Cap 06
Cap 06
Cap 06
c a p í t u lo 6
Introdução à Eumetazoa: grau
diploblástico
Como visto no capítulo 3, os Animalia podem ser subdivi-
didos em graus de complexidade estrutural: Graus Mesozoa,
Parazoa e Eumetazoa. Neste capítulo vamos destacar o grau
eumetazoa mais simples, caracterizando a arquitetura de
origem diploblástica. Ao estudarmos a arquitetura dos cni-
dários (Filo Cnidaria) e cnenóforos (Filo Ctenophora) des-
tacaremos quais as “novidades evolutivas” destes táxons em
relação aos mesozoários e parazoários.
Introdução à Eumetazoa: grau diploblástico 129
6.1 Introdução
O estudo zoológico evolutivo foi moldado na hipótese onde:
“pela evolução, os organismos tendem à complexidade”. O con-
ceito de Animalia moldado por esta “norma evolutiva” da com-
plexificação das formas vivas, coloca os animais como seres vivos
que tendem a alcançar um alto grau de desenvolvimento. Um grau
muito alto de complexidade é alcançado na arquitetura Eumetazoa
dos vertebrados.
A ontogenia dos eumetazoários já mostra uma tendência à com-
plexidade estrutural, evidenciada num gradiente de formas diver-
sas, que sempre partem de uma gástrula bem estabelecida. Mas,
para encaixar os graus “Mesozoa” e Parazoa no Reino Animalia
(ou Metazoa), temos que aceitar padrões (graus) ainda interme-
diários de complexidade estrutural entre Protista e Animalia den-
tro do táxon Metazoa. Nesta ótica, os mesozoários e parazoários,
estudados no capítulo anterior, encontram-se ainda a caminho de
uma “norma evolutiva” Eumetazoa, que é modelada numa gástru-
la. Esta gástrula possibilita, através de dois degraus (diploblásti-
co e triploblástico), o desenvolvimento de uma arquitetura mais
complexa.
Esta visão gradista de evolução construtiva é adequada para
mostrar um panorama geral da evolução animal, porém, de uma
forma pouco precisa.
130 Zoologia dos Invertebrados I
A Camada dorsal de B C
Flagelos Célula somática Células apicais
células (escamosas)
ciliada
Meso-hilo
Camada ventral Célula da cápsula
Cavidade cheia de líquido de células Células centrais
Figura 6.1 – (A) Esquema mostrando uma seção através de um Trichoplax adherens (Placozoa). (B) Larva
infusoriforme produzida pela fecundação. (C) Esquema mostrando uma gastrulação típica por invaginação.
Introdução à Eumetazoa: grau diploblástico 131
A
A
Micrômeros
B
Figura 6.3 – Tipos de clivagem inicial. (A) Clivagem holo-
blástica: o plano de clivagem atravessa completamente o
embrião. (B) Clivagem meroblástica: o plano de clivagem
não atravessa completamente a parte do citoplasma que
contém vitelo.
Pólo Animal
C
Clivagem radial Clivagem espiral Macrômeros
E
D
Zigoto
Pólo Vegetal
4 Células A B
Blastocele
8 Células C D
Vitelo Vitelo
8 Células
Vista Polar Figura 6.6 – Tipos de blástula. (A) Celoblástula.
(B) Estereoblástula. (C) Discoblástula. (D) Periblástula.
Ectoderme
Blastocele
A Endoderme
Arquêntero
Blastóporo
Ectoderme
Endoderme
Blastocele
B
Endoderme
Arquêntero
C Ectoderme
Ectoderme
D Endoderme
Blastóporo
Ectoderme
Endoderme
E
Vitelo
Figura 6.7 – Tipos de gastrulação. (A) Invaginação. (B) Ingressão. (C) Delaminação.
(D) Epibolia. (E) Involução. Para detalhes veja o texto.
Microvilosidades
ÁPICE Microvilosidade
Canal
Junção do
Filamento tipo gap
Hemidesmossomo de queratina
Membrana Lâmina
celular basal
Figura 6.8 – Tecido epitelial. (A) Célula epitelial típica de Eumetazoa mostrando as
microvilosidades na superfície exposta. (B) Tipos de junções entre células epiteliais.
