licenciamentoSP Leonardoteixeira
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licenciamentoSP Leonardoteixeira
CAMPINAS-SP
2013
i
ii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP)
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS (IFCH)
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO LEONARDO
RIBEIRO TEIXEIRA, ORIENTADA PELO PROF.DR. CARLOS ALFREDO JOLY E CO-ORIENTADA PELA PROFA.
LEILA DA COSTA FERREIRA.
CAMPINAS-SP
2013
iii
iv
v
vi
RESUMO
vii
viii
ABSTRACT
ix
x
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................... 27
xi
3.2. O Complexo Portuário de São Sebastião ....................................................................... 84
3.2.1. Histórico do Porto .......................................................................................... 84
3.2.2. O Projeto de Ampliação: Plano Integrado Porto-Cidade .............................. 86
3.2.3. ITPs do Megaprojeto de ampliação do Porto ............................................... 89
3.2.4. Quadro síntese do Complexo PSS .................................................................. 91
3.3. O Complexo Indústria de Petróleo e Gás - IPG ............................................................ 95
3.3.1. Histórico ......................................................................................................... 95
3.3.2. O TEBAR: O maior terminal petrolífero do País ........................................... 97
3.3.3. A descoberta do Campo de Mexilhão ........................................................... 100
3.3.4. A Unidade de Tratamento de Gás de Caraguatatuba – UTGCA ................. 103
3.3.5. O Gasoduto Caraguatatuba–Taubaté – GASTAU........................................ 106
3.3.6. O Pré-sal: Exploração, produção e transporte de petróleo e gás................ 107
3.3.7. Royalties........................................................................................................ 112
3.3.8. Quadro síntese do Complexo IPG ................................................................ 112
3.4. O Complexo Rodoviário ―Nova Tamoios‖ ................................................................. 117
3.4.1. Sub-trecho Planalto ...................................................................................... 119
3.4.2. Sub-trecho Anel de contorno sul ................................................................... 121
3.4.3. Sub-trecho Anel de contorno Norte .............................................................. 124
3.4.4. Sub-trecho Serra ........................................................................................... 125
3.4.5. Quadro síntese do Complexo Nova Tamoios ................................................ 126
3.5. Considerações finais do capítulo ................................................................................. 130
xii
4.4.6. QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS ............................................ 172
4.4.7. USO DO SOLO ............................................................................................ 175
4.5. Matriz de Análise Integrada ........................................................................................ 193
4.6. Considerações finais do Capítulo ................................................................................ 198
xiii
À Zazá por tudo que você é e fez por nós.
Ao Chico (in memoria) por ser minha referência.
Aos meus camaradinhas Pinduca, Jonny e Kin pela alegria.
Ao meu amor, Didi, pela nossa ―delícia de vida‖.
À Maria, minha filha, por estabelecer uma nova dimensão a tudo.
xiv
AGRADECIMENTOS
São muitos, e quase inumeráveis, os agradecimentos que me cabem. Esse trabalho, bem
como a maneira que eu atualmente vejo o mundo, está diretamente relacionado à
contribuição e generosidade de muitas pessoas que estiveram do meu lado nos últimos
quatro anos.
Agradeço aos meus orientadores, Carlos Alfredo Joly e Leila da Costa Ferreira, por irem
além das críticas, sugestões e recomendações. Por funcionarem tão bem em parceria e por
dedicarem seu tempo, experiência e paciência a esse trabalho e a mim. Obrigado pela forma
carinhosa, madura e respeitosa que vocês conduziram nossa relação.
A professora Lúcia da Costa Ferreira, coordenadora do Projeto Clima, do qual esta tese faz
parte, pelos conselhos, críticas e sugestões que contribuíram de maneira estrutural para o
aperfeiçoamento do trabalho. Aliás, agradeço a todos os pesquisadores envolvidos no
Projeto Clima, em especial àqueles vinculados à componente de Políticas Públicas e aos
integrantes do Grupo de Pesquisa da Professora Leila da Costa Ferreira.
Aos professores, Cristiana Seixas, Simone Vieira, Sônia da Cal Seixas, Mateus Batistella,
Álvaro Dantona e Thomas Lewinsohn pelas aulas e conselhos que ajudaram na construção
interdisciplinar da pesquisa. Agradeço especialmente às professoras Cristina Adams e
Juliana Farinaci pela leitura apurada, correções, sugestões e comentários, cruciais para a
melhoria da tese.
À amiga, colega de doutorado e parceira de ―front‖, Eliane Simões, por mostrar o caminho
das pedras entre o planeta dos gestores e o mundo acadêmico.
Aos colegas de turma do doutorado de 2010, Carol Joly, Rodrigo de Freitas, Leopoldo
Cavaleri, Viviane Martins, Gabi Asmus, Fabiana Barbi e Raquel Carnivale pelo carinho,
amizade e pelas ótimas ideias trocadas nos cafés, botecos e imersões.
Aos meus ―brothers‖ Allan Yu, Jorge Calvimontes, Francisco Araos e Eduardo Viglio pela
amizade, pela parceria e pelos conselhos (quase diários) para o desenvolvimento desse
trabalho. Sem vocês essa tese não existiria, ou se existisse não teria a menor graça.
Meu agradecimento aos funcionários do NEPAM, Maria de Fátima Rodrigues, Neusa
Trevisan, Débora Campos, Fabrício Nardi, Gilmar Alves e em especial ao Waldinei Araújo,
pelo profissionalismo e por todo o apoio prestado durante a pesquisa.
xv
Meu agradecimento mais que especial a minha amiga e colega de IBAMA, Dra Maria
Cristina Cergole, por ser a primeira a incentivar minha aventura acadêmica, me fazendo
acreditar que esse era um desafio possível.
Aos meus colegas de escritório Francisco, Jacqueline, Ignácio, Dirce, Angélica, França,
pela compreensão, parceria e apoio sempre que precisei, antes e durante o doutorado. A
toda a equipe do IBAMA em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, em especial aos
Superintendentes do IBAMA no Estado de São Paulo Murilo Reple e Analice Novais por
acreditarem e apoiarem esse trabalho.
Meus sinceros agradecimentos aos representantes das agências ambientais, ONGs
Ambientalistas e Empreendedores que, sem exceção, foram extremamente generosos e
concederam seu tempo e conhecimento para as entrevistas. Gostaria de estender esse
reconhecimento aos integrantes de todos os fóruns ambientais do litoral norte paulista (em
especial: GTMPOA, COMDIAL, Conselho Gestor do Mosaico Bocaina e Conselho Gestor
da APA Marinha) dos quais sou membro, e que forneceram, além de informação técnica,
―luzes‖ que se mostraram imprescindíveis para os entendimentos construídos nesse
trabalho.
A Rede Iberoamericana de pesquisa em Ambiente e Sociedade por possibilitar uma visão
multinacional da investigação interdisciplinar, ampliando minha perspectiva acerca da
relação entre crescimento econômico e conservação ambiental. O mesmo agradecimento
cabe ao Inter-American Institute for Global Change Research – IAI e ao National Center
for Atmospheric Research – NCAR que me deram a possibilidade de efetivar trabalhos em
escala internacional, além de proporcionar a capacitação e as ferramentas para o
desenvolvimento de pontes entre a pesquisa científica e a ação local.
Aos amigos e à família, Zazá, Tetê e Rodrigo, por me ensinarem a ser quem sou e por
manterem a minha mente sã. À Didi, pelo companheirismo, paciência e tudo mais que faz
de mim o cara mais feliz desse litoral norte em transformação.
xvi
LISTA DE FIGURAS
APRESENTAÇÃO
Figura 1: Diagrama da estrutura da tese. .............................................................................. 34
Figura 2: Mapa do Litoral Norte Paulista (Elaboração: Projeto Clima, 2012). .................... 37
CAPÍTULO 2
Figura 2. 1: Esquema da relação entre atores-chave e ITPs no processo de ME. (Elaborado
pelo autor). ............................................................................................................................ 69
CAPÍTULO 3
Figura 3. 1: Imagem sugerida para futura configuração do Porto em 2035 (Fonte: RIMA
Ampliação do Porto de São Sebastião)................................................................................. 88
Figura 3. 2: Imagem ilustrativa da localização do novo píer do TEBAR (em vermelho)
(Fonte: RAP, 2011)............................................................................................................... 99
Figura 3. 3: Estrutura da IPG em relação ao litoral norte do estado de São Paulo. A linha
tracejada divide as estruturas instaladas no continente (on land) das estruturas em alto mar
(offshore). Fonte: Elaborado pelo autor. ............................................................................. 102
Figura 3. 4: Localização da UTGCA e do duto GASMEX na planície costeira de
Caraguatatuba. Fonte: (EIA, 2006c) ................................................................................... 105
Figura 3. 5: Localização dos poços analisados. Fonte (EIA, 2009a).................................. 109
Figura 3. 6: Localização do Polo Pré-sal em relação ao Polo Mexilhão e ao LNP (em
destaque Ilhabela). Fonte: (EIA, 2011a). ............................................................................ 111
Figura 3. 7: Localização do Sub-trecho planalto da SP-099 em relação aos municípios da
região. Fonte: (EIA, 2011b). ............................................................................................... 121
Figura 3. 8: Localização do Sub-trecho Anel de Contorno Sul da Rodovia Nova Tamoios.
Fonte: (EIA, 2010). ............................................................................................................. 123
Figura 3. 9: Localização do Sub-trecho Anel de Contorno Norte da Rodovia Nova Tamoios.
Fonte: (EIA, 2011c). ........................................................................................................... 124
Figura 3. 10: Localização do eixo e da AID do Sub-trecho Serra da Rodovia Nova
Tamoios. Fonte: (EIA, 2012). ............................................................................................. 126
CAPÍTULO 4
Figura 4. 1: Diagrama de relações diretas entre projetos. Em vermelho os projetos
integrantes do Complexo IPG, em azul o Complexo PSS e em verde os projetos do
Complexo RNT. (Elaborado pelo autor utilizando o software UCINET 6.421 e NETDRAW
2.123) .................................................................................................................................. 137
xvii
Figura 4. 2: Diagrama representativo da qualidade de relações diretas e indiretas entre os
projetos. Em vermelho os projetos integrantes do Complexo IPG, em azul o Complexo PSS
e em verde os projetos do Complexo RNT. (Elaborado pelo autor utilizando o software
UCINET 6.421 e NETDRAW 2.123) ................................................................................ 138
Figura 4. 3: Mapa de sobreposição de Áreas de Influência Direta dos projetos. Fonte: Mello
& Teixeira (2012). .............................................................................................................. 143
Figura 4. 4: Emissões de CO2 dos projetos da Indústria de Petróleo e Gás. Elaborado pelo
autor com dados dos EIAs (EIA, 2006a; 2006b; 2006c; 2008; 2009a; 2011a; RAP, 2011).
............................................................................................................................................ 145
Figura 4. 5: Evolução das emissões de CO2 de veículos com origem ou destino ao Porto de
São Sebastião. Elaborado pelo autor utilizando os dados dos aetudos de impacto ambiental
(EIA, 2009b; 2010). ............................................................................................................ 147
Figura 4. 6: Supressão de vegetação nativa pelos projetos do LNP (em hectares). Elaborado
pelo autor com dados dos EIAs (EIA, 2006a; 2006b; 2006c; 2008; 2009a; 2011a; RAP,
2011). .................................................................................................................................. 152
Figura 4. 7: Distribuição da supressão de vegetação entre os Complexos de Infraestrutura
analisados............................................................................................................................ 153
Figura 4. 8: Geração total de empregos (diretos e indiretos) previstos ou contratados pelos
empreendimentos. Fonte: EIAs (EIA, 2006a; 2006b; 2006c; 2008; 2009a; 2009b; 2011a;
2011b; 2011c; 2012; PCA, 2005; RAP, 2011), exceto os dados da UTGCA e GASTAU,
que foram coletados durante as visitas à Unidade. ............................................................. 158
Figura 4. 9: Série de gráficos apresentando a evolução do saldo de empregos gerados por
ano, entre os anos de 2002 a 2012, nos quatro municípios do litoral norte paulista. Fonte:
Cadastro Geral CAGED Disponível em
http://www.mte.gov.br/caged_mensal/atual/default.asp (acesso em 30/01/2013). Gráfico
elaborado pelo autor. .......................................................................................................... 159
Figura 4. 10: Gráfico apresentando o saldo de empregos em Caraguatatuba no ano de 2011
por setor. Fonte: Cadastro Geral CAGED Disponível em
http://www.mte.gov.br/caged_mensal/atual/default.asp (acesso em 30/01/2013). Gráfico
elaborado pelo autor. .......................................................................................................... 161
Figura 4. 11: Série de gráficos apresentando a evolução do saldo de empregos anual entre
os anos de 2002 a 2012 na região de estudo, no estado de São Paulo e no País. Fonte:
Cadastro Geral CAGED. Disponível em
http://www.mte.gov.br/caged_mensal/atual/default.asp (acessado em 30/01/2013). Gráfico
elaborado pelo autor. .......................................................................................................... 162
Figura 4. 12: Comparação da participação na arrecadação dos royalties entre os Municípios
do LNP nos anos de 2005 e 2012. Elaborado pelo autor com dados coletados no site da
ANP– (acesso em 30/01/20013). ........................................................................................ 166
Figura 4. 13: Evolução da arrecadação de royalties do petróleo (em R$) pelos quatro
municípios do LNP, entre os anos de 2005 a 2012. Elaborado pelo autor com dados
coletados no site da ANP– (acesso em 30/01/20013)......................................................... 167
xviii
Figura 4. 14: Evolução dos recebimentos de ICMS - Ecológico pelos quatro municípios do
LNP entre 2006 e 2011. Elaborado pelo autor com dados coletados no Site
www.icmsecologico.org.br. ................................................................................................ 168
Figura 4. 15: Comparação da evolução dos recebimentos de Royalties e ICMS - Ecológico
no LNP entre os anos de 2005 e 2012. Elaborado pelo autor com dados coletados nos sites:
www.icmsecologico.org.br e www.anp.gov.br . ................................................................ 170
Figura 4. 16: Evolução da balneabilidade das prais do LNP entre os anos de 2007 e 2010.
Fonte: CBH-LN (2011). ..................................................................................................... 174
Figura 4. 17 ......................................................................................................................... 177
Figura 4. 18: Mapa de Sobreposição das Áreas de Influência Direta – AIDs dos projetos
integrantes dos Coplexos IPG, PSS e RNT. Elaboração própria a partir dos dados obtidos
nos EIA/RIMAs (EIA, 2006a; 2006b; 2006c; 2008; 2009a; 2009b; 2011a; 2011b; 2011c;
2012; PCA, 2005; RAP, 2011) ........................................................................................... 181
Figura 4. 19: Mapa de Áreas Prioritárias para a Conservação sobrepostas ao mosaico de
AIDs dos projetos em análise. ............................................................................................ 183
Figura 4. 20: Mapas 4.20a e 4.20b - A figura (a) apresenta as áreas passíveis à expansão
urbana e os limites do Parque Estadual da Serra do Mar, sobrepostos ao mosaico de AIDs
dos projetos. A figura (b) apresenta o Mapa do ZEEC sobreposto à localização dos
empreendimentos. ............................................................................................................... 185
Figura 4. 21: Mapas 4.21a e 4.21b - A figura (a) apresenta os limites do Parque Estadual da
Serra do Mar, sobrepostos ao mosaico de AIDs dos projetos. A figura (b) apresenta o Mapa
do ZEEC sobreposto à localização dos empreendimentos ................................................. 189
CAPÍTULO 5
Figura 5. 1: Diagrama simplificado de hierarquia de tomada de decisão na administração
pública nacional. ................................................................................................................. 232
xix
xx
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO 1
Tabela 1.1: Relação de projetos em análise. ......................................................................... 52
Tabela 1.2: Processos de Licenciamento Ambiental por Complexo. ................................... 56
Tabela 1.3: Modelo de Matriz de impactos integrados dos Megaprojetos em relação aos
indicadores selecionados. ..................................................................................................... 58
CAPÍTULO 2
Tabela 2.1: Matriz de tipo ideal para ME no LNP. Cruzamento de condições e premissas
para o desenvolvimento da ME. ........................................................................................... 74
Tabela 2.2: ITPs selecionadas para avaliação e os benefícios ambientais e econômicos
esperados. ............................................................................................................................. 75
CAPITULO 3
Tabela 3. 1: Situação da tramitação de cada processo em análise nos órgãos ambientais,
dividido por Complexo (para a listagem completa, contendo o nome de cada estudo, ver
Tabela 1.1). ........................................................................................................................... 81
Tabela 3. 2 Valores de investimento estimados para as obras de instalação e operação dos
principais Megaprojetos da região. ....................................................................................... 83
Tabela 3. 3: Quadro comparativo entre a situação atual do Porto de São Sebastião e o
panorama apresentado no projeto de ampliação.. ................................................................. 91
Tabela 3. 4: Síntese dos impactos do Complexo PSS sobre os atributos-chave selecionados
para a análise integrada......................................................................................................... 92
Tabela 3.5: Principais informações sobre os impactos da IPG em relação aos sete
indicadores selecionados para a análise integrada. ............................................................. 113
Tabela 3. 6: Volume diário médio – VDM de veículos transitando no Subtrecho Planalto da
SP-099 entre os anos de 2006 a 2009. ................................................................................ 120
Tabela 3. 7: Síntese das principais informações, contidas nos EIA/RIMAs relacionados ao
Complexo RNT analisados, relativas aos sete indicadores selecionados para a análise
integrada. ............................................................................................................................ 127
CAPÍTULO 4
Tabela 4. 1: Matriz de classificação da qualidade de relação entre projetos ...................... 136
Tabela 4. 2: Instrumentos de gestão territorial do Litoral Norte paulista utilizados para
sobreposição com o mosaico de áreas de Influência Direta dos Megaprojetos. ................. 142
xxi
Tabela 4. 3: Supressão de vegetação por estágio sucessional dos empreendimentos
terrestres analisados.. .......................................................................................................... 154
Tabela 4. 4: Valores máximos de Compensação Ambiental à serem destinados às Unidades
de Conservação, por projeto ou grupo de projetos. ............................................................ 155
Tabela 4. 5: Número de postos de trabalho estimados para as fases de instalação e operação
dos projetos analisados.. ..................................................................................................... 157
Tabela 4. 6: Recebimentos de royalties pelos municípios do LNP (em R$) entre os anos de
2005 e 2012. ....................................................................................................................... 165
Tabela 4. 7: Valores arrecadados pelos municípios em royalties e ICMS - Ecológico, no ano
de 2011.. ............................................................................................................................. 169
Tabela 4. 8: Número de menções de AIIs nos EIA/RIMAs, por município. ...................... 178
Tabela 4. 9: Estimativa de edificações afetadas pelo projeto do Contorno Sul da Rodovia
Nova Tamoios somente em Caraguatatuba. ....................................................................... 188
Tabela 4. 10: Estimativa de edificações afetadas pelo projeto do Contorno Sul da Rodovia
Nova Tamoios somente em São Sebastião. ........................................................................ 190
Tabela 4. 11: Matriz de Análise Integrada Referencial. Elaborado pelo autor a partir das
matrizes de impacto disponíveis nos EIAs analisados. ...................................................... 194
Tabela 4. 12: Matriz de Análise Integrada Comparativa. Elaborada pelo autor a partir das
análises de atributos-chave apresentadas na seção 4.4. ...................................................... 196
Tabela 4. 13: Matriz de Análise com indicadores das diferenças entre a análise segregada e
integrada de projetos........................................................................................................... 196
CAPÍTULO 5
Tabela 5. 1: Estimativa de aumento de receitas associadas ao processo de reinjeção de água
+ CO2 nos poços localizados nos Campos de Tupi e Iara (Bloco BM-S-11). .................... 215
Tabela 5. 2: Quadro resumo das ITPs analisadas. .............................................................. 220
Tabela 5. 3: Recursos humanos técnicos (nível superior, nível técnico e agentes de
fiscalização) e de pessoal administrativo em cada órgão ambiental com sede no LNP. .... 222
Tabela 5. 4: Principais instrumentos de gestão e planejamento vigentes no Litoral Norte
Paulista. Elaboração própria. .............................................................................................. 224
Tabela 5. 5: Principais programas de monitoramento ambiental em atividade no Litoral
Norte Paulista. .................................................................................................................... 226
Tabela 5. 6: Quadro base para comparação entre premissas adotadas na Modernização
Econômica Tradicional (SANDRINE, 1999) e na Modernização Ecológica (segundo o
conceito de ME adotado na pesquisa). ............................................................................... 234
xxii
ANEXOS
xxiii
xxiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
xxv
LNP Litoral Norte Paulista
LO Licença de Operação
LP Licença Prévia
ME Modernização Ecológica
NEPA National Environmental Policy Act
ONG Organização Não Governamental
OEMAs Órgãos Estaduais de Meio Ambiente
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PCA Plano de Controle Ambiental
PIB Produto Interno Bruto
PIPC Plano Integrado Porto - Cidade
PLA Processo de Licenciamento Ambiental
PPPs Planos, Políticas e Programas
PSS Complexo Porto de São Sebastião
RAP Relatório Ambiental Preliminar
RECAP Refinaria de Capuava
REPLAN Refinaria de Paulínia
REVAP Refinaria Henrique Lage – São José dos Campos
RIMA Relatório de Impacto ao Meio Ambiente
RNT Complexo Rodoviário Nova Tamoios
RPBC Refinaria Presidente Bernardes - Cubatão
SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente
TEBAR Terminal Aquaviário Almirante Barroso
TEU Twenty-foot equivalent unit
TLD Teste de Longa Duração
TME Teoria da Modernização Ecológica
UNESCO Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura
UTGCA Unidade de Tratamento de Gás de Caraguatatuba
ZEEC Zoneamento Econômico Ecológico Costeiro
xxvi
APRESENTAÇÃO
Distribuídos pelo mundo, dos menores aos maiores países, das localidades mais carentes às
mais prósperas, em todos os continentes, os Megaprojetos ocupam lugar de destaque entre
os fenômenos humanos com maior capacidade de transformação social, econômica e
ambiental de um espaço em um curto período de tempo (BRUNN, 2011; MORRIS &
HOUGH, 1987; MERROW, 2011; CHRISTOFFERSEN et al., 1992; COLLINGRIDGE,
1992; SZYLIOWICZ & GOETZ, 1995; ENRÍQUEZ, 2008; FLYVBJERG et al., 2003). O
túnel sob o canal da mancha na Europa, a ponte Vasco da Gama em Portugal, o sistema de
dutovias de óleo e gás europeu, a ferrovia alemã de ligação entre Hamburgo e Berlin, o
aeroporto de Hong Kong, o sistema de vias expressas na Tailândia, as usinas hidrelétricas
de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte no Brasil, entre tantos outros, podem ser citados
como exemplos de grandes projetos de infraestrutura que se enquadram na definição de
Megaprojeto.
27
para instalação nos próximos anos. São estimados investimentos de R$ 1,26 trilhões até
2017 (VALOR-INFRAESTRUTURA, 2013) em obras relacionadas aos setores de
comunicações, energia, transportes, saneamento, entre outras com porte suficiente para
alterar a dinâmica social, econômica e ambiental de uma região ou até mesmo de um País
inteiro.
No Litoral Norte Paulista – LNP, além dos projetos da indústria de petróleo e gás,
destacam-se o projeto de ampliação da capacidade de movimentação de cargas no Porto de
São Sebastião e a consequente adaptação de toda a logística rodoviária regional, incluindo a
ampliação da capacidade de tráfego da Rodovia SP-099. No total, são 13 processos de
licenciamento ambiental, co-localizados no tempo e no espaço, com investimentos que
ultrapassam os R$ 53 bilhões.
Neste cenário esta pesquisa busca avaliar se o LNP estaria envolvido em mais um processo
de modernização econômica tradicional ou se a presença dos Megaprojetos poderia revelar
o desenvolvimento de um modelo diferenciado na relação entre crescimento econômico e
conservação ambiental, destacando indícios de um processo de Modernização Ecológica
(MOL, 1995; BUTTEL, 2000; MOL & SPARGAREN, 2000; LENZI, 2003; MILANEZ,
2006; OLIVIERI, 2009). Em sentido mais amplo, este estudo busca identificar no LNP,
dada sua altíssima relevância ambiental e seus grandes problemas sociais, uma
representação do dilema do crescimento econômico versus conservação ambiental em que a
sociedade na alta modernidade se encontra (GIDDENS, 1991; BECK, 1992).
2
ZEE: Faixa de mar sobre a qual o Brasil se reservou soberano para fins de exploração, aproveitamento, conservação e
gestão dos recursos naturais. Trata-se de uma linha imaginária situada a, no mínimo, 200 milhas marítimas da costa
(podendo ser maior, de acordo com a extensão da plataforma continental). A ZEE separa as águas nacionais das águas
internacionais.
28
O caminho escolhido para o desenvolvimento desta análise é interdisciplinar, buscando
referenciais teóricos tanto nas ciências sociais quanto nas ciências naturais, objetivando
com isto a obtenção de um olhar metodológico amplo que permita não somente a análise
dos impactos ambientais e sociais provenientes da instalação dos Megaprojetos, mas
também uma avaliação do seu papel como um ponto de inflexão na história do LNP.
Para a análise pretendida é importante avaliar como a região absorve e responde aos efeitos
derivados da instalação cumulativa de grandes empreendimentos em um curto período de
tempo. Para isso, foram estudadas metodologias de avaliação de impactos ambientais que
proporcionassem uma abordagem integradora em escala regional, de diversos
empreendimentos, em um dado período temporal.
Paralelamente, esta tese usa do conhecimento produzido pela Sociologia Ambiental e adota
a Modernização Ecológica – ME como anteparo teórico para suas análises, abordando-a em
um sentido amplo, definindo como seu pressuposto central o alcance simultâneo de
objetivos econômicos e ambientais, o que, segundo seus autores, levaria a um novo
equilíbrio entre o crescimento econômico e a conservação ambiental (MOL, 1995;
SPAARGAREN, 2000; MOL, 2010). Com o objetivo de desenvolver um estudo empírico,
esta pesquisa foca a adoção de Inovações Tecnológicas Preventivas – ITPs3 no processo
produtivo como ponto chave na geração simultânea de benefícios ambientais e econômicos
(MILANEZ, 2006).
Com o intuito de produzir uma trajetória metodológica coerente, a tese foi estruturada em
seis capítulos.
3
Definimos as ITPs como a adoção de uma tecnologia inovadora, anteriormente à degradação, com o objetivo de reduzir
os impactos ambientais relativos ou absolutos e gerar, simultaneamente, benefícios econômicos, diretos ou indiretos, ao
ente executor do Megaprojeto.
29
No capítulo 2 é desenvolvida uma avaliação referencial sucinta sobre os conceitos da
Teoria da Modernização Ecológica – TME no mundo e no Brasil. Esta abordagem do
cenário da pesquisa e do objeto de análise lança muitas luzes na busca da compreensão dos
desafios da conciliação entre crescimento econômico e conservação ambiental no litoral
norte paulista, consequentemente no Brasil e no mundo contemporâneo.
4
Complexo Petróleo e Gás, Complexo Portuário de São Sebastião e Complexo Rodoviário Nova Tamoios.
30
aos novos desafios impostos à região. Por outro lado, as lacunas detectadas nesse processo
indicariam a tendência de agravamento dos atuais problemas.
Por fim, o capítulo 6 traz as considerações finais que resumem os principais achados da
pesquisa e buscam responder à pergunta norteadora da tese: Como a instalação co-
localizada de Megaprojetos se relaciona com a transformação social e ambiental no
Litoral Norte Paulista? Bem como de suas perguntas derivadas: O somatório de impactos
dos Megaprojetos poderia revelar um processo de Modernização Ecológica no LNP? Um
processo de ME faria frente aos desafios do crescimento econômico versus conservação
ambiental esperados para a região?
Destaca-se ainda que o desenvolvimento desta pesquisa só foi possível devido à sua
vinculação ao projeto temático ―Urban Growth, Vulnerability and Adaptation: social and
ecological dimensions of climate change on the Coast of São Paulo – Program on Global
Climate Change‖ (HOGAN, 2009b)5, coordenado pela Professora Dra. Lúcia da Costa
Ferreira. Este projeto proporcionou a estrutura técnica e humana, bem como as
contribuições teóricas e práticas dos pesquisadores dos grupos de pesquisa de seus quatro
componentes para a evolução do estudo, com especial destaque àqueles vinculados ao
componente 2: ―Mudanças ambientais globais e políticas públicas em níveis locais: riscos
e alternativas‖, coordenado pela Professora Dra. Leila da Costa Ferreira.
Objetivos e Hipóteses
Essa pesquisa tem como objetivo geral analisar o papel dos grandes projetos de
infraestrutura como vetores de transformação social e ambiental em uma região
específica. Deste, derivam os objetivos específicos que pretendem:
5
O projeto propõe uma abordagem interdisciplinar e policêntrica nos diferentes níveis com supervisão ativa dos governos
locais, regionais e nacionais como partes interessadas para enfrentar os complexos problemas da mudança climática
causada pela emissão de gases estufa. Para mais informações ver: http://www.nepam.unicamp.br/projetoclima/
31
o Verificar se a instalação co-localizada de Megaprojetos atua como ação
catalizadora de uma nova fase de desenvolvimento regional, reduzindo ou
agravando os atuais problemas sociais e ambientais. Este objetivo busca
analisar a direção e o sentido da transformação induzida pelos Megaprojetos.
Metodologia
32
Ciências Naturais. Esta avaliação indicará a magnitude de transformação social e
ambiental que acompanha a instalação concentrada dos Megaprojetos através da aplicação
dos conceitos presentes nas técnicas de Avaliação Ambiental Estratégica – AAE, Avaliação
Ambiental Integrada – AAI e Avaliação de Impactos Cumulativos – AIC.
Cada uma destas abordagens (Ciências Naturais e Ciências Sociais) fornece diretrizes
importantes, pelas quais se busca uma orientação metodológica comum que possibilite
encaminhar as reflexões da pesquisa para dimensões distintas e fundamentais da relação
entre a sociedade moderna e sua base de sustentação. Em resumo, dotada de uma
abordagem interdisciplinar, esta pesquisa busca produzir uma análise integradora e
regionalizada dos efeitos dos Megaprojetos no LNP, com o objetivo de identificar a
capacidade de transformação social e ambiental que acompanha a instalação co-localizada
desses empreendimentos sobre uma região de alta relevância ambiental e grandes
problemas sociais. A figura 1 apresenta a estrutura da tese e a forma pela qual foi
construído o diálogo entre as disciplinas no decorrer do estudo.
33
Figura 1: Diagrama da estrutura da tese. Legenda: TME: Teoria da Modernização Ecológica / PSS:
Porto de São Sebastião / IPG: Indústria de Petróleo e Gás / RNT: Rodovia Nova Tamoios / ME:
Modernização Ecológica.
34
O Cenário da área de estudo
Nessa época o que viria a ser uma das principais estradas do país, a Rodovia Rio-Santos
(BR-101), tratava-se apenas de um acesso precário que por vezes utilizava as praias como
pista de rodagem e não favorecia, para o bem ou para o mal, uma transformação rápida do
ambiente e do modo de vida local. Com a entrada em operação do TEBAR em 1968, foram
consolidados o fornecimento de energia elétrica, a presença de bancos e de empregos
modernos. Com isso, inaugurou-se regionalmente o fenômeno de importação de
trabalhadores – na época, oriundos principalmente do norte do Estado de Minas Gerais –
para abastecer os canteiros de obra do processo de construção do terminal marítimo
(CUNHA, 2003). Os efeitos integrados do desenvolvimento destes projetos (portuário e
rodoviário) foram de fato percebidos somente na década de 1980, quando as obras de
6
Para mais informações sobre as transformações históricas, culturais e socioeconômicas vividas pelo LNP ver ADAMS
(2000a; 2000b), CUNHA (2003), DEAN (1996), e os trabalhos publicados no âmbito do Projeto Clima
(http://www.nepam.unicamp.br/projetoclima/).
35
retificação e pavimentação da rodovia Rio-Santos foram concluídas e o acesso à região foi
facilitado.
Atualmente a maior parte das áreas terrestres com alta biodiversidade encontra-se no
interior das unidades de conservação de proteção integral decretadas, em sua maioria, na
década de 1970. No total, são 22 áreas protegidas (entre unidades de conservação, terras
indígenas e núcleos quilombolas) que ocupam mais de 470.000 ha ou aproximadamente
80% da área total da região. O conjunto dos principais remanescentes da Mata Atlântica e
sua área de abrangência no litoral paulista também foram reconhecidos como Reserva da
Biosfera pela UNESCO em 1992, pela sua importância para a conservação ambiental. Além
disso, a Mata Atlântica foi identificada como um dos dois hotspots para conservação da
biodiversidade do território brasileiro (MYERS et al., 2000), uma vez que concentra altos
índices de biodiversidade e grau de endemismo, e onde as ações de conservação são mais
urgentes.
36
Figura 2: Mapa Hipsométrico do Litoral Norte Paulista (Elaboração: Projeto Clima, 2012).
O Litoral Norte paulista possui atualmente 281.778 habitantes (IBGE, 2010) e a taxa
geométrica de crescimento anual da população entre 2010/2012 foi de 1,62 % ao ano. Essa
taxa vem diminuindo, porém ainda é bastante superior à média estadual que é de 0,87 %
a.a. (CARMO et al., 2012). Esse crescimento, associado a um modelo de turismo
degradador e à falta de planejamento urbano eficiente, tem como principal consequência o
agravamento de problemas como os baixos índices de saneamento básico, a ausência de um
local apropriado para destinação dos resíduos sólidos, ocupação de encostas, enchentes,
poluição, erosão e progradação costeira, redução dos estoques pesqueiros, entre outros,
recorrentes e combatidos de forma descoordenada pelo poder público.
Os estudos demográficos dos pesquisadores do Projeto Clima sobre a região indicam, desde
a década de 1970, um acelerado processo de transformação. As populações rurais foram
drasticamente reduzidas, houve aumento da população nas faixas etárias mais avançadas e
da População em Idade Ativa (PIA). Carmo e colaboradores (2012) destacam que em
Ubatuba, o processo de transição demográfica está em curso e ressaltam o tamanho dos
grupos etários de homens entre 15 e 29 anos, sendo este maior em relação ao grupo das
37
mulheres, o que indica a forte migração ao longo da década de 1970 para o município.
Quando se analisam os dados sobre a migração, nota-se que aproximadamente metade da
população é composta por não nascidos no município (50,91%), e 13,32% por migrantes.
38
Contribuições Esperadas da Pesquisa
39
As análises que apresento foram subsidiadas por dados coletados em diferentes atividades
relacionadas aos Megaprojetos do LNP, entre os anos de 2005 e 2012, totalizando
aproximadamente: (a) 201 reuniões Técnicas (com empreendedores, órgãos públicos,
ONGs, comunidades atingidas, entre outros); (b) 92 visitas às instalações dos
empreendimentos; (c) 23 participações em eventos relacionados a grandes projetos de
infraestrutura de outras regiões brasileiras; (d) 15 Audiências Públicas; (e) 7
acompanhamentos de acidentes ambientais envolvendo vazamento de óleo, (f) 5 sobrevôos
de helicóptero na região em estudo; e g) entrevistas semi-estruturadas. O detalhamento dos
procedimentos metodológicos será apresentado nos capítulos 1 e 2.
Além das atividades de campo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica (relatórios
técnicos, estudos de impacto ambiental, legislações, jornais, artigos científicos,
dissertações, teses e sites na internet), além de uma revisão de literatura sobre os temas:
Megaprojetos, Avaliação Ambiental Estratégica, Avaliação de Impactos Ambientais,
Avaliação de Impactos Cumulativos e Teoria da Modernização Ecológica.
40
CAPÍTULO 1 – APORTES CONCEITUAIS PARA UMA ANÁLISE
INTEGRADA DOS IMPACTOS DOS MEGAPROJETOS
1.1. Introdução
41
afetadas. Faz sentido se pensarmos que o ambiente não possui fronteiras espaciais, muito
menos temporais, delimitadas de forma estanque.
Com foco nessa abordagem, esta seção busca referenciais teóricos em três instrumentos de
análise de impactos de grandes projetos sobre o ambiente e a sociedade: A Avaliação de
Impacto Ambiental – AIA, a Avaliação Ambiental Estratégica – AAE e a Avaliação de
Impactos Cumulativos – AIC.
Espera-se que esses referenciais possam contribuir para a construção de uma avaliação
integradora e regionalizada dos efeitos dos Megaprojetos, ou seja, uma visão de conjunto
das intervenções e influências destes sobre o litoral norte paulista. É de suma importância,
além de oportuno, destacar que não é objetivo desta tese produzir uma avaliação plena dos
impactos cumulativos e sinérgicos dos Megaprojetos, mesmo porque essa seria uma tarefa
que demandaria a participação de uma equipe multidisciplinar, com foco no
desenvolvimento de políticas públicas. Aqui serão utilizados os conceitos e definições
propostos pelas principais metodologias de avaliação de impactos de fontes diferenciadas,
com o objetivo primordial de desenvolver uma produção crítica sobre o papel dos grandes
empreendimentos de infraestrutura nas mudanças em curso ou previstas para uma região
específica.
7
Lei 6938 de 1981.
42
Ambiental - AIA e o Processo de Licenciamento Ambiental. Segundo a Resolução
CONAMA nº 237/97, Licenciamento Ambiental é:
Os critérios e diretrizes gerais para uma Avaliação de Impacto Ambiental foram definidos
pela Resolução CONAMA 01/86, a qual também definiu o conceito de impacto ambiental
como sendo:
Segundo Sánchez (2006), há uma impropriedade nessa definição, que estaria mais próxima
do conceito de poluição. O autor ainda ressalta que os impactos ambientais resultantes das
atividades humanas também podem ser positivos, sendo que esta possibilidade não é
aventada na definição proposta pela legislação nacional.
