Levistrauss Textos Sobre A Casa
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textos
DIDÁTICOS
CLAUDE LÉVI-STRAUSS
HISTÓRIA E ETNOLOGIA
V ANESSA L EA
(Revisão Técnica)
3a edição
IFCH/UNICAMP
nº 24 – MARÇO de 2004
HISTÓRIA E ETNOLOGIA
CLAUDE LÉVI-STRAUSS
V ANESSA L EA
(Revisão Técnica)
Departamento de Antropologia
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Universidade Estadual de Campinas
3a edição
textos Didáticos
nº 24 – MARÇO DE 2004
TEXTOS DIDÁTICOS
IFCH/UNICAMP
SETOR DE PUBLICAÇÕES
ISSN: 1676-7055
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Apresentação
VANESSA LEA
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Apresentação
–––5
Vanessa Lea
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História e Etnologia*
CLAUDE LÉVI-STRAUSS**
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Claude Lévi-Strauss
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Claude Lévi-Strauss
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História e etnologia
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Claude Lévi-Strauss
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Claude Lévi-Strauss
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cabeça: que elas tenham filhos com os quais, por meio de outras
filhas, eles reiterarão suas operações.
Desse modelo, a antiga França oferece também um esboço,
senão na família real, pelo menos na alta nobreza: “Chamillart,
diz Saint-Simon (II, XLVII), sonhava em consolidar seu filho em
seu cargo por intermédio de uma aliança que nele o sustentasse.
Os Noialles, ancorados em toda a parte por suas filhas, queriam
colocar uma nessa casa poderosa para terem tudo.” Assim se con-
firma esse papel de operadoras do poder, reservado às mulheres
em sociedades não obstante de direito paterno, e que explica tam-
bém recasamentos, freqüentes nesse tipo de sociedade em que as
mulheres representam apostas tão consideráveis, que não se de-
cide apostá-las sem a perspectiva de retorno: é preciso que, em
caso de separação ou de viuvez, elas sejam reutilizáveis. Os índios
Kwakiutl da costa do Pacífico canadense não esperavam, para
reutilizar suas filhas, sequer a discórdia conjugal ou a morte do
marido: eles as obrigavam a divorciar e a se casarem novamente
várias vezes seguidas, para em cada uma delas subirem e garan-
tirem às crianças que nascessem uma posição mais alta na socie-
dade.
O papel das mulheres como operadoras do poder às vezes
toma formas extremas. Dá então a ilusão de um sistema matrili-
near e até mesmo matriarcal, enquanto se trata somente, para as
linhagens masculinas, de melhor estabelecer seu poder por meio
das mulheres tratadas como simples instrumentos. No reinado
Merina do centro de Madagascar e entre os Lovedu da África do
Sul, uma reforma que, de maneira curiosa, aconteceu exatamente
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Claude Lévi-Strauss
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dades entre si, por motivos mais profundos relativos à sua estru-
tura. Nos dois casos, ela engendra o que se poderia chamar pseu-
doformas: aspectos da estrutura social superficialmente percebi-
dos como patrilinear ou matrilinear, por meio dos quais são defi-
nidos erroneamente sistemas que, na realidade, não são nem um
nem outro, porque a regra de filiação ou de descendência, mesmo
quando existe, não é o fator pertinente.
Portanto, é a primazia da relação de troca sobre o critério
unilinear que explica, afinal de contas, que os grupos trocadores
possam simultânea ou sucessivamente, praticar a exogamia ou a
endogamia, de acordo com sua conveniência. Uma permite diver-
sificar alianças e conquistar vantagens às custas, por outro lado,
de certos riscos. A outra consolida e perpetua as vantagens adqui-
ridas, mas não sem expor a linhagem momentaneamente mais
poderosa aos perigos que para ela representariam colaterais mui-
to próximos que se tornam rivais. Ou seja, um jogo duplo de aber-
tura e fechamento: graças ao primeiro, abre-se à história e explo-
ra-se as contingências, enquanto o segundo garante a conservação
ou a volta regular dos patrimônios, das posições e dos títulos.
As famílias reinantes da antiga Europa, mas também as da
África, de Madagascar, da Indonésia e da Polinésia oferecem i-
números exemplos da dupla alternativa descrita por Saint-Simon
a propósito do casamento de um neto de Louis XIV, o duque de
Berry: é preciso primeiro escolher entre o que o próprio autor
chama “o casamento estrangeiro” – excluído em um período em
que toda a Europa está contra a França – e o casamento próximo,
pelo qual se decide. Mas então, procurar-se-á a prometida entre
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CLAUDE LÉVI - STRAUSS
da Academia Francesa
A VIA
DAS MÁSCARAS .
Edição revista. e aumentada e' acompanhada de
TRÊS EXCURSÕES
EDITORIAL PRESENÇA
UNICAMP
BIB 101 ECA CENTRAL
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PRIMEIRA PARTE
Título original
LA VOIE DES MASQUES
© Copyright by Librairie Plon, 1979
Tradução de Manuel Ruas
Revisão de texto de Wanda Ramos
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obrigado a inverter a hipótese inicial. Julga agora que os
Mas as dificuldades logo aparecem, e Boas tem delas
Kwakiutl, originalmente patrilineares como os Salish, evo-
plena consciência. Em primeiro lugar, é impossível aÍirmar
pretende a teoria dos sistemas unilineares - que luíram parcialmente para um regime matrilinear pelo contacto
com os vizinhos setentrionais. Chama, então, às subdivisões
as <<gentes>> são exógamas, pois cada indivíduo se'considera,
de seu pai e, em parte, mernbro da tribo <<sept>>, conforme o sentido inicial da palavra, Ç[u€,
em farte, membro da <<gensn
Além disso, subsistem aspectos matrilineares' na antiga lrlanda, designava um grupo bilateral de ascen-
da cle sua mãe.
dentes; e renuncia a ((gens)), que substitui por <<cÌã>para
pois entre os aristocratas (os Kwakiutl formam uma socie-
melhor acentuar a coloração matrilinear actual deste último
dade estratificada) o esposo toma o norne e as armas (ern
tipo de agrupamento. Esses clãs, sublinha Boas, podem ser
sentido heráldico) do sogro e entra assim na linhagem dal
designados de três maneiras: uns têm um nome colectivo,
esposa. Nome e armas passam 1lara os filhos; as raparigas I
forrnado segundo o do fundador; outros chamam-sepelo nome
conservam-nos e os ra'pazesperdem-nos ao casar e adoptar I
do local de origem; outros, enfim, adoptam um nome hono-
outros, os das esposas. Por conseguinte, os emblemas nobi- \
rífico como (<os ricos>), <<osgrandes)), ((os chefes>>,(os que
liárquicos transmitem-se, praticamente' pela linha feminina J
primeiro recebem>>(nos potlatch), <<aqueles sob cujos passos
e todo o homem solteiro recebe os de sua mãe' Mas há-
a terra treme>>,etc.
