PARASITOLOGIACLÍNICA
PARASITOLOGIACLÍNICA
PARASITOLOGIACLÍNICA
Clínica
PROFESSOR
Dr. Vinícius Pires Rincão
Coordenador de Conteúdo Sidney Edson Mella Junior Designer Educacional Lucio Carlos Ferrarese Curadoria Katia
Salvato Revisão Textual Carlos Augusto Brito Oliveira Editoração Matheus Silva de Souza Ilustração Andre Luis Azevedo
da Silva, Eduardo Aparecido Alves, Geison Ferreira da Silva, Wellington Vainer Realidade Aumentada Maicon Douglas
Curriel Fotos Shutterstock.
FICHA CATALOGRÁFICA
“Graduação - EaD”.
1. Parasitologia 2. Clínica 3. Parasitismo. 4. Vinícius Pires
Rincão. I. Título.
CDD - 616.96
Bibliotecária: Leila Regina do Nascimento - CRB- 9/1722. Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar
Diretoria de Design Educacional
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Impresso por:
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RODA DE CONVERSA
PÍLULA DE APRENDIZAGEM
Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode
sobre o código, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido
PENSANDO JUNTOS
EXPLORANDO IDEIAS
EU INDICO
Enquanto estuda, você pode acessar conteúdos online que ampliaram a discussão sobre
os assuntos de maneira interativa usando a tecnologia a seu favor.
A parasitologia tem como sua principal característica, estudar a interação dos parasitos com o ser humano, com
o ambiente e com outros animais. Caro(a) aluno(a), você já parou para pensar no que é a parasitologia e qual a
importância para os seres humanos? Como a parasitologia pode ajudar a entender surtos de doenças, como o
que ocorreu em Santa Isabel do Ivaí em 2001 onde, dos 9.154 habitantes, mais de quatrocentos apresentaram
resultado positivo para toxoplasmose?
Todos os seres vivos existentes em nosso planeta apresentam algum tipo de relação com outra espécie em
algum momento de sua vida. Essa relação pode se mostrar de duas formas: positiva (benéfica) ou negativa (ad-
versa). Quanto mais tempo a relação entre duas espécies dura, maior é o nível de especialização existente. Uma
dessas formas de interação negativa é o parasitismo.
Para que se possa pensar em métodos eficientes para o tratamento e prevenção de doenças parasitárias,
é essencial que se conheça toda a ecologia dos parasitos, sua interação com o ser humano, com o ambiente e
hospedeiros intermediários. Esse é o foco de estudo da parasitologia.
Entre novembro de 2001 e janeiro de 2002, cerca de 600 pessoas da cidade de Santa Isabel do Ivaí, no estado
do Paraná, apresentaram sintomas compatíveis com toxoplasmose. Essa é uma doença causada pelo parasito
Toxoplasma gondii, que infecta principalmente felinos, e pode ser transmitida ao ser humano pelo contato com as
fezes do animal contaminado e ingestão das formas infectantes.
Caro(a) aluno(a), tente imaginar como uma doença com esse mecanismo de transmissão poderia infectar
tantas pessoas, quais meios os profissionais da saúde usaram para identificar o parasito, e como essas análises
permitiram identificar a fonte da contaminação e propor medidas de prevenção.
A parasitologia estuda a interação dos parasitos com o ser humano em diversos níveis. Um dos aspectos desse
estudo tenta entender como uma parasitose se distribui na população - ou seja, sua epidemiologia, permitindo
que os pesquisadores, muitas vezes, possam determinar a fonte de contaminação e interrompê-la. Outro ponto
de estudo está relacionado a identificação de qual parasito causa a doença examinada, um dos pontos centrais
da parasitologia clínica.
Para que se possa aplicar esses conhecimentos em casos reais, é preciso que os profissionais da saúde tenham
o mínimo de conhecimento sobre a parasitose. Por exemplo: no caso da toxoplasmose, qual amostra deve ser
examinada em busca do parasito: sangue, fezes ou as duas? Os sintomas podem ser utilizados para diagnosticar
a parasitose?
Neste livro você aprenderá os principais conceitos e aplicações da parasitologia, principalmente na área clínica.
Na Unidade 1 você vai conhecer o conceito de parasito e parasitismo, entendendo a relação com o meio ambiente
e a espécie humana, além de conhecer os principais grupos de organismos que são parasitos do ser humano.
Na Unidade 2 você vai aprofundar seus conhecimentos em epidemiologia relacionada às doenças parasitárias.
Na Unidade 3 aprenderá sobre os protozoários, com ênfase nas espécies de interesse da parasitologia, principal-
mente do trato gastrointestinal e genital. Na Unidade 4 o estudo abordará os protozoários que parasitam a pele
e os sistemas internos do corpo, especialmente o Sistema Circulatório.
Na Unidade 5 conhecerá os helmintos e suas características, iniciando os estudos da parasitologia com o
grupo do nematódeos, aprendendo sobre os agentes etiológicos dessas parasitoses, sua biologia e métodos de
diagnóstico. Na Unidade 6 o estudo será sobre os helmintos do Filo Platyhelminthes, e das duas classes principais:
Cestoda e Trematoda.
Na Unidade 7 você aprenderá sobre a relação dos artrópodes com a parasitologia, tanto como agente etiológico,
quanto como vetor. Na Unidade 8 você conhecerá os diferentes métodos de diagnósticos direto de parasitoses.
E por fim, na Unidade 9 você conhecerá os diferentes métodos de diagnóstico indireto de parasitoses.
Essa é apenas nossa introdução a esse assunto fantástico que é a parasitologia. Tenho certeza que, assim como
eu, você quer entender melhor sobre as parasitoses e como podem ser diagnosticadas, tratadas e prevenidas.
Venha comigo conhecer esses e outros aspectos dos parasitos e doenças que eles causam. Aprofunde seus conhe-
cimentos em cada um dos capítulos do livro e adquira os conhecimentos que irão auxiliá-lo(a) em sua profissão.
1
11 2
39
INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA
CONCEITOS GERAIS APLICADA À
EM PARASITOLOGIA PARASITOLOGIA
3
63 4
99
PROTOZOÁRIOS PROTOZOÁRIOS
PARASITAS E PARASITAS
ENTÉRICOS SISTÊMICOS,
E DO TRATO DOS SISTEMAS
GENITURINÁRIO CIRCULATÓRIO
SANGUÍNEO E
CUTÂNEO
5 131 6
161
HELMINTOS: HELMINTOS:
NEMATÓDEOS PLATELMINTOS
PARASITOS PARASITOS
7 8
189 215
ARTRÓPODES E A DIAGNÓSTICO DAS
SUA RELAÇÃO COM PARASITOSES:
A PARASITOLOGIA MÉTODOS DIRETOS
9
235
DIAGNÓSTICO DAS
PARASITOSES:
MÉTODOS
INDIRETOS
1
Introdução e
Conceitos Gerais
em Parasitologia
Dr. Vinícius Pires Rincão
12
UNIDADE 1
13
UNICESUMAR
Estudar os parasitos e suas características é fundamental para entender as doenças que podem causar.
Neste aspecto, o ponto de partida do nosso estudo é definir a Parasitologia.
Quando um indivíduo se encontra doente, ou seja, seu estado de saúde se encontra alterado, dois
fatores principais podem estar envolvidos (REY, 2008): os genéticos e as interações homem-ambiente.
Os fatores genéticos englobam diversos aspectos, muitos dos quais pouco entendidos pelo co-
nhecimento científico alcançado até o momento, e para os quais não cabe nossa discussão neste livro.
Já os fatores ambientais e a relação com o ser humano, estão diretamente as-
sociados à nossa discussão. Você já parou para pensar quais fatores e características
do meio ambiente interferem na saúde de nosso organismo?
Quando batemos em uma pedra e temos uma lesão, ou
quando comemos uma substância que nos é tóxica,
temos os fatores físicos e químicos do ambiente in-
teragindo diretamente com o organismo. Porém,
como já discutimos, o planeta está repleto de
vida e muita dessa vida, como vírus, bactérias,
fungos, protozoários, helmintos (vermes), en-
tre outros, podem diretamente interagir com
nosso organismo e causar alterações fisiológi-
cas e/ou físicas, resultando em doenças, e este é
o fator biológico interagindo. Dentre estes orga-
nismos, estão aqueles classificados como parasitos, e
que são o foco de estudo da Parasitologia. Assim, podemos
definir a Parasitologia como a ciência que se ocupa pelo estudo
do parasito, do hospedeiro e do meio ambiente, bem como a relação entre eles.
O entendimento das doenças parasitárias, bem como a determinação de metodologias de prevenção
e tratamento eficientes, dependem muitas vezes do conhecimento da ecologia que envolve o parasito
e seus hospedeiros definitivo e intermediários, quando existirem (REY, 2008), assim como a relação
com o meio ambiente. Neste sentido, para que você compreenda como os parasitos interagem com
o ser humano, e porque recebem esse nome, temos que conhecer os diferentes tipos de relação que
podem existir entre as espécies, bem como a ecologia relacionada a elas.
Vou trazer para você agora as principais formas de interação entres as espécies e como o pa-
rasitismo se insere entre elas. Existem diferentes formas pelas quais duas espécies distintas podem
interagir. Estas formas podem ser divididas em: harmônicas ou positivas, onde as espécies podem ser
beneficiadas ou pelo menos não sofrem nenhum prejuízo; e desarmônicas ou negativas, onde pelo
menos uma espécie é prejudicada. Exemplos de interações harmônicas incluem o mutualismo e comen-
salismo, enquanto interações desarmônicas contemplam, por exemplo, o predatismo e o parasitismo.
Em algumas interações harmônicas ambas as espécies se beneficiam, como no caso do mutua-
lismo, que podemos citar como exemplo os liquens, que surgem da associação entre algas e fungos,
onde a alga por fotossíntese supre alimento para si e para o fungo, enquanto o fungo garante abrigo e
umidade para a alga.
14
UNIDADE 1
Nas interações desarmônicas pelo menos uma das espécies é prejudicada, como no caso do predatismo,
que pode ser entendido como a relação interespecífica em que uma espécie (predador, por exemplo um
leão) caça e utiliza os membros de outra espécie (presa, por exemplo uma gazela) para sua alimentação,
provocando a morte da presa (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Outra forma de abordar as relações interespecíficas diz respeito a sua proximidade, ou seja, o quanto
uma espécie vai interagir fisicamente com a outra; e a sua obrigatoriedade, ou seja, o quanto a sobrevi-
vência de uma espécie depende da interação com a outra. Existe entre os autores certa divergência quanto
à definição de alguns termos, mas, de forma geral, podemos definir que toda associação entre espécies
diferentes é uma simbiose (sin = junto; bio = vida; osis = condição) (NEVES, 2016).
Com base nesta abordagem, podemos separar a relação entre as espécies em quatro tipos diferentes
(REY, 2009; NEVES, 2016), como veremos a seguir:
• Foresia: Neste tipo de associação, uma das espécies utilizaria a outra apenas como transporte
e/ou abrigo. Um exemplo deste tipo de interação, ligada inclusive a parasitologia, é o transporte,
por moscas e mosquitos – em geral hematófagos (insetos que se alimentam de sangue) – dos
ovos de Dermatobia hominis, que eclodem liberando a larva sobre o hospedeiro. A larva causará
uma infecção conhecida popularmente como “berne”.
• Comensalismo: Comensalismo é um termo derivado de “comensal”, cujo significado direto quer
dizer “aqueles que comem à mesma mesa”. Especificamente, o comensalismo engloba as relações
interespecíficas em que as espécies distintas apresentam uma íntima relação, uma se beneficiando
enquanto a outra não sofre nenhum efeito. Neste tipo de interação não há relação de dependência
entre elas. O exemplo da natureza mais simples para entendermos essa associação é o da rêmora
(peixe-piolho) e do tubarão (Imagem 1), onde a rêmora se fixa no tubarão e é transportada aprovei-
tando os restos da alimentação do tubarão, mas não causa nem prejuízo nem traz benefício a este.
Descrição da Imagem: Esta imagem se trata de uma foto de um tubarão nadando em alto mar. Ele ocupa o centro da foto, tem o
dorso cinza e o ventre branco, e está voltado para a direita, nadando submergido no mar azul. Próximo a seu ventre e costas estão
cinco peixes menores, esguios e compridos, de cor prata, com cabeças planas e enrugadas. Dois desses peixes estão grudados em seu
corpo em seu dorso, um perto da barbatana direta, e o outro perto da barbatana dorsal .
15
UNICESUMAR
• Mutualismo: Neste tipo de interação, as duas espécies vivem em íntima associação, ambas se bene-
ficiando. Porém, diferente do comensalismo, o mutualismo gera uma relação de dependência. Um
exemplo deste tipo de associação ocorre entre os animais ruminantes e microrganismos que habitam
o rúmen (um dos estômagos dos animais ruminantes, como a vaca) de seu trato digestivo. Enquanto
o animal ingere diversos alimentos que nutrirão os microrganismos, estes digerem moléculas, como
a celulose, que o animal não conseguiria digerir sozinho.
• Parasitismo: Para Rey (2009, p. 7), “Parasitismo é toda relação ecológica desenvolvida entre in-
divíduos de espécies diferentes, em que se observa, além de associação íntima e duradoura, uma
dependência metabólica de grau variável”.
Como uma regra do parasitismo, uma espécie se beneficia (o parasito) enquanto a outra sofre algum
tipo de prejuízo (o hospedeiro). Entretanto, as espécies estão adaptadas à relação, e o prejuízo ocasionado
não gera a morte do hospedeiro, pois esse fato não seria vantajoso para o parasito, uma vez que ele próprio
também morreria. É claro que toda esta interação depende de adaptações, tanto do parasito quanto do
hospedeiro, desenvolvidas por um longo período de evolução, e que dependem de condições do meio e do
próprio indivíduo que serve como hospedeiro. Assim, dependendo das características em que o parasitis-
mo se instale, bem como as condições físicas do hospedeiro, este pode acabar não suportando o prejuízo
causado pelo parasito e morrer (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Portanto, com base nas características do parasitismo, podemos definir “parasito” como sendo o
indivíduo de uma espécie que estabelece uma relação, íntima, duradoura, de dependência e benéfica
para si, com outra espécie, a qual sofrerá algum tipo de prejuízo. Os parasitos ainda podem ser classifi-
cados, conforme o local do hospedeiro que tomem como habitat, em: ectoparasitos, quando habitam
a região externa do organismo, como por exemplo o Pediculus humanus (piolho) que parasita a cabeça
do ser humano; e endoparasitas, quando habitam a região interna do organismo, como por exemplo
o Ascaris lumbricoides (Imagem 2).
(a) (b)
Imagem 2 - O piolho como ectoparasita (a), e Ascaris lumbricoides como endoparasita (b) / Fonte: Rosa Rubicondior (2022).
Descrição da Imagem: A imagem “a” apresenta uma aproximação do couro cabeludo de uma pessoa, pele clara, com cabelos casta-
nhos-claro. No centro, está um pequeno inseto fino e marrom grudado a um fio de cabelo. Na imagem “b” é observado o interior de
intestino, um tubo de músculos rosa úmidos e divididos em anéis, onde se observa um verme rosa alongado e cilíndrico.
16
UNIDADE 1
É com base nesta definição de parasito e parasitismo que você vai explorar os diferentes grupos de
organismo que afetam o ser humano, bem como entender como interagem com o meio ambiente e os
diferentes tipos de hospedeiros, aprendendo os detalhes de sua biologia.
Agora que você sabe o que é um parasito, reflita comigo: como identificar um organismo vivendo
no corpo humano, que causa o mínimo de dano, e que está, na maioria das vezes adaptado para
viver escondido e passar despercebido? Esse é um dos objetivos do profissional de saúde na pa-
rasitologia que vamos entender juntos conforme caminharmos pelo livro.
Você já estudou as diferentes relações existentes entre as espécies e como isso pode resultar em bene-
fícios para uma, ambas ou nenhuma delas. Para aprofundarmos nosso estudo, vamos entender agora
a ecologia destes organismos, a Ecologia Parasitária.
Podemos definir ecologia como a ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si, ou com
o meio orgânico e inorgânico no qual vivem. Assim sendo, e observando que os parasitos estão em
constante interação com o ambiente que o cerca, com outros organismos e principalmente com seus
hospedeiros, podemos definir essa interação como ecologia parasitária (NEVES, 2016).
Um ecossistema consiste em “uma comunidade ecológica ou um ambiente natural, onde há um
estreito relacionamento entre as várias espécies de animais, vegetais e minerais” (NEVES, 2016, p. 11).
Pensando nas características da vida de um parasito, podemos entender que fazemos parte de seu
ecossistema e de seu ciclo de vida.
Uma vez que as doenças causadas por parasitas dependem de sua interação com nosso organismo
e de aspectos de seu ciclo biológico, para entender como essas doenças são causadas é importante
conhecer alguns aspectos da ecologia parasitária.
Habitat: O habitat de um parasito corresponde ao “lugar onde ele vive e onde pode ser
encontrado” (REY, 2008, p.11). Pode ser entendido de uma forma mais ampla, como sendo o
local, ecossistema ou mesmo um órgão, onde uma espécie ou população pode se alimentar
e se reproduzir, possuindo um estreito relacionamento com os demais organismos e com o
ambiente (NEVES, 2016). Como exemplos podemos citar o intestino delgado como habitat do
Ascaris lumbricoides e o sistema circulatório sanguíneo como habitat do Schistosoma mansoni.
Nicho ecológico: O nicho ecológico por outro lado caracteriza a posição que a espécie ocupa
dentro do ecossistema, sendo local que possibilita o atendimento a todas as necessidades
vitais do indivíduo, e este estando perfeitamente adaptado àquele local (REY, 2008). Um exem-
plo que pode ser utilizado para diferenciar o habitat de nicho ecológico engloba os parasitos
Ascaris lumbricoides e Ancylostoma duodenale, onde os dois possuem o mesmo habitat, o
intestino delgado, mas enquanto o Ascaris se alimenta espoliando o alimento da luz intestinal
do hospedeiro, o Ancyslostoma produz lesões no intestino e se alimenta do sangue resultante.
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UNICESUMAR
Um dos conceitos mais importantes que você precisa entender para o estudo da parasitologia é
o de Hospedeiro. Um hospedeiro pode ser definido como um organismo que abriga o parasito
(NEVES, 2016) tanto internamente, no caso de endoparasitas, como externamente, no caso de
ectoparasitas. Como já analisamos anteriormente, uma das características do parasitismo é o
estabelecimento, com o tempo, de uma relação duradoura, com ínfimo prejuízo para o hospe-
deiro, a fim de garantir a sobrevivência de ambas as espécies. Com base nesta característica, os
hospedeiros podem ser denominados de: hospedeiro natural, correspondendo àquele em que o
parasito está bem adaptado, sofrendo pouco dano e não desenvolvendo doença, e servindo como
reservatório natural para o parasito; hospedeiro anormal, correspondem àqueles em que o pa-
rasito ainda está em processo de adaptação, sofrendo danos e adoecendo ou morrendo durante a
infecção; hospedeiro acidental ou ocasional, corresponde àquele em que raramente o parasito
causa infecção (REY, 2008).
Os hospedeiros podem ainda ser classificados de acordo com sua relação com o ciclo de vida
do parasito em (NEVES, 2016):
Um exemplo de fácil compreensão, para entendermos esses dois termos é o da Taenia solium, um
helminto (verme) que parasita o trato intestinal do ser humano. Este tipo de parasito, antes de se
fixar no intestino delgado, onde passará o resto de sua vida se reproduzindo, deve passar por um
estágio de maturação ou larval, de curto período, em um outro animal, o porco. Assim, o porco
corresponde ao hospedeiro intermediário, enquanto o ser humano será seu hospedeiro definitivo.
Vou te fazer uma pergunta e quero que tente responder sem ler os próximos parágrafos: como
os parasitos chegam até os seres humanos? Conseguiu? Muito bom. Para aprofundar seu conhe-
cimento neste aspecto, vem comigo entender o que é um Vetor. Um vetor é entendido como
qualquer forma de transporte que transmitirá o parasito entre dois hospedeiros distintos. O vetor
de um parasito pode ser biótico ou abiótico e, portanto, pode ser classificado da seguinte forma
(NEVES, 2016):
• Vetor biológico: corresponde a um organismo que servirá como transporte e constitui-
rá uma das fases do ciclo de vida do parasito. Um vetor biológico consiste, geralmente, a
moluscos e artrópodes. Um exemplo é do mosquito do gênero Anopheles (Imagem 3) que
serve como vetor para o Plasmodium, causador da malária.
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UNIDADE 1
Descrição da Imagem: A imagem se trata da foto de um mosquito. Ela apresenta uma visão aproximada de uma pele humana, de
cor clara, onde se pode ver um mosquito, pousado, voltado para a direita, e se alimentando de sangue por meio do aparelho bucal
picador-sugador, inserido na pele. A barriga do mosquito se encontra avermelhada e expandida.
• Vetor mecânico: corresponde a um organismo que servirá apenas como transporte, sem que
o parasito se desenvolva ou se reproduza em seu interior. Um exemplo é do transporte dos
ovos e larvas da mosca Dermatobia hominis, que os deposita sobre outro inseto (geralmente
hematófago) que servirá apenas para transportar a larva até o hospedeiro.
• Vetor inanimado: corresponde a objetos como seringas, talheres, copos, ou substâncias, como
por exemplo a água.
Título: Parasitologia
Autor: Luís Rey
Editora: Grupo GEN
Sinopse: Neste livro serão apresentados os principais conceitos de para-
sitologia, englobando as definições gerais de parasitismo e parasito, dos
ciclos parasitários e abordando os principais grupos de parasitos e as
parasitoses por eles causadas.
Comentário: Caro(a) aluno(a), neste livro você terá acesso aos principais
tópicos abordados em nossa disciplina. Ele poderá auxiliar no esclarecimento de dúvidas e ajudar
a aprofundar ainda mais seus conhecimentos sobre a parasitologia.
19
UNICESUMAR
Você aprendeu que a principal característica do parasitismo é que o parasita causa algum prejuízo ao hos-
pedeiro. Esta ação do parasito sobre o hospedeiro pode ocorrer de diversas formas. Um parasito, após
entrar no hospedeiro, pode interagir com este de diferentes formas. Como já aprendemos, o parasitismo
corresponde à interação de um indivíduo, o parasito, sobre outro, o hospedeiro, onde o primeiro se beneficia
e o segundo é prejudicado.
Neste aspecto, o parasito pode utilizar o organismo do ser humano tanto como um abrigo como fonte de
nutrientes, causando danos através de vários processos. Conhecer estes processos é o primeiro passo para
entender como um parasito pode causar doenças. É importante destacar que o parasitismo é um processo
dinâmico e, assim, a patogenicidade (capacidade de um agente infeccioso em causar lesões) de um parasito
e a resistência do hospedeiro estão sempre buscando um equilíbrio (NEVES, 2016), o que, com o tempo,
tende a eliminar a doença.
Dentre as várias formas que um parasito pode causar danos no hospedeiro, as principais, segundo Neves
(2016), são:
a) Espoliativa – consiste na utilização de nutrientes do hospedeiro pelo parasito. É uma competição
pela captura e utilização de nutrientes, que podem estar tanto na luz intestinal quanto no sistema
circulatório. Um exemplo é a utilização de nutrientes da luz intestinal por tênias.
b) Mecânica – consiste nas lesões causadas simplesmente pela presença do parasito em um órgão,
ocupando um espaço que não foi constituído para ele, ou se locomovendo, causando obstrução ou
destruição de tecidos. Um exemplo é a obstrução intestinal por Ascaris lumbricoides (Imagem 4).
Descrição da Imagem: Na imagem é possível identificar um fragmento do intestino delgado humano, de cor marrom, do qual foi
removido por meio de corte uma porção da parede lateral, causando uma abertura, expondo a luz intestinal. Por essa abertura lateral
é possível visualizar dezenas de vermes brancos cilíndricos e alongados, obstruindo completamente a cavidade interna do intestino.
20
UNIDADE 1
Como você pode ver, os parasitos podem causar danos ao organismo humano de diversas formas
diferentes. Entretanto, o organismo também possui mecanismos para prevenir ou eliminar parasito-
ses através do Sistema Imunológico. Você já parou para pensar que mesmo entrando em contato,
constantemente, com parasitos, microrganismo e substâncias estranhas, são poucas as vezes que você
fica doente? Isso acontece porque seu organismo está protegido por um verdadeiro exército, o Sistema
Imunológico, constituído por células e moléculas dissolvidas nos líquidos corporais, responsáveis por
desencadear a “resposta imunológica” (resposta imune). Esta pode ser definida, segundo Siqueira-
-Batista et al. (2020, p. 10), como “o conjunto de reações do organismo à presença de um elemento
identificado como não próprio (em inglês, not-self) pelo hospedeiro”.
Estes componentes do Sistema Imunológico podem ser divididos com base nas características
que possuem quanto à forma e velocidade de ação contra o elemento não próprio, que é também
definido como antígeno. Quando estes componentes estão prontos para agir e combatem o an-
tígeno no momento em que tomam conhecimento dele, classificamos como parte da imunidade
natural ou inata. Quando estes componentes necessitam de um contato prévio com o antígeno
e posterior ativação, classificamos como parte da imunidade adquirida ou adaptativa. É im-
portante que você entenda que, embora possam ser classificados de forma separada, estes com-
ponentes fazem parte de um grande emaranhado, e por vezes componentes da imunidade inata
são requisitados pela imunidade adaptativa.
21
UNICESUMAR
Parasito estenoxênico é aquele que tem a capacidade de parasitar espécies de vertebrados muito
próximas. Um exemplo são as espécies de Plasmodium que parasitam só primatas.
Parasito eurixeno é aquele que tem a capacidade de parasitar espécies de vertebrados distantes,
ou seja, diferentes entre si. Um exemplo deste tipo de parasito é o Toxoplasma gondii, que pode
infectar mamíferos e aves.
Fonte: Neves (2016).
22
UNIDADE 1
Outro componente da resposta imune inata são: as células Natural-Killer (tipo de célula do sistema
imune, semelhante a linfócitos T, com a capacidade de reconhecer e destruir células anormais), corres-
pondendo a um tipo de linfócito que não precisa de ativação e é capaz de lisar células pela liberação
moléculas que abrem poros nas membranas destas células
Uma importante função do Sistema Imune Inato é levar os antígenos até as células do Sistema Imune
Adaptativo (SIA). As responsáveis por esse processo são células apresentadoras de antígenos (APCs).
Estas células têm a capacidade de fagocitar o organismo ou partícula estranha, destruí-lo e apresentar
partes dele em sua superfície, possibilitando o reconhecimento desses antígenos pelos linfócitos do SIA.
A Resposta Imune Adquirida (RIA) ou adaptativa, pode ser definida como aquela que é ativada
a partir do contato do antígeno com os linfócitos T e B. Pode, portanto, ser dividida, de acordo com
Siqueira-Batista et al. (2020), em:
23
UNICESUMAR
Embora haja muitos mecanismos de ação do sistema imunológico, nem todos tem uma ação efe-
tiva contra os parasitos, especialmente os helmintos. Assim, a resposta imune direcionada aos
parasitos, muitas vezes evoluiu para mecanismos bastante específicos.
Os dois principais tipos de parasitos internos humanos, e que acionam diretamente a resposta
imunológica, são os protozoários e os helmintos. Os protozoários são parasitos unicelulares,
vivendo no interior dos tecidos e líquidos corporais, e muitas vezes capazes de infectar o meio
intracelular, como no caso do Plasmodium, causador da malária, que infecta o interior de diferentes
células, principalmente hemácias.
No controle das parasitoses onde os protozoários são os agentes infecciosos, vários mecanismos
das respostas imunes podem ser ativados. Na RIN, os principais efetores são as células fagocitárias
e o sistema complemento. Embora a ação destes elementos seja central no combate às parasitoses
por protozoários, pacientes imunodeprimidos ou protozoários com mecanismos de escape à
resposta imune conseguem burlar a ação destes mecanismos de defesa, exigindo a ação da RIA.
Com a ativação da RIA através das células apresentadoras de antígenos, os linfócitos T auxi-
liares começam a regular a defesa do organismo, ativando Linfócitos B e Linfócito T citotóxicos.
A ação destas células, pela produção de citocinas como o Interferon-gama, ou pelos anticorpos,
potencializa a ação de outras células. Um exemplo dessa potencialização são os macrófagos, que
desenvolvem maior facilidade para realizar a fagocitose (processo denominado de opsonização)
e produzem óxido nítrico que aumenta sua capacidade de eliminar o parasito fagocitado.
No caso dos helmintos a resposta imune age de uma forma um pouco diferente. Isso porque
esses animais são multicelulares, e mecanismos da resposta imune, como a fagocitose, não funcio-
nam. Para estes parasitos, a Resposta Imune é baseada na produção de interleucinas, que estimulam
a produção de imunoglobulina E (IgE) e, principalmente, Eosinófilos. A IgE se liga ao helminto
e permite a ligação de Mastócitos, Basófilos e Eosinófilos à porção livre desse anticorpo, o que
leva a degranulação (liberação dos grânulos presentes nas vesículas internas para o meio extra-
celular) destas células, liberando diferentes tipos de moléculas, como por exemplo a histamina e
a proteína básica principal, que medeiam a inflamação e podem provocar a lise do parasito.
Muitos dos mecanismos de defesa utilizados pelo sistema imune são específicos para os para-
sitos que os desencadeiam. Dessa forma, você os verá à medida que estudar os diferentes parasitos
nas unidades subsequentes.
Então, aluno(a), pense comigo: se nosso sistema imune é tão eficiente e possui inúmeros mecanismos
para combater e eliminar parasitos, por que ainda existem tantas parasitoses?
24
UNIDADE 1
Embora nosso sistema imunológico possua mecanismos efetores capazes de eliminar tanto protozoá-
rios quanto helmintos, as gerações subsequentes de parasitos sofreram alterações e foram selecionadas
naturalmente, ao ponto de desenvolverem mecanismos que os permitem escapar, enganar e até eliminar
a resposta imunológica.
Esses mecanismos são variados e presentes tanto em protozoários quanto em helmintos, como por
exemplo: variação antigênica, ativação anormal de macrófagos, bloqueio da produção de anticorpos IgM,
entre outros. Porém, não são constantes, pois cada espécie evoluiu de forma específica, criando os me-
canismos de escape da resposta imunológica que mais se adequavam às suas características de infecção.
Segundo Siqueira-Batista et al. (2020), são vários os exemplos de mecanismos de evasão da resposta
imune ligados a parasitos específicos. Por exemplo, o Plasmodium falciparum, causador da malária,
pode induzir a síntese de bloqueadores de anticorpos, o que impede a ligação de anticorpos inibitórios;
outro exemplo é o da Leishmania spp., causadora da leishmaniose cutânea, que tem a capacidade de
inibir a ligação dos vacúolos fagocíticos (são vesículas, semelhante a uma bolha, no citoplasma da
célula, formadas por membranas lipídicas) com os lisossomos (organela celular capaz de digerir/
destruir organismos e partículas estranhas) impedindo a formação dos fagolisossomos, e inibem a
formação de enzimas proteolíticas (que digerem proteínas) nos lisossomos, o que garante sua evasão
da ação proteolítica dos macrófagos.
25
UNICESUMAR
Agora que você tem um conhecimento inicial sobre o que é o parasitismo, podemos nos apro-
fundar em alguns conceitos importantes para entender como esses organismos interagem com
o ser humano e o meio ambiente. Um desses conceitos, e que muito utilizaremos nas próximas
unidades, é o de ciclo biológico ou ciclo de vida. Ciclo biológico pode ser definido como “as
diversas fases e etapas que um parasito passa durante sua vida” (NEVES, 2016, p. 13).
O ciclo biológico, portanto, compreende todos os processos por que passa o parasito, como por
exemplo um helminto (verme) do ovo, para o estágio larval, até atingir a vida adulta, englobando
os ambientes e outros organismos a que tem contato. Para muitos parasitos o ciclo de vida é sim-
ples, englobando poucas etapas e poucas formas de desenvolvimento, como no caso das amebas.
Para outros, entretanto, há diversas fases, muitas formas celulares e mais de um hospedeiro. É
exatamente com base no número de hospedeiros que podemos classificar o ciclo biológico dos
parasitos em monoxênico e heteroxênico:
• Ciclo monoxênico: Corresponde ao ciclo biológico de um parasito que possui um único
hospedeiro. Este, portanto, é denominado de hospedeiro definitivo, pois é o habitat em que
se desenvolverá a forma adulta, no caso dos helmintos, ou forma ativa, no caso dos proto-
zoários. Por esta razão este ciclo biológico pode também ser referenciado na literatura como
“ciclo direto”. Um exemplo de ciclo monoxênico é o da Entamoeba histolytica (Imagem 5),
onde o único hospedeiro é o ser humano.
26
UNIDADE 1
1 i d
Cistos maduros
Ingerido
2
Desencistação
Trofozoíto
3 d
Multiplicação
3
Cistos
C A
d d d
d
3 B
Trofozoítos d
d
4
3
d Fezes 2
i d
Descrição da Imagem: A imagem se trata de um infográfico do ciclo biológico da Entamoeba histolytica. No lado direito da imagem
está representada a silhueta de um ser humano, com a visão dos órgãos internos, de cima para baixo, o cérebro, o tubo digestivo com
esôfago, estômago, e intestinos e o fígado, além dos pulmões. Nessa silhueta estão representados: pela letra “A” o habitat do protozoário
no cólon transverso do intestino grosso; pela letra “B” os locais onde ocorre a doença intestinal no cólon ascendente do intestino grosso;
pela letra “C” os locais onde ocorre a doença invasiva no fígado, pulmão e cérebro. No lado esquerdo da imagem estão representadas as
formas celulares em que o parasito pode ser encontrado, e como se dá seu desenvolvimento, partindo do cisto para o trofozoíto, sendo
demonstrado também que o cisto é liberado para o ambiente pelo ânus e infecta o organismo pela ingestão oral. Na parte superior há o
desenho de um círculo cinza com quatro núcleos em seu interior, do lado esquerdo está escrito “Cisto Maduro”, do lado direito sai uma
seta azul indicando a boca, acima da seta está escrito “Ingestão”, outra seta sai desse círculo indicando para baixo outro círculo igual com
um pequeno círculo se formando do lado direito onde está escrito “Excistação”, desse segundo círculo sai uma seta azul indicando para
baixo uma estrutura de forma ovalar, na cor cinza do lado direito está escrito “Trofozoita”, dessa estrutura sai uma seta azul indicando
para baixo, onde está escrito “Multiplicação”, de onde saem duas setas azuis, uma indicando para o lado direito uma estrutura ovalar na
cor cinza abaixo dela está escrito “Trofozoítos”. Outra indicando para o lado esquerdo uma estrutura circular com um núcleo de cor cinza,
ao lado está escrito “Cistos”, dessa estrutura sai uma seta azul, indicando para baixo uma estrutura circular com dois núcleos de cor cinza;
dessa estrutura sai uma seta azul indicando para baixo uma estrutura circular com quatro núcleos de cor cinza.
27
UNICESUMAR
• Ciclo heteroxênico: Corresponde ao ciclo biológico de um parasito que possui pelo menos
dois hospedeiros. Neste tipo de ciclo há um hospedeiro intermediário, onde ocorre parte do
ciclo de vida, geralmente produzindo as formas infectantes; e um hospedeiro definitivo, onde se
desenvolverá a forma adulta ou ativa. Um exemplo de ciclo heteroxênico é o da Taenia solium
(Imagem 6), onde há dois hospedeiros: um suíno como o hospedeiro intermediário, e o ser
humano como hospedeiro definitivo.
i As Oncosferas se desenvolvem
em cisticercos no músculo
T. saginata T. solium
5
O Scolex se fixa no intestino
2
O gado (T. saginata) e os porcos (T. solium) se
tornam infectados pela ingestão de vegetação
contaminada pelo ovos ou proglótides grávidos
6
T. saginata T. solium
Adultos no intestino delgado
d
1 i Estado infeccioso
d Estágio de diagnóstico
Ovos ou proglótides grávidos nas
fezes e passam para o ambiente
Descrição da Imagem: A imagem apresenta um círculo formado por setas, cada uma ligando a fase anterior à próxima do ciclo de vida
da Taenia. No lado direito da imagem, há o desenho da silhueta do corpo de uma pessoa mostrando os órgãos do sistema digestório,
e do lado há duas ilustrações, sendo a superior a dos escólex das T. solium e da T. saginata, e a inferior a representação de um verme
adulto do gênero Taenia. Na parte inferior há uma ilustração das proglótides e de um ovo de Taenia. Na sequência do ciclo, há um
parágrafo dizendo que o gado ou porcos ingerem os ovos ou proglótides. Na sequência, há uma ilustração de uma vaca e de um porco,
juntamente com uma ilustração de uma oncosfera, indicando que este estágio do desenvolvimento penetra a parede do intestino dos
animais e se aloja nos tecidos. Em seguida a uma ilustração de um cisticerco, explicando que a oncosfera nos tecidos se desenvolverá
e um cisticerco. A imagem termina com o cisticerco voltado ao corpo humano, sendo ingerido pela boca, recomeçando o ciclo.
O conhecimento sobre o ciclo biológico de um parasito é fundamental para entender em quais mo-
mentos de uma infecção, as formas adultas, jovens, ativas ou de resistência, podem ser detectadas. Esse
fato é ainda mais importante para a biomedicina, pois permite determinar o melhor método de análise
para garantir um diagnóstico confiável.
28
UNIDADE 1
Como você já deve ter notado, as diferentes espécies que interagem com o ser humano estabelecendo o
parasitismo devem apresentar características específicas, tanto para permitir a sua reprodução, quanto
para suportar ou escapar da resposta imunológica do hospedeiro. Assim, nem todos os organismos
que entram em contato com o organismo humano, causando ou não uma infecção, serão considerados
parasitos. Então, quais os principais parasitos do ser humano?
Como você já aprendeu, os parasitos são organismos que, ao entrarem em contato com o corpo
humano e atingirem seu habitat, causam algum tipo de prejuízo para o hospedeiro. Embora muitos
organismos possam interagir com o ser humano, poucos são aqueles que estabelecem uma relação
de parasitismo, sendo classificados em três grupos principais: helmintos, protozoários e artrópodes.
Você vai estudar a fundo as características de cada um destes animais nas unidades seguintes, porém,
vamos a uma introdução desses organismos.
O Filo Nematoda engloba um grupo de animais metazoários (pluricelulares) variados quanto a vida e
o habitat. Este filo apresenta representantes “saprófitos de vida livre, aquáticos ou terrestres, até parasitos
de vegetais, invertebrados e vertebrados” (NEVES, 2016, p. 220). Os animais são agrupados neste filo
por apresentarem como características terem um corpo cilíndrico e alongado, com tamanho variável
de alguns milímetros a muitos centímetros, terem simetria bilateral, sem segmentação verdadeira, com
uma cavidade interna sem revestimento de epitélio (pseudocelomados), e com tubo digestivo completo.
Um exemplo de representante deste filo é o Ascaris lumbricoides (Imagem 7).
29
UNICESUMAR
O Filo Platyhelminthes engloba animais metazoários com representantes de vida livre, e ecto ou
endoparasitos. Esses animais possuem simetria bilateral, achatados dorso-ventralmente, acelomados,
com ou sem tubo digestivo, mas sem ânus, com uma extremidade anterior contendo órgãos sensoriais
e de fixação. Um exemplo de representante deste filo é a Taenia solium (Imagem 8).
30
UNIDADE 1
(a) (b)
Descrição da Imagem: A imagem observada corresponde a junção de duas imagens de protozoários. A imagem “a” apresenta a re-
produção gráfica de um protozoário, representando o Trypanosoma cruzi, formado por uma célula alongada e fusiforme, onde pode-se
observar um núcleo central, um flagelo terminal e uma membrana ondulante em um dos lados do fuso. A imagem “b” corresponde a
uma micrografia de um protozoário, sendo este a Naegleria fowleri, onde pode-se ver uma célula com inclusões no citoplasma e pseu-
dópodes se projetando, marcados com cabeças de setas.
O Filo Ciliophora é constituído por espécies de protozoários que apresentam cílios em sua superfí-
cie celular, distribuídos de forma variada entre as espécies, e que são utilizados para locomoção. Um
exemplo de representante deste filo é o Balantidium coli (Imagem 10).
