Módulo 10
Módulo 10
Módulo 10
Quando somos crianças não aprendemos a lidar com a raiva, tristeza, luto, perdas, frustrações e não
temos permissão para sentir nada disso, assim vamos reprimindo tudo que sentimos.
Quando nos tornamos adultos repetimos e também negamos, todas essas repressões.
Tudo que não temos consciência, por negação ou qualquer outro mecanismo, se encontra em nosso
inconsciente, assim sendo quem ficará no comando de nossas escolhas? Sim, nossa criança interior!
E como se fará presente? Buscando tudo aquilo que não recebeu nos primeiros anos de vida. Mas
lembre-se, como não há consciência, você tem reações, comportamentos, emoções, escolhas, que
nem sabe o que provocou.
A criança interior é tanto um fato em desenvolvimento como uma possibilidade simbólica. É a alma
da pessoa, criada dentro de nós através do experimento da vida, é a imagem primordial do Self, o
cerne mesmo de nosso ser individual. Como sugeriu Carl Gustav Jung, a criança representa uma
“totalidade que abrange as próprias raízes da Natureza”.
A criança interior é a portadora das nossas histórias pessoais, o veículo das nossas recordações da
criança do passado, tanto a de verdade como a idealizada. É a única qualidade verdadeiramente viva
do ser que existe em nós. É o sofredor. E é o portador da renovação pelo renascimento, aparecendo
em nossa vida sempre que nos desapegamos e abrimos às mudanças.
“... a criança sedimenta o caminho para uma futura mudança na personalidade. No processo
de individuação, antecipa a figura que decorre da síntese entre os elementos conscientes e
inconscientes da personalidade.”
Carl Jung
A Criança Interior refere-se àquela parte de cada um de nós que está realmente viva, enérgica,
criativa e realizada. É o nosso Eu verdadeiro.
Com a ajuda inconsciente dos nossos pais e o apoio da sociedade, a maior parte de nós nega a sua
Criança Interior. Quando esta Criança não é alimentada ou não lhe é permitida a liberdade de
expressão, tem origem um eu falso ou um ego dependente.
A nossa Criança Interior é expressiva, afirmativa e criativa. Pode ser infantil, no sentido mais maduro
e evoluído do termo. Precisa brincar e se divertir. É de certo modo vulnerável, talvez por haver
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O Eu real tem prazer em receber e em ser acarinhado. Também é aberto àquela parte vasta e
misteriosa a que damos o nome de subconsciente. Dá atenção às mensagens que recebemos
diariamente do nosso subconsciente, como é o caso dos sonhos, das dificuldades e das doenças.
È livre para crescer. E enquanto o nosso eu dependente esquece, o nosso Eu Real recorda a nossa
Unidade face aos outros e ao universo. No entanto, para a maior parte de nós, o nosso Eu Real é
também o nosso ser privado. Quem sabe a razão pela qual escolhemos não o partilhar? Talvez seja o
medo de nos magoarmos ou sermos rejeitados. Algumas pessoas afirmam que mostramos o nosso
Eu verdadeiro aos outros em média apenas durante quinze minutos por dia. Por qualquer tipo de
razão, tendemos a manter essa parte de nós em privado.
Quando somos o nosso Eu verdadeiro, sentimo-nos vivos. Podemos sentir dor sob a forma de
mágoa, tristeza, culpa ou raiva, mas, ainda assim, sentimo-nos vivos.
Também podemos sentir alegria, sob a forma de contentamento, felicidade, inspiração ou mesmo
êxtase. Acima de tudo, tendemos a sentir-nos completos, acabados, apropriados, verdadeiros e sãos.
Sentimo-nos vivos.
A nossa Criança Interior flui naturalmente desde o momento em que nascemos até à hora da nossa
morte. Não temos de fazer nada para sermos o nosso Eu verdadeiro. Ele é simplesmente. Se o
deixarmos simplesmente existir, ele expressará sem qualquer tipo de esforço particular da nossa
parte.
Por contraste, outra parte de nó sente-se geralmente desconfortável, refreada ou pouco autêntica:
eu falso, eu dependente, eu codependente, eu não autêntico ou eu público.
O nosso eu falso é um disfarce. É o nosso eu egocêntrico e o nosso superego, sempre com planos e
tramas, continuamente egoísta e possessivo. É invejoso, crítico, idealizado, culpado, envergonhado e
perfeccionista.
Alienado do Eu verdadeiro, o nosso eu falso orienta-se para outro lado, ou seja, concentra-se naquilo
que pensa que os outros querem que seja; é demasiado conformista e apenas dá o seu amor Sob
condições. Mascara, esconde ou nega os sentimentos. Não obstante, constrói falsos sentimentos,
como sucede muitas vezes quando respondemos sistematicamente à pergunta “Como está?” com
um “Estou ótimo” automático. Esta resposta rápida é muitas vezes necessária ou útil para nos
defendermos da assustadora consciência do eu falso, que ou não sabe se sente ou sabe, mas
censurou esses sentimentos como “errados” ou “maus”.
Em vez de ser propriamente afirmativo – para o Eu Real – é, muitas vezes, agressivo e/ou passivo.
O nosso eu falso tende a ser o “pai crítico”, para fazermos uso de uma terminologia de análise
transacional. Ele evita as brincadeiras e as diversões, finge ser “forte” ou mesmo “poderoso”. No
entanto, esse poder é apenas mínimo ou inexistente e é, na realidade, invulgarmente temeroso,
desconfiado e destrutivo.
Devido ao fato de o nosso eu dependente precisar se recuar e manter o controle, sacrifica o elogiar
e o ser elogiado. Não pode entregar-se. Tem sempre a certeza e tenta bloquear a informação que
vem do seu inconsciente, Ainda assim, tende a agir repetidamente ou de forma inconsciente, muitas
vezes obedecendo a padrões dolorosos. Porque se esquece da unicidade, sente-se à parte.
A maior parte do tempo, no papel do nosso eu falso, sentimo-nos desconfortáveis, incapazes, vazios
ou retraídos. Não nos sentimos verdadeiros, completos, íntegros ou sãos.
Paradoxalmente, sentimos muitas vezes que este eu falso é o nosso estado natural, a maneira como
“devíamos ser”. Acostumamo-nos de tal forma a ser o nosso eu dependente que o nosso Eu
Verdadeiro se sente culpado, como algo errado, porque não devíamos sentir-nos verdadeiros nem
vivos. Considerar a hipótese de mudar este problema é algo verdadeiramente assustador.
Este eu falso parece ser universal entre os humanos. Tem sido descrito ou referido inúmeras vezes
tanto na imprensa como na nossa vida diária e tem-lhe sido atribuídos nomes tão diversos como
ferramenta de sobrevivência, eu egocêntrico e eu defensivo ou sem par (Masterson, 1985). Pode ser
destrutivo para consigo próprio, para com os outros e nas relações íntimas, No entanto, é uma faca
de dois gumes. Tem algumas utilizações. Mas pensamos no quão útil será verdadeiramente? E sob
que circunstâncias?
