Livro Branco Da Agua - Marcado.v6
Livro Branco Da Agua - Marcado.v6
Livro Branco Da Agua - Marcado.v6
ISBN: 978-85-63007-09-4
CDD-333.91
Ficha catalográfica elabora pela bibliotecária Dina Elisabete Uliana – CRB-8/3760
Ano: 2018
É uma grande satisfação saudar a publicação da presente obra, pelo esforço acadêmico
que mobiliza, jogando luz e deixando registrado na história aquele que pode ser considerado
um dos mais eloquentes sinais da crise do saneamento básico no Brasil. A academia fornece um
exemplo do papel que dela se espera, ao avaliar uma situação socialmente relevante e ao vislumbrá-
la sob uma perspectiva rigorosa, buscando, por meio do olhar acadêmico, denunciá-la e apontar
caminhos para que jamais se repita. Ao trazer elementos para a discussão das origens e impactos
e recomendar encaminhamentos para a crise que abateu a Região Metropolitana de São Paulo
(RMSP) em 2014 e 2015, o livro confirma que a crise teve pouco de “hídrica” e muito de “humana”,
pois “estiagem” – um conceito hidrológico e pouco evitável com ações locais – não deveria se
converter em “escassez no acesso” – um conceito com fortes implicações sociais. Entre a estiagem
e a escassez operam homens e mulheres, que têm a capacidade de moldar o aparato técnico para
abastecimento de água de forma a cumprir com sua função social em qualquer circunstância
hidrológica, mesmo naquelas que crescentemente se agudizam sob o efeito das mudanças climáticas.
Identifico na obra elementos que dialogam com a ideia de empregar o marco analítico dos
direitos humanos à água e ao esgotamento sanitário como lente privilegiada para amplificar diferentes
faces da crise a partir da noção de direitos, desde sua origem à prevenção de sua recorrência,
bem como da forma como foi gerenciada.1
Em primeiro lugar, esse marco apontaria para obrigação do Estado em realizar progressivamente
esses direitos, usando o máximo de seus recursos disponíveis, mesmo quando o serviço é delegado
a terceiros. Traduzindo para a realidade daquele período, seria obrigação do Estado brasileiro, por
meio do governo federal e dos governos estadual e municipal, assegurar que a prestadora de serviços
planejasse adequadamente o abastecimento de água na RMSP, antecipando eventos hidrológicos
extremos, como o ocorrido, priorizando o uso da água para consumo humano e evitando que a
estiagem se convertesse em escassez. Planejamento esse que garantisse sistemas mais inteligentes,
com maior flexibilidade, capacidade de aprendizagem com as situações encontradas e de adaptação,
sintonizando esses sistemas com os conceitos mais modernos de gerenciamento dos recursos hídricos.
Tal planejamento requereria capacidade de visão estratégica e de investimentos em diferentes medidas,
não apenas estruturais, conforme sugerido a posteriori em diversas partes do livro. Uma importante
1. Ver exercício dessa aplicação em L. Heller, The crisis in water supply: how different it can look through the lens of the
human right to water? Cadernos de Saúde Pública, v.31, p.447-9, 2015.
Léo Heller
Relator Especial da Organização das Nações Unidas
para o Direito Humano à Água e ao Esgotamento Sanitário
Introdução ......................................................................................................................10
Apresentação ..................................................................................................................11
1. Uma visão sistêmica das origens, consequências e perspectivas das crises hídricas na Região
Metropolitana de São Paulo...................................................................................................................14
Marcos Buckeridge
Wagner Costa Ribeiro
2. A crise hídrica e a seca de 2014 e 2015 em São Paulo: Contribuições do clima e das atividades
humanas ............................................................................................................................................... 22
Tercio Ambrizzi
Caio A. S. Coelho
Introdução.............................................................................................................................................. 37
Pedro F. Develey
Paulo A. de A. Sinisgalli
Ana Paula Fracalanza
Leandro Luiz Giatti
Natalia Dias Tadeu
Laís Fajersztajn
Paulo Saldiva
Ricardo Hirata
José R. Carvalheiro
Introdução
Este livro é o resultado da busca por análises das causas, consequências e de proposições
de ações para o futuro do abastecimento da água na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). O
foco principal é aumentar a resiliência da sociedade que vive na RMSP às crises hídricas que possam
existir no futuro. Para isto, um grupo de pesquisadores ligados ao Instituto de Estudos Avançados
da Universidade de São Paulo (IEA-USP) se debruçou sobre o problema, tomando como exemplo
a situação enfrentada em 2013/2015. A ideia nasceu na gestão do professor Martin Grossmann e
continuou sendo incentivada na gestão do professor Paulo Saldiva. Desde o início, o projeto contou
com o apoio da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP).