outros factos que militam em sentido oposto: o pai é o chefe
Precisando as indicações que anteriorrnente dera, Bo'as
da família, não o irmão da mãe; e, principalmente' a auto-
explioa que, aquando do casamento, <<amulher ttaz em dotel
ridade sobre a ((gens)) transmite-se de pai para filho' No
ao rnarido,, a posição e os títulos do pai; mas o marido não I
fim do século xx muitos indivíduos de nascimento nobre
fica a possuí-los como pro'priedade 'pessoal, antes os detém I
reclamavam títulos herdados nas duas linhas (Boas, 1889)'
em benefício do'filho. E corno o pai da mulher, por sua vez, ì
Estas incertezas explicam que' numa segunda fase da
tinha adquirido esses títulos da mesma maneira (...), fica I
sua reflexão, ilustrada por lndianísche Sagen (1895) e pela
grande obra sobre a organização social e as sociedades secre- estabelecida uma regra de descendência puramente femi- I
nina - embora sempre por intermédio do marido>>.Que esta -
tas dos Kwakiutl (1897), Boas tenha rnodificado a sua pers-
pectiva e a terminologia. Até então tinha principalmente regra híbrida milita pela anterioridade de um regime patri-
linear e não rnatrilinear, corno primeiro pensara, encontra-'o
ãproximado os Kwakiutl dos povos matrilineares que se lhes
Boas demonstrado por muitos factos: o filho da irmã não
seguem a norte da costa; daí a sua primeira imp'ressão de
quu, ,ru* fundo de instituições comuns, e portanto matrili- sucede a seu tio', a residência nunca é uxori- o'u matri-local
e, ,por fi'm, e principalm,ente, as tradições lendárias vêem
i,r"ur.r, os Kwakiutl tinham evoluído em sentido patrili'
na descendência patrilinear do primeiro antepassado mas'
near. Alguns anos depois, munido de novas observações'
culino a origem dos clãs e das tribos - ao contrário dos
Boas impressiona'se ainda mais com as semelhanças na
povos matrilineares do norte, que dão esse papel à descen-
organizaçáo s,ocial dos Kwakiutl e dos Salish - a leste e a
dência das irmãs.
sul. Em ambos os casos as unidades básicas da estrutura
Nem Durkheim nem Mauss que, em 1898-1899 e enr
social parecem formadas pela suposta descendência de um
I"905-1906, respectivam,ente, discutiram as interpretações
antepassado mítico que construiu residência num determi-
de Boas; nem, cinquenta anos depois, Murdock aceitaram a
nado local - mesmo se, depois disso, essa comunidade de
hipótese de um regime matr,ilinear poder substituir directa-
aldeia teve de deixar o território original e unir-se a outras
rnente um regim,e patrili'near; caberia a Goodenough (1976)
comunidades do mesmo tipo, sem por isso perder a memória
realizar esta demonstração. Mas, pelo, menos para os autores
dn sua origem. Ora, os Salish são patrilineares e Boas vê-se
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nome desde a origem, desde que o primeiro ser humano
quanto à natureza fundarnen-
franceses, não havia dúvida discor- apareceu na terra; pois os nomes não podem sair da famÍlia
instituições kwakiutl;
talmente matritinear das dos principais chefes dos numaym, antes devem ir para o
eles que a basg destas
dando de Boas, sustentavam filho mais velho do chefe principal (...). E esses nomes não
uterina' Não insistia Boas'
instituições era u- iitiaçao podem ir para o marido da filha: nenhum nome, a começar
de um regime sucessório nas
desde 1895-1897,na existência por aquele que a criança recebe aos dez meses e até ela
para o filho mais velho (quer seja
famílias nobres? Do pai do
tomar o nome do pai - o nome do chefe principal. Esses
mas também' por casamento' ÍÌornes são charnados <<,nomesdo mito>>.Entre a dízia de
rapaz quer seia
'upu-túuit por intermédio
pai da esposa para o genro e' ::1t^t:,::9 nomes (é melhor entender: títulos) que um nobre kwakiutl
orJ' este segundo modo de transmitt:: adquire em toda a sua vida, alguns - os mais importantes -
os filhos nascituros' I
dos Kwakiutl que um indivi \ continuam, pois, a ser propriedade da linhagem. Quanto aos
tinha tai innportância aos olhos
casa))onde não houvessefilhas | ' outros: <<osúnicos nomes de um chefe principal de numoym
duo desejosode <<entrarnuma
um filho e' não havend" lX que podem ser dados por ocasião de um casamento são os
para casar desposavasimbolicamente do I
um braço ou uma perna - que esse chefe obteve dos sogros juntamente com os privi-
filhos, uma pafte ao to'po -
peça da mobília' légios; pois não pode transmitir ao genro os seus próprios
chefe da casa ou até uma J
artigo de Boas'publicado em 1920 marca privilégios. Parece, portanto, que os títulos de nobreza se1
Um importante ele
pensamento' É que' entretanto' agrupavam em duas categorias: os que não podiam sair da \
um novo rumo do seu excepcio- linhagem e eram transmitidos de pai para filho ou filha por Ì
um informador
tinha formado e posto a trabalhar direito de primogenitura e os que o genro recebia do sogro I
filho de pai escocês e mãe
nalmente dotado: Cuo'ru Hunt' por intermédio da esposa mas para transmissão aos filhos. I
e casado entre os kwakiutl'
tlingit mas nascido, educado Essas duas categorias (que, porém, os Kwakiutl negavam I
ao-longo de anos milhares
Inquiridor exemplar, Hunt' recolheu que iam que fossem de naturezas diferentes) recordam respectiva-
de páginas t"fo'-es sobre a cultura kwakiutl mente - observa Boas - , mutüís mutandís, por um lado,
"o* de casa até às tradições
das receitas cuUnarias da dona até os morgados europeus; e, ,por outro, o modo de transmissão
e das,técnicas artesanais
dinásticas das linhagãs nobres por clas jóias de família, que em teoria são propriedades de uma
organizados e publicados
aos mitos. ora esseámateriais, linhagem mas passam de mãe para filha quando esta casa.
os
Boas (1921),ou'ifu'u*-"o a .reinterpretarque' 11]1't^,n""
mals que a Já se disse que os nomes e privilégios mencionados por
primeiro lugar'
possuía. Deles resu"ltava'em Hunt constituem, essencialmente,títulos de nobreza; de facto,
da sociedade kryakiutl
tribo o'u o sept, a unidade fundamental por (gens)) incluem o direito exclusivo ao uso de emblemas figurados,
era aquela que Boas -o designara sucessivamente que comparáveisàs armarias, e também de divisas, cantos, danças,
e <<c1ã>> contot-u u'pt"to patrilinear ou matrilinear funções nas sociedadessecretas (conforme a terminologia de
de muito hesitan>' Boas
the parecia oominani"' ttoep-ois Boas, discutida por Mauss): confrarias que, entre o início e
a utilizar o nome indí-
renuncia a estes termos e resigna-se o fim do inverno - estação ritual - , substituern a sociedade
social apresenta catac'
gena numrym, 'porque <<estaunidade ou civil que vigora durante o resto do ano.
