Dissertacao DanieleSouzadosSantos 2009 Completa
Dissertacao DanieleSouzadosSantos 2009 Completa
Dissertacao DanieleSouzadosSantos 2009 Completa
Maceió
2009
DANIELE SOUZA DOS SANTOS
Maceió
2009
Catalogação na fonte
Universidade Federal de Alagoas
Biblioteca Central
Divisão de Tratamento Técnico
Bibliotecária Responsável: Helena Cristina Pimentel do Vale
Bibliografia: f. 106-111.
CDU: 665.7(813.5)
Dedico este trabalho primeiramente
ao meu Deus amado que sempre me
dá forças para prosseguir e para
minha família, fundamental em
todos os momentos.
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer primeiramente a meu Deus amado que está sempre ao meu lado em todos os
momentos, dando-me forças para seguir sempre, à minha família por todo apoio, carinho,
paciência e muita compreensão na elaboração deste trabalho e para minha amiga Ângela, um
verdadeiro anjo que me ajudou a ingressar no PRODEMA, uma pessoa maravilhosa que me
ajudou principalmente nos momentos de “desespero”. Quero agradecer também a Profª. Drª.
Karla Miranda Barcellos, orientadora deste trabalho e amiga, que me ajudou bastante na
elaboração dessa dissertação, principalmente nos momentos mais delicados , com sua calma,
paciência e com seus conhecimentos, acreditando sempre na realização do mesmo. Aos
professores do PRODEMA que me ajudaram com suas dicas e ensinamentos e a CAPES pelo
apoio financeiro, pois sem o mesmo ficaria inviável a concretização deste trabalho.
Agradecimentos também aos meus companheiros de sala que me deram grandes incentivos,
cada um com sua sabedoria e especialidade em suas áreas de atuação, em especial ao Fábio
Collin, companheiro que recentemente nos deixou e que agora descansa nos braços do Pai e a
todos que, diretamente e indiretamente, ajudaram-me no decorrer dessa jornada e na
concretização deste trabalho.
“Os que esperam no Senhor
renovam suas forças; sobem com
asas como águias, correm, mas não
se cansam, caminham, mas não se
fadigam”. (Isaías 40:31)
RESUMO
Due to the consolidation of the capitalist model, technological progress and consequently the
excessive consumption of disposable products, has become the great volume of solid waste
generated by society, thus creating serious environmental and public health. Beside this
problem, the sharp rise in the price of fossil fuels and the possibility of depletion makes it a
great demand for alternative energy sources that are renewable, abundant and economically
viable. In this context, the use of municipal solid waste as an alternative source of energy
emerges as one of the options appropriate for the biogas generated by the decomposition of
organic waste is mainly composed by methane (CH4), one of the main greenhouse effect
gases trainers and has a high potential energy. This work will focus the exploitation of the
urban solid residues as alternative source of energy, mainly in its use as electric energy,
identifying your benefits. The main available in the market and used technologies in Brazil for
the conversion of the garbage in electric energy will also be identified, characterizing its
benefits and impacts that each one can bring to the environment. Moreover, the proposals will
be seen that stimulate the use of biogas as renewable energy.
CF Constituição Federal
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 16
2 LIXO E ENERGIA................................................................................................... 19
3.5.4 Biorremediação..................................................................................................... 51
3.5.5 Incineração............................................................................................................ 52
3.5.6 Compostagem........................................................................................................ 52
3.5.7 Reciclagem............................................................................................................. 53
4.3.2 Incineração............................................................................................................ 77
6 CONCLUSÃO............................................................................................................. 104
7 REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 106
16
1 - INTRODUÇÃO
Ao longo da história diversos países tem se defrontado com a problemática do lixo e cada um
tenta solucionar o problema de acordo com seu desenvolvimento tecnológico, seus recursos
econômicos e sua vontade política de resolver a questão.
Em 1988 foi estabelecido pela Organização Metereológica Mundial e pelo Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(IPCC). Esse painel tem como objetivo produzir relatórios com informações científicas
baseadas nas pesquisas de cientistas de todo o mundo, recomendando aos tomadores de
decisões os aspectos relativos às questões das mudanças climáticas. Foram realizados 4
relatórios nesse periódo e o 4º Relatório confirmou que realmente as ações humanas são as
responsáveis por essas mudanças climáticas e que o aquecimento atual não é parte do ciclo
natural do planeta, mas consequência de um estilo de vida iniciado na Revolução Industrial. O
lançamento de dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4) na atmosfera aumentou nos últimos
50 anos intensificando o efeito estufa, além da utilização dos combustíveis fósseis (em
especial carvão e petróleo) e desmatamento em larga escala.
Novas fontes alternativas de energia vem sendo utilizadas com o intuito de reduzir a
dependência do petróleo e do carvão mineral e de minimizar os impactos que estas fontes
trazem ao meio ambiente. Uma alternativa de energia que vem provocando bastante interesse
é a utilização do biogás proveniente do lixo urbano para gerar energia elétrica e que já é
utilizada em alguns países, inclusive no Brasil.
17
O biogás é uma mistura gasosa formada principalmente de gás metano, CH4, altamente
combustível e facilmente obtido pela decomposição da matéria orgânica, encontrada em lixo
urbano, esterco de animais e resíduos industriais (TOLMASQUIM, 2003).
O biogás do lixo urbano vem sendo utilizado em vários países, dentre os quais destacam-se a
Alemanha, EUA, Índia e China. No Brasil temos como exemplos a Usina Bandeirantes e a
Usina São João, ambas no estado de São Paulo, o Aterro de Nova Iguaçu no Rio de Janeiro
que opera com um aterro energético e a Usina Verde que opera com incineradores
energéticos.
O objetivo deste trabalho é identificar os principais benefícios que o uso do lixo urbano como
fonte alternativa de energia para a produção de energia elétrica pode acarretar à comunidade
que produz lixo em excesso, além de identificar as tecnologias disponíveis no mercado para
sua conversão em eletricidade e quantificar, a partir dos dados da literatura, a produção de
energia elétrica através do lixo urbano produzido na cidade de Maceió.
Além disso, foi adotado a Análise Comparativa, para comparar as informações obtidas em
determinados locais que utilizam à energia através do lixo como uma fonte alternativa de
18
energia com os dados já existentes dos resíduos na cidade de Maceió. Com essa comparação
será avaliado se os resíduos da capital possuem potencial para gerar energia elétrica a partir
do lixo.
2 - LIXO E ENERGIA
2.1 QUESTÕES AMBIENTAIS E MATRIZ ENERGÉTICA.
Antes mesmo do homem saber o significado da palavra energia, ele a utilizava em diversas
formas de sua vida, desde caça, pesca, utilização de materiais e variadas atividades. Porém,
essa energia utilizada era apenas para seu próprio sustento e do grupo, retirando apenas o
necessário para si e havendo dessa forma uma harmonia entre ele e a natureza, sendo esta a
sua aliada nas mais diversas funções. Com o passar dos anos, a energia obtida através da
natureza foi crescendo cada vez mais para satisfazer as vontades daquele grupo de habitantes
e assim, diversas técnicas foram aprendidas para garantir a sobrevivência dos mesmos, como
por exemplo, a agricultura. Atualmente a energia é um fator muito importante nas atividades
humanas, pois ela dinamiza o desenvolvimento econômico, seja na forma de serviços
essenciais, na fabricação de produtos e na geração de empregos, levando assim ao
crescimento de uma região. Para Kiperstok (2002), o maior consumo de energia indica a
existência de mais indústrias, saúde, habitação, empregos, educação e uma melhor condição
social de uma população, refletida pela longevidade dos mesmos.
Porém, a velocidade com que está ocorrendo essa extração e sua utilização está ocasionando,
aos poucos, a destruição de toda uma espécie viva, incluindo o homem. De acordo com um
levantamento da ONU (VEJA, 2006), em 2005 ocorreram 360 desastres naturais, dos quais
259 estavam diretamente relacionados ao aquecimento global, que ocorre devido a grande
concentração de dióxido de carbono, gás metano e óxido nitroso na atmosfera, provenientes
dos combustíveis fósseis usados nos carros, indústrias e termelétricas, além das queimadas
nas florestas. Processos naturais como a decomposição da matéria orgânica proveniente dos
lixões a céu aberto e erupções vulcânicas produzem 10 vezes mais gases nocivos para a
atmosfera do que aqueles de origem antropogênica.
20
As espécies animais também estão ameaçadas e as estimativas são espantosas: entre 1500 e
1850, foi eliminada uma espécie a cada 10 anos. Entre 1850 e 1950, uma espécie por dia
(BOFF, 1993) e a previsão para o futuro não é nada otimista... O 4º Relatório do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o AR4, confirmou o que os especialistas
já haviam previsto sobre as causas das mudanças climáticas: em sua maior parte ela possui
origem antropogênica, ou seja, o próprio homem está mudando o clima da natureza e para
muito pior. Segundo o IPCC, o aumento da temperatura ocasionado apenas por processos
climáticos naturais é menor que 5%.
A Figura 3 mostra a concentração do nível do CO2 na atmosfera, um dos principais gases que
provocam o aquecimento global. A elevação do nível de CO2 foi medida a cada 10 anos e de
1870 a 1930 as emissões cresciam de forma regular. A partir de 1940 as emissões
aumentaram muito, de forma a atingir números exorbitantes. De acordo com especialistas do
IPCC, o aquecimento global é irreversível, porém há formas de reduzir seus efeitos, sendo
necessário o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes que sejam menos agressivas ao
meio ambiente, utilização mais eficiente da energia, redução no uso dos combustíveis fósseis
e diminuição dos gases que provocam o efeito estufa, tais como CH4 e CO2 .
23
Figura 4 – Aumento na Temperatura da Terra, projetado para finais do Século XXI (IPCC,
2007).
24
Para Mattos e Mattos (2004), para uma sociedade ser considerada sustentável é necessária a
integração entre o desenvolvimento da sociedade capitalista e a conservação ambiental, tendo
como foco tanto a preservação das espécies quanto a mobilização da sociedade para gerar as
mudanças. Com esse argumento surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável.
Eles complementam afirmando que as regiões mais pobres do mundo destroem ou exportam
seus recursos naturais para satisfazer as necessidades das nações mais ricas ou para pagar
dívidas impostas pelo Banco Mundial. Dessa forma, as nações ricas usufruem dos seus
padrões à custa dos países pobres.
Furtado (1998) acredita que a minoria concentradora de renda consome muitos recursos
naturais não-renováveis, desperdiçando sem se preocupar com as gerações futuras, enquanto a
maioria da humanidade passa fome. Para o autor, a qualidade de vida nem sempre melhora
com o avanço da riqueza material, estando a população aprisionada a estreitos padrões
culturais, tendo aumento do desperdício em certas faixas de consumo. O estilo de
desenvolvimento faz referência ao modo de vida, padrão de consumo e escolha tecnológica.
Quanto maior o crescimento econômico, maior o consumo e maior a quantidade de poluição e
insumos.
O meio ambiente tem sido alvo de diversos debates ao longo dos anos, em vários países e em
diversos encontros internacionais. A evolução dos principais debates quanto à questão
ambiental é mostrada a seguir (MANO, 2005 e AMBIENTE BRASIL, 2007):
26
1869: Proposta da palavra Ecologia pelo biólogo e zoólogo Ernest Haeckel, conscientizando a
sociedade sobre a preservação do ambiente natural;
1962: Publicação do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carlson, alertando sobre os riscos
dos pesticidas sobre o meio ambiente;
1968: Fundação do Clube de Roma para atuar a favor das mudanças globais, livre de
quaisquer interesses políticos, econômicos ou ideológicos;
1973: Primeira crise energética com o aumento do preço do barril de petróleo árabe,
marcando a necessidade por novas fontes energéticas renováveis;
1987: Divulgação do relatório final da Comissão Brundtland: Nosso Futuro Comum, nos
Estados Unidos, com a proposta de desenvolvimento econômico integrado à questão
ambiental;
1988: Organização Metereológica Mundial (WMO) e Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA) criaram o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC) para melhorar o entendimento científico sobre o tema através da cooperação dos
países membros da ONU;
1
O Anexo I é formado por países industrializados membros da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico-OCDE (exceto o México e a Coréia do Sul), que possuem grandes níveis de
emissões de gases do efeito estufa e que possuem condições financeiras e tecnológicas para atingir as reduções,
além de países industrializados em processo de transição.
