Responsabilidade Social e Diversidade - P
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http://www.bndes.gov.br/bibliotecadigital
Responsabilidade Social
e Diversidade
1
Coordenação e edição Fotografias
IBDD Instituto Brasileiro de Paulo Jares
Defesa dos Direitos da Pessoa
Portadora de Deficiência Fotolitos
Abreus System
Revisão técnica Playarte
IBDD
Impressão
Entrevistas Digital Gráfica
Marcos Sá Correa e Anna Claudia
Monteiro
CDD 331.59
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Índice
Prefácio ........................................................................... 5
3
Prefácio BNDES
Este livro tem uma história e um destino. Dirige-se à construção de
um país melhor: justo, generoso, fraterno. É uma porta que se abre.
Espero que por ela entrem empresários, entidades ligadas ao mundo
da produção e do trabalho. Sobretudo, que por ela entrem as pessoas
portadoras de deficiência que, mantidas à margem da sociedade e da
vida, buscam no escuro uma esperança. Que este livro seja uma porta
aberta sobre o futuro e a esperança. Seja este o seu destino.
Um destino sonhado e desejado, mas também pensado, programa-
do, trabalhado: um destino que tem história. De muito tempo data o
bom combate das organizações de representação e luta das pessoas
portadoras de deficiência. A pouco tempo monta o interesse do Esta-
do e o despertar da sociedade para os direitos e a cidadania desses
milhões de brasileiros. Aqui, neste livro, essas energias, novas e anti-
gas, marcam encontro. Nele um livro, e que força podem ter os
livros quando se trata do despertar das consciências! há promessas
e técnicas, boa teoria e abertura de caminhos para as práticas mais
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concretas. Aqui se reúnem o Estado e a sociedade organizada: o Ban-
co Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES e o
Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos das Pessoas Portadoras de
Deficiência IBDD. E juntos oferecem às empresas, aos cidadãos que
portam deficiências e a quem se fecham as portas de acesso ao traba-
lho, um manual de esperança. Concreta. Sem o desfibramento das
promessas vazias, com o nervo tenso dos grandes desafios.
O encontro do BNDES com o IBDD tem essa qualidade de carne
viva. Pulsa nele o entusiasmo das mudanças que redimem. Cada um
por seu lado tem exercido seus mecanismos de luta, segundo suas
competências específicas. O Banco, com o PAIS Programa de Apoio
a Investimentos Sociais de Empresas, oferece crédito barato a entida-
des públicas e privadas para a adequação física e acessibilidade uni-
versal dos seus ambientes, a sensibilização e capacitação de suas
equipes envolvidas com as pessoas portadoras de deficiência, a aqui-
sição de equipamentos e materiais necessários à recepção dessas pes-
soas nos espaços de trabalho. O IBDD com sua luta diária pela cidada-
nia da pessoa com deficiência, com um escritório de defesa de direi-
tos, único no país, com a profissionalização e o encaminhamento ao
mercado de trabalho, com o esporte social de ponta, modelo de inser-
ção social e conscientizações pelo exemplo. Ambos, Instituto e Ban-
co, reunidos em contrato, empenhando-se em atividades de remoção
de obstáculos, arquitetônicos e culturais, à empregabilidade das pes-
soas portadoras de deficiência, no próprio Banco e entre seus clien-
tes/financiados, buscando para cada parceiro, na sua esfera específi-
ca, a função de liderança social no que se refere à construção da
cidadania dessas pessoas no nosso país.
Antes mesmo de ser eleito, em visita ao IBDD, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva formulou em treze pontos a política de resgate e
inserção desses brasileiros, até aqui, com a solitária exceção das inici-
ativas de governo determinadas pelo presidente José Sarney lança-
dos à deriva de sua própria história. Treze pontos, todo um programa
permeando da educação e saúde ao lazer, da acessibilidade física ao
acesso cultural, das atitudes preventivas à defesa da cidadania. Este
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livro é um pacto na direção de construir, com esse programa, uma
nova realidade.
Livro múltiplo, já se vê, pois o tema um mundo de abandono, in-
consciência, desconhecimento, potencialidades, capacidades e espe-
ranças o exige. Nele se encontram de tese acadêmica a guias práti-
cos; de modelos de acessibilidade a histórias de vida e informações
úteis.
Pois de tudo isto se faz a questão das pessoas com deficiências no
Brasil. E de mais: de orgulho, tenacidade, altos ideais. Essa história não
se conta só pelo negativo e o abandono. Nela pulsa a força irrefreável
da vida. Que virá. O BNDES, junto com o IBDD, deseja, com esta porta
que se abre como se abre um livro, dar a muitos, dar a todos, a alegria
de ter estado presente quando a vida se fizer mais bela e justa do que é.
É uma proposta. É um desafio. Que possa ser também uma certeza.
Carlos Lessa
Presidente do BNDES
6
Prefácio IBDD
O IBDD acredita na urgente necessidade de produção e divulgação de
conhecimento como forma de contribuir para o estabelecimento de um
novo paradigma no entendimento sobre a questão das pessoas com
deficiência.
Ao analisarmos os poucos dados atuais sobre essa realidade, cons-
tatamos a ausência de acesso aos direitos básicos de cidadania da
grande maioria desse segmento que, além de abranger cerca de 10%
da nossa população, envolve pelo menos 30% dos brasileiros. Pode-
mos verificar também que o estado da arte no Brasil sobre esse tema se
apresenta como um vazio de produção e disseminação de um novo
saber.
Dessas duas constatações deriva a decisão de aprofundarmos nossa
intervenção no campo do conhecimento.
Aos três setores de atuação básicos do IBDD, defesa de direitos,
esporte e mercado de trabalho, junta-se uma atuação que, realizando
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um corte transversal, pretende produzir e disseminar conhecimento não
somente em cada uma dessas áreas, mas também em todas aquelas
em que se torne útil o debruçar-se de especialistas, a produção de
documentos, a realização de pesquisas e experiências, a proposta de
intervenções modelares, enfim formas diversas de propor a superação
de pontos de bloqueio no enfrentamento da questão.
Esse livro é um passo importante para divulgar um conhecimento até
aqui restrito aos técnicos. Nossa idéia é colocar ao alcance de todos
em especial do BNDES e através dele, das empresas brasileiras conhe-
cimentos básicos para uma intervenção adequada no mundo do direito
ao trabalho da pessoa com deficiência.
O acesso ao emprego desse segmento deve ser efetivado sob a ótica
da eficiência e da igualdade de oportunidades e este livro pretende
contribuir para a realização dessa premissa. Nele estão reunidos diver-
sos textos através dos quais forma-se um retrato que permitirá a atuação,
baseada em conhecimento, das empresas interessadas em investir nessa
área. Artigos, entrevistas, modelos, legislação, barreiras arquitetônicas,
dicas contextualizam o tema contribuindo para a formação de um novo
entendimento da questão.
Agradecemos ao BNDES por acreditar na importância de apoiar as
empresas que procuram ter um novo olhar sobre as pessoas com defi-
ciência, um olhar que une responsabilidade social e respeito ao próxi-
mo. Através desse livro estamos contribuindo para a construção de um
país menos desigual e mais justo, como todos queremos.
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Meu objetivo é fazer uma introdução filosófica, falar sobre a idéia do que
é ser deficiente hoje e do que foi no passado. Nós temos a idéia de que ser
deficiente sempre foi, sempre significou a mesma coisa. No entanto, o
sentido negativo e excludente da palavra deficiente, em relação às pes-
soas a quem se aplica essa designação, tem a ver com uma civilização cujo
fundamento é a eficácia, a capacidade de produzir efeitos, e tudo é medido
por essa capacidade. De modo que a natureza humana e a singularidade
individual não têm, a rigor, nenhum valor; o que vale é uma medida externa
que mostra a quantidade de efeitos que uma pessoa, ou uma instituição, é
capaz de produzir, e se ela não consegue produzir esses efeitos que estão
na média, é então chamada de deficiente, porque vivemos numa civiliza-
ção da eficiência, que é a civilização industrial.
Portanto, esse sentido negativo, e freqüentemente pejorativo, da pa-
lavra deficiente, existe há uns trezentos anos, não mais do que isso.
O prefixo de tem um sentido inteiramente negativo, como em derro-
ta, perda do caminho, perda da rota; deportado, ter sido mandado
embora do porto; desestruturado, não estruturado; deficiente, não
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eficiente. O prefixo de, nesse caso, tem o sentido de não, portan-
to uma negação da própria essência da pessoa como pessoa, porque
ela está sendo avaliada por algo que não é pessoal, que pertence a uma
média e que tem a ver com a produção de efeitos.
Mas nem sempre foi assim. Num passado mais próximo (isto é, em
relação aos começos de nossa civilização), digamos, na Idade Média, o
deficiente era só uma pessoa sagrada. A marca que ele portava era o
sinal de diferença e, nesse sentido, o diferente era assinalado e só
podia ser assinalado por Deus. Havia algo de sagrado em torno da pes-
soa deficiente, do cego, por exemplo, que em geral era tomado como
um adivinho exatamente por não ver as coisas presentes e poder ser
sensível às coisas futuras. O deficiente mental, que já se chamou de
excepcional, de retardado, era chamado o simples. Ele era a pes-
soa simples da aldeia não se tratava do bobo da corte e a pessoa
simples era a que estava mais próxima de Deus, das crianças.
Usando apenas esses dois exemplos de deficiência, a visual e a men-
tal, o deficiente no passado era tratado positivamente. A deficiência era
o sinal, a marca, uma espécie de predestinação. Em vez de excluídas,
essas pessoas eram protegidas pela sociedade. Elas eram assinaladas,
tinham um lugar e um papel a representar nessas comunidades. De
maneira alguma, elas ficavam de fora.
Assim, analisando as diferentes maneiras de tratar as pessoas defici-
entes e a própria noção de deficiência, que pode ser vista de forma
positiva, bem diferente do modo como é vista hoje, eu me dei conta de
que, se nós pensamos como pessoas que vivem numa civilização que
se define como ocidental e cristã cuja origem está na Grécia e no
Oriente Médio, na Palestina entre o povo judeu os pais fundadores
de nossa cultura atual, tanto do lado grego como do lado judaico e
depois cristão, são deficientes. Quem é o fundador da cultura grega
para nós? Quando pensamos na cultura grega, qual é o primeiro nome
que nos ocorre, porque não conhecemos nenhum antes dele? Homero.
Homero, que cantou a Guerra de Tróia e depois a viagem de volta de
Ulisses em IIíada e Odisséia. Essas são as duas narrativas fundadoras
da Grécia, da cultura grega, da diferença entre Ocidente e Oriente. Essa
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é a narrativa-mãe do Ocidente, mãe da Europa, portanto nossa avó.
Homero era cego e, no entanto, ninguém pensa em se referir a ele como
Homero, o ceguinho, como nos referimos ao ceguinho da feira, que é
um cantador, um repentista, um extraordinário poeta e a quem, entre-
tanto, nos referimos pela deficiência, não pela poesia. Homero era um
grande poeta, o maior poeta de todos os tempos, assim se diz, mas o
fato de ser cego não é significativo. Era um fato e ponto.
A tragédia de Édipo, por exemplo, que é uma das narrativas paradigmáticas
da nossa cultura: a mãe, o pai e o filho, e o conflito entre os três, que deu
na psicanálise, enfim, em tantas coisas. Em Édipo Rei, quem é o detetive,
quem é que sabe a verdade desde o começo e aconselha Édipo a não se
aprofundar demais na descoberta da verdade porque ele vai se dar mal? É
Tirésias, o adivinho, cego. O que quer dizer a palavra adivinhar? Adivi-
nhar vem do latim divinare, o adivinho é aquele que tem o dom divino, o
dom da divinação. Ele tem o dom de se pôr próximo do divino e, portanto,
de saber o que os humanos comuns não sabem. É a deficiência de Tirésias
que o faz ser essa pessoa marcada positivamente e não a pessoa excluída
que hoje seria.
Pelo lado judaico, temos a Bíblia, iniciando-se com o Gênesis e pros-
seguindo com a narrativa dos homens, dos patriarcas, reis, profetas,
etc. A partir do momento em que a trinca dos patriarcas Abraão,
Isaac e Jacó se completa, pode-se dizer que foi lançada a pedra, um
povo passa a existir, um povo escolhido por Deus, com quem Deus fez
uma aliança. Jacó, por exemplo, não era o filho primogênito de Isaac, e
o primogênito era quem tinha prestígio, quem tinha o mando. Jacó,
então, propôs ao irmão, Esaú, trocar a primogenitura por um prato de
lentilhas. Esaú gostava muito de lentilhas e aceitou a troca. Assim foi
feito e os dois enganaram o pobre Isaac, que abençoou Jacó pensando
que era Esaú em seu leito de morte. Com isso, Jacó ficou sendo o patri-
arca e houve muita confusão e brigas entre os irmãos. Um dia, Jacó
soube que Esaú estava vindo com toda sua família e se sentiu ameaçado.
Resolveu fugir para outra terra levando sua família, seus escravos, seus
rebanhos e suas riquezas. Havia um rio que ele precisava atravessar e
depois estaria em segurança. Jacó levou toda sua família e seus bens
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para o outro lado do rio, ficando por último. No momento de sua traves-
sia, alguém se interpôs entre ele e o rio, impedindo-o de prosseguir. Os
dois se atracaram numa luta que levou a noite inteira, sem se resolver em
vitória para nenhum deles. Ao alvorecer, aquele com quem Jacó lutara
lhe disse que por ter lutado bem poderia passar e atravessar o rio. Jacó
se recusou a passar simplesmente e pediu ao outro que ao menos lhe
revelasse seu nome. Aquele lhe respondeu: Não, meu nome eu não
digo. E criou então uma entorse na perna de Jacó, que o deixou manco
pelo resto da vida. Declarou ter deixado no corpo de Jacó a sua marca,
pela qual ele seria sempre lembrado como aquele que lutou com Deus,
e doravante este será seu nome, Israel, aquele que lutou com Deus.
Portanto, Jacó, que é o fundador da outra tradição ocidental, que junta-
mente com a tradição grega formou nossa civilização, é um coxo.
Ninguém se lembra dos pais-fundadores de nossa História um como
cego e outro como coxo, entretanto, os dois são deficientes. Os dois
são de alguma forma assinalados, tendo sido Jacó diretamente assina-
lado por Deus, em sua luta entre o mortal e o imortal, e tido também
seu nome mudado, nome este que conferiu ao povo a que deu origem,
Israel. Esses dois deficientes, Homero e Jacó, são os pais-fundadores
da cultura que hoje, no seu quase ocaso, trata o deficiente como al-
guém menos humano, nem por isso mais divino, alguém a ser excluído,
a ser mantido à margem da sociedade, sem cidadania, uma vez que a
diferença é vista como um sinal negativo e não afirmativo.
Essas histórias bonitas servem para comparar a maneira discriminatória
como tratamos os deficientes e que nos obriga a nos reunir na associ-
ação de luta por seus direitos com a maneira natural com que a defici-
ência foi incorporada desde as origens dessa cultura, fundada mesmo
por pessoas (Jacó e Homero) que hoje chamaríamos de deficientes, essa
cultura que no final as expulsaria. Tanto Jacó como Homero não teriam
lugar em nossas escolas, em nossas universidades, sofreriam com as
barreiras arquitetônicas, etc., um não teria escrito a Ilíada e a Odisséia e
o outro não teria sido o pai-fundador da nação judaica e, portanto, avô
do cristianismo.
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A medusa representa uma alteridade tão radical que não se
pode olhá-la sem morrer.1
Jean Baudrillard
1. Introdução
O universo da questão da deficiência pode ser interpretado em nossos
dias como o espaço onde se corporificam algumas das principais ques-
tões da sociedade atual. Democracia, cidadania, direitos sociais, cons-
ciência social, comunicação, imaginário, educação, saúde, medicina,
tecnologia, produção, eficiência são alguns dentre tantos assuntos que
estão sempre perpassando o problema da deficiência e do deficiente.
A tentativa de pensar a questão da deficiência em um mestrado na
área de Comunicação é certo que passa por essa abrangência do tema,
mas em especial se liga à idéia de que dentre as diferentes abordagens
possíveis a Comunicação é aquela que de melhor forma poderá levar a
um enfoque novo e criador para o problema. Poderá levar a um caminho
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que signifique não somente uma nova vertente para o conhecimento de
uma das mais agudas questões sociais em nosso país, mas também, e
quem sabe aqui é possível dizer principalmente, poderá levar a um
enfoque inovador na difícil tarefa de construir a democracia.
Através da Comunicação encontraremos abordagem para alguns dos
principais pontos da questão do deficiente e poderemos desenvolver
mais uma chave para seu encaminhamento. Homem e sociedade po-
dem ser vistos como aspecto central do problema porque nos dois a
questão nasce e nos dois há de se resolver.
Está este trabalho dividido em quatro linhas básicas para seu desen-
volvimento. A formação do conceito de deficiência, a construção do
outro e a discriminação, a não-consciência da questão como meio de
análise do tema e a conscientização como uma das viáveis formas de
intervenção para o encaminhamento do problema. Procurei fazer de
cada um dos quatro primeiros aspectos uma unidade completa de abor-
dagem, para que depois os juntássemos em torno de uma proposta
comum sobre deficiência e democracia. Se alguma solução pode haver
para a questão, ela passa pela compreensão do homem e do outro, da
igualdade e da democracia necessárias.
Compreender a sociedade através de suas marcantes formas de re-
presentação é tarefa da Comunicação. Procurar transformar essa com-
preensão em forma de encaminhamento da questão é ponto que extrapola
a reflexão mas que deve estar presente nas preocupações dos que têm
compromisso com a democracia e o saber.
Um dos mais transparentes aspectos do enorme preconceito em tor-
no da deficiência em nosso país é o desconhecimento do significado e
da abrangência do conceito, e mesmo da palavra, deficiência. Não é
necessário ir aos mais complexos meandros dos contextos que perpas-
sam a questão, para verificarmos a grande freqüência de erro no uso do
conceito. Confunde-se o uso de doença e deficiência mental, de deficiên-
cia e deficiência física. Se aprofundarmos a análise teremos distorções
causadas pelo preconceito, vamos perceber identificações do conceito
de deficiência com incapacidade, subpotencialidade, como algo defini-
do por uma falta.
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Por esse motivo, na primeira parte desse trabalho me dedico a elaborar
um conceito de deficiência de características abrangentes e definidoras
mas sobretudo procurando uma colocação inovadora da questão.
É, entretanto, possível descobrir que a construção da alteridade na
sociedade atual influenciará sua posição frente à deficiência e será fator
preponderante na que assume, no mundo de hoje, a discriminação de-
senvolvida em relação à pessoa deficiente. Assim, para entendermos a
construção do outro e a influência assumida pela discriminação relativa
à questão da deficiência é que utilizo, na segunda parte do trabalho,
essa abordagem, esperando que venha a ser mais um aspecto para a
compreensão do problema.
Através da discussão da não-consciência da questão, analisada como
uma atitude marcante na sociedade brasileira atual é que, na terceira
parte da tese, delineio pontos de ligação entre a busca de sua compre-
ensão e o encontro de seu encaminhamento.
A estratégia de atuação discutida na quarta parte será como um jun-
tar de fios que tecem a superação dos principais obstáculos ao
equacionamento da questão do deficiente, em uma abordagem através
da Comunicação. Nessa etapa procuro aliar diagnóstico e encaminha-
mento em uma proposta concreta de intervenção na sociedade através
das imensas possibilidades que a Comunicação permite utilizar no trato
de problemas sociais, em especial naquelas em que as dificuldades
principais passem pela consciência social. Analiso, em complemento, o
programa desenvolvido pela CORDE, Coordenadoria Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, órgão do Governo fede-
ral, nos anos de 1988-1989, e procuro encontrar nele sinais dos resul-
tados alcançados.
Por fim, busquei estabelecer na conclusão do trabalho a justificativa
maior para sua elaboração: a discussão da idéia de que democracia e
diferença, igualdade e deficiência podem, em um determinado ponto da
história, em uma determinada hora das preocupações do homem, mos-
trar que juntas identificam, e podem mesmo desenvolver pontos pri-
mordiais para a construção de um mundo novo. De um Brasil mais
democrático, de uma sociedade mais humana.
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A amplitude da questão deficiência-democracia acontece na realidade
do cotidiano e é nesse sentido que, embora em seus fundamentos este-
ja presente em todos os países, a proposta aqui apresentada corresponde
à realidade do nosso país.
Pela correlação democracia-diferença passam certamente importan-
tes questões da atualidade em seus aspectos mais variados. É nessa
diversidade de problemas e enfoques que poderemos compreender a
diversidade do homem e encontrar nessa tese um ponto de reflexão
para novas formas de compreender o social.
2. A construção da deficiência
Tais adoradores da eficiência gostariam que cada homem
se movesse numa órbita social, que lhe fosse assinalada desde
a infância, e que realizasse a função a que estivesse obrigado...2
Norbert Wiener
O conceito de deficiência tem passado, nos últimos anos, por uma
transformação de tal modo veloz e modificadora que nos leva a pensar
em duas vertentes principais. Uma delas é a de procurar entender o
conceito em seu significado próprio, compreender o alcance da redu-
ção operada pelo conceito na formação de uma unidade subsistente
do homem. A outra é perguntar-se por que essa designação vem,
nesses citados últimos anos, encontrando uma inovação de palavras
que em nada corresponde a uma mudança no conceito mas que, ao
contrário, afirma a permanência de suas definições básicas. Deve ser
notado, entretanto, que essa constante reformulação representa uma
insatisfação permanente com o conteúdo do conceito deficiência e
talvez possamos compreender essa ambiguidade se nos colocarmos a
hipótese de que enquanto houver uma incapacidade social de aceitar
o diferente, as denominações continuarão sendo modificadas, resulta-
do da tarefa de designar um conceito virtualmente discriminatório, um
preconceito.
A tentativa de, através do conceito de deficiência, ter definida uma
unidade não permite alcançar as características do homem, da vida, do
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social da nossa época por uma justificativa da deficiência como objetivo
principal da sociedade. O ser humano está marcado pela necessidade da
produção competente, está atraído pela marca da superioridade.
Se procurarmos olhar e decifrar a palavra deficiência, encontraremos
nela uma ambiguidade fundamental: o prefixo que indica negação, pri-
vação e a palavra eficiência que indica algo eminentemente positivo.
Essa operação efetuada pela junção de dois termos que têm acentuada-
mente uma contradição cria, através da palavra deficiência, um concei-
to cujo significado está pesado de contradições permitindo um grande
número de interpretações, mas principalmente denunciando os diferen-
tes reflexos de seu significado social.
O conceito deficiência, eivado de preconceitos, traz em si, logo de
início, a idéia de diferença e medida, traz a idéia de reconhecimento de
diferenças, que inclui na chave da identidade, a diferença, a mensuração
das diferenças e a redução do homem e da vida a uma equação de
valores, sinais, operações e resultados.
A sociedade moderna vem optando seguidamente pela concepção do
sentido de sua existência através da produção, da produtividade, da
máquina, do rendimento, da maximização, da otimização, da eficiência.
Não é essa, entretanto, a concepção da vida e do homem numa socie-
dade que queira procurar no equilíbrio e na democracia sua realização.
A possível concepção da vida como meio de produção, da vida eminen-
temente eficiente, é uma maneira de pensar a organização social e o
comportamento humano que lhe tira o que tem de mais natural, e que
procura se apropriar da vida, da sociedade, da natureza como objetos
de mensuração e de predomínio da identidade.
A identidade que se quer universal é a da eficiência, o diferente da
eficiência é a deficiência. Essa abordagem da diferença na comparação
com a identidade é o que faz com que se tenha sempre procurado
definir a deficiência como o lugar da perda, como a negação de uma
identidade que é na realidade impossível de ser encontrada no humano.
A mensuração procurou, e procura, na chave da identidade, encontrar
a medida, a falta, o diferente, o deficiente. A sociedade construiu a
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deficiência como a medida da diferença e da não-deficiência. Segundo
Jean-Luc Lambert:
A deficiência...é um problema social. Sua história se confun-
de com a nossa, ela é a da diferença e das relações da sociedade
para com essas diferenças. ³
Mas o equilíbrio, a harmonia, a igualdade são a marca do humano,
são formas de pensar o homem pelo que tem de mais próprio que é seu
direito à igualdade.
É essa concepção democrática de pensar e tratar a diferença na cha-
ve da igualdade que marca profundamente a busca de democracia e
deve pressupor tratar diferentemente os diferentes. Não reivindicar o
direito à diferença mas pensar a questão da deficiência na esfera da
igualdade, no enfoque político que a tratará como problema de cidada-
nia.
Pensar o direito à igualdade foi tarefa expressa já na Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, que diz que todos os ho-
mens nascem iguais em direitos, e acatada na concepção social-legal
de que todos os homens são iguais perante a lei. Entretanto é a idéia de
Lênin, de que tratar igualmente desiguais é acentuar desigualdades,
que torna possível pensar a sociedade de tal forma que as diferenças
sejam respeitadas e não excluídas ou estigmatizadas: O direito igual ...
pressupõe a desigualdade. Todo direito é a aplicação de uma medida
idêntica a pessoas diferentes, que, de fato, não são idênticas, não são
iguais umas às outras; e por isso o direito igual é uma violação da
igualdade e uma injustiça.4. A perspectiva de tratar igualmente defici-
entes coloca a idéia de mantê-los diferentes. Tratá-los diferentemente é
lhe proporcionar o direito à igualdade, é a tentativa de construção de
um modelo de democracia concebida de forma que a igualdade de to-
dos esteja presente na organização social.
A construção do conceito de deficiência tem sido acompanhada, nos
últimos tempos, por uma modificação constante de sua representativi-
dade através de uma série de palavras, exemplificando com clareza que
a linguagem é local de representação das interpretações da sociedade e
19
que a linguagem é reflexo da vida humana.
Passando pelas concepções mais anteriores de louco e de débil, pala-
vras já repletas do preconceito que sempre perpassou a deficiência,
encontramos a palavra excepcional, tentativa de camuflar a diferença e
forçar uma abrangência tanto positiva quanto negativa do termo, que
significaria tanto o sub quanto o superdotado, mas permanecendo sem-
pre o sinal da mensuração da diferença como marco principal; já em
tempos mais próximos, formou-se um consenso em torno da palavra
deficiência, com os contornos que acabamos de discutir, assim centrado
na medida negativa da falta, da diferença.
Essa mudança constante do termo que designa o conceito deficiência
pode ser analisada como um reflexo, através da linguagem, da ambigüi-
dade que perpassa o conceito e da precariedade que é encará-lo como
uma questão de falta, resultado de uma identidade negativa.
Atualmente discute-se, entre os que lidam diariamente com a ques-
tão, a validade do termo deficiência, postulando-se o emprego da ex-
pressão pessoa portadora de deficiência levando em consideração a
evidência de que o ser humano permanece integral, sendo apenas o
local onde acontece uma falha orgânica irreversível. Como, mesmo nessa
proposta, confirma-se a definição do homem por uma falta, pela dife-
rença, ela é novamente repudiada e caminhamos para o uso da expres-
são pessoa portadora de diferença.
Se por um lado podemos entender que finalmente palavra e conceito
encontraram sua definição chave, a diferença, podemos analisar que
essa identificação acontece justamente porque o assunto está, através
mesmo da linguagem, confirmando o preconceito, a negação, o avesso
do homem e da democracia a diferença. É que numa sociedade em
que os padrões são, cada vez mais, os da eficiência e da superioridade,
a falta vai continuar sendo o que deve ser negado e escondido, o que
deve ser camuflado pela ilusão da transparência e que é preservado
pelo direito à diferença.
A construção do conceito de deficiência é, em todos os seus aspec-
tos, uma tarefa inconclusiva. Os caminhos democráticos desse fim de
20
século estão permeados, em toda sua extensão, pela diferença. Será
necessário lidar com a idéia de que igualdade significa tratar diferente-
mente os diferentes, reafirmando seu direito à igualdade e possibilitan-
do o direito de não ser diferente. Será também possível perceber que
enquanto houver discriminação, negação a esse direito, as mais dife-
rentes palavras serão incapazes de contemplar totalmente o conceito e
satisfazer aqueles que com ele lidam.
Haver um direito à diferença é já estigmatizar a diferença, é o diferen-
te ser diferente, é procurar a identidade, é negar a igualdade, é negar o
direito de não estar em desvantagem, de não ser diferente.
De acordo com Jean Baudrillard A lógica da diferença sendo de algum
modo uma simulação universal (culminando no absurdo direito à dife-
rença) esta simulação em suavidade desemboca sobre a outra forma de
alucinação desesperada da diferença que é o racismo.5 Porque a forma
de nomear o problema indica mudanças de direção do preconceito mas
sobre elas, sobre ele, não se construirá um conceito coerente.
É por esse caminho que, trilhando a discriminação e a construção do
outro, continuarei a reflexão sobre a questão da deficiência.
3. A contrução da deficiência
Amará o que foi outrora e não é mais, ou então o que possui
as excelências que ela jamais teve. 6
Sigmund Freud
A questão da deficiência sempre abrangeu, desde os tempos mais
antigos, a concepção da perfeição. E por ela sempre perpassou a ques-
tão da negação, do preconceito, da discriminação.
Procuraremos analisar a construção do mesmo, do outro e do diferen-
te para tentarmos compreender a distorção da discriminação e poder-
mos alcançar por onde passa a consciência em relação ao outro, a não-
consciência em relação ao deficiente.
O outro é produto do mesmo, o outro existe em função do mesmo. Não
havendo uma natureza primeira do mesmo e do outro, foi necessária a
21
construção de um modelo para que o natural, o verdadeiro, o legítimo
tivessem seu lugar.
