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PARASITOLOGIACLÍNICA

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Parasitologia

Clínica
PROFESSOR
Dr. Vinícius Pires Rincão

ACESSE AQUI O SEU


LIVRO NA VERSÃO
DIGITAL!
PRODUÇÃO DE MATERIAIS

Coordenador de Conteúdo Sidney Edson Mella Junior Designer Educacional Lucio Carlos Ferrarese Curadoria Katia
Salvato Revisão Textual Carlos Augusto Brito Oliveira Editoração Matheus Silva de Souza Ilustração Andre Luis Azevedo
da Silva, Eduardo Aparecido Alves, Geison Ferreira da Silva, Wellington Vainer Realidade Aumentada Maicon Douglas
Curriel Fotos Shutterstock.

FICHA CATALOGRÁFICA

U58 Universidade Cesumar - UniCesumar.


Parasitologia Clínica / Vinícius Pires Rincão. - Indaial,
SC : Arqué, 2023.
272 p. : il.

ISBN papel 978-65-5466-058-7


ISBN digital 978-65-5466-055-6

“Graduação - EaD”.
1. Parasitologia 2. Clínica 3. Parasitismo. 4. Vinícius Pires
Rincão. I. Título.

CDD - 616.96

Núcleo de Educação a Distância.

Bibliotecária: Leila Regina do Nascimento - CRB- 9/1722. Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar
Diretoria de Design Educacional
Ficha catalográfica elaborada de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Impresso por:

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
02511382
Dr. Vinícius Pires Rincão

Olá, prezado(a) aluno(a)! Meu nome é Vinícius, e quero contar a vocês um


pouco sobre mim. Quando criança sempre estive rodeado pela natureza,
pois morei em um sítio até meus quinze anos. Este contato me fez gostar
muito de tudo que dizia respeito a animais e plantas, o que me levou a
cursar a graduação em Ciências Biológicas. Já no curso, me apaixonei
pelo mundo invisível dos microrganismos e como eles nos afetam de
várias maneiras. Isto me direcionou a cursar o mestrado e o doutorado
em microbiologia. Enquanto me aperfeiçoava com a pós-graduação,
descobri que gosto muito de ministrar aulas e é o que tenho feito desde
então, principalmente para graduação e pós-graduação. Atualmente,
divido meu tempo profissional entre as aulas e a atuação como Perito
Criminal, profissão que exerço há quatro anos.
Quando não estou me dedicando às aulas ou exame pericial, gosto
de praticar esportes, principalmente a corrida e o futebol. Embora não
mais atuando diretamente como biólogo, parece que a biologia não saiu
de mim pois, sempre que posso, gosto de explorar trilhas e cachoeiras,
principalmente acompanhado pela minha filha Olívia. Gosto também de
jogos de tabuleiro, especialmente daqueles que ocupam minha mente
por horas - são fantásticos e desafiadores.
Aqui você pode A partir daqui você terá em mãos um material preparado com carinho
conhecer um
e cuidado, pensado para você e sua atuação profissional. Busquei sem-
pouco mais sobre
pre direcionar seu estudo com exemplos voltados para a atuação direta
mim, além das
informações do com a parasitologia, e sei que vão gostar. Caso você queira conhecer
meu currículo. um pouco mais sobre minha atuação profissional, não deixe de acessar
meu currículo Lattes!

Lattes: http://lattes.cnpq.br/7771858338827888
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RODA DE CONVERSA

Professores especialistas e convidados, ampliando as discussões sobre os temas.

PÍLULA DE APRENDIZAGEM

Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode
sobre o código, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido

PENSANDO JUNTOS

Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite


este momento.

EXPLORANDO IDEIAS

Com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do


assunto discutido, de forma mais objetiva.

EU INDICO

Enquanto estuda, você pode acessar conteúdos online que ampliaram a discussão sobre
os assuntos de maneira interativa usando a tecnologia a seu favor.

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PARASITOLOGIA CLÍNICA

A parasitologia tem como sua principal característica, estudar a interação dos parasitos com o ser humano, com
o ambiente e com outros animais. Caro(a) aluno(a), você já parou para pensar no que é a parasitologia e qual a
importância para os seres humanos? Como a parasitologia pode ajudar a entender surtos de doenças, como o
que ocorreu em Santa Isabel do Ivaí em 2001 onde, dos 9.154 habitantes, mais de quatrocentos apresentaram
resultado positivo para toxoplasmose?
Todos os seres vivos existentes em nosso planeta apresentam algum tipo de relação com outra espécie em
algum momento de sua vida. Essa relação pode se mostrar de duas formas: positiva (benéfica) ou negativa (ad-
versa). Quanto mais tempo a relação entre duas espécies dura, maior é o nível de especialização existente. Uma
dessas formas de interação negativa é o parasitismo.
Para que se possa pensar em métodos eficientes para o tratamento e prevenção de doenças parasitárias,
é essencial que se conheça toda a ecologia dos parasitos, sua interação com o ser humano, com o ambiente e
hospedeiros intermediários. Esse é o foco de estudo da parasitologia.
Entre novembro de 2001 e janeiro de 2002, cerca de 600 pessoas da cidade de Santa Isabel do Ivaí, no estado
do Paraná, apresentaram sintomas compatíveis com toxoplasmose. Essa é uma doença causada pelo parasito
Toxoplasma gondii, que infecta principalmente felinos, e pode ser transmitida ao ser humano pelo contato com as
fezes do animal contaminado e ingestão das formas infectantes.
Caro(a) aluno(a), tente imaginar como uma doença com esse mecanismo de transmissão poderia infectar
tantas pessoas, quais meios os profissionais da saúde usaram para identificar o parasito, e como essas análises
permitiram identificar a fonte da contaminação e propor medidas de prevenção.
A parasitologia estuda a interação dos parasitos com o ser humano em diversos níveis. Um dos aspectos desse
estudo tenta entender como uma parasitose se distribui na população - ou seja, sua epidemiologia, permitindo
que os pesquisadores, muitas vezes, possam determinar a fonte de contaminação e interrompê-la. Outro ponto
de estudo está relacionado a identificação de qual parasito causa a doença examinada, um dos pontos centrais
da parasitologia clínica.
Para que se possa aplicar esses conhecimentos em casos reais, é preciso que os profissionais da saúde tenham
o mínimo de conhecimento sobre a parasitose. Por exemplo: no caso da toxoplasmose, qual amostra deve ser
examinada em busca do parasito: sangue, fezes ou as duas? Os sintomas podem ser utilizados para diagnosticar
a parasitose?
Neste livro você aprenderá os principais conceitos e aplicações da parasitologia, principalmente na área clínica.
Na Unidade 1 você vai conhecer o conceito de parasito e parasitismo, entendendo a relação com o meio ambiente
e a espécie humana, além de conhecer os principais grupos de organismos que são parasitos do ser humano.
Na Unidade 2 você vai aprofundar seus conhecimentos em epidemiologia relacionada às doenças parasitárias.
Na Unidade 3 aprenderá sobre os protozoários, com ênfase nas espécies de interesse da parasitologia, principal-
mente do trato gastrointestinal e genital. Na Unidade 4 o estudo abordará os protozoários que parasitam a pele
e os sistemas internos do corpo, especialmente o Sistema Circulatório.
Na Unidade 5 conhecerá os helmintos e suas características, iniciando os estudos da parasitologia com o
grupo do nematódeos, aprendendo sobre os agentes etiológicos dessas parasitoses, sua biologia e métodos de
diagnóstico. Na Unidade 6 o estudo será sobre os helmintos do Filo Platyhelminthes, e das duas classes principais:
Cestoda e Trematoda.
Na Unidade 7 você aprenderá sobre a relação dos artrópodes com a parasitologia, tanto como agente etiológico,
quanto como vetor. Na Unidade 8 você conhecerá os diferentes métodos de diagnósticos direto de parasitoses.
E por fim, na Unidade 9 você conhecerá os diferentes métodos de diagnóstico indireto de parasitoses.
Essa é apenas nossa introdução a esse assunto fantástico que é a parasitologia. Tenho certeza que, assim como
eu, você quer entender melhor sobre as parasitoses e como podem ser diagnosticadas, tratadas e prevenidas.
Venha comigo conhecer esses e outros aspectos dos parasitos e doenças que eles causam. Aprofunde seus conhe-
cimentos em cada um dos capítulos do livro e adquira os conhecimentos que irão auxiliá-lo(a) em sua profissão.
1
11 2
39
INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA
CONCEITOS GERAIS APLICADA À
EM PARASITOLOGIA PARASITOLOGIA

3
63 4
99
PROTOZOÁRIOS PROTOZOÁRIOS
PARASITAS E PARASITAS
ENTÉRICOS SISTÊMICOS,
E DO TRATO DOS SISTEMAS
GENITURINÁRIO CIRCULATÓRIO
SANGUÍNEO E
CUTÂNEO

5 131 6
161
HELMINTOS: HELMINTOS:
NEMATÓDEOS PLATELMINTOS
PARASITOS PARASITOS
7 8
189 215
ARTRÓPODES E A DIAGNÓSTICO DAS
SUA RELAÇÃO COM PARASITOSES:
A PARASITOLOGIA MÉTODOS DIRETOS

9
235
DIAGNÓSTICO DAS
PARASITOSES:
MÉTODOS
INDIRETOS
1
Introdução e
Conceitos Gerais
em Parasitologia
Dr. Vinícius Pires Rincão

Nesta unidade, você vai conhecer o conceito de parasito e para-


sitismo, entendendo a relação com o meio ambiente e a espécie
humana. Também abordaremos os diferentes conceitos necessários
para o entendimento da parasitologia e o aprofundamento nas
diferentes doenças causadas por parasitos no homem, além de
apresentar os principais grupos de organismos que são parasitos
do ser humano.
UNICESUMAR

Nosso planeta é repleto de vida. Atualmente, estima-se que


exista próximo de 1 trilhão de espécies entre plantas, ani-
mais, fungos e microrganismos, vivendo e interagindo
em diferentes habitats e condições. Caro(a) aluno(a),
você já parou para pensar nas diferentes relações inte-
respecíficas a que os seres humanos estão sujeitos em
nosso planeta? Como estas interações afetam nossa
sociedade e a nossa saúde?
Muitas das espécies que existem no planeta
apresentam uma relação íntima e direta entre si.
Esta relação pode ser benéfica e é encontrada em toda
parte, como no meio de uma floresta, onde orquídeas e
bromélias vivem sobre árvores para facilitar a captação de
luz e água; ou no meio do oceano, onde temos a rêmora, um
peixe que vive junto ao tubarão e se aproveita dos restos de
sua alimentação; no pasto em uma fazenda, onde o anu, uma
ave, se alimenta de parasitos externos retirados do gado; e em
você mesmo, onde bactérias da microbiota intestinal (grupo de
microrganismos que habita o intestino) sintetizam vitaminas
que são absorvidas pelo organismo.
Por outro lado, são inúmeros os exemplos de
relações entre espécies que são adversas, ou seja,
trazem prejuízo para uma ou para as duas
espécies, como a relação entre um leão e
sua presa, ou a relação desenvolvida en-
tre microrganismos e o ser humano, re-
sultando em inúmeras doenças. É neste
contexto que encontramos os parasi-
tos. O parasitismo é um tipo de relação
adversa que afeta de diversas formas a
sociedade humana, desde a saúde do
ser humano, passando pela economia
e chegando a interferir no meio social.
Neste contexto, para que você en-
tenda um pouco mais sobre a importân-
cias das parasitoses (doenças causadas por
parasitos), proponho um desafio para você:
pesquise quais as parasitoses mais comuns no
Brasil, e qual a probabilidade de você já ter en-
trado em contato com uma delas.

12
UNIDADE 1

O Brasil, por ser um país de grande extensão e


com clima variado e grande biodiversidade, possui
as características necessárias para abrigar diversas
espécies de parasitos. Entretanto, muitos destes pa-
rasitos dependem de condições ambientais, bem
como de hospedeiros específicos para desenvolver
seu ciclo de vida. E é nesse ponto que surgem mui-
tas questões: Como a interação com o meio am-
biente e outras espécies se relacionam com as
parasitoses existentes no Brasil? Como você,
aluno(a), poderia entrar em contato com
um parasito na região onde reside? Como os
conhecimentos sobre as diferentes parasitoses,
seus agentes etiológicos e sua interação com ou-
tras espécies podem ser relevantes para o pro-
fissional de saúde? Caro(a) aluno(a), agora
é sua vez. Pense na pesquisa que você fez
e nas questões que levantamos, e escreva
seus resultados no seu diário de bordo a
fim de que eu e você possamos analisá-las
juntos no decorrer desta unidade.

13
UNICESUMAR

Estudar os parasitos e suas características é fundamental para entender as doenças que podem causar.
Neste aspecto, o ponto de partida do nosso estudo é definir a Parasitologia.
Quando um indivíduo se encontra doente, ou seja, seu estado de saúde se encontra alterado, dois
fatores principais podem estar envolvidos (REY, 2008): os genéticos e as interações homem-ambiente.
Os fatores genéticos englobam diversos aspectos, muitos dos quais pouco entendidos pelo co-
nhecimento científico alcançado até o momento, e para os quais não cabe nossa discussão neste livro.
Já os fatores ambientais e a relação com o ser humano, estão diretamente as-
sociados à nossa discussão. Você já parou para pensar quais fatores e características
do meio ambiente interferem na saúde de nosso organismo?
Quando batemos em uma pedra e temos uma lesão, ou
quando comemos uma substância que nos é tóxica,
temos os fatores físicos e químicos do ambiente in-
teragindo diretamente com o organismo. Porém,
como já discutimos, o planeta está repleto de
vida e muita dessa vida, como vírus, bactérias,
fungos, protozoários, helmintos (vermes), en-
tre outros, podem diretamente interagir com
nosso organismo e causar alterações fisiológi-
cas e/ou físicas, resultando em doenças, e este é
o fator biológico interagindo. Dentre estes orga-
nismos, estão aqueles classificados como parasitos, e
que são o foco de estudo da Parasitologia. Assim, podemos
definir a Parasitologia como a ciência que se ocupa pelo estudo
do parasito, do hospedeiro e do meio ambiente, bem como a relação entre eles.
O entendimento das doenças parasitárias, bem como a determinação de metodologias de prevenção
e tratamento eficientes, dependem muitas vezes do conhecimento da ecologia que envolve o parasito
e seus hospedeiros definitivo e intermediários, quando existirem (REY, 2008), assim como a relação
com o meio ambiente. Neste sentido, para que você compreenda como os parasitos interagem com
o ser humano, e porque recebem esse nome, temos que conhecer os diferentes tipos de relação que
podem existir entre as espécies, bem como a ecologia relacionada a elas.
Vou trazer para você agora as principais formas de interação entres as espécies e como o pa-
rasitismo se insere entre elas. Existem diferentes formas pelas quais duas espécies distintas podem
interagir. Estas formas podem ser divididas em: harmônicas ou positivas, onde as espécies podem ser
beneficiadas ou pelo menos não sofrem nenhum prejuízo; e desarmônicas ou negativas, onde pelo
menos uma espécie é prejudicada. Exemplos de interações harmônicas incluem o mutualismo e comen-
salismo, enquanto interações desarmônicas contemplam, por exemplo, o predatismo e o parasitismo.
Em algumas interações harmônicas ambas as espécies se beneficiam, como no caso do mutua-
lismo, que podemos citar como exemplo os liquens, que surgem da associação entre algas e fungos,
onde a alga por fotossíntese supre alimento para si e para o fungo, enquanto o fungo garante abrigo e
umidade para a alga.

14
UNIDADE 1

Nas interações desarmônicas pelo menos uma das espécies é prejudicada, como no caso do predatismo,
que pode ser entendido como a relação interespecífica em que uma espécie (predador, por exemplo um
leão) caça e utiliza os membros de outra espécie (presa, por exemplo uma gazela) para sua alimentação,
provocando a morte da presa (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Outra forma de abordar as relações interespecíficas diz respeito a sua proximidade, ou seja, o quanto
uma espécie vai interagir fisicamente com a outra; e a sua obrigatoriedade, ou seja, o quanto a sobrevi-
vência de uma espécie depende da interação com a outra. Existe entre os autores certa divergência quanto
à definição de alguns termos, mas, de forma geral, podemos definir que toda associação entre espécies
diferentes é uma simbiose (sin = junto; bio = vida; osis = condição) (NEVES, 2016).
Com base nesta abordagem, podemos separar a relação entre as espécies em quatro tipos diferentes
(REY, 2009; NEVES, 2016), como veremos a seguir:
• Foresia: Neste tipo de associação, uma das espécies utilizaria a outra apenas como transporte
e/ou abrigo. Um exemplo deste tipo de interação, ligada inclusive a parasitologia, é o transporte,
por moscas e mosquitos – em geral hematófagos (insetos que se alimentam de sangue) – dos
ovos de Dermatobia hominis, que eclodem liberando a larva sobre o hospedeiro. A larva causará
uma infecção conhecida popularmente como “berne”.
• Comensalismo: Comensalismo é um termo derivado de “comensal”, cujo significado direto quer
dizer “aqueles que comem à mesma mesa”. Especificamente, o comensalismo engloba as relações
interespecíficas em que as espécies distintas apresentam uma íntima relação, uma se beneficiando
enquanto a outra não sofre nenhum efeito. Neste tipo de interação não há relação de dependência
entre elas. O exemplo da natureza mais simples para entendermos essa associação é o da rêmora
(peixe-piolho) e do tubarão (Imagem 1), onde a rêmora se fixa no tubarão e é transportada aprovei-
tando os restos da alimentação do tubarão, mas não causa nem prejuízo nem traz benefício a este.

Imagem 1 - Rêmora e tubarão / Fonte: thewiki.kr (2022).

Descrição da Imagem: Esta imagem se trata de uma foto de um tubarão nadando em alto mar. Ele ocupa o centro da foto, tem o
dorso cinza e o ventre branco, e está voltado para a direita, nadando submergido no mar azul. Próximo a seu ventre e costas estão
cinco peixes menores, esguios e compridos, de cor prata, com cabeças planas e enrugadas. Dois desses peixes estão grudados em seu
corpo em seu dorso, um perto da barbatana direta, e o outro perto da barbatana dorsal .

15
UNICESUMAR

• Mutualismo: Neste tipo de interação, as duas espécies vivem em íntima associação, ambas se bene-
ficiando. Porém, diferente do comensalismo, o mutualismo gera uma relação de dependência. Um
exemplo deste tipo de associação ocorre entre os animais ruminantes e microrganismos que habitam
o rúmen (um dos estômagos dos animais ruminantes, como a vaca) de seu trato digestivo. Enquanto
o animal ingere diversos alimentos que nutrirão os microrganismos, estes digerem moléculas, como
a celulose, que o animal não conseguiria digerir sozinho.
• Parasitismo: Para Rey (2009, p. 7), “Parasitismo é toda relação ecológica desenvolvida entre in-
divíduos de espécies diferentes, em que se observa, além de associação íntima e duradoura, uma
dependência metabólica de grau variável”.

Como uma regra do parasitismo, uma espécie se beneficia (o parasito) enquanto a outra sofre algum
tipo de prejuízo (o hospedeiro). Entretanto, as espécies estão adaptadas à relação, e o prejuízo ocasionado
não gera a morte do hospedeiro, pois esse fato não seria vantajoso para o parasito, uma vez que ele próprio
também morreria. É claro que toda esta interação depende de adaptações, tanto do parasito quanto do
hospedeiro, desenvolvidas por um longo período de evolução, e que dependem de condições do meio e do
próprio indivíduo que serve como hospedeiro. Assim, dependendo das características em que o parasitis-
mo se instale, bem como as condições físicas do hospedeiro, este pode acabar não suportando o prejuízo
causado pelo parasito e morrer (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Portanto, com base nas características do parasitismo, podemos definir “parasito” como sendo o
indivíduo de uma espécie que estabelece uma relação, íntima, duradoura, de dependência e benéfica
para si, com outra espécie, a qual sofrerá algum tipo de prejuízo. Os parasitos ainda podem ser classifi-
cados, conforme o local do hospedeiro que tomem como habitat, em: ectoparasitos, quando habitam
a região externa do organismo, como por exemplo o Pediculus humanus (piolho) que parasita a cabeça
do ser humano; e endoparasitas, quando habitam a região interna do organismo, como por exemplo
o Ascaris lumbricoides (Imagem 2).

(a) (b)
Imagem 2 - O piolho como ectoparasita (a), e Ascaris lumbricoides como endoparasita (b) / Fonte: Rosa Rubicondior (2022).

Descrição da Imagem: A imagem “a” apresenta uma aproximação do couro cabeludo de uma pessoa, pele clara, com cabelos casta-
nhos-claro. No centro, está um pequeno inseto fino e marrom grudado a um fio de cabelo. Na imagem “b” é observado o interior de
intestino, um tubo de músculos rosa úmidos e divididos em anéis, onde se observa um verme rosa alongado e cilíndrico.

16
UNIDADE 1

É com base nesta definição de parasito e parasitismo que você vai explorar os diferentes grupos de
organismo que afetam o ser humano, bem como entender como interagem com o meio ambiente e os
diferentes tipos de hospedeiros, aprendendo os detalhes de sua biologia.

Agora que você sabe o que é um parasito, reflita comigo: como identificar um organismo vivendo
no corpo humano, que causa o mínimo de dano, e que está, na maioria das vezes adaptado para
viver escondido e passar despercebido? Esse é um dos objetivos do profissional de saúde na pa-
rasitologia que vamos entender juntos conforme caminharmos pelo livro.

Você já estudou as diferentes relações existentes entre as espécies e como isso pode resultar em bene-
fícios para uma, ambas ou nenhuma delas. Para aprofundarmos nosso estudo, vamos entender agora
a ecologia destes organismos, a Ecologia Parasitária.
Podemos definir ecologia como a ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si, ou com
o meio orgânico e inorgânico no qual vivem. Assim sendo, e observando que os parasitos estão em
constante interação com o ambiente que o cerca, com outros organismos e principalmente com seus
hospedeiros, podemos definir essa interação como ecologia parasitária (NEVES, 2016).
Um ecossistema consiste em “uma comunidade ecológica ou um ambiente natural, onde há um
estreito relacionamento entre as várias espécies de animais, vegetais e minerais” (NEVES, 2016, p. 11).
Pensando nas características da vida de um parasito, podemos entender que fazemos parte de seu
ecossistema e de seu ciclo de vida.
Uma vez que as doenças causadas por parasitas dependem de sua interação com nosso organismo
e de aspectos de seu ciclo biológico, para entender como essas doenças são causadas é importante
conhecer alguns aspectos da ecologia parasitária.

Habitat: O habitat de um parasito corresponde ao “lugar onde ele vive e onde pode ser
encontrado” (REY, 2008, p.11). Pode ser entendido de uma forma mais ampla, como sendo o
local, ecossistema ou mesmo um órgão, onde uma espécie ou população pode se alimentar
e se reproduzir, possuindo um estreito relacionamento com os demais organismos e com o
ambiente (NEVES, 2016). Como exemplos podemos citar o intestino delgado como habitat do
Ascaris lumbricoides e o sistema circulatório sanguíneo como habitat do Schistosoma mansoni.
Nicho ecológico: O nicho ecológico por outro lado caracteriza a posição que a espécie ocupa
dentro do ecossistema, sendo local que possibilita o atendimento a todas as necessidades
vitais do indivíduo, e este estando perfeitamente adaptado àquele local (REY, 2008). Um exem-
plo que pode ser utilizado para diferenciar o habitat de nicho ecológico engloba os parasitos
Ascaris lumbricoides e Ancylostoma duodenale, onde os dois possuem o mesmo habitat, o
intestino delgado, mas enquanto o Ascaris se alimenta espoliando o alimento da luz intestinal
do hospedeiro, o Ancyslostoma produz lesões no intestino e se alimenta do sangue resultante.

17
UNICESUMAR

Um dos conceitos mais importantes que você precisa entender para o estudo da parasitologia é
o de Hospedeiro. Um hospedeiro pode ser definido como um organismo que abriga o parasito
(NEVES, 2016) tanto internamente, no caso de endoparasitas, como externamente, no caso de
ectoparasitas. Como já analisamos anteriormente, uma das características do parasitismo é o
estabelecimento, com o tempo, de uma relação duradoura, com ínfimo prejuízo para o hospe-
deiro, a fim de garantir a sobrevivência de ambas as espécies. Com base nesta característica, os
hospedeiros podem ser denominados de: hospedeiro natural, correspondendo àquele em que o
parasito está bem adaptado, sofrendo pouco dano e não desenvolvendo doença, e servindo como
reservatório natural para o parasito; hospedeiro anormal, correspondem àqueles em que o pa-
rasito ainda está em processo de adaptação, sofrendo danos e adoecendo ou morrendo durante a
infecção; hospedeiro acidental ou ocasional, corresponde àquele em que raramente o parasito
causa infecção (REY, 2008).
Os hospedeiros podem ainda ser classificados de acordo com sua relação com o ciclo de vida
do parasito em (NEVES, 2016):

- Hospedeiro definitivo: é o hospedeiro que abriga o parasito na forma adulta ou repro-


dutiva final.
- Hospedeiro intermediário: é o hospedeiro que abriga o parasito durante o desenvol-
vimento das fases jovens ou das fases assexuadas.

Um exemplo de fácil compreensão, para entendermos esses dois termos é o da Taenia solium, um
helminto (verme) que parasita o trato intestinal do ser humano. Este tipo de parasito, antes de se
fixar no intestino delgado, onde passará o resto de sua vida se reproduzindo, deve passar por um
estágio de maturação ou larval, de curto período, em um outro animal, o porco. Assim, o porco
corresponde ao hospedeiro intermediário, enquanto o ser humano será seu hospedeiro definitivo.
Vou te fazer uma pergunta e quero que tente responder sem ler os próximos parágrafos: como
os parasitos chegam até os seres humanos? Conseguiu? Muito bom. Para aprofundar seu conhe-
cimento neste aspecto, vem comigo entender o que é um Vetor. Um vetor é entendido como
qualquer forma de transporte que transmitirá o parasito entre dois hospedeiros distintos. O vetor
de um parasito pode ser biótico ou abiótico e, portanto, pode ser classificado da seguinte forma
(NEVES, 2016):
• Vetor biológico: corresponde a um organismo que servirá como transporte e constitui-
rá uma das fases do ciclo de vida do parasito. Um vetor biológico consiste, geralmente, a
moluscos e artrópodes. Um exemplo é do mosquito do gênero Anopheles (Imagem 3) que
serve como vetor para o Plasmodium, causador da malária.

18
UNIDADE 1

Imagem 3 - Mosquito do gênero Anopheles

Descrição da Imagem: A imagem se trata da foto de um mosquito. Ela apresenta uma visão aproximada de uma pele humana, de
cor clara, onde se pode ver um mosquito, pousado, voltado para a direita, e se alimentando de sangue por meio do aparelho bucal
picador-sugador, inserido na pele. A barriga do mosquito se encontra avermelhada e expandida.

• Vetor mecânico: corresponde a um organismo que servirá apenas como transporte, sem que
o parasito se desenvolva ou se reproduza em seu interior. Um exemplo é do transporte dos
ovos e larvas da mosca Dermatobia hominis, que os deposita sobre outro inseto (geralmente
hematófago) que servirá apenas para transportar a larva até o hospedeiro.
• Vetor inanimado: corresponde a objetos como seringas, talheres, copos, ou substâncias, como
por exemplo a água.

Título: Parasitologia
Autor: Luís Rey
Editora: Grupo GEN
Sinopse: Neste livro serão apresentados os principais conceitos de para-
sitologia, englobando as definições gerais de parasitismo e parasito, dos
ciclos parasitários e abordando os principais grupos de parasitos e as
parasitoses por eles causadas.
Comentário: Caro(a) aluno(a), neste livro você terá acesso aos principais
tópicos abordados em nossa disciplina. Ele poderá auxiliar no esclarecimento de dúvidas e ajudar
a aprofundar ainda mais seus conhecimentos sobre a parasitologia.

19
UNICESUMAR

Você aprendeu que a principal característica do parasitismo é que o parasita causa algum prejuízo ao hos-
pedeiro. Esta ação do parasito sobre o hospedeiro pode ocorrer de diversas formas. Um parasito, após
entrar no hospedeiro, pode interagir com este de diferentes formas. Como já aprendemos, o parasitismo
corresponde à interação de um indivíduo, o parasito, sobre outro, o hospedeiro, onde o primeiro se beneficia
e o segundo é prejudicado.
Neste aspecto, o parasito pode utilizar o organismo do ser humano tanto como um abrigo como fonte de
nutrientes, causando danos através de vários processos. Conhecer estes processos é o primeiro passo para
entender como um parasito pode causar doenças. É importante destacar que o parasitismo é um processo
dinâmico e, assim, a patogenicidade (capacidade de um agente infeccioso em causar lesões) de um parasito
e a resistência do hospedeiro estão sempre buscando um equilíbrio (NEVES, 2016), o que, com o tempo,
tende a eliminar a doença.
Dentre as várias formas que um parasito pode causar danos no hospedeiro, as principais, segundo Neves
(2016), são:
a) Espoliativa – consiste na utilização de nutrientes do hospedeiro pelo parasito. É uma competição
pela captura e utilização de nutrientes, que podem estar tanto na luz intestinal quanto no sistema
circulatório. Um exemplo é a utilização de nutrientes da luz intestinal por tênias.
b) Mecânica – consiste nas lesões causadas simplesmente pela presença do parasito em um órgão,
ocupando um espaço que não foi constituído para ele, ou se locomovendo, causando obstrução ou
destruição de tecidos. Um exemplo é a obstrução intestinal por Ascaris lumbricoides (Imagem 4).

Imagem 4 - Obstrução intestinal por Ascaris lumbricoides / Fonte: Wikipedia (2022).

Descrição da Imagem: Na imagem é possível identificar um fragmento do intestino delgado humano, de cor marrom, do qual foi
removido por meio de corte uma porção da parede lateral, causando uma abertura, expondo a luz intestinal. Por essa abertura lateral
é possível visualizar dezenas de vermes brancos cilíndricos e alongados, obstruindo completamente a cavidade interna do intestino.

20
UNIDADE 1

c) Traumática – ocorre quando os parasitos, ao se locomoverem ou se fixarem, causam traumas


(ferimentos) no hospedeiro. Um exemplo deste tipo de dano é a fixação dos ancilostomídeos
na parede intestinal.
d) Tóxica – consiste na produção e liberação de metabólitos (produtos do metabolismo) pelos parasi-
tos, que são tóxicos para o hospedeiro. Os ovos de Schistosoma mansoni podem ser transportados
para diversos órgãos, e sendo sua constituição externa tóxica para os tecidos, desencadeiam a
formação de granulomas (tipo de inflamação onde ocorre a formação de um nódulo em resposta
a ação de células do sistema imunológico que tenta eliminar um agente infeccioso).
e) Imunogênica – corresponde a resposta imune (ação das células do sistema imunológico no com-
bate a partículas e organismos estranhos) contra partículas antigênicas de parasitos que, ao sensi-
bilizar tecidos, agravam a doença. Um exemplo é a ação do sistema imune contra a leishmaniose.
f) Irritativa – corresponde a ação desencadeada nos tecidos, sem produzir traumas, pela simples
presença do parasita, que provoca irritação tissular (tecido biológico). Por exemplo, a ação das
ventosas de Taenia solium na mucosa intestinal.
g) Inflamatória – corresponde ao aumento de células inflamatórias em determinado tecido,
ocasionado pelo parasito ou seus metabólitos, como ocorre na presença de ovos parasitos que
desenvolvem granulomas.
h) Enzimática – pode ser entendido como o dano tecidual ocasionado pela liberação de enzimas
pelo parasito. Um exemplo deste mecanismo ocorre na penetração da larva cercária pela pele.
i) Anóxia – corresponde à falta de oxigênio em tecidos, provocada pelo consumo deste nas
hemácias ou pela destruição das próprias hemácias. Como exemplo, temos a ação do parasito
do gênero Plasmodium.

Como você pode ver, os parasitos podem causar danos ao organismo humano de diversas formas
diferentes. Entretanto, o organismo também possui mecanismos para prevenir ou eliminar parasito-
ses através do Sistema Imunológico. Você já parou para pensar que mesmo entrando em contato,
constantemente, com parasitos, microrganismo e substâncias estranhas, são poucas as vezes que você
fica doente? Isso acontece porque seu organismo está protegido por um verdadeiro exército, o Sistema
Imunológico, constituído por células e moléculas dissolvidas nos líquidos corporais, responsáveis por
desencadear a “resposta imunológica” (resposta imune). Esta pode ser definida, segundo Siqueira-
-Batista et al. (2020, p. 10), como “o conjunto de reações do organismo à presença de um elemento
identificado como não próprio (em inglês, not-self) pelo hospedeiro”.
Estes componentes do Sistema Imunológico podem ser divididos com base nas características
que possuem quanto à forma e velocidade de ação contra o elemento não próprio, que é também
definido como antígeno. Quando estes componentes estão prontos para agir e combatem o an-
tígeno no momento em que tomam conhecimento dele, classificamos como parte da imunidade
natural ou inata. Quando estes componentes necessitam de um contato prévio com o antígeno
e posterior ativação, classificamos como parte da imunidade adquirida ou adaptativa. É im-
portante que você entenda que, embora possam ser classificados de forma separada, estes com-
ponentes fazem parte de um grande emaranhado, e por vezes componentes da imunidade inata
são requisitados pela imunidade adaptativa.

21
UNICESUMAR

Como já discutimos, os parasitos necessitam de um hospedeiro para que possam se desenvolver.


O que ainda precisamos entender é que alguns parasitos podem infectar diferentes espécies de
vertebrados distantes (parasitos eurixenos), outros podem infectar diferentes espécies próximas,
como os primatas (parasitos estenoxênicos), e outras são tão específicas que podem infectar
apenas uma espécie. Este aspecto do parasitismo está, na maioria das vezes, relacionado à susce-
tibilidade e resistência dos hospedeiros.

Parasito estenoxênico é aquele que tem a capacidade de parasitar espécies de vertebrados muito
próximas. Um exemplo são as espécies de Plasmodium que parasitam só primatas.
Parasito eurixeno é aquele que tem a capacidade de parasitar espécies de vertebrados distantes,
ou seja, diferentes entre si. Um exemplo deste tipo de parasito é o Toxoplasma gondii, que pode
infectar mamíferos e aves.
Fonte: Neves (2016).

A suscetibilidade pode ser entendida como a capacidade de um hospedeiro sustentar o desenvol-


vimento de um parasito (REY, 2008); enquanto a resistência é entendida como seu oposto, ou seja, a
capacidade do hospedeiro de combater e impedir o estabelecimento do parasito em seu organismo. É
exatamente com relação a resistência que o sistema imunológico apresenta maior relevância.
A Resposta Imune Natural (RIN), inata ou nativa, por não necessitar de um contato prévio com
o antígeno, tem a capacidade de agir muito mais rápido e, portanto, é a primeira linha de defesa contra
os agentes infecciosos. Entretanto, por estas características, ela é inespecífica, o que significa que não
reconhece antígenos específicos, mas sim antígenos gerais, e por isso não consegue gerar uma memó-
ria imunológica (é a capacidade que o sistema imune tem de gerar células capazes de responder mais
rápido e de forma mais eficiente a uma infecção que já foi combatida no passado, ou seja, é uma forma
do sistema imune se lembrar de uma infecção).
Existem diferentes formas de abordar o sistema imune natural. Para Siqueira-Batista, et al. (2020),
a resposta imune inata pode ser dividida em três componentes:

22
UNIDADE 1

I – Barreiras físico-químicas: as barreiras físicas correspondem a pele e a mucosas que,


ao permanecerem íntegras, impedem a entrada do organismo e partículas estranhas ao
organismo. As barreiras químicas correspondem a moléculas naturalmente produzidas pelo
organismo, e que tem a capacidade de matar ou inibir a multiplicação desses organismos,
como por exemplo a lisozima, considerada um antibiótico natural.
II – Ação de células fagocitárias: fagócitos são células que têm a capacidade de fagocitar (é
a ação, executada por determinadas células do sistema imune, onde há projeção de partes da
célula para puxar algo que esteja fora para dentro da célula) partículas e organismos estra-
nhos e os destruir. Os principais fagócitos do organismo são os macrófagos e os neutrófilos.
III – Ativação inicial do processo inflamatório: vários mecanismos podem agir isolados
ou em conjunto para ativação do processo inflamatório, que visa aumentar o fluxo de sangue
e células de defesa para o local infectado ou lesionado. Um desses elementos da resposta
imune inata é o Sistema Complemento, caracterizado como um conjunto de proteínas dis-
solvidas no plasma sanguíneo, que podem resultar em mediadores químicos da inflamação
e lisar (ação de destruição celular pelo rompimento da membrana plasmática) células.

Outro componente da resposta imune inata são: as células Natural-Killer (tipo de célula do sistema
imune, semelhante a linfócitos T, com a capacidade de reconhecer e destruir células anormais), corres-
pondendo a um tipo de linfócito que não precisa de ativação e é capaz de lisar células pela liberação
moléculas que abrem poros nas membranas destas células
Uma importante função do Sistema Imune Inato é levar os antígenos até as células do Sistema Imune
Adaptativo (SIA). As responsáveis por esse processo são células apresentadoras de antígenos (APCs).
Estas células têm a capacidade de fagocitar o organismo ou partícula estranha, destruí-lo e apresentar
partes dele em sua superfície, possibilitando o reconhecimento desses antígenos pelos linfócitos do SIA.
A Resposta Imune Adquirida (RIA) ou adaptativa, pode ser definida como aquela que é ativada
a partir do contato do antígeno com os linfócitos T e B. Pode, portanto, ser dividida, de acordo com
Siqueira-Batista et al. (2020), em:

I – Imunidade Humoral: a resposta imune humoral é mediada pelos linfócitos B. Esses


linfócitos, após serem ativados, tem a capacidade de sintetizar moléculas específicas contra
o antígeno, que são denominadas de Imunoglobulinas ou Anticorpos, e que são liberadas
nos líquidos corporais (líquidos podem também ser denominados de humor), combatendo,
portanto, a antígenos presentes nestes líquidos.
II – Imunidade Celular: a resposta imune celular é mediada pelos linfócitos T. Embora
a ação destas células seja ampla, sua função principal é eliminar infecções intracelulares.
Existem dois tipos principais de Linfócitos T (LT): LT citotóxicos, que tem a capacidade de lisar
células que estejam infectadas; e LT auxiliares, que têm a capacidade de secretar diversas
citocinas (moléculas que funcionam como sinalizadores químicos, liberadas pelas células
do sistema imune) que controlam as respostas imunes e ativam outras células efetoras.

23
UNICESUMAR

Embora haja muitos mecanismos de ação do sistema imunológico, nem todos tem uma ação efe-
tiva contra os parasitos, especialmente os helmintos. Assim, a resposta imune direcionada aos
parasitos, muitas vezes evoluiu para mecanismos bastante específicos.
Os dois principais tipos de parasitos internos humanos, e que acionam diretamente a resposta
imunológica, são os protozoários e os helmintos. Os protozoários são parasitos unicelulares,
vivendo no interior dos tecidos e líquidos corporais, e muitas vezes capazes de infectar o meio
intracelular, como no caso do Plasmodium, causador da malária, que infecta o interior de diferentes
células, principalmente hemácias.
No controle das parasitoses onde os protozoários são os agentes infecciosos, vários mecanismos
das respostas imunes podem ser ativados. Na RIN, os principais efetores são as células fagocitárias
e o sistema complemento. Embora a ação destes elementos seja central no combate às parasitoses
por protozoários, pacientes imunodeprimidos ou protozoários com mecanismos de escape à
resposta imune conseguem burlar a ação destes mecanismos de defesa, exigindo a ação da RIA.
Com a ativação da RIA através das células apresentadoras de antígenos, os linfócitos T auxi-
liares começam a regular a defesa do organismo, ativando Linfócitos B e Linfócito T citotóxicos.
A ação destas células, pela produção de citocinas como o Interferon-gama, ou pelos anticorpos,
potencializa a ação de outras células. Um exemplo dessa potencialização são os macrófagos, que
desenvolvem maior facilidade para realizar a fagocitose (processo denominado de opsonização)
e produzem óxido nítrico que aumenta sua capacidade de eliminar o parasito fagocitado.
No caso dos helmintos a resposta imune age de uma forma um pouco diferente. Isso porque
esses animais são multicelulares, e mecanismos da resposta imune, como a fagocitose, não funcio-
nam. Para estes parasitos, a Resposta Imune é baseada na produção de interleucinas, que estimulam
a produção de imunoglobulina E (IgE) e, principalmente, Eosinófilos. A IgE se liga ao helminto
e permite a ligação de Mastócitos, Basófilos e Eosinófilos à porção livre desse anticorpo, o que
leva a degranulação (liberação dos grânulos presentes nas vesículas internas para o meio extra-
celular) destas células, liberando diferentes tipos de moléculas, como por exemplo a histamina e
a proteína básica principal, que medeiam a inflamação e podem provocar a lise do parasito.
Muitos dos mecanismos de defesa utilizados pelo sistema imune são específicos para os para-
sitos que os desencadeiam. Dessa forma, você os verá à medida que estudar os diferentes parasitos
nas unidades subsequentes.

Então, aluno(a), pense comigo: se nosso sistema imune é tão eficiente e possui inúmeros mecanismos
para combater e eliminar parasitos, por que ainda existem tantas parasitoses?

24
UNIDADE 1

Embora nosso sistema imunológico possua mecanismos efetores capazes de eliminar tanto protozoá-
rios quanto helmintos, as gerações subsequentes de parasitos sofreram alterações e foram selecionadas
naturalmente, ao ponto de desenvolverem mecanismos que os permitem escapar, enganar e até eliminar
a resposta imunológica.
Esses mecanismos são variados e presentes tanto em protozoários quanto em helmintos, como por
exemplo: variação antigênica, ativação anormal de macrófagos, bloqueio da produção de anticorpos IgM,
entre outros. Porém, não são constantes, pois cada espécie evoluiu de forma específica, criando os me-
canismos de escape da resposta imunológica que mais se adequavam às suas características de infecção.
Segundo Siqueira-Batista et al. (2020), são vários os exemplos de mecanismos de evasão da resposta
imune ligados a parasitos específicos. Por exemplo, o Plasmodium falciparum, causador da malária,
pode induzir a síntese de bloqueadores de anticorpos, o que impede a ligação de anticorpos inibitórios;
outro exemplo é o da Leishmania spp., causadora da leishmaniose cutânea, que tem a capacidade de
inibir a ligação dos vacúolos fagocíticos (são vesículas, semelhante a uma bolha, no citoplasma da
célula, formadas por membranas lipídicas) com os lisossomos (organela celular capaz de digerir/
destruir organismos e partículas estranhas) impedindo a formação dos fagolisossomos, e inibem a
formação de enzimas proteolíticas (que digerem proteínas) nos lisossomos, o que garante sua evasão
da ação proteolítica dos macrófagos.

25
UNICESUMAR

Agora que você tem um conhecimento inicial sobre o que é o parasitismo, podemos nos apro-
fundar em alguns conceitos importantes para entender como esses organismos interagem com
o ser humano e o meio ambiente. Um desses conceitos, e que muito utilizaremos nas próximas
unidades, é o de ciclo biológico ou ciclo de vida. Ciclo biológico pode ser definido como “as
diversas fases e etapas que um parasito passa durante sua vida” (NEVES, 2016, p. 13).
O ciclo biológico, portanto, compreende todos os processos por que passa o parasito, como por
exemplo um helminto (verme) do ovo, para o estágio larval, até atingir a vida adulta, englobando
os ambientes e outros organismos a que tem contato. Para muitos parasitos o ciclo de vida é sim-
ples, englobando poucas etapas e poucas formas de desenvolvimento, como no caso das amebas.
Para outros, entretanto, há diversas fases, muitas formas celulares e mais de um hospedeiro. É
exatamente com base no número de hospedeiros que podemos classificar o ciclo biológico dos
parasitos em monoxênico e heteroxênico:
• Ciclo monoxênico: Corresponde ao ciclo biológico de um parasito que possui um único
hospedeiro. Este, portanto, é denominado de hospedeiro definitivo, pois é o habitat em que
se desenvolverá a forma adulta, no caso dos helmintos, ou forma ativa, no caso dos proto-
zoários. Por esta razão este ciclo biológico pode também ser referenciado na literatura como
“ciclo direto”. Um exemplo de ciclo monoxênico é o da Entamoeba histolytica (Imagem 5),
onde o único hospedeiro é o ser humano.

26
UNIDADE 1

1 i d
Cistos maduros

Ingerido

2
Desencistação

Trofozoíto
3 d
Multiplicação
3
Cistos
C A
d d d

d
3 B
Trofozoítos d

d
4
3

d Fezes 2

i d

A Colonização não invasiva


i Estado infeccioso B Doença intestinal
d Estágio de diagnóstico C Doença extra-intestinal

Imagem 5 - Ciclo biológico da Entamoeba histolytica / Fonte: EMSSolutions (2022).

Descrição da Imagem: A imagem se trata de um infográfico do ciclo biológico da Entamoeba histolytica. No lado direito da imagem
está representada a silhueta de um ser humano, com a visão dos órgãos internos, de cima para baixo, o cérebro, o tubo digestivo com
esôfago, estômago, e intestinos e o fígado, além dos pulmões. Nessa silhueta estão representados: pela letra “A” o habitat do protozoário
no cólon transverso do intestino grosso; pela letra “B” os locais onde ocorre a doença intestinal no cólon ascendente do intestino grosso;
pela letra “C” os locais onde ocorre a doença invasiva no fígado, pulmão e cérebro. No lado esquerdo da imagem estão representadas as
formas celulares em que o parasito pode ser encontrado, e como se dá seu desenvolvimento, partindo do cisto para o trofozoíto, sendo
demonstrado também que o cisto é liberado para o ambiente pelo ânus e infecta o organismo pela ingestão oral. Na parte superior há o
desenho de um círculo cinza com quatro núcleos em seu interior, do lado esquerdo está escrito “Cisto Maduro”, do lado direito sai uma
seta azul indicando a boca, acima da seta está escrito “Ingestão”, outra seta sai desse círculo indicando para baixo outro círculo igual com
um pequeno círculo se formando do lado direito onde está escrito “Excistação”, desse segundo círculo sai uma seta azul indicando para
baixo uma estrutura de forma ovalar, na cor cinza do lado direito está escrito “Trofozoita”, dessa estrutura sai uma seta azul indicando
para baixo, onde está escrito “Multiplicação”, de onde saem duas setas azuis, uma indicando para o lado direito uma estrutura ovalar na
cor cinza abaixo dela está escrito “Trofozoítos”. Outra indicando para o lado esquerdo uma estrutura circular com um núcleo de cor cinza,
ao lado está escrito “Cistos”, dessa estrutura sai uma seta azul, indicando para baixo uma estrutura circular com dois núcleos de cor cinza;
dessa estrutura sai uma seta azul indicando para baixo uma estrutura circular com quatro núcleos de cor cinza.

27
UNICESUMAR

• Ciclo heteroxênico: Corresponde ao ciclo biológico de um parasito que possui pelo menos
dois hospedeiros. Neste tipo de ciclo há um hospedeiro intermediário, onde ocorre parte do
ciclo de vida, geralmente produzindo as formas infectantes; e um hospedeiro definitivo, onde se
desenvolverá a forma adulta ou ativa. Um exemplo de ciclo heteroxênico é o da Taenia solium
(Imagem 6), onde há dois hospedeiros: um suíno como o hospedeiro intermediário, e o ser
humano como hospedeiro definitivo.

i As Oncosferas se desenvolvem
em cisticercos no músculo

As Oncosferas eclodem, 4 Os humanos são infectados pela ingestão


penetram na parede de carne crua ou mal cozida infectada
intestinal, e migram
até a musculatura
3

T. saginata T. solium

5
O Scolex se fixa no intestino

2
O gado (T. saginata) e os porcos (T. solium) se
tornam infectados pela ingestão de vegetação
contaminada pelo ovos ou proglótides grávidos
6
T. saginata T. solium
Adultos no intestino delgado
d

1 i Estado infeccioso
d Estágio de diagnóstico
Ovos ou proglótides grávidos nas
fezes e passam para o ambiente

Imagem 6 - Ciclo de vida da Taenia / Fonte: Domínio Público (2022).

Descrição da Imagem: A imagem apresenta um círculo formado por setas, cada uma ligando a fase anterior à próxima do ciclo de vida
da Taenia. No lado direito da imagem, há o desenho da silhueta do corpo de uma pessoa mostrando os órgãos do sistema digestório,
e do lado há duas ilustrações, sendo a superior a dos escólex das T. solium e da T. saginata, e a inferior a representação de um verme
adulto do gênero Taenia. Na parte inferior há uma ilustração das proglótides e de um ovo de Taenia. Na sequência do ciclo, há um
parágrafo dizendo que o gado ou porcos ingerem os ovos ou proglótides. Na sequência, há uma ilustração de uma vaca e de um porco,
juntamente com uma ilustração de uma oncosfera, indicando que este estágio do desenvolvimento penetra a parede do intestino dos
animais e se aloja nos tecidos. Em seguida a uma ilustração de um cisticerco, explicando que a oncosfera nos tecidos se desenvolverá
e um cisticerco. A imagem termina com o cisticerco voltado ao corpo humano, sendo ingerido pela boca, recomeçando o ciclo.

O conhecimento sobre o ciclo biológico de um parasito é fundamental para entender em quais mo-
mentos de uma infecção, as formas adultas, jovens, ativas ou de resistência, podem ser detectadas. Esse
fato é ainda mais importante para a biomedicina, pois permite determinar o melhor método de análise
para garantir um diagnóstico confiável.

28
UNIDADE 1

Caro(a) aluno(a), você consegue compreender a importância dos ciclos


biológicos dos parasitos para sua profissão? Caso queira aprender mais,
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Como você já deve ter notado, as diferentes espécies que interagem com o ser humano estabelecendo o
parasitismo devem apresentar características específicas, tanto para permitir a sua reprodução, quanto
para suportar ou escapar da resposta imunológica do hospedeiro. Assim, nem todos os organismos
que entram em contato com o organismo humano, causando ou não uma infecção, serão considerados
parasitos. Então, quais os principais parasitos do ser humano?
Como você já aprendeu, os parasitos são organismos que, ao entrarem em contato com o corpo
humano e atingirem seu habitat, causam algum tipo de prejuízo para o hospedeiro. Embora muitos
organismos possam interagir com o ser humano, poucos são aqueles que estabelecem uma relação
de parasitismo, sendo classificados em três grupos principais: helmintos, protozoários e artrópodes.
Você vai estudar a fundo as características de cada um destes animais nas unidades seguintes, porém,
vamos a uma introdução desses organismos.

Helminto é o termo utilizado para designar um


grupo de organismos conhecidos popularmente
como vermes. Dentre estes, os principais
parasitos da espécie humana são encontrados
nos Filos Nematoda e Platyhelminthes.

O Filo Nematoda engloba um grupo de animais metazoários (pluricelulares) variados quanto a vida e
o habitat. Este filo apresenta representantes “saprófitos de vida livre, aquáticos ou terrestres, até parasitos
de vegetais, invertebrados e vertebrados” (NEVES, 2016, p. 220). Os animais são agrupados neste filo
por apresentarem como características terem um corpo cilíndrico e alongado, com tamanho variável
de alguns milímetros a muitos centímetros, terem simetria bilateral, sem segmentação verdadeira, com
uma cavidade interna sem revestimento de epitélio (pseudocelomados), e com tubo digestivo completo.
Um exemplo de representante deste filo é o Ascaris lumbricoides (Imagem 7).

29
UNICESUMAR

Imagem 7 - Ascaris lumbricoides

Descrição da Imagem: A imagem se


trata de uma foto, que apresenta dois
vermes postos lado a lado contra um
fundo preto. No lado esquerdo da
imagem é observado um verme cilín-
drico e alongado, de cor laranja ama-
relado, com as extremidades afiladas
e estendidas, posicionado na forma
de um “C” invertido. No lado direito
da imagem é observado um verme
cilíndrico e alongado, de cor laranja
amarelado, com as extremidades
afiladas, sendo que uma, a anterior,
encontra-se estendida, enquanto a
posterior encontra-se enrolada ven-
tralmente, posicionado na forma de
um “C” invertido.

O Filo Platyhelminthes engloba animais metazoários com representantes de vida livre, e ecto ou
endoparasitos. Esses animais possuem simetria bilateral, achatados dorso-ventralmente, acelomados,
com ou sem tubo digestivo, mas sem ânus, com uma extremidade anterior contendo órgãos sensoriais
e de fixação. Um exemplo de representante deste filo é a Taenia solium (Imagem 8).

Imagem 8 - Taenia solium

Descrição da Imagem: A imagem se


trata de uma foto de um tênia. Na
imagem pode ser observada uma lâ-
mina de vidro, comumente utilizada
em microscópios, contra um fundo
preto. Sobre a lâmina observa-se um
verme, achatado dorso-ventralmen-
te, disposto em ziguezague, com uma
extremidade fina, contendo uma pe-
quena cabeça (o escólex), de onde
sai um curto segmento alongado
(o pescoço), seguido por um longo
corpo segmentado (cada segmento
sendo denominado de proglote) que
vai se alargando e aumentando de
tamanho quanto mais distante se
encontra do escólex.

30
UNIDADE 1

Os protozoários constituem um grupo de or-


ganismos caracterizados por serem unicelula-
res e eucariontes. Este grupo é constituído por
aproximadamente 30.000 espécies, das quais
aproximadamente 10.000 são parasitos, distri-
buídos entre diversas espécies (NEVES, 2016).
Os protozoários que apresentam interesse para
os seres humanos, estão contidos em alguns
poucos filos, englobando algumas dezenas de
espécies. Dentre estes filos, os mais relevantes
para o Brasil são: Sarcomastigophora, Cilio-
phora e Apicomplexa.
O Filo Sarcomastigophora é constituído por espécies de protozoários com características es-
pecíficas de locomoção (uma das primeiras características utilizadas para sua classificação), que é
dividido em dois Subfilos: o Mastigophora, englobando protozoários flagelados, como por exemplo
o Trypanosoma cruzi (Imagem 9a); e o Sarcodina, englobando protozoários que se locomovem
pela projeção de pseudópodes, como por exemplo a Naegleria fowleri (Imagem 9b).

(a) (b)

Imagem 9 - a) Trypanossoma cruzi; b) Naegleria fowleri / Fonte: adaptado de SU et al. (2013).

Descrição da Imagem: A imagem observada corresponde a junção de duas imagens de protozoários. A imagem “a” apresenta a re-
produção gráfica de um protozoário, representando o Trypanosoma cruzi, formado por uma célula alongada e fusiforme, onde pode-se
observar um núcleo central, um flagelo terminal e uma membrana ondulante em um dos lados do fuso. A imagem “b” corresponde a
uma micrografia de um protozoário, sendo este a Naegleria fowleri, onde pode-se ver uma célula com inclusões no citoplasma e pseu-
dópodes se projetando, marcados com cabeças de setas.

O Filo Ciliophora é constituído por espécies de protozoários que apresentam cílios em sua superfí-
cie celular, distribuídos de forma variada entre as espécies, e que são utilizados para locomoção. Um
exemplo de representante deste filo é o Balantidium coli (Imagem 10).

31
UNICESUMAR

Imagem 10 - Balantidium coli

Descrição da Imagem:A
imagem se trata de uma
foto microscópica de um
protozoário. Na imagem
é possível observar, na
região central, uma célula
de formato oval, corada
de rosa contra um fundo
branco. Nesta célula é
possível identificar o nú-
cleo e o cílios representa-
dos por projeções finas,
localizadas nas laterais
da célula.

O Filo apicomplexa, diferente dos anteriores, é constituído por protozoários que não apresentam um
mecanismo de locomoção específico. Entretanto, algumas espécies deste filo podem se locomover por
meio de um mecanismo de deslizamento. A característica principal dos membros deste filo é a pre-
sença de uma organela denominada apicoplasto e a presença de um complexo apical, que teria como
função a fixação e penetração do protozoário na célula alvo. Um exemplo de representante deste filo
é o Plasmodium vivax (Imagem 11).

Micronema

Roptria

Citoplasma Imagem 11 - Plasmodium vivax

Grânulos densos Descrição da Imagem:Na ima-


gem é observado um desenho
Mitocôndria representativo da célula do
protozoário Plasmodium vivax,
Complexo de Golgi no formato de uma pera, com
o complexo apical no topo. No
desenho são apresentadas as
Apicoplasto principais organelas internas
da célula, sendo elas listadas
do lado direito da imagem,
com linhas indicativas ligando
Núcleo o nome à organela. De baixo
para cima aparecem Retículo
Endoplasmático, Núcleo, Api-
Retículo Endoplasmático coplasto, Complexo de Golgi,
Mitocôndria, Grânulos densos,
Citoplasma, Roptrias e Micro-
nemas.

32
UNIDADE 1

Os artrópodes constituem um
grupo de animais metazoários, com
simetria bilateral, caracterizados
por apresentarem pés articulados
(podos = pés; arthro = articulação)
(NEVES, 2016), e um exoesqueleto
de quitina. O Filo Arthropoda é o
mais numeroso do reino animal,
apresentando, aproximadamen-
te 1.500.000 espécies já descritas.
Dentre todas as espécies de artró-
podes, duas classes englobam os
principais parasitos do homem:
Classe Insecta e Classe Arachnida.
A Classe Insecta compreende
os animais que, além das caracte- Imagem 12 - Dermatobia hominis

rísticas já descritas para todos os


Descrição da Imagem:A imagem se trata de uma foto microscópica de um proto-
artrópodes, apresentam três pares zoário. Na imagem é possível observar, na região central, uma célula de formato
oval, corada de rosa contra um fundo branco. Nesta célula é possível identificar o
de patas, um par de antenas, dois núcleo e o cílios representados por projeções finas, localizadas nas laterais da célula.
pares de asas e o corpo dividido
em cabeça, tórax e abdômen. Uma
característica importante deste
grupo, é que algumas espécies pos-
suem forma larval no ciclo bioló-
gico, sendo esta fase do desenvol-
vimento a responsável por muitas
parasitoses conhecidas. Um exem-
plo de parasito representante da
Classe Insecta é a mosca Derma-
tobia hominis (Imagem 12).
A Classe Arachnida, além das
características já descritas para to-
dos os artrópodes, apresentam qua-
tro pares de patas, quelíceras, não
possuem antenas, e apresentam o
corpo fundido, podendo ser dividi-
Imagem 13 - Amblyomma cajennense
do em cefalotórax e abdômen. Um
exemplo de parasito membro desta Descrição da Imagem:A imagem se trata da foto de um carrapato. Na imagem
pode ser observado ao centro o carrapato, de cor marrom, posicionado sobre a
classe é o carrapato Amblyomma pele clara de um ser humano.
cajennense (Imagem 13).

33
UNICESUMAR

O estudo da parasitologia necessita, muitas vezes, do conhecimento de termos específicos. Assim,


para que possa entender corretamente os assuntos a serem abordados neste livro, se faz necessário a
definição de alguns termos importantes em parasitologia:
• Agente etiológico: corresponde a origem de uma doença, é o agente causador, podendo ser
um organismo como uma bactéria, fungo, protozoário ou helminto, ou ainda um vírus. No caso
da malária, o agente etiológico é o protozoário do gênero Plasmodium.
• Antropozoonose: é a denominação dada a doenças que são primárias de animais, mas que po-
dem ser transmitidas para o homem. Um exemplo dentro da parasitologia é o da toxoplasmose,
cujo parasito tem os felinos como hospedeiro definitivo, mas o ser humano pode se contaminar,
se tornando um hospedeiro acidental.
• Patogenia: também denominada de patogênese, corresponde ao mecanismo pelo qual um
agente infeccioso causa lesões no hospedeiro.
• Patogenicidade: pode ser entendida como a facilidade ou habilidade que um agente infeccioso
tem para causar lesões no hospedeiro. Quanto maior a patogenicidade, mais rápido e maiores
os danos ao hospedeiro.
• Período de incubação: é o tempo decorrente do momento em que o agente infeccioso invadiu
o organismo (início da infecção) e o aparecimento dos primeiros sintomas. Por exemplo, no caso
da infecção pelo Schistossoma mansoni, o período médio de incubação é 24 horas, que é o tempo
decorrente da penetração da cercária até o aparecimento da dermatite cercariana (NEVES, 2016).
• Período pré-patente: “é o período que decorre entre a infecção e o aparecimento das pri-
meiras formas detectáveis do agente infeccioso” (NEVES, 2016, p. 5). Para que você consiga
compreender, pense no caso da esquistossomose, onde as formas detectáveis são os ovos nas
fezes e, portanto, o período pré-patente é o tempo entre a penetração da cercária e a detecção
dos ovos, correspondente a 43 dias.
• Profilaxia: é o termo utilizado amplamente como sinônimo de prevenção, porém, além disto,
engloba também ações que visam a erradicação e o controle de doenças ou qualquer fato que
possa ser prejudicial.
• Zoonose: é o termo geral para caracterizar as doenças e infecções que são transmitidas de ani-
mais para os seres humanos. Um exemplo é o da doença de chagas, onde o tripanossoma pode
ser transmitido de reservatórios naturais, como animais domésticos (gato, cachorro, porco) e
animais selvagens (sagui, tatu, gambá), para o ser humano através dos triatomíneos.

Uma característica importante de toda ciência que tem como base o estudo de organismos, é a definição
correta e identificação dos organismos estudados. Isso se faz necessário para que os conhecimentos
gerados possam ser direcionados à espécie correta. A definição da espécie e sua classificação é função
da Taxonomia. Porém, para que duas espécies distintas não sejam confundidas é preciso nomeá-las
corretamente, é neste aspecto que se aplicam as regras da Nomenclatura Zoológica.

34
UNIDADE 1

Tenho certeza que em algum momento da sua vida você já ouviu, ou já falou o nome científico
do ser humano: Homo sapiens. Mas já parou para se perguntar por que este nome? Quem decidiu
que deveria ser esse? Por que é escrito em Latim? Todas estas características são determinadas pelas
Regras Internacionais de Nomenclatura Zoológica, formuladas e aprovadas em congressos
realizados pelas principais instituições e autoridades mundiais no assunto.
Antes de você entender como é determinado o nome de uma espécie, é importante diferenciar
nomenclatura de classificação. Classificação corresponde ao processo de ordenar os organismos
em grupos, ou classes, de acordo com suas características. Já a nomenclatura corresponde a uti-
lização de termos para designar um destes grupos ou classes.
Quando estudamos a classificação de uma espécie, estudamos os vários níveis em que está
agrupada. Estes níveis são denominados de unidades taxonômicas ou “táxons”. Em zoologia exis-
tem sete níveis principais, que na sequência do mais amplo para o mais restrito são: Reino, Filo,
Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie (NEVES, 2016).
Mas porque saber disso é importante para entender as regras de nomenclatura? Todo nome
científico de uma espécie é escrito em Latim e binomial (dois nomes), sendo a primeira palavra o
gênero e a segunda o epíteto. Entenda que o gênero pode ser escrito isoladamente, mas a espécie
sempre será composta pelos dois nomes, mesmo que o gênero se encontre abreviado. Portanto,
não podemos dizer que a segunda palavra de um nome científico é a designação da espécie. Por
exemplo, o gênero do verme conhecido como lombriga é Ascaris, enquanto a espécie é Ascaris
lumbricoides ou A. lumbricoides.
Outra característica importante é que o nome é formado por palavras em Latim, por esta ser
considerada uma língua morta e, portanto, não sofrer alterações com o tempo. Esse fato faz com
que o nome designado para uma espécie permaneça constante no tempo.
A forma de grafia do nome também é importante. Na nomenclatura binomial o gênero deve
ser grafado com a primeira letra em maiúsculo e o epíteto todo em minúsculo. Além disso, o nome
todo da espécie deve ser destacado de alguma forma, por exemplo, com itálico (Ascaris lumbri-
coides), negrito (Ascaris lumbricoides) ou sublinhado (Ascaris lumbricoides).

Neste podcast, você vai conhecer as principais características da Pa-


rasitologia e como ela se relaciona com a área da saúde. Vou discutir
e apresentar para você a importância da atuação dos profissionais de
saúde para identificação e tratamento das parasitoses. Acesse o QRCode
e aperte o play!

35
UNICESUMAR

Você deve ter notado que o estudo dos parasitos tem uma aplicação direta a várias das atividades direcio-
nadas à biomedicina, farmácia e outras áreas da saúde, em especial ao diagnóstico de doenças infecciosas
e parasitárias. Portanto, convido você a se aprofundar neste universo intrigante, curioso e sensacional que
é a Parasitologia. Junto comigo, vamos entender como estes organismos podem ser, ao mesmo tempo,
formidáveis em suas adaptações para sobreviver e se reproduzir, e perigosos ao ponto de causar milhões
de mortes todos os anos no mundo.
Nesta unidade, estudamos os principais conceitos de parasitologia, incluindo os de parasitismo e parasito.
Caracterizamos as formas de ação do parasito sobre o hospedeiro e como o sistema imunológico tenta inibir
a ação destes organismos. Entendemos os ciclos biológicos e como diferentes parasitos podem interagir
com um ou mais hospedeiros. Compreendemos como a ecologia pode se relacionar com a parasitologia e
conhecemos os principais grupos de parasitos do ser humano.
Agora que você conhece as características e os conceitos principais sobre parasitologia, pode entender
melhor o desafio e os questionamentos que foram propostos. Resgate o exercício proposto no início da
unidade e tente resolvê-lo com os conhecimentos que agora possui.
No Brasil, existem condições ambientais para o estabelecimento de diversas parasitoses. Porém, as
mais prevalentes são aquelas denominadas como parasitoses intestinais. São infecções estabelecidas
tanto por protozoários como a Entamoeba (causa a amebíase), como por helmintos como o Ascaris
lubricoides (causa a ascaridíase).
Essas parasitoses são transmitidas pela via fecal oral, por alimentos e água contaminados, e estão direta-
mente ligadas às más condições sanitárias e falta de higiene pessoal. Assim, caro(a) aluno(a), pensando no
seu entorno, você agora consegue definir ocasiões onde pode ter entrado em contato com esses parasitos. Um
exemplo muito comum é a ingestão de alimentos frescos, como frutas e verduras, sem a devida higienização.

