Alisantes Químicos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA

LUIS GUSTAVO MEDEIROS DE SOUZA

MUDANÇA NA CURVATURA DA FIBRA CAPILAR: UMA REVISÃO SOBRE OS


PRINCIPAIS ALISANTES QUÍMICOS UTILIZADOS NA ÁREA COSMÉTICA

NATAL/RN
2022
LUIS GUSTAVO MEDEIROS DE SOUZA

MUDANÇA NA CURVATURA DA FIBRA CAPILAR: UMA REVISÃO SOBRE OS


PRINCIPAIS ALISANTES QUÍMICOS UTILIZADOS NA ÁREA COSMÉTICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação em Farmácia, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Farmácia.

Orientadora: Profª. Drª. Elissa Arantes Ostrosky

NATAL/RN
2022
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS

Souza, Luis Gustavo Medeiros de.


Mudança na curvatura da fibra capilar: uma revisão sobre os
principais alisantes químicos utilizados na área cosmética / Luis
Gustavo Medeiros de Souza. - 2022.
45f.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (graduação) - Universidade


Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde,
Departamento de Farmácia. Natal, RN, 2022.
Orientadora: Elissa Arantes Ostrosky.

1. Cabelo - TCC. 2. Alisantes químicos - TCC. 3. Alisamento


capilar - TCC. I. Ostrosky, Elissa Arantes. II. Título.

RN/UF/BSCCS CDU 665.585

Elaborado por Adriana Alves da Silva Alves Dias - CRB-15/474

LUIS GUSTAVO MEDEIROS DE SOUZA


MUDANÇA NA CURVATURA DA FIBRA CAPILAR: UMA REVISÃO SOBRE OS
PRINCIPAIS ALISANTES QUÍMICOS UTILIZADOS NA ÁREA COSMÉTICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação em Farmácia, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Farmácia.

______________________________________
Profª. Drª. Elissa Arantes Ostrosky

______________________________________
Matheus Henrique Silva Pereira

______________________________________
Msc. Samara Vitória Ferreira de Araújo
AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus, por ter me sustentado até aqui e por ter me ajudado a
vencer todas as dificuldades ao longo da minha formação acadêmica.
À minha família, principalmente à minha mãe, por todo apoio, paciência e
compreensão.
Aos meus amigos, por todo apoio, ajuda, paciência e incentivo.
A minha orientadora, Profª. Drª. Elissa Arantes Ostrosky, pela paciência,
disponibilidade e apoio durante a realização deste trabalho.
Por fim, agradeço a todos os meus professores, que tive o privilégio de ser
aluno, por todo o ensinamento repassado que levarei para a vida toda.
RESUMO
Desde a pré-história, a sociedade utilizava cosméticos para cuidar e melhorar sua
imagem. Os egípcios foram os primeiros usuários de cosméticos, a famosa Cleópatra
como exemplo, se banhava com leite de cabra para ter uma pele suave e macia.
Uma grande preocupação estética do homem é o cabelo, que apesar de não ser
primordial para sobrevivência ainda tem um enorme impacto psicológico e social. Ao
longo do tempo, os produtos de alisamento capilar tornaram-se uma necessidade
para muitos consumidores que desejam que seus cabelos cacheados, crespos ou
ondulados tornem-se lisos. E com isso, surgiram diversas formas de alisamentos que
evoluíram com o passar do tempo. Em vista disso, o objetivo do presente trabalho é
realizar uma revisão da literatura sobre os principais alisantes químicos utilizados na
área cosmética. Dessa forma, foi realizada uma ampla busca de artigos e revistas
científicas publicados no Scielo, Pubmed e Google Scholar, que estivessem em
conformidade com o tema proposto. A pesquisa abrangeu o período de 1990 a 2022.
De acordo com o levantamento bibliográfico, muitas formas de alisamento foram
lançadas no mercado de cosméticos como substâncias químicas com o intuito de
obter o efeito alisante como o alisamento alcalino. Estas substâncias agem
profundamente na fibra capilar, alterando as ligações dissulfídicas da queratina,
resultando em uma reestruturação destas ligações. Além disso, o uso de formulações
a base de formaldeído se tornou uma febre, e o primeiro país a iniciar essa prática foi
o Brasil que trouxe alto risco à saúde dos consumidores. Em seguida, surgiu a
escova progressiva a base de ácidos como ácido glioxílico, esse procedimento
conhecido no exterior como “queratina brasileira” teve um aumento em sua
popularidade por causa de sua compatibilidade com procedimentos de alisamentos
em cabelos descoloridos e outras químicas, atribuindo aspecto suave, natural e
brilhante. Entretanto, apenas os relaxantes químicos alcalinos e oxidantes são
oficialmente permitidos para o uso. Portanto, o uso de produtos alisantes deve ser
feito de modo responsável e é importante ressaltar que o uso irracional de
substâncias não autorizadas pelos órgãos sanitários pode trazer vários riscos à
saúde.

Palavras-chave: Cabelo; Alisantes químicos; Alisamento capilar; Escova


progressiva.
ABSTRACT

Since prehistoric times, society has used cosmetics to care for and improve its image.
The Egyptians were the first users of cosmetics, the famous Cleopatra as an example,
bathed in goat's milk to have smooth and soft skin. A major aesthetic concern for men
is hair, which, despite not being essential for survival, still has an enormous
psychological and social impact. Over time, hair straightening products have become
a necessity for many consumers who want their curly, frizzy or wavy hair to be
straight. And with that, several forms of straightening emerged that evolved over time.
In view of this, the objective of the present work is to carry out a literature review on
the main chemical straighteners used in the cosmetic area. In this way, a wide search
was carried out for articles and scientific journals published in Scielo, Pubmed and
Google Scholar, which were in accordance with the proposed subject. The research
covered the period from 1990 to 2022. According to the bibliographic survey, many
forms of straightening were launched in the cosmetics market as chemical
substances in order to obtain the smoothing effect such as alkaline straightening.
These substances act deeply in the capillary fiber, altering the disulfide bonds of the
keratin, resulting in a restructuring of these bonds. In addition, the use of
formaldehyde-based formulations has become a fever, and the first country to start
this practice was Brazil, which brought a high risk to the health of consumers. Then
came the progressive brush based on acids such as glyoxylic acid, this procedure
known abroad as "Brazilian keratin" had an increase in its popularity because of its
compatibility with straightening procedures on bleached hair and other chemicals,
giving it a smooth appearance, natural and bright. However, only alkaline and
oxidizing chemical relaxers are officially allowed for use. Therefore, the use of
straightening products must be done responsibly and it is important to emphasize that
the irrational use of substances not authorized by health agencies can pose several
health risks.

