COEX
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comunicação e expressão
Visão geral da noção
de texto – conceito e
tipologia: descrição
Competências
Compreensão do conceito de texto e do que seja descre-
ver. Ampliação do repertório.
Habilidades
Associação dos conceitos de textualidade. Reconheci-
mento dos gêneros narração, descrição, dissertação.
Elaboração de uma descrição.
Apresentação
Descrever é uma habilidade necessária a qualquer pro-
fissional que utilize de algum modo a palavra. Pode-se
dizer, sem medo de exagerar, que a necessidade de des-
crever bem aparece diariamente na vida profissional.
Esta aula fornece uma introdução ao assunto, mostra os
aspectos mais importantes e propõe exercícios que per-
mitam avaliar o domínio dessas características do texto
descritivo.
Para Começar
É muito comum nos referirmos à palavra texto em várias
situações, afinal ela é bastante conhecida de todos. Está
presente no cotidiano em muitas atividades e não ape-
nas na escola. Mas o que realmente sabemos a respeito
do texto? Veja a seguir.
Triste história
Há palavras que ninguém emprega. Apenas se encontram nos dicionários como velhas
caducas num asilo. Às vezes uma que outra se escapa e vem luzir-se desdentadamente,
em público, nalguma oração de paraninfo. Pobres velhinhas... Pobre velhinho!
— Mário Quintana, Triste História
[...] mas foi a Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra Mundial, que realizou as
experiências mais aterradoras. Só que as cobaias eram seres humanos. Prisioneiros
de guerra, principalmente judeus, foram submetidos a todos os tipos de crueldades.
— O Estado de S. Paulo, 3 out 1991 Disponível em: https://aplicweb.feevale.br/site/
files/documentos/doc/16220.doc. Acesso em março de 2010
O espírito democrático da criança não conhece hierarquia: ele sofre da mesma forma
diante da fadiga do trabalhador, da fome de um camarada, da miséria de um burro
de carga, do suplício de uma galinha sendo degolada. O cachorro e o pássaro são
seus próximos, a borboleta e a flor seus iguais. Ela descobre um irmão numa pedra ou
numa concha. Ela se dessolidariza de nós em seu orgulho de novo-rico; ignora que só
o homem possui alma.
Nós não respeitamos a criança porque ela tem muitas horas de vida pela frente.
Atenção
A natureza do texto supõe alguns conceitos. Supõe ainda:
estrutura, assunto, espaço, tempo, figuras, relações entre
diferentes textos, contexto...
No 1
Os companheiros de classe eram cerca de vinte; uma variedade de tipos que me di-
vertia. O Gualtério, miúdo, redondo de costas, cabelos revoltos, mobilidade brusca
e caretas de símio – palhaço dos outros, como dizia o professor; [...] o Maurílio, ner-
voso, insofrido, fortíssimo na tabuada: cinco vezes dois, noves fora, vezes sete?... lá
estava Maurílio, trêmulo, sacudindo no ar o dedinho esperto... olhos fúlgidos no rosto
No 2
Baleia assustou-se. Que faziam aqueles animais soltos de noite? A obrigação dela era
levantar-se e conduzi-los ao bebedouro. Franziu as ventas, procurando distinguir os
meninos. Estranhou a ausência deles. Não se lembrava de Fabiano. Tinha havido um
desastre, mas Baleia não atribuía a esse desastre a impotência em que se achava nem
percebia que estava livre de responsabilidades. Uma angústia apertou-lhe o pequeno
coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar
pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na
esteira, por baixo do caritó onde Sinhá Vitória guardava o cachimbo.
— Graciliano Ramos, Vidas Secas
No 3
[...] Todo especialista em marketing e em propaganda sabe que a cor é fundamental
na apresentação e na aceitação do produto e, mais ainda, que isto é também condi-
cionado ao sexo, idade ou extrato sociocultural do comprador visado. Um produto que
se destina, principalmente, ao mercado feminino deverá ter, por exemplo, embalagem
em que predominem cores “femininas”, isto é, que lembrem suavidade e delicadeza; já
naquele que busque despertar no homem o desejo de comprar as cores serão “mas-
culinas”, traduzindo agressividade e força. O efeito psicológico das cores pode, neste
campo, ter grandes implicações. Não nos esqueçamos da pouca receptividade que,
inicialmente, tiveram as geladeiras pintadas de vermelho, uma cor “quente”, pois as
donas de casa não acreditavam que gelassem tão bem como as brancas...
— Roberto Verdussen, Ergonomia: a racionalização humanizada do trabalho
Dicas
Narrar x descrever x dissertar
A narração é marcada pela temporalidade; a descrição, pela
espacialidade; e a dissertação, pela racionalidade.
Fundamentos
Descrever é caracterizar uma cena, um estado, um momento vivido ou
sonhado através de nossa percepção sensorial e de nossa imaginação
criadora. A visão, o tato, a audição, o olfato e o paladar – nossos cinco
sentidos – constituem os alicerces da descrição. (AMARAL, Patrocínio &
SEVERINO, Antonio, 1999, p. 17)
Descrição é o tipo de texto em que se relatam as características de
uma pessoa, de um objeto ou de uma situação qualquer, inscritos num
certo momento estático do tempo. [...] Como os fatos reproduzidos numa
descrição são todos simultâneos, nesse tipo de texto não existe obvia-
mente relação de anterioridade ou posterioridade entre os seus enuncia-
dos. (FIORIN & SAVIOLI, 2009, p. 298)
Descrever é um processo no qual se empregam os sentidos para cap-
tar uma realidade e reprocessá-la num teto. Para a elaboração de texto
final, concorrem a sua habilidade linguística [...] e as finalidades a que ele
se propõe: informar ao leitor, convencê-lo, transmitir-lhe impressões ou
comunicar-lhe emoções. (SCIPIONE, 2006, p. 136)
Observando os conceitos comentados, é possível estabelecer que a
descrição é um texto, literário ou não, em que se caracterizam seres, coi-
sas e paisagens.
Alguns itens podem ser verificados em relação à descrição:
Prédio talvez um pouco antigo, porém limpo; desde o portão da chácara pressentia-se
logo que ali habitava gente fina e de gosto bem-educado [...] bolhas de vidro de várias
cores com pedestal de ferro fosco, e lampiões de três globos que surgiam de peque-
ninos grupos de palmeiras sem tronco, e banco de madeira rústica, e tamboretes de
faiança azul-nanquim, alcançava-se uma vistosa escadaria de granito, cujo patamar
guarneciam duas grandes águias de bronze polido, com as asas em meio descanso,
espalmando as nodosas garras sobre colunatas de pedra branca. Na sala de entrada,
por entre muitos objetos de arte, notava-se, mesmo de passagem, meia dúzia de telas
originais, umas em cavaletes, outras suspensas contra a parede por grossos cordéis de
seda frouxa; e, afastando o soberbo reposteiro de redes verdes que havia na porta do
fundo, penetrava-se imediatamente no principal salão da casa.
— Aluísio Azevedo, O Homem
De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio d’água que se dirige para o nor-
te, e engrossado com os mananciais, que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se
rio caudal. É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma
serpente, vai depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majes-
tosamente em seu vasto leito. Dir-se-ia que vassalo e tributário desse rei das águas, o
pequeno rio, altivo e sobranceiro contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés
2. Como descrever
Observando os textos, vemos que é possível escolher um entre os aspec-
tos a seguir, para efetuar a descrição ou mesmo a associação de dois e até
três aspectos. São eles:
Papo Técnico
A descrição compreende algumas fases: enumeração de
elementos, levantamento sensorial, comparação, imagi-
nação criadora. Leva em conta, ainda, um sujeito e suas
perspectivas.
Como você sabe, o som não é uma propriedade das cores ou dos cheiros.
Mas no texto de Graça Aranha, os cinco sentidos se misturam, se fundem
com a intenção de provocar uma sensação de completude.
Veja, no esquema a seguir, a ligação entre sujeito, base sensorial e cria-
tividade.
Conceito
Descrever é um processo em que se capta a realidade por
meio dos sentidos; é caracterizar uma cena, um estado, um
momento vivido ou sonhado através da percepção sensorial
e da imaginação criadora.
sujeito objeto
(percebedor) (percebido)
base imaginação
sensorial criadora
De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio d’água que se dirige para o nor-
te, e engrossado com os mananciais, que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se
rio caudal. É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma
serpente, vai depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majes-
tosamente em seu vasto leito. Dir-se-ia que vassalo e tributário desse rei das águas, o
pequeno rio, altivo e sobranceiro contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés
do suserano. Perde então a beleza selvática; suas ondas são calmas e serenas como as
de um lago, e não se revoltam contra os barcos e as canoas que resvalam sobre elas:
escravo submisso, sofre o látego do senhor [...] Aí o Paquequer lança-se rápido sobre o
seu leito, e atravessa as florestas como o tapir, espumando, deixando o pelo esparso
pelas pontas do rochedo e enchendo a solidão com o estampido de sua carreira.
— José de Alencar, O Guarani
Uma constatação
No Brasil, em pleno século XXI, as empresas se queixam da dificuldade
de encontrar pessoas que escrevam bem. Particularmente importante é
a habilidade de redigir descrições que sejam facilmente inteligíveis, que
não desperdicem palavras e, na medida do possível, que sejam agradáveis
de ler. Por exigências de políticas de qualidade cada vez mais sofisticadas
e abrangentes e de necessidade de certificações (várias modalidades de
ISO, Green Buildings e outras validações de produtos), há uma tendência
da valorização de profissionais capazes de escrever descrições concisas e
corretas. Assim, empenhe-se.
Lembre-se
A descrição está presente em situações coti-
dianas e sua utilização é tão comum que não
nos damos conta que a estamos praticando.
É largamente empregada nas organizações:
especificação de produtos, serviços, locais,
reuniões, projetos, relatórios e em várias ou-
tras. outras instâncias...
E agora, José?
Agora que você já sabe o que é texto e conhece um pouco
do gênero “descrição”, chegou o momento de dar mais um
passo e verificar como contar um fato, um acontecimento,
um evento. Para isso você aprenderá na próxima aula, o
que é uma narração e como elaborá-la. Aprenderá também
como o fato de conhecer a estrutura da narrativa poderá
auxiliá-lo. Boa sorte!
Referências
AMARAL, E.; SEVERINO, A.; PATROCÍNIO, M. F. SCIPIONI, U. Do Texto ao Texto – Curso práti-
Português: Redação, gramática, litera- co de leitura e redação. São Paulo: Editora
tura e Interpretação de Texto. São Paulo: Scipioni, 2006.
Nova Cultural, Círculo do Livro, 1999. VERDUSSEN, R. Ergonomia: a racionalização
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para Entender o humanizada do trabalho. Rio de Janeiro:
Texto: Leitura e Redação. São Paulo: Áti- Livros Técnicos e Científicos, 1978.
ca, 2009.
Competências
Compreensão do conceito de narração e ampliação do
repertório.
Habilidades
Associação dos conceitos de descrição e narração. Reco-
nhecimento dos gêneros narração, descrição, disserta-
ção. Elaboração de uma narração.
Apresentação
Descrever é basicamente estático: descreve-se um mo-
mento, uma situação, um objeto ou um sistema. Narrar
é dinâmico: narra-se uma sequência de eventos. Ainda
que haja essas diferenças, é comum que se confunda
descrição e narração. Esta aula se ocupa das técnicas
de narração, úteis ao se apresentar ações sequenciais
(como o desenvolvimento de um sistema) muito comuns
na prática empresarial.
Para Começar
Agora que você já aprendeu o que é texto e sobre as
diferenças entre os gêneros: descritivo, narrativo e
dissertativo; agora que já sabe como identificar uma
descrição, está na hora de conhecer o que é narração
e como elaborar uma.
Atenção
Narrar é um ato inerente à natureza do homem. Desde que
descobriu o poder de encantamento da palavra, ele deu
asas ao pensamento e passou a criar mundos, divindades,
crenças.
Sopa de Pedras
Pedro ia andando por um caminho e sentiu muita fome. Catou umas pedras brancas,
de cristal, lavou bem e levou para uma velha cozinhar. É para fazer uma sopa. E como
é que se faz? Coisa fácil demais, Sá dona! Refoga as pedras com tempero e sal com
alho, cebolinha verde, Tomate. Garra um punhado de macarrão, umas batatas, meia
dúzia de ovos, uns pedaços de toicinho e de pele de porco, mistura tudo, deixa ferver,
deixa cozinhar. E pronto. A mulher fez. Tudo em ordem, Pedro, só o que tem é que as
pedrinhas estão duras. Não tem nada não, Sá dona! Eu como assim mesmo. Bateu
bem pra dentro dois pratarros da sopa de pedra, largou as pedrinhas na panela e
foi embora, que já estava na hora do homem dela voltar da roça. Quando o marido
chegou, que ela contou tudo, tintim por tintim, ele falou: “Mulher burra! Já foi na onda
do Pedro”.
— Ruth Guimarães, A Saga de Malazarte
Tragédia Brasileira
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu Maria Elvira na Lapa,
— prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em
petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Está-
cio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria. Quando Maria
Chapeuzinho Vermelho
Uma menina chamada Chapeuzinho Vermelho foi visitar sua avó que morava distante
e estava doente. Sua mãe queria notícias da velha senhora e mandou a filha fazer-lhe
uma visita, levando alguns doces. O caminho era longo e passava por uma floresta.
Matreiro o Lobo-Mau, dizendo ser o guarda da floresta abordou a menina no caminho,
fingindo ser amigo, pois sua intenção era comer a neta e a avó. Ao chegar à casa da
avó Chapeuzinho Vermelho foi tomada de surpresa, pois achou-a um tanto diferente
de como a conhecia. O Lobo-Mau já tinha comido a velhinha e vestido sua roupa,
metendo-se em sua cama esperava para dar o bote final na menina.
— Irmãos Grimm — adaptação
Dicas
Quase sempre a narração se baseia em um conflito de in-
teresses ou desejos entre as personagens que se dividem
em protagonistas e antagonistas. Há também histórias com
personagens-auxiliares.
Fundamentos
Narrar é fundamentalmente contar uma história ou mostrar uma se-
quência de eventos encadeados. Essa sequência de ações apresenta
Atenção
Perguntas respondidas durante a narração: quem, o quê,
quando, onde, como, por quê.
1. Tipos de Discurso
Como você já sabe, existe um narrador que conta a história. Ele pode
contá-la de duas maneiras: de modo direto ou indireto. No modo direto,
o narrador descreve a personagem, apresenta diretamente suas carac-
terísticas físicas, psicológicas, ideológicas. No modo indireto, a história é
percebida por meio do diálogo; ela é construída.
Observe os textos narrativos e perceba a diferença.
No 1
Frederico Paciência era aquela solidariedade escandalosa. Trazia nos olhos grandes
bem pretos, na boca larga, na musculatura quadrada da peitaria, em principal nas
mãos enormes, uma franqueza, uma saúde, uma ausência ruja de segundas intenções.
No 2
Relicário
No baile da Corte
Foi o Conde D’Eu quem disse
Pra Dona Bemvinda
Que farinha de Sururu
Pinga de parati
Fumo de Baependi
É comê bebè pitá e caí
— Oswald de Andrade, Poesias Reunidas
2. Foco Narrativo
O ato de narrar pressupõe que o narrador tome uma posição em relação
ao acontecimento. Ele pode assumir três pontos de vista:
3. Organização
Você já sabe que as histórias se baseiam em um ou mais conflitos, mas
relatá-los não é difícil, afinal fazemos isso o tempo inteiro. Desde mui-
to pequenos reproduzimos eventos que nos acontecem. São narrações.
Se pensarmos assim, somos grandes contadores de histórias. Ao narrar,
exercitamos o relacionamento entre situações e indivíduos que participam
Papo Técnico
A narração está marcada por um estado inicial de equilíbrio
que se rompe com a existência de um ou mais conflitos.
Após a resolução dos conflitos, o equilíbrio é restabelecido,
embora a situação seja diferente da inicial.
Nessa frase, você deduz que havia uma situação inicial (não exportação)
que foi modificada por um sujeito (Rússia) para nova situação (exporta-
ção). No caso foi necessária uma ação, representada pelo verbo (comprar).
Embora pareça que a narração está associada aos textos ficcionais, não
se restringe a eles, como se vê nos exemplos dos parágrafos anteriores.
Quando você comunica que a empresa obteve um contrato ou colocará
um produto no mercado, utiliza o formato narrativo. Quase tudo é “con-
tado”. Evidentemente nem tudo será ação, mas sempre haverá narrador,
personagem, tempo e ação/estado.
Conceito
Fazem parte do texto narrativo: uma situação inicial eufó-
rica, um ou mais conflitos, o clímax e o desfecho, em que
o conflito é resolvido. A resolução do conflito restabelece a
calma inicial, porém trata-se de situação nova.
Notícia de Jornal
No último domingo, sob a acusação de ter tentado furtar dinheiro da Igreja Nossa
Senhora do Brasil, no Jardim América, foi detido e encaminhado ao 15o Distrito, o
meliante Emílio Santino Alves, de 68 anos que alegou estar fazendo uma oferenda
àquela instituição pia. Segundo os fiéis, o sexagenário, aparentemente embriagado,
tentava pescar o dízimo arrecadado durante a missa, usando um arame para retirá-lo
do cofre.
— E. Amaral, et al.
