Luciola - Material Do Professor

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João e

Maria em Graphic Novel

de josé de alencar
e outros contos de Grimm
ilustrações de ricardo rocha
roteiro de maria helena rouanet
Tradução
material de apoio elaborado por januária e alves
cristina adaptação:
Maria Clara Machado
de Jacob & Wilhelm Grimm

Organização:
Luiz Raul Machado
Ilustrações: Andréia Vieira

Material de apoio por:


Maria Beatriz de Almeida
Serra
Direitos de edição da obra em língua portuguesa no Brasil adquiridos
pela Petra Editorial LTDA. Todos os direitos reservados. Nenhuma par-
te desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de
dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico,
de fotocópia, gravação etc., sem a permissão do detentor do copirraite.

Petra Editorial Ltda.


Estrada Rosário, No 135, Lote 31 — Quadra 5
Jardim Primavera — Duque de Caxias — RJ
CEP: 25215-365

Direção editorial: Daniele Cajueiro


Editoras responsáveis: Ana Carla Sousa e Mariana Elia
Produção editorial: Adriana Torres, André Marinho, Carolina Rodrigues,
Janaína Senna, Larissa Carvalho, Luisa Suassuna e Thais Entriel
Revisão: Thais Entriel
Diagramação: Filigrana

Material de apoio digital do Manual do Professor


CARO EDUCADOR,

É com prazer que a Petra apresenta aqui este Manual


do Professor Digital para a obra Lucíola em graphic
novel. Trata-se de uma proposta que visa contribuir
para a formação de leitores autônomos, críticos e
apaixonados pela leitura, contando com a sua me-
diação e a da escola.
Acreditamos que ler é uma prática que se aprende
e se ensina, dado que não é um ato natural como
a fala, por exemplo. Um leitor não nasce pronto,
precisa ser formado. A aprendizagem da leitura
envolve a aquisição de uma série de competências
e habilidades que devem ser trabalhadas na escola
por meio de estratégias e projetos que possibilitem
a compreensão da leitura pelas crianças e pelos jo-
vens como uma prática social, uma ferramenta que
lhes possibilitará não só a comunicação com aqueles
com quem se relacionam, mas a compreensão de
si próprios e do mundo em que vivem.
Este Manual é um convite à EDUCAÇÃO
LITERÁRIA, aquela que, como define o educador
espanhol Carlos Lomas, “se orienta não só para

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o conhecimento das obras e dos autores e auto-
ras mais significativos do cânone literário, mas,
também e sobretudo, para a aquisição de hábitos
de leitura e de capacidades de análise dos textos,
para o fomento da experiência literária em torno
de diferentes tipos de texto e, inclusivamente, para
o estímulo da escrita criativa de intenção literária”
(LOMAS, O valor das palavras II, 2006).
Entendemos que a educação literária é algo que
começa na mais tenra idade, em casa e em família,
e se estende por toda a vida do indivíduo, inclusive
a vida escolar, pois acreditamos que aprender a
ler é muito mais que aprender a decifrar palavras.
Nessa perspectiva, este Manual será sempre uma
dentre as inúmeras possibilidades de trabalho para
a construção de um leitor autônomo.
Sendo assim, convidamos você, caro educador,
a tomar o livro Lucíola em graphic novel como um
ponto de partida para sua programação do ensino
da leitura em sua escola. Disponibilizamos suges-
tões de atividades para poder oferecer aos seus
alunos razões e opções para ler, multiplicando e
diversificando situações de leitura que, sabemos,

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são infinitas. Quanto mais ricas e variadas elas fo-
rem, mais chances as crianças e os jovens terão de
aprender por meio dos textos que leem.
Apostamos no papel fundamental do professor
e da escola como mediadores de leitura e entende-
mos que também é nossa função, como editores,
fortalecer e estimular as relações estabelecidas
entre o livro e o leitor, porque acreditamos na con-
dição formativa da literatura, não só no contexto
didático-pedagógico, mas como possibilidade de
desenvolvimento da imaginação e da criatividade
do ser humano.
Esperamos que este Manual se constitua numa
ferramenta de acesso à língua escrita e compreen­
são leitora, elementos essenciais tanto para a apro-
priação de todas as matérias do currículo escolar
como para a construção de cidadãos atuantes na
sociedade em que vivemos.