que os termos ((gens>' <<c1ã>>
terísticas tão especiais Todavia, as riquezas d,o numnym nã,o eram exclusiva-
mesmo <<sib>> induziriam em erro))' mente de ordem espiritual. Além dos objectos ornament.ais,
vezes de maneira cate-
De facto, Hunt afirma muitas como máscaras,toucados,pinturas, esculturas,travessasccri-
nobres que ele recolheu o
górica - e todas as genealogias de moniais, etc., incluíam um domínio fundiário constituído por
kwakiutl ((nunca mudam
confirmam - q"; ï'-"o0"'-
l'|'7
l4ti
vem então
pesca uma linha com que não tenha parentesco>>'Que
cursos de água, locais de a- ser um numayma? Para bem entender
a sua estrutura'
terras de caça e de colheita, pesca)
também para a ' os indivíduos quo
e de barragens lque serviam os 'ltt:t
legítimos escreve Boas, <<maisvale não ter em conta
a"tu*ente defendidos: que o numayma con-
direitos territoriais átu* o co,mpõeme considerat em vez disso
não hesitavam em matar os intrusos' A cada uma
nr^"*ilttos -rà,, as siste num certo número de posições sociais'
Finalmente, ,o artigo de 1920, Boas completa um (posto))' um
de dessas posições estão ligados um norne'
casámento' A exogamia
suas informaçoes sobre o :!::1:
<<lugara conservar>),isto é: uma categoria
e privilégios' As
como mostra- o simbolismo guerrerro
era mais frequente, número limitado e
mas também são observáveis
casos categorias e os privilégios existem em
dos ritos matrimoúis; ("')' É esse o esque-
por exemplo entre meio-irmão formam uma hierarquia nobiliárquica
muito claros de endogamia- de a sua vida' podem
ou entre o filho mais velho leto do numayma; os indivíduos, durante
e meia-irmã de mães ãiferentes Hunt que os a elas ligados>>'
um pai e a sobriritru' nputu
impedir - diz - ocupar várias posições e tomam os nomes
deste modo' conser- de haver neste
suium au-tá*iìiu' Procedendo De resto, é difícil afastar a impressão
n.ì"í"*t"t Mas também acontecia que' na um regresso em força
vam entre eles os pti"itegio"' suce- último estádio do pensarnentode Boas
gttt"'o' esposo de uma filha única' dos aspectos matrilineares - apesar
da repetida afirmação
ausência de filhos, o homem
do numaym deste' Esse por Hunt se sabia que
desse ao sogÍo na clhefia filhos enviava de uma predominância patrilinear' Jâ
se tivesse vários entre si e que o
mudava, portanto, â" ""*"V*; e con- os germanos do mesmo pai podem casar
deorigem' para lhe sucederem' da mesma mãe' Boas
uns para o seunLlmaym a perpe' mesmo se não dá com os germanos
u ti* de assegurarem
servava consigo o'-ït'oot' no caso de acrescenta que, à pergunta <<de
quem és tu-otr de quem é
mãe' De um modo geral'
tuação do numaym da podiam com o nome da mãe'
do mesrno.grau, os filhos ele - filho?>>,sempre se ouve responder
casamento entre cônjuges e filha' o genro
matãrno e parterno
'atê' O sogro proclama que, ao casar com a sua
ser repartidos ettã'ií mantinha
dos avôs ou
"u*y^ mas cada indivíduo
bisavôs; (entra no seu numaymcL>>As testemunhas do casamento
parece, os no do sogro para
de tal modo que a filiação fazem coro: <<Agora o genro entra na casa
uma certa liberdaie ã" ut"offt"'
pelo- direito agnático' se apro- aumentar a gtandeza do seu nome))' Por
conseguinte' na
numaym, teoricamÀnte -ã" regida
ãi't"*u de sucessão cognática' altura da morte de Boas e numa época em
que as institui-
ximava, de facto, "* a em 1942' Boas não deixou quase por complcto'
Até à ,"u *oi'u' sobrevind ções tradicionais já tinham desaparecido
nem de elaborar os materiais continua dc pó;
de reflectir u""'"u ão' Kwakiutl ao o problema da sua naluteza- patrilinear -
estadias sucessivas' escalonadas os princÍpios' nÍl
recolhidos durante doze assim como o da coexistência de ambos
em 1966' os seus inéditos
longo de meio sec"i"' Publicados (ou' como hipótese da sua intervenção conjunta
(mas' ncsso cilso'
apresentam u Ut'i*a concepção do nurnaym portanl"o quo
't'u enle, numayma): <<Tais
como foram segundo que modalidades?)' Compreende-se
the chamou posreriorm pensar que numo tipologiu
qo" precede' p'oderíamos Boas haja renunciado a incluir o numdymo
descritos o, nu*oi"*"o tribos; cittcgorias suus
ou 'gentes' de outras da organização social; rejeitando todas as
são análogo, *oJ'ltibs" 'ltrãs; llrlus ttÍto podc
não nos permite aplicar-lhes conhecidas por nenhuma delas ser aplicávcl'
mas a s.ru
"sp"ciul "o"'titt'içao o ni^^y^o não é patri- dar uma definição do numaymo e resigna-sc
it tlcscrcvô-lct
cstes termo'' futa"Ao rigorosamente' criança de um
lincar, pois - d";;; ã"-""oto' limites - uma comoumtipodeestruturasemequivalctttctttlsetrquivosda
testa-
ser atribuída por disposições
ou rlo o,rrro ,""o";;" a etnologia.
de que descende ou até
ttttrttl.frriasu ou"ìï'i"lt"ãu'-ti"rtut t49
l4H
um pouco tnais lrlnp"ttltttt'tt
Se, porém, nos deslocarmos
Os Tsimshian t'Ôttttltrt sttt-
norte, tudo parecerá modificar-se' 'l'lirtp'll
i;úYês; o dos Haida c dos
tema de parentesco ;;;ú s{lo I't'ttn-
e todas estas três tribos
aproxima-se do tipo crow;
entanto' em nenhum 1":|t'.:..1i'l-
fora da América' especial- camente matrilineares' No
Ora, esse equivalente existe e até de base da estrutura socittl'
na Indonésia' na Melanésia casos se encontra' "ï' t'"iauaes
mente na Polinésia e que seria de esperar nunt
dedicados de aquela composição homogénea
todos os seus estudos Entre os T'simshian' rtrui$
em África, embora, em ditos não- regime de descendc*iu "ãifi"ear'
esta parte aos sistemas por untu
há vinte e cinco anos a a fim que de unidades, trata-se de
agregados constituídos
seria chamar indiferenciados' ãue the estão' subordinados
-unilineares (que melhor linhagem dominantl ã ã" ""tÃt
bilaterais' que são unilineares seÍnpre, raços de parentesco.
Entre
cle os distinguir d";;;";as reconhe- sem que corn ela tenham,
etnólogos não o tenham híbrido do regime da
pro-
mas em duplicado) t'l ' "t encontrar duas os Haida e os ftingit '--i'"u'ait'"t
ete ã' Podemos factores: abandono de
antigos
cido naquilo que '"àíá*u priedade resulta dã vários conces-
outros' por ocupação e uso;
razões Para isso' corncl
'de
dornínios e aquisição de para
lugar' este tip-o de instituição não iransferência de títulos
Em primeiro bili- são de domínios ì-ú*"t"s;
de ãescendência- unilinear' " ou de outros danos; anexação
com nenhum dos #t-;tn* tratados compensação de u"u"i"io'
são tendencialmente na ausência dos herdeiros
near, indiferenciada- ' QUê que nas institui- por vizinhos Ae Oireitos ou títulos
separadas mas
como se fossem "I"go'iu' naturais, etc"
pouco rígida umas regras
iá., ao tipo do
numayma se entrelaçam'
de pe.rto Corno aplicar de maneira tão tão
basta considerar mais formuladas em lslrnss
Para ter a certezadisto, Kwakiutl' Os de descendência e ã" 'uces'ão aos
se estabeleceram os põe em relação aos Kwakiutl,
a ârea geogtâflca onde estritos? o problema não se
os Nootka e os Bella
coola' que exploram a fundo (e mesmo
vizinho, *uir"iï;;";; Nootka e uos neiu óootu, a
seus qtlÏ' como entre os Kwa- pseudo-casamentosdos Kwakiutl)
têm as mesmas instituições'-u' mais, se pensarmos nos modo'
parentesco do cognático e podem' desse
de um sistema de elasticidade oo set
kiutl, se fazemu*putt'u' são designados 'i'**u de manobras sociopo;líticascom os
(em que germanos e primos revestir toda a "'pã"i" regras dos
tipo dito havaiano indife- Mas' pelo contrário' as
uma regra de descendência ouropéis ao p"'""i"'co'
pela mesma patavrà) e de o minmints s aos Tlingit parecem'
à primeira
ot' quase nada distingue Tsirnshian, d"' ;;i;; de um
renciada. De facto' nada no caso dos para que se deslize
tal como foi descrito impressão, demasiado rígidas propria-
bella coola dt ';'*y*" o papel do parentesco
plano para o outro; e também
i(wakiutl. pãlo qual as combinações ins-
mente dito se r"ririú",'*tivo mais às claras' Em
ou ambilateral'elementos
semprebem piradas por outros *On"l' aparecem os
C) Num sistemabilateral tU: uns na linha paterna
ambos os casos'a vida local
mistura inextricavelmente
que
do estatutorcs19af :1i":*tttdos' política ou económica ou
determinados
laços que resuttaà da t'istotia
os c,asosê' Pof vezes'conforme
eoutrosnalinha*ui""'ì'Umsistemaindiferenciado'pelocontrário' ot laços que reclamam basear-se em
por ela sao criados
é um sistem" u- nt" - consoante seus ascendentes - qualquerele- "o-
de cada i"i**"uAo ou dos genealogiasreais ou supostas'
a opção qualquerdas duas linhas' do norte da Cali-
menio do ïiã" J"ïtrunsmittl^:* transmr- Os Yurok, pequena população -costeira uto
"""t*"o do estatuto respectivamente o"ito exemplo-.da.manelll^:o'tttn,
Nos Kwakiutl, 'u JJãu"tentos Íossemde natureza diferente' fórnia, ot",""""'-"o' por assim dïzcr'
cadamento se dissolve'
ticlosna lintra agná-icuu no' seriaindiferenciado' o actual regra de descendènciaunilinear
uluïtiir'-t'-"u'o contrário' questão'
o sistema não permite decidir esta ll-rl
da 'u'i"
u""u^""iulu" disponível
trr't.tt<Itl
I ttO
a-ocontacto com instituições do tipo que temos vindo a con- fachada, a função cerim,onial,nonl(ì osrjo do rlttitl <Icriva o
siderar. De facto, os Yurok, ao contrário dos Tsimshian, dos cio ou dos seus proprietários.
