Estado Do Ceará Poder Judiciário Tribunal de Justiça Gabinete Exmo. Sr. Emanuel Leite Albuquerque

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ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE Exmo. Sr. EMANUEL LEITE ALBUQUERQUE

Processo: 0228034-87.2022.8.06.0001 - Apelação Cível


Apelantes: Sara Lucia Ferreira Cavalcante e Banco do Brasil S.A

EMENTA: APELAÇÕES CÍVEIS. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO


DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA ESPECÍFICA
CUMULADA COM DANOS MORAIS E MATERIAIS. GOLPE DA FALSA
CENTRAL. NEGLIGÊNCIA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA AO NÃO
VERIFICAR JUNTO AO CONSUMIDOR TRANSAÇÃO EM VALOR
ELEVADO. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA (SÚMULA 479/STJ). DANOS
MATERIAIS E MORAIS DEVIDOS. RECURSO INTERPOSTO PELO
BANCO DO BRASIL S/A CONHECIDO E DESPROVIDO. RECURSO
INTERPOSTO POR SARA LÚCIA FERREIRA CAVALCANTE
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA.

1. O cerne da controvérsia dos apelos consiste em analisar se deve ou não


a instituição financeira ser responsabilizada pelos danos materiais e
morais suportados pela autora, em decorrência de dívida contraída por
terceiro fraudador, fruto do denominado golpe da falsa central. Bem como
averiguar se no caso houve culpa corrente.

2. Em breve síntese o chamado golpe da falsa central de atendimento


bancário consiste em fraude na qual o estelionatário se passa por
funcionário da instituição financeira e, por meio de ligação telefônica,
induz o correntista a realizar movimentações financeiras em favor de
grupo criminoso. caso em tela restou-se incontroverso a ocorrência
dafraude sendo inclusive admitida pelo Banco do Brasil em seu apelo.

3. Nas relações consumeristas a responsabilidade contratual da


fornecedora é objetiva, respondendo, independentemente de culpa, nos
termos do art. 14, do CDC, pela reparação de danos causados pelo defeito
do produto ou má prestação do serviço. As instituições financeiras têm a
obrigação de adotar as medidas necessárias para a realização de
operações, tendo o dever de implementar sistemas de fiscalização e
segurança que impeçam a ocorrência de uma fraude, sob pena de
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responder pelos danos causados.

4. No caso, é forçoso reconhecer que houve falha na prestação do


serviço, a entidade bancária não cumpriu com sua obrigação de adotar os
deveres mínimos de cuidado e diligência contratual, pois, embora se
deparando uma transação no valor vultuoso de R$ 44.000,00
(quarenta e quatro mil reais) pagos conforme comprovante de
pagamento acostado à fl. 27, evidentemente suspeita, não se
prestou, em nenhum momento, em verificar a regularidade da
mesma, debitando imediatamente o ´debito em desfavor da
consumidora.

5. Ademais, por conta dessa falha em autorizar transações que destoam


do perfil do cliente, pode se afirmar que mesmo o ilícito se iniciando fora
da agência bancária, trata-se de um fortuito interno, pois o banco deve
prezar pela segurança dos seus clientes, impondo mecanismos de
fiscalizações de transações fora do perfil do consumidor, conforme as
normas consumeristas.

6. Assim, demonstrada a falha na prestação dos serviços, configurado


está o ilícito civil, o qual enseja pronta reparação dos danos causados, nos
termos do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor e arts. 186 e 927
do Código Civil Brasileiro.

7. Danos morais - Como cediço os danos morais se configuram quando


ocorre uma ofensa aos direitos da personalidade, no caso em tela, a
aconsumidora foi vítima de crime de estelionato que foi viabilizado pela
fragilidade do sistema de segurança da entidade bancária. Assim, não há
dúvida de que a situação pela qual passou a consumidora não se
trata de mero aborrecimento, diante da cobrança indevida em sua
conta-corrente referente transação não reconhecida.

8. Fixação Fatores - Para quantificar a indenização por danos morais


deve se levar em conta, dentre outros fatores, a extensão do dano, as
condições socioeconômicas dos envolvidos e o sofrimento da vítima.
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Nessa ordem de ideias, atento a esses fatores: "nível econômico da


autora da ação, sofrimento da vítima e o porte econômico da entidade
bancária", arbitro o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a título de
danos morais, frente ao quadro fático delineado nos autos.

9. Quanto aos danos materiais, tem o Banco do Brasil a responsabilidade


de ressarcir a parte consumidora dos prejuízos materiais suportados pela
falha/defeito do serviço de forma integral, no valor de R$ 44.000,00
(quarenta e quatro mil reais), sendo inexigíveis o débito oriundo da
transação impugnada e todos os encargos delas decorrentes, conforme
comprovante de pagamento à fl. 27.

