IDEAS - Byung-Chung Han
IDEAS - Byung-Chung Han
IDEAS - Byung-Chung Han
Byung-Chul Han aceitou esta entrevista como EL PAÍS, mas somente mediante
um questionário por e-mail que foi respondido em alemão pelo filósofo e
posteriormente traduzido e editado.
RESPOSTA. Há, sem dúvida, uma hiperinflação de objetos que conduz a sua
proliferação explosiva. Mas se trata de objetos descartáveis com os quais não
estabelecemos laços afetivos. Hoje estamos obcecados não com as coisas, e
sim com informações e dados, ou seja, não-coisas. Hoje somos todos
infômanos. Chegou a se falar de datasexuais [pessoas que compilam e
compartilham obsessivamente informação sobre sua vida pessoal].
R. As coisas são os apoios que dão tranquilidade na vida. Hoje em dia estão
em conjunto obscurecidas pelas informações. O smartphone não é uma coisa.
Eu o caracterizo como o infômata que produz e processa informações. As
informações são todo o contrário aos apoios que dão tranquilidade à vida.
Vivem do estímulo da surpresa. Elas nos submergem em um turbilhão de
atualidade. Também os rituais, como arquiteturas temporais, dão estabilidade à
vida. A pandemia destruiu essas estruturas temporais. Pense no teletrabalho.
Quando o tempo perde sua estrutura, a depressão começa a nos afetar.
P. Em que sentido?
P. Há quem tema que a internet das coisas possa significar algo assim
como a rebelião dos objetos contra o ser humano.
P. Blaise Pascal disse que a grande tragédia do ser humano é que não
pode ficar quieto sem fazer nada. Vivemos em um culto à produtividade,
até mesmo nesse tempo que chamamos “livre”. O senhor o chamou, com
grande sucesso, de a sociedade do cansaço. Nós deveríamos nos fixar na
recuperação do próprio tempo como um objetivo político?
R. Todo mundo hoje quer ser autêntico, ou seja, diferente dos outros. Dessa
forma, estamos nos comparando o tempo todo com os outros. É justamente
essa comparação que nos faz todos iguais. Ou seja: a obrigação de ser
autênticos leva ao inferno dos iguais.