28
2006: Entra em vigor o Protocolo de Kyoto, com um pacto estabelecido entre a União
Européia, Canadá e países em desenvolvimento. Os Estados Unidos não assinaram o
Protocolo. O Protocolo define adoção de trabalhos contra o efeito estufa e as mudanças
climáticas.
Para Kiperstok (2002) o consumo de energia tem sido um dos indicadores que medem o
desenvolvimento de um país, pois quanto maior o seu consumo, maior o desenvolvimento de
uma nação.
29
O consumo de energia no mundo cresce cerca de 2% ao ano e deverá dobrar nos próximos 30
anos se prosseguirem as tendências atuais, tanto nos países desenvolvidos quanto nos em
desenvolvimento. No Brasil o Consumo Final de Energia em 2007 foi de 90,3% em relação à
Oferta Interna de Energia e 3,5 vezes superior ao de 1970, sendo o Setor Industrial
responsável por 38 % do consumo, seguido pelo Setor de Transportes (27 %) e pelo Setor
Residencial (10 %) (BEN, 2008). As Figuras 5 e 6 apresentam a Oferta Interna de Energia no
Brasil e no Mundo referentes a 2007.
Carvão Mineral
e Derivados;
6% Produtos da
Gás Natural; Cana; 15,90%
9,30%
Lenha e Carvão
Mineral; 12%
Hidráulica e
Petróleo e Eletricidade;
Derivados; 14,90%
37,40% Urânio e
Outras Fontes Derivados;
Primárias; 1,40%
3,20%
Carvão Mineral;
Gás Natural;
26%
20,50%
Hidráulica e
Eletricidade;
2,20%
Percebe-se pelas figuras 5 e 6 que a oferta interna de energia no mundo a partir dos
combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão mineral) e o seu consumo interno é maior
que no Brasil, chegando a ser superior a 80%. Com esse sistema atual baseado no consumo
dos combustíveis fósseis, os países industrializados se deparam com os problemas relativos à
sustentabilidade, tais como: exaustão dos combustíveis fósseis, agressões ao meio ambiente e
agravo à saúde gerado pela poluição. Além disso, há o suprimento e abastecimento do
petróleo, visto que as reservas desse combustível se encontram, na maior parte, nos países do
Oriente Médio, região com grandes conflitos e instabilidade política.
De acordo com a figura 5, no Brasil a dependência por combustíveis fósseis é bem inferior ao
dos países industrializados, predominando como matriz energética as hidroelétricas, devido à
localização geográfica do país, e também a biomassa, que vem se difundindo e ganhando cada
vez mais destaque. As fontes alternativas de energia crescem a cada ano no país e terão uma
participação cada vez mais intensa na matriz energética. As fontes renováveis são aquelas
que, uma vez exploradas pelo homem, se reconstituem espontaneamente. Como exemplo
destacam-se a energia eólica, solar e fotovoltaica, biomassa, biodiesel, geotérmica e
hidroelétrica.
Como exemplos de biomassa têm-se a energia obtida a partir da produção do álcool, madeira,
óleos vegetais e decomposição do lixo orgânico. Já o biodiesel é produzido a partir do óleo
extraído da mamona, girassol, dendê, amendoim, buriti e macaúba. Ele pode ser utilizado
isoladamente ou como complemento aos combustíveis tradicionais, podendo variar de 2% a
20% sua adição ao óleo diesel. A produção de gás a partir do lixo é uma alternativa energética
que desponta com grandes possibilidades de participação na matriz energética atual.
modificações, não havendo mais obstáculos para sua contratação, que é estabelecida por uma
tabela de preços. Dessa forma tornou-se viável a parceria entre empresas privadas e
prefeituras para a produção de energia, desde pequenas hidroelétricas até energias renováveis,
tais como eólica, solar e biomassa (CALDERONI, 2003).
Inúmeras são as vantagens das fontes renováveis em relação aos combustíveis fósseis.
Diversos autores descrevem essas vantagens, dentre as quais destacam-se:
Assim, são nítidas as vantagens das fontes alternativas de energia, tanto para o meio ambiente
quanto para o homem, tanto do ponto de vista ambiental, social e até econômico, devendo ser
32
pesquisadas e analisadas mais profundamente, para que no futuro possa substituir por
completo o uso e a dependência dos combustíveis fósseis.
Uma definição para essa questão do consumo e lixo é sintetizada por Santos (2000):
Na ânsia de ter, a posse permite o auge do desfrute do prazer, mas também a perda
do valor da própria coisa, com o seu uso. Essa toma então, o sentido de coisa
descartável, ou seja, de algo do qual se deseja livrar, vira lixo. Já que o indivíduo
sofre o efeito instigador e de sedução pela compra de coisas novas, por parte dos
produtores em grande escala, o ciclo de produção, consumo e descarte se acelera.
Como o lixo tem materialidade e ocupa território, enquanto não é percebido por
outrem com o sentido de valorização, transforma-se em entulho depreciado e
causador de transtornos coletivos (...). (p.07)
Segundo o autor, as relações que estão interligadas no modelo industrial são: os grandes
ciclos de produção, com a fabricação de produtos sofisticados, o forte apelo do marketing que
ativa a venda dos produtos, impulsionando ainda mais o desejo de compra dos consumidores,
o consumo desses produtos e o descarte, que diminui a vida útil daquele bem tornando-o
obsoleto antes do tempo.
Como o consumo é feito em pouco tempo, logo estarão no mercado outros produtos mais
inovadores para serem consumidos, o que aumenta ainda mais a quantidade de resíduos
descartados pela população, muitas vezes resíduos em boas condições de uso.
Para Tolmasquim (2003) as pessoas tornaram-se tão “eficientes” e diversificadas nessa atual
sociedade que para o modelo dominante, produzir bens a partir da matéria-prima virgem a
33
reciclar sucata está mais barato e viável, comportamento que vem contribuindo para o rápido
esgotamento dos recursos naturais não renováveis. Para a sociedade é ainda mais cômodo e
barato comprar um bem novo a consertar ou reaproveitar o já adquirido, o que só aumenta a
quantidade de extração de matéria-prima e aumento de descartes.
Para Cohen (2003) o consumo está sintetizado no aumento da satisfação dos desejos humanos
devido ao consumo máximo de bens e consequentemente ao prazer proporcionado pelas
variedades e inúmeras formas de uso, tendo como conseqüência a poluição ambiental.
Porter e Linde (1999) consideram a poluição como uma forma de desperdício econômico,
onde a sucata e a energia são sinais de que os recursos foram utilizados de forma incompleta,
insuficiente ou ineficaz, revelando falhas no projeto do produto ou no processo de produção.
Para ele, uma empresa eficiente é aquela que possui menos poluição possível: utiliza melhor
sua matéria-prima e possui uma quantidade mínima de resíduos, evitando-os nas linhas de
produção ou tratando-os como ativos, seja reutilizando-os ou vendendo-os para outras
empresas.
Observa-se que os resíduos dos países desenvolvidos têm uma maior quantidade de materiais
inorgânicos, como embalagens plásticas, papéis e metais devido a grande industrialização,
enquanto que nos países em desenvolvimento e pobres a quantidade de matéria orgânica,
como restos de alimentos, é bem maior.
regiões do planeta. Porém, uma grande parte dessa população ainda encontra-se excluída
desse processo de desenvolvimento e consumo.
Para Romeiro (2003) o impacto ecológico dos ricos é bem maior do que a da classe baixa,
devido ao estilo de vida dos ricos dependerem mais dos recursos do planeta, sendo seus
efeitos mais alarmantes. Com a Revolução Industrial, a capacidade da humanidade de intervir
na natureza aumentou e continua a crescer cada vez mais, pois o homem modifica os
ecossistemas, ou preservando ou modificando, para fazer habitações e estradas ou utilizando
as reservas de combustíveis fósseis para suprir suas necessidades.
Para Georgescu - Roegen (1973) todas as formas de energia são transformadas gradualmente
em calor, sendo que o calor acaba se tornando tão difuso que o homem não pode mais utilizá-
lo. Sendo assim, o crescimento econômico moderno vem sendo feito por meio da extração de
carvão e petróleo e que um dia, essa extração será baseada em formas de exploração mais
direta da energia solar. O autor complementa que o processo de crescimento econômico
obrigará a humanidade a abandonar a forma de extração dos recursos não renováveis e sua
conclusão é de que será necessário encontrar uma via de desenvolvimento humano que possa
ser compatível com o decréscimo do uso dos combustíveis fósseis. É o que está ocorrendo,
com o uso dos combustíveis para substituir em parte ou por completo o uso dos combustíveis
fósseis.
2
Entrevista disponível no site <www.globo.com/bomdiabrasil>, dia 11/01/2007.
35
Boulding (1973) faz uma analogia com o consumo dos recursos naturais, classificando-os em
“Economia do Vaqueiro” e “Economia do Homem Espacial”. A “Economia do Vaqueiro”
mostra o planeta Terra ilimitado, com recursos naturais infinitos. Assim como o vaqueiro
cavalga planícies ilimitadas, assim os recursos naturais são explorados, sem haver uma
preocupação com o mundo natural. Porém, os recursos existentes podem acabar se não houver
a redução do seu consumo ou se não houver o consumo consciente para não gerar
desperdícios. Essa é a visão da “Economia do Homem espacial”, que compara o planeta terra
a uma nave espacial. Assim como o astronauta está limitado a um local reduzido, os homens
também possuem limitações, pois os reservatórios de recursos naturais podem se extinguir um
dia.
Sachs (2000) acrescenta que a geração atual tem que ser solidária com as futuras gerações,
pois as ações presentes afetam diretamente a biosfera. Para ele, a história da humanidade
deve ser examinada em termos de integração entre as ciências, pois, o que a natureza levou
séculos e milênios para construir, a sociedade leva no máximo décadas para utilizar. Sendo
assim, a civilização tem que modificar seus hábitos e consumos, transformando-se numa
“civilização do ter” para uma “civilização do ser”.
36
A palavra lixo deriva do latim lix e significa “cinza”. De acordo com o Dicionário de Aurélio
Buarque de Holanda, "lixo é o que se varre da casa, da rua e se joga fora; entulho. Tudo
aquilo que não se quer mais; coisas inúteis, imprestáveis, velhas e sem valor." Para Mattos e
Granato (2005) é sinônimo de detrito, dejeto, refugo, resto, resíduo.
O termo lixo é considerado como sinônimo de resíduo, porém eles possuem um significado
diferente; enquanto o lixo é todo material inútil que pode ser nocivo e é descartado, posto em
local público, o resíduo já tem um sentido de reaproveitamento, sendo muitas vezes as sobras
do processo produtivo, sendo equivalente a “refugo” ou “rejeito” (CALDERONI, 2003).
A produção de lixo é inevitável, pois ele é o fim da vida útil de um produto ou as sobras de
processos produtivos. Calderoni (2003) destaca que, mais cedo ou mais tarde, toda produção
mundial de bens se transformará em lixo ou resíduo. Em alguns países desenvolvidos, como
Japão e Estados Unidos, a produção de bens de consumo (carro, eletrodomésticos) é tão
elevada e variada que os produtos se depreciam mais rápido, sendo “descartados” pela
população. Entrevistas realizadas por alguns programas com brasileiros que moram nesses
países , como exemplos Bom Dia Brasil e Globo Repórter, ambos da Rede Globo, mostram
como eles conseguiram mobiliar suas casas apenas utilizando esses resíduos descartados nos
depósitos de lixo.
37
Para Santos (2000, p.16) o lixo possui várias conotações como forma de percepção dos
indivíduos, sendo elas:
Com o passar dos anos, a população começou a crescer e a se fixar em determinados locais,
formando assim núcleos urbanos e praticando técnicas que garantissem o alimento do grupo,
como por exemplo a agricultura e a pecuária. Com o aumento populacional, a quantidade de
lixo também aumentou e como não haviam formas adequadas de dispor esse material, ele era
lançado nas ruas. Mattos e Granato (2005) relatam que as ruas urbanas acumulavam não só
restos de alimentos e pequenos objetos, mas também fezes de animais e até mesmo de seres
38
humanos, sendo provável o aparecimento das grandes epidemias de pestes na Idade Média
devido à ausência de saneamento. Rezende e Heller (2002) acrescentam:
maior aumento no número de pessoas, maior a quantidade de lixo gerada. Segundo Feeny
(2001), essa teoria está presente nos trabalhos de Malthus e Hardin que enfoca a
superexploração que se relaciona o manejo de recursos de propriedades comuns e que essa
superexploração está sujeita a maciça degradação. Conclui-se que a liberdade em relação aos
recursos comuns gera a ruína de todos, pois a distribuição dos alimentos é desigual. Para
Ehrlich (2006), a população humana tem que ser estancada, sendo óbvio que, se a escalada
das atividades humanas continuar a crescer, mesmo que por algumas poucas décadas, a
extinção da biota da Terra não poderá ser evitada.