Como você pode notar, o texto inicia com uma breve exposição do fato
(tentativa de roubo), seguido da prisão do acusado (ação). Alguns fatos
podem ser deduzidos pelo leitor, mas estão presentes todas as caracte-
rísticas narrativas: há o narrador (repórter), que apresenta, por meio do
discurso indireto:
Existe aí uma estrutura narrativa: ainda que a notícia não apresente uma
sequência de eventos, há aspectos descritivos. De um estado inicial de
equilíbrio, acontecido quando Emílio tentava pescar o dinheiro, passou-se
a um conflito, quando aquele estado foi modificado pelo aparecimento da
O cartum
Veja o seguinte exemplo de cartum: http://www.allposters.com/-sp/I-ve-
already-told-Mom-about-my-day-ask-her-New-Yorker-Cartoon-Posters_
i9171783_.htm
Cartum é uma história divertida contada em um quadro ou uma tira. As
charges são cartuns que fazem um comentário ou crítica sobre algo atual.
Esse quadro ou tira traz, ainda que muitas vezes de modo não totalmente
claro, o processo narrativo em sua inteireza: personagens, ação, estado
inicial de equilíbrio.
Note que existe um narrador que estabelece dois tempos: o presente,
representado no desenho da chegada do pai e do filho diante da TV; e o
passado, representado pelos verbos (disse, foi). Está implícito um conflito
entre a pergunta (subentendida) do pai e a resposta do filho. O desfecho
está na resposta do filho.
Poema/Canção
Poemas e canções podem comportar narrativas quando ajustam a conci-
são às informações necessárias a esse gênero:
Valsinha
Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito mais quente do que comumente costumava olhar
E não falou mal da poesia como mania sua de falar
E nem deixou-a só num canto; pra seu grande espanto disse: vamos nos amar...
Aí ela se recordou do tempo em que saíam para namorar
E pôs seu vestido dourado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como a gente antiga costumava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a bailar...
E logo toda a vizinhança ao som daquela dança foi e despertou
E veio para a praça escura, e muita gente jura que se iluminou.
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu em paz.
— Vinicius de Moraes, Chico Buarque
Fábula
Fábulas são narrações de caráter alegórico que possuem um preceito mo-
ral. Caracterizam-se pela linguagem simples que, no entanto, articulam
um universo complexo, embora fantasioso.
A Raposa e as Uvas
Uma raposa, morta de fome, viu, ao passar diante de um pomar, penduradas nas
grades de uma viçosa videira, alguns cachos de uvas negras e maduras.
Ela então usou de todos os seus dotes e artifícios para pegá-las, mas como estavam
fora do seu alcance, acabou se cansando em vão, e nada conseguiu.
Por fim, deu meia volta e foi embora, e consolando a si mesma, meio desapontada
disse: “olhando com mais atenção, percebo agora que as uvas estão todas estragadas,
e não maduras como eu imaginei a princípio”.
Moral da História: é mais fácil desprezar o que não se pode obter.
— Esopo
Narração organizacional
Tempo
a história
Espaço
Personagens
Direto
Discurso
Indireto
narrador
Participante ou Personagem
Onisciente
Lembre-se
A narração está presente em situações co-
tidianas e sua utilização é tão comum que
não nos damos conta que a estamos pra-
ticando. É empregada nas organizações
para expor fatos, propor serviços, infor-
mar sobre ocorrências, mostrar resultados
após ações.
E agora, José?
Agora que você já sabe o que é texto e conhece o gêne-
ro “narração”, é o momento de dar outro passo. Você
aprenderá na próxima aula o que é uma dissertação e
como elaborá-la. Boa sorte!
Glossário
Antropológico: (do grego anthropos , “ho- extremamente vasto: abrange todas as po-
mem”, e logos, “razão”/“pensamento”) é a pulações socialmente organizadas.
ciência preocupada em estudar o homem e Eufórico: termo que serve para designar situa-
a humanidade de maneira totalizante, ou ções e sentimentos positivo.
seja, que abrange todas as suas dimensões. Disfórico: oposto de eufórico.
A antropologia como ciência da humanidade Enunciado: tudo que se diz ou escreve ante-
e da cultura, tem um campo de investigação riormente a qualquer análise linguística ou
lógica.
Referências
AMARAL, E.; SEVERINO, A.; PATROCÍNIO, M. F. FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para Entender o
Português: Redação, gramática, litera- Texto: Leitura e Redação. São Paulo: Áti-
tura e Interpretação de Texto. São Paulo: ca, 2009.
Nova Cultural, Círculo do Livro, 1999. Relatório de atividades do Centro Comu-
SCIPIONI, U. Do Texto ao Texto – Curso prá- nitário São Lucas. Distrito Federal, 2007.
tico de leitura e redação. São Paulo: Sci- Disponível em: www.cecosal.org.br/site/
pioni, 2006. imagens/.../RELATORIO_ATIV_2007.doc.
Acesso setembro de 2010.
Competências
Capacidade de definir, ordenar e discutir com precisão
informações e ideias, valendo-se dos recursos apropria-
dos à construção de textos dissertativos informativos ou
polêmicos.
Habilidades
Dar expressão a informações e ideias na modalidade
textual estudada, em linguagem adequada à situação de
produção do texto.
Apresentação
Nesta aula, você aprenderá a estruturar e redigir uma
dissertação, partindo do reconhecimento da organização
e da natureza essencialmente argumentativa desse tipo
de texto. Aprenderá também a expor e relacionar ideias
em cada uma das partes da dissertação; dominando es-
sas informações, você poderá realizar tarefas de com-
posição textual exigidas nos ambientes profissional e
acadêmico.
Para Começar
Veja o link desta tirinha da página Geekcats.com.
Na situação representada nesses quadrinhos, o gato
preto e o malhado reagem com estranheza à fala do
branco, certamente por que a linguagem deste é abstra-
ta, com jeito de especulação filosófica... Ele fala como se
dissertasse acerca de um tema cuja complexidade con-
trasta visivelmente com os temas singelos comentados
pelos outros dois.
Por certo você já deparou com a necessidade de re-
digir um texto de dissertação. Enganam-se aqueles que
pensam que ela pode ser improvisada; esse tipo de texto
tem uma organização muito precisa, para que seja real-
mente eficaz. Ao longo desta aula, você poderá perceber
que se trata de um gênero discursivo de extrema impor-
tância, que merece sua atenção, de modo especial.
Trataremos de questões que devem facilitar a reda-
ção de textos dissertativos, presentes em atividades de
caráter acadêmico (artigos, monografias) e das organiza-
ções empresariais (relatórios, pareceres).
Vamos lá?
Fundamentos
Essa modalidade de texto é temática e toma por objeto teses em torno
das quais se instala uma polêmica, com a exposição de pontos de vista e
argumentos que lhe dão suporte; as partes componentes do texto disser-
tativo são lógicas, havendo diversas formas de ordenamento das sequên-
cias textuais responsáveis pela significação do todo.
A rigor, o texto dissertativo desprende-se de situações concretas e pro-
põe-se como análise destas, ultrapassando o particular, o único, e esten-
dendo-se a muitos casos, pessoas e situações.
A construção do raciocínio do enunciador do texto para defender e
combater teses dá-se pela seleção de um léxico no qual predominam vo-
cábulos abstratos (daí o principal elemento de que decorre a natureza
temática desse tipo de texto). Isso não significa que não se encontrarão na
dissertação termos concretos; eles estarão presentes nela, mas somente
para dar suporte à abstração.
As teses do enunciador e os argumentos de que se vale para prová-
-las são fundadas na realidade histórica, política e humana na qual ele se
insere; seu repertório (valores, leituras, estudos, experiências de vida)
fornece-lhe os elementos de que necessita para desenvolver seu texto;
seu objetivo sempre será conseguir a adesão do outro às ideias que de-
fende; seu fazer é, pois, um fazer crer no que diz. Esse aspecto da disser-
tação confere particular relevância às relações que se estabelecem entre
o enunciador do texto e aquele a quem o texto se dirige, os enunciatários.
O enunciador assume a responsabilidade sobre a afirmação / negação
dos valores inscritos no texto e empreende a busca da adesão do enun-
ciatário. O sucesso daquele será tanto maior quanto maior for a crença
que este depositar tanto no discurso do enunciador quanto no objeto
desse discurso. O reconhecimento da inscrição das estruturas de realida-
de e dos valores de cultura no texto é fundamental para que as teses apa-
reçam alicerçadas e, portanto, passíveis de passar por testes de validade.
Nesse quadro, as relações que se estabelecem entre as partes do texto
serão lógicas – e não cronológicas; caberá, por conseguinte, ordenação
textual por restrição, paralelismo, inclusão, alternância, causa-efeito, con-
tradição, enumeração, entre outras formas de ordenação. Além disso, a
referência a tempo e espaço no texto dissertativo tem função de deflagrar
o comentário que dele se abstrai.
As mudanças, as transformações presentes no texto dissertativo não
são apenas relatadas; são interpretadas.
Exemplo 1
Entender como Tolstoi constrói sua narração não é fácil. Aquilo que tantos narradores
mantêm à mostra – esquemas simétricos, vigas mestras, contrapesos, dobradiças –
nele permanece oculto. Oculto não significa inexistente: a impressão que Tolstoi dá de
levar tal e qual para a página escrita “a vida” (esta misteriosa entidade que para ser
definida nos obriga a partir da página escrita) não passa de um produto da arte, isto
é, de um artifício mais complexo que tantos outros.
— CALVINO, I. ‘Dois Hussardos’. In: Por que ler os clássicos. São Paulo: Cia. das Letras,
1993. p. 162.
Nota-se que a hipótese que deverá ser provada no texto de Calvino está
explicitada na primeira linha do texto: não é fácil entender como Tolstoi
constrói sua narração; em seus textos, os recursos construtivos não estão
evidentes.
Exemplo 2
Exemplo 3
A constatação é geral e pode ser percebida por qualquer professor (ao menos, por
qualquer professor de Letras): o nível intelectual dos alunos que ingressam nas
3. Redigindo a introdução
Ao introduzir um assunto, podemos / devemos empregar recursos para
atrair a atenção do leitor. Entre os muitos recursos disponíveis, lembra-
mos os seguintes: Interrogação, citação, asserção polêmica, frase de
efeito, definição, afirmação categórica, aforismo, generalização, referên-
cia histórica.
Vamos examinar alguns deles. Por sua natureza, podemos dizer que
a referência histórica, a citação, o aforismo e a generalização constituem
formas de introduzir o tema assentadas no conhecimento de algo que
se supõe seja partilhado com o leitor, podendo, por isso, fazer nascer o
interesse pela argumentação em que se sustentará a hipótese suposta-
mente partilhada.
Reportemo-nos à frase introdutória do parágrafo, já citado, de Osman Lins:
A constatação é geral e pode ser percebida por qualquer professor (ao menos, por
qualquer professor de Letras)...
Nada melhor para entender a extensão de um desastre do que seu avesso, ou seja,
o sucesso que ocorre quando as coisas são feitas como podem e devem ser feitas.
Experimente sair de alguma das áreas de maior abuso cenográfico da Bienal do Re-
descobrimento para outras onde houve o fundamental respeito às qualidades das
obras expostas.
Claro que a história não se repete. Mas o reprimido sempre volta em nova roupagem,
enquanto não é elevado à consciência e superado junto com suas condições. Europa, a
mãe da modernidade capitalista, também deu à luz o fascismo e, com a versão alemã
do nacional-socialismo, inaugurou o crime contra a humanidade.
— KURZ, R. K. A síndrome neofascista da Fortaleza Europa. In: Mais! Folha de S.
Paulo, 14/5/2000. p. 14.
“Lobo velho perde o pelo, mas não perde a manha”, ensina velho ditado que aprendi
na Argentina. Serve à perfeição para o Sr X, ou ao menos para o artigo que publicou
ontem nesta Folha.
Nele, esse senhor entoa um hino de amor à democracia e posa de campeão da luta
pela liberdade no Brasil. Falso como nota de R$ 7,50.
— ROSSI, C. As digitais de Maluf. In: Folha de S. Paulo, 20/8/ 1996. Texto adaptado.
O bazar de sandices culturais que Ziraldo Alves Pinto, presidente da Funarte, enviou
ao ministro da Cultura, Aluísio Pimenta, contém seis equívocos básicos – além dos que
deles derivam –, a saber: (...)
— SUZUKI Jr., M. Um ideário confuso. In: 20 textos que fizeram história. São Paulo:
Folha de S. Paulo. p. 183.
Que busca o escritor? O verdadeiro escritor, isto é: o que faz da palavra escrita sua
razão de viver.
— LINS, O. L. Op. cit., p. 43.
4. O Desenvolvimento do texto
Com o desenvolvimento começa mais especificamente o trabalho de ar-
gumentação em torno da hipótese lançada na introdução. Essa fase pode
resumir-se a um único parágrafo, de uma dissertação breve, ou estender-
-se por páginas e páginas de texto. Num e noutro caso, não importa a
extensão, no texto haverá uma ordem lógica presidindo as sequências de
ideias. E, se adentramos o terreno da lógica, devemos atentar para as de-
clarações com as quais argumentamos, pois nossos argumentos podem
estar baseados em fatos, em julgamentos ou em inferências.
Caso argumentemos com base em inferências, teremos como resul-
tado apenas certezas relativas ou presunções. Quanto aos julgamentos,
guardam muito de subjetivismo, são meras declarações de aprovação ou
desaprovação e, por isso mesmo, tendem a levar a declarações vagas e
lugares-comuns que compõem o repertório popular. Finalmente, vêm os
fatos, que são acontecimentos verificáveis e, portanto, dispensados de
questionamento.
Vejamos como uma declaração tem maior ou menor peso argumenta-
tivo dependendo do suporte que a ela se dá:
Com persistência rara, para o Brasil, 68 ainda povoa o nosso imaginário coletivo, mas
não como objeto de reflexão. É uma vaga lembrança que se apresenta, ora como to-
tem, ora como tabu: ou é a mitológica viagem de uma geração de heróis, ou a proeza
irresponsável de um “bando de porralocas”, como se dizia então.
Na verdade, a aventura dessa geração não é um folhetim de capa e espada, mas
um romance sem ficção. O melhor do seu legado não está no gesto – muitas vezes de-
sesperado; outras, autoritário –, mas na paixão com que foi à luta, dando a impressão
de que estava disposta a entregar a vida para não morrer de tédio. Poucas – certamen-
te uma depois dela – lutaram tão radicalmente por seu projeto, ou por sua utopia. Ela
experimentou os limites de todos os horizontes: políticos, sexuais, comportamentais,
existenciais, sonhando em aproximá-los todos.
— VENTURA, Z. 1968 – o ano que não terminou. Texto com adaptações.
Enumeração
O problema é que medidas como essas causam espécie, primeiro, pelos excessivos
prazos de carência para que entrem em vigor, e que são quase sempre prorrogados.
Essa nova resolução do Conama só valerá a partir de janeiro de 2013, para os veículos
a diesel, e a partir de janeiro de 2014, para os movidos a gasolina e álcool. Não serve
de consolo o “antes tarde do que nunca”, porque o “tarde” quase sempre vira “nunca”.
Em segundo lugar, desanima saber que mesmo daqui a três ou quatro anos, quando
a poluição veicular no Brasil – nos carros novos apenas – será mais de um terço me-
nor, ainda assim estará muito acima da que é tolerada, hoje, na Europa e nos Estados
Unidos...
— Tolerância com envenenamento. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/
estadaodehoje/20090908/not_imp430947,0.php>. Acesso em: maio de 2010.
Interrogação
Paralelismo
O debate sobre a utilidade econômica e social da pesquisa está longe de ter-se encer-
rado. Alguns pretendem que as descobertas científicas são a fonte essencial da tecno-
logia e do progresso econômico e social que dela decorre. Em suma, os pesquisadores
revelariam as leis da natureza, publicariam artigos, e os engenheiros e as empresas
os transformariam, em seguida, em objetos ou equipamentos úteis. Daí resulta que a
sociedade em geral, e os governos em particular, devem financiar a pesquisa funda-
mental, fator insubstituível de progresso econômico e social.
No outro extremo, alguns pensam que os resultados da pesquisa fundamental, no
pior dos casos, são quase inúteis e, no melhor, tendo em vista o fato de que sua publi-
cação é um “bem gratuito”, estão disponíveis a quem quer que os deseje utilizar. Con-
sequentemente, os governos deveriam financiar a pesquisa fundamental nas mesmas
bases que a arte, o esporte ou as outras formas da atividade cultural.
— PAVITT, K. Tem a pesquisa uma utilidade econômica? In: WITKOWSKI, Nicolas
(coord.). Ciência e Tecnologia Hoje. São Paulo: Ensaio, 1995, p. 85-6.
Ética e política não convergem com muita frequência na história do Brasil e do mundo.
Esse enigma moral do processo histórico leva a indagar: pode a política ser conforme
à época? A essa pergunta o realismo político, tal como formulado, por exemplo, por
Maquiavel, no capítulo 15 de “O Príncipe”, responde pela negativa. A esta mesma e
sempre recorrente pergunta André Franco Montoro deu uma clara resposta afirmativa,
no percurso de sua fecunda e bem-sucedida vida pública. São precisamente as razões
do seu sim à convergência entre ética e política o que me proponho discutir neste texto,
que é uma homenagem à sua memória e uma celebração da importância de sua lição.
— LAFER, Celso. Ética e política em Franco Montoro. Mais! Folha de S. Paulo,
14/5/2000. p. 17.
E agora, José?
Bem, agora você já desenvolveu a habilidade de plane-
jar e executar atividades de produção de textos disser-
tativos, sejam eles opinativos ou informativos. Você já
aprendeu as etapas de planejamento do texto e conta
com recursos para compor o desenvolvimento adequa-
do ao tema sobre o qual discorrerá, bem como para
concluir coerentemente o texto. Esses elementos serão
extremamente úteis para outras atividades de produção
textual, especialmente para a elaboração de textos per-
tinentes à área administrativa, tais como Propostas, Pro-
jetos, Pareceres e Relatórios empresariais, assuntos de
que trataremos em aulas posteriores.
Coloque em prática seus novos conhecimentos, com-
petências e habilidades!