Esse paradigma construído é um mecanismo que inclui ou exclui o que
pode ou não pode ser. Como modelo construído, como qualquer máqui-
na, deve funcionar sem entraves. O uso do paradigma vai requerer, en-
tretanto, mais do que funcionar bem, vai requerer funcionar legitimamen-
te, ser natural, e é através dessa legitimidade que o paradigma vai procu-
rar superar a artificialidade de sua construção. Produzir o outro foi o
caminho encontrado para a legitimação do paradigma. O outro possibilita
ao paradigma uma identidade e também o naturaliza porque lhe permite
a produção dessa identidade. Em uma operação paradigmática, em qual-
quer sistema, o outro será sempre o não, o excluído, o que precisa estar
à margem para dar legitimidade ao centro. Como o louco que legitima a
Razão, o Desvio que justifica o Padrão, o Erro que torna eficaz o Certo, o
Deficiente que amedronta o Homem.
Nomeou-se no outro uma ameaça ao sistema, cuja funcionalidade o
paradigma garantia, e é dessa ameaça presente e invisível que vai ser
concluída a construção do paradigma. O Não presente no outro, a de-
sordem e o perigo nele representados, são necessários para a produção
do sistema, para sua coesão, porque todo sistema precisa do excluído,
da marginalidade.
O outro construído, garantindo por sua presença e invisibilidade a
funcionalidade do paradigma, impede a revelação da artificialidade de
sua construção, dá à construção do outro, à construção da alteridade e
da identidade uma natureza legitimada. É nesse sentido que a constru-
ção da alteridade, a construção do outro, é possibilitar a manutenção
do mesmo, a revelação da identidade, o conhecimento do idêntico.
Como parte imprescindível desse sistema singular, o diferente é o
outro, é a alteridade, é o excluído e marginalizado, cuja presença o
sistema tolera. Citando Baudrillard: No decorrer dos últimos séculos
todas as formas de alteridade violenta foram inscritas, por vontade ou
por força, no discurso da diferença, que implica simultaneamente inclu-
são e exclusão, o reconhecimento e a discriminação.7
22
Ao diferente foi sempre reservado o lugar da margem e da negação, e
por muitos séculos o lugar do semi-homem tem sido ocupado também
pelo deficiente. Os últimos tempos, porém, trouxeram ao deficiente
uma permissão de passagem onde a sua posição de alteridade vai, aos
poucos, sendo atenuada por uma marginalidade menos radical mas,
ainda assim, excludente.
É a idéia da diferença, que reconhece e afasta, e que continua vigo-
rando. O deficiente, uma vez reconhecido seu direito à não-discrimina-
ção, é mantido segregado e discriminado. O deficiente, afirmado o di-
reito à integração, estará perigosamente próximo, e é necessário que a
discriminação o coloque de lado até que o surgimento da idéia de um
direito universal à diferença estabeleça uma eficaz medida
discriminatória.
O paradigma mesmo-outro pode perpetuar-se através da lógica do
direito à diferença, a integridade do sistema fica garantida e a estrutura
mantém-se irretorquível. Porque o direito à diferença discrimina a dife-
rença e nega o direito de não ser diferente, garantindo o espaço da
discriminação e negando o direito à igualdade.
A discriminação manterá o diferente à distância, o deficiente longe,
segregado. Respeitar a diferença do deficiente, negando-lhe a igualda-
de, segundo Baudrillard: É a forma de incompreensão a mais radical.8
Local escolhido desde sempre pela sociedade, está reservado ao dife-
rente, ao deficiente, o lugar do preconceito e do estigma, mantido du-
rante séculos através das posições assumidas de protecionismo e de
paternalismo, que na verdade conservam o deficiente distante, perpe-
tuam a discriminação, negam a igualdade. Mais próximo de nós, corro-
borando a idéia de que a aproximação é permitida mas deve ser coloca-
da em seus limites, mantém-se o deficiente, o diferente, longe, investi-
do do direito à diferença.
Reafirmando o sistema, existe uma espécie de cumplicidade, assim
definida por Goffman: Também está implícita uma forma de coopera-
ção tácita entre os normais e os estigmatizados: aquele que se desvia
pode continuar preso à norma porque os outros mantêm cuidadosa-
23
mente o seu segredo, fingem ignorar sua revelação, ou não prestam
atenção às provas, o que impede que o segredo seja revelado: esses
outros, em troca, podem permitir-se ampliar seus cuidados porque o es-
tigmatizado irá, voluntariamente, se abster de exigir uma aceitação que
ultrapasse os limites que os normais consideram cômodos9, porque para
a sociedade o lugar do deficiente é a deficiência, e a diferença.
Assim, a falsa consciência desenvolvida pela sociedade em relação ao
deficiente o define por uma absoluta diferença, diretamente ligada ao
preconceito, à segregação, à discriminação. A igualdade negada na
definição pela falta atinge diretamente o deficiente, marca-o pela con-
cepção de uma falta absoluta, pela definição de uma diferença insupe-
rável, segrega definitivamente o diferente. Baudrillard, quando discorre
sobre o social, procurando explicar a nova perspectiva de sua legitimi-
dade, diz: Antigamente, era: A cada um segundo seus méritos, de-
pois: A cada um segundo suas necessidades, mais tarde: A cada um
segundo seu desejo, hoje: A cada um segundo sua falta10. Porque
falta? Diferença? Por que não, hoje: A cada um segundo seu direito. A
cada um segundo seu direito à igualdade.
A constatação de Goffman de que a manipulação do estigma é uma
característica geral da sociedade, um processo que ocorre sempre que
há normas de identidade11, perpassa a discriminação e encontra na
não-consciência da questão da deficiência uma forma de convivência,
uma forma de discriminação disfarçada na marginalização, na nega-
ção, na inconsciência, na boa-consciência, porque tanto o diferente
quanto o deficiente, quanto o mesmo e o outro, são partes de uma só
construção.
Mas a democracia sonhada neste fim de século procura a convivência
das diferenças, reserva para a questão das diferenças um espaço amplo, e
interroga a inquestionabilidade do paradigma mesmo-outro até aqui domi-
nante. A construção do direito à igualdade, do respeito e da convivência
com as diferenças, deve encontrar a resistência da permanência do
paradigma, mas pode começar a ser trilhada, em relação ao deficiente, se
discutirmos a não-consciência existente na sociedade e procurarmos en-
tender as possibilidades de um processo para sua conscientização.
24
Poderia uma intervenção no problema, através de um trabalho de
conscientização, resultar na aceitação da diferença, na consciência da
deficiência, no começo do fim da marginalização do deficiente?
4. A não-consciência
Está, então, implícito, que não é para o diferente que se deve
olhar em busca da compreensão da diferença. Mas sim para o
comum12
E. Goffman
Se houvesse consciência da gravidade social do problema da deficiên-
cia, suas dimensões seriam mais circunscritas, e a questão seria menos
aguda. A não-consciência, a falta de consciência, é um dos dados
constitutivos da natureza social do problema da deficiência. Podemos
mesmo acreditar que se trata de uma inconsciência, e uma inconsciên-
cia com enorme abrangência, perpassando a insensibilidade, o desco-
nhecimento, o medo, o preconceito, a falta de informação, a ocultação
da realidade, o paternalismo entre tantas outras atitudes. A inconsciên-
cia permeia a sociedade e é a tal ponto comum que já não é percebida
como discriminação e marginalização concreta do deficiente. Ela está
presente em toda parte e a todo momento, na legislação, na arquitetura,
no dimensionamento do espaço urbano, nos transportes, no ensino,
nos serviços de saúde, na organização do mercado de trabalho dentre
outros. O resultado dessa inconsciência generalizada é a boa consciên-
cia da cidade e do Estado, que assim têm oculto o problema de cidada-
nia presente na questão da deficiência.
Como um dos principais invólucros que fazem o contorno da incons-
ciência em relação à deficiência aparece o desconhecimento do as-
sunto, a falta de informação. A deficiência é de tal forma ignorada que
mesmo seus conceitos mínimos fogem à grande maioria da sociedade.
A definição pela falta, a negação de qualidades, a imprecisão de
abrangência e objeto fazem com que a questão não seja conhecida nem
em seus aspectos fundamentais. E, por isso mesmo, por esse desco-
nhecimento, a informação está em falta. Ela não se faz necessária, ela
25
é supérflua em uma sociedade onde o assunto não circula, formando
uma relação eminentemente negativa entre desconhecimento e falta de
informação.
Outra face desse invólucro da inconsciência é formada pelo precon-
ceito. Basicamente apoiadas no desconhecimento, e formadas pela
construção do outro em uma sociedade onde a busca da excelência
elimina a deficiência, essas duas projeções da inconsciência são funda-
mentais no entendimento da questão. O medo diretamente relacionado
com a projeção no outro, com a necessidade de busca da perfeição e da
eficiência que lhe são negadas na imagem do deficiente construída so-
bre o desconhecimento. Segundo Fédida: o deficiente é sempre o so-
brevivente, o que escapou de um cataclisma, de uma catástrofe que já
produziu e que ameaça interiormente, que nos pode acontecer.13 O
preconceito conciliando desconhecimento e medo, a sociedade bus-
cando a proteção da consciência às avessas, legitimam a discriminação
e constróem um mundo à parte, com a negação do deficiente e a bar-
reira de segregação que possibilita a não-convivência e coloca o deficien-
te, o diferente, à margem.
A insensibilidade por um lado e o paternalismo por outro fecham o
invólucro da inconsciência, ocultando a realidade e criando um mundo
onde a discriminação encontra justificativa. Pela insensibilidade distan-
cia-se o diferente, nega-se o outro. A cidadania é ferida em seu princí-
pio de igualdade e a sociedade reafirma a discriminação na inconsciên-
cia da questão. Pelo paternalismo aceita-se o objeto, camuflando-o em
diferença, em falta, fraqueza a ser superprotegida. Ainda segundo Fédida
é a formação de uma consciência consoladora, que atenua todas as
dificuldades.14 Apazigua-se a consciência na inconsciência das verda-
des escondidas, na auto-satisfação da proteção, na legitimação da dife-
rença.
São esses os principais invólucros que formam a inconsciência sobre
a questão da deficiência. Eles fazem com que a sociedade não perceba
a inconsciência e não a conheça como forma acabada da discriminação
dirigida ao deficiente. A banalização da inconsciência torna possível a
convivência com a questão mesmo quando ela se transforma em um
26
problema de dimensões sociais profundas, porque ele está colocado à
parte e a sociedade dele não participa, dele não toma nem mesmo
conhecimento.
Esse não-reconhecimento da questão aparece na realidade em todos
os fundamente básicos da cidadania, todos eles desrespeitados quotidi-
anamente no que se refere ao deficiente.
Na área de saúde, mesmo entre os profissionais, a deficiência e o
deficiente são discriminados, em atitude na qual supostamente estaria
eliminada a parcela de desconhecimento mas onde permanece a marca
do preconceito. Na área de educação a realidade é mais negativa ainda,
nasce no preconceito, passa pelo desconhecimento e desemboca em
total desrespeito aos direitos de cidadania. Nas questões do espaço
urbano, do transporte, da arquitetura, o alheamento às necessidades
do deficiente é também grande. Fechando o ciclo da não-cidadania está
a dificuldade de inserção no mercado de trabalho, que se por um lado
indica preconceito, por outro garante o distanciamento do deficiente,
através da manutenção da não-convivência e da não-integração social
em ponto fundamental, tornando permanente a marginalização operada.
Esse alheamento do deficiente dos direitos básicos de cidadania, esse
distanciamento das preocupações e reivindicações da sociedade cor-
roboram a falta de circulação da questão do deficiente, aprofundando
as dificuldades de superação do desconhecimento e da discriminação.
A comunicação, onde acontece, é base da consciência da sociedade,
base para a prática da democracia. Onde há a ausência de comunicação
entre indivíduos, segmentos, hierarquias, grupos, assuntos, não há de-
senvolvimento das trocas sociais, não há reivindicações, intercâmbio e
integração, não acontece a cidadania.
A ausência da circulação de informação entre sociedade e deficiência,
possibilitando sua manutenção como diferença e sua marginalização,
torna-se a base da formação da inconsciência em relação à deficiência
e ao deficiente.
Nem a questão abstrata e concreta da deficiência, nem a realidade do
deficiente têm peso para superar a inconsciência. A sociedade não tem
27
resposta para a consciência e a democracia é diariamente negada pela
falta de comunicação entre deficientes e sociedade, entre indivíduos e
sociedade.
Onde a estratificação social se estabelece e escasseia a comunica-
ção, difícil será o desenvolvimento à deficiência. Crescerá a busca da
eficiência e a da consciência social em relação ao deficiente, crença na
ineficiência do deficiente, confundindo-se deficiência e não-aptidão na
incansável busca pelas potencialidades do homem. Na sociedade
estratificada pelo primado da eficiência, a aceitação da deficiência per-
verte a ordem das crenças e o caminho encontrado para a convivência
foi a formação da inconsciência generalizada.
Essa posição, entretanto, não pode ser admitida publicamente, não
pode aparecer como uma atitude social, como a não-participação da
sociedade em uma questão de cidadania. A inconsciência surge assim
como a possibilidade de encobrir essa atitude, para que não fique clara
a negação da cidadania através do império da discriminação. Diz Wiener
que muitos dos que se afeiçoaram deveras a esse estado ordeiro, de
funções permanentemente designadas, ficariam desconcertados se se
vissem forçados a admitir sua crença publicamente.15
A falta, a rejeição, o preconceito, a eficiência, a ordem, a diferença, a
excelência, a deficiência fazem parte de um mesmo mundo, onde a
inconsciência assume a negação e a cidadania procura a participação.
A falta de consciência que perpassa indivíduos e sociedade em relação
à questão da deficiência é a que torna difícil desenvolver uma mudança
de atitude, estabelecer uma prática social democrática frente ao defici-
ente.
A comunicação, a circulação de informação, para ser efetivada preci-
sa da existência da dúvida, necessita da busca de alternativas que, em
relação à deficiência, a inconsciência da sociedade mantêm ao largo,
não permitindo que haja nem a consciência do problema, nem sequer a
preocupação com seu conhecimento.
A não-circulação da questão da deficiência é ponto central do proble-
ma, ponto central da inconsciência. Segundo Wiener Informação se-
28
manticamente significativa, na máquina como no homem, é a informação
que chega a um mecanismo ativador no sistema que a recebe, a despei-
to dos esforços do homem e/ ou da Natureza para corrompê-la.16
Encontrar um caminho por onde a discriminação passe a ser reconhe-
cida, a comunicação estabelecida e a prática social modificada, esse é
o desafio fundamental para a questão da deficiência. A inconsciência
do problema poderá ser superada na medida em que houver uma
conscientização permanente para a necessidade do respeito à diferença
e o primado da igualdade. Em nosso país apenas 20% dos brasileiros
conhecem a deficiência e reivindicam a igualdade: 10% deficientes e
10% de alguma forma ligados ao problema. Oitenta por cento da popu-
lação pratica a inconsciência.17
Citando Goffman: Quando o objetivo político último é retirar o estig-
ma do atributo diferencial, o indivíduo pode descobrir que os seus es-
forços podem politizar toda a sua vida.18
5. A conscientização
As pessoas deficientes têm os mesmos direitos que qual-
quer cidadão, mas no quotidiano de cada uma nenhuma lei ou
imposição pode assegurar o respeito à diferença: é uma ques-
tão de atitudes, de mentalidades, de interesses e de relações
de força. Injustiças graves persistem e um esforço intenso de
recuperação deve ser realizado. A proposta de estratégias glo-
bais para assegurar as condições efetivas de integração social
das pessoas deficientes é o resultado de um esforço remarcável
de colaboração e de reflexão do conjunto de participantes soci-
ais. Colocá-las em ação... impõe o desafio de exprimir uma von-
tade coletiva de mudança social19
A part.... égale, publicação do Departamento das Pessoa De-
ficientes do Governo do Québec.
I.Trilhemos então a possibilidade de encaminhar a questão da discri-
minação da deficiência e da não-consciência da sociedade através de
uma outra perspectiva que procure não o imediatismo de soluções mila-
29
grosas, mas que encontre na mudança de atitude social uma prática
nova que permita intervir de forma a recolocar, nessa questão de dife-
renças, os princípios de igualdade, que permita circular, onde antes não
existia, a questão da deficiência como respeito à democracia.
As sociedades sem mobilidade social, sem realimentação social, sem
resposta à consciência social e às reivindicações são aquelas de onde a
prática da democracia se afastou. A comunicação entre indivíduos e so-
ciedade está diretamente ligada a essa prática e é neste sentido que
proponho que a intervenção que tornará possível encaminhar a questão
do deficiente deve buscar a conscientização da sociedade.
O restabelecimento, ou estabelecimento, dos canais de comunicação
na perspectiva da participação da sociedade pode ser uma forma eficaz
de restabelecer o direito à igualdade e o respeito à cidadania, porque foi
a ausência de consciência social que permitiu a afirmação do ideal de
identidade e a legitimação da discriminação.
A mudança de atitude que a conscientização permite provocar deve
basicamente passar pela mobilização social, que possibilita a participa-
ção da sociedade, e pela disseminação de conhecimentos, que gera a
circulação de informação. Porque a conscientização não bastará para o
encaminhamento da questão da deficiência, mas essa solução deve
passar por uma democracia onde haja participação e engajamento.
Quatro estratégias devem ser estabelecidas, concomitante e continua-
damente, para que seja possível desenvolver um projeto de conscien-
tização. A mobilização da sociedade surge como principal estratégia
para esse processo. As barreiras existentes em relação à deficiência só
podem ser ultrapassadas quando a própria sociedade assumir o papel
de sujeito desse processo. O papel que será necessário desempenhar
poderá ter a liderança de uma conscientização programada, que vise
restabelecer canais bloqueados, mas é um papel que só adianta ser
interpretado, e vivido, quando tiver a participação de setores chave
para o processo de mobilização.
Na perspectiva de que é na comunidade que a opinião se forma, im-
portante passo será o da conscientização de membros das diversas
30
comunidades para que passem a atuar como veiculadores de informa-
ção, formadores de opinião e transformadores das atitudes
discriminatórias. Esses agentes comunitários desenvolverão seu traba-
lho com a perspectiva de mobilizar e organizar as comunidades na bus-
ca de soluções para a integração dos deficientes na sociedade.
Alguns pontos devem ser observados nessa proposta para que o tra-
balho de conscientização da comunidade possa ter efeito duradouro.
As iniciativas comunitárias voltadas para o deficiente deverão ser
provocadas e apoiadas. O agente será fonte de informação para a co-
munidade sobre a questão do deficiente e a capacitará para a adoção
de medidas simplificadas e integradas para o atendimento da questão e
a integração do deficiente. A microcomunidade desempenhará, assim,
papel preponderante na conscientização, através da participação ativa
na mobilização.
Outro instrumento importante para a mobilização da sociedade é a
habilitação das diferentes agências comunitárias para que organizem
suas tarefas específicas levando em conta as diversas necessidades
dos deficientes e suas potencialidades. Essa atuação será complemen-
tar ao trabalho dos agentes, dando-lhes conseqüência na área de servi-
ços comunitários e tornando possível que a atuação pessoal tenha des-
dobramento na vida da comunidade.
Na seqüência dessa linha a orientação dos serviços de formação do
deficiente deve ser direcionada para que haja uma perspectiva de de-
senvolver potencialidades, sem ater-se a limites formais e programáticos.
A perspectiva de ter o deficiente participando da vida diária produtiva,
o mais adequadamente possível, tem grande peso positivo na demons-
tração, à comunidade, das suas possibilidades de contribuição e na
concretização do seu processo de integração social, que quase sempre
pode culminar com o trabalho produtivo, conseqüência de um adequa-
do processo de educação e habilitação/reabilitação.
Acompanhando a mobilização da comunidade, em uma função
complementar, a chamada à participação, segunda estratégia a ser tra-
balhada, deverá trazer para tomarem parte no processo esferas especí-
31
ficas da sociedade. Ter envolvidas as instituições de luta dos deficien-
tes e aquelas que lhes prestam serviço, por um lado, e a iniciativa
privada e a administração pública, por outro, tornará possível que cada
um dentro da sua competência, finalidade e responsabilidade contribua
em suas linhas de trabalho para o desenvolvimento de um núcleo co-
mum em torno da questão da deficiência.
Nessa estratégia do processo de conscientização como intervenção
planejada é fator preponderante que as representações organizadas da
sociedade tenham formas de atuação significativas. A administração
pública pode ter, em seus diferentes níveis de atuação, importante efeito
demonstrativo positivo. Nas suas tarefas de responsabilidade direta so-
bre a questão da deficiência ela deve ter participação exemplar. Nos
setores em que não há relacionamento direto sempre será possível de-
monstrar a não-discriminação e encontrar uma possibilidade de participa-
ção. A iniciativa privada pode seguir os mesmos parâmetros para tomar
parte no processo e desenvolver sua responsabilidade social. Posição de
liderança poderão ter universidades e institutos de pesquisa no desenvol-
vimento de propostas concretas para superação dos infinitos bloqueios
existentes, e deverão desempenhar o papel de formadores de pensamen-
to também na discussão da questão da deficiência.
Nessa linha será imprescindível, para solidificar as conquistas com as
participações descritas, que se obtenha o fortalecimento das organiza-
ções de luta dos deficientes. Instituições sólidas e preparadas para te-
rem atuação de liderança são peça fundamental no desenvolvimento
e consolidação de um processo de conscientização da sociedade que
seja eficiente e de longa duração.
A terceira estratégia de intervenção para desenvolvimento da propos-
ta de conscientização, e que é também componente essencial para o
desempenho das outras linhas, dirige-se para a disseminação de infor-
mação sobre a questão da deficiência. Primeiro passo no combate ao
preconceito pelo desconhecimento, ela deve procurar, através da divul-
gação de conhecimentos específicos, uma formação adequada de ex-
pectativas entre deficientes e sociedade.
32
É nessa estratégia que um trabalho mais independente de Comunica-
ção Social pode estar presente. Através do uso de instrumentos ade-
quados, esta linha do trabalho de conscientização pode desenvolver-se
com grande grau de autonomia entre as diferentes frentes de interven-
ção. Sendo a forma de atuação em que o retorno é mais aparente, mais
rápido e mais fugaz deve, por esses motivos, procurar o caminho para
uma forma de trabalho permanente, uma campanha de conscientização
permanente.
Seu instrumento primeiro será o uso dos meios de comunicação de
massa para veiculação de programas informativos sobre a questão da
deficiência. Concomitantemente será necessário elaborar e distribuir,
através das mais diferentes formas, informação para que outros canais
de comunicação sejam alcançados. Será o espaço para que panfletos,
cartilhas, cartazes, manuais, documentários, filmes, vídeos dentre ou-
tros muitos instrumentos abordem o assunto por todos os diferentes
ângulos que a questão da deficiência exige.
A realização de congressos, seminários e debates deve ser feita não
somente com o sentido de troca de informações técnicas mas também
com a finalidade de conhecer trabalhos, discutir problemas e fortalecer
reivindicações. De abrangência local, nacional ou internacional, esse
instrumento se destinará prioritariamente às instituições ligadas à ques-
tão do deficiente, mas procurará também abranger aquela parte da so-
ciedade que pode ser trabalhada e conquistada. Complementando esse
instrumental, será necessário o lançamento de campanhas específicas
para assuntos que demandem atuação especial mais intensa em deter-
minados períodos.
Essas três estratégias para a intervenção através da conscientização
farão com que, se adequadamente desenvolvidas, as questões da defi-
ciência e do deficiente passem a fazer parte dos assuntos de preocupa-
ção e discussão nacional.
A quarta estratégia de intervenção propõe que o Estado tenha papel
atuante no desenvolvimento da conscientização. Esse papel deve ser
desempenhado de tal forma que haja um trabalho integrado no setor
33
público, possibilitando a troca permanente de informações e a coorde-
nação das estratégias de atuação adotadas, dividindo-se responsabili-
dades entre as diferentes esferas de trabalho da administração pública.
Porque essa é uma obrigação de participação da qual o Estado não
pode fugir.
Nessa linha é essencial que o processo de conscientização seja
abrangente o suficiente para envolver o maior número possível de par-
celas da sociedade, mas é necessário também que a participação do
Estado não lhe seja poupada, porém exigida como dever.
Porque é ao Estado que incumbe garantir a cidadania até hoje usurpa-
da ao deficiente, porque é a presença reguladora e protetora do Estado
que permite o desenvolvimento de direitos sociais, em especial quando
relacionados com minorias e formas de discriminação, como é a ques-
tão do deficiente.
O objetivo principal das quatro linhas estratégicas dessa proposta de
atuação será o desenvolvimento de uma consciência social
transformadora em relação à questão da deficiência que possibilite romper
com a discriminação através de uma prática social capaz de encontrar
soluções adequadas para o problema. A conscientização permitirá esta-
belecer a circulação da questão da deficiência, tornando-a parte das
principais preocupações da sociedade já que, anteriormente, resultado
da não-consciência existente, ela estava camuflada.
Como quatro lados de uma figura que se complementa e se forma
somente em seu conjunto, poderemos obter, com o conjunto das pro-
postas indicadas, a mobilização da sociedade para que assuma o papel
que lhe cabe, de sujeito do processo de superação dos bloqueios e
barreiras que hoje se impõem ao deficiente. Poderemos obter também a
chamada à participação da sociedade para que diversas esferas sociais
se integrem em um mesmo esforço, conciliando expectativas, neces-
sidades e potencialidades distintas. E poderemos obter ainda a circula-
ção das informações através da divulgação de conhecimentos e a parti-
cipação coordenada das diversas esferas públicas para que o processo
de conscientização tenha a participação também do Estado.
34
Viabilizar soluções para um problema social só pode ter resultados
profundos e duradouros se houver a participação da sociedade e do
Estado. Essa integração de esforços pode acontecer através de um
programa dirigido de conscientização que modifique a posição da
sociedade.
A conscientização é basicamente uma prática social. Sua dinamização,
potencialização e disseminação deverão ser tarefa da sociedade e do
Estado. O que, entretanto, forma quase que um círculo vicioso onde a
saída para o problema está perdida é que são justamente sociedade e
Estado que precisam ser conscientizados. Aglutinados sujeito e objeto da
ação, essa tarefa de dividir responsabilidades só poderá começar por
uma anterior vontade de prática da democracia.
Trabalho eminentemente participativo em um jogo de conquistas e
interações, acreditar nas potencialidades do deficiente, resultado do
processo de conscientização, será uma forma de praticar a democracia.
Ter reconhecido e praticado o direito à cidadania do deficiente pode ser
uma das vertentes para que a sociedade e o Estado respeitem as dife-
renças e pratiquem a democracia.
Segundo Wiener a sociedade só pode ser compreendida através de
um estudo das mensagens e das facilidades de comunicação de que
disponha.20 É necessário que a sociedade brasileira crie e desenvolva,
em relação à questão da deficiência e do deficiente, mensagens e co-
municações porque nesse momento elas praticamente inexistem. A prin-
cipal tarefa de uma proposta de intervenção na prática social através da
comunicação é tornar mensagens questões até então vazias de conteú-
do e repletas de preconceito. É, através da conscientização, tornar apa-
rente a diferença, para que a sociedade abandone a busca da identida-
de do diferente e procure a igualdade.
Segundo Bollenot a história mostra que cada sociedade responde à
mesma lógica e ao mesmo objetivo: manter sua coesão para sobreviver. É
nessa lógica que se insere a atitude atual em relação aos deficientes. Mas
novas tendências se delineiam: a exortação à solidariedade e à ação, sinais
de uma tomada de consciência coletiva, começa a ser vivida quotidiana-
35
mente... É um combate longo e incerto que devem travar e sobretudo
ganhar. Mas é uma tarefa apaixonante porque a dignidade do Homem
está em jogo.21
A prática democrática que a sociedade deste fim de século pode de-
senvolver apóia-se no respeito pela cidadania que em nosso país ainda
está longe de ser alcançado. A prática de um trabalho de conscientização
da sociedade como forma de intervenção poderá ser um dos caminhos
para que a sociedade brasileira consiga descobrir o que deve ser o
respeito às diferenças e a luta pela igualdade.
Podemos pensar na possibilidade de usar a discussão em torno da ques-
tão do deficiente que é problema social abrangente mas nitidamente
delimitado como modelo para a abordagem de outras questões sociais
que lidem com a diferença e a igualdade, com a discriminação e a cidada-
nia.
II. Procuremos então entender e verificar a prática do Programa de
Conscientização realizado em nosso país pela CORDE Coordenado-
ria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, ór-
gão do Governo Federal, nos anos de 1988 e 1989.
A Coordenadoria desenvolveu entre os anos de 1987 e 1990 seu
Plano de Ação Nacional do qual constavam quatro programas: o Pro-
grama de Conscientização, o Programa de Prevenção de Deficiência, o
Programa de Atendimento às Pessoas Portadoras de Deficiência e o
Programa de Inserção das Pessoas Portadoras de Deficiência no Merca-
do de Trabalho. Suas atribuições de desenvolver a Política Nacional
para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência deveriam ser de-
senvolvidas através de trabalho de coordenação, normatização e incen-
tivo de ações a serem executadas pelos governos estaduais e munici-
pais ou por instituições privadas.
O Programa de Conscientização afirma que: O princípio fundamental
... é portanto o de que a conscientização é na sua essência uma prática
social, a cuja dinamização, potencialização e disseminação o Estado
tem o dever de servir.22
36
O desenvolvimento do programa utilizou, dentre outras linhas, o fi-
nanciamento de projetos modelares. Segundo o relatório de 1988: Na
área de conscientização, realizamos campanha nacional no sentido de
começar a acordar a sociedade brasileira para os problemas da pessoa
deficiente. Paralelamente, patrocinamos grande número de congressos
e seminários que debateram a questão em todo o país.23 Segundo o
relatório de 1989: Realizamos campanha nacional com a finalidade de
sensibilizar e informar a sociedade brasileira para os problemas da pes-
soa deficiente, ressaltando-se a veiculação em cinemas de todo o país
do desenho animado Contem Comigo, documentário sobre a proble-
mática e integração da pessoa portadora de deficiência na sociedade.
