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Livro Parasitologia

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Parasitologia

PROFESSORES
Dr. Luiz Fernando de Souza Alves
Dra. Vanessa Graciele Tiburcio
Me. Luara Lupepsa

ACESSE AQUI O SEU


LIVRO NA VERSÃO
DIGITAL!
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria
de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Graduação Marcia de Souza Head
de Metodologias Ativas Thuinie Medeiros Vilela Daros Head de Tecnologia e Planejamento Educacional Tania C. Yoshie Fukushima
Head de Recursos Digitais e Multimídias Franklin Portela Correia Gerência de Planejamento e Design Educacional Jislaine Cristina
da Silva Gerência de Produção Digital Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Recursos Educacionais Digitais Daniel Fuverki Hey
Supervisora de Design Educacional e Curadoria Yasminn T. Tavares Zagonel Supervisora de Produção Digital Daniele Correia

PRODUÇÃO DE MATERIAIS

Coordenador de Conteúdo Maria Fernanda Francelin Carvalho Designer Educacional Ana Claudia Salvadego Revisão
Textual Erica F. Ortega e Sarah Mariana Longo Carrenho Cocato Editoração André Morais de Freitas e Lucas Pinna Silveira
Lima Ilustração André Azevedo e Welington Vainer Realidade Aumentada Matheus Guandalini e Maicon Douglas Curriel
Fotos Shutterstock.

FICHA CATALOGRÁFICA

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.


Núcleo de Educação a Distância. ALVES, Luiz Fernando de Souza;
LUPEPSA, Luara; TIBURCIO, Vanessa Graciele.

Parasitologia.
Luiz Fernando de Souza Alves; Luara Lupepsa; Vanessa Graciele
Tiburcio.
Maringá - PR.: Unicesumar, 2021.
272 p.
“Graduação - EaD”.

1. Parasitologia 2. Parasitos. EaD. I. Título.

Impresso por:
CDD - 22 ed. 613.2
CIP - NBR 12899 - AACR/2
ISBN 978-65-5615-500-5

Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar


Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Diretoria de Design Educacional

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
A UniCesumar celebra os seus 30 anos de
história avançando a cada dia. Agora, enquanto
Universidade, ampliamos a nossa autonomia Tudo isso para honrarmos a
e trabalhamos diariamente para que nossa nossa missão, que é promover
educação à distância continue como uma das a educação de qualidade nas
melhores do Brasil. Atuamos sobre quatro diferentes áreas do conhecimento,
pilares que consolidam a visão abrangente do formando profissionais
que é o conhecimento para nós: o intelectual, o cidadãos que contribuam para o
profissional, o emocional e o espiritual. desenvolvimento de uma sociedade
justa e solidária.
A nossa missão é a de “Promover a educação de
qualidade nas diferentes áreas do conhecimento,
formando profissionais cidadãos que contribuam
para o desenvolvimento de uma sociedade
justa e solidária”. Neste sentido, a UniCesumar
tem um gênio importante para o cumprimento
integral desta missão: o coletivo. São os nossos
professores e equipe que produzem a cada dia
uma inovação, uma transformação na forma
de pensar e de aprender. É assim que fazemos
juntos um novo conhecimento diariamente.

São mais de 800 títulos de livros didáticos


como este produzidos anualmente, com a
distribuição de mais de 2 milhões de exemplares
gratuitamente para nossos acadêmicos. Estamos
presentes em mais de 700 polos EAD e cinco
campi: Maringá, Curitiba, Londrina, Ponta Grossa
e Corumbá), o que nos posiciona entre os 10
maiores grupos educacionais do país.

Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima


história da jornada do conhecimento. Mário
Quintana diz que “Livros não mudam o mundo,
quem muda o mundo são as pessoas. Os
livros só mudam as pessoas”. Seja bem-vindo à
oportunidade de fazer a sua mudança!

Reitor
Wilson de Matos Silva
A relação com os animais e com a natureza sempre fez parte
da minha vida. Quando pequeno, morei um tempo em fazen-
da junto com minha família, onde sempre junto ao meu pai,
eu ia para o campo. Desde essa época, eu buscava entender
como funcionava a alimentação dos animais, como era que
as vacinas faziam efeito e como funcionava todo o sistema
de produção. Com o passar do tempo, estas curiosidades
e o apreço pela área biológica/agrária foi aumentando, até
que iniciei a graduação de Zootecnia, e a partir daqui, todas
as peças foram se encaixando. Todo esse tempo me vincu-
lei às áreas voltadas tanto para pesquisa, quanto extensão,
onde eu consegui vivenciar na prática uma grande parte da
teoria que foi aplicada em sala de aula. E com essa vontade
de sempre aprender e me aprofundar mais, fiz o mestrado e
o doutorado, que foram um baita desafio… mas um desafio
incrível! E com esse desafio, aplicando aqui, neste livro, espero
que vocês também se sintam desafiados a vivenciar todas
as oportunidades dentro da graduação!! Um grande abraço!
Prof. Luiz Fernando
Aqui você pode
conhecer um
pouco mais sobre
Currículo Lattes disponível em:
mim, além das
informações do http://lattes.cnpq.br/9601315382071651
meu currículo.
Desde muito cedo eu me lembro de ter um apreço pela área
de biológicas e da saúde. Eu me recordo que observava cada
detalhe da natureza, como o movimento de uma lagarta, os
aspectos morfológicos das fibras musculares em um bife e
me perguntava como os vaga-lumes conseguiam piscar tão
lindamente! Acredito que essa paixão foi desenvolvida pelos
hábitos familiares, pois passava as férias no sítio dos meus
avós no interior e são as melhores recordações que tenho
da minha infância. Durante a educação básica, isso foi se tor-
nando cada vez mais evidente, pois a cada feira de ciências,
lá eu estava explorando as amostras biológicas preservadas
e o encantamento só crescia. Como você deve estar imagi-
nando, eu fiz a graduação de Ciências Biológicas! Foram anos
de descobertas, como a área da extensão, da pesquisa e da
licenciatura. E meu amor só se consolidou e fortificou em cada
passo. Nem preciso dizer que o mestrado e o doutorado me
proporcionaram desafios, experiências e vivências incríveis,
não é mesmo? Aqui estou descobrindo e explorando meu
lado escritora. Espero que eu possa contribuir com parte de
sua formação. Um grande beijo! Profa. Vanessa. Aqui você pode
conhecer um
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Currículo Lattes disponível em: informações do
http://lattes.cnpq.br/2091162196482872 meu currículo.
Desde pequena, a natureza fez parte da minha vida, cresci em
cidade pequena no interior do Paraná, e isso me despertou
uma paixão por querer entender como funcionava cada rea-
ção do corpo humano e dos animais. Com o passar dos anos,
meu interesse pela saúde e biologia só aumentava, tanto que
decidi fazer graduação em biomedicina, pois o campo de tra-
balho me possibilita trabalhar com os dois ramos. Essa paixão
só foi aumentando, e a vontade de novas descobertas veio
com a especialização e o mestrado na área de biotecnologia,
que foi onde eu consegui aplicar a tecnologia e a ciência na
realidade onde vivia, e quando nós conseguimos relacionar
esses dois parâmetros, é um sentimento de dever cumprido.
Mais tarde iniciei os estudos como doutoranda em ciências
biológicas, o que ainda está sendo uma enorme experiência
positiva, e estou certa de que foi a docência que me escolheu
e não eu a escolhi. Espero que eu tenha ajudado cada um de
vocês na sua jornada e desejo todo o sucesso do mundo. Um
grande abraço!! Professora Luara.

Aqui você pode


conhecer um Currículo Lattes disponível em:
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mim, além das
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REALIDADE AUMENTADA

Sempre que encontrar esse ícone, esteja conectado à internet e inicie o aplicativo
Unicesumar Experience. Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os
recursos em Realidade Aumentada. Explore as ferramentas do App para saber das
possibilidades de interação de cada objeto.

RODA DE CONVERSA

Professores especialistas e convidados, ampliando as discussões sobre os temas.

PÍLULA DE APRENDIZAGEM

Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode
sobre o código, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido

PENSANDO JUNTOS

Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite


este momento.

EXPLORANDO IDEIAS

Com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do


assunto discutido, de forma mais objetiva.

EU INDICO

Enquanto estuda, você pode acessar conteúdos online que ampliaram a discussão sobre
os assuntos de maneira interativa usando a tecnologia a seu favor.

Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar


Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do aplicativo
está disponível nas plataformas: Google Play App Store
PARASITOLOGIA

Você já observou e parou para pensar o que um pássaro está fazendo em cima de alguns
animais, como bovinos e/ou animais silvestres, em áreas como fazendas, campos ou matas?
Vamos pensar um pouco além, você já percebeu o quanto a sua alimentação pode estar ligada
a doenças causadas por parasitas? Podemos dizer que, além da nutrição, os alimentos, quando
não preparados corretamente, podem nos adoecer?
Para o funcionamento de um ecossistema, vários fatores ocorrem simultaneamente como
forma de garantir um estado de equilíbrio. Um desses fatores é a cadeia alimentar onde há
uma relação de alimentação entre os seres vivos de um determinado ecossistema, ou seja, há
uma sequência de organismos que servem de alimento uns para os outros. O exemplo anterior
reflete essa condição biótica, pois as aves se alimentam de pequenos parasitas externos de tais
seres vivos. Os carrapatos e pulgas são predados e servem de alimentação para essas aves.
No campo da área de boas práticas com alimentos, podemos também dizer que a ciência
da Parasitologia, responsável por estudar os parasitas e as doenças parasitárias humanas
causadas por estes agentes, é nossa ferramenta de avaliação para escolha de ações corretivas,
evitando assim estas doenças.
Muitos são estes seres que podem fazer parte da rotina de animais de maior porte e também
de nosso dia a dia. Quando estes seres microscópicos infectam seres humanos, dizemos que
isso faz parte do ciclo de vida desses parasitas, que muitas vezes só conseguem se desenvol-
ver e proliferar em células humanas, como a doença de Chagas. Afinal, você sabe como ela é
transmitida, quais seus vetores e as medidas de prevenção dessa doença? Tenho certeza que
você já estudou sobre isso ou já viu algo sobre ela, certo?
Quando pensamos em como a doença de Chagas é transmitida, lembramos de outros in-
setos e da picada dele, como acontece com a Dengue. Contudo, no caso da doença de Chagas,
ela não é transmitida apenas pela picada do inseto. Na verdade, se as fezes do bicho barbeiro
estiverem contaminadas e a pessoa coçar a pele, o protozoário parasita Trypanosoma cruzi
pode penetrar a pele por meio do orifício da picada do inseto.
Outro ponto importante é a higienização inadequada dos alimentos que consumimos, sendo
uma porta de entrada de diferentes tipos de parasitas em nosso organismo.
Onde queremos chegar com tudo isso? Você percebeu que há diferentes formas de con-
taminação parasitária e que o conhecimento dessas formas podem proporcionar medidas
preventivas de controle?
Agora vamos imaginar que você está atuando como profissional da saúde em uma clínica
e um dia um paciente entra para ser examinado com os seguintes sintomas: diarreia, vômitos
e febre alta.
Com algumas perguntas, o paciente relata que esteve no nordeste brasileiro há aproxima-
damente 30 dias. Com essas informações, você já deve ter imaginado que uma das possíveis
doenças que esse paciente pode ser portador é a doença de Chagas.
Com os conhecimentos que você tem agora, você conseguiria passar a esse paciente quais
as medidas de prevenção para essa doença? Você também conseguiria orientar ele de como
evitar contrair outras doenças parasitárias?
Com esse material você será capaz de responder essas perguntas e muitas outras que você
irá se deparar no decorrer da leitura. Por isso, não esqueça de sempre anotar os principais
pontos e fazer um estudo profundo dos assuntos que iremos abordar.
Vamos começar?
CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM

1
13 2
43
INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA E
PARASITOLOGIA SEUS CONCEITOS

3
61 4
77
CICLO BIOLÓGICO NEMATOIDES
DO PARASITA PARASITOS DO
HOMEM

5 109 6
137
CESTOIDES TREMATÓDEOS
PARASITOS DO PARASITAS
HOMEM DO HOMEM:
SCHISTOSOMA
MANSONI
7
163
8
191
PROTOZOA INTRODUÇÃO
AO ESTUDO DAS
PARASITOSES
SANGUÍNEAS E
SISTÊMICAS

9
229
DIAGNÓSTICO E
POSOLOGIA
1
Introdução à
Parasitologia
Dr. Luiz Fernando de Souza Alves

Nesta primeira unidade, quero compartilhar com você um pouco


dos conceitos básicos existentes dentro da Parasitologia, a relação
parasita-hospedeiro e os malefícios que as doenças parasitárias po-
dem ocasionar para a saúde da população em geral. Além disso,
entenderemos como são realizadas as principais análises para identi-
ficação dos parasitas no hospedeiro, seus ciclos e suas classificações
e, também, os conceitos ecológicos e bioquímicos do parasitismo.
UNICESUMAR

Você já reparou que os parasitas sempre tomam algo do hospedeiro e não devolvem nada em troca?
São muito exemplos que nos fazem refletir sobre isso. Um caso bastante conhecido é o da ascaridíase
(lombriga), que, quando se desenvolve no organismo de seres vivos, instala-se dentro do intestino
delgado, causando, ao seu hospedeiro, diarreia, vômitos, obstrução intestinal, entre outros. Entretanto,
quando pensamos nessas causas, não seria melhor que esses parasitas não existissem? Nesta unidade,
estudaremos a relação que o parasita tem com seu hospedeiro e entender a importância que a parasi-
tose possui e os danos que causa.
As parasitoses intestinais representam um grande problema de saúde pública, principalmente, naqueles
países de terceiro mundo e que não possuem saneamento básico. Isso se torna um dos principais fatores para
ocorrências de doenças, quadros de diarreias crônicas e desnutrição, o que compromete o desenvolvimento
físico e intelectual, principalmente, da população jovem. Devido a essas ocorrências, muitos programas têm
se voltado para o controle das parasitoses intestinais nos mais diferentes países. Esses programas, porém,
têm mais êxito em países desenvolvidos quando comparados aos países que possuem uma economia mais
pobre. Isso se dá pelos custos financeiros para as medidas técnicas, além da falta de projetos educativos
com ampla participação da população, dificultando, assim, a implementação de controle.
Como você pode observar, a criação e implantação de programas voltados para o controle dessas
parasitoses ainda é bastante escassa em muitos países. Desafio você a buscar programas estabelecidos
em países desenvolvidos, que já possuem controle efetivo dessas parasitoses, e como poderiam ser
aplicados de forma efetiva nos demais países que não são desenvolvidos.
Já é claro que as parasitoses intestinais acometem mais a população de países não desenvolvidos
devido à escassez de programas para controle e a falta de projetos educativos. Em países subdesenvol-
vidos, as parasitoses podem acometer até 90% da população, o que leva a um aumento significativo da
piora dos níveis econômicos. O Brasil é um dos países em que esse problema é encontrado em diversas
regiões onde não há saneamento básico. Como os programas já estabelecidos pelos países desenvolvidos
poderiam ser aplicados nas regiões brasileiras? Como você, profissional da saúde, aplicaria os projetos
educativos para a população? Sugiro a você que anote as suas respostas em seu Diário de Bordo.

DIÁRIO DE BORDO

14
UNIDADE 1

A Parasitologia é o estudo dos parasitas, de seus hospedeiros e da relação entre eles. Esse estudo engloba
os Filos Protozoa (Figura 1), do reino Protista e Nematoda (Figura 2), e os Platyhelminthes (Figura 3)
e Arthropoda (Figura 4), do reino Animal.

Figura 1 - Protozoário Trypanossoma brucei

Descrição da Imagem: nesta imagem, vemos o protozoário Trypanossoma brucei, o qual é transmitido pela mosca
Tsé-Tsé, e é responsável pela doença do sono. É possível verificar o protozoário, que lembra a letra C, entre as células
sanguíneas.sanguíneas.

15
UNICESUMAR

Figura 2 - Verme Nematoide

Descrição da Imagem: nesta imagem, apresenta-se um verme nematoide cortado sobre uma lâmina e observado
através de microscopia. O verme tem formato cilíndrico, alongado e com as extremidades afiladas.

Figura 3 - Taenia solium

Descrição da Imagem: nesta imagem, observa-se o escólex de uma Taenia com uma coroa de ganchos para fixação
e ventosas, chamada de rostro.

16
UNIDADE 1

Figura 4 - Carrapato (Ixodes ricinus)

Descrição da Imagem: pode-se observar, nesta imagem, um carrapato em evidência sobre a pele humana. O carrapato
tem formato oval e oito patas, e parte de sua estrutura e as patas são de cor escura, e o restante é castanho claro.

As parasitoses são distribuídas geograficamente por diversos fatores que contribuem para sua propa-
gação, como a presença de hospedeiros susceptíveis, as migrações humanas, as condições ambientais
adequadas, uma considerável densidade da população, condições baixas de vida, hábitos que envolvem
a religião e os hábitos higiênicos. Esses são fatores que, muitas vezes, propiciam a relação parasita-hos-
pedeiro (FINOTTI, [2021]; NEVES, 2004; REY, 2002).
É muito importante o conhecimento sobre os conceitos básicos que são utilizados no estudo da
Parasitologia. Podemos verificar os seguintes termos, de acordo com Neves (2006, p. 465):

• Agente etiológico: agente causador de uma doença. Este causador pode ser vírus,
bactéria, protozoário, fungo ou helminto;
• Endemia: quando ocorre uma doença infecciosa que ocorre habitualmente e com
incidência significativa em uma população e ou em uma região;
• Doença endêmica: doença cujo permanece por diversos anos entre a população;
• Epidemia: é a ocorrência de uma determinada doença, que ocorre em uma região
ultrapassando a incidência normalmente esperada;
• Infecção: entrada de agentes patogênicos microscópicos no organismo;
• Infestação: invasão do organismo por agentes patogênicos macroscópicos;

17
UNICESUMAR

• Vetor: Organismo capaz de transmitir agentes infecciosos;


• Hospedeiro: organismo que carrega outro sobre ele, servindo de habitat para outro,
se instalando e encontrando condições de sobrevivência. O hospedeiro pode servir
ou não de como fonte de alimento para o parasita;
• Hospedeiro definitivo: é o que apresenta o parasito em fase de maturidade ou
em fase de atividade sexual;
• Hospedeiro intermediário: é o que apresenta o parasito em fase de maturidade
ou em fase de assexuada;
• Profilaxia: conjunto de medidas que visam a prevenção, erradicação ou controle
das doenças ou de fatos prejudiciais aos seres vivos.
• Endoparasita: parasitas que vivem no interior do corpo do hospedeiro;
• Ectoparasitas: parasitas externos que se instalam fora do corpo do hospedeiro;
• Antroponese: doença exclusivamente humana;
• Antropozoonose: doença primária de animais, que pode ser transmitida ao ho-
mem. Período de incubação: é o período decorrente entre o tempo de infecção
e o aparecimento dos primeiros sintomas clínicos;
• Período pré-patente: é o período que decorre entre a infecção e o aparecimento
das primeiras formas detectáveis do agente infeccioso.

Atualmente, o parasitismo é conceituado como a relação entre dois elementos de espécies diferentes,
sendo que o parasita apresenta deficiência metabólica, o que faz com que ele se associe, por um período
significativo, a um hospedeiro, buscando suprir tal carência.
Ainda sobre os conceitos dentro da Parasitologia, podemos citar dois campos:

• Sentido amplo: é aquele do qual fazem parte todos os vírus, algumas espécies de bactérias,
fungos, protozoários, platelmintos, nematelmintos, artrópodes e algumas algas microscópicas.
• Sentido estrito: no qual, por algumas razões, são consideradas apenas algumas espécies de
protozoários, helmintos e artrópodes, podendo considerar, algumas vezes, a presença de fungos.

Após conhecermos os conceitos que fazem parte da Parasitologia, veremos como ocorrem e quais são
as adaptações parasitárias. Vamos lá?
A ocorrência da perda parcial do sistema metabólico e da capacidade de utilizar outra fonte nutri-
cional no meio ambiente externo pode ocorrer em todo o ciclo de vida do parasita ou em apenas uma
parte dele, fazendo com que ele possa se instalar em seu hospedeiro e dependa da sobrevida dele, prin-
cipalmente, quando falamos dos endoparasitas, os quais, quando ocorre morte do hospedeiro, também,
geralmente, sucumbem. Entretanto, o parasita possui uma estratégia de sobrevivência e transmissão,
em que busca diminuir a sua capacidade de agressão ao seu hospedeiro, o que o torna melhor adaptado
a determinados hospedeiros. Com isso, quando ocorre uma maior agressão, o parasita é considerado
menos adaptado à espécie em que está hospedado, trazendo, com isso, a morte do hospedeiro.

18
UNIDADE 1

Sabemos que existem diversos tipos de parasitos, porém devemos saber identificar os tipos para
que possamos conhecer sua forma de atuação com o hospedeiro. Com isso, de acordo com Neves
(2004, p. 4), temos:

• Parasito acidental: é o que parasita outro hospedeiro que não o seu normal;
• Parasito errático: é o que vive fora do seu hábitat normal;
• Parasito extenoxênico: é o que parasita espécies de vertebrados muito próximas;
Parasito eurixênico: é o que parasita espécies de vertebrados muito diferentes;
• Parasito facultativo: é o que pode viver parasitando, ou não, um hospedeiro;
• Parasito heterogenético: é o que apresenta alternância de gerações;
• Parasito monoxênico: é o que possui apenas o hospedeiro definitivo;
• Parasito monogenético: é o que não apresenta alternância de gerações (isto é,
possui um só tipo de reprodução - sexuada ou assexuada);
• Parasito obrigatório: é aquele incapaz de viver fora do hospedeiro;

Você sabia que o ciclo vital dos parasitas é a sequência das fases que possibilitam o desen-
volvimento e a transmissão de determinado parasita?

Isso possui relação com o número de hospedeiros necessários para que ele ocorra. Com isso, podemos
ter dois tipos básicos de ciclos:

• Homoxeno (monoxeno): é quando o ciclo todo ocorre em apenas um hospedeiro.


• Heteroxeno: são necessários mais de um hospedeiro para que o parasita complete seu ciclo.

Não podemos deixar de falar sobre a especificidade parasitária, que é quando o parasita apresenta
a capacidade de se adaptar a determinado número de hospedeiros. Isso pode acarretar, geralmente, a
sua maior ou menor dispersão geográfica. Denominamos eurixeno quando encontramos um grande
número de espécies de hospedeiros parasitados de forma natural, e, quando encontramos apenas uma
pequena quantidade de espécies, denominamos estenoxeno (SANTOS, [2021]).

19
UNICESUMAR

Os hospedeiros também possuem seus tipos, assim como vimos sobre os parasitas. Conheceremos
quais são os tipos desses hospedeiros, conforme descrito por Gazzinelli ([2021], s.p.):

• Ciclo heteroxeno:
• Definitivo: Quando o parasita se reproduz neste, de forma sexuada e/ou é encon-
trado em estágio adulto;
• Intermediário: Se o parasita no hospedeiro só se reproduz de forma assexuada ou
se encontra exclusivamente sob forma larvar (helmintos).
• Paratênico ou de transporte: quando no mesmo, não ocorre evolução parasitária,
porém, o hospedeiro não está apto a destruir o parasita rapidamente, podendo assim,
ocorrer posterior transmissão em caso de predação por espécie hospedeira natural.
• Reservatório: é representado pelo hospedeiro vertebrado natural na região em questão.

De acordo com Santos ([2021]), quando utilizamos o termo vetor, compreende-se transmissor,
que pode ser representado por um artrópode ou molusco ou, até mesmo, determinado veículo
de transmissão, como água ou alimentos, possibilitando a transmissão parasitária.

Na Parasitologia, assim como as demais doenças, há a infestação e infecção, em que se baseia a clas-
sificação em dois parâmetros: localização e dimensão. O primeiro é o mais utilizado atualmente e que
foi sugerido por especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) (GAZZINELLI, [2021], s.p.):

• Localização:
• Infestação: Localização parasitária na superfície externa (ectoparasitas). Infec-
ção: Localização interna parasitária (endoparasitas). Por esta definição, infecção
seria a penetração seguida de multiplicação (microrganismo) ou desenvolvi-
mento (helmintos) de determinado agente parasitário.
• Dimensão:
• Infestação: Corresponde ao parasitismo por metazoários.
• Infecção: Definida pelo parasitismo por microrganismos. Em consequência,
infecção seria a penetração seguida de multiplicação de microrganismos.

Já em relação à contaminação, temos, basicamente, dois tipos:

20
UNIDADE 1

• Biológica: É a presença de agentes biológicos no meio ambiente externo, fômites ou


na superfície externa ou interna sem causar, no momento, infecção ou infestação.
• Não biológicas: É a presença de elementos químicos e físicos no meio ambiente
ou no interior de seres vivos (GAZZINELLI, [2021], s.p.).

Em razão de alguns especialistas não considerarem os vírus como seres vivos, mas, sim, como partículas,
denomina-se a sua presença em determinado ser não como uma infecção, mas como contaminação.
Outro fator que devemos conhecer são os mecanismos de infecção. Para que seja determinado
o mecanismo, uma análise deve acontecer em relação à porta de entrada no corpo do hospedeiro
(via de infecção) e, também, se ocorreu ou não o gasto de energia pelo parasita (forma de infecção)
(SANTOS, [2021]).
De acordo com Santos ([2021]), a forma de infecção é representada, também, como forma de trans-
missão, sendo que ela pode acontecer de forma passiva, em que não existe o gasto de energia para
a invasão. Já a forma ativa pode ocorrer por meio de um dispêndio energético. Quando falamos em
via de infecção, o que podemos chamar, também, de via de transmissão ou porta de entrada, falamos
sobre as formas, as quais são: oral, cutânea, mucosa e genital. Entre os principais mecanismos de
infecção, podemos citar: passivo oral, passivo cutâneo, ativo cutâneo, ativo mucoso e passivo genital.
Já os mecanismos particulares, para facilitar o entendimento, utilizamos expressões características
como: transplacentário, transmamário, transfusional e por transplantação (SANTOS, [2021]).
A partir de agora, conheceremos como ocorrem os mecanismos de agressão e resposta às pa-
rasitoses. Esses mecanismos podem apresentar, de acordo com Gazzinelli ([2021], s.p.):


Patogenia e manifestações clínicas ao parasitismo, que é o conjunto de mecanismos
lesionais respectivos determinados no decorrer do parasitismo ao organismo parasitado,
incluindo-se também as agressões determinadas pela reação do hospedeiro. Porém, é
importante ser lembrado que não é obrigatória a relação entre patogenia e manifesta-
ções clínicas (sinais e ou sintomas), que são os paradigmas da doença propriamente
dita. Para que ocorra a doença, as lesões determinadas devem ultrapassar a capacidade
homeostática do hospedeiro. Os seguintes fatores devem ser avaliados para que surja
tal desequilíbrio: Parasita: Virulência, carga parasitária infectiva e porta de entrada
utilizada; Hospedeiro: Mecanismos de resistência a este parasita.

Já quanto aos mecanismos gerais de agressão dos parasitas, os danos determinados na dinâmica
da relação hospedeiro-parasita podem, de forma genérica, ser classificados, conforme Gazzinelli
([2021], s.p.), em:

• Diretos: Determinados pelo parasita e substâncias por ele secretados;


• Indiretos: Quando acarretados pela reação do hospedeiro ao parasitismo.

21
UNICESUMAR

• Os mecanismos podem ser:


• Espoliativo: É o determinado por perda de substâncias nutritivas pelo organismo do
hospedeiro, podendo o mesmo ser acarretado por perda direta de nutrientes;
• Enzimático: É determinado pela liberação de secreções enzimáticas produzidas por
parasitas, que determinam destruição tecidual de extensão variável;
• Inflamatório/hipersensibilizante: A maioria dos mecanismos acima leva a uma
resposta inflamatória de forma indireta ou diretamente por liberação de substâncias
que ativam esses mecanismos. Incluiremos aqui a hipersensibilidade que se constitui
também em elemento gerador de resposta inflamatória;
• Imunodepressor: É determinado por metabólitos liberados pelo parasita ou por outros
mecanismos que possam reduzir a capacidade de resposta defensiva do hospedeiro;
• Neoplásico: Algumas Parasitoses crônicas, através de liberação de metabólitos ou
reações inflamatórias crônicas ou de sua consequência, podem levar a gênese de tu-
mores malignos.

As manifestações clínicas que são conhecidas também como sinais e/ou sintomas surgem em função
do desequilíbrio do hospedeiro ao parasitismo, sem ocorrer a consequente manutenção da homeostase.
O hospedeiro humano possui suas relações defensivas em que se empenha a diminuir, em número, ou
neutralizar os possíveis agentes causadores das infestações ou infecções. O organismo humano se vale de
mecanismos que constituem o que foi designado em conjunto como resistência. Ela pode ser considerada
como total ou absoluta, em que o parasita não disporá de condições que acarretem a sua instalação, seja
pela capacidade dos mecanismos protetores que o hospedeiro possui ou, mesmo, pela não existência das
condições metabólicas que são básicas para que o parasita se desenvolva. Santos ([2021]) explica que a
resistência pode se apresentar de forma reduzida ao considerar o número das formas parasitárias, entre-
tanto permite uma manutenção desse parasitismo, a qual é denominada relativa ou parcial.
Os mecanismos de resistência inespecíficos podem ser:

• Tegumento cutâneo
• Barreira mecânica: Impede, ou dificulta a penetração de agentes parasitários;
• Barreira química: O pH da pele humana é ácido, o que dificulta a penetração, ou
instalação, em sua superfície, de patógenos. Esse pH é mantido principalmente pela
produção, por parte das glândulas sebáceas, de ácidos graxos de cadeia longa e pela
degradação, dos mesmos, pela microbiota local, que determina a produção de ácidos
graxos voláteis, que, além de auxiliarem a manutenção do pH, apresentam ação principal
em bactérias Gram As glândulas sudoríparas, ao produzirem lisozimas (muramidase),
apresentam ação lítica bacteriana (principalmente nas Gram +).
• Pelos: Barreira mecânica que pode reduzir a penetração de patógenos no organismo,
como representado pelas vibrissas (pêlos na porção anterior das fossas nasais).

22
UNIDADE 1

• Microbiana: Várias espécies de bactérias residem na pele normal, ou em glândulas


sebáceas. Os componentes mais numerosos são representados pelo Staphylococcus
epidermidis e pelo Propionibacterium acneae. A competição com patógenos é a for-
ma pela qual a microbiota participa das defesas do hospedeiro. As formas de reduzir,
ou eliminar o agente invasor, se baseia principalmente em: Produção de substâncias
microbicidas e redução do pH local, já explicados anteriormente; Ligação a recep-
tores de superfície celular, também utilizado pelo patógeno; Produção de outras
substâncias microbicidas (GAZZINELLI, [2021], s.p.).

Já as cavidades revestidas por mucosas podem ser:

• Barreira Mecânica: Pelas características histológicas do revestimento mucoso, esta con-


dição se apresenta com pouca eficiência;
• Barreira química: Existe uma grande variedade de produtos liberados nas cavidades
mucosas, entre os quais, HCI (estômago), enzimas digestivas, e outras como a lisozima,
sais biliares e suco pancreático que atuam na degradação ou inativação de grande número
de microrganismo;
• Muco: A mucina, proteína de alta viscosidade, atua fundamentalmente: 1) facilita a ade-
sividade entre si de agentes biológicos e virais, bem como partículas inertes, visando a
posterior remoção; e 2) mantém úmida a superfície mucosa, formando camada protetora
frente a agentes físicos e químicos;
• Cílios: A presença, e consequente movimentação celular em determinadas mucosas, como
a do trato respiratório, determina remoção de elementos inanimados (poeira e vírus), ou
biológicos (bactérias, larvas de helmintos e protozoários) aderidos ao muco;
• Microbiota: Tal como acontece no tegumento cutâneo, nos segmentos onde existe mi-
crobiota (cavidade oral, vagina, intestino grosso), a mesma pode atuar competindo com
patógenos das seguintes formas: 1) Produzindo catabólitos, que determinam redução do
pH, como ocorre na cavidade vaginal, onde os bacilos de Doderlein utilizam o glicogênio
proveniente de células descamativas e produzem ácido lático que determina faixa de pH
entre 3.8 a 4.2; 2) Por competição por fonte nutricional; 3) Ligação a receptores de superfície
utilizados por patógeno; e 4) Por produção de substâncias que tenham ações deletéricas
sobre espécies patogênicas (GAZZINELLI, [2021], s.p.).

Os fagócitos são um grande número de tipos celulares que tem a capacidade fagocitária, aqueles que
conhecemos como glóbulos brancos do sangue, os quais são responsáveis por defenderem o organismo,
sendo fundamentais para a imunidade imediata. A fagocitose ocorre quando há a ingestão e destruição
de partículas, como bactérias, por exemplo. A fagocitose é representada pelas seguintes células:

23
UNICESUMAR

• Neutrófilos: os neutrófilos (Figura 5) são considerados um tipo de glóbulo branco,


que tem como principal função nos proteger de possíveis infecções. Eles constituem
cerca de 40% a 60% das células brancas do sangue em nosso corpo, sendo as primeiras
células a chegarem ao local quando adquirimos uma infecção.

Figura 5 - Neutrófilo

Descrição da Imagem: nesta imagem em 3D, é possível observar como é um neutrófilo. Pode-se observar um glóbulo
branco com grânulos no citoplasma. No centro do desse glóbulo, é observado, na cor roxa, o núcleo lobulado.

• Eosinófilos: os eosinófilos, assim como os neutrófilos, são considerados um tipo de glóbulo


branco responsável por combater doenças. A função principal dos eosinófilos está associada a
doenças alérgicas e determinadas infecções, como as parasitárias.

24
UNIDADE 1

Figura 6 - Eosinófilo

Descrição da Imagem: nesta imagem em 3D, observamos o eosinófilo. Assim como o neutrófilo, é possível observar
um glóbulo branco com grânulos no citoplasma. No centro deste glóbulo, observa-se, na cor roxa, o núcleo lobulado.
Além disso, temos as plaquetas (formato circular) na coloração vermelha.

• Macrófagos: os macrófagos são células especializadas, envolvidas na detecção, fagocitose e des-


truição de bactérias e outros organismos prejudiciais. Além disso, eles também podem apresentar
antígenos às células T e iniciar a inflamação ao liberar moléculas — conhecidas como citocinas
— que ativam outras células. Os macrófagos se originam de monócitos sanguíneos que saem da
circulação para se diferenciar em diferentes tecidos. Os macrófagos migram e circulam dentro
de quase todos os tecidos, patrulhando patógenos ou eliminando células mortas.

25
UNICESUMAR

A resposta inflamatória pode ser definida como um processo defensivo local que, quando o local
é acometido por alguma injúria causada por agentes biológicos, físicos ou químicos, é acionado e se
caracteriza por uma sequência de fenômenos que podem ser irritativos, exsudativos, de reparo, vas-
culares e degenerativo-necróticos (NOGUEIRA, 2013).
De acordo com Nogueira (2013), podem ocorrer dois tipos de inflamação:

• Aguda: ocorre na fase inicial em que acontece o contato com o agente e ainda
existe uma predominância de neutrófilos.
• Crônica: no período inicial, a causa injuriante não é eliminada, ocorrendo uma
mudança no tipo celular prevalecente, em que os mononucleados (linfócitos e
monócitos) são encontrados em uma maior quantidade, podendo ocorrer, em
algumas situações, a formação de granulomas e/ou células gigantes.

Além disso, ainda, temos dois sistemas que fazem parte da resposta inflamatória:

• Células matadoras naturais (“Natural Killer Cell” – NK): são células de grande
importância para o sistema imunológico. Elas reagem de maneira rápida após a
invasão do agente, realizando sua ação em poucas horas (JOBIM; JOBIM, 2008).
• Sistemas de amplificação biológica: no campo de amplificação das respostas
defensivas, são encontrados com grande relevância no que tange à inflamação,
podendo ser como: coagulação sanguínea, complemento, cininas vasoativas e
outros que são de menor importância (NOGUEIRA, 2013).

Em relação aos mecanismos de escape parasitários, os parasitas fazem uso do organismo de seus
hospedeiros como meio ambiente vital, em que estes reagem através de diversos mecanismos, como
já mencionamos anteriormente. Como forma de reduzir sua taxa de mortalidade, os parasitas tentam
se utilizar de um ou vários mecanismos de escapes à resistência dos hospedeiros, como é descrito, a
seguir, por Gazzinelli ([2021], s.p.):

• Localização estratégica: Se dá quando determinado agente se localiza em local


de difícil acesso quanto às respostas defensivas do hospedeiro. Em nível intrace-
lular (formas amastigotas de T. Cruzi e do gênero Leishmania) e em luz intestinal
(adultos de Ascaris lumbricoides);
• Espessura de tegumento externo: Os helmintos adultos se utilizam de um tegu-
mento espesso para dificultar a ação de Ac e complemento e células de defesa. Ex.
Schistosoma mansoni e Wuchereria bancrofti,
• Rápida troca de membrana externa: A produção rápida e consequente perda da
membrana externa anterior facilitam a eliminação de Ac, fatores de complemento
e mesmo células de defesa. Ex. S. mansoni;

26
UNIDADE 1

• Máscara imunológica: Consiste na preexistência, adsorção ou mais raramente


na produção pelo parasita de Ag do hospedeiro, reduzindo inicialmente a resposta
aos mesmos. Ex. S. mansoni (adsorção) e T. Cruzi (preexistência);
• Variação antigênica: Seria a alternância de produção de Ag parasitários, o que
reduziria a capacidade de resposta protetora do hospedeiro. Ex. T. brucei;
• Determinação de imunodeficiência ao hospedeiro por parte do parasita:
Consiste em produção de substâncias ou degradação direta parcial significativa
do sistema de resistência do hospedeiro. Ex. L. chagasi e L. donovani (ativação
policlonal linfocitária).

Os períodos clínicos e parasitológicos podem ser classificados em:

1. Períodos Clínicos:
a. Período de incubação: Consiste no período desde a penetração do parasita
no organismo até o aparecimento dos primeiros sintomas, podendo ser mais
longo que o período pré-patente, igual ou mais curto;
b. Período de sintomas: É definido pelo surgimento de sinais e/ou sintomas;
c. Período de convalescência: Iniciam-se logo após ser atingida a maior sinto-
matologia, findando com a cura do hospedeiro;
d. Período latente: É caracterizado pelo desaparecimento dos sintomas, sendo
assintomática e finda com o aumento do número de parasitas (período de
recaída);
2. Períodos Parasitológicos:
a. Período pré-patente: É o compreendido desde a penetração do parasita no
hospedeiro até a liberação de ovos, cistos ou formas que possam ser detectadas
por métodos laboratoriais específicos;
b. Período patente: Período em que os parasitas podem ser detectados, ou seja,
podem-se observar estruturas parasitárias com certa facilidade;
c. Período sub-patente: Ocorre em algumas protozooses, após o período patente
e caracteriza-se pelo não encontro de parasitas pelos métodos usuais de diag-
nóstico, sendo geralmente sucedido por um período de aumento do número
de parasitas (período patente) (GAZZINELLI, [2021], s.p.).

Mesmo possuindo uma relação, os períodos parasitológicos e clínicos não possuem uma correlação
direta entre si.
Após conhecermos os períodos clínicos e parasitológicos, vem a confirmação diagnóstica, porém, na
maioria das vezes, não se torna possível um diagnóstico definitivo através dos sintomas que os hospedeiros
apresentam, semelhante como ocorre com afecções de outras naturezas. Para se confirmar a contaminação, é
necessário a realização de testes laboratoriais ou por meio de exames complementares (NOGUEIRA, 2013).

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UNICESUMAR

Um assunto muito importante que devemos abordar é a detecção de formas parasitárias. Essas
detecções podem ser realizadas das seguintes maneiras, conforme descrito por Gazzinelli ([2021], s.p.):

1. Pesquisa visual:
• Macroscópica: O parasitismo por artrópodes como exemplificado por piolhos
e pulgas e o encontro em matéria fecal de fragmentos de helmintos (Ex. proglo-
tes de Taenia sp, A. lumbricoides), ou mesmo íntegros (Ex. A. lumbricoides),
possibilitam o diagnóstico definitivo da Parasitose em questão;
• Microscópica: Neste caso, o encontro de estruturas parasitárias de helmintos
(ovos e/ou larvas), protozoários (cistos, trofozoítas e outras formas) e mais
raramente provenientes de artrópodes, determina a condição de confirmação
da hipótese clínica.
Essas estruturas podem ser encontradas em vários materiais clínicos:
• Sangue: Exame direto entre lâmina e lamínula: Ex. Trypanosoma cruzi e es-
fregaço (distensão delgada); Gênero Plasmodium; Métodos de concentração:
gota espessa (Ex. Gênero Plasmodium), Strout (T. cruzi); Knott (Ex. Wuche-
reria bancrofti e Mansonela oozardi); Filtração em sistema Millipore M.R. Ex.
Wuchereria bancrofti e Mansonela oozardi;
• Fezes: Exame direto entre lâmina e lamínula: Encontro de ovos (Ex. Anci-
lostomídeos) e larvas (Strongyloides stercoralis) pertencentes a helmintos
e cistos e formas trofozoíticas de protozoários (Giardia lamblia). Métodos
de concentração (Ex. Faust e col; Lutz; Ritchie): pesquisa de ovos e larvas de
helmintos e cistos de protozoários e de tamisação em: malha média (proglotes
de Taenia sp) e malha fina (adultos de Enterobius vermicularis);

28
UNIDADE 1

• Raspado cutâneo: Exame direto entre lâmina e lamínula associado ao uso


de clarificadores: Estágios evolutivos de ácaros causadores da sarna humana
(Sarcoptes scabei) e fungos determinantes de lesões superficiais são as prin-
cipais indicações diagnósticas por esta técnica;
• Biópsia: Tegumentares (Ex. Gên. Leishmania), Medula óssea (Ex. Gênero
Plasmodium) e retais (válvulas de Houston) no caso de infecção pelo Schis-
tosoma mansoni. Podem ser feitas mais raramente biópsias de vários tecidos
tais como: hepático, esplênico, ganglionar entre outros;
• Recuperação de helmintos adultos ou ovos na superfície cutânea: A Técni-
ca da fita adesiva (papel celofane ou método de Grahan) detecta principalmente
adultos e ovos de Enterobius vermicularis e mais raramente ovos de Taenia sp;
• Inoculação de material suspeito de conter o parasita (sangue ou macerado
tecidual) em animais de laboratório (hamster, gerbilídeos e camundongos)
como exemplificado para Leishmania e mais raramente Toxoplasma gondii,
ou xenodiagnóstico (T. Cruzi). Essa forma diagnóstica raramente é empregada
na rotina diagnóstica, exceto em instituições de ensino e pesquisa. Outra forma
é tentativa de cultivo do parasita a partir de materiais biológicos (Ex. sangue,
biópsias e liquor), porém este método não é utilizado com frequência na rotina
diagnóstica, em protozoologia e helmintologia, como em ocorre em bacterio-
logia e micologia. O uso de culturas em meios próprios, principalmente em
instituições acadêmicas, pode determinar o diagnóstico de algumas infecções
por protozoários (Ex. T. vaginalis, T. cruzi).
2. Pesquisa de antígenos parasitários: Atualmente através de técnicas como a
imunofluorescência direta e enzimaimuno ensaio (ELISA), poderemos detectar
Ag de vários parasitas, como a Entamoeba histolytica entre outros, não só em nível
fecal como em vários tecidos e líquidos corpóreos.
3. Pesquisa de Anticorpos anti-parasitários: A positividade por estes métodos,
principalmente representados pelas reações de hemaglutinação, imunofluorescência
indireta, enzimaimuno ensaio (ELISA), e em menor escala a Reação de Fixação de
Complemento, Contra-Imunoeletroforese e as provas de Imunodifusão, detectam
possível resposta imune aos antígenos testados, porém não diagnosticam obrigato-
riamente uma infecção presente, podendo ser inclusive resultado de reação cruzada
com antígenos encontrados em diferentes agentes infecciosos ou estruturas quími-
cas pertencentes a outros elementos que entraram previamente em contato com o
sistema imune do hospedeiro. Para debelar estes resultados considerados como fal-
so-positivos, o título de Ac e a classes de Imunoglobulina detectadas (IgG e/ou IgM)
detectados nos métodos citados acima são de grande ajuda, bem como a sorologia
pareada (comparação com no mínimo de duas semanas de intervalo, utilizando-se a

29
UNICESUMAR

mesma técnica, dos títulos encontrados). Estes testes são usados principalmente nas
infecções por T. gondii, T. cruzi e gênero Leishmania entre outras.
4. Pesquisa de fragmentos específicos de ADN parasitário: atualmente existem
provas de biologia molecular utilizadas em Parasitologia Médica, onde por sua
automação, alta sensibilidade e reprodutibilidade, se destacam a Reação em Cadeia
da Polimerase (Polymerase Chain Reaction - PCR), que é utilizada principalmente
onde outras técnicas apresentam dificuldade diagnóstica para detecção da real
presença do parasita. Esta técnica é, atualmente, uma opção diagnóstica para várias
infecções parasitárias, como nas determinadas por T. cruzi, Gênero Leishmania e
Cryptosporidium parvum.
5. Intradermorreação (IDR) para pesquisa de reatividade mediada por linfó-
citos T: a base desta reação é a medição da área afetada pela inflamação mediada
por LT, observada após 48 a 72h pós-introdução do Ag específico do parasita alvo,
em nível intradérmico. Esta reação não revela necessariamente parasitismo pre-
sente, mas sim resposta ao Ag problema, podendo a mesma ser fruto de infecções
passadas pelo agente ou mesmo por reações cruzadas com o Ag introduzido. Por
essas razões a IDR é considerada um teste prognóstico. Utilizamos a IDR com maior
frequência, em leishmaniose tegumentar e em algumas micoses.
6. Imagens: a análise dos resultados obtidos por métodos que determinam imagens
(diagnóstico por imagem), representados por exames de radiologia convencional,
tomografia computadorizada, ressonância magnética, cintilografia e ultrassono-
grafia, podem em algumas infecções por helmintos, tais como larvas dos gêneros
Taenia (cisticerco) e Echinococcus (cisto hidático) e em determinados casos de
parasitismo por adultos A. lumbricoides podem determinar o diagnóstico etioló-
gico específico. É possível também, com a análise das imagens obtidas nos exames,
ajudar na avaliação das condições do indivíduo parasitado (estágio da doença) ou
mesmo sugerir diagnósticos em função das alterações encontradas.

A epidemiologia geral das infecções parasitárias é definida como o conjunto de fatores de impor-
tância no estudo dos determinantes e a frequência de uma doença parasitária a nível local, regional
e mundial. Nesse campo, são fatores de importância os mecanismos de transmissões, a distribuição
geográfica, se há ou não a presença de reservatórios, conhecer o ciclo vital do parasita que acomete
a região, se existe cunho endêmico ou, ainda, se existem casos de epidemia, além da prevalência e
incidência, casos de infecções que podem ser afetadas por sexo, faixa etária ou grupo étnico, além dos
hábitos culturais da população alvo, entre outros (NOGUEIRA, 2013).
Cada agente etiológico da parasitose pode ser transmitido de acordo com uma variedade de fatores,
os quais são denominados ecossistemas parasitários. Esses componentes podem variar de acordo com
cada parasita, os quais nem sempre apresentam todos os componentes, como veremos a seguir. De uma
forma geral, o principal mecanismo que consta é o da transmissão (infecção), sendo de importância

30
UNIDADE 1

epidemiológica, caso existam diferenças sazonais ou regionais; as formas infectantes dos parasitas;
condições relacionadas ao meio ambiente, como temperatura, o tipo do solo, a água e o índice pluvio-
métrico. Além disso, devemos considerar os veículos de transmissão, como os alimentos, a água, os
vetores mecânicos e os fômites.
As infecções parasitárias possuem um comportamento que envolve uma série de relações, como
descrito por Gazzinelli ([2021], s.p.):


As infecções parasitárias se comportam como qualquer ecossistema dinâmico, onde
em decorrência de mudanças de seus componentes, pode ocorrer uma redução ou
aumento do número da população parasitária. O sedentarismo humano, a exploração
dos recursos ambientais e seus desdobramentos geram modificações no meio ambiente
e suas consequências podem alterar esse ecossistema hospedeiro-parasita. A construção
de grandes estradas, a implantação de cidades ou loteamentos em matas, alterações
de percurso de rios, açudes e a caça ou a redução por outras formas de reservatórios
silvestres podem fomentar de forma direta ou indireta o parasitismo humano e sua
epidemiologia. Por essas razões, seria de suma importância o estudo prévio do impacto
ambiental de cada das alterações pretendidas, mas infelizmente a maioria dos países
que se encontram nessas condições de modificações ambientais instala tal estudo de
forma desordenada e com a principal preocupação situada no lado econômico imediato,
como ocorre no Brasil. As infecções determinadas pela ingestão de água contaminadas
com formas parasitárias são facilitadas por fatores relacionados à falta de educação/
condições sanitárias satisfatórias como exemplificado pelo nosso país onde, 90% do
esgoto produzido não é tratado. Aproximadamente 51% da população urbana brasileira
(cerca de 39 milhões de pessoas) não são atendidas por rede de esgotos e 15 milhões
de pessoas não têm em suas residências água fornecida por rede pública.

A importância de um estudo sobre a epidemiologia de uma doença parasitária em determinado local


é determinante para o conhecimento, pois, por meio dos resultados obtidos, é possível realizar medi-
das que visam à prevenção, ao controle e, possivelmente, de forma mais rara, à erradicação da doença,
tornando-se um conjunto de medidas conhecido como profilaxia (SANTOS, [2021]).
Por meio desses estudos, é necessário realizar uma análise sobre a viabilidade de medidas que possam
ser empregadas, de uma maneira geral, para a melhoria das condições sanitárias, fazendo com que se
reduza a transmissão das parasitoses, que são acometidas pela contaminação fecal do meio ambiente
ou, até mesmo, de uma maneira individual, com a utilização de calçados que possibilitam a proteção
(SANTOS, [2021]). Em países subdesenvolvidos, como o Brasil, que possuem peculiaridades locais,
torna-se de extrema necessidade estratégias para a busca da integração das comunidades locais com
o setor de saúde, levando educação sanitária digna para todos.
Os parasitas, assim como os demais seres vivos, possuem sua classificação e suas regras de no-
menclatura zoológica, e é de extrema importância conhecê-las. Então, vamos lá!

31
UNICESUMAR

A classificação dos seres vivos se iniciou com a necessidade de o homem reconhecer e identificá-los.
Devido ao grande número existente de seres, houve essa organização como forma de facilitar a iden-
tificação e, consequentemente, o seu uso (ARAUJO; BOSSOLAN, 2006). No início, a classificação foi
dividida em dois grandes reinos: Animal e Vegetal. Isso ocorreu por meio das características dos seres
vivos, relacionadas com a evolução e o tipo de seu corpo. Com o passar do tempo e com o surgimento
de tecnologias como o microscópico, observou-se que muitos outros seres vivos não se encaixavam
nos dois grandes reinos, como, por exemplo, as bactérias, que são seres unicelulares, desprovidas de
envoltório nuclear e de estruturas membranosas intracelulares, como retículo endoplasmático, mito-
côndrias, cloroplastos e complexo de Golgi. Essas características as diferenciam dos demais organismos,
sendo de maior importância que as diferenças entre animais e vegetais.
Depois, surgiu uma nova classificação, que já não é mais utilizada: o Protista Plantae e Animalia.
Essa classificação reunia, no reino Protista, os organismos que possuíam características animais e vegetais.
Mais tarde, apareceu uma nova classificação que agrupou os organismos em quatro reinos: Monera —
bactérias e cianofíceas —, Protista — demais algas, protozoários e fungos —, Plantae ou Metaphyta
— desde briófitas até as angiospermas — e Animalia ou Metazoa — desde espongiários até mamíferos.
A classificação que surgiu mais recentemente inclui cinco reinos que foram propostos por Whittaker
(1969), sendo composta por um reino procariótico, Monera, e outros quatro reinos eucarióticos. Dos
grupos eucarióticos, acredita-se que o Protista deu origem aos outros três grupos restantes (Plantae,
Animalia e Fungi). Esses grupos são, em grande parte, multicelulares e se diferenciam, principalmente,
pelo seu modo nutricional.
Fazem parte do reino Monera os organismos unicelulares procariotos, coloniais ou não, autó-
trofos ou heterótrofos. Além disso, engloba as bactérias e cianofíceas (cianobactérias). O reino Protista
é constituído por organismos unicelulares eucariotos, coloniais ou não. Esse reino possui diversos
métodos nutricionais, como a fotossíntese, a absorção e a ingestão. Ele, também, compreende as algas
unicelulares e os protozoários. Composto por organismos eucariotos heterotróficos, os seres do reino
Fungi são multinucleados (cenocítios), e sua nutrição é realizada por absorção. O reino Plantae é com-
posto por organismos eucariotos fotossintetizantes (autótrofos), que compreende desde algas multi-
celulares até vegetais superiores. Composto por organismos eucariotos multicelulares heterotróficos,
o reino Animalia possui a ingestão, ou absorção, que pode ocorrer como forma primária de nutrição,
porém isso ocorre em alguns casos. No Quadro 1, resumem-se as características que os grandes grupos
de organismos possuem.
Essa forma de classificação apresenta, ainda, muitas dificuldades, devido aos seres vivos terem se
modificado e evoluído com o passar do tempo. Com a ciência avançando, novas descobertas surgem
a respeito das relações que os organismos possuem. Entretanto, essa forma de classificação que foi
proposta por Whittaker é a mais utilizada e aceita ultimamente (ARAUJO; BOSSOLAN, 2006).

32
UNIDADE 1

Característica Monera Protista Fungi Plantae Animalia

Tipo celular Procarioto Eucarioto Eucarioto Eucarioto Eucarioto

Sem envoltório Com envoltó- Com envoltó- Com envoltó- Com envoltó-
Núcleo
nuclear rio nuclear rio nuclear rio nuclear rio nuclear

Mitocôndrias Ausentes Presentes Presentes Presentes Presentes

Ausentes, há Presentes
Cloroplastos apenas lamelas em algumas Ausentes Presentes Ausentes
fotossintéticas formas

Composta
Não celulósica Presente
por quitina e
Parede celular (polissacarídeo em algumas Celulósica Ausente
outros polis-
+ aminoácido) formas
sacarídeos

Conjugação, Fertilização
Meios de Fertilização
transdução, e meiose, Fertilização e Fertilização e
recombinação e meiose ou
transformação conjugação meiose meiose
genética nenhum
ou nenhum ou nenhum

Fotossin-
Autotrófica
tetizante e Fotossinte-
Modo (quimio e fotos- Heterotrófica Heterotrófica,
heterotrófica tizante, na
denutrição sintetizante) e por absorção por ingestão
ou uma com- maioria
heterotrófica
binação

33
UNICESUMAR

Característica Monera Protista Fungi Plantae Animalia

Cílios e flagelos
Cílios e flage- em formas
Cílios, flage-
Por flagelos, los em algu- inferiores e al- Cílios e fla-
los, ameboi-
Motilidade deslizamento mas formas, guns gametas, gelos, fibrilas
de, fibrilas
ou imóveis nenhuma na nenhuma na contráteis
contráteis
maioria
maioria

Presente nas Presente


Pluricelulari- Presente, na
Ausente Ausente formas supe- em todas as
dade maioria
riores formas

Mecanismos
primitivos
para con-
Sistema dução de
Ausente Ausente Ausente Presente
Nervoso estímulos em
algumas
formas
Quadro 1 - Características dos grandes grupos de organismos / Fonte: adaptado de Araujo e Bossolan (2006).

Em relação à nomenclatura em Parasitologia: os seres vivos são classificados como integrantes dos
reinos Monera, Plantae, Fungi, Protista e Animalia. Para que você possa entender como funcionam
essas nomenclaturas em Parasitologia, Gazzinelli ([2021], s.p.) explica da seguinte maneira:


Para uma sistematização, levando-se em conta as similaridades dos diferentes seres
vivos, foram criadas várias categorias e, em alguns casos, super ou subcategorias taxô-
nomicas. Para o reconhecimento das mesmas normalmente são empregados sufixos
determinantes.

A nomenclatura de espécie é obrigatoriamente binominal, sendo o primeiro deles a


designação de gênero. Sua grafia deve obedecer à colocação de ambos em destaque
representado por letras em itálico ou sublinhado, sendo as palavras correspondentes de
origem latina ou latinizadas e tendo a primeira letra referente ao gênero em maiúsculo.
Opcionalmente se, já citada no texto, as demais vezes em que uma espécie for escrita,
poderá ser colocada de forma que a primeira letra do gênero seja seguida de ponto. Ex.
Giardia lamblia (1a. Citação) e G. lamblia (2a. citação).

Para que determinada espécie seja aceita como nomina válida, é necessário que a mesma
preencha determinados requisitos. Em seres que apresentam multiplicação sexuada, es-
tes devem se entrecruzar, originando descendente fértil. Nos seres em que a reprodução

34
UNIDADE 1

se faz de forma exclusivamente assexuada, a observação de semelhanças morfológicas


e/ou comportamento biológico eram no passado os critérios viáveis. Como tais ele-
mentos muitas vezes são subjetivos e de difícil operacionalização, atualmente, existe
uma tendência a se acrescentar critérios bioquímicos, em nível celular, representados
principalmente pela análise isoenzimatica e da sequência de DNA. Quando existem
somente pequenas diferenças entre os seres em análise, poderemos criar a categoria
de subespecie, onde é acrescentado um terceiro vocábulo. Ex. Trypanosoma brucei
(espécie) e T. brucei gambiensi (subespécie).

Sabendo dessas classificações, conheceremos os principais grupos de importância em Parasitologia.

PRINCIPAIS GRUPOS DE IMPORTÂNCIA


EM PARASITOLOGIA

Reino Protista Reino Fungi

Reino Animalia

Protozoários Fungos

Nematelminthes (classe Nematoda);


Platyhelminthes (classes Digenea e Cestoidea)
e Artropoda

A partir daqui, entraremos em outros conceitos dentro do parasitismo: o ecológico e bioquímico.


A definição de parasita é estabelecida como um organismo que vive na superfície ou no interior de
outro organismo vivo, em que está associado a aspectos de âmbitos biológicos e ecológicos, durante
uma parte de ou todo o seu ciclo de vida (PANTOJA et al., 2015). Entende-se que o parasita utiliza um
determinado organismo que é seu hospedeiro como seu biótopo ou ecótopo, em que o hospedeiro se
incube de regular, uma parte ou totalmente, suas relações com o ambiente.
Com isso, entendemos que o parasita não só usa seu hospedeiro como habitat momentâneo ou
definitivo, mas, da mesma forma, utiliza-se dele como fonte direta ou indireta de alimentos, seja utili-
zando para esse fim os mesmos tecidos do hospedeiro, seja usufruindo as substâncias que este prepara
para sua própria nutrição (PANTOJA et al., 2015).
Esta combinação, sem agravo observável para o hospedeiro, em algumas vezes, pode ser nociva em
menor ou maior grau, fazendo com que, em parte das vezes, o agente cause enfermidades. Essa combi-

35
UNICESUMAR

nação tende a uma estabilidade, pois o hospedeiro morre, implicando, também, na morte do parasita.
Dessa forma, dificilmente, o parasita leva o hospedeiro à morte, devido à relação existente há milhares
de anos, em que existe uma espoliação frequente, mas escassa para lesar o hospedeiro gravemente.
Algumas evidências evolutivas demonstram que o parasitismo passou a acontecer porque os seres
vivos da natureza exibiam um relevante inter-relacionamento. Com essas associações, os organismos
menores puderam se sentir beneficiados. Com o passar dos anos, ocorreu uma evolução em que o
parasita se tornou cada vez mais independente de seu hospedeiro, tornando essa adaptação marca do
parasitismo (NEVES; MELO; LINARDI, 2005).
Durante a vida dos parasitas, podem ocorrer adaptações por meio de tendências morfológicas, fisio-
lógicas e biológicas. De acordo com o Pantoja et al. (2015, p. 12), podemos citar as principais, que são:

a. Degenerações: representadas por perdas ou atrofias de estruturas corporais.