Cnidocílio
(cílio não móvel)
A B
Cílio Móvel
Cone
ciliar
Microvilosidades Microvilosidades
Opérculo
Cnida Cnida
(nematocisto) (nematocisto)
Figura 6.9 – Cnidócitos e cnidas.
Cnidócito Cnidócito
(A) Nematócito de antozoário. (nematócito) (nematócito)
(B) Nematócito de hidrozoário
(ou cifozoário). Neuritos Túbulo Túbulo
são processos celulares não Núcleo Núcleo
identificados de neurônios,
Neuritos Neuritos
assim como axônios ou
dendritos.
Modularização
Repetição de padrões O tamanho desses animais varia desde organismos microscó-
formando módulos picos (tanto na forma de pólipo, quanto na forma de medusa) até
pluricelulares repetidos
originando colônias ou formas medusoides com dois metros de diâmetro. Neste grupo
superorganismos. podemos observar a manifestação da modularização como estra-
Planctotróficas tégia de formar colônias de indivíduos pluricelulares (zooides). O
(plâncton + trofos = tamanho varia das pequenas formas coloniais flutuantes (Velella)
alimento) planctotróficas são
larvas que se alimentam por
às grandes formações coralígenas, como a gigante barreira de co-
um intestino embrionário ral da Austrália, que é tão grande a ponto de poder ser vista da lua!
(arquêntero) ativo.
Os cnidários são eumetazoários diploblásticos onde, a endo-
Lecitotróficas derme (interna) é derivada de uma ectoderme (externa). A en-
(lecito = vitelo + trofos)
lecitotróficas são larvas que doderme forma o arquêntero, intestino embrionário que pode
se sustentam de vitelo, o ser ativo em larvas planctotróficas ou inativos em larvas lecito-
arquêntero é inativo.
tróficas. Uma larva plânula pode emergir do embrião. São pro-
tostômios que desenvolvem uma forma adulta estratificada da
proto = primeira + seguinte maneira: uma epiderme (ectodérmica) e uma gastroder-
stomia = boca.
me (endodérmica), separadas por uma terceira camada, a meso-
A boca se forma do blastóporo
ou próximo a ele. gleia. A mesogleia é primariamente ectodérmica, acelular fibrosa,
ou pode formar um mesênquima parcialmente celular. Segundo
Brusca & Brusca (2003) devido a origem ectodérmica da meso-
gleia, ela não é considerada homóloga à mesoderme dos eumeta-
zoários triploblásticos.
140 Zoologia dos Invertebrados I
Medusa Jovem
(éfira)
Medusa Adulta
Estróbilo
Cifístoma
Ovo
Estrutura corporal
A parede do corpo é composta por três camadas (figura 6.11):
uma epiderme epiteliomuscular externa, uma mesogleia inter-
mediaria orgânica acelular ou celular e uma gastroderme epité-
liomuscular interna. A epiderme é composta por um epitélio que
reveste todo o corpo externamente. A mesogleia é composta por
uma fina membrana acelular ou um camada espessa e fibrosa de
material gelatinoso, com ou sem células ameboides (amebócitos).
A gastroderme é um epitélio que reveste toda a cavidade gastro-
vascular e seus canais, dispostos radialmente na grande maioria.
A Boca B
Celêntero
Manúbrio Disco Oral (estômago)
Exumbrela
Tentáculo
Mesogléia
Canal
Coluna Gastroderme Radial
Epiderme Boca
Disco pedal
Manúbrio
Subumbrela
Tentáculo
Figura 6.11 – As duas formas básicas dos cnidários. (A) Pólipo. (B) Medusa. Os diagramas
sobre o pólipo e a medusa indicam a simetria radial, adaptada para receber estímulos de
todas as direções.
A B
Estômago
Canal
Manúbrio Radial
Anel Nervoso
Manúbrio Interno
Disco Véu
Tentáculo
Pedal
Figura 6.12 – Pólipo e medusa. (A) Vista longitudinal de um pólipo hidrozoário; o sistema nervoso forma uma rede
difusa. (B) Medusa em corte; o sistema nervoso é uma rede difusa e forma um anel nervoso externo. (C) Corte
longitudinal de um pólipo antozoário. (D) Corte transversal de um pólipo de antozoário.
