Resumo Psicossomática

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Resumo Psicossomática: o diálogo entre a Psicanálise e a Medicina.

Autor: Abram Eksterman

1 – Psicanálise e Medicina Psicossomática:

A psicanálise e a Medicina Psicossomática estão articuladas histórica e praticamente.


Permite revelar novos enlaces da Medicina com a Psicanálise e abrir perspectivas.
Medicina Psicossomática Psicanálise
Estudo das relações mente-corpo, com ênfase na Atua na psicologia em função do inconsciente,
explicação psicológica da patologia somática. um método de investigação da mente e uma
atividade terapêutica. Embora, aborde uma nova
Uma proposta de assistência integral e uma área do conhecimento, situada entre o corpo e a
transcrição para a linguagem psicológica dos
mente e também nos espaços intermediários das
sintomas corporais. relações interpessoais.

Portanto este tema visa buscar os pontos de interseção das duas disciplinas:

Tendo a pessoa do psicanalista como o grande arquiteto do movimento psicossomática do


século XX e, portanto, da medicina integral e humanística, enfim, do discurso médico-
assistencial neo-hipocrático.

Não é por acaso que a psicanálise mal conseguiu construir uma linguagem própria para
expressar seus conceitos específicos e toma seguidamente empréstimos de outras ciências,
humanas e naturais. Como também ter-se prestado como laboratório de infindas elucubrações
intelectuais sobre o homem. Conforme Freud expôs em sua teoria estrutural: é o momento em
que a carne se faz verbo, ou seja, em que id se transforma em ego (ou isso se transforme em
mim).
Nada tão absolutamente psicossomático quanto essa
transformação e nada tão decididamente psicanalítico
quanto o conhecimento dessa transformação. Eis o ponto
chave da interseção da Psicanálise com a Medicina
Psicossomática.

Se pudéssemos dissecar todos os componentes comprometidos na transformação do id em ego,


teríamos possivelmente respondido aos enigmas que subsistem entre a mente e o corpo.

Já compreendemos alguns concomitantes hermenêuticos das manifestações físicas, como


desvelamos íntimos bioquimismos de delicadas operações mentais. Ainda é pouco, embora
estejamos esmiuçando a intimidade físico-química das dimensões moleculares e desvelando as
mais estranhas fantasias do inconsciente. Para se estabelecer a unidade psicossomática em
que a mente e o corpo possam se representados mais que como partes de um todo, o próprio
todo: o sujeito da existência.
O ponto teórico nodal, que descreve a
transformação do id em ego, constitui a área
de interseção da Psicanálise com a Medicina
Psicossomática.
Freud quando discute a origem da própria mente, estabelece que a atividade corporal origina o
id que, em contato com o mundo exterior, diferencia uma capa mais superficial, o ego. Sugere
que não só a atividade físico-biológica está representada na mente, mas ela própria se
transforma em mente.
A pergunta “o que é mental?” – Torna imperativo o estudo da mente como atividade biológica se
quisermos compreender o homem como um todo (holos) e refuga as observações ingênuas de
sequencias ou concomitâncias físicas e mentas como indicadores de causalidade, tanto no
psíquico para o somático, como o somático para o psíquico.
O psicanalista patrocinou a contemplação do lugar
onde o sistema físico-corporal se transfigura no ser
humano-psicológico. Um sistema abrindo-se para o
outro e não causando-o. Quando o id se transforma
em ego, o humano está sendo criado e, assim, a
humanidade.

Vários conceitos confluem para caracterizar esse


espaço onde se transformam as atividades biológicas
em mentais. Um deles é o da transformação do
processo primário em secundário, ou, em outros
termos, o que é experimentado com concreto, real,
transmuta-se em algo abstrato, virtual, suscetível de
ser consciente.

O alucinar torna-se pensamento, impulsos básicos, corporificam-se em substância mental do id


e ensejam uma complexa trama de associações e conflitos a partir do contato sensorial com o
mundo exterior, apreendendo “objetos”, tanto de dentro quanto de fora, e produzindo uma
espécie de casa mal-assombrada. Composições caprichosas – Conceitos de Bion –
Composições dos elementos psíquicos, são
enfim, as hipóteses heuristicamente mais
férteis para operacionalizar a retórica
psicossomática, no sentido de assegurar
fundamento para a terapêutica psicológica da
patologia como expressão corporal.