Exemplo: a Taenia solium (agente causador da teníase e cisticercose), em virtude
dependência dos sucos digestivos de seus hospedeiros, não apresenta tubo digestivo;
b. Hipertrofia: ocorrendo em especial nos órgãos de fixação, proteção e reprodução.
Exemplo: na Taenia saginata (agente causador da teníase), suas proglotes podem
aumentar consideravelmente o tamanho do útero, visando a armazenar até 160.000
mil ovos em cada proglote;
c. Capacidade reprodutiva: sendo possível elevar a produção de ovos, cistos ou
outras formas infectantes. Exemplo: Ascaris lumbricoides (popularmente conhe-
cido como lombriga), uma fêmea fecundada é capaz de ovipar, por dia, cerca de
200.000 ovos não embrionados;
d. Diversidade reprodutiva: uso de diferentes tipos de reprodução, objetivando a
perpetuação da espécie. Exemplos: hermafroditismo, partenogênese, esquizogonia6,
entre outras;
e. Capacidade de resistência à agressão do hospedeiro: desde a produção de
enzimas, indução de imunossupressão, até ao ato de burlar anticorpos e células de
defesa. Exemplo: Necator americanus (causador do amarelão), este parasita é capaz
de produzir uma cutícula, usada como tegumento protetor;
f. Tropismo: visam a facilitar a propagação, reprodução ou sobrevivência de um pa-
rasita. Exemplos: geotropismo (grego geo = terra + tropos = volta), termotropismo
(grego thermós = quente), quimiotropismo (grego chyma = fundir, substâncias
químicas), entre outros;
g. Grande faixa de tolerância de pH: podendo algumas espécies sobreviverem a
ambientes ácidos, básicos e/ou neutros. Exemplo: Strongyloides stercoralis (agente
etiológico da estrongiloidíase), em casos graves da doença, sua fêmea partenogê-
nica pode ser encontrada na porção pilórica do estômago, mostrando adaptação
ao ambiente ácido.

36
UNIDADE 1

Para entender intimamente o fenômeno parasitário, é necessário conhecer completamente o quão


possíveis são essas adaptações que são indispensáveis aos parasitas (REY, 2008).
De acordo com Pantoja et al. (2015), o sucesso evolutivo de cada parasita e de cada hospedeiro
dependerá de suas relações e funções dentro dos ecossistemas. O estudo ecológico dos parasitas é
desafiador, visto que depende de situações em si já muito complexas, tais como:

a. A ecologia dos hospedeiros definitivos.


b. A ecologia dos hospedeiros intermediários.
c. As relações diretas com o meio exterior.
Ademais, o fato de o parasita ter por “habitat” outro ser vivo implica algumas adversidades, como:
a. Limitação de espaço para o parasitismo.
b. Variações nas características do meio.
c. Rapidez dos mecanismos adaptativos.
d. Busca por êxito na transmissão do parasita a novos hospedeiros.
A literatura ainda ressalta que a passagem do parasita de um hospedeiro a outro é um
fenômeno complexo, pois envolve diferentes mecanismos, a saber:
a. Transporte ou deslocamento até o novo hospedeiro.
b. Reconhecimento em nível bioquímico.
c. Busca por uma localização adequada; entre outros.

O parasitismo não deve ser confundido com doenças, como relatado anteriormente por alguns au-
tores. Isso se dá pois, no passado, as relações parasita-hospedeiro geravam consequências médicas e
veterinárias por causa de interpretações errôneas.
Assim, a consequência de uma doença parasitária pode acontecer por um desequilíbrio entre hos-
pedeiro e parasita (NEVES; MELO; LINARDI, 2005), em que seu grau de intensidade é dependente de
vários fatores, como o número de formas infectantes presentes, a virulência da cepa, a idade, o estado
nutricional do hospedeiro, os órgãos atingidos, a associação com outras espécies, o grau de resposta
imune, entre outras (PANTOJA et al., 2015).

Neste podcast, você conhecerá algumas curiosidades sobre os pa-


rasitas do corpo humano. Pronto para escutar? Então, vem comigo!

37
UNICESUMAR

Depois de você conhecer toda a


introdução sobre a Parasitologia,
os conceitos que fazem parte des-
sa área, você, como profissional da
área da saúde, pode se questionar
de que maneira poderá aplicar todo
esse conhecimento na prática. Bom,
a partir desses conceitos básicos que
vimos nesta unidade, conhecendo
como é a relação do parasita com
o hospedeiro, você poderá atuar
junto a toda a comunidade, reali-
zando ações que visam à preven-
ção das possíveis doenças que são
transmitidas por esses parasitas e
levando toda informação necessá-
ria para toda a comunidade. Além
disso, poderá atuar através de polí-
ticas públicas, juntamente com ór-
gãos responsáveis pela erradicação
das doenças parasitárias. Bom, isso
é só uma parte em que você poderá
aplicar seus conhecimentos, sendo
o pontapé inicial para sua profissão.

38
Prezado(a) aluno (a), nesta unidade, conhecemos as classificações que englobam a Parasitologia,
além dos conceitos básicos que a compõem, que são de grande importância para o estudo. Além
disso, estudamos a ocorrência dos mais diversos parasitas e a sua relação parasita-hospedeiro,
bem como suas respostas para a saúde da população em geral. Vimos as diversas formas de
detecção desses seres, em que temos uma variedade de testes que podem ser realizados e que
vão do mais simples ao mais moderno, utilizando-se de novas tecnologias.
Outro item estudado foi a classificação dos seres vivos, em que, com o passar do tempo, elas fo-
ram surgindo e sendo organizadas de acordo com as características dos seres vivos. Já as regras
de nomenclatura possuem formas específicas de acordo com as similaridades dos seres vivos,
sendo criada através de categorias e subcategorias. E, por fim, vimos o conceito ecológico e bio-
químico de parasitismo, que mostra a relação com o ciclo de vida do parasita e seu envolvimento
com o hospedeiro.
A Parasitologia pode causar diversos problemas para a saúde de seus hospedeiros, porém podem
ter um papel de grande importância no controle da população de hospedeiros, em que compete
a eles recursos finitos. Este estudo engloba muitos outros assuntos que se correlacionam com o
que vimos nesta primeira unidade. Nas próximas unidades, aprofundar-nos-emos mais para que
possamos entender cada vez mais essa grande área de estudo.
Com isso, sugiro que, diante do mapa da empatia, você o preencha de acordo com seus conheci-
mentos adquiridos no decorrer desta unidade. Para auxiliá-lo(a), deixei alguns comentários para
guiá-lo(a) no desenvolvimento.

Como posso ajudar a


Orientações à
população para diminuir
população local.
essas contaminações?

MAPA DA EMPATIA
O QUE
PENSA E SENTE?
Deve-se, sempre, lavar as mãos População doente,
e os alimentos e não ficar O QUE O QUE com vômito e diarreia
andando descalço nos lugares. OUVE? VÊ? constante.

O QUE
FALA E FAZ?

QUAIS SÃO AS DORES? QUAIS SÃO AS NECESSIDADES?


Falta de saneamento básico Planejamento para regiões
e informações. não desenvolvidas.

Fonte: o autor.

39
MEU ESPAÇO

40
1. Defina o que é o ciclo vital dos parasitas e cite dois exemplos básicos deles.

2. A infestação e infecção possuem dois parâmetros que se baseiam na classificação, que


é a localização e dimensão. Explique a diferença entre a infestação e infecção dentro
do parâmetro de localização.

3. Na Parasitologia, temos o que chamamos de períodos clínicos e períodos parasito-


lógicos. Em função disso, descreva o que é o período de convalescência e o período
pré-patente.

AGORA É COM VOCÊ

41
MEU ESPAÇO

42
2
Epidemiologia e
seus conceitos
Dr. Luiz Fernando de Souza Alves

Nesta segunda unidade, estudaremos sobre a epidemiologia e os


conceitos que a envolvem, entenderemos o uso das ferramentas e
ações da vigilância epidemiológica, fazendo uma ponte para a inte-
gração entre o olhar clínico e o epidemiológico, desenvolvendo co-
nhecimentos e habilidades para aplicar, na prática, esses conceitos.
UNICESUMAR

Você percebeu que, na época da pandemia, em que o mundo inteiro está concentrado nos esforços
para o combate ao novo coronavírus, tornou-se até difícil pensar em outras doenças? Não se pode
deixar de lado e nem se esquecer dos inúmeros patógenos em circulação, ainda mais em um país tão
grande e biodiverso como o Brasil. Alguns velhos conhecidos ainda seguem ameaçando a saúde pública
de maneira silenciosa e constante. Doenças infecciosas que causam grandes surtos epidemiológicos
como a dengue, a febre amarela e o sarampo ainda não foram erradicados. Esses patógenos merecem
muita atenção nesse e em qualquer momento. Nesta unidade, compreenderemos como funcionam as
doenças epidemiológicas que colocam a saúde pública em risco constantemente.
A dengue é uma doença que acomete os brasileiros todos os dias, causando uma grande epidemia
em nosso país. O mosquito Aedes aegypti já possui um comportamento totalmente urbano, o que faz
com que não ocorra sua presença em ambiente de matas. A alta quantidade desses mosquitos faz com
que ocorra sua epidemia, gerando transtornos devido às altas taxas de contaminação. Esses mosquitos
depositam seus ovos em qualquer local que possua água limpa, ocorrendo uma rápida eclosão. Para
dar origem ao mosquito, essa larva possui quatro fases, que durarão por um período de cinco a sete
dias. A partir de então, inicia-se, novamente, o ciclo desse mosquito.
Sabemos que o controle dessa doença depende de toda a população, pois o foco está dentro de cada
casa. Até o momento, não existe um remédio eficaz contra a dengue. Como você, profissional da saúde,
poderia atuar para o combate e neutralização dessa doença em sua região?
Existem duas maneiras de se realizar a prevenção da doença: por meio da diminuição ou do con-
trole do mosquito, as quais são utilizadas, nos últimos anos, pelo Ministério da Saúde, como forma
de conscientizar a população. Já existe uma vacina eficaz, porém ainda não está disponível para que
seja aplicada em toda a população. Devido a isso, as alternativas citadas anteriormente são as medidas
disponíveis para o combate desses vetores. A partir daqui, sugiro que você anote, em seu Diário de
Bordo, quais são essas medidas ou outras possíveis para o controle da dengue.

DIÁRIO DE BORDO

44
UNIDADE 2

Para iniciarmos nosso estudos sobre epidemiologia, devemos conhecer seu conceito, o qual pode
ser definido como um estudo do processo saúde-doença em coletividades humanas, em que analisa
a ocorrência e a determinação dos fatores das enfermidades, os danos causados à saúde, ocorrências
que estão associadas à saúde coletiva, indicando medidas de prevenção, controle ou erradicação de
doenças, que fornecem indicadores que prestam suporte à administração, ao planejamento e à avaliação
das ações aplicadas à saúde (ROUQUAYROL; GOLDBAUM; SANTANA, 2013).
De acordo com Pereira (2013), o significado etimológico do termo deriva do grego:

Epi (sobre) + Demo (população) + Logos (estudo)

De uma forma mais simples, o termo epidemiologia é o estudo sobre aquilo que prejudica a população,
com foco no campo da saúde. Dentro da epidemiologia, reúnem-se métodos e técnicas de conhecimentos,
como Ciências Sociais, Estatística e Ciências Biológicas. Na epidemiologia, de acordo com Pereira
(2013), temos uma atuação bastante ampla, que compreende, em linhas gerais: pesquisa e ensino em
saúde; caracterização das condições da saúde; busca dos fatores decisivos sobre a situação da
saúde; conjectura sobre o impacto que as ações causam na alteração da situação de saúde.
O princípio básico da epidemiologia compreende o entendimento que os eventos que envolvem a
saúde não se dividem ao acaso entre as pessoas. Existem grupos de populações que apresentam uma
maior quantidade de casos mais graves, e outros que, por conta de uma determinada doença, morrem.
Essas diferenças ocorrem porque os fatores que instigam o estado da saúde não se disseminaram de
maneira igual pela população, com isso, afetam determinados grupos (PEREIRA, 2013). Em resumo,
podemos afirmar que essa distribuição de doenças na população é tomada por aspectos socioculturais,
biológicos, econômicos, ambientais, o que faz com que o processo saúde-doença tenha uma mani-
festação diferente nas populações.
A epidemiologia existe há muito tempo, desde a Antiguidade, sendo que os registros iniciais deram
origem à epidemiologia através das manifestações de doenças e foram encontrados na Grécia Antiga,
onde se acreditava que as doenças e posteriores curas ou mortes eram fruto de castigo dos deuses e
demônios. Todavia, em vez de continuar com essa crença, Hipócrates, um médico grego, analisou o
processo de adoecimento baseado na ideia racional e se afastou das teorias sobrenaturais presentes
naquela época, contrapondo-as, incluindo o fato de que a doença é um produto das relações confusas
entre o ambiente e o indivíduo, aproximando-se do modelo ecológico que as doenças produzem até
os dias de hoje (PEREIRA, 2013).
Uma grande revolução foi observada na epidemiologia na segunda metade do século XIX, a partir
de estudos realizados pelo médico sanitarista John Snow sobre a epidemia de cólera na cidade de
Londres (1849–1854). Por meio desse estudo, observou-se os casos, os óbitos, o consumo de água
da população e os aspectos ambientais da cidade em estudo, e foi possível determinar que a água
consumida estava contaminada e era a principal responsável pelo acometimento da doença. Essa
descoberta só foi confirmada 30 anos depois por meio do isolamento do agente causador da doença
(SNOW, 1999; PEREIRA, 2013).

45
UNICESUMAR

Todo esse feito proporcionou a John Snow o título de “Pai da Epi-


demiologia”, devido ao seu trabalho científico realizado de forma
extensa e cuidadosa, sendo considerado um clássico estudo na área
de epidemiologia de campo, determinando o local de infecção de uma
doença antes de conhecer seu agente etiológico.
Outro marcante cientista, que recebeu o título de “Pai da Bacterio-
logia”, foi Louis Pasteur (1822–1895), que identificou uma variedade
de bactérias e controlou diversos tipos de doenças. Além disso, foi um
grande influenciador da história de epidemiologia, introduzindo bases
biológicas permitindo um melhor estudo das doenças infecciosas (PE-
REIRA, 2013), apontando os agentes causadores das doenças e propi-
ciando uma fixação das medidas de prevenção e possíveis tratamentos.
Rosen (1994) e Pereira (2013) citam outros importantes nomes na
história da epidemiologia (Figura 1), como:

• John Graunt (1620–1674): pioneiro em quan-


tificar os padrões de natalidade e mortalidade.
• Pierre Louis (1787–1872): responsável por uti-
lizar o método epidemiológico em investigações
clínicas de doenças.
• Louis Villermé (1782–1863): pesquisou o im-
pacto da pobreza e das condições de trabalho na
saúde das pessoas.
• William Farr (1807–1883): responsável pela
produção de informações epidemiológicas siste-
máticas para o planejamento de ações de saúde.
• Ignaz Semmelweis (1818–1865): participou
da investigação das causas de febre puerperal
em Viena, em que constatou que a contaminação
das mãos estava relacionada à transmissão da
doença e às altas taxas de mortalidade, introdu-
zindo medidas de higiene que reduziram tais
indicadores.
• Edward Jenner (1743–1823): médico britâni-
co considerado o “Pai da Imunologia”, pois foi o
primeiro a utilizar, cientificamente, uma vacina
contra a varíola.

46
UNIDADE 2

Figura 1 - Importantes nomes na história da epidemiologia / Fonte: Wikimedia ([2021a], [2021b], [2021c], [2021d], [2021e], [2021f]).

Descrição da Imagem: a imagem contém seis retratos dos importantes nomes da história da epidemiologia na seguinte
ordem: John Graunt, Pierre Louis, Louis Villermé, William Farr, Ignaz Semmelweis, Edward Jenner.

47
UNICESUMAR

Os séculos XIX e XX foram caracterizados pela ação da microbiologia sobre a epidemiologia, que consistiu
não apenas em reconhecer os principais agentes etiológicos que estavam envolvidos na transmissão de
doenças infectocontagiosas que foram responsáveis por uma grande taxa de mortalidade, mas que também
proporcionou uma evolução nas medidas para o tratamento e prevenção dessas doenças (GOMES, 2015).
Durante esse período, deu-se um destaque científico e acadêmico bastante importante para a epi-
demiologia, surgindo diversas instituições de pesquisa no Brasil e, também, em todo o mundo, além
da ampliação de áreas de atuação, dando origem a subdivisões de área, como, por exemplo, a epide-
miologia nutricional, que, de acordo com Pereira (2013), algumas causas de doenças determinadas
como infecciosas provinham, na verdade, de origem nutricional.
Com isso, foi possível afirmar que, a partir do fim do século XX até os dias de hoje, a epidemiologia
se baseia nas pesquisas científicas realizadas, visando determinar as condições de saúde que a população
possui, além da busca pelos agentes etiológicos, verificando quais são os fatores que estão predispostos
para ocasionar o seu aparecimento (GOMES, 2015).
Como observamos anteriormente, de acordo com Pereira (2013), com o passar dos anos, a epide-
miologia se tornou uma ciência totalmente ampla, possuindo diversas subdivisões, como, por exemplo,
a epidemiologia nutricional, de campo, clínica, descritiva, investigava, entre outras. Entretanto, de
maneira geral, temos três principais áreas de atuação de acordo com Gomes (2015, p. 12):

• Descrição das condições de saúde da população por meio da construção de indica-


dores de saúde. Exemplo: taxa de mortalidade, taxa de incidência de uma doença;
• Investigação dos fatores determinantes da situação de saúde. Exemplo: investigação
de agentes etiológicos, fatores de risco;
• Avaliação do impacto das ações para alterar a situação de saúde. Exemplo: avaliação
do impacto do saneamento para diminuir parasitoses na comunidade.

Uma análise da condição de saúde é equivalente à coleta ordenada de dados relacionados à saúde da
população, informações que podem ser econômicas, culturais, sociais, demográficas e ambientais, que
servirão para complementar os indicadores utilizados para a saúde. Essa análise necessita de um diagnós-
tico muito preciso para a sua realização, garantindo os resultados efetivos nas buscas (PEREIRA, 2013).
Como profissional da epidemiologia e da saúde, que pretende atuar nessa área, é importante que
você tenha um amplo conhecimento sobre os conceitos e sobre as ferramentas que envolvem a epide-

48
UNIDADE 2

miologia, para que, assim, não haja erros durante a avaliação, que vai desde o planejamento, execução
e análise de dados (ROUQUAYROL; GURGEL, 2013).
É de grande importância a realização de um plano de ação voltado para a saúde que tenha o objetivo
de diminuir e identificar os problemas, além de criar hipóteses em cima dos fatores que estão envol-
vidos na criação e manutenção do local epidemiológico. Essas hipóteses podem e devem ser testadas.
Com isso, esse diagnóstico é o pontapé inicial para entender e poder atuar diretamente nos problemas
encontrados na população (PEREIRA, 2013).
A investigação dos agentes etiológicos ocorre desde os séculos passados, visando sempre à epi-
demiologia. No final do século XIX até a metade do século XX, porém, as doenças infectocontagiosas
tiveram um grande foco devido ao progresso da microbiologia e a grande preponderância das doenças
infecciosas no mundo (PEREIRA, 2013).
Inicialmente, escolheu-se uma abordagem unicausal como procedimento para o adoecimento,
em que a identificação de um agente etiológico de uma determinada doença poderia ser eliminada
assim que identificado. Essa abordagem permitiu solucionar uma variedade de problemas da saúde
pública, como o controle de doenças por meio da vacinação e o controle de doenças por meio
de tratamento (GOMES, 2015).
Com o entendimento científico, a abordagem unicausal não foi eficiente para esclarecer as causas
de determinadas doenças, resultando, assim, no surgimento de uma nova abordagem, a multicausal,
que investiga os agentes etiológicos (GOMES, 2015). De acordo com Pereira (2013), essa abordagem
propiciou, por meio de descobertas, os diversos fatores que estão associados à ocorrência da asma
brônquica e da etiologia de doenças coronarianas.
Agora, entenderemos um pouco sobre a determinação de risco, que é conceituada, na epide-
miologia, como a combinação de um acontecimento de doenças na população. Quando se trata de
epidemiologia, definimos o risco como um grau de possibilidade do acontecimento de um evento
específico (PEREIRA, 2013).
Diversos são os conceitos sobre risco na epidemiologia, porém se deve considerar os dois mais
importantes, que são: Risco Relativo ou Razão de Risco (RR) e Razão de Chances ou Odds Ratio (OR).
O RR é a origem de dois riscos, sendo a origem que envolve as taxas de incidência ou mortalidade
quando o indivíduo tenha sofrido uma exposição. Em estudos de Coorte (Figura 2), essa medida,
normalmente, é utilizada, em que, para ser calculada, utiliza-se a seguinte fórmula:

49
UNICESUMAR

a b a a b

Expostos
Seguimento

c d d d d
Amostra

Não Expostos

Tabela de contingência 2x2


D Đ Total
E a b a+b
Ē c c c+d
Total a+c b+d a+b+c+d

D: doente a: doentes expostos a+b: expostos


Đ: não doente b: não doentes expostos c+d: não expostos
E: exposto c: doentes não expostos a+c: doentes
Ē: não exposto d: não doentes não expostos b+d: não doentes

Doente Não doente

Figura 2 - Esquema do estudo de Coorte para cálculo do risco relativo / Fonte: Gomes (2015, p. 15).

Descrição da Imagem: nesta imagem, observamos a população em azul, considerada como amostra, e outras duas
populações em amarelo e alaranjado, correspondendo a dois diferentes segmentos, sendo os expostos e não ex-
postos, em que os alaranjados correspondem a pessoas doentes, e os amarelos, a pessoas não doentes. Na tabela,
demonstra-se a contingência de 2x2.

O resultado da razão de RR pode ser interpretado da seguinte maneira:

50
UNIDADE 2

RR > 1: a exposição é um fator de risco.


a
risco dos expostos RR < 1: a exposição é um fator de prote
RR = a + b =
c risco dos não expostos RR = 1: não houve associação entre a
c+d exposição e a doença, ou seja, o risco d
adoecer não depende da exposição.

RR > 1: a exposição é um fator de risco.


RR < 1: a exposição é um fator de proteção.
RR = 1: não houve associação entre a exposição e a doença, ou seja, o risco de adoecer não depende
da exposição.

Figura 3 - Interpretação do resultado da razão de RR. / Fonte: Gomes (2015, p. 15).

Descrição da Imagem: na figura, é possível observar o cálculo realizado para chegar ao resultado de RR, em que se
apresentam, primeiramente, as fórmulas e, logo após, como interpretamos os resultados.

Para darmos sequência, falaremos sobre determinação de prognósticos. De acordo com Pereira
(2013), é possível calcular o prognóstico de um indivíduo que possui uma doença — seja ela biológica,
genética, psíquica — e se poderá ter ou não uma maior chance de complicações, podendo, também,
ter um maior ou menor tempo de sobrevida.
Para isso, denomina-se fator de prognóstico o indicador quantitativo que possui a presença e/ou
intensidade de fatores de risco que estão relacionados ao percurso de uma determinada enfermidade.
Esse fator pode ser definido também, de acordo com Gomes (2015), como medidas capazes de serem
avaliadas no momento do diagnóstico.
Esse fator de prognóstico é comumente aplicado para avaliar a sobrevida em pacientes com neo-
plasias. Por meio da pesquisa de dados sobre os tipos de neoplasias, foi possível estimar esse fator para
cada tipo de câncer (GOMES, 2015).

51
UNICESUMAR

Na atualidade, com a criação e aperfeiçoamento de biomarcadores, o fator prognóstico obtém uma


nova importância, pois os médicos podem intervir antes do surgimento de sintomas das doenças.
Entretanto, os biomarcadores são utilizados como um fator responsável que prediz sobre respostas a
uma determinada terapia, remetendo isso ao fator de prognóstico. Com isso, esse tipo de fator se torna
umas das principais aplicações da epidemiologia na clínica médica (GOMES 2015).

Podemos considerar como um biomarcador qualquer parâmetro biológico mensurável por


meio de exames ou, na realidade, qualquer substância ou componente que possa ser utilizado
como um indicador que aponta o estado de alguma doença em particular ou de outro estado
fisiológico que esteja sendo estudado em um organismo.
Fonte: Anticorpos Laboratório ([2021], on-line).

A partir de agora, entraremos em um assunto bastante importante, que são os indicadores de saúde.
Assim, como o nome diz, as medidas de frequências de doenças são indicativos que foram cons-
truídos com o objetivo de medir a ocorrência de doenças na população. Com isso, essas medidas são:
indicadores, índices, taxas e coeficientes (GOMES, 2015).
Segundo Lima, Pordeus e Rouquayrol (2013 apud GOMES, 2015, p. 30), podemos definir:

• Índice: termo genérico apropriado para referir-se a todos os descritores da vida


e da saúde; inclui todos os termos numéricos existentes e incidentes que trazem a
noção de grandeza.
• Coeficientes: são medidas secundárias que, ao serem geradas pelos quocientes
entre medidas primárias de variáveis independentes, deixam de sofrer influência
dessas variáveis para expressar somente a intensidade dos riscos de ocorrência. Em
outras palavras, trata-se da frequência com que um evento ocorre na população.
• Taxas: são medidas de risco aplicadas para cálculos de estimativas e projeções de
incidências e prevalências em populações de interesse.
• Indicadores: são os índices críticos capazes de orientar a tomada de decisão em
prol das evidências ou providências.

A incidência e a prevalência são medidas utilizadas para calcular como a frequência de doenças
acomete a população. De acordo com Costa e Kale (2009), quando se tem uma frequência de casos
que ocasionam problemas de saúde ou doenças por um determinado período, provenientes de uma
população que possui risco de ficar doente no início da observação, chama-se de incidência.

52
UNIDADE 2

Quando se obtém novos casos, compreende-se que aqueles indivíduos não estão doentes no perío-
do inicial da observação, mas ficaram doentes durante a observação do período. Com isso, torna-se
necessário o acompanhamento da observação com mais acurácia, para que se defina a incidência de
uma doença (GOMES, 2015).
Através dessa definição, podemos concluir que uma doença pode acometer um mesmo indivíduo
mais de uma vez no período em que é observado, o que se intitula como incidência total (COSTA;
KALE, 2009). Utilizamos essa medida para calcular a ocorrência de doenças agudas que podem ser
consideradas infecciosas ou não infecciosas.
Devemos frisar que mortalidade e letalidade podem ser compreendidas como ocorrências
específicas dentro do conceito de incidência, em que é considerada a morte, e não o adoecimento
(COSTA; KALE, 2009).
Tais medidas podem ser definidas como:

• Mortalidade: uma medida muito utilizada como indicador de saúde porque per-
mite avaliar as condições de saúde de uma população. É calculada dividindo-se o
número de óbitos pela população em risco.
• Letalidade: uma medida da gravidade da doença. Expressa o poder que uma
doença ou agravo à saúde tem de provocar a morte nas pessoas acometidas. É
calculada dividindo-se o número de óbitos por determinada doença pelo número
de casos da mesma doença. Algumas doenças apresentam letalidade nula, como,
por exemplo, escabiose; enquanto para outras, a letalidade é igual ou próxima de
100%, como a raiva humana (UNA-SUS/UFSC, 2013 apud GOMES, 2015, p. 31).

A prevalência é a segunda medida que temos de frequência de doenças dentro da epidemiologia,


sobre a qual conversaremos a partir daqui.
De acordo com Costa e Kale (2009), pode-se definir prevalência como uma periodicidade existente
de casos de uma doença específica, em uma determinada população e em um momento específico. O
que entendemos, também, como os casos que já são existentes ou antigos, aos quais se somam novos
casos, durante um certo período, em uma população.
Quando falamos sobre prevalência, esta é considerada uma medida estatística, que configura uma
medida da quantidade de casos que existem em uma dada população. Temos essa medida através de
um dado instante, que chamamos de prevalência instantânea ou pontual, e temos, também, a medida
num dado período, que chamamos de prevalência de período (GOMES, 2015).
É importante ressaltar que existe uma diferença da incidência para a prevalência, em que esta
considera apenas uma ocorrência de uma doença específica por indivíduo, ou seja, quando ocorre
de um indivíduo ter um resfriado três vezes em um ano, esse acontecimento será contado uma única
vez (GOMES, 2015).
Temos alguns fatores que podem influir de maneira negativa ou positiva para a prevalência, de
acordo com Rouquayrol e Almeida Filho (2003) e Costa e Kale (2009), sendo eles:

53
UNICESUMAR

Aumento da prevalência Diminuição da prevalência


• Redução da ocorrência da doença;
• Maior ocorrência da doença;
• Cura por tratamento (doenças infecciosas prin-
• Tratamento mais adequado, aumentando a cipalmente);
sobrevida do paciente, porém não curando-o;
• Mortes;
• Imigração de indivíduos doentes ou emigração
de indivíduos sadios. • Imigração de indivíduos sadios ou emigração
de indivíduos doentes.
Quadro 1 - Fatores que influem de maneira negativa ou positiva para a prevalência / Fonte: Gomes (2015, p. 32).

Para compreender melhor o assunto, entenderemos, da melhor maneira, como se dão os usos principais
das medidas de incidência e prevalência, de acordo com Gomes (2015, p. 33):


A incidência é bastante utilizada em investigações etiológicas para elucidar relações
de causa e efeito, avaliar o impacto de uma política, ação ou serviço de saúde, além de
estudos de prognóstico. Já a prevalência pode ser utilizada para o planejamento de
ações e serviços de saúde, previsão de recursos humanos, diagnósticos e terapêuticos.
Ressalta-se que a prevalência é uma medida mais adequada para doenças crônicas ou
de longa duração.

Para você, profissional da saúde, compreender como a doença acomete uma população, é necessário
entender onde e quando a doença ocorre sob a ótica do tempo e do espaço, sendo essa perspectiva mais
uma ferramenta da epidemiologia para representar situações que envolvem o processo saúde-doença.
Para isso, temos a distribuição da doença no tempo, que considera, de uma maneira ampla, o
conhecimento sobre a ocorrência de doenças, em que é comum saber de alusões sobre a probabili-
dade de registro do aumento de ocorrência de determinadas doenças em específicas épocas do ano
(GOMES, 2015).
De acordo com Medronho, Weneck e Perez (2009), o conhecimento sobre a distribuição da doença
nos traz importantes informações para o entendimento, prognóstico, etiologia, prevenção, além do
efeito sobre a repercussão sobre as interposições na saúde.
Por meio desse ponto de vista, é indispensável o apontamento e a assistência dessa evolução do
tempo das doenças, em que se torna capaz de reconhecer os modelos e as disposições do acontecimento
de doenças durante um logo período de tempo, além de definir limites para essas variações, tornando
possível a identificação de uma incidência elevada ou, até mesmo, uma prevalência de uma doença,
depois de um certo período (GOMES, 2015).
Contudo, esse conhecimento é fundamental para entender quais são as variações que são esperadas
e, também, as não esperadas que acontecem em uma determinada doença.
De acordo com Medronho, Weneck e Perez (2009), temos quatro tipos a serem considerados em
uma evolução temporal, que são: as variações regulares não estacionais, as variações não regulares, as
variações estacionais e, por fim, a tendência histórica.

54
UNIDADE 2

A tendência histórica está relacionada a ocorrências de mudanças da periodicidade de uma


doença por um longo período de tempo. Um exemplo que podemos citar nesse tipo de tendência é a
evolução da tuberculose, que tem uma representatividade específica da distribuição histórica, em que
o foco se deu através dos impactos das medidas de diagnóstico, além da prevenção e do tratamento.
De acordo com Gomes (2015), essa tendência histórica explicou sobre a causa de muitas mortes
ocorridas no século XX, tanto de doenças infecciosas, quanto de doenças crônico-degenerativas, que
foram notoriamente influenciadas pela mudança demográfica, sendo um reflexo de condições me-
lhores de vida para a população.
Em relação às variações cíclicas, elas são definidas pelas oscilações na incidência de doenças que
ocorrem em um tempo maior que um ano (MEDRONHO; WERNECK; PEREZ, 2009). Podemos
relacionar esse tipo de variação às doenças virais, em que existe um ponto de incidência que pode
ocasionar um grande número de vulneráveis, seguido por um declínio, até que a incidência aumente
devido a uma nova cepa, tornando a população vulnerável novamente.
Temos uma variação em que a ocorrência de uma doença se dá em conjunto com as estações do
ano, que são as conhecidas variações sazonais. As doenças mais comuns a esse tipo de variação são
as infecciosas, como, por exemplo, a malária, a gripe, a dengue etc. Entretanto, temos outros tipos de
doenças que também podem sofrer com as influências sazonais, como as crônicas.
De acordo com Medronho, Weneck e Perez (2009), essa variação está associada a outros eventos,
os quais podem ser os demográficos, que são os nascimentos, e, também, a mortalidade, que é causada
por acidente de trabalho etc.
Quando se tem uma variação não esperada para o acometimento de uma doença, chamamos de
variações irregulares, a qual pode ser confirmada através de levantamentos estatísticos, dos quais se
considera uma distribuição normal, baseada em dados memoráveis da doença. De acordo com Pereira
(2013), essa variação é classificada como epidemia, em que a ocorrência em um determinado local ou
região possui elevados casos da mesma doença, ultrapassando a incidência que é normalmente esperada.
A caracterização que determina a ocorrência de uma epidemia é o número de casos, que pode
variar de acordo com o agente infeccioso, a população exposta, como o tamanho, o tipo, além do local
e o tempo do acometimento (PEREIRA, 2013).
A endemia possui um conteúdo diferente da epidemia, e o termo é compreendido como: “presença
constante de uma doença dentro dos limites esperados, em uma determinada área geográfica, por um
período de tempo ilimitado” (MEDRONHO; WERNECK; PEREZ, 2009, p. 83).
Devemos frisar que, quando surge uma epidemia, ela não está necessariamente ligada a casos ele-
vados de uma doença. Apenas um único caso que se manifeste de uma determinada doença pode ser
considerado como uma epidemia.
Podemos classificar a epidemia de acordo com sua abrangência geográfica, conforme descrito por
Gomes (2015, p. 51):

55
UNICESUMAR

• Pandemia: é o nome dado à ocorrência epidêmica caracterizada por larga distri-


buição espacial, atingindo várias nações. Em outras palavras, a pandemia pode ser
tratada como a ocorrência de uma série de epidemias localizadas em diferentes
regiões e que ocorrem em vários países ao mesmo tempo (ROUQUAYROL; BAR-
BOSA; MACHADO, 2013).
• Surto: é uma ocorrência epidêmica onde todos os casos estão relacionados entre
si, atingindo uma área geográfica pequena e delimitada, como vilas e bairros, ou
uma população institucionalizada, como colégios, quartéis, creches, asilos (ME-
DRONHO; WERNECK; PEREZ, 2009).

Outra forma com a qual podemos relacionar a epidemia é através da sua velocidade de instalação, seu
tempo de duração e os fatores relacionados com seu desaparecimento e sua forma de propagação. De
acordo com Gomes (2015, p. 51), temos dois tipos de epidemia:

• Epidemia por fonte comum: é a epidemia na qual o agente etiológico pode ser
veiculado pela água, alimentos ou pelo ar, permitindo a exposição de um elevado
número de indivíduos ao agente etiológico, portanto pode haver uma explosão de
casos em um curto período de tempo. Normalmente, a doença não é transmitida
de pessoa para pessoa, e a velocidade de progressão da epidemia vai depender das
características do agente etiológico (período de incubação).
• Epidemia progressiva ou programada: trata-se de uma epidemia mais lenta,
na qual a forma de transmissão provavelmente se dá de pessoa para pessoa. A
transmissão pode ser direta ou indireta.

Em relação à distribuição das doenças no espaço, fazemos a seguinte pergunta: onde a doença
ocorre? Essa é uma questão bastante antiga, desde a origem da Medicina. Nisso, podemos citar uma
obra de Hipócrates, a qual existe desde o século V a.C. e que foi nomeada Dos ares, dos mares e dos
lugares. De acordo com Medrionho, Weneck e Perez (2009), essa obra chamou bastante atenção devi-
do às características médicas que necessitam levar em consideração as particularidades em relação à
temperatura e sua localização, relacionadas ao vento e ao nascimento.
Outro marco histórico que temos da epidemiologia é o estudo realizado por um grande pioneiro,
John Snow, que investigou a epidemia de cólera ocorrida na Inglaterra durante o século XIX. A partir
de todo o estudo, foi possível concluir sobre a transmissão e etiologia da doença (GOMES, 2015).
O mapeamento de doenças é muito importante para entender e determinar os fatores de riscos
relativos ao ambiente. Com isso, é importante salientar que ambiente se refere à distribuição espacial
de doenças. Além disso, podemos compreender, também, como o ambiente envolve uma relação social,
econômica e cultural dos indivíduos ou da população e o quanto ele pode influenciar para a ocorrência
de doenças (GOMES, 2015).

56
UNIDADE 2

O pontapé inicial para uma coleta de informações no âmbito espacial é a demarcação de um espaço
que será trabalhado, como a cidade, o bairro, o estado etc. Após ter feito uma demarcação desse local,
é necessário traçar a área, podendo ser um croqui ou, até mesmo, um mapa georreferenciado. Após
isso, é fundamental anexar todas as informações relacionadas à saúde nesse material, sendo de extrema
importância a coleta de todas as informações sobre o local da doença.
Tendo em mãos todos os dados que foram coletados, torna-se necessário a transformação deles para
informações em saúde. Para isso, a realização da análise espacial dos dados é necessária, em que é
possível visualizar, através das informações de saúde que foram colocadas, os locais que possuem uma
maior incidência de uma doença.
Outro sistema de extrema importância é a vigilância epidemiológica, a qual é definida como
método organizado e ininterrupto de coleta, investigação, entendimento e divulgação de informações,
que tem como objetivo aconselhar e admitir medidas de prevenção e controle para problemas relacio-
nados à saúde (BRAGA; WERNECK, 2009).
Por meio disso, podemos entender que essa coleta de informações é uma atividade inicial para a
vigilância epidemiológica. Dentro das informações coletadas, podemos destacar os dados socioeco-
nômicos, demográficos, ambientais e a morbimortalidade (GOMES, 2015).
Com as informações coletadas em mãos, é necessário o registro nos bancos de informações, geran-
do uma demanda nos Sistemas de Informação em Saúde, o qual tem por função o estabelecimento
de informações relacionadas à saúde, o que permite o estudo de situações de risco (GOMES, 2015).
Dessa maneira, quando a vigilância epidemiológica reconhece irregularidades na ocorrência de
doenças, é iniciada a investigação epidemiológica, que, de acordo com Braga e Werneck (2009), é um
trabalho realizado em campo e tem como finalidade determinar ou comprovar diagnósticos, além de
constar qual é a fonte de infecção e a forma de transmissão, identificar a população que foi exposta a
um risco maior, elucidar os motivos que promoveram essa ocorrência e, com isso, apurar os fatores de
risco e, por fim, definir as características epidemiológicas mais importantes. Para impedir que ocorram
novos casos, a investigação epidemiológica aconselha sobre as medidas de controle.
Em 2005, o Ministério da Saúde, através da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), inaugurou um
Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS), o qual tem por objetivo atender
às solicitações da vigilância epidemiológica do Brasil todo. De acordo com Braga e Werneck (2009),
o CIEVS tem como principal finalidade consolidar a competência do Sistema Nacional de Vigilância
em Saúde (SNVS), identificando, previamente, as emergências epidemiológicas que possuem grande
importância para o país como forma de ordenar a adesão de respostas apropriadas que diminuem e
contenham o risco para a saúde.
Embora a vigilância epidemiológica seja uma atividade de um setor institucional, em que o poder
público é responsável, nos últimos tempos, com a facilidade e ampliação do acesso à internet e às
tecnologias móveis, surgiu a vigilância participativa, sendo uma nova tendência (GOMES, 2015).
Essa vigilância possui os mesmos fins e intenções que a vigilância tradicional, mas seu diferencial é
que a população, por meio de sistemas on-line de coleta de dados, pode reportar situações de riscos de

57
UNICESUMAR

uma determinada doença que pode ocorrer em sua região, transformando em informações de saúde.
Isso traz benefícios e vantagens devido à rapidez que a informação é gerada, podendo chegar até as
autoridades sanitárias, permitindo, assim, um retorno ágil para os problemas relatados.

Em nosso podcast de hoje, conheceremos curiosidades sobre a den-


gue, para que, assim, você possa evitar a transmissão da dengue em
sua casa. Quer saber tudo? Então, vem comigo!

Contágio (2011) é um dos filmes que aborda o tema de maneira mais rea-
lista. O longa acompanha o rápido progresso de um vírus letal, demons-
trando muito bem como uma pandemia, quando realmente perigosa, pode
gerar caos e criar um sério risco à sociedade moderna. Ao mesmo tempo,
cientistas do mundo inteiro somam esforços para encontrar uma cura e
impedir que o pânico social se torne mais uma das consequências do vírus.

Agora que sabemos o que é a epidemiologia e como ocorre todo o processo epidêmico de uma doença,
você, profissional da saúde, está apto(a) para aplicar seus conhecimentos para a melhoria da saúde da
população, colaborando, de maneira positiva, para erradicação de doenças, e poderá participar dessas
vigilâncias que discutimos nesta unidade, em que você poderá auxiliar nas informações de ocorrência
de doenças, as quais poderão evitar riscos, garantindo uma saúde de qualidade para o nosso país e
para todo o mundo.

58
Prezado(a) aluno(a), nesta unidade, conhecemos o conceito de epidemiologia, congregando
os métodos e técnicas das áreas de conhecimento dentro desse estudo, entendendo como as
doenças se distribuem entre a população. Além disso, conhecemos importantes nomes de cien-
tistas que fizeram parte da história de epidemiologia, tendo um papel de extrema importância
nesse estudo. Vimos, também, as principais medidas de frequência de doenças e os principais
indicadores de saúde que servem para avaliar o cenário epidemiológico da população. E, por fim,
compreendemos como a doença acomete uma população, abordando a ocorrência de doenças
sob a ótica do tempo e do espaço. Nas próximas unidades, veremos mais a fundo os estudos
que fazem parte da Parasitologia.
Agora, sugiro que, diante do mapa mental a seguir, você preencha de acordo com seus conheci-
mentos adquiridos no decorrer desta unidade.

Principais medidas em saúde

EPIDEMIOLOGIA

Conceito Áreas de atuação

Fonte: o autor.
MAPA MENTAL

59
1. Grandes cientistas fizeram parte da história da epidemiologia, trazendo importantes
estudos para esta área. Um desses cientistas foi responsável pela produção de infor-
mações epidemiológicas sistemáticas para o planejamento de ações de saúde. Com
essa informação, assinale qual foi o cientista responsável por essa produção.
a) John Graunt (1620–1674).
b) Pierre Louis (1787–1872).
c) Louis Villermé (1782–1863).
d) William Farr (1807–1883).
e) Ignaz Semmelweis (1818–1865).

2. A investigação de agentes etiológicos ocorre desde o século passado, visando sempre


à epidemiologia. Entretanto, inicialmente, determinou-se um certo tipo de abordagem.
Explique qual foi essa abordagem e qual é o seu objetivo.

3. Podemos entender que as medidas de mortalidade e letalidade são casos específicos


dentro do conceito de incidência. Em função disso, explique qual é a diferença entre
mortalidade e letalidade e como são calculadas.
AGORA É COM VOCÊ

60
3
Ciclo Biológico
do Parasita
Dr. Luiz Fernando de Souza Alves

Nesta terceira unidade, daremos sequência ao que vimos anterior-


mente nas outras unidades. Aqui, quero apresentar a você como
ocorre o ciclo de vida dos parasitas, os principais tipos de habitat
existentes, os tipos de hospedeiros que mais são acometidos, a re-
lação que o parasita tem com o seu hospedeiro, além da resistência
que o hospedeiro possui ao parasitismo.
UNICESUMAR

Você sabia que a verminose de maior ocorrência no mundo é a Ascaridíase, popularmente chamada de
lombriga? Este é um verme que acomete, principalmente, regiões pobres, tanto da zona urbana quanto
da zona rural, que não possuem saneamento básico. A Ascaridíase possui ovos de, aproximadamente,
50 micrômetros, que não são visíveis a olho nu e que estão presentes em todos os lugares, como nos
alimentos, na água, no solo e, até mesmo, em notas de dinheiro. A educação sanitária se torna muito
importante, principalmente, nesses locais que são mais acometidos para uma conscientização da po-
pulação sobre os prejuízos que essa verminose pode causar, além de se realizar a correta higienização
pessoal e dos alimentos. Nesta unidade, entenderemos como ocorre o ciclo deste parasita que acomete
uma grande parte da população.
A contaminação por verminoses, principalmente, por Ascaridíase, ocorre, principalmente, pelo
consumo de alimentos contaminados com os ovos desse parasita. Com isso, a prevenção é essencial
para que se possa evitar o alto contágio. Os principais acometidos pela Ascaridíase são as crianças,
devido ao desconhecimento das regras de higiene. Como dito anteriormente, a principal forma de
contaminação é pelo consumo dos ovos, que são encontrados nos alimentos e na água. Com isso, a
ingestão de frutas, legumes, verduras ou água contaminada levará os ovos até o sistema digestório,
chegando ao intestino delgado, onde os ovos eclodirão, liberando as larvas que penetram nas paredes
intestinais e que, por meio da corrente sanguínea, serão levadas a outros órgãos, seguindo o seu ciclo de
vida. Todo esse ciclo pode durar até dois meses, e o tempo de vida do verme adulto é de até dois anos.
Por saber de todo esse processo, é necessária a implantação de educação sanitária, principalmente,
nas escolas, pois, como vimos, as crianças são as mais acometidas pela Ascaridíase. Além disso, elas são
as principais propagadoras das informações que se obtêm na escola, levando todo esse conhecimento
para dentro de suas casas. Por isso, torna-se necessária a aplicação de regras de higiene.
Que tal você realizar uma pesquisa sobre quais programas já estão implantados em sua região?
Convido-o para esse desafio.
A Ascaridíase causa diversos sintomas, como dores abdominais, cólicas, diarreias, vômitos e, muitas
vezes, quando ocorre uma contaminação extrema, pode levar o paciente a óbito. Com isso, quais seriam
as estratégias de prevenção a serem aplicadas por você, profissional da saúde? Diante disso, sugiro que
você anote todas essas estratégias em seu Diário de Bordo.

62
UNIDADE 3

DIÁRIO DE BORDO

O ciclo vital, também conhecido como ciclo biológico do parasita, é uma sequência regular de aconteci-
mentos, a qual se constitui por um programa de reações fisiológicas a estímulos e sinais determinados,
seguidos de ações precisas e cronologicamente ordenadas (REY, 2008).
Esse ciclo de vida varia de acordo com cada parasita e pode ser determinado quando envolve um
ou mais hospedeiros. Quando ocorrem casos em que existem mais de um parasita, o hospedeiro defi-
nitivo é definido como o hospedeiro que abriga o estágio adulto ou sexuado do parasita, enquanto o
hospedeiro intermediário abriga o estágio larval ou assexuado do parasita. Essa terminologia é uma
prática comum que se iniciou na Epidemiologia, sendo marcada pelo acentuado antropocentrismo. De
maneira geral, o homem é considerado o hospedeiro definitivo, e os demais seres vivos, os hospedeiros
intermediários, vetores ou transmissores (PANTOJA et al., 2015).
Em algumas situações diferentes, o mesmo parasita pode acometer uma ou mais espécies de hos-
pedeiros sem causar danos; porém, em outras espécies, pode provocar injúrias graves ou não. Para o
hospedeiro, quando não sofre com o parasitismo, existem indícios de uma relação ecológica de adap-
tação, o que permite ao parasita não só perpetuar sua espécie ali, mas, também, usá-lo como fonte de
infecção para outros hospedeiros (PANTOJA et al., 2015).
Outro tipo de hospedeiro que podemos considerar são aqueles que não apresentam mecanismos
de adaptação, o que faz com que não haja equilíbrio ecológico, e, com isso, os hospedeiros se ressentem

63
UNICESUMAR

do parasitismo, adoecendo ou morrendo. De acordo com Pantoja et al. (2015), os hospedeiros animais
são o indicativo de uma relação ecológica um tanto recente entre as duas espécies.
Temos, também, o hospedeiro acidental ou o que podemos chamar, também, de ocasional, que é
aquele que sofre com grande intensidade o parasitismo, pois essa relação não faz parte de seu ciclo
vital, não existe, ainda, mecanismos adaptativos, o que faz com que ocorra de forma ocasional.
Os parasitas podem ser ordenados de acordo com a localização ou com o habitat no organismo
do hospedeiro, como:

• Ectoparasitas: são aqueles parasitas externos, vivem na superfície do corpo do hospedeiro.


Exemplos: ácaros, piolhos e carrapatos.
• Endoparasitas: são os parasitas internos, encontram-se nos tecidos ou dentro das células.
Exemplos: helmintos e protozoários.

Ao saber que o parasitismo é um fenômeno biológico multiforme, que há uma dependência que pode
ser mais ou menos estrita da vida parasitária, é possível estabelecer as seguintes categorias parasitárias:

• Parasitas facultativos: são organismos que podem ser parasitas, mas não têm que viver como
parasitas, assim suas vidas parasitárias são consideradas reversíveis (parasitismo temporário).
• Parasitas obrigatórios: são organismos que, para sobreviverem, têm de ser parasitas, e sua vida
parasitária é irreversível, pelo menos, em alguma fase de seu ciclo vital (parasitismo permanente).

Nos dois casos citados, o parasitismo facultativo e o parasitismo obrigatório, o parasita pode comple-
tar seu ciclo vital exigindo um só hospedeiro ou mais de um hospedeiro para completá-lo, são o que
chamamos de parasitas monóxenos e heteróxenos.

• Parasitas monóxenos: são parasitas que completam seu ciclo biológico em um só hospedeiro,
mas podem permanecer no meio ambiente em forma encistada, de ovo ou em estado larvário
livre (Figura 1).
• Parasitas heteróxenos: são parasitas que necessitam de mais de um hospedeiro para completar
seu ciclo biológico.

Com a evolução, os ciclos monóxenos são mais primitivos que os ciclos heteróxenos, em que os últimos
representam as formas de evolução ontogênica mais complexas, envolvendo a participação de três ou
mais espécies de hospedeiros (REY, 2008).

64
UNIDADE 3

Es
infe tágio
ccio
so 8
Vermes adultos
no intestino delgado
4
Ovo embrionado

3 6-8:
Clivagem Migração
avançada da larva

5
A larva é liberada
no intestino
2
Estágio de divisão
das células
9 Ovos nas fezes

1 Ovos não fertilizados


Ovo fertilizado

Figura 1 - Ciclo biológico do Ascaris lumbricoides. (Exemplo de um parasita monoxeno)

Descrição da Imagem: na fase 1, possuímos os ovos fertilizados; seguindo para fase 2, que é quando ocorre o estágio
de divisão das células. Na fase 3, temos uma clivagem das células avançada, em que já se obtém o embrião larval for-
mado dentro do ovo, iniciando o processo de contaminação pela ingestão dos ovos. Após a ingestão, ocorre a eclosão
dos ovos no intestino e a migração das larvas, que penetrarão na parede do intestino delgado, migrando por meio da
circulação até o fígado e indo para os pulmões; posteriormente, as larvas penetram nas paredes alveolares, vão para
a região dos brônquios e da garganta, são deglutidas e retornam ao intestino delgado, quando ocorre a transformação
para a fase adulta; esse processo é observado nas fases 6, 7 e 8. Após ele, a partir da fase 9, são excretados os ovos
nas fazes, iniciando, assim, um novo processo do clico de vida desse parasita.

65
UNICESUMAR

Quando falamos sobre os tipos de habitat de parasitas, podemos citar o ecossistema, o local, ou o órgão
em que esses agentes podem viver. Por exemplo, o Ascaris lumbricoides possui como habitat o intestino
delgado dos humanos (Figura 2) (NEVES, 2004).

Figura 2 - Ascaris lumbricoides no intestino humano

Descrição da Imagem: nessa imagem, podemos ver várias larvas de Ascaris lumbricoides dentro do intestino delgado
de um humano, penetrando a parede intestinal.

Entre os diferentes tipos de habitat, podemos citar os seguintes, conforme Neves (2004, p. 12):


Nicho Ecológico:
É a atividade dessa espécie ou população dentro do hábitat. Exemplo: o A. lumbricoides
dentro do seu hábitat realiza suas funções reprodutivas e alimentares (absorve fósforo,
cálcio, carboidratos, açúcares, proteínas etc.), espoliando o hospedeiro; outro verme que
tem hábitat semelhante - o Ancylostoma duodenale - tem nicho ecológico diferente,
pois consome sangue e ferro do hospedeiro.

66
UNIDADE 3

Ecótopo
É o abrigo físico do animal. Assim, dentro de uma floresta tropical, o Haemagogus
leucocelaenus vive na copa das árvores. Dentro da cafua, os triatomíneos (“barbeiros”)
vivem nas frestas do barro.

Ecótono
É uma região de transição entre dois ecossistemas ou biomas estabelecidos. A margem de
uma lagoa, a região próxima entre a floresta e o campo são bons exemplos deste termo.

Biótopo
É o local onde as condições para a sobrevivência de uma ou várias espécies são unifor-
mes e mantêm-se constantes em diferentes áreas ou regiões. Assim, o biótopo do tatu
é semelhante nas várias regiões onde ele habita. Quando quisermos criar em cativeiro
alguma espécie animal silvestre, ou mesmo uma planta, esse biótopo doméstico deve
ser semelhante ao seu biótopo silvestre. Segundo Peres, 1961, biótopo é «uma área geo-
gráfica, de superfície e volume variáveis, submetida a condições cujas dominantes são
homogêneas». Alguns autores usam o termo biótopo como sinônimo de ecótopo. Em
tais casos, os termos significam apenas o lugar físico que o animal (ou vegetal) utiliza.

Biocenose
É a associação de vários organismos habitando o mesmo biótopo. Apesar da semelhan-
ça do significado deste termo com ecossistema, neste último temos que considerar os
elementos vivos e não-vivos como uma unidade, ao passo que biocenose representa
a associação dos seres vivos num biótopo. Exemplo de biocenose: a associação do
Trypanosoma cruzi, triatomíneo, homem e o biótopo que é a cafua.
Com esses conceitos apresentados, podemos explicar por que os parasitos não se distri-
buem ao acaso nas várias regiões do globo, por que existe a especificidade parasitária e
por que, mesmo dentro do hospedeiro, o parasito possui o órgão de eleição.
Assim, para que uma determinada parasitose se instale numa região e se propague, há
a necessidade de existência de condições indispensáveis exigidas pela espécie parasita.
Essas condições necessárias e fundamentais é que compõem o foco natural da doença,
o qual é representado pelo biótopo (local) e pela biocenose (hospedeiros vertebrados,
os vetores etc.).
Portanto, no foco natural de uma parasitose há um inter-relacionamento de relevo, solo,
clima, água, flora e fauna, de tal como que haja:
• coincidência de hábitats dos hospedeiros e vetores;
• número suficiente de hospedeiros e vetores para que o parasito possa circular
entre eles;

67
UNICESUMAR

• o parasito em número suficiente para atingir o hospedeiro e o vetor;


• condições propícias para a transmissão (clima úmido, temperatura e altitude
adequadas etc.).

Com esses conceitos expostos, podemos entender a importância do estudo da Parasito-


logia pelos alunos que, de um modo ou de outro, serão os profissionais da saúde (aqui
incluídos médicos, veterinários, farmacêuticos, odontólogos, enfermeiros, naturalistas,
engenheiros sanitaristas e civis). Como veremos no decorrer do livro, a maioria dos pa-
rasitos é ao mesmo tempo causa e consequência do subdesenvolvimento. Não podemos
nunca dissociar a doença da subalimentação, da pobreza, e vice-versa. A doença não é
causada única e exclusivamente pelo agente etiológico; este talvez seja o fator desenca-
deante de um desequilíbrio social. Numa população subnutrida, vivendo em precárias
condições higiênicas, dormindo mal, morando em casa que pouco ou nada protege das
intempéries, a presença do parasito é constante e a doença é endêmica. Se esse mesmo
parasito atingir uma população bem nutrida, morando em condições saudáveis e com
repouso normal, provavelmente irá provocar um ou outro doente e, talvez, desapareça.
Portanto, a importância de um agente biológico como causador de doença está intima-
mente ligada ao “status social” do ambiente em que vive; e, para que permaneça estável
numa população, há necessidade de que a mesma seja subdesenvolvida.

Dentro da Parasitologia, temos uma relação parasita-hospedeiro, os quais possuem uma associação
entre si. Conversaremos sobre essa relação a partir daqui.
A Parasitologia foi amplamente definida por Larry e Gerald (2000, p. 4) como “um estudo da sim-
biose”, que pode ser, também, “viver juntos”. Ela pode ser definida, também, como o estudo científico
de parasitas. Então, o que é parasita? Um parasita é definido pelo dicionário como “um pequeno(a)
animal ou planta que vive dentro ou fora de outro(a) animal ou planta e obtém seu alimento a partir
dele(a)” (PARASITE, [2021], on-line, tradução nossa).
Levando a ampla definição de Parasitologia em consideração, a palavra “simbiose” levanta outra
questão: “viver juntos” considera as interações próximas e de longo prazo entre duas ou mais espécies
biológicas diferentes. Em 1877, Albert Bernard Frank usou a palavra simbiose para descrever a relação
mutualística existente entre fungos líquenes (DOUGLAS, 1994). O significado da palavra simbiose se
tornou controverso entre os cientistas, pois alguns acreditam que a simbiose deve se referir a relacio-
namentos que são benéficos para ambas as partes — ou seja, relações mutualísticas —, outros cientistas
acreditam que isso deve se aplicar a qualquer tipo de interação biológica persistente (DOUGLAS,
2010; MARTIN; SCHWAB, 2012). Com isso, surgiram quatro diferentes tipos de relações simbióticas:
o parasitismo, o mutualismo, o comensalismo e a forese.

68
UNIDADE 3

Existem diferentes tipos de simbiose, sobre os quais conversaremos a seguir:

• Simbiose obrigatória: é o tipo de relacionamento em que ambos os organismos


dependem inteiramente uns dos outros para a sobrevivência.
• Simbiose facultativa: é o tipo de relacionamento em que os organismos podem
sobreviver sem que haja uma relação simbiótica, podendo haver troca de parceiro
sem prejuízos a ambos.
• Ecossimbiose: nesse, o organismo vive em outro.
• Endossimbiose: aqui, o organismo vive no parceiro ou dentro de outro organismo.
• Simbiose conjuntiva: é o tipo de relacionamento em que os dois organismos
possuem uma união, sendo ligados um ao outro. Caso o relacionamento seja ao
contrário, é chamado de simbiose disjuntiva (DORLAND’S..., 2012).

Em relação ao hospedeiro, temos a definição aplicada pela Parasitologia de que é um organismo infectado
por um parasita ou patógeno (por exemplo, nematoides, fungos, vírus etc.). Também é descrito como um ani-
mal ou planta que nutre ou suporta um parasita. O hospedeiro não se beneficia, em vez disso, é prejudicado.
Diversos são os tipos de hospedeiros que temos, como:

• Hospedeiro definitivo ou primário: neste, o parasita atinge a maturidade sexual.


Como exemplo, temos o mosquito, que é o hospedeiro definitivo para o parasita
da malária (Plasmodium).
• Hospedeiro intermediário (alternativo ou secundário): um organismo em que
um parasita se desenvolve, mas não completa a sua maturidade sexual. Por exemplo,
humanos e outros vertebrados são hospedeiros intermediários para o Plasmódio.
• Hospedeiro paratênico: torna-se necessário para o completo ciclo de vida de
um parasita, mas no qual não ocorre o desenvolvimento desse parasita. Por exem-
plo, ovos de nematoides não eclodidos podem ser carregados em um hospedeiro
paratênico, como um pássaro ou um roedor. Quando ocorre a ingestão dos ovos,
infecta-se o hospedeiro.
• Hospedeiro acidental: aquele que, acidentalmente, habita um organismo que não
é normalmente parasita de uma espécie específica.
• Hospedeiro não competente: é aquele em que a doença não pode ser transmitida
para outro animal. Nesse caso, o parasita não pode ser eliminado do organismo
para que continue seu ciclo de vida em outro hospedeiro.
• Hospedeiro de predileção: é o local (dentro do organismo) preferido pelo parasita.
• Hospedeiro reservatório: um animal ou espécie que está infectado por um para-
sita e que serve como fonte de infecção para humanos ou outras espécies.

69
UNICESUMAR

A relação parasita-hospedeiro possui uma especificidade em que um parasita pode infectar um ou um


número limitado de hospedeiros em um determinado momento, ou seja, a maioria dos parasitas ocorre
em um número restrito de hospedeiros. Isso dá origem ao conceito de especificidade (SOLOMON et
al., 2015). Parasitas específicos, geralmente, têm um hospedeiro principal e alguns menos frequente-
mente, que são usados ​​na ausência do principal (POULIN, 1992; TRIPET; JACOT; RICHNER, 2002).
Mesmo entre parasitas que não são discriminados entre os hospedeiros, há preferência por algumas
espécies que se hospedam acima de outras (TRIPET; RICHNER, 1997; JOHNSON et al., 2002), isto
é, quando os grupos de parasitas se desviam em direção a uma maior especificidade do hospedeiro.
A especificidade do hospedeiro é a característica de um parasita que o torna capaz de infectar apenas
um ou mais hospedeiros por vez.
Essa especificidade passa por uma evolução, em que a seleção natural tende a ocorrer e favorecer
a especialização de parasitas para o seu local, ambiente ou hospedeiros (COMBES, 1991; KAWECKI,
1998). O ecossistema parasitário é um mundo de competição entre organismos, em que o mais apto
sobrevive. Assim, o hospedeiro ou parasita mais adaptado existe em maior abundância do que o menos
adaptado. Pode-se dizer que a especialização de um hospedeiro é promovida por compensações de
aptidão do hospedeiro, que é dependente da disponibilidade relativa, e perspectiva dos hospedeiros
(DE MEUS; MICHALKIS; RENAUD, 1998; JAENIKE, 1990; THOMPSON, 1994; COMBES, 1995;
COMBES, 1997; TRIPET; RICHER, 1997; NORTON; DE LANGE, 1999; MCCOY et al., 2001).
Acredita-se que a relação parasita-hospedeiro e a especificidade ocorrem simultaneamente em vá-
rios níveis de hospedeiros. Estudos realizados por Giorgi et al. (2001), usando ácaros ectoparasitários
(Spinturnicidae) que infestam morcegos coloniais, revelaram que a especificidade do parasita pode
ser mediada por três mecanismos principais:

1. Capacidade de dispersão do parasita, que depende do número de hospedeiro que pode ser
encontrado fisicamente durante sua vida.
2. Preferência de hospedeiro.
3. Capacidade de transmitir e estabelecer uma população em um novo hospedeiro.