Às vezes, essa criança interior faz exigências muito intensas, apresentando-se por intermédio de
emoções como ansiedade, depressão, raiva, impotência, ou em sintomas físicos. Às vezes
desencadeia em nós frágeis e sutis lampejos de inspiração, uma ideia repentina, um sonho, uma
fantasia, ou a sensação de desejar com ardor algo rejuvenescedor. A força vital e natural deste
arquétipo quer o nosso reconhecimento e não pode ser ignorada sem acarretar com isso sérias
consequências.
“Em todo adulto espreita uma criança, uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser,
que nunca está completo, e que solicita cuidado, atenção e educação incessantes.
Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e torna-se completa.”
Carl Jung
Todos nós carregamos aqui dentro uma criança eterna, um jovem ser inocente e maravilhoso. E essa
criança simbólica também nos carrega, carrega quem fomos, o registro de nossas experiências de
formação, de nossos prazeres e dores.
Como uma realidade simbólica e poética, a criança interior aparece em nossa imaginação, em nossos
sonhos, em nossa arte e nas mitologias do mundo todo, representando a renovação, a divindade, o
entusiasmo de viver, uma sensação de deslumbramento, esperança, o futuro, a descoberta, a
coragem, a espontaneidade e a imortalidade. Nesse sentido, a criança interior é um símbolo de
união que reúne partes separadas ou dissociadas da personalidade individual.
Nas três últimas décadas, o fenômeno da criança interior ganhou maior destaque em virtude de um
crescente interesse pela psicologia profunda junguiana em geral e pelo tratamento das desordens
narcisistas da personalidade, em particular. Essas duas disciplinas identificam a imagem da criança
interior como a alma vulnerável, a criança ferida que carece de integração e o Self machucado. O
psicólogo arquetípico James Hillman faz eco a Jung quando diz: “O que a psicologia profunda passou
a denominar regressão é apenas o retorna à criança.”
Mas ela também está em nossas fantasias, devaneios, sonhos, desejos, imaginações, intuições e
principalmente em nossas emoções. Quando você chora quem está chorando é sua criança
abandonada, sozinha. Está presente também na parte de nossa psique que vivencia a angústia, a dor
e o sofrimento, como também quando você brinca, tem prazer naquilo que faz. Quando você cria
algo também é sua criança, ela é nossa maior fonte de criatividade.
“Não são os traumas que sofremos na infância que nos tornam emocionalmente doentes,
mas a incapacidade de expressá-los”.
Alice Mille
Isso se dá quando entramos em contato com nossos reais sentimentos, principalmente as dores que
foram reprimidas por pura sobrevivência identificando as necessidades emocionais não supridas, as
máscaras que criamos para suportar as dores e a negação do “Self” o eu verdadeiro. O importante é
validar todos os sentimentos reprimidos, o que fará toda diferença no processo da cura.
A necessidade de encontrar a criança interior faz parte da jornada de todo o ser humano que se
encaminha na direção do autoconhecimento e de sua totalidade.
Infelizmente, muitos adultos não sabem que suas dificuldades têm origem em seus primeiros anos
ou desde a concepção. Entrar em contato com a criança ferida é romper com o sofrimento do
silêncio e todos os traumas sofridos na infância.
Carência, vazio, medo da solidão, dependência financeira e/ou emocional, necessidade constante de
aprovação, reconhecimento, atenção, amor, repetição de padrão, baixa autoestima, sintomas físicos
e/ou emocionais.
A criança logo cedo aprende a agradar a todos como forma de ser aceita, não importa o preço pago.
Toda criança precisa de aprovação quando não consegue obtê-la, não tem outra escolha senão
encontrar amor e aprovação junto aos outros, Quando adultos, continua com essa busca, é como se
fosse a nossa própria criança buscando alguém que supra suas necessidades emocionais da infância.
É um vazio nunca preenchido, uma carência eterna.
Isso é carência afetiva: precisar que o outro preencha um vazio enorme, Na verdade, a pessoa se
relaciona com o outro buscando aquilo que ela não consegue dar a si própria, se relacionando com a
parte que falta nela mesma.
Essa carência é o reflexo da ausência dentro de si, que cômica quando nos afastamos dos nossos
reais sentimentos.
A conexão externa com os outros só poderá acontecer quando houver uma conexão interna consigo
mesmo.
A falta de conexão com a criança interior emerge de forma mais intensa em momentos de perdas,
sofrimento, rejeição e abandono intenso. Mas o pior abandono acontece quando abandonamos a
nós mesmos, É quando a pessoa se sente perdida, abandonada, em desespero e com profunda
angústia.
A desconexão com a criança interior começa quando se afasta de seus sentimentos, de quem é de
verdade para ser aceita. Claro que todo esse processo acontece de modo inconsciente.
Mesmo quando adulto, busca uma relação de dependência, buscando desesperadamente tudo
aquilo que não recebeu do pai e/ou da mãe.
Em geral irá se deparar com pessoas que a farão se sentir do mesmo jeito que seu pai e/ou sua mãe
faziam. Sentindo novamente a decepção, frustração, desespero, sente-se pior ainda, pois estará
re-traumatizando a criança interior.
“Em todo adulto espreita uma criança – uma criança eterna, algo que está sempre vindo a
ser e nunca está completo, e que solicita cuidado, atenção e educação incessantes, Essa é a
parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e torna-se completa”.
Quando a criança não se sente amada, importante, valorizada, desde a concepção e nos seus
primeiros anos de vida, aos poucos vai desenvolvendo muita necessidade de agradar para ser aceita
e amada, com isso vai se afastando de quem é de verdade, de sua essência, e a consequência é:
necessidade emocional não satisfeita, máscaras, angústia, crises e doenças.
Perde-se também quando não se tem permissão para expressar sentimentos de tristeza, raiva,
perda, frustração, dor, quando sente que seus sentimentos não importam, não se sente valorizada,
amparada, e tem que reprimir tudo que sente, como forma de sobrevivência. Quando há abandono,
críticas, cobranças, comparações, humilhações, culpa, tudo aquilo que a faz afastar-se de seus reais
sentimentos e necessidades, ou seja, de quem realmente é, transforma-se naquilo que querem que
seja. Não importa o que faça nunca está certa. É considerada Louca, boba, burra, feia. E essa
percepção de si mesma pode durar toda uma vida. O sentimento que ficará registrado é o da
rejeição e do abandono.
Recriamos quando adultos, o que vivenciamos nos primeiros anos de vida, principalmente com os
filhos.
- Rigidez extrema
- Punição
- Censura
- Falta de amor
- Perfeccionismo
- Incongruência
- Imprevisibilidade
- Arbitrariedade
- Maus tratos
Esta fase é denominada de período uterino social, caracteriza-se pelo domínio da ralação primal com
a mãe, que, de início, representa para a criança todo o mundo apreensível, todo o ambiente
circundante, mas que pouco a pouco vai propiciando à criança experimentar aspectos novos do
mundo.
A relação primal da criança com a mãe é mais do que uma relação primária, pois graças a essa
relação, antes mesmo do seu “verdadeiro” nascimento, que ocorre quando tem por volta de um ano
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A relação primal mãe-filho é decisiva nos primeiros meses da vida de uma criança. É neste período
que o ego da criança se forma, ou pelo menos começa a se desenvolver; é então que o núcleo do
ego, que já estava presente desde o início, cresce e adquire unidade, de tal modo que podemos falar
num ego infantil mais ou menos estruturado.