Keywords: Hair; chemical straighteners; hair straightening; Progressive brush.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Cabelisador………………..……………………………………………………13
Figura 2 - Pente quente…………...……….………………………………………………14
Figura 3 - Método Walker de alisamento….……………………………………………...14
Figura 4 - Principais estruturas da fibra capilar………...………………………………..19
Figura 5 - Formação de ponte dissulfeto….……………………………………………...21
Figura 6 - Classificação dos cabelos....…………………………………………………..23
Figura 7 - Creme Salon Line….…………………………………………………………...24
Figura 8 - Reação de redução das ligações dissulfídicas ……………………………..26
Figura 9 - Processo de lantionização…………………………………………………….28
Figura 10 - Aparelho Photon Blue …………..……….………………………….……….35
Figura 11 - Shampoo The First……………………………………………………………36
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO …………………………………………………………………………. 10

2. OBJETIVO ………………………………………………………………………………. 11

3. METODOLOGIA ………………………………………………………………………... 12

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA …………………………………………………………..13


4.1 HISTÓRICO …………………………………………………………………………… 13
4.2 ESTRUTURA DO CABELO ………………………………………………………... 18
4.3 LIGAÇÕES QUÍMICAS ……………………………………………………………….20
4.4 TIPOS DE CABELO …………………………………………………………………. 21
4.5 PRINCIPAIS MECANISMOS DE ALISAMENTO QUÍMICO …………………….. 25
4.5.1 COMPOSTOS TIÓLICOS (ÓXIDO-REDUÇÃO) ………………………………… 25
4.5.2 HIDRÓXIDOS (LANTIONIZAÇÃO) ………………………………………………. 27
4.5.3 AMIDAS ÁCIDAS (CARBOCISTEÍNA E ÁCIDO GLIOXÍLICO)………………... 28
4.5.4 METILAÇÃO (FORMALDEÍDO) …………………………………………………... 30
4.6 SEGURANÇA NO USO DE ALISANTES QUÍMICOS …………………………... 31
4.7 INOVAÇÕES MERCADOLÓGICAS ……………………………………………….. 34
4.7.1 ALISAMENTO FOTOIÔNICO ……………………………………………………... 34
4.7.2 SHAMPOO ALISANTE …………………………………………………………….. 36
4.7.3 ALISAMENTO ENZIMÁTICO ……………………………………………………… 37

5 DISCUSSÃO ……………………………………………………………………………..39

6 CONCLUSÃO …………………………………………………………………………… 41

7 REFERÊNCIAS ………………………………………………………………………… 42
10

1. INTRODUÇÃO

Os cabelos apresentam um papel fundamental na aparência do indivíduo, e


apesar de não possuírem função vital, são de extrema importância pelo lado social e
psicológico. Ao longo da nossa história, podemos observar a preocupação dos seres
humanos com sua aparência. E isso é refletido no mercado de beleza ao longo do
tempo que cresce constantemente devido às novas exigências de seus
consumidores.
A procura incansável pela beleza incentiva a adequada formação,
desenvolvimento e atualização dos produtos no mercado e dos profissionais do
segmento cosmético para que esses possam atender às necessidades do mercado e
às vontades de um consumidor cada vez mais exigente (LEONARDI, 2008).
Nos anos 2000 a escova progressiva era uma febre no Brasil, apresentava
resultados como alisamento satisfatório na primeira aplicação, fios maleáveis e
brilhantes. Entretanto, consumidores apresentavam queixas como dores de cabeça,
irritações e queimaduras que levaram a indústria cosmética a buscar por novas
formulações e ativos alisantes que atendesse esse público (FRANQUILINO, 2020).
Apesar de atualmente está em alta a valorização e empoderamento dos
cabelos naturais, a escova progressiva mantém sua popularidade nos salões de
beleza. São consumidores que não abrem mão do efeito liso ou controle de volume,
como também a praticidade no cuidado diário dos fios. O mercado possui uma gama
variada de novos compostos alisantes a fim de atender o mercado consumidor.
Esses produtos são lançados com as mais diversas denominações: escova de
verniz, escova inteligente, escova progressiva, escova definitiva, entre outros, todas
com propostas de transformações permanentes na estrutura do cabelo
(FRANQUILINO, 2020).
11

2. OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é apresentar uma revisão da literatura sobre os


principais alisantes químicos utilizados na área cosmética, analisando os diferentes
mecanismos de alisamento e suas regulamentações, bem como trazer as inovações
e as tendências do mercado.
12

3. METODOLOGIA

A revisão de literatura foi realizada empregando bases de dados online, livros


e revistas acadêmicas considerando um intervalo de tempo entre 1990 a 2022. Os
descritores utilizados para a busca de estudos foram: ativos alisantes, alisamento
capilar, mecanismo de ação de alisamentos químicos, em português e inglês que
estavam em conformidade com o tema proposto.
As bases de pesquisa eletrônicas acessadas foram: Scielo, Pubmed e Google
Scholar. Os critérios de seleção das bases de dados foram estudos publicados em
periódicos nacionais e internacionais. Os critérios de exclusão foram artigos que não
incluíam as palavras-chaves descritas e os artigos sem consonância com a temática
do estudo.
13

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4.1 HISTÓRICO

A preocupação do homem com sua imagem é descrita desde a época


pré-histórica. Desde o período grego e romano até os dias atuais, as mulheres
manifestam o desejo de possuírem um cabelo bonito e atraente (WILKINSON;
MOORE, 1990).
O ser humano primitivo dependia do cabelo (ou pêlos) para aquecimento e
proteção. Apesar de que o cabelo não seja mais necessário para sobrevivência,
ainda tem um enorme impacto, principalmente na autoestima (HALAL, 2012).
Dependendo do padrão estético de cada época, se buscava seguir a
tendência a todo custo. Nos anos 30, no Brasil tinha início o padrão do cabelo liso.
Nessa época, ainda não havia métodos químicos de alisamento, então o jeito era
alinhar os fios de forma mecânica com o chamado cabelisador. Um “parente” bem
distante da chapinha que era uma haste de metal levada a brasa ou ao fogão. Esse
processo trazia muitos danos, ainda mais que não havia protetores térmicos naquela
época (REVISTA CABELOS, Guia de Alisamento 2015).

Figura 1 - Cabelisador.
Fonte: https://www.paulaoantiguidades.com.br/peca.asp?ID=9837514

Logo após surge o pente quente, que foi moda até os anos 1980. Esse
processo se assemelhava ao do cabelisador: um instrumento aquecido no fogo e era
passado diretamente no cabelo. A única diferença era no formato em que era mais
14

parecido com um pente, além de ser mais eficiente no alisamento que o anterior
(REVISTA CABELOS, Guia de Alisamento 2015).

Figura 2 - Pente quente.


Fonte: https://www.lilileiloeira.com.br/peca.asp?ID=7540715

Já no início de 1900, nos Estados Unidos houve o surgimento de uma


pomada criada por Madam C. J. Walker, fabricante afro-americana de cosméticos que
revolucionou o tratamento dos cabelos “afroétnicos”. Esse tratamento tornou os
cabelos excessivamente ondulados mais macios, brilhantes e mais fáceis de
pentear. Entretanto, essa pomada não alisava totalmente os cabelos e as mulheres
com cabelos afros não podiam alcançar os estilos das mulheres caucasianas
(PICON et al., 2016).
15

Figura 3 - Método Walker de alisamento.