36
Caro(a) aluno(a), com base nos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, estou certo de
que é capaz de preencher o mapa mental a seguir.

Parasito

Parasitismo

Hospedeiro

PARASITOLOGIA

Principais Parasitos

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1. “O tratamento eficiente das doenças parasitárias, bem como a prevenção e o controle de cada
uma delas, exige bom conhecimento dos fenômenos ecológicos que envolvem o homem, os
parasitos que o invadem e, eventualmente, os hospedeiros intermediários ou vetores desses
parasitos. O próprio conceito de parasitismo deve ser baseado na interpretação ecológica e
bioquímica das relações parasito-hospedeiro”.

REY, L. Parasitologia. 4. ed.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008, p. 46.

O parasitismo é um tipo de relação interespecífica considerada negativa. Os indivíduos que


estabelecem essa relação são então denominados de parasito e hospedeiro. Com base nas
características do parasitismo, explique, por meio de um texto dissertativo de 3 a 5 linhas, o
que é um parasito.

2. “Cada espécie de parasito tem seus próprios hospedeiros. Alguns só podem infectar uma ou
poucas espécies muito próximas: são os parasitos estenoxenos. Outros podem viver em uma
grande variedade deles, que infectam indistintamente: são os parasitos eurixenos”.

REY, L. Bases da Parasitologia Médica. 3 ed.


Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2009, p. 8.

O ciclo de vida de um parasito corresponde a todas as fases de desenvolvimento que o orga-


nismo passa durante a vida. Dependendo das características do ciclo, ele pode ser denominado
de monoxênico ou heteroxênico. Explique, por meio de um texto dissertativo de 5 a 10 linhas,
a diferença entre ciclo monoxênico e ciclo heteroxênico.

3. “A ação do parasito sobre o hospedeiro tem grande importância na parasitologia, pois é por
intermédio dela que poderá ocorrer doença no hospedeiro”.

NEVES, D. P. Parasitologia humana. 13. ed.


São Paulo: Editora Atheneu, 2016, p. 11.

Uma das características do parasitismo é que o parasito causará algum prejuízo ao hospedeiro.
Cite e explique, por meio de um texto dissertativo de 5 a 10 linhas, pelo menos três formas
pelas quais um parasito pode causar prejuízo ao ser humano.

38
2
Epidemiologia
Aplicada à
Parasitologia
Dr. Vinícius Pires Rincão

Nesta unidade, você entenderá o conceito de epidemiologia e como


sua aplicação tem um papel fundamental no combate e prevenção
de doenças parasitárias. Você entenderá a diferença entre doen-
ça e saúde, além de conhecer os indicadores de saúde utilizados
para a realização de análises epidemiológicas. Por fim, entenderá
o conceito e aplicação da vigilância em saúde e níveis de prevenção
de doenças.
UNICESUMAR

Todos os dias nos deparamos com notícias que trazem informações de doenças, seja pelo
risco de morte, ou pela sua rápida e intensa disseminação, afetando inúmeros países – ou
mesmo pelo fato de mal conhecermos suas características. Muitas destas doenças, embora
bem conhecidas e controladas, apresentam ainda o risco de causar danos irreparáveis para a
sociedade, caso saiam do controle. Você já parou para pensar como é realizado a vigilância das
doenças infecciosas e parasitárias? Como pesquisadores e autoridades sanitárias conseguem
determinar que uma doença saiu do controle e causou um surto ou uma epidemia?
O controle de doenças infecciosas demanda uma avaliação constante das autoridades
sanitárias. Isso só é possível quando os casos das doenças são notificados e registrados, per-
mitindo a avaliação por meio da ação de especialistas em epidemiologia.
Independentemente da doença e de como se encontra na população, ou seja, se já estava
inserida ou se é nova naquela população, os epidemiologistas buscam entender as razões
que fazem algumas pessoas adoecerem enquanto outras não – ou quais fatores propiciam
a manifestação da doença em áreas geográficas específicas, ou ainda os motivos para que
determinadas doenças apresentem ocorrências em períodos de tempo variados.
Essa abordagem, o entendimento de como a doença se distribui com relação à pessoa,
lugar e tempo, permite ao epidemiologista determinar possíveis fatores de risco, as causas e
agentes etiológicos das doenças, e com isso propor medidas de controle e prevenção.
Caro(a) aluno(a), você provavelmente já deve ter ouvido, em algum momento, uma notícia
ou um relato do aparecimento de uma doença, todas as adversidades que causou, e como
ela poderia ser prevenida evitando todo esse mal. Bem, todo esse conhecimento está direta-
mente relacionado com o tema desta unidade. Um
exemplo bastante comum no Brasil
deste tipo de doença e da abor-
dagem epidemiológica e que
afeta cerca de 40% do território
nacional é a Malária. Quero pro-
por uma atividade prática
de epidemiologia para
você: determine se
a região que você
se encontra é en-
dêmica ou não para
a Malária, qual o risco de
transmissão da doença, e
se há ou não uma epi-
demia na região.

40
UNIDADE 2

A Malária, a qual você estudará com maior profundidade nas próximas unidades, é uma doença
parasitária causada por um protozoário, o Plasmodium. Esse parasita depende exclusivamente
de um invertebrado, o mosquito do gênero Anopheles, para ser transmitido de um indivíduo a
outro e, portanto, a presença da doença em uma determinada região está, na maioria das vezes,
condicionada à presença deste mosquito, determinando que a região é endêmica ou não. Com base
nestes fatos, muitas questões podem ser levantadas: como as autoridades sanitárias determinam
que uma região é endêmica para uma doença? Quais os parâmetros de uma população são me-
didos para determinar se uma doença está ou não causando uma epidemia ou um surto? Como
são determinadas ações de prevenção e controle das doenças? Agora reflita na pesquisa que você
fez, e nas questões que levantamos, e escreva seus resultados no seu Diário de Bordo, a fim de que
eu e você possamos analisá-las juntos no decorrer desta unidade.

41
UNICESUMAR

Uma das características mais marcantes na sociedade atual é o impacto causado por doenças emer-
gentes. Essas doenças aparecem rapidamente, se disseminam e causam problemas sérios, tanto de
saúde como econômicos. A detecção e controle de doenças infecciosas e parasitárias depende de uma
vigilância constante, e é realizada com base em dados da ocorrência destas doenças na população. É
neste âmbito que age a Epidemiologia.
Epidemiologia pode ser definida como “a ciência que estuda a distribuição de doenças ou en-
fermidades, assim como a de seus determinantes na população humana” (NEVES, 2016, p. 15). A
distribuição das doenças está diretamente relacionada à quantidade de casos na população humana
em áreas determinadas, recebendo classificações diferentes conforme a extensão dessa área. Já os de-
terminantes das doenças dizem respeito aos fatores de risco para o desenvolvimento de uma doença,
que uma população apresenta em determinada área.
Atualmente, a epidemiologia alcançou grande importância, tanto para o estudo acadêmico quanto
para os órgãos de saúde pública, que buscam através dela determinar melhores formas de controle
e prevenção de doenças. No entanto, como será que surgiu o estudo e o conceito de Epidemiologia?
Muito do que era tratado na medicina e suas áreas correlatas pode ser relacionado à epidemiologia
desde a Grécia Antiga. Hipócrates (Figura 1), conhecido como pai da medicina, um médico grego que
viveu a 2500 anos, já postulava que as doenças não eram causadas de forma sobrenatural (pensamento
muito difundido na época), mas sim em decorrência da interação entre o indivíduo e o ambiente (ideia
muito alinhada ao que existe hoje). Ainda assim, essa ideia era superficial, sem o conhecimento por
exemplo sobre microrganismos, e era baseada na ideia do Miasma, entendido como o ar de má qua-
lidade que deixava as pessoas doentes. Assim, o ar exalado por uma pessoa doente passaria a doença
para outra. A Malária, por exemplo, tem seu nome derivado da combinação das palavras “mal” e “ar”,
derivado exatamente da premissa de transmissão pelo miasma (PEREIRA, 2018).

42
UNIDADE 2

Figura 1 - Hipócrates

Descrição da Imagem: na imagem é possível


observar o desenho representativo, em preto
e branco, de um homem com barba e cabelo
espessos, de comprimento médio, expressão
séria, usando uma túnica longa que cobre o
corpo todo, bem como luvas. Ele está de pé,
voltado para a direita, e está segurando uma
cabeça humana em uma mão e o que parece ser
uma faca na outra, sendo que a ponta da faca
encosta na cabeça. Acima do homem pode ser
visto um retângulo com um nome escrito, sendo
este “HIPPOCRATES”. Ao lado direito do homem,
ao fundo da imagem, há outros desenhos repre-
sentando quadros, com cenas indeterminadas,
aparentando representarem estudiosos da me-
dicina da época.

No século XIX, após diversos pesquisadores como Antony Van Leeuwenhoek (em 1674), mostrado na
Figura 2, observarem seres microscópicos com microscópios rudimentares, surgiu a ideia dos germes
como causadores das doenças. Essa ideia passou a disputar espaço com a teoria dos miasmas. Somente
após Louis Pasteur demonstrar a existência de microrganismos e sua atuação na fermentação e Robert
Koch finalmente comprovar a relação de microrganismos com as doenças (1876) que se consolidou
a ideia de que as doenças transmitidas eram causadas por estes seres microscópicos.

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UNICESUMAR

(a) (b) (c)

Figura 2 - a) Antony Van Leeuwenhoek, b) Louis Pasteur e c) Robert Koch / Fonte: Creative Commons (2022a, 2022b, 2022c).

Descrição da Imagem: a imagem é composta por três imagens distintas em variados tons de preto e branco: na imagem da esquerda,
a), pode ser observado a pintura de um homem (Antony Van Leeuwenhoek) com roupas pesadas e elegantes, com cabelos compridos e
cacheados sem barba, e a sua frente a fotografia de um instrumento, o microscópio rudimentar de Leeuwenhoek, lembrando uma espátula
larga de metal, com uma pequena lente de vidro do tamanho de uma gota no seu centro, e sobre a espátula liga-se um parafuso com
uma ponta muito fina localizando-se imediatamente acima da lente de vidro; a imagem do meio, b), é uma fotografia onde se observa
um homem (Louis Pasteur) de barba curta e grisalha, cabelos escuros e curtos, com roupa social, sentado com o cotovelo esquerdo
apoiado sobre uma mesa e olhando diagonalmente para sua esquerda; a imagem da direita, c), é uma fotografia onde se observa o
tronco de um homem (Robert Koch) com cabelos ralos quase careca, com cavanhaque e bigode espesso, usando um óculos pequeno
e elíptico, com roupa social, apresentando a mão esquerda apoiada do lado esquerdo da cabeça e olhando diretamente para frente.

No século XX, com a forte aceitação da teoria dos germes, as políticas de saúde e as pesquisas
se concentraram em mudar o saneamento ambiental e promover a resistência do organismo a
infecções por meio de imunizantes (vacinas) e por meio de medicamentos como os antibióticos,
o que diminuiu exponencialmente a propagação de doenças, consolidando muito dos mecanis-
mos atuais de prevenção.

Você sabe o significado de vacina e antibiótico e como surgiram?


• Vacinas – são preparados contendo parte de microrganismos ou microrganismos atenuados,
ou seja, que não causam doenças e são capazes de ativar a resposta imunológica do organismo,
promovendo a proteção contra uma doença. A primeira vacina cientificamente comprovada é
atribuída a Edward Jenner, considerado pai da imunologia, e utilizou o vírus da varíola bovina
para proteger os seres humanos contra a varíola humana.
• Antibiótico – é o termo utilizado para designar compostos, de origem natural ou semissinté-
ticos, capazes de inibir o crescimento de bactérias, como a Penicilina. O primeiro antibiótico
foi descoberto por Alexander Fleming, em 1928. Trata-se exatamente da penicilina que era
produzida pelo fungo Penicillium notatum.
Fonte: Prescott, Harley, Klein (2002)

44
UNIDADE 2

Tudo o que a Epidemiologia engloba enquanto disciplina científica, faz parte do estudo das doenças
infecciosas desde seu início. Entretanto, a forma de abordagem e análise evoluiu muito com o tempo.
O registro mais antigo da utilização da palavra “epidemiologia” está contido em um texto espanhol
do século XVI (PEREIRA, 2018), porém, seu entendimento como uma ciência só ocorreu na metade
do século XX, quando os estudos da área começaram a ser incorporados em livros-texto. O termo
epidemiologia (epi = sobre; demo = população; logos = tratado) pode ser entendido como o estudo
do que afeta a população e, embora hoje essa ciência tenha como foco o estudo de todos os fatos rela-
cionados com a saúde da população, no início ela se restringia ao estudo das epidemias das doenças
transmissíveis, e somente quando estas ocorriam (PEREIRA, 2018).
Entretanto, com o aprofundamento do conhecimento sobre as doenças infectocontagiosas, os
especialistas perceberam que para prevenir corretamente um surto ou uma epidemia seria preciso
estudar e entender como a doença se comportava também nos períodos interepidêmicos (PEREI-
RA, 2018). Esta abordagem levou os estudiosos na área a continuar a execução dos estudos sobre as
doenças que causavam epidemias, mesmo quando estas não ocorriam, resultando em conhecimentos
extremamente importantes atualmente, o que permitiu a correlação da distribuição das doenças com
diversos indicadores de saúde.
A epidemiologia possui um princípio básico: as doenças não ocorrem ao acaso em uma população
(PEREIRA, 2018). A partir desta premissa pode-se postular que a distribuição desigual das doenças
em uma população ocorre em decorrência da presença de fatores que se distribuem de forma desigual.
Assim, o conhecimento destes fatores permitiria a aplicação de medidas preventivas e curativas mais
eficazes. Tomando essa ideia como base da epidemiologia, pode-se dizer que seu objetivo principal é
a prevenção de doenças, promovendo assim a saúde na população humana (NEVES, 2016).

Agora, pense comigo: o objetivo principal da epidemiologia é a promoção da saúde. No entanto, este
não é o objetivo de toda a Medicina? Então por que há a necessidade de uma disciplina diferente
para este objetivo?

Embora a medicina tenha uma abordagem direcionada a promover a saúde, sua abordagem é diferente.
Muitos autores consideram a epidemiologia uma parte da medicina, outros a veem como parceira no
controle das doenças, mas com enfoques distintos. Quando você compara a atuação da medicina clínica
com a epidemiologia, pode entender a diferença entre elas. Basicamente, a medicina clínica atua em
um indivíduo, observando e tratando uma doença, enquanto a epidemiologia age em uma população
para prevenir uma doença (Quadro 1).

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UNICESUMAR

Epidemiologia Medicina Clínica

Objeto de estudo População Indivíduo


Diagnóstico de saúde Levantamento de saúde Diagnóstico individual
Objetivo do diagnóstico Prevenção de doenças Tratamento
Avaliação Avaliação das ações e programas de saúde Avaliação de cura
Ação Planejamento de saúde Atenção ao indivíduo
Quadro 1 - Principais diferenças entre Epidemiologia e Medicina Clínica / Fonte: adaptado de Neves (2016, p.15).

Agora que você já entendeu o que é a epidemiologia e quais são seus objetivos, e sabendo que estes
estão diretamente focados na prevenção de doenças, é fundamental que você conheça o conceito de
“doença”. É importante destacar que para se entender o que é uma doença é preciso conhecer seu
oposto, ou seja, entender o conceito de “saúde”, e saber que a variação entre os dois estados é um
processo constante e frágil.
Estes dois conceitos são empregados constantemente no meio clínico, especificamente quando,
após a realização de exames clínicos e laboratoriais, que podem indicar que um indivíduo apresenta
alguma anormalidade em seu organismo, este será rotulado como doente ou sadio. Em uma abordagem
simplista, o termo “saúde” pode ser entendido como a “ausência de doença”, e em contrapartida, o
termo “doença” pode ser entendido como “falta ou perturbação da saúde” (PEREIRA, 2018, p. 30).
Embora essa definição simplista seja amplamente usada, existem àquelas mais abrangentes e que
expressam mais características destes dois estados. Neste contexto, a Organização Mundial da Saúde
(OMS), desde 1947, define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social
e não apenas a ausência de doença” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022, s.p.). Essa abordagem, apesar
de trazer um conceito mais amplo, também o deixa mais subjetivo, pois, como podemos determinar
o significado de bem-estar? Caso o bem-estar físico seja a ausência de alterações no organismo; o
bem-estar mental, a ausência de preocupações e o sentimento de felicidade; e o bem-estar social, o
sentimento de integração em uma sociedade com os direitos reconhecidos e respeitados, ainda assim
essas seriam características que só poderiam ser determinadas por cada indivíduo (SEGRE; FERRAZ,
1997), tornando a definição da OMS pouco usual para a epidemiologia.
Entretanto, por que estou trazendo toda essa abordagem para você? Isso é necessário para que
você entenda que definir uma pessoa como doente não é tarefa fácil, mas é papel da epidemiologia
avaliar esses parâmetros. Por essa razão, muitas vezes a definição mais simplista permite a melhor in-
terpretação dos dados e aplicação em medidas de controle e prevenção. E é por esta razão que vamos
adotá-la neste livro.
É fato que uma doença não surge do nada e nem se manifesta abruptamente, pois são reconhecidas
diversas fases de seu processo de instalação no organismo. Ao conjunto destas fases de instalação da
doença, dá-se o nome de história natural da doença. Ela deve ser entendida como um processo
contínuo no qual não há intervenção do ser humano.

46
UNIDADE 2

Segundo Pereira (2018), a história natural de uma doença pode ser analisada a partir de dois enfoques:
1. visão a partir de serviços, onde as características da progressão de uma doença são analisadas
com base em pacientes que procuram os serviços de saúde em busca de algum tratamento;
2. visão com base na comunidade, onde os pacientes são procurados na comunidade, por meio
de ações de promoção de saúde ou realização de pesquisas em fontes de informação.

Neste último caso, a abordagem é mais ampla, pois, mesmo indivíduos que não procuraram tratamento
são analisados, permitindo o entendimento da doença mesmo em fases anteriores a sua manifestação,
ou seja, quando o indivíduo se encontrava sadio. Isso permite, muitas vezes, determinar fatores de risco
e agravantes para a doença examinada.
A história natural de uma doença pode ser dividida em quatro fases:

1. Fase inicial ou pré-patogênese – consiste na fase onde a doença ainda não se ins-
talou, mas as características manifestadas no indivíduo propiciam o seu aparecimento.
2. Fase patológica pré-clínica – consiste na fase inicial, onde a doença se instala, mas
ainda não há aparecimento de sintomas.
3. Fase clínica ou patogênese – consiste na fase avançada da doença onde há mani-
festação de sintomas.
4. Fase de incapacidade ou pós-clínica – consiste no período após o término das ma-
nifestações dos sintomas, ou da estabilização das alterações fisiológicas e anatômicas
provocadas pela doença. Nestes casos, em geral, a doença não causou a morte do
paciente, porém não foi completamente curada, resultando em sequelas.

Uma característica muito importante para a aplicação dos conceitos epidemiológicos e para determi-
nação de medidas preventivas é a forma como um agente infeccioso passa de um indivíduo para outro,
ou seja, sua disseminação. As doenças infecciosas, entre elas as parasitoses, podem se disseminar de
diversas formas, e não é tarefa fácil separá-los por tipos, embora alguns autores o tenham feito. Por
outro lado, algumas características da disseminação das doenças são relevantes.
A forma como ocorre o transporte de um indivíduo para outro, por exemplo, é relevante na distri-
buição da doença, ou seja, o veículo (o vetor) utilizado pelo agente etiológico pode limitar o seu local
de ação regional, ou pode fazer com que a doença se torne global. O vetor para uma parasitose pode
ser desde a água e alimentos até insetos, que podem ou não fazer parte do ciclo biológico do parasito.
A maioria das parasitoses intestinais possui uma via oral-fecal, o que significa que o transporte para
dentro do hospedeiro é feito por alimentos e água contaminados. Um exemplo deste tipo de dissemi-
nação é a do Ascaris lumbricoides, onde a infecção de um novo indivíduo se dá pela ingestão de água
e alimentos contaminados com os ovos do parasito (Figura 3).

47
UNICESUMAR

Figura 3 - Infecção por ovos de Ascaris lumbricoides

Descrição da Imagem:na imagem pode ser ob-


servado o contorno do tronco de um ser humano,
observando os órgãos internos. Na parte superior
esquerda da figura pode ser observado o desenho
de um ovo de Ascaris lumbricoides, contendo a larva
infecciosa e uma seta apontando para a boca do ser
humano. No interior do corpo pode ser visto o ovo
no esôfago e uma seta apontando para o intestino,
ligando outra seta que aponta para a larva fora do
ovo, ligada à outra seta que aponta para o pulmão,
ligada à outra seta que aponta para o intestino. Nes-
te pode ser observado, do lado direito, dois vermes
adultos, o macho e a fêmea, e em seguida outra
seta partindo do intestino, saindo pelo ânus e ter-
minando em um ovo sobre uma área com grama,
representando o ovo no ambiente.

48
UNIDADE 2

No caso dos parasitos, a propagação da doença pode seguir três caminhos.


O primeiro, e mais comum, é aquele em que o parasito é liberado para o am-
biente como um ovo (no caso de helmintos) ou como um cisto (no caso de
protozoários), sendo este processo essencial para sua maturação, e em seguida
é ingerido pelo hospedeiro (como, por exemplo, o Ascaris lumbricoides) ou
penetra pela pele (como, por exemplo, o Schistosoma mansoni) (REY, 2008).
No segundo, menos comum, mas ainda bem representado, temos o para-
sito sendo transportado ao hospedeiro definitivo por um vetor, geralmente
um artrópode, que pode fazer a vez de hospedeiro intermediário, como no
caso da Malária, onde o Plasmodium é transportado pelo mosquito do gê-
nero Anopheles (Figura 4). O terceiro caminho é raro ocorrer para parasitos,
e consiste na transmissão direta de ser humano para ser humano, e depende
de fatores muito específicos, como a entrada das formas ativas do parasito
por meios diferentes do normal, ou o contato com partes contaminadas do
hospedeiro definitivo. Um exemplo deste último caminho é o que ocorre
com o Enterobios vermiculares, que pode ser transmitido pelo contato do
indivíduo com a região de liberação dos ovos, a região anal do indivíduo
infectado, sendo estes levados até a boca em seguida.

O mosquito infectado Fígado Células Mosquito pica uma


pica uma pessoa que infectado sanguíneas pessoa infectada,
se torna infectada infectadas tornando-se infectado
Figura 4 - Transmissão da malária

Descrição da Imagem:na imagem pode ser observado o processo de transmissão do parasito causador da malária. Na parte direita da
imagem pode ser observado o desenho de uma mão humana sendo picada por um mosquito do gênero Anopheles. O mosquito após
realizar o repasto voa, demonstrado na figura por meio de uma seta que aponta para uma outra mão na porção esquerda da figura.
Nesta mão o mosquito aparece picando novamente, indicando que neste momento ele inoculou o parasito junto com a saliva. A partir
da mão do lado esquerdo parte uma seta até o desenho de um fígado humano, indicando que o parasito vai para lá. Em seguida uma
nova seta liga o fígado a algumas hemácias contaminadas com o parasito e por fim uma nova seta liga as hemácias contaminadas ao
desenho da mão lado direito, indicando que o mosquito que está ali se alimentando, está ingerindo hemácias contaminadas.

49
UNICESUMAR

Outro fator importante que interfere na


disseminação do parasita é a porta de
entrada do hospedeiro, ou seja, o local
por onde o agente etiológico da doença
alcançará a região interna do organismo.
As principais portas de entrada do orga-
nismo consistem nas aberturas naturais
do corpo e os sistemas associados a elas
sendo: trato respiratório, gastrointestinal
e geniturinário; além desses, a via cutânea
(a pele) também pode servir com porta de
entrada, mas nesse caso o parasito deve
ser especializado para romper a barreira
da pele e atingir os tecidos internos, como
no caso da larva cercária do Schistosoma
mansoni (Figura 5).

Figura 5 - Larva cercária

Descrição da Imagem:a imagem corresponde a uma micrografia de larvas do Schistosoma mansoni, do tipo cercária. Nesta imagem
pode ser observado duas larvas com características semelhantes, sendo elas uma região anterior elíptica e mais larga correspondendo
ao corpo cercariano, ligado a uma cauda mais longa que o corpo, contendo a extremidade bifurcada.

Outra forma de um parasito invadir o organismo do hospedeiro pela via cutânea, é através da sua
introdução por meio da picada de um inseto, como no caso do Plasmodium vivax inoculado pelo
mosquito do gênero Anopheles (Figura 6).

50
UNIDADE 2

Figura 6 - Inoculação do Plasmodium vivax

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado o aparelho sugador de um mosquito hematófago perfurando a pele e entrando
nas camadas profundas da derme, passando através de vasos sanguíneos. Neste processo pode ser observado que o mosquito injeta
uma substância, de cor amarelada (representando um anestésico natural), e juntamente com essa, pequenas partículas amarelas,
representando o parasito que são inoculados junto, atingindo os tecidos internos e podendo atingir a corrente sanguínea.

51
UNICESUMAR

Caro(a) aluno(a), com base no que você já conhece sobre as parasitoses e a forma de infecção dos parasitos,
você consegue imaginar porque as doenças parasitárias, mesmo com um extenso trabalho de combate
e conscientização, não são facilmente controladas? Existem, na verdade, inúmeros fatores que vão desde
condições precárias de saneamento básico até a impossibilidade de eliminar o parasito do ambiente.
Neste último caso, estamos falando dos reservatórios naturais dos parasitos. O reservatório de um
parasito corresponde aos hospedeiros que possuem a infecção no momento avaliado, e pode servir de
base para classificar uma doença em antroponose ou zoonose (NEVES, 2016).

Antroponose – são doenças cujo homem é o único reservatório do agente etiológico, como a
filariose bancroftiana.
Zoonose – são doenças em que o homem e outros vertebrados são reservatórios do agente etio-
lógico, como a Doença de Chagas.
Fonte: Neves (2016).

Ao nos referirmos a um reservatório


natural, estamos falando dos animais,
domésticos ou selvagens, que possuem
o parasito que pode infectar o homem.
Este aspecto é importante para a epide-
miologia, pois parasitoses que possuem
reservatórios naturais são mais difíceis
de controlar, e podem evoluir para epi-
demias com maior facilidade em áreas
onde os animais que funcionam como
reservatório são mais abundantes. Um
exemplo de reservatório natural em pa-
rasitoses é o da doença de chagas, pois
esta parasitose constitui uma zoonose
— onde, além do ser humano, mamíferos
Figura 7 - Gambá-comum
domésticos e silvestres, como gatos, cães,
porcos, saguis, tatus, gambás (Figura 7), Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado vários galhos de
pequeno porte e muitas folhas. No centro da imagem, sobre um dos galhos,
entre outros, podem ser infectados com pode ser observado um Gambá-comum, apresentando uma aparência
o Trypanosoma cruzi, o protozoário que que lembra um rato muito grande, embora com diferenças, com cores
marrom e preto.
causa a doença.

52
UNIDADE 2

Como você pode perceber, a epidemiologia depende da avaliação de dados coletados a partir da
análise de uma população, e da característica do ambiente onde essa população se encontra. A
interpretação destes dados, entretanto, depende do conhecimento de determinados parâmetros e
termos empregados na análise dos dados.
Um destes termos é o “indicador de saúde”, que caracteriza um aspecto da doença que não
pode ser observado diretamente (PEREIRA, 2018). Portanto, ele indica a situação atual de uma
doença com base em determinados parâmetros, como mortalidade, letalidade e morbidade,
alguns dos quais não estão diretamente associados à doença em si.
• Mortalidade: corresponde a todas as mortes observadas em uma população em determina-
do período de tempo. Este indicador é muito utilizado, pois é objetivo na sua determinação,
uma vez que a morte é facilmente caracterizada, além do fato de que todas as mortes devem
ser registradas, fornecendo uma base de dados ampla e completa. No Brasil, as taxas de
mortalidade são publicadas pelo Ministério da Saúde, baseadas na causa da doença, e são
tabuladas em relação a região geográfica, sexo e faixa etária (NEVES, 2016).
• Letalidade: corresponde ao número de mortes em uma população em decorrência de
uma doença específica, em um determinado período de tempo. Veja, aluno(a), diferente da
mortalidade, neste indicador são contadas apenas as mortes atribuídas à doença avaliada,
permitindo determinar a gravidade da doença.
• Morbidade: pode ser entendida como a medida da frequência de uma doença na população
(NEVES, 2016). Este parâmetro é, sem dúvidas, o mais importante para a epidemiologia,
pois, permite uma análise direta da situação de uma doença na população. A morbidade
é, geralmente, determinada com base em duas taxas distintas: Incidência e Prevalência.

Taxa (ou coeficiente) – corresponde uma medida matemática que expressa a razão entre duas
grandezas, sendo que na parasitologia está relacionado diretamente ao número de casos pela po-
pulação que pode adoecer. Por exemplo: a taxa de mortalidade em acidentes de moto – é a razão
do número de pessoas que morreram em um acidente de moto, pelo número de pessoas que se
acidentaram com uma moto.
Fonte: Pereira (2018).

A Incidência pode ser entendida como a frequência de uma doença em uma população específica, em
um tempo determinado, englobando apenas os casos novos dessa doença. Assim, a taxa de incidência
(Figura 8) é determinada pelo “número de casos novos (recentes) de uma doença que ocorreu em uma
população em um período de tempo definido” (NEVES, 2016, p. 20).

53
UNICESUMAR

Número de casos novos de uma determinada doença presente


em uma população, em um período de tempo definido
Taxa de incidência =
Número de pessoas, em risco de desenvolver a doença nesta
população, no mesmo período de tempo definido

Figura 8 - Taxa de incidência / Fonte: adaptado de Neves (2016, p. 20).

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado a representação da fórmula para se calcular a Taxa de incidência. À esquerda
está escrito “Taxa de incidência =”. À direita, acima, está escrito “Número de casos novos de uma determinada doença presente em
uma população, em um período de tempo definido”. Abaixo, está uma linha, indicando o símbolo de divisão. Abaixo desta, está escrito
“Número de pessoas em risco de desenvolver a doença nesta população, no mesmo período de tempo definido”.

Um exemplo para você entender melhor a taxa de incidência. Em uma cidade do interior, em um to-
tal 600 crianças com idades entre 5 e 7 anos, no ano de 2005, 7 apresentaram amebíase. Assim, a taxa
de incidência corresponde a 7/600 = 0,012 = 12 casos por 1000 crianças em 2005. Essa taxa serve de
parâmetro para estipulações, ou seja, caso sejam analisadas 1000 crianças, há a probabilidade de que
haja 12 casos da doença entre elas.
A taxa de incidência permite que se avalie como uma doença se mantém em uma população, do ponto
de vista de sua disseminação, possibilitando a detecção de surtos e epidemias — ou mesmo na determinação
de grupos específicos afetados, como faixa etária ou àqueles que possuem fatores de risco como comorbi-
dades ou obesidade. A incidência é reconhecida também, como uma estimativa do risco de adoecer, já que
determina a probabilidade de que novos casos apareçam em uma população.
Por outro lado, a Prevalência representa o número total de casos de uma doença na população
em um tempo definido, contando casos novos e antigos. Portanto, a taxa de prevalência (Figura
9) pode ser definida como o “número de pessoas afetadas por uma determinada doença em uma
população em um tempo específico, dividido pelo número de pessoas da população naquele
mesmo período” (NEVES, 2016, p. 21).

Número de casos novos de uma determinada doença presente


em uma população, em um período de tempo definido
Taxa de prevalência =
Número de pessoas existentes na população,
no mesmo período de tempo definido

Figura 9 - Taxa de incidência / Fonte: adaptado de Neves (2016, p. 21).

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado a representação da fórmula para se calcular a Taxa de Prevalência. À esquerda
está escrito “Taxa de prevalência =”. À direita, acima, está escrito “Número de casos novos de uma determinada doença presente em
uma população, em um período de tempo definido”. Abaixo, está uma linha, indicando o símbolo de divisão. Abaixo desta, está escrito
“Número de pessoas existentes na população, no mesmo período de tempo definido”.

54
UNIDADE 2

Um exemplo para que você entenda melhor a taxa de prevalência: no ano de 1992, havia no Bra-
sil 8 milhões de pessoas diagnosticadas com esquistossomose, sendo que neste ano a população
brasileira era de 154,3 milhões de pessoas. A taxa de prevalência era, portanto, de 8 milhões/ 154,3
milhões = 0,051, o que significa que 5,1% da população teve esquistossomose no ano de 1992. Veja
que não são avaliados apenas os casos que apareceram no ano de 1992, mas sim todos que estavam
com a doença naquele ano, contando inclusive pessoas que adquiriram a doença no ano anterior.
A prevalência é muito utilizada no planejamento de saúde, direcionando recursos para a pre-
venção em áreas onde esta se mantém elevada. Isso ocorre principalmente em áreas endêmicas.
Nesses locais, onde há presença de vetores ou reservatórios naturais, o número de casos durante
os anos (ou em um período predeterminado) se mantém elevado, porém constante.
Embora os conceitos de Prevalência e Incidência sejam parecidos, eles têm diferenças especí-
ficas e usos característicos. Para Neves (2016) a principal diferença entre eles é que a prevalência
demonstra a situação da doença na população estudada naquele período, medindo doentes e não
doentes, sem se importar com o risco de adoecer, enquanto a incidência, por analisar casos novos,
permite determinar qual o risco em contrair a doença analisada na população estudada.
Outro parâmetro muito utilizado na epidemiologia é o Índice, que é mais utilizado para expres-
sar a frequência de um evento de um certo tipo em relação a outro evento de um tipo diferente
(PEREIRA, 2018), ou seja, possuem naturezas diferentes. O exemplo mais comum onde por ser
observado a utilização do índice é a comparação entre duas doenças distintas, como o número de
mortes de febre amarela em relação ao número de mortes por tuberculose.
As doenças, de uma forma geral, têm uma distri-
buição entre os indivíduos de uma população, que
pode ser classificado entre: períodos epidêmicos,
interepidêmicos e endêmicos (NEVES, 2016). Esta
classificação é dada principalmente com base no nú-
mero de casos da doença na população e, portanto,
está diretamente ligado à incidência e prevalência.
Além destes três períodos, podem ocorrer surtos em
locais específicos. Então como podem ser entendidos
surtos, epidemias, endemias e pandemias?
Os períodos interepidêmicos, como o próprio
nome sugere, são os períodos onde o número de casos novos é muito baixo ou inexistente. Um surto,
por outro lado, pode ser definido como “uma situação epidêmica limitada a um espaço localizado”
(ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, 2010, p.14), ou seja, corresponde a ocorrência
de vários casos de uma doença, em um curto período de tempo, de forma descontrolada e inesperada,
excedendo a ocorrência normalmente observada em tempo similar, em um local específico, sendo
que todos os casos possuem uma relação íntima, ou seja, todos os casos têm a mesma fonte de con-
taminação. Um exemplo de surto de parasitologia foi o ocorrido na cidade de Santa Isabel do Ivaí,
no Paraná, entre novembro de 2001 e janeiro de 2002, onde 600 indivíduos, dos 9.154 habitantes da
cidade, contraíram Toxoplasmose (veja o Eu Indico a seguir).

55
UNICESUMAR

O que acha de aprofundar seu conhecimento no conceito de Surto?


Acesse o link a seguir para conhecer um exemplo de surto, apresentado
na página 91 do Módulo de Princípios Epidemiologia Para Controle de
Enfermidades da Organização Pan-Americana de Saúde.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Uma endemia pode ser entendida como a presença constante de casos de uma doença na população de
uma determinada área (NEVES, 2016), ou seja, corresponde a prevalência constante da doença na população
analisada. A maioria das parasitoses, por apresentarem como característica a sobrevivência do hospedeiro, e a
necessidade de determinados fatores ambientais para maturação e transmissão (muitas vezes característicos
de determinadas áreas geográficas), se manifestam como endemias. Um exemplo deste tipo de distribuição
ocorre com a Malária, cuja presença constante de casos pode ser observada nos estados da região norte
do país (Figura 10), onde há presença em grande quantidade do vetor de transmissão e de reservatórios
naturais, e por isso a transmissão entre indivíduos contaminados e sadios é constante.

Figura 10 - Áreas endêmicas para


Malária / Fonte: adaptada de
Brasil (2021).

Descrição da Imagem: na ima-


gem pode ser observado o mapa
do Brasil. Neste mapa estão as-
sinaladas diferentes regiões com
as cores, branco, amarelo, laran-
ja, vermelho claro e vermelho
escuro, sendo esta sequência,
respectivamente, representativa
das áreas sem transmissão, mui-
to baixo risco, baixo risco, médio
risco e alto risco de transmissão.
No mapa pode ser observado
que os estados do norte con-
centram a maior quantidade de
áreas assinaladas com as cores
amarelo, laranja, vermelho cla-
ro e vermelho escuro. Enquanto
os estados do nordeste, centro
oeste, sudeste e sul, apresentam
pontos pequenos e isolados de
áreas amarelas, e todo restante
marcado com a cor branca.

56
UNIDADE 2

Já uma epidemia tem como característica o aumento rápido do número de casos de uma doença. Para
Neves (2016, p. 18) uma epidemia pode ser entendida como “a ocorrência de uma doença em uma
população, que se caracteriza por uma elevação progressiva, inesperada e descontrolada, ultrapassan-
do os valores endêmicos esperados”. Neste caso, o parâmetro que é utilizado para sua caracterização,
diferente da endemia, e a incidência, caracterizando a epidemia como a ocorrência de casos da doença,
com “uma incidência maior que a esperada para a área geográfica e períodos determinados” (ORGA-
NIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, 2010, s.p.).
Por esta definição, podemos entender que uma determinada doença pode ocorrer normalmente em
uma população, sem que necessariamente seja uma epidemia, contendo um número constante de casos,
todos os anos. No entanto, o seu descontrole pode gerar um evento epidêmico. Por exemplo, em 2002
houve o início de epidemia de leishmaniose visceral na cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do
Sul. Neste ano, os casos confirmados da doença saltaram de inexistentes ou isolados para uma média
de 22 casos, e em 2003 para 97 casos confirmados, mantendo a progressão nos anos subsequentes com
uma média de 140 casos anuais. Neste exemplo vemos o número de novos casos quadruplicando em
curto período de tempo, de forma inesperada e descontrolada.
Neste contexto, entende-se a epidemia como um problema de saúde pública, onde ocorre a propa-
gação da doença excedendo a expectativa da região. Porém, para que isso possa ser claramente deter-
minado, é preciso que haja uma vigilância epidemiológica constante, ou não se perceberia o aumento
de novos casos, o que pode levar a determinação de epidemias em áreas que na verdade são endêmicas.
Por fim, resta caracterizar a pandemia. Uma pandemia tem como característica ser uma epidemia
que ocorre em vários países, em pelo menos dois continentes, ou seja, há um aumento de casos de forma
rápida, inesperada e descontrolada. Um exemplo de pandemia foi a ocorrida no final de 2020 e anos
subsequentes, onde um coronavírus (o Sars-Cov-2) se espalhou por todos os países do mundo, com 449,9
milhões de casos confirmados e mais de 6,01 milhões de mortes, até o início de 2022 (JOHNS HOPKINS
UNIVERSITY, 2022). Embora existam parasitos com uma distribuição cosmopolita (encontrados em
todos os lugares do mundo), não há registros de pandemias parasitárias, pois, como você pode constatar,
a ocorrência de uma parasitose depende da interação do hospedeiro, vetores específicos e ambiente.
Todas as ações da epidemiologia têm como objetivo avaliar a situação atual de uma doença na população.
Agora, imagine que cada cidade ou laboratório que faça o diagnóstico de uma determinada doença, resolva
fazer uma avaliação epidemiológica, você acha que os resultados poderiam ser aplicados como parâmetros
para determinação de medidas de controle e prevenção? Com certeza não, pois embora os dados sejam
verdadeiros, ele provavelmente englobaria apenas parte dos aspectos da ação da doença na população. Para
que o objetivo de avaliar corretamente a doença seja alcançado, é preciso que os dados sejam avaliados
em conjunto, ou seja, deve haver um local que receba e analise todos os dados com base nos conceitos
de epidemiologia. Essa é a função da vigilância epidemiológica que faz parte da vigilância em saúde.
A vigilância em saúde pode ser entendida como um conjunto de ações que visa captar informações
para avaliar permanentemente a situação da saúde da população, detectando alterações, e propondo
medidas para o controle e prevenção das doenças (BRASIL, 2010). A vigilância em saúde engloba
diversas áreas, sendo que as principais são vigilância sanitária, vigilância em saúde ambiental e
vigilância epidemiológica.

57
UNICESUMAR

A vigilância sanitária é defendida como um conjunto de ações que tem como objetivo eliminar
ou diminuir e prevenir riscos à saúde, além de intervir em alterações sanitárias causadas ou originadas
no meio ambiente, e que estejam relacionadas a qualquer etapa da produção de bens e prestação de
serviços relacionados à saúde.
Já a vigilância em saúde ambiental tem como foco as ações para detecção e prevenção das
mudanças que ocorram no meio ambiente, e que possam afetar a saúde humana. Está diretamente
relacionada à análise e monitoramento do ar, solo e da qualidade da água para consumo. Além disso,
monitora possíveis desastres naturais, substâncias químicas presentes ou descartadas no ambiente,
acidentes com produtos perigosos, e até mesmo o ambiente de trabalho.

Por fim, a vigilância epidemiológica é entendida como o “conjunto de ações que proporciona o
conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes da saúde
individual ou coletiva, com a finalidade de se recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle
das doenças ou agravos” (BRASIL, 2010, s.p.). Com esse objetivo, a vigilância epidemiológica depende
da coleta e análise dos dados referentes à ocorrência de doenças. Assim, é determinado por lei que o
diagnóstico de doenças infectocontagiosas, além de outras não transmissíveis mas com importância
relevante a saúde, sejam notificadas às secretarias de saúde e órgãos federais de saúde, a fim de gerar
dados estatísticos que possibilitem a determinação das melhores ações preventivas.
Como você pode constatar até esse momento, a epidemiologia possui diversas ferramentas para se
avaliar a situação de uma doença na população. Entretanto, você consegue perceber qual a finalidade
de todo esse levantamento de dados?

58
UNIDADE 2

O objetivo principal da epidemiologia, como já discutimos, é a promoção da saúde por meio do


combate e, principalmente, pela prevenção de doenças. Existem três níveis de medidas preventivas contra
doenças, baseadas diretamente nas fases estabelecidas na história natural das doenças (NEVES, 2016),
conforme apresentado na Figura 11, prevenção primária, prevenção secundária e prevenção terciária.

EXPOSIÇÃO APARECIMENTO DOS SINTOMAS


Período de incubação

Modificações Momento do
patológicas diagnóstico

Estágio de Estágio da Estágio da Morte ou cura


suscetibilidade doença subclínica doença clínica ou incapacidade

Prevenção Prevenção Prevenção Terciária:


Primária: Secundária: Redução de
Regulação de Redução da duração complicações e
casos novos e gravidade incapacidades

Figura 11 - História natural das doenças e medidas de prevenção / Fonte: adaptado de Neves (2016, p. 19).

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado, a partir do lado esquerdo, e de cima para baixo, uma linha de tempo, definindo
as etapas da história natural da doença e onde iniciaria cada tipo de prevenção. A partir da esquerda tem-se: “estágio de suscetibilidade”,
e abaixo desta “prevenção primária: redução de casos novos”; “exposição”; “estágio de doença subclínica”, e abaixo desta “prevenção
secundária: redução da duração e gravidade”; “período de incubação”, e abaixo desta “modificações patológicas”; “aparecimento dos
sintomas”; “estágio da doença clínica”, “momento do diagnóstico”, “prevenção terciária: redução de complicações e incapacidade”; e
“morte ou cura ou incapacidade”.

A prevenção primária é o primeiro enfoque de qualquer projeto de promoção de saúde, pois, tem como
objetivo prevenir que o indivíduo contraia a doença. Suas ações são direcionadas para o controle dos fatores
de risco, como saneamento ambiental, educação e promoção de hábitos de higiene; além de fatores relacio-
nados com as próprias doenças, como controle de reservatórios naturais e eliminação de vetores da doença.
A prevenção secundária, por outro lado, é realizada após a infecção do indivíduo, ou seja, o agente
etiológico da doença já está em atividade no organismo. Neste ponto, o que pode ser prevenido é o
desenvolvimento de formas graves, que poderiam resultar em sequelas ou até mesmo na morte. É
desenvolvida através da criação e aplicação de mecanismos de diagnósticos mais específicos e mais
rápidos, além de tratamentos eficazes.
No caso da prevenção terciária, a doença, na maioria das vezes, já não está presente, restando apenas
suas consequências, ou seja, sequelas que podem incapacitar o indivíduo. Portanto, neste nível o que
se quer prevenir é a incapacidade permanente do indivíduo, através de ações que visem a sua reabili-
tação. Neves (2016, p.19) define a prevenção terciária como o “processo de reeducação e readaptação
de pessoas acometidas por acidentes ou que estejam com sequelas em decorrência de alguma doença”.

59
UNICESUMAR

Caro(a) aluno(a), convido você agora conhecer algumas aplicações da


epidemiologia na prevenção de parasitoses. Vou discutir e apresentar a
você a importância da atuação do profissional de saúde, responsável por
diagnosticar essas doenças, na manutenção e formação dos dados res-
ponsáveis pela vigilância epidemiológica. Acesse o QRCode e aperte o play!

Quando a epidemiologia é corretamente aplicada na avaliação das doenças de uma população,


é possível determinar com clareza quais medidas poderiam ser melhor empregadas para o con-
trole destas enfermidades, como a aplicação de medidas de controle de insetos que agem como
vetores de parasitos. O conhecimento de como a doença se propaga na população, suas taxas de
incidência e prevalência, permitem ainda avaliar se projetos implementados para o controle das
doenças estão, de fato, sendo efetivos.
Caro(a) aluno(a), nesta unidade você pôde aprender conceitos importantes para a atuação de um
biomédico, tanto a nível laboratorial quanto no planejamento de ações em saúde. Você conheceu o
conceito de epidemiologia e seus objetivos. Conheceu os principais indicadores em saúde e a forma
correta de calcular a prevalência e incidência. Aprendeu que as doenças se distribuem na população
de diversas formas, ocasionando desde surtos até pandemias. Por fim, você pôde entender que a epi-
demiologia preconiza a prevenção das doenças nos diversos níveis em que ela pode ser trabalhada.
Muito bem, agora que você entendeu como a epidemiologia consegue definir critérios para
avaliar as doenças, e entre estas as parasitoses, volte ao nosso desafio inicial e tente interpretar os
dados que você pesquisou, com um olhar embasado nos conhecimentos de epidemiologia.
A malária é uma doença causada por um protozoário, o Plasmodium sp., que é transmitido
pelos mosquitos do gênero Anopheles. Essa doença afeta 40% do território brasileiro, porém sua
maior concentração encontra-se na região norte, o que torna essa região endêmica. Nesta região,
a prevalência dos casos da doença é alta, mas não há aumento
significativo da incidência, exceto em pontos isolados. Esta en-
demia ocorre pela presença do mosquito, e principalmente dos
reservatórios naturais do parasito. Portanto, uma forma de você
determinar se sua região é endêmica para a malária é consul-
tando o site de vigilância em saúde, mais especificamente da
vigilância epidemiológica do Ministério da Saúde do Governo
Federal, através do site https://www.gov.br/saude/pt-br/assun-
tos/saude-de-a-a-z/m/malaria-1.

60
Caro(a) aluno(a), diante dos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, certamente você é
capaz de preencher o mapa mental a seguir.

Incidência

EPIDEMIOLOGIA
Surto

Vigilância
em Saúde

61
1. Leia o texto a seguir:

“Embora algumas pesquisas epidemiológicas de excelência tenham sido conduzidas antes


do século XX, um corpo sistematizado de princípios que possibilitasse o delineamento e a
avaliação de estudos epidemiológicos só começou a se formar na segunda metade daquele
mesmo século. Tais princípios evoluíram em conjunto com uma explosão de pesquisas epi-
demiológicas, e sua evolução continua até hoje”.

Fonte: ROTHMAN, K. J. Epidemiologia moderna. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011, p. 10.

Muitos aspectos do controle e prevenção de doenças, na atualidade, dependem da atuação de


epidemiologistas. Assim, conhecer aspectos e no que consiste a epidemiologia é fundamental
para o profissional da área da saúde. Com base nestes aspectos apresentados, defina, por
meio de um texto dissertativo de três a cinco linhas, o que é a epidemiologia.

2. Leia o texto a seguir:

“O termo ‘frequência’, que para o leigo tem um significado muito claro — de número de vezes
que um evento ocorre — necessita ser mais bem definido, em epidemiologia. Daí, a distinção
que se faz entre ‘incidência’ e ‘prevalência’, com o intuito de separar determinados aspectos
que, se não levados em conta, dificultam as comparações de ‘frequências’ ”.

Fonte: PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2018, p. 76.

Dentre os indicadores de saúde, o mais utilizado pela epidemiologia é, claramente, a morbida-


de. Entre os aspectos observados neste indicador encontram-se a incidência e a prevalência.
Com base neste assunto, diferencie, por meio de um texto dissertativo de três a cinco linhas,
a incidência de prevalência.

3. Leia o texto a seguir:

“Uma epidemia é, essencialmente, um problema de saúde pública, de grande escala, rela-


cionado à ocorrência e propagação de uma doença ou evento de saúde claramente superior
à expectativa normal e que usualmente transcende os limites geográficos e populacionais
próprios de um surto”.

Fonte: ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. Módulos de Princípios de Epidemiologia


para o Controle de Enfermidades. Módulo 5: pesquisa epidemiológica de campo – aplicação
ao estudo de surtos; Ministério da Saúde. Brasília : Organização Pan-Americana da Saúde, 2010.

Um dos usos mais importantes da epidemiologia é a detecção de anormalidades nas doen-


ças, possibilitando detectar com rapidez o aparecimento de surtos e epidemias e, portanto,
definir medidas que possam promover o seu controle. Assim, conhecer sua definição permite
identificar e traçar as melhores ações de controle. Com base neste assunto, defina, por meio
de um texto dissertativo de três a cinco linhas, o que é uma “epidemia”.

62
3
Protozoários Parasitas
Entéricos e do Trato
Geniturinário
Dr. Vinícius Pires Rincão

nesta unidade, você conhecerá os protozoários, diferenciando-os de


outros parasitas e conhecendo as diferentes espécies de interesse
da parasitologia que participam do grupo. Você aprenderá como
esses seres são estruturados, como ocorre sua reprodução e quais
são os seus mecanismos de infecção. Por fim, você conhecerá as
principais características da Giardíase, Amebíase e Tricomoníase.
UNICESUMAR

Protozoários são microrganismos unicelulares.


Eles são responsáveis por inúmeras doenças e um
dos principais grupos de parasitas conhecidos.
Imagine que você é o(a) responsável pela dire-
ção de um laboratório de análises clínicas, e que
deve liberar o resultado de diversas análises de
doenças do trato gastrointestinal. Como o conhe-
cimento sobre as características dos protozoários
e as infecções que causam no organismo humano
te ajudariam a realizar o diagnóstico correto?
As parasitoses causadas por protozoários, a
depender da espécie, podem afetar vários sis-
temas do organismo, desde o Sistema
Nervoso Central, como na neu-
rotoxoplasmose, até o sistema
geniturinário, como no caso
da tricomoníase. A maioria
destas parasitoses possui
um tratamento já bem de-
finido, possibilitando, na
maioria das vezes, a recupe-
ração completa do paciente.
Todavia, para que a doença
possa ser corretamente tratada, é
preciso identificar corretamente seu
agente etiológico, uma vez que muitas pa-
rasitoses possuem sintomas iniciais semelhantes,
evitando-se assim tratamentos desnecessários
e que podem não surtir efeito para o parasito
causador da doença examinada.
Conhecer as características dos principais gru-
pos de parasitas, bem como das principais doenças
causadas por eles, permite selecionar os proto-
colos de análises clínicas mais adequados para
identificação do agente etiológico. Por exemplo,
uma vez que se entende que o parasito tem seu
habitat restrito ao intestino, deverão ser utilizadas
metodologias que analisem as fezes, buscando cis-
tos do protozoário, para assim poder identificá-los
com maior facilidade, eficiência e certeza.

64
UNIDADE 3

As protozooses são doenças causadas por protozoários. Dentre estas, as protozooses intestinais
estão entre as mais frequentes, exigindo a realização de muitos exames por dia, sendo que alguns
laboratórios chegam a realizar mais de 500 exames para detecção destes protozoários em um único
dia. Com base neste assunto, quero propor um desafio para você. Pesquise (em sites da internet,
na sua biblioteca online): qual o nome do principal exame realizado para detecção e identificação
de protozooses intestinais? Existe mais de uma metodologia para este tipo de exame?
As parasitoses intestinais são doenças causadas tanto por protozoários quanto por helmintos. A
grande maioria apresenta um ciclo oral fecal, porém, alguns vermes podem entrar no organismo
através da pele, como por exemplo o Ancylostoma duondenale, um verme nematoide que prefe-
rencialmente entra no organismo perfurando a pele do hospedeiro. As parasitoses intestinais são
extremamente frequentes em áreas rurais e zonas urbanas de baixa renda, constituindo um grave
problema de saúde pública e, por esta razão, seu diagnóstico, tratamento e prevenção apresentam
grande importância para os órgãos e profissionais da saúde.
Agora, pense no ciclo de vida destes parasitas, em especial nos protozoários. Sabendo que mui-
tas dessas infecções podem ter sintomas leves ou mesmo serem assintomáticas, como poderiam
ser detectados por exames parasitológicos? Quais amostras devem ser coletadas e analisadas em
pacientes, para os quais há suspeita de parasitose intestinal? Escreva seus resultados e reflexões,
sobre a pesquisa que você fez, e as questões que levantamos, no seu Diário de Bordo, a fim de que
eu e você possamos analisá-las juntos no decorrer desta unidade.

65
UNICESUMAR

Microrganismos são seres que não podem ser ob-


servados a olho nu, ou seja, só podem ser ob-
servados com o auxílio de um equipamen-
to específico, denominado microscópio.
Dentre os diferentes tipos de micror-
ganismos encontramos os protozoá-
rios, que podem ser definidos como
organismos unicelulares, micros-
cópicos e eucariotos (SIQUEIRA-
-BATISTA et al., 2020). Diferente
de outros grupos de organismos,
onde seus membros compartilham
muitas características em comum,
nos protozoários, mesmo dentro do
mesmo filo, existem diferenças mar-
cantes. Este grupo de organismo apre-
senta formas variadas, diferentes tipos de
locomoção, processos de alimentação e formas
de reprodução (NEVES, 2016).
Os protozoários têm como característica serem uni-
celulares e eucariontes e, portanto, apresentam uma estrutura celular complexa, com um núcleo bem
definido e várias organelas membranosas. A estrutura celular de um protozoário varia de grupo para
grupo, embora os componentes principais das células eucarióticas estejam sempre presentes, como
membrana plasmática, núcleo, retículo endoplasmático, complexo de Golgi e ribossomos. Outras
organelas, normalmente encontradas em células eucariotas podem estar ausentes em algumas es-
pécies, como as mitocôndrias, que são responsáveis pelo metabolismo energético em organismos
aeróbios, e não são encontradas em espécies anaeróbias como a Entamoeba histolytica.
Existem, entretanto, organelas que são específicas de protozoários como os vacúolos contráteis
ou pulsáteis (Figura 1). Estas organelas têm a capacidade de se contrair e expulsar para fora da célula
o que tem em seu interior, geralmente água, funcionando como controladores da pressão osmótica
interna da célula. Outra estrutura celular presente em protozoários ciliados e flagelados é o citósto-
ma (Figura 1), uma abertura presente na porção lateral da célula que facilita a ingestão de partículas,
agindo como uma “boca” para o organismo.
O citoplasma de alguns grupos de protozoários pode se apresentar de forma diferenciada das outras
células eucarióticas, onde é possível distinguir duas regiões distintas (Figura 2): o ectoplasma, com-
pondo a porção mais externa e transparente; e o endoplasma, constituindo a porção mais interna, com
maior concentração de água e organelas, o que o torna mais fluído (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

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UNIDADE 3

1
1

2 2

Figura 1 - Vacúolo contrátil (1) e citóstoma (2). / Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: na imagem podem ser observados dois protozoários ciliados. No lado esquerdo, observa-se uma micrografia
do protozoário, com uma célula de forma elíptica, onde podem ser identificadas algumas estruturas internas e em sua porção lateral.
Destas estruturas, são apontadas por meio de setas, o vacúolo contrátil, marcado com o número um, e o citóstoma, marcado com o
número dois. No lado direito, observa-se um desenho esquemático do mesmo protozoário, caracterizando com melhor definição as
mesmas estruturas mostradas na micrografia.

Figura 2 - Ameba com endoplasma (1) e ectoplasma (2). / Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado, à esquerda, uma micrografia de uma ameba, com uma célula sem forma
definida e com pseudópodes, além do citoplasma transparente com várias partículas inseridas; e à direita, um desenho ilustrativo de
uma ameba, sem forma definida, com pseudópodes e componentes do citoplasma, mas sem serem nomeados. Entre as duas imagens
foram colocadas setas numeradas: o número dois está ligado a setas que apontam para o ectoplasma nas duas imagens; o número
um está ligado a setas que apontam para o endoplasma nas duas imagens.

67
UNICESUMAR

Outra estrutura que pode ser encontrada em alguns protozoários, inclusive utilizada para classificar os
membros da Ordem Kinetoplastida, da qual o Trypanosoma cruzi faz parte, é o cinetoplasto (Figura
3). O cinetoplasto é uma estrutura formada pela condensação do DNA presente na única mitocôndria
encontrada nos protozoários que o possuem. Ele é observado na base do flagelo (também presente
neste grupo) e inicialmente imaginava-se que sua função seria a de movimentação do flagelo. O enten-
dimento atual é que o cinetoplasto tem apenas a função de síntese de RNAs direcionados às atividades
da própria mitocôndria. Para o estudo da parasitologia, em especial a dos tripanossomatídeos, a posi-
ção desta estrutura na célula, serve como base para determinação da fase do ciclo de vida do parasito.

Reservossoma
Núcleo Microtúbulos
Complexo de Gogi Nucléolo subpeliculares

Figura 3 - Estrutura esquemática do Trypanosoma cruzi. / Fonte: adaptada de Cavalcanti e Souza (2018).

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado o desenho esquemático de um Trypanosoma cruzi, observando suas organelas
internas. O flagelo e citóstoma se localizam voltados para o lado esquerdo. Bem na base do flagelo pode ser observada uma estrutura
na forma de bastão denominada de cinetoplasto. O restante da figura é formado por organelas, como o complexo de Golgi, o núcleo,
a extensão da mitocôndria e vacúolos de reserva.

Como você já deve ter notado, os protozoários constituem um grupo diverso e com características
que os distinguem de outros eucariotos. Essa diversidade se aplica também aos seus processos me-
tabólicos e de reprodução.
Os protozoários podem ser autotróficos ou heterotróficos, ou ainda englobar as duas formas de nutri-
ção. Podem realizar a síntese de compostos energéticos com a utilização do oxigênio, sendo denominados
de aeróbicos, ou na ausência dessa molécula, sendo então denominados de anaeróbicos. Essa vasta gama
de maquinarias celulares permite que encontremos os protozoários nos mais diversos tipos de ambientes.

68
UNIDADE 3

Autotróficos – são organismos capazes de sintetizar moléculas orgânicas que servem como
fonte de energia para suas atividades, através da captação da energia luminosa por pigmentos
especializados, como a clorofila.
Heterotróficos – são organismos que dependem da ingestão e digestão de moléculas orgânicas
externas, para gerar energia para suas atividades.
Reprodução sexuada - corresponde ao processo onde um indivíduo dá origem a novos indi-
víduos, através da junção de células especializadas denominadas gametas, ou através da troca
de material genético entre células diferentes.
Reprodução assexuada - corresponde ao processo onde um indivíduo dá origem a outros
sem a necessidade da fusão entre células especializadas, envolvendo, geralmente, a divisão de
uma célula em duas ou mais células.
Fonte: Neves (2016).

Quanto à reprodução, os protozoários podem apresentar reprodução sexuada ou assexuada. A repro-


dução assexuada é aquela onde não há junção de gametas ou material genético de células distintas. A
principal forma de reprodução assexuada dos protozoários é por divisão binária (também denomi-
nada de cissiparidade), que constitui na formação de duas células a partir de uma, por mitose (Figura
4). Um exemplo deste tipo de replicação ocorre com a Entamoeba histolytica.

Figura 4 - Fissão binária em protozoário ciliado. / Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: no lado esquerdo da imagem pode ser observado três desenhos esquemáticos de um protozoário ciliado, cuja
célula é alongada com um formato elíptico, representando os estágios subsequentes de uma divisão celular, onde pode ser observado
a célula se dividindo ao meio. No lado direito da imagem pode ser observado uma micrografia com várias células do mesmo protozoário
ciliado, com foco em uma célula específica que está no último estágio da divisão celular, com sua porção central se contraindo e quase
se separando em duas células distintas.

69
UNICESUMAR

Outra forma de reprodução assexuada observada nos parasitas é a esquizogonia. Neste tipo de re-
produção, o protozoário geralmente invade uma célula do hospedeiro e realiza divisões sucessivas do
núcleo seguido do citoplasma, formando várias células simultaneamente, que destroem a célula do
hospedeiro e são liberadas como novos indivíduos. Um exemplo deste tipo de replicação ocorre em
uma das fases do ciclo de vida do Plasmodium sp., dentro das hemácias (Figura 5).

Figura 5 - Esquizogonia do Plasmodium.

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado a representação em imagem 3D do interior de um vaso sanguíneo, com várias
estruturas arredondadas e bicôncavas, representando as hemácias, com foco em uma específica onde se observa em seu interior sete
novas células do Plasmodium se formando.

Já a reprodução sexuada dos protozoários pode ocorrer de duas formas. Na primeira ocorre a troca
de material genético entre dois protozoários diferentes, em um processo denominado de conjugação,
onde as células se unem por um curto período, como ocorre no filo Ciliophora. Na segunda, ocorre
a junção de duas formas evolutivas do ciclo biológico do parasito, denominados de macrogameta
(feminino) e microgameta (masculino), em um processo denominado de fecundação, formando
uma célula única e grande, o zigoto, o qual dará origem vários esporozoítos (forma infectante). Um
exemplo desta segunda forma, ocorre no filo Apicomplexa, no ciclo de vida do Plasmodium sp., no
interior do mosquito do gênero Anopheles (veja o Eu Indico a seguir).

70
UNIDADE 3

Título: Ciclo de vida da malária – O mosquito hospedeiro


Ano: 2012
Sinopse: o vídeo apresentará a fase do ciclo de vida do Plasmodium sp.
no interior do mosquito que serve como vetor e hospedeiro intermediário.
No vídeo poderá ser observado a diferenciação do parasito em macro
e microgametas e processo de fecundação, dando origem às formas
infectantes os esporozoítos.
Comentário: Caro(a) aluno(a), neste vídeo você poderá observar uma das fases do ciclo de vida
do protozoário causador da malária, especificamente, fase de reprodução sexuada, ajudando a
compreender um pouco mais sobre essa forma de reprodução.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Você já parou para pensar quantos seres microscópicos estão espalhados em


nosso planeta? Ou para deixar nossa imaginação um pouco mais ativa, mesmo
em nosso entorno quando você lê este livro? Posso afirmar com certeza que
existem milhões deles, entre bactérias, algas, fungos e protozoários.
Embora o grupo dos protozoários não seja tão abundante quanto fungos e
bactérias, já foram descritas pouco mais de 60.000 espécies destes organis-
mos (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). Mas, por que a parasitologia se
preocupa com os protozoários? Porque destas 60.000 espécies, cerca de
30.000 são fósseis, e das 30.000 restantes, 1/3 (aproximadamente 10.000),
são parasitas de muitas espécies de animais (NEVES, 2016). Dentre as
espécies de parasitas, algumas dezenas são responsáveis pelas parasi-
toses da espécie humana.
A classificação dos protozoários é uma fonte de ex-
tensa discussão, e novas classificações estão sendo
propostas. Entretanto, a mais utilizada ainda hoje,
é apresentada por Neves (2016, p. 35), sendo a que
iremos adotar neste livro (Quadro 1). Nesta classi-
ficação os protozoários estão agrupados no
Reino Protista, sendo divididos em sete
Filos, sendo que os três principais que afe-
tam o ser humano são: Filo Sarcomastigo-
phora, Filo Apicomplexa e Filo Ciliophora.