Considerando o terceiro mecanismo, espera-se que parasitas altamente específicos apresentem um(a)
maior sucesso reprodutivo ou sobrevivência em espécies hospedeiras tradicionais ou nativas (NOR-
TON; CARPENTER, 1998; TOMPKINS; CLAYTON, 1999).
A partir de agora, entenderemos o parasitismo e a sua relação com o hospedeiro. Embora os
parasitas possam causar danos a seus hospedeiros, não é do interesse do parasita matá-los. Algumas
formas em que os parasitas podem prejudicar seus hospedeiros são:

• Furo no hospedeiro (ex.: Esquistossomose).


• Penetração na pele ou em outros tecidos (ex.: larvas de ancilostomíase).
• Estimulação de danos inflamatórios ou resposta imune (ex.: microfilárias).

70
UNIDADE 3

• Captura de nutrientes do hospedeiro (ex.: tênia, ancilostomíase).


• Uma combinação entre dois ou mais dos itens anteriores.

Possuímos diversos tipos de parasitismo, como veremos a seguir.


No cleptoparasitismo, ocorre um tipo de interação em que um determinado parasita se apropria
do alimento adquirido por outro. No parasitismo social, um parasita é totalmente depende de ou-
tro, em que eles dependem inteiramente do hospedeiro. O parasitismo pode ocorrer, também, como
trapaça isolada ou exploração, quando ocorrem trocas de nutrientes comum entre os parasitas, por
exemplo. Os parasitoides são organismos cujo desenvolvimento larval ocorre dentro ou na superfície
de outro organismo (o hospedeiro), levando à morte mais tarde (CHARLES; GODFRAY, 2004). Isso
diferencia os parasitoides dos verdadeiros parasitas que, normalmente, não matam seus hospedeiros.
A autoinfecção é a infecção de um hospedeiro primário por um parasita, particularmente, helmintos,
de tal forma que o ciclo de vida completo do parasita ocorre em um único organismo sem passar por
outro hospedeiro, ou seja, o hospedeiro primário é, ao mesmo tempo, o hospedeiro secundário.
O mutualismo é o tipo de relacionamento em que dois organismos de diferentes espécies existem
juntos e em que cada um se beneficia. Uma interação semelhante entre organismos da mesma espécie é
conhecida como cooperação. O mutualismo difere da competição interespecífica, em que cada espécie
experimenta experiências de aptidão e exploração reduzidas, e do parasitismo, em que uma espécie se
beneficia da outra. Mutualismo é um aspecto de relações simbióticas.
O comensalismo significa simplesmente “comer na mesma mesa”. É um tipo de relação simbiótica
em que um parceiro se beneficia, enquanto o segundo parceiro (o hospedeiro) não é ajudado nem pre-
judicado. Relacionamentos comensais envolvem, principalmente, a alimentação a partir de alimentos
“desperdiçados” ou não consumidos pelo hospedeiro.
A forese é a relação em que dois organismos estão simplesmente “viajando juntos” e não há depen-
dência fisiológica ou bioquímica da parte de cada participante. Os dois organismos são conhecidos
como forontes. Normalmente, o organismo menor é transportado pelo organismo maior (o hospedeiro).

As relações parasita-hospedeiro ocorrem como resultado de associações evolutivas prolon-


gadas entre organismos, ou seja, organismos em desenvolvimento ou vivendo uns com os
outros no mesmo ambiente por um longo tempo. A extensão da associação determina o tipo
de relacionamento que pode resultar.
Fonte: adaptado de Solomon et al. (2015).

71
UNICESUMAR

Após vermos como ocorre a relação parasita-hospedeiro, entenderemos sobre a ação dos parasitos
sobre o hospedeiro, levando estes a adquirir resistência.
Quando um parasito está em um hospedeiro, nem sempre ocorre uma ação patogênica, porém a
não ocorrência de patogenicidade é rara, com duração curta e, muitas vezes, ocorre uma dependência
da fase evolutiva do parasito. De maneira geral, os distúrbios sempre ocorrem de maneira pequena,
havendo uma tendência equilibrada entre a ação do parasita e a capacidade que o hospedeiro pos-
sui de resistência. De acordo com Neves (2004), a doença parasitária é um acidente que ocorre em
consequência de um desequilíbrio entre o hospedeiro e o parasito. Ela possui um grau de intensi-
dade que é dependente de vários fatores, entre os quais podemos destacar: a quantidade de formas
infectantes, o estado nutricional e a idade em que o hospedeiro se encontra, a virulência da cepa, os
órgãos que são atingidos, a relação que o parasito tem com outras espécies e o desencadeamento da
resposta inflamatória ou imune. Quando ocorre a morte do hospedeiro, ocorre, também, a morte do
parasita, o que mostra que os parasitos possuem uma ação patogênica bastante variável, conforme
apresentada por Neves (2004, p. 13):


Ação Espoliativa
Quando o parasito absorve nutrientes ou mesmo sangue do hospedeiro. É o caso dos
Ancylostomatidae, que ingerem sangue da mucosa intestinal (utilizam esse sangue
para obtenção de Fe e O2, e não para se nutrirem dele diretamente) e deixam pontos
hemorrágicos na mucosa, quando abandonam o local da sucção. Outro exemplo é o
hematofagismo dos triatomíneos ou de mosquitos.

Ação Tóxica
Algumas espécies produzem enzimas ou metabólitos que podem lesar o hospedeiro.
Exemplos: as reações alérgicas provocadas pelos metabólitos do A. lumbricoides, as
reações teciduais (intestino, fígado, pulmões) produzidas pelas secreções no miracídio
dentro do ovo do S. mansoni etc.

Ação Mecânica
Algumas espécies podem impedir o fluxo de alimento, bile ou absorção alimentar. Assim,
o enovelamento de A. lumbricoides dentro de uma alça intestinal, obstruindo-a; a G.
lamblia, “atapetando” o duodeno etc.

Ação Traumática
É provocada, principalmente, por formas larvárias de helmintos, embora vermes adul-
tos e protozoários também sejam capazes de fazê-lo. Assim, a migração cutânea e
pulmonar pelas larvas de Ancylostomatidae; as lesões hepáticas pela migração da F.
hepatica jovem; as úlceras intestinais e T. trichiura; o rompimento das hemácias pelos
Plasmodiu etc.

72
UNIDADE 3

Ação Irritativa
Deve-se a presença constante do parasito que, sem produzir lesões traumáticas, irrita o
local parasitado. Como exemplo, temos a ação das ventosas dos Cestoda ou dos lábios
dos A. lumbricoides na mucosa intestinal.

Ação Enzimática
É o que ocorre na penetração da pele por cercárias de S. mansoni; a ação da E. histoly-
tica ou dos Ancylostomatidae para lesar o epitélio intestinal e, assim, obter alimentos
assimiláveis etc.

Anóxia
Qualquer parasito que consuma o O2, da hemoglobina, ou produza anemia, é capaz
de provocar uma anóxia generalizada. E o que acontece com os Plasmodium ou, em
infecções maciças, pelos Ancylostomatidae.

Neste podcast, você conhecerá quais são as outras formas de re-


lação que o parasita tem com o hospedeiro. Está preparado para
escutar? Então, vem comigo!

Após conhecermos o ciclo de vida de um parasita, a sua relação com o hospedeiro, você, profissional
da saúde, torna-se de extrema importância para a erradicação de doenças parasitárias que podem
acometer a população, pois, por meio de seus conhecimentos adquiridos, junto às políticas públicas,
poderá criar e estabelecer medidas profiláticas por meio do ensino, de práticas realizadas em unidades
de saúde, escolas ou locais de capacitações. Isso é apenas uma parte em que você poderá aplicar todos
os seus conhecimentos, pois você é essencial para uma saúde de qualidade.

73
Prezado(a) aluno(a), nesta unidade, conhecemos o ciclo de vida dos parasitas, entendendo como
acontece todo o processo de desenvolvimento e quais os tipos de habitat em que os parasitas
podem ser encontrados e iniciar seu ciclo de vida. Além disso, vimos, também, os tipos mais
comuns de hospedeiros que podem ser acometidos pelos parasitas e a relação parasita-hospe-
deiro, entendendo como se dá esse tipo de relacionamento. Finalizamos com a resistência do
hospedeiro ao parasitismo. Nas próximas unidades, aprofundar-nos-emos, cada vez mais, nesse
universo do parasitismo.
Agora, diante do mapa mental a seguir, você preencherá as lacunas em branco de acordo com
seus conhecimentos adquiridos ao decorrer desta unidade.

Obrigatórios Facultativos

PARASITOS

Exemplos de Exemplos de
Ectoparasitas Endoparasitas

Fonte: o autor.
MAPA MENTAL

74
1. O parasitismo é um fenômeno biológico multiforme, havendo uma dependência, que
pode ser mais ou menos estrita, da vida parasitária. Com isso, descreva as categorias
de parasitas facultativos e obrigatórios.

2. Diversos são os tipos de habitat parasitário que podem ser considerados. Porém, há
um em que temos a associação de vários organismos habitando o mesmo biótopo.
Assinale a alternativa que corresponde a esse habitat.
a) Nicho ecológico.
b) Ecótopo.
c) Ecótono.
d) Biótipo.
e) Biocenose.

3. A simbiose é considerada como as interações próximas e de longo prazo entre duas


ou mais espécies biológicas diferentes. Existem diversos tipos de simbiose dentro da
parasitologia. Um deles pode ocorrer de forma contrária, o qual chamamos de simbiose
disjuntiva. Esse tipo contrário ocorre em qual tipo de simbiose?
a) Simbiose obrigatória.
b) Simbiose facultativa.
c) Simbiose conjuntiva.

AGORA É COM VOCÊ


d) Ecossimbiose.
e) Endossimbiose.

75
MEU ESPAÇO

76
4
Nematoides Parasitos
do Homem
Dra. Vanessa Graciele Tiburcio

Nesta unidade, você terá a oportunidade de conhecer a caracteri-


zação e a biologia de alguns nematoides que parasitam os seres
humanos. Verá, também, como se desenvolve a relação parasi-
to-hospedeiro desses organismos com o corpo humano. Por fim,
poderá conhecer e adotar medidas profiláticas e de controle dos
seguintes parasitas: Trichuris trichura, Enterobius vermiculares, su-
perfamília Ascaroidea e família Ancylostomatidae.
UNICESUMAR

Você se lembra de quando era criança e seus pais ou responsável o orientavam a não andar descalço
ou se sentar em gramados, espaços de areia em parques e em escolas ou outra área para recreação,
quintais, resíduos de construção, quadras de esporte ou em qualquer lugar onde cães e gatos poderiam
depositar suas fezes? Ainda, você já ouviu falar de lombriga? Você já teve esse parasita ou conhece
alguém que foi parasitado por esse organismo? Muito provavelmente, você já ouviu dizer que alguém
estava com amarelão, não é mesmo?
Essas doenças são causadas por animais do Filo Nematoda, que você conheceu anteriormente.
Aqui, você poderá compreender mais sobre a caracterização e a biologia desses seres vivos, bem como
inteirar-se-á sobre a relação parasito-hospedeiro desses animais com o corpo humano. Ao conhecer
as medidas profiláticas e de controle de alguns representantes desse grupo e dominar o conhecimento
acerca desses organismos, enquanto profissional da Nutrição, você poderá determinar qual é o proto-
colo adequado, bem como quais tratamentos e abordagens nutricionais são mais indicados em cada
caso clínico que se apresentar na sua prática profissional.
Por exemplo, nos EUA, um pesquisador foi contaminado, de forma voluntária, com 50 larvas do
ancilostomídeo Necator americanus, causador do amarelão (PREVIDELLI, 2021). O estudo clínico
buscava o desenvolvimento de uma vacina contra a doença que infecta cerca de 500 milhões de pessoas
no mundo, especialmente, em áreas mais tropicais, como o sul dos EUA e o Brasil. Sabe-se que grande
quantidade desses indivíduos parasitas pode causar uma série de sintomas, como coceira no lugar da
invasão no hospedeiro, dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia, flatulência, anorexia, fraqueza e, até
mesmo, perda de peso.
É evidente que tal parasitismo tem considerável impacto na nutrição de crianças e, consequen-
temente, afeta o crescimento físico e o desempenho escolar delas, o que repercute na produtividade
econômica dos adultos. Assim, ações coordenadas e em consonância, como a vacina, as medidas profi-
láticas e de controle e os aspectos nutricionais bem estabelecidos, podem obter resultados satisfatórios
de saúde e bem-estar geral.
Bem sabemos que o uso de imunizantes (vacinas) proporciona o controle de doenças infectocon-
tagiosas e reflete de forma mais efetiva sobre a segurança sanitária e a saúde pública de determinada
população. Além disso, reduz os índices de hospitalização, e há a consequente redução de custos, na
área da saúde, com tratamentos e medicamentos, por exemplo. Nesse sentido, convido-o a fazer uma
pesquisa sobre as doenças causadas por nematoides que parasitam os seres humanos e que apresentam
cobertura de vacina para o seu controle.
Agora, sugiro que você registre os resultados de sua busca e faça as seguintes reflexões: todas as
doenças causadas pelos nematoides que você encontrou em sua busca contam com vacinas? Você
encontrou formas de contração dos parasitas que são comuns a duas ou mais doenças? Imagine que
você está trabalhando como nutricionista em uma comunidade carente, e cabe a você elaborar um
plano de conscientização e orientação para a profilaxia dessas doenças, você consegue mencionar pelo
menos duas medidas? Pense e reflita sobre essas questões e registre no seu Diário de Bordo a seguir.

78
UNIDADE 4

DIÁRIO DE BORDO

Os nematódeos — do grego nema,“fio”; e odes,“semelhante a” —, vermes arredondados e vermes filifor-


mes, são, geralmente, filiformes, com corpos cilíndricos e alongados e foram caracterizados como um
“tubo dentro de um tubo”, com referência à linearidade do corpo, do trato alimentar e dos outros órgãos.
As dimensões desses vermes podem variar de alguns mícrons até metros de comprimento (BRUSCA;
MOORE; SHUSTER, 2018). Apresentam simetria bilateral e são pertencentes ao Filo Nematoda.
Alguns autores acreditam que o Filo Nematoda constitui um dos grupos mais diversificados de
metazoários e estimam que há entre 100.000 e 100 milhões de espécies, embora apenas cerca de 25.000
tenham sido nomeadas e descritas até agora (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).
A grande maioria das espécies são de vida livre e vivem praticamente em todos os tipos de habitat,
salvo os ambientes aéreo e pelágico. Todos os principais grupos desses vermes, porém, compreendem
espécies de vida livre e espécies parasitárias.

79
UNICESUMAR

Em 2011, pesquisadores descobriram um nematódeo com 0,5 mm


de comprimento, vivendo em águas antigas, várias milhas abaixo da
superfície da Terra, na África do Sul. Nomeado Halicephalobus mes-
phisto, em homenagem a Mefistófeles — em referência ao demônio
da lenda de Fausto —, esse é o metazoário que vive em níveis mais
profundos dentre os que foram descobertos até hoje. Aparentemen-
te, esse verme vive nas fendas rochosas preenchidas com água e se alimenta de bactérias
subterrâneas. Saiba mais no QR ao lado.

Você sabia que os nematódeos podem infectar até as plantas? Sim! Esses vermes desenvolveram
vários estilos de vida parasitária, o que explica o porquê de eles poderem infectar quase todos os
animais e plantas do planeta. Inclusive, alguns deles causam danos graves às plantações e à pecuária,
enquanto outros são patogênicos aos seres humanos. Aqui, focaremos nos vermes nematódeos que
parasitam nós, os seres humanos.
Acredita-se que, aproximadamente, 20% da população mundial hospeda uma ou mais espécies
de nematódeos intestinais, entre os quais se destacam o Ascaris lumbricoides (cerca de 760 milhões
de indivíduos), os ancilostomídeos Ancylostoma duodenale e Necator americanus (em conjunto,
infectam quase 430 milhões de indivíduos) e o Trichuris trichiura (mais de 460 milhões de indiví-
duos) (FERREIRA, 2021).
Ao considerarmos a classificação tradicional e os principais nematódeos que parasitam o intestino
humano, a classe Rhabditea se destaca. Ela é constituída pelas ordens Ascaridida (gênero Ascaris), Stron-
gylida (gêneros Ancylostoma e Necator), Rhabditida (gênero Strongyloides) e Oxyurida (Enterobius).
Em seguida, a classe Enoplea apresenta a ordem Trichurida (gênero Trichuris), que também se destaca
pela importância médica. Por outro lado, estudos recentes de filogenia molecular sugerem a existência
de três classes principais, divididas em cinco clados: Dorylaimia (que inclui os gêneros Trichuris e
Trichinella); Enoplia; Spirurina (que inclui os gêneros Ascaris, Toxocara e as filárias); Tylenchina (que
inclui o gênero Strongyloides) e Rhabditina (que inclui os ancilostomídeos e o organismo modelo C.
elegans) (MITREVA et al., 2005).
Caro(a) aluno(a), imagino que você deve estar curioso(a) para conhecer cada um dos nematódeos
que mencionei até aqui, não é mesmo? Bem, antes de apresentá-los, convido-o para conhecer a biolo-
gia geral desses organismos, por meio de sua organização, morfologia e fisiologia. Vem comigo?

80
UNIDADE 4

A parede corporal do nematódeo é recoberta por uma cutícula


laminada complexa e bem desenvolvida, que é secretada pela epi-
derme. A cutícula é composta, basicamente, por lipídios e proteínas
associadas a mucopolissacarídeos e tem o colágeno (uma proteína
estrutural) como componente principal — mais de 80% da cutícula.
Essas características conferem ao exoesqueleto uma flexibilidade
que invagina em regiões como boca e cloaca, por exemplo. Por meio
da presença da cutícula, é possível que os nematódeos vivam em
ambientes hostis, como os tratos digestivos de hospedeiros animais,
porque ela reduz severamente a permeabilidade da parede corporal,
além de, geralmente, possuírem uma densa e fibrosa camada interna
da cutícula. À medida que o nematódeo cresce, ele desprende sua
cutícula e desenvolve outra nova por uma série de “mudas” durante
seu ciclo de vida (Figura 1a) (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).
A epiderme apresenta variação entre os diferentes nematódeos,
podendo ser celular ou sincicial. É espessada como cordões longitu-
dinais dorsal, ventral e lateral. Os espessamentos longitudinais dorsal
e ventral abrigam os cordões nervosos longitudinais; enquanto o
espessamento lateral contém canais excretores e os neurônios. Na
parte interna à epiderme, existe uma camada, considerada espessa,
de músculos longitudinais com estrias oblíquas, que estão ligados
aos cordões nervosos dorsal e ventral por extensões singulares, co-
nhecidas como braços musculares, ou seja, nos nematódeos, as co-
nexões são formadas por extensões das células musculares em vez de
neurônios (Figuras 1a e 1b) (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).
Estudos avançados de imagem indicam que o blastoceloma preen-
chido com líquidos não é espaçoso e que os órgãos da maioria dos ne-
matódeos ocupam quase todo o espaço interno (Figura 1a). A cutícula
fornece a maior parte da sustentação corporal nos nematódeos, uma
vez que os músculos circulares da parede corporal são ausentes. Assim,
os movimentos dos nematódeos dependem das ondas de contração
muscular que se estendem em direção posterior ao longo do corpo.
Esses movimentos empurram o verme para frente, independentemente
do tipo de substrato ou se estiver na água. O padrão típico de locomo-
ção dos nematódeos envolve contrações dos músculos longitudinais,
que resultam em um movimento ondulatório semelhante ao chicoteio
(Figura 1d) (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).

81
UNICESUMAR

A Nervo dorsal Cordão epidérmico dorsal B Braço muscular


Célula muscular (processo protoplasmático)
Epitélio intestinal Citoplasma
Parede corporal Sincício
epidérmico
Lúmen intestinal
Núcleo
Cutícula

Ovário

Canal excretor Porção contrátil da célula

Cordão D Músculos
epidérmico estirados
lateral
Oviducto
Ovo Músculos
contraídos
Braço
Útero muscular
Blastoceloma

Nervo ventral Cordão epidérmico ventral

C
Camada
homogênea
Epicutícula

Córtex

Camadas
de fibras
Epiderme

Figura 1 (a) - Corte esquematizado da fêmea de um nematódeo; (b) - Uma única célula muscular longitudinal, ilustrando a ori-
gem do braço muscular; (c) - Camadas da cutícula; (d) - A locomoção ondulatória de um nematódeo resulta da ação das fibras
musculares longitudinais / Fonte: adaptada de Brusca, Moore e Shuster (2018).

Descrição da Imagem: a figura apresenta quatro imagens. A imagem identificada como (a) é um corte transversal do
corpo de fêmea de nematódeo, em que se evidenciam as estruturas anatômicas que o compõem. À sua direita, tem
a imagem (b), que é uma célula muscular em que, na base, há a porção contrátil, superiormente, em sequência, há
o núcleo, o citoplasma e uma projeção do citoplasma formando um braço muscular. Embaixo da imagem (a), encon-
tra-se a imagem (c), que evidencia cinco camadas que constituem a cutícula. Do lado direito da imagem (c), temos a
imagem (d), que esquematiza o corpo de um nematódeo em movimento ondulatório por meio da ação muscular das
células que o constituem. É possível identificar que, quando os músculos estão contraídos no segmento “A”, a porção
muscular seguinte na mesma parede está estirada e que, imediatamente, a parede oposta está estirada, bem como o
segmento seguinte a este está contraído.

A alimentação desses vermes é tão diversificada quanto seus habitats. Há organismos depositívoros
diretos, detritívoros — vivem dentro ou sobre organismos em decomposição ou fezes e se alimentam
de fungos e bactérias presentes —, carnívoros, herbívoros e parasitas. Os vermes parasitas apresentam

82
UNIDADE 4

variadas formas de se alimentar de seu hospedeiro. No caso do parasitismo em seres humanos, os


nematódeos sobrevivem em líquidos e órgãos do corpo, provocando danos extensos aos tecidos em
questão (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).
A circulação dos nematódeos ocorre por meio da difusão e movimentação de líquidos no interior
da cavidade corporal, realizando, assim, as trocas gasosas. No caso dos vermes parasitas, existe um tipo
de hemoglobina que proporciona o transporte e o armazenamento de oxigênio. Esses organismos
podem alternar os processos metabólicos entre aeróbio e anaeróbio, de acordo com o requerimento
de oxigênio do ambiente em questão (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).
Os processos de excreção dos nematódeos se dão por meio de numerosas unidades unicelulares
distribuídas ao longo de todo o comprimento do corpo, em que cada célula se abre para o exterior por
um ducto e um poro (Figuras 2a e 2b). Além disso, esses organismos eliminam excretas nitrogenadas,
permitindo, assim, ações osmorreguladoras do próprio corpo (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).

(a) (b)

50 µm
Figura 2 (a) - Canal excretor em vista lateral; (b) - Poro excretor em vista lateral / Fonte: Brusca, Moore e Shuster (2018, p. 814).

Descrição da Imagem: na Figura (a), apresenta-se o corpo alongado de um verme em corte longitudinal, evidenciando
o canal de excreção numa visão lateral. A Figura (b) tem a mesma estrutura, porém sem corte e numa visão frontal.

As funções quimiorreceptoras e quimiossensorial são desenvolvidas por um anel nervoso, que


circunda a faringe que se comunica com os nervos longitudinais, e pelos anfídios, órgão par, localizado
na lateral da cabeça (Figura 3) (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).

83
UNICESUMAR

Anfídio

Nervo do
anfídio

Anel nervoso

Esôfago

Figura 3 - Sistema nervoso dos nematódeos / Fonte: adaptada de Brusca, Moore e Shuster (2018).

Descrição da Imagem: a figura mostra a região anterior, próxima da cabeça de um verme nematódeo, em que estão
esquematizadas as estruturas que compõem o sistema nervoso desse animal. Há duas protuberâncias suaves nessa
extremidade, denominada de anfídio, ambas emitem um ramo no sentido descendente, identificados como nervo do
anfídio, até atingir uma estrutura circular em forma de anel, chamada de anel nervoso. Abaixo deste anel, encontra-se
uma estrutura tubular em que, na metade inferior, há um discreto alargamento.

Quanto à reprodução, os nematódeos são dioicos com dimorfismo sexual (Figuras 4a e 4b). As fêmeas
apresentam até dois ovários alongados, que se tornam ovidutos e, depois, formam úteros. Os úteros se
unem e formam a vagina curta, que se abre num único poro, a parte do ânus (Figura 4a). Os machos
são menores que as fêmeas e tem uma curvatura mais proeminente. Apresentam até dois testículos
tubulares, os quais apresentam zonas que formam o espermoducto e, também, se abre próximo ao ânus.
A maioria dos nematódeos macho tem um aparato copulatório, o qual inclui uma ou duas espículas
cuticulares que transferem o esperma (Figura 4b).

84
UNIDADE 4

Boca
A B
Esôfago
Boca
Cordão
epidérmico
lateral Esôfago
Intestino

Poro genital
Intestino
Vagina

Útero
Espermoducto
Oviducto

Testículo

Ovário
Vesícula
seminal

Espícula

Figura 4 - Sistema reprodutivo dos nematódeos: (a) - Fêmea; (b) - Macho / Fonte: Brusca, Moore e Shuster (2018, p. 817).

Descrição da Imagem: a Figura (a) apresenta uma fêmea de nematódeo com os órgãos do sistema reprodutor evi-
dentes e fora do corpo do animal, são ductos espiralados e enrolados sobre si mesmo, deixando evidente a grande
extensão em comprimento. Na mesma imagem, a Figura (b) repete o padrão da Figura (a), com a diferença de que os
ductos são bem menores em extensão, na espiral e no enrolamento.

A partir de agora, convido-o para conhecer, de forma mais aprofundada, alguns nematódeos parasitas
que se destacam a partir do interesse médico.
Você conhece ou já ouviu falar em tricuríase ou tricocefalíase? Essa é uma doença causada pelo
verme Trichuris trichiura. Conforme vimos anteriormente, é uma doença cosmopolita e está entre
as três infecções geo-helmínticas mais importantes no planeta, juntamente com a ascaridíase e a an-
cilostomíase. Ela é mais frequente em regiões tropicais e pobres, como Ásia, África e América do Sul;
porém é comum ocorrer em regiões rurais do sudeste dos Estados Unidos. Ainda, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS) e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), essa
doença tropical é negligenciada (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

85
UNICESUMAR

Geo-helmintos são assim conhecidos quando a infecção é adquirida pelo contato com o solo
contaminado por formas infectantes, como ovos ou larvas. Ascaris, Trichuris e ancilostomídeos
são geo-helmintos.
Fonte: adaptado de Ferreira (2021).

São fatores que estão associados a casos ativos: hábitos inadequados de higiene e a ausência ou as
condições precárias de saneamento básico, o que resulta em crianças como a maioria dos indivíduos
infectados — dos mais de 450 milhões a 1 bilhão de pessoas que têm a doença atualmente. Acrescenta-se,
ainda, a esse perfil informações como: crianças em idade pré-escolar e escolar, oriundas de famílias
com baixo nível socioeconômico (FERREIRA, 2021).
O parasita Thichuris trichiura infecta o intestino grosso de humanos, principalmente, o ceco, o
apêndice e o reto. Eventualmente, é encontrado, também, em macacos e suínos. Esses vermes se alojam
no tecido da região infectada, inserindo a porção anterior do corpo inteiramente na mucosa em questão.
Por meio de mecanismos enzimáticos, eles se alimentam dos enterócitos, além de consumir sangue e
o líquido intersticial. É comum que de dois a dez parasitos habitem o intestino do hospedeiro, porém,
em casos graves, centenas deles podem estar presentes (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Morfologicamente, o verme T. trichiura é pequeno e arredondado, com cerca de 3 a 5 cm de com-
primento. A porção anterior é bastante afilada devido ao seu longo esôfago, assemelhando-se a um
chicote, e a posterior é fusiforme, onde estão localizados o intestino e os órgãos sexuais. Os machos, que
são menores que as fêmeas, apresentam a parte posterior enrolada ventralmente, e, de sua cloaca, sai
uma espícula recoberta por inúmeros minúsculos espinhos. Os adultos apresentam os seguintes órgãos
sexuais: testículos e ductos ejaculatórios nos machos, e ovários, oviduto, útero, vagina e vulva nas fêmeas.
As fêmeas podem liberar de 3.000 a 20.000 ovos por dia, os quais, enquanto presentes no intes-
tino grosso dos hospedeiros, não formam embrião. Apenas após eliminados pelas fezes, os ovos se
desenvolvem lentamente no solo, com características morna e úmida, formando embriões capazes de
infectar um hospedeiro após 15 a 30 dias (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). Ao ingerir alimentos ou
líquidos mal higienizados e infectados, os ovos viáveis alcançam a porção distal do intestino delgado,
onde, por meio da ação de secreções digestivas, há a liberação de larvas que migram até o ceco, onde
ocorre a maturação e posterior fixação no cólon ascendente. Tal ciclo biológico, compreendido entre
a ingestão e a liberação dos ovos pelo hospedeiro, dura cerca de 60 a 70 dias (Figura 5) (SIQUEIRA-
-BATISTA et al., 2020).

86
UNIDADE 4

Ovo no estágio de
clivagem avançada

Ovo embrionado
é ingerido

Larva no intestino
delgado

Ovo no estágio Adultos no ceco


de duas células

Ovo não embrionado


presente nas fezes

Figura 5 - Ciclo biológico de Thichuris trichiura / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 563).

Descrição da Imagem: a figura apresenta, na posição média superior, uma estrutura oval com uma larva em seu
interior; há uma seta indicando para um esquema de corpo humano, que está com o sistema digestório em destaque:
mostra todo o tubo digestório, desde a boca até o reto e o canal anal; há outra seta apontando para uma estrutura
oval com o seu interior todo preenchido; na sequência, tem outra seta indicando uma estrutura oval com duas células
em seu interior; após isso, outra seta indica outro ovo com numerosas células no seu interior. E, por fim, outra seta
aponta para um ovo com larva no seu interior. No lado direito da imagem, há, na parte superior, uma larva adulta
pequena e, na parte inferior, duas larvas adultas em tamanho maior.

Com relação aos aspectos clínicos, a maioria dos hospedeiros de T. trichiura são assintomáticos. Em
quadros sintomáticos, as crianças e os adolescentes desnutridos são mais afetados, por serem mais
suscetíveis a hospedar uma grande carga parasitária. É importante destacar que a intensidade dos
sintomas tem relação direta com o número de parasitos adultos presentes no hospedeiro.
Em casos de baixo número de parasitas, os sintomas são: irritabilidade, insônia ou sonolência, ina-
petência, adinamia, palidez, prurido anal e urticária, todos desencadeados pelo processo inflamatório
ocasionado na mucosa colônica, que desencadeia irritação na inervação local. Com o aumento da carga
parasitária, o hospedeiro pode apresentar colite crônica, em que os sintomas como dor abdominal
crônica, diarreia crônica aquosa ou pastosa, anemia ferropriva e retardo de crescimento são comuns
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
É possível ainda que esse paciente desenvolva uma síndrome disentérica, caracterizada por
tenesmo e diarreia, contendo grande quantidade de muco e sangue. Além disso, é comum ocorrer
o prolapso retal, a enterorragia maciça, o emagrecimento e anorexia (SIQUEIRA-BATISTA et al.,

87
UNICESUMAR

2020). Por mecanismos desconhecidos, alguns hospedeiros com tricuríase podem apresentar baque-
teamento de dedos, ou seja, as extremidades dos dedos alargam-se, assumindo a forma de baquetas
de tambor (FERREIRA, 2021).
O diagnóstico pode ser realizado com outras parasitoses intestinais, bem como os quadros de
retocolite ulcerativa e de colite amebiana devem ser considerados como indicativo referencial de in-
fecção por T. trichiura. A presença e abundância de ovos nas fezes pode ser detectada por diferentes
métodos de exame parasitológico de fezes, como ensaios qualitativos e quantitativos. Além disso, casos
de infecção de intensidade superior a 500 ovos por grama de fezes podem ser associados a sangramento
intestinal, podendo ser detectado sangue oculto nas fezes (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Considerando a alta taxa de resistência aos fármacos Mebendazol, Albendazol e Palmoato de Pirantel,
utilizados em dose única para o tratamento contra esses vermes, tem-se indicado a monoterapia por
três dias com Albendazol ou Mebendazol em casos leves a moderados, podendo estender-se a cinco
a sete dias de Albendazol em casos graves. Há, ainda, a combinação e o uso associado dos seguintes
fármacos: associação de Albendazol e Pamoato de Oxantel e Albendazol e Ivermectina, ambos em
dose única (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Epidemiologicamente, a tricuríase é mais frequente em regiões tropicais e temperadas, porém seus
os ovos de T. trichiura são mais sensíveis à desidratação e à insolação em comparação a outros vermes
com a mesma distribuição, como Ascaris lumbricoides, por exemplo. Esse aspecto é associado com baixas
condições socioeconômicas e carência de serviços de saúde, saneamento e educação e acomete, preferen-
cialmente, crianças, sendo raríssimos os casos sintomáticos em adultos (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Uma vez que a tricuríase apresenta importante relação com a condição de saneamento básico e
com os hábitos de higiene das populações, as medidas de profilaxia fundamentais são fornecimento
de água potável, tratamento correto das excretas humanas e educação sanitária, criando-se o hábito
de lavagem das mãos antes das refeições e após a utilização do sanitário, lavagem de frutas e verduras,
proteção de alimentos contra insetos e baratas e não utilização de adubo com fezes humanas. Já as
medidas de controle essenciais são o diagnóstico e o tratamento, a fim de diminuir a propagação da
doença (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Agora que vimos os aspectos biológicos, as relações do parasito com o hospedeiro, bem como as
medidas de profilaxia e controle de Thichuris trichiura, seguiremos nossa caminhada pelo conheci-
mento de parasitas nematódeos, investigando e aprendendo sobre Enterobius vermiculares.
Caro(a) aluno(a), certamente, você já ouviu dizer ou tenha dito que “fulano” tem coceira no ânus
— ou você mesmo(a) teve. Pois bem, essa situação é uma doença parasitária causada pelo nematódeo
Enterobius vermiculares e causa a enterobíase, enterobiose ou oxiurose. É uma parasitose intestinal
causada por um pequeno nematódeo pertencente à família Oxyuridae, também conhecido como oxiúro.
Esse parasito é exclusivamente humano e incide com maior intensidade nos países de clima tempera-
do, tanto na Europa como na América do Norte, inclusive nos países ricos e com os mais elevados níveis
de saneamento. Habita o lúmen do intestino humano, e a infecção, quando sintomática, é responsável
por causar prurido anal de caráter intenso e produzir complicações locais e/ou em sítios ectópicos.

88
UNIDADE 4

O nematódeo adulto de E. vermiculares vive aderido à mucosa ou livre em região cecal, no íleo e
no cólon, onde se alimentam de microrganismos e materiais existentes nesses locais. A fêmea do ne-
matoide migra para o ânus do hospedeiro, geralmente, no período noturno, para depositar seus ovos
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Morfologicamente, a fêmea é maior que o macho e apresenta em torno de 1 cm de comprimento.
Ela tem o corpo fusiforme e as extremidades finas. A ponta posterior é particularmente afilada, por
isso, o nome oxyuris, que significa “cauda pontuda”. O macho mede de 3 a 5 mm e tem seu extremo
posterior enrolado ventralmente (Figura 6) (REY, 2018).

A
B
Esôfago com
bulbo esofagiano
Intestino

Útero
Canal
ejaculador Testículo
Vagina

Ovários e
ovidutos

Útero

Reto e ânus

Figura 6 - Enterobius vermicularis: (a) - Representação esquemática da fêmea: a. expansões vesiculosas (aletas cervicais); b.
esôfago com bulbo esofagiano; c. intestino; d. úteros; e. vagina; f. ovários e ovidutos; g. reto e ânus.; (b) - Macho: h. canal
ejaculador; i. testículo / Fonte: adaptada de Rey (2018).

Descrição da Imagem: na imagem, a Figura (a) mostra o corpo de uma fêmea do verme de tamanho pequeno e extre-
midades finas, com os órgãos internos enovelados e sobrepostos desde a cabeça até o ânus. Na Figura (b), mostra o
macho dessa mesma espécie, com tamanho corporal 50% menor que a fêmea e com a cauda enrolada ventralmente.

89
UNICESUMAR

Os adultos de E. vermicularis apresentam cutícula de coloração


branca e brilhante. Exibe, em cada lado da extremidade anterior,
duas expansões vesiculosas (Figura 6). O aparelho genital feminino
é constituído pela vulva, uma vagina que se bifurca em dois úteros
longos e grossos e ovidutos. Os machos possuem um só testículo,
com o respectivo canal deferente e um canal ejaculador que se abre
na cloaca, além de um espículo longo. No entorno da abertura da
cloaca, a cutícula apresenta papilas sensoriais pré­anais e pós­anais,
além de duas expansões laterais que, associadas com o forte enro-
lamento ventral da cauda, permitem que o macho localize e fixe a
fêmea durante a cópula (REY, 2018).
As fêmeas fecundadas reúnem cerca 11.000 ovos em seus úteros,
os quais se tornam distendidos por toda a massa ovular. Durante
esse período “gestacional”, elas se deslocam para o reto do hospe-
deiro, principalmente, durante a noite, quando a temperatura está
mais baixa, lançando seus ovos na região perianal. A longevidade
desses vermes está diretamente relacionada com a sua oviposição,
com duração de 35 a 50 dias, quando o ciclo de vida do nematódeo
se completa. Há situações em que as fêmeas morrem ao chegarem
ao períneo, porém liberam seus ovos da mesma maneira, e eles dão
continuidade ao seu desenvolvimento (REY, 2018).
Os ovos apresentam uma superfície viscosa que facilita a sua
aderência, além de serem compostos por três camadas incolores.
Abrigam uma larva formada, embrionária, que se desenvolve par-
cialmente em anaerobiose, até o ponto em que necessita de oxigênio
para dar continuidade ao seu desenvolvimento e se tornar a forma
infectante ao ser humano (REY, 2018).
O parasita E. vermicularis apresenta um único hospedeiro: o
Homo sapiens. Depois que as fêmeas liberam seus ovos na região
perianal do hospedeiro, eles sofrem maturação entre 4 a 6 horas. A
infecção causa um intenso prurido perianal, provocando o paciente
a coçar a região, facilitando, assim, a transferência dos ovos infec-
tantes por meio das mãos contaminadas para a boca (autoinfec-
ção), por exemplo. Uma vez dentro do organismo humano, os ovos
eclodem no intestino delgado, onde liberam as larvas, que, por sua
vez, desenvolver-se-ão até a forma adulta. Esse processo acontece
enquanto eles se movem para o ceco. Por fim, os vermes copulam
e dão início a um novo ciclo biológico (Figura 7) (REY, 2018).

90
UNIDADE 4

Ovos embrionados
ingeridos por
humanos
Larvas eclodem no
intestino delgado

Adulto no
Larvas dentro
lúmen do ceco
de ovos na
região perianal
amadurecem
em 4 a 6 horas Fêmea grávida migra
para a região perianal, à noite,
para postura dos ovos

Figura 7 - Ciclo biológico de Enterobius vermicularis / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 385).

Descrição da Imagem: no canto superior esquerdo, há uma estrutura oval com pequenas larvas no seu interior, se-
guido de uma seta que indica para um esquema que representa o sistema digestório humana, o qual inicia na boca e
finaliza no reto e canal anal; após, há uma seta que aponta para uma estrutura oval, repleta de pequenas larvas no seu
interior; depois, há outra seta que aponta novamente para outro ovo cheio de pequenas larvas, que pode reiniciar a
sequência. No lado direito superior, há o esquema de uma larva jovem, e, do mesmo lado, mas abaixo, há dois vermes,
uma fêmea e um macho, ambos adultos bem delimitados.

Se os ovos são depositados na superfície corporal do hospedeiro, você já parou para pensar
que eles podem ficar aderidos ao ambiente, como nas roupas de cama da pessoa infectada?
Tal fato promove uma intensa disseminação do helminto e a possibilidade de novas infecções.

91
UNICESUMAR

Considerando os aspectos clínicos, o parasitismo por enteróbios é, geralmente, assintomático. Em


situações sintomáticas, é comum o prurido na região perianal de forma frequente, que pode se tornar
muito intenso, principalmente, durante a noite — o que pode originar significativa dificuldade para
dormir —, devido à migração dos parasitos fêmeas para o local. Tal situação pode levar a uma irrita-
ção na região anal, com proctite e vulvovaginite, pelo deslocamento das larvas para a região genital
feminina, o que ocasiona prurido vulvar, desconforto vaginal e granulomas no útero, nos ovários e
nas tubas uterinas. Nesses casos, pode ocorrer corrimento vaginal, e os lábios podem apresentar eri-
tematosos e edemaciados. Além disso, a região anal pode se tornar recoberta de muco pelo processo
inflamatório provocado, às vezes, sanguinolento, causando pontos hemorrágicos também no reto
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

Quando a higienização perineal é feita de forma inadequada, o parasito pode ser responsável
pela ocorrência de infecção em outros sistemas orgânicos do hospedeiro, como o sistema uri-
nário. Pode ocorrer, também, colite crônica, que se manifesta por meio de fezes amolecidas ou
diarreicas, emagrecimento e alterações do apetite. Descreveu-se, mais recentemente, a partici-
pação de enteróbios em distúrbios do apêndice — apendicite e cólicas apendiculares. Infecções
extraintestinais, como no sistema reprodutor feminino, nos pulmões, no fígado, no baço, no
apêndice e na próstata, já foram identificadas em alguns estudos, apesar de serem incomuns.
Fonte: adaptado de Rey (2018) e Siqueira-Batista et al. (2020).

Para o diagnóstico dessa parasitose, o exame de rotina de fezes não é eficiente. É comum ser realizado
o diagnóstico clínico ao considerar o prurido anal como principal manifestação do quadro de parasi-
tismo por E. vermicularis sintomático. Para o caso de diagnóstico laboratorial, o mais recomendado
é o método da fita transparente ou celofane. Esse método deve ser realizado durante a manhã, antes
da higiene na região anal. Quando presentes, os ovos se aderirão à fita gomada. Depois de descolada
da pele, a fita será preparada em uma lâmina para análise microscópica. Outras técnicas podem ser
realizadas como: (1) inspeção da superfície anal e de sua borda, a fim de identificar os vermes móveis
ou, ainda, (2) inspeção das roupas íntimas e de cama, nas quais os vermes móveis, às vezes, são visíveis
(REY, 2018; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
O tratamento é feito por meio do emprego dos seguintes anti-helmínticos: Mebendazol, Pamoato
de Pirvínio, Pamoato de Pirantel e Albendazol. É fundamental que seja realizado o tratamento de todos
os moradores da residência quando houver algum indivíduo doente, pois há uma possibilidade de que

92
UNIDADE 4

outros moradores estejam infectados. Gestantes têm contraindicação para o uso dos medicamentos
mencionados (REY, 2018; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Epidemiologicamente, a enterobiose prevalece nas regiões de clima temperado, mas ocorre de
forma cosmopolita. Acredita-se que essa prevalência está ligada a fatores culturais, como banho e troca
de roupas íntimas menos frequente. Em 2010, acreditava-se que, aproximadamente, 208 milhões de
pessoas estavam infectadas pelo E. vermicularis. A doença tem altas taxas de prevalência em locais
com elevada aglomeração de crianças, como escolas, creches, orfanatos e instituições de ensino (REY,
2018; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
As medidas de profilaxia e de controle incluem: banhos diários pela manhã, preferivelmente
de chuveiro; mudanças frequentes de roupas de baixo, roupas de dormir, roupas de cama e de banho;
promover o arejamento dos locais; dispor de instalações sanitárias adequadas e assegurar estrita
limpeza do ambiente; manter as mãos limpas, lavando-as cuidadosamente após a defecação, antes
das refeições e antes de preparar alimentos; manter as unhas curtas ou usar escova para sua limpeza;
combater a onicofagia e evitar coçar diretamente a região perianal; usar aspirador de pó em substitui-
ção à varrição; promover a educação sanitária nas escolas, nas instituições que abrigam crianças, nos
clubes e nos domicílios.
Até aqui, vimos os aspectos biológicos, as relações do parasito com o hospedeiro, bem como as me-
didas de profilaxia e controle de Thichuris trichiura e de Enterobius vermiculares, seguiremos nossa
caminhada pelo conhecimento de parasitas nematódeos, explorando e aprendendo sobre ascaridíase.
Neste momento, aluno(a), convido-o a refletir sobre a quantidade de vezes que você já ouviu al-
guém dizer que outra pessoa tinha lombriga. E já ouviu o termo: “fulano está com bichas”? Ou você
mesmo(a) precisou ser medicado(a) para eliminar esses parasitas? Bem, esse é o momento em que
conheceremos essa verminose. Vamos nessa?
A ascaridíase pode ser conhecida por ascaridiose, ascaríase ou ascariose. É uma doença cau-
sada pelo verme Ascaris lumbricoides, pertencente ao Filo Nematoda, que se estabelece no intestino
delgado humano. É um grande problema de saúde pública, pois a Organização Mundial da Saúde
(OMS) estima que mais de um bilhão de pessoas estejam infectadas pelo A. lumbricoides. Em nosso
país, a ascaridíase está presente de norte a sul em áreas urbanas e rurais e afeta crianças. Esse aspecto
está associado a fatores socioeconômicos, sanitário-ambientais e de educação. Essa condição resulta
em consequências negativas para o desenvolvimento físico e cognitivo de nossas crianças (SIQUEI-
RA-BATISTA et al., 2020).
A palavra ascaris, etimologicamente, vem do grego Ασκαρις e significa “certo verme intestinal”. Po-
pularmente, esse verme é conhecido como “lombriga” ou “bicha”. Além da A. lumbricoides, espécies de
importância veterinária pertencentes à família Ascarididae são encontradas: Ascaris suum, que infecta
suínos, e o Ascaris ovis, que parasita os ovinos (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
As principais características morfológicas são: longos, cilíndricos e com extremidades afiladas;
cutícula lisa, brilhante e com finas estriações anulares, de cor branco-marfim ou rosada; a boca ocupa
posição central na extremidade anterior com três lábios grandes, um dorsal e dois látero-ventrais,

93
UNICESUMAR

os quais são providos de papilas sensoriais e de serrilhas com dentículos; o esôfago é musculoso,
cilíndrico e continua com o intestino retilíneo e achatado em formato de fita. Essa espécie também
apresenta dimorfismo sexual, ou seja, as fêmeas são maiores e mais grossas, tendo a parte posterior
retilínea ou ligeiramente encurvada, enquanto os machos apresentam enrolamento ventral, espi-
ralado, em sua extremidade caudal (Figura 8). A fêmea mede de 35 a 40 cm, e o macho mede de 20
a 30 cm, o que faz do A. lumbricoides um dos maiores nematódeos que parasitam o homem (REY,
2018; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

Figura 8 - Ascaris lumbricoides: (a) - Fêmea com o extremo posterior retilíneo; (b) - Macho com a cauda enrolada ventralmente
Fonte: Rey (2018, p. 586).

Descrição da Imagem: na imagem, a Figura (a) apresenta um verme cilíndrico, longo e com as extremidades finas e
retilíneas. Na Figura (b), essas características se mantêm, porém trata-se de um macho e tem o tamanho menor, além
de ter a cauda enrolada ventralmente.

O aparelho reprodutor da fêmea é composto por ovário, útero, vagina, que se bifurca em dois tubos
uterinos, e vulva. O aparelho genital do macho, localizado na cauda encurvada, é composto por um
testículo filiforme e alongado, um canal deferente e um canal ejaculador que se abre na cloaca (SI-
QUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Os ovos são protegidos por uma membrana composta por três camadas, o que lhes proporciona
maior resistência e nutrição em ambientes inóspitos. Quando férteis, os ovos apresentam envoltório

94
UNIDADE 4

mais espesso, formato ovoide e são relativamente menores que os inférteis, que apresentam formato
mais alongado (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A. lumbricoides vive no lúmen do intestino delgado — fixado na mucosa ou de forma livre —,
especificamente, no jejuno e íleo, mas pode ser encontrado, em menor quantidade, no duodeno e no
estômago. Em casos de infecções intensas, ele pode ocorrer em lugares menos comuns, como vias
biliares, ducto pancreático, apêndice cecal, vias do trato urinário, laringe, traqueia e aparelho lacrimal.
Assim, pode acontecer a eliminação do parasita pelos olhos, pelo nariz, pela boca e pelo ânus (REY,
2018; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
O parasita A. lumbricoides apresenta um único hospedeiro: o Homo sapiens. Após a fecundação,
a fêmea libera os ovos não embrionados por meio das fezes para o ambiente, onde se tornam embrio-
nados se encontrarem condições favoráveis, tais como: temperatura média de 27°C, 士 3°C para mais
ou para menos, além da umidade e presença de oxigênio. As formas larvais se tornam infectantes no
interior do ovo embrionado após sucessivos estágios de desenvolvimento (Figura 9) (REY, 2018; SI-
QUEIRA-BATISTA et al., 2020).

Figura 9 - Ovos e larvas de Ascaris lumbricoides: (a) - Ovo recém-eliminado; (b) - Ovo embrionado no meio exterior; (c) Ovo
infértil; (d) Eclosão da larva infestante no tubo digestivo do hospedeiro; (e) Larva isolada do pulmão / Fonte: Rey (2018, p. 589).

Descrição da Imagem: a Figura (a) está no canto superior esquerdo e apresenta o desenho de um ovo com massa
homogênea internamente. A Figura (b) se encontra no meio, superiormente na imagem, e apresenta o desenho de um
ovo com uma larva em seu interior. No canto superior direito, há o desenho de um ovo mais alongado e com massa
homogênea. No canto inferior esquerdo, há o desenho de um ovo com uma larva eclodindo para o meio externo, e,
por fim, no canto inferior direito e no meio da imagem, há o desenho de uma larva adulta.

95
UNICESUMAR

Depois de ingeridos, os ovos percorrem o tubo gastrintestinal do hospedeiro para eclodir ao chegarem
no intestino delgado, onde se rompem devido às condições ideais de temperatura, pH e, principalmente,
da concentração de dióxido de carbono, além das substâncias biliares participarem de forma ativa do
processo de eclosão. Essas larvas recém-eclodidas podem migrar para o intestino grosso e alcançam
as correntes linfática e sanguínea, por meio das quais chegam aos pulmões pela circulação porta, pelo
fígado, pela veia cava inferior, pelo coração e pela artéria pulmonar. Quando localizadas nos pulmões,
essas larvas evoluem para outro estágio de desenvolvimento, tornando-se capazes de romper os capilares
pulmonares e, assim, alcançar os alvéolos, onde elas sofrem outra maturação. Na sequência, essas larvas
se direcionam sequencialmente para a faringe, passando pela árvore brônquica, traqueia e laringe. Po-
dem, então, ser expelidas do hospedeiro, a partir do reflexo da tosse, ou deglutidas. Nesse caso, quando
chegam ao intestino delgado, fixam-se e amadurecem, dando lugar às formas adultas, concluindo seu
ciclo biológico (Figura 10). Da ingestão dos ovos até o desenvolvimento do A. lumbricoides em sua
forma adulta, são necessários, aproximadamente, 60 dias (REY, 2018; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

Ingestão de
alimentos
contaminados
com ovos

Vermes adultos
no intestino
delgado

Ovo
embrionado Fezes
contaminadas
com ovos
3º estágio
larval

Ovo Ovo não


fertilizado fertilizado

Figura 10 - Ciclo biológico de Ascaris lumbricoides / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 327).

Descrição da Imagem: na imagem, do lado esquerdo, há uma estrutura oval com uma larva em seu interior, que
segue para uma seta da esquerda pra direita, em que há um esquema do corpo humano com o sistema digestório
evidente; na sequência, tem a representação das larvas associadas a regiões do tubo digestório; depois, há outra no
mesmo sentido que a anterior, indicando um solo com fezes contaminadas com os ovos. Na sequência, há dois ovos,
um com conteúdo espaçado, e outro com células em multiplicação. Há outra seta indicando para o ovo com larva do
início da descrição, podendo repetir o ciclo.

96
UNIDADE 4

A Unicesumar dispõe de um recurso chamado Microscopia Digital


Atlas, que é constituído por numerosas lâminas de material biológi-
co de diferentes áreas do conhecimento dentro da Microscopia, tais
como Histologia, Zoologia, Parasitologia, entre outras. Convido-o a
conhecer e explorar esse recurso, e se permita ter essa experiência
imersiva com o conteúdo. Deixo a lâmina de Ascaris lumbricoides para
que você possa ver uma fêmea em corte transversal com os úteros repletos de ovos, bem
como o seu intestino e os ovários. Vale muito a pena a experiência, vamos lá?

Quanto aos aspectos clínicos, em geral, a ascaridíase é assintomática ou oligossintomática, com evolu-
ção benigna, porém pode evoluir para casos mais graves e com complicações por conta de obstruções
que podem ocorrer em diferentes órgãos. Clinicamente, as queixas mais descritas são dor abdominal,
diarreia e náuseas (REY, 2018; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

Órgão
Manifestações clínicas
acometido

• Hepatomegalia, hiperglobulinemia, mal-estar geral, febre.


• Abscesso hepático: febre, dor no hipocôndrio direito, icterícia. Leu-
cocitose, geralmente com desvio para a esquerda. Elevação variável
de AST e ALT. Coleção intra-hepática visualizada à US.
• Hepatite: pródromo de febre, mal-estar, hiporexia, mialgias, náuseas.
Fígado e vias Dor leve no hipocôndrio direito, associada a hepatomegalia, icterícia,
biliares colúria, hipocolia. Elevação de AST e ALT, mais importantes que FA
e GGT.
• Colangite: icterícia, febre e dor no hipocôndrio direito. Hipotensão
arterial sistêmica e rebaixamento do nível de consciência em situações
de maior gravidade. Elevação de FA e GGT mais importante que de
AST e ALT. US pode mostrar dilatação de via biliar principal.

• Síndrome de Löffler: febre, tosse (escarro com cristais de Charcot-


-Leyden), broncospasmo, dispneia, sibilos, dor retroesternal, hemop-
tise, edema pulmonar, opacidades “migratórias” à radiografia de tórax
Pulmão e, em alguns casos, insuficiência respiratória.
• Pneumonia: febre alta, mal-estar, tosse produtiva, dor pleurítica, ta-
quipneia, fadiga.

97
UNICESUMAR

Órgão
Manifestações clínicas
acometido

• Abdome proeminente, dor abdominal em cólica, diarreia, náuseas,


vômitos, anorexia, desnutrição.
• Obstrução mecânica: distensão abdominal, parada de eliminação
de flatos e fezes, peristalse de luta, vômitos fecalóides, intensa dor
Intestino abdominal, isquemia intestinal, perfuração intestinal com peritonite
fecal, intussuscepção, vólvulo.
• Apendicite aguda: dor difusa ou periumbilical, que posteriormente se
localiza no quadrante inferior direito do abdome, progressiva, asso-
ciada a febre, náuseas, vômito. Peritonite fecal em caso de supuração.

Quadro 1 - Principais manifestações clínicas da ascaridíase / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 328).

Por ser uma verminose que se desenvolve de maneira assintomática, o diagnóstico é difícil de ser es-
tabelecido. Mesmo nos casos sintomáticos, eles são difusos e não possibilitam a caracterização apenas
em bases clínicas. Isso também é válido quando ocorrem as manifestações obstrutivas da doença —
obstrução intestinal, pancreatite aguda, colangite aguda. Nesse sentido, o diagnóstico da ascaridíase é
feito por meio do achado de ovos do helminto, identificados no exame parasitológico de fezes (REY,
2018; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

Muito provavelmente, você conhece ou ouviu falar na série médica ameri-


cana Grey’s Anatomy. Ela busca retratar a realidade médica em ambientes
de saúde, bem como as relações que se estabelecem dentro e fora desses
ambientes. Sugiro que você assista ao episódio 21 da temporada 13, em que
há um caso de uma paciente completamente infectada por A. lumbricoides.

O tratamento da ascaridíase deve incluir medicamentos anti-helmínticos como Albendazol, Meben-


dazol, Levamisol, Pamoato de Pirantel, Ivermectina, Piperazina e Nitozaxanida, além de medidas de
educação e melhoria das condições de acesso à saúde, sem as quais as taxas de reinfecção permanece-
rão elevadas, anulando, a médio prazo, os efeitos do tratamento farmacológico. Deve ser considerado
preço, uso individual ou coletivo, uso contra Ascaris apenas ou contra vários helmintos intestinais no
momento da escolha do tratamento indicado (REY, 2018; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A epidemiologia de A. lumbricoides aponta para uma distribuição geográfica mundial, com o
foco em regiões tropicais e subtropicais, ou seja, locais onde o clima quente e úmido favorece o de-

98
UNIDADE 4

senvolvimento do ciclo biológico desses vermes. Questões como saneamento básico ineficiente e o
uso de fezes humanas como fertilizante no cultivo de hortaliças e frutas, associado às condições de
higiene incorreta, tanto dos alimentos quanto dos indivíduos, acarretam a facilitação da disseminação
dos ovos desses parasitas. A ascaridíase é uma doença tropical negligenciada e caracteriza um dos
grandes problemas de saúde pública em nosso país. Está diretamente relacionada com fatores sociais,
econômicos, culturais e ambientais (REY, 2018; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Como medidas de profilaxia e de controle, destacam-se os aspectos culturais relacionados aos
cuidados com a saúde e a educação, pois a destinação apropriada dos resíduos fecais, bem como o trata-
mento do solo com substâncias químicas no entorno de locais com casos de infecção são fundamentais.
Ainda assim, ações educativas que promovam hábitos de higiene mais saudáveis são necessárias, uma
vez que potencializam o controle e a prevenção da ascaridíase. São ações relativamente simples, como
lavar as mãos antes das refeições e higienizar, manusear e armazenar adequadamente os alimentos, as
quais contribuem de maneira bastante eficaz para diminuir o número de infecções e a disseminação
da doença. Por último, o tratamento dos pacientes com ascaridíase é uma das maneiras mais signifi-
cativas de controle e profilaxia. Interromper o ciclo de evolução do helminto é de grande valor para
reduzir a prevalência dessa condição mórbida, bem como para minimizar a gravidade das infecções
que acontecem. No entanto, essa medida deve sempre ser associada às ações ambientais, de educação
e de saúde (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Relembrando, então, até aqui, vimos os aspectos biológicos, as relações do parasito com o hospedeiro,
bem como as medidas de profilaxia e controle de Thichuris trichiura, Enterobius vermiculares e de
Ascaris lumbricoides. Sigamos explorando os nematódeos?
Falaremos, agora, de uma doença que já foi símbolo do atraso e da pobreza no Brasil. Trata-se da
ancilostomíase, também conhecida como doença do amarelão. Essa parasitose se tornou famosa
quando Monteiro Lobato caracterizou o personagem Jeca Tatu como portador dessa doença, escre-
vendo assim: “Está provado que tens no sangue e nas tripas um jardim zoológico da pior espécie. É
essa bicharia cruel que te faz papudo, feio, molenga, inerte. Tens culpa disso? Claro que não” (LOBATO,
[2021], on-line)¹. A inércia e a cor amarelada típica se devem ao fato de que o parasitismo causado por
esses vermes causa perda de sangue e anemia nos hospedeiros.

Caso você não conheça o personagem mencionado, sugiro uma breve


leitura para que possa se inteirar da crítica social feita por Monteiro
Lobato ao criar seu famoso personagem Jeca Tatu. Saiba mais no
link pelo QR Code.