10. Recurso interposto pelo Banco do Brasil S/A conhecido e


desprovido. Recurso interposto por Sara Lúcia Ferreira Cavalcante
conhecido e parcialmente provido Sentença reformada.
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ACÓRDÃO

Acordam os Desembargadores integrantes da Primeira Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade de
votos, em conhecer do recurso interposto pelo Banco do Brasil S/A, para
negar-lhe e conhecer do recurso interposto por Sara Lúcia Ferreira
Cavalcante para dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto do
Relator, parte integrante desta decisão.

Fortaleza, 14 de fevereiro de 2024.

FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO


Presidente do Órgão Julgador

Exmo. Sr. EMANUEL LEITE ALBUQUERQUE


Relator
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RELATÓRIO

Tratam-se de duas Apelações Cíveis interpostas por


Banco do Brasil S/A e Sara Lúcia Ferreira Cavalcante,
objetivando a reforma da sentença exarada pelo juízo da 39ª Vara
Cível a Comarca de Fortaleza, que julgou parcialmente procedente a
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA
ESPECÍFICA CUMULADA COM DANOS MORAIS E MATERIAIS,
ajuizada em face do Banco Brasil S/A, nos seguintes termos:

“(…) Ante o exposto, EXTINGO O FEITO COM RESOLUÇÃO DO


MÉRITO, com fundamento no art. 471, I, do CPC, julgando
parcialmente procedente o feito para: a) condenar as
promovidas, solidariamente, a restituírem à autora, de forma
simples, o valor de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais),
acrescido de juros de 1% (um por cento) ao mês e de correção
monetária, pelo INPC, desde a citação, confirmando parcialmente
a tutela deferida à pág. 49; b) indeferir o pedido de indenização
por danos morais. Considerando a sucumbência recíproca, as
custas serão rateadas igualmente entre as partes. Condeno a
autora ao pagamento de honorários em favor dos advogados das
promovidas, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor
pleiteado a título de danos morais, e condeno as promovidas ao
pagamento de honorários em favor dos advogados da autora, que
fixo em 10% (dez por cento) sobre a ser restituído.”

APELAÇÃO INTERPOSTA POR BANCO DO BRASIL


S/A: Em suas razões recursais, o banco/apelante sustenta que “As
provas foram mal valoradas, pois o recorrido confessa que
conversou com terceiros, e seguiu procedimentos por estes
passados. A conclusão do juízo, é equivocada, valora a Súmula
479/STJ para com as provas constantes na Lide.”.
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Argumenta, em seguida, que “Logo observa-se que a


falha que se tenta atribuir ao banco, é na verdade do próprio
correntista, que ludibriado por terceiros, facilita o acesso à sua
conta, e de forma descuidada, permite que estes tenham ainda
acesso às suas senhas bancárias. Não há possibilidade de aplicação
da súmula 479 do STJ, pois não há qualquer evidência de que houve
falha do sistema bancário, se tratando de fortuito externo, onde a
vítima foi ludibriada por terceiros. Tal conclusão, deriva de valoração
da narrativa, de que supostamente houve fa-lha do Banco, porém
esta Prova não foi produzida, e não deriva tal “falha” de dever
contratual ou legal.”

Sustenta, depois, que “Pelo que se desprende dos


autos, no primeiro momento a recorrida forneceu todos os seus
dados a supostos fraudadores, que então entrar em contato com a
mesma simulando números telefônicos da instituição financeira. Tal
procedimento (com exceção do fornecimento de dados espontâneo)
é semelhante aos ocorrido no golpe da Falsa Central, é conhecido e
noticiado”

Mais adiante, argumenta, que “Observa-se que no caso


em comento: 1. Recorrido sofreu suposta fraude ao ter sua conta
utilizada de forma irregular por su-posto terceiro indevidamente
(fortuito externo / culpa exclusiva do consumidor); 2. Através do
acesso, tido como regular, supostos falsários ludibriaram a parte a
realizar pagamento com seu cartão e senhas pessoais e
intransferíveis (fato de terceiro / culpa exclusiva do consumidor);”.

Ao final, “Ficou claro, que muito das ocorrências,


somente podem ser apurados mediante a perícia do aparelho da
parte, uma vez, que até por lógica, a simples alusão a hackeamento
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não é suficiente para deixar de exigir da recorrida que cumpra o


ônus que lhe cabe. Tanto porque, sem aferição do dispositivo, sequer
é possível aferir se houve ou não falha da prestação de serviços,
ficando a sentença condicionada a mera narra-tiva, ignorando prova
complexa não produzida.”

Contrarrazões às fls. 565/575.