31
UNICESUMAR
Descrição da Imagem:A
imagem se trata de uma
foto microscópica de um
protozoário. Na imagem
é possível observar, na
região central, uma célula
de formato oval, corada
de rosa contra um fundo
branco. Nesta célula é
possível identificar o nú-
cleo e o cílios representa-
dos por projeções finas,
localizadas nas laterais
da célula.
O Filo apicomplexa, diferente dos anteriores, é constituído por protozoários que não apresentam um
mecanismo de locomoção específico. Entretanto, algumas espécies deste filo podem se locomover por
meio de um mecanismo de deslizamento. A característica principal dos membros deste filo é a pre-
sença de uma organela denominada apicoplasto e a presença de um complexo apical, que teria como
função a fixação e penetração do protozoário na célula alvo. Um exemplo de representante deste filo
é o Plasmodium vivax (Imagem 11).
Micronema
Roptria
32
UNIDADE 1
Os artrópodes constituem um
grupo de animais metazoários, com
simetria bilateral, caracterizados
por apresentarem pés articulados
(podos = pés; arthro = articulação)
(NEVES, 2016), e um exoesqueleto
de quitina. O Filo Arthropoda é o
mais numeroso do reino animal,
apresentando, aproximadamen-
te 1.500.000 espécies já descritas.
Dentre todas as espécies de artró-
podes, duas classes englobam os
principais parasitos do homem:
Classe Insecta e Classe Arachnida.
A Classe Insecta compreende
os animais que, além das caracte- Imagem 12 - Dermatobia hominis
33
UNICESUMAR
Uma característica importante de toda ciência que tem como base o estudo de organismos, é a definição
correta e identificação dos organismos estudados. Isso se faz necessário para que os conhecimentos
gerados possam ser direcionados à espécie correta. A definição da espécie e sua classificação é função
da Taxonomia. Porém, para que duas espécies distintas não sejam confundidas é preciso nomeá-las
corretamente, é neste aspecto que se aplicam as regras da Nomenclatura Zoológica.
34
UNIDADE 1
Tenho certeza que em algum momento da sua vida você já ouviu, ou já falou o nome científico
do ser humano: Homo sapiens. Mas já parou para se perguntar por que este nome? Quem decidiu
que deveria ser esse? Por que é escrito em Latim? Todas estas características são determinadas pelas
Regras Internacionais de Nomenclatura Zoológica, formuladas e aprovadas em congressos
realizados pelas principais instituições e autoridades mundiais no assunto.
Antes de você entender como é determinado o nome de uma espécie, é importante diferenciar
nomenclatura de classificação. Classificação corresponde ao processo de ordenar os organismos
em grupos, ou classes, de acordo com suas características. Já a nomenclatura corresponde a uti-
lização de termos para designar um destes grupos ou classes.
Quando estudamos a classificação de uma espécie, estudamos os vários níveis em que está
agrupada. Estes níveis são denominados de unidades taxonômicas ou “táxons”. Em zoologia exis-
tem sete níveis principais, que na sequência do mais amplo para o mais restrito são: Reino, Filo,
Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie (NEVES, 2016).
Mas porque saber disso é importante para entender as regras de nomenclatura? Todo nome
científico de uma espécie é escrito em Latim e binomial (dois nomes), sendo a primeira palavra o
gênero e a segunda o epíteto. Entenda que o gênero pode ser escrito isoladamente, mas a espécie
sempre será composta pelos dois nomes, mesmo que o gênero se encontre abreviado. Portanto,
não podemos dizer que a segunda palavra de um nome científico é a designação da espécie. Por
exemplo, o gênero do verme conhecido como lombriga é Ascaris, enquanto a espécie é Ascaris
lumbricoides ou A. lumbricoides.
Outra característica importante é que o nome é formado por palavras em Latim, por esta ser
considerada uma língua morta e, portanto, não sofrer alterações com o tempo. Esse fato faz com
que o nome designado para uma espécie permaneça constante no tempo.
A forma de grafia do nome também é importante. Na nomenclatura binomial o gênero deve
ser grafado com a primeira letra em maiúsculo e o epíteto todo em minúsculo. Além disso, o nome
todo da espécie deve ser destacado de alguma forma, por exemplo, com itálico (Ascaris lumbri-
coides), negrito (Ascaris lumbricoides) ou sublinhado (Ascaris lumbricoides).
35
UNICESUMAR
Você deve ter notado que o estudo dos parasitos tem uma aplicação direta a várias das atividades direcio-
nadas à biomedicina, farmácia e outras áreas da saúde, em especial ao diagnóstico de doenças infecciosas
e parasitárias. Portanto, convido você a se aprofundar neste universo intrigante, curioso e sensacional que
é a Parasitologia. Junto comigo, vamos entender como estes organismos podem ser, ao mesmo tempo,
formidáveis em suas adaptações para sobreviver e se reproduzir, e perigosos ao ponto de causar milhões
de mortes todos os anos no mundo.
Nesta unidade, estudamos os principais conceitos de parasitologia, incluindo os de parasitismo e parasito.
Caracterizamos as formas de ação do parasito sobre o hospedeiro e como o sistema imunológico tenta inibir
a ação destes organismos. Entendemos os ciclos biológicos e como diferentes parasitos podem interagir
com um ou mais hospedeiros. Compreendemos como a ecologia pode se relacionar com a parasitologia e
conhecemos os principais grupos de parasitos do ser humano.
Agora que você conhece as características e os conceitos principais sobre parasitologia, pode entender
melhor o desafio e os questionamentos que foram propostos. Resgate o exercício proposto no início da
unidade e tente resolvê-lo com os conhecimentos que agora possui.
No Brasil, existem condições ambientais para o estabelecimento de diversas parasitoses. Porém, as
mais prevalentes são aquelas denominadas como parasitoses intestinais. São infecções estabelecidas
tanto por protozoários como a Entamoeba (causa a amebíase), como por helmintos como o Ascaris
lubricoides (causa a ascaridíase).
Essas parasitoses são transmitidas pela via fecal oral, por alimentos e água contaminados, e estão direta-
mente ligadas às más condições sanitárias e falta de higiene pessoal. Assim, caro(a) aluno(a), pensando no
seu entorno, você agora consegue definir ocasiões onde pode ter entrado em contato com esses parasitos. Um
exemplo muito comum é a ingestão de alimentos frescos, como frutas e verduras, sem a devida higienização.
36
Caro(a) aluno(a), com base nos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, estou certo de
que é capaz de preencher o mapa mental a seguir.
Parasito
Parasitismo
Hospedeiro
PARASITOLOGIA
Principais Parasitos
37
1. “O tratamento eficiente das doenças parasitárias, bem como a prevenção e o controle de cada
uma delas, exige bom conhecimento dos fenômenos ecológicos que envolvem o homem, os
parasitos que o invadem e, eventualmente, os hospedeiros intermediários ou vetores desses
parasitos. O próprio conceito de parasitismo deve ser baseado na interpretação ecológica e
bioquímica das relações parasito-hospedeiro”.
2. “Cada espécie de parasito tem seus próprios hospedeiros. Alguns só podem infectar uma ou
poucas espécies muito próximas: são os parasitos estenoxenos. Outros podem viver em uma
grande variedade deles, que infectam indistintamente: são os parasitos eurixenos”.
3. “A ação do parasito sobre o hospedeiro tem grande importância na parasitologia, pois é por
intermédio dela que poderá ocorrer doença no hospedeiro”.
Uma das características do parasitismo é que o parasito causará algum prejuízo ao hospedeiro.
Cite e explique, por meio de um texto dissertativo de 5 a 10 linhas, pelo menos três formas
pelas quais um parasito pode causar prejuízo ao ser humano.
38
2
Epidemiologia
Aplicada à
Parasitologia
Dr. Vinícius Pires Rincão
Todos os dias nos deparamos com notícias que trazem informações de doenças, seja pelo
risco de morte, ou pela sua rápida e intensa disseminação, afetando inúmeros países – ou
mesmo pelo fato de mal conhecermos suas características. Muitas destas doenças, embora
bem conhecidas e controladas, apresentam ainda o risco de causar danos irreparáveis para a
sociedade, caso saiam do controle. Você já parou para pensar como é realizado a vigilância das
doenças infecciosas e parasitárias? Como pesquisadores e autoridades sanitárias conseguem
determinar que uma doença saiu do controle e causou um surto ou uma epidemia?
O controle de doenças infecciosas demanda uma avaliação constante das autoridades
sanitárias. Isso só é possível quando os casos das doenças são notificados e registrados, per-
mitindo a avaliação por meio da ação de especialistas em epidemiologia.
Independentemente da doença e de como se encontra na população, ou seja, se já estava
inserida ou se é nova naquela população, os epidemiologistas buscam entender as razões
que fazem algumas pessoas adoecerem enquanto outras não – ou quais fatores propiciam
a manifestação da doença em áreas geográficas específicas, ou ainda os motivos para que
determinadas doenças apresentem ocorrências em períodos de tempo variados.
Essa abordagem, o entendimento de como a doença se distribui com relação à pessoa,
lugar e tempo, permite ao epidemiologista determinar possíveis fatores de risco, as causas e
agentes etiológicos das doenças, e com isso propor medidas de controle e prevenção.
Caro(a) aluno(a), você provavelmente já deve ter ouvido, em algum momento, uma notícia
ou um relato do aparecimento de uma doença, todas as adversidades que causou, e como
ela poderia ser prevenida evitando todo esse mal. Bem, todo esse conhecimento está direta-
mente relacionado com o tema desta unidade. Um
exemplo bastante comum no Brasil
deste tipo de doença e da abor-
dagem epidemiológica e que
afeta cerca de 40% do território
nacional é a Malária. Quero pro-
por uma atividade prática
de epidemiologia para
você: determine se
a região que você
se encontra é en-
dêmica ou não para
a Malária, qual o risco de
transmissão da doença, e
se há ou não uma epi-
demia na região.
40
UNIDADE 2
A Malária, a qual você estudará com maior profundidade nas próximas unidades, é uma doença
parasitária causada por um protozoário, o Plasmodium. Esse parasita depende exclusivamente
de um invertebrado, o mosquito do gênero Anopheles, para ser transmitido de um indivíduo a
outro e, portanto, a presença da doença em uma determinada região está, na maioria das vezes,
condicionada à presença deste mosquito, determinando que a região é endêmica ou não. Com base
nestes fatos, muitas questões podem ser levantadas: como as autoridades sanitárias determinam
que uma região é endêmica para uma doença? Quais os parâmetros de uma população são me-
didos para determinar se uma doença está ou não causando uma epidemia ou um surto? Como
são determinadas ações de prevenção e controle das doenças? Agora reflita na pesquisa que você
fez, e nas questões que levantamos, e escreva seus resultados no seu Diário de Bordo, a fim de que
eu e você possamos analisá-las juntos no decorrer desta unidade.
41
UNICESUMAR
Uma das características mais marcantes na sociedade atual é o impacto causado por doenças emer-
gentes. Essas doenças aparecem rapidamente, se disseminam e causam problemas sérios, tanto de
saúde como econômicos. A detecção e controle de doenças infecciosas e parasitárias depende de uma
vigilância constante, e é realizada com base em dados da ocorrência destas doenças na população. É
neste âmbito que age a Epidemiologia.
Epidemiologia pode ser definida como “a ciência que estuda a distribuição de doenças ou en-
fermidades, assim como a de seus determinantes na população humana” (NEVES, 2016, p. 15). A
distribuição das doenças está diretamente relacionada à quantidade de casos na população humana
em áreas determinadas, recebendo classificações diferentes conforme a extensão dessa área. Já os de-
terminantes das doenças dizem respeito aos fatores de risco para o desenvolvimento de uma doença,
que uma população apresenta em determinada área.
Atualmente, a epidemiologia alcançou grande importância, tanto para o estudo acadêmico quanto
para os órgãos de saúde pública, que buscam através dela determinar melhores formas de controle
e prevenção de doenças. No entanto, como será que surgiu o estudo e o conceito de Epidemiologia?
Muito do que era tratado na medicina e suas áreas correlatas pode ser relacionado à epidemiologia
desde a Grécia Antiga. Hipócrates (Figura 1), conhecido como pai da medicina, um médico grego que
viveu a 2500 anos, já postulava que as doenças não eram causadas de forma sobrenatural (pensamento
muito difundido na época), mas sim em decorrência da interação entre o indivíduo e o ambiente (ideia
muito alinhada ao que existe hoje). Ainda assim, essa ideia era superficial, sem o conhecimento por
exemplo sobre microrganismos, e era baseada na ideia do Miasma, entendido como o ar de má qua-
lidade que deixava as pessoas doentes. Assim, o ar exalado por uma pessoa doente passaria a doença
para outra. A Malária, por exemplo, tem seu nome derivado da combinação das palavras “mal” e “ar”,
derivado exatamente da premissa de transmissão pelo miasma (PEREIRA, 2018).
42
UNIDADE 2
Figura 1 - Hipócrates
No século XIX, após diversos pesquisadores como Antony Van Leeuwenhoek (em 1674), mostrado na
Figura 2, observarem seres microscópicos com microscópios rudimentares, surgiu a ideia dos germes
como causadores das doenças. Essa ideia passou a disputar espaço com a teoria dos miasmas. Somente
após Louis Pasteur demonstrar a existência de microrganismos e sua atuação na fermentação e Robert
Koch finalmente comprovar a relação de microrganismos com as doenças (1876) que se consolidou
a ideia de que as doenças transmitidas eram causadas por estes seres microscópicos.
43
UNICESUMAR
Figura 2 - a) Antony Van Leeuwenhoek, b) Louis Pasteur e c) Robert Koch / Fonte: Creative Commons (2022a, 2022b, 2022c).
Descrição da Imagem: a imagem é composta por três imagens distintas em variados tons de preto e branco: na imagem da esquerda,
a), pode ser observado a pintura de um homem (Antony Van Leeuwenhoek) com roupas pesadas e elegantes, com cabelos compridos e
cacheados sem barba, e a sua frente a fotografia de um instrumento, o microscópio rudimentar de Leeuwenhoek, lembrando uma espátula
larga de metal, com uma pequena lente de vidro do tamanho de uma gota no seu centro, e sobre a espátula liga-se um parafuso com
uma ponta muito fina localizando-se imediatamente acima da lente de vidro; a imagem do meio, b), é uma fotografia onde se observa
um homem (Louis Pasteur) de barba curta e grisalha, cabelos escuros e curtos, com roupa social, sentado com o cotovelo esquerdo
apoiado sobre uma mesa e olhando diagonalmente para sua esquerda; a imagem da direita, c), é uma fotografia onde se observa o
tronco de um homem (Robert Koch) com cabelos ralos quase careca, com cavanhaque e bigode espesso, usando um óculos pequeno
e elíptico, com roupa social, apresentando a mão esquerda apoiada do lado esquerdo da cabeça e olhando diretamente para frente.
No século XX, com a forte aceitação da teoria dos germes, as políticas de saúde e as pesquisas
se concentraram em mudar o saneamento ambiental e promover a resistência do organismo a
infecções por meio de imunizantes (vacinas) e por meio de medicamentos como os antibióticos,
o que diminuiu exponencialmente a propagação de doenças, consolidando muito dos mecanis-
mos atuais de prevenção.
44
UNIDADE 2
Tudo o que a Epidemiologia engloba enquanto disciplina científica, faz parte do estudo das doenças
infecciosas desde seu início. Entretanto, a forma de abordagem e análise evoluiu muito com o tempo.
O registro mais antigo da utilização da palavra “epidemiologia” está contido em um texto espanhol
do século XVI (PEREIRA, 2018), porém, seu entendimento como uma ciência só ocorreu na metade
do século XX, quando os estudos da área começaram a ser incorporados em livros-texto. O termo
epidemiologia (epi = sobre; demo = população; logos = tratado) pode ser entendido como o estudo
do que afeta a população e, embora hoje essa ciência tenha como foco o estudo de todos os fatos rela-
cionados com a saúde da população, no início ela se restringia ao estudo das epidemias das doenças
transmissíveis, e somente quando estas ocorriam (PEREIRA, 2018).
Entretanto, com o aprofundamento do conhecimento sobre as doenças infectocontagiosas, os
especialistas perceberam que para prevenir corretamente um surto ou uma epidemia seria preciso
estudar e entender como a doença se comportava também nos períodos interepidêmicos (PEREI-
RA, 2018). Esta abordagem levou os estudiosos na área a continuar a execução dos estudos sobre as
doenças que causavam epidemias, mesmo quando estas não ocorriam, resultando em conhecimentos
extremamente importantes atualmente, o que permitiu a correlação da distribuição das doenças com
diversos indicadores de saúde.
A epidemiologia possui um princípio básico: as doenças não ocorrem ao acaso em uma população
(PEREIRA, 2018). A partir desta premissa pode-se postular que a distribuição desigual das doenças
em uma população ocorre em decorrência da presença de fatores que se distribuem de forma desigual.
Assim, o conhecimento destes fatores permitiria a aplicação de medidas preventivas e curativas mais
eficazes. Tomando essa ideia como base da epidemiologia, pode-se dizer que seu objetivo principal é
a prevenção de doenças, promovendo assim a saúde na população humana (NEVES, 2016).
Agora, pense comigo: o objetivo principal da epidemiologia é a promoção da saúde. No entanto, este
não é o objetivo de toda a Medicina? Então por que há a necessidade de uma disciplina diferente
para este objetivo?
Embora a medicina tenha uma abordagem direcionada a promover a saúde, sua abordagem é diferente.
Muitos autores consideram a epidemiologia uma parte da medicina, outros a veem como parceira no
controle das doenças, mas com enfoques distintos. Quando você compara a atuação da medicina clínica
com a epidemiologia, pode entender a diferença entre elas. Basicamente, a medicina clínica atua em
um indivíduo, observando e tratando uma doença, enquanto a epidemiologia age em uma população
para prevenir uma doença (Quadro 1).
45
UNICESUMAR
Agora que você já entendeu o que é a epidemiologia e quais são seus objetivos, e sabendo que estes
estão diretamente focados na prevenção de doenças, é fundamental que você conheça o conceito de
“doença”. É importante destacar que para se entender o que é uma doença é preciso conhecer seu
oposto, ou seja, entender o conceito de “saúde”, e saber que a variação entre os dois estados é um
processo constante e frágil.
Estes dois conceitos são empregados constantemente no meio clínico, especificamente quando,
após a realização de exames clínicos e laboratoriais, que podem indicar que um indivíduo apresenta
alguma anormalidade em seu organismo, este será rotulado como doente ou sadio. Em uma abordagem
simplista, o termo “saúde” pode ser entendido como a “ausência de doença”, e em contrapartida, o
termo “doença” pode ser entendido como “falta ou perturbação da saúde” (PEREIRA, 2018, p. 30).
Embora essa definição simplista seja amplamente usada, existem àquelas mais abrangentes e que
expressam mais características destes dois estados. Neste contexto, a Organização Mundial da Saúde
(OMS), desde 1947, define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social
e não apenas a ausência de doença” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022, s.p.). Essa abordagem, apesar
de trazer um conceito mais amplo, também o deixa mais subjetivo, pois, como podemos determinar
o significado de bem-estar? Caso o bem-estar físico seja a ausência de alterações no organismo; o
bem-estar mental, a ausência de preocupações e o sentimento de felicidade; e o bem-estar social, o
sentimento de integração em uma sociedade com os direitos reconhecidos e respeitados, ainda assim
essas seriam características que só poderiam ser determinadas por cada indivíduo (SEGRE; FERRAZ,
1997), tornando a definição da OMS pouco usual para a epidemiologia.
Entretanto, por que estou trazendo toda essa abordagem para você? Isso é necessário para que
você entenda que definir uma pessoa como doente não é tarefa fácil, mas é papel da epidemiologia
avaliar esses parâmetros. Por essa razão, muitas vezes a definição mais simplista permite a melhor in-
terpretação dos dados e aplicação em medidas de controle e prevenção. E é por esta razão que vamos
adotá-la neste livro.
É fato que uma doença não surge do nada e nem se manifesta abruptamente, pois são reconhecidas
diversas fases de seu processo de instalação no organismo. Ao conjunto destas fases de instalação da
doença, dá-se o nome de história natural da doença. Ela deve ser entendida como um processo
contínuo no qual não há intervenção do ser humano.
46
UNIDADE 2
Segundo Pereira (2018), a história natural de uma doença pode ser analisada a partir de dois enfoques:
1. visão a partir de serviços, onde as características da progressão de uma doença são analisadas
com base em pacientes que procuram os serviços de saúde em busca de algum tratamento;
2. visão com base na comunidade, onde os pacientes são procurados na comunidade, por meio
de ações de promoção de saúde ou realização de pesquisas em fontes de informação.
Neste último caso, a abordagem é mais ampla, pois, mesmo indivíduos que não procuraram tratamento
são analisados, permitindo o entendimento da doença mesmo em fases anteriores a sua manifestação,
ou seja, quando o indivíduo se encontrava sadio. Isso permite, muitas vezes, determinar fatores de risco
e agravantes para a doença examinada.
A história natural de uma doença pode ser dividida em quatro fases:
1. Fase inicial ou pré-patogênese – consiste na fase onde a doença ainda não se ins-
talou, mas as características manifestadas no indivíduo propiciam o seu aparecimento.
2. Fase patológica pré-clínica – consiste na fase inicial, onde a doença se instala, mas
ainda não há aparecimento de sintomas.
3. Fase clínica ou patogênese – consiste na fase avançada da doença onde há mani-
festação de sintomas.
4. Fase de incapacidade ou pós-clínica – consiste no período após o término das ma-
nifestações dos sintomas, ou da estabilização das alterações fisiológicas e anatômicas
provocadas pela doença. Nestes casos, em geral, a doença não causou a morte do
paciente, porém não foi completamente curada, resultando em sequelas.
Uma característica muito importante para a aplicação dos conceitos epidemiológicos e para determi-
nação de medidas preventivas é a forma como um agente infeccioso passa de um indivíduo para outro,
ou seja, sua disseminação. As doenças infecciosas, entre elas as parasitoses, podem se disseminar de
diversas formas, e não é tarefa fácil separá-los por tipos, embora alguns autores o tenham feito. Por
outro lado, algumas características da disseminação das doenças são relevantes.
A forma como ocorre o transporte de um indivíduo para outro, por exemplo, é relevante na distri-
buição da doença, ou seja, o veículo (o vetor) utilizado pelo agente etiológico pode limitar o seu local
de ação regional, ou pode fazer com que a doença se torne global. O vetor para uma parasitose pode
ser desde a água e alimentos até insetos, que podem ou não fazer parte do ciclo biológico do parasito.
A maioria das parasitoses intestinais possui uma via oral-fecal, o que significa que o transporte para
dentro do hospedeiro é feito por alimentos e água contaminados. Um exemplo deste tipo de dissemi-
nação é a do Ascaris lumbricoides, onde a infecção de um novo indivíduo se dá pela ingestão de água
e alimentos contaminados com os ovos do parasito (Figura 3).
47
UNICESUMAR
48
UNIDADE 2
Descrição da Imagem:na imagem pode ser observado o processo de transmissão do parasito causador da malária. Na parte direita da
imagem pode ser observado o desenho de uma mão humana sendo picada por um mosquito do gênero Anopheles. O mosquito após
realizar o repasto voa, demonstrado na figura por meio de uma seta que aponta para uma outra mão na porção esquerda da figura.
Nesta mão o mosquito aparece picando novamente, indicando que neste momento ele inoculou o parasito junto com a saliva. A partir
da mão do lado esquerdo parte uma seta até o desenho de um fígado humano, indicando que o parasito vai para lá. Em seguida uma
nova seta liga o fígado a algumas hemácias contaminadas com o parasito e por fim uma nova seta liga as hemácias contaminadas ao
desenho da mão lado direito, indicando que o mosquito que está ali se alimentando, está ingerindo hemácias contaminadas.
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UNICESUMAR
Descrição da Imagem:a imagem corresponde a uma micrografia de larvas do Schistosoma mansoni, do tipo cercária. Nesta imagem
pode ser observado duas larvas com características semelhantes, sendo elas uma região anterior elíptica e mais larga correspondendo
ao corpo cercariano, ligado a uma cauda mais longa que o corpo, contendo a extremidade bifurcada.
Outra forma de um parasito invadir o organismo do hospedeiro pela via cutânea, é através da sua
introdução por meio da picada de um inseto, como no caso do Plasmodium vivax inoculado pelo
mosquito do gênero Anopheles (Figura 6).
50
UNIDADE 2
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado o aparelho sugador de um mosquito hematófago perfurando a pele e entrando
nas camadas profundas da derme, passando através de vasos sanguíneos. Neste processo pode ser observado que o mosquito injeta
uma substância, de cor amarelada (representando um anestésico natural), e juntamente com essa, pequenas partículas amarelas,
representando o parasito que são inoculados junto, atingindo os tecidos internos e podendo atingir a corrente sanguínea.
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UNICESUMAR
Caro(a) aluno(a), com base no que você já conhece sobre as parasitoses e a forma de infecção dos parasitos,
você consegue imaginar porque as doenças parasitárias, mesmo com um extenso trabalho de combate
e conscientização, não são facilmente controladas? Existem, na verdade, inúmeros fatores que vão desde
condições precárias de saneamento básico até a impossibilidade de eliminar o parasito do ambiente.
Neste último caso, estamos falando dos reservatórios naturais dos parasitos. O reservatório de um
parasito corresponde aos hospedeiros que possuem a infecção no momento avaliado, e pode servir de
base para classificar uma doença em antroponose ou zoonose (NEVES, 2016).
Antroponose – são doenças cujo homem é o único reservatório do agente etiológico, como a
filariose bancroftiana.
Zoonose – são doenças em que o homem e outros vertebrados são reservatórios do agente etio-
lógico, como a Doença de Chagas.
Fonte: Neves (2016).
52
UNIDADE 2
Como você pode perceber, a epidemiologia depende da avaliação de dados coletados a partir da
análise de uma população, e da característica do ambiente onde essa população se encontra. A
interpretação destes dados, entretanto, depende do conhecimento de determinados parâmetros e
termos empregados na análise dos dados.
Um destes termos é o “indicador de saúde”, que caracteriza um aspecto da doença que não
pode ser observado diretamente (PEREIRA, 2018). Portanto, ele indica a situação atual de uma
doença com base em determinados parâmetros, como mortalidade, letalidade e morbidade,
alguns dos quais não estão diretamente associados à doença em si.
• Mortalidade: corresponde a todas as mortes observadas em uma população em determina-
do período de tempo. Este indicador é muito utilizado, pois é objetivo na sua determinação,
uma vez que a morte é facilmente caracterizada, além do fato de que todas as mortes devem
ser registradas, fornecendo uma base de dados ampla e completa. No Brasil, as taxas de
mortalidade são publicadas pelo Ministério da Saúde, baseadas na causa da doença, e são
tabuladas em relação a região geográfica, sexo e faixa etária (NEVES, 2016).
• Letalidade: corresponde ao número de mortes em uma população em decorrência de
uma doença específica, em um determinado período de tempo. Veja, aluno(a), diferente da
mortalidade, neste indicador são contadas apenas as mortes atribuídas à doença avaliada,
permitindo determinar a gravidade da doença.
• Morbidade: pode ser entendida como a medida da frequência de uma doença na população
(NEVES, 2016). Este parâmetro é, sem dúvidas, o mais importante para a epidemiologia,
pois, permite uma análise direta da situação de uma doença na população. A morbidade
é, geralmente, determinada com base em duas taxas distintas: Incidência e Prevalência.
Taxa (ou coeficiente) – corresponde uma medida matemática que expressa a razão entre duas
grandezas, sendo que na parasitologia está relacionado diretamente ao número de casos pela po-
pulação que pode adoecer. Por exemplo: a taxa de mortalidade em acidentes de moto – é a razão
do número de pessoas que morreram em um acidente de moto, pelo número de pessoas que se
acidentaram com uma moto.
Fonte: Pereira (2018).
A Incidência pode ser entendida como a frequência de uma doença em uma população específica, em
um tempo determinado, englobando apenas os casos novos dessa doença. Assim, a taxa de incidência
(Figura 8) é determinada pelo “número de casos novos (recentes) de uma doença que ocorreu em uma
população em um período de tempo definido” (NEVES, 2016, p. 20).
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UNICESUMAR
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado a representação da fórmula para se calcular a Taxa de incidência. À esquerda
está escrito “Taxa de incidência =”. À direita, acima, está escrito “Número de casos novos de uma determinada doença presente em
uma população, em um período de tempo definido”. Abaixo, está uma linha, indicando o símbolo de divisão. Abaixo desta, está escrito
“Número de pessoas em risco de desenvolver a doença nesta população, no mesmo período de tempo definido”.
Um exemplo para você entender melhor a taxa de incidência. Em uma cidade do interior, em um to-
tal 600 crianças com idades entre 5 e 7 anos, no ano de 2005, 7 apresentaram amebíase. Assim, a taxa
de incidência corresponde a 7/600 = 0,012 = 12 casos por 1000 crianças em 2005. Essa taxa serve de
parâmetro para estipulações, ou seja, caso sejam analisadas 1000 crianças, há a probabilidade de que
haja 12 casos da doença entre elas.
A taxa de incidência permite que se avalie como uma doença se mantém em uma população, do ponto
de vista de sua disseminação, possibilitando a detecção de surtos e epidemias — ou mesmo na determinação
de grupos específicos afetados, como faixa etária ou àqueles que possuem fatores de risco como comorbi-
dades ou obesidade. A incidência é reconhecida também, como uma estimativa do risco de adoecer, já que
determina a probabilidade de que novos casos apareçam em uma população.
Por outro lado, a Prevalência representa o número total de casos de uma doença na população
em um tempo definido, contando casos novos e antigos. Portanto, a taxa de prevalência (Figura
9) pode ser definida como o “número de pessoas afetadas por uma determinada doença em uma
população em um tempo específico, dividido pelo número de pessoas da população naquele
mesmo período” (NEVES, 2016, p. 21).
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado a representação da fórmula para se calcular a Taxa de Prevalência. À esquerda
está escrito “Taxa de prevalência =”. À direita, acima, está escrito “Número de casos novos de uma determinada doença presente em
uma população, em um período de tempo definido”. Abaixo, está uma linha, indicando o símbolo de divisão. Abaixo desta, está escrito
“Número de pessoas existentes na população, no mesmo período de tempo definido”.
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UNIDADE 2
Um exemplo para que você entenda melhor a taxa de prevalência: no ano de 1992, havia no Bra-
sil 8 milhões de pessoas diagnosticadas com esquistossomose, sendo que neste ano a população
brasileira era de 154,3 milhões de pessoas. A taxa de prevalência era, portanto, de 8 milhões/ 154,3
milhões = 0,051, o que significa que 5,1% da população teve esquistossomose no ano de 1992. Veja
que não são avaliados apenas os casos que apareceram no ano de 1992, mas sim todos que estavam
com a doença naquele ano, contando inclusive pessoas que adquiriram a doença no ano anterior.
A prevalência é muito utilizada no planejamento de saúde, direcionando recursos para a pre-
venção em áreas onde esta se mantém elevada. Isso ocorre principalmente em áreas endêmicas.
Nesses locais, onde há presença de vetores ou reservatórios naturais, o número de casos durante
os anos (ou em um período predeterminado) se mantém elevado, porém constante.
Embora os conceitos de Prevalência e Incidência sejam parecidos, eles têm diferenças especí-
ficas e usos característicos. Para Neves (2016) a principal diferença entre eles é que a prevalência
demonstra a situação da doença na população estudada naquele período, medindo doentes e não
doentes, sem se importar com o risco de adoecer, enquanto a incidência, por analisar casos novos,
permite determinar qual o risco em contrair a doença analisada na população estudada.
Outro parâmetro muito utilizado na epidemiologia é o Índice, que é mais utilizado para expres-
sar a frequência de um evento de um certo tipo em relação a outro evento de um tipo diferente
(PEREIRA, 2018), ou seja, possuem naturezas diferentes. O exemplo mais comum onde por ser
observado a utilização do índice é a comparação entre duas doenças distintas, como o número de
mortes de febre amarela em relação ao número de mortes por tuberculose.
As doenças, de uma forma geral, têm uma distri-
buição entre os indivíduos de uma população, que
pode ser classificado entre: períodos epidêmicos,
interepidêmicos e endêmicos (NEVES, 2016). Esta
classificação é dada principalmente com base no nú-
mero de casos da doença na população e, portanto,
está diretamente ligado à incidência e prevalência.
Além destes três períodos, podem ocorrer surtos em
locais específicos. Então como podem ser entendidos
surtos, epidemias, endemias e pandemias?
Os períodos interepidêmicos, como o próprio
nome sugere, são os períodos onde o número de casos novos é muito baixo ou inexistente. Um surto,
por outro lado, pode ser definido como “uma situação epidêmica limitada a um espaço localizado”
(ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, 2010, p.14), ou seja, corresponde a ocorrência
de vários casos de uma doença, em um curto período de tempo, de forma descontrolada e inesperada,
excedendo a ocorrência normalmente observada em tempo similar, em um local específico, sendo
que todos os casos possuem uma relação íntima, ou seja, todos os casos têm a mesma fonte de con-
taminação. Um exemplo de surto de parasitologia foi o ocorrido na cidade de Santa Isabel do Ivaí,
no Paraná, entre novembro de 2001 e janeiro de 2002, onde 600 indivíduos, dos 9.154 habitantes da
cidade, contraíram Toxoplasmose (veja o Eu Indico a seguir).
55
UNICESUMAR
Uma endemia pode ser entendida como a presença constante de casos de uma doença na população de
uma determinada área (NEVES, 2016), ou seja, corresponde a prevalência constante da doença na população
analisada. A maioria das parasitoses, por apresentarem como característica a sobrevivência do hospedeiro, e a
necessidade de determinados fatores ambientais para maturação e transmissão (muitas vezes característicos
de determinadas áreas geográficas), se manifestam como endemias. Um exemplo deste tipo de distribuição
ocorre com a Malária, cuja presença constante de casos pode ser observada nos estados da região norte
do país (Figura 10), onde há presença em grande quantidade do vetor de transmissão e de reservatórios
naturais, e por isso a transmissão entre indivíduos contaminados e sadios é constante.
56
UNIDADE 2
Já uma epidemia tem como característica o aumento rápido do número de casos de uma doença. Para
Neves (2016, p. 18) uma epidemia pode ser entendida como “a ocorrência de uma doença em uma
população, que se caracteriza por uma elevação progressiva, inesperada e descontrolada, ultrapassan-
do os valores endêmicos esperados”. Neste caso, o parâmetro que é utilizado para sua caracterização,
diferente da endemia, e a incidência, caracterizando a epidemia como a ocorrência de casos da doença,
com “uma incidência maior que a esperada para a área geográfica e períodos determinados” (ORGA-
NIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, 2010, s.p.).
Por esta definição, podemos entender que uma determinada doença pode ocorrer normalmente em
uma população, sem que necessariamente seja uma epidemia, contendo um número constante de casos,
todos os anos. No entanto, o seu descontrole pode gerar um evento epidêmico. Por exemplo, em 2002
houve o início de epidemia de leishmaniose visceral na cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do
Sul. Neste ano, os casos confirmados da doença saltaram de inexistentes ou isolados para uma média
de 22 casos, e em 2003 para 97 casos confirmados, mantendo a progressão nos anos subsequentes com
uma média de 140 casos anuais. Neste exemplo vemos o número de novos casos quadruplicando em
curto período de tempo, de forma inesperada e descontrolada.
Neste contexto, entende-se a epidemia como um problema de saúde pública, onde ocorre a propa-
gação da doença excedendo a expectativa da região. Porém, para que isso possa ser claramente deter-
minado, é preciso que haja uma vigilância epidemiológica constante, ou não se perceberia o aumento
de novos casos, o que pode levar a determinação de epidemias em áreas que na verdade são endêmicas.
Por fim, resta caracterizar a pandemia. Uma pandemia tem como característica ser uma epidemia
que ocorre em vários países, em pelo menos dois continentes, ou seja, há um aumento de casos de forma
rápida, inesperada e descontrolada. Um exemplo de pandemia foi a ocorrida no final de 2020 e anos
subsequentes, onde um coronavírus (o Sars-Cov-2) se espalhou por todos os países do mundo, com 449,9
milhões de casos confirmados e mais de 6,01 milhões de mortes, até o início de 2022 (JOHNS HOPKINS
UNIVERSITY, 2022). Embora existam parasitos com uma distribuição cosmopolita (encontrados em
todos os lugares do mundo), não há registros de pandemias parasitárias, pois, como você pode constatar,
a ocorrência de uma parasitose depende da interação do hospedeiro, vetores específicos e ambiente.
Todas as ações da epidemiologia têm como objetivo avaliar a situação atual de uma doença na população.
Agora, imagine que cada cidade ou laboratório que faça o diagnóstico de uma determinada doença, resolva
fazer uma avaliação epidemiológica, você acha que os resultados poderiam ser aplicados como parâmetros
para determinação de medidas de controle e prevenção? Com certeza não, pois embora os dados sejam
verdadeiros, ele provavelmente englobaria apenas parte dos aspectos da ação da doença na população. Para
que o objetivo de avaliar corretamente a doença seja alcançado, é preciso que os dados sejam avaliados
em conjunto, ou seja, deve haver um local que receba e analise todos os dados com base nos conceitos
de epidemiologia. Essa é a função da vigilância epidemiológica que faz parte da vigilância em saúde.
A vigilância em saúde pode ser entendida como um conjunto de ações que visa captar informações
para avaliar permanentemente a situação da saúde da população, detectando alterações, e propondo
medidas para o controle e prevenção das doenças (BRASIL, 2010). A vigilância em saúde engloba
diversas áreas, sendo que as principais são vigilância sanitária, vigilância em saúde ambiental e
vigilância epidemiológica.
57
UNICESUMAR
A vigilância sanitária é defendida como um conjunto de ações que tem como objetivo eliminar
ou diminuir e prevenir riscos à saúde, além de intervir em alterações sanitárias causadas ou originadas
no meio ambiente, e que estejam relacionadas a qualquer etapa da produção de bens e prestação de
serviços relacionados à saúde.
Já a vigilância em saúde ambiental tem como foco as ações para detecção e prevenção das
mudanças que ocorram no meio ambiente, e que possam afetar a saúde humana. Está diretamente
relacionada à análise e monitoramento do ar, solo e da qualidade da água para consumo. Além disso,
monitora possíveis desastres naturais, substâncias químicas presentes ou descartadas no ambiente,
acidentes com produtos perigosos, e até mesmo o ambiente de trabalho.
Por fim, a vigilância epidemiológica é entendida como o “conjunto de ações que proporciona o
conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes da saúde
individual ou coletiva, com a finalidade de se recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle
das doenças ou agravos” (BRASIL, 2010, s.p.). Com esse objetivo, a vigilância epidemiológica depende
da coleta e análise dos dados referentes à ocorrência de doenças. Assim, é determinado por lei que o
diagnóstico de doenças infectocontagiosas, além de outras não transmissíveis mas com importância
relevante a saúde, sejam notificadas às secretarias de saúde e órgãos federais de saúde, a fim de gerar
dados estatísticos que possibilitem a determinação das melhores ações preventivas.
Como você pode constatar até esse momento, a epidemiologia possui diversas ferramentas para se
avaliar a situação de uma doença na população. Entretanto, você consegue perceber qual a finalidade
de todo esse levantamento de dados?
58
UNIDADE 2
Modificações Momento do
patológicas diagnóstico
Figura 11 - História natural das doenças e medidas de prevenção / Fonte: adaptado de Neves (2016, p. 19).
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado, a partir do lado esquerdo, e de cima para baixo, uma linha de tempo, definindo
as etapas da história natural da doença e onde iniciaria cada tipo de prevenção. A partir da esquerda tem-se: “estágio de suscetibilidade”,
e abaixo desta “prevenção primária: redução de casos novos”; “exposição”; “estágio de doença subclínica”, e abaixo desta “prevenção
secundária: redução da duração e gravidade”; “período de incubação”, e abaixo desta “modificações patológicas”; “aparecimento dos
sintomas”; “estágio da doença clínica”, “momento do diagnóstico”, “prevenção terciária: redução de complicações e incapacidade”; e
“morte ou cura ou incapacidade”.
A prevenção primária é o primeiro enfoque de qualquer projeto de promoção de saúde, pois, tem como
objetivo prevenir que o indivíduo contraia a doença. Suas ações são direcionadas para o controle dos fatores
de risco, como saneamento ambiental, educação e promoção de hábitos de higiene; além de fatores relacio-
nados com as próprias doenças, como controle de reservatórios naturais e eliminação de vetores da doença.