Na fase embrionária, o corpo da mãe é o mundo na qual a criança vive ainda não possuidora de uma
consciência capaz de percepção e controle, e ainda não centralizada pelo ego; além disso, a
regulação da totalidade do organismo da criança, que designamos pelo símbolo do Self Corporal,
ainda está como que abarcada pelo Self da mãe.
Com o nascimento do corpo, a ligação da criança com sua mãe em parte é rompida, mas a
importância da segunda fase embrionária específica do homem é precisamente o fato de, após o
nascimento, a criança permanecer parcialmente retida na relação embrionária primal com a mãe. A
criança ainda não se tornou ela mesma. Ela só se torna ela mesma ao longo dessa relação primal,
cujo processo se completa normalmente apenas após o primeiro ano de vida.
Mesmo mais tarde, durante o primeiro mês de vida, à medida que o ego vai adquirindo cada vez
com maior frequência, uma consciência como que insular – de início por breves momentos, depois
por períodos maiores – e vai se posicionando no mundo, não existe ainda diferenciação entre o
próprio corpo e a mãe que propicia o prazer e exorciza o desprazer. Para o ego da criança, com uma
experiência fundada no prazer e desprazer, sua experiência do mundo é a experiência da mãe, cuja
realidade emocional determina a existência da criança. Para a criança nessa fase, a mãe não está
nem dentro nem fora: para a criança, os seios não fazem parte de uma realidade separada de si e
externa; seu próprio corpo não é experimentado como seu. Mãe e filho continuam tão interligados
como na fase uterina, como se formassem uma unidade; só que a unidade que formam é dual.
A necessidade da criança de preservar a união dual da relação primal é quase idêntica ao seu instinto
de autopreservação, pois sua existência é totalmente dependente da mãe. Esta, porém, não é
apenas orgânica e material; como agora sabemos, não se relaciona apenas com cuidados e
alimentação. A perda da mãe ou da pessoa que a substitui é sentida menos na esfera corporal do
que na psíquica. Manifesta-se também como perda de contato com o mundo, lesões no
automorfismo e no instinto de autopreservação e destruição dos primeiros ensaios de
desenvolvimento de um ego.
A relação primal é a expressão de uma capacidade de relacionar-se de maneira total, como fica
dramaticamente demonstrado pelo fato de que, para uma criança, a sua falta pode provocar
distúrbios emocionais de ordem tal que culminam em apatia, em idiotia e até mesmo em morte. A
perda da mãe representa muitíssimo mais do que apenas a perda de uma fonte de alimentos. Para
um recém-nascido – até quando continua sendo bem alimentado – equivale à perda da vida. A
presença de uma mãe amorosa que fornece alimentação insuficiente não é de forma alguma tão
desastrosa quanto à de uma mãe pouco afetuosa que fornece alimento em abundância.
A fusão da criança com a mãe na relação primal e o caráter cósmico do campo no qual opera a
relação primal tem consequências especiais no desenvolvimento da personalidade da criança
enquanto um indivíduo completo. A relação primal tem como seu campo um sistema de
relacionamento no qual mãe e filho figuram como seus polos; mas na fase pré-ego do
desenvolvimento da criança, esse campo é também uma realidade que independe dos polos. A
relação primal, como constelação arquetípica específica, abrange ambos os indivíduos em sua
realidade transparente, cada polo – mãe e filho – surgindo para o outro e agindo sobre o outro como
um arquétipo. Essa condição arquetípica básica garante o funcionamento formativo da relação
primal com todas as suas consequências vitais para o desenvolvimento da criança.
Falar no caráter cósmico da imagem corporal, em que a criança se funde numa unidade com a mãe e
com o mundo, equivale a dizer que a relação primal acontece num campo unificado onde não existe
delimitação corporal como símbolo de individualização. A participação mística entre mãe e filho
orienta um através do outro. O filho inconscientemente “lê” o inconsciente da mãe na qual vive, da
mesma forma que – normalmente – a mãe exerce uma função reguladora ao reagir
inconscientemente à conduta inconsciente do filho.
Nessa situação a psique ainda não se incorporou a um corpo individual, mas, se mantém suspensa
no campo da realidade unitária, que contém dentro de si algo que é em certo sentido pré-psíquico e
pré-físico, que é ainda psíquico e físico conjuntamente (no Self Corporal).
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Com tudo uma criança que se vê privada de sua mãe – e da relação primal – adoece. Esta doença
não é primariamente física, mas psíquica, e reflete-se numa diminuição progressiva de seu interesse
pela vida; não pode ser curada por alimentação material, mas unicamente pela restauração da
A relação primal com a mãe, o estado de imersão da criança no continente materno, constituem-se
no fundamento não apenas da relação da criança com seu próprio corpo, mas também de sua
relação com outras pessoas. Nessa fase, a segurança da relação primal ainda não abrange um “tu”,
uma vez que, na realidade unitária, os limites entre mãe e filho ainda não estão demarcados, e só
gradativamente os dois surgem como dois pólos inter-relacionados desse composto que forma a
união dual. Por isso, esse sentimento inicial de segurança forma a base do relacionamento
emocional indispensável para todo contato social.
O amparo na relação primal com a mãe é o primeiro contexto social da criança e o mais prenhe de
possibilidades. Isto adquire um significado todo particular quando se chega ao estágio em que, com
a consolidação do ego, o Self, que se tinha mantido externalizado, precisa começar a voltar
gradualmente para dentro da criança.
Uma boa relação primal traz uma experiência de harmonia com a mãe, uma autoconfiança que,
quando lesada, demonstra-se em todos os distúrbios neuróticos e em muitos distúrbios psicóticos,
depende quase que inteiramente da relação primal com a mãe .
Um ego seguro é capaz de entregar-se com confiança ao Self, por exemplo, para dormir, enfrentar
situações de perigo, mergulhar no processo criativo. Um ego rígido e por outro lado precisamente
um ego inseguro que, por ansiedade, vê-se compelido a fixar-se em si próprio.
O desdobramento das relações entre o ego e o “tu”, e entre ego e Self que na relação primal
encontram-se inextricavelmente ligados, encontra-se entre os processos essenciais do
desenvolvimento da criança; em grande parte a doença ou a saúde do indivíduo e seu sucesso ou
fracasso posteriores na vida dependem desse processo. Desde o início, não só o desenvolvimento do
ego, mas a viabilidade geral do indivíduo depende da natureza das relações entre ego e Self.
Uma relação primal perturbada a ou destruída parece ser uma das principais causas da psicose
conhecida como esquizofrenia. O início dessa doença é frequentemente marcado por um fenômeno
que o paciente interpreta como o fim do mundo. Em sua visões e sonhos e posteriormente em sua
experiência consciente, a unidade do mundo se despedaça. O mundo cessa de existir,
desintegrando-se em partes isoladas, mortas, ou, se resta um mundo parcial, sua degeneração se
manifesta por um conflito de coisas de forças hostis.