Portanto, o corpo representa-se e recria-se na mente, produzindo significados que permitem o


diálogo e a intervenção de um interlocutor (situação básica da psicanálise clínica). A observação
empírica da aparente influência dos processos mentais sobre as funções somáticas é que deu
origem às especulações sobre a gênese psicológica dos transtornos somáticos.
Quando estados emocionais
corriqueiros são acompanhados de
modificações somáticas - Sendo difícil
resistir à tendência de estabelecer Como sabemos, essas explicações
nexos causais entre, por exemplo, a causais passaram por três vertentes
tristeza e o choro, a raiva e a azia, etc. teóricas da Psicanálise.

1ª Vertente – Refere-se a mais 2ª Vertente – Refere-se à organização 3ª Vertente – Refere-se ao


primitiva, parte da premissa de simbólica da mente, incluídos os momento evolutivo que o
energias psíquicas capazes de conceitos de representação, o estudo organismo privilegia nas suas
intervir nos fenômenos da memória, da associação de ideias e decisões adaptativas. Faz parte da
orgânicos, corporais. dos processos de pensar. concepção psicanalítica.
1ª Vertente – Energias psíquicas, livres ou ligadas, antecipam princípios da moderna cibernética
e servem para lastrear a concepção econômica da mente. Delas derivam o conceito de libido, de
investimento ou catexia e as bases dinâmicas dos processos de defesa. Dois mecanismos de
fundamental importância estão vinculados às formulações energéticas: a sublimação, da qual
devira a formação cultural do ego, e a formação de sintomas, base para o estudo da patologia
psicanalítica e subsídio essencial para o estudo da Patologia Geral.

2ª Vertente – Através de complexos processos de interação com o mundo, a mente, como


concebida pela psicanálise, organiza as percepções e individualiza o ambiente. Tal organização
perceptiva é o resultado do amálgama de elementos das fantasias inconscientes com as
informações sensoriais, estruturando um universo simbólico dentro do qual o individuo passa a
viver. Tem subministrado importantes contribuições para a Psicolinguística.
Universo simbólico – convertido a um habitat cultural capaz de atender às necessidades do organismo.
Dessa forma, os modelos ecológicos podem variar desde aqueles capazes de assegurar adaptações
ótimas, até aqueles psicotizados e psicotizantes que deterioram e desintegram a capacidade adaptativa.

3ª Vertente – Modelo adotado pela psicanálise sendo estrutura (transformações cambiantes


dentro do espaço). A concepção atemporal do inconsciente permite-nos entender que o mental,
psicanaliticamente concebido, contém uma biografia presente: ou seja, no homem, história é um
presente contínuo. A memória fica sendo não a reserva do passado, mas o fato pré-consciente
ou inconsciente de uma estrutura mental.

 Eis o esboço das interseções da psicanálise com a medicina psicossomática, com alguns
vislumbres de como a mente e o corpo estão ligados na teoria, como se articulam para
produzir prazer, sofrimento, saúde, lesão ou doença.

Assim o luto pode ser luto patológico nas identificações simbólicas com o morto; o corpo altera a
imunidade para se adaptar a uma ecologia percebida como estéril, mas pode estar repleta de
microorganismos; as perdas emocionais empobrecem o ego, vulnerabilizando desta forma o
corpo, na medida em que seu espaço simbólico carece de objetos amorosos e protetores; enfim,
o mundo pode ser vivido como sendo um lugar de estresse insuportável, ou, ao contrário, um
lugar idealizado, onde, igualmente, o organismo acaba lesado por não conseguir acionar
defesas indispensáveis.