Petra

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A obra e seus autores
Maria Helena Rouanet, autora do roteiro de Lucíola
em graphic novel, foi professora de literatura brasi-
leira na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ) e, atualmente, dedica-se à tradução de obras
de ficção escritas originalmente em inglês, francês
e espanhol. Além de Lucíola em graphic novel, fez
também o roteiro para a adaptação em quadrinhos
de A terceira margem do rio, de João Guimarães Rosa.
Ricardo Rocha, ilustrador da narrativa visual do
livro, nasceu em Recife, em 1963. É artista desde
muito jovem: conseguiu seu primeiro emprego
como desenhista aos 13 anos. Nas décadas seguintes,
trabalhou como ilustrador em diversas editoras e
passou por grandes agências publicitárias do Rio
de Janeiro e de São Paulo.
José de Alencar, o autor da história, é um dos
mais importantes escritores do Brasil. Nascido em
1829, no Ceará, mudou-se para o Rio de Janeiro e,
mais tarde, para São Paulo — quando ingressou na
Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
Transferiu-se para a Faculdade de Direito de Olinda,

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em Pernambuco, e, em 1850, de volta a São Paulo,
formou-se. Iniciou sua colaboração no Correio
Mercantil em 1854 e estreou na literatura em 1856.
Em 1861 foi eleito deputado e, em 1868, tornou-
-se ministro da Justiça. Nessa época, tornaram-se
agudas as divergências com dom Pedro II, que lhe
vetaria a escolha para senador do Império, embora
tenha sido o mais votado na lista tríplice. O escri-
tor que retratou o Brasil de forma genial em seus
romances, registrou os tempos coloniais; o contato
entre os índios e os colonizadores; e o dia a dia do
Rio colonial. Faleceu em 1877, no Rio de Janeiro.
Lucíola é um perfeito exemplar do romance bra-
sileiro do período dito romântico. Trazido para o
universo dos quadrinhos por Maria Helena Rouanet,
que assina também a apresentação desta edição, e
pelo ilustrador Ricardo Rocha, esse clássico conju-
ga na mesma história um amor verdadeiro, porém
turbulento, e uma crítica aos costumes e à sociedade
do Rio de Janeiro do século XIX. O texto recebeu
de seu autor o subtítulo “Perfil de mulher” e tra-
ta-se de um dos chamados “romances urbanos”
de Alencar, pois a trama se passa no Rio de Janeiro

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de meados do século XIX, então sede do governo. Ao
longo do livro, o leitor se vê às voltas com as noites
passadas no Teatro Lírico, as lojas elegantes da rua
do Ouvidor, os trajes, as moradias, os festejos e as
diversões da sociedade da época.
A obra é narrada pelo personagem Paulo Silva,
que, em cartas dirigidas a uma senhora, traça o
perfil de sua amada, Lúcia, a mais desejada cortesã
da capital do Império, dona de uma personalidade
marcante. Durante a narrativa, desenrola-se uma
trama de amor, ciúmes, provocações e mal-enten-
didos. O enredo é envolto de tragédias e desatinos
da vida de Lúcia, que segue sua trajetória em bus-
ca de redenção, ainda que seu caminho até lá seja
bastante tortuoso, uma vez que o amor verdadeiro
dos personagens não pode superar a barreira das
normas da boa conduta da sociedade. Além de ser
um retrato da capital do país no século XIX, a obra
traz uma crítica sobre a sociedade dessa época,
bem como seus valores e julgamentos. Não apenas
pensar na estrutura social desse período, conside-
rando ainda o desfecho da obra e o destino de sua
protagonista, como refletir sobre a relação com a

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sociedade atual é um exercício importante e in-
contornável depois da leitura deste livro. Escolhas,
julgamentos, relação entre o público e o privado
são alguns dos temas que perpassam o enredo de
Lucíola — e Lucíola em graphic novel, claro.