Normalmente, o mundo consiste em relações dinâmicas, ordenadas, vivas que constituem uma
unidade de vida na qual como na perspectiva óptica as coisas são vistas lado a lado, à frente ou atrás
umas das outras, isto é umas em relação com as outras. Estão sujeitas a uma ordem hierárquica.
Todas essas ordens e relações pressupõem uma animação libidinal da psique que mantém uma
relação inconsciente de identidade com o mundo. Mas quando, não importam as causas, ocorre uma
falência de relação primal, constata-se para a criança a Mãe Terrível e surge um distúrbio no
desenvolvimento (tão indispensável para o desenvolvimento normal) da relação da criança com seu
corpo, com o seu Self e com o “tu” em todos os seus aspectos.
É essa destruição do mundo “tu” que se manifesta na esquizofrenia, com sua regressão ao mundo da
Mãe Terrível. A realidade unitária simbólica, que na esquizofrenia é frequentemente animada por
visões e alucinações, desintegra-se, e a consequência é o fim do mundo, que é visto como um caos,
ou seja, a dissolução em uma confusão sem sentido de fragmentos isolados, amorfos, ou como a
O arquétipo da Mãe Terrível liga-se à morte, ruína, aridez, penúria e esterilidade; preside o mundo
da esquizofrenia sempre que exista uma separação radical demais das forças produtivas básicas do
maternal ou hostilidade contra as mesmas. Essas desintegração do mundo e da personalidade por
uma reversão do princípio de Eros, contrasta com o desenvolvimento natural da personalidade da
criança, na qual o princípio de Eros manifesta-se como a preponderância da mãe boa sobre a Mãe
Terrível como integração de todos os relacionamentos entre a criança enquanto ego e o “tu”
enquanto corpo, Self, outro ser humano e mundo.
O desenvolvimento normal da criança, garantido por uma relação primal segura, culmina na
formação de um ego integral, que emerge durante o período em que a criança vive numa situação
de identidade com a grande Mãe e tem o poder de, até certo ponto, assimilar experiência negativa
ou de descarregá-la. Isto vem a constituir-se, gradualmente no polo do ego do eixo ego-Self, o Self
sendo o solo no qual a psique está enraizada.
É somente após o primeiro ano de vida da criança, após o seu verdadeiro nascimento, que o
desenvolvimento do seu ego, e com ele o desenvolvimento do ego integral e da posição
antropocêntrica da criança, vem para o primeiro plano.
Um distúrbio da relação primal numa fase precoce, quando o ego ainda não está consolidado e ainda
não se vestiu de se sua estrutura independente, leva a um enfraquecimento do ego que torna
possível uma inundação direta pelo inconsciente e uma dissolução da consciência. No entanto, o
ego negativizado e uma consciência sistematizada centrada em torno desse ego, tornam-se
reativamente rígidos, defendem-se em todas as frentes, erguem barricadas contra o mundo e contra
o Self.
Essa tendência a excluir-se, que o ego negativizado possui, intensifica a situação de abandono e o
sentimento de insegurança da criança, e isto é o início de um círculo vicioso na qual a rigidez do ego,
a agressão e o negativismo se alternam com sentimentos de abandono, de inferioridade e de
desamor, cada conjunto de sentimentos intensificando o outro. Esta é uma das principais causas
para reações sado masoquistas e para a rigidez patológica narcisística do ego, com elas relacionadas.
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***
O principal sintoma de uma relação primal perturbada é o sentimento primário d e culpa. Este é
característico dos distúrbios psíquicos do homem ocidental. Surpreendente como possa parecer, a
necessidade de contrapor-se à falta de amor resultante de uma relação primal perturbada faz com
que a criança, em vez de responsabilizar o ser humano e o mundo, passe a sentir-se culpada. Esse
tipo de sentimento de culpa surge numa fase precoce e é arcaico; não deve ser confundido com, e
muito menos ser derivado de sentimentos de culpa posteriores, ligados à separação dos Pais
Universais e manifestados no complexo de Édipo. O sentimento de culpa primário entenda-se, não é
uma questão de reflexão consciente pela criança, mas leva à convicção - o que era ter um papel
determinante na existência e no desenvolvimento da criança - de que não ser amado é o mesmo que
ser anormal, doente, “leproso” e, sobretudo, “condenado”.
A “apercepção mitológica” da criança que ainda não se faz acompanhar de uma consciência egóica
não considera a deficiência da mãe pessoal como injustiça, mas o que acontece é que a experiência
de ser abandonado pela mãe adquire um (da criança) caráter mítico, que constitui a essência do
arquétipo. Uma vez que a mãe é o “tu”, o mundo e o Self numa única entidade, sua defecção
transforma o mundo em caos e nada, o “tu” desaparece , deixando a criança completamente sozinha
e desamparada, ou transforma-se num inimigo e perseguidor, enquanto o próprio Self da criança
transforma-se num representante da Mãe Terrível. Nessa situação mitológica, a vida enquanto
Grande Mãe virou as costas e foi embora, não restando nada senão a morte. Da mesma forma que
“ausência” e “morte” são idênticas na experiência infantil, aqui a não existência da mãe significa a
própria morte da criança. A figura da Grande Mãe da relação primal é uma deusa do destino que,
por favor, ou desfavor, decidiu sobre a vida e a morte, desenvolvimento positivo ou negativo; e
acima de tudo, sua atitude é o julgamento supremo, de modo que sua defecção é o mesmo que uma
culpa inominável da parte da criança.
O sentimento de culpa da fase matriarcal, por derivar de uma relação primal perturbada, obedece à
seguinte fórmula; “Ser bom é ser amado pela própria mãe; como sua mãe não ama você, você é
mau.” Uma relação primal negativa numa fase precoce da infância causa um distúrbio não apenas
parcial, mas total; uma criança expulsa da relação primal é expulsa da ordem natural do mundo e
duvida que haja justificativa para a sua existência.
O problema da ansiedade e da culpa, que tão frequentemente se encontra no centro de uma vida
psíquica perturbada, não pode ser resolvida sem uma compreensão desses contextos.
Também é uma dinâmica ou processo, que nos acontece, principalmente quando estamos distraídos
e, por vezes mesmo quando nos tornamos conscientes da verdade acerca das expressões na nossa
vergonha.
Crescer numa família perturbada ou disfuncional está, quase sempre, associado à vergonha e à falta
de autoestima por parte de todos os membros dessa família. Só as manifestações de vergonha
variam de uns elementos da família para os outros. Cada um de nós tem uma maneira particular de
se adaptar à vergonha. A maior semelhança reside no fato de que quase toda a gente será
codependente e opera, em primeiro lugar, em conformidade com o seu Eu falso. É, pois, possível
descrever a família perturbada ou disfuncional baseada na vergonha.
CULPA
As pessoas têm tendência a confundir a vergonha com a culpa. Embora possamos sentir ambas,
existe uma diferença entre elas.
A culpa é um sentimento desconfortável ou doloroso que resulta de fazer algo que viola ou quebra
um padrão ou valor pessoal, ou mesmo um acordo ou uma lei. A culpa tem, assim, a ver com o nosso
comportamento, com o fato de nos sentirmos mal com uma coisa que fizemos ou com algo que não
fizemos e devíamos ter feito.