A prevenção secundária, por outro lado, é realizada após a infecção do indivíduo, ou seja, o agente
etiológico da doença já está em atividade no organismo. Neste ponto, o que pode ser prevenido é o
desenvolvimento de formas graves, que poderiam resultar em sequelas ou até mesmo na morte. É
desenvolvida através da criação e aplicação de mecanismos de diagnósticos mais específicos e mais
rápidos, além de tratamentos eficazes.
No caso da prevenção terciária, a doença, na maioria das vezes, já não está presente, restando apenas
suas consequências, ou seja, sequelas que podem incapacitar o indivíduo. Portanto, neste nível o que
se quer prevenir é a incapacidade permanente do indivíduo, através de ações que visem a sua reabili-
tação. Neves (2016, p.19) define a prevenção terciária como o “processo de reeducação e readaptação
de pessoas acometidas por acidentes ou que estejam com sequelas em decorrência de alguma doença”.
59
UNICESUMAR
60
Caro(a) aluno(a), diante dos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, certamente você é
capaz de preencher o mapa mental a seguir.
Incidência
EPIDEMIOLOGIA
Surto
Vigilância
em Saúde
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1. Leia o texto a seguir:
Fonte: ROTHMAN, K. J. Epidemiologia moderna. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011, p. 10.
“O termo ‘frequência’, que para o leigo tem um significado muito claro — de número de vezes
que um evento ocorre — necessita ser mais bem definido, em epidemiologia. Daí, a distinção
que se faz entre ‘incidência’ e ‘prevalência’, com o intuito de separar determinados aspectos
que, se não levados em conta, dificultam as comparações de ‘frequências’ ”.
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3
Protozoários Parasitas
Entéricos e do Trato
Geniturinário
Dr. Vinícius Pires Rincão
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UNIDADE 3
As protozooses são doenças causadas por protozoários. Dentre estas, as protozooses intestinais
estão entre as mais frequentes, exigindo a realização de muitos exames por dia, sendo que alguns
laboratórios chegam a realizar mais de 500 exames para detecção destes protozoários em um único
dia. Com base neste assunto, quero propor um desafio para você. Pesquise (em sites da internet,
na sua biblioteca online): qual o nome do principal exame realizado para detecção e identificação
de protozooses intestinais? Existe mais de uma metodologia para este tipo de exame?
As parasitoses intestinais são doenças causadas tanto por protozoários quanto por helmintos. A
grande maioria apresenta um ciclo oral fecal, porém, alguns vermes podem entrar no organismo
através da pele, como por exemplo o Ancylostoma duondenale, um verme nematoide que prefe-
rencialmente entra no organismo perfurando a pele do hospedeiro. As parasitoses intestinais são
extremamente frequentes em áreas rurais e zonas urbanas de baixa renda, constituindo um grave
problema de saúde pública e, por esta razão, seu diagnóstico, tratamento e prevenção apresentam
grande importância para os órgãos e profissionais da saúde.
Agora, pense no ciclo de vida destes parasitas, em especial nos protozoários. Sabendo que mui-
tas dessas infecções podem ter sintomas leves ou mesmo serem assintomáticas, como poderiam
ser detectados por exames parasitológicos? Quais amostras devem ser coletadas e analisadas em
pacientes, para os quais há suspeita de parasitose intestinal? Escreva seus resultados e reflexões,
sobre a pesquisa que você fez, e as questões que levantamos, no seu Diário de Bordo, a fim de que
eu e você possamos analisá-las juntos no decorrer desta unidade.
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UNICESUMAR
66
UNIDADE 3
1
1
2 2
Descrição da Imagem: na imagem podem ser observados dois protozoários ciliados. No lado esquerdo, observa-se uma micrografia
do protozoário, com uma célula de forma elíptica, onde podem ser identificadas algumas estruturas internas e em sua porção lateral.
Destas estruturas, são apontadas por meio de setas, o vacúolo contrátil, marcado com o número um, e o citóstoma, marcado com o
número dois. No lado direito, observa-se um desenho esquemático do mesmo protozoário, caracterizando com melhor definição as
mesmas estruturas mostradas na micrografia.
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado, à esquerda, uma micrografia de uma ameba, com uma célula sem forma
definida e com pseudópodes, além do citoplasma transparente com várias partículas inseridas; e à direita, um desenho ilustrativo de
uma ameba, sem forma definida, com pseudópodes e componentes do citoplasma, mas sem serem nomeados. Entre as duas imagens
foram colocadas setas numeradas: o número dois está ligado a setas que apontam para o ectoplasma nas duas imagens; o número
um está ligado a setas que apontam para o endoplasma nas duas imagens.
67
UNICESUMAR
Outra estrutura que pode ser encontrada em alguns protozoários, inclusive utilizada para classificar os
membros da Ordem Kinetoplastida, da qual o Trypanosoma cruzi faz parte, é o cinetoplasto (Figura
3). O cinetoplasto é uma estrutura formada pela condensação do DNA presente na única mitocôndria
encontrada nos protozoários que o possuem. Ele é observado na base do flagelo (também presente
neste grupo) e inicialmente imaginava-se que sua função seria a de movimentação do flagelo. O enten-
dimento atual é que o cinetoplasto tem apenas a função de síntese de RNAs direcionados às atividades
da própria mitocôndria. Para o estudo da parasitologia, em especial a dos tripanossomatídeos, a posi-
ção desta estrutura na célula, serve como base para determinação da fase do ciclo de vida do parasito.
Reservossoma
Núcleo Microtúbulos
Complexo de Gogi Nucléolo subpeliculares
Figura 3 - Estrutura esquemática do Trypanosoma cruzi. / Fonte: adaptada de Cavalcanti e Souza (2018).
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado o desenho esquemático de um Trypanosoma cruzi, observando suas organelas
internas. O flagelo e citóstoma se localizam voltados para o lado esquerdo. Bem na base do flagelo pode ser observada uma estrutura
na forma de bastão denominada de cinetoplasto. O restante da figura é formado por organelas, como o complexo de Golgi, o núcleo,
a extensão da mitocôndria e vacúolos de reserva.
Como você já deve ter notado, os protozoários constituem um grupo diverso e com características
que os distinguem de outros eucariotos. Essa diversidade se aplica também aos seus processos me-
tabólicos e de reprodução.
Os protozoários podem ser autotróficos ou heterotróficos, ou ainda englobar as duas formas de nutri-
ção. Podem realizar a síntese de compostos energéticos com a utilização do oxigênio, sendo denominados
de aeróbicos, ou na ausência dessa molécula, sendo então denominados de anaeróbicos. Essa vasta gama
de maquinarias celulares permite que encontremos os protozoários nos mais diversos tipos de ambientes.
68
UNIDADE 3
Autotróficos – são organismos capazes de sintetizar moléculas orgânicas que servem como
fonte de energia para suas atividades, através da captação da energia luminosa por pigmentos
especializados, como a clorofila.
Heterotróficos – são organismos que dependem da ingestão e digestão de moléculas orgânicas
externas, para gerar energia para suas atividades.
Reprodução sexuada - corresponde ao processo onde um indivíduo dá origem a novos indi-
víduos, através da junção de células especializadas denominadas gametas, ou através da troca
de material genético entre células diferentes.
Reprodução assexuada - corresponde ao processo onde um indivíduo dá origem a outros
sem a necessidade da fusão entre células especializadas, envolvendo, geralmente, a divisão de
uma célula em duas ou mais células.
Fonte: Neves (2016).
Descrição da Imagem: no lado esquerdo da imagem pode ser observado três desenhos esquemáticos de um protozoário ciliado, cuja
célula é alongada com um formato elíptico, representando os estágios subsequentes de uma divisão celular, onde pode ser observado
a célula se dividindo ao meio. No lado direito da imagem pode ser observado uma micrografia com várias células do mesmo protozoário
ciliado, com foco em uma célula específica que está no último estágio da divisão celular, com sua porção central se contraindo e quase
se separando em duas células distintas.
69
UNICESUMAR
Outra forma de reprodução assexuada observada nos parasitas é a esquizogonia. Neste tipo de re-
produção, o protozoário geralmente invade uma célula do hospedeiro e realiza divisões sucessivas do
núcleo seguido do citoplasma, formando várias células simultaneamente, que destroem a célula do
hospedeiro e são liberadas como novos indivíduos. Um exemplo deste tipo de replicação ocorre em
uma das fases do ciclo de vida do Plasmodium sp., dentro das hemácias (Figura 5).
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado a representação em imagem 3D do interior de um vaso sanguíneo, com várias
estruturas arredondadas e bicôncavas, representando as hemácias, com foco em uma específica onde se observa em seu interior sete
novas células do Plasmodium se formando.
Já a reprodução sexuada dos protozoários pode ocorrer de duas formas. Na primeira ocorre a troca
de material genético entre dois protozoários diferentes, em um processo denominado de conjugação,
onde as células se unem por um curto período, como ocorre no filo Ciliophora. Na segunda, ocorre
a junção de duas formas evolutivas do ciclo biológico do parasito, denominados de macrogameta
(feminino) e microgameta (masculino), em um processo denominado de fecundação, formando
uma célula única e grande, o zigoto, o qual dará origem vários esporozoítos (forma infectante). Um
exemplo desta segunda forma, ocorre no filo Apicomplexa, no ciclo de vida do Plasmodium sp., no
interior do mosquito do gênero Anopheles (veja o Eu Indico a seguir).
70
UNIDADE 3
71
UNICESUMAR
Espécie
Filo Subfilo Ordem Família Gênero
(exemplo)
Trypanosoma T. cruzi L.
Kinetoplastida Trypanosomatidae
Mastigophora
Leishmania infantum
Sarcomastigophora
Acantahamoebidae
Quadro 1 - Classificação dos protozoários de interesse médico. / Fonte: adaptado de Neves (2016, p. 35).
72
UNIDADE 3
Embora as metodologias de classificação atuais busquem uma correlação genética entre os organismos,
o que em parte se correlaciona com a classificação mais antiga, a classificação que adotaremos neste
livro, e que a muito é empregada para protozoários, utiliza alguns critérios morfológicos, de ultraestru-
tura (ou seja, de componentes intracelulares), e principalmente dos mecanismos utilizados pela célula
para se locomover. Com base nestes critérios, podemos definir o Filo Sarcomastigophora como aquele
que engloba espécies de protozoários que se locomovem por meio de flagelos, agrupados no Subfilo
Mastigophora, como por exemplo o Trypanosoma cruzi (Figura 6).
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observada a representação em figuras tridimensionais de um protozoário da espécie
Trypanosoma cruzi, caracterizado por ter uma célula alongada e fusiforme, com um núcleo central evidente, uma membrana ondulante
(lembrando uma barbatana dorsal de peixe) e um flagelo em uma das extremidades da célula. O protozoário parece estar flutuando
em um líquido transparente, representando o plasma sanguíneo, uma vez que ao redor dele pode ser observado várias estruturas
arredondadas e bicôncavas, representando as hemácias.
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Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado a representação tridimensional de uma Entamoeba hystolitica, representada
por uma célula onde pode se ver várias projeções da membrana plasmática e citoplasma, os pseudópodes, em todas as direções,
englobando hemácias que circulam ao redor do protozoário.
No filo Apicomplexa a forma de locomoção ocorre por meio de estruturas internas complexas, for-
madas principalmente por microtúbulos (Figura 8). Através dessas estruturas o parasito consegue
se locomover por meio de contrações e deslizamento da célula, como ocorre no Toxoplasma gondii.
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UNIDADE 3
Microtúbulos intraconoidais
Anéis preconoidais
Conoide
Micronemas
Roptrias
Grânulos densos
Microtúbulos subpelicular
Sacos alveolares
Esqueleto da membrana
Complexo basal
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado um desenho esquemático do protozoário Toxoplasma gondii, pertencente ao
Filo Apicomplexa, com uma célula formato de pera. No desenho interno da célula é possível observar suas estruturas, do lado direito
estão os nomes dessas estruturas com setas indicando as mesmas, de cima para baixo, microtúbulos intraconoidais, anéis preco-
noidais, conoide, anel polar apica, micronemas, roptrias, grânulos densos, microtúbulos subpelicular, sacos alveolares, esqueleto da
membrana, complexo basal.
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UNICESUMAR
Por fim temos o filo Ciliophora, onde a locomoção ocorre por meio do batimento
de inúmeras estruturas da superfície celular, denominados de cílios (Figura 9), como
ocorre no Balantidium coli.
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observada uma micrografia de um protozoário ciliado, onde se
observa centenas de pequenos filamentos laterais denominados de cílios.
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UNIDADE 3
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UNIDADE 3
Como todo protozoário, a giárdia é eucarioto, com sua célula contendo a maioria das estruturas
de uma célula eucariótica. Entretanto, alguns componentes comuns de eucariotos estão ausentes, tais
como mitocôndrias, peroxissomos e complexo de Golgi (NEVES, 2016).
A giárdia pode ser encontrada ou na forma de trofozoíto ou na forma de cisto (SIQUEIRA-BA-
TISTA et al., 2020). A classificação deste parasito reflete principalmente suas características estruturais
na forma de trofozoíto, destacando-se o fato de ser um protozoário flagelado e binucleado. Outra
característica marcante do trofozoíto é sua forma semelhante à fruta pera (Figura 10).
a) b)
Descrição da Imagem: na imagem “a” podem ser observados dois desenhos esquemáticos. O desenho da esquerda representa o
cisto da Giardia duodenalis, onde pode ser observado quatro núcleos, o axonema e os corpos escuros; enquanto no desenho da direita
representa o trofozoíto, onde pode-se identificar o formato de pera, a presença de dois núcleos e oito flagelos. Na imagem “b”, pode
ser observado uma micrografia do protozoário Giardia duodenalis, observando os mesmos elementos apresentados no desenho.
O trofozoíto pode ainda ser caracterizado por apresentar simetria bilateral, quatro pares de flagelos, a
superfície dorsal lisa e convexa, enquanto a superfície ventral é côncava (Figura 11), forma uma estrutura
semelhante a uma ventosa, denominado de disco ventral (NEVES, 2016), a qual o parasito usa para
se fixar na mucosa intestinal. Duas estruturas que podem ser observadas na célula (Figura 10) e que
servem para identificação de algumas espécies são: 1) os corpos medianos, duas estruturas em forma
de vírgula, cuja função ainda não é bem definida; 2) o axonema (também denominados de axóstilos),
feixe de fibras longitudinal e central na célula (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). A reprodução do
trofozoíto ocorre por fissão binária (REY, 2008).
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UNICESUMAR
Figura 11 - a) Superfície ventral da Giardia; b) Giárdias aderidas a mucosa intestinal / Fonte: adaptada de Pixnio (2022).
Descrição da Imagem: na imagem “a)” é observada uma micrografia de um protozoário do gênero Giardia, destacando sua superfície
ventral côncava em forma de ventosa. Na imagem “b)” do lado direito é observada uma vilosidade intestinal recoberta com trofozoítos
de giárdia, aderidos pelo disco ventral.
O cisto deste protozoário, apresenta formato oval ou elipsoide, com uma parede externa formada
por glicoproteínas, a parede cística, responsável pela resistência desta forma (NEVES, 2016),
permitindo que o protozoário resista a variações de temperatura, umidade e determinados pro-
dutos químicos. Na região do citoplasma podem ser visualizados 2 ou 4 núcleos (dependendo do
estágio de maturação do cisto), o axonema ou axóstilo (fibras longitudinais) e os corpos escuros,
semelhantes aos corpos medianos do trofozoíto.
O ciclo biológico da Giardia é monoxeno, sendo o ser humano seu hospedeiro definitivo (Fi-
gura 12). O ciclo tem início com a ingestão de água ou alimentos contaminados com os cistos do
parasito. Após a ingestão o cisto passa por um processo de desencistamento, ativado pelo meio
ácido do estômago, e termina na região do duodeno, onde a forma celular liberada do cisto sofre
divisões nucleares, terminando com a formação de quatro células binucleadas. Estas células, os
trofozoítos, se fixam à parede intestinal por meio do disco ventral, e se multiplicam por fissão
binária. Eventualmente trofozoítos se desprendem e são levados pelas fezes, alguns dos quais
sofrem o encistamento (transformação do trofozoíto em cisto), culminando com a liberação de
cistos e trofozoítos pelas fezes do hospedeiro. Os trofozoítos não sobrevivem no ambiente, mas
dependendo das condições ambientais, os cistos podem sobreviver por meses no ambiente (NE-
VES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
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UNIDADE 3
Cistos ingeridos
Trofozoítos
Cisto
Contaminação da água,
alimentos ou
mãos/fómites com Giardia atinge
cistos infeciosos a maturidade
e se multiplica
no intestino
Cistos infecciosos
liberados nas fezes
Figura 12 - Ciclo de vida da Giardia duodenalis. / Fonte: adaptada de Consultatii la domiciliu (2022).
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado o ciclo biológico da Giardia duodenalis. Dois ciclos são mostrados, um à esquer-
da e outro à direita. Na região lateral esquerda da figura observa-se alimentos (verduras e legumes) e um copo de água, ao lado está
escrito “Contaminação da água, alimentos ou mão / fómites com cistos infecciosos”, a partir do qual parte uma seta até o desenho de
um cisto, abaixo está escrito “Cistos ingeridos”, de onde parte outra seta em direção a boca do desenho de um homem, onde pode ser
observado seus órgãos internos. Da região do ânus da figura do homem partem duas setas, uma para a esquerda indicando o desenho
de um cisto, acima está escrito “Cistos infecciosos liberados nas fezes”. Desse desenho sai uma seta indicando o copo e as verduras,
finalizando o ciclo. A outra seta também indica a esquerda um pouco mais abaixo indicando o desenho de um trofozoíto, ao lado está
escrito “Trofozoítas também são eliminados nas fezes, mas não sobrevivem no ambiente”. Do lado direito da figura, está o outro ciclo,
há uma sequência de desenhos ligados por setas, indicando os processos pelos quais o trofozoíto passa no interior do organismo,
sendo, na sequência: cisto ingerido, trofozoíto, divisão binária do trofozoíto, novo trofozoíto, novo cisto, dentro do ciclo está escrito
“Giardia atinge a maturidade e se multiplica no intestino”.
Assim podemos definir que os cistos são a forma infectante para o ser humano, e que via de transmis-
são de um indivíduo para outro é a fecal-oral. É importante destacar que embora a principal forma de
contaminação seja por meio de água e alimentos contaminados, em locais sem saneamento básico ade-
quado, com indivíduos com pouco conhecimento sobre os cuidados com higiene pessoal, e geralmente
com aglomeração de pessoas, é comum a transmissão de pessoa a pessoa pelas mãos contaminadas.
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Agora, uma reflexão importante para você: como parasitas restritos ao trato intestinal, com sintomas
semelhantes a outras infecções, podem ser diagnosticados?
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UNIDADE 3
O diagnóstico da giardíase pode ser clínico ou laboratorial. Entretanto o diagnóstico clínico fica praticamente
restrito para crianças que apresentam um quadro típico de diarreia com esteatorreia, juntamente com dor
abdominal, náuseas, vômitos e perda de apetite. O diagnóstico laboratorial é realizado pelo exame copro-
parasitológico, ou seja, pelo exame das fezes. A principal análise está voltada para o exame microscópico,
onde busca-se identificar a presença de cistos e trofozoítos. Porém, o profissional que irá fazer a análise
deve ficar atento ao fato que o trofozoíto é mais comumente encontrado em casos sintomáticos, além do
fato de que sobrevive por no máximo 20 minutos no ambiente, implicando na necessidade da utilização
de fixadores (como formol 10%, MIF ou SAF) para preservação da amostra (NEVES, 2016).
Apesar disso, métodos imunológicos como o ELISA (traduzido do inglês, Ensaio de Ligação Imu-
noenzimático), para detecção de anticorpos nas fezes, e moleculares como PCR (Reação de em Cadeia da
Polimerase) , para a detecção do DNA do parasito nas fezes, foram padronizados e são realizados como
forma de comprovação da infecção.
O tratamento da giardíase é realizado utilizando quimioterápicos, sendo que os principais são metro-
nidazol e albendazol, com eficácia de eliminação do parasito em torno de 95%. Porém, o uso prolongado
destes medicamentos pode resultar em efeitos colaterais como náuseas, vômitos e dores de cabeça.
A giardíase é uma doença que tem distribuição global. Porém, sua maior prevalência é encontrada em
países em desenvolvimento (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). A estimativa é que no Brasil a incidência
da giardíase varie, dependendo da região e das condições sociais, entre 4,0 e 30%.
Outra doença causada por protozoários e que tem importante relevância devido a grande quantidade
de casos anuais é a Amebíase, com mais de 36 milhões de casos sintomáticos anuais (REY, 2008). Embora
existam inúmeras espécies de amebas, das quais a maioria é de vida livre, e destas algumas podem infectar o
homem eventualmente, para a área clínica apenas algumas poucas espécies apresentam interesse, e destas a
mais relevante é Entamoeba histolytica (Figura 12), onde concentraremos nosso estudo. Mas para que você
tenha conhecimento e possa buscar por mais informações do assunto, as outras espécies de amebas que
podem infectar o ser humano são: Entamoeba coli, Entamoeba hartmanni, Entamoeba díspar, Iodamoeba
butschlii, Endolimax nana, Entamoeba gengivalis e Dientamoeba fragilis.
A Amebíase é uma doença que possui, como agente etiológico, a Entamoeba histolytica (NEVES,
2016), e constitui a segunda causa de morte devido a parasitoses, com mais de 100.000 mortes
anuais. E. histolytica é classificada como pertencente ao Reino Protozoa, Filo Sarcomastigophora,
Subfilo Sarcodina, Superclasse Rhizopoda, Classe Lobozia, Ordem Aemoebida, Família Eantamoe-
bidae, Gênero Entamoeba (NEVES, 2016).
Agora pense comigo: você já aprendeu que as amebas se locomovem por pseudópodes, e esse
fato leva a projeção de porções de sua membrana. Ora, se isto ocorre, toda morfologia externa da
célula (sua forma) não será alterada? Então como distinguir entre os diferentes tipos de amebas?
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UNIDADE 3
Trofozoíto Cisto
Células vermelhas
sanguíneas ingeridas
Corpo cromatóide
Cariossoma
Núcleo
b) c)
Figura 13 - Trofozoíto e cisto de Entamoeba histolytica. a) Desenho esquemático do trofozoíto e do cisto. b) Trofozoítos de E.
histolytica contendo hemácias ingeridas no interior da célula. c) Cisto de E. histolytica contendo quatro núcleos.
Fonte: adaptada de a) Medical Labs, b) Wikidoc, c) Wikimedia.
Descrição da Imagem: na imagem podem ser observadas três figuras distintas: Figura superior marcada com a letra a) – Desenhos
esquemáticos das formas de trofozoíto de E. histolytica, a esquerda, onde observa-se uma célula alongada, com um núcleo evidente,
contendo em seu interior inclusões de cor preta representando hemácias ingeridas pelo protozoário; e cisto a direita, representada
por uma célula circular contendo quatro núcleos evidentes e um corpo cromatoide no centro. Figura inferior esquerda, marcada com a
letra b) – micrografia de três trofozoítos de E. histolytica, corados com hematoxilina, observando células alongadas, todos com núcleos
evidentes, e dois contendo hemácias em seu interior. Figura inferior direita, marcada com a letra c) – micrografia de um cisto de E.
histolytica, corada com lugol, observamos uma célula arredondada, com quatro núcleos evidentes.
Os cistos apresentam-se esféricos ou ovais, com tamanho variando entre 8 e 20 µm (NEVES, 2016).
Cada cisto pode apresentar de um a quatro núcleos, dependendo da fase de amadurecimento. Os
núcleos são quase indistinguíveis do resto do citoplasma quando observados a fresco (ou seja,
sem qualquer fixação ou coloração), porém, tornam-se evidentes quando corados com lugol ou
hematoxilina (REY, 2008). Os cistos de E. histolytica ainda apresentam corpos cromatoides, ob-
servados na forma de bastonetes com pontas arredondadas (Figura 14).
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Figura 14 - Cisto de Entamoeba histolytica, corado com hematoxilina, com dois núcleos e corpos cromatoides (setas).
Fonte: Publics domain Files (2022).
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado uma micrografia de um cisto de Entamoeba histolytica. Nesta micrografia,
tem-se materiais indefinidos de uma amostra de fezes, todos corados em azul, sendo que no centro da imagem observa-se uma
célula circular, com dois núcleos arredondados com um nucléolo evidente, e duas estruturas de cor preta, em forma de bastão, os
corpos cromatoides, apontado por flechas negras.
O habitat principal da Entamoeba histolytica é a luz do intestino grosso. Porém, em casos onde há
invasão da mucosa, o parasito pode ser encontrado em úlceras na parede intestinal, e em órgãos como
fígado, rins, pulmão, cérebro e pele.
A E. histolytica apresenta um ciclo de vida monoxênico, de transmissão fecal-oral. Assim, a porta
de entrada do parasito e, portanto, o local de início do seu ciclo de vida é a boca, por meio da ingestão
de água ou alimentos contaminados com cistos maduros do parasito. Os cistos, por apresentarem uma
camada externa resistente, a parede cística, passam pelo estômago, resistindo ao suco gástrico, e che-
gam ao intestino delgado onde ocorre o desencistamento. Fora da parede, ocorrem divisões celulares
e nucleares simultâneas, resultando em oito trofozoítos, denominados de trofozoítos metacísticos
(Figura 15). Estes trofozoítos migram para o intestino grosso, colonizando-o, onde vivem aderidos à
superfície da mucosa intestinal, se alimentando de detritos e bactérias. Eventualmente, um trofozoíto
se desprende, atingindo a luz intestinal, onde sofre um processo de encistamento, secretando uma pa-
rede externa (parede cística), e em seguida dividindo o núcleo sucessivamente até se tornarem cistos
tetranucleados (a forma infecciosa), o qual são liberados com as fezes (REY, 2008; NEVES, 2016).
Embora o ciclo mais comum deste parasito se restrinja a luz do intestino grosso, em alguns casos,
por mecanismos que ainda não estão bem esclarecidos, o trofozoíto invade a submucosa intestinal
(denominado como ciclo patogênico), provocando úlceras, onde se multiplicam por fissão binária, se
alimentando de eritrócitos. A partir desta invasão, a E. histolytica atinge a corrente sanguínea e pode
colonizar outros órgãos como fígado, pulmões, rins, a pele e até mesmo o cérebro.
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UNIDADE 3
Ingestão em
alimentos e água
contaminados Cisto Maduro
Desencistamento
Um trofozoíto com
Infecção invasiva quatro núcleos, emerge,
Cisto tetranucleado se divide três vezes e
Através da corrente
sanguínea, infectam locais cada núcleo se divide
como fígado, cérebro e uma vez para produzir
pulmões oito trofozoítos por cisto
Trofozoítos migram
para o intestino grosso
Trofozoítos invadem a
mucosa intestinal
Encistamento
Figura 15 - Ciclo biológico da Entamoeba histolytica. / Fonte: adaptada de Libre Texts Biology (2022).
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado um desenho do ciclo de vida da Entamoeba histolytica. No centro da imagem,
observa-se a porção central e superior do corpo de um ser humano, mostrando os órgãos internos, pulmão, estômago e intestino. Na
parte superior desta figura, há um quadrado sobre a boca, ao lado há um retângulo, dentro dele está escrito “Ingestão em alimentos
e água contaminados”. Do lado direito, tem-se o início do ciclo, com a figura de um cisto, do qual sai um seta apontando para um
outro cisto, abaixo deste há um quadrado onde está escrito “Desencistamento. Um trofozoíto com quatro núcleos emerge, se divide
três vezes e cada núcleo se divide uma vez para produzir oito trofozoitos por cisto. Trofozoítos migram para o intestino grosso”. Desse
quadrado saem duas setas do lado esquerdo indicando o intestino grosso. Abaixo desse quadrado sai outra seta, apontando para um
trofozoíto que migrou para o intestino grosso. Desse trofozoíto saí um seta apontando para uma célula que está se dividindo em duas,
acima dessas células está escrito “Trofozoítos se multiplicam por fissão binária”, dessas células saem duas setas, uma indicando para
a esquerda e dando continuidade ao ciclo. Essa seta indica para uma célula, abaixo está escrito “Encistamento”, dessa célula há uma
seta indicando outra célula e abaixo está escrito “Cisto imaturo”, dessa célula há uma seta indicando outra célula, dessa célula há uma
seta indicando para a escrita “Cisto tetranucleado” e acima há outra célula, um pouco acima dessa célula há um quadrado onde está
escrito “Infecção não invasiva. Cistos saem do hospedeiro pelas fezes”, terminando o ciclo. A outra seta que sai da célula se dividindo,
indica a escrita “Trofozoítos invadem a mucosa intestinal”, acima há o desenho de uma célula, acima dessa célula há um retângulo onde
está escrito “Infecção Invasiva. Através da corrente sanguínea, infectam locais como fígado, cérebro e pulmões”. Acima há o desenho
de uma célula e dela saem duas setas: uma indicando para o pulmão, outra indica o fígado.
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https://textimgs.s3.amazonaws.com/boundless-microbiology/-histolytica-life-cycle-en.svg#fixme 1/1
UNICESUMAR
A patogenia e virulência deste parasito é variada Por fim, a doença pode se manifestar como
e dependente de vários fatores do hospedeiro amebíase extraintestinal, quando o parasito, por
e do ambiente, como sexo, idade, localização meio da corrente sanguínea, atinge outros órgãos.
geográfica, estado nutricional, alcoolismo, mi- O mais comum é o fígado, onde o abscesso ame-
crobiota intestinal, entre outros. Muitas infec- biano é a manifestação clínica mais observada.
ções com a E. histolytica podem permanecer A ação da E. histolytica sobre o epitélio intes-
assintomáticas por anos. Porém, o período de tinal, desencadeia uma resposta imune humoral
incubação mais comum varia de 2 a 4 semanas com produção de anticorpos específicos, mas
(NEVES, 2016). A grande maioria das infecções pouca ou nenhuma resposta imune celular (SI-
é assintomática, onde o protozoário está em per- QUEIRA-BATISTA et al., 2020). A invasão dos
feito equilíbrio com o hospedeiro, vivendo na tecidos dá início a um processo inflamatório, com
luz intestinal. Entretanto, para uma porcenta- recrutamento de neutrófilos e macrófagos, resul-
gem dos casos, ocorre a invasão intestinal (pela tando na produção citocinas como há interleu-
morte dos enterócitos), desencadeada pela for- cinas e fator de necrose tumoral alfa, o que pode
te ligação da ameba e somado à liberação de piorar o processo ulcerativo.
enzimas proteolíticas, resultando em diversas Para se identificar a amebíase é utilizado
manifestações clínicas. principalmente o diagnóstico laboratorial. Em-
Nos casos onde este equilíbrio é quebrado bora os sintomas da doença sejam facilmen-
ocorrem as formas sintomáticas. A mais comum te observáveis, eles se sobrepõem a inúmeras
destas é a forma diarreica, se manifestando por outras doenças intestinais, o que inviabiliza o
duas a quatro evacuações diárias, que podem ou diagnóstico clínico. O exame laboratorial mais
não ter fezes diarreicas. Nesta forma, o peristal- utilizado é o exame parasitológico de fezes,
tismo está aumentado com leve dor abdominal. onde se busca identificar a presença de cistos
A segunda é a forma disentérica (disenteria e trofozoítos nas fezes. Para este tipo de exame
corresponde a presença de muco e/ou sangue nas deve-se tomar alguns cuidados, como evitar o
fezes) caracterizada por cólicas intensas, poden- contato com a urina e principalmente com o solo,
do ocorrer até 10 evacuações diárias, com muco, onde pode haver a presença de amebas de vida
sangue ou ambos os presentes nas fezes, além de livre (NEVES, 2016). A amostra de fezes deve
sintomas como cólicas intensas, vômitos, náu- ser colocada em conservante o quanto antes, em
seas, calafrios e tenesmo (contrações para eva- uma proporção de uma parte de fezes para três
cuação sem conteúdo para evacuar), raramente de conservante. O aspecto macroscópico tam-
com febre (NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA bém é muito relevante, principalmente as fezes
et al., 2020). O caso mais grave da amebíase é a diarreicas e a presença de muco e sangue.
forma fulminante, que afeta mulheres durante Outro método bastante utilizado é o soroló-
a gestação e o puerpério, além de pacientes imu- gico, onde se pesquisa a presença de anticorpos,
nocomprometidos, se manifestando através de através de metodologias como ELISA e imuno-
cólons com muitas úlceras, podendo ocorrer a fluorescência indireta. Em casos de amebíase ex-
perfuração da parede intestinal, com evacuações traintestinal, onde o exame de fezes geralmente
mucosanguinolentas, com morte após alguns apresenta-se negativo, os métodos sorológicos são
dias ou semanas (REY, 2008). a escolha mais eficiente.
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UNIDADE 3
Caro(a) aluno(a), neste podcast você poderá conhecer algumas das prin-
cipais características de parasitoses intestinais causadas por protozoários
e a importância do exame parasitológico de fezes para sua detecção,
bem como as limitações desta técnica. Acesse o QRCode e aperte o play!
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UNICESUMAR
Descrição da Imagem: a imagem constitui uma micrografia de uma amostra biológica, onde pode ser observado dois T. vaginalis,
corados em roxo, caracterizados por células e núcleos elípticos, contendo flagelos em seu pólo anterior.
Sua estrutura pode variar dependendo do meio ou da atividade fisiológica envolvida, sendo que
foram constatados a projeções de pseudópodes para captura de alimento ou fixação (NEVES, 2016).
Diferentes dos demais protozoários, o gênero Trichomonas apresenta apenas forma de trofozoíto (sem
forma cística) (Figura 16), que apresenta como parte da sua morfologia típica: quatro flagelos livres,
partindo de uma depressão no polo anterior (REY, 2009; NEVES, 2016); uma membrana ondulante,
cuja extremidade livre consiste em um filamento de um quinto flagelo; um axonema ou axóstilo cen-
tral, formado por microtúbulos que emergem como uma saliência na porção posterior, e um núcleo
elipsoide (Figura 17). O T. vaginalis, não apresenta mitocôndrias.
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UNIDADE 3
Flagelo
Citossoma
Núcleo
Membrana
ondulante
Vacúolo
Axóstilo
a) b)
Figura 17 - Esquema dos componentes morfológicos de Trichomonas vaginalis. a) um desenho esquemático com foco nas
estruturas externas; b) um desenho esquemático com foco nas estruturas internas, onde os flagelos e membrana ondulante
aparecem seccionados. / Fonte: Rey (2008, p. 412).
Descrição da Imagem: a imagem apresenta dois desenhos esquemáticos. O desenho da esquerda, marcado com a letra “a)”, apresenta
as características externas da célula de Trichomonas vaginalis, observando sua forma elipsoide, o núcleo elipsoide, uma membrana
ondulante do lado esquerdo, quatro flagelos na porção superior, e o axóstilo saindo da célula na porção inferior. O desenho da direita,
marcado com a letra “b)”, apresenta as características internas da célula de Trichomonas vaginalis, onde pode ser observado os feixes
de microtúbulos formando o axóstilo central, o núcleo central e elipsoide, um complexo de Golgi a direita do núcleo junto com duas
fibras parabasais, a costa à esquerda do núcleo, com vacúolos a seu redor.
Este parasito habita o trato geniturinário masculino e feminino, em ambientes com pH (potencial
hidrogeniônico) variando de 5 a 7,5, e apresenta metabolismo anaeróbico facultativo (vive na ausên-
cia de oxigênio, mas o utiliza quando estiver presente), e tem como característica não sobreviver fora
destes locais (NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
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UNICESUMAR
Relação sexual
Trofozoíto
a)
Descrição da Imagem: a imagem é dividida em duas partes. A parte superior, marcada com a letra “A”, apresenta uma figura do lado
esquerdo, representando a silhueta de um corpo feminino, enquanto, de onde parte uma seta na porção inferior para uma segunda
figura do lado direito, representando a silhueta de um corpo masculino, de onde parte uma segunda seta na porção superior, retornan-
do à primeira figura, com uma legenda na porção superior: “Relação sexual”. No centro das duas setas, é observado um trofozoíto de
Trichomonas vaginalis. A parte inferior, marcada com a letra “B”, representa o processo de divisão binária do trofozoíto, onde observa-se
um trofozoíto do T. vaginalis do lado esquerdo, de onde parte uma seta para uma figura representando o trofozoíto se dividindo ao
meio longitudinalmente, a partir da qual parte uma segunda seta para outro trofozoíto a direita.
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UNIDADE 3
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UNICESUMAR
O diagnóstico laboratorial é baseado no exame microscópico das amostras, que devem ser
colhidas de forma específica:
• Para o homem, a amostra deve ser colhida logo pela manhã, sem que ele tenha
urinado antes, e desde que esteja a pelo menos 15 dias sem tomar medicação
contra o tricomonas. Nestes casos a amostra é coletada por meio de Swab (haste
plástica contendo uma porção de algodão na ponta, similar a um cotonete) ou alça
de platina (instrumento metálico, alongado, com a extremidade anterior formada
por um fio metálico, contendo um pequeno anel na ponta), direto da uretra. O
sêmen tende a apresentar melhor identificação do parasito e pode ser colhido por
masturbação em um recipiente estéril.
• Para a mulher, a amostra deve ser colhida da vagina por meio de Swab, observando
como condições para melhor observação do parasito: não realizar higiene vaginal
de 18 a 24 horas anteriores à coleta; não tomar ou usar medicamentos tópicos
por pelo menos 15 dias antes da coleta; e que esta seja realizada nos primeiros
dias após a menstruação, quando os parasitas são mais abundantes (NEVES, 2016).
Após a coleta, caso a amostra não seja examinada a fresco, ou inoculada em culturas, as amostras
devem ser preservadas em soluções líquidas como o fixador álcool polivinílico (APV). Os exames
microscópicos com a finalidade de observação do trofozoíto, realizados a fresco, corados ou fixados
e corados (métodos de Leishman, Giemsa e hematoxilina), além de culturas em meio específicos,
são os métodos mais utilizados. Para complementar o exame parasitológico, podem ser realiza-
dos exames de imunodiagnóstico para detecção de anticorpos no soro (ex.: imunofluorescência
indireta, ELISA e reações de aglutinação), além de PCR para detecção do DNA do parasito nas
amostras e imunocromatografia para detecção de antígenos nas amostras (REY, 2008; NEVES,
2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
O tratamento da doença é realizado diretamente, por meio de medicamentos como metroni-
dazol, ornidazol, tinidazol ou nimorazol. É importante destacar que o tratamento deverá ser reali-
zado pelo indivíduo infectado e seu parceiro, mesmo que este esteja assintomático, caso contrário
frequentemente ocorre a reinfecção (REY, 2008).
Por fim, é importante destacar a epidemiologia da tricomoníase, uma vez que ela constitui a DST
não viral mais comum no mundo. A estimativa da Organização Mundial de Saúde, em 2008, foi uma
incidência de 276 milhões casos de tricomoníase no mundo (NEVES,2016), com uma tendência a
um crescimento anual. É importante destacar, neste aspecto, que a prevalência é maior em mulheres,
com um homem infectado para cada quatro mulheres (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
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UNIDADE 3
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Caro(a) aluno(a), com base nos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, estou certo de
que é capaz de preencher o mapa mental a seguir.
Flagelos
Unicelulares Estruturas
especializadas
Subfilo Sarcodina
PROTOZOÁRIOS
Sistema circulatório
Cisto
96
1. Leia o texto a seguir:
Um tipo de organismo estudado como parasito é o protozoário. Este grupo apresenta carac-
terísticas próprias, muitas vezes determinando sua capacidade de estabelecer o parasitismo.
Assim, defina, por meio de um texto dissertativo de 5 a 10 linhas, o que é um protozoário e
explique duas organelas ou estruturas presentes apenas nestes organismos.
Quanto à morfologia, os protozoários apresentam grandes variações, conforme sua fase evo-
lutiva e meio a que estejam adaptados. [...] Dependendo da sua atividade fisiológica, algumas
espécies possuem fases bem definidas.
Fonte: NEVES, D. P. Parasitologia humana. 13. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016, p. 33.
Giardia duodenalis é um pequeno protozoário flagelado, que parasita o homem e vários animais
domésticos ou silvestres. Em muitos países é o parasito intestinal mais frequente do homem,
estimando-se que a incidência mundial seja da ordem de 500.000 casos por ano
Fonte: REY, L. Bases da Parasitologia Médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara
Koogan, 2009, p. 88.
