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Resumo
O artigo trata da complexa questão do Mahdi, o mes-
sias islâmico xiita, com uma breve introdução ao contexto
doutrinário-religioso. Descreve o panorama do Islam Sunita
com suas características doutrinárias e históricas. Aborda
as características do Xiismo Duodecimalista e a questão do
Imamato, imprescindíveis à compreensão do conceito mes-
siânico xiita. Conclui com uma reflexão sobre os possíveis
desdobramentos da questão, em um futuro remoto, a partir
da expectativa do retorno do Mahdi aguardado pelos xiitas.
Abstract
The paper deals with the complex issue of Mahdi, the
Shiite Islamic messiah, with a brief introduction to the doc-
trinal-religious context. It describes the panorama of Sunni Enviado em
Islam with its doctrinal and historical characteristics. It 27.08.2020
addresses the characteristics of Duodecimalistic Shia and the Aprovado em
question of the Imamate, which are essential for understan- 05.10.2020
ding the Shia messianic concept. It concludes with a reflec-
tion on the possible unfolding of the question, in a remote
future, based on the expectation of the return of the Mahdi Ano XXVIII - Nº 96
awaited by the Shiites. Maio - Ago 2020
1.Introdução
O
artigo trata da complexa questão do messias islâmico, aquele que na
tradição xiita é nominado como Mahdi. E, para abordagem do tema,
faz-se uma breve incursão pelo suporte que o fundamenta, isto é, o
contexto doutrinário-religioso. Por isso, a necessidade de se abordar
o surgimento do Islam Sunita em suas características doutrinárias e históricas,
em contraposição ao Xiismo Duodecimalista, apontando as principais diferen-
ças entre os dois. Se bem que para alguns autores tais diferenças, como se verá,
configuram uma falsa questão, uma vez que as duas perspectivas seriam comple-
mentares. Por sua vez, a questão do Imamato, ou seja, a questão do surgimento
e função dos Imãs no contexto islâmico xiita é imprescindível à compreensão da
ideia. Só então, a modo de conclusão, aborda-se os possíveis desdobramentos da
questão em um futuro remoto com a expectativa do retorno do Messias islâmico
pelos xiitas.
2. O Islam sunita
O Islam surgiu na Arábia, no início do século VII da era cristã, em ambiên-
cia árabe e em contato com pequenos traços de Judaísmo e de Cristianismo, que
como religiões não chegaram a florescer naquela ambiência. Naquele momento,
tratava-se de uma sociedade tribal em que a maioria dos habitantes vivia como
cameleiros nômades, ajustados ao clima rude do deserto e que possuíam regras
morais e sociais que caracterizavam a chamada “civilização do deserto”.
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3. Xiismo Duodecimalista
As origens do xiismo estão associadas a uma questão, sobretudo de cará-
ter político, relativa à sucessão do Profeta, após sua morte inesperada. Como
o Profeta, segundo os sunitas, não havia deixado expressamente um sucessor
(kahlifa), um grupo majoritário apoiou Abu Bakr, amigo e genro do Profeta e
um dos primeiros muçulmanos, nomeando-o primeiro califa, em detrimento de
outro grupo que apoiava um membro da família do Profeta, o primo e genro do
Profeta, o futuro califa Ali b. Ali Talib. A questão se prolonga com o surgimento
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de dois outros califas que sucedem a Abu Bakr, após sua morte, com a ascen-
são dos califas Umar e Utsman, respectivamente, e Ali Talib só vem assumir o
califado após a morte do terceiro califa Utsman, mas exercendo a função por
pouco tempo, pois logo depois é assassinado. Com a morte do califa Ali vai se
originar o xiismo, termo cuja raiz é a palavra xia, que significa “partido de Ali”.
Porém, a partir desse momento o xiismo passa a ser mais do que uma questão
meramente política, uma vez que dá origem a alguns aspectos doutrinários dis-
tintos do sunismo.