APELAÇÃO INTERPOSTA POR SARA LUCIA


FERREIRA CAVALCANTE: Em suas razões recursais, a
autora/apelante sustenta que “Como percebe-se pela leitura da
supracitada decisão, restou incontroverso a existência de fraude,
inclusive com confissão pela preposta da instituição financeira,
cabendo portanto, responsabilização da parte Recorrida pelos danos
gerados, em razão de não proceder com as cautelas necessárias
para evitar a utilização fraudulenta da central de atendimento do
Banco do Brasil, entretanto, contraditoriamente, deliberou pela
existência de culpa concorrente da consumidora ora Recorrente, o
que não merece prosperar.”

Argumenta, em seguida, que “No presente caso, a


instituição bancária tem o dever de fornecer a segurança em suas
operações, de forma a adotar mecanismos de salvaguarda contra
fraudes que possam lesar os clientes, e, em sendo constatado a
falha quanto a contenção de fraudes, deve o banco responder
exclusivamente pelos danos causados, eis que inerente ao risco da
atividade econômica..”

Ao final, requer “Requer que seja dado integral


provimento ao presente recurso por esta Colenda Câmara Julgadora,
para reformar a r. sentença de págs. 496 usque 499, ante as
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situações elencadas, pugnando para: I. Declarar a inexistência do


débito da autora ora Recorrente; II. Condenar a instituição bancária
e administradora de cartões nos danos morais no patamar de R$
30.000,00 (trinta mil reais) com a devida correção monetária desde
o arbitramento (Súmula 362/STJ) e juros moratórios desde a
citação; III. Condenação exclusiva das Recorridas nos ônus
sucumbenciais;”

Não houve apresentação de contrarrazões.

É o que importa relatar.


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VOTO

Exercendo juízo de admissibilidade, verifico o


atendimento de todos os requisitos intrínsecos e extrínsecos que o
compõem, levando-o ao qualificativo da positividade e, assim,
ao conhecimento dos recursos.

Passo, então, ao seu deslinde.

Narra a autora/recorrente que em 15 de março de


2022, foi vítima do chamado “golpe da falsa central”, pagamento um
títuo a um terceiro no valor de R$ 44.000,00 (quarenta e quatro mil
reais).

O douto magistrado singular julgou procedente em


parte os pedidos contidos na presente demanda, ao fundamento
que houve culpa corrente, pois o golpe somente se concretizou com
a participação efetiva da parte autora.

Pois bem.

Sobre a temática em testilha, inicialmente, cumpre


ressaltar que de acordo com a Súmula n.º 297, do Superior Tribunal
de Justiça, as relações existentes entre correntistas e bancos devem
ser examinadas à luz da lei consumerista: “O Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras”

O cerne da controvérsia dos apelos consiste em analisar


se deve ou não a instituição financeira ser responsabilizada pelos
danos materiais e morais suportados pela autora, em decorrência de
dívida contraída por terceiro fraudador, fruto do denominado golpe
da falsa central. Bem como averiguar se no caso houve culpa
corrente.
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Nas relações consumeristas a responsabilidade


contratual da fornecedora é objetiva, respondendo,
independentemente de culpa, nos termos do art. 14, do CDC, pela
reparação de danos causados pelo defeito do produto ou má
prestação do serviço.

Em breve síntese o chamado golpe da falsa central de


atendimento bancário consiste em fraude na qual o estelionatário
se passa por funcionário da instituição financeira e, por meio de
ligação telefônica, induz o correntista a realizar movimentações
financeiras em favor de grupo criminoso.

Dessa feita, as instituições financeiras têm a obrigação


de adotar as medidas necessárias para a realização de operações,
tendo o dever de implementar sistemas de fiscalização e segurança
que impeçam a ocorrência de uma fraude, sob pena de responder
pelos danos causados.

Entendo que no caso em tela restou-se incontroverso


a ocorrência dafraude sendo inclusive admitida pelo Banco do Brasil
em seu apelo.

No caso, é forçoso reconhecer que houve falha na


prestação do serviço, a entidade bancária não cumpriu com sua
obrigação de adotar os deveres mínimos de cuidado e diligência
contratual, pois, embora se deparando uma transação no valor
vultuoso de R$ 44.000,00 (quarenta e quatro mil reais) pagos
conforme comprovante de pagamento acostado à fl. 27,
evidentemente suspeita, não se prestou, em nenhum
momento, em verificar a regularidade da mesma, debitando
imediatamente o ´debito em desfavor da consumidora.

Ademais, por conta dessa falha em autorizar transação


que destoa do perfil do cliente, pode se afirmar que mesmo o ilícito
se iniciando fora da agência bancária, trata-se de um fortuito
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interno, pois o banco deve prezar pela segurança dos seus clientes,
impondo mecanismos de fiscalizações de transações fora do perfil do
consumidor, conforme as normas consumeristas.

Ora caberia ao Banco do Brasil, ao menos suspender a


compra de montante tão elevado para fazer maiores verificações,
como por exemplo entrar em contato com a consumidora para
averiguar a licitude da transação.

Importa ressaltar que a circunstância da parte


potencialmente ter sido vítima de fraude perpetrada por terceiros
não exime a instituição financeira/recorrida da responsabilidade
pelos danos causados.