Haida e dos Tlingit, são patrilineares. Mas Kroeber, que os Assim, por exemplo, o senhor da c:ltslrlur'ri1r,ottor, rta
estudou assiduamente (os Yurok têm, na sua obra, um lugar cidade de On'len-hipur,chama-se F{a'ii1;otìttt'r;olrin; c o tLt
quase comparável ao dos Kwakiutl na obra de Boas), acen- casa meitser, na cidade de Ko'otep, Ke-nlcitsot'.()r;t t'ss;ts
tua que <<todavia,um grupo de aparentados nunca está cir- casas,ern qrìe Kroeber só considera a técnicit <It'cottst.t'ttt;lìo
cunscrito, corno o estariam um clã, urna comunidade de aldeia e a função utilitária i(só fala delas no capítulo cftrllrrtrllrool,t
ou uma tribo. Esbate-segradualmente em inúmeras direcções cf the Indians of Californio dedicado à ctlltura trral.crirtldos
e funde-se com outros também em inúmeras direcções>>. Por- Yurok; e omite a sua existência quando passa ao tritllttttcltltr
tanto, entre os Yurok, <<oparentesco funciona de modo bila- da organizaçãosocial), constituem, de facto, pessoasIttotrtis.
teral e, portanto, difuso, pelo menos em certa medida; de Todos os textos indígenas,recoihidos pelo próprio Krot:lrt't'
maneira que não existia qualquer unidade social formada por ou pelo seu colaborador indígena Robert Spott, o estabclr'-
indivíduos aparentados uns com os outros, actuando em con- cem de modo indiscutível. Assim, a propÓsito da dissolt"t<.:lìtr
junto e capazes de acção colectiva otganizada>>. de um casamento: <<Umajovem de Sa'a tinha contraído urn
É notável que, em tal situação, Kroeber não queira reter casamento pleno (isto é: pelo quai fora pago um preço elc-
senão os aspectos negativos. Os Yurok - escreve- <<não vado) na casa wôgrvu de Weitspus>>.O marido morreu e,
têm sociedade,enquanto tal, nem organizaçã,osocial (...). Na passado algum tempo, ela resolveu regressar à cidade natal
a-usênciade governo, não conhecem autoridade (...). Os com a filha ainda pequena. <<Osparentes entregaram, por-
homens (chamados chefes) são indivíduos que, pela sua for- tanto, o pagamento matrimonial à casa wôgwu de Weitspus
tuna e pelo seu talento pata a conservar e tltilizar, reuniram porque queriam ficar com a criança' Mas a casa wÔgwu só
ern volta das suas pessoas um agregado de parentes, clien- quis aceitar metade para que a ctiança não passasse a ser
tes e semi-dependentesa quem prestam assistência e protec- ilegítima (..). De iguai rnodo, se a mulher tivesse sido
ção (...). Termos tão familiares como 'tribo', 'comunidade morta, ou se tivesse morto ou ferido outra pessoa, a corn-
de aldeia', 'chefe', 'governo', 'clã' não podem ser utilizados pensação pecuniária deveria ser repartida pelas duas casas>>.
a respeito dos Yurok a não ser com extrema prudência ('..). Neste caso, como em todos os demais que fervilham nos
Tomados no seu sentido habitual, são-lhes totalmente inapli- textos, não são os indivíduos nem as famílias quem actua:
cáveis>>. são as casas, únicos sujeitos de direitos-_ellev_91es'Quando,
É difícil conceber que uma colectividade humana que se junto ao leito de morte de K'e-(t)se'kwetl, da casa tsekwetl
distingue das outras pela língua e pela cultura possa ser tão de Weitspus, a mulher e a sobrinha disputaram a herança do
invertebrada. Na realidade, as instituições que estruturam nroribundo, este decidiu a favor da sobrinha antes de expirar
a sociedade yurok existem: são, em prirneiro lugar, as cin- porque, disse, <<afortuna não lhe pertencia pessoalmentemas
quenta e quatro <<cidades>> pelas quais se distribui a popula- sim à casa tsekwetl>>.
ção; e, principalmente, no interior de cada uma delas, as Mesmo que se tenha escrúpulos em exprimir dúvidas, ti
((casas)).Eis a palavra: a mesma, de resto, que os Yurok lícito perguntar se Kroeber não terá procedido mal ao des-
usam, na sua língua, para designar esses estabelecimentos, crever a otganização social dos Yurok exclusivamente ctrt
em princípio perpétuos, com um nome descritivo inspirado função dos aspectos que lhe faltam. Mas, se houve faltit,
pcla localização, a topografia local, a ornamentação da csta é menos do grande professor que da etnologia sua cotì-
l5:Ì llt : Ì
temporânea, que não dispunha, no seu arsenal institucional, ções da estrutura social: belo tema cm l)orsl)octivapara a
do conceito de casa mas apenas dos de tribo, aldeia, clã colaboração enrfe linguistas, etnólogos c hist.oriadorcs.
e linhagem. Na Idade Média, o processomais antigo Í'oi t.irlvt-.2
uma
Ora - e é esta a segundadas razões que anuncifsl6s -, combinatória fechada ou em campo fechado: puis <:lrarrrados
para reconhecer a casa, teria sido necessário que os etnólo- Eberhart e Adalhilt chamam a seus dois filhos luìÌ ritpiìz c
gos olhassem para a história: pata a da idade Média euro- uma rapaúga, Adalhart e Eberhilt, respectivarnonl.c. Há
peia, certamente, mas também pata a do .Iapão dos períodos rnenos de quarenta anos observei o mesmo proccsso nu Arrra-
Ileian e seguintes, para a da Grécia antiga e para muitas z6nia, mas estendido a três gerações. Os nomes mcrovÍngios
outras ainda. Para ficarmos pela nossa Idade Média, é muito e carolíngios ilustram uma combinação mais livrc, l)or scr
reveladora a comparação da definição dada por Boas para aberta na escolha e utilização dos morfemas. Os príncipcs
c numaymqkwakiutl (vide p. 149) com a que nos vem da pena merovíngios chamam-se Théodebert, Charibert, Childcbcrt,
de um medievalista europeu ao procurar estabelecer com Sigebert, Dagobert; mas também Théodoric, Théodebald...