O parasito G. duodenalis apresenta como habitat o trato intestinal do ser humano. Para tanto,
este protozoário deve se manter fixado na parede intestinal, ou será eliminado junto com as
fezes. Com base neste assunto, explique, por meio de um texto dissertativo de três a cinco
linhas, como a G. duodenalis se fixa na parede intestinal.
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98
4
Protozoários e
Parasitas Sistêmicos,
dos Sistemas
Circulatório
Sanguíneo e Cutâneo
Dr. Vinícius Pires Rincão
100
UNIDADE 4
Embora o exame parasitológico de sangue apresente limitações, ainda é um dos principais métodos para
identificar parasitoses cujos parasitas têm como habitat o sistema circulatório. Embora existam métodos
moleculares e imunológicos que podem ser utilizados para indicar a presença de um parasita na corrente
sanguínea, a observação direta do protozoário é a única forma de comprovar sua presença como agente
etiológico da doença. Tendo em mente que esses parasitas possuem ciclos de vida variados, tempos de
incubação diferentes, e alguns são capazes de formar cistos nos tecidos, você consegue identificar as
limitações para este meio de diagnóstico? Como estas limitações poderiam ser contornadas? Quais as
consequências dessas limitações para análise laboratorial das parasitoses do sistema circulatório? Escreva
seus resultados e reflexões, sobre a pesquisa que você fez, e as questões que levantamos, no seu diário de
bordo, a fim de que eu e você possamos analisá-las juntos no decorrer desta unidade.
101
UNICESUMAR
Caro(a) aluno(a), você já parou para pensar como o Sistema Circulatório é importante para o funcio-
namento do nosso organismo? E a partir desta reflexão, consegue imaginar como os protozoários
se utilizam desse sistema tão importante para promover sua infecção?
Para compreender melhor as parasitoses que abordaremos nesta unidade, temos que relembrar alguns
aspectos importantes do sistema circulatório. Primeiro, devemos definir Sistema Circulatório como
o conjunto de canais e órgãos associados que têm como função o transporte de nutrientes e oxigênio,
além da remoção dos produtos do metabolismo celular de cada uma das células do corpo (FOX, 2007).
102
UNIDADE 4
Sistema Cardiovascular -
Toda Matéria
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UNICESUMAR
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UNIDADE 4
Forma promastigota
Núcleo
Complexo de Golgi
Cinetoplasto
Mitocôndria
Flagelo
Forma Amastigota
Cinetoplasto
Núcleo
Flagelo
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado duas figuras. A superior corresponde à forma promastigota do parasita Leishmania
sp., enquanto a inferior representa a forma amastigota deste mesmo parasito. A figura superior pode ser descrita como uma célula fusi-
forme, alongada, contendo um núcleo esférico e central, contendo a maioria das organelas das células eucarióticas, apresentando ainda,
o cinetoplasto na região anterior, e anterior a este, se prolongando para fora da célula, encontra-se um flagelo. A figura inferior pode ser
descrita como uma célula com formato entre elíptico e circular, contendo um núcleo esférico deslocado para um dos lados da célula, com
a maioria das organelas de uma célula eucariótica, contendo ainda um cinetoplasto anterior e um resquício de flagelo, interno a célula.
O parasita da leishmaniose apresenta um ciclo de vida heteróxeno, com dois hospedeiros: o de-
finitivo, representado por um vertebrado; e o intermediário, representado por inseto da Ordem
Díptera, Família Psychodite, Subfamília Phlebotominae e Gênero Lutzomyia (NEVES, 2016). Por
esta classificação estes insetos são constantemente denominados de flebotomíneos e popularmente
chamados de mosquito palha (Figura 4). Até o momento, são conhecidas cerca de 30 espécies de
flebotomíneos que servem como vetores para a Leishmania sp..
Por apresentar dois hospedeiros, o ciclo da Leishmania sp. pode ser dividido em duas fases, a fase do
vetor invertebrado (inseto) e a fase no vertebrado (como, por exemplo, o ser humano). A fase do vetor
inicia-se quando a fêmea do mosquito, que é hematófaga, pica o vertebrado infectado com o parasita
para realizar o repasto sanguíneo. Neste processo, o inseto ingere junto com o sangue macrófagos
infectados com a forma amastigota do parasita (NEVES, 2016). Ao passar pelo trato gastrointestinal
do inseto, os macrófagos se rompem e liberam as amastigotas que se diferenciam em promastigotas.
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UNICESUMAR
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UNIDADE 4
O primeiro que vamos tratar é a Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA), sendo esta uma
doença caracterizada como zoonose, causando infecção no ser humano e em várias espécies de ani-
mais, silvestres e domésticos. A patogenia ligada a essa doença tem início com a picada do mosquito
infectado, que ao atrair macrófagos para a região possibilita a infecção do parasita. Quanto mais o
parasita se multiplica e destrói macrófagos, mais macrófagos são atraídos para a região, dando início a
um processo inflamatório, caracterizado como um nódulo. Em decorrência dessa inflamação, forma-
-se um infiltrado celular repleto de macrófagos e outras células do sistema imune, culminando com
necrose e desintegração da epiderme, formando, por fim, uma úlcera (Figura 5) com bordas salientes
e fundo granuloso (NEVES, 2016). Pode ocorrer, durante ou após a formação da úlcera no local da
picada do mosquito, a disseminação (metástase) do parasita através do sangue ou da linfa, resultando
no aparecimento de outras lesões na derme ou mucosas.
Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma fotografia, nela pode ser observada no centro a porção lateral da perna e pé direito de
uma pessoa, próximo ao tornozelo há duas úlceras de forma circular com o interior rosado, características da leishmaniose. O pé está
sobre um piso de cor vermelha, atrás há um tapete de formato retangular na cor verde claro, do lado esquerdo é possível visualizar parte
de um pé que está calçado com uma meia branca.
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UNICESUMAR
aparência do indivíduo em
decorrência da manifesta-
ção da doença, pois, nesta forma, o parasita se desenvolve inicialmente como as lesões cutâneas,
mas, meses ou anos após essas lesões primárias, ocorrem lesões secundárias que destroem mucosas
e cartilagens (REY, 2009). Os principais locais de ação do parasita na LCM são nariz (por isso o
nome nariz de tapir), faringe, boca e laringe (Figura 6).
O segundo tipo de manifestação da leishmaniose é a Leishmaniose Visceral Americana
(LVA) também denominada “calazar” (de origem indiana, Kala-Azar), podendo ser traduzida
como “doença negra”. A LVA tem seu início semelhante a LTA, com a diferença que após o processo
inflamatório na região do local da picada do mosquito pode ocorrer uma cura espontânea ou o
parasita migrar, primeiro para os linfonodos próximos e depois para as vísceras (NEVES, 2016).
No início da infecção os principais órgãos afetados são baço, fígado, linfonodos e medula óssea.
Contudo, conforme a progressão da doença, praticamente todos os órgãos passam a apresentar o
parasita. Depois de chegar às vísceras, pelas vias hematogênica ou linfática, o parasita infecta as
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UNIDADE 4
Caro(a) aluno(a), agora que você conhece as características da leishmaniose, consegue pensar em
metodologias que podem ser utilizadas para realizar o seu diagnóstico?
O diagnóstico da doença é realizado por uma junção de fatores, somando-se os sintomas e aspectos
clínicos da doença, características epidemiológicas, a identificação de anticorpos específicos para o
parasita e, principalmente, na observação direta do parasita em amostras da medula óssea, fígado, baço
e linfonodos, ou em raspados ou biópsia das lesões da pele (NEVES, 2016).
109
UNICESUMAR
No que se refere ao diagnóstico laboratorial, para observação direta, as amostras são preparadas
em esfregaços em lâmina e coradas pelo método de Giemsa ou Panótico Rápido. Para a detecção de
anticorpos são empregadas técnicas de Imunofluorescência Indireta e Teste Imunocromatográfico e
Ensaio Imunoenzimático (ELISA). A detecção do DNA do parasita através de técnicas de amplificação
(PCR), estão sendo cada vez mais empregadas com alta sensibilidade e especificidade. No caso da LTA,
o teste imunológico mais utilizado no Brasil (NEVES, 2016), é o teste intradérmico de Montenegro,
que consiste na inoculação de antígenos do parasita (por exemplo promastigotas mortas) na região
intradérmica, para analisar a reação de hipersensibilidade tardia. O teste é considerado positivo quando
se forma um nódulo maior ou igual a 5 mm no local da inoculação.
O tratamento da leishmaniose é realizado através de fármacos com o princípio ativo sendo um
antimonial pentavalente. O fármaco de escolha no Brasil é o Glucantime (antimoniato de meglumina),
cuja distribuição é gratuita na rede pública.
A leishmaniose tegumentar tem uma incidência anual aproximada de 1,5 milhões de casos no
mundo, sendo que a grande maioria ocorre em países em desenvolvimento. O Brasil, junto com Afe-
ganistão, Argélia, Colômbia, Costa Rica, Etiópia, Irã, Peru, Sudão e Síria, correspondem a cerca de 75%
da incidência global de LTA (NEVES, 2016). A distribuição da LTA depende da distribuição do inseto
vetor, ligada aos reservatórios naturais. Como a doença é uma zoonose, vários mamíferos funcionam
como reservatório para o parasito.
Já a leishmaniose visceral é uma doença típica das áreas rurais em países de regiões tropicais
e subtropicais com uma incidência estimada de 500 mil casos por ano. Na América Latina, o
Brasil é responsável por 90% dos casos, que se encontram mais concentrados na Região Nordeste
(NEVES, 2016). O principal reservatório da doença é um animal doméstico, o cão, relacionado a
todos os focos da doença.
A segunda doença que vamos conhecer nesta unidade é a Tri-
panosomíase (ou Tripanosomíase Americana), mais conhecida
como doença de Chagas. O agente etiológico desta doença
é o Trypanosoma cruzi, um protozoário flagelado perten-
cente ao Filo Sarcomastigophora, Subfilo Mastigophora,
Ordem Kinetoplastida, Família Trypanosomatidae,
Gênero Trypanosoma. O nome da doença vem de
seu descobridor, o médico Carlos Ribeiro Justiniano
das Chagas, que em 14 de abril de 1909, encontrou o
protozoário ao examinar o sangue de uma criança de
2 anos, de nome Berenice (NEVES, 2016). Durante toda
sua vida a menina carregou o parasita, sem alterações clí-
nicas, em forma de doença denominada de indeterminada,
e morreu aos 73 anos de idade, por causas que aparentemente
não apresentavam ligação com a doença.
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UNIDADE 4
A Doença de Chagas ainda é muito presente no Brasil, desde o Maranhão até o Rio Grande
do Sul, com mais de 20 milhões de pessoas expostas ao risco de terem a doença. Vamos conhecer
melhor suas características?
O T. cruzi apresenta três formas relevantes no seu ciclo de vida: amastigotas, epimastigotas
e tripomastigotas (Imagem 7). Todas as três formas possuem o cinetoplasto próximo ao flagelo,
mudando apenas sua localização. As amastigotas possuem uma forma arredondada ou oval, com
flagelo interno e curto. As epimastigotas são formas alongadas com o cinetoplasto anterior mais
próximo ao núcleo, com um flagelo saindo lateralmente nesta posição se dirigindo para a região
anterior formando uma pequena membrana ondulante. Já nas tripomastigota, a forma é alongada,
com o cinetoplasto posterior, próximo à extremidade da célula, de onde sai o flagelo que se desloca
até a região anterior, formando uma extensa membrana ondulante.
Figura 6 – Formas morfológicas do Tripanosoma cruzi, observando a ultraestrutura: A – Amastigota; B – Epimastigota; C – Tripo-
mastigota. As estruturas relevantes para nosso estudo estão marcadas com as letras: K – cinetoplasto; N – núcleo; F – flagelo;
Mo – Membrana ondulante./ Fonte: Rey (2008, p. 299-301).
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado uma representação da ultraestrutura das três formas apresentadas pelo Trypa-
nosoma cruzi. Do lado esquerdo, pode ser observado uma célula arredondada, com núcleo central e sem flagelo, constituindo a forma
Amastigota. Na porção central, pode ser observada uma célula alongada, contendo um flagelo anterior e uma pequena membrana
ondulante, constituindo a forma Epimastigota. Do lado direito, pode ser observado uma célula alongada, com um flagelo partindo da
região posterior em direção a região anterior, formando uma longa membrana ondulante.
O T. cruzi tem um ciclo de vida heteroxênico, sendo que o hospedeiro intermediário é um inseto, o
barbeiro, nome popular de um grupo de insetos, principalmente do gênero Triatoma, sendo o seu
principal representante o Triatoma infestans (Figura 8), e o hospedeiro definitivo corresponde a várias
espécies de mamíferos, incluindo o ser humano.
111
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado um inseto da espécie Triatoma infestans, com o abdômen em formato elíptico,
e a cabeça alongada, com as cores preto e amarelo.
O ciclo biológico do Trypanosoma cruzi é relativamente simples (Figura 9). O inseto barbeiro, a medida
em que realiza o repasto sanguíneo, frequentemente na face (por isso o nome popular de barbeiro),
libera suas fezes, e junto a elas, as formas tripomastigotas do parasita, que utilizam a perfuração feita
pelo inseto para invadir os tecidos do hospedeiro. Nos tecidos da pele ou mucosa, os tripomastigotas
interagem com as células do Sistema Mononuclear Fagocítico (SMF), onde são fagocitadas, formando
o vacúolo parasitóforo. Após algumas horas, o parasita escapa para o citoplasma e se diferencia em
amastigotas que se multiplicam por fissão binária simples. Em seguida, após várias divisões celulares,
as amastigotas se diferenciam em tripomastigotas que rompem a célula e são liberadas nos espaços
entre as células (interstício), atingindo em sequência a corrente circulatória. Na corrente circulatória
os tripomastigotas podem seguir três caminhos: 1- invadir uma nova célula, em qualquer tecido do
organismo, e se multiplicar novamente se diferenciando em amastigotas; 2- ser destruído pelos me-
canismos imunológicos do hospedeiro; ou 3- ser ingerido pelo inseto barbeiro.
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UNIDADE 4
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado o ciclo biológico do T. cruzi. No centro da imagem pode ser observado o
desenho do corpo de um ser humano observando os órgãos internos. Cada fase do ciclo na figura está numerada, sendo: 1- na
parte superior esquerda mostrando o tripomastigota no inseto barbeiro que está realizando o repasto sanguíneo sobre a pele do
ser humano; 2- os tripomastigotas, no interior do corpo humano, infectam uma célula; 3- no lado direito, no interior da célula o tri-
pomastigota se diferencia em amastigota e se multiplica, liberando em seguida, tripomastigotas que podem infectar outras células
repetindo a fase 3, ou; 4- circular próximo a superfície da pele; 5- são ingeridos por um barbeiro; 6- no interior do inseto o parasita se
diferencia em epimastigota; 7- já do lado esquerdo da figura, os epimastigotas se multiplicam por fissão binária; 8- os epimastigotas
se diferenciam em tripomastigotas e estão prontos para recomeçar o ciclo.
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UNICESUMAR
Embora a transmissão do parasita tenha como principal via a o inseto vetor, ela pode ocorrer de outras
formas. São as principais formas de transmissão:
• Inseto vetor – ocorre pela entrada do parasita liberado nas fezes do inseto, pela
abertura da picada do triatomíneo.
• Por transfusão sanguínea – ocorre quando um indivíduo recebe o sangue
contaminado com tripomastigotas.
• Através da placenta (Congênita) – ocorre quando as amastigotas se formam
nas células da placenta, liberando tripomastigotas que podem atingir a circulação
sanguínea.
• Acidentes de laboratório – esse meio de transmissão possui real relevância
para profissionais da saúde que têm contato com o sangue contaminado. Ocorre
quando o sangue contaminado entra em contato com ferimentos aberturas na
derme ou mucosas, possibilitando o contato dos tripomastigotas com células do
SMF e sistema circulatório.
• Pela via oral – ocorre pelo contato do parasita com a mucosa da boca, lesada
ou não. Existem várias formas para que isto ocorra, desde a amamentação com
parasita presente no leite materno, até o consumo por acidente dos insetos ve-
tores contaminados, ou partes deles. Este último caso tem se tornado comum na
Amazônia pelo consumo de produtos florestais, em especial o açaí.
114
UNIDADE 4
Figura 9 – Sinais de entrada do Trypanosoma cruzi. / Fonte: adaptada de Santos Junior (2018).
Descrição da Imagem: na imagem podem ser observadas duas fotografias. A do lado esquerdo apresenta a face de um ser humano,
com o olho esquerdo completamente fechado devido a um edema bipalpebral, denominado de Sinal de Romaña. A foto do lado
direito apresenta o antebraço de um ser humano, onde pode ser observado uma área circular com vermelhidão e uma área central
esbranquiçada semelhante a um furúnculo fechado, denominada de chagoma de inoculação.
A fase crônica tem início com a final da fase aguda e pode ser classificada em formas indeterminada, car-
díaca e digestiva (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). A forma indeterminada é aquela onde não há sintomas,
ou os sintomas são discretos, há positividade no exame sorológico, mas não são observadas alterações no
esôfago, coração ou cólon, e pode se desenvolver por um período de 10 a 30 anos. A forma cardíaca (ou
cardiopatia chagásica crônica – CCC) é a mais comum, e pode apresentar distúrbios de condução do coração
(como arritmias e bloqueios de ramos); fenômenos tromboembólicos por mau funcionamento do coração
(como acidente vascular encefálico); e insuficiência cardíaca congestiva. A forma digestiva ocorre por lesões
causadas nas regiões dos tecidos internos, como por exemplo os musculares, do esôfago e cólon, podendo
originar dilatações permanentes das vísceras, “megacólon” e “megaesôfago” (SIQUEIRA-BATISTA et al.,
2020). As formas cardíaca e digestiva podem ocorrer juntas, sendo denominada mista ou cardiodigestiva.
A tripanossomíase americana desencadeia vários mecanismos do sistema imune na tentativa de
eliminar o parasita, tanto da imunidade inata quanto da imunidade adaptativa. Isso reduz a quantidade
de parasita no sistema circulatório (reduz a parasitemia) mas permite que o parasita se mantenha no
interior das células nos tecidos.
Quando o T. cruzi chega à corrente sanguínea, ele está suscetível a ação do sistema complemento (um
conjunto de proteínas dissolvidas no sangue que destroem células de patógenos). Além deste, outros com-
ponentes da imunidade são ativados, principalmente com a produção citocinas. As citocinas produzidas
estimulam a imunidade adaptativa ativando os linfócitos T e B. Os linfócitos T auxiliares têm maior relevância
na fase aguda da doença, pois estimulam a produção de anticorpos pelos linfócitos B e ajudam a eliminar
o parasita circulante. Já os linfócitos T citotóxicos têm maior relevância na fase crônica, eliminando os
parasitas no interior das células dos tecidos, o que parece estar associado à formação das lesões no coração
e intestino, uma vez que as células infectadas são destruídas, os tecidos são danificados (NEVES, 2016).
115
UNICESUMAR
O diagnóstico da doença combina a análise clínica e laboratorial. Na análise clínica, são verificados
o local onde o paciente se encontra ou de onde se origina (locais endêmicos), sinais de entrada (sinal
de Romaña e chagoma de inoculação), junto a outros sinais da fase aguda, direcionam para a doença.
Entretanto, o diagnóstico laboratorial é imprescindível. Para este diagnóstico, a fase da doença pode
interferir no resultado. Na fase aguda são realizados exames parasitológicos com o objetivo de iden-
tificar o protozoário, direta ou indiretamente, como: exame de sangue a fresco; esfregaço sanguíneo
corado com Giemsa (Figura 10); inoculação em camundongos jovens; xenodiagnóstico. Ainda nesta
fase podem ser realizados exames sorológicos e moleculares, como: imunofluorescência indireta, ensaio
de imunoadsorção ligado à enzima (ELISA) e reação em cadeia da polimerase (PCR).
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observada uma microscopia de um esfregaço de sanguíneo corado pelo método de
Giemsa, onde pode ser observado centenas de parasitas da espécie Trypanosoma cruzi, na forma tripomastigota, corados em roxo.
Na fase crônica, como há pouco parasita livre, são utilizados os exames indiretos, como: xenodiagnós-
tico, hemocultura, inoculação em camundongos e PCR e exames sorológicos variados.
O tratamento é realizado através de dois fármacos: benznidazol e nifurtimox, que agem principal-
mente nas formas tripomastigotas. Assim, para um tratamento mais eficaz, a doença deve ser tratada
na fase aguda, uma vez que o parasita pode permanecer nas células teciduais na fase crônica. Além
disso, os fármacos utilizados podem apresentar alta toxicidade, o que inviabiliza o tratamento contí-
nuo prolongado. Embora haja alto índice de cura na fase aguda da doença, esses valores diminuem
conforme a infecção progride, sendo difícil determinar a cura em indivíduos com fase crônica já em
tempo prolongado (NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
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UNIDADE 4
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UNICESUMAR
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UNIDADE 4
O ciclo de vida do Plasmodium no interior do ser humano tem início com a inoculação do proto-
zoário pela picada do inseto vetor, o mosquito do gênero Anopheles (Figura 13). O anofelino inocula
esporozoítos nas camadas da derme do hospedeiro. Estes esporozoítos migram pelo tecido até atingir
a corrente sanguínea. Os esporozoítos na corrente sanguínea, tem tropismo (preferência por um alvo
específico) pelos hepatócitos (células do fígado), e após sua invasão se multiplicam por esquizogonia
formando milhares de merozoítos, que são liberados na corrente sanguínea (Figura 14). A fase que
ocorre nos hepatócitos precede a multiplicação nos eritrócitos sanguíneos e por isso é chamada de
exoeritrocítica, pré-eritrocítica ou tissular (NEVES, 2016).
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado uma fotografia contendo a imagem aproximada da superfície da pele se um
ser humano, onde encontra-se pousado um mosquito do gênero Anopheles, realizando o repasto sanguíneo. O mosquito apresenta
como principais características, o abdômen voltado para baixo e o corpo contendo as cores branco e preto intercaladas (listrado).
Todos os merozoítos formados, tanto nos hepatócitos quanto nos eritrócitos, têm a capacidade de
invadir outros eritrócitos, mantendo a infecção. Assim, os merozoítos produzidos nos hepatócitos são
liberados na corrente sanguínea e invadem os eritrócitos (a fase de maturação do eritrócito invadido
depende da espécie do parasito), se multiplicando nestes por esquizogonia e produzindo novamente
merozoítos, que após liberados invadirão outros eritrócitos, realizando nova esquizogonia. O ciclo
sanguíneo, denominado também de eritrocítico, se repete várias vezes a cada 48 horas para o P. falci-
parum e P. vivax, e a cada 72 horas para o P. malariae. O rompimento das hemácias libera diversos
metabólitos que provocam a febre característica da infecção, explicando os ciclos de aumento e dimi-
nuição da febre, e seus nomes populares febre terçã (um dia com febre e dois dias sem febre) e febre
quartã (um dia com febre e três dias sem febre).
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UNICESUMAR
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado uma representação esquemática do ciclo biológico dos protozoários do gênero
Plasmodium. O ciclo tem início na região superior esquerda da figura, onde há o desenho de um mosquito e uma seta apontando para o
desenho de um ser humano, indicando a inoculação dos esporozoítos no indivíduo. Deste ponto parte uma seta até o desenho de uma
célula no formato de um hexágono, representando um hepatócito, onde ocorre a infecção pelos esporozoítos. Toda sequência é ligada
por setas: em seguida há outro desenho de hepatócito indicando que este está infectado; seguindo para a célula com o esquizonte,
contendo vários merozoítos no citoplasma; na próxima célula o esquizonte se rompe e libera os merozoítos; os merozoítos infectam
um eritrócito, se diferencia em trofozoíto no interior do eritrócito, passa a trofozoíto maduro, depois para esquizonte sanguíneo, ocorre
o rompimento do eritrócito e liberação dos merozoítos que refazem esse ciclo. A partir do trofozoíto maduro no interior da hemácia,
o ciclo pode seguir para a formação de gametócitos, e estes podem ser ingeridos por um mosquito no repasto sanguíneo, iniciando
o ciclo do inseto no lado esquerdo da figura. Seguindo cada etapa por uma seta: no interior do inseto são formados microgametas e
macrogametas, que se fundem e formam o oocineto; o oocineto dá origem ao oocisto, que após a formação de milhares de esporozoítos
se rompe e libera essas formas, voltando a última seta para o inseto do início do ciclo.
O ciclo continua quando o inseto vetor, a fêmea do anofelino, ao realizar o repasto sanguíneo ingere
hemácias infectadas com o parasita. Durante o processo de infecção das hemácias, alguns merozoítos,
ao se reproduzirem por esquizogonia, formam gametas e são denominados gametócitos. Esses game-
tócitos, ao serem ingeridos pelo inseto, se rompem e liberam ou microgametas (gametas masculinos)
ou macrogametas (gametas femininos). No interior do intestino um microgameta e um macrogameta
se fundem formando o zigoto, denominado de oocineto, que migra para a parede do intestino do
inseto, a invade e encista, passando a ser denominado de oocisto. O oocisto sofre então um processo
de esquizogonia formando vários esporozoítos que, após liberados, migram através da linfa até dife-
rentes tecidos do inseto. Alguns destes esporozoítos atingem a glândula salivar do mosquito e podem
ser inoculados com a saliva no próximo repasto sanguíneo.
120
UNIDADE 4
Agora que você conhece o parasita e seu ciclo biológico, consegue imaginar como ele causa a doença?
A patogenia da infecção pelo Plasmodium sp. está diretamente associada à destruição das hemácias e
liberação dos parasitas e seus metabólitos no sangue, ou seja, ligada ao ciclo eritrocítico.
Quando as hemácias são lisadas, diversos metabólitos, como o pigmento malárico (hemozoina),
derivado da metabolização da hemoglobina pelo parasita, são liberados no sistema circulatório. Ao
chegarem no baço, tanto as hemácias infectadas quanto os metabólitos, são fagocitados por macrófagos
que se ativam e liberam grande quantidade de citocinas. Estas induzirão diversos processos inflama-
tórios (resultando no ataque malárico), além da expressão de moléculas de adesão no endotélio dos
capilares sanguíneos. Essas moléculas de adesão sequestram hemácias infectadas (por expressarem
moléculas diferentes nas membranas), gerando microcoágulos que interrompem o fluxo sanguíneo,
causam lesões nos vasos, promovendo o extravasamento de líquido para o interstício (NEVES, 2016).
As alterações causadas pelo parasita resultam em dois quadros clínicos possíveis: “malária não
complicada” e “malária grave e complicada” (REY, 2009; NEVES, 2016). O período de incubação
da doença varia de espécie para espécie, podendo variar entre 9 dias na P. falciparum a 40 dias na
P. malariae. Inicialmente, o paciente sente mal-estar, cefaleia, cansaço e mialgia (dor muscular). Em
seguida ocorre a forma mais comum da doença, “malária não complicada”, comum para todas as espé-
cies de Plasmodium que infectam o ser humano, se caracterizando pelo ataque paroxístico agudo ou
acesso malárico (caracterizado por três fases: 1 - calafrios, com sensação de frio intenso; 2 – sensação
de calor e cefaleia intensa, com a temperatura corporal podendo atingir 41º C; 3 – sudorese, caracteri-
zada por transpiração intensa, diminuição da temperatura e sensação de alívio), somado à debilidade
física, náuseas e vômitos, com o paciente se apresentando pálido e com o baço aumentado. A anemia
é frequente, mas sua intensidade é variável dependendo do estágio da doença e da espécie do parasita.
A “malária grave e complicada”, se manifesta em crianças, gestantes e adultos que vivem fora das
áreas endêmicas. Esta forma da doença é associada, na maioria dos casos, ao P. falciparum, e em menor
quantidade ao P. vivax. Esta forma da doença pode apresentar vários quadros clínicos que podem ser
observados em conjunto ou isolados, sendo estes: malária cerebral (cefaleia, hipertermia, vômitos,
sonolência e pode apresentar convulsões); insuficiência renal aguda; edema pulmonar agudo; hipogli-
cemia; icterícia; hemoglobinúria (urina vermelha ou amarronzada devido a presença de hemoglobina,
oriunda da hemólise intravascular aguda maciça).
A resposta imune contra a malária pode ser dividida em três tipos: resistência inata, imunidade
inata e imunidade adquirida (NEVES, 2016). A resistência inata é um fator inerente a cada indivíduo,
e embora não se conheça bem seus mecanismos, está relacionada ao fato de que a infecção por parasitas
do gênero Plasmodium que infectam outros mamíferos ou grupos de vertebrados, não conseguem
produzir a doença no ser humano. Já a imunidade inata está relacionada a ação do sistema imune
no primeiro contato com o parasita, provavelmente por ação de receptores inespecíficos associados
a células fagocíticas e que tem função fundamental no controle da parasitemia, além da liberação de
citocinas pelos macrófagos.
A imunidade adquirida tem como principal agente os anticorpos IgG que agem tanto nos parasitas
livre no sistema circulatório, como nas hemácias infectadas, levando a sua destruição. Além dos linfó-
citos B, os linfócitos T CD4+ têm função importante na mediação da resposta imune.
121
UNICESUMAR
Para que haja certeza no diagnóstico da malária, o parasita ou antígenos relacionados a este, deve ser
demonstrado em amostras do sangue periférico do paciente. Portanto, para o diagnóstico desta doença,
o exame laboratorial é indispensável. A técnica mais utilizada continua sendo o esfregaço (espesso ou
delgado) em lâmina, corados com azul-de-metileno ou Giemsa. Entretanto, é preciso que o profissional
da saúde a realizar o exame tenha experiência na sua identificação, o que não é muito comum em áreas
endêmicas, devido à precariedade dos serviços de saúde. Uma solução é a utilização de testes imuno-
cromatográficos. O tratamento da doença é realizado pela utilização de drogas antimaláricas, sendo
as principais: quinina, mefloquina, cloroquina, derivados da artemisinina, tetraciclina e clindamicina.
A malária apresenta distribuição global, com maior incidência em países tropicais. A doença encon-
tra-se presente em mais de 80 países, sendo o Brasil um importante representante de sua ocorrência
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
No Brasil a doença é endêmica da região norte, onde o
vetor, o mosquito do gênero Anopheles, tem presença
constante. Embora haja cinco espécies principais res-
ponsáveis por causar a doença, três delas P. vivax
(80%), P. falciparum (20%) e P. malariae (menos
de 1%) são as espécies observadas no país (SI-
QUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A última parasitose, com relação com o sistema
sanguíneo, que iremos abordar nesta unidade é a To-
xoplasmose, popularmente conhecida como doença
do gato. É causada por um protozoário, o Toxoplasma
gondii, muito similar na forma ao Plasmodium. O T.
gondii é classificado no Filo Apicomplexa, Ordem Eu-
coccidiida, Família Sarcocystidae e Gênero Toxoplasma.
A toxoplasmose é considerada uma zoonose, sendo que a
infecção é comum em várias espécies de mamíferos e aves. A prin-
cipal diferença neste aspecto, é que os hospedeiros definitivos são felídeos (entre eles o gato doméstico),
enquanto os outros animais, inclusive o ser humano, são os hospedeiros intermediários.
No ser humano, o parasita pode ser encontrado em vários tecidos, células e líquidos orgânicos,
com exceção das hemácias. Hora, mas não estamos estudando os parasitas relacionados com o sistema
circulatório? Sim, mas neste caso, o parasita utiliza o sistema circulatório, tanto cardiovascular como
linfático, como um meio de se disseminar e atingir todos os tecidos do organismo. Nos felídeos não
imunes (este critério é importante, pois, após infectado uma vez, o felídeo adquire imunidade e não
mais desenvolverá a doença), o parasita tem como habitat o epitélio do intestino delgado.
122
UNIDADE 4
Retículo endoplasmático
Membrana plasmática
Membrana interna
Micronemas
Grânulos densos
Roptrias
Conóide Núcleo
Mitocôndria
Apicoplasto
Microtúbulos
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado o desenho ilustrativo da célula do T. gondii. A célula apresenta um formato
alongado com uma das extremidades afiladas e a outra arredondada, delimitada por duas membranas, uma interna e a outra de-
nominada de membrana plasmática mais externa. Na figura pode ser observado as organelas no interior da célula, onde o núcleo
encontra-se próximo a extremidade arredondada, seguido por (em direção a extremidade afilada) um apicoplasto, uma mitocôndria,
e os componentes do complexo apical: micronemas, grânulos densos, roptrias, microtúbulos e conoide.
123
UNICESUMAR
Das formas descritas para o parasita, os taquizoítos, bradizoítos e oocistos são as formas infectantes,
podendo infectar tanto o felídeo quanto o hospedeiro intermediário.
O ciclo de vida T. gondii é heteroxeno e constantemente separado em fase assexuada e fase sexuada.
O ciclo do parasita (Figura 16), partindo da fase sexuada, tem início quando um felídeo, não imune, ingere
cistos (contendo bradizoítos), oocistos ou taquizoítos. Quando o parasita (qualquer uma das formas)
chega ao intestino, penetra na célula intestinal e se multiplica por esquizogonia, liberando merozoítos,
que infectarão outras células do intestino do felídeo. Algumas destas se desenvolveram em gametócitos
femininos, formando um macrogameta, outras se desenvolveram em gametócitos masculinos, formando
microgametas. Os microgametas, que são móveis, saem da célula intestinal e vão fecundar um macroga-
meta, formando um zigoto. Este, na própria célula que se encontra, formará um oocisto. Após alguns dias,
a célula contendo o oocisto se rompe liberando este para o intestino, permitindo que seja externalizado
com as fezes. No meio externo o oocisto chega a sua forma madura, contendo em seu interior oito espo-
rozoítos, e se mantém viável até 18 meses (REY, 2009; NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
124
UNIDADE 4
Figura 15 – Ciclo biológico do Toxoplasma gondii. / Fonte: adaptada de Manual MSD (2022).
Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado o ciclo de vida do Toxoplasma gondii. Na parte superior do lado direito, pode
ser observado o ciclo, com fases numeradas e setas em vermelho, na seguinte sequência: 1b- o gato libera oocisto nas fezes; 2- peque-
nos animais como pombos e ratos ingerem os oocistos; 3- o oocistos liberam taquizoítos; 4- os taquizoítos forma cistos nos tecidos;
5- os gatos ingerem os cistos ao se alimentarem dos animais. Do lado direito superior pode ser observado uma forma diferente de
desenvolvimento do ciclo, com fases numeradas e setas pretas, na seguinte sequência: 1a- o gato libera oocisto nas fezes; 2- animais
de médio porte como porcos e ovelhas ingerem os oocistos; 3- os oocistos liberam taquizoítos; 4- os taquizoítos formam cistos nos
tecidos; A fase 5 não existe, pois, o gato não consegue predar esses animais; 6a- o ser humano ingere carne contendo os cistos viáveis;
6b- o ser humano ingere diretamente os oocistos liberados nas fezes do gato, por meio de água e alimentos contaminados; 7- o ser
humano pode se contaminar por meio de transfusão sanguínea ou transplantes; 8- após a liberação dos taquizoítos no ser humano pode
ocorrer a transmissão via placenta; 9- após a liberação dos taquizoítos no ser humano pode ocorrer a formação de cistos nos tecidos.
125
UNICESUMAR
126
UNIDADE 4
127
UNICESUMAR
128
Caro(a) aluno(a), com base nos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, estou certo de
que é capaz de preencher o mapa mental a seguir.
Leishmania sp.
Protozoário
SISTEMA CIRCULATÓRIO
Constituído por:
Esporozoíto
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Muito bem, caro(a) aluno(a), agora é com você. De acordo com os conhecimentos que você
adquiriu nesta unidade, responda as questões a seguir.
O complexo corpo humano compõe-se de células especializadas, que apresentam uma divisão
de trabalho. As células especializadas de um organismo multicelular dependem umas das
outras para as necessidades básicas de sua existência. Por essa razão, é necessário um meio
altamente eficaz de transporte de materiais no organismo.
Fonte: FOX, S. I. Fisiologia Humana. 7. ed. Barueri/SP: Editora Manole, 2007, p. 366.
Com base neste assunto, cite, por meio de um texto dissertativo de três a cinco linhas, os
componentes do sistema circulatório.
Explique, por meio de um texto dissertativo de cinco a dez linhas, a patogenia relacionada ao
Plasmodium sp.
130
5
Helmintos:
Nematódeos Parasitos
Dr. Vinícius Pires Rincão
132
UNIDADE 5
Como você pode perceber, muitas parasitoses são dependentes do tipo de alimento e da forma
como nos alimentamos. Assim, gostaria de propor uma atividade a você: pesquise e identifique a
forma infectante das principais helmintíases (doenças causadas por helmintos) que podem ocorrer
em sua região, e determine por quais formas você poderia entrar em contato com esses animais
durante sua alimentação.
A culinária, em qualquer parte do mundo, tem como princípio criar pratos e sabores que agradem
a todos os tipos de paladar. Desde a alimentação em famílias mais humildes, a restaurantes de renome,
os procedimentos para o preparo e consumo dos alimentos são variados, exatamente na tentativa
de alcançar esse princípio. Muitos desses procedimentos têm como característica a utilização de
alimentos crus ou malcozidos, o que, mesmo quando são realizados procedimentos considerados,
popularmente, corretos de higienização, podem possibilitar a sobrevivência tanto de microrganismos
quanto das formas infectantes de helmintos e ocasionar a ocorrência de uma parasitose.
Mas como alimentos corretamente higienizados podem provocar parasitoses? Como as formas
infectantes podem sobreviver a procedimentos corretos de preparo de alimentos? Como estas
formas infectantes chegaram aos alimentos? E, talvez o mais importante, como eliminar essas
formas infectantes dos alimentos? Caro(a) aluno(a), agora é sua vez. Pense na pesquisa que você
fez, e nas questões que levantamos, e escreva seus resultados no seu diário de bordo, a fim de que
eu e você possamos analisá-las juntos no decorrer desta unidade.
133
UNICESUMAR
134
CLASSIFICAÇÃO DE ALGUNS HELMINTOS PARASITOS DOS SERES HUMANOS
Trematoda S. haematobium
Echinostomatiformes Fasciolidae Fasciola F. hepática
T. solium
Taenia
Taeniidae T. saginata
H. nana
Cyclophyllidea Hymenolepididae Hymenolepis
135
H. diminuta
Cestoda
Dipylidiidae Dipylidium D. caninum
B. mucronata
Anoplocephalidae Bertiella
B. studeri
Diphyllobothrium D. latum
Diphyllobothridea Diphyllobothriidae
Spirometra Spirometra sp.
UNIDADE 5
CLASSIFICAÇÃO DE ALGUNS HELMINTOS PARASITOS DOS SERES HUMANOS
Filo Classe Ordem Família Gênero Espécie (exemplo)
Ascaris A. lumbricoides
VIRAR PÁGINA
PARA VISUALIZAR
Ascarididae
Toxocara T. canis
Lagochilascaris L. minor
A. cantonensis
Angyostrongylidae Angyostrongylus
A. costaricensis
Oxyuridae Enterobius E. vermicularis
Cromadorea Rhabditida
Strongyloididae Strongyloides S. stercoralis
Nematoda Ancylostoma A. duodenalis
Ancylostomatidae
136
Necator N. americanus
Syngamidae Mammomonogamus M. laryngeus
Wuchereria W. bancrofti
Onchocercidae
Onchocerca O. volvulus
Trichuridae Trichuris T. trichiura
Enoplea Trichocephalida Trichinellidae Trichinella T. spiralis
Capillariidae Calodium C. hepática
Moniliformida Moniliformidae Moniliformis M. moniliformis
Acanthocephala Archiacanthocephala
UNICESUMAR
Embora você provavelmente tenha familiaridade quanto ao termo verme, e mesmo consiga re-
lacioná-lo a uma forma específica de animal, a diversidade morfológica dos helmintos é grande
e será caracterizada com detalhes para cada um dos agentes etiológicos das parasitoses humanas
que vamos discutir, principalmente porque uma das formas mais utilizadas para o diagnóstico
dessas doenças, é a observação direta do parasito.