À semelhança daquilo que acontece com a maior parte dos sentimentos, a culpa pode ser uma
emoção útil, que ajuda a guiar-nos nos nossos relacionamentos com nós mesmos e com as outra
pessoas. A culpa diz-nos que a nossa consciência funciona. As pessoas que nunca tiveram
sentimentos de culpa ou nunca sentiram remorsos após terem feito uma transgressão têm
dificuldade na sua vida e diz-se, normalmente, que tem uma perturbação de personalidade que se
manifesta como antissocial.
Quando a culpa é prejudicial para a nossa serenidade, a nossa paz de espírito e o nosso
funcionamento – incluindo o nosso crescimento mental, emocional e espiritual – chamamos-lhe de
culpa “doentia”. As pessoas oriundas de lares ou ambientes perturbados ou disfuncionais têm,
muitas vezes, uma mistura de culpa saudável e culpa doentia. Normalmente, esta última não é
trabalhada nem digerida como devia e acaba por persistir, tornando-se, por vezes, causadora de
danos em termos psicológicos e emocionais. A “responsabilidade” para com a família ultrapassa a
responsabilidade que temos para com o nosso Eu verdadeiro. Também pode existir uma culpa de
“sobrevivente”, na qual a pessoa se sente culpada e indigna por partir e abandonar ou outros num
ambiente conturbado ou por sobreviver após os outros terem fracassado.
A culpa pode ser substancialmente aliviada por intermédio do reconhecimento da sua existência e
do estudo que fizemos dela. Isto significa que a experienciamos e as discutimos com outras pessoas
em que confiamos. Na sua mais simples resolução, podemos desculpar-nos para com a pessoa que
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VERGONHA
A acrescer ao sentimento de inaptidão, a vergonha faz com que acreditemos que os outros
conseguem ver através de nós, através dos papéis que representamos e através das nossas
incapacidades. A culpa faz com que nos sintamos inúteis. Sentimo-nos isolados e solitários com a
nossa vergonha, como se fôssemos os únicos a ter esse sentimento.
Mais, podemos dizer, “tenho medo de te contar que tenho vergonha porque se o fizer vais achar que
sou mau”. Por isso, não só guardo esse segredo comigo, como a maior parte das vezes o tapo e finjo
que não existe.
Posso, inclusive, disfarçar a minha vergonha como se fosse outro sentimento qualquer ou uma ação
diferente e depois projetá-la nas outras pessoas.
Alguns desses sentimentos e ações que podem mascarar a nossa vergonha incluem:
- Raiva
- Desprezo
- Negligência ou Indiferença
- Ressentimento
- Ataque
- Abandono
- Fúria
- Controle
- Desapontamento
- Culpa
- Perfeccionismo
- Comportamento compulsivo
“E quando sinto ou utilizo um destes disfarces, eles servem um propósito útil para o meu eu
falso – agem como uma defesa contra o meu sentimento de vergonha, ela continua a poder
ser vista pelas outras pessoas; quando baixo a cabeça, desvio o olhar ou peço desculpa por
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“Por mais que me defenda a mim e aos outros, a minha vergonha não deixará de existir, a
menos que aprenda o que ela é, a experimente e a partilhe com outras pessoas seguras e
apoiantes”.
A nossa vergonha parece resultar daquilo que fazemos com as mensagens, afirmações, crenças e
regras negativas que vamos ouvindo à medida que crescemos. Ouvimos de nossos pais, familiares e
outras pessoas que exercem algum tipo de autoridade sobre nós, como é o caso dos professores e
dos padres. Essas mensagens dizem-nos basicamente que estamos errados de alguma forma.
Dizem-nos também que os nossos sentimentos, as nossas necessidades, o nosso Eu verdadeiro, a
nossa Criança Interior não é aceitável.
Ouvimos várias vezes mensagens do gênero “Que vergonha!”, “Você é mau” ou “Não faz nada
direito”. Ouvimos tantas vezes e das pessoas de quem dependemos e para as quais somos tão
vulneráveis, que acabamos por acreditar nelas. Por isso, incorporamos ou internalizamos no nosso
Eu.
Como se isso não bastasse, a ferida é composta por regras negativas que ocultam e proíbem a
expressão necessária das nossas dores de um modo saudável e terapêutico. Regras como “Não
sinta”, “Não chore” e “As crianças devem ser vistas, não ouvidas!” Fazem com que aprendamos não
só que somos maus, mas também que não devemos falar sobre isso.
Contudo, essas regras negativas são muitas vezes incutidas pela força. Qual o resultado? Dificuldade
em confiar naqueles que fazem as regras e nas figuras de autoridade, conjuntamente com
sentimentos de medo, culpa e mais vergonha. E onde é que os nossos pais aprenderam essas regras
e mensagens negativas? O mais provável é que as tenham adquirido por intermédio dos pais deles e
de outras figuras da autoridade.
Quando todos os elementos de uma família disfuncional comunicam com os outros numa base de
vergonha, essa família pode ser descrita como baseadas na vergonha.
Os pais desse tipo de família não viram as suas necessidades satisfeitas quando eram bebês ou
crianças, o que, normalmente, continua a acontecer à medida que vão entrando na idade adulta. A
maior parte das vezes acaba por se servir dos filhos para satisfazer essas necessidades insatisfeitas.
➔ CODEPENDÊNCIA
Perda da identidade, perda do contato com seus próprios sentimentos, carências e desejos
São pessoas cuja à identidade depende de algo que está fora delas.
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Com o passar do tempo, a pessoa que convive com a tensão crônica do comportamento de um
alcoólatra perde o contato com suas características internas – os próprios sentimentos, carências e
desejos.
Quando o ambiente familiar é de violência (química, emocional, física ou sexual) a criança passa a
focalizar apenas o exterior. Com o tempo ela perde a capacidade de gerar a autoestima que vem do
seu interior.
Sem uma vida interior saudável, a pessoa exilada de si mesma, procura satisfação no exterior.
➔ COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS
A criança interior ferida é responsável por grande parte da violência e crueldade que há no mundo.
Geralmente o agressor sente medo e quando isso o acontece se lembra do garotinho que tinha sido,
o pai era violento e o maltratava fisicamente.
Para não assumir a personalidade de um garoto assustado cheio de medo, ele identifica-se com o
pai, torna-se o pai.
Essas agressões podem ser maus tratos físicos, abusos sexuais e severos castigos.
O psiquiatra Bruno Bettelheim escreveu: “Identificação com o agressor”. A violência sexual, física e
emocional, é tão apavorante para a criança que ela não consegue manter a própria personalidade.
Para sobreviver a dor, ela perde toda a noção de identidade, identificando-se som o agressor.
A agressividade nem sempre vem de maus tratos. Em alguns casos, os indivíduos foram mimados
com indulgência e submissão exageradas e aprenderam a se considerar superiores aos outros,
acreditam que merecem tratamento especial e que não podem errar. Não tem nenhuma
responsabilidade, seus problemas são sempre culpa de outro.
➔ COMPORTAMENTO NARCISISTA
A criança precisa ser amada incondicionalmente. A criança quando nasce ela ainda não é “ela”.