Assim, quando demonstrada a falha na prestação dos


serviços pelo banco, configurado está o ilícito civil, conferindo daí ao
lesado a devida reparação dos danos sofridos, nos termos do art. 14
do Código de Defesa do Consumidor e arts. 186 e 927 do Código
Civil Brasileiro.

Isso porque, segundo a dicção dos dispositivos legais


suso mencionados, notadamente o art. 14 do CDC: “o fornecedor
de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos”.

A ocorrência de fatos desencadeados por terceiros não


elide a responsabilidade do banco/recorrente, já que se trata de
acontecimento inserido no risco do empreendimento, questão esta
inclusive já sumulada no STJ: "As instituições financeiras
respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros
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no âmbito de operações bancárias". (Súmula n.º 479)

Cumpre destacar que a jurisprudência pátria entende


ser dever da instituição financeira reparar os danos causados a
consumidores em razão da ocorrência do golpe da falsa central. In
verbis:

APELAÇÃO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS -


"Golpe da falsa Central de Atendimento" - Sentença de
parcial procedência - Condenação do banco-réu na
devolução da metade do valor sacado pelo fraudador -
Insurgência da parte autora - Relação de consumo -
Existência de relação jurídica entre as partes - Autora que
foi vítima de ação criminosa - Terceiro que se faz passar por
funcionário da instituição financeira, pede para que o cliente entre
em contado com a casa bancária através do número do
verso do cartão - Vítima redirecionada a falsa central de
atendimento, disponibilizando informações sigilosas -
Fortuito interno - Aplicação do que disposto na Súmula 479
do Superior Tribunal de Justiça - Responsabilidade civil de
natureza objetiva do réu - Realização de movimentações
financeiras atípicas - Transações financeiras realizadas em curto
espaço de tempo e que destoam do padrão de consumo da autora
- Dever do réu de garantir a segurança dos serviços prestados -
Falha configurada - DANOS MATERIAIS - Restituição integral
dos valores sacados e debitados fraudulentamente -
Reforma da sentença nesse ponto - Empresa de telefonia -
Não demonstrado o nexo de causalidade entre os danos alegados
e a prestação dos serviços - Improcedência mantida - Sentença
de parcial procedência reformada - RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. (TJ-SP - AC: 10001994020228260032 SP
1000199-40.2022.8.26.0032, Relator: Lavínio Donizetti
Paschoalão, Data de Julgamento: 13/10/2022, 14ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 14/10/2022)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


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DANOS MORAIS E MATERIAIS - RESPONSABILIDADE OBJETIVA


DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - GOLPE DA "FALSA CENTRAL
DE ATENDIMENTO" - IDOSO - TRANSFERÊNCIAS
EFETIVADAS EM QUANTIAS VULTOSAS - PERFIL DO
USUÁRIO NÃO OBSERVADO - FALHA NA PRESTAÇÃO DOS
SERVIÇOS - DANOS MATERIAIS CARACTERIZADOS - DANO
MORAIS - CONFIGURADOS - DEFERIMENTO. - A teor da
Súmula 479 do STJ, as instituições financeiras respondem
objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno
relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
âmbito de operações bancárias - Tendo em vista que a
responsabilidade das instituições financeiras perante os
consumidores é objetiva, responde por eventuais danos
decorrentes de transações indevidas em conta corrente,
em especial por diferenciarem das habitualmente feitas
pelo titular - Resta caracterizada a lesão quando a
instituição bancária, com meios de verificar a ocorrência
de fraude, não adota as providências necessárias para
obstar tal prática - Constatada a inércia do Banco Apelado
mesmo diante das vultosas retiradas não condizentes com
o perfil do cliente, resta caracterizada a sua
responsabilidade, a qual não pode ser afastada pela
excludente afeta à culpa exclusiva da vítima - É devida a
restituição dos valores retirados de forma fraudulenta da
conta bancária do Apelante - Tem-se por configurado o
dano moral suportado pelo Apelante, ante a insegurança e
abalo emocional e psicológico experimentados ao se deparar com
a possibilidade de não recuperar valores de elevadas quantias,
subtraídos injustamente de sua conta bancária - A indenização
por danos morais deve ser arbitrada segundo critérios de
razoabilidade e proporcionalidade, com a ponderação das
especificidades do caso concreto e sempre buscando o alcance
dos objetivos do instituto, quais sejam, a compensação da vítima,
a punição do agente pela conduta praticada e a inibição na
reiteração do ilícito. (TJ-MG - AC: 10000222592099001 MG,
Relator: Habib Felippe Jabour, Data de Julgamento: 29/11/2022,
Câmaras Cíveis / 18ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
30/11/2022)
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JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. RECURSO INOMINADO. EFEITO