O coletivo de professores definiu a coordenação, realizou uma série de reuniões, muitas das
quais com presença virtual de alguns colegas que estavam no exterior, e definiu os temas a serem
abordados. Em seguida, os textos produzidos foram analisados por coordenadores temáticos, os
professores Jean Paul Walter Metzger, Pedro Roberto Jacobi e Guilherme Ary Plonski. Por fim, o texto
final foi editado pelos coordenadores e revisado pelos autores.
O documento apresenta uma visão organizada para discutir origens, problemas e possíveis soluções
para crises de abastecimento de água na RMSP. Pode-se também fazer uma leitura transversal por meio
de uma visão sistêmica, que permite visualizar os pontos fracos do sistema hídrico da RMSP e apreciá-los
de forma a produzir soluções cientificamente informadas. Esta forma de ver, se levada a sério pelo poder
público, tem o potencial de evitar situações como a que se apresentou em 2013/2015, quando governantes,
empresas e sociedade tiveram que agir de forma apressada para evitar efeitos desastrosos.
O documento ora apresentado não é exaustivo. Isto porque há uma miríade de “mecanismos”
que contribuem com diferentes graus de importância para que a água da chuva vá parar nos
mananciais, depois seja tratada e em seguida utilizada pela população e pelo setor produtivo. Numa
visão sistêmica, a importância de diferentes subsistemas pode variar dependendo das condições em
que o sistema opera. Porém, todos os subsistemas, maiores ou menores, são importantes e devem ser
considerados numa grande equação que tem a função de manter o fornecimento constante, evitando
custos desnecessários e diminuição do bem-estar da população.
Acreditamos que este é o melhor modo de operar de uma comunidade científica reflexiva e
crítica. Diálogo, respeito e reunião de esforços para buscar entender problemas complexos, cada vez
mais presentes no século XXI.
Apresentação
A Região da Macrometrópole de São Paulo (RMMSP) enfrentou no período de 2013 a 2015 uma
severa crise no abastecimento de água, resultante, de forma direta, de variações nos padrões históricos
dos índices pluviométricos.
Esse evento climático atípico, no entanto, foi agravado pela grande vulnerabilidade do sistema
de governança hídrica da região, que opera em seu limite diante do crescimento populacional, da má
gestão do sistema de distribuição, da falta de saneamento e consequente contaminação dos cursos
hídricos e da degradação dos mananciais.
A situação de escassez gerou grandes impactos sociais e econômicos. Além da falta de água
para atividades domésticas, agrícolas e industriais de rotina, a seca se desdobrou em outros inúmeros
problemas, tais como a redução na oferta de alimentos e de energia hidroelétrica, danos à saúde da
população e impactos sobre a biodiversidade dos já comprometidos reservatórios e cursos d’água da
região.
O primeiro “Relatório de Avaliação Nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (RAN1/
PBMC)”, lançado no início de 2015, evidenciou os cenários futuros de mudanças no padrão climático
no país. Mesmo que não seja possível demonstrar a vinculação entre a crise dos anos 2013 e 2015 e
o fenômeno das mudanças climáticas, os dados produzidos pelo estudo indicam que, caso nada seja
feito, as alterações no ciclo hidrológico tendem a causar impactos negativos cada vez mais graves
na qualidade de vida da população brasileira, seja pela escassez, seja pelo excesso concentrado de
chuvas.
Os espaços institucionais de gestão de recursos hídricos atualmente existentes, no entanto,
se mostraram incapazes de problematizar essa questão e de incluir a participação da academia e da
sociedade em geral na construção de soluções de longo prazo. O estudo “Água na Mídia”, realizado pelo
Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) em parceria com o Instituto de Energia e Ambiente da
Universidade de São Paulo (IEE-USP), evidenciou que, no início da crise paulista, havia um predomínio
da interlocução dos profissionais da imprensa com gestores públicos. Ao longo do tempo, mais vozes
passaram a ser ouvidas, incluindo cientistas, mas esse fato não mudou a preponderância de uma visão
simplista transmitida à sociedade, sobre as causas e soluções para o problema. Sem contrapontos,
as decisões do governo estadual ante a situação mostraram-se fortemente pautadas por uma gestão
centralizada e tecnocrata, que priorizou investimentos em obras para captação e transporte de água.
Quando o volume de chuvas permitiu a recuperação parcial dos níveis dos reservatórios,
os órgãos oficiais rapidamente consideraram a crise superada, desarticularam os processos de
participação social em curso e interromperam o sistema de bônus por economia e multas por
Parte I
1
Uma visão sistêmica das
origens, consequências
e perspectivas das
crises hídricas na
Região Metropolitana
de São Paulo
Situações extremas geram comoção e mobilizam a opinião pública, como ocorreu na crise de
gestão da água na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), que teve seu ápice no verão de 2014. Não
foram poucas as manchetes de jornais e de mídias eletrônicas com análises, expectativas frustradas e
explicações divergentes sobre o quadro que afetou mais de 20 milhões de habitantes entre 2013 e 2015.