Paralelamente patrocinamos grande número de congressos e seminári-
os que debateram a questão do deficiente em todo território nacio-
nal.24
Procurando analisar, através dos Relatórios de Atividades dos anos de
1988 e 1989, os projetos modelares financiados nos dois anos, verifi-
cando suas características, as diferenças existentes nos totais e
percentuais de cada ano e as possíveis principais conclusões a serem
elaboradas, quero traçar, ainda que por tênues marcas de uma ação
concreta, as perspectivas e possibilidades de alcance de um programa
desse gênero.
São os seguintes, em números, os resultados apresentados nos rela-
tórios analisados:
1. Projetos financiados por Programa:
Programa 1988 1989
Conscientização 31 48
Prevenção 11 10
Atendimento 41 185
Mercado de trabalho 10 36
Total de projetos 93 279
37
2. Projetos financiados por Programa: Percentagem
Programa 1988 1989
Conscientização 33.33 17.20
Prevenção 11.82 3.58
Atendimento 44.08 66.30
Mercado de trabalho 10.75 12.90
38
9. Projetos para reuniões: Percentagens
1988 1989
Congressos 94.44 73.68
Cursos Seminários 5.50 21.05
Participação em Congressos 5.26
39
Desses números torna-se possível obtermos algumas conclusões ain-
da menos profundas do que seria de desejar, tendo vista a escassez de
dados encontrados, relativos apenas aos anos de 1988 e 1989, além
de reduzidos e superficiais em suas especificações.
O número de projetos financiados nos quatro programas cresceu de
1988 para 1989, o que pode indicar não somente maior volume de
recursos mas também maior conhecimento da Coordenadoria entre as
instituições e a conseqüente maior procura de financiamentos.
Deve ser logo observado que o Programa de Conscientização foi o
segundo mais desenvolvido, sendo suplantado apenas pelo Programa
de Atendimento. A primazia obtida por esse programa certamente pode
ser explicada pela precária estabilidade financeira das instituições e pela
linha de financiamento nele existente voltada para as necessidade de
emergência na manutenção de entidades. Vale ressaltar que as justifi-
cativas mais comuns aí encontradas foram: restaurar, adequar, melho-
rar ou viabilizar o atendimento.
Os dados revelam uma procura significativa pelos projetos na área de
Conscientização. Pode ser observado que há um crescimento no núme-
ro de financiados entre 1988 e 1989, embora a percentagem decresça,
talvez pelo aguçamento das necessidades de sobrevivência enfrenta-
das pelas instituições.
Convém notar que o Programa de Conscientização foi executado por
projetos da CORDE ou por ela apoiados.
Na análise interna do Programa de Conscientização de 1988 para
1989 verifica-se que houve maior concentração no financiamento de
Reuniões, com diminuição das áreas de Campanhas, Publicações e Outros
projetos. O apoio a projeto para publicações passou do segundo para o
terceiro lugar e as concessões para Campanhas foram o segundo lugar
em 1989.
Na observação do item Reuniões pode-se afirmar que dentro do Pro-
grama de Conscientização aumentou seu percentual, em detrimento
das outras atividades do Programa. Dentre os projeto para Reuniões
houve acentuada concentração no financiamento de Congressos com
40
menor número de Cursos e Seminários. Nota-se também o aumento da
quantidade de Congressos e Reuniões financiadas de 1988 para 1989,
embora tenha havido queda no percentual de Congressos com aumento
no percentual de Cursos.
No ítem publicações destaca-se uma ligeira diminuição no número de
projetos financiados, mais acentuada ainda no ítem Outros Projetos,
que inclui Telejornal, Teatro e Filme. Quanto à promoção de Campa-
nhas nota-se um acentuado aumento nas promovidas pela CORDE, com
queda nas realizadas por outras instituições. Observa-se assim que a
CORDE ingressou decisivamente no desenvolvimento de campanhas,
ocupando espaço relegado, talvez por esse motivo, pelas instituições.
Na análise desses resultados, devemos levar em conta o direciomento
dado aos projetos pela própria Coordenadoria, através da seleção dos
projetos a serem financiados, o que implica em reconhecer a influência
exercida pela CORDE nas atividades das instituições, em especial nas
de Comunicação Social.
Desse levantamento de dados numéricos em torno do Programa de
Conscientização, o que fica sublinhado é o grande número de financia-
mentos para Reuniões de todos os tipos, com enorme maioria para
Congressos. Essa realidade pode nos levar à conclusão de que nesses
dois anos começou a desenvolver-se a consciência da necessidade de
fortalecimento, expansão e coesão do grupo de lideranças que atua na
área. Podemos também concluir pela preocupação com a difusão e o
debate da questão do deficiente e pela necessidade de aquisição e di-
vulgação de novos conhecimentos. Neste sentido, as justificativas mais
comuns encontradas nos projetos de conscientização foram:
conscientizar, divulgar, despertar, debater.
Para obter um quadro significativo das campanhas desenvolvidas pela
CORDE, nos anos de 1988 e 1989, podemos sumariar as principais
características encontradas:
41
1. Campanha Ponha um A nesse nome. CORDE
Objetivo: Conscientizar a população brasileira sobre os pro-
blemas e o potencial da pessoa portadora de deficiência na cons-
trução da sociedade25
Peças produzidas, distribuídas e divulgadas: folhetos e carta-
zes, out-doors, anúncios em revistas e jornais, filmes para televi-
são, vídeo para congressos.
Público Alvo: sociedade brasileira.
Slogan: Ponha um A nesse nome. CORDE/ ACORDE para
os problemas do deficiente no Brasil.26
2. Campanha Contem comigo.
Objetivo: Promover a defesa da atividade social das pessoas
portadoras de deficiência.27
Peças produzidas, distribuídas e divulgadas: folhetos e carta-
zes, desenho animado divulgado na rede nacional de cinemas.
Público Alvo: sociedade brasileira.
Slogan: Contem comigo!28
3. Campanha Agora é lei.
Objetivo: Dar continuidade ao processo de conscientização
da população brasileira para as questões da pessoa portadora de
deficiência.29, divulgando seus direitos e a promulgação da lei
Federal nº 7.853.
Peças produzidas, distribuídas e divulgadas: folhetos e carta-
zes, filmes para televisão,spots para rádios.
Público Alvo: sociedade brasileira.
Slogan: Agora é lei. Lei 7.853: direito das pessoas portadoras
de deficiência. Use em caso de discrimimação.30
42
problema, a segunda divulgou a capacidade de participação do defici-
ente e a terceira divulgou seus direitos básicos.
Essas três campanhas nacionais, realizadas em apenas dois anos (me-
ados de 1988,1989 e princípio de 1990), por sua continuidade, por seu
alcance e por suas proposições significam uma campanha de conscien-
tização permanente, e abrangente, como deve ter um programa de
conscientização.
Representam a participação ativa do Estado no encaminhamento da
questão do deficiente em nosso país.
III. Através da análise do Programa de Conscientização da CORDE
queremos concluir a interação possível entre o projeto de conscientização
proposto nesse trabalho e o desenvolvimento do Programa de Conscien-
tização.
Os dados e sua interpretação podem nos fazer acreditar que a propos-
ta é concretizável.
Podemos supor que o Programa de Conscientização começou a de-
senvolver uma consciência social transformadora em relação à questão
do deficiente em nosso país. Sua continuidade teria representado um
avanço significativo na tentativa de enfrentar o problema. Foi apenas
um bom começo.
6. Deficiência e democracia
A gestão bem temperada das alteridades e das diferenças é
uma utopia.31
J. Baudrillard
Entre as principais questões da atualidade está a prática da democra-
cia, preocupação das mais antigas do homem mas que permanece ir-
resolvida porque até hoje buscamos a utopia de transformar diferenças
e conviver na igualdade.
A tese aqui desenvolvida em torno da deficiência tem como proposta
central discutir concepções e procurar parâmetros para que, encontra-
das as características básicas do problema, possamos extrair pontos
43
fundamentais para conviver com a diferença e entender a deficiência.
Quem sabe um dos caminhos para procurar a democracia é a compre-
ensão do relacionamento diferença-igualdade que é, no fundo, o que
aqui se busca.
A diversidade do homem na época atual pode ser entendida por novas
formas que sejamos capazes de conceber para compreender o social
em suas incontáveis maneiras de envolvimento de nossas vidas quotidi-
anas.
Quando Baudrillard diz: Há alguma coisa estranha nesta conversão
histérica do social o diagnóstico mais provável é que, no deficiente
como no débil e no obeso, O SOCIAL ESTÁ APAVORADO PELO SEU
DESAPARECIMENTO, tendo perdido a credibilidade e a regra de seu
jogo político, o social procura nessas escórias vivas uma sorte de legi-
timidade transpolítica após a gestão de crise, a autogestão aberta do
déficit e da monstruosidade.32, faz a união do desaparecimento do
social com a definição da deficiência pela falta, com o englobamento do
não-homem. Tocará a imagem do diferente de tal forma o mesmo que a
maneira de mantê-lo afastado é agredi-lo por uma abordagem negativa
de seu reconhecimento pelo social? E a proposta social que pode avan-
çar no sentido de entender diferenças é encarada como resultado de
pavor e efetivamente com pavor, porque a suposição é de que sempre
existiu uma incapacidade social de aceitar o diferente. Hoje, quando
certas diferenças são chamadas a fazer parte das preocupações soci-
ais, elas ainda o são como partes diferentes que estão no todo mas dele
ainda não fazem parte.
Podemos também pensar que se na opção do discurso social pelas
minorias, pelo diferente, pelo deficiente já efetiva em alguns países
está implícita a necessidade e a vontade de aceitar a diferença, talvez
fosse possível ter chegado a hora da igualdade. Bem diversa da propos-
ta de Baudrillard, essa é uma abordagem da questão que procura der-
rubar o preconceito pelo deficiente, assumido na definição pela falta.
O preconceito afirmado na construção pela falta e na mensuração da
diferença que perpassa as abordagens mais correntes da questão da
44
deficiência nos leva a procurar a saída através do direito à igualdade e
do direcionamento do problema do deficiente para a chave política,
para uma questão de cidadania e de democracia.
O paradigma construído através do mesmo, do outro e do diferente
pode certamente contribuir para a compreensão do estigma, porque
marginalizar e discriminar é aceitar a diferença como diferença e rejeitá-
la como igualdade. E é possível que a inconsciência sobre a questão da
deficiência seja a forma encontrada para manter a distância necessária
à não-convivência com a diferença. Segundo Fédida: O deficiente cons-
titui uma figura da negação violenta que desencadeia todas as nossas
negações.33
As barreiras impostas pela sociedade através da estratificação acen-
tuada e do afastamento das diferenças completam o isolamento da
questão da deficiência, que por isso mesmo não circula nem como
informação nem como problema social. A proposta de, através da
conscientização, alcançar uma intervenção nos pontos de bloqueio à
questão é um caminho que necessitará basicamente da capacidade de
participação da sociedade por um lado, e por outro da possibilidade de,
através da Comunicação, conseguir fazer a chamada à participação.
Porque terão de ser desenvolvidas lideranças capazes de transformar
discriminação em prática de democracia, lideranças capazes de inicia-
rem um longo e lento processo de mudança social.
Hoje, no Brasil, a deficiência é uma questão que só circula entre os
diretamente interessados, e podemos dizer que não circula porque só
diz respeito àqueles que, diferentes, não são considerados cidadãos
de segunda classe34, como propôs Goffman, mas são sim tratados
como não-cidadãos, que não recebem nem um atendimento semelhan-
te ao prestado ao restante da população e não foram atingidos por
qualquer medida que lhes possibilite integrarem-se.
Como não-cidadãos, estigmatizados pelo preconceito e segregados
pelo medo, vivem em um mundo onde democracia é ficção e a realida-
de é a impotência das minorias despolitizadas. Porque ser deficiente é,
no mundo atual, ser diferente, mas em nosso país é ser, além de dife-
45
rente, desconhecido, colocado à margem de qualquer processo. Talvez
esta seja uma das marcas de países com as características de formação
do nosso, ignorar a diferença como se sem ela fosse possível construir
a igualdade e a democracia.
Wiener disse quemesmo esta democracia modificada e informe, é
anárquica demais para muitos dos que fazem da eficiência seu ideal
básico.35 Talvez se houvesse sociedade onde se conseguisse usar o
caminho da convivência e da solidariedade, fazendo da eficiência um de
seus componentes mas tirando-lhe a posição de ideal, talvez nessa
sociedade houvesse lugar para a diferença e a democracia pudesse ser
construída.
Entretanto, as minorias dificilmente são definidas por sua deficiência,
em geral o são pela diferença e quando, uma vez, a eficiência definiu a
minoria, a diferença, os judeus foram objeto da maior discriminação já
realizada.
O preconceito em relação às minorias é de tal forma concreto que se
transforma em coação, em discriminação radicalizada das diferenças.
Wiener afirma também que Para podermos pôr em prática uma filoso-
fia de liberdade, igualdade e fraternidade, devemos então acrescentar,
à exigência de que a responsabilidade legal esteja isenta de ambiguidade,
a exigência de que não seja de natureza tal a permitir que uma das
partes fique sob coação enquanto a outra permanece livre.36 Porque
infinitas são as formas de discriminação desenvolvidas pelo homem:
desde a construção do mesmo e do outro, legitimada na marginalização
do diferente, até as formas de coação desenvolvidas através da força e
que buscam sua justificativa na necessidade de manter à margem a
diferença. Podemos também citar as formas de discriminação sutis da
atualidade que aceitam a diferença como diferente e que não a enten-
dem na chave da igualdade. Temos como exemplos os índios mantidos
como índios, os menores abandonados com direito a escolas
diferentes,discriminados ambos no atributo de uma falsa igualdade, no
reinado da diferença, da marginalidade, como o deficiente.
46
Mostra extrema da igualdade negada ao deficiente é a nossa rejeição
da lógica não-cartesiana existente no raciocínio das pessoas trissômicas.
Segundo Monique Cuilleret a conversação é então aparentemente des-
cosida, quando na realidade o raciocínio existe e é perfeitamente lógi-
co. Esse tipo de raciocínio existe, aliás, em outras raças. Cabe a nós
decifrar essa lógica, aceitar esse modo de raciocínio.37
A diferença admitida participante é ainda uma utopia. Se a utopia da
democracia fosse concretizada, possibilitaria a convivência de todas as
diferenças. Nessa hora, o paradigma da identidade ou teria que encon-
trar outras formas de marginalidade para manter a sua legitimidade ou
estaria destruído. Baudrillard afirma que Não há bom uso da diferen-
ça38 e nos mostra que Tal é o destino da alteridade radical, e que não
se resolverá nem em uma homilia da reconciliação, nem em uma apolo-
gia da diferença.39 Será que a homilia da reconciliação desmontaria o
paradigma do mesmo e do outro? Transformaria todos em diferentes e
seria uma utopia inalcançável? E a apologia da diferença, revelaria a
ilegitimidade do paradigma que necessita do diferente marginal e oculto
para perpetuar-se?
Será que nessa disputa na estrutura do paradigma exacerbou-se a
marginalidade da diferença? Será que ela agora nos parece mais presen-
te, preocupação mesmo do social, porque é cada vez mais o outro? Ou
será que o reconhecimento do diferente como igual implicaria na desar-
ticulação do paradigma e em uma nova forma de convivência?
Porque foi necessário ao diferente, às minorias, ao deficiente procurar
a coesão para sobreviver. Nessa procura surgiram as entidades de luta
dos deficientes, os movimentos negros e tantos outros.
Desenvolveu-se também o uso de disposições especiais, hoje em dia
entendidas como necessárias e utilizadas com freqüência, para superar
a diferenças e dar condições à prática da igualdade. Segundo Bernard
Fillion:essas discriminações positivas, que parecem desconhecer for-
malmente a igualdade, se desejam, na realidade, condições de efetividade
ou de instalação concreta das igualdades.40 Porque foi através dessa
busca de igualdade que se elaboraram estatutos especiais, na procura
47
de restabelecer o equivalente à igualdade entre sujeitos com o mesmo
direito. Essa é uma questão fundamental, não somente de direito, e que
só será adequadamente respondida na medida em que essa prática da
compensação não seja também uma prática da marginalização.
E não são apenas as diferenças individuais que precisam ser supera-
das, mas também as discriminações coletivas. Na necessidade de supe-
rar a diferença, a sociedade encontrou formas compensatórias, indivi-
duais ou coletivas, de intervenção. O reconhecimento da diferença, a
utilização de mecanismos especiais para proporcionar igualdade são
fruto de uma consciência coletiva, onde um processo de conscientização
atuou de forma a encontrar mecanismos que amainassem a violência
por ele mesmo tornada aparente.
Quando a diferença é a legitimação do paradigma mesmo outro, ela
está colocada à margem e naturaliza o funcionamento paradigmático.
Mas nessa participação ela vai se tornando peça da engrenagem, mar-
gem e parte de um sistema, na negação ou na afirmação de ser o outro
ou ser o mesmo. E porque é parte do todo é que tem direito a ser o
mesmo e ser o outro.
O deficiente, porque é diferente, pode ser igual. Ele vai ser sempre a
diferença. E o que é preciso respeitar é essa diferença. Quando a diferen-
ça for não só reconhecida mas também respeitada, ela vai poder estar
dentro do paradigma. E serão outras as margens. Outro o paradigma.
Quando na sociedade consciência houver que permita o reconheci-
mento da violência existente no trato da diferença, então se estará
caminhando para o reconhecimento da diferença e da igualdade.
O respeito pelas diferenças poderá surgir desse reconhecimento. Quan-
do no paradigma não houver mais margem. Quando não houver mais
paradigma. Quando na sociedade a marginalização for superada pela
convivência, quando ainda for permitido ao cidadão buscar a igualdade
e acreditar na democracia. Quando ainda for permitido ao homem so-
nhar com a utopia.
48
Notas
* Trabalho defendido como dissertação de Mestrado na Escola de Co-
municação da UFRJ em 1992. Orientador, Prof. Dr. Muniz Sodré de
Araújo Cabral.
1 BAUDRILLARD, Jean. La Transparence du Mal, p.117.
2 WIENER, Norbert. Cibernética e Sociedade, p. 50.
3 LAMBERT, Jean-Luc. Handicap mental et sociéte, p. 41.
4 LÊNIN, Vladimir Ilitch. O Estado e a Revolução, p.285.
5 Baudrillard, Jean. La Transparence du mal, P.134.
6 FREUD, Sigmund. Sobre o Narcisismo: Uma Introdução (1914),
In: Obras Psicológicas Completas, p. 118.
7 BAUDRILLARD, Jean. La Transparence du Mal, p .133.
8 BAUDRILLARD. Jean. Op. Cit, p. 137.
9 GOFFMAN, Erving. Notas sobre a Manipulação da Identidade
Deteriorada, p. 141
10 BAUDRILLARD. Jean. Les Stratégies Fatales, p. 43/44.
11 GOFFMAN, Erving. Op. Cit. p. 141.
12 GOFFMAN, Erving. Op. Cit. p. 138.
13 FÉDIDA, Pierre. A negação da deficiência, in: A negação da deficiên-
cia: A instituição da diversidade, p. 146.
14 FÉDIDA, Pierre. Op. Cit, p.146
15 WIENER, Norbert. Op. Cit, p.51.
16 WIENER, Norbert. Op. Cit, p.93.
17 Segundo estimativas da ONU, dez por cento da população de países
com as características sócio-econômicas do Brasil é deficiente. Outros
dez por cento se formam pela família do deficiente, por seus amigos e
por profissionais ligados à questão.
18 GOFFMAN, Erving. Op. Cit. p.125.
19 À part...égale publicação do Departamento das Pessoas Deficientes
do Governo do Quebec, p.13.
49
20 WIENER, Norbert. Op. Cit. p.16.
21 BOLLENOT, Gilles. Handicap et société. Approche dune recherche,
in: Handicaps et droit, p. 17.
22 GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 1º Plano de
Ação da Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora
de Deficiência, p. 5/6.
23 GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Relatório das
Atividades desenvolvidas pela CORDE no ano de 1988, p.4.
24 GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Relatório das
atividades desenvolvidas pela CORDE no ano de 1989, p.5.
25 GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Relatório das
Atividades desenvolvidas pela CORDE no ano de 1988, Programa de
Conscientização.
26 GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Op. Cit. Pro-
grama de Conscientização.
27 GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Relatório das
Atividades desenvolvidas pela CORDE no ano de 1989. Programa de
Conscientização.
28 GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Op. Cit. Pro-
grama de Conscientização.
29 GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Op. Cit. Pro-
grama de Conscientização.
30 GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Op. Cit. Pro-
grama de Conscientização.
31 BAUDRILLARD, Jean. La Transparence du Mal, p. 134.
32 BAUDRILLARD, Jean. Les Stratégies Fatales, p. 43.
33 FÉDIDA, Pierre.Op. Cit, p.145.
34 GOFFMAN, Norbert. Op. Cit, p.157.
35 WIENER, Norbert. Op. Cit, p.50.
36 WIENER, Norbert. Op. Cit, p.108.
37 CUILLERET, Monique. Les Trisomiques parmi nous, p.42.
50
38 BAUDRILLARD, Jean. Op. Cit, p.136.
39 BAUDRILLARD, Jean. Op. Cit, p.143.
40 FILLION, Bernard. Avant-propos, in: Handicaps et Droit, p.5.
41 DAMARAL, Marcio Tavares. Poema inédito.
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53
Em uma sociedade organizada sob os auspícios do mercado competitivo
e do consumo, a posição ocupada pelos indivíduos em relação ao processo
produtivo determina quase que sumariamente todas as outras dimensões
da sua existência produz para si e o coletivo sua identidade. O acesso ao
emprego e ao salário são imprescindíveis porque, ainda que não de direito,
mas de fato, constituem-se na chave de acesso aos direitos básicos da
cidadania como alimentação, saúde, moradia, educação, lazer e todo o
resto. E se por um lado crescem o desejo e a busca pela estabilidade
conquistada no emprego formal, por outro, estreitam-se drasticamente as
possibilidades de colocação profissional, num processo de afunilamento
condicionado pelas transformações tecnológicas e pelas crescentes exi-
gências de formação e especialização do trabalhador.
Considerando que ser visto como eficiente é o diferencial competitivo
que pode conduzir a vitórias neste contexto de competitividade, ser porta-
dor de deficiência pode ser a marca indelével da incapacidade e até mesmo
da impossibilidade de se enquadrar aos padrões de desempenho deseja-
dos. Como já profundamente abordado no capítulo Deficiência e Democra-
54
cia, a composição da palavra deficiência coloca um prefixo de negação
naquilo que é a qualidade primordial esperada para a inclusão social: a
eficiência. A subjetividade do indivíduo é esmagada pelo estigma e nele
esvaem-se desejos, sonhos, habilidades, talentos, enfim, o potencial cria-
tivo e realizador que caracteriza a condição humana.
Em tempos em que os conceitos de responsabilidade social ganham
consistência, em que os princípios de parceria e sinergia entre diferen-
tes agentes sociais são considerados eixos estratégicos para o desen-
volvimento humano sustentável, é premente que a mobilização da soci-
edade em seus diferentes segmentos e características atuem, com a
ênfase merecida, na implementação de políticas capazes de reverter a
exclusão da pessoa portadora de deficiência. E, nesse sentido, merece
destaque privilegiado a sua inserção no mercado de trabalho, já que
além da superação da invisibilidade e do isolamento social, proporciona
a autonomia e a dignidade existencial próprias ao cidadão.
As empresas precisam dimensionar a sua importância neste contexto e,
para além das obrigações ditadas pela legislação, compreenderem que
grande parte da sua necessidade de mão-de-obra pode ser desempenhada
por trabalhadores portadores de deficiência com igual ou mais eficiência
que os demais. Não se espera atitudes protecionistas, mas assertivas, que
eliminem o preconceito ainda freqüente nos processos de seleção, em que
o estigma da deficiência e da suposição da ineficiência, criam temores
de que no ambiente de trabalho possam ser criadas toda sorte de situa-
ções embaraçosas, como incapacidade, recorrentes complicações de saú-
de, problemas psicológicos e rejeição dos colegas. Nesse sentido, é pri-
mordial que a contratação de uma pessoa com deficiência preencha, em
sua primeira etapa, a necessidade da empresa em relação ao recrutamento
de determinado tipo de trabalhador, com tais e quais qualidades e caracte-
rísticas, e que só então seja examinada a possibilidade dele portar uma
deficiência. Ou seja, que a escolha se desenvolva de acordo com os proce-
dimentos adotados pela organização, preservando as prerrogativas de di-
reitos e deveres inerentes a qualquer relação trabalhista.
E se não há perdas internas, se é plenamente possível localizar a
contratação do portador de deficiência no contexto produtivo em pa-
55
drões desejados de eficiência, é preciso dar um passo adiante para
vislumbrar que, para os consumidores, cada vez mais, atitudes de res-
ponsabilidade social consolidam-se como critérios de escolha, tornan-
do-se um importante diferencial competitivo. Segundo a pesquisa Res-
ponsabilidade Social das Empresas Percepção do Consumidor Brasi-
leiro, realizada em 2002 pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsa-
bilidade Social, para a pergunta Qual das seguintes atitudes de uma
empresa estimularia você a comprar mais os seus produtos e recomen-
dar aos seus amigos?, 42% dos entrevistados responderam contrata
deficientes físicos.
Os benefícios sociais e econômicos desdobram-se em efeito cascata.
Potencializar a capacidade de consumo das unidades familiares que têm
pessoas com deficiência significa, em uma projeção conservadora, atingir a
pelo menos a 20% dos brasileiros, contingente populacional expressivo,
capaz mesmo de influenciar positivamente o crescimento da economia. Por
outro lado, segundo estudos da Organização Internacional do Trabalho, a
reversão da condição de invalidade atribuída ao segmento e, por exten-
são, a redução de benefícios sociais e previdenciários, exigíveis em compen-
sação, pode desonerar significativamente os custos de produção compos-
tos pelos tributos que subvencionam as redes públicas de proteção social.
Contextualizada a questão, decerto permanecem perguntas de ordem
prática, de como realizar com sucesso uma política de contratação de
portadores de deficiência ou de como estabelecer um processo de co-
municação dirigida a este público durante processos de seleção. Identi-
ficando a falta de informação que caracteriza a temática, o IBDD desen-
volveu metodologias de trabalho específicas que oferecem pontes para
que as empresas e os portadores de deficiência construam laços profis-
sionais sob bases sólidas e satisfatórias.
Para os portadores de deficiência, no que se refere ao mercado de
trabalho, o IBDD investe na oferta de qualificação profissional, no de-
senvolvimento de habilidades intelectuais e comportamentais favorá-
veis ao desempenho profissional, no incentivo à formação educacional
formal e no fortalecimento da pessoa e da sua auto-estima. Para os
empresários estão disponíveis serviços técnicos na área de recursos
56
humanos, acessibilidade e terceirização de contratações, que oferecem
soluções individualizadas, de baixo custo e de grande eficácia.
O eixo metodológico central do IBDD é partir das habilidades e talentos de
cada indivíduo para então analisar suas possibilidades de trabalho, é preco-
nizar o reconhecimento do humano como o cerne. Este pressuposto subver-
te a ordem tradicional em que a limitação funcional, ou seja, a própria defici-
ência, é o fator determinante de avaliação, que vincula automaticamente
que ser amputado de uma perna possibilita ou não a realização desta ou
daquela tarefa. E com essa premissa não se pretende desconsiderar a neces-
sidade de realizar uma análise que compatibilize funções e deficiências. O
IBDD também utiliza este recurso, sendo este um dos muitos serviços ofere-
cidos pela organização. O que revoluciona a questão é conjugar os aspectos
funcionais e as limitações dele derivados, com o plus que cada ser humano
é capaz de acrescentar à sua existência, de acordo com os estímulos e
oportunidades experenciados ao longo da vida.
É preciso ressaltar que as deficiências não têm exatamente caracte-
rísticas fechadas, estanques. A título de exemplo vale dizer que um
quadro de tetraplegia pode permitir o movimento do tronco, dos braços
e das mãos, com toda força e precisão, contrariando radicalmente a
imobilidade usualmente atribuída a essa deficiência. Muitos detalhes
vão contribuir para a consolidação de possibilidades e limitações, con-
correndo para tanto fatores como: tipo de lesão, qualidade do processo
de (re)habilitação, capacidade de adaptação e desenvolvimento de ha-
bilidades compensatórias à deficiência, experiências sociais, acesso à
educação, auto-estima, enfim, um conjunto de determinantes que de-
vem ser analisadas no seu conjunto, e no foco exato onde interagem:
em cada subjetividade.
O mais importante na reflexão sobre inclusão social e emprego da pessoa
portadora de deficiência é de que não existe compatibilidade ou incompa-
tibilidade absoluta, tudo depende da capacidade e da personalidade de cada
ser humano. O potencial criativo, impulsionado pela motivação, leva as pes-
soas com deficiência à construção de recursos originais que podem muitas
vezes surpreender, mas nem sempre encontrar reconhecimento em um con-
texto de exclusão e invisibilidade.
57
Pedro Pacheco de Queiroz Filho, professor da UFRJ
por Marcos Sá Corrêa
O professor Pedro Pacheco de Queiroz Filho livrou-se de um problema
que estava ficando para lá de complicado em julho de 2002: o plane-
jamento de suas férias num hotel do interior. A programação da viagem
custou-lhe muita busca na Internet, à procura de um lugar que lhe pare-
cesse adequado. Encontrou uma pousada em Minas Gerais. Mas para
chegar lá sem carro, teria que pegar um ônibus para São José dos
Campos, outro para Paraisópolis e outro até a cidade de Gonçalves,
para dali em diante contar com a boa vontade do hoteleiro, que se
dispunha a ir buscá-lo na rodoviária. Além disso, cada passeio pelos
arredores do hotel implicava quatro ou cinco quilômetros de preocupações
adicionais.