SUSPENSIVO NEGADO. PRELIMINARES DE AUSÊNCIA DE
INTERESSE DE AGIR E ILEGITIMIDADE PASSIVA REJEITADAS.
GOLPE DA FALSA CENTRAL DE ATENDIMENTO. FALHA NA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. FORTUITO INTERNO. RISCO DA
ATIVIDADE. RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. 1. Nos termos do art. 43 da Lei n.º 9.099/1995, o
recurso terá somente efeito devolutivo, podendo o Juiz dar-lhe
efeito suspensivo, para evitar dano irreparável para a parte, não
verificado no presente caso. Efeito suspensivo negado. 2. A ação
ajuizada é útil, necessária e adequada para que a parte autora
obtenha o provimento jurisdicional almejado, de forma que está
configurado o interesse de agir. Preliminar rejeitada. 3. As
condições da ação devem ser aferidas com base na Teoria da
Asserção, analisando-se as alegações contidas na petição inicial.
A análise sobre a inexistência de responsabilidade pelos danos
alegados pelo autor confunde-se com o mérito da ação.
Preliminar rejeitada. 4. Verifica-se que a recorrida foi vítima da
fraude conhecida como ?golpe da falsa central de
atendimento?, tendo recebido uma ligação do número
oficial do banco em que um estelionatário se passa por seu
preposto, tendo conhecimento de seus dados cadastrais, e
a orienta a realizar procedimentos no terminal de
autoatendimento do banco, ?como medida de segurança?,
viabilizando a transferência bancária mediante fraude. 5.
Evidenciada a falha no serviço da instituição financeira ao
permitir que os estelionatários tivessem acesso aos dados
da consumidora que propiciassem aparente legitimidade
das informações prestadas, há responsabilidade daquela
pelos danos materiais ocorridos. A atuação de fraudador,
por si só, não caracteriza culpa exclusiva de terceiro ou da
vítima, uma vez que, na hipótese, se enquadra como
fortuito interno, inserida no referido risco da atividade da
instituição financeira, conforme se extrai da Súmula 479
do STJ. Precedentes: acórdãos n.º 1632118 e 1425832. 6.
Recurso CONHECIDO E NÃO PROVIDO. Sentença mantida.
Recorrente vencido condenado ao pagamento das custas e
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honorários advocatícios, esses fixados em 10% sobre o valor da


condenação, nos termos do art. 55, Lei n.º 9.099/1995. A
ementa servirá de acórdão, conforme art. 46 da Lei n.º
9.099/1995. (TJ-DF 07302360520228070016 1658306, Relator:
RITA DE CÁSSIA DE CERQUEIRA LIMA ROCHA, Data de
Julgamento: 27/01/2023, Primeira Turma Recursal, Data de
Publicação: 14/02/2023)

Os danos morais se configuram quando ocorre uma


ofensa aos direitos da personalidade, no caso em tela, a autora foi
vítima de crime de estelionato ocasionado pela fragilidade do sistema
de segurança da entidade bancária/apelada.

Assim, não há dúvida de que a situação pela qual


passou a consumidoranão se trata de mero aborrecimento, diante da
cobrança indevida em sua conta-corrente referente transação não
reconhecida.

Portanto inegável a existência do dano extrapatrimonial


no caso, pela violação do dever de guarda dos dados do consumidor,
ante a falha em sua segurança.

A propósito:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS E MATERIAIS - RESPONSABILIDADE OBJETIVA
DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - GOLPE DA "FALSA CENTRAL
DE ATENDIMENTO" - IDOSO - TRANSFERÊNCIAS
EFETIVADAS EM QUANTIAS VULTOSAS - PERFIL DO
USUÁRIO NÃO OBSERVADO - FALHA NA PRESTAÇÃO DOS
SERVIÇOS - DANOS MATERIAIS CARACTERIZADOS -
DANO MORAIS - CONFIGURADOS - DEFERIMENTO. - A teor
da Súmula 479 do STJ, as instituições financeiras
respondem objetivamente pelos danos gerados por
fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por
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terceiros no âmbito de operações bancárias - Tendo em


vista que a responsabilidade das instituições financeiras
perante os consumidores é objetiva, responde por
eventuais danos decorrentes de transações indevidas em
conta corrente, em especial por diferenciarem das
habitualmente feitas pelo titular - Resta caracterizada a
lesão quando a instituição bancária, com meios de
verificar a ocorrência de fraude, não adota as
providências necessárias para obstar tal prática -
Constatada a inércia do Banco Apelado mesmo diante das
vultosas retiradas não condizentes com o perfil do
cliente, resta caracterizada a sua responsabilidade, a qual
não pode ser afastada pela excludente afeta à culpa
exclusiva da vítima - É devida a restituição dos valores
retirados de forma fraudulenta da conta bancária do
Apelante - Tem-se por configurado o dano moral
suportado pelo Apelante, ante a insegurança e abalo
emocional e psicológico experimentados ao se deparar
com a possibilidade de não recuperar valores de elevadas
quantias, subtraídos injustamente de sua conta bancária
- A indenização por danos morais deve ser arbitrada
segundo critérios de razoabilidade e proporcionalidade,
com a ponderação das especificidades do caso concreto e
sempre buscando o alcance dos objetivos do instituto,
quais sejam, a compensação da vítima, a punição do
agente pela conduta praticada e a inibição na reiteração
do ilícito. (TJ-MG - AC: 10000222592099001 MG, Relator:
Habib Felippe Jabour, Data de Julgamento: 29/11/2022,
Câmaras Cíveis / 18ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
30/11/2022)