Qual o papel da Comunidade Científica nesse contexto? Por meio da contribuição de diversos
especialistas, o Livro Branco da Água: a crise hídrica na Região Metropolitana de São Paulo em
2013-2015 busca responder alguns dos principais aspectos dessa pergunta. Dividido em três partes,
o livro examina as origens e consequências da crise hídrica, bem como aponta cenários para o futuro.
Passada a crise hídrica, que teve seu ápice em 2014 e 2015, as análises dos autores dos capítulos
na Parte I mostram alguns pontos cruciais. Um deles é que parece não haver uma relação direta do
evento com as Mudanças Climáticas Globais, mas sim com alterações locais como o desmatamento e o
Marcos Buckeridge*
Wagner Costa Ribeiro**
*
Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP); e Instituto de Biociências (IB-USP)
**
Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP); e Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP)
1. Para detalhes sobre contratos de demanda firme o leitor pode consultar os seguintes sites: <https://apublica.org/2015/05/
finalmente-os-contratos-de-demanda-firme/>; <https://www.cartacapital.com.br/sociedade/agua-destinada-a-empresas-
pela-sabesp-aumenta-92-vezes-em-10-anos-2330.html/veja-como-e-um-contrato-de-demanda-firme>; <http://dincao.com.
br/noticias/?p=3282>.
Figura 1 – Visão sistêmica do fluxo da água, seu tratamento e serviços ambientais na Rede Metropolitana de São Paulo
(RMSP). O sistema de fornecimento de água à população é visto como composto por três subsistemas. À esquerda, o
Subsistema Clima consiste na entrada de água no sistema por meio de chuvas. Nesse caso, a entrada de água a partir
de fenômenos atmosféricos não é controlável tecnologicamente, mas depende inteiramente de determinantes climáticas
(cap.2). Sua manutenção depende do estado de preservação das florestas, que interferem nos mananciais (cap.3 a 6 e
cap.10). A água fica armazenada em mananciais e, mediante de diferentes reservatórios, é tratada (Subsistema Tratamento)
entrando em seguida no Subsistema Consumo, que é aquele em que a água será utilizada para as atividades da população
e da indústria. O tratamento e a distribuição da água dependem de tecnologias e de fatores econômicos (cap.9 e 12). Uma
vez no Subsistema de Consumo, o uso da água está sujeito a pressões e sinergismos de diversos tipos. Na indústria, o
consumo está relacionado com a estabilidade econômica da própria região, pois mantém empregos e traz retorno econômico
mediante do pagamento de impostos, que no fim serão utilizados para o próprio sistema de tratamento e distribuição (cap.
12). No caso da população, a pressão é muito grande em razão do potencial de aumento da desigualdade (cap.8) e dos
impactos na saúde (cap.7 e 12). Quando a distribuição da água não é equitativa, pressões surgem na sociedade, gerando
tensões que poderiam ser evitadas se houvesse equilíbrio no sistema como um todo. As principais perdas do sistema se
relacionam mais fortemente com os Subsistemas Clima e Consumo, sendo a evaporação e o desperdício, respectivamente,
as principais forças de perda. A evaporação não pode ser controlada, mas o desperdício sim. Numa visão sistêmica, pode-
se compreender que o Subsistema Consumo é a principal força de dreno de água e que há vários pontos que podem
ser limitantes. Como esse subsistema está trabalhando em capacidade máxima em relação à entrada de água através do
Subsistema Clima, o primeiro é um forte determinante das crises hídricas nesse momento. Porém, conforme eficiência dos
dois outros subsistemas, bem como de outros subsistemas que não estão contemplados nesta Figura, menor será o efeito
sobre a população e sobre a indústria, mantendo estável o bem-estar e eliminando desigualdades entre diferentes camadas
da população. Todo o sistema ainda carece de conhecimento científico mais profundo e de transparência à população para
que essa participe mais ativamente no aumento de eficiência do sistema como um todo.
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2016.