43
Em linhas gerais, a legislação nacional determina a realização de uma série de
levantamentos nos meios físico, biótico e socioeconômico para avaliação dos efeitos dos
empreendimentos sobre o ambiente e a comunidade atingida, bem como, a proposição de
medidas para redução dos impactos negativos e potencialização dos positivos (BRASIL,
1981).
44
Apesar da normatização nacional mencionar explicitamente a necessidade da avaliação das
propriedades cumulativas e sinérgicas dos projetos8, não há uma regulamentação específica
para isso. Assim, baseados em Sánchez (2006), podemos dizer que a soma dos impactos de
vários projetos (Efeitos Cumulativos), bem como a possível potencialização de impactos,
proveniente da interação entre projetos sobre uma mesma região (Efeitos Sinérgicos), são
indevidamente mensurados e avaliados no modelo de licenciamento tradicional brasileiro.
Digo tradicional por que no modelo federativo nacional cada estado pode, sendo mais
criterioso que a União, estabelecer seu regramento de gestão ambiental próprio,
obedecendo ao determinado pela Constituição Federal Brasileira.
Sanchez (2008) ressalta que mesmo os melhores EIAs, possuem dificuldades de levar em
conta satisfatoriamente os impactos cumulativos e os impactos indiretos, além de analisar
superficialmente as questões sobre as alternativas tecnológicas e de localização. Estas
falhas seriam inerentes a esta forma de avaliação de impacto ambiental. Uma grande
dificuldade nos processos de licenciamentos está associada ao escopo dos EIAs, que é
muito amplo, tornando quase impossível uma padronização de critérios ou de conteúdos
para as diversas tipologias de empreendimentos (SEVÁ, 2004).
Egler (2002), por sua vez, destaca que algumas deficiências importantes têm sido
identificadas, mesmo quando e onde o processo de AIA é considerado como
adequadamente implantado e utilizado. A principal, segundo este autor, seria que o
processo de AIA tende a ocorrer muito tarde no processo de planejamento e de desenho de
um empreendimento, tornando difícil assegurar que todas as alternativas possíveis e
relevantes ao projeto sejam adequadamente consideradas9.
8
O Artigo 6º, item II, da Resolução CONAMA 01/86, determina que a análise dos impactos ambientais do projeto e de
suas alternativas, através de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos
relevantes, deve discriminar: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a
médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e
sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais (grifo meu).
9
Egler, neste artigo, menciona um consenso entre pesquisadores sobre essa questão e cita, O’Riordan e Sewell (1981),
Armour (1991), Darrieutort (1991), Wood e Dejeddour (1992), Sheate e Cerny (1992), Thérivel et al (1992), Lee e
Walsh (1992), Wilson (1993) e Sheate (1993).
45
1.3. Alguns Instrumentos de Avaliação Integrada
O interesse desta tese na AAE se concentra nas metodologias utilizadas por este
instrumento para avaliação sistemática dos efeitos de decisões em escalas políticas altas
(federais e estaduais) sobre o ambiente e comunidades locais. Assim, cabe destaque a
conceituação proposta por Partidário (1999), na qual a autora defende que a AAE é um
procedimento sistemático e continuado de avaliação da qualidade do ambiente – e das
conseqüências ambientais decorrentes de visões diferentes de desenvolvimento
incorporadas em iniciativas de políticas, planos e programas – que busca assegurar a
integração efetiva dos aspectos biofísicos, sociais e políticos relevantes.
A AAE não foi, até o presente momento, regulamentada no Brasil, porém, em São Paulo a
Política Estadual de Mudanças Climáticas10 estabelece entre seus objetivos e diretrizes seu
uso, visando analisar de forma organizada as conseqüências ambientais de políticas, planos
e programas públicos e privados, frente aos desafios das mudanças climáticas. Como
10
Lei n o. 13.798 de 9 de novembro de 2009.
46
anteriormente abordado, a AAE é um instrumento de planejamento que busca analisar, no
médio e longo prazo, impactos cumulativos e sinérgicos provenientes de políticas, planos,
programas e projetos estruturantes. A Secretaria de Estado de Desenvolvimento publicou
em setembro de 2010 a "Avaliação Ambiental Estratégica do Litoral Paulista das atividades
Portuárias, Industriais, Navais e Offshore‖ – AAE/PINO, que tem como objetivo subsidiar
o planejamento ambiental e as ações setoriais de todo o litoral do Estado frente aos
potenciais benefícios e impactos decorrentes da implantação dos projetos relacionados à
exploração das jazidas minerais do Pré-sal (SMA, 2010).
Apesar de seu caráter somatório a AIC não é uma metodologia de junção de avaliações de
projetos individuais, mas sim uma maneira de colocar os efeitos de um projeto em uma
perspectiva ampla em relação às atividades humanas e às mudanças ambientais
(GRIFFITHS et al., 1998).
11
―changes to the environment that are caused by an action in combination with other past, present and
future human actions‖ (HEGMANN et al., 1999)
47
seu conjunto. De acordo com Kotze (2004), os efeitos cumulativos são comumente
entendidos como impactos combinados de diferentes projetos, que resultam em mudanças
significativas, maiores que a soma de todos os impactos 12. Com isso uma avaliação
cumulativa de efeitos buscaria evitar, ou minimizar, o que foi descrito por Odum (1982) –
citando Hardin (1968) – como a tirania das pequenas decisões (KOTZE et al., 2004, p.5).
Uma análise de efeitos cumulativos sempre leva em consideração o fato de que, embora
alguns impactos quando analisados isoladamente pareçam insignificantes, quando avaliados
em conjunto, podem não ser (LAWRENCE, 1994). É importante esclarecer que, assim
como Leibowitz e colaboradores (1992), entendemos que o impacto é resultado da ação
humana sobre o meio, e o efeito é o resultado da adição ou interação de impactos.
12
―Cumulative effects are commonly understood as the impacts which combine from different projects and
which result in significant change, which is larger than the sum of all the impacts‖ (KOTZE et al., 2004,
p.5).
48
Sánchez (2006) explica que há atualmente no Brasil diversos tipos de estudos ambientais13,
porém o EIA é o documento mais importante do processo de avaliação de impacto
ambiental. O autor ainda destaca que esses tipos baseiam-se no formato e nos princípios do
EIA, e que sua metodologia pode, portanto, ser adaptada e utilizada para qualquer um dos
estudos ambientais.
Em linhas gerais, as diretrizes propostas na legislação federal para a construção dos estudos
dos impactos ambientais exigem um grande levantamento de dados, elaborado por uma
equipe multidisciplinar, que contenha no mínimo: Um diagnóstico ambiental da área de
influência do projeto contemplando os meios físico, socioeconômico e biológico; a análise
dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, prevendo a magnitude e
interpretando a importância dos prováveis impactos relevantes e discriminando os impactos
positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e
longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades
cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais, além da definição das
medidas mitigadoras dos impactos negativos (CONAMA, 1986).
Sánchez (2006) elenca as principais ferramentas que podem auxiliar no processo de análise
dos impactos ambientais no âmbito da elaboração de EIAs (identificação, previsão e
avaliação). Entre elas são destacadas as Listas de Verificação, as Matrizes de Impacto e os
Diagramas de Interação.
13
Plano de Controle Ambiental (PCA), Relatório de Controle Ambiental (RCA), Relatório Ambiental Preliminar (RAP),
Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), entre outros.
14
Mais informações nos trabalhos de Therivel et al. (1992); Partidário & Clark (2000); Therivel (2004), Dlay-Clayton &
Sadler (2005); Glasson, Therivel e Chadwick (2005); Fisher (2007) e Oliveira (2008)
49
de Vida; Análises de Custo-Benefício; Análises de Ciclo de Vida; Pegada Ecológica,
Análise Multicriterial; Avaliação de Impactos Sociais; Sobreposição de Informações;
Modelagem Matemática; Análise de Vulnerabilidade; Estabelecimento de Cenários e
Análise de Fragmentação do Território. Os autores indicam que, entre estes, os métodos
mais consagrados são o julgamento de especialistas, as listas de verificação, as matrizes e
as redes de interação, destacando a necessidade de integração entre abordagens para a
complementação da identificação e previsão dos impactos.
As técnicas utilizadas na AIC são, na maior parte, as mesmas empregadas na AIA com
adaptações no objetivo e no escopo do trabalho. Segundo Lowrence (1994), existe uma
falsa dicotomia entre a AIA e a AIC e uma análise das possíveis diferenças facilitaria a
incorporação da avaliação de impactos cumulativos na AIA.
Smith e Spaling (1995), Sadler e Verheem (1996) e Canter e Sadler (1997) foram os
precursores da compilação de métodos e conceitos para o desenvolvimento de uma
avaliação de efeitos cumulativos. Estes autores servem de referência para o
desenvolvimento dessa ferramenta até hoje. Oliveira (2008) apresenta uma revisão sobre a
AIC no Brasil e destaca sete métodos bastante difundidos para a avaliação de impactos:
Diagramas de rede (ou interação); Julgamento de especialistas; Listas de Verificação;
Matrizes e tabelas; Modelagem matemática; Questionários, entrevistas e painéis; e
Sobreposição de imagens. A autora também recomenda e propõe uma combinação destes
para a avaliação pretendida.
50
trabalhos que objetivam produzir uma AIC completa) é simplificado e busca desenvolver
uma análise que permita verificar a magnitude dos efeitos da co-localização de grandes
empreendimentos de infraestrutura sobre uma região específica.
Neste estudo selecionamos quatro técnicas para análise dos impactos da instalação e
operação co-localizada de Megaprojetos no litoral norte:
a) Análise de Atributos-chave
b) Redes de Interação
d) Matrizes de Interação
15
Foram realizadas aproximadamente 340 atividades relacionadas à caracterização da região, aos Megaprojetos e aos
principais atores ligados aos projetos. Estas atividades foram realizadas entre os anos de 2005 a 2012. Tabela A2
(disponível nos anexos).
51
Tabela 0.1: Relação dos 13 projetos em análise, nome dos EIAs protocolados nos órgãos ambientais e
forma como os estudos foram referenciados neste tese. Legenda: IPG – Indústria de Petróleo Gás; PSS –
Porto de São Sebastião; RNT – Rodovia Nova Tamoios.
52
A análise de atributos-chave parte de um processo de seleção de aspectos ambientais e
sociais sobre os quais a pesquisa se aprofunda. Como critério de escolha, utilizou-se das
orientações para seleção de indicadores e índices de sustentabilidade (OECD, 1993; OECD,
2002; RIBEIRO & HELLER, 2004), bem como das recomendações para a escolha de
Componentes Avaliáveis do Ecossistema (HEGMANN et al., 1999) e Fatores Ambientais
Relevantes – FAR (LEGASPE, 2012). Assim, foram selecionados atributos que fossem
simples de entender; tivessem quantificação estatística e lógica coerentes; comunicassem
eficientemente o estado do fenômeno observado; fossem adaptados à realidade nacional
(SICHE et al., 2007; RIBEIRO & HELLER, 2004) e que servissem como indicadores de
um possível ponto de inflexão (social, ambiental e conômico) no histórico do litoral norte
paulista.
Após a seleção, a análise dos atributos foi efetuada com base nos dados apresentados nos
Estudos de Impacto Ambiental dos projetos e nas visitas realizadas nos empreendimentos.
A discussão sobre cada atributo analisado será apresentada nos capítulos 3 e 4.
53
II. Acidentes Ambientais Tecnológicos: O aumento da atividade industrial está
invariavelmente associado ao crescimento na circulação regional de produtos
químicos perigosos. Todo grande empreendimento envolve uma variação na
probabilidade de acidentes. Todos os projetos analisados estão de alguma maneira,
direta ou indiretamente, envolvidos no transporte de produtos perigosos. A análise
desse atributo busca relacionar a presença dos Megaprojetos com o aumento do
risco de acidentes tecnológicos. Paralelamente, essa análise subsidia uma reflexão
sobre a modernização da sociedade, os novos riscos criados e sua distribuição na
sociedade. De acordo com o sociólogo alemão Ulrich Beck (1992), esses novos
riscos são caracterizados, entre outros, pelo seu caráter supranacional, por não
serem específicos de uma classe, pela sua imperceptibilidade e dependência do
saber, pelo conhecimento incompleto de suas causas e conseqüências, pelo fato de
serem incontroláveis e, muitas vezes, irreversíveis.
54
implementação de políticas públicas específicas e eficazes para minimização de
seus efeitos negativos e potencialização de seus efeitos positivos. A análise deste
atributo tem como objetivo verificar como esses empreendimentos geram, ou não,
recursos financeiros para os municípios diretamente afetados e se essa nova receita
tende a gerar benefícios à população.
VII. Uso do Solo: O foco da análise desse atributo é concentrado nas relações existentes
entre os instrumentos de gestão e planejamento urbano local e as futuras
transformações decorrentes dos efeitos integrados dos novos empreendimentos
sobre as dinâmicas econômicas, sociais e ambientais dos municípios. Busca-se
verificar como o mosaico de áreas de influência direta e indireta dos projetos afeta e
interfere no desenvolvimento dos Planos Diretores municipais, no Zoneamento
Econômico – Ecológico estadual e nas Unidades de Conservação, bem como nos
fenômenos demográficos e urbanos locais, como forma de avaliar o potencial de
transformação associado à co-localização de empreendimentos.
A análise das Redes de Interação é sugerida por diversos autores como técnica para
identificar as relações de causa e efeito entre os impactos e suas manifestações no ambiente
(BORGATTI et al., 2002; OLIVEIRA, 2008; OLIVEIRA et al., 2009; SADLER &
VERHEEM, 1996; SÁNCHEZ, 2006). No presente caso, essa técnica tem como objetivo
primordial demonstrar o nível de relacionamento entre os treze projetos em estudo, definir
o grau de interdependência entre empreendimentos e identificar quais destes operam como
um único complexo de infraestrutura. A visualização dos níveis de relacionamento entre os
projetos também auxilia na avaliação da indução de possíveis empreendimentos periféricos
catalisados pela presença dos novos complexos de infraestrutura na região.
55
O objetivo da utilização da Sobreposição de dados geoespaciais é compreender como e
porque os projetos, ou o conjunto de projetos, impactam diferentemente, com maior ou
menor intensidade, áreas específicas. A utilização de mapas também possibilita visualizar
como as áreas de influência dos empreendimentos se relacionam com as políticas públicas
de ordenamento territorial, como o ZEEC, os Planos de Manejo de Unidades de
Conservação e os Planos Diretores dos municípios.
A Tabela 1.2 apresenta o número de processos de licenciamento ambiental que integra cada
complexo estrutural.
Total 13
A maior parte dos trabalhos sobre análises integradas ou cumulativas recomenda a adoção
de matrizes (LEOPOLD et al., 1971; SADLER & VERHEEM, 1996; SÁNCHEZ, 2006;
SENNER et al., 2002). A matriz de interação aqui apresentada é uma ferramenta de
simplificação do cruzamento entre os atributos analisados e os complexos de infraestrutura.
Esta não correlaciona diretamente as ações ou atividades dos projetos com seus efeitos em
56
cada atributo – como é comum em uma Matriz de Leopold (LEOPOLD et al., 1971) – mas
sim, a magnitude em que cada atributo é afetado pelo grupo de projetos integrantes de cada
complexo de infraestrutura. Como se trata de um agrupamento de impactos, da maneira que
estes são mencionados nas AIAs, em relação aos indicadores selecionados, não é possível
uma compilação linear. Nos EIAs muitos dos impactos são analisados por fase do
empreendimento ou com denominações e terminologias distintas entre os projetos,
impedindo uma avaliação simplificada e linear.
A Tabela 1.3 apresenta a estrutura da Matriz de Análise Integrada dos impactos dos
Megaprojetos sobre os sete atributos selecionados. A matriz devidamente alimentada com
as informações de cada complexo será apresentada juntamente com as discussões no
Capítulo 4.
57
Tabela 0.3: Modelo de Matriz de Análise Integrada em relação aos atributos selecionados.
58
CAPÍTULO 2 – A TEORIA DA MODERNIZAÇÃO ECOLÓGICA: EM
BUSCA DE BENEFÍCIOS ECONÔMICOS E AMBIENTAIS
SIMULTÂNEOS
“Ouviu a queixa do rio e prometeu salvá-lo. Dali por diante ninguém mais
despejaria monturo em suas águas. Contratou vigilantes, e ele próprio não fazia
outra coisa senão postar-se à margem, espingarda a tiracolo, defendendo a
pureza da linfa. Seus auxiliares denunciaram que alguém, nas nascentes, turvava
a água. Foi lá e verificou que um casal de micos se divertia corrompendo de
todas as maneiras o fio d’água. Os animais fugiram para reaparecer à noite. E
explicaram, antes que levassem tiro na barriga:
– Não fazemos por mal, apenas brincamos. Que pode um mico fazer para se
divertir, senão imitar vocês?
– A mim vocês não imitam, pois estou justamente lutando para proteger este rio.
– Já não se pode nem imitar – observaram os micos, fugindo outra vez. – O
homem é um animal impossível. Agora deu para fazer o contrário.”
2.1. Introdução
16
As primeiras concepções teóricas sobre a ME surgem na década de 1980, com os trabalhos do sociólogo alemão Joseph
Huber. Em seus primeiros ensaios sobre a TME Huber afirma que o principal problema das sociedades industriais
contemporâneas está relacionado à colonização da ―sócio-esfera‖ (mundo da vida) e da ―eco-esfera‖ (mundo natural)
pela ―tecno-esfera‖ (sistema de produção industrial e o mercado).
59
ambientais a partir de quatro pressupostos: inovação tecnológica, prevenção, participação
pública na tomada de decisão e soluções ambientais e econômicas simultâneas.
60
econômico é extremamente oportuna para uma análise desse atual contexto do litoral norte
paulista, uma região com alto valor ambiental e grandes problemas sociais, que, por conta
da co-localização – temporal e espacial – de Megaprojetos, vive uma tendência de migração
da vocação regional de conservação ambiental, turismo e pesca artesanal, para uma vocação
cada vez mais inclinada à atividade industrial. Além disso, os estudos empíricos sobre a
TME focam-se em sua maioria na relação direta entre produção e consumo, secundarizando
os efeitos sobre o ambiente que não estejam diretamente relacionados ao mercado, como,
por exemplo, os impactos ambientais das obras de infraestrutura necessárias à manutenção
do sistema industrial.
A possibilidade dessa análise empírica abre espaço para a avaliação de quais condições ou
premissas estariam em desacordo com as propostas da teoria, quais não se aplicam ao caso
analisado e em quais casos cabem adaptações.
Embora sua história date do início dos anos 1980, a ideia de modernização ecológica
ganhou força a partir do início dos anos 1990. Ela não foca no desgaste contínuo da base de
sustentação ambiental da sociedade, mas sim na reestruturação do processo de produção e
consumo (Mol, 1997). De acordo com Farinaci e colaboradores (2013), a Modernização
Ecológica estaria alinhada com as noções de sustentabilidade ambiental e com a economia
verde, construindo uma perspectiva teórica essencialmente otimista: desde que as
instituições e os mecanismos econômicos sejam reformados de acordo com critérios de
racionalidade ecológica, a qualidade ambiental não seria uma proposta antagônica ao
desenvolvimento econômico.
Segundo Leila Ferreira (2006), esta modernização reflexiva poderia ser abordada em duas
vertentes: a sociedade de risco e modernização ecológica. Apesar das divergências entre
estas duas vertentes em relação às possíveis respostas à crise ambiental, pelo menos duas
premissas são compartilhadas: os problemas ambientais não são determinados
estruturalmente e a modernização progressiva das sociedades pode se apresentar como
solução aos problemas ambientais. Buttel (2000) sugere que as teorias da sociedade de risco
e da modernização ecológica forneceriam o suporte teórico necessário para uma discussão
sobre sustentabilidade, até então carente de substância e que, de uma maneira nova e
melhorada, a ME seria um sinônimo para ‖desenvolvimento sustentável‖.
62
procedimentos para liberação de créditos financeiros, entre outros. Essa incorporação de
valores no processo é denominada pelos teóricos da modernização ecológica como
―economização da ecologia‖ (HUBER, 2000; SPAARGAREN, 2000; OLIVIERI, 2006).
Segundo Mol (1995), a modernização ecológica é uma teoria social que proporciona – ou
que pretende oferecer – um conjunto coerente e consistente de conceitos específicos e
ideias que se prestam a análise da forma como a sociedade reage sobre e tenta lidar com
uma de suas maiores crises contemporâneas: a problemática ecológica. Olivieri (2006)
destaca que o principal objetivo da TME é formular uma teoria social consistente para
compreender e explicar como, e em até que ponto, os processos de produção e consumo,
em condições de modernidade tardia, têm sido transformados numa direção mais
sustentável ambientalmente.
Todavia, a modernização ecológica também é uma teoria prescritiva (LENZI, 2006) que
afirma que os processos de reforma ambiental ao longo das linhas de modernização
ecológica são os melhores (ou mesmo os únicos possíveis) caminhos para vencer a
sobrecarga da sociedade moderna sobre sua base de sustentação (MOL, 1995, p. 49). Essa
última abordagem dá à teoria um caráter de programa político e como tal vem sendo
implementado, principalmente, em países da Europa Ocidental. Spaargaren (2000) também
reconhece na ME diferentes possibilidades de abordagem para análises teóricas ou
empíricas (ME enquanto programa, perspectiva, sistema de crenças, projeto de reforma
política ou teoria social), consignando assim, os diferentes sentidos e noções da ME, que os
autores têm utilizado tanto como discurso teórico e ideológico quanto programa político
aplicado à gestão pública.
Milanez (2006, p. 15) argumenta que, embora exista pouco consenso entre pesquisadores
sobre uma única definição de ME, quatro principais suposições são comumente associadas
63
à ideia de modernização ecológica: i) Cooperação e participação direta dos stakeholders na
tomada de decisão; ii) Alcance simultâneo de objetivos ambientais e econômicos; iii)
Contribuição positiva da ciência e tecnologia e, iv) Busca de soluções preventivas para os
problemas ambientais com aumento na eficiência de produção.
Segundo o sociólogo holandês Arthur Mol (1995), para uma avaliação empírica, as
principais premissas da ME podem ser sintetizadas em seis pressupostos centrais
relacionadas a uma mudança social ambientalmente induzida:
IV. ONGs ambientalistas modificam sua ideologia e ampliam sua estratégia tradicional
de manter a questão ambiental nas agendas públicas e políticas, para uma
participação direta nas negociações com os agentes econômicos e representantes do
64
Estado, próximos aos centros tomadores de decisão, para o desenvolvimento de
propostas concretas para a reforma ambiental;
Os itens II, III e IV são aqueles sob os quais será dada maior atenção no decorrer deste
estudo, visto que, considerando as condições e premissas apontadas, esta tese aborda a
teoria da modernização ecológica em um sentido amplo, definindo como seu pressuposto
central o alcance simultâneo de objetivos econômicos e ambientais, buscando com isso, um
novo equilíbrio entre crescimento econômico e conservação ambiental. As demais
premissas da ME serão abordadas como dadas externamente – de forma independente – à
governança do LNP e serão utilizadas quando necessário durante a análise dos atributos,
descritos no capítulo 1, como forma de fortalecer as avaliações.
17
Essa expressão, quando traduzida, torna-se obscura, pois é controversa do ponto de vista democrático. Adotamos, para
os fins que se dedica essa pesquisa, o entendimento de Estado ―ativo e presente‖ na evolução democrática.
65
D. Organizações de negócios capazes de representar produtores em negociações numa
base regional e setorial;
Esses critérios foram elencados com objetivo de desenvolver uma análise empírica em
escala nacional, portanto, parte das condições aqui listadas deve ser considerada como dada
externamente à governança regional do LNP. Nestas condições destacam-se os critérios
relativos à organização política e econômica brasileira, como possuir um sistema político
aberto e democrático (Item A) ou ter uma economia de mercado regulada pelo Estado (item
G).
66
De acordo com Hochstetler e Keck (2007), pode-se dizer que o sistema político brasileiro
ocupa uma posição intermediária entre as nações industrializadas, detentor de diversas
controvérsias econômicas e políticas.
Pereira e Kruglianskas (2005) destacam que o Brasil é um país que produz ciência de
fronteira, mas que não consegue interagir, em um nível adequado, com o setor produtivo.
Todavia, os autores destacam que a Lei Federal n.º 10.973, editada em 2004 estabelecendo
medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica, é um instrumento
relevante e deve facilitar a criação de uma cultura de inovação no País. Felipe (2007)
menciona que historicamente o Brasil adotou uma estratégia onde a pesquisa acadêmica
deveria gerar o conhecimento que naturalmente se transformaria em inovações
tecnológicas, o que não se reflete na realidade do setor tecnológico do país. A autora ainda
argumenta que o Brasil sempre investiu de forma inconstante e em quantidade insuficiente
os recursos públicos federais e estaduais no desenvolvimento de ciência e tecnologia,
excetuando, porém, o Estado de São Paulo (FELIPE, 2007).
67
maioria dos casos de grandes empreendimentos de infraestrutura, existe o ―duplo papel‖ do
Estado, atuando como governo (exercendo seu papel de gestão, comando e controle através
das agências ambientais) e como empreendedor simultaneamente. No caso dos
empreendimentos do LNP os executores e principais investidores dos projetos são o
governo estadual (Setor de Transportes – Complexo Portuário e Rodoviário) e federal (setor
de energia – Complexo Petróleo e Gás). Pouca ou nenhuma referência foi encontrada sobre
este aspecto na literatura.
Estas inovações seriam, em linhas gerais, tecnologias ambientalmente mais avançadas, que
não apenas redirecionam os produtos e seus processos de produção num sentido mais
68
ecológico, mas principalmente se inserem em amplos sistemas tecnológicos vinculados a
requerimentos ambientais severos (OLIVIERI, 2009; LENZI, 2003; GOULDSON &
MURPHY, 1998). A figura 2.1 apresenta um esquema simplificado da adoção de
inovações tecnológicas preventivas – ITPs gerando benefícios econômicos e ambientais
simultâneos, suportados pelas relações construídas entre os atores-chave, sob as condições
determinantes para o desenvolvimento do processo de ME no litoral norte paulista.
Figura 2. 1: Esquema da relação entre atores-chave e ITPs no processo de ME. (Elaborado pelo autor).
69
processo de produção, diferentemente das ITPs que têm seu foco sobre as causas da
degradação ambiental e não sobre os efeitos. Tecnologias limpas têm fundamento no
princípio de prevenção, enquanto as tecnologias de controle pautam-se no princípio de
reação (LENZI, 2003).
Muitas vezes as ITPs são apontadas como soluções para problemas que, de fato, foram
criados pelo próprio avanço tecnológico, ou como colocado por Ferreira e Seixas (2010):
(...) a sociedade está cada vez mais submetida a experiências, com base nos avanços
técnico-científicos, que dissolvem as certezas em torno dos próprios riscos com os
quais o mesmo avanço técnico-científico trabalha. Assim, vive-se um momento onde
está presente intenso questionamento do papel da ciência na solução dos problemas
que a própria sociedade industrial coloca, como também, intenso questionamento da
dimensão e complexidade dos próprios riscos (p. 342)
70
ME são uma tarefa complexa. Com isso, são diversas as críticas endereçadas a essa teoria.
O eurocentrismo, a perspectiva otimista de manutenção das incongruências da sociedade
industrial contemporânea, o caráter tecnocrático das soluções propostas para a crise
ambiental, a migração das fontes de poluição entre os países desenvolvidos e os em
desenvolvimento18, além da relação entre os danos ambientais imediatos e a transformação
lenta das instituições da modernidade, são as principais críticas sob as quais os teóricos da
ME vêm se debruçando na busca de respostas.
A maioria das críticas à ME provém de pesquisadores que acreditam que aquilo que alguns
chamam de ―capitalismo sustentável‖ não seria possível, rejeitando qualquer assertiva que
proponha tal percurso (OLIVIERI, 2009). É fato que a mesma evolução científica que
possibilita um menor impacto dos processos industriais também estabelece novas fronteiras
de exploração e degradação ambiental, como fica patente no caso da exploração de óleo e
gás em grandes profundidades em alto mar. Como aponta Sachs (2004), o poder destruidor
das tecnologias, cujo uso permanece subordinado à busca de projetos financeiros e
econômicos de curto prazo, manifestou-se pela degradação ambiental, cuja gestão prudente
tornou-se um imperativo mundial.
Outra crítica recorrente vem da teoria da sociedade de risco de Beck (1992) e do modelo de
modernidade tardia radicalizada de Giddens (1991). De acordo com esses autores, os riscos
modernos, especificamente riscos ecológicos, provindos da ciência e tecnologia, estariam
no centro da nova organização da modernidade. Todavia Mol (1995), afirma que a noção de
reflexividade como articulada na teoria da sociedade de risco é especialmente fértil para a
análise dos riscos de baixa probabilidade e alta conseqüência, enquanto o quadro de
referência da modernização ecológica inclui os problemas ambientais cotidianos como
poluição das águas, resíduos industriais e acidificação. Segundo Ferreira e Seixas (2010), a
visão de sociedade de risco possibilita a leitura de elementos que corroboram no
comprometimento da qualidade de vida a partir da vivência em sociedades em processo de
complexas transformações, que fazem com que os indivíduos vivenciem riscos coletivos,
muitas vezes decorrentes de um incisivo processo de industrialização.
18
Aqui ainda cabe destaque à crise financeira nos EUA e Europa, e ao surgimento do grupo dos países emergentes, por
alguns denominado de BRICs ( Brasil, Russia, India e China), que altera e torna um tanto mais complexa a relação entre
países desenvolvidos e aqueles rotulados como ―em desenvolvimento‖.
71
2.5. Aportes metodológicos para a pesquisa
Assim como efetuado com as condições para a ME, algumas premissas elencadas por Mol
(1995) também foram abordadas como dadas externamente à governança do LNP e são
utilizadas durante a análise dos atributos (no capítulo 4) e dos dados obtidos nas entrevistas,
visitas técnicas aos Megaprojetos, reuniões e audiências públicas, como forma de fortalecer
as avaliações. As premissas relevantes regionalmente, relacionadas à: i) implementação de
72
ITPs; ii) mudança de postura dos empreendedores e dos agentes do Estado; e iii) mudança
de estratégia das ONGs ambientalistas, foram incluídas na análise e incorporadas nos
roteiros de entrevista.
III. Entrevistas: Foram realizadas doze entrevistas com os representantes dos atores-
chave selecionados para a análise empírica (órgãos ambientais dos governos,
empreendedores e ONGs ambientalistas). A lista de atores entrevistados encontra-se
disponível nos anexos (Tabela A.1).
IV. Análise das entrevistas: As informações obtidas nas entrevistas foram integradas
aos dados coletados nas visitas técnicas aos Megaprojetos, reuniões e audiências
públicas, para uma avaliação qualitativa, verificando em até que ponto as condições
e premissas foram visualizadas e materializadas em campo. O atendimento as
condições e premissas serviram, nesse caso, como indicadores da evolução de um
processo regional de modernização ecológica apresentado no capítulo 5.
19
"Ficção heurística com a qual o cientista ordena uma série de aspectos recorrentes da realidade" (DIAS, 1974). O
objetivo da construção de uma matriz de ―tipo ideal‖ é a formação de um quadro analítico homogêneo que permita o
desenvolvimento de um estudo empírico.
73
Tabela 2.1: Matriz de tipo ideal para ME no LNP. Cruzamento de condições e premissas para o
desenvolvimento da ME. Elaborado pelo autor baseado em (MOL, 1995; FRIJNS et al., 2000).
74
Fase 2: Avaliação das Inovações Tecnológicas Preventivas - ITPs:
Foram selecionadas para análise duas ITPs (Tabela 2.2) relacionadas aos atributos
―Emissões de CO2‖ e ―Uso do Solo‖, selecionados e descritos no capítulo 2. Ressalta-se
que no decorrer da caracterização dos Megaprojetos (capítulo 3), serão apontadas e
descritas tecnicamente as principais inovações tecnológicas que se enquadram no conceito
de ITP proposto na tese. Todavia, apenas aquelas selecionadas serão avaliadas com
profundidade.
Tabela 2.2: ITPs selecionadas para avaliação e os benefícios ambientais e econômicos esperados.
Legenda: IPG – Complexo Indústria do Petróleo e Gás; PSS – Complexo Porto de São Sebastião.
O exposto ratifica a escolha da TME como anteparo teórico para uma análise das
transformações do LNP. As condições estabelecidas pela teoria como relevantes para o
desenvolvimento da modernização ecológica estão alinhadas, de maneira diferenciada para
75
os padrões nacionais, com o perfil atual do LNP, o que, em tese, potencializaria seus
resultados enquanto idealizadora de um processo ―win-win‖ entre progresso econômico e
conservação ambiental.
76
CAPÍTULO 3 – CARACTERIZAÇÃO DOS GRANDES PROJETOS DE
INFRAESTRUTURA DO LNP
3.1. Introdução
77
De maneira resumida, são apresentados os resultados da análise de 13 Estudos de Impacto
Ambiental – EIAs relativos aos três complexos de infraestrutura avaliados nesta pesquisa,
além das informações coletadas em campo, nas visitas aos empreendimentos, audiências
públicas, reuniões e outras atividades.
As conclusões apresentam um panorama do atual modelo de identificação e gestão
segregada dos impactos, os principais efeitos sociais e ambientais de cada complexo sobre
o LNP e as perspectivas na adoção de inovações tecnológicas preventivas como geradoras
de benefícios ambientais e econômicos simultâneos.
Como anteriormente descrito, Flyvbjerg e colaboradores (2003), definem Megaprojetos
como grandes empreendimentos de infraestrutura com orçamentos superiores a 1 bilhão de
dólares e com capacidade substancial de geração de impactos sociais, ambientais e
econômicos, atraindo grande atenção popular. Outros autores os definem apenas como
projetos de grande porte, envolvendo estâncias públicas e privadas, que exigem grandes
recursos físicos e financeiros (MERROW, 1988).
Nos últimos trinta anos diversos estudos sobre grandes empreendimentos de infraestrutura,
em operação em várias partes do planeta, foram desenvolvidos com foco no desempenho
dos Megaprojetos em termos econômicos, ambientais e de legitimidade frente à população
(MORRIS & HOUGH, 1987; MERROW, 1988; CHRISTOFFERSEN et al., 1992;
COLLINGRIDGE, 1992; SZYLIOWICZ & GOETZ, 1995; FLYVBJERG et al., 2003). A
maior parte destes destaca os fracassos e as falhas nos orçamentos, estimativas de ganhos,
danos ambientais e riscos da instalação e operação destes empreendimentos, em suas
diversas tipologias, pelo mundo.
No Brasil, diversos Megaprojetos, ditos como imprescindíveis para o desenvolvimento
econômico nacional, estão atualmente em licenciamento ambiental. São obras com porte
suficiente para alterar toda a dinâmica de organização social, econômica e ambiental de
uma região. Na zona costeira, a confirmação das maiores jazidas minerais de gás e das
reservas gigantes de petróleo na camada do Pré-sal, trouxeram por um lado uma grande
euforia para a economia nacional e por outro o temor da degradação ambiental que, via de
regra, acompanha a indústria do petróleo e gás e suas atividades portuárias correlatas.
78
Segundo a Avaliação Ambiental Estratégica - Dimensão Portuária, Industrial, Naval e
Offshore no Litoral Paulista (SMA, 2010) 20, o elenco de empreendimentos que responde às
demandas petrolíferas e portuárias no Litoral Paulista adquire potencial mais do que
"estruturante" e configura-se como "transformador" da região.
No Litoral Norte, além do Pré-sal, destacam-se o projeto de ampliação da capacidade de
movimentação de cargas no Porto de São Sebastião e a consequente adaptação de toda a
logística rodoviária com a ampliação da capacidade de tráfego da Rodovia SP-099 e
construção de um novo corredor de exportação no Estado.
A seguir descreveremos os Megaprojetos em análise buscando avaliar as inovações
tecnológicas presentes em cada complexo de infraestrutura, as justificativas para seu
desenvolvimento, sua relevância para a região e para o país, os principais instrumentos
institucionais de identificação e gestão dos impactos, e as relações da presença destes com
as possíveis transformações da região.
Um dos objetivos desta tese é promover um olhar integrador entre os diversos processos de
licenciamento em tramitação nos órgãos ambientais do Estado e da União. Para isso, foram
analisados 13 EIAs ou pré-projetos21, da maneira em que estes são apresentados à
sociedade, ou seja, de forma segregada.
De acordo com a legislação nacional22, um empreendedor pode desmembrar um grande
projeto em diversos processos de licenciamento ambiental ―independentes‖. Isso ocorreu,
por exemplo, no processo de licenciamento de produção, tratamento e escoamento de gás
no Campo de Mexilhão. Esse projeto foi subdividido em três processos de licenciamento e
apresentado aos órgãos licenciadores e a população de maneira segregada, causando
dificuldades de compreensão por parte da comunidade.
20
AAE-PINO, Publicada pelo Governo do Estado de São Paulo em 2010.
21
Os Estudos de Impacto Ambiental dos subtrechos Serra e Contorno Norte não foram apresentados ao órgão licenciador
até o momento. Para esta avaliação foram utilizados os dados dos ante-projetos utilizados para a elaboração dos termos
de referência que balizam os EIAs.
22
Lei 6.938/81; Resolução CONAMA 237/97; LC 140/2011.
79
Essa segregação também compromete a identificação dos impactos cumulativos e
sinérgicos dos projetos. A literatura correlata apresenta a questão dos efeitos sinérgicos e
cumulativos como um problema relevante que deve ser abordado nas avaliações de impacto
de grandes empreendimentos (EGLER, 2002; SÁNCHES, 2006; OLIVEIRA et. al., 2009;
PARTIDÁRIO, 1999; NUNES, 2010). Questões como as mudanças climáticas, a perda de
biodiversidade ou a depleção da camada de ozônio são resultados de séculos de ações
humanas consideradas sem importância, pela sua pequena relevância quando analisada
segregadamente, cujos impactos cumulativos não foram devidamente avaliados
(OLIVEIRA, 2008).