Montando a operação logística, ele chegou a meados do mês
carregado de mapas da serra mineira, fichas com os horários das em-
presas de transportes interestaduais e dúvidas insolúveis. Mas de re-
58
pente se livrou de toda essa carga, ao receber a notícia de que estava
aprovado no concurso público da Comissão Nacional de Energia Nu-
clear (CNEN). Com isso, as férias acabaram antes de começar, o que
em seu caso não deixava de ser um alívio. Havia tirado o primeiro
lugar entre os assistentes de pesquisa, passando com média 102,06
num grupo em que havia aprovados com 58,50 pontos. Era o candi-
dato número 177 e, como a vida o ensinou a ser cauteloso, inscreve-
ra-se para a vaga reservada a portadores de deficiência. Pelo resulta-
do, poderia até dispensar a regalia.
Da viagem estava dispensado. Mas teria que tomar posse no fim do
mês, depois de cumprir certas formalidades, como o exame de saúde,
e com elas começava uma nova série de problemas. Para ele, um
exame médico é mais difícil que as provas. Sempre foi assim. Na
escola pública de Copacabana, no Rio de Janeiro, onde fez o primário,
o desafio nunca foi exatamente passar de ano. Lá em casa, isso era
obrigação, diz ele. Duro mesmo era chegar a essa escola pública e,
depois de cantar o Hino Nacional no pátio, subir para a sala de aula
por velhas escadas, marchando numa fila de colegas. Eu ficava com
as pernas ardendo por causa do ácido lático, como se tivesse corrido
numa competição olímpica, recorda-se.
Naquele tempo, Pedro andava. Mal, mas andava. A distrofia mus-
cular progressiva, doença hereditária e ainda incurável, porém, já anun-
ciava sua chegada por contraturas que lhe repuxavam os calcanhares
para cima. Aos seis anos, caminhava na ponta dos pés. Tinha o que a
literatura médica chama de andar eqüino. Começava a ter certa dificul-
dade para correr, pular, subir escada, fora a elevação dos calcanhares,
explica. E sabia o que isso queria dizer. Via na família seu pai e seus três
tios paternos em cadeiras de rodas.
Aos oito anos, tinha a certeza absoluta de que herdara a doença.
Mas ela foi durante muito tempo uma luta para continuar de pé: Estou
com nove, dez, onze anos, terminei o primário e ainda estou andando
do mesmo jeito. Minha marcha não está comprometida. Não posso
fazer muitas coisas. Não sou capaz de subir em ônibus; se cair, preciso
de ajuda para me levantar do chão. Mas, caminhando, eu sou igual a
59
qualquer um, a não ser pelo fato de andar na ponta dos pés. Manteve
até os trinta anos a expectativa de evitar a cadeira de rodas.
Mudou de idéia quando fazia o Doutorado em Fenomenologia das
Partículas Elementares, no Instituto de Física da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). E, como a doença, sua primeira cadeira foi
herdada. Era uma Everest, toda de ferro cromado, que estava guarda-
da com a família, diz. Seu pai havia morrido poucos anos antes num
acidente estúpido. Quebrara o fêmur durante o banho de chuveiro em
casa e uma embolia pulmonar o matou na enfermaria do hospital Miguel
Couto, onde esperava pela cirurgia ortopédica. O Miguel Couto era en-
tão um centro famoso de traumatologia. Mas pelo visto faltava na equi-
pe alguém para se lembrar de que um portador de distrofia muscular,
ainda por cima com uma perna imobilizada, dependia de cuidados espe-
ciais para se virar na cama. Ele ficou internado durante o Carnaval,
com um calor danado. Numa sexta-feira, minha mãe chegou lá para
ajudá-lo a tomar café e o encontrou morto na enfermaria. Segundo os
médicos, ele teve uma embolia pulmonar. Mas do atestado de óbito
consta insuficiência respiratória. Tudo é possível.
Morreu aos 56 anos. Era um nordestino de Timbaúba (PE), que desco-
briu a doença depois dos 16 anos, e assim mesmo por acaso. Ele era
de 1930 e, em 1946, se meteu numa aventura junto com um dos ir-
mãos. Embarcou num navio cargueiro que levava animais para o Me-
diterrâneo. Subiu a bordo como grumete, pensando que iria passear.
Mas no navio percebeu que não tinha condições de executar as tarefas
que lhe davam. O serviço de marinheiro era pesado demais para ele.
Foi assim que ele notou. Havia uma coisa errada com seu corpo.
A avó de Pedro trouxe os oito filhos de Timbaúba para o Rio de Janei-
ro para tratar dos quatro que tinham distrofia muscular. Essa é uma
patologia que frustra a medicina desde o século XIX. Tem quarenta
caras diferentes, cada uma com sua forma, seu ritmo e sua expectativa
de vida. A mais grave, a de Duchenne, identificada naquele século,
costuma pôr os portadores em cadeira de rodas ainda na pré-adolescên-
cia. Quando estão com vinte e poucos anos, a doença começa a com-
prometer funções vitais, afetando o funcionamento dos pulmões e do
60
coração. O Brasil tem provavelmente oitenta mil portadores de distrofia,
número alto mas insuficiente para colocá-la entre as prioridades estatís-
ticas das políticas nacionais de saúde pública.
Na antiga capital da República, ao contrário do que a família Pacheco
de Queiroz pensava ao sair de Timbaúba, os médicos não sabiam resol-
ver o problema. Mas pelo menos a cidade naquela época estava mais
preparada para cuidar deles como deficientes físicos. Sua avó susten-
tou os oito filhos como modista. Quer dizer, era costureira. Havia
muita festa no Rio e a clientela era boa. Dava para viver daquilo. Mi-
nha mãe, por sinal, conheceu meu pai porque foi trabalhar como
bordadeira na casa de minha avó.
Uma lei da década de 1950 deu ao pai de Pedro uma licença especial
para vender artesanato em barraca de rua, prerrogativa que o poder
público há muito tempo desistiu de exercer na cidade. O ponto que lhe
coube, dividido com um cego chamado Alberto, ficava numa esqui-
na da rua Dias da Rocha, em Copacabana. Aos poucos, seus irmãos
foram ganhando outras concessões no bairro. Postou-se um em cada
esquina: Meu tio Newton, na da rua Raimundo Corrêa; meu tio Carlos,
na da Santa Clara; e meu tio Renato, na da Figueiredo Magalhães.
A barraca de artesanato sustentou a família até os anos 70. Um
padrão de classe média baixa, mas de classe média, lembra o profes-
sor. Enquanto deu, meu pai manteve os filhos na escola sem que pre-
cisassem trabalhar. Ele só conseguiu terminar o secundário, não quis
nem tentar o curso de engenharia porque teria de ir à faculdade de
bonde, mas tinha essa coisa com educação. Filho seu tinha que estar
na escola estudando. Nós nos acostumamos com isso. Quando passei
no vestibular, não houve festa. Nem quando passei para o mestrado
na UFRJ. Ou quando resolvi fazer o doutorado. Era obrigação.
Com a barraca, o pai pagava o aluguel do apartamento de três quartos
em Copacabana. Foi somente na década de 1980 que as crises da
economia brasileira começaram a derrubar o padrão de vida da família.
Mudaram-se para um apartamento de dois quartos e houve uma fase de
atrasos do aluguel. Mas os barraqueiros pernambucanos não chegaram
61
a ver as esquinas de Copacabana tomadas informalmente por camelôs.
Quando isso aconteceu, estavam todos mortos.
Pedro se rendeu à cadeira de rodas porque seu irmão, tendo revelado
os sintomas da doença muito mais tarde do que ele, sofreu em casa
uma fratura de fêmur num acidente como o do pai. Estava na janela
olhando a rua e levou um tombo de nada, mas quebrou a perna. Foi
um pânico total na família. Parecia que a história iria se repetir. Junta-
mos todas as economias, pedimos dinheiro emprestado e mandamos
meu irmão para um hospital particular. Ele se recuperou. Mas era uma
pessoa que andava e, depois daquela fratura, passou a ser um
cadeirante. Aí eu pensei: se ele, que andava melhor do que eu, está
usando cadeira, por que eu não vou usar?
A decisão mudou sua vida. E surpreendentemente, depois de tantos
anos de resistência, mudou-a para melhor. Na cadeira, em vez de se
sentir preso, sentiu-se liberto. Antes, na hora do almoço, ficava sozi-
nho na sala de aula e pedia a um colega de turma que me trouxesse
um sanduíche e um suco quando voltasse do intervalo. Depois, pas-
sei a sair do Bloco A e atravessar o campus do Fundão para ir comer,
como todo mundo, no restaurante do outro lado. Teve, afirma, uma
adaptação quase instantânea à cadeira de rodas. Pior foi vencer a
aversão psicológica. A pessoa prefere andar se arrastando mas ficar
de pé para não se sentir diferente dos outros, diz ele. O olhar que
se dirige a uma pessoa em cadeira de rodas é sempre diferente do
olhar para uma pessoa que anda mal, mas anda. E todo mundo foge
desse olhar.
Quatro anos atrás, Pedro descobriu coisa melhor: a cadeira motoriza-
da. Deve a descoberta à professora Maria Clara Migowski Pinto, que
conheceu através de uma enfermeira, durante uma crise de pancreatite.
A amizade feita no hospital virou uma aliança permanente. Juntos eles
fundaram há quatro anos a Associação Carioca dos Portadores de
Distrofia Muscular que, além de brigar pelos direitos dos deficientes
físicos, serve para aproximar pessoas capazes de entender umas às
outras. Foi assim que acabei entrando em contato com um movi-
62
mento que até então desconhecia. Não é fácil, fora de casa, encontrar
um portador de distrofia. Parece que é porque eles chamam muita
atenção nas ruas. Mas não é.
Hoje, ele acredita que a troca de experiências é um santo remédio.
Muitos portadores de distrofia se sentem mais limitados do que de-
veriam. Não conseguem lugar no mercado de trabalho por falta de
formação profissional. O mercado é muito fechado para deficientes.
Sem preparo, fica praticamente impenetrável. Outros se deixam levar
pelo quadro depressivo, porque a distrofia é uma doença que tem isso.
Ela vai evoluindo sempre; às vezes muito lentamente, mas sempre. Eu
sei que o que eu faço hoje não poderei estar fazendo daqui a cinco
anos. Sei porque quando tinha trinta anos eu era de um jeito. Aos
trinta e cinco, era de outro. E agora não sou mais o que era. E sei
também como meu pai estava aos 55 anos. Conheço pessoas portado-
ras de distrofia. Acompanho o processo delas.
Maria Clara, a presidente da associação, aprendeu com Pedro a usar o
metrô do Rio. Agora ela não sai da Praça Saens Peña, na Tijuca, vin-
da lá da estação de Rocha Miranda, onde dá aulas numa escola primá-
ria de manhã. Em compensação, um dia ela me pegou de repente no
meio de um shopping e me mandou trocar de cadeira com ela. Queria
que eu experimentasse o modelo motorizado. Não chame de cadeira
elétrica, por favor. Dei uma voltinha naquilo e pensei: ih! é gostoso.
Menos de seis meses depois, tinha comprado a minha. Escolhi uma
nacional, das mais baratas. Custou R$3.500. Mas com ela adquiri a
autonomia definitiva para ir e vir entre a universidade e meu aparta-
mento na hora em que quero, sem precisar de ninguém para me em-
purrar.
Por que a cadeira motorizada faz tanta diferença? Porque o portador
de distrofia não tem força muscular, ele responde. Quer ver? Põe o
cotovelo na mesa e estende a mão pequena, quase de criança. Derrotá-
lo numa queda-de-braço é fácil. Difícil é fazê-lo com a devida leveza. E
olha que pus toda a minha força, ele comenta, como se dissesse uma
bravata. Acho até que estou vermelho. Estava.
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Turbinado pelo motor elétrico, Pedro se move no labirinto da Universi-
dade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) como se estivesse em casa.
Nas salas esvaziadas pelo recesso de julho, se precisa de lugar para
uma reunião, ele mesmo arruma o espaço, empurrando cadeiras em
volta da mesa como se manobrasse uma pequena empilhadeira silen-
ciosa. A plataforma em que apóia os pés funciona nessas horas como
pás. Com a ponta dos dedos, comanda uma alavanca que o torna es-
pantosamente ágil, capaz de conversar enquanto acompanha os passos
do interlocutor pelas rampas e corredores da universidade.
Há seis anos, é professor de Física na UERJ. Seu celular toca com
freqüência e, quando chama, geralmente é para tratar de problemas
alheios, como mobilizar a associação para arranjar um aparelho de
ventilação artificial para um portador de distrofia em perigo de colap-
so cardiorrespiratório. Cuida de si mesmo e dos outros. Quando pos-
so, vou com a cadeira à Saens Peña, pego o metrô e saio onde quero.
Em certas estações, o segurança tem que me carregar nas escadas.
Essa é uma velha luta nossa. Pela lei, o metrô tem de ser adaptado
para cadeira de rodas. Mas até agora isso só aconteceu em alguns
terminais. Em todo caso, eu ando sozinho de metrô: vou para
Copacabana, Botafogo, escolho aonde quero ir ao cinema. Costumo
dizer que faço mais coisas assim do que se fosse pobre demais para
comprar o ingresso. Para ele, o Rio de Janeiro tem em geral a exten-
são das linhas do metrô. A Barra da Tijuca, por exemplo, Pedro mal
conhece.
Nunca foi ao exterior, apesar da insistência dos colegas. Sua especi-
alidade acadêmica é território de nômades. A tal ponto que a Internet,
como ele comenta, nasceu nos laboratórios de física de partículas pela
necessidade de integrar pesquisadores ao redor do planeta. Mas ele
nunca se animou a viajar muito. Conhece um pouco do Brasil, mas nada
do Nordeste, de onde veio sua família. Mas um dia ainda pretende
visitar Timbaúba. Ao estádio do Maracanã, quase na sua porta, já foi
algumas vezes. Estreou num Fla x Flu. Estacionou na arquibancada
disposto a torcer pelo Flamengo, como seu pai. Saiu do jogo Fluminense.
A torcida do Flamengo pareceu-lhe acima de suas condições físicas.
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Para a vida de professor e pesquisador, considera sua adaptação qua-
se completa. Aqui, estar ou não numa cadeira de rodas não faz muita
diferença, diz ele. Principalmente, se você é um físico teórico e não
experimental. Sua vida é ir da frente do computador para a biblioteca
e da biblioteca para a sala de aula. Só precisa de uma mesa para traba-
lhar. Dou aula num retroprojetor, em vez de usar o quadro-negro. É
claro que não é a mesma coisa. Mas dá para o gasto. E gosto muito de
dar aula. Foi uma coisa que acabou com minha inibição.
Já pensou em ter filho? Ainda não, mas não descarto essa hipótese.
Meu irmão, que também é portador de distrofia, tem uma menina. Ela
está com oito anos e é normal. Só não fico é correndo atrás de casa-
mento. Estou namorando há dois anos. Ela se chama Cláudia, é
advogada, tem seqüela de pólio nas duas pernas, ainda no tempo da
universidade praticou natação a sério. Cláudia trabalha há 15 anos
em defesa dos direitos dos deficientes físicos. Foi ela, aliás, quem redi-
giu os estatutos da associação que Pedro criou a partir de um rascunho
feito aqui mesmo, numa sala da UERJ.
A aprovação no concurso da CNEN veio desarrumar essa rotina. Para
começo de conversa, a cidade onde sempre viveu vai ganhar no mínimo
quarenta quilômetros. O laboratório da comissão fica nos confins da
Zona Oeste, para lá da Barra da Tijuca. Um colega já está me chaman-
do de emergente da Barra, ele confessa. Pela primeira vez na vida,
aos quarenta anos, começou a olhar com certo interesse para os auto-
móveis. Antes, nem sabia a diferença entre uma marca e outra. De
repente, com a perspectiva concreta de viajar todo dia lá para longe,
comecei a notar que existe o Kangoo, o Berlingo... São modelos de
furgão. Seu olho, quando bate num carro, a primeira coisa que enxer-
ga é o lugar da cadeira de rodas.
Mas para lidar com dificuldades de locomoção, o que não falta a
Pedro é tarimba. Desde menino, ele trata dessa matéria com atenção e
método. No colégio secundário, eu já acordava pensando: vou ter
que me levantar, ir até o ponto de ônibus, subir no ônibus cheio, pegar
a escada. Nos intervalos das aulas, calculava: vou ter que chegar ao
pátio, descer a escada, atravessar o corredor, tudo isso sem cair. Um
65
carro, a essa altura, não o intimida. Pesquisar dosimetria em radiote-
rapia na CNEN também não chega a ser novidade. Difícil, mesmo, ele
achou foi uma formalidade burocrática da admissão chamada exame de
saúde. Sinal de que o País continua a ser reprovado no tratamento da
distrofia muscular.
66
claridade. Eu diria que nem é a escuridão nem a luminosidade perma-
nente de viver debaixo de um poste de luz.
É só uma sensação natural. Mas um fato curioso é que eu me lembro
com nitidez das cores. Essa é uma coisa que não perdi. Se eu voltasse
a enxergar, tenho a plena convicção de que saberia com clareza distin-
guir o azul, o vermelho, o amarelo. Essas cores estão muito vivas na
minha memória. Estão até muito presentes.
MSC O que foi a tal bola escura?
ECC Eu tive descolamento de retina. Primeiro, aos quatro anos, perdi a
visão no olho esquerdo num acidente banal que mudou muito pouco a
minha vida. Meu avô pediu um travesseiro. Meu irmão e eu fomos cor-
rendo buscar e começamos a brigar no quarto, disputando para ver quem
levaria o travesseiro. Meu irmão era mais velho e mais forte do que eu.
Acabei caindo, bati com a cabeça na ponta da cama e perdi a visão no
olho esquerdo. Mas esse primeiro descolamento de retina para mim não
foi vital, porque eu continuei enxergando com o outro olho. A sensação
brutal de ficar cego eu só tive dois anos depois, quando já estava na
escola, começando a aprender e ainda via razoavelmente. Era uma crian-
ça agitada, que se metia muito em briga de rua, levava uma vida perfei-
tamente normal. Na minha família, ninguém tomou aquele primeiro aci-
dente como um sinal de que eu talvez precisasse de cuidados especiais.
Na noite anterior ao segundo deslocamento de retina, lembro perfeita-
mente que estava brincando perto de casa e um menino me bateu com
uma espingarda de brinquedo. Depois, fui jogar futebol e levei uma bola-
da na cabeça. No dia seguinte, aconteceu.
MSC Poderia, então, ter evitado ou pelo menos adiado o problema?
ECC Adiar não me parece uma solução. Perder a visão ainda criança
talvez seja melhor do que perder a visão já adulto, porque a pessoa se
prepara desde muito cedo para enfrentar os desafios. O aprendizado do
braile, por exemplo, para mim foi muito facilitado por ter sido tão cedo.
Você se habitua a conviver com a deficiência. Acho que os adultos que
perdem a visão têm um desafio muito maior do que eu tive, provavel-
mente. Aprender a conviver com a cegueira é, dentro do possível, aci-
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ma de tudo, esquecer que ela existe. Acho que a cegueira, antes mes-
mo de ser um problema pessoal, é um problema da sociedade. É a
sociedade que limita as pessoas cegas e, por isso, elas também se
limitam. Elas se colocam obstáculos porque os obstáculos são postos
para elas. No meu caso particular, o grande desafio da vida foi realmen-
te não me autolimitar, não me impor barreiras e imaginar que grande
parte das coisas que eu pudesse fazer faria de fato.
MSC Aos sete anos?
ECC Evidentemente, aos sete anos nem me ocorreu que eu teria que
lidar com isso pelo resto da vida. Mas eu nunca parti do princípio de que,
por causa da cegueira, as coisas seriam inacessíveis. E desde cedo cer-
tos desafios podem ser decisivos. O primeiro deles foi o colégio interno.
Aos sete, oito anos de idade, fui posto num colégio interno, o Instituto
Benjamin Constant, na Urca, especializado em educação de cegos. Aquele
era um mundo totalmente desconhecido para mim, que até ali vivera com
meus pais. Depois, quando eu estava habituado a esse mundo, por volta
dos 12, 13 anos, os professores do Benjamin Constant foram procurar
meus pais e disseram: Este menino tem condições, tem potencial. Ele
pode enfrentar uma escola comum em condições praticamente idênticas
às dos outros alunos e tem uma família que pode ajudá-lo. Na época,
não havia nenhuma orientação em escolas comuns para lidar com alunos
portadores de deficiência.
E eu fui estudar no Instituto Lafayette, uma escola particular na Tijuca,
sem qualquer serviço de apoio para um estudante cego. De uma hora
para outra, estava no meio de uma turma de adolescentes, com um pro-
fessor no quadro-negro ensinando trigonometria, outro dando aula de
desenho e eu tendo que conviver com aqueles desafios todos juntos. Foi
uma experiência muito dura num primeiro momento, mas eu realmente
consegui aprender a lidar com ela muito bem.
MSC Como?
ECC Comecei a desenvolver certos mecanismos de compensação.
Por exemplo, a memória. Precisava dominar o que era dito nas aulas
porque eu tinha muito pouco acesso a livros. Então, para mim, as aulas
68
eram fundamentais. Muitas vezes, memorizava o que era dito pelos
professores. Ou fazia cálculos mentais. No Lafayette, acabei sendo bom
aluno, tirava boas notas e quando o professor queria chamar a atenção
de um colega me citava como exemplo: Como você não está apren-
dendo? O Eurico está aprendendo tudo. Aquilo me incomodava pro-
fundamente, porque fazia eu me sentir diferente dos outros e eu não
queria ser diferente, queria ser igual. Comecei a me sentar no fundo da
sala de aula e fazer bagunça como todo mundo. Só fiquei satisfeito
quando fui suspenso, e durante um bom tempo deixei de ser citado
como exemplo. Aí sim estava integrado.
MSC Os colegas o tratavam normalmente?
ECC Quando cheguei àquela fase dos 16, 17 anos, à adolescência,
comecei a ter um pouco a sensação de não ser convidado para as
festas. A primeira coisa que eu fiz foi organizar uma festa na minha
casa. Todo mundo foi e daí para frente, por reciprocidade, passei a ser
convidado. Em pouco tempo, era eu que estava organizando as festas
e os eventos da turma. Fiquei superintegrado. Combinava: amanhã va-
mos ao teatro, ao barzinho, ao restaurante. Enfim, passei a ser o
organizador das festas. Criei um grêmio literário-musical, um clube de
conversação em inglês e, com isso, ganhava minha turma. São essas
coisas, essas maneiras de conviver com as pessoas que resolvem se
você vai ou não ser socialmente aceito por elas. Você tem de ir ao
encontro delas. Esse é o remédio contra o sentimento de exclusão.
MSC No seu caso, isso sempre funcionou?
ECC Provavelmente, eu sempre tive na vida uma grande sorte. Acho
que na vida é preciso ter sorte também. Quando eu estava terminando
o curso secundário, o terceiro grande desafio foi escolher a faculdade.
O que fazer? Em vez de fazer Direito ou Letras, como a maioria dos
cegos faz, optei por um curso que era novo na época, o de Administra-
ção de Empresas, na Fundação Getúlio Vargas (FGV). O curso tinha uns
cinco ou seis anos de existência, no máximo. Fui para lá e deu certo. Ao
terminá-lo, veio aquela síndrome típica de quem está se formando: e
agora, qual é o próximo passo? Como é que vou me virar no mercado
69
de trabalho? E aí entrou a sorte, na forma de um concurso para profes-
sor que a FGV resolveu abrir exatamente naquele momento. Passei e
um mês depois de me formar eu estava trabalhando, o que foi uma
experiência riquíssima. Fiquei lá por uns 12 anos. Cheguei a ser profes-
sor no curso de mestrado da FGV.
MSC Quando virou consultor de empresas?
ECC Depois de alguns anos, resolvi acumular a atividade de professor
com a de consultor. Montei um escritório, bem perto da FGV, no bairro de
Laranjeiras, e comecei a fazer consultoria. Eu continuava entusiasmado
com o magistério, mas chegou uma hora que a consultoria passou a ser
uma coisa de tal volume que tive de abandoná-lo. Os meus assistentes
começaram a dar mais aulas do que eu e fiquei envergonhado com essa
situação. Demiti-me e trabalhei nesse escritório de consultoria durante 15
anos. Viajava quase todas as semanas para atender clientes no Brasil intei-
ro. Prestei consultoria para mais de cem empresas dos mais diversos tipos.
Mas por volta de 1990, acabei me cansando desse ritmo.
MSC E tornou-se empresário.
ECC Virei empresário quase por acaso. Como eu disse, estava cansado
daquela correria. E me aconteceu uma coisa curiosa. Estava fazendo uma
pesquisa para uma empresa de alimentação, que me obrigou a entrevistar
donos de restaurante. Nesse tempo, eu freqüentava uns restaurantes per-
to de minha casa, na Barra da Tijuca, cujo dono queria abandonar o negó-
cio por causa de um assalto. Ele começou a insistir muito para que eu
comprasse um restaurante dele. Eu me esquivava: Não tenho nada a ver
com isso, sou do campo universitário, trabalho com consultoria. Mas
comecei a pensar naquilo: Afinal de contas, dei consultoria para tanta
gente, por que não pôr em prática eu mesmo as idéias que passo para os
outros? Então, resolvi enfrentar a mudança. Foi uma guinada total na
minha vida.
MSC Hoje comanda quantos restaurantes?
ECC Dezessete. Por causa deles, sou agora uma espécie de mestre-
de-obras. Passo no mínimo dez ou 12 horas por dia discutindo com
engenheiros e arquitetos projetos de reforma dessas casas e mudanças
da decoração. Cuido mais de obras do que de qualquer outra coisa. E o
resultado disso é que acabei me interessando por arquitetura. Nunca
70
pus as limitações da cegueira no caminho do que quis realizar. Quando
fui cursar Administração ou virei professor da FGV ou consultor de
empresas, nunca pensei nos impedimentos da deficiência física. Creio
que as pessoas se autolimitam demais se ficam pensando nisso.
MSC Que limites os outros tentaram lhe criar?
ECC Ah, isso começa em casa, na família. Meus pais, por exemplo,
temiam muito pelo meu futuro. Fui criado numa casa de classe média.
Meu pai era médico, trabalhava num laboratório, o Roche. Morávamos
na Tijuca. Quando resolvi estudar Administração, ele e minha mãe fica-
ram absolutamente impactados com a notícia. Como você vai fazer
Administração? Por que não faz Letras, vai dar aulas para algumas es-
colas, ensinar braile, enfim, vai fazer essas coisas que os cegos geral-
mente fazem? Houve grandes discussões em torno disso. Eu realmen-
te queria buscar um campo novo, embora não soubesse exatamente,
claro, o que iria acontecer comigo. Mas eles eram totalmente contra a
minha decisão. Aprendi muito a quebrar essas barreiras com as discus-
sões que tive com meu pai naquela época.
MSC E na infância, a família não tentava protegê-lo demais por causa
da cegueira?
ECC Claro que sim. Só voltei a jogar bola, por exemplo, no Benjamin
Constant, porque no internato não havia condição de meus pais acom-
panharem de perto tudo que eu fazia. Por isso o internato foi importan-
te, embora muitas vezes eu tivesse um convívio complicado com as
crianças de lá. Elas eram difíceis, em muitos casos, abandonadas. Mas,
por outro lado, a liberdade e a autonomia que eu passei a ter foram
muito importantes para mim, me deram condições para encarar a vida.
Ao mesmo tempo, o isolamento prejudicava essa formação. Não sei
como a escola está hoje, mas naquela época era um mundo à parte.
Quem vivia lá tinha um contato mínimo com a realidade exterior. Isso
nos criava problemas de postura social. A maioria dos cegos não cuida-
va da aparência física, por exemplo. Como lá dentro não tinham condições
de se arrumar, não davam a menor atenção ao fato de estarem com
uma roupa apropriada, com o cabelo penteado, com o sapato limpo. As
71
pessoas não percebiam sozinhas e ninguém lhes ensinava que isso seria
fundamental para que se integrassem à vida lá fora, para que não fossem
vistas como diferentes. O cego precisa saber como será visto pela soci-
edade. Ele tem que saber quais são as referências das pessoas que en-
xergam. Isso é imprescindível para suas relações com o resto do mundo.
Naquele tempo, não havia no Benjamin Constant nenhum tipo de preocu-
pação nesse sentido, absolutamente nenhum. O Instituto era, como eu já
disse, um mundo à parte. Como é a sociedade? O que ela espera de
você? Nada disso era sequer mencionado. Havia cursos meramente
cognitivos. Você aprendia matemática, português, essas coisas. Minha
sorte foi o fato de todo fim de semana ir para minha casa, onde convivia
com meus pais, meus irmãos e outros meninos. Assim, ia compreenden-
do como era o mundo lá fora.
MSC Pelo que se vê nesta entrevista, o senhor sempre reconhece a voz
das pessoas com que fala e se lembra do nome delas, mesmo quando
são muitas e acabaram de lhe ser apresentadas. Isso é dom ou treino?