Introdução à Eumetazoa: grau diploblástico 143
Filamentos
Estômago gástricos
Gônada
Exumbrela Gastroderme
Canal radial Mesogléia
Epiderme
Epiderme
Canal circular
Ropálio
Figura 6.13 – Anatomia e transporte interno de Scyphozoa. (A) Corte longitudinal em medusa adulta. (B) Fluxos ciliares dos canais
radiais do sistema gastrovascular.
Gastrozooide Dactilozooide
Gonozooide macho
Gonozooide
Gonóforo
fêmea
Gonóforo
Suporte e locomoção
A mesogleia é a estrutura básica de suporte. Nas formas po-
lipoides e medusoides maiores a mesogleia se torna fibrosa por
secreções ectodérmicas ou de amebócitos de origem ectodérmi-
ca. A ação combinada do suporte fornecido pela mesogleia une-
se à capacidade adicional de suporte hidrostático do celêntero,
quando este está cheio de água. Muitos cnidários podem pos-
suir elementos endoesqueléticos na forma de espículas calcáre-
as diminutas secretadas e imersas no tecido colonial. Entretanto,
exoesqueletos e endoesqueletos são comuns em formas coloniais
polipoides. Estruturas exoesqueléticas (figura 6.18) rígidas como
massas calcárias podem sustentar pólipos e colônias, como nos
hidrocorais e hexacorais (corais pétreos). Estruturas endoesque-
léticas (figura 6.19), na forma de eixos córneos,
sustentam corais moles, como ocorre em mui-
tos octocorais. Há ainda o caso da elaboração A
Pólipo
de tubos fibromucosos formados pelo disparo
expandido
de cnidas aglutinantes. Este tubo fibromucoso
Pólipo
agrega areia e/ou lodo, formando um túnel su- parcialmente
berrâneo onde a coluna do pólipo solitário dos retraído
ceriantários é alojada (figura 6.16).
Cenossarco
Cenósteo
Filamento septal
Parede do
corpo sobre Septo
Figura 6.18 – Corais esclerossepto Esclerossepto
pétreos (Anthozoa:
Zoantharia:Scleractinia). Cenossarco Parede do corpo
(A) Superfície de coral Celêntero
mostrando pólipos
contraídos e expandidos, Parede do corpo
cenossarco (tecido Tábula
colonial) e o exoesqueleto
calcário colonial. (B) Corte
de um coral pétreo. Cenósteo Coralito
Coralo
Introdução à Eumetazoa: grau diploblástico 147
Pínula
Tentáculo
Antocódio
Espículas
Septo Sifonoglife
Celêntero Filamento septal
Gônada
Solênios
Cenossarco
Tubo gastrodérmico
Bastão axial
Músculo coronal
contraído
Água
expelida
Músculo coronal
relaxado
Mesogléia
Véu
Cavidade
subumbrelar B
A
Figura 6.21 – Locomoção de cnidários. (A) Natação de medusa: propulsão a hidro-jato. (B) Locomoção de Hydra por
medepalmos (coluna esquerda) e por cambalhota (coluna direita).
Introdução à Eumetazoa: grau diploblástico 149
Filamentos
aderentes
Opérculo
A B C D E F
Figura 6.23 – Principais tipos de cnidas. (A) Penetrante não explodida (Hydrozoa). (B) Penetrante explodida (Hydrozoa).
(C) Penetrante explodida (Anthozoa). (D) e (E) Espirocisto (Anthozoa); (E) explodido. (F) Pticocisto explodido em parte
(Anthozoa: Ceriantharia).
Nervo circular
Nervo radial
Ropálio Poro sensorial externo
Lobos Capuz
A
Ocelo
Poro sensorial Mesogléia
externo Capuz Estatocisto
Lobo ropalial
Poro sensorial
Gastroderme interno (mecanorreceptor)
Ocelo de mancha
Ocelo de taça pigmentar
pigmentar Estatólitos
C Estatocisto B
Figura 6.24 – Sistema nervoso e órgãos dos sentidos (Scyphozoa). (A) Margem da umbrela mostrando os ropálios jovens de
uma larva éfira. (B) Ropálio adulto. (C) Ropálio adulto em seção vertical.