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Existe outro versículo bem significativo que diz: “Deus escolheu a Adão, a
Noé, à família de Abraão e à família de Imram sobre os mundos.” (Ibidem, III,
3). Isso significa que tais versículos, utilizados por ambas as expressões islâmi-
cas, sunismo e xiismo, servem de fundamento indiscutível para os comentadores
do Alcorão de que Muhammad pertencia à “família de Abraão”. Aliás, Abraão
era reconhecido pelo povo árabe não somente como seu progenitor, mas também
como aquele que fundou a Kaaba, cuidada por quatro gerações de zeladores
antepassados do Profeta com prerrogativas sacerdotais. Neste cenário familiar,
Muhamad surge como último Profeta de Deus, chamado de o Selo das Profecias
(khatim an-nubuwwah), tanto por sunitas como por xiitas, e restaurador da
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Para alguns muçulmanos a questão era mais política do que religiosa, para
outros, era mais religiosa do que política. Nesse sentido, não devemos esquecer
que o Islam contempla todos os aspectos da vida e do destino humanos, nesta
vida e na outra, e o Profeta, para os islamitas, como Mensageiro de Deus enviado
para trazer Sua mensagem para a humanidade, acumulou a função de governante
temporal e estadista, sobretudo na comunidade de Medina, na qual surgiram as
questões mundanas que necessitavam de orientações. Nessa perspectiva, o Islam
desde o início incorpora tanto a questão da disciplina religiosa como um mo-
vimento sócio-político. O Profeta legou, portanto, uma herança religiosa e um
legado político, também. Desse modo, após a morte do Profeta alguns dos seus
companheiros achavam que a questão da sua sucessão seria, primordialmente,
de grande importância religiosa e espiritual; uma questão de Orientação Divina
continuada, a ser conduzida pelos Imãs divinamente escolhidos e inspirados, to-
dos provenientes da família do Profeta, capacitados a interpretar com autoridade
a Revelação Divina e a Sunnah profética (JAFRI, 1990, p. 121).
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sos obrigatórios a serem cumpridos na adoração a Deus: 1º) orar cinco vezes ao
dia; 2º) jejuar durante todo o mês de Ramadã; 3º) fazer a peregrinação (hajj) à
Kaaba, pelo menos uma vez na vida, isto é, se for capaz, financeira e fisicamente;
4º) fazer doações (zakat) equivalentes a um décimo de certas mercadorias, pagas
no final do ano, para o bem da comunidade e para os pobres; 5º) pagamento do
khums ou um quinto do rendimento anual individual, pago como prerrogativa
do Imã da época; 6º) praticar o jihad, traduzido geral, mas não acuradamente,
como guerra santa; 7º) o al-amr bi’l-ma’rif wa’l-nahy ‘an al-muskar, exortar
os outros a fazer o bem e impedi-los de fazer o mal. Cinco dessas obrigações re-
ligiosas que são a prece canônica, o jejum, o hajj, o zakat e o jihad, são comuns
ao xiismo e ao sunismo, com poucas variações na realização dos quatro primei-
ros, existindo alguma diferença na interpretação da obrigação de jihad. Para os
xiitas, na ausência do Imã e sem nenhum outro substituto especial deste, a guerra
santa não pode ser iniciada. No entanto, quando um inimigo ataca, e coloca um
país ou comunidade islâmica em perigo, é dever de todos lutar em defesa de seu
país e de seu povo.
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só aceitam as interpretações dos seus Imãs. No que diz respeito aos hadith, ao
contrário dos sunitas, que se restringem às sentenças do Profeta, os xiitas acres-
centam as tradições dos Imãs também. A shi’ah permite também que alguém
dissimule sua fé caso ao demonstrá-la ponha sua vida em risco. Isso se chama
taqiyyah. Também ab-rogaram a disposição do casamento temporário (mut’ah),
permitido pelo Profeta em sua vida, especialmente durante guerras. Além dessas
diferenças, existem outras referentes às escolas jurídicas, que uma exposição
dessa natureza não permite abranger.