Fonte:https://www.metropoles.com/vida-e-estilo/beleza/produtos-assinados-por-mada
m-c-j-walker-ainda-sao-vendidos

Em 1905, Walker iniciou o uso de escova para alisamento juntamente ao


tratamento capilar que já tinha desenvolvido. A escova poderia ser aquecida no
fogão e usada com a pomada satisfazendo a necessidade das mulheres de alisar
seus cabelos “afroétnicos”. Esse método, primeiramente conhecido como método
Walker, foi mais tarde denominado de “hairpressing” e posteriormente esse
tratamento térmico passou a ser utilizado com piastra que é popularmente
denominado chapinha (PICON et al., 2016).
Em seguida, não demorou muito para o surgimento de empresas
especializadas em produtos para o consumidor afro-americano. Em 1957 uma
grande empresa da época, Submmit Labs, começou a comercializar os primeiros
alisantes a base de hidróxido de sódio. Sua formulação continha hidróxido de sódio
como princípio ativo, água, vaselina, óleo mineral e emulsificantes, uma formulação
simples, porém eficaz (OBUKOWHO, 2012).
O hidróxido de sódio foi o método químico para relaxamento dos cabelos que
substituiu a aplicação do método de alisamento temporário Walker. O uso
consecutivo de alisante alcalino diminui a resistência dos cabelos, tornando- os
frágeis. Além disso, apresentava irritação ao couro cabeludo, dificuldade para
enxágue e problemas com estabilidade da fórmula (PICON et al., 2016).
Ao longo do tempo, as formulações contendo hidróxido de sódio foram
evoluindo e foram obtidas formulações com um melhor sensorial e estabilidade
química. Em 1978 surgiram novos modelos alcalinos com a presença do hidróxido
de guanidina, uma alternativa que mostrava ter menor potencial de irritação em
relação ao hidróxido de sódio (PICON et al., 2016).
A partir de 2003, o uso de formulações a base de formaldeído se tornou uma
febre, e o primeiro país a iniciar essa prática foi o Brasil, mais precisamente a cidade
do Rio de Janeiro. As formulações eram compostas por uma emulsão com agentes
condicionadores, peptídeos e proteínas, aditivados com solução de formaldeído a
37% que eram adquiridas em farmácias (PICON et al., 2016).
16

A utilização do formol elevou na época a popularidade desses procedimentos


alisantes devido aos ótimos resultados na primeira aplicação com fios maleáveis e
brilhantes, mas que no entanto traziam alto risco a saúde causando dores de cabeça,
irritação aos olhos, queimaduras no couro cabeludo, dificuldade para respirar dentre
outros (PICON et al., 2016).
Devido aos problemas que foram apresentados aos consumidores, muitos
produtos que foram lançados no mercado utilizando o formol como ativo de
alisamento foram proibidos nos EUA pela FDA (Food and Drug Administration) em
2009. No Brasil, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) seguiu a FDA
e proibiu qualquer produto contendo formol com concentração acima de 0,2%
(OBUKOWHO, 2012).

De acordo com a resolução n° 36, de 17 de junho de 2009 os artigos


seguintes dispõem sobre a proibição do comércio do formol ou de formaldeído
(solução a 37%) em drogaria, farmácia, supermercado, armazém e empório, loja de
conveniência e drugstore como também dispõe sobre os riscos causados à saúde da
população nessa concentração.

Art. 1° Fica proibida a exposição, a venda e a entrega ao consumo de


formol ou de formaldeído (solução a 37%) em drogaria, farmácia,
supermercado, armazém e empório, loja de conveniência e drugstore.
Art. 2º A adição de formol ou de formaldeído a produto cosmético
acabado em salões de beleza ou qualquer outro estabelecimento acarreta
riscos à saúde da população, contraria o disposto na regulamentação de
produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes e configura infração
sanitária nos termos da Lei Nº 6.437, de 20 de agosto de 1977, sem prejuízo
das responsabilidades civil, administrativa e penal cabíveis. (Resolução n° 36
da ANVISA,2009)

Em seguida, surgiu nos salões do Brasil um procedimento denominado como


escova progressiva de queratina entre outros nomes com apelos diversificados como
escova inteligente, de verniz, chocolate… como uma alternativa para substituição do
formol com produtos à base de carbocisteína e ácido glioxílico. Além disso, sua
17

popularidade aumentou por causa da compatibilidade do procedimento de


alisamento com cabelos descoloridos e em cabelos com outras características,
atribuindo aspecto suave, natural e brilhante (FRANQUILINO, 2020).
Atualmente, apenas os relaxantes químicos (alcalinos) são oficialmente
legalizados e seguros pela vigilância de saúde para o uso como alisantes de
cabelos (PICON et al., 2016).
18

4.2 ESTRUTURA DO CABELO

Para se entender como atuam as principais substâncias ativas alisantes, é


necessário compreender a estrutura da fibra capilar, composta principalmente por
queratina, a proteína formadora da fibra capilar e as ligações que mantém os
aminoácidos e as estruturas que dão origem a uma grande variedade de tipos de
cabelos (HALAL, 2012).
Os pelos desenvolvem-se numa invaginação da epiderme denominada de
folículo piloso ou pilosebáceo, uma invaginação epitelial profunda circundada por
uma rica rede vascular e nervosa. A parte mais profunda do folículo piloso adquire
uma forma globosa, configurando o bulbo piloso, uma porção dilatada da raiz do
pelo. Além disso, as células epiteliais do bulbo piloso formam a matriz germinativa,
que futuramente, originam os pêlos. A medida que as células proliferam na matriz
germinativa, são empurradas para a superfície, tornando-se queratinizadas e
constituindo a haste do pelo, parte visível do cabelo (MAGALHÃES, 2000).
Está inserido nesta região também o músculo erector ou frenador, inserido no
terço inferior do folículo piloso e responsável pela mudança no aspecto dos pelos
causado pelo frio ou emoção (LEONARDI, 2008).
No folículo pilosebáceo também se encontram canais, chamados ductos
sebáceos, que irrigam a haste do cabelo com a oleosidade natural produzida pelas
glândulas sebáceas anexadas a cada folículo piloso. A forma do folículo piloso
determina a forma do cabelo nas diferentes raças, não tendo nenhuma relação com a
sua estrutura bioquímica. Dessa forma, o folículo piloso em forma de espiral define a
forma crespa do cabelo afro, o folículo reto define o cabelo liso em haste reta dos
orientais e o caucasiano tem o folículo piloso intermediário (PEYREFITTE, MARTINI
& CHIVOT, 1998).
Em geral, o indivíduo adulto tem cerca de cem mil folículos capilares no couro
cabeludo. Cada fio de cabelo possui três camadas principais separadas e distintas:
medula, córtex e cutícula (HALAL, 2012). As três camadas da fibra capilar podem ser
observadas na Figura 4.
19

Figura 4 - Principais estruturas da fibra capilar.


Fonte: https://anatomia-papel-e-caneta.com/sistema-tegumentar/cuticula-do-pelo/

A medula é a parte mais interna do eixo capilar e não tem uma função bem
definida. Normalmente, somente os fios mais espessos e ásperos possuem uma
medula, como os pelos da barba. É muito comum que fios finos e naturalmente loiros
não tenham medula (HALAL, 2012).
O córtex é o constituinte majoritário em massa da fibra capilar, cerca de 88%,
é responsável pelas propriedades mecânicas da fibra. Ele dá ao cabelo força,
flexibilidade, elasticidade e cor. Basicamente, o córtex é formado por queratina
cristalina inserida em uma matriz de queratina amorfa. Cada célula cortical é formada
por macrofibrilas alinhadas no sentido longitudinal do fio, que, por sua vez, são
compostas por microfibrilas unidas pela matriz intercelular e formadas por queratina
amorfa com um grande número de reticulações por pontes de enxofre. A matriz é
amorfa e rica em cistina (21%) e mantém os filamentos unidos por pontes de
dissulfeto (PINHEIRO et al., 2022).
A elasticidade dos cabelos é resultado da estrutura proteica única dentro do
córtex. Penteados molhados ou térmicos, permanentes e relaxamentos químicos não
seriam possíveis sem ela. (HALAL, 2012)
A cutícula protege e cerca o córtex por uma camada simples de células
sobrepostas transparentes tipo escamas, que se mantém coesas, unidas pelo
cimento intercelular, em condições normais. Ela também age como uma barreira para
20

produtos químicos como coloração para cabelos, loções relaxantes e permanentes.