99
UNICESUMAR

A ancilostomíase é causada por parasitos das espécies Ancylostoma duodenale e Necator americanus
e habita o intestino delgado do ser humano. Em 2019, era considerada a segunda doença causada por
vermes mais comum no mundo, tendo prevalência em áreas tropicais e subtropicais, com destaque
para as regiões rurais e populações pobres. Estima-se que 25% da população mundial está sujeita à
infecção por ancilostomíase (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Os principais gêneros que afetam os humanos são Ancylostoma e Necator. Conheceremos os as-
pectos morfológicos dos gêneros em questão.
O Ancylostoma duodenale apresenta dentes na cápsula bucal, a qual é usada para fixação do parasito
no hospedeiro. Nesse caso, a fêmea também é maior que o macho e mede entre 10 e 18 mm de com-
primento por 600 µm de largura, enquanto o macho apresenta as seguintes medidas: entre 8 e 11 mm
de comprimento e 400 µm de largura, com bolsa copuladora desenvolvida. O hospedeiro é infectado a
partir da penetração cutânea. O verme adulto tem formato cilindriforme, de coloração branco-rosada
e um par de dentes ventrais (Figura 11) (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

Figura 11 - Extremidade anterior de Ancylostoma duodenale: (a) - Fêmea; (b) - Macho

Descrição da Imagem: as figuras evidenciam estruturas em formato de ganchos na extremidade anterior do corpo
do animal, há setas apontando os dentes das figuras.

Há outras espécies pertencentes ao gênero Ancylostoma, como o Ancylostoma braziliense e Ancy-


lostoma caninum, que são parasitos de caninos e felinos e, quando infectam hospedeiros humanos,
causam quadros de larva migrans cutânea (Figura 12) (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

100
UNIDADE 4

Figura 12 - Larva migrans cutânea localizada Figura 13 - Extremidade anterior de


no pé de hospedeiro Necator americanus

Descrição da Imagem: a figura evidencia um pé hu- Descrição da Imagem: a figura evidencia a extremi-
mano de forma parcial, com o foco em uma trilha em dade anterior do organismo, em que há uma coroa de
alto-relevo presente sob a pele nesse local. dentes na boca desse animal.

A espécie Necator americanus possui lâminas ou placas cortantes na cápsula bucal, que é utilizada
para fixação do verme ao hospedeiro. Esse parasito adulto é cilíndrico, com a extremidade dorsal
curvada. Essa espécie é mais fina do que a Ancylostoma duodenale: a fêmea tem entre 9 e 11 mm de
comprimento, e o macho tem de 5 a 9 mm de comprimento, ambos medem cerca de 300 µm de largura.
A infecção acontece por meio da penetração cutânea (Figura 13) (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
O ciclo biológico tem início quando os ovos presentes nas fezes contaminadas eclodem sob
condições ideais, como umidade, calor e sombra. Após adquirir a forma infectante e encontrar um
hospedeiro humano, as larvas penetram pela pele ou pela ingestão. Então, elas são transportadas por
meio dos vasos linfáticos e sanguíneos, chegando ao coração e pulmões. Nos pulmões, elas atingem os
alvéolos pulmonares, migram para os brônquios, faringe e, finalmente, são engolidas. Agora, as larvas
de N. americanus se alojam no intestino delgado, onde sofrem maturação, tornam-se adultas e vivem
aderidas à parede do órgão. É importante destacar que a espécie Ancylostoma duodenale é capaz de
se desenvolver no intestino sem que ocorra a migração, ao contrário da espécie Necator americanus,
que requer uma fase de migração transpulmonar (Figura 14) (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

101
UNICESUMAR

Larva filarioide
penetra na pele

Larva
filarioide

Larva
rabditoide

Helmintos adultos
Ovos nas fezes no intestino delgado

Figura 14 - Ciclo biológico das espécies Ancylostoma duodenale e Necator americanus / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 309).

Descrição da Imagem: no canto superior esquerdo, há uma larva filarioide, seguida de uma seta em sentido horá-
rio que aponta para um pé humano; há outra seta apontando para um esquema de corpo humano, em que estão
evidentes os sistemas cardiorrespiratórios, digestório e o encéfalo; há dois vermes adultos associados a locais no
corpo humano em que podem ser mais ativos; na sequência, há uma seta no mesmo sentido que aponta uma carga
cheia de larvas dentro de um ovo. Outra seta indica outro tipo de larva, que aponta para a larva filarioide novamente,
podendo recomeçar

Os aspectos clínicos em casos de doença aguda incluem prurido no local onde o parasito penetra a
pele, além de eritema. Pode causar náuseas, vômitos, irritação da faringe, tosse, dispneia e rouquidão.
Durante a migração transpulmonar, o hospedeiro pode apresentar tosse não produtiva, febre baixa,
dor torácica discreta, dispneia leve, astenia e, em alguns casos, náuseas e vômitos. Ainda, à medida que
a infecção ganha intensidade e força, podem ocorrer manifestações compatíveis com pneumonia, com
febre elevada, astenia, cefaleia, mal-estar geral, dor torácica e tosse produtiva com escarro amarelo-es-
verdeado (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A perda gradual e contínua de sangue resultante do parasitismo é um dos principais aspectos clí-
nicos da doença crônica. Esse fato é atribuído às lesões traumáticas — fixação na mucosa intestinal
por meio de dentes ou lâminas cortantes — e às respostas imunológicas à produção de substâncias
imunomoduladoras e enzimas anticoagulantes. A perda de sangue leva à anemia acompanhada da

102
UNIDADE 4

deficiência de ferro e hipoalbuminemia. Além disso, podem ocorrer, também, edema da face e dos
membros inferiores e ascite, associados à hipoproteinemia. É comum a pele adquirir textura cérea e
coloração amarelada, facilitando a hipotermia. Nos quadros em que os pacientes apresentam carga
parasitária baixa, não há sinais e sintomas. Porém, na situação oposta, ou seja, com grande quantidade
de vermes, pode haver obstrução no lúmen intestinal e sintomas como dor epigástrica, náuseas, disp-
neia de esforço, dor nas extremidades inferiores, palpitações, dor torácica, cefaleia, fadiga e impotência
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Para o diagnóstico, utiliza-se a análise das fezes, em que são verificados os ovos ou as larvas. Para
isso, você deve saber que os ovos são incolores, elipsoides e com casca fina e transparente, medindo
60 a 70 µm por 35 a 40 µm. Entretanto, esse exame não é capaz de diferenciar os ovos de A. duodenale
e N. americanus. Nesse caso, existem outras técnicas que atendem a essa necessidade quando for o
momento (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
O tratamento da ancilostomíase deve incluir medicamentos anti-helmínticos, como Albendazol,
Mebendazol, Levamisol, Pamoato de Pirantel, Ivermectina, Piperazina e Nitozaxanida, além de medidas
de educação e melhoria das condições de acesso à saúde, sem as quais as taxas de reinfecção perma-
necerão elevadas, anulando, a médio prazo, os efeitos do tratamento farmacológico e o cuidado com
a anemia (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A epidemiologia de ancilostomíase evidencia que, em média, 740 milhões de indivíduos estejam
infectados atualmente, dos quais a maioria reside em áreas pobres e com más condições de sanea-
mento básico. A distribuição cosmopolita está relacionada às condições ambientais ideais para o
desenvolvimento do verme no ambiente. Além disso, um fator determinante são solos contaminados,
evidenciando um papel fundamental desse elemento na disseminação desses parasitos intestinais.
No Brasil, a ancilostomíase representa um dos grandes problemas de saúde pública a ser enfrentado,
estando diretamente associada a medidas sociais, econômicas, culturais e ambientais. Nas regiões
endêmicas, o trabalho no campo, os hábitos de defecar no solo, de andar descalço, de tomar banho em
lagos e cachoeiras e de não fazer a correta higienização das mãos e dos alimentos configuram focos
elementares que, além de propiciar sucessivas taxas de infecção, asseguram a reinfecção dos habitantes
em todos os períodos favoráveis do ano (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
As medidas de profilaxia e de controle são, basicamente, ações que visam à melhoria dos as-
pectos sanitário-ambientais, socioculturais e de educação em saúde da população, como a destinação
adequada e correta das fezes humanas. Há, também, o tratamento do solo por meio da introdução
de espécies vegetais, as quais produzem substâncias que são capazes de destruir as larvas dos vermes.
Além disso, a implementação de atividades educativas em busca de incorporar hábitos mais saudáveis
de higiene é uma importante ação para o controle da ancilostomíase, bem como o uso de calçados,
a higienização das mãos antes das refeições e após o uso do sanitário, o cuidado na preparação dos
alimentos e no seu armazenamento são condições importantes para a prevenção da ancilostomíase.
O uso de medicamentos interrompe o ciclo de evolução do parasito, o que minimiza a morbidade
da doença e a possibilidade de contaminação ambiental, já que a deposição dos ovos nas fezes estará
erradicada ou diminuída. Por fim, a administração de medicamentos ferrosos é de grande relevância

103
UNICESUMAR

para a recuperação clínica do hospedeiro parasitado naqueles casos em que ocorre anemia ferropriva,
pois contribui de maneira significativa para diminuir os riscos de a doença se agravar (SIQUEIRA-
-BATISTA et al., 2020).

Que tal você vir comigo conversar sobre técnicas de higienização de


alimentos frescos e sua importância para uma alimentação segura
e nutritiva? Neste papo, conversaremos com a nutricionista Raysa
Mantovani, que, com sua experiência e ampla competência, ajudará
você a conhecer e a colocar em prática esse tema tão essencial para
sua atividade profissional. É só clicar no play, vem!

Você pode ter se perguntado, em algum momento de nossa conversa, como a sua profissão está ligada
à Parasitologia. Bem, vamos lá! A principal atuação do profissional nutricionista num cenário onde
ocorrem as infecções por parasitas como os mencionados até aqui é com relação às medidas profilá-
ticas. Nesse sentido, ao conhecer os aspectos biológicos, as relações do parasito com o hospedeiro por
meio do ciclo biológico e as manifestações clínicas do verme, você estará apto(a) a desenvolver, junto
ao seu paciente ou à comunidade, medidas preventivas para a infecção. Fará orientações objetivando a
educação em saúde por meio da incorporação de hábitos de higiene, tais como a lavagem correta dos
alimentos, higienização das mãos após a defecação e antes de se alimentar, a importância de sempre
andar calçado, entre outras medidas que são eficazes na prevenção da infecção.
Você poderá atuar, também, junto à proposição de políticas públicas em saúde, salientando e orien-
tando a importância do saneamento básico e da água tratada, por exemplo, já que ambos são situações
que abrem portas para as parasitoses. Caberá a você, como profissional da Nutrição, determinar o tra-
tamento de crianças, pacientes imunodeprimidos, entre outros perfis, para a recuperação nutricional
e restabelecimento da saúde por meio da alimentação adequada. Quantas possibilidades de atuação
você terá dentro da Parasitologia, não é mesmo? Como você se sente sabendo que poderá ajudar e,
até mesmo, salvar vidas por meio de suas competências e habilidades desenvolvidas por meio desta
unidade? Espero que seja um(a) profissional de excelência!

104
Na avaliação desta unidade, faremos uso do mapa mental. Você pode desenvolvê-lo a partir das
palavras-chaves que se encontram dispostas a seguir. Para cada ramificação, há uma sequência
de conceitos, termos ou significados atrelados um ao outro. Lembre-se de relacionar as palavras,
respeitar a hierarquia delas e de organizar os pensamentos de forma lógica. Observe como eu dei
início à construção do mapa mental, veja como a sequência de conteúdos está se relacionando
e abrindo margem para que seja continuado. É aí que você entra com suas habilidades, compe-
tências e conhecimentos construídos durante esta unidade. Vamos lá?

Características gerais Características gerais

Morfologia Morfologia

Ciclo biológico Enterobíase Ciclo biológico

Aspectos clínicos Tricuríase Aspectos clínicos

Diagnóstico Diagnóstico

Tratamento Tratamento

Morfologia
Epidemiologia Epidemiologia

Medidas de profilaxia Medidas de profilaxia


e controle Conceito e controle

Características
Gerais NEMATÓDEOS Fisiologia

Características gerais Organização Características gerais

MAPA MENTAL
Morfologia Morfologia

Ciclo biológico Ciclo biológico

Aspectos clínicos Ascaridíase Aspectos clínicos

Diagnóstico Ancilostomíase Diagnóstico

Tratamento Tratamento

Epidemiologia Epidemiologia

Medidas de profilaxia Medidas de profilaxia


e controle e controle

Fonte: a autora.

105
MEU ESPAÇO

106
Verifiquemos seu aprendizado até aqui? Leia com atenção as questões a seguir e aponte
a alternativa correta de cada uma delas.

1. A ancilostomíase é uma doença que já foi símbolo do atraso e da pobreza no Brasil.


Essa parasitose se tornou famosa quando Monteiro Lobato caracterizou o personagem
Jeca Tatu com essa doença, escrevendo assim: “Está provado que tens no sangue e nas
tripas um jardim zoológico da pior espécie. É essa bicharia cruel que te faz papudo, feio,
molenga, inerte. Tens culpa disso? Claro que não” (LOBATO, [2021], on-line)¹. A partir
disso, assinale a alternativa correta:
a) É uma parasitose causada apenas por Ancylostoma duodenale.
b) É conhecida como amarelão e causa apenas febre como sintoma da infecção.
c) Ocorre em países tropicais apenas, por isso, o Brasil está livre dessa doença.
d) É uma doença restrita a crianças de 0 a 5 anos.
e) A ancilostomíase é causada pelos parasitas Ancylostoma duodenale e Necator ameri-
canus.

2. Os aspectos clínicos da ascaridíase envolvem danos aos tecidos e obstrução mecânica,


entre outros. Sobre a ascaridíase, julgue as assertivas a seguir como (V) para as afirma-
tivas verdadeiras e (F) para as falsas.
( ) Depois de ingeridos, os ovos de A. lumbricoides percorrem o tubo gastrintestinal do
hospedeiro para eclodir ao chegarem no intestino delgado.

AGORA É COM VOCÊ


( ) Em casos de infecções intensas, pode ocorrer a presença de larvas de A. lumbricoides
em lugares menos comuns, como vias biliares, ducto pancreático, apêndice cecal, vias
do trato urinário, laringe, traqueia e aparelho lacrimal.
( ) A ascaridíase é uma doença tropical negligenciada e caracteriza um dos grandes pro-
blemas de saúde pública em nosso país, porém não está relacionada a fatores sociais,
econômicos, culturais e ambientais.
( ) O diagnóstico da ascaridíase é feito por meio do achado de ovos do helminto identi-
ficados no exame parasitológico de fezes.
a) V, V, V, F.
b) F, V, V, F.
c) V, F, V, V.
d) V, V, F, V.
e) F, V, F, V.

107
3. Ao ingerir alimentos ou líquidos mal higienizados e infectados, os ovos viáveis alcançam
a porção distal do intestino delgado, onde, por meio da ação de secreções digestivas,
há a liberação de larvas que migram até o ceco, onde ocorre a maturação e posterior
fixação no cólon ascendente. Essas informações são relativas à tricuríase. Qual é o
agente etiológico dessa doença?
a) Thichuris trichiura.
b) Thichuris duodenale.
c) Thichuris necator.
d) Thichuris ascaris.
e) Thichuris oxyurus.
AGORA É COM VOCÊ

108
5
Cestoides Parasitos
do Homem
Dra. Vanessa Graciele Tiburcio

Nesta unidade, você terá a oportunidade de conhecer a caracteri-


zação e a biologia de cestoides que parasitam o homem. Poderá
descobrir como se desenvolve a relação parasito-hospedeiro desses
organismos com o corpo humano, bem como a importância médica.
Por fim, poderá conhecer e adotar medidas profiláticas e de controle
dos seguintes parasitas: Taenia solium e Taenia saginata.
UNICESUMAR

Caro(a) aluno(a), certamente, você já ouviu falar sobre a necessidade de ter cuidados específicos du-
rante o preparo e cozimento de alguns alimentos, mas você tem conhecimento sobre o que motivou
essa necessidade? Sabe da importância que alguns hábitos alimentares têm sobre a saúde humana? Pois
bem, pressupondo que você entende dessa problemática, vamos mais adiante: você sabia que é pela
ingestão de carne crua ou malcozida de suínos contaminados que ocorre a transmissão de algumas
verminoses? Sabia que alguns grupos de parasitas precisam passar por um hospedeiro intermediário
antes de infectar o ser humano, para que seu ciclo biológico seja completo?
A teníase e a cisticercose são doenças conhecidas provocadas por esses organismos. Essas doenças
são causadas por animais do Filo Platyhelminthes, o qual você conheceu anteriormente. Ao com-
preender a caracterização e a biologia desses seres vivos e ao conhecer a relação parasito-hospedeiro
desses animais com o corpo humano e saber da importância médica deles, certamente, você poderá,
enquanto profissional da Nutrição, apontar medidas, protocolos, tratamento e/ou abordagem ou terapia
nutricional que sejam pertinentes e cabíveis à especificidade de cada caso clínico que se apresentar
em sua prática profissional.
De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010), a teníase e a cisticercose são consideradas
como doenças transmitidas por alimentos (DTAs), que se trata de uma abordagem genérica, aplicado
a uma síndrome, geralmente, constituída de anorexia, náuseas, vômitos e/ou diarreia, acompanhada
ou não de febre, atribuída à ingestão de alimentos ou água contaminados. Podem ocorrer, também,
infecções fora do sistema digestório, atingindo diferentes órgãos e sistemas como: meninges, rins,
fígado, sistema nervoso central, terminações nervosas periféricas e outros.
A infecção humana pela teníase se dá pela ingestão de carne bovina ou suína com larvas teciduais
(cisticercos) dos respectivos patógenos. Nesse sentido, ao ingerir a carne crua ou malcozida, o ser
humano se infecta pela larva, a qual evolui para verme adulto no intestino, originando a teníase. Já
em casos de infecções por Taenia solium, pode, ainda, ocorrer a contaminação humana por conta da
ingestão acidental de ovos ou proglotes, levando à formação de larvas encistadas no organismo, os
cisticercos, ocasionando a cisticercose. Uma vez dentro do organismo humano, tais larvas alcançam
os músculos esqueléticos, os olhos e o sistema nervoso central (SNC). Isso pode causar diversas ma-
nifestações, ocasionando variadas apresentações da cisticercose.
Uma reportagem veiculada em 2020 noticiou que um taxista tailandês sentiu dores de estômago e,
ao evacuar, percebeu que expeliu parte de um verme, reconhecido como tênia ou solitária. O homem,
então, fez a retirada manual do parasita pelo orifício anal e, após medi-lo, contabilizou cerca de 5 metros
de comprimento. O taxista ainda relatou que sua comida preferida se chama “Key Neua”, uma salada
apimentada de carne crua, bem popular na região, de forma que se acredita que essa tenha sido a forma
pela qual ele contraiu a larva do parasita que se desenvolveu em seu intestino (HOMEM..., 2020). Assim,
você consegue perceber como o alimento pode ser porta de entrada para a transmissão de doenças?
Bem, certamente você pode compreender a íntima relação entre a alimentação e a transmissão/
infecção de doenças, não é mesmo? Nesse sentido, façamos um exercício de investigação sobre esse
assunto? A proposta é a seguinte: você deverá entrar em contato com a Secretaria de Saúde do seu mu-
nicípio ou com a administração da UBS do seu bairro e solicitar informações sobre a epidemiologia das

110
UNIDADE 5

doenças transmitidas por alimentos, especificamente, as causadas por geo-helmintos, que são aqueles
organismos parasitas que têm parte do ciclo biológico desenvolvido no solo e que podem contaminar
o alimento ou o hospedeiro intermediário e, a partir da ingestão desses alimentos, podem contaminar
o homem. Assim, ocorre a infecção do ser humano, causando doenças. Por serem altamente negligen-
ciadas, essas doenças podem não ter registros de nenhum tipo. Do contrário, muito provavelmente,
você terá acesso a relatórios com informações como: os surtos notificados e investigados, os locais de
ocorrência, o número de pessoas acometidas, o número de pessoas hospitalizadas, o número de óbitos,
as principais manifestações clínicas, os agentes etiológicos e outras informações.
E, então, como foi a sua ação investigativa sobre as doenças causadas por geo-helmintos e transmiti-
das por alimentos? Neste momento, é importante que você registre os resultados de sua busca e faça as
seguintes reflexões: é importante que tais doenças recebam a atenção do Estado e de órgãos competentes?
Você pode observar uma relação entre a prevalência da doença e a ausência de saneamento básico e edu-
cação precária, bem como a escassez de políticas públicas de combate e enfrentamento? Quais ações você
poderia propor no âmbito político, social e na educação para a saúde como medida de enfrentamento a
tais doenças? Pense e reflita sobre essas questões e registre no seu Diário de Bordo a seguir.

DIÁRIO DE BORDO

111
UNICESUMAR

Na unidade anterior, aprendemos


sobre as características do Filo Ne-
matoda e vimos alguns parasitos
pertencentes a esse grupo taxonô-
mico. Agora, abordaremos e explo-
raremos organismos pertencentes
a outro filo: o Filo Platyhelmin-
thes. Antes de irmos direto ao pon-
to, que tal conhecermos algumas
características gerais importantes
desse grupo?
A palavra Platyhelminthes vem
do grego platy, “chato”, e helminth,
“verme”. Lista cerca de 26.500 es-
pécies vivas de vermes, tanto de
vida livre como parasitas. Mor-
fologicamente, os platelmintos
são vermes triploblásticos não seg-
mentados, bilaterais, acelomados,
de corpos moles e achatados no
sentido dorsoventral (BRUSCA;
MOORE; SHUSTER, 2018). Além
disso, possuem órgãos fixadores na
extremidade anterior ou posterior
do corpo, ausência de sistema cir-
culatório e sistema digestivo incom-
pleto ou ausente. Eles apresentam,
ainda, maior concentração de gân-
glios nervosos na região anterior
do corpo, caracterizando o início
de um processo de cefalização (SI-
QUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Podem apresentar uma ampla va-
riedade de formas corporais, tama-
nhos e tipos de ambientes em que
vivem (Figura 1).

112
UNIDADE 5

Figura 1 - Representantes de platelmintos: (a) a (l) - Platelmintos de vida livre; (m) e (n) - Platelmintos parasitas
Fonte: Brusca, Moore e Shuster (2018, p. 460).

Descrição da Imagem: a figura apresenta animais representantes do Filo Platelmintos. Na primeira linha, o primeiro
animal tem corpo em forma de fita achatada, semelhante a elos de uma corrente; o segundo tem formato plano e é
achatado dorsoventralmente; o terceiro tem forma de fita achatada contínua. Na segunda linha, o primeiro animal tem
formato cilíndrico, lembrando uma serpente; o segundo tem formato plano e é achatado dorsoventralmente; os seis
animais subsequentes tem formato de folha plana e são achatados dorsoventralmente, com pequenas modificações
na ornamentação; na última linha, o primeiro animal tem formato plano e é achatado dorsoventralmente; o segundo
tem formato plano e é achatado dorsoventralmente e apresenta uma região ventral com ventosa; o terceiro animal
tem formato de fita e apresenta uma extremidade com ventosas fixadoras e espinhos.

113
UNICESUMAR

O Filo Platyhelminthes é composto por quatro classes mais comuns e conhecidas: Turbellaria,
Monogenea, Trematoda e Cestoda. O primeiro grupo possui vida livre. Os demais são parasitas e,
por apresentarem características de adaptação à vida parasitária, como a presença de um tegumento
protetor em substituição ao epitélio ciliado, constituem o grupo Neodermata.
Agora, devidamente apresentado o filo ao qual pertence nosso objeto de estudo, podemos abordar
de forma direta a classe Cestoda.
Considerando as características gerais desse grupo, os cestoides ou cestódeos são animais de corpo
em formato de fita, são segmentados e possuem estruturas de fixação de tipos variados. São altamente
especializados na vida parasitária e, por isso, apresentam características que lhes permitem tal modo
de vida, como a ausência de trato digestório, o desenvolvimento excepcional do aparelho reprodutor,
hermafroditismo na maioria das vezes e larvas que possuem seis ganchos na região anterior para
fixação no hospedeiro (REY, 2018; FERREIRA, 2021).
Seu ciclo biológico comumente apresenta, pelo menos, dois hospedeiros intermediários, que podem
ser vertebrados e invertebrados. Nessa etapa, a forma cística ou vesicular da larva habita os tecidos orgâni-
cos dos animais hospedeiros, sendo identificada como metacestóide ou metacestódeo. Já o verme adulto
vive no trato digestório de vertebrados carnívoros, que são os hospedeiros definitivos, os quais se infectam
ao se alimentar de tecidos desses hospedeiros contaminados com a forma larval — metacestóides — e se
desenvolvem em vermes adultos, fechando o ciclo vital do parasito cestoide. É importante destacar que
tanto a forma larval como a forma adulta causam doenças em seus hospedeiros (REY, 2018; FERREIRA,
2021). Ao serem eliminados pelo hospedeiro por meio das fezes, os ovos têm fácil disseminação devido
à sua capacidade de se manterem resistentes e viáveis por meses ou anos, o que facilita a possibilidade de
serem ingeridos por um hospedeiro intermediário herbívoro (FERREIRA, 2021).

Você sabia que as ações humanas, como condições sanitárias inadequadas e comportamentos re-
lacionados à alimentação humana e animal, têm favorecido a transmissão de cestoides parasitas?

Morfologicamente, os cestoides apresentam o corpo dividido em três partes: escólex, na parte


anterior, atua para a fixação ao hospedeiro, é ornamentado por ganchos — conhecidos, também,
como acúleos — e ventosas. Logo imediatamente, há o pescoço ou colo, uma região bem pequena e
curta, que corresponde à região de crescimento; e, por fim, o tronco ou estróbilo, região segmentada
constituída por unidades chamadas de proglótides (Figura 2) (REY, 2018; FERREIRA, 2021). Cada

114
UNIDADE 5

proglótide exibe órgãos sexuais próprios e independentes. Sim, no plural, pois são hermafroditas,
logo apresentam órgãos reprodutivos masculinos e femininos ao mesmo tempo. As proglótides mais
próximas do colo e escólex são mais jovens, e os órgãos sexuais são imaturos. Já as proglótides distais
ou terminais têm maturação sexual e são ativas para a reprodução. Quando grávidas, as proglótides
grávidas se separam do estróbilo e se desintegram, liberando, assim, dezenas de milhares de ovos
(Figura 1b) (REY, 2018; FERREIRA, 2021).

Rostelo com
ganchos
Ventosa

Proglótides
Escólex
Cabeça

Pescoço
ou colo

Proglótides Proglótides
maduras imaturas

Toda a região segmentada, porção de proglótides, é chamada de estróbilo.

Figura 2 - Morfologia de Taenia solium, cestoide de suínos

Descrição da Imagem: a figura representa a morfologia externa de uma tênia. Da direita para esquerda, o corpo se
inicia numa extremidade arredondada, com ventosas fixadoras e um região que apresenta espinhos. Na sequência,
há pequenas unidades ligadas formando o corpo do animal, que é longo e em forma de fita.

A segmentação do estróbilo em proglótides, as quais são continuamente produzidas durante


a vida do verme adulto, determina uma fertilidade elevada. Veja bem: espécies do gênero Tae-
nia têm capacidade de ter até 2.000 proglótides, sendo que cada uma delas pode liberar até
100.000 ovos embrionados. Faça as contas!
Fonte: adaptado de Ferreira (2021).

115
UNICESUMAR

Outra característica dos cestoides diz respeito à presença de uma cobertura externa do corpo, conhecida
como tegumento, o qual é formado por expansões do citoplasma de células grandes, porém não são
ciliadas (Figura 3). Tais extensões citoplasmáticas se fundem pelas margens, resultando na formação
de um sincício funcional na superfície externa do verme. Além de proteção, o tegumento propor-
ciona trocas entre o corpo do parasito e o ambiente. Substâncias como gases, dejetos nitrogenados e
nutrientes atravessam a parede corporal por meio de numerosas dobras minúsculas, conhecidas como
microtriquios (Figura 3). Essas dobras, ao se encaixarem com as microvilosidades do intestino do
hospedeiro, facilitam a absorção de nutrientes e tornam essa adaptação natural um fator que eleva o nível
de parasitismo alcançado pelos cestoides. Por isso, organismos parasitos que apresentam tegumento
com essas características foram denominados de Neodermata (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).

Microtriquios
Vacúolo

Zona
Mitocôndria sincicial
Membrana
basal
Músculo
circular Extensão
citoplasmática
Músculo
longitudinal

Corpo principal da Núcleo


célula tegumentar

Mitocôndria

Figura 3 - Tegumento e parede corporal de um cestoide (corte transversal) / Fonte: Brusca, Moore e Shuster (2018, p. 471).

Descrição da Imagem: a figura apresenta o corte da parede corporal do verme, em camadas, de cima para baixo, há
uma camada com sucessivas dobras, lembrando ondas curtas, seguida de uma camada de células fundidas, forman-
do uma grande célula; depois, há uma camada basal, que sustenta as camadas anteriores, seguida de duas camadas
musculares e, por fim, uma camada de célula tegumentar.

116
UNIDADE 5

Uma característica muito interessante dos cestoides diz respeito à sua capacidade de se de-
senvolverem em ambientes com enzimas hidrolíticas e sem serem digeridas. As especulações
e hipóteses sugerem que há uma substituição contínua do tegumento, além da produção
de enzimas inibidoras ou antienzimas pelos parasitos. Alguns vermes conseguem regular o
pH de seu ambiente.
Fonte: adaptado de Brusca, Moore e Shuster (2018).

Apesar de esses parasitos não se movimentarem ativamente, são capazes de provocar ondulações
musculares pelo corpo, produzindo uma reduzida locomoção. Com relação à fixação, os cestoides
vivem fixos na parede intestinal do hospedeiro por meio do escólex ou por meio de um órgão adesivo
anterior. Os detalhes da anatomia do escólex (Figura 4) são extremamente variáveis: ventosas ou estru-
A semelhantes a ventosas e, às vezes, ganchos ou espinhos
turas B (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).

Rostelo

Gancho

Ventosas

Figura 4 - Escólex: (a) Escólex típico com rostelo, ganchos e ventosas (Taenia solium); (b) Fotografia de escólex de Taenia solium
Fonte: adaptada de Brusca, Moore e Shuster (2018) e Shutterstock.

Descrição da Imagem: a Figura (a) é um desenho esquematizando a cabeça ou escólex da tênia, com a parte superior
enfatizando uma área circular rodeada por espinhos, que fixam o verme ao tecido do hospedeiro; no sentido súpero
inferior, há a presença de ventosas, que são áreas circulares adesivas ao tecido do hospedeiro. A Figura (b) é uma
fotografia do esquema desenhado na Figura (a).

117
UNICESUMAR

Devido à ausência de sistema digestório nos cestoides, esses organismos dependem diretamente dos
processos digestivos de seus hospedeiros para sua nutrição. Todos os nutrientes precisam ser levados
ao interior do corpo através do tegumento por meio da difusão por pinocitose e através da superfície
ampliada dos microtriquios, garantindo, assim, sua alimentação (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).

Sabemos que organismos parasitas podem ter a capacidade de


alterar o comportamento de seus hospedeiros para se favorecer.
Geralmente, é para aumentar que a probabilidade de sucesso no
próximo estágio do ciclo de vida do parasita seja melhorada. É o
caso, por exemplo, do cestoide Eubothrium salvelini, que manipula
seu hospedeiro intermediário, o copépode Cyclops vernalis, o qual
começa a nadar com mais frequência que o normal até que seja ingerido pelo hospedeiro
final, a truta-de-ribeiro (Salvelinus frontinalis). Veja, no link a seguir, alguns casos na natureza
em que a espécie parasita assume o controle do hospedeiro.

Os cestoides não têm estruturas específicas para circulação e trocas gasosas, por isso, seu corpo
achatado é uma característica que facilita a difusão através da parede corporal e entre os tecidos e o
ambiente (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).
O sistema nervoso dos cestoides é constituído por um gânglio cerebral que forma um anel nervoso
complexo, localizado no escólex, o qual apresenta dilatações ganglionares e dá origem a vários nervos
(Figura 5) (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).

118
UNIDADE 5

Escólex Anel nervoso


do rostelo

Nervos
anteriores
Anel nervoso

Cordão nervoso lateral


Gânglio
comissural Cordão nervoso ventral
transverso
Cordão nervoso dorsal

Anel nervoso Gânglio


comissural comissural

Figura 5 - Sistema nervoso de um cestoide. Os cordões longitudinais estendem-se ao longo do comprimento do corpo do animal
Fonte: Brusca, Moore e Shuster (2018, p. 483).

Descrição da Imagem: a parte superior da figura é arredondada, lembrando uma meia lua, que desce pela lateral e
forma ondas curtas. No interior dessa estrutura, há uma rede de fitas ligadas a uma região central em forma de anel.

Quanto à reprodução, os cestoides são hermafroditas e têm a possibilidade de autofecundação e de


praticar a fecundação cruzada mútua quando existem parceiros sexuais disponíveis. Algumas ordens
possuem um único sistema reprodutor masculino e um único sistema reprodutor feminino, enquanto
outros cestoides têm sistemas complexos repetidos dentro de cada proglótide (BRUSCA; MOORE;
SHUSTER, 2018). No interior de cada proglótide, há numerosos testículos dispersos que se conectam
ao saco do cirro por meio do espermoducto, passando pela vesícula seminal. O sistema reprodutor
masculino finaliza dentro de um átrio genital comum (Figura 6). O sistema reprodutor feminino
conta com dois ovários, um útero com fundo cego, um ducto, em que a porção dilatada é denominada
receptáculo seminal e a porção próxima ao átrio genital é chamada de vagina, e as glândulas. Todas
essas estruturas se conectam ao ovótipo (Figura 6) (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018). No caso de
fecundação cruzada mútua, o cirro de cada parceiro sexual é introduzido dentro da vagina do outro.
Já em casos de autofecundação, muitos cestoides dobram-se sobre o próprio corpo, de forma que duas
proglótides do mesmo verme possam fazer fecundação cruzada (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).

119
UNICESUMAR

A B

Útero Útero
Espermoducto
Vesícula seminal
Saco do cirro
Átrio genital
Testículos
Vagina
Ovário Receptáculo seminal

Glândula Ovótipo
de Mehlis

Glândulas
vitelínicas

Figura 6 - Sistema reprodutor dos cestoides: (a) Proglótide madura de Taenia solium; (b) Proglótide grávida com útero expandido
Fonte: adaptada de Brusca, Moore e Shuster (2018).

Descrição da Imagem: a figura mostra a morfologia de uma unidade das inúmeras que formam o corpo longo do
verme. Essa unidade apresenta, centralmente, no sentido súpero inferior, uma estrutura em formato cilíndrico, que
termina com três estruturas em formato de leque, os quais são compostos por muitas microunidades; distribuídas
por toda a unidade, há estruturas esféricas chamadas de testículos. A Figura (b) mostra o útero de Taenia saginata,
evidenciando suas ramificações num padrão dicotômico.

Cestoides pertencentes aos gêneros Taenia (as tênias Taenia solium e T. saginata), Echinococcus
(Echinococcus granulosus e E. vogeli) e Hymenolepis (Hymenolepis nana e H. diminuta) infectam
populações humanas brasileiras e dos demais países de língua portuguesa (FERREIRA, 2021). A teníase
e a cisticercose constituem a lista de doenças tropicais negligenciadas da Organização Mundial da
Saúde (OMS) (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017), pois seu grande impacto na saúde pública
mundial está associado à falta de atenção recebida das autoridades sanitárias cabíveis.

Convido você para explorar mais o recurso Microscopia Digital


Atlas, apresentado na unidade anterior, o qual, como você viu, é
constituído por numerosas lâminas de material biológico de diferentes
áreas do conhecimento dentro da Microscopia, tais como Histologia,
Zoologia, Parasitologia, entre outras. Indico a lâmina de Echinococcus
granulosus, que é um cestoide parasita de animais domésticos adultos,
popularmente conhecido como tênia anã, causador da Equinococose ou doença hidática.
Na lâmina, você poderá observar os cistos em formação aglomerada ou isolados. Vale muito
a pena a experiência, vamos lá?

120
UNIDADE 5

Conheçamos algumas dessas doenças? Convido-o a continuar nesta trilha comigo, para que, juntos,
possamos construir um aprendizado ativo e efetivo. Vamos lá!
A teníase é uma doença causada pela forma adulta (tênia) de parasitos cestoides do gênero Taenia.
Há três espécies que são capazes de infectar os seres humanos: Taenia solium, Taenia saginata e Taenia
asiatica. Nós focaremos nos relacionados à teníase provocada pelas duas espécies existentes no Brasil:
T. solium e T. saginata (FERREIRA, 2021; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

A espécie Taenia asiatica é endêmica do continente asiático, pois não há registro de ocor-
rência em outros locais. A infecção por T. asiatica é considerada o mais negligenciado tipo
de teníase (possivelmente, também de cisticercose) no mundo, uma vez que os esforços
para diagnóstico, tratamento e controle são praticamente nulos. Sabe-se que a larva dessa
espécie tem tropismo pelo fígado do porco, o que torna seu consumo a porta de entrada
para a contaminação dos seres humanos.
Fonte: adaptado de Siqueira-Batista et al. (2020).

Morfologicamente, apesar de muito semelhantes, os vermes adultos de T. solium e T. saginata apre-


sentam poucos aspectos diferentes (Figura 7). Por exemplo, um verme adulto de T. solium tem de 800
a 1.000 proglótides e comprimento entre 1,5 a 4 m, podendo chegar até 8 ou 9 metros. Apresenta o
escólex com quatro ventosas e um rostelo rodeado por ganchos ou acúleos (Figura 7a). Quando grávido,
o útero tem de 7 a 12 ramificações principais de cada lado da haste uterina num padrão dendrítico
(Figura 7c). Já o adulto de T. saginata é ainda maior, é constituído de 1.000 a 2.000 proglótides e chega
ao comprimento de 4 a 12 m, podendo chegar a 25 m. O escólex, por sua vez, também apresenta qua-
tro ventosas, porém o rostelo e os ganchos são ausentes (Figura 7b). E o útero grávido, nesta espécie,
tem de 15 a 30 ramificações de cada lado da haste uterina, que se ramificam num padrão dicotômico
(Figura 7e) (FERREIRA, 2021; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

121
UNICESUMAR

A Taenia solium C Taenia solium

B Taenia saginata D Taenia saginata

Figura 7 - Aspectos morfológicos que diferem Taenia solium e Taenia saginata


Fonte: adaptada de Siqueira-Batista et al. (2020), Ferreira (2021) e Shutterstock.

Descrição da Imagem: a Figura (a) é um desenho esquematizando a cabeça ou escólex de Taenia solium, com a parte
superior enfatizando uma área circular rodeada por espinhos que fixam o verme ao tecido do hospedeiro; no sentido
súpero inferior, há a presença de ventosas, que são áreas circulares adesivas ao tecido do hospedeiro. Ao lado, há
uma fotografia com a mesma morfologia. A Figura (b) também é um desenho esquematizando a cabeça ou escólex da
Taenia saginata, com a parte superior com reduzidas saliências, quase lisas; no sentido súpero inferior, há a presença
de ventosas, que são áreas circulares adesivas ao tecido do hospedeiro. Ao lado, há uma fotografia com a mesma
morfologia sobre um tecido orgânico e mostrando parte do corpo alongado em formato de fita. A Figura (c) evidencia
o útero de Taenia solium, mostrando suas ramificações num padrão dendrítico. Por fim, a Figura (d) mostra o útero de
Taenia saginata, evidenciado suas ramificações num padrão dicotômico.

A fixação da tênia se dá por meio do escólex que se prende à mucosa do jejuno. Como o hospedeiro
abriga apenas um único indivíduo parasita, a tênia é também chamada de solitária.
O ser humano é o hospedeiro definitivo de ambas as espécies que vivem no sistema digestório hu-
mano, sendo os bovinos os hospedeiros intermediários de T. saginata, enquanto o porco é da espécie
T. solium, os quais abrigam suas formas larvárias. O ser humano também pode ser um hospedeiro

122
UNIDADE 5

intermediário acidental apenas de T. solium,


condição conhecida como cisticercose. Nesse caso,
a contaminação humana ocorre pela ingestão aci-
dental de ovos ou proglotes, o que leva à formação
de cisticercos (larvas) no organismo, ocasionando
a cisticercose, que abordaremos logo mais (FER-
REIRA, 2021; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A ingestão de carne crua ou malcozida de carne
bovina ou suína com larvas de tênia provoca a
infecção humana. Uma vez infectado, as larvas se
desenvolvem e evoluem para um parasito adulto
que vive no intestino do ser humano, originando
a teníase. Os ovos e/ou proglotes grávidas são eli-
minados nas fezes de indivíduos infectados e con-
taminam o ambiente, seja o solo, a vegetação ou a
água. Os hospedeiros intermediários, ao ingerir a
vegetação contaminada, tornam-se infectados, e os
ovos eclodem no tubo digestório desses animais,
liberando as oncosferas que invadem a parede in-
testinal, acessam a circulação sanguínea e podem
chegar à musculatura esquelética e cardíaca. Nes-
ses locais, ocorre o desenvolvimento das formas
larvárias, os cisticercos, popularmente chamados
de canjiquinha, pipoquinha, ladraria, sapinho ou
bolha. Os cisticercos podem se degenerar e formar
nódulos calcificados nos tecidos do hospedeiro ou
podem se tornar infectantes, cheios de fluidos e
abrigar apenas um escólex. São necessários entre
8 e 15 semanas para que os cisticercos se tornem
infectantes, e eles permanecem viáveis por, apro-
ximadamente, dois anos. Se ingerido pelo hospe-
deiro definitivo humano, o escólex dará origem a
um verme adulto, encerrando, assim, o ciclo bio-
lógico (Figura 8) (FERREIRA, 2021; SIQUEIRA-
-BATISTA et al., 2020).

123
UNICESUMAR

Oncosferas se desenvolvem
em cistcercos no músculo T. saginata T. solium
Humanos ingerem
carnes cruas
infectadas
Oncosferas eclodem,
penetram o intestino e
chegam à musculatura
Escólex se anexa
ao intestino

Porcos - gado suíno (T. solium) Vermes adultos


e bois - gado bovino (T. saginata) no intestino
são infectados delgado
ao ingerirem ovos
ou proglotes grávidas

Fezes com ovos


ou proglotes T. solium
grávidas vão T. saginata
para o ambiente

Figura 8 - Ciclo biológico de Taenia solium e Taenia saginata / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 555).

Descrição da Imagem: do lado superior esquerdo, há uma estrutura oval com larvas em seu interior; na sequência, há
uma seta indicando para uma representação de um músculo onde está alojada uma estrutura oval que abriga larvas;
outra seta indica para um esquema do corpo humano com o sistema digestório evidente; do lado superior direito, há
a representação de escólex de Taenia solium e Taenia saginata, evidenciando as ventosas que se fixam no intestino do
hospedeiro; abaixo, há um desenho do animal na íntegra, mostrando sua morfologia adulta; no sentido lateral direita
para a lateral esquerda, há uma seta que aponta úteros grávidos de Taenia solium e Taenia saginata; do lado esquerdo
dos úteros, há o esquema de ovos das tênias; depois de outra seta, há o desenho de um bovino e de suíno, ambos
hospedeiros intermediários dos vermes mencionados. Outra indica para o ovo com larvas, recomeçando o ciclo.

Você sabia que uma tênia adulta pode viver por até 25 anos dentro do seu hospedeiro defini-
tivo? É uma longa vida, não é? Assim, pergunto: você já realizou sua desverminação este ano?

124
UNIDADE 5

Os aspectos clínicos sugerem que a teníase é frequentemente as-


sintomática. Estudos realizados não apontam lesão na mucosa do
intestino delgado como condição ligada à infecção causada pela fi-
REALIDADE
xação das tênias na mucosa intestinal. Rey (2018) diz que só após o
AUMENTADA
paciente se tornar consciente do parasitismo, por meio de achados de
proglótides, é que há a manifestação de sintomas, o que ele relaciona
a algum componente psicológico importante no quadro clínico.
Quando presentes, os sintomas são, segundo Rey (2018), dor ab-
dominal, náusea, fraqueza, perda de peso, apetite aumentado, cefaleia,
constipação intestinal, vertigem, diarreia, prurido anal e excitação.
Pode acontecer a saída ativa de proglótides grávidas pelo reto. Em
infecções sintomáticas por T. saginata, são frequentes alterações na
motricidade e redução na secreção digestiva. Pode acontecer, também,
a oclusão de orifícios e ductos naturais do sistema digestório, ocasio-
nando apendicite aguda, colangite ou pancreatite aguda. Raramente,
pode ocorrer regurgitação das proglótides ou sua aspiração para as
vias respiratórias (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). Ciclo biológico de Taenia solium
e Taenia saginata.

Sabe-se que a teníase, geralmente, ocorre associada a outras parasitoses, à desnutrição e,


frequentemente, a ambas, o que gera um agravamento do quadro clínico do paciente. Como
você, como nutricionista profissional, pode agir nesses casos?

Título: House
Ano: 2007 (terceira temporada, episódio 14: Insensitive).
Sinopse: House tem um caso em que uma garota com uma incapacidade
rara de sentir dor (insensibilidade congênita à dor) sofre um acidente de
carro. Quando lhe fazem testes, começa a ter febre alta, delírios paranoicos
e piora rapidamente.
Comentário: este episódio evidencia as complicações que podem ser
desencadeadas devido à ação parasita de Taenias.

125
UNICESUMAR

O diagnóstico pode ser puramente clínico quando são encontradas proglótides grávidas ou ovos nas
regiões perianal e perineal, os quais migraram ativamente para as porções distais do trato digestório,
independentemente de evacuações. A pesquisa de proglótides e ovos nas fezes permite identificar o
agente etiológico em questão por meio da identificação do número de ramificações uterinas: 12 ou mais
de tais ramificações indicam a espécie T. saginata; um número menor ou igual a 10 é característico de
T. solium (FERREIRA, 2021). São possíveis, também, as técnicas sorológicas, como a hemaglutinação
indireta, a imunofluorescência indireta e o ELISA (imunodiagnóstico), que realizam a captura de antí-
genos parasitários em amostras de fezes e possibilitam realizar o diagnóstico com grande sensibilidade.
Nesse caso, a diferenciação entre as espécies é possível mediante a reação em cadeia da polimerase
(PCR) (FERREIRA, 2021). Ainda, a detecção de eosinofilia periférica (até 15% da leucometria global)
e a elevação dos níveis séricos de imunoglobulina E (IgE) são achados laboratoriais inespecíficos fre-
quentes nos pacientes acometidos por teníase.

Na última década, foi sugerida a utilização da cápsula endoscópica


para o diagnóstico e documentação da infecção por Taenia. Você
conhece essa técnica diagnóstica e os casos clínicos em que ela é
indicada? Convido você a conhecê-la acessando o QR Code.

126
UNIDADE 5

O tratamento da teníase, independentemente da espécie, é feito com dose única (10 a 20 mg/kg de peso
corporal) de Praziquantel ou dose única (400 mg) de Albendazol. O Praziquantel provoca o aumento da
permeabilidade ao cálcio pelo tegumento do verme, o que causa alterações em sua atividade muscular
e a sua paralisia, resultando em soltura das ventosas e ganchos da mucosa intestinal e sua expulsão.

As proglótides grávidas não sofrem ação do fármaco, logo podem liberar os ovos de Taenia. Por
isso, é importante ficar atento para evitar autoinfecção e disseminação para outros indivíduos!

A epidemiologia da teníase por T. saginata aponta que há uma prevalência na África, América Latina
e em alguns países do Mediterrâneo, como a França. Ainda, nas últimas décadas, têm aumentado os
casos na Europa por conta da elevação das taxas de infecção do fado nos abatedouros (REY, 2018). A
infecção por T. solium é mundial, com maior grau de prevalência em países com elevado consumo de
carne de porco. Há uma maior endemicidade na América Latina e na África. Claramente, a forma de
criar os animais somada à presença de insalubridade e o baixo nível socioeconômico agravam forte-
mente as elevadas taxas de prevalência (REY, 2018; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
As medidas de profilaxia e de controle da teníase envolvem uma legislação específica que re-
gulamente as condições dos abatedouros, institua exames para trabalhadores da indústria da carne
e registro da origem do gado abatido; requer inquéritos e vigilância epidemiológica tanto de pessoas
como na abordagem veterinária; estabelecimento de medidas de controle da carne a ser consumida por
veterinários e demais profissionais da área; melhoria das condições sanitárias; instituição de medidas
educativas em nível populacional e programas comunitários de tratamento anti-helmintos para cobrir
os portadores não reconhecidos (REY, 2018; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

Existem vacinas disponíveis capazes de prevenir a infecção por T. saginata em bovinos, e


estão em curso estudos promissores para o desenvolvimento de uma vacina dirigida à
proteção de suínos contra T. solium. Entretanto, ainda não existe uma vacina eficaz voltada
à imunização ativa do ser humano contra a teníase (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

127
UNICESUMAR

Relembrando, então, primeiramente, conhecemos as características do Filo Platyhelminthes, seguido


da classe Cestoda, em que aprendemos os aspectos biológicos, como morfologia, ciclo de vida e carac-
terísticas de sistemas orgânicos. Após isso, conhecemos a teníase em suas formas de infecção por T.
saginata e T. solium. Agora, convido você a seguir explorando esse universo de parasitas e conhecer
a cisticercose. Vamos lá?
Como já mencionado anteriormente, o ser humano pode ser um hospedeiro intermediário
acidental de T. solium, em que a contaminação humana ocorre pela ingestão acidental de ovos ou
proglótides (Figura 9), o que leva à formação de cisticercos (larvas) no organismo, ocasionando a
cisticercose (FERREIRA, 2021; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). Tal infecção não está atrelada à
ingestão de carne suína contaminada, nesse caso, a fonte é outra, como água ou algum alimento vegetal.
Uma vez no interior do corpo humano, a larva de T. solium pode chegar a órgãos e tecidos fora do
tubo digestório, como músculos esqueléticos, olhos e sistema nervoso central (SNC).

a b
Figura 9 (a) - Forma larvária, cisticerco; (b) - Proglótide de Taenia

Descrição da Imagem: a Figura (a) é uma fotografia de uma larva chamada de cisticerco no interior de um tecido
orgânico; a Figura (b) é a fotografia de um útero grávido, com suas ramificações evidentes.

128
UNIDADE 5

Para os ovos chegarem ao estômago, eles seguem algumas vias e modos de infecção, segundo
Rey (2018):
• Heteroinfecção: é a forma mais comum de infecção e decorre da ingestão acidental dos
ovos do parasito. Esses ovos, que foram defecados por um paciente com teníase (devido
à T. solium), podem ser veiculados pela água ou por alimentos contaminados ou, mesmo,
pelas mãos sujas desse paciente.
• Autoinfecção externa: ocorre quando há a ingestão de ovos de T. solium pelo próprio
indivíduo contaminado pela teníase. Os maus hábitos higiênicos, tais como a falta do hábito
de lavar as mãos após evacuação de fezes e antes de manipular alimentos e o costume de
levar as mãos à boca ou de tocar nos alimentos, facilitam a infecção com grande número
de larvas. É mais frequente entre crianças ou entre doentes mentais.
• Autoinfecção interna: resultante de movimentos antiperistálticos ou de vômitos, algumas
proglotes grávidas podem voltar ao estomago, onde sofrem a ação dos sucos digestivos, e
prossegue a eclosão dos embriões infectantes. Nessas condições, centenas ou milhares de
larvas invadem a mucosa, e os tecidos do organismo do paciente, determinando um quadro
como a “ladraria humana”, com cisticercos muito numerosos, amplamente disseminados
pela pele e pelo tecido subcutâneo, pelos músculos, pelo sistema nervoso, pelos olhos etc.

A patologia da cisticercose humana sofre grande influência de alguns fatores, como o número de
formas larvares envolvidas, sua localização, o tipo morfológico e a idade do paciente. Conta, também,
a natureza e intensidade das reações imunológicas desenvolvidas pelo paciente. No período inicial da
infecção, não há a ocorrência de um processo inflamatório, pois os cisticercos do parasita parecem ter
mecanismos que o protegem da ação imunológica do hospedeiro. Após certo tempo, os cistos degeneram
e ficam expostos à ação da resposta imunológica do hospedeiro, em que o sistema imune do paciente
passa a atacar os cisticercos, resultando em aparecimento de edema e, posteriormente, em controle da
infecção local, seja com a resolução completa das lesões císticas, seja com a formação de um granuloma
calcificado (Figura 10). Nesse processo, ocorre, também, o desenvolvimento das manifestações clínicas,
como as crises convulsivas vistas na neurocisticercose (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020; REY, 2018).

129
UNICESUMAR

Figura 10 - Tomografias computadorizadas do crânio em casos de neurocisticercose: (a) - Paciente com cisticercos vivos, três
dos quais situados nos lobos frontais; (b) Caso com cisticercos vivos (áreas circulares claras) e calcificados (manchas negras);
(c) Cérebro com um grande número de cisticercos calcificados / Fonte: Rey (2018, p. 533).

Descrição da Imagem: a Figura (a) mostra uma imagem tomográfica de um encéfalo infectado com larvas de Taenia
vivas, localizados na parte superior, são pontos redondos e claros; a Figura (b) mostra larvas de Taenia vivas — man-
chas claras — e cisticercos calcificados — as manchas escuras; a Figura (c) evidencia um encéfalo repleto de cisticercos
calcificados, representados por áreas circulares escuras.

As manifestações clínicas associadas à cisticercose dependem, principalmente, do número e da lo-


calização das lesões presentes no organismo. A neurocisticercose (NCC) acomete estruturas do SNC
(Figura 11) e pode se apresentar nas formas encefálica, espinal e subaracnóide.

130
UNIDADE 5

Figura 11 - Neurocisticercose. Observe a localização aleatória dos cisticercos, o que provoca diferentes fenômenos e explica a
variedade de quadros clínicos / Fonte: Rey (2018, p. 533).

Descrição da Imagem: a figura mostra um encéfalo em corte frontal, as margens apresentam muitas circunvoluções
com um córtex mais escuro, as regiões mais centrais ou medulares têm coloração mais clara; por todo o encéfalo, há
estruturas circulares escuras representando os cisticercos.

A NCC intraparenquimatosa acomete o tecido nervoso encefálico e pode se manifestar nas seguintes
formas: cefaleia, náuseas, vômitos, convulsões, redução da acuidade visual e outros sinais de hipertensão
intracraniana, como a tríade de Cushing (hipertensão arterial sistêmica, bradicardia e irregularidade
respiratória) e rebaixamento do nível de consciência, além de, ocasionalmente, haver febre. É mais
comum em crianças e mulheres jovens e pode ocorrer espontaneamente ou ser precipitada pelo tra-
tamento (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Quando as lesões por NCC são localizadas fora do parênquima encefálico, como no sistema ven-
tricular ou no espaço subaracnóide, é classificado como NCC extraparenquimatoso. Os sintomas
são: o aumento da pressão intracraniana (cefaleia, náuseas e vômitos), podendo desenvolver alterações
do nível de consciência. Outras manifestações neurológicas menos comuns incluem efeito de massa,
distúrbios visuais, déficits neurológicos focais (por vasculite ou evento vascular isquêmico associado)
e meningite. A hidrocefalia também pode ocorrer, em decorrência do entupimento de foramens ou
aquedutos (hidrocefalia obstrutiva), provocado pela reação inflamatória dirigida contra os patógenos
localizados no sistema ventricular intracraniano (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

131
UNICESUMAR

Você acha que é possível um único paciente apresentar múltiplos cistos, em diferentes locais e
estágio? Seria possível a coexistência de lesões ativas, inflamadas e cicatriciais no mesmo indivíduo?

Em casos em que a cisticercose se desenvolve em outros órgãos e tecidos, fora do SNC, temos a cis-
ticercose extraneural. Ocorre, frequentemente, nos olhos, nos músculos esqueléticos e no tecido
subcutâneo. As lesões oculares afetam o espaço sub-retiniano, o humor vítreo, a câmara anterior, a
conjuntiva e/ou os músculos extraoculares. Os sintomas mais frequentes são: redução da acuidade
visual (focal ou generalizada), podendo ou não ocorrer complicações relacionadas à existência de in-
flamação local adjacente aos cisticercos em degeneração (irite, sinequias pupilares, ciclite, iridociclite,
retinocoroidite, pan-oftalmite, vasculite retiniana, descolamento da retina e/ou hemorragia do vítreo)
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

O tratamento da cisticercose ocular apresenta risco de agravamento em resposta à destruição de cisti-


cercos locais, por isso, a presença de cisticercose ocular deve ser afastada com a realização da fundos-
copia antes de se iniciar o tratamento. Nesse sentido, é importante destacar que a forma sub-retiniana
da doença é encarada como um tipo de NCC, em razão da estreita relação entre a retina e o encéfalo
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

Nos músculos estriados, os sintomas são relacionados com mialgias, edema, febre e eosinofilia. Ge-
ralmente, é um achado incidental em exames para outros fins. Há, também, o desenvolvimento da
cisticercose no músculo estriado cardíaco, e, quando sintomático, pode apresentar arritmias e/ou
distúrbios de condução elétrica. Por fim, ela pode desencadear a formação de nódulos calcificados no
tecido subcutâneo, os quais se apresentam como pequenas formações ovoides endurecidas e indolores,
e pode haver desconforto local quando ocorre inflamação (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Para fins de diagnóstico laboratorial específico, podem ser realizados testes sorológicos para a
detecção de anticorpos séricos nos pacientes, como o ensaio EITB (Enzyme-Linked Immunoelectro-
transfer Blot), reações de imunofluorescência, fixação do complemento, hemaglutinação e ELISA.
Ainda, pode ser utilizado o líquido cerebrospinal dos pacientes acometidos pela NCC para ser utilizado
em exames como raquimanometria, hipoglicorraquia e eosinofilorraquia. Quanto ao diagnóstico por
neuroimagem, os melhores exames para o diagnóstico da NCC são a tomografia computadorizada e a
ressonância magnética. No caso da suspeita de cisticercose ocular, o diagnóstico é feito pelo exame do
fundo de olho. E, para investigação de acometimento muscular e subcutâneo, o uso de radiografia
e de biópsia é solicitado para fins de diagnóstico (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

132
UNIDADE 5

Veja como o exame de imagem colabora para a determinação de um


diagnóstico. O link a seguir apresenta um estudo de caso em que a
neurocisticercose foi identificada por meio do uso da ressonância
magnética, somado aos sintomas e histórico clínico do paciente

O tratamento da cisticercose segue ao longo de três vias: a cirúrgica, a


quimioterápica e a dos tratamentos sintomáticos. A cirurgia é indicada
em casos de pequeno número de parasitas e conforme a localização
dos cisticercos, o que favorece a intervenção, seja em tecido nervoso
ou nos olhos. A via quimioterápica se dá pela administração de Pra-
ziquantel em casos de NCC e de cisticercose subcutânea, mas não é
recomendado na cisticercose ocular (REY, 2018). É importante res-
saltar que pode haver crises convulsivas como efeito colateral ao uso
desse fármaco, sendo a Niclosamida mais indicada como alternativa
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A epidemiologia da cisticercose aponta uma elevada prevalência
na Ásia, especificamente, na Índia, na África Subsaariana e na América
Latina, com destaque para os países com economias de média e baixa
rendas, devido à precariedade das condições sanitárias locais e ao baixo
nível socioeconômico e cultural. Nesse sentido, estima-se que, aproxi-
madamente, 50 milhões de pessoas estejam infectadas, embora esse
número deva ser maior por conta da ausência de programas de saúde
pública sobre essa doença; dessas, ocorre a morte de 50 mil pessoas por
ano. É importante destacar que as evidências epidemiológicas vigentes
sustentam que a fonte mais comum de ovos infectantes de T. solium é
o contato domiciliar com portador assintomático de teníase. Por isso, a
cisticercose deve ser considerada uma doença transmissível entre seres
humanos (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
As medidas de controle e profilaxia da cisticercose são essencial-
mente a prevenção e o controle das teníases, bem como da infecção
dos porcos e da transmissão de ovos do helminto entre seres humanos.
Para os casos de autoinfecção e heteroinfecção, é importante frisar a
necessidade de educação sanitária e higiene pessoal.

133
UNICESUMAR

Você conhece ou já ouviu falar do tema Saúde Única? Esse assunto tão
multi e interdisciplinar está cada vez mais presente em nossa realida-
de e se faz necessário em nossa atuação profissional. Convido você a
ouvir nossa convidada, a professora doutora Gisele da Silva Porto, que
aborda esse tema tão atual e de forma contextualizada com as profis-
sões da área da saúde. Vamos lá? É só clicar no play, vem!