Nesta unidade, você aprenderá sobre as principais parasitoses humanas causadas pelos ne-
matódeos (Filo Nematoda), que são vermes com a característica principal de possuírem o corpo
cilíndrico e alongado, reunindo mais de 24.000 espécies em todo mundo (SIQUEIRA-BATISTA
et al., 2020). “Dentro do filo Nematoda ou Nemata (gr. nêma ou nêmatos = fio), são encontrados
representantes com os mais diversos tipos de hábitat, desde espécies saprófitas de vida livre, aquá-
ticas ou terrestres, até parasitos de vegetais, invertebrados e vertebrados” (NEVES, 2016, p. 220).
Esses vermes podem ter tamanho variado, dependendo da espécie, de poucos milímetros a
dezenas de centímetros. Seu corpo cilíndrico não é segmentado, apresentando simetria bilateral,
e cavidade interna não revestida por um epitélio, sendo esta preenchida com líquido, caracteri-
zando-os como pseudocelomados (NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
• Celoma: Cavidade corporal, constituindo um espaço preenchido por líquido ou ar, localizado
entre o trato digestório e a parede externa do corpo, presente em animais com os três folhetos
embrionários: endoderme, mesoderme e ectoderme.
• Animais celomados: são aqueles onde a cavidade corporal é totalmente circundada pela
mesoderme. Um exemplo desse tipo de animal é a minhoca.
• Animais pseudocelomados: são aqueles onde a cavidade corporal é formada em parte pela
mesoderme e em parte pela endoderme. Um exemplo desse tipo de animal é a lombriga (As-
caris lumbricoides).
• Animais acelomados: são aqueles onde não ocorre a formação de cavidade corporal. Um
exemplo desse tipo de animal é a planária.
Fonte: Reece et al. (2015).
Esses vermes possuem os três folhetos embrionários (endoderme, mesoderme e ectoderme), um tubo
digestório completo com a cavidade anal ou cloacal abrindo próximo a extremidade posterior do corpo;
não apresentam sistema circulatório e nem ventosas (Imagem 1).
137
UNICESUMAR
A
Cordão
a B
dorsal Nervo dorsal
Camada muscular b
c
Braços musculares d
e i
Epiderme h
Cutícula
f
Canal excretor
Cordão lateral d
Pseudocelo
g
Lúmem da faringe
Fibras musculares
da faringe
Glândulas
faríngeas Nervo ventral
Cordão
a) ventral b)
Figura 1 – a) Corte transversal de um nematódeo, b) Indivíduos adultos de Enterobius vermicularis (A - fêmea: a- expansões ve-
siculosas; b- esôfago com bulbo esofagiano; c- intestino; d- úteros; e- vagina; f- ovários e ovidutos; g- reto e ânus; B - macho:
h- canal ejaculador; i- testículo). / Fonte: a) Arruda (2014); b) Adaptado de Rey (2008, p. 277).
Descrição da Imagem: A imagem apresenta dois desenhos, A e B, que ilustram os nematódeos. Do lado esquerdo está o desenho
A, em que é possível observar uma estrutura cilíndrica, em um corte transversal, com três camadas, uma camada externa, “Cutícula”,
uma camada média, “Epiderme”, e uma camada mais interna, “Muscular”. No interior, é possível observar gomos ao longo de toda a
circunferência. No centro, há uma estrutura circular e no centro dela uma estrutura em forma de estrela, com três pontas e vários
riscos que saem dela e vão até a borda da estrutura circular. Na parte superior da estrutura cilíndrica, um dos gomos está identificado
como “Cordão dorsal”. Na ponta desse cordão, há uma estrutura pequena e redonda identificada como “Nervo dorsal”. Dessa estrutura,
saem os braços articulares que se conectam a outros cordões. Na parte inferior, na mesma direção do cordão dorsal, está o “Cordão
Ventral”, e na sua ponta está o “Nervo Ventral”. Do lado direito, está o desenho B, em que são observados dois desenhos esquemáticos
do verme Enterobius vermicularis. No desenho do lado esquerdo, é possível visualizar a fêmea, um verme longo, com as extremidades
afuniladas. Também é possível ver os seus órgãos, começando na parte superior: a- expansões vesiculosas; b- esôfago com bulbo
esofagiano; c- intestino; d- úteros; e- vagina; f- ovários e ovidutos; g- reto e ânus. No desenho do lado direito, é possível visualizar um
verme menor, o macho, com parte do corpo enrolado. Também é possível visualizar alguns órgãos: h- canal ejaculador; i- testículo.
Os nematódeos apresentam sexos separados, ou seja, há um indivíduo macho e outro fêmea, sendo,
portanto, denominados de dióicos. No filo Nematoda, o macho sempre será menor que a fêmea
(Imagem 1b). O corpo destes animais é revestido por uma camada acelular e lisa, denominada
de cutícula. Não apresentam sistema circulatório, sendo o líquido presente no pseudoceloma,
responsável pelas funções que seriam realizadas por esse sistema. O sistema nervoso é constituído
por um anel em torno do esôfago (considerado um cérebro), de onde partem nervos para a região
anterior e posterior do corpo. O sistema excretor consiste em um sistema tubular, formado por dois
canais que percorrem todo o corpo do verme e se abrem no poro excretor, localizado na região
anterior. Possuem gônadas específicas, em geral tubulares, com testículos nos machos e ovários
nas fêmeas (REY, 2008; NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
O primeiro nematódeo que você vai conhecer é o Ascaris lumbricoides, popularmente conhecido
como lombriga. Esse verme é encontrado em quase todos os países do mundo, porém, com uma inci-
dência que varia de acordo com as mudanças climáticas, ambientais e principalmente condição social
138
UNIDADE 5
da população (NEVES, 2016). Esta última característica demonstra ser um importante fator, uma vez
que o investimento e aprimoramento dos programas de saúde pública no Brasil, tem evidenciado uma
tendência na diminuição dos casos anuais. Ainda assim, as estimativas mais recentes apontam para
uma prevalência de aproximadamente 1,5 bilhões de pessoas infectadas em todo o mundo. No Brasil,
a doença afeta principalmente crianças em idade escolar.
O Ascaris lumbricoides, pertencente ao Filo Nematoda, Classe Cromadorea, Subclasse Chromadoria,
Ordem Rhabditida, Família Ascarididae e Gênero Ascaris, é o agente etiológico da Ascaridíase, uma
parasitose considerada um grave problema de saúde pública, que ataca o intestino delgado humano
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Como já descrito, os nematódeos apresentam como características serem dióicos. Assim, a carac-
terização da morfologia do A. lumbricoides é baseada nas características do macho, da fêmea e do
ovo. Como características gerais, os adultos apresentam o corpo cilíndrico, alongado, fino e com as
extremidades afiladas. O tamanho do verme é dependente da nutrição que receberá do hospedeiro,
além da competição que ocorrerá contra outros parasitos dividindo o mesmo habitat. No entanto, o
macho sempre será menor que a fêmea (Imagem 2).
O parasito macho adulto mede
entre 20 e 30 centímetros de com-
primento por 2 a 4 milímetros de
largura, com uma coloração leitosa.
A região anterior do verme apresen-
ta uma boca formada por três lábios,
contendo serrilha de dentículos
(NEVES, 2016). O sistema digestó-
rio se estende por todo o corpo jun-
to com um testículo filiforme, sendo
que ambos se abrem na cloaca, na
região posterior. A região posterior
apresenta dois espículos acessórios
para a cópula, e encontra-se encur-
vada em direção a região ventral do
verme (Imagem 2).
O parasito fêmea adulto mede Figura 2 – Ascaris lumbricoides.
entre 30 e 40 centímetros de com-
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada a fotografia de dois
primento por 3 a 6 milímetros de vermes cilíndricos, alongados, com as extremidades afiladas, com coloração lei-
tosa, sendo que o mais externo constitui a fêmea, que é maior que o do centro,
largura. Todas as características que constitui o macho. O macho apresenta a extremidade posterior curvada e
enrolada ventralmente.
morfológicas internas do corpo da
fêmea se assemelham com o macho.
A exceção ocorre com os órgãos genitais que são compostos por dois ovários filiformes, que se diferenciam
na sequência em úteros, os quais se fundem e se exteriorizam por uma vagina no terço anterior do corpo
do verme. Por esta razão, a fêmea tem um ânus e não uma cloaca.
139
UNICESUMAR
140
UNIDADE 5
Es
infe tágio
ccio
so
8. Vermes adultos no
4. Ovo embrionado intestino delgado
6-8. Migração
3. Clivagem da larva
avançada
5. A larva
é liberada
no intestino
2. Estágio de
duas células
9. Ovos nas fezes
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma ilustração descrevendo o ciclo de vida do Ascaris lumbricoides. No centro
da imagem, está representada a silhueta de um ser humano, em que podem ser identificados seus órgãos internos, sendo estes, de
cima para baixo, faringe, esôfago, pulmões, estômago, fígado, intestino delgado e intestino grosso, terminando no ânus. O ciclo começa
com a imagem de um ovo contendo uma larva sendo ingerido pela boca, passando pelo estômago, chegando ao intestino e, deste,
voltando ao pulmão. Continua com uma seta verde, indicando que do pulmão a larva volta ao intestino delgado, onde se instala e se
desenvolve em indivíduos adultos. Os vermes adultos estão representados em um desenho no centro de um círculo no lado direito da
imagem. A partir do intestino delgado, os produzidos são liberados nas fezes e vão para o ambiente, representado na imagem por uma
área gramada. A partir deste ponto, os ovos não fertilizados morrem, enquanto os ovos fertilizados seguem uma sequência na porção
esquerda da imagem, passando pelo estágio de duas células, estágio avançado de clivagem e volta ao ovo embrionado do começo,
com uma larva dentro, e pronto para infectar um indivíduo.
141
UNICESUMAR
Figura 5 - Fragmento de intestino obstruído por Ascaris lumbricoides. / Fonte: adaptado de Mwenda e Ilkul (2013).
Descrição da Imagem: Na imagem, é possível identificar um mesmo fragmento de intestino humano, fotografado em dois momentos.
Em “A”, do lado esquerdo, o fragmento de intestino acabará de ser removido do paciente, e pode ser observado no interior de uma
vasilha cirúrgica, apresentando vermes saindo de uma das extremidades seccionada. Em “B”, do lado direito, o fragmento foi aberto e
podem ser observados diversos vermes se enrolando em seu interior, obstruindo completamente a passagem das fezes.
142
UNIDADE 5
Muitos artigos científicos, livros ou mesmo reportagens citam infecções parasitárias causadas por geo-hel-
mintos. Com base no que discutimos até agora, você consegue entender o que esse termo representa?
Embora a maioria dos parasitos discutidos nesta unidade tenham seu ciclo de vida com estágios bem
distintos e característicos, uma etapa é semelhante: a maturação dos ovos no ambiente. Para estes
parasitos, a etapa em que os ovos são liberados para o ambiente é fundamental, pois, no ambiente,
as diferenças de temperatura e umidade levam ao processo de maturação dos ovos e formação das
larvas infectantes. Como a maioria destes parasitos têm seus ovos liberados para o solo, receberam a
denominação comum de “geo-helmintos” (geo, do grego “ge”, que significa terra).
Outro geo-helminto de grande importância para a saúde pública é o agente causador da Ancilos-
tomíase, conhecida popularmente como “amarelão” ou “mal dos mineiros” (SIQUEIRA-BATISTA et
al., 2020). Neste caso, três espécies são responsáveis pela doença: Ancylostoma duodenale, Necator
americanus e Ancylostoma ceylanicum. Destes, apenas os dois primeiros têm importância signifi-
cativa no Brasil. Estima-se que, na região da América Latina, aproximadamente 50 milhões de pessoas
estão infectadas por um destes agentes etiológicos (NEVES, 2016).
Estes gêneros Ancylostoma e Necator são classificados no Filo Nematoda, Família Ancylostomatidae
(Quadro 1), porém, podem ser diferenciados com base em características morfológicas. Para ambas as espé-
cies, o dimorfismo sexual, em que a fêmea é maior que o macho, é característica. Além do tamanho menor, os
machos também apresentam a bolsa copulatória, caracterizada como uma projeção da cutícula (Imagem 6).
Descrição da Imagem: Na imagem, são observadas duas micrografias. Na micrografia da esquerda, são observados os vermes, macho
(na porção inferior) e fêmea (na porção superior), do gênero Ancylostoma. Na micrografia da direita, é observado um ovo de Ancylostoma,
com a casca transparente e a massa de células no centro.
143
UNICESUMAR
Figura 7 - Capsula bucal de Necator americanus (a) e Ancylostoma duodenale (b). / Fonte: Fiocruz (2021).
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas duas micrografias da extremidade anterior de dois vermes da Família Ancy-
lostomatidae. Na micrografia da esquerd,a pode ser observada a extremidade anterior do Necator americanus, com duas placas cortantes
visíveis. Na micrografia da direita, pode ser observada a extremidade anterior de Ancylostoma duodenale, com quatro dentes visíveis.
144
UNIDADE 5
Larva filarióide
penetra pela pele
Descrição da Imagem: Na imagem pode ser observado o ciclo de vida do Ancylostoma duodenale. O ciclo começa na região superior
da imagem, com a larva penetrando a pele em uma figura de um pé humano. Em seguida, está ilustrado a silhueta do tronco de um
ser humano, em que são observados os órgãos internos: faringe, esôfago, laringe, pulmões, coração, estômago e intestinos. Nessa
silhueta, é demonstrada uma sequência de setas vermelhas, descrevendo o percurso realizado pela larva, sendo esse: saída da circu-
lação sanguínea nos pulmões, migração até a faringe, deglutição pelo esôfago, passagem pelo estômago e chegada até o intestino.
Em seguida, uma seta azul indica a saída dos ovos junto com as fezes, seguida por uma seta indicando que o ovo eclodiu e liberou
uma larva rabditóide. Em seguida, uma nova seta liga a uma segunda larva, mais comprida e delgada, a larva filarioide, que está ligada
por uma seta à ilustração inicial do pé humano. No lado direito inferior da imagem, estão representadas três bocas de três espécies
do verme, que causam a doença em seres humanos, sendo eles Ancylostoma duodenale, Ancylostoma ceylanicum e Necator americanus.
O ciclo biológico dos ancilostomídeos (Imagem 8) tem início com a liberação dos ovos com as fezes. No
ambiente, os ovos se desenvolvem até o estágio de L3 (larva filarióide), em que ocorre a eclosão do ovo e
liberação da larva no ambiente. A infecção do ser humano ocorre principalmente pela penetração ativa da
larva L3, livre no ambiente, pela pele do hospedeiro (embora menos comum, as larvas podem ser ingeridas e
gerar a doença). Após penetrarem no hospedeiro, as larvas migram pelo sistema circulatório (sanguíneo ou
linfático) até os pulmões, atravessam para os alvéolos, sobem pelos brônquios, traqueia e laringe, atingindo a
faringe, onde podem ser expectoradas ou deglutidas. Caso sejam deglutidas, as larvas chegam até o intestino
delgado, onde se estabelecem se alimentando do sangue liberado das lesões causadas pelo próprio parasito
na parede intestinal. Após um período médio de 40 dias, os vermes adultos estão aptos a se reproduzirem,
ocorrendo a reprodução sexuada e liberação dos ovos pelas fêmeas na luz intestinal. Ovos são então libe-
rados com as fezes, recomeçando o ciclo (REY, 2008; NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
145
UNICESUMAR
A
a B
b
c
d
i
e
h
g
C
Figura 9 - Desenho esquemático do Enterobius vermicularis macho e fêmea, na esquerda. Na direita é observado uma micro-
grafia do E. vermicularis fêmea. / Fonte: Rey (2008, p. 277).
Descrição da Imagem: Na imagem, é observado, no lado esquerdo, o desenho esquemático da porção interna dos vermes macho e
fêmea do E. vermicularis, além da forma como o ovo desse verme é gerado. No lado direito, é apresentada uma micrografia do verme
fêmea do E. vermicularis.
146
UNIDADE 5
O E. vermicularis é um verme que tem como característica um corpo filiforme, de cor natural branca,
apresentando “asas cefálicas” (expansões da cutícula na porção lateral da boca) (NEVES, 2016). Como já
dissemos, os nematódeos parasitos apresentam um dimorfismo sexual característico, com a fêmea maior
que o macho, e essa característica é bastante evidenciada no E. vermicularis. As fêmeas apresentam com-
primento médio de 1 centímetro e 0,4 milímetros de diâmetro, com a extremidade posterior bem afilada;
possuem uma vagina no terço médio do corpo, se comunicando com dois ovários. Os machos, por sua vez,
apresentam um comprimento médio de 0,4 centímetros e diâmetro de 0,3 mm, com a região posterior
contendo um espículo (órgão acessório da cópula) e fortemente curvada na região ventral; possui um
único testículo que se abre na cloaca (NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Uma característica importante das fêmeas é que a oviposição não é um fator relevante para libe-
ração dos ovos. Nas fêmeas, quando grávidas, os ovos continuam a crescer em seu interior e ocupam
quase todo o espaço interno do corpo do verme, podendo conter até 16.000 ovos. No entanto, quando
o corpo se rompe, ou por atingir um limite, ou por ação mecânica externa, como o ato de coçar do
hospedeiro, são liberados ovos no formato de um “D” (Imagem 10), com um comprimento médio de 55
micrômetros de comprimento por 20 micrômetros de espessura, com dupla camada de revestimento
e já contendo uma larva formada em seu interior (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Descrição da Imagem: A imagem apresenta uma micrografia de vários ovos do verme Enterobius vermicularis, com dupla camada e
formato na forma da letra “D”.
147
UNICESUMAR
O ciclo tem início com a contaminação, principalmente pela ingestão dos ovos contendo as larvas.
Os ovos, após passarem pelo estômago, eclodem no duodeno, passam por todo intestino delgado, se
fixando no ceco já como verme adulto. No ceco ocorre a cópula, sendo que os machos são eliminados
com as fezes depois dessa etapa e morrem. As fêmeas grávidas, permanecem no ceco se alimentando
no material fecal enquanto os ovos crescem. Em determinado momento, por motivos ainda não total-
mente entendidos, as fêmeas se soltam e são arrastadas com as fezes até o ânus ou são liberadas com
as fezes para o ambiente. Do ânus, os vermes podem ou não migrar para região perianal. Neste ponto
pode ocorrer a postura dos ovos, ou as larvas se romperem por pressão interna dos ovos ou por ação
mecânica externa (ato de coçar). Os ovos liberados, tanto no ânus e na região perianal, quanto os que
foram liberados para o ambiente, podem seguir vários caminhos para causar a infecção.
Figura 11 - Ciclo de vida do Enterobios vermicularis. / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 385).
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o ciclo de vida do E. vermicularis. No centro da imagem, encontra-se a silhueta
de um ser humano com os órgãos internos representados, em especial o sistema digestório. O ciclo começa com uma seta demonstran-
do a ingestão dos ovos embrionados. Do lado direito da silhueta do ser humano, estão representadas, na parte superior, as larvas do
verme, notando que eclodem no intestino delgado após a ingestão dos ovos; na parte inferior, estão representados os vermes macho
e fêmea adultos, notando que a fêmea migra para a região perianal à noite para postura dos ovos. Na porção inferior, há uma seta
mostrando que os ovos na região perianal possuem larvas dentro. Esses ovos são ligados por uma seta com os ovos que iniciaram o ciclo.
148
UNIDADE 5
A transmissão dos ovos para um novo hospedeiro, ou para o mesmo hospedeiro (reinfecção), pode
ocorrer, segundo Neves (2016, p.328), de acordo com os seguintes mecanismos:
149
UNICESUMAR
O diagnóstico da enterobiose ocorre pela somatória dos sintomas clínicos e análise laboratorial. Os
sintomas clínicos característicos, coceira anal, insônia e irritabilidade (devido ao prurido noturno),
somam-se a observação de ovos e indivíduos adultos. O exame coproparasitológico (parasitológico
de fezes) pode ser utilizado, mas quando negativo, não pode ser usado para descartar a doença, uma
vez que os parasitos não ovipõem na luz intestinal, limitando o número de ovos nas fezes. Por essa
razão, a técnicas escolhida deve ser o “método da fita adesiva de Graham” (Imagem 13), onde um tubo
de ensaio ou o próprio dedo do profissional da saúde, contendo uma fita adesiva enrolada, com a face
com cola voltada para fora, é pressionada sobre a região perianal várias vezes. Em seguida, a fita deve
ser colada sobre uma lâmina de vidro e observa-se no microscópio na objetiva de 40 vezes.
Imagem 13 - Método da fita adesiva de Graham (A- forma como deve ser montada a fita adesiva transparente (a) e as tiras de
papel (b); B- forma como deve ser feita a coleta na região perianal; C- Fita adesiva colada sobre a lâmina para leitura).
Fonte: Rey (2008, p. 278).
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observados três desenhos esquemáticos, representados por A, B e C. No “A”, está
representada uma lâmina de vidro no centro, contendo em seu entorno uma fita adesiva transparente, com o lado com cola voltado
para fora, e com as pontas coladas em duas tiras de papel. No “B”, está representado um paciente criança, em decúbito ventral, com
a mão de um profissional de saúde realizando a coleta com a lâmina e fita na região perianal do paciente. No “C”, está representada a
fita adesiva, após a coleta, fixada na lâmina de vidro, para observação no microscópio.
150
UNIDADE 5
a) b)
Descrição da Imagem: Na imagem, são observadas duas micrografias do verme Trichuris trichiura. A micrografia marcada com a letra
“a”, do lado esquerdo, representa o verme adulto macho, onde pode ser observada a porção anterior fina e muito maior que a posterior,
sendo que a extremidade da porção posterior é curvada ventralmente. A micrografia marcada com a letra “b”, do lado direito, apresenta
um ovo do T. trichiura, onde pode ser observado o formato elíptico e os poros salientes.
Os ovos deste parasito (Imagem 14b) possuem características fáceis de diferenciar e constituem a prin-
cipal característica de diagnóstico. Eles possuem entre 50 e 54 micrômetros de comprimento e entre
22 e 23 micrômetros de largura, com poros característicos, salientes e transparentes. A casca desse ovo
é formada por três camadas, conferindo-lhe maior resistência aos fatores ambientais (NEVES, 2016).
O T. trichiura apresenta como habitat principal o intestino grosso do hospedeiro, em especial o ceco
e o cólon ascendente, porém, pode ser encontrado também no cólon distal e reto. Uma característica
importante deste parasito está relacionada a forma como ele se fixa no intestino. Toda região esofageana
do parasito (2/3 anteriores do corpo) penetra no epitélio intestinal, se alimentando de enterócitos e
muco, ficando apenas a região posterior livre na luz intestinal para realização da reprodução.
151
UNICESUMAR
O ciclo de vida do T. trichiura (Imagem 15) tem início com a ingestão dos ovos contendo uma
larva. A larva é liberada do ovo, através de um dos poros, no duodeno, migrando até o ceco onde
penetra no epitélio intestinal dessa região, e passa a viver entre as células, formando túneis. Com
seu crescimento e desenvolvimento até o estágio adulto, a porção posterior do verme sai para luz
intestinal onde pode se reproduzir. Após a reprodução sexuada, as fêmeas podem eliminar até
5.000 ovos por dia na luz intestinal. Esses ovos são liberados para o ambiente junto com as fezes
do hospedeiro, ondese desenvolvem até o estágio de larva L1, infectante.
= Estágio de diagnóstico
Larvas eclodem no
intestino delgado
Estágio de
2 células
Adultos no ceco
Imagem 15 - Ciclo de vida do Trichuris trichiura./ Fonte: Pearson (2020)
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o ciclo de vida do T. trichiura. O ciclo começa com uma seta, indicando a ingestão
dos embrionados por um ser humano, representado por uma silhueta, com os órgãos do sistema digestório aparentes. Do lado direito do ser
humano, estão representadas as larvas na porção superior, indicando que são liberadas no intestino delgado, e, na porção inferior, os vermes
adultos, indicando que seu habitat é o ceco do intestino grosso. O ciclo continua com uma seta indicando que os ovos são liberados para o
ambiente com a fezes. No ambiente, há uma sequência de setas, no lado esquerdo da imagem, onde os ovos passam pelos estágios sequen-
ciais de: ovos não embrionados, ovos no estágio de duas células, ovos em clivagem avançada e ovos embrionados voltando ao início do ciclo.
152
UNIDADE 5
A maioria dos casos de tricuríase é assintomática. No entanto, existem infecções onde complica-
ções podem ocorrer, principalmente relacionadas a carga parasitária e a distribuição do parasito
no intestino do hospedeiro. A OMS recomenda que as infecções por T. trichiura sejam classifi-
cadas de acordo com a quantidade de ovos no exame coproparasitológico em: leve, menos que
1000 ovos por grama de fezes; moderadas, entre 1.000 e 9.999 ovos por grama de fezes; grave,
maior que 10.000 ovos por grama de fezes (ZEIBIG, 2014; NEVES, 2016).
Assim, pacientes com infecção leve, , são assintomáticos. Pacientes com infecção moderada,
podem apresentar dor epigástrica, dor no baixo abdômen, diarreia, vômitos e náuseas que po-
dem comprometer o estado nutricional. Pacientes com infecções graves, podem desencadear a
síndrome disentérica crônica, “sendo que nestes casos se pode observar uma diarreia intermi-
tente com presença abundante de muco e, algumas vezes, sangue, dor abdominal com tenesmo,
anemia, desnutrição grave caracterizada por perda de peso e, algumas vezes, prolapso retal”
(NEVES, 2016, p. 338) (Imagem 16).
Imagem 16- a) Prolapso retal em um paciente com tricurose; b) prolapso retal aproximado, observando a porção posterior T.
trichiura fixado no epitélio do reto. / Fonte: UFRGS (s. d.).
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas duas fotografias de um prolapso retal. Na foto marcada com a letra “a”, do
lado esquerdo, pode ser observado um prolapso retal em um paciente criança com tricuríase, em que a porção terminal do reto sai para
fora do corpo. Na foto marcada com a letra “b”, do lado direito, pode ser observado um prolapso retal em um paciente com tricuríase,
em uma imagem ampliada, em que pode ser observada a presença de dezenas de parasitos.
Para diagnosticar a infecção pelo Trichuris trichiura, o método de escolha é a observação dos
ovos nas fezes. Como a gravidade da doença é determinada pela carga parasitária, o método
quantitativo de Kato-Katz é muito utilizado. O tratamento para esta parasitose é realizado por
fármacos anti-helmínticos, sendo os principais: albendazol, mebendazol, levamisol e pamoato
de pirantel (NEVES, 2016).
O último nematódeo que vamos estudar nesta unidade é o causador da Filariose Linfática, o verme
Wuchereria bancrofti. Diferente dos demais nematódeos discutidos nesta unidade, o W. bancrofti é
transmitido a partir de um vetor, a fêmea do mosquito Culex quinquefasciatus (Imagem 17).
153
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma foto de um mosquito do Gênero Culex, de cor amarelada e patas pretas, fazendo
o repasto sanguíneo pousado sobre a pele de um ser humano.
A Filariose Linfática humana é encontrada em mais de 70 países da Ásia, África e Américas, sendo, portanto,
endêmica das regiões tropical e subtropical. Estima-se que mais de 120 milhões de pessoas sejam portadoras
do parasito (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
O W. bancrofti é classificado no Filo Nematoda, Classe Cromadorea, Ordem Rhabditida e Família On-
chocercidae. Esses vermes são extremamente finos e delicados, além de muito pequenos, o que permite
sua circulação por vasos linfáticos e sanguíneos. Uma característica importante, muito utilizada para o
diagnóstico, é a produção de microfilárias em vez de ovos (como o parasito não é liberado no ambiente,
não há a necessidade da formação de ovos.
Assim, esse nematódeo apresenta quatro tipos de morfologias: adulto fêmea, adulto macho, micro-
filária e as larvas. Os vermes adultos têm o corpo muito fino e de cor branco-leitoso. Os machos medem
entre 3,5 a 4 centímetros de comprimento e 0,1 mm de largura, enquanto as fêmeas medem de 8 a 10
centímetros de comprimento e 0,3 mm de largura. Os machos apresentam sua região posterior enrolada
ventralmente (REY, 2009; NEVES, 2016).
As microfilárias (também chamadas de embriões) são liberadas das fêmeas com tamanho entre 250
a 300 micrometros. Estas formas apresentam, além da cutícula, uma bainha externa, que é a distensão da
casca do ovo. Além disso, quando fixadas e coradas, as microfilárias apresentam núcleos celulares bem
definidos, o que ajuda na distinção entre diferentes espécies de filárias (REY, 2009).
As larvas correspondem à morfologia desenvolvida no interior do inseto vetor, medindo aproxima-
damente, 300 micrômetros de comprimento. Elas são originadas a partir da maturação das microfilárias
ingeridas no repasto sanguíneo.
154
UNIDADE 5
O W. bancrofti apresenta um ciclo biológico de heteroxênico (Imagem 18), com o hospedeiro interme-
diário sendo representado por invertebrado, o mosquito Culex quinquefasciatus. O habitat deste parasito
corresponde aos gânglios e vasos linfáticos.
O ciclo tem início com o repasto sanguíneo do inseto vetor que ingere sangue contaminado com mi-
crofilárias. As microfilárias se desenvolvem em larvas infectantes no interior do inseto, rompendo tecidos e
migrando para os lábios do vetor, próximo ao aparelho picador/sugador. Quando o inseto realiza um novo
repasto sanguíneos, as larvas abandonam o inseto rompendo o lábio, e chegam à superfície externa da pele
(a larva não é inoculada pelo inseto). A entrada na pele ocorre, provavelmente, pela abertura deixada pela
picada do inseto. Após atingir as camadas internas da pele, a larva penetra nos vasos linfáticos e migra até
seu local de permanência final, onde se tornará um adulto em aproximadamente um ano (REY, 2009). No
interior dos vasos linfáticos ocorre a reprodução sexuada dos vermes adultos e liberação das microfilárias
pelas fêmeas. As microfilárias migram para a circulação sanguínea e circulam nos vasos periféricos para
serem absorvidas no repasto sanguíneo do inseto vetor.
Imagem 18 - Ciclo de vida da Wuchereria bancrofti. / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 441).
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o ciclo de vida da W. bancrofti. O ciclo tem início na porção central inferior, quando
o inseto vetor realiza o repasto sanguíneo em um ser humano representado por uma silhueta, em que são visíveis os órgãos internos. No
repasto, o mosquito ingere as microfilárias. A partir daí, no lado esquerdo da imagem, há uma sequência de setas que ocorrem no interior do
inseto, representando a microfilária, passando paras as larvas L1, L3, migrando, em seguida, para a probóscide do mosquito. Na sequência,
é representado o mosquito fazendo um novo repasto sanguíneo e a larva L3 penetrando na pele do indivíduo. A partir daí, no lado direito da
imagem, ocorrem as fases no interior do ser humano, representadas, na parte superior, pelos vermes adultos no interior dos vasos linfáticos,
seguido da microfilária, migrando para a circulação sanguínea, em que é ingerida pelo inseto que fez o repasto inicial.
155
UNICESUMAR
156
UNIDADE 5
157
Caro(a) aluno(a), com base nos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, estou certo de
que é capaz de preencher o mapa mental a seguir.
Metazoários
HELMINTOS
Aconthocephala
Ascaridíase
Enterobius
vermicularis
Infecção oral
por ovos
158
1. Leia o texto a seguir:
Com base nas características dos helmintos, cite, por meio de um texto dissertativo de 5 a 10
linhas, as características que definem um nematódeo.
Com base na patologia da ascaridíase, cite explique, por meio de um texto dissertativo de 5 a
10 linhas, um caso grave ou complicação dessa parasitose.
Fonte: NEVES, D. P. Parasitologia humana. 13.ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016, p. 326.
Com base no ciclo de vida do Enterobius vermiculares, explique, por meio de um texto disser-
tativo de 3 a 5 linhas, o que é e como ocorre a “autoinfecção interna”.
159
160
6
Helmintos:
Platelmintos Parasitos
Dr. Vinícius Pires Rincão
162
UNIDADE 6
Agora que introduzimos a importância da forma infectante para os parasitos, entre eles os platel-
mintos, gostaríamos de propor uma atividade para você: pesquise em sites de vigilância epidemioló-
gica se a sua região é uma área de risco para a esquistossomose mansônica. Identifique os fatores que
determinam esse risco e escreva uma lista deles.
A esquistossomose mansônica é uma doença causada pelo Schistosoma mansoni, sendo que a
principal forma de liberação dos ovos deste parasito ocorre pelas fezes. O ciclo de vida S. mansoni é
complexo e adaptado para garantir a sobrevivência da espécie, representando uma influência direta
sobre quais áreas se tornam endêmicas. As características do ciclo, relacionadas a este fato, vão desde
número de hospedeiros intermediários, seu habitat e biologia, até a forma como ocorre a infecção. Isso
nos leva a refletir: O S. mansoni possui hospedeiros intermediários? Qual seu habitat? Qual relação
deste fato com a incidência da doença e formação de áreas endêmicas? Como ocorre a contaminação
do hospedeiro humano? A forma de infecção tem relação com a caracterização de áreas endêmicas?
Anote suas descobertas no seu Diário de Bordo.
163
UNICESUMAR
164
UNIDADE 6
Ventosa
Segmento
Escólex
Cabeça
Pescoço
Descrição da Imagem: Na imagem pode ser observado o desenho esquemático da Taenia solium, a tênia que tem como hospedeiros
intermediários os suínos. No desenho, do lado direito superior, pode ser identificada a extremidade anterior do verme, formada pelo
escólex ou cabeça, onde se observa as ventosas e uma coroa de ganchos. Em seguida, continuando o corpo, observa-se o pescoço,
seguido pela segmentação do corpo, onde, no desenho, é representado por uma fita formando ondulações, em que cada segmento
recebe o nome de proglote.
165
UNICESUMAR
O escólex é caracterizado como uma pequena dilatação, sendo que na T. solium (Imagem 3) ele
mede entre 0,6 e 1 mm, enquanto na T. saginata ele mede entre 1 e 2 mm. Encontra-se na extre-
midade anterior do verme e tem como função fixar o parasito na parede do intestino. Para ambas
as espécies, o escólex apresenta quatro ventosas de tecido muscular, arredondadas e proeminentes.
A T. solium apresenta na porção central e anterior do escólex, um rostelo ou rostro, “entre as
ventosas, armado com dupla fileira de acúleos ou ganchos, 25 a 50, em formato de foice” (NEVES,
2016, p. 262). A T. saginata, não apresenta rostelo.
a) b)
Imagem 3 – Escólex de: a) Taenia solium e de b) Taenia saginata. / Fonte: b) Wikipedia (2022a)
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas duas micrografias. Na micrografia da esquerda, marcada com a letra a),
encontra-se o escólex da T. solium, o qual contém quatro ventosas e um rostelo com gancho na parte superior. Na micrografia do lado
direito, pode ser observado um escólex da T. saginata, onde pode ser observado quatro ventosas e sem rostelo.
166
UNIDADE 6
Descrição da Ima-
gem: Na imagem
pode ser observado
uma fotografia de
um verme adulto, do
gênero Taenia, dobra-
do em zig-zag, com a
extremidade anterior
voltada para o lado
direito. Observa-se
que, à medida que se
distanciam da extre-
midade anterior, as
proglotes aumentam
de tamanho.
No momento em que as proglotes maduras passam a conter ovos fertilizados, são denominadas de
grávidas. Outra forma de diferenciação entre T. solium e T. saginata, muito utilizado para identifica-
ção da espécie, é a estrutura da proglote (Imagem 5). Enquanto em T. solium as ramificações uterinas
(onde se encontram os ovos) são irregulares e pouco numerosas variando de 7 a 16, em T. saginata,
elas são do tipo dicotômicas e em quantidade maior, variando de 15 a 30 (REY, 2008).
Imagem 5 – Proglotes grávidas de a) T. saginata e b) T. solium. / Fonte: adaptado de Rey (2008, p. 517 - 519).
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observados desenhos esquemáticos e micrografias de proglotes de tênias. Na porção
representada pela letra “a”, do lado esquerdo da imagem, observa-se uma proglote de T. saginata em uma micrografia e um desenho
esquemático semelhante, de formato retangular, contendo em seu interior um ovário representado por uma linha central vertical,
que se ramifica para os lados em grande quantidade, de forma dicotômica. Na porção representada pela letra “b”, do lado direito da
imagem, observa-se uma proglote de T. solium em uma micrografia e um desenho esquemático semelhante, de formato retangular,
contendo em seu interior um ovário representado por uma linha central vertical, que se ramifica para os lados, apresentando menor
quantidade de ramificações que os vistos em “a”.
167
UNICESUMAR
Os ovos da Taenia são esféricos ou levemente ovalados, com uma casca externa, e o embrió-
foro, uma estrutura formada por quitina, que forma uma camada espessa ao redor do ovo
(Imagem 6), com aproximadamente 30 micrômetros de diâmetros, e contendo o embrião
hexacanto em seu interior.
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observados cinco ovos de Taenia, com formato levemente oval, com uma camada lateral
espessa, o embrióforo, e contendo o embrião hexacanto em seu interior.
O embrião hexacanto (do grego hex, seis, e akantha, espinho), também denominado de
oncosfera (do grego onkos, gancho), consiste na forma larval do parasito que eclode do ovo
quando este chega ao intestino do hospedeiro intermediário, ou, no caso da cisticercose (ver a
seguir), no intestino do ser humano. Este embrião consiste em uma pequena esfera, contendo
três pares de ganchos (REY, 2008).
168
UNIDADE 6
Por fim, temos a forma de cisticerco. Esta forma consiste no cisto formado pelo embrião hexacanto
após penetrar na parede intestinal e migrar para os tecidos do corpo do hospedeiro. O cisticerco é
constituído por uma vesícula, contendo um líquido claro, apresentando em seu interior um escólex
invaginado, e pode atingir até 12 mm de comprimento (Imagem 7).
Descrição da Imagem: Na imagem podem ser observados três desenhos esquemáticos de cisticercos de T. solium, marcados pelas
letras A, B e C, além de uma fotografia em D. Na letra “A”, está representada uma vesícula translúcida, de formato oval, possibilitando
a observação do receptáculo, também de formato oval, do escólex interno; na letra “B”, está representado um cisticerco oval, em corte
longitudinal, onde se observa uma estrutura interna alongada contendo pregas, retorcidas na extremidade, contendo ventosas e a coroa
de ganchos, sendo que são nomeadas as estruturas: a) córtex invaginado, b) as vilosidades internas, c) pregas do tegumento do escólex
e pescoço, d) líquido hialino que preenche a vesícula, e) parede do cisticerco. Na letra “C” (com “a” representando o receptáculo onde
estava o escólex, “b” o escólex e “c” o pescoço ou colo), está representado o cisticerco desinvaginado, onde se observa uma estrutura
alongada saindo da vesícula e terminando em uma estrutura arredondada, o escólex; na imagem marcada com a letra “D”, é observado
um coração animal contendo vários cisticercos, identificados como pequenas vesículas translúcidas.
Os parasitos adultos do gênero Taenia tem como habitat o intestino delgado do ser humano,
seu hospedeiro definitivo. O cisticerco, forma larval encistada, de T. solium, pode ser encontrad,
com mais frequência em tecido muscular cardíaco, tecido muscular esquelético, tecido cerebral
e no olho de suínos, e, acidentalmente, nos mesmos tecidos em seres humanos. O cisticerco de T.
saginata é encontrado nos tecidos de bovinos (NEVES, 2016).
O ciclo biológico (Imagem 8) das tênias é heteróxeno e tem início com a liberação das proglotes
grávidas junto com as fezes do hospedeiro definitivo. No ambiente externo, as proglotes se rom-
pem e liberam milhares de ovos no solo, onde podem ficar viáveis por meses. Esses ovos podem
ser ingeridos pelo hospedeiro intermediário (suínos para T. solium e bovinos para T. saginata)
junto com alimentos ou água contaminada.