Glossário
Afirmação categórica: declaração de caráter fenômenos ou seres semelhantes em uma
assertivo, geralmente indiscutível. classe, termo ou proposição geral.
Aforismo: ditado popular; frase, reflexão ou má- Inferência : Processo pelo qual se chega a uma
xima que sintetiza um princípio ou uma regra proposição, afirmada na base de uma ou ou-
de caráter prático, moral ou costumeiro. tras mais proposições aceitas como ponto de
Citação: referência a ideia ou manifestação, es- partida do processo. (COPI, Irving. Introdu-
crita ou oral, de outrem. ção à lógica. São Paulo: Mestre Jou, 1977).
Asserção: proposição de intenção declarativa Operação intelectual por meio da qual se
de sentido completo, que pode ser afirmati- afirma a verdade de uma proposição em de-
va ou negativa, verdadeira ou falsa. corrência de sua ligação com outras já reco-
Generalização: operação intelectual que con- nhecidas como verdadeiras. (Dicionário Ele-
siste em reunir um conjunto de fatos, trônico Houaiss da língua portuguesa 1.0.7).
Referências Bibliográficas
ABREU, A. S. Curso de redação. São Paulo: Áti- FARACO, C. A.; TEZZA, C. Prática de texto para
ca, 2004. estudantes universitários. 17a ed. Petró-
BECHARA, E. M
oderna gramática língua por- polis: Vozes, 2008.
tuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001. GARCIA, O. M. C
omunicação em prosa moder-
BELLINE, A. H. C. Dissertação. 4a ed. São Pau- na. 18a ed. Rio de Janeiro: FGV, 2000.
lo: Ática, 1999. GIANOTTI, J. A. A
universidade em ritmo de
EMEDIATO, W. A fórmula do texto. Redação, barbárie. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 9.
argumentação e leitura. São Paulo: Geração,
2008.
Competências
Adequação dos diferentes registros da variedade linguís-
tica a situações comunicativas.
Habilidades
Conhecer as variantes linguísticas da Língua Portuguesa
e seus diferentes graus de formalismo; Distinguir as
peculiaridades das situações comunicativas de que par-
ticipa; Adequar a linguagem à situação comunicativa.
Apresentação
Nesta aula, você aprenderá o que é variação linguística.
Descobrirá que a Língua Portuguesa possui diferentes
registros e que é necessário adequá-los às situações co-
municativas de que participamos.
Para Começar
Você já parou para pensar que dentro da Língua Portu-
guesa falada no Brasil existem várias outras línguas?
Você sabe que a Língua Portuguesa, como todas as lín-
guas do mundo, não é utilizada da mesma forma em todo
o território brasileiro? Seu uso varia de acordo com a épo-
ca, com a região, com a classe social dos falantes e com
a situação em que eles se encontram. Isso significa que
até individualmente as variações acontecem. Uma mesma
pessoa pode, por exemplo, utilizar diferentes variedades
da língua, dependendo do contexto em que se insere.
Neste capítulo aprenderemos o que são essas varia-
ções, como se manifestam e como podem ser adequa-
das às necessidades dos falantes. Vamos lá?
Fundamentos
Todos nós começamos a aprender a Língua Portuguesa
em casa, no contato com nossa família e imitando o que
ouvimos, tanto do ponto de vista do vocabulário utiliza-
do quanto das estruturas e combinações da língua.
À medida que entramos em contato com outras pes-
soas e grupos sociais na rua, na escola, no trabalho,
observamos que nem todos falam da mesma maneira,
embora tenham nascido no mesmo país. Há pessoas
que falam de modo diferente por serem de cidades ou
regiões diferentes, por terem idade diferente da nossa,
por serem de outro sexo ou por pertencerem a outro
grupo social ou cultural. Essas diferenças são chamadas de variações
linguísticas.
Conceito
Variações linguísticas são as diferenças que uma língua apre-
senta, de acordo com as condições sociais, culturais, regio-
nais e históricas em que essa língua é utilizada.
Atenção
Não existe variedade linguística que possa ser considera-
da certa ou errada. As variedades podem ser consideradas
adequadas ou inadequadas a uma determinada situação
comunicativa.
Gíria
A gíria ou jargão é um dos dialetos de uma língua. Trata-se de uma forma
de linguagem baseada em um vocabulário especialmente criado por um
determinado grupo ou categoria social com o objetivo de se criar uma
identidade entre os membros do grupo, distinguindo-os dos demais fa-
lantes da língua (CEREJA, 2004).
Os Registros são variedades de estilo que ocorrem em função do uso
que se faz da língua, dependendo do receptor, da mensagem e da situa-
ção. Nesse sentido, envolvem o grau de formalismo da comunicação (lin-
guagem formal, coloquial ou informal), o modo de expressão da lingua-
gem (oral ou escrito) e a sintonia entre os interlocutores.
Grau de formalismo
Veja a seguir um exemplo da diferença no grau de formalismo na linguagem:
Papo Técnico
O ensino (...) da escrita pressupõe a exposição a diferentes
tipos de textos escritos, assim como a apresentação organi-
zada dos recursos formais e de conteúdo que permitem não
Vale lembrar que, na linguagem oral (língua falada), há uma relação dire-
ta entre falante e ouvinte e a produção e execução do texto ocorrem de
forma simultânea. Isso faz com que o texto oral seja marcado por pausas,
interrupções, retomadas, correções auxiliadas pelo uso de gestos e ex-
pressões faciais.
Por outro lado, a linguagem escrita, geralmente, é marcada pela au-
sência de um dos participantes do processo comunicativo, o que impede
a interação direta entre os interlocutores. O texto escrito se apresenta
acabado, já que houve um tempo para sua elaboração, impossibilitando
interferências do produtor no momento da leitura.
→→ O registro usado por uma mãe ao falar com seu filho e o registro
que ela utilizará para falar com seu chefe. Em ambos os casos as
diferenças ocorrerão em função do grau de intimidade que o falante
mantém com seu interlocutor;
→→ Um especialista de um determinado assunto usará registros diferen-
tes ao falar com um outro especialista da área e ao falar com um pú-
blico de pessoas interessadas pelo assunto, mas que não o dominam;
→→ Diferentes registros podem ser observados também em função do
grau de dignidade que o falante julga apropriado ao seu interlocutor
(seu superior ou seu subordinado) ou à ocasião. Serão usados re-
gistros diferentes se se tem como interlocutor alguém que, em uma
hierarquia, for seu superior ou seu subordinado. O mesmo ocorrerá
se o falante se encontrar em uma situação formal como um velório
ou informal como um churrasco;
→→ Registros diferentes também serão utilizados por um jovem ao es-
crever um bilhete para sua namorada, ao redigir uma carta, solici-
tando emprego, ao dirigir-se a uma pessoa idosa e ao requerer algo
de seu chefe.
E agora, José?
Agora que você já sabe o que é variação linguística, seus
tipos e os fatores que a determinam, chegou a hora de
aprender como utilizar esse conhecimento no proces-
so de leitura e análise de textos. Para tanto, na próxima
aula, você aprenderá a identificar os contrastes e seme-
lhanças entre textos e a depreensão de seus temas ar-
gumentos.
Glossário
Variação: consequência da propriedade da lin- Registros: variedades que ocorrem em função
guagem de nunca ser idêntica em suas for- do uso que se faz da língua, dependendo do
mas em virtude da multiplicidade de usos e receptor, da mensagem e da situação.
situações. Jargão: forma de linguagem baseada em um
Dialetos: variedades que ocorrem em função vocabulário especialmente criado por um
das pessoas que utilizam a língua. determinado grupo ou categoria social.
Referências
ABAURRE, M. L. et al. Coleção base: portu- MOISÉS, M. A literatura portuguesa através
guês. São Paulo: Moderna, 2000. dos textos. 29a ed. São Paulo: Cultrix, 2004.
CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T .C. Gramática re- TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma
flexiva: texto, semântica e interação. São proposta para o ensino de gramática no
Paulo: Atual, 2004. primeiro e segundo graus. São Paulo: Cor-
CALLOU, D. Variação e norma. In: Anais do tez, 1996.
II Simpósio Nacional do GT de Sociolin-
guística da ANPOLL. Rio de Janeiro, UFRJ/
CNPQ. 1995.
Competências
Desenvolvimento da capacidade de leitura e interpreta-
ção de texto. Ampliação do repertório literário.
Habilidades
Associar informações a textos.
Apresentação
A interpretação de textos requer entendimento de cer-
tos princípios e uso de técnicas. Embora textos simples
possam ser compreendidos de modo intuitivo, nem sem-
pre a intuição é suficiente para a compreensão de do-
cumentos complexos. Nesta aula você verá princípios e
técnicas que aprimoram a percepção textual à medida
que sua cultura e experiência se desenvolvem.
Para Começar
Existem dois provérbios bastante conhecidos que apre-
sentam sentidos diferentes. Leia os provérbios a seguir:
O autor, por meio de jogo de palavras, faz uma paródia das expressões e
dos provérbios a seguir:
Fundamentos
Entendemos semelhança como “a apreensão intuitiva de certa afinidade
entre duas ou mais grandezas, a qual permite reconhecer entre elas, sob
certas condições e com a ajuda de procedimentos apropriados, uma rela-
ção de identidade” (GREIMAS & COURTÉS, 2008, p. 440) e diferença como
“a distância entre duas grandezas [...]” (op. cit., 140), que só pode ser re-
conhecida a partir de semelhanças que lhe sirvam como suporte. Em ou-
tras palavras, só existe a diferença quando existe uma possibilidade de
semelhança.
Dessa forma, semelhanças e diferenças podem ser consideradas como
relações dentro de uma mesma categoria. Nesse sentido, são inúmeras as
relações textuais que podem ser observadas.
Vamos escolher, a título de ilustração, algumas relações possíveis. Lem-
bre-se que não são todas.
1. Oralidade e escrita.
Apesar de haver correspondência entre textos falados e escritos, escrever
apresenta características bastante diferentes de falar. Enquanto o interlo-
cutor está presente durante o ato da fala, está ausente no momento em
que escrevemos. Dessa forma, como localizar aquele para quem escre-
vemos? Quem é nosso leitor? Como seremos compreendidos? Essas são
algumas perguntas que nos ocorrem diante da escrita.
Quando falamos, alguns problemas de interpretação ou compreensão
podem ser percebidos e corrigidos com a interrupção daquele a quem
estamos nos dirigindo. É possível, no momento da fala, retomarmos e
dizermos de outras maneiras, com outras palavras até que sejamos com-
preendidos. O evento da fala pressupõe algumas formas de comunicação
Caçador de paturis
- Cumpadi, cumé que ocê costuma caçá paturi?
- Cumo quarqué pessoa. Caçando nos mato. Que pergunta mais estapafúrdia, cum-
padi.
- Espera aí, cumpadi. Que é caçando, eu sei, mas quero sabê com o quê ocê custuma
caçá.
De qualquer forma, mesmo esse texto, por estar escrito segue algumas
regras específicas. É preciso uma apresentação formal: os parágrafos ini-
ciam com letra maiúscula, as palavras devem ser separadas umas das
outras por espaços em branco, as orações são pontuadas e as palavras
seguem a ortografia oficial.
Atenção
Não basta que o autor siga exigências ortográficas e de sin-
taxe para que você leia com facilidade. As ideias precisam ser
transpostas com clareza, o que é obtido por meio da coesão
e coerência textuais.
Lembre-se
Os tipos de textos seriam: narração, descrição e disserta-
ção. O gênero passou a caracterizar diversas manifestações
textuais que apresentam características sociocomunicativas
definidas, como cartas, romance, bilhete, reportagem, reu-
nião, notícia, receita culinária, bula de remédio. E os domí-
nios discursivos que propiciam discursos específicos são os
discursos jurídico, religioso, jornalístico.
Um novo José
Josias de Souza
3. Forma
Como você viu, as diferenças entre textos orais e escritos residem na es-
colha lexical, no cuidado com a escrita em relação à fala e suas semelhan-
ças podem ser observadas no tema. Ou seja, você pode conversar sobre
determinado assunto – e utilizará propriedades da linguagem oral – ou
escrever sobre esse mesmo assunto – e precisará empregar certas regras
da linguagem escrita.
As diferenças entre os gêneros, assim como oralidade e escrita, tam-
bém estão na maneira de dizer: propagandas, cartazes apresentam
uma linguagem mais visual, em comparação a uma carta ou romance.
Chuva de Prata
Ed Wilson / Ronaldo Bastos
Alguém no jardim, sem poder sair Aliviadas, mas sem abrir a porta
(é um jardim interno), durante de jeito nenhum, a alegria voltou
todas aquelas horas debaixo de a reinar. Lauro Henrique voltou
tanta água... é uma cena dantesca. para casa perto da meia noite,
Falei com Lauro Henrique e, tendo colocado a conversa em
homem varonil e decidido, pegou dia com minha mãe, falado de
sua bengala, o guarda-chuva e foi música e cantarolado o samba
lá dar apoio e averiguar. de breque de Moreira da Silva –
CIDADE LAGOA. Todas dormiram
Para atravessar a rua, teve que ir um sono sossegado, mesmo com
de carro, tamanha a correnteza e a campainha tocando por toda
volume de água. Ninguém queria a noite.
4. Sentido
Já se falou em forma, conteúdo, escolha lexical, tipos de texto, gêneros.
Agora vamos comentar um pouco a respeito dos sentidos que se apresen-
tam nos textos.
Muitas palavras têm um significado genérico, mas podem ser utilizadas
com outro sentido. Tomemos um exemplo bastante simples: a palavra
manga tem alguns significados, conforme o dicionário Aurélio (1999): 1)
parte do vestuário onde se enfia o braço; 2) filtro afunilado para líquidos;
3) qualquer peça de forma tubular que reveste ou protege outra peça; 4)
parte do eixo de um veículo que se encontra dentro da caixa de graxa.
Ainda segundo o mesmo dicionário, significa: 5) fruto da mangueira e,
com sentidos derivados do espanhol: 6) espécie de corredor com paredes
de varas, que conduz a um rio ou igarapé e serve para guiar os bois que
embarcam; 7) pastagem cercada onde se guarda o gado; 8) parte da rede
de pescar que fica nas extremidades.
Como você vê, uma mesma palavra pode trazer muitos significados,
que só serão percebidos pela leitura e conhecimento do leitor. Em síntese,
o leitor também constrói o texto.
Além desses significados, os textos possuem um sentido, ou seja, os
produtores de texto têm uma intenção, ao escrever. É possível que tenha
mais de uma intenção e nesse caso, seu texto poderá ser interpretado de
várias maneiras, apresentará mais de uma leitura.
Escrever implica em deixar marcas para que seja compreendido de
acordo com os sentidos de quem o escreveu.
Ler o texto implica em decifrar as marcas e sinais deixados pelo autor
para compreender o sentido ou sentidos. Assim, o leitor precisa não só
conhecer os significados genéricos que as palavras possuem e que podem
ser encontrados nos dicionários, mas entender porque o escritor as esco-
lheu e porque as dispôs daquela forma.
Não vamos aqui descobrir como se constrói o sentido de um texto ou
de que recursos o escritor dispõe para expressá-los ou até mesmo quais
elementos ele pode utilizar. Porém sabe-se que esse sentido não se forma
apenas pela decifração das marcas e sinais deixados pelo autor. Segundo
uma Ingedore Koch, uma especialista importante em análise de textos, O
Conceito
Implícitos são inferências, implicações, alusões e insinuações.
Ducrot (1992) estabeleceu os dois implícitos que são consi-
derados mais importantes: pressuposto e subentendido.
5. Conteúdo/Tema
Conforme se viu anteriormente, existem diferentes formas, gêneros e ti-
pos de veicular os mesmos conteúdos. Por outro lado, conteúdos diferen-
tes podem ser escritos em formatações iguais ou diferentes. As possibi-
lidades são infinitas, cabe a cada um escolher a melhor forma, o melhor
meio de dizer e compreender os textos.
A letra da música “Chuva de Prata” e a crônica “Herói em dia de chuva”
são exemplos de temas semelhantes escritos de formas diferentes.
Dica
Uma mesma palavra pode trazer muitos significados, que só
serão percebidos pela leitura e conhecimento do leitor. Em
síntese, o leitor também constrói o texto...
E agora, José?
Agora que você já conhece as semelhanças e diferenças
entre diversos tipos e gêneros textuais, vale a pena apro-
fundar seus conhecimentos sobre temas. Bons estudos!
Glossário
Implícito: a maior parte dos enunciados tem, literal “Sim” ou “Não”, mas sim que seu in-
além de seu conteúdo explícito, literal, um terlocutor abra a janela. Trata-se, neste caso,
ou vários conteúdos implícitos. O enuncia- de uma resposta indireta a uma pergunta
do “faz calor” pode significar apenas que a subentendida. A pergunta subentende um
temperatura ambiente está quente. Mas em pedido.
um ambiente fechado com muitas pessoas, Pressuposto: é o tipo de conteúdo implícito
e dependendo do contexto em que for dito, que se caracteriza por algo que está coloca-
pode significar, por exemplo, “abra a janela”, do antes do “posto”. Quando se diz: “Pedro
“posso tirar o casaco?”, “ desligue o aquece- parou de fumar” (este é o posto), há a pres-
dor”, “ligue o ar condicionado”. suposição que ele fumava. Só para de fumar
Subentendido: um dos tipos de conteúdo im- quem já fumou...
plícito definidos por Ducrot que, entre ou- Escolha lexical: trata-se da escolha das pala-
tros fenômenos linguísticos estudou os im- vras que o escritor/falante faz para enunciar
plícitos. Se alguém pergunta: “poderia abrir seus textos.
a janela?”, nem sempre espera a resposta
Referências
AMARAL, E.; SEVERINO, A.; PATROCÍNIO, M. F. FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio da Lín-
Português: Redação, gramática, litera- gua Portuguesa. Curitiba: Positivo, 2010.
tura e Interpretação de Texto. São Paulo: FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para Entender o
Nova Cultural, Círculo do Livro, 1999. Texto: Leitura e Redação. São Paulo: Áti-
BOLTRIN, R. Contando Causos. São Paulo: Nova ca, 2009.