Chegamos ao final desta conversa, e eu acredito que você tenha se habituado ao universo das parasitoses
e o tenha relacionado à sua profissão, certo? Você percebeu como é essencial sua atuação num cenário
epidemiológico em que há a prevalência de infecções por tênias? Sabe a pergunta que foi apresentada no
início desta unidade? Pois bem, agora, você tem elementos, fatos e argumentos que explicam, asseguram
e atestam a necessidade de ter, sim, cuidados específicos durante o preparo e cozimento dos alimentos.
Como profissional, você poderá atuar com seus pacientes por meio de medidas preventivas
ao estabelecer a educação em saúde por meio da incorporação de hábitos corretos de higiene,
tais como a lavagem correta dos alimentos e higienização das mãos após a defecação e antes de se
alimentar. Para isso, é necessário que você conheça os aspectos biológicos, as relações do parasito
com o hospedeiro por meio do ciclo biológico e as manifestações clínicas do verme, dentre outros
conhecimentos que construímos aqui.
Poderá atuar, também, junto a programas de alimentação e nutrição, objetivando a melhoria das
condições de nutrição e saúde de sua comunidade por meio da promoção e implementação de práticas
alimentares adequadas e seguras, sempre praticando a vigilância alimentar e nutricional. Além disso,
você poderá atuar, também, junto à proposição de políticas públicas em saúde, salientando e orientando
a importância do saneamento básico e da água tratada, por exemplo, já que ambos são situações que
abrem portas para as parasitoses.
Será de sua responsabilidade, como profissional da Nutrição, estabelecer o tratamento de pacientes
dos mais variados perfis — adulto, criança, idoso ou imunodeprimido, por exemplo — para a recupe-
ração nutricional e restabelecimento da saúde por meio da alimentação adequada. Espero que tenha se
animado ao saber de suas possibilidades de atuação a partir da Parasitologia. Espero que seu ambiente
profissional te desafie a ser e buscar ser o(a) melhor profissional que puder!

134
Na avaliação desta unidade, faremos uso do mapa mental. Você pode desenvolvê-lo a partir das
palavras-chaves que se encontram dispostas a seguir. Para cada ramificação, há uma sequência
de conceitos, termos ou significados atrelados um ao outro. Lembre-se de relacionar as palavras,
respeitar a hierarquia delas e de organizar os pensamentos de forma lógica. Observe como eu dei
início à construção do mapa mental, veja como a sequência de conteúdos estão se relacionando
e abrindo margem para que seja continuado. É aí que você entra com suas habilidades, compe-
tências e conhecimentos construídos durante essa unidade. Vamos lá?

Características gerais

Teníase

Ciclo biológico

Morfologia CESTOIDES Cisticercose

Conceito
Morfologia Platelmintos
Classes mais comuns

MAPA MENTAL
Fonte: a autora.

135
Verifiquemos seu aprendizado até aqui? Leia com atenção as questões que seguem e
responda de acordo o seu aprendizado

1. Sobre a cisticercose, fale sobre as vias e modos de infecção e as relacione às práticas


seguras de alimentação e nutrição.

2. A teníase acontece a partir da ingestão de carne bovina ou suína contaminada por


espécies de Taenia saginata e T. solium, respectivamente. A partir disso, disserte sobre
as diferenças morfológicas e clínicas das espécies de tênias mencionadas.

3. Imagine que você está atuando como profissional da Nutrição e acaba de assumir sua
função em uma comunidade com elevada incidência de crianças e adultos com alguns
dos seguintes sintomas: dor abdominal, náusea, fraqueza, perda de peso, apetite
aumentado, cefaleia, constipação intestinal, vertigem, diarreia e prurido anal. Você
descobriu, também, que as condições sanitárias e a educação em saúde dessa popu-
lação são precárias. Qual seria sua abordagem com relação a essa realidade e como a
nutrição poderia colaborar com a melhoria dessas condições?
AGORA É COM VOCÊ

136
6
Trematódeos
Parasitas do Homem:
Schistosoma mansoni
Dra. Vanessa Graciele Tiburcio

Oportunidades de aprendizagem: Nesta unidade, você terá a opor-


tunidade de conhecer a caracterização e a biologia de trematódeos
que parasitam o homem. Poderá descobrir como se desenvolve a
relação parasito-hospedeiro desses organismos com o corpo huma-
no, bem como a importância médica. Poderá conhecer, também, e
adotar medidas profiláticas e de controle do seguinte trematódeo:
Schistosoma mansoni.
UNICESUMAR

Imagine que você é um profissional da Nutrição e faz parte de uma equipe multidisciplinar que presta
assistência a uma comunidade indígena ribeirinha, afastada do meio urbano. É característico nesta região
o hábito de banhar-se em rios, lagoas e lagos. Além disso, é comum ocorrer a cheia de rios e por isso,
eventualmente ocorrem enchentes.
Agora imagine que algumas semanas após ter ocorrido uma enchente aumenta a quantidade de
pacientes apresentando os sinais e sintomas a seguir: febre, dor de barriga, dor de cabeça, fraqueza, falta
de apetite, dor muscular, tosse, diarreia, aumento do volume abdominal e urina com sangue. A partir
de tais informações, você consideraria que linha de investigação para a doença em questão? Poderiam
esses sinais e sintomas serem relacionados a algum tipo de parasitose?
Observe essas informações adicionais e as considere em sua análise: o local apresenta total ausência
de saneamento básico, ou seja, não há rede de esgoto tratado, as pessoas defecam no solo ou na água,
por exemplo; e a comunidade não tem acesso à água potável (nadam, se banham e utilizam da mesma
fonte de água para preparar o alimento, simultaneamente). Além disso, foi identificado a presença de
caramujos Biomphalaria em todos os corpos d’água da região.
E agora, você pode reduzir as possibilidades de diagnóstico? Pensou em qual doença? Se você pensou
na esquistossomose, você acertou, parabéns! Essa doença também pode ser conhecida como barriga
d’água, ascite, doença do caramujo ou xistose. A situação hipotética apresentada aqui engloba ca-
racterísticas desta doença comum em regiões tropicais, com ampla vulnerabilidade social e condições
sanitárias completamente inadequadas.
Assim, é importante que você saiba as características de agentes etiológicos e seu desenvolvimento
enquanto infecção que acomete o ser humano, bem como de que forma se desenvolve a relação parasi-
to-hospedeiro desses organismos com o corpo humano e a importância médica, para que assim você e
a equipe multidisciplinar possam adotar medidas profiláticas e de controle do organismo em questão
de modo que resulte em uma comunidade bem assistida e com saúde.
Além de más condições sanitárias, atividades de turismo e de trabalho também estão entre as situações
que são afetadas pela infecção por Schistosoma mansoni.
Em 2017, um grupo de 32 ciclistas viajaram de Montes Claros-MG para o interior da Bahia, à turismo.
Depois de 45 dias após o retorno do grupo a seus respectivos domicílios, algumas pessoas começaram
a sentir sintomas da doença. Exames sorológicos confirmaram o diagnóstico de infecção por esquistos-
somose em todas as pessoas do grupo. O grupo relatou que havia a suspeita de que o local de contami-
nação seria um poço de água represado, conhecido como poção, localizado numa fazenda particular no
município baiano, uma vez que este foi o único local visitado por todas as pessoas do grupo (PEIXOTO,
2017, on-line).
Diante deste caso, você percebe como a via de transmissão por meio da água contaminada é crucial para
determinar a infecção das pessoas? Provavelmente o local foi contaminado por meio de fezes humanas
com a presença de ovos de Schistosoma mansoni, os quais encontraram o caramujo no corpo d’água e
tiveram parte de seu desenvolvimento concluído. Assim, as larvas foram liberadas na água, ficando livres
para penetrar na pele do ser humano. No organismo humano, elas podem se alojar em diferentes tecidos
orgânicos, como fígado, baço, pulmões e medula, por exemplo, e causar problemas graves de saúde.

138
UNIDADE 6

Bem, acredito que ficou claro para você o quanto a presença de água contaminada é determinante
para a infecção de seres humanos por esquistossomose, não é mesmo? Por isso, proponho um exercício
de pesquisa sobre a epidemiologia dessa doença no nosso país.
Você deverá investigar os seguintes pontos: quais regiões no Brasil apresentam maior número de casos;
quais são as comunidades mais afetadas (indígenas, ribeirinhas, rural, urbana em vulnerabilidade); qual
o tipo de atividade mais promove a contaminação: turismo, trabalho ou ausência de saneamento básico.
E então, quais foram os resultados que você encontrou em sua busca? Estou muito curiosa para saber
os dados encontrados!
Agora, é importante que você registre os resultados de sua busca no Diário de Bordo a seguir e faça
as seguintes reflexões: qual a importância de saneamento básico para a saúde pública e coletiva? É pos-
sível relacionar a vulnerabilidade social e a pobreza aos locais com maior incidência de infecção? E as
comunidades específicas, porque são mais expostas a esta contaminação? Você consegue relacionar as
atividades de turismo e trabalho com as vias de transmissão? Pense e reflita sobre essas questões e registre
no seu Diário de Bordo a seguir.

DIÁRIO DE BORDO

139
UNICESUMAR

Na unidade anterior, você Ventosa Oral


aprendeu as características do
filo Platyhelminthes e explo- Ventosa Ventral
rou organismos parasitas deste
grupo. Como você já conhece
as características gerais deste
filo e partindo do princípio
que você realmente assimilou
tais informações, aqui vamos
partir em busca de conhecer a
classe Trematoda.
O nome trematódeo (do gre-
go trematodes, furado) faz re-
ferência a estruturas evidentes
na superfície do corpo, as ven- Figura 1 - Macho adulto de Schistosoma

tosas, uma oral e outra ventral


Descrição da Imagem: a figura é uma foto do campo microscópico onde
(esta última também conhecida há um verme macho adulto colorido artificialmente. O animal tem o corpo
em formato cilíndrico, lembrando uma serpente; a extremidade inferior
como acetábulo) as quais fixam apresenta-se enrolada sobre si mesma; a extremidade superior apresenta
o verme adulto ao hospedeiro um ventosa em posição mais superior, chamada de ventosa oral, e um
pouco mais abaixo há outra ventosa, identificada como ventosa ventral.
(Figura 1) (REY, 2018).

Os trematódeos são endoparasitos obrigatórios, com ciclo biológico complexo onde a morfologia e os
hospedeiros podem ser diferentes em cada fase do ciclo, sendo o ser humano um destes hospedeiros.
São plenamente adaptados ao parasitismo. Os trematódeos da infraclasse Digenea são os que apre-
sentam interesse médico humano e veterinário (REY, 2018).
Os trematódeos digenéticos são dotados das seguintes características gerais: a maioria são
hermafroditas, à exceção dos Schistosoma, apresentam simetria bilateral, corpo achatado dorsoven-
tralmente, com aspecto alongado e foliáceo. Alguns organismos podem ser piriformes, ou longos e
delgados e outros podem ser cilíndricos e filiformes, como as fêmeas de Schistosoma (Figura 2). O
tamanho varia de menos de um milímetro até vários centímetros de comprimento. Geralmente tem a
coloração esbranquiçada que pode ser modificada, nas espécies hematófagas (REY, 2018).

140
UNIDADE 6

A
Boca
B

Gonóporo

Ventosas

Figura 2 - Representantes de trematódeos: (a) Opisthorchis (= Clonorchis) sinensis, um trematódeo plagiorquídeo que vive no
fígado humano; (b) Cotylaspis (um trematódeo aspidogastrídeo); (c) Schistosoma mansoni, macho e fêmea em cópula, o trema-
tódeo do sangue humano / Fonte: Brusca, Moore e Shuster (2018, p. 467).

Descrição da Imagem: a Figura (a) apresenta a foto de um animal com formato plano que é achatado dorsoventral-
mente; a Figura (b) tem um desenho esquemático de um animal em formato arredondado, com as margens compostas
por ventosas; na região superior há um prolongamento em formato cilíndrico que tem uma boca na extremidade
superior; a Figura (c) apresenta dois vermes adultos em posição de cópula, onde o macho é maior, tem o corpo em
formato cilíndrico, lembrando uma serpente e apresenta a extremidade esquerda enrolada em direção a região ven-
tral; a fêmea é cilíndrica e muito pequena em comparação ao tamanho do macho e encontra-se encaixada na região
ventral do corpo do macho.

141
UNICESUMAR

Você se recorda que vimos na unidade anterior que as classes de parasitas Platyhelminthes que apre-
sentam um tegumento protetor em substituição ao epitélio ciliado, constituem o grupo Neodermata?
Pois bem, os trematódeos digenéticos, além de possuírem o sincício funcional, apresentam também na
superfície exterior da membrana plasmática uma camada de espessura variável, o glicocálix que, em
conjunto com o tegumento, está associado às funções de nutrição e de proteção (Figura 3) (REY, 2018).

Superfície externa
do corpo
Vesícula
pinocitória

Mitocôndrias

Espinho

Membrana basal

Músculo circular

Músculo
logitudinal

Mitocôndrias

Núcleo

Figura 3 - Tegumento e parede corporal subjacente de um trematódeo (corte longitudinal)


Fonte: Brusca, Moore e Shuster (2018, p. 471 ).

Descrição da Imagem: a figura apresenta o corte da parede corporal do verme, em camadas, de cima para baixo. Há
uma camada que representa a superfície externa e evidencia a presença de um espinho; na sequência, tem uma linha
reta que representa a membrana basal, seguida de duas camadas musculares; por fim, há uma camada de células
evidenciando o tamanho avantajado do núcleo celular e as numerosas mitocôndrias.

Os trematódeos adultos têm como alimentação tecidos e líquidos de seus hospedeiros, bem como
materiais presentes no intestino do hospedeiro, pois o alimento consumido varia de acordo com a es-
pécie e sua localização no interior do organismo hospedeiro. Pode ser sangue, bile, células descamadas,
produtos inflamatórios, muco, secreções digestivas e bactérias, entre outras possibilidades. O alimento
é captado por meio da boca por ação bombeadora da faringe muscular e algumas moléculas orgânicas
são apanhadas por pinocitose no tegumento (REY, 2018; BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).

142
UNIDADE 6

Com relação à circulação e excreção, esses organismos não têm aparelho circulatório. Por meio
da contração do corpo, é possível que o líquido intersticial atinja todo o organismo. Já a osmorregu-
lação é realizada por protonefrídios e as excretas nitrogenadas na forma de amônia são eliminadas
principalmente através do tegumento (REY, 2018; BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).
O sistema nervoso dos trematódeos é nitidamente na forma de escada. O gânglio cerebral inclui
dois lobos bem definidos conectados por uma comissura transversal dorsal. Os nervos do gânglio
cerebral inervam a boca, as ventosas, o esôfago e possíveis órgãos dos sentidos cefálicos existentes. As
terminações nervosas sensoriais são abundantes na superfície do corpo, especialmente nas ventosas
na forma de cerdas e pequenos espinhos, e parecem ter função tátil. Não existem órgãos sensoriais
especializados, a não ser durante a fase larvária de algumas espécies, que apresentam organelas sensíveis
à luz (REY, 2018; BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).

Ventosa oral Boca

Nervos
anteriores

Gânglio cerebral Cordão


nervoso
ventral

Cordão
nervoso
lateral
Cordão Figura 4 - Esquema geral do sistema nervoso de um tre-
Acetábulo nervoso matódeo (vista ventral) / Fonte: Brusca, Moore e Shuster
dorsal (2018, p. 482 ).

Descrição da Imagem: a figura apresenta um es-


quema do sistema nervoso do animal. O animal
tem formato cilíndrico com um leve achatamento
dorsoventral; a parte superior do esquema corpo-
ral é arredondada, e evidencia uma ventosa circu-
lando a boca do animal; circulando a ventosa há
um cordão circular identificado como nervos que
se conectam medialmente a pequenas estruturas
filiformes identificadas como gânglios; partindo do
nervo circular, há cordões nervosos que fazem o
trajeto súpero-inferior, percorrendo todo o corpo
do animal; em posição ventral e no meio do corpo
do animal há uma ventosa ventral.

Quanto à locomoção, os vermes adultos movem-se à maneira das sanguessugas: fixam de forma al-
ternada uma, depois outra ventosa, ou seja, alonga ou encolhe todo o corpo. Durante este movimento,
eles se apoiam nos espinhos e escamas que revestem o tegumento. Assim, o helminto desloca-se em
seu hábitat, seja ele a luz do tubo digestivo, das vias biliares ou pancreáticas, seja o interior das veias
ou de outros órgãos do hospedeiro. Já na fase larvária, há uma grande mobilidade, pois a locomoção
se faz por meio de cílios (nos miracídios) ou pela agitação de uma cauda (nas cercárias) (REY, 2018;
BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).

143
UNICESUMAR

Com relação à reprodução, A Faringe


Ventosa oral
Cirro
B
Canal de Laurer
Oviducto
os trematódeos são hermafro- Átrio genital Ventosa
ventral
Útero
Útero Ovócito Zigoto
ditas e geralmente fazem fe- Ovário Ovótipo
Casca
cundação cruzada mútua, po- Glândula
de Mehlis
dendo em casos raros ocorrer a Testículo

autofecundação (Figura 5a). O Reservatório


de vitelo
Ducto
sistema reprodutor masculino vitelinico Ducto
vitelínico
Válvula
Esperma
apresenta dois testículos que Espermoducto Glóbulos de casca
nas células vitelínicas
drenam para um espermoducto
Glândula Átrio genital
comum, que leva a um aparelho vitelínica Ducto ejaculatório
C Saco do cirro
copulatório, geralmente um cir- Testículo

ro eversível. O cirro e o esper- Glândulas


prostásticas
moducto se unem e formam a Cirro

vesícula seminal que fica locali-


Vesícula
zada próxima às glândulas pros- seminal

táticas. O poro genital comum


abre-se ventralmente perto da Ovócito

extremidade anterior do animal Útero Espermoducto

e leva a um átrio raso, geralmen-


Figura 5 - Sistemas reprodutivos de trematódeos: (a) Estruturas reprodutivas de
te compartilhado pelos sistemas Fasciola hepática; (b) Região do ovótipo de F. hepática; (c) Aparelho copulatório
masculino com o cirro estendido / Fonte: Brusca, Moore e Shuster (2018 p. 490).
masculino e feminino (Figura
5b). O sistema reprodutor fe- Descrição da Imagem: a Figura (a) mostra o verme que tem forma plana,
achatado dorsoventralmente, com a organização interna de seus órgãos em
minino desses organismos tem evidência; no sentido súpero-inferior há a boca, a faringe, o cirro, o átrio
genital, a ventosa ventral, o útero em formato cilíndrico, longo e enrolado
um único ovário que se conecta sobre si mesmo, que se conecta com o ovário que tem formato digitiforme;
com o ovótipo por meio do ovi- nos ⅔ restante há a presença do espermoducto e do testículo; a Figura (b)
evidencia as estruturas reprodutoras femininas; do lado esquerdo infe-
ducto. O oviducto é ligado por rior há uma estrutura em forma de triângulo que lembra um reservatório
um ducto vitelínico formado e está cheia de estruturas esféricas pequenas, o ápice deste triângulo se
continua por meio de uma estrutura tubular chamada de ovótipo a qual
pela união de ductos pareados, está marginalizada em ambos os lados por estruturas filiformes, que têm
as pontas arredondadas, chamadas de glândulas; esse tubo enlarguece
os quais levam vitelo das múl- e mostra as diferentes fases de uma estrutura reprodutiva; a Figura (c)
tiplas glândulas vitelínicas que evidencia as estruturas reprodutoras masculinas; na lateral esquerda há
uma estrutura tubular que se encontra fora do corpo do animal, chamada
se encontram posicionadas la- de cirro, pois ela tem a capacidade de retrair-se e de lançar-se para fora;
teralmente (Figura 5c). O útero dentro do corpo do animal há as seguintes estruturas internas, no sentido
súpero-lateral-inferior: átrio genital, que é a cavidade que “abriga” o cirro;
único estende-se anteriormente o ducto ejaculatório que é um canal tubular de pequeno diâmetro dentro
e que acompanha todo o cirro; há múltiplas glândulas nas margens laterais
até o átrio genital e, em alguns deste ducto que se termina de forma alargada e circular, formando duas
casos, é modificado como uma estruturas circulares que estão conectadas.

vagina nas proximidades do


gonóporo feminino (BRUSCA;
MOORE; SHUSTER, 2018).

144
UNIDADE 6

Os trematódeos digêneos têm representantes de parasitas mais bem-sucedidos de que se tem conheci-
mento, pois apresentam amplas variações na morfologia do adulto e nos seus ciclos de vida. Os ovos
são produzidos pelos vermes adultos em seu hospedeiro definitivo e são liberados por meio das fezes,
da urina ou do catarro do hospedeiro. Na água, eles são ingeridos por um hospedeiro intermediário ou
podem eclodir na forma de larvas ciliadas livres-natantes conhecidas como miracídios, que penetram
ativamente em um hospedeiro intermediário, o caramujo, por exemplo. Os miracídios se reproduzem
de forma assexuada no hospedeiro intermediário e produzem as formas livres-natantes conhecidas
como cercárias, as quais podem encistar-se dentro de um segundo hospedeiro intermediário onde
transformam-se nas metacercárias. A infecção do hospedeiro definitivo ocorre quando as metacercárias
são ingeridas, ou quando não há um segundo hospedeiro intermediário, quando as cercárias penetram
diretamente (Figura 6) (BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).

“Nos seus estágios adultos, quase todos os trematódeos digêneos são


endoparasitas de vertebrados. Esses parasitas são conhecidos por sua
capacidade de viver em quase todos os órgãos do corpo, e muitos são
patógenos sérios em seres humanos e animais de criação.”
(BRUSCA; MOORE; SHUSTER, 2018).

145
UNICESUMAR

Veja na Figura 6 o ciclo de vida de dois trematódeos digêneos.

A O zigoto é eliminado no B
catarro ou nas fezes Matura nas veias
do hospedeiro
A forma
juvenil
migra
para os
pulmões

O zigoto é eliminado
Desenvolvimento do intestino nas fezes
na água
As metacercárias
são ingeridas pelo Miracídio
hospedeiro definitivo dentro da
casca do ovo

Eclosão
na água
O miracídio A cercária
O caranguejo eclode e penetra penetra na
ingere cercárias: no caramujo pele íntegra
metacercárias se
desenvolvem

Duas gerações O miracídio


As cercárias de esporocistos no penetra no
caramujo liberam caramujo
são eliminadas
Escoporocisto cercárias na água
na água Rédia

Figura 6 - Ciclos de vida de dois trematódeos digêneos: (a) Ciclo de vida de Paragonimus westermani, o trematódeo pulmonar humano
(ordem Plagiorchiida); (b) Ciclo de vida do trematódeo sanguíneo Schistosoma mansoni / Fonte: Brusca, Moore e Shuster (2018, p. 494).

Descrição da Imagem: na Figura (a), há uma sequência circular de estruturas e eventos. Na parte superior, há um
esquema parcial do corpo humano com um desenho de um verme na região pulmonar, seguido de uma seta da es-
querda para a direita, indicando um ovo que foi eliminado pelo ser humano; esse ovo se desenvolve em uma larva que
tem um formato que lembra uma gota e tem as bordas ciliadas; do lado esquerdo do miracídio, tem um desenho de
um caramujo, o que representa o hospedeiro intermediário da larva miracídio, onde em seu interior ela se desenvolve
primeiro em esporocisto, depois em rédia e por fim cercária que sai do corpo do caramujo e é ingerido por caranguejos
onde se desenvolvem em metacercárias; há uma seta apontando que as metacercárias são ingeridas pelo homem e
se alojam no pulmão, de onde podem ser eliminadas por meio do catarro ou das fezes, reiniciando o ciclo. Na Figura
(b), há uma sequência circular de estruturas e eventos. Na parte superior, há um esquema parcial do corpo humano
com um desenho de uma cercária na região de tronco, seguido de uma seta de cima para baixo indicando o desen-
volvimento para a forma adulta que se reproduz no interior do corpo humano e produz ovos, os quais são eliminados
para o meio externo por meio das fezes; do lado direito, há um ovo evidenciando a presença de um miracídio em seu
interior, após outra seta há um miracídio fora do ovo, seguido de representações de caramujos, os quais são hospedei-
ros intermediários e onde o verme se desenvolve para o estágio de cercária, que tem um formato alongado achatado
dorsoventralmente com a extremidade superior alargada onde se encontra a cabeça e na extremidade inferior há
uma cauda bifurcada; a próxima seta mostra a cercária sobre a região torácica do corpo humano, representando que
ela pode se alojar nos vasos sanguíneos deste hospedeiro e onde o ciclo recomeça.

Após você conhecer as principais características gerais dos trematódeos digêneos, veja agora as prin-
cipais espécies parasitas de importância médica.
Na família Schistosomatidae e no gênero Schistosoma, encontram-se muitos dos principais trema-
tódeos que habitualmente parasitam o homem na região Neotropical e Africana. Algumas espécies são
restritas ao Extremo Oriente (REY, 2018).

146
UNIDADE 6

As principais espécies, do ponto de vista médico e da saúde pública, são: Schisto-


soma mansoni; S. haematobium; S. japonicum (cuja distribuição interessa apenas
à Ásia Oriental e ao Pacífico Ocidental) (REY, 2018).
Em determinados países ou regiões, outras espécies podem ter importância mé-
dica (REY, 2018):
• S. mekongi é morfologicamente semelhante ao S. japonicum, mas com distri-
buição geográfica restrita à Bacia do Rio Mekong (Laos e Camboja).
• S. intercalatum, parasita de roedores (Hybomys) que infecta facilmente o ho-
mem em alguns países da África: República dos Camarões, Guiné Equatorial,
Gabão, Zaire e Angola.
• S. bovis faz parte do “complexo haematobium”, parasitando o gado no Sul da
Europa, na África e no Iraque. Poucos casos de infecção humana ocorrem em
Zimbábue, Uganda e África do Sul.
• S. mattheei, encontrado no gado da África do Sul, onde, por vezes, substitui S. bo-
vis e é mais capaz de infectar o homem. Os ovos aparecem nas fezes ou na urina.

Podem produzir-se infecções mistas de S. mattheei com S. mansoni ou com S.


haematobium. O cruzamento com esta última espécie permitiu a obtenção de
híbridos (REY, 2018).
Dentre as espécies mencionadas como de interesse e importância médica, agora
vamos explorar a espécie S. mansoni, única de interesse médico e sanitário nas
Américas, agente etiológico da esquistossomose, doença também conhecida no
Brasil como xistossomose, xistosa ou doença dos caramujos, assim como por “barriga
d’água”, devido à ascite que acompanha as formas mais graves, com fibrose hepática.
A infecção por S. mansoni é predominantemente intestinal, pois os parasitas se
concentram nas vênulas da parede do grosso intestino, sigmóide e reto. Em formas
mais graves, ocorre a hepatosplenomegalia, hipertensão no sistema porta ou outras
manifestações patológicas (REY, 2018).
A distribuição geográfica desta espécie está atrelada à ocorrência de algumas es-
pécies de moluscos de água doce, do gênero Biomphalaria, que são os hospedeiros
intermediários de S. mansoni. Há cerca de 150 e 200 milhões de pessoas infectadas
com essa doença em todo o mundo. Destas, presume-se que mais de 6 milhões vivem
no Brasil (REY, 2018).
A gravidade da doença está diretamente relacionada à carga parasitária e varia
consideravelmente segundo o quadro clínico produzido. Em muitos casos, pode levar a
um acentuado déficit orgânico que pode resultar em invalidez ou morte. É considerado
um sério problema de saúde pública mundialmente. Na contramão da maioria das
parasitoses humanas que apresentam redução de casos em função do desenvolvimento
econômico e dos métodos de controle disponíveis, a esquistossomose encontra-se em ex-
pansão, vinculada inclusive ao desenvolvimento e uso de recursos hídricos (REY, 2018).

147
UNICESUMAR

Alguns aspectos caracterizam os trematódeos do gênero Schistosoma e os distingue de outros


parasitas digênios, tais como: apresentam sexos separados, evidente dimorfismo sexual e os machos
têm menos de 10 massas testiculares (REY, 2018).
Vamos conhecer o ciclo de vida de S. mansoni? Em sua fase adulta (mede entre 0,6 e 2,5 cm),
esses parasitos alojam-se, aos pares, em vênulas terminais do plexo mesentérico inferior, que drenam
a parede do intestino grosso, especialmente o reto e o cólon sigmoide (Figura 7).

Cercárias perdem as
caudas durante a
penetração e
Esporocistos no caracol Cercárias liberadas transformam-se em
(gerações sucessivas) pelo molusco esquistossômulos

Penetração
na pele Circulação

Migração para o sangue portal


do fígado e amadurecimento,
tranformando-se em
Miracídios penetram no helmintos adultos
caracol (gênero Biomphalaria)

Ovos eclodem,
liberando miracídios

Vermes adultos emparelhados migram


S. mansoni para vênulas mesentéricas do reto
(colocam ovos que circulam para o
fígado e que saem nas fezes)
Figura 7 - Ciclo de vida de Schistosoma mansoni / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 406).

Descrição da Imagem: no centro da figura há um esquema que representa a silhueta do corpo humano e os órgãos
dos sistemas digestório, respiratório e o encéfalo; do lado direito uma seta indica para a forma larval de cercária que
indica textos escritos, deixando claro que as cercárias invadem a circulação sanguínea e, após se alojar no fígado, so-
frem maturação para adultos; após outra seta, há um representação dos adultos em cópula, seguida de um esquema
que representa o ovo do verme, o qual foi liberado na água; na sequência, há a evidência que os ovos eclodem neste
ambiente, tornam-se miracídios e encontram o caracol que é um hospedeiro intermediário; tais larvas se desenvol-
vem em cercárias no interior do caracol e depois ganham o meio externo novamente; as cercárias invadem o corpo
humano e reinicia o ciclo.

Nesses locais, as fêmeas põem cerca de 300 ovos por dia, os quais exibem caracteristicamente uma
espícula lateral grande (Figura 8). A casca do ovo é bem rígida, mas também é porosa, o que permite
a troca de substâncias do embrião com o meio externo (REY, 2018; FERREIRA, 2021).

148
UNIDADE 6

Os ovos chegam ao lúmen intestinal e parte deles são eliminados com as fezes, os quais ficam viáveis
A B

Epícula
ateral

Figura 8 - Ovo de Schistosoma mansoni com destaque para a espícula lateral


Fonte: Ferreira (2021, p. 222) e Siqueira-Batista et al. (2020, p. 406).

Descrição da Imagem: as Figuras (a) e (b) evidenciam um ovo com formato ovalado e destaca a morfologia da espícula
lateral, estrutura que lembra um espinho.

Papila apical ou
por 2 a 5 dias em fezes forma- terebratório
das. Dentro deste período, caso
cheguem a alguma coleção de Glândula de
penetração
água doce, eclodem e liberam
suas larvas denominadas de Glândulas
miracídio (Figura 9). Os mira- adesivas
cídios encontram seu hospedei-
ro intermediário, o caramujo do
gênero Biomphalaria, por meio
da natação ativa que a presença
dos cílios lhes confere. No inte- Células
rior do molusco, os miracídios germinativas
se desenvolvem em cercárias
que, após algum tempo, deixam
o hospedeiro e voltam para a
água (REY, 2018; FERREIRA,
2021).
Figura 9 - Representação esquemática de miracídio de Schistosoma mansoni
Fonte: Ferreira (2021, p. 222).

Descrição da Imagem: a figura mostra um esquema da organização e mor-


fologia corporal de uma larva miracídio, em que ela tem uma forma plana,
achatada dorsoventralmente, com as margens ciliadas. É possível verificar
na parte superior uma estrutura de fixação, bem como que, na região um
pouco mais abaixo, no sentido súpero inferior, há glândulas que fixam o
organismo no hospedeiro; medialmente há uma estrutura em forma de
saco, representando a glândula de penetração; nos ⅔ inferior há pequenas
estruturas circulares aglomeradas resultando em três porções circulares.

149
UNICESUMAR

As cercárias apresentam cerca de 75% do comprimento total dedicado à cauda com extremidade
bifurcada. Apresentam uma ventosa oral e uma ventosa ventral, sendo a ventosa ventral de tamanho
maior, pois é responsável pela fixação na pele do hospedeiro definitivo durante o processo de pene-
tração (Figura 10) (REY, 2018; FERREIRA, 2021).

Ventosa oral

Corpo

Ventosa central
ou acetábulo

Cauda

A B
Figura 10 - Cercária de Schistosoma mansoni: (a) esquema; (b) fotografia / Fonte: Ferreira (2021, p. 223).

Descrição da Imagem: a Figura (a) mostra a morfologia de uma larva cercária, na qual do lado esquerdo da figura há
duas chaves delimitando a localização do corpo, superior, e da cauda, médio inferior. O corpo tem formato tubular
levemente achatado, com uma ventosa na porção superior e outra na região ventral. A cauda mantém o formato
tubular levemente achatado e com a extremidade inferior bifurcada. A Figura (b) é uma fotografia onde todas essas
estruturas descritas estão evidentes.

Você sabia que as cercárias são atraídas por ácidos graxos livres e peptídeos com arginina
terminal e L-arginina livre, liberados pela pele humana?

150
UNIDADE 6

Quando a cercária encontra seu hospedeiro, a pele é penetrada com o auxílio de proteases secretadas
por glândulas de penetração, localizadas na extremidade cefálica. A cauda é perdida no processo de
penetração e o corpo transforma-se em esquistossômulo, que atravessa a epiderme e a derme e chega
aos vasos sanguíneos e linfáticos da pele e do tecido subcutâneo. Os esquistossômulos sobreviventes
ganham a circulação geral e seguem para o coração, depois aos pulmões (onde também podem ser
retidos e destruídos) e, em seguida, ao fígado. Somente no sistema porta intra-hepático, os esquistos-
sômulos desenvolvem-se e alcançam a fase adulta. Neste local, é onde ocorre a maturação do sistema
digestório por meio da ingestão de sangue. O sistema reprodutor também se desenvolve completamente
somente depois da chegada dos vermes ao fígado. Então, os vermes adultos acasalam-se (condição para
a maturação das fêmeas) e migram para as vênulas da parede intestinal (REY, 2018; FERREIRA, 2021).

Os esquistossomos hemolisam rapidamente, em seu intestino, o sangue ingerido. O consumo


de um macho de Schistosoma mansoni é calculado em cerca de 30.000 hemácias por hora,
enquanto a fêmea utiliza dez vezes mais glóbulos vermelhos. Acredita-se que a função da
hemoglobina está relacionada à nutrição, visto que essa molécula é quebrada em pequenas
moléculas peptídicas que são absorvidas e incorporadas, inalteradas, ao vitelo dos ovos do
helminto. A fêmea dos esquistossomos tem necessidade de grande quantidade de proteínas
e aminoácidos, para atender à produção de ovos, da ordem de 300 ou mais por dia.
Fonte: adaptado de Rey (2018).

Os aspectos clínicos da esquistossomose variam de acordo com as seguintes circunstâncias (REY, 2018):
• a linhagem do parasito, a carga infectante (número de cercárias que penetraram), as condições
fisiológicas do material infectante (idade das cercárias, sua vitalidade etc.) e a frequência com
que ocorrem as reinfecções;
• as características do hospedeiro e seu meio (idade, desenvolvimento, ocupação, nutrição, hábitos
e condições de vida etc.), ocorrência ou não de outras infecções anteriores (intensidade destas
e intervalos entre elas), grau de imunidade desenvolvida;
• carga parasitária acumulada ao longo dos anos e duração da infecção.

É importante destacar que a carga parasitária é fator importante para a determinação da gravidade
da doença na maioria dos casos. Em regiões endêmicas, essa carga aumenta com a idade, alcança seu
limiar entre os 15 e 20 ou 25 anos e depois declina (REY, 2018).
Vamos conhecer a doença distinguindo-a em fases. Durante a fase inicial ou aguda, as principais
alterações cutâneas transitórias são exantema papular, prurido e outras reações alérgicas decorrentes da
penetração das cercárias de S. mansoni. Esse quadro é conhecido como dermatite cercariana e ocorre
imediatamente após a exposição às cercárias. Dura de 2 a 3 dias, podendo-se observar febre baixa e
episódios transitórios de urticária durante 2 semanas (REY, 2018; FERREIRA, 2021).

151
UNICESUMAR

Após um período de incubação, de 15 a 25 dias após a infecção, os sinais e sintomas surgem de for-
ma abrupta. Há febre acompanhada de calafrios e sudorese profusa, mal-estar geral, lassidão, astenia,
cefaleia, prostração, anorexia e náuseas além de eosinofilia, linfadenopatia, esplenomegalia e urticária.
Também pode ocorrer tosse e broncospasmo, assim como dores abdominais e diarreia, às vezes com
fezes mocussanguinolentas. Por meio de um exame radiológico, pode ser evidenciado um infiltrado
pulmonar. O exame físico mostra emagrecimento, desidratação, abdome distendido e doloroso à pal-
pação, hepatoesplenomegalia dolorosa, linfonodomegalia, taquicardia e hipotensão arterial sistêmica
(REY, 2018; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020; FERREIRA, 2021).
Geralmente o quadro clínico da fase aguda pode durar até 3 meses, quando os sintomas regridem
e os indivíduos tornam-se assintomáticos mesmo apresentando uma infecção crônica da doença. Na
fase crônica, os sintomas são variáveis já que dependem da frequência de exposição e da carga para-
sitária resultante, da resposta inflamatória desencadeada pelos ovos ou antígenos liberados, da idade
do hospedeiro e de fatores imunogenéticos.
A esquistossomose intestinal pode ser assintomática por um longo tempo. As manifestações clí-
nicas incluem dores abdominais, episódios de diarreia intermitente, com presença ocasional de muco
ou sangue nas fezes, anorexia, sensação de plenitude gástrica, náuseas, vômitos, pirose e flatulência. A
palpação abdominal permite a identificação de alterações na fossa ilíaca esquerda, com dor e “endu-
recimento” do sigmoide, achado semiológico denominado “corda cólica sigmoidiana”. Em indivíduos
com polipose intestinal esquistossomótica, as alterações intestinais são mais evidentes, com diarreia,
enterorragia, síndrome de enteropatia perdedora de proteínas, edema, hipoalbuminemia, emagreci-
mento e anemia (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020; FERREIRA, 2021).
Embora seja bastante raro, a forma tumoral, ou pseudoneoplásica, ocorre de forma similar há um
adenocarcinoma de cólon, por apresentar-se como pólipos únicos ou múltiplos, estenoses ou vegetações
de origem tumoral, as quais crescem para o lúmen intestinal. Os sintomas clínicos são a anorexia, a dor
abdominal, intensa e difusa (forma polipóide) e a enterorragia, além de obstrução intestinal, emagre-
cimento progressivo, tumoração palpável e distensão abdominal (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

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soma mansoni no intestino, onde você poderá observar o parasita em
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152
UNIDADE 6

Na forma hepatointestinal, além dos sintomas digestivos, soma-se aumento de volume do fígado,
que se torna palpável, na região do lobo esquerdo. Há também a ocorrência da fibrose hepática devido
à deposição de ovos no parênquima, o que não gera intensas perdas de função hepática, à exceção da
ocorrência simultânea com outras doenças hepáticas, levando à hipoalbuminemia. A hipoalbuminemia
resultante da perda de função hepática, associada à hipertensão portal, leva à formação de ascite, sinal
que explica um dos nomes populares da esquistossomose no Brasil: barriga d’água. É possível também
ocorrer icterícia (FERREIRA, 2021).
Pode ocorrer também a formação de lesão histopatológica denominada granuloma, o qual se de-
senvolve em torno dos ovos, no fígado e na parede intestinal. Formam-se inicialmente granulomas
inflamatórios grandes, com um centro necrótico no fígado. Os primeiros granulomas tendem a involuir,
e os próximos granulomas a se formarem em torno de ovos recém-chegados são progressivamente
menores, com mais fibrose. Quando há grande quantidade de ovos nos tecidos, os granulomas fre-
quentemente se fundem, originando uma lesão inflamatória difusa (FERREIRA, 2021).

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A forma hepatoesplênica é uma progressão da forma hepatointestinal e caracteriza-se pelo envolvi-


mento do fígado e do baço no processo patológico. Apresenta sinais de hipertensão porta, é comum se
manifestar em pacientes crônicos, com cargas parasitárias elevadas, a partir da segunda ou da terceira
década de vida (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A forma hepatoesplênica pode ser classificada como compensada ou descompensada. Na compensada,
além dos sintomas digestivos e gerais já mencionados nas formas intestinal e hepatointestinal, somam-se a
hipertensão portal e a esplenomegalia, que pode evoluir para fenômenos hemorrágicos, como hematêmese
e melena, sem manifestação de doença hepatocelular e, portanto, sem a presença de lesão significativa do
parênquima hepático (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). A forma hepatoesplênica descompensada, ou
avançada, é caracterizada por um quadro correspondente à falência hepática crônica grave. Neste caso,
os sintomas são “hálito hepático”, ascite volumosa, edema dos membros inferiores, icterícia, telangiecta-
sias (aranhas vasculares), eritema palmar, ginecomastia e queda de pelos (sobretudo torácicos, axilares
e pubianos), além de esplenomegalia mais acentuada que hepatomegalia, com baço palpável, que pode
ser percebido ao nível da cicatriz umbilical ou ultrapassá-la (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

153
UNICESUMAR

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Nosso “laboratório virtual” conta com uma lâmina
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Em alguns casos, a esquistossomose hepatoesplênica associa-se à nefropatia. Em cerca


de 15% dos casos, há o desenvolvimento da síndrome nefrótica, onde os seguintes sinto-
mas estão presentes: proteinúria, hematúria, cilindrúria, hipertensão arterial sistêmica e
insuficiência renal crônica. Essa manifestação acomete ambos os sexos, com maior preva-
lência em adultos jovens na terceira década de vida (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Pode ocorrer também a encefalopatia hepática, a qual se faz presente após surtos
hemorrágicos, tratamento abusivo com diuréticos, ingestão proteica aumentada e consti-
pação intestinal. Inclui alterações de personalidade como irritabilidade, agressividade ou
comportamento cômico, além de insônia em especial, alteração do padrão sono-vigília,
tremores musculares, clônus, hálito hepático, flapping, torpor e coma (SIQUEIRA-BA-
TISTA et al., 2020).
Soma-se às manifestações crônicas a anemia, que é agravada por conta das he-
morragias e o aumento do baço e que leva a outros quadros como a pancitopenia. A
anemia é mais comum quando ocorre associada às cirroses, hepatite B e C e ao etilismo
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
De modo frequente, são registradas associações da esquistossomose a infecções
bacterianas e virais. Por exemplo, a enterobactéria Salmonella enterica infecta de
forma crônica pacientes esquistossomóticos ao alojarem-se no tegumento e no trato
digestório do parasita adulto, dificultando sua eliminação se não houver o tratamento
adequado e simultâneo. Além disso, há relatos de associação entre esquistossomose e
infecção pelos vírus das hepatites B e C e de maior suscetibilidade à infecção pelo vírus
HIV (FERREIRA, 2021).
A forma vascular pulmonar apresenta-se associada à forma hepatoesplênica da
doença, uma vez que a hipertensão portal desencadeia um desvio para os demais siste-
mas orgânicos e assim permite a entrada de ovos do parasito na circulação pulmonar,
provocando a formação de granulomas. Processos imunológicos determinam o remo-
delamento da vasculatura pulmonar (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

154
UNIDADE 6

As manifestações clínicas da doença vascular pulmonar podem se apresentar de duas


formas: a hipertensiva e a cianótica.
De modo prevalente, a hipertensiva é caracterizada por dispneia associada aos esforços,
tosse seca com secreção viscosa com a presença de sangue, dor torácica constritiva, febre,
sinais de bronquite ou broncopneumonia. Podem estar presentes crises de asmas, fadiga
extrema, rápida perda de peso, anorexia e sinais de insuficiência cardíaca. Por meio de
um exame físico, é possível verificar sinais como dedos em baqueta de tambor, turgência
jugular, congestão hepática e pulmonar, hepatomegalia dolorosa, ausculta respiratória com
roncos, sibilos e frêmito toracovocal aumentado, entre outros. Por outro lado, pode haver
a evolução silenciosa, com ausência de sintomas de origem pulmonar, até que ocorre a
instalação de um quadro súbito de insuficiência circulatória acompanhada de dispneia, a
qual evolui a gravidade e está associada a palpitações, tonturas e tosse com escarros com
sangue (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A forma cianótica apresenta-se com cianose discreta nas extremidades, e dedos em
baqueta de tambor, a qual é atribuída a microfístulas arteriovenosas. Frequentemente é
prevalente em mulheres em uma proporção de 2:1, além de portadores de esplenomegalias
ou pacientes já esplenectomizados (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A esquistossomose pode se apresentar em formas ectópicas, onde os ovos ou os
vermes adultos deste parasita se estabelecem fora do sistema portocava. São exemplos:
a esquistossomose apendicular, a vesicular, a pancreática, a peritoneal, a geniturinária, a
miocárdica, a cutânea, a esofágica, a gástrica, a tireoidiana e a suprarrenal. São localizações
raras, assintomáticas e de pouco interesse médico (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
No entanto, a neuroesquistossomose caracteriza-se com elevada relevância e origina-se
por meio da resposta inflamatória aos ovos que alcançam o sistema nervoso central (SNC).
As manifestações clínicas são aumento da pressão intracraniana, mielopatia e radiculopatia.
Sem tratamento, as lesões podem evoluir para cicatrizes gliais irreversíveis. Apresenta-se de
duas formas: neuroesquistossomose mansônica cerebral e neuroesquistossomose mansô-
nica da medula espinal. A primeira é assintomática, porém pode haver cefaleia, deficiência
visual, delírio, convulsões, déficit motor e ataxia. Já a segunda é sintomática e compromete
com mais frequência adultos jovens do sexo masculino, com esquistossomose intestinal
ou hepatointestinal prévia (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Aspectos como a intensidade, a gravidade e as características clínicas de sinais e sintomas
do comprometimento medular dependerá da quantidade de ovos na região comprometida
da medula espinal, da intensidade da reação inflamatória em torno dos ovos e da localiza-
ção na medula espinal. A neuroesquistossomose mansônica medular pode ser classificada
em três formas: síndrome equina espinal, mielorradiculopatia e cone-caudal. Na primeira
forma, a medula espinal tem elevado grau de comprometimento, é a mais grave e com o pior
prognóstico. O indivíduo apresenta dor na coluna lombar, dor radicular nos membros, fra-
queza muscular, perda sensorial e disfunção da bexiga (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

155
UNICESUMAR

Título: House
Ano: 2010. Sexta temporada, episódio 16. Black Hole.
Sinopse: uma adolescente chega ao hospital tendo alucinações
e apagões de memória. Logo depois, ela tem um sangramento
pulmonar e House acredita que tenha sido causado por um trau-
ma. Além disso, ele trabalha com a hipótese de que a menina
seja alcoólatra. Após realizar exames, a equipe descobriu que se
tratava de esquistossomose cerebral e hipersensibilidade alérgica.
Comentário: este episódio evidencia as dificuldades no diag-
nóstico da neuroesquistossomose, além de mostrar as técnicas
de diagnóstico e as doenças as quais podem ser confundidas.

A partir de dados clínicos e epidemiológicos é que o diagnóstico deve ser realizado. Na fase aguda
da infecção, não são encontrados ovos nas fezes e os métodos diagnósticos são indiretos. Na doença
crônica, as principais estratégias diagnósticas baseiam-se no achado de ovos de S. mansoni nas fezes
ou em tecidos. São métodos que compreendem técnicas qualitativas, que são aqueles que somen-
te determinam a presença da infecção, e quantitativas, onde é possível estimar o número de ovos
eliminados nas fezes (FERREIRA, 2021). A biópsia retal pode ser empregada em casos de infecção
crônica onde são coletados fragmentos da mucosa intestinal e é avaliada a situação e viabilidade
dos ovos. Contudo, sua contribuição parece não ser significativa. As biópsias tissulares (intestino,
fígado) também fornecem o diagnóstico na avaliação histopatológica (SIQUEIRA-BATISTA et al.,
2020; FERREIRA, 2021).
Os métodos imunológicos são empregados na fase crônica da doença. Os principais ensaios
são: a intradermorreação (apropriada para inquéritos epidemiológicos e para o diagnóstico dos
doentes não oriundos de área endêmica, com quadro sugestivo de estarem apresentando alterações
relacionadas à fase pré-postural); as reações de fixação do complemento; a imunofluorescência
indireta; a técnica imunoenzimática (enzyme-linked immunosorbent assay – ELISA) e o ELISA de
captura. Os testes sorológicos apresentam sensibilidade e especificidade suficientes e revelam-se
úteis, principalmente, em áreas de baixa prevalência da doença, ou em pacientes com baixa parasi-
temia e imunodeprimidos. No entanto, não apresentam praticidade na rotina diária. A reação em
cadeia de polimerase (PCR) é um dos métodos moleculares empregados para a identificação do
ácido nucleico do trematódeo em diferentes amostras biológicas e apresenta boa sensibilidade e boa
especificidade (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Outros métodos podem ser utilizados de forma complementar para o diagnóstico da esquistos-
somose. Considerando as múltiplas complicações e comprometimento pode-se fazer uso da

156
UNIDADE 6


Telerradiografia de tórax na avaliação de possível pneumonia; do eletrocardiograma
(ECG) e do ecocardiograma com Doppler para investigação do acometimento vascular
pulmonar; da ultrassonografia abdominal e da endoscopia digestiva alta (EDA), para a
avaliação da forma hepatoesplênica (no caso da EDA, para a detecção de varizes esofá-
gicas); da colonoscopia com biópsia, na avaliação das formas hepatoesplênica e pseu-
doneoplásica; da laparoscopia e da ressonância magnética, que é um exame radiológico
de grande importância no diagnóstico em diferentes apresentações clínicas da moléstia,
como a mielorradiculopatia esquistossomótica (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

O tratamento da esquistossomose apresenta poucos fármacos disponíveis, porém com elevada efi-
cácia para a maioria dos pacientes com presença de ovos viáveis nas fezes ou na mucosa retal e risco
reduzido de efeitos adversos. É utilizado medicamentos de baixa toxicidade como o praziquantel e a
oxamniquina. Dentre os possíveis efeitos adversos gerais e passageiros, podem ocorrer sonolência e
cefaleia, o que justifica a indicação de ingerir o medicamento à noite antes de dormir, e após a refeição,
para reduzir a intolerância digestiva como náuseas e vômitos. É comum a alteração da coloração da
urina para tons alaranjados, pelo fato de o rim ser o órgão que metaboliza e excreta o fármaco (SI-
QUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A epidemiologia da esquistossomose mansônica aponta para uma prevalência em regiões tropicais,
como África, leste do Mediterrâneo e Américas. No Brasil, aproximadamente 99% dos casos ocorrem
nas regiões endêmicas Nordeste e Sudeste, com baixa letalidade. São fatores importantes para que a
doença se torne endêmica (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020):
• Presença de indivíduo suscetível (Homo sapiens);
• Existência do hospedeiro intermediário (planorbídeos, do gênero Biomphalaria);
• Ampla distribuição e importante resistência do hospedeiro intermediário (molusco) aos pe-
ríodos de estiagem;
• Presença de bolsões d'água que propiciem o desenvolvimento de hospedeiros intermediários, em
que exista o hábito da população em banhar-se ou lavar utensílios domésticos e roupas no local;
• Despejo de esgotos domésticos nas coleções d’água ou próximo a elas.

As medidas de profilaxia e controle envolvem programas que abordam a redução da morbidade,


visando à minimização do número de formas graves da doença; e o controle da transmissão, interrom-
pendo o ciclo evolutivo do trematódeo, além do tratamento para os infectados. Isso inclui adequada
abordagem à qualidade da água e ao tratamento de esgoto, bem como limitar o acesso à água doce
contaminada e o fornecimento de abastecimento de água potável. Programas de educação em saúde
representam grande importância no enfrentamento da parasitose, principalmente com foco em ado-
lescentes que representam a faixa etária mais atingida. Esses programas têm resultado em experiências
bem-sucedidas quanto à conscientização de pessoas que vivem em áreas endêmicas. Tais ações têm
apoio nos referenciais da educação popular e da educação ambiental, com implementação articulada
à atuação da Estratégia Saúde da Família. Observe na figura a seguir o sistema de vigilância da esquis-
tossomose proposto pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2019).

157
UNICESUMAR

Figura 11 - Sistema de Vigilância da Esquistossomose proposto pelo Ministério da Saúde / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 417).

Descrição da Imagem: a figura apresenta um fluxograma de ações para o sistema de vigilância da esquistossomose. A
primeira caixa de texto tem a informação “sistema de vigilância da esquistossomose mansônica”. Dela partem 3 caixas
com as informações “área endêmica”, “diagnóstico de casos graves” e “área não endemica”. Da caixa “área endêmica",
saem três caixas com as seguintes informações: 1) educação em saúde (considerar os referenciais da educação po-
pular e da educação ambiental); 2) inquéritos censitários; e 3) mapeamento de coleções hídricas. Da caixa “inquéritos
censitários”, partem mais três caixas: 1) percentual de positividade <15% (de onde parte uma caixa com a informação
“tratar somente os casos positivos”); 2) percentual de positividade 15 a 25% (de onde parte uma caixa escrito “tratar
os positivos e conviventes”); e 3) percentual de positividade >25% (de onde parte a informação “tratar coletivamente a
comunidade”). As caixas 1 e 3 apontam para a mesma caixa contendo a informação: “registro das atividades do Siste-
ma de Informação do Programa de Vigilância e Controle da Esquistossomose (SISPCE)”, finalizando a primeira forma
de ação. Agora, da caixa “área não endêmica" projeta uma caixa informando “diagnóstico positivo para Schistosoma
mansoni”. A partir de agora, as caixas "diagnóstico de casos graves” e “diagnóstico positivo para Schistosoma mansoni”
compartilham das mesmas ações: deles partem 3 caixas escrito “tratamento oportuno”, “notificação no Sinan” e “inves-
tigação”, respectivamente. Da caixa “tratamento oportuno”, parte a caixa “realizar o controle de cura”, onde é finalizada
esta ação. Da caixa “investigação”, sai uma caixa informando “investigar provável local que ocorreu a infecção” que
aponta para a última ação que diz: “verificar a ocorrência de autoctonia”, concluindo as ações propostas.

Neste podcast, nós temos como convidada a médica Paula Trava


Munhoz Leite que trabalha prestando atendimento médico para
uma comunidade indígena na região centro-oeste do Brasil. Ela traz
parte de sua vivência e experiência com este perfil de pacientes.
Abordamos também a ocorrência de parasitoses e as formas de
diagnóstico e tratamento possíveis. Você não vai querer perder
essa chance de aprendizado, não é mesmo? Vem!

158
UNIDADE 6

Agora que concluímos os principais pontos relacionados à infecção


por S. mansoni, como você se sente sobre o cenário hipotético do iní-
cio da unidade? Você acredita que pode ajudar essa comunidade com
diagnóstico e tratamento adequado? A partir do conhecimento que
construímos nesta unidade, você será um profissional com habilidades
e competências para desenvolver e contribuir com a saúde de pessoas
como as que foram mencionadas e muitos outros perfis em situações
análogas ao exemplo dado. Como profissional, você poderá atuar com
seus pacientes ao implementar medidas preventivas como o estabeleci-
mento da educação em saúde, ao participar de programas de vigilância
de infecções parasitárias, ao praticar ações comunitárias de promoção
de práticas alimentares adequadas e seguras. Vale salientar que você
poderá atuar também junto à proposição de políticas públicas em saúde
pública e coletiva e de saneamento básico. Acredito que nossa conversa
tenha aberto sua visão para as inúmeras possibilidades e desafios que a
Parasitologia te proporciona como profissional da Nutrição.

159
Para verificarmos seu aprendizado, faremos uso do Mapa Mental. Você pode desenvolvê-lo e dar
seguimento a partir das palavras-chave que já se encontram elencadas na sequência. Repare que
para cada ramificação há uma sequência de conceitos, termos ou significados relacionados um
ao outro. Atenção: relacione as palavras, respeite a hierarquia delas e organize os pensamentos
de forma lógica. Observe como eu dei início à construção do mapa mental, veja como a sequência
de conteúdos estão se relacionando e abrindo margem para que seja continuado. É aí que você
entra com suas habilidades, competências e conhecimentos construídos durante essa unidade.
Vamos lá?

Características gerais

Ciclo Biológico
Conceito

Organização Epidemiologia
Características gerais
Trematódeos

Morfologia
ESQUISTOSSOMOSE Morfologia
MANSÔNICA
Fisiologia

Medidas de
profilaxia e controle Aspectos Clínicos

Tratamento
MAPA MENTAL

Diagnóstico

160
1. Discorra sobre as características de cada fase do desenvolvimento (ovo, miracídio,
cercária, adulto) de um indivíduo da espécie S. mansoni e destaque como tais caracte-
rísticas são relevantes para o processo de infecção no hospedeiro.

2. Os aspectos clínicos da esquistossomose variam de acordo com uma série de circuns-


tâncias. Quais são essas circunstâncias? Como cada uma destas circunstâncias influencia
na gravidade da doença?

3. Acesse o recurso Microscopia Digital Atlas, abra cada uma das lâminas indicadas na
unidade. Escolha UMA entre as três lâminas. Agora, registre, em forma de desenho feito
à mão, o parasita alojado no tecido em questão. Atente-se para os detalhes.

AGORA É COM VOCÊ

161
MEU ESPAÇO

162
7
Protozoa
Me. Luara Lupepsa

Daremos início nessa unidade ao Reino Protozoa. Você terá a opor-


tunidade de conhecer a caracterização e a biologia de alguns pro-
tozoários que parasitam os seres humanos e até outros animais,
bem como seus ciclos biológicos e quais medidas precisamos tomar
para evitar doenças como amebíase, giardíase e malária.
UNICESUMAR

Desde pequenos, somos orientados quanto aos hábitos de higiene, como lavar bem as
mãos, lavar alimentos, ferver a água antes de ingeri-la, isso é porque existem inúmeras
doenças que podem ser transmitidas pela falta desses hábitos, as quais poderiam ser
facilmente evitadas. Essas doenças muitas vezes são difíceis de se diagnosticar com
precisão, pois muitas delas possuem sintomas similares como vômitos, perda de peso,
febre, mal-estar, diarreia crônica. Muito provavelmente você já ouviu falar sobre a
giardíase, ou a amebíase, ambas doenças são transmitidas por cistos presentes em
água ou alimentos contaminados. Outra patologia que abordaremos nesta unidade
é a malária, você sabe como ela é transmitida? E quais os agentes que a transmitem?
O que poderíamos fazer para evitar essa doença? Nesta unidade, vamos entender a
relação desses parasitas com o hospedeiro, e o que você, profissional da saúde, pode
fazer para evitar a transmissão dessas doenças, que causa a morte de milhares de
pessoas pelo mundo.
Uma das parasitoses que mais causam doenças no mundo é a malária, causada
pelo Plasmodium, principalmente no Brasil, sabe o porquê? Vivemos em um país
tropical, certo? Sabemos que a fonte de transmissão dessa doença é pela picada do
mosquito, dessa maneira, juntamos uma abundância de fatores de susceptibilidade
para a infecção, tais como temperatura e umidade. Certamente, nossa condição
climática contribuiu para a instalação dessa parasitose, não só no Brasil, mas em
países do trópico e subtrópico. Certamente também você já ouviu falar de mudanças
climáticas e que consequências isso poderia acarretar em países que, por consequên-
cia antrópica, ficariam mais quentes, e propícios não só para a migração da malária,
mas para a disseminação de uma série de outras patologias. Um estudo lançado em
2019 demonstra como a malária se tornou, com o passar do tempo, uma das mais
importantes parasitoses, e a perspectiva futura baseada nas mudanças climáticas.
A verdade é que mudanças bruscas de temperatura podem facilitar a emergência
e persistência do mosquito Anopheles, além de aumentar as taxas de mordida do
mosquito e a replicação do parasita.
E quanto a outras doenças, como amebíase e giardíase, será que essas mudanças
climáticas poderiam afetar seus ciclos evolutivos? Por isso, você, estudante da área
da saúde, deve saber como não apenas a malária se encontra no panorama atual, mas
outras parasitoses e quais as perspectivas futuras que podemos nos deparar com
tantas mudanças acontecendo em nosso planeta.
Agora que você tem o conhecimento que algumas parasitoses se desenvolvem
melhor em climas mais quentes, e sabe também que o Brasil possui uma variedade
de climas devido ao seu enorme território, eu te desafio a pesquisar sobre outras
doenças parasitárias do reino Protozoa, as quais possuem uma maior prevalência
na sua região, que causam doenças em humanos e que possam estar erradicadas em
diferentes países, e quais foram as medidas profiláticas tomadas por seus governantes.

164
UNIDADE 7

Você sabia que em 1995 a malária chegou a fazer 90.000 vítimas na Europa, e era considerada en-
dêmica no Sul desse continente antes e durante a segunda guerra mundial, e que em 2015 a malária
foi considerada erradicada nesse continente? Isso foi possível devido a programas de erradicação da
malária, que se iniciaram ainda em 1955 e estão presentes até hoje.
Imagine o que você pode fazer na sua comunidade para reduzir o número de infectados por malária,
cabe a você, agora, buscar melhorar a qualidade de vida da sua região. Quais doenças parasitárias você
encontrou na sua pesquisa? Essa é uma doença característica da sua região ou ela foi importada de
outras partes do país ou do mundo? Conta para mim quais os meios de transmissão desta parasitose,
e o que você agora vai disseminar para seus futuros pacientes, ou para seus familiares? Você consegue
ajudar alguém com esse conhecimento?