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UNICESUMAR

CLASSIFICAÇÃO DE PROTOZOÁRIOS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA

Espécie
Filo Subfilo Ordem Família Gênero
(exemplo)

Trypanosoma T. cruzi L.
Kinetoplastida Trypanosomatidae
Mastigophora

Leishmania infantum
Sarcomastigophora

Diplomonadida Hexamitidae Giardia G. lamblia

Trichomonadida Trichomonadidae Trichomonas T vaginalis E.


Entamoeba histolytica A.
Entamoebidae Acanthamoeba culbertsoni
Amoebida
Sarcodina

Acantahamoebidae

Schizopyrenida Schizopyrenidae Naegleria N. fowleri

Eimeridae Cyclospora C. cayetanensis


S. hominis
Sarcosystis
Apicomplexa

Eucoccidiida Sarcocystidae Toxoplasma T. gondii


Cystoisospora
C. belli
Cryptosporidiidae Cryptosporidium C. parvum
Haemosporida Plasmodiidae Plasmodium P. falciparum
Piroplasmida Babesidae Babesia B. microti
Kinetofragminophorea
Ciliophora

Trichostomatida Balantidiidae Balantidium B. coli

Quadro 1 - Classificação dos protozoários de interesse médico. / Fonte: adaptado de Neves (2016, p. 35).

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UNIDADE 3

Embora as metodologias de classificação atuais busquem uma correlação genética entre os organismos,
o que em parte se correlaciona com a classificação mais antiga, a classificação que adotaremos neste
livro, e que a muito é empregada para protozoários, utiliza alguns critérios morfológicos, de ultraestru-
tura (ou seja, de componentes intracelulares), e principalmente dos mecanismos utilizados pela célula
para se locomover. Com base nestes critérios, podemos definir o Filo Sarcomastigophora como aquele
que engloba espécies de protozoários que se locomovem por meio de flagelos, agrupados no Subfilo
Mastigophora, como por exemplo o Trypanosoma cruzi (Figura 6).

Figura 6 - Trypanosoma cruzi.

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observada a representação em figuras tridimensionais de um protozoário da espécie
Trypanosoma cruzi, caracterizado por ter uma célula alongada e fusiforme, com um núcleo central evidente, uma membrana ondulante
(lembrando uma barbatana dorsal de peixe) e um flagelo em uma das extremidades da célula. O protozoário parece estar flutuando
em um líquido transparente, representando o plasma sanguíneo, uma vez que ao redor dele pode ser observado várias estruturas
arredondadas e bicôncavas, representando as hemácias.

73
UNICESUMAR

Ou que se locomovem por meio de projeções da membrana plasmática e do citoplasma, constituindo


pseudópodes, agrupados no Subfilo Sarcodina, como por exemplo a Entamoeba hystolitica (Figura 7).

Figura 7 - Entamoeba hystolitica.

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado a representação tridimensional de uma Entamoeba hystolitica, representada
por uma célula onde pode se ver várias projeções da membrana plasmática e citoplasma, os pseudópodes, em todas as direções,
englobando hemácias que circulam ao redor do protozoário.

No filo Apicomplexa a forma de locomoção ocorre por meio de estruturas internas complexas, for-
madas principalmente por microtúbulos (Figura 8). Através dessas estruturas o parasito consegue
se locomover por meio de contrações e deslizamento da célula, como ocorre no Toxoplasma gondii.

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UNIDADE 3

Microtúbulos intraconoidais

Anéis preconoidais

Conoide

Anel polar apica

Micronemas

Roptrias

Grânulos densos

Microtúbulos subpelicular

Sacos alveolares

Esqueleto da membrana

Complexo basal

Figura 8 - Toxoplasma gondii. / Fonte: adaptada de Wikiwand (2022).

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado um desenho esquemático do protozoário Toxoplasma gondii, pertencente ao
Filo Apicomplexa, com uma célula formato de pera. No desenho interno da célula é possível observar suas estruturas, do lado direito
estão os nomes dessas estruturas com setas indicando as mesmas, de cima para baixo, microtúbulos intraconoidais, anéis preco-
noidais, conoide, anel polar apica, micronemas, roptrias, grânulos densos, microtúbulos subpelicular, sacos alveolares, esqueleto da
membrana, complexo basal.

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UNICESUMAR

Por fim temos o filo Ciliophora, onde a locomoção ocorre por meio do batimento
de inúmeras estruturas da superfície celular, denominados de cílios (Figura 9), como
ocorre no Balantidium coli.

Figura 9 - Balantidium coli. / Fonte: adaptada de Courses Lumen Learning (2022).

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observada uma micrografia de um protozoário ciliado, onde se
observa centenas de pequenos filamentos laterais denominados de cílios.

A morfologia dos protozoários é extremamente variada, mudando de grupo para


grupo e de fase para fase dentro de um mesmo grupo. As células podem se apre-
sentar alongadas, fusiformes, arredondadas e ovais, além de poderem apresentar
estruturas especializadas para locomoção, como cílios e flagelos. Muitos pro-
tozoários possuem as fases de seu ciclo de vida bem definidas, possibilitando a
caracterização da morfologia celular dessas fases, sendo estas: trofozoíto, cisto,
gameta e oocisto (NEVES, 2016). Mesmo os protozoários que possuem muitas
fases apresentam, entre estas, as fases básicas do desenvolvimento. É importante
destacar que as fases de gameta e oocisto não estão presentes em todas as espécies.
Mas quais as características principais destas quatro fases?

76
UNIDADE 3

Trofozoíto: pode ser considerado a forma ativa do protozoário. Dependendo da espé-


cie esta forma pode ser facilmente identificada, como no caso da Entamoeba histolytica.
Para outra, entretanto, ela será identificada em diferentes fases do ciclo biológico, sendo
definida com termos específicos para a separação entre as fases. Por exemplo, no caso
do Toxoplasma gondii, podemos identificar três formas distintas em seu ciclo de vida:
taquizoíto, badizoíto e esporozoíto, sendo que a forma de taquizoíto corresponde a forma
ativa, livre, e, portanto, a forma de trofozoíto.
Cisto: é a forma de resistência do protozoário, que possuí uma parede externa extrema-
mente resistente, possibilitando que o organismo sobreviva em condições impróprias, até
que alcance o habitat apropriado. Na maioria das vezes é encontrado nas fezes do hos-
pedeiro, por onde é liberado, como ocorre com a Giardia duodenalis; porém, em algumas
espécies, em decorrência do ciclo de vida, pode ser encontrado em tecidos, como no caso
do Toxoplasma gondii.
Gameta: é a forma responsável pela reprodução sexuada. Esta forma aparece unicamente
com o objetivo de junção de gametas e formação de um oocisto. Os gametas formados
são, normalmente, denominados de macrogametas (gametas femininos) e microgametas
(gametas masculinos)
Oocisto: são a forma resultante da junção dos gametas. Um oocisto dá origem a vários
esporozoítos que são considerados uma forma infectante. Esta forma é comumente
encontrada nas fezes do hospedeiro, como ocorre no Toxoplasma gondii. No entanto,
pode se alojar, amadurecer e se romper nos tecidos do hospedeiro, como ocorre na fase
do ciclo do Plasmodium sp., que ocorre no interior do mosquito.

Agora que você conhece a morfologia e as características dos protozoários, po-


demos falar sobre seu ciclo de vida. Como você já deve ter imaginado, a varie-
dade de tipos celulares, as diferentes adaptações para locomoção e os mecanis-
mos desenvolvidos para a entrada no hospedeiro, possibilitam que protozoários
apresentem ciclos de vida característicos para cada espécie. Embora as espécies
intestinais apresentem um ciclo de vida bem definido, com transmissão fecal-
-oral, existem espécies com formas específicas de infecção e desenvolvimento.
Como já apresentado, este grupo de organismos apresenta representantes de vida
livre e parasitos. E neste último caso podemos encontrar protozoários com ciclo
monoxênico e outros com ciclo heteroxênico. Vamos observar casos em que o
protozoário utilizará o ser humano como hospedeiro definitivo e outros onde
estes farão a vez de hospedeiro intermediário, demonstrando a vasta possibilidade
de infecções ligadas a estes organismos.

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UNICESUMAR

Como você pode perceber, os protozoários estão


distribuídos nos mais diversos habitats em
todo o planeta e apresentam uma enorme
gama de processos metabólicos, formas
e processos de desenvolvimento. No
que se refere à parasitologia, podem
apresentar ou não hospedeiros in-
termediários nos seus ciclos bio-
lógicos e, dependendo da espé-
cie, podem apresentar diferentes
formas de entrada no organis-
mo. Assim, embora apresentem
semelhanças em grupos especí-
ficos, os protozoários devem ser
estudados sempre com enfoque
na espécie de interesse.
Por esta razão, a partir deste
ponto estudaremos os protozoários
de maior interesse para a saúde huma-
na: causadores de infecções sistêmicas, in-
cluindo diferentes órgãos; ou restritas ao siste-
ma circulatório sanguíneo; ou ainda presentes nos
tratos gastrointestinal e geniturinário. Iniciaremos nosso
estudo com os protozoários que apresentam como habitat os tratos gastrointestinal e geniturinário.
Nosso estudo das protozooses vai se iniciar pela giardíase. Nada mais justo, já que o agente
etiológico desta doença, a Giardia sp., foi o primeiro protozoário do trato intestinal humano
descrito, em 1681, por Anton van Leeuwenhoek (NEVES, 2016). Este protozoário é um dos prin-
cipais causadores de diarreia infecciosa no mundo, e encontra-se incluído na lista de Doenças
Negligenciadas (doenças que afetam uma grande parcela da população, mas que não recebem a
atenção devida) em países em desenvolvimento. Doenças estas que, na maioria das vezes, estão
relacionadas com falta de saneamento básico, pobreza e má qualidade de vida, que se reflete prin-
cipalmente na alimentação e água de consumo.
A giárdia é um representante do Filo Sarcomastigophora, Subfilo Matigophora, Ordem Diplo-
monadida, Família Hexamitidae do Gênero Giardia. Dentro do gênero Giardia, existem espécies
que infectam mamíferos, aves, répteis e anfíbios. Destas espécies, a única que infecta o ser humano,
que tem relevância para o nosso estudo, é a Giardia duodenalis (anteriormente denominada de
Giardia lamblia) (NEVES, 2016).

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UNIDADE 3

Como todo protozoário, a giárdia é eucarioto, com sua célula contendo a maioria das estruturas
de uma célula eucariótica. Entretanto, alguns componentes comuns de eucariotos estão ausentes, tais
como mitocôndrias, peroxissomos e complexo de Golgi (NEVES, 2016).
A giárdia pode ser encontrada ou na forma de trofozoíto ou na forma de cisto (SIQUEIRA-BA-
TISTA et al., 2020). A classificação deste parasito reflete principalmente suas características estruturais
na forma de trofozoíto, destacando-se o fato de ser um protozoário flagelado e binucleado. Outra
característica marcante do trofozoíto é sua forma semelhante à fruta pera (Figura 10).

a) b)

Figura 10 - a) Formas de cisto e trofozoíto da Giardia duodenalis; b) Micrografia de Giardia duodenalis.


Fonte: a) Paraná (2022), b) Creative Commons (2022).

Descrição da Imagem: na imagem “a” podem ser observados dois desenhos esquemáticos. O desenho da esquerda representa o
cisto da Giardia duodenalis, onde pode ser observado quatro núcleos, o axonema e os corpos escuros; enquanto no desenho da direita
representa o trofozoíto, onde pode-se identificar o formato de pera, a presença de dois núcleos e oito flagelos. Na imagem “b”, pode
ser observado uma micrografia do protozoário Giardia duodenalis, observando os mesmos elementos apresentados no desenho.

O trofozoíto pode ainda ser caracterizado por apresentar simetria bilateral, quatro pares de flagelos, a
superfície dorsal lisa e convexa, enquanto a superfície ventral é côncava (Figura 11), forma uma estrutura
semelhante a uma ventosa, denominado de disco ventral (NEVES, 2016), a qual o parasito usa para
se fixar na mucosa intestinal. Duas estruturas que podem ser observadas na célula (Figura 10) e que
servem para identificação de algumas espécies são: 1) os corpos medianos, duas estruturas em forma
de vírgula, cuja função ainda não é bem definida; 2) o axonema (também denominados de axóstilos),
feixe de fibras longitudinal e central na célula (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). A reprodução do
trofozoíto ocorre por fissão binária (REY, 2008).

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UNICESUMAR

Figura 11 - a) Superfície ventral da Giardia; b) Giárdias aderidas a mucosa intestinal / Fonte: adaptada de Pixnio (2022).

Descrição da Imagem: na imagem “a)” é observada uma micrografia de um protozoário do gênero Giardia, destacando sua superfície
ventral côncava em forma de ventosa. Na imagem “b)” do lado direito é observada uma vilosidade intestinal recoberta com trofozoítos
de giárdia, aderidos pelo disco ventral.

O cisto deste protozoário, apresenta formato oval ou elipsoide, com uma parede externa formada
por glicoproteínas, a parede cística, responsável pela resistência desta forma (NEVES, 2016),
permitindo que o protozoário resista a variações de temperatura, umidade e determinados pro-
dutos químicos. Na região do citoplasma podem ser visualizados 2 ou 4 núcleos (dependendo do
estágio de maturação do cisto), o axonema ou axóstilo (fibras longitudinais) e os corpos escuros,
semelhantes aos corpos medianos do trofozoíto.
O ciclo biológico da Giardia é monoxeno, sendo o ser humano seu hospedeiro definitivo (Fi-
gura 12). O ciclo tem início com a ingestão de água ou alimentos contaminados com os cistos do
parasito. Após a ingestão o cisto passa por um processo de desencistamento, ativado pelo meio
ácido do estômago, e termina na região do duodeno, onde a forma celular liberada do cisto sofre
divisões nucleares, terminando com a formação de quatro células binucleadas. Estas células, os
trofozoítos, se fixam à parede intestinal por meio do disco ventral, e se multiplicam por fissão
binária. Eventualmente trofozoítos se desprendem e são levados pelas fezes, alguns dos quais
sofrem o encistamento (transformação do trofozoíto em cisto), culminando com a liberação de
cistos e trofozoítos pelas fezes do hospedeiro. Os trofozoítos não sobrevivem no ambiente, mas
dependendo das condições ambientais, os cistos podem sobreviver por meses no ambiente (NE-
VES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

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UNIDADE 3

Cistos ingeridos
Trofozoítos
Cisto

Contaminação da água,
alimentos ou
mãos/fómites com Giardia atinge
cistos infeciosos a maturidade
e se multiplica
no intestino

Cistos infecciosos
liberados nas fezes

Trofoizoítos também são


eliminados nas fezes, mas
não sobrevivem no ambiente

Figura 12 - Ciclo de vida da Giardia duodenalis. / Fonte: adaptada de Consultatii la domiciliu (2022).

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado o ciclo biológico da Giardia duodenalis. Dois ciclos são mostrados, um à esquer-
da e outro à direita. Na região lateral esquerda da figura observa-se alimentos (verduras e legumes) e um copo de água, ao lado está
escrito “Contaminação da água, alimentos ou mão / fómites com cistos infecciosos”, a partir do qual parte uma seta até o desenho de
um cisto, abaixo está escrito “Cistos ingeridos”, de onde parte outra seta em direção a boca do desenho de um homem, onde pode ser
observado seus órgãos internos. Da região do ânus da figura do homem partem duas setas, uma para a esquerda indicando o desenho
de um cisto, acima está escrito “Cistos infecciosos liberados nas fezes”. Desse desenho sai uma seta indicando o copo e as verduras,
finalizando o ciclo. A outra seta também indica a esquerda um pouco mais abaixo indicando o desenho de um trofozoíto, ao lado está
escrito “Trofozoítas também são eliminados nas fezes, mas não sobrevivem no ambiente”. Do lado direito da figura, está o outro ciclo,
há uma sequência de desenhos ligados por setas, indicando os processos pelos quais o trofozoíto passa no interior do organismo,
sendo, na sequência: cisto ingerido, trofozoíto, divisão binária do trofozoíto, novo trofozoíto, novo cisto, dentro do ciclo está escrito
“Giardia atinge a maturidade e se multiplica no intestino”.

Assim podemos definir que os cistos são a forma infectante para o ser humano, e que via de transmis-
são de um indivíduo para outro é a fecal-oral. É importante destacar que embora a principal forma de
contaminação seja por meio de água e alimentos contaminados, em locais sem saneamento básico ade-
quado, com indivíduos com pouco conhecimento sobre os cuidados com higiene pessoal, e geralmente
com aglomeração de pessoas, é comum a transmissão de pessoa a pessoa pelas mãos contaminadas.

81
UNICESUMAR

A giárdia é um parasito que causa diarreia devido à má ab-


sorção intestinal do organismo. Apesar de esse conhecimento
ser bem definido, não se conhece ainda todos os meca-
nismos envolvidos na patogênese da giardíase. Algumas
alterações intestinais provocadas por esse protozoário
são apontadas como as prováveis causas, sendo que as
principais são alteração das microvilosidades da su-
perfície dos enterócitos (células do epitélio intestinal),
inflamação do intestino e a secreção de substâncias
tóxicas (NEVES, 2016).
Como já discutimos, as características de um parasito
se baseiam na busca pelo equilíbrio com o hospedeiro. Com
a giárdia essa característica não é diferente, levando a maioria
das infecções a serem assintomáticas. Porém, ainda existem muitos
casos em que os indivíduos apresentam sintomas de diarreia aguda
e autolimitante, e para outros a infecção pode se tornar crônica. Para todas as
infecções o período de incubação varia de 5 a 25 dias. Na diarreia aguda, geralmente em indivíduos que
sofrem a primeira infecção (portanto sem proteção do sistema imune) pode ocorrer um quadro de diarreia
aquosa, com odor fétido, com gases provocando distensão e dor abdominal, com duração de poucos dias.
Já nos casos crônicos os sintomas se restringem a episódios de diarreia que podem ser contínuos, inter-
mitentes ou esporádicos, resultando principalmente na má absorção de gorduras (esteatorreia – presença
de gordura nas fezes) e vitaminas lipossolúveis, porém que podem persistir por anos (NEVES, 2016).
Assim como para a patogênese, a imunidade desenvolvida contra a Giardia não é bem conhecida.
Como você percebeu, este parasito não invade a parede do intestino e, portanto, a defesa imune do
hospedeiro contra esse protozoário é direcionada ao que pode ser produzido e secretado, ou seja,
aos anticorpos, e nesse caso especificamente aos dos tipos IgA e IgE (SIQUEIRA-BATISTA et al.,
2020). Embora somente os anticorpos IgA possam ser eliminados para a mucosa intestinal, já foram
identificados IgG e IgM antiGiardia, sugerindo que compostos antigênicos do parasito penetram no
organismo. Também foi identificado a ação de Linfócitos T-CD4+, principalmente porque são células
reguladoras da resposta imune; além de macrófagos e mastócitos (ativados pelos IgE produzidos) que
atuariam na liberação de substâncias tóxicas ao parasito, provocando também a inflamação da mucosa.

Agora, uma reflexão importante para você: como parasitas restritos ao trato intestinal, com sintomas
semelhantes a outras infecções, podem ser diagnosticados?

82
UNIDADE 3

O diagnóstico da giardíase pode ser clínico ou laboratorial. Entretanto o diagnóstico clínico fica praticamente
restrito para crianças que apresentam um quadro típico de diarreia com esteatorreia, juntamente com dor
abdominal, náuseas, vômitos e perda de apetite. O diagnóstico laboratorial é realizado pelo exame copro-
parasitológico, ou seja, pelo exame das fezes. A principal análise está voltada para o exame microscópico,
onde busca-se identificar a presença de cistos e trofozoítos. Porém, o profissional que irá fazer a análise
deve ficar atento ao fato que o trofozoíto é mais comumente encontrado em casos sintomáticos, além do
fato de que sobrevive por no máximo 20 minutos no ambiente, implicando na necessidade da utilização
de fixadores (como formol 10%, MIF ou SAF) para preservação da amostra (NEVES, 2016).
Apesar disso, métodos imunológicos como o ELISA (traduzido do inglês, Ensaio de Ligação Imu-
noenzimático), para detecção de anticorpos nas fezes, e moleculares como PCR (Reação de em Cadeia da
Polimerase) , para a detecção do DNA do parasito nas fezes, foram padronizados e são realizados como
forma de comprovação da infecção.
O tratamento da giardíase é realizado utilizando quimioterápicos, sendo que os principais são metro-
nidazol e albendazol, com eficácia de eliminação do parasito em torno de 95%. Porém, o uso prolongado
destes medicamentos pode resultar em efeitos colaterais como náuseas, vômitos e dores de cabeça.
A giardíase é uma doença que tem distribuição global. Porém, sua maior prevalência é encontrada em
países em desenvolvimento (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). A estimativa é que no Brasil a incidência
da giardíase varie, dependendo da região e das condições sociais, entre 4,0 e 30%.
Outra doença causada por protozoários e que tem importante relevância devido a grande quantidade
de casos anuais é a Amebíase, com mais de 36 milhões de casos sintomáticos anuais (REY, 2008). Embora
existam inúmeras espécies de amebas, das quais a maioria é de vida livre, e destas algumas podem infectar o
homem eventualmente, para a área clínica apenas algumas poucas espécies apresentam interesse, e destas a
mais relevante é Entamoeba histolytica (Figura 12), onde concentraremos nosso estudo. Mas para que você
tenha conhecimento e possa buscar por mais informações do assunto, as outras espécies de amebas que
podem infectar o ser humano são: Entamoeba coli, Entamoeba hartmanni, Entamoeba díspar, Iodamoeba
butschlii, Endolimax nana, Entamoeba gengivalis e Dientamoeba fragilis.
A Amebíase é uma doença que possui, como agente etiológico, a Entamoeba histolytica (NEVES,
2016), e constitui a segunda causa de morte devido a parasitoses, com mais de 100.000 mortes
anuais. E. histolytica é classificada como pertencente ao Reino Protozoa, Filo Sarcomastigophora,
Subfilo Sarcodina, Superclasse Rhizopoda, Classe Lobozia, Ordem Aemoebida, Família Eantamoe-
bidae, Gênero Entamoeba (NEVES, 2016).

Agora pense comigo: você já aprendeu que as amebas se locomovem por pseudópodes, e esse
fato leva a projeção de porções de sua membrana. Ora, se isto ocorre, toda morfologia externa da
célula (sua forma) não será alterada? Então como distinguir entre os diferentes tipos de amebas?

83
UNICESUMAR

A caraterística mais utilizada ainda hoje para distinguir entre os di-


ferentes tipos de amebas que infectam o ser humano é a morfologia,
onde se inclui, o tamanho do trofozoíto e do cisto, pelas característi-
cas da estrutura e pelo número de núcleos presentes nos cistos, pelas
inclusões citoplasmáticas (NEVES, 2016).
A morfologia da E. histolytica, é bem conhecida, uma vez que
esta constitui o protozoário parasito mais estudado até o momento.
A célula apresenta um metabolismo essencialmente anaeróbico, uma
vez que vive principalmente no intestino grosso, além de não apre-
sentar mitocôndrias (REY, 2008). Embora a literatura aponte quatro
formas distintas para esse protozoário (trofozoíto, pré-cisto, metacisto
e cisto), nosso estudo enfocará nas duas mais comumente observadas
nos exames diagnósticos: trofozoí-
to e cisto. Seu trofozoíto mede
aproximadamente de 20
a 40 µm (micrômetro),
com um núcleo bem
visível (Figura 13).
Com relação a sua
morfologia exter-
na, quando exa-
minado a fresco,
Neves (2016, p.143)
a descreve como
“pleomórfico, ativo,
alongado, com emissão
contínua e rápida de pseu-
dópodes, grossos e hialinos;
costuma imprimir movimentação
direcional, parecendo estar deslizando na superfície, seme-
lhante a uma lesma”. A forma invasiva, ou seja, o trofozoíto observado
a partir de biópsias de lesões provocadas por E. histolytica, pode
chegar até a 60 µm (REY, 2008).
As inclusões citoplasmáticas de E. histolitica são também ca-
racterísticas, e relacionadas a forma invasiva e não-invasiva. A
forma invasiva (invade a parede intestinal e provoca disenteria),
geralmente apresenta eritrócitos no citoplasma; enquanto na forma
não-invasiva podem ser encontrados grãos de amido e bactérias.
Outra característica evidente é a divisão do citoplasma em ecto-
plasma e endoplasma.

84
UNIDADE 3

Trofozoíto Cisto
Células vermelhas
sanguíneas ingeridas
Corpo cromatóide

Cariossoma

Núcleo

Cariossoma Núcleo 10 micro


a)

b) c)
Figura 13 - Trofozoíto e cisto de Entamoeba histolytica. a) Desenho esquemático do trofozoíto e do cisto. b) Trofozoítos de E.
histolytica contendo hemácias ingeridas no interior da célula. c) Cisto de E. histolytica contendo quatro núcleos.
Fonte: adaptada de a) Medical Labs, b) Wikidoc, c) Wikimedia.

Descrição da Imagem: na imagem podem ser observadas três figuras distintas: Figura superior marcada com a letra a) – Desenhos
esquemáticos das formas de trofozoíto de E. histolytica, a esquerda, onde observa-se uma célula alongada, com um núcleo evidente,
contendo em seu interior inclusões de cor preta representando hemácias ingeridas pelo protozoário; e cisto a direita, representada
por uma célula circular contendo quatro núcleos evidentes e um corpo cromatoide no centro. Figura inferior esquerda, marcada com a
letra b) – micrografia de três trofozoítos de E. histolytica, corados com hematoxilina, observando células alongadas, todos com núcleos
evidentes, e dois contendo hemácias em seu interior. Figura inferior direita, marcada com a letra c) – micrografia de um cisto de E.
histolytica, corada com lugol, observamos uma célula arredondada, com quatro núcleos evidentes.

Os cistos apresentam-se esféricos ou ovais, com tamanho variando entre 8 e 20 µm (NEVES, 2016).
Cada cisto pode apresentar de um a quatro núcleos, dependendo da fase de amadurecimento. Os
núcleos são quase indistinguíveis do resto do citoplasma quando observados a fresco (ou seja,
sem qualquer fixação ou coloração), porém, tornam-se evidentes quando corados com lugol ou
hematoxilina (REY, 2008). Os cistos de E. histolytica ainda apresentam corpos cromatoides, ob-
servados na forma de bastonetes com pontas arredondadas (Figura 14).

85
UNICESUMAR

Figura 14 - Cisto de Entamoeba histolytica, corado com hematoxilina, com dois núcleos e corpos cromatoides (setas).
Fonte: Publics domain Files (2022).

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado uma micrografia de um cisto de Entamoeba histolytica. Nesta micrografia,
tem-se materiais indefinidos de uma amostra de fezes, todos corados em azul, sendo que no centro da imagem observa-se uma
célula circular, com dois núcleos arredondados com um nucléolo evidente, e duas estruturas de cor preta, em forma de bastão, os
corpos cromatoides, apontado por flechas negras.

O habitat principal da Entamoeba histolytica é a luz do intestino grosso. Porém, em casos onde há
invasão da mucosa, o parasito pode ser encontrado em úlceras na parede intestinal, e em órgãos como
fígado, rins, pulmão, cérebro e pele.
A E. histolytica apresenta um ciclo de vida monoxênico, de transmissão fecal-oral. Assim, a porta
de entrada do parasito e, portanto, o local de início do seu ciclo de vida é a boca, por meio da ingestão
de água ou alimentos contaminados com cistos maduros do parasito. Os cistos, por apresentarem uma
camada externa resistente, a parede cística, passam pelo estômago, resistindo ao suco gástrico, e che-
gam ao intestino delgado onde ocorre o desencistamento. Fora da parede, ocorrem divisões celulares
e nucleares simultâneas, resultando em oito trofozoítos, denominados de trofozoítos metacísticos
(Figura 15). Estes trofozoítos migram para o intestino grosso, colonizando-o, onde vivem aderidos à
superfície da mucosa intestinal, se alimentando de detritos e bactérias. Eventualmente, um trofozoíto
se desprende, atingindo a luz intestinal, onde sofre um processo de encistamento, secretando uma pa-
rede externa (parede cística), e em seguida dividindo o núcleo sucessivamente até se tornarem cistos
tetranucleados (a forma infecciosa), o qual são liberados com as fezes (REY, 2008; NEVES, 2016).
Embora o ciclo mais comum deste parasito se restrinja a luz do intestino grosso, em alguns casos,
por mecanismos que ainda não estão bem esclarecidos, o trofozoíto invade a submucosa intestinal
(denominado como ciclo patogênico), provocando úlceras, onde se multiplicam por fissão binária, se
alimentando de eritrócitos. A partir desta invasão, a E. histolytica atinge a corrente sanguínea e pode
colonizar outros órgãos como fígado, pulmões, rins, a pele e até mesmo o cérebro.

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UNIDADE 3

29/11/2022 15:26 https://textimgs.s3.amazonaws.com/boundless-microbiology/-histolytica-life-cycle-en.svg#fixme

Ingestão em
alimentos e água
contaminados Cisto Maduro

Infecção não invasiva


Cistos saem do
hospedeiro pelas fezes

Desencistamento
Um trofozoíto com
Infecção invasiva quatro núcleos, emerge,
Cisto tetranucleado se divide três vezes e
Através da corrente
sanguínea, infectam locais cada núcleo se divide
como fígado, cérebro e uma vez para produzir
pulmões oito trofozoítos por cisto

Trofozoítos migram
para o intestino grosso

Trofozoítos invadem a
mucosa intestinal

Cisto imaturo Trofozoítos se


multiplicam por fissão
binária

Encistamento

Figura 15 - Ciclo biológico da Entamoeba histolytica. / Fonte: adaptada de Libre Texts Biology (2022).

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado um desenho do ciclo de vida da Entamoeba histolytica. No centro da imagem,
observa-se a porção central e superior do corpo de um ser humano, mostrando os órgãos internos, pulmão, estômago e intestino. Na
parte superior desta figura, há um quadrado sobre a boca, ao lado há um retângulo, dentro dele está escrito “Ingestão em alimentos
e água contaminados”. Do lado direito, tem-se o início do ciclo, com a figura de um cisto, do qual sai um seta apontando para um
outro cisto, abaixo deste há um quadrado onde está escrito “Desencistamento. Um trofozoíto com quatro núcleos emerge, se divide
três vezes e cada núcleo se divide uma vez para produzir oito trofozoitos por cisto. Trofozoítos migram para o intestino grosso”. Desse
quadrado saem duas setas do lado esquerdo indicando o intestino grosso. Abaixo desse quadrado sai outra seta, apontando para um
trofozoíto que migrou para o intestino grosso. Desse trofozoíto saí um seta apontando para uma célula que está se dividindo em duas,
acima dessas células está escrito “Trofozoítos se multiplicam por fissão binária”, dessas células saem duas setas, uma indicando para
a esquerda e dando continuidade ao ciclo. Essa seta indica para uma célula, abaixo está escrito “Encistamento”, dessa célula há uma
seta indicando outra célula e abaixo está escrito “Cisto imaturo”, dessa célula há uma seta indicando outra célula, dessa célula há uma
seta indicando para a escrita “Cisto tetranucleado” e acima há outra célula, um pouco acima dessa célula há um quadrado onde está
escrito “Infecção não invasiva. Cistos saem do hospedeiro pelas fezes”, terminando o ciclo. A outra seta que sai da célula se dividindo,
indica a escrita “Trofozoítos invadem a mucosa intestinal”, acima há o desenho de uma célula, acima dessa célula há um retângulo onde
está escrito “Infecção Invasiva. Através da corrente sanguínea, infectam locais como fígado, cérebro e pulmões”. Acima há o desenho
de uma célula e dela saem duas setas: uma indicando para o pulmão, outra indica o fígado.

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https://textimgs.s3.amazonaws.com/boundless-microbiology/-histolytica-life-cycle-en.svg#fixme 1/1
UNICESUMAR

A patogenia e virulência deste parasito é variada Por fim, a doença pode se manifestar como
e dependente de vários fatores do hospedeiro amebíase extraintestinal, quando o parasito, por
e do ambiente, como sexo, idade, localização meio da corrente sanguínea, atinge outros órgãos.
geográfica, estado nutricional, alcoolismo, mi- O mais comum é o fígado, onde o abscesso ame-
crobiota intestinal, entre outros. Muitas infec- biano é a manifestação clínica mais observada.
ções com a E. histolytica podem permanecer A ação da E. histolytica sobre o epitélio intes-
assintomáticas por anos. Porém, o período de tinal, desencadeia uma resposta imune humoral
incubação mais comum varia de 2 a 4 semanas com produção de anticorpos específicos, mas
(NEVES, 2016). A grande maioria das infecções pouca ou nenhuma resposta imune celular (SI-
é assintomática, onde o protozoário está em per- QUEIRA-BATISTA et al., 2020). A invasão dos
feito equilíbrio com o hospedeiro, vivendo na tecidos dá início a um processo inflamatório, com
luz intestinal. Entretanto, para uma porcenta- recrutamento de neutrófilos e macrófagos, resul-
gem dos casos, ocorre a invasão intestinal (pela tando na produção citocinas como há interleu-
morte dos enterócitos), desencadeada pela for- cinas e fator de necrose tumoral alfa, o que pode
te ligação da ameba e somado à liberação de piorar o processo ulcerativo.
enzimas proteolíticas, resultando em diversas Para se identificar a amebíase é utilizado
manifestações clínicas. principalmente o diagnóstico laboratorial. Em-
Nos casos onde este equilíbrio é quebrado bora os sintomas da doença sejam facilmen-
ocorrem as formas sintomáticas. A mais comum te observáveis, eles se sobrepõem a inúmeras
destas é a forma diarreica, se manifestando por outras doenças intestinais, o que inviabiliza o
duas a quatro evacuações diárias, que podem ou diagnóstico clínico. O exame laboratorial mais
não ter fezes diarreicas. Nesta forma, o peristal- utilizado é o exame parasitológico de fezes,
tismo está aumentado com leve dor abdominal. onde se busca identificar a presença de cistos
A segunda é a forma disentérica (disenteria e trofozoítos nas fezes. Para este tipo de exame
corresponde a presença de muco e/ou sangue nas deve-se tomar alguns cuidados, como evitar o
fezes) caracterizada por cólicas intensas, poden- contato com a urina e principalmente com o solo,
do ocorrer até 10 evacuações diárias, com muco, onde pode haver a presença de amebas de vida
sangue ou ambos os presentes nas fezes, além de livre (NEVES, 2016). A amostra de fezes deve
sintomas como cólicas intensas, vômitos, náu- ser colocada em conservante o quanto antes, em
seas, calafrios e tenesmo (contrações para eva- uma proporção de uma parte de fezes para três
cuação sem conteúdo para evacuar), raramente de conservante. O aspecto macroscópico tam-
com febre (NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA bém é muito relevante, principalmente as fezes
et al., 2020). O caso mais grave da amebíase é a diarreicas e a presença de muco e sangue.
forma fulminante, que afeta mulheres durante Outro método bastante utilizado é o soroló-
a gestação e o puerpério, além de pacientes imu- gico, onde se pesquisa a presença de anticorpos,
nocomprometidos, se manifestando através de através de metodologias como ELISA e imuno-
cólons com muitas úlceras, podendo ocorrer a fluorescência indireta. Em casos de amebíase ex-
perfuração da parede intestinal, com evacuações traintestinal, onde o exame de fezes geralmente
mucosanguinolentas, com morte após alguns apresenta-se negativo, os métodos sorológicos são
dias ou semanas (REY, 2008). a escolha mais eficiente.

88
UNIDADE 3

Caro(a) aluno(a), neste podcast você poderá conhecer algumas das prin-
cipais características de parasitoses intestinais causadas por protozoários
e a importância do exame parasitológico de fezes para sua detecção,
bem como as limitações desta técnica. Acesse o QRCode e aperte o play!

O tratamento é realizado com medicamentos específicos para


o tipo invasivo ou não invasivo. Quando o parasito está na
luz intestinal, podem ser utilizados derivados da qui-
noleína, eritromicina ou clorofenoxamida. Quando
se encontra no interior dos tecidos, são utilizados
medicamentos absorvidos pelo organismo, como
cloridrato de emetina e cloroquina.
A estimativa atual é que cerca de 650 milhões de
pessoas no mundo estejam infectados com Entamoe-
ba, e entre 5 e 10% sejam da forma invasiva. No Brasil,
predominam as infecções assintomáticas e colites não
disentéricas (forma diarreica). A prevalência é variada de
região para região, variando de 2,5 a 11% no Sul e Sudeste e
podendo chegar a 19% na região Amazônica (NEVES, 2016).
Para finalizar nosso estudo das protozoonoses dessa unidade,
vamos falar da Tricomoníase. O gênero Trichomonas, possui três espécies
que podem ser encontradas no ser humano: T. tenax, que tem como habitat a boca; T. hominis, que
coloniza o trato intestinal; e T. vaginalis, que pode ser encontrado na vagina da mulher ou na uretra e
próstata do homem. Destes três, apenas T. vaginalis é patogênico, e o agente etiológico da Tricomoníase.
O Trichomonas vaginalis é classificado no Reino Protozoa, Filo Sarcomastigophora, Subfilo Masti-
gophora, Ordem Trichomonadida, Família Trichomonadidae e Gênero Trichomonas. Esta espécie foi
descrita “pela primeira vez em 1836, por Donné, que a isolou de uma mulher com vaginite” (NEVES,
2016, p. 125). Embora sua identificação seja antiga, ainda hoje restam lacunas no entendimento de sua
biologia e interação com o hospedeiro, o que dificulta o seu diagnóstico. A tricomoníase é uma infecção
sexualmente transmissível e, excluindo as infecções virais deste tipo, é a mais comum do mundo, com
incidência maior que 200 milhões de casos anuais (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Com relação a morfologia, T. vaginalis se apresenta, na maioria das vezes, como uma célula me-
dindo entre 10 e 30 µm de comprimento e entre 5 e 12 µm de largura, com formato elipsoide (Figura
16), piriforme ou oval e, em casos isolados, esférica, portanto considerada uma célula polimorfa (SI-
QUEIRA-BATISTA et al., 2020).

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UNICESUMAR

Figura 16 - Micrografia de Trichomonas vaginalis corado com hematoxilina.

Descrição da Imagem: a imagem constitui uma micrografia de uma amostra biológica, onde pode ser observado dois T. vaginalis,
corados em roxo, caracterizados por células e núcleos elípticos, contendo flagelos em seu pólo anterior.

Sua estrutura pode variar dependendo do meio ou da atividade fisiológica envolvida, sendo que
foram constatados a projeções de pseudópodes para captura de alimento ou fixação (NEVES, 2016).
Diferentes dos demais protozoários, o gênero Trichomonas apresenta apenas forma de trofozoíto (sem
forma cística) (Figura 16), que apresenta como parte da sua morfologia típica: quatro flagelos livres,
partindo de uma depressão no polo anterior (REY, 2009; NEVES, 2016); uma membrana ondulante,
cuja extremidade livre consiste em um filamento de um quinto flagelo; um axonema ou axóstilo cen-
tral, formado por microtúbulos que emergem como uma saliência na porção posterior, e um núcleo
elipsoide (Figura 17). O T. vaginalis, não apresenta mitocôndrias.

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UNIDADE 3

Flagelo

Citossoma

Núcleo
Membrana
ondulante
Vacúolo

Axóstilo

a) b)

Figura 17 - Esquema dos componentes morfológicos de Trichomonas vaginalis. a) um desenho esquemático com foco nas
estruturas externas; b) um desenho esquemático com foco nas estruturas internas, onde os flagelos e membrana ondulante
aparecem seccionados. / Fonte: Rey (2008, p. 412).

Descrição da Imagem: a imagem apresenta dois desenhos esquemáticos. O desenho da esquerda, marcado com a letra “a)”, apresenta
as características externas da célula de Trichomonas vaginalis, observando sua forma elipsoide, o núcleo elipsoide, uma membrana
ondulante do lado esquerdo, quatro flagelos na porção superior, e o axóstilo saindo da célula na porção inferior. O desenho da direita,
marcado com a letra “b)”, apresenta as características internas da célula de Trichomonas vaginalis, onde pode ser observado os feixes
de microtúbulos formando o axóstilo central, o núcleo central e elipsoide, um complexo de Golgi a direita do núcleo junto com duas
fibras parabasais, a costa à esquerda do núcleo, com vacúolos a seu redor.

Este parasito habita o trato geniturinário masculino e feminino, em ambientes com pH (potencial
hidrogeniônico) variando de 5 a 7,5, e apresenta metabolismo anaeróbico facultativo (vive na ausên-
cia de oxigênio, mas o utiliza quando estiver presente), e tem como característica não sobreviver fora
destes locais (NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

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UNICESUMAR

O T. vaginalis se reproduz exclusivamente por fissão binária, e é transmitido de indivíduo para


indivíduo por meio de relações sexuais (doença sexualmente transmissível), com raras ocasiões onde
a transmissão ocorre por meio objetos contaminados (o que explicaria a infecção em crianças), uma
vez que o parasito não sobrevive fora do trato genitourinário. Assim, o ciclo biológico deste parasito é
monoxênico e simples, se iniciando com a contaminação do trato genital ou urinário durante a relação
sexual, onde o parasito coloniza a região, se multiplica por fissão binária, e pode ser transmitido a outro
indivíduo por meio de nova relação sexual (Figura 18).

Relação sexual

Trofozoíto

a)

Trofozoito na urina e Trofozoito Trofozoito na


nas secreções vaginais em fissão vagina ou no
b) e prostáticas binária orifício uretral

Figura 18 - A) Ciclo biológico do Trichomonas vaginalis; B) fissão binária do Trichomonas vaginalis.


Fonte: adaptado de Siqueira-Batista et al. (2020, p. 252).

Descrição da Imagem: a imagem é dividida em duas partes. A parte superior, marcada com a letra “A”, apresenta uma figura do lado
esquerdo, representando a silhueta de um corpo feminino, enquanto, de onde parte uma seta na porção inferior para uma segunda
figura do lado direito, representando a silhueta de um corpo masculino, de onde parte uma segunda seta na porção superior, retornan-
do à primeira figura, com uma legenda na porção superior: “Relação sexual”. No centro das duas setas, é observado um trofozoíto de
Trichomonas vaginalis. A parte inferior, marcada com a letra “B”, representa o processo de divisão binária do trofozoíto, onde observa-se
um trofozoíto do T. vaginalis do lado esquerdo, de onde parte uma seta para uma figura representando o trofozoíto se dividindo ao
meio longitudinalmente, a partir da qual parte uma segunda seta para outro trofozoíto a direita.

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UNIDADE 3

O T. vaginalis estabelece infecção no trato vaginal em condições


específicas, diretamente ligadas ao pH. Normalmente o pH vagi-
nal varia de 3,8 a 4,5, o que é impróprio para o parasito. Entretan-
to, quando ocorrem alterações fisiológicas na hospedeira, incluindo
alteração da microbiota com a diminuição de Lactobacillus acido-
philus (NEVES, 2016), o pH tende a ficar mais alcalino, acima de
5,0, possibilitando a colonização do parasito, que se adere ao
epitélio e, por mecanismos ainda não completamente com-
preendidos, causa a análise (destruição da célula por ruptura
da membrana) das células.
O período de incubação varia de 3 a 28 dias, porém, a maio-
ria das infecções é assintomática (aproximadamente 85% dos
casos). Nos casos que apresentam sintomas, estes também são
variados, sendo o mais grave a vaginite aguda. A tricomoníase
se manifesta através de uma vaginite (inflamação da vagina), que
tem como característica “um corrimento vaginal abundante de cor
amarelo-esverdeada, bolhoso, de odor fétido, mais frequente no pe-
ríodo pós-menstrual” (NEVES, 2016, p. 128). Juntamente com esse
corrimento, podem estar associados: prurido (coceira), irritação vul-
vovaginal e dores no baixo ventre. Outras manifestações incluem disúria
(dor ao urinar), poliúria (aumento na frequência de micção) e dispareunia
de introito (dificuldade para realizar relações sexuais) (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). No
homem, os casos sintomáticos se apresentam como uretrite (inflamação da uretra), contendo fluxo
leitoso e purulento, juntamente com prurido da uretra e desconforto ao urinar (NEVES, 2016;
SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). A principal complicação do não tratamento da tricomoníase,
para homens e mulheres, é a esterilidade.
A resposta imune do organismo é mediada por anticorpos do tipo IgG, IgA e IgM, encontra-
dos no soro e nas secreções vaginais. Além das imunoglobulinas, foi identificada a ativação do
sistema complemento e a resposta de neutrófilos e macrófagos. Dentre estes, os neutrófilos são as
células predominantes nas secreções, sendo responsáveis pelos processos inflamatórios. Embora
o organismo possua mecanismos de defesa, o parasito desenvolveu ferramentas para eliminar
essas defesas, sendo as principais: fagocitose por pseudópodes de neutrófilos e macrófagos; in-
dução de apoptose (quando a própria célula ativa mecanismos internos que levarão a sua morte)
em neutrófilos; secreção de cisteína proteases com efeito hemolítico e citotóxico, que degradam
componentes do sistema complemento e impedem sua ativação ou degradam imunoglobulinas
(IgG, IgA e IgM) (NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Para a detecção e diagnóstico da tricomoníase, não podem ser considerados apenas os aspec-
tos clínicos, pois as características dos sintomas apresentados na doença podem ser confundidas
com outras DSTs. Assim, a análise laboratorial e, portanto, a atuação do(a) profissional da saúde,
é essencial para o correto tratamento da doença.

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UNICESUMAR

O diagnóstico laboratorial é baseado no exame microscópico das amostras, que devem ser
colhidas de forma específica:

• Para o homem, a amostra deve ser colhida logo pela manhã, sem que ele tenha
urinado antes, e desde que esteja a pelo menos 15 dias sem tomar medicação
contra o tricomonas. Nestes casos a amostra é coletada por meio de Swab (haste
plástica contendo uma porção de algodão na ponta, similar a um cotonete) ou alça
de platina (instrumento metálico, alongado, com a extremidade anterior formada
por um fio metálico, contendo um pequeno anel na ponta), direto da uretra. O
sêmen tende a apresentar melhor identificação do parasito e pode ser colhido por
masturbação em um recipiente estéril.
• Para a mulher, a amostra deve ser colhida da vagina por meio de Swab, observando
como condições para melhor observação do parasito: não realizar higiene vaginal
de 18 a 24 horas anteriores à coleta; não tomar ou usar medicamentos tópicos
por pelo menos 15 dias antes da coleta; e que esta seja realizada nos primeiros
dias após a menstruação, quando os parasitas são mais abundantes (NEVES, 2016).

Após a coleta, caso a amostra não seja examinada a fresco, ou inoculada em culturas, as amostras
devem ser preservadas em soluções líquidas como o fixador álcool polivinílico (APV). Os exames
microscópicos com a finalidade de observação do trofozoíto, realizados a fresco, corados ou fixados
e corados (métodos de Leishman, Giemsa e hematoxilina), além de culturas em meio específicos,
são os métodos mais utilizados. Para complementar o exame parasitológico, podem ser realiza-
dos exames de imunodiagnóstico para detecção de anticorpos no soro (ex.: imunofluorescência
indireta, ELISA e reações de aglutinação), além de PCR para detecção do DNA do parasito nas
amostras e imunocromatografia para detecção de antígenos nas amostras (REY, 2008; NEVES,
2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
O tratamento da doença é realizado diretamente, por meio de medicamentos como metroni-
dazol, ornidazol, tinidazol ou nimorazol. É importante destacar que o tratamento deverá ser reali-
zado pelo indivíduo infectado e seu parceiro, mesmo que este esteja assintomático, caso contrário
frequentemente ocorre a reinfecção (REY, 2008).
Por fim, é importante destacar a epidemiologia da tricomoníase, uma vez que ela constitui a DST
não viral mais comum no mundo. A estimativa da Organização Mundial de Saúde, em 2008, foi uma
incidência de 276 milhões casos de tricomoníase no mundo (NEVES,2016), com uma tendência a
um crescimento anual. É importante destacar, neste aspecto, que a prevalência é maior em mulheres,
com um homem infectado para cada quatro mulheres (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

94
UNIDADE 3

Muito bem, caro(a) aluno(a), agora que aprofun-


dou seu conhecimento no mundo dos protozoários,
vamos avaliar e responder aos questionamentos
que levantamos no início da unidade? Como você
viu, todo o agente etiológico de uma doença, quan-
do conhecido, tem um ciclo de vida bem definido,
o que permite definir onde é seu habitat e assim
escolher, entre as diversas metodologias de análise,
àquela que melhor poderá identificá-lo. Além disso,
conhecer as características morfológicas, repro-
dutivas e mesmo as metabólicas, permite que o(a)
profissional de análises clínicas, com auxílio de
equipamentos e técnicas específicas, identifique
com clareza o organismo causador de uma doença,
muitas vezes até o nível de espécie.
Nesta unidade, você estudou as características
da infecção causada por dois organismos específi-
cos do trato intestinal. Como pode perceber, para
ambos, o diagnóstico principal se baseia na análise
das fezes, o denominado exame parasitológico de
fezes, na busca de cistos e trofozoítos. Este tipo de
exame possui diferentes graus de análise macro e
microscópicos, sendo que as análises microscópicas
podem ser realizadas a partir de diferentes técni-
cas, cada uma visando organismos com aspectos
diferentes (as metodologias de análise serão abor-
dadas nas Unidades posteriores). Como exemplo,
podemos citar: os métodos de Hoffman, baseado na
sedimentação espontânea do parasitas, aumentando
sua concentração e facilitando sua identificação;
ou o método Faust, que se baseia na flutuação de
células em um meio com Sulfato de Zinco, após um
processo de centrifugação. Independentemente do
método, a ideia é facilitar a observação dos parasitas
nas fezes, sua porta de saída do organismo infectado.

95
Caro(a) aluno(a), com base nos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, estou certo de
que é capaz de preencher o mapa mental a seguir.

Flagelos
Unicelulares Estruturas
especializadas
Subfilo Sarcodina

PROTOZOÁRIOS

Sistema circulatório

Cisto

96
1. Leia o texto a seguir:

Os protozoários apresentam estruturas fundamentais, como núcleo, citoplasma e mem-


brana, que são comuns a todos os grupos. Suas organelas têm uma diversidade estrutural
própria, conforme cada grupo, e exercem funções vitais, podendo estar relacionadas com
locomoção, nutrição e proteção, dentre outras

Fonte: SIQUEIRA-BATISTA, R. et al. Parasitologia – Fundamentos e Prática Clínica. Grupo


GEN, 2020, p. 142.

Um tipo de organismo estudado como parasito é o protozoário. Este grupo apresenta carac-
terísticas próprias, muitas vezes determinando sua capacidade de estabelecer o parasitismo.
Assim, defina, por meio de um texto dissertativo de 5 a 10 linhas, o que é um protozoário e
explique duas organelas ou estruturas presentes apenas nestes organismos.

2. Leia o texto a seguir:

Quanto à morfologia, os protozoários apresentam grandes variações, conforme sua fase evo-
lutiva e meio a que estejam adaptados. [...] Dependendo da sua atividade fisiológica, algumas
espécies possuem fases bem definidas.

Fonte: NEVES, D. P. Parasitologia humana. 13. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016, p. 33.

Muitas espécies de protozoários apresentam um ciclo de vida monoxênico, o qual, geralmen-


te, apresenta duas formas evolutivas, como no caso de Entamoeba histolytica ou da Giardia
duodenalis. Com base neste assunto, cite e explique, por meio de um texto dissertativo de
três a cinco linhas, as duas fases evolutivas que parasitas de ciclo monoxênico apresentam.

3. Leia o texto a seguir:

Giardia duodenalis é um pequeno protozoário flagelado, que parasita o homem e vários animais
domésticos ou silvestres. Em muitos países é o parasito intestinal mais frequente do homem,
estimando-se que a incidência mundial seja da ordem de 500.000 casos por ano

Fonte: REY, L. Bases da Parasitologia Médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara
Koogan, 2009, p. 88.

O parasito G. duodenalis apresenta como habitat o trato intestinal do ser humano. Para tanto,
este protozoário deve se manter fixado na parede intestinal, ou será eliminado junto com as
fezes. Com base neste assunto, explique, por meio de um texto dissertativo de três a cinco
linhas, como a G. duodenalis se fixa na parede intestinal.

97
98
4
Protozoários e
Parasitas Sistêmicos,
dos Sistemas
Circulatório
Sanguíneo e Cutâneo
Dr. Vinícius Pires Rincão

nesta unidade você aprenderá sobre os protozoários que parasitam


a pele e os sistemas internos do corpo, especialmente o Sistema
Circulatório. Vamos relembrar as principais características do Sis-
tema Circulatório e seus componentes, além de abordar as quatro
doenças importantes para o ser humano que têm relação com esse
sistema, sendo elas: Leishmaniose, Toxoplasmose, Tripanossomíase
e Malária.
UNICESUMAR

O sistema circulatório sanguíneo é responsável pela distribuição de nutrientes


e oxigênio para todo corpo, além de recolher os metabólitos celulares e o
gás carbônico, que é liberado pelas células. Para isso, ele deve alcançar
todas as partes do corpo, profundas e superficiais. Você já parou para
pensar que os parasitas presentes no sistema circulatório têm acesso
a todos os tecidos do corpo? Como esses parasitas conseguem
chegar até a corrente sanguínea se o sistema circulatório é fe-
chado? Como, após entrarem na corrente sanguínea,
esses parasitas conseguem infectar outros indiví-
duos? Quais são as consequências da presença de
parasitas no sistema circulatório para o organismo?
Protozoários são organismos unicelulares com potencialidade de infectar diversos sistemas
do corpo humano. Uma das formas de atingir esses sistemas é através do sistema circulatório,
uma vez que este é formado por um complexo e extenso conjunto de tubos, os vasos sanguíneos
e linfáticos, que se espalham por todo organismo humano. Muitos desses parasitas utilizam o
sistema circulatório apenas como um meio para atingir seu local de infecção, como o Toxoplas-
ma gondii, outros se especializaram para utilizar as células do próprio sistema circulatório como
o Plasmodium vivax. Entender como os protozoários interagem com o sistema circulatório é
fundamental para o profissional da saúde que busca sua identificação, pois, o tipo de amostra, e
ainda mais importante, como analisar essa amostra, vai depender da interação do parasita com
os componentes do sangue ou da linfa.
A análise parasitológica de amostras sanguíneas consiste em uma das práticas mais comuns
realizadas em laboratórios de análises clínicas. Ela é utilizada tanto para identificação de moléculas
circulantes, como anticorpos, quanto para detecção de parasitas. Para esta unidade, proponho que
você tente identificar quais as parasitoses, causadas por protozoários, podem ser identificadas
de forma direta através do exame parasitológico de sangue. Além disso, busque qual a situação
epidemiológica das parasitoses que você identificou.

100
UNIDADE 4

Embora o exame parasitológico de sangue apresente limitações, ainda é um dos principais métodos para
identificar parasitoses cujos parasitas têm como habitat o sistema circulatório. Embora existam métodos
moleculares e imunológicos que podem ser utilizados para indicar a presença de um parasita na corrente
sanguínea, a observação direta do protozoário é a única forma de comprovar sua presença como agente
etiológico da doença. Tendo em mente que esses parasitas possuem ciclos de vida variados, tempos de
incubação diferentes, e alguns são capazes de formar cistos nos tecidos, você consegue identificar as
limitações para este meio de diagnóstico? Como estas limitações poderiam ser contornadas? Quais as
consequências dessas limitações para análise laboratorial das parasitoses do sistema circulatório? Escreva
seus resultados e reflexões, sobre a pesquisa que você fez, e as questões que levantamos, no seu diário de
bordo, a fim de que eu e você possamos analisá-las juntos no decorrer desta unidade.

101
UNICESUMAR

Caro(a) aluno(a), você com certeza já ouviu


falar de muitas parasitoses causadas
por protozoários em sua região,
através de pessoas conhecidas
e familiares, em alertas epi-
demiológicos ou mesmo em
noticiários e jornais. Mas se
você parar para pensar agora,
conseguiria lembrar de algu-
ma? Você já ouviu falar de “úl-
cera de Bauru”, “ferida brava” ou
“maleita”? Talvez já tenha ouvido os
nomes “doença do coração crescido” e
“doença do gato”? Pois bem, todos estes são
nomes populares atribuídos a parasitoses causa-
das por protozoários que estudaremos nesta unidade.
A maioria das protozoonoses que tem como habitat os órgãos internos (ou seja, não vivem
em cavidades ligadas ao meio externo como a luz do trato gastrointestinal, trato respiratório ou
trato genitourinário) ou o sistema circulatório, dependem de vetores que os façam penetrar nas
defesas do organismo e atingir o sistema circulatório, o qual utilizarão como meio para atingir seu
habitat, ou como próprio habitat. A Leishmaniose, Tripanossomíase e a Malária, são exemplos de
parasitas que possuem ciclo biológico heteroxênico, e que utilizam vetores (para as três doenças
os vetores são insetos) para disseminar a infecção de um indivíduo para outro. Já a Toxoplasmose,
embora possua um ciclo heteroxênico, não precisa de um vetor para sua disseminação. Todas estas
doenças, entretanto, possuem em comum a necessidade de passar em algum ponto de seu ciclo
biológico, pelo Sistema Circulatório.

Caro(a) aluno(a), você já parou para pensar como o Sistema Circulatório é importante para o funcio-
namento do nosso organismo? E a partir desta reflexão, consegue imaginar como os protozoários
se utilizam desse sistema tão importante para promover sua infecção?

Para compreender melhor as parasitoses que abordaremos nesta unidade, temos que relembrar alguns
aspectos importantes do sistema circulatório. Primeiro, devemos definir Sistema Circulatório como
o conjunto de canais e órgãos associados que têm como função o transporte de nutrientes e oxigênio,
além da remoção dos produtos do metabolismo celular de cada uma das células do corpo (FOX, 2007).

102
UNIDADE 4

Nos vídeos disponibilizados nos links a


seguir, você poderá recordar os compo-
nentes e funções dos sistemas cardio-
vascular e linfático. Para acessar, use
seu leitor de QR Code.

Sistema Cardiovascular -
Toda Matéria

Sistema Linfático 1/4:


Introdução | Anatomia e etc

Figura 1 – Sistema circulatório: cardiovascular e linfático.

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado uma


Em seguida, devemos relembrar os principais ilustração simplificada do sistema circulatório. Nesta ilustração
é observado o coração ao centro. Dele partem veias para os
componentes do Sistema circulatório. Para pulmões e dos pulmões voltam artérias para o coração. Nova-
mente do coração partem artérias para os órgãos e tecidos do
isso, vamos dividi-lo em Sistema Cardio- corpo, que se ramificam até o nível de capilares, e destes voltam
vascular e Sistema Linfático (Figura 1). O como veias para o coração. As artérias são representadas em
vermelho e as veias são representadas em azul. No lado esquer-
sistema cardiovascular é composto pelos va- do da imagem, são observados canais com a coloração verde,
representando os vasos linfáticos. Nesses vasos são observados
sos sanguíneos, os órgãos hemopoiéticos, nódulos circulares, representando os linfonodos. Os vasos lin-
fáticos partem dos órgãos e tecidos como capilares linfáticos,
o coração e o sangue. O sistema linfático é juntando-se e formando os vasos mais espessos, os ductos
linfáticos que juntam e se ligam a veia subclávia esquerda, desta
composto por: capilares linfáticos, ductos a veia cava superior e então ao coração.
linfáticos e linfonodos.

103
UNICESUMAR

Caro(a) aluno(a), o entendimento das características do sistema circulató-


rio e suas células é importante para a compressão das parasitoses desta
unidade. Você se recorda destas características? Caso queira recordar
e aprofundar seus conhecimentos no assunto, acesse minha Pílula de
Aprendizagem, e saiba mais!

A primeira parasitose que abordaremos é a Leishmaniose, também


conhecida como “úlcera de Bauru” ou “ferida brava” (referência
a leishmaniose tegumentar). Esta doença é causada por várias
espécies de protozoários flagelados do Gênero Leishmania
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). Este gênero é classifi-
cado no Filo Sarcomastigophora, Subfilo Mastigophora,
Ordem Kinetoplastida e Família Trypanosomatidae. Na
região das Américas, duas formas da doença podem ser
encontradas: a Leishmaniose Tegumentar Americana
(LTA) e a Leishmaniose Visceral Americana (LVA).
Embora existam diversas espécies do gênero Leishmania, a
forma como a doença se manifesta é semelhante para todas.
Assim, mais de dez espécies do gênero Leishmania são conside-
radas agentes etiológicos da doença (Ex.: L. mexicana, L. major, L.
panamensis etc.). Entretanto, a distribuição das espécies ocorre de forma
específica nos diferentes continentes. No Brasil, as espécies encontradas causando LTA são: L. braziliensis,
L. guyanensis, L. lainsoni, L. shawi, L. naiffi e L. amazonensis. Já as espécies causadoras da LVA têm dis-
tribuição mundial e incluem L. donovani e L. infantum.
Como diferentes espécies dentro do gênero Leishmania podem causar, de forma similar, os
tipos de infecção apresentados, vamos nos referir a eles como Leishmania sp.. O parasita causador
da leishmaniose, tanto a LTA quanto a LVA, apresentam duas formas distintas durante seu ciclo
de vida: amastigotas, promastigotas.
A forma amastigota se caracteriza por apresentar uma forma ovoide ou esférica, sem flagelo
(contém apenas um resquício de flagelo dentro da bolsa flagelar), com um único núcleo esférico,
localizado em um dos lados da célula, e um cinetoplasto anterior (Figura 3). Esta forma do para-
sita é encontrada parasitando as células do sistema fagocitário mononuclear (SMF), com maior
incidência nos macrófagos da pele (REY, 2008) .
A forma promastigota se caracteriza por ser alongada, apresentando em sua região anterior um fla-
gelo livre (NEVES, 2016). O núcleo é semelhante ao da forma amastigota, e o cinetoplasto está localizado
na região anterior, na base do flagelo (Figura 3). Essa forma do parasita é encontrada no trato intestinal
do hospedeiro intermediário, o inseto (mosca) do gênero Lutzomyia, livre ou aderida à parede intestinal.

104
UNIDADE 4

Forma promastigota

Núcleo
Complexo de Golgi
Cinetoplasto

Mitocôndria

Flagelo

Forma Amastigota

Complexo de Golgi Mitocôndria

Cinetoplasto

Núcleo
Flagelo

Figura 2 – Formas do protozoário Leishmania sp.

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado duas figuras. A superior corresponde à forma promastigota do parasita Leishmania
sp., enquanto a inferior representa a forma amastigota deste mesmo parasito. A figura superior pode ser descrita como uma célula fusi-
forme, alongada, contendo um núcleo esférico e central, contendo a maioria das organelas das células eucarióticas, apresentando ainda,
o cinetoplasto na região anterior, e anterior a este, se prolongando para fora da célula, encontra-se um flagelo. A figura inferior pode ser
descrita como uma célula com formato entre elíptico e circular, contendo um núcleo esférico deslocado para um dos lados da célula, com
a maioria das organelas de uma célula eucariótica, contendo ainda um cinetoplasto anterior e um resquício de flagelo, interno a célula.

O parasita da leishmaniose apresenta um ciclo de vida heteróxeno, com dois hospedeiros: o de-
finitivo, representado por um vertebrado; e o intermediário, representado por inseto da Ordem
Díptera, Família Psychodite, Subfamília Phlebotominae e Gênero Lutzomyia (NEVES, 2016). Por
esta classificação estes insetos são constantemente denominados de flebotomíneos e popularmente
chamados de mosquito palha (Figura 4). Até o momento, são conhecidas cerca de 30 espécies de
flebotomíneos que servem como vetores para a Leishmania sp..
Por apresentar dois hospedeiros, o ciclo da Leishmania sp. pode ser dividido em duas fases, a fase do
vetor invertebrado (inseto) e a fase no vertebrado (como, por exemplo, o ser humano). A fase do vetor
inicia-se quando a fêmea do mosquito, que é hematófaga, pica o vertebrado infectado com o parasita
para realizar o repasto sanguíneo. Neste processo, o inseto ingere junto com o sangue macrófagos
infectados com a forma amastigota do parasita (NEVES, 2016). Ao passar pelo trato gastrointestinal
do inseto, os macrófagos se rompem e liberam as amastigotas que se diferenciam em promastigotas.

105
UNICESUMAR

As promastigotas são as formas pre-


dominantes encontradas no inseto.
Esta forma se reproduz por fissão
binária, gerando milhares de novos
parasitas. Após a multiplicação, as
formas promastigotas migram de
volta pelo trato digestório até o esô-
fago e faringe, onde se acumulam.
A fase no hospedeiro vertebra-
do tem início quando a fêmea do
mosquito infectada realiza o repas-
to sanguíneo. A infecção se dá no
Figura 3 – Inseto do gênero Lutzomyia.
momento da picada, pois, o acúmu-
lo de parasitas no esôfago e farin- Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado uma fotografia ampliada
ge do inseto atrapalha ou impede da pele humana, contendo um inseto da Ordem Diptera (mosquito) do gênero
Lutzomyia, realizando o repasto sanguíneo. O mosquito tem como característica
a sucção do sangue e, na tentativa ter o corpo coberto por cerdas, lembrando pelos, de coloração amarela.

de se alimentar, o inseto vetor re-


gurgita os parasitas para dentro dos
tecidos da pele. Nesta região há várias células do sistema mononuclear fagocítico, especialmente
os macrófagos. Após os parasitas se ligarem a sua membrana plasmática, os macrófagos fagoci-
tam os promastigotas formando vacúolos parasitóforos. Nestes vacúolos a forma promastigota
se diferencia em amastigota que se multiplica por fissão binária. A multiplicação das amastigotas
continua até não haver mais espaço na célula, que se rompe e libera os parasitas nos tecidos para
infectar outros macrófagos e continuar a infecção.