 Compreendendo que: Na medicina psicossomática, a contribuição da psicanálise à


patologia geral é acenar com uma nova concepção do adoecer e do gerar saúde: a
concepção psicossomática holística. Salientando a contribuição, não exatamente da
psicanálise, mas do psicanalista trabalhando no Hospital, na medida em que pode
apreender e trabalhar os aspectos irracionais das relações humanas na prática
assistencial, tomando como base o modelo transferencial contratransferencial da
interação psicanalítica. Ao lado disso, estimula o médico do corpo a conviver com
patologias mais sutis, de expressão mental e, acima de tudo, conviver com os pacientes,
compreendendo-os. A relação médico-paciente apresenta-se como fonte extraordinária
de recursos terapêuticos e cria-se uma nova disciplina: a Psicologia Médica.
2 – O psicanalista e a medicina:

O diálogo entre a Psicanálise e a medicina só é possível pela presença do intérprete


psicanalista, que aproxima os significados de duas linguagens diferentes – a biomédica e a
psicológica – e as torna inteligíveis entre si. Sobre o homem doente, seu sofrimento, seu
pathos. É assim que configura a Psicossomática em parâmetros basicamente clínicos e a
transforma na medicina da Pessoa, intermediado pela Psicanálise:

Patogenia - Diagnóstico - Terapêutica


A importância da A importância do significado A importância da relação
biografia na estruturação emocional na compreensão médico-paciente na organização
e definição da doença. antropológica do sintoma. de uma estratégia assistencial.

A razão do êxito é um psicanalista que não faz psicanálise. O psicanalista no hospital não esta
ali para fazer psicanálise, mas para ser psicanalista. E se puder diferencial claramente uma
coisa e outra, talvez possa abrir uma perspectiva inteiramente inusitada, não só no papel do
psicanalista na patologia somática, como na própria arte de psicanalisar.

3 – Psicanálise e Psicanalista:

Um psicanalista, o que faz psicanálise; procuramos definir um profissional,


conceituando-o pelo que faz, não pelo que é, sendo: é mais que uma relação de trabalho, é uma
configuração existencial, que acomoda relações ímpares e salpica de significados seu contorno
humano. E no que se refere ao psicanalista? É ele um decifrador, um hermeneuta, um intérprete,
um desvelador do inconsciente? Não, isso ele não é; isso ele faz. Um psicanalista é mais do que
ele faz. Certamente assim, a medicina psicossomática deve mais ao psicanalista que à
psicanálise é mister esclarecer o que é afinal um psicanalista.

O psicanalista é o contemplador permanente desse ato de criar o universo humano, universo


cujo o núcleo é o especo mental, onde continuamente fundem-se senso-percepções que se
transfiguram em sonhos e fantasias, expressando-se nas infinitas transcrições míticas, cujo
produto final é a cultura. Psicanalista, como ente transfigurado pela psicanálise, é, ao mesmo
tempo, produto, autor e contemplador dessa metamorfose. No cruzar a realidade física e a
realidade humana, é a testemunha, o operário e a matéria em transformação. No âmago da
interpretação, no ato de interpretar, elemento essencial onde se transforma, o psicanalista como
interprete do processo.

4 – O psicanalista e a medicina psicossomática:

As quatro contribuições da psicanálise no campo médico.

1- Um método terapêutico das neuroses;

2- Um método de investigação da personalidade cujos resultados permitiram aumentar


consideravelmente a eficácia dos tratamentos psicológicos das caracteropatias, das
psicoses e dos distúrbios emocionais da infância.
3- Uma psicologia em função do inconsciente cujo modelo teórico possibilitou interpretar
sintomas orgânicos dentro de uma hermenêutica análoga à adotada para os fenômenos
conversivos;

4- O estudo das relações de objeto cujo modelo transferencial-contratransferencial tem


esclarecido alguns enigmas da interação emocional médico-paciente.

Como sabemos, essa perspectiva de solução do clássico problema corpo-mente provocou


considerável entusiasmo, estimulando a emergência de teorias disposta a unificar o
conhecimento da patologia do psíquico e a do somático. Daí decorrem as tentativas de unificar,
através da psicanálise, dissociações do conhecimento e da prática medica. E isso depende, vale
sublinhar outra vez, mais do psicanalista que da psicanálise. Conseguindo mais que praticar e
sim serem interpretes.