Introdução
Mais de 50% da precipitação total anual na América do Sul ocorrem durante o verão
(dezembro-janeiro-fevereiro – DJF), particularmente no sudeste do Brasil (Souza; Ambrizzi, 2002). As
chuvas nessa região são geradas pela passagem de frentes frias, formação da Zona de Convergência
do Atlântico Sul (ZCAS) e grande variabilidade de nuvens convectivas locais que se formam em
razão da presença de altas temperaturas e umidade do ar.1 Sendo assim, os grandes reservatórios
de água do Sudeste são abastecidos pelas chuvas recebidas durante a estação chuvosa, no verão, o
que contribui para manter seu fornecimento para os vários setores da sociedade (consumo urbano
e industrial, agricultura, geração de energia, entre outros usos) ao longo do período de estiagem,
que geralmente se inicia em abril e termina por volta de outubro de cada ano.
A variabilidade natural do clima pode fazer que o regime de chuvas seja mais intenso em alguns
anos, e menos intenso em outros. Desvios exageradamente elevados em relação ao padrão tipicamente
Tercio Ambrizzi*
Caio A. S. Coelho**
*
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP)
**
Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC-INPE)
1. Ver Reboita et al. (2010) para uma revisão completa dos regimes de precipitação na América do Sul.
Sudeste do Brasil
200
Anomalias de precipitação (mm) em DJF
150
100
50
-50
-100
-150
-200
-250
81 83 85 87 89 91 93 95 97 99 01 03 05 07 09 11 13 15
Ano
Figura 1 – Anomalias de precipitação (mm) durante o verão (a) 2013/2014 e (b) 2014/2015; (c) Série temporal de anomalias
de precipitação para o verão (DJF) de 1979/1980 a 2014/2015 para a média da área delimitada pelo retângulo mostrado nos
painéis a e b. Anomalias calculadas em relação ao período histórico de dados de 1981-2010.
Fonte de dados: “Climate Prediction Center”.
No verão de 2014, ocorreram em diversas regiões do estado de São Paulo seca e altas
temperaturas que ultrapassaram diversos recordes. Ao final da estação chuvosa vários reservatórios
responsáveis pelo abastecimento de água para a população do estado atingiram seus volumes críticos,
em particular o sistema Cantareira, o principal fornecedor de água para a Região Metropolitana de São
Paulo (RMSP), que na época abastecia mais de 8 milhões de pessoas. Conforme mostrado na Figura 2,
obtida de Coelho, Cardoso e Firpo (2015), em relação à Climatologia, os meses de dezembro de 2013
a fevereiro de 2014 apresentaram, para a região Sudeste do estado de São Paulo, que inclui a RMSP,
déficits de precipitação da ordem de 95.5, 264.7 e 219.3 mm, respectivamente. No verão seguinte,
dezembro de 2014 e janeiro de 2015, apresentaram déficits similares aos de dezembro de 2013 e
janeiro de 2014, porém em fevereiro e março de 2015 os valores observados se aproximaram da média
climatológica.
Mês
Figura 2 – Gráfico de caixas (em inglês, boxplot) da precipitação mensal (mm) construído usando dados históricos do
período 1981-2010 para a região Sudeste do estado de São Paulo (ver Coelho; Cardoso; Firpo, 2015). A linha sólida em preto
representa a média histórica (climatológica) mensal para o período 1981-2010. A linha sólida cinza escuro representa os
valores de precipitação mensal observados durante o período de outubro de 2013 a dezembro de 2014. A linha sólida cinza
claro representa os valores de precipitação mensal observados durante o período de outubro de 2014 a março de 2015.
Fonte: Adaptado de Coelho, Cardoso e Firpo (2015).
Densidade de probabilidade
Início 2014/15 Fim 2014/15
Mês
Figura 3 – Funções densidade de probabilidade (em inglês, PDF) das datas de (a) início e (b) fim da estação chuvosa
da região Sudeste do estado de São Paulo, que inclui a RMSP, assim como definido em Coelho, Cardoso e Firpo
(2015). Os círculos cinza representam as datas históricas para o período 1998/1999 a 2012/2013. A cruz preta grande
representa a média histórica para o período 1998/1999 a 2012/2013. As cruzes pretas pequenas indicam as datas de
início e final mais cedo e mais tarde ocorridas no período 1998/1999 a 2012/2013. As linhas verticais tracejadas
localizadas nos pontos de máximo da curva preta representam as datas estimadas como mais prováveis para início e
fim da estação chuvosa. Os círculos pretos representam estimativas das datas de início e fim da estação chuvosa
2013/2014. Os quadrados pretos representam estimativas das datas de início e fim da estação chuvosa 2014/2015.
Fonte: Adaptado de Coelho, Cardoso e Firpo (2015).