ev.actidão o que é uma casa. Depois de sublinhar que a Na família de Carlos Magno vamos encontrar Hiltrudc,
linhagem nobre (Adelsgeschlecht) não coincide com a linha- Himiltrude, Rotrude, Gertrude, Adeltrude, etc.; mas o mor-
gem agnática e é mesmo, muitas vezes' desprovida de base fema inicial Rot- produz ainda: Rothaïde Rothilde; o mor-
biológica, renuncia a ver nela mais que uma <<herançaespiri- fema inicial Ger-: Gervinde, Gerberge; e o morfema inicial
tual e material, que compreende a dignidade, as origens, o Adel-: Adelinde, Adelchis, Adelaide, etc. Por outras pala-
parentesco, os nornes e os símbolos, a posição, o poderio e a vras, o mesmo radical admite vários sufixos, o mesmo sufixo
riqueza, e é assumida (...) em atenção à antiguidade e à dis- vários radicais e o sistema antroponímico é capaz de engen-
tinção das outras linhagens nobres>>.Como se vê, as lingua- drar formas novas por enxameação- digamos - em direc-
gens do etnólogo e do historiador são praticamente idênticas. ções opostas. Fechada num caso e aberta no outro, é sempre
Estamos pois, sem dúvida, em presença de uma única e uma combinatória. Uma terceira fórmula, que vigora sempre
mesrna instituição: pessoa moral detentora de um domíniíì em determinadas famílias ou regiões, caracteriza-se pelas
composto simultaneamente por bens materiais e imateriais I repetições periódicas: o nome do neto reproduz o do avô
c que se perpetua pela transmissão do nome, da fortuna paterno ou o nome do filho da irmã o do tio uterino.
" | Ì
dos títulos em linha real ou fictícia, tida como legítima sob / ' Assim, a alternância dos Pepinos e dos Carlos nos pri-
a condição única de esta continuidade poder exPrimir-se na / meiros Carolíngios: re5ra geral, do avô paterno para o ncto,
linguagem do parentesco ou da aliança e, as mais das vezes, I mas o segundo Pepino, sucessor do seu tio uterino, era I'ilho
em arnbas ao mesmo temPo. l da filha do Pepino origem da linhagem. As três fórmulas que
Na memória a que acabamos de fazet menção, Schmid indicámos não formam uma série evolutiva: cocxistctrt, ltur
observa que a origem das casas medievais se mantém obscura vezes,no tempo. E todas elas se encontram tambónr cnt.roos
porque até ao século xt, cada indivíduo era conhecido por índios a que fomos buscar os nossos exemplos.Os Kwakiutl
um só nome. Na verdade, os nomes simples e não recorrentes utilizam ambos os tipos de combinatória, a I'ccltitclrt t' a
rrada ou muito pouco nos podem dizer; mas os nomes antigos aberta, e dizem <<cortaro nome em dois>>llara clcsigtìnrurna
compõem-se, por vezes, a partir de nomes de ascendentes. forma mista. Quanto à fórmula periódica, podc scr obscr:-
Ora, não é de excluir que existam relações entre as várias vada nos Tsimshian,que acreditavamna rcirrcarnaçÍiotlo avô
rn<rdalidades observáveisdesse procedimento e certas varia- na pessoado neto.
t5,1 155
a
espinhos' etc' Fora da França:
de S. Dinis, a coroa de ou'
de parentesco europeus
nao a coroa de Santo Estêvão
É verdade que os sistemas lança sagrada de Constantino' o
; dos K-wakiutl nem
do tipo u recordação: assim' temos
;; na falta dos obÍecio'' "u arturianas' a quc a abadia de
são do tipo havaia; tipo crow como os
nem do graal e a lança aas i""aus
iroquês como o d";';ti*;;ian
são habitual- para aumento do prcstÍg'io dos
aos ttaida e dos Tlingit'
Os
:i't"*-u-:,:"'of"t" que se caractetlza Glastonbury lançou sortilégio
ffi"+ì;"*':-,*
o tipo esquimó' a antiga l'rança
mente relacionado' "ã*
e irmãs e os prlmos'
ïï::ï.4ilÏï::
^ï'f;:**"gt#ï":
tJustrrYe'!v'
:^;^
fralcês na mesr
^^-;'rnr{e nâ
confunde mesma
"""ï:,ï;:ï asota o parentesco fictício;
também não se coibiu
de recorrer a ele' Alguns
obrigados' pretendera m fazet
cronistas'
descender
esta distinçao, o u'iiigo 'i"u*uparentes mais afastados'Para Drovavelmente a isso l'rnta-
p"iu taz!7 extremamente
e os ãs Capetos Ao" Cu'-oringiãt pri-
designaçãoos primos Littré ainda sugere: ãã trË"'iq"e I ter sido
casada em
primeiro significado"ão-t"t'o'primo" que não aquelesque sista de a av6*ut"'ltï morto sem
o"ìr1ta3t V' o úiti'mo Carolíngio'
de todos meiras núpcias da Borgonha' Eudes-
<<Diz-se "o*-l-t"t xr' o dtlque
";n;";;t assimilaÇão cornparávet
:'i"" deixar herdeiro' N; ;é*1" perpetuasse
têm um nome t*ã"*;- germanos e pnmos' genro Otto'Guilherme
havaianos entre -ÏIenri, quis que ;;* pretendeu
fazem os sistemas aproximada- lx' Luis da Provença
de um grau' As-sim'dá a sua linhagemr N; ;;"1ï por a mãe seri:-tt"
salvo pelo desfasamento das manobras sociais
mesma riO"tã"a" de disfarce ter ascendência caro;tíngia-menos.
mente a adoptivì de carlos-o-Gordo'
parentesco' linhagem n," noo-'i"t-ïiilt"
i""s sob a capà do iï"r- dúrante a guerra dos cem
E conhece-r" o nunJi n*
""-p"ft g'áou'ao V ool- Carlos VI e Isabel da
Anos, a adopção â" vII'
p.oprio fitho, o futuro carlos
* Baviera u* autri*ïlro ão de uma linha sucessória
** A existênci" ;;;; át i<*urti"tl
que vai do avô por intermédio da filha e do marido
no seio dos
europeias apresentam
todos os
desta ainda a"i** dL alimentar discussões
"";;;;";
muito
Ora, as casas medievais aos Kwa- "ao de sucessãopareceter sido
em relação etnólogos.O'", t"ã-tipo -Ë*opu' se
traços tantas à onle- oor várias ocasiões
""""'-fu'udoxais-q":' de Boas e' relativamente frequente ,'u uitã-íuUuo ponte
kiutl, causavam o J*futuço etnÓlogos' seìs mulherãs podiam <<Ïazet
dificuldades aos pôs a questão o" podiam trâns-
outros povos, "o"titïïï- "ti"t ot.r se' tendo um filho' lhe
Vejamoi essestraços um
por uT e passagemu, (fora
possui um domínio' que con-
,---, ,.