Assim, pode-se dizer que as transformações em andamento na região seriam produto do
somatório de uma série de impactos (positivos e negativos) decorrentes da instalação co-
localizada de Megaprojetos em uma determinada área e em um curto período de tempo.
80
Tabela 3. 1: Situação da tramitação de cada processo em análise nos órgãos ambientais, dividido por
Complexo (para a listagem completa, contendo o nome de cada estudo, ver Tabela 1.1).
Legenda: LO: Licença de Operação; AP: Audiência Pública. IPG – Complexo Indústria do Petróleo e Gás;
PSS – Complexo Porto de São Sebastião; RNT – Complexo Rodovia Nova Tamoios. Fonte: Elaborado pelo
autor com informações obtidas no site www.ibama.gov.br/sislic e site http://www.dersa.sp.gov.br
Onze dos treze processos em análise foram abertos nos órgãos ambientais competentes
(IBAMA e CETESB) entre os anos de 2002 e 2011. Destes, sete já possuem licença de
operação e cinco estão na fase de audiências públicas23. O Subtrecho Serra e os Contornos
Norte e Sul, integrantes do complexo rodoviário Nova Tamoios, concluíram suas
audiências públicas e estão aguardando a emissão das licenças prévias. No caso dos
processos de produção e exploração de petróleo e gás offshore, todos já possuem licença de
operação.
Como apontado, os Estudos de Impacto Ambiental24 destes projetos serviram como base da
caracterização apresentada neste capítulo. As informações dos EIAs foram ainda
confrontadas, sempre que possível, com visitas a campo, reuniões com os empreendedores,
23
Obrigatórias no processo de licenciamento ambiental dos empreendimentos que têm como exigência a apresentação de
EIA/RIMA de acordo com a Resolução CONAMA 01/86.
24
EIA (2006c); EIA (2006a); EIA (2006b); EIA (2011a); EIA (2009a); EIA (2008); RAP (2011); EIA (2005); EIA
(2009b); EIA (2011b); EIA (2012); EIA (2010); EIA (2011c).
81
participação nas audiências públicas, análise de relatórios técnicos emitidos pelos órgãos
licenciadores e entrevistas25.
3.1.2. Mega-Investimentos
25
Tabela quantitativa de visitas aos empreendimentos, disponível nos anexos.
26
SITE SEADE - http://www.seade.gov.br/produtos/perfil_regional/index.php (acesso em 16/04/2011).
82
Tabela 3. 2 Valores de investimento estimados 27 para as obras de instalação e operação dos principais
Megaprojetos da região. Legenda: IPG – Complexo Indústria do Petróleo e Gás; PSS – Complexo Porto de
São Sebastião; RNT – Complexo Rodovia Nova Tamoios. Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos EIAs
(EIA, 2006a; 2006b; 2006c; 2008; 2009a; 2009b; 2011a; 2011b; 2011c; 2012; EIA, 2005; RAP, 2011).
27
Cada projeto possui seu período de investimento. Alguns, como o TLD de Tupi, já foram concluídos. Outros possuem
horizonte de investimento até 2035, como é o caso do Porto de São Sebastião, e terão seus investimentos diluídos ao
longo desse período. Estes são os Valores de Referência (VR) indicados nos EIAs. O VR é ―o somatório dos
investimentos necessários para implantação do empreendimento, não incluídos os investimentos referentes aos planos,
projetos e programas exigidos no procedimento de licenciamento ambiental para mitigação de impactos causados pelo
empreendimento, bem como os encargos e custos incidentes sobre o financiamento do empreendimento, inclusive os
relativos às garantias, e os custos com apólices e prêmios de seguros pessoais e reais‖. Ou seja, na prática, os
investimentos totais podem ser ainda maiores.
83
desenvolvimento atual deste conjunto de projetos parece estar mais diretamente associado
ao projeto de ampliação do Porto de São Sebastião. Este, por sua vez, é estratégico na
recepção e escoamento do petróleo produzido em alto mar e para a exportação de produtos
industrializados no Estado.
Assim, apesar da denominação ―obras de infraestrutura‖ do litoral norte, estas não atendem
às necessidades por infraestrutura dos quatro municípios da região, mas sim, às demandas
relativas à matriz energética e à logística de exportação nacionais e estaduais. Desta forma,
os Megaprojetos do Litoral Norte, apesar de reconhecerem os problemas locais em seus
Estudos de Impacto Ambiental e apregoarem grandes ganhos econômicos para os
municípios e para a população diretamente afetada, objetivam soluções para os problemas
de escala nacional, podendo agravar carências por saneamento básico, abastecimento de
água, tratamento de resíduos sólidos urbanos, segurança pública, qualidade do ar, entre
outros (MONIE, 2006; PIZZOL, 2008; GUSMÃO, 2010).
84
30
abrigo (CUNHA, 2003) . Porém, o estabelecimento do Porto Organizado31 de São
Sebastião iniciou-se somente em 26 de outubro de 1934, quando a União celebrou contrato
com o governo do estado de São Paulo para a construção e exploração comercial dessa
zona portuária. Ciente das condições naturais do canal, com calado profundo,
desassoreamento natural, ambiente abrigado e boas condições de navegação, o governo do
Estado iniciou as obras em 1936, com inauguração oficial ocorrendo em janeiro de 1955. A
Petrobras, aproveitando-se da presença da nova zona portuária, iniciou as obras de seu
maior terminal petrolífero, o TEBAR 32, em 1961, para realização da primeira operação de
descarregamento em 1968.
Adams (2000a) destaca que, com exceção do porto de Santos e de algumas áreas reduzidas
onde se desenvolveu uma economia agrícola, o litoral paulista parecia estagnado, sem
fontes econômicas próprias, financeiramente deficitário e demograficamente desfalcado,
em oposição à ocupação do planalto.
O movimento desenvolvimentista da região somente se delineou por completo nos anos
1970 com o asfaltamento da Rodovia Rio-Santos. Segundo Cunha (2003), foi a vinda da
Petrobrás para São Sebastião que fomentou a melhoria da Rodovia dos Tamoios, que liga a
região ao Vale do Paraíba, consolidou o fornecimento de energia elétrica, trouxe bancos e
empregos modernos, e inaugurou o processo migratório de trabalhadores do norte de Minas
Gerais para a região.
Com exceção das movimentações de petróleo e derivados, o porto nunca embarcou ou
desembarcou volumes expressivos de cargas. As movimentações reduzidas sempre
estiveram associadas às dificuldades de acesso à região. O mesmo processo geológico que
estabeleceu uma das melhores condições naturais para desenvolvimento de um porto no
local foi responsável pela configuração de grandes dificuldades técnicas para transposição
de modais de carga rodoviária ou ferroviária através da Serra do Mar.
30
Hans Staden relatou como grupos de Ubatuba remavam suas canoas para o sul, parando para descansar onde hoje é
Ilhabela, para atacar no dia seguinte grupos estabelecidos na região de Bertioga (CUNHA, 2003)
31
Porto organizado: bem público construído e aparelhado para atender as necessidades de navegação, de movimentação
de passageiros ou de movimentação e armazenagem de mercadorias, e cujo tráfego e operações portuárias estejam sob
jurisdição de autoridade portuária (Lei 12.815/13).
32
Terminal Aquaviário Almirante Barroso.
85
Em 1989, a administração do Porto passou a ser efetuada pela empresa DERSA –
Desenvolvimento Rodoviário S/A, até 2007, ano de criação da Companhia Docas de São
Sebastião, atual Autoridade Portuária.
Em 2010, após a evolução de um processo de regularização ambiental iniciado em 2005 33,
o Porto de São Sebastião passou a ser um dos poucos portos do País a obter uma licença de
operação. Esse processo pode ser considerado uma etapa do projeto de ampliação portuária
atualmente em avaliação no IBAMA. Destaca-se que além do porto público, encontra-se na
área do porto organizado de São Sebastião o Terminal Marítimo Almirante Barroso –
TEBAR, da Petrobras, operado pela Transpetro, onde são movimentados petróleo e seus
derivados. Este terminal é composto por um píer com quatro berços, numa extensão de 905
m e profundidade variando entre 14 e 26 m. Por conta da presença deste terminal o Porto de
São Sebastião possui a maior movimentação de granéis líquidos e a quinta maior
movimentação de cargas do País em toneladas (ATLAS NATIONAL GEOGRAPHIC,
2008).
O Governo do Estado de São Paulo, por meio de sua Secretaria de Transportes, objetiva
transformar o Porto de São Sebastião em um porto multiuso, com foco em cargas gerais,
conteinerizadas ou não, com berços de atracação com capacidade de receber navios de
maior calado do que os demais Portos da região Sudeste, graças à profundidade natural do
canal de São Sebastião.
As dimensões e profundidade atuais dos berços não permitem a atracação de grandes
navios. Assim, o projeto de ampliação prevê a implantação de píeres avançando no canal
para operar navios com calados de até 25 m. Estão previstos ainda, a incorporação de parte
da área remanescente da enseada do Araçá, permitindo a expansão da retroárea para cerca
de 100 ha. Com esta infraestrutura, o porto poderá receber navios de contêineres
denominados ―Pós-Panamax‖, com capacidade de transporte de 8 mil TEUs34.
33
Processo IBAMA nº 02001.003974/2005-83.
34
Medida internacional que equivale a um contêiner de 20 pés.
86
A pretensão do Governo Paulista é apresentar São Sebastião como uma alternativa logística
de maior eficiência e agilidade para parte das movimentações que ocorrem na região
Sudeste, mais especificamente do interior do Estado, além de poder se transformar em uma
das bases operacionais na exploração de petróleo e gás da Bacia de Santos, atendendo
principalmente aos Polos do Pré-sal e Mexilhão, mais próximos ao litoral norte35.
O projeto de ampliação do porto é denominado pela Cia Docas de São Sebastião,
responsável pelo empreendimento, como Plano Integrado Porto Cidade – PIPC , pois
estabelece um modelo de crescimento gradual da zona portuária (com horizonte em 2035),
incorporando além das alterações necessárias ao aumento da capacidade portuária, aspectos
urbanísticos e estruturas públicas no planejamento da nova retroárea 36 com 1,2 milhão de
m².
A maior parte da expansão da retroárea se dará através de um avanço sobre a área
conhecida como Baía do Araçá (figura 3.1). No primeiro projeto apresentado ao IBAMA
esse avanço se daria através do aterramento total da área molhada e destruição plena do
mangue existente no local. Porém, após uma intensa mobilização da população, organizada
através das ONGs ambientalistas do litoral norte, o projeto original foi modificado e
atualmente prevê a manutenção da vegetação e da praia da baía, com construção de uma
laje de concreto apoiada em estacas sobre aproximadamente 80% da Baía do Araçá. Esta
laje atende a necessidade de aumento da retroárea portuária estendendo a área existente na
37
direção sul, totalizando cerca de 600 mil m² de acréscimo à atual área . A Figura 3.1
apresenta a imagem prevista da futura configuração do Porto em 2035.
35
No ano de 2008, a movimentação do Porto cresceu 50% devido às demandas das atividades offshore relacionadas à
instalação dos dutos marinhos do sistema de produção de gás no Campo de Mexilhão.
36
Pátio alfandegado de estocagem de produtos em pré embarque.
37
Para uma análise dos conflitos entre ONGs e a Cia Docas de São Sebastião ver: ―O Papel da Ciência nas
Transformações Sociais e Ambientais Geradas pela Expansão Urbana no Litoral Norte Paulista‖, (FEITAL, Dissertação
em fase de elaboração).
87
Figura 3. 1: Imagem da futura configuração do Porto em 2035 (Fonte: EIA, 2009b)
38
Vale do Paraíba e região Metropolitana de Campinas.
88
ampliação das atividades deverá trazer um incremento na movimentação de embarcações
no Porto de São Sebastião de mais de 20 vezes o fluxo atual.
O Estudo de Impacto Ambiental do projeto identifica 46 impactos do empreendimento
sobre a região. Destes, 5 são considerados positivos e o restante (41) são negativos.
Entre os negativos, o estudo considera como relevantes e de grande magnitude a elevação
do nível de ruídos nas proximidades do Porto; o risco de introdução de espécies exóticas;
a atração de população e o consequente aumento da demanda por habitações; a
dinamização do mercado imobiliário; a sobrecarga do sistema viário39; as alterações na
paisagem; a redução de empregos (o termo correto seria: ―geração de desempregados‖
concentrada no tempo e no espaço); e as alterações no uso do solo.
Os principais impactos positivos destacados são a geração de empregos e renda; a
animação da atividade econômica; e o aumento das receitas fiscais. O estudo destaca, além
dos efeitos na economia local e regional, dois impactos ambientais considerados positivos
pelos proponentes do projeto. O primeiro é a criação de condições propícias ao
estabelecimento de manguezal e o segundo a criação de substrato para a colonização por
organismos bentônicos. Ambas as alegações são bastante questionadas pelas ONGs
ambientalistas locais, que afirmam que a lage sobre pilotis alteraria a dinâmica de
circulação das águas e geraria um grande sombreamento na baía, desfavorecendo a
diversidade biológica. Pesquisas cientificas confirmam a relevância biológica desta região
40
.
39
Atualmente o fluxo diário de caminhões na rodovia dos Tamoios é de 3.500 veículos/dia. Após a conclusão da
ampliação do porto de São Sebastião são estimados 9.800 caminhões/dia.
40
Para maiores informações sobre a Biodiversidade da Baía do Araçá, ver: ―Araçá: biodiversidade, impactos e ameaças‖
(AMARAL et al., 2010) e os resultados do projeto de pós-doutoramento ―Biodiversidade e funcionamento de um
ecossistema costeiro subtropical: subsídios para gestão integrada‖, atualmente em desenvolvimento no Programa
BIOTA-FAPESP, coordenado pela pesquisadora Antonia Cecília Zacagnini Amaral.
89
o EIA, a vegetação do mangue, a circulação de água, a praia e o acesso das embarcações de
pesca artesanal. Segundo o empreendedor, a ideia da laje sobre pilotis surgiu da
preocupação da comunidade com a perda da área de atracação de pequenas embarcações de
pesca que utilizam as praias do Araçá e do Deodato, bem como a identificação dos
impactos que seriam causados sobre as comunidades aquáticas do costão do Araçá, sobre os
remanescentes de manguezal e consequentemente sobre a população usuária da baía.
Isso teria motivado a alteração do projeto original, evoluindo para um novo arranjo, com a
construção desta superfície suspensa ocupando 75% da área da Baía do Araçá, com a
instalação de 17.000 estacas de concreto em 430.000 m². Esta inovação tecnológica
promoveria, segundo os estudos apresentados ao órgão licenciador, a manutenção de um
espelho d’água para a navegação, com largura mínima de 100m no ponto mais estreito,
garantindo uma redução nos impactos negativos relativos à ampliação da retroárea
portuária.
Antecipando os efeitos diretos sobre a comunidade residente no entorno da Baía do araçá,
de forma preventiva, esse modelo evita a remoção de 35 residências, e a consequente
realocação de um total de 111 pessoas. Segundo as informações da matriz de impactos
apresentada no RIMA, essa tecnologia ainda teria um ―efeito positivo para a fixação e
refúgio de diversos organismos podendo, inclusive, ocorrer um aumento da biodiversidade
local a médio e longo prazo‖, afirmação bastante controversa segundo representantes de
ONGs ambientalistas, acadêmicos e pesquisadores locais.
Apesar de serem apontados apenas de forma indireta no EIA, os benefícios econômicos da
construção da laje sobre a Baía do Araçá são, para o empreendedor, claros e bastante
representativos. Essa técnica possibilita a construção do pátio por etapas, permitindo que o
empreendedor construa a retroárea por módulos aumentando seu pátio de estocagem de
acordo com a demanda do mercado, otimizando investimentos. Além disso, descarta a
necessidade do licenciamento de áreas de empréstimo para o aterramento (rochas, brita,
areia e saibro) e custos com a extração e movimentação de grandes volumes de material
para a terraplenagem total da área da baía, o que acarretaria em aumento no tempo de
execução do projeto. Por óbvio, a ausência da necessidade de remoção da população
residente nas praias da baía, além de minimizar os impactos sociais, também é refletida na
redução de custos e prazos do empreendimento.
90
A segunda particularidade é o modelo de projeto com licenciamento continuado adotado
para o licenciamento. Essa inovação diferencia o projeto de ampliação das atividades do
Porto de São Sebastião dos demais projetos portuários em licenciamento na esfera federal
em todo o país. Essa ITP será descrita e analisada no capítulo 5 desta tese.
A tabela 3.3 apresenta um quadro comparativo entre a situação atual do Porto de São
Sebastião e o panorama apresentado no projeto de ampliação.
Tabela 3. 3: Quadro comparativo entre a situação atual do Porto de São Sebastião e o panorama
apresentado no projeto de ampliação. Fonte: Elaborado pelo autor com dados do EIA do projeto de
ampliação do Porto de São Sebastião (EIA, 2005; EIA, 2009b).
91
Tabela 3. 4: Síntese dos impactos do Complexo PSS sobre os atributos-chave selecionados para a análise integrada.
ATRIBUTOS-CHAVE PERSPECTIVAS
92
ATRIBUTOS-CHAVE PERSPECTIVAS
As fisionomias vegetais que recobrem a área afetada pelo empreendimento podem ser descritas como
campos em geral e vegetação antrópica. Além do pequeno volume de supressão, as duas tipologias
SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO
não são sistemas naturais nativos, tendo pouca importância ecológica regional. De acordo com os
EIAs, esse impacto foi identificado como de pequena magnitude e baixa relevância.
Na fase de obras, a demanda por mão de obra direta deverá ser de cerca de 900 trabalhadores, com
diferentes níveis de qualificação. Estima-se que cerca de 75 % destes postos de trabalho possam ser
preenchidos pela oferta local de mão de obra. São estimados ainda outros 1.800 empregos indiretos
EMPREGOS
na região, principalmente em São Sebastião e Ilhabela. A projeção é de que a operação do Porto, em
sua plena capacidade, gere cerca de 2.460 postos de trabalho diretos e outros 2.100 indiretos.
Este impacto é considerado de grande magnitude e alta relevância.
Do total de investimentos a serem realizados para a ampliação do porto uma parcela substancial é
referente às obras civis, sendo as mesmas sujeitas ao recolhimento do Imposto Sobre Serviços de
Qualquer Natureza – ISSQN, de responsabilidade municipal. Tomando como base o investimento
total de 2,5 bilhões de reais o recolhimento do ISSQN equivalerá a 58 milhões de reais no decorrer
do período de obras, ou cerca de 11 milhões de reais anuais. Este valor representa um incremento de
RECEITAS PÚBLICAS 39% no recolhimento anual desse tributo, com um impacto nas receitas totais da ordem de 3%.
Outros impostos com recolhimento local, mesmo que parcialmente (como o ICMS), também devem
ser impactados positivamente. De acordo com informações da autoridade portuária, estudos
preliminares da Companhia Paulista de Desenvolvimento sugerem que a somatória de todos os
valores anuais dos impostos federais, estaduais e municipais que seriam recolhidos pelos
arrendatários, na situação de plena operação do Porto ampliado, poderia chegar aos R$ 2 bilhões.
ATRIBUTOS-CHAVE PERSPECTIVAS
93
São considerados pelo EIA como fatores geradores de impacto o recrutamento e contratação da mão
de obra; a atração de população; a dinamização do mercado imobiliário; e a animação da atividade
econômica. O estudo ainda aponta que as proposições contidas no Plano Diretor Municipal de São
USO DO SOLO
Sebastião são abrangentes demais para garantir a gestão adequada do uso do solo, além disso, as leis
de uso e ocupação do solo não estariam sendo respeitadas atualmente. Este é considerado um impacto
negativo, permanente, irreversível, de grande magnitude e alta relevância.
De acordo com os estudos, a potencial alteração da qualidade das águas superficiais durante a
implantação do empreendimento está associada à geração de sedimentos nas diversas atividades de
instalação das novas áreas de retroporto, principalmente às associadas ao tráfego de equipamentos e
ao movimento de terra. Este impacto também está associado ao aporte de óleos, graxas e efluentes
sanitários para os corpos d’água e para o solo em eventos acidentais.
ÁGUAS SUPERFICIAIS
Em relação às águas costeiras, além dos impactos relativos à ressuspensão de sedimentos de fundo da
baía do Araçá na fase de obras, também são relevantes os possíveis impactos de acidentes com
derramamento ou vazamento de produtos químicos no mar. Em caráter indireto também é
identificado o aumento da pressão sobre a utilização dos recursos hídricos localmente. Os estudos
analisados classificam os impactos sobre este atributo como sendo de pequena magnitude.
94
3.3. O Complexo Indústria de Petróleo e Gás - IPG 41
3.3.1. Histórico
A indústria do petróleo e gás está fisicamente presente no litoral norte paulista por meio das
instalações do Terminal Marítimo Almirante Barroso, em São Sebastião, e da Unidade de
Tratamento de Gás de Caraguatatuba, ambas sob a administração da Petrobras S.A. e de
suas subsidiárias. Por conta destas duas instalações a região é o principal destino nacional
de navios petroleiros, sendo consequentemente cortada por um complexo sistema de dutos
para transporte do óleo, gás natural e derivados tratados ou armazenados nestas unidades.
A maior parte do mercado nacional de hidrocarbonetos é comandado pela Petrobras,
uma empresa estatal de economia mista fundada em 1953, pelo então presidente Getúlio
Vargas, após uma forte campanha nacionalista intitulada ―O petróleo é nosso!” (DIAS &
QUAGLINO, 1993). Considerando que a Petrobras é a única empresa petrolífera com
unidades industriais instaladas no litoral norte e os projetos escolhidos para análise nesta
tese são de propriedade da empresa, nesta seção procuraremos caracterizá-la como perfil da
Indústria de Petróleo e Gás na região.
O primeiro passo brasileiro em direção à exploração de petróleo em alto mar deu-se em
1968, ano da primeira descoberta em offshore do País, no Campo de Guaricema, em
Sergipe (BAYARDINO, 2004). Neste mesmo ano foi perfurado o primeiro poço submarino
na Bacia de Campos, litoral do estado do Rio de Janeiro, onde se desenvolveu a maior parte
da produção nacional de petróleo até a descoberta das jazidas do Pré-sal.
Após um período de poucos investimentos em decorrência das crises do petróleo de 1973 e
1979, a empresa quebrou o recorde mundial na produção petrolífera em águas profundas,
atingindo 1.853 metros, no Campo de Roncador, Bacia de Campos (DIAS & QUAGLINO,
1993). A partir desta data sucessivas marcas de perfuração em profundidade foram batidas,
e a tecnologia desenvolvida para estas perfurações, cada vez mais profundas, possibilitou a
41
As informações técnicas apresentadas nesta seção, quando não descritas as fontes específicas, foram retiradas dos sete
Estudos de Impacto Ambiental [EIA (2006c); EIA (2006a); EIA (2006b); EIA (2011a); EIA (2009a); EIA (2008); RAP
(2011)] analisados nesta pesquisa relativos à Indústria do Petróleo e Gás (ver tabela 2). Estas fontes estão devidamente
descritas nas Referências Bibliográficas ao final do capítulo.
95
perspectiva de produção em camadas extremamente distantes do leito marinho como as do
Pré-sal, atualmente em exploração.
Em 2003 foi descoberto o principal campo de gás não associado42 do País, o Campo de
Mexilhão, com reservas totais de 49 bilhões de m³ de gás natural. O desenvolvimento da
produção neste campo estabeleceu um novo vínculo da IPG com o litoral norte paulista
através da implantação da Unidade de Tratamento de Gás de Caraguatatuba - UTGCA.
Anteriormente a instalação desta unidade, este vínculo era firmado exclusivamente pelo
TEBAR em São Sebastião, instalado na década de 1960, conforme será descrito nas
próximas seções.
Em 2007 a empresa descobriu a maior jazida de óleo e gás natural do país no campo
petrolífero de Tupi, Polo Pré-sal, na Bacia de Santos, com volume de aproximadamente 8
bilhões de barris43, ou 12 bilhões de barris de óleo equivalente - BOE44.
Segundo dados do balanço da empresa, sua produção média total, em 2010, ficou em 2,58
milhões de BOE por dia, crescendo 12,1% em relação ao exercício de 2006. O lucro líquido
alcançou a marca recorde de R$ 35,18 bilhões e os investimentos ultrapassaram os R$ 76
bilhões, 127% maiores que em 2006. (PETROBRAS, 2010a).
Informações do Ministério de Minas e Energia indicam que o crescimento da produção de
petróleo previsto para o período 2009 - 2019 é de aproximadamente 155 %. O crescimento
da oferta de gás natural previsto para o período 2010 - 2019 é de aproximadamente 67% e o
crescimento da oferta nacional de gás natural previsto para o mesmo período é de
aproximadamente 137% (BRASIL, 2010), indicando uma incontestável tendência de
aumento na produção.
Em 2010 a Petrobras assumiu a 3º colocação entre as maiores empresas de energia do
mundo em valor de mercado (com US$ 228,9 bilhões), segundo o ranking da consultoria
PFC Energy45. Todavia, com esse crescimento, as emissões de gases estufa totalizaram em
2010 mais de sessenta e um milhões de toneladas de CO2-equivalente, um aumento de
42
Denomina-se gás não associado aquele que, na jazida, não está acompanhado do óleo, ou há óleo, porém, em
concentrações muito baixas.
43
http://www.mme.gov.br/mme/menu/pre_sal.html. (acesso em 07/12/2011).
44
(BOE) - medida que engloba óleo e gás.
45
https://www.pfcenergy.com/PFC-Energy-50/PFC-Energy-50 (acessado em 06/12/2011)
96
6,07% em relação a 2008 e de 21,1% em relação a 2006 (PETROBRAS, 2010b). Apesar
disso, a Petrobras foi reconhecida como a petroleira mais sustentável do mundo, segundo
pesquisa da M&E - Management & Excellence em 200846.
É relevante indicar que os critérios para elaboração do ranking levaram em conta as atitudes
da empresa para adequação aos padrões internacionais, como os da Organização
Internacional do Trabalho, o Pacto Global da ONU 47, os Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio, a presença no Índice Dow Jones de Sustentabilidade e a apresentação do Balanço
Social e Ambiental, segundo as orientações do Global Reporting Initiative.
Em 2009 a empresa passou do 20º para o 4º lugar entre as empresas mais respeitadas do
mundo, de acordo com o Reputation Institute.. A companhia é atualmente a maior empresa
brasileira e a 15ª do mundo, de acordo com os critérios da publicação Petroleum
Intelligence Weekly48.
A seguir passaremos a descrever os projetos da Petrobras em desenvolvimento no LNP.
46
http://www.management-rating.com/archivo/Brochure%20Oil%20Study%202008L.pdf. (acesso em 06/12/2011).
47
Iniciativa onde as organizações se comprometem voluntariamente a cumprir e comunicar seu desempenho em relação a
dez princípios relacionados a Trabalho, Direitos Humanos, Meio Ambiente e Transparência (destaque para as iniciativas
7 e 9).
48
http://www.ufrj.br/pr/conteudo_pr.php?sigla=CENPES (acesso em 06/12/2011).
49
O historiador Warren Dean cita a instalação do TEBAR em seu clássico ―A Ferro e Fogo‖. Na obra o autor menciona
que a Petrobras embarcava e bombeava gás natural de São Sebastião sobre a serra do mar e para Cubatão. Sobre a
região, menciona o autor: ―No local, o litoral é tão estreito que quase não há espaço para tanques de armazenagem, de
sorte que se planejava instalá-los em cavernas perfuradas nas encostas das montanhas‖ (DEAN, 1996, p. 344).
97
Atualmente o TEBAR é composto por um píer com quatro berços, com profundidades
variando entre 14 e 26 metros e 905 metros de extensão. A capacidade de armazenagem
total deste terminal é de 2,1 milhões de toneladas.
Seus dutos ligam São Sebastião a Santos, Cubatão, Paulínia e Capuava (Figura 3.2),
abastecendo as quatro refinarias do Estado e movimentando cerca de 50% do petróleo bruto
que circula no país. É administrado pela Petrobras Transportes S.A. – Transpetro, uma
subsidiária da Petrobras S.A.
A presença do TEBAR também trouxe para a região uma nova preocupação, os
derramamentos e vazamentos de óleo, responsáveis por um considerável número de
acidentes ambientais, com comprometimento da vida marinha e da qualidade das praias da
região. Uma revisão dos principais acidentes com vazamentos de petróleo e derivados no
litoral brasileiro entre os anos de 1960 e 2004 aponta que 37% das principais ocorrências
relacionadas a acidentes com óleo se deram no litoral norte de São Paulo. Em volume, 17%
de todo o óleo derramado em grandes acidentes do país poluíram os ecossistemas marinhos
da região neste período (POFFO et al., 1996). Um levantamento dos acidentes ambientais -
rodoviários, dutoviários, marítimos, entre outros - envolvendo produtos químicos no litoral
norte entre os anos de 1978 e 2009 constatou 307 ocorrências relevantes para o ambiente.
Destas, mais de 50% estão relacionadas com a navegação de navios tanque no canal. A
maioria absoluta das cargas transportadas, 84%, tinha como origem ou destino o município
de São Sebastião (LAINHA, 2011), provavelmente por conta da presença do TEBAR.
Todavia, por conta da presença deste terminal em seus limites, o município de São
Sebastião apresentou em 2010 o maior Produto Interno Bruto - PIB entre os municípios do
Litoral Norte, respondendo sozinho por 57% do valor total regional50. Esses valores estão
relacionados diretamente à arrecadação de impostos e royalties do petróleo pelo município.
Dada sua inauguração pretérita à regulamentação do licenciamento ambiental, em 1985, a
instalação deste terminal não esteve sujeita aos ritos atualmente em vigor para o processo
de licenciamento ambiental. Entretanto, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SMA
conduziu diversos processos para regularização do terminal exigindo adaptações estruturais
e adequações técnicas.
50
http://www.seade.gov.br/produtos/perfil/perfilMunEstado.php
98
O Programa de melhorias do TEBAR foi lançado em 2008 e prevê a adequação do terminal
ao novo cenário futuro, com o crescimento na produção de petróleo, as novas perspectivas
abertas com o pré-sal e o aumento das exportações. As reformas vão gerar 1.000 empregos,
durarão quatro anos e o volume de recursos é estimado em R$ 600 milhões51. Atualmente o
TEBAR gera aproximadamente 2.700 empregos diretos.
A ampliação do Píer de São Sebastião faz parte do programa estratégico de adequação da
confiabilidade e da segurança operacional de suprimento de petróleo nacional às refinarias
paulistas. O projeto prevê a construção de dois novos berços de atracação no atual píer
(Figura 3.2).
Figura 3. 2: Imagem ilustrativa da localização do novo píer do TEBAR (em vermelho) (Fonte: RAP,
2011).
51
http://www.transpetro.com.br/TranspetroSite/appmanager/transpPortal (acesso em 12/12/2011) e Jornal O Vale, edição
11/02/2012, p. 11, ―Obra da Petrobras abre 1.000 empregos no Litoral‖.
99
O valor total dos investimentos para a Ampliação do Píer do Terminal de São Sebastião é
estimado atualmente em R$ 250 milhões. É estimada a geração de 800 empregos diretos e
aproximadamente 4.000 indiretos.
100
Para os fins do licenciamento ambiental obrigatório, o projeto de produção, tratamento e
escoamento de gás de Mexilhão até o sistema de distribuição em Taubaté/SP foi
subdividido em três processos distintos. Não houve, aparentemente, justificativa técnica ou
legal aplicável para esse procedimento, todavia acredita-se que o objetivo tenha sido dar
maior celeridade ao processo como um todo, dividindo a avaliação de impacto ambiental
em várias frentes.
Assim, foram apresentados ao órgão ambiental responsável pelo licenciamento 52: 1) um
processo de licenciamento offshore – compreendendo o desenvolvimento do poço, a
plataforma, o duto marinho e o trecho entre a praia e a UTGCA; 2) um processo de
licenciamento da UTGCA e 3) um processo de licenciamento para o duto terrestre de
ligação entre a UTGCA e a estação de compressão no Vale do Paraíba, denominado
GASTAU. Todos os processos foram iniciados em 2005 e obtiveram suas licenças prévias,
de instalação e operação em momentos distintos.
O processo relativo ao trecho offshore (produção, tratamento e escoamento do gás em alto
mar) foi conduzido pela Coordenação de Petróleo e Gás – CGPEG, vinculada a diretoria de
licenciamento ambiental do IBAMA. Os 146 km de dutos foram lançados no leito marinho
e enterrados entre a praia das Palmeiras, em Caraguatatuba, e a isóbata 53 de 80 metros,
passando entre as ilhas de Vitória e Búzios, integrantes do arquipélago de Ilhabela. Neste
trecho, na baia de Caraguatatuba onde houve a exigência de enterramento do duto, ocorre a
maior parte das atividades de pesca artesanal na área de influência direta do
empreendimento.
Além dos impactos das atividades no mar, esse processo também diz respeito ao duto de
sete quilômetros entre a praia das palmeiras e a UTGCA. Este duto é denominado Gasoduto
Mexilhão ou GASMEX.
Os principais impactos apontados no EIA do Trecho Marinho do projeto Mexilhão são:
Interferências nos meios físico e biótico das proximidades das instalações; Aumento da
possibilidade de acidentes ambientais com óleo; Crescimento populacional; Alterações no
uso do solo; Introdução de espécies exóticas marinhas; Aumento de pressão sobre os
serviços públicos; Interferência nas atividades de pesca e turismo; Geração de empregos;
52
Neste caso, de acordo com a Resolução CONAMA 237/97, o órgão responsável por licenciamentos na plataforma
continental marítima é o IBAMA.
53
Linha que une os pontos de igual profundidade do fundo dos mares e dos oceanos.
101
Aumento das receitas tributárias municipais, estaduais e federais, entre outros. No total
foram mapeados 62 impactos, sendo 8 positivos. A Figura 3. 3 apresenta um diagrama
contendo a estrutura da IPG em relação ao litoral norte do estado de São Paulo
Figura 3. 3: Estrutura da IPG em relação ao litoral norte do estado de São Paulo. A linha tracejada
divide as estruturas instaladas no continente (onshore) das estruturas em alto mar (offshore).
Elaborado pelo autor.
102
3.3.4. A Unidade de Tratamento de Gás de Caraguatatuba – UTGCA
De propriedade da Petrobras, esta instalação iniciou suas obras em outubro de 2007 após
um processo bastante conturbado de licenciamento ambiental iniciado dois anos antes,
visando o atendimento à crescente demanda por gás natural em diferentes modalidades de
uso, do consumo doméstico e industrial à produção de energia, servindo também como
fonte de combustível alternativo para veículos.
Instalada no interior da Fazenda Serramar – propriedade que engloba a maior porção da
planície costeira de Caraguatatuba (Figura 3.4) – essa unidade foi projetada para tratar
inicialmente 15 milhões de m3 de gás natural por dia, provenientes do Campo Mexilhão.
Durante o processo de tratamento são produzidos, além do Gás Natural Especificado
(GNE), basicamente composto de metano e etano e principal produto da unidade, a
Gasolina Natural (C5+) e o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). Na operação da unidade são
geradas emissões de óxidos de nitrogênio, monóxido de carbono, hidrocarbonetos totais,
material particulado e dióxido de enxofre. Além desses, são emitidos os gases que
contribuem para a magnificação do efeito estufa — dióxido de carbono (CO2) e metano
(CH4). Essas emissões, analisadas isoladamente, são qualificadas pelo estudo de impacto
ambiental como de pequena magnitude, porém estas são monitoradas através de bases
informatizadas instaladas no entorno da unidade e no interior da malha urbana e devem
atender aos padrões especificados na legislação e no processo de licenciamento ambiental.
Não há geração de efluentes líquidos ou resíduos sólidos industriais em volumes relevantes.
103
O gás natural é considerado, entre os combustíveis fósseis, o de menor potencial poluente
atmosférico e no estado de São Paulo abastece principalmente o setor industrial, além de
alimentar as Usinas Termelétricas geradoras de energia.
A IPG justifica seus investimentos em gás natural utilizando o argumento de que uma
disponibilidade maior desse produto estimulará o desenvolvimento de tecnologias que
aumentem a eficiência de seu uso, especialmente em substituição aos combustíveis mais
―sujos‖ – óleo diesel e carvão vegetal - que são utilizados como fonte de energia em vários
processos industriais (PETROBRAS, 2010b). Essa substituição contribuiria para a
conservação das florestas nativas e para a diminuição da poluição atmosférica. De fato, o
gás natural produz cerca da metade dos óxidos de nitrogênio liberados pelo óleo diesel e
duas a três vezes menos que os óxidos liberados pelo carvão (HILGEMBERG, 2004),
porém, se a sua utilização não ocorrer em substituição direta de outros combustíveis mais
poluentes, o aumento de seu consumo apenas acrescentará um novo volume de emissões de
GEEs na atmosfera. Esse argumento exemplifica e enquadra-se claramente nos critério de
sustentabilidade fraca destacados por Leila Ferreira (2006).
Com a confirmação da alta capacidade de produção de hidrocarbonetos no campo de Tupi,
a plataforma de Mexilhão e consequentemente a UTGCA, passaram a ser considerados
estratégicos na produção da mais nova fronteira mundial do petróleo. Tupi fica na região
central do Polo Pré-Sal, na Bacia de Santos, a aproximadamente 170 km da plataforma de
Mexilhão, sendo essa a melhor rota de escoamento do gás produzido no Pré-sal.