152 Zoologia dos Invertebrados I
Reprodução e Desenvolvimento
As medusas formam a fase sexual dos medusozoários. Podem Medusozoários
ser hemafroditas ou dioicas. A fecundação geralmente é externa. Os medusozoários são os
cnidários que tem fase
Os gametas são produzidos por tecidos germinativos nas bolsas medusoide no ciclo vital.
gástricas (figura 6.13 A e 6.14), canais radiais ou ainda na epider-
me. Os gametas são liberados no celêntero para alcançar o meio
externo através da boca ou dos poros gonadais na subumbrela. Al-
gumas medusas encubam os ovos liberando o embrião somente na
fase de larva plânula.
O desenvolvimento embrionário típico parte do zigoto, forma
uma gástrula que ao alongar-se e achatar-se dorsoventralmente
torna-se uma larva plânula, ciliada livre natante. A plânula, após
um período de tempo variável na forma planctônica, nada para o
fundo e sofre metamorfose, originando a forma polipoide (figura
6.10). Nas formas coloniais é geralmente o pólipo fundador que,
através do brotamento dos zooides, origina a colônia.
A fase polipoide é assexual nos medusozoários. Vários processos
sexuais caracterizam grupos diferentes. A classe Scyphozoa tem a
estrobilação como processo assexual (figura 6.10). Neste proces-
so, a estrobilação forma discos empilhados que vão se liberando
como larvas medusoides (éfiras). As éfiras dão origem às medusas
adultas e recomeça o ciclo. A classe Hydrozoa tem o brotamento
como processo assexual de formação de medusas (figura 6.25 A).
Existem espécies de Hydrozoa que a fase medusoide fica retida em
gonóforos. Nestes casos o desenvolvimento se dá dentro do gonó- Gonóforos
foro até formar a larva, quando a plânula é liberada (figura 6.25 B). (gono = gônada +
Na Classe Cubozoa o pólipo sofre metamorfose e se transforma foros = portador)
Medusas retidas na fase
diretamente em uma medusa (figura 6.26). Alguns medusozoários polipoide formam indivíduos
sofrem redução na metagênese perdendo a fase polipoide (figura portadores de gônadas.
Boca Manúbrio
Manúbrio
Gônada
Tentáculo Canal radial
Teca
Pedículo Medusa
( ou )
Gastrozooide
Zigoto
Broto de medusa
Blastóstilo Gonângio
Gonoteca
Gastroderme
Epiderme
Periderme
Celêntero Plânula
Estolão
C Actínula emergente
B
Plânula
Boca
Gonóforo
D Actínula
Gonóforo
Periderme
A Pólipo hidroide
(hidrante)
E Actínula fixada
B F Hidroide
Figura 6.25 – Ciclo vital (Hydrozoa). (A) Ciclo típico em Obelia. (B) Ciclo com retenção da fase de medusa em
gonóforos.
154 Zoologia dos Invertebrados I
Cifístoma
Medusa pequena
(pólipo larval)
livre-natante
B
Plânula
A
Medusa
Medusa adulta Zigoto
A Pólipo
Plânula
Zigoto
Fêmea
Macho
Plânula
Medusa
C Actínula
Figura 6.28 – Ciclo de vida de hidrozoários (Hydrozoa). (A) Ciclo
completo de uma limnomedusa. (B) Perda da fase medusoide
em Hydra. (C) Perda da fase polipoide em traquimedusas.
Introdução à Eumetazoa: grau diploblástico 155
6.2.3 Diversidade
Boca
Canal faríngeo
Faringe
Placas ciliadas
Bainhas tentaculares Tentílios
Canal aboral
Pentes
Órgão Tentáculos
aboral
Estrutura corporal
O corpo do adulto está estruturado em três camadas à seme-
lhança dos cnidários: um epitélio (externo) e uma gastroderme
(interna), separados por uma mesogleia celular bem desenvolvi-
da. Existe um epitélio muscular epidérmico, como nos cnidários.
No entanto, diferindo dos cnidários, os ctenóforos possuem uma
musculatura originada na mesogleia.