ECC Tive a esse respeito uma experiência bastante interessante. Tra-
balhando como consultor de empresas e, ao mesmo tempo, como pro-
fessor na FGV, eu lidava com muitos alunos e clientes, além de coorde-
nar seminários para até cem pessoas. Nesses casos, eu geralmente
tinha ao meu lado um assistente que, no primeiro contato, dizia os
nomes das pessoas para mim. Da apresentação em diante, eu geral-
mente era capaz de me lembrar dos interlocutores e identificar pela voz
os participantes de uma turma, pelo menos os mais falantes. Até isso
eu devo ao magistério. Foi uma experiência muito enriquecedora tam-
bém do ponto de vista da desinibição. Quando comecei a trabalhar, por
volta dos 16 anos de idade, dava aulas de inglês num cursinho perto de
casa, o que foi muito útil. Aprendi a me desinibir, a me dirigir a grupos,
isso formou a base que me permitiu mais tarde ser professor da FGV.
Mas desde criança, por causa da cegueira, comecei a exercitar a memó-
ria. E com isso, ela foi se desenvolvendo. Na época do Lafayette, eu
freqüentemente precisava que os colegas lessem coisas para mim. E eu
tinha que memorizar o que ouvia, não tinha como pegar o mesmo livro
duas, três, quatro vezes, como faz quem enxerga. Tenho muito boa
72
memória, sim. Até me surpreendo, eventualmente, com detalhes que
sou capaz de recordar e nem eu mesmo sei dizer por que aquilo foi parar
na minha cabeça. Por exemplo, quando foi que Einstein escreveu a
teoria da relatividade. Esse tipo de coisa.
MSC Quantos telefones sabe de cor?
ECC Seguramente os telefones de todos os meus restaurantes. Não
sei muito os dos outros, porque minha secretária faz as ligações para
mim. Mas todo domingo à noite eu faço uma rodada dos restaurantes,
ligo para cada um para saber como vão as coisas. Esses, com certeza,
eu conheço de cor. E ainda faço exercícios para a memória. Atualmente,
tenho nas minhas empresas cerca de quinhentos funcionários. E faço
exercícios com isso. Pego uma folha de papel e tento ir escrevendo os
nomes dos que trabalham no restaurante tal, dos que trabalham em
outro. E é claro que consigo me lembrar praticamente de todos eles.
São coisas que o cego vai desenvolvendo naturalmente. Volta e meia,
minha mulher pega o telefone e me diz que está participando de um
seminário e precisa saber com urgência o que aconteceu com o PIB
brasileiro nos últimos dez anos. Quase sempre eu sei a resposta. Por-
que a memória é uma coisa que eu venho exercitando pela vida afora.
MSC Por falar em seu casamento com Marluce Dias: o senhor em
casa dá palpite sobre a TV Globo?
ECC Dou mais palpite sobre a empresa do que sobre a programação,
evidentemente. Mas devo dizer que, modéstia à parte, eu me considero
bastante bem informado sobre a televisão. Sei quase tudo que está
acontecendo sem ler jornais e revistas. Eu me informo exclusivamente
pela TV e pelo rádio. Toda manhã, enquanto estou fazendo meu alon-
gamento, minha bicicleta ergométrica, estou de ouvido na televisão ou
seguindo o noticiário do rádio. Só aí já são uma hora e meia por dia de
notícias. À noite, ouço os telejornais. E como tenho boa memória, aca-
bo sendo uma pessoa bem informada.
MSC Nada além dos telejornais?
ECC Assisto muito, por exemplo, aos debates da Globo News, que
me interessam, e aos filmes. Teatro é uma coisa de que particularmente
73
gosto. Vou ao teatro com certa freqüência, porque no palco o texto é
mais importante e, para mim, mais fácil de acompanhar do que o filme.
Mas já fui muitas vezes ao cinema. Existem filmes, é claro, em que a
parte visual é indispensável e, nesses casos, é útil ter alguém ao lado
para ir dizendo o que acontece na tela. Mas é perfeitamente possível
assistir a um filme sem vê-lo.
MSC A entrevista dá a impressão de que não houve frustrações em
sua vida.
ECC Estou tentando me lembrar agora de frustrações sérias que eu
possa ter tido. Mas francamente estou com dificuldade. Talvez porque
em grande parte eu tenha procurado basear minha vida na autoconfiança,
na vontade de vencer. Eu me lembro de estar no Benjamin Constant aos
nove anos já pensando no meu futuro, o que faria ao longo da vida.
Provavelmente, amadureci muito cedo. Com o sofrimento, ou você
amadurece ou sucumbe. Sem energia para a vida, você se transforma
numa pessoa amargurada. A vida impõe desafios o tempo todo e o
cego precisa ter coragem no cotidiano, nas pequenas coisas, em cada
pequena coisa. Para um cego, a queda de um objeto pode significar
uma dificuldade muito grande. Então, ele tem que ser uma pessoa orga-
nizada. Eu me organizo da melhor forma possível, porque sei que um
objeto no lugar errado é uma barreira de trabalho. Você tem que se
programar, ser metódico, atacar cada pequeno desafio com determina-
ção e planejamento.
MSC Para que este relógio de pulso?
ECC Parece comum, mas é um relógio falante. Diga-se de passagem que
ainda está no horário de verão. Está atrasado uma hora, o que é engraçado
porque eu tenho muita preocupação com o tempo. Na minha mesa de
trabalho há um relógio que fala baixinho, para não incomodar as pessoas,
mas de meia em meia hora ele diz que horas são. Com isso, vou controlan-
do meu tempo. Às vezes minhas reuniões são longas demais. Eu costumo
dizer que sofro de reunite. Tenho reuniões de manhã à noite, todos os
dias, praticamente das nove da manhã às nove da noite
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MSC Isso é vício de consultor de empresas?
ECC É, e eu não me livrei dele. Na minha atual atividade, tocando
meus próprios negócios, também me reúno o tempo todo. Por isso, o
relógio me ajuda bastante.
MSC Nas cem empresas a que deu consultoria, o senhor tentou tam-
bém deixar a marca de programas para deficientes?
ECC Os primeiros deficientes empregados em programação de com-
putadores no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram
postos ali por nós, se não me engano, em 1974. Quase trinta anos
atrás. Houve um movimento para isso. Fazíamos campanha pela im-
prensa, programas de rádio, levávamos o assunto a jornais e à televi-
são. Tentávamos influenciar nesse sentido os legisladores na época.
Esse movimento funcionava na FGV. Tinha um nome curioso: Centro
Operacional Pedro de Alcântara, porque foi Dom Pedro II quem fundou
o Benjamin Constant. Durante uns três ou quatro anos, eu participei do
movimento, cheguei até a dirigi-lo. Depois, comecei a ficar muito envol-
vido com a consultoria e não tive mais tempo de me dedicar a isso
diretamente. Mas confesso que aproveitei pouco essa oportunidade de
consultoria para chamar a atenção das empresas sobre o problema do
deficiente, embora ache que meu exemplo de algum modo já fosse uma
forma de divulgar o assunto. Mas de forma concreta acho que fiz pou-
co. Na Dataprev, como consultor, empregamos alguns deficientes. Mas
eram ações eventuais.
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A deficiência atrapalha, mas é um aspecto complementar de sua vida e
não o centro dela. Eu posso falar com a maior naturalidade sobre a
minha cegueira, mas ela não é o tema principal de minha vida.
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que goste do trabalho que tem. A sua função é simples, o que muda o
rendimento é o jeito e o prazer que ele tem em desempenhar as tare-
fas designadas, explica Sérgio. Por causa da falta de experiência em
trabalhar, Valente às vezes duvida da própria capacidade, mas é incen-
tivado pelo chefe e por seus colegas.
Os principais desafios, diz Sérgio, são superar essa barreira da
falta de confiança e tratar o deficiente de forma profissional, sem
paternalismos. Se tiver que elogiar, deve-se elogiar, mas se tiver que
dar bronca, tem que dar.
Para Sérgio, não existe uma solução específica para a adaptação do
deficiente ao ambiente de trabalho, nem dos colegas àquele emprega-
do, mas tudo depende da paciência e vontade. Tem que existir a von-
tade do empresário de incluir a pessoa com deficiência na empresa e
investir seu tempo para fazer com que a equipe a aceite. É pensar em
investir tempo, não em perder tempo. Isso é importante ressaltar,
avisa Sérgio. E completa: Essa nossa experiência é a primeira em 17
anos. Para ajudar na integração do Valente, logo no primeiro mês pedi
a ele que fizesse uma atividade em que teve que entrar em contato
com todos os outros funcionários. Ele completou tudo corretamente e
passou a conhecer todo mundo. Logo estava integrado, passaram a
chamá-lo só de Valente, o que o agrada bastante, ele almoça junto
com a gente no restaurante da produtora, é um funcionário igual a
todos os outros.
A igualdade de atitudes está até mesmo na reivindicação mais comum
a todos: o aumento de salário. Logo que o chamei para trabalhar e
disse quanto ele ganharia, ele falou: só isso?, conta Sérgio, rindo.
Ele é igual a todo mundo, quer ganhar mais, mesmo ainda estando
em treinamento e nunca tendo tido experiências de trabalho.
A inclusão no mercado de trabalho de uma pessoa portadora de defi-
ciência, para Sérgio, é uma forma de trazer lucro para todos. Não é o
lucro de forma monetária, mas perceber que a inclusão está aumen-
tando no país é uma forma de lucro para a sociedade em geral.
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Márcia Benevides, coordenadora do centro de profissionalização do IBDD
por Ana Claudia Monteiro
Quem vê a moça alta e bonita, pele muito clara, cabelos longos rui-
vos, sempre bem vestida e quase invariavelmente de salto alto, se
locomover pela ampla sala de trabalho, desviando perfeitamente das
baias, despachada e auto-suficiente, nem se dá conta que ela não
enxerga além de uma leve claridade. Márcia Benevides, 35 anos, é
psicóloga especializada em Recursos Humanos e reabilitação e trabalha
no IBDD, na coordenação dos cursos profissionalizantes da instituição.
É também artista plástica, já participou de exposições exibindo suas
esculturas de formas humanas, em resina ou bronze. Uma pessoa inde-
pendente e com apurado senso crítico seria uma boa definição de sua
personalidade: Na verdade, não sou totalmente independente. No tra-
balho, a [colega do IBDD] Cláudia me ajuda muito. Já falei para ela que
preciso dela para pegar papel, formatar. Eu crio, ela operacionaliza,
resume e depois ri da definição simples e objetiva.
Márcia é a filha do meio de uma professora e um técnico químico,
ambos atualmente aposentados. Sempre fui muito estudiosa, a típica
CDF. Estudava de manhã, chegava da escola, ia fazer o dever de casa
antes de almoçar, deixava minha mãe louca com isso, relembra, com
uma certa nostalgia, e completa: Mas apesar das brincadeiras, sem-
pre fui uma criança muito quietinha, adorava desenhar, vivia com ca-
derno de desenho e canetinhas.
Quando tinha dois anos, a mãe percebeu que a menina colava o rosto
no aparelho de televisão para assistir aos desenhos animados. Levada
ao médico, o diagnóstico foi preciso: uma miopia forte de nascença, a
chamada miopia maligna, que pode fazer com que outra área da visão
seja afetada. Aos oito anos, brincando Márcia levou um tombo e bateu
a cabeça, o que provocou o descolamento da retina do olho direito. A
família procurou um dos maiores especialistas na época, dr. Moura Bra-
sil, filho, que operou-a com urgência.
A recuperação de uma cirurgia na retina é sofrida, exige sacrifícios
como se manter deitada na cama, na mesma posição, durante dias,
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coisa difícil para qualquer criança, inquieta por natureza. Para Márcia,
sempre obediente e calma, não foi tão penoso. A menina que gostava
de brincar na vila agora explorava a imaginação, ouvindo Walt Disney
na antiga vitrola e gravando, numa fita, seus próprios contos de fada. A
cirurgia, entretanto, não foi o sucesso esperado e a visão de Márcia
passou a se resumir a uma claridade: Psicologicamente, eu matei meu
olho direito. Enxergava com o outro e passei tudo para ele. Aos 9
anos, o problema se repetiu com a retina do olho esquerdo, que estava
começando a descolar embaixo. O especialista preferiu colocar um re-
forço em volta a operar e garantiu uma sobrevida à retina de Márcia
que, assim, passou a ter a visão subnormal, ou seja, um déficit visual
que é impossível de ser corrigido.
Márcia conviveu bem com sua deficiência. Como perdeu dois anos na
escola, aos 11 conseguiu uma vaga como semi-interna no Instituto
Benjamin Constant, especializado em educação para deficientes visu-
ais. Logo depois pediu para ser interna, para ficar mais próxima da
turma de colegas. Lá, explorava todo o seu potencial, freqüentando as
aulas extra-curriculares. Aprendeu natação, jazz, datilografia, culinária
e trabalhos manuais, em que era excelente aluna. Depois, voltou a estu-
dar em escola particular. A visão piorava progressivamente, fazendo
com que, nem sentada numa carteira da primeira fila, conseguisse en-
xergar o que estava escrito no quadro. O período coincidiu com o auge
da adolescência e ela sentia vergonha de dizer que não enxergava e de
usar o fundo de garrafa para ler. Com isso, se afastava das pessoas
e, de extrovertida, passou a ser um bicho-do-mato, como ela própria
define. Era uma época ruim também para na família, os pais se separa-
ram. A guerra interna para se aceitar durou até o 2º ano do 2º grau,
quando conseguiu romper o casulo que construiu em torno de si mes-
ma. Eu estudava de manhã, pegava o caderno de uma colega, ia para
casa, estudava como uma louca, conseguia ler cheirando o papel,
usava um fundo de garrafa de 10 graus a 10 cm do olho. No dia se-
guinte, apresentava todas as dúvidas para o professor e por causa
disso era a primeira aluna da sala, relembra. Os professores brinca-
vam com ela, passando exercícios para a turma e a mandando ficar
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quieta, já que era a sabe-tudo da classe. Os colegas foram se aproxi-
mando e Márcia percebeu a mudança, como ela explica: Eu reparei
que, eu me aceitando, todo mundo me aceitava, e aí decolei. Todo
mundo brincava comigo, os professores brincavam, meu fundo de
garrafa virou troféu.
Prestou vestibular para Psicologia e passou para uma faculdade parti-
cular, mas a família não tinha como pagar as mensalidades. Tentou,
então, trabalhar. Só que, com a deficiência, não conseguia ler as fichas
que deveria preencher e, se dava sorte de ser chamada para uma entre-
vista, sentia que o entrevistador a olhava e pensava, como se quisesse
dizer: olha, não vai dar.
A batalha pelo primeiro emprego durou um semestre, até que a situa-
ção da família melhorou e ela pôde ir para a universidade. Ao mesmo
tempo, se inscreveu num curso de escultura da Sociedade Brasileira de
Belas Artes. Aprendeu a desenvolver figuras humanas usando resina ou
bronze.
Tudo ia bem até que, aos 24 anos, a perda da visão se acentuou, com
a atrofia do nervo ótico. Ao mesmo tempo, passou pela primeira expe-
riência difícil relativa à sua deficiência, justamente por parte de uma
psicóloga, professora da faculdade, que não queria deixar Márcia aten-
der pacientes, no estágio de Psicologia Clínica, alegando que ela não
enxergaria suas feições e expressão corporal. Deu-se um embate, mas
ela conseguiu concluir o estágio. Foi muito estresse. Fiquei abalada,
mas entendi o ponto de vista dela. Voltei para a terapia, que havia feito
pela primeira vez com 18 anos.
Mas a formatura não foi sua redenção. Como acontece com muitos
estudantes quando se formam, faltava-lhe emprego, apesar das qualifi-
cações e do bom histórico escolar. Resolveu estudar braile e, aos 27
anos, entrou para o Instituto Oscar Clark para reabilitação, onde apren-
deu noções de espaço e a usar bengala, programa de computador
DOSVOX especial para deficientes visuais e a estimular a visão
subnormal.
A entrada no mundo profissional se deu através do Serpro Serviço
Federal de Processamento de Dados. A idéia era participar de exposição
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de arte para deficientes, exibindo suas esculturas. Mas conheceu o
coordenador de treinamento de deficientes da empresa, que ofereceu
estágio no departamento de RH. Márcia começou a trabalhar com por-
tadores de deficiência e participou durante três anos de um grupo de
estudos sobre deficiência. Quando o contrato com o Serpro não pôde
ser renovado, Márcia, mais uma vez, ficou às voltas com a dificuldade
de se empregar. Para contornar a fase ruim, nada como enriquecer o
currículo. Uma pós-graduação em Gestão de RH foi a solução encontra-
da. Ao mesmo tempo, descobriu uma paixão: Fui trabalhar como vo-
luntária na União dos Cegos. Me apaixonei por reabilitação e os paci-
entes por mim, porque diziam que eu, como deficiente, entendia per-
feitamente o que eles sentiam.
Em setembro de 2000, o CIEE Centro de Integração Empresa Escola
a chamou para um projeto de estágio para pessoas com deficiência,
que Márcia coordenou até entrar para o IBDD, no início de 2004. Como
era impossível conciliar o CIEE com o grupo da União dos Cegos, Már-
cia abriu mão do trabalho voluntário. Foi a despedida mais emocio-
nante da minha vida. Ali, vi que gostava de trabalhar com comunida-
de, conta. No CIEE, seu desafio foi mudar a cultura interna para prepa-
rar os funcionários para lidar com pessoas com deficiência. Ela reparava
na falta de traquejo, essencial para o trabalho que iria desenvolver:
Assim como a sociedade não está preparada, eles também não esta-
vam. As pessoas mal conseguiam chegar perto de mim. A superação
dessa barreira foi um desafio grande, que conseguiu vencer às custas
de palestras internas, seminários, workshops.
Coisas simples que adorava, como andar no calçadão da praia ou ir ao
Jardim Botânico, totalmente sozinha, foram sublimadas: Eu nunca vou
superar, sinto falta de ficar só comigo mesma, na praia, e às vezes bate
forte, aí tenho que canalizar, lamenta. Para não dar murro em ponta de
faca, Márcia encontra outros prazeres, como dançar forró, dance e flash
back, ouvir música e ler, ou melhor, escutar as fitas das audiotecas.
Mas a vida é boa, ela acha. Ter o apoio familiar, fazer boas amizades,
superar as adversidades e seguir em frente são pontos fundamentais.
Tinha pavor de ficar cega. Minha infância foi bastante reprimida por
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isso, era um tal de não pula, não vira cambalhota, nunca andei de
montanha russa, pula-pula, tobogã. Morria de vontade de fazer isso.
Na natação, não mergulhava de cabeça. Quase toda noite eu rezava
para Deus para nunca perder a visão. E acho que Deus é muito bom
porque está sendo um processo gradativo. Quando veio a perda mai-
or da visão, eu já estava preparada, finaliza.
82
Luis recebeu alta e voltou para a casa, no bairro de Colégio, em Bangu.
Com a fisioterapia, recuperou muitos dos movimentos e ultrapassou a
fase crítica física e emocionalmente. Aprendeu a andar na cadeira de
rodas e a conviver com a deficiência. Com os amigos que conheceu
durante a internação, reconquistou a confiança e a vontade de lutar
pelos direitos de pessoas como ele.
De volta à casa, com 18 anos, tinha que escolher o que iria fazer da
vida. Eu sofri o acidente muito novo e o trabalho não era uma preo-
cupação minha naquela época, embora eu já fizesse um curso de me-
cânica de automóveis no Senai e trabalhasse em oficinas. Eu me dedi-
cava mesmo era ao judô, diz. Na família de Luis, de classe média
baixa, todos achavam que esporte era para os poucos que tinham al-
gum recurso financeiro e, especialmente depois do acidente, temiam
que o rapaz virasse um peso morto, como ele conta.
Mas ele resolveu insistir na vida esportiva. Incentivado por uma trei-
nadora, campeã sul-americana de atletismo, interessada na prática para-
desportiva, ele trocou o judô pelo atletismo. Ela achava que eu tinha
estrutura física para o atletismo e começou a trabalhar comigo a partir
do que eu sabia fazer com o judô. Descobrimos que a técnica do judô
é o contrário da do atletismo, os movimentos errados no judô são os
movimentos estimulados no atletismo. O judô tira o indivíduo de seu
ponto de equilíbrio, projetando-o para baixo. No atletismo, você pega
o ponto de equilíbrio embaixo e projeta para cima, explica. Com esse
treinamento, Luis aprendeu a técnica do disco, do peso e do dardo.
Para completar o orçamento, já que tinha saído da casa dos pais para
casar, fazia alguns bicos: foi vendedor de livro em escolas e quadros
nas feiras-livres, fazia transportes, trabalhou na cantina da escola em
que estudou. Começou, também, a dar palestras sobre deficiência e a
atuar em movimentos pelos direitos do deficiente. Nesta fase, percebeu
uma característica específica do atleta paradesportivo: o uso e o poste-
rior abandono. Segundo Luis, esses atletas são procurados pelas
federações atléticas, nas ruas, em período de preparação e disputa de
campeonatos. Se ele se sai bem, é alçado à condição de herói, recebe
o melhor tratamento, boa alimentação, viaja de primeira classe, ganha
83
medalhas mas, quando volta, não tem nenhum trabalho nem qualquer
tipo de ajuda. É abandonado e, na maioria das vezes, precisa viver de
caridade ou com subemprego. É claro que a cabeça não agüenta,
diz. Para ajudar essas pessoas a enfrentar os altos e baixos da vida,
Luis resolveu fazer Psicologia: Ter uma profissão ajudaria também
quando a carreira esportiva terminasse, explica. Luis se especializou
em Psicologia Desportiva: É um ramo ainda pouco usado no Brasil. É
preciso entender que corpo e mente têm que trabalhar juntos, senão a
cabeça leva a uma somatização das situações que faz o atleta perder
mesmo ganhando.
Na vida de Luis parece existir um círculo virtuoso. O acidente provo-
cado por um esporte o levou a uma internação, onde começou a lutar
pelos direitos da pessoa com deficiência. A reabilitação o apresentou a
um outro esporte e a convivência com este setor o levou à Psicologia,
que intensificou a luta nos movimentos sociais, que acabou conduzindo
à política, uma de suas paixões. Embora exercendo pouco a profissão
de psicólogo, eu pude me beneficiar muito dos ensinamentos acadê-
micos. Primeiro, a gente fala muito da necessidade do indivíduo se
tornar cidadão, mas ele só consegue ser cidadão pleno quando conse-
gue, ele próprio, custear sua vida. Para custear sua vida, ele precisa de
emprego. E ele só pode trabalhar se puder ir e vir. Para fazer valer
esse direito, Luis se empenhou para garantir que o transporte público
fosse adaptado para a pessoa portadora de deficiência: Tenho o maior
orgulho de ter sido um dos responsáveis pela regulamentação da lei
municipal 1.058, de 1986, que garante que todo transporte público deve
ter acesso para deficientes. Infelizmente, a lei não é respeitada no Rio
e são apenas 14 ônibus que têm o elevador de acesso para cadeira de
rodas. Mas a idéia foi espalhada pelo país e hoje cidades como São
Paulo e Curitiba, entre outras capitais, usam esse sistema em grande
parte de suas frotas.
Luis atuou também na elaboração das cotas de deficientes para con-
cursos públicos e na elaboração de lei municipal e estadual que impede
o médico do trabalho de considerar a pessoa com deficiência apta ou
não para o trabalho. A partir desta lei, o médico só classifica a deficiên-
84
cia e a aptidão é verificada através de prova ou da formação acadêmica
da pessoa. Foi, ainda, candidato a vereador e a deputado estadual,
assessor parlamentar da Assembléia Legislativa e chefe de gabinete da
Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Vereadores de Niterói.
Formular políticas públicas é mais que uma luta para Luis, é sua pró-
pria vida. Ele vê a questão do trabalho para o portador de deficiência
bastante avançada nos dias atuais, com empresas contratando defici-
entes e uma diminuição do preconceito. As instituições de luta pas-
saram a trabalhar com modelos de terceirização dos serviços, que foi
um estímulo para que as empresas passassem, elas mesmas, a con-
tratar, explica. Entretanto, ainda há muito que fazer: A gente vive
num país enorme e não se percebe ainda a pessoa portadora de defi-
ciência em todos os seus ângulos. Existe um mercado consumidor em
potencial e de empresas para empregar deficientes,que tem que ser
incentivado, diz. Ele é um entusiasta das cotas para deficientes, pelo
menos até a questão ser totalmente absorvida pela sociedade. A cota
de 2% a 5% de deficientes para empresas com mais de 100 funcioná-
rios é uma forma de abrir esse mercado. No início, é sempre assim,
tem que ser obrigatório. Depois, quando o mercado descobrir o po-
tencial do portador de deficiência, pode-se ir flexibilizando, acredita.
O trabalho com esporte é parte desse pensamento por políticas públi-
cas e, em qualquer conversa com Luis, percebe-se que seu raciocínio é
construído em cima da coletividade. O movimento dos portadores de
deficiência chegou num momento em que era preciso trazer para a
sociedade pessoas que estavam em casa, trancadas. O esporte pode
quebrar essa cerca de arame farpado. É uma prática saudável, todo
mundo se inspira nele. Aí, apresentamos o esporte para resgatar sua
cidadania .
O fato de ter sido considerado um caso perdido, impossível de rea-
bilitação, aos 16 anos, marcou profundamente a personalidade de
Luis. Parece que ele volta no tempo, depois de tantas conquistas, para
explicar esse resgate do deficiente para a vida e traça uma linha tênue
entre a vida e a morte: Quando uma pessoa morre, acaba a matéria.
Quando sofre um acidente e se torna deficiente, a pessoa morre, mas
85
a matéria permanece. Aí, você vem e diz: você pode ir além da maté-
ria, você pode ir além em vida. Você não precisa morrer, você precisa
viver. E não é uma tarefa fácil não. Ele está enterrado para a socieda-
de. Esse é o grande barato da vida hoje. Trazer esse cidadão que está
morto em vida para a vida em vida. É isso que faz o esporte, é isso que
faz a empresa ao dar emprego, emociona-se.
E quando volta a falar de mercado de trabalho, mais uma vez a bar-
reira entre indivíduo e coletivo cai. Luis vê a sua responsabilidade e a de
cada pessoa com deficiência por rever conceitos e enfrentar precon-
ceitos. Ele acredita que é quase uma obrigação que cada um seja bom
profissional, porque precisa deixar um lugar para os outros que vêm
depois. Prático, ele explica com simplicidade este pensamento: O Bra-
sil tem 10% de pessoas com deficiência, é um número muito grande e
eles têm que encontrar espaço. E quem é responsável por essa inser-
ção? É a sociedade, perdendo seus preconceitos, é o empresário, em-
pregando e vendo um bom resultado, mas especialmente, sou eu, como
um exemplo.
E finaliza fazendo uma pergunta, a resposta na ponta da língua: Qual
o melhor presente que você pode dar para o segmento do deficiente?
Você. Porque você vem com acúmulo de informação e sairá mais rico,
porque você trouxe e você leva. É uma via de mão dupla. Você não
consegue só estabelecer o que você deseja. Você aprende, acaba sen-
do absorvido por coisas que você desconhece. Isso é a construção da
cidadania. Quanto mais gente vier para o movimento, mais gente vai
ser trabalhada e menos preconceito vai existir.
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documentário sobre sua vida e obra. Não é pouco para ele, que come-
çou a estudar piano aos 8 anos, idade em que ganhou seu primeiro
prêmio num concurso, apenas seis meses depois do início das aulas. O
primeiro prêmio internacional, João Carlos ganhou aos 18 anos, num
festival em Porto Rico, que o lançou no circuito mundial. Aos 20 anos,
conduzido pela primeira-dama Eleanor Roosevelt, estreou no Carnegie
Hall, em Nova York, palco onde, anos depois, artista consagrado, foi
aplaudido de pé por cinco minutos. Meus pais não eram músicos,
mas meu pai gostaria de ter sido pianista e não pôde, pois perdeu o
quinto dedo da mão direita aos 10 anos, num acidente de trabalho, em
Portugal. Se existe talento, vem de Deus, acredita.
O New York Times chama este talento de técnica que produz fogos
de artifício em todas as direções e pode-se mesmo ver os fogos saírem
das teclas quando toca, como nas cenas exibidas no premiado
documentário A Paixão Segundo Martins, da alemã Irene Langemann,
sobre sua vida e obra.
Acometido por uma grave atrofia nas mãos, João Carlos se despediu
do piano no final de 2003. A deficiência começou aos 25 anos, quando
ele jogava futebol durante o intervalo de uma turnê em Nova York com o
time da Lusa. Numa queda, teve uma séria lesão que poderia tê-lo afas-
tado definitivamente do piano. Na época, ficou sete anos sem tocar, um
drama que o fez acreditar ainda mais na sua força interior e que ajudou a
prepará-lo para enfrentar diversidades: Foi dramático, mas hoje a recor-
dação é de ter redobrado a minha força interior. Parar a minha carreira
por sete anos foi criar um vazio na alma, o que hoje me dá força para
correr atrás do tempo perdido, conta, e acrescenta: As dificuldades
foram psicológicas e físicas, estas vencidas à custa de muito estudo e
fisioterapia, as psicológicas à custa de muita fé e determinação.
João Carlos retomou a carreira e se consagrou. Sabe de cor 400 peças
de Bach, que foram gravadas em 21 discos, o único registro da obra
completa do compositor alemão em CD, totalizando 30 horas de música.
Gravou também os prelúdios de Bach e Chopin, entre outras obras. Des-
cobriu, há pouco tempo, uma peça inédita de Tchaikovski e mandou
analisar, em Moscou. Era original. Já está estudando para regê-la.
87
Viveu histórias dignas de um bom roteiro de cinema, como uma sema-
na inesquecível em 1961, em que tocou para o ditador cubano Fidel
Castro e o presidente americano John Kennedy. Primeiro, se apresentou
para Fidel e, em seguida, pegou o último avião que saiu de Havana para
Miami. Desembarcou em solo americano no dia 17 de abril, a data da
invasão da Baía dos Porcos, que resultou no rompimento de relações
diplomáticas entre os dois países. Quatro dias depois, apresentava-se na
inauguração do Festival Interamericano de Música, em Washington, pre-
sidido pela então primeira-dama Jacqueline Kennedy. Como o presidente
se atrasou para o concerto, Martins foi convidado a tocar um número
para o convidado de honra durante a recepção.