169
UNICESUMAR
Cisticercose
Oncosfera se desenvolve
para cisticercose
Escólex
Estágio infeccioso
Adultos no intestino delgado
Estágio de diagnóstico
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o ciclo de vida da Taenia solium e sua derivação para a cisticercose. Cada fase
é numerada: 1) no lado esquerdo embaixo, com as figuras de um ovo de tênia e de uma proglote, tem-se a legenda: “Ovos ou proglotes
grávidos são liberados no meio ambiente pelas fezes”; 2) acima, ligada por uma seta, apresenta-se a imagem de suíno com a legenda:
“Ovos fertilizados ou proglotes são ingeridos pelo hospedeiro intermediário (porco)”; 3) continuando em forma de um círculo, ligado
por uma seta, está a imagem de uma estrutura circular com seis ganchos superiores, a oncosfera, com a legenda: “Oncosferas eclo-
dem, penetram na parede intestinal e migram para a musculatura”; 4) ligada por uma seta, está a imagem de uma estrutura circular
contendo um escólex invaginado no centro, o cisticerco, no meio de fibras musculares, com a legenda: “Oncosferas se desenvolvem
em cisticercos”; 5) ligado por uma seta, está a imagem de um ser humano com os órgãos do trato gastrointestinal representados, com
a legenda: “Humanos são infectados pela ingestão de cisticercos presentes na carne suína mal cozida”; 6) ligado por uma seta, está a
imagem uma tênia ao intestino delgado de um ser humano, com a legenda: “Adultos no intestino delgado”; 7) ligado ao número 1 por
seta, está a imagem de uma silhueta de um ser humano com órgão do sistema nervoso, respiratório e digestório, com a legenda: “Ovos
fecundados ingeridos pelo hospedeiro humano”; as fases 8 e 9 estão dentro de um quadro na parte superior com o título “cisticercose”
com figuras de cisticerco entre fibras musculares, com as legendas: “Oncosferas eclodem, penetram na parede intestinal e migram
para a musculatura” e “Cisticercos pode se desenvolver em qualquer órgão, principalmente tecidos subcutâneos, cérebro e olhos”.
170
UNIDADE 6
No estômago do hospedeiro intermediário a casca do ovo sofre ação das enzimas gástricas e, ao
chegar no intestino, se rompe liberando a oncosfera. O embrião liberado, utilizando os seis ganchos,
rompe a parede do intestino, penetra nos tecidos e atinge o sistema circulatório, sendo levado a
todos os tecidos do corpo. A oncosfera pode realizar a implantação em qualquer tecido mole do
corpo, mas tem maior preferência pelos tecidos com maior oxigenação, como músculos, cérebro
e olhos. Após implantado no tecido, a oncosfera se diferencia formando um cisticerco, que irá
crescer, podendo alcançar o diâmetro de 12 milímetros de comprimento, e permanece viável de
meses a anos (REY, 2008; NEVES, 2016).
A infecção do ser humano (o hospedeiro definitivo) ocorre quando há a ingestão de carne crua
ou malcozida que contenha cisticercos. Após a ingestão, a passagem pelo estômago ativa o cisti-
cerco que evagina o colo e o escólex, fixando-se por meio deste no intestino delgado. Em alguns
meses o verme já é adulto, podendo alcançar vários metros de comprimento. A partir do terceiro
mês, após a ingestão dos ovos, inicia-se a liberação das proglotes com as fezes ou ativamente, pois
estas apresentam contração muscular e conseguem se locomover (Veja o eu indico a seguir). As
tênias têm uma longevidade grande no hospedeiro humano, sendo que T. solium pode viver por
até três anos, enquanto T. saginata pode chegar permanecer por dez anos no intestino (REY, 2008;
NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A maioria dos indivíduos parasitados por tênias são assintomáticos, mas a patologia associada à
teníase está relacionada à quantidade de parasitos e ao seu tamanho no interior do intestino. Em-
bora a denominação popular desse parasito como solitária passe a ideia de que o verme sempre
esteja sozinho no interior do intestino, é comum que haja mais de uma tênia infectando o paciente.
Esse aspecto, somando-se ao fato que esses vermes podem apresentar grande tamanho corporal e
viver por muitos anos, possibilita a ocorrência lesões na mucosa intestinal pela fixação, alergias em
decorrência de substâncias secretadas e excretadas, além da competição direta pelos nutrientes que
o indivíduo consome. Assim, a infecção por tênia pode resultar em consequências adversas para
o hospedeiro, que se manifestam com sintomas como astenia, tontura, apetite excessivo, náuseas,
vômitos, dores abdominais de intensidade variada e perda de peso (NEVES, 2016).
171
UNICESUMAR
Caro(a) aluno, como você pode notar, na infecção causada pelos parasitos do gênero Taenia, o
ser humano não tem contato direto com os ovos infectantes, contendo a oncosfera. Então, o que
aconteceria caso o ser humano ingerisse esses ovos?
Agora que você já conhece as características gerais das tênias e como elas causam infecção, podemos
estudar a cisticercose. Como apresentado anteriormente, o ser humano constitui o hospedeiro definitivo
no ciclo de vida da Taenia sp., participando do ciclo ao ingerir os cisticercos. No entanto, em um ambiente
onde há pessoas infectadas, geralmente com uma situação sanitária precária, o contato com os ovos do
parasito pode ocorrer, possibilitando sua ingestão, e ocasionando a fase acidental de hospedeiro inter-
mediário no ser humano (Imagem 8). Ou seja, as mesmas etapas do ciclo de vida da tênia que ocorrem
nos suínos serão desencadeadas no organismo humano (FERREIRA, 2021). Assim, a cisticercose consiste
na ingestão dos ovos da Taenia solium, resultando na liberação da oncosfera no intestino, penetração
da parede intestinal por esta, migração para os tecidos por meio do sistema circulatório e formação de
cisticercos. Perceba que a cisticercose é atribuída a ingestão de ovos viáveis apenas de T. solium, pois, até
o presente momento, não há evidências de que a T. saginata possa causar a doença.
A transmissão dos ovos de Taenia solium para o ser humano, ocasionado cisticercose, pode ocorrer
de três formas distintas (NEVES, 2016, p. 265):
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UNIDADE 6
Assim como nos suínos, a oncosfera pode se implantar em qualquer tecido mole dos seres humanos.
Há, entretanto, um tropismo pelo sistema nervoso central, seguido por músculos e os olhos. Esse tro-
pismo, bem como a quantidade de cisticercos formados e a resposta imune do hospedeiro, determinam
o grau da doença e suas complicações.
Uma característica importante dos cisticercos, e que pode ser dividida em estágios, é a tendência
de calcificação da estrutura após a morte da larva do parasito. Segundo Neves (2016, p. 264), todo o
tempo de vida do cisticerco pode ser dividido em quatro estágios:
Na cultura popular, o cisticerco é bem conhecido, porém, com outros nomes: “canjiquinha”, “pipoqui-
nha”, “ladraria”, “sapinho” ou “bolha”. Devido ao aspecto que toma quando em sua forma calcificada,
pequeno e esbranquiçado, um pouco amarelado, o cisticerco (quando observado em carnes para o
consumo) foi popularmente comparado aos grãos de milho utilizados para o preparo da canjica. O
termo “bolha” está, provavelmente, associado ao cisticerco ainda viável, quando a membrana vesi-
cular ainda se encontra translúcida. Pela aparência que gera no alimento, é comumente associado
a carne imprópria para o consumo. Entretanto, quando em pouca quantidade não são fáceis de
localizar no meio do tecido muscular (FERREIRA, 2021).
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UNIDADE 6
Imagem 10 – Cérebro humano seccionado contendo dezenas de cisticercos (setas). / Fonte: ANATPAT (2022)
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o corte longitudinal de um cérebro humano, expondo sua região interna e
central, em que estão dezenas de cisticercos, caracterizado por vesículas de forma arredondada, algumas translúcidas e outras opacas,
inseridos no tecido neural.
Diferente da teníase, onde o exame laboratorial é a base do diagnóstico, para a cisticercose há uma junção
de fatores clínicos, laboratoriais e epidemiológicos. Uma vez que a doença ocorre com maior frequência
em locais com saneamento básico precário, e a presença de suínos pode influenciar diretamente a presença
do parasito, as informações epidemiológicas são importantes para a conclusão do diagnóstico.
No que diz respeito ao diagnóstico laboratorial, são realizados exames para identificar patologias
anatômicas e observação do próprio cisticerco por biópsia, necrópsias e cirurgias (NEVES,2016).
Para a oftalmocisticercose, pode ser realizado o diagnóstico com o exame de fundo de olho, ob-
servando diretamente o parasito (Imagem 11). Para a neurocisticercose, o diagnóstico laboratorial
é baseado no exame do líquido cefalorraquidiano (líquor), em neuroimagens e na detecção de
anticorpos. O processo degenerativo do cisticerco apresenta como consequência a ativação de uma
resposta inflamatória, desencadeando um aumento do número de leucócitos no líquor (pleocitose),
com muitos eosinófilos (eosinofilorraquia). No exame do líquor, a reação positiva para a fixação do
complemento também é utilizada para o diagnóstico. No exame de neuroimagem, são utilizadas a
tomografia computadorizada e a ressonância magnética. Para a detecção dos anticorpos são reali-
zados testes de ensaio imunoenzimático (ELISA).
O tratamento da cisticercose consiste no combate às larvas encistadas com fármacos, sendo o pra-
ziquantel e albendazol os de escolha, que causam a morte do parasito. Além disso, é feito um controle
da inflamação por meio de corticóides. Pode ser realizado ainda, o controle de sintomas como por
exemplo, da epilepsia, por meio de fármacos.
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UNIDADE 6
Outra característica em que o S. mansoni é uma exceção dentro dos trematódeos é a morfologia
corporal dos vermes adultos. Enquanto a maioria das espécies dessa classe apresenta o corpo fortemente
achatado dorsoventralmente, com aspecto de uma folha, como a Fasciola hepatica (veja a Imagem 01
desta unidade), o esquistossomo apresenta o corpo mais volumoso e dimorfismo sexual (Imagem
13), com diferenças acentuadas entre macho e fêmea.
O corpo do macho, medindo aproximadamente 1,0 centímetro de comprimento, é longo, volumoso,
dobrado ventralmente com o aspecto de “C”, e dividido em duas partes: a anterior, onde se encontram
as ventosas e tem forma cilíndrica; e a posterior, que se inicia após o acetábulo, é achatada dorsoven-
tralmente, e apresenta em sua porção ventral, um canal destinado a cópula, denominado de canal
ginecóforo, formado pelo dobramento das extremidades laterais. O macho apresenta naturalmente
uma coloração branca (REY, 2009; NEVES, 2016, FERREIRA, 2021).
O corpo da fêmea, diferente do macho, é cilíndrico, mais fino e mais longo. Seu comprimento varia
entre 1,2 e 1,6 centímetros. A fêmea tem como característica se alimentar com hemácias do hospedeiro
e, devido à espessura de seu corpo, permite a visualização dos pigmentos da digestão da hemoglobina,
dando-lhe a coloração acinzentada e escura (REY, 2009).
Imagem 13 – Schistosoma mansoni: a) fêmea, b) macho, c) fêmea no interior do canal ginecóforo do macho, realizando a cópula.
Fonte: adaptado de Ghaffar (2017).
Descrição da Imagem: Na imagem, são observadas três micrografias dos vermes da espécie Schistosoma mansoni. Na micrografia
representada pela letra “a”, pode ser observada a fêmea do parasito, cilíndrica, delgada e mais comprida. Na micrografia repre-
sentada pela letra “b”, pode ser visto o macho do parasito, que dobra ventralmente em forma de “C” e é mais robusto, observando
as duas ventosas na região anterior. Na micrografia representada pela letra “c”, podem ser observados o macho e a fêmea do
parasito, no processo de cópula, com a fêmea no interior do canal ginecóforo.
Três espécies do gênero Schistosoma, são responsáveis por causar doenças em seres humanos. S. mansoni,
S. japonicum e S. hematobium, porém com distribuição e prevalência diferenciada ao redor das áreas
tropicais do mundo. Na América os relatos de esquistossomose estão relacionados diretamente com S.
mansoni. A doença causada pelo S. mansoni é denominada de esquistossomose mansônica, conhecida
popularmente como xistose, barriga d’água ou, ainda, como mal do caramujo. Estima-se que mais de
250 milhões de pessoas no mundo estejam infectadas com parasitos do gênero Schistosoma (GHAFFAR,
2017). Para conhecer mais sobre a epidemiologia do Schistosoma mansoni, veja o Eu Indico a seguir.
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UNICESUMAR
O S. mansoni, no decorrer de todo o seu ciclo biológico, apresenta seis estágios morfológicos distintos:
adulto macho, adulto fêmea, ovo, larva miracídio, larva cercária e esquistossômulo.
Além das características já descritas para os adultos, vale destacar que o macho apresenta 7 a 9 massas
testiculares que se abrem, por meio de canais deferentes, no canal ginecóforo, onde os espermatozóides
serão liberados para fecundar a fêmea. Já a fêmea, apresenta uma vulva que se abre após o acetábulo,
seguida internamente pelo útero e ovário.
O ovo deste parasito (Imagem 14) apresenta características que permitem sua fácil detecção. Apre-
sentam, aproximadamente, 150 micrômetros de comprimento por 60 micrômetros de largura, com
formato oval, e apresentando um espículo lateral voltado para trás (NEVES, 2016).
Imagem 14 – Ovo do Schistosoma mansoni, observando o espículo lateral voltado para trás
Descrição da Imagem: Na imagem pode ser observada uma micrografia do ovo do parasito Schistosoma mansoni, de cor amarelada
e translúcida, de formato oval, disposto na imagem com seu maior diâmetro na horizontal, sendo observado também um espículo,
como um espinho, localizado na região lateral esquerda inferior, a ponta voltada para trás e para baixo.
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UNIDADE 6
O miracídio (Imagem 15) corresponde à larva que eclode do ovo após este ser liberado no ambiente
e atingir um corpo de água. Apresenta uma forma cilíndrica, com as células epidérmicas com cílios,
possibilitando sua movimentação na água. Apresenta o formato semelhante a uma folha e mede, apro-
ximadamente, 180 micrômetros de comprimento por 64 micrômetros de largura. O miracídio tem
como principal objetivo nadar até encontrar o caramujo hospedeiro. Quando atinge este objetivo, ele
deve penetrar no caramujo, se multiplicar e diferenciar em larvas do tipo Cercária. Para que realize a
penetração no caramujo, o Miracídio apresenta em sua extremidade anterior, estruturas especializadas
como terebratorium, glândulas adesivas e glândulas de penetração.
Papila apical
ou terebratório
Glândula de
penetração
Glândulas
adesivas
Células
germinativas
a) b)
Imagem 15 – Schistosoma mansoni: a) desenho esquemático da larva miracídio; b) micrografia da larva miracídio.
Fonte: Ferreira (2021, p. 223); USP (2022a).
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas uma figura ilustrativa de um miracídio, marcada com a letra “a”, e
uma micrografia de um miracídio, marcada com a letra “b”. Apresenta uma estrutura elíptica alongada, com as estruturas internas
representadas, destacando-se na legenda, da região superior para a inferior, “Papila apical ou terebratório”, “Glândula de penetra-
ção”, “Glândulas adesivas” e “Células germinativas”. Pode ser observado, ainda, a lateral recoberta por estruturas finas e curtas,
os cílios. Na micrografia, pode ser observada uma larva miracídio, com formato similar ao da figura, sem distinção das estruturas
internas, mas observando os cílios laterais.
A cercária (Imagem 16) corresponde à larva liberada do caramujo para dentro do corpo d’água. Seu
objetivo é nadar até encontrar o hospedeiro definitivo (o ser humano), se fixar e penetrar ativamente
pela pele. Assim, sua estrutura corporal reflete esse objetivo. O corpo da larva lembra uma flecha, e
está dividido em duas partes: a anterior, chamada de corpo cercariano, tem comprimento de 190
micrômetros por 70 micrômetros de largura, e possui duas ventosas (uma oral e uma ventral), além
de apresentar glândulas de penetração que se abrem na ventosa oral; a parte posterior, constitui uma
cauda com a extremidade bifurcada, com comprimento de 230 micrômetros por 50 micrômetros
de largura. A cauda permite que a cercária nade, enquanto o corpo cercariano tem a função de fixar a
larva no hospedeiro e penetrar a pele.
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UNICESUMAR
Imagem 16 - Schistosoma mansoni: a) desenho esquemático da larva cercária; b) micrografia da larva cercária.
Fonte: adaptado de Rey (2008, p. 442); USP (2022b)
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um desenho esquemático marcado com a letra “a” e uma micrografia
marcada com a letra “b”, ambos pertencentes à larva do tipo cercária do parasito Schistosoma mansoni. Em ambas as imagens,
pode ser observado, do lado esquerdo, uma cauda longa e fina, que termina em um bifurcação, ligada ao corpo cercariano do
lado direito, com forma ovóide, contendo duas ventosas.
Por fim, o último estágio morfológico do S. mansoni é o esquistossômulo. Esta forma corresponde ao
corpo cercariano da cercária, que ao penetrar na pele do hospedeiro, abandona a cauda. O esquistos-
sômulo tem, portanto, as ventosas oral e ventral em um corpo oval alongado.
O ciclo de vida do Schistosoma mansoni (Imagem 17) é heteróxeno, com o hospedeiro intermediário
sendo os caramujos do gênero Biomphalaria (Imagem 18) e o hospedeiro definitivo, o ser humano. O
ciclo tem início com a liberação dos ovos do parasito para o ambiente com as fezes, já com o miracídio
formado em seu interior. No ambiente os ovos podem sobreviver por até cinco dias, em fezes sólidas,
sem encontrar um corpo d’água. Caso consigam atingir a água, os ovos eclodem e liberam o miracídio,
que nadam à procura do hospedeiro intermediário. Os miracídios conseguem perceber a presença do
caramujo por meio do reconhecimento de substâncias liberadas na água (denominadas de miraxone),
sendo guiados até eles, onde penetram em seu tegumento por meio do tenebratorium e da liberação
do conteúdo das glândulas de adesão e de penetração. Durante o processo de penetração, o miracídio
perde a maior parte de suas estruturas internas, restando apenas as paredes cuticulares em uma es-
trutura em forma de saco que abriga as células germinativas (de 50 a 100 células) que darão origem a
milhares de cercárias, e que passa a ser denominada de esporocisto (NEVES, 2016).
180
UNIDADE 6
Adultos
acasalando
Ovos liberados
nos vasos
mesentéricos
Ciclo
pulmonar
Alguns ovos
retornam ao fígado
Penetração
na pele
Caramujo
(Biomphalaria)
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o ciclo de vida do Schistosoma mansoni. A figura está separada em duas
partes interligadas: na superior, com fundo branco, observa-se a figura de um ser humano e do seu lado os órgãos: fígado, estô-
mago e duodeno; na inferior, com fundo azul, representando a água, observa-se a figura de um caramujo com o nome do gênero
Biomphalaria. O ciclo se desenvolve em sequência, com setas ligando cada imagem, começando na metade superior: 1- dois vermes
adultos de S. mansoni acasalando com a legenda “Adultos acasalando”; 2- A imagem do ovo do parasito seguido por duas setas:
na primeira aponta para os órgãos do ser humano, com a legenda “alguns ovos retornam ao fígado”, e a segunda continua o ciclo
para a metade do caramujo com a legenda “ovos liberados nos vasos mesentéricos”; 3- a imagem da larva miracídio na metade
inferior da figura, com a legenda “Miracídios ciliados liberados na água”; 4- imagem de um envoltório com larvas cercárias dentro,
representando o esporocisto no interior do caramujo, com a legenda “Formação de numerosas cercárias por poliembrionia”; 5-
imagem da larva cercária, com a legenda “Cercárias liberadas na água”; 6- cercária em contato com uma superfície que lembra
a pele humana, na linha divisória entre as metades da figura, com a legenda “Penetração na pele”; 7- o desenho dos pulmões,
brônquios e traqueia, com a legenda “Ciclo pulmonar” e termina com uma seta ligando ao número 1.
181
UNICESUMAR
Após a penetração, o esquistossômulo migra pelo tecido subcutâneo até alcançar um vaso san-
guíneo, penetrando-o e sendo levado passivamente até o pulmão, sendo direcionado em seguida
para o sistema porta-hepático no fígado. Decorridos aproximadamente 28 dias, o esquistossômulo
se torna adulto, ocorre a cópula com a fêmea no interior do canal ginecóforo, e ambos os vermes,
juntos, migram contra o fluxo sanguíneo para as veias mesentéricas, com preferência para a veia
mesentérica inferior, na altura do reto. Neste local, as fêmeas põem, aproximadamente, 400 ovos
por dia, na parede das vênulas e capilares que, com a pressão dos ovos, pressão do parasito (pelo
seu tamanho para os vasos do local) e reação inflamatória do hospedeiro, rompem o vaso e são
liberados nas fezes, e, em seguida, o meio externo. Entretanto, apenas cerca de 50% dos ovos postos
chegam à luz intestinal. Do restante, parte morre na parede intestinal e parte é levada pela corrente
sanguínea de volta para o fígado, podendo ainda passar por este e atingir outros órgãos.
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UNIDADE 6
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UNICESUMAR
A patologia da doença é dependente de vários fatores, tanto do hospedeiro quanto do verme, porém
os dois principais são a carga parasitária e a resposta imune do hospedeiro. Além desse ponto, a fase
da doença e a forma do parasita podem resultar em alterações específicas no organismo humano.
Uma manifestação clínica importante, muitas vezes utilizada para um diagnóstico presuntivo,
diz respeito a patologia desencadeada pela penetração da cercária pela pele, sendo denominada de
dermatite cercariana ou dermatite do nadador. É caracterizada pela presença de eritema, edema,
dor e pequenas pápulas, nos locais onde ocorreu a penetração. A movimentação do esquistossômulo
até o pulmão pode gerar manifestações clínicas, como febre, aumento do baço, linfadenia e sintomas
pulmonares (NEVES, 2016). Já os vermes adultos causam pouco prejuízo quando estão vivos, restrin-
gindo a espoliar os nutrientes do sangue e as próprias hemácias (em busca por ferro); porém quando
morrem, podem causar lesão extensa, porém, restrita ao local onde os corpos estão, que geralmente
no fígado, arrastados pela circulação porta-hepática.
Resta ainda caracterizar a patogenia desenvolvida pelos ovos. Esses são, sem comparação, os princi-
pais responsáveis pela patogenia da esquistossomose. O primeiro ponto de lesões ocorre na passagem
dos ovos para o intestino, quando o número de ovos liberados é grande, pode acarretar hemorragias e
ulcerações. Ainda assim, essas lesões são autorreparadas. Porém, a inflamação granulomatosa desen-
volvida ao redor dos ovos, que são transportados pela corrente sanguínea até o fígado e outros órgãos,
é o principal problema desencadeado pela doença. As lesões provocadas pelo granuloma (Imagem 19)
geram diferentes quadros clínicos, dependendo da quantidade, do momento que se instalam e do local.
Assim, a esquistossomose pode ser dividida em aguda e crônica.
Imagem 19 – Granuloma formado pelo ovo de S. mansoni, que se encontra calcificado (pontos pretos do centro da imagem), e
reação inflamatória do hospedeiro.
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma micrografia do tecido hepático de hospedeiro de S. mansoni. São obser-
vadas centenas de hepatócitos, corados em rosa, como as células maiores. No centro da imagem, entre os hepatócitos, podem ser
observados nove orifícios, alguns dos quais contém uma massa escura no formato dos ovos de S. mansoni, sendo envolvidas por células
menores de coloração rosa arroxeada, caracterizadas como macrófagos, formando um granuloma.
184
UNIDADE 6
1. Esquistossomose Aguda
• Fase pré-postural – fase anterior ao início da postura dos ovos, 10 a 35 dias após a
entrada da cercária, a maioria dos pacientes é assintomática. Para alguns, pode ocorrer
mal-estar, febre, tosse, dores musculares, desconforto abdominal e hepatite aguda.
• Fase aguda – aparece por volta de 50 dias e podem durar até 120 dias, caracterizada
pela necrose no intestino e dispersão dos ovos, dando origem aos granulomas, prin-
cipalmente no fígado, resultando em: enterocolite aguda, febre, sudorese, calafrios,
emagrecimento, fenômenos alérgicos, diarreia, disenteria, tenesmo, cólicas, hepatoes-
plenomegalia, linfadenia e leve alteração nas funções hepáticas.
2. Esquistossomose Crônica (as características clínicas são concomitantes e podem
ser isoladas).
• Alterações intestinais – como o parasito pode sobreviver por muitos anos (em média
5, podendo chegar até 30), muitos sintomas podem continuar se manifestando, de
forma intercalada com períodos de ausência, ou mesmo aparecer depois de meses ou
anos. Os mais comuns são diarreia mucossanguinolenta, dor abdominal e tenesmo.
Pode ocorrer fibrose no cólon sigmoide e reto, resultando em constipação.
• Alterações hepáticas – tem início com a formação dos granulomas e progridem
conforme o número de granulomas que se formam (um casal de S. mansoni pode
formar até 200 granulomas por dia). Inicialmente, o fígado aumenta de tamanho e se
torna doloroso ao toque, seguindo para uma diminuição e fibrosamento, formando
inúmeros lobos. Essas alterações ocasionam a obstrução dos vasos intra-hepáticos da
veia porta e formação de trombos, resultando na hipertensão portal (manifestação
típica e mais grave da doença), ocasionando: esplenomegalia, pela obstrução da
veia esplênica no sistema porta; varizes, circulação colateral para tentar compensar
a obstrução da circulação portal, em vários locais, sendo um deles o esôfago (varizes
esofágicas) onde podem se romper e ocasionar hemorragias, muitas vezes fatais; as-
cite (extravasamento de líquido para a cavidade peritoneal – origem do termo Barriga
D’água), em decorrência das alterações hemodinâmicas.
185
UNICESUMAR
Além dos exames diretos de fezes, são utilizados métodos indiretos imunológicos e moleculares
buscando antígenos e DNA do parasito, ou anticorpos do hospedeiro. Os métodos mais utilizados são:
intradermorreação, ensaio de adsorção imunoenzimático (ELISA), fixação do complemento e PCR.
186
Caro(a) aluno(a), com base nos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, estou certo de
que é capaz de preencher o mapa mental a seguir.
Habitat
Segmentado
PLATHELMYNTHES
Hermafroditos
Hospedeiro
Corpo intermediário
Principal representante
Hermafroditos ou dióicos
187
1. Leia o texto a seguir:
Taenia solium e Taenia saginata são parasitos que, na fase adulta, têm o homem por único hos-
pedeiro. Na fase larvária, T. solium parasita obrigatoriamente o porco e T. saginata os bovídeos,
sendo, portanto, parasitos estenoxenos em todas as fases de seu ciclo biológico.
Fonte: REY, L. Parasitologia, 4ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2008, p. 516.
A infecção pelo Schistosoma mansoni tem uma relação direta com corpos de água doce. Com
base neste assunto, explique, por meio de um texto dissertativo de 3 a 5 linhas, qual a relação
entre a infecção pelo S. mansoni e o contato com corpos de água doce.
A infecção pelo Schistosoma mansoni pode acarretar graves problemas de saúde para o ser
humano. Entretanto, a patogenia para essas complicações gira em torno do mesmo fator. Com
base neste assunto, explique, por meio de um texto dissertativo de 3 a 5 linhas, como o S. man-
soni provoca doença que acarreta diversos problemas de saúde associados à esquistossomose.
188
7
Artrópodes e a
sua Relação com a
Parasitologia
Dr. Vinícius Pires Rincão
190
UNIDADE 7
191
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas duas fotografias de insetos. Na imagem da esquerda, marcada com a
letra “a”, temos o pernilongo comum, da espécie Culex quinquefasciatus, em que observamos um inseto de cor amarela, com o corpo
alongado, pernas finas e longas e asas dobradas sobre o abdômen, e a extremidade anterior alongada como uma agulha. Na imagem
da direita, marcada com a letra “b”, temos uma pulga, da Ordem Siphonaptera, em que observamos um inseto, de coloração amarelo
alaranjado, achatado lateralmente, sem asas, com o par de pernas posterior robusto e destinado ao salto.
Embora a maioria dos artrópodes de interesse para a parasitologia pertença à classe Insecta, os carra-
patos e ácaros também têm representantes capazes de iniciar uma parasitose. É necessário conhecer
os representantes deste grupo para entender a extensão de sua importância.
192
UNIDADE 7
Caro(a) aluno(a), com certeza você já ouviu falar dos artrópodes alguma vez na sua vida. Você con-
segue indicar todos os tipos de animais que pertencem a este grupo?
Os artrópodes são classificados no Reino Animal, sendo que o filo Arthropoda possui dois subfilos:
Arachnomorpha e Mandibulata (Imagem 2). No subfilo Arachnomorpha, temos a classe Arachnida
(aranhas, escorpiões e carrapatos) e a classe Xiphosura (caranguejos pata-de-cavalo). No subfilo Madi-
bulata, temos a superclasse Crustacea (camarões, lagostas e caranguejos), a superclasse Panhexapoda
na qual está presente a classe Insecta (moscas, pulgas, besouros etc.), e a superclasse Myriapoda, em
que se encontram as classes Chilopoda (centopeias) e Diplopoda (piolho-de-cobra).
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas quatro fotografias de representantes dos quatro principais tipos de artró-
podes. Na porção superior esquerda, marcado com a letra “a”, pode ser observada uma aranha, representante dos aracnídeos, de cor
marrom, contendo quatro pares de patas evidentes, um cefalotórax e o abdômen proeminente. Na porção superior direita, marcado
com a letra “b”, pode ser observado um caranguejo, representante dos crustáceos, de cor laranja, contendo quatro pares de patas, mais
duas pinças grandes na porção anterior, com o corpo formado por um único segmento. Na porção inferior esquerda, marcado com a
letra “c”, pode ser observada uma mosca, representante dos insetos, de cor verde, com três pares de patas, asas, e olhos bem evidentes,
contendo o corpo dividido em cabeça, tórax e abdômen. Na porção inferior direita, marcado com a letra “d”, pode ser observado um
piolho-de-cobra, representante dos miriápodes, de cor preta, possui o corpo alongado como um cordão, dividido em vários segmentos,
sendo que em cada segmento estão presentes dois pares de patas.
193
UNICESUMAR
Para que você possa entender melhor como os artrópodes interagem com o ser humano, será preciso
conhecer suas características. Estes animais são metazoários, ou seja, são multicelulares, com a neces-
sidade de ingerir seu alimento (heterotróficos) e são móveis; seu corpo apresenta simetria bilateral
e um exoesqueleto (esqueleto na parte externa do corpo) formado por quitina, carbonato de cálcio e
proteínas, dividido em segmentos articulados entre si (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Como regra, o corpo de um artrópode pode ser dividido em cabeça, tórax e abdômen (Imagem
3), porém, para alguns grupos dentro do filo, como a classe Arachnida, cujo os representantes mais
conhecido são as aranhas, a cabeça e o tórax se fundem em uma peça única denominada cefalotórax
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Mandíbulas
Olho composto
Antena Ocelo
Garras
CABEÇA
TÓRAX
Pernas
Gaster
ABDÔMEN Ferrão
Esporão tibial
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um desenho ilustrativo de uma formiga, exemplificando a divisão do corpo de um
artrópode em cabeça, tórax e abdômen. Cada uma das três regiões aparece sobre um retângulo de cores diferentes: a cabeça sobre um
verde claro, marcado com a legenda cabeça, onde são indicados por linhas e legendas, uma antena, uma mandíbula, um olho composto e um
ocelo; o tórax sobre um verde escuro, marcado com a legenda tórax, onde são indicados por linhas e legendas, as patas, um esporão tibial e
as garras; o abdômen sobre um amarelo, marcado com a legenda abdômen, onde são indicados por linhas e legendas, o gáster e o ferrão.
194
UNIDADE 7
A porção interna do corpo dos artrópodes é formada por uma cavidade denominada hemocele.
Nesta cavidade, encontram-se todos os órgãos dos animais e os espaços restantes são preenchidos
por um líquido denominado de hemolinfa (NEVES, 2016).
Dentre os grupos que compõem o filo Arthropoda, os de maior interesse para a parasitologia
são: Classe Insecta e Classe Arachnida. Caro(a) aluno(a), você consegue diferenciar um inseto de
um aracnídeo? Para muitas pessoas, não há diferença, mas eu garanto, e você vai compreender até o
final desta unidade, que as diferenças são muitas e fáceis de entender. Vamos começar com os insetos.
Os insetos podem ser caracterizados como animais que apresentam, além das características já descritas
para os artrópodes, três pares de patas, dois pares de asas, um par de antenas, um par de olhos compostos
(Imagem 4). O aparelho bucal é variado de espécie para espécie, sendo adaptado ao tipo de alimentação.
Imagem 4 - Representação da anatomia externa dos insetos. / Fonte: Ferreira (2021, p. 263).
Descrição da Imagem: Na imagem, são observados três desenhos esquemáticos de um inseto. Na porção superior, marcado com letra “A”, é
observado um desenho esquemático do corpo de um inseto sem os apêndices, mas mostrando seus locais de inserção, destacando o corpo
dividido em cabeça, tórax e abdômen, dois pares de asas, três pares de patas, um par de antenas, olhos e as peças bucais: labro, mandíbula
maxila e lábio. Na porção inferior esquerda, marcado com a letra “B”, é observado o desenho esquemático da cabeça de um inseto observada
de frente, destacando os olhos grande na porção superior e lateral, a sutura ptilineal, a lúnula, um par de antenas, os palpos maxilares, o
lábio e as labelas na porção mais inferior. Na porção inferior direita, marcado com a letra “C”, é observado um desenho esquemático da asa
de um inseto, com a base voltada para a esquerda, a partir da qual se destacam as estruturas: tégula, basicosta, calíptero e álula.
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UNICESUMAR
A Classe Insecta engloba aproximadamente três quartos de todas as espécies já descritas até o presente
momento. Estas espécies são classificadas em 30 ordens, cada uma englobando animais com habitats e
adaptações diversas e fantásticas (FRANSOZO; NEGREIROS-FRANSOZO, 2018). Dentre estas ordens,
aquelas que têm interesse para a parasitologia, segundo Neves (2016), são (Imagem 5):
196
UNIDADE 7
Descrição da Imagem: Na imagem, são observadas quatro fotografias. Na porção superior esquerda, marcado com a letra “a”, é observada
a fotografia de uma mosca. Na porção superior direita, marcado com a letra “b”, é observada a fotografia de uma pulga. Na porção inferior
esquerda, marcado com a letra “c”, é observada a fotografia de um percevejo verdadeiro. Na porção inferior direita, marcado com a letra
“d”, é observada a fotografia de um piolho.
197
UNICESUMAR
• Ametabolia – tipo de desenvolvimento onde as formas jovens são semelhantes aos adultos,
ou seja, não apresentam modificações desde a saída do ovo. Ex.: Thysanura – traças.
• Parametabolia ou metamorfose gradual – tipo de desenvolvimento onde as formas jovens
são parecidas, mas não iguais aos adultos, passando por um desenvolvimento gradual. Engloba
as fases de ovo, ninfa e adulto. Neste tipo, as ninfas ocupam o mesmo habitat que os adultos.
Ex.: Hemiptera – triatomíneos.
• Hemimetabolia – tipo de desenvolvimento onde as formas jovens são parecidas, mas não
iguais aos adultos, passando por um desenvolvimento gradual. Engloba as fases de ovo, ninfa
e adulto. Neste tipo, as ninfas ocupam um habitat diferente dos adultos. E.: Odonata – libélulas.
• Holometabolia ou metamorfose completa – tipo de desenvolvimento onde as formas jovens
são completamente diferentes dos adultos. Engloba as fases de ovo, larva, pupa e adulto. Ex.:
Diptera – moscas.
Fonte: Neves (2016, p. 379).
198
UNIDADE 7
Descrição da Imagem: Na imagem pode ser observado um desenho esquemático do ciclo de vida de um triatomíneo, representado em
forma de círculo que se desenvolve em sentido horário, com cada fase ligada a outra por meio de uma seta. Na porção superior, é observado
um triatomíneo adulto. Continuando o ciclo, em sentido horário tem-se, em sequência, um ovo, uma ninfa de primeiro estágio, uma ninfa de
segundo estágio, uma ninfa de terceiro estágio, uma ninfa de quarto estágio, uma ninfa de quinto estágio e novamente volta ao triatomíneo
adulto na porção superior.
199
UNICESUMAR
Tanto as ninfas quanto os adultos dos triatomíneos são hematófagos, se alimentando dos mesmos in-
divíduos que os adultos por ocuparem o mesmo habitat. Os triatomíneos são insetos primitivamente
silvestres, mas com alta capacidade de colonizar ambientes artificiais, dependendo da espécie. Existem
aproximadamente 148 espécies de triatomíneos, sendo que sua importância epidemiológica depende
da capacidade de colonizar os domicílios humanos. De todas estas espécies, menos da metade têm essa
capacidade (NEVES, 2016). Uma das espécies mais adaptadas à colonização de ambientes artificiais é
a Triatoma infestans, sendo também uma das mais encontradas nos domicílios brasileiros.
Caro(a) aluno(a), você já deve ter notado que a identificação e controle dos triatomíneos é essencial
para o controle da doença de chagas, uma vez que são hospedeiros intermediários dos parasitos e seus
vetores de transmissão. Mas como isso pode ser feito?
A constatação da presença do inseto nas residências pode ser realizada por meio da busca por
dejetos dos insetos, caracterizados por manchas escorridas nas paredes, geralmente próximas às
camas, ou pela procura direta dos insetos e suas exúvias (exoesqueleto que foi trocado). Esses in-
setos têm como principal esconderijo as frestas nas paredes das residências e, assim, outra forma
de identificação dos insetos é a utilização de agentes desalojantes, como a pirisa, que faz os insetos
saírem das frestas (NEVES, 2016).
O controle desses insetos depende de muitos fatores, sendo o principal a melhoria das
habitações, que geralmente está relacionada a condições sociais mais baixas e da popula-
ção rural, eliminando os locais onde o barbeiro poderia viver, assim como a educação em
saúde da população em risco. A utilização de inseticidas é ainda a opção mais rápida para
o controle intradomiciliar, porém, já há relatos do desenvolvimento de resistência por parte
dos insetos para alguns compostos utilizados.
200
UNIDADE 7
201
UNICESUMAR
O gênero Culex, hospedeiros intermediários do parasito Wuchereria bancrofti e responsável pela trans-
missão da doença (filariose), pertence à família Culicidae, a mesma em que estão inseridos os gêneros
Anopheles e Aedes, também de grande importância para a disseminação de doenças. É a família de maior
interesse médico, pois os principais insetos hematófagos transmissores de doenças são classificados nela.
Os insetos membros do gênero Culex fazem parte da subordem Nematocera, e apresentam carac-
terísticas morfológicas distintas (Imagem 9). Dentre este gênero, uma das espécies mais importantes
é Culex quinquefasciatus, que tem como característica ser pequeno, cor de palha, tendo o dorso do
tórax com escamas amarelas, com coloração pardo escuro, e com duas linhas escuras e longas, marcadas
de formas longitudinal (REY, 2009). Apresenta, ainda, faixas amarelas no abdômen.
A) B)
Imagem 9- a) Culex sp. pousado sobre uma superfície lisa; b) jangadas de ovos de um mosquito do gênero Culex.
Fonte: WIKIMEDIA (2022a, 2022b)
Descrição da Imagem: Na imagem da esquerda, marcada com a letra “a”, pode ser observada uma fotografia ampliada de um mosquito do
gênero Culex, pousado sobre uma superfície lisa. Na imagem da direita, marcada com a letra “b”, podem ser observadas duas jangadas de
ovos sobre a superfície da água, e alguns ovos soltos ao seu redor.
202
UNIDADE 7
A esta altura do nosso estudo em parasitologia, com certeza você já conhece bem a participação
dos artrópodes como hospedeiros intermediários e vetores de parasitoses do ser humano e, provavel-
mente, é onde apresentam maior importância. No entanto, esses animais também desenvolvem um
importante papel como parasitos.
Dentre os diferentes grupos de artrópodes, aqueles com maior importância no estabelecimento de
parasitoses estão presentes nas Ordens Diptera, Anoplura e Siphonaptera da Classe Insecta, e
nas Ordens Trombidiformes, Ioxidida e Sarcoptiformes da Classe Arachnida.
Você começará, agora, o estudo das parasitoses causadas pelos artrópodes pela Ordem Diptera. As
parasitoses causadas pelas moscas estão diretamente ligadas à infecção originada pelas larvas desses
insetos, a qual denominamos miíase. Estas infecções se estabelecem pela necessidade de alimentação
das formas imaturas dos insetos, até que possam formar a pupa para passar ao estágio de adulto. Como
já apresentado nesta unidade, os dípteros possuem um desenvolvimento holometábolo (Imagem 10),
com as formas imaturas sendo constituídas por larvas (totalmente diferentes dos adultos).
