TCC - Thaís
TCC - Thaís
TCC - Thaís
Obs.: O aluno deve solicitar esta ficha à biblioteca após concluir a versão final do
TCC.
THAÍS CARVALHO PEREIRA
Data: _____/_____/_____
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Titulação e Nome do orientador
Instituição a que pertence
____________________________________________________________
Titulação e Nome do professor(a) avaliador(a)
Instituição a que pertence
____________________________________________________________
Titulação e Nome do professor(a) avaliador(a)
Instituição a que pertence
AGRADECIMENTOS
Precedendo qualquer discurso, dedico meu total agradecimento àquele que nunca
me desampara. Obrigada, meu Deus, pela vida e junto a ela tantas graças concedidas! Agradeço
a saúde e capacidade para chegar até aqui e concluir mais um ciclo da minha trajetória, que eu
seja um instrumento em suas mãos nesse que se inicia a partir de agora.
Em especial, agradeço aos que me amam e dividem a vida comigo de perto, no
ordinário, que reserva momentos bons e ruins, fases difíceis e felizes; e apesar de tudo, sem
medir esforços, contribuem constantemente para que eu seja melhor. Sem precisar citar nomes,
agradeço às pessoas queridas que estiveram comigo nessa caminhada, aos que seguraram a
minha mão ou me falaram palavras de conforto nos dias difíceis, aos que me incentivaram e
acreditaram em mim.
Quero registrar também os meus agradecimentos pelos professores que passaram,
direta ou indiretamente, pela minha formação e que exercendo sua função com zelo, me deram
a oportunidade de me espelhar e almejar ir além. Carinhosamente agradeço à Fernanda Agum,
que me impulsionou durante esses anos, por ser alguém tão pronta a ajudar, pelo
profissionalismo admirável e contribuição significativa para este trabalho quando ainda era um
projeto.
Por último, mas não menos importante, reservo com o coração repleto de gratidão
os meus mais sinceros agradecimentos ao Pedro Henrique, meu orientador que prontamente se
colocou à disposição e cedeu seu tempo, sua sabedoria e notório comprometimento para que
este trabalho fosse construído e concluído. Foi uma alegria ser orientada por uma pessoa tão
disposta a dar o melhor, mesmo em meio a tantas funções, e que contribuiu tanto em pouco
tempo. Obrigada, Pedro, que suas forças sejam renovadas e sua vida abençoada!
RESUMO
This work presents a proposal for the contribution of music and its elements to the
literacy process, with a deeper understanding of its benefits in the global formation of the human
being, since it stimulates the senses and acts directly on the brain. The proposal is an
interdisciplinary performance of music with the alphabetic process in a private school in
Campos dos Goytacazes, in the first cycle of Elementary School, where I already work
professionally. Starting from a previous research of the same name, carried out in 2019, with a
proposal to use Brazilian music as a tool for an interdisciplinary work with the Portuguese
language that aimed to expand reading and writing skills in Middle School students; this course
conclusion work aims, initially, the adaptation of activities initially designed for the 6th and 7th
year of the final years of elementary school to the didactic context of the 1st, 2nd and 3rd year
of the initial years of the elementary school.
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................9
2 A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO..........................................................12
2.1 Os diferentes processos de alfabetização....................................................................14
3 MÚSICA E LINGUAGEM.........................................................................................18
4 A PRÁTICA ALFABETIZATÓRIA COM MÚSICA NO COLÉGIO
BITTENCOURT.....................................................................................................................24
5 ESTUDO DE CASO....................................................................................................28
5.1 Atividades de Rima......................................................................................................28
6 CONCLUSÃO.............................................................................................................31
7 REFERÊNCIAS..........................................................................................................34
ANEXO 2- IMAGENS................................................................................................46
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1. INTRODUÇÃO
Depois de atuar e observar por alguns anos o processo alfabético em uma instituição
de ensino particular, criou-se uma curiosidade a respeito desse e de que forma poderia se tornar
menos robotizado, visto que nessa fase as crianças têm uma predisposição à aprendizagem, são
curiosas e interessadas, entretanto, não tem sido um processo agradável e nem mesmo eficaz,
resultando em uma aprendizagem sem durabilidade e significado e até mesmo em traumas
escolares e, talvez, esse acontecimento seja resultado da visão que a escola tem tido do aluno.
operações matemáticas básicas), ainda corresponde a menor taxa e sem avanço até a última
pesquisa o nível proficiente (topo da escala; capacidade de elaboração de textos mais
complexos, opinião e interpretação de textos, tabelas e gráficos e resolução de situações-
problema).