Em pH alcalino e temperatura alta podem dilatar a cutícula e deixar que produtos
químicos penetrem no córtex (HALAL, 2012).
A associação da medula, córtex e cutícula forma afibra de cabelo, entretanto é
a quantidade de subfibrilasque dá ao cabelo suas propriedades físicas. Além disso, o
cabelo é formado por aproximadamente 91% de proteína que é composta de longas
cadeias de aminoácidos conectadas de ponta a ponta como um colar de pérolas
(HALAL, 2012).
O cabelo é formado basicamente por queratina, uma proteína constituída pelo
encadeamento de um número muito grande de aminoácidos, unidos por ligações
peptídicas que são ligações covalentes, portanto fortes e difíceis de romper. Entre os
20 aminoácidos existentes na natureza, 18 estão presentes na queratina. Esses
aminoácidos assumem conformação de longas fibras que ficam dispostas em
paralelo e enroladas em torno uma das outras. Logo, o cabelo é formado por cadeias
de queratina dispostas em hélice, as quais estão presas por ligações à base de
enxofre. A principal característica da queratina é a existência de alto teor de enxofre
devido a presença de cistina (LEONARDI, 2008).

4.3 LIGAÇÕES QUÍMICAS

Todas as cadeias polipeptídicas (união de vários aminoácidos) presentes na


estrutura do cabelo estão arranjadas em paralelo e são ligadas por três tipos de
ligações: ligação de cistina ou dissulfeto, ligação salina e ligação de hidrogênio
(VILLA et al, 2008).
Na estrutura dos cabelos, a ligação de hidrogênio acontece quando um
átomo de hidrogênio da porção ácida de um aminoácido se fixa em um átomo de
oxigênio na porção ácida de outro aminoácido. As ligações de hidrogênio são
facilmente rompidas pela água ou calor, e é responsável pelo efeito molhado e
penteados térmicos. Apesar dessas ligações individuais serem fracas, existem
muitas delas no cabelo e representam um terço da força total do cabelo (HALAL,
2012).
Já as ligações iônicas, acontecem quando uma carga negativa de um
aminoácido se fixa a uma carga positiva de um outro aminoácido. Essas ligações
21

dependem do pH e são facilmente quebradas por soluções alcalinas ou ácidas


fortes. Embora essas ligações individuais sejam também fracas, há muitas delas no
cabelo que apresentam um terço da força total do cabelo (HALAL, 2012).
A ligação de dissulfeto é uma ligação química forte, ligação covalente e
diferente das demais ligações já citadas. Essa ligação se une aos átomos de enxofre
de dos aminoácidos cisteínicos vizinhos para formar cistina. Elas não se rompem
com calor ou água. E mesmo que haja menos ligações dissulfídicas que as de
hidrogênio ou salinas, elas são ainda mais fortes e representam um terço da força
total do cabelo. O mecanismo de ação de relaxamentos químicos e permanentes
funcionam criando mudanças químicas e físicas nas ligações de dissulfeto do cabelo
(HALAL, 2012).

Figura 5 - Formação de ponte dissulfeto .


Fonte: Adaptado de DELFINI.

4.4 TIPOS DE CABELO

Seja lisa, ondulada, crespa ou encaracolada, a forma do cabelo apresenta


sempre uma composição química básica formada por queratina. Por outro lado, as
formas do cabelo variam enormemente e são controladas geneticamente. As
diferenças dependem, em grande parte, da secção transversal do cabelo e de como
ele cresce, devido ao seu ângulo de curvatura (FERREIRA, 2016).
Os asiáticos possuem cabelo com uma secção transversal mais espessa e
circular, os cabelos são então lisos. Já os africanos possuem uma secção transversal
22

oval achatada, formando um cabelo crespo e encaracolado. Os caucasianos


possuem uma secção transversal mais variada, porém sendo quase oval, elíptica e
achatada, apresentando formato desde leve ondulado até bastante cacheado
(FERREIRA, 2016).
Muitos estudos classificam o cabelo humano em três diferentes grupos
étnicos: cabelos africanos, asiáticos e europeus. Entretanto, há outros fatores a se
considerar para se ter uma classificação mais completa. Há uma complexidade
biológica humana derivada da diferenciação populacional e da miscigenação étnica
que contribuiu para a grande variedade de cabelos (METTRIE, et al; 2007).
Ao se aprofundar nessa diversidade capilar, há algumas denominações como:
cabelos lisos disciplinados, ondulados, volumosos, cacheados, muito cacheados e
crespos (METTRIE, et al; 2007).
Tendo o propósito de estabelecer uma classificação mais concreta para os
diferentes tipos de cabelo que levam em consideração a biodiversidade humana, De
La Mettrie e seus colaboradores realizaram um grande estudo em 2007. Foram
analisadas 1442 mechas coletadas de voluntários (72% mulheres e 28% homens)
que não utilizaram nenhum tipo de relaxamento ou coloração no cabelo em um
período de 9 meses em grandes cidades de 18 diferentes países. Os parâmetros de
medida avaliados foram o diâmetro de curvatura da fibra, o índice de curvatura (razão
entre a menor e a maior curvatura em uma mecha esticada), o número de torções e
de ondulações (METTRIE, et al; 2007).
De acordo com o estudo, foi possível classificar o cabelo humano após fazer
uma análise e um estudo estatístico, em 8 diferentes tipos de cabelo, uma
classificação mais precisa que engloba a enorme gama da variabilidade de tipos e
formas de cabelos no mundo conforme apresentado na figura 6 (METTRIE, et al;
2007).
O Brasil, por ser um país com uma população bastante miscigenada, possui
todos estes 8 tipos de cabelo em toda sua extensão. Possui a maior biodiversidade
capilar encontrada no mundo tornando-o um terreno fértil para a pesquisa de novos
ativos alisantes capilares (METTRIE, et al; 2007).
23

Figura 6 - Classificação dos cabelos em 8 diferentes tipos de acordo com a


biodiversidade humana.
Fonte: (METTRIE, et al; 2007)

Muitas empresas do ramo como a L’Oréal utilizam este estudo como guia a fim
de direcionar seus produtos a um tipo de cabelo. Outras empresas refinaram estas
classificações adicionando classificações intermediárias entre estes 8 tipos de
cabelo. No mercado de cosméticos, encontram-se produtos em que o rótulo está
especificado o tipo de cabelo ao qual ele se destina, como por exemplo a empresa
Salon Line, que usa as letras a, b e c como também a numeração do 1 ao 4 para
classificar o tipo de cabelo (METTRIE, et al; 2007).
24

Figura 7 - Creme Salon Line com a indicação do cabelo que


o produto se destina.
Fonte:https://www.salonline.com.br/creme-para-pentear
25

4.5 PRINCIPAIS MECANISMOS DE ALISAMENTO QUÍMICO

Para se entender como funcionam os principais mecanismos de alisamento


químico, é necessário compreender sua definição e saber quais são os requisitos
para sua regularização.
O alisamento químico é um procedimento definitivo que o cabelo é alisado
permanentemente alterando a conformação e as propriedades dos fios. Ele rompe as
pontes dissulfeto da queratina, resultando na diminuição da curvatura da fibra capilar
de forma duradoura (DIAS et al, 2007).
De forma simplificada, pode-se dizer que os alisantes têm o objetivo de
romper as ligações dissulfetos, amolecendo os cabelos de modo a dar o formato
desejado (BEDIN, 2008).
A resolução n° 409, de 27 de julho de 2020 dispõe sobre os procedimentos e
requisitos necessários para a regularização de produtos cosméticos para alisar ou
ondular os cabelos.