Por que ler este livro no Ensino


Fundamental — Anos Finais
Hoje, as histórias em quadrinhos são publicadas
em diferentes meios e possuem diversos formatos.
A obra Lucíola, de José de Alencar, foi adaptada
por Maria Helena Rouanet e Ricardo Rocha para
uma graphic novel, uma história em quadrinhos
mais longa e sofisticada, com elaboração mais re-
finada desde a capa até a qualidade da impressão.
Exatamente por suas cores vistosas e por seu design
diferenciado, bem como o fato de conter ilustrações
e texto reduzido, é que a literatura em quadrinhos
— ou seja, literatura que foi adaptada para a arte em
quadrinhos — chama a atenção dos jovens.
Apesar de muitos ainda considerarem as histó-
rias em quadrinhos inibidoras da leitura, segundo
Gusman (2006), uma pesquisa realizada em 2001
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pela Universidade de Brasília revelou que os alunos
que leem quadrinhos possuem um desempenho
escolar melhor do que os alunos que utilizam ape­
nas o livro didático. Além disso, de acordo com
a BNCC (2018, p. 157), os alunos devem estar aptos a

analisar em textos narrativos ficcionais, as di-


ferentes formas de composição próprias de cada
gênero, os recursos coesivos que constroem a
passagem do tempo e articulam suas partes, [...]
e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos
verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de
enunciação e das variedades linguísticas [...]
empregados, identificando o enredo e o foco
narrativo [...] e os efeitos de sentido decorren-
tes do foco narrativo típico de cada gênero, da
caracterização dos espaços físico e psicológico
e dos tempos cronológico e psicológico, das di-
ferentes vozes no texto (do narrador, de perso-
nagens em discurso direto e indireto), do uso
de pontuação expressiva, palavras e expressões
conotativas e processos figurativos e do uso de

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recursos linguístico-gramaticais próprios a cada
gênero narrativo.

Will Eisner (1989) define a narrativa em quadri-


nhos como uma arte sequencial que funciona como
veículo de expressão criativa, “uma forma artísti-
ca e literária que lida com a disposição de figuras
ou imagens e palavras para narrar uma história ou
dramatizar uma ideia”. Ao ser examinada como um
todo, a disposição dos elementos de uma obra em
quadrinhos assume a característica de uma lingua-
gem, a qual mistura imagem e palavra para comunicar
ideias ou histórias.
Ainda segundo o autor, “a leitura da revista de
quadrinhos é um ato de percepção estética e de es-
forço intelectual”, uma vez que se caracteriza pela
sobreposição de imagem e palavra e pede o exer-
cício da habilidade interpretativa visual e verbal
do leitor.
Tem sido cada vez mais comum nos dias de hoje
que jovens do Ensino Fundamental demonstrem
certa falta de interesse na leitura de livros clássi-
cos, por acreditarem que o tema seja monótono e a

12
linguagem, complexa e desatualizada. Entretanto,
os conhecimentos sobre a língua e a norma-pa-
drão devem ser tomados como “propiciadores de
reflexão a respeito do funcionamento da língua no
contexto dessas práticas” (BRASIL, 2018, p. 13). Ao
serem inseridos em um gênero literário próximo
ao leitor, esses conhecimentos tornam a leitura de
um texto em linguagem formal mais interessante
de ser fruída. Dessa forma, a adaptação em quadri-
nhos de uma obra clássica deve conduzir o aluno a
interessar-se e envolver-se pelo livro, rompendo
com suas expectativas, criadas a partir de experi-
ências de leitura anteriores.
O livro em questão é a adaptação para os quadri-
nhos do romance em prosa Lucíola. Ao combinar
a linguagem não verbal com a linguagem verbal
adaptada, a leitura desse clássico do Romantismo
pelos alunos do 8o e 9o anos fica ao mesmo tempo
divertida, atraente e palatável, sem com isso alterar
o teor e a força da escrita de José de Alencar.
Em relação ao gênero romance, seu estudo é im-
portante para desassociar a ideia de que romance
está vinculado a amor, a duas pessoas que se amam

13
e querem ficar juntas para serem felizes. Segundo
Mário Luiz Frungillo, professor do Instituto de
Estudos da Linguagem, da Unicamp, conforme
citado por Alves (2015) um romance

[...] pode ser uma história sobre qualquer


assunto, amor, aventura, guerra, crime, fatos
históricos contados à maneira de ficção, epi-
sódios colados à realidade ou inventados, de
caráter realista ou fantástico, com qualquer tipo
de personagem, de qualquer classe social.

Apesar disso, o romance Lucíola narra, sim, uma


trama de amor, ciúmes e provocações, com tragé-
dias e desatinos da vida de Lúcia, a mais desejada
cortesã do Rio de Janeiro do século XIX. A perso-
nagem segue sua trajetória em busca de redenção,
uma vez que o amor verdadeiro entre ela e o narra-
dor da história, Paulo Silva, não consegue superar
os preconceitos da sociedade local, mostrando a
complexidade das relações humanas e da tomada
de decisões naquela época.