E então aluno(a), compreendeu o ciclo de vida da Leishmania sp. no ser


humano? Veja o vídeo que eu indico a seguir e aprofunde ainda mais
seu conhecimento. Nesta animação, você poderá entender o caminho
realizado pelo parasita, no ciclo de vida no hospedeiro vertebrado, a partir
do momento que inoculado pelo inseto vetor na pele.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

A evolução da leishmaniose depende de vários aspectos, como a espécie do parasita, imunidade do


hospedeiro e até fatores genéticos, que podem originar quadros clínicos diversos (NEVES, 2016). Como
já foi apresentado a você, dois tipos principais de desenvolvimento da doença podem ocorrer, sendo
que o tempo de incubação para ambos varia entre duas semanas a três meses.

106
UNIDADE 4

O primeiro que vamos tratar é a Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA), sendo esta uma
doença caracterizada como zoonose, causando infecção no ser humano e em várias espécies de ani-
mais, silvestres e domésticos. A patogenia ligada a essa doença tem início com a picada do mosquito
infectado, que ao atrair macrófagos para a região possibilita a infecção do parasita. Quanto mais o
parasita se multiplica e destrói macrófagos, mais macrófagos são atraídos para a região, dando início a
um processo inflamatório, caracterizado como um nódulo. Em decorrência dessa inflamação, forma-
-se um infiltrado celular repleto de macrófagos e outras células do sistema imune, culminando com
necrose e desintegração da epiderme, formando, por fim, uma úlcera (Figura 5) com bordas salientes
e fundo granuloso (NEVES, 2016). Pode ocorrer, durante ou após a formação da úlcera no local da
picada do mosquito, a disseminação (metástase) do parasita através do sangue ou da linfa, resultando
no aparecimento de outras lesões na derme ou mucosas.

Figura 4 – Lesão ulcerosa resultante da infecção por Leishmania sp.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma fotografia, nela pode ser observada no centro a porção lateral da perna e pé direito de
uma pessoa, próximo ao tornozelo há duas úlceras de forma circular com o interior rosado, características da leishmaniose. O pé está
sobre um piso de cor vermelha, atrás há um tapete de formato retangular na cor verde claro, do lado esquerdo é possível visualizar parte
de um pé que está calçado com uma meia branca.

107
UNICESUMAR

A LTA pode se manifes-


tar clinicamente de três
formas a Leishmaniose
Cutânea (LC), Leishma-
niose Cutânea Difusa
(LCD) e a Leishmaniose
Cutaneomucosa (LCM)
(SIQUEIRA-BATISTA et
al., 2020). A LC se caracte-
riza pelo aparecimento de
úlceras únicas ou múltiplas
apenas na derme, como
a constatação do parasita
nas bordas da lesão, que
após o correto tratamento,
tendem a cicatrizar. A LCD
se caracteriza pela presen-
ça de lesões papulares ou
Figura 5 – Lesões de Leishmaniose Tegumentar Americana. A e B) Leishmaniose cutâ-
nodulares, não ulceradas, nea; B) Leishmaniose cutaneomucosa; D) Leishmaniose cutânea difusa.
Fonte: adaptada de Dolabella e Barbosa (2022).
espalhadas na pele, geral-
mente em áreas expostas
Descrição da Imagem: na imagem podem ser observadas quatro fotos de pessoas re-
do corpo, como as extre- presentando as diferentes formas clínicas da leishmaniose. Na foto superior esquerda,
marcada com a letra A, pode ser observado um braço de pessoa, contendo várias úlceras.
midades. A LCM é forma Na foto superior direita, marcada com a letra B, pode ser observado o rosto de uma pessoa,
clínica conhecida popular- mostrando uma úlcera do lado esquerdo, próximo ao olho. As fotos A e B representam
a forma cutânea da doença. A foto inferior esquerda mostra a face de uma pessoa, onde
mente como nariz de tapir se observa a cartilagem do nariz destruída, representando a forma cutaneomucosa. A
foto inferior direita mostra o rosto de uma pessoa contendo várias pápulas, sem úlceras,
ou de anta, em referência à representando a forma cutâneo difusa da doença.

aparência do indivíduo em
decorrência da manifesta-
ção da doença, pois, nesta forma, o parasita se desenvolve inicialmente como as lesões cutâneas,
mas, meses ou anos após essas lesões primárias, ocorrem lesões secundárias que destroem mucosas
e cartilagens (REY, 2009). Os principais locais de ação do parasita na LCM são nariz (por isso o
nome nariz de tapir), faringe, boca e laringe (Figura 6).
O segundo tipo de manifestação da leishmaniose é a Leishmaniose Visceral Americana
(LVA) também denominada “calazar” (de origem indiana, Kala-Azar), podendo ser traduzida
como “doença negra”. A LVA tem seu início semelhante a LTA, com a diferença que após o processo
inflamatório na região do local da picada do mosquito pode ocorrer uma cura espontânea ou o
parasita migrar, primeiro para os linfonodos próximos e depois para as vísceras (NEVES, 2016).
No início da infecção os principais órgãos afetados são baço, fígado, linfonodos e medula óssea.
Contudo, conforme a progressão da doença, praticamente todos os órgãos passam a apresentar o
parasita. Depois de chegar às vísceras, pelas vias hematogênica ou linfática, o parasita infecta as

108
UNIDADE 4

células do Sistema Mononuclear Fagocítico presente, induzindo a infiltração de mais células do


mesmo tipo no local, permitindo que a infecção progrida. As principais alterações decorrentes
da doença são, hepatomegalia, esplenomegalia, desregulação da hematopoiese (síntese de células
sanguíneas). Diferentes quadros clínicos podem se manifestar como consequência da evolução da
doença, podendo, inclusive, alterar de um para outro. As formas mais comuns são: a assintomáti-
ca, com sintomas muito leves e inespecíficos, que pode culminar na cura ou evoluir para a forma
sintomática; a aguda, que se desenvolve rapidamente com febre alta e contínua, anemia, emagre-
cimento, com pouco aumento do baço e fígado, entre outros, sendo fatal em lactente e crianças de
um ou dois anos; e a crônica, que se desenvolve lentamente, às vezes por anos, com alterações de
fases de remissão e recaída, sendo comum em crianças mais velhas e adultos (REY, 2008).
Quanto à resposta imune direcionada a infecção por Leishmania sp., não se conhece bem todos os
mecanismos envolvidos. Sabe-se, entretanto, que a doença desencadeia uma resposta imune celular
e humoral dos linfócitos. Tanto para a LTA quanto para LVA, existem indivíduos que apresentam
maior resistência à infecção. Um dos motivos prováveis para isto é a ativação diferencial de linfócitos
T helper (TH) ou T CD4+, responsáveis por secretar citocinas e regular a resposta imune. Dentre os
linfócitos TH existem subpopulações de células que secretam citocinas diferentes, sendo que, quan-
do são ativadas células TH1, as citocinas produzidas (como INF-γ, IL-2 e IL-12) ativam a resposta
inflamatória e tendem a impedir a infecção; porém, quando são ativadas células TH2, as citocinas
produzidas (como IL-4 e IL-10) aumentam a suscetibilidade a infecção, provavelmente porque essas
citocinas inibem a ativação dos macrófagos, facilitando a sobrevivência das amastigotas no interior
destas células, além de estimular a produção de anticorpos por ativarem linfócitos B.
A resposta imune humoral está concentrada na produção de anticorpos do tipo IgG, sendo
que a quantidade produzida está diretamente relacionada ao tipo de doença. Na LTA, nas forma
clínicas LC e LCM os níveis de anticorpos são baixos, mas na LTA na forma LD e na LVA os níveis
de anticorpos são elevados, o que aumenta a infecção de macrófagos, uma vez que a IgG facilita
a fagocitose do parasita por estas células.

Caro(a) aluno(a), agora que você conhece as características da leishmaniose, consegue pensar em
metodologias que podem ser utilizadas para realizar o seu diagnóstico?

O diagnóstico da doença é realizado por uma junção de fatores, somando-se os sintomas e aspectos
clínicos da doença, características epidemiológicas, a identificação de anticorpos específicos para o
parasita e, principalmente, na observação direta do parasita em amostras da medula óssea, fígado, baço
e linfonodos, ou em raspados ou biópsia das lesões da pele (NEVES, 2016).

109
UNICESUMAR

No que se refere ao diagnóstico laboratorial, para observação direta, as amostras são preparadas
em esfregaços em lâmina e coradas pelo método de Giemsa ou Panótico Rápido. Para a detecção de
anticorpos são empregadas técnicas de Imunofluorescência Indireta e Teste Imunocromatográfico e
Ensaio Imunoenzimático (ELISA). A detecção do DNA do parasita através de técnicas de amplificação
(PCR), estão sendo cada vez mais empregadas com alta sensibilidade e especificidade. No caso da LTA,
o teste imunológico mais utilizado no Brasil (NEVES, 2016), é o teste intradérmico de Montenegro,
que consiste na inoculação de antígenos do parasita (por exemplo promastigotas mortas) na região
intradérmica, para analisar a reação de hipersensibilidade tardia. O teste é considerado positivo quando
se forma um nódulo maior ou igual a 5 mm no local da inoculação.
O tratamento da leishmaniose é realizado através de fármacos com o princípio ativo sendo um
antimonial pentavalente. O fármaco de escolha no Brasil é o Glucantime (antimoniato de meglumina),
cuja distribuição é gratuita na rede pública.
A leishmaniose tegumentar tem uma incidência anual aproximada de 1,5 milhões de casos no
mundo, sendo que a grande maioria ocorre em países em desenvolvimento. O Brasil, junto com Afe-
ganistão, Argélia, Colômbia, Costa Rica, Etiópia, Irã, Peru, Sudão e Síria, correspondem a cerca de 75%
da incidência global de LTA (NEVES, 2016). A distribuição da LTA depende da distribuição do inseto
vetor, ligada aos reservatórios naturais. Como a doença é uma zoonose, vários mamíferos funcionam
como reservatório para o parasito.
Já a leishmaniose visceral é uma doença típica das áreas rurais em países de regiões tropicais
e subtropicais com uma incidência estimada de 500 mil casos por ano. Na América Latina, o
Brasil é responsável por 90% dos casos, que se encontram mais concentrados na Região Nordeste
(NEVES, 2016). O principal reservatório da doença é um animal doméstico, o cão, relacionado a
todos os focos da doença.
A segunda doença que vamos conhecer nesta unidade é a Tri-
panosomíase (ou Tripanosomíase Americana), mais conhecida
como doença de Chagas. O agente etiológico desta doença
é o Trypanosoma cruzi, um protozoário flagelado perten-
cente ao Filo Sarcomastigophora, Subfilo Mastigophora,
Ordem Kinetoplastida, Família Trypanosomatidae,
Gênero Trypanosoma. O nome da doença vem de
seu descobridor, o médico Carlos Ribeiro Justiniano
das Chagas, que em 14 de abril de 1909, encontrou o
protozoário ao examinar o sangue de uma criança de
2 anos, de nome Berenice (NEVES, 2016). Durante toda
sua vida a menina carregou o parasita, sem alterações clí-
nicas, em forma de doença denominada de indeterminada,
e morreu aos 73 anos de idade, por causas que aparentemente
não apresentavam ligação com a doença.

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UNIDADE 4

A Doença de Chagas ainda é muito presente no Brasil, desde o Maranhão até o Rio Grande
do Sul, com mais de 20 milhões de pessoas expostas ao risco de terem a doença. Vamos conhecer
melhor suas características?
O T. cruzi apresenta três formas relevantes no seu ciclo de vida: amastigotas, epimastigotas
e tripomastigotas (Imagem 7). Todas as três formas possuem o cinetoplasto próximo ao flagelo,
mudando apenas sua localização. As amastigotas possuem uma forma arredondada ou oval, com
flagelo interno e curto. As epimastigotas são formas alongadas com o cinetoplasto anterior mais
próximo ao núcleo, com um flagelo saindo lateralmente nesta posição se dirigindo para a região
anterior formando uma pequena membrana ondulante. Já nas tripomastigota, a forma é alongada,
com o cinetoplasto posterior, próximo à extremidade da célula, de onde sai o flagelo que se desloca
até a região anterior, formando uma extensa membrana ondulante.

Figura 6 – Formas morfológicas do Tripanosoma cruzi, observando a ultraestrutura: A – Amastigota; B – Epimastigota; C – Tripo-
mastigota. As estruturas relevantes para nosso estudo estão marcadas com as letras: K – cinetoplasto; N – núcleo; F – flagelo;
Mo – Membrana ondulante./ Fonte: Rey (2008, p. 299-301).

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado uma representação da ultraestrutura das três formas apresentadas pelo Trypa-
nosoma cruzi. Do lado esquerdo, pode ser observado uma célula arredondada, com núcleo central e sem flagelo, constituindo a forma
Amastigota. Na porção central, pode ser observada uma célula alongada, contendo um flagelo anterior e uma pequena membrana
ondulante, constituindo a forma Epimastigota. Do lado direito, pode ser observado uma célula alongada, com um flagelo partindo da
região posterior em direção a região anterior, formando uma longa membrana ondulante.

O T. cruzi tem um ciclo de vida heteroxênico, sendo que o hospedeiro intermediário é um inseto, o
barbeiro, nome popular de um grupo de insetos, principalmente do gênero Triatoma, sendo o seu
principal representante o Triatoma infestans (Figura 8), e o hospedeiro definitivo corresponde a várias
espécies de mamíferos, incluindo o ser humano.

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UNICESUMAR

Figura 7 – Triatoma infestans. / Fonte: adaptada de UNESP (2022).

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado um inseto da espécie Triatoma infestans, com o abdômen em formato elíptico,
e a cabeça alongada, com as cores preto e amarelo.

O ciclo biológico do Trypanosoma cruzi é relativamente simples (Figura 9). O inseto barbeiro, a medida
em que realiza o repasto sanguíneo, frequentemente na face (por isso o nome popular de barbeiro),
libera suas fezes, e junto a elas, as formas tripomastigotas do parasita, que utilizam a perfuração feita
pelo inseto para invadir os tecidos do hospedeiro. Nos tecidos da pele ou mucosa, os tripomastigotas
interagem com as células do Sistema Mononuclear Fagocítico (SMF), onde são fagocitadas, formando
o vacúolo parasitóforo. Após algumas horas, o parasita escapa para o citoplasma e se diferencia em
amastigotas que se multiplicam por fissão binária simples. Em seguida, após várias divisões celulares,
as amastigotas se diferenciam em tripomastigotas que rompem a célula e são liberadas nos espaços
entre as células (interstício), atingindo em sequência a corrente circulatória. Na corrente circulatória
os tripomastigotas podem seguir três caminhos: 1- invadir uma nova célula, em qualquer tecido do
organismo, e se multiplicar novamente se diferenciando em amastigotas; 2- ser destruído pelos me-
canismos imunológicos do hospedeiro; ou 3- ser ingerido pelo inseto barbeiro.

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UNIDADE 4

Neste último caso, o protozoário desenvolverá a fase no hospedeiro intermediário, também


denominada de fase extracelular. No interior do intestino do inseto, o parasita se diferencia em epi-
mastigotas, que se multiplicam por fissão binária. Quando atingem a ampola retal, a porção terminal
do tubo digestivo, os epimastigotas se diferenciam em tripomastigotas, que serão liberados com as
fezes, podendo infectar um novo hospedeiro. Embora as epimastigotas também sejam liberadas nas
fezes, e até mesmo sejam fagocitadas pelas células do hospedeiro, elas não conseguem prosseguir
com a infecção, pois são destruídas pelas enzimas dos lisossomos nos vacúolos parasitóforos.

Figura 8 – Ciclo de vida do Trypanosoma cruzi. / Fonte: adaptado de Wikipedia.

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado o ciclo biológico do T. cruzi. No centro da imagem pode ser observado o
desenho do corpo de um ser humano observando os órgãos internos. Cada fase do ciclo na figura está numerada, sendo: 1- na
parte superior esquerda mostrando o tripomastigota no inseto barbeiro que está realizando o repasto sanguíneo sobre a pele do
ser humano; 2- os tripomastigotas, no interior do corpo humano, infectam uma célula; 3- no lado direito, no interior da célula o tri-
pomastigota se diferencia em amastigota e se multiplica, liberando em seguida, tripomastigotas que podem infectar outras células
repetindo a fase 3, ou; 4- circular próximo a superfície da pele; 5- são ingeridos por um barbeiro; 6- no interior do inseto o parasita se
diferencia em epimastigota; 7- já do lado esquerdo da figura, os epimastigotas se multiplicam por fissão binária; 8- os epimastigotas
se diferenciam em tripomastigotas e estão prontos para recomeçar o ciclo.

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UNICESUMAR

Embora a transmissão do parasita tenha como principal via a o inseto vetor, ela pode ocorrer de outras
formas. São as principais formas de transmissão:

• Inseto vetor – ocorre pela entrada do parasita liberado nas fezes do inseto, pela
abertura da picada do triatomíneo.
• Por transfusão sanguínea – ocorre quando um indivíduo recebe o sangue
contaminado com tripomastigotas.
• Através da placenta (Congênita) – ocorre quando as amastigotas se formam
nas células da placenta, liberando tripomastigotas que podem atingir a circulação
sanguínea.
• Acidentes de laboratório – esse meio de transmissão possui real relevância
para profissionais da saúde que têm contato com o sangue contaminado. Ocorre
quando o sangue contaminado entra em contato com ferimentos aberturas na
derme ou mucosas, possibilitando o contato dos tripomastigotas com células do
SMF e sistema circulatório.
• Pela via oral – ocorre pelo contato do parasita com a mucosa da boca, lesada
ou não. Existem várias formas para que isto ocorra, desde a amamentação com
parasita presente no leite materno, até o consumo por acidente dos insetos ve-
tores contaminados, ou partes deles. Este último caso tem se tornado comum na
Amazônia pelo consumo de produtos florestais, em especial o açaí.

Ao analisarmos a história natural da Doença de Chagas, podemos dividi-la em aguda


e crônica (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). A fase aguda pode apresentar sintomas
ou não, dependendo principalmente do sistema imune do hospedeiro. Em geral, tem
início próximo ao local de penetração do hospedeiro. Como o barbeiro pica a face,
o parasita pode atingir a conjuntiva, desencadeando o primeiro sintoma o sinal de
Romaña (Figura 9a), ou na pele em geral formando o chagoma de
inoculação (Figura 9b). Junto a esses sinais, o parasita compro-
mete os linfonodos próximos, que aumentam de tamanho.
Os outros sinais dessa fase incluem: febre, edema
localizado e generalizado, poliadenia, hepa-
tomegalia, esplenomegalia, insuficiência
cardíaca e perturbações neurológicas
(NEVES, 2016). Nesta fase, que
pode durar alguns meses,
variando de paciente para
paciente, o parasita circula
pelo corpo e invade di-
versos tecidos.

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UNIDADE 4

Figura 9 – Sinais de entrada do Trypanosoma cruzi. / Fonte: adaptada de Santos Junior (2018).

Descrição da Imagem: na imagem podem ser observadas duas fotografias. A do lado esquerdo apresenta a face de um ser humano,
com o olho esquerdo completamente fechado devido a um edema bipalpebral, denominado de Sinal de Romaña. A foto do lado
direito apresenta o antebraço de um ser humano, onde pode ser observado uma área circular com vermelhidão e uma área central
esbranquiçada semelhante a um furúnculo fechado, denominada de chagoma de inoculação.

A fase crônica tem início com a final da fase aguda e pode ser classificada em formas indeterminada, car-
díaca e digestiva (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). A forma indeterminada é aquela onde não há sintomas,
ou os sintomas são discretos, há positividade no exame sorológico, mas não são observadas alterações no
esôfago, coração ou cólon, e pode se desenvolver por um período de 10 a 30 anos. A forma cardíaca (ou
cardiopatia chagásica crônica – CCC) é a mais comum, e pode apresentar distúrbios de condução do coração
(como arritmias e bloqueios de ramos); fenômenos tromboembólicos por mau funcionamento do coração
(como acidente vascular encefálico); e insuficiência cardíaca congestiva. A forma digestiva ocorre por lesões
causadas nas regiões dos tecidos internos, como por exemplo os musculares, do esôfago e cólon, podendo
originar dilatações permanentes das vísceras, “megacólon” e “megaesôfago” (SIQUEIRA-BATISTA et al.,
2020). As formas cardíaca e digestiva podem ocorrer juntas, sendo denominada mista ou cardiodigestiva.
A tripanossomíase americana desencadeia vários mecanismos do sistema imune na tentativa de
eliminar o parasita, tanto da imunidade inata quanto da imunidade adaptativa. Isso reduz a quantidade
de parasita no sistema circulatório (reduz a parasitemia) mas permite que o parasita se mantenha no
interior das células nos tecidos.
Quando o T. cruzi chega à corrente sanguínea, ele está suscetível a ação do sistema complemento (um
conjunto de proteínas dissolvidas no sangue que destroem células de patógenos). Além deste, outros com-
ponentes da imunidade são ativados, principalmente com a produção citocinas. As citocinas produzidas
estimulam a imunidade adaptativa ativando os linfócitos T e B. Os linfócitos T auxiliares têm maior relevância
na fase aguda da doença, pois estimulam a produção de anticorpos pelos linfócitos B e ajudam a eliminar
o parasita circulante. Já os linfócitos T citotóxicos têm maior relevância na fase crônica, eliminando os
parasitas no interior das células dos tecidos, o que parece estar associado à formação das lesões no coração
e intestino, uma vez que as células infectadas são destruídas, os tecidos são danificados (NEVES, 2016).

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UNICESUMAR

O diagnóstico da doença combina a análise clínica e laboratorial. Na análise clínica, são verificados
o local onde o paciente se encontra ou de onde se origina (locais endêmicos), sinais de entrada (sinal
de Romaña e chagoma de inoculação), junto a outros sinais da fase aguda, direcionam para a doença.
Entretanto, o diagnóstico laboratorial é imprescindível. Para este diagnóstico, a fase da doença pode
interferir no resultado. Na fase aguda são realizados exames parasitológicos com o objetivo de iden-
tificar o protozoário, direta ou indiretamente, como: exame de sangue a fresco; esfregaço sanguíneo
corado com Giemsa (Figura 10); inoculação em camundongos jovens; xenodiagnóstico. Ainda nesta
fase podem ser realizados exames sorológicos e moleculares, como: imunofluorescência indireta, ensaio
de imunoadsorção ligado à enzima (ELISA) e reação em cadeia da polimerase (PCR).

Figura 10 – Tripomastigota de Trypanosoma cruzi corado com Giemsa.

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observada uma microscopia de um esfregaço de sanguíneo corado pelo método de
Giemsa, onde pode ser observado centenas de parasitas da espécie Trypanosoma cruzi, na forma tripomastigota, corados em roxo.

Na fase crônica, como há pouco parasita livre, são utilizados os exames indiretos, como: xenodiagnós-
tico, hemocultura, inoculação em camundongos e PCR e exames sorológicos variados.
O tratamento é realizado através de dois fármacos: benznidazol e nifurtimox, que agem principal-
mente nas formas tripomastigotas. Assim, para um tratamento mais eficaz, a doença deve ser tratada
na fase aguda, uma vez que o parasita pode permanecer nas células teciduais na fase crônica. Além
disso, os fármacos utilizados podem apresentar alta toxicidade, o que inviabiliza o tratamento contí-
nuo prolongado. Embora haja alto índice de cura na fase aguda da doença, esses valores diminuem
conforme a infecção progride, sendo difícil determinar a cura em indivíduos com fase crônica já em
tempo prolongado (NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

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UNIDADE 4

A epidemiologia do T. cruzi é bem conhecida e estudada. O parasita é endêmico em 22 países


da América Latina, sempre associado à presença dos triatomíneos (uma vez que a transmissão
pelas fezes deste inseto é a mais importante), desde o sul dos EUA até a patagônia na Argentina.
Estima-se que mais de 8 milhões de pessoas estejam infectadas com o parasita, e destes, aproxi-
madamente 3 milhões são brasileiros (NEVES, 2016).
Caro(a) aluno(a), você já ouviu falar em paludismo,
impaludismo, maleita, tremedeira ou sezão? Pois
é, todos esses são nomes associados à próxima
doença parasitária que vamos abordar, a
Malária. O nome malária tem origem no
italiano medieval “mala aire”, e significa
maus ares, em alusão ao fato de que na
época atribuía-se a transmissão de
doenças pelo ar impuro.
Essa doença é causada pelo proto-
zoário do gênero Plasmodium, sendo
que cinco espécies já foram encon-
tradas causando a doença: P. falcipa-
rum, P. vivax, P. ovale, P. malariae e P.
knowlesi (SIQUEIRA-BATISTA et al.,
2020). Essas espécies são classificadas no
Filo Apicomplexa, Ordem Haemosporida,
Família Plasmodiidae e Gênero Plasmodium,
e tem como característica serem quase exclu-
sivamente parasitas da espécie humana. Embora
algumas delas sejam encontradas em espécies de macacos,
a transmissão natural é rara.
O parasita causador da malária apresenta diversas formas, relacionadas ao estágio de desen-
volvimento, durante seu ciclo de vida. Como o ciclo de vida é heteroxênico, com um hospedeiro
vertebrado (definitivo) e um invertebrado (intermediário), os diferentes tipos morfológicos têm
como função adaptar-se às necessidades do parasita em cada hospedeiro. No hospedeiro ver-
tebrado ocorre a reprodução assexuada, principalmente por esquizogonia, que pode resultar
em merozoítos (Figura 12), macrogametas ou microgametas. No hospedeiro invertebrado
ocorre a reprodução sexuada, com a junção dos gametas, formando o oocineto que dará origem
ao oocisto. Quando o oocisto se rompe, libera centenas de esporozoítos (Figura 12), sendo que
estes são capazes de infectar o hospedeiro humano. Os esporozoítos e merozoítos apresentam
características comuns como o aparelho apical formado pelo anel polar e roptrias, um núcleo
central e o citóstoma na região anterior situado lateralmente. As principais características das
formas morfológicas, segundo Neves (2016), são apresentadas a seguir:

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UNICESUMAR

• Esporozoíto – caracteriza-se por uma forma elíptica alongada (11 micrometros de


comprimento por 1 micrometro de largura), com uma membrana composta por duas
camadas.
• Merozoítos – células mais arredondadas (5 micrometros de comprimento por 2 mi-
crometros de largura), com um ápice saliente, com uma membrana externa tripla. Esta
forma só é capaz de invadir hemácias).
• Microgameta – é o gameta masculino, derivado do gametócito masculino por processo
denominado de exflagelação, resultando em uma célula de 20 a 25 micrometros de
comprimento contendo um flagelo e um núcleo envolto por uma membrana.
• Macrogameta – é o gameta feminino, derivado do gametócito feminino, contendo na
superfície uma estrutura por onde ocorre a penetração do microgameta.
• Oocineto – é a célula resultante da fecundação do micro e macrogameta, de formato
alongado, móvel, de aspecto vermiforme, medindo entre 10 e 20 micrometros.
• Oocisto – é a estrutura derivada do encistamento do oocineto na parede intestinal
do inseto vetor. Tem forma esférica medindo entre 40 e 80 micrometros, onde serão
formados os esporozoítos. Estima-se que um único oocisto produza, aproximadamente,
1000 esporozoítos.

Figura 11 – A - Esporozoíto e B - Merozoíto


de Plasmodium sp. Legenda: Co – conoide;
R – roptrias; Mn – micronemas; Me (m)
– membrana externa; Mi - membrana
interna; dm – dupla membrana interna; Ci –
citóstoma; N – núcleo; M – mitocôndria.
Fonte: adaptado de Rey (2009, p. 127-128).

Descrição da Imagem: na imagem pode


ser observado duas figuras representando
a ultraestrutura das formas de esporozoí-
to e merozoíto de Plasmodium sp.. Do lado
esquerdo da figura, observa-se uma célula
alongada contendo o complexo apical em
uma das extremidades. Do lado direito da
imagem, observa-se uma célula arredonda-
da, com uma das extremidades mais salien-
tes contendo o complexo apical.

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UNIDADE 4

O ciclo de vida do Plasmodium no interior do ser humano tem início com a inoculação do proto-
zoário pela picada do inseto vetor, o mosquito do gênero Anopheles (Figura 13). O anofelino inocula
esporozoítos nas camadas da derme do hospedeiro. Estes esporozoítos migram pelo tecido até atingir
a corrente sanguínea. Os esporozoítos na corrente sanguínea, tem tropismo (preferência por um alvo
específico) pelos hepatócitos (células do fígado), e após sua invasão se multiplicam por esquizogonia
formando milhares de merozoítos, que são liberados na corrente sanguínea (Figura 14). A fase que
ocorre nos hepatócitos precede a multiplicação nos eritrócitos sanguíneos e por isso é chamada de
exoeritrocítica, pré-eritrocítica ou tissular (NEVES, 2016).

Figura 12 – Mosquito do gênero Anopheles.

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado uma fotografia contendo a imagem aproximada da superfície da pele se um
ser humano, onde encontra-se pousado um mosquito do gênero Anopheles, realizando o repasto sanguíneo. O mosquito apresenta
como principais características, o abdômen voltado para baixo e o corpo contendo as cores branco e preto intercaladas (listrado).

Todos os merozoítos formados, tanto nos hepatócitos quanto nos eritrócitos, têm a capacidade de
invadir outros eritrócitos, mantendo a infecção. Assim, os merozoítos produzidos nos hepatócitos são
liberados na corrente sanguínea e invadem os eritrócitos (a fase de maturação do eritrócito invadido
depende da espécie do parasito), se multiplicando nestes por esquizogonia e produzindo novamente
merozoítos, que após liberados invadirão outros eritrócitos, realizando nova esquizogonia. O ciclo
sanguíneo, denominado também de eritrocítico, se repete várias vezes a cada 48 horas para o P. falci-
parum e P. vivax, e a cada 72 horas para o P. malariae. O rompimento das hemácias libera diversos
metabólitos que provocam a febre característica da infecção, explicando os ciclos de aumento e dimi-
nuição da febre, e seus nomes populares febre terçã (um dia com febre e dois dias sem febre) e febre
quartã (um dia com febre e três dias sem febre).

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UNICESUMAR

Figura 13 – Ciclo de vida do Plasmodium. / Fonte: adaptada de Siqueira-Batista et al. (2020).

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado uma representação esquemática do ciclo biológico dos protozoários do gênero
Plasmodium. O ciclo tem início na região superior esquerda da figura, onde há o desenho de um mosquito e uma seta apontando para o
desenho de um ser humano, indicando a inoculação dos esporozoítos no indivíduo. Deste ponto parte uma seta até o desenho de uma
célula no formato de um hexágono, representando um hepatócito, onde ocorre a infecção pelos esporozoítos. Toda sequência é ligada
por setas: em seguida há outro desenho de hepatócito indicando que este está infectado; seguindo para a célula com o esquizonte,
contendo vários merozoítos no citoplasma; na próxima célula o esquizonte se rompe e libera os merozoítos; os merozoítos infectam
um eritrócito, se diferencia em trofozoíto no interior do eritrócito, passa a trofozoíto maduro, depois para esquizonte sanguíneo, ocorre
o rompimento do eritrócito e liberação dos merozoítos que refazem esse ciclo. A partir do trofozoíto maduro no interior da hemácia,
o ciclo pode seguir para a formação de gametócitos, e estes podem ser ingeridos por um mosquito no repasto sanguíneo, iniciando
o ciclo do inseto no lado esquerdo da figura. Seguindo cada etapa por uma seta: no interior do inseto são formados microgametas e
macrogametas, que se fundem e formam o oocineto; o oocineto dá origem ao oocisto, que após a formação de milhares de esporozoítos
se rompe e libera essas formas, voltando a última seta para o inseto do início do ciclo.

O ciclo continua quando o inseto vetor, a fêmea do anofelino, ao realizar o repasto sanguíneo ingere
hemácias infectadas com o parasita. Durante o processo de infecção das hemácias, alguns merozoítos,
ao se reproduzirem por esquizogonia, formam gametas e são denominados gametócitos. Esses game-
tócitos, ao serem ingeridos pelo inseto, se rompem e liberam ou microgametas (gametas masculinos)
ou macrogametas (gametas femininos). No interior do intestino um microgameta e um macrogameta
se fundem formando o zigoto, denominado de oocineto, que migra para a parede do intestino do
inseto, a invade e encista, passando a ser denominado de oocisto. O oocisto sofre então um processo
de esquizogonia formando vários esporozoítos que, após liberados, migram através da linfa até dife-
rentes tecidos do inseto. Alguns destes esporozoítos atingem a glândula salivar do mosquito e podem
ser inoculados com a saliva no próximo repasto sanguíneo.

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UNIDADE 4

Agora que você conhece o parasita e seu ciclo biológico, consegue imaginar como ele causa a doença?
A patogenia da infecção pelo Plasmodium sp. está diretamente associada à destruição das hemácias e
liberação dos parasitas e seus metabólitos no sangue, ou seja, ligada ao ciclo eritrocítico.
Quando as hemácias são lisadas, diversos metabólitos, como o pigmento malárico (hemozoina),
derivado da metabolização da hemoglobina pelo parasita, são liberados no sistema circulatório. Ao
chegarem no baço, tanto as hemácias infectadas quanto os metabólitos, são fagocitados por macrófagos
que se ativam e liberam grande quantidade de citocinas. Estas induzirão diversos processos inflama-
tórios (resultando no ataque malárico), além da expressão de moléculas de adesão no endotélio dos
capilares sanguíneos. Essas moléculas de adesão sequestram hemácias infectadas (por expressarem
moléculas diferentes nas membranas), gerando microcoágulos que interrompem o fluxo sanguíneo,
causam lesões nos vasos, promovendo o extravasamento de líquido para o interstício (NEVES, 2016).
As alterações causadas pelo parasita resultam em dois quadros clínicos possíveis: “malária não
complicada” e “malária grave e complicada” (REY, 2009; NEVES, 2016). O período de incubação
da doença varia de espécie para espécie, podendo variar entre 9 dias na P. falciparum a 40 dias na
P. malariae. Inicialmente, o paciente sente mal-estar, cefaleia, cansaço e mialgia (dor muscular). Em
seguida ocorre a forma mais comum da doença, “malária não complicada”, comum para todas as espé-
cies de Plasmodium que infectam o ser humano, se caracterizando pelo ataque paroxístico agudo ou
acesso malárico (caracterizado por três fases: 1 - calafrios, com sensação de frio intenso; 2 – sensação
de calor e cefaleia intensa, com a temperatura corporal podendo atingir 41º C; 3 – sudorese, caracteri-
zada por transpiração intensa, diminuição da temperatura e sensação de alívio), somado à debilidade
física, náuseas e vômitos, com o paciente se apresentando pálido e com o baço aumentado. A anemia
é frequente, mas sua intensidade é variável dependendo do estágio da doença e da espécie do parasita.
A “malária grave e complicada”, se manifesta em crianças, gestantes e adultos que vivem fora das
áreas endêmicas. Esta forma da doença é associada, na maioria dos casos, ao P. falciparum, e em menor
quantidade ao P. vivax. Esta forma da doença pode apresentar vários quadros clínicos que podem ser
observados em conjunto ou isolados, sendo estes: malária cerebral (cefaleia, hipertermia, vômitos,
sonolência e pode apresentar convulsões); insuficiência renal aguda; edema pulmonar agudo; hipogli-
cemia; icterícia; hemoglobinúria (urina vermelha ou amarronzada devido a presença de hemoglobina,
oriunda da hemólise intravascular aguda maciça).
A resposta imune contra a malária pode ser dividida em três tipos: resistência inata, imunidade
inata e imunidade adquirida (NEVES, 2016). A resistência inata é um fator inerente a cada indivíduo,
e embora não se conheça bem seus mecanismos, está relacionada ao fato de que a infecção por parasitas
do gênero Plasmodium que infectam outros mamíferos ou grupos de vertebrados, não conseguem
produzir a doença no ser humano. Já a imunidade inata está relacionada a ação do sistema imune
no primeiro contato com o parasita, provavelmente por ação de receptores inespecíficos associados
a células fagocíticas e que tem função fundamental no controle da parasitemia, além da liberação de
citocinas pelos macrófagos.
A imunidade adquirida tem como principal agente os anticorpos IgG que agem tanto nos parasitas
livre no sistema circulatório, como nas hemácias infectadas, levando a sua destruição. Além dos linfó-
citos B, os linfócitos T CD4+ têm função importante na mediação da resposta imune.

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Para que haja certeza no diagnóstico da malária, o parasita ou antígenos relacionados a este, deve ser
demonstrado em amostras do sangue periférico do paciente. Portanto, para o diagnóstico desta doença,
o exame laboratorial é indispensável. A técnica mais utilizada continua sendo o esfregaço (espesso ou
delgado) em lâmina, corados com azul-de-metileno ou Giemsa. Entretanto, é preciso que o profissional
da saúde a realizar o exame tenha experiência na sua identificação, o que não é muito comum em áreas
endêmicas, devido à precariedade dos serviços de saúde. Uma solução é a utilização de testes imuno-
cromatográficos. O tratamento da doença é realizado pela utilização de drogas antimaláricas, sendo
as principais: quinina, mefloquina, cloroquina, derivados da artemisinina, tetraciclina e clindamicina.
A malária apresenta distribuição global, com maior incidência em países tropicais. A doença encon-
tra-se presente em mais de 80 países, sendo o Brasil um importante representante de sua ocorrência
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
No Brasil a doença é endêmica da região norte, onde o
vetor, o mosquito do gênero Anopheles, tem presença
constante. Embora haja cinco espécies principais res-
ponsáveis por causar a doença, três delas P. vivax
(80%), P. falciparum (20%) e P. malariae (menos
de 1%) são as espécies observadas no país (SI-
QUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A última parasitose, com relação com o sistema
sanguíneo, que iremos abordar nesta unidade é a To-
xoplasmose, popularmente conhecida como doença
do gato. É causada por um protozoário, o Toxoplasma
gondii, muito similar na forma ao Plasmodium. O T.
gondii é classificado no Filo Apicomplexa, Ordem Eu-
coccidiida, Família Sarcocystidae e Gênero Toxoplasma.
A toxoplasmose é considerada uma zoonose, sendo que a
infecção é comum em várias espécies de mamíferos e aves. A prin-
cipal diferença neste aspecto, é que os hospedeiros definitivos são felídeos (entre eles o gato doméstico),
enquanto os outros animais, inclusive o ser humano, são os hospedeiros intermediários.
No ser humano, o parasita pode ser encontrado em vários tecidos, células e líquidos orgânicos,
com exceção das hemácias. Hora, mas não estamos estudando os parasitas relacionados com o sistema
circulatório? Sim, mas neste caso, o parasita utiliza o sistema circulatório, tanto cardiovascular como
linfático, como um meio de se disseminar e atingir todos os tecidos do organismo. Nos felídeos não
imunes (este critério é importante, pois, após infectado uma vez, o felídeo adquire imunidade e não
mais desenvolverá a doença), o parasita tem como habitat o epitélio do intestino delgado.

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UNIDADE 4

O Toxoplasma gondii, apresenta em sua ultraestrutura, além das organelas características de


células eucarióticas, as organelas comuns do filo Apicomplexa (Figura 15), formando o complexo
apical, sendo elas: conoide, anel polar, microtúbulos subpeliculares, micronemas, roptrias e grâ-
nulos densos (NEVES, 2016).

Retículo endoplasmático

Membrana plasmática

Membrana interna

Micronemas

Grânulos densos

Roptrias

Conóide Núcleo

Mitocôndria

Apicoplasto
Microtúbulos

Figura 14 – Ultraestrutura do Toxoplasma gondii.

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado o desenho ilustrativo da célula do T. gondii. A célula apresenta um formato
alongado com uma das extremidades afiladas e a outra arredondada, delimitada por duas membranas, uma interna e a outra de-
nominada de membrana plasmática mais externa. Na figura pode ser observado as organelas no interior da célula, onde o núcleo
encontra-se próximo a extremidade arredondada, seguido por (em direção a extremidade afilada) um apicoplasto, uma mitocôndria,
e os componentes do complexo apical: micronemas, grânulos densos, roptrias, microtúbulos e conoide.

Em todo seu desenvolvimento, tanto no hospedeiro definitivo quanto no intermediário o parasita


passa por diferentes formas morfológicas, sendo estas (NEVES, 2016):

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UNICESUMAR

• Taquizoíto – é considerado o trofozoíto do parasita, sua forma proliferativa, encontrada na


fase aguda. Apresenta o aspecto de uma banana ou meia-lua, sendo uma das extremidades
mais afilada, medindo aproximadamente dois micrometros de largura por seis micrometros
de comprimento. São encontrados parasitando vários tipos celulares como SMF, células
hepáticas, pulmonares, nervosas, musculares, onde se multiplicam por endodiogenia (duas
células se formam dentro da célula mãe), além de líquidos corporais e excreções, porém
são destruídos rapidamente em contato com o suco gástrico.
• Bradizoíto – corresponde a forma que o parasita assume ao formar o cisto tecidual, en-
contrado na fase crônica da doença, em diferentes tecidos como: nervoso, retina, muscular
esquelético e muscular cardíaco. Sua morfologia é semelhante a do taquizoíta, porém sua
multiplicação é bem mais lenta. Outra diferença é que os cistos são mais resistentes ao suco
gástrico. Os cistos podem medir até 200 micrometros e conter centenas de bradizoítos.
• Merozoíto – corresponde a primeira forma observada no interior do felídeo, e surge
quando a forma infectante (taquizoíto, bradizoíto ou oocisto) invadem as células intestinais
e se multiplicam por esquizogonia, sendo as células resultantes merozoítos.
• Microgameta – corresponde ao gameta masculino e móvel, produzido quando um mero-
zoíto infecta uma célula intestinal. Vários microgametas são produzidos por célula infectada.
• Macrogameta – corresponde ao gameta feminino e imóvel, produzido quando um me-
rozoíto infecta uma célula intestinal. Apenas um macrogameta é produzido por célula
infectada.
• Oocistos – são formados nas células intestinais dos felídeos quando um macrogameta é
fecundado por um microgameta. Contém em seu interior esporozoítos infectantes. Pos-
suem uma parede espessa que confere resistência ao ambiente externo, característica
essencial, uma vez que são liberados com as fezes.
• Esporozoíto – célula infectante formada no interior dos oocistos, com morfologia seme-
lhante aos taquizoítos. São liberados no intestino dos hospedeiros vertebrados após a
parede do cisto ser degradada no suco gástrico.

Das formas descritas para o parasita, os taquizoítos, bradizoítos e oocistos são as formas infectantes,
podendo infectar tanto o felídeo quanto o hospedeiro intermediário.
O ciclo de vida T. gondii é heteroxeno e constantemente separado em fase assexuada e fase sexuada.
O ciclo do parasita (Figura 16), partindo da fase sexuada, tem início quando um felídeo, não imune, ingere
cistos (contendo bradizoítos), oocistos ou taquizoítos. Quando o parasita (qualquer uma das formas)
chega ao intestino, penetra na célula intestinal e se multiplica por esquizogonia, liberando merozoítos,
que infectarão outras células do intestino do felídeo. Algumas destas se desenvolveram em gametócitos
femininos, formando um macrogameta, outras se desenvolveram em gametócitos masculinos, formando
microgametas. Os microgametas, que são móveis, saem da célula intestinal e vão fecundar um macroga-
meta, formando um zigoto. Este, na própria célula que se encontra, formará um oocisto. Após alguns dias,
a célula contendo o oocisto se rompe liberando este para o intestino, permitindo que seja externalizado
com as fezes. No meio externo o oocisto chega a sua forma madura, contendo em seu interior oito espo-
rozoítos, e se mantém viável até 18 meses (REY, 2009; NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

124
UNIDADE 4

Figura 15 – Ciclo biológico do Toxoplasma gondii. / Fonte: adaptada de Manual MSD (2022).

Descrição da Imagem: na imagem pode ser observado o ciclo de vida do Toxoplasma gondii. Na parte superior do lado direito, pode
ser observado o ciclo, com fases numeradas e setas em vermelho, na seguinte sequência: 1b- o gato libera oocisto nas fezes; 2- peque-
nos animais como pombos e ratos ingerem os oocistos; 3- o oocistos liberam taquizoítos; 4- os taquizoítos forma cistos nos tecidos;
5- os gatos ingerem os cistos ao se alimentarem dos animais. Do lado direito superior pode ser observado uma forma diferente de
desenvolvimento do ciclo, com fases numeradas e setas pretas, na seguinte sequência: 1a- o gato libera oocisto nas fezes; 2- animais
de médio porte como porcos e ovelhas ingerem os oocistos; 3- os oocistos liberam taquizoítos; 4- os taquizoítos formam cistos nos
tecidos; A fase 5 não existe, pois, o gato não consegue predar esses animais; 6a- o ser humano ingere carne contendo os cistos viáveis;
6b- o ser humano ingere diretamente os oocistos liberados nas fezes do gato, por meio de água e alimentos contaminados; 7- o ser
humano pode se contaminar por meio de transfusão sanguínea ou transplantes; 8- após a liberação dos taquizoítos no ser humano pode
ocorrer a transmissão via placenta; 9- após a liberação dos taquizoítos no ser humano pode ocorrer a formação de cistos nos tecidos.

125
UNICESUMAR

A infecção do hospedeiro intermediário, a denominada fase assexuada, ocorre pela ingestão de


oocistos presentes em alimentos e água contaminados, cistos presentes na carne crua ou mal-
-cozida, ou, com menos frequência, pela ingestão de taquezoítos. Neste último caso, a ingestão
ocorre geralmente pela penetração do taquezoíto pela mucosa bucal, uma vez que essa forma
não é resistente ao suco gástrico. Os protozoários que chegam ao intestino se diferenciam em ta-
quizoítos, penetram na parede intestinal, onde podem infectar diferentes células, e sofrem rápida
multiplicação. Os taquizoítos resultantes dessa multiplicação se disseminam para vários tecidos
do corpo, onde infectam novas células e se multiplicaram (por endodiogenia), formando mais
taquizoítos que novamente se dispersaram pelo corpo, através do sangue ou linfa, refazendo o ciclo,
sendo denominada de fase proliferativa, correspondendo a fase aguda da doença. Com a ativação
da resposta imune, os taquizoítos são eliminados do sistema circulatório e vísceras. Porém, alguns
taquizoítos se diferenciam em bradizoítos, formando cistos nos tecidos. A formação destes cistos
caracteriza a fase crônica da doença (REY, 2009; NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
O T. gondii, na maioria das infecções, não gera nem sintoma no indivíduo, com o desapareci-
mento dos taquizoítos e formação dos cistos teciduais em aproximadamente 10 dias. Entretanto,
em alguns poucos casos, dependendo da forma de infecção, da cepa (é a denominação dada a
um subtipo dentro de uma espécie) do protozoário e da resposta imune do hospedeiro, podem
ocorrer complicações relacionadas, essencialmente, a necrose tecidual causada pelos taquizoítos
na disseminação da fase aguda. Nestes casos, principalmente em fetos e pacientes imunocompro-
metidos, pode ocorrer a morte do indivíduo, relacionada diretamente com os órgãos atingidos.
Uma característica importante, relacionada aos pacientes imunocomprometidos, é a reativa-
ção dos bradizoítos dos cistos, que se diferenciam novamente em taquizoítos, desencadeando as
mesmas complicações da fase aguda.
Por este tipo de patogenia, duas formas de toxoplasmose podem ocorrer: Toxoplasmose
transplacentária ou pré-natal e Toxoplasmose adquirida ou pós-
-natal (NEVES, 2016). Na toxoplasmose transplacentária, a
infecção ocorre através da placenta, quando taquizoítos
infectam as células da placenta, liberando os novos
parasitas na circulação fetal. As consequências para
o feto dependem do período da gestação, da cepa
do protozoário e da capacidade da imunidade ma-
terna proteger o feto. Esse tipo da doença pode
resultar em: aborto, parto precoce ou a termo,
resultando no nascimento de crianças, sadias,
com anomalias ou mesmo mortas.
Na toxoplasmose adquirida, a maioria dos ca-
sos é assintomática ou leve. Para outros casos, a
doença pode se manifestar de forma moderada ou
até provocar a morte, gerando uma grande gama de
patologias. As mais graves dentre estas são a ocular e

126
UNIDADE 4

a encefalite. Na ocular os taquizoítos transportados pelo sangue, invadem as células da retina,


causando necrose, que pode evoluir para uma cegueira parcial ou total, ou ainda cicatrizar. Na
encefalite, que ocorre principalmente em pacientes imunocomprometidos, os parasitas invadem
as células cerebrais (hemisfério cerebral, gânglio basal e cerebelo), causando vários pontos de
necrose que podem resultar em: cefaleia, febre, paralisia leve, perda da capacidade de coorde-
nação muscular, podendo progredir para confusão mental, convulsões, letargia, estupor, coma
e morte do paciente (NEVES, 2016).
A imunidade contra o T. gondii, se desenvolve tanto de forma humoral como celular. A produção
de anticorpos IgG e IgM, são os principais responsáveis pela eliminação do parasita circulante.
Já a ativação de linfócitos T CD8+ e células natural killer (NK), agem diretamente nas células
infectadas, as destruindo.
A principal forma de realização do diagnóstico da toxoplasmose é através de testes sorológicos
ou imunológicos, incluindo: reação de Sabin Feldman; imunofluorescência indireta, hemaglutina-
ção indireta e imunoensaio enzimático (ELISA), sendo este o último o mais utilizado. A observação
do parasita pode ser realizada, mas é direcionada para suspeita de casos graves, na fase aguda da
doença, como a infecção transplacentária, onde é colhido líquido amniótico, ou encefalite em
pacientes imunocomprometidos, onde se coleta líquido cefalorraquidiano. Em ambos os casos se
busca a observação de taquizoítos.
O tratamento da toxoplasmose é realizado com fármacos, direcionados aos taquizoítos, o que
significa que a doença é incurável, uma vez que os bradizoítos não são afetados e permanecem
nos tecidos. Como os medicamentos são tóxicos em uso prolongado, recomenda-se a utilização
em casos sintomáticos de gestantes, toxoplasmose ocular e em pacientes imunocomprometidos.
Os fármacos utilizados são: pirimetamina, sulfadiazina, espiramicina, prednisona e clindamicina,
que podem estar associados ou não.
Com relação à epidemiologia da doença, sabe-se com clareza, que apenas os felídeos, domésticos
ou selvagens, podem realizar o ciclo sexuado. O parasita pode ser encontrado em praticamente
todos os países do mundo, com variação na prevalência, sendo que as mais altas são observadas na
América Latina e África tropical. O maior surto da doença, ligada a contaminação hídrica, ocorreu
entre 2001 e 2002, na cidade de Santa Isabel do Ivaí, no Paraná, onde 462 indivíduos (de uma po-
pulação de 9000 habitantes) apresentaram resultado positivo para o teste sorológico do parasito.

Neste podcast, você vai entender as principais características do exame


parasitológico de sangue para detecção de protozoário, identificação de
suas vantagens e problemas. Acesse o QRCode e aperte o play!

127
UNICESUMAR

As parasitoses discutidas nesta unidade, apresentam grande impor-


tância para a saúde pública por afetar milhares de pessoas todos os
anos. O conhecimento sobre o ciclo de vida, bem como o correto
diagnóstico das infecções é fundamental para estabelecer parâme-
tros de controle e prevenção das doenças, que pode ser realizado
pelo controle dos vetores ou pela administração de fármacos que
impedem a liberação do parasita para o ambiente.
Muito bem caro(a) aluno(a), como você se saiu na pesquisa que
propusemos? Conseguiu identificar e responder as questões que
levantamos no início da unidade? Nesta unidade destacamos os
principais conceitos do sistema circulatório, caracterizando-o como
composto pelo sistema cardiovascular e pelo sistema linfático. Você
pode identificar as principais parasitoses causadas por protozoários
que utilizam o sistema circulatório como meio para atingir outros
tecidos do corpo, como por exemplo a leishmaniose e toxoplasmose,
ou mesmo utilizando-o como habitat como a malária.
Agora você será capaz de entender e responder nossa proposta
inicial. Resgate o exercício proposto no início da unidade e tente
resolvê-lo com os conhecimentos que agora possui. Como apresen-
tamos nesta unidade, a leishmaniose, toxoplasmose, malária e tripa-
nossomíase, são as principais parasitoses causadas por protozoários
em que se pode observar o parasita direto na amostra. Entretanto,
outras parasitoses também podem ser detectadas pela análise do
sangue, com a diferença de que outros testes deverão ser utilizados
para determinar o diagnóstico final, pois, os testes imunológicos e
mesmo os moleculares são indicações indiretas do parasita, podendo
representar tanto falso positivo quanto falso negativo.
Um dos principais problemas dessa análise parasitológica, é que
muitos parasitas apresentam em seu ciclo de vida, fases em que
não estão presentes no sistema circulatório e, portanto, não são
detectados, mesmo com a infecção ainda ativa. Para contornar isso,
o diagnóstico dessas parasitoses deve utilizar os conhecimentos da
biologia do provável parasita para determinar quando e quantas
vezes coletar amostras de sangue para análise. Somando-se a isto,
se deve analisar características clínicas, métodos imunológicos, mo-
leculares ou outras técnicas (por exemplo a cultura em vitro) para
complementar o diagnóstico.

128
Caro(a) aluno(a), com base nos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, estou certo de
que é capaz de preencher o mapa mental a seguir.

Leishmania sp.

Utiliza como habitat

Protozoário

SISTEMA CIRCULATÓRIO

Constituído por:

Esporozoíto

129
Muito bem, caro(a) aluno(a), agora é com você. De acordo com os conhecimentos que você
adquiriu nesta unidade, responda as questões a seguir.

1. Leia o texto a seguir:

O complexo corpo humano compõe-se de células especializadas, que apresentam uma divisão
de trabalho. As células especializadas de um organismo multicelular dependem umas das
outras para as necessidades básicas de sua existência. Por essa razão, é necessário um meio
altamente eficaz de transporte de materiais no organismo.

O sangue serve a essa função de transporte. Aproximadamente 96,5 quilômetros de vasos


através do corpo de um adulto asseguram que essa sustentação contínua atinja cada uma
dos trilhões de células vivas.

Fonte: FOX, S. I. Fisiologia Humana. 7. ed. Barueri/SP: Editora Manole, 2007, p. 366.

O sistema circulatório desempenha funções essenciais para o organismo, como transportar


nutrientes e oxigênio para todas as partes do corpo. Por esta razão acaba desempenhando
um papel muito importante também para os parasitas.

Com base neste assunto, cite, por meio de um texto dissertativo de três a cinco linhas, os
componentes do sistema circulatório.

2. Leia o texto a seguir:

A leishmaniose tegumentar, também denominada úlcera de Bauru ou ferida brava, é uma


doença infecciosa não contagiosa, com grande impacto à saúde pública. É causada por pro-
tozoários flagelados do gênero Leishmania, parasita pertencente à família Trypanosomatidae,
transmitido aos humanos pela picada das fêmeas de flebotomíneos do gênero Lutzomyia, cujo
nome popular é “mosquito-palha”.

Fonte: SIQUEIRA-BATISTA, R. et al. Parasitologia – Fundamentos e Prática Clínica. Grupo


GEN, 2020, p. 190.

Explique, por meio de um texto dissertativo de 5 a 10 linhas, a fase do vertebrado do ciclo de


vida de Leishmania sp..

3. Leia o texto a seguir:

A malária – enfermidade parasitária de maior relevância para o Homo sapiens no planeta, em


termos clínicos e de saúde pública – pode ser caracterizada como doença febril, não conta-
giosa, com acometimento de múltiplos órgãos e sistemas, de evolução potencialmente grave,
quando não tratada precocemente.

SIQUEIRA-BATISTA, R. et al. Parasitologia – Fundamentos e Prática Clínica. Grupo GEN,


2020, p. 216.

Explique, por meio de um texto dissertativo de cinco a dez linhas, a patogenia relacionada ao
Plasmodium sp.

130
5
Helmintos:
Nematódeos Parasitos
Dr. Vinícius Pires Rincão

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, você aprenderá sobre quem são


os helmintos e suas características. Dentre os grupos de helmintos,
você vai conhecer e estudar os nematódeos, especificamente os
responsáveis por causar a ascaridíase, ancilostomose, enterobiose,
tricuríase e filariose, aprendendo sobre os agentes etiológicos des-
sas parasitoses, sua biologia e métodos de diagnóstico.
UNICESUMAR

A grande diversidade de espécies no mundo, ani-


mais, vegetais, fungos e microrga-
nismos, conferem ao ser hu-
mano uma gama imensa
de alimentos. Alguns
desses alimentos
devem ser cozidos,
outros podem ou
não passar por este
processo, e, neste
último caso, os ali-
mentos consumidos
cru, podem transmi-
tir com maior facilida-
de diversas doenças, entre
elas, várias parasitoses. Caro(a)
aluno(a), você deve ter o conhecimen-
to, e o hábito, de que toda a fruta, verdura e legume
deve ser lavado corretamente antes do consumo, e
com certeza essa é uma prática muito importante.
Mas você já se perguntou: contra quais doenças
essa prática nos protege? Como essas doenças al-
cançaram esses alimentos?
Todos os parasitos do ser humano, com exceção
de alguns artrópodes, precisam estar no interior do
corpo humano para estabelecer o parasitismo. Para
isso, uma etapa fundamental de seu ciclo de vida
é a entrada no organismo. Existem diferentes for-
mas pelas quais protozoários e helmintos podem
entrar no corpo humano, sendo que a principal
via ou porta de acesso é o sistema digestório. Para
que isso ocorra, o indivíduo deverá ingerir a forma
infectante do parasito, que deve estar viável, ou
seja, não pode ter passado por nenhum processo
que cause a morte ou inativação das células. Co-
zer os alimentos, por exemplo, causa a morte da
maioria das formas infectantes dos parasitos. Por
esta razão, o consumo de alimentos crus, quando
não higienizados corretamente, pode trazer riscos
para o ser humano.

132
UNIDADE 5

Como você pode perceber, muitas parasitoses são dependentes do tipo de alimento e da forma
como nos alimentamos. Assim, gostaria de propor uma atividade a você: pesquise e identifique a
forma infectante das principais helmintíases (doenças causadas por helmintos) que podem ocorrer
em sua região, e determine por quais formas você poderia entrar em contato com esses animais
durante sua alimentação.
A culinária, em qualquer parte do mundo, tem como princípio criar pratos e sabores que agradem
a todos os tipos de paladar. Desde a alimentação em famílias mais humildes, a restaurantes de renome,
os procedimentos para o preparo e consumo dos alimentos são variados, exatamente na tentativa
de alcançar esse princípio. Muitos desses procedimentos têm como característica a utilização de
alimentos crus ou malcozidos, o que, mesmo quando são realizados procedimentos considerados,
popularmente, corretos de higienização, podem possibilitar a sobrevivência tanto de microrganismos
quanto das formas infectantes de helmintos e ocasionar a ocorrência de uma parasitose.
Mas como alimentos corretamente higienizados podem provocar parasitoses? Como as formas
infectantes podem sobreviver a procedimentos corretos de preparo de alimentos? Como estas
formas infectantes chegaram aos alimentos? E, talvez o mais importante, como eliminar essas
formas infectantes dos alimentos? Caro(a) aluno(a), agora é sua vez. Pense na pesquisa que você
fez, e nas questões que levantamos, e escreva seus resultados no seu diário de bordo, a fim de que
eu e você possamos analisá-las juntos no decorrer desta unidade.

133
UNICESUMAR

Como já foi apresentado a você, os parasitos


são encontrados entre dois grupos principais
de organismos: os protozoários e os helmintos.
Já estudamos os protozoários, entendendo suas
características como seres unicelulares, seu ci-
clo de vida e as principais doenças que causam.
Vamos começar aqui o estudo dos helmintos.
Caro(a) aluno(a), tenho certeza de que, em
algum momento em sua vida, você já ouviu al-
guém mencionar que uma determinada pessoa,
ou por estar muito magra, ou por apresentar
algum tipo de enfermidade, com certeza es-
taria com verme. Será que essa afirmação tem
algum significado? O que são vermes? Como
se relacionam com os helmintos?
“Os helmintos (gr. hélmins = vermes) cons-
tituem um grupo muito numeroso de animais,
incluindo espécies de vida livre e de vida para-
sitária” (NEVES, 2016, p. 215). Constituem um
grupo de animais metazoários (compostos
por muitas células) com o corpo alongado,
achatado ou cilíndrico (SIQUEIRA-BATIS-
TA et al., 2020). Dentre todos os filos de hel-
mintos, aqueles que abrigam parasitos são:
Platyhelminthes, Nematoda e Acanthoce-
phala. Destes, estudaremos os representantes
dos dois primeiros, pois a Acanthocephala
apresenta pouca representatividade para pa-
rasitoses humanas (Quadro 1).

134
CLASSIFICAÇÃO DE ALGUNS HELMINTOS PARASITOS DOS SERES HUMANOS

Filo Classe Ordem Família Gênero Espécie (exemplo)


S. mansoni
PARA VISUALIZAR
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Strigeiformes Schistosomatidae Schistosoma S. japonicum

Trematoda S. haematobium
Echinostomatiformes Fasciolidae Fasciola F. hepática

Opisthorchiformes Heterophyidae Ascocotyle A. longa

T. solium
Taenia
Taeniidae T. saginata

Platyhelminthes Echinococcus E. granulosus

H. nana
Cyclophyllidea Hymenolepididae Hymenolepis

135
H. diminuta
Cestoda
Dipylidiidae Dipylidium D. caninum

B. mucronata
Anoplocephalidae Bertiella
B. studeri

Diphyllobothrium D. latum
Diphyllobothridea Diphyllobothriidae
Spirometra Spirometra sp.
UNIDADE 5
CLASSIFICAÇÃO DE ALGUNS HELMINTOS PARASITOS DOS SERES HUMANOS
Filo Classe Ordem Família Gênero Espécie (exemplo)
Ascaris A. lumbricoides
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PARA VISUALIZAR

Ascarididae
Toxocara T. canis
Lagochilascaris L. minor
A. cantonensis
Angyostrongylidae Angyostrongylus
A. costaricensis
Oxyuridae Enterobius E. vermicularis
Cromadorea Rhabditida
Strongyloididae Strongyloides S. stercoralis
Nematoda Ancylostoma A. duodenalis
Ancylostomatidae

136
Necator N. americanus
Syngamidae Mammomonogamus M. laryngeus
Wuchereria W. bancrofti
Onchocercidae
Onchocerca O. volvulus
Trichuridae Trichuris T. trichiura
Enoplea Trichocephalida Trichinellidae Trichinella T. spiralis
Capillariidae Calodium C. hepática
Moniliformida Moniliformidae Moniliformis M. moniliformis
Acanthocephala Archiacanthocephala
UNICESUMAR

Oligacanthorhynchida Oligacanthorhynchidae Macracanthorhynchus M. hirudinaceus


Quadro 1 – Classificação de helmintos parasitos dos seres humanos. / Fonte: Adaptado de Neves (2016, p. 216)
UNIDADE 5

Embora você provavelmente tenha familiaridade quanto ao termo verme, e mesmo consiga re-
lacioná-lo a uma forma específica de animal, a diversidade morfológica dos helmintos é grande
e será caracterizada com detalhes para cada um dos agentes etiológicos das parasitoses humanas
que vamos discutir, principalmente porque uma das formas mais utilizadas para o diagnóstico
dessas doenças, é a observação direta do parasito.
Nesta unidade, você aprenderá sobre as principais parasitoses humanas causadas pelos ne-
matódeos (Filo Nematoda), que são vermes com a característica principal de possuírem o corpo
cilíndrico e alongado, reunindo mais de 24.000 espécies em todo mundo (SIQUEIRA-BATISTA
et al., 2020). “Dentro do filo Nematoda ou Nemata (gr. nêma ou nêmatos = fio), são encontrados
representantes com os mais diversos tipos de hábitat, desde espécies saprófitas de vida livre, aquá-
ticas ou terrestres, até parasitos de vegetais, invertebrados e vertebrados” (NEVES, 2016, p. 220).
Esses vermes podem ter tamanho variado, dependendo da espécie, de poucos milímetros a
dezenas de centímetros. Seu corpo cilíndrico não é segmentado, apresentando simetria bilateral,
e cavidade interna não revestida por um epitélio, sendo esta preenchida com líquido, caracteri-
zando-os como pseudocelomados (NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

• Celoma: Cavidade corporal, constituindo um espaço preenchido por líquido ou ar, localizado
entre o trato digestório e a parede externa do corpo, presente em animais com os três folhetos
embrionários: endoderme, mesoderme e ectoderme.
• Animais celomados: são aqueles onde a cavidade corporal é totalmente circundada pela
mesoderme. Um exemplo desse tipo de animal é a minhoca.
• Animais pseudocelomados: são aqueles onde a cavidade corporal é formada em parte pela
mesoderme e em parte pela endoderme. Um exemplo desse tipo de animal é a lombriga (As-
caris lumbricoides).
• Animais acelomados: são aqueles onde não ocorre a formação de cavidade corporal. Um
exemplo desse tipo de animal é a planária.
Fonte: Reece et al. (2015).

