Pratica 1 A
Pratica 1 A
Pratica 1 A
os Aparelhos de Medida
1 Objetivo
Aprender os padrões de medidas, as medidas físicas e as respectivas incertezas inerentes aos processos científi-
cos. Reconhecer os algarismos significativos de uma medida física, aprender os processos de arredondamento
e operacionalização de algarismos significativos. Familiarização com aparelhos, ou instrumentos de medidas,
utilizados no Laboratório de Física.
Para uma melhor compreensão dos resultados desta experiência, é importante que o estudante faça uma
leitura das duas primeiras partes do texto "Análise de dados para Laboratório de Física", disponível na
página do Departamento de Física. Neste texto, o estudante se familiarizará com os conceitos fundamentais de
medidas e erros, comumente utilizados na apresentação de dados experimentais no laboratório de física. Como
exemplo desses conceitos, pode-se destacar: medidas físicas, grandezas físicas, padrões de medida, algarismos
significativos, regras de arredondamento, erros, incertezas, precisão, exatidão, amostra, população, valor
médio, desvio médio, variância, desvio padrão, desvio padrão da média e incertezas combinada e expandida.
Evite fazer a experiência sem antes fazer essa leitura.
2 Introdução teórica
A Física é uma ciência cujo objeto de estudo é a Natureza. Assim, ocupa-se das ações fundamentais entre
os constituintes elementares da matéria, ou seja, entre os átomos e seus componentes. Particularmente na
Mecânica, estuda-se o movimento e suas possíveis causas e origens. Ao estudar um dado fenômeno físico
procura-se entender como certas propriedades ou grandezas associadas aos corpos participam desse fenô-
meno. O procedimento adotado nesse estudo é chamado de método científico, e é basicamente composto de 3
etapas: observação, raciocínio (abstração) e experimentação. A primeira etapa é a observação do fenômeno
a ser compreendido. Realizam-se experiências para poder repetir a observação e isolar, se necessário, o fenô-
meno de interesse. Na etapa de abstração, propõe-se um modelo, ou hipótese, com o propósito de explicar
e descrever o fenômeno. Finalmente, esta hipótese sugere novas experiências cujos resultados irão, ou não,
confirmar a hipótese feita. Se ela se mostra adequada para explicar um grande número de fatos, constitui-se
no que se chama de uma lei física. Estas leis são quantitativas, ou seja, devem ser expressas por funções
matemáticas. Assim, para se estabelecer uma lei física está implícito que se deve avaliar quantitativamente
uma ou mais grandezas físicas, e portanto realizar medidas. É importante observar que praticamente todas
as teorias físicas conhecidas representam aproximações aplicáveis num certo domínio da experiência. Assim,
por exemplo, as leis da mecânica clássica são aplicáveis aos movimentos usuais de objetos macroscópicos,
mas deixam de valer em determinadas situações. Por exemplo, quando as velocidades são comparáveis com
a da luz, deve-se levar em conta efeitos relativísticos. Já para objetos em escala atômica, é necessário
empregar a mecânica quântica. Entretanto, o surgimento de uma nova teoria não inutiliza as teorias prece-
dentes. Desde que se esteja em seu domínio de validade, pode-se continuar utilizando a mecânica newtoniana.
O objetivo do curso de Laboratório de Física I é a familiarização com o método científico e a sua utilização na
descrição dos fenômenos mecânicos. Em particular, nesse experimento procura-se estudar as grandezas físi-
cas, bem como os procedimentos e instrumentos, ou aparelhos, necessários para a realização de suas medidas.
1
Grandeza Aparelho Precisão
régua milimetrada 1 mm
Comprimento
paquímetro 0, 1 a 0, 01 mm
Massa balança tri-escala 0, 01 g
Tempo cronômetro 0, 01 s
A precisão de um aparelho de medida corresponde à quantidade mínima da grandeza física que ele é capaz
de diferenciar. Por exemplo, numa régua milimetrada, a precisão é de 1 mm. O cálculo da incerteza
aleatória ou estatística, denominada de incerteza de Tipo A, utilizando, por exemplo, o conceito de
desvio padrão da média σm , depende do número de medidas e das operações envolvidas na obtenção de
uma grandeza física x. O cálculo da incerteza intrínseca do aparelho σap , denominada de incerteza de
Tipo B, depende do aparelho utilizado e existem diversos critérios para determiná-los. O resultado final
da incerteza deve ser apresentado na forma de uma combinação de incertezas de Tipo A e de Tipo B
denominada de incerteza combinada. Todos esses tipos de incerteza foram extensamente discutido no
texto "Análise de dados para Laboratório de Física". Nesse sentido, é oportuno classificar o aparelho,
de acordo com sua escala, em analógicos e não analógicos. O aparelho não analógicos pode ser com
escala auxiliar ou digital.