Alexandria, 2001. GREIMAS, A. J,; COURTÉS, J. Dicionário de Semi-
CHARAUDEAU, P.; MAINGHENEAU, D. Dicionário ótica. São Paulo: Contexto, 2008.
de Análise do Discurso. São Paulo: Con- KOCH, I. V. Desvendando os Segredos do tex-
texto, 2004. to. 2a ed. São Paulo: Cortez, 2003.
Competências
Compreensão e análise crítica de textos com base na
identificação de temas, em diferentes níveis de leitura.
Habilidades
Aplicar as técnicas de leitura adequadas aos textos temá-
ticos, vistos em suas relações com diferentes contextos e
com outros textos.
Apresentação
Nesta aula, você desenvolverá habilidades de leitura en-
volvidas na construção de sentido dos textos pelo reco-
nhecimento de seus elementos temáticos. Aprenderá a
compor relações de sentido baseadas nos contextos ex-
plícito e implícito, e em diálogos temáticos – as leituras
intertextuais.
Para Começar
É comum que, ao sairmos de uma sala de cinema ou de
um espetáculo de teatro, comentemos o que acabamos
de ver. Mas, será que nosso comentário se limita a “gos-
tei, não gostei, foi legal, foi chato, não entendi...”?
Por certo nossa intenção vai mais além; queremos ex-
pressar nossa análise do que vimos, nossa compreensão
daquele produto cultural.
Para isso, precisamos desenvolver algumas habilida-
des de leitura e análise, com foco nos temas propostos
pela obra em questão. É o que vamos aprender nesta
importante aula, que certamente vai tornar mais aguça-
da nossa percepção dos textos que nos cercam.
Fundamentos
A leitura e a análise de um texto pressupõem a apre-
ensão de seus temas, sua compreensão crítica, estabele-
cendo-se relações de significação com o universo suge-
rido por aquele.
O trabalho de leitura compreende, inicialmente, a de-
codificação dos signos distribuídos pelo texto, mobilizan-
do o léxico e as estruturas de língua, que o leitor deve
reconhecer e dominar para configurar um primeiro ní-
vel de compreensão – o do significado literal das frases,
enunciados e parágrafos do texto.
Vencida essa etapa, a leitura deve reconhecer o tipo predominante do
texto; com isso, mobilizam-se informações que fornecem chaves para a
compreensão da natureza daquele e dos signos que o tipo ostenta. Assim,
caso se trate de um texto no qual predomina a descrição, saberá o leitor
que terá de identificar os termos responsáveis pela caracterização do ser ou
objeto descrito, terá de observar a adjetivação, os detalhes. Diferentemente,
se predominar o tipo dissertativo, terá o leitor de trabalhar com as teses pre-
sentes no texto, buscando a relação entre asserções, opiniões e argumentos
e, ainda, com o contexto histórico-social que dialoga com tais teses. Final-
mente, se estiver diante de um texto narrativo, deverá o leitor preparar-se
para encontrar e decodificar o conjunto de figuras e de eventos que consti-
tuem os núcleos de sentido responsáveis pela organização da trama.
Finalmente, a leitura captará a constituição temática do texto e, para
isso, o leitor estabelecerá diversas ordens de relações de significação, que
incluem seu repertório (isto é, as informações que detém sobre o assun-
to tratado), as informações novas que lhe são apresentadas e – muito
importante – a(s) rede(s) de significação que se tece(m) no texto graças à
interação deste também com o contexto implícito.
Os temas do texto são depreendidos da escolha de palavras nele pre-
dominante. Um bom exemplo está na passagem a seguir:
Em princípio e afinal, que é o saber? Quando, onde e por que sua invenção incorpo-
rou-se à história do mundo como a mais fascinante e a mais perigosa das aventuras
ousadas pelo homem?
— Gerardo Mello Mourão, A invenção do saber. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983, p. 9.
A história, como caminho para o passado, isto é, para as fontes inaugurais de nos-
sa pobre e estupenda raça planetária, é apenas um beco sem saída. Os próprios
Não é, pois, a história que nos há de ajudar, mas exatamente esse denso espaço de
mistérios onde não entram os historiadores - a noite dos tempos. É dentro dela, de
resto, que nasce o tempo histórico. Para lá dele – “ailleurs” – .... “irgendwo” – situa-se
o tempo mítico, o tempo auroral do ser e do existir do homem.
Não é por acaso que todos os profetas vão buscar a substância elementar de suas
profecias nos acontecimentos ao mesmo tempo virginais e prístinos do tempo mítico.
O mito precede a história e, pois, preside a história. O próprio materialismo histórico
sabe disto, e Marx mergulha a teoria da luta de classes na madrugada do tempo míti-
co, quando Caim, o primeiro senhor de terras e o pai da agroindústria, assassina seu
irmão Abel, bucólico pastor do país primevo. Caim teria sido o braço dominador da
classe industrial, que esmagou Abel, o primeiro representante da economia pastoril.
Foi também no tempo auroral do mito que o homem se arriscou à invenção do
saber. O saber foi sua primeira aventura humana, seu primeiro gesto de liberdade,
seu primeiro anelo de grandeza e dominação, sua primeira rebelião contra os deu-
ses, sua primeira aliança com o Demônio, o primeiro passo e o primeiro desafio ao
perigo, para sentar-se ao lado da Divindade como Senhor do Mundo. Está no mito do
Paraíso Terrestre, no Livro do Gênesis: “não comereis do fruto da árvore da ciência
do bem e do mal”. E a voz da serpente: “por que não? No dia em que o comerdes,
serei como deuses, tendo o saber de tudo”. A tentação do saber foi mais poderosa do
que a ordem divina: o fruto era belo e deleitoso. Os pais da raça humana, investindo-
-se pela primeira vez da própria liberdade, do privilégio do livre arbítrio, comeram e
ficaram, desde então, de olhos abertos diante do mundo.
A invenção do saber está marcada pelo mesmo sentido de rebelião contra os deu-
ses em todas as mitologias. Bastem, para o entendimento de nossa cultura judaico-
-helênica do mundo ocidental, os episódios da Bíblia e da mitologia grega. Pois, tam-
bém na Grécia, o facho do saber é arrebatado aos deuses por Prometeu, no mesmo
gesto de desafio e de audácia de Adão e Eva, sendo igualmente castigado pela cólera
dos deuses.
— Gerardo Mello Mourão, A invenção do saber. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983, p. 9-10.
Parece claro, assim, que o saber é uma invenção do homem. Mais do que isto: a
invenção, a única invenção, a invenção por excelência, de que foi capaz a criatura
humana.
— Gerardo Mello Mourão, A invenção do saber. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983, p. 10.
Começam a entrar em jogo, no entanto, outros interesses, que estavam latentes des-
de 1976...
—Ricardo Kotscho. Uma chaga de ouro na selva. In: 20 textos que fizeram história.
São Paulo: Folha de S. Paulo. p. 114.
Folha de S. Paulo
Virgília? Mas então era a mesma senhora que alguns anos depois? ... A mesma; era
justamente a senhora, que em 1869 devia assistir aos meus últimos dias, e que antes,
muito antes, teve larga parte nas minhas mais íntimas sensações. Naquele tempo
contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da
nossa raça e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a pri-
mazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isso não é romance, em que
o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também
não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita,
fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o
indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. Era isso Virgília,
e era clara, muito clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos,
muita preguiça e alguma devoção – devoção, ou talvez medo; creio que medo.
Aí tem o leitor, em poucas linhas, o retrato físico e moral da pessoa que devia
influir mais tarde na minha vida; era aquilo com dezesseis anos. Tu que me lês, se
ainda fores viva, quando estas páginas vierem à luz, – tu que me lês, Virgília amada,
não reparas na diferença entre a linguagem de hoje e a que primeiro empreguei
quando te vi? Crê que era tão sincero então como agora; a morte não me tornou
rabugento, nem injusto.
– Mas, dirás tu, como é que podes assim discernir a verdade daquele tempo, e
exprimi-la depois de tantos anos?
Ah! Indiscreta! ah! ignorantona! Mas é isso mesmo que nos faz senhores da terra,
é esse poder de restaurar o passado, para tocar a instabilidade das nossas impres-
sões e a vaidade dos nossos afetos. Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço
pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição,
que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o
editor dá de graça aos vermes.
— Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas
5.1. Estilização
Na estilização, o texto coloca em evidência um tema ou um estilo de compo-
sição textual, pela imitação reverencial, de seus traços; capta, portanto, o es-
tilo imitado para reafirmá-lo. O recurso consiste numa revitalização de temas
ou de traços estilísticos próprios de uma corrente estética, gênero ou autor.
Novamente remetemos você à obra de Chico Buarque de Holanda, à
letra da composição “João e Maria”, com música de Mestre Sivuca, e cuja
interpretação você pode acompanhar acessando o ambiente virtual.
5.2. Paródia
Conceito
Modalidade que também estabelece um diálogo textual, o
texto paródico imita o estilo para subvertê-lo, valendo-se,
para isso, da revisão crítica ou irônica de seus temas, esti-
los, valores.
E agora, José?
Agora que você já sabe como trabalhar os temas e suas
conexões de sentido, é chegado o momento de conhe-
cer os argumentos que poderá utilizar na construção de
textos e aqueles que você deverá identificar nos textos
produzidos por outros. Essa passagem para a próxima
unidade é fundamental para lidar com situações diver-
sas dentro das organizações. Bons estudos!
Glossário
Sentido literal: é o sentido próprio das pala- Polêmica: debate de ideias; controvérsia.
vras, por oposição ao sentido figurado. Perspectiva dialética: em sentido amplo, tipo
Homologia: semelhança, relação fundada em de abordagem baseada em discussão, con-
reconhecimento. tradição, contraposição de ideias.
Referências
FIORIN, J. L; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: lei-
tura e redação. 2a ed. São Paulo: Ática,
1997.
_____. Para entender o texto: leitura e reda-
ção. São Paulo: Ática, 1997.
Competências
Compreensão e análise crítica de textos caracterizados
pela utilização de recursos argumentativos.
Habilidades
Conhecer as técnicas de leitura adequadas aos textos
argumentativos, Reconhecer a funcionalidade desses
textos e suas formas de composição.
Apresentação
Nesta aula, você conhecerá as principais técnicas de lei-
tura adequadas aos textos argumentativos e aprenderá
sobre a funcionalidade desses textos e suas formas de
composição.
Para Começar
Você já se deu conta de quantas vezes na vida somos
convencidos a fazer algo que, a princípio, não quería-
mos? Veja um exemplo dessa situação:
Esta é Me dá a
minha banana ou
banana! Eu quero eu chamo o A banana
essa banana. meu amigo. é tua...
Não, a banana
é minha!
causa consequência
Dar a banana Sair ileso
Chamar o amigo gorila para
Não dar a banana
resolver a situação
Esse exemplo demonstra o poder que pode ter um argumento quando se
caracteriza pela qualidade, consistência e capacidade de fundamentar e
aprofundar o ponto de vista de quem o utiliza.
Geralmente, pensa-se que comunicar é simplesmente transmitir infor-
mações. No entanto, a comunicação somente se realiza com eficiência
quando o emissor da mensagem consegue agir sobre o receptor. Nesse
sentido, quando se comunica não se pretende apenas que o receptor re-
ceba e compreenda a mensagem, pretende-se, principalmente, que ele
acredite nela e faça o que nela se propõe. Para tanto, a utilização de argu-
mentos é fundamental.
Neste capítulo aprenderemos o que é um argumento, quais são os ti-
pos de argumentos existentes e quais são as principais estratégias argu-
mentativas utilizadas na produção de textos. Vamos começar?
Fundamentos
Argumento é todo procedimento linguístico que tem por objetivo persu-
adir, fazer o receptor aceitar o que lhe foi comunicado, crer no que foi
dito e fazer o que foi proposto (FIORIN, 2003). Quando bem feita, a argu-
mentação dá consistência ao texto, produzindo sensação de realidade ou
impressão de verdade.
No entanto, a boa argumentação não garante a veracidade e fidedig-
nidade das ideias apresentadas no texto. Pode-se convencer uma pessoa
de alguma coisa utilizando raciocínios que não são logicamente demons-
tráveis, mas são plausíveis. Isso quer dizer que se pode argumentar uti-
lizando como prova não só aquilo que é necessariamente certo ou real,
mas também o que é provável, plausível, possível, lógico, racional. Daí a
importância da habilidade do leitor capaz de detectar os argumentos uti-
lizados em um texto e sua forma de composição.
Conceito
A palavra argumento vem do latim argumentum cujo signi-
ficado é prova, indício. Portanto, argumentar significa apre-
sentar fatos, ideias, razões, provas que comprovem uma
afirmação, um ponto de vista ou uma tese.
1. Argumento de autoridade
O argumento de autoridade baseia-se na apresentação do ponto de vista
de autores renomados ou de uma pessoa reconhecida na área do assunto
em discussão. Geralmente, essa apresentação é feita por meio de citações
que, por um lado, criam a imagem de que o falante conhece profunda-
mente o assunto que está apresentando e, por outro lado, torna as pes-
soas citadas fiadoras da veracidade do ponto de vista apresentado.
Observe a utilização desse tipo de argumento no fragmento apresen-
tado a seguir:
Atenção
Para ter validade, um argumento de autoridade deve obe-
decer a duas regras: a autoridade citada tem de ser reconhe-
cidamente especialista do assunto em questão e não deve
Embora esse tipo de argumento seja muito utilizado, não se deve confun-
di-lo com o lugar-comum, expressões que são repetidas abusivamente,
carentes de base científica e de validade discutível.
O grupo financeiro JPMorgan lucrou US$ 5 milhões por hora no primeiro trimestre
deste ano. Dá praticamente R$ 9 milhões, o que significa que um trabalhador bra-
sileiro de salário mínimo levaria cerca de 1.500 anos para receber o que um grupo
como esse ganha em uma hora.
O JPMorgan não está sozinho em ganhos tão siderais: o Goldman Sachs registrou
lucros de pelo menos US$ 25 milhões em cada um dos 63 dias úteis do ano (R$ 44
milhões).
No total, os 14 maiores bancos de investimento tiveram uma receita conjunta de
US$ 78,8 bilhões no primeiro trimestre, os melhores números em três anos, apenas
US$ 1,2 bilhão abaixo do pico de US$ 80 bilhões registrado no primeiro trimestre de
2007 (antes da eclosão da crise chamada então de crise das “subprimes”).
— ROSSI, Clóvis. Folha de S. Paulo. Caderno Dinheiro, 12/5/2010.
Violência epidêmica
A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora possa acometer indivíduos
vulneráveis em todas as classes sociais, é nos bairros pobres que ela adquire caracte-
rísticas epidêmicas. A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades de
um mesmo país, mas, como regra, começa nos grandes centros urbanos e se dissemi-
na pelo interior. A incidência nem sempre é crescente, mudança de fatores ambientais
e medidas mais eficazes de repressão, por exemplo, podem interferir em sua escalada.
As estratégias que as sociedades adotam para combater a violência flutuam ao
sabor das emoções, raramente o conhecimento científico sobre o tema é levado em
consideração. Como reflexo, a prevenção das causas e o tratamento das pessoas
violentas evoluíram muito pouco no decorrer do século 20, ao contrário dos avanços
ocorridos no campo das infecções, câncer, diabetes e outras enfermidades.
A agressividade impulsiva é consequência de perturbações nos mecanismos bio-
lógicos de controle emocional. Tendências agressivas surgem em indivíduos com di-
ficuldades adaptativas que os tornam despreparados para lidar com as frustrações
de seus desejos.
A violência urbana é uma doença com múltiplos fatores de risco, dos quais os
mais relevantes são a pobreza e a vulnerabilidade biológica.
Os mais vulneráveis são os que tiveram a personalidade formada num ambiente
desfavorável ao desenvolvimento psicológico pleno.
A revisão dos estudos científicos já publicados permite identificar três fatores princi-
pais na formação das personalidades com maior inclinação ao comportamento violento:
E agora, José?
Agora que você já sabe o que é argumentação, seus ti-
pos e seu processo de construção nos textos, chegou a
hora de aprender como utilizar esse conhecimento no
processo de Produção de textos da área administrativa.
Para tanto, na próxima aula, você aprenderá a produ-
zir os principais textos referentes à sua área de atuação
profissional como resumos, resenhas, paráfrases, cor-
respondências organizacionais, propostas e projetos.
Bons estudos e até a próxima aula!
Glossário
Argumento: todo procedimento linguístico que Subprimes: mercado obrigacionista/de crédito
tem por objetivo persuadir, fazer o receptor imobiliário de menor qualidade.
aceitar o que lhe foi comunicado, crer no que Alusão: referência.
foi dito e fazer o que foi proposto.
Referências
CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. G
ramática re- KOCH, I. V. A
rgumentação e linguagem. 6a ed.
flexiva: texto, semântica e interação. São São Paulo: Cortez, 2000.
Paulo: Atual, 2004.
FIORIN, L. J.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: lei-
tura e redação. 6a ed. São Paulo: Ática,
2003.
Competências
Conhecimento e capacidade de utilização da modalidade
de textos citantes, como forma de resgatar, sintetizar,
criticar e interpretar informações.
Habilidades
Produção de textos a partir de outros textos, utilizando
as técnicas de elaboração de resenhas de textos e fatos,
resumos e paráfrases explicativas.