DIÁRIO DE BORDO

O sub-reino protozoa é formado por cerca de 60.000 espécies conhecidas, destas, aproximadamente 10.000
são parasitas e vivem em diferentes animais, dentre eles o ser humano. Os protozoários são constituídos por
uma única célula e apresentam diferentes formas durante a sua vida, essas variáveis formas é um mecanismo
de sobrevivência a diferentes condições e metabolismos, bem como o método em que eles encontraram
com o passar dos anos de realizar sua reprodução, alimentação, locomoção e respiração (NEVES, 2005). O
parasitismo causado por eles é um dos problemas mais graves de saúde do mundo, podendo causar doenças
às quais frequentemente estão associados sintomas não específicos de diferentes manifestações clínicas
a depender do parasita, hospedeiro, estágio de evolução, densidade populacional do protozoário, estado
imunológico do hospedeiro e da capacidade de invasão do parasita (ROCHA; KASHIWABARA; SÁ, 2020).

165
UNICESUMAR

As doenças causadas por esses parasitas são responsáveis por altos índices de morbi-
dade e mortalidade em todo o mundo. Afetam principalmente populações de nível sócio
econômico mais baixo, com condições precárias de higiene, condições geográficas, baixa
escolaridade, zonas empobrecidas e ausência de saneamento básico. Nesse contexto, são
necessárias ações combinadas de saneamento e conscientização da população para o
controle dessas parasitoses. Um sério problema que dificulta a erradicação dessas doenças
é a constante reinfecção em ambientes favoráveis a essas doenças, as quais estudaremos
algumas delas agora, dando início, nesta unidade, ao estudo de amebas.
A primeira evidência histórica da existência das amebas foi em 1875, por Fedor Los-
ch, que encontrou o protozoário em amostras de fezes de Sain Petesburgo, em seguida,
logo em 1903, Fritz Schaudinn estabeleceu a diferença entre a bactéria Escherichia coli
e o protozoário E. histolytica, observando que o parasita causa a lise do tecido, ou seja,
quando Fritz observou o parasita, ele rompia o tecido em que se alojava, o que sabemos
que não acontece quando há infecções bacterianas de E.coli., (originando o nome histo
= tecido, lytica = lise).
A amebíase é a terceira principal causa de morte entre as doenças parasitárias nos países
de baixa e média renda, segundo Nakada-Tsukui et al. (2019), pode causar 73.800 mortes
anualmente por todo o mundo, computando tanto em países desenvolvidos quanto nos
países em desenvolvimento. Neves (2005) vai ainda mais longe com essa estatística, com-
putando a morte de 100.000 pessoas anualmente, sendo a segunda causa de mortalidade
entre as parasitoses. Pode-se estimar, ainda, que 480 milhões de pessoas no mundo estejam
infectadas com a E. histolytica, sendo que 10% desses indivíduos apresentam a forma mais
grave da doença, a qual acomete lesões intestinais ou extraintestinais (NEVES, 2005).
A prevalência da amebíase se dá em sua maior totalidade em regiões tropicais e subtro-
picais, entretanto, veremos ao decorrer da unidade que essa doença está associada a condi-
ções precárias de higiene e alimentação, portanto sua prevalência também está associada
a lugares subdesenvolvidos (PANTOJA et al., 2015). Uma pesquisa realizada entre 2012 e
2016, mostrou que, no Brasil, um total de 14.268 pessoas foram internadas devido a cor-
relações clínicas relacionadas à amebíase, sendo que a região nordeste apresentou 42,28%
dos casos, seguida pela região Norte, com 37,76%, Sudeste com 8,38%, Centro-Oeste com
7,68% e Sul com 3,88%, demonstrando os altos índices e que poderiam ser evitados com
o investimento governamental em medidas educativas (SOUZA et al., 2019).
A Entamoeba pertence ao Reino Protozoa, ao Filo Sarcomastigophora, Superclasse
Sardocina, Classe Lobosea, Ordem Amobida, Familia Entamobidae e Gênero Entamoeba
(NEVES, 2005). A infecção da E. histolytica geralmente acomete o intestino grosso humano,
com o ciclo de vida relativamente simples, compreendendo em 2 estágios, o cisto infeccioso,
o qual entra no corpo humano através de água e alimentos contaminados, e o trofozoíto
invasivo (ameba), que causa lesões em órgãos e é o responsável pelas formas sintomáticas
da doença (GORMANN; CHADE, 2019).

166
UNIDADE 7

Você sabia que, além da E. histolytica, outras espécies de amebas colonizam intestinos de seres
humanos? Entre as mais comuns estão a Entamoeba coli e a Entamoeba hartmanni. Contudo, será
que essa classe de parasita é capaz de colonizar outros órgãos além do intestino? A resposta para essa
pergunta, caro(a) aluno(a), é sim! A Entamoeba gingivalis é a única com essa capacidade, pois habita,
prolifera e coloniza a mucosa oral (NEVES, 2005). Vale lembrar que algumas cepas de Entamoeba são
colonizadoras, mas não são patogênicas em humanos (E. hartmanni, E. coli, E gingivalis, E. chattoni,
E. moshkovskii), isso quer dizer que, embora possam estar presentes, não causarão um estado de doença
(NICHOLS, 2014), as quais não serão abordadas neste livro, limitando-se apenas as de importância
clínica humana, como a E. histolytica.
Em relação à morfologia, costuma-se observar no microscópio eletrônico duas morfologias refe-
rentes à fase evolutiva da E. histolytica, sendo elas o cisto (Figura 1), e o trofozoíto (Figura 2), entre-
tanto há formas evolutivas que são com menos frequência relatadas na literatura, não se restringindo
apenas aos cistos e trofozoítos, são elas: os pré-cistos e metacistos. As amebas se distinguem umas das
outras pelo tamanho do trofozoíto e do cisto, pela estrutura e pelo número de núcleos presentes nos
cistos. Vale ressaltar que, quando você estiver em seu laboratório e receber uma amostra de fezes para
diagnóstico de qualquer parasitose, para o diagnóstico ser certeiro é necessário a observação de mais
de uma estrutura em mais de um exemplar de amostra (NEVES, 2005).
Diferentes grupos foram segmentados baseado no número de núcleos do cisto maduro ou pelo
desconhecimento da forma do cisto. O gênero se caracteriza por possuir núcleo esférico, arredondado
e vesiculoso (NEVES, 2005).

Figura 1 - Cisto de Entamoeba histolytica / Fonte: Atlas de Parasitologia ([2021]a, on-line).

Descrição da Imagem: a imagem mostra um cisto de Entamoeba histolytica, retirada de uma amostra de fezes, com
sua membrana externa bem demarcada e um núcleo central arredondado.

167
UNICESUMAR

Figura 2 - Trofozoíto de Entamoeba histolytica / Fonte: Atlas de Parasitologia ([2021]b, on-line)

Descrição da Imagem: a figura representa a forma de um trofozoíto de E. histolytica, que é mais alongado que o cisto
e com um núcleo arredondado central.

Quando observamos no microscópio de luz cistos com oito núcleos, estamos falando de grupo E. coli
(homem), E. muris (roedores) ou E. gallinarum (aves domésticas). Se chega uma amostra biológica de
fezes e, ao olhar no microscópio, observamos um cisto com quatro núcleos, estamos falando do grupo
E. histolytica e E. díspar (homem), a diferença na prática é que a E. díspar não é patogênica. Entretanto,
se visualizarmos apenas um núcleo, as prováveis espécies de ameba são E. polecki (macacos) e E. suis
(porcos) (NEVES, 2005). O que facilita a identificação é saber a procedência da amostra, bem como
ela estar identificada corretamente. A formação do núcleo está associada ao seu desenvolvimento
evolutivo, dessa maneira, você poderá visualizar cistos de E. histolytica com menos de quatro núcleos,
por isso devemos sempre buscar em diferentes regiões de uma mesma amostra.
O cisto de E. histolytica também possui corpos cromatoides, que podem variar de cisto para cisto,
circundados por uma parede de quitina refrátil, chegando a atingir 10 a 16 mm de diâmetro (GOR-
MANN; CHADE, 2019). As fases evolutivas da amebíase iniciam com os pré-cistos, que são uma fase
intermediária entre o trofozoíto e o cisto, geralmente com características ovais e arredondadas, menor
que o trofozoíto, entretanto, seu núcleo é bem parecido com a forma anteriormente citada. Os metacis-
tos são uma forma multinucleada que emerge do cisto no intestino delgado, onde irá sofrer sucessivas
divisões até formar os trofozoítos. Já a morfologia dos trofozoítos é polimórfica, ou seja, possui duas
ou mais formas evolutivas, variando tanto no seu formato quanto em seu tamanho, oscilando de 10
a 50 µM de comprimento e apresentando apenas um núcleo, entretanto nesta fase, o parasita é móvel
devido ao seu pseudópode.

168
UNIDADE 7

Os trofozoítos são formados por glicogênio, cujo papel é formar vacúolos na me-
dida em que o cisto vai amadurecendo, resultando em quatro núcleos menores no
auge do seu estado de maturação, além de corpos cromatoides e alimentos ingeridos
como bactérias e glóbulos vermelhos (GORMANN; CHADE, 2019).
O mecanismo como a E. histolytica age é um processo gradual, o trofozoíto adere
ao alvo, induz a morte celular por apoptose, isto é, o parasita “engana” a célula hos-
pedeira para ela mesma programar sua morte, e, em seguida, ingere a célula morta
(KATHERINE; WILIAM; PETRI, 2011). Por esse motivo, substâncias como eritró-
citos rompidos são quimioatraentes de E. histolytica, ou seja, atraem o protozoário
para sua região; isso indica que, quando o parasita detecta essa substância, a célula
se polariza e forma os pseudópodes, que são os pseudoflagelos, permitindo a sua lo-
comoção (GORMANN; CHADE, 2019). Dessa maneira, o protozoário entende que
onde há rompimento de células do sangue há alimento para o seu funcionamento e
crescimento, afinal a E. histolytica pode aumentar de tamanho usando o ferro livre
e a hemoglobina, ambos elementos encontrados nas células do sangue (NICHOLS,
2014). Parasitas intestinais podem reduzir em até 20% o ferro ingerido na dieta, e em
até 95% o ferro circulante, sendo uma causa orgânica direta para as anemias. Essa é
uma informação extremamente importante se você está se formando em nutrição,
pois nem todas as anemias são por ausência de ferro ingerido, algumas provém da
lise de hemácias, causada por alguns parasitas (SILVA; GIUGLIARI; AERTES, 2001).
O ciclo de vida desse parasita é monoxeno, ou seja, realizam todo o ciclo em um
único hospedeiro, sendo que a fase de reprodução e desenvolvimento é realizada
em somente um animal (NEVES, 2005). Inicia após a ingestão de alimentos con-
taminados, os cistos passam pelo estômago, resistindo à ação do suco gástrico e
desencistam no intestino delgado ou no início do intestino grosso. O metacisto é,
então, liberado através de uma pequena fenda na parede do cisto, sofrendo sucessivas
divisões nucleares e citoplasmáticas, originando quatro e depois oito trofozoítos,
dando início à forma parasitária que migra, coloniza, invade e se adere ao intestino
grosso, os trofozoítos metacísticos. Nesse estágio, o parasita é anaeróbio e se alimenta
de bactérias e detritos celulares, podendo causar úlceras intestinais em muitos casos.
Ainda por razões desconhecidas, eles se desprendem da parede intestinal e, na luz do
intestino grosso, podem sofrer a ação da desidratação, eliminar substâncias nutritivas
presentes em seu citoplasma e se transformar em pré-cistos, em seguida, eliminam
uma membrana cística e se transformam em cistos novamente, inicialmente mo-
nonucleares, em que, por sucessivas divisões nucleares, se transformarão em cistos
tetranucleados, onde serão eliminados nas fezes que potencialmente poderão infectar
outro ser humano (NEVES, 2005).

169
UNICESUMAR

Ciclo de vida da Entamoeba histolytica

Extraintestinal

Entamoeba histolytica Encistamento

Desencistamento

Cistos e trofozoítos
passados pelas fezes

Figura 3 - Ciclo de vida do parasita E. histolytica

Descrição da Imagem: a figura está representando o ciclo de vida do E. histolytica, que está disposto de maneira circular
em sentido horário. O ciclo inicia com a ingestão de cistos contaminados com o parasita, esses cistos possuem forma
arredondada e núcleo central oval, seguido pela excisão do cisto no lúmem intestinal, após ter passado pelo estômago
e ter sofrido ação do suco gástrico. A maturação dos trofozoítos é alcançada e com isso sua reprodução é acentuada,
via divisão binária, permanecendo em vida livre ou no intestino. O ciclo reinicia quando os cistos são eliminados pelas
fezes, contaminando alimentos ou água que será ingerida por outro ser humano.

Caro(a) aluno(a), você já se perguntou o que acontece quando a relação parasito-hospedeiro é rompida?
Já vimos que o cisto é a forma infectante, mas quando o trofozoíto resolve passear pelo corpo humano,
colonizando outros órgãos, o que isso pode causar naquele indivíduo? Neste caso, os trofozoítos inva-
dem a mucosa intestinal, multiplicando-se cada vez mais no interior das úlceras, pois eles se alimentam
de detritos, lembram?! Isso pode fazer que eles alcancem outros órgãos como fígado, pulmão, rim e o
cérebro através da circulação sanguínea, causando um quadro de amebíase extraintestinal, alcançando
a forma invasiva ou virulenta (NEVES, 2005).

170
UNIDADE 7

A maioria das infecções por E. histolytica é assintomática, o próprio organismo consegue conter
a doença, no entanto, cerca de 4 a 10% desses indivíduos desenvolvem um quadro de disenteria ame-
biana, ou as formas extraintestinais da doença. Entre os sintomas da disenteria amebiana aguda, os
indivíduos apresentam dores abdominais, diarreia com presença de muco e sangue nas fezes, além de
náuseas, vômitos, anemia, cefaleia e febre (DULGHEROFF et al., 2015).
Sabemos agora que alguns fatores do hospedeiro podem tornar a E. histolytica mais virulenta, sinto-
mática e mortal. Em um estudo realizado no Zimbábue, onde há uma alta incidência de HIV (observe
que este, por si só, já se faz um agravante, pois sabemos que esse vírus afeta células do sistema imune),
analisou mulheres grávidas e seus bebês com no máximo 14 semanas. O estudo objetivava investigar
a resposta imune dessas mães que amamentam ainda seus filhos recém-nascidos. Os pesquisadores
concluíram que citocinas e quimiocinas pró-inflamatórias são altamente aumentadas em mães lac-
tantes com esse patógeno entérico, sendo verificados os perfis de citocinas em mulheres grávidas e
seus bebês para auxiliar na tomada de decisões relacionadas ao tratamento e prevenção em tempos
de pandemias (NHIDZA et al., 2020).
Os dejetos humanos podem contaminar alimentos, bem como a água (Figura 4), sendo o principal
meio de transmissão dessa zoonose a ingestão de alimentos com cistos de E. histolytica, além de que
alguns portadores assintomáticos que manipulam alimentos contaminados são disseminadores da
doença (PANTOJA et al., 2015).

Figura 4 - Imagens de contaminação hídrica, a qual é um dos principais meios de transmissão desta parasitose

Descrição da Imagem: na imagem, há a ilustração de um bueiro com características arredondadas, eliminando dejetos
como água contaminada.

171
UNICESUMAR

Os trofozoítos estão presentes apenas no corpo humano, e não desempenham papel na transmissão da
amebíase, com exceção em casos de transplantes de órgãos, sendo então o cisto o meio comum prin-
cipal de contaminação. Como a E. histolytica também não é encontrada em animais de característica
agrícola, a fonte de infecção principal é o próprio homem, levando em consideração que os ovos podem
sobreviver por dias nas fezes e por até um período de 3 meses fora do corpo a temperaturas que chegam
perto de 0 °C, além de sobreviver até 30 dias na água em temperatura moderada (NICHOLS, 2014).
No Brasil, a amebíase é um sério problema de saúde pública, sendo que a prevalência de E. histolytica
varia muito de região para região do país, como já foi descrito ao decorrer da unidade (DULGHE-
ROFF et al., 2015). Tanto a E. histolytica quanto a E. díspar são parasitas humanos, anaeróbios, que
possuem trofozoítos com apenas um núcleo. Ambos são morfologicamente indistinguíveis usando a
microscopia de luz, sendo encontrados muitas vezes em laudos médicos como Entamoeba histolyti-
ca/E.dispar (NICHOLS, 2014). A prevalência da E. histolytica é superestimada no Brasil devido a essa
semelhança, sendo apenas diferenciada uma da outra por meio de testes mais caros como PCR e ELISA
(DULGHEROFF et al., 2015). Os casos de não notificações também das parasitoses contribuem para
não termos uma estatística segura e certa ainda sobre os números da doença.
Devido à semelhança entre as espécies de Entamoeba, a utilização de métodos de pesquisa de cistos
e nas fezes e de técnicas de biologia molecular são essenciais para um entendimento epidemiológico
da doença, além de conduzir para uma correta conduta terapêutica, o que ajuda a prevenir a resistência
dos parasitas à medicação. O diagnóstico, então, dessa doença é feito pela detecção do parasita nas
fezes, testes imunológicos, PCR e ELISA, métodos esses que estudaremos mais à frente.
Microscopicamente é possível achar, em portadores da amebíase, cristais de Charcot-Leyden (Fi-
gura 5) nas fezes, sangue e os próprios trofozoítos de E. histolytica, o que é indicativo de amebíase,
podendo ser confirmado pelo exame de PCR (reação da polimerase em cadeia), o qual através de testes
sorológicos busca detectar o próprio DNA do parasita (DULGHEROFF et al., 2015).

Figura 5 - Cristais de Charcot-Leyden, encontrados em amostras de fezes de pacientes com E. histolytica

Descrição da Imagem: na imagem, estão ilustrados os cristais de Charcot-Leyden, que foram retirados de uma amostra
de fezes. Esses cristais têm o formato alongado e com as pontas finas.

172
UNIDADE 7

A prevenção da amebíase é simples e está relacionada com medidas de educação sanitária, bem como
lavar bem as mãos, corretamente como na Figura 6, e os alimentos crus e ferver água antes de ingeri-la.
Aos manipuladores de alimentos, é aconselhável fazer exames frequentemente, para diagnosticar os
possíveis portadores assintomáticos.

Figura 6 - Sequência correta na lavagem de mãos, para profilaxia de parasitas e outras doenças

Descrição da Imagem: imagem demonstra a sequência de oito pares de mãos fazendo a higienização para profilaxia
de parasitas e outras doenças. Da esquerda para direita, a primeira mão está apertando um frasco e a outra mão
recebendo o sanitizante, e os outros pares de mãos estão ensaboados e mostrando os movimentos que devem ser
feitos para uma lavagem de mãos correta.

Você sabia que os cistos de E. histolytica podem viver por até 10 minutos longe de material
fecal ou por até 45 minutos, se estiverem presos em material fecal, embaixo de nossas unhas?
(NICHOLS, 2014). Por esse motivo, hábitos corretos de higiene podem evitar inúmeras doenças.
Agora que você aprendeu como evitar a contaminação por esse parasita, sugiro que dissemine
seu conhecimento para poder ajudar outras pessoas também.

Vamos conhecer agora um outro parasita pertencente ao gênero Giardia, compreende em parasitos
flagelados, que colonizam o intestino delgado de mamíferos, aves, répteis e anfíbios, sendo o primeiro
protozoário a ser conhecido. A descoberta da Giardia é atribuída a Antonie Van Leewenhoek, 1681,
que observou em suas próprias fezes uma célula com formato de lágrima e com diversas ‘patinhas’, o
que demorou quase 300 anos para os cientistas desvendaram a biologia desse parasita (KARI et al.,
2020). Atualmente conhecemos três espécies de importância médica de Giardia, são elas: Giardia
duodenalis, que infecta e coloniza humanos e outros mamíferos, bem como aves e répteis, Giardia
muris, que costuma colonizar roedores, aves e répteis, e Giardia agilis, que infecta apenas anfíbios
(PANTOJA et al., 2015).

173
UNICESUMAR

A Giardia spp. é um protozoário unicelular, de estrutura simples e que apresenta duas formas evo-
lutivas, o trofozoíto e o cisto. Alguns autores mais recentes trazem um terceiro estágio denominado
de excizoíto, que difere do trofozoíto pela ausência do disco ventral, que ainda não foi formado, e pela
presença de quatro núcleos tetraploides (MOREIRA et al., 2020).
Os cistos (Figura 7) possuem cerca de 8 a 12 µm, com um formato oval, formados por dois ou quatro
núcleos e um número variável de flagelos, sendo a forma responsável pela transmissão da Giardíase.
Uma característica que confere ao cisto resistência a variações de temperatura, umidade e a alguns
produtos químicos é que sua parede celular é formada por glicoproteínas. Os cistos, quando corados,
podem mostrar uma delicada membrana destacada do citoplasma; essa forma evolutiva pode ser
eliminada em grande número com as fezes do hospedeiro, podem permanecer infecciosos por meses
na água em áreas frias e úmidas (DIXON, 2020).

Figura 7 - Forma contaminante de Giardia lamblia / Fonte: Pixnio ([2021]a, on-line).

Descrição da Imagem: a figura mostra em olhar microscópico um cisto em amostras fecais. Podemos observar nessa
imagem seu formato oval e a dificuldade em contar os núcleos presentes no parasita.

A outra forma é a responsável pela manifestação clínica da giardíase, os trofozoítos (Figura 8) (LI et
al., 2018), que possuem um formato de pêra e 8 flagelos, que são organizados em 4 pares simétricos
(anterior, caudal, ventral e posterior), corpos basais que ficam localizados entre os dois núcleos na parte
anterior, chegando a medir cerca de 20 µm de comprimento por 10 µm de largura (KARI et al., 2020).

174
UNIDADE 7

A B
Corpos basais Núcleo
Flagelos Disco ventral
anteriores

Flagelos Corpo mediano


posteriores

Flagelos
ventrais Flagelos
caudais

Figura 8 - A Figura (a) se trata de um trofozoíto de Giardia spp. Na Figura (b), identificamos, por meio de um desenho esque-
matizado, as estruturas de maneira didática, o que auxilia na comparação e diferenciação das estruturas da imagem anterior
Fonte: Pixnio ([2021]b, on-line) e Shutterstock.

Descrição da Imagem: (a) Fotografia de uma microscopia eletrônica de varredura do parasita Giardia spp., mostrando
o núcleo arredondado envolto por uma segunda membrana que também serve de suporte para oito flagelos. A ima-
gem (b) corresponde a um desenho esquematizado, didático, evidenciando melhor dois núcleos apicais e oito flagelos,
distribuídos ao longo da célula parasitária.

Os trofozoítos possuem três espécies de discos, ventral, adesivo e suctorial, os quais têm sido uma es-
trutura constituída por microtúbulos e microfilamentos, e vêm sendo considerados uma importante
ferramenta que o parasita se utiliza para aderir à mucosa intestinal, junto com os flagelos, que exercem
a pressão necessária para a adesão na mucosa. Os trofozoítos de Giardia também possuem uma série
de vacúolos abaixo da membrana citoplasmática, o qual acredita-se possuir um papel de pinocitose de
partículas de alimento. No citoplasma dessa forma evolutiva, são observados retículo endoplasmático
e ribossomo, entretanto não são observadas mitocôndrias (NEVES, 2005).
O ciclo da Giardia é monoxeno, ou seja, precisa de apenas um indivíduo para reproduzir e proliferar.
A infecção de Giardia sp. inicia através da ingestão de cistos viáveis oriundo de água ou alimentos
contaminados. Esses cistos chegam ao estômago e, através dos estímulos causados pela presença do
ácido gástrico e das enzimas pancreáticas, começam o desencistamento. Como resultado, um exci-
zoíto, que é um estágio mediano entre o cisto e o trofozoíto, sofre duas divisões binárias longitudinal,
onde de quatro núcleos, originam-se 4 trofozoítos. É nesse processo de divisão que ocorre a formação
do disco adesivo, a regulação de proteínas ligadas à motilidade, ou seja, a movimentação do parasita,
bem como a formação de organelas e o aumento da expressão gênica do parasita. Os trofozoítos são
originários de duas divisões binárias, se replicando no duodeno e jejuno, colonizando o intestino
delgado. Em seguida, no ceco e no íleo, o trofozoíto passa por um processo de encistamento devido à
falta de colesterol, ao pH alcalino e ao excesso de sais biliares, degradando suas proteínas e formando
vesículas específicas da parede do cisto, que se mantêm em sua forma mais resistente, até, então, ser
eliminados nas fezes, contaminar o ambiente e reiniciar o ciclo (MOREIRA, 2020). A Figura 9 mostra
como ocorre a infecção por Giardia spp.

175
UNICESUMAR

Ciclo de vida da Giardia lamblia

Multiplicação

Encistamento

Giardia lamblia

Encistamento

Infecção cística Cistos e trofozoítos


passados pelas fezes
Figura 9 - Desenho esquematizado do ciclo biológico da Giardia spp. A ingestão de cistos por meio de alimentos contaminados
passa rapidamente para o estágio de trofozoíto, que se aderem à parede intestinal e se multiplicam por divisão binária, resul-
tando em dois trofozoítos binucleados. O ciclo se completa com o encistamento do parasita para a sua posterior eliminação e
possivelmente uma nova contaminação

Descrição da Imagem: o ciclo se inicia no sentido horário, o encistamento vai gerar cistos ovais e com núcleos re-
dondos, e trofozoítos, com oito flagelos, dois núcleos bem definidos no ápice do parasita, que serão eliminados pelas
fezes. O cisto infectado atinge outro indivíduo, que passa, então, por um processo de desencistamento e multiplicação
do parasita dentro do hospedeiro, esse parasita é novamente encistado e eliminado nas fezes, reiniciando o ciclo.

176
UNIDADE 7

Já parou para pensar na consequência da ligação do trofozoíto nas células epiteliais que revestem o
intestino delgado? Anatomicamente, o intestino possui inúmeras microvilosidades, as quais servem para
a absorção de nutrientes e água. A Figura 10 tem como resultado o encurtamento dessas microvilosida-
des, o que dificulta ao hospedeiro o processo de absorção, resultando em um estado de desnutrição se a
infecção for prolongada por muito tempo (DIXON, 2020). Os trofozoítos podem colonizar o intestino
do hospedeiro por semanas a anos, dependendo das condições e dos mecanismos de sobrevivência do
parasita, além de sua capacidade de escapar das células imunes.

A transmissão ocorre por via


oral-fecal, onde os humanos e
os animais são infectados ao in-
gerirem os cistos de Giardia. Os
cistos podem estar presentes na
água, nos alimentos ou em am-
biente contaminado com fezes. A
falta de higiene na manipulação
de alimentos também pode resul-
tar em uma contaminação dire-
ta, além de se acreditar em uma
transmissão zoonótica (PANTO-
JA et al., 2015).
Segundo Moreira et al.
(2020), existem quatro princi-
pais ciclos de transmissão que
podem interagir entre si, e por
esse motivo são responsáveis pela
manutenção de Giardia sp. em
hospedeiros: o ciclo em animais
selvagens, animais de criação,
animais de companhia e o ciclo
humano. Todos eles podem estar
interligados com transmissões
diretas ou por água contaminada.

Figura 10 - Infecção de Giardia spp. em uma porção do intestino


Fonte: Wikimedia Commons (2019, on-line).

Descrição da Imagem: a imagem mostra uma biópsia da mucosa intestinal.


É possível observar que o parasita predomina sobre as células da mucosa
do intestino, afetando sua absorção de nutrientes que foi comprometida
com a perda das microvilosidades.

177
UNICESUMAR

Você, aluno(a) da área da saúde, já deve ter estudado as células que


fazem parte do sistema imunológico. A imunidade inata é uma im-
portante parte do sistema imunológico que fornece uma defesa não
específica para infecções de todo tipo, inclusive parasitárias. Dentre
essas células, estão as células dendríticas, que reconhecem o parasita
e junto com os macrófagos são as células imunes mais abundantes
do corpo e produzem a resposta imune inicial quando reconhecem
o cisto de Giardia (LI et al., 2018). Para saber mais sobre essa ligação, macrófago:trofozoíto,
sugiro a leitura do artigo “Mouse macrophages capture and kill Giardia lamblia by means of
releasing extracellular trap”, publicado em 2018, que aprofunda uma interessante discussão
sobre a luta do sistema imunológico de ratos, animais modelos, contra a Giardia lamblia.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

A maioria das infecções por esse parasita é assintomática, mas quando a doença se apresenta sintomática,
normalmente o período de incubação varia de 1 – 2 semanas após a exposição (ADAM, 2020). Contudo,
por que em alguns casos a doença se apresenta sintomática e em outros é assintomática? A gravidade da
doença depende de múltiplos fatores do parasita e do estado imunológico do hospedeiro, podendo causar
diarreia severa, má absorção e perda de peso nos estados mais graves (LI et al., 2018), outro motivo pode
estar associado à virulência da cepa e ao estado nutricional do hospedeiro (DIXON, 2020).
Medidas de higiene pessoal sempre são uma boa opção para evitar as parasitoses, além de sempre lavar
corretamente alimentos e ferver a água para que os cistos parasitários sejam destruídos, pois muitas vezes
os cistos de Giardia são resistentes ao cloro. Controlar infecções em animais domésticos, tais como cães
e gatos, também é de suma importância, pois podem ser hospedeiros também (PANTOJA et al., 2015).
Para o diagnóstico de Giardíase, três amostras são avaliadas esporadicamente, por exemplo, é
recomendado a coleta de três amostras de fezes seriadas, ou seja, a cada 2 ou 3 dias (DIXON, 2020).
Os cistos são mais comumente encontrados do que os trofozoítos, entretanto quando há esse estágio
do parasita na amostra, eles se relacionam à infecção sintomática (ADAM, 2020). Um diagnóstico
definitivo de giardíase é feito por meio de exames microscópicos de fezes, via detecção de cistos ou
menos comumente por meio de anticorpos fluorescentes (DIXON, 2020). Os testes recomendados que
detectam cistos em amostras fecais são por imunofluorescência ou cromatografia de detecção, pois
têm uma precisão maior (ADAM, 2020). Entretanto, a realidade dos laboratórios de rotina de análises
clinicas não condiz com os testes recomendados, por esse motivo a microscopia de luz é o método de
diagnóstico mais acessível, podendo ser mais trabalhosa e exigir uma maior experiência por parte do
microscopista (DIXON, 2020).

178
UNIDADE 7

Você já deve ter ouvido falar em malária/Plasmodium, toxoplasmose/Toxoplas-


ma spp. ou criptosporidiose/Cryptosporium, são doenças e seus agentes etiológicos
de importância humana e alvo de inúmeras pesquisas científicas que pertencem a
esse Filo denominado Apicomplexa, mesmo assim, muitos aspectos de sua biologia
permanecem um mistério, como sua árvore genealógica, a organização de seus cistos,
sua ultraestrutura e principalmente seu padrão de vida, tornando um filo difícil de
trabalhar (MORRISON, 2009). Muitas das espécies deste Filo são patógenos a ani-
mais domesticados, além dos humanos, embora se acredite que em todos os animais
exista um parasita apicomplexo (MORRISON, 2009). Vamos conhecê-los agora, ao
decorrer desta unidade, dando destaque aos que possuem importância clínica maior,
pois você verá que é um filo com mais de 5000 espécies.
Esse Filo agrupa milhares de diversos parasitas intracelulares obrigatórios, não
fotossintéticos, que são capazes de infectar uma variedade de hospedeiros invertebra-
dos e vertebrados. A classificação é baseada em características fenotípicas, como seu
hospedeiro, ou vetor que está associado, bem como em quais tecidos habitam, e essa
classificação é claramente definida em quatro grupos, são eles: coccidios, gregarines,
haemosporidians e os piroplasmids (MORRISON, 2009). A vida desses parasitas é
complexa e individualizada, entretanto seus membros compartilham propriedades
básicas como a capacidade da célula de se apicomplexar para deixar a célula hos-
pedeira e migrar para outras células mais saudáveis, se alimentar, crescer dentro de
células viáveis e posteriormente se dividir em inúmeras e pequenas outras células
parasitárias, em um processo chamado de esquizogônia que veremos mais à frente
desta unidade (BERMAN, 2012).
Na verdade, qual é a estrutura que auxilia esses parasitas que migraram e infecta-
ram com tanta facilidade? Essa estrutura se chama complexo apical, é definido pela
presença de uma estrutura composta por organelas secretoras e elementos específi-
cos do citoesqueleto, ou seja, são estruturas morfológicas únicas no polo apical dos
parasitas, que dão base para a classificação científica desse Filo (BERMAN, 2012).
Todos os membros dessa classe possuem uma estrutura que auxilia a invadir células
animais, explicando o nome Apicomplexa.
O complexo apical pode ainda ser dividido em três regiões. A primeira região é
denominada IMC (complexo da membrana interna), que é a porção mais apical de
todo o complexo, constituída de membranas, cisternas e microtúbulos, que confere
a função estrutural. A segunda estrutura chamada de conoide, formada por cones
de fibras ricas em tubulina, localizado dentro do anel, serve como organizador de
microtúbulos. A terceira estrutura deste complexo apical é formada por organelas
secretoras chamadas de micronemas e roptrias, que são responsáveis por disseminar
de maneira regulada o parasita (SEEBER; SOLDATI-FAVRE, 2010).

179
UNICESUMAR

Uma característica importante, biológica e evolutiva é datada com mais de 50 anos atrás, uma estru-
tura presente em vários protozoários deste Filo começou a ser observada e estudada, tratava-se de uma
estrutura rodeada por membranas, entretanto não possuía as funcionalidade nem a similaridade com
uma mitocôndria, ou retículo endoplasmático ou um aparelho de Golgi, ou qualquer outra estrutura
já conhecida do Filo Apicomplexa, essa estrutura parecia-se com um plasmídeo e foi denominada de
apicoplasto. As evidências foram ainda mais longe, com a descoberta de um DNA extracromossômico
circular de 35 Kb em um Plasmodium falciparum, o qual codificava RNA polimerase com uma seme-
lhança assustadora dos genes do cloroplasto, estabelecendo uma conexão alga-Apicomplexa (SEEBER;
SOLDATI-FAVRE, 2010). O DNA contido nesse apicoplasto faz a expressão de vários genes envolvidos
com a sobrevivência do parasita, além de síntese de proteínas ribossomais, proteínas relacionadas com
a replicação do DNA, transcrição, entre outros processos moleculares essenciais para a vida de qualquer
organismo, e não é só isso, o apicoplasto está envolvido também com ciclos metabólicos, biossíntese
de ácidos graxos, dentre outros processos bioquímicos (SUSSMANN, 2015).
Certamente a descoberta do apicoplasto pode ser considerada um avanço neste campo, você con-
segue imaginar o porquê? Diversas linhas de pesquisa foram iniciadas visando encontrar um fármaco
que inativa a biossíntese de membranas, ou interfira nas vias metabólicas localizadas no apicoplasto,
nos processos de transcrição e replicação do DNA parasitário. Essa é uma descoberta recente com
inúmeras possibilidades para você que quer seguir o campo da pesquisa científica.

A malária em 2019 fez 229 milhões de vítimas, em 87 países diferentes,


matou 736.000 pessoas entre os anos de 2000 – 2009, atingiu cerca
de 12 milhões de mulheres grávidas. Esses são dados de um aplicativo
chamado de World Malaria Report, desenvolvido pela Organização
Mundial da Saúde, o qual vem sendo extremamente proativo no
desenvolvimento de medidas adicionais de controle dessa doença.
Trata-se de um aplicativo de livre acesso, que qualquer smartphone
consegue baixar e acessá-lo. No aplicativo, você encontrará de forma rápida inúmeras infor-
mações sobre a doença, como taxas de mortalidade, incidência, prevalência, como a doença
se desenvolve em mulheres grávidas, como é feita sua prevenção, qual a porcentagem de
casos em indígenas, quais vetores, tratamento, dentre outras informações interessantíssimas
para você que busca sempre mais conhecimento.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

180
UNIDADE 7

Uma doença que pode ser transmitida por esse Filo é a malária, que, apesar de muito antiga, continua
sendo um dos principais problemas de saúde pública pelo mundo, acometendo cerca de 300 milhões
de pessoas em áreas subtropicais e tropicais ao redor do mundo, sendo a protagonista de milhares de
mortes (NEVES, 2005). Essa doença é causada por um protozoário da família Plasmodiidae, gênero
Plasmodium, sendo que quatro espécies podem parasitar o homem, dentre elas: P. falciparum, P.
malariae, P. ovale e P. vivax. Devido sua prevalência em zonas tropicais e subtropicais, a malária é
transmitida pela picada do mosquito Anopheles (Figura 11), que necessita dessa temperatura específica
para reprodução (PANJOTA, 2015).

Figura 11 - Mostra os vetores responsáveis por transmitir a malária. (a) Anopheles albitarsis; (b) Anopheles darlingi; (c) Anopheles
aquasalis; (d) Anopheles gambiae / Fonte: Blog Conhecendo a Malária (2015, on-line).

Descrição da Imagem: a figura (a) mostra um dos tipos de mosquito transmissor de doenças, ele possui o corpo alon-
gado com o final das finas patas esbranquiçado. Na figura do lado direito superior, outra espécie de mosquito com o
corpo alongado e as patas marrons. A figura abaixo, no canto esquerdo, representa outro mosquito transmissor da
malária, este possui uma coloração mais escura-avermelhada, com as patas longas e com tracejados esbranquiçados.
A figura abaixo, na direita, representa um mosquito com coloração mais clara que os demais, apresentando, também,
tracejados esbranquiçados no final de suas patas.

181
UNICESUMAR

O ciclo de vida dos plasmódios é complexo e precisa de dois hospedeiros para sobreviver, um vertebrado
e outro invertebrado. Iniciaremos nosso estudo pelo ciclo dos vertebrados, neste caso o ser humano.
É nesse ciclo (Figura 12) que acontece toda a reprodução assexuada chamada de esquizogônia, que
mencionamos no início da unidade. Esse ciclo é dividido em hepático e eritrocitário. Quando a fêmea
do mosquito vetor infectada com Plasmodium realiza o repasto sanguíneo, transfere os esporozoítos
pela sua saliva, estes são lançados nos arredores dos capilares e começam a fazer movimentos circula-
res, o que permite que eles adentrem nos capilares sanguíneos, atingindo após 15 minutos a corrente
sanguínea e alcançando o fígado (SUSSMANN, 2015).

6. Quando o mosquito pica uma


5. Outros merozoítos
pessoa infectada, os gametócitos
transformam-se em são absorvidos e amadurecem
precursores de gametas no intestino do mosquito
machos e fêmeas

7. O gametócito
macho se funde
4. Os merozoítos ao gametócito
infectam as fêmea, dando
celulas origem ao
vermelhas, onde oocisto
se transformam No mosquito
em trofozoítos
e esquizontes

No humano 8. O oocisto
transforma-se
em novos
3. No fígado, os esporozoítos que
esporozoítos se migram para a
reproduzem glândula salivar
assexuadamente dos insetos
(esquizogônia),
produzindo
centenas de
merozoítos Células 1. Mosquito transmite
infectadas o esporozoíto
2. O esporozoíto encontra a
do fígado
corrente sanguínea e vai em
encontro das células do fígado
Figura 12 - Ciclo de vida da Malária

Descrição da Imagem: a figura acima representa o ciclo evolutivo da malária. Dividindo a imagem em duas partes, na
parte direita temos o ciclo da malária no mosquito e todas as suas fases, já à esquerda, é possível evidenciar o ciclo
evolutivo da malária no ser humano.

182
UNIDADE 7

No início do ciclo hepático, os esporozoítos invadem o hepatócito e se diferenciam em


trofozoítos, multiplicando-se assexuadamente por esquizogônia, originando trofozoí-
tos teciduais e posteriormente merozoítas. Os merozoítas irão invadir os eritrócitos
após rompimento das células hepáticas, que darão acesso novamente à circulação
sanguínea. O ciclo eritrocitário se inicia então com essa invasão, que servirá como
estágio de desenvolvimento do Plasmodium, podendo encontrar diferentes formas
parasitárias dentro de uma mesma hemácia, tais como trofozoíto jovem, trofozoíto
maduro e esquizonte. Ocorre, então, mais uma divisão por esquizogônia, onde cada
merozoíta dará origem a diferentes esquizontes de acordo com a espécie parasitária,
isso faz que lise a membrana do eritrócito, liberando parasitas para a corrente sanguí-
nea, onde irão infectar mais células vermelhas. Cada ciclo sanguíneo se repete várias
e várias vezes, a cada 48 horas por infecções em P. falciparum, P. vivax e P. ovale, e
a cada 72 horas em P. malariae, podendo originar um estado febril no hospedeiro
(SUSSMANN, 2015).
Após algum tempo, por razões ainda desconhecidas, eles se diferenciam em ga-
metócitos (masculino e feminino), e a partir desse momento não sofrem mais ne-
nhuma divisão e são encontrados no sangue periférico por um período de até 60 dias
(SUSSMANN, 2015). O ciclo no invertebrado se inicia com a fêmea do mosquito
Anopheles ingerindo esses gametócitos, aos quais vão para o interior do intestino
médio do mosquito, onde se reproduzem sexuadamente por esporogônia. Após 24
horas de fecundação, o zigoto se diferencia em oocineto e migra para a parede intes-
tinal, alojando-se no epitélio, o oocineto se contrai na camada epitelial do intestino
do mosquito, dando origem ao oocisto. A partir desse momento, dá início a uma di-
visão esporogônica, e após 14 dias o oocisto se rompe, liberando os esporozoítos que
serão disseminados por todo o corpo do mosquito, até atingir as glândulas salivares
que serão novamente injetados nos capilares sanguíneos humanos, quando a Fêmea
realizar o repasto (PANTOJA et al., 2015).
Apenas uma fase do ciclo parasitário é responsável pela manifestação dos sinto-
mas e pela patologia da doença, essa é a fase eritrocitária, você consegue imaginar o
porquê? Imagine você recebendo uma amostra de sangue de um paciente portador
de malária, quais seriam as possíveis alterações nessa amostra, sabendo que o para-
sita promove uma destruição dos eritrócitos? Esse paciente poderia apresentar um
quadro anêmico? E a medula, trabalharia mais para repor essas hemácias lisadas?
Será que o baço estaria hiperativo também para retirar de circulação esses eritrócitos
destruídos? Quais outras alterações você poderia sugerir?

183
UNICESUMAR

Ainda analisando o sequestro de células vermelhas, que acontece durante o ciclo


do Plasmodium, para o desenvolvimento do parasita, ocorre uma modificação na
superfície da célula parasitada, isso ocorre para permitir a adesão na parede endotelial
dos capilares. Imagine que você está dirigindo um automóvel em uma via rápida e
movimentada, e sem motivo aparente o carro à sua frente para, e você colide com ele, e
o carro atrás de você colide também, e assim sucessivamente. Isso é o que acontece com
as hemácias quando há a formação dessas rosetas, tanto com hemácias parasitadas
quanto com hemácias não parasitadas, podendo até obstruir vias, além de acometer
órgãos como pulmão, rins e cérebro, o que chamamos de malária cerebral, uma das
formas mais graves da doença (NEVES, 2005; GOMES et al., 2011).
Outra manifestação clínica da malária é a febre, você sabe o que acontece em
nossas células imunes quando estamos com febre? A febre é o resultado da liberação
de pirogênio endógeno pelos monócitos e macrófagos, aos quais são ativados nesse
caso por toxinas produzidos pelo parasita (NEVES, 2005).

Você sabia que a malária matou quase 400.000 pessoas em 2019? Visando
reduzir esse número, 15 laboratórios líderes em pesquisa buscaram acele-
rar o processo inicial da descoberta de medicamentos antimaláricos. Essa
pesquisa, além de explanar sobre o ciclo da malária, mostra os principais
alvos de muitos medicamentos que podem ser utilizados em cada estágio
do ciclo, auxiliando na estratégia de combater a doença. Atualmente são
utilizados no tratamento da malária, produtos naturais como quinino e
artemisina, entretanto, assim como acontece com bactérias, os parasitas
estão desenvolvendo resistência a determinados medicamentos. Pensan-
do nisso, nos últimos 15 anos, mais de sete milhões de compostos foram
utilizados contra o parasita na sua forma assexuada. Se você se interessou
e gostaria de saber mais sobre esse item, o artigo se encontra nesta pla-
taforma científica, sendo de livre acesso.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

184
UNIDADE 7

A profilaxia da malária se resume ao combate do mosquito, e deve ser realizada pelo indivíduo e pelo coletivo.

MEDIDAS DE
PROFILAXIA

INDIVIDUAIS COLETIVAS

Evitar o contato com Melhorar o saneamento


o mosquito com o básico, evitando assim a
uso de repelentes formação de criadouros
do mosquito

Evitar se aproximar
de áreas endêmicas
Combater o vetor
adulto, com borrifões de
inseticidas em paredes
Evitar sair ao entardecer
e logo ao amanhecer

Combater larvas
Uso de telas em do mosquito
portas e janelas

Figura 13 - Fluxograma esquematizando meios de prevenir a contaminação por malária / Fonte: a autora.

Descrição da Imagem: esta é uma imagem de um fluxograma, com as caixas de diálogo retangulares, as quais dividem
as medidas profiláticas de modo coletivo, descritas em verde, e individuais, descritas em rosa.

Aprendemos sobre diferentes parasitas durante esta unidade,


dentre eles a Entamoeba histolytica, Plasmodium spp. e Giardia
lamblia, porém agora neste Podcast eu vou explicar de maneira
descontraída como cada doença causada por seus respectivos
Agentes etiológicos é adquirida, vem comigo!

185
UNICESUMAR

A curcumina é um componente ativo do açafrão-da-índia, possui


uma ampla gama de propriedades farmacológicas, incluindo ati-
vidades antioxidante e anti-inflamatórias, além de vários pesqui-
sadores relatando sua ação contra parasitoses como Leishmania
spp., Plasmodium falciparum e Giardia Lamblia. Pesquisadores do
México relataram que esse ativo tem demonstrado efeito citotóxico
na Giardia lamblia, por um mecanismo ainda desconhecido, além
de alterar as estruturas do citoesqueleto e reduzir a expressão gênica
da tubulina em trofozoítos. Os pesquisadores comprovaram que
a curcumina inibe a fixação e o crescimento dos trofozoítos, alte-
rando a morfologia do parasita e impedindo que se fixe na mucosa
intestinal (GUTIÉRREZ-GUTIÉRREZ et al., 2017). Novos ativos
são descobertos dia após dia, seja para uso no combate de bactérias,
fungos, parasitas, antioxidantes, antidepressivos, antilipêmicos etc.
O uso potencial desses novos fármacos abre um leque para você
estudante da área da saúde, auxiliar a reduzir as mortalidades por di-
versas doenças e melhorar a qualidade de vida de inúmeras pessoas.

186
Caro(a) estudante, aqui, encerramos mais uma etapa de conteúdo desta disciplina tão importante
para sua formação. Aprendemos muito sobre algumas parasitoses do Reino Protozoa, entre elas
a amebíase e a giardíase. Agora sabemos como elas são transmitidas, como se replicam, e discu-
timos quais os cuidados básicos que devemos ter para deixarmos esses parasitas bem longe de
nosso convívio. Descobrimos, ainda, um Filo com um grande grupo de protozoários, apicomplexos,
enfatizamos uma doença que tanto afeta a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo, que
é a malária e como ela é transmitida e evitada. Sendo assim, proponho que, diante do Mapa da
Empatia a seguir, preencha os campos com base em suas experiências no decorrer desta unidade.

O QUE
PENSA E SENTE?

O QUE O QUE
OUVE? VÊ?

O QUE
FALA E FAZ?

QUAIS SÃO AS DORES? QUAIS SÃO AS NECESSIDADES?

MAPA MENTAL

187
1. Uma das principais doenças de saúde pública relacionadas a parasitoses é a amebíase.
Essa doença costuma fazer milhares de vítimas fatais todo ano, entretanto, sabemos
que sua transmissão pode ser evitada mediante medidas higiênicas. Baseado nos seus
conhecimentos sobre a amebíase, assinale a alternativa correta a respeito de como a
Entamoeba histolytica é transmitida.
a) Pela picada de um inseto e coloniza o intestino.
b) Alimentos e água contaminada.
c) Transfusões sanguíneas.
d) Picada do bicho barbeiro.
e) Nenhuma das alternativas.

2. Descreva qual é o agente etiológico da Giardíase, e qual sua forma evolutiva respon-
sável pela contaminação.

3. A malária é uma das doenças que mais causam morbidade e mortalidade em regiões
tropicais e subtropicais com baixo desenvolvimento. Por qual motivo essa doença não
se desenvolve em regiões de clima mais frio?

4. Baseado em seus aprendizados sobre profilaxia de Giardíase e Amebíase, como você


orientaria uma mãe de comunidade carente, residente em sua região, que quase perdeu
seus filhos para uma dessas doenças, a evitar uma possível reinfecção?
AGORA É COM VOCÊ

5. Descreva o ciclo de vida do parasita Plasmodium.

188
189
MEU ESPAÇO
MEU ESPAÇO

190
8
Introdução ao Estudo
das Parasitoses
Sanguíneas e Sistêmicas
Me. Luara Lupepsa

Você, aluno(a), conheceu nas unidades anteriores que na natureza


existem vários exemplos de relação entre seres vivos, uma relação
onde só um se beneficia é denominada parasitismo. Nesta unidade,
você irá conhecer as hemoparasitoses que são os parasitas sanguí-
neos. Este é um grupo no qual os parasitas se alojam na corrente
sanguínea do hospedeiro, podendo ainda ser considerados parasi-
tas intracelulares ao se alojarem dentro das células do hospedeiro.
A fim de acessar a corrente sanguínea, utilizam-se de vetores de
transmissão, definidos como organismos capazes de transmitir
agentes infecciosos. Também terá a oportunidade de aprender
sobre alguns ácaros, piolhos, percevejos e carrapatos, os quais
podem acarretar sérias doenças humanas, sendo considerados um
problema de saúde pública, não só no Brasil como em outros países.
UNICESUMAR

Descobrimos que evidências evolutivas apontavam que o parasitismo passou a ocorrer


devido ao fato dos seres vivos, na natureza, apresentarem um considerável inter-re-
lacionamento. Com essas associações, um organismo de menor porte pode se sentir
beneficiado. Sendo assim, com o passar de milhares de anos, houve uma evolução
à custa de diversas adaptações para o melhor relacionamento, deixando o parasita
cada vez mais dependente de seu hospedeiro e tornando a adaptação a marca do
parasitismo. E como pode ser diagnosticada a presença de um parasita?
Nosso sangue carrega nutrientes, oxigênio, células brancas, vermelhas, inúmeras
vitaminas e outros compostos. É através dele, também, que temos informações im-
portantes como nosso estado imune, nutricional, se há indícios de algumas infecções
ou doenças. É através dele, também, que podemos detectar e identificar alguns pa-
rasitas sanguíneos. Sim! Podemos verificar, através do uso de microscópios de luz, a
presença de parasitas infectando células vermelhas, e isso tudo é possível, porque em
algumas parasitoses, como a popularmente chamada elefantíase, conhecida também
como filariose infecciosa, há a presença de parasitas e até mesmo vermes adultos em
amostras de sangue. É através do sangue, também, que os piolhos se alimentam, o
que pode acarretar em um estado anêmico para o paciente, se esta infecção perdurar
por longos períodos.
Imagine que um amigo se deliciou com um churrasquinho mal passado e uma
salada verde. Após algumas semanas, começou a se queixar de dores abdominais,
sensação de fome, tonturas, irritabilidade e, com o tempo, passou a perder peso, ter
dor torácica e tosse. De início ele se recusava ir ao médico, mas você, preocupado com
a situação, conseguiu convencê-lo de ir ao posto de saúde. O médico que o atendeu
fez uma anamnese e através das respostas desconfiou que fosse alguma parasitose,
encaminhando-o para fazer exame de sangue e fezes. Neste caso, quais achados po-
deriam ser encontrados nos exames? Quais as possibilidades de verminoses podem
ser consideradas, tendo em vista esses sintomas? Ainda, quais seriam as instruções
básicas para uma pessoa com diagnóstico de parasitose? Assim como o médico, você
também saberia dar as instruções básicas para ele? Lembre-se, são doenças que serão
cada vez mais comuns em sua futura prática profissional.
Após a análise dos dados clínicos que você acabou de receber, algumas dúvidas
podem ter surgido. Diante disso, trago reflexões que podemos fazer em relação ao
consumo de alimentos crus ou mal cozidos.
• Importante analisar o estado nutricional do paciente, pois sabemos que muitos
desses parasitas podem evoluir para um quadro de anemia, já que eles podem
romper as células sanguíneas;
• Investigar o histórico de viagens, e locais com ausência de saneamento básico;
• Práticas adotadas de higienização dos alimentos em casa, e se existe o consumo
de água potável.

192
UNIDADE 8

Peço que faça suas anotações no Diário de Bordo, e assim possa


comparar com o que será estudado ao decorrer do conteúdo.

DIÁRIO DE BORDO

Você já ouviu falar sobre a Toxoplasmose? A toxoplasmose é uma doença geralmente assintomática,
causada pelo Toxoplasma gondii que é um protozoário coccídio intracelular, próprio de gatos, e que
pertence à família Sarcocystidae, da classe Sporozoa, de distribuição geográfica mundial, com alta
prevalência sorológica, podendo atingir 60% da população em determinados países. O Toxoplasma
gondii pode ser encontrado em vários tipos de tecidos e células (exceto hemácias) e líquidos orgânicos
(saliva, leite, esperma, líquido peritoneal). Uma ampla variedade de animais de sangue quente pode ser
infectada pela ingestão de oocistos esporulados, que são eliminados por felinos (DENG et al., 2021).

193
UNICESUMAR

Aproximadamente um terço dos seres humanos estão cronicamente infectados com a toxoplasmose,
a maioria assintomática. No ano de 2013, a incidência global anual era de 1,5 casos a cada 1000 nascidos
vivos, tornando a doença um problema de saúde pública mundial (DENG et al., 2021).

Apicoplasto

Aparato de golgi

Retículo Roptrias
endoplasmático

Conoide
Núcleo

Grânulos densos Micronemas

Mitocôndrias

Membrana plasmática Membrana interna

Figura 1 - Ultraforma do Toxoplasma gondii parasita causador da toxoplasmose em sua forma taquizoíto

Descrição da Imagem: a figura apresenta a forma taquizoíta do Toxoplasma gondii, alongado, em formato de gota,
com as organelas distribuídas pela célula e um núcleo em uma das extremidades com formato oval.

O toxoplasma foi bem caracterizado a nível celular, desde a sua identificação em 1908, medindo cerca
de 6 µm de comprimento e 2 µm de largura em sua forma replicativa. Ele possui organelas padrão, in-
cluindo núcleo, retículo endoplasmático, um único aparato de Golgi e uma mitocôndria. Como é um
parasita pertencente aos Apicomplexos, o Toxoplasma possui um apicoplasto. O parasita causador da
toxoplasmose pode se apresentar de três formas diferentes, fundamentais e algumas outras intermediárias
que aparecem durante seu ciclo biológico, vamos conhecer, agora, quais são essas formas parasitárias.

194
UNIDADE 8

Taquizoítas ou trofozoítas é a forma encontrada na fase aguda da infecção, sendo denominada


também forma proliferativa, forma livre ou trofozoítica (Figura 2). Encontram-se em líquidos orgâ-
nicos, células hepáticas, pulmonares, nervosas, musculares ou da submucosa e são pouco resistentes à
ação do suco gástrico, no qual são rapidamente destruídos.

TAQUIZOÍTO TOXOPLAMA GONDI

Anel polar posterior


Membrana interna

Acidocalcisomes
Grânulo denso
Membrana plasmática

Núcleo

Mitocôndria

Acicoplasto

Microtúbulo subpelicular
Roptria

Microneme
Anel polar apical
Conoide
Anéis pré-noidais

Figura 2 - Forma taquizoíta ou trofozoíta do T. gondii

Descrição da Imagem: a figura apresenta um T. gondii com forma alongada, e núcleo oval em uma das extremidades.

Bradizoítos (Figura 3) são encontrados em tecidos (músculo, cérebro, retina etc.) durante a fase crônica
da doença. São mais resistentes à passagem pelo estômago que os taquizoítos e podem permanecer
viáveis por vários anos nos tecidos, pois apresentam uma membrana interna própria do parasita e
outra membrana externa que é produzida pela célula parasitada. A forma de multiplicação dessa
forma evolutiva de T. gondii é por endopoligenia, que é uma forma de divisão assexuada, onde várias
células-filhas são formadas dentro da célula-mãe.

195
UNICESUMAR

Figura 3 - Toxoplasma gondii, na sua forma bradizoíta / Fonte: UFRGS ([2021]a, on-line).

Descrição da Imagem: a fotografia foi retirada de um microscópio de luz onde mostra o T. gondi em sua forma bra-
dizoíta, e uma seta está indicando os bradizoítos.

Em relação aos Oocistos, sua


forma de resistência possui uma
parede dupla bastante resistente
às condições do meio ambien-
te. São encontrados nas fezes
de felinos jovens, responsáveis
pelo ciclo sexuado do parasito
(HORTA et al., 2016).

Figura 4 - Forma de oocisto do parasita T. gondii / Fonte: UFRGS ([2021]b, on-line).

Descrição da Imagem: a figura apresenta o parasita T. gondii com a forma


arredondada, e dois núcleos arredondados um ao lado do outro contendo
esporozoítos.

196
UNIDADE 8

O T. gondii tem um ciclo de vida no sistema presa-predador, envolvendo três estágios infecciosos, que
são os taquizoítos, bradizoítos e oocistos. Agora que você conheceu as formas evolutivas deste parasita,
vamos ver como elas se comportam durante seu ciclo de vida.
O ciclo biológico do T. gondii (Figura 5) se desenvolve em duas fases distintas. A fase assexuada
envolve os linfonodos e alguns tecidos dos hospedeiros, e a fase coccidiana ou sexuada, que engloba
células do epitélio intestinal de gatos e outros felinos que não são imunes ao parasita. Dessa forma, o
T. gondii apresenta um ciclo que chamamos de heteróxeno, no qual os gatos e felinos susceptíveis são
os hospedeiros definitivos e o homem e outro mamíferos e aves, são os hospedeiros intermediários,
pois possuem apenas a parte do ciclo que chamamos de assexuada (NEVES; MELO; LINARDI, 2005).
Na fase assexuada, ou seja, no homem, por exemplo, o ciclo começa com a ingestão de oocistos
maduros, os quais contém esporozoítos e são encontrados em água e alimentos contaminados (bradi-
zoítos podem ser encontrados em carne crua, e taquizoítos eliminados no leite, também são fontes de
contaminação). Em seguida, as formas taquizoítas que chegam ao estômago são destruídas pela ação
do sulco gástrico, entretanto podem chegar à mucosa oral e evoluem do mesmo modo que os cistos e
oocistos, como veremos a seguir.
No ciclo assexuado, cada esporozoíto, bradizoíto ou taquizoíto que é liberado no tubo digestivo
sofrerá uma série de divisões intracelulares, que invadirão as células do epitélio intestinal, e darão
origem a novos taquizoítos, os quais rompem a célula parasitada e invadem novas células saudáveis.
Essa é a fase proliferativa ou aguda da doença, que se dá pelo acesso do parasita às linfas ou à corrente
sanguínea, o que pode até acarretar um quadro polissintomático, que depende da quantidade e da
virulência do parasita disseminado e da imunidade do hospedeiro, podendo causar morte em alguns
casos de pacientes imunocomprometidos. Com a resposta imune adaptativa, os parasitas extracelulares
desaparecem do sangue, linfa e dos órgãos viscerais, diminuindo a carga parasitária do hospedeiro, e
alguns parasitas evoluem para a forma de cisto, que dá início à fase crônica da infecção por T. gondii,
que poderá permanecer por longos períodos. A fase coccidiana ou sexuada ocorre em células epite-
liais do intestino de gatos e outros felinos, é neste período que ocorre a fase assexuada (merogonia) e
a sexuada (gamogonia). Quando uma das formas evolutivas (esporozoítos, bradizoítos ou taquizoítos)
penetram o epitélio intestinal, o gato sofre, então, um processo de multiplicação dentro da célula parasi-
tada, dando origem a vários merozoítos. O rompimento dessas células parasitadas libera os merozoítos
que irão migrar para novas células epiteliais e se transformarão em formas sexuadas masculinas e
femininas, os gametófilos ou gamontes, que após o processo de maturação, darão origem aos gametas
masculinos móveis, chamados de microgametas com dois flagelos, e os gametas femininos imóveis,
chamados de macrogametas. A fecundação ocorre dentro do epitélio, formando uma parede externa
dupla, dando origem ao oocisto, que é liberado quando a célula epitelial se rompe, o que leva alguns
dias para acontecer. Esse oocisto é liberado ainda imaturo e só atinge seu nível máximo de maturação
fora do gato, ou seja, no meio exterior por um processo chamado de esporogonia, onde apresentará
dois esporocistos contendo quatro esporozoítos cada (NEVES; MELO; LINARDI, 2005).

197
UNICESUMAR

Figura 5 - Ciclo de vida do Toxoplasma gondii / Fonte: Siqueira-Batista (2020, p. 244).