A criança precisa saber que é importante, que é levada a sério, que cada parte dela é importante e
digna de ser amada e aceita. Precisa saber que os que tomam conta dela as ama e que pode confiar
neles.
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A criança, privada dessas necessidades, contaminam o adulto com uma sede insaciável de amor,
atenção e afeição.
As carências da criança são de dependência, isto é, carências que dependem de outras pessoas para
serem atendidas.
Só a lamentação da perda realiza a cura. Enquanto isso não for feito, a criança insaciável procura
vorazmente o amor e a estima que não teve na infância.
As carências dos adultos crianças privados de suas necessidades narcísica tomam várias formas:
➔ PROBLEMAS DE CONFIANÇA
Quando a criança não pode confiar nas pessoas responsáveis por ela, desenvolve-se um sentimento
de insegurança. O mundo fica lhe parecendo um lugar perigoso, hostil e imprevisível.
Então surge uma espécie de mania de controle. “Se eu controlar tudo. Ninguém pode me apanhar
desprevenido e me ferir”.
A mania de controle cria grave problemas de relacionamentos. Não é possível uma intimidade com
quem não confia em ninguém.
De acordo com Patrick Carnes, especialista em manias, a pessoa que nunca aprendeu a confiar
confunde, intensidade com intimidade, obsessão com interesse, controle com segurança e
dependência com amor. “A dependência que o adulto chama de amor, tem suas raízes no medo
profundo do abandono”.
Se mamãe e papai são consistentes e previsíveis, se mamãe e papai confiam em si próprios, a criança
confia neles e em Si mesma.
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As emoções são as principais forças motivadoras de nossas vidas. As emoções são o combustível
com o qual nos defendemos e com o qual procuramos atender nossas necessidades básicas. Emoção
= Energia em movimento.
O medo nos move para fugirmos do perigo. A tristeza nos faz chorar, com a tristeza, lamentamos
nossas perdas e libertamos nossa energia para ser usada no presente.
Quando não podemos lamentar não terminamos com o passado. Toda a energia emocional relativa
à nossa tristeza ou trauma se congela.
Uma vez que não se pode expressar nenhum lamento normal e saudável, expressa-se por meio do
comportamento anormal, Isso se chama “Repetição”.
A energia emocional do passado, não externada e resolvida se expressa da única forma possível:
➔ REPETIÇÃO INTERNA
A repetição interna consiste em repetir em si mesmo as violências do passado. Nós nos punimos
como nos puniam na infância.
Se por exemplo uma criança é proibida d e expressar sua raiva quando adulto essa raiva se vira
contra ela mesma, tornando-se deprimida, apática, inepto e incapaz de atingir seus objetivos.
A energia emocional que é repetida contra a própria pessoa pode provocar graves problemas físicos,
incluindo distúrbios gastrointestinais, dores de cabeça, tensão grave, artrite, asma, ataques
cardíacos e câncer. Ser sujeito a acidentes é outra forma desse tipo de repetição da violência. A
pessoa provoca o acidente como forma de punição.
➔ CRENÇAS MÁGICAS
Mágica é a crença que certas palavras, gestos ou comportamentos podem mudar a realidade.
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Por exemplo, o pai que faz com que o filho pense que é responsável pelos sentimentos de outra
pessoa.
Essa crença é mágica, sugere que algum acontecimento ou determinada pessoa pode mudar a nossa
realidade, sem que tenhamos de mudar nosso comportamento.
Para a criança é natural pensar magicamente. Mas se a criança for magoada por falta de
atendimento das suas exigências de dependência, ela jamais cresce. Será um adulto ainda
contaminado pelo pensamento mágico de uma criança.
Toda criança acredita em contos de fadas, porém, quando a criança interior é ferida, ela continua a
interpretar literalmente os contos de fadas.
Como adulto criança, esperamos magicamente e/ou procuramos o final perfeito, onde vivemos
felizes para sempre.
➔ DISTÚRBIO DE INTIMIDADE
A maior mágoa que uma criança pode sofrer é a de rejeição do “Eu” autêntico. Quando um dos pais
não pode afirmar os sentimentos, as carências e os desejos do filho, ele está rejeitando o “Eu”
autêntico da criança. Então se torna necessário à criação de outro “Eu”.
Para acreditar que é amada, a criança ferida comporta-se da forma que acha que deve se comportar.
Esse falso “eu” se desenvolve com o passar dos anos e é reforçado pelas exigências do sistema
familiar e pelos papéis sexuais da nossa cultura. Gradativamente, o falso eu transforma-se naquilo
que a pessoa pensa que é.
Ela esquece que o falso “Eu” é uma adaptação, um ato baseado num script de outra pessoa.
É impossível a intimidade sem a noção do “Eu”. Como podemos compartilhar nossa pessoa com
alguém, quando não sabemos realmente quem somos? Como alguém pode nos conhecer quando
não nos conhecemos?
Um dos meios de criar uma sólida noção do “Eu”, consiste em estabelecer limites fortificados,
“fronteiras”.
Nós temos as “fronteiras” sexuais, nos mantém sexualmente protegidas e tranquilos. (As pessoas
com fronteiras sexuais fracas geralmente fazem sexo quando na verdade, não desejam fazer).
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Quando a criança é ferida suas fronteiras são violadas, trazendo medo do abandono ou violação.
Quem tem uma boa autoestima não tem medo. Sem as fronteiras temos dificuldades em dizer não e
saber o que queremos, dois comportamentos cruciais para estabelecer a intimidade.
A criança ferida também contamina a vida do adulto com uma depressão crônica, sentida como um
vazio. A depressão é causada pelo fato da criança ter de adaptar um “Eu” falso, abandonando seu
verdadeiro “Eu”. Esse abandono do verdadeiro “Eu” cria um espaço interior vazio, um “buraco na
alma”.
Quando a pessoa perde seu “Eu” autêntico, perde contato com seus verdadeiros sentimento,
carências e desejos, que são substituídos pelos sentimentos exigidos pelo falso “Eu’. Por exemplo,
“ser bonzinho” .
Quando a criança é ferida, o adulto se sente vazio e deprimido. Ele está ali, mas não está dentro da
vida. O vazio leva ao sentimento de solidão e suicídio.
➔ DISTORÇÃO DO PENSAMENTO
As crianças são ilógicas. Isso se manifesta por meio daquilo que foi chamado de “raciocínio
emocional”. Eu sinto de certa forma, logo deve ser assim. Se me sinto culpado, devo ser uma pessoa
má.
A criança não aprende a separar os pensamentos das emoções, quando adulto, usa o pensamento
como uma maneira de evitar emoções dolorosas. Como se separasse a cabeça do coração. Dois
padrões comuns dessa distorção do pensamento são a universalização e o uso de detalhes.
Muitas crianças sabem que os pais ficaram desapontados com seu sexo quando elas nasceram. A
criança começa a se envergonhar do seu sexo, o que pode levar mais tarde, a vários graus de
submissão sexual.
A criança vitimada pelo desprezo dos pais e pelas humilhações impostas geralmente é predisposta a
um comportamento sadomasoquista.