É nítida a pressão que o homem faz sobre a Terra, pois à medida que há o crescimento
populacional, há também a exploração dos recursos naturais, devido às novas fronteiras
agrícolas que vão surgindo para alimentar todo esse contingente. Grippi (2001) destaca que
com isto o homem se aproxima demais das nascentes dos rios, destruindo as matas ciliares, a
biomassa vegetal e as florestas para dar lugar à agricultura e as áreas de pastagens, mudando
assim o planeta e vulnerabilizando a espécie humana a eventos extremos da natureza, como
secas e inundações.
Grippi (2001) ainda relata que no início da Era Cristã existiam 200 milhões de pessoas no
mundo. Em 1750 esse número passou para 1 bilhão de habitantes, número que se manteve até
o final do século passado. Com o avanço da medicina e da tecnologia, o aumento
populacional se aproximou dos 6 bilhões de habitantes. Nesse último século a população
mundial aumentou em quase 5 bilhões de habitantes. É provável que nos próximos 30 anos
aumente em 3 bilhões, chegando a um total perigoso de 8 bilhões de habitantes, o que
implicaria no maior uso e consumo dos recursos naturais, na produção de bens de consumo
além de um maior número de resíduos e na consequente poluição.
Calderoni (2003) enfatiza que a médio e a longo prazo a má disposição do lixo ocasionará a
inviabilidade da vida como hoje a conhecemos, devido a crescente quantidade gerada, que
muitas vezes é resultado do consumo exagerado e dos desperdícios de materiais. Essa má
disposição ocasiona sérios problemas que vão além da geração dos resíduos, passando pela
40
questão ambiental, social, econômica, política e de saúde pública. Diversos autores destacam
esses problemas, sendo eles:
II - Desvalorização imobiliária das casas próximas àquela área onde se situa o lixão;
III – Prejuízo a restaurantes e lanchonetes, pois com o mau cheiro vindo do lixão as pessoas
associam o odor com a comida vendida e consumida naquele estabelecimento;
VII - Impacto visual negativo para várias pessoas e turistas que passam por aquela área, seja
caminhando ou de carro (poluição visual);
3
Chorume ou Sumeiro é o líquido oriundo da decomposição do lixo e provém da umidade natural do mesmo, da
água de constituição de vários materiais e do liquido gerado pela ação de microorganismos que atacam a matéria
orgânica.
4
Dados relacionados sobre os problemas respiratórios foram divulgados no programa AL TV 2º Edição, da TV
Gazeta, 2006, onde um médico especialista relata que as crianças são as que mais sofrem com problemas
respiratórios, devido à inalação dos gases que saem dos lixões.
41
VIII – Desvalorização do turismo naquela região, visto que o turismo é um dos setores da
economia que mais cresce no país e gera empregos;
ainda mais essa atitude, ainda comum em boa parte do país. As pessoas não tem consciência
do espaço reduzido que vivem, o que contribui ainda mais para essa prática de poluir os rios.
Repare que a maioria dos materiais descartados é de natureza inorgânica, o que poderia ser
vendido por cooperativas, entregue numa indústria de reciclagem ou ser reaproveitados no
artesanato, ou ainda, serem utilizados por incineradores energéticos. Na foto percebe-se
também a presença de um homem no barco, podendo deduzir que ele está recolhendo os
materiais que possivelmente servirá para seu sustento.
De acordo com as Normas da ABNT 10.004 (2004), os resíduos sólidos são classificados em
três categorias:
O lixo, segundo Grippi (2001, p.20,21), também pode ser classificado quanto a sua origem
sendo:
43
9 Lixo domiciliar: Aquele originário da vida diária das residências, constituído por
restos de alimentos, produtos deteriorados, jornais e revistas, garrafas e
embalagens, papel higiênico e fraldas descartáveis ou uma infinidade de itens
domésticos;
9 Lixo comercial: É aquele proveniente dos estabelecimentos comerciais e de
serviços, como supermercados, bancos, lojas, bares, restaurantes e etc. O lixo
destes estabelecimentos tem um forte componente de papel , plástico, embalagens
diversas e material de asseio, como papel-toalha, papel higiênico, etc;
9 Lixo público: são aqueles originados dos serviços públicos de limpeza pública
urbana, incluídos os resíduos de varrição de vias públicas, limpezas de praias, de
galerias, córregos e terrenos baldios, podas de árvores, etc. Fazem parte ainda
desta classificação a limpeza de locais de feiras livres ou eventos públicos;
9 Lixo hospitalar: Constituído de resíduos sépticos que contém ou potencialmente
podem conter germes patogênicos. São produzidos em serviços de saúde, como
hospitais, clínicas, laboratórios, farmácias, clínicas veterinárias, postos de saúde,
etc. Este lixo é constituído de agulhas, seringas, gazes, bandagens, algodões,
órgãos e tecidos removidos, meios de culturas, animais em teste, sangue
coagulado, remédios, luvas descartáveis, filmes radiológicos e outros;
9 Lixo especial: É constituído em portos, aeroportos, terminais rodoviários ou
ferroviários. Constituído de resíduos sépticos, pode conter agentes patogênicos
oriundos de um quadro de endemia de outro lugar, cidade, estado ou país. Estes
resíduos são formados por material de higiene e asseio pessoal, restos de
alimentação, etc.;
9 Lixo industrial: É aquele originado nas atividades industriais, dentro dos diversos
ramos produtivos existentes. O lixo industrial é bastante variado e pode estar
relacionado ou não com o tipo de produto final da atividade industrial. É
constituído por resíduos de cinzas, óleos, lodo, substâncias alcalinas ou ácidas,
escórias, corrosivos, etc.;
9 Lixo agrícola: Tem como exemplo embalagens de adubos e agrotóxicos,
defensivos agrícolas, ração, restos de colheitas, etc. Em várias regiões do mundo
este tipo de lixo vem causando preocupação crescente, destacando-se as enormes
quantidades de esterco animal gerados nas fazendas de pecuária intensiva.
Também as embalagens de agroquímicos diversos, em geral agrotóxicos, têm sido
alvo de legislações específicas.
44
Manual de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos (2001) ainda integra dois tipos de
lixo: o entulho de obras, onde a indústria da construção civil é a que mais gera resíduo,
sendo esse lixo composto por concreto, argamassa, madeira, plásticos, papelão, vidros,
metais, cerâmica e terra e o Nuclear, que são resíduos radioativos que provêm das sobras dos
serviços médicos e que ainda não possui um destino adequado. Alguns países registraram
acidentes com esse tipo de lixo, incluindo o Brasil: em Goiânia/GO no ano de 1997, um grupo
de catadores encontrou no lixão uma cápsula de césio 137 e 616 pessoas ficaram
contaminadas e duas morreram.
O Código de Limpeza Urbana de Maceió, Lei nº. 4.301/94, classifica o lixo em: (...) §1° lixo
domiciliar, para fins de coleta regular, os produzidos pela ocupação de imóveis públicos ou
particulares, residenciais ou não, acondicionáveis na forma estabelecida por este código. §2°
lixo público, os resíduos sólidos resultantes das atividades de limpeza urbana, executados em
passeios, vias e logradouros públicos. §3° lixos sólidos especiais, aqueles cuja produção diária
exceda o volume ou peso fixado para a coleta regular ou que por sua composição qualificativa
e/ou quantitativa, requeiram cuidados especiais em pelo menos uma das seguintes fases:
acondicionamento, coleta, transporte e disposição final.
A Tabela 2 mostra a influência do lixo na limpeza urbana nas suas características físicas,
químicas e biológicas e sua devida importância para melhor análise e disposição.
45
CARACTERÍSTICAS IMPORTÂNCIA
Fundamental para se poder projetar as quantidades de
resíduos a coletar e a dispor. Importante no dimensionamento
Geração per capita dos veículos. Elemento básico para a determinação da taxa de
coleta, bem como para o correto dimensionamento de todas
as unidades que compõem o Sistema de Limpeza Urbana.
Indica a possibilidade de aproveitamento das frações
recicláveis para comercialização e da matéria orgânica para a
produção de composto orgânico. Quando realizada por
regiões da cidade, ajuda a se efetuar um cálculo mais justo da
Composição gravimétrica tarifa de coleta e destinação final.
Fundamental para o correto dimensionamento da frota de
Peso específico aparente coleta, assim como de contêineres e caçambas estacionárias.
Tem influência direta sobre a velocidade de decomposição da
matéria orgânica no processo de compostagem. Influencia
diretamente no poder calorífico e no peso específico aparente
do lixo, concorrendo de forma indireta para o correto
dimensionamento de incineradores e usinas de compostagem.
Influencia diretamente no cálculo da produção de chorume e
no correto dimensionamento do sistema de coleta de
Teor de umidade percolados.
Muito importante para o dimensionamento de veículos
coletores, estações de transferência com compactação e
Compressividade caçambas compactadoras estacionárias.
Influencia o dimensionamento das instalações de todos os
processos de tratamento térmico (incineração, pirólise e
Poder calorífico outros).
Ajuda a indicar a forma mais adequada de tratamento para os
Composição química resíduos coletados.
Fundamental para se estabelecer a qualidade do composto
Relação C: N produzido.
Fundamentais na fabricação de inibidores de cheiro e de
aceleradores e retardadores da decomposição da matéria
Características biológicas orgânica presente no lixo.
Indica o grau de corrosividade dos resíduos coletados,
servindo para estabelecer o tipo de proteção contra a corrosão
a ser usado em veículos, equipamentos, contêineres e
pH caçambas metálicas.
O saneamento básico é muito importante para a boa qualidade de vida e saúde da população,
pois além de reduzir a quantidade de poluição provocada pelos resíduos, contribui para a
manutenção do meio ambiente e cria condições de desenvolvimento para a sociedade. O
grupo GESRAD (2004) destaca que, dentre os aspectos mais importantes para garantir um
nível aceitável de qualidade e de vida, está à saúde pública, sendo a disposição final adequada
dos resíduos sólidos urbanos uma questão de alta prioridade e importância para o setor. O
capítulo 21 da Agenda 21 (2001) apresenta a melhor forma de disposição dos resíduos:
A Figura 8 mostra o tempo que a natureza leva para decompor cada resíduo e, se esses
resíduos não forem dispostos de maneira correta, poderão ocasionar poluição localizada por
diversos anos.
O volume de lixo gerado nas grandes cidades mundiais é cada vez maior, sendo necessárias
formas cada vez mais adequadas de disposição. De acordo com a Secretaria Municipal de
Serviços e Obras , citado em Mattos e Granatto (2005), Osaka, no Japão, é a cidade que mais
produz lixo domiciliar, sendo 1,9kg/hab. por dia, seguido de Nova York (1,5 kg), Roterdã (1,4
kg) e Paris (1,4 kg). A Tabela 3 apresenta a destinação dos Resíduos Sólidos em alguns
países.
% DE LIXO
PAÍS RECICLADO ATERRO INCINERAÇÃO COMPOSTAGEM
ALEMANHA 16 46 34 2
ÁUSTRIA 6 65 11 18
DINAMARCA 19 29 48 4
EUA 15 67 16 2
FRANÇA 8 43 40 9
HOLANDA 16 45 35 5
ITÁLIA 3 74 16 7
JAPÃO - 20 75 5
NORUEGA 7 67 22 4
REINO UNIDO 2 90 8 -
SUÉCIA 16 34 47 3
SUÍÇA 22 12 59 7
Fonte: Revista Carta Capital - 19/08/1998, Ano III, nº. 80.
De acordo com a tabela acima, o Aterro Sanitário se apresenta como a maior alternativa em
vários países, dentre eles o Reino Unido, a Noruega, os Estados Unidos e a Áustria. A
incineração aparece em maior quantidade no Japão, devido aos dados demográficos do país,
enquanto que a compostagem se destaca na Áustria e a reciclagem na Dinamarca e Suíça.
A Figura 9 mostra a rota dos resíduos sólidos, desde suas origens, suas formas de
gerenciamento até o consumidor final.