Em 1985, o pianista voltou a sofrer novo problema na mão direita: a
síndrome do esforço repetitivo, que trouxe muitas dores. Dez anos de-
pois, em Sofia, na Bulgária, reagiu a um assalto e foi atingido por uma
barra de ferro na cabeça. O assaltou ocasionou uma lesão cerebral e
comprometeu os movimentos da mão direita. O tratamento demorou
oito meses, no Jackson Memorial Hospital, em Miami, mas a recupera-
ção foi muito dolorosa: Mas nesta época eu não cometi o erro de me
afastar e fiquei um ano sem tocar, relembra. João Carlos foi submeti-
do a uma reprogramação do cérebro por um especialista, ficando ligado
a um computador, por eletrodos. Esse tratamento conseguiu reativar as
células, permitindo que tocasse. Entretanto, cada vez que falava tinha
espasmos com dores terríveis, o que o obrigava a ficar em silêncio
absoluto por dois dias, após um concerto. Em 1998 teve que seccionar
o nervo ulnar da mão direita, para que parassem as dores. Com essa
solução, veio a atrofia da mão direita. Para qualquer pessoa, este fato
poderia ser o fim, mas não para João Carlos Martins. Naquele momen-
to, começou sua carreira de pianista com uma mão apenas e conseguiu
gravar concertos de Ravel e Bach. Ele conta: Coloquei na minha cabe-
ça que a minha mão esquerda tinha que trabalhar por duas, e real-
mente ela fez isto à custa de muita determinação, mas depois do tu-
mor o sonhou acabou para o piano.
Seu último concerto foi no final de 2003, em São Paulo. Tocando o
hino nacional brasileiro com apenas dois dedos da mão esquerda e três
88
da direita, foi ovacionado ao receber a batuta do maestro Júlio Medaglia.
Ali, o pianista se tornou regente e passou a decorar a linha melódica de
cada instrumento da orquestra, livrando-se desde o início das partitu-
ras.
Com uma carreira como a do maestro, ultrapassar limites acontece a
cada instante e cada limite ultrapassado significa um sentimento dife-
rente: A maior emoção foi na hora que descobri que poderia ultra-
passar obstáculos quase intransponíveis, foi na hora que descobri que
alguns obstáculos que o destino me impôs são impossíveis e foi na
hora em que descobri a diferença entre as duas situações.
As mudanças impostas pela deficiência são encaradas como um reco-
meço, sempre em nome do amor pela música: Antes de tudo o impor-
tante é fazer música, e com amor você acaba sempre
encontrando a sua verdade. A técnica para reger é diferente, mas será
que a vida não merece um recomeço?!, ele questiona.
Quando perguntado sobre o que falta fazer, João Carlos, casado, pai
de quatro filhos e avô de três netos, brinca, devolvendo a pergunta: E
quem disse que eu já comecei????!!!
89
organizações de modo geral estão trazendo à tona a discussão do res-
peito à diversidade e a geração de oportunidades para portadores de
deficiência. Sem dúvida é um avanço que não tem volta e FURNAS
contribui para isso. A cada dia esta nova postura está mais e mais
visível na realidade das corporações brasileiras.
IBDD Quais são os principais desafios e dificuldades para uma empre-
sa abrir vagas para pessoas com deficiência?
JPRO No caso de FURNAS não houve dificuldades, pois em sua Polí-
tica de Cidadania Empresarial e Responsabilidade Social está definido o
compromisso com a valorização da diversidade através da inclusão das
pessoas portadoras de necessidade especiais em seu quadro de colabo-
radores e no desenvolvimento de projetos sociais.
IBDD Quais as soluções que FURNAS adotou para a acessibilidade
dos funcionários com deficiência e como foi a sensibilização dos de-
mais empregados para a convivência com eles?
JPRO FURNAS melhorou a infra-estrutura de acesso ao prédio, com a
construção de rampas e fez a adaptação das dependências internas,
facilitando o deslocamento interno do pessoal. Não houve nenhum pro-
cesso de sensibilização especial, uma vez que FURNAS já tinha inseri-
do, na sua cultura, sua experiência em contratação de portadores de
deficiência auditiva, há mais de 10 anos, mostrando que nada melhor
que a convivência do cotidiano profissional para o aprendizado do res-
peito às diferenças.
IBDD Há intenção de aumentar o número de vagas para pessoas com
deficiência?
JPRO Recentemente, FURNAS mais que triplicou o universo de vagas
para pessoas com deficiência, de 30 para 100, por meio de assinatura
de convênio para contratação de pessoal, expandindo as vagas não só
na sua sede, no Rio de Janeiro, como nos estados em que a empresa
atua. Além disso, em recente concurso público realizado pela empresa,
foram disponibilizadas 5% das vagas para portadores de deficiência.
Atualmente, a empresa conta com 48 pessoas em seu quadro, sendo
41 no Rio de Janeiro, 5 em São Paulo, 1 em Goiás e 1 no Paraná.
90
IBDD Quais os resultados, tanto em termos de lucro para a empresa
quanto em termos de lucro em forma de cidadania e inclusão, que o sr.
vê com essa experiência?
JPRO O lucro da empresa é resultado da competência profissional dos
nossos empregados e colaboradores, o que inclui todas as pessoas,
sejam elas portadoras de deficiência ou não. É inequívoco que a valori-
zação de diversidade, o respeito às diferenças e a geração de oportuni-
dades que este processo vem trazendo para as pessoas, gera inclusão
social e promove direitos do cidadão.
91
Com o objetivo de proporcionar à empresa noções básicas da legisla-
ção relacionada com o trabalho do deficiente, transcrevemos em segui-
da as normas referentes ao assunto, as principais leis, decretos e atos
legais sobre sua inserção profissional.
92
de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação
do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências.
Art. 1º Ficam estabelecidas normas gerais que asseguram o pleno
exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de
deficiências, e sua efetiva integração social, nos termos desta Lei.
Art. 2º Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas
portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos,
inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à
previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros
que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar
pessoal, social e econômico.
Parágrafo Único Para o fim estabelecido no caput deste artigo, os
órgãos e entidades da administração direta e indireta devem dispensar,
no âmbito de sua competência e finalidade, aos assuntos objetos esta
Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente a viabilizar, sem preju-
ízo de outras, as seguintes medidas:
III na área da formação profissional e do trabalho:
a) o apoio governamental à formação profissional, a orientação profis-
sional, e a garantia de acesso aos serviços concernentes, inclusive aos
cursos regulares voltados à formação profissional;
b) o empenho do Poder Público quanto ao surgimento e à manutenção
de empregos, inclusive de tempo parcial, destinados às pessoas portado-
ras de deficiência que não tenham acesso aos empregos comuns;
c) a promoção de ações eficazes que propiciem a inserção, nos setores
públicos e privado, de pessoas portadoras de deficiência;
d) a adoção de legislação específica que discipline a reserva de mercado
de trabalho, em favor das pessoas portadoras de deficiência, nas entida-
des da Administração Pública e do setor privado, e que regulamente a
organização de oficinas e congêneres integradas ao mercado de trabalho,
e a situação, nelas, das pessoas portadoras de deficiência.
Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro)
anos, e multa:
93
III Negar, sem justa causa, a alguém, por motivos derivados de sua
deficiência, emprego ou trabalho;
DECRETO Nº 3.298/99
Regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre
a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiên-
cia, consolida as normas de proteção, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe con-
fere o art. 84, incisos IV e VI, da Constituição, e tendo em vista o
disposto na Lei nº7.853, de 24 de outubro de 1989, DECRETA:
.........................................................
Seção III
Da Habilitação e da Reabilitação Profissional
Art. 30 A pessoa portadora de deficiência, beneficiária ou não do
Regime Geral de Previdência Social, tem direito às prestações de habi-
litação e reabilitação profissional para capacitar-se a obter trabalho,
conservá-lo e progredir profissionalmente.
Art. 31 Entende-se por habilitação e reabilitação profissional o pro-
cesso orientado a possibilitar que a pessoa portadora de deficiência, a
partir da identificação de suas potencialidades laborativas, adquira o
nível suficiente de desenvolvimento profissional para ingresso e rein-
gresso no mercado de trabalho e participar da vida comunitária.
Art. 32 Os serviços de habilitação e reabilitação profissional deve-
rão estar dotados dos recursos necessários para atender toda pessoa
portadora de deficiência, independentemente da origem de sua defici-
ência, desde que possa ser preparada para trabalho que lhe seja ade-
quado e tenha perspectivas de obter, conservar e nele progredir.
Art. 33 A orientação profissional será prestada pelos correspondentes
serviços de habilitação e reabilitação profissional, tendo em conta as
potencialidades da pessoa portadora de deficiência, identificadas com
base em relatório de equipe multiprofissional, que deverá considerar:
94
I educação escolar efetivamente recebida e por receber;
II expectativas de promoção social;
III possibilidades de emprego existentes em cada caso;
IV motivações, atitudes e preferências profissionais; e
V necessidades do mercado de trabalho.
Seção IV
Do Acesso ao Trabalho
Art. 34 É finalidade primordial da política de emprego a inserção da
pessoa portadora de deficiência no mercado de trabalho ou sua incor-
poração ao sistema produtivo mediante regime especial de trabalho
protegido,
Parágrafo Único Nos casos de deficiência grave ou severa, o cum-
primento do disposto no caput deste artigo poderá ser efetivado medi-
ante a contratação das cooperativas sociais de que trata a Lei no 9.867,
de 10 de novembro de 1999.
Art. 35 São modalidades de inserção laboral da pessoa portadora de
deficiência:
I colocação competitiva: processo de contratação regular, nos ter-
mos da legislação trabalhista e previdenciária, que independe da adoção
de procedimentos especiais para sua concretização, não sendo excluí-
da a possibilidade de utilização de apoios especiais;
II colocação seletiva: processo de contratação regular, nos termos
da legislação trabalhista e previdenciária, que depende da adoção de
procedimentos e apoios especiais para sua concretização; e
III promoção do trabalho por conta própria: processo de fomento da
ação de uma ou mais pessoas, mediante trabalho autônomo,
cooperativado ou em regime de economia familiar, com vista à emanci-
pação econômica e pessoal.
§1º As entidades beneficentes de assistência social, na forma da lei,
poderão intermediar a modalidade de inserção laboral de que tratam os
incisos II e III, nos seguintes casos:
95
I na contratação para prestação de serviços, por entidade pública ou
privada, da pessoa portadora de deficiência física, mental ou sensorial: e
II na comercialização de bens e serviços decorrentes de programas
de habilitação profissional de adolescente e adulto portador de deficiên-
cia em oficina protegida de produção ou terapêutica.
§ 2º Consideram-se procedimentos especiais os meios utilizados para
a contratação de pessoa que, devido ao seu grau de deficiência, transi-
tória ou permanente, exija condições especiais, tais como jornada vari-
ável, horário flexível, proporcionalidade de salário, ambiente de traba-
lho adequado às suas especificidades, entre outros.
§ 3º Consideram-se apoios especiais a orientação, a supervisão e as
ajudas técnicas entre outros elementos que auxiliem ou permitam com-
pensar uma ou mais limitações funcionais motoras, sensoriais ou men-
tais da pessoa portadora de deficiência, de modo a superar as barreiras
da mobilidade e da comunicação, possibilitando a plena utilização de
suas capacidades em condições de normalidade.
§ 4º Considera-se oficina protegida de produção a unidade que funci-
ona em relação de dependência com entidade pública ou beneficente de
assistência social, que tem por objetivo desenvolver programa de habi-
litação profissional para adolescente e adulto portador de deficiência,
provendo-o com trabalho remunerado, com vista à emancipação
econômica e pessoal relativa.
§ 5º Considera-se oficina protegida terapêutica a unidade que funcio-
na em relação de dependência com entidade pública ou beneficente de
assistência social, que tem por objetivo a integração social por meio de
atividades de adaptação e capacitação para o trabalho de adolescente e
adulto que devido ao seu grau de deficiência, transitória ou permanen-
te, não possa desempenhar atividade laboral no mercado competitivo
de trabalho ou em oficina protegida de produção.
§ 6º O período de adaptação e capacitação para o trabalho de adoles-
cente e adulto portador de deficiência em oficina protegida terapêutica
não caracteriza vínculo empregatício e está condicionado a processo
96
de avaliação individual que considere o desenvolvimento biopsicosocial
da pessoa.
§ 7º A prestação de serviços será feita mediante celebração de con-
vênio ou contrato formal, entre a entidade beneficente de assistência
social e o tomador de serviços, no qual constará a relação nominal dos
trabalhadores portadores de deficiência colocados à disposição do
tomador.
§ 8º A entidade que se utilizar do processo de colocação seletiva
deverá promover, em parceria com o tomador de serviços, programas
de prevenção de doenças profissionais e de redução da capacidade
laboral, bem assim programas de reabilitação caso ocorram patologias
ou se manifestem outras incapacidades.
Art. 36 A empresa com cem ou mais empregados está obrigada a
preencher de dois a cinco por cento de seus cargos com beneficiários
da Previdência Social reabilitados ou com pessoa portadora de deficiên-
cia habilitada, na seguinte proporção:
I até duzentos empregados, dois por cento;
II de duzentos e um a quinhentos empregados, três por cento;
III de quinhentos e um a mil empregados, quatro por cento; ou
IV mais de mil empregados, cinco por cento.
§ 1º A dispensa de empregado na condição estabelecida neste artigo,
quando se tratar de contrato por prazo determinado, superior a noventa
dias, e a dispensa imotivada, no contrato por prazo indeterminado, so-
mente poderá ocorrer após a contratação de substituto em condições
semelhantes.
§ 2º Considera-se pessoa portadora de deficiência habilitada aquela
que concluiu curso de educação profissional de nível básico, técnico ou
tecnológico, ou curso superior, com certificação ou diplomação expedida
por instituição pública ou privada, legalmente credenciada pelo Ministé-
rio da Educação ou órgão equivalente, ou aquela com certificado de
conclusão de processo de habilitação ou reabilitação profissional forne-
cido pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS.
97
§ 3º Considera-se, também, pessoa portadora de deficiência habilita-
da aquela que, não tendo se submetido a processo de habilitação ou
reabilitação, esteja capacitada para o exercício da função.
§ 4º A pessoa portadora de deficiência habilitada nos termos dos §§
2º e 3º deste artigo poderá recorrer à intermediação de órgão integrante
do sistema público de emprego, para fins de inclusão laboral na forma
deste artigo.
§ 5º Compete ao Ministério do Trabalho e Emprego estabelecer
sistemática de fiscalização, avaliação e controle das empresas, bem
como instituir procedimentos e formulários que propiciem estatísti-
cas sobre o número de empregados portadores de deficiência e de
vagas preenchidas, para fins de acompanhamento do disposto no
caput deste artigo.
Art. 37 Fica assegurado à pessoa portadora de deficiência o direito
de se inscrever em concurso público, em igualdade de condições com
os demais candidatos, para provimento de cargo cujas atribuições se-
jam compatíveis com a deficiência de que é portador.
§ 1º O candidato portador de deficiência, em razão da necessária igual-
dade de condições, concorrerá a todas as vagas, sendo reservado no
mínimo o percentual de cinco por cento em face da classificação obtida.
§ 2º Caso a aplicação do percentual de que trata o parágrafo anterior
resulte em número fracionado, este deverá ser elevado até o primeiro
número inteiro subseqüente.
Art. 38 Não se aplica o disposto no artigo anterior nos casos de
provimento de:
I cargo em comissão ou função de confiança, de livre nomeação e
exoneração; e
II cargo ou emprego público integrante de carreira que exija aptidão
plena do candidato.
Art. 39 Os editais de concursos públicos deverão conter:
I o número de vagas existentes, bem como o total correspondente
à reserva destinada à pessoa portadora de deficiência;
98
II as atribuições e tarefas essenciais dos cargos;
III previsão de adaptação das provas, do curso de formação e do
estágio probatório, conforme a deficiência do candidato; e
IV exigência de apresentação, pelo candidato portador de deficiên-
cia, no ato da inscrição, de laudo médico atestando a espécie e o grau
ou nível da deficiência, com expressa referência ao código correspon-
dente da Classificação Internacional de Doença CID, bem como a
provável causa da deficiência.
Art. 40 E vedado à autoridade competente obstar a inscrição de
pessoa portadora de deficiência em concurso público para ingresso em
carreira da Administração Pública Federal direta e indireta.
§ 1º No ato da inscrição, o candidato portador de deficiência que
necessite de tratamento diferenciado nos dias do concurso deverá
requerê-lo, no prazo determinado em edital, indicando as condições
diferenciadas de que necessita para a realização das provas.
§ 2º 0 candidato portador de deficiência que necessitar de tempo
adicional para realização das provas deverá requerê-lo, com justificativa
acompanhada de parecer emitido por especialista da área de sua defici-
ência, no prazo estabelecido no edital do concurso.
Art. 41 A pessoa portadora de deficiência, resguardadas as condi-
ções especiais previstas neste Decreto, participará de concurso em igual-
dade de condições com os demais candidatos no que concerne:
I ao conteúdo das provas;
II à avaliação e aos critérios de aprovação;
III ao horário e ao local de aplicação das provas; e
IV à nota mínima exigida para todos os demais candidatos.
Art. 42 A publicação do resultado final do concurso será feita em
duas listas, contendo, a primeira, a pontuação de todos os candidatos,
inclusive a dos portadores de deficiência, e a segunda, somente a pon-
tuação destes últimos.
Art. 43 O órgão responsável pela realização do concurso terá a assistên-
cia de equipe multiprofissional composta de três profissionais capacitados e
99
atuantes nas áreas das deficiências em questão, sendo um deles médico, e
três profissionais integrantes da carreira almejada pelo candidato.
§ 1º A equipe multiprofissional emitirá parecer observando:
I as informações prestadas pelo candidato no ato da inscrição;
II a natureza das atribuições e tarefas essenciais do cargo ou da
função a desempenhar;
III a viabilidade das condições de acessibilidade e as adequações do
ambiente de trabalho na execução das tarefas;
IV a possibilidade de uso, pelo candidato, de equipamentos ou ou-
tros meios que habitualmente utilize; e
V a CID e outros padrões reconhecidos nacional e internacionalmente.
§ 2º A equipe multiprofissional avaliará a compatibilidade entre as
atribuições do cargo e a deficiência do candidato durante o estágio
probatório.
Art. 44 A análise dos aspectos relativos ao potencial de trabalho do
candidato portador de deficiência obedecerá ao disposto no art. 20 da
Lei nº 8 112, de 11 de dezembro de 1990.
Art. 45 Serão implementados programas de formação e qualifica-
ção profissional voltados para a pessoa portadora de deficiência no
âmbito do Plano Nacional de Formação Profissional PLANFOR.
Parágrafo Único Os programas de formação e qualificação profis-
sional para pessoa portadora de deficiência terão como objetivos:
I criar condições que garantam a toda pessoa portadora de deficiên-
cia o direito a receber uma formação profissional adequada;
II organizar os meios de formação necessários para qualificar a pes-
soa portadora de deficiência para a inserção competitiva no mercado
laboral; e
III ampliar a formação e qualificação profissional sob a base de
educação geral para fomentar o desenvolvimento harmônico da pessoa
portadora de deficiência, assim como para satisfazer as exigências de-
rivadas do progresso técnico, dos novos métodos de produção e da
evolução social e econômica.
100
LEI Nº 8.112, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1990
Dispõe sobre o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União,
das autarquias e das fundações públicas federais.
..........................................................
Art. 5º São requisitos básicos para investidura em cargo público:
I a nacionalidade brasileira;
II o gozo dos direitos políticos;
III a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
IV o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo;
V a idade mínima de dezoito anos;
VI aptidão física e mental.
§ 1º As atribuições do cargo podem justificar a exigência de outros
requisitos estabelecidos em lei.
§ 2º Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de
se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atri-
buições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras;
para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas
oferecidas no concurso.
101
I 20% (vinte por cento) sobre o total das remunerações pagas ou credi-
tadas, a qualquer titulo, no decorrer do mês, aos segurados empregados,
empresários, trabalhadores avulsos e autônomos que lhe prestem serviços;
II para o financiamento da complementação das prestações por
acidente do trabalho, dos seguintes percentuais, incidentes sobre o
total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos
segurados empregados e trabalhadores avulsos.
..........................................................
§4º O Poder Executivo estabelecerá, na forma da lei, ouvido o Conse-
lho Nacional da Seguridade Social, mecanismos de estímulo às empre-
sas que se utilizem de empregados portadores de deficiência física,
sensorial e/ou mental, com desvio do padrão médio.
102
b) a reparação ou a substituição dos aparelhos mencionados no inciso
anterior, desgastados pelo uso normal ou por ocorrência estranha à
vontade do beneficiário;
c) o transporte do acidentado do trabalho, quando necessário.
Art. 90 A prestação de que trata o artigo anterior é devida em
caráter obrigatório aos segurados, inclusive aposentados e, na me-
dida das possibilidades do órgão da Previdência Social, aos seus de-
pendentes.
Art. 91 Será concedido, no caso de habilitação e reabilitação profis-
sional, auxílio para tratamento ou exame fora do domicílio do beneficiário,
conforme dispuser o Regulamento.
Art. 92 Concluído o processo de habilitação ou reabilitação social e
profissional, a Previdência Social emitirá certificado individual, indican-
do as atividades que poderão ser exercidas pelo beneficiário, nada im-
pedindo que este exerça outra atividade para a qual se capacitar.
Art. 93 A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obriga-
da a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus
cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiên-
cia, habilitadas, na seguinte proporção:
I até 200 empregados ................... 2%
II de 201 a 500 ............................ 3%
III de 501 a 1.000 ........................ 4%
IV de 1.001 em diante .................. 5%
§1º A dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao
final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e
a imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer
após a contratação de substituto de condição semelhante.
§2º O Ministério do Trabalho e da Previdência Social deverá gerar
estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por
reabilitados e deficientes habilitados, fornecendo-as, quando solici-
tadas, aos sindicatos ou entidades representativas dos empregados.
103
DECRETO 3048/99
Aprova o Regulamento da Previdência Social, e dá outras providências.
..........................................................
Capítulo V
Art 141 A empresa com cem ou mais empregados está obrigada a
preencher de dois por cento a cinco por cento de seus cargos com
beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habili-
tadas, na seguinte proporção:
I até duzentos empregados, dois por cento;
II de duzentos e um a quinhentos empregados, três por cento;
III de quinhentos e um a mil empregados, quatro por cento; ou
IV mais de mil empregados, cinco por cento.
§ 1º A dispensa de empregado na condição estabelecida neste artigo,
quando se tratar de contrato por tempo superior a noventa dias e a
imotivada, no contrato por prazo indeterminado, somente poderá ocor-
rer após a contratação de substituto em condições semelhantes.
§ 2º Cabe ao Ministério da Previdência e Assistência Social estabele-
cer sistemática de fiscalização, avaliação e controle das empresas, para
o fiel cumprimento do disposto neste artigo, gerando estatísticas sobre
o total de empregados e vagas preenchidas para acompanhamento por
parte das unidades de reabilitação profissional e dos sindicatos e enti-
dades representativas de categorias, quando solicitado.
104
Tendo tomado conhecimento das normas internacionais existentes e
contidas na Recomendação sobre a habilitação e reabilitação profis-
sionais dos deficientes, 1955, e na Recomendação sobre o desenvolvi-
mento dos recursos humanos, 1975;
Tomando conhecimento de que, desde a adoção da Recomendação
sobre a habilitação e reabilitação profissionais dos deficientes, 1955, foi
registrado um significativo progresso na compreensão das necessidades
da reabilitação, na extensão e organização dos serviços de reabilitação e
na legislação e no desempenho de muitos Países Membros em relação às
questões cobertas por essa recomendação;
Considerando que a Assembléia Geral das Nações Unidas proclamou
1981 o Ano Internacional das Pessoas Deficientes, com o tema Parti-
cipação plena e igualdade, e que um programa mundial de ação relati-
vo às pessoas deficientes permitiria a adoção de medidas eficazes a
nível nacional e internacional para atingir as metas da participação
plena das pessoas deficientes na vida social e no desenvolvimento,
assim como de igualdade;
Depois de haver decidido que esses progressos tornaram oportuna a
conveniência de adotar novas normas internacionais sobre o assunto,
que levem em consideração, em particular, a necessidade de assegurar,
tanto nas zonas rurais como nas urbanas, a igualdade de oportunidade
e tratamento a todas as categorias de pessoas deficientes no que se
refere a emprego e integração na comunidade;
Depois de haver determinado que estas proposições devam ter a for-
ma de uma Convenção, adota com a data de vinte de junho de mil
novecentos e oitenta e três, a presente Convenção sobre reabilitação e
emprego (pessoas deficientes), 1983.
PARTE I
Definições e campo de aplicação
Artigo 1
1. Para efeitos desta Convenção, entende-se por pessoa deficiente
todas as pessoas cujas possibilidades de obter e conservar um emprego
105
adequado e de progredir no mesmo fiquem substancialmente reduzidas
devido a uma deficiência de caráter físico ou mental devidamente com-
provada.
2. Para efeitos dessa Convenção, todo o País Membro deverá consi-
derar que a finalidade da reabilitação profissional é a de permitir que a
pessoa deficiente obtenha e conserve um emprego e progrida no mes-
mo, e que se promova, assim a integração ou a reintegração dessa
pessoa na sociedade.
3. Todo País Membro aplicará os dispositivos desta Convenção atra-
vés de medidas adequadas às condições nacionais e de acordo com a
experiência (costumes, uso e hábitos) nacional.
4. As proposições desta Convenção serão aplicáveis a todas as cate-
gorias de pessoas deficientes.
PARTE II
Princípios da política de reabilitação profissional e emprego para pes-
soas deficientes
Artigo 2
De acordo com as condições nacionais, experiências e possibilidades
nacionais, cada País Membro formulará, aplicará e periodicamente revi-
sará a política nacional sobre a reabilitação profissional e emprego de
pessoas deficientes.
Artigo 3
Essa política deverá ter por finalidade assegurar que existam medidas
adequadas de reabilitação profissional ao alcance de todas as categori-
as de pessoas deficientes e promover oportunidades de emprego para
as pessoas deficientes no mercado regular de trabalho.
Artigo 4
Essa política deverá ter como base o princípio de igualdade de oportu-
nidades entre os trabalhadores deficientes e dos trabalhadores em ge-
ral. Dever-se-á respeitar a igualdade de oportunidades e de tratamento
para as trabalhadoras deficientes. As medidas positivas especiais com
a finalidade de atingir a igualdade efetiva de oportunidades e de trata-
106
mento entre os trabalhadores deficientes e os demais trabalhadores,
não devem ser vistas como discriminatórias em relação a estes últimos.
Artigo 5
As organizações representativas de empregadores e de empregados
devem ser consultadas sobre a aplicação dessa política e em particular,
sobre as medidas que devem ser adotadas para promover a cooperação
e coordenação dos organismos públicos e particulares que participam
nas atividades de reabilitação profissional. As organizações representati-
vas de e para deficientes devem, também, ser consultadas.
PARTE III
Medidas a nível nacional para o desenvolvimento de serviços de reabi-
litação profissional e emprego para pessoas deficientes
Artigo 6
Todo o País Membro, mediante legislação nacional e por outros pro-
cedimentos, de conformidade com as condições e experiências nacio-
nais, deverá adotar as medidas necessárias para aplicar os Artigos 2, 3,
4 e 5 da presente Convenção.
Artigo 7
As autoridades competentes deverão adotar medidas para proporcio-
nar e avaliar os serviços de orientação e formação profissional, coloca-
ção, emprego e outros semelhantes, a fim de que as pessoas deficientes
possam obter e conservar um emprego e progredir no mesmo; sempre
que for possível e adequado, serão utilizados os serviços existentes para
os trabalhadores em geral, com as adaptações necessárias.
Artigo 8
Adotar-se-ão medidas para promover o estabelecimento e desenvolvi-
mento de serviços de reabilitação profissional e de emprego para pes-
soas deficientes na zona rural e nas comunidades distantes.
Artigo 9
Todo o País Membro deverá esforçar-se para assegurar a formação e
a disponibilidade de assessores em matéria de reabilitação e outro tipo
de pessoal qualificado que se ocupe da orientação profissional, da forma-
107
ção profissional, da colocação e do emprego de pessoas deficientes.
PARTE IV
Disposições finais
Artigo 10
As ratificações formais da presente Convenção serão comunicadas
para o devido registro, ao Diretor Geral do Escritório Internacional do
Trabalho.
Artigo 11
1. Esta convenção obrigará unicamente aqueles Países Membros da
Organização Internacional do Trabalho, cujas ratificações tenham sido
registradas pelo Diretor-Geral.
2. Entrará em vigor doze meses após a data em que as ratificações
de dois dos Países Membros tenham sido registradas pelo Diretor-
Geral.
3. A partir desse momento, esta Convenção entrará em vigor, para
cada País Membro, doze meses após a data em que tenha sido registrada
sua ratificação.
Artigo 12
1. Todo o País Membro que tenha ratificado esta Convenção poderá
suspender, por um período de dez anos, a partir da data em que tenha
sido posta inicialmente em vigor, mediante um comunicado ao Diretor-
Geral do Trabalho, para o devido registro. A suspensão somente pas-
sará a vigorar um ano após a data em que tenha sido registrada.
2. Todo País Membro que tenha ratificado esta Convenção e que, no
prazo de um ano após a expiração do período de dez anos mencionado
no parágrafo anterior, não tenha feito uso do direito de suspensão pre-
visto neste Artigo será obrigado, durante um novo período de dez anos,
e no ano seguinte poderá suspender esta Convenção na expiração de
cada período de dez anos, nas condições previstas neste Artigo.