Talvez uma pergunta básica que devamos fazer seja: “Eventos extremos individuais de clima
podem ser explicados pelo aumento dos Gases de Efeito Estufa (GEE)?”. De forma geral, mudanças
em eventos climáticos são esperadas em resposta ao aumento dos GEE na atmosfera gerados pelas
atividades humanas, como queima de combustíveis fósseis. Entretanto, determinar se um único evento
extremo é influenciado apenas por uma causa específica, como o aumento dos GEE, é uma tarefa
muito desafiadora por duas razões: 1) eventos extremos são, em geral, causados por uma combinação
de fatores; e 2) eventos extremos podem ocorrer dentro da variabilidade natural do clima mesmo que
ele não esteja mudando (IPCC, 2007). Em particular, a atribuição de eventos extremos envolvendo
Com relação à crise hídrica que afetou o Sudeste nos verões de 2013/2014 e 2014/2015, há
alguma indicação de relação desse evento com o aumento da concentração de GEE, e consequentemente
com o aquecimento global? Herring et al. (2015) lideraram uma edição especial do Bulletin of the
American Meteorological Society, discutindo em uma série de artigos os eventos extremos ocorridos
durante o ano de 2014, apresentando uma perspectiva climática. Um desses artigos (Otto et al., 2015)
discute em detalhes possíveis razões que contribuíram para a falta de água no sudeste do Brasil.
Nesse estudo, Otto et al. (2015) examinaram a seca em termos de falta de chuva, disponibilidade
e consumo de água. Três métodos independentes foram empregados para analisar o papel do
aquecimento global induzido pelas atividades humanas na falta de chuva e disponibilidade de
água. O primeiro método empregou análises estatísticas dos dados históricos de precipitação para
avaliar tendências nos eventos extremos observados desde 1941. Os resultados dessas análises
indicaram que o déficit de chuva registrado na região Sudeste em 2014/2015 foi excepcional,
porém não único, uma vez que condições similares foram observadas na região em 1953/1954,
1962/1963 e 1970/1971. O segundo método usou resultados de milhares de simulações produzidas
por um modelo climático atmosférico, reconhecido pela comunidade científica internacional como
“estado da arte”, para executar duas análises distintas: uma que representa o clima atual, assim como
observado durante o evento de seca 2014/2015, e outra que representa o mesmo evento de seca,
porém em um mundo hipotético sem a interferência humana na concentração de gases causadores
do efeito estufa. O terceiro método utiliza modelos climáticos globais acoplados oceano-atmosfera
do projeto internacional de intercomparação de modelos acoplados versão 5 (CMIP5).
A aplicação dos três métodos de forma independente levou à conclusão de que a frequência
30 1600
1400
25
1200
20 1000
15 800
600
10
População 400
5 Consumo estimado de água 200
Consumo real de água
0 0
1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano
Tendo em vista o grande impacto que as secas dos anos 2014 e 2015 tiveram na agricultura,
na geração de eletricidade e nos cortes no abastecimento de água para as populações urbanas,
particularmente na RMSP, é fundamental entendermos melhor as condições atmosféricas que
levaram às condições de falta de chuva durante esses dois verões.
Conforme descrito na primeira parte deste capítulo, a passagem de frentes frias pelo
sudeste do Brasil e o desenvolvimento da ZCAS são fundamentais para a intensificação da
convecção na região e, consequentemente, para a produção de chuvas durante a estação chuvosa
sobre a RMSP e arredores. Um bloqueio atmosférico presente nos dois verões de seca impediu
a passagem e o desenvolvimento de ambos os sistemas atmosféricas no período, e dessa forma,
contribuiu para aumentos recordes de temperatura e anomalias negativas de precipitação.
Dois recentes artigos científicos discutiram em detalhes os possíveis mecanismos de circulação
atmosférica que levaram à diminuição das chuvas. Seth, Fernandes e Camargo (2015) sugerem que
as anomalias quentes de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) no oceano Pacifico Oeste Tropical
geraram um padrão de ondas atmosféricas que afetou a circulação no sudeste do Brasil em ambos
os verões secos. Esse resultado concorda com os obtidos por Coelho et al. (2015), que precedeu o
Figura 6 – Diagrama esquemático ilustrando as condições atmosféricas e oceânicas durante a ocorrência do evento de
seca sobre a região Sudeste do Brasil em JFM 2014.
Fonte: Adaptado de Coelho et al. (2015).
Discussões finais
Secas podem ser estudadas sob várias perspectivas, e, dessa forma, conforme destacou
o ultimo relatório do IPCC (2013), fatores como falta de observações diretas, tendências
geográficas inconsistentes em índices de monitoramento, e baixa confiança nas observações
de tendências globais de seca desde a metade do século XX, tornam extremamente árduo e
desafiador o trabalho de relacionar eventos específicos de seca às influências antropogênicas.