Art. 1º Esta Resolução dispõe sobre procedimentos e requisitos para a


regularização de produtos cosméticos para alisar ou ondular os cabelos.
Parágrafo único. Os produtos para alisar ou ondular os cabelos de que
trata esta Resolução são aqueles que modificam a estrutura química capilar
para alisar, reduzir o volume ou ondular os cabelos com duração do efeito após
enxágue (Resolução n° 409, 2020).

4.5.1 COMPOSTOS TIÓLICOS (ÓXIDO-REDUÇÃO)

Os alisantes compostos à base de tióis são os mais utilizados no Brasil e o


princípio do seu mecanismo de ação é alcalino. Em sua formulação, há a associação
do ácido tioglicólico (composto tiólico) com um agente alcalinizante gerando o ativo
tioglicolato de amônio ou outro de acordo seu agente alcalinizante (FRANQUILINO,
2013).
O ácido tioglicólico e seus derivados foram utilizados por muito tempo para
proporcionar ondulação permanente aos cabelos e posteriormente passaram a ser
utilizados em produtos alisantes (BOLDUC & SHAPIRO, 2001).
26

Seu mecanismo de ação consiste no rompimento das ligações dissulfeto


quando o agente redutor, ácido tioglicólico, fornece ÍONS H+ quebrando as pontes
de enxofre (DIAS et al, 2007).

Figura 8 - Reação de redução das ligações dissulfídicas .


FONTE: Adaptado de OBUKOWHO

Para que esse processo ocorra é necessário deixar o composto sobre o


cabelo durante o tempo determinado pelo fabricante, que varia entre 20 a 35 minutos,
dependendo da sensibilidade do tipo de cabelo.
A fibra é modelada com auxílio de uma prancha aquecida, em seguida é
aplicado o agente oxidante, como o peróxido de hidrogênio, para que sejam
restabelecidas as novas ligações em uma nova conformação. Vale enfatizar que
esse mecanismo é mais brando comparado aos demais mecanismos alisantes por
seu pH ser considerado intermediário entre 8,5 a 9,5 (FRANQUILINO, 2013).

“O grau de quebra das ligações dissulfídicas da queratina depende da


concentração do agente redutor e da tensão aplicada aos cabelos. Entretanto,
independente das condições, pode-se romper cerca de 65-70% das ligações
dissulfídicas (...)” (DELFINI, 2011).
27

Os alisantes com agente alcalinizante tioglicolato de amônio, possui uma


ação mais branda e lenta sendo utilizado em cabelos ondulados, descoloridos e
tingidos. Além dele, há outros agentes alcalinos como o tioglicolato de trietanolamina
que também apresenta ação branda e lenta sem cheiro de amônio, sendo uma
alternativa para os consumidores que relatam o odor forte. Há também os alisantes
com o monotioglicolato de glicerol, eles possuem uma ação mais branda e lenta,
sendo indicado para cabelos extremamente porosos e danificados (FRANQUILINO,
2013).

4.5.2 HIDRÓXIDOS (LANTIONIZAÇÃO)

Os alisantes contendo os hidróxidos em sua formulação atuam pelo


mecanismo de ação baseado na lantionização e seu pH é extremamente alcalino. A
classe dos hidróxidos é composta pelo hidróxido de sódio, hidróxido de potássio,
hidróxido de lítio, hidróxido de magnésio, hidróxido de guanidina. Basicamente todos
eles reagem da mesma maneira sendo que o hidróxido de sódio e o de lítio são os
mais agressivos. Além disso, a ação do hidróxido de lítio, por ser menos solúvel em
água, é mais lenta (DELFINI, 2011).
O pH varia de 11,5 á 13,5 trazendo uma dilatação da estrutura capilar. O fio
torna-se maleável ao alisamento mecânico que deve ser aplicado sobre os fios,
através da escovação ou uso da chapinha para conferir o efeito liso ao fio de cabelo.
Após a ação do hidróxido, um produto neutralizante ácido é aplicado, geralmente na
forma de xampu. O neutralizante tem a função de restabelecer o pH para a faixa
natural dos cabelos (pH 4,5-6,0) , neutralizando os resíduos alcalinos deixados
(DIAS et al, 2007).
O mecanismo da lantionização consiste na ação dos hidróxidos, em que o íon
hidroxila rompe as ligações dissulfídicas, removendo o átomo de hidrogênio e logo
após o átomo de enxofre é expelido, formando ao final a lantionina (FRANQUILINO,
2013).
28

Figura 9 - Processo de lantionização.


FONTE: Adaptado de OBUKOWHO

A lantionina apresenta apenas um átomo de enxofre (C-S-C) diferente da


cistina, que possui a ligação dissulfídica (C-S-S-C). Nessa reação de lantionização,
há o enfraquecimento do fio, reduzindo sua resistência e aumentando sua propensão
a quebras. Devido ao pH extremamente alcalino, esse procedimento apresenta um
alisamento mais potente e é mais indicado para os cabelos afro por apresentarem
uma maior resistência (DELFINI, 2011).

4.5.3 AMIDAS ÁCIDAS (CARBOCISTEÍNA E ÁCIDO GLIOXÍLICO)

A carbocisteína associada com o ácido glioxílico vem sendo comercializada


como mais uma opção de produto alisante que também utiliza o princípio da
oxidação em seu mecanismo de ação porém com pH ácido. O processo de
alisamento do cabelo utilizando o ácido glioxílico não ocorre pela reação entre o
formaldeído liberado e o cabelo, mas ocorre a reação entre o ácido e a estrutura dos
aminoácidos através do processo de desnaturação da proteína, reação entre o
radical aldeídico com os grupamentos amínicos e as pontes de dissulfeto, que após
enxágue e associado ao calor da chapinha que pode ser de 180° a 230°C dá origem
a uma estrutura bio-polimerizada, conferindo o efeito de alisamento (PINHEIRO,
2014).
29

De acordo com a ANVISA os produtos que utilizam o ácido glioxílico com o


objetivo de alisamento/relaxamento dos cabelos ainda estão irregulares e ainda não
existe uma regulamentação para seu uso como princípio ativo. Além disso, os
fabricantes de produtos a base de ácido glioxílico, não descrevem na formulação que
este tem a finalidade de alisar ou relaxar os cabelos e sim sendo utilizado em
concentrações que variam de 10 a 20% (p/p) com a finalidade de um regulador de pH
(BRASIL, 2014; MIYAMARU, 2014).
Existem poucos relatos na literatura com relação a decomposição desses
ativos, em alguns estudos foi relatado a formação de formaldeído em quantidades
equivalentes a existente no ar (MIYAMARU, 2014). É importante reforçar que são
traços de formaldeído oriundos da decomposição do ácido glioxílico gerados durante
a aplicação do processo térmico. A liberação ocasiona concentrações abaixo dos
limites de tolerância estabelecidos pelas instituições como ACGIH (American
Conference of Governmental Industrial Hygienist) que não trazem impactos
toxicológicos relevantes, de acordo com o fabricante (FRANQUILINO, 2020).
Conforme a RDC Nº 409 de 2020, os produtos contendo ativos como a
carbocisteína associada com o ácido glioxílico ainda não estão regularizados e
inclusos na lista de substâncias permitidas em produtos cosméticos para alisar ou
ondular os cabelos. Os fabricantes possuem até 24 meses para se adequarem e
fazerem os testes exigidos para avaliação desses ativos como: corrosividade,
genotoxicidade, mutagenicidade, carcinogenicidade.