No Brasil, segundo dados do IBGE/PNSB (2000) a quantidade total de lixo coletado no país
era de 228.413 toneladas por dia, sendo 11.067,10 ton/dia na Região Norte, 41.557,80 ton/dia
na Região Nordeste, 141.616,80 ton/dia na Região Sudeste, 19.874,80 ton/dia na Região Sul e
14.296,50 ton/dia na Região Centro – Oeste. A cidade brasileira que produz mais lixo
domiciliar, de acordo com a Secretaria Municipal de Serviços e Obras, é a cidade de São
Paulo, sendo sua produção per capita de 1,0 kg a 1,3 por habitantes..
48
A Resolução CONAMA nº. 05 de 05 de agosto de 1993, em seu artigo 1º, inciso III e IV,
define:
A disposição final dos resíduos sólidos urbanos deve conciliar técnica de instalação, operação
e destinação final, com comprometimento ao meio ambiente e um local selecionado para este
fim, devendo ainda obedecer às técnicas que atenuem ou eliminem os inconvenientes
decorrentes do acúmulo desordenado de resíduos sobre o solo (GESRAD, 2004).
É a forma de disposição dos resíduos sobre o solo sem nenhum tratamento, medidas de
proteção ao meio ambiente ou a saúde pública. É a descarga de resíduos a céu aberto (IPT,
1995).
Essa forma de disposição dos resíduos não possui nenhuma vantagem e é utilizada em boa
parte do país, sendo mais comum nas comunidades mais carentes devido a falta de infra-
estrutura. Segundo dados do IBGE, essa forma de disposição do lixo no Brasil, em 1989,
chegava a 75%. Possui uma série de desvantagens que afeta não somente o meio ambiente,
mas também toda uma população. A Figura 12 mostra um vazadouro a céu aberto. Observa-se
50
na figura, além da presença de urubus e catadores, um trator, o que pode provocar acidentes
com aquelas pessoas e ao fundo a praia, que contrasta com a paisagem.
A diferença entre o Aterro Sanitário para o Aterro Controlado é que o Aterro Controlado
causa degradação no local em que é criado, pois o único objetivo dele é evitar a presença de
vetores e outros animais, não substituindo, portanto o Aterro Sanitário.
É um método para disposição final dos resíduos sólidos sobre um terreno natural, através do
seu confinamento em camadas cobertas com material inerte, geralmente solo, segundo
Normas Operacionais específicas (como a NBR 8419/84) e que evita danos ao meio ambiente,
em particular a saúde e a segurança pública (IPT, 1995).
De acordo com Philippi Jr., et al (2004), as vantagens do Aterro Sanitário são: I - Baixo custo
se comparado com outras formas de tratamento; II - Equipamentos de baixo custo e de
simples operação; III – Implementação em terrenos de baixo valor; IV - Evita a proliferação
de insetos e animais que transmitem doenças; V - Não está sujeito à interrupção no
funcionamento por alguma falha (como no caso da incineração e da compostagem); VI - O
gás pode ser utilizado como energia elétrica e para venda de créditos de carbono.
3.5.4 Biorremediação
Disposição dos resíduos sólidos em células. Depois de 1 a 2 anos essas células são escavadas
e o material todo é peneirado. Em seguida os recicláveis são separados e o inerte (sobra)
retorna a célula como material de recobrimento, pois a mesma célula deverá ser reutilizada
para novos depósitos (IPT, 1995).
5
Percolados ou águas percoladas são o conjunto de águas infiltradas no interior do corpo físico do Aterro,
resultante de diversas fontes eventuais de infiltração, como chuvas, lagos e nascentes. Esse processo tende a se
agravar com a maior densidade pluviométrica.
52
3.5.5 Incineração:
3.5.6 Compostagem:
3.5.7 Reciclagem:
É a separação de materiais provenientes do lixo domiciliar , tais como plásticos, vidros, papéis
e metais com a finalidade de trazê-los de volta a indústria para serem beneficiados.Eles são
novamente comercializados no mercado de consumo.
A prática de reciclagem é bem antiga, sendo o primeiro material reciclado o papel, que se
confunde com sua própria descoberta, em 105 d.C. Desde aquela época o papel era
transformado em outro, de menor qualidade, porém sendo algo muito inovador para a época.
Atualmente a reciclagem é realizada em diversos materiais, dentre eles pode-se destacar o
vidro, latas de aço, plástico, pneu e em especial as latas de alumínio, sendo o Brasil o
campeão mundial na reciclagem desse produto (GRIPPI, 2001)
Antes de haver a reciclagem é realizada a triagem, que é feita através da coleta seletiva, onde
os materiais orgânicos ou lixo úmido (restos de frutas, alimentos) são separados dos
inorgânicos ou lixo seco (metais, papéis, plásticos e outros) e dos descartáveis (fraldas,
absorventes). Os materiais inorgânicos vão para as indústrias de reciclagem enquanto os
orgânicos vão para os aterros (junto com os descartáveis) ou usinas de compostagem. A
triagem de materiais pode ser realizada nas residências, empresas ou indústrias
(recomendável), nos postos de entrega voluntária (PEV) ou ao chegar ao órgão gerenciador do
resíduo. Porém, para se realizar a compostagem é necessário não haver mistura com o lixo
inorgânico, pois pode haver a contaminação por metais pesados e prejudicar dessa forma a
qualidade do adubo.
54
A Figura 12 mostra as cores de cada recipiente para que seja feita a segregação de materiais,
de acordo com a padronização do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA –
Resolução nº. 275 de 25 de abril de 2001.
55
COR MATERIAL
Amarelo Metal
Vermelho Plástico
Azul Papel/Papelão
Verde Vidro
Resíduos
Laranja Perigosos
Marrom Material
Orgânico
Figura 12 – Recipientes coletores de Resíduos com suas
respectivas cores (disponível em <www.sucatas.com>, acesso em
28/06/2007).
Diversos autores defendem essa prática como forma de tratamento adequado para o lixo.
Calderoni (2003), um dos principais defensores desse processo, dá ênfase à viabilidade
econômica, destacando o desperdício de materiais que são jogados no lixão sem o devido
reaproveitamento e a da defesa da coleta seletiva para a separação dos materiais. O autor
ainda destaca a importância do processo no âmbito ecológico (não haverá poluição), social
(emprego e dignidade aos catadores), econômico (muitos produtos tem valor de mercado) e
até como forma de solidariedade (onde há a doação para aquelas pessoas menos favorecidas)
e que o Brasil perde bilhões em receitas sem fazer a coleta seletiva desses materiais, que vão
para o lixo.
A Tabela 4 mostra que em 1996 o Brasil perdeu 3,4 bilhões por não fazer a reciclagem de
materiais, uma perda de matéria - prima significativa.
56
ÍNDICE DE
RECICLÁVEIS PRODUÇÃO RECICLAGEM CUSTO POR ECONOMIA
(Mil Ton/ano) (%) TONELADA (R$ / TON) PERDIDA (R$ MIL)
LATA DE
ALUMÍNIO 66 70,00 13,00 1.188
VIDRO 800 35,09 97,42 50.590
PAPEL 5.798 31,70 184,22 729.514
PLÁSTICO 2.250 12,00 1310,00 2.593.800
LATA DE AÇO 600 18,00 122,00 60.024
TOTAL 9.514 - - 3.465.116
No entanto, apesar de muitas vezes ser vista positivamente por alguns autores, a reciclagem, é
também vista, por outros, como um dos grandes problemas, que ao invés de solução estimula
ainda mais a geração de resíduos, contribuindo para a degradação ambiental e segregação
social. De acordo com dados do Documento-Base da Conferência Nacional do Meio
Ambiente (2003), a reciclagem não é uma solução mágica, pois não destrói os resíduos
tóxicos e para reciclar papel, vidro ou metal se gasta energia e água. Ademais, a maioria dos
materiais não pode ser reciclada eternamente sem perder a qualidade.
Layrargues (2002), cita o Instituto Virtual de Educação para Reciclagem que afirma que em
1999 o Brasil produziu em média 241.614 toneladas de lixo diariamente e que o volume de
latas de alumínio correspondia a apenas 1% deste total, não sendo significativa sua reciclagem
para alongar a vida útil dos depósitos de lixo. Cita ainda, que mesmo o Brasil sendo o
campeão em reciclagem de latas de alumínio a contribuição para a economia de bauxita
representa algo em torno de 0,02% do que é extraído no País.
matérias - primas nas indústrias, na geração de emprego e renda com a coleta seletiva para as
pessoas menos favorecidas e na conscientização da população quanto à questão ambiental.
De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, Art. 23, Inciso IX, os municípios são os
principais responsáveis para prestar os serviços de limpeza urbana, garantindo para a
população a coleta, o transporte, o acondicionamento, o tratamento e a disposição final. A
Tabela 5 abaixo mostra a responsabilidade de cada competência sobre diferentes tipos de lixo.
De acordo com Manual de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos (2001, p.20), há três
vertentes legislativas importantes para a instrumentalização do sistema de limpeza urbana,
quais sejam:
58
A Resolução CONAMA nº. 01/86 define ainda a responsabilidade e critérios para avaliação
de impactos ambientais6 e define as atividades que necessitam de Estudo de Impacto
Ambiental – EIA e Relatório de Impacto Ambiental – RIMA. Dentre elas pode-se destacar as
formas de disposição final dos resíduos sólidos, como o aterro sanitário, a compostagem e
outros. O Licenciamento Ambiental é uma exigência da Legislação Federal e Estadual,
passando pela audiência pública, tendo como etapas a construção, instalação, ampliação e
funcionamento de estabelecimentos e atividades que utilizam os recursos ambientais, além
das possíveis degradações ambientais.
Em Maceió, de acordo com o Código de Limpeza Urbana, lei 4301/94, em seu artigo 4º, era
incumbência da COBEL o cumprimento das normas específicas ao tratamento do tema.
Atualmente o Sistema de Limpeza Urbana de Maceió é fiscalizado pela SLUM, que realiza
seus trabalhos em parceria com duas empresas particulares, a Viva Ambiental e a LIMPEL.
6
Existem outras Resoluções CONAMA e Normas da ABNT que tratam dos Resíduos Sólidos, sendo elas:
CONAMA – 008/91, 006/91, 011/86, 237/97, 004/95, 005/88, 002/91, 257/99, 006/88, 258/99, 005/93, 275/01,
283/01 e Normas da ABNT – NBR 10.004, NBR 1005, NBR 1006, NBR 1007, NBR 13896, NBR 1057, NB
1025, NBR 8849, NB 844, NBR 8418, NB 842, NBR 8419, NB 843.
59
Acredita-se que os serviços de limpeza não envolvem apenas o poder público e suas
competências, mas também toda a população, que pode ajudar a minimizar a quantidade de
lixo gerada, seja na forma de reaproveitamento dos materiais, redução do seu uso, separação
de materiais recicláveis dos orgânicos para a reciclagem dos mesmos, além da disposição em
locais adequados que não seja as ruas, terrenos baldios ou praias e lagos.
As leis ambientais podem ser cumpridas, com punições aplicáveis a qualquer infrator, sejam
cidadãos ou empresas, e a sociedade pode se conscientizar da importância da preservação
ambiental, respeitando-a, exigindo seus direitos e cobrando dos governantes por melhorias e
saneamento adequado, pois não adianta separar seu lixo se não houver locais para tratamento
e disposição e muito menos políticas públicas que incentivem a separação desse material, com
coletores específicos para cada material (vidro, papel, restos de alimentos) em pontos
estratégicos da cidade (escolas, igrejas, praças, comércio).
O que ocorre é que, ao ser feita a triagem nas residências ou empresas, o caminhão coletor
mistura novamente os materiais recicláveis com os orgânicos e descartáveis, o que torna
frustrada a tentativa de triagem. Entende-se que uma ampla divulgação na imprensa falada e
escrita para explicar as pessoas sobre a importância do saneamento e da coleta seletiva e seus
benefícios, além da educação ambiental presente no currículo escolar seja uma boa
alternativa. A limpeza urbana tem que ser vista com mais responsabilidade e é um dever de
todos contribuir para o melhor gerenciamento do lixo.
60
O nome “biogás” é dado a uma mistura gasosa formada pela decomposição da matéria
orgânica do lixo e de alguns elementos, sendo o principal componente o gás metano (CH4). O
gás metano é um gás inodoro, cumulativo, combustível, chegando a ser altamente explosivo
em concentrações de 5% e 10% (inclusive há registros de acidentes com vítimas fatais). Por
ser altamente combustível, ele é 21 vezes mais danoso para a atmosfera do que o dióxido de
carbono (CO2). O biogás pode ser obtido através dos resíduos sólidos (lixo urbano), esgotos,
estercos de animais (no meio rural) ou dos resíduos das indústrias (TOLMASQUIM, 2003).