Pupa
Ovos
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um desenho esquemático do ciclo de vida de um díptero, representado em forma de
círculo que se desenvolve em sentido horário, com cada fase ligada a outra por meio de uma seta. Na porção superior, é observada uma mosca
doméstica adulta. Continuando o ciclo, em sentido horário tem-se, em sequência, um aglomerado de ovos, uma larva de primeiro estágio, uma
larva de segunda estágio, uma larva de terceiro estágio, uma pupa e novamente volta a mosca adulta na porção superior.
203
UNICESUMAR
No caso das miíases, podemos dividir as parasitoses em dois grupos distintos (NEVES, 2016):
204
UNIDADE 7
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas as fases do ciclo de vida da mosca da espécie Dermatobia hominis, repre-
sentadas em imagens ilustrativas, ligadas umas às outras por meio de setas em um círculo, seguindo o sentido horário. Na porção
superior central pode ser observado o desenho de uma D. hominis com legenda “fêmea adulta”; em seguida, tem-se a imagem da fêmea
fazendo a deposição de ovos no abdome de outra mosca hematófaga com a legenda “Fêmea capturando inseto forético”; em seguida,
o desenho da primeira larva com a legenda “Larva 1”; após, tem-se o desenho da larva de segundo instar com a legenda “Larva 2”; em
seguida, três desenhos em sequência da larva de último instar da pupa e mosca eclodindo, com as legendas “Larva madura”, “Pupa” e
“Mosca emergindo do pupário”, voltando, por fim, à mosca adulta do início.
A larva de D. hominis possui comprimento inicial de 1,5 milímetros e pode chegar a 2,0 centímetros de
comprimento no último instar (nome dado às fases larvais). A larva apresenta o aspecto de uma gota de
água (Imagem 12). Na porção posterior, encontram-se as estruturas respiratórias, os espiráculos, que fi-
cam em contato com o ambiente pela abertura da pele. Na porção anterior se encontram as peças bucais,
responsáveis pela alimentação, voltadas para o interior dos tecidos. Na parte mais espessa, anterior, podem
ser observadas várias fileiras de espinhos, responsáveis pela fixação da larva (NEVES, 2016). Após atingir o
último instar, aproximadamente 50 dias após a penetração, a larva deixa os tecidos do hospedeiro, cai no solo
e se enterra, onde forma a pupa e eclode como adulto, cerca de 30 dias depois (Veja o Eu Indico a seguir).
205
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma fotografia ampliada de uma larva da espécie Dermatobia hominis, de formato
alongado, disposta horizontalmente, com a região anterior globosa e contendo fileiras de espinhos voltada para o lado esquerdo da imagem.
O tratamento para a parasitose causada por D. hominis consiste em matar e retirar a larva da pele,
assim que ela seja notada. É imprescindível que se tente matar a larva antes de sua retirada, caso
contrário, ela manterá seus espinhos aderidos com firmeza ao tecido, dificultando sua remoção. Para
esse processo, o método mais indicado é matar a larva por asfixia, colocando um esparadrapo sobre a
abertura, deixando por uma hora, e retirando a larva que deve sair aderida à fita.
No caso das miíases secundárias, podemos citar como exemplo as parasitoses desenvolvidas pelos
membros da família Sarcophagidae. Embora possua diferentes gêneros, a identificação dos represen-
tantes da família é parecida. As moscas dessa família apresentam como características morfológicas
(Imagem 13) ter comprimento entre 6 a 10 milímetros, com cor acinzentada, com três faixas pretas
no dorso do tórax, e com o abdome com desenhos em xadrez (NEVES, 2016).
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma fotografia contendo ao fundo várias folhas, e, em primeiro plano, uma mosca
da família Sarcophagidae em visão dorsal, de cor cinza, com olhos vermelhos, com três linhas pretas longitudinais no tórax, um par de asas
e o abdome com desenhos em xadrez.
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UNIDADE 7
Os membros da família Sarcophagidae normalmente depositam suas larvas (são larvíparas, não
depositam os ovos) em matéria orgânica em decomposição, geralmente em carcaças. Porém, podem
colocá-las em tecido necrosado de feridas de indivíduos vivos. Dependendo da espécie, até 50 larvas
podem ser colocadas de uma única vez (NEVES, 2016).
As larvas em contato com o tecido necrosado, se alimentam vorazmente, e cerca de 10 dias
após penetração, atingem o último instar, caem ao solo e empulpam, eclodindo como adultos
entre 10 a 15 dias depois.
O tratamento deve ser realizado o mais rápido possível, e consiste na remoção das larvas, uma a
uma, seguido do tratamento da ferida por meio de antimicrobianos (veja o Eu Indico a seguir).
Acesse os dois vídeos apresentados nos QR Codes. No primeiro, pode ser observada a retirada
de larvas do interior da ferida de um indivíduo; no segundo, a retirada de uma única larva da
mosca do berne.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
Vídeo 1 Vídeo 2
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UNICESUMAR
a) b) c)
Imagem 14- Principais espécies de anopluras parasitos do homem. a) Pediculus capitis; b) Pediculus humanus; c) Pthirus púbis.
Fonte: a) WIKIPEDIA (2022); b) WIKIMEDIA (2019); c) WIKIMEDIA (2007).
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas três micrografias de membros da Subordem Anoplura. Na micrografia da
esquerda, marcada com a letra “a”, pode ser observado um piolho da espécie Pediculus capitis. Na micrografia central, marcado com
a letra “b”, pode ser observado um piolho da espécie Pediculus humanus. Na micrografia da direita, marcado com a letra “c”, pode ser
observado um piolho da espécie Pthirus púbis.
Os anopluras possuem um aparelho bucal do tipo picador-sugador, ou seja, eles perfuram a pele
para sugar o sangue, são, portanto, hematófagos. Esses insetos apresentam como características
morfológicas serem pequenos, sem asas e achatados dorsoventralmente. Possuem pernas fortes,
e no tarso (última parte da perna), apresentam uma garra forte que, ao dobrar-se, agarra firme-
mente pelos e cabelos. O corpo do gênero Pediculus tende a ser 2-3 vezes mais longo do que largo,
enquanto no gênero Pthirus tende ser apenas 1,5 vezes mais longo do que largo (NEVES, 2016).
A infestação causada pelos piolhos do gênero Pediculus é denominada de pediculose, enquanto
a infestação causada pelo Pthirus púbis é denominada de pitiríase. Elas se caracterizam por forte
prurido (coceira), podendo ocasionar infecções estafilocócicas secundárias. Em casos graves,
com alta infestação, principalmente em crianças de baixa renda, com má alimentação, a atividade
hematófaga dos insetos, pode ocasionar deficiência de ferro, resultando em anemia.
O ciclo de vida dos piolhos é paurometábolos, os ovos são postos fixados nos pelos e cabelos
do hospedeiro, e são denominados de “lêndeas”, após sua eclosão, o inseto passa por três estágios
de ninfa antes de se tornar adultos. A transmissão entre hospedeiros ocorre pelo contato direto,
principalmente entre indivíduos que vivem no mesmo ambiente, em transportes coletivos, e locais
públicos apertados (NEVES, 2016).
208
UNIDADE 7
O tratamento da pediculose e pitiríase pode ser realizado por diversos métodos. Devido ao fato de que
os inseticidas de uso tópico são altamente tóxicos, alguns especialistas não recomendam sua aplicação, pois
a região da cabeça é altamente vascularizada, somando-se ao fato de que a coceira pode gerar lesões, a ab-
sorção destes compostos pode ocorrer em uma dosagem muito alta, o que pode resultar em acidentes fatais,
principalmente devido ao costume de automedicação dos brasileiros (NEVES, 2016). Nestes casos, pode-se
aplicar medidas naturais, tais como: catação manual, penteação, ar quente, raspagem da cabeça e óleos.
O último grupo dos insetos que você vai estudar nesta unidade é da Ordem Siphonaptera, cujos mem-
bros são conhecidos popularmente como pulgas e bichos-do-pé. No Brasil, já foram identificadas mais de
60 espécies de sifonápteros, a maioria com a possibilidade de parasitar o ser humano. Como característica
da Ordem, os indivíduos jovens são de vida livre, sendo a parasitose atribuída à atividade hematófaga dos
adultos. Essas espécies podem interagir com o hospedeiro por três meios principais: 1- vivendo em con-
tato direto com o hospedeiro (ex.: gêneros Xenopsylla e Polygenis); 2- procurando o hospedeiro apenas
para se alimentar (ex.: Pulex irritans); 3- penetrando na derme e vivendo alojada nesta região (ex.: Tunga
penetrans – bicho-de-pé).
Os sifonápteros apresentam como caraterística morfológica serem pequenos, medindo entre 1 a 3 milí-
metros, corpo achatado lateralmente, não apresentam asas, com aparelho bucal tipo picador-sugador e com
o último par de pernas adaptados para saltar (REY, 2009). Na cabeça das pulgas são observadas numerosas
cerdas, as quais possuem a função de fixação e auxílio na locomoção no hospedeiro (Imagem 15).
Imagem 15- Ordem Siphonaptera: a) Pulex irritans; b) Tunga penetrans; c) Imagem aproximada da cabeça de uma pulga.
Fonte: WIKIMEDIA (2014)
Descrição da Imagem: a imagem, podem ser observadas três micrografias de membros da Ordem Siphonaptera. Na micrografia da
esquerda, marcada com a letra “a”, pode ser observada uma pulga da espécie Pulex irritans. Na micrografia central, marcada com a
letra “b”, pode ser observado um bicho-de-pé, da espécie Tunga penetrans. Na micrografia da direita, marcado com a letra “c”, pode ser
observado de forma ampliada a região anterior de uma pulga, evidenciando as cerdas negras utilizadas para fixação.
Os sifonápteros são importantes por serem espoliadores sanguíneos dos hospedeiros, causarem derma-
tite e alergias de pele, e no caso da tungíase (infecção causada pelo Tunga penetrans), lesões cutâneas
com veiculação de bactérias que podem ocasionar tétano e gangrena.
O último grupo de artrópodes que você vai estudar corresponde aos membros da Classe Arachnida,
Subclasse Acari. Muitas espécies dessa classe são parasitos do ser humano. Estudaremos, como exemplo,
membros das Ordens Trombidiformes, Ioxidida e Sarcoptiformes.
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Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma micrografia de um indivíduo da espécie Demodex folliculorum, caracterizado
pela forma de verme, alongado com quatro pares de pernas curtas na região anterior do corpo.
Descrição da Imagem: na imagem, pode ser observada uma foto ampliada da superfície da pele de um ser humano, contendo sobre ela um
carrapato da espécie Ixodes ricinus, das cores preta e marrom, de aspecto globoso, contendo quatro pares de patas evidentes.
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UNIDADE 7
A ordem Ioxida abriga os aracnídeos conhecidos como carrapatos. São ácaros de porte grande,
com importância médica por serem ectoparasitos. Estes aracnídeos apresentam o corpo fundido
em uma única peça, de aspecto globoso (Imagem 17). A região anterior, onde se encontram as
peças bucais, é chamado de gnatossoma, e a porção posterior, onde se implantam os quatro pa-
res de patas, é denominado de idiossoma (NEVES, 2016). Estes parasitos espoliam o sangue do
hospedeiro, podem causar dermatite e alergias e são responsáveis pela transmissão de inúmeros
microrganismos causadores de doenças.
Por fim, você vai conhecer o principal membro da ordem Sarcoptiformes,
o Sarcoptes scabiei (imagem 18). Esse ácaro é responsável por causar
a sarna nos seres humanos, doença também denominada de esca-
biose. São parasitos extremamente pequenos, medindo entre 300
e 400 micrômetros de comprimento, tem o corpo globoso, com
as pernas curtas, grossas e sem garras. A doença provocada por
esse parasito tem como principal fator a escavação de túneis, rea-
lizada principalmente pelas fêmeas, onde depositam seus ovos.
Os danos causados nos tecidos são mecânicos e em decorrência
de proteases liberadas pela saliva. Somando-se a iss0, há liberação
excretas e ovos dos parasitos nos túneis. Todos estes fatores desen-
cadeiam uma resposta inflamatória que resulta na descamação da
pele e liberação de linfa (NEVES, 2016; FERREIRA, 2021).
a) b) c)
Imagem 18- a) Sarcoptes scabiei; b) túnel formado pelo parasito na derme. / Fonte: Adaptado de Ferreira (2021, p. 281 e 282).
Descrição da Imagem: na imagem, podem ser observados três figuras ilustrativas. Na figura da esquerda, marcada com a letra “a”,
observa-se um ácaro da espécie Sarcoptes scabiei em visão dorsal, caracterizado pela forma globosa e sem divisões, contendo várias
cerdas. Na figura central, marcada com a letra “b”, observa-se o mesmo ácaro da espécie Sarcoptes scabiei, agora em visão ventral, com
quatro pares de patas, dois anteriores e dois mediais. Na figura da direita, marcada com a letra “c”, observa-se uma escavação na pele
de um vertebrado, formando um túnel, realizada por um indivíduo da espécie S. scabiei, em que pode-se notar em seu interior ovos e
dejetos do parasito.
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1. “O filo Arthropoda constitui o maior grupo do reino animal, que abriga cerca de 80% do total
de espécies conhecidas de metazoários. Mais de um milhão de espécies vivem no ar, na terra
ou na água, adaptadas a alimentar-se em diversas fontes de nutrientes, inclusive o sangue de
vertebrados” (FERREIRA, 2021, p. 261).
O grupo dos artrópodes possui várias classes, sendo importante identificar, entre estas, aquelas
que têm relação com a parasitologia. Uma destas classes é a Classe Insecta. Com base nas
características morfológicas, explique, por meio de um texto dissertativo, de 3 a 5 linhas, como
um inseto pode ser identificado.
2. “O gênero Culex inclui cerca de 300 espécies, a maioria das quais habita as regiões tropicais e
subtropicais do mundo. Para a transmissão de doenças, as mais importantes são as que têm
hábitos domésticos” (REY, 2009, p. 334).
Dentre as espécies do gênero Culex, uma das mais relevantes pela transmissão da filariose
linfática é Culex quinquefasciatus. Com base nas características morfológicas, explique, por meio
de um texto dissertativo, de 3 a 5 linhas, como um inseto da espécie Culex quinquefasciatus
pode ser identificado.
3. “Entende-se por miíase “a infestação de vertebrados vivos por larvas de dípteros que, pelo
menos durante certo período, se alimentam dos tecidos vivos ou mortos do hospedeiro, de
suas substâncias corporais líquidas ou do alimento por ele ingerido” (NEVES, 2016, p. 449).
Muitas espécies da Ordem Diptera têm a capacidade de causar miíase. Entretanto, o tipo de
miíase causada pode variar com base nas características biológicas da espécie. Com base nas
características dos dípteros parasitos, explique, por meio de um texto dissertativo, de 3 a 5
linhas, quais os diferentes tipos de miíases que afetam o ser humano.
214
8
Diagnóstico
das Parasitoses:
Métodos Diretos
Dr. Vinícius Pires Rincão
As parasitoses que acometem o ser humano podem ser causadas por diversos tipos de organismos, de proto-
zoários a insetos. Embora exista uma grande diversidade de agentes etiológicos, os sintomas causados pelos
parasitos que possuem o mesmo habitat são parecidos. Então, como é possível diferenciar uma parasitose
de outra? Caro(a) aluno(a), você consegue pensar nas formas pelas quais os profissionais de saúde realizam
o diagnóstico de uma parasitose? Como é definido o melhor método para se encontrar o parasito causador
de uma doença? Como a escolha do método de diagnóstico pode auxiliar no tratamento da doença?
Os parasitos que causam doenças no ser humano podem apresentar como habitat desde os tecidos da
pele até o sistema circulatório sanguíneo. Conhecer características da biologia destes agentes etiológicos é
fundamental para se determinar qual a melhor metodologia para o diagnóstico da doença. Nem sempre,
entretanto, haverá uma suspeita de qual o agente etiológico causará a doença, principalmente porque mui-
tos dos sintomas observados no ser humano são similares para diferentes parasitoses. Neste aspecto, os
laboratórios de análises clínicas possuem uma diversa gama de procedimentos que podem ser utilizados
para detectar o agente etiológico de uma parasitose.
No contexto apresentado, buscando uma maior significância para os conteúdos que você aprenderá nesta
unidade, proponho a você uma pesquisa: identifique quais os principais tipos de exames parasitológicos
realizados em laboratórios de análises clínicas, e para quais finalidades estes exames podem ser aplicados.
Os organismos que causam parasitoses no ser humano podem divergir muito em suas características,
desde o tamanho (sendo constituídos por uma única célula ou sendo metazoários com vários metros de
comprimento), até a forma com que interagem com o organismo (vivendo no trato intestinal do hospedeiro
quase sem consequências ou causando doença grave e até mesmo a morte). Para o tratamento correto dessas
parasitoses, o diagnóstico deve ser rápido e preciso. Caro(a) aluno(a), com o conhecimento que agora possui
sobre os parasitos e doenças causadas por eles, você já parou para pensar como deve ser feito um exame
que busque a identificação de parasitos intestinais? E no caso de parasitos sanguíneos ou teciduais? Como
investigar qual o agente etiológico de uma doença quando não se tem uma suspeita? Pense na pesquisa
que você fez, e nas questões que levantamos, e escreva seus resultados no seu diário de bordo, a fim de que
eu e você possamos analisá-las juntos no decorrer desta unidade.
216
UNIDADE 8
A maioria das parasitoses, quer seja causada por um helminto ou por um protozoário, continua
sendo considerada um problema de saúde pública. As infecções causadas por parasitos podem ser
diagnosticadas por meio da análise dos sintomas que provocam no hospedeiro e exames laborato-
riais. Entretanto, muitas parasitoses compartilham os mesmos sintomas, ou muito parecidos, o que
dificulta sua diferenciação com base neste parâmetro e, tornando o exame clínico fundamental.
Quase todas as parasitoses podem ser diagnosticadas apenas por exames clínicos (ENGROFF
et al., 2021), sendo que o exame laboratorial de amostras dos hospedeiros é o principal método
utilizado para detecção e identificação do parasito.
Caro(a) aluno(a), reflita comigo, se os exames laboratoriais são fundamentais para o diagnóstico de
uma parasitose, caso este for realizado incorretamente ou se a amostra não for selecionada corre-
tamente, o diagnóstico pode ser falho. Então, como selecionar e coletar a amostra de forma correta?
A seleção da amostra que melhor poderá indicar qual a parasitose acomete um determinado indiví-
duo, dependerá de vários fatores. Geralmente os sintomas dão ao médico responsável uma suspeita
do provável parasito, o que permite indicar um determinado tipo de exame e este o tipo de amostra.
Entretanto, quando o sintoma é inespecífico, as amostras são coletadas de vários locais. Os dois
principais locais de coleta de amostras, possibilitando o diagnóstico da grande maioria das parasitoses
são: fezes e sistema circulatório sanguíneo. Este fato também determina os dois tipos mais comuns de
exames na parasitologia: o exame parasitológico de fezes (ou exame coproparasitológico) e o exame
parasitológico de sangue.
217
UNICESUMAR
Além dessas duas amostras, podem ser coletadas amostras de expectoração, por biópsias e
raspados de pele, utilizadas em casos específicos e complementares aos exames sanguíneos. A
etapa de amostragem pode parecer uma etapa sem muita importância, mas é fundamental para a
realização correta dos exames, conforme explica Zeibig (2014, p. 15):
“
O diagnóstico laboratorial eficaz de parasitos requer conhecimento e prática de
análise antes (etapa pré-analítica), durante (etapa analítica) e depois da realiza-
ção dos testes (etapa pós-analítica). Por exemplo, na etapa pré-analítica é preciso
verificar se uma amostra recebida no laboratório está comprometida por coleta,
identificação ou transporte inadequado. Nesses casos, a amostra deve ser rejeitada,
e uma nova deve ser solicitada. Da mesma forma, na etapa analítica, a execução
das técnicas laboratoriais deve ser realizada com cuidado para garantir que os
resultados obtidos sejam confiáveis. Na etapa pós-analítica, a interpretação e a
descrição dos resultados obtidos devem ser relatadas de maneira precisa e em
um período de tempo adequado.
Dentre os muitos exames que podem ser realizados para o diagnóstico de parasitoses, o mais
comumente realizado em laboratórios é o coproparasitológico (exame parasitológico de fezes)
(NEVES, 2016). Assim, a coleta destas amostras é de fundamental importância e também proble-
mática, pois quem realizará a coleta é o próprio paciente. Para se evitar o comprometimento da
amostra, o profissional responsável deverá orientar corretamente o paciente para a realização da
coleta, preservação e transporte.
O objetivo da análise direta das amostras de fezes é a detecção das formas jovens ou adultas, a
depender do parasito. Como para muitas parasitoses a liberação das formas detectáveis dos para-
sitos (cistos, trofozoítos e oocistos de protozoários, ou ovos, larvas, proglotes e adultos no caso dos
helmintos) não é constante, o protocolo recomenda a coleta de amostras múltiplas (ZEIBIG, 2014).
Para a coleta de amostras de fezes, recomenda-se que sejam coletadas entre 3 amostras (ou 5 amostras
dependendo do tipo de exame) em dias alternados, ou 3 amostras em um período de 10 dias (ZEIBIG,
2014). A coleta das amostras de fezes deve seguir alguns procedimentos importantes para garantir seu
aproveitamento do exame (ZEIBIG, 2014, p. 16):
218
UNIDADE 8
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UNICESUMAR
Fezes líquidas são conhecidamente um indicativo de alterações intestinais, mas você já parou para
pensar em como a consistência das fezes pode ter relação com a parasitose e seu diagnóstico?
220
UNIDADE 8
Cada tipo de parasitose tem suas próprias características, incluindo habitat, forma de nutrição e con-
sequências que provoca no organismo do hospedeiro. As parasitoses intestinais podem afetar a forma
como o organismo realiza a absorção de nutrientes de diversas maneiras: enquanto a maioria dos
helmintos não altera o fluxo normal das fezes, alguns vermes rompem a parede intestinal, impedindo
a absorção de eletrólitos e provocando fezes líquidas e sanguinolentas; já a maioria dos protozoários
que habitam este órgão, modificam a superfície dos enterócitos, quer seja pela fixação, quer seja pela
liberação de toxinas, e impedem suas funções normais de absorção, causando, no mínimo, diarreia.
Assim, a consistência das fezes pode indicar desde a intensidade da infecção, até apontar um possível
agente etiológico para a doença. Para ajudar a classificar as fezes quanto a sua consistência, pode ser
utilizada a Escala de Bristol, desenvolvida na Universidade de Bristol (Reino Unido) pelos pesquisa-
dores Heaton e Lewis em 1997 (MARTINEZ; AZEVEDO, 2012) (Imagem 2).
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada a representação em forma de desenho dos sete diferentes tipos de fezes,
separados por barras amarelas. Da esquerda para a direita, apresentando as legendas de Tipo 1 até Tipo 7, pode ser observado: Tipo
1 – esferas irregulares marrons, constipação severa; Tipo 2 – na forma de salsicha contendo caroços, constipação suave; Tipo 3 – na
forma de salsicha mas com rachaduras na superfície, fezes normais; Tipo 4 – na forma de salsicha ou cobra, lisa e macia; Tipo 5 – pe-
daços macios com bordas bem definidas, indicando falta de fibra; Tipo 6 – pedaços macios com bordas irregulares, fezes amolecidas,
indicando diarreia suave; Tipo 7 – uma poça com gotas caindo, fezes líquidas, indicando diarreia severa.
221
UNICESUMAR
Nesta escala, as fezes são classificadas em sete categorias de acordo com sua consistência e relação
com o fluxo intestinal:
• Tipo 1 - Neste tipo, as fezes são visualizadas no formato de bolinhas muito secas, que
tendem a boiar. Esta consistência indica constipação intestinal severa.
• Tipo 2 - Neste tipo, as fezes são visualizadas com o formato de uma salsicha encaroçada.
Esta consistência é indicativa de constipação leve e peristaltismo lento.
• Tipo 3 - Neste tipo, as fezes são visualizadas também com o formato de uma salsicha, mas
com fissuras na superfície. Esta consistência é indicativa de produção normal de fezes, com
trânsito intestinal regular.
• Tipo 4 - Neste tipo, as fezes são visualizadas como uma salsicha mais alongada, menos rígida,
sendo suaves e macias, com a possibilidade de fragmentação em poucas partes. Esta con-
sistência também é indicativa de produção normal de fezes, com trânsito intestinal regular.
• Tipo 5 - Neste tipo, as fezes são visualizadas em fragmentos, com bolhas e as bordas nítidas
e bem definidas. Esta consistência é indicativa de produção anormal de fezes, com trânsito
intestinal acelerado, indicando possível ocorrência de diarreia.
• Tipo 6 - Neste tipo, as fezes são visualizadas em muitos fragmentos, com aparência de con-
ter muito ar (fofas) e com as bordas irregulares. Esta consistência é indicativa de produção
anormal de fezes, com trânsito intestinal irregular, caracterizada como diarreia.
• Tipo 7 - Neste tipo, as fezes são completamente aquosas, sem partes sólidas definidas. Esta
consistência é indicativa de produção anormal de fezes, com trânsito intestinal irregular,
caracterizando diarreia severa.
222
UNIDADE 8
Imagem 5 - a) Exame microscópico com amostra à fresco; b) Ovos de Ascaris lumbricoides observados à fresco
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas duas fotografias. Na fotografia da esquerda, marcada com a letra “a”, pode
ser observada a imagem ampliada da região da platina de um microscópio, observando a colocação de uma lâmina contendo amostras de
fezes. Na fotografia da direita, pode ser observada uma micrografia de amostras de fezes, contendo vários detritos e dois ovos de Ascaris
lumbricoides, ovalados com bordas irregulares.
223
UNICESUMAR
As amostras não processadas, ou seja, simplesmente colocadas na lâmina a partir do pote de coleta,
geralmente não geram bons resultados, pois os parasitos podem estar muito diluídos nas fezes
e não serem bem observados. Por esta razão, o protocolo normal é a utilização de técnicas de
concentração ou também denominados de processos de enriquecimento. Essas metodologias
têm como base a concentração das formas observáveis dos parasitos e eliminação dos detritos,
facilitando sua visualização ao microscópio.
Os processos de enriquecimento podem ser divididos em qualitativos, que apenas identifi-
cam o parasito que está causando a infecção, e quantitativos, que permitem inferir a quantidade
de parasitos da infecção (NEVES, 2016). Embora os métodos quantitativos permitam esclarecer
alguns sintomas observados, não são muito úteis para o tratamento, uma vez que os antiparasitá-
rios utilizados levam em consideração o peso do paciente e não o número de parasitos presentes.
Os principais processos de enriquecimento têm como característica a suspensão das fezes em
soluções, contendo ou não substâncias específicas, para eliminação de detritos. Segundo Neves
(2016), esses processos são:
1. Sedimentação espontânea: também conhecido como método de Hoffman, Pons e Janer,
ou ainda como método de Lutz. Esse método consiste em diluir as fezes em água, formando
uma solução que, após filtrada, é colocada em um cálice cônico, deixado em repouso por
até 24 horas (Imagem 6). No final desse período, o sedimento do fundo é coletado e ob-
servado no microscópio. Esse método é utilizado com frequência na rotina de laboratórios
de análises clínicas por ser simples ter baixo custo. É utilizado para observar ovos e larvas
de helmintos, ou cistos e oocistos de protozoários.
Imagem 6 – Representação do método de Hoffman, Pons e Janer / Fonte: (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020, p. 39).
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um desenho esquematizando as etapas do método Hoffman, Pons e Janer. Da
esquerda para a direita, são representadas seis etapas, cada uma ligada a subsequente por meio de uma seta. A etapa um apresenta um
pote com amostras de fezes, em que está sendo adicionado água e contém um bastão de cor preta; na etapa dois, a água e amostra de
fezes está homogeneizada; na etapa três, a amostra homogeneizada é derramada sobre uma gaze, vedando a boca de uma cálice cônico;
na etapa quatro, o cálice apresenta um conteúdo separado em duas fases, a superior líquida e a inferior com o precipitado da amostra;
na etapa cinco, observa-se uma lâmina em que é colocada uma pequena porção do precipitado em seu centro; na etapa seis, a amostra
na lâmina é coberta por uma lamínula.
224
UNIDADE 8
225
UNICESUMAR
Imagem 7 – Representação do método do Kato-Katz / Fonte: adaptado de Siqueira-Batista et al. (2020, p. 41).
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um desenho esquematizando as etapas do método Kato-Katz. Da esquerda para a
direita, são representadas quatro etapas, cada uma ligada à subsequente por meio de uma seta. A etapa um apresenta um papel contendo
uma amostra de fezes em que é pressionada uma tela com malha fina; na etapa dois, a amostra que passou pela tela é colocada por uma
espátula em um orifício em um cartão plástico sobre uma lâmina; na etapa três, a amostra colocada sobre a lâmina é coberta com um papel
filtro contendo o corante; na etapa quatro, o papel filtro após corar a amostra de fezes pode ser retirado e pode ser colocado uma lamínula.
A microscopia direta da amostra fecal, ou de amostras que passaram por processo de enriquecimento,
podem ser realizadas com ou sem coloração (Imagem 8). Quando o exame é realizado sem coloração, é
denominado de “à fresco”. No entanto, para muitas estruturas, a observação é melhor caracterizada, ou
mesmo só pode ser realizada, por meio da utilização de corantes. Os corantes são substâncias químicas
que se ligam fortemente às moléculas das estruturas dos parasitos, permitindo sua visualização. Existem
diferentes tipos de coloração, e sua escolha dependerá da estrutura a ser observada. Por exemplo, ovos
de helmintos se coram fortemente com lugol (Imagem 8b), enquanto trofozoítos de giárdia ou amebas
são melhor observados quando corados com hematoxilina férrica (Imagem 8c).
a) b) c)
Imagem 8 – a) ovo de Trichuris trichiura observado à fresco; b) ovo de Trichuris trichiura corado com lugol; c) trofozoíto de Giardia
corado com hematoxilina férrica
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas três micrografias de exame de fezes. Na micrografia da esquerda, marcada
com a letra “a”, observa-se vários detritos e no centro da imagem, um ovo do verme Trichuris trichiura sem coloração, observado à fresco.
Na imagem do centro, marcada com letra “b”, observa-se um ovo de Trichuris trichiura, corado com lugol. Na imagem da direita, marcado
com a letra “c”, observa-se vários protozoários do gênero Giardia, corados com hematoxilina férrica.
226
UNIDADE 8
Para alguns parasitos intestinais, os métodos convencionais aplicados no Exame Parasitológico de Fezes
apresentam pouca sensibilidade, sendo necessário o uso de técnicas específicas. Um exemplo de método
direto para estes casos específicos é o método de Graham ou método da fita adesiva, utilizado para
realizar o diagnóstico de Enterobius vermicularis. Como este verme libera pouco ovos diretamente nas
fezes, os exames convencionais apresentam baixa detecção. Este verme tem como característica, sair pelo
ânus e se romper na região perianal, liberando os ovos. Assim, o método de Graham (Imagem 9) utiliza
uma fita adesiva transparente, pressionada na região perianal, e fixada sobre uma lâmina. Os ovos, quando
presentes na região perianal, ficam presos na fita e podem ser observados no microscópio.
Imagem 9 – Método de Graham ou método da fita adesiva. A) Fita adesiva (a) colocada sobre uma espátula, com papéis
(b) nas extremidades; B) pressão da espátula contendo a fita adesiva, sobre a região perianal; C) aplicação da fita sobre
uma lâmina de vidro / Fonte: (REY, 2008, p. 601).
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observados três desenhos ilustrativos, posicionadas na vertical, marcadas, de cima para
baixo, com as letras “A”, “B” e “C”. No desenho superior, marcado com a letra “A”, pode ser identificado um pedaço de fita adesiva trans-
parente, segmentado com a letra “a”, em cujas extremidades se ligam duas faixas de papel da mesma largura que a fita; marcadas com a
letra “b”, sendo que a fita dobra-se sobre a extremidade de uma espátula longa, com largura pouco maior com fita, de forma que a região
adesiva fica exposta voltada para fora. No desenho central, marcado com a letra “B”, observa-se um paciente, aparentando ser uma criança,
em decúbito ventral, e uma mão humana pressiona uma espátula na região perianal desse paciente. No desenho inferior, marcado com a
letra “C”, observa-se a fita adesiva do primeiro desenho, com as faixas de papel nas extremidades, coladas sobre uma lâmina.
227
UNICESUMAR
Nos vídeos apresentados nos links a seguir, podem ser observados trofozoítos do Trypanosoma
cruzi, à fresco, caracterizando sua motilidade pelo batimento flagelar, sendo um importante
método de diagnóstico.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
Os dois principais exames realizados em amostras de sangue são o esfregaço em camada delgada
(também denominada de gota estirada ou estendida) e o esfregaço em gota espessa (NEVES, 2016).
Em ambos os casos, o material deverá ser corado, com Giemsa ou Leishman.
228
UNIDADE 8
Na técnica de esfregaço em camada delgada (Imagem 10), posiciona-se uma gota de sangue
no lado direito de uma lâmina limpa e apoiada sobre uma superfície firme. Em seguida, com uma
segunda lâmina, inclinada a 45º, desliza-se sobre a lâmina apoiada, da esquerda para a direita,
até que esta toque a gota de sangue. Com isto, o sangue se espalhará por toda a base da segunda
lâmina através da capilaridade. Em seguida, desliza-se a segunda lâmina novamente, agora da
direita para a esquerda, espalhando o sangue sobre a lâmina apoiada, em uma camada muito fina.
Após o espalhamento, a lâmina contendo o sangue deve ser agitada vigorosamente para que ele
seque e evite a hemólise sanguínea.
Lamínula
Início
Lâmina de vidro
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o processo de espalhamento da amostra para realização do esfregaço em camada
delgada. A imagem está dividida em quatro etapas, cada uma marcada com um número. Na porção superior esquerda, marcado com o
número “1”, pode ser observado uma gota de sangue (indicada com a legenda “gota de sangue integral 5-10 𝞵l”) do lado direito de uma
lâmina na horizontal (marcada com a legenda “lâmina de vidro”) e uma segunda lâmina inclinada (marcada com a legenda “lamínula”),
seguida por uma seta, indicando que tocará o centro da primeira em uma linha tracejada (marcada com a legenda “início”). Na porção
superior direita, marcado com o número “2”, há uma seta da esquerda para direita, indicando que a segunda lâmina (que se encontra
inclinada em um ângulo de 30-45º) deslizou nessa direção, sobre a lâmina na horizontal, até tocar a gota de sangue, que agora se espalhou
pela base da segunda lâmina por capilaridade. Na porção inferior esquerda, marcado com o número “3”, há uma seta direcionada da direita
para a esquerda, indicando que a segunda lâmina se desloca nessa direção, e pode ser observado a gota de sangue se espalhando sobre a
superfície da lâmina na horizontal. Na porção inferior direita, há apenas a lâmina na horizontal, com o esfregaço completamente formado.
229
UNICESUMAR
Após a lâmina secar deve ser realizada a fixação. O processo de fixação pode ser realizado por
vários métodos diferentes, sendo que o mais utilizado é a cobertura total do esfregaço com álcool
metílico por um minuto. Em seguida, aplica-se o corante. O mais utilizado para esta técnica é a
solução de Giemsa, cobrindo ou mergulhando a lâmina por um período de 20 a 30 min. Os re-
sultados são observados no microscópio, com as hemácias fracamente coradas em cinza ou rosa,
enquanto leucócitos e células infectadas com parasitos ou os próprios parasitos, ficam corados
em roxo azulado (Imagem 11).
a) b)
Imagem 11 – a) hemácias infectadas com Plasmodium vivax (setas), corada com Giemsa; b) esfregaço sanguíneo, contendo
tripanossomatídeos, corado com Giemsa.
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas duas micrografias de esfregaços de sangue. Na micrografia da esquerda,
marcada com a letra “a”, há a área de uma lâmina coberta com hemácias de coloração acinzentadas, observando no centro duas hemácias
infectadas com plasmodium, de forma irregular e coloração azul-arroxeada. Na micrografia da direita, marcada com a letra “b”, pode ser
observada a área de uma lâmina coberta com hemácias de coloração rósea, com alguns leucócitos maiores corados em roxo, e vários
protozoários alongados com flagelos, forma característica dos tripanossomas.
O esfregaço em gota espessa pode ser preparado de diferentes formas, dependendo principal-
mente do tipo de parasito a ser examinado (ex.: Plasmodium, microfilárias). Esta técnica utiliza
uma quantidade maior de sangue (entre três a quatro gotas), sendo geralmente utilizada quando
os parasitos são pouco abundantes na amostra, facilitando assim sua observação. Uma de suas
principais aplicações é para o diagnóstico de filariose linfática, na busca por microfilárias. Embora
alguns detalhes desta técnica, como quantidade de amostra e forma de fixação, variem com os
autores, os resultados obtidos são similares.
230
UNIDADE 8
Seguindo o procedimen-
to apresentado por Neves
(2016), para a realização da
técnica, coloca-se entre 60 a
80 mm3 de sangue no centro
de uma lâmina, espalhando-
-o, em seguida, por uma área
de 4 por 1,5 centímetros. A
lâmina é deixada em tem-
peratura ambiente por 10
a 12 horas para secar. Em
seguida realiza-se o proces-
so de desemoglobinização
(descoloração por retirada
Imagem 12 – Microfilária de Wuchereria bancrofti em esfregaço sanguíneo
de hemoglobina), mergu- Fonte: WIKIMEDIA (2022a)
lhando a lâmina em água
destilada por 10 minutos. A Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma micrografia de um esfregaço
sanguíneo, observando hemácias coradas em rosa e uma microfilária, de formato achatado
lâmina é então fixada com e alongado, com a extremidade anterior iniciando na porção inferior da imagem, esten-
dendo-se para a esquerda e para cima, curvando-se para a direita, seguindo até a porção
metanol por dois minutos e direita da imagem curvando-se para baixo e terminando na porção inferior da imagem,
com coloração em rosa e roxo.
corada com Giemsa por 10
minutos. Após seca, a lâmina
pode ser observada ao microscópio para a pesquisa de microfilárias (Imagem 12).
Por fim, você vai conhecer uma técnica diferenciada de detecção direta de parasitos, utilizada
para observação de parasitos em feridas causadas por Leishmania sp., um tripanossomatídeo
flagelado. A leishmaniose tegumentar americana tem como principal característica a formação
de úlceras na região da derme (Imagem 13).
231
UNICESUMAR
232
Caro(a) aluno(a), com base nos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, estou certo de
que é capaz de preencher o mapa mental a seguir.
Amostras
Metodologia
de Análise Sangue
DIAGNÓSTICO
Métodos diretos
Processos de enriquecimento
233
1. Leia o texto a seguir:
Fonte: REY, L. Parasitologia. 4ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2008, p. 815.
O exame microscópico da fase analítica Exame Parasitológico de Fezes (EPF) pode ser otimizado
utilizando diferentes técnicas de enriquecimento para concentrar os parasitos. Com base nas
características das técnicas de enriquecimento de amostras de fezes, explique, por meio de
um texto dissertativo de 3 a 5 linhas, como é realizado o método de Hoffman, Pons e Janer.
Fonte: NEVES, D. P. Parasitologia humana. 13ª ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016, p. 537.
234
9
Diagnóstico das
Parasitoses: Métodos
Indiretos
Dr. Vinícius Pires Rincão
Uma doença causada por um parasito nem sempre apresenta sintomas que apontem ao médico qual o
provável agente etiológico. Muitos dos sintomas de parasitoses intestinais, por exemplo, são compartilhados
entre diferentes parasitos. Embora os exames parasitológicos diretos, como o exame de fezes, possibilitem o
diagnóstico de um amplo espectro de parasitoses, sua eficácia depende, por vezes, da quantidade de parasitos
que estão causando a infecção. Nestes casos, os profissionais da saúde podem utilizar outros métodos para
ajudar no diagnóstico, os chamados métodos indiretos. Caro(a) aluno(a), você sabe por que um método de
diagnóstico parasitológico é classificado como indireto? Por que os métodos imunológicos e moleculares
são métodos indiretos? O que diferencia um método imunológico de um método molecular?
Os exames laboratoriais que buscam identificar o agente etiológico de uma parasitose podem ser di-
vididos em diretos e indiretos. A escolha de que tipo de exame será realizado caberá sempre ao médico
responsável. No entanto, a aplicação dos métodos às amostras dos pacientes será de responsabilidade do
profissional da saúde laboratorista. Assim, o conhecimento sobre os diferentes procedimentos, diretos
ou indiretos, suas aplicações e limitações, é fundamental para que esse profissional consiga interpretar os
resultados e identificar o agente etiológico, auxiliando diretamente para o diagnóstico da doença.