A cavidade gastrovascular é a única cavidade do corpo. A boca
se comunica de uma faringe (estomodeu) com um estômago
central. Deste partem os canais gastrovasculares transversais
que desembocam nos canais interradiais, os quais se ramificam
nos canais ad-radiais que, ao atingirem sua porção mais distal,
desembocam nos canais meridianos (figura 6.30). Os canais me-
ridianos estão dispostos longitudinalmente, na parte mais distal
da gastroderme, por baixo das fileiras de pentes (placas ciliadas da
epiderme). De cada canal transversal
Canal parte um canal em direção oral. Este
faríngeo
Boca par de canais segue paralelo à faringe,
Canal
meridional
terminado em fundo cego e são cha-
mados de canais faríngeos. Os canais
Faringe meridianos e faríngeos são uma sina-
pomorfia de Ctenophora, não sendo
Canal
tentacular encontradas estruturas similares em
nenhum outro animal. Há, ainda, um
Base
tentacular canal aboral único que tem origem
no estômago, segue na direção aboral,
Bainha
tentacular ramificando-se, sob o órgão sensorial
Canal
Estômago
apical, em dois canais anais que se
transversal abrem para o exterior através de dois
Tentáculo poros aborais. Estes dois poros abo-
Canal rais permitem a saída de água do sis-
Canal anal
aboral tema gastrovascular. Os poros aborais
Poro anal Estatólito não são homólogos ao ânus.
Figura 6.30 – Sistema gastrovascular de um ctenóforo.
158 Zoologia dos Invertebrados I
Suporte e locomoção
Os ctenóforos são animais de consistência gelatinosa dada pela
mesogleia. Esta estrutura, aliada à pressão hidráulica no sistema
gastrovascular, é responsável pela sustentação do corpo. Não são
encontrados elementos esqueléticos rígidos.
O principal mecanismo de locomoção é o batimento metacrô-
nico da placas ciliadas localizadas nas oito fileiras de pentes. A
musculatura tem pouco efeito na locomoção. Assim, estes orga-
nismos são planctônicos e vivem à mercê das marés.
Alimentação
Diferente das medusas, estes organismos se locomovem com a
boca voltada para frente. São carnívoros como a maioria das me-
dusas. A digestão se dá extra e intracelularmente pela gastroderme
da cavidade gastrovascular.
O plano de corpo básico dos ctenóforos inclui um par de tentá-
culos que se ramificam (figura 6.29 e 6.30). Os tentáculos são en-
contrados na maioria das formas juvenis e algumas formas adul-
tas. Frequentemente, estes tentáculos podem ser retráteis em uma
bainha, formando um par de bolsas. Na epiderme destes tentácu-
los (figura 6.31) vamos encontrar muitos filamentos denominados
tentílios. Os tentílios têm células especiais denominadas colócitos.
São células adesivas que, em conjunto com o tentílio que se enrola,
prendem a presa. Assim que uma presa é capturada pelos tentácu-
los, o ctenóforo dá um giro no corpo aproximando a boca do tentá-
culo; ao mesmo tempo o tentáculo se retrai dirigindo-se à boca, por
onde o alimento é ingerido (figura 6.32 B, C e D). As espécies tenta-
culadas são carnívoras, alimentando-se principalmente de micro-
crustáceos e de animais gelatinosos (cnidários e outros ctenóforos).
Algumas espécies ao se alimentarem de cnidários, não digerem
as cnidas, incorporando-as em seu corpo. Entretanto, nunca foram
encontrados cnidócitos produzidos na ontogenia de Ctenophora.
Introdução à Eumetazoa: grau diploblástico 159
Grânulo adesivo
Colócito
Filamento
helicoidal
Célula
epidérmica
Pedúnculo Epiderme
B
Célula mioepitelial
Axônio nervoso
Lâmina basal
Mesogléia
A C
Figura 6.31 – Estrutura do tentáculo de um ctenóforo especializado para captura de presas. (A) Tentílio capturando um
microcrustáceo. (B) Tentílio ampliado mostrando os colócitos. (C) Seção da parede de um tentílio, mostrando a estrutura de
um colócito.
