades.

Com 4 módulos, temos dois na base e dois na altura. 28 + 2 + 28 = 58.

Com 9 unidades, onde temos três linhas e três colunas: 18 + 2 + 18 + 2 + 18 =


58.

Com 12 unidades: 13 + 2 + 13 + 2 +13 + 2 + 13 = 58

Com 25 unidades: 10 + 2 + 10 + 2 + 10 + 2 + 10 + 2 + 10 = 58

Com 36 unidades: 8 + 2 + 8 + 2 + 8 + 2 + 8 + 2 + 8 + 2 + 8 = 58

Acima, a grade de Karl Gerstner

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Abaixo, representações com as várias possibilidades da grade de Karl Gerstner

O designer poderá optar por


construir sua grade em função
de diversas subdivisões,
combinadas ou isoladas.
Assim, é possível ter a
primeira coluna usando dois
módulos da divisão por 4
unidades para a coluna da
esquerda, mais três colunas
usando os módulos da divisão
por 36 unidades:

Assim por diante, como a


diagramação é modular,
diversas outras combinações
podem ser obtidas imprimindo
muita versatilidade e dinâmica
no projeto editorial.

Existem diversos outros tipos de diagramação. Por exemplo, assim como a


diagramação proporcional já comentada anteriormente, existe também a fatorial, onde a
escala de progressão dos valores da escala segue um padrão fatorial. Porém, todos estes
modelos até aqui apresentados, seguem uma ordenação de fora para dentro, ou seja,
primeiro o designer desenvolve a página, em seguida a diagramação e por último é que
ocorre a preocupação com a tipografia. Todavia, existem aqueles que preferem
privilegiar um design de dentro para fora, ou seja, primeiro irá ser escolhida a
tipografia, o tamanho da fonte e sua entrelinha para a seguir definir-se o tamanho das
colunas, seu número, suas calhas e finalmente a margem da mancha gráfica.

Elaborado pelo professor André Furtado


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Bibliografia
Guia de artes gráficas: Design e Layout de David Dabner
Princípios fundamentales de composición de Beth Tondreau
O livro e o designer II Como criar e produzir livros de Andrew Haslam

Elaborado pelo professor André Furtado

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