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Propostas de atividades
As propostas para trabalhar este livro envolvem
mais do que o ato de sua leitura, incluem também
a compreensão do gênero, assim como questões
sobre a sociedade da época e os relacionamentos
conturbados.
Nesse sentido, para a realização da leitura do livro
Lucíola em graphic novel, deve-se apresentar a his-
tória em quadrinhos como gênero, dando exemplos
de textos semelhantes, de forma a sistematizar as
características inerentes a ele. Deve-se ainda tra-
balhar a habilidade dos alunos de produção textual
do gênero história em quadrinhos, a fim de capa-
citar o aluno para a escrita em diferentes suportes
e sistemas de linguagem.

15
1. Atividade Prévia
Interdisciplinaridade — Língua Portuguesa e História

Antes de apresentar aos alunos o livro a ser lido, é


importante levantar o conhecimento prévio deles
sobre o gênero história em quadrinhos.
Para tanto, incialmente, apresente aos alunos
uma revista em quadrinhos da “Turma da Mônica”,
de Mauricio de Sousa, e pergunte se alguém conhece
e/ou já leu uma. É possível que grande parte da tur-
ma diga que já leu. Assim, pergunte o que faz com
que esse tipo de leitura seja diferente da leitura de
um livro. À medida que os alunos forem dizendo
as características das histórias em quadrinhos, vá
registrando na lousa. É importante que eles deem
respostas sobre a utilização de imagem e sequência
narrativa ilustrada; de balões e onomatopeias; e de
quadros. Dessa forma, eles farão menção às lingua-
gens verbal e não verbal, ambas bases do gênero.
Em seguida, instrua os alunos a darem exemplos
de histórias em quadrinhos que conhecem e os
oriente a levarem para a sala de aula alguma revista

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em quadrinhos, tira em quadrinhos ou graphic no-
vel (o romance em quadrinhos) de que gostem — é
importante deixar os alunos livres para buscarem
exemplos na internet, pois, além de ser possível
que muitos não tenham a revista/jornal/livro físi-
co, muitos quadrinistas utilizam-se de websites e
redes sociais para publicarem seus trabalhos.
A partir disso, analise, em conjunto com eles, os
títulos e autores trazidos. Veja se há uma variedade
grande ou se, em sua maioria, o autor é o mesmo.
Leve para a sala de aula outros exemplos de autores e
histórias em quadrinhos que não são tão conhecidos
ou, mesmo que conhecidos, não estão ao alcance
dos alunos. Leve exemplos de quadrinistas, como:
Ziraldo, Laerte, Angeli, Walt Disney, Henfil, Osamu
Tezuka, Fernando Gonsales, Craig Tompson, Will
Eisner, Orlandeli, Gilmar, Carlos Ruas; e de qua-
drinhos, como: Mafalda, Luluzinha, Marvel, DC,
Calvin e Haroldo, Asterix, Recruta Zero, Watchmen,
One Piece, Naruto, Vagabond, Tintim, Hellboy.
Dessa forma, trabalha-se com os alunos a par-
ticipação em

17
práticas de compartilhamento de leitura/re-
cepção de obras literárias/manifestações artísti-
cas [...], tecendo, quando possível, comentários
de ordem estética e afetiva e justificando suas
apreciações, escrevendo comentários e resenhas
para [...] práticas de apreciação e de manifes-
tação da cultura de fãs (BRASIL, 2018, p. 155).

Depois, apresente aos alunos o livro a ser lido,


mostrando não só os elementos estruturais do gêne-
ro, como também os que fazem parte da narrativa e
determinam espaço e tempo. Instrua-os a analisar,
sem realizar a leitura da capa, quarta capa ou textos
de apresentação, tendo como interrogativas a época,
a sociedade e o lugar em que a história se passa. A
partir das vestimentas, das construções, dos meios
de transporte, dos objetos em cena, dos utensílios
e da presença de escravos, os alunos devem con-
cluir que se trata de uma sociedade do século XIX,
no Brasil.
É plausível orientá-los a, com esses elementos,
inferir o tema da obra, conduzindo-os a respostas
por meio de sugestões norteadoras, como: seria