As análises apresentadas neste texto elucidam, no entanto, o fato de que as secas
ocorridas nos verões de 2013/2014 e 2014/2015 foram excepcionais e estão entre as mais fortes já
registradas. Os impactos da seca, que podem incluir a redução no fornecimento de água, o aumento
do número de casos de dengue (e doenças como o zika vírus e a febre chikungunya), o aumento
dos preços da energia gerada por hidroelétricas e outros, são resultado da baixa disponibilidade
de água em combinação com o número de pessoas e infraestruturas afetadas. Mostrou-se que
o consumo de água tem crescido acima da capacidade dos reservatórios em razão do crescimento
populacional que, particularmente para São Paulo, foi acima de 20% nos últimos 20 anos.
Embora não seja possível relacionar as secas de 2014 e 2015 como uma consequência
direta do aumento dos GEE, a temperatura média global tem aumentado sistematicamente,
inclusive batendo recordes globais nesses anos. Dessa forma, o sistema climático como um todo
“sente” esse aumento de energia e deve reagir para manter um equilíbrio global. Existe uma grande
probabilidade de a região Sudeste do Brasil e também a RMSP continuarem a sofrer oscilações de
extremos climáticos, podendo levar à ocorrência de secas ou inundações. Cabe aos tomadores de
decisões observar os sinais climáticos recentemente documentados pela comunidade científica para
poder traçar estratégias de prevenção visando diminuir vulnerabilidades sociais e econômicas e,
ao mesmo tempo, se adaptar às atuais condições climáticas e a impactos associados.
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SOUZA, E. B.; AMBRIZZI, T. ENSO impacts on the South American rainfall during 1980s: Hadley
and Walker Circulations. Atmosfera (México), Mexico, v.15, n.2, p.105-20, 2002.
VAN DER SCHRIER, G.; BARICHIVICH, J.; BRIFFA, K. R.; JONES, P. D. A scPDSI-based global dataset
of dry and wet spells for 1901–2009. J. Geophys. Res. Atmos., v.118, p.4025-48, 2013.
Parte II
Introdução
Introdução
As baixas precipitações na região Sudeste do Brasil no período de 2013 a 2015 tiveram uma série
de consequências sobre a qualidade de vida da população. Alguns desses efeitos foram imediatamente
percebidos pois afetaram o cotidiano das pessoas, a produção econômica, em particular a produção
alimentar e industrial, porém outros efeitos são menos visíveis e devem se manifestar em mais longo
prazo, como alguns impactos sobre a saúde da população ou sobre a biodiversidade da vegetação
nativa. Por consequência, alguns dos efeitos da crise hídrica já podem ser claramente quantificados e
avaliados, enquanto outros são ainda baseados em inferências indiretas ou em evidências observadas
em outras regiões do globo, e requerem assim mais estudo para o seu pleno entendimento. No conjunto,
está claro que as consequências são amplas, muitas vezes intensas, afetam múltiplas atividades
humanas e setores socioeconômicos, mas nem sempre são previsíveis e, dependendo do efeito, podem
envolver um alto grau de incerteza, particularmente pensando nas consequências em longo prazo.
O conjunto de textos a seguir destaca as principais evidências sobre as consequências da
crise hídrica na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e, ao mesmo tempo, apresenta as
incertezas e lacunas de conhecimento. São considerados os efeitos da crise hídrica sobre: a água;
os diferentes setores socioeconômicos; os serviços ecossistêmicos; a biodiversidade das áreas
verdes da Grande São Paulo; e a saúde da população. Esses textos foram escritos por alguns dos
principais especialistas em cada um desses assuntos, sempre com o objetivo de sintetizar o
conhecimento e apresentá-lo de forma resumida e de fácil entendimento para um público mais amplo.
De uma forma sucinta, esses textos destacam que:
• As secas, ao reduzirem o volume das águas nos reservatórios e mananciais, levam a uma
maior concentração de poluentes, além de favorecerem o florescimento de cianobactérias. A diminuição
da pressão nas canalizações, promovida pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo (Sabesp), como forma de reduzir os desperdícios no transporte da água, possibilita a intrusão de
águas contaminadas em águas já tratadas. Ademais, a transposição de águas entre bacias hidrográficas
também facilita a propagação de contaminantes e de espécies invasoras ou não nativas, contribuindo
com a homogeneização e degradação das flora e fauna de ambientes aquáticos. Todos esses fatores
levam à degradação da qualidade da água e à ocorrência de uma cascata de efeitos sobre a economia,
os serviços ecossistêmicos, a biodiversidade e a saúde humana, conforme detalhado a seguir;
• Diferentes setores econômicos foram afetados pela crise hídrica, levando a um aumento
no custo de diversos produtos, incluindo a própria água, e afetando assim a segurança alimentar e
hídrica da população. De forma mais grave, a população carente é a mais afetada pela crise, acentuando
as disparidades e injustiças sociais, ambientais e de saúde;
A crise hídrica e
a qualidade da água na
Região Metropolitana
de São Paulo
Essas condições de degradação das águas da RMSP podem se agravar drasticamente durante
períodos de seca, em razão dos seguintes processos: i) diminuição do volume de mananciais e represas,
o que causa concentração de substâncias orgânicas e metais; ii) aumento dos florescimentos de
cianobactérias – esses organismos desenvolvem-se rapidamente, ocupando reservatórios e mananciais.