Dessa forma, entende-se que há falhas no sistema educacional brasileiro, que vem
fracassando continuamente, como mostram as estatísticas, formando pessoas incapazes de
alcançar o nível pleno da alfabetização. Mesmo alcançado níveis altos de escolaridade, há
pessoas que vivem com dificuldades de comunicação (como mostra pesquisas do Inaf (2018)
em que apenas 34% dos estudantes do Ensino Superior se encontravam no nível proficiente de
alfabetização) e muitas outras não avançam por conta dessas dificuldades, desinteressando-se
pela escola, estagnando-se em conceitos básicos e não vendo possibilidade de crescimento
profissional, o que resulta no aumento da taxa de evasão escolar- problema que a educação vem
enfrentando há anos sem sucesso de resolução- como afirma o diretor de pesquisa Romualdo
Portela em uma entrevista:
Ou seja, os problemas escolares precisam ser sanados de dentro para fora e, talvez,
não baste mudar sistemas e métodos, mas a própria aplicação. Um método pode não ser a
solução, talvez o que vai gerar resultado é um conjunto de métodos ou apenas o entendimento
de como ocorre a aprendizagem das crianças, como reflete Magda Soares (2020), professora e
pesquisadora que aborda com profundidade o processo de alfabetização em seus trabalhos e
entrevistas. É preciso que haja questionamentos contínuos nas escolas: De que forma estamos
ensinando? De que forma as crianças aprendem?
A prática pedagógica, normalmente, tem efeito mais duradouro que o método
utilizado, a relação do educador com o educando é um fator crucial nesse momento e o domínio
do conteúdo e das emoções também. Isso se comprova com as lembranças em relação aos
professores que passaram pela nossa jornada escolar, lembra-se muito das características, do
comportamento em sala, de como lidava com as dificuldades dos educandos, de como ensinava
os conteúdos e as estratégias que usava para a aprendizagem acontecer, muito mais do que o
método que foi utilizado.
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Contudo, um bom método aliado a uma boa aplicação pode ter efeito fascinante e
contribuir significativamente para a aprendizagem. Desse modo, se a música integrada à
linguagem for aplicada no processo de alfabetização por um profissional capacitado, pode-se
descobrir um meio que não só facilitará esse processo como também será uma inovação, que
alcançará resultados positivos e mudará as estatísticas da atual educação brasileira em um futuro
próximo. Para isso, o educador deve compreender que a alfabetização é um processo e de que
forma ela acontece, para posteriormente conhecer as propriedades da música que contribuiriam
para isso e a forma de aplicar esses conteúdos de maneira integrada, sem anular o valor de um
dos lados, e esse é o assunto que será abordado no decorrer deste trabalho.
2. A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO
Falar, cantar e ler para bebês é crucial para o sucesso na alfabetização. Quando ele
completar um ano já estará familiarizado com os sons das palavras faladas. Alguns
pais percebem que mesmo antes disso, os bebês podem aprender alguns mecanismos
de leitura, como virar a página, apontar para uma imagem quando uma palavra é lida
ou mostrar preferência por um determinado livro. (NEUROSABER, 2020).
Somente com essas habilidades sendo bem desenvolvidas é que se deve entrar em
jogo o conhecimento das letras, habilidade necessária para a codificação (combina através de
letras e grafemas os sons da fala) e decodificação (extrai das letras escritas a forma fonológica/o
som) das palavras e, a última habilidade que precede a sistematização da alfabetização, que diz
respeito à consciência fonológica, que está ligada à manipulação dos sons, podendo ser
desenvolvida através de rimas e aliterações, por exemplo, como afirma Luciana Brites (2022).
Quanto mais se lê para a criança, mais ele será exposto a novas palavras e mais estará
preparada para a alfabetização, aos seis anos. O papel dos pais é fundamental para
preparar seus filhos para ser alfabetizado. Isso pode ser feito com simples ações
cotidianas, como cantar canções com rimas, ler placas na rua, ler em voz alta uma
receita, ler a mesma história, apontar letras no ambiente. A imersão em um ambiente
rico em literatura prepara as crianças para a alfabetização. (NEUROSABER, 2020).
A ciência cognitiva da leitura afirma que, ao contrário do que supõem certas teorias,
a aprendizagem da leitura e da escrita não é natural nem espontânea. Não se aprende
a ler como se aprende a falar. A leitura e a escrita precisam ser ensinadas de modo
explícito e sistemático, evidência que afeta diretamente a pessoa que ensina
(DEHAENE, 2011). (PNA, 2019, p.20).