direito, qo"'u:ãt
ãias proprias não podiam exercer
Europeia ou ináia' u "u'u mitir herda'
e riquezas materiais'
O chefe específicosque podiam ser
siste em riquezas iãáeriais
o caso de atguns-fu"oo, a adopção
rico' corno hâ.rcu1 iecordámos
mesmo imensamente dos por mulheres)' Ainda
da casa é rico, àt;;;;t de Carlos baseou-se,entre outras coisas,
ao analisar o testamento de Eduar o v; u.áu adopção ter
sublinha Montesquieu rico para que a II' genro de Filipe-o'Belo'
Magno; de qualque'-áoao'
é suficientemente no facto Ae o Uisavo'Eduãrdo per
e um meio em caso de sucessão
instrumento político podido subir ao trono de França
troça da importânciaque
um
sua fortuna constitua (<Dar'
tuf como Ai' em Gérard de Roussillon: ux.orem.Nosecuú xvl' Montaigne pelo facto
de governo. '" As riquezas da casa
incluem
os seus dao à figura das armas,
eis as suas torres'ã"u*uiutt'' "orrr.*porárreos para outra família>>'
e prerrogativas hereditárias - de <<umgenro '"i' u t'u"tportá-la
também os nomes' títulos acres- os contratos de casamento
que se <<honrarias>> - ' 4 que se deve Com efeito, foram inúmeros impunham a
a
aquilo
"f'u*ot'u i-Jio'':tb:1t de origem sobrenatu- que davam uo g;;; o direito' mas também
centar, tal como #;; bandeira
a Sagrada Ampola' a 157
ral: a capa de S' Martirúo'
l6B
que não tivesse her' Geroldingern; foi Ulrich, e não o pai, quem fundou uma
obrigação, de tomar as arÏnas do sogro casa, a dìs Udalrichingern, sem dúvida por causa da glória
transrnitir aos filhos' Já
deiros do sexo masculino, para as proporcionada pelo casamento da irmã com Carlos Magno'
a qual o último
no século xI tomava vulto ã lenda segundo A casa nasceu, assim, da sua aliança com os CarolÍngios;
legara' juntamente com- o
Carolíngio, Luís V, morto em 987' mas quem lhe deu o nome foi o irrnão e não a irm6'
rei Capeto' Na Escócja'
leino, a mulher ou a filha ao primeiro Vindo ao de cima, o princípio patrilinear abafou as
filha herdava os títulos
na Bretanha, no Maine e em Anjou' a
husband' como antigas tendências de ponderação das vantagens de uma
r" houvesse filho; o genro - incomíng
"a" uxoris ao ((entrar na e outra linha e de manutenção de um equilíbrio entre elas.
se diz em inglês - tomava- os iure MasháusospopulaÏesqueconservamvestígiosdessasten.
dos Kwakiutl' Por von-
casa))- que é a mesma expressão dências. Na região do Languedoque-Provença'e talvez tam-
passaria para-
tade de Henrique I, a coroa de França :eu
bém noutros locais, ainda hoje se observa um esforço de
pre-
da Flandres se o legítimo herdeiro'
cunhado Baldúno servação da simetria entre as duas linhas' Em Bouzigues' na
nesse caso' o conde da
Filipe I, morresse na juventude; comuna de Hérault, dá-se o nome do pai do pai ao filho mais
tornou-se herdeiro per
niunat"t, geffo de Roberto-o-Pio' velho e o do pai da mãe ao mais novo; e, simetricamente'
uxorem. o nome da mãe da mãe à filha mais velha e o da mãe
da sua orienta-
Boas surpreendera-seporque' a despeito
davam semlpre o nome da,mãe do pai à mais nova. O efeito de espelho é ainda mais visível
ção patrilinear, os Kwakiutl se considerarmos o parentesco espiritual: o pai do
pai e
filhos (vide p' 149)'
quando se lhes perguntava de quem eram filho e da filha
observa e comenta o a mãe da mãe são padrinho e madrinha do
Num interessanteãrtigo, D' Herlihy mais velhos; o pai da mãe e a mãe do pai são-no
dos
matrónimo' em vez do
lugar não despiciendo ãue e dado ao por vezes ao
Média euro'peia' mais novos. Por outro lado, acrescenta-se
patrónimo, petos textos juridicos da Idade só têm direito a fazë-lo os habi-
as causas histó' nome um sobrenome' mas
Considerando a generalidade do fenómeno' que, além da dualidade
não parecem absoluta' tantes da aldeia. Quer isto dizer
ricas e locais avançadas por Herlihy paternos/maternos, se tem de dar lugar à dualidade entre
os nobres lnvakiutl que se
mente convincentes. Tal como os <<naturais>>e os de fora.
em ambas as linhas'
vangioriavam de possuir títulos herdados Esta segunda forma de dualismo aparece
já nas leis
de uma ascendência
os Capetos aplicaram-se à aquisição sucessorial - em
na linha materna' bárbaras, em que persiste uma competição
carolíngia tanto na linha paterna corno graus, de resto, variáveis - entre as linhas directa e cola-
primeiro' graças ao
mas só o conseguiraln em três fases: denota
na linha-mat€rna' íeral, por um lado, e os vicini, por outro; este termo
parentesco fictício (p' 157); depois' apenas aqui-
'p"to descendente dos Caro- um esiatuto jurídico cujas regras precisam o modo de
de Luís VII com uma O dualismo da filiação e da
este' ao casar' por sição (Lei sálica,' títuto XLV).
iingios que foi mãe de Filipe Augusto; e
"uru*ento
simultânea daquilo
legar a dupla residência ressalta também da existência
sua vez, o*u Carolíniia, pôãe finalmente
"ornao filho Luís VIII' que, mesmo no caso dos nwmaymo kwakiutl, se pode chamar'
ascendência ((nomes de
os Nootka e os óo-o ,tu antiga Europa, ((nomes de raça)) e
Tal como strcede entre os Kwakiutl'
punha-se em lugar princi- terra>>.
Bella coola, durante muito tempo Parece que, na Idade Média, os descendentes cogná'
proporcionava'
pal aquela das duas linhas que mais prestígio
chamado Gerold que ticos ou agnáticos de um antepassadoilustre tomavam nomes
Schmid cita o caso de um senhor feudal depois
teve um filho Ulrich derivados do dele: Leitname em alemão. Juntava-se-lhe
era, teoricaÍnente, origem da casa e de
nunca citam os o nome de terra; e o nome antigo desempenhavaa função
e uma filha Hildegardl ora, os documentos
159
1õ8
matrimoniais, contraídas no interior ou no clxtcri<lr,só podem
XII e XIII teria
nome próprio colectivo' Por altura dos séculos realizar-seentre cônjuges de estatutos dil'crctlttrs('). Nessas
família' de nomes
corneçadoo uso' pelos membros da mesma sociedadeso casamentoé, portanto, incvitavt:ltttcntt-',aniso-
e dos seus palá-
cterivados das suas propriedades fundiárias gâmico. Não podendo escotrhersenão entrc a lripol,,rtt.ttia c a
herança, que tanto
cios; tomava-se o 1.,o*. uo receber a hipergamia, tambérn neste aspecto essas socicdadtrs t'Ôm dc
podia ser materna como paterna' Os nomes de terra desem- redigi<Ia,
combinar dois princípios. Utna memória 1lt'ovavcl-
verdadeiros' e ao mesmo
penharam então o papetrde nomes mente, entre 1484 e 1491 e intitulada tresHonneurs <le lrt <:our
como centro de
tempo afirmava-se o carácter da residência - verdadeiro tesouro de observações etnográficas
publicadrr
passou ser uma
a
u"çáo política. A habitação de um nobre no século XVIII por La Curne de Sainte-Palaye- pircr bom
ponto cen-
(casa nobre>),na medida em que representava o às claras este aspecto. A sua autora é Aliénor de Poitit:rs,
dimanava'
tral de ctistalização do poderio, que dali viscondessa de Furnes, filha de uma dama-de-honor dtr
Kwakiutl suficiente-
Não podemos ir no passado dos Isabel de Fortugal que acompanhou a atna quando esta loi
eles' se deu a
mente longe para descobrirn'los se' entre casar com Filipe-o-Bom' Ora, esta minuciosa descrição dos
que Boas os conheceu'
mesma evolução. Mas, na época ern usos vigentes na corte da Borgonha sugere qì're a terrninolo-
a eles próprios ou com nomes
as numvyma designavam-se gia francesa do parentesco por afinidade tal como a conhe-
do nome do fundador
de raça, termos colectivos derivados cemos hoje em dia, terâ resultado de uma espécie de deslize
que remetiam para o local
naítico, ou com nomes de terra, semântico. No século XV os epítetos <<beau>e <<belle>>, apos-
tipo de designação'
de origem real ou suposto; um terceiro tos ao termo de parentesco, eram usados por uma pessoa
por teimos honoríficos, tendia a suplantar esses dois: uma
de estatuto superior quando se dirigia a outra situada rnais
que, na Europa, atenuou
àvoltrção comparável, taïvez, àquela abaixo numa rede de parentesco directo ou colateral ou
das casas
gradualmente a conotação geográfica dos nomes ainda por aliança: quando, em 1456, o delfirn, futuro Luís XI,
Hanover' etc'
] Bourbon, orléans, Valois, Sabóia' orange' revoltado contra o pai, se foi refugiar na corte da Bor-
principalmente valores de poderio e de
- e thes associou gonha, chamou <<be1-oncie>r a Filipe-o-tsorn ajoelhado diante
prestígio. dele. <<MadaÍne ma soeur)) e <<Belle-soeuneram os termos
Trata-seounãodeumaconvergência,nemporrsso com que se falava a parentes prÓximos mas que tinham
e da resi-
deixa de haver nisto uma dialéctica da filiação feito casamentos desiguais.