Os campos de petróleo no Polo Pré-sal são de óleo e gás (associados) e, até que sejam
desenvolvidas novas alternativas para o escoamento, necessitam de dutos para transportar
sua produção gasosa. Assim, o projeto original da UTGCA sofreu algumas importantes
modificações. A principal trata de uma ampliação da capacidade de tratamento da ordem de
25%, passando dos 15 milhões de m³ diários previstos no projeto original para 20 milhões
em 2014.
A implantação da Unidade funciona como âncora para a nova fase da IPG no litoral norte e
significa para Caraguatatuba e seu entorno um aporte significativo de transformações.
Durante a fase construtiva da unidade chegaram a ser empregados em um único momento
mais de 4.000 operários. O aumento na arrecadação de impostos (ICMS e IPI), royalties e
104
participações especiais relativos à operação da UTGCA representaram em 2011 mais de 46
milhões de reais para o município.
De acordo com o EIA/RIMA do projeto foram identificados 13 impactos ambientais
relevantes, dos quais 3 são positivos e 10 são considerados negativos. Os positivos têm seus
efeitos concentrados no meio socioeconômico. Tais impactos têm variada importância para
a economia local. O estudo dá grande ênfase ao aumento da disponibilidade de gás natural,
com reflexos na melhoria da qualidade de vida e no meio ambiente.
105
3.3.5. O Gasoduto Caraguatatuba–Taubaté – GASTAU
Esse duto tem por finalidade escoar o gás natural produzido nos Polos de Mexilhão,
Uruguá-Tambaú e Pré-sal, todos localizados na Bacia de Santos e interligados à Plataforma
de Mexilhão. Além disso, a instalação desta via também objetiva contribuir para ampliar a
malha de dutos dos estados do Sudeste brasileiro, otimizando a distribuição para atender à
crescente demanda por gás natural nas suas mais diferentes modalidades de uso. Esse
projeto faz parte do plano de expansão de gasodutos da Petrobras e interliga a Unidade de
Tratamento de Gás de Caraguatatuba (UTGCA) à Estação de Compressão de Taubaté, onde
a produção é distribuída. Destaca-se que o Brasil dispõe de uma infra-estrutura significativa
de transporte de gás natural, equivalente a 6.200 km de gasodutos, com a previsão de, nos
próximos anos, chegar a 10.000 km de dutos de transporte de gás cruzando o País
(PETROBRAS, 2010a). O maior gasoduto do país é o GASBOL, que interliga a Bolívia ao
Brasil, com 3.150 km de extensão.
Entre 1999 e 2002, as importações de gás natural cresceram mais de 13 vezes, passando dos
400 milhões para 5,4 bilhões de m³ ao ano, todas praticamente sendo efetuadas por meio de
gasodutos provenientes da Bolívia.
O GASTAU possui 94 km de extensão e atravessa o subsolo de 6 (seis) municípios do
Estado de São Paulo: Caraguatatuba, Paraibuna, Jambeiro, São José dos Campos, Caçapava
e Taubaté. Por se tratar de uma obra linear este é responsável pelo maior quantitativo de
vegetação suprimida entre os empreendimentos da indústria de Petróleo e Gás na região.
Foi autorizada a supressão de 110 ha em diversos estágios sucessionais.
Entre as inovações tecnológicas apresentadas neste empreendimento, destacamos a
travessia subterrânea do Parque Estadual da Serra do Mar. Esta é feita por um túnel de 5,2
km, evitando totalmente a intervenção direta no interior da Unidade de Conservação. Essa
adequação de projeto atende ao pressuposto desta tese para as Inovações Tecnológicas
Preventivas - ITPs, ou seja, trata-se de uma tecnologia inovadora, - jamais utilizada para
um gasoduto de grande porte no País - possui anterioridade à degradação, gera benefícios
ambientais e produz benefícios econômicos à empresa executora do projeto. Em relação a
este último, temos que contabilizar a valorização ou desvalorização da empresa no mercado
106
de capitais54. Pode-se considerar significativa a possível perda de valor de mercado dada a
supressão de Mata Atlântica em uma das Unidades de Conservação mais relevantes do
Brasil. Além disso, os atrasos por possíveis judicializações do processo de licenciamento
ambiental e os possíveis embates com a comunidade local organizada em ONGs
ambientalistas foram fortemente minimizados com a adoção desta ITP.
O Estudo de Impacto Ambiental desse empreendimento identificou 13 impactos relevantes,
sendo que destes 3 são positivos.
54
A Petrobras integra o índice Dow Jones de Sustentabilidadena bolsa de valores americana.
55
Em novembro de 2008 o Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que as reservas do Pré-sal brasileiro
poderiam chegar à casa dos 150 bilhões de barris.
http://economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia=200811132021_RTR_1226606883nN13377673 (acesso em
20/06/2012).
107
mais especificamente, a aproximadamente 300 km do litoral norte paulista (Figura 3.5), na
porção central da Bacia de Santos.
Situadas em média cerca de 3 km abaixo do fundo marinho, essas jazidas estão localizadas
após um conjunto de rochas sedimentares formadas por uma camada de sal coberta pelos
sedimentos que compõem os poços atualmente explorados pelas empresas petrolíferas, no
chamado Pós-sal. Esta camada de sal com espessuras que atingem até 2 km funciona como
rocha selante, aprisionando o petróleo no interior dos reservatórios.
Até 2012 foram encaminhados para o processo de licenciamento ambiental quatro grandes
projetos de exploração de produção nesse polo. Em 2008, iniciaram-se os primeiros Testes
de Longa Duração - TLDs no campo de Tupi. No mesmo ano iniciou-se a produção nesse
campo através do Piloto de Produção. Em 2009 foram desenvolvidos outros 4 TLDs e em
2010 foram iniciados os Projetos Integrados de Produção e Escoamento de Petróleo e Gás
Natural do Pré-sal – Fase I.
Estão previstos para os próximos meses o desenvolvimento de um TLD no campo de
Franco, dois novos gasodutos marinhos (Cabiúnas e Maricá) e a Fase II dos Projetos
Integrados do Pré-sal, com mais 12 TLDs e 12 Desenvolvimentos de Produção. A
expectativa é que até 2020 a bacia de Santos, que atualmente abriga 7 plataformas da
Petrobras, acumule 30 destas unidades de produção marinha.
Para este estudo, de acordo com os critérios apresentados na introdução desta seção, foram
selecionados 2 projetos em desenvolvimento no Polo Pré-sal, são eles:
A figura 3.5 apresenta a localização das atividades a serem realizadas nas áreas do Pré-Sal
da Bacia de Santos.
108
Figura 3. 5: Localização dos poços analisados. Fonte (EIA, 2009a).
O PIPS – Fase 1 envolve 11 Testes de Longa Duração (TLDs), nos Blocos BM-S-8, BM-S-
9, BM-S-10, BM-S-11 e BM-S-24; 2 Pilotos de Produção, denominados de Piloto de
Sapinhoá e Piloto de Lula Nordeste, nos Campos de Sapinhoá (Bloco BM-S-9) e Lula
(Bloco BM-S-11), respectivamente; 1 Desenvolvimento de Produção (DP), denominado de
DP de Iracema, no Campo de Lula (Bloco BM-S-11) e 3 trechos de gasodutos marinhos
(Sapinhoá-Lula, Lula NE-Lula e Sapinhoá-Lula).
Os TLDs têm como objetivo testar a capacidade dos reservatórios através da produção de
poços já perfurados, de forma a permitir, por meio da produção durante seis meses,
mensurar o comportamento da pressão de fundo do reservatório e das vazões de produção
de óleo e gás.
Os Pilotos de Produção tem como objetivos principais avaliar o comportamento da
produção durante a extração do petróleo e gás e avaliar o processo de reinjeção de água de
produção e gás nos reservatórios.
109
Em linhas gerais, a produção nos poços do pré-sal é desenvolvida por navios-plataforma
que possuem no convés uma unidade de tratamento para separar o petróleo do gás natural.
Depois de separado do gás natural, o petróleo é armazenado nos tanques dos navios-
plataforma e periodicamente transferido para um navio aliviador56. O gás é escoado através
de uma malha de dutos submarinos que interligam os navios-plataforma do Polo Pré-sal, ao
Poço de Tupi e este à Plataforma de Mexilhão que movimenta sua produção através do
GASMEX (Gasoduto Marinho de Mexilhão) até a UTGCA, onde todo o gás do Polo é
tratado e seus produtos encaminhados ao mercado consumidor (ver figura 3.3).
Um dos efeitos apontados nos estudos de impacto ambiental, com o sucesso das atividades
de produção de óleo e gás no Polo Pré-Sal, é a abertura de oportunidades para a indústria
em escala regional, atualmente de pouca expressão na composição da matriz de receitas
municipais nas quatro cidades do litoral norte57. Com isso, está previsto o aumento
gradativo – na medida do desenvolvimento da produção nos poços - de arrecadação de
tributos e taxas (ICMS, IRPJ, ISS, Participações Especiais e royalties) pelos municípios.
Mesmo nacionalmente, devido ao porte dos investimentos, é esperado um forte
desenvolvimento das atividades industriais, com reflexos expressivos para a arrecadação do
Estado de São Paulo e para a União.
A expectativa de geração de empregos merece destaque. As estimativas da Petrobras para o
período de 2005 a 2020 são de criação de aproximadamente 200 mil empregos diretos e
indiretos relacionados à indústria do petróleo e gás no litoral paulista 58.
Segundo a AAE – PINO59 (SMA, 2010), no litoral norte serão gerados 2.799 postos de
trabalho na fase de instalação e outros 1.232 empregos nos empreendimentos relacionados
à IPG, até o ano de 2025. Em todo o litoral paulista é estimada a geração de mais de 160
mil empregos nas fases de construção e operação dos empreendimentos relacionados a
petróleo e gás, mais de 80% destes na região da baixada santista.
56
O ―Navio Aliviador‖ é um navio tanque usado para escoar a produção de petróleo de unidades de produtoras Off-Shore
quando não há opção de escoamento através de dutos.
57
Segundo dados de 2009 da Fundação SEADE, apenas 11,89% do total do valor adicionado da região são provenientes
das atividades industriais. Valor adicionado do setor industrial é o valor que a atividade das indústrias agrega aos bens e
serviços consumidos no seu processo produtivo. Fonte: http://www.seade.gov.br/produtos/perfil_regional/index.php.
Acessado em 22/03/2012.
58
―Petrobras vai absorver mão de obra de 200 mil pessoas‖ - Jornal Costa Norte 04 /10/2011.
59
Avaliação ambiental estratégica: dimensão portuária, industrial, naval e offshore no litoral paulista.
110
Nos EIAs dos projetos do Pré-sal os impactos de empreendimentos de exploração e
produção de petróleo e gás em alto mar são divididos em Reais (aqueles que certamente
ocorrerão em maior ou menor escala com a instalação e entrada em operação do
empreendimento) e Potenciais (aqueles relacionados aos possíveis, porém pouco prováveis,
acidentes ambientais).
Foram identificados 26 impactos Reais, sendo 20 referentes ao meio ecológico e 6
referentes ao meio socioeconômico. Destes, 5 são positivos e 21 são negativos.
A Figura 3.6 apresenta a localização do Polo Pré-sal em relação ao Polo Mexilhão e ao
LNP.
Figura 3. 6: Localização do Polo Pré-sal em relação ao Polo Mexilhão e ao LNP (em destaque Ilhabela).
Fonte: (EIA, 2011a).
111
3.3.7. Royalties
60
Para mais informações sobre o modelo de distribuição dos Royalties do Petróleo ver (SERRA; 2007).
61
Os critérios de distribuição dos royalties provenientes dos primeiros 5% estão de acordo com a Lei no
7.990/89 e com o Decreto no 01/91, enquanto que a quantia acima desses 5% obedece à Lei no 9.478/97 e ao
Decreto no 2.705/98.
112
Tabela 3. 5: Principais informações sobre os impactos da IPG em relação aos sete indicadores selecionados para a análise integrada.
ATRIBUTOS-CHAVE PERSPECTIVAS
Dos sete EIAs analisados, três não quantificam os volumes de CO2 emitidos para o processo de aquecimento
global, avaliando apenas a contribuição das emissões da atividade para a poluição atmosférica local. Estes
estudos não mencionam questões relativas às mudanças climáticas e caracterizam seus impactos na atmosfera
como pontuais, de pequena magnitude e pouca importância. Porém, os estudos relacionados à produção de
petróleo e gás offshore quantificam as emissões dos projetos e indicam, com exceção da produção no Campo
de Mexilhão, a alta magnitude e relevância de suas contribuições para as mudanças climáticas. Somando-se as
EMISSÕES CO2 62
emissões anuais dos projetos estima-se a emissão de 3.146,02 Gg63 de CO2, o equivalente a 25,75% do total
de emissões de todos os processos industriais paulistas, ou 4,0 % das emissões do setor de energia do Estado
de São Paulo no ano de 2005 (CETESB, 2011). Vale ressaltar que as plataformas de produção estão instaladas
em alto mar, mantendo uma relação apenas indireta com a costa paulista.
ATRIBUTOS-CHAVE PERSPECTIVAS
62
Apenas as emissões de CO2 foram quantificadas, com o objetivo de estabelecer um parâmetro comparativo com outras atividades do Estado e com o próprio LNP que,
anteriormente a presença dos Megaprojetos, não possuía fontes significativas de emissões atmosféricas.
63
1Gg = 1.000 toneladas.
113
Todos os estudos analisados apresentam possíveis cenários de acidentes ambientais com impactos relevantes,
tanto em terra quanto no mar. A maior preocupação se dá com o crescimento da IPG na região, pela
possibilidade da ocorrência de acidentes de grande porte, com comprometimento da biota e das atividades
ligadas ao turismo e a pesca artesanal na região. Além disso, a ampliação das atividades industriais na região,
ACIDENTES AMBIENTAIS com aumento do volume de cargas perigosas transitando pelas rodovias também determinam um crescimento
TECNOLÓGICOS na probabilidade de acidentes. Dos empreendimentos com impactos predominantemente em alto mar, apenas a
Plataforma de Mexilhão possui um cenário de pior caso64com previsão de toque de óleo na costa em Ilhabela,
com probabilidade próxima a 10%. Apesar da baixa probabilidade de toque de óleo nas praias, as possíveis
conseqüências de um grande acidente ambiental geram uma grande insegurança na população local. A maior
parte dos impactos relacionados a este tema é caracterizada nos estudos como de grande importância para o
meio biótico e de média importância para o meio socioeconômico.
Três EIAs analisados (GASMEX, UTGCA E GASTAU) identificam atividades de supressão de vegetação
nativa no LNP. Basicamente, para o cálculo da supressão de vegetação direta da IPG no LNP, somam-se as
áreas suprimidas pelo GASMEX (duto entre a praia das palmeiras e a unidade de tratamento), na UTGCA e no
SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO GASTAU até o emboque do túnel, todos em Caraguatatuba. No total foram suprimidos 2,44 ha de área com
vegetação nativa, além de 503 árvores isoladas. Não há perspectivas de abertura de novas áreas com
necessidade de corte de vegetação. De acordo com os estudos este impacto é classificado como de média
magnitude e grande importância.
ATRIBUTOS-CHAVE PERSPECTIVAS
64
Derramamento de condensado do gasoduto de exportação (rompimento do duto em seu ponto de enterramento) próximo às Ilhas de Vitória e Búzios.
114
De acordo com as informações disponibilizadas nos sete EIAs analisados, estima-se a geração de 9.290
empregos diretos pela IPG na região. Porém, os postos relacionados as atividades offshore não possuem
vínculo direto com o LNP e podem não gerar, na prática, nenhum emprego para a população da região.
EMPREGOS
Entretanto, as informações dos estudos são aparentemente subdimensionadas65 e na prática os empregos
gerados são maiores que os estimados. Outra questão relevante não informada nos EIAs trata da geração
indireta de empregos. A Avaliação Ambiental Estratégica desenvolvida pelo governo do Estado 66, e a
Petrobras67 estimam a geração total de mais de 190.000 empregos em todo o litoral paulista.
De forma direta e com valores significativos, estão previstos o aumento da receita tributária e o incremento da
economia local devido à geração de royalties. Em média, as arrecadações apenas dos Royalties representam
mais de 10% do total das receitas municipais da região. A presença dos novos investimentos da IPG na região
RECEITAS PÚBLICAS se reflete nos valores arrecadados em 2011. Neste ano os municípios do LNP arrecadaram mais de R$159
milhões, um crescimento de 80% em relação ao ano anterior. Este crescimento está relacionado,
prioritariamente, ao início das operações da UTGCA. A participação dos royalties nas receitas municipais é
crescente, passando de menos de 6% em 2008 para quase 18% do total arrecadado na região em 2011.
ATRIBUTOS-CHAVE PERSPECTIVAS
65
No caso da UTGCA foram estimados 733 postos de trabalho na fase de instalação do empreendimento. Por conta de modificações e ampliações no projeto original, no
pico das obras, foram contratados mais de 4.000 trabalhadores. Situação similar também ocorreu no desenvolvimento do projeto do GASTAU.
66
AAE-PINO (SMA, 2010).
67
―Petrobras vai absorver mão de obra de 200 mil pessoas‖ - Jornal Costa Norte 04 /10/2011.
115
Pode-se dizer que os impactos da IPG sobre os padrões regionais de uso do solo no LNP estão diretamente
relacionados à instalação da UTGCA em Caraguatatuba. Esta unidade foi instalada em uma região de uso
predominantemente agrícola. Após a instalação dessa unidade, o Plano Diretor Estratégico e o Zoneamento e
Uso do Solo de Caraguatatuba indicaram o uso futuro dessa área com atividades predominantemente
industriais, vinculadas aos Complexos IPG e PSS. Ressalta-se que essa nova zona industrial faz divisa com o
USO DO SOLO Parque Estadual da Serra do Mar, constituindo uma possível nova área de tensão entre atividades industriais e
de conservação. Apesar deste ser o principal impacto da IPG na transformação física do LNP, este é
identificado pelo EIA da UTGCA como ―restrito á área de pastagem da Fazenda Serramar‖, com importância e
magnitude médias. Esse é um claro exemplo das falhas e dos limites do instrumento Licenciamento
Ambiental.
Os EIAs analisados não apresentam impactos sobre a qualidade das águas superficiais no meio terrestre.
Apesar da correlação – aparentemente óbvia – entre os Megaprojetos da IPG e as possíveis alterações na
qualidade dos recursos hídricos regionais, essas são raramente mencionadas nos estudos, dada a complexa e
indireta relação de causa e efeito entre estes. No meio marinho, os estudos identificam possíveis alterações na
ÁGUAS SUPERFICIAIS
qualidade das águas e dos sedimentos, devido aos descartes de água de produção 68 e eventuais acidentes com
lançamento de óleo no mar. O lançamento da água de produção é considerada nos estudos como de pequena
importância e baixa magnitude. Já os impactos resultantes de eventuais acidentes são considerados de média
magnitude, porém de grande importância.
68
A água produzida pode incluir a água de injeção utilizada na recuperação secundária do reservatório, a água de formação (gerada no reservatório junto com o óleo em
condições de alta pressão e temperatura), além dos produtos químicos utilizados no processo de produção.
116
3.4. O Complexo Rodoviário “Nova Tamoios”: A ligação entre o Vale Do Paraíba e o
Litoral 69
69
As informações técnicas apresentadas nesta seção, quando não descritas as fontes específicas, foram retiradas dos
quatro Estudos de Impacto Ambiental analisados nesta pesquisa relativos ao Complexo Rodoviário Nova Tamoios (ver
tabela 2.1). Estas fontes estão devidamente descritas nas Referências Bibliográficas ao final do capítulo.
70
http://www.der.sp.gov.br/website/Institucional/historico_rodovias.aspx
117
com traçado paralelo à pista existente, uma nova pista no trecho da Serra do Mar e dois
novos anéis rodoviários nos municípios costeiros. O Governo do Estado estima investir 4,5
bilhões de reais no novo complexo rodoviário.
Este complexo foi concebido em quatro trechos com projetos independentes, com processos
de licenciamento ambiental distintos. São eles:
II. Sub-trecho Serra: Nesse trecho será construída uma nova pista, em eixo distinto do
atual traçado, em alto padrão técnico, com túneis e viadutos extensos, com a
intenção de minimizar a intervenção na vegetação local.
III. Sub-trecho Anel de contorno sul: Com cerca de 35 km, interliga a Rodovia dos
Tamoios – SP-099, no município de Caraguatatuba, com o Porto de São Sebastião.
Será denominado futuramente de SP-053.
IV. Sub-trecho Anel de contorno norte: A proposta deste projeto é retirar o trânsito
rodoviário da região central do município de Caraguatatuba, promovendo a
interligação da Rodovia dos Tamoios (SP-099) com o limite sul de Ubatuba.
118
quer seja como indutora de uma série de transformações econômicas em escala regional,
quer seja como meio de introdução de novas atividades humanas em áreas antes protegidas
pelo isolamento em relação aos centros urbanos (MPF, 2004).
A seguir passaremos a descrever as principais características destes quatro trechos.
119
Sebastião, as condições de operação se agravam a partir de 2014, chegando a níveis quase
insustentáveis em 2015.
A tabela 3.6 apresenta a evolução do Volume Diário Médio – VDM de veículos transitando
pela SP-099, entre os anos de 2006 a 2009.
Tabela 3. 6: Volume diário médio – VDM de veículos transitando no Subtrecho Planalto da SP-099
entre os anos de 2006 a 2009.
120
Devido à localização (Figura 3.7), fora dos limites geográficos do LNP, não foram
computados os empregos gerados nesse sub-trecho da Nova Tamoios nos dados
socioeconômicos desta pesquisa.
Figura 3. 7: Localização do Sub-trecho planalto da SP-099 em relação aos municípios da região. Fonte:
(EIA, 2011b).
121
região71. A lógica da ocupação desde esse período segue o modelo desordenado, já adotado
nas décadas anteriores na baixada santista, da edificação de alto padrão nas áreas mais
próximas à linha de costa e os assentamentos precários subindo às encostas da Serra do
Mar, invadindo áreas de risco e,nas cotas mais elevadas, o Parque Estadual da Serra do Mar
- PESM.
A SP-055, com traçado próximo à orla marítima, é uma via simples com uma faixa de
tráfego por sentido e, em alguns trechos, recebeu obras de ampliação de capacidade com
implantação de faixas adicionais.
A nova interligação rodoviária Contorno Sul de Caraguatatuba e São Sebastião possui
cerca de 35 km e estende-se desde a Rodovia dos Tamoios até o Porto de São Sebastião
(Figura 3.8). Devido às características de via expressa bloqueada (com controle de acessos,
com o objetivo de reduzir as possibilidades de ocupação de entorno), os usuários somente
poderão acessar a interligação rodoviária do Contorno Sul nas interseções especialmente
projetadas para este fim, integradas ao sistema viário principal. Em toda a sua extensão
estão previstas seis interseções.
Um dos gargalos mais relevantes para a evolução desta obra é a proximidade com o Parque
Estadual da Serra do Mar. Evitar impactos diretos ao PESM foi, segundo o empreendedor,
um dos condicionantes que orientaram a elaboração do projeto e o estudo de seleção de
alternativas e definição de traçado preferencial. Todavia, os principais impactos diretos do
empreendimento estão relacionados aos danos ao Parque e seu entorno imediato.
O valor previsto para a execução das obras de construção desse Contorno está estimado em
aproximadamente1 bilhão e trinta milhões de reais.
Para sua construção, considerando o porte de obras rodoviárias similares, prevê-se a
contratação de aproximadamente 1.020 pessoas. Deste total, cerca de 30% deverá ser
qualificada, usualmente integrante do quadro permanente das empresas construtoras e o
restante deverá ser contratado preferencialmente na região.
71
http://www.der.sp.gov.br/website/Institucional/historico_rodovias.aspx
122
Figura 3. 8: Localização do Sub-trecho Anel de Contorno Sul (em linha azul) da Rodovia Nova
Tamoios. Fonte: (EIA, 2010).
Entre as principais justificativas para instalação dos Contornos Sul estão o alcance da
capacidade máxima de tráfego na rodovia SP-055, principalmente nos períodos de
temporada, e a necessidade de separação dos fluxos de tráfego de passagem e regionais
(incluindo as cargas com destino ao porto), dos fluxos de tráfego locais, de maneira a
compatibilizar o uso da SP-055 com sua atual configuração de avenida urbana. Além disso,
o empreendimento deverá atender aos prováveis aumentos de tráfego decorrentes dos
demais projetos em implantação no Litoral Norte.
O estudo identificou 873 edificações em áreas com possível desapropriação pela faixa de
domínio da futura estrada. Aproximadamente 375 residências pertencentes ao bairro da
123
Topolândia em São Sebastião serão afetadas pelo trecho do acesso ao Porto. Estas são
caracterizadas como unidades de baixo padrão construtivo com população carente.
No total o EIA identificou 44 impactos do empreendimento sobre os meios físico, biótico e
socioeconômico, sendo 12 positivos.
O projeto rodoviário do Contorno Norte deverá ser implantado em duas pistas com uma
faixa de rolamento por sentido, ligando o final da rodovia SP-099 (eixo atual da Rodovia
dos Tamoios) aos bairros Casa Branca/Cidade Jardim, evitando a região central de
Caraguatatuba. Assim, em sua extensão de aproximadamente 6,0 km não estão previstos
interseções de acesso. A Figura 3.9 traz o mapa de localização do contorno norte e sua Área
de Influência Indireta - AID.
Figura 3. 9: Localização do Sub-trecho Anel de Contorno Norte (em linha vermelha) da Rodovia Nova
Tamoios. Fonte: (EIA, 2011c).
124
O cronograma de implantação do Contorno Norte de Caraguatatuba prevê a execução das
obras no prazo total de 30 meses, incluindo um trecho em túnel. A área total de faixa de
domínio foi estimada em 59,48 ha.
O valor de investimento é estimado em R$ 305 milhões e prevê-se a contratação de
aproximadamente 388 pessoas para a construção do empreendimento. Desse total, cerca de
30% deverá ser de mão-de-obra qualificada. O restante da mão de obra, ou seja, 70% do
total de trabalhadores deverão ser contratados preferencialmente na região.
As estimativas do EIA identificaram 352 edificações em áreas a ser ocupadas pela faixa de
domínio. Deste total, 237 pertencem ao bairro Cidade Jardim/Casa Branca, 80 pertencem
aos bairros Rio do Ouro e 23 ao bairro Cantagalo.
125
atravessado pelo empreendimento. A adoção desse tipo de tecnologia atende ao conceito de
inovação técnica preventiva e está alinhada com as premissas da Modernização Ecológica.
Serão investidos R$ 2,1 bilhões e está prevista a contratação direta de 2.500 empregados.
O prazo estimado para a implantação deste traçado é de 38 meses.
A figura 3.10 apresenta o mapa de localização do trecho serra e de sua área de influência
direta.
Figura 3. 10: Localização do eixo e da AID do Sub-trecho Serra da Rodovia Nova Tamoios. Fonte:
(EIA, 2012).
126
Tabela 3. 7: Síntese das principais informações, contidas nos EIA/RIMAs relacionados ao Complexo RNT analisados, relativas aos sete
indicadores selecionados para a análise integrada.
ATRIBUTOS-CHAVE PERSPECTIVAS
Para os cálculos das emissões no LNP foram utilizados os dados disponibilizados no estudo de impacto
ambiental do sub-trecho contorno sul, visto que este é o único traz informações sobre este atributo, além dos
dados apresentados no EIA do projeto de ampliação do Complexo PSS. Os estudos indicam que atualmente
a principal fonte de poluição atmosférica na região é a emissão veicular. Entretanto, em razão da região ser
caracterizada no Plano Estadual de Recursos Hídricos como de vocação à conservação ambiental e ao
EMISSÕES CO2 turismo, não existem estações de monitoramento da qualidade do ar nesta região. Estima-se um crescimento
de 58,3% no tráfego de veículos entre Caraguatatuba e São Sebastião entre 2008 e 2030, sem levar em
consideração as movimentações de carga relativas à ampliação das atividades Portuárias. Para o Porto é
previsto um aumento do volume de caminhões de 279,5%. As emissões desse setor são diretamente
proporcionais à movimentação de veículos e podem ultrapassar os 300 Gg/ano em 2035. Os estudos
apontam para a possibilidade do novo complexo rodoviário ter de ser novamente ampliado antes de 2030.
As estatísticas estaduais de acidentes rodoviários de 2007 (apresentadas no EIA do Contorno Sul) indicam
que há um índice de ocorrências significativamente maior no trecho de ligação entre Caraguatatuba e São
Sebastião da SP-055, quando comparado com o restante do sistema rodoviário do Estado. Apesar do
ACIDENTES AMBIENTAIS aumento no fluxo de veículos, os estudos indicam uma perspectiva de redução no número de acidentes com
TECNOLÓGICOS a instalação do novo complexo rodoviário. Também estão previstas a instalação de estruturas físicas de
minimização de impactos para acidentes envolvendo produtos químicos perigosos ao longo das vias.
127
ATRIBUTOS-CHAVE PERSPECTIVAS
Os estudos identificam dois impactos diretos sobre a vegetação: A redução da cobertura vegetal e a
fragmentação dos remanescentes florestais. O total de área florestal a ser suprimida pelo novo sistema
rodoviário ultrapassa os 160 ha, sendo que destes 42,83 ha são de vegetação nativa em estágio avançado de
SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO regeneração. Este impacto é considerado pelo estudo como de média importância e magnitude. Nos dois
contornos e no sub-trecho serra foram adotadas tecnologias construtivas de redução dos impactos da
estrada sobre a vegetação. Serão construídos túneis e viadutos nas áreas onde o empreendimento colocar em
risco as florestas do interior do Parque Estadual da Serra do Mar.
É estimada a geração de 3.908 empregos diretos no período de pico das obras de construção dos três
projetos que impactam diretamente o LNP. O período previsto de obras vai de outubro de 2013 até o inicio
EMPREGOS de 2017. Os empregos indiretos podem representar cerca de 3.200 postos adicionais. Apesar de estar
relacionado quase que totalmente à fase de construção da rodovia, este impacto é caracterizado pelos EIAs
como de alta importância e magnitude.
Segundo os estudos analisados, é esperado que no médio prazo, os empreendimentos resultem em impacto
fiscal positivo para Caraguatatuba e São Sebastião, ao contribuir para mudanças na distribuição espacial das
RECEITAS PÚBLICAS atividades econômicas em nível regional. Também é esperado crescimento da atividade industrial nesses
municípios, contribuindo para a arrecadação local. Apesar dos altos investimentos diretos no novo
complexo rodoviário a importância atribuída a este impacto pelos EIAs é média e a magnitude baixa.
128
ATRIBUTOS-CHAVE PERSPECTIVAS
Segundo os EIAs do contorno sul e norte, a maior parte do total dos 698 ha da faixa de domínio a ser
desapropriada corresponde a áreas rurais (pastagens e cultivos) e áreas rurais sem atividade econômica.
USO DO SOLO Entretanto, estão previstas mais de 1200 desapropriações e remoções de famílias. Os estudos também
indicam possíveis impactos na estrutura urbana regional. Segundo estes, a melhoria na acessibilidade entre
Caraguatatuba e São Sebastião poderá favorecer o adensamento urbano em setores específicos de ambos os
municípios. Esse impacto foi caracterizado como positivo, de média importância e magnitude pelos EIAs.
De acordo com os estudos analisados este impacto está direcionado prioritariamente à fase construtiva do
novo complexo rodoviário. Alterações no regime pluviométrico devido a impermeabilização do solo e
mudanças nos modelos de drenagem superficial estão previstas. De modo indireto, a melhoria de
ÁGUAS SUPERFICIAIS
acessibilidade pode resultar em maiores graus de urbanização das bacias, porém, segundo os estudos, trata-
se de um impacto difuso de difícil previsão e análise. É mencionado ainda o aumento do risco de
contaminação das águas superficiais por produtos químicos perigosos transportados na rodovia. No geral os
impactos sobre os recursos hídricos são qualificados como de média importância e baixa magnitude.
129
3.5. Considerações finais do capítulo
130
segundo plano as questões locais. Os efeitos desse modelo, que privilegia as escalas
nacionais e estaduais em detrimento da escala local, podem ser vistos em diversas regiões
onde foram desenvolvidos megaprojetos de forma co-localizada no Brasil, como na
Baixada Santista (HOGAN, 1990), em Cubatão, (FERREIRA, Lúcia, 1993; STEWART ET
AL., 2002) no Litoral Fluminense (CRUZ, 2003a, 2003b; PIQUET, 2004; MONIÉ, 2006;
CRUZ, 2007; PIQUET & MIRANDA, 2009; PIZZOL, 2008; GUSMÃO, 2010;
RODRIGUES & LEMOS, 2011) e em outras partes do mundo (MORRIS & HOUGH,
1987; MERROW, 1988; CHRISTOFFERSEN et al., 1992; COLLINGRIDGE, 1992;
SZYLIOWICZ & GOETZ, 1995; FLYVBJERG et al., 2003; BRUNN, 2011).
Com os resultados obtidos nesse capítulo é possível destacar atributos que demonstram o
ponto de inflexão da atualidade no histórico do LNP. A perspectiva de crescimento no
trânsito de veículos pesados nas novas estradas (279,5%), associada ao aumento de navios
de carga por ano no canal (2.140%) são claros indicadores de transformação.
As emissões da IPG nas unidades produtivas em alto mar, apesar de apenas indiretamente
relacionadas ao LNP, também são relevantes. Atualmente estas emissões são equivalentes a
25,75% do total de emissões de todos os processos industriais paulistas, ou 4% das
emissões do setor de energia do estado de São Paulo no ano de 2005 (CETESB, 2011).
A reinjeção de CO2 nos poços do pré-sal ainda parece ser uma tecnologia incipiente, porém,
não há dúvida de que se trata de uma inovação promissora e pode, em tese, reduzir
consideravelmente as emissões na etapa de explotação do petróleo e gás. Já o processo de
licenciamento ambiental continuado do Porto de São Sebastião, denominado Plano
Integrado Porto Cidade, aparentemente pode reduzir os impactos da avaliação segregada
de pequenos projetos (evoluída de acordo com a demanda do movimento portuário), como
ocorre na maioria dos portos do Brasil. Apesar dos protestos das ONGs ambientalistas da
região, esse Plano Integrado pode se apresentar como mais adequado para minimização
dos impactos locais quando comparado com o modelo padrão de licenciamento de portos
no Brasil. Estas duas inovações serão analisadas com maior profundidade no próximo
capítulo.
Apesar da dimensão dos impactos negativos dos Megaprojetos sobre o LNP, foram
detectadas iniciativas importantes para um processo – inicial – de ―ecologização da
131
economia‖. As inovações tecnológicas preventivas destacadas no capítulo parecem estar
mais ligadas às causas da degradação ambiental do que sobre os seus efeitos (o que é
positivo) e podem, em uma análise preliminar, gerar ganhos ambientais e econômicos
simultâneos, como advogam os principais autores da Teoria da Modernização Ecológica.
Sob o prisma dos critérios de sustentabilidade forte ou fraca (FERREIRA, Leila, 2006)
ainda fica a dúvida se o crescimento econômico produzido nesse modelo atende às
premissas de manutenção dos recursos naturais, ou se trata apenas de mais um instrumento
que visa perpetuar um ―modelo ecologicamente suicida, socialmente perverso,
politicamente injusto, eticamente censurável e culturalmente alienado‖ (GUIMARÃES &
BEZERRA, 2011, p.86).
132
CAPÍTULO 4 – AVALIAÇÃO INTEGRADA DOS IMPACTOS DOS
MEGAPROJETOS: EM BUSCA DE UMA VISÃO AMPLA DOS
EFEITOS DA CO-LOCALIZAÇÃO DE GRANDES
EMPREENDIMENTOS DE INFRAESTRUTURA
“Amor é síntese
é uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
e eu serei o perfeito amor.”
(Mario Quintana)
4.1. Introdução
133
Por meio da Sobreposição de dados geoespaciais é possível melhorar a compreensão sobre
como os projetos se relacionam com as políticas locais territoriais e consequentemente
afetam os atributos analisados. Esse procedimento foi especialmente importante para a
análise do atributo ―Uso do Solo‖, demonstrando como as áreas de influência dos projetos
relacionam-se entre si e com o espaço urbano. Com isso, a sobreposição de dados
geoespaciais se complementa e colabora com a Análise de Atributos-chave, que avalia
como interagem os impactos de cada projeto sobre os sete atributos selecionados. Por fim,
esses dados são utilizados para a alimentação das Matrizes de Análise Integrada. Através
da análise dessas Matrizes foi possível avaliar quali-quantitativamente algumas
transformações que o conjunto de Megaprojetos como um todo impôs à região. Também
foram destacadas algumas diferenças entre os resultados das análises segregadas –
apresentadas nos EIA/RIMAs – e da análise integrada proposta nesta pesquisa.
Com esse escopo, o capítulo procura responder as seguintes perguntas norteadoras:
Destaca-se, uma vez mais, que não é objetivo desta tese a produção de uma análise de
impactos cumulativos plena, porém entende-se que as reflexões e construções teóricas aqui
elencadas podem colaborar no desenvolvimento de um estudo mais aprofundado nesse
sentido.
Como descrito no capítulo 1, para a construção de uma análise integrada, esta pesquisa
buscou nas metodologias de Avaliação de Impactos Ambientais – AIA, Avaliação
Ambiental estratégica – AAE e Avaliação de Impactos Cumulativos – AIC, ferramentas
que possibilitassem o desenvolvimento de uma visão ampla sobre os efeitos dos
Megaprojetos sobre a região.
134
4.2. Redes de Interação
Definidos os níveis de relacionamento foi construída uma matriz para consolidação dos
vínculos entre os projetos.
135
Tabela 4. 1: Matriz de classificação da qualidade de relação entre projetos (elaborado pelo autor com
informações dos EIAs).