• Palavração: parte das palavras, normalmente as mais simples, e depois vão descobrindo
as letras que compõe o som.
• Setenciação: parte de frases inteiras para depois desmembrá-las.
• Global: inicia por contos/histórias, partindo da estrutura dos textos (começo, meio e
fim).
origem da música e pedagogia do ocidente um lugar comum dentro dos filósofos naturalistas,
afinal para Jean-Jacques Rosseau:
3. MÚSICA E LINGUAGEM
A música está presente na vida do ser humano desde o seu nascimento e na escola
não seria diferente, mas o que acontece em muitos casos é a utilização dessa linguagem da arte
apenas como um meio lúdico para os fins recreativos, excluindo a possibilidade de uma oferta
de aprendizagem significativa que diminua ou erradique, futuramente, problemas educacionais
reais. Ao ser alfabetizado e letrado o ser humano se realiza socialmente, visto que o seu papel
na sociedade exige comunicação, mas esse processo tem sido deficitário na educação brasileira,
que vem formando analfabetos funcionais há anos, e a música pode contribuir para o processo
de desenvolvimento da leitura e escrita, consciência fonológica/dicção, já que atua diretamente
nos aspectos linguístico, cognitivo e psicomotor.
Um cenário muito recorrente é de crianças que mal aprenderam a juntar as sílabas
e já são colocadas de frente para um quadro cheio de palavras e questões a serem copiadas em
seu material que, apesar de ser denominado didático, não leva em consideração a realidade do
aluno ainda iniciante na alfabetização, acarretando em uma aprendizagem pouco significativa
e que não desenvolve o cognitivo-linguístico corretamente, levando à defasagem nos próximos
anos escolares.
nesse cenário, uma vez que essa atua diretamente no cérebro em áreas como o hipocampo- que
regula as emoções e a motivação e forma a memória, dentre outras funções- e provoca a
liberação da dopamina, gerando sensação de prazer e bem-estar, logo, contribuindo para o
surgimento do interesse, criatividade e expressividade e aguçando as emoções que são porta de
entrada para a lembrança. Ou seja, a emoção ativa a memória, e a música é, indiscutivelmente,
um meio para despertar emoções.
As línguas Indo-europeias, que deram origem à poesia védica e mais tarde à poesia
grega, possuíam acentos de altura e não de ênfase [acento dinâmico ou de
intensificação]. Suas versificações - “os ritmos verbais” que “estilizam o ritmo da
linguagem” (Emmanuel, 1926: 106) e deste modo o estágio intermediário entre o fluir
sem medida da fala e o ritmo musical estritamente proporcional - eram baseadas
somente sobre o contraste quantitativo de silabas longas e curtas e não sobre a
intensificação dinâmica. (AROM, 1994).
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Lembraríamos aqui que a maioria das línguas africanas são linguagens tonais e não
possuem ênfases dinâmicos. Em tais línguas a altura de uma silaba é um fator
distintivo; a mesma sílaba falada sobre alturas diferentes pode mudar o significado de
uma palavra que a contenha. Tons para estas línguas são o que os acentos de altura
eram para as línguas indo-europeias. Em qualquer uma delas o acento dinâmico
embora possa ter uma função expressiva está desvinculado da fonologia, ou seja, não
interfere no significado das palavras. Isto nos dá alguma idéia sobre o porquê das
rítmicas Indo-europeias e as rítmicas africanas, que estão livres do confinamento
linguístico de um acento de ênfase [intensificação] e assim dos padrões acentuais, se
contentarem em arranjar os valores em pés e metros em um caso e em padrões rítmicos
no outro. (AROM, 1994).
Através dessa origem comum, a língua grega foi o grande momento em que os
acentos da fala alcançaram um padrão e uma regularidade, introduzindo a ideia de tonicidade:
não houve outra música além da melodia, nem outra melodia que o som variado da
palavra; os acentos formavam o canto, e as quantidades, a medida; falava-se tanto
pelos sons e pelo ritmo quanto pelas articulações e pelas vozes. Segundo Estrabão,
outrora dizer e cantar eram o mesmo, o que mostra, acrescenta ele, que a poesia é a
fonte da eloqüência. (FREITAS, 2020, p. 117).
Ainda segundo Rousseau (apud. FREITAS, 2020, p. 119) é a melodia que exprime
a riqueza da língua, e a ausência de sons e ritmos, a fragilidade dela:
Uma língua que não tenha, pois, senão articulações e vozes, possui somente a metade
de sua riqueza; na verdade, transmite ideias, mas, para transmitir sentimentos e
imagens, necessitam-se ainda de ritmos e sons, isto é, de uma melodia: eis o que a
língua grega possui, e falta à nossa.
