A Religião Islâmica
A Religião Islâmica
A Religião Islâmica
Origem
O islamismo foi fundado no ano de 622, na região da Arábia, atual Arábia Saudita.
Seu fundador, o profeta Maomé, reuniu a base da fé islâmica num conjunto de
versos conhecido como Corão - segundo ele, as escrituras foram reveladas a ele
por Deus por intermédio do Anjo Gabriel.
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Profeta Maomé
Maomé nasceu em Meca, no ano de 570. Órfão de pai e mãe, foi criado pelo tio,
membro da tribo dos coraixitas. De acordo com historiadores, tornou-se conhecido
pela sabedoria e compreensão, tanto que servia de mediador em disputas tribais.
Adepto da meditação, ele realizava um retiro quando afirmou ter recebido a
primeira revelação de Deus através do anjo Gabriel. Na época, ele tinha 40 anos.
As revelações prosseguiram pelos 23 anos restantes da vida do profeta.
Contrário à guerra entre tribos na Arábia, Maomé foi alvo de terroristas e escapou
de várias tentativas de assassinato. Enquanto conquistava fiéis, empregava as
escrituras na tentativa de pacificar sua terra - tarefa que cumpriu antes de morrer,
aos 63 anos, depois de retornar a Meca. Para os muçulmanos, Maomé é uma figura
digna de extrema admiração e respeito, mas não é o alvo de sua adoração. Ele foi o
último dos profetas a trazer a mensagem divina, mas só Deus é adorado.
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Conversão
Não é preciso ter nascido muçulmano ou ser casado com um praticante da religião.
Também não é necessário estudar ou se preparar especialmente para a conversão.
Uma pessoa se torna muçulmana quando proferir, em árabe e diante de uma
testemunha, que "não há divindade além de Deus, e Mohammad é o Mensageiro de
Deus". O processo de conversão extremamente simples é apontado como um dos
motivos para a rápida expansão do islamismo pelo mundo. A jornada para a prática
completa da fé, contudo, é muito mais complexa. Nessa tarefa, outros muçulmanos
devem ajudar no ensinamento.
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Crenças
A base da fé islâmica é o cumprimento dos desejos de Deus, que é único e
incomparável. A própria palavra Islã quer dizer "rendição", ou "submissão". Assim,
o seguidor da religião islâmica deve obedecer às escrituras, orar e glorificar apenas
seu Deus e ser fiel à mensagem que Maomé trouxe.
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Cinco pilares
Os cinco pilares do islamismo formam a estrutura de vida do seguidor da religião.
São eles:
• Realizar as cinco orações obrigatórias durante cada dia, no ritual chamado "salat".
As orações servem como uma ligação direta entre o muçulmano e Deus. Como não
há autoridades hierárquicas, como padres ou pastores, um membro da comunidade
com grande conhecimento do Corão dirige as orações. Os versos são recitados em
árabe, e as súplicas pessoas são feitas no idioma de escolha do muçulmano. As
orações são feitas no amanhecer, ao meio-dia, no meio da tarde, no cair da noite e
à noite. Não é obrigatório orar na mesquita - o ritual pode ser cumprido em
qualquer lugar.
• Fazer o que puder para ajudar quem precisa, no chamado "zakat". A caridade é
uma obrigação do muçulmano, mas deve ser voluntária e, de preferência, em
segredo. O muçulmano deve doar uma parte de sua riqueza anualmente, uma
forma de mostrar que a prosperidade não é da pessoa - a riqueza é originária de
Deus e retorna para Deus.
• Jejuar durante o mês sagrado do Ramadã, todos os anos. Nesse período, todos os
muçulmanos devem permanecer em jejum do amanhecer ao anoitecer, abstendo-
se também de bebida e sexo. As exceções são os doentes, idosos, mulheres
grávidas ou pessoas com algum tipo de incapacidade física - eles podem fazer o
jejum em outra época do ano ou alimentar uma pessoa necessitada para cada dia
que o jejum foi quebrado. O muçulmano que cumpre o jejum se purifica ao
vivenciar a experiência de quem passa fome. No fim do Ramadã, o muçulmano
celebra o Eid-al-Fith, uma das duas principais festas do calendário islâmico.