Artigo 13
1. O Diretor-Geral da Organização Internacional do Trabalho notificará
todos os Países Membros da Organização Internacional do Trabalho, o
108
registro do número de ratificações, declarações e suspensões que lhe
forem comunicadas por aqueles.
2. Ao notificar os Países Membros da Organização, o registro da se-
gunda ratificação que lhe tenha sido comunicada, o Diretor-Geral cha-
mará a atenção dos Países Membros da Organização sobre a data em
que entrará em vigor a presente Convenção.
Artigo 14
O Diretor-Geral do Escritório Internacional do Trabalho comunicará ao
Secretário-Geral das Nações Unidas, os efeitos do registro e de acordo
com o Artigo 102 da Carta das Nações Unidas, uma informação comple-
ta sobre todas as ratificações, declarações e ofícios de suspensão que
tenha registrado de acordo com os Artigos anteriores.
Artigo 15
Cada vez que considere necessário, o Conselho Administrativo do
Escritório Internacional do Trabalho apresentará na Conferência um re-
latório sobre a aplicação da Convenção, e considerará a conveniência
de incluir na ordem do dia da Conferência a questão da sua revisão total
ou parcial.
Artigo 16
1. No caso da Conferência adotar uma nova Convenção que implique
uma revisão total ou parcial da presente, e a menos que uma nova
Convenção contenha dispositivos em contrário:
a) a ratificação, por um País Membro, de novo Convênio, implicará,
ipso jure, a notificação imediata deste Convênio, não obstante as dis-
posições contidas no Artigo 12, sempre que o novo Convênio tenha
entrado em vigor;
b) a partir da data em que entre em vigor o novo Convênio, o presente
Convênio cessará para as ratificações pelos Países Membros.
2. Este Convênio continuará em vigor, em todo caso, em sua forma e
conteúdo atuais, para os Países Membros, que o tenham ratificado e
não ratifiquem um Convênio revisado.
109
Artigo 17
As versões inglesa e francesa do texto deste Convênio são igualmen-
te autênticas.
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL
DOS DIREITOS DAS PESSOAS PORTADORES DE DEFICIÊNCIAS
Art. 338 É dever do Estado assegurar às pessoas portadoras de qualquer
deficiência a plena inserção na vida econômica e social e o total desenvol-
vimento de suas potencialidades, obedecendo os seguintes princípios:
I proibir a adoção de critérios diferentes para a admissão, a promo-
ção, a remuneração e a dispensa no serviço público estadual garantin-
do-se a adaptação de provas, na forma da lei;
110
Art. 4º Não serão reservados cargos ou empregos:
I Em comissão, de livre nomeação e exoneração;
II As carreiras que exigirem aptidão plena dos candidatos.
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, os critérios de pessoa deficiente
são constantes do Anexo Único desta Lei.
Art. 6º Os candidatos titulares do benefício desta Lei concorrerão
sempre à totalidade das vagas existentes, sendo vedado restringir-lhes
o concurso às vagas reservadas, concorrendo os demais candidatos às
vagas restantes.
Art. 7º Qualquer pessoa portadora de deficiência física poderá inscre-
ver-se em concurso público para ingresso nas carreiras da Administração
Pública Direta, Indireta e Fundacional do Estado, sendo vedado à autori-
dade competente obstar, sem prévia emissão do laudo de incompatibili-
dade por junta de especialistas, a inscrição destas pessoas.
Parágrafo Único (VETADO).
I (VETADO)
II (VETADO).
Art. 8º O candidato, no pedido de inscrição, declarará expressamente
a deficiência de que é portador, apresentando o seu histórico médico.
Parágrafo Único (VETADO)
Art. 9º O candidato deverá atender a todos os itens especificados
no respectivo edital do concurso a ser realizado.
Parágrafo Único Em cada concurso público, o respectivo edital deve-
rá prever a adaptação de provas, conforme a deficiência dos candidatos.
Art. 10 O candidato portador de deficiência, para que seja conside-
rado aprovado, deverá atingir, a mesma nota mínima estabelecida para
todos os candidatos.
Art. 11 Havendo vagas reservadas, sempre que for publicado algum
resultado, este o será em duas listas, contendo a primeira pontuação de
todos os candidatos inclusive a dos portadores de deficiência e a se-
gunda somente a pontuação deste últimos.
111
Art. 12 Não havendo qualquer portador de deficiência inscrito que
tenha logrado aprovação final no concurso a Administração poderá con-
vocar a ocupar os cargos os demais aprovados, obedecida a ordem de
classificação.
Rio de Janeiro, 28 de julho de 1994
NILO BATISTA
GOVERNADOR
112
o concurso às vagas reservadas, concorrendo os demais candidatos às
vagas restantes.
Art. 7º Qualquer pessoa portadora de deficiência física poderá inscre-
ver-se em concurso público para ingresso nas carreiras da Adminis-
tração Pública Direta, Indireta e Fundacional do Estado, sendo vedado à
autoridade competente obstar, sem prévia emissão do laudo de incom-
patibilidade por junta de especialistas, a inscrição destas pessoas.
Parágrafo Único (VETADO).
II (VETADO).
II (VETADO).
Art. 8º O candidato, no pedido de inscrição, declarará expres-
samente a deficiência de que é portador, apresentando o seu histórico
médico.
Parágrafo Único (VETADO).
Art. 9º 0 candidato deverá atender a todos os itens especificados
no respectivo edital do concurso a ser realizado.
Parágrafo Único Em cada concurso público, o respectivo edital deverá
prever a adaptação de provas, conforme a deficiência dos candidatos.
Art. 10 0 candidato portador de deficiência, para que seja conside-
rado aprovado, deverá atingir, a mesma nota mínima estabelecida para
todos os candidatos.
Art. 11 Havendo vagas reservadas, sempre que for publicado algum
resultado, este o será em duas listas, contendo a primeira pontuação de
todos os candidatos inclusive a dos portadores de deficiência e a se-
gunda somente a pontuação deste últimos.
Art. 12 Não havendo qualquer portador de deficiência inscrito que
tenha logrado aprovação final no concurso a Administração poderá con-
vocar a ocupar os cargos os demais aprovados, obedecida a ordem de
classificação.
Art. 3º A Lei nº 2.298 de 28 de julho de 1994 fica acrescida do
seguinte Anexo Único.
113
ANEXO ÚNICO
CRITÉRIO DE PESSOA DEFICIENTE
1 A que apresenta redução ou ausência de função física: tetraplegia,
paraplegia, hemiplegia, monoplegia, diplegia, membros com deformida-
de congênita ou adquirida não produzida por doenças crônicas elou
degenerativas.
- Não se enquadram no item 1 as deformidades estéticas ou as que
não produzam dificuldades para execução de funções.
2 A que apresenta ausência ou amputação de membro.
- Não se enquadram no item 2 os casos de ausência de um dedo por
mão e a ausência de uma falange por dedo, exceção feita ao hállux, os
casos de artelho, por pé e a ausência de uma falange por artelho, exceção
feita ao primeiro artelho por pé e a ausência de uma falange por artelho,
exceção feita ao primeiro artelho.
3 A que apresenta deficiência auditiva
4 A que apresenta deficiência visual classificada em:
4.1 Cegueira para aqueles que apresentam ausência total de visão
ou acuidade visual não excedente a um décimo pelos optótipos de
Snellen, no melhor olho, após correção ótica, ou aqueles cujo campo
visual seja menor ou igual a vinte por cento, no melhor olho, desde que
sem auxílio de aparelho que aumente este campo visual.
4.2 Ambliopia para aqueles que apresentam deficiência de acuidade
visual de forma irreversível, aqui enquadrados aqueles cuja visão se
situa entre um e três décimos pelos optótipos de Snellen, após correção
e no melhor olho.
5 A que apresenta paralisia cerebral.
Art. 4º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas
as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 1995.
MARCELLO ALENCAR
114
LEI ESTADUAL Nº 3156, DE 29 DE DEZEMBRO DE 1998
Autoriza o poder executivo a conceder prazo especial de pagamento
do ICMS às pessoas jurídicas que criem vagas em sua força de trabalho
para portadores de deficiência, nas condições que menciona, e dá ou-
tras providências.
O Governador do estado do Rio de Janeiro,
Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro
decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a conceder prazo especial
de pagamento de parcela do imposto sobre operações relativas à circu-
lação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transportes
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação ICMS, para pessoas
jurídicas com domicílio no Estado do Rio de Janeiro, que criem vagas
para trabalhadores portadores de deficiência, na proporção de ao me-
nos:
I 1% (um por cento) de sua força de trabalho, nas microempresas;
II 2% (dois por cento) de sua força de trabalho, nas médias e peque-
nas empresas;
III 3% (três por cento) de sua força de trabalho, nas demais empresas.
Art. 2º A parcela do Imposto sobre Operações Relativas à Circula-
ção de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transportes
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação ICMS de que trata o
caput do artigo 1º será de :
I 30% (trinta por cento) do imposto a recolher, no caso do inciso I;
II 20% (vinte por cento) do imposto a recolher, no caso do inciso II;
III 10% (dez por cento) do imposto a recolher, no caso do inciso III;
Art. 3º 0 benefício previsto no artigo 1º somente se aplica às pesso-
as jurídicas que, cumulativamente:
I estejam em dia com o ICMS;
II comprovem junto ao Poder Público Estadual estarem cumprindo
o disposto no artigo 1º.
115
Art. 4º O benefício previsto no artigo 1º extinguir-se-á concomitan-
temente com a extinção da relação de trabalho entre a pessoa jurídica e
o trabalhador portador de deficiência, sempre que o percentual previsto
nos incisos daquele artigo não esteja sendo atingido.
Art. 5º O prazo especial de que trata o artigo 1º é de 180 (cento e
oitenta) dias, contados do encerramento do respectivo período de apuração.
Art. 6º Esta Lei entrará em vigor na data da sua publicação, revogadas
as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 29 de dezembro de 1998.
MARCELLO ALENCAR
116
Art. 3º A responsabilidade legal do servidor por outra pessoa decor-
re de parentesco, adoção, tutela, curatela ou outra modalidade de rela-
cionamento prevista na legislação.
Art. 4º Compete aos Secretários de Estado e aos dirigentes superi-
ores das demais entidades estatais a que se refere esta Lei conceder a
redução de carga horária dos servidores seus subordinados.
Art. 5º O ato de redução da carga horária deverá ser renovado
periodicamente, não podendo sua validade estender-se por mais de 90
(noventa dias), nos casos de necessidade temporária, ou por mais de
01 (um ano), nos casos de necessidade permanente.
Art. 6º A redução de carga horária se extinguirá com a cessação do
motivo que a houver determinado, independentemente de qualquer ato
extintivo da Autoridade Pública.
Art. 7º O Poder Executivo providenciará para que as empresas públi-
cas e sociedades de economia mista estaduais insiram em seus regimen-
tos internos e regulamentos de pessoal as disposições desta Lei.
Art. 8º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas
as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 04 de abril de 2002.
ANTHONY GAROTINHO
Governador
117
de suas vagas de Operador de Câmara Escura para portadores de defi-
ciência visual.
* Art. 2º O Estado, através da Secretaria de Educação, deverá criar
curso de capacitação das pessoas portadoras de deficiência visual, com
a finalidade de preencher as vagas previstas no artigo anterior, bem
como deverá monitorar o aproveitamento das pessoas capacitadas pe-
los estabelecimentos, no território fluminense, que operam com Câma-
ra Escura de revelação de Raios X.
* Veto derrubado pela Alerj. Publicado no D.O. P.II, de 26/03/2004.
Art. 3º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas
as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 2003.
ROSINHA GAROTINHO
Governadora
118
Art. 3º As empresas interessadas em se credenciar ao selo Empre-
sa Inclusiva deverão requerê-lo à comissão avaliadora especificamente
criada para analisar as iniciativas, e à qual competirá deferir, ou não, a
participação da empresa.
Parágrafo Único A composição da comissão avaliadora referida no
caput será de exclusiva competência do Poder Executivo, sendo obri-
gatória a participação de membros do Conselho Estadual para a Política
de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência CEPDE.
Art. 4º O deferimento pela comissão avaliadora proporcionará à
empresa o direito ao uso publicitário do título Empresa Inclusiva,
chancela oficial que poderá ser utilizada nas veiculações publicitárias
que promova, bem como em seus produtos, sob a forma de selo im-
presso.
Art. 5º O prazo de participação e uso publicitário do selo Empresa
Inclusiva, na forma do disposto no art. 4º, será de dois anos, podendo
ser renovado por iguais períodos, sempre condicionado a outras inicia-
tivas que venham a ser adotadas pela empresa, ou, a critério da comis-
são avaliadora, à manutenção das iniciativas já em curso.
Art. 6º O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de ses-
senta (60) dias a contar de sua publicação, especialmente quanto à
composição da comissão avaliadora, bem como ao modelo do selo a
ser adotado.
Art. 7º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Rio de Janeiro, 30 de dezembro de 2003.
ROSINHA GAROTINHO
Governadora
119
O Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro,
Faço saber que a Câmara Municipal decreta e eu sanciono a se-
guinte lei:
Art. 1º Fica reservado às pessoas portadoras de deficiência o
percentual, no mínimo, de cinco a quinze por cento dos cargos e em-
pregos públicos de cada carreira existente nos quadros da Administra-
ção Direta, Indireta e Fundacional do Município.
Parágrafo Único Havendo possibilidade técnica de maior percentual
de vagas reservadas, fica à critério do Prefeito decidir e promover a
ampliação do percentual mencionado no caput.
Art. 2º Não serão reservados cargos ou empregos:
I em comissão, de livre nomeação e exoneração;
II às carreiras que exigirem aptidão plena dos candidatos.
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, os critérios de pessoa deficiente
são os constantes do Anexo Único desta Lei.
Art. 4º Os candidatos titulares dos benefícios desta Lei concorrerão
sempre à totalidade das vagas existentes, sendo vedado restringir-lhes
o concurso às vagas reservadas, concorrendo os demais candidatos às
vagas restantes.
Art. 5º Qualquer pessoa portadora de deficiência poderá inscrever-se
em concurso público para ingresso nas carreiras da Administração Pública
Direta, Indireta e Fundacional do Município, sendo expressamente vedado
à autoridade competente obstar, sem prévia emissão do laudo de incom-
patibilidade pela junta de especialistas, a inscrição de qualquer destas pes-
soas, sob as penas do inciso 11 do artigo 82 da Lei Federal nº 7.853, de
24 de outubro de 1989, além das sanções administrativas cabíveis.
Art. 6º O candidato, no pedido de inscrição, declarará expressamente
a deficiência de que é portador, apresentando o seu histórico médico,
respeitadas as disposições da Lei nº 645, de 5 de novembro de 1984.
Parágrafo Único O responsável pelas inscrições poderá, caso o can-
didato não declare a sua deficiência, informá-la e encaminhar o candi-
dato à junta de especialistas.
120
Art. 7º- O candidato deverá atender a todos os itens especificados no
respectivo edital do concurso a ser realizado.
Parágrafo Único Em cada concurso público, o respectivo edital deve-
rá prever a adaptação de provas, conforme a deficiência dos candidatos.
Art. 8º Os candidatos portadores de deficiência, para que sejam
considerados aprovados, deverão atingir a mesma nota mínima
estabelecida para todos os candidatos.
Art. 9º Havendo vagas reservadas, sempre que for publicado algum
resultado, este será em duas listas, contendo a primeira a pontuação de
todos os candidatos, inclusive a dos portadores de deficiência, e a se-
gunda somente a pontuação deste último.
Parágrafo Único O portador de deficiência, se aprovado, mas não
classificado nas vagas reservadas, estará, automaticamente, concor-
rendo às demais vagas existentes, observado o percentual definido no
art. 1º desta Lei.
Art. 10 Não havendo qualquer portador de deficiência inscrito que
tenha logrado aprovação final no concurso, a Administração poderá
convocar a ocupar os cargos os demais aprovados, obedecida a ordem
de classificação.
Art. 11 Fica mantida a vigência da lei nº 645, de 5 de novembro de
1984.
Art. 12 Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas
as disposições em contrário, em especial a Lei nº 2057, de 15 de no-
vembro de 1993.
Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 1994.
CESAR MAIA
121
O Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro,
Faço saber que a Câmara Municipal decreta e eu sanciono a se-
guinte lei:
Art. 1 º Nas licitações para contratação de prestação de serviços
que prevejam o fornecimento de mão-de-obra, os órgãos de entidades
da administração pública do Município imporão as empresas contrata-
das cláusula que assegure o mínimo de cinco por cento da totalidade
das vagas, com reserva nunca inferior a uma vaga, exclusivamente
para pessoas portadoras de deficiência, cuja deficiência não seja incom-
patível com o exercício das funções objeto dos contratos.
Parágrafo Único Havendo possibilidade técnica de maior percentual
de vagas reservadas fica a critério do Poder Executivo promover a am-
pliação do percentual mencionado no caput deste artigo.
Art. 2 º- Os ditames desta Lei serão obrigatoriamente observados
quando da renovação de contratos de prestação de serviços com forne-
cimento de mão-de-obra para a Administração Pública Municipal.
Art. 3 º As contratações de que cuida esta Lei serão supervisiona-
das, no que couber, pelo Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da
Pessoa Portadora de Deficiência.
Art. 4 º Para efeito exclusivo de aplicação desta Lei, o Poder Execu-
tivo fixará os critérios para a caracterização de pessoa deficiente.
Art. 5 º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revo-
gadas as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 18 de junho de 1999; 435° Ano da Fundação da
Cidade.
LUIZ PAULO FERNANDEZ CONDE
122
Recomendar que sejam levadas em consideração, na flexibilização do
horário de trabalho, as necessidades dos servidores responsáveis legais
por portadores de deficiências físicas, sensoriais ou mentais que requei-
ram atenção permanente ou tratamento educacional, fisioterápico ou
terapêutico ambulatorial em instituição especializada.
Ministério do Trabalho e da Previdência Social
Secretaria Nacional do Trabalho
123
bito de empresa que, para o mesmo fim, celebrar convênio com a enti-
dade assistencial.
Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação,
revogadas as disposições em contrário
JOÃO DE LIMA TEIXEIRA FILHO
124
Art. 2º O descumprimento ao disposto no caput do art. 1º ou seu §
3º constitui infração ao artigo 93 e seu § 1º da Lei nº 8.213, de 1991,
ficando o infrator sujeito à multa prevista no art. 133 da Lei nº 8.213,
de 1991, aplicada pela fiscalização do INSS, observado o disposto nos
arts 110 e 113 do Regulamento da Organização e Custeio da Seguridade
Social ROCSS.
Art 3º O INSS estabelecerá no prazo de trinta dias sistemática de
fiscalização, avaliação e controle das empresas, para o fiel cumprimen-
to do disposto nesta Portaria, gerando estatísticas sobre total de em-
pregados e vagas preenchidas para acompanhamento por parte das
unidades de reabilitação profissional e quando solicitado, por sindicatos
e entidades representativas de categorias.
Art 4º Esta portaria entra em vigor na data de sua publicação.
125
Discriminação, encarregados de coordenar ações de combate à discri-
minação em matéria de emprego e profissão.
Art. 2º Compete aos Núcleos:
I instituir programas educativos que garantam a aplicação das polí-
ticas de promoção da igualdade de oportunidades, em matéria de em-
prego e profissão;
II propor estratégias e ações que visem eliminar a discriminação e o
tratamento degradante e que protejam a dignidade da pessoa humana,
em matéria de trabalho;
III atuar como centro aglutinador do relacionamento das diversas
organizações públicas e privadas que têm como objetivo o combate à
discriminação, na busca da convergência de esforços para a eficácia e
efetividade social de suas ações;
IV celebrar parcerias com organizações empresariais, sindicais e
não governamentais, objetivando sistematização do fluxo de informa-
ções relativas às vagas disponibilizadas e preenchidas por segmentos
da população mais vulneráveis à discriminação;
V manter cadastro, através de banco de dados, da oferta e deman-
da de emprego para portadores de deficiência, com vistas ao atendi-
mento da cota legal nas empresas; e
VI acolher denúncias de práticas discriminatórias no trabalho, bus-
cando solucioná-las de acordo com os dispositivos legais e, quando for
o caso, encaminhá-las ao Ministério Público do Trabalho.
Art. 3º A designação dos membros que comporão os Núcleos de
que trata esta Portaria compete ao titular da respectiva Delegacia Regi-
onal do Trabalho.
Art. 4º Esta Portaria entra em vigor na data da sua publicação.
PAULO JOBIM FILHO
126
RESOLUÇÃO N° 630, de 20 DE OUTUBRO DE 1998
ASSUNTO: Dispõe sobre ações a serem desenvolvidas, para garantir
a reserva de vagas pelas empresas, destinadas a beneficiário reabilitado
ou pessoa portadora de deficiência habilitada.
FUNDAMENTO LEGAL:
Leis: 8.212 e 8.213, de 24.07.91 e suas alterações;
Decretos n° 2.172 e 2.173, de 05.03.97;
Decreto n° 914, de 06.09.93;
Portaria MPAS n° 4.677, de 29.07.98
O PRESIDENTE DO INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL
INSS, no uso da atribuição que lhe confere o inciso V, artigo 163 do
Regimento Interno, aprovado pela Portaria MPS n° 458, de 24 de se-
tembro de 1992.
Considerando a competência das diretorias de Arrecadação e Fisca-
lização e do Seguro Social; e
Considerando a necessidade de organizar e padronizar as ações para
garantir a reserva de vagas para beneficiário reabilitado ou pessoa
portadora de deficiência habilitada, resolve:
1 Determinar aos Diretores de Arrecadação e Fiscalização e do Se-
guro Social que estabeleçam sistemática de fiscalização, avaliação e
controle das empresas para assegurar o preenchimento das vagas re-
servadas a beneficiário reabilitado ou pessoa portadora de deficiência
habilitada, nos seguintes percentuais:
100 a 200 empregados ........................... 2%
de 201 a 500 empregados ...................... 3%
de 501 a 1000 empregados..................... 4%
mais de 1.000 empregados ..................... 5%
1.1 A proporção de vagas exclui o segurado acidentado do traba-
lho, tendo em vista estabelecido no artigo 118 da Lei n° 8.213/91.
1.2 O disposto neste ato não se aplica aos órgãos públicos da
União, Estados, Distrito Federal e Municípios, uma vez que o percen-
tual de pessoas portadoras de deficiência que poderão participar de
127
concurso público, observada a Constituição Federal, é matéria a ser
tratada em legislação própria.
1.3 A dispensa de empregado na condição estabelecida no caput.
ao final de contrato por prazo determinado de mais de noventa dias e a
imotivada, no contrato por prazo indeterminado, somente poderá ocor-
rer após a contratação de substituto em condição semelhante.
1.4 Caberá a Fiscalização aplicar as penalidades previstas na legis-
lação previdenciária pelo descumprimento do disposto no artigo 93 e
seu parágrafo primeiro da Lei n° 8.213/91.
1.5 Após lavrado o auto de Infração Al e não tendo a empresa
cumprido a obrigação no prazo determinado, a Fiscalização deverá for-
malizar processo que será encaminhado ao Seguro Social para remessa
ao Ministério Público do Trabalho, para as providências cabíveis.
2 Considerar como beneficiário reabilitado, o segurado e o depen-
dente vinculados ao Regime Geral de Previdência Social RGPS, sub-
metidos a processo de reabilitação profissional desenvolvido ou homo-
logado pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS.
3 Considerar como pessoa portadora de deficiência habilitada, aquela
não vinculada ao RGPS, que se tenha submetido a processo de habilita-
ção profissional desenvolvido ou homologado pelo INSS.
4 Determinar que sejam definidos os instrumentos necessários à
efetividade das ações pertinentes, inclusive produção de dados estatís-
ticos sobre o total de empregados e vagas preenchidas, para acompa-
nhamento por parte das unidades de reabilitação profissional e, quando
solicitado, por sindicatos e entidades representativas de categorias.
5 Essa Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
CRÉSIO DE MATOS ROLIM
128
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere
o art. 84, inciso IV, da Constituição e
Considerando que a Convenção nº 159, da Organização Internacional
do Trabalho OIT, sobre Reabilitação Profissional e Emprego de Pesso-
as Deficientes foi concluída em Genebra, a 1º de junho de 1983;
Considerando que o Congresso Nacional aprovou a Convenção, por
meio do Decreto Legislativo nº 51, de 25 de agosto de 1989;
Considerando que a Carta de Ratificação da Convenção, ora promul-
gada, foi depositada em 18 de maio de 1990; e
Considerando que a Convenção nº 159 sobre Reabilitação Profissio-
nal e Emprego de Pessoas Deficientes entrará em vigor para o Brasil,
em 18 de maio de 1991, na forma de seu artigo 11, parágrafo 3,
DECRETA:
129
Considerando a institucionalização do Programa Nacional dos Direitos
Humanos PNDH que prevê a adoção de medidas compensatórias
especiais que acelerem o processo de construção da igualdade, sem
qualquer discriminação;
Considerando a Lei 7.853/89 que dispõe sobre o apoio às pessoas
portadoras de deficiência, sua integração social e sobre a Coordenadoria
Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência;
Considerando o Decreto 3.298/99 que regulamenta a Lei 7.853/89 e
dispõe sobre a Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência e consolida as normas de proteção, resolve o seguinte:
Art. 1º Instituir o Programa de Valorização Profissional da Pessoa
Portadora de Deficiência no âmbito da Secretaria Especial dos Direitos
Humanos.
Art.2º O Programa de Valorização Profissional da Pessoa Portadora
de Deficiência, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, será cons-
tituído pelas seguintes medidas de caráter executivo, administrativo e
político:
I Preenchimento de cargos de direção e assessoramento superior
DAS, com a quota mínima de 5% para pessoas portadoras de defi-
ciência;
II Criação de um Banco de Talentos, no âmbito do Sistema Nacional
de Informações sobre Deficiência, estabelecido no art.55 do Decreto
3.298/99;
III Fomento ao estabelecimento de parcerias com outros órgãos
públicos para a implementação de ações de qualificação e requalificação
técnica, objetivando o aprimoramento do servidor público que seja por-
tador de deficiência;
IV Estabelecimento de estratégicas e programas, em parceria
com outros órgãos públicos e privados, a fim de contribuir para a in-
serção qualificada da pessoa portadora de deficiência no mercado de
trabalho;
130
V Promoção de campanhas públicas dirigidas à sociedade e, espe-
cificamente, às instituições do mercado de trabalho, a fim de demons-
trar a importância e as condições de empregabilidade das pessoas por-
tadoras de deficiência.
Art.3º O Banco de Talentos, mencionado no inciso II do art.2º, terá
a finalidade de disponibilizar informações e dados sobre o perfil profis-
sional de pessoas portadoras de deficiência que estejam a procura de
emprego e trabalho, assim como informações e dados referentes à quan-
tidade e características das vagas disponíveis para essas pessoas em
órgãos públicos, empresas privadas, sociedade de economia mista e
em organismos internacionais.
§1º O cadastro no Banco de Talentos será gratuito e efetuado pela
própria pessoa interessada, bem como pelo órgão público ou privado
com interesse em informar a disponibilidade das vagas para pessoas
portadoras de deficiência e, será efetuado, na internet, em sítio aces-
sível, por meio de preenchimento de formulário específico.
§2º A Secretaria Especial dos Direitos Humanos dará ampla divulga-
ção da existência e objetivos do Banco de Talentos.
§3º Serão estabelecidas formas para o monitoramento e avaliação
permanente do Banco de Talentos prevendo a participação do profis-
sional e do empregador.
§4º Para o cumprimento dos objetivos do Banco de Talentos, a Secre-
taria Especial dos Direitos Humanos poderá estabelecer parcerias e con-
vênios com entidades públicas e privadas, e organismos internacionais.
Art.4º Na implementação do Programa de Valorização Profissional
da Pessoa Portadora de Deficiência, a atuação da Secretaria Especial
dos Direitos Humanos estará em consonância com os dispositivos cons-
tantes no Repertório de Recomendações Práticas da Organização Inter-
nacional do Trabalho, no que se refere à gestão das questões relativas
à deficiência no local de trabalho.
131
Art.5º A Coordenação do Programa de Valorização Profissional da
Pessoa Portadora de Deficiência da Secretaria Especial dos Direitos
Humanos ficará a cargo da Coordenadoria Nacional para a Integração
da Pessoa Portadora de Deficiência.
Art.6º Fica constituída a Comissão de Avaliação e Acompanhamen-
to do Programa de Valorização Profissional da Pessoa Portadora de
Deficiência, assim composta:
..............................................
Parágrafo Único A Comissão tem por finalidade implantar,
implementar, apoiar, supervisionar e avaliar o Programa de Valorização
Profissional da Pessoa Portadora de Deficiência.
Art.7º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
NILMÁRIO MIRANDA
Secretário Especial dos Direitos Humanos
132
RESOLVE:
Art. 1º O trabalho da pessoa portadora de deficiência não caracte-
rizará relação de emprego com o tomador de serviços, se atendidos os
seguintes requisitos:
I realizar-se com a intermediação de entidade sem fins lucrativos, de
natureza filantrópica e de comprovada idoneidade, que tenha por objetivo
assistir ao portador de deficiência;
II a entidade assistencial intermediadora comprovar a regular
contratação dos portadores de deficiência nos moldes da Consolidação
das Leis do Trabalho;
III o trabalho destinar-se a fins terapêuticos, desenvolvimento da
capacidade laborativa reduzida devido a deficiência, ou inserção da pes-
soa portadora de deficiência no mercado de trabalho.
IV igualdade de condições com os demais trabalhadores, quando os
portadores de deficiência estiverem inseridos no processo produtivo da
empresa.