Apresentação
Nesta aula, você conhecerá técnicas envolvidas na com-
posição textual que tem como ponto de partida a com-
preensão e a apreensão de textos alheios. As modalida-
des envolvidas pertencem ao gênero dos textos citantes,
mobilizando domínio de vocabulário e habilidade de dis-
tinguir ideias e informações principais e secundárias.
Para Começar
Você se lembra daquele livro de muitas páginas que você
devia ler e utilizar como base de um trabalho na escola?
Lembra-se de como tentou fazer um resumo, que aca-
bou ficando tão extenso que rivalizou com o tamanho
do livro? Quem sabe você desistiu no começo da em-
preitada e buscou “ajuda mágica” na internet... Se isso
aconteceu, você não foi conquistado nem pelo livro, nem
pela atividade que lhe foi proposta. Faltou, quem sabe,
conhecer a importância das técnicas de aproximação e
apreensão dos textos, que facilitam o desenvolvimento
de várias tarefas, na escola ou no ambiente profissional.
Vamos aprender, nesta aula, como trabalhar com tex-
tos sobre outros textos – os resumos, as resenhas e a pa-
ráfrase. Você vai constatar que já sabe muita coisa sobre
o assunto e que não é nenhum bicho de sete cabeças.
Fundamentos
Vamos começar entendendo que essas três espécies de
texto, os resumos, as resenhas e a paráfrase, têm uma
característica comum: são textos que podem referenciar
outros textos, ou seja, textos que contém citações de
outros autores, isso é, exigidos sempre que houver ne-
cessidade de registrar informações importantes contidas
em outros textos, ou, no caso das resenhas, também em
fatos. Sua aplicação é bastante ampla: nas atividades acadêmicas, faze-
mos uso dessas modalidades textuais quando temos de entender, com-
pilar e reproduzir informações e ideias contidas em textos de várias mí-
dias (livros, jornais, revistas, CD, CDV...) as quais mencionamos em nosso
próprio texto. O mesmo ocorre nas organizações, quando preparamos
uma apresentação de assuntos técnicos, quando interpretamos um ma-
nual, registramos as ocorrências de uma reunião... enfim, serão diversas
as ocasiões em que faremos uso desses textos.
Vamos conhecer cada um deles.
1. RESUMO
Todos nós certamente já vivemos alguma situação em que precisamos
resumir algo: pode ter sido naquele dia em que você teve de contar a seus
pais por onde você andou, chegando a casa só depois das três da manhã.
Sua habilidade em resumir foi demonstrada, pois você relatou o essen-
cial de suas ações, de seus percurso e permanência fora de casa. Você de-
monstrou habilidade em suprimir informações supérfluas, impertinentes
ou indesejáveis, focando-se no principal.
Na vida profissional, temos o desafio de resumir quando colocamos em
uma ou duas folhas de papel as informações a nosso respeito, fazendo
nosso Curriculum Vitae, ou quando nos apresentamos a um entrevista-
dor, relatando a ele nossas qualificações profissionais, dados pessoais e
habilidades.
Então: sabemos ou não resumir?
Em sua forma escrita e quando tem por fonte (ou objeto) um texto, o
resumo é parte componente de Relatórios, Pareceres da correspondência
organizacional (modalidades de texto que você estudará na Aula 9), bem
como das atividades de estudo, nos cursos superiores.
Vamos manter o foco na forma escrita do resumo, pois se trata de
um método de estudo que aponta nossa maior ou menor capacidade de
apreensão e compreensão de informações e conceitos.
Os resumos se propõem apresentar com fidelidade às ideias ou aos
fatos essenciais contidos num texto; as opiniões do autor do texto resu-
mido são levadas em conta, devendo-se evitar comentário ou julgamento
do texto-objeto. O resumo deve buscar o essencial e apresentá-lo com
fidelidade. Mas deve-se evitar, a todo custo, a reprodução de trechos do
texto resumido. Se o texto é narrativo, reduz-se ao essencial, o encade-
amento de ações e relações entre personagens, expondo-se o esqueleto
da intriga; se o texto é dissertativo, acompanha-se o desenvolvimento das
ideias nele contidas.
Dica
Conheça o texto integral da NBR 6028/2002. Ele é muito
importante, pois, como norma, deverá direcionar o desen-
volvimento de suas atividades acadêmicas.
2. RESENHA
Denomina-se resenha o texto elaborado com a finalidade de prestar in-
formações acerca de fatos ou de outros textos. Encontram-se, portanto:
3. PARÁFRASE
Segundo o dicionário Houaiss Eletrônico, paráfrase é “interpretação ou tra-
dução em que o autor procura seguir mais o sentido do texto que a sua
letra”, “interpretação, explicação ou nova apresentação de um texto”. O
termo vem do grego para-phrasis (repetição de uma sentença).
Na Antiguidade clássica empregava-se a paráfrase para transpor em
prosa um texto em verso, desenvolvendo-o ou abreviando-o. Hoje, a pa-
ráfrase é o desenvolvimento explicativo, interpretativo, de um texto.
O termo é empregado para designar o desenvolvimento explicativo de
um texto, de uma expressão ou de outra palavra. Pode-se considerar a
paráfrase uma espécie de “tradução” dentro da própria língua – é, pois,
um texto que esclarece o conteúdo de outro, conservando as informações
essenciais do original.
Note que o conteúdo do texto parafraseado permanece. O que muda é
apenas a forma, o modo de dizer – mudam as palavras, mas se preservam
as informações do texto parafraseado.
Reiterando: paráfrase é citação do conteúdo do discurso alheio, mu-
dando-se as palavras, o estilo (vocabulário e estrutura de frase). Observar
que a paráfrase deve evidenciar o pleno entendimento do texto original.
E agora, José?
Muito bem. Agora que você já domina as informações
e técnicas de apropriação de outros textos pelas mo-
dalidades estudadas nesta unidade (resenha, resumo e
paráfrase), você poderá conhecer textos da área admi-
nistrativa que demandam o domínio prévio dessas téc-
nicas. Nas próximas aulas, você terá contato com tais
textos, para desempenhar da melhor maneira possível
suas atividades profissionais nas corporações em que
vier a atuar. Bons estudos!
Glossário
Artigo: texto que constitui uma unidade numa Monografia: trabalho escrito acerca de um de-
publicação; texto de caráter científico ou terminado assunto.
tecnológico para publicação em livros, revis- Tese: denominação da monografia produzida no
tas, anais de congressos etc. final de cursos de pós-graduação, a qual o
Dissertação: neste contexto, denominação da aluno tem de defender diante de uma banca
monografia produzida no final de cursos de para obter o título de Doutor.
pós-graduação, a qual o aluno tem de de-
fender diante de uma banca para obter o
título de Mestre.
Referências
ANDRADE, M. L. O. R
esenha. São Paulo: Paulis- GARCIA, O. M. C
omunicação em prosa moder-
tana, 2006. na. 18a ed. Rio de Janeiro: FGV, 2000.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. LEITE, M. Q. R
esumo. São Paulo: Paulistana,
Resumos. NBR 6028/2002. Rio de Janeiro. 2006.
Competências
Conhecimento e capacidade de utilização das várias for-
mas de comunicação organizacional como ferramenta
estratégica nas relações profissionais.
Habilidades
Compreender a importância da comunicação nas organi-
zações, saber utilizar as diferentes formas da comunica-
ção organizacional para o marketing pessoal, networking
negociação e gerenciamento de conflitos.
Apresentação
Nesta aula, você conhecerá a importância da comunica-
ção nas organizações. Além disso, aprenderá a utilizar as
diferentes formas da comunicação organizacional para
o marketing pessoal, networking negociação e gerencia-
mento de conflitos.
Para Começar
Você já percebeu como uma pequena falha no proces-
so de comunicação dentro de uma empresa pode gerar
consequências desastrosas?
Embora, muitas vezes, pareça irrelevante, o modo
como o processo de comunicação organizacional é ad-
ministrado está diretamente relacionado com o padrão
de eficácia de uma empresa, sendo fundamental para
que se alcancem as metas relacionadas à produtividade
e à longevidade.
Por isso, neste capítulo aprenderemos o que é comu-
nicação organizacional e três dos principais documentos
desse tipo de comunicação: a carta comercial, a ata e o
e-mail. Vamos começar?
Fundamentos
A comunicação organizacional é a comunicação pratica-
da nas organizações para conduzir as ações e alcançar os
resultados desejados, sendo parte integrante da maioria
das atividades realizadas pelos colaboradores que nelas
atuam.
Esse tipo de comunicação pode ser utilizada nos am-
bientes internos e externos à organização. Internamente,
é usada entre funcionários e se caracteriza pela nature-
za administrativa e operacional, destinando-se a produ-
zir ações e provocar resultados. No ambiente externo,
caracteriza-se pela natureza administrativa e negocial, sendo praticada na
comunicação com clientes, fornecedores, concorrentes e quaisquer ou-
tras entidades com as quais a organização se relaciona.
A comunicação organizacional praticada no ambiente interno das em-
presas é responsável por manter a união e a coesão dos recursos huma-
nos em torno das atividades produtivas e na direção das metas estabele-
cidas (MACHADO NETO, 2003).
Conceito
A comunicação organizacional compreende um conjunto de
atividades, ações, estratégias, produtos e processos desen-
volvidos para criar e manter a imagem de uma organização
junto aos seus públicos de interesse.
1. Carta Comercial
A carta comercial é um tipo de comunicação escrita endereçada a uma ou
várias pessoas com o objetivo de transmitir uma mensagem que seja facil-
mente compreendida e leve o receptor à ação. Portanto, deve ser escrita
em linguagem clara, simples, objetiva, concreta, correta e sua elaboração
deve obedecer a uma série de regras que regulamentam a confecção des-
se tipo de documento (MEDEIROS, 2001).
1.1 Formato
Quanto ao formato, a carta comercial deve seguir as seguintes orienta-
ções:
Atenção
A linguagem empolada, rebuscada é causa, muitas vezes,
de obstáculo à comunicação. Portanto, o redator de cartas
comerciais deve optar por palavras conhecidas e formas sim-
ples para ser compreendido e obter uma resposta. Seu obje-
tivo é ser claro mais do que causar boa impressão.
Senhores:
Atenciosamente,
Sicrano de Tal,
Diretor.
Presidente: ����������������������������������������������������������������
��������������������������������(Assinatura)
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Abertura.
Presidente: ����������������������������������������������������������������
��������������������������������(Assinatura)
����������������������������������������������
… Nada mais havendo a tratar, Fulano de Tal agradece a presença do Senhor X, do Senhor Y, das
Secretário em exercício, lavrei a presente ata, que vai assinada pelo Senhor Presidente e por mim.
E agora, José?
Agora que você já sabe o que é comunicação organiza-
cional e como se escrevem cartas comerciais, e-mails e
atas, chegou a hora de aprender outros tipos de docu-
mentos utilizados nas organizações. Para tanto, na pró-
xima aula, você aprenderá a produzir também Relatórios
e Pareceres.
Até a próxima aula!
Glossário
Rebuscado: bastante aprimorado; esmerado, Memorando: mensagem escrita, breve e infor-
requintado. mal, usada como instrumento de comunica-
Neologismo: emprego de palavras novas, deri- ção administrativa, em impresso apropriado,
vadas ou formadas de outras já existentes, geralmente em correspondência interna nas
na mesma língua ou não. organizações.
Estrangeirismo: palavra ou expressão estran- Circular: comunicação escrita de interesse co-
geira. mum, que é reproduzida em vários exem-
Alínea: primeira linha de um novo parágrafo. plares e transmitida a diferentes pessoas ou
Ad hoc: pessoa designada, nomeada para exe- entidades.
cutar determinada tarefa.
Referências
MACHADO NETO, O. Competência em comu- MARTINS, D. S.; ZILBERKNOP, L. S. Português
nicação organizacional escrita: o manu- instrumental. 21. ed. Porto Alegre: Sagra
al da comunicação escrita utilizada nas Luzzatto, 2000.
empresas: novas técnicas, parâmetros e MEDEIROS, J. B. Correspondência: técnica de
princípios para o planejamento e a pro- comunicação criativa. 14a ed. São Paulo:
dução da comunicação escrita na ativi- Atlas, 2001.
dade profissional. Rio de Janeiro: Quality-
mark, 2003.
Competências
Conhecimento e capacidade de utilização das várias for-
mas de comunicação organizacional como ferramenta
estratégica nas relações profissionais.
Habilidades
Compreender a importância da comunicação nas
Organizações e saber utilizar as diferentes formas da
comunicação organizacional para o marketing pessoal,
networking, negociação e gerenciamento de conflitos.
Transformar conjuntos de ideias em textos realistas e
consequentes.
Apresentação
Gestores escrevem bastante, mas habilidades e compe-
tências na comunicação e na expressão escrita são tes-
tadas e exercidas ao máximo na redação de documentos
organizacionais.
Nesta aula, você aprenderá as várias formas de comu-
nicação organizacional e suas situações de uso. Apren-
derá ainda a elaborar Relatórios, Pareceres, Propostas
e Projetos, documentos que podem ser utilizados como
ferramentas estratégicas nas relações organizacionais. A
redação desses tipos de documentos deve ser concisa,
organizada e clara. Em relação à elaboração de Proposta
ou de Projeto é indispensável, por exemplo, situar esses
documentos em um contexto sem despender mais que
algumas frases. Esta aula mostra algumas técnicas en-
volvidas nessa redação e fornece roteiros básicos.
Para Começar
Você já parou para pensar em quantas pessoas altamen-
te qualificadas estão desempregadas nos dias de hoje?
Com a grande oferta de mão de obra em algumas áreas,
hoje é comum os funcionários serem selecionados pela
demonstração de sua competência mais do que por um
currículo extenso.
Na área administrativa, uma das competências mais
exigidas na contratação de um funcionário corresponde
à sua capacidade de comunicação por meio da utilização
da correspondência organizacional. Depois de estudar-
mos a carta, a ata e o e-mail, chegou a hora de reconhe-
cer e de aprender a elaborar outros documentos igual-
mente importantes: o Relatório, o Parecer, a Proposta e
o Projeto. Vamos começar?
Fundamentos
Entre as características exigidas dos documentos que fazem parte da cor-
respondência organizacional estão a clareza e a brevidade.
Tão importante quanto a clareza e a brevidade são o respeito e a poli-
dez ao se relacionar com seus colegas de trabalho. Portanto, essas serão
também características exigidas ao se elaborarem Relatórios e Pareceres,
documentos que têm em comum o fato de apresentarem uma visão bas-
tante pessoal dos fatos relatados.
Conceito
Relatório é uma exposição minuciosa dos fatos colhidos por
meio da observação de uma determinada situação.
Parecer é a opinião dada por alguém acerca de determi-
nado assunto.
1 Relatório
O Relatório é um documento por meio do qual se expõe um ou vários
fatos, em que se discriminam seus aspectos e elementos. É, geralmente,
dirigido ao superior hierárquico e dele consta exposição circunstanciada
sobre atividades em função do cargo que exerce o relator.
Depois de lido e examinado, esse documento é arquivado. Desse
modo, ele constitui-se um documento importante, disponível, a qualquer
tempo, para consulta da organização. Decorre daí a necessidade de as
pessoas encarregadas de sua elaboração aprimorarem ao máximo sua
execução, obedecendo a algumas normas básicas que darão coerência ao
documento, tornando-o claro, fácil de ser consultado e substancial (MAR-
TINS, 2000).
→→ Estrutura
O Relatório de Projetos é estruturado em seis segmentos, chamados seções:
2. Parecer
Parecer é um documento que apresenta a análise de um caso, apontando
uma solução favorável ou contrária ao processo analisado. Enquanto uma
informação fornece os fatos, o Parecer os interpreta, indicando de forma
fundamentada, em dispositivos legais e informações diversas, a melhor
solução para o caso analisado.
É um procedimento administrativo que, por meio da análise e apresen-
tação de um ponto de vista fundamentado, esclarece dúvidas e emite a
opinião do parecerista acerca do problema que lhe coube analisar (ME-
DEIROS, 2001).
Lembre-se
Profissionais de empresas e organizações têm nos relatórios
e pareceres a oportunidade de demonstrar como conduzi-
ram as tarefas sob sua responsabilidade e quais foram os
resultados alcançados.
3. Proposta
Escrever no dia-a-dia dos trabalhos de uma empresa requer correção gra-
matical e ortográfica, coerência, coesão e estilo, isso sem falar em evi-
tar erros, como o “onde” que erradamente substitui qualquer pronome
relativo. Além disso, há técnicas específicas para produzir determinados
documentos. Entre eles, estão as Propostas – técnicas e comerciais – e os
Projetos.
Não é exagero dizer que o desembaraço em produzir esses tipos de
documentos vai aumentar de modo significativo seu valor de mercado:
propostas bem feitas, que expliquem de modo claro e agradável o que
está em oferta têm melhor chance de sucesso que textos confusos e que
demandam esclarecimentos; relatórios mal feitos podem colocar a perder
esforços de estudo e projetos tecnicamente bem feitos.
De todas as qualidades que propostas e projetos devem ter (além de
correção ortográfica e gramatical) uma se destaca: concisão, a economia
de termos. A preocupação com volume é legítima e mais adiante é mos-
trado como lidar com ela, mas a linguagem tanto de propostas como de
relatórios, deve ser enxuta, econômica. A prática dessa qualidade ajuda
todas as outras, como a exatidão e o estilo.
Em relação à elaboração de uma Proposta, imagine a situação:
Suponha que você trabalhe como consultor. Formou-se, é esperto e
aprendeu bastante. Conhece uma empresa que tem problemas em sua
administração e sabe que ela deve fazer. Você faz uma visita ao dono da
→→ Bem escrita:
→→ Sem erros de ortografia ou gramática;
→→ Clara e sem margem a diferentes interpretações;
→→ Em estilo direto – deve-se evitar a voz passiva (que enfraquece
o texto) e o gerundismo (“vamos estar fazendo”), vício grave que
denota falta de compromisso.