A utilização, a origem e o conhecimento sobre o biogás são bem antigos; ele era utilizado para
aquecer a água de banho na Assíria no século 10 a.C, na Pérsia no século XVI e em 1667
ficou conhecido como “Gás dos Pântanos”. Em vários países asiáticos, em especial na Índia e
na China, o biogás era muito utilizado, sendo obtido a partir de um biodigestor7 que era
construído no quintal das casas e era abastecido pelos esgotos domésticos. O gás obtido era
utilizado tanto como gás de cozinha como energia elétrica (COSTA, 2006).
Magalhães (1986) relata que em 1980 existiam na Índia 150 mil biodigestores e na China
estavam funcionado 4.500 unidades. Na Inglaterra, na cidade de Exter, houve a primeira
7
Os biodigestores funcionam com mistura de água, esterco animal e/ou fibras vegetais (capim, cascas, etc.). Os
resíduos sólidos e líquidos resultantes do processo formam um excelente adubo de larga aplicação na agricultura.
61
experiência européia com a utilização do biogás para iluminar as ruas, em 1895. Após a II
Guerra Mundial o biogás também foi bastante utilizado com essas finalidades devido à grande
carência energética.
Por um longo tempo, o biogás ficou esquecido devido os derivados de petróleo apresentarem
custos mais compensadores e essa forma de energia propiciar grandes adventos tecnológicos.
Com o cartel da OPEP e as sucessivas crises do petróleo, ocorrida em 1973 e 1979,
acarretando o aumento nos preços e uma redução no produto, os países importadores de
petróleo passaram a desenvolver novas técnicas de fontes de energia alternativa que
substituíssem a utilização do petróleo (como exemplo, a utilização do álcool na indústria
automobilística brasileira), ficando o biogás numa posição de menor destaque
(MAGALHÃES, 1986).
Na década de 90, com as pressões dos movimentos ecológicos, houve uma conscientização
quanto às questões ambientais e, consequentemente, uma preocupação em relação ao
consumo de energia. Atualmente, buscam-se fontes alternativas de energia que sejam menos
agressivas ao homem e ao meio ambiente e que possam substituir o consumo de combustíveis
fósseis, em parte ou completamente. O biogás é uma dessas energias alternativas, sendo
utilizado tanto no meio rural quanto no meio urbano. Ele pode ser transformado em gás
natural, energia elétrica, energia para aquecer equipamentos em indústrias e outras utilidades.
No meio rural o biogás é obtido a partir do esterco dos bovinos, aves e principalmente dos
suínos. Como os dejetos desses animais possuem uma grande quantidade de gás metano,
então eles são utilizados para gerar energia e as sobras são aproveitadas como adubo. Um
exemplo citado por Costa (2006) mostra um rebanho com 100 vacas, que produz 2.500 kg de
estrume por dia, gerando 100 m3 de biogás. Essa energia equivale a 3 botijões de gás (GLP) e
pode resultar em ganhos anuais de R$ 24.000 com a produção do biogás e R$ 40.000 em
fertilizantes. Isto é um valor mínimo se comparado com fazendas onde o rebanho ultrapassa
esse número, além do tipo de animal. Se for uma criação de suínos, segundo o autor a
quantidade de biogás é maior (chegando ao equivalente a 6 GLP) e o valor de ganhos e
fertilizantes também aumentam.
62
Ainda de acordo com Costa (2006), esse tipo de energia é mais acessível por que os materiais
usados são improvisados e adaptados, o que torna mais barato os custos com implantação, ao
invés da importação de materiais e equipamentos mais caros. Porém, algumas desvantagens
podem ser consideradas, tais como a qualidade, durabilidade e confiabilidade do biodigestor
criado.
No meio urbano a utilização do lixo urbano para gerar energia elétrica está ganhando um
maior destaque. Essa forma de energia vem sendo utilizada em vários países e também em
alguns estados do Brasil devido as suas vantagens e importância.
Além de ser uma fonte de energia alternativa existe também a possibilidade de agregar-se
valor ao material que compõe o lixo, tanto o orgânico quanto o inorgânico, podendo ser
63
utilizado na produção de energia elétrica e gerar receitas, seja na comercialização dos créditos
de carbono, segundo mecanismos do Protocolo de Kyoto ou em outros mercados
internacionais, e na economia de energia elétrica obtida a partir de combustíveis fósseis.
Para Tolmasquim (2003), o aproveitamento energético do lixo urbano pode gerar riquezas,
empregos, ser uma arma eficaz contra a poluição, além de gerar energia elétrica adicional para
o país. Alguns benefícios da utilização do biogás proveniente do lixo como energia são
citados a seguir:
“... a coleta seletiva seria extremamente ideal, uma vez que a maioria das
atividades envolvidas no processo de coleta, reciclagem e geração de energia
demanda de mão de obra pouco qualificada (catadores, sucateiros, produtores
independentes de energia, etc.). Alem de diminuir a quantidade de resíduos nos
lixões, milhares de empregos seriam criados em programas de coleta seletiva,
cujos custos de implantação seriam muitas vezes menores do que os custos das
atividades para a produção dos insumos substituídos...”. (TOLMASQUIM, 2003,
p.96).
A utilização do biogás seria muito importante, devido a criação de empregos nas usinas de
energia, podendo aproveitar a mão de obra dos catadores e incentivar ainda mais a coleta
seletiva.
Calderoni (2007) acrescenta que as famílias que moram próximas ao aterro ou ao incinerador
energético se beneficiariam com a energia elétrica, pois elas não precisariam fazer ligações
clandestinas para se abastecer.
Por decisão da ANEEL (2008), a potência máxima instalada dos empreendimentos incluídos
no programa equivale a 270 KW, sendo essa potência suficiente para abastecer 60
estabelecimentos com consumo mensal médio de 150 KW.
ambiental, pela redução de gases que serão lançados na atmosfera, e econômico, pelas receitas
que serão geradas por essa forma de energia (TOLMASQUIM, 2003).
Em 1981 foram iniciados no Reino Unido projetos de aproveitamento do biogás para uso
comercial, substituindo combustíveis fósseis. Em 1993 haviam 13 projetos com o uso do
biogás e 42 instalações que já estavam utilizando o gás do lixo como eletricidade (ENSINAS,
2003).
De acordo com Henriques (2004), atualmente existem cerca de 950 plantas que utilizam o
biogás proveniente do aterro sanitário em todo o mundo, diversas plantas que utilizam a
incineração como forma de obter energia elétrica, além de outras tecnologias que transformam
lixo urbano como energia. Os dados não são exatos, pois não é possível obter dados concretos
em todos os países no mundo. Em países como a China, Índia e Nepal, a tecnologia está muito
consolidada, existindo inúmeras plantas para obtenção de energia elétrica, principalmente no
meio rural.
Nos Estados Unidos, a companhia DTE Energy Company abastece algumas cidades norte-
americanas com a energia do metano, obtido dos aterros sanitários, abastecendo mais de
300.000 mil casas (COSTA, 2006).
A Tabela 08 mostra os países que utilizam Aterros Sanitários energéticos e sua quantidade
aproximada.
67
De acordo com Mattos e Granato (2005), em Madri as usinas geram energia a partir do lixo
abastecendo 50 mil habitantes. Na Califórnia, o biogás dos Aterros Sanitários de Burnbanks e
Lopez Canyon é utilizado para aquecer os digestores do próprio aterro. Em Barcelona e
Bélgica são utilizados incineradores para gerar energia elétrica (COSTA, 2006).
No Brasil, o número de projetos para a obtenção de energia elétrica a partir do biogás está
aumentando devido às receitas geradas e pela necessidade de outras fontes alternativas de
energia, que estão recebendo inúmeros incentivos, tanto nacionais quanto internacionais.
Ensinas (2003) cita duas experiências que ocorreram há alguns anos; A Companhia de Gás da
São Paulo distribuía gás de um aterro sanitário para um conjunto residencial próximo ao local,
enquanto que o Aterro Caju, localizado no Rio de Janeiro, em 1977 juntamente com a
Companhia Estadual de Gás e a Companhia Municipal de Limpeza Urbana, coletava o biogás
e adicionava ao gás natural para abastecer a cidade carioca.
68
Segundo a ANEEL (2008) existiam três usinas termelétricas movidas a biogás. A primeira
delas foi a Usina Bandeirantes localizada na cidade de São Paulo, com capacidade de 20 MW,
que foi considerada em 2003, ano de sua inauguração, como a maior usina do mundo movida
a biogás. A segunda é a Usina São João, localizada no Aterro em São Paulo, com potência de
24,6 MW, seguida da Energ Biog, com potência de 30 KW, localizada na cidade de Barueri,
São Paulo. O Aterro de São João vai transformar em energia elétrica o biogás de 26 milhões
de toneladas de lixo depositados no aterro no período de 1992 a 2007, além de gerar créditos
de carbono.
Atualmente muitos aterros têm se destacado não só pela queima do biogás ou para geração de
energia elétrica, como também na comercialização de créditos de carbono; o Aterro de
VEGA, Salvador, foi aprovado no MDL para comercialização dos créditos de carbono, sendo
o período de geração de créditos de 2004 a 2019. O Aterro Estre Paulínia, em Campinas,
venderá créditos de carbono para o governo italiano. O aterro ONYX, em Tremembé, São
Paulo, também foi aprovado para comercialização dos créditos de carbono, no período de 10
anos. O Aterro de Lara em Mauá, São Paulo, recebe 40 mil toneladas por mês de resíduos de
vários municípios da região e é administrado pelo Grupo Lara, que elabora projetos de
geração de energia elétrica utilizando o biogás (CEPEA, 2004).
De acordo com informações da Eletrobrás (2007), a Usina Nutepa, em Porto Alegre, pretende
transformar biogás em energia elétrica com o auxílio da Companhia de Geração Térmica de
Energia Elétrica, localizado na entrada de Porto Alegre. Neste local são recebidos 600 T/dia
de lixo orgânico, tratados no aterro.
O Aterro Bandeirantes, em São Paulo, é um dos maiores aterros do mundo, seguido dos
aterros de Londres, Paris e Barcelona. A tecnologia é da Empresa holandesa Van Der Wiel,
presente nos Aterros Sanitários de Londres, Barcelona, Paris e Roterdã.
O Aterro Bandeirantes recebe 7.000 toneladas diárias de lixo e tem uma estimativa de receber
30 milhões de toneladas de lixo até 2006, com uma produção estimada de energia de 170 mil
Mwh, o suficiente para abastecer uma cidade de 400.000 habitantes. O custo do projeto foi de
60 milhões de reais, financiados pelo Unibanco, Empresa Biogás e a Eletropaulo, além do
apoio da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. O tempo de depreciação da
tecnologia é de 15 anos (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2004). O retorno financeiro que
essa tecnologia poderá trazer ao município e as empresas colaboradoras são:
Para o Unibanco: O não pagamento da energia, pois a energia do biogás abastecerá cerca de
mil agências em SP. O que é produzido pela usina é jogado na rede e abatido na conta final.
Eletropaulo: A regularização do abastecimento de milhares de famílias que vivem próximas
ao aterro e que possuem ligações clandestinas, os famosos “gatos”.
Empresa Biogás: Ganhos através da comercialização dos créditos de carbono e pela energia
gerada. 50% para a empresa e 50% para o município.
Para Leme (1984), o conhecimento da composição do lixo é muito importante para definir
qual tecnologia será utilizada para a produção do biogás em energia elétrica, sendo a
composição do lixo dividida em física e química. A composição física mede o grau de
umidade do lixo, sendo importante para avaliar o potencial energético dos resíduos sólidos. A
composição química avalia o potencial energético dos elementos no lixo. Há elementos que
são incombustíveis, enquanto que outros são extremamente combustíveis. A Tabela 09 mostra
o grau de umidade de alguns elementos que encontramos nos resíduos sólidos urbanos.
Restos de alimentos 50 - 80
Papel 4 - 10
Papelão 4-8
Plásticos 1-4
Materiais Têxteis 6 - 15
Borrachas 1-4
Couros 8 - 12
Madeira 15 - 40
Vidro 1-4
Folha de Flandes 2-4
Metais não-ferrosos 2-4
Metais Ferrosos 2-6
Lama, cinzas, tijolos 6 - 12
Lixo municipal 15 - 40
Fonte: Leme, 1984.
71
Percebe-se pela Tabela 09 que os elementos que mais possuem umidade são os restos de
alimentos e a madeira, ambos orgânicos, e são esses que sofrerão a decomposição das
bactérias anaeróbicas e gerarão o biogás.