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Essa ligação entre música, rítmica, métrica e linguagem é tão forte que até hoje
utilizamos na análise musical os termos da prosódia grega quando vamos decupar os
agrupamentos rítmicos.
A conexão entre música e linguagem, tão fundamental para este trabalho, foi
defendida por vários estetas, especialmente franceses, ao longo do século XVII e XVIII.
O órgão da palavra, sendo um dos mais potentes meios que a natureza forneceu ao
homem para exprimir e pintar suas idéias e seus sentimentos, é bem natural que a
música sirva-se dela e que lhe empreste sua expressão. Ela escolherá, portanto, na
declamação natural os acentos mais marcados; ela lhes colocará mais arte preparando-
os para aumentar seu efeito; os tornará mais sensíveis opondo contrastes (um dos
meios mais potentes das artes), os reconduzirá mais constantemente, pronunciando-
os mais fortemente, o que nos ocupará por mais tempo; em uma palavra, ela produzirá,
por seu meio, essas impressões fortes e profundas que todas as almas sensíveis
provaram, e que somente esses poderão reconhecer os que não são dignos de senti-
los. É, sobretudo, nas imitações dos acentos das grandes paixões que a música
triunfará. (MORELLET, 1771).
Pode-se conceber línguas mais apropriadas à música que outras: e pode-se conceber
algumas que lhe seriam absolutamente inapropriadas, tal como uma língua composta
apenas por sons mistos, sílabas mudas, surdas ou nasais, poucas vogais sonoras,
muitas consoantes e articulações (....) investiguemos o que resultaria da aplicação da
música a uma língua assim constituída. Primeiramente, falta de brilho no som das
vogais obrigaria a dar muito mais brilho ao notas; por ser uma língua surda, a música
seria esganiçada. Em segundo lugar, a aspereza e a abundância das consoantes forçaria
a excluir muitas palavras e a tratar as restantes apenas por entonações elementares,
tornando a música insípida e monótona. Ainda pela mesma razão, seu andamento seria
lendo e enfadonho. (ROSSEAU, 1753).
O Colégio Bittencourt é uma instituição de ensino particular com mais de 100 anos
de história, localizada no Centro de Campos dos Goytacazes, cidade do interior do Rio de
Janeiro. A escola foi fundada pelo professor Mário Bittencourt em 1914, com sua primeira sede
em São Fidélis, passando a direção administrativa e pedagógica de geração em geração. Além
de muito bem localizada e de fácil acesso, divide o território com Monumentos Históricos da
cidade: a Praça do Liceu, o colégio Liceu de Humanidade de Campos, a Vila Maria e a Câmara
dos Vereadores. O prédio do colégio também é antigo e não permite muitas modificações,
contudo, a escola centenária também se modernizou em estrutura e recursos, advogando uma
educação de qualidade e comprometida com a formação humana. Muitas vezes a direção
pedagógica da Instituição manifesta a intenção de praticar uma educação que vai além de
somente ministrar conteúdo.
A educação do Colégio Bittencourt é dividida em quatro segmentos: Educação
Infantil, Ensino Fundamental Anos Iniciais, Ensino Fundamental Anos Finais e Ensino Médio.
Todas as quatro etapas contam com uma dinâmica de festas e eventos que articulam a arte, a
cultura e o saber de forma significativa e marcante na cidade, visto que muitos conhecem a
instituição através de eventos realizados dentro e fora do ambiente escolar. Além da cultura, o
esporte é muito valorizado na escola e leva alunos a competirem em campeonatos amplamente
conhecidos em Campos dos Goytacazes. Além de tudo que a escola oferece, o acolhimento da
equipe é um fator de elogio recorrente no dia a dia e nas redes sociais da instituição.
Minha história no Colégio Bittencourt começa em 2015, ao adentrar como aluna do
Ensino Médio, período marcante na minha vida, em que pude conhecer pessoas especiais e
vivenciar experiências únicas. Na minha visão estudantil, os projetos do colégio sempre foram
um diferencial e me encantaram pela riqueza que possuíam: Espetáculos Musicais de fim de
ano, Abertura dos Jogos Internos, Semana Cultural, Feira Pedagógica, entre outros; todos
repletos de experiências que para minha vivência discente foram aprendizagens significativas
e de muita criatividade. Empenhada nas festas e projetos, participava de tudo que estava
programado, passava horas e horas na escola para ensaios e preparativos, uma vez que a arte
sempre me moveu e impulsionou. Foram 3 anos de uma atuação ativa como aluna, e sempre
podendo contar com um carinho imenso da equipe escolar, da portaria à direção, foi um período
de muito crescimento.
