AULA 18 Sebenta de Bactereologia
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Antibióticos
A descoberta de antibióticos e a sua utilização no combate ás doenças infecciosas
constituiu um dos maiores avanços da medicina no séc. XX.
Na era pré-antibiótica, as doenças infecciosas eram a principal causa de morte. Após a
utilização terapêutica de antibióticos, este panorama alterou-se bastante. Actualmente, a
medicina está dependente de agentes quimioterapêuticos que são usados no tratamento
de doenças. Estes agentes destroem os microrganismos patogénicos ou inibem o seu
crescimento.
A utilização terapêutica de antibióticos levou ao aumento de estirpes resistentes e
consequentemente a estirpes multiresistentes. As moléculas que outrora eram activas
contra determinadas espécies bacterianas, hoje já não o são. Assim, a resistência
bacteriana aos antibióticos representa uma ameaça para a saúde pública. Deste modo, o
uso de antibióticos tem que ser racionalizado.
Desde o antigo Egipto que se utilizavam substâncias que impediam que as pessoas
adoecessem e que os alimentos se estragassem, como por exemplo, o uso de fermento
de padeiro que servia para tratar infecções.
Por volta de 1500, verificou-se que o extracto da casca da chinchona era efectivo no
combate à malária.
Em 1912, Paul Ehrlich marcou a era moderna da quimioterapêutica, chegando à
conclusão que um químico com toxicidade selectiva que matasse agentes patogénicos e
não células humanas, pudesse ser efectivo no tratamento da doença, como por exemplo
o Salvarsan para o tratamento da sífilis. Embora ainda não fossem antibióticos, eram
substâncias que inibiam ou matavam os microrganismos.
Em 1929, Fleming descobriu P. notatum, fungo produtor de uma substância difusível
anti-estafilocócica a que designou penicilina, surgindo assim o primeiro antibiótico.
Na Alemanha, em 1935, Dogmak utilizou prontosil in vivo no tratamento de ratos
infectados, pois desta forma ocorria a hidrólise do prontosil libertando-se a
sulfanilamida, o principio biologicamente activo. Foi a primeira utilização terapêutica
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de uma sulfamida. Pode considerar-se que a quimioterapêutica anti-bacteriana sistémica
nasceu neste momento.
Em 1938, a sulfapirina (outra sulfamida) foi usada na terapêutica para o tratamento da
pneumonia, menigite e gonorreia.
Em 1940, Howard Florey e Ernest Chain isolaram e purificaram a penicilina em
quantidades insignificantes a partir de culturas P.notarum em caldos de cultura.
Posteriormente, mostraram o efeito terapêutico da penicilina em seres vivos injectando-
-a subcutaneamente para combater uma infecção estreptocócica.
Em 1944, Selman Waksman e Bugie descobrem a estreptomicina a partir de culturas
de Streptomyces griseus. Esta foi o primeiro antibiótico efectivo contra a tuberculose.
Kirby identificou β-lactamases.
Em 1947, dá-se a descoberta da cloromicetina, o primeiro antibiótico de largo
espectro.
Em 1948, Benjamin Duggar descobre a primeira tetraciclina.
Nos finais dos anos 50 e 60, devido à evolução técnica dos processos de fermentação
e química de síntese, criaram-se novas moléculas por modificação do núcleo base da
penicilina.
Actualmente, procuram-se novas fontes de antibióticos naturais e são utilizadas
ferramentas modernas de engenharia genética e de biologia molecular para desenvolver
agentes anti microbianos.
Definição de Antibióticos
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O efeito quimioterapêutico dos antibióticos é determinado por alguns factores:
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Classificação dos antibióticos
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2) Aminosidos: estreptomicinas, kanamiana, tobramicina
3) Fenicóis: cloranfenicol
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5) Macrólidos: eritromicina, espiramicina, rocitromicina
7) Rifamicinas: rifampicina
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8)Polipéptidos: colistina, bacitracina
Tanto a colistina como a bacitracina são de fraca difusão, por isso são apenas
utilizadas como pomadas e géis.
9) Imidazóis: metronidazale
10) Sulfamidas
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12) Nitrofuranos: nitrofurantoina
14) Fosfomicina
15) Novobiocina
16) Trimetoprime
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17) Glicopéptidos: vancomicina
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Fig. 18.1- Representação esquemática dos vários locais de actuação dos diferentes
grupos de antibióticos
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• Quinolonas
• Novobiocina
• 5-nitro-imidazóis
• Nitrofuranos
a) fase citoplasmática
b) fase membranar
c) fase parietal
• Fosfomicina
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Fig 18.2- Analogia estrutural entre a fosfomicina e o fosfoenolpiruvato (PEP)
A fosfomicina é um análogo estrutural do PEP, que atravessa a membrana celular
bacteriana devido ás permeases. Uma vez no citoplasma, a transferase tem mais
afinidade para a fosfomicina do que para o PEP (o seu substrato natural). Assim, a
fosfomicina liga-se á transferase e inibe esta de forma irreversível (a transferase levaria
á produção de ácido UDP-N-Acetilmurânico)
Deste modo, a fosfomicina bloqueia a síntese de peptidoglicano numa fase inicial,
fragilizando a parede celular das bactérias em crescimento que ficam osmoticamente
susceptíveis e lisam.
• Bacitracina
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Fig. 18.4- Estrutura química da bacitracina
Antibiótico polipeptidico que impede a desfosforilação do pirofosfato lipidico pelas
fosfatases da membrana citoplasmática bacteriana, bloqueando, deste modo, a
biossíntese do peptidoglicano.