➔ COMPORTAMENTO INDISCIPLINADO
Os pais devem dar exemplos de autodisciplina, em vez de falar sobre ela. As crianças aprendem com
os atos dos pais, não com suas palavras. Quando os pais não dão exemplo de disciplina á criança
torna-se indisciplinada.
Quando os pais disciplinam rigidamente os filhos (e não fazem o que pregam), a criança torna-se
super disciplinada.
A criança interior indisciplinada faz o adulto hesitar, procrastinar, rebelar-se, ser voluntarioso e
obstinado, agir impulsivamente sem pensar.
➔ COMPORTAMENTO VICIADOS/COMPULSIVOS
A criança ferida que vive no adulto é a causa principal dos vícios e do comportamento viciado. Se a
criança não é curada os vícios também não são.
Quando se livra de um vício, a bebida, por exemplo, (sem antes curar a criança), vai se procurar
outra forma de alteração do temperamento, Se antes bebia, agora come e fuma, compulsivamente,
em razão da carência insaciável da criança que não foi curada.
Quando reconhecemos a criança ferida que vive em nós como o centro do comportamento
viciado/compulsivo, podemos ver o vício em um contexto muito mais amplo. O vício é o
relacionamento patológico com qualquer forma de alteração de temperamento, com consequências
que representam risco de vida.
● Vício de atividade
● Vício cognitivo
● Vício de sentimentos
● Vício de coisas.
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BLOQUEIO A CURA
À medida que vamos começando a curar a nossa vergonha, podemos encontrar bloqueios dentro de
nós que não nos deixam ir em frente com nossa cura. Esse tipo de bloqueio pode incluir atitudes
negativas que podemos ter para conosco próprios; memórias de expressões faciais ou outras
imagens das pessoas que foram causadoras do nosso sentimento de vergonha no passado e que
agora vemos nas outras pessoas e mudanças que a nossa vida sofre em áreas essas que podem
incluir o seguinte:
● Sentimentos
● Condutas (por exemplo, sexualidade, agressividade, raiva ou necessidade de intimidade)
● Necessidades
● Pensamentos (especialmente, todos os “maus” pensamentos)
Por exemplo, quando nos sentimos magoados por uma figura de autoridade, como por exemplo, um
dos nossos pais, podemos sentir raiva. Todavia, a raiva rapidamente se transforma ou é coberta
pelo sentimento de vergonha. Também podemos começar por sentir medo ou confusão. Porque
todos esses sentimentos podem fazer com que fiquemos desconfortáveis, ou como se perdemos o
controle, tratamos rapidamente de nos libertar de todos eles e tornamo-nos apáticos. Durante esse
episódio ainda durante alguns minutos após a sua ocorrência, podemos tornar-nos disfuncionais a
vários níveis. Todo esse processo pode durar apenas alguns segundos, mas pode fazer como se
voltássemos a ser uma criancinha desamparada. Tal acontecimento tem vindo a ser designado por
regressão a um mecanismo anterior de sobrevivência.
O fato de procedermos desta forma aliviará a nossa confusão, sensação de apatia e incapacidade e
permitirá que sintamos um crescendo de conscientização daquilo que está a acontecer, de maneira
que começamos a controlar-nos melhor.
Também descobrimos que a regressão pode inclusive ser vantajosa para nós, já que nos diz
imediatamente que estamos a ser maltratados, ou que estamos a tratar-nos mal.
Quando sabemos que isso está a acontecer, podemos sempre explorar as maneiras de tomar
atitudes que remediariam a situação e ponham fim ou evitem os maus tratos.
Sabemos que há uma saída. Estamos a começar a curar a nossa Criança Interior.
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Não podemos mudar em nada nosso passado, não podemos desfazer os males que nos foram
imputados na infância. Mas podemos nos mudar. “consertar”, reconquistar nossa integridade
perdida. Isso é possível à medida que decidimos observar mais de perto o conhecimento sobre o
passado arquivado em nosso corpo, e colocá-lo mais perto de nossa consciência. Certamente, é um
caminho desconfortável, mas é o único que nos oferece a possibilidade de, finalmente, deixar a
invisível (e ao mesmo tempo cruel) prisão da infância, nos transformando de vítimas inconscientes
do passado em pessoas responsáveis, que são cientes de sua história e, com isso, capazes de
conviver com ela.
A maior parte das pessoas faz exatamente o contrário. Não quer saber nada de sua história e, dessa
forma, não sabe que, no fundo, é continuamente determinada por essa história, pois vive situações
não resolvidas, reprimidas na infância. Não sabe o que teme e evita perigos que um dia foram reais
mas que hoje não existem mais. Essas pessoas são impulsionadas por lembranças e necessidades
inconscientes que, frequentemente, determinam de maneira perversa quase tudo o que fazem ou
falhem no seu fazer – enquanto permanecerem inconscientes e não resolvidas.
A repressão aos maus-tratos sofridos no passado leva algumas pessoas, por exemplo, a destruir a
própria vida e a vida de outros, incendiar casas estrangeiras, promover vinganças, tudo em nome de
um patriotismo, a fim de ocultar a verdade de si mesmas e sentimentos de desespero da criança
torturada. Outras reproduzem ativamente o sofrimento a que foram submetidas, em clubes de
flageladores, em cultos a sacrifícios de todos os tipos no mundo sadomasoquista, chamando a tudo
de libertação. As mulheres furam seus mamilos para pendurar brincos, posam para jornais e contam
orgulhosas que não sentiram dor e que se divertiram com isso. Não há do que duvidar nessas
afirmações, pois essas mulheres tiveram de aprender muito cedo a perder a sensibilidade. E o que
não fariam hoje em dia para não sentir a dor da garotinha que sofreu abuso sexual pelo próprio pai,
e precisou imaginar que o atentado fora prazeroso? Uma mulher que sofreu abuso sexual quando
criança, que negou a realidade de sua infância, está constantemente fugindo dos acontecimentos
passados – com a ajuda de amantes, álcool, drogas ou ações excepcionais. Ela precisa estar
continuamente “ligada”, a fim de não sucumbir ao “tédio”, não pode se permitir um segundo de
tranquilidade, quando seria possível sentir a ardente solidão da realidade de sua infância, pois teme
esse sentimento mais do que a morte – a menos que tivesse a sorte de aprender que o
reavivamento e a consciência dos sentimentos da infância não matam, libertam. O que não raro
mata é reprimir os sentimentos, cuja experimentação consciente poderia nos revelar a verdade.
A repressão dos sofrimentos da infância determina não só a vida do indivíduo como também os
tabus da sociedade.
Existem também as pessoas que vêm a terapia com a imagem de uma infância feliz e protegida. São
pacientes que tinham muitas possibilidades ou talentos, desenvolvidas posteriormente, e que eram
elogiados por seus dons e feitos. Quase todos eles, quando crianças, com um ano de idade, já não
usavam fraldas e muitos, aos cinco anos, já ajudavam eficientemente nos cuidados dos irmãos
menores.