COMPONENTES C H O N S CINZA
Percebe-se pela Tabela 10 que os elementos que possuem maior poder calorífico são os
inorgânicos, tais como borracha, plástico e couro por apresentarem maior percentual de
carbono (C).
Calderoni (2007) comenta que, apesar da quantidade de materiais inorgânicos serem menor
que o orgânico, eles possuem mais energia devido ao maior percentual de carbono, tais como
borracha, couro e plástico. Com essa quantidade de energia, é possível abastecer 60 mil
residências de consumo médio de 60KWh no mês.
A seguir são apresentadas as principais tecnologias para a conversão dos resíduos sólidos em
energia elétrica: o gás do lixo (GDL) obtido a partir do aterro sanitário e a incineração.
O Aterro Sanitário é uma das formas mais simples e mais utilizadas para destinação final do
lixo, sendo muito utilizado no Brasil e em vários países do mundo. Atualmente estudos
apontam o aproveitamento do biogás (o conhecido também como gás do lixo – GDL) obtido a
partir do aterro sanitário excelente recurso para gerar energia elétrica.
Os aterros sanitários eram construídos para colocar o lixo e deixá-los, porque acreditava-se
que apenas o enterrando já solucionava a questão da disposição. Porém o lixo sai na forma de
gás metano, que escapava pelas áreas próximas ao aterro ou emanava pela superfície, o que
ocasionava a combustão espontânea quando tem um excesso de biogás. Há também a
produção de chorume, um líquido que sai do lixo e contamina os lençóis freáticos, além de
outros males ocasionados pela má disposição.
Borba (2002) relata que nesses aterros, para resolver o problema da produção do biogás que
causa transtornos para a população, os técnicos injetam oxigênio para matar as bactérias
anaeróbicas. Com elas mortas não há a produção de biogás por um bom tempo. Porém,
terminado o oxigênio, as bactérias ganham vida e recomeçam o processo de decomposição da
matéria orgânica, produzindo mais gás metano.
Ensinas (2003) comenta que um aterro mal estruturado e mal construído pode ocasionar
prejuízos tanto para a vegetação quanto para o homem. Os efeitos negativos podem aparecer
73
Figura 14 – Caminhão coletor descarregando lixo dentro de um Aterro Sanitário (GOOGLE, 2009).
74
Segundo Tolmasquim (2003), coletado o GDL o proprietário tem duas opções: ou queimá-lo
para evitar que o metano intensifique o efeito estufa, ou transformá-lo em energia elétrica,
seja para uso da própria prefeitura, seja para venda. As duas opções gerarão receitas, porém
na segunda opção o retorno financeiro é mais rápido.
Para haver a transformação do GDL em energia elétrica tem que haver um sistema padrão de
coleta, contendo poços de coleta, tubos condutores, sistema de tratamento e compressor. É
75
essencial, além desses equipamentos o uso de flare. Flare é um equipamento que queima o
excesso de GDL, impedindo que este escape para a atmosfera, intensificando o efeito estufa
devido as grandes concentrações de gás metano. Ele é utilizado também no período de
manutenção do equipamento. Com a simples queima do biogás, mesmo sem aproveitá-lo para
energia, há uma redução significativa de lançamento de CH4 para a atmosfera, podendo haver
receitas pela não emissão desse gás (TOLMASQUIM, 2003)
A Figura 16 mostra a queima do biogás no Aterro Sanitário através do flare, evitando que este
escape para a atmosfera.
Ensinas (2003) acrescenta que alguns fatores são importantes na transformação do biogás em
energia obtido a partir do aterro sanitário. Dentre eles destacam-se:
De acordo com o Informativo Recicloteca (2001), quanto maior o percentual de gás metano,
mais puro será o gás e maior será seu poder calorífico (de 5.000 a 7.000 kcal/m3). Se houver a
retirada de dióxido de carbono (CO2) o gás liberará mais energia na queima. Oliveira (2004)
acrescenta que o aproveitamento energético do biogás produzido em aterros sanitários chega a
ser de 85% do biogás disponível no local.
Borba (2002) comenta que o biogás do aterro pode ser engarrafado, sendo tão bom quanto o
gás natural, o gás natural possui 90% de CH4, enquanto que o biogás possui 60% , e a
vantagem do biogás em relação ao gás natural é que o biogás é uma energia renovável,
enquanto que o gás natural é um combustível fóssil.
De acordo com o IBAM (1999), para o biogás ser explorado comercialmente através da
recuperação de sua energia, o aterro deve receber 200 toneladas de resíduos por dia, ter uma
capacidade mínima de 500.000 toneladas e uma altura mínima de 10 metros. Diversos autores
citam as vantagens do aterro sanitário como forma de obtenção de energia. Dentre elas
destacam-se:
Segundo Borba (2002), as desvantagens para a utilização do aterro sanitário como forma de
obtenção de energia elétrica são:
9 Se não houver coleta seletiva, muitos materiais recicláveis serão perdidos dentro
do aterro, aumentando o volume do lixo e reduzindo sua vida útil;
9 Mesmo depois de encerrada sua vida útil, o aterro fica biologicamente ativo até
por 100 anos, emanando gases tóxicos. Além disso, a área do aterro estará apta
para utilização enquanto houver atividade biológica dentro dela;
9 Requer longo período de manutenção;
9 A tecnologia às vezes é importada, o que requer pagamento de royalties. Os
equipamentos podem ser adquiridos no Brasil, mas a mão de obra especializada
tem que ser importada (OLIVEIRA, 2004).
4.3.2 Incineração
A Incineração é uma prática que existe há mais de 100 anos, sendo a primeira unidade
instalada na Inglaterra em 1874 para a queima do lixo urbano. Antes era apenas uma técnica
utilizada unicamente para a redução do volume do lixo, sem a preocupação com os gases
emitidos, havendo assim a poluição do ar. Atualmente, além de eliminar resíduos tóxicos e
perigosos (principalmente o lixo hospitalar), está sendo utilizada para gerar energia elétrica,
através da queima dos componentes orgânicos e inorgânicos (PHILLIPP JR., 2004).
Para uso energético existem algumas iniciativas, como no Rio de Janeiro, Campo Grande e
Vitória. De acordo com Tolmasquim (2003), para haver o aproveitamento energético tem que
ter o aprimoramento tecnológico, para que a prática seja economicamente viável e não cause
problemas do ponto de vista ambiental.
A produção de energia elétrica a partir da incineração é dada através da combustão direta, que
é um processo importante, porque através dela vai haver a queima do lixo e a obtenção de
energia. A combustão direta se dá de duas formas: através do lixo in natura ou é dado algum
tratamento ao lixo. O lixo in natura é o lixo que vai ser queimado da forma como vem, todo
misturado. Se não houver a coleta seletiva, então será queimado todo o tipo de material, desde
orgânico, inorgânico e rejeitos. O combustível obtido a partir desse processo tem menor poder
calorífico que o obtido no aterro sanitário. O lixo quando recebe tratamentos passa por
transformações químicas ou biológicas, aumentando o seu poder calorífico. Os componentes
que são mais combustíveis são os materiais orgânicos e alguns recicláveis, como borracha,
papéis, madeira e plástico (BORBA, 2002).
79
Tolmasquim (2003) acrescenta que para haver a queima do lixo normalmente é utilizado
algum combustível auxiliar, que vai ajudar no processo. Normalmente são utilizados
combustíveis fósseis, como gás natural, GLP ou óleo diesel. Dependendo do poder calorífico
dos materiais, não é necessária a utilização de nenhum combustível auxiliar.
9 Redução de até 90% do volume do lixo, sendo depositado até 10% do volume
original dentro do aterro, diminuindo a área para o depósito, apenas necessitando
de uma pequena área;
9 O lixo que sobra é inerte, sem atividade biológica. Sendo assim, suas sobras
podem ser reaproveitadas, como por exemplo, na indústria de cerâmica, obtendo
receitas adicionais (TOLMASQUIM, 2003);
9 Quanto maior a cidade, maior a produção de lixo e maior a produção do biogás,
sendo economicamente viável (BORBA, 2002);
9 Elimina a produção de chorume e de metano durante o processo de combustão
(BORBA, 2002).
9 Baixo nível de ruído e odores (OLIVEIRA, 2000);
9 Pode ser instalado numa área pequena (OLIVEIRA, 2000).
A grande desvantagem dessa tecnologia, segundo Borba (2002), é o grande investimento que
terá que ser feito para adquirir a tecnologia de “Cleaner”, pois somente ela é a responsável por
45% do valor do investimento total, enquanto que 55% se devem à montagem do incinerador,
caldeira e turbinas. A tecnologia é extremamente necessária, pois ela é a responsável pelo
tratamento dado aos gases poluentes que intensificam o efeito estufa. Calderoni (2003)
acrescenta que esta tecnologia evita o lançamento de gases nocivos à atmosfera, chegando a
custar R$ 3,5 milhões.
Tolmasquim (2003) discorda que a prática de incineração possa provocar câncer devido ao
lançamento de contaminantes orgânicos persistentes na atmosfera. Segundo o autor, os gases
tóxicos passam por um processo de purificação antes de serem lançados na atmosfera, tendo
os responsáveis pelo equipamento que obedecer a rigorosas normas de proteção ambiental.
Assim, a chance de contrair câncer em locais próximos ao incinerador é de, segundo o autor, 7
em 100 milhões e ainda, 250 vezes menor que a chance de contrair câncer tendo como
vizinhança um aterro sanitário.
A Figura 17 mostra o forno de incineração e um sistema de gases da Usina Verde, que utiliza
incinerador para transformar os resíduos sólidos em energia elétrica.
Para definir a tecnologia utilizada para a transformação do lixo urbano em energia elétrica,
tem que ser levado em consideração como está disposto o lixo. Se ele já estiver exposto forem
resíduos mais antigos, como por exemplo, em um lixão, então a alternativa mais apropriada
será aproveitar o biogás da decomposição da matéria orgânica. Se não estiver disposto, forem
resíduos novos, então tem que haver primeiro a coleta seletiva, separando os materiais
inorgânicos dos orgânicos. Os recicláveis seriam vendidos para as indústrias de reciclagem e
os orgânicos seriam encaminhados, ou para a compostagem, ou para o aterro sanitário, ou
ainda, utilizar na incineração (TOLMASQUIM, 2003).
Oliveira (2000) relata que a utilização dos resíduos para gerar energia elétrica demandará um
prazo mais longo, devido a aquisição e instalação dos equipamentos necessários,
principalmente porque muitos equipamentos são importados, o que aumentarão seus custos,
incluindo até mão de obra especializada.
82
A Tabela 13 faz uma comparação entre as tecnologias do aterro sanitário e incineração. Nessa
tabela são identificados os custos de investimento, os custos de operação e manutenção, a
quantidade de tonelada de lixo diária para o funcionamento, a quantidade de energia obtida,
além da vida útil das tecnologias.
Percebe-se pela tabela 13 que nos dois processos os custos diminuem com o aumento da
quantidade de lixo, porém o custo com a simples disposição do lixo em aterro é bem menor.
Na incineração a vida útil do equipamento, os custos de operação e manutenção e o prazo de
instalação são maiores. Segundo Tolmasquim (2003), o custo de transmissão de energia
elétrica são nulos devido os resíduos serem produzidos e dispostos nas proximidades dos
grandes centros urbanos, que são os principais consumidores de energia.
Segundo Oliveira (2004), para haver a comercialização independente de uma usina movida a
biogás, a potência mínima tem que ser de 3 MW, a mesma utilizada como referência na tabela
13. O autor ainda relata que a utilização dos resíduos para gerar energia elétrica demandará
um longo prazo nos dois processos, devido à aquisição e instalação dos equipamentos
necessários, principalmente porque muitos equipamentos são importados, o que aumenta os
custos.
Quase 50% do lixo doméstico são constituídos por materiais combustíveis, como têxteis,
madeira, papel e certos tipos de plásticos, além de borrachas. Com o aumento da quantidade
de plásticos no lixo, aumenta também a quantidade de gases poluentes no processo de
incineração, o que encarece os processos de descontaminação dos gases liberados
83
(HENRIQUES, 2004). Com o aterro sanitário, pode haver a prévia seleção dos materiais,
colocando no aterro só os materiais orgânicos e rejeitos. No processo de incineração também
pode haver a coleta seletiva, porém a combustão desses elementos aumenta o poder calorífico,
porém emitindo gases mais poluentes.