Descrição da Imagem: a figura apresenta um ciclo biológico do T. gondii. Na parte inferior, temos a etapa 1, ao lado
direito com a ilustração de um gato e abaixo dele está a descrição de oocistos fecais; ao lado esquerdo algumas ilustra-
ções de animais (porco, rato, carneiro) e, em seguida, a descrição de cistos no tecido. Entre as duas ilustrações, temos
duas setas em direções diferentes. Na parte superior, temos duas ilustrações do corpo humano, ao lado direito uma
seta advinda dos animais em direção ao humano (masculino) indicando a etapa 2 do ciclo que é o consumo da carne
crua ou mal cozida desses animais contaminados. Ao lado esquerdo, temos uma seta advinda do gato em direção ao
humano (mulher gestante) indicando a etapa 3, que é onde a mulher pode se contaminar e infectar o feto. Ambas
etapas estão mostrando que ele pode ser transmitido por animais de sangue quente.

Como único hospedeiro definitivo do parasita, os felinos desempenham um papel crucial na transmissão
da doença, além da possibilidade de serem infectados por qualquer um dos estágios infecciosos do Toxo-
plasma. Os felinos poderão eliminar oocistos durante um mês, sendo que nesta forma evolutiva, o oocisto
de T. gondii poderá sobreviver em condições favoráveis, de umidade e temperatura por 12 a 18 meses. Nas
pessoas, os parasitas formam cistos em tecidos, geralmente no músculo e no coração, cérebro e olhos que
permanecem pelo resto da vida sem causar sintomas, entretanto podem se tornar ativos e causar sintomas
se o sistema imunológico da pessoa estiver enfraquecido por um distúrbio ou medicamento.
A transmissão da toxoplasmose pode se dar por três vias principais em seres humanos: a ingestão de
oocistos, presentes em alimentos e água contaminadas, bem como caixas de areia, jardins, latas de lixo ou
disseminadas mecanicamente por moscas; ou através da ingestão de carne crua ou mal cozida, principal-
mente carnes de porco e carneiro; ou pela via congênita, onde há transmissão transplacentária. Estima-se
que 9% de casos de retardamento mental está associado a infecção toxoplásmica congênita, o quadro abaixo
traz índices de infecções nos fetos relacionando-os aos trimestres da gravidez (CANTOS et al., 2000).

198
UNIDADE 8

Trimestre Porcentagem de fetos infectados durante o trimestre


1° trimestre de gravidez 14%
2° trimestre de gravidez 29%

3° trimestre de gravidez 59%

Tabela 1 - Relação da porcentagem de fetos infectados e o trimestre da gestação


Fonte: adaptada de Cantos et al. (2000).

Agora que você aluno(a) já aprendeu sobre o ciclo de vida do Toxoplasma gondii, seus meios de trans-
missão e disseminação, vamos aprender como evitar essa doença. Muitos governantes emitiram políticas
educacionais claras de como os indivíduos podem evitar a toxoplasmose, dentre as recomendações estão:

Alimentar gatos de
estimação somente com
comida comercial seca
ou enlatada, nunca com
carnes cruas ou mal
passadas
Não comer
moluscos mal Lavar bem frutas
cozidos e vegetais

Cobrir caixas
Evitar beber de areia quando
água não não estiverem
tratada em uso

Lavar bem
tábuas de Congelar a
cortes, talheres, carne por pelo
louças que menos 48 horas
tiveram contato
com alimentos antes de
Cozinhar bem
não cozidos alimentos como
ingeri-la
carnes de aves por
pelo menos 3
minutos a mais
de 60C

199
UNICESUMAR

Você, acadêmico e futuro profissional da saúde, já deve ter notado que


um meio de evitar não só a toxoplasmose, como inúmeras doenças
causadas por parasitas, é a lavagem correta de alimentos. A pratici-
dade e comodidade de saladas prontas para comer, disponíveis em
supermercados e similares, são uma fonte potencial para infecções
parasitárias. O artigo “Control of human toxoplasmosis”, publicado em
2021, traz alguns cuidados pré e pós colheita, que visam garantir o mínimo de contaminação
das terras agrícolas ou forragens com oocistos de T. gondii. Esse artigo também traz outras
alternativas de prevenção e combate à toxoplasmose, como inibidores de cadeia de transpor-
te de elétrons, responsáveis pela formação de energia do Toxoplasma, proteínas inibidoras
da proteína-1-dependente de cálcio, que são responsáveis pela sinalização de cálcio dentro
do parasita, além de outras formas de inibir essa parasitose, as quais não serão abordadas
neste livro, pois envolvem técnicas avançadas de pesquisa, porém se você se interessou,
poderá acessá-lo pelo QR Code.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Quando seres humanos são infectados por toxoplasmose, em seu quadro mais agravado pode-se cau-
sar febre, linfoadenopatia (se refere à dilatação de um ou mais linfonodos), linfocitose (aumento do
número de linfócitos no sangue) e dores musculares que persistem durante dias a semanas. Em casos
de transmissão transplacentária, o feto poderá apresentar lesão cerebral, deformidades físicas e convul-
sões desde o nascimento até um pouco depois. Pacientes imunodeficientes são mais acometidos pela
infecção, podendo apresentar cerebrite, corioretinite, pneumonia, envolvimento musculoesquelético
generalizado, miocardite e/ou morte.
O diagnóstico clínico é difícil, porque a maioria das infecções é assintomática ou se confunde com
sintomas de outras doenças. Por esse motivo, estudar e conhecer a epidemiologia do Toxoplasma gondii
é de grande importância, pois diferentes doenças podem apresentar os mesmos sintomas, entretanto,
se esses sintomas são de indivíduos residentes ou que viajaram recentemente para zonas de epidemia
de toxoplasmose, você futuro profissional da saúde deverá levar isso em consideração.
Aprendemos, durante o decorrer da unidade, os meios de transmissão da toxoplasmose, agora vamos
relembrar um pouco de imunologia para podermos entender como pode ser feito o diagnóstico dessa
doença. Sabemos que nosso organismo produz anticorpos (Figura 6) de diferentes classes, dentre elas a
IgG, IgA, IgM e IgE. Na fase aguda da infecção, primeiro ocorre a produção de IgM, seguido da produção
de IgG, poderá até ocorrer a produção de IgA, se a infecção se der por via oral. A técnica de imuno-
fluorescência indireta que é uma técnica histoquímica, a qual vamos conhecer na próxima unidade,
detecta as imunoglobulinas do tipo IgM, dosando de 2 a 8 semanas após a infecção; a partir dessas 8

200
UNIDADE 8

semanas, teremos apenas imunoglobulinas do tipo IgG, que perduram por toda a vida. Outros testes
sorológicos como ELISA, que é um método quantitativo, em que a reação Ag-Ac (antígeno-anticorpo)
é monitorada por meio de atividade enzimática, também é usado para diagnóstico da toxoplasmose.
Reações de aglutinação e Imunoblotting são feitas utilizando como amostra, o sangue dos pacientes
em suspeita, entretanto, uma opção mais sensível é a PCR (Reação da Polimerase em Cadeia), a
qual busca em específico o DNA ou partes do DNA do parasita, neste caso, o do Toxoplasma Gondii,
assumindo, então, uma posição de destaque entre os testes diagnósticos como um todo, devido à sua
alta sensibilidade (CANTOS et al., 2000).

Figura 6 - Ilustração das diferentes formas de anticorpos presentes na resposta de defesa do organismo

Descrição da Imagem: a ilustração apresenta cinco diferentes anticorpos que são encontrados no organismo. Os três
anticorpos na parte superior têm o formato de “Y’’ que são IgG, IgE e IgD. Na parte inferior, temos mais dois anticorpos,
o da esquerda IgM tem ao centro um pentágono (5 lados) e em cada ponta uma estrutura em formato de “Y”, e ao lado
direito o IgA com dois “Y” em posição horizontal opostos um ao outro.

201
UNICESUMAR

Vamos voltar nossa atenção


agora para outra doença causa-
da por protozoários, é a doença
de Chagas, você, aluno(a), já ou-
viu falar a respeito? O Trypano-
soma cruzi (Figura 7) é um pro-
tozoário agente etiológico da
doença de Chagas, Protozoário
flagelado, também conhecida
como Tripanossomíase ameri-
cana, frequente nas Américas
e presente principalmente na
América Latina.
Figura 7 - Parasita Trypanosoma cruzi, ilustração 3D
Foi descrita em 1909 pelo
recém-formado em medicina Descrição da Imagem: figura em 3D de um parasita T. cruzii ao centro com
formato alongado (estrutura lembra a letra C) e um flagelo, e nas extremi-
Carlos Ribeiro Justiniano das dades da ilustração várias hemácias arredondadas côncavas.
Chagas, que foi pesquisador e
diretor do Instituto Oswaldo
Cruz e escreveu uma tese sobre
o controle de malária; integrou-
-se desde logo à equipe de Os-
waldo Cruz, tendo sido encar-
regado de chefiar os trabalhos
de combate à malária em Minas
Gerais. Ela está intimamente re-
lacionada às más condições das
moradias, pois estas favorecem
a nidificação dos hemípteros
triatomíneos, conhecidos vul-
garmente como “barbeiros” (Fi-
gura 8). Diz-se tripanossomíase
qualquer enfermidade causada
por protozoários do gênero
Trypanosoma, que parasitam o
sangue e os tecidos de pessoas Figura 8 - Espécime de triatomíneo conhecido como barbeiro e transmissor do
parasita causador da doença de Chagas
e animais (NEVES; MELO; LI-
NARDI, 2005). Descrição da Imagem: a figura retrata um bicho barbeiro, com coloração
escura, seis patas e duas antenas, em cima de uma superfície branca.

202
UNIDADE 8

No Brasil, situado na América do Sul, a estimativa é de 2 a 3 milhões de pessoas infec-


tadas. Estudos demonstraram a prevalência da doença de chagas na região norte, nesta
região o crescimento é drástico ao longo de todo tempo, sendo na cidade de Barcarena
uma das maiores prevalências de casos no Brasil. Dados coletados no Datasus sobre a
doença de chagas apontam um total de 1010 casos notificados no Estado do Pará no
período de 2014 a 2017. Estes índices levantados podem estar relacionados ao acesso
inadequado da população ao serviço de saúde pública, com baixa adesão aos progra-
mas de intervenção para melhora da qualidade de vida da comunidade, culminando
com crescimento destes números (NOGUEIRA et at., 2020). Na região nordeste, no
Ceará ainda existe grande preocupação em termos de risco de transmissão da doença
de Chagas. Essa preocupação se deve a alguns fatores: a região permanece socialmente
muito carente, possui os mais altos índices de moradias propícias à colonização de
triatomíneos, além do baixo nível operacional do Programa de Controle da Doença de
Chagas em todo o Brasil (COSTA et al., 2020). Antigamente era exclusiva das Américas,
mas, nas últimas décadas, se espalhou para outros continentes, devido à migração de
pessoas oriundas das áreas endêmicas para esses locais.
O Trypanosoma cruzi pode infectar diversos mamíferos, além de outros vertebra-
dos, como espécies de aves, sendo considerado um parasita eurixeno (são parasitas que
podem viver em grande variedade de hospedeiros). Muitos tipos de células nucleadas
podem se tornar os hospedeiros deste parasita, dependendo, assim, da preferência dos
isolados de Trypanosoma cruzi.
O parasita se multiplica sob a forma esferomastigota e diretamente em epimasti-
gota no intestino do inseto, no reto, transforma-se em tripomastigota metacíclico, que
sairá com as fezes quando o inseto defecar. Essas fezes podem ser empurradas para o
orifício deixado pelo inseto após sua alimentação. Caso o hospedeiro apresente cocei-
ra na região ferida, poderá ocorrer a entrada das formas metacíclicas no hospedeiro
vertebrados (ROCHA, 2013).
O ciclo de vida ocorre em dois tipos de hospedeiros: os intermediários (inver-
tebrados) que são infectados quando sugam pessoas ou animais infectados, e os hos-
pedeiros definitivos (vertebrados), neste caso os parasitas se multiplicam de forma
extracelular. No inseto, o parasita se multiplica no intestino passando de esferomastigota
em epimastigota, seguindo para seu reto e mudando novamente sua morfologia para
tripomastigota metacíclico, o qual sairá com as fezes no ato da defecação. O parasita é
empurrado com as fezes para dentro do hospedeiro através do orifício deixado pelo in-
seto durante a alimentação, e com o T. cruzii dentro do organismo humano, este invade
células do sistema fagocítico mononuclear da pele, dividindo-se e transformando-se
em amastigotas. Após uma série de divisões binárias, as amastigotas se transformam
em tripomastigotas, rompendo a célula hospedeira e acessando a corrente sanguínea,
disseminando por todo o organismo. O ciclo se inicia quando um novo barbeiro, não
infectado, se alimenta do hospedeiro infectado (ROCHA, 2013).

203
UNICESUMAR

CICLO DE VIDA DO TRYPANOSSOMA CRUZI

Tripomastigotas No hospedeiro
metacíclicos no Amastigota
intestino posterior em célula RE

Tripanossoma
no sangue

Multiplicação
no intestino

Tripanossoma
metacíclico

Epimastigotas
no intestino

Inseto Eduviid

Figura 9 - Ciclo de vida do T. cruzii

Descrição da Imagem: a imagem gira em sentido anti-horário, exemplificando todas as fases do parasita em células
humanas (em cima) e no barbeiro (embaixo).

Os tripomastigotas podem apresentar diferenças morfológicas entre si, agrupando-se nas formas me-
tacíclicas e sanguícolas. As metacíclicas podem vir a invadir novas células do hospedeiro vertebrado,
tendo preferência as de músculo cardíaco e as do trato digestório, e as sanguícolas, quando ingeridas
pelo inseto pela alimentação, diferenciam-se em epimastigotas ao longo do tubo digestivo do inver-
tebrado, dando continuidade no ciclo.
Após a entrada do parasita no organismo, podem ocorrer duas etapas na infecção humana pelo
Trypanosoma cruzi: a fase aguda e fase crônica. A fase aguda inicialmente é sem sintomas, podendo
evoluir para as formas graves da doença. A fase crônica apresenta as seguintes formas:

204
UNIDADE 8

• Forma indeterminada: nesta forma, o paciente não apresenta sintomas ou


comprometimento. Pode durar a vida toda.
• Forma cardíaca: surgimento gradual de alterações eletrocardiográficas,
causado por lentas destruições das fibras miocárdicas, inerente de processos
inflamatórios crônicos incessantes. Pode evoluir para quadros de miocardio-
patia dilatada e insuficiência cardíaca congestiva.
• Forma digestiva: ocorre o comprometimento do aparelho digestivo, que
pode evoluir para megacólon.

A prevenção da Doença de Chagas está diretamente relacionada à forma de transmissão. Para trans-
missão vetorial, deve-se estabelecer práticas de manejo sustentável do ambiente. Em relação à trans-
missão oral, é preciso adotar boas práticas de higiene e manipulação dos alimentos. Uma das formas
de prevenção da doença de Chagas, segundo a agência Fiocruz de notícias, é evitar que o inseto “bar-
beiro” forme colônias dentro das residências, além da utilização de medidas de proteção individual
(repelentes, roupas de mangas longas etc.).
A transmissão dessa doença se dá por três meios principais, com a infecção do T. cruzii ao homem
através, principalmente, da forma vetorial ou contaminativa (entre 70 e 90% dos casos), transfusional
(1 a 20%) e congênita (0,5 a 10%). As duas formas de maior importância epidemiológica são a vetorial
e a transfusional. Dados coletados de 1940 em diante demonstraram que a prática da transfusão de
sangue se generalizou por toda a América Latina, contribuindo, assim, para aumentar possíveis riscos
de doença de Chagas transfusional. Em 1969, instituiu-se uma obrigatoriedade da triagem sorológica
para doença de Chagas nos bancos de sangue do Brasil. Alguns alimentos também podem conter as
fezes do barbeiro, tendo, assim, a transmissão oral que vem merecendo atenção, devido a casos notifi-
cados envolvendo a cana-de-açúcar e o açaí, pois, em alguns estabelecimentos de condição higiênica
precária, a urina e as fezes dos barbeiros podem vir a contaminar tais alimentos e a chegar até o homem
por meio da ingestão (ROCHA, 2013; COSTA et al., 2019).

205
UNICESUMAR

Em um estudo realizado por Costa et al. (2019), fez-se um levanta-


mento no período de 2010-2015, a partir de dados registrados no
sistema informatizado do Centro de Hematologia e Hemoterapia do
Ceará (HEMOCE), de todos os potenciais doadores de sangue da He-
morrede Pública Estadual, um total de 763.731 potenciais doadores de
sangue. Destes, no total 1.982 foram considerados impedidos de fazer
a doação devido sorologia positiva/inconclusiva para doença de Chagas. Isto é preocupante,
pois a determinação da prevalência da doença de Chagas em bancos de sangue pode ser
relevante como indicador do risco de transmissão transfusional em determinada região. Se
você achou interessante este artigo, poderá encontrá-lo através do QR Code.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Banco de sangue - Triagem Sorológica (Brasil, 2001). Total 1067.992 amostras testadas
Doença Soro-positivo %
Sífilis 8746 00.082
Chagas 4.712 0.44
Hepatite B 44.456 4.16
Hepatite C 5.051 0.47
HIV 4.318 0.40

Tabela 2 - Relação de amostras testadas para doação de sangue e algumas das doenças adquiridas quando se recebe sangue

contaminado / Fonte: adaptada de Fiocruz ([2021], on-line)1.

Na fase aguda da doença de Chagas, os tripomastigotas sanguíneos podem apenas ser detectados
pelos métodos parasitológicos diretos, onde os parasitas são identificados diretamente no exame de
sangue, pela visualização dos tripomastigotas sanguíneos (Figura 9). Também é empregado método
parasitológico indireto, como xenodiagnóstico e hemocultura. Os testes sorológicos são utilizados com
frequência no diagnóstico da fase crônica e têm como base a detecção de imunoglobulinas específicas
contra o Trypanosoma cruzi (ALVES et at., 2018).
A doença de chagas não tem cura, mas há medicamentos para o tratamento, que são distribuídos
gratuitamente no sistema de saúde pública do Brasil, como o benzonidazol, produzido pelo Laboratório
Federal de Pernambuco (Lafepe). O Sistema Único de Saúde (SUS) distribui o medicamento após a
indicação médica, seja em casos agudos ou crônicos. Como na maioria dos casos a doença crônica é
assintomática, é importante o acompanhamento anual dos pacientes para que intervenções possam
ser feitas no momento certo da progressão da doença.

206
UNIDADE 8

Agora que você já aprendeu sobre a toxoplasmose, a doença de chagas e já sabe como evitá-las,
tratá-las e diagnosticá-las, vamos aprender um pouquinho sobre os artrópodes.
O filo dos artrópodes é o maior dos seres vivos, tanto em número de espécies como na quantida-
de de indivíduos. Todos os artrópodes possuem o corpo dotado de vários segmentos, como patas e
antenas, que possibilitam movimentos, e possuem simetria bilateral, que é uma linha imaginária que
divide o corpo em duas metades iguais, ou praticamente iguais. Essa divisão vai formar duas partes
simétricas. São protostômios no desenvolvimento embrionário: quando o orifício que conecta o meio
interno do embrião com o meio externo da origem, apenas à boca ou tanto à boca quanto ao ânus,
esses animais são chamados de protostômios (proto = primeiro); são triblásticos, apresentam três
folhetos embrionários: ectoderme, endoderme e mesoderme e apresentam celoma, é uma cavidade
revestida pela mesoderme que, durante o desenvolvimento embrionário, ocorre a formação dos fo-
lhetos germinativos ou tecidos embrionários. Os folhetos germinativos darão origem aos tecidos do
animal (PINTO; GRISARD; ISHIDA, 2011).
O sucesso evolutivo deste grupo taxonômico é devido a um conjunto de caraterísticas únicas,
possuem um exoesqueleto proteico-quitinoso flexível, os artrópodes terrestres são revestidos por
uma cobertura de cera impermeável que impede a desidratação do seu corpo. Como o exoesqueleto
dos artrópodes envolve todo o seu corpo, o crescimento desses animais ocorre apenas através do que
chamamos de muda ou ecdise, que seria a troca do exoesqueleto devido ao seu crescimento. Possui
órgãos sensoriais bem desenvolvidos (antenas, sedas sensoriais, olhos compostos, olhos peduncula-
dos, ocelos, quimiorreceptores nas antenas. Outra característica desses animais é a metamorfose com
diferentes estágios de desenvolvimento, que incluem estágios larvares, que podem ter um modo de
vida completamente diferente do adulto, permitindo um aproveitamento de outros recursos como
alimento e espaço (NEVES; MELO; LINARDI, 2005).

Alguma vez na sua vida, você já se perguntou como os artrópodes causam doenças?

207
UNICESUMAR

Por ser um grupo tão grande e diverso, possui espécies com uma íntima associação
com o homem. Assim, os artrópodes podem causar doenças de diversas maneiras.
A simples presença no organismo, como alguns artrópodes são ectoparasitos, e sua
presença ou inserção na pele já caracterizam uma doença, um exemplo são os Derma-
tobia hominis ou mais conhecidos popularmente berne (Figura 10) presentes na pele
de uma pessoa ou animal. Os artrópodes vetores de doenças são espécies que podem
veicular um agente causador de doença de um humano para outro, por exemplo o
barbeiro que transmite a doença de Chagas, como já aprendemos anteriormente
(SANTOS; ALMEIDA; ANTUNES, 2018).

Figura 10 - Larva da mosca humana - Dermatobia hominis

Descrição da Imagem: a imagem retrata uma larva com coloração branco-roseada e seis linhas
pontilhadas grandes dispostas na vertical.

A família Culicidae está dividida em duas subfamílias, Anophelinae e Culicinae. Den-


tro de Culicinae são reconhecidas as tribos Aedeomyiini, Aedini, Culicini, Culisetini,
Ficalbiini, Hodgesiini, Mansoniini, Orthopodomyiini, Sabethini e Uranotaeniini
(HARBACH, 2007). A Família Culicidae abrange os “mosquitos verdadeiros”. Alguns
especialistas defendem a ideia que os mosquitos verdadeiros são somente os da família
Culicidae, os quais possuem um par de asas, antenas segmentadas e proboscídea. Os
demais insetos que são considerados “mosquitos”, na grande maioria possuem um
aparelho bucal diferente, em vez de ser no estilo de uma “agulha”, ele possui algumas
estruturas que “mastigam” a nossa pele para depois se alimentarem do nosso sangue
(LORENZ; VIRGINIO; BREVIGLIERI, 2018).
Os mosquitos são dípteros nematóceros com tamanho que varia de 3 a 6 mm de
comprimento em média, são delgados, com patas longas e finas, corpo com escamas
pouco abundantes. Em seu tórax, apresenta três pares de patas, com dois orifícios

208
UNIDADE 8

respiratórios ou espiráculos, possui um par de


asas membranosas compridas e estreitas, com
nervuras cobertas de escamas e um segundo par
de asas modificadas, os halteres. Seu abdómen é
longo e delgado, com oito segmentos visíveis e na
sua extremidade encontram-se os orifícios genital
e anal. A cabeça é pequena e esférica, com olhos
reniformes e dicóticos, sem ocelos. Possuem um
probóscis longo e flexível, adaptado nas fêmeas, e
palpos constituídos por cinco segmentos, antenas
com um flagelo longo, de 13 artículos, apresenta
dimorfismo sexual, machos plumosos e fêmeas
pilosas. Uma das doenças que veremos a seguir é a
filariose linfática (Figura 11), causada pela picada
do mosquito Culex quinquefasciatus, que é mais
conhecido pelo nome popular de pernilongo ou
muriçoca, o Culex quinquefasciatus é uma verda-
deira praga para os moradores das concentrações
humanas nas regiões mais quentes como exemplo
as Américas, Ásia, África e Oceania.
Os primeiros registros concretos associando a
transmissão de parasitoses aos culicídeos datam Figura 11 - Perna de um portador de filariose linfática
do século XIX, com a comprovação de Patrick
Descrição da Imagem: a imagem acima mostra duas
Manson, em 1877, da transmissão de filárias. Culi- pernas de uma pessoa negra que está sentada. Na
cídeos podem ser vetores de inúmeros parasitos, visão do observador, a perna que está à esquerda está
com duas faixas, e nota-se a presença de inchaço exa-
alguns dos quais responsáveis por surtos e epide- gerado em toda extensão da perna e pé, provocando
deformações e sugerindo a infecção por filariose.
mias como, por exemplo, protozoários, helmintos,
ou mesmo arbovírus, como dengue, febre amarela,
febre do Nilo Ocidental e chikungunya. Estes insetos podem ser facilmente diferenciados de outros
grupos semelhantes pelo fato de apresentarem características dos dípteros nematódeos, escamas ao
longo das nervuras das asas e uma franja de escamas, bem evidente, ao longo da borda posterior das
asas (REY, 2001). Na Figura 12, podemos ver a diferença na morfologia externa dos mosquitos causa-
dores da filariose linfática, aedes e da malária.

209
UNICESUMAR

TRÊS MOSQUITOS VETORES

Figura 12 - Diferenças entre os mosquitos vetores

Descrição da Imagem: a figura ilustrativa traz em sua extremidade direita a imagem de três di-
ferentes mosquitos. Na parte superior da imagem, temos o mosquito Anopheles, no meio o mos-
quito Aedes com várias listras horizontais, e abaixo o mosquito Culex, que possui uma única listra.

Agora vamos ver algumas doenças parasitárias transmitidas por insetos da família
Culicidae. Começando este interessante conteúdo pela Filariose linfática ou elefantía-
se, é uma doença causada por um verme chamado Wuchereria bancrofti. A filariose
linfática é uma doença que infecta mais de 90 milhões de pessoas em 52 países, sendo
a segunda causa principal de incapacidade permanente por todo o mundo. O agente
causador na maioria das vezes é o Wuchereria bancrofti, porém há alguns outros
agentes menos prováveis como a Brugia malayi e a Brugia timori, que podem ser
causadores da filariose linfática também, isso vai depender da prevalência de cada
parasita em cada região, por exemplo, regiões tropicais predomina o Wuchereria
bancrofti, já regiões do sudeste asiático e na Indonésia são regiões endêmicas para
B. malayi, e B. timori (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2015).

210
UNIDADE 8

Figura 13 - Diferentes agentes causadores da filariose linfática pelo mundo

Descrição da Imagem: a imagem traz 7 diferentes vermes (três acima e 4 embaixo) com seus respectivos nomes: Wuche-
reria bancrofti., Brugia malayi, Loa loa, Mansonella ozzardi, Mansonella perstans, Mansonella streptocerca e Onchocerca volvulus,
todos alongados, em formato de “U” com pontilhados pretos em toda sua extensão.

A morfologia do W. bancrofti é diferente nos vertebrados e invertebrados. O verme adulto macho


possui o corpo delgado, com características branco-leitosas, chegando a medir de 3,5 a 4cm de com-
primento, com uma das extremidades enroladas. Já o verme adulto fêmea possui o corpo delgado
medindo de 7 a 10 cm de comprimento e 0,3mm de diâmetro, possui órgãos genitais duplos, com uma
vagina exteriorizada próximo a uma de suas extremidades. A microfilária é conhecida também como
embrião, possui uma membrana dupla delicada e mede cerca de 250 a 300 uM, movimentando-se
pela corrente sanguínea do hospedeiro. Essa forma evolutiva possui uma bainha flexível, que auxilia
o parasita a se apoiar em células subcuticulares. As larvas são encontradas no inseto vetor, possuindo
três estágios larvais principais, L1 transformação da microfilária, L2 duas vezes maior que o estágio
anterior e L3, que é a forma infectante (NEVES; MELO; LINARDI, 2005).

211
UNICESUMAR

Figura 14 - Verme adulto de Wuchereria bancrofti

Descrição da Imagem: foto tirada de um microscópio de luz, onde temos um verme adulto cujas
características são possuir o corpo alongado e delgado.

O ciclo biológico desse parasita é heteroxênico, ou seja, dois ou mais hospedeiros. A


fêmea do mosquito Culex quinquefasciatus, ao exercer o hematofagismo em pessoas
com a doença filariose, acaba por ingerir as microfilárias presentes no sangue do
indivíduo, e essa forma parasitária vai até o estômago do mosquito em poucas horas,
onde perdem a bainha e atravessam a parede do inseto, alojando-se nos músculos
torácicos e mudando para a forma evolutiva de larva, onde em até 10 dias a larva de
estágio L1 mudará para estágio L2, e em mais aproximadamente 15 dias chega ao
estágio infectante, L3. A larva de estágio L3 migra, então, para a probóscida, que é o
aparelho picador do inseto, que passará o vetor quando realizar o próximo repasto
sanguíneo. Quando o mosquito pica um novo indivíduo, as larvas penetram na pele
do hospedeiro, chegando até os vasos linfáticos, onde se tornam vermes adultos e
em cerca de 8 meses as fêmeas se reproduzem originando as primeiras microfilárias
(NEVES; MELO; LINARDI, 2005).

212
UNIDADE 8

Figura 15 - Ciclo de vida da Wuchereria bancrofti Fonte: Siqueira-Batista (2020, p. 440).

Descrição da Imagem: a figura exemplifica uma infecção por W. bancrofti. No lado direito, há a ilustração de um tronco
humano e no sentido horário as microfilárias masculina e feminina, bem como todos os seus estágios de infecção.

A presença do mosquito infectado com larvas de estágio infectante é a única forma de transmissão, ou
seja, apenas pela picada do mosquito. Há indícios que o calor do corpo humano atrai as larvas presente
no mosquito, sendo assim, a prevenção da infecção pela Wuchereria bancrofti é através de medidas
para evitar a reprodução e picada do mosquito responsável pela transmissão da doença. Recomenda-se
usar mosquiteiros, repelentes e evitar água parada.

Você sabia que a vida média de um mosquito do gênero Culex é de apenas 30 dias?

213
UNICESUMAR

Vimos que há diferentes estágios de desenvolvimento larval do W. bancrofti, L1, L2


e L3, e desde o primeiro estágio larval até o último, o desenvolvimento do parasita
dura cerca de 20 dias. Assim, é curto o período de tempo em que o vetor possa estar
transmitindo o parasita ao ser humano, tornando o combate ao mosquito ainda mais
importante para erradicar essa doença.
Os principais sintomas são o inchaço de membros, seios e saco escrotal. Algumas
autoridades da saúde afirmam que a filariose linfática está restrita, no Brasil, ao estado
de Pernambuco, com grande possibilidade de ser erradicada no País. O diagnóstico
da infecção pela Wuchereria bancrofti é realizado através de exames laboratoriais,
a doença pode ser assintomática ou ter sintomas semelhantes ao de outras doenças,
tornando então a pesquisa de microfilárias no sangue importante, associada ao his-
tórico clínico e epidemiologia da doença. Após o diagnóstico de filariose linfática, os
tratamentos atuais envolvem a combinação de diferentes fármacos, como a Dietilcar-
bamazina (DEC), embora essa droga pode causar complicações graves, que podem
incluir até a morte e encefalopatia. Drogas de uso alternativo, como ivermectina,
podem ser utilizadas para matar o parasita em seu estágio larval no sangue, porém
é ineficaz para o combate em vermes adultos, tendo seu efeito limitado (LORENZ;
VIRGINIO; BREVIGLIERI, 2018).
Agora vamos aprender sobre aqueles insetos que se instalam nos pelos e cabelos,
geralmente de crianças e adolescentes e que se reproduzem rapidamente, causando
aquela coceira indesejada na cabeça: estamos falando dos piolhos. Pertencentes aos
artrópodes, ordem Siphonaptera e a subordem Anoplura, conhecida como a subordem
pertencente aos piolhos sugadores (hematófagos), possuindo mais de 500 espécies
descritas. Esses pequenos organismos, com 0,4 mm a 10 mm de comprimento quando
adultos, não possuem asas e têm o corpo achatado dorsoventralmente. São ectopa-
rasitos obrigatórios, permanentes, a cabeça é mais estreita que o tórax e a armadura
bucal é picadora-sugadora (LORENZ; VIRGINIO; BREVIGLIERI, 2018).
Um piolho bem conhecido é o Pediculus humanus capitis (Figura 16). Este ec-
toparasita é o piolho que infecta o couro cabeludo de seres humanos, acometendo
qualquer pessoa, embora a literatura afirme que a infestação esteja associada a pés-
simas condições ambientais. Isso se deve a fácil e rápida transmissão entre pessoas,
pois a infestação ocorre devido ao contato com pessoas que estejam infestadas. A
pediculose, como é chamada a doença causada por piolhos, é uma parasitose mais
comum em crianças, dados mostram que no Brasil ela é considerada um problema
de saúde pública com taxas de prevalência podendo alcançar 40% em comunida-
des carentes, sendo que crianças apresentam taxas mais altas, e cerca de 30% destas
crianças encontram-se em fase escolar (SILVANO et al., 2015).

214
UNIDADE 8

Figura 16 - Peticulis capitilis em sua forma de ninfa

Descrição da Imagem: fotografia retirada de um microscópio de luz, de


um piolho em estágio de ninfa, apresentando um corpo alongado com seis
patas com garras.

DIAS 33-35 DIA 0


O piolho morre
Ovo de piolho é colocado
na mecha de cabelo

DIAS 6-7
Depois de 6 a 7 dias,
piolhos jovens
DIAS 19-32
A fêmea põe ovos após o
acasalamento, a fêmea
continua a botar 4-6 ovos
por dia durante 16 dias

CICLO DE VIDA
DO PIOLHO

DIAS 17-19 DIAS 8-9


Macho e fêmea ligeiramente Primeira muda 2 dias
maior começam a se reproduzir após o nascimento

DIAS 11-12
Segunda muda
após a eclosão
DIAS 16-17
Terceira muda
após a eclosão

Figura 17 - Ciclo de vidas dos piolhos

Descrição da Imagem: a imagem mostra o ciclo de vida dos piolhos, dia 0 (quando a fêmea postula o ovo), até a sua
morte com 33-35 dias de vida.

215
UNICESUMAR

Os ovos postulados (lêndeas) ficam presos por uma substância acinzentada, uma
espécie de cola que os adere aos fios de cabelo (Figura 17), e desta forma garante,
assim, a fixação nos hospedeiros. No sétimo ao décimo dia após a postula, estes ovos
liberam as ninfas (estágio do piolho logo que sai do ovo). Do nono ao décimo segun-
do dia, essas ninfas chegam à fase adulta, nesse estágio, os piolhos vivem cerca de 30
dias e vão se alimentar com sangue e acasalar, reiniciando o ciclo. Seu ciclo de vida
se completa em 30 dias, podendo viver de 30 a 90 dias. Dados da literatura afirmam
que o piolho pode sobreviver até 03 dias sem se alimentar (BURKHART, 2003).
Um dos primeiros sintomas de infestação é uma intensa coceira no couro cabeludo,
principalmente na região atrás da orelha e na nuca. O piolho injeta no local da picada
enzimas anticoagulante e anestésico que reagem entre elas e geram essa coceira desta
forma o hospedeiro não sente dor. Uma enfermidade transmitida pelo piolho é Tifo
Exantemático (é uma doença por riquétsia causada por Rickettsia prowazekii) um
microrganismo do gênero Rickettsia (BURKHART, 2003).
Um dos tratamentos para pediculose é a utilização do controle químico; existem
os pediculicidas tópicos que constituem o método mais efetivo, sendo a permetrina
a mais usada. Vários medicamentos são disponíveis no mercado, dentre eles desta-
cam-se o uso de produtos à base de organofosforados e piretroides (deltametrina
e permetrina).
Outro integrante conhecido da subordem Anoplura, este ectoparasita pode para-
sitar a área genital, ocasionando um quadro conhecido vulgarmente como “chato”,
transmitido mais comumente pela relação sexual o Phithrus púbis (Figura 18). Este
parasita passa toda sua vida infestando pelos humanos, alimentando-se exclusiva-
mente de sangue, sendo que os humanos são seus únicos hospedeiros. A pediculo-
se (termo técnico atribuído à infestação por piolhos) pubiana é considerada uma
doença sexualmente transmissível (DST). Sua transmissão é feita através de contato
direto entre pelos pubianos durante o ato sexual, sendo que o uso de camisinha não
impede a transmissão. O Phithrus pubis não pula e não voa, por esse motivo, para
que haja transmissão é preciso contato íntimo entre as regiões púbicas para que o
piolho consiga passar de um pelo para outro (LIMA; GOMES; FERREIRA, 2017).
Há possibilidade de transmitir o Phithrus púbis através do compartilhamento de
lençóis e roupas íntimas.

216
UNIDADE 8

Figura 18 - Piolho (Phithrus púbis) púbico que vive nos pelos púbicos do corpo humano

Descrição da Imagem: imagem retirada de um microscópio de luz, de um piolho púbico marrom-


-avermelhado, com seis patas.

O ciclo de vida do P. púbis compreende em cinco estágios: ovo, três fases de ninfa e o
período adulto. O ovo é despejado dentro de um casulo, onde se adere fortemente ao
pelo, eclodindo entre 5 e 10 dias. O próximo estágio evolutivo é a ninfa, que emerge
deste casulo e nas próximas 24 horas fará uma refeição sanguínea. Durante aproxi-
madamente 9 dias, a ninfa evoluirá os três estágios, atingindo a fase adulta, e então
se reproduzem. Todo esse ciclo dura em torno de 1 mês, com a fêmea botando até 4
ovos por dia (FERNANDES; GORN; MATAYOSHI, 2001).
O sintoma mais comum do “chato” é a intensa coceira na região púbica. Sensação
de queimação nesta região também é comum, e esses sintomas costumam surgir uma
semana após o contágio. Para o tratamento dessa doença, vem sendo empregadas
formulações envolvendo malation, lindano, piretrina e pomadas com óxido amarelo
de mercúrio (FERNANDES; GORN; MATAYOSHI, 2001).

217
UNICESUMAR

Que nós, seres humanos, possuímos pelos por


todo o corpo você já sabia, entretanto, trago agora
um caso clínico de uma paciente feminina com
queixa de prurido e irritação nas pálpebras. Ba-
seado nos parasitas que você conheceu durante
o livro, quais você mencionaria como candidato
a causar essa irritação? Bom, vamos lá! O exame dessa paciente apareceu
com alguns casulos e piolhos aderidos à base do fio de cílios. Estamos
falando do Phthirus púbis. Após o início dos sintomas até o diagnóstico da
ftiríase, a paciente evoluiu com uma rápida melhora, o tratamento consistiu
em ivermectina por via oral, apresentando alta em 21 dias.
Você poderá encontrar o relato desse caso clínico clicando no QR
Code e descobrindo mais detalhes sobre o diagnóstico e tratamento.

A ordem Siphonaptera inclui insetos pequenos que variam entre 2,0 e 3,0 mm,
sua coloração é acastanhada, são ápteros não possuem asas, achatados lateralmente,
vulgarmente conhecidos como pulgas e os famosos bichos do pé. O corpo desses
parasitas “é revestido por cerdas dirigidas para trás, às vezes mais esclerosadas e
robustas denominadas ctenídios (= pentes), destinadas à fixação e locomoção das
pulgas entre os pêlos dos hospedeiros. O salto é o meio utilizado para alcançarem os
seus hospedeiros” (LINARDI, 2017, p. 1).
Atualmente são conhecidas cerca de 3.000 espécies, a espécie bem conhecida é o
Tunga penetrans (bicho de pé), é uma pulga que se aloja dentro da pele do hospedeiro
ocasionando a tungíase (Figura 19), uma infecção que é caracterizada por inchaços
dolorosos localizados principalmente ao redor de onde o inseto penetrou, normal-
mente ela penetra sob as unhas do pé nas partes mais moles ou entre os dedos, mas
pode parasitar qualquer parte do corpo.

218
UNIDADE 8

Figura 19 - Pé de um homem parasitado com bicho-de-pé

Descrição da Imagem: a foto mostra a sola de um pé, que em seu centro está localizado um bicho
de pé evidenciado por uma curvatura pouco avermelhada em forma de “S”.

Assim como os da subordem Anoplura, estes parasitas também são hematófagos,


com o aparelho bucal do tipo sugador-pungitivo. A metamorfose é completa, com
três estádios larvários e o ciclo biológico (Figura 20), de ovo a adulto, completa-se em
aproximadamente 25-30 dias. O primeiro estágio da pulga está no status penetrandi,
que inicia um processo inflamatório. No segundo estágio, começa a hipertrofia e o
parasita se torna mais óbvio um a dois dias após a penetração. No terceiro estágio,
a hipertrofia é máxima, o corpo atinge 7 milímetros de comprimento e é macros-
copicamente visível em duas a três semanas após penetrar na pele. O quarto estágio
ocorre após a deposição dos ovos; o parasita morre e sua carapaça é expelida. E por
último, no quinto estágio, após aproximadamente quatro semanas, a epiderme se
reorganiza (OLIVEIRA; MOREIRA, 2014).

219
UNICESUMAR

Figura 20 - Ciclo de vida do Tunga penetrans (bicho de pé)

Descrição da Imagem: foto ilustrativa do ciclo biológico do bicho-de-pé com as setas no sentido
anti-horário. Na parte inferior da ilustração, temos vários ovos maduros do Tunga penetrans, a
seta direcionada para a direita leva até uma ilustração da planta do pé (conhecida como sola do
pé) com vários pontinhos avermelhados. Em continuação ao ciclo, a próxima seta indica uma
carapaça que foi expelida, e a outra seta mostra a planta do pé em condições normais. A última
seta leva ao início do ciclo, indicando sua continuidade.

O tratamento Tunga penetrans deve ser retirado o parasita por profissionais de saúde
com os devidos cuidados. Em casos de infestação grave, pode ser necessária a hospi-
talização do paciente para que o procedimento seja feito com intervenção médica.
A profilaxia ainda é a melhor alternativa para o controle deste parasita, inter-
rompendo a cadeia epidemiológica e da transmissão, evitar andar descalço em solo
arenoso, seco, de pouca luminosidade, a pavimentação das vias públicas, cimentação
e colocação de pisos no interior das residências são medidas importantes para o con-
trole dos parasitas, controle do ambiente com inseticidas também pode ser utilizado
(OLIVEIRA; MOREIRA, 2014).

220
UNIDADE 8

Você, acadêmico(a) e futuro(a) profissional da saúde, já deve ter notado


que a tungíase é uma parasitose causada por fêmeas grávidas de uma
espécie de pulga, a Tunga penetrans; se interessou pelo conteúdo,
poderá acessá-lo pelo QR Code.

Outra ordem que abordaremos agora pertence à ordem dos hemípteros, que se caracterizam por apre-
sentar o aparelho bucal do tipo picador-sugador. Seu corpo é dividido em cabeça, tórax e abdômen e
revestido por um exoesqueleto. As principais características usadas para fazer a diferenciação são as
antenas, o rostro, as pernas e as asas. As antenas podem ter quatro ou cinco artículos; o rostro tem em
geral três ou quatro artículos, e em alguns grupos repousa em um sulco quando não está em uso. As
pernas anteriores da maioria dos grupos predadores são adaptadas para agarrar a presa e são chamadas
raptórias (GALVÃO; JURBERG 2014).
A nomenclatura do grego hemi = metade e pteron = asa se refere às asas que metade são mem-
branosas e outra metade do tipo coriácea. Exemplo dessa ordem são os percevejos, barbeiros, baratas
d’água, cigarras, cigarrinhas, pulgões, cochonilhas e mosca-branca. Um exemplo da ordem hemíptera
são os barbeiros das Américas central e do sul, onde 6 apresentam importância epidemiológica por
encontrar-se no peridomicílio. São elas: Triatoma infestans, Panstrongylus megistus, Triatoma bra-
siliensis, Triatoma sordida, Rhodinius prolixus e Rhodinius negletus.
O percevejo de cama cimex lectularius (Figura 21) é um inseto da família Cimicidae que parasita
humanos, a espécie é estritamente hematófaga, alimentando-se exclusivamente do sangue.

Figura 21 - Percevejo cimex lectularius, insetos


parasitas que se alimentam de sangue humano

Descrição da Imagem: a figura retrata um


percevejo com coloração marrom clara e
em uma de suas extremidades marrom-
-escura, achatado e oval, com seis patas
e duas antenas.

221
UNICESUMAR

Sua morfologia tem características achatadas e ovais, medindo de 4 a 7 mm. São áp-
teros e não voam, a coloração quando adultos é marrom escura, porém quando estão
em estágio juvenil sua coloração é castanho claro. Sua probóscita tem 3 canículas por
onde injetam anticoagulante e anestésico e sugam sangue.
O ciclo de vida (Figura 22) dos percevejos de cama passam pelas fases ovo, ninfa
e adultos, durando até 5 semanas e se divide. Após a oviposição, eles eclodem em
até 21 dias. Na fase de ninfa, a fêmea do percevejo de cama pode depositar cerca de
500 ovos durante sua vida, que é em média de 1 ano. Os percevejos mais pequenos
(ninfas) têm cor creme ou são translúcidos, adquirindo uma cor castanha escura à
medida que crescem; ninfas e percevejos adultos se alimentam exclusivamente de
sangue e necessitam alimentar-se para mudar e passar para a fase seguinte ou para
reproduzir-se (NASCIMENTO, 2010).

OVO
PRIMEIRO ESTÁGIO
NINFA

SEGUNDO ESTÁGIO

ADULTO ALIMENTADO
COM SANGUE

TERCEIRO ESTÁGIO

ADULTO NÃO
QUARTO ESTÁGIO
ALIMENTADO
QUINTO ESTÁGIO
Figura 22 - Ciclo de vida do percevejo de cama Cimex lectularius

Descrição da Imagem: ilustração do ciclo de vida do percevejo. Na parte superior, temos a forma oval, seguindo as
setas em sentido horário e passando por cinco estágios onde os primeiros têm cor creme ou são translúcidos, adqui-
rindo uma cor castanha escura à medida que crescem. Após esses cinco estágios, na próxima fase temos o percevejo
adulto não alimentado com formato oval e cor escura. A fase seguinte é o percevejo adulto que está alimentado com
características diferentes, seu formato já não é oval e sim longilíneo com coloração avermelhada. A última seta leva ao
início do ciclo, indicando sua continuidade.

222
UNIDADE 8

Como o nome popular já diz, o hospedeiro pre-


ferencial deste percevejo é o homem, vivendo na
cama dele, mas em caso de escassez ele pode se
alimentar de outros animais. A reação causada
pela picada deste parasita pode causar lesões (Fi-
gura 23) e ocorrem em áreas expostas durante o
repouso; essas picadas podem servir de porta de
entrada para infecções secundárias. Existem as-
sociações do Cimex lectularius, com mais de 41
doenças humanas (NASCIMENTO, 2010).

Figura 23 - Lesões causadas por um percevejo

Descrição da Imagem: a imagem retrata lesões


avermelhadas, arredondadas, distribuídas por todo o
dorso de um indivíduo do sexo masculino, que foram
causadas por um percevejo.

Com relação à picada e à coceira resultante, tendem a desaparecer naturalmente, dentro de uma se-
mana sem necessidade de algum tratamento. Para se prevenir, recomenda-se higienização frequente,
inspeção de frestas e buracos, análise de equipamentos e objetos antes de colocá-los no ambiente, além
de intervenção química.
Aranhas, escorpiões, ácaros e carrapatos são da classe Arachnida, vamos dar início agora ao
estudo. Apesar de existir grande diversidade de formas entre os aracnídeos, eles apresentam muitas
características em comum. Possuem seu corpo com simetria bilateral, constituído de anéis agrupados,
seu corpo é dividido em cefalotórax e abdome (Classe Arachnida) ou cabeça, tórax e abdome (Classe
Insecta). Possuem metâmeros que constituem o exoesqueleto, sendo formado por três camadas: cutícula,
epiderme e membrana basal. Possui um composto denominado de quitina. Os artrópodes constituem
o maior grupo do Reino Animalia, tanto em número de espécies como em número de indivíduos. Os
órgãos internos são banhados por um líquido denominado de hemolinfa que preenche a cavidade
geral ou hemocele (CORREIA, 2015).
A ordem Acari possui animais parasitas incluindo os ácaros, os carrapatos e os micuins que podem
transmitir doenças como febre maculosa para humanos, o carrapato-estrela Amblyomma cajennense
(Figura 24); tem como hospedeiros preferidos os equídeos, mas pode também parasitar bovinos, outros
animais domésticos e animais incluindo o ser humano como hospedeiro acidental. Para que ocorra a
transmissão da doença (febre maculosa), o carrapato infectado precisa ficar pelo menos quatro horas
fixado na pele das pessoas. Os mais jovens e de menor tamanho são vetores mais perigosos, porque
são mais difíceis de serem vistos.

223
UNICESUMAR

Muito bem, meu(minha) caro(a) Figura 24 - Carrapato-estrela


aluno(a), estamos chegando
Descrição da Imagem: a imagem mostra em zoom uma pele humana com
agora ao final de mais uma uni- vários pelos, e fixado nela um carrapato estrela, de cor marrom avermelhado
com uma pequena mancha branca e formato oval.
dade de parasitoses, e aposto
que você já está craque em
como preveni-las e evitá-las. Na O ciclo de vida do carrapato estrela, Amblyomma cajennense, inicia
próxima unidade, veremos os
com a larva ou micuim, que é um pequeno carrapato com 6 pernas,
meios de diagnosticá-las, mas
quase invisível a olho nu, por esse motivo, as pessoas são picadas
agora vamos aprender revisan-
nesta fase e, após alguns dias se alimentando do hospedeiro, as
do todo o conteúdo que vimos
larvas vão para o solo e trocam de pele, mudando para o estágio
nesta unidade sobre parasito-
ses sanguíneas. Por isso eu te
de ninfa, com 8 pernas, e retornam ao hospedeiro. É nesta fase que
convido a ouvir o podcast, e os carrapatos atingem 4 mm de comprimento, com coloração cas-
sei que, se ainda tiver alguma tanho-escura e facilmente visíveis. Os carrapatos sugam o sangue
dúvida, depois que você ouvir até ficarem com aspecto inchado, e retornam para o solo, mudando
as explicações tudo ficará mais para a fase adulta, retornando para a última hospedagem onde
claro. Vem comigo! fazem o acasalamento. A fêmea permanece sugando o sangue até
cair ao solo e fazer a postura dos ovos, que podem chegar até 8 mil
ovos (MELO, 2009).
Uma das doenças transmitida pelo carrapato-estrela é a febre
maculosa, que só é instalada no hospedeiro quando o carrapato
está infectado com a bactéria Rickettsia rickettsii. Essa doença é
mais comum em pessoas que vivem em zonas rurais, sendo que
ela também pode afetar locais que contêm uma infestação de car-
rapatos. Quando a bactéria cai na circulação, causa vasculite, isto é,
lesa a camada interna dos vasos (endotélio). Os primeiros sintomas
aparecem de dois a 14 dias depois da picada. Na imensa maioria
dos casos, sete dias depois.
Como medida de prevenção, é importante evitar o contato com
carrapatos, bem como o uso de compostos químicos.

224
Durante todo o livro, aprendemos sobre parasitas, nematoides, aracnídeos, dentre outros. Em
especial nesta unidade, vimos diferentes parasitoses sanguíneas, ácaros, piolhos, e descobrimos
seus ciclos biológicos, o que nos auxilia muito em como prevenir cada patologia. Agora vamos
colocar nosso conhecimento em prática: convido você a fazer um mapa mental que auxiliará na
memorização do conteúdo acima ministrado. Vamos lá!

Toxoplasma Pediculus humanus Ninfa e ovos


Taquizoíto, capitis
Bradizoíto, gondii
Oocisto

Epimastigota, Parasitoses do sangue, Phithrus


púbis Ninfa, ovo, adulto
Tripomastigota, e que se alimentam
Amastigota de sangue
Tripanossoma Tungo Pupa, adulto, ovo e larva
cruzi penetrans
Cimex
lectularius Ovo, ninfa e adulto

Verme adulto, Wuchereria Amblyomma


bancrofti Ovo, larva, ninfa e adulto
Microfilária, cajennense
Larvas

MAPA MENTAL

225
1. O filo dos artrópodes é o maior dos seres vivos, tanto em número de espécies como
na quantidade de indivíduos. Todos os artrópodes possuem o corpo dotado de vários
segmentos, como patas e antenas, que possibilitam movimentos, e possuem simetria
bilateral, que é uma linha imaginária que divide o corpo em duas metades iguais, ou
praticamente iguais. Essa divisão vai formar duas partes simétricas. São protostômios
no desenvolvimento embrionário: quando o orifício que conecta o meio interno do
embrião com o meio externo da origem apenas à boca ou tanto à boca quanto ao
ânus, esses animais são chamados de protostômios (PINTO; GRISARD; ISHIDA, 2011).
Descreva o que são organismos triblásticos.

2. O toxoplasma foi bem caracterizado a nível celular, desde a sua identificação em 1908,
medindo cerca de 6 µm de comprimento e 2 µm de largura em sua forma replicativa;
ele possui organelas padrão, incluindo núcleo, reticulo endoplasmático, um único apa-
rato de Golgi e uma mitocôndria. Como é um parasita pertencente aos Apicomplexos,
o Toxoplasma possui um apicoplasto. O parasita causador da toxoplasmose pode se
apresentar de três formas diferentes, fundamentais e algumas outras intermediárias
que aparecem durante seu ciclo biológico.
Assinale a alternativa correta que corresponde às três formas parasitárias.
a) Taquizoítas, Bradizoítos, Larva.
b) Bradizoítos, Oocisto, Pupa.
c) Taquizoítas, Bradizoítos, Oocistos.
AGORA É COM VOCÊ

d) Taquizoítas, Bradizoítos, Pupa.


e) Bradizoítos, Oocistos, Larva.

226
3. O ciclo de vida do carrapato estrela, Amblyomma cajennense, inicia com a larva ou micuim,
que é um pequeno carrapato com 6 pernas, quase invisível a olho nu, por esse motivo,
as pessoas são picadas nesta fase e, após alguns dias se alimentando do hospedeiro,
as larvas vão para o solo e trocam de pele, mudando para o estágio de ninfa, com 8
pernas, e retornam ao hospedeiro. É nesta fase que os carrapatos atingem 4 mm de
comprimento, com coloração castanho-escura e facilmente visíveis. Os carrapatos
sugam o sangue até ficarem com aspecto inchado, e retornam para o solo, mudando
para a fase adulta, retornando para a última hospedagem onde fazem o acasalamento.
A fêmea permanece sugando o sangue até cair ao solo e fazer a postura dos ovos, que
podem chegar até 8 mil ovos (MELO, 2009).
Assinale a alternativa que corresponde à doença transmitida pelo carrapato-estrela:
a) Doença de chagas.
b) Febre amarela.
c) Toxoplasmose.
d) Febre maculosa.
e) Dengue.

AGORA É COM VOCÊ

227
MEU ESPAÇO

228
9
Diagnóstico e
Posologia
Me. Luara Lupepsa

Agora que você, aluno(a), já aprendeu sobre o ciclo de vida, transmis-


são, tratamento e formas evolutivas de dezenas de parasitas e hel-
mintos, vamos ter a oportunidade de saber como identificá-los diante
de diferentes técnicas, utilizando diferentes materiais biológicos.
UNICESUMAR

De acordo com o que você aprendeu nas unidades anteriores, a presença de determi-
nados parasitas pode gerar diferentes quadros clínicos, dentre eles, um sintomático e
um assintomático, ou seja, cada indivíduo reage de uma forma diferente ao parasita,
podendo ou não desenvolver sintomas. Essa característica varia do estado imunológi-
co do hospedeiro, além de estar relacionada com a virulência do parasita em questão.
Inúmeros parasitas são relatados na natureza, sabemos que a biodiversidade desse
reino possui características que não são compartilhadas com animais ou plantas,
sendo onipresente por todo o mundo, fazendo o número global de espécies ser re-
lativamente pequeno, entretanto, uma nova proporção significativa de protozoários
está, em algum momento, aguardando condições climáticas e ambientais adequadas
para o seu crescimento (NICHOLS, 2014).
Conforme essa diversidade parasitária, a interação com o hospedeiro pode se dar
de diversas maneiras, seja uma ação tóxica, mecânica, irritativa ou até mesmo traumá-
tica. Desse modo, o correto diagnóstico da parasitose em questão, que está acometendo
o hospedeiro, é de vital importância, tanto para evitar uma piora no quadro clínico
quanto para evitar que mais pessoas sejam contaminadas, disseminando a doença.
Uma forma eficaz de reduzir a contaminação seria um diagnóstico correto do pa-
rasita em questão, isso poderia contribuir para programas de epidemiologia que visam
erradicar os parasitas de determinada região. As técnicas de diagnóstico se baseiam
na identificação do parasita nas fezes do indivíduo infectado, seja em qualquer fase
do ciclo de vida parasitário. Esse exame busca procurar cistos, trofozoítos, ovos, larvas
ou até mesmo os organismos adultos. Entretanto, você aluno(a) verá a seguir que, em
muitos casos, podemos identificar o gênero, mas os cistos de espécies diferentes são
muito semelhantes, o que impede de descrever com precisão a qual espécie pertence
aquele parasita. Imagine você, profissional da área da saúde, se deparando com essa
situação: como você prosseguiria?
Nesta unidade, vamos estudar quais as técnicas utilizadas para detectar e identificar
os parasitas em diferentes amostras clínicas, o que irá contribuir para um diagnóstico
preciso e certeiro quando você estiver em seu ambiente de trabalho.
Você sabia que a parasitologia foi considerada ciência e os parasitas foram con-
siderados agentes etiológicos mais de 100 anos atrás? Imagine então, nesse período
de tempo, quantas novas técnicas foram descobertas para investigar e detectar os
parasitas em diferentes estágios do ciclo de seu desenvolvimento.
Apesar de todo o desenvolvimento científico conquistado na área durante esses
150 anos, com a utilização de técnicas de biologia molecular e imunológicas, a para-
sitologia se baseia em procedimentos manuais e com o auxílio de um microscópio,
como na primeira técnica desenvolvida por Lutz, em 1919. Vamos entender agora
como são realizadas as principais técnicas para diagnóstico de doenças parasitárias.

230
UNIDADE 9

Imagine que você está fazendo estágio em um laboratório de análises clínicas e recebe uma amostra
de fezes para buscar parasitas e/ou helmintos. Além dessa amostra, o paciente está esperando a coleta
de sangue também, que visa buscar alguns parasitas que destroem as hemácias. Provavelmente estamos
falando de parasitoses como doença de Chagas e malária, como você já estudou nas unidades anterio-
res. Esses parasitas precisam das hemácias para completar seu ciclo de vida, mas quem realmente vai
identificar esse parasita e dizer se é mesmo a suspeita clínica é você. E para ajudar nessa busca, essa
unidade vai trazer muitos métodos laboratoriais, que visam identificar o parasita, e vamos descobrir
que não é só em amostras de fezes e sangue, mas podemos encontrar parasitas ou partes do seu DNA
em diferentes outras amostras que podem ser aplicadas em um laboratório de pequeno porte ou em
um laboratório de grande porte.
Você já deve, em algum momento da sua vida, ter feito um exame parasitológico de fezes. E mais
além ainda, já se questionou como é realizado esse exame, o que deverá ter no seu laudo final? Que tipo
de amostras poderão ser coletadas para os exames parasitológicos? Quais os possíveis resultados? E se
esse resultado der positivo para algum parasita, como você deve agir para tratar essa patologia? Quais
os fármacos que deverão ser utilizados, quais os fármacos contraindicados? Você sabia, também, que o
processo do diagnóstico de doenças se divide em algumas fases: pré-analítica (referente ao momento
antes da análise), analítica (momento da análise) e pós-analítica (após a análise da amostra)? Vamos
conhecer todas essas etapas a seguir.
Diante disso, como você aluno(a) desenvolveria um laudo parasitário? Faça suas anotações no Diário
de Bordo e, no final do livro, vamos ver se elas permanecem iguais ou diferentes.

DIÁRIO DE BORDO

231
UNICESUMAR

Na fase pré-analítica, estamos falando de todo o procedimento antes da análise, o que


muitas vezes pode interferir em uma análise precisa. Tudo começa com a coleta do
material. Para que a realização desse exame seja válida, a coleta deverá ser em reci-
piente limpo e seco, com boca larga, vedação hermética para impedir derramamento
e preservando da umidade. Normalmente concedido pelo laboratório, o frasco deve
ser livre de antissépticos e de agentes germicidas, diferentemente de coletas de urina.
Sabe por que essa diferença na hora da coleta? A utilização de agentes germicidas,
óleos ou até mesmo urina no frasco, pode causar destruição das formas vegetativas,
isso acarretaria em um exame falso-negativo. Outra questão importante é como essa
coleta é realizada, fezes excretadas em solo não poderão ser utilizadas para exames
parasitários, pois o solo pode conter parasitas que migraram para a amostra, con-
fundindo o diagnóstico (MACEDO, 2010).

Figura 1 - Frasco para exame parasitológico de fezes

Descrição da Imagem: esta imagem representa um frasco de coleta de fezes arredondado com
tampa arredondada de coloração vermelha, sendo segurado por uma mão com luva azul.