→→ Concisa:
→→ Sem palavras desnecessárias e sem repetições.
Tabela 1: Escala
quando a pessoa diz o que quer dizer nível de compromisso
de compromisso. Farei o que estiver
É uma questão de
Fonte: PAULA, 2008 ao meu alcance para Compromisso máximo.
honra para mim.
resolver seu problema.
A solução será dada
Resolverei seu problema. Compromisso forte.
em algum futuro.
Se tudo der certo,
Vou resolver seu problema. Garantia relativa.
eu resolvo.
Estarei resolvendo
Não conte com isso. Compromisso mínimo.
seu problema.
Dica
A preocupação com o volume da proposta é legítima – pro-
postas com poucas páginas podem dar a impressão de pou-
co esforço ao fazê-las. Para contornar esse problema sem
sacrificar a concisão do texto use anexos, figuras, tabelas e
textos ilustrativos.
→→ 1.2.1 Objetivo;
→→ 1.2.2 Sumário executivo;
→→ 1.2.3 Antecedentes;
→→ 1.2.4 Descrição do fornecimento;
→→ 1.2.5 Exclusões;
1.2.3 Antecedentes
Os antecedentes são também chamados de background, palavra em in-
glês – é uma metáfora que significa “plano de fundo”. Os antecedentes
descrevem a situação que levou o cliente a querer contratar o serviço
ou produto.
Deve-se prestar muita atenção para não depreciar o cliente e mencio-
nar, por exemplo, melhorias em vez de solução de problemas. O back-
ground é uma descrição breve do contexto em que o fornecimento será
Dica
Há necessidade de consistência. Não se pode, por exemplo,
escrever no objetivo que se oferecerá o quanto for necessá-
rio de treinamento de funcionários para, na descrição, incluir
que esse treinamento será de no máximo uma semana.
Administração
envia
Pedido de material
Não
Pedido de
material
Arquiva Problemas possíveis N.F. 2ª via
Pedido de
material
N.F. 2ª via
N.F. 1ª via
Verifica se N.F. e
materiais conferem
→→ Gargalos;
→→ Perdas de informação;
→→ Trabalhos duplicados.
c. Soluções:
→→ Automação de processos;
→→ Escolha de softwares;
→→ Entradas e saídas de cada módulo automatizado;
→→ Novos fluxogramas.
d. Instruções e treinamento:
→→ Manual de instruções;
→→ Treinamento de até 5 funcionários, com a duração de 15 horas.
Note que a descrição dos serviços poderia ser sucinta, conforme o que
verá no quadro seguinte:
Os serviços incluirão:
1.2.5 Exclusões
Sempre que houver possibilidade de dúvidas em relação ao escopo de
serviço, deve-se mostrar claramente o que não faz parte dele.
No caso-exemplo da consultoria, as exclusões seriam:
→→ Fornecimento de software;
→→ Treinamento para mais de 5 pessoas e/ou além de 15 horas.
1.4 Cartas-proposta
A carta-proposta costuma ser utilizada para trabalhos de pequeno porte.
Combina a carta de encaminhamento e a proposta propriamente dita
em um único documento. O número máximo de páginas se situa em
torno de 10.
À
Smart SLG Comércio de Sistemas de Automação Ltda
Av. Luis Carlos Prestes, 410 sl 307 - Barra da Tijuca
22775-050 Rio de Janeiro, RJ
Objetivo
Esta proposta se destina a apresentar as condições de fornecimento de telas para efetuar a Interface
Homem-Máquina de um sistema supervisório para ar condicionado em uma indústria farmacêutica.
Antecedentes
Em uma indústria farmacêutica, o sistema de ar condicionado é muito importante, por assegurar, além
do conforto aos técnicos e engenheiros, temperatura e umidade adequadas ao processamento de
medicamentos e ausência de contaminação no ar. Na fábrica de vacinas da Fundação Oswaldo Cruz o
ar condicionado é controlado através de um sistema de telas gráficas, que necessita ter figuras e layout
melhorado.
Escopo de serviço
O escopo de serviço está no aprimoramento de telas existentes e confecção de novas telas conforme
padrões fornecidos pelo cliente, e em conformidade com a norma ASM, incluindo cores e layout. O limite do
número de telas para este escopo é de 25, entre aprimoradas e originais.
Se desejado, poderão ser também efetuados os links com o banco de dados, bastando para tal que
sejam fornecidas as instruções, documentada ou verbalmente.
Coordenação e prazos
O serviço será executado conforme as seguintes etapas:
d. Reunião com o cliente e com o usuário, definindo o objetivo e características das telas;
e. Entrega pelo cliente da lista de telas, com a tela correspondente a aperfeiçoar ou descrição de
variáveis e instruções gerais de layout para as telas novas.
f. Entrega, em 20 dias corridos, de até 25 telas prontas, para comentários do cliente.
g. Ajustes, se houver, em até 5 dias.
Durante a execução, haverá uma ou mais reuniões com o cliente e/ou o usuário, para resolução de dúvidas
e tomadas de decisão sobre alternativas que venham a surgir.
Remuneração
A remuneração será de R$ 2.200,00 (dois mil e duzentos reais), aí incluídos os serviços e todas as despesas,
inclusive de viagem.
Os pagamentos estarão assim distribuídos:
→→ Início dos serviços: 10%
→→ Entrega e aceitação final dos trabalhos: 90%
3. Reunião de kickoff O serviço poderá ser iniciado imediatamente. Em V. Sª assim desejando, poderá marcar a reunião de kickoff 3
no Rio ou em S. Paulo.
é a reunião de início
dos trabalhos, Com cordiais saudações,
menção comum em
______________________________________________________
propostas de serviços. Luiz Eduardo Pedregal
M&B Consultoria
2. Projetos
O que você pensa que seja um projeto?
Você de algum modo sabe, pois projetos fazem parte do cotidiano.
Quando a mãe de uma criança, por exemplo, prepara uma festa de ani-
versário, ela desenvolve um projeto. Pode ser até que não esteja conscien-
te disso, mesmo que capriche como a autora do bolo.
Um projeto é um empreendimento:
→→ Não repetitivo;
→→ Caracterizado por uma sequência clara e lógica de eventos;
→→ Com início, meio e fim;
→→ Dotado de objetivo claro e definido;
→→ Conduzido por pessoas dentro de parâmetros predefinidos de tem-
po, recursos e qualidade.
Chefe: Valdir, temos um novo projeto para nos empenhar e você será o
responsável.
Funcionário: Muito bom, e quem eu devo comandar?
Chefe: Não se preocupe que eu faço isso.
Funcionário: Quanto eu tenho disponível para investir no projeto?
2.1.1. Objetivo;
2.1.2. Sumário Executivo;
2.1.3. Antecedentes;
2.1.4. Desenvolvimento;
Conceito
A apresentação de um projeto em uma empresa tem dife-
renças importantes em relação a um projeto acadêmico.
2.1.1 Objetivo
O objetivo é a formulação do problema. Deve ser escrito com brevidade.
Por exemplo:
2.1.3 Antecedentes
Consistem em uma descrição breve do contexto que tornou necessário o
desenvolvimento do projeto.
Por exemplo, um mercado em expansão que leva a um estudo de via-
bilidade para ampliação de uma fábrica.
Os antecedentes, tais como aparecem em propostas e projetos são às
vezes chamados de background, conforme mencionado anteriormente.
Dica
Um bom modo de confeccionar o desenvolvimento é pri-
meiro listar os tópicos, e depois escrever os textos. Ao cor-
rer do trabalho, a estrutura pode mudar.
2.1.5 Resultados
Os resultados devem ser apresentados com simplicidade. Deve-se cuidar
para não colocar palavras ou números desnecessários.
2.1.6 Conclusão
As conclusões constituem a resposta ao problema formulado no objetivo.
2.1.7 Documentação
Geralmente apresentada em anexos. No caso de trabalhos acadêmicos, é
necessário mostrar uma bibliografia segundo critérios rígidos.
E agora, José?
Assim como é importante aprender a desenvolver pro-
postas e redigir relatórios de projetos, você também
deve ser capaz de fazer uma boa apresentação. É o que
verá na próxima aula.
Glossário
Situacional: referente à situação. Parecerista: pessoa responsável pela elabora-
Auditoria: processo de exame e validação de ção de um Parecer.
um sistema, atividade ou informação.
Referências
JAY, R; GOZZI, R. Como Redigir Propostas. São MEDEIROS, J. B. Correspondência: técnica de
Paulo: Pearson, 2008. comunicação criativa. 14a ed. São Paulo:
LARA, F. A. M
anual de Propostas Técnicas. Atlas, 2001.
São Paulo: Pini, 2002. MOREIRA, F; SILVA, B. M
icrosoft Project 2007 -
MACHADO NETO, O. Competência em comu- Gestão E Desenvolvimento De Projetos.
nicação organizacional escrita: o manu- São Paulo: Relativa, 2008.
al da comunicação escrita utilizada nas PAULA, L. Q. V
ícios de linguagem. Encontre-
empresas: novas técnicas, parâmetros e -se.com 1º Encontro Regional em Ges-
princípios para o planejamento e a pro- tão e Secretariado das FATEC’S. Indaiatu-
dução da comunicação escrita na ativi- ba. 2008. Palestra. Disponível em: http://
dade profissional. Rio de Janeiro: Quality- www.fatecindaiatuba.edu.br/encontre-se/
mark, 2003. encontrese/slides_1encontrese/palestra_
MARTINS, D. S.; ZILBERKNOP, L. S. Português leda.ppt
instrumental. 21a ed. Porto Alegre: Sagra
Luzzatto, 2000.
Competências
Preparação de palestras e exposições orais em geral,
com a seleção de técnicas comunicacionais voltadas aos
diversos objetivos das apresentações em público.
Habilidades
Apresentar ideias e projetos em público, valendo-se de
recursos adequados à interação com diferentes públicos
e à eficácia da comunicação.
Apresentação
Nesta aula, você aprenderá a utilizar os mecanismos de
coesão e coerência para o processo de leitura, compre-
ensão e produção de textos.
Para Começar
Na primeira aula da disciplina Comunicação e Expressão
de nosso curso, você foi apresentado ao conceito de tex-
to. Naquela aula, você viu que texto é uma sequência de
palavras que forma um todo significativo para um deter-
minado grupo de pessoas, em uma determinada situa-
ção. Isso significa que um texto, como unidade de sen-
tido, não é apenas a soma do resultado de suas partes.
Um texto pressupõe uma organização interna específica,
como, por exemplo, a sequência das partes e a relação
existente entre as ideias e as palavras.
Juntando todas as partes do texto, é possível perceber
que as relações existentes entre palavras, frases e ideias
é que fazem com que o texto seja um todo significativo e
não um aglomerado de palavras e frases desconexas. Ao
conjunto de características que fazem com que um texto
seja um texto dá-se o nome de textualidade.
Entre os fatores que contribuem para formar a textu-
alidade, há dois que serão estudados nesta aula: coesão
e coerência. Vamos conhecê-los?
Fundamentos
1. Coesão Textual
A ligação textual obtida por meio de elementos linguísti-
cos específicos chama-se coesão textual.
Para tornar mais claro esse conceito, imagine duas si-
tuações: a construção de uma casa e as placas de sinali-
zação de trânsito.
Coesão: a “argamassa” textual
Pense na construção de uma casa: Como você sabe, as paredes são es-
truturas fundamentais nessa construção. Para construí-las, utilizam-se
tijolos. No entanto, não basta dispor os tijolos lado a lado para que as
paredes sejam construídas. É necessário ligá-los por meio de argamassa
para que constituam uma estrutura firme e harmoniosa.
O mesmo ocorre com a construção de um texto. A base de construção
de um texto são as palavras e frases que, por sua vez, expressam ideias.
No entanto, não basta dispor palavras e frases lado a lado para que um
texto seja produzido e apresente sentido. É preciso encontrar elementos
que estabeleçam uma ligação entre as várias partes do texto, da mesma
maneira que a argamassa vai unindo os tijolos de uma casa.
À ligação textual obtida por meio de elementos linguísticos específicos,
chamamos de coesão textual.
Você deve ter notado que todas as placas foram utilizadas para fazer
o leitor voltar ao texto e procurar algo que já foi dito. No primeiro período,
No caso da placa , sua utilização não foi feita para remeter o leitor a
algo já dito no texto, mas para estabelecer um vínculo entre duas ideias
uso indica que o texto não seguirá na mesma direção em que se encontra
Conceito
Coesão textual são as articulações gramaticais existentes
entre palavras, orações, frases, parágrafos e partes maiores
de um texto que garantem sua conexão sequencial. (CEREJA,
Magalhães, p. 36)
2. Coerência Textual
Além da coesão, outro fator que contribui para a textualidade, ou seja,
para fazer com que um texto seja um todo significativo, é a coerência
textual.
Você, sem dúvida, já disse ou já ouviu alguém dizendo “isso é incoe-
rente”, “aquilo não faz sentido”. Isso ocorre porque, de um modo geral,
sempre procuramos atribuir significados ao que lemos ou ouvimos, recor-
rendo aos nossos conhecimentos.
Assim, enquanto a coesão diz respeito ao aspecto formal, linguístico
do texto, sendo alcançada pela escolha de palavras cuja função é justa-
mente estabelecer referências e relações; a coerência textual estabelece
uma articulação no plano das ideias e conceitos. Estando no âmbito da
significação, a coerência se manifesta pela reunião de ideias, informações
e argumentos compatíveis entre si.
Sempre que produzimos um texto, nossa intenção é informar, divertir,
explicar, convencer, discordar, ordenar, ou seja, o texto é uma unidade de
significado produzida sempre com uma determinada intenção. Da mesma
maneira que uma frase não é uma simples sucessão de palavras, o texto
também não é uma simples sucessão de frases, mas um todo organizado
capaz de estabelecer contato com nossos interlocutores, influindo sobre
eles. Quando isso ocorre, temos um texto em que há coerência.
A coerência é resultante da não contradição entre as várias partes que
compõem um texto as quais devem estar encadeadas logicamente. Cada
segmento textual pressupõe o segmento seguinte de modo sucessivo,
formando assim uma cadeia em que todas as partes estejam concatena-
das harmonicamente. Quando há quebra nessa relação harmoniosa entre
as partes, ou quando um segmento atual está em contradição com um
anterior, perde-se a coerência textual. Veja como isso ocorre no outdoor
apresentado a seguir:
Joãozinho, se você
não me xingar mais
eu prometo que não
Sua chata,
corro mais atrás de
cabeça de ET,
você e ainda te dou
balofa...
um beijo.
Após a leitura, o que podemos dizer do texto? Ele não é de todo coeren-
te? É verdade que a última cena nos causa estranheza, mas, se conside-
rarmos que se trata de um gênero textual caracterizado pelo humor, a
própria “estranheza” é propiciadora da coerência. Além disso, vejamos as
informações que podem ser depreendidas do texto:
Conceito
Coerência textual é o resultado da articulação das ideias de
um texto; é a estruturação lógico-semântica que faz com
que numa situação discursiva palavras e frases componham
um todo significativo para os interlocutores. (CEREJA, Maga-
lhães, 1999, p. 36)
3. Coesão e Coerência
Embora a coesão seja um elemento importante na estruturação de tex-
tos, ela não é condição necessária nem suficiente para o estabelecimen-
to da coerência.
Vejamos um exemplo disso:
O pulso (Titãs)
Lembre-se
A coesão por si só não é responsável pela coerência textual,
porque a coerência não está no texto, mas é constituída pelo
leitor com base em seus conhecimentos e na materialidade
linguística do texto. Sempre que nos for possível construir
um sentido para o texto, este será, em uma dada situação
de interação, um texto coerente. (KOCH, Elias, 2009, p. 187)
E agora, José?
Agora que você já sabe o que é Coesão e Coerência,
chegou a hora de aprender alguns mecanismos que
contribuem para a coesão em um texto. Para tanto, na
próxima aula, você aprenderá como os pronomes de-
monstrativos podem contribuir para a elaboração de
textos organizacionais.
Até a próxima aula!
Referências
CEREJA, W. R.,; MAGALHÃES, T. C.; Gramática re- ______ Ler e compreender: os sentidos do tex-
flexiva: texto, semântica e interação. São to. São Paulo: Contexto, 2009.
Paulo: Atual, 1999. LEITE, R. ET al. Novas palavras: literatura,
FIORIN, L. J.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: lei- gramática, redação e leitura. São Paulo:
tura e redação. 6a ed. São Paulo: Ática, FTD, 1997.
2003.
KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e escrever: estra-
tégias de produção textual. São Paulo:
Contexto, 2009.
Competências
Redigir textos com a seleção adequada dos elementos
coesivos lexicais e gramaticais responsáveis pela reto-
mada e pela antecipação.
Habilidades
Selecionar e empregar, em contextos dados ou de sua
própria elaboração, elementos coesivos de diferentes
espécies, em particular pronomes pessoais, termos rela-
cionados por sinonímia, hiperonímia, hiponímia e conti-
guidade de sentido.
Apresentação
Nesta aula, você aprenderá o que é a coesão referencial,
reconhecendo os recursos linguísticos disponíveis para
retomar e para antecipar ideias e informações no texto,
garantindo a progressão das sequências de texto. Você
conhecerá a coesão lexical (aquela que envolve o em-
prego do estoque de palavras associadas pelo sentido) e
a gramatical (a que emprega termos gramaticais, como
pronomes, por exemplo).
Para Começar
Atente para os termos empregados no título desta notí-
cia de jornal:
O burro e a flauta
Jogada no campo estava desde faz tempo uma Flauta que já ninguém tocava, até que
um dia um Burro que passeava por ali soprou forte nela fazendo-a produzir o som
mais doce de sua vida, quer dizer, da vida do Burro e da Flauta.