Resta, portanto, claro o dano moral.

Fixação Fatores

Para quantificar a indenização por danos morais deve se


levar em conta, dentre outros fatores, a extensão do dano, as
condições socioeconômicas dos envolvidos e o sofrimento da vítima.
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Desse modo, tem-se que a indenização deve se dar de


forma equânime e atentar à razoabilidade, a fim de evitar o
enriquecimento ilícito da parte autora, mas sem deixar de punir a
parte ré pelo cometimento do ato ilegal.

E mais, para evitar excessos e abusos, só se deve


reputar como dano moral a dor, o sofrimento, que, fugindo à
normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico
do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu
bem-estar.

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL E CONSUMERISTA. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE TRANSAÇÕES
BANCÁRIAS/DÉBITOS E PAGAMENTOS EM CONTA CORRENTE
CUMULAÇÃO COM REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E
MORAIS. "GOLPE DO MOTOBOY". NEGLIGÊNCIA DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA AO NÃO CONSTATAR
MOVIMENTAÇÕES ATÍPICAS QUE DESTOAM DO PERFIL DA
CLIENTE. DANOS MORAIS E MATERIAIS CARACTERIZADOS.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA EM
SUA TOTALIDADE. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS FIXADOS. 1.
O cerne da controvérsia consiste em analisar a validade das
transações bancárias questionadas, bem como verificar se a
instituição financeira deve ser responsabilizada pelo evento
danoso. 2. Analisando os autos, é possível constatar que a
apelante foi vítima do chamado "golpe do motoboy", no qual um
estelionatário, passando-se por funcionário de instituição
financeira, convence o consumidor acerca da necessidade de
entrega do cartão ao criminoso. 3. Apesar disso, a
responsabilidade da instituição financeira, no caso, não pode ser
elidida, haja vista que resta caracterizada a sua negligência ao
não constatar uma movimentação atípica nas contas da cliente,
com operações no alto montante de R$ 10.709,00 (dez mil,
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setecentos e nove reais) que destoam do perfil de consumo da


autora. 4. Nesse contexto, estão presentes todas as condições
necessárias para responsabilização da empresa demandada: a) o
ato ilícito, consistente na autorização de transações fraudulentas
em decorrência da negligência da instituição financeira; b) o dano
material, concernente à perda de quantia considerável depositada
na sua conta bancária; além do dano moral, referente ao abalo da
autora ao constatar tal fato; c) o nexo de causalidade, pois,
inexistindo o ato ilícito do demandado, não haveria o dano. 5.
Mostra-se devida a condenação da instituição financeira ao
pagamento de indenização por danos materiais - no que diz
respeito ao valor total de R$10.709,00 (dez mil, setecentos e
nove reais) relacionados a compras efetuadas no dia 02/03/2018,
por estelionatários, nas lojas IPLACE e EXTRA em FORTALEZA,
conforme demonstrado em fatura. 6. A quantia de R$ 5.000,00
(cinco mil reais) é necessária para reparar os danos
sofridos, mostrando-se proporcional à gravidade da ofensa
e ao porte econômico do ofensor, considerando o alto
montante subtraído da conta da parte autora. 7. Recurso
conhecido e provido. Sentença reformada em sua totalidade. 8.
Honorários sucumbenciais fixados em face da requerida.
ACÓRDÃO Vistos, discutidos e relatados estes autos, ACORDAM
os Senhores Desembargadores da 4ª Câmara de Direito Privado,
à unanimidade, em conhecer do recurso de apelação, para, no
mérito, DAR-LHE PROVIMENTO, tudo nos termos do voto do
Desembargador Relator. Fortaleza, 09 de agosto de 2022.
DESEMBARGADOR FRANCISCO BEZERRA CAVALCANTE Relator
(TJ-CE - AC: 01301665120188060001 Fortaleza, Relator:
FRANCISCO BEZERRA CAVALCANTE, Data de Julgamento:
09/08/2022, 4ª Câmara Direito Privado, Data de Publicação:
09/08/2022)

DIREITO CIVIL, PROCESSUAL CIVIL E DO CONSUMIDOR.