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uma história de detetive? Uma biografia sobre al-
guém da realeza? Uma comédia sobre a sociedade
da época? Um romance impossível?
Na aula do componente curricular de História,
é necessário realizar um trabalho de contextuali-
zação histórica do livro. Para tanto, com base nos
elementos levantados que determinam o espaço e o
tempo da narrativa, instrua-os a relacionarem-nos
com a unidade temática sobre o Brasil no século
XIX — trabalhando o Período Regencial, o Brasil do
Segundo Reinado, o escravismo no Brasil, as po-
líticas de extermínio dos indígenas, o imaginário
nacional brasileiro (cultura popular, representa-
ções visuais e o Romantismo), o papel das artes na
produção de identidades no Brasil, o processo da
independência do Brasil, que são parte do currículo
de História dos 8o e 9o anos do Ensino Fundamental.
De forma a “estabelecer múltiplos olhares sobre
as identidades, sociedades e culturas e conside-
rando a autoria e o contexto social e histórico de
sua produção” (BRASIL, 2018, p. 155) e a “com-
preender acontecimentos históricos, relações de
poder e processos e mecanismos de transformação

19
e manutenção das estruturas sociais, políticas, eco-
nômicas e culturais ao longo do tempo e em dife-
rentes espaços” (BRASIL, 2018, p. 400), instrua os
alunos a identificarem as imagens que representam
os costumes da sociedade do Rio de Janeiro nesse
período, como os trajes e os festejos — os quais de-
vem expressar a visão de um povo com relação ao seu
contexto histórico —, e as imagens que constroem
a cidade que um dia foi a capital do país. Estamos
nos referindo portanto aos seus marcos históricos,
como o Teatro Lírico e as lojas da rua do Ouvidor,
por exemplo.

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2. Atividade pós-leitura
Orientações para Língua Portuguesa

Quando a história se inicia, percebemos, através


da linguagem não verbal — um homem sentado à
mesa escrevendo em um papel — e da linguagem
verbal — no canto superior esquerdo um trecho de
uma mensagem — que o personagem está fazendo a
narração por meio de uma carta pessoal destinada
a uma senhora. Apesar de não sabermos a quem
se dirige, evidencia-se o motivo da carta nos dois
primeiros quadros, quando a personagem escreve:

A senhora estranhou, na última vez que es-


tivemos juntos, a minha excessiva indulgência
pelas criaturas infelizes que escandalizam a so-
ciedade com a ostentação do seu luxo e extrava-
gância. Calando-me naquela ocasião, prometi
dar-lhe a razão que a senhora exigia: e cumpro
meu propósito mais cedo do que pensava.

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No decorrer da narrativa, compreendemos que o
homem escreve sobre sua amada e o romance que
viveram, a partir da sua visão dos acontecidos. No
romance, Paulo Silva, um rapaz de família simples
do Recife, vai para a Corte e conhece a cortesã Lúcia,
por quem se apaixona. Paulo narra à senhora seu
romance turbulento com a cortesã até a morte de
Lúcia.
Por meio de críticas aos costumes e à sociedade
do Rio de Janeiro do século XIX e utilizando-se de
uma linguagem formal, o romance é uma história
de amor: duas pessoas se apaixonam, encontram
barreiras e complicações para ficarem juntas, se-
param-se, conseguem destruir as barreiras que as
separam e finalmente conseguem ficar juntas — em-
bora, nesse caso, haja a morte da amada. Possui as
características básicas do romance: personagens,
tempo e lugar; e um enredo com apresentação,
complicação, clímax e desfecho. Tudo isso dentro
de uma carta.
Para tanto, inicie a aula retomando a pergunta
realizada na aula prévia sobre o tema da obra. Depois
da leitura, qual assunto é abordado no livro lido?