Além de aumentar a matéria orgânica por sua posterior decomposição, essas cianobactérias podem
produzir toxinas com efeitos sobre outros organismos e na saúde humana (Tundisi et al., 2015). As
fontes não pontuais que contribuem para a degradação da qualidade da água (Young et al., 2015) têm
um papel importante nesse processo.
Com redução dos volumes de água, concentração dos poluentes, aumento da intensidade e
frequência dos florescimentos de cianobactérias, a degradação da água é rápida (Tundisi et al., 2015).
As cianobactérias têm um papel importante nesse processo de degradação, ainda mais porque sua
atuação é favorecida pelas sinergias produzidas pelas secas, em particular pelo aumento da temperatura
da água, em razão do aquecimento térmico superficial, em muitos casos superior a 2ºC. Há outros
fatores que podem influenciar os processos de degradação, em particular: i) a diminuição das pressões
nas canalizações que levam a água às residências, o que possibilita a intrusão de águas contaminadas
em águas já tratadas; e ii) a transposição de águas de uma bacia hidrográfica para outra. Transposições
são, seguramente, ações que interferem no funcionamento dos ecossistemas, pois introduzem flora
Além dessas inúmeras atividades humanas que afetam e são afetadas pela qualidade
da água, que impactam o desenvolvimento econômico e social e ameaçam a saúde humana, há
algumas tendências mais recentes (últimos 20 anos) que agravam o problema e o tornam mais difícil
tecnicamente. A água é um veículo importante e agente de transmissão de muitos patógenos, e
alguns deles reemergiram recentemente, como no caso de Cryptosporidim Legionella, Escheria coli
0157, rotavirus, hepatite E/UM-WWAP.
As indústrias farmacêuticas e petroquímicas desenvolveram inúmeros novos produtos, como
pesticidas, cosméticos, hormônios, alimento animal com produtos veterinários e antibióticos. Pouco se
conhece, cientificamente, sobre os efeitos dessas substâncias à saúde humana e também não se conhece a
interferência desses produtos nas rotas naturais dos ciclos biogeoquímicos de fósforo, carbono, nitrogênio
e enxofre. Disruptores endócrinos podem também atuar na saúde humana, uma vez que são hormônios
baseados no sistema fisiológico que regulam o metabolismo, o sistema reprodutivo e o funcionamento
da tireoide em animais e no homem. Os efeitos desses disruptores endócrinos na saúde humana ainda
são pouco conhecidos, mas há evidências de efeitos muito significativos na reprodução humana.1
CHAPMAN, D. (Ed.) Water Quality Assessments. Chapman Hall: WHO; Unesco; Unep, 1992.
GLEICK, P. H. (Ed.) Water in crisis: a guide to the word’s fresh water resources. New York: Oxford
University Press, 1993.
HEIDE M. H.; FIGUEIREDO, J. A. S.; TUNDISI J. G. Pagamento por serviços ambientais. Incentivos
econômicos para a proteção dos recursos hídricos e a restauração da mata ciliar. São Paulo:
EntreMeios, 2013.
JIMENEZ-CISNEROS, B. Responding to the challenges of water security: the Eighth Phase of the
International Hydrological Programme 2014-2021. In: Hydrologycal Sciences and Water Security:
Past, Present and Future (Ed. by Cudennec, C. et al.) Proceedings of the 11th Kovacs Colloquium,
Paris, France, June 2014. IAHS Publ. 366, p.10-19, 2015
NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Adapting to the impacts of climate change. Divison of earth and
life studies. S. l.: National Academies Press. 2010.
TUCCI. C. E. M. Urbanização e recursos hídricos. In: BICUDO, C. E. M.; TUNDISI, J. G.; SCHEUENTSUL,
M. C. B. Águas no Brasil: análises estratégicas. São Paulo: Academia Brasileira de Ciências, Inst.
Botânica, 2010. p.113-28.
UN-WWAP (United Nations World Water Assessment Programme). UNWorld Water Development
Report 2: Water, a shared responsibility. Paris; New York; Oxford: Unesco (United Nations Educational,
Scientific and Cultural Organization) and Berghahn Books, s. d. Disponível em: <http://www.unesco.
org/new/en/natural-sciences/environment/water/wwdr/wwdr2-2006/downloads-wwdr2/>.