Com as informações dessa matriz foi possível construir um diagrama contendo as relações
diretas, ligações físicas com reciprocidade e coesão, entre os projetos (Figura 4.1).
136
Figura 4. 1: Diagrama de relações diretas entre projetos. Em vermelho os projetos integrantes do
Complexo IPG – Indústria do Petróleo e Gás, em azul o Complexo PSS – Porto de São Sebastião e em
verde os projetos do Complexo RNT – Rodovia Nova Tamoios. (Elaborado pelo autor utilizando o
software UCINET 6.421 e NETDRAW 2.123)
Para a construção do digrama foi utilizado o software UCINET 6 para Windows, versão
6.421, programa específico para a análise de dados de redes sociais (BORGATTI et al.,
2002, disponível em <https://sites.google.com/site/ucinetsoftware/home>). O UCINET6
vem acompanhado do aplicativo NetDraw (BORGATTI, 2002), utilizado para a construção
visual da rede de relações72.
72
O tutorial utilizado para o manuseio do software foi o livro ―Introduction to Social Network Methods‖ (HANNEMAN;
RIDDLE, 2005). Disponível em <http://faculty.ucr.edu/~hanneman/networks/nettext.pdf> e ―Manual Introdutório de
Análise às Redes Sociais‖, disponível em <http://www.aprende.com.pt/fotos/editor2/Manual%20ARS%20[Trad].pdf>
(AIRES et al., 2006).
137
Com essa visualização é possível compreender que, considerando apenas os vínculos
diretos, o projeto do Novo Píer do TEBAR funciona como uma ponte entre o Complexo
Portuário e o Complexo da Indústria do Petróleo e Gás. O mesmo acontece com o projeto
do Contorno Sul, que liga o Complexo Rodoviário com o Complexo Portuário.
A figura 4.2 apresenta um diagrama representativo da qualidade das relações entre os
projetos.
138
Para construção do diagrama primeiramente foram atribuídos valores entre 0 e 3 para os
vínculos entre os projetos. Assim como apresentado na matriz de classificação da qualidade
das relações (Tabela 4.1), as ligações em vermelho, com linhas mais grossas, representam
as relações diretas mais fortes e as ligações identificadas em linhas amarelas e finas,
representam as ligações indiretas mais fracas. As relações de indução ou catalização entre
projetos, porém sem interdependência, podem ser visualizadas na cor laranja. A ausência de
relação não foi representada graficamente de maneira a evidenciar as relações mais fortes e
facilitar a visualização do todo. Todos os fluxos são bidirecionais.
Para a composição gráfica desse diagrama foi utilizado o layout em Scaling/ordination,
utilizando as métricas iterativas em MDS, tratando os dados como similaridades (pela força
dos nós) e com ajustes para o vizinho mais próximo (distância euclidiana).
A análise desse diagrama (figura 4.2) nos permite visualizar claramente o agrupamento de
projetos nos três complexos. Os níveis de interação entre os projetos os mantêm próximos,
desenhando três grupos distintos identificados na pesquisa como complexos. Coadunando
com a interpretação apresentada na figura 4.1, é possível identificar também na figura 4.2
os projetos do Novo Píer do TEBAR e do Contorno Sul, atuando como pontes entre os
complexos.
A aplicação dessa técnica contribui para a análise integrada dos impactos dos Megaprojetos
enquanto uma força coesa sobre a região. É interessante notar que as relações,
principalmente as indiretas, são raramente mencionadas nos EIAs, mesmo sabendo-se que a
ausência de relação, a indução, a interdependência, ou o vínculo pleno entre
empreendimentos modifica a magnitude dos impactos dos projetos sobre a região.
As próximas seções se utilizarão dessa leitura da interação entre os projetos, compondo
uma rede única com efeito amplo e integrado sobre a região.
140
4.3.1. Sobreposição de Mapas de Gestão Territorial
Oliveira et al. (2009) indicam a necessidade da combinação de métodos para uma avaliação
de efeitos integrados, sendo um deles a sobreposição de mapas temáticos. Nesse trabalho
foram realizadas as seguintes etapas:
A equação abaixo apresenta a organização das variáveis para o cálculo (A = área em km2):
(2) A área potencial de expansão foi sobreposta com o mosaico de áreas de influência direta
(AID) dos megaprojetos, obtendo-se a proporção de áreas potenciais para ocupação que
encontram-se sobrepostas às AIDs dos Megaprojetos.
(3) As Áreas Prioritárias para Conservação (MMA, 2007) também foram sobrepostas com
o mosaico de áreas de influência direta (AID) dos megaprojetos, para identificar os
conflitos entre áreas de prioridade para conservação e as áreas com perspectivas de
aumento da atividade industrial.
141
(4) O Zoneamento Econômico Ecológico – ZEEC foi sobreposto com o mosaico de áreas
de influência direta (AID) dos megaprojetos, para analisar a coerência entre o principal
instrumento de gestão territorial em escala regional e as áreas passíveis de impactos diretos
dos megaprojetos. Após esse procedimento, as informações do Plano Diretor de
Caraguatatuba (CARAGUATATUBA, 2011) e do projeto de lei do Plano Diretor de São
Sebastião (SÃO SEBASTIÃO, 2011) foram utilizadas como referência para a análise e
discussão das alterações induzidas pelos Megaprojetos no planejamento do uso do solo
pelos municípios.
Instrumento da política de
Plano Diretor de Caraguatatuba Lei Complementar
desenvolvimento urbano
(Caraguatatuba, 2011) 42/2011
Instrumento da política de
PL do Plano Diretor de São Lei 01/1999 (em revisão
desenvolvimento urbano
Sebastião (São Sebastião, 2011) 2011)
Áreas Prioritárias para a Assegurar o desenvolvimento
Portaria MMA nº
Conservação – PROBIO (MMA, do Programa Nacional de
2007)
9/2007 Biodiversidade
142
Figura 4. 3: Mapa de sobreposição de Áreas de Influência Direta dos projetos na planície costeira de Caraguatatuba. Elaborado pelo autor em
parceria com Mello (A.Y.I.) com dados dos EIAs (EIA, 2006a; 2006b; 2006c; 2008; 2009a; 2011a; RAP, 2011).
143
4.4. Análise dos Atributos-chave
Essa análise tem como objetivo avaliar a contribuição dos Megaprojetos do LNP ao
inventário estadual de Gases do Efeito Estufa (GEEs) através do cálculo do lançamento
direto de Dióxido de Carbono na atmosfera. Por questões metodológicas foram
selecionadas e avaliadas apenas as emissões de CO2 relacionadas à fase de operação dos
três complexos estruturais em análise.
A definição de um status da qualidade do ar anterior à instalação dos megaprojetos no LNP
ficou prejudicada dada a inexistência de estações de monitoramento na região. Esta
ausência está relacionada à caracterização da região no Plano Estadual de Recursos
Hídricos como de vocação predominantemente voltada ao turismo e à conservação
ambiental, devido, principalmente, à restrita atividade industrial. Com isso, não é possível
uma análise da evolução das emissões de CO2 ao longo dos anos.
Uma das condicionantes da licença de operação da UTGCA determinou a instalação de
estações de monitoramento da qualidade do ar na área de influência da unidade. Foram e
estão sendo realizadas campanhas de análise atmosférica antes de sua operação e durante
seu funcionamento. Assim, em um cenário futuro com todos os megaprojetos em operação,
séries históricas poderão ser construídas para avaliação da concentração de poluentes
atmosféricos antes e depois da chegada da UTGCA. Antes disso, com as informações
disponíveis, podemos apenas atestar a boa qualidade do ar e relacionar a baixa
concentração de poluentes na atmosfera à pequena atividade industrial na região.
Como apontado no capítulo 3, os volumes de CO2 emitidos pelos projetos desenvolvidos
em alto mar possuem uma relação apenas indireta com o LNP, porém, seria um equívoco
ignorar essas emissões, tendo em vista a magnitude e a representatividade destas para uma
análise regional e temporal de maior amplitude. Além disso, as emissões da IPG offshore
estão intrinsecamente ligadas às estruturas do TEBAR, da UTGCA e do GASTAU.
144
paulistas segundo o Inventário Estadual de emissões de Gases do Efeito Estufa – GEEs
(CETESB, 2011). A figura 4.4 apresenta um gráfico com a comparação entre as emissões
de CO2 das atividades Industriais, Agropecuárias (paulistas) e do Pré-sal (PIPS-Fase 1).
A ausência dos TLDs de Guará no cálculo de emissões se deve a utilização dos mesmos
Navios Plataforma (FPSOs) nos campos do Pré-sal, ou seja, essas emissões foram
computadas nos cálculos do PIPS-1. Com o cálculo é possível perceber que mais de 80%
das emissões da IPG estão relacionadas ao Polo Pré-sal. Como anteriormente mencionado,
a Etapa 2 do PIPS, com início de instalação estimada para 2014, prevê o desenvolvimento
de 12 Testes de Longa Duração - TLDs e 11 Desenvolvimentos de Produção - DPs, além
de 200 km de novos dutos submarinos. São estimados, apenas para essa etapa,
investimentos da ordem de R$ 24 bilhões74. Mesmo com a adoção da inovação tecnológica
de injeção da mistura gás e CO2 nos poços, no auge das operações, as emissões totais de
dióxido de carbono do Polo Pré-sal devem superar os 9.000 Gg/ano.
14.000
12.000
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
SP INDUSTRIA
SP AGROPECUÁRIA
PRÉ-SAL (FASE 1)
Figura 4. 4: Emissões de CO2 das atividades industriais e agropecuárias do Estado de São Paulo em
2005 (CETESB, 2011) em comparação com as emissões estimadas (em Gg/ano) para os Projetos
Integrados do Pré-sal – Fase 1. Elaborado pelo autor com dados dos EIAs (EIA, 2006a; 2006b; 2006c;
2008; 2009a; 2011a; RAP, 2011) e de CETESB (2011).
74
http://www.pac.gov.br/obra/9503
145
É interessante destacar que grande parte das emissões da IPG offshore está atreladas a
própria característica da tecnologia envolvida no processo prospectivo dos TLDs, que, para
permitir a extração do óleo, demanda a queima de gás natural sem aproveitamento
energético acarretando em uma dupla perda, ou seja, emissão sem ganho energético
(TEIXEIRA et al., 2012).
Os demais complexos de infraestrutura (PSS e RNT) têm um volume de emissões
proporcionalmente muito menor, porém de alta relevância regional. As emissões
diretamente relacionadas às operações do Porto de São Sebastião são atualmente irrisórias.
Entretanto, apesar de em escala global o modal marítimo apresentar emissões por tonelada
transportada menores do que as emissões do modal rodoviário, isso pode não se aplicar à
escala local. É coerente imaginar que o local onde um porto está instalado observe um
incremento no lançamento de poluentes atmosféricos na medida em que ocorre um aumento
na movimentação de grandes embarcações. Isto pode ou não, a depender de questões como
possíveis cumulatividades (temporais ou espaciais) com outros empreendimentos, bem
como dos padrões de dispersão atmosférica, vir a comprometer a qualidade do ar da região.
O EIA/RIMA da ampliação do porto indica um possível crescimento no lançamento de
poluentes na atmosfera, porém devido apenas ao aumento na movimentação veículos
terrestres, embarcações e carregamento e descarregamento de materiais para a construção
do retroporto. De acordo com a Informação Técnica 1253/11 (CPEA, 2011), integrante do
processo de licenciamento ambiental de ampliação do Porto, a autoridade portuária não
considera como de sua responsabilidade o possível aumento de emissões no canal em
decorrência do crescimento no trânsito de navios cargueiros de grande porte e por isso, não
apresenta estratégias de mitigação ou compensação destas emissões.
Já o vínculo entre o projeto de ampliação do porto e o aumento no trânsito de veículos de
carga no novo sistema rodoviário é apresentado de forma explícita nos EIAs. As
informações apresentadas no Capítulo 3 indicam que o fluxo de veículos na SP-055 é
significativo e configura-se atualmente como a principal fonte de emissões de CO2 na
região (EIA, 2010). Ainda segundo o EIA/RIMA do Contorno Sul, em um primeiro
momento, a implantação deste novo sistema logístico não induziria uma alteração
significativa dos níveis de carregamento de tráfego na região. Haveria ainda, uma melhoria
representativa no nível de serviço com redução do volume total de emissões de poluentes
146
por fonte móvel, com pequena alteração da quilometragem rodada (EIA, 2010). Porém,
estima-se, para esse trecho, um crescimento de 58,3% no tráfego de veículos leves e de
279,5% de veículos pesados no período entre 2008 e 2035. Como as emissões desse setor
são diretamente proporcionais à movimentação de veículos, estas devem ultrapassar os 300
Gg/ano em 2035 (TEIXEIRA et al., 2012). Essas estimativas foram elaboradas
considerando apenas os veículos de carga que tenham como origem ou destino o Porto
ampliado. Com o crescimento da atividade industrial na região espera-se que a
movimentação dos veículos de carga seja ainda maior.
A figura 4.5 apresenta a perspectiva de crescimento nas emissões relacionadas ao tráfego de
veículos pesados com origem ou destino no Porto de São Sebastião.
299.049,45
106.970,85
2012 2035
Figura 4. 5: Evolução das emissões de CO2 de veículos pesados com origem ou destino ao Porto de São
Sebastião - PSS. Elaborado pelo autor utilizando os dados dos estudos de impacto ambiental (EIA,
2009b; 2010).
Vale destacar que até a chegada dos Megaprojetos o LNP tinha no turismo e na pesca suas
principais atividades econômicas e, por conta disso, praticamente não contribuía para o
147
inventário estadual de GEEs. Em pouco tempo essa região passou a ser responsável, ainda
que indiretamente, por volumes que representam um quarto das emissões de todos os
processos industriais do Estado e apresenta uma previsão de aumento de quase 300% nas
emissões relacionadas ao tráfego de veículos pesados.
75
Disponível em http://www.cetesb.sp.gov.br/userfiles/file/emergencias-quimicas/panorama-geral/25-Principais-
ocorrencias-quadro.pdf (acesso em 18/12/2012)
148
granéis líquidos e aos dutos que ligam o Terminal da Petrobras - TEBAR às refinarias do
interior do Estado. Isso, em volume, representa aproximadamente 84% de todo o óleo
derramado nos ecossistemas marinhos do estado de São Paulo nesse período. A
pesquisadora Íris Poffo (2000), registrou a ocorrência de 220 incidentes com derramamento
de óleo entre 1974 e 1999 apenas no litoral norte paulista. As causas destas ocorrências vão
desde falhas operacionais durante as atividades de carga e descarga, até a colisão de
embarcações e rompimento de dutos.
Segundo o Relatório Ambiental Preliminar – RAP apresentado como parte do processo de
licenciamento do novo píer do TEBAR (RAP, 2011), a instalação desta estrutura no Canal
de São Sebastião deve ser considerada minimizadora de acidentes, tendo em vista que não
há previsão de aumento na quantidade de navios-tanque atracados por ano no TEBAR
(atualmente cerca de 600), reduzindo o tempo de espera e fundeio das embarcações,
proporcionando melhores condições de operação. Esse impacto é classificado no RAP
como positivo para o ambiente.
Já o projeto de ampliação do Porto de São Sebastião estima um crescimento de 2.140% no
número de embarcações com destino ao porto público entre 2008 e 2035, passando de 69
para 1.477 embarcações por ano. O EIA deste projeto (EIA, 2009b) identifica e destaca um
impacto especificamente relacionado ao aumento do risco de colisão entre embarcações.
Todavia, dada a incerteza de ocorrência e os programas de prevenção adotados, sempre que
é mencionada a possibilidade de um acidente com danos ao ambiente, esta é considerada de
baixa magnitude e pequena significância.
Os estudos relacionados à IPG offshore dividem estrategicamente sua avaliação de impacto
em duas frentes: Impactos Reais, ou seja, aqueles que estão relacionados às atividades
cotidianas das fases de instalação e operação do projeto, e Impactos Potenciais, ou aqueles
que derivam de ocorrências ―fortuitas‖, como os acidentes. Isso é feito para que a dimensão
de um cenário acidental não se confunda com a área de influência do empreendimento.
Com isso, a análise dos impactos potenciais pode caracterizar possíveis cenários de
acidentes ambientais com efeitos significativos, tanto em terra quanto no mar, de maneira
hipotética, diferenciando-os dos impactos inerentes ao funcionamento do empreendimento.
No caso da indústria do petróleo, a maior preocupação está na possibilidade de ocorrência
149
de acidentes com comprometimento agudo da biota e das atividades ligadas à atual vocação
regional (de turismo, conservação e pesca artesanal).
Contudo, apesar dos estudos não abordarem essa questão de maneira clara, o aumento do
risco não é hipotético. Os cenários acidentais são hipotéticos, porém o aumento do risco
associado à presença de novas estruturas e atividades é real. Cada empreendimento possui
dezenas de cenários de evolução de acidentes e cada cenário prevê um leque de hipóteses
acidentais. Obviamente, não é possível produzir um valor absoluto que represente o
aumento do risco em uma determinada área. Não há lógica em um somatório aritmético
linear desses valores. É possível somar o número de hipóteses, mas isso não se reflete nas
probabilidades de ocorrência de acidentes. As hipóteses acidentais são, em tese,
independentes e a acumulação destas em uma mesma região não aumenta, por si só, o risco
de acidentes em um empreendimento. Porém, a análise dos valores indica uma tendência de
crescimento da probabilidade de uma ocorrência fortuita por unidade de área. Em outras
palavras, em uma determinada área onde não há embarcações navegando a probabilidade
de colisão entre estas é nula. Onde há barcos navegando a probabilidade de colisão cresce à
medida que são adicionadas novas embarcações por unidade de área.
Entre 1978 e 2006 a CETESB registrou 6.700 incidentes envolvendo produtos perigosos no
Estado de São Paulo, sendo o transporte marítimo responsável por apenas 5% das
ocorrências em números absolutos. Os terminais de armazenamento de produtos químicos
como o petróleo foram fonte de 2,6% dos acidentes. Nesse período o destaque ficou para o
setor de transporte rodoviário com 38,8% dos casos do Estado (POFFO, 2008).
Um dos argumentos a favor da instalação do novo complexo rodoviário é a redução no
número de acidentes com produtos perigosos. Apesar do aumento no fluxo de veículos, os
estudos do novo complexo rodoviário indicam que a melhoria nas condições de tráfego
tendem a reduzir a ocorrência deste tipo de incidente.
Contudo, não há dúvidas que o crescimento das atividades industriais relaciona-se ao
aumento do risco de acidentes tecnológicos. Onde não há atividades industriais há pouco ou
nenhum risco de acidente tecnológico. Risco aqui entendido como o resultado do somatório
(não aritmético) das hipóteses acidentais que têm como cenário a região em estudo.
150
obrigatoriamente acompanhado de um aumento do risco de eventos com grave
contaminação ambiental e, possivelmente, com efeitos sobre as comunidades.
Levando em conta a leitura integrada adotada nesta análise, concluímos que a magnitude
dos impactos sobre o atributo ―Acidentes Ambientais Tecnológicos‖ é a seguinte:
Complexo IPG: Alta
Complexo PSS: Alta
Complexo RNT: Média
151
Figura 4. 6: Gráfico da Supressão de vegetação nativa pelos projetos do LNP (em hectares). Elaborado
pelo autor com dados dos EIAs (EIA, 2006a; 2006b; 2006c; 2008; 2009a; 2011a; RAP, 2011).
76
Ver seção 3.4.4 no Capítulo 3.
152
ampliando a capacidade de fluxo de veículos entre a capital do estado e a baixada santista.
Com isso, os impactos à floresta foram atenuados77.
Somada à tecnologia de redução de impactos sobre a flora vale ressaltar que a legislação
determina a reposição florestal obrigatória78. Assim, para cada autorização de supressão
emitida pelo órgão ambiental competente, uma área equivalente ou maior deve ser
recuperada, preferencialmente dentro da mesma bacia hidrográfica. O cálculo dessa
reposição determina que se preserve de duas a seis vezes a área suprimida, dependendo de
sua localização – dentro ou fora de Áreas de Preservação Permanente – e de seu estágio
sucessional. Os ganhos à biodiversidade poderiam ser amplificados com a utilização dos
mapas produzidos pela equipe de pesquisadores do Projeto Biota FAPESP denominados
―Áreas prioritárias para incremento da conectividade‖ e ―Áreas prioritárias para criação de
Unidades de Conservação‖ (JOLY, 2011), para identificação das áreas onde a
recomposição florestal geraria maiores ganhos à biodiversidade.
160,96
2,445
0
COMPLEXO IPG
COMPLEXO PSS
COMPLEXO RNT
77
Diário do Grande ABC, sábado, 20 de janeiro de 2001. http://www.dgabc.com.br/News/90000183697/imigrantes-
tecnologia-a-servico-do-ambiente.aspx?ref=history (acesso em 07/01/2013).
78
Lei 12.866/08; Lei Federal 11.428/2006; Decreto Federal 6.660/2008; Decreto 5.300/04, Lei Estadual nº 10.780/2001;
Resolução SMA 85/2008.
153
A área total suprimida pelos Megaprojetos é de 163,4 ha, sendo que destes, 44,2 ha são de
vegetação primária ou em estágio avançado de regeneração (tabela 4.3). O restante está
distribuído em diversas tipologias de vegetação e estágios sucessionais de Mata Atlântica.
Tabela 4. 3: Supressão de vegetação por estágio sucessional dos empreendimentos terrestres analisados.
As colunas com preenchimento escuro indicam as áreas de vegetação nativa. Fonte: EIAs (EIA, 2006a;
2006b; 2009b; 2010; 2011c; 2012).
79
Simone Aparecida Vieira e Allan Ywama de Mello (2013) (comunicação pessoal).
154
a indução de novas atividades de produção, aumentam a pressão sobre a floresta e tendem a
ser relevantes na degradação da flora.
As peculiaridades topográficas da região também trazem preocupação quanto aos efeitos
das emissões atmosféricas industriais sobre as florestas das encostas. Segundo Stewart e
colaboradores (2002), as emissões podem afetar o ciclo do nitrogênio regionalmente
alterando o desenvolvimento da mata. Este tipo de impacto indireto é mal contabilizado nos
EIA/RIMAs, que minimizam o papel de cada empreendimento no processo de
transformação regional. Em uma análise integrada esses impactos podem ser percebidos
mais claramente.
Os valores recebidos pelas Unidades de Conservação através da exigência do pagamento da
Compensação Ambiental também são importantes para a manutenção da cobertura vegetal
regional. A Compensação Ambiental foi estabelecida pela Lei 9.985/2000 e regulamentada
pela Resolução CONAMA 371/06 e determina que o empreendedor destine até 0,5% do
montante investido no empreendimento para a gestão das Unidades de Conservação da
natureza. A tabela 4.4 apresenta os valores máximos de Compensação Ambiental à serem
destinados às Unidades de Conservação, por projeto ou grupo de projetos.
155
isso depende de um bom planejamento territorial e de uma gestão integrada entre os órgãos
ambientais das três esferas de governo.
Levando em conta a leitura integrada empregada, concluímos que a magnitude dos
impactos relativos à supressão de ―Vegetação Nativa‖ é a seguinte:
4.4.4. EMPREGOS
156
paulista devido ao desenvolvimento da produção de óleo e gás nos poços do Pré-sal e nas
grandes obras de infraestrutura portuária e rodoviária. Todavia, esse mesmo estudo indica a
geração de apenas 8.000 empregos diretos no LNP, menos da metade dos postos levantados
nos EIAs, o que demonstra um alto grau de imprecisão em suas estimativas.
Tabela 4. 5: Número de postos de trabalho estimados para as fases de instalação e operação dos projetos
analisados. Fonte: EIAs (EIA, 2006a; 2006b; 2006c; 2008; 2009a; 2009b; 2011a; 2011b; 2011c; 2012; EIA,
2005; RAP, 2011), exceto os dados da UTGCA e GASTAU, que foram coletados durante as visitas à
Unidade.
CONCENTRAÇÃO
INSTALAÇÃO OPERAÇÃO INDIRETOS
PROJETO CONTRATAÇÕES
Plataforma e duto marinho de mexilhão 1.800 NI 2008/2010
OFFSHORE
3.908 NI
Nova Tamoios:contornos sul 2.000 2014/2016
Nova Tamoios: contornos norte 1.200 2015/2017
EMPREGOS DIRETOS (TOTAL) 13.948 2.610
EMPREGOS INDIRETOS (PREVISÃO) 11.100
157
escalonada entre os projetos gera um grande volume de desempregados, normalmente de
maneira concentrada no tempo e no espaço.
4500
4150
4000
3500 3.360
3000
2500
2500
2000 1800
1500
1020
1000 840 800
600 600
500
500 388
O conjunto de gráficos da Figura 4.9 mostra o balanço entre contratações e dispensas nos
últimos 10 anos (entre 2002 e 2011) nos quatro municípios do LNP. Os números são do
CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados80 e apresentam a evolução do
emprego formal de janeiro a dezembro de cada ano por município.
80
Instituído pela LEI 4.923/65. Disponível em http://www.mte.gov.br/caged_mensal/atual/default.asp (acessado em
30/01/2013)
158
Figura 4. 9: Série de gráficos apresentando a evolução do saldo de empregos gerados por ano, entre os
anos de 2002 a 2012, nos quatro municípios do litoral norte paulista. A linha escura mostra a tendência
(de queda) no saldo anual de empregos no decorrer dos anos. Gráfico elaborado pelo autor com dados
do Cadastro Geral CAGED, disponíveis em http://www.mte.gov.br/caged_mensal/atual/default.asp
(acesso em 30/01/2013).
159
Tendo em vista que nem o Porto nem o novo complexo rodoviário iniciaram suas obras até
2011, e que houve uma concentração de projetos em instalação (fase de obras) entre os anos
de 2008 e 2010 em Caraguatatuba, a análise do gráfico deste município demonstra
claramente o papel das obras relacionadas à UTGCA e ao GASTAU na dinâmica local de
emprego e desemprego. O ano de 2008 marcou o início do crescimento na geração de
empregos na série histórica do município, com saldo positivo de 1.862 postos de trabalho.
Essa tendência positiva foi mantida nos anos de 2009, com 2.367 postos, e 2010, com 322
postos. Com o encerramento das obras da UTGCA e sem a absorção desta mão de obra em
outros locais do município, este saldo passou a ser negativo em 1.800 postos em 2011, ou
seja, a maior parte dos empregos gerados de forma escalonada em três anos foi
disponibilizada ao mercado em um curto período de tempo. A análise mais detalhada dos
dados do ano de 2011 confirma que o mercado local não absorveu essa mão de obra (figura
4.10). Do total de postos de trabalho perdidos no período entre janeiro e dezembro deste
ano, 2.193 são relativos à Construção Civil, os demais são relativos às dispensas dos setores
Extrativo Mineral, Indústria de Transformação, Comércio, Administração Pública e
Agropecuária. Vale ressaltar que o total de desempregos gerados em 2011 representou
aproximadamente 20% do total de carteiras assinadas do município.
Não há razão para crer que a situação verificada na relação de geração e perda de empregos
na fase de instalação das atividades da indústria do petróleo e gás em Caraguatatuba, entre
os anos de 2008 a 2011, seja diferente do que ocorrerá durante as obras do novo complexo
rodoviário ou de ampliação portuária. Na verdade, em decorrência da geração de
expectativas sobre os empreendimentos e da consequente aceleração dos fluxos migratórios
para a região, este quadro tende a se agravar nos próximos anos.
A figura 4.9 ainda indica a tendência comum entre os quatro municípios de queda no saldo
de empregos formais no período analisado (linhas de tendência). Entre 2002 e 2012 todas
as cidades apresentam tendência de balanços negativos na geração de postos formais de
trabalho. Quando esses dados são consolidados para uma análise regional verifica-se que o
saldo positivo de Caraguatatuba entre os anos 2008 a 2010, relativo à fase de obras da
UTGCA, GASMEX, GASTAU e outros empreendimentos induzidos pela presença dos
Megaprojetos, dilui-se, tornando-se menos representativo regionalmente. Todavia, a
160
geração de desempregos reforça a perspectiva regional agravando agudamente o atual
quadro negativo (Figura 4.11).
500
-500
-1000
-1500
-2000
-2500
EXTR MINERAL IND TRANSF SERV IND UP CONSTR CIVIL COMERCIO SERVICOS ADM PUBLICA AGROP
SALDO EMPREGOS -18 -84 33 -2193 432 742 -715 3
Figura 4. 10: Gráfico apresentando o saldo de empregos em Caraguatatuba no ano de 2011 por setor.
Fonte: Cadastro Geral CAGED Disponível em http://www.mte.gov.br/caged_mensal/atual/default.asp
(acesso em 30/01/2013). Gráfico elaborado pelo autor.
A figura 4.11 apresenta além da consolidação dos dados dos quatro municípios, um
comparativo entre a situação detectada no LNP e os panoramas estadual e nacional para o
mesmo período. Enquanto há tendência de crescimento nos postos de trabalho no Estado e
no Brasil, a região apresenta inclinação ao agravamento dos níveis de desemprego.
161
Figura 4. 11: Série de gráficos apresentando a evolução do saldo de empregos anual entre os anos de
2002 a 2012 na região de estudo, no estado de São Paulo e no País. A linha escura mostra a tendência no
saldo anual de empregos no decorrer dos anos. Fonte: Cadastro Geral CAGED. Gráfico elaborado pelo
autor com dados do Cadastro Geral CAGED, disponíveis em
http://www.mte.gov.br/caged_mensal/atual/default.asp (acesso em 30/01/2013).
162
A análise dos EIAs permitiu contabilizar um total de empregos – diretos e indiretos – que
ultrapassa os 27.500 postos. Todavia, a análise integrada dos Megaprojetos, bem como a
relação da instalação co-localizada destes com as dinâmicas regionais de contratações e
dispensas de mão de obra, demonstra que um dos apelos mais emblemáticos a favor do
desenvolvimento de grandes projetos, os impactos positivos da grande geração de
empregos, pode não ser real. Primeiramente porque a geração de expectativas e a
consequente motivação migratória fomentada pelo discurso da grande abertura de postos de
trabalho raramente gera um saldo positivo entre o crescimento demográfico e os empregos
gerados localmente. Em seguida porque, de fato, Megaprojetos são mundialmente
reconhecidos pelo seu potencial de contratação, mas, por outro lado, também são geradores
de grandes volumes de desempregados, concentrados no tempo e no espaço, carentes de
saúde, educação, saneamento, transporte, enfim, políticas públicas que se antecipem a essa
dinâmica e reduzam os impactos dessa concentração. O fato é que sem um planejamento
local adequado, a geração temporária de empregos pode ter impactos negativos aos cofres
públicos e à economia regional, que perdurarão e tenderão a se agravar com o tempo.
Levando em conta a leitura integrada empregada nesta análise, concluímos que a magnitude
dos impactos sobre os ―Empregos‖, considerando também os efeitos negativos apontados, é
a seguinte:
Complexo IPG: Alta
Complexo PSS: Alta
Complexo RNT: Alta
Grande parte dos investimentos planejados para a instalação dos Megaprojetos da região é
referente às obras civis, que estão sujeitas ao Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza
– ISSQN, de responsabilidade municipal. Considerando apenas o desenvolvimento do
projeto de ampliação portuária, tomando como base o investimento total de 2,5 bilhões de
reais, o recolhimento do ISSQN poderá representar aos cofres públicos de São Sebastião
163
aproximadamente 11 milhões de reais anuais. Este valor representa um incremento de 39%
no recolhimento anual desse tributo no município, com um impacto nas receitas municipais
da ordem de 3%. A arrecadação de outros tributos de recolhimento local, mesmo que
parcialmente, como o ICMS, também deve ser impactada significativamente. De acordo
com o EIA/RIMA do projeto de ampliação portuária (EIA, 2009b), estudos preliminares da
Companhia Paulista de Desenvolvimento sugerem que a somatória dos valores em tributos
e impostos federais, estaduais e municipais que seriam recolhidos pelos arrendatários,
poderia chegar aos R$ 2 bilhões na situação de plena operação do Porto ampliado.
Em relação ao novo complexo rodoviário, os estudos indicam que é esperado no médio
prazo, um impacto fiscal positivo, principalmente para Caraguatatuba e São Sebastião, mas
não esclarece como esse impacto se daria. Também é esperado crescimento da atividade
industrial nesses municípios com a melhoria na capacidade logística, o que tende a
contribuir para a arrecadação local. Apesar dos altos investimentos diretos no novo
complexo rodoviário a importância atribuída a este impacto é média e a magnitude baixa, o
que é certamente questionável em uma análise que valoriza a avaliação de efeitos
sinérgicos.
Em relação à IPG, os estudos de impacto ambiental informam que as atividades offshore
demandam a aquisição de equipamentos e insumos com alto valor agregado e que este
investimento acarretaria em um aumento na arrecadação tributária local e regional,
principalmente, no incremento da arrecadação de impostos vinculados à circulação de
mercadorias (ICMS), à aquisição de produtos industrializados (IPI) e à prestação de
serviços (ISS), resultando assim, num aumento de receitas municipais, estaduais e federais
de forma indireta (EIA, 2009b). Todavia, os estudos não apresentam estimativas de valores.
Com impacto direto destacam-se o aumento da receita tributária e o incremento da
economia local devido à arrecadação de royalties e participações especiais relacionadas à
produção de petróleo e gás. Atualmente, apenas as arrecadações dos royalties representam,
em média, mais de 10% do total das receitas municipais da região. Até 2010, ano em que a
UTGCA entrou em funcionamento, esse valor relacionava-se principalmente à presença do
TEBAR em São Sebastião. Com o início do tratamento do gás em Caraguatatuba, os
municípios da região passaram a arrecadar mais em royalties. Somente em 2011 esses
164
repasses ultrapassaram os R$159 milhões, um crescimento de 80% em relação ao ano
anterior (tabela 4.6).
Segundo a Professora Rosélia Piquet (2010), a indústria do petróleo deflagra dois tipos de
impactos nos territórios em que se localiza: os diretamente ligados à atividade industrial e
os que decorrem do recebimento das compensações financeiras. Conceitualmente a
arrecadação local de royalties serviria para recompensar os municípios pelo aumento na
demanda de infra-estrutura e no crescimento dos custos nos serviços básicos de saúde,
segurança, educação e outros problemas urbanos, provocados pelas atividades industriais
em seu território. Entretanto, apesar desse caráter de ressarcimento, a arrecadação de
royalties teria uma função precípua: disponibilizar aos governos locais os recursos
necessários para desenvolver atividades não dependentes do petróleo, ou seja, buscar uma
riqueza de longo prazo para substituir a riqueza de curto prazo, exaurível e incerta, como é
o caso dos recursos minerais em geral.
Tabela 4. 6: Recebimentos de royalties pelos municípios do LNP (em R$) entre os anos de 2005 e 2012.
Elaborado pelo autor com dados coletados no site da ANP81 (acesso em 30/01/20013).
81
http://www.anp.gov.br/?pg=62834&m=royalties&t1=&t2=royalties&t3=&t4=&ar=0&ps=1&cachebust=135583104598
4)
82
Crise Econômica Internacional de 2008 – 2009.
165
de 2011. Esse aumento, como anteriormente mencionado, indica o início das operações de
tratamento de gás na UTGCA. Com isso, Caraguatatuba se aproxima, em arrecadação de
royalties, de São Sebastião, historicamente a cidade que mais recebe esse benefício no
Estado, respondendo em 2010 por mais de 27% do total de royalties recebidos pelos
municípios paulistas. A figura 4.12 apresenta a porcentagem de arrecadação de royalties de
cada município da região em dois momentos, 2005 e 2012. Apesar de São Sebastião
apresentar um crescimento na arrecadação deste repasse nos últimos anos, Caraguatatuba
vem respondendo por uma parcela cada vez maior de recursos, ocupando, atualmente a
segunda colocação entre os municípios do Estado em relação ao recebimento de royalties.
Neste município, em três anos, as receitas provenientes desta fonte quintuplicaram,
passando de pouco mais de R$ 14 milhões em 2008 para mais de R$ 75 milhões em 2012.
O aumento na arrecadação municipal é, em primeira análise, positivo, todavia o
crescimento da representatividade dos royalties em relação às receitas municipais é
preocupante, passando de menos de 6% em 2008 para quase 18% do total arrecadado na
região em 2011, indicando uma tendência de aumento de dependência deste tributo em
curto prazo.
Figura 4. 12: Comparação da participação na arrecadação dos royalties entre os Municípios do LNP
nos anos de 2005 e 2012. Elaborado pelo autor com dados coletados no site da ANP83 (acesso em
30/01/20013).
83
http://www.anp.gov.br/?pg=62834&m=royalties&t1=&t2=royalties&t3=&t4=&ar=0&ps=1&cachebust=135583104598
4)
166
Em 2011, Ubatuba passou a arrecadar royalties relativos à operação da UTGCA. As
autoridades do município declaram-se injustiçadas em relação às demais cidades da região
no tocante ao recebimento de royalties, além de reféns das unidades de conservação (que
ocupam mais de 80% de seu território), que impediriam o ―desenvolvimento‖ econômico
municipal, sem proporcionar um retorno financeiro adequado.
A figura 4.13 apresenta a evolução da arrecadação de royalties do petróleo (em R$) pelos
quatro municípios do LNP, entre os anos de 2005 a 2012.
90.000.000
80.000.000
70.000.000
60.000.000
50.000.000
40.000.000
30.000.000
20.000.000
10.000.000
0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Figura 4. 13: Evolução da arrecadação de royalties do petróleo (em R$) pelos quatro municípios do
LNP, entre os anos de 2005 a 2012. Elaborado pelo autor com dados coletados no site da ANP84– (acesso
em 30/01/20013).