fundamental' das
dência como traço comuln' e sem dúvida É, pois, apenas devido ao carácter hipergâmico ou hipo-
como noutras
sociedades <<decasasr>.Tanto nas Filipinas gâmico do casamento que estes termos ocorriam principal-
partes da Mela-
regiões da Indonésia, e tarnbém em muitas mente nas conversas entre parentes por aliança' O dtlque
hâ muito assinala-
nésia e da Polinésia' os observadores iá' da Borgonha, João-sem-Medo, ajoelhava diante da nora'
ram os conflitos de obrigações resultantes da dupla pertença esta respon-
Michèle de França, e chamava-lhe <<Madame>>;
unidade resi-
a um grupo de descendênciabilateral e a uma dia tratando-o, por <<Beau-père>>. Igualmente, Filipe-o-IJrttlt tl
terrninologia
denciai: aldeia, lugarejo ou aquilo que, na nossa
por <<bairro) ou (quarteirão>>'
administrativa, designaríamos (t) <<L'Astrëe é um romance da nobreza ("')' A prìtrtcirrt pr't'
da estrutura social estão
Quando as unidades de base gunta que um nobre punha a outro nobre quando sc olì(lolìllÍlvrtltl
distin- era sernpre, e continua a ser, a seguinte: <<A que casa, a tlttr' l:rtrlllitt
cstritamente hierarquizadas e quando esta hierarquia
E a esse nobre é dado um determinado lutÌrtr ttit lrit'trtr-
guc também os mernbros individuais de cada unidade con-
pertence?>>.
proximidade em quia consoante a resposta.>> N. Elias, Ld socíété d<t cttu|(l)it'ffÍi/i:tt'lttt
soante a sua ordem de nascimento e a Gesellschaft, 1969), Paris, Gallirnard, 1974, p. 291.
ao antepassado comum, é evidente que as alianças
lr,lar,rir<l
l( ; l
l( i( l
É então de boa estratégia utilizar conjunli.rrrrcnlcrrntlr()sos
a sua nora Catarina'
a mulher, Isabel, chamavam <<Madame>> e princípios, consoante o ternpo e a oportrruidirtkr,pirnr tttitxi-
<<Beau-père>>
filha do rei Carlos VII, e ela chamava-lhes mizar os ganhos e minimizar as perdas.
esta maneira
<<Belle-rnère>>.No entanto - nota a autora -' Do mesmo modo, as casaseuropeiassenìlll't'ltr;sot'iltt'ltttt
respectivos esta-
pãf" q*f dois interlocutores assinalavam os as duas práticas: o casamento a distância e o cltslttttt'ttltr
prescrita' nos graus supe-
tutos so era permitida, e mesmo muito próximo. As genealogiasapresentammuitos cxt:tttlllos
príncipes e princesas'
riores da nobreza: reis e rainhas' de casamentos próximos qìle reproduzem todas as fot'ttuts
casas de graus inferiores
duques e duquesas;era proibida às clássicas conhecidas dos etnólogos: com a prima cruzada,
dont
(sy comme de Comtesses,Vice-Comtesses'Baronnesses' patrilateral ou matrilateral, ou até, poderíamos quase dizt'i',
et Paystl e)'
if; grand nombre par plusieurs Royaumes <<àaustraliana)), como foram os casos de Filipe-o-Bom e dc
aussy d'appeler leurs
Nestas- casas, <<neleur ãppartient Francisco I, que casaram, um e outro' com a filha do filho
sinon autrement que
pu""tr, Beau'cousín oa Belle-cortsifle' do irrnão do pai do pai... Também podernos encontrar exem-
quiconque en use autrement
mon cousin et ma cousine, et plos de troca generalizada, corno se verifica entre a inicial
estre notoii à chacun que cela se fait
ãrr"-ai", est, il doibt casa capetiana, a casa da Borgonha e a casa de Autun'
réputé pour nul'
par gloire et présomption et doibt estre O casamento de Carlos VIItr com Ana da Bretanha, pelo
à cause que ce ,oti volontaires' dérégléeset hors do
"ho'"' contrário, foi- diplomaticamente falando - muito afastado,
raisoru> ('). pois tinha por finalidade preparar a reunião da Bretanha
e <tbelle>>'reser-
Assim se explica que o uso de <<beau>> à coroa de França; mas o contrato restabelecia logo o equi-
próximas do trono' tomasse
vado às casas de sangue real ou líbrio ao estipular que, em caso de morte do marido, a
aos olhos da burguesia'
uma conotaçao puramente honorífica viúva casaria em segundas núpcias com o ocupante seguinte
de Diderot e d'Alem-
Ainda no século xvIII, a Enciclopédia do trono: foi, de facto, o q-ue se passou, quando o duque
(<<nora>>) que <<belle-filleé de
bert observa, no artigo <<Bru>l ' de Orléans sucedeu ao prirno segundo com o nome de
um estatuto relativamente
uso mais fino>>.a cãnotaçao de Luís XII. Na geração seguinte, inverteu-se o ritmo: ao pri-
primeiros utiliza9-ol:::, o"
inferior, perceptível apenas aos meiro casamento de Fratrcisco I em grau próximo seguiu-se
rapidamente esquecida'
passou despercebidaaos outros ou foi ír sua união, afastada, com Eleonora de Habsburgo, irmã
contrário do que os
Nas sociedades <<decasas))' e ao cle Carlos V.
os princípios da exoga-
etnólogos observam noutros casos, Entre os povos sen'l escrita, tal como na Europa, tam-
mutuamente exclusivos'
mia e da endogamia já não são bém o cálculo político inspira e cornanda este movimento
o casamento exÓgariãl
Como vimos a respeito dos Kwakiutl' a.lternadode expansão e de retracção das alianças matrirno-
o casamento endÓ8amo
serve para captai novos títulos e I niais. Em vários locais e em diversas épocas, causas igual-
quì, depois de adquiridos' eles saiann da casl mente políticas levaram à conciliação de dois outros prin-
;; i
";itt I cípios também antagónicos: o direito hereditário e o direito
e Baronesas' de
(t) <<Taiscomo as de Condessas' Viscondessas conferido pelo voto. Foi para ultrapassar essa oposição que
rnuitos Reinos e Países>r (N' T')'
que há um grande número em Beou- rrs primeiros Capetos fizetam coroar os filhos, sistematica-
seus parentes
(') <Não lhes àabe também chamar aos
meu Primo ou minha Prima' nlente, em vida. Tinham, com efeito, de assegurar o con-
-cousín ou Belle-cousine, mas unicamente
nooceda de modo diferente
do que fica dito' scntimento - tácito que fosse - dos dignitários do reino
c a quem Orr", n* e presunção e
glória
deve ser-lhe teito t'oiar que isso
se faz por
caprichosas'
llara reforçar os direitos ainda incertos do sangue e dit
por serem coisas
rklvc ser considerado sem nenhum efeito' lrrimogenitura: jurata fidelítate ab omnibus regni principilttts,
(N' T')'
l'ora das regras e sem razão))
| ( i: Ì
I (;iÌ
T
como se escreveu, de forma reveladora - embora em cir- as suas irmãs e filhas com os herdeiros do trono inrpuliirl.