Esses vermes possuem os três folhetos embrionários (endoderme, mesoderme e ectoderme), um tubo
digestório completo com a cavidade anal ou cloacal abrindo próximo a extremidade posterior do corpo;
não apresentam sistema circulatório e nem ventosas (Imagem 1).

137
UNICESUMAR

A
Cordão
a B
dorsal Nervo dorsal
Camada muscular b
c
Braços musculares d

e i
Epiderme h
Cutícula
f
Canal excretor
Cordão lateral d
Pseudocelo
g
Lúmem da faringe
Fibras musculares
da faringe

Glândulas
faríngeas Nervo ventral
Cordão
a) ventral b)
Figura 1 – a) Corte transversal de um nematódeo, b) Indivíduos adultos de Enterobius vermicularis (A - fêmea: a- expansões ve-
siculosas; b- esôfago com bulbo esofagiano; c- intestino; d- úteros; e- vagina; f- ovários e ovidutos; g- reto e ânus; B - macho:
h- canal ejaculador; i- testículo). / Fonte: a) Arruda (2014); b) Adaptado de Rey (2008, p. 277).

Descrição da Imagem: A imagem apresenta dois desenhos, A e B, que ilustram os nematódeos. Do lado esquerdo está o desenho
A, em que é possível observar uma estrutura cilíndrica, em um corte transversal, com três camadas, uma camada externa, “Cutícula”,
uma camada média, “Epiderme”, e uma camada mais interna, “Muscular”. No interior, é possível observar gomos ao longo de toda a
circunferência. No centro, há uma estrutura circular e no centro dela uma estrutura em forma de estrela, com três pontas e vários
riscos que saem dela e vão até a borda da estrutura circular. Na parte superior da estrutura cilíndrica, um dos gomos está identificado
como “Cordão dorsal”. Na ponta desse cordão, há uma estrutura pequena e redonda identificada como “Nervo dorsal”. Dessa estrutura,
saem os braços articulares que se conectam a outros cordões. Na parte inferior, na mesma direção do cordão dorsal, está o “Cordão
Ventral”, e na sua ponta está o “Nervo Ventral”. Do lado direito, está o desenho B, em que são observados dois desenhos esquemáticos
do verme Enterobius vermicularis. No desenho do lado esquerdo, é possível visualizar a fêmea, um verme longo, com as extremidades
afuniladas. Também é possível ver os seus órgãos, começando na parte superior: a- expansões vesiculosas; b- esôfago com bulbo
esofagiano; c- intestino; d- úteros; e- vagina; f- ovários e ovidutos; g- reto e ânus. No desenho do lado direito, é possível visualizar um
verme menor, o macho, com parte do corpo enrolado. Também é possível visualizar alguns órgãos: h- canal ejaculador; i- testículo.

Os nematódeos apresentam sexos separados, ou seja, há um indivíduo macho e outro fêmea, sendo,
portanto, denominados de dióicos. No filo Nematoda, o macho sempre será menor que a fêmea
(Imagem 1b). O corpo destes animais é revestido por uma camada acelular e lisa, denominada
de cutícula. Não apresentam sistema circulatório, sendo o líquido presente no pseudoceloma,
responsável pelas funções que seriam realizadas por esse sistema. O sistema nervoso é constituído
por um anel em torno do esôfago (considerado um cérebro), de onde partem nervos para a região
anterior e posterior do corpo. O sistema excretor consiste em um sistema tubular, formado por dois
canais que percorrem todo o corpo do verme e se abrem no poro excretor, localizado na região
anterior. Possuem gônadas específicas, em geral tubulares, com testículos nos machos e ovários
nas fêmeas (REY, 2008; NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
O primeiro nematódeo que você vai conhecer é o Ascaris lumbricoides, popularmente conhecido
como lombriga. Esse verme é encontrado em quase todos os países do mundo, porém, com uma inci-
dência que varia de acordo com as mudanças climáticas, ambientais e principalmente condição social

138
UNIDADE 5

da população (NEVES, 2016). Esta última característica demonstra ser um importante fator, uma vez
que o investimento e aprimoramento dos programas de saúde pública no Brasil, tem evidenciado uma
tendência na diminuição dos casos anuais. Ainda assim, as estimativas mais recentes apontam para
uma prevalência de aproximadamente 1,5 bilhões de pessoas infectadas em todo o mundo. No Brasil,
a doença afeta principalmente crianças em idade escolar.
O Ascaris lumbricoides, pertencente ao Filo Nematoda, Classe Cromadorea, Subclasse Chromadoria,
Ordem Rhabditida, Família Ascarididae e Gênero Ascaris, é o agente etiológico da Ascaridíase, uma
parasitose considerada um grave problema de saúde pública, que ataca o intestino delgado humano
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Como já descrito, os nematódeos apresentam como características serem dióicos. Assim, a carac-
terização da morfologia do A. lumbricoides é baseada nas características do macho, da fêmea e do
ovo. Como características gerais, os adultos apresentam o corpo cilíndrico, alongado, fino e com as
extremidades afiladas. O tamanho do verme é dependente da nutrição que receberá do hospedeiro,
além da competição que ocorrerá contra outros parasitos dividindo o mesmo habitat. No entanto, o
macho sempre será menor que a fêmea (Imagem 2).
O parasito macho adulto mede
entre 20 e 30 centímetros de com-
primento por 2 a 4 milímetros de
largura, com uma coloração leitosa.
A região anterior do verme apresen-
ta uma boca formada por três lábios,
contendo serrilha de dentículos
(NEVES, 2016). O sistema digestó-
rio se estende por todo o corpo jun-
to com um testículo filiforme, sendo
que ambos se abrem na cloaca, na
região posterior. A região posterior
apresenta dois espículos acessórios
para a cópula, e encontra-se encur-
vada em direção a região ventral do
verme (Imagem 2).
O parasito fêmea adulto mede Figura 2 – Ascaris lumbricoides.
entre 30 e 40 centímetros de com-
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada a fotografia de dois
primento por 3 a 6 milímetros de vermes cilíndricos, alongados, com as extremidades afiladas, com coloração lei-
tosa, sendo que o mais externo constitui a fêmea, que é maior que o do centro,
largura. Todas as características que constitui o macho. O macho apresenta a extremidade posterior curvada e
enrolada ventralmente.
morfológicas internas do corpo da
fêmea se assemelham com o macho.
A exceção ocorre com os órgãos genitais que são compostos por dois ovários filiformes, que se diferenciam
na sequência em úteros, os quais se fundem e se exteriorizam por uma vagina no terço anterior do corpo
do verme. Por esta razão, a fêmea tem um ânus e não uma cloaca.

139
UNICESUMAR

O ovo do Ascaris lumbricoides apresenta características específicas que permitem diferenciá-lo


de outros parasitos, sendo um dos principais indicativos da infecção. Esse ovo apresenta um tama-
nho entre 50 e 60 micrômetros, de formato oval, contendo três membranas, sendo a mais externa
com aspecto mamilonado (ou seja, apresenta protuberância característica), com coloração branco
ou castanho a fresco (Imagem 3). No interior dos ovos fertilizados ocorrerá o desenvolvimento
das larvas do parasito, que em geral apresentam de duas formas, sendo que estas correspondem
às fases de seu desenvolvimento: larva rabditóide (com esôfago com dilatações laterais) e larva
filarióide (com esôfago com retilíneo) (ZEIBIG, 2014; NEVES, 2016).
O verme causador da as-
caridíase apresenta um ciclo
de vida monoxênico, com
uma fase no ambiente, cujo
hospedeiro definitivo é o ser
humano. O habitat do verme
adulto é o intestino delgado,
principalmente jejuno e íleo.
No entanto, em infecções
graves, toda a extensão do
órgão pode ser ocupada.
O ciclo tem início com
a liberação dos ovos fertili-
zados com as fezes. No am-
biente, os ovos se desenvol-
vem passando por três fases
larvais (L), sendo que a L3 Figura 3 – Ovo de Ascaris lumbricoides.
(a larva infectante) perma-
Descrição da Imagem: Na imagem, é apresentada uma micrografia de uma amostra de
nece dentro das membra- fezes, em que se encontram seis ovos de A. lumbricoies, observando a membrana externa
mamilonada.
nas do ovo. Quando o ovo
contendo a larva infectante
é ingerido, através de água e alimentos contaminados, após chegarem no intestino delgado, as larvas
eclodem, penetram na parede intestinal, atingindo o sistema circulatório sanguíneo. No sistema san-
guíneo, o verme migra pela veia porta, passa pelo fígado e atinge o coração pela veia cava inferior. Do
coração, o parasito vai até o pulmão, onde se desenvolve, rompe a parede pulmonar, acessa os brônquios,
a traqueia e chega à faringe, de onde pode ser expectorado para fora do corpo, ou, mais comumente,
ser novamente deglutido, atingindo o intestino delgado na forma de L5, onde se fixa. Os vermes se
tornam adultos cerca de 30 dias após a infecção e podem viver por até dois anos, sendo que a fêmea
pode colocar aproximadamente 200.000 ovos por dia (REY, 2008; NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA
et al., 2020). Os ovos são então liberados com as fezes, recomeçando o ciclo (Imagem 4).

140
UNIDADE 5

Es
infe tágio
ccio
so
8. Vermes adultos no
4. Ovo embrionado intestino delgado

6-8. Migração
3. Clivagem da larva
avançada

5. A larva
é liberada
no intestino

2. Estágio de
duas células
9. Ovos nas fezes

1. Ovo fertilizado Ovo não fertilizado


Figura 4 - Ciclo biológico do Ascaris lumbricoides.

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma ilustração descrevendo o ciclo de vida do Ascaris lumbricoides. No centro
da imagem, está representada a silhueta de um ser humano, em que podem ser identificados seus órgãos internos, sendo estes, de
cima para baixo, faringe, esôfago, pulmões, estômago, fígado, intestino delgado e intestino grosso, terminando no ânus. O ciclo começa
com a imagem de um ovo contendo uma larva sendo ingerido pela boca, passando pelo estômago, chegando ao intestino e, deste,
voltando ao pulmão. Continua com uma seta verde, indicando que do pulmão a larva volta ao intestino delgado, onde se instala e se
desenvolve em indivíduos adultos. Os vermes adultos estão representados em um desenho no centro de um círculo no lado direito da
imagem. A partir do intestino delgado, os produzidos são liberados nas fezes e vão para o ambiente, representado na imagem por uma
área gramada. A partir deste ponto, os ovos não fertilizados morrem, enquanto os ovos fertilizados seguem uma sequência na porção
esquerda da imagem, passando pelo estágio de duas células, estágio avançado de clivagem e volta ao ovo embrionado do começo,
com uma larva dentro, e pronto para infectar um indivíduo.

A ascaridíase é caracterizada pelas complicações causadas pelo parasito se desenvolvendo no orga-


nismo enquanto realiza seu ciclo biológico. Neste ponto, a patogenia da doença é dependente da fase
de desenvolvimento do verme e da quantidade desses vermes no hospedeiro.

141
UNICESUMAR

As alterações no organismo causadas pelas larvas dependem da intensidade da infecção. Infecções


com pouca intensidade não desenvolvem complicações, porém, quando a quantidade de larvas é
grande, a migração destas pelo fígado e pulmão pode provocar lesões, desde focos hemorrágicos até
quadro pneumônicos no pulmão (ZEIBIG, 2014; NEVES, 2016).
As infecções com os vermes adultos seguem o mesmo princípio. Poucos vermes não causam altera-
ções perceptíveis, porém, infecções médias (30 a 40 vermes) ou maciças (100 ou mais vermes) podem
provocar complicações graves. As principais alterações incluem: ação espoliativa (onde os vermes
consomem nutrientes ingeridos pelo indivíduo), ação tóxica (edemas, urticárias e até convulsões em
decorrência da resposta imunológica a antígenos do parasito), localização ectópica (parasito em local
diferentes de seu habitat normal, por exemplo, ducto pancreático) e ação mecânica (irritação na parede
intestinal ou obstrução da luz intestinal). Este último tipo de complicação é o mais comum, essen-
cialmente a obstrução intestinal (Imagem 5), principalmente em crianças, nas quais a luz intestinal é
menor, levando à realização, em muitos casos, de cirurgias desobstrutivas.

Figura 5 - Fragmento de intestino obstruído por Ascaris lumbricoides. / Fonte: adaptado de Mwenda e Ilkul (2013).

Descrição da Imagem: Na imagem, é possível identificar um mesmo fragmento de intestino humano, fotografado em dois momentos.
Em “A”, do lado esquerdo, o fragmento de intestino acabará de ser removido do paciente, e pode ser observado no interior de uma
vasilha cirúrgica, apresentando vermes saindo de uma das extremidades seccionada. Em “B”, do lado direito, o fragmento foi aberto e
podem ser observados diversos vermes se enrolando em seu interior, obstruindo completamente a passagem das fezes.

Como a doença se desenvolve geralmente de modo assintomático, a ascaridíase é diagnosticada por


meio do exame parasitológico de fezes, com a constatação da presença dos ovos parasito (SIQUEIRA-
-BATISTA et al., 2020). Como a quantidade de ovos liberados diariamente é grande (200.000 ovos dia
por fêmea), basta a realização da técnica de precipitação espontânea, sem a necessidade de concentração.
Outro ponto importante a ser avaliado é a quantidade de ovos, pois, como as consequências da infecção
são dependentes da intensidade, esse parâmetro se torna importante para a avaliação médica. Para esse
fim, recomenda-se a técnica de Kato-Katz (quantificação dos ovos) (NEVES, 2016).
O tratamento da doença é realizado por meio de anti-helmínticos, sendo que os mais indicados
são o albendazol e mebendazol, que são pouco absorvidos pelo organismo, agindo principalmente
a nível intestinal. Há, ainda, a ivermectina, que, embora seja absorvida pelo sangue, acaba sendo eli-
minada com as fezes via fígado.

142
UNIDADE 5

Muitos artigos científicos, livros ou mesmo reportagens citam infecções parasitárias causadas por geo-hel-
mintos. Com base no que discutimos até agora, você consegue entender o que esse termo representa?

Embora a maioria dos parasitos discutidos nesta unidade tenham seu ciclo de vida com estágios bem
distintos e característicos, uma etapa é semelhante: a maturação dos ovos no ambiente. Para estes
parasitos, a etapa em que os ovos são liberados para o ambiente é fundamental, pois, no ambiente,
as diferenças de temperatura e umidade levam ao processo de maturação dos ovos e formação das
larvas infectantes. Como a maioria destes parasitos têm seus ovos liberados para o solo, receberam a
denominação comum de “geo-helmintos” (geo, do grego “ge”, que significa terra).
Outro geo-helminto de grande importância para a saúde pública é o agente causador da Ancilos-
tomíase, conhecida popularmente como “amarelão” ou “mal dos mineiros” (SIQUEIRA-BATISTA et
al., 2020). Neste caso, três espécies são responsáveis pela doença: Ancylostoma duodenale, Necator
americanus e Ancylostoma ceylanicum. Destes, apenas os dois primeiros têm importância signifi-
cativa no Brasil. Estima-se que, na região da América Latina, aproximadamente 50 milhões de pessoas
estão infectadas por um destes agentes etiológicos (NEVES, 2016).
Estes gêneros Ancylostoma e Necator são classificados no Filo Nematoda, Família Ancylostomatidae
(Quadro 1), porém, podem ser diferenciados com base em características morfológicas. Para ambas as espé-
cies, o dimorfismo sexual, em que a fêmea é maior que o macho, é característica. Além do tamanho menor, os
machos também apresentam a bolsa copulatória, caracterizada como uma projeção da cutícula (Imagem 6).

Figura 6 - Indivíduos adultos e ovo do gênero Ancylostoma. / Fonte: Wiktionary (2022)

Descrição da Imagem: Na imagem, são observadas duas micrografias. Na micrografia da esquerda, são observados os vermes, macho
(na porção inferior) e fêmea (na porção superior), do gênero Ancylostoma. Na micrografia da direita, é observado um ovo de Ancylostoma,
com a casca transparente e a massa de células no centro.

143
UNICESUMAR

A espécie Necator americanus apresenta os indivíduos adultos


com forma cilíndrica, sendo o macho com 5 a 9 milímetros de
comprimento, enquanto a fêmea possui entre 9 a 11 milímetros
de comprimento. A cápsula bucal (Imagem 7a) desse verme possui
quatro placas cortantes (duas subventrais e duas subdorsais) (REY,
2009; NEVES, 2016).
A espécie Ancylostoma duodenale apresenta indivíduos adultos
com forma cilíndrica, sendo o macho com 8 a 11 milímetros de
comprimento, enquanto a fêmea possui entre 10 a 18 milímetros
de comprimento. A principal diferença do A. duodenale para N.
americanus se encontra na cápsula bucal, pois, para esta espécie, no
lugar de placas, são observados quatro dentes ventrais (Imagem 7b).

Figura 7 - Capsula bucal de Necator americanus (a) e Ancylostoma duodenale (b). / Fonte: Fiocruz (2021).

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas duas micrografias da extremidade anterior de dois vermes da Família Ancy-
lostomatidae. Na micrografia da esquerd,a pode ser observada a extremidade anterior do Necator americanus, com duas placas cortantes
visíveis. Na micrografia da direita, pode ser observada a extremidade anterior de Ancylostoma duodenale, com quatro dentes visíveis.

Os ancilostomídeos diferem dos demais geo-helmintos quanto


ao seu ciclo biológico, por realizar a eclosão dos ovos ainda no
ambiente, o que modificará em parte seu modo de infecção. O
habitat deste verme é o intestino delgado do ser humano, e seu
ciclo de vida é monoxênico, assim, como as larvas são liberadas
no ambiente, o caminho desenvolvido pelo verme para alcançar
seu habitat é diferenciado.

144
UNIDADE 5

Larva filarióide
penetra pela pele

As larvas de Ancylostoma spp.


podem parar o desenvolvimento
e ficarem adormecidas nos
tecidos. Larvas reativadas podem
adentrar o intestino delgado
Desenvolvimento
para larva filarióide
no ambiente
A s larvas saem da
circulação nos
pulmões, elas são
então expectoradas Adultos no intestino delgado
e engolidas

Larva rabditóide sai do ovo

Estágio infeccioso Ovos nas fezes


Ancylostoma Ancylostoma Necator
Estágio de diagnóstico duodenale ceylanicum americanus

Figura 8 - Ciclo biológico Ancylostoma duodenale. / Fonte: CDC (2019)

Descrição da Imagem: Na imagem pode ser observado o ciclo de vida do Ancylostoma duodenale. O ciclo começa na região superior
da imagem, com a larva penetrando a pele em uma figura de um pé humano. Em seguida, está ilustrado a silhueta do tronco de um
ser humano, em que são observados os órgãos internos: faringe, esôfago, laringe, pulmões, coração, estômago e intestinos. Nessa
silhueta, é demonstrada uma sequência de setas vermelhas, descrevendo o percurso realizado pela larva, sendo esse: saída da circu-
lação sanguínea nos pulmões, migração até a faringe, deglutição pelo esôfago, passagem pelo estômago e chegada até o intestino.
Em seguida, uma seta azul indica a saída dos ovos junto com as fezes, seguida por uma seta indicando que o ovo eclodiu e liberou
uma larva rabditóide. Em seguida, uma nova seta liga a uma segunda larva, mais comprida e delgada, a larva filarioide, que está ligada
por uma seta à ilustração inicial do pé humano. No lado direito inferior da imagem, estão representadas três bocas de três espécies
do verme, que causam a doença em seres humanos, sendo eles Ancylostoma duodenale, Ancylostoma ceylanicum e Necator americanus.

O ciclo biológico dos ancilostomídeos (Imagem 8) tem início com a liberação dos ovos com as fezes. No
ambiente, os ovos se desenvolvem até o estágio de L3 (larva filarióide), em que ocorre a eclosão do ovo e
liberação da larva no ambiente. A infecção do ser humano ocorre principalmente pela penetração ativa da
larva L3, livre no ambiente, pela pele do hospedeiro (embora menos comum, as larvas podem ser ingeridas e
gerar a doença). Após penetrarem no hospedeiro, as larvas migram pelo sistema circulatório (sanguíneo ou
linfático) até os pulmões, atravessam para os alvéolos, sobem pelos brônquios, traqueia e laringe, atingindo a
faringe, onde podem ser expectoradas ou deglutidas. Caso sejam deglutidas, as larvas chegam até o intestino
delgado, onde se estabelecem se alimentando do sangue liberado das lesões causadas pelo próprio parasito
na parede intestinal. Após um período médio de 40 dias, os vermes adultos estão aptos a se reproduzirem,
ocorrendo a reprodução sexuada e liberação dos ovos pelas fêmeas na luz intestinal. Ovos são então libe-
rados com as fezes, recomeçando o ciclo (REY, 2008; NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

145
UNICESUMAR

A patogenia desencadeada pelo ancilostomídeo tem início no local da penetração do parasito


na pele, onde surgem erupções papulovesiculares eritomatosas. Em seguida, a migração da larva
pelo organismo, especialmente os pulmões, desencadeia tosse, febre e faringite. No intestino, devido
principalmente às lesões provocadas pelo parasito para se alimentar, pode-se ter dor epigástrica,
cólicas, náuseas, vômito, diarreia, diminuição do apetite, colecistite e ulceração intestinal.
O diagnóstico da doença é realizado por meio de análise dos sintomas e, principalmente, pelo
exame parasitológico das fezes, buscando a presença de ovos do parasito que são característicos
(Imagem 6), sendo ovóides ou elípticos, com a casca muito fina e transparente, possibilitando a
observação da massa embrionada de células no interior. Entre a casca e as células da massa embrio-
nada, há sempre um espaço transparente (REY, 2008). O tratamento da ancilostomíase é simples,
bastando a administração de uma única dose de fármacos contendo benzimidazóis.
Vamos falar agora de outro geo-helminto de grande importância para a saúde pública, o Ente-
robius vermicularis (Imagem 9). Este parasito é responsável por causar a enterobiose, também
conhecida como oxiurose (devido ao antigo nome do verme Oxyuros vermicularis, ou, popular-
mente, “oxiúros”), sendo classificado no Filo Nematoda, Ordem Rhabditida, Família Oxyuridae.

A
a B
b

c
d

i
e
h

g
C

Figura 9 - Desenho esquemático do Enterobius vermicularis macho e fêmea, na esquerda. Na direita é observado uma micro-
grafia do E. vermicularis fêmea. / Fonte: Rey (2008, p. 277).

Descrição da Imagem: Na imagem, é observado, no lado esquerdo, o desenho esquemático da porção interna dos vermes macho e
fêmea do E. vermicularis, além da forma como o ovo desse verme é gerado. No lado direito, é apresentada uma micrografia do verme
fêmea do E. vermicularis.

146
UNIDADE 5

O E. vermicularis é um verme que tem como característica um corpo filiforme, de cor natural branca,
apresentando “asas cefálicas” (expansões da cutícula na porção lateral da boca) (NEVES, 2016). Como já
dissemos, os nematódeos parasitos apresentam um dimorfismo sexual característico, com a fêmea maior
que o macho, e essa característica é bastante evidenciada no E. vermicularis. As fêmeas apresentam com-
primento médio de 1 centímetro e 0,4 milímetros de diâmetro, com a extremidade posterior bem afilada;
possuem uma vagina no terço médio do corpo, se comunicando com dois ovários. Os machos, por sua vez,
apresentam um comprimento médio de 0,4 centímetros e diâmetro de 0,3 mm, com a região posterior
contendo um espículo (órgão acessório da cópula) e fortemente curvada na região ventral; possui um
único testículo que se abre na cloaca (NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Uma característica importante das fêmeas é que a oviposição não é um fator relevante para libe-
ração dos ovos. Nas fêmeas, quando grávidas, os ovos continuam a crescer em seu interior e ocupam
quase todo o espaço interno do corpo do verme, podendo conter até 16.000 ovos. No entanto, quando
o corpo se rompe, ou por atingir um limite, ou por ação mecânica externa, como o ato de coçar do
hospedeiro, são liberados ovos no formato de um “D” (Imagem 10), com um comprimento médio de 55
micrômetros de comprimento por 20 micrômetros de espessura, com dupla camada de revestimento
e já contendo uma larva formada em seu interior (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

Figura 10 - Ovos de Enterobius vermicularis

Descrição da Imagem: A imagem apresenta uma micrografia de vários ovos do verme Enterobius vermicularis, com dupla camada e
formato na forma da letra “D”.

O habitat do E. vermicularis corresponde ao Ceco no intestino grosso. É comum, entretanto, que as


fêmeas grávidas, cheias de ovos, sejam encontradas no ânus e região perianal do indivíduo infectado.
O ciclo biológico é simples e monoxênico (imagem 11), e pode ser resumido como a eliminação
dos ovos para o ambiente e transmissão para um indivíduo por meio de alimentos contaminados.
Porém, deve-se caracterizar bem as diferentes formas de contaminação e movimentação do parasito,
especialmente para que se entenda sua patologia.

147
UNICESUMAR

O ciclo tem início com a contaminação, principalmente pela ingestão dos ovos contendo as larvas.
Os ovos, após passarem pelo estômago, eclodem no duodeno, passam por todo intestino delgado, se
fixando no ceco já como verme adulto. No ceco ocorre a cópula, sendo que os machos são eliminados
com as fezes depois dessa etapa e morrem. As fêmeas grávidas, permanecem no ceco se alimentando
no material fecal enquanto os ovos crescem. Em determinado momento, por motivos ainda não total-
mente entendidos, as fêmeas se soltam e são arrastadas com as fezes até o ânus ou são liberadas com
as fezes para o ambiente. Do ânus, os vermes podem ou não migrar para região perianal. Neste ponto
pode ocorrer a postura dos ovos, ou as larvas se romperem por pressão interna dos ovos ou por ação
mecânica externa (ato de coçar). Os ovos liberados, tanto no ânus e na região perianal, quanto os que
foram liberados para o ambiente, podem seguir vários caminhos para causar a infecção.

Figura 11 - Ciclo de vida do Enterobios vermicularis. / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 385).

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o ciclo de vida do E. vermicularis. No centro da imagem, encontra-se a silhueta
de um ser humano com os órgãos internos representados, em especial o sistema digestório. O ciclo começa com uma seta demonstran-
do a ingestão dos ovos embrionados. Do lado direito da silhueta do ser humano, estão representadas, na parte superior, as larvas do
verme, notando que eclodem no intestino delgado após a ingestão dos ovos; na parte inferior, estão representados os vermes macho
e fêmea adultos, notando que a fêmea migra para a região perianal à noite para postura dos ovos. Na porção inferior, há uma seta
mostrando que os ovos na região perianal possuem larvas dentro. Esses ovos são ligados por uma seta com os ovos que iniciaram o ciclo.

148
UNIDADE 5

A transmissão dos ovos para um novo hospedeiro, ou para o mesmo hospedeiro (reinfecção), pode
ocorrer, segundo Neves (2016, p.328), de acordo com os seguintes mecanismos:

Heteroinfecção: quando há infecção de um novo indivíduo, que não o infectado, ocorre


pela ingestão de ovos presentes em alimentos, poeira ou fômites (objetos inanimados que
podem transportar organismos patogênicos).
Indireta: quando há infecção do mesmo indivíduo por ovos presentes em alimentos,
poeira e fômites.
Autoinfecção externa (direta): quando há infecção do próprio indivíduo parasitado, após
coçar a região perianal e levar os ovos até a boca.
Autoinfecção interna: em casos incomuns, após as fêmeas adultas eclodirem e liberar
os ovos no interior do ânus, os ovos podem eclodir e liberar as larvas que migram de volta
pelo intestino grosso até o ceco, se fixam e se tornam adultos.
Retroinfecção: as larvas que saíram dos ovos na região perianal migram para dentro do
ânus, passam por todo o intestino grosso, se fixam no ceco e se tornam adultos.

A patogenia desenvolvida pelo E.


vermicularis está associada à mi-
gração do parasito na região peria-
nal ou a carga parasitária. Quando
ocorre a migração no ânus e região
perianal, o hospedeiro sente um
intenso prurido (coceira), e pode
lesionar a região (Imagem 12). A
proximidade do ânus com a vagi-
na e vulva nas mulheres pode de-
sencadear a infecção do aparelho
geniturinário, resultando em pru-
Figura 12 - E. vermicularis na região perianal./ Fonte: UFRGS (s. d.)
rido vulvar, corrimento e diferentes
graus de excitação sexual. Descrição da Imagem: Na imagem, é observada uma fotografia ampliada da
porção externa do ânus de um paciente, em que se observa várias estruturas
Em casos mais graves, geral- cilíndricas, brancas e pequenas, aderidas na pele, sendo estas, vermes da espécie
E. vermicularis.
mente associados à carga parasi-
tária, o parasito pode escapar do
trato intestinal e causar infecções ectópicas (vermes encontrados na cavidade peritoneal, fígado,
baço e pulmão), resultando em infiltrado inflamatório, formação de granulomas e, em alguns
casos, necrose (NEVES, 2016).

149
UNICESUMAR

O diagnóstico da enterobiose ocorre pela somatória dos sintomas clínicos e análise laboratorial. Os
sintomas clínicos característicos, coceira anal, insônia e irritabilidade (devido ao prurido noturno),
somam-se a observação de ovos e indivíduos adultos. O exame coproparasitológico (parasitológico
de fezes) pode ser utilizado, mas quando negativo, não pode ser usado para descartar a doença, uma
vez que os parasitos não ovipõem na luz intestinal, limitando o número de ovos nas fezes. Por essa
razão, a técnicas escolhida deve ser o “método da fita adesiva de Graham” (Imagem 13), onde um tubo
de ensaio ou o próprio dedo do profissional da saúde, contendo uma fita adesiva enrolada, com a face
com cola voltada para fora, é pressionada sobre a região perianal várias vezes. Em seguida, a fita deve
ser colada sobre uma lâmina de vidro e observa-se no microscópio na objetiva de 40 vezes.

Imagem 13 - Método da fita adesiva de Graham (A- forma como deve ser montada a fita adesiva transparente (a) e as tiras de
papel (b); B- forma como deve ser feita a coleta na região perianal; C- Fita adesiva colada sobre a lâmina para leitura).
Fonte: Rey (2008, p. 278).

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observados três desenhos esquemáticos, representados por A, B e C. No “A”, está
representada uma lâmina de vidro no centro, contendo em seu entorno uma fita adesiva transparente, com o lado com cola voltado
para fora, e com as pontas coladas em duas tiras de papel. No “B”, está representado um paciente criança, em decúbito ventral, com
a mão de um profissional de saúde realizando a coleta com a lâmina e fita na região perianal do paciente. No “C”, está representada a
fita adesiva, após a coleta, fixada na lâmina de vidro, para observação no microscópio.

150
UNIDADE 5

O tratamento da enterobiose é realizado com os fármacos pomoato de pirantel, albendazol ou ivermectina.


É de extrema importância que no tratamento desta parasitose todos os indivíduos da família sejam tratados,
uma vez que a disseminação do parasito pode ser direto (pessoa a pessoa) ou através de fômites.
O último geo-helminto que trataremos nesta unidade é o causador da tricuríase, o Thricuris
trichiura. Esse verme é classificado no Filo Nematoda, Classe Enoplea, Ordem Trichocephalida e
Família Trichuridae. Estima-se que entre 600 a 800 milhões de pessoas estejam infectadas com esse
parasito no mundo (NEVES, 2016).
Os vermes adultos de T. trichiura apresentam uma característica bastante distinta dos demais
nematódeos: seu corpo possui a extremidade anterior afilada e a posterior alargada, lembrando um
chicote (Imagem 14). A boca fica localizada na região anterior, seguida por um esôfago que ocupa
aproximadamente 2/3 do comprimento total do parasito. No restante do corpo (1/3), estão localizados
o intestino e o aparelho reprodutor. Assim como os demais nematódeos, o T. trichiura é dióico, com a
fêmea (4 a 5 centímetros de comprimento) maior que o macho (3 a 4,5 centímetros de comprimento).
O macho apresenta a região posterior curvada ventralmente com um espículo (imagem 14a)

a) b)

Imagem 14 - a) Trichuris trichiura macho. b) Ovo de Trichuris trichiura.

Descrição da Imagem: Na imagem, são observadas duas micrografias do verme Trichuris trichiura. A micrografia marcada com a letra
“a”, do lado esquerdo, representa o verme adulto macho, onde pode ser observada a porção anterior fina e muito maior que a posterior,
sendo que a extremidade da porção posterior é curvada ventralmente. A micrografia marcada com a letra “b”, do lado direito, apresenta
um ovo do T. trichiura, onde pode ser observado o formato elíptico e os poros salientes.

Os ovos deste parasito (Imagem 14b) possuem características fáceis de diferenciar e constituem a prin-
cipal característica de diagnóstico. Eles possuem entre 50 e 54 micrômetros de comprimento e entre
22 e 23 micrômetros de largura, com poros característicos, salientes e transparentes. A casca desse ovo
é formada por três camadas, conferindo-lhe maior resistência aos fatores ambientais (NEVES, 2016).
O T. trichiura apresenta como habitat principal o intestino grosso do hospedeiro, em especial o ceco
e o cólon ascendente, porém, pode ser encontrado também no cólon distal e reto. Uma característica
importante deste parasito está relacionada a forma como ele se fixa no intestino. Toda região esofageana
do parasito (2/3 anteriores do corpo) penetra no epitélio intestinal, se alimentando de enterócitos e
muco, ficando apenas a região posterior livre na luz intestinal para realização da reprodução.

151
UNICESUMAR

O ciclo de vida do T. trichiura (Imagem 15) tem início com a ingestão dos ovos contendo uma
larva. A larva é liberada do ovo, através de um dos poros, no duodeno, migrando até o ceco onde
penetra no epitélio intestinal dessa região, e passa a viver entre as células, formando túneis. Com
seu crescimento e desenvolvimento até o estágio adulto, a porção posterior do verme sai para luz
intestinal onde pode se reproduzir. Após a reprodução sexuada, as fêmeas podem eliminar até
5.000 ovos por dia na luz intestinal. Esses ovos são liberados para o ambiente junto com as fezes
do hospedeiro, ondese desenvolvem até o estágio de larva L1, infectante.

Ovos embrionados são ingeridos


Clivagem
avançada
= Estágio infeccioso

= Estágio de diagnóstico

Larvas eclodem no
intestino delgado

Estágio de
2 células

Ovos não embrionados


saem com as fezes

Adultos no ceco
Imagem 15 - Ciclo de vida do Trichuris trichiura./ Fonte: Pearson (2020)

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o ciclo de vida do T. trichiura. O ciclo começa com uma seta, indicando a ingestão
dos embrionados por um ser humano, representado por uma silhueta, com os órgãos do sistema digestório aparentes. Do lado direito do ser
humano, estão representadas as larvas na porção superior, indicando que são liberadas no intestino delgado, e, na porção inferior, os vermes
adultos, indicando que seu habitat é o ceco do intestino grosso. O ciclo continua com uma seta indicando que os ovos são liberados para o
ambiente com a fezes. No ambiente, há uma sequência de setas, no lado esquerdo da imagem, onde os ovos passam pelos estágios sequen-
ciais de: ovos não embrionados, ovos no estágio de duas células, ovos em clivagem avançada e ovos embrionados voltando ao início do ciclo.

152
UNIDADE 5

A maioria dos casos de tricuríase é assintomática. No entanto, existem infecções onde complica-
ções podem ocorrer, principalmente relacionadas a carga parasitária e a distribuição do parasito
no intestino do hospedeiro. A OMS recomenda que as infecções por T. trichiura sejam classifi-
cadas de acordo com a quantidade de ovos no exame coproparasitológico em: leve, menos que
1000 ovos por grama de fezes; moderadas, entre 1.000 e 9.999 ovos por grama de fezes; grave,
maior que 10.000 ovos por grama de fezes (ZEIBIG, 2014; NEVES, 2016).
Assim, pacientes com infecção leve, , são assintomáticos. Pacientes com infecção moderada,
podem apresentar dor epigástrica, dor no baixo abdômen, diarreia, vômitos e náuseas que po-
dem comprometer o estado nutricional. Pacientes com infecções graves, podem desencadear a
síndrome disentérica crônica, “sendo que nestes casos se pode observar uma diarreia intermi-
tente com presença abundante de muco e, algumas vezes, sangue, dor abdominal com tenesmo,
anemia, desnutrição grave caracterizada por perda de peso e, algumas vezes, prolapso retal”
(NEVES, 2016, p. 338) (Imagem 16).

Imagem 16- a) Prolapso retal em um paciente com tricurose; b) prolapso retal aproximado, observando a porção posterior T.
trichiura fixado no epitélio do reto. / Fonte: UFRGS (s. d.).

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas duas fotografias de um prolapso retal. Na foto marcada com a letra “a”, do
lado esquerdo, pode ser observado um prolapso retal em um paciente criança com tricuríase, em que a porção terminal do reto sai para
fora do corpo. Na foto marcada com a letra “b”, do lado direito, pode ser observado um prolapso retal em um paciente com tricuríase,
em uma imagem ampliada, em que pode ser observada a presença de dezenas de parasitos.

Para diagnosticar a infecção pelo Trichuris trichiura, o método de escolha é a observação dos
ovos nas fezes. Como a gravidade da doença é determinada pela carga parasitária, o método
quantitativo de Kato-Katz é muito utilizado. O tratamento para esta parasitose é realizado por
fármacos anti-helmínticos, sendo os principais: albendazol, mebendazol, levamisol e pamoato
de pirantel (NEVES, 2016).
O último nematódeo que vamos estudar nesta unidade é o causador da Filariose Linfática, o verme
Wuchereria bancrofti. Diferente dos demais nematódeos discutidos nesta unidade, o W. bancrofti é
transmitido a partir de um vetor, a fêmea do mosquito Culex quinquefasciatus (Imagem 17).

153
UNICESUMAR

Imagem 17 - Mosquito Culex quinquefasciatus./ Fonte: Insetisan (s. d.)

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma foto de um mosquito do Gênero Culex, de cor amarelada e patas pretas, fazendo
o repasto sanguíneo pousado sobre a pele de um ser humano.

A Filariose Linfática humana é encontrada em mais de 70 países da Ásia, África e Américas, sendo, portanto,
endêmica das regiões tropical e subtropical. Estima-se que mais de 120 milhões de pessoas sejam portadoras
do parasito (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
O W. bancrofti é classificado no Filo Nematoda, Classe Cromadorea, Ordem Rhabditida e Família On-
chocercidae. Esses vermes são extremamente finos e delicados, além de muito pequenos, o que permite
sua circulação por vasos linfáticos e sanguíneos. Uma característica importante, muito utilizada para o
diagnóstico, é a produção de microfilárias em vez de ovos (como o parasito não é liberado no ambiente,
não há a necessidade da formação de ovos.
Assim, esse nematódeo apresenta quatro tipos de morfologias: adulto fêmea, adulto macho, micro-
filária e as larvas. Os vermes adultos têm o corpo muito fino e de cor branco-leitoso. Os machos medem
entre 3,5 a 4 centímetros de comprimento e 0,1 mm de largura, enquanto as fêmeas medem de 8 a 10
centímetros de comprimento e 0,3 mm de largura. Os machos apresentam sua região posterior enrolada
ventralmente (REY, 2009; NEVES, 2016).
As microfilárias (também chamadas de embriões) são liberadas das fêmeas com tamanho entre 250
a 300 micrometros. Estas formas apresentam, além da cutícula, uma bainha externa, que é a distensão da
casca do ovo. Além disso, quando fixadas e coradas, as microfilárias apresentam núcleos celulares bem
definidos, o que ajuda na distinção entre diferentes espécies de filárias (REY, 2009).
As larvas correspondem à morfologia desenvolvida no interior do inseto vetor, medindo aproxima-
damente, 300 micrômetros de comprimento. Elas são originadas a partir da maturação das microfilárias
ingeridas no repasto sanguíneo.

154
UNIDADE 5

O W. bancrofti apresenta um ciclo biológico de heteroxênico (Imagem 18), com o hospedeiro interme-
diário sendo representado por invertebrado, o mosquito Culex quinquefasciatus. O habitat deste parasito
corresponde aos gânglios e vasos linfáticos.
O ciclo tem início com o repasto sanguíneo do inseto vetor que ingere sangue contaminado com mi-
crofilárias. As microfilárias se desenvolvem em larvas infectantes no interior do inseto, rompendo tecidos e
migrando para os lábios do vetor, próximo ao aparelho picador/sugador. Quando o inseto realiza um novo
repasto sanguíneos, as larvas abandonam o inseto rompendo o lábio, e chegam à superfície externa da pele
(a larva não é inoculada pelo inseto). A entrada na pele ocorre, provavelmente, pela abertura deixada pela
picada do inseto. Após atingir as camadas internas da pele, a larva penetra nos vasos linfáticos e migra até
seu local de permanência final, onde se tornará um adulto em aproximadamente um ano (REY, 2009). No
interior dos vasos linfáticos ocorre a reprodução sexuada dos vermes adultos e liberação das microfilárias
pelas fêmeas. As microfilárias migram para a circulação sanguínea e circulam nos vasos periféricos para
serem absorvidas no repasto sanguíneo do inseto vetor.

Imagem 18 - Ciclo de vida da Wuchereria bancrofti. / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 441).

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o ciclo de vida da W. bancrofti. O ciclo tem início na porção central inferior, quando
o inseto vetor realiza o repasto sanguíneo em um ser humano representado por uma silhueta, em que são visíveis os órgãos internos. No
repasto, o mosquito ingere as microfilárias. A partir daí, no lado esquerdo da imagem, há uma sequência de setas que ocorrem no interior do
inseto, representando a microfilária, passando paras as larvas L1, L3, migrando, em seguida, para a probóscide do mosquito. Na sequência,
é representado o mosquito fazendo um novo repasto sanguíneo e a larva L3 penetrando na pele do indivíduo. A partir daí, no lado direito da
imagem, ocorrem as fases no interior do ser humano, representadas, na parte superior, pelos vermes adultos no interior dos vasos linfáticos,
seguido da microfilária, migrando para a circulação sanguínea, em que é ingerida pelo inseto que fez o repasto inicial.

155
UNICESUMAR

A filariose se manifesta de forma lenta, poden-


do levar anos. A patogenia está geralmente as-
sociada a resposta imune do hospedeiro e a rea-
ção inflamatória, desencadeada, principalmente
após a morte dos vermes adultos, provocando
o extravasamento da linfa. Dentre as diversas
manifestações clínicas envolvendo o sistema
linfático e a resposta imune, as principais são:
doença assintomática; doença aguda (inflama-
ção dos vasos linfáticos e linfonodos); e doença
crônica (edema linfático, hidrocele, urina com
aspecto leitoso e elefantíase) (NEVES, 2016). A
elefantíase (Imagem 19) é manifestação mais
conhecida dessa doença, caracterizada por aco-
meter, principalmente, os membros inferiores
e a região escrotal, associada a inflamações re-
correntes, hipertrofia do tecido conjuntivo e
fibrose crônica do órgão envolvido.
Imagem 19 - Paciente com elefantíase no membro inferior.
O diagnóstico da doença é quase exclusiva-
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma mente laboratorial. Existem vários métodos que
fotografia dos membros inferiores de um paciente com elefan-
tíase em decorrência da filariose linfática. Na foto, pode-se notar
podem ser utilizados para esse fim:
que a perna esquerda encontra-se edemaciada, com tamanho
muito maior que o normal.
• Pesquisa de microfilárias – em que é
coletado sangue de capilares periféricos,
no período noturno, preparado em lâ-
mina (gota espessa), fixado ou a fresco
(ver eu indico a seguir), e observado em
microscópio.
• Pesquisa de antígenos solúveis –
pode ser realizada por imunocroma-
tografia rápida ou ensaio imunoenzi-
mático (ELISA).
• Pesquisa do DNA do parasito – pouco
utilizado pelo tempo gasto e custo, mas
tem alta especificidade e sensibilidade,
Neste podcast, vou trazer as vantagens e desvanta-
além de permitir a identificação de es-
gens dos métodos de diagnóstico da Filariose Linfá-
pécies diferentes.
tica. Vou discutir e apresentar as características das • Pesquisa de vermes adultos – os ver-
técnicas mais usadas e quando utilizá-las. Acesse o mes podem ser observados nos vasos
QRCode e aperte o play! linfáticos através de ultrassonografia.

156
UNIDADE 5

Caro(a) aluno(a), o link a seguir permitirá que você observe a motilidade


das microfilárias em uma amostra de sangue, um dos principais métodos
de diagnóstico.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Uma característica importante das microfilárias, que influen-


cia na metodologia do diagnóstico, é sua periodicidade.
Durante o dia, estas formas do parasito se concentram
nos vasos sanguíneos profundos, principalmente
dos pulmões, e não são encontradas na circulação
periférica. Durante o anoitecer, aumentando gra-
dativamente até a madrugada, as microfilárias são
encontradas em punções da circulação periférica,
desaparecendo novamente no amanhecer (REY,
2009). Alguns autores sugerem que este fato está re-
lacionado ao hábito de repasto sanguíneo do inseto
vetor que ocorre durante a noite.
O tratamento para a filariose pode ser separado em es-
pecífico, caracterizado pelo uso do fármaco citrato de dietil-
carbamazina (DEC) com a finalidade de eliminação do parasito; e
inespecífico, caracterizado como o controle da morbidade, tratando o linfedema e infecções secundárias.
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, você aprendeu sobre quem são os helmintos, aprofundando seu
conhecimento nas principais características dos nematódeos. Você estudou, ainda, os principais ne-
matódeos causadores de parasitose em seres humanos e as consequências das infecções causadas por
ele, entendendo ainda os princípios de seu diagnóstico. Agora que você conhece as características e
os conceitos principais sobre os nematódeos, pode entender melhor o desafio e os questionamentos
que foram propostos. Resgate o exercício proposto no início da unidade e tente resolvê-los com os
conhecimentos que agora possui.
Como você pode perceber, muitas parasitoses têm como via de entrada o trato gastrointestinal. Para
realizar esse processo, os parasitas desenvolveram mecanismos que mantêm suas formas infectantes
vivas no ambiente após serem liberadas com as fezes, possibilitando que alcancem a boca, em tipo de
ciclo denominado fecal-oral. Para os nematódeos e muitos protozoários, a passagem pelo ambiente é
até necessária para a maturação das formas infectantes. Assim, como você aprendeu, a principal forma
infectante dos helmintos (tanto nematódeos quanto outros filos) é o ovo maduro ingerido junto com
o alimento ou água contaminados.

157
Caro(a) aluno(a), com base nos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, estou certo de
que é capaz de preencher o mapa mental a seguir.

Metazoários

HELMINTOS

Aconthocephala

Ascaridíase

Enterobius
vermicularis

Infecção oral
por ovos

158
1. Leia o texto a seguir:

O termo verme refere-se, genericamente, a um grupo de metazoários [...] capazes de existir


em diferentes ambientes, tanto em vida livre – espaços aquáticos e/ou terrestres – quanto
em vida parasitária (em díspares tipos de organismos, tais como plantas e animais) [...] O filo
Nematoda, reúne mais de 24.000 espécies descritas em todo o mundo, apresentando formas
parasitárias ou de vida livre.

Fonte: SIQUEIRA-BATISTA, R. et al. Parasitologia: Fundamentos e Prática Clínica. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2020.

Com base nas características dos helmintos, cite, por meio de um texto dissertativo de 5 a 10
linhas, as características que definem um nematódeo.

2. Leia o texto a seguir:

A ascaridíase – também conhecida por ascaridiose, ascaríase ou ascariose – é uma enfermi-


dade provocada pelo helminto Ascaris lumbricoides... Em geral, a ascaridíase é assintomática
ou oligossintomática, com evolução benigna. Porém, pode evoluir para casos mais graves e
com complicações.

Fonte: SIQUEIRA-BATISTA, R. et al. Parasitologia: Fundamentos e Prática Clínica. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2020.

Com base na patologia da ascaridíase, cite explique, por meio de um texto dissertativo de 5 a
10 linhas, um caso grave ou complicação dessa parasitose.

3. O ciclo biológico do Enterobius vermiculares é do tipo monoxênico e apresenta peculiaridades


relacionadas principalmente com as características biológicas da fêmea grávida e dos ovos
do parasito.

Fonte: NEVES, D. P. Parasitologia humana. 13.ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016, p. 326.

Com base no ciclo de vida do Enterobius vermiculares, explique, por meio de um texto disser-
tativo de 3 a 5 linhas, o que é e como ocorre a “autoinfecção interna”.

159
160
6
Helmintos:
Platelmintos Parasitos
Dr. Vinícius Pires Rincão

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, você aprenderá as características


dos helmintos do Filo Platyhelminthes, sua morfologia e biologia.
Vai conhecer também os principais representantes das duas classes
de platelmintos: Cestoda e Trematoda, causadores das doenças
Esquistossomose e Teníase.
UNICESUMAR

Os parasitos têm como uma de suas


características entrar em equilíbrio
com seu hospedeiro. Essa caraterísti-
ca é essencial para sua sobrevivência
e manutenção da espécie. Neste as-
pecto, um dos fatores mais impor-
tantes é a adaptação, para possibilitar
que as formas infectantes entrem no
hospedeiro. Caro(a) aluno(a), você
sabe qual a importância em se co-
zinhar corretamente os alimentos?
Qual a relação desse procedimento
com a infecção causada por parasi-
tos? Ou, ainda, como um caramujo
pode representar um risco de se ad-
quirir uma parasitose?
A entrada no organismo do hos-
pedeiro é a etapa fundamental que
determina o sucesso ou fracasso
do estabelecimento de uma para-
sitose. Dentre os diferentes gru-
pos de parasitos, os helmintos são
aqueles que apresentam as formas
mais variadas, pelas quais o está-
gio infectante consegue entrar no
corpo do hospedeiro e estabelecer
uma infecção, sendo que estas po-
dem ser resumidas em ingestão de
ovos ou cistos infectantes, pene-
tração da larva infectante pela pele
ou mucosas, ou, ainda, podem ser
transportados por insetos vetores.
No que diz respeito aos platelmin-
tos, especificamente aos do gênero
Taenia, o cozimento da carne de
suínos e bovinos significa o fim de
seu ciclo de vida, uma vez que as
formas infectantes, denominadas
cisticercos, estão inseridas entre as
fibras musculares destes animais.

162
UNIDADE 6

Agora que introduzimos a importância da forma infectante para os parasitos, entre eles os platel-
mintos, gostaríamos de propor uma atividade para você: pesquise em sites de vigilância epidemioló-
gica se a sua região é uma área de risco para a esquistossomose mansônica. Identifique os fatores que
determinam esse risco e escreva uma lista deles.
A esquistossomose mansônica é uma doença causada pelo Schistosoma mansoni, sendo que a
principal forma de liberação dos ovos deste parasito ocorre pelas fezes. O ciclo de vida S. mansoni é
complexo e adaptado para garantir a sobrevivência da espécie, representando uma influência direta
sobre quais áreas se tornam endêmicas. As características do ciclo, relacionadas a este fato, vão desde
número de hospedeiros intermediários, seu habitat e biologia, até a forma como ocorre a infecção. Isso
nos leva a refletir: O S. mansoni possui hospedeiros intermediários? Qual seu habitat? Qual relação
deste fato com a incidência da doença e formação de áreas endêmicas? Como ocorre a contaminação
do hospedeiro humano? A forma de infecção tem relação com a caracterização de áreas endêmicas?
Anote suas descobertas no seu Diário de Bordo.

163
UNICESUMAR

Como você já aprendeu, os helmintos correspondem a um


grupo de animais metazoários conhecidos popularmente
como “vermes”. Ainda na unidade 5, você viu a classi-
ficação geral dos helmintos com importância para
a parasitologia, sendo que dos três filos apresen-
tados, os de maior relevância eram Nematoda e
Platyhelminthes.
Nesta unidade, o foco de seu estudo será os
platelmintos, vermes que possuem como carac-
terísticas serem acelomados, com simetria bila-
teral, com órgãos sensoriais e de fixação (prin-
cipalmente ventosas) localizados na extremidade
anterior, sem aparelho respiratório, podem ou não
apresentar tubo digestório, mas não apresentam ânus.
Possuem, ainda, o corpo achatado dorsoventralmente, o
que dá nome ao filo (do grego Platy = chato), e podem apre-
sentar o corpo segmentado (NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA
et al., 2020). Um exemplo típico dos platelmintos é a Fasciola hepática (Imagem 1).
Caro(a) aluno(a), muitos são
os representantes dos platelmin-
tos, tanto de vida livre quanto
parasitária. No entanto, algumas
poucas espécies têm significado
real para a saúde humana. Nes-
te aspecto, a maioria dos autores
aborda o estudo desses vermes no
estudo dos principais grupos os
cestódeos (Classe Cestoda) e tre-
matódeos (Classe Trematoda).
O primeiro parasito que
você vai estudar pertencente
Imagem 1 – Fasciola hepatica
aos platelmintos, é um cestóide
conhecido popularmente como Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o platelminto F. hepática. É
observado com coloração alaranjada, com formato semelhante a uma folha, onde
“solitária”, sendo denominado tem-se sua região ventral, com a extremidade anterior voltada para a direita da ima-
cientificamente como Taenia gem, em que podem ser observadas duas ventosas.

sp. Duas espécies dentro deste


gênero são responsáveis por causar a Teníase, a T. solium e a T. saginata. Embora pertencentes ao
mesmo gênero e similares quanto à estrutura geral do corpo, existem diferenças evidentes que permi-
tem sua identificação correta, as quais vamos caracterizar nesta unidade.

164
UNIDADE 6

Os vermes do gênero Taenia, são classificados no filo Platyhelminthes, Classe Cestoda,


Família Taeniidae. São considerados cosmopolitas (podem ser encontrados no mundo todo) e
possuem como habitat o intestino delgado do ser humano (hospedeiro definitivo) (SIQUEIRA-
-BATISTA et al., 2020).
As tênias apresentam quatro estágios morfológicos distintos, o verme adulto, os ovos, o em-
brião hexacanto e o cisticerco. Morfologicamente, os adultos apresentam o corpo muito longo,
variando entre 1,5 a 4 metros para T. solium e de 4 a 12 metros para T. saginata (REY, 2009). O
corpo do verme tem o formato que lembra uma fita, achatado dorsoventralmente, com os órgãos
sensoriais e de fixação na extremidade anterior do corpo, que recebe o nome de escólex ou cabeça
(Imagem 2), sendo esta muito menor que o resto do corpo que se apresenta segmentado. Por essa
razão, não apresentam tubo digestório. Cada segmento do corpo é denominado de proglote.

A ESTRUTURA DA TÊNIA DOS SUÍNOS


Rostro com
ganchos quitinosos

Ventosa

Segmento
Escólex
Cabeça

Pescoço

Proglotes As proglotes imaturas


maduras

Imagem 2 – Taenia solium.

Descrição da Imagem: Na imagem pode ser observado o desenho esquemático da Taenia solium, a tênia que tem como hospedeiros
intermediários os suínos. No desenho, do lado direito superior, pode ser identificada a extremidade anterior do verme, formada pelo
escólex ou cabeça, onde se observa as ventosas e uma coroa de ganchos. Em seguida, continuando o corpo, observa-se o pescoço,
seguido pela segmentação do corpo, onde, no desenho, é representado por uma fita formando ondulações, em que cada segmento
recebe o nome de proglote.

165
UNICESUMAR

O escólex é caracterizado como uma pequena dilatação, sendo que na T. solium (Imagem 3) ele
mede entre 0,6 e 1 mm, enquanto na T. saginata ele mede entre 1 e 2 mm. Encontra-se na extre-
midade anterior do verme e tem como função fixar o parasito na parede do intestino. Para ambas
as espécies, o escólex apresenta quatro ventosas de tecido muscular, arredondadas e proeminentes.
A T. solium apresenta na porção central e anterior do escólex, um rostelo ou rostro, “entre as
ventosas, armado com dupla fileira de acúleos ou ganchos, 25 a 50, em formato de foice” (NEVES,
2016, p. 262). A T. saginata, não apresenta rostelo.

a) b)

Imagem 3 – Escólex de: a) Taenia solium e de b) Taenia saginata. / Fonte: b) Wikipedia (2022a)

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas duas micrografias. Na micrografia da esquerda, marcada com a letra a),
encontra-se o escólex da T. solium, o qual contém quatro ventosas e um rostelo com gancho na parte superior. Na micrografia do lado
direito, pode ser observado um escólex da T. saginata, onde pode ser observado quatro ventosas e sem rostelo.

A partir do pescoço (ou colo) começa a seg-


mentação do corpo, dando origem às proglo-
tes. A todo restante do corpo, a partir do pes-
REALIDADE
coço, dá-se o nome de estróbilo (NEVES,
AUMENTADA
Caro(a) aluno(a), 2016). Como as tênias são hermafroditas,
você gostaria
de ver como são cada proglote contém um aparelho reprodu-
os vermes do
gênero Taenia? tor masculino e um feminino (SIQUEIRA-
Então, acesse o
QRCode e veja! -BATISTA et al., 2020). As proglotes que são
Observe a forma
do corpo achatado formadas perto do pescoço ainda não tem
dorsoventralmente
e segmentado, o aparelho reprodutor formado, sendo pe-
além das ventosas
no escólex. quenas e denominadas proglotes imaturas.
À medida que se distanciam da extremida-
de anterior, aumentam muito de tamanho
(Imagem 4), e quando o aparelho reprodutor
encontra-se desenvolvido, as proglotes pas-
sam a se chamar maduras.

166
UNIDADE 6

Imagem 4 – Taenia sp.


destacando a extremida-
de anterior com o escólex
(seta) muito menor que as
proglotes finais.
Fonte: Wikipedia (2022b)

Descrição da Ima-
gem: Na imagem
pode ser observado
uma fotografia de
um verme adulto, do
gênero Taenia, dobra-
do em zig-zag, com a
extremidade anterior
voltada para o lado
direito. Observa-se
que, à medida que se
distanciam da extre-
midade anterior, as
proglotes aumentam
de tamanho.

No momento em que as proglotes maduras passam a conter ovos fertilizados, são denominadas de
grávidas. Outra forma de diferenciação entre T. solium e T. saginata, muito utilizado para identifica-
ção da espécie, é a estrutura da proglote (Imagem 5). Enquanto em T. solium as ramificações uterinas
(onde se encontram os ovos) são irregulares e pouco numerosas variando de 7 a 16, em T. saginata,
elas são do tipo dicotômicas e em quantidade maior, variando de 15 a 30 (REY, 2008).

Imagem 5 – Proglotes grávidas de a) T. saginata e b) T. solium. / Fonte: adaptado de Rey (2008, p. 517 - 519).

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observados desenhos esquemáticos e micrografias de proglotes de tênias. Na porção
representada pela letra “a”, do lado esquerdo da imagem, observa-se uma proglote de T. saginata em uma micrografia e um desenho
esquemático semelhante, de formato retangular, contendo em seu interior um ovário representado por uma linha central vertical,
que se ramifica para os lados em grande quantidade, de forma dicotômica. Na porção representada pela letra “b”, do lado direito da
imagem, observa-se uma proglote de T. solium em uma micrografia e um desenho esquemático semelhante, de formato retangular,
contendo em seu interior um ovário representado por uma linha central vertical, que se ramifica para os lados, apresentando menor
quantidade de ramificações que os vistos em “a”.

167
UNICESUMAR

Os ovos da Taenia são esféricos ou levemente ovalados, com uma casca externa, e o embrió-
foro, uma estrutura formada por quitina, que forma uma camada espessa ao redor do ovo
(Imagem 6), com aproximadamente 30 micrômetros de diâmetros, e contendo o embrião
hexacanto em seu interior.

Imagem 6 – Ovos de Taenia sp.

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observados cinco ovos de Taenia, com formato levemente oval, com uma camada lateral
espessa, o embrióforo, e contendo o embrião hexacanto em seu interior.

O embrião hexacanto (do grego hex, seis, e akantha, espinho), também denominado de
oncosfera (do grego onkos, gancho), consiste na forma larval do parasito que eclode do ovo
quando este chega ao intestino do hospedeiro intermediário, ou, no caso da cisticercose (ver a
seguir), no intestino do ser humano. Este embrião consiste em uma pequena esfera, contendo
três pares de ganchos (REY, 2008).

168
UNIDADE 6

Por fim, temos a forma de cisticerco. Esta forma consiste no cisto formado pelo embrião hexacanto
após penetrar na parede intestinal e migrar para os tecidos do corpo do hospedeiro. O cisticerco é
constituído por uma vesícula, contendo um líquido claro, apresentando em seu interior um escólex
invaginado, e pode atingir até 12 mm de comprimento (Imagem 7).

Imagem 7 – Cisticerco de Taenia solium. Fonte: A, B e C – Rey (2008, p. 531)

Descrição da Imagem: Na imagem podem ser observados três desenhos esquemáticos de cisticercos de T. solium, marcados pelas
letras A, B e C, além de uma fotografia em D. Na letra “A”, está representada uma vesícula translúcida, de formato oval, possibilitando
a observação do receptáculo, também de formato oval, do escólex interno; na letra “B”, está representado um cisticerco oval, em corte
longitudinal, onde se observa uma estrutura interna alongada contendo pregas, retorcidas na extremidade, contendo ventosas e a coroa
de ganchos, sendo que são nomeadas as estruturas: a) córtex invaginado, b) as vilosidades internas, c) pregas do tegumento do escólex
e pescoço, d) líquido hialino que preenche a vesícula, e) parede do cisticerco. Na letra “C” (com “a” representando o receptáculo onde
estava o escólex, “b” o escólex e “c” o pescoço ou colo), está representado o cisticerco desinvaginado, onde se observa uma estrutura
alongada saindo da vesícula e terminando em uma estrutura arredondada, o escólex; na imagem marcada com a letra “D”, é observado
um coração animal contendo vários cisticercos, identificados como pequenas vesículas translúcidas.

Os parasitos adultos do gênero Taenia tem como habitat o intestino delgado do ser humano,
seu hospedeiro definitivo. O cisticerco, forma larval encistada, de T. solium, pode ser encontrad,
com mais frequência em tecido muscular cardíaco, tecido muscular esquelético, tecido cerebral
e no olho de suínos, e, acidentalmente, nos mesmos tecidos em seres humanos. O cisticerco de T.
saginata é encontrado nos tecidos de bovinos (NEVES, 2016).
O ciclo biológico (Imagem 8) das tênias é heteróxeno e tem início com a liberação das proglotes
grávidas junto com as fezes do hospedeiro definitivo. No ambiente externo, as proglotes se rom-
pem e liberam milhares de ovos no solo, onde podem ficar viáveis por meses. Esses ovos podem
ser ingeridos pelo hospedeiro intermediário (suínos para T. solium e bovinos para T. saginata)
junto com alimentos ou água contaminada.

169
UNICESUMAR

Ovos embrionados Cisticercos podem se


ingeridos pelo desenvolver em qualquer
órgão, mais comumente
hospedeiro humano em tecidos subcutâneos,
cérebro e olhos
Oncosfera eclode, penetra
na parede intestinal, e
circula até a musculatura

Cisticercose

Oncosfera eclode, penetra na parede


intestinal, e circula até a musculatura

Oncosfera se desenvolve
para cisticercose

Ovos embrionados e/ou proglotes


grávidos ingeridos por hospedeiros Humanos adquirem
intermediários normais (suínos) infecção intestinal
por tênia através do
consumo de carnes
Teniase contendo cisticercos

Escólex

Ovos ou proglotes grávidos nas fezes


são liberados para o ambiente

Estágio infeccioso
Adultos no intestino delgado
Estágio de diagnóstico

Imagem 8 – Ciclo biológico da Taenia solium. / Fonte: CDC (2022)

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o ciclo de vida da Taenia solium e sua derivação para a cisticercose. Cada fase
é numerada: 1) no lado esquerdo embaixo, com as figuras de um ovo de tênia e de uma proglote, tem-se a legenda: “Ovos ou proglotes
grávidos são liberados no meio ambiente pelas fezes”; 2) acima, ligada por uma seta, apresenta-se a imagem de suíno com a legenda:
“Ovos fertilizados ou proglotes são ingeridos pelo hospedeiro intermediário (porco)”; 3) continuando em forma de um círculo, ligado
por uma seta, está a imagem de uma estrutura circular com seis ganchos superiores, a oncosfera, com a legenda: “Oncosferas eclo-
dem, penetram na parede intestinal e migram para a musculatura”; 4) ligada por uma seta, está a imagem de uma estrutura circular
contendo um escólex invaginado no centro, o cisticerco, no meio de fibras musculares, com a legenda: “Oncosferas se desenvolvem
em cisticercos”; 5) ligado por uma seta, está a imagem de um ser humano com os órgãos do trato gastrointestinal representados, com
a legenda: “Humanos são infectados pela ingestão de cisticercos presentes na carne suína mal cozida”; 6) ligado por uma seta, está a
imagem uma tênia ao intestino delgado de um ser humano, com a legenda: “Adultos no intestino delgado”; 7) ligado ao número 1 por
seta, está a imagem de uma silhueta de um ser humano com órgão do sistema nervoso, respiratório e digestório, com a legenda: “Ovos
fecundados ingeridos pelo hospedeiro humano”; as fases 8 e 9 estão dentro de um quadro na parte superior com o título “cisticercose”
com figuras de cisticerco entre fibras musculares, com as legendas: “Oncosferas eclodem, penetram na parede intestinal e migram
para a musculatura” e “Cisticercos pode se desenvolver em qualquer órgão, principalmente tecidos subcutâneos, cérebro e olhos”.