Incapazes de compreender o que tinha acontecido, pois a racionalidade não era o
seu forte e ambos acreditavam na racionalidade, se separaram rapidamente, enver-
gonhados do melhor que um e outro tinham feito durante toda a sua triste existência.
— MONTERROSO, A. A ovelha negra e outras fábulas. Rio de Janeiro: Record, 1983. p. 65.
Fundamentos
COESÃO TEXTUAL
Para recolocar em cena o tema acima, leia este belo poema de João Cabral
de Melo Neto, da obra Fazendeiro do ar.
Tecendo a manhã
1 2
Um galo sozinho não tece uma manhã: E se encorpando em tela, entre todos,
ele precisará sempre de outros galos. se erguendo tenda, onde entrem todos,
De um que apanhe esse grito que ele se entretendendo para todos, no toldo
e o lance a outro; de um outro galo (a manhã que plana livre de armação).
que apanhe o grito que um galo antes A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
e o lance a outro; e de outros galos que, tecido, se eleva por si: luz balão.
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
— João Cabral de Melo Neto
O poema de Cabral pode ser lido como uma espécie de “definição po-
ética” da construção de um texto, do entrelaçamento das ideias que o
compõem. O elemento do poema que permite desencadear essa inter-
pretação é a palavra tecido, que provém do latim textus; como se nota,
trata-se da mesma palavra que originou, em nossa língua, o termo texto.
Interessante, não é?
Existe nesse poema a sugestão de uma analogia entre os cantos inte-
grados dos galos (os quais se sucedem e harmonizam até que a luz do dia
Chego atrasado para registrar a passagem do Dia do poeta, que ocorreu na última
quinta-feira. Absorvido pelo cotidiano miúdo, nem reparei nele. Para o meu ami-
go Horácio, entretanto, a data não passou em branca nuvem (também, com esse
nome...). Horácio já produziu três livros de poemas e costuma ser indigitado em seu
círculo de relações como “o poeta”. Ganhou mesmo certa notoriedade, a ponto de,
uma ocasião, pretendendo assistir a um filme pornô muito badalado, ser reconheci-
do pela bilheteira, que lhe sorriu, dizendo:
— Como vai o ilustre poeta?
Manhã cedo, três vigilantes associações de poetas telefonaram para ele, convi-
dando-o a participar de tardes comemorativas, onde leria versos com fundo musical
e tomaria chá com bolinhos:
— O meu amado poeta não pode faltar, pois não?
— Reservamos um lugar de honra para o admirável bardo.
— Distinto aedo, contamos com a sua presença.
Eram três mulheres, secretárias das três sociedades, o que não é de estranhar,
sabido que, na faixa dos 15 aos 55 anos, o número de poetas femininos é considera-
velmente superior ao de poetas masculinos. Depois dos 55, cresce a percentagem de
poetas varões. Todos insexualmente, como fez questão de acentuar em entrevista à
TV Educativa, uma inspirada cultora do verso:
— Não há nem pode haver distinção de sexos na poesia. Essa discriminação de
poetisa, algo deprimente para nós, já era. (...)
Horácio acabou prometendo que não faltaria às festividades, uma na Tijuca,
outra no Leme, a terceira no centro, todas no mesmo horário. E já matutava que
1. COESÃO LEXICAL
Ocorre esse tipo de coesão quando se empregam as palavras da língua
que correspondem às denominações (substantivos, adjetivos, verbos, ad-
vérbios) dos dados de realidade. Obtém-se coesão lexical por meio de
dois processos: a reiteração e a colocação.
1.1. REITERAÇÃO
Há reiteração quando se repete o mesmo item lexical (a mesma palavra),
ou quando se empregam sinônimos, hiperônimos, hipônimos e nomes
genéricos. Para entender a diferença, vamos examinar os exemplos.
1.2. COLOCAÇÃO
Também conhecida por contiguidade, a colocação ocorre quando se uti-
lizam termos pertencentes ao mesmo contexto de significação, de infor-
mação. Observe-se, no exemplo abaixo, como os termos grifados rela-
cionam-se por contiguidade, por aproximação, pois estão no contexto de
assuntos, de temas compatíveis:
Filha: Mãe, por que o papai tem que sair todo dia de manhã?
Mãe: Ora, filha! Porque ele precisa de dinheiro para cuidar da gente, para
passear, dar-lhe uma boa educação, vestimenta, comida...
→→ O livro dos 30 anos do JN: uma reflexão inédita sobre sua histó-
ria. (Sua: do JN)
→→ Prometeu ajudar-me, mas até agora não o fez. (Isto é: não me ajudou...)
→→ Vamos apoiar seu projeto, mas é porque a ideia é realmente boa.
(Note que a palavra “é” equivale a “vamos apoiar seu projeto”.)
→→ — O gerente já saiu?
— (0) Já (0).
Atenção
Se o pronome o/a/os/as aparecerem depois de r, s ou z,
mudam para lo/la/los/las.
O/a/os/as vindos depois do som nasal, devem ser mu-
dados para no/na/nos/nas.
lhe(s)
A empresa lhe atribui uma
você(s) nova responsabilidade.
o(s) / a(s)
Querem que você
Ninguém o / a criticou.
assuma o cargo. (prep. +) você
A empresa atribui a você uma
nova responsabilidade..
se
Ele se prometeu uma semana de descanso.
se
Ele se dedicou muito à empresa.
(prep. +) si
ele, ela Não confia em si mesmo.
o (lo) (no) / a (la) (na)
Creio que ele será
Eu o encontrei há pouco.
promovido. lhe
Pretendemos promovê-lo.
Entreguei-lhe os documentos.
Os técnicos procuravam uma solução e
encontraram-na num antigo projeto.
consigo
Leva consigo os documentos pessoais.
nos
Não nos deu chance de explicar o acontecido.
nós
nos (prep. +) nós
Esperam que nós
Espero que nos mencionem no relatório. Espero que lute por nós.
apresentemos a palestra.
conosco
Trabalhe conosco.
se
Eles se permitem errar!
se
Eles se comprometem com
(prep. +) si
os objetivos da empresa.
eles, elas Não confiam em si mesmos,
Elas têm plenas por isso não dão palpite.
o (lo) (no) / a (la) (na)
condições de
Todos na empresa o respeitam.
assumir o cargo. lhe
A investigação pode comprometê-los.
Entreguei-lhes os documentos.
Querem boas funcionárias e buscam-
nas nos bancos de currículos.
consigo
Levam consigo os documentos pessoais.
E agora, José?
Bem, agora que você já conhece os tipos de coesão refe-
rencial tratados nesta unidade, está pronto para estudar,
em nossas próximas unidades, dois mais importantes ele-
mentos responsáveis pela coesão num texto — os prono-
mes demonstrativos e os pronomes relativos. Até lá!
Glossário
Coesão lexical: relação entre palavras que per- de sentido mais específico, com base na
tencem ao vocabulário da língua; é o reper- existência de traços comuns de significação
tório, o acervo linguístico. (p.ex. felino é hiperônimo para tigre).
Palavras gramaticais: palavras da língua que Hiponímia: relação que se estabelece entre pa-
são usadas como relacionadores das palavras lavra de sentido mais específico e outra de
do léxico, caso das preposições, das conjun- sentido mais genérico, com base na existên-
ções, dos pronomes. cia de traços comuns de significação (p. ex.
Sinonímia: relação entre palavras de significa- cão é hipônimo de animal).
ção próxima, de tal forma que uma possa ser Elipse: supressão de um termo que pode ser
usada pela outra no contexto, sem prejuízo identificado graças ao contexto.
de sentido. Contiguidade: relação de proximidade de sen-
Hiperonímia: relação que se estabelece entre tido entre palavras, que se podem associar
palavra de sentido mais genérico e outra numa sequência dada.
Referências
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: leitu- KOCH, I. V. A Coesão textual. 2a ed., São Paulo:
ra e redação. 2a ed. São Paulo: Ática, 1997. Contexto, 1990.
_____. Para entender o texto: leitura e reda-
ção. São Paulo: Ática, 1997.
Competências
Conhecimento e capacidade de utilização adequada dos
pronomes demonstrativos para a produção e intelecção
de textos.
Habilidades
Habilidade na manipulação das diversas formas de refe-
rência pronominal associadas às diferentes possibilida-
des de se dirigir a interlocutores em diferentes contextos
de comunicação.
Apresentação
Nesta aula, você aprenderá a empregar os pronomes
demonstrativos como elementos coesivos utilizados na
produção e intelecção de textos.
Para Começar
Muitas vezes, você já deve ter sido solicitado a demons-
trar algo a alguém. De origem latina, o verbo “demons-
trar” significa exatamente aquilo que você deve ter feito
nessas ocasiões, ou seja, “fazer ver, dar a conhecer ou
indicar”.
Pensando no significado desse verbo, veja com aten-
ção a cena apresentada a seguir:
Observe que:
As palavras “isso” e “esse” usadas são pronomes de-
monstrativos. Com base nisso, perguntamos: você
sabe a diferença entre elas? Elas podem ser usadas
indistintamente em qualquer situação? Você sabe quando deve optar pelo
uso de uma ou de outra?
É exatamente isso que vamos aprender nesta nossa aula. Vamos lá?
Fundamentos
Pronomes Demonstrativos
Os pronomes demonstrativos são aqueles que situam a pessoa ou a coisa
demonstrada em relação às três pessoas do discurso. Essa localização,
indicando proximidade ou distanciamento, pode se dar no tempo, no es-
paço ou no próprio texto.
dica
As três pessoas do discurso ou pessoas gramaticais são:
lembre-se
Os pronomes “você” e “vocês” substituem os pronomes “tu”
e “vós” em muitas regiões do país. Por isso são considerados
também pronomes de 2a pessoa, apesar de exigirem o verbo
na 3a pessoa.
Comunicação e Expressão / UA 14 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Uso de Pronomes Demonstrativos em Textos Organizacionais 4
variáveis
Tabela 1. Pronomes pessoas masculino feminino invariáveis
Demonstrativos.
singular plural singular plural
Na cena, a frase “Olha só o que eu achei!”, temos a palavra “o” como cor-
respondente de “aquilo”.
Também são considerados pronomes demonstrativos os vocábulos
mesmo e próprio, quando reforçam pronomes pessoais ou fazem refe-
rência a algo expresso anteriormente:
Comunicação e Expressão / UA 14 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Uso de Pronomes Demonstrativos em Textos Organizacionais 5
1. Disponível em: Administração do tempo – parte 31
http://www.acresa. (...) Quem trabalha como empregado está, na realidade, vendendo ao em-
com.br/site/?p=864
pregador parte de seu tempo (e do uso de sua inteligência, de suas com-
petências, de seu esforço) em troca de um salário (dinheiro). Isso quer di-
zer que o uso de nosso tempo durante o horário de trabalho é, em parte,
determinado pelo nosso empregador, não por nós mesmos. (...)
→→ (nós mesmos)
2. MAMEDE, R. (...) Infelizmente, a realidade é que este mesmo jovem não está ainda pre-
R. Educação em
empreendedorismo
parado para se inserir profissionalmente no mercado de forma autônoma
como fator de e empreendedora. Tal situação é resultado tanto do sistema educacional
desenvolvimento brasileiro, como de valores da nossa sociedade, que ainda impregnam
econômico: uma
nossos jovens com a “síndrome do empregado”, mesmo percebendo que
proposta para
o município de este elemento, o emprego, está desaparecendo no contexto de um mun-
Campo Grande- do globalizado. (...)2
MS. Disponível em:
http://www.oei.
es/etp/educacao_
empreendedorismo_ →→ (Tal = essa)
fator_
desemvolvimento_
economico.pdf Emprego dos pronomes demonstrativos
1. Em relação ao espaço
Comunicação e Expressão / UA 14 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Uso de Pronomes Demonstrativos em Textos Organizacionais 6
Na frase o pronome esse indica que o objeto (caderno) que estava próxi-
mo de seu interlocutor.
No exemplo, foi usado o pronome aquela para referir-se a uma moça (bo-
nita) que se encontrava distante do interlocutor e do seu ouvinte.
dicas
Na utilização dos pronomes demonstrativos para indicar a
localização espacial, há geralmente uma correlação natural
com os advérbios de lugar: aqui, ali e lá. Veja:
2. Em relação ao tempo
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Código Civil e na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que podem le-
var à demissão por justa causa, ao pagamento de indenização e, no limite,
à detenção.
Segundo o perito digital Wanderson Castilho, uma mensagem de e-mail
enviada anonimamente pode render demissão por justa causa.
De janeiro a maio deste ano, Castilho diz ter identificado e trabalhado
com 19 ocorrências de mensagens eletrônicas enviadas anonimamente
para falar mal de outras pessoas ou empresas.
4. BRASIL, R. A. S.,
Gestão empresarial
Após longos anos pertencendo ao setor privado (até meados da década
por processos de
negócio e seis sigma: de 60), o sistema de telefonia brasileiro consolidou seu processo de esta-
estudo de caso tização em 1972 com a criação da Telebrás. Durante praticamente duas
aplicado ao segmento
décadas, mais precisamente até 1998, essa holding ditou as regras e regula-
de telefonia móvel
celular. Disponível mentou a comunicação no Brasil. Exatamente nesse ano se iniciou a criação
em: http://www. do cenário de telefonia móvel celular no Brasil, tal qual conhecemos hoje.4
leansixsigma.
com.br/ACERVO/
ACERVO_14112414.
PDF No fragmento apresentado, o pronome esse (presente na expressão “nes-
se ano”) é utilizado para fazer referência a um passado relativamente pró-
ximo (ano de 1998) em relação à época em que ocorreu a produção do
texto (2006).
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novas. Apesar do naufrágio das empresas ponto.com, basta analisar o
que aconteceu na última década para concluir que a maioria das recentes
riquezas foi criada por estreantes no setor ou por empresas jovens. A
5. O laboratório de
única conclusão a que se pode chegar é que a inovação move a criação de
inovação em gestão. riquezas”, afirma Hamel.(...)
Disponível em: Hamel compara a atual visão da inovação com o conceito de qualidade
http://br.hsmglobal.
que predominava no mundo dos negócios na década de 1970. Naquela
com/adjuntos/14/
documentos/000/ época, as pessoas reconheciam a importância da qualidade, mas desco-
061/0000061637.pdf nheciam os processos ou sistemas que permitiriam sua concretização.5
dicas
Os pronomes demonstrativos também podem ser usados para
indicar uma relação de posse, deixando claro se o possuidor é o
falante, o ouvinte ou o ser que serve como assunto. Veja:
Comunicação e Expressão / UA 14 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Uso de Pronomes Demonstrativos em Textos Organizacionais 9
b. Esse(s), essa(s) e isso: esses pronomes são empregados quando se
quer fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou. Observe:
7. Três fatores
A arte da negociação7
de sucesso para
aumentar a Em todos os cursos de negociação ouvem-se frases deste tipo:
efetividade de
uma negociação.
→→ “Em uma negociação o cliente é quem tem o poder.”
Disponível em:
http://site.suamente. →→ “Os vendedores não tem outra opção que aceitar as preten-
com.br/tres- sões dos clientes.”
fatores-de-sucesso- →→ “É necessário outorgar condições favoráveis aos clientes.”
para-aumentar-
a-efetividade-de-
uma-negociacao/ Isso faz com que muitas vezes nos esqueçamos de qual é o verdadei-
ro objetivo de uma negociação.
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No fragmento apresentado, o pronome aquele se refere a “poder”
termo mencionado em primeiro lugar no texto, enquanto esta se
refere a “liderança”, último termo mencionado.
atenção
Embora seja comum na leitura de diversos textos a observa-
ção do uso indistinto dos pronomes demonstrativos, a ina-
dequação na utilização desses pronomes pode comprometer
a inteligibilidade e clareza do texto.
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antena
parabólica
Como vimos, os pronomes demonstrativos são aqueles
que situam a pessoa ou a coisa demonstrada em relação
às três pessoas do discurso, ou seja, fazem ver, dão a
conhecer ou indicam algo. Em virtude dessas caracterís-
ticas, tais pronomes são muito utilizados em anúncios
publicitários, cuja função primordial é justamente apre-
sentar ou demonstrar determinado produto.
Preste atenção da próxima vez que você ver um anún-
cio publicitário. Certamente, encontrará um dos prono-
mes estudados nesta aula.
E agora, José?
Agora que você já sabe quais são os pronomes demons-
trativos e como utilizá-los adequadamente na elabora-
ção de um texto, chegou a hora de aprender sobre outro
tipo de pronome: os pronomes relativos. Para tanto, na
próxima aula, você aprenderá como os pronomes relati-
vos podem também contribuir para a elaboração de tex-
tos organizacionais.
Até a próxima aula!
Referências
CEREJA, W. R.,; MAGALHÃES, T. C.; Gramática re- KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e escrever: estra-
flexiva: texto, semântica e interação. São tégias de produção textual. São Paulo:
Paulo: Atual, 1999. Contexto, 2009.
FIORIN, L. J.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: lei- _____ Ler e compreender: os sentidos do tex-
tura e redação. 6a ed. São Paulo: Ática, to. São Paulo: Contexto, 2009.
2003. LEITE, R. Et al. Novas palavras: literatura,
gramática, redação e leitura. São Paulo:
FTD, 1997.
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15
comunicação e expressão
Coesão Textual:
Pronomes Relativos
Competências
Reconhecer os pronomes relativos adequados às rela-
ções coesivas que garantem a progressão das ideias no
texto.
Habilidades
Selecionar e empregar, em contextos dados ou de sua
própria elaboração, elementos coesivos da classe dos
pronomes relativos, construindo sequências textuais
adequadas, nas diferentes modalidades de texto.
Apresentação
Nesta aula, você aprenderá a empregar os pronomes re-
lativos como elementos coesivos utilizados na produção
e intelecção de textos. Conhecerá as especificidades de
uso desses pronomes nos contextos em que aparecem,
podendo, com isso, para fazer a seleção adequada dessa
espécie de coesivo.