Art. 11. Os ativos "Cysteamine HCL", "Cysteine HCL", "Glyoxyloyl Hydrolyzed


Wheat Protein/Sericin", "Pyrogallol", a combinação de ativos "Glyoxyloyl
Carbocysteine + Glyoxyloyl Keratin Aminoacids" e outros ativos presentes em
produtos cosméticos destinados a alisar ou ondular os cabelos com registro vigente,
mas ainda não previstos na “Lista de ativos permitidos em produtos cosméticos para
alisar ou ondular os cabelos”, além do "Glyoxylic Acid", cuja avaliação de segurança
está em andamento, serão reavaliados pela Anvisa com base nos critérios
estabelecidos nesta Resolução .
Art. 14. Para os produtos cosméticos destinados a alisar ou ondular os cabelos já
registrados na ANVISA, será concedido o prazo de até 24 (vinte e quatro) meses para
adequação da rotulagem ao disposto nesta Resolução, contados a partir da data da
publicação do ativo presente no produto na “Lista de ativos permitidos em produtos
cosméticos para alisar ou ondular os cabelos” (Resolução n° 409, 2020).
30

Proliss 100® (INCI name: Glyoxyloyl Carbocysteine (and) Glyoxyloyl Keratin


Amino Acids (and) Water), está disponível no mercado e de acordo com o fabricante,
é uma tecnologia exclusiva e patenteada para o realinhamento térmico dos fios.
Confere brilho, maciez e movimento natural aos cabelos volumosos e rebeldes
(https://aqia.net/produtos/proliss-100)
Além disso, a utilização de outros ácidos como ácido salicílico, ácido
benzóico, ácido lático e outros podem ser utilizados também associados com a
carbocisteína. Entretanto, eles atuam de forma mais superficial com relação aos
alisamentos alcalinos, apresentando uma ação de realinhamento, controle de frizz e
relaxamento (FERREIRA, 2016).

4.5.4 METILAÇÃO (FORMALDEÍDO)

Nos anos 2000, as escovas progressivas utilizando o formol viraram febre


graças ao seu poder alisante imediato, porém traziam diversos malefícios à saúde
como irritações nos olhos, boca, nariz, dificuldade respiratória, dores de cabeça,
entre outros, que acarretou em seu proibimento no mercado (FRANQUILINO, 2020).
O mecanismo de ação também age através da oxidação, mas não se baseia
no rompimento das ligações dissulfídicas e sim utiliza as ligações dissulfeto já
rompidas. Em seguida, ocorre a formação de ligações metilênicas que com a ação
do calor o formol se funde com a queratina selando e plastificando a cutícula. Dessa
forma, impermeabilizando e deixando o fio liso, dificultando a hidratação da fibra
capilar deixando mais susceptível a quebra mecânica (FRANQUILINO, 2013).
Segundo a Resolução nº 36/2009, a ANVISA proíbe o uso do formol como
ativo de alisamento químico devido aos riscos à saúde da população. Essa
substância em produtos cosméticos somente é permitida com função de conservante,
com limite máximo de 0,2%, e como ativo endurecedor de unhas, com limite máximo
de 5% ,concentrações essas em que o formol não exerce efeito alisante (Resolução
n° 36 da ANVISA,2009).
31

4.6 SEGURANÇA NO USO DE ALISANTES QUÍMICOS

Durante o processo de alisamento pode ocorrer a irritação do couro cabeludo


que é resultante da aplicação de produtos químicos. O ato de lavar o cabelo antes do
procedimento com bases mais alcalinas como os hidróxidos, pode elevar o risco de
irritação. O couro cabeludo tem uma barreira protetora natural de sebo que é
temporariamente removida quando o cabelo é lavado (HALAL, 2012).
É necessário que o cabelo fique sem ser lavado por 24 horas antes da
aplicação do alisante químico. Pode-se recomendar o uso de xampu antirresíduo
várias vezes antes do dia da aplicação. Isso especialmente para relaxantes de
hidróxidos. É importante que o cabelo e o couro cabeludo estejam secos totalmente
antes da aplicação (HALAL, 2012).
É importante examinar o couro cabeludo e o cabelo com muito cuidado antes
de começar um tratamento químico. Deve-se procurar sinais de irritação,
vermelhidão, sensibilidade ou inchaço no tecido, feridas abertas e entre outros
problemas de pele (HALAL, 2012).
De forma geral, os produtos de alta alcalinidade são um perigo sério aos
olhos. Eles podem reagir com a proteína do olho e criar um filme insolúvel em água
que pode dificultar o enxágue apropriado e a limpeza dos olhos. Para se evitar
acidentes é recomendado proteção ocular e uso de cremes protetores para prevenir
o contato com o rosto, olhos e pescoço (HALAL, 2012).
Erros podem acontecer quando se retoca esses produtos no crescimento do
cabelo. É necessário tomar precauções para evitar a sobreposição que pode
acarretar em quebra e causar danos excessivos ao cabelo. Além disso, lavar e
enxaguar de forma correta são passos de muita importância, os resíduos dos
alisantes podem ficar presos no cabelo. Falhar na neutralização desses resíduos
pode causar danos e ressecamento excessivo (HALAL, 2012).

Além disso, é primordial que se faça o teste de mechas, ele deve ser
realizado antes de qualquer aplicação de produtos químicos como forma de avaliar a
resistência dos fios. O teste de mecha é importante pois permite descobrir se o
cabelo está preparado ou não para receber a química e, assim, evitar que os fios
quebrem ou sofram um corte químico caso estejam muito danificados antes do
procedimento. Para isso, escolhe-se algumas mechas de cabelo em lugares
32

diferentes da cabeça como por exemplo nas laterais e na parte de trás do cabelo.
Evita-se o topo, pois caso haja corte químico não irá aparecer. Então aplica-se com
abundância em toda a mecha o produto que se julgue correto para o tipo de cabelo, a
1 dedo da raiz e deve agir por 5 minutos. Passado o tempo, verifica-se se a estrutura
do cabelo está resistente ou fragilizada. O ideal é que fique levemente elástico, sem
esticar demais. Mas se o cabelo estiver muito elástico e quebradiço, deve-se
enxaguar imediatamente e neutralizar. Caso o cabelo tenha passado no teste de
mecha, aí sim poderá ser realizado os procedimentos (GOMES, 2011).

Com relação ao uso de formol, seu uso indevido pode causar risco à saúde e
quanto maior for a concentração e a frequência de aplicações maiores serão os
danos, que ocorrem pela inalação dos gases e pelo contato com a pele, sendo
perigoso tanto para profissionais que aplicam o produto como para os usuários.
(ABRAHAM et al., 2009).
A inalação deste composto pode causar irritação nos olhos, nariz, mucosas e
trato respiratório superior. Em altas concentrações, pode causar bronquite,
pneumonia ou laringite. Os sintomas mais frequentes no caso de inalação são fortes
dores de cabeça, tosse, falta de ar, vertigem, dificuldade para respirar e edema
pulmonar. O contato com o vapor ou com a solução pode deixar a pele
esbranquiçada, áspera e causar forte sensação de anestesia e necrose na pele
superficial (ABRAHAM et al., 2009).

A resolução RDC nº 07, de 10 de fevereiro de 2015 classifica os produtos


cosméticos quanto ao seu risco:
● Produtos de grau 1: cuja comprovação não seja inicialmente
necessária e não requeiram informações detalhadas quanto ao seu
modo de usar e suas restrições.
● Produtos de grau 2: cujas características exigem comprovação de
segurança e eficácia, bem como informações e cuidados, modo e
restrições de uso.
33

Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes: são


preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de
uso externo nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema
capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas
mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de
limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores
corporais e ou protegê-los ou mantê-los em bom estado (Resolução n°
07 da ANVISA ,2015).