APELAÇÃO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. CONTRATO DE
EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE
EXISTÊNCIA DO SINALAGMÁTICO. NÃO RECEBIMENTO DA CIFRA
MUTUADA. DANO MORAL CONFIGURADO. VALOR DO
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INDENIZATÓRIO FIXADO EM R$ 5.000,00 (CINCO MIL


REAIS). PRETENSÃO DO FORNECEDOR PARA MINORAR A
IMPORTÂNCIA. CRITÉRIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA
RAZOABILIDADE. JUROS DE MORA A PARTIR DO EVENTO
DANOSO (SÚMULA N. 54/STJ). DEDUÇÕES INDEVIDAS.
RESTITUIÇÃO DOS VALORES. FORMA SIMPLES OU DOBRADA.
MODULAÇÃO PROCLAMADA PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA NO JULGAMENTO DO EARESP 676.608. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO, EM PARTE. 1 - O empréstimo
consignado é uma modalidade de crédito bancário, em que o
desconto da prestação é feito diretamente na folha de pagamento
ou de benefício previdenciário do contratante. A consignação em
folha de pagamento ou de benefício depende de autorização
prévia e expressa do cliente para a instituição financeira. Esta
modalidade contratual, por óbvio, também é regida pelo
CODECON, conforme assinala a Súmula 297 do STJ, que dispõe
sobre a aplicabilidade deste diploma legal às instituições
financeiras. 2 - Assim, por se tratar de inativo (a) do (a) INSS,
era dever do banco comprovar nos autos, de forma insofismável,
a contratação. A ausência desta prova determina a repetição do
indébito, ex vi o pedido de dano material. Em evidência que
existem Estatutos próprios a destacar e a individualizar as
necessidades e garantias da pessoa idosa, conforme Lei nº.
10.741/2.003. Posto isso, as relações com os consumidores
idosos, em razão da idade e dos problemas de saúde, eleva a
diminuição de capacidade de compreensão das informações que
lhes são prestadas, bem como, em relação as consequências
legais e práticas e sua drástica diminuição a resistência de golpes
ou práticas abusivas. Nesse sentido: ¿Apelação. Ação declaratória
de inexistência de débito c/c indenizatória de danos materiais e
morais. Golpe do motoboy. Responsabilidade objetiva da
instituição financeira. Falha na prestação do serviço
evidenciada. Súmula nº 479 do STJ. Inexistência de prova
de culpa exclusiva do consumidor ou do terceiro. Art. 14
do CDC. Hipervulnerabilidade do consumidor idoso. Danos
materiais e morais configurados. Indenização devida.
Precedente. Ação ora julgada procedente. Recurso da autora
provido. (TJ-SP - AC: 10090011720228260100 SP
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1009001-17.2022.8.26.0100, Relator: Lluis Fernando Camargo


de Barros Vidal, Data de Julgamento: 30/10/2022, 14ª Câmara
de Direito Privado, Data de Publicação: 30/10/2022).¿. 3 ¿ Em
consectário, o dano moral que aflige o (a) autor (a) reveste-se
como hipótese de dano in re ipsa, presumível como decorrente de
forma automática dos fatos em questão. Trata-se, nitidamente,
de situação que ultrapassa a seara do mero aborrecimento ou
dissabor do cotidiano e que dispensa larga investigação
probatória, uma vez que a aposentadoria do (a) promovente é
verba alimentar, destinada ao seu sustento básico, e qualquer
desconto indevido ali realizado configura privação do seu
patrimônio. 4 - Assim, considerando o caráter pedagógico da
condenação, com o objetivo de evitar novas infrações pelo
apelante, mas também, sob outra perspectiva, evitando o
enriquecimento sem causa do (a) autor (a) e um desequilíbrio
financeiro da instituição financeira, mantenho o valor arbitrado da
condenação por danos morais, em R$ 5.000,00 (cinco mil) reais,
pois encontra-se dentro do razoável e do proporcional para
reparar o constrangimento suportado pelo consumidor. Ademais,
não pode a importância condenatória ser módica ou muito
elevada, conforme a compreensão do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul, em parte da Ementa que se
destaca: ¿(...) 1. Observados o critério de razoabilidade para
reparar o dano moral sofrido pela requerente, o carácter
repressivo e pedagógico da indenização e o fato de que esta não
pode ser considerada elevada a configurar enriquecimento sem
causa da parte autora, mostra-se adequada a redução do valor
fixado no juízo de origem, considerando, ainda, que corresponde
a maior indenização prevista no Termo de Ajustamento de
Conduta celebrado. (70042970087 RS, Relator: Isabel Dias
Almeida, Data de Julgamento: 22/06/2011, Quinta Câmara Cível,
Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 29/06/2011).¿. 5 ¿
Ademais, os valores indenizatórios a título de danos morais, na
espécie, devem ser acrescidos de juros moratórios de 1% (um
por cento) ao mês, a partir do evento danoso (Súmula n.º 54,
STJ), primeiro desconto. É que, como não há um negócio jurídico
entre as partes, dada a inexistência do pacto, o ressarcimento é
extracontratual. 6 - A ausência da prova do mútuo resulta em
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repetição do indébito, ex vi o pedido de dano material.