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O Corão
O livro sagrado dos muçulmanos reúne todas as revelações de Deus feitas ao
profeta Maomé através do anjo Gabriel. No Corão estão instruções para a crença e
a conduta do seguidor da religião - não fala apenas de fé, mas também de aspectos
sociais e políticos. Dividido em 114 "suratas" (capítuolos), com vários versículos
cada (o número varia de 3 a 286 versículos), o Corão foi escrito em árabe formal e,
com o tempo, tornou-se de difícil entendimento.
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Sharia
É a lei religiosa do islamismo. Como o muçulmano não vê distinção entre o aspecto
religioso e o resto da sua conduta pessoal, a lei islâmica não trata só de rituais e
crenças, mas de todos os aspectos da vida cotidiana. Apesar de ter passado por um
detalhado processo de formatação, a lei islâmica ainda é aplicada de formas
variadas ao redor do mundo - os países adotam a sharia têm interpretações mais
ou menos rigorosas dela.
Na Arábia Saudita, por exemplo, vigora uma das mais conservadoras versões da lei
islâmica. O Afeganistão da época da milícia Talibã teve a mais dura e radical
aplicação da sharia nos tempos modernos - proibia música e outras expressões
culturais e esportivas, restringia gravemente todos os direitos das mulheres e
ordenava punições bárbaras. A sharia, porém, é adotada formalmente numa
minoria de países com grandes populações islâmicas.
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Mesquitas
As construções reservadas para as orações dos muçulmanos são chamadas
mesquitas, ou "masjids". Os prédios, contudo, não precisam ser especialmente
construídos com esse fim - qualquer local onde a comunidade muçulmana se reúne
para orar é uma mesquita.
Festas e datas
As duas principais festividades do islamismo são o Eid-Al-Adha, que coincide com a
peregrinação anual a Meca, e o Eid-al-Fith, quando se quebra o jejum do mês do
Ramadã. O mês sagrado, aliás, é o principal período do calendário islâmico.
Grupos
Os muçulmanos estão divididos entre sunitas, o grupo majoritário, e xiitas, a
minoria dentro da religião. Os sunitas formam o tronco principal da religião, ligado
à interpretação mais aceita da história islâmica, e reúnem cerca de 90% dos
muçulmanos no mundo. A diferença em relação ao Islã xiita é a aceitação à
seqüência de califas da história islâmica. Sem características comuns entre si, os
muçulmanos sunitas incluem praticantes da religião em todas as partes do mundo e
de todas as tendências, dos mais conservadores até os moderados e seculares.
Os xiitas, que reúnem cerca de 10% dos muçulmanos, surgiram como movimento
político de apoio a Ali e acabaram formando uma ramificação da religião islâmica. A
dissidência surgiu quando os xiitas se uniram para apoiar Ali, primo de Maomé,
como o herdeiro legítimo do poder no Islã após a morte do profeta, com base na
suposta declaração de que ele era seu sucessor ideal.
A evolução para uma fórmula religiosa diferente teria começado com o martírio de
Husain, o filho mais novo de ali, no ano de 680, em Karbala (no atual Iraque). Os
clérigos xiitas são os mulás e mujtahids, mas o clero não tem uma hierarquia
formal. Os xiitas foram os responsáveis pela revolução islâmica do Irã, em 1979, e
têm graves divergências com setores do islamismo sunita.
Guia
Oriente Médio
Arábia Saudita
95% de muçulmanos sunitas, 5% de muçulmanos xiitas
Irã
89% de muçulmanos xiitas, 10% de muçulmanos sunitas
Iraque
60% de muçulmanos xiitas, 32% de muçulmanos sunitas
Egito
94% de muçulmanos sunitas
O governo e o sistema judicial são seculares, mas as leis familiares são baseadas
na religião e a atuação de grupos radicais ainda é grande. O Egito é o local de
origem da primeira facção radical do Islã, a Irmandade Muçulmana, e deu origem
também ao grupo Jihad Islâmica. Depois da execução do presidente Anuar Sadat
pelos radicais, em 1981, o governo prendeu e matou milhares de pessoas na
repressão ao extremismo religioso.