170
UNIDADE 6

No estômago do hospedeiro intermediário a casca do ovo sofre ação das enzimas gástricas e, ao
chegar no intestino, se rompe liberando a oncosfera. O embrião liberado, utilizando os seis ganchos,
rompe a parede do intestino, penetra nos tecidos e atinge o sistema circulatório, sendo levado a
todos os tecidos do corpo. A oncosfera pode realizar a implantação em qualquer tecido mole do
corpo, mas tem maior preferência pelos tecidos com maior oxigenação, como músculos, cérebro
e olhos. Após implantado no tecido, a oncosfera se diferencia formando um cisticerco, que irá
crescer, podendo alcançar o diâmetro de 12 milímetros de comprimento, e permanece viável de
meses a anos (REY, 2008; NEVES, 2016).
A infecção do ser humano (o hospedeiro definitivo) ocorre quando há a ingestão de carne crua
ou malcozida que contenha cisticercos. Após a ingestão, a passagem pelo estômago ativa o cisti-
cerco que evagina o colo e o escólex, fixando-se por meio deste no intestino delgado. Em alguns
meses o verme já é adulto, podendo alcançar vários metros de comprimento. A partir do terceiro
mês, após a ingestão dos ovos, inicia-se a liberação das proglotes com as fezes ou ativamente, pois
estas apresentam contração muscular e conseguem se locomover (Veja o eu indico a seguir). As
tênias têm uma longevidade grande no hospedeiro humano, sendo que T. solium pode viver por
até três anos, enquanto T. saginata pode chegar permanecer por dez anos no intestino (REY, 2008;
NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

Para ver a movimentação realizada pelas proglotes grávidas da tênia,


acesse o QR Code.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

A maioria dos indivíduos parasitados por tênias são assintomáticos, mas a patologia associada à
teníase está relacionada à quantidade de parasitos e ao seu tamanho no interior do intestino. Em-
bora a denominação popular desse parasito como solitária passe a ideia de que o verme sempre
esteja sozinho no interior do intestino, é comum que haja mais de uma tênia infectando o paciente.
Esse aspecto, somando-se ao fato que esses vermes podem apresentar grande tamanho corporal e
viver por muitos anos, possibilita a ocorrência lesões na mucosa intestinal pela fixação, alergias em
decorrência de substâncias secretadas e excretadas, além da competição direta pelos nutrientes que
o indivíduo consome. Assim, a infecção por tênia pode resultar em consequências adversas para
o hospedeiro, que se manifestam com sintomas como astenia, tontura, apetite excessivo, náuseas,
vômitos, dores abdominais de intensidade variada e perda de peso (NEVES, 2016).

171
UNICESUMAR

Como a maioria dos pacientes é assintomático, o diagnóstico é


preferencialmente laboratorial. O diagnóstico da doença depende
diretamente da observação dos ovos através do recolhimento
das proglotes ou concentração daqueles que já estão libera-
dos nas fezes. Porém, só pela observação dos ovos não é
possível diferenciar entre as espécies do gênero Taenia
(REY, 2009; ZEIBIG, 2014). Quando há a necessida-
de de um diagnóstico que indique a espécie, deve-se
realizar a tamisação (lavagem por meio de peneiras
finas) de todo bolo fecal, com a finalidade de se iso-
lar as proglotes grávidas e identificá-las baseado na
morfologia das ramificações uterinas (NEVES, 2016).
Além do exame parasitológico de fezes convencional, a
pesquisa por antígenos dos ovos ou do parasito nas fezes,
através do uso de anticorpos específicos pelo teste de ensaio
de adsorção imunoenzimático (ELISA), e a detecção de DNA do
parasito por meio de PCR, vem sendo utilizado.
O tratamento para a teníase é realizado à base de fármacos que imobilizam e matam o verme, pro-
movendo sua expulsão com as fezes. Os fármacos mais utilizados são a niclosamida e o praziquantel.

Caro(a) aluno, como você pode notar, na infecção causada pelos parasitos do gênero Taenia, o
ser humano não tem contato direto com os ovos infectantes, contendo a oncosfera. Então, o que
aconteceria caso o ser humano ingerisse esses ovos?

Agora que você já conhece as características gerais das tênias e como elas causam infecção, podemos
estudar a cisticercose. Como apresentado anteriormente, o ser humano constitui o hospedeiro definitivo
no ciclo de vida da Taenia sp., participando do ciclo ao ingerir os cisticercos. No entanto, em um ambiente
onde há pessoas infectadas, geralmente com uma situação sanitária precária, o contato com os ovos do
parasito pode ocorrer, possibilitando sua ingestão, e ocasionando a fase acidental de hospedeiro inter-
mediário no ser humano (Imagem 8). Ou seja, as mesmas etapas do ciclo de vida da tênia que ocorrem
nos suínos serão desencadeadas no organismo humano (FERREIRA, 2021). Assim, a cisticercose consiste
na ingestão dos ovos da Taenia solium, resultando na liberação da oncosfera no intestino, penetração
da parede intestinal por esta, migração para os tecidos por meio do sistema circulatório e formação de
cisticercos. Perceba que a cisticercose é atribuída a ingestão de ovos viáveis apenas de T. solium, pois, até
o presente momento, não há evidências de que a T. saginata possa causar a doença.
A transmissão dos ovos de Taenia solium para o ser humano, ocasionado cisticercose, pode ocorrer
de três formas distintas (NEVES, 2016, p. 265):

172
UNIDADE 6

• Autoinfecção externa: ocorre quando as proglotes ou ovos do parasita que infec-


ta o indivíduo, após liberados, são levados a boca deste mesmo indivíduo pela mão
contaminadas.
• Autoinfecção interna: ocorre quando o indivíduo infectado, durante o vômito, ou
por apresentar retroperistaltismo, possibilita a chegada de proglotes grávidas ou ovos
ao estômago, ativando a oncosfera e causando uma autoinfecção.
• Heteroinfecção: ocorre quando os ovos de T. solium, liberados para o ambiente por
outro indivíduo, são ingeridos junto com água e alimentos contaminados.

Assim como nos suínos, a oncosfera pode se implantar em qualquer tecido mole dos seres humanos.
Há, entretanto, um tropismo pelo sistema nervoso central, seguido por músculos e os olhos. Esse tro-
pismo, bem como a quantidade de cisticercos formados e a resposta imune do hospedeiro, determinam
o grau da doença e suas complicações.
Uma característica importante dos cisticercos, e que pode ser dividida em estágios, é a tendência
de calcificação da estrutura após a morte da larva do parasito. Segundo Neves (2016, p. 264), todo o
tempo de vida do cisticerco pode ser dividido em quatro estágios:

• Estágio vesicular: apresenta uma membrana vesicular transparente, líquido vesicular


incolor e hialino e escólex normal.
• Estágio coloidal: o líquido vesicular encontra-se turvo, com características de um gel
esbranquiçado, e o escólex já está em degeneração.
• Estágio granular: a membrana externa é espessa, e o gel vesicular já apresenta de-
posição de cálcio. O escólex apresenta-se como uma estrutura de aspecto granular
mineralizada.
• Estágio granular calcificado: totalmente calcificado, de coloração amarelo esbran-
quiçado, e com o tamanho muito reduzido.

Na cultura popular, o cisticerco é bem conhecido, porém, com outros nomes: “canjiquinha”, “pipoqui-
nha”, “ladraria”, “sapinho” ou “bolha”. Devido ao aspecto que toma quando em sua forma calcificada,
pequeno e esbranquiçado, um pouco amarelado, o cisticerco (quando observado em carnes para o
consumo) foi popularmente comparado aos grãos de milho utilizados para o preparo da canjica. O
termo “bolha” está, provavelmente, associado ao cisticerco ainda viável, quando a membrana vesi-
cular ainda se encontra translúcida. Pela aparência que gera no alimento, é comumente associado
a carne imprópria para o consumo. Entretanto, quando em pouca quantidade não são fáceis de
localizar no meio do tecido muscular (FERREIRA, 2021).

173
UNICESUMAR

Quatro tipos de cisticercoses são mais comumente


observados: cisticercose muscular e subcutâ-
nea; cisticercose cardíaca; cisticercose ocular
e cisticercose do sistema nervoso central ou
neurocisticercose.
A cisticercose muscular ou a subcutânea, em ge-
ral, não desenvolvem sintomas. No entanto, quan-
do em grande quantidade nos músculos esqueléti-
cos (Imagem 9), o indivíduo pode apresentar dor,
fadiga e cãibras (REY, 2009). A cisticercose cardíaca
apresenta complicações conforme o número de
cisticercos. Em geral, o que se observa é o apareci-
mento de palpitações, ruídos anormais ou dispneia.
Os dois principais locais onde os cisticercos
podem ser encontrados são os olhos e anexos,
representando 46,0% dos casos analisados, e
sistema nervoso, representando 40,9% dos ca-
sos (REY, 2009).
A cisticercose ocular (oftalmocisticercose) se
manifesta quando a larva se implanta na retina,
deslocando-a ou perfurando-a, chegando até o hu-
mor vítreo. As consequências dessa implantação
podem levar a perda parcial ou total da visão, e
Imagem 9 – Cisticercos (setas) nos músculos da perna,
em alguns casos mais graves até mesmo a perda próximo a articulação do joelho
Fonte: adaptado de Lin, Chen e Tzeng (2014).
do olho (REY, 2008; NEVES, 2016).
A mais grave cisticercose é, provavelmente, a Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada
neurocisticercose (imagem 10). A forma como uma radiografia de uma perna humana, na região da ar-
ticulação do joelho. Podem ser vistos os ossos em uma
essa doença se manifesta é variada, pois depende coloração branca e opaca. Os músculos também podem
ser observados, mas aparecem translúcidos, demarcando
de diversos fatores, como o número de larvas, o apenas o seu contorno. No meio dos músculos, podem ser
notadas dezenas de estruturas brancas ovaladas e opacas,
grau de desenvolvimento do cisticerco, a respos- sendo estas os cisticercos calcificados.
ta inflamatória do hospedeiro e principalmente
o local de implantação no cérebro. Por esta razão
a doença é caracterizada como pleomórfica (sem de cisticercos no parênquima cerebral, podem de-
forma definida), com multiplicidade de sinais e senvolver síndrome de hipertensão intracraniana,
sintomas neurológicos. crises graves de epilepsia e apresentar déficit cogni-
Na neurocisticercose em paciente com poucos tivo (NEVES, 2016). Os cisticercos podem, ainda,
cisticercos, quando estes estão implantados no pa- se implantar na região das cavidades cerebrais (os
rênquima cerebral, são geralmente assintomáticas, ventrículos), ocasionando hipertensão intracra-
podendo ocorrer crises epilépticas em alguns in- niana, hidrocefalia e inflamação das meninges
divíduos. Nas infecções com grande quantidade (meningite) podendo levar ao óbito.

174
UNIDADE 6

Imagem 10 – Cérebro humano seccionado contendo dezenas de cisticercos (setas). / Fonte: ANATPAT (2022)

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o corte longitudinal de um cérebro humano, expondo sua região interna e
central, em que estão dezenas de cisticercos, caracterizado por vesículas de forma arredondada, algumas translúcidas e outras opacas,
inseridos no tecido neural.

Diferente da teníase, onde o exame laboratorial é a base do diagnóstico, para a cisticercose há uma junção
de fatores clínicos, laboratoriais e epidemiológicos. Uma vez que a doença ocorre com maior frequência
em locais com saneamento básico precário, e a presença de suínos pode influenciar diretamente a presença
do parasito, as informações epidemiológicas são importantes para a conclusão do diagnóstico.
No que diz respeito ao diagnóstico laboratorial, são realizados exames para identificar patologias
anatômicas e observação do próprio cisticerco por biópsia, necrópsias e cirurgias (NEVES,2016).
Para a oftalmocisticercose, pode ser realizado o diagnóstico com o exame de fundo de olho, ob-
servando diretamente o parasito (Imagem 11). Para a neurocisticercose, o diagnóstico laboratorial
é baseado no exame do líquido cefalorraquidiano (líquor), em neuroimagens e na detecção de
anticorpos. O processo degenerativo do cisticerco apresenta como consequência a ativação de uma
resposta inflamatória, desencadeando um aumento do número de leucócitos no líquor (pleocitose),
com muitos eosinófilos (eosinofilorraquia). No exame do líquor, a reação positiva para a fixação do
complemento também é utilizada para o diagnóstico. No exame de neuroimagem, são utilizadas a
tomografia computadorizada e a ressonância magnética. Para a detecção dos anticorpos são reali-
zados testes de ensaio imunoenzimático (ELISA).
O tratamento da cisticercose consiste no combate às larvas encistadas com fármacos, sendo o pra-
ziquantel e albendazol os de escolha, que causam a morte do parasito. Além disso, é feito um controle
da inflamação por meio de corticóides. Pode ser realizado ainda, o controle de sintomas como por
exemplo, da epilepsia, por meio de fármacos.

175
UNICESUMAR

Dentre os trematódeos, as espécies com interes-


se para a parasitologia se concentram na subclasse
Digenea, que tem como característica englobar os
parasitos com duas ventosas, sendo uma mais an-
terior, denominada de ventosa oral (Imagem 12),
quase na extremidade do verme, e a outra ventral e,
ainda, na região anterior, denominada de acetábulo
(ou ventosa ventral) (FERREIRA, 2021).

Imagem 11 – Exame de fundo de olho, observando o cisticer-


co inserido na retina, com o escólex evaginado
Fonte: HOSP (2018)

Descrição da Imagem: Na imagem pode ser observado


uma fotografia do fundo do olho de um paciente, obser-
vado pela lente de um aparelho médico, onde pode-se
ver a retina e os vasos sanguíneos do paciente, a ligação
com o nervo óptico, e uma estrutura circular, de cor cinza
avermelhada, constituindo um cisticerco.

O segundo grupo de platelmintos de importân-


cia para a parasitologia é aquele representado
por integrantes da Classe Trematoda. Os tre-
matódeos (grego trematodis = corpo com aber-
turas ou ventosas) tem como característica a
presença de duas ventosas na
região anterior do cor- Imagem 12 – Porção anterior do Schistosoma mansoni, obser-
vando as ventosas oral e ventral. / Fonte: Rey (2009, p. 167).
po. Esses parasitos,
diferente das tê- Descrição da Imagem: Na imagem, pode observada a região
anterior do verme macho da espécie Schistosoma mansoni,
nias, não são em que se nota a ventosa oral, a ventosa ventral, o início
do canal ginecóforo e a ventosa oral da fêmea, inserida no
segmenta- canal ginecóforo.
dos, e apre-
sentam um
tubo diges- A maioria das espécies de trematódeos possui
tório, porém os dois sexos no mesmo indivíduo, ou seja, são
sem ânus, hermafroditos, sendo que o Schistosoma man-
sendo, portan- soni, nosso foco de estudo a partir deste ponto,
to, incompleto é a exceção, apresentando indivíduos com sexos
(NEVES, 2016). separados (dioicos).

176
UNIDADE 6

Outra característica em que o S. mansoni é uma exceção dentro dos trematódeos é a morfologia
corporal dos vermes adultos. Enquanto a maioria das espécies dessa classe apresenta o corpo fortemente
achatado dorsoventralmente, com aspecto de uma folha, como a Fasciola hepatica (veja a Imagem 01
desta unidade), o esquistossomo apresenta o corpo mais volumoso e dimorfismo sexual (Imagem
13), com diferenças acentuadas entre macho e fêmea.
O corpo do macho, medindo aproximadamente 1,0 centímetro de comprimento, é longo, volumoso,
dobrado ventralmente com o aspecto de “C”, e dividido em duas partes: a anterior, onde se encontram
as ventosas e tem forma cilíndrica; e a posterior, que se inicia após o acetábulo, é achatada dorsoven-
tralmente, e apresenta em sua porção ventral, um canal destinado a cópula, denominado de canal
ginecóforo, formado pelo dobramento das extremidades laterais. O macho apresenta naturalmente
uma coloração branca (REY, 2009; NEVES, 2016, FERREIRA, 2021).
O corpo da fêmea, diferente do macho, é cilíndrico, mais fino e mais longo. Seu comprimento varia
entre 1,2 e 1,6 centímetros. A fêmea tem como característica se alimentar com hemácias do hospedeiro
e, devido à espessura de seu corpo, permite a visualização dos pigmentos da digestão da hemoglobina,
dando-lhe a coloração acinzentada e escura (REY, 2009).

Schistosoma mansoni Schistosoma mansoni


Fêmea Macho

a) b) 40µm c) Macho e fêmea em cópula 0.5mm

Imagem 13 – Schistosoma mansoni: a) fêmea, b) macho, c) fêmea no interior do canal ginecóforo do macho, realizando a cópula.
Fonte: adaptado de Ghaffar (2017).

Descrição da Imagem: Na imagem, são observadas três micrografias dos vermes da espécie Schistosoma mansoni. Na micrografia
representada pela letra “a”, pode ser observada a fêmea do parasito, cilíndrica, delgada e mais comprida. Na micrografia repre-
sentada pela letra “b”, pode ser visto o macho do parasito, que dobra ventralmente em forma de “C” e é mais robusto, observando
as duas ventosas na região anterior. Na micrografia representada pela letra “c”, podem ser observados o macho e a fêmea do
parasito, no processo de cópula, com a fêmea no interior do canal ginecóforo.

Três espécies do gênero Schistosoma, são responsáveis por causar doenças em seres humanos. S. mansoni,
S. japonicum e S. hematobium, porém com distribuição e prevalência diferenciada ao redor das áreas
tropicais do mundo. Na América os relatos de esquistossomose estão relacionados diretamente com S.
mansoni. A doença causada pelo S. mansoni é denominada de esquistossomose mansônica, conhecida
popularmente como xistose, barriga d’água ou, ainda, como mal do caramujo. Estima-se que mais de
250 milhões de pessoas no mundo estejam infectadas com parasitos do gênero Schistosoma (GHAFFAR,
2017). Para conhecer mais sobre a epidemiologia do Schistosoma mansoni, veja o Eu Indico a seguir.

177
UNICESUMAR

Título: Vigilância da Esquistossomose Mansoni: Diretrizes técnicas


Autor: Brasil, Ministério da Saúde
Sinopse: O livro discute e apresenta as características da Esquistosso-
mose e diretrizes para a vigilância epidemiológica da doença.
Comentário: A obra pode ser acessada online pelo link:

O S. mansoni, no decorrer de todo o seu ciclo biológico, apresenta seis estágios morfológicos distintos:
adulto macho, adulto fêmea, ovo, larva miracídio, larva cercária e esquistossômulo.
Além das características já descritas para os adultos, vale destacar que o macho apresenta 7 a 9 massas
testiculares que se abrem, por meio de canais deferentes, no canal ginecóforo, onde os espermatozóides
serão liberados para fecundar a fêmea. Já a fêmea, apresenta uma vulva que se abre após o acetábulo,
seguida internamente pelo útero e ovário.
O ovo deste parasito (Imagem 14) apresenta características que permitem sua fácil detecção. Apre-
sentam, aproximadamente, 150 micrômetros de comprimento por 60 micrômetros de largura, com
formato oval, e apresentando um espículo lateral voltado para trás (NEVES, 2016).

Imagem 14 – Ovo do Schistosoma mansoni, observando o espículo lateral voltado para trás

Descrição da Imagem: Na imagem pode ser observada uma micrografia do ovo do parasito Schistosoma mansoni, de cor amarelada
e translúcida, de formato oval, disposto na imagem com seu maior diâmetro na horizontal, sendo observado também um espículo,
como um espinho, localizado na região lateral esquerda inferior, a ponta voltada para trás e para baixo.

178
UNIDADE 6

O miracídio (Imagem 15) corresponde à larva que eclode do ovo após este ser liberado no ambiente
e atingir um corpo de água. Apresenta uma forma cilíndrica, com as células epidérmicas com cílios,
possibilitando sua movimentação na água. Apresenta o formato semelhante a uma folha e mede, apro-
ximadamente, 180 micrômetros de comprimento por 64 micrômetros de largura. O miracídio tem
como principal objetivo nadar até encontrar o caramujo hospedeiro. Quando atinge este objetivo, ele
deve penetrar no caramujo, se multiplicar e diferenciar em larvas do tipo Cercária. Para que realize a
penetração no caramujo, o Miracídio apresenta em sua extremidade anterior, estruturas especializadas
como terebratorium, glândulas adesivas e glândulas de penetração.

Papila apical
ou terebratório

Glândula de
penetração

Glândulas
adesivas

Células
germinativas

a) b)

Imagem 15 – Schistosoma mansoni: a) desenho esquemático da larva miracídio; b) micrografia da larva miracídio.
Fonte: Ferreira (2021, p. 223); USP (2022a).

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas uma figura ilustrativa de um miracídio, marcada com a letra “a”, e
uma micrografia de um miracídio, marcada com a letra “b”. Apresenta uma estrutura elíptica alongada, com as estruturas internas
representadas, destacando-se na legenda, da região superior para a inferior, “Papila apical ou terebratório”, “Glândula de penetra-
ção”, “Glândulas adesivas” e “Células germinativas”. Pode ser observado, ainda, a lateral recoberta por estruturas finas e curtas,
os cílios. Na micrografia, pode ser observada uma larva miracídio, com formato similar ao da figura, sem distinção das estruturas
internas, mas observando os cílios laterais.

A cercária (Imagem 16) corresponde à larva liberada do caramujo para dentro do corpo d’água. Seu
objetivo é nadar até encontrar o hospedeiro definitivo (o ser humano), se fixar e penetrar ativamente
pela pele. Assim, sua estrutura corporal reflete esse objetivo. O corpo da larva lembra uma flecha, e
está dividido em duas partes: a anterior, chamada de corpo cercariano, tem comprimento de 190
micrômetros por 70 micrômetros de largura, e possui duas ventosas (uma oral e uma ventral), além
de apresentar glândulas de penetração que se abrem na ventosa oral; a parte posterior, constitui uma
cauda com a extremidade bifurcada, com comprimento de 230 micrômetros por 50 micrômetros
de largura. A cauda permite que a cercária nade, enquanto o corpo cercariano tem a função de fixar a
larva no hospedeiro e penetrar a pele.

179
UNICESUMAR

Imagem 16 - Schistosoma mansoni: a) desenho esquemático da larva cercária; b) micrografia da larva cercária.
Fonte: adaptado de Rey (2008, p. 442); USP (2022b)

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um desenho esquemático marcado com a letra “a” e uma micrografia
marcada com a letra “b”, ambos pertencentes à larva do tipo cercária do parasito Schistosoma mansoni. Em ambas as imagens,
pode ser observado, do lado esquerdo, uma cauda longa e fina, que termina em um bifurcação, ligada ao corpo cercariano do
lado direito, com forma ovóide, contendo duas ventosas.

Por fim, o último estágio morfológico do S. mansoni é o esquistossômulo. Esta forma corresponde ao
corpo cercariano da cercária, que ao penetrar na pele do hospedeiro, abandona a cauda. O esquistos-
sômulo tem, portanto, as ventosas oral e ventral em um corpo oval alongado.
O ciclo de vida do Schistosoma mansoni (Imagem 17) é heteróxeno, com o hospedeiro intermediário
sendo os caramujos do gênero Biomphalaria (Imagem 18) e o hospedeiro definitivo, o ser humano. O
ciclo tem início com a liberação dos ovos do parasito para o ambiente com as fezes, já com o miracídio
formado em seu interior. No ambiente os ovos podem sobreviver por até cinco dias, em fezes sólidas,
sem encontrar um corpo d’água. Caso consigam atingir a água, os ovos eclodem e liberam o miracídio,
que nadam à procura do hospedeiro intermediário. Os miracídios conseguem perceber a presença do
caramujo por meio do reconhecimento de substâncias liberadas na água (denominadas de miraxone),
sendo guiados até eles, onde penetram em seu tegumento por meio do tenebratorium e da liberação
do conteúdo das glândulas de adesão e de penetração. Durante o processo de penetração, o miracídio
perde a maior parte de suas estruturas internas, restando apenas as paredes cuticulares em uma es-
trutura em forma de saco que abriga as células germinativas (de 50 a 100 células) que darão origem a
milhares de cercárias, e que passa a ser denominada de esporocisto (NEVES, 2016).

180
UNIDADE 6

Adultos
acasalando

Ovos liberados
nos vasos
mesentéricos
Ciclo
pulmonar

Alguns ovos
retornam ao fígado

Penetração
na pele

Caramujo
(Biomphalaria)

Cercárias liberadas Miracídio ciliado


na água liberado na água

Formação de numerosas cercárias


por poliembrionia

Imagem 17 – Ciclo de vida do Schistosoma mansoni. / Fonte: Ferreira (2021, p. 221).

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o ciclo de vida do Schistosoma mansoni. A figura está separada em duas
partes interligadas: na superior, com fundo branco, observa-se a figura de um ser humano e do seu lado os órgãos: fígado, estô-
mago e duodeno; na inferior, com fundo azul, representando a água, observa-se a figura de um caramujo com o nome do gênero
Biomphalaria. O ciclo se desenvolve em sequência, com setas ligando cada imagem, começando na metade superior: 1- dois vermes
adultos de S. mansoni acasalando com a legenda “Adultos acasalando”; 2- A imagem do ovo do parasito seguido por duas setas:
na primeira aponta para os órgãos do ser humano, com a legenda “alguns ovos retornam ao fígado”, e a segunda continua o ciclo
para a metade do caramujo com a legenda “ovos liberados nos vasos mesentéricos”; 3- a imagem da larva miracídio na metade
inferior da figura, com a legenda “Miracídios ciliados liberados na água”; 4- imagem de um envoltório com larvas cercárias dentro,
representando o esporocisto no interior do caramujo, com a legenda “Formação de numerosas cercárias por poliembrionia”; 5-
imagem da larva cercária, com a legenda “Cercárias liberadas na água”; 6- cercária em contato com uma superfície que lembra
a pele humana, na linha divisória entre as metades da figura, com a legenda “Penetração na pele”; 7- o desenho dos pulmões,
brônquios e traqueia, com a legenda “Ciclo pulmonar” e termina com uma seta ligando ao número 1.

181
UNICESUMAR

No interior do esporocisto, que se ramifica e se divide, as células ger-


minativas sofrem um processo de intensa multiplicação, seguida
de diferenciação, resultando, ao final de 27 a 30 dias, contados
a partir da penetração do miracídio, em aproximadamen-
te 300 mil cercárias que serão liberadas no corpo d’água
onde o caramujo se encontra. A partir desta liberação as
cercárias nadam à procura do hospedeiro definitivo, o ser
humano, podendo sobreviver por até 48 horas. Quando a
cercária encontra um ser humano, se adere fortemente por
meio das duas ventosas do corpo cercariano. Em seguida
assumem a posição vertical, fixas apenas pela ventosa oral e,
por meio de secreções glandulares de ação lítica, juntamente
com movimentos vibratórios, penetram na pele do hospedeiro
com o corpo cercariano, deixando a cauda no exterior, em um pro-
cesso com duração máxima de 15 minutos, assumindo a forma denomi-
nada de esquistossômulo. As cercárias podem, ainda, ser ingeridas junto com a água, levando a duas
possibilidades: chegar ao estômago e ser destruída pelo suco gástrico; ou penetrar pela mucosa oral
e desenvolver a infecção normalmente (REY, 2009; NEVES, 2016; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

Com este vídeo você poderá acompanhar diretamente o ciclo biológico


do Schistosoma mansoni, observando as larvas no ambiente natural e
os vermes no hospedeiro.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Após a penetração, o esquistossômulo migra pelo tecido subcutâneo até alcançar um vaso san-
guíneo, penetrando-o e sendo levado passivamente até o pulmão, sendo direcionado em seguida
para o sistema porta-hepático no fígado. Decorridos aproximadamente 28 dias, o esquistossômulo
se torna adulto, ocorre a cópula com a fêmea no interior do canal ginecóforo, e ambos os vermes,
juntos, migram contra o fluxo sanguíneo para as veias mesentéricas, com preferência para a veia
mesentérica inferior, na altura do reto. Neste local, as fêmeas põem, aproximadamente, 400 ovos
por dia, na parede das vênulas e capilares que, com a pressão dos ovos, pressão do parasito (pelo
seu tamanho para os vasos do local) e reação inflamatória do hospedeiro, rompem o vaso e são
liberados nas fezes, e, em seguida, o meio externo. Entretanto, apenas cerca de 50% dos ovos postos
chegam à luz intestinal. Do restante, parte morre na parede intestinal e parte é levada pela corrente
sanguínea de volta para o fígado, podendo ainda passar por este e atingir outros órgãos.

182
UNIDADE 6

A resposta imune do hospe-


deiro é de extrema importân-
cia para a esquistossomose,
porém, não para impedir a
doença, mas por participar do
processo patológico. Embora
pacientes de área endêmicas
apresentem maior resistência
a reinfecções, demonstrando
que há a formação de uma
resposta imune adaptativa
contra o S. mansoni, essa
resposta tende a ser direcio- Imagem 18 – Biomphalaria glabrata. / Fonte: adaptado de Alchetron (2022)
nada apenas para as formas
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma fotografia de um cara-
jovens (esquistossômulos), e mujo do gênero Biomphalaria. Com coloração laranja-avermelhada, apresenta uma
concha de aspecto cilíndrico, formada por uma espiral central, com uma abertura
tende a ser limitada, uma vez inferior do lado direito, por onde sai a extremidade anterior do molusco, sendo ob-
que parte dos vermes da rein- servado a projeção de ambos os olhos em pedúnculos longos.

fecção chegam à idade adulta


(NEVES, 2016). Essa resposta imune está diretamente ligada à ação de linfócitos T helper 2 e IgE.
Embora ocorram alterações morfológicas e fisiológicas na entrada e movimentação do parasito pelo
organismo humano, essas são de pouca relevância. “A esquistossomose mansoni é basicamente uma
doença decorrente da resposta inflamatória granulomatosa que ocorre em torno dos ovos vivos
do parasito” (NEVES, 2016, p. 233). Os antígenos que dão origem à resposta inflamatória que resulta
na formação de um granuloma são secretados pela membrana interna do ovo contendo o miracídio
e ativam a resposta imune humoral e celular.

Um Granuloma consiste em um “nódulo de tecido inflamatório composto de agregados de macrófa-


gos e linfócitos T, normalmente com fibrose associada. A inflamação granulomatosa é uma forma
de hipersensibilidade do tipo retardada crônica, frequentemente em resposta a microrganismos
persistentes” (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019, p. 501).
Já a inflamação granulomatosa é uma forma de inflamação crônica caracterizada por coleções de ma-
crófagos ativados, muitas vezes com linfócitos T, e às vezes associadas à necrose central. Os macrófagos
ativados desenvolvem um citoplasma abundante e passam a se assemelhar a células epiteliais, sendo
chamados células epitelióides. Alguns macrófagos ativados podem se fundir, formando células gigantes
multinucleadas. A formação de granulomas é uma tentativa celular de conter um agente agressor difícil de
erradicar. Nesta tentativa, frequentemente há uma forte ativação de linfócitos T que desencadeia ativação
dos macrófagos, o que pode causar lesões nos tecidos normais” (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2021, p. 85).

183
UNICESUMAR

A patologia da doença é dependente de vários fatores, tanto do hospedeiro quanto do verme, porém
os dois principais são a carga parasitária e a resposta imune do hospedeiro. Além desse ponto, a fase
da doença e a forma do parasita podem resultar em alterações específicas no organismo humano.
Uma manifestação clínica importante, muitas vezes utilizada para um diagnóstico presuntivo,
diz respeito a patologia desencadeada pela penetração da cercária pela pele, sendo denominada de
dermatite cercariana ou dermatite do nadador. É caracterizada pela presença de eritema, edema,
dor e pequenas pápulas, nos locais onde ocorreu a penetração. A movimentação do esquistossômulo
até o pulmão pode gerar manifestações clínicas, como febre, aumento do baço, linfadenia e sintomas
pulmonares (NEVES, 2016). Já os vermes adultos causam pouco prejuízo quando estão vivos, restrin-
gindo a espoliar os nutrientes do sangue e as próprias hemácias (em busca por ferro); porém quando
morrem, podem causar lesão extensa, porém, restrita ao local onde os corpos estão, que geralmente
no fígado, arrastados pela circulação porta-hepática.
Resta ainda caracterizar a patogenia desenvolvida pelos ovos. Esses são, sem comparação, os princi-
pais responsáveis pela patogenia da esquistossomose. O primeiro ponto de lesões ocorre na passagem
dos ovos para o intestino, quando o número de ovos liberados é grande, pode acarretar hemorragias e
ulcerações. Ainda assim, essas lesões são autorreparadas. Porém, a inflamação granulomatosa desen-
volvida ao redor dos ovos, que são transportados pela corrente sanguínea até o fígado e outros órgãos,
é o principal problema desencadeado pela doença. As lesões provocadas pelo granuloma (Imagem 19)
geram diferentes quadros clínicos, dependendo da quantidade, do momento que se instalam e do local.
Assim, a esquistossomose pode ser dividida em aguda e crônica.

Imagem 19 – Granuloma formado pelo ovo de S. mansoni, que se encontra calcificado (pontos pretos do centro da imagem), e
reação inflamatória do hospedeiro.

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma micrografia do tecido hepático de hospedeiro de S. mansoni. São obser-
vadas centenas de hepatócitos, corados em rosa, como as células maiores. No centro da imagem, entre os hepatócitos, podem ser
observados nove orifícios, alguns dos quais contém uma massa escura no formato dos ovos de S. mansoni, sendo envolvidas por células
menores de coloração rosa arroxeada, caracterizadas como macrófagos, formando um granuloma.

184
UNIDADE 6

Segundo Neves (2016) as fases da doença apresentam as seguintes características:

1. Esquistossomose Aguda
• Fase pré-postural – fase anterior ao início da postura dos ovos, 10 a 35 dias após a
entrada da cercária, a maioria dos pacientes é assintomática. Para alguns, pode ocorrer
mal-estar, febre, tosse, dores musculares, desconforto abdominal e hepatite aguda.
• Fase aguda – aparece por volta de 50 dias e podem durar até 120 dias, caracterizada
pela necrose no intestino e dispersão dos ovos, dando origem aos granulomas, prin-
cipalmente no fígado, resultando em: enterocolite aguda, febre, sudorese, calafrios,
emagrecimento, fenômenos alérgicos, diarreia, disenteria, tenesmo, cólicas, hepatoes-
plenomegalia, linfadenia e leve alteração nas funções hepáticas.
2. Esquistossomose Crônica (as características clínicas são concomitantes e podem
ser isoladas).
• Alterações intestinais – como o parasito pode sobreviver por muitos anos (em média
5, podendo chegar até 30), muitos sintomas podem continuar se manifestando, de
forma intercalada com períodos de ausência, ou mesmo aparecer depois de meses ou
anos. Os mais comuns são diarreia mucossanguinolenta, dor abdominal e tenesmo.
Pode ocorrer fibrose no cólon sigmoide e reto, resultando em constipação.
• Alterações hepáticas – tem início com a formação dos granulomas e progridem
conforme o número de granulomas que se formam (um casal de S. mansoni pode
formar até 200 granulomas por dia). Inicialmente, o fígado aumenta de tamanho e se
torna doloroso ao toque, seguindo para uma diminuição e fibrosamento, formando
inúmeros lobos. Essas alterações ocasionam a obstrução dos vasos intra-hepáticos da
veia porta e formação de trombos, resultando na hipertensão portal (manifestação
típica e mais grave da doença), ocasionando: esplenomegalia, pela obstrução da
veia esplênica no sistema porta; varizes, circulação colateral para tentar compensar
a obstrução da circulação portal, em vários locais, sendo um deles o esôfago (varizes
esofágicas) onde podem se romper e ocasionar hemorragias, muitas vezes fatais; as-
cite (extravasamento de líquido para a cavidade peritoneal – origem do termo Barriga
D’água), em decorrência das alterações hemodinâmicas.

O diagnóstico da esquistossomose é uma composição clínica e laboratorial. Na porção clínica, a


anamnese é fundamental, principalmente o conhecimento do contato com corpos d’água, além da
observação de sintomas típicos, como a dermatite cercariana.
O diagnóstico laboratorial da doença pode utilizar diversas técnicas amplamente aplicadas. O
exame parasitológico de fezes é o mais utilizado devido à presença dos ovos e fácil caracterização
morfológica. No entanto, em cargas parasitárias baixas, pode ser necessário a coleta de várias amos-
tras, pois o número de ovos pode ser pequeno. Tal fator pode ser compensado utilizando métodos de
concentração das amostras. Outra técnica utilizada é a biópsia ou raspagem da mucosa retal, com a
finalidade de observar os ovos.

185
UNICESUMAR

Além dos exames diretos de fezes, são utilizados métodos indiretos imunológicos e moleculares
buscando antígenos e DNA do parasito, ou anticorpos do hospedeiro. Os métodos mais utilizados são:
intradermorreação, ensaio de adsorção imunoenzimático (ELISA), fixação do complemento e PCR.

Neste podcast, você vai conhecer as principais metodologias recomen-


dadas para o diagnóstico da esquistossomose mansônica. Vou discutir
e diferenciar para você os métodos diretos e indiretos de diagnóstico,
apresentando prós e contras de sua utilização. Acesse o QRCode e
aperte o play!

O tratamento para a esquistossomose mansônica é realizado por meio de quimioterápicos. Os dois


principais fármacos empregados são a oxamniquina e o praziquantel. Entretanto, o tratamento deve
ser bem avaliado devido ao risco de reações colaterais.
Nesta unidade você aprendeu as características dos representantes do filo Platyhelminthes, conhe-
cendo os principais representantes das duas classes de interesse para a parasitologia: os cestódeos e os
trematódeos. Aprendeu, ainda, sobre a biologia e as parasitoses causadas pelas tênias e esquistossomos.
Agora que você aprofundou seus conhecimentos nos platelmintos, pode entender e completar o
desafio que foi proposto, além de responder os questionamentos levantados. Resgate o exercício pro-
posto no início da unidade e tente resolvê-lo com os conhecimentos que agora possui.
Como você aprendeu no decorrer desta unidade, os platelmintos da classe Cestoda, em especial
as tênias, infectam o hospedeiro definitivo através de larvas encistadas no interior das fibras muscu-
lares, denominadas cisticercos, que são consumidas e se desenvolvem em adultos no intestino desses
hospedeiros. O cozimento correto da carne contendo cisticercos é capaz de matá-los ou torná-los
inviáveis, impossibilitando o estabelecimento de uma infecção, demonstrando a grande importância
desse procedimento para a prevenção da teníase.
Por outro lado, os parasitos da classe Trematoda têm parte do seu ciclo biológico livre no ambien-
te, na forma de larvas, sendo que a formação da larva infectante, a cercária, depende diretamente da
presença dos caramujos do gênero Biomphalaria. Assim, o controle desse gênero de caramujo é uma
das principais formas de prevenção da doença. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde e o Sistema
de Informação do Programa de Controle da Esquistossomose (SISPCE), 1,5 milhão de pessoas encon-
tram-se em áreas de risco para a doença, sendo os estados do Nordeste e Sudeste os que apresentam
maior risco. Entre 2009 e 2019, foram registrados, em todo o Brasil, 423.117 casos da doença, com
ocorrência relacionada a locais com a presença do caramujo.
São fatores que aumentam o risco de contrair a doença, presentes em áreas endêmicas: a precariedade
em saneamento básico, a presença e abundância do caramujo do gênero Biomphalaria, a proximidade
e uso de corpos d`água, que contenham o caramujo, para banho, recreação e pesca. O controle destes
fatores corresponde a formas utilizadas para profilaxia da doença.

186
Caro(a) aluno(a), com base nos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, estou certo de
que é capaz de preencher o mapa mental a seguir.

Habitat

Segmentado

Cestoda Ciclo heteroxeno

PLATHELMYNTHES
Hermafroditos

Hospedeiro
Corpo intermediário

Principal representante

Hermafroditos ou dióicos

Biologia Forma de infecção

187
1. Leia o texto a seguir:

Taenia solium e Taenia saginata são parasitos que, na fase adulta, têm o homem por único hos-
pedeiro. Na fase larvária, T. solium parasita obrigatoriamente o porco e T. saginata os bovídeos,
sendo, portanto, parasitos estenoxenos em todas as fases de seu ciclo biológico.

Fonte: REY, L. Parasitologia, 4ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2008, p. 516.

A tênias são parasitos responsáveis por doenças humanas, especificamente a teníase e a


cisticercose. Com base neste assunto, explique, por meio de um texto dissertativo de 3 a 5
linhas, como ocorre a cisticercose.

2. Leia o texto a seguir:

As esquistossomoses são moléstias parasitárias causadas por helmintos pertencentes ao filo


Platyhelminthes, classe Trematoda, subclasse Digenea e família Schistosomatidae, adquiridos
por meio de contato com água doce contaminada.

Fonte: SIQUEIRA-BATISTA, R. et al. Parasitologia - Fundamentos e Prática Clínica. 1ª ed. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020.

A infecção pelo Schistosoma mansoni tem uma relação direta com corpos de água doce. Com
base neste assunto, explique, por meio de um texto dissertativo de 3 a 5 linhas, qual a relação
entre a infecção pelo S. mansoni e o contato com corpos de água doce.

3. Leia o texto a seguir:

A infecção por Schistosoma costuma ser assintomática ou oligossintomática na maioria dos


pacientes. Todavia, é responsável por importante morbimortalidade, alterando o desenvolvi-
mento dos enfermos jovens, bem como, algumas vezes, reduzindo a capacidade de trabalho
dos adultos, representando, por conseguinte, um grave problema de saúde pública”.

Fonte: SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo et al. Parasitologia - Fundamentos e Prática Clínica. 1ª


ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020.

A infecção pelo Schistosoma mansoni pode acarretar graves problemas de saúde para o ser
humano. Entretanto, a patogenia para essas complicações gira em torno do mesmo fator. Com
base neste assunto, explique, por meio de um texto dissertativo de 3 a 5 linhas, como o S. man-
soni provoca doença que acarreta diversos problemas de saúde associados à esquistossomose.

188
7
Artrópodes e a
sua Relação com a
Parasitologia
Dr. Vinícius Pires Rincão

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, você conhecerá os artrópodes e


seus representantes. Você aprenderá suas principais características
e entenderá sua importância para a parasitologia, tanto como vetor
e hospedeiro de parasitos, como sendo o próprio parasito.
UNICESUMAR

O parasitismo pode ser entendido como uma


relação íntima e duradoura entre indivíduos de
espécies diferentes, na qual há uma dependência
metabólica, em que o parasito se beneficia do
hospedeiro, causando prejuízo. A maioria das
parasitoses se estabelece quando o parasito in-
vade o corpo do hospedeiro, porém, isso não é
uma regra. Caro(a) aluno(a), você já parou para
pensar nas diferentes formas como o parasitis-
mo pode se instalar em nosso organismo? Você
consegue pensar em uma parasitose que se es-
tabeleça na superfície de um hospedeiro? Qual
a relação destas parasitoses com os artrópodes?

Dentre todos os grupos de animais que podem ser


encontrados sobre o planeta terra, os artrópodes são os
que apresentam o maior número de espécies e indivíduos.
Dentre estes, os insetos correspondem ao maior grupo,
sendo encontrados no meio terrestre e aquático, intera-
gindo com praticamente todos os grupos de seres vivos de
alguma forma. Durante sua vida, um ser humano entrará
em contato com algum inseto, ao menos, três vezes por
dia, sendo provável o estabelecimento de algum tipo de
interação, como o parasitismo, pelo menos uma vez na
vida. Entender esses organismos e sua relação com os seres
humanos é essencial para a compressão dos diferentes
papéis que desempenham na parasitologia.
Neste contexto, para que você entenda um pouco mais sobre a
importâncias dos artrópodes para os seres humanos e para a para-
sitologia, proponho a você um desafio: pesquise quais os tipos de
insetos hematófagos em sua região, principalmente mosquitos, e se
estes podem apresentar relação com parasitoses.
Os artrópodes, em especial os in-
setos, estão adaptados a vários tipos
de climas. No entanto, por serem pe-
cilotérmicos, ou seja, sua temperatura
corporal ser dependente da tempera-
tura do ambiente, seu metabolismo
e atividade são afetados diretamente
pelo local onde se encontram. Assim,

190
UNIDADE 7

a maior diversidade de espécies para este grupo de


organismos é encontrada em ambientes mais quen-
tes. O Brasil, nesse aspecto, é um verdadeiro paraíso
para os insetos e, portanto, encontramos em nosso
país insetos com as mais variadas adaptações, inclu-
sive aqueles que podem estabelecer um parasitismo.
Mas como os artrópodes podem interagir com os
seres humanos a ponto de causar parasitismo? Essa
interação é específica para os seres humanos ou o
mesmo inseto pode parasitar diferentes espécies? A
importância dos insetos para a parasitologia está re-
lacionada apenas ao parasitismo que podem causar
ou eles podem influenciar em parasitoses de proto-
zoários e helmintos?
Caro(a) aluno(a), agora é sua vez. Pense na pes-
quisa que você fez, e nas questões que levantei no
parágrafo anterior, e escreva seus resultados no seu
diário de bordo, a fim de que eu e você possamos
analisá-las juntos no decorrer desta unidade.

191
UNICESUMAR

Os artrópodes são um grupo de animais que apresenta, como


principal característica, apêndices (ou pés) articulados,
como o próprio nome sugere (grego arthro = articulado;
poda = pés) (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
O filo Arthropoda é o maior grupo dentre os
que constituem o Reino Animal, possuindo mais de
80% das espécies conhecidas de metazoários (FER-
REIRA, 2021). Estima-se que existam mais de 10
milhões de espécies representantes deste filo, com
mais de 1,5 milhões de espécies já descritas, sendo
que, entre estes, os insetos são os mais numerosos,
com mais de 800.000 espécies conhecidas.
Este grupo de animais apresenta a maioria das espécies
de vida livre, com habitats que variam desde os oceanos até
regiões desérticas. Entretanto, pelo grande número de espécies,
era de se esperar que existissem aquelas de interesse médico. Estas espécies podem se apresentar ou
como vetores para agentes etiológicos de doenças, tais como vírus, bactérias, protozoários, e até mesmo
helmintos, sendo um exemplo deste último a transmissão da Wuchereria bancrofti (agente causador
da filariose) pelo Culex quinquefasciatus (Imagem 1a); ou como o próprio parasito do ser humano,
como no caso das pulgas (Imagem 1b), pertencentes à Ordem Siphonaptera.

Imagem 1 - a) Culex quinquefasciatus (pernilongo comum); b) Ordem Siphonaptera (pulga)

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas duas fotografias de insetos. Na imagem da esquerda, marcada com a
letra “a”, temos o pernilongo comum, da espécie Culex quinquefasciatus, em que observamos um inseto de cor amarela, com o corpo
alongado, pernas finas e longas e asas dobradas sobre o abdômen, e a extremidade anterior alongada como uma agulha. Na imagem
da direita, marcada com a letra “b”, temos uma pulga, da Ordem Siphonaptera, em que observamos um inseto, de coloração amarelo
alaranjado, achatado lateralmente, sem asas, com o par de pernas posterior robusto e destinado ao salto.

Embora a maioria dos artrópodes de interesse para a parasitologia pertença à classe Insecta, os carra-
patos e ácaros também têm representantes capazes de iniciar uma parasitose. É necessário conhecer
os representantes deste grupo para entender a extensão de sua importância.

192
UNIDADE 7

Caro(a) aluno(a), com certeza você já ouviu falar dos artrópodes alguma vez na sua vida. Você con-
segue indicar todos os tipos de animais que pertencem a este grupo?

Os artrópodes são classificados no Reino Animal, sendo que o filo Arthropoda possui dois subfilos:
Arachnomorpha e Mandibulata (Imagem 2). No subfilo Arachnomorpha, temos a classe Arachnida
(aranhas, escorpiões e carrapatos) e a classe Xiphosura (caranguejos pata-de-cavalo). No subfilo Madi-
bulata, temos a superclasse Crustacea (camarões, lagostas e caranguejos), a superclasse Panhexapoda
na qual está presente a classe Insecta (moscas, pulgas, besouros etc.), e a superclasse Myriapoda, em
que se encontram as classes Chilopoda (centopeias) e Diplopoda (piolho-de-cobra).

Imagem 2 - Principais representantes dos artrópodes: a) um aracnídeo; b) um crustáceo; c) um inseto; d) um miriápode.

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas quatro fotografias de representantes dos quatro principais tipos de artró-
podes. Na porção superior esquerda, marcado com a letra “a”, pode ser observada uma aranha, representante dos aracnídeos, de cor
marrom, contendo quatro pares de patas evidentes, um cefalotórax e o abdômen proeminente. Na porção superior direita, marcado
com a letra “b”, pode ser observado um caranguejo, representante dos crustáceos, de cor laranja, contendo quatro pares de patas, mais
duas pinças grandes na porção anterior, com o corpo formado por um único segmento. Na porção inferior esquerda, marcado com a
letra “c”, pode ser observada uma mosca, representante dos insetos, de cor verde, com três pares de patas, asas, e olhos bem evidentes,
contendo o corpo dividido em cabeça, tórax e abdômen. Na porção inferior direita, marcado com a letra “d”, pode ser observado um
piolho-de-cobra, representante dos miriápodes, de cor preta, possui o corpo alongado como um cordão, dividido em vários segmentos,
sendo que em cada segmento estão presentes dois pares de patas.

193
UNICESUMAR

Para que você possa entender melhor como os artrópodes interagem com o ser humano, será preciso
conhecer suas características. Estes animais são metazoários, ou seja, são multicelulares, com a neces-
sidade de ingerir seu alimento (heterotróficos) e são móveis; seu corpo apresenta simetria bilateral
e um exoesqueleto (esqueleto na parte externa do corpo) formado por quitina, carbonato de cálcio e
proteínas, dividido em segmentos articulados entre si (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
Como regra, o corpo de um artrópode pode ser dividido em cabeça, tórax e abdômen (Imagem
3), porém, para alguns grupos dentro do filo, como a classe Arachnida, cujo os representantes mais
conhecido são as aranhas, a cabeça e o tórax se fundem em uma peça única denominada cefalotórax
(SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

Mandíbulas
Olho composto

Antena Ocelo

Garras
CABEÇA

TÓRAX
Pernas

Gaster

ABDÔMEN Ferrão
Esporão tibial

Imagem 3 - Divisão do corpo de um artrópode da classe Insecta.

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um desenho ilustrativo de uma formiga, exemplificando a divisão do corpo de um
artrópode em cabeça, tórax e abdômen. Cada uma das três regiões aparece sobre um retângulo de cores diferentes: a cabeça sobre um
verde claro, marcado com a legenda cabeça, onde são indicados por linhas e legendas, uma antena, uma mandíbula, um olho composto e um
ocelo; o tórax sobre um verde escuro, marcado com a legenda tórax, onde são indicados por linhas e legendas, as patas, um esporão tibial e
as garras; o abdômen sobre um amarelo, marcado com a legenda abdômen, onde são indicados por linhas e legendas, o gáster e o ferrão.

194
UNIDADE 7

A porção interna do corpo dos artrópodes é formada por uma cavidade denominada hemocele.
Nesta cavidade, encontram-se todos os órgãos dos animais e os espaços restantes são preenchidos
por um líquido denominado de hemolinfa (NEVES, 2016).
Dentre os grupos que compõem o filo Arthropoda, os de maior interesse para a parasitologia
são: Classe Insecta e Classe Arachnida. Caro(a) aluno(a), você consegue diferenciar um inseto de
um aracnídeo? Para muitas pessoas, não há diferença, mas eu garanto, e você vai compreender até o
final desta unidade, que as diferenças são muitas e fáceis de entender. Vamos começar com os insetos.
Os insetos podem ser caracterizados como animais que apresentam, além das características já descritas
para os artrópodes, três pares de patas, dois pares de asas, um par de antenas, um par de olhos compostos
(Imagem 4). O aparelho bucal é variado de espécie para espécie, sendo adaptado ao tipo de alimentação.

Imagem 4 - Representação da anatomia externa dos insetos. / Fonte: Ferreira (2021, p. 263).

Descrição da Imagem: Na imagem, são observados três desenhos esquemáticos de um inseto. Na porção superior, marcado com letra “A”, é
observado um desenho esquemático do corpo de um inseto sem os apêndices, mas mostrando seus locais de inserção, destacando o corpo
dividido em cabeça, tórax e abdômen, dois pares de asas, três pares de patas, um par de antenas, olhos e as peças bucais: labro, mandíbula
maxila e lábio. Na porção inferior esquerda, marcado com a letra “B”, é observado o desenho esquemático da cabeça de um inseto observada
de frente, destacando os olhos grande na porção superior e lateral, a sutura ptilineal, a lúnula, um par de antenas, os palpos maxilares, o
lábio e as labelas na porção mais inferior. Na porção inferior direita, marcado com a letra “C”, é observado um desenho esquemático da asa
de um inseto, com a base voltada para a esquerda, a partir da qual se destacam as estruturas: tégula, basicosta, calíptero e álula.

195
UNICESUMAR

A Classe Insecta engloba aproximadamente três quartos de todas as espécies já descritas até o presente
momento. Estas espécies são classificadas em 30 ordens, cada uma englobando animais com habitats e
adaptações diversas e fantásticas (FRANSOZO; NEGREIROS-FRANSOZO, 2018). Dentre estas ordens,
aquelas que têm interesse para a parasitologia, segundo Neves (2016), são (Imagem 5):

a. Ordem Diptera – popularmente conhecidos como moscas e mosquitos, apresen-


tam como característica diferencial a ausência do segundo par de asas, tendo em seu
lugar uma estrutura denominada halter. Esta ordem tem importância parasitológica
tanto como vetores de parasitos, por exemplo, na transmissão do Plasmodium pelo
mosquito do gênero Anopheles, quanto como o próprio parasito, como nas miíases.
b. Ordem Siphonaptera – popularmente conhecidos como pulgas, os representantes
desta ordem apresentam como característica diferencial a ausência de asas, ter
o corpo achatado lateralmente e possuir pernas traseiras adaptadas para o salto.
c. Ordem Hemiptera – conhecidos popularmente como percevejos verdadeiros, os
representantes desta ordem apresentam como característica diferencial o primeiro
par de asas formado por hemiélitros (asas cuja metade basal e mais rígida), que se
sobrepõem na parte superior do abdômen, e possuir o aparelho bucal perfurador
e sugador começando anterior aos olhos e se estendendo para trás ventralmente.
d. Subordem Anoplura – conhecidos popularmente como piolhos, os representan-
tes desta ordem apresentam como característica diferencial a ausência de asas,
serem achatados dorsoventralmente, olhos reduzidos ou ausentes, e pernas curtas
adaptadas para agarrar pelos e cabelos.

196
UNIDADE 7

Imagem 5- Representantes das Ordens: a) Diptera; b) Siphonaptera; c) Hemiptera; d) Anoplura.

Descrição da Imagem: Na imagem, são observadas quatro fotografias. Na porção superior esquerda, marcado com a letra “a”, é observada
a fotografia de uma mosca. Na porção superior direita, marcado com a letra “b”, é observada a fotografia de uma pulga. Na porção inferior
esquerda, marcado com a letra “c”, é observada a fotografia de um percevejo verdadeiro. Na porção inferior direita, marcado com a letra
“d”, é observada a fotografia de um piolho.

O desenvolvimento dos insetos tem um papel


importante no estabelecimento de parasitoses
causadas por algumas espécies. A maioria das
espécies de moscas, por exemplo, apresentam
em seu ciclo biológico um estágio larval, sendo
denominadas de holometábolas. Estas lar-
vas, em algumas espécies, podem se alimentar
de tecido necrosado, outras se alimentam de
sangue; em ambos os casos, as larvas, ou seja,
os indivíduos jovens, estabelecem o parasitismo.

197
UNICESUMAR

• Ametabolia – tipo de desenvolvimento onde as formas jovens são semelhantes aos adultos,
ou seja, não apresentam modificações desde a saída do ovo. Ex.: Thysanura – traças.
• Parametabolia ou metamorfose gradual – tipo de desenvolvimento onde as formas jovens
são parecidas, mas não iguais aos adultos, passando por um desenvolvimento gradual. Engloba
as fases de ovo, ninfa e adulto. Neste tipo, as ninfas ocupam o mesmo habitat que os adultos.
Ex.: Hemiptera – triatomíneos.
• Hemimetabolia – tipo de desenvolvimento onde as formas jovens são parecidas, mas não
iguais aos adultos, passando por um desenvolvimento gradual. Engloba as fases de ovo, ninfa
e adulto. Neste tipo, as ninfas ocupam um habitat diferente dos adultos. E.: Odonata – libélulas.
• Holometabolia ou metamorfose completa – tipo de desenvolvimento onde as formas jovens
são completamente diferentes dos adultos. Engloba as fases de ovo, larva, pupa e adulto. Ex.:
Diptera – moscas.
Fonte: Neves (2016, p. 379).

Muitos insetos de importância


para a parasitologia têm como
papel principal servir como
hospedeiro intermediário para
parasitos. Neste papel, eles
também realizam a função de
vetores, ou seja, transportam o
parasito de um indivíduo infec-
tado para outro, disseminando
o agente etiológico.
Um dos vetores insetos mais
estudados da parasitologia é o
popularmente conhecido “Bar-
beiro” (Imagem 6). Esses insetos
pertencem à Ordem Hemiptera,
à subfamília Triatominae. Es- Imagem 6- Triatoma melanica. / Fonte: Argolo et al. (2008, p. 32).
Legenda: cl – clípeo; an – antena; ta – tubérculo antenífero; ol – olho; cr – cório; cm
tes insetos são responsáveis pela – célula da membrana; me – membrana; oc – ocelo; la – lobo anterior do pronoto;
lp – lobo posterior do pronoto; es – escutelo; cn - conexivo.
transmissão de parasitos do gêne-
ro Trypanossoma para diversas Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma fotografia de um exemplar
do inseto Triatoma melanica. O inseto é observado por sua porção dorsal, com a cabeça
espécies. Para os seres humanos, voltada para cima. Tem o corpo com formato alongado, tornando-se mais espesso da cabeça
ao abdômen. Na cabeça, estão marcadas as estruturas: cl – clípeo; na – antena; ta – tubér-
a maior importância é para o pa- culo antenífero; ol – olho e oc – ocelo. No tórax estão marcadas as estruturas: cr – cório;
la – lobo anterior do pronoto; lp – lobo posterior do pronoto; es – escutelo. No abdômen,
rasito Trypanossoma cruzi, cau- estão marcadas as estruturas: cm – célula da membrana; me – membrana; cn – conexivo.
sador da Doença de Chagas.

198
UNIDADE 7

Os triatomíneos apresentam como principais características morfológicas a cabeça alongada e


fusiforme, pescoço aparente entre a cabeça e tórax, probóscida reta, dividida em três segmentos, com
a porção distal, voltada para trás, repousando sobre a porção ventral do tórax (NEVES, 2016).
O barbeiro, como um membro da Ordem Hemiptera, apresenta desenvolvimento do tipo meta-
morfose gradual, com cinco estágios de ninfa (Imagem 7). No desenvolvimento dos insetos, como o
esqueleto é externo, para que o animal cresça, é preciso trocar o exoesqueleto por um maior, em um
processo denominado de muda ou ecdise. Assim, até que o adulto atinja seu estágio adulto, ele preci-
sará trocar seu exoesqueleto cinco vezes (NEVES, 2016).

Imagem 7- Desenvolvimento dos triatomíneos. / Fonte: Argolo et al. (2008, p. 35).

Descrição da Imagem: Na imagem pode ser observado um desenho esquemático do ciclo de vida de um triatomíneo, representado em
forma de círculo que se desenvolve em sentido horário, com cada fase ligada a outra por meio de uma seta. Na porção superior, é observado
um triatomíneo adulto. Continuando o ciclo, em sentido horário tem-se, em sequência, um ovo, uma ninfa de primeiro estágio, uma ninfa de
segundo estágio, uma ninfa de terceiro estágio, uma ninfa de quarto estágio, uma ninfa de quinto estágio e novamente volta ao triatomíneo
adulto na porção superior.

199
UNICESUMAR

Tanto as ninfas quanto os adultos dos triatomíneos são hematófagos, se alimentando dos mesmos in-
divíduos que os adultos por ocuparem o mesmo habitat. Os triatomíneos são insetos primitivamente
silvestres, mas com alta capacidade de colonizar ambientes artificiais, dependendo da espécie. Existem
aproximadamente 148 espécies de triatomíneos, sendo que sua importância epidemiológica depende
da capacidade de colonizar os domicílios humanos. De todas estas espécies, menos da metade têm essa
capacidade (NEVES, 2016). Uma das espécies mais adaptadas à colonização de ambientes artificiais é
a Triatoma infestans, sendo também uma das mais encontradas nos domicílios brasileiros.
Caro(a) aluno(a), você já deve ter notado que a identificação e controle dos triatomíneos é essencial
para o controle da doença de chagas, uma vez que são hospedeiros intermediários dos parasitos e seus
vetores de transmissão. Mas como isso pode ser feito?
A constatação da presença do inseto nas residências pode ser realizada por meio da busca por
dejetos dos insetos, caracterizados por manchas escorridas nas paredes, geralmente próximas às
camas, ou pela procura direta dos insetos e suas exúvias (exoesqueleto que foi trocado). Esses in-
setos têm como principal esconderijo as frestas nas paredes das residências e, assim, outra forma
de identificação dos insetos é a utilização de agentes desalojantes, como a pirisa, que faz os insetos
saírem das frestas (NEVES, 2016).

O controle desses insetos depende de muitos fatores, sendo o principal a melhoria das
habitações, que geralmente está relacionada a condições sociais mais baixas e da popula-
ção rural, eliminando os locais onde o barbeiro poderia viver, assim como a educação em
saúde da população em risco. A utilização de inseticidas é ainda a opção mais rápida para
o controle intradomiciliar, porém, já há relatos do desenvolvimento de resistência por parte
dos insetos para alguns compostos utilizados.

Outro grupo de insetos com importan-


te papel como vetor de parasitoses é a
Ordem Diptera. Muitas das espécies
que compõem essa ordem são hema-
tófagas, embora essa característica
esteja, geralmente, associada a fê-
meas que necessitam dos nutrien-
tes sanguíneos para a formação e
desenvolvimento dos ovos. Os ma-
chos não possuem aparelhos bucais
desenvolvidos para penetrar a pele e
atingir a corrente sanguínea.
A Ordem Diptera pode ser dividida em
três subordens, segundo Rey (2009, p. 322):

200
UNIDADE 7

• Nematocera – cujos membros possuem


antenas longas, constituídas por seis ou
mais peças articulares; palpos maxilares
com até cinco segmentos; larvas eucé-
falas (região cefálica desenvolvida e es-
clerosada) e pupas livres.
• Brachycera – cujos membros possuem
antenas curtas, constituídas por três ou
quatros peças articulares; palpos maxi-
lares com dois segmentos; sem lúnula
na cabeça (veja a Imagem 4); as pupas
são livres.
• Cyclorrapha – cujos membros pos-
suem sutura ptilineal e lúnula na cabeça;
antenas com três segmentos, larvas acé-
falas (não se identifica a região cefálica);
Imagem 8 - Gênero Lutzomyia. / Fonte: WIKIMEDIA (2009)
pupas no interior de pupários.
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma
A maioria dos dípteros, vetores de doen- fotografia ampliada de um mosquito do gênero Lutzomyia, de
coloração amarela, contendo inúmeras cerdas por todo o cor-
ças, é membro das famílias pertencentes po, inclusive asas, pousado sobre a pele de um ser humano,
realizando o repasto sanguíneo, em que se observa o abdome
à subordem Nematocera. Dois exemplos transparente, túrgido, preenchido com sangue.
importantes de dípteros responsáveis pela
transmissão de parasitoses são o gênero Lu-
tzomyia, responsável pela transmissão da Os membros do gênero Lutzomyia são responsá-
leishmaniose, e o gênero Culex, responsável veis pela transmissão do protozoário responsável
pela transmissão da filariose, ambos perten- pela leishmaniose das Américas, a Leishmania
centes à subordem Nematocera. spp. Nas Américas, o principal vetor da leishma-
O gênero Lutzomyia pertence à família niose é a espécie Lutzomyia longipalpis. Esta espé-
Psychodidae e subfamília Phlebotominae. cie se adaptou rápido às condições domésticas, se
Os flebotomíneos do gênero Lutzomyia alimentando do ser humano e animais domésti-
são pequenos, de coloração amarela e com cos, facilitando sua sobrevivência e disseminação
cerdas pelo corpo. São conhecidos popular- do parasito (NEVES, 2016).
mente como mosquitos-palha (Imagem 8). O controle do vetor, segundo o Ministério da
Não há muitas informações sobre o os locais Saúde, deve ser dirigido para impedir a propa-
onde membros desta família se desenvolvem gação da doença. Assim, é recomendado o uso
na natureza, mas sobre sua biologia, como de mosquiteiros, a telagem de portas e janelas,
um díptero, seu desenvolvimento é holome- a limitação de atividades nos horários de maior
tábolo, passando por quatro estágios larvais atividade do mosquito (crepúsculo e noite), além
antes de formar a pupa e eclodir como um do uso de controle químico (borrifação de inse-
adulto (NEVES, 2016). ticidas) (NEVES, 2016).

201
UNICESUMAR

O gênero Culex, hospedeiros intermediários do parasito Wuchereria bancrofti e responsável pela trans-
missão da doença (filariose), pertence à família Culicidae, a mesma em que estão inseridos os gêneros
Anopheles e Aedes, também de grande importância para a disseminação de doenças. É a família de maior
interesse médico, pois os principais insetos hematófagos transmissores de doenças são classificados nela.
Os insetos membros do gênero Culex fazem parte da subordem Nematocera, e apresentam carac-
terísticas morfológicas distintas (Imagem 9). Dentre este gênero, uma das espécies mais importantes
é Culex quinquefasciatus, que tem como característica ser pequeno, cor de palha, tendo o dorso do
tórax com escamas amarelas, com coloração pardo escuro, e com duas linhas escuras e longas, marcadas
de formas longitudinal (REY, 2009). Apresenta, ainda, faixas amarelas no abdômen.