cunstâncias diferentes - a propósito da sucessão de.' Henri- Em sistemas desses,de facto, as rnulheres, habilmentc rrrani-
que I. Os Kwakiutl e alguns dos seus vizinhos possuíam um puladas, desempenhamo papel de operadores do poder. Aos
regime sucessório análogo e não menos ambíguo' Era de uso sucessivos casamentos de Leonor da Aquitânia (e de tantas
o pai transmitir publicamente ao filho de dez ou doze anos pessoas da sua condição e do seu sexo) corresponde o cos-
todos os seus títulos durante um potlatch que proporcionava tume kwakiutl de obrigar as raparigas da alta nobreza a
a ocasião, mas além disso traduzia a necessidadede obter quatro casamentos sucessivos, cada um dos quais lhes con-
o consentimento colectivo e de neuttalizat publicamente feria um grau de honorabilidade suplementar.
eventuais pretendentes' Diferida no primeiro caso (já que Como explicar estas propriedades tão especiais, mas
o herdeiro não,reinará senão depois de morto o pai) e ime- recorrentes em diverso's pontos do mundo, das sociedades
diata no outro (em que o'pai não desfruta já de qualquer dos <<decasas>>? Para as compreender temos de voltar rapida-
títulos depois de os transmitir), a fórmula que consiste em rnente aos povos índios pelos quais corneçámos este estudo.
um pai fazer herdar o filho ainda em vida fornece, aqui corno Entre os Tsimshian e os Tlingit, o neto podia suceder direc-
ali, um meio (talvez o tsnico possível) de vencer a antinornia tamente ao avô paterno em nomes e títulos apesar do regime
entre o direito da raça e o direito'da eleição. de descendência matrilinear vigente. É que ambas essas
Em todos os planos da realidade social, da família ao sociedades estavam divididas em metades exógamas: real-
Estado, a casa é, portanto' uma criação institucional que m'ente, para os Tlingit, e praticarnente para os Tsimshian,
permite conciliar forças que, onde quer que seja, parecem cujas quatro fratrias, de prestígio desigual, tendiam a rea-
não poder aplicar-se senão com exclusão uma da outra, lizar casamentos duas a duas. Em sistemas como esses, em
devido às suas orientaçõescontraditórias. Descendênciapatri- que alternam as gerações agnáticas, é normal, ou pelo
Iinear e descendênciamatrilinear, filiação e residência, hiper- menos frequente, que avô e neto reproduzam as respectivas
gamia e hipogamia, casamento próximo e casamento' afas- metades.
iado, raça e eleição: todas estas noções, que habitualmente Mas não há qualquer simetria entre estes sistemas e o
servemaosetnÓlogosparadistinguirunsdoso'utrososvários dos Kwakiutl e das sociedadesda Europa medieval, sistema
se
tipos conhecido'sde sociedade,reúnem-se na casa' como que, concorrentemente com um regirne sucessório de direito
o espírito (no sentido do século xvltr) desta instituição tra- paterno, fazia do neto herdeiro directo ou indirecto - con-
duzisse, em última análise, urn esforço para superar' em forme os casos- do avô materno. Nem a herança do filho
todos os domínios da vida colectiva, princípios teoricamente da filha, nem a do genro per uxorem, seriam cornpatíveis
inconciliáveis' Ao meter - por assim dizer - <<doiscoehof com uma regra de descendênciaunilinear. Na linha materno,
no mesmo saco)' a casa realiza urna espécie de viragem I como na linha paterna, tal regra impediria que qualqucr clc-
topológica do interior para o exterior e substitui uma duali- | mento do estatuto pessoal pudesse pertencer ao mosnìo
dade interna por umra unidade externa' O que se aplica tam- J tempo a um filho de filha e a um pai de mãe.
que este
bém às mulheres, ponto sensível de todo o sistema, Para interpretar o sistema é portanto preciso rocorror
temdedefinircombinandodoisparâmetros:oseuestatuto à hipótese de um conflito latente entre os ocupnntt's dtt
socialeosseusatractivosfísicos-podendosempreumdeles certas posições na estrutura social. As mais antigus dt:scrl-
x
servir para contrabalançar o outro' No Japão dos séculos ções de Boas são tão precisas gue não parece duvitlttttttt1ttn,
e xI, o ctã Fujiwara assegurou de modo duradouro o seu nas casas nobres de que provinham os scus inlirrnrttcfttrtrg,
podernosassuntospúblicosfazendocasar,sistematicamente, essa tensão entre linhagens- que constitui o prtnl.o fulcrul
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reaproximar. Também ela encontra o seu princípltl numa
à casa materna'
do sistema- dava preponderância relativa continuidade que é de ordem natural e nada impedo Jó quc'
também rloutros
Nos Bella Coo'la- cuja otganizaçáo social quando houver necessidade, a aliança venha substitulr <l
da dos Kwakiutl - '
aspectos parece ter siáo muito prÓxinaa parentesco pelo sangue.
as coisas do mesmo modo: <<O irmão
os observadores viram Com as sociedades <<decasas>>vemos' pois, formur-ro
dá nomes aos
de uma mulher casada no exterior também uma rede de direitos e de obrigações cujas linhas entrccru-
da sua incorpo-
filhos desta irmã' como marca suplementar zadas cortam as malhas da rede que ela vem substituir: o
relativa do
ração na família ancestral>>'Esta preponderância que anteriormente estava unido separa-se agota e o quo
a certos naitos
laão materno confirma o nosso comentário anteriormente estava separado une-se. verifica-se como quc
kwakiutl (vide P. 77). uma contradança entre os laços que a cultura deve tecer
aceite
Porém, esta preponderância nunca é francamente e aqueles em que antes se reconhecia a obra da natureza -
mulher' vê no filho um
pela outra parte: o pai, que tomou mesmo que, como na maior parte dos casos' isso fosse uma
tal como o avô
Lembro privilegiado da sua linhagem ilusão. Promovida assim a segunda natuteza, a cultura ofe-
essa mesma mulher' vê no neto um mem-
materno, que cedeu rece à história um palco à sua medida; fazendo aderir uns
destas perspec-
bro de purt" ittt*i.a da sua. É na intersecção aos outros os interesses reais e os pedígrees míticos, pro-
constitui' a casa'
tivas antitéticas que se situa, e talvez se porciona fundamento absoluto aos empreendimentos dos
jogo de espelhos' a oposi-
E na sequência disso, comio num grandes.
os planos da realidade social;
ção inicial reflecte-se em to'dos que se pensa
ãa tambem conta da equivalência estrutural
indiferen-
qo" o, regimes de descendência não puramente
estabelecem entre o
ciada (porque de orientação unilinear)
filho da filha e ou o filho ou o sobrinho uterino'
otrtros e
Estes conflitos corno que encaixados uns nos
que as sociedades<<de
as so,luçõessempre de duplo sentido
casas)) thes dão resultam, em última análise, do mesmo
estado de facto: estado esse em
que os interesses políticos
campo social' não
e eco,nórnicos' que tendem a invadir o
laços de sanguer>-
tomaram ainda a dianteira aos <<velhos
Para se exprimirem e se repro-
como diziam Marx e Engels'
inevitavelmente' de ir buscar
duzirem, esses inter"r,u, tê*,
ela thes ser hetero-
a linguagem do parentesco' apesar de
E' inevitavel-
gen"ã; Jom efeito, não há outra disponível'
Todo o fun-
mente também, só para a subverter a adoptam'
ou exóticas' implica
cionamento das casas nobres, europeias
paragens tidas como
uma confusão de categorias noutras
serão'tratadas
correlativas e opostas' e que daí ern diante
vale a aliança' a
como se fossem intermutáveis: a filiação
a troca deixa de ser
uli"rrçu vale a filiação' Desde então
sÓ a cultura pode
o lugãr original de ulna fenda cujos bordos
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