Para Oliveira (2004) o aproveitamento energético dos resíduos sólidos urbanos no Brasil,
baseado nos dados do ano de 2000, considerando a produção de 45 milhões de toneladas
anuais, foi de 120 TWh, que corresponde atualmente a 26% da oferta atual de eletricidade
(BEN, 2007). Nesse valor estão incluídos a conservação possível com a reciclagem de
materiais inorgânicos, a energia gerada pelas termelétricas movidas a biogás e o biogás dos
vazadouros de lixo.
ATERRO
SANITÁRIO INCINERAÇÃO
t lixo/MWh 4,2 1,3
Emissão evitada pelo consumo 5,41 1,5
do lixo (t CO2 /MWh)
Emissão evitada pela substituição 0,449 0,449
do gás natural (t CO2/ MWh)
EMISSÃO TOTAL EVITADA (MW) 5,87 1,95
Fonte: Tolmasquim, 2003.
Percebe-se pela tabela 14 que a emissão de gases poluentes é evitada mais no processo de
GDL do que no processo de incineração. Segundo Henriques (2004), se todos os resíduos do
país fossem utilizados para gerar energia elétrica através da tecnologia de incineração, o valor
seria de 7% da energia consumida no país. Já no caso do GDL, associada a uma política de
gestão de resíduos, incluindo a reciclagem, esse valor chegaria a 20% da oferta nacional de
energia.
A Tabela 15 mostra as Receitas obtidas por cada tecnologia, de acordo com o mercado
internacional. Os valores estão considerando o dólar em $1,00 e $5,00 por tonelada de dióxido
de carbono.
84
GDL INCINERAÇÃO
Considerando US$ 1 /tCO2 5,87 1,95
Considerando US$ 5 /tCO2 29,35 9,75
Fonte: Tolmasquim, 2003.
Fazendo uma análise da tabela 15, a receita obtida a partir da utilização do GDL é bem maior
se comparada à incineração como forma de recuperação energética. Assim, no mercado
internacional a utilização do aterro sanitário para gerar receitas seria bem mais lucrativo do
que a utilização da incineração. Em relação ao Custo-Benefício, é mais atrativo o custo da
incineração do que o do GDL.
Apesar das vantagens da utilização dos resíduos sólidos para gerar energia elétrica,
Tolmasquim (2003) destaca algumas barreiras no país para a utilização da energia a partir dos
resíduos, sendo a principal a falta de conhecimento dos gestores dos municípios e estados em
relação às tecnologias existentes para o melhor aproveitamento do lixo urbano.
A não contabilização dos custos ambientais e da saúde também é uma das barreiras nas
análises tecnológicas.
Existem algumas propostas, tanto no Brasil quanto no exterior, para incentivar a produção de
energia elétrica a partir do biogás do lixo urbano, ou da redução de gás metano proveniente
dos vazadouros. Algumas propostas são citadas a seguir:
centrais hidroelétricas e biomassa, no Sistema Elétrico. Ele busca soluções de cunho regional
para o uso de fontes renováveis de energia, incentivando o crescimento da indústria nacional.
É coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, contando com investimentos do BNDES,
que financia até 70% do investimento. O PROINFA deverá ter investimentos da ordem de R$
9 bilhões, com financiamentos de cerca de R$ 7 bilhões e receita anual em torno de R$ 2
bilhões, além de gerar mais de 150 mil empregos diretos e indiretos. (ELETROBRÁS, 2007).
O Protocolo de Kyoto foi adotado na 3º Conferência das Partes (COP3) na cidade japonesa de
Kyoto, em 1997. A Conferência das Partes é um órgão supremo da Convenção - Quadro das
Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas que une países de todo o mundo para enfrentar o
desafio do aquecimento global.
Esse acordo determina que as emissões de gases devem ser reduzidas em 5% até 2012, tendo
como parâmetro o ano de 1990. Assim, os países em desenvolvimento ficam isentos da
responsabilidade de reduzir suas emissões, pois para o Protocolo de Kyoto esses países
precisam crescer e se desenvolver, visto que suas emissões no passado não foram
significativas para o aquecimento global. Já os países desenvolvidos têm como meta reduzir
suas emissões de gases poluentes em porcentagens variadas. Os Estados Unidos não quiseram
assinar esse acordo porque ele é o país desenvolvido que mais emite gases poluentes, e para
eles a redução teria que ser de 2,5% até 2012 (Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT).
86
Os países desenvolvidos, por terem emitido uma grande quantidade de gases poluentes no
passado, tem uma maior responsabilidade no protocolo, tendo que reduzir as emissões desses
gases e transferir tecnologias “limpas” para países em desenvolvimento, para que estes não se
transformem em grandes emissores no futuro. Como principais gases que intensificam o
efeito estufa estão, além do gás metano, o gás carbônico e os aerossóis.
Preocupante é a situação dos países emergentes como a China, um país que possui a maior
população do mundo, uma alta tecnologia e futuramente pode tornar-se uma grande potência
mundial, além da Índia, a segunda maior população entre os países em desenvolvimento.
Estes países despontam como poluidores emergentes.
A solução para esses países, segundo especialistas, é investir em tecnologias limpas e utilizar
energias renováveis para suprir seus crescimentos, além de um programa de tratamento de
resíduos, porque se não houver isso, em pouco tempo eles se tornarão grandes emissores de
gases poluentes no mundo.
Como o país desenvolvido tem metas de redução a serem atingidas e ele não consegue reduzir
suas emissões de gases nocivos, então ele “compra” os carbonos de um país em
desenvolvimento que seriam lançados na atmosfera, visto que para a natureza não faz
diferença quem polui, seja um país desenvolvido ou um em desenvolvimento. Assim, os
países em desenvolvimento deixam de emitir gases e recebem investimentos para promover
seu desenvolvimento.
De acordo com o site Carbono Brasil (2005), dentre os países que mais compram créditos de
carbono, segundo pesquisas de 2004, são: Holanda, Japão e Canadá, além do Fundo do Banco
Mundial. Os grandes compradores de créditos de carbono são: os governos, fundos e bancos,
companhias privadas e fundações conservacionistas e ambientalistas.
Para a aprovação do projeto para obtenção dos créditos de carbono são definidas várias
etapas:
9 Validação: Feito por uma entidade independente que terá como participação a
aprovação do país hospedeiro;
9 Registro, Monitoramento e Verificação: Feito por uma entidade independente,
vai calcular os valores reais do empreendimento;
9 Certificação e Emissão de Créditos: Essa é a fase final da comercialização.
De acordo com a Gazeta Mercantil (2006), de São Paulo, o Brasil contabiliza 37 projetos de
crédito de carbono registrados na Organização das Nações Unidas (ONU), o que faz dele líder
mundial, ultrapassando países como a Índia (28), México (15), Chile (10), Honduras (9) e
China (7). Os projetos brasileiros vão desde reflorestamento até geração de energia, com a
utilização do bagaço da cana de açúcar e o biogás dos aterros sanitários.
Fundado em 2000, é um programa privado feito pelos EUA que negocia certificados de
redução de emissões (comercialização de créditos) entre empresas tanto nos EUA quanto de
outros países. Como estratégia, o Chicago Climate Exchange (CCX) irá buscar projetos de
redução de emissão ou aumento de remoção de gases de efeito estufa principalmente no
Brasil, pois ele atua também no nosso país. Esse mercado não possui vínculo com o Protocolo
de Kyoto, sendo mais flexível que este, pois os Estados Unidos não assinaram o acordo.
89
Alagoas é um dos 26 estados que formam o Brasil e está localizado a Leste da Região
Nordeste, possuindo uma das menores áreas do país, sendo a menor Sergipe. Limita-se ao
Norte com Pernambuco, ao Sul com Sergipe, a Leste com o Oceano Atlântico e a Oeste com
Pernambuco e Bahia.
Maceió é o Município mais populoso do Estado, possuindo, de acordo com dados do IBGE de
2006, uma população de 922.458 habitantes, dentre os quais boa parte reside na área urbana.
Segundo estimativas baseadas nos dados do IBGE de 2000, a taxa de crescimento anual é de
2,67% e o município ocupa uma área de 511 km2 , possuindo 50 bairros distribuídos em 7
regiões administrativas.
RA – 1: Poço, Jaraguá, Ponta da Terra, Ponta Verde, Pajuçara, Jatiúca, Mangabeiras, Cruz das
Almas, Jacarecica, Guaxuma, Garça Torta, Riacho Doce, Pescaria, Ipioca.
RA – 2: Centro, Pontal da Barra, Trapiche da Barra, Prado, Ponta Grossa, Levada, Vergel do
Lago.
RA - 3: Farol, Pitanguinha, Pinheiro, Gruta de Lourdes, Canaã, Santo Amaro, Jardim
Petrópolis, Ouro Preto.
RA – 4: Bebedouro, Chã de Bebedouro, Chã da Jaqueira, Petrópolis, Santa Amélia, Fernão
Velho, Rio Novo, Bom Parto, Mutange.
RA- 5: Jacintinho, Feitosa, Barro Duro, Serraria, São Jorge.
RA - 6: Benedito Bentes, Antares.
90
RA – 7: Santos Dumont, Clima Bom, Cidade Universitária, Santa Lúcia, Tabuleiro dos
Martins.
A Figura 19 mostra a Cidade de Maceió com seus respectivos bairros e suas regiões
administrativas.
91
Figura 19- Cidade de Maceió e suas respectivas regiões administrativas (SLUM, 2008).
A partir desta data os resíduos foram destinados ao vazadouro a céu aberto, localizado no
bairro de Cruz das Almas, onde permanece atualmente, ocupando uma área de 33 ha. Em
1994, com a implantação de biorremediação, foram definidas oito células de aterramento de
lixo, das quais seis estão completamente preenchidas e aguardando serviços preliminares de
impermeabilização, bem como drenagem de líquidos e gases, enquanto as duas restantes estão
recebendo resíduos. Porém, das oito células, apenas uma foi construída de acordo com as
normas técnicas brasileiras. Enquanto não existe um sistema apropriado de disposição final
dos resíduos, está sendo viabilizada a abertura de uma nova célula para dispor o lixo da cidade
(GESRAD, 2004).
Segundo o GESRAD (2004), de 1967 até 2004, estima-se que existia uma quantidade de
700.000 m3 de resíduos sólidos diversos, chegando estes resíduos a uma altura de 30 m ou
mais, inclusive essa área chegou a exaustão, porém ainda recebendo resíduos. Até o término
desta dissertação não há na capital uma forma de disposição adequada para os resíduos, tendo
um projeto para a construção do aterro sanitário no bairro do Benedito Bentes.
8
O sistema Beccari foi desenvolvido em 1922 por Giovanni Beccari, na Itália, e consiste em confinar os resíduos
em células fechadas, onde há a decomposição anaeróbica. Em seguida, um fluxo de ar é introduzido no processo,
havendo assim a presença de bactérias aeróbicas. A digestão varia de 40 a 180 dias. (GESRAD, 2004).
94
da altura dos resíduos. A Figura 21 mostra o vista aérea do vazadouro da Cruz das Almas, no
ano de 2003.
Figura 20 – Aumento da altura do lixo nos anos de 1993 e 2003 respectivamente. (GESRAD, 2004).
A limpeza urbana do município é executada pela SLUM, órgão da prefeitura em parceria com
algumas empresas terceirizadas, sendo 90% realizada por estas empresas e os 10% restantes
pela SLUM. Os resíduos originários dos serviços de saúde são destinados a CINAL
(Companhia Alagoas Industrial), localizada em Marechal Deodoro, Serquip, ANSCO e
também para o lixão de Cruz das Almas. Geralmente esses resíduos de saúde são incinerados,
95
visto que pode trazer malefícios para a população. Os outros resíduos, com exceção dos
radioativos, são encaminhados para o lixão.
No galpão da SLUM há o centro de triagem formado por uma cooperativa de catadores, que
separa os recicláveis dos materiais orgânicos e descartáveis. Os recicláveis são vendidos para
outros estados, enquanto que os outros tipos de resíduos vão para o lixão. Percebe-se que no
vazadouro a céu aberto de Cruz das Almas há vários tipos de resíduos, o que aumenta ainda
mais o perigo desse vazadouro, pois existem muitos catadores que tiram do lixo o seu
sustento, alimentando-se dos alimentos encontrados.