A) B)

Imagem 9- a) Culex sp. pousado sobre uma superfície lisa; b) jangadas de ovos de um mosquito do gênero Culex.
Fonte: WIKIMEDIA (2022a, 2022b)

Descrição da Imagem: Na imagem da esquerda, marcada com a letra “a”, pode ser observada uma fotografia ampliada de um mosquito do
gênero Culex, pousado sobre uma superfície lisa. Na imagem da direita, marcada com a letra “b”, podem ser observadas duas jangadas de
ovos sobre a superfície da água, e alguns ovos soltos ao seu redor.

O C. quinquefasciatus é doméstico e antropófilo (se alimenta preferencialmente do ser humano).


Esses insetos conseguem voar por longas distâncias, e podem desovar em vários tipos de ambientes.
Diferente de outros gêneros, os mosquitos do gênero Culex depositam seus ovos na água agrupados
como jangadas (Imagem 9) (REY, 2009).
O hábito alimentar das fêmeas C. quinquefasciatus, que realizam seu repasto sanguíneo durante
a noite, provavelmente levou à adaptação do ciclo de vida do Wucheriria bancrofti, uma vez que as
microfilárias (larvas infectantes do parasito) migram para a circulação periférica do hospedeiro du-
rante a noite, aumentando a probabilidade de serem ingeridas pelo repasto sanguíneo do mosquito.
O controle dos mosquitos da família Culicidae é ainda um problema para a sociedade, pois estes
insetos, principalmente do gênero Culex, conseguem utilizar diferentes fontes de água como criadouros,
além de desenvolverem resistência com facilidade a inseticidas. Diferentes formas de controle podem
ser empregadas, como o controle químico (inseticidas) das larvas e adultos; o controle físico das larvas,
por meio da remoção dos criadouros (poças de água, lixo com água parada etc.) e até mesmo o controle
biológico das larvas por meio da introdução de predadores (NEVES, 2016).

202
UNIDADE 7

A esta altura do nosso estudo em parasitologia, com certeza você já conhece bem a participação
dos artrópodes como hospedeiros intermediários e vetores de parasitoses do ser humano e, provavel-
mente, é onde apresentam maior importância. No entanto, esses animais também desenvolvem um
importante papel como parasitos.
Dentre os diferentes grupos de artrópodes, aqueles com maior importância no estabelecimento de
parasitoses estão presentes nas Ordens Diptera, Anoplura e Siphonaptera da Classe Insecta, e
nas Ordens Trombidiformes, Ioxidida e Sarcoptiformes da Classe Arachnida.
Você começará, agora, o estudo das parasitoses causadas pelos artrópodes pela Ordem Diptera. As
parasitoses causadas pelas moscas estão diretamente ligadas à infecção originada pelas larvas desses
insetos, a qual denominamos miíase. Estas infecções se estabelecem pela necessidade de alimentação
das formas imaturas dos insetos, até que possam formar a pupa para passar ao estágio de adulto. Como
já apresentado nesta unidade, os dípteros possuem um desenvolvimento holometábolo (Imagem 10),
com as formas imaturas sendo constituídas por larvas (totalmente diferentes dos adultos).

Mosca doméstica adulta

Pupa
Ovos

Primeiro estágio larval


Terceiro estágio larval

Segundo estágio larval

Imagem 10- Desenvolvimento holometábolo de um inseto da Ordem Diptera.

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um desenho esquemático do ciclo de vida de um díptero, representado em forma de
círculo que se desenvolve em sentido horário, com cada fase ligada a outra por meio de uma seta. Na porção superior, é observada uma mosca
doméstica adulta. Continuando o ciclo, em sentido horário tem-se, em sequência, um aglomerado de ovos, uma larva de primeiro estágio, uma
larva de segunda estágio, uma larva de terceiro estágio, uma pupa e novamente volta a mosca adulta na porção superior.

203
UNICESUMAR

No caso das miíases, podemos dividir as parasitoses em dois grupos distintos (NEVES, 2016):

1. as hematófagas (também denominadas de miíases obrigatórias ou primárias) são


parasitoses causadas por larvas de dípteros que só se desenvolvem sobre ou dentro
de vertebrados vivos.
2. as saprófagas (também denominadas de miíases facultativas ou secundárias) são
parasitoses causadas pelas larvas de dípteros, que normalmente se desenvolvem
em matéria orgânica em decomposição, porém, quando há oportunidade, podem se
desenvolver em tecido necrosado em organismos vivos.

Vamos conhecer um exemplo de cada um des-


tes tipos de miíases? Um exemplo bastante
conhecido de uma miíase obrigatória, é
a causada pela mosca-berneira ou
Dermatobia hominis. A parasitose
que essa mosca desenvolve é popu-
larmente conhecida como “berne”.
A D. hominis apresenta como
característica morfológica (Ima-
gem 11) ser robusta, medindo
cerca de 12 milímetros de com-
primento. A cabeça e olhos têm
coloração marrom, o tórax é cinza
amarronzado, com manchas longi-
tudinais e o abdome é azul metálico.
As asas apresentam a coloração casta-
nha (NEVES, 2016).
A mosca do berne possui uma caracte-
rística própria para a postura dos ovos. Embora
seja o senso comum pensar que a mosca pica o indi-
víduo e coloque seu ovo na picada, dentro da pele, não é isso o
que acontece. Os adultos de D. hominis têm seu aparelho bucal atrofiado e não se alimentam. Para
corrigir esse problema na postura dos ovos, a mosca do berne captura em pleno voo outras moscas
hematófagas e deposita seus ovos no abdômen dessas moscas (Imagem 11). Quando a mosca cap-
turada, e agora contendo os ovos de D. hominis, realiza o repasto sanguíneo em um vertebrado, o
ovo eclode e libera uma larva que penetra na abertura deixada pelo inseto hematófago, ou rompe
diretamente a pele, se instalando no interior da derme (FERREIRA, 2021).

204
UNIDADE 7

Imagem 11 – Ciclo de vida da Dermatobia hominis. / Fonte: Ferreira (2021, p. 264).

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas as fases do ciclo de vida da mosca da espécie Dermatobia hominis, repre-
sentadas em imagens ilustrativas, ligadas umas às outras por meio de setas em um círculo, seguindo o sentido horário. Na porção
superior central pode ser observado o desenho de uma D. hominis com legenda “fêmea adulta”; em seguida, tem-se a imagem da fêmea
fazendo a deposição de ovos no abdome de outra mosca hematófaga com a legenda “Fêmea capturando inseto forético”; em seguida,
o desenho da primeira larva com a legenda “Larva 1”; após, tem-se o desenho da larva de segundo instar com a legenda “Larva 2”; em
seguida, três desenhos em sequência da larva de último instar da pupa e mosca eclodindo, com as legendas “Larva madura”, “Pupa” e
“Mosca emergindo do pupário”, voltando, por fim, à mosca adulta do início.

A larva de D. hominis possui comprimento inicial de 1,5 milímetros e pode chegar a 2,0 centímetros de
comprimento no último instar (nome dado às fases larvais). A larva apresenta o aspecto de uma gota de
água (Imagem 12). Na porção posterior, encontram-se as estruturas respiratórias, os espiráculos, que fi-
cam em contato com o ambiente pela abertura da pele. Na porção anterior se encontram as peças bucais,
responsáveis pela alimentação, voltadas para o interior dos tecidos. Na parte mais espessa, anterior, podem
ser observadas várias fileiras de espinhos, responsáveis pela fixação da larva (NEVES, 2016). Após atingir o
último instar, aproximadamente 50 dias após a penetração, a larva deixa os tecidos do hospedeiro, cai no solo
e se enterra, onde forma a pupa e eclode como adulto, cerca de 30 dias depois (Veja o Eu Indico a seguir).

205
UNICESUMAR

Imagem 12- Larva de Dermatobia hominis.

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma fotografia ampliada de uma larva da espécie Dermatobia hominis, de formato
alongado, disposta horizontalmente, com a região anterior globosa e contendo fileiras de espinhos voltada para o lado esquerdo da imagem.

O tratamento para a parasitose causada por D. hominis consiste em matar e retirar a larva da pele,
assim que ela seja notada. É imprescindível que se tente matar a larva antes de sua retirada, caso
contrário, ela manterá seus espinhos aderidos com firmeza ao tecido, dificultando sua remoção. Para
esse processo, o método mais indicado é matar a larva por asfixia, colocando um esparadrapo sobre a
abertura, deixando por uma hora, e retirando a larva que deve sair aderida à fita.
No caso das miíases secundárias, podemos citar como exemplo as parasitoses desenvolvidas pelos
membros da família Sarcophagidae. Embora possua diferentes gêneros, a identificação dos represen-
tantes da família é parecida. As moscas dessa família apresentam como características morfológicas
(Imagem 13) ter comprimento entre 6 a 10 milímetros, com cor acinzentada, com três faixas pretas
no dorso do tórax, e com o abdome com desenhos em xadrez (NEVES, 2016).

Imagem 13 - Mosca da família Sarcophagidae.

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma fotografia contendo ao fundo várias folhas, e, em primeiro plano, uma mosca
da família Sarcophagidae em visão dorsal, de cor cinza, com olhos vermelhos, com três linhas pretas longitudinais no tórax, um par de asas
e o abdome com desenhos em xadrez.

206
UNIDADE 7

Os membros da família Sarcophagidae normalmente depositam suas larvas (são larvíparas, não
depositam os ovos) em matéria orgânica em decomposição, geralmente em carcaças. Porém, podem
colocá-las em tecido necrosado de feridas de indivíduos vivos. Dependendo da espécie, até 50 larvas
podem ser colocadas de uma única vez (NEVES, 2016).
As larvas em contato com o tecido necrosado, se alimentam vorazmente, e cerca de 10 dias
após penetração, atingem o último instar, caem ao solo e empulpam, eclodindo como adultos
entre 10 a 15 dias depois.
O tratamento deve ser realizado o mais rápido possível, e consiste na remoção das larvas, uma a
uma, seguido do tratamento da ferida por meio de antimicrobianos (veja o Eu Indico a seguir).

Acesse os dois vídeos apresentados nos QR Codes. No primeiro, pode ser observada a retirada
de larvas do interior da ferida de um indivíduo; no segundo, a retirada de uma única larva da
mosca do berne.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Vídeo 1 Vídeo 2

Caro(a) aluno(a), até este


momento, você conheceu insetos
que estabelecem parasitoses
internas ao tecido do hospedeiro.
No entanto, existem espécimes,
ainda entre os insetos, que
desenvolvem parasitoses
externas. Exemplos desses
ectoparasitas são os insetos
popularmente conhecidos como
piolhos e pulgas.

207
UNICESUMAR

Os piolhos são insetos pertencentes à Subordem Anoplura. São conhecidas aproximadamente


530 espécies de anopluras, dos quais três apresentam interesse para o ser humano (NEVES,
2016): 1- Pediculus capitis, o piolho da cabeça; 2- Pediculus humanus, o piolho do corpo,
também conhecido como “muquirana”; 3- Pthirus púbis, o piolho da região pubiana, também
conhecido como “chato” (Imagem 14).

a) b) c)

Imagem 14- Principais espécies de anopluras parasitos do homem. a) Pediculus capitis; b) Pediculus humanus; c) Pthirus púbis.
Fonte: a) WIKIPEDIA (2022); b) WIKIMEDIA (2019); c) WIKIMEDIA (2007).

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas três micrografias de membros da Subordem Anoplura. Na micrografia da
esquerda, marcada com a letra “a”, pode ser observado um piolho da espécie Pediculus capitis. Na micrografia central, marcado com
a letra “b”, pode ser observado um piolho da espécie Pediculus humanus. Na micrografia da direita, marcado com a letra “c”, pode ser
observado um piolho da espécie Pthirus púbis.

Os anopluras possuem um aparelho bucal do tipo picador-sugador, ou seja, eles perfuram a pele
para sugar o sangue, são, portanto, hematófagos. Esses insetos apresentam como características
morfológicas serem pequenos, sem asas e achatados dorsoventralmente. Possuem pernas fortes,
e no tarso (última parte da perna), apresentam uma garra forte que, ao dobrar-se, agarra firme-
mente pelos e cabelos. O corpo do gênero Pediculus tende a ser 2-3 vezes mais longo do que largo,
enquanto no gênero Pthirus tende ser apenas 1,5 vezes mais longo do que largo (NEVES, 2016).
A infestação causada pelos piolhos do gênero Pediculus é denominada de pediculose, enquanto
a infestação causada pelo Pthirus púbis é denominada de pitiríase. Elas se caracterizam por forte
prurido (coceira), podendo ocasionar infecções estafilocócicas secundárias. Em casos graves,
com alta infestação, principalmente em crianças de baixa renda, com má alimentação, a atividade
hematófaga dos insetos, pode ocasionar deficiência de ferro, resultando em anemia.
O ciclo de vida dos piolhos é paurometábolos, os ovos são postos fixados nos pelos e cabelos
do hospedeiro, e são denominados de “lêndeas”, após sua eclosão, o inseto passa por três estágios
de ninfa antes de se tornar adultos. A transmissão entre hospedeiros ocorre pelo contato direto,
principalmente entre indivíduos que vivem no mesmo ambiente, em transportes coletivos, e locais
públicos apertados (NEVES, 2016).

208
UNIDADE 7

O tratamento da pediculose e pitiríase pode ser realizado por diversos métodos. Devido ao fato de que
os inseticidas de uso tópico são altamente tóxicos, alguns especialistas não recomendam sua aplicação, pois
a região da cabeça é altamente vascularizada, somando-se ao fato de que a coceira pode gerar lesões, a ab-
sorção destes compostos pode ocorrer em uma dosagem muito alta, o que pode resultar em acidentes fatais,
principalmente devido ao costume de automedicação dos brasileiros (NEVES, 2016). Nestes casos, pode-se
aplicar medidas naturais, tais como: catação manual, penteação, ar quente, raspagem da cabeça e óleos.
O último grupo dos insetos que você vai estudar nesta unidade é da Ordem Siphonaptera, cujos mem-
bros são conhecidos popularmente como pulgas e bichos-do-pé. No Brasil, já foram identificadas mais de
60 espécies de sifonápteros, a maioria com a possibilidade de parasitar o ser humano. Como característica
da Ordem, os indivíduos jovens são de vida livre, sendo a parasitose atribuída à atividade hematófaga dos
adultos. Essas espécies podem interagir com o hospedeiro por três meios principais: 1- vivendo em con-
tato direto com o hospedeiro (ex.: gêneros Xenopsylla e Polygenis); 2- procurando o hospedeiro apenas
para se alimentar (ex.: Pulex irritans); 3- penetrando na derme e vivendo alojada nesta região (ex.: Tunga
penetrans – bicho-de-pé).
Os sifonápteros apresentam como caraterística morfológica serem pequenos, medindo entre 1 a 3 milí-
metros, corpo achatado lateralmente, não apresentam asas, com aparelho bucal tipo picador-sugador e com
o último par de pernas adaptados para saltar (REY, 2009). Na cabeça das pulgas são observadas numerosas
cerdas, as quais possuem a função de fixação e auxílio na locomoção no hospedeiro (Imagem 15).

Imagem 15- Ordem Siphonaptera: a) Pulex irritans; b) Tunga penetrans; c) Imagem aproximada da cabeça de uma pulga.
Fonte: WIKIMEDIA (2014)

Descrição da Imagem: a imagem, podem ser observadas três micrografias de membros da Ordem Siphonaptera. Na micrografia da
esquerda, marcada com a letra “a”, pode ser observada uma pulga da espécie Pulex irritans. Na micrografia central, marcada com a
letra “b”, pode ser observado um bicho-de-pé, da espécie Tunga penetrans. Na micrografia da direita, marcado com a letra “c”, pode ser
observado de forma ampliada a região anterior de uma pulga, evidenciando as cerdas negras utilizadas para fixação.

Os sifonápteros são importantes por serem espoliadores sanguíneos dos hospedeiros, causarem derma-
tite e alergias de pele, e no caso da tungíase (infecção causada pelo Tunga penetrans), lesões cutâneas
com veiculação de bactérias que podem ocasionar tétano e gangrena.
O último grupo de artrópodes que você vai estudar corresponde aos membros da Classe Arachnida,
Subclasse Acari. Muitas espécies dessa classe são parasitos do ser humano. Estudaremos, como exemplo,
membros das Ordens Trombidiformes, Ioxidida e Sarcoptiformes.

209
UNICESUMAR

O exemplo mais conhecido de parasito pertencente à ordem Trombidiformes é o relacionado à


espécie Demodex folliculorum. Este aracnídeo tem o corpo vermiforme, medindo entre 0,1 a 0,4
milímetros (Imagem 16), com quatro pares de patas curtas. Este parasito habita o folículo piloso no
rosto e no tórax e possui um importante papel no agravamento da acne no ser humano. Todo o ciclo
ocorre no folículo piloso e glândulas sebáceas, onde os ovos são depositados. Cerca de seis dias após
a eclosão, os novos parasitos já são adultos e migram sobre a pele até um novo folículo.

Imagem 16- Demodex folliculorum. / Fonte: WIKIMEDIA (2016)

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma micrografia de um indivíduo da espécie Demodex folliculorum, caracterizado
pela forma de verme, alongado com quatro pares de pernas curtas na região anterior do corpo.

Imagem 17 - Carrapato da espécie Ixodes ricinus.

Descrição da Imagem: na imagem, pode ser observada uma foto ampliada da superfície da pele de um ser humano, contendo sobre ela um
carrapato da espécie Ixodes ricinus, das cores preta e marrom, de aspecto globoso, contendo quatro pares de patas evidentes.

210
UNIDADE 7

A ordem Ioxida abriga os aracnídeos conhecidos como carrapatos. São ácaros de porte grande,
com importância médica por serem ectoparasitos. Estes aracnídeos apresentam o corpo fundido
em uma única peça, de aspecto globoso (Imagem 17). A região anterior, onde se encontram as
peças bucais, é chamado de gnatossoma, e a porção posterior, onde se implantam os quatro pa-
res de patas, é denominado de idiossoma (NEVES, 2016). Estes parasitos espoliam o sangue do
hospedeiro, podem causar dermatite e alergias e são responsáveis pela transmissão de inúmeros
microrganismos causadores de doenças.
Por fim, você vai conhecer o principal membro da ordem Sarcoptiformes,
o Sarcoptes scabiei (imagem 18). Esse ácaro é responsável por causar
a sarna nos seres humanos, doença também denominada de esca-
biose. São parasitos extremamente pequenos, medindo entre 300
e 400 micrômetros de comprimento, tem o corpo globoso, com
as pernas curtas, grossas e sem garras. A doença provocada por
esse parasito tem como principal fator a escavação de túneis, rea-
lizada principalmente pelas fêmeas, onde depositam seus ovos.
Os danos causados nos tecidos são mecânicos e em decorrência
de proteases liberadas pela saliva. Somando-se a iss0, há liberação
excretas e ovos dos parasitos nos túneis. Todos estes fatores desen-
cadeiam uma resposta inflamatória que resulta na descamação da
pele e liberação de linfa (NEVES, 2016; FERREIRA, 2021).

a) b) c)

Imagem 18- a) Sarcoptes scabiei; b) túnel formado pelo parasito na derme. / Fonte: Adaptado de Ferreira (2021, p. 281 e 282).

Descrição da Imagem: na imagem, podem ser observados três figuras ilustrativas. Na figura da esquerda, marcada com a letra “a”,
observa-se um ácaro da espécie Sarcoptes scabiei em visão dorsal, caracterizado pela forma globosa e sem divisões, contendo várias
cerdas. Na figura central, marcada com a letra “b”, observa-se o mesmo ácaro da espécie Sarcoptes scabiei, agora em visão ventral, com
quatro pares de patas, dois anteriores e dois mediais. Na figura da direita, marcada com a letra “c”, observa-se uma escavação na pele
de um vertebrado, formando um túnel, realizada por um indivíduo da espécie S. scabiei, em que pode-se notar em seu interior ovos e
dejetos do parasito.

211
UNICESUMAR

Neste podcast, você vai entender a impor-


tância da correta identificação dos artrópo-
des envolvidos na transmissão de parasitos,
influenciando diretamente no diagnóstico
correto da doença. Acesse o QRCode e
aperte o play!

Você aprendeu, nesta unidade, como os artrópodes estão diretamente liga-


dos à parasitologia. Entretanto, é importante destacar que das milhares de
espécies deste filo, apenas algumas centenas são nocivas aos seres humanos.
A grande maioria destes animais é benéfica, tanto para os seres humanos
como na produção de compostos úteis, como a seda, o mel, a cera, ou ainda
na manutenção de processos, como a polinização de plantações; também
são essenciais para a manutenção do equilíbrio ambiental, quer como pre-
dadores, quer como alimento para diversas espécies. Assim, compreenda
que o conhecimento das espécies nocivas permite que direcionemos as
ações para seu controle, garantindo que as demais continuem nos ajudando
e contribuindo com a manutenção do nosso ambiente.
Nesta unidade, você estudou os artrópodes relacionados com a trans-
missão e desenvolvimento de parasitoses. Você aprendeu sobre as carac-
terísticas desses animais e as peculiaridades que os tornam hospedeiros
intermediários e vetores de parasitos. Conheceu e aprofundou seus co-
nhecimentos nos ectoparasitos, e as formas pelas quais causam doenças
nos seres humanos.
Agora que você conhece as características e os conceitos principais
sobre parasitologia, pode entender melhor o desafio e os questionamentos
que foram propostos. Resgate o exercício proposto no início da unidade e
tente resolvê-lo com os conhecimentos que agora possui.
As parasitoses podem se instalar no corpo humano tanto em seu meio
interno (endoparasitas), como em seu meio externo (ectoparasitas). Em-
bora a maioria dos endoparasitas estejam incluídos nos grupos dos proto-
zoários e helmintos, alguns artrópodes, como os insetos dípteros, podem
apresentar este tipo de parasitose, como a miíase causada pela mosca
Dermatobia hominis. Já no caso dos ectoparasitas, podemos encontrar
vários exemplos de artrópodes, como os carrapatos e pulgas.

212
213
1. “O filo Arthropoda constitui o maior grupo do reino animal, que abriga cerca de 80% do total
de espécies conhecidas de metazoários. Mais de um milhão de espécies vivem no ar, na terra
ou na água, adaptadas a alimentar-se em diversas fontes de nutrientes, inclusive o sangue de
vertebrados” (FERREIRA, 2021, p. 261).

O grupo dos artrópodes possui várias classes, sendo importante identificar, entre estas, aquelas
que têm relação com a parasitologia. Uma destas classes é a Classe Insecta. Com base nas
características morfológicas, explique, por meio de um texto dissertativo, de 3 a 5 linhas, como
um inseto pode ser identificado.

2. “O gênero Culex inclui cerca de 300 espécies, a maioria das quais habita as regiões tropicais e
subtropicais do mundo. Para a transmissão de doenças, as mais importantes são as que têm
hábitos domésticos” (REY, 2009, p. 334).

Dentre as espécies do gênero Culex, uma das mais relevantes pela transmissão da filariose
linfática é Culex quinquefasciatus. Com base nas características morfológicas, explique, por meio
de um texto dissertativo, de 3 a 5 linhas, como um inseto da espécie Culex quinquefasciatus
pode ser identificado.

3. “Entende-se por miíase “a infestação de vertebrados vivos por larvas de dípteros que, pelo
menos durante certo período, se alimentam dos tecidos vivos ou mortos do hospedeiro, de
suas substâncias corporais líquidas ou do alimento por ele ingerido” (NEVES, 2016, p. 449).

Muitas espécies da Ordem Diptera têm a capacidade de causar miíase. Entretanto, o tipo de
miíase causada pode variar com base nas características biológicas da espécie. Com base nas
características dos dípteros parasitos, explique, por meio de um texto dissertativo, de 3 a 5
linhas, quais os diferentes tipos de miíases que afetam o ser humano.

214
8
Diagnóstico
das Parasitoses:
Métodos Diretos
Dr. Vinícius Pires Rincão

Nesta unidade, você conhecerá os diferentes métodos de diag-


nósticos direto de parasitoses. Aprenderá o conceito de exame
parasitológico de fezes e os diferentes procedimentos que podem
ser realizados. Aprenderá também sobre o exame parasitológico de
sangue e a detecção dos parasitos em tecidos e outras secreções.
UNICESUMAR

As parasitoses que acometem o ser humano podem ser causadas por diversos tipos de organismos, de proto-
zoários a insetos. Embora exista uma grande diversidade de agentes etiológicos, os sintomas causados pelos
parasitos que possuem o mesmo habitat são parecidos. Então, como é possível diferenciar uma parasitose
de outra? Caro(a) aluno(a), você consegue pensar nas formas pelas quais os profissionais de saúde realizam
o diagnóstico de uma parasitose? Como é definido o melhor método para se encontrar o parasito causador
de uma doença? Como a escolha do método de diagnóstico pode auxiliar no tratamento da doença?
Os parasitos que causam doenças no ser humano podem apresentar como habitat desde os tecidos da
pele até o sistema circulatório sanguíneo. Conhecer características da biologia destes agentes etiológicos é
fundamental para se determinar qual a melhor metodologia para o diagnóstico da doença. Nem sempre,
entretanto, haverá uma suspeita de qual o agente etiológico causará a doença, principalmente porque mui-
tos dos sintomas observados no ser humano são similares para diferentes parasitoses. Neste aspecto, os
laboratórios de análises clínicas possuem uma diversa gama de procedimentos que podem ser utilizados
para detectar o agente etiológico de uma parasitose.
No contexto apresentado, buscando uma maior significância para os conteúdos que você aprenderá nesta
unidade, proponho a você uma pesquisa: identifique quais os principais tipos de exames parasitológicos
realizados em laboratórios de análises clínicas, e para quais finalidades estes exames podem ser aplicados.
Os organismos que causam parasitoses no ser humano podem divergir muito em suas características,
desde o tamanho (sendo constituídos por uma única célula ou sendo metazoários com vários metros de
comprimento), até a forma com que interagem com o organismo (vivendo no trato intestinal do hospedeiro
quase sem consequências ou causando doença grave e até mesmo a morte). Para o tratamento correto dessas
parasitoses, o diagnóstico deve ser rápido e preciso. Caro(a) aluno(a), com o conhecimento que agora possui
sobre os parasitos e doenças causadas por eles, você já parou para pensar como deve ser feito um exame
que busque a identificação de parasitos intestinais? E no caso de parasitos sanguíneos ou teciduais? Como
investigar qual o agente etiológico de uma doença quando não se tem uma suspeita? Pense na pesquisa
que você fez, e nas questões que levantamos, e escreva seus resultados no seu diário de bordo, a fim de que
eu e você possamos analisá-las juntos no decorrer desta unidade.

216
UNIDADE 8

A maioria das parasitoses, quer seja causada por um helminto ou por um protozoário, continua
sendo considerada um problema de saúde pública. As infecções causadas por parasitos podem ser
diagnosticadas por meio da análise dos sintomas que provocam no hospedeiro e exames laborato-
riais. Entretanto, muitas parasitoses compartilham os mesmos sintomas, ou muito parecidos, o que
dificulta sua diferenciação com base neste parâmetro e, tornando o exame clínico fundamental.
Quase todas as parasitoses podem ser diagnosticadas apenas por exames clínicos (ENGROFF
et al., 2021), sendo que o exame laboratorial de amostras dos hospedeiros é o principal método
utilizado para detecção e identificação do parasito.

Caro(a) aluno(a), reflita comigo, se os exames laboratoriais são fundamentais para o diagnóstico de
uma parasitose, caso este for realizado incorretamente ou se a amostra não for selecionada corre-
tamente, o diagnóstico pode ser falho. Então, como selecionar e coletar a amostra de forma correta?

A seleção da amostra que melhor poderá indicar qual a parasitose acomete um determinado indiví-
duo, dependerá de vários fatores. Geralmente os sintomas dão ao médico responsável uma suspeita
do provável parasito, o que permite indicar um determinado tipo de exame e este o tipo de amostra.
Entretanto, quando o sintoma é inespecífico, as amostras são coletadas de vários locais. Os dois
principais locais de coleta de amostras, possibilitando o diagnóstico da grande maioria das parasitoses
são: fezes e sistema circulatório sanguíneo. Este fato também determina os dois tipos mais comuns de
exames na parasitologia: o exame parasitológico de fezes (ou exame coproparasitológico) e o exame
parasitológico de sangue.

217
UNICESUMAR

Além dessas duas amostras, podem ser coletadas amostras de expectoração, por biópsias e
raspados de pele, utilizadas em casos específicos e complementares aos exames sanguíneos. A
etapa de amostragem pode parecer uma etapa sem muita importância, mas é fundamental para a
realização correta dos exames, conforme explica Zeibig (2014, p. 15):


O diagnóstico laboratorial eficaz de parasitos requer conhecimento e prática de
análise antes (etapa pré-analítica), durante (etapa analítica) e depois da realiza-
ção dos testes (etapa pós-analítica). Por exemplo, na etapa pré-analítica é preciso
verificar se uma amostra recebida no laboratório está comprometida por coleta,
identificação ou transporte inadequado. Nesses casos, a amostra deve ser rejeitada,
e uma nova deve ser solicitada. Da mesma forma, na etapa analítica, a execução
das técnicas laboratoriais deve ser realizada com cuidado para garantir que os
resultados obtidos sejam confiáveis. Na etapa pós-analítica, a interpretação e a
descrição dos resultados obtidos devem ser relatadas de maneira precisa e em
um período de tempo adequado.

Dentre os muitos exames que podem ser realizados para o diagnóstico de parasitoses, o mais
comumente realizado em laboratórios é o coproparasitológico (exame parasitológico de fezes)
(NEVES, 2016). Assim, a coleta destas amostras é de fundamental importância e também proble-
mática, pois quem realizará a coleta é o próprio paciente. Para se evitar o comprometimento da
amostra, o profissional responsável deverá orientar corretamente o paciente para a realização da
coleta, preservação e transporte.
O objetivo da análise direta das amostras de fezes é a detecção das formas jovens ou adultas, a
depender do parasito. Como para muitas parasitoses a liberação das formas detectáveis dos para-
sitos (cistos, trofozoítos e oocistos de protozoários, ou ovos, larvas, proglotes e adultos no caso dos
helmintos) não é constante, o protocolo recomenda a coleta de amostras múltiplas (ZEIBIG, 2014).
Para a coleta de amostras de fezes, recomenda-se que sejam coletadas entre 3 amostras (ou 5 amostras
dependendo do tipo de exame) em dias alternados, ou 3 amostras em um período de 10 dias (ZEIBIG,
2014). A coleta das amostras de fezes deve seguir alguns procedimentos importantes para garantir seu
aproveitamento do exame (ZEIBIG, 2014, p. 16):

• As amostras devem ser coletadas em um recipiente limpo (não necessidade de ser


estéril), impermeável à água e bem vedado.
• No momento da coleta, deve- se evitar o contato com a urina.
• Caso a amostra não seja coletada diretamente no frasco para análise, a evacuação deve
ser feita sobre uma superfície limpa. As fezes não podem ser coletadas diretamente da
água do vaso sanitário, para evitar-se a contaminação com protozoários de vida livre.
• A quantidade necessária de fezes para realização dos exames está entre 2 a 5 gramas
(similar ao tamanho de uma noz) (Imagem 1).

218
UNIDADE 8

O Exame Parasitológico de Fezes (EPF) pode so-


frer interferência de vários compostos, fármacos
ou não. A utilização de laxantes, antiácidos iodo,
contrastes contendo bário, entre outros, interfe-
rem nos resultados (NEVES, 2016), e devem ser
evitados, ou adiadas para 5 a 7 dias após cessar
a administração da substância, dependendo do
medicamento. O tratamento com antibióticos ou
antimaláricos também pode prejudicar o exame, e
a coleta deve ser adiada por pelo menos duas se-
manas após cessar o tratamento (ZEIBIG, 2014).
Outro ponto importante que deve ser observa-
do para se garantir o resultado válido do EPF, é a
conservação da amostra após a coleta. Dependendo
do tipo de exame a ser realizado, a utilização de
conservantes pode ou não ser indicada. Por exem-
plo, para verificação de motilidade de protozoários,
será necessária a amostra fresca e sem conservantes,
Imagem 1 – Representação de pote de coleta de amostras
uma vez que os conservantes matam os organismos. contendo fezes, aproximadamente na quantidade necessá-
ria para os exames.
Outra característica importante é a consistência
das fezes. Quanto mais líquidas, maior a probabi- Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um
lidade de conter trofozoítos, e como esta fase dos desenho representando um pote de coleta de amostra fecal,
transparente, com tampa vermelha, contendo uma pequena
protozoários sobrevive por curtos períodos no am- pá vermelha interna, e no fundo uma amostra de fezes, apro-
ximadamente do tamanho de uma “noz”. Segurando este pote,
biente externo, mais rápida deve ser a análise labo- pode ser observada uma mão com uma luva azul, que está
segurando o objeto com o dedo indicador e o dedo polegar.
ratorial, variando de 30 minutos para fezes líquidas
até 24 horas para fezes formadas (ZEIBIG, 2014).
No entanto, para exames em que o objetivo seja apenas a determinação da presença do parasito,
ou coletas em vários dias alternados (sem a possibilidade de entrega no laboratório no mesmo dia), a
amostra coletada deve ser depositada imersa em um conservante. Os conservantes podem também
ser denominados de fixadores, pois, ao impedirem a degradação de certas moléculas, eles também
impedem suas funções, matando o organismo e conservando suas características atuais.
Os conservantes mais utilizados são:

• Formol a 10% - permite a conservação de ovos e larvas de helmintos e cistos e oocistos


de protozoários por mais de um mês.
• MIF (iniciais de mertiolato ou mercurocromo, iodo e formol) - permite a conservação de
ovos e larvas de helmintos e cistos e oocistos de protozoários, porém por um tempo menor.
• SAF (iniciais de acetato de sódio, ácido acético e formol) - permite a conservação
de cistos e trofozoítos de protozoários (NEVES, 2016, p. 541).

219
UNICESUMAR

O outro tipo comum de amostra para exames parasitológicos


é a amostra de sangue. Os locais utilizados com maior fre-
quência para coleta da gota de sangue são polpa digital
ou lobo da orelha, onde há vasta irrigação e a pele é fina.
Nestes locais, realiza-se a limpeza com álcool-éter,
álcool iodado ou álcool puro, e por meio de material
esterilizado (agulha ou lanceta) faz-se uma punção,
extraindo uma gota de sangue sobre uma lâmina
(REY, 2008; NEVES, 2016). Para os exames que exi-
gem maior quantidade de sangue, ou quando há ne-
cessidade de realizar vários testes, pode ser realizada
uma punção venosa extraindo o volume necessário.
As metodologias utilizadas nos exames parasitoló-
gicos são variadas e muitas vezes combinadas de várias
formas para dar ao laboratorista a certeza do diagnóstico, ou
seja, qual parasito está causando a doença. Entretanto, para facilitar
seu estudo, as metodologias de análise podem ser divididas em: métodos diretos, englobando os testes
laboratoriais que tem como característica a observação direta dos parasitos, seus ovos, formas imaturas
ou cistos; e métodos indiretos, os quais englobam técnicas que detectam moléculas derivadas dos
parasitos ou componentes do sistema imunológico, como anticorpos, ou mesmo métodos moleculares,
nos quais os resultados apontam a presença do parasito, mas este não é observado diretamente.
Nesta unidade, você aprenderá sobre os principais métodos diretos utilizados no exame parasito-
lógico para fezes, sangue e exames específicos para algumas parasitoses. Vamos começar pelo Exame
Parasitológico de Fezes (EPF). Neste exame, o laboratorista examinará as características macroscó-
picas e microscópicas das fezes.
O EPF pode ser dividido em fases pré-analítica, englobando a coleta, preservação e transporte; fase
analítica, em que são aplicadas as metodologias para identificação do parasito presente na amostra;
e fase pós-analítica, onde os resultados são interpretados e relatados (ZEIBIG, 2014; NEVES, 2016).
A fase analítica se inicia com o exame macroscópico das fezes, ou seja, o exame visual direto reali-
zado pelo laboratorista. Neste exame, serão analisados a consistência, a presença de componentes
anormais e a presença de parasitos macroscópicos.

Fezes líquidas são conhecidamente um indicativo de alterações intestinais, mas você já parou para
pensar em como a consistência das fezes pode ter relação com a parasitose e seu diagnóstico?

220
UNIDADE 8

Cada tipo de parasitose tem suas próprias características, incluindo habitat, forma de nutrição e con-
sequências que provoca no organismo do hospedeiro. As parasitoses intestinais podem afetar a forma
como o organismo realiza a absorção de nutrientes de diversas maneiras: enquanto a maioria dos
helmintos não altera o fluxo normal das fezes, alguns vermes rompem a parede intestinal, impedindo
a absorção de eletrólitos e provocando fezes líquidas e sanguinolentas; já a maioria dos protozoários
que habitam este órgão, modificam a superfície dos enterócitos, quer seja pela fixação, quer seja pela
liberação de toxinas, e impedem suas funções normais de absorção, causando, no mínimo, diarreia.
Assim, a consistência das fezes pode indicar desde a intensidade da infecção, até apontar um possível
agente etiológico para a doença. Para ajudar a classificar as fezes quanto a sua consistência, pode ser
utilizada a Escala de Bristol, desenvolvida na Universidade de Bristol (Reino Unido) pelos pesquisa-
dores Heaton e Lewis em 1997 (MARTINEZ; AZEVEDO, 2012) (Imagem 2).

Constipação severa Constipação suave Normal Normal

Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4


Caroços duros Formato de salsicha, Como um salsicha Como uma salsicha
separados mas encaroçado mas com rachaduras ou cobra, liso e macio
em sua superfície

Falta de fibra Diarreia suave Diarreia severa

Tipo 5 Tipo 6 Tipo 7


Bolhas macias com Pedaços macios com Aquosa, sem pedaços
bordas bem definidas bordas irregulares, sólidos, completamente
fezes amolecidas líquida.

Imagem 2 – Escala de Bristol

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada a representação em forma de desenho dos sete diferentes tipos de fezes,
separados por barras amarelas. Da esquerda para a direita, apresentando as legendas de Tipo 1 até Tipo 7, pode ser observado: Tipo
1 – esferas irregulares marrons, constipação severa; Tipo 2 – na forma de salsicha contendo caroços, constipação suave; Tipo 3 – na
forma de salsicha mas com rachaduras na superfície, fezes normais; Tipo 4 – na forma de salsicha ou cobra, lisa e macia; Tipo 5 – pe-
daços macios com bordas bem definidas, indicando falta de fibra; Tipo 6 – pedaços macios com bordas irregulares, fezes amolecidas,
indicando diarreia suave; Tipo 7 – uma poça com gotas caindo, fezes líquidas, indicando diarreia severa.

221
UNICESUMAR

Nesta escala, as fezes são classificadas em sete categorias de acordo com sua consistência e relação
com o fluxo intestinal:

• Tipo 1 - Neste tipo, as fezes são visualizadas no formato de bolinhas muito secas, que
tendem a boiar. Esta consistência indica constipação intestinal severa.
• Tipo 2 - Neste tipo, as fezes são visualizadas com o formato de uma salsicha encaroçada.
Esta consistência é indicativa de constipação leve e peristaltismo lento.
• Tipo 3 - Neste tipo, as fezes são visualizadas também com o formato de uma salsicha, mas
com fissuras na superfície. Esta consistência é indicativa de produção normal de fezes, com
trânsito intestinal regular.
• Tipo 4 - Neste tipo, as fezes são visualizadas como uma salsicha mais alongada, menos rígida,
sendo suaves e macias, com a possibilidade de fragmentação em poucas partes. Esta con-
sistência também é indicativa de produção normal de fezes, com trânsito intestinal regular.
• Tipo 5 - Neste tipo, as fezes são visualizadas em fragmentos, com bolhas e as bordas nítidas
e bem definidas. Esta consistência é indicativa de produção anormal de fezes, com trânsito
intestinal acelerado, indicando possível ocorrência de diarreia.
• Tipo 6 - Neste tipo, as fezes são visualizadas em muitos fragmentos, com aparência de con-
ter muito ar (fofas) e com as bordas irregulares. Esta consistência é indicativa de produção
anormal de fezes, com trânsito intestinal irregular, caracterizada como diarreia.
• Tipo 7 - Neste tipo, as fezes são completamente aquosas, sem partes sólidas definidas. Esta
consistência é indicativa de produção anormal de fezes, com trânsito intestinal irregular,
caracterizando diarreia severa.

A segunda etapa do exame macroscópico do EPF


é a identificação de componentes anormais. Nes-
ta análise, podem ser observados desde objetos
e fragmentos de alimentos (indicando ingestão
irregular e digestão irregular) até muco e sangue
(indicando infecção severa) (Imagem 3). Neste
último caso, o indicativo é a ocorrência de de-
sinteria, sugerindo a infecção por parasitos que
penetram na parede intestinal.

Imagem 3 – Fezes contendo muco e sangue


Fonte: (FAGUNDES-NETO; ANDRADE, 2020, s. p.).

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma


fralda contendo fezes amolecidas, com aparência brilhante e
avermelhada, indicando a presença de muco e sangue.

222
UNIDADE 8

O último aspecto macroscópico a ser analisa-


do é a presença de parasitos. Agora, você deve
estar se perguntando: é possível visualizar pa-
rasitos nas fezes? A resposta é: não todos os
tipos. Protozoários e mesmo helmintos mui-
to pequenos só serão observados no micros-
cópio. No entanto, há helmintos com vários
centímetros de comprimento, como o Ascaris
lumbricoides (Imagem 4), e mesmo alguns
menores como o Enterobius vermiculares,
com apenas 1 centímetro de comprimento em
média, que podem ser observados diretamen- Imagem 4 – Ascaris lumbricoides em fezes diarreicas
te, sem o uso de equipamentos específicos.
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma amos-
Em seguida, deverá ser realizado o exame tra de fezes sobre um papel absorvente, em que se nota as fezes
marrons amolecidas, contendo vermes cilíndricos e alongados, en-
microscópico. Mesmo que o exame macroscó- rolados em seu interior.
pico revele a presença de um parasito específico,
o exame microscópico poderá confirmar esse
diagnóstico na observação dos ovos, além de identificar outros parasitos microscópicos, como cistos de pro-
tozoários. Não é incomum a ocorrência de coinfecções (infecções simultâneas de dois ou mais patógenos).
O exame microscópico possibilita a observação de ovos e larvas de helmintos, e de cistos, oocistos
ou trofozoítos de protozoários (NEVES, 2016) e consiste na visualização de uma pequena amostra
das fezes, processada ou não, colocada entre uma lâmina e lamínula, e levada até um microscópio
(Imagem 5). A amostra pode ser observada sem nenhuma preparação, sendo denominada “à fresco”,
ou pode receber colorações específicas e fixação.

Imagem 5 - a) Exame microscópico com amostra à fresco; b) Ovos de Ascaris lumbricoides observados à fresco

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas duas fotografias. Na fotografia da esquerda, marcada com a letra “a”, pode
ser observada a imagem ampliada da região da platina de um microscópio, observando a colocação de uma lâmina contendo amostras de
fezes. Na fotografia da direita, pode ser observada uma micrografia de amostras de fezes, contendo vários detritos e dois ovos de Ascaris
lumbricoides, ovalados com bordas irregulares.

223
UNICESUMAR

As amostras não processadas, ou seja, simplesmente colocadas na lâmina a partir do pote de coleta,
geralmente não geram bons resultados, pois os parasitos podem estar muito diluídos nas fezes
e não serem bem observados. Por esta razão, o protocolo normal é a utilização de técnicas de
concentração ou também denominados de processos de enriquecimento. Essas metodologias
têm como base a concentração das formas observáveis dos parasitos e eliminação dos detritos,
facilitando sua visualização ao microscópio.
Os processos de enriquecimento podem ser divididos em qualitativos, que apenas identifi-
cam o parasito que está causando a infecção, e quantitativos, que permitem inferir a quantidade
de parasitos da infecção (NEVES, 2016). Embora os métodos quantitativos permitam esclarecer
alguns sintomas observados, não são muito úteis para o tratamento, uma vez que os antiparasitá-
rios utilizados levam em consideração o peso do paciente e não o número de parasitos presentes.
Os principais processos de enriquecimento têm como característica a suspensão das fezes em
soluções, contendo ou não substâncias específicas, para eliminação de detritos. Segundo Neves
(2016), esses processos são:
1. Sedimentação espontânea: também conhecido como método de Hoffman, Pons e Janer,
ou ainda como método de Lutz. Esse método consiste em diluir as fezes em água, formando
uma solução que, após filtrada, é colocada em um cálice cônico, deixado em repouso por
até 24 horas (Imagem 6). No final desse período, o sedimento do fundo é coletado e ob-
servado no microscópio. Esse método é utilizado com frequência na rotina de laboratórios
de análises clínicas por ser simples ter baixo custo. É utilizado para observar ovos e larvas
de helmintos, ou cistos e oocistos de protozoários.

Imagem 6 – Representação do método de Hoffman, Pons e Janer / Fonte: (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020, p. 39).

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um desenho esquematizando as etapas do método Hoffman, Pons e Janer. Da
esquerda para a direita, são representadas seis etapas, cada uma ligada a subsequente por meio de uma seta. A etapa um apresenta um
pote com amostras de fezes, em que está sendo adicionado água e contém um bastão de cor preta; na etapa dois, a água e amostra de
fezes está homogeneizada; na etapa três, a amostra homogeneizada é derramada sobre uma gaze, vedando a boca de uma cálice cônico;
na etapa quatro, o cálice apresenta um conteúdo separado em duas fases, a superior líquida e a inferior com o precipitado da amostra;
na etapa cinco, observa-se uma lâmina em que é colocada uma pequena porção do precipitado em seu centro; na etapa seis, a amostra
na lâmina é coberta por uma lamínula.

224
UNIDADE 8

2. Sedimentação por centrifugação: também conhecido como método de Blagg ou método de


Ritchie. Consiste em suspender as fezes pré-filtradas em éter sulfúrico e filtrar a 1500 rpm por 1
min. O precipitado é diluído em salina ou lugol, depositado sobre uma lâmina e observado ao mi-
croscópio. Utilizado para observar ovos e larvas de helmintos, ou cistos e oocistos de protozoários.
3. Flutuação espontânea: também conhecido como método de Willis. Esse método é pouco
utilizado, pois fica restrito a observação de ovos leves, como os de ancilostomídeos. Consiste na
suspensão das fezes em uma solução saturada de açúcar ou NaCl, enchendo o frasco até a borda,
colocando sobre essa borda uma lâmina e deixando em repouso por 5 min. Os ovos leves flutuam
e ficam aderidos à lâmina. Retira-se a lâmina e observa-se no microscópio.
4. Centrifugoflutuação: também conhecido como método de Faust. Este método é utilizado para
observar cistos e oocistos de protozoários, além de ovos leves de helmintos. Seu uso mais frequente
é destinado a confirmar o resultado negativo dos testes de rotina para amebíase e giardíase. Con-
siste em realizar 3 a 4 centrifugações seguidas a 2500 rpm em uma solução de fezes pré-filtrada,
até obter-se um sobrenadante (líquido superior) transparente que é descartado. O precipitado
é então homogeneizado em uma solução com sulfato de zinco a 33% (mais densa que os cistos,
oocistos e ovos leves), que é então centrifugada a 2500 rpm, fazendo com que os cistos, oocistos
e ovos fiquem na película superior. Essa é então coletada com uma alça de platina (fio metálico
com um pequeno anel na ponta) e colocado sobre uma lâmina que é examinada ao microscópio.
5. Concentração de larvas de helmintos por migração ativa: Existem diferentes técnicas com
o objetivo de fazer as larvas vivas, presentes nas fezes, migrarem para um local onde serão mais
facilmente observadas. Um desses métodos é o de Rugai, utilizado principalmente para identi-
ficação de larvas de Strongyloides stercoralis. Consiste em vedar a abertura do pote de amostra
contendo as fezes com gaze, virando-o de cabeça para baixo em seguida sobre um cálice cônico,
o qual contém água aquecida a 45ºC, sendo que essa fica em contato com a porção da gaze que
contém as fezes. As larvas, então, quando presentes, migram para o cálice e precipitam para o fundo.
Após uma hora, com ajuda de uma pipeta, coleta-se a amostra do fundo do cálice, depositando
sobre uma lâmina e observando ao microscópio.
6. Concentração de ovos por passagem das fezes por tela metálica: tem como objetivo identi-
ficar e quantificar ovos de helmintos, principalmente de Schistosoma mansoni. O método mais
utilizado é o de Kato-Katz. Consiste em comprimir uma amostra de fezes com uma grade metálica
(nº 120, trama de 0,09mm), fazendo com que ovos e detritos menores passem pela trama. Esses
são, então, depositados sobre uma lâmina, contendo um cartão de plástico com abertura central
de 6mm de diâmetro, até o preenchimento da abertura. Em seguida, retira-se o cartão ficando
apenas uma quantidade aproximada de 42 mg de fezes, que são então cobertas com um papel
filtro embebido com o corante verde malaquita (Imagem 7). Conta-se todos os ovos na lâmina.
O resultado deve ser multiplicado por 23, para obter o total de ovos por grama de fezes. A técnica
pode ser utilizada apenas para identificação, na qual se elimina o cartão de plástico.

225
UNICESUMAR

Imagem 7 – Representação do método do Kato-Katz / Fonte: adaptado de Siqueira-Batista et al. (2020, p. 41).

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um desenho esquematizando as etapas do método Kato-Katz. Da esquerda para a
direita, são representadas quatro etapas, cada uma ligada à subsequente por meio de uma seta. A etapa um apresenta um papel contendo
uma amostra de fezes em que é pressionada uma tela com malha fina; na etapa dois, a amostra que passou pela tela é colocada por uma
espátula em um orifício em um cartão plástico sobre uma lâmina; na etapa três, a amostra colocada sobre a lâmina é coberta com um papel
filtro contendo o corante; na etapa quatro, o papel filtro após corar a amostra de fezes pode ser retirado e pode ser colocado uma lamínula.

A microscopia direta da amostra fecal, ou de amostras que passaram por processo de enriquecimento,
podem ser realizadas com ou sem coloração (Imagem 8). Quando o exame é realizado sem coloração, é
denominado de “à fresco”. No entanto, para muitas estruturas, a observação é melhor caracterizada, ou
mesmo só pode ser realizada, por meio da utilização de corantes. Os corantes são substâncias químicas
que se ligam fortemente às moléculas das estruturas dos parasitos, permitindo sua visualização. Existem
diferentes tipos de coloração, e sua escolha dependerá da estrutura a ser observada. Por exemplo, ovos
de helmintos se coram fortemente com lugol (Imagem 8b), enquanto trofozoítos de giárdia ou amebas
são melhor observados quando corados com hematoxilina férrica (Imagem 8c).

a) b) c)

Imagem 8 – a) ovo de Trichuris trichiura observado à fresco; b) ovo de Trichuris trichiura corado com lugol; c) trofozoíto de Giardia
corado com hematoxilina férrica

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas três micrografias de exame de fezes. Na micrografia da esquerda, marcada
com a letra “a”, observa-se vários detritos e no centro da imagem, um ovo do verme Trichuris trichiura sem coloração, observado à fresco.
Na imagem do centro, marcada com letra “b”, observa-se um ovo de Trichuris trichiura, corado com lugol. Na imagem da direita, marcado
com a letra “c”, observa-se vários protozoários do gênero Giardia, corados com hematoxilina férrica.

226
UNIDADE 8

Para alguns parasitos intestinais, os métodos convencionais aplicados no Exame Parasitológico de Fezes
apresentam pouca sensibilidade, sendo necessário o uso de técnicas específicas. Um exemplo de método
direto para estes casos específicos é o método de Graham ou método da fita adesiva, utilizado para
realizar o diagnóstico de Enterobius vermicularis. Como este verme libera pouco ovos diretamente nas
fezes, os exames convencionais apresentam baixa detecção. Este verme tem como característica, sair pelo
ânus e se romper na região perianal, liberando os ovos. Assim, o método de Graham (Imagem 9) utiliza
uma fita adesiva transparente, pressionada na região perianal, e fixada sobre uma lâmina. Os ovos, quando
presentes na região perianal, ficam presos na fita e podem ser observados no microscópio.

Imagem 9 – Método de Graham ou método da fita adesiva. A) Fita adesiva (a) colocada sobre uma espátula, com papéis
(b) nas extremidades; B) pressão da espátula contendo a fita adesiva, sobre a região perianal; C) aplicação da fita sobre
uma lâmina de vidro / Fonte: (REY, 2008, p. 601).

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observados três desenhos ilustrativos, posicionadas na vertical, marcadas, de cima para
baixo, com as letras “A”, “B” e “C”. No desenho superior, marcado com a letra “A”, pode ser identificado um pedaço de fita adesiva trans-
parente, segmentado com a letra “a”, em cujas extremidades se ligam duas faixas de papel da mesma largura que a fita; marcadas com a
letra “b”, sendo que a fita dobra-se sobre a extremidade de uma espátula longa, com largura pouco maior com fita, de forma que a região
adesiva fica exposta voltada para fora. No desenho central, marcado com a letra “B”, observa-se um paciente, aparentando ser uma criança,
em decúbito ventral, e uma mão humana pressiona uma espátula na região perianal desse paciente. No desenho inferior, marcado com a
letra “C”, observa-se a fita adesiva do primeiro desenho, com as faixas de papel nas extremidades, coladas sobre uma lâmina.

227
UNICESUMAR

O segundo tipo de exame parasitológico mais comumente


realizado em laboratórios de análises clínicas é o de sangue.
Muitos parasitos do ser humano tem como habitat o
sistema circulatório sanguíneo, sendo possível ob-
servar diversas formas ou estágios circulantes des-
ses parasitos, como os trofozoítos do Plasmodium
(malária) e Trypanosoma (Doença de Chagas), ou
as microfilárias na filariose linfática.
O exame parasitológico de sangue (tam-
bém denominado de hemoscopia), realizado
com o objetivo de observar diretamente o para-
sito, consiste basicamente no exame de uma gota
de sangue sobre uma lâmina (NEVES, 2016), ob-
servada no microscópio.
A microscopia da gota de sangue coletada, pode ser
realizada à fresco, em que é possível observar o parasito
se movimentando (veja o eu indico a seguir), constituindo uma
importante ferramenta para o diagnóstico. A gota de sangue também pode ser fixada e corada,
ou apenas corada. Quando fixada, ou pelo uso da maioria dos corantes, o parasito morre, sendo
possível observar apenas sua morfologia.

Nos vídeos apresentados nos links a seguir, podem ser observados trofozoítos do Trypanosoma
cruzi, à fresco, caracterizando sua motilidade pelo batimento flagelar, sendo um importante
método de diagnóstico.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Os dois principais exames realizados em amostras de sangue são o esfregaço em camada delgada
(também denominada de gota estirada ou estendida) e o esfregaço em gota espessa (NEVES, 2016).
Em ambos os casos, o material deverá ser corado, com Giemsa ou Leishman.

228
UNIDADE 8

Na técnica de esfregaço em camada delgada (Imagem 10), posiciona-se uma gota de sangue
no lado direito de uma lâmina limpa e apoiada sobre uma superfície firme. Em seguida, com uma
segunda lâmina, inclinada a 45º, desliza-se sobre a lâmina apoiada, da esquerda para a direita,
até que esta toque a gota de sangue. Com isto, o sangue se espalhará por toda a base da segunda
lâmina através da capilaridade. Em seguida, desliza-se a segunda lâmina novamente, agora da
direita para a esquerda, espalhando o sangue sobre a lâmina apoiada, em uma camada muito fina.
Após o espalhamento, a lâmina contendo o sangue deve ser agitada vigorosamente para que ele
seque e evite a hemólise sanguínea.

Lamínula

Gota de sangue integral


(5-10 μl)

Início

Lâmina de vidro

Imagem 10 – Técnica de exame parasitológico de sangue em camada delgada.

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o processo de espalhamento da amostra para realização do esfregaço em camada
delgada. A imagem está dividida em quatro etapas, cada uma marcada com um número. Na porção superior esquerda, marcado com o
número “1”, pode ser observado uma gota de sangue (indicada com a legenda “gota de sangue integral 5-10 𝞵l”) do lado direito de uma
lâmina na horizontal (marcada com a legenda “lâmina de vidro”) e uma segunda lâmina inclinada (marcada com a legenda “lamínula”),
seguida por uma seta, indicando que tocará o centro da primeira em uma linha tracejada (marcada com a legenda “início”). Na porção
superior direita, marcado com o número “2”, há uma seta da esquerda para direita, indicando que a segunda lâmina (que se encontra
inclinada em um ângulo de 30-45º) deslizou nessa direção, sobre a lâmina na horizontal, até tocar a gota de sangue, que agora se espalhou
pela base da segunda lâmina por capilaridade. Na porção inferior esquerda, marcado com o número “3”, há uma seta direcionada da direita
para a esquerda, indicando que a segunda lâmina se desloca nessa direção, e pode ser observado a gota de sangue se espalhando sobre a
superfície da lâmina na horizontal. Na porção inferior direita, há apenas a lâmina na horizontal, com o esfregaço completamente formado.

229
UNICESUMAR

Após a lâmina secar deve ser realizada a fixação. O processo de fixação pode ser realizado por
vários métodos diferentes, sendo que o mais utilizado é a cobertura total do esfregaço com álcool
metílico por um minuto. Em seguida, aplica-se o corante. O mais utilizado para esta técnica é a
solução de Giemsa, cobrindo ou mergulhando a lâmina por um período de 20 a 30 min. Os re-
sultados são observados no microscópio, com as hemácias fracamente coradas em cinza ou rosa,
enquanto leucócitos e células infectadas com parasitos ou os próprios parasitos, ficam corados
em roxo azulado (Imagem 11).

a) b)
Imagem 11 – a) hemácias infectadas com Plasmodium vivax (setas), corada com Giemsa; b) esfregaço sanguíneo, contendo
tripanossomatídeos, corado com Giemsa.

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas duas micrografias de esfregaços de sangue. Na micrografia da esquerda,
marcada com a letra “a”, há a área de uma lâmina coberta com hemácias de coloração acinzentadas, observando no centro duas hemácias
infectadas com plasmodium, de forma irregular e coloração azul-arroxeada. Na micrografia da direita, marcada com a letra “b”, pode ser
observada a área de uma lâmina coberta com hemácias de coloração rósea, com alguns leucócitos maiores corados em roxo, e vários
protozoários alongados com flagelos, forma característica dos tripanossomas.

O esfregaço em gota espessa pode ser preparado de diferentes formas, dependendo principal-
mente do tipo de parasito a ser examinado (ex.: Plasmodium, microfilárias). Esta técnica utiliza
uma quantidade maior de sangue (entre três a quatro gotas), sendo geralmente utilizada quando
os parasitos são pouco abundantes na amostra, facilitando assim sua observação. Uma de suas
principais aplicações é para o diagnóstico de filariose linfática, na busca por microfilárias. Embora
alguns detalhes desta técnica, como quantidade de amostra e forma de fixação, variem com os
autores, os resultados obtidos são similares.

230
UNIDADE 8

Neste podcast, você vai aprofundar seu conhecimento sobre as metodo-


logias aplicadas no exame parasitológico de fezes, entendo a aplicabili-
dade de cada técnica alinhada ao tipo de parasitose. Acesse o QRCode
e aperte o play!

Seguindo o procedimen-
to apresentado por Neves
(2016), para a realização da
técnica, coloca-se entre 60 a
80 mm3 de sangue no centro
de uma lâmina, espalhando-
-o, em seguida, por uma área
de 4 por 1,5 centímetros. A
lâmina é deixada em tem-
peratura ambiente por 10
a 12 horas para secar. Em
seguida realiza-se o proces-
so de desemoglobinização
(descoloração por retirada
Imagem 12 – Microfilária de Wuchereria bancrofti em esfregaço sanguíneo
de hemoglobina), mergu- Fonte: WIKIMEDIA (2022a)
lhando a lâmina em água
destilada por 10 minutos. A Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma micrografia de um esfregaço
sanguíneo, observando hemácias coradas em rosa e uma microfilária, de formato achatado
lâmina é então fixada com e alongado, com a extremidade anterior iniciando na porção inferior da imagem, esten-
dendo-se para a esquerda e para cima, curvando-se para a direita, seguindo até a porção
metanol por dois minutos e direita da imagem curvando-se para baixo e terminando na porção inferior da imagem,
com coloração em rosa e roxo.
corada com Giemsa por 10
minutos. Após seca, a lâmina
pode ser observada ao microscópio para a pesquisa de microfilárias (Imagem 12).
Por fim, você vai conhecer uma técnica diferenciada de detecção direta de parasitos, utilizada
para observação de parasitos em feridas causadas por Leishmania sp., um tripanossomatídeo
flagelado. A leishmaniose tegumentar americana tem como principal característica a formação
de úlceras na região da derme (Imagem 13).

231
UNICESUMAR

O diagnóstico dessa para-


sitose pode ser realizado por
meio de amostras coletadas
diretamente da lesão, por ras-
pagem ou por biópsia. A partir
dessas amostras, é realizado
um esfregaço em lâmina por
aposição, o qual é então cora-
do pelo método de Giemsa,
Romanowsky ou Leishman, e
então observado ao micros-
cópio a procura do parasito.
Nesta unidade, você estu-
dou os principais métodos
diretos de diagnóstico de pa- Imagem 13 – Úlcera causada pelo protozoário do gênero Leishmania.
Fonte: WIKIMEDIA (2022a)
rasitoses. Caracterizamos a
importância da etapa de coleta
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada a região da perna de um ser
da amostra e como esta pode humano, contendo uma ferida grande, caracterizada com uma úlcera, em que observa-se
as camadas da derme danificadas, deixando aparentes os tecidos subcutâneos.
prejudicar o exame. Entende-
mos quais os procedimentos
que devem ser realizados tanto para o exame parasitológico de fezes quanto para o de sangue.
Agora que você conhece as características do diagnóstico parasitológico, pode entender melhor
o desafio e os questionamentos que foram propostos. Resgate o exercício proposto no início da
unidade e tente resolvê-lo com os conhecimentos que agora possui.
O exame parasitológico tem como objetivo identificar o agente causador de uma parasitose.
Na maioria das vezes, os sintomas do paciente podem indicar ao médico o tipo de exame a ser
solicitado. Sintomas como diarreia, dor abdominal ou mesmo constipação, indicam parasitos
habitando o trato gastrointestinal, o que fará o médico solicitar o Exame Parasitológico de Fezes
(EPF), aliado ou não a outros exames clínicos. Mesmo quando não há suspeito de um parasito es-
pecífico, o EPF será recomendado, pois a observação direta de ovos e larvas de helmintos, ou cistos,
oocistos e trofozoítos de protozoários, permite diretamente a identificação do agente etiológico.
Na experimentação que você realizou no início da unidade, como sugerido, você foi capaz de
identificar quais os principais tipos de exames parasitológicos são realizados em laboratórios de
análises clínicas, e para quais finalidades estes exames podem ser aplicados? Embora a especifici-
dade destes exames possa variar com a região, os principais exames parasitológicos realizados em
laboratórios são o Exame Parasitológico de Fezes e o Exame Parasitológico de Sangue, individual-
mente ou em conjunto, uma vez que são capazes de detectar a maioria das parasitoses humanas.

232
Caro(a) aluno(a), com base nos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, estou certo de
que é capaz de preencher o mapa mental a seguir.

Amostras
Metodologia
de Análise Sangue

DIAGNÓSTICO

Métodos diretos

Processos de enriquecimento

233
1. Leia o texto a seguir:

Os exames de fezes visam, em geral, revelar a presença de protozoários (trofozoítos e cistos)


ou de helmintos (ovos e larvas), habitualmente encontrados parasitando o sistema digestório
do homem, inclusive a mucosa intestinal, as vias biliares etc.

Fonte: REY, L. Parasitologia. 4ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2008, p. 815.

O Exame Parasitológico de Fezes (EPF) é considerado o principal exame no diagnóstico de


parasitos intestinais. Este exame, em sua fase analítica, pode ser dividido em exame macros-
cópico e microscópico. Com base nas características do EPF, explique, por meio de um texto
dissertativo de 3 a 5 linhas, no que consiste o exame macroscópico.

2. Leia o texto a seguir:

O exame parasitológico de fezes (EPF) é um procedimento de rotina laboratorial quando há


suspeita de enfermidades causadas por parasitos, cujas estruturas podem ser encontradas
nas fezes. Não existe uma técnica capaz de demonstrar todas as formas parasitárias que es-
tejam no material fecal. Existem métodos amplos, que podem revelar um grande número de
agentes etiológicos e outros métodos mais específicos.

Fonte: SIQUEIRA-BATISTA, R. et al. Parasitologia: Fundamentos e Prática Clínica. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2020, p. 38.

O exame microscópico da fase analítica Exame Parasitológico de Fezes (EPF) pode ser otimizado
utilizando diferentes técnicas de enriquecimento para concentrar os parasitos. Com base nas
características das técnicas de enriquecimento de amostras de fezes, explique, por meio de
um texto dissertativo de 3 a 5 linhas, como é realizado o método de Hoffman, Pons e Janer.