Para Começar
Você conhece o poema “Quadrilha” de Carlos Drum-
mond de Andrade?
Fundamentos
A classe dos pronomes relativos é um dos principais elementos de coesão
num texto que produzimos. É necessário, inicialmente, compreender a
função de pronome, para, depois, entender a função de relativo (isto é,
responsável por relações).
Os pronomes, de modo geral, têm função substitutiva (“pro” = em lugar
de); assim, ocupam na cadeia do enunciado o lugar de um conteúdo que
se queira expressar, sem repetir a forma dada a tal conteúdo, isto é, sem
repetir a palavra ou expressão daquele conteúdo.
A referência do pronome pode ser linguística (de palavra, ou palavras)
ou extralinguística (referindo-se à realidade extraverbal, às coisas, ideias
e seres do universo abarcado pelo conhecimento).
Há pronomes que se referem ao mundo extralinguístico, representan-
do, no enunciado, as figuras do emissor, (aquele que fala) e do receptor
(aquele a quem fala o emissor). Esses pronomes são eu e nós (para o
emissor) você(s) (para o receptor).
Já vimos, em nossa aula anterior, vários pronomes capazes de fazer a
retomada de informações precedentes, como ocorre nas seguintes frases:
Nele, fica clara uma repetição desnecessária da palavra livro; numa pri-
meira etapa, poder-se-ia substituir livro por ele:
Por fim, note como ele pode ser usado em lugar de outros relativos.
Percebeu que esse pronome relativo concorda com a coisa possuída, com
o consequente?
Uma última e muito importante observação:
Atenção
Nunca use artigo (o, a, os, as) depois de cujo, cuja, cujos,
cujas! O artigo está embutido na flexão nominal do pronome.
Dica
Existe aonde?
Sim, essa forma nada mais é do que o relativo onde com-
binado com a preposição A.
Essa forma ocorre sempre que existe na frase um verbo
com sentido de direção, por exemplo, o verbo ir:
Você notou que nessas duas frases o relativo onde foi empregado sem an-
tecedente expresso? Isso ocorre pelo fato de ele ter sentido próprio de lu-
gar (da mesma maneira que ocorre com o relativo quem, conforme vimos).
→→ Saibam quantos estão aqui presentes que nossa empresa vai ex-
pandir suas atividades.
Dica
Na sequência, você encontrará um quadro que resume a
descrição dos pronomes Relativos; ele traz os elementos
que definem a seleção do pronome adequado, partindo da
observação e da análise de antecedente, combinatória,
sentido e uso absoluto. Para resolver seus exercícios, ou
para produzir seus textos, acadêmicos, empresariais ou de
1) Com ou sem
preposição, se o
antecedente estiver
o (a) • Animado (humano distanciado.
qual ou não humano); Não tem sentido
2) Com preposição Não é possível.
os (as) próprio.
quais • Inanimado. ocasional / não
monossilábica (com,
sem, mediante, para,
segundo, etc.).
• Animado (humano
cujo(s) ou não humano); É livre Posse Não é possível.
cuja(s)
• Inanimado.
1. Sem preposição.
Compatível 2. Com preposições
onde Lugar É possível.
com lugar. (a: aonde, de:
donde / de onde).
E agora, José?
O desenvolvimento de incontáveis atividades em seu
cotidiano vai demandar os recursos de língua que você
estudou nesta unidade. Os elementos coesivos aqui tra-
tados são imprescindíveis à produção de qualquer gêne-
ro textual e também da compreensão de textos – afinal,
eles são portadores de informações que circulam pelos
textos em geral. Compreendê-los, saber analisá-los e
empregá-los é um grande passo para seu desempenho
nas mais diversas situações de comunicação. Agora você
já está preparado para isso!
Glossário
Sintático-semântico: termo composto que se duas importantes propriedades que devem
refere aos dois tipos de relação que pode estar presentes em frases, períodos e textos.
haver no texto: a relação sintática é própria Antecedente: termo que vem antes do prono-
das relações hierárquicas e da organização me relativo e cujo conteúdo é retomado por
dos termos entre si (sujeito X verbo; verbo X este.
complemento; palavra de ligação x comple- Consequente: termo que vem depois do relati-
mento etc.); a relação semântica é referente vo “cujo(a)(s)” e que designa a coisa possuí-
aos vínculos de sentido entre as palavras no da, numa relação de posse.
contexto. Atualmente, não se separam essas
Referências
BECHARA, E. Moderna gramática língua por-
tuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001
MARTINS, D. S. ; ZILBERKNOP, L. S. Português
Instrumental. 25a ed. São Paulo: Atlas,
2004.
Competências
Compreensão do processo de identificação de falhas de
coesão e coerência em textos midiáticos.
Habilidades
Compreensão do processo de identificação de falhas de
coesão e coerência em textos midiáticos
Apresentação
É comum, no ambiente empresarial, que textos causem
excelente impressão sem que o leitor saiba exatamente
por quê. É o caso de textos que, além de coerentes, são
coesos. Coerência é um conceito simples de entender e
atendê-la requer, sobretudo domínio do assunto trata-
do e atenção. Coesão é, ao menos a princípio, uma ideia
menos intuitiva, mas muito importante, como demons-
tra esta aula. E, em relação aos textos midiáticos, essa
aula também examina coerência e coesão na mídia, es-
pecialmente no texto noticioso. Esse estudo auxiliará o
gestor a exercer um olhar crítico sobre o que lê e reforça
os conceitos de coerência e coesão.
Para Começar
É muito comum que erros sejam cometidos em empre-
sas por redação defeituosa de textos, com consequente
dificuldade de compreensão. Mas o que torna um tex-
to organizacional inteligível? Algumas características do
bom texto são fáceis de entender: termos claros e bem
definidos, construção direta sempre que possível e au-
sência de palavras desnecessárias. Outras propriedades
do texto organizacional adequado não são tão óbvias,
inclusive e principalmente a coerência e a coesão.
Um texto coerente, como já foi visto, é o texto livre de
inconsistências e contradições. É muito importante no
mundo empresarial ser lógico e consistente.
Parece fácil, não? Mas não é exatamente. A falta de
coerência nem sempre é óbvia, como será demonstrado
ainda nesta aula.
O conceito de coesão é mais complexo, como você
já percebeu nas aulas anteriores. Mas certamente você
já viu muitas e muitas vezes, por exemplo, cartas que
começavam na 3ª pessoa (a empresa decidiu...) e lá pe-
las tantas mudava para a 1ª pessoa (resolvemos que as
ações serão...). Outro exemplo é o uso indiscriminado de
singular e plural com a intenção de significar exatamente a mesma coisa,
como um relatório que menciona “o gerente” em um determinado pará-
grafo e “os gerentes” um pouco mais adiante.
Vamos, então, ver como reconhecer essas armadilhas que se põem no
caminho da coerência e da coesão dos textos empresariais.
É importante ressaltar que muitos desses textos organizacionais são
muito comuns em formato midiático. O texto midiático é também muito
utilizado nas organizações e tem particular importância. Embora vários
sejam os gêneros a ele associados (publicitário, ficcional – novelas, políti-
co), vamos fixar no noticioso que, de certa maneira, é capaz de esclarecer
o modo como certas características se desenvolvem nos textos da mídia.
É claro que uma notícia tem de ser escrita com coerência. Imagine um
jogo de futebol noticiado como tendo acontecido na estação espacial or-
bital: evidentemente, lá não há espaço para isso... Ou um anúncio que
prometa emagrecimento de 50 quilos por dia. Existem certas incoerências
grosseiras – as mencionadas, por exemplo. Fáceis de perceber. Ninguém
acreditaria na possibilidade do tal jogo em espaço tão pequeno e, ainda
por cima, sem a força da gravidade. Da mesma forma, qualquer pessoa,
por menos esclarecida que seja, tem consciência da impossibilidade de
perder 50 quilos em um único dia. Mas, às vezes, o que é claro para um
não o é para o outro.
Nesta aula vamos estudar a forma como a coerência é construída nos
textos empresariais e midiáticos, jornalísticos e publicitários. A coesão
também será observada como forma de melhoria textual.
Dica
Ter cuidado evita problemas!
Erros de coerência e coesão são detectáveis e podem ser
corrigidos a partir do entendimento dos conceitos e atenção
ao produzir o texto.
Fundamentos
Fávero e Koch (1998) afirmam que todo falante de uma língua é capaz
de distinguir um texto coerente de um aglomerado incoerente de enun-
ciados e esta é especificamente uma competência linguística em sentido
amplo.
Conceito
A coesão refere-se à forma como os elementos gramaticais
se relacionam no texto e a coerência refere-se ao contexto.
1. Coerência
Os aspectos da coerência que vamos examinar são:
1.1. Causalidade;
1.2. Certeza;
1.3. Consequência.
1.1 Causalidade
A causalidade é tornada evidente quando se estabelecem relações de cau-
sa e efeito; seus nexos são: porque, já que, pois, por causa de, suposto que,
como que.
Um erro comuníssimo em textos empresariais acontece quando se es-
creve que algo é importante (ou mesmo muito importante) sem explicar
o motivo. Por alguma razão, as pessoas que cometem esse erro gostam
Nesse caso real, a frase entre aspas não menciona quais as informações
importantes que foram omitidas e cuja ausência provoca a necessidade
de revisão. Explicitar as relações de causa e efeito, nesse caso, evitará
dúvidas e retrabalho.
O texto correto seria:
Atenção
A afirmação de importância ou relevância de determinado
assunto ou fato desacompanhada das causas dessa impor-
tância transmite falta de real conhecimento do assunto ou
desleixo ao produzir o trabalho.
1.2 Certeza
A certeza reforça as ideias que o autor apresenta no texto, ou seja, signifi-
ca uma afirmação que não admite ser contestada. Seus nexos são: eviden-
temente, seguramente, de fato, claro, ademais. Colocada em um documen-
to organizacional, deve ter base sólida, ou poderá destruir a credibilidade
do texto. Leia o exemplo retirado de um relatório técnico:
Como vocês podem perceber, esse primeiro texto apresenta uma impro-
priedade lógica: se bares, restaurantes e botecos estão lotadíssimos no
sábado à noite, aqueles não seriam os melhores lugares para namorados
festejarem, afinal é de se supor que eles prefiram ambientes mais aconche-
gantes que uma fila enorme. Haverá barulho, confusão, demora no aten-
dimento, o que também não combina com a intimidade esperada para a
data. Esse é um exemplo de falta de coerência em um texto jornalístico.
Clareza é uma das características indispensáveis dos textos jornalísti-
cos. Para que sejam coerentes, é preciso evitar implícitos que os tornem
inconsistentes.
2. Disponível em Texto no 22
www.itamaraty.gov.br Seminário “Novos Cenários para a Política Nacional Antidrogas”
/sala-de-imprensa/
notas-a-imprensa/
2003/03/27/ Com o objetivo de promover o debate sobre a condução da Política Na-
cional Antidrogas, está sendo realizado o Seminário “Novos Cenários para
a Política Nacional Antidrogas”, nos dias 26 e 27 de março corrente, no
Auditório do Palácio Itamaraty.
O Seminário, promovido pela Secretaria Nacional Antidrogas do Gabi-
nete de Segurança Institucional, conta com a participação de representan-
tes de órgãos do Governo Federal, da comunidade científica e da socie-
dade civil, presidentes e membros dos Conselhos Estaduais e Municipais
Antidrogas/Entorpecentes, entre outros.
Uma conta muito simples mostra que o número 159 corresponde a 53%
de 300, e não a 44%. E 53% é mais da metade do número de deputados,
o que obviamente não acontece com 44%, que não é maioria absoluta...
Provavelmente a porcentagem refere-se ao número de votantes, dos
quais 44% votaram no partido, mas isso não fica claro. Se fosse dito que
os votos proporcionaram a eleição de 159 dos 300 deputados ficaria claro.
É preciso lembrar que números, por serem exatos, parecem demons-
trar confiabilidade e emprestam credibilidade aos textos. No entanto, a
propósito de seu emprego na mídia jornalística, os profissionais da área
costumam ter uma formação que não privilegia os números. Isso provoca,
muitas vezes, impropriedades textuais que causam incoerências.
Vejamos exemplos específicos de incoerências na utilização dos núme-
ros na mídia jornalística.
Exemplo 1:
Como não está claro sobre qual valor incidem os 50%, é possível que o
leitor pense que 50% do total de pacientes terão seus problemas resol-
vidos. No caso, o remédio tradicional funcionava em 4% dos casos. Se o
desempenho do medicamento melhorou 50%, isso significa que o novo
medicamento atinge 6% dos pacientes e não 50% como é a impressão
inicial do leitor desavisado.
Exemplo 2:
→→ Entre 1985 e 1994, 62 por cento das fêmeas de urso polar estu-
dadas escavaram tocas na neve. De 1998 a 2004, apenas 37 por
cento o fizeram.
4. Bernardo Pombo,
Texto no 44
Globo On-Line,
19/6/2010. [...] Engaiolado, espremido, na classe econômica, você termina a viagem
- seja qual for a opção - com os ossos moídos. E já desce do bonde andan-
do, porque não há tempo para o descanso: é preciso ir às ruas (lugar de
repórter) e observar, conversar, ouvir histórias.
(Isso – alô estudantes de jornalismo! – faz parte do romanceado gla-
mour da vida de correspondentes internacionais).
Dica
Coesão e Coerência: dois fatores de textualidade que não
podem ser desprezados durante a construção do texto midi-
ático, sob pena de comprometerem sua compreensão.
3. Coesão
Você já sabe o que é coesão. Os erros mais comuns no texto empresarial
estão relacionados a:
Lembre-se
Um relatório deve iniciar com uma explicação concisa do ob-
jetivo, para que o leitor saiba, imediatamente e sem muito
esforço, sobre que assunto vai ler.
Esse texto está tão confuso, que não se sabe se solicitava mais prazo,
outro aditivo contratual ou se era simplesmente um relato. Além de não
evidenciar o objetivo, que esclareceria parte do texto, a falta de coesão
representada pela má escolha de termos compromete ainda o entendi-
mento. Exemplos de mau uso de palavras: “tempo adequado” – não é
apropriada ao contexto; “dinâmica do empreendimento” – expressão que
não explica a que se refere; “no entanto” – termo deslocado. O texto afir-
ma que dificuldades impactaram o projeto, mas não diz quais foram essas
dificuldades. Não se sabe se os impactos da primeira e da última frase são
os mesmos. Se o autor tivesse explicitado um objetivo, talvez fosse possí-
vel entender o que quis dizer.
Outro item do arranjo formal que pode ser fonte de equívocos é o ta-
manho dos parágrafos, que não devem ser curtos ou compridos demais.
Propostas e relatórios extensos podem ter, após a declaração de objeti-
vos, um sumário executivo, que se destina à leitura rápida de quem está
interessado no assunto, mas não tem tempo para ler os detalhes. Esse
sumário pode consistir de um único parágrafo longo ou ser dividido em
parágrafos menores.
Ainda que essa lista esteja coerente, há algo errado com ela: cada item da
enumeração está escrito de um modo diferente. Não se sabe, por exem-
plo, se a pesquisa de antecedentes, que é necessária, já foi feita. Não se
sabe, também, o que será feito a respeito dos benefícios: se serão só lis-
tados ou se também calculados.
De qualquer modo, a diferença entre as maneiras de escrever os itens
não dá fluência à ideia de ações sequenciais. A maneira correta de enu-
merar passa pela coesão dos elementos iniciais de cada item. Se você
escolher elencar com verbos no infinitivo, faça-o em todos os itens, con-
forme exemplo a seguir, que elimina as incertezas comentadas:
a. Pesquisar os antecedentes;
b. Desenvolver um plano de ação;
c. Calcular os custos;
d. Listar e calcular os benefícios.
Note que não há, agora, dúvida sobre o encadeamento dos itens. Enu-
merações e sequências devem, pelas razões citadas, obedecer à mesma
forma gramatical, em um procedimento que se denomina paralelismo.
Como exercício, troque por substantivos os verbos que aparecem no
Infinitivo na lista apresentada. Elabore as adequações necessárias.
Atenção
A mensagem que se passa ao leitor, usando construções di-
ferentes em uma sequência ou enumeração é a de que os
itens não pertencem à mesma ação.
O correto seria:
O certo é:
dicas
Como o gerúndio se tornou hábito para a maioria das pes-
soas, revise seu texto procurando “ndo” com a ferramenta
de procura do Word. Em cada gerúndio encontrado, procure
possibilidades de uso de conectivos. Dá certo!
E agora, José?
Você viu como utilizar conceitos de coerência e coesão em
textos empresariais. Também aprendeu a identificar esses
mesmos conceitos em textos midiáticos. Agora é importan-
te repassar todas as aulas para sedimentar esse conteúdo
em sua aprendizagem.
Referências
CHARAUDEAU, P. Discurso das Mídias. São KOCK, I. V. Coesão e Coerência Textuais. São
Paulo: Contexto, 2006. Paulo: Contexto, 2008.
CHAVES, M. G. D. M
anual Prático de Redação SCIPIONI, U. Do Texto ao Texto – Curso práti-
Empresarial. São Paulo: Edifieo, 2007. co de leitura e redação. São Paulo: Editora
AVERO, L. Coesão e Coerência Textuais. São Scipioni, 2006.
Paulo: Ática, 2004. TABOADA, M. T. Building Coherence and Co-
FAVERO, L. L.; KOCH, I. V. Línguística Textual – hesion. Amsterdam: John Benjamins, 2004.
Introdução. 3a ed. São Paulo: Cortez, 1994.
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. P
ara Entender o
Texto: Leitura e Redação. São Paulo: Áti-
ca, 2009.