• β- lactaminas
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Fig.18.6- Estrutura química dos β-lactâmicos
Todas as moléculas deste grupo têm um anel β-lactâmico, indispensável á acção anti-
bacteriana.
A biossíntese do peptidoglicano na fase parietal requer a quebra de ligações covalentes
no peptidoglicano, para permitir a inserção dos novos constituintes recém sintetizados.
Para crescer e se dividir, a célula bacteriana necessita de enzimas autoliticas (localizadas
no folheto externo da membrana celular) e enzimas com funções biossintéticas
(glicotransferases, transpeptidases e carboxipeptidases). Estas funcionam como alvos
dos β-lactâmicos e por isso são PLPs (ou PBPs- pencillin binding proteins).
Os β-lactâmicos acilam os PBPs e estes ficam sem actividade fisiológica. Logo, os β-
lactâmicos param a síntese do peptidoglicano, mas exacerbam a actividade das
autolisinas bacterianas, ocorrendo a morte e a lise da célula.
Os β-lactâmicos impedem portanto, a transpeptidação na biossíntese do
peptidoglicano.
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Fig. 18.7- Representação da fase terminal da biossíntese do peptidoglicano. A
transpeptidação é impedida pelos antibióticos β-lactâmicos que actuam nos locais
indicados pelas setas.
Os β-lactâmicos têm de atravessar parede celular bacteriana para acilar as PBPs. Daí
resulta a lise celular, dado o assincronismo entre a biossíntese do peptidoglicano e a
actividade auto-lítica bacteriana.
membranários
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Fig. 18.9- Estrutura química da colistina
São polipéptideos, comportando-se como moléculas poli-catiónicas e anfipáticas.
Fixam-se nos fosfolipidos da membrana modificando a sua conformação e tornando-a
permeável. Provocam o efluxo de moléculas e iões da célula bacteriana. São
bactericidas.
É eficaz contra as bactérias Gram negativas, porque têm uma membrana externa
lipidica onde se fixa. A polimixina sendo híbrida entre partes hidrofóbicas e hidrofilicas
entra dentro das membranas e desregula a sua permeabilidade selectiva.
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Todos os antibióticos deste grupo vão actuar nos ribossomas.
Os seus alvos podem estar:
• Aminosidos ou aminoglicosidos
• Tetraciclinas
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Fig. 18.11- Representação esquemática da acção da tetraciclina, impedindo a ligação
codão-anticodão.
• Cloranfenicol
Devido á lipofilia destas moléculas, não se difundem bem através dos canais de porina
das bactérias gram negativas aeróbias. Contudo, atravessam a membrana celular por
difusão passiva. São inibidores da síntese proteica actuando ao nível da sub-unidade 50s
dos ribossomas e bloqueiam o local P, impedindo a translocação.
São bacteriostáticos
• Ácido fusídico
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Associa-se ao factor EF-G (indispensável à translocação), inibindo a sua acção GTPase
e não directamente á sub-unidade 50s.
É um antibiótico bactericida.
• Pristimicina
• Rifamicinas (rifampicina)
Ligam-se à sub-unidade β’ da RNA polimerase ADN dependente, impedindo a
transcrição, logo a sintese do mRNA. Com a paragem da síntese proteica, há paragem
da síntese do DNA.
É bactericida.
• Nitroimidazóis
Em anaerobiose, são reduzidos a compostos activos. Estes compostos formam um
complexo com uma cadeia de ADN provocando cortes. Se adicionarmos nitratos ao
meio, vão usa-los, havendo formação dos nitritos
• Quinolonas
Imobilizam as DNA girases e as topoisomerases bacterianas, responsáveis pelo
superenrolamento negativo da molécula do DNA. Nestas circunstâncias, não ocorre a
separação das cadeias de DNA, não havendo transcrição nem síntese proteica.
Resumindo, a inibição da DNA girase e da topoisomerase IV pelas quinolonas provoca:
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• Diminuição dos superenrolamentos negativos
• Impossibilidade de desencadeamento de DNA circular
• Alterações no DNA
• Inibição da síntese de DNA
• Inibição da síntese de RNA e proteínas
• Morte celular rápida
• Trimetoprime e sulfamidas
Não actuam directamente no DNA, mas agem sobre a síntese do ácido fólico e folatos
que são co-factores dos ácidos nucleicos, vão ser referidos na seguinte categoria.
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Todas as moléculas que inibam esta cadeia metabólica, como as sulfamidas, sulfonas,
PAS e trimetoprime (2-4-diaminopiridinas) são conhecidas como anti-metabolitos ou
inibidores da síntese dos folatos.
Estas moléculas, inibem a cadeia metabólica, competitivamente, pois têm mais
afinidade para as enzimas do que os seus substratos naturais.
As sulfamidas, PAS e sulfonas competem com o PABA bloqueando a síntese de ácido
dihidropteroico. A enzima dihidropteroato sintetase tem mais afinidade para as
sulfonamidas do que para o seu substrato natural (PABA). Assim, competem com o
PABA impedindo a sua adição á pteridina.
O trimetoprime, um anti-metabolito, inibe competitivamente o dihidrofolato redutase, a
enzima que reduz o dihidrofolato a tetrahidrofolato (co-factor folato, indispensável à
síntese de purinas e N-formometionina).
Inibem, portanto, a síntese de DNA, RNA e a síntese proteica.
São bacteriostáticos.
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Fig. 18.13 – Representação esquemática da inibição da cadeia metabólica por anti-
metabolitos.
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