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O livro cita outro sheikh sunita, Muhamad al-Ghazali, autor da obra “Como
compreender o Islam”, que diz: “Constatamos que todos são iguais em sua busca
da verdade, embora seus meios sejam divergentes.”(Ibidem, p. 19). E, no que diz
respeito ao Alcorão, cita outro estudioso, Salim al-Behensawi, que em sua obra
“A sunna caluniada”, responde àqueles que afirmam terem os xiitas um Alcorão
diferente do comum de todos os muçulmanos, dizendo: “O Alcorão que se en-
contra entre as mãos dos sunitas é o mesmo que se encontra nas mesquitas e nas
casas dos xiitas”, acrescentando: “[...] os xiitas duodécimanos consideram ímpio
a quem modifica o Alcorão, o qual goza do consenso unânime dos muçulmanos
desde os primórdios do Islam.” (Ibidem, p. 21).
Enfim, a respeito da diferença entre sunitas e xiitas, o livro traz uma citação
do próprio Ayatollah Khomeini (1902-1989) que, na sua chegada a Paris, nos pri-
mórdios da Revolução Islâmica do Irã, falou que “a causa que conduziu aos mu-
çulmanos dividirem-se um dia em sunitas e xiitas já não existe hoje [...] Somos
todos muçulmanos. Somos irmãos no Islam.” (Ibidem, p. 33). Em outro livro,
intitulado de Al–Haraka al-Islamiyya wal Tahdit, citado na obra acima, o autor
conhecido como Gnuchi cita as seguintes palavras de Khomeini: “Queremos go-
vernar por o Islam tal como foi revelado a Muhamad. Não existe diferença entre
sunismo e xiismo, pois as escolas não existiam na época do Profeta.” (Ibidem).
Ainda por ocasião de um encontro acontecido em Argel, na Argélia, o represen-
tante do Imã Khomeini, Sayyed Khosraud Chahi, afirmou:
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Islam é utilizado como instrumento político por um grupo ou regime contra ou-
tro. Isso significa dizer que tais diferenças são uma oportunidade ideal para todas
as forças externas e contrárias ao Islam, que tiram proveito do enfraquecimento
do mundo islâmico, para criar o caos e a discórdia dentro dele. Tais observações
conduzem, então, para aquilo que incomoda aos sunitas no Islam xiita, isto é, a
questão do Imamato, aspecto que se passa a analisar mais detidamente, porque é
ela que fundamenta a existência e retorno do messias islâmico conhecido como
Mahdi.
5. O Imamato
Efetivamente, o termo imã (iman) para os xiitas tem um significado dife-
rente daquele empregado pelos sunitas, pois estes últimos adotam o sentido de
que imã significa apenas aquele que se coloca à frente dos outros no momento da
oração coletiva para conduzi-la. O termo iman para os xiitas significa mais do
que isso, literalmente quer dizer “líder” ou “guia”, isto é, aquele que é ordenado
por Deus para continuar a Orientação Divina, após o término da revelação da
profecia. Chama-se Imamato a gestão dos assuntos temporais e espirituais da
sociedade islâmica; a pessoa que se encarrega desta gestão, que guia a comuni-
dade muçulmana, é denominada de Imã. Para os xiitas, o envio de Mensageiros
Divinos sempre é necessário para guardar a pureza religiosa e guiar o povo, as-
sim, para eles, o Senhor Todo-Poderoso designa alguém que possui os atributos
perfeitos semelhantes aos do Profeta (menos a revelação e a profecia), ou seja,
um sucessor capaz de manter as leis religiosas e dirigir os homens no caminho
reto. Uma autoridade capaz de preservar rigorosamente a lei divina e guiar sem
falhar os homens. Esta autoridade espiritual e temporal não é outra senão o Imã
da comunidade muçulmana. Desse modo, o Imamato e a valayat2 são definidas e
instituídas para resolver os problemas dos crentes. Outro termo associado a ele,
e que tem quase o mesmo sentido, é a palavra wilayah, com a diferença de que
esta palavra enfatiza particularmente uma qualidade singular do Imã, com que
é dotado por Deus, para interpretar o sentido interior ou esotérico da Revelação
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Dois são os princípios que norteiam o Imamato xiita: nass e ilm. Nass sig-
nifica que a prerrogativa do Imamato outorgada por Deus só pode ser atribuída
a um membro escolhido da família do Profeta, e esta pessoa a transfere antes de
sua morte com a orientação de Deus para outrem por uma designação explícita.