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Deixe-os livres para argumentarem e debaterem,
sempre conduzindo as respostas para “uma história
de amor”. Pergunte a eles se o fato de Lúcia morrer
torna o amor deles impossível ou se, apesar de sua
morte, puderam ficar juntos e serem felizes.
Depois, pergunte aos alunos para quem eles
acham que o narrador está contando a história.
Seria ao leitor ou há algum destinatário implícito?
Instrua-os a observarem novamente as imagens, a
narrativa visual, o início da narração e os quadros
de texto ao decorrer da obra. Ao concluírem que
o personagem escreve uma carta a uma determi-
nada senhora falando sobre a ostentação do luxo
e extravagância da sociedade e sobre sua história
de amor, proponha a eles que escrevam, também,
uma carta.
O destinatário da carta deles pode estar oculto
ou não, mas instrua-os a terem em mente alguém a
quem se escreve e, também, o motivo de sua escrita.
Assim como em Lucíola, o tema da carta deve ser
um romance — sempre lembrando os alunos que
o tema romance não é o mesmo que o gênero ro-
mance — possível ou impossível. Os alunos devem

23
produzir a carta — com data, local e assinatura —
contando a história dessas duas personagens a
partir da visão de um narrador-personagem e fazer
uso da linguagem formal. As personagens, o tempo
e o lugar ficam a critério dos próprios alunos.
Com isso, os alunos desenvolvem a habilidade de
produzir narrativas utilizando “os conhecimentos
sobre os constituintes estruturais e recursos expres-
sivos típicos dos gêneros narrativos pretendidos”
(BRASIL, 2018, p. 185) e de utilizar conhecimentos
linguísticos e gramaticais bem como de “fazer uso
consciente e reflexivo de regras e normas da norma
padrão em situações de fala e escrita nas quais ela
deve ser usada” (BRASIL, op. cit., p. 159).

24
3. Interdisciplinaridade
I. Língua Inglesa

Para trabalhar o gênero história em quadrinhos,


realize uma atividade em conjunto com o professor
de Língua Inglesa em que os alunos produzam sua
própria história em quadrinhos em inglês. Já ten-
do trabalhado as características do gênero na aula
anterior, instrua os alunos a se juntarem em grupos
e escolherem uma das cartas escritas por eles para
ser adaptada para história em quadrinhos.
Em conjunto, devem escolher seu público-al-
vo (a fim de determinar se será uma história para
crianças, adolescentes ou adultos), realizar o pla-
nejamento de um roteiro simples e organizar quem
ficará responsável por cada processo da produção.
É importante que os estudantes utilizem tanto
a linguagem verbal quanto a não verbal em sua
produção, permitindo o “aprofundamento de práticas
de linguagem artísticas, corporais e linguísticas que
se constituem e constituem a vida social” (BRASIL,
2018, p. 62). Depois de produzirem a história em

25
quadrinhos em inglês, devem revisar não só a escrita,
mas também a sequência narrativa, verificando sua
coesão e coerência.
A prática de produzir textos em inglês, segundo
a BNCC (2018), enfatiza a natureza processual e co-
laborativa do ato de escrever, o qual envolve o pla-
nejamento, a produção e a revisão do texto, levando
em consideração o que se deseja comunicar e como.
É necessário que os alunos tenham em mente, ao
criar textos em inglês, qual o objetivo desse texto,
o suporte de circulação e seus possíveis leitores. O
documento também aponta a prática social do ato
de escrever, que dá a oportunidade aos alunos de
agirem com protagonismo e realizarem uma es-
crita autoral de textos mais elaborados, utilizando
recursos linguístico-discursivos variados. Dessa
forma, a atividade de produção textual contribui
“para o desenvolvimento de uma escrita autêntica,
criativa e autônoma” (BRASIL, 2018, p. 243).

26
II. Educação Física

Nas aulas de Educação Física as práticas corporais


são tematizadas em variadas formas de codificação
e significação cultural, as quais são manifestações
das possibilidades expressivas dos indivíduos e
produzidas, no decorrer da história, por diversos
grupos sociais. É imprescindível que as práticas
corporais sejam abordadas como um “fenômeno
cultural dinâmico, diversificado, pluridimensional,
singular e contraditório” (BRASIL, 2018, p. 211).
Pensando no amplo universo cultural que o com-
ponente curricular oferece, proponha aos alunos
a prática de uma dança que, hoje, faz parte do fol-
clore brasileiro, mas que em séculos passados fazia
parte dos bailes da aristocracia do Rio de Janeiro:
a quadrilha.
Na obra lida, Lucíola em graphic novel, o primeiro
quadro da página 31 mostra um diálogo entre as
personagens, em que se lê:
— Desculpa-me; vou dançar.
— A quadrilha ainda se demora, bem sabes; mas
queres me escapar!