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desenvolver interesse, vontade e criatividade; se preocupar em formar um ser humano para além
das capacidades cognitivas, tal qual fora sempre apregoado nos lemas do Colégio Bittencourt.
Mas muitas vezes a realidade observada como auxiliar de turma era outra: professores e alunos
exaustos, uma aprendizagem pouco significativa, quadro cheio, muitas páginas e respostas
copiadas em um livro, cobranças excessivas e muita dificuldade presente.
Muitos pensadores da educação afirmam que o período de alfabetização é difícil,
como afirma Magda Soares (2020) ao considerar a escrita alfabética como um sistema abstrato
e arbitrário de relacionar os sons da língua com os grafemas, e por isso difícil, que necessita ser
compreendido não em um momento preciso, mas ao longo do seu desenvolvimento cognitivo
e linguístico. Ser alfabetizado se tornou um trauma para muitas crianças, pois ainda sem
dominar a leitura e escrita elas já têm que saber abrir um livro tão grande na página correta,
responder todas as linhas com a letra perfeita, copiar mesmo sem saber o que está escrevendo
e outras coisas mais que travam a aprendizagem e criam déficits cognitivos reais que bloqueiam
o aluno para o resto da vida escolar.
Dessa forma, me interessei por desenvolver um novo olhar para o processo de
alfabetização, não por achar que o método fônico (o utilizado pela escola) fosse ineficiente, mas
por perceber que os educandos precisavam de mais, de ir além de um método, precisavam de
mais do que cartilhas de alfabetização, do que letras penduradas pela sala e saber o nome de
todas elas, de mais do que saber copiar de um quadro, realizar um ditado ou acertar questões na
avaliação; percebi que eles precisavam de uma alfabetização menos mecânica e mais fluida,
mais significativa e, principalmente, mais marcante, que realmente ficasse gravada na memória,
que perdurasse por toda a vida.
Eu percebia de forma empírica através de atividades ocasionais na Educação
Infantil e no 1° ano do Fundamental que a utilização da música facilitava a memorização e
fixação dos conteúdos. Experienciei isso também na minha prática como aluna diversas vezes,
até me interessando por ler os benefícios da música para a aprendizagem escolar; mas foi só em
um projeto desenvolvido pelo Instituto Federal Fluminense em uma escola Estadual de Campos
dos Goytacazes em 2019 que comprovei a defasagem que uma alfabetização mal construída
deixa na vida dos alunos. O projeto era voltado para um trabalho interdisciplinar entre Música
e Língua Portuguesa, visando a ampliação das capacidades de leitura e escrita de alunos do 6°
e 7° ano do Fundamental II, que já deveriam estar alfabetizados, através dos conteúdos musicais
e cultura brasileira como o folclore.
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A realidade dessa escola estadual era a mesma de muitas outras pelo Brasil, alunos
que já passaram pela alfabetização, mas que seguem ineficientes em leitura e escrita e conceitos
básicos matemáticos, como afirma os dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF):
5. ESTUDO DE CASO
O objetivo desse capítulo é trazer uma descrição das experiências vividas durante a
realização da pesquisa qualitativa que gerou dados através de atividades práticas, observação e
diálogo. Dessa forma, o estudo de caso foi o meio usado para a abordagem qualitativa, uma vez
que com pouco tempo disponível para o trabalho de campo, esta forma de pesquisa interessou
mais ao nosso processo voltado para as experiências em sala de aula.
Durante a minha atuação em sala de aula, pude direcionar as atividades para o
objetivo da pesquisa, resultando em uma prática exploratória da música como um meio
facilitador para o processo de alfabetização e letramento. Foram realizadas atividades que
contemplaram rimas, paródias, ritmo, métrica, vivência e percussão corporal, parlendas e
cirandas.
Trabalhei com dez planejamentos diferentes com as crianças nos três primeiros
meses letivos de 2022, voltados todos para a dinâmica dialógica entre música e alfabetização.
Todos os dez planos de aula referidos e as imagens dessas vivências estão presentes no Anexo
1 deste trabalho.
Como ferramenta de análise optamos por subdividir estas dez atividades em três
categorias, a saber: atividades de rima, atividades de ritmo e atividades que mesclam ritmo e
rima.