Territórios palestinos
90% de muçulmanos
Líbano
41% de muçulmanos xiitas e 27% de muçulmanos sunitas
Jordânia
92% de muçulmanos sunitas
Ásia
Indonésia
88% de muçulmanos
Afeganistão
84% de muçulmanos sunitas, 15% de muçulmanos xiitas
Paquistão
77% de muçulmanos sunitas, 20% de muçulmanos xiitas
Formado como um estado muçulmano resultante da partilha do subcontinente
indiano, em 1947, trava uma tensa disputa com a vizinha Índia pela posse da
Caxemira. Os extremistas islâmicos atacam os soldados indianos, que controlam o
território, por julgar que a área é dos muçulmanos. Além disso o país sofre com
conflitos entre sunitas e xiitas e entre muçulmanos radicais e cristãos.
Malásia
53% de muçulmanos
O governo diz ser tolerante com todas as religiões, mas o islamismo é a fé oficial do
país. Não-muçulmanos dizem ser vítimas de discriminação das autoridades. Os
radicais muçulmanos dizem que não é o bastante: querem oficializar a adoção da
lei islâmica tradicional em toda a Malásia.
África
Nigéria
50% de muçulmanos
Argélia
99% de muçulmanos
Em 1991, a vitória de um partido islâmico nas eleições gerais foi impedida por um
golpe político. Desde então, governo e exército combatem os extremistas
muçulmanos numa disputa que já provocou dezenas de milhares de mortes.
Sudão
70% de muçulmanos
Governado por um partido islâmico desde 1989, quando um golpe militar teve
apoio dos extremistas, o país foi devastado por uma guerra de duas décadas entre
rebeldes muçulmanos do norte e cristãos do sul. Osama bin Laden permaneceu no
país por alguns anos antes de ir para o Afeganistão.
Somália
100% de muçulmanos
Europa
Turquia
99,8% de muçulmanos
Kosovo
92% de muçulmanos
Albânia
70% de muçulmanos
Chechênia
maioria de muçulmanos
Desde o fim da União Soviética, a república russa vem sendo palco de violentos
confrontos entre o governo de Moscou e as forças separatistas formadas pelos
radicais islâmicos. No período em que a Rússia retirou suas forças do território, o
islamismo tornou-se religião oficial.
Usbequistão
88% de muçulmanos
Estado secular, viu o islamismo ganhar força nos anos 90. Junto com esse
crescimento, surgiram os grupos radicais contrários ao governo. Depois de uma
série de atentados, as forças do governo reprimiram os radicais. Os grupos, porém,
continuam em atividade.
Estados Unidos
O palco do maior ato de terrorismo islâmico da História tem mais de 6 milhões de
muçulmanos e em torno de 2.000 mesquitas. Entre os seguidores da religião nos
EUA, 77,6% são imigrantes, e 22,4%, americanos natos. Apesar do 11 de setembro
de 2001, o islamismo está crescendo: estima-se que, no ano de 2010, a população
muçulmana supere a judaica - apenas o cristianismo terá mais seguidores.
Índia
Cerca de 12% dos indianos são muçulmanos, formando uma população total de 120
milhões de pessoas. A constituição do país garante a liberdade religiosa. Na prática,
contudo, os muçulmanos da Índia são alvos freqüentes de atos de violência - e as
facções radicais revidam as agressões. Na última onda de conflitos entre
muçulmanos e os hindus radicais, cerca de 2.000 pessoas morreram.
China
O país mais populoso do mundo tem cerca de 20 milhões de muçulmanos, cerca de
1,5% da população. A religião está no país desde o século VII. É oficialmente
reconhecida e tolerada no país, que tem mais de 30.000 mesquitas, e os chineses
muçulmanos estão concentrados no extremo oeste do país. Há facções extremistas
- uma delas listada como grupo terrorista pela ONU e pelos EUA.