Há, pois quatro grandes áreas do conhecimento e da prática médica que têm especial interesse
para o psicanalista:

1ª – Refere-se à patologia – os primeiros estudos derivados da psicanálise e que deram origem


a psicossomática moderna corresponderam ao problema da psicogenia de certos transtornos
somáticos, como, por exemplo, a asma brônquica, o eczema, a hipertensão essencial, a úlcera
péptica, o hipertireoidismo, a colite ulcerativa, a enxaqueca.

2ª – Refere-se à relação médico-paciente – a utilização da convivência como recurso


terapêutico é derivada da noção psicanalítica de compo transferencial, o campo é construído
pela interpretação dos elementos históricos dos participantes da relação. Esse campo
transferencial organiza o ambiente clinico, o dialogo, a cognição e o ato terapêutico.

3ª – Refere-se a formação psicológica do profissional de saúde – nesse sentido, a partir dos


conhecimento de Medicina psicossomática, desenvolveu-se a disciplina conhecida como
Psicologia médica, que intervém na formação do profissional de saúde. E que pretende, através
de técnicas de aprendizagem ativas, a familiarização do estudante com a dimensão mítica e
irracional da mente, entre outros temas da vida mental. Entre elas, o pleito pela humanização da
relação médico-paciente e dos hospitais; a transformação dos ambientes, a preparação
psicológica do paciente, a formação de equipes multidisciplinares para tratamento de pacientes
terminais e de atenção médica continuada.

4ª – Refere-se a área da prevenção – esse aponta para o futuro, sobre toda a investigação
psicanalítica realizada a respeito do desenvolvimento humano, que o modelo básico preventivo,
do qual podemos derivar todos os demais, é aquele em que representamos um bebê instalado
com segurança no colo de uma mãe sadia.

5 – Psicossomática e Psicanálise:

Resta examinar a influencia que a psicossomática exerceu, exerce ou deverá exercer


sobra a psicanálise, tarefa sobremaneira antipática para aqueles que consideram a psicanálise
um território epistemológico autosuficiente.

A lição que a psicossomática aprendeu da psicanálise, ou seja, não há doenças


psicossomáticas; todas as doenças são psicossomáticas, nos leva, talvez, a deduzir que não há
um objetivo psicanalítico, senão aquele que possa se integrar às demais áreas da biologia
humana.
Trabalhar com a transferência não significa reduzir a pessoa a um “campo transferencial”;
Recuperar a pessoa e com ela estabelecer uma relação analítica, parece-me a resposta que a
psicossomática pode dar à psicanálise, de cujo seio nasceu e em cuja intimidade elaborou uma
nova imagem do ser humano. Compreendê-la não é apenas ater-se às suas comunicações
verbais, ou mesmo extra-verbais, recortando-a de seu contexto biológico e social. Estabelecer
relação com totalidades, interpretar um sintoma orgânico dentro da Gestalt histórico-
circunstancial do paciente.

A tentativa de reduzir o fenômeno orgânico à dinâmica dos processos mentais, tratando-o como
expressão linear de um conflito endopsíquico e, portanto, suscetível de interpretação de
conteúdo inconsciente, é uma inadequação clínica que pode levar a riscos iatropatogênicos
consideráveis. Pois mobiliza atividade pulsional que, invadindo um ego debilitado e
desorganizado pela doença física, amplia a lesão do corpo.

É aqui que vemos a importância da construção do setting ( ambiente clínico) como elemento
essencial do próprio ato terapêutico, na medida em que facilita elementos de relação
simbiótica necessários à recuperação do ego, lesado por fundas feridas narcísicas
desencadeadas pela lesão orgânica.

Pensando na pessoa do doente, a ação terapêutica interdisciplinas, indispensável, no tratamento


do paciente, “saber ouvir”, ensinou a psicanálise aos medico que praticam sua clínica nos
sofrimentos orgânicos. Restou ao psicanalista aplicar esse ensinamento a sua própria prática.

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