5. 1 Atividades de Rima
Se a música é uma forma de discurso, então é análoga também, embora não idêntica,
à linguagem. A aquisição da linguagem parece envolver muitos anos e,
principalmente, vivência auditiva e oral com outros languagers²¹. Temos de olhar para
o equivalente, para o engajamento com outros musicers²², muito antes de qualquer
texto escrito ou outras análises daquilo que já se sabe intuitivamente. [...] Em qualquer
evento (novamente de forma análoga à linguagem), a sequência de procedimentos
mais efetiva é: ouvir, articular, depois ler e escrever. (SWANWICK, 2003, p. 68-69).
5. 2 Atividades de Ritmo
CONCLUSÃO
Durante o estudo de caso notei traços de evolução em alguns alunos e turmas, como
por exemplo: pronúncia correta das palavras das músicas, apesar de dificuldades aparentes na
fala; expressão, improviso e interação, apesar de timidez excessiva no dia a dia; concentração
nas aulas de música por parte de alunos que são considerados agitados e desatentos; facilidade
na marcação da divisão silábica e acentuação, principalmente das palavras presentes em
parlendas; melhoria no acompanhamento rítmico paralelo ao canto e a compreensão do conceito
de rima, percebendo-as em diversas situações.
Além das minhas próprias observações, pude coletar dados de duas professoras já
experientes e atuantes de longa data no processo de alfabetização através da seguinte enquete:
Pergunta 1- Depois de anos atuando na alfabetização tem alguma coisa que você
mudaria/faria diferente em relação a esse processo?
Professora A: Sim. Mudaria a preocupação com quantidade de conteúdo pela
qualidade, com mais ludicidade e no tempo de cada um no processo.
Professora B: Sim. Com relação a Educação Infantil, acredito que as crianças
deveriam sim ser instigadas e estimuladas ao processo de alfabetização nesse período, porém
acho crueldade querer “cobrar” que uma criança nessa faixa etária tenha obrigação de ler e
escrever- realidade muito presente nas escolas particulares que antecipam forçadamente esse
processo.
Pergunta 2- Quais são as maiores dificuldades das crianças nessa fase?
Professora A: Entender o mecanismo de leitura e a dinâmica da escrita,
principalmente se o caminho desde a Educação Infantil não for de qualidade.
Pergunta 3- Você consegue notar, ou pelo menos acredita, que a música
(principalmente na vivência de ritmos, rimas, parlendas e cirandas) contribui para o
desenvolvimento das capacidades de leitura e escrita?
Professora A: Total. É no que acredito. É nesse momento de encantamento que a
magia acontece.
Professora B: A música é fundamental no processo do desenvolvimento infantil,
contribuindo através da ludicidade permite que os alunos aprendam de forma divertida.
Através das atividades práticas intencionais, pesquisas e observações, defendo a
ideia de que o objetivo central desse trabalho foi alcançado, uma vez que esse era desenvolver
uma reflexão e, se possível constatar, a contribuição da música para o processo de alfabetização
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e letramento com base na sua relação com a linguagem. Portanto, considerando o relato das
professoras, o percurso das aulas e toda a teoria pesquisada, conclui-se que a música, por meio
de seus próprios conteúdos, a curto prazo contribuiu significativamente, e a longo prazo pode
ser um meio inovador para o desenvolvimento das capacidades de leitura e escrita.
Em um contexto interdisciplinar, a Música e a Língua Portuguesa podem trabalhar
juntas para a erradicação ou, em menor esfera, para a diminuição do analfabetismo presente nas
escolas. Na tentativa de conectar essas aprendizagens, eis os pontos defendidos: A música e a
linguagem, apesar de serem processadas de maneira independente no cérebro, possuem
semelhanças e relação nesse processo; A música por si só favorece o desenvolvimento de
habilidades necessárias para o processo de alfabetização e, de maneira intencional, a sua
contribuição é ainda mais significativa, desenvolvendo capacidades como compreensão,
ampliação do vocabulário, consciência fonológica e métrica das palavras.
Há, ainda, estudos que indicam correlação entre treinamento musical formal e
habilidades linguísticas, espaciais e matemáticas. Além disso, há indícios de que a boa
discriminação de altura e ritmo em música possa contribuir para boa discriminação
fonológica e para desenvolvimento precoce da leitura. (ROCHA, BOGGIO, 2013, p.
138).
O intuito do trabalho não foi criar um método ou criticar os já existentes, mas trazer
um novo olhar para o processo de alfabetização, que vem apresentando falhas contínuas em
âmbito nacional. E, segundo a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), as disciplinas devem
conversar, fazer parte de um todo, como afirma em “O importante, assim, é que os estudantes
se apropriem das especificidades de cada linguagem, sem perder a visão do todo no qual elas
estão inseridas.”, dessa forma, um trabalho interdisciplinar, além de enriquecedor, é um
objetivo da base curricular, logo, deve ser exercido para que a educação alcance o que está
previsto; e encontrar soluções para problemas educacionais reais dentro da própria educação é
um recurso de grande valor.