3. Leia o texto a seguir:

Diversas doenças parasitárias que apresentam formas ou estágios no sangue circulante


podem ser diagnosticadas com precisão por meio do exame de sangue... Existem dois tipos
fundamentais de esfregaços – o esfregaço em camada delgada e o esfregaço em gota espessa.

Fonte: NEVES, D. P. Parasitologia humana. 13ª ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016, p. 537.

O Exame Parasitológico de Sangue é um dos principais métodos para diagnosticar parasitos


sanguíneos. Ele observa a presença direta dos parasitas no sangue, sendo um método rápido
e eficaz. Com base nas características dos esfregaços sanguíneos, explique, por meio de um
texto dissertativo de 5 a 10 linhas, como é realizado o método de esfregaço em camada delgada.

234
9
Diagnóstico das
Parasitoses: Métodos
Indiretos
Dr. Vinícius Pires Rincão

Nesta unidade, você conhecerá os diferentes métodos de diagnós-


tico indireto de parasitoses. Aprenderá sobre diferentes métodos
imunológicos e moleculares utilizados para o diagnóstico das doen-
ças parasitárias. Conhecerá, ainda, as técnicas que utilizam o cultivo
do parasita ou do vetor para caracterização da doença.
UNICESUMAR

Uma doença causada por um parasito nem sempre apresenta sintomas que apontem ao médico qual o
provável agente etiológico. Muitos dos sintomas de parasitoses intestinais, por exemplo, são compartilhados
entre diferentes parasitos. Embora os exames parasitológicos diretos, como o exame de fezes, possibilitem o
diagnóstico de um amplo espectro de parasitoses, sua eficácia depende, por vezes, da quantidade de parasitos
que estão causando a infecção. Nestes casos, os profissionais da saúde podem utilizar outros métodos para
ajudar no diagnóstico, os chamados métodos indiretos. Caro(a) aluno(a), você sabe por que um método de
diagnóstico parasitológico é classificado como indireto? Por que os métodos imunológicos e moleculares
são métodos indiretos? O que diferencia um método imunológico de um método molecular?
Os exames laboratoriais que buscam identificar o agente etiológico de uma parasitose podem ser di-
vididos em diretos e indiretos. A escolha de que tipo de exame será realizado caberá sempre ao médico
responsável. No entanto, a aplicação dos métodos às amostras dos pacientes será de responsabilidade do
profissional da saúde laboratorista. Assim, o conhecimento sobre os diferentes procedimentos, diretos
ou indiretos, suas aplicações e limitações, é fundamental para que esse profissional consiga interpretar os
resultados e identificar o agente etiológico, auxiliando diretamente para o diagnóstico da doença.
Nós entramos em contato com exames imunológicos e moleculares constantemente, muitas vezes sem
nos darmos conta disso. Para que você entenda a importância destes exames, e qual sua relevância para a
parasitologia, gostaria de desafiá-lo a identificar, entre os exames que já realizou, um exame imunológico
e um molecular, mesmo sem relação com a parasitologia. Feito isso, pesquise e tente identificar o tipo de
exame parasitológico indireto mais realizado em laboratório de análises clínicas.
Nosso organismo pode ser comparado a uma complexa máquina, repleta de sistemas, cada um deles
com especificidade de realizar uma função necessária para o funcionamento geral do organismo. Assim
como toda máquina, nosso organismo também possui um sistema de defesa: o sistema imunológico. Caro(a)
aluno(a), você já parou para pensar por que um exame realizado em um laboratório tem a denominação
de imunológico? Qual a relação com o sistema imune? Como esses exames demonstram a presença de um
agente etiológico específico entre tantos possíveis? Agora é sua vez. Pense na pesquisa que você fez e nas
questões que levantamos, e escreva seus resultados no seu diário de bordo, a fim de que eu e você possamos
analisá-las juntos no decorrer desta unidade.

236
UNIDADE 9

O exame parasitológico tem como principal função a detecção de um parasito, sendo que muitas
vezes não é possível determinar sua etiologia específica, mas o grupo do qual o parasito faz parte,
principalmente quando é uma parasitose causada por protozoários. Os principais exames realizados
com essa finalidade são o Exame Parasitológico de Fezes e o Exame Parasitológico de Sangue, a
ser escolhido dependendo da suspeita inicial. Quando esses exames não conseguem apontar com um
grau de certeza, ou mesmo quando o resultado é negativo, mas duvidoso, o profissional responsável
pela análise pode utilizar técnicas indiretas de detecção do parasito.

Caro(a) aluno(a), agora que você tem o conhecimento de técnicas que permitem observar diretamente
os parasitos nas amostras, consegue imaginar como seriam as técnicas indiretas de diagnóstico
parasitológico?

Os métodos indiretos recebem esse nome porque indicam a pre-


sença de moléculas que só poderiam estar ali presentes caso
o parasita também esteja presente, ou estivesse presente a
algum tempo atrás. Entretanto, não mostram diretamente
o parasito. Os métodos indiretos tendem a apresentar
uma maior sensibilidade, porém, não devem ser con-
siderados sozinhos, pois podem apresentar falsos po-
sitivos. Um exemplo é o resultado positivo em exames
imunológicos para pacientes que foram imunizados
(vacinados) ou que ainda possuem anticorpos altos,
após uma parasitose, mas não tem mais o parasito.
Dentre os métodos indiretos de detecção de parasitos
os mais utilizados são: os baseados em mecanismos das
respostas imunes, as técnicas imunológicas, e os baseados
nas propriedades dos ácidos nucléicos, as técnicas moleculares.
Na área das técnicas imunológicas, a maioria dos testes utiliza a
reação antígeno e anticorpo como base (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). As técnicas que têm esse
princípio como base podem ser divididas em dois grupos: reagentes não marcados e reagentes
marcados. No primeiro grupo, para que o teste apresente resultado, será preciso uma grande con-
centração de imunocomplexos (estrutura resultante da ligação do antígeno com o anticorpo), o que
torna esses exames menos sensíveis. Já no grupo dos reagentes marcados, os anticorpos são acoplados
a marcadores que facilitam sua detecção, tais como moléculas fluorescentes ou enzimas específicas,
aumentando sua sensibilidade (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

237
UNICESUMAR

Dentre os exames com reagentes não marcados, podem ser citados como exemplo:

• imunodifusão; • eletroforese;
• precipitação; • ativação do complemento;
• aglutinação; • teste intradérmico de Monte Negro.

Na Técnica de Imunodifusão, o anticorpo e o antígeno são colocados sobre um suporte (fixados


ou livres), e o deslocamento de um sobre o outro ou de um em direção ao outro, através de um meio,
geralmente um gel poroso, formará um complexo antígeno-anticorpo, quando o teste for positivo.
Quando o complexo se forma, se torna grande demais para passar pelos poros do gel e acaba ficando
retido (REY, 2008). Esse precipitado, ao se concentrar na região de sua formação, se torna visível, per-
mitindo sua observação e positividade do teste (Imagem 1).

Imunodifusão radia simples


Descrição da Imagem: Na imagem, po-
Difusão do dem ser observadas duas figuras ilustra-
antígeno tivas. Na figura superior, nomeada como
“Imunodifusão radial simples”, podem
ser observados círculos concêntricos
onde figuras em forma de “Y”, nomea-
das como anticorpos incorporados ao
gel, que se espalham por toda a figu-
ra. A partir do círculo mais central, de
Anticorpo cor amarela, partem pequenas esferas
incorporado amarelas, nomeadas como “Antígeno”,

ao gel Antígeno em todas as direções, para os círculos


maiores externos. Também neste círculo
central podem ser observadas duas se-
tas apontando para fora, rotuladas como
“Difusão do antígeno”. Entre o limite mais
externo do círculo maior e o círculo cen-
tral menor, há um círculo de cor cinza, até
onde as esferas amarelas se deslocaram,
Halo de denominado de “Halo de precipitação”.
Na figura inferior, pode ser observado
precipitação um retângulo, nomeado como “Imuno-
difusão radial dupla”. No centro do lado
esquerdo desse retângulo, pode ser
Imunodifusão radial dipla observado um círculo verde, de onde
partem para todas as direções, figuras
Anticorpo Antígeno em formato de “Y”. Na parte externa e
superior do lado esquerdo do retângulo,
observa-se a legenda “Anticorpo” e uma
seta apontando para a direita. Na porção
inferior do lado esquerdo do retângulo,
apontando para o fundo branco, obser-
va-se a legenda “Matriz do ágar”. No cen-
tro do lado direito do retângulo, observa-
-se um círculo amarelo de onde partem
em todas as direções, figuras de esferas
amarelas. Na parte externa e superior do
lado direito do retângulo, observa-se a le-
genda “Antígeno” e uma seta apontando
para a esquerda. No centro do retângulo,
em posição vertical, observa-se uma faixa
de cor bege, onde se encontram as esfe-
Matriz do ágar Precipitado ras e as figuras em forma de Y, contendo
a legenda “Precipitado”.
Imagem 1 – Teste de imunodifusão / Fonte: (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020, p. 43).

238
UNIDADE 9

A Técnica de Imunoprecipitação (ou somente precipitação), também é dependente da afinidade


do anticorpo com o antígeno (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). Neste teste, uma amostra que
se suspeita estar infectada (de fezes, de biópsia, de sangue), após ser tratada para lisar as células
(romper as células) presentes, é exposta a um reagente com partículas marcadas com o anticorpo
específico para proteínas do parasito procurado. Caso estas proteínas estejam presentes, elas se
ligarão aos anticorpos e esse complexo será precipitado para o fundo do tubo (com ou sem cen-
trifugação). Após o precipitado ser separado do resto da amostra, as proteínas são liberadas dos
anticorpos, ou fragmentadas (dependendo do protocolo adotado) e serão agora submetidas a um
gel de eletroforese, onde será examinado o padrão de bandas (linhas separadas no gel) com base
em um padrão pré-determinado (Imagem 2).

Formação do complexo antígeno-


Amostra com Formação do complexo
anticorpo-grândulos de agarose e
proteínas totais antígeno-anticorpo
precipitação

Adição de Adição dos grândulos


anticorpos de agarose

Proteína de
interesse
Lavagem e
remoção das
demais
proteínas
Complexo antígeno-
anticorpo-grândulos de
Antígeno isolado agarose isolado

Eletroforese/
Western blot Purificação

Imagem 2 – Técnica de imunoprecipitação / Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: Na imagem, podem ser observadas figuras representativas de cinco microtúbulos de centrífuga, em sequência,
distribuídos em duas linhas, começando na porção superior da esquerda para a direita, e continuando na porção inferior, da direita para
a esquerda, ligados entre si por setas. Após o último microtúbulo, é observado um retângulo contendo traços transversais. No primeiro
microtúbulo superior, com a legenda “Amostras com proteínas totais”, pode ser observado em seu interior, círculos azuis e estrelas
vermelhas representando dois tipos distintos de proteínas. Entre o primeiro e segundo microtúbulos, pode ser observada a legenda
“Adição de anticorpos”, uma figura no formato de “Y” e uma seta ligada ao segundo microtúbulo. No segundo microtúbulo, com a legenda
“Formação do complexo antígeno-anticorpo”, pode ser observado em seu interior, os mesmos círculos azuis e estrelas vermelhas do
microtúbulo anterior, porém, agora com a figura em formato de “Y” ligada à estrela. Entre o segundo e terceiro microtúbulo, pode ser
observada a legenda “Adição dos grânulos de agarose”, uma figura no formato de um hexágono amarelo e uma seta ligada ao terceiro
microtúbulo. No terceiro microtúbulo, com a legenda “Formação do complexo antígeno-anticorpo-grânulos de agarose e precipitação”,
podme ser observados em seu interior os círculos azuis na porção superior e as estrelas vermelhas ligadas com a figura em formato
de “Y” e ao hexágono amarelo no fundo do tubo. Entre o terceiro e quarto microtúbulo, pode ser observada a legenda “Lavagem e
remoção das demais proteínas”. No quarto microtúbulo, com a legenda “Complexo antígeno-anticorpo-grânulos de agarose isolado”,
podem ser observadas, em seu interior, apenas as estrelas vermelhas ligadas com a figura em formato de “Y” e ao hexágono amarelo
dispersas no tubo. Entre o quarto e quinto microtúbulo, pode ser observada a legenda “Purificação”. No quinto microtúbulo, com a
legenda “Antígeno isolado”, podem ser observadas, em seu interior, apenas as estrelas vermelhas dispersas pelo tubo. Entre o quinto
microtúbulo e o retângulo final, pode ser observado a legenda “Eletroforese / Western blot”. O retângulo final representa a separação
das proteínas por eletroforese e identificação das bandas por Western blot, representadas por traços transversais em diferentes alturas.

239
UNICESUMAR

Na Técnica de Aglutinação, também denominado de aglutinação em látex, os anticorpos espe-


cíficos para o parasito examinado ficam aderidos a esferas de látex (REY, 2008). A medida que os
anticorpos se ligam aos antígenos no parasito, formam-se complexos cada vez maiores, até que
chegam ao ponto que podem ser observados a olho nu (sem o auxílio de equipamentos). Este
tipo de exame geralmente é disponibilizado em kits comerciais. Como pode ser observado na
imagem 3, quando o exame é positivo, o líquido, colocado sobre um fundo preto para facilitar
sua observação, forma grânulos pequenos, mas visíveis; já quando o exame é negativo, o líquido
apresentará um aspecto leitoso e sem grânulos.

Imagem 3 – Aglutinação em látex. 1- resultado positivo, com pequenos grânulos; 2- resultado negativo, sem grânulos e
com aspecto leitoso

Descrição da Imagem:Na imagem, podem ser observados seis círculos pretos sobre um fundo branco, em duas linhas de três. A esfera
superior esquerda tem o número 1 em vermelho e a esfera central superior tem o número 2 em vermelho. No círculo 1, observa-se
um líquido central contendo partículas muito pequenas, como se estivesse coalhado. No círculo 2, observa-se um líquido central de
aspecto leitoso e uniforme.

O termo Eletroforese é utilizado para designar diferentes testes que se baseiam no mesmo princípio:
a passagem de moléculas por um gel com espaçamento entre as fibras definido, impulsionado por
um campo elétrico. Resumidamente, na realização deste tipo de técnica, uma amostra onde há
moléculas diluídas, é colocada em um lado de um gel (por exemplo de agarose) e forçada a passar
por esse gel através da estimulação de uma corrente elétrica (geralmente as moléculas são impul-
sionadas do eletrodo negativo para o positivo); ao percorrer o gel que é formado por uma malha
devido a polimerização da agarose, as moléculas são separadas por tamanho sendo que as maiores

240
UNIDADE 9

percorrerão o gel mais lentamente, formando linha separadas, as chamadas bandas (Imagem 4).
Geralmente, cada banda apresentará proteínas de mesmo tamanho (mesmo peso molecular).
Existem diferentes tipos de eletroforese, sendo que muitas delas podem ser utilizadas para exames
diagnósticos em parasitologia. Essa técnica pode ser utilizada acoplada a outras, como no exemplo
da imunoprecipitação supracitado, ou isoladamente, como no caso da imunoeletroforese. Neste
último caso, uma amostra pré-tratada para separação das proteínas, é submetida a eletroforese em
gel, onde ocorre a separação das proteínas, entre elas as antigênicas. Após a separação das bandas,
o gel é escavado próximo a cada banda, onde se adicionam os anticorpos. A formação de arcos de
precipitação é um indicativo da presença do parasito.

fonte de energia
a) b)

Eletroforese

solução tampão

odo
Eletr

poços de amostras o
rod
Elet

Imagem 4 – Eletroforese em gel. a) cuba e gel de eletroforese para o teste; b) resultado do teste de eletroforese com
as bandas no gel

Descrição da Imagem:Na imagem da esquerda, marcada com a letra “a”, pode ser observado um desenho ilustrativo de uma cuba de
eletroforese. No centro do desenho, pode ser observado um recipiente retangular, a cuba, preenchido com um líquido transparente,
rotulado como solução tampão, contendo em suas laterais menores dois tubos cilíndricos rotulado como eletrodos, sendo que o da
extremidade esquerda acompanha o sinal de negativo e o da direita acompanha o sinal de positivo. No centro da cuba, cujo fundo é
elevado, observa-se uma estrutura azul, de formato quadrado, constituindo o gel. Na extremidade do gel, localizada próximo ao ele-
trodo negativo, observam-se escavações denominadas de poços de amostras. Os dois eletrodos estão ligados por fios a uma fonte de
energia localizada em segundo plano. Na imagem da direita, marcada com a letra “b”, observa-se a fotografia de um gel de agarose de
uma eletroforese, em que são observadas nove colunas contendo faixas transversais azuis.

No Brasil, um dos exames imunológicos mais realizados para detecção de Leishmaniose Tegumentar
Americana, é o Teste Intradérmico de Monte Negro (NEVES, 2016). Neste exame, é detectada uma
reação de hipersensibilidade retardada no paciente. Para realização do teste, é inoculado 0,1 mL de
um antígeno ou mistura de antígenos extraídos do parasito, por via intradérmica, geralmente na face
interna do antebraço. Quando o paciente apresenta os anticorpos para o antígeno, ou seja, ele já teve
contato com o parasito ou vacina anteriormente ao teste, ocorre uma reação inflamatória no local.
Desta reação, resulta a formação de um nódulo que deverá ser avaliado entre 48 a 72 horas, quando
a reação é considerada máxima (o nódulo começa a regredir a partir deste período). Para a medição,
pode-se utilizar uma caneta esferográfica, pressionada levemente sobre a pele, deslocada em direção
ao nódulo para determinar suas extremidades. O exame é considerado positivo quando o diâmetro
do nódulo é maior ou igual a 5 milímetros (NEVES, 2016) (Imagem 5).

241
UNICESUMAR

Imagem 5 – Teste intradérmico de Monte Negro

Descrição da Imagem:Na imagem, pode ser observado o antebraço de um ser humano, em que observa-se, na região central, uma
área circular avermelhada, em uma reação inflamatória, circundada por um traçado de tinta de caneta esferográfica azul.

Como você pode perceber, nos exames com reagentes não marcados, os resultados são dependentes
diretamente da quantidade de antígenos, o que pode implicar na necessidade de uma carga parasitária
grande. Assim, infecções iniciais ou com poucos parasitos podem não ser detectadas com facilidade.
Agora você vai conhecer os exames que utilizam os reagentes com marcadores, dos quais podemos
citar como exemplo: Reação de imunofluorescência, ELISA, Imunocromatografia e a citometria de fluxo.
A Reação de Imunofluorescência é caracterizada pela marcação dos anticorpos como fluoro-
cromos (moléculas que emitem fluorescência sobre determinadas condições). Esta técnica pode ser
executada de diferentes formas, e são divididas em dois grupos: direta e indireta. Na Imunofluores-
cência direta, um anticorpo específico ao antígeno alvo (pertencente ao parasito), é marcado com o
fluorocromo e colocado junto com a amostra. Caso a amostra seja positiva, o anticorpo vai se ligar e
pode ou emitir fluorescência diretamente, ou emitir fluorescência ao ser estimulada por luz ultravioleta
(Imagem 6). Esta técnica, por marcar o anticorpo específico, tende a ser mais cara, porém mais sensível.
Já a técnica de Imunofluorescência Indireta usa anticorpos inespecíficos marcados com fluorocromo.
Estes anticorpos marcados se ligam à fração Fc dos anticorpos que é constante para todo tipo de anti-
corpo. Assim, imunofluorescência indireta pode ser utilizada tanto para avaliar a presença de antígenos
do parasito como de anticorpos específicos para o parasito (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).

242
UNIDADE 9

a) Anticorpo marcado com


Antígeno fluorescência

Complexo
antígeno-anticorpo

Imunofluorescência
antígeno específica

Hibridização

b)

Imagem 6- Técnica de Imunofluorescência direta: a) técnica de imunofluorescência direta; b) exemplo de imunofluorescência


em lâmina contendo células marcadas com anticorpos com fluorocromo em verde.

Descrição da Imagem:Na imagem superior, marcada com a letra “a”, pode ser observada uma figura ilustrativa do processo de mar-
cação de imunofluorescência direta. Nessa figura, podem ser observadas quatro lâminas de vidro, duas superiores e duas inferiores.
Na lâmina superior esquerda, observa-se um círculo central com esferas amarelas e a legenda “antígeno”. Na lâmina superior direita,
observa-se a primeira lâmina somada de estruturas em forma de Y invertida, contendo na ponta uma esfera verde opaca, e as legendas
“anticorpos marcados com fluorescência” e “complexo antígeno anticorpo”. Na lâmina inferior direita, observa-se a mesma lâmina dois,
mas agora com a esfera verde brilhando e a legenda “hibridização”. Na lâmina inferior esquerda, observa-se uma lâmina preta com
círculo central mais escuro, contendo pontos verdes em seu interior e a legenda “Imunofluorescência antígeno específica”. Na imagem
marcada com a letra “b”, tem-se a micrografia de uma lâmina contendo muitas células gerais com fluorescência azul, e algumas poucas
células marcadas com fluorescência verde.

243
UNICESUMAR

O exame denominado de Ensaio de Imunoadsorção Enzimática (ELISA) é um dos mais utilizados


quando há a necessidade de se avaliar muitas amostras em conjunto. Este teste se baseia na transforma-
ção de um substrato, que altera sua cor, quando exposto a um anticorpo marcado com uma enzima. Na
Imagem 7, temos uma placa com poços, em que foram realizados os exames de ELISA para 96 amostras,
destas, todas que mudaram da cor azul para a amarela apresentaram resultado positivo. Existem diferentes
formas de ELISA (direto, indireto, sanduíche) dependendo do tipo de molécula que se deseja encontrar.

Imagem 7 - Placa com exame de ELISA

Descrição da Imagem:Na imagem, pode ser observada uma placa de plástico contendo 96 poços escavados, sendo que a maioria
apresenta um líquido de cor azul e alguns apresentam um líquido de cor amarela.

O ELISA direto é geralmente utilizado para detecção do antígeno, quando a amostra é colocada em
contato com uma placa não sensibilizada. O ELISA indireto é geralmente utilizado para detectar a
presença de anticorpos, quando a amostra é colocada em contato com uma placa que foi sensibilizada
com o antígeno, onde o anticorpo se ligará, sendo em seguida, acrescentado o anticorpo marcado com
a enzima que se ligará na fração Fc do anticorpo que se procura. Em seguida, é colocado o substrato.
Nos poços onde o anticorpo marcado com enzima estiver presente, esta catalisará a quebra do substrato,
fazendo com que a cor se altere (Imagem 8).
Já o ELISA sanduíche pode ser utilizado a detecção do anticorpo, porém, diferentemente do ELI-
SA direto, neste teste a placa será previamente sensibilizada com o anticorpo específico e somente
em seguida será introduzida a amostra (Imagem 8). Caso o antígeno esteja presente, ficará ligado ao
anticorpo. Em seguida, é adicionado um segundo anticorpo específico, marcado com uma enzima. O
substrato pode ser adicionado em conjunto com o anticorpo marcado ou em seguida.

244
UNIDADE 9

A ELISA indireto

Lavagem Lavagem Lavagem


E E E E
S S

Poço Adicionado Adicionar conjugado Adicionar


coberto Ac específico enzimático (anticorpo substrato e
com Ag a ser medido secundário) medir a cor

B ELISA sanduíche

Lavagem Lavagem Lavagem


E E E E
S S

Poço coberto Adicionar o Ag Adicionar o Adicionar o


com Ac a ser medido conjugado enzimático substrato e
(anticorpo secundário) medir a cor

Imagem 8 - Elisa indireto e Elisa sanduíche / Fonte: adaptado de Siqueira-Batista et al. (2020, p. 45).

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um desenho esquemático dos processos do teste de ELISA indireto e do ELISA san-
duíche. Na parte superior da figura, representando o teste de ELISA indireto, podem ser observados quatro cilindros com a porção superior
aberta e preenchidos com líquido de cor azul nos cilindros 1, 2 e 3, e amarelo no cilindro 4, ligados por setas da esquerda para a direita.
No primeiro cilindro com a legenda “poços cobertos com Ag”, podem ser observados no fundo pequenas esferas rosas representando os
antígenos; na seta ligando ao segundo cilindro está escrito lavagem; no segundo cilindro, com a legenda “adicionado anticorpo específico
a ser medido”, podem ser observadas estruturas em forma de “Y”, de cor azul, ligadas às esferas rosas; na seta ligando ao terceiro cilindro
está escrito lavagem; no terceiro cilindro, com a legenda “adicionar conjugado enzimático (anticorpo secundário)”, podem ser observadas
as estruturas do segundo cilindro sendo ligadas por outras estruturas em forma de “Y”, de cor cinza, tendo um “E” ligado a sua base; na seta
ligando ao quarto cilindro está escrito lavagem; no quarto cilindro, com a legenda “adicionar substrato e medir a cor”, podem ser observadas
as estruturas do terceiro cilindro, onde saindo do “E” há uma linha ligada a um “S”. Na parte inferior da figura, representando o teste de
ELISA sanduíche, podem ser observados quatro cilindros com a porção superior aberta e preenchidos com líquido de cor azul nos cilindros
1, 2 e 3, e amarelo no cilindro 4, ligados por setas da esquerda para a direita. No primeiro cilindro, com a legenda “poços cobertos com Ac”,
pode ser observado no fundo estruturas em forma de “Y” representando os anticorpos; na seta ligando ao segundo cilindro está escrito
lavagem; no segundo cilindro, com a legenda “adicionar o antígeno a ser medido”, podem ser observadas estruturas em forma de “Y”, de cor
azul, onde se ligam às esferas rosas que acabaram de ser adicionadas; na seta ligando ao terceiro cilindro está escrito lavagem; no terceiro
cilindro, com a legenda “adicionar conjugado enzimático (anticorpo secundário)”, podem ser observadas as estruturas do segundo cilindro
sendo ligadas por outras estruturas em forma de “Y”, de cor cinza, tendo um “E” ligado a sua base, se ligando diretamente nas esferas rosas;
na seta ligando ao quarto cilindro, está escrito lavagem; no quarto cilindro, com a legenda “adicionar substrato e medir a cor”, podem ser
observadas as estruturas do terceiro cilindro onde saindo do “E” há uma linha ligada a um “S”.

A Técnica de Imunocromatografia é também denominado de teste rápido imunocromatográfico, de-


vido ao curto tempo (5 a 15 minutos) até o aparecimento do resultado. Este teste consiste em uma fita em
papel filtro, em que são depositados anticorpos específicos para o antígeno do parasito que se pretende
investigar. No exemplo da Imagem 9, o teste é para detecção de Toxoplasma. Logo abaixo do orifício do
lado direito, estão os anticorpos para o Toxoplasma, marcados com um corante na extremidade oposta.
Neste orifício será depositado uma solução tampão contendo a amostra a ser testada. Caso o antígeno do
toxoplasma esteja presente na amostra, ele se ligará ao anticorpo, e então a solução começa a se deslocar
pela fita de papel filtro até a extremidade oposta. No centro do papel filtro há duas áreas distintas. Na área
marcada com a letra “T” (de Teste) há uma concentração de anticorpos específicos ao antígeno (similares
aos do início do teste) que ficam fixados ao papel. Quando a amostra passa por esta área, o complexo
antígeno-anticorpo do início se liga a esse segundo anticorpo, deixando exposto o corante e formando

245
UNICESUMAR

uma linha transversal. A amostra continua então a se deslocar pelo papel filtro e alcança a segunda área,
marcada com a letra “C” (de Controle), onde estão depositados anticorpos, fixados no papel, que se ligarão
a fração Fc dos anticorpos do início, mostrando que o teste ainda é válido.
Assim, para que o teste imunocromatográfico seja considerado positivo, as duas linhas deverão estar
visíveis. Entretanto, se a linha C não aparecer, indicará que o teste não é mais funcional.

Imagem 9 - Teste imunocromatográfico para Toxoplasmose

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma mão com uma luva azul segurando uma estrutura plástica retangular
de cor branca entre o indicador e o polegar. A estrutura plástica contém, do lado direito, uma abertura elíptica com acesso a um papel
branco interno. No centro da estrutura branca, uma segunda abertura, de formato retangular, paralelo ao eixo central da estrutura,
possibilitando a observação do papel interno, contendo em sua lateral duas letras “T” e “C”. No papel, na altura de cada letra, pode ser
observada a linha transversal de coloração vermelha. No lado esquerdo da estrutura plástica, pode ser observada a legenda “Toxo-
plasma”. Em papel no fundo, representando um formulário, pode ser observado a marcação com um “v” da opção Toxoplasma IgM.

A última técnica que você vai conhecer é a Citometria de Fluxo. O citômetro de fluxo é um aparelho
que tem como finalidade a contagem de células de qualquer tipo. Por esta técnica, mesmo células não
marcadas, podem ser contadas e algumas propriedades determinadas (como tamanho, quantidade
de DNA etc.). O aparelho consegue realizar a contagem, fazendo com que as células passem por finos
capilares, que permitem que uma ou poucas células passem por vez, e emitindo um laser sobre elas. A
mudança na trajetória e padrões do laser determinam as características das células.
Embora a citometria de fluxo não seja uma técnica imunológica em si, pode ser usada em conjunto
com estas. Ao marcar anticorpos específicos de parasitos com fluorocromos, e adicioná-los a amostras,
é possível detectar a presença do parasito e até mesmo determinar sua quantidade. Ao ser estimulado
pelo laser, o fluorocromo emitirá um sinal diferenciado dos demais, permitindo sua contagem (Imagem
10). Embora seja extremamente sensível, não é uma técnica muito utilizada devido aos altos custos.

246
UNIDADE 9

Citômetro de fluxo
Amostra

Fluido de revestimento

Bocal

Fluorescência de
células corada

Luz de laser Luz dispersada de


todas as células
detectadas

Imagem 10 - Esquema do funcionamento do citômetro de fluxo

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma figura ilustrativa da parte interna de um citômetro de fluxo. Observa-se uma
estrutura de cor cinza, na forma de um funil com o bocal superior vedado, em que é inserido um tubo central, por onde passa a amostra na
forma de esferas de cor azul ou vermelha; e um cano lateral por onde é introduzido, representado por setas roxas, o fluido de revestimen-
to, na porção inferior do funil, as esferas da amostra (representando as células) passam uma a uma. No lado esquerdo externo da porção
inferior do funil, observa-se uma estrutura cilíndrica cinza, de onde saem setas de cor laranja em direção ao funil, nomeada de luz do laser.
Estas setas passam por uma esfera vermelha no interior do funil e se divide em uma laranja e uma vermelha representando a luz irradiada.

Embora os métodos imunológicos apresentem uma alta sensibilidade na detecção dos parasitos em
amostras, em alguns casos podem ocorrer imprecisões, como nas reações cruzadas de anticorpos, onde
um anticorpo específico para uma espécie acaba se ligando a outra muito similar. Por esta razão estes
testes são complementares e devem ser utilizados em conjunto com outros.

247
UNICESUMAR

Mesmo com sua alta sensibilidade, os testes imunológicos são menos sensíveis que os testes mo-
leculares. A partir deste ponto, você conhecerá as principais técnicas imunológicas utilizadas para
o diagnóstico de parasitoses. Apesar de serem considerados métodos indiretos, a base principal
dos exames moleculares é a detecção de ácidos nucleicos do parasito, principalmente de seu DNA,
e isso diretamente implica em sua presença na amostra examinada. Esses métodos por si só não
são, ainda, utilizados como diagnóstico definitivo, mas são muito importantes, como destacam
Siqueira-Batista et al. (2020, p. 47):


(...) os métodos moleculares são utilizados em adição aos métodos laboratoriais conven-
cionais (baseados na detecção de parasitos em amostras clínicas por meio de identificação
microscópica direta), em situações nas quais a detecção por métodos estabelecidos é
difícil em razão de fatores como: cargas parasitárias, baixas, semelhanças em morfologia
e morfometria, baixa sensibilidade dos ensaios com base na detecção de antígenos, inca-
pacidade dos testes fundamentados na detecção de anticorpos determinarem infecção
ativa ou infecções múltiplas.

As técnicas moleculares têm apresentado resultados cada vez mais sensíveis e com alta especifi-
cidade, o que as torna uma importante ferramenta no diagnóstico de parasitoses, principalmente
em larga escala. Entretanto, os equipamentos e qualificação dos profissionais em sua utilização
ainda limita seu emprego.

248
UNIDADE 9

Dentre as técnicas moleculares utilizadas em la-


boratórios de análises clínicas para a detecção de
parasitos, tanto protozoários quanto helmin-
tos, podemos destacar: PCR, PCR em tempo
real, RT-PCR e Microfluídica.
Sem dúvidas, a técnica molecular
mais empregada é a técnica da Reação
em Cadeia da Polimerase (PCR) e suas
variações. A técnica da PCR foi inventa-
da na década de 1980 por Kary Mullis
(ganhador do prêmio Nobel de química
de 1993 por este feito), e a partir daí vem
sendo aplicada para várias finalidades, desde
testes de paternidade até a produção de orga-
nismos transgênicos. Entre todas estas aplicações
está também o diagnóstico clínico. Mas como é que
a técnica funciona? Como podem ser feitas várias cópias de
uma molécula de DNA fora de uma célula, já que apenas estas têm a maquinaria necessária? A
resposta pode parecer óbvia: é pegar emprestada a maquinaria da célula, não é?
Não é tão simples assim. Todo o processo de síntese de DNA envolve várias etapas e muitas
enzimas, principalmente no que diz respeito a abrir a dupla fita do DNA, o que tornaria o processo,
se realizado em laboratório, demorado e impreciso. Felizmente, Mullis teve uma brilhante ideia:
aumentar a temperatura do meio até próximo a 100º C, isso romperá as pontes de hidrogênio e
abrirá a fita de DNA. Seria fantástico se todas as outras enzimas não desnaturassem e perdessem
a sua função nessa temperatura, fazendo com que mais enzimas tivessem que ser adicionadas a
reação e tornando-a dispendiosa. É aí que entra a descoberta da Taq DNA polimerase, uma enzi-
ma presente na bactéria Thermus aquaticus,, que vive em fontes termais, com termo estável em
temperaturas de até 96º C.
A técnica de PCR tem como uma de suas principais vantagens a alta sensibilidade e especifi-
cidade do teste. “Como a PCR produz uma amplificação gigantesca do alvo, da ordem de 1 bilhão
de vezes, é uma metodologia muito sensível, detectando quantidades de microrganismos que não
eram detectáveis por outros métodos” (MORAES; FERREIRA, 2013, p. 55).
A PCR é uma técnica realizada através de um processo simples (Imagem 11), em três etapas
subsequentes: 1- uma fita de DNA é aberta por aquecimento expondo as bases nitrogenadas dos
nucleotídeos (adenina, citosina, guanina e timina); 2- diminui-se a temperatura até que os primers
(iniciadores) se anelem aos locais específicos que se deseja amplificar; 3- eleva-se a temperatura para
ativação da DNA polimerase que, utilizando os primers como ponto de partida, copia o restante
da fita de DNA. Todo esse processo é repetido diversas vezes (em média serão trinta ciclos) em
um aparelho denominado temociclador, resultando em um crescimento exponencial das cópias
DNA, totalizando bilhões de novas moléculas para cada fita de DNA da amostra.

249
UNICESUMAR

Região de 5' 3'


interesse 3' 5'
98ºC
5' 3'
Desnaturação
Eleva-se a temperatura para
3' 5' separar os filamentos
48 a 72ºC
5' 3' Anelamento
Filamentos Diminui-se a temperatura para
Primer 3' 5'
de DNA 5' 3' Primer possibilitar primers para os
(moldes) pares de bases para o molde
3' 5'
68 a 72ºC de DNA complementar

5' 3'
Extensão
Filamentos
3' 5' A polimerase estende o
de DNA 5' 3' primer para formar o
(nascentes)
3' 5' filamento de DNA nascente

1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo 30º ciclo


2 31= 2 bilhões de cópias
2² = 4 cópias
2³ = 8 cópias
Amplificação exponencial
2 4= 16 cópias Com a repetição do processo,
a região de interesse é
ampliada exponencialmente

25= 32 cópias
Imagem 11 - Técnica da Reação em Cadeia da Polimerase / Fonte: Siqueira-Batista et al. (2020, p. 49)

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observada uma figura ilustrativa explicando o processo da PCR. Do lado esquerdo da imagem,
observa-se o desenho de um aparelho de cor cinza, com botões, o termociclador. No centro da imagem na parte superior, podem ser ob-
servadas linhas de cor vermelha, representando o DNA. Dessas linhas parte uma seta para baixo, contendo o escrito “98º C”, ligando a duas
linhas azuis separadas, com a legenda “desnaturação”, em sequência, uma segunda seta para baixo, contendo o escrito “48 a 72º C”, ligando
a novas linhas azuis separadas contendo pequenas linhas amarelas ligadas nas extremidades, os “primers”, com a legenda “anelamento”;
em sequência, uma terceira seta para baixo, contendo o escrito “68 a 72º C”, ligando a novas linhas azuis separadas, com as pequenas linhas
amarelas ligadas nas extremidades, de onde partem linhas vermelhas que são estendidas por estruturas marrons em forma de “C”, com a
legenda “extensão”. Na porção inferior, há quatro blocos de linhas paralelas, ligadas entre si por linhas perpendiculares, que vão aumentando
proporcionalmente. Na esquerda, o bloco 1 contém a legenda “1º ciclo, 4 cópias”, seguido pelo bloco 2 com a legenda “2º ciclo, 8 cópias”,
seguido pelo bloco 3 com a legenda “3º ciclo, 16 cópias”, seguido pelo bloco 4 com a legenda “4º ciclo, 32 cópias”, seguindo por uma legenda
onde se lê “30º ciclo, 2 bilhões de cópias” e, por fim, do lado direito a legenda “Amplificação exponencial”.

Para várias metodologias de PCR, assim como para o diagnóstico das doenças parasitárias, a deter-
minação do primer é ponto fundamental, pois esses pequenos fragmentos de RNA são sintetizados
para se ligar especificamente na parte do DNA de interesse. Assim, quando se quer determinar, por
exemplo, a presença do Plasmodium vivax (protozoário causador da malária), pode-se sintetizar um
primer específico para a porção do DNA responsável pela síntese de uma das proteínas do complexo
apical. Para entender melhor a técnica da PCR, veja o eu indico a seguir.

250
UNIDADE 9

No vídeo apresentado no link a seguir, é explicado como é realizada a


técnica de PCR, mostrando os diferentes componentes e a importância
das diferentes temperaturas.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Na técnica do PCR tradicional, após a amplificação do DNA, a amostra é submetida a uma eletrofo-
rese em gel para que se possa separar as moléculas amplificadas e assim confirmar o resultado. Após
separados, os fragmentos de DNA podem ser corados (existem vários corantes diferentes, um exemplo
é o brometo de etídio que fluoresce na presença de luz ultravioleta) e assim comparados a um padrão
de tamanho (Imagem 12). Como os primers permitem a determinação exata da região do DNA que
se quer amplificar, é possível determinar o tamanho das moléculas amplificadas e, agora no gel de
eletroforese, confirmar o resultado do exame (MORAES; FERREIRA, 2013).

Imagem 12 - Gel com DNA amplificado por PCR corados e observados à luz ultravioleta. Os poços 1 e 2 são os padrões de tama-
nho de fita de DNA. Quanto mais baixo no gel menor o tamanho da fita

Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado um gel de agarose corado com um corante fluorescente e observado sob luz ultra-
violeta. As estruturas coradas no gel, em forma de bandas transversais, aparecem sobre um brilho laranja. No centro do gel, há duas colunas
marcadas com os números 1 e 2. Nestas colunas, observa-se um padrão de bandas, de cima a baixo.

251
UNICESUMAR

Embora o PCR seja uma técnica sensível e específica, o tempo decorrido para a sua realização
é uma desvantagem em relação a outras metodologias. Uma variação do PCR normal, muito
utilizada, e que corrigido o fator do tempo, é a denominada PCR em Tempo Real ou PCR
quantitativa (qPCR). Essa técnica, apesar de mais onerosa devido ao tipo de equipamento
utilizado, permite a detecção e contagem da amplificação do DNA no momento em que este
ocorre (por isso denominada em tempo real).

Neste podcast, você vai aprofundar seu conhecimento sobre as técnicas


de PCR utilizadas para o diagnóstico de parasitoses. Acesse o QRCode
e aperte o play!

O PCR em tempo real se baseia na junção de moléculas intercalantes (moléculas que se inserem
entre as fitas de DNA) ou sondas de oligonucleotídeos nas novas moléculas de DNA que se for-
mam. Assim, toda a vez que a dupla fita de DNA se abre para ser copiada, esses intercalantes são
liberados e emitem um sinal fluorescente detectado pelo aparelho. Para que o exame possa ser
realizado, o aparelho utilizado é um termociclador acoplado a um fluorímetro (sensor detector
de fluorescência), permitindo a detecção e medição da amplificação à medida que esta ocorre, ou
seja, em tempo real.
Outra variação do PCR tradicional é o RT-PCR. Pela sigla, essa técnica é muitas vezes con-
fundida com o PCR em tempo real, mas tem uma aplicação bem diferente, embora possam ser
utilizadas em conjunto. O nome RT vem de Transcriptase Reversa, uma enzima capaz de copiar
moléculas de RNA em moléculas de DNA. Com essa técnica, é possível detectar a expressão gênica
de parasitos, medindo sua atividade através da detecção de mRNAs. Ela é empregada, por exemplo,
para medir a viabilidade de oocistos Entamoeba histolytica (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020).
A última técnica molecular indireta de diagnóstico que você irá conhecer é denominada
de Microfluídica. Como o nome sugere, nesta técnica, são utilizadas quantidades ínfimas de
fluídas (amostras ou reagentes), inseridas em dispositivos com canais extremamente reduzidos
(Imagem 13). Essa técnica pode ser acoplada a muitas outras, incluindo as de PCR, aumentando
a eficiência do teste, possibilitando um maior número de análises em menor tempo e com menor
custo (SIQUEIRA-BATISTA et al., 2020). São utilizadas tanto para a junção de reagentes antes da
amplificação do PCR, quanto para verificação do produto final de amplificação.
A análise clínica tem desenvolvido protocolos que utilizam essa tecnologia, aumentando a eficiência
das análises, conforme relatam Siqueira-Batista et al. (2020, p. 54):

252
UNIDADE 9

Imagem 13 - Placa de microfluídica

Descrição da Imagem: Na imagem, em fundo preto, observa-se uma placa plástica, contendo em seu interior um canal começando da
direita, com três canais que se unem para formar um, que vai fazendo zigue e zague até a extremidade esquerda, com coloração vermelha.


Com esta técnica pode-se reduzir procedimentos complexos de laboratório a apenas um
microchip. Os microssistemas para análises totais (μTAS, do inglês micro total analysis
systems), também denominados laboratório em um chip (lab-on-a-chip) ou sistemas
analíticos microfluídicos, conseguem realizar todas as etapas de uma análise química
completa (pré-tratamento de amostra, reações químicas, separações analíticas, detecção
etc.) em apenas um dispositivo de maneira integrada e automatizada.

Uma forma de diagnóstico indireto ainda utilizada, mas princi-


palmente como complementação das metodologias clássicas,
é o cultivo do parasito em meios de cultura específicos.
Embora a maioria destas técnicas seja aplicada para a de-
tecção de protozoários, para alguns helmintos é possível
realizar o cultivo. Esta técnica é principalmente utilizada
quando há a suspeita de que o parasito esteja presente
em pequenas quantidades. Nem todos os parasitos con-
seguem crescer bem em meios de cultura, porém, para
aqueles que conseguem, essa técnica permite o aumento
da população, facilitando sua observação ou detecção por
métodos imunológicos ou moleculares. Um exemplo do uso
desta técnica é a cultura do Trichomonas vaginalis em meio TYM
(tripticase-extrato de levedura-maltose) (NEVES, 2016).
Uma técnica empregada em casos específicos de parasitoses, especialmente associadas a protozoários,
é o Xenodiagnóstico (o prefixo “xeno”, neste caso significa estrangeiro). O termo xenodiagnóstico
refere-se a diagnosticar um parasito presente em um paciente, colocando-o em outro organismo. Re-
sumidamente, permite-se que um hospedeiro intermediário criado em cativeiro garantindo que não
tenha o parasito, na maioria das vezes um inseto, realize o repasto sanguíneo ingerindo assim o parasito

253
UNICESUMAR

(Imagem 14). Esse parasito, no


interior do hospedeiro inter-
mediário, irá se multiplicar
facilitando sua identificação,
principalmente pelo tamanho
reduzido do corpo do inseto
facilitando o exame e ou a
produção de amostras.
Um exemplo do uso do
xenodiagnóstico ocorre no
diagnóstico da Doença de
Chagas em sua fase crônica,
não com a finalidade de se de-
Imagem 14 – Repasto sanguíneo de insetos para realização de xenodiagnóstico.
terminar a doença, mas sim Fonte: Tiwary et al. (2017, p. 7).
de se avaliar o seu desenvol-
Descrição da Imagem: Na imagem, pode ser observado o antebraço de uma pessoa, no
vimento. Geralmente, neste qual está fixado por meio de fita crepe, uma estrutura de vidro, aberta na porção inferior
exame, os triatomíneos são que está em contato com a pele do braço, contendo em seu interior mosquitos hematófagos.

colocados para realizar o re-


pasto sanguíneo no braço ou costas do paciente. Os insetos são colocados em contato com o braço do
paciente, devendo permanecer por 30 minutos em contato com local para o repasto adequado. Em
seguida, os insetos são mantidos em condições adequadas de crescimento entre 30 e 90 dias, onde se
deve examinar o conteúdo intestinal, através da pressão na ampola retal do inseto, forçando-o a de-
fecar. Esta amostra é examinada sobre lâminas no microscópio, à fresco, em busca de epimastigotas e
tripomastigotas do Trypanosoma cruzi (NEVES, 2016).
Nesta unidade, estudamos os principais métodos indiretos de diagnóstico de parasitoses. Você pode co-
nhecer e entender as técnicas imunológicas e moleculares mais utilizadas para a identificação de parasitos.
Agora que você conhece as características do diagnóstico parasitológico, pode entender melhor o
desafio e os questionamentos que foram propostos. Resgate o exercício proposto no início da unidade
e tente resolvê-lo com os conhecimentos que agora possui.
Os exames utilizados para determinar o agente etiológico de uma parasitose devem tentar deter-
minar, além da parasitose em si, uma vez que doenças causadas por vírus e bactérias têm sintomas
similares, o agente etiológico dessa parasitose. Para isso, os métodos diretos são os mais indicados e
mais utilizados. Entretanto, nem sempre são efetivos. É aí que os profissionais utilizam os métodos
indiretos. Esses métodos buscam identificar produtos liberados pelo parasito ou gerados pelo organis-
mo em decorrência da infecção, mas não são capazes de mostrar o parasito diretamente, por isso são
denominados indiretos. Os métodos indiretos mais utilizados são os imunológicos (dos quais podemos
citar o ELIZA e a Imunofluorescência indireta) que utilizam anticorpos específicos aos antígenos dos
parasitos; e os moleculares (dos quais podemos citar o PCR convencional e o PCR em tempo real), que
buscam identificar os ácidos nucleicos do parasito. Ambos têm uma alta sensibilidade e especificidade,
permitindo a identificação da parasitose mesmo que a quantidade de parasitos seja pequena.

254
Caro(a) aluno(a), com base nos conhecimentos que você adquiriu nesta unidade, estou certo de
que é capaz de preencher o mapa mental a seguir.

Microfluídica
Métodos Indiretos
Aglutinação

255
1. Leia o texto a seguir.

Nas técnicas imunoenzimáticas: “um dos fatores mais importante é a eficiência do conjugado
empregado e, consequentemente, a escolha de três componentes: anticorpo ou antígeno,
enzima e processo de conjugação”.

Fonte: MORAES, S. do L.; FERREIRA, A. W. Diagnóstico laboratorial das principais doenças


infecciosas e autoimunes. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013, p. 27.

A técnica denominada de ELISA, é um tipo de exame imunoenzimático muito utilizado no diag-


nóstico de parasitoses. Com base nas características deste exame, explique, por meio de um
texto dissertativo de 3 a 5 linhas, qual é o princípio do teste que aponta o resultado positivo.

2. Leia o texto a seguir:

O diagnóstico rápido e confiável de enfermidades infectoparasitárias é fundamental para seu


tratamento adequado e acompanhamento clínico, bem como para a vigilância epidemiológica
de doenças, levantamento populacional, monitoramento ambiental e apoio aos programas
de controle de endoparasitos. Adicionalmente, as ferramentas moleculares possibilitam o
diagnóstico das enfermidades infectoparasitárias nas rotinas hospitalares, laboratoriais e de
bancos de sangue de referência.

Fonte: SIQUEIRA-BATISTA, R. et al. Parasitologia: Fundamentos e Prática Clínica. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2020, p. 47.

Uma importante ferramenta molecular é a técnica denominada Reação em Cadeia da Polime-


rase (PCR). Uma variação desta técnica é o PCR em tempo real. Com base nas características
deste exame, explique, por meio de um texto dissertativo de 5 a 10 linhas, porque esta mo-
dalidade de PCR permite a análise do resultado em tempo real.

3. Leia o texto a seguir.

A infecção pelo Trypanosoma cruzi se desenvolve em diferentes fases: “Sendo a parasitemia


da fase crônica subpatente e muito escassa a detecção do parasito se dá por métodos para-
sitológicos indiretos”.

Fonte: NEVES, D. P. Parasitologia humana. 13.ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016, p. 108.

Existem diferentes métodos indiretos aplicados no exame parasitológico. A escolha do método


vai depender das características do parasito que se pretende detectar. Um destes métodos
é denominado de xenodiagnóstico. Com base neste assunto, explique, por meio de um texto
dissertativo de 3 a 5 linhas, no que consiste o xenodiagnóstico.

256
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262
UNIDADE 8

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UNIDADE 9

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263
UNIDADE 1

Parasito Ciclo Biológico

Monoxênico
Parasitismo

Definitivo
Heteroxênico
Hospedeiro

Intermediário

Filo Sarcomastigophora
PARASITOLOGIA
Protozoários Filo Apicomplexa

Filo Ciliophora

Filo Nematoda
Principais Parasitos Helmintos
Filo Platyhelminthes

Classe Insecta
Artrópodes
Classe Arachnida

1. Parasito pode ser definido como o indivíduo de uma espécie que estabelece uma relação, íntima, du-
radoura, de dependência e benéfica para si, com outra espécie, a qual sofrerá algum tipo de prejuízo.

2. Ciclo monoxênico é aquele em que o parasito apresenta um único hospedeiro em ciclo biológico, sendo
este denominado de hospedeiro definitivo. Ciclo heteroxênico é aquele em que o parasito apresenta
mais de um hospedeiro em ciclo biológico, sendo um deles denominado intermediário, onde geral-
mente ocorre a fase assexuada ou larval, e o outro o hospedeiro definitivo, onde se desenvolvem as
formas adultas ou reprodutivas.

3. Espoliativa: consiste na utilização de nutrientes do hospedeiro pelo parasito. É uma competição pela
captura e utilização de nutrientes que podem estar, tanto na luz intestinal quanto no sistema circula-
tório. Mecânica: consiste nas lesões causadas simplesmente pela presença do parasito em um órgão,
ocupando um espaço que não foi constituído para ele ou se locomovendo, causando obstrução ou
destruição de tecidos. Anóxia: corresponde à falta de oxigênio em tecidos, provocada pelo consumo
deste nas hemácias ou pela destruição das próprias hemácias.

264
UNIDADE 2

Mortalidade

Prevalência
Indicadores de Saúde Morbidade
Incidência
Primárias
Letalidade

Secundárias Medidas de
Prevenção

Terciárias

EPIDEMIOLOGIA
Surto
Vigilância
Epidemiológica
Endemia

Vigilância Sanitária Vigilância Distribuição


em Saúde das Doenças
Epidemia
Vigilância
Ambiental
Pandemia

Feedback das questões:

1. A resposta esperada deve atender, aproximadamente, aos seguintes critérios: epidemiologia pode
ser definida como a ciência que estuda a distribuição de doenças ou enfermidades, assim como a de
seus determinantes na população humana.

2. A resposta esperada deve atender, aproximadamente, aos seguintes critérios: a diferença entre in-
cidência e prevalência é que, incidência determina o risco de adoecer, medindo o número de casos
novos de uma doença em um período de tempo determinado, enquanto a prevalência analisa casos
novos e antigos, demonstrando a situação da doença na população em um tempo definido, indicando
principalmente o estabelecimento de endemias, mas permite determinar o risco de adoecer.

3. A resposta esperada deve atender, aproximadamente, aos seguintes critérios: uma epidemia pode ser
definida como a ocorrência de uma doença em uma população, que se caracteriza por uma elevação
progressiva, inesperada e descontrolada, ultrapassando os valores endêmicos esperados.

265
UNIDADE 3

Resolução do Mapa Metal:

Cinetoplasto

Eucariotos
Citóstoma
Subfilo
Mastigophora Flagelos
Unicelulares Estruturas Vacúolo Contrátil
especializadas
Subfilo Sarcodina Pseudopodes
Locomoção Endoplasma

Filo Ciliphora Cílios Microscópicos


Ectoplasma
Filo Apicomplexa Arrastamento/
Deslizamento

PROTOZOÁRIOS
Trofozoíto Sistêmicos

Oocisto Sistema circulatório


Morfologia Parasitos
Cisto Trato gastrointestinal

Gameta Trato genitourinário

Resposta das questões:

1. Protozoários podem ser definidos como organismos unicelulares, microscópicos e eucariotos. Estes or-
ganismos possuem organelas específicas como: vacúolos contráteis ou pulsáteis, que tem a capacidade
de se contrair e expulsar para fora da célula o que tem em seu interior, geralmente água, funcionando
como controladores da pressão osmótica interna da célula; citóstoma, uma abertura presente na por-
ção lateral da célula que facilita a ingestão de partículas, agindo como uma “boca” para o organismo.

2. As duas fases evolutivas de protozoários com ciclo monoxênico são: trofozoíto e cisto. O trofozoíto
pode ser considerado a forma ativa do protozoário. Já o cisto, é a forma de resistência do protozoário,
que possui uma parede externa extremamente resistente, possibilitando que o organismo sobreviva
em condições impróprias, até que alcance o habitat apropriado.

3. O trofozoíto de Giardia duodenalis pode ser caracterizado apresentar simetria bilateral, quatro pares
de flagelos, a superfície dorsal lisa e convexa, enquanto a superfície ventral é côncava, forma uma
estrutura semelhante a uma ventosa, denominado de disco ventral, a qual o parasita usa para se fixar
na mucosa intestinal.

266
UNIDADE 4

Resolução do Mapa Mental:

Amastigotas Amastigotas

Leishmania sp.
Trypanosoma
Epimastigotas cruzi Promastigotas
Utiliza como meio
de circulação
Tripomastigotas Taquizoitos
Utiliza como habitat
Esporozoitos Bradizoitos

Protozoário Toxoplasma
Merozoitos gondii
Merozoitos
Plasmodium sp

Microgametas Microgametas
SISTEMA CIRCULATÓRIO
Macrogametas Macrogametas

Oocineto Constituído por:


Oocisto

Oocisto Sistema Sistema


Linfático cardiovascular Esporozoíto

1. Resposta: O Sistema circulatório é composto pelo Sistema Cardiovascular e Sistema Linfático. O


sistema cardiovascular é composto pelos vasos sanguíneos, os órgãos hemopoiéticos, o coração e o
sangue, enquanto o sistema linfático é composto por: capilares linfáticos, ductos linfáticos e linfonodos.

2. Resposta: A fase no hospedeiro vertebrado tem início quando a fêmea do mosquito infectada rea-
liza o repasto sanguíneo. A infecção se dá no momento da picada, pois, o acúmulo de parasitas no
esôfago e faringe do inseto atrapalha ou impede a sucção do sangue e, na tentativa de se alimentar,
o inseto vetor regurgita os parasitas para dentro dos tecidos da pele. Nesta região há várias células
do sistema mononuclear fagocítico, especialmente os macrófagos. Após os parasitas se ligarem a sua
membrana plasmática, os macrófagos fagocitam os promastigotas formando vacúolos parasitóforos.
Nestes vacúolos a forma promastigota se diferencia em amastigota que se multiplica por fissão binária.
A multiplicação das amastigotas continua até não haver mais espaço na célula, que se rompe e libera
os parasitas nos tecidos para infectar outros macrófagos e continuar a infecção.

3. Resposta: Quando as hemácias são lisadas, diversos metabólitos, como o pigmento malárico (he-
mozoína), derivado da metabolização da hemoglobina pelo parasita, são liberados no sistema circu-
latório. Ao chegarem no baço, tanto as hemácias infectadas quanto os metabólitos, são fagocitados
por macrófagos que se ativam e liberam grande quantidade de citocinas. Estas induzirão diversos
processos inflamatórios (resultando no ataque malárico), além da expressão de moléculas de adesão
no endotélio dos capilares sanguíneos. Essas moléculas de adesão sequestram hemácias infectadas
(por expressarem moléculas diferentes nas membranas), gerando microcoágulos que interrompem o
fluxo sanguíneo, causam lesões nos vasos, promovendo o extravasamento de líquido para o interstício.

267
UNIDADE 5

Resolução do mapa mental.

Metazoários Vermes

HELMINTOS

Platyhelminthes Aconthocephala

Nematoda

Ascaridíase Ancilostomose Enterobiose Tricurose Filariose

Tricuris trichiura Wucheceria


Ascaris Ancylostoma Necator Enterobius bancroft
lumbricoides duodenale americanus vermicularis

Infecção oral Infecção pela


Infecção oral Infecção Infecção oral picada do vetor
por ovos pela pele por ovos por ovos

1. Os nematódeos são vermes com a característica principal de possuírem o corpo cilíndrico e alongado,
com tamanho variando, dependendo da espécie, de poucos milímetros a dezenas de centímetros. Seu
corpo cilíndrico não é segmentado, apresentando simetria bilateral, e cavidade interna não revestida
por um epitélio, sendo esta preenchida com líquido, caracterizando-os como pseudocelomados.

2. As alterações no organismo causadas pelas larvas dependem da intensidade da infecção. Infecções


com pouca intensidade não desenvolvem complicações, porém, quando a quantidade de larvas é
grande, a migração destas pelo fígado e pulmão pode provocar lesões, desde focos hemorrágicos até
quadro pneumônicos no pulmão. Infecções médias (30 a 40 vermes) ou maciças (100 ou mais vermes)
dos indivíduos adultos, podem provocar complicações graves. As principais alterações incluem: ação
espoliativa (onde os vermes consomem nutrientes ingeridos pelo indivíduo), ação tóxica (edemas, ur-
ticárias e até convulsões em decorrência da resposta imunológica a antígenos do parasito), localização
ectópica (parasito em local diferentes de seu habitat normal, por exemplo, ducto pancreático) e ação
mecânica (irritação na parede intestinal ou obstrução da luz intestinal).

3. A autoinfecção interna ocorre em casos incomuns, após as fêmeas adultas eclodirem e liberam os
ovos no interior do ânus, os ovos podem eclodir e liberar as larvas que migram de volta pelo intestino
grosso até o ceco, se fixam e se tornam adultos.

268
UNIDADE 6

Resolução do Mapa Mental:

Alimentos
Forma de contaminados
infecção com ovos
Taenia sp.

Com Escólex Biologia Habitat Intestino delgado

Principal
representante
Segmentado Hospedeiro Suínos
intermediário e bovinos

Tudo digestório Corpo Cestoda Ciclo heteroxeno


ausente

Hospedeiro Ser humano


Formação definitivo
de proglotes

PLATHELMYNTHES
Hermafroditos

Não segmentado
Hospedeiro Caramujo
Corpo Trematoda intermediário Biomphalaria
Tudo digestório
incompleto

Principal representante Ciclo heteroxeno


Com duas
ventosas

Hospedeiro Ser humano


Hermafroditos ou dióicos Schistosoma sp. definitivo

Biologia Penetração da
Forma de infecção larva pela pele

Habitat Sistema porta


hepático

Resposta esperada para as questões:

1. Resposta: A cisticercose consiste na ingestão dos ovos da Taenia solium, resultando na liberação da
oncosfera no intestino, penetração da parede intestinal por esta, migração para os tecidos por meio
do sistema circulatório e formação de cisticercos.

2. Resposta: O hospedeiro intermediário do S. mansoni é o caramujo de água doce do gênero Biompha-


laria. Após se multiplicar no seu interior, são liberados para água milhares de larvas do tipo cercária
que poderão encontrar o ser humano e penetrar pela pele causando a infecção.

3. Resposta: A esquistossomose mansoni é basicamente uma doença decorrente da resposta inflama-


tória granulomatosa que ocorre em torno dos ovos vivos do parasito.

269
UNIDADE 7

1. Resposta: O corpo de um artrópode, incluindo os insetos, pode ser dividido em cabeça, tórax e abdô-
men. Os insetos podem ser caracterizados como animais que apresentam: três pares de patas, dois
pares de asas, um par de antenas, um par de olhos compostos.

2. Resposta: O Culex quinquefasciatus tem como características morfológicas ser pequeno, cor de pa-
lha, tendo o dorso do tórax com escamas amarelas, com coloração pardo escuro, e com duas linhas
escuras e longas, marcadas de formas longitudinais.

3. Resposta: Existem dois tipos principais de miíases: 1- as hematófagas (também denominadas de miía-
ses obrigatórias ou primárias) são parasitoses causadas por larvas de dípteros que só se desenvolvem
sobre ou dentro de vertebrados vivos. 2- as saprófagas (também denominadas de miíases facultativas
ou secundárias) são parasitoses causadas pelas larvas de dípteros que normalmente se desenvolvem
em matéria orgânica em decomposição, porém, quando há oportunidade, podem se desenvolver em
tecido necrosado em organismos vivos.

UNIDADE 8

Resolução do Mapa Mental

270
Recipiente Limpo
Observação do Parasito Indicação do Parasito
Não estéril
Fezes

Direta Indireta Com ou sem conservantes

Amostras Gota para observação direta


Metodologia de Análise
Sangue

Punção venosa
DIAGNÓSTICO

Métodos diretos

Exame Parasitológico de Sangue


Exame Parasitológico de Fezes

Macroscópico Camada delgada


Gota espessa

À fresco Sedimentação espontânea


Microscópico Processos de enriquecimento

Corado Sedimentação por centrifugação

Flutuação espontânea
Fixado

Centrifugoflutuação

Concentração de larvas

Concentração de ovos

Resolução das questões dissertativas

1. Resposta esperada: A fase analítica se inicia com o exame macroscópico das fezes, ou seja, o exame
visual direto realizado pelo laboratorista. Neste exame serão analisados a consistência, a presença de
componentes anormais e a presença de parasitos macroscópicos.

2. Resposta esperada: O método de Hoffman, Pons e Janer, consiste em diluir as fezes em água, formando
uma solução que, após filtrada, é colocada em um cálice cônico, deixado em repouso por até 24 horas. No
final desse período, o sedimento do fundo é coletado e observado no microscópio. Esse método é utilizado
com frequência na rotina de laboratórios de análises clínicas por ser simples, ter baixo custo. É utilizado
para observar ovos e larvas de helmintos, ou cistos e oocistos de protozoários.

3. Resposta esperada: No esfregaço em camada delgada, coloca-se uma gota de sangue no lado direi-
to de uma lâmina, seguido, com uma segunda lâmina, inclinada a 45º, que desliza-se sobre a lâmina
apoiada, da esquerda para a direita, até que esta toque a gota de sangue. Em seguida, desliza-se a
segunda lâmina novamente, agora da direita para a esquerda, espalhando o sangue sobre a lâmina
apoiada, que deve ser agitada para que o mesmo seque. Após a lâmina secar deve ser realizada a
fixação com álcool metílico por um minuto. Em seguida, aplica-se o corante, uma solução de Giemsa,
cobrindo ou mergulhando a lâmina por um período de 20 a 30 min.

271
UNIDADE 9

Resolução do Mapa Mental

Imunoprecipitação Eletroforese

Aglutinação
Imunofluorescência
Imunodifusão
Imunocromatografia

Elisa Imunológicos
Citometria de fluxo

Métodos Indiretos

PCR tradicional Moleculares


Microfluídica

PCR em tempo real PCR- Transcriptase Reversa

Resolução das questões dissertativas

1. Resposta esperada: A metodologia denominada de ELISA se baseia na transformação de um subs-


trato, que altera sua cor, quando exposto a um anticorpo marcado com uma enzima.

2. Resposta esperada: O PCR em tempo real se baseia na junção de moléculas intercalantes (moléculas
que se inserem entre as fitas de DNA) ou sondas de oligonucleotídeos nas novas moléculas de DNA
que se formam. Assim, toda a vez que a dupla fita de DNA se abre para ser copiada, esses intercalan-
tes são liberados e emitem um sinal fluorescente detectado pelo aparelho. Para que o exame possa
ser realizado, o aparelho utilizado é um termociclador acoplado a um fluorímetro (sensor detector de
fluorescência), permitindo a detecção e medição da amplificação à medida que esta ocorre, ou seja,
em tempo real.

3. Resposta esperada: O xenodiagnóstico pode ser descrito com o procedimento em que se permite que
um hospedeiro intermediário criado em cativeiro garantindo que não tenha o parasito, na maioria das
vezes um inseto, realize o repasto sanguíneo ingerindo assim o parasito. Esse parasito, no interior do
hospedeiro intermediário, irá se multiplicar facilitando sua identificação, principalmente pelo tamanho
reduzido do corpo do inseto facilitando o exame e ou a produção de amostras.

272

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