Em uma região com extensas áreas protegidas, uma maneira interessante de analisar a
transformação induzida pelos megaprojetos da indústria do petróleo e gás é promover a
comparação entre a evolução dos recebimentos dos royalties e do ICMS - Ecológico. A
84
http://www.anp.gov.br/?pg=62834&m=royalties&t1=&t2=royalties&t3=&t4=&ar=0&ps=1&cachebust=135583104598
4)
167
arrecadação deste tributo relaciona-se coma presença e com o tamanho das Unidades de
Conservação Estadual inseridas no território dos municípios. Como descrito no capítulo 3,
mais de 80 % do território do Litoral Norte está inserido em área de UCs e os municípios da
região figuram entre os maiores beneficiários deste tributo no Estado. No total, o Estado de
São Paulo distribuiu em 2011 mais de 101 milhões de Reais aos municípios.
Aproximadamente 10% desse valor foram destinados aos quatro municípios do LNP, sendo
Ubatuba o maior beneficiário da região, recebendo R$ 3.443.712,56 em 2011.
A figura 4.14 apresenta um gráfico com a evolução dos recebimentos de ICMS - Ecológico
pelo conjunto dos quatro municípios do LNP entre 2006 e 2011.
10.162.680
9.463.601
10.000.000
7.873.310 7.943.598
8.000.000
6.820.446
6.402.511
6.000.000
ICMS-E
4.000.000
2.000.000
Figura 4. 14: Evolução dos recebimentos de ICMS - Ecológico pelos quatro municípios do LNP entre
2006 e 2011. Elaborado pelo autor com dados coletados no Site www.icmsecologico.org.br85.
85
http://www.icmsecologico.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=54&Itemid=62 (acesso em
04/09/2012).
86
A planilha completa, contendo os dados de 2006 a 2012, encontra-se nos anexos.
168
destaca a situação do município de Ilhabela, que possui um Parque Estadual que ocupa 82%
de seus domínios e em 2011 teve o ICMS - Ecológico respondendo por 1,55% de suas
receitas, enquanto os royalties foram responsáveis por mais de R$ 33 milhões, o
equivalente a 24% do total de suas receitas.
Tabela 4. 7: Valores arrecadados pelos municípios em royalties e ICMS - Ecológico, no ano de 2011.
Elaborado pelo autor com dados coletados nos sites: www.icmsecologico.org.br e www.anp.gov.br .
169
250.000.000,00
200.000.000,00
150.000.000,00
100.000.000,00
50.000.000,00
0,00
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
ICMS-E ROYALTIES
Figura 4. 15: Comparação da evolução dos recebimentos de Royalties e ICMS - Ecológico no LNP entre
os anos de 2005 e 2012. Elaborado pelo autor com dados coletados nos sites: www.icmsecologico.org.br
e www.anp.gov.br .
170
Os impactos econômicos dos projetos da IPG podem ser claramente percebidos no aumento
das receitas públicas em razão do crescimento na arrecadação de royalties do petróleo.
Todavia, dado seu caráter artificial, esta fonte tende a agravar o desequilíbrio econômico
regional, aprofundando as diferenças entre os três municípios recebedores de valores
relevantes de royalties e Ubatuba. Além disso, o crescimento da participação dos royalties
na matriz de receitas públicas aumenta a dependência da administração municipal em
relação a uma fonte de recursos finita e altamente vinculada à estabilidade econômica
global.
A análise integrada dos impactos dos Megaprojetos sobre as arrecadações permite afirmar
que o somatório de efeitos tributários derivados da co-localização dos três Complexos de
Infraestrutura sobre a região é de grande magnitude e importância, entretanto, as análises
indicam que esse não é um impacto que pode ser simplesmente qualificado como positivo,
como sugerem os EIA/RIMAs. A nova configuração econômica atual e futura carece de
estudos aprofundados que permitam o desenvolvimento de diferentes cenários, que balizem
os tomadores de decisão. Bons planejamentos locais e regionais podem fortalecer aptidões
naturais (como a conservação, a pesca e o turismo) e novas atividades econômicas não
dependentes de um bem exaurível podem ser fomentadas e desenvolvidas. É possível que a
atual vocação turística e de conservação ambiental absorva os impactos e se transforme. Do
contrário, a nova configuração econômica regional irá estabelecer uma nova vocação com
efeitos imprevisíveis no ambiente e na sociedade.
Levando em conta a leitura integrada desta análise, concluímos que a magnitude dos
impactos sobre as ―Receitas Públicas Municipais‖, considerando a fase atual dos projetos, é
a seguinte:
171
4.4.6. QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS
De acordo com os Relatórios de Situação dos Recursos Hídricos (CBH-LN, 2009; 2010;
2011), elaborados anualmente pelo Comitê de Bacias Hidrográficas regional, o Litoral
Norte apresenta uma situação confortável em relação à disponibilidade hídrica para
abastecimento público. Entretanto, algumas bacias já apresentam situação de criticidade
hídrica devido à característica de disposição destas e dos núcleos de ocupação urbana da
região. Noventa por cento dos cursos d’água monitorados possuem classificação de
qualidade de águas entre ótimo e bom. A poluição difusa originada do lançamento
clandestino de esgotos domésticos ainda é a principal fonte de contaminação. Em 2010, a
rede coletora estava presente em 96% dos domicílios, porém tratava apenas 34% dos
efluentes produzidos na região.
De acordo com os EIAs analisados, a potencial alteração da qualidade das águas
superficiais está relacionada, principalmente, à fase de instalação dos projetos. Durante as
obras de implantação do porto ampliado e do complexo rodoviário está prevista a geração
de sedimentos, associados ao tráfego de equipamentos e às movimentações de terra. Este
impacto também está associado ao aporte de óleos, graxas e efluentes sanitários para os
corpos d’água e para o solo em eventos acidentais. Na fase de operação, nos estudos
relacionados ao novo complexo rodoviário, estão previstas alterações no regime
pluviométrico devido à impermeabilização do solo e mudanças nos modelos de drenagem
superficial. É mencionado ainda o aumento do risco de acidentes com contaminação das
águas superficiais por produtos químicos perigosos transportados na rodovia.
De modo indireto, a melhoria de acessibilidade pode resultar em maiores graus de
urbanização das bacias, porém, segundo os estudos (EIA, 2006a; 2006b; 2009; 2010), trata-
se de um impacto difuso de difícil previsão e análise.
Em relação à IPG, não foram identificados nos estudos analisados nenhuma caracterização
de impactos sobre a qualidade das águas superficiais no meio terrestre. Apesar da
correlação óbvia entre os projetos da IPG e as possíveis alterações na qualidade dos
recursos hídricos regionais, essas são raramente encontradas nos estudos, dada a complexa
e indireta relação de causa e efeito entre estes. Em caráter também indireto, os estudos
identificam o aumento da pressão sobre a utilização dos recursos hídricos localmente,
172
devido ao provável crescimento demográfico às possíveis alterações de uso do solo. No
geral os impactos sobre os recursos hídricos terrestres são qualificados como de média
importância e baixa magnitude.
Em relação às águas costeiras, além dos impactos relativos à ressuspensão de sedimentos de
fundo da baía do Araçá na fase de obras do Porto e do novo píer do TEBAR, também são
relevantes os possíveis impactos de acidentes com derramamento ou vazamento de
produtos químicos no mar durante as operações portuárias de carga e descarga dos
terminais.
Já no meio marinho, os estudos identificam possíveis alterações na qualidade das águas e
dos sedimentos, devido aos descartes de água de produção e eventuais acidentes com
carreamento de óleo ao mar. O lançamento da água de produção é considerado nos estudos
como de pequena importância e baixa magnitude. Já os impactos resultantes de eventuais
acidentes são considerados de média magnitude, porém de grande importância.
Os relatórios de situação elaborados pelo CBH-LN trazem o status de qualidade das águas
entre os anos de 2007 a 2010. Neste período a UTGCA e os Gasodutos a ela associados
estavam ainda em fase de instalação, gerando poucos efeitos diretos sobre os recursos
hídricos. Os demais Megaprojetos estavam em fase de planejamento, tendo como impacto
relevante a geração de expectativas (indutora de migrações, alterações no mercado
imobiliário, entre outros).
Uma das questões interessantes na análise desse atributo está na falsa resposta mitigadora
que o licenciamento ambiental e a estrutura de comando e controle a este associada pode
dar. Na fase de instalação dos empreendimentos os impactos são facilmente previstos e
podem ser trabalhados diretamente com boas práticas de gestão das obras e com programas
bastante eficientes como de controle de erosão, de drenagem, de recomposição de taludes,
etc. Estas são estratégias extremamente importantes e reduzem significamente efeitos
negativos dos empreendimentos sobre o ambiente, porém, em uma análise integrada de
efeitos cumulativos fica claro que o principal impacto da instalação co-localizada de
projetos em uma região está relacionado ao crescimento demográfico catalisado por estes
empreendimentos e pela indução de novos projetos industriais na região. Nem a indução de
novos projetos, nem o crescimento da população, seriam, em uma análise fria, impactos
necessariamente negativos. Isto depende da qualidade do planejamento urbano e de
173
políticas públicas de longo prazo, visto que os maiores efeitos dos empreendimentos sobre
os recursos hídricos só serão percebidos no futuro e dificilmente poderão ser associados a
um projeto específico.
Sub indicadores de poluição difusa, balneabilidade de praias por exemplo, podem ser úteis
no acompanhamento dos efeitos cumulativos do crescimento demográfico e da atividade
industrial. A figura 4.16 traz um gráfico sobre a evolução da qualidade das praias entre
2007 e 2010, demonstrando o declínio na proporção de praias costeiras monitoradas que
permaneceram próprias para banho o ano todo.
Figura 4. 16: Evolução da balneabilidade das praias do LNP entre os anos de 2007 e 2010. Fonte: CBH-
LN (2011).
174
4.4.7. USO DO SOLO87
O foco desta seção está concentrado nas relações existentes entre os instrumentos de gestão
e planejamento urbano local e as futuras transformações decorrentes dos efeitos integrados
dos novos empreendimentos sobre as dinâmicas econômicas, sociais e ambientais dos
municípios. A lógica é simples: grandes empreendimentos atraem muitos trabalhadores,
grande parte destes trabalhadores migra com a família para a região gerando um aumento
populacional, o crescimento demográfico – quando não há um planejamento urbano
adequado – demanda uma maior área ocupada, o espalhamento urbano pressiona a
expansão dos serviços públicos gerando a necessidade de mais infraestrutura local.
Educação, saúde, saneamento, segurança, transporte público e iluminação são apenas
algumas áreas afetadas, as quais demandam mais recursos sempre que os limites urbanos
são ampliados.
Piquet (2007) destaca que a indústria do petróleo compartilha impactos com outros grandes
projetos que desdobram em...
“migrações, com conseqüente estrutura demográfica atípica, composta por elevado
coeficiente de homens jovens; favelização, prostituição e criminalidade; espaços
urbanos não-equipados; despreparo do poder público local, que faz concessões que
enfraquecem os cofres municipais e que assiste à ocupação não planejada das
beiras de estradas, rios, canais e encostas de morros e à conseqüente sobrecarga
no uso dos equipamentos coletivos, sem cuidar de sua ampliação e modernização”
(PIQUET, 2007).
Piquet (2010) ainda define as áreas produtoras de petróleo e gás como ―campos de fluxos,
onde se articulam sofisticadas redes de unidades industriais, portos, dutos, aeroportos,
bens, homens e informações e cuja localização se dá por determinação da natureza‖ (onde
estão as jazidas). A autora argumenta que a produção nesses campos não busca a promoção
do desenvolvimento regional, mas sim o cumprimento de metas globais e/ou nacionais de
desenvolvimento, relegando a segundo plano outras formas de desenvolvimento como bem-
estar da população, sustentabilidade ambiental, participação local e a defesa da identidade
cultural (PIQUET, 2007).
87
Agradeço ao pesquisador Allan I. Y. de Mello pela colaboração na evolução de toda a tese, em especial na construção
desta seção.
175
Apesar de não ser este nosso foco em relação à gestão territorial regional, é importante
destacar que em janeiro de 2012 foi institucionalizada a Região Metropolitana do Vale do
Paraíba e Litoral Norte, através da Lei 1.166/2012, estabelecendo uma esfera de gestão
regionalizada envolvendo 39 municípios. Segundo Mello e colaboradores (2012), essa
região vem enfrentando significativos e crescentes desafios relacionados às questões
demográficas e ambientais, boa parte derivada dos acelerados processos de crescimento e
desenvolvimento econômicos. Com a criação da Região Metropolitana, abre-se uma nova
possibilidade de planejamento e gestão urbana e ambiental em escala regional.
Nesta seção nos concentraremos nas áreas de influência diretas e indiretas, incidentes sobre
o LNP, de acordo com os EIAs dos projetos em estudo.
O mapa apresentado na Figura 4.17 demonstra uma concentração das Áreas de Influência
Indireta (AII) dos projetos – tanto os desenvolvidos em terra quanto os instalados em alto
mar – sobre o município de Caraguatatuba. Isto se dá, principalmente, devido a dois
aspectos. O primeiro deve-se à Caraguatatuba possuir o principal acesso rodoviário da
região, a Rodovia dos Tamoios. A partir desse acesso que será construído o novo Sistema
Viário Logístico Norte, com novos contornos de acesso para São Sebastião e para Ubatuba.
O segundo está relacionado ao município possuir em seus limites a maior – e praticamente
a única – planície costeira teoricamente apta à expansão industrial e ao crescimento da
malha urbana. Não por acaso, esta planície foi caracterizada nos estudos geológicos,
ambientais e socioeconômicos contratados pela Petrobras, como a melhor alternativa
locacional para a instalação da UTGCA. No total, dez dos treze projetos analisados
influenciam de alguma maneira indireta as dinâmicas de uso do solo nesse município.
No extremo oposto está Ubatuba, mencionado em apenas cinco dos treze estudos de
impacto ambiental. Todavia, é importante ressaltar que, por fazer limite com
Caraguatatuba, o município pode perceber efeitos relacionados ao uso e ocupação do solo,
como as demandas por dormitórios, migrações pendulares, escalada nos preços de imóveis
e o início de um processo de conurbação na porção sul do município. Essas pressões
ensejariam alterações nas ferramentas espaciais de gestão como o Plano Diretor e o ZEE
estadual.
176
Figura 4. 17: Mapa de Sobreposição das Áreas de Influência Indireta dos 13 projetos analisados. Elaboração própria a partir dos dados obtidos nos
EIA/RIMAs (EIA, 2006a; 2006b; 2006c; 2008; 2009a; 2009b; 2011a; 2011b; 2011c; 2012; PCA, 2005; RAP, 2011).
177
A tabela 4.8 indica que Ilhabela figura nos estudos de impacto com nove menções de
influência indireta dos projetos. O município, por tratar-se de um arquipélago que avança
no mar territorial em direção aos polos de produção, é mencionado como recebedor de
influência indireta em todos os projetos de produção de petróleo e gás offshore. Isto se dá,
prioritariamente, por Ilhabela figurar como um dos recebedores de royalties do petróleo em
todos esses projetos. Em terra são cinco projetos com influência nos meios físico, biótico
e/ou socioeconômico, a maior parte (quatro projetos) relacionada à navegação no canal de
São Sebastião com origem ou destino ao Porto e ao terminal petrolífero da Petrobras. Essas
atividades possuem influência direta sobre as dinâmicas territoriais municipais tanto em
Ilhabela quanto em São Sebastião.
178
no canal. Esses projetos em conjunto com o contorno sul do novo sistema rodoviário
possuem grande importância para as dinâmicas de uso e ocupação do solo e serão
abordados com maior profundidade na próxima seção.
Segundo os planos diretores municipais, grande parte das áreas planas entre Caraguatatuba
e São Sebastião está destinada às futuras atividades industriais ligadas à indústria do
petróleo e gás e portuária, indicando uma perspectiva de fortalecimento do setor industrial
no litoral norte (CARAGUATATUBA, 2011; SÃO SEBASTIÃO, 2011). Entretanto,
devido às características topográficas regionais, são raras as áreas com atributos físicos
apropriados – e tamanho suficiente – para suportar o acelerado crescimento demográfico
projetado para o litoral norte nos próximos anos (SMA, 2010).
Para os projetos da Indústria de Petróleo e Gás, apenas três EIAs identificam atividades de
alterações nos padrões de uso e ocupação do solo. De maneira direta, a alteração do uso do
solo se dá devido principalmente à implantação dos dutos no município de Caraguatatuba.
Pode-se dizer que os impactos da IPG sobre os padrões regionais de uso do solo estão
diretamente relacionados à instalação da UTGCA na planície costeira, no local denominado
Fazenda Serramar no mesmo município. Após a instalação dessa unidade, o Plano Diretor
Estratégico de Caraguatatuba indicou para o uso futuro dessa área, atividades
predominantemente industriais, como será apresentado ao longo desta seção.
Apesar deste ser o principal impacto da IPG na transformação física regional, este é
caracterizado pelo EIA da UTGCA como ―restrito à área de pastagem da Fazenda
Serramar‖, com importância e magnitude médias, sendo esse um claro exemplo das falhas e
dos limites do processo de licenciamento ambiental.
Segundo os estudos ambientais do novo Sistema Viário Logístico Norte (Nova Tamoios),
estão previstas cerca de 1.290 desapropriações nos 394,48 ha da faixa de domínio das novas
rodovias. Ainda segundo estes, a melhoria na acessibilidade entre Caraguatatuba e São
Sebastião poderá favorecer o adensamento urbano em setores específicos de ambos os
municípios. É interessante notar que esse impacto foi considerado positivo, de média
importância e magnitude nos estudos analisados.
179
Os estudos de impacto ambiental dos projetos portuários apontam como fatores geradores
de mudanças no uso do solo o recrutamento e contratação da mão de obra; a atração de
população; a dinamização do mercado imobiliário; e a animação da atividade econômica.
A sobreposição das imagens das AIDs dos projetos, apresentada na Figura 4.18, demonstra
uma concentração das interferências diretas dos empreendimentos nos dois municípios
economicamente mais desenvolvidos da região, Caraguatatuba e São Sebastião.
Estima-se que a área com potencial para a expansão urbana possui aproximadamente 74,5
km2 (65,3 km2 em Caraguatatuba e 8,1 km2 em São Sebastião). Cerca de 23% dessa área
com potencial para urbanização encontra-se sobreposta à Área de Influência Direta dos
megaprojetos.
180
Figura 4. 18: Mapa de Sobreposição das Áreas de Influência Direta – AIDs dos projetos integrantes dos Complexos IPG, PSS e RNT. Elaborado
pelo autor e Mello (A.Y.I.) com dados obtidos nos EIA/RIMAs (EIA, 2006a; 2006b; 2006c; 2008; 2009a; 2009b; 2011a; 2011b; 2011c; 2012; PCA,
2005; RAP, 2011)
181
Cabe salientar que os limites das AIDs não indicam indisposição à ocupação humana,
todavia algumas tipologias de projetos, como a unidade de tratamento de gás, recomendam
recuos mínimos para a salvaguarda da população. O mesmo princípio pode ser aplicado às
rodovias ou dutos de hidrocarbonetos em relação ao transporte de produtos perigosos.
Entretanto, se considerarmos o mapa das Áreas Prioritárias para Conservação (MMA,
2007), podemos observar que esses dois municípios são aqueles considerados com
prioridade extremamente alta para conservação, dado o histórico de impactos sobre a
vegetação e biodiversidade (Figura 4.19). Destaca-se que 83,5% do território de
Caraguatatuba e 91,4% do território de São Sebastião estão inseridos nessa condição.
182
Figura 4. 19: Mapa de Áreas Prioritárias para a Conservação sobrepostas ao mosaico de AIDs dos projetos em análise. Elaborado pelo autor e
Mello (A.Y.I.) com dados obtidos nos EIA/RIMAs (EIA, 2006a; 2006b; 2006c; 2008; 2009a; 2009b; 2011a; 2011b; 2011c; 2012; PCA, 2005; RAP,
2011).
183
Para uma análise detalhada desta sobreposição de instrumentos foram selecionados dois
polígonos, um em cada município mencionado, destacados na Figura 4.18. Em
Caraguatatuba nossa análise se concentrará sobre a região centro-sul (Recorte A), onde
estão localizadas as áreas com maior aptidão à expansão urbana e à ocupação industrial em
todo o litoral norte. Em São Sebastião a área selecionada engloba a área do Porto e os
bairros da Topolândia, Itatinga e parte do centro histórico, além da área do Canal entre o
município e Ilhabela (Recorte B).
88
Z3T: I - áreas contínuas com atividades agropecuárias e assentamentos rurais, cujos ecossistemas primitivos foram
alterados em até 50%; II - áreas com declividade média inferior a 30%, cobertas com vegetação secundária em estágio
inicial ou médio de regeneração, observadas as restrições previstas pelo Dec. Fed. 750/93; III - solos com aptidão ao uso
agropecuário. (Decreto Estadual 49.215/2004)
184
Figura 4. 20: Mapas 4.20a e 4.20b - A figura (a) apresenta as áreas passíveis à expansão urbana e os
limites do Parque Estadual da Serra do Mar, sobrepostos ao mosaico de AIDs dos projetos. A figura (b)
apresenta o Mapa do ZEEC sobreposto à localização dos empreendimentos.
185
Ressalta-se que essa nova zona industrial faz divisa com o Parque Estadual da Serra do
Mar, determinando uma possível nova zona de tensão entre atividades industriais e de
conservação. Parte dessas áreas, na transição planície encosta, é caracterizada no ZEEC
como Z2T89, ou seja, áreas indicadas para manutenção e recuperação de, no mínimo 80%
da zona. No PD estão previstas estruturas de suporte urbano com, segundo a própria
redação do PD, ―equipamentos de infraestrutura impactantes‖. São estações de tratamento
de efluentes, cemitérios, aterros sanitários, penitenciárias, entre outros, locados entre a
malha urbana e os limites do Parque.
Outros dois fenômenos interessantes associados aos Megaprojetos e às mudanças
fomentadas por estes no planejamento territorial, são o processo de especulação imobiliária
e a escalada nos preços dos aluguéis. A especulação deriva da geração de expectativas,
acompanhante comum dos grandes empreendimentos em todo o mundo. Praticamente todas
as tipologias de Megaprojetos relacionam-se à geração (mesmo que temporária) de
empregos, ao aumento na circulação de dinheiro e às novas oportunidades de negócios
privados, que nem sempre são bons negócios para a população local, todavia, essas três
frentes (empregos, dinheiro e novos negócios) estão intimamente ligadas ao mercado
imobiliário.
Um bom exemplo de abertura de espaço para novos negócios é a instalação de um grande
Shopping Center na mesma região onde está localizada a UTGCA. Motivados pelos
Megaprojetos previstos e em desenvolvimento no Litoral Norte, um grupo de investidores,
que inclui os proprietários da Fazenda Serramar, aplicou mais de R$ 70 milhões na
construção do novo centro comercial com 21 mil m². É interessante destacar que na
operação do novo centro comercial são mantidos aproximadamente 1.000 empregos diretos,
ou sete vezes mais empregos do que a UTGCA estima para sua operação. Os shopping
centers também funcionam como símbolos de modernidade e sua instalação está associada
à entrada em cena de uma classe média mais abastada e com hábitos de consumo mais
sofisticados (PIQUET, 2007).
89
Z2T: I - elevada recorrência de áreas de preservação permanente, com restrições da Lei 4.771/65, e de riscos
geotécnicos; II - áreas continuas de vegetação em estágio avançado de regeneração e fauna associada, com ocorrência de
supressão ou de alteração de até 30% de cobertura vegetal, com restrições do Dec. Fed. 750/93; III - ocorrência de áreas
com declividade média entre 30% e 47%; IV - áreas sujeitas à inundação. (Decreto Estadual 49.215/2004)
186
Com exceção deste centro comercial, a maioria dos novos empreendimentos induzidos pela
chegada dos Megaprojetos está ligada ao setor industrial. Novos dutos de ligação da
UTGCA com o Vale do Paraíba90 estão em licenciamento ambiental. Os projetos de
ampliação (com possível pedageamento) da BR-101 e o uso de terrenos vizinhos à rodovia
em Caraguatatuba como áreas de retroporto já são assuntos do cotidiano local. O mesmo
ocorre com o novo aeroporto regional e uma termelétrica. Somados, os orçamentos destes
projetos ultrapassam facilmente a cifra de US$ 1 bilhão.
Além dos projetos induzidos, há também os projetos agregados. São aqueles projetos que
estão relacionados ao ―sucesso‖ – econômico – dos 13 empreendimentos avaliados nesta
pesquisa. Por exemplo, com o sucesso dos ―Projetos Integrados do Pré-sal – Fase I‖, a
Petrobras já planeja o ―Projetos Integrados do Pré-sal – Fase II‖, com investimentos da
ordem de R$ 24 bilhões e impactos equivalentes ou maiores que os previstos para a
primeira fase do empreendimento.
Os processos de licenciamento ambiental, evoluídos segregadamente por projeto,
determinam que algumas medidas devem ser tomadas pelos empreendedores visando a
atenuação dos impactos da migração relacionados à busca de emprego. A maior parte dos
migrantes tem baixa escolaridade e buscam vagas nas fases de instalação dos
empreendimentos, mais especificamente nas etapas que envolvem atividades de construção
civil. Ações como a instalação de canteiros de obra sem dormitórios, cursos
profissionalizantes de curta duração e a exigência de contratação de mão de obra
prioritariamente na cidade que hospeda o empreendimento são algumas das medidas que
podem reduzir os impactos migratórios, porém, em geral, o saldo migratório raramente é
interessante para o município.
Além desses fenômenos, destacam-se também as desapropriações/remoções de moradias
geradas pelo desenvolvimento do Contorno Sul da Nova Rodovia dos Tamoios. Em
Caraguatatuba são previstas 413 remoções, sendo 73,8% delas somente no bairro Tinga
(situado entre o trecho Serra e o trecho do Contorno Sul da Tamoios) – ver Tabela 4.9.
90
OCVAP I e II .......
187
Tabela 4. 9: Estimativa de edificações afetadas pelo projeto do Contorno Sul da Rodovia Nova Tamoios
somente em Caraguatatuba.
Na poligonal selecionada para uma análise mais detalhada em São Sebastião (Recorte B)
destacamos duas situações relacionadas à presença dos Megaprojetos. Na zona terrestre
cabe destaque ao histórico do processo de uso e ocupação do solo, grande parte
impulsionado pela instalação de grandes empreendimentos de infrsestrutura nas décadas de
1950 e 1960, associado às ocupações irregulares e áreas de riscos de escorregamentos. Na
zona marinha, chamamos atenção aos conflitos existentes entre os instrumentos de gestão
territorial estadual e municipal.
No primeiro caso, cerca de 17% da atual área com potencial para a expansão urbana em
São Sebastião está sobreposta à Área de Influência Direta dos megaprojetos (Figura 4.21).
Nesta área analisamos o TEBAR, terminal petrolífero da Petrobras em São Sebastião,
construído na década de 1960 na área rural e atualmente totalmente inserido na malha
urbana; o Porto de cargas gerais, que entrou em operação na segunda metade dos anos 1950
(CUNHA, 2003); e o asfaltamento da Rodovia Rio-Santos (BR-101) concluído nos anos
1980.
188
Figura 4. 21: Mapas 4.21a e 4.21b - A figura (a) apresenta os limites do Parque Estadual da Serra do
Mar, sobrepostos ao mosaico de AIDs dos projetos. A figura (b) apresenta o Mapa do ZEEC sobreposto
à localização dos empreendimentos
189
A instalação do TEBAR demandou, na década de 1960, um grande número de operários.
Nesse período surgiram os bairros de Topolândia/Olaria, Itatinga e Porto Grande,
compostos basicamente de migrantes que se instalaram em busca de trabalho (MODESTO,
2011; MODESTO & MARANDOLA Jr, 2012).
O Porto foi inaugurado em 20 de janeiro de 1955, após um longo processo construtivo entre
as décadas de 1940 e 1950, modificando definitivamente a linha de costa de centro da
cidade. No final da década de 1980 houve aterramento da Praia Grande, situada entre os
píeres da Petrobras e do Porto de cargas, eliminando a única praia voltada para o centro
histórico da cidade (CUNHA, 2003).
Na década de 1980 foi concluída a pavimentação da Rodovia Rio–Santos (BR-101)
facilitando, entre outros, o acesso ao município, impulsionando o crescimento demográfico
e o setor do turismo.
Atualmente em São Sebastião, o projeto do Contorno Sul prevê mais de 800
desapropriações de edificações em sua faixa de domínio. Os bairros mais afetados são
Olaria, Itatinga e Topolândia, paradoxalmente os bairros compostos por imigrantes ou
descendentes dos operários que trabalharam na construção do TEBAR na década de 1960.
Todavia, é interessante observar que nesses bairros, mais especificamente na Topolândia, a
nova rodovia funcionará como uma contenção à ocupação desordenada em direção ao
Parque Estadual e consequentemente às áreas de maior risco na encosta. A tabela 4.10
apresenta o número de edificações afetadas pelo projeto do Contorno Sul.
Tabela 4. 10: Estimativa de edificações afetadas pelo projeto do Contorno Sul da Rodovia Nova
Tamoios somente em São Sebastião.
190
São Sebastião (BAIRROS) EDIFICAÇÕES %
Jaraguá 173 21,4
Enseada 77 9,5
São Francisco / Morro do Abrigo 161 19,9
Olaria / Itatinga / Topolândia 398 49,2
TOTAL 809 100,0
Fonte: Adaptado de Parecer Técnico CETESB 0352/12/IE (CETESB, 2012).
191
público). Enquanto o primeiro prevê a construção de dois novos berços de atracação em um
novo píer que avança no canal em direção à sua abertura norte, buscando otimizar as
atividades do terminal da Petrobras, o outro prevê uma estrutura semelhante, o terminal de
granéis líquidos, que também avança no canal, porém em direção à sua abertura sul. Essa
estrutura do Porto, com as adaptações necessárias, atenderia a Petrobras e outros
empreendedores, reduzindo custos financeiros e impactos ambientais. Entretanto, cada
empreendimento possui um projeto próprio e independente, licenciado em órgãos
ambientais de esferas distintas. A ampliação do Porto é licenciada pelo órgão ambiental
federal, enquanto o novo píer do terminal petrolífero é licenciado pelo órgão ambiental do
estado de São Paulo, o que dificulta um possível planejamento regionalizado e otimizador
de estruturas no canal.
Em tese, não há impedimento legal para essa segregação de projetos e qualquer movimento
contrário a isso pode ser entendido como restrição ao empreendedorismo da iniciativa
privada, geradora de recursos, tributos e empregos, necessários ao crescimento econômico.
Entretanto, a ausência de restrição a esse tipo de ação, aliada à falta de integração entre os
órgãos do Estado no planejamento, bem como entre os dois empreendedores, mantendo a
lógica do mercado como balizadora das decisões, desdobra em pelo menos duas situações
relevantes: (1) aumento substancial nos riscos financeiros devido ao desperdício de
recursos, públicos e privados, na execução de projetos com objetivos semelhantes; (2)
impactos ambientais desnecessários e efeitos cumulativos imprevisíveis (visto que não há
exigência de apresentação de um estudo de impactos cumulativos na legislação brasileira),
podendo comprometer entre outros, a navegação, as dinâmicas de sedimentação costeira e a
qualidade das águas do canal.
A sobreposição do ZEEC-marinho com as áreas de influência direta dos megaprojetos
mostra que os dois empreendimentos mencionados estão localizados em Z2M, sendo essa
uma zona que permite apenas o uso para pesca artesanal e amadora, aquicultura de baixo
impacto, além de manejo sustentado de recursos marinhos, não havendo, portanto, previsão
para usos como a instalação de grandes píeres. Ao mesmo tempo em que há essa restrição,
o ZEEC estabelece que ―as disposições do presente decreto não se aplicam a
empreendimentos de utilidade pública‖ (SMA, 2004, artigo 49), configurada em ambos os
casos e título comum dos empreendimentos de infraestrutura.
192
De acordo com a leitura integrada apresentada nesta análise, concluímos que a magnitude
dos impactos sobre as dinâmicas de ―Uso do Solo‖, considerando a fase atual dos projetos,
é a seguinte:
Complexo IPG: Alta
Complexo PSS: Alta
Complexo RNT: Alta
Como descrito no capítulo 1, para consolidação dos efeitos dos Megaprojetos sobre a
região, parte dos impactos apresentados nos EIA/RIMAs foram agrupados em 7 atributos
para a construção de uma Matriz de Análise Integrada. Essa consolidação busca uma
avaliação qualitativa da magnitude dos impactos sobre o ambiente.
A magnitude refere-se à intensidade com que os atributos ambientais serão afetados pelos
impactos previstos. Nos EIAs a magnitude é avaliada em um cenário em que o projeto
encontra-se isolado dos demais empreendimentos aqui analisados e todos os programas
mitigadores foram desenvolvidos com eficiência, podendo ser enquadrada como alta, média
ou baixa.
Após construídos os quadros síntese no capítulo 3, a matriz desenvolvida não correlaciona
diretamente as ações ou atividades dos projetos com seus efeitos em cada atributo mas sim,
a magnitude em que cada atributo é afetado pelo grupo de projetos integrantes de cada
complexo de infraestrutura. Como se trata de um agrupamento de impactos – da maneira
que estes são mencionados nos EIAs – em relação aos indicadores selecionados, não é
possível uma compilação linear. Muitos dos impactos são analisados por fase do
empreendimento ou com denominações e terminologias distintas entre os projetos,
dificultando uma avaliação simplificada e linear.
Para a alimentação da matriz foi consultado o enquadramento da magnitude dos impactos
(alta, média ou baixa) relativos ao atributo avaliado em cada um dos 13 EIAs analisados.
Após isso, por meio de médias simples, foi calculado o enquadramento da magnitude do
impacto de cada complexo no atributo analisado.
193
Foram construídas duas matrizes utilizando esse procedimento. A primeira foi alimentada
diretamente com as análises apresentadas nos EIAs e foi denominada de Matriz de
Referência e a segunda com as análises dos atributos levando em consideração os conceitos
de cumulatividade (conforme apresentado nas seções 4.4.1 a 4.4.7) foi denominada de
Matriz de Comparação.
A tabela 4.11 apresenta a Matriz de Análise Integrada Referencial, que busca demonstrar a
intensidade dos efeitos da co-localização dos Megaprojetos sobre o ambiente, de acordo
com a interpretação apresentada nos EIAs.
Tabela 4. 11: Matriz de Análise Integrada Referencial. Elaborado pelo autor a partir das matrizes de
impacto disponíveis nos EIAs analisados.
LEGENDA
A análise dessa matriz nos permite identificar um dos pontos indicados por EGLER (1998)
e por OLIVEIRA (2006) como limitadores da eficiência dos Estudos de Impactos
Ambientais. A tendência à minimização da intensidade dos impactos quando estes são
avaliados de maneira segregada fica demonstrada à medida que a magnitude dos impactos
permanece baixa, mesmo com a co-localização de efeitos dos projetos em uma mesma
região. Como exemplo, podemos destacar o enquadramento como baixa magnitude para os
impactos do Complexo Rodoviário Nova Tamoios em relação às emissões de CO2. Como
descrito capítulo 3, atualmente a principal fonte de emissões de poluentes da região é o
trânsito de veículos. Com o aumento no volume diário médio de automóveis e caminhões
194
previsto para os próximos anos, essa fonte tende a ser reforçada e os volumes de emissão de
poluentes triplicados, aumentando ainda mais sua participação nas emissões de GEEs e
comprometendo a qualidade do ar na região, ou seja, uma análise integrada indica um
impacto de grande intensidade sobre as emissões de CO2, porém a análise segregada dos
EIAs não reflete essa realidade.
O mesmo pode ser percebido na relação entre o Complexo Indústria do Petróleo e Gás e as
alterações nas dinâmicas de uso do solo. A análise deste atributo na seção 4.4.7 indica que
os impactos da IPG possuem – tendo em vista a dimensão de seus investimentos, indução
de novas atividades industriais, e de seu poder de atração populacional – grande intensidade
nas transformações territoriais em escala regional. Monié (2003), em sua análise das
dinâmicas territoriais relacionadas à presença das atividades petrolíferas no norte-
fluminense, destaca o enriquecimento de parte da população e o afluxo de trabalhadores
pobres sem qualificação; o surgimento de áreas de residência e de consumo de alto padrão
social e a expansão de bolsões de pobreza; o aumento das desigualdades intra-regionais
entre campo e cidade e entre centros urbanos mais ou menos inseridos na nova economia
regional; e novas estratégias residenciais e demandas por equipamentos comerciais e
culturais modernos. Todavia, os EIAs dos projetos desenvolvidos em alto mar praticamente
não indicam impactos nas dinâmicas de uso e ocupação do solo. Além disso, os
empreendimentos em terra, como a UTGCA e o GASTAU, avaliam os impactos sobre esse
atributo apenas pontualmente, restringindo-os às áreas de influência direta dos projetos.
De qualquer forma, a matriz alimentada pelas informações dos EIAs indica que
praticamente todos os impactos consolidados – entre os 3 complexos estruturais – afetam
com magnitude ―média‖ os atributos sociais e ambientais do Litoral Norte. A exceção é
feita para o atributo ―Empregos‖, que apresenta magnitude ―alta‖. A análise efetuada sobre
esse atributo corrobora com esse enquadramento, todavia essa exceção também indica uma
tendência de sobrevaloração pelos EIAs dos impactos considerados ―positivos‖ nos
projetos.
Objetivando uma avaliação crítica, foi elaborada uma segunda matriz – nos mesmos moldes
da primeira – utilizando as análises dos atributos desenvolvidas na seção 4.4 deste capítulo
auxiliada pela caracterização dos Megaprojetos desenvolvida no capítulo 3.