Obviamente, no caso das réguas centimetrada e decimetrada, as incertezas de escalas são 0, 5 cm e 0, 5 dm,
respectivamente. Para entender a origem deste critério, considere por exemplo, a medida do comprimento
do lápis com uma régua milimetrada mostrada na Fig. 1. Com o olho bem treinado ou com o auxílio
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de uma lupa, e se os traços de marcação dos milímetros inteiros da régua forem suficientemente estreitos,
pode-se avaliar até décimos de milímetro. Contudo, este procedimento pode não ser válido. Se uma régua
é graduada em milímetros é porque o material com que é feita pode resultar em variações do comprimento
total comparáveis com a sua menor divisão ou, então, o próprio processo de fabricação pode não ser seguro,
dando variações comparáveis com a menor divisão. Nestes casos, supor a régua exata e avaliar décimos de
milímetro não é garantia de uma boa medida. Por outro lado, arredondando até o milímetro inteiro mais
próximo pode implicar em perda de informação. Assim, avaliar a incerteza em metade da precisão é um meio
termo aceitável. É importante observar que esta incerteza corresponde na verdade a incerteza máxima que
pode ser obtida com a régua milimetrada. O comprimento do lápis na Fig.1 é de 64, 5 mm, sendo que os
algarismos 6 e 4 são exatos e o 5 é o algarismo duvidoso, ou estimado. Portanto, o resultado final da medida
deve ser l = (64, 5 ± 0, 5) mm.
Exemplo 1. Fizeram-se quatro medidas de massa de um objeto, com a balança tri-escala. Os resultados
foram os seguintes: 3, 002 g; 3, 015 g; 2, 915 g e 2, 998 g. Como deve ser expresso o valor da massa deste
objeto? A primeira etapa consiste no cálculo do valor médio hmi da massa m, cujo resultado é
4
X mi 3, 002 g + 3, 015 g + 2, 915 g + 2, 998 g
hmi = = = 2, 982 g
4 4
i=1
Na segunda etapa, deve-se calcular a incerteza aleatória utilizando, por exemplo, o conceito de desvio
padrão da média σm , definido no texto"Análise de dados para Laboratório de Física" como
3
Tabela de Cálculo para σm
i mi (g) m2i (g 2 )
1 3, 002 9, 012
2 3, 015 9, 090
3 2, 915 8, 497
4 2, 998 8, 988
P P 2
Totais mi = 11, 930 mi = 35, 587
v
u n
uX
u (xi − hxi)2 v
u n n
!2
1 1
u uX
t i=1 X
σm = =p t x2i − xi (1)
n (n − 1) n(n − 1) i=1 n
i=1
Na Tab.2 são mostrados os dados do experimento, bem como os somatórios necessários para o cálculo do
desvio padrão da média σm . Assim, de acordo com a Tab.2, o valor do desvio padrão da média será
v !2 s
u 4 4
1 uX
2 1 X 1 1 1
σm = p t mi − mi = 35, 587 − 11, 9302
4(4 − 1) i=1 4 2 3 4
i=1
r
1 1
= (35, 587 − 35, 581) = 0, 022 g
2 3
Sendo a incerteza intrínseca da balança σap = 0, 005 g a incerteza combinada δm, de acordo com o texto
"Análise de dados para Laboratório de Física", será
q p
δm = σap 2 + σ2 = 0, 0052 + 0, 0222 = 0, 023 g
m
Aqui cabe uma observação importante: Nas nossas medidas a incerteza combinada será sempre expressa com
apenas 1 algarismo significativo. Portanto deve-se arredondar a incerteza total obtida para 0, 02 g. Tem-se
até o momento um valor médio hmi = 2, 982 g e uma incerteza δm = 0, 02 g para o valor da massa do
objeto. Contudo, esta não é ainda a resposta final. Deve-se observar que a incerteza total está na segunda
casa decimal, indicando que a incerteza da medida encontra-se nessa casa. Como a incerteza possui duas
casas decimais e o valor médio da massa apresenta três casas decimais, isso significa que o valor médio da
massa deve ser arredondado também para duas casas decimais. Portanto, a resposta final será
O Nônio é constituído de uma pequena escala com N divisões igualmente espaçadas, que se move ao longo
da escala principal. As divisões do Nônio possuem dimensões diferentes daquelas da escala principal porém
relacionam-se entre si de uma maneira simples. Por exemplo, o paquímetro mostrado na Fig.3, possui um
Nônio com N = 20 divisões que correspondem a 39 divisões da escala principal.
4
Fig. 3: Fotografia que mostra as partes de um paquímetro comum.
Fig. 4: Fotografia que mostra detalhes do nônio ou Vernier e um exemplo de medida com um um paquímetro
comum.