De acordo com os estudos realizados pelo GESRAD (2004), nesse vazadouro a céu aberto
localizado em Cruz das Almas foram identificados diversos problemas ambientais, dentre eles
destacam-se:
Em relação aos gases existentes no lixão, o biogás, foram soterrados drenos de gases para
medir o poder calorífero e a qualidade dos mesmos. Quando há combustão espontânea, os
gases chegam a atingir outros bairros, causando transtornos a população, devido ao mau odor,
além de problemas em pessoas com problemas respiratórios. Esse efeito está diretamente
relacionado pela direção, velocidade e quantidade de ventos, além de fatores meteorológicos.
Segundo Zulauf (2004), o potencial de geração de energia elétrica a partir do biogás no Brasil,
é superior a 350 MW (dados referentes a 2005) e tende a crescer ao longo dos anos, sendo
proporcional ao crescimento populacional e econômico. Em 2004 foi realizado um estudo
patrocinado pelo Ministério do Meio Ambiente para verificar o potencial de geração de
energia a partir dos Aterros sanitários nas regiões metropolitanas do Brasil. Foram
selecionados municípios com mais de 200 mil habitantes, pois podem gerar pelo menos 300
KW de energia elétrica. Os outros, com a quantidade inferior a 200 mil habitantes foram
desconsiderados por serem muito pequenos e não gerarem biogás suficiente para abastecer um
empreendimento que possa ser viabilizado.
Maceió foi um dos municípios selecionados, por possuir uma população acima de 200 mil
habitantes. Porém, a capital não possui uma destinação adequada para seus resíduos, sendo os
mesmos descartados no lixão a céu aberto. O Grupo GESRAD fez um estudo para verificar a
melhor área para se instalar o futuro aterro sanitário, ainda sem previsão de funcionamento.
Se o lixão de Maceió fosse utilizado para gerar eletricidade a partir do biogás, a geração de
energia seria bastante limitada, devido essa forma de disposição não possuir qualquer
preocupação com a drenagem e com o aproveitamento do biogás. Segundo Zulauf (2004),
para os lixões já fechados gerar eletricidade a partir do gás metano seriam necessários grandes
ajustes técnicos e muito investimento antes do projeto de geração de energia. Se o lixão tiver
mais de 5 anos, mesmo sendo um depósito grande, não ofereceria viabilidade econômica. Para
gerar eletricidade, tem que haver toda uma estrutura técnica.
O grupo GESRAD fez um monitoramento de gases para verificar o potencial do gás gerado,
perfurando dois poços. Os resultados mostram que o biogás possui um alto potencial de
aproveitamento para gerar energia elétrica, se apresentando como uma alternativa muito
97
Figura 22 – Perfuração dos poços pilotos no vazadouro a céu aberto de Cruz das Almas. (GESRAD, 2004).
Segundo dados da SLUM (2008), Maceió produz diariamente 1390 toneladas diárias de lixo,
dentre os quais 60% de matéria orgânica, enquanto que 40% são compostos por materiais de
origem inorgânica e outros. A Figura 23 mostra a composição do lixo de Maceió.
Plástico
Papel
13,10%
8,40%
Metal
1,80% Matéria
Orgânica
Outros
Vidro 60%
15,70%
1%
De acordo com a figura 23, Maceió produz 60% dos resíduos de origem orgânica, o que
representa 834 toneladas diárias deste tipo de resíduo. Já a matéria inorgânica, composta por
plásticos, papel e outros, representam 40% dos resíduos de Maceió, o que corresponde a 556
toneladas diárias, especificados a seguir:
Na tabela 18 pode-se perceber que está sendo utilizado todo tipo de resíduo, tanto orgânico
quanto inorgânico e que neste caso não está sendo considerado a utilização da matéria
inorgânica para a reciclagem. Na tabela 19 é apresentada a estimativa do potencial energético
para os resíduos de origem orgânica, considerando que os resíduos de origem inorgânica serão
encaminhados para a reciclagem.
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De acordo com a tabela 19, a quantidade de 834 toneladas diárias de lixo orgânico produz
uma potência energética de 9,9 MW suficiente para levar energia elétrica a 99.000 residências
de consumo médio de 60 KWh/mês.
A Usina Verde, localizada no Rio de Janeiro, trabalha com incineradores energéticos que
produzem energia elétrica apenas com a matéria orgânica do lixo, considerando que a matéria
inorgânica será utilizada para a reciclagem. A tabela 20 mostra a energia elétrica gerada a
partir dos resíduos sólidos orgânicos obtidos a partir dos módulos da Usina Verde.
TABELA 20- Energia elétrica gerada pela incineração a partir da matéria orgânica.
Capacidade de Tratamento Energia elétrica Residências beneficiadas
dos RSU (Ton/dia) gerada (140 KWh/mês)
150 Ton (1 módulo) 3,2 MW 13.370
300 Ton (2 módulos) 6,4 MW 26.740
600 Ton (4 módulos) 12,8 MW 53.480
Fonte: Usina Verde (2009).
TABELA 22 - Comparação dos cálculos entre Calderoni e Usina Verde para Maceió com os resíduos de
origem orgânica.
Calderoni Usina Verde Usina Verde
Energia liberada 9,93 MW 17,8 MW 17,8 MW
99.300 173.432
Nº de residências que Residências Residências 74.328 Residências
serão beneficiadas (60 KWh/mês) (60 KWh/mês) (140 KWh/mês)
Fonte: Elaboração Própria
De acordo com a tabela 22, utilizando a mesma quantidade de consumo por mês (60 KWh/
mês) a quantidade de energia da Usina Verde é maior em relação ao de Calderoni, além da
quantidade de residências beneficiadas serem maiores também. Quanto menor o consumo de
energia, maior o número de casas beneficiadas.
TABELA 24 - Quadro estimativo da quantidade de resíduos (toneladas) gerados no município de Maceió, considerando o crescimento populacional
segundo IBGE e com reciclagem.
LIXO
PERCENT METAL PAPEL PLÁSTICO VIDRO RECICLAV RECICLAV INERTES INERTES TOTAL ATERRO
POP. ACUMUL/
ANO HAB. RECICLAVEL TON/DIA TON/DIA TON/DIA TON/DIA TON/DIA TON/ANO TON/DIA TON/ANO TON/ANO TONELADAS
2005 831115 0,005 0,2 0,9 0,7 0,1 1,9 688 110,8 40445 36313 363313
2006 845652 0,036 1,2 6,6 5,3 0,8 14 5107 113,3 41358 367113 730427
2007 860190 0,088 2,4 12,5 10,2 1,6 26,6 9722 115,8 42279 370790 1101216
2008 874727 0,099 3,5 18,7 15,2 2,3 39,8 14536 118,4 43209 374341 1475557
2009 889265 0,13 4,7 25,2 20,5 3,2 53,6 19552 120,9 44146 377764 1853321
2010 903802 0,162 6 31,9 26 4 67,9 24772 123,5 45092 381058 2234380
2011 918339 0,193 7,3 38,9 31,6 4,9 82,7 30199 126,2 46047 384221 2618601
2012 932877 0,224 8,7 46,2 37,5 5,8 98,2 35836 128,8 47009 387249 3005850
2013 947414 0,256 10,1 53,7 43,7 6,7 114,2 41685 131,5 47981 390142 3395992
2014 961951 0,287 11,5 61,6 50 7,7 130,8 47749 134,1 48961 392896 3788887
2015 976489 0,318 13,1 69,7 56,6 8,7 148 54032 136,8 49949 395509 4184397
2016 991026 0,349 14,6 78 63,4 9,8 165,8 60535 139,6 50946 397980 4582377
2017 1005563 0,381 16,3 86,7 70,5 10,8 184,3 67261 142,3 51952 400805 4982682
2018 1020101 0,412 17,9 95,7 77,7 12 203,3 74214 145,1 52966 402484 5385166
2019 1034638 0,443 19,7 104,9 85,3 13,1 223 81397 147,9 53990 404512 5789677
2020 1049175 0,475 21,5 114,5 93 14,3 243,3 88812 150,7 55022 406388 6196066
2021 1063713 0,506 23,3 124,4 101 15,5 264,3 964262 153,6 56064 408110 6604175
2022 1078250 0,537 25,2 134,5 109,3 16,8 285,9 104350 156,5 57114 409675 7013850
2023 1092787 0,569 27,2 145 117,8 18,1 308,2 112480 159,4 58175 411080 7424930
2024 1107325 0,600 29,2 155,8 126,6 19,5 331,1 120854 162,3 59242 412324 7837254
Fonte: GESRAD, 2004.
103
De acordo com a tabela 23, se no período de 20 anos não houver a coleta seletiva dos
materiais e o lixo for todo disposto no aterro sanitário, então Maceió terá no mínimo
9.919.440 toneladas resíduos acumulados em seu aterro sanitário. Já a tabela 24 mostra a
quantidade de resíduos gerados no período de 20 anos, considerando a coleta seletiva e a
conseqüente reciclagem da matéria inorgânica. Os materiais recicláveis, que seriam na
quantidade mínima de 2.082.186 toneladas poderiam ser vendidos e gerar rendas extras para o
município, ou para as cooperativas de reciclagem. Se a quantidade de resíduos de origem
orgânica acumuladas ao longo de 20 anos for utilizada para gerar energia elétrica, haverá,
segundo a tabela 25, através dos cálculos de Calderoni e da Usina Verde as seguintes
quantidades de energia liberada:
6 - CONCLUSÃO
Diante do estudo apresentado ao longo dos capítulos, o uso do lixo urbano para gerar energia
elétrica é uma das melhores alternativas para a questão dos resíduos sólidos urbanos,
especificamente para o Município de Maceió, pois é uma opção energética renovável que está
sendo utilizada em vários países e também em alguns estados no Brasil.
Como foi visto ao longo dos capítulos, tanto a tecnologia do aterro sanitário quanto a de
incineração podem ser utilizadas para transformar os resíduos sólidos da capital em energia
elétrica. Segundo o GESRAD a umidade dos resíduos da capital é 73,03 %, considerada alta,
ideal para a tecnologia do aterro sanitário devido a grande quantidade de umidade dos
elementos orgânicos que sofrem a ação das bactérias anaeróbicas, responsáveis pela
decomposição dos resíduos e produtoras do biogás.
Como já existe o projeto para a construção do aterro sanitário, então essa opção seria
adequada para transformar os resíduos em energia elétrica. Se não houver a coleta seletiva na
cidade e todos os resíduos, tanto orgânicos quanto inorgânicos, forem dispostos no aterro
sanitário sem a prévia seleção, então os materiais de origem inorgânica demorariam muito
para se decompor, aumentando o volume de lixo e diminuindo sua vida útil. Para que o aterro
sanitário forneça energia elétrica de forma ecologicamente correta, o ideal é haver a coleta
seletiva na cidade, indo para o aterro sanitário somente materiais de origem orgânica, e para a
reciclagem os materiais de origem inorgânica. Assim, os materiais inorgânicos poderiam ser
vendidos e gerar rendas extras ao município ou para as cooperativas de reciclagem.
Desta forma, o trabalho visa contribuir para incentivar o poder público a investir no melhor
aproveitamento do lixo, com possibilidade de ganhos para o município, tanto com a venda dos
105
materiais recicláveis quanto na geração de energia elétrica. A idéia sendo aceita haveria uma
redução considerável no lançamento de gases nocivos para a atmosfera, pois o principal deles,
o gás metano, seria utilizado para gerar energia elétrica, minimizando assim o efeito estufa.
Haveria também um melhor tratamento dos resíduos e a valorização do trabalho das pessoas
envolvidas com a seleção do lixo, seja na implantação da coleta seletiva ou cooperativa de
reciclagem. Além disso, o município obteria receitas extras com o biogás, transformando-o
em energia elétrica, economizando combustíveis fósseis e obtendo receitas no mercado
internacional (Protocolo de Kyoto ou Chicago Climate Exchange), ou ainda, os investimentos
poderiam ser feitos por empresas terceirizadas que extrairiam o biogás e transformariam em
energia elétrica, repassando para a prefeitura parte do valor obtido.
Até o termino desta dissertação, Maceió ainda não possui um aterro sanitário, tendo apenas
um projeto para a construção de um e ainda utilizando o lixão a céu aberto. No projeto da
SLUM consta a implantação de usinas de geração de energia elétrica, através do tratamento
do chorume ou outros sistemas economicamente viáveis.
Sugerimos para futuros trabalhos que hajam pesquisas mais aprofundadas em relação à parte
técnica dos equipamentos utilizados para gerar energia elétrica a partir do biogás, para saber
com precisão a quantidade de biogás gerado e a quantidade de residências beneficiadas.
Sugerimos também estudos sobre viabilidade econômica, inclusive os ganhos no mercado
internacional, focalizando a realidade do município.
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7 - REFERÊNCIAS
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