Brasil
No Irã, como em todo o mundo muçulmano, a questão vai muito além de desacordos
políticos. Khatami sustenta que a vontade popular, expressa pelo voto, deve prevalecer
sobre a opinião dos sábios nas mesquitas. Trata-se de um conceito aceito
universalmente, mas para o clero iraniano é mais que subversivo, beira a heresia. Desde
o início do século XX, quando a influência ocidental entrou na terra dos minaretes,
teólogos e políticos engalfinham-se em torno de uma dúvida: a democracia pode existir
numa verdadeira república islâmica? Os aiatolás iranianos dizem que não. Num Estado
islâmico perfeito, a única lei é a de Alá e daqueles que governam em seu nome. "O
próprio conceito de liberdade do homem pode ser visto como uma afronta à única lei
legítima, a de Deus, porquanto o islã dispõe de regras para qualquer assunto espiritual
ou temporal", escreveu um especialista, o inglês David Hirst.
Os governos em alguns países de maioria muçulmana olham para o islã político com
temor e aversão ainda maiores que os sentidos nos países de tradição européia e cristã.
Em 1982, o governo Hafez Assad massacrou 20 000 pessoas na cidade síria de Hama,
considerada um bastião da Irmandade Muçulmana. O Egito recém-proclamou vitória
sobre o terrorismo islâmico, que durante uma década tentou arruinar a indústria turística
do país chacinando visitantes estrangeiros. A Turquia, talvez o mais democrático país
muçulmano do Oriente Médio, já saiu dos trilhos para impedir que a oposição islâmica
(moderadíssima) assumisse o poder conquistado nas urnas. O momento é contraditório,
pois, ao mesmo tempo em que o fundamentalismo armado perde fôlego, o islã, como fé
e cultura, passa por um vibrante processo de renascimento. A noção de que a religião
deve ter um papel importante na vida pública tem raízes profundas e não pode ser
ignorada pelos governantes dos países de população muçulmana. Como reagem à
religiosidade de seus habitantes depende, contudo, das peculiaridades de cada país.
O que se conhece como mundo islâmico é uma área vasta, que vai da Europa ao
Pacífico, no outro lado do planeta. Um único país, o Irã, é absolutamente teocrático, ou
seja, é dirigido pelo clero muçulmano a partir não de leis votadas em parlamento, e sim
das regras do Corão. Boa parte dos 23 países árabes é governada por presidentes com
preocupações religiosas apenas formais. Ainda que disponham de poder de decisão
equivalente ao dos aiatolás do Irã, Hafez Assad, na Síria, Hosni Mubarak, no Egito, e
Saddam Hussein, no Iraque, se fazem reeleger periodicamente em simulacros de
eleições, mantendo uma democracia de fachada. O zelo religioso é várias vezes mais
intenso nas monarquias do Golfo Pérsico. Guardiã dos lugares santos, a família real
saudita inventou a polícia da moralidade, que os iranianos copiariam mais tarde. Mulher
que sai de casa sem véu apanha na rua de chicote. Uma embaixatriz brasileira levou um
pontapé no traseiro num shopping de Riad, capital da Arábia Saudita, porque deixou o
véu sobre cabeça deslizar para cima dos ombros. Adúlteras são executadas em vários
países muçulmanos rígidos, como o Afeganistão. Mesmo o pai que mata uma filha, por
surpreendê-la em relação sexual fora do casamento, não costuma ser condenado a
prisão.