Para os xiitas, a Orientação Divina deveria continuar após a morte do Profeta, e
por isso, o próprio Profeta antes de sua morte, e sob o Comando Divino, designou
‘Ali ibn Abi Talib como seu sucessor – os sunitas discordam dessa afirmativa.
Essa escolha xiita está associada à noção de Ahl al-Beyt, ou seja, dos membros
da Casa do Profeta, e que tem uma dimensão mais ampla para o xiismo. Na tra-
dição corânica e islâmica tal expressão tem um significado particular, não profa-
no, e significa dizer que os participantes desta Casa são o Profeta, o califa Ali, a
filha do Profeta e esposa de Ali, Fátima, e os filhos do casal, Hassan e Husayn.
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com a arca de Noé; aquele que está a bordo será salvo, os outros perecerão.”
(Ibidem, p. 105). De acordo com outros escritos, o Profeta também haveria dito
sobre sua descendência o que se segue: “Deixo-vos como recordação duas coisas
preciosas e indissociáveis: o Livro de Deus (o Alcorão) e as gentes de minha
Casa. Na medida em que vocês sigam estes dois inestimáveis bens que lhes dei-
xo, não caireis em erro.” (Ibidem). Dessa forma, no que diz respeito à autoridade
do nass, o Imamato se restringe, portanto, em todas as circunstâncias políticas,
a uma pessoa definida entre os descendentes de ‘Ali e Fatimah, quer essa pessoa
reivindique o governo temporal ou não.
Além disso, o Imã xiita é responsável por três outras funções: 1. Explicar
aquilo que foi revelado através do Alcorão e foi ensinado pelo Profeta, e tam-
bém, interpretar a Lei Divina, a shari’ah; 2. Ser um guia espiritual que conduz
os homens a um entendimento do significado interior das coisas; e como conse-
qüência dessas duas qualidades deve 3. Governar a comunidade muçulmana, se
as circunstâncias do momento permitirem.
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Segundo o xiismo, o Profeta designou Ali para sucedê-lo como Vali, isto é,
como tutor e administrador da comunidade islâmica. De acordo com uma tradi-
ção muito conhecida, alguns dias antes de sua morte, Muhamad havia levantado
a mão de seu genro Ali diante de cento e vinte mil peregrinos – nas proximidades
da cidade de Khom – e declarado aos presentes: “Ali tem um direito de tutela
e de administração parecido ao meu; ele administrará a quem eu administro.”
(Ibidem, p. 109). Também, segundo outra tradição, relatada pelos xiitas e pelos
sunitas, o Profeta declarou que “os Imãs são em número de doze, e pertencem
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todos ao clã (descendentes de ancestrais comuns) dos Quraich [tribo a qual per-
tencia o Profeta].” (Ibidem). Deduz-se de tudo isso que o Imã, sob a instância do
Profeta, deve ser infalível, protegido do menor pecado; e deve conhecer todas
as questões espirituais e temporais das quais dependem o bem-estar humano.