Precedentes. Contudo, no decisório recorrido foi determinado que
a restituição dos valores pagos indevidamente deveria ocorrer em
dobro. Assim, a pretensão recursal merece ser acolhida, neste
tópico, pois não restou demonstrada a má-fé do banco. Por
conseguinte, deve a casa de crédito fazer o ressarcimento de
todas as quantias objeto do negócio jurídico, com os
acrescimentos legais, mas na forma simples. Assim deve ser,
pois, a restituição em dobro dos valores pagos indevidamente
pela parte autora, com fundamento no julgamento do EAREsp
676.608 pelo e. Superior Tribunal de Justiça, somente se verifica
para os indébitos posteriores a referida deliberação, conforme
modulação proclamada. Portanto, somente valerá a determinação
de devolução dobrada para a cobrança indevida a partir da
publicação do julgado paradigma, em 30/03/2021, e como os
descontos, objeto desta demanda, são de 2015 e 2016, conforme
fls. 03, a intelecção sufragada não pode ser aproveitada. Em
consectário, deve-se manter o posicionamento adotado
anteriormente pelo Tribunal da Cidadania, no sentido de apenas
admitir a repetição do indébito em dobro nos casos de inequívoca
má-fé. Nesta diretiva: ¿(...) 4. Somente a cobrança de valores
indevidos por inequívoca má-fé enseja a repetição em dobro do
indébito. Precedentes. 5. Agravo interno no agravo em recurso
especial não provido. ( AgInt no AREsp 1135918/MG, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
04/05/2020, DJe 07/05/2020)¿. Recurso provido neste tópico. 5
- Apelação conhecida e provida, em parte. Entendimento da douta
Procuradoria-Geral de Justiça pelo total desprovimento do
recurso. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos,
acorda a 4ª Câmara Direito Privado do Tribunal de Justiça do
Estado do Ceará, em conhecer do recurso de apelação, para dar-
lhe, em parte, provimento, tudo de conformidade com o voto do
e. Desembargador Relator. Fortaleza, considerar a data assinada
no sistema. MARIA DO LIVRAMENTO ALVES MAGALHÃES
Presidente do Órgão Julgador DESEMBARGADOR FRANCISCO
DARIVAL BESERRA PRIMO Relator (TJ-CE - AC:
00053517320158060134 Novo Oriente, Relator: FRANCISCO
DARIVAL BESERRA PRIMO, Data de Julgamento: 16/05/2023, 4ª
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Câmara Direito Privado, Data de Publicação: 16/05/2023)

Nessa ordem de ideias, atento a esses fatores: "nível


econômico da autora da ação, sofrimento da vítima e o porte
econômico da entidade bancária", arbitro o valor de R$ 5.000,00
(cinco mil reais), a título de danos morais, frente ao quadro fático
delineado nos autos.

Quanto aos danos materiais, tem o Banco do Brasil a


responsabilidade de ressarcir a parte consumidora dos prejuízos
materiais suportados pela falha/defeito do serviço de forma integral,
no valor de R$ 44.000,00 (quarenta e quatro mil reais), sendo
inexigíveis o débito oriundo da transação impugnada e todos os
encargos delas decorrentes, conforme comprovante de pagamento à
fl. 27.

Diante do exposto, aos fundamentos fáticos e


jurídicos acima declinados, voto pelo conhecimento dos presentes
recursos, para negar provimento a apelação proposta pelo Banco do
Brasil S/A e dar parcial provimento a apelação proposta por Lúcia
Ferreira Cavalcante, reformando a sentença proferida pelo Juízo a
quo, para:

i) declarar a inexigibilidade do débito no valor de R$


44.000,00 (quarenta e quatro mil reais);

ii) condenar a instituição financeira a restituição no


valor de R$ 44.000,00 com correção monetária e juros de mora em
1% ao mês, contados a partir do efetivo prejuízo; e

iii) condenar o Banco do Brasil S/A o pagamento de


danos morais no montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais),
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incidindo correção monetária a partir do arbitramento, com fulcro na


Súmula 362 do STJ e juros de mora de 1% ao mês contados a partir
do evento danoso, conforme art. 398 do Código Civil e Súmula 54 do
STJ.

Por fim, em razão da Súmula 326 do Superior Tribunal


de Justiça condeno o Banco do Brasil S/A ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% (dez por
cento) sobre o valor atualizado da condenação, nos termos do art.
85, §2º do Código de Processo Civil.

É como voto.

Fortaleza, 14 de fevereiro de 2024.

EMANUEL LEITE ALBUQUERQUE


Desembargador Relator

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