Sabe-se que o ser humano já tem contato com sons desde a vida intrauterina e que
a música é uma linguagem que se faz presente na vida de muitos seres humanos de forma natural
e contínua, como afirma a seguir:
Dessa forma, a experiência musical se torna muito familiar e, por muitas vezes ser
realizada em momentos de ludicidade e descontração, instiga a espontaneidade/a livre
expressão. É em meio a essa vivência que a aprendizagem ocorre de maneira prazerosa e
significativa, além de ativar a memória, contribuindo para a fixação do aprendizado. Portanto,
se o processo de alfabetização incluir a música, pode até não alcançar todos os resultados
previstos, mas certamente não será algo negativo, pois a experiência em sala e as referências
encontradas são capazes de certificar que a influência da educação musical na formação do ser
humano é positiva.
Portanto, o objetivo do educador, independente da área, é criar oportunidades para
que o educando aprenda, é dar possibilidades, trabalhar com diferentes meios; ou seja, isso vai
muito além de conteúdos sistematizados e planejamentos preenchidos, isso envolve uma práxis
livre de condicionamento e mais cheia de significado. Desse modo, a prática musical atrelada
a outras aprendizagens essenciais e voltada para a formação integral do indivíduo, abre portas
para o conhecimento e pode ser capaz de desarraigar conceitos errôneos: como reduzir a música
à ludicidade ou condicionar alunos a realidades menores do que podem alcançar.
A missão da educação deve ser incitar o aluno a criar, produzir, conhecer, expressar,
almejar, ir além; e a música cumpre e ultrapassa esses objetivos, exercendo um papel essencial
para a educação e para a vida, proporcionando uma aprendizagem que vai além de conteúdos,
que preza a experiência/vivência, atuando na formação de cidadãos mais atentos às suas
capacidades e certamente mais desenvoltos. Conclui-se então que a educação musical, por si só
e bem trabalhada, é uma ferramenta valiosa para a educação brasileira e para o desenvolvimento
cognitivo, linguístico, afetivo e motor do ser humano.
O processo educacional deve nos fazer atentos para o que acontece ao nosso redor e
nos levar ao autoconhecimento de nossas potencialidades. Para isso, a educação deve
nos instigar; esse é o passo primordial. O risco, o desconhecido, a aventura de
conhecer é imprescindível para a educação. E estamos aqui bem próximos do que o
compositor John Paynter entendeu como a contribuição mais essencial da música para
a educação [...] Como qualquer forma de expressão, a música surge como uma
resposta à vida; e como um dos veículos mais autênticos e espontâneos da expressão
humana. (RODRIGUES; CONDE; NOGUEIRA; 2013, p. 18)
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABE, Stephanie Kim. A quem importa o fracasso escolar? Cenpec. 01 de fev. de 2021.
Disponível em: https://cenpec.org.br/noticias/a-quem-importa-o-fracasso-
escolar#:~:text=A%20reprova%C3%A7%C3%A3o%20gera%20duas%20consequ%C3%AA
ncias,%C3%A9%20a%20defasagem%20idade-s%C3%A9rie. Acesso em 18 de jan. de 2022.
FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre a alfabetização. São Paulo: Cortez, 26 ed., 2011.
ROCHA, V. C.; BOGGIO, P. S. A música por uma óptica neurocientífica. Per Musi, Belo
Horizonte, n.27, p.132-140, 2013.
SOARES, Magda. Alfabetização e letramento: teorias e práticas. [S.l.]: Abralin, 2020. 1 vídeo
(2h 26min 15s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UnkEuHpxJPs. Acesso
em: 20 de abr. de 2022.
PLANO 1
Em seguida, será proposto que as crianças cantem a música realizando o ritmo com a percussão
corporal sugerida no vídeo ou outra. Por fim, deve-se cantar marcando o tempo forte, que deverá
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ser sentido e percebido através da escuta e prática e depois confirmado através da entoação
marcada da professora.
Recursos: Espaço amplo; acesso ao YouTube e caixa de som.
PLANO 2
PLANO 3
Corre Cotia
Corre Cotia
Na casa da tia
Corre cipó
Na casa da vó
Lencinho na mão
Caiu no chão
Moça bonita do meu coração.
- Posso jogar?
- Pode!
- Ninguém vai olhar?
- Não!
Ao final os alunos devem perceber as rimas presentes e vivenciar, buscando uma compreensão
do conceito de aliteração, notando a repetição do fonema C.