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Questione os alunos se a quadrilha a que se re-
ferem é a mesma quadrilha que conhecem: dança
folclórica popular no Brasil de teor caipira e típica
das festas juninas. Oriente-os a analisar o contexto
em que está inserido o diálogo, analisando o am-
biente, as vestimentas e as personagens. Conduza
os alunos a compreenderem que a quadrilha que
se dança hoje passou por diversas modificações, a
mais significante dela relacionada ao âmbito em
que acontece: deixou de ser realizada em salões para
ser dançada pelas camadas populares e ao ar livre.
Apesar de ter-se popularizado e difundido por
todo o Brasil, a quadrilha é uma dança de salão
surgida na Europa, no século XVIII. Dançada pela
elite, virou febre no ambiente aristocrático da corte
brasileira no século XIX, por volta de 1830. A dança
foi adaptada à cultura francesa e desenvolvida nas
danças de salão, tornando-se popular entre a no-
breza. Disseminada pela Europa, chegou a Portugal
e, influenciada pela Corte portuguesa, entrou na
moda entre a nobreza do Rio de Janeiro.
Assim, proponha que, inicialmente, os alunos
estudem essas transformações históricas e os grupos

28
de origem da quadrilha, para que, então, analisem
as características (ritmos, gestos, coreografias e
músicas) dessa dança de salão — objeto de conhe-
cimento no 8o e 9o anos do Ensino Fundamental.
Depois, a fim de levar os alunos a experimenta-
rem, fruírem e recriarem as danças de salão, tra-
balhe a parte prática da quadrilha, a dança de salão
coletiva, respeitando o modelo francês de

contradança a dois ou quatro pares (qua-


drilha dupla), de som alegre e movimentado,
dividida em cinco partes com diferentes figu-
ras, todas em allegro ou allegretto. E isso obe-
decendo ao seguinte esquema geral: primeira
figura em dois por quatro — ou em seis por oito,
tal como a terceira — e as três outras (segunda,
quarta e quinta) geralmente em dois por qua-
tro. As cinco figuras dessa quadrilha francesa
denominavam-se, respectivamente: Pantalon
(por tê-la dançado em 1830 o rei Luís Felipe,
em Paris, vestindo pantalonas, e não calções
curtos), Eté (antes chamado Avant Deux), La
Poule (pela música imitar cacarejo de galinha),

29
Pastourelle (por inspirar-se a música do pis-
tonista Collinet no romance Gentil Pastora) e
Chassé Croisé ou Galop (por fazer terminar a
dança com animado galope, em que todos os
dançarinos mudam de lugar e passam uns na
frente dos outros) (TINHORÃO, [20--?]).

Com essa atividade, os alunos passam a valorizar


e respeitar as tradições culturais, a reconhecer a
dança como elemento constitutivo da identidade
cultural dos povos e a compreender o caráter lú-
dico das práticas corporais. Justifica-se, assim, a
necessidade das práticas de dança nos anos finais
do Ensino Fundamental, pois, de acordo com a
BNCC, elas são como um modo de explorar as tais
práticas corporais,

caracterizadas por movimentos rítmicos, or-


ganizados em passos e evoluções específicas,
muitas vezes também integradas a coreogra-
fias. [...] Diferentes de outras práticas corpo-
rais rítmico-expressivas, elas se desenvolvem
em codificações particulares, historicamente

30
constituídas, que permitem identificar movi-
mentos e ritmos musicais peculiares associados
a cada uma delas (BRASIL, 2018, p. 216).

31
Referências:
ALVES, Mariana Castro. Romance, o mais flexível dos
gêneros literários: Formato percorreu séculos e ainda
hoje continua vivo em produtos culturais de suces-
so. Pré-univesp: Romantismo, São Paulo, v. 46, p.1-1,
15 abr. 2015. Disponível em: <http://pre.univesp.br/
romance>. Acesso em: 10 abr. 2018.
BRASIL, Ministério da Educação. Base Nacional Comum
Curricular – BNCC. Brasília, DF, 2018.
EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Sequencial. São Paulo:
Martins Fontes, 1989.
GUSMAN, Sidney. Mauricio quadrinho a quadrinho.
São Paulo: Globo, 2006.
LUCCHETTI, Marco Aurélio; LUCCHETTI, Rubens
Francisco. “História em quadrinhos: uma introdu-
ção”. Revista Usp, [s.l.], v. 1, n. 16, p.24-35, 28 fev.
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