Alguns laboratórios adotam o uso de alguns conservantes químicos, para o caso de a


amostra não ser processada e analisada dentro de 24 horas, entretanto, vale lembrar
que, se as fezes são diarreicas, estas devem ser analisadas dentro de 1 hora após o re-
cebimento da amostra, e na maioria das vezes estão associadas a parasitas intestinais.
O uso de conservantes ajuda a manter as formas parasitárias intactas até o momento
da análise. Na tabela abaixo, encontram-se alguns dos conservantes mais utilizados
e as formas parasitárias em que elas atuam.

232
UNIDADE 9

Formas parasitárias
Nome do conservante Composição do fixador
que conservam

Água destilada (250 mL)


Mercurocromo (250 mL) Mais utilizado, fixa quase todos os
MIF- Mercurocromo, Iodo
estágios de protozoários, ovos e
e Formol Formol (25 mL) larvas de helmintos
Glicerina (5 mL)
Acetato de sódio (1,5g)
Ácido acético (2,9 mL) Cistos e Trofozoítos
SAF – Fixador
Formol 40 % (4,0mL) Útil para formas diarreicas
Água destilada (92,5 mL)

Formol (10 mL) Conserva por até um mês ovos ou


Formol 10 % larvas de helmintos e os cistos e
Solução salina a 0,85% (90 mL) oocistos de protozoários.

Tabela 1 - Principais conservantes utilizados na rotina dos setores de parasitologia / Fonte: adaptada de Neves, Melo e Linardi (2005).

Depois da amostra coletada, devemos identificá-la e armazená-la refrigerada, até o momento do pro-
cessamento. Para uma melhor preservação da morfologia dos protozoários, as amostras que não forem
encaminhadas imediatamente para o laboratório deverão ser refrigeradas (3° a 5°C), o que mantém
os ovos e as larvas de helmintos viáveis por vários dias (MACEDO, 2010). A identificação do parasita
é feita pela morfologia, e esse critério pode ser afetado por diferentes fatores como a colheita malfeita,
má-preservação ou material velho... você, aluno(a), consegue pensar em mais algum erro, que possa
acontecer na fase pré-analítica?
Agora que você já refletiu sobre todos os erros que possam acontecer na pré-análise do seu material,
vamos entrar para a fase analítica, onde serão abordados alguns métodos de análise. Iniciando pelo
exame parasitológico de fezes (EPF), objetiva diagnosticar os parasitas intestinais, por meio das di-
ferentes formas evolutivas que encontramos em amostras de fezes, devido sua eliminação. Estudamos,
durante as unidades anteriores, que o meio mais comum de contaminação parasitária é a oral-fecal,
por essa razão, através das amostras de fezes podemos identificar se a causa da manifestação clínica é
causada por parasitoses.
Daremos início agora à fase analítica, que é quando estamos falando realmente do momento da
análise. Vamos lembrar que, quando você aluno(a) estiver em seu ambiente de trabalho, poderá se de-
parar com diferentes parasitas, e esses parasitas poderão variar em peso e sobrevida no meio exterior.
Assim, não há método capaz de diagnosticar todas as formas parasitárias no mesmo tempo, porém há
métodos gerais que podem dar um rumo para o seu diagnóstico.
No Brasil, o EPF é indicado como primeira escolha pela Funasa - Fundação Nacional de Saúde, pois
é um método mais econômico (cerca de 4 reais por amostra) e rápido para o diagnóstico de diversas
parasitoses, objetivando comprovar por meio de achados de diferentes formas de parasitas, tais como
ovos, larvas de helmintos, cistos, trofozoítos e até mesmo parasitas adultos, presente em amostras fecais
(LIMA et al., 2020).

233
UNICESUMAR

O exame parasitológico pode ser dividido em duas fases: macroscópica e microscópica.


Na fase macroscópica, verifica-se a amostra a olho nu, analisando-a quanto à
consistência e presença de elementos anormais, tais como o aparecimento de larvas
adultas, as quais identificamos com o ajuda de um palito de sorvete e que devem ser
identificadas na mesma hora que quando encontradas.
O exame direto a fresco é uma opção rápida, mas não é uma opção sensível. Esse
exame consiste na coleta com o auxílio de um palito de sorvete de três pequenas porções
de fezes ao longo da amostra, e se possível em dias diferentes. Após a coleta, o material
é depositado em uma lâmina de vidro e corado com lugol, sendo recomendado fazer 3
ou mais lâminas para análise. A utilização de lamínula é uma opção para o(a) aluno(a).

Figura 2 - Exame direto a fresco

Descrição da Imagem: a imagem traz uma foto de um microscópio, evidenciando a análise na


objetiva de 40 vezes, com uma lâmina recém-montada, pronta e prestes a ser analisada.

Você consegue imaginar o porquê de esse exame não ser sensível? Imagine que essa
amostra possui poucos parasitas, dificilmente o manipulador irá pegar esses parasi-
tas, mesmo coletando de diferentes regiões da amostra. Por isso esse exame deve ser
associado com mais algum dos métodos a seguir (NEVES; MELO; LINARDI, 2005).
Muitas vezes os parasitas são eliminados em pequena quantidade, sendo necessário
recorrer a métodos que os concentrem, esses métodos são baseados em sedimentações
espontâneas, por centrifugas, flutuações ou migrações ativas.

234
UNIDADE 9

A técnica de Lutz, também conhecida como método de Hoffman, Pons e Janer (1919), fundamenta-se
na sedimentação espontânea das formas parasitárias, sendo esse método uma técnica qualitativa e de
baixa sensibilidade, descrita inicialmente para a detecção de Schistosoma mansoni. A técnica consiste
na atração das formas parasitárias pela ação da gravidade, permitindo a concentração de ovos, cistos,
oocistos e larvas de inúmeras espécies. É o método mais utilizado em serviços de saúde, devido ao seu
amplo aspecto de detecção, baixo custo e facilidade de execução. Como o método funciona pela ação
gravitacional, quando uma porção de amostra é homogeneizada em água destilada, o seu conteúdo é
filtrado através de uma gaze ou algodão para um cálice e seu volume completado com água destilada
até 1 cm da borda superior do cálice. Esse recipiente deverá descansar de 1 a 24 horas para que se
obtenha um sedimento, onde os ovos, larvas, cistos e oocistos, por terem uma densidade maior, serão
atraídos pela força gravitacional até o fundo do cálice, de onde se é coletado e realizado um esfregaço
em uma lâmina, corado com lugol e analisado em microscopia de luz (LIMA et al., 2020).

Figura 3 - Passo a passo da técnica de Hoffmans, Pons e Janer / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 39 ).

Descrição da Imagem: é uma figura didática, esquematizando como é a realização da técnica de Hoffman, Pons e Janer.
Nesta figura, constam a presença de dois beckers pequenos (primeiro com porção de amostra e no segundo é homoge-
neizada em água destilada), dois cálices alongados (primeiro com uma gaze na parte superior recebendo o conteúdo e no
segundo está o material sedimentado ao fundo) e duas lâminas preparadas.

Outro método, agora baseado na centrifugação por flutuação em sulfato de zinco (ZnSO4), é o método
de Faust. Ao contrário dos testes de concentração, que buscam por formas parasitárias no sedimento,
o método de Faust busca as formas parasitárias na “película” formada pelo sobrenadante da amostra.
Devido a menor densidade de alguns parasitas, estes ficam flutuando na amostra após adicionar uma
solução de sulfato de zinco. É um método útil para a visualização de ovos leves e cistos de alguns pro-
tozoários (PANTOJA et al., 2015).

235
UNICESUMAR

Figura 4 - Método de Faust. A imagem mostra o momento da transferência do sobrenadante onde estão as formas parasitá-
rias para uma lâmina, as quais foram anteriormente tratadas com sulfato de zinco / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 41).

Descrição da Imagem: a figura acima traz, da esquerda para a direita, um becker, um cálice de sedimentação com uma
gaze para filtrar, eppendorf e lâmina com amostra parasitária.

Outro método por flutuação bem estabelecido é o Método de Wlillis, que se baseia em princípios de
densidade e flutuação, e diferentemente do método de Faust que vocês já conheceram, o método de
Willis utiliza para flutuação uma solução de cloreto de sódio e água destilada. O teste inicia-se com
a diluição de cerca de 1 grama de amostra fecal nessa solução, despejado em um recipiente de 3 cm
de diâmetro; após esse procedimento, uma lâmina de microscopia é colocada sobre a boca desse re-
cipiente, e então o volume é completado até que ele atinja a lâmina de vidro. Esse recipiente fica em
repouso por 5 minutos, após esse período a lâmina é invertida e visualizada em microscopia de luz
sem o uso de corantes.

Solução concentrada de NaCl


Figura 5 - Método de Willis / Fonte: Carli (2007, p. 53).

Descrição da Imagem: nesta imagem há um becker redondo, pequeno, com uma solução de NaCl, e uma lamínula em cima
dele, de modo que o líquido está encostando nesta lamínula e os parasitas são capturados desta maneira.

236
UNIDADE 9

No método de Rugai, as fezes são colocadas em


contato com a água morna contida em um cálice
de sedimentação. Esse método é utilizado para pes-
quisa de larvas presentes em fezes frescas, cultura
ou para pesquisa de larvas, entretanto, é contraindi-
cado para fezes diarreicas ou amostras conservadas
por muito tempo, pois pode causar morte das larvas
(PANTOJA et al., 2015). O método de Rugai con-
siste na retirada da tampa do recipiente de coleta,
envolvendo o recipiente em uma gaze dobrada em
quatro, resultando em uma pequena “trouxa”.
Em um cálice de sedimentação com água aque-
cida a 45° C, esse material recém-preparado é co-
locado de cabeça para baixo e deixado em repouso
por uma hora. Neste teste, colhe-se os sedimentos
do fundo com uma pipeta e observa-se em micros- Figura 6 - Cálice contendo amostra fecal, como o método de
Rugai / Fonte: Neves, Melo e Linardi (2005, p. 460).
copia de luz com o corante lugol (NEVES; MELO;
LINARDI, 2005). Descrição da Imagem: cálice de sedimentação, con-
tendo uma gaze com amostra fecal dentro dela.
O método de Baermann-Moraes permite a pes-
quisa de ovos, larvas de helmintos e cistos de protozoários, esse teste baseia-se no hidrotermotropismo.
São separados de 8 a 10 gramas de fezes e despejados em uma gaze dobrada em quatro, em seguida essa
preparação é colocada sobre um funil de vidro, o qual deve possuir uma borracha conectada à extremidade
inferior de sua haste. A água aquecida a 45 °C é depositada até entrar em contato com as fezes, ficando em
repouso por cerca de uma hora. Após esse tempo, de 5 a 7 ml são coletados em um tubo, levados para a
centrífuga e configurados a 1000 rotações por minuto (RPM). O sedimento, então, é colhido e visualizado
em microscopia, em um aumento de 10X (NEVES; MELO; LINARDI, 2005).

Figura 7 - Método de Baermann-Moraes: (a) Funil contendo água morna a 45 °C; (b) Cálice montado, contendo as fezes sobre
a gaze, em contato com a água / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 41).

Descrição da Imagem: são dois cálices, sendo que o segundo contém uma gaze para filtrar a amostra, ambos os cálices
estão em uma estrutura de madeira.

237
UNICESUMAR

Na rotina laboratorial, usa-se com frequência métodos qualitativos, ou seja, méto-


dos que dizem se aquele determinado parasita se encontra em uma amostra ou não,
entretanto, vamos aprender agora um método quantitativo, ou seja, que permite a
identificação e quantificação por grama de fezes, o Método de Kato-Katz. Em algu-
mas infecções de helmintos como Ascaris lumbricoides, Enterobius vermicularis,
Necator americanos, Schistosoma mansoni, Taenia sp. e Trichuris trichura é possível
essa quantificação, porém, se as fezes forem diarreicas, esse teste torna-se ineficaz.
O método consiste basicamente na identificação de ovos e parasitas por meio de
uma minuciosa análise em microscopia de luz, onde a amostra é depositada sobre
um papel, filtrada com a ajuda de uma tela de metal, depositada sobre uma lâmina
e coberta por uma lamínula de celofane que deve ser anteriormente preparada em
verde malaquita, que então é pressionada sobre um papel absorvente e visualizada
em microscopia. Cistos de protozoários não são identificados por esse método,
que por ser quantitativo demora mais tempo para ser finalizado (NEVES; MELO;
LINARDI, 2005).

Figura 8 - Alguns elementos do método Kato-Katz / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 41).

Descrição da Imagem: na imagem apresentada está o passo a passo do método Kato-Katz, com as amostras.

Algumas doenças causadas por parasitas podem também ser diagnosticadas pelo
sangue, isso depende do ciclo de vida do agente etiológico, ou seja, se ele fizer o uso
de eritrócitos para o seu desenvolvimento como a malária, filariose bancroftiana,
babesiose e a doença de chagas, eles podem ser diagnosticados pelo exame de sangue.
O exame de sangue consiste em examinar no microscópio uma gota de sangue do
paciente colocada sobre uma lâmina para se observar o parasita vivo ou ele fixado e
corado por meio de esfregaços (NEVES; MELO; LINARDI, 2005).

238
UNIDADE 9

A coleta do sangue deverá ser feita no dedo


ou no lóbulo da orelha, onde a pele é fina e há
boa irrigação venosa; esta deverá estar limpa
com um algodão molhado em álcool iodado
A B
ou álcool puro, em seguida, deve-se espe-
rar secar antes de realizar a perfuração com
uma agulha estilete, para evitar a hemólise
das hemácias. A análise poderá, então, seguir
de duas maneiras: direta ou em esfregaço.
C D
A análise direta consiste na gota de sangue
coletada e coberta com uma lamínula logo
após a coleta para evitar a coagulação do san-
gue. Esse exame a fresco permite evidenciar
parasitas vivos, movimentando-se, se estes
E F estiverem presentes na amostra. O segundo
método, em esfregaço, pode ser dividido ain-
da em esfregaço de camada delgada e esfrega-
ço de camada espessa. O esfregaço de camada
delgada é mais utilizado para identificação
da forma e espécie de vários parasitas; nesse
método uma gota de sangue é despejada em
G
uma extremidade da lâmina, e com auxílio de
outra lâmina em uma angulação de 45 C, es-
Figura 9 - Coleta de sangue para buscas de parasitas em hemácias
/ Fonte: Paraná (2019, p. 5).
palha a gota até o final da outra extremidade.
Neste método, há necessidade de corar com
Giemsa ou Leishman. O esfregaço de camada
Descrição da Imagem: é uma sequência de sete imagens
demonstrando a coleta de sangue em dedo indicador até a espessa é mais utilizado para diagnóstico epi-
confecção da extensão sanguínea. Composta por seis imagens
pequenas quadradas e uma imagem grande retangular. demiológico, é um método em que a gota é
espalhada sobre uma pequena área, deixa se-
car 6 a 36 horas, cora pelo método de Giemsa
e então examinada. Os parasitas podem ser
identificados em pouco tempo, entretanto,
há uma maior dificuldade de visualizá-los
no microscópio (NEVES; MELO; LINARDI,
2005). Por isso, é importante você entender
e conhecer diferentes técnicas, pois alguns
métodos exigem uma maior habilidade e ex-
periência por parte do microscopista.

239
UNICESUMAR

GOTA ESPESSA ESFREGAÇO SANGUÍNEO

GOTA ESPESSA + ESFREGAÇO

Figura 10 - Exemplo de lâminas com esfregaços sanguíneos / Fonte: Paraná (2019, p. 5).

Descrição da Imagem: é um desenho ilustrativo de três métodos de confecção de lâminas para visualizar parasitas. Tais
métodos correspondem à gota espessa, esfregaço sanguíneo e ambos em uma mesma lâmina.

Agora que você está familiarizado com os principais métodos de diagnóstico de parasitas e helmintos,
vamos estudar quais os critérios que usaremos para escolher o método mais viável. Vamos relembrar
que já sabemos que as formas parasitárias variam quanto à sua densidade, mas devemos destacar agora
que, na maioria dos casos, as amostras chegam sem uma suspeita clínica, ou seja, você desconhece os
sintomas que aquele indivíduo está apresentando, por isso devemos escolher um método mais geral
como primeira análise.

Figura 11 - Exemplo de lâmina microscópica com achados san-


guíneos de esquizontes de P. vivax parasitando uma hemácia
com macrocitose / Fonte: Cimerman e Franco (2011, p. 253).

Descrição da Imagem: fotografia retirada de um micros-


cópio onde há muitas hemácias normais, entretanto, a
seta vermelha mostra uma célula sanguínea parasitada
com um aumento de tamanho e uma coloração mais
destacada que as demais.

240
UNIDADE 9

Quando é solicitada a pesquisa de um parasita específico, deve-se realizar tanto o


método geral quanto o método mais específico para aquele parasita, deixando o lau-
do mais completo, pois buscará mais parasitas e não só aquele em que foi solicitado.
Com a finalidade de obter uma maior qualidade no laudo de seu paciente, os exames
negativos devem ser repetidos com outra amostra de um dia diferente, isso porque o
parasita pode apresentar-se de diferentes formas parasitárias. Outra recomendação
em que se deve ter atenção, é que algumas espécies de parasitas só são evidenciadas
por técnicas específicas, por isso devemos estar atentos às peculiaridades de cada
método que estudamos até o momento, pois eles são os mais utilizados devido ao
baixo custo e à facilidade.
Diferentemente do exame parasitológico de fezes e da busca parasitária em células
do sangue, os exames que estudaremos agora serão de grande importância, entretanto,
na rotina laboratorial, principalmente em laboratórios de pequeno porte, não são
aplicados devido ao seu elevado custo e à falta de treinamento adequado.
Você já deve ter ouvido falar em biologia molecular, ou até mesmo estudado
durante o seu curso, pois é através de técnicas de biologia molecular que obtemos os
resultados mais sensíveis. A biologia molecular objetiva detectar o DNA (ácido deso-
xirribonucleico) e o RNA (ácido ribonucleico) do patógenos, fornecendo informações
muito além das oferecidas pela microscopia tradicional. Essas técnicas moleculares
possuem vantagens sobre as demais, uma delas é que o teste é independente da
imunocompetência do organismo infectado e do tempo de infecção, bem diferente
dos testes sorológicos, que veremos mais adiante nesta unidade. Outra vantagem é
que essas técnicas são extremamente específicas e identificam o DNA parasitário em
diferentes amostras biológicas, além de poder detectar o DNA parasitário mesmo
em pequenas quantidades e poder diferenciar as espécies (PANTOJA et al., 2015).
A técnica de amplificação de DNA, denominada reação em cadeia da polimerase
– PCR, possibilita que qualquer região do DNA de qualquer organismo seja multipli-
cada, e esse processo ocorre em um termociclador. Para que a reação da PCR ocorra,
alguns elementos são indispensáveis, como os nucleotídeos, a enzima DNA-polime-
rase, os primers e a amostra que contém a sequência que será amplificada. Após a
multiplicação do DNA, o resultado baseia-se na visualização do produto amplificado
de agarose, que nada mais é do que várias cópias do fragmento de DNA do parasita,
evidenciadas por meio de uma técnica chamada eletroforese.

241
UNICESUMAR

Primer de
DNA DNA Nucleotídeos
Componentes

Desnaturação

Anelamento

Alongamento

Figura 12 - Fases do ciclo de uma PCR

Descrição da Imagem: a figura é um desenho esquematizado de um eppendorf, e nele estão contidos elementos figurados
que compõem uma PCR.

Ainda dentro da biologia molecular, outro teste utilizado por laboratórios de grande porte, devido
seu elevado custo, é a reação da polimerase em cadeia em tempo real - PCR real time. É uma variante
da PCR convencional, que você aluno(a) acabou de conhecer, entretanto, nessa variação o exame é
realizado em um aparelho mais moderno que facilita a quantificação da expressão gênica de deter-
minados tecidos e amostras. O princípio desse teste é baseado em técnicas de fluorescência (quanto
maior a fluorescência captada, mais DNA a amostra possui e, por consequência, mais parasitas estão
presentes), e na medida em que as novas fitas vão sendo sintetizadas, a fluorescência vai sendo captada
pelo aparelho e a quantificação vai sendo realizada (PANTOJA et al., 2015).

242
UNIDADE 9

Uma técnica da biologia molecular que está em alta no mundo das


pesquisas científicas é o CRISPR, e vem se destacando ainda mais
no mundo da parasitologia. Essa tecnologia está revolucionando a
pesquisa na parasitologia, trata-se de uma edição do genoma não
só dos parasitas, mas de diferentes organismos, incluindo vetores de
transmissão, como o mosquito Anopheles, por exemplo. O processo
inicia através de uma proteína Cas9, que induz a quebra na fita dupla do DNA no local de
interesse, ou seja, no gene que queremos modificar, é nesse momento que poderão ser
excluídos, inseridos e mutado o genoma do parasita. Logo em seguida, a quebra desse DNA
é reparada e o DNA volta a ser uma sequência de dupla fita. Você consegue imaginar quan-
tos benéficos essa técnica pode trazer para podermos erradicar essas doenças? Se você se
interessou nas informações acima, poderá saber mais no QR Code e mergulhando nesse
maravilhoso mundo da biologia molecular no combate a diferentes parasitas e helmintos.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Agora que você já aprendeu sobre os métodos de detecção parasitária pelos exames convencionais e
pela biologia molecular, vamos conhecer os métodos sorológicos de detecção.
Os exames sorológicos se baseiam na detecção de antígenos, anticorpos ou imunocomplexos na
amostra analisada, eles são opções que podem ser usados na rotina de um laboratório de pequeno porte,
por exemplo, pois podem ser manuais, semiautomatizados ou automatizados.
Você, aluno(a), já deve ter se familiarizado com alguns conceitos que são utilizados nos cursos da saúde,
para os testes sorológicos vamos dar uma relembrada em alguns deles, de maneira sucinta, os quais serão
de interesse na parasitologia. Vimos no decorrer do curso que anticorpos de classe IgG começam a ser
formados no final da fase aguda e permanecem como anticorpos de memória, já os IgM são formados
no início da infecção e permanecem detectáveis apenas na fase aguda. A reação antígeno-anticorpo é a
base dos testes sorológicos, vamos entender o porquê.
O primeiro teste imunoenzimático, conhecido como ELISA, é baseado na sensibilização de microplacas
com antígenos específicos e encubados com anticorpos, que estariam presentes ou não na amostra a ser
investigada. Durante o procedimento, um substrato específico é marcado com uma peroxidase que emite
coloração se positiva, confirmando a ligação ao anticorpo em questão. A leitura é feita com a ajuda de
um espectrofotômetro, que mede a intensidade da coloração gerada em cada poço da placa (cada poço
representa uma amostra diferente), e essa coloração está ligada à quantidade de anticorpos presente na
amostra, ou seja, se a coloração for mais intensa, quer dizer que a amostra possui uma maior quantidade de
anticorpos. Uma das vantagens dessa técnica, que é muito usada para o diagnóstico de doença de Chagas, é
que é possível investigar vários pacientes diferentes em um mesmo espaço de tempo (PANTOJA et al., 2015)

243
UNICESUMAR

Figura 14 - Reação por ELISA

Descrição da Imagem: a reação acima é um esquema de como acontece o ensaio ELISA. Nela estão anticorpos em verde e
vermelho (em formato de “Y”), e as placas do tipo ELISA ao lado esquerdo da imagem na parte inferior (formato cilíndrico,
uma ao lado da outra), com 24 poços de reação.

Outro teste sorológico conhecido é a


imunofluorescência indireta (IFI), que se
baseia na marcação de anticorpos com
corantes que emitem fluorescência, e por
ANTICORPO SECUNDÁRIO FLUORÓFORO
esse motivo não podem ser analisados
(ANTI-ANTICORPO)
em microscopia de luz, apenas em um
microscópio de fluorescência com luz
ultravioleta, o que acaba encarecendo o
custo para essa análise. O procedimento
é simples, o soro do paciente é colocado e ANTICORPO PRIMÁRIO
incubado por horas em uma lâmina que
foi anteriormente preparada com os antí- ANTÍGENO
genos do parasita que está sendo investi-
gado, a revelação da formação ou não do
complexo antígeno-anticorpo será pela
adição de um outro anticorpo fluores-
Figura 15 (a) - Reação da imunofluorescência indireta
cente, específico para o complexo. Esse
teste é mais indicado para a fase aguda da Descrição da Imagem: a figura exemplifica como é um teste de imu-
infecção de leishmaniose, doença de Cha- nofluorescência. O anticorpo primário, em verde, localiza o antígeno,
e o anticorpo secundário, em azul, reconhece o anticorpo primário
gas, toxoplasmose, entre outras, e possui e se liga a ele. Toda a reação é visualizada graças aos fluorocromos,
que estão exemplificados pelas esferas marrons.
alta sensibilidade (PANTOJA et al., 2015).

244
UNIDADE 9

Figura 15 (b) - Reação de Imunofluorescência Indireta, com antígeno de Trypanosoma cruzi


Fonte: São Paulo ([2021], on-line).

Descrição da Imagem: imagem retirada de um microscópio de fluorescência. Em verde, está mar-


cado o T. cruzi.

Agora você conheceu quatro diferentes abordagens para chegar ao diagnós-


tico de uma parasitose, vamos relembrar quais são? Iniciamos o estudo da
unidade com os exames parasitológicos de fezes, e aprendemos que dentro
desses testes podemos visualizar os parasitas com base na sua densidade.
Em seguida, você aprendeu que podemos buscar parasitas diretamente
no sangue, entretanto não vamos aplicar esse método em todas as para-
sitoses, certo?! Apenas algumas como a malária, pois para esse teste ser
viável, a hemácia deve fazer parte do ciclo parasitário. Outra abordagem que
você conheceu foi a ancorada na biologia molecular e na busca pelo DNA
dos parasitas, e vamos destacar que essa é pouco usada, pois o custo de
equipamento é alto para muitos laboratórios. E para finalizar o diagnóstico
das parasitoses, você aprendeu que os anticorpos, que estão presentes em
pacientes positivos, podem ser detectados por testes sorológicos, como o
ELISA e a imunofluorescência.

245
UNICESUMAR

A última fase do seu exame parasitário compreende na fase pós-analítica, ou seja, todos os processos
após a análise da sua amostra. É durante essa fase que você irá fazer o laudo e colocar seus achados.
Aqui você irá informar o método utilizado pelo laboratório, o nome do paciente e as formas parasitárias
que foram encontradas, se estas estiverem presentes.
Em todo o mundo, mais de três bilhões de casos de doenças causadas por parasitas são relatadas
anualmente, e provavelmente esse número é ainda maior, pois há regiões de pouca assistência médica,
e que ainda são endêmicas para muitos desses parasitas, tornando esse número subestimado (COOK;
SELESHO; VUUREN 2018). Agora que estamos familiarizados com os diferentes métodos de diag-
nóstico de parasitologia, vamos aprender como tratar um paciente, o qual em suas amostras foram
encontrados algum tipo de parasita ou helminto.
Muitas doenças causadas por parasitas são de sintomas e diagnóstico similar, o que pode causar certa
confusão, por esse motivo, devemos estar atentos às diferentes regiões e suas prevalências parasitárias.
O tratamento de parasitoses intestinais envolve, além do emprego de antiparasitários, as medidas de
educação preventiva e de saneamento básico, as quais vimos durante todo o livro; também é de grande
importância a anamnese de seu paciente, ou seja, saber se ele apresenta diarreia crônica e prolongada ou
se ele esteve em viagens para regiões endêmicas, pois essas informações podem dar um rumo correto
para o seu diagnóstico (ANDRADE et al., 2010).
As opções terapêuticas são variadas de patologia para patologia, mas alguns fármacos sobressaem
pela eficácia e a diminuição de efeitos colaterais. Um dos fármacos mais utilizados no tratamento em-
pírico é o albendazol, uma vez que atua contra diferentes parasitas intestinais, incluindo um dos mais
comuns que é a Giardia lamblia. Esse fármaco é um derivado benzimiadazólico, de amplo espectro,
ou seja, atua contra diferentes parasitas tendo ação diretamente no trato gastrointestinal, possui ação
vermicida, larvicída e ovicída. Uma vantagem considerável desse fármaco é sua dose única para adultos
e crianças acima de dois anos de idade, com probabilidade de cura e redução de ovos de 40% a 96,4%
(FERNANDES et al., 2012).
ALBENDAZOL

Figura 16 - Estrutura química do albendazol

Descrição da Imagem: a imagem traz a forma molecular da estrutura do albendazol, ou seja, mostra onde está cada ele-
mento de sua estrutura e suas ligações.

246
UNIDADE 9

A dietilcarbamazina (DEC) é o fármaco de escolha para tratamento da filariose


linfática, causada pela Wuchereria bancrofti e Brugia malayi, entretanto, seu uso
em infecções graves por esses parasitas deve ser de grande atenção, pois a rápida
destruição de grandes quantidades de microfilárias podem causar complicações fatais
após o tratamento. O mecanismo de ação desse fármaco não é bem esclarecido, mas
há indícios do fármaco atuar em estágios adultos dos ciclos de vida da W. bancrofti e
da B. malayi. Esse fármaco é rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal, suas
doses diárias são menores que 8 a 10 mg/kg, e os pacientes que fazem a ingestão desse
medicamento raramente apresentam efeitos colaterais graves, efeitos esses que podem
incluir náuseas, diarreia, vômitos e anorexia. Esse fármaco pode ser utilizado para
proteção de viajantes para regiões endêmicas (HILAL-DANDAN; BRUNTON, 2015).

FILARIOSE LINFÁTICA (ELEFANTÍASE)

Figura 17 - Uma das doenças na qual a dietilcarbamazina atua como fármaco antiparasitário

Descrição da Imagem: a figura traz dois membros inferiores humanos, o da esquerda da imagem
sem alterações, já a perna da direita está com seu tamanho aumentado, devido às microfilárias
exemplificadas no círculo ao lado.

O tratamento da amebíase e da giardíase se dá pela classe dos nitroimidazólicos


(tinidazol, secnidazol e metronidazol). O metronidazol possui baixo custo e uma ob-
servação importante é que ele é distribuído pelo SUS - Sistema Único de Saúde, sendo,
então, a droga antiparasitária mais distribuída no Brasil. Esse fármaco tem um ponto
negativo, que é sua utilização durante um tratamento de 7 dias, e apresenta alguns
efeitos colaterais como cefaleia, náuseas e vertigem (FERNANDES et al., 2012). Além
disso, ele é clinicamente eficiente contra tricomoníase, amebíase e giardíase, sendo
a escolha para o tratamento de todas as formas sintomáticas de infecções causadas
por amebas (HILAL-DANDAN; BRUNTON, 2015).

247
UNICESUMAR

O mecanismo de ação do metronidazol é a ativação redutiva dos grupos nitro pelos organismos
suscetíveis, ou seja, alguns protozoários estão envolvidos no transporte de elétrons e acabam doando
um elétron ao metronidazol. Essa transferência dá origem a um radical livre que é extremamente reativo
e destrói as células susceptíveis. Esse fármaco é usado para curar infecções genitais por T. vaginalis, e
em 90% dos casos o indivíduo deixa de ser portador da doença. A posologia utilizada é de 2g de me-
tronidazol em dose única, oral, podendo ser utilizado como fármaco complementar o tinidazol (dose
única, 2g oral) (HILAL-DANDAN; BRUNTON, 2015).
A miltefosina, inicialmente desenvolvida para o tratamento anticâncer, é altamente eficiente contra
Leishmania visceral, inclusive contra a forma cutânea da doença, entretanto, ela possui uma grande
desvantagem, é teratogênica, dessa maneira não poderá ser usada em mulheres grávidas (GOODMAN;
GILMAN, 2015).

MILTEFOSINA

Figura 18 - Fórmula estrutural da Miltefosina

Descrição da Imagem: forma molecular da Miltefosina, composta por oxigênios, hidrogênios, nitrogênios, fósforos e
carbonos.

O mecanismo de ação dessa droga contra Leishmanias ainda não está bem elucidado, mas estudos su-
gerem que ele pode alterar o metabolismo éter-lipídico, a sinalização celular ou a biossíntese de âncora
de glicosilfosfatidilinositol. A posologia da miltefosina para adultos acima de 25kg é de 100 mg/dia,
divididos em duas doses, e para adultos abaixo de 25 kg, 50 mg/dia em uma dose por um tempo de 28
dias. Para crianças, a dose utilizada é de 2,5 mg/kg/dia dividido em 2 doses diárias. A administração
não deve ser realizada por via intravenosa, pois apresenta atividade hemolítica.
Outro fármaco utilizado no combate de enteroparasitoses é a nitazoxanida, sintetizada em 1974,
é uma droga que deriva do composto nitrotiazólico (uma nitrotiazolil-salicilamida), cuja estrutura
química é a 2-acetoliloxi-N-5-nitro tiazolil-benzamida. É eficaz em dose única contra Taenia saginara
e Hymenolepis nana, sendo também a primeira droga eficaz contra o tratamento da criptosporidíase.
Essa droga atua inibindo uma enzima fundamental que é a piruvato ferredoxina oxidoredutase (PFOR)
que atua no metabolismo energético destes organismos. Essa droga também é utilizada em parasitas
que são resistentes ao metronidazol, como é o caso do Trichonomas vaginalis. Nos humanos, a nita-
zoxanida é parcialmente absorvida no trato gastrointestinal, a parte da droga é excretada na urina e
outra parte nas fezes, e quando esse fármaco está no sangue, rapidamente ele é metabolizado para a
sua forma ativa a tizoxanida (ANDRADE et al., 2010). Segundo Fernandes et al. (2012), a utilização

248
UNIDADE 9

de Praziquantel em dose única (25 mg/kg) pode ser uma boa opção no combate de Taenia saginata,
Taenia solium e Hymenolepis nana, entretanto, a obtenção desse fármaco é um pouco difícil, sendo
encontrado, na maioria das vezes apenas em farmácias hospitalares.
O benznidazol (Bz) é uma droga sintética nitroheterocíclica (N-benzil-2-nitroimidazole-1-acetami-
da), que possui atividade antiparasitária e antibacteriana. Sua atuação é sobre Trichomonas vaginalis,
Entamoeba hystolitica, Trypanosoma rhodesiense, T. congolense e T. cruzi, mostrando ser eficiente
contra o Trypanossoma na infecção aguda na dose de 5 a 10 mg/kg/dia durante 30 a 60 dias.
Vamos, então, dar uma atenção maior agora para o T. cruzi, já que este parasita requer um esteroide
endógeno específico para a proliferação e viabilidade da célula. Alguns derivados azólicos possuem
atividade inibitória seletiva na biossíntese de novos esteroides, como o ergosterol, e podem induzir a
cura para essa doença, seja na fase aguda ou crônica (OLIVEIRA et al., 2008). Segundo a OMS – Or-
ganização Mundial da Saúde, que em 2005 trouxe como superior a 80 % os índices de cura da doença
de Chagas, utilizando o fármaco BZ, essa informação é na fase aguda, já na fase crônica, essa taxa cai
para menos de 30 %. A utilização desse fármaco na fase cardíaca ou digestiva é tida como opcional,
entretanto, a OMS recomenda o tratamento em todas as fases, tendo em vista que não há um prog-
nóstico certo para o uso desse fármaco e o sucesso do tratamento.
BENZNIDAZOL

Figura 19 - Estrutura química do benznidazol

Descrição da Imagem: forma molecular do benznidazol, com um anel aromático à esquerda.

Estudamos durante o livro diferentes parasitoses, dentre elas a malária. Agora que você sabe que essa
é uma doença responsável por quase 900.000 mortes por ano ao redor do mundo e aprendeu sobre
seus vários estágios parasitários, vamos entender como atuar em cada um deles, e qual medicamento
deve ser utilizado no combate desse parasita.
Os vários estágios do ciclo de vida do parasita se diferem uns dos outros quanto à sensibilidade
aos fármacos, por esse motivo classificamos os fármacos antimaláricos com base na atividade no ciclo
de vida. O primeiro grupo de agentes (artemisinas, cloroquina, metfloquina, quinidina, pirimetanina,
sulfadoxina e tetraciclina) possui ação dirigida ao estágio sanguíneo assexuado, impedindo que a
malária desenvolva os sintomas. Não há relações clínicas desse grupo com os estágios hepáticos da
doença. O segundo grupo de agentes farmacológicos (atovaquona e proguanila) é direcionado apenas

249
UNICESUMAR

às formas eritrocíticas assexuadas. A terceira categoria de fármacos, composta apenas pela primaquina,
é eficaz contra os estágios primários de infecção, que ocorrem nas células hepáticas. Esse fármaco é
amplamente utilizado para evitar as infecções recorrentes (HILAL-DANDAN; BRUNTON, 2015).
A atividade dos fármacos antimaláricos é determinada pela sua farmacocinética e segurança, seus
tempos de meia vida e suas toxicidades. A Tabela 2 exemplifica alguns medicamentos para profilaxia
da malária e sua correta administração.

FÁRMACO USO DOSE ADULTOS COMENTÁRIOS


Inicia 1-2 dias antes da via-
250 mg de atovaquo- gem, toma o medicamento
Atovaquona/ Profilaxia em todas as na todo dia enquanto estiver
Proguanila áreas
100 mg de proguanila na região endêmica, e 7 dias
após o retorno.
Inicia 1-2 dias antes de viajar,
Profilaxia apenas em toma medicamento 1 vez na
Fosfato de 300 mg via oral, 1 vez
regiões onde a malária é semana, sempre no mesmo
cloroquina na semana
sensível à cloroquina dia. Após retorno toma por
mais 4 semanas
Inicia 1-2 dias antes de
Profilaxia para regiões viajar. Toma o medicamento
Primaquina que possuem casos de 30 mg /dia na mesma hora durante a
P. vivax viagem, e 7 dias após deixar
a região endêmica.

Tabela 2 - Medicamentos para profilaxia da malária / Fonte: adaptada de Hilal-Dandan e Brunton (2015).

A morbidade causada por vermes em seus hospedeiros é um motivo de grande preocupação global.
A negligência da doença, juntamente com a resistência de alguns parasitas, aos poucos vai tornando o
seu tratamento um pouco difícil. Vamos dar início ao tratamento de nemátodes, tais como Enterobius
vermicularis, Ascaris lumbricoides e Trichiuris trichuria. A taxa de cura utilizando o mebendazol e
albendazol chegam a 95%, entretanto, a utilização por crianças menores de 2 anos é contraindicada,
pois há relatos desses fármacos serem carcinogênicos e teratogênicos. As doses indicadas, segundo
Fernandes et al. (2012), estão na Tabela 3.
Qualquer um dos fármacos deverá ser administrado novamente após 14 dias, pois atuam apenas
nos vermes adultos, e não nos ovos e cistos.

Para crianças
Verme alvo do fármaco Para adultos
menores que 12 anos

Mebendazol / Flu- Qualquer um dos


Mebendazol / Fluben-
bendazol: 100 mg, fármacos deverá ser
dazol: 50 mg, dose
dose única administrado nova-
única
Enterobius vermicularis mente após 14 dias,
Albendazol: 400 mg, pois atuam apenas nos
Albendazol: 200 mg, vermes adultos, e não
dose únicaMeben-
dose única nos ovos e cistos
dazol

250
UNIDADE 9

Albendazol: 400 mg, Albendazol: 200 mg,


dose única dose única

Ascaris lumbricoides Mebendazol / Flu- Mebendazol / Fluben-


bendazol: 100 mg, dazol: 50 mg, 12/12h,
12/12h, 3 dias ou 3 dias ou 200 mg, dose
500 mg, dose única única

Mebendazol / Fluben-
dazol: 50 mg, 12/12h,
Mebendazol / Flu- 3 dias ou 200 mg, dose Ponderar necessidade
bendazol: 100 mg, única de terapêutica com
Trichuris trichiura
12/12h, 3 dias ou ferro para tratamento
500 mg, dose única Albendazol: 200 mg, da anemia.
dose única (3 dias se
infestação abundante)

Tabela 3 - Doses indicadas de mebendazol e albendazol / Fonte: adaptada de Hilal-Dandan e Brunton (2015).

Vamos falar agora da ivermectina, que é um análogo sintético da avermectina B, utilizado em plantações
como agente de controle de pragas. A ivermectina é utilizada para tratar uma gama de doenças causadas
por nematoides, parasitas e artrópodes. Seu mecanismo de ação é simples, ela imobiliza os parasitas
expostos induzindo paralisia tônica da sua musculatura, por meio de uma ativação nos canais de Cl-,
que são controlados pelo glutamato, o qual é presente em invertebrados. A ivermectina provavelmente
se liga nos canais de Cl-, das células musculares e nervosas dos nematoides, causando hiperpolarização
dos canais e tendo como consequência a paralisação do parasita. A dosagem de ivermectina nos seres
humanos tem relação com o pico plasmático da droga, que é de 4 a 5 horas após a administração de
via oral, entretanto, o tempo de meia vida desse fármaco é de aproximadamente 57 horas, o que pode
depender da ligação dessa droga às proteínas. As indicações se encontram na tabela abaixo.

Nematoides
Oncocercose Filariose linfática Estrongiloidíase
intestinais

Dose anual de 200 Dose oral única de


Dose oral única de
mg/kg juntamente Dose única de 150 – 200 mg/kg para tra-
Dose 150-200 mg/kg du-
com uma dose de al- 200 mg/kg. tamento de larva
rante 6 a 12 meses
bendazol de 400 mg migrans
Recomenda-se uma
Indicada no trata-
O tratamento ape- segunda dose na
A ivermectina vêm se mento de ascari-
nas com ivermectina semana seguinte,
mostrando ser tão díase, embora não
Comentários não leva a cura, pois essa associação vem
eficiente quando a consiga a cura, re-
a droga tem pouca sendo mais eficien-
dietilcarbamazina. duz a intensidade
ação contra o verme. te que a associação
da infecção.
com albendazol.

Tabela 4 - Doses recomendadas de ivermectina / Fonte: adaptada de Hilal-Dandan e Brunton (2015).

251
UNICESUMAR

Aqui vão duas dicas de ouro para você aluno(a) do curso da saúde acertar todos os diagnós-
ticos da sua clínica. Vamos lá?! Pega seu smartphone, ou de algum conhecido seu e baixe o
aplicativo “Aio parasitologia”, esse aplicativo, em forma de atlas, vai trazer fotografias mi-
croscópicas de diferentes parasitas. Além disso, esse aplicativo vai trazer outras informações
como as formas que encontramos esse parasita, a doença por ele causada, o ciclo de vida,
meios de transmissão, os principais sintomas e muito mais!! Não vamos parar por aqui não,
outro aplicativo, que também é de livre acesso é o “Enteropara – site”. Esse aplicativo traz
as mesmas informações, entretanto, esse é em espanhol. As vantagens que o Enteropara-site
traz para você estudante são modelos em 3D em que é possível selecionar o parasita em
que você está estudando e onde ele se aloja no corpo humano, legal, não é?! Além disso,
esse aplicativo traz as formas de diagnóstico e tratamento das parasitoses.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Aio parasitologia Enteropara – site Enteropara – site


Google Play AppStore Google Play

Agora que você já tem o conhecimento de todos os métodos de


diagnóstico das doenças parasitárias, eu te convido a ouvir nosso
podcast e retirar suas últimas dúvidas sobre a detecção desses
parasitas e helmintos em sangue e amostras de fezes. Vem comigo!

252
Para ajudar na sua busca por conhecimento, e fixar todo o conteúdo que estudamos nesta uni-
dade, apresento-lhe um mapa mental, que auxiliará você a lembrar de alguns dos métodos de
diagnósticos das doenças parasitárias, bem como alguns de seus princípios.

MÉTODO
MÉTODO DE WILLIS
DE HOFFMAN

MÉTODO
DE FAUST
MÉTODO
DE RUGAI EXAME DIRETO
A FRESCO

DIAGNÓSTICO DE
PARASITOSES
MÉTODO DE
BEARMANN-MORAES
ESFREGAÇO
GOTA ESPESSA
TESTE
MÉTODO DE IMUNOENZIMÁTICO
KATO-KATZ

ESFREGAÇO
REAÇÃO DA POLIMERASE CAMADA DELGADA
EM CADEIA

MAPA MENTAL

253
1. Conhecemos durante essa unidade que os exames laboratoriais são compostos por 3
fases: a pré-analítica, analítica e a pós-analítica. Baseado na rotina parasitológica que
você estudou, descreva quais os possíveis erros que podemos ter durante essas três
fases, e que poderão invalidar seu diagnóstico parasitológico.

2. O método de Hoffman, Pons e Janer é um dos métodos mais utilizados no exame


parasitológico de fezes, devido a seu amplo alcance, detectando inúmeros parasitas.
Descreva como é feito esse método, desde a chegada de uma amostra, até a identifi-
cação do parasita.

3. Sabemos que existem outros métodos diagnósticos além do exame parasitológico de


fezes, dentre eles estão o exame de ELISA. Esse exame é baseado no posicionamento
do complexo antígeno anticorpo, que só é formado se o indivíduo tiver anticorpos con-
tra aquele parasita em específico. Cite as principais vantagens e desvantagens desse
método diagnóstico.

4. Com base no que você aprendeu, responda se as afirmativas abaixo são verdadeiras
ou falsas.
( ) O melhor fármaco para tratamento de todas as parasitologias é o albendazol.
( ) A malária, assim como a doença de Chagas, precisa de antiparasitários específicos
para determinadas fases da doença, sendo crucial essa observação para o sucesso
do tratamento.
AGORA É COM VOCÊ

( ) O diagnóstico se restringe apenas a exames parasitológicos de fezes.


( ) A ivermectina atua paralisando o parasita.
( ) É possível fazer uma profilaxia para algumas parasitoses como a malária.

Assinale a alternativa correta:


a) F, F, F, V, V.
b) F, V, F, V, V.
c) F, F, F, F, V.
d) V, F, V, V, F.
e) V, V, F, V, F.

254
UNIDADE 1
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1

263
UNIDADE 9
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SIQUEIRA-BATISTA, R. et al. Parasitologia: fundamentos e prática clínica. Rio de Janeiro: Gua-


nabara Koogan, 2020.

264
UNIDADE 1
1. O ciclo básico dos parasitas é a sequência das fases que possibilitam o desenvolvimento e trans-
missão de determinado parasita. Os dois exemplos básicos são o homoxeno e o heteróxeno.

2. Infestação: localização parasitária na superfície externa (ectoparasitas). Infecção: localização


parasitária interna (endoparasitas).

3. Período de convalescência: inicia-se logo após ser atingida a maior sintomatologia, findando
com a cura do hospedeiro. Período pré-patente: é o compreendido desde a penetração do pa-
rasita no hospedeiro até a liberação de ovos, cistos ou formas que possam ser detectadas por
métodos laboratoriais específicos.

UNIDADE 2
1. D. William Farr (1807–1883) foi responsável pela produção de informações epidemiológicas
sistemáticas para o planejamento de ações de saúde.

CONFIRA SUAS RESPOSTAS


2. Inicialmente, escolheu-se uma abordagem unicausal como procedimento para o adoecimento,
em que um agente etiológico de uma determinada doença poderia ser eliminado assim que
identificado. Essa abordagem permitiu solucionar uma variedade de problemas da saúde pú-
blica, como o controle de doenças por meio da vacinação e controle de doenças por meio
de tratamento.

3. Mortalidade é uma medida muito utilizada como indicador de saúde, porque permite avaliar
as condições de saúde de uma população. É calculada dividindo-se o número de óbitos pela
população em risco. Letalidade é uma medida da gravidade da doença. Expressa o poder que
uma doença ou agravo à saúde tem de provocar a morte nas pessoas acometidas. É calculada
dividindo-se o número de óbitos por determinada doença pelo número de casos da mesma
doença.

UNIDADE 3
1. Parasitas facultativos: são organismos que podem ser parasitas, mas não têm que viver como
parasitas, assim suas vidas parasitárias são consideradas reversíveis (parasitismo temporário).

Parasitas obrigatórios: são organismos que, para sobreviverem, têm de ser parasitas, e sua vida
parasitária é irreversível, pelo menos, em alguma fase de seu ciclo vital (parasitismo permanente).

2. E. É a associação de vários organismos que habitam o mesmo biótopo. Apesar da semelhança


do significado desse termo com ecossistema, neste último, temos que considerar os elementos
vivos e não-vivos como uma unidade, ao passo que biocenose representa a associação dos se-
res vivos num biótopo. Exemplo de biocenose: a associação do Trypanosoma cruzi, triatomíneo,
homem e o biótopo que é a cafua.

3. C. É o tipo de relacionamento em que os dois organismos possuem uma união, sendo ligados
um ao outro. Caso o relacionamento seja ao contrário, é chamado de simbiose disjuntiva (DOR-
LAND’S..., 2012).

265
UNIDADE 4
1. E. A ancilostomíase é causada por duas espécies da família Ancilostomidae: Ancylostoma duo-
denale e Necator americanus.

2. D. Os ovos de Ascaris lumbricoides eclodem no intestino delgado. As infecções com elevada


quantidade de vermes podem causar obstruções em locais incomuns, como vias biliares, duc-
to pancreático, apêndice cecal, vias do trato urinário, laringe, traqueia e aparelho lacrimal. A
ascaridíase é uma doença tropical negligenciada e caracteriza um dos grandes problemas de
saúde pública em nosso país. Está diretamente relacionada com fatores sociais, econômicos,
culturais e ambientais. O método de diagnóstico mais indicado para detectar a ascaridíase é
feito por meio do achado de ovos do helminto, identificados no exame parasitológico de fezes.

3. A. Essa é uma doença causada pelo verme Trichuris trichiura.

UNIDADE 5
1. Espera-se que o(a) aluno(a) discorra sobre a heteroinfecção — ingestão acidental dos ovos
CONFIRA SUAS RESPOSTAS

do parasito, que podem ser veiculados pela água ou por alimentos contaminados ou mesmo
pelas mãos sujas desse paciente —, autoinfecção externa — quando há a ingestão de ovos de
T. solium pelo próprio indivíduo contaminado pela teníase; a falta do hábito de lavar as mãos
após evacuação de fezes e antes de manipular alimentos e o costume de levar as mãos à boca
ou de tocar nos alimentos facilitam a infecção com grande número de larvas — e autoinfecção
interna — resultante de movimentos antiperistálticos ou de vômitos, algumas proglotes grávi-
das podem voltar ao estômago — e que possa mencionar as práticas de higiene pessoal e de
cuidados com o preparo e cozimento de alimentos de forma correta e saudável.

2. Espera-se que o(a) aluno(a) aponte as diferenças morfológicas das duas espécies, tais como:
que o verme adulto de T. solium tem de 800 a 1.000 proglótide e comprimento entre 1,5 a 4 m,
podendo chegar até 8 ou 9 metros. Apresenta o escólex com quatro ventosas e um rostelo ro-
deado por ganchos ou acúleos (Figura 7a). Quando grávido, o útero tem de 7 a 12 ramificações
principais de cada lado da haste uterina num padrão dendrítico (Figura 7c). Já o adulto de T.
saginata é ainda maior, é constituído de 1.000 a 2.000 proglótide e chega ao comprimento de
4 a 12 m, podendo chegar a 25 m. O escólex, por sua vez, também apresenta quatro ventosas,
porém o rostelo e os ganchos são ausentes (Figura 7b). E o útero grávido, nessa espécie, tem de
15 a 30 ramificações de cada lado da haste uterina, que se ramificam num padrão dicotômico.
Espera-se que o(a) aluno(a) aponte os bovinos como os hospedeiros intermediários de T. saginata,
e o porco, da espécie T. solium, os quais abrigam suas formas larvárias. As teníases em ambas
as formas podem causar dor abdominal, náusea, fraqueza, perda de peso, apetite aumentado,
cefaleia, constipação intestinal, vertigem, diarreia, prurido anal e excitação no paciente. Pode
acontecer a saída ativa de proglótides grávidas pelo reto. Em infecções sintomáticas por T. sagi-
nata, são frequentes alterações na motricidade e redução na secreção digestiva. Pode acontecer,
também, a oclusão de orifícios e ductos naturais do sistema digestório, ocasionando apendicite
aguda, colangite ou pancreatite aguda.

3. Espera-se que o(a) aluno(a) possa identificar os sintomas como pertencentes à parasitose teníase
e encaminhe para o diagnóstico e tratamento adequado. Aliado a isso, o(a) profissional pode
promover ações comunitárias de educação sanitária e em saúde, a fim de estabelecer hábitos
de higiene e boas práticas de preparo e cozimento dos alimentos.

266
UNIDADE 6
1. Espera-se que o aluno aborde as características da casca do ovo, como a rigidez e a porosidade,
bem como a espícula lateral; os miracídios são larvas ciliadas com natação ativa por meio do qual
encontram o hospedeiro intermediário; as cercárias apresentam cauda bifurcada e ventosas
para fixação na pele do hospedeiro. Essas características estão relacionadas com o sucesso na
taxa de encontro com o hospedeiro e com sua fixação nos tecidos parasitados.

2. Espera-se que o aluno liste as seguintes circunstâncias: a linhagem do parasito, a carga infec-
tante (número de cercárias que penetraram), as condições fisiológicas do material infectante
(idade das cercárias, sua vitalidade etc.) e a frequência com que ocorrem as reinfecções; as
características do hospedeiro e seu meio (idade, desenvolvimento, ocupação, nutrição, hábitos
e condições de vida etc.), ocorrência ou não de outras infecções anteriores (intensidade destas
e intervalos entre elas), grau de imunidade desenvolvida; carga parasitária acumulada ao longo
dos anos e duração da infecção. Espera-se que o aluno perceba como cada circunstância pode
ter um grau maior ou menor na infecção. Por exemplo, espera-se que ele perceba que quanto
maior o número de cercárias que penetram a pele do hospedeiro maior é a carga infectante e,
portanto, maior a gravidade da infecção.

3. Espera-se que o aluno faça um desenho do verme adulto em bolsas imersas no tecido em ques-

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tão: fígado, baço ou intestino, assim como está nas respectivas lâminas de recurso Microscopia
Digital Atlas.

UNIDADE 7

Protozoários são Acho que posso orientar


difíceis de entender? meus amigos e familiares

O QUE
PENSA E SENTE?

Devemos lavar O QUE O QUE Inúmeros parasitas


bem os alimentos OUVE? VÊ? que podiam ser
e as mãos evitados

O QUE
FALA E FAZ?

Devemos pensar sempre na profilaxia de doenças

QUAIS SÃO AS DORES? QUAIS SÃO AS NECESSIDADES?

Desigualdade social Estudar uma política de erradiação

1. B. Nesta atividade, basta você lembrar em como a E. histolytica é transmitida, sabemos que ela
acomete pessoas de todo o mundo e de classes sociais diferentes, mas predomina em países
e regiões mais pobres.

2. Tanto a amebíase, quanto a giardíase possuem mecanismos de transmissão similares; o ciclo da


giardíase é simples, mas agora quero que me responda qual é o agente que causa essa doença

267
e qual é sua forma evolutiva que infecta os seres humanos, vamos lá?! O agente causador da
Giardíase é a Giardia lamblia, e sua forma infectante é o cisto.

3. Que a malária é uma doença que acomete regiões quentes e de trópicos já sabemos. Nesta
questão, você aluno(a) deve prestar atenção em qual agente etiológico e qual é o agente vetor
dessa doença. A malária é uma doença que mata milhares de pessoas pelo mundo, entretanto,
ela só é transmitida devido à picada do mosquito que só se reproduz em determinados climas,
dentre eles os tropicais e subtropicais

4. Nesta questão avaliativa, devemos entender os meios de transmissão dessas doenças, bem
como seus ciclos evolutivos. Entendendo tais questões, podemos, só assim, orientar as demais
pessoas sobre a profilaxia da amebíase e da giardíase. Para responder essa importante questão,
devemos estar atento às medidas profiláticas dessas duas doenças, tais como: lavar bem as mãos
antes de ingerir e manipular alimentos e ferver a água antes de ingeri-la; com o conhecimento
dessas medidas, já é possível evitar essas doenças.

5. Nesta questão, você deve descrever todo o ciclo evolutivo da malária, desde o que acontece
nos mosquitos até os detalhes em humanos. O ciclo do Plasmodium em humanos: esporozoítos
infectantes são inoculados junto com a picada do mosquito vetor. Após a invasão do hepatóci-
to, esporozoítos se diferenciam em trofozoítos, que se multiplicam por reprodução assexuada
CONFIRA SUAS RESPOSTAS

do tipo por esquizogonia, originando esquizontes teciduais, que, em seguida, se transformam


em trofozoítos maduros. O desenvolvimento dentro do eritrócito dá origem a merozoítos, que
invadiram novos eritrócitos. Depois de algumas gerações do ciclo eritrocitário, os merozoítos
se diferenciam em estágios sexuados, os gametócitos. No vetor, apenas os gametócitos são
capazes de reproduzir e evoluir, o que dá origem ao ciclo esporogônico ou sexuado. O game-
tócito masculino fecunda o gametócito feminino formando um ovo ou zigoto, que é móvel e
atinge a parede do intestino médio, encistando-se na camada epitelial do órgão, sendo então
chamado de oocisto, que se divide então por esporogônia, rompendo a parede do oocisto e
tomando conta do corpo do mosquito, chegando até as glândulas salivares, onde será injetado
novamente no vertebrado.

UNIDADE 8
1. Folhetos Embrionários ou folhetos germinativos são camadas de células que dão origem aos
órgãos e tecidos dos seres vivos. São organismos triblásticos os que apresentam três folhetos
embrionários: ectoderme, endoderme e mesoderme.

2. C. O Toxoplasma gondii apresenta três formas infectantes: os taquizoítos, que são as formas de
proliferação rápida; os bradizoítos, que são formas de reprodução lenta do Toxoplasma gondii e
estão presentes nas infecções congênitas e crônicas; os oocistos são as formas resultantes do
ciclo sexuado do parasita, que ocorre apenas no trato gastrointestinal dos felídeos.

3. D. A febre maculosa, também conhecida como doença do carrapato, é transmitida pelo carrapato
estrela, sendo uma infecção causada pela bactéria Rickettsia rickettsii que infecta principalmente
carrapatos.

268
UNIDADE 9
MÉTODO
MÉTODO DE WILLIS
DE HOFFMAN Centrífugo-
Sedimentação
-Flutuação
espontânea Centrifugação
por flutuação

MÉTODO
DE FAUST
MÉTODO
DE RUGAI EXAME DIRETO
Flutuação
A FRESCO
Não se baseia
em métodos de
concentração

DIAGNÓSTICO DE
PARASITOSES
MÉTODO DE
BEARMANN-MORAES
Baseia-se no ESFREGAÇO
hidrotermotropismo GOTA ESPESSA
TESTE

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Diagnóstico
MÉTODO DE IMUNOENZIMÁTICO epidemiológico

KATO-KATZ Formação do complexo


Exame quantitativo antígeno-anticorpo
de parasitologia
ESFREGAÇO
REAÇÃO DA POLIMERASE CAMADA DELGADA
EM CADEIA dentificação de formas e
Exame específico de biologia molecular espécies parasitárias

1. Na fase pré-analítica, nós podemos ter diferentes erros como má-identificação da amostra e
transporte inadequado. Na fase analítica, onde se é feita a análise do material fecal, pode-se
ter erros na execução e escolha dos métodos, bem como na identificação errada do parasita.
Já na fase pós-analítica, as informações do laudo podem estar erradas.

2. A técnica se inicia com 2 a 4 gramas de fezes despejadas em um recipiente com água, em se-
guida, com ajuda de uma gaze dobrada em 4, a amostra é coada para dentro de um cálice de
sedimentação e um tempo de 2 horas é aguardado. Após decorrer 2 horas, com ajuda de uma
pipeta de pasteur, uma pequena gota é coletada e coberta com uma lamínula, em seguida
visualizada em microscopia de luz.

3. O imunoensaio de ELISA detecta anticorpos produzidos no sangue do paciente contra algum


agente externo que ele foi exposto. As vantagens do ELISA é o número grande de amostras que
podem ser avaliados dentro de uma placa, o custo-benefício e os resultados rápidos.

4. B. Na primeira alternativa, temos a opção de um fármaco “albendazol”, este é amplamente utili-


zado, entretanto há diferenças nas respostas parasitárias, por isso você aluno(a), deve levar em
conta a doença parasitária tratada em questão, por esse motivo a questão é falsa. Na segunda
alternativa, diferentes fármacos agem de acordo com diferentes formas evolutivas parasitárias,
verdadeira. Na terceira alternativa, os diagnósticos podem ser realizados de diferentes formas,
como aprendemos no decorrer do capítulo, PCR, ELISA e esfregaço sanguíneo são exemplos
dessas formas, por isso a questão é falsa. A quarta alternativa está correta, pois ela imobiliza
os parasitas expostos induzindo paralisia tônica da sua musculatura, por meio de uma ativação
nos canais de Cl-. Na quinta e última alternativa, observamos, nas tabelas anteriores, que é
possível sim fazer uma profilaxia contra a malária usando fosfato de cloroquina, primaquina e
proguanila, por esse motivo essa alternativa está correta.

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MEU ESPAÇO

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271
MEU ESPAÇO
MEU ESPAÇO

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