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Já na primeira consulta, falam de seus pais compreensivos, ou pelo menos um deles; e se lhes faltou
compreensão do outro, foi porque não conseguiu se expressar direito. dessa forma, trazem suas
primeiras lembranças sem qualquer compaixão pela criança que um dia foram, o que fica tanto mais
evidente quanto maior sua capacidade de introspecção e empatia com outras pessoas. Mas o
relacionamento com o mundo dos sentimentos de sua infância é caracterizado pela falta de respeito,
necessidade de controle, manipulação e pressão por resultados. Não é raro encontrar aí desdém e
ironia, chegando até a zombaria e ao cinismo, Em geral, há, também, uma total ausência de
compreensão e de percepção emocional das vicissitudes da própria infância, bem como uma
ignorância geral das próprias e reais necessidades, ao contrário das pressões por resultados. A
repressão do drama original foi tão bem sucedida que a ilusão da boa infância pôde ser salva.
Sentimentos perdidos
Todo o “esquecimento” é uma técnica desenvolvida para manter os sentimentos longe de si, pois
uma criança só os pode vivenciar em companhia de uma pessoa que as entende e as aceita com
esses sentimentos. Quando esta pessoa não está presente, quando a criança tem de arriscar perder
o amor da mãe ou de sua substituta, ela não consegue vivenciar, secretamente, “só para si”, mesmo
as reações emocionais mais naturais, tendo de reprimi-las. Mas elas ficam arquivadas como
informações em seu corpo.
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A maior parte das vezes, embora isso nem sempre aconteça, tem um segredo que pode, por vezes,
conter algumas condições “vergonhosas”, que vão da violência familiar aos abusos sexuais ou do
alcoolismo até ao fato de terem vivido como se estivessem num campo de concentração. O segredo
também pode ser algo tão sutil como a perda de um emprego, promoção ou fim de um
relacionamento. A manutenção de tais segredos é algo que preocupa todos os membros da família,
independentemente de saberem ou não o segredo. Isto se deve ao fato de o secretismo impedir as
perguntas, dúvidas ou sentimentos (como medo, raiva, vergonha ou culpa). Assim sendo, a família
não consegue comunicar livremente. E a Criança Interior dos membros de cada família continua
oprimida – incapaz de crescer e de se desenvolver.
É muito comum nos depararmos com adultos ainda encobertos pelos esconderijos psíquicos
edificados na infância. Basta olharmo-nos no espelho e, se tivermos coragem, reconheceremos a nós
mesmos nesse contexto. O que nos tornamos? Seres únicos, livres para expressarem o que pensam e
sentem, para ir e vir, ou crianças inseguras ainda dominadas pelos monstros da rejeição e do
abandono? Seres autônomos ou infantes estereotipados? Seres autênticos ou um amontoado de
representações?
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“Um belo dia acordamos pela manhã e sem nos dar conta interpretamos que era carnaval. E
como era carnaval nos vestimos da ilusão, colocamos em nós alegorias, tapamos os olhos
para não ver, utilizamos máscaras para não perceber e estabelecemos euforia para não
sentir.
Hoje acordamos...., numa quarta feira de cinzas, começando a despertar nossa consciência
para a grandiosa verdade: não somos o que pensávamos ser; nos iludimos. E nos iludimos
porque ignoramos que a verdade anda lado a lado com a ilusão. E quando a ilusão cai o que
resta é a verdade."
PROTOCOLO
Feche os olhos e concentre-se na sua respiração... Inspire contando até quatro, prenda a respiração
contando até quatro e solte o ar contando até oito... faça isso por sete vezes.
Agora veja uma escada a sua frente, uma escada com dez degraus, no final dessa escada tem um
corredor longo e sinuoso com portas dos dois lados... eu vou contar de um até dez a medida que eu
for contando você vai descendo degrau por degrau... se aprofundando mais .... e mais.... no seu
relaxamento... e quando eu terminar de contar você vai entrar por esse corredor..... um....
relaxaaaaada.... dois.... beeeeeem relaxaaaada..... três..... maaaaaais relaaaaxada..... quatro.... muito
maaaaais relaaaaaxada..... cinco.... muuuuuito maaaaais..... muuuuuuito maaaaais..... relaxaaaada....
seis.... compleeeeetamente.... relaxada.....sete.... toooootalmente relaaaaxada.... oito beeeemmmm
maaaais relaxaaaada....nove muuuito maaais..... relaxada...... dez.... profuuuuundamente
maaaaais......relaaaaxada.........
Agora caminhe por esse corredor longo e sinuoso.... no final dele você vai ver a rua onde morava
quando criança.... olhe para as casas vizinhas, olhe para seu portão... entre.... observe bem o terreiro
se tiver, as árvores, flores, plantas, animais. Olhe sua casa do lado de fora, as portas e janelas, a
varanda se tiver, vá para a porta da frente e abra bem devagar... olhe para a sala, todos os objetos,
sofá, televisão, observe tudo que tem aí. Vá para a sala de jantar, observe atentamente os moveis,
agora vá para a cozinha, veja a geladeira, fogão, o armário, as panelas da mamãe, talvez você até
veja a mamãe cozinhando, vá agora para seu quarto se o tiver, olhe para sua cama, seus brinquedos,
olhe os detalhes desse quarto, vá agora para o quarto do papai e da mamãe, veja o que tem nele,
talvez tenha um berço, observe.
Em algum lugar dessa casa tem uma criancinha precisando de você, procure por ela, veja onde ela
está.
Olhe bem para essa criança, como ela está vestida? Como está calçada? Como está seu cabelinho?
O que você sente quando olha para ela?
Chegue mais perto, sente-se ao lado dela e diga: Minha querida, eu sinto muito por tudo isso que
você passou, eu sou você adulta e vim para te ajudar a sair dessa dor, já passou minha querida, você
sobreviveu e se fortaleceu com tudo isso, tudo que aconteceu agora são só memórias sem dor de
momentos difíceis que já passaram, você superou. Eu sinto muito por ter demorado tanto tempo
para chegar até aqui, eu não sabia que você estava presa aqui nessa dor, mas agora que te encontrei
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Eu sou muito grata a você minha querida criança, só cheguei até aqui porque você conseguiu
superar tudo isso. Gratidão minha querida, eu te amo.
Abrace sua criança com muito carinho e diga a ela: Venha comigo, vou te levar embora daqui. Leve
sua criança para um lugar lindo e seguro, chegando lá diga: Você está livre agora meu amor de toda
dor, medo e solidão, juntas somos mais fortes e vamos realizar muitos sonhos.
Abrace essa criança e veja ela se integrando em você e vocês duas se transformando em uma só
pessoa. Quando ela sumir dentro de você me avise por favor.
Respire fundo... (3X) Vá trazendo sua consciência para seu corpo, com os olhos fechados ainda vá
movimentando lentamente seu pés, pernas, mãos e braços.... de uma espreguiçada como se
estivesse acordando de um sono profundo... quando quiser pode abrir os olhos.
Referência bibliográfica
➔ Curar a criança interior - Charles L Whitfield
➔ O drama da criança bem dotada – Alice Miller
➔ Prisioneiros da infância – Cláudia Carvalho, Cláudia Zacarias
➔ O reencontro da criança interior – Jeremiah Abrams
➔ A criança interior – Erich Neumann
➔ Volta ao lar – John /bradshaw
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