B
Boca Presa
(copépode)
C
A
Cavidade
“subumbrelar”
Lobo Cavidade
“subumbrelar” Aurícolas
Aurícola
Tentáculos
Tentílios
Boca
Placa ciliada
Grade muscular
Músculo Lobo
retrator
A B
Figura 6.33 – Ctenóforo sem tentáculo (Ctenophora: Lobata) em vista lateral e vista oral.
Tentílio Tentáculo
Bainha tentacular
Placa ciliada
Sulco ciliar
Poro anal
Placa polar
Faringe
PLANO FARÍNGEO
Gônada
Gônada
Estatólito
Domo ciliar Sulco ciliar
Órgão aboral
Suporte
Canal meridional Placa ciliada
Bainha
tentacular
Tentáculo
PLANO
TENTACULAR
A
Placa
polar Poro Células acessórias
anal do estatólito
B
Figura 6.34 – Ctenophora. (A) Vista aboral (metade superior da figura); vista em seção (metade inferior da figura). (B) Órgão
sensitivo aboral, vista em perspectiva.
Reprodução e Desenvolvimento
Diferindo dos cnidários não há metagênese nos ctenóforos. A
forma adulta , tem sido interpretada como uma forma medusoide
altamente modificada. Assim, não há estágio assexual séssil. São
162 Zoologia dos Invertebrados I
Ctenophora é monofilético?
Sinapomorfias como os canais meridianos, Boca
faríngeos e aborais, fileiras de pentes (placas
ciliadas) na epiderme e dois poros aborais, Figura 6.35 – Larva cidipídio de ctenóforos.
sustentam a monofilia deste grupo.
Cavidade
Órgão irmão da Ordem Trachymedusae (Cni-
sensorial
gastrovascular daria: Hydrozoa). Mas, se os ctenóforos
forem um tipo aberrante de Cnidaria
(Trachymedusae), como se explicaria
a ausência de cnidócitos no táxon de
ctenóforos? A ausência pode ser enten-
Bolsa dida como uma perda de cnidócitos
tentacular
enquanto mudava sua arquitetura. Por
tanto a perda de cnidócitos é uma no-
Abertura da vidade evolutiva do tipo reversão (sina-
Véu umbrela pomorfia por reversão – R)!
Figura 6.36 – Hydroctena sp., uma medusa traquilina aberrante Existe relação de Ctenophora com
(Hydrozoa: Trachimedusae) que guarda as seguintes semelhanças Bilateria?
com ctenóforos: órgão sensorial único em posição apical; um par
de bainhas tentaculares na exumbrela. Há uma hipótese (Ruppert et. al.
(2005) que é sustentada pela polariza-
ção: a mesoderme foi perdida (reversão – R). A mesoderme desa-
parecendo, altera o desenvolvimento embrionário, simplificando
um Eumetazoa Bilateria triploblástico ao grau “Radiata” diploblás-
tico. Assim, Ctenophora não pertence ao grupo dos diploblásticos
e sim aos triploblásticos. A condição diploblástica apresentada é
uma novidade evolutiva por reversão (R)!
Resumo
Cnidaria e Ctenophora compartilham a simetria radial, a con-
dição diploblástica, o desenvolvimento apenas de tecidos, estando
ausentes órgãos e aparelhos. O sistema gastrovascular também é
compartilhado por estes radiados. Estas semelhanças justificaram,
no passado, a criação do táxon “Coelenterata” para acomodar estes
dois filos.
A simetria radial e a condição diploblástica de Cnidaria e Cte-
nophora podem ser uma plesiomorfia ou uma convergência. Se a
condição diploblástica for homóloga, nestes dois filos, ela é uma
plesiomorfia sendo, o antigo táxon “Coelenterata” parafilético. Por
outro lado, se a condição diploblástica de Ctenophora for uma re-
versão (R), isto é, os ctenóforos são triploblásticos que perderam
164 Zoologia dos Invertebrados I
Bibliografia
BARNES, R. S. K.; calow, p.; olive, r. j. w. Os invertebra-
dos: uma nova síntese. São Paulo: Atheneu, 1995.
Brusca, R. C.; Brusca, G. J. Invertebrates. 2. ed. Massachu-
setts: Sinauer Associates, 2003.
RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia dos Inver-
tebrados. São Paulo: Roca, 2006.