195
O procedimento utilizado para a construção dessa matriz, denominada Matriz de Análise
Integrada Comparativa, foi o mesmo, entretanto os impactos foram contextualizados em
relação aos efeitos cumulativos derivados da co-localização de projetos. A tabela 4.12
apresenta os resultados da Matriz de Análise Integrada Comparativa.
Tabela 4. 12: Matriz de Análise Integrada Comparativa. Elaborada pelo autor a partir das análises de
atributos-chave apresentadas na seção 4.4.
LEGENDA
Tabela 4. 13: Matriz de Análise com indicadores das diferenças entre a análise segregada e integrada de
projetos. Os pontos vermelhos indicam magnificação dos impactos sobre o atributo analisado. Os
pontos verdes indicam redução e os pontos pretos indicam manutenção da magnitude do impacto nas
diferentes abordagens apresentadas nas duas matrizes (Referencial e Comparativa).
196
Os pontos vermelhos demonstram que houve amplificação dos impactos quando analisados
de maneira integrada. Os pontos pretos indicam que não houve alteração com a utilização
de diferentes abordagens e os pontos verdes indicam uma redução da magnitude dos
impactos sobre o atributo-chave.
Com essa abordagem cinco das sete categorias analisadas tiveram seus impactos
enquadrados como de alta magnitude, com destaque para as categorias: Emissões de CO2,
Riscos Tecnológicos, Receitas Públicas Municipais e Uso do Solo. Destas, apenas o
atributo Empregos havia sido enquadrado como de alta magnitude na Matriz de Análise
Referencial, como anteriormente mencionado.
No geral, a comparação entre as duas matrizes demonstra que os projetos, quando
analisados em conjunto, tendem a ter a magnitude de seus impactos amplificada. Além
disso, também fica claro que os programas de mitigação de efeitos negativos, bem como as
políticas públicas baseadas em diagnósticos construídos em análises individualizadas de
projetos, provavelmente não irão obter os resultados esperados.
197
4.6. Considerações finais do Capítulo
198
A construção de diagramas facilitou a visualização da qualidade das relações entre os
projetos, permitindo analisar as situações de autonomia ou dependência entre
empreendimentos. Isto tornou possível a análise integrada dos impactos dos Megaprojetos,
enquanto uma força coesa, sobre a região. É interessante notar que os vínculos,
principalmente os indiretos, são raramente mencionados nos EIAs, entretanto, a ausência de
relação, a indução, a interdependência, ou a relação direta entre empreendimentos modifica
a magnitude dos impactos do conjunto de projetos sobre a região. Por exemplo, os
resultados das análises efetuadas nos capítulos 3 e 4 indicam que a relação entre os
complexos portuário e rodoviário são tão fortes e de tamanha dependência, que
provavelmente um não evoluiria sem a presença do outro. Isto sugere que estes deveriam
ser tratados como um único empreendimento, ou pelo menos, deveriam ser analisados
dentro de um mesmo programa, à luz de uma Avaliação Ambiental Estratégica - AAE. Isso
também fica óbvio na análise dos vínculos entre os projetos da plataforma e duto marinho
de Mexilhão, UTGCA e GASTAU, que apesar de terem sido apresentados à população e
aos órgãos ambientais em três EIAs distintos, são totalmente integrados e dependentes entre
si, funcionando como um só projeto.
199
desenvolvidos em regiões com extensa cobertura florestal. As análises indicam que o
balanço final – após executadas todas as ações de reposição florestal e compensação
ambiental – poderia ser positivo aumentando a área florestada da região. Esse balanço
fortalece a hipótese da existência de indícios de um processo de modernização ecológica
associado à presença dos Megaprojetos. Certamente os impactos à flora não se restringem
somente à perda florestal direta, mas as inovações tecnológicas, como túneis e viadutos,
associadas a uma legislação ambiental exigente e a uma maior coordenação entre as
agências ambientais, podem gerar efeitos positivos mesmo com avaliações segregadas de
projetos.
200
CAPÍTULO 5 – EFEITOS INTEGRADOS DOS MEGAPROJETOS,
PREMISSAS E CONDIÇÕES PARA A MODERNIZAÇÃO
ECOLÓGICA
5.1. Introdução
A análise proposta para este capítulo busca na TME as variáveis (premissas e condições)
que, em nível local, podem auxiliar na avaliação das transformações sociais e ambientais
impostas pelo efeito integrado dos Megaprojetos à região. Como visto no capítulo anterior,
as avaliações individualizadas dos projetos mascaram seus efeitos cumulativos e tendem a
gerar medidas mitigadoras e planejamentos locais inadequados. Além disso, as relações
entre órgãos ambientais, empreendedores e ONGs ambientalistas, mobilizadas nos
processos de licenciamento individualizados, produzem efeitos hora positivos, hora
negativos na balança do crescimento econômico versus conservação ambiental. Utilizando
esse cenário, buscaremos indícios de um processo de modernização ecológica. Tais indícios
podem sugerir o desenvolvimento de capacidades institucionais (WEIDNER, 2002) que
habilitariam os atores a responder, de maneira rápida e eficiente, aos novos desafios
impostos à região. Por outro lado, as lacunas detectadas nesse processo indicariam a
tendência de agravamento dos atuais problemas.
Por meio de uma análise empírica baseada nas premissas (destacadas por MOL, 1995, p.
58) e nas condições para o desenvolvimento da ME (presentes em FRINJS et al., 2000;
201
LENZI (2006), MILANEZ (2008) avaliamos os aspectos de coerência local91, destacando
sempre que o eixo de estudo sobre estes aspectos possui caráter apenas metodológico,
evitando-se conclusões segmentadas sobre a teoria. De fato, como apresentado no capítulo
2, algumas destas premissas e condições são claramente dadas externamente à governança
regional do LNP, enquanto outras, principalmente em um país de dimensões continentais
como o Brasil, possuem inevitáveis e importantes variações em âmbito regional e local.
A teoria, na forma em que é apresentada por Mol (1995), constrói, de maneira perspicaz,
uma relação de interdependência entre as premissas, incutindo em seu desenho questões
relacionadas aos níveis democráticos vigentes e sobre as transformações necessárias na
postura na sociedade em relação à sua base de sustentação. Essa construção busca, por
exemplo, reduzir as críticas ao caráter tecnocrático da teoria.
A análise desenvolvida nesta seção, apesar de se concentrar mais em algumas variáveis do
que em outras, leva em consideração essa interdependência entre premissas, além de
reconhecer a forte relação entre as condições avaliadas. Em outras palavras, analisaremos
indícios do desenvolvimento de um processo de ME com foco em variáveis de governança
reconhecidamente de relevância regional e local, porém sem isolá-las de seus vínculos
obrigatórios com as premissas e condições de escala nacional e global.
Em geral as variáveis mencionadas tratam de questões bastante complexas, como níveis de
democracia, legitimidade do Estado e nível tecnológico avançado (impassíveis de medição
e de difícil comparação). Porém, as análises dos estudos de impacto, as visitas aos
empreendimentos, participação nas audiências públicas, reuniões técnicas e as entrevistas
efetuadas produziram um material muito rico e alinhado com as propostas da teoria.
Na construção da ―matriz de tipo ideal‖ desenvolvida para a análise empírica da ME (em
âmbito regional), partimos do pressuposto que a presença, mesmo que limitada das
condições elencadas, contribuiria para uma avaliação sobre em que nível podemos perceber
a ME no atual cenário regional.
A seguir passaremos a explorar, com apoio das entrevistas semi-estruturadas realizadas, as
variáveis selecionadas.
91
Para análises em nível nacional e regional no Brasil, ver: PRESAS & MOL, 2004; JEPSON, 2005; ALMEIDA, 2003;
LENZI, 2003; LENZI, 2006; MILANEZ, 2006; MILANEZ, 2010; SOUZA, 2009.
202
5.2. Atendimento às Premissas para o desenvolvimento da ME
203
AMBIENTE DA UNIDADE DE NEGÓCIOS DA PETROBRAS NA
BACIA DE SANTOS, AGOSTO, 2013).
204
do Porto de São Sebastião, por exemplo, traz uma série de tecnologias e novos conceitos
que tem o objetivo de transformar o atual porto em uma referência ―verde‖ para o Brasil na
movimentação de cargas. O projeto de ampliação do porto busca, segundo seus
representantes:
205
Essa postura indica um alinhamento com condutas e demandas internacionais. O
representante do Porto aponta como referência a gestão realizada no Porto de Everglades no
Sul do estado da Flórida/EUA e no Porto de Rotterdam na Holanda, ambos, segundo ele,
casos de sucesso na conciliação de interesses ambientais e econômicos. Já a Petrobras, por
ser uma empresa atuante em mais de 40 países, carrega para seus projetos nacionais
demandas de atenção ambiental consolidadas globalmente, além de ter interesse em uma
imagem ―verde‖ ou ―ecologicamente correta‖ em escala internacional.
Vale ressaltar que a postura apresentada neste caso pelos empreendedores reflete, mesmo
que indiretamente, a ―lógica‖ administrativa dos governos (estadual e federal) em relação à
incorporação da variável ambiental no desenho, desempenho e avaliação de projetos, tendo
em vista o duplo papel do Estado nas obras de infraestrutura analisadas.
206
construção de fóruns adequados para o desenvolvimento desse diálogo será melhor
detalhado no item 5.3.2.
De maneira geral, mesmo com a mudança de postura dos empreendedores, todos evitam se
responsabilizar e consequentemente se comprometer com a gestão das transformações mais
profundas e indiretas, derivadas da presença cumulativa de seus projetos sobre a região,
indicando que essas questões seriam de responsabilidade exclusiva das administrações
municipais. Essa lacuna é percebida pelos representantes das ONGs ambientalistas.
207
Temos que reduzir o comando e controle. Temos normas muito boas,
porém todas essas normas têm a possibilidade de estabelecer exceções,
abrindo possibilidades para os oportunistas e para aqueles que querem
inovar o processo [...]. Sempre há oportunidade de fazer uma tratativa
diferenciada [...]. Existem possibilidades de estímulos a boas práticas,
novas técnicas e tecnologias, entre outros, mas o órgão ambiental não
incorpora essas possibilidades ao processo de licenciamento
(ENTREVISTA COM GERENTE DE MEIO AMBIENTE DA
COMPANHIA DOCAS DE SÃO SEBASTIÃO, DEZEMBRO, 2012).
As análises indicam que as diferentes interpretações sobre a postura dos agentes do Estado
também estão relacionadas à segregação de grandes projetos em pequenos processos de
licenciamento, como indicado no capítulo 4. Com isso, fica claro que as mudanças de
conduta, quando existentes, estão mais relacionadas às inclinações pessoais de alguns
técnicos envolvidos em um processo específico, do que em uma alteração na estratégia de
ação da instituição representada. A falta de integração entre os órgãos públicos, a total
desvinculação entre as políticas ambientais e as demais políticas públicas nos níveis
estadual e federal (FERREIRA, Leila, 1992; 2011; 2012), e o duplo papel do Estado como
regulador e empreendedor, também dificultam uma transformação mais aprofundada na
postura ambiental institucional.
Por fim, percebe-se que, ao menos no âmbito do discurso, governo e empresários parecem
estar afinados em relação às ideias defendidas pela TME. Neste caso, existem alguns
indícios de alteração da postura dos agentes do Estado e em sua relação com os
208
empreendedores. Porém, a baixa adoção de ITPs de forma consensual nos projetos é um
indicador da baixa efetividade prática desse discurso.
209
De acordo com Leila Ferreira (2000), nos anos 1980 as organizações não governamentais
também assumiram um papel fundamental na discussão da política ambiental, pois
colaboraram para definir as competências a serem enfrentadas pelos vários atores sociais.
Um indicador interessante dessa nova postura do movimento ambientalista brasileiro em
um sentido mais ―ecopolítico‖ é a nomeação, em março de 1990, do ambientalista fundador
da AGAPAN92, José Lutzenberger, como secretário federal de meio ambiente, sinalizando
uma nova abordagem para a questão ambiental na política nacional. Segundo Viola (1998),
no início da década de 1990 o ambientalismo tinha avançado na opinião pública dos países
do hemisfério norte, a popularidade da proteção ambiental era grande e as questões
ambientais tinham ocupado um lugar mais destacado na agenda mundial. A inclusão da
questão ambiental na pauta de assuntos internacionais vai ao encontro do conceito proposto
pelos chamados ―Ecologistas Moderados‖ do fim dos anos 80. Segundo Paelke (1989), se a
degradação ambiental torna-se a principal preocupação da comunidade global, a
sustentabilidade ambiental deve ser o principal organizador dessa nova ordem. Esse
conceito carrega uma noção de reversibilidade da crise ambiental com uma perspectiva
bastante diferente do pensamento dos ―Ecologistas Radicais‖ da década de 70. Este tom
mais otimista é dado à teoria social através das obras de vários autores (como Cahn, Paelke,
Vig e Kraft), auxiliando o entendimento da relação Estado - Sociedade Civil e seus papéis
na formulação de políticas que garantam os modelos de sustentabilidade (FERREIRA,
Leila, 2006).
Apesar da complexidade envolvida nessa avaliação é possível afirmar que as ONGs
ambientalistas atuantes no litoral norte acompanharam esse processo de mudança de
estratégia. Isto provavelmente está relacionado ao fato dos líderes desses movimentos na
região serem, em sua maioria, migrantes oriundos de grandes centros como São Paulo e Rio
de Janeiro, que escolheram a conservação ambiental do litoral norte como objeto de
trabalho devido à sua relevância ecológica. Entretanto, por conta da mudança de estratégia
ser um processo longo, sem indicadores claros, alguns atores envolvidos nesse processo
têm dificuldades em perceber essa transformação.
92
Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – AGAPAN, primeira associação ambientalista brasileira,
fundada em 1971 no Rio Grande do Sul. Este é considerado um marco para a emergência de outras organizações civis
devotadas à defesa da questão ambiental na cena política nacional (Viola, 1987).
210
Algumas das grandes mudanças do projeto (de ampliação) vieram, não de
propostas das ONGs, mas de dificuldades por elas apontadas. As
dificuldades podem ser ignoradas ou o empreendedor pode encará-las
como um novo desafio [...]. Eu posso até dizer que no caso de São
Sebastião, nós nunca recebemos uma proposição de alteração de maneira
formal na Cia Docas. As manifestações ou vieram através de
judicializações ou nas Audiências Públicas (ENTREVISTA COM
GERENTE DE MEIO AMBIENTE DA COMPANHIA DOCAS DE SÃO
SEBASTIÃO, DEZEMBRO, 2012).
Outros atores identificam uma nova postura nas ações da sociedade civil organizada.
Eu acho que uma boa parte (das ONGs ambientalistas locais) está
preparada para soluções negociadas. Uma parte depende do tema e outra
parte eu até agora não consegui qualificar, mas eu ousaria dizer que a
gente (empreendedores e ONGs) aqui no litoral norte achou um canal de
diálogo (...) para construir soluções. É difícil, é cansativo, mas temos que
ter disposição de ambos os lados (ENTREVISTA COM O GERENTE
SETORIAL DE MEIO AMBIENTE DA UNIDADE DE NEGÓCIOS DA
PETROBRAS NA BACIA DE SANTOS, AGOSTO, 2013).
De maneira geral, é possível dizer que houve uma mudança de postura das ONGs
ambientalistas em nível nacional e que as entidades atuantes no LNP acompanharam essa
transformação. Todavia, é importante destacar que esse não é um movimento homogêneo e
211
que posturas mais e menos radicais são detectadas nos processos de discussão dos
Megaprojetos em desenvolvimento na região. Essas posturas influenciam a adoção (ou não)
de novas tecnologias nos projetos, como será visto a seguir.
A reinjeção93 de Dióxido de Carbono nos poços de petróleo é considerada uma das mais
importantes estratégias de mitigação das emissões de GEEs no processo de produção de
hidrocarbonetos e pode ter diferentes finalidades. Na quase totalidade dos casos em
operação, o CO2 é reinjetado em poços para aumentar produção de petróleo, uma vez que
facilita o escoamento do óleo no interior das jazidas (MONTEIRO, 2009). Existe também a
possibilidade de injeção de CO2 apenas para seu armazenamento, reduzindo ou evitando as
emissões de um determinado processo. Financeiramente, as atividades de sequestro são
consideradas atrativas quando cada tonelada injetada leva à recuperação adicional de, no
mínimo, um barril de petróleo. Ao final do processo, em média, cerca de 30% do CO2
injetado é efetivamente seqüestrado (MONTEIRO, 2009).
De acordo com o Relatório de Sustentabilidade publicado anualmente pela Petrobras
(PETROBRAS, 2010b), a empresa assumiu o compromisso de evitar o lançamento de
dióxido de carbono proveniente do Pré-Sal na atmosfera. Estima-se que os hidrocarbonetos
93
Utiliza-se o termo ―reinjeção‖, uma vez que o CO2 injetado já se encontrava ―naturalmente seqüestrado‖, armazenado
na jazida de forma estável (MONTEIRO, 2009).
213
oriundos do Pré-sal da Bacia de Santos contenham entre 10 e 15% de CO2, o equivalente a
três vezes mais que a média dos campos do Pós-sal na Bacia de Campos. Somente nos
campos de Tupi e Iara (que detém volumes de até 12 bilhões de BOEs) acredita-se que
existam mais de 3 bilhões de toneladas de CO2 a serem liberadas para a atmosfera com a
explotação de óleo e gás94. De acordo com a Petrobras, para reduzir o lançamento de gás
carbônico na atmosfera serão desenvolvidas tecnologias de captura, transporte e
armazenamento geológico do CO2 associado ao petróleo (PETROBRAS, 2010b). Os
técnicos da empresa estimam que a injeção isolada de água aumente a recuperação de óleo
entre 25 e 30% e que com a injeção da mistura ―água + CO2‖ esse fator de recuperação
95
aumente, alcançando algo em torno de 39% . As expectativas indicam que quanto mais
CO2 injetado, mais o fator de recuperação cresce.
A eficiência da reinjeção de CO2 nos reservatórios do pré-sal deve-se ao método Water
Alternating Gas – WAG, que se constitui de ciclos de injeções alternadas de água e gás ou
água e CO2. O método WAG foi proposto para melhorar a capacidade de varredura do gás,
pelo controle de sua mobilidade pela água, combinando as vantagens da injeção dos dois
fluidos puros (LIGERO, 2013). No reservatório o CO2 possui duas outras vantagens: reduz
a viscosidade do óleo e promove a acidificação da rocha formadora, aumentando a taxa de
recuperação do poço.
Outra opção, não focada no aumento da produção, seria o armazenamento do dióxido de
carbono em reservatórios com aquíferos salinos sob o fundo do mar, na reinjeção em
reservatórios de gás exauridos e na sua estocagem em cavernas na camada de sal.
Por meio do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Melo -
CENPES96 a Petrobras vem estudando mecanismos com o objetivo de captura e reinjeção
do CO2. Para desenvolver tecnologias de redução de emissões de CO2 nos processos de
produção de petróleo e gás a empresa estruturou dois programas tecnológicos.
94
FOLHA DE SP 31/05/2009 - Petrobras estuda "sumir" com CO2 da camada pré-sal
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u574388.shtml
95
http://www.cogen.com.br/workshop/2009/O_estrategista_do_pre_sal.pdf
96
Sediado na UFRJ, o CENPES tem objetivo de atender às demandas de expansão da capacidade tecnológica
relacionadas aos projetos energéticos da Petrobras.
214
Programa de Gerenciamento do CO2 no desenvolvimento do Pré-Sal (PRO- CO2):
criado em 2009 com foco na gestão das emissões de CO2 no desenvolvimento do
Polo Pré-Sal.
Como mencionado, estima-se que com a reinjeção de CO2 haja um aumento na taxa de
recuperação de óleo e gás da ordem de 39%. Para calcular os possíveis ganhos econômicos
da reinjeção, utilizamos como exemplo o campo de Tupi/Lula e de Iara, ambos localizados
no Bloco BM-S-11. A Petrobrás estima que Tupi/Lula tenha um volume de óleo
recuperável de 5 a 8 bilhões de barris de óleo equivalente. No prospecto de Iara, o volume
de óleo recuperável é da ordem de 3 a 5 bilhões de BOEs (FERRO & TEIXEIRA, 2009).
Se considerarmos as estimativas mais pessimistas para estes dois campos (respectivamente,
5 e 3 bilhões de BOEs) a reinjeção de CO2 geraria uma receita excedente de
aproximadamente 308 bilhões de dólares97. A tabela 5.1 apresenta as estimativas de valores
de aumento de receita para cada campo.
Tabela 5. 1: Estimativa de aumento de receitas associadas ao processo de reinjeção de água + CO2 nos
poços localizados nos Campos de Tupi e Iara (Bloco BM-S-11). Elaborado pelo autor.com dados
obtidos nos EIAs: (EIA, 2008; 2009a; 2011a; FERRO & TEIXEIRA, 2009).
97
Utilizada a cotação de abril/2013. Disponível em http://www.indexmundi.com/pt/pre%E7os-de-
mercado/?mercadoria=petr%C3%B3leo-bruto
215
AUMENTO DA
RECUPERAÇÃO DE RECEITA ECONÔMICA
RESERVAS ESTIMADAS COTAÇÃO BOE
CAMPOS ÓLEO VIA REINJEÇÃO COM REINJEÇÃO
EM BOEs (BILHÕES) (US$)
CO2 (BILHOES DE (BILHÕES DE US$)
BOEs)
TUPI 5 1,95 98,85 192,76
IARA 3 1,17 98,85 115,65
308,41
Não há dúvida que o ato de evitar o lançamento na atmosfera de parte do CO2 produzido no
processo de explotação do petróleo é uma medida ambientalmente interessante,
principalmente quando estamos nos referindo a um volume extraordinário de GEEs sendo
disponibilizados à atmosfera durante um longo período de tempo. Entretanto, capturar uma
parcela, mesmo que significativa, das emissões de CO2 não desconfigura a criticidade da
insústria do petróleo em relação ao aquecimento global. Pelo contrário, continua a agravá-
lo de maneira acelerada, visto que disponibiliza um volume adicional de combustíveis
fósseis a uma matriz energética degradadora e inviável ambientalmente. Em outras
palavras, ao longo do tempo a tendência de perda da qualidade ambiental é mantida, tendo
em vista a cumulatividade dos impactos (LENZI, 2006).
98
http://www.statoil.com/en/TechnologyInnovation/ProtectingTheEnvironment/CarboncaptureAndStorage/Pages/Carbon
DioxideInjectionSleipnerVest.aspx
216
Na ITP analisada há uma notória contradição estrutural: reduzir a emissão de CO2 (através
da reinjeção nos poços) com o objetivo não só de sequestrar o carbono, mas também de
aumentar a produção de combustíveis fósseis, cuja queima libera mais CO2 para a
atmosfera.
Grosso modo, o mesmo desenvolvimento tecnológico que possibilita a reinjeção de CO2
nos poços do Pré-sal também viabiliza a exploração de petróleo e gás em grandes
profundidades no leito marinho. Não se pode negar a eficiência das tecnologias de injeção
no processo de sequestro de CO2, nem mesmo que essa tecnologia não tenha sido
desenvolvida de maneira alinhada à premissa da TME de incorporação da variável
ambiental no processo produtivo, gerando benefícios ambientais e econômicos simultâneos,
entretanto, argumentar que esse movimento nos direciona a um futuro onde a esfera
ecológica possui a mesma relevância que a esfera econômica, seria, no mínimo, uma
inocência. Neste caso, não há como admitir ganhos econômicos e ecológicos simultâneos, e
inquestionáveis seriam apenas os benefícios financeiros e a garantia mesmo que temporária
da manutenção de uma matriz energética equivocada.
217
existem atualmente 85 processos99 relativos às atividades portuárias em licenciamento
federal. Destes, oito tratam diretamente da ampliação de áreas e atividades nos portos.
Todavia, apenas o projeto do Porto de São Sebastião possui um plano que prevê a
compatibilização entre o crescimento das atividades portuárias e o desenvolvimento urbano
em seu entorno imediato entre 2012 e 2035. Apesar da sociedade civil (ONGs
ambientalistas, academia, grupos setoriais, entre outros) questionar, com mérito, a lógica e
o conteúdo técnico do PIPC, este possui algumas diferenciações estruturais interessantes.
O PIPC tem como objeto de licenciamento um plano de ocupação de curto, médio e longo
prazo. Nesse plano são abordadas todas as intervenções previstas para ocorrerem ao longo
dos 20 anos de projeto ao invés de conduzir pequenos licenciamentos por cada intervenção
de maneira isolada.
Após a emissão da Licença Prévia, as Licenças de Instalação e Operação devem ser
solicitadas pelo empreendedor interessado (Autoridade Portuária e ou futuro arrendatário)
ao órgão ambiental, de acordo com as demandas de mercado e tendo como objeto as
diferentes fases do PIPC apresentadas no EIA/RIMA.
Devido à dificuldade de transporte terrestre de grandes volumes de cargas sólidas entre o
planalto paulista e o litoral norte, um grande projeto de ampliação das atividades portuárias
seria inviável sem o aumento equivalente e compatível da capacidade de movimentação de
cargas através dos acessos rodoviários. Assim, o PIPC prevê a operação de cada etapa de
ampliação do porto condicionada à conclusão dos novos acessos e melhoramentos do
modal rodoviário, reduzindo, segundo seus representantes, os impactos da movimentação
de cargas nas vias públicas locais. Em resumo, com o PIPC a Cia Docas de São Sebastião
pretende obter a viabilidade ambiental da ampliação portuária de forma escalonada,
evoluindo a construção das áreas de estocagem e das novas atividades em fases,
solicitando, ou recomendando a solicitação das Licenças de Instalação, de acordo com as
demandas de mercado. As Licenças de Operação, que autorizam o funcionamento de cada
atividade no interior do porto, seriam emitidas considerando a capacidade de escoamento
terrestre (rodoviário ou dutoviário) entre São Sebastião e o planalto.
Segundo o empreendedor, os benefícios ambientais dessa inovação técnica estão
relacionados principalmente ao aumento da capacidade de gestão de um projeto de longo
99
Levantamento realizado por meio do site: http://www.ibama.gov.br/licenciamento/index.php. Acesso em 29/11/2011.
218
prazo, possibilitando a antecipação dos impactos ambientais diretos e indiretos sobre a
população. Além disso, o casamento entre tempos de conclusão dos projetos de
infraestrutura rodoviária com a evolução das obras de instalação das estruturas portuárias
reduziriam os – grandes – impactos no sistema de tráfego regional devido ao transporte de
cargas na interface do modal rodoviário com o modal marítimo.
De modo geral, os ganhos ambientais estariam relacionados à leitura integrada proposta no
PIPC para os efeitos do projeto de ampliação sobre a região. Como apontado no capítulo 3,
são esses efeitos os mais relevantes para a transformação local. A maior parte dos projetos
em licenciamento federal licencia cada fase do empreendimento de maneira segregada,
inviabilizando a identificação dos efeitos cumulativos nos estudos de impacto ambiental e
gerando programas inadequados de mitigação dos efeitos negativos das intervenções sobre
as comunidades e o ambiente. O modelo proposto para o PIPC também permitiria uma
maior integração do projeto de ampliação das atividades portuárias com os planejamentos
públicos de gestão territorial local e regional. Entretanto, para que ocorra uma integração
efetiva é imprescindível que exista um relacionamento profícuo entre o empreendedor, as
autoridades locais e a comunidade, e que o projeto a ser licenciado tenha sido construído
conjuntamente, o que, de acordo com as entrevistas realizadas, não ocorreu.
Um processo participativo evitaria a caracterização do projeto de ampliação portuária como
100
apenas mais uma ―imposição de escala‖ e envolveria a comunidade no desenvolvimento
de soluções para os problemas atuais e futuros. A ausência desta construção negociada é
um dos motivos pelos quais o PIPC enfrenta mobilizações e protestos por parte das
comunidades – principalmente das ONGs ambientalistas – e das prefeituras municipais de
São Sebastião e Ilhabela na evolução de seu processo de licenciamento.
Outro aspecto fundamentador de argumentos contrários à ampliação portuária reside na
manutenção da vocação turística e de conservação ambiental da região. Devido às
características intrínsecas da atividade portuária, somadas à necessidade de construção de
um novo sistema logístico rodoviário, o que determinará um maior fluxo de pessoas e
cargas à região, o porto ampliado é visto como um grande vetor de degradação ambiental.
100
Definimos nesta tese as ―imposições de escala‖ como sendo: a instalação de empreendimentos que atendem,
prioritariamente, as demandas por infraestrutura em escala nacional, ignorando ou deixando em segundo plano as
necessidades regionais e locais.
219
Os benefícios econômicos do PIPC estariam relacionados ao valor de mercado incorporado
à marca da Cia Docas de São Sebastião. De acordo com o representante do porto, é
esperada uma valorização da marca e a liderança de um mercado com clientes interessados
no perfil ―ambientalmente correto‖, com possibilidades de remunerações acima das médias
nacionais. Além disso, o Porto de São Sebastião pretende servir como modelo de gestão
ambiental para os demais portos do país, aumentando seu reconhecimento institucional.
220
transportes, a questão do controle sobre o processo de produção e consumo apresenta-se de
maneira complexa. Mesmo quando analisamos isoladamente a indústria do petróleo, o
controle da produção e consumo envolve um sistema amplo, diretamente relacionado às
necessidades globais de energia. No caso de estradas e portos a relação entre produção e
consumo é ainda mais indireta, vaga e difícil de ser caracterizada.
A mesma dificuldade se aplica à caracterização da presença de ‖um sistema político aberto
e democrático‖. Apesar deste ser um referencial político, o Brasil pode ser considerado um
país democrático. Entretanto, devido, entre outros aspectos, à juventude desse regime no
país, questões educacionais, econômicas e culturais, vigora no país uma democracia
representativa imperfeita, onde os cidadãos não participam diretamente da tomada de
decisão e estão sujeitos a condições contextuais que favorecem grupos dominantes. De
certo, um modelo de ME reflexiva também faz um forte apelo à reestruturação democrática,
demandando um tipo mais abrangente de democracia (LENZI, 2006).
Spaargaren (2000, p. 46), alega que a modernização ecológica está centrada primariamente
nos atores do mercado e no setor industrial, mas ―o Estado ainda deve ser considerado o seu
principal condutor‖.
A proposta desta seção é evoluir uma análise sobre a estrutura (humana, de instrumentos de
gestão e de monitoramento ambiental) dos órgãos ambientais presentes nos quatro
municípios do LNP. Com o apoio das entrevistas realizadas, pretende-se verificar em até
que medida essa condição (de possuir um Estado legítimo com uma infraestrutura
diferenciada e avançada) pode ser considerada presente no LNP.
A questão da legitimidade do Estado se mescla com a complexidade da análise da
qualidade da democracia, apontada na seção anterior. O fato é que, em resposta às
demandas da sociedade civil, ou não, de maneira retórica, ou não, o Estado foi construindo
na região ao longo dos anos uma estrutura ambiental institucional de grande porte, ao
221
menos para os padrões nacionais. São 22 áreas formalmente protegidas (entre unidades de
conservação, terras indígenas e núcleos quilombolas) que ocupam mais de 470.000 ha ou
aproximadamente 80 % da área total da região. Além disso, os quatro municípios do LNP
possuem em sua estrutura institucional secretarias específicas de meio ambiente e a
presença dos principais órgãos de controle e fiscalização ambiental federais (IBAMA e
ICMBIO) e estaduais (CETESB, Polícia Militar Ambiental e Fundação Florestal)
(FERREIRA, Leila, et. al 2011; 2012)101.
A tabela 5.3 traz informações coletadas em um levantamento realizado pelo escritório do
IBAMA em Caraguatatuba em 2010, sobre o quantitativo de recursos humanos presentes
nos órgãos ambientais atuantes no LNP.
Tabela 5. 3: Recursos humanos técnicos (nível superior, nível técnico e agentes de fiscalização) e de
pessoal administrativo em cada órgão ambiental com sede no LNP.
101
Para mais informações ver: GOVERNANDO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO NÍVEL LOCAL: RISCOS E
RESPOSTAS POLÍTICAS; BARBI (Tese em elaboração).
222
Ao todo, somando técnicos, agentes de fiscalização e corpo administrativo, os órgãos
ambientais contam com mais de 400 funcionários dedicados exclusivamente às demandas
relacionadas às questões ambientais dos 1.947,702 km² do litoral norte paulista. Um
número distante do ideal, porém bastante alto para os padrões nacionais.
As ferramentas de gestão do território também merecem destaque. Em 2004 foi editado o
decreto de regulamentação do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro que dispõe sobre
regras de uso e ocupação da zona costeira e estabelece critérios de gestão da orla marítima
em nível nacional. No mesmo ano o estado de São Paulo concluiu um processo
participativo que culminou com a edição do primeiro Zoneamento Econômico Ecológico
Costeiro estadual102, que prevê usos e atividades para as diferentes zonas e estabelece
diretrizes, metas ambientais e socioeconômicas. Esse zoneamento está em processo
participativo de revisão com prazo previsto para nova edição no final de 2014.
Na esfera local, até o ano de 2012 todos os municípios, com exceção de São Sebastião103,
concluíram e publicaram seus Planos Diretores determinando novos rumos, diretrizes e
limites para o crescimento urbano. A tabela 5.4 descreve sucintamente as principais
ferramentas de gestão e planejamento, bem como os estudos de apoio ao gerenciamento dos
problemas atuais e futuros da região.
Além dos instrumentos de gestão (ou de suporte à gestão) listados nessa tabela (5.4), ainda
é possível destacar como relevantes para o planejamento de ações de adaptação às
transformações previstas para a região, como o Plano Estadual de Mudanças Climáticas, o
Plano Diretor de Desenvolvimento de Transportes do Estado - PDDT, o Projeto Orla de
ordenamento territorial costeiro proposto pelo governo federal e o Projeto Caraguá
2030104, que planeja o desenvolvimento municipal associado à presença dos grandes
empreendimentos na região.
102
Decreto Estadual 49.215/04
103
A minuta do Projeto de Lei do Plano Diretor está em discussão na Cãmara dos Veradores desde 2008.
104
Cecompi apresenta projeto Caraguá 2030.
http://www.portal.caraguatatuba.sp.gov.br/noticias_view.php?id=4908#.Ubcm3ue-pGQ
223
Tabela 5. 4: Principais instrumentos de gestão e planejamento vigentes no Litoral Norte Paulista.
Elaboração própria.
224
Entre as condicionantes elencadas para a evolução da ME (FRIJNS et al. 2000) também
destaca-se a presença de um sistema detalhado de monitoramento ambiental que gera dados
ambientais públicos, confiáveis e satisfatórios. Weidner (2002) também destaca essa
necessidade de um monitoramento abrangente e acessível aos sistemas de informação como
um dos atributos imprescindíveis para o desenvolvimento da ME. Não há dúvida que essa
condição encontra-se estreitamente relacionada a presença de um Estado com instituições
fortes. No caso do LNP, ressalta-se a existência de pelo menos seis programas importantes
de monitoramento da qualidade ambiental: o Programa de Balneabilidade das Praias da
CETESB; o Plano de Monitoramento dos Recursos Hídricos do Litoral Norte; o Programa
Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais, liderado pelo CEMADEN105; o
Projeto de monitoramento do desembarque pesqueiro, conduzido pelo Instituto de Pesca de
São Paulo; o Inventário Florestal, publicado pelo Sistema de Informações Florestais do
Estado de São Paulo, entre outros. A tabela 5.5 apresenta os principais programas de
monitoramento ambiental existentes na região.
105
Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais.
225
Tabela 5. 5: Principais programas de monitoramento ambiental em atividade no Litoral Norte Paulista.
Elaboração própria.
226
BIOTA/FAPESP (JOLY & SPEGLICH, 2003; 2005, JOLY et al, 2010; 2011); o Projeto-
Clima – Crescimento Urbano, Vulnerabilidade e Adaptação: Dimensões Sociais e
Ecológicas das Mudanças Climáticas no Litoral de São Paulo (FERREIRA, Lúcia, et al.;
2012), coordenado pela UNICAMP; o Projeto BIOTA-Araçá, conduzido pelo Instituto
Oceanográfico da USP; o Redelitoral, coordenado pelo Instituto Tecnológico de
Aeronáutica – ITA, entre outros. Apesar de não ser o objetivo principal de nenhum desses
programas de pesquisa, todos analisam direta ou indiretamente, a influência dos
Megaprojetos sobre as dinâmicas sociais, econômicas e ambientais do LNP e subsidiam, ou
podem vir a subsidiar, políticas públicas de resposta aos seus efeitos (ver JOLY et al 2010;
2011).
A quantidade e a qualidade dos programas, instrumentos de gestão e projetos de pesquisa e
monitoramento indicam a existência de uma estrutura ambiental institucional diferenciada
no LNP. Porém, há de se ressaltar que estas ferramentas, utilizadas sem a devida
coordenação, não garantem eficácia nas ações de gestão. A falta de integração, diálogo e
articulação entre as instituições, acaba por gerar conflitos entre os atores envolvidos na
gestão de recursos naturais. A mesma falta de integração pode ser percebida nos planos
federais, estaduais e municipais elencados na tabela 5.4. Segundo Weidner (2002), além de
regulamentos abrangentes e eficazes, instrumentos e instituições com bons recursos, é
indispensável um elevado grau de cooperação intra e interinstitucional. A debilidade da
integração entre as esferas de governo produz relações de antagonia entre os conteúdos dos
planos, como acontece entre o Zoneamento Econômico-Ecológico estadual e o Plano
Diretor de Caraguatatuba. Outras vezes essa debilidade produz sobreposição de objetivos,
ocorrendo replicação de esforços e desperdício de recursos.
Os programas de monitoramento dos megaprojetos também merecem atenção. Em geral são
geradas informações valiosas e confiáveis, como é o caso do inventário de remanescentes
de vegetação natural e da qualidade do ar no entorno da UTGCA, em Caraguatatuba.