Conforme a resolução vigente, os alisantes químicos são classificados como


grau 2, pois envolve um risco potencial para o consumidor. Os produtos possuem pH
extremo e muitos deles, têm odor forte e liberam gases quando aquecidos. Por isso,
podem causar danos ao couro cabeludo, irritação aos olhos e vias aéreas
superiores.
34

4.7 INOVAÇÕES MERCADOLÓGICAS

4.7.1 ALISAMENTO FOTOIÔNICO

A patente PT 107337 publicada em 2013 apresenta uma técnica inovadora


no mercado de alisamento. Ela apresenta um método que utiliza a tecnologia laser e
da foto polimerização em conjunto com um produto de alisamento no qual é capaz de
melhorar o “longlasting” (durabilidade) e a qualidade do resultado (PONCES, 2014).
O mecanismo de ação dessa técnica se baseia na polimerização de
monômeros presentes no produto de alisamento, tais como a cisteína, provocando
uma reação de condensação que libera água e não gera compostos tóxicos
proibidos pela legislação vigente, tais como o formol (PONCES, 2014).
A formulação do produto consiste na mistura de ureia 10% na proporção de
1:1 com a seguinte formulação: Água, Cisteína ou Ácido glioxílico, Poliquatérnio-7,
Polyquartenium-10, Diazolidinil, Proteína Hidrolisada de Soja, Miristato de isopropilo,
Parafina líquida, Estearato de glicerilo, Estearato de PEG-40, Sorbitol, Etilexanoato
de cetearilo, Dimeticona Fenoxietanol, Álcool cetílico, Óleo de Persea Gratissima,
Carbomer,Alantoína, Ácido palmítico, Ácido esteárico, Etilexiglicerina, Perfume
(fragrância), Hidróxido de sódio, Ácido láctico, Limoneno, Hexilcinamal,
Alfa-isometilanona, Linalol, Salicilato benzílico, Eugenol, Citral, Hidroxicitronelal e
Coumarina (PONCES, 2014).

Segundo a patente, a formulação e a aplicação do laser devem ser utilizados


seguindo os seguintes passos:
1) Aplicação do produto uniformemente no cabelo, alinhando bem a fibra e
deixar atuar por 25 min;
2) Escovar o cabelo e passar a mecha pelo laser, com comprimento de onda na
faixa do vermelho de 630 a 670 nm, permanecendo 30 segundos sobre a área de
interesse;
3) Aplicar a lâmpada de LED azul pura de alta potência e alto brilho, entre 430
e 485 mn sobre cada mecha do cabelo, com pelo menos 30 segundos de intervalo
entre cada aplicação. (O passo 3 deve ser aplicado ao invés do passo 2 ou em
conjunto);
4) Secar o cabelo e alimentar com pranchas elétricas (capinha) a uma temperatura
35

compreendida entre 100 e 180ºC, preferencialmente 120ºC.

O equipamento para realizar a polimerização pode ser um chaveiro de laser


ou de preferência o aparelho utilizado em tratamentos dentários. Diferentemente da
luz natural, o laser é monocromático, possuindo um único comprimento de onda. No
mercado, já tem disponível produtos cosméticos que usam esta tecnologia como o
produto “Photon Hair Uom” da empresa Tânagra. É vendido também um aparelho
que emite a radiação azulada para facilitar a aplicação do produto (PONCES, 2014;
TÂNAGRA).

Figura 10 - Aparelho Photon Blue da marca Tânagra.


Fonte: TÂNAGRA E PHOTON HAIR.
36

4.7.2 SHAMPOO ALISANTE

O shampoo alisante “The First” é um produto de alisamento lançado em 2016


que promete revolucionar o mundo do alisamento capilar. A maioria dos produtos
encontrados no mercado de alisamento atualmente são géis ou cremes. O “The First''
traz uma formulação inovadora na textura do alisante capilar, sendo o primeiro
shampoo no mercado que promove alisamento (SWEET HAIR).

Figura 11 - Shampoo The First.


Fonte:https://www.sweetoficial.com.br/MLB-1964247591-the-first-shampoo-que-alisa-
sem-formol-sweet-hair-_JM.

The First é composto por um blend de ácidos: Ácido Salicílico, Ácido


Alfa Lipóico, Ácido Glicólico, Ácido Lático e Ácido Hialurônico. Separados eles
não têm funções diferenciadas para a estrutura do fio, porém,a junção dos 5,
de forma específica, é capaz de promover alisamento quando associado à
fonte de calor (Sweet Hair).
37

Segundo o fabricante, Sweet Hair, não possui formol. O alisamento é causado


por uma mistura de ácidos orgânicos usualmente encontrados em alimentos: ácido
salicílico, ácido alfa lipóico, ácido glicólico, ácido lático e ácido hialurônico. Não há
relatos na literatura e nem do fabricante com relação às concentrações dos
componentes do produto.
A forma de aplicação é muito simples, sendo similar a aplicação de um
shampoo: Primeiro, os cabelos devem ser umedecidos e deve ser retirado o excesso
de água. É então aplicado cerca de 50 ml de shampoo da mesma maneira simples
que o consumidor está acostumado a fazer em casa. A única diferença é que o
produto deve ser deixado no cabelo por 20 minutos. Após este tempo, basta secá-lo
e passar a chapinha 5 a 7 vezes em cada mecha (a temperatura vai variar de acordo
com o tipo de cabelo, sendo recomendado 180ºC a 230ºC) (SWEET HAIR).

O primeiro shampoo que alisa no mundo possui afinidade com


a queratina do cabelo e, através da acidez e fonte de calor, promove a
desnaturação da proteína. Como esse alisamento não é um processo
permanente e não quebra as pontes dissulfeto, garante a segurança
de compatibilidade com outros processos químicos e pode haver uma
renaturação ,o cabelo volta a estrutura normal entre 6 a 9 meses
(Sweet Hair).

4.7.3 ALISAMENTO ENZIMÁTICO

A adição de enzimas que interferem no mecanismo de alisamento pode ser


considerada uma inovação no mercado de produtos capilares. A patente de número
US 2010/0,012,142 A1 publicada em 2010 pelo inventor Richard A. Presti. De
acordo com o criador, esse método traz uma inovação para relaxar ou alisar o cabelo
de forma suave e permanente utilizando enzimas proteolíticas como alisamento
38

capilar, mais especificamente a enzima keratinase kerA isolada de Bacillus


licheniformis PWD-1 (PRESTI, 2010).
Conforme os estudos, essa enzima possui a habilidade de clivar ligações
inter-peptídicas permitindo alterar a conformação da fibra, conferindo menos dano ao
cabelo (PRESTI, 2010).
Seguindo as orientações do criador, o cabelo deve ser pré-tratado com uma
solução que irá dilatar ligeiramente as fibras dos cabelos e facilitar a difusão das
enzimas. Essa solução deve agir sobre as fibras durante 25 minutos a 25ºC. Dentre
os ativos sugeridos para o intumescimento das cutículas estão: mono, di e
trietanolamina, amônia e uréia, com concentração de 0,1 a 25%. Para ajudar na
difusão, a patente sugere: ácido oleico, etoxidiglicol, laurocapram ou o
pentilenoglicol (PRESTI, 2010).
Deve-se aplicar uma solução de tratamento que deve ser deixada sobre as
fibras durante 45 minutos a uma temperatura de 45ºC. O principal componente desta
solução é a enzima keratinase kerA em concentração entre 0,01 a 10%, cujo pH de
máxima atividade é 7,5 e por isso, a solução deve ser tamponada entre o pH 7 e 8
(PRESTI, 2010).
Depois do tempo de aplicação da solução de tratamento, deve-se enxaguar
para que a digestão das ligações inter-peptídicas cesse. É então aplicada a
chapinha e modelado o cabelo da forma de desejo. O cabelo só poderá ser lavado
novamente após 24 horas da aplicação. O diferencial desta técnica é que a fibra
capilar não fica tão danificada e sensibilizada quanto com os tratamentos mais
usuais (PRESTI, 2010).
39