UNEP/UNESCO. Water Quality for Ecosystem and Human Health. GEMS Water. UNESCO, IAP Water
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YOUNG, G.; DEMUTHS MISHRA, A.; CUDENNEC C. Hydrological Sciences and water security: an
overview. In: Proceedings of the 11th Kouacs Collogium Paris, France, IAHS Publ 366, p. 1-9, 2015.
4
A crise hídrica no
município de São Paulo
e as consequências
para a biodiversidade
Pedro F. Develey*
*
BirdLife; SAVE Brasil
Existe uma clara coincidência entre as áreas do planeta com maior insegurança hídrica e áreas
onde são verificadas as maiores perdas de biodiversidade (Vörösmarty et al., 2010). Ainda, segundo
Vörösmarty et al. (2010), cerca de 80% da população mundial vivem em áreas nas quais tanto a
biodiversidade como a segurança hídrica estão altamente ameaçadas. A Região Metropolitana de
São Paulo (RMSP) é um bom exemplo dessa situação.
Originalmente a maior parte das terras onde hoje está localizada toda a Grande São Paulo
era dominada por floresta ombrofila úmida. Havia também alguns trechos com ambientes aquáticos
(principalmente nas várzeas dos rios Pinheiros e Tietê) e pequenas áreas de campos nativos. Durante
todo o processo de urbanização, ocorreu uma drástica transformação da paisagem natural, de modo
que praticamente toda a vegetação original foi destruída e substituída por áreas construídas. Como
consequências dessa substituição de ambientes ocorreram perdas significativas na biodiversidade
original. A fauna e a flora encontradas hoje no município de São Paulo são compostas essencialmente
por espécies mais resistentes à ação humana, sendo assim mais resilientes a alterações ambientais. No
entanto, algumas áreas ainda se mantêm mais conservadas e com características similares ao ambiente
originalmente encontrado. É o caso das florestas situadas nos arredores da área urbana de São Paulo
e que fazem parte da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, reconhecida pelo
Unesco em 1994 como parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. De acordo com a Unesco, uma
das principais razões para a criação da reserva foi a proteção das áreas de mananciais ao redor da
cidade, garantindo segurança hídrica para a população de São Paulo. As matas situadas na Serra da
Cantareira (englobando o Parque Estadual da Cantareira) são parte integrante dessa reserva. Nessas
matas, nos arredores da cidade, encontra-se a maior diversidade de fauna e flora de toda a Grande São
Paulo, com muitas espécies ameaçadas, endêmicas e sensíveis a distúrbios ambientais. Só em relação
à avifauna, essas matas abrigam 140 espécies florestais (Develey; Endrigo, 2011). No interior da cidade,
esse número é bem inferior, com aproximadamente 60 espécies de aves vivendo exclusivamente em
ambientes urbanos.
ESTIAGEM
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EXTINÇÃO
LOCAL
Figura 1 - Impactos potencias diretos e indiretos de eventos climáticos extremos sobre a biodiversidade da Grande São
Paulo. A estiagem prolongada gera um impacto direto sobre os remanescentes florestais (setas vermelhas), causando um
ressecamento da vegetação e afetando grupos de espécies que dependem de alta unidade para reprodução e sobrevivência
(anfíbios e epífitas). Indiretamente o ressecamento da floresta afeta espécies de aves de sub-bosque e aumenta as chances
de queimadas (setas amarelas) que representam mais um impacto sobre a fauna e flora. Esses efeitos somados (setas
amarelas e vermelhas) causam perdas populacionais que em médio e longo prazos podem levar a extinções locais.
Fonte: Criação própria.
Considerações finais
Crise hídrica e perda da biodiversidade caminham lado a lado. Áreas que hoje sofrem sérios
problemas relacionados a falta de água também são, em geral, áreas onde já ocorreram severas perdas na
biodiversidade. Em um ambiente urbano, como a cidade de São Paulo, as maiores perdas na biodiversidade
ocorreram durante todo o processo de urbanização. Isso não significa que eventos de secas extremas
não estejam afetando a fauna e a flora da cidade, mesmo considerando a capacidade de adaptação
dessas espécies. No entanto, essas consequências deverão ser claramente percebidas em médio e longo
prazos, o que justifica a implementação imediata de programas de monitoramentos de biodiversidade.
Grupos indicadores como aves, borboletas e algumas espécies vegetais podem ser utilizados nesses
monitoramentos.
BALIAN, E. V.; SEGERS, H.; LEVEQUE, C.; MARTENS, K. The Freshwater Animal Diversity Assessment:
An overview of the results. Hydrobiologia, v.595, n.1, p.627-37, 2008.