1 1
Cada divisão do Nônio é = mais curta que uma divisão da escala principal. Esse paquímetro possui
N 20
1
uma precisão de = 0, 05 mm, ou seja, cinco centésimos de milímetro. A incerteza de escala dos aparelhos
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não analógicos corresponde à precisão do mesmo, isto é,
σap = precisão
A Fig.4 mostra a medida do diâmetro de uma moeda de cinquenta centavos. Observa-se que o "zero"do Ver-
nier se deslocou 22 mm do "zero"da escala principal. Os centésimos da medida são obtidos definindo qual a
marca do Vernier que melhor coincide com uma marca da escala principal. No caso da medida mostrada na
Fig.4, observa-se que a melhor coincidência ocorre para 0, 85 mm. Portanto, o valor correto da medida do
diâmetro da moeda é (22, 85 ± 0, 05 mm).
Para se obter boas medidas das dimensões de um objeto com o paquímetro, deve-se ficar atento as seguintes
orientações:
2. O contato dos encostos com as superfícies do objeto deve ser suave. Exageros na pressão do impulsor
pode danificar o objeto e o aparelho resultando em medidas falsas.
4. Antes de efetuar as medições, limpar as superfícies dos encostos e as faces de contato do objeto.
5. Medir o objeto a temperatura ambiente. As possíveis dilatações térmicas acarretam erros sistemáticos.
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6. Para evitar erros de paralaxe, ao se fazer a leitura, orientar a visão na direção dos traços e perpendicular
a linha longitudinal do aparelho.
σap = precisão
Alguns exemplos de aparelhos digitais são o cronômetro digital, termômetro digital, multímetro digital,
paquímetro digital, etc.
Para este cronômetro digital, o último dígito de precisão encontra-se na casa dos centésimo de segundo.
Assim, a incerteza de escala deste aparelho corresponde à menor medida que o mesmo pode fazer, isto é,
σap = 0, 01 s. Então, como um minuto é igual a sessenta segundos, a leitura com display indicado na Fig.5
significa (66, 18 ± 0, 01) s.
No exemplo da Fig.6, a medida indicada no paquímetro é (12, 21 ± 0, 01 mm). Com os paquímetros digitais é
possível zerar o display em qualquer ponto ao longo da escala principal, permitindo que se faça mais de uma
medida a partir de um único ponto de referência no objeto. Mesmo com todos esses benefícios, o paquímetro
digital, de modo algum, substitui o paquímetro convencional. O Vernier analógico de um paquímetro não
digital não tem repetibilidade e precisão para um usuário amador. Isso às vezes é importante para se fazer
um bom tratamento estatístico de uma medida experimental.
Alguns paquímetros digitais oferecem uma saída serial de dados para serem conectados a um computador
pessoal. A interface digital diminui significativamente o tempo para fazer e registrar uma série de medidas,
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Fig. 6: Fotografia que mostra as partes e um exemplo de leitura de um paquímetro digital do laboratório.
e também melhora a confiabilidade dos registros. Um dispositivo adequado para converter a saída de dados
serial para interfaces de computador comum ou sem fio pode ser construído ou adquirido. Com tal conversor,
as medições podem ser inseridas numa planilha, num programa de controle estatístico, ou software similar.
3 Material Necessário
Tarugo de madeira, Régua decimetrada de 5 dm, régua centimetrada de 50 cm, régua milimetrada de
500 mm, paquímetro, paquímetro digital.
4 Procedimento experimental
Cada estudante deve verificar e anotar na Tab.3 a precisão e a incerteza intrínseca de escala dos aparelhos
usados nesta e nas próximas experiências.
2. Adotando a incerteza da medida como sendo a incerteza intrínseca de escala do aparelho de medida
σap , apresente a medida do comprimento do tarugo na forma hli ± σap para a régua milimetrada.
4. Discuta os resultados da medida do comprimento l do tarugo de madeira obtidos com os dois aparelhos.
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5. Utilizando o paquímetro não digital, meça e anote no caderno de laboratório, o diâmetro d do tarugo
de madeira. Nessa anotação, deve-se levar em conta o número de algarismos significativos da medida.
6. Adotando a incerteza da medida como sendo a incerteza intrínseca de escala do aparelho de medida
σap , apresente a medida do diâmetro do tarugo na forma hdi ± σap para o paquímetro.
8. Discuta os resultados da medida do diâmetro d do tarugo de madeira obtidos com os dois aparelhos.
9. Utilizando a balança disponível na sua bancada, meça e anote no caderno de laboratório, a massa m do
tarugo de madeira, identificando o tipo de balança: Tri-escala ou com Vernier . Nessa anotação,
deve-se levar em conta o número de algarismos significativos da medida.
10. Adotando a incerteza da medida como sendo a incerteza intrínseca de escala do aparelho de medida
σap , apresente a medida da massa do tarugo na forma hmi ± σap para a balança tri-escala.