A diversidade das formas de governo é sempre citada, entre os árabes, como prova de
que o islamismo não é necessariamente sinônimo de ditadura. Dizem eles que, se há
pouca democracia no Oriente Médio, isso decorre mais da história de cada país do que
da religião. Há certa verdade nisso. Mesmo naqueles países onde os cléricos não
tomaram o poder, no entanto, há quase sempre partidos islâmicos, mais ou menos
extremados, na oposição política. Não costumam ter sucesso nas urnas. Nas desastrosas
eleições de 1992, na Argélia, cujo cancelamento levou à guerra civil com 100.000
mortos, a Frente Islâmica recebeu apenas 3,25 milhões dos 13 milhões de votos. Onde
ganhou, como ocorreu na Turquia, declinou nas eleições seguintes. A baixa
popularidade dos islâmicos fundamentalistas nesses lugares decorre, em parte, da
sombria invocação dos chamados Versos da Espada. Trata-se de uma interpretação
seletiva do Corão, com ênfase no apelo à Guerra Santa. "O clero e os fundamentalistas
ensinam uma história errada do islã, olhando apenas para o autoritarismo e o
militarismo do passado", disse a VEJA o romancista paquistanês Tarik Ali, que vive em
Londres. "Por que nunca falam no verso corânico que diz que a fé não tem valor se for
imposta à força?" O fato é que a postura belicosa que se tornou a palavra de ordem no
islã significa encrenca em toda parte. Em fevereiro, a introdução da sharia, a lei
islâmica, em dois Estados no norte da Nigéria deflagrou uma guerra tribal com a
população cristã, minoritária. Há também conflitos confessionais na Indonésia e
perseguição oficial aos cristãos no Paquistão.
A adoção da sharia faz parte do discurso oposicionista em todo o mundo islâmico. Mas
quando isso ocorre os excessos assustam até quem está disposto a colaborar. Os
iranianos sentiram na carne o que significa reduzir a religião à observância cega de
certas normas que proíbem o álcool, exigem vestuário de freira para as mulheres e não
admitem sexo nas condições aceitas em países ocidentais. Um grupo de estudantes
fanáticos e com origem tribal, o Taliban, tomou a maior parte do Afeganistão e adotou a
sharia ao pé da letra. Baniu o corte de barba e a música e proibiu as mulheres de
trabalhar fora de casa. Há uma longa distância entre o exagero bárbaro do Taliban e o
exagero refinado dos aiatolás. Os dois regimes são, por sinal, inimigos mortais e já
estiveram perto da guerra aberta. "Como fundamentalista sunita, o Taliban é
profundamente antixiita", explica o professor Houchang E. Chehabi, da Universidade de
Boston. "Se o Irã abrandar o regime, os fundamentalistas sunitas podem entender isso
mais como um fracasso da seita rival do que como um exemplo a ser seguido."
A revolução iraniana começou como uma explosão espontânea, reunindo todas as forças
políticas e os grupos sociais descontentes com a monarquia. O regime tornou-se
rapidamente um pesadelo. Os sacerdotes (mulás) saíram matando e exilando todos que
pudessem ser oposição, de comunistas a muçulmanos moderados. Logo fizeram o
aparato repressivo do xá parecer coisa de criança. Os mulás também não tinham
nenhum truque para sanar as mazelas do subdesenvolvimento. Talvez não exista mesmo
como aplicar na prática uma economia baseada na justiça islâmica. O clero foi além,
contudo, aproveitando-se das propriedades confiscadas para enriquecer. O Irã, em que o
petróleo responde por 85% das exportações, foi esmagado pela queda no preço do
barril, pelas sanções internacionais (impostas porque o regime financiava o terrorismo
no exterior) e pela interminável guerra contra o Iraque. Não houve investimentos em
atividade produtiva e o desemprego tornou-se crônico.
O fracasso da única teocracia deu impulso a novas formulações sobre o Estado islâmico
moderno. Muitas das discussões mais profundas dentro do islã estão ocorrendo nos
jornais, tribunais e salas de aula iranianas. Mesmo clérigos e intelectuais que foram
próximos a Khomeini estão agora colocando em dúvida as bases do pensamento
religioso sobre o qual construíram a República Islâmica. A luta dos iranianos para
liberalizar o regime (ninguém sugere publicamente que a teocracia pode ser abolida) é
um dos movimentos mais fascinantes da virada do milênio. Ao derrubar o xá, Khomeini
atingiu pela primeira vez na História moderna o objetivo comum a todos os
muçulmanos: tomar o poder político em nome de Alá. A atual geração está tentando
devolver o poder político ao povo, sem precisar jogar Alá pela janela.