§ 1º O trabalho referido neste artigo poderá ser realizado na própria
entidade que prestar assistência ao deficiente ou âmbito da empresa que
para o mesmo fim celebrar convênio ou contrato com a entidade assistencial.
§ 2º O período de treinamento visando a capacitação e inserção do
portador de deficiência no mercado de trabalho não caracterizará víncu-
lo empregatício com o tomador ou com a entidade sem fins lucrativos,
de natureza filantrópica, se inferior a seis meses.
Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
FRANCISCO DORNELES
133
A SECRETÁRIA DE INSPEÇÃO DO TRABALHO, no uso de suas atri-
buições e tendo em vista o disposto no art. 2º, inciso III, da Lei N°
7.853, de 24 de outubro de 1989, disciplinado pelo art. 93 da Lei N°
8.213, de 24 de julho de 1991 e no art. 36, § 5º, do Decreto N°
3.298, de 20 de dezembro de 1999;
Considerando o disposto na Convenção 159 da Organização Interna-
cional do Trabalho OIT, sobre a reabilitação profissional e emprego de
pessoas portadoras de deficiência; e
Considerando, ainda, a necessidade de orientar os Auditores-Fiscais
do Trabalho no exercício da atividade de fiscalização do trabalho de
pessoas portadoras de deficiência, resolve:
Baixar a presente Instrução Normativa sobre procedimentos a serem
observados pela Fiscalização do Trabalho no cumprimento da legisla-
ção relativa ao trabalho das pessoas portadoras de deficiência.
Art. 1° O Auditor-Fiscal do Trabalho AFT observará a relação de
trabalho da pessoa portadora de deficiência, de modo a identificar a
existência de vínculo empregatício.
Art. 2º Caracteriza relação de emprego a inserção no mercado de
trabalho da pessoa portadora de deficiência, sob as modalidades de
colocação competitiva e seletiva.
Art. 3º Colocação competitiva é a contratação efetivada nos termos
da legislação trabalhista e previdenciária que não exige a adoção de
procedimentos especiais para a sua concretização, ressalvada a utiliza-
ção de apoios especiais.
Art. 4º Colocação seletiva é a contratação efetivada nos termos da
legislação trabalhista e previdenciária, que em razão da deficiência, exi-
ge a adoção de procedimentos e apoios especiais para sua concretização.
Art. 5º Consideram-se procedimentos especiais os meios utilizados
para viabilizar a contratação e o exercício da atividade laboral da pessoa
portadora de deficiência, tais como: jornada variável, horário flexível,
proporcionalidade de salário, adequação das condições e do ambiente
de trabalho e outros.
134
Art. 6º Consideram-se apoios especiais a orientação, a supervisão e
as ajudas técnicas, entre outros elementos que auxiliem ou permitam
compensar uma ou mais limitações funcionais motoras, sensoriais ou
mentais da pessoa portadora de deficiência, de modo a superar as suas
limitações.
Art. 7º Não constitui relação de emprego o trabalho da pessoa
portadora de deficiência realizado em oficina protegida de produção,
desde que ausentes os elementos configuradores da relação de empre-
go, ou em oficina protegida terapêutica.
Art. 8º Considera-se oficina protegida de produção a unidade que
observar as seguintes condições:
I que suas atividades laborais sejam desenvolvidas mediante as-
sistência de entidades públicas e beneficentes de assistência social;
II que tenha por objetivo o desenvolvimento de programa de habili-
tação profissional, com currículos, etapas e diplomação, especificando
o período de duração e suas respectivas fases de aprendizagem, depen-
dentes de avaliações individuais realizadas por equipe multidisciplinar
de saúde;
III que as pessoas portadoras de deficiência participantes destas
oficinas não integrem o quantitativo dos cargos previsto no art. 10
desta Instrução; e
IV que o trabalho nelas desenvolvido seja obrigatoriamente remunerado.
Art. 9º Considera-se oficina protegida terapêutica a unidade assisti-
da por entidade pública ou beneficente de assistência social e que te-
nha por objetivo a integração social, mediante atividades de adaptação
e capacitação para o trabalho.
Art. 10° O AFT verificará, mediante fiscalização direta ou indireta, se a
empresa com cem ou mais empregados preenche o percentual de 2 a 5 por
cento de seus cargos com beneficiários reabilitados da Previdência Social ou
com pessoa portadora de deficiência habilitada, na seguinte proporção:
I até duzentos empregados, dois por cento;
II de duzentos e um a quinhentos empregados, três por cento;
135
III de quinhentos e um a mil empregados, quatro por cento; ou
IV mais de mil empregados, cinco por cento.
§ 1º Para efeito de aferição dos percentuais dispostos neste artigo,
será considerado o número de empregados da totalidade dos estabele-
cimentos da empresa.
§ 2º Os trabalhadores a que se refere o caput poderão estar distribu-
ídos nos diversos estabelecimentos da empresa ou centralizados em
um deles.
§ 3º Cabe ao AFT verificar se a dispensa de empregado, na condição
estabelecida neste artigo, foi suprida mediante a contratação de outra
pessoa portadora de deficiência, nos termos do art. 36, § 1º do Decreto
nº 3.298, de 1999.
Art. 11° Entende-se por habilitação e reabilitação profissional o
conjunto de ações utilizadas para possibilitar que a pessoa portadora de
deficiência adquira nível suficiente de desenvolvimento profissional para
ingresso ou reingresso no mercado de trabalho.
Art. 12° Considera-se, também, pessoa portadora de deficiência
habilitada aquela que esteja capacitada para o exercício da função mes-
mo não tendo se submetido a processo de habilitação ou reabilitação.
Art. 13° Quando não ocorrer, na ação fiscal, a regularização da
empresa quanto ao disposto no art. 10 desta Instrução Normativa, o
AFT poderá utilizar-se do procedimento especial previsto na IN nº 13 de
06.06.99, e se necessário, solicitar o apoio do Núcleo de Promoção da
Igualdade de Oportunidades e Combate à Discriminação.
Art. 14° Em caso de instauração de procedimento especial, o Ter-
mo de Compromisso que vier a ser firmado deverá conter o cronograma
de preenchimento das vagas das pessoas portadoras de deficiência ou
beneficiários reabilitados de forma gradativa constando, inclusive, a
obrigatoriedade da adequação das condições dos ambientes de traba-
lho, na conformidade do previsto nas Normas Regulamentadoras, insti-
tuídas pela Portaria Nº 3.214/78.
136
Art. 15° O não cumprimento do Termo de Compromisso implicará na
adoção das medidas cabíveis, nos termos da IN nº 13 de 06.06.99, com
posterior encaminhamento de relatório circunstanciado ao Delegado Re-
gional do Trabalho para remessa ao Ministério Público do Trabalho.
Art. 16° Esta Instrução Normativa entrará em vigor na data de sua
publicação.
VERA OLÍMPIA GONÇALVES
137
Com a intenção de mostrar ao empresariado opções simples de adap-
tação do ambiente de trabalho para o deficiente físico, sugerimos em
seguida medidas básicas para tornar acessíveis algumas instalações
freqüentemente utilizadas. Informações completas sobre normas técni-
cas para acessibilidade e/ou adequação das edificações e do mobiliário
urbano para a pessoa deficiente podem ser adquiridas na Associação
Brasileira de Normas Técnicas.
138
Símbolo internacional de acesso
O Símbolo Internacional de Acesso, aqui reproduzido, deve anunciar
um local acessível para o deficiente.
139
Figura 2 referenciais para atividades que não exijam o uso de força
ou o uso de coordenação motora fina.
140
Acesso e circulação
Superfície áreas de circulação com superfície regular, firme, estável
e antiderrapante, sob qualquer condição climática, admitindo-se incli-
nação transversal da superfície de até 2%.
Diferenciação na área de circulação, recomenda-se a utilização de
faixas de piso com textura e cor diferenciadas, para facilitar a iden-
tificação do percurso pelas pessoas portadoras de deficiência sensorial
visual.¹
Juntas de dilatação e grelhas embutidas no piso, transversal à direção
do movimento, de preferência fora do fluxo principal de circulação. ²
Carpetes embutidos no piso e nivelados de maneira que a sobrelevação
não exceda 1,5cm, forrações com bordas firmemente fixadas ao piso e
aplicadas evitando eventual enrugamento de sua superfície.
Dimensões devem assegurar faixa de circulação livre de barreiras
ou obstáculos, de modo a permitir:
1. Deslocamento em linha reta larguras mínimas necessárias:
0,80m para circulação de uma cadeira de rodas, pelas portas e
obstáculos fixos;
1,20m para circulação simultânea de uma pessoa e uma cadeira
de rodas (figura 3);
1,50m para circulação simultânea de duas cadeiras de rodas.
141
2. Manobra de rotação sem deslocamento áreas mínimas neces-
sárias:
1,20m por 1,20m para rotação de 90º (figura 4);
1,50m por 1,20m para rotação de 180º (figura 5);
um círculo de 1,50m de diâmetro para rotação de 360º (figura 6).
142
4. Descanso recomendada a existência de área de descanso fora do
fluxo de circulação a cada 60m para piso com até 3% de inclinação ou a
cada 30m para piso com 3 a 5% de inclinação. Inclinações superiores a
5% consideram-se rampas (sujeitas às disposições específicas). Essas
áreas devem ser dimensionadas de modo a permitir a manobra de cadei-
ras de rodas, dispondo, se possível, de bancos e encostos.
5. Inclinação dentro dos limites estabelecidos na Tabela 2 e figura 9,
143
com inclinação transversal de no máximo 2%. Largura mínima admissível
de 1,20m, sendo recomendável 1,50m.
a) Rampas curvas com inclinação máxima de 8,33% e raio mínimo de
3m, medidos no perímetro interno à curva (figura 10).
144
6 Guias de balizamento previstas bordas laterais, em forma de
ressalto e altura mínima de 5cm, para orientação e proteção dos porta-
dores de deficiência.
7 Portas
Vão livre de no mínimo 0,80m (inclusive de elevadores); ausência de
esforço superior a 35,61N para puxá-la ou empurrá-la, abertura em um
único movimento, maçanetas tipo alavanca; revestimento resistente a
impactos provocados por bengalas, muletas e cadeira de rodas (de sua
parte inferior até uma altura mínima de 0,40m).
Características específicas:
a) Portas de sanitários barra horizontal
b) Portas junto ao patamar previsão de vestíbulo com 1,50m de
largura mínima por 1,20m de comprimento, além da área de abertura
c)Porta do elevador área fronteira com a menor das dimensões equi-
valentes a 1,50m, além da área de abertura.
d) Portas em áreas confinadas/em meio à circulação espaço mínimo
de 0,60m, contíguo ao vão de abertura.
e) Portas de correr trilhos/guias inferiores que não se projetem da
superfície do piso.
Salas e banheiros
Salas
Espaço e circulação uma sala confortável para pessoas em cadeiras
de rodas deve permitir a rotação completa (360°) desse equipamento,
dispondo, para esse fim, de um círculo com 1,50m de diâmetro.
Controles, comandos e puxadores todos os comandos dos apare-
lhos devem estar dentro da altura de acessibilidade do portador de de-
ficiência (tabela 1, página 136).
Poltronas, cadeiras e bancos devem ser providos de encosto e ter
uma altura um pouco menor que a do assento da cadeira de rodas,
145
cerca de 0,46m de altura do piso, preferencialmente com espaço livre
ou reentrância na sua parte inferior.
Armários com a parte inferior instalada a 0,30m do piso, deixando
o espaço abaixo livre de qualquer saliência ou obstáculo, a fim de per-
mitir aproximação frontal. Altura máxima para a utilização do armário
de 1,20m a partir do piso (figura 30). Puxadores e fechaduras na faixa
de conforto de 0,80m a 1,00m de altura do solo.
Banheiros
Áreas sociais devem situar-se em locais acessíveis, próximos à cir-
culação principal, devidamente sinalizados, com no mínimo 5% do total
de cada peça adequado ao uso de portador de deficiência ou, em caso
de sanitários menores, com uma unidade de cada peça adequada a esse
fim.
Área de transferência e aproximação permitem utilização da peça
sanitária, pelo portador de deficiência, mediante transposição da pes-
soa para a peça ou a chegada junta à mesma. Dimensões de 1,10m por
0,80m, situadas frontal ou lateralmente à peça.
Mictório: aproximação frontal (figura 12).
146
lateral da bacia. Barra lateral posicionada de modo a avançar 0,50m da
extremidade frontal da barra (figura 13).
147
Chuveiro e ducha: transferência lateral ao banco (figura 16).
148
máxima de 1,00m, na parede lateral do banco. Boxe com barra horizon-
tal e vertical, esta localizada na parede do encosto do banco, com
0,80m de comprimento e a 0,90m de altura do piso. Barra em L fixada
na parede lateral do banco, com altura de 0,90m para o segmento
horizontal. Segmentos de 0,80m e a distância entre as faces externas
das barras 0,70m.
Lavatório: aproximação frontal: suspenso, sem coluna ou gabinete de
sustentação, fixado a 0,80m do piso, altura livre 0,70m. Sifão e tubu-
lação situados a 0,25m da face externa frontal, com dispositivo de
proteção. Comando da torneira a 0,50m no máximo da face externa
frontal do lavatório (figura 19). Torneiras tipo monocomando, acionadas
149
Acessórios sanitários (figura 20)
150
Vagas devem ter além das dimensões mínimas fixadas pela Legis-
lação Nacional de Trânsito e pelas Legislações Estadual e Municipal, um
espaço adicional de circulação com 1,20m de largura mínima, quando
afastada da faixa de travessia de pedestres.
151
rampas nos passeios ou quaisquer outros meios de acessibilidade. Ram-
pas construídas, sempre que possível, na direção do fluxo de pedes-
tres. Bordas afuniladas, eliminando-se mudanças abruptas de nível de
superfície da rampa em relação ao passeio. Rampas livres de mobiliário,
barreiras e obstáculos e alinhadas entre si.
152
Plantas cujas raízes possam danificar o pavimento;
Plantas que possam causar prejuízos ao movimento das cadeiras de
rodas ou aos elementos de drenagem tornando o piso escorregadio;
Plantas com ramos pendentes, de forma a garantir altura livre mínima
nas áreas de circulação com 2m a partir do piso.
153
Notas sobre o relacionamento com o deficiente
Com o objetivo de fornecer à empresa o conhecimento necessário
para o desenvolvimento de adequada atitude com as características
das diferentes deficiências, desmistificando barreiras e estabelecendo
uma comunicação antes dificultada pelo preconceito, indicamos a se-
guir noções gerais sobre algumas especificidades desse relacionamento.
É interessante salientar que a maior das regras é romper com o pre-
conceito, usando a espontaneidade para essa comunicação: havendo
interesse e respeito ela acontece sem maiores dificuldades.
O constrangimento inicial existe sempre que nos defrontamos com a
situação nova de estar com um deficiente. Convém lembrar que a defi-
ciência é natural para ele e que ver, ouvir, falar, correr fazem parte da
história da vida, não são questões proibidas. A dificuldade de relaciona-
mento não deve ser transformada nem em proteção nem no preconcei-
to de tratá-lo como incapaz.
154
Acredite sempre no potencial do deficiente, dando a ele a oportunida-
de de se realizar, de acertar, de errar, de tentar, de decidir. Nunca o
subestime ou superproteja: o deficiente deseja sempre ser igual, ter
uma vida normal.
Deficiência Auditiva
1. Ao precisar falar com uma pessoa surda, chame sua atenção sina-
lizando sua intenção.
2. Fale pausada e claramente, de frente para o surdo, que fará a
leitura labial de suas palavras.
3. Evite objeto ou gestos na frente dos lábios, procurando dar boa
visibilidade à sua fala.
4. Seja expressivo em seus sentimentos, pois o surdo não perceberá
as mudanças na entonação da sua voz.
5. Quando não entender o que uma pessoa surda falou, peça para
repetir ou escrever, insista até conseguir resultado.
Deficiência Física:
1. Pergunte se o deficiente precisa de ajuda, como e quando a deseja.
Lembre-se de que cada tipo de deficiência física requer uma maneira
diferente de cooperação.
2. Converse com o deficiente sem constrangimento, não receie tocar
em questões relacionadas com sua deficiência, elas fazem parte de seu
quotidiano.
3. Não esqueça que a cadeira de rodas é parte da vida do deficiente
que a utiliza.
4. Ao ajudar na transferência de um deficiente em cadeira de rodas,
siga exatamente suas instruções.
5. Se possível converse sentado com um deficiente em cadeira de
rodas.
155
Deficiência Mental:
1. Não se preocupe com seu constrangimento em estar com um defi-
ciente mental, essa é a reação comum frente ao desconhecido da situ-
ação. Procure agir com naturalidade e respeito.
2. Cumprimente-o e trate-o com atenção. A conversa deve ter frases
simples e diretas.
3. Evite a superproteção, ajudando apenas quando necessário.
4. Um deficiente mental deve ser tratado segundo sua idade. Trate
um adulto como adulto e uma criança como criança.
5. O deficiente mental é em geral uma pessoa carinhosa, algumas
vezes com dificuldade de comunicação; lembre-se disso no seu relacio-
namento.
Deficiência Visual:
1. Pergunte ao deficiente visual se precisa de ajuda e como a deseja.
2. Para guiar um cego ele deve segurar seu braço ou seu ombro.
Informe-o dos obstáculos que surgirem no caminho. Ao guiá-lo para
uma cadeira, leve sua mão para o encosto e informe se a cadeira tem
braços.
3. Avise quando você for se retirar do local onde estão juntos.
4. Ao explicar direções seja claro e específico, indique os obstáculos
e procure dimensionar a distância, perguntando também se as informa-
ções são suficientes.
5. Informe sobre o motivo de uma sirene ou alarme.
156
Definimos a seguir, de um modo direto e simples, alguns termos relacio-
nados com a questão da deficiência, a fim de facilitar sua compreensão.
158
deficiente Pessoa que apresenta perda irreversível de membro ou
função de seu organismo, o que não a impede de, através das mais va-
riadas compensações, levar uma vida normal.
deficiente auditivo Pessoa que apresenta perda total (surda) ou par-
cial da audição, não corrigível por meio de aparelhos, e para a qual são
indicados recursos didáticos, terapêuticos e tecnológicos especiais a
fim de que possa usufruir dos processos de comunicação adequados.
deficiente físico Pessoa que apresenta ausência de um ou mais
membros (amputadas) ou perturbação motora decorrente de lesão do
sistema nervoso central (paraplégicas, tetraplégicas, paralisadas cere-
brais). Diz-se também de qualquer deficiente.
deficiente mental Pessoa que apresenta desempenho intelectual
significativamente abaixo da média, resultado de lesão ou síndrome
irreversível, que se manifesta durante a infância e se caracteriza por
grande dificuldade de aprendizagem e de adaptação social (retardado
mental).
deficiente motor O mesmo que deficiente físico.
deficiente múltiplo Pessoa que apresenta duas ou mais deficiências
associadas.
deficiente sensorial Pessoa que apresenta deficiência dos sentidos,
ou seja, o deficiente auditivo ou visual.
deficiente visual Pessoa que apresenta perda total (cego) ou parcial
(amblíope) da visão não corrigível com o uso de lentes e para a qual são
indicados recursos didáticos, terapêuticos e tecnológicos especiais a
fim de que possa usufruir dos processos de comunicação adequados.
ensino especial Subsistema de ensino integrado destinado a aten-
der às necessidades de aprendizagem específicas das pessoas com
necessidades especiais, inclusive dos deficientes.
excepcional Terminologia ultrapassada usada para designar o defi-
ciente mental, os deficientes de um modo geral e os superdotados.
hemiplégico Pessoa que tem paralisia de um dos lados do corpo.
159
integração Chave da postura atual em relação ao deficiente, que
prega a sua participação na sociedade como base para a cidadania.
leitura labial Apreensão da fala através da leitura dos movimentos
da boca e do rosto.
leitura tátil Leitura da escrita em Braille.
língua de sinais É a língua materna dos surdos, formada por uma
linguagem gestual estruturada. Existe uma Língua Brasileira de Sinais.
mongolóide Denominação comum, ultrapassada, para pessoa por-
tadora de Síndrome de Down.
órtese Aparelho que substitui funções perdidas ou deficientes de
um membro que não tenha sido amputado.
paralisia cerebral Limitações psico-motoras resultantes de lesão do
sistema nervoso central, apresentando diferentes formas de compro-
metimento, com ou sem deficiência mental.
paralisia infantil Nome comum para poliomielite, doença infec-
ciosa aguda que se caracteriza por deixar sequelas de paralisia e
atrofia muscular.
paraplégico Pessoa que tem paralisia dos membros inferiores do
corpo.
pessoa portadora de deficiência Terminologia atualmente utilizada
para designar o deficiente, dentro da concepção de que a pessoa não é
deficiente mas apenas porta uma deficiência.
pessoa portadora de necessidades especiais Terminologia atual-
mente utilizada para designar pessoas que apresentam necessidades
especiais devido a doença, deficiência, superdotação ou outra diferen-
ça significativa.
prótese Aparelho que substitui funções perdidas ou deficientes de
um membro ou parte dele.
reabilitação Processo desenvolvido a fim de possibilitar o alcance
de nível ótimo de funções comprometidas por doença ou deficiência.
No caso de deficientes envolve um trabalho multidisciplinar que visa
sua integração social.
160
reabilitação profissional Processo de reabilitação voltado para a
obtenção e conservação de um emprego ou trabalho adequado.
Síndrome de Down Síndrome causada por acidente genético,
comumente conhecida como mongolismo, caracterizada por alteração
no cromossomo 21.
terapia da fala Processo de tratamento referente à linguagem oral.
tetraplégico Pessoa que tem paralisia dos membros inferiores e
superiores do corpo.
visão subnormal Acentuada e irreversível redução da acuidade vi-
sual que não se corrige por meio de lentes (cegueira parcial).
161
Uma proposta de mudança, uma instituição diferente
O Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos da Pessoa Portadora de
Deficiência, IBDD, é uma organização não governamental, sem fins lu-
crativos, que trabalha com o objetivo de ter participação na construção
e defesa dos direitos de cidadania das pessoas portadoras de deficiên-
cia em nosso país, atuando através de: atendimentos pessoais, escritó-
rio de defesa dos direitos, núcleo de mercado de trabalho, centro de
profissionalização, centro de esporte e cidadania, terceirização de mão-
de-obra, prestação de serviços, consultoria, banco de dados, site espe-
cializado.
Missão
Liderar a construção da cidadania das pessoas portadoras de deficiên-
cia no Brasil.
Visão
Ser referência na questão da pessoa portadora de deficiência no
Brasil.
162
Estratégias
Trabalhar por uma nova postura na questão da pessoa portadora de
deficiência, buscando inserir esta problemática entre as principais ques-
tões sociais discutidas no Brasil.
Desenvolver projetos exemplares produzindo modelos inovadores de
atuação conjunta da sociedade organizada e do Estado, agindo no sen-
tido de tirar da marginalidade a questão, com o objetivo final de traba-
lhar pela integração social da pessoa portadora de deficiência e a cons-
trução de sua cidadania.
Escritório de advocacia
Um escritório especializado em direito de pessoas portadoras de defi-
ciência, com atuação tanto em ações individuais quanto coletivas, na
aplicação da Lei 7853/89 e demais legislações específicas. Este é o
diferencial do Núcleo de Advocacia do IBDD, entidade que entende que
o cumprimento e o respeito às leis é ponto fundamental para a constru-
ção da cidadania.
Segundo o pensamento do IBDD, é necessário participar da constru-
ção dos direitos individuais, sociais e coletivos das pessoas portadoras
de deficiência, obter o cumprimento do dever do Estado, com a partici-
pação da sociedade, dar acesso aos diferentes serviços que formam e
constróem a cidadania de cada um dos brasileiros: prevenção, saúde,
reabilitação, educação, profissionalização, emprego, justiça, acessibili-
dade, entre outros.
A Lei 7853/89 é pioneira e garante o acesso de pessoas portadoras
de deficiência a escolas, empregos, serviços e prédios. Pune, com até
quatro anos de prisão, quem as trata com preconceito, negando-lhes
trabalho sem justa causa. E prevê educação especial, gratuita, em
estabelecimentos privados ou públicos.
A equipe de advogados do IBDD tem um alto índice de causas ga-
nhas, o que indica tanto a sua boa formação jurídica como a experiên-
cia em casos de flagrante desrespeito aos direitos das pessoas portado-
ras de deficiência.
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Essa expertise foi atestada pela própria Ordem dos Advogados do
Brasil Seção Rio de Janeiro e Comissão dos Direitos Humanos e As-
sistência Jurídica que conferiu certificado de honra ao mérito ao IBDD,
em 2002, em reconhecimento à dedicação e contribuição à causa da
defesa dos direitos humanos.
O IBDD também colabora com as mais diversas instituições na organi-
zação de documentos básicos necessários para a atuação adequada na
área social.
Núcleo de trabalho
Contrate uma pessoa portadora de deficiência
Capacidade de trabalho em grupo, objetividade, persistência e supe-
ração de obstáculos são algumas das características da pessoa porta-
dora de deficiência que estão diretamente ligadas às atuais exigências
do mercado de trabalho.
O diferencial do IBDD na seleção desses trabalhadores se estabelece
pela ampla experiência multiprofissional e de vida de sua equipe, geran-
do: maior conhecimento do perfil das pessoas portadoras de deficiên-
cia; maior experiência em compatibilizar deficiência e profissões; co-
nhecimento qualificado para realizar a sensibilização da empresa; me-
lhor preparo para aprimorar o relacionamento da empresa com a pessoa
portadora de deficiência;comprovada experiência em profissionalização,
otimizando o sucesso da inserção no mercado de trabalho.
Para apoiar o profissional e sua empresa na contratação de profis-
sionais portadores de deficiência presta os seguintes serviços:
I. Contratação direta
Dar suporte à empresa no processo de contratação da pessoa porta-
dora de deficiência através de:
1.disponibilização de currículos;
2.análise das necessidades da empresa;
3.verificação da compatibilidade de cargos e tipo de deficiência;
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4.levantamento das condições de acessibilidade e propostas simplifi-
cadas de adaptação;
5.palestras e apresentações de sensibilização;
6.recrutamento de pessoas portadoras de deficiência: triagem, seleção,
dinâmica de grupo, entrevista, encaminhamento;
7.acompanhamento do dia a dia da integração do trabalhador, apoian-
do a empresa e seus empregados;
8.workshops.
Os serviços podem ser realizados de acordo com as necessidades da
sua empresa, combinados ou isoladamente.
Os itens 1 a 5 são prestados gratuitamente.
II. Contratação através de terceirização de mão-de-obra
Prestar serviços em sua empresa através de contrato de terceirização
de pessoas portadoras de deficiência empregadas do IBDD.
Centro de profissionalização
O centro de profissionalização foi criado com o apoio das Fundações
VITAE e AVINA para qualificar e formar novos talentos para o mercado
de trabalho.
Visa preparar o profissional portador de deficiência para lidar com
situações concretas de trabalho, oferecendo condições de desen-
volvimento pessoal, profissional e social.
Desenvolve treinamentos específicos para formação e reciclagem pro-
fissional para empresas e instituições.
Objetivos:
Qualificar profissionalmente o portador de deficiência; aprimorar a iden-
tidade e a postura profissional; promover o desenvolvimento pessoal,
profissional e social; desenvolver trabalho com empresas que desejem
utilizar os cursos do IBDD para aperfeiçoamento de seus empregados;
desenvolver atividades de extensão universitária e conscientização sobre
temas relacionados às pessoas portadoras de deficiência.
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Os cursos são realizados em parceria com o Senac Rio, responsável
também pela emissão dos certificados.
O material didático é fornecido gratuitamente aos alunos.
O IBDD põe à disposição dos alunos uma sala de estudos com compu-
tador, impressoras braille e comum, telefone para deficientes auditivos.
Faz parte do programa dos cursos a prontidão para o trabalho, que
pretende através de dinâmicas de grupo e de testes psicológicos, orien-
tar e ajudar na inserção profissional.
Núcleo de esportes
O Núcleo de Esportes do IBDD visa ao desenvolvimento do esporte
para portadores de deficiência, buscando atingir uma dimensão social
que abrange não somente sua integração, mas também, um processo de
conscientização da sociedade, através da divulgação de suas potencia-
lidades. Procura ainda atuar no desenvolvimento do esporte paraolímpico,
cooperar com sua estruturação e apoiar o fortalecimento dos clubes.
Através do Centro de Esporte e Cidadania, patrocinado pela Petrobras,
realizamos atividades sócio-lúdico-desportivas com o objetivo de difun-
dir e fortalecer sua prática para crianças, jovens e adultos portadores
de deficiência, estimular a solidariedade do grupo e conscientizar a co-
munidade.
O Centro pretende garantir o pleno exercício da cidadania das pessoas
portadoras de deficiência através da conscientização, reabilitação e in-
serção social que o desenvolvimento do esporte de base propicia assim
como identificar e apoiar novos talentos para o esporte de competição.
A participação do público é incentivada a fim de melhor informar so-
bre as características de vida e de cidadania das pessoas portadoras de
deficiência.
No Centro de Esporte e Cidadania se praticam as seguintes modalida-
des esportivas: judô de cegos e deficientes visuais, futebol de paralisa-
dos cerebrais, xadrez de cegos e deficientes visuais, tênis de mesa de
deficientes físicos, natação, halterofilismo de deficientes físicos, atle-
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tismo para deficientes físicos, futebol de amputados e basquete em
cadeira de rodas.
Uma equipe composta por treinadores, médico, psicóloga, assistente
social e fisioterapeuta está preparada para dar apoio aos participantes
do Projeto.
O IBDD tem um histórico de vitórias com três medalhas de ouro nas
Paraolimpíadas de Sidney em 2.000 e se prepara para a conquista de
novas medalhas em Atenas, 2004.
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