Entre os catorze Imãs, cinco cujos nomes são Muhamad, Ali, Fatimah, Hassan e
Husayin, são chamados de “companheiros do manto” (ashab kassá), isso porque
certo dia o Profeta os reuniu debaixo de seu manto e rogou por eles dizendo que
o Senhor Todo-Poderoso revelou sua intenção:
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imã conseguiu conquistar a regência. Quase todos sofreram mortes não naturais,
na opinião dos xiitas sempre causadas pelos califas e seus cúmplices. Essa perse-
guição tornou-se recorrente de tal modo que o califado, pela época do Imamato
de Hassan Askari, o 11º Imã, decidiu eliminar por todos os meios seu sucessor
para por termo ao xiismo. Por isso os opositores redobraram a vigilância ao Imã.
Quando o Imã do tempo (Imã Zaman), o 12º Imã, veio ao mundo, guardou-se
silêncio de seu nascimento, e até chegar aos seis anos ninguém pôde vê-lo, com
exceção dos íntimos de seu pai. Depois do martírio de seu pai, o Imã do tempo
desapareceu momentaneamente (pequena Ocultação). Comunicava-se com os
fiéis da comunidade e resolvia seus problemas com a intercessão de quatro emi-
nentes que se reuniam com ele. Um tempo depois, o Imã do tempo se ausentou
por um longo período (grande Ocultação), prometendo reaparecer e salvar aos
homens no dia em que a terra fosse desbordada pelo mal e pela opressão. No que
diz respeito à ausência e à vinda deste Messias, numerosos relatos foram trans-
mitidos pelo Profeta e pelos Imãs, tanto pelos sunitas como pelos xiitas. Sem
dúvida, quando o pai deste Imã ainda vivia, alguns dignitários xiitas tiveram o
privilégio e a graça de ver o futuro Messias xiita (Ibidem, p. 103-131).
Durante sua “ausência” (ghayba), sua comunidade de xiitas, que, por isso
chama-se “xiitas do doze” ou “imamitas”, foi a primeira guiada por um substi-
tuto (waqil). Todavia, depois do quarto waqil, esse princípio também não tem
sido mais praticável. Deu-se uma nova forma de ausência que se chama “gran-
de” em contraposição à primeira, conhecida como “pequena”. Durante todo esse
tempo, de acordo com a fé, o décimo segundo imã continua vivo e os imamitas
acreditam que um dia ele voltará para conquistar a vitória final para a causa
justa e contra todos os usurpadores do poder. Por isso, o décimo segundo imã
tem a alcunha de mahdi. O Irã é o único país até hoje em que o “xiismo dos
doze”, que cultua a vinda do Mahdi, é a religião oficial da maioria da popula-
ção. É liderado, em substituição do imã escondido, pelos supremos dignitários
espirituais. Agora, eles levam o título de Ayatolá (uma forma contraída de ayat
Allah = sinal de Deus) e formam um círculo íntimo de eruditos de destaque que
se recrutam entre os escolares religiosos (mujtahids). Como se sabe, no século
XX, o Aiatolá Ruhollah Khomeini cumpriu essa função até sua morte (1989).
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De outro modo, para os xiitas, no grande livro divino que é o Alcorão, exis-
tem muitos versículos que falam de uma grande transformação na humanidade.
Dentre outros, a Surata 24, versículo 55, do Alcorão, que diz:
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De acordo com Wallis (1918), citado por Queiroz, a ideia messiânica não
é peculiar ao judaísmo, já que anteriormente a Israel, babilônicos, egípcios, a
religião de Zoroastro, tinham mitos tipicamente messiânicos (Ibidem). No en-
tanto, foi na antiga religião judaica que a noção adquiriu sua definição plena.
E, ao que parece, o conceito messiânico parece ter passado aos judeus, vindo
de fonte oriental. Discussões teológicas ulteriores refinaram pouco a pouco o
conceito, dando-lhe sua forma definitiva, mas sempre dentro da religião judai-
ca, ou seja, o messias é o personagem encarado como um guia divino que deve
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