5 DISCUSSÃO

O mercado de alisantes capilares sofre grande influência social e cultural, o


que intervém diretamente no desejo do consumidor. Tal desejo faz com que as
empresas pesquisem novos compostos capazes de alcançar essas necessidades
criando produtos cada vez mais inovadores.
Para inovar, é de suma importância entender quais são os compostos com
capacidade de transformar a conformação estrutural das fibras capilares, quais seus
mecanismos de ação e a evolução que tais produtos vêm sofrendo durante os anos.
Atualmente, mesmo estando em alta a valorização dos cabelos cacheados e
naturais, ainda existe uma procura grande no mercado por produtos capazes de
realizar alisamento capilar, pois muitos consumidores não abrem mão do efeito liso
ou controle de volume, como também a praticidade no cuidado diário dos fios.
Dos ativos de alisamento alcalinos convencionais, há a família dos hidróxidos
como o hidróxido de sódio, guanidina, lítio e potássio e os compostos a base de tiol
como o tioglicolato de amônio, que são regulamentados e extensamente estudados.
Com relação aos hidróxidos, por utilizarem um pH mais alcalino, eles
apresentam um alisamento mais potente e por isso são indicados para cabelos mais
resistentes, espessos e afro.
Já os compostos tiólicos que atuam pelo mecanismo redutor com alta,
intermediária e baixa potência de acordo com a base alcalina utilizada são
considerados alisantes mais brandos, pois possuem um pH menos alcalino que
dilata e danifica menos a estrutura capilar do que os hidróxidos. Podendo ser usado
em cabelos tratados quimicamente quando em baixas concentrações. Além disso, há
outros agentes alcalinizantes como monotioglicolato de glicerol, sendo indicado para
cabelos porosos e danificados e tioglicolato trietanolamina que também apresenta
ação branda e sem cheiro de amônio.
O alisamento a base de formol teve grande popularidade inicialmente, ele
apresentou resultados rápidos e satisfatórios, produzindo um cabelo liso e com
brilho, porém posteriormente os malefícios causados à saúde e aos fios mostrou não
ser vantajoso o seu uso.
Por outro lado, surgem os alisantes ácidos à base de ácido glioxílico e
carbocisteína como uma alternativa, trazendo ótimos resultados atribuindo aspecto
40

suave, natural, brilhante e com compatibilidade do procedimento de alisamento com


cabelos descoloridos.
Entre todos os tipos de ativos de alisamento químico apresentados até agora,
apenas os alcalinos estão regularizados pelos órgãos competentes. O formol, por
apresentar diversos riscos à saúde dos consumidores, é proibido pela ANVISA como
ativo de alisamento, por ser necessário uma alta concentração de uso. Já com
relação às substâncias ácidas , muito se questiona sobre a sua formulação em que
alguns estudos apontam a liberação de formol quando este é submetido a altas
temperaturas, mas de acordo com o fabricante, não acarreta impactos toxicológicos
significativos. Desta forma, apesar de se conhecer pouco sobre o mecanismo de
ação das amidas ácidas, ainda existe muitas dúvidas com relação a segurança e
eficácia desse procedimento, sendo assim, necessário mais estudos sobre o
mecanismo dos alisantes ácidos e sua formulação, além de estudos sobre a
toxicologia do ácido glioxílico.
Destacando mecanismos inovadores, a patente US 2010/0,012,142 A1 sobre
alisamentos enzimáticos foi divulgada em 2010 trazendo uma tecnologia de
alisamento que está sendo desenvolvida por uma empresa e é possível que algum
tipo de produto a base de enzimas seja futuramente comercializado e regulamentado
no Brasil.
Outra inovação aparente do mercado é o surgimento do alisante fotoiônico,
trazendo o uso da tecnologia laser e da foto polimerização em conjunto, que é capaz
de melhorar a durabilidade e a qualidade do resultado do procedimento.
A praticidade também tem sido um ponto que pode auxiliar muito,
principalmente para os consumidores que estão buscando por uso prático e rápido.
Os alisantes que apresentam um tempo de aplicação baixo podem se destacar
nesse quesito como os shampoos ácidos.
É importante destacar a evolução e inovação dos produtos alisantes ao longo
dos anos, que buscam além de uma ação mais efetiva, no alinhamento, relaxamento,
controle de volume e frizz dos cabelos cacheados. Adicionalmente, visam
proporcionar um efeito mais brando em relação aos danos causados à fibra capilar,
enriquecendo as formulações com substâncias especiais que podem contribuir para
a hidratação, nutrição e reparação dos cabelos.
41

6 CONCLUSÃO

A busca do ser humano pela estética do cabelo liso trouxe a necessidade da


criação de diversas técnicas de alisamentos que foram evoluindo ao longo do tempo.
Os diferentes tipos de alisamentos promovem modificações nas conformações das
ligações químicas do fio que muitas vezes é irreversível e acarreta na perda proteica.
De acordo com o presente trabalho de revisão, os alisantes mais seguros são
aqueles que possuem o mecanismo de alisamento alcalino como os hidróxidos e os
tióis. Pois apresentam mais estudos na literatura sobre seu mecanismo de ação e
além de serem permitidos pelos órgãos sanitários (ANVISA). Já a utilização do
formol que por uma época foi muito empregado com intuito de alisamento não é
permitido pelos órgãos sanitários como agente alisante devido ao alto risco à saúde,
além da queda capilar. É importante ressaltar que atualmente o mercado vem
seguindo a tendência de aplicação de substâncias fortemente ácidas, que ainda
necessitam de mais estudos que comprovem a segurança de uso para que sejam
regulamentadas no mercado cosmético pelos órgãos competentes. O que leva a
enfatizar que o uso irracional de substâncias não autorizadas pelos órgãos sanitários
pode trazer vários riscos à saúde, tanto ao consumidor como também aos
profissionais que trabalham diretamente com os alisantes capilares.
É visível que o conhecimento acerca desses ativos e de seus mecanismos de
ação é importante para o desenvolvimento do setor, buscando aprimorar o
desempenho, qualidade, segurança e eficácia desses produtos.
42

7 REFERÊNCIAS:

Abraham LS, Moreira AM, Moura LM, Gavazzoni MFR, Addor FAS. Tratamentos
estéticos e cuidados dos cabelos: uma visão médica. Parte 2.
SurgCosmetDermatol.2009;1(4):178-185.

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Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Brasil). Escova Progressiva, Alisantes


e Formol; 2009 Disponível em:
<http://www.anvisa.gov.br/cosmeticos/alisantes/alisante_formol.htm> Acesso em:
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Português) vol.20, n.2, p. 36, 2008.

BELVISO, Thiago Iorio. Os perigos do uso inadequado do formol na estética capilar.


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BOLDUC, C.; SHAPIRO, J. Hair care products: waving, straightening,


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