Recursos: Espaço amplo; ganzá ou outro instrumento percussivo fácil de manipular e
esconder.
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PLANO 4
Roda da carambola
Quem tiver raiva de mim
Eu não sei porque razão
Se for falta de carinho
Dô procê meu coração
Bate palma pra dentro
Oi vira e bate pra fora
Inda ontem eu vim de lá
Da mata da carambola (2x)
Na minha casa tem lama
Na tua tem atoleiro
Não há cravo como o branco
Nem amor como o primeiro
Lá no céu tem uma estrela
Só abre de hora em hora
Eu comparo aquela estrela
Com o amor que eu tenho agora
Vamos dar mais uma volta
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PLANO 5
Roda pião
O Pião entrou na roda, ó pião! (2x)
Roda pião, bambeia pião! (2x)
Sapateia no terreiro, ó pião! (2x)
Roda pião, bambeia pião! (2x)
Mostra a tua figura, ó pião! (2x)
Roda pião, bambeia pião! (2x)
Faça uma cortesia, ó pião! (2x)
Roda pião, bambeia pião! (2x)
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PLANO 6
brincadeira de roda, que consiste em cantar substituindo a parte “menina” pelo nome de uma
criança que deve se virar de costas e rodar assim até que cantem “se vira fulano da cor de
canela”; essa criança deve responder à pergunta e todos da roda repetirem a resposta. A
brincadeira deve continuar até que o nome de todos sejam falados ou até quando puderem
brincar.
Recursos: Espaço amplo, instrumentos percussivos.
PLANO 7
Escravos de Jó
Escravos de Jó
Jogavam caxangá
Tira, põe
Deixa ficar
Guerreiros com guerreiros
Fazem zigue-zigue-zá (2x)
Após esse momento, fazer um momento de pronúncia correta das palavras, ampliado o
vocabulário dos alunos, e depois um momento de percepção das rimas. Em seguida, perceber o
tempo forte da música e realizar a marcação dele enquanto canta. Por último, realizar a
brincadeira com os movimentos propostos: passar uma pedrinha ou objeto para a pessoa ao lado
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sempre no tempo forte- fazendo um “zig zag” = ir e voltar com o objeto- no momento que a
música pede, além de tirar e colocar novamente na roda.
Recursos: Espaço amplo, pedrinhas.
PLANO 8
Instituição: Colégio Bittencourt
Professora: Thaís Carvalho Pereira
Turma: 3° ano- Fundamental I
Tema: Ciranda.
Duração: 45minutos.
Objetivos:
1. Aprender a ciranda “Casa de Farinha”;
2. Experimentar diversos sons produzidos pelo corpo;
3. Aprender um acompanhamento com percussão corporal;
4. Cantar e realizar a percussão ao mesmo tempo, e em grupo.
Conteúdos: Ritmo, rima, ciranda e percussão corporal.
Metodologia: A aula iniciará com uma acolhida, seguida de uma conversa sobre percussão
corporal, experienciando diversos sons que o corpo pode produzir. Após esse momento, será
ensinado uma ciranda.
Casa de farinha
Mandei fazer uma casa de farinha
Bem maneirinha, que o vento possa levar
Oi, passa sol, oi passa chuva, oi passa o vento,
Só não passa o movimento do cirandeiro a rodar. (2x)
PLANO 9
Após aprenderem a cantar, as crianças devem sentir e depois marcar o tempo forte da música.
Em seguida, a brincadeira pode ser executada, cantando e marcando o tempo forte ao passar a
pedrinha para o lado, podendo fazer uma dinâmica de acelerar e diminuir o andamento sem
perder a marcação do tempo forte.
Recursos: Espaço amplo, pedrinha.
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PLANO 10
Instituição: Colégio Bittencourt
Professora: Thaís Carvalho Pereira
Turma: 1°, 2° e 3° ano- Fundamental I
Tema: Samba de roda.
Duração: 45minutos.
Objetivos:
1. Conhecer a história da Umbigada;
2. Aprender a música “Sai, sai, piaba” (retirada do livro: Música na Educação Infantil de
Teca Alencar de Brito, 2003);
3. Realizar a brincadeira de roda;
4. Cantar e tocar o ritmo da música com instrumentos percussivos.
Conteúdos: Ritmo, ciranda e improviso.
Metodologia: A aula iniciará com uma acolhida, seguida da apresentação da música que será
ensinada. Após a escuta, deve-se explicar a origem e história da palavra umbigada. Em seguida
as crianças devem aprender a canção.
ANEXO 2- IMAGENS
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