Nós entramos em contato com exames imunológicos e moleculares constantemente, muitas vezes sem
nos darmos conta disso. Para que você entenda a importância destes exames, e qual sua relevância para a
parasitologia, gostaria de desafiá-lo a identificar, entre os exames que já realizou, um exame imunológico
e um molecular, mesmo sem relação com a parasitologia. Feito isso, pesquise e tente identificar o tipo de
exame parasitológico indireto mais realizado em laboratório de análises clínicas.
Nosso organismo pode ser comparado a uma complexa máquina, repleta de sistemas, cada um deles
com especificidade de realizar uma função necessária para o funcionamento geral do organismo. Assim
como toda máquina, nosso organismo também possui um sistema de defesa: o sistema imunológico. Caro(a)
aluno(a), você já parou para pensar por que um exame realizado em um laboratório tem a denominação
de imunológico? Qual a relação com o sistema imune? Como esses exames demonstram a presença de um
agente etiológico específico entre tantos possíveis? Agora é sua vez. Pense na pesquisa que você fez e nas
questões que levantamos, e escreva seus resultados no seu diário de bordo, a fim de que eu e você possamos
analisá-las juntos no decorrer desta unidade.
236
UNIDADE 9
O exame parasitológico tem como principal função a detecção de um parasito, sendo que muitas
vezes não é possível determinar sua etiologia específica, mas o grupo do qual o parasito faz parte,
principalmente quando é uma parasitose causada por protozoários. Os principais exames realizados
com essa finalidade são o Exame Parasitológico de Fezes e o Exame Parasitológico de Sangue, a
ser escolhido dependendo da suspeita inicial. Quando esses exames não conseguem apontar com um
grau de certeza, ou mesmo quando o resultado é negativo, mas duvidoso, o profissional responsável
pela análise pode utilizar técnicas indiretas de detecção do parasito.
Caro(a) aluno(a), agora que você tem o conhecimento de técnicas que permitem observar diretamente
os parasitos nas amostras, consegue imaginar como seriam as técnicas indiretas de diagnóstico
parasitológico?
237
UNICESUMAR
Dentre os exames com reagentes não marcados, podem ser citados como exemplo:
• imunodifusão; • eletroforese;
• precipitação; • ativação do complemento;
• aglutinação; • teste intradérmico de Monte Negro.
238
UNIDADE 9
Proteína de
interesse
Lavagem e
remoção das
demais
proteínas
Complexo antígeno-
anticorpo-grândulos de
Antígeno isolado agarose isolado
Eletroforese/
Western blot Purificação
Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas figuras representativas de cinco microtúbulos de centrífuga, em sequência,
distribuídos em duas linhas, começando na porção superior da esquerda para a direita, e continuando na porção inferior, da direita para
a esquerda, ligados entre si por setas. Após o último microtúbulo, é observado um retângulo contendo traços transversais. No primeiro
microtúbulo superior, com a legenda “Amostras com proteínas totais”, pode ser observado em seu interior, círculos azuis e estrelas
vermelhas representando dois tipos distintos de proteínas. Entre o primeiro e segundo microtúbulos, pode ser observada a legenda
“Adição de anticorpos”, uma figura no formato de “Y” e uma seta ligada ao segundo microtúbulo. No segundo microtúbulo, com a legenda
“Formação do complexo antígeno-anticorpo”, pode ser observado em seu interior, os mesmos círculos azuis e estrelas vermelhas do
microtúbulo anterior, porém, agora com a figura em formato de “Y” ligada à estrela. Entre o segundo e terceiro microtúbulo, pode ser
observada a legenda “Adição dos grânulos de agarose”, uma figura no formato de um hexágono amarelo e uma seta ligada ao terceiro
microtúbulo. No terceiro microtúbulo, com a legenda “Formação do complexo antígeno-anticorpo-grânulos de agarose e precipitação”,
podme ser observados em seu interior os círculos azuis na porção superior e as estrelas vermelhas ligadas com a figura em formato
de “Y” e ao hexágono amarelo no fundo do tubo. Entre o terceiro e quarto microtúbulo, pode ser observada a legenda “Lavagem e
remoção das demais proteínas”. No quarto microtúbulo, com a legenda “Complexo antígeno-anticorpo-grânulos de agarose isolado”,
podem ser observadas, em seu interior, apenas as estrelas vermelhas ligadas com a figura em formato de “Y” e ao hexágono amarelo
dispersas no tubo. Entre o quarto e quinto microtúbulo, pode ser observada a legenda “Purificação”. No quinto microtúbulo, com a
legenda “Antígeno isolado”, podem ser observadas, em seu interior, apenas as estrelas vermelhas dispersas pelo tubo. Entre o quinto
microtúbulo e o retângulo final, pode ser observado a legenda “Eletroforese / Western blot”. O retângulo final representa a separação
das proteínas por eletroforese e identificação das bandas por Western blot, representadas por traços transversais em diferentes alturas.
239
UNICESUMAR
Imagem 3 – Aglutinação em látex. 1- resultado positivo, com pequenos grânulos; 2- resultado negativo, sem grânulos e
com aspecto leitoso
Descrição da Imagem:Na imagem, podem ser observados seis círculos pretos sobre um fundo branco, em duas linhas de três. A esfera
superior esquerda tem o número 1 em vermelho e a esfera central superior tem o número 2 em vermelho. No círculo 1, observa-se
um líquido central contendo partículas muito pequenas, como se estivesse coalhado. No círculo 2, observa-se um líquido central de
aspecto leitoso e uniforme.
O termo Eletroforese é utilizado para designar diferentes testes que se baseiam no mesmo princípio:
a passagem de moléculas por um gel com espaçamento entre as fibras definido, impulsionado por
um campo elétrico. Resumidamente, na realização deste tipo de técnica, uma amostra onde há
moléculas diluídas, é colocada em um lado de um gel (por exemplo de agarose) e forçada a passar
por esse gel através da estimulação de uma corrente elétrica (geralmente as moléculas são impul-
sionadas do eletrodo negativo para o positivo); ao percorrer o gel que é formado por uma malha
devido a polimerização da agarose, as moléculas são separadas por tamanho sendo que as maiores
240
UNIDADE 9
percorrerão o gel mais lentamente, formando linha separadas, as chamadas bandas (Imagem 4).
Geralmente, cada banda apresentará proteínas de mesmo tamanho (mesmo peso molecular).
Existem diferentes tipos de eletroforese, sendo que muitas delas podem ser utilizadas para exames
diagnósticos em parasitologia. Essa técnica pode ser utilizada acoplada a outras, como no exemplo
da imunoprecipitação supracitado, ou isoladamente, como no caso da imunoeletroforese. Neste
último caso, uma amostra pré-tratada para separação das proteínas, é submetida a eletroforese em
gel, onde ocorre a separação das proteínas, entre elas as antigênicas. Após a separação das bandas,
o gel é escavado próximo a cada banda, onde se adicionam os anticorpos. A formação de arcos de
precipitação é um indicativo da presença do parasito.
fonte de energia
a) b)
Eletroforese
solução tampão
odo
Eletr
poços de amostras o
rod
Elet
Imagem 4 – Eletroforese em gel. a) cuba e gel de eletroforese para o teste; b) resultado do teste de eletroforese com
as bandas no gel
Descrição da Imagem:Na imagem da esquerda, marcada com a letra “a”, pode ser observado um desenho ilustrativo de uma cuba de
eletroforese. No centro do desenho, pode ser observado um recipiente retangular, a cuba, preenchido com um líquido transparente,
rotulado como solução tampão, contendo em suas laterais menores dois tubos cilíndricos rotulado como eletrodos, sendo que o da
extremidade esquerda acompanha o sinal de negativo e o da direita acompanha o sinal de positivo. No centro da cuba, cujo fundo é
elevado, observa-se uma estrutura azul, de formato quadrado, constituindo o gel. Na extremidade do gel, localizada próximo ao ele-
trodo negativo, observam-se escavações denominadas de poços de amostras. Os dois eletrodos estão ligados por fios a uma fonte de
energia localizada em segundo plano. Na imagem da direita, marcada com a letra “b”, observa-se a fotografia de um gel de agarose de
uma eletroforese, em que são observadas nove colunas contendo faixas transversais azuis.
No Brasil, um dos exames imunológicos mais realizados para detecção de Leishmaniose Tegumentar
Americana, é o Teste Intradérmico de Monte Negro (NEVES, 2016). Neste exame, é detectada uma
reação de hipersensibilidade retardada no paciente. Para realização do teste, é inoculado 0,1 mL de
um antígeno ou mistura de antígenos extraídos do parasito, por via intradérmica, geralmente na face
interna do antebraço. Quando o paciente apresenta os anticorpos para o antígeno, ou seja, ele já teve
contato com o parasito ou vacina anteriormente ao teste, ocorre uma reação inflamatória no local.
Desta reação, resulta a formação de um nódulo que deverá ser avaliado entre 48 a 72 horas, quando
a reação é considerada máxima (o nódulo começa a regredir a partir deste período). Para a medição,
pode-se utilizar uma caneta esferográfica, pressionada levemente sobre a pele, deslocada em direção
ao nódulo para determinar suas extremidades. O exame é considerado positivo quando o diâmetro
do nódulo é maior ou igual a 5 milímetros (NEVES, 2016) (Imagem 5).
241
UNICESUMAR
Descrição da Imagem:Na imagem, pode ser observado o antebraço de um ser humano, em que observa-se, na região central, uma
área circular avermelhada, em uma reação inflamatória, circundada por um traçado de tinta de caneta esferográfica azul.
Como você pode perceber, nos exames com reagentes não marcados, os resultados são dependentes
diretamente da quantidade de antígenos, o que pode implicar na necessidade de uma carga parasitária
grande. Assim, infecções iniciais ou com poucos parasitos podem não ser detectadas com facilidade.
Agora você vai conhecer os exames que utilizam os reagentes com marcadores, dos quais podemos
citar como exemplo: Reação de imunofluorescência, ELISA, Imunocromatografia e a citometria de fluxo.
A Reação de Imunofluorescência é caracterizada pela marcação dos anticorpos como fluoro-
cromos (moléculas que emitem fluorescência sobre determinadas condições). Esta técnica pode ser
executada de diferentes formas, e são divididas em dois grupos: direta e indireta. Na Imunofluores-
cência direta, um anticorpo específico ao antígeno alvo (pertencente ao parasito), é marcado com o
fluorocromo e colocado junto com a amostra. Caso a amostra seja positiva, o anticorpo vai se ligar e
pode ou emitir fluorescência diretamente, ou emitir fluorescência ao ser estimulada por luz ultravioleta
(Imagem 6). Esta técnica, por marcar o anticorpo específico, tende a ser mais cara, porém mais sensível.
Já a técnica de Imunofluorescência Indireta usa anticorpos inespecíficos marcados com fluorocromo.
Estes anticorpos marcados se ligam à fração Fc dos anticorpos que é constante para todo tipo de anti-
corpo. Assim, imunofluorescência indireta pode ser utilizada tanto para avaliar a presença de antígenos
do parasito como de anticorpos específicos para o parasito (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
242
UNIDADE 9
Complexo
antígeno-anticorpo
Imunofluorescência
antígeno específica
Hibridização
b)
Descrição da Imagem:Na imagem superior, marcada com a letra “a”, pode ser observada uma figura ilustrativa do processo de mar-
cação de imunofluorescência direta. Nessa figura, podem ser observadas quatro lâminas de vidro, duas superiores e duas inferiores.
Na lâmina superior esquerda, observa-se um círculo central com esferas amarelas e a legenda “antígeno”. Na lâmina superior direita,
observa-se a primeira lâmina somada de estruturas em forma de Y invertida, contendo na ponta uma esfera verde opaca, e as legendas
“anticorpos marcados com fluorescência” e “complexo antígeno anticorpo”. Na lâmina inferior direita, observa-se a mesma lâmina dois,
mas agora com a esfera verde brilhando e a legenda “hibridização”. Na lâmina inferior esquerda, observa-se uma lâmina preta com
círculo central mais escuro, contendo pontos verdes em seu interior e a legenda “Imunofluorescência antígeno específica”. Na imagem
marcada com a letra “b”, tem-se a micrografia de uma lâmina contendo muitas células gerais com fluorescência azul, e algumas poucas
células marcadas com fluorescência verde.
243
UNICESUMAR
Descrição da Imagem:Na imagem, pode ser observada uma placa de plástico contendo 96 poços escavados, sendo que a maioria
apresenta um líquido de cor azul e alguns apresentam um líquido de cor amarela.
O ELISA direto é geralmente utilizado para detecção do antígeno, quando a amostra é colocada em
contato com uma placa não sensibilizada. O ELISA indireto é geralmente utilizado para detectar a
presença de anticorpos, quando a amostra é colocada em contato com uma placa que foi sensibilizada
com o antígeno, onde o anticorpo se ligará, sendo em seguida, acrescentado o anticorpo marcado com
a enzima que se ligará na fração Fc do anticorpo que se procura. Em seguida, é colocado o substrato.
Nos poços onde o anticorpo marcado com enzima estiver presente, esta catalisará a quebra do substrato,
fazendo com que a cor se altere (Imagem 8).
Já o ELISA sanduíche pode ser utilizado a detecção do anticorpo, porém, diferentemente do ELI-
SA direto, neste teste a placa será previamente sensibilizada com o anticorpo específico e somente
em seguida será introduzida a amostra (Imagem 8). Caso o antígeno esteja presente, ficará ligado ao
anticorpo. Em seguida, é adicionado um segundo anticorpo específico, marcado com uma enzima. O
substrato pode ser adicionado em conjunto com o anticorpo marcado ou em seguida.
244
UNIDADE 9
A ELISA indireto
B ELISA sanduíche
Imagem 8 - Elisa indireto e Elisa sanduíche / Fonte: adaptado de Siqueira-Batista et al. (2020, p. 45).
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um desenho esquemático dos processos do teste de ELISA indireto e do ELISA san-
duíche. Na parte superior da figura, representando o teste de ELISA indireto, podem ser observados quatro cilindros com a porção superior
aberta e preenchidos com líquido de cor azul nos cilindros 1, 2 e 3, e amarelo no cilindro 4, ligados por setas da esquerda para a direita.
No primeiro cilindro com a legenda “poços cobertos com Ag”, podem ser observados no fundo pequenas esferas rosas representando os
antígenos; na seta ligando ao segundo cilindro está escrito lavagem; no segundo cilindro, com a legenda “adicionado anticorpo específico
a ser medido”, podem ser observadas estruturas em forma de “Y”, de cor azul, ligadas às esferas rosas; na seta ligando ao terceiro cilindro
está escrito lavagem; no terceiro cilindro, com a legenda “adicionar conjugado enzimático (anticorpo secundário)”, podem ser observadas
as estruturas do segundo cilindro sendo ligadas por outras estruturas em forma de “Y”, de cor cinza, tendo um “E” ligado a sua base; na seta
ligando ao quarto cilindro está escrito lavagem; no quarto cilindro, com a legenda “adicionar substrato e medir a cor”, podem ser observadas
as estruturas do terceiro cilindro, onde saindo do “E” há uma linha ligada a um “S”. Na parte inferior da figura, representando o teste de
ELISA sanduíche, podem ser observados quatro cilindros com a porção superior aberta e preenchidos com líquido de cor azul nos cilindros
1, 2 e 3, e amarelo no cilindro 4, ligados por setas da esquerda para a direita. No primeiro cilindro, com a legenda “poços cobertos com Ac”,
pode ser observado no fundo estruturas em forma de “Y” representando os anticorpos; na seta ligando ao segundo cilindro está escrito
lavagem; no segundo cilindro, com a legenda “adicionar o antígeno a ser medido”, podem ser observadas estruturas em forma de “Y”, de cor
azul, onde se ligam às esferas rosas que acabaram de ser adicionadas; na seta ligando ao terceiro cilindro está escrito lavagem; no terceiro
cilindro, com a legenda “adicionar conjugado enzimático (anticorpo secundário)”, podem ser observadas as estruturas do segundo cilindro
sendo ligadas por outras estruturas em forma de “Y”, de cor cinza, tendo um “E” ligado a sua base, se ligando diretamente nas esferas rosas;
na seta ligando ao quarto cilindro, está escrito lavagem; no quarto cilindro, com a legenda “adicionar substrato e medir a cor”, podem ser
observadas as estruturas do terceiro cilindro onde saindo do “E” há uma linha ligada a um “S”.
245
UNICESUMAR
uma linha transversal. A amostra continua então a se deslocar pelo papel filtro e alcança a segunda área,
marcada com a letra “C” (de Controle), onde estão depositados anticorpos, fixados no papel, que se ligarão
a fração Fc dos anticorpos do início, mostrando que o teste ainda é válido.
Assim, para que o teste imunocromatográfico seja considerado positivo, as duas linhas deverão estar
visíveis. Entretanto, se a linha C não aparecer, indicará que o teste não é mais funcional.
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma mão com uma luva azul segurando uma estrutura plástica retangular
de cor branca entre o indicador e o polegar. A estrutura plástica contém, do lado direito, uma abertura elíptica com acesso a um papel
branco interno. No centro da estrutura branca, uma segunda abertura, de formato retangular, paralelo ao eixo central da estrutura,
possibilitando a observação do papel interno, contendo em sua lateral duas letras “T” e “C”. No papel, na altura de cada letra, pode ser
observada a linha transversal de coloração vermelha. No lado esquerdo da estrutura plástica, pode ser observada a legenda “Toxo-
plasma”. Em papel no fundo, representando um formulário, pode ser observado a marcação com um “v” da opção Toxoplasma IgM.
A última técnica que você vai conhecer é a Citometria de Fluxo. O citômetro de fluxo é um aparelho
que tem como finalidade a contagem de células de qualquer tipo. Por esta técnica, mesmo células não
marcadas, podem ser contadas e algumas propriedades determinadas (como tamanho, quantidade
de DNA etc.). O aparelho consegue realizar a contagem, fazendo com que as células passem por finos
capilares, que permitem que uma ou poucas células passem por vez, e emitindo um laser sobre elas. A
mudança na trajetória e padrões do laser determinam as características das células.
Embora a citometria de fluxo não seja uma técnica imunológica em si, pode ser usada em conjunto
com estas. Ao marcar anticorpos específicos de parasitos com fluorocromos, e adicioná-los a amostras,
é possível detectar a presença do parasito e até mesmo determinar sua quantidade. Ao ser estimulado
pelo laser, o fluorocromo emitirá um sinal diferenciado dos demais, permitindo sua contagem (Imagem
10). Embora seja extremamente sensível, não é uma técnica muito utilizada devido aos altos custos.
246
UNIDADE 9
Citômetro de fluxo
Amostra
Fluido de revestimento
Bocal
Fluorescência de
células corada
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma figura ilustrativa da parte interna de um citômetro de fluxo. Observa-se uma
estrutura de cor cinza, na forma de um funil com o bocal superior vedado, em que é inserido um tubo central, por onde passa a amostra na
forma de esferas de cor azul ou vermelha; e um cano lateral por onde é introduzido, representado por setas roxas, o fluido de revestimen-
to, na porção inferior do funil, as esferas da amostra (representando as células) passam uma a uma. No lado esquerdo externo da porção
inferior do funil, observa-se uma estrutura cilíndrica cinza, de onde saem setas de cor laranja em direção ao funil, nomeada de luz do laser.
Estas setas passam por uma esfera vermelha no interior do funil e se divide em uma laranja e uma vermelha representando a luz irradiada.
Embora os métodos imunológicos apresentem uma alta sensibilidade na detecção dos parasitos em
amostras, em alguns casos podem ocorrer imprecisões, como nas reações cruzadas de anticorpos, onde
um anticorpo específico para uma espécie acaba se ligando a outra muito similar. Por esta razão estes
testes são complementares e devem ser utilizados em conjunto com outros.
247
UNICESUMAR
Mesmo com sua alta sensibilidade, os testes imunológicos são menos sensíveis que os testes mo-
leculares. A partir deste ponto, você conhecerá as principais técnicas imunológicas utilizadas para
o diagnóstico de parasitoses. Apesar de serem considerados métodos indiretos, a base principal
dos exames moleculares é a detecção de ácidos nucleicos do parasito, principalmente de seu DNA,
e isso diretamente implica em sua presença na amostra examinada. Esses métodos por si só não
são, ainda, utilizados como diagnóstico definitivo, mas são muito importantes, como destacam
Siqueira-Batista et al. (2020, p. 47):
“
(...) os métodos moleculares são utilizados em adição aos métodos laboratoriais conven-
cionais (baseados na detecção de parasitos em amostras clínicas por meio de identificação
microscópica direta), em situações nas quais a detecção por métodos estabelecidos é
difícil em razão de fatores como: cargas parasitárias, baixas, semelhanças em morfologia
e morfometria, baixa sensibilidade dos ensaios com base na detecção de antígenos, inca-
pacidade dos testes fundamentados na detecção de anticorpos determinarem infecção
ativa ou infecções múltiplas.
As técnicas moleculares têm apresentado resultados cada vez mais sensíveis e com alta especifi-
cidade, o que as torna uma importante ferramenta no diagnóstico de parasitoses, principalmente
em larga escala. Entretanto, os equipamentos e qualificação dos profissionais em sua utilização
ainda limita seu emprego.
248
UNIDADE 9
249
UNICESUMAR
5' 3'
Extensão
Filamentos
3' 5' A polimerase estende o
de DNA 5' 3' primer para formar o
(nascentes)
3' 5' filamento de DNA nascente
25= 32 cópias
Imagem 11 - Técnica da Reação em Cadeia da Polimerase / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 49)
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma figura ilustrativa explicando o processo da PCR. Do lado esquerdo da imagem,
observa-se o desenho de um aparelho de cor cinza, com botões, o termociclador. No centro da imagem na parte superior, podem ser ob-
servadas linhas de cor vermelha, representando o DNA. Dessas linhas parte uma seta para baixo, contendo o escrito “98º C”, ligando a duas
linhas azuis separadas, com a legenda “desnaturação”, em sequência, uma segunda seta para baixo, contendo o escrito “48 a 72º C”, ligando
a novas linhas azuis separadas contendo pequenas linhas amarelas ligadas nas extremidades, os “primers”, com a legenda “anelamento”;
em sequência, uma terceira seta para baixo, contendo o escrito “68 a 72º C”, ligando a novas linhas azuis separadas, com as pequenas linhas
amarelas ligadas nas extremidades, de onde partem linhas vermelhas que são estendidas por estruturas marrons em forma de “C”, com a
legenda “extensão”. Na porção inferior, há quatro blocos de linhas paralelas, ligadas entre si por linhas perpendiculares, que vão aumentando
proporcionalmente. Na esquerda, o bloco 1 contém a legenda “1º ciclo, 4 cópias”, seguido pelo bloco 2 com a legenda “2º ciclo, 8 cópias”,
seguido pelo bloco 3 com a legenda “3º ciclo, 16 cópias”, seguido pelo bloco 4 com a legenda “4º ciclo, 32 cópias”, seguindo por uma legenda
onde se lê “30º ciclo, 2 bilhões de cópias” e, por fim, do lado direito a legenda “Amplificação exponencial”.
Para várias metodologias de PCR, assim como para o diagnóstico das doenças parasitárias, a deter-
minação do primer é ponto fundamental, pois esses pequenos fragmentos de RNA são sintetizados
para se ligar especificamente na parte do DNA de interesse. Assim, quando se quer determinar, por
exemplo, a presença do Plasmodium vivax (protozoário causador da malária), pode-se sintetizar um
primer específico para a porção do DNA responsável pela síntese de uma das proteínas do complexo
apical. Para entender melhor a técnica da PCR, veja o eu indico a seguir.
250
UNIDADE 9
Na técnica do PCR tradicional, após a amplificação do DNA, a amostra é submetida a uma eletrofo-
rese em gel para que se possa separar as moléculas amplificadas e assim confirmar o resultado. Após
separados, os fragmentos de DNA podem ser corados (existem vários corantes diferentes, um exemplo
é o brometo de etídio que fluoresce na presença de luz ultravioleta) e assim comparados a um padrão
de tamanho (Imagem 12). Como os primers permitem a determinação exata da região do DNA que
se quer amplificar, é possível determinar o tamanho das moléculas amplificadas e, agora no gel de
eletroforese, confirmar o resultado do exame (MORAES; FERREIRA, 2013).
Imagem 12 - Gel com DNA amplificado por PCR corados e observados à luz ultravioleta. Os poços 1 e 2 são os padrões de tama-
nho de fita de DNA. Quanto mais baixo no gel menor o tamanho da fita
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um gel de agarose corado com um corante fluorescente e observado sob luz ultra-
violeta. As estruturas coradas no gel, em forma de bandas transversais, aparecem sobre um brilho laranja. No centro do gel, há duas colunas
marcadas com os números 1 e 2. Nestas colunas, observa-se um padrão de bandas, de cima a baixo.
251
UNICESUMAR
Embora o PCR seja uma técnica sensível e específica, o tempo decorrido para a sua realização
é uma desvantagem em relação a outras metodologias. Uma variação do PCR normal, muito
utilizada, e que corrigido o fator do tempo, é a denominada PCR em Tempo Real ou PCR
quantitativa (qPCR). Essa técnica, apesar de mais onerosa devido ao tipo de equipamento
utilizado, permite a detecção e contagem da amplificação do DNA no momento em que este
ocorre (por isso denominada em tempo real).
O PCR em tempo real se baseia na junção de moléculas intercalantes (moléculas que se inserem
entre as fitas de DNA) ou sondas de oligonucleotídeos nas novas moléculas de DNA que se for-
mam. Assim, toda a vez que a dupla fita de DNA se abre para ser copiada, esses intercalantes são
liberados e emitem um sinal fluorescente detectado pelo aparelho. Para que o exame possa ser
realizado, o aparelho utilizado é um termociclador acoplado a um fluorímetro (sensor detector
de fluorescência), permitindo a detecção e medição da amplificação à medida que esta ocorre, ou
seja, em tempo real.
Outra variação do PCR tradicional é o RT-PCR. Pela sigla, essa técnica é muitas vezes con-
fundida com o PCR em tempo real, mas tem uma aplicação bem diferente, embora possam ser
utilizadas em conjunto. O nome RT vem de Transcriptase Reversa, uma enzima capaz de copiar
moléculas de RNA em moléculas de DNA. Com essa técnica, é possível detectar a expressão gênica
de parasitos, medindo sua atividade através da detecção de mRNAs. Ela é empregada, por exemplo,
para medir a viabilidade de oocistos Entamoeba histolytica (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A última técnica molecular indireta de diagnóstico que você irá conhecer é denominada
de Microfluídica. Como o nome sugere, nesta técnica, são utilizadas quantidades ínfimas de
fluídas (amostras ou reagentes), inseridas em dispositivos com canais extremamente reduzidos
(Imagem 13). Essa técnica pode ser acoplada a muitas outras, incluindo as de PCR, aumentando
a eficiência do teste, possibilitando um maior número de análises em menor tempo e com menor
custo (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). São utilizadas tanto para a junção de reagentes antes da
amplificação do PCR, quanto para verificação do produto final de amplificação.
A análise clínica tem desenvolvido protocolos que utilizam essa tecnologia, aumentando a eficiência
das análises, conforme relatam Siqueira-Batista et al. (2020, p. 54):
252
UNIDADE 9
Descrição da Imagem: Na imagem, em fundo preto, observa-se uma placa plástica, contendo em seu interior um canal começando da
direita, com três canais que se unem para formar um, que vai fazendo zigue e zague até a extremidade esquerda, com coloração vermelha.
“
Com esta técnica pode-se reduzir procedimentos complexos de laboratório a apenas um
microchip. Os microssistemas para análises totais (μTAS, do inglês micro total analysis
systems), também denominados laboratório em um chip (lab-on-a-chip) ou sistemas
analíticos microfluídicos, conseguem realizar todas as etapas de uma análise química
completa (pré-tratamento de amostra, reações químicas, separações analíticas, detecção
etc.) em apenas um dispositivo de maneira integrada e automatizada.
253
UNICESUMAR
254
Caro(a) aluno(a), com base nos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, estou certo de
que é capaz de preencher o mapa mental a seguir.
Microfluídica
Métodos Indiretos
Aglutinação
255
1. Leia o texto a seguir.
Nas técnicas imunoenzimáticas: “um dos fatores mais importante é a eficiência do conjugado
empregado e, consequentemente, a escolha de três componentes: anticorpo ou antígeno,
enzima e processo de conjugação”.
Fonte: NEVES, D. P. Parasitologia humana. 13.ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016, p. 108.
256
UNIDADE 1
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263
UNIDADE 1
Monoxênico
Parasitismo
Definitivo
Heteroxênico
Hospedeiro
Intermediário
Filo Sarcomastigophora
PARASITOLOGIA
Protozoários Filo Apicomplexa
Filo Ciliophora
Filo Nematoda
Principais Parasitos Helmintos
Filo Platyhelminthes
Classe Insecta
Artrópodes
Classe Arachnida
1. Parasito pode ser definido como o indivíduo de uma espécie que estabelece uma relação, íntima, du-
radoura, de dependência e benéfica para si, com outra espécie, a qual sofrerá algum tipo de prejuízo.
2. Ciclo monoxênico é aquele em que o parasito apresenta um único hospedeiro em ciclo biológico, sendo
este denominado de hospedeiro definitivo. Ciclo heteroxênico é aquele em que o parasito apresenta
mais de um hospedeiro em ciclo biológico, sendo um deles denominado intermediário, onde geral-
mente ocorre a fase assexuada ou larval, e o outro o hospedeiro definitivo, onde se desenvolvem as
formas adultas ou reprodutivas.
3. Espoliativa: consiste na utilização de nutrientes do hospedeiro pelo parasito. É uma competição pela
captura e utilização de nutrientes que podem estar, tanto na luz intestinal quanto no sistema circula-
tório. Mecânica: consiste nas lesões causadas simplesmente pela presença do parasito em um órgão,
ocupando um espaço que não foi constituído para ele ou se locomovendo, causando obstrução ou
destruição de tecidos. Anóxia: corresponde à falta de oxigênio em tecidos, provocada pelo consumo
deste nas hemácias ou pela destruição das próprias hemácias.
264
UNIDADE 2
Mortalidade
Prevalência
Indicadores de Saúde Morbidade
Incidência
Primárias
Letalidade
Secundárias Medidas de
Prevenção
Terciárias
EPIDEMIOLOGIA
Surto
Vigilância
Epidemiológica
Endemia
1. A resposta esperada deve atender, aproximadamente, aos seguintes critérios: epidemiologia pode
ser definida como a ciência que estuda a distribuição de doenças ou enfermidades, assim como a de
seus determinantes na população humana.
2. A resposta esperada deve atender, aproximadamente, aos seguintes critérios: a diferença entre in-
cidência e prevalência é que, incidência determina o risco de adoecer, medindo o número de casos
novos de uma doença em um período de tempo determinado, enquanto a prevalência analisa casos
novos e antigos, demonstrando a situação da doença na população em um tempo definido, indicando
principalmente o estabelecimento de endemias, mas permite determinar o risco de adoecer.
3. A resposta esperada deve atender, aproximadamente, aos seguintes critérios: uma epidemia pode ser
definida como a ocorrência de uma doença em uma população, que se caracteriza por uma elevação
progressiva, inesperada e descontrolada, ultrapassando os valores endêmicos esperados.
265
UNIDADE 3
Cinetoplasto
Eucariotos
Citóstoma
Subfilo
Mastigophora Flagelos
Unicelulares Estruturas Vacúolo Contrátil
especializadas
Subfilo Sarcodina Pseudopodes
Locomoção Endoplasma
PROTOZOÁRIOS
Trofozoíto Sistêmicos
1. Protozoários podem ser definidos como organismos unicelulares, microscópicos e eucariotos. Estes or-
ganismos possuem organelas específicas como: vacúolos contráteis ou pulsáteis, que tem a capacidade
de se contrair e expulsar para fora da célula o que tem em seu interior, geralmente água, funcionando
como controladores da pressão osmótica interna da célula; citóstoma, uma abertura presente na por-
ção lateral da célula que facilita a ingestão de partículas, agindo como uma “boca” para o organismo.
2. As duas fases evolutivas de protozoários com ciclo monoxênico são: trofozoíto e cisto. O trofozoíto
pode ser considerado a forma ativa do protozoário. Já o cisto, é a forma de resistência do protozoário,
que possui uma parede externa extremamente resistente, possibilitando que o organismo sobreviva
em condições impróprias, até que alcance o habitat apropriado.
3. O trofozoíto de Giardia duodenalis pode ser caracterizado apresentar simetria bilateral, quatro pares
de flagelos, a superfície dorsal lisa e convexa, enquanto a superfície ventral é côncava, forma uma
estrutura semelhante a uma ventosa, denominado de disco ventral, a qual o parasita usa para se fixar
na mucosa intestinal.
266
UNIDADE 4
Amastigotas Amastigotas
Leishmania sp.
Trypanosoma
Epimastigotas cruzi Promastigotas
Utiliza como meio
de circulação
Tripomastigotas Taquizoitos
Utiliza como habitat
Esporozoitos Bradizoitos
Protozoário Toxoplasma
Merozoitos gondii
Merozoitos
Plasmodium sp
Microgametas Microgametas
SISTEMA CIRCULATÓRIO
Macrogametas Macrogametas
2. Resposta: A fase no hospedeiro vertebrado tem início quando a fêmea do mosquito infectada rea-
liza o repasto sanguíneo. A infecção se dá no momento da picada, pois, o acúmulo de parasitas no
esôfago e faringe do inseto atrapalha ou impede a sucção do sangue e, na tentativa de se alimentar,
o inseto vetor regurgita os parasitas para dentro dos tecidos da pele. Nesta região há várias células
do sistema mononuclear fagocítico, especialmente os macrófagos. Após os parasitas se ligarem a sua
membrana plasmática, os macrófagos fagocitam os promastigotas formando vacúolos parasitóforos.
Nestes vacúolos a forma promastigota se diferencia em amastigota que se multiplica por fissão binária.
A multiplicação das amastigotas continua até não haver mais espaço na célula, que se rompe e libera
os parasitas nos tecidos para infectar outros macrófagos e continuar a infecção.
3. Resposta: Quando as hemácias são lisadas, diversos metabólitos, como o pigmento malárico (he-
mozoína), derivado da metabolização da hemoglobina pelo parasita, são liberados no sistema circu-
latório. Ao chegarem no baço, tanto as hemácias infectadas quanto os metabólitos, são fagocitados
por macrófagos que se ativam e liberam grande quantidade de citocinas. Estas induzirão diversos
processos inflamatórios (resultando no ataque malárico), além da expressão de moléculas de adesão
no endotélio dos capilares sanguíneos. Essas moléculas de adesão sequestram hemácias infectadas
(por expressarem moléculas diferentes nas membranas), gerando microcoágulos que interrompem o
fluxo sanguíneo, causam lesões nos vasos, promovendo o extravasamento de líquido para o interstício.
267
UNIDADE 5
Metazoários Vermes
HELMINTOS
Platyhelminthes Aconthocephala
Nematoda
1. Os nematódeos são vermes com a característica principal de possuírem o corpo cilíndrico e alongado,
com tamanho variando, dependendo da espécie, de poucos milímetros a dezenas de centímetros. Seu
corpo cilíndrico não é segmentado, apresentando simetria bilateral, e cavidade interna não revestida
por um epitélio, sendo esta preenchida com líquido, caracterizando-os como pseudocelomados.
3. A autoinfecção interna ocorre em casos incomuns, após as fêmeas adultas eclodirem e liberam os
ovos no interior do ânus, os ovos podem eclodir e liberar as larvas que migram de volta pelo intestino
grosso até o ceco, se fixam e se tornam adultos.
268
UNIDADE 6
Alimentos
Forma de contaminados
infecção com ovos
Taenia sp.
Principal
representante
Segmentado Hospedeiro Suínos
intermediário e bovinos
PLATHELMYNTHES
Hermafroditos
Não segmentado
Hospedeiro Caramujo
Corpo Trematoda intermediário Biomphalaria
Tudo digestório
incompleto
Biologia Penetração da
Forma de infecção larva pela pele
1. Resposta: A cisticercose consiste na ingestão dos ovos da Taenia solium, resultando na liberação da
oncosfera no intestino, penetração da parede intestinal por esta, migração para os tecidos por meio
do sistema circulatório e formação de cisticercos.
269
UNIDADE 7
1. Resposta: O corpo de um artrópode, incluindo os insetos, pode ser dividido em cabeça, tórax e abdô-
men. Os insetos podem ser caracterizados como animais que apresentam: três pares de patas, dois
pares de asas, um par de antenas, um par de olhos compostos.
2. Resposta: O Culex quinquefasciatus tem como características morfológicas ser pequeno, cor de pa-
lha, tendo o dorso do tórax com escamas amarelas, com coloração pardo escuro, e com duas linhas
escuras e longas, marcadas de formas longitudinais.
3. Resposta: Existem dois tipos principais de miíases: 1- as hematófagas (também denominadas de miía-
ses obrigatórias ou primárias) são parasitoses causadas por larvas de dípteros que só se desenvolvem
sobre ou dentro de vertebrados vivos. 2- as saprófagas (também denominadas de miíases facultativas
ou secundárias) são parasitoses causadas pelas larvas de dípteros que normalmente se desenvolvem
em matéria orgânica em decomposição, porém, quando há oportunidade, podem se desenvolver em
tecido necrosado em organismos vivos.
UNIDADE 8
270
Recipiente Limpo
Observação do Parasito Indicação do Parasito
Não estéril
Fezes
Punção venosa
DIAGNÓSTICO
Métodos diretos
Flutuação espontânea
Fixado
Centrifugoflutuação
Concentração de larvas
Concentração de ovos
1. Resposta esperada: A fase analítica se inicia com o exame macroscópico das fezes, ou seja, o exame
visual direto realizado pelo laboratorista. Neste exame serão analisados a consistência, a presença de
componentes anormais e a presença de parasitos macroscópicos.
2. Resposta esperada: O método de Hoffman, Pons e Janer, consiste em diluir as fezes em água, formando
uma solução que, após filtrada, é colocada em um cálice cônico, deixado em repouso por até 24 horas. No
final desse período, o sedimento do fundo é coletado e observado no microscópio. Esse método é utilizado
com frequência na rotina de laboratórios de análises clínicas por ser simples, ter baixo custo. É utilizado
para observar ovos e larvas de helmintos, ou cistos e oocistos de protozoários.
3. Resposta esperada: No esfregaço em camada delgada, coloca-se uma gota de sangue no lado direi-
to de uma lâmina, seguido, com uma segunda lâmina, inclinada a 45º, que desliza-se sobre a lâmina
apoiada, da esquerda para a direita, até que esta toque a gota de sangue. Em seguida, desliza-se a
segunda lâmina novamente, agora da direita para a esquerda, espalhando o sangue sobre a lâmina
apoiada, que deve ser agitada para que o mesmo seque. Após a lâmina secar deve ser realizada a
fixação com álcool metílico por um minuto. Em seguida, aplica-se o corante, uma solução de Giemsa,
cobrindo ou mergulhando a lâmina por um período de 20 a 30 min.
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UNIDADE 9
Imunoprecipitação Eletroforese
Aglutinação
Imunofluorescência
Imunodifusão
Imunocromatografia
Elisa Imunológicos
Citometria de fluxo
Métodos Indiretos
2. Resposta esperada: O PCR em tempo real se baseia na junção de moléculas intercalantes (moléculas
que se inserem entre as fitas de DNA) ou sondas de oligonucleotídeos nas novas moléculas de DNA
que se formam. Assim, toda a vez que a dupla fita de DNA se abre para ser copiada, esses intercalan-
tes são liberados e emitem um sinal fluorescente detectado pelo aparelho. Para que o exame possa
ser realizado, o aparelho utilizado é um termociclador acoplado a um fluorímetro (sensor detector de
fluorescência), permitindo a detecção e medição da amplificação à medida que esta ocorre, ou seja,
em tempo real.
3. Resposta esperada: O xenodiagnóstico pode ser descrito com o procedimento em que se permite que
um hospedeiro intermediário criado em cativeiro garantindo que não tenha o parasito, na maioria das
vezes um inseto, realize o repasto sanguíneo ingerindo assim o parasito. Esse parasito, no interior do
hospedeiro intermediário, irá se multiplicar facilitando sua identificação, principalmente pelo tamanho
reduzido do corpo do inseto facilitando o exame e ou a produção de amostras.
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