Entretanto, não há indício de uso dessas informações na composição de estratégias de
gestão pública. Em resumo, são informações públicas, caras e indisponíveis que ficam ―na
gaveta‖ dos órgãos licenciadores.
227
5.3.2. Os sistemas de decisão negociada
É notório que os níveis de consciência ambiental vêm crescendo no Brasil. Em uma revisão
temporal, Leila Ferreira (2000) indica que entre o período de 1989 a 1992 a temática
ambiental torna-se central no debate brasileiro, promovendo um aumento do interesse e da
disseminação de informações concernentes ao tema ambiental e, munida destes
instrumentos, a população impõe uma maior cobrança junto aos organismos
representativos. O próprio movimento ambientalista nessa época percebe a importância de
sua atuação e alguns partidos políticos assumem o ―meio ambiente‖ como referência
programática e de gestão pública.
Milanez (2008) também assinala o alto nível de consciência ambiental dos brasileiros,
porém destaca que esta preocupação não é transferida para práticas (como a participação
em processos de tomada de decisão) que reduziriam os impactos ambientais.
Weidner (2002) destaca que a construção de capacidades para o desenvolvimento de um
processo de ME depende, entre outros, da estratégia, vontade e habilidade dos proponentes
e de suas oportunidades. O autor as denomina ―condições situacionais‖. Janicke (1997, p.
8) alega que a importância do tipo de problema a ser enfrentado, sua urgência e
complexidade, poder e recurso dos grupos, suas alianças e suportes, influenciam a
capacidade de resposta. Esses atributos nos permitem afirmar que os Megaprojetos trazem
para a região uma motivação aglutinadora de grupos de interesse e, em alguns casos,
geradora de capacidades. Poderíamos dizer que os Megaprojetos seriam, de alguma
maneira, ―gatilhos‖ para a ME em uma região onde a atividade industrial era, até então,
inexpressiva e não havia um motivador comum para os grupos mobilizados em torno da
causa ecológica. Esse entendimento é respaldado por um dos entrevistados.
Eu vejo que as ONGs são motivadas por alguma ameaça concreta, como
uma grande obra, um projeto... Elas não se mobilizam o tempo todo. Acho
que precisaríamos ter uma catástrofe maior para motivar uma
mobilização contínua (ENTREVISTA COM O SECRETÁRIO
EXECUTIVO DO COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA DO LNP,
MAIO, 2013).
228
A abordagem de construção de capacidades para a gestão ambiental, proposta por Weidner
(2002), pode colaborar na análise dos níveis de consciência e dos sistemas de decisão
negociada envolvidos nos grandes projetos do LNP. Segundo o autor, um alto grau de
consciência ambiental entre as elites políticas, o público em geral, e os meios de
comunicação de massa, bem como a capacidade de interpretar as informações de uma
forma politicamente estratégica seria uma das capacidades desejáveis para o
desenvolvimento da ME.
De acordo com essa abordagem, cumpridas essas condições (ideais), juntamente com um
bom nível de bem-estar social, boas perspectivas econômicas, um sistema decisório
participativo e uma cultura à favor da inovação, com uma alta estima por valores pós-
materiais, o sucesso ambiental seria, por assim dizer, inevitável. Argumentaremos a esse
respeito nas conclusões desse capítulo.
Segundo Viglio (2012), as instâncias participativas em torno das questões ambientais vêm,
em geral, se consolidando como mecanismos de mediação entre sociedade civil e Estado, e
como instrumentos de influência das políticas públicas. Os sistemas de decisão negociada
estão diretamente relacionados à construção de espaços de participação e diálogo entre os
atores. Estes espaços podem ser institucionais, coordenados pelos órgãos ambientais, como
os conselhos gestores de unidades de conservação, as audiências públicas, as câmaras e
reuniões técnicas, ou podem ser fomentados pela própria sociedade, como os fóruns
participativos que buscam o envolvimento das comunidades em questões estratégicas como
o uso da água, saneamento ou resíduos sólidos. Entre estes se destacam o Comitê de
Diálogo para a Sustentabilidade – COMDIAL, a Agenda 21 regional e as plenárias e
câmaras técnicas coordenadas pelo Comitê de Bacias Hidrográficas do Litoral Norte
Paulista – CBH/LN.
O envolvimento das ONGs ambientalistas locais, através de alguns dos fóruns
mencionados, nos processos de licenciamento dos Megaprojetos rendeu disputas que
geraram alguns produtos interessantes para a análise da capacidade de manifestação
organizada da sociedade civil no LNP.
Em outubro de 2009, por exemplo, a primeira audiência pública do projeto de ampliação do
Porto de São Sebastião foi adiada em mais de quatro meses após envolvimento da
229
sociedade civil (principalmente das ONGs integrantes do Realnorte 106) nas esferas políticas
de decisão. Posteriormente, em julho de 2012, as ONGs, Unidades de Conservação e
Prefeituras municipais dos quatro municípios da região, se organizaram para propor na
audiência pública a alteração da Área de Influência Indireta – AII delimitada pelo
EIA/RIMA do empreendimento ―Projetos Integrados do Pré-sal – Fase 1‖. O estudo foi
alterado em um movimento inédito tanto para o empreendedor como para o órgão
licenciador.
Contudo, tratando-se de um atributo tão complexo, por meio das entrevistas realizadas não
foi possível caracterizar o LNP como possuidor de uma população com níveis diferenciados
de consciência ambiental. Todavia, também é fato que a população regional, principalmente
por viver em uma região com suas principais atividades (conservação, pesca e turismo)
dependentes da qualidade dos ecossistemas, possui atenção especial voltada às questões
ambientais. Essa atenção nem sempre pode ser percebida claramente nas decisões tomadas
através de processos participativos. Estes estão inevitavelmente sujeitos a deformações
decorrentes, por exemplo, da falta de distribuição equitativa do conhecimento científico
(ver VIGLIO, 2012), ou da falta de informação sobre os efeitos cumulativos dos
Megaprojetos sobre a região. Mesmo em países desenvolvidos, empreendimentos que
demandam conhecimentos técnicos profundos e que envolvem decisões negociadas com
diferentes setores, correm o risco de se subordinarem, em última instância, a abordagens
tecnocráticas.
Sobre o desenvolvimento de capacidades para a ME, envolvendo um ambiente com níveis
ideais de consciência ambiental e com sistemas eficientes de decisão negociada, cabe
destacar que uma nova postura em relação às questões ambientais não pode depender de um
momento de perspectivas econômicas, sociais e políticas perfeitas para sua manutenção ou
florescimento. Se essa é uma condição necessária para o desenvolvimento da ME, não
podemos considerá-la uma real emancipação da dimensão ecológica em relação a dimensão
econômica, mas sim um refinamento circunstancial do atual modelo de produção industrial.
Pode-se argumentar também que as condições ideais para ME jamais serão plenamente
atendidas em um sistema capitalista.
106
O ReaLNorte é um colegiado que funciona como fórum permanente das entidades ambientalistas e socioambientalistas
do Litoral Norte de São Paulo.
230
5.4. Considerações Finais do Capítulo
231
A figura 5.1 apresenta um diagrama que exemplifica o momento, na hierarquia de tomada
de decisão, de inclusão de critérios econômicos e ecológicos na concepção de um
Megaprojeto.
Critérios
prioritariamente
econômicos para POLÍTICA
a decisão
PLANO
PROGRAMA
Introdução de
critérios
PROJETO ecológicos para a
evolução do
projeto (ITPs)
AÇÃO
Como não há no Brasil (até o presente momento) regulamentação que oriente a aplicação
de instrumentos de gestão de impactos nos elos mais altos dessa cadeia de decisão (como a
Avaliação Ambiental Estratégia – AEE), ocorre uma sobrecarga de expectativas sobre o
processo de licenciamento ambiental, exigindo-se deste mais do que ele, tecnicamente,
pode prover. As discussões e decisões sobre o sistema logístico nacional, ou sobre a
evolução da matriz energética do país, privilegiam indubitavelmente os critérios
econômicos e passam longe da sociedade civil organizada, permanecendo restritas aos altos
escalões de poder, vide as opções do governo nacional, sem o respaldo da opinião pública e
no mínimo questionáveis, sobre o desenvolvimento das Hidrelétricas na Amazônia, das
Usinas Nucleares de Angra dos Reis ou sobre a priorização do rodoviarismo na logística de
232
cargas interestaduais. Almeida (2003, p.40), tratando da questão mineraria, aborda essa
questão indicando que o Estado, através de suas agências, procurou cooptar lideranças ou
neutralizá-las através de mecanismos de discussão de projetos pontuais, em que a grande
discussão de valores que marca o discurso ambientalista foi relegada a segundo plano ou
sequer foi esboçada.
O que é discutido durante um processo de licenciamento, e de alguma forma negociado
com as ONGs e representantes dos Governos locais, são os atenuantes necessários – ou
possíveis – para os impactos dos projetos sobre uma região, cabendo às audiências públicas
garantir o único momento formalmente construído para a manifestação popular.
Geralmente o que acontece nessas audiências são discussões descompassadas, com o
empreendedor interessado apenas em aprovar o projeto, a população interessada em discutir
a política e o órgão licenciador, inábil e sem instrumentos para mediar a discussão,
interessado em legitimar sua decisão. Os resultados são, em geral, frustrantes para todas as
partes.
Neste ponto, nota-se que a construção de capacidades para a ME, diferentemente do
preconizado por Weidner (2002), não se trata de um processo evolutivo e linear. As
análises efetuadas sugerem que este é um processo descontínuo e demanda a quebra de um
sistema resiliente, principalmente nas transformações de variáveis que envolvem mudanças
de conduta (de ONGs, empreendedores e agentes do Estado) e transformações
institucionais. As entrevistas demonstram que a relação entre os atores-chave para a ME já
foi, há pouco tempo atrás, mais produtiva e atualmente encontra-se desgastada. Por outro
lado, esse desgaste pode estar associado a uma descontinuidade evolutiva que sugere uma
inadequação da teoria à realidade local, indicando a possibilidade de outros caminhos que
não levariam somente à ME.
O quadro 6.1 foi construído para dar apoio à análise da existência de indícios de um
processo de modernização ecológica no LNP, em contraponto a um processo de
Modernização Econômica Tradicional (SANDRONI, 1999).
233
Tabela 5. 6: Quadro base para comparação entre premissas adotadas na Modernização Econômica
Tradicional (SANDRONI, 1999) e na Modernização Ecológica (segundo o conceito de ME adotado na
pesquisa). Elaboração própria.
234
aspecto Paradigma de consumo possui uma clara diferença de premissas (entre a Sociedade
de consumo e o Consumo verde) e, certamente, o LNP não atende essa condição para a
Modernização Ecológica. Outra condição, definitivamente não atendida para a evolução da
ME, trata da mudança de Postura das agências ambientais. Apesar do duplo papel do
Estado nos empreendimentos analisados, os resultados da pesquisa indicam que as poucas
mudanças detectadas estariam mais relacionadas a condutas individuais ou de grupos de
servidores públicos (analistas e técnicos), e não a uma transformação institucional,
prevalecendo uma postura burocrática tradicional de comando e controle. Esse aspecto está,
em diferentes níveis, associado às questões de Participação popular na tomada de decisão.
A estrutura democrática imperfeita e os baixos níveis educacionais da população ainda são
entraves fortes a uma participação massiva das comunidades no processo decisório que
envolve os Megaprojetos. Além disso, como demonstrado na figura 5.1, o processo de
licenciamento não favorece a participação da sociedade na tomada de decisão. Contudo, de
acordo com as análises realizadas, podemos dizer que a participação das comunidades do
LNP afetadas pelos Megaprojetos tem sido crescente e a cada novo projeto a população tem
se comportado de maneira mais eficiente na defesa de seus interesses107.
Em três dos oito aspectos elencados na tabela 5.6, indícios de um processo de ME podem
ser detectados, porém algumas considerações devem ser feitas. No aspecto Inclusão de
Critérios ecológicos nos processos de produção as análises desenvolvidas no capítulo
indicam que os empreendedores vêm, ao longo dos anos, incorporando variáveis ambientais
em seus projetos. Evidentemente esse não é um aspecto que deve ser avaliado
isoladamente, todavia, não cabe descartar os indícios de crescimento da inclusão de
critérios ―ecológicos‖ nos projetos, considerando que em um passado recente a variável
ambiental era totalmente ignorada e atualmente os empreendimentos destinam parte de seu
orçamento exclusivamente para atendimento das demandas deste setor.
Em seguida, podemos mencionar a tímida, porém detectável, alteração na Estratégia das
ONGs ambientalistas. De acordo com as análises, essa é uma mudança muito tênue, o que
tenderia a dificultar o desenvolvimento de um processo de ME no LNP. Contudo, há
indícios de alteração na estratégia de ação das instituições avaliadas, incluindo uma
107
Vide as alterações na Área de Influência do empreendimento ―Projetos Integrados do Pré-sal / Fase I‖, alteração do
projeto de aterro do Mangue do Araçá no ―Plano Integrado Porto-Cidade‖ da Cia Docas de São Sebastião, e as alterações
de projeto (novos túneis e traçado) que reduziram o número de desapropriações e supressão de vegetação do ―Contorno
Sul‖ integrante da Nova Rodovia dos Tamoios, entre outros.
235
participação cada vez mais ativa nas negociações com os agentes econômicos e
representantes do Estado.
Por fim, destaca-se o aspecto Novas tecnologias industriais. Nesse ponto, é possível
afirmar que todos os complexos estruturais avaliados adotam tecnologias inovadoras em
seus processos construtivos e que as ITPs analisadas atendem às condições elencadas na
TME, gerando benefícios ambientais e econômicos simultâneos. Apesar da TME afirmar
que o processo de adoção das ITPs deve estar inserido em um ambiente favorável à adesão
voluntária por parte das empresas, e que este ambiente envolve uma mudança de postura de
agentes do Estado e das ONGs ambientalistas, (o que foi sutilmente detectado nas análises
efetuadas) a implementação destas inovações nos megaprojetos pode ser entendida como
indicativo de um processo de ecologização da economia, ainda que de maneira
descompassada com o atendimento de outras condições e premissas necessárias para a
evolução plena da ME.
De fato, as análises dos aspectos expostos na tabela 5.1 apontam para a presença uma
modernização econômica diferenciada, sendo perceptíveis indícios de um processo de
Modernização Ecológica, onde as variáveis ambientais ganham pouco a pouco uma maior
relevância na concepção dos projetos e na condução dos empreendimentos. Contudo, é
importante ressaltar que as lacunas detectadas nesse processo são ainda mais significativas
e relevantes para os desafios de gestão (ambiental e social) impostos à região. Como visto,
não se trata de uma ME completa, que provavelmente não se desenvolveria de maneira
uniforme no Brasil, há outros processos (provavelmente ecologicamente menos otimistas)
em andamento.
236
CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS DA
TESE
Esta pesquisa analisou o papel dos grandes projetos de infraestrutura como vetores de
transformação social e ambiental no Litoral Norte Paulista. A abordagem selecionada
para esse fim buscou ferramentas que permitissem analisar a magnitude, a direção e o
sentido dessa transformação. A magnitude foi analisada utilizando-se de técnicas de
integração de impactos e seus efeitos sobre a região. A direção e o sentido foram analisados
à luz das premissas e condições elencadas pela teoria da Modernização Ecológica. Nesse
contexto, as hipóteses colocadas à prova na tese sustentam que i) a instalação de grandes
empreendimentos de infraestrutura, de forma integrada, inaugura uma nova ―fase de
desenvolvimento‖ regional; ii) os efeitos cumulativos e sinérgicos que emergem da
instalação co-localizada de grandes projetos sobre uma mesma região são indevidamente
identificados, mensurados e tratados pelas atuais ferramentas de gestão de impactos e são
relevantes na evolução da degradação ambiental em escala regional; e que iii) existem
indícios de um processo de Modernização Ecológica regionalizado.
237
técnicas de sobreposição de dados geoespaciais, construção de diagramas e matrizes de
análise integrada. É possível destacar os resultados das análises de alguns atributos que
reforçam essa tendência. As emissões de CO2 estabelecem um novo patamar nos índices de
poluição atmosférica de empreendimentos vinculados (direta ou indiretamente) ao LNP,
região que até a chegada dos Megaprojetos não possuía estações de monitoramento da
qualidade do ar. Com a chegada dos empreendimentos da indústria do petróleo, estas
emissões podem ultrapassar um quarto do total de CO2 liberado em todos os processos
industriais paulistas anualmente. Neste quesito, destaca-se também a perspectiva de
crescimento nas emissões associadas ao aumento nas movimentações rodoviárias de
veículos pesados e de mais de 20 vezes o número de grandes embarcações com destino ao
porto de São Sebastião.
Outros indicativos claros de alteração da vocação regional podem ser percebidos nas novas
dinâmicas de emprego e desemprego – com contratações e demissões em massa – e na
evolução das receitas públicas municipais. Com a instalação e ampliação, principalmente,
dos novos projetos da indústria do petróleo e gás, as administrações municipais – com
exceção de Ubatuba – obtiveram um crescimento significativo de suas receitas, porém, há
de se ressaltar o aumento da dependência dos orçamentos públicos em relação aos royalties
do petróleo, agravado pelo caráter artificial destes (baseados em um recurso mineral finito),
e pelo risco de ampliação dos desequilíbrios regionais, principalmente em relação a
Ubatuba, não ―contemplada‖ com o recebimento de grandes valores.
Um forte indicador de transformação da região pode ser encontrado nas novas dinâmicas
demográficas e de gestão do território e uso do solo, apontando para o agravamento dos
conflitos locais por ocupação do espaço, induzindo novas configurações urbanas. Todos os
planos diretores municipais foram alterados ou adaptados com a chegada dos Megaprojetos,
muitas vezes a despeito do estabelecido por outros instrumentos de gestão territorial (como
o Zoneamento Econômico Ecológico estadual ou as Áreas Prioritárias para a Conservação
do governo federal). Isto sugere que a implantação de novos projetos ou a expansão dos já
existentes introduz ou intensifica disputas no tenso processo decisório sobre o uso do solo
regional. Essa afirmação é confirmada pela sobreposição dos mapas das áreas de influência
direta e indireta dos projetos, que demonstram claramente a existência de zonas de
238
cumulatividade (analisadas nos recortes A e B, destacados na Figura 4.20 e 4.21), onde os
conflitos tendem a ser magnificados.
6.2. A segunda hipótese testada na pesquisa afirma que a análise segregada prejudica a
identificação dos impactos e impede uma gestão apropriada dos efeitos totais
(cumulativos) dos treze projetos co-localizados sobre a região.
239
desenho do Programa, restando ao licenciamento apenas a mitigação e a compensação dos
impactos – mal – identificados nos EIAs. Não há momento formalmente instituído para a
manifestação popular na decisão sobre a execução ou não de um grande projeto. Isso limita
o poder decisório do licenciamento e causa uma grande frustração na sociedade,
especialmente nos participantes das audiências públicas.
Uma outra maneira de minimizar parte desses problemas seria incorporar um sistema
continuado de audiências públicas no processo de licenciamento. Entre a emissão das
licenças prévia e de instalação e após a obtenção da licença de operação, o empreendedor e
o órgão licenciador seriam obrigados a prestar esclarecimentos à população sobre a
evolução do projeto, os resultados de seus programas de monitoramento e compensação,
suas alterações e os impactos detectados na operação do empreendimento não previstos no
EIA. As sugestões, reclamações e interesses da população seriam ouvidos e oficialmente
incorporados ao processo de licenciamento.
108
O PIPC é um plano de ocupação de curto, médio e longo prazo. Neste plano são abordadas todas as intervenções
previstas para ocorrerem ao longo dos 20 anos de projeto. O empreendimento ―Projetos Integrados do Pré-sal – Fase 1‖
contempla a evolução de 11 Testes de Longa Duração; 2 Pilotos de Produção; 1 Desenvolvimento de Produção (DP); e 3
trechos de gasodutos marinhos.
240
dos Megaprojetos, desconsideradas nas análises segregadas apresentadas nos EIAs. As
quatro técnicas utilizadas para esse fim se mostraram adequadas e eficientes.
6.3. A terceira hipótese proposta na tese sugere que, com a chegada de atividades
industriais de grande potencial transformador, seriam revelados indícios de um processo
de Modernização Ecológica em escala regional.
De fato, a presença de uma vocação cada vez mais voltada às atividades industriais revela
indícios importantes, mesmo que ainda incipientes, de um processo de ME na região.
241
postura de comando e controle das agências ambientais, a baixa participação popular na
tomada de decisão, e a tímida mudança de estratégia das ONGs ambientalistas.
De fato, parte dos problemas agravados com a instalação co-localizada dos Megaprojetos
poderia ser atenuada por meio da evolução de um processo de modernização ecológica,
com a Construção de Capacidades como alega Weidner (2002). Todavia, uma das
perguntas norteadoras desta tese questiona se um processo de ME faria frente aos desafios
do crescimento econômico com conservação ambiental esperados para a região. Essa
questão carece de uma reflexão mais aprofundada sobre as reais possibilidades de
conciliação entre o sistema capitalista e a ecologia, conforme defende a TME.
No caso dos Megaprojetos, primeiramente devemos atentar para o fato de que estes são, em
geral, imposições de escala, que ignoram a vocação e os problemas regionais e atendem às
demandas por infraestrutura de níveis mais altos que o local, onde normalmente as decisões
estratégicas sobre o modelo energético ou logístico foram tomadas sem o envolvimento
242
direto da sociedade em geral e muito menos das comunidades afetadas. Envolvimento este
indicado na teoria como crucial para a evolução da ME em qualquer nível, porém sem um
maior aprofundamento sobre como isso deveria se dar.
Não existe atividade industrial em larga escala sem sua respectiva infraestrutura também de
larga escala. Mesmo que a redução dos impactos ambientais, associada a uma possível
internalização de critérios ecológicos no processo produtivo industrial, possa ser mediada
pelo mercado, os efeitos locais das obras de infraestrutura necessárias para o
desenvolvimento da atividade industrial não podem. Notavelmente, os estudos empíricos
sobre a TME concentram-se em setores da atividade industrial onde existe relação direta
entre produção e consumo, sendo raras as análises onde essa relação é mais nebulosa, como
por exemplo, no caso dos impactos ambientais das estradas ou dos portos por onde os
produtos da atividade industrial serão exportados. Neste aspecto fica claro que a distância
entre a tomada de decisão estratégica e a manifestação popular não pode ser mediada pelo
mercado e as concepções da TME mostram-se limitadas.
Outra questão relevante sobre os limites da TME está relacionada à escala dos impactos
ambientais. A teoria da modernização ecológica assiduamente evita a análise de atividades
de alto impacto global, geradoras da atual crise ecológica como as mudanças climáticas, a
perda de biodiversidade, e acidificação dos oceanos (FOSTER, 2012). Seus principais
autores, reconhecendo esses limites, argumentam que a ME tem como principal quadro de
referência os problemas ambientais "normais", como a polução hídrica, resíduos sólidos e a
poluição atmosférica local (MOL, 1995; 1997; SPAARGAREN, 2000). Nesse aspecto há
um contraponto interessante entre a TME e a Teoria da Sociedade do Risco. Enquanto a
TME se envolve com as dinâmicas de degradação e resposta locais a Sociedade do Risco
analisa os riscos de alta consequência das dinâmicas globais. Esse aspecto, tomando como
objeto os impactos dos Megaprojetos em escala global, poderia ser um ponto de partida
para a construção de um diálogo muito interessante entre estas teorias em pesquisas futuras.
243
5, sustenta essa afirmativa quando indica que mesmo com a adoção de uma ITP de grande
eficiência processual, sem a redução da produção e do consumo de combustíveis fósseis,
não haverá benefício ambiental global. Pelo contrário, o processo de magnificação do efeito
estufa será intensificado e os impactos da indústria do petróleo e gás serão agravados.109
Por outro lado, existe a possibilidade da TME ser um passo em direção a um modelo
transicional entre o sistema industrial tradicional e um novo paradigma econômico-
ecológico. Não foram encontradas na produção científica analisada informações
suficientemente sedimentadas que nos permitam definir em qual perspectiva a TME se
encaixa melhor. Esta é certamente uma recomendação interessante para futuras pesquisas
sobre a ME no Brasil.
109
O consumo de hidrocarbonetos no mundo é crescente (na última década aumentou 14,4%), a produção mundial de
derivados é crescente (na última década cresceu 14,32%) e, devido ao aumento da cotação do petróleo associado às
novas tecnologias de prospecção e produção (ou, em outras palavras, ao avanço científico), as reservas também
cresceram 26% na última década. Diante desse quadro, não surpreende que as emissões de CO2 em nível global sejam
crescentes, sendo 66% destas relativas ao setor de energia. Mais informações em: bp.com/statisticalreview (2013).
244
Concluímos esse estudo reafirmando o forte papel transformador dos Megaprojetos. Os
eventuais benefícios sociais associados a esses empreendimentos não ocorrem de forma
automática e estão relacionados a uma coordenação eficiente entre as políticas públicas e
instituições nas três esferas governamentais, associadas à planejamentos locais e regionais
integrados. Seus efeitos econômicos são de grande magnitude, porém, também seguem uma
premissa básica do sistema capitalista, a distribuição não equitativa da riqueza e dos ônus
ambientais, perpetuando um modelo social e ambientalmente falido.
Vale ainda destacar o valor dos Megaprojetos como objeto de pesquisa. As disputas entre
os atores-chave da ME envolvidos no processo de instalação dos Megaprojetos podem ser
vistas como símbolos da crise ecológica da alta modernidade, e certamente se replicam por
todo o mundo, nas mais diversas condições sociais, econômicas e ambientais, e podem
servir de anteparo para as análises sobre a forma que a sociedade moderna lida com os
desafios da relação entre crescimento econômico e conservação ambiental.
Os achados da pesquisa indicam que para uma real emancipação da esfera ecológica no
universo dos Megaprojetos brasileiros, uma série de medidas institucionais se faz
necessária. Abaixo formulamos algumas sugestões.
245
AAES possibilitaria o estabelecimento de critérios para as Avaliações de
Impactos Cumulativos Regionais – AICRs, que seriam construídas de forma
participativa e coordenadas (em conjunto) pelos órgãos estaduais de meio ambiente
e pelas Prefeituras, de forma sempre vinculada aos resultados das AAES.
110
Mencionadas na p. 230 deste capítulo.
246
São Paulo, analisado nesta tese, sugere-se a criação do Conselho Estadual de
Desenvolvimento Sustentável, vinculado diretamente ao gabinete do Governador 111. Em
nível federal recomenda-se a retomada das atividades do Conselho de Governo, órgão
superior do SISNAMA criado na Política Nacional de Meio Ambiente com a função de
assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional de meio ambiente,
para que este atue como coordenador desse processo.
111
Tendo em vista que a Lei 13.507 de 2009 retirou do CONSEMA seu caráter deliberativo e o transformou em órgão
apenas consultivo, normativo e recursal.
247
248
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261
262
ANEXOS
263
Tabela A. 3: Tabelas utilizadas na alimentação da matriz de análise integrada (Referencial).
AGUAS SUPERFICIAIS
RISCOS TECNOLÓGICOS
GERAÇÃO EMPREGOS
EMISSÕES CO2
IPG
1- Desenvolvimento e Produção
Mexilhão
1 ? 2 2 2 2 1
2- UTGCA 1 ? 1 2 2 2 2
3- GASTAU 1 ? 2 2 2 2 2
4- Projetos Integrados no pólo Pré-sal 3 ? 0 3 3 0 NQ
5- TLDs Guará 3 ? 0 2 1 0 NQ
6- Piloto de Produção em Tupi / Lula 3 ? 0 2 3 0 NQ
7- Novo Píer do TEBAR 2 ? 0 3 3 2 NQ
14 0 5 16 16 8 5
AGUAS SUPERFICIAIS
RISCOS TECNOLÓGICOS
GERAÇÃO EMPREGOS
EMISSÕES CO2
PSS
1- PSS REGULARIZAÇÃO 2 ? 2 3 NQ 1 NQ
2- PSS AMPLIAÇÃO 2 1 1 3 3 1 3
4 1 3 6 3 2 3
IMPACTO NAS RECEITAS PÚBLICAS MUNICIPAIS
ATRIBUTOS
ALTERAÇÕES NAS DIN. DE USO DO SOLO
SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO
AGUAS SUPERFICIAIS
RISCOS TECNOLÓGICOS
GERAÇÃO EMPREGOS
EMISSÕES CO2
RNT
1- Nova Tamoios: subtrecho planalto NA NA NA NA NA NA NA
2- Nova Tamoios: subtrecho serra 1 NQ 2 3 1 2 2
3 - Nova Tamoios: contornos sul 1 1 2 3 1 2 2
4- Nova Tamoios: contornos norte 1 1 2 3 1 2 2
3 2 6 9 3 6 6
264
Tabela A. 4: Tabelas utilizadas na alimentação da matriz de análise integrada (Comparativa).
AGUAS SUPERFICIAIS
RISCOS TECNOLÓGICOS
GERAÇÃO EMPREGOS
EMISSÕES CO2
IPG
1- Desenvolvimento e Produção
Mexilhão
3 2 2 3 3 1 2
2- UTGCA 2 3 1 3 3 2 3
3- GASTAU 1 2 1 1 1 2 2
4- Projetos Integrados no pólo Pré-sal 3 3 0 3 3 0 3
5- TLDs Guará 3 2 0 2 1 0 1
6- Piloto de Produção em Tupi / Lula 3 2 0 2 3 0 3
7- Novo Píer do TEBAR 2 3 0 3 3 1 3
17 17 4 17 17 6 17
AGUAS SUPERFICIAIS
RISCOS TECNOLÓGICOS
GERAÇÃO EMPREGOS
EMISSÕES CO2
PSS
1- PSS REGULARIZAÇÃO 1 2 1 2 1 1 2
2- PSS AMPLIAÇÃO 3 3 1 3 3 2 3
4 5 2 5 4 3 5
IMPACTO NAS RECEITAS PÚBLICAS MUNICIPAIS
ATRIBUTOS
ALTERAÇÕES NAS DIN. DE USO DO SOLO
SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO
AGUAS SUPERFICIAIS
RISCOS TECNOLÓGICOS
GERAÇÃO EMPREGOS
EMISSÕES CO2
RNT
1- Nova Tamoios: subtrecho planalto NA NA NA NA NA NA NA
265
Tabela A. 5: Matrizes de Análise Integrada dispostas lado a lado.
Referencial
Comparativa
266
Tabela A. 6: Empregos gerados (Declarados nos EIAs, ajustados nas visitas aos empreendimentos).
MUNICIPIO 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Caraguatatuba -163 -146 -208 -68 -139 -474 468 624 700
Ilhabela 260 124 121 232 -19 -32 -23 114 -158
Sao Sebastiao 264 356 68 302 -234 73 -240 -210 223
Ubatuba -191 -384 -409 -185 -193 -535 -314 -521 -485
170 -50 -428 281 -585 -968 -109 7 280
BRASIL - EVOLUÇÃO DO EMPREGO POR MUNICIPIO E SETOR DE ATIVIDADE ECONOMICA, COM AJUSTES
Período: janeiro a julho de 2010
MUNICIPIO EXTR MINERAL IND TRANSF SERV IND UP CONSTR CIVIL COMERCIO SERVICOS ADM PUBLICA AGROPECUARIATOTAL
Sp-Caraguatatuba -74 23 18 1.231 -294 121 -318 -7 700
Sp-Ilhabela 0 -1 5 5 10 -175 -1 -1 -158
Sp-Sao Sebastiao 5 -13 20 348 -25 -115 0 3 223
Sp-Ubatuba 0 14 67 107 -260 -404 0 -9 -485
Período: janeiro a julho de 2011
MUNICIPIO EXTR MINERAL IND TRANSF SERV IND UP CONSTR CIVIL COMERCIO SERVICOS ADM PUBLICA AGROPECUARIATOTAL
Sp-Caraguatatuba -17 -95 6 -1528 -361 125 -708 11 -2.567
Sp-Ilhabela 0 -12 4 -17 -22 -134 0 5 -176
Sp-Sao Sebastiao -1 -22 25 -185 -125 202 0 -2 -108
Sp-Ubatuba 0 -50 13 49 -373 -558 -1 7 -913
267
Tabela A. 8: evolução do emprego / Brasil e Estado de São Paulo.
FONTE: http://www.mte.gov.br/caged_mensal/atual/default.asp (CONSULTA EM: 25/09/12)
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
BRASIL 846.037 690.123 1.337.564 1.216.110 1.213.824 1.352.217 1.676.687 566.934 1.856.143 1.593.527
SÃO PAULO-ESTADO 333.602 296.328 497.059 521.111 532.468 575.422 674.249 220.203 656.375 580.078
Tabela A. 9: Royalties.
Elaborado pelo autor com dados dos sites: http://inforoyalties.ucam-campos.br/ e
http://www.anp.gov.br/?pg=61565&m=royalties&t1=&t2=royalties&t3=&t4=&ar=0&ps=1&cache
bust=1346765882162
268
Tabela A. 11: ICMS-Ecológico.
Elaborado pelo autor com dados do site:
http://www.icmsecologico.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=54&Itemid=62
SOMA MUNIC.
ANO MUNICÍPIOS TOTAL ANO* (R$) SOMA LNP (R$)
ESTADO SP (R$)
CRG 1.730.818,47
ILB 1.423.211,31
2007
66.638.320 6.820.446
SS 1.360.392,80
UBT 2.306.023,37
CRG 1.996.909,20
ILB 1.643.058,64
2008
77.807.316 7.873.310
SS 1.575.324,26
UBT 2.658.017,73
CRG 2.015.405,67
ILB 1.655.893,59
2009
78.178.903 7.943.598
SS 1.584.090,41
UBT 2.688.207,91
CRG 2.400.553,11
ILB 1.972.745,59
2010
92.071.488 9.463.601
SS 1.882.828,46
UBT 3.207.473,54
CRG 2.574.014,18
ILB 2.115.984,37
2011
101.338.415,02 10.162.680
SS 2.028.968,55
UBT 3.443.712,56
269
Tabela A. 12: Critérios de espacialização para composição do mosaico de AIDs e AIIs.
270
Tabela A. 13: Tabelas de cálculo das emissões de CO2 da IPG
PIPS - 1
FPSO PROJETO ANCORAGEM EMISSÕES (ton/ano)
Cidade de São Paulo Piloto de Sapinhoá ? 484.248,67
Cidade de Paraty Piloto de Lula Nordeste ? 484.248,67
Cidade de Mangaratiba Desenvolvimento da Produção de Iracema ? 484.248,67
TLD de Sapinhoá Norte Turret
TLD de Lula Sul Turret
TLD Lula Turret
BW Cidade de São Vicente 539.661,31
TLD Iara Oeste Turret
TLD Parati Extensão Turret
TLD Iara Horst Turret
TLD de Lula Norte Dinâmico
TLD de Bracuhi Dinâmico
Dynamic Producer TLD Carcará Dinâmico 616.698,66
TLD Lula Central Dinâmico
TLD Lula Alto Careca Dinâmico
2.609.105,98
MEXILHÃO
PLATAFORMA DE MEXILHÃO PLATAFORMA JAQUETA FIXA 52.670,30
DP LULA
FPSO CIDADE DE ANGRA DOS REIS PP TUPI (LULA) Turret 484.248,67
271
ROTEIRO DAS ENTREVISTAS
1. Como você vê a relação entre crescimento econômico e conservação ambiental no atual cenário
regional?
2. Qual é a importância dos grandes projetos de infraestrutura para a transformação regional em curto,
médio e longo prazos?
4. Qual é a importância das ONGs ambientalistas na relação dos empreendimentos com a região?
5. Em que medida sua instituição está aberta às sugestões/recomendações das ONGs ambientalistas nas
decisões sobre o projeto?
7. Em sua opinião, o que precisa ser feito para melhorar a relação entre a empresa, as ONGs e os
Órgãos Ambientais?
272
ii. Empreendedores (indústria):
1. Como você vê a relação entre crescimento econômico e conservação ambiental no atual cenário
regional?
4. Quais são adotadas nos projetos do LNP e quais são as principais motivações para sua adoção?
Quais são os obstáculos para sua aplicação?
7. Em que medida a empresa está aberta as sugestões/recomendações das ONGs Ambientalistas nas
decisões sobre o projeto?
8. Em sua opinião, o que precisa ser feito para melhorar a relação entre a empresa, as ONGs
Ambientalistas e os Órgãos Ambientais?
1. Como você vê a relação entre crescimento econômico e conservação ambiental no atual cenário
regional?
6. Em sua opinião, o que precisa ser feito para melhorar a relação entre a empresa, as ONGs
Ambientalistas e os Órgãos Ambientais?
273
Roteiro de Entrevistas para alimentação da matriz de análise da ME
CONDIÇÕES:
1. Você acredita que o LNP está inserido em uma situação de Estado forte (legítimo e com uma estrutura
diferenciada e avançada)?
2. Você considera que as ONGs Ambientalistas atuantes no LNP possuem uma consciência ambiental
diferenciada, boa estrutura e força (suficiente para impelir a uma mudança ecológica radical)?
3. Você considera que os atores envolvidos nos processos de licenciamento possuem experiência e
tradição em processos de tomada de decisão negociada?
PREMISSAS:
4. Você acredita em uma mudança de postura dos empreendedores (onde critérios ecológicos, além dos
critérios econômicos, pesam na tomada de decisão) e no desenvolvimento e na implementação de ITPs?
5. Você acredita na mudança de postura das agências ambientais (de uma postura burocrática, de comando
e controle, para um processo de regulação negociada com incentivo ao desenvolvimento e
implementação de ITPs)?
6. Você concorda que há uma mudança de ideologia e de estratégia das ONGs ambientalistas adotando
uma participação mais direta nas negociações com os agentes econômicos e representantes do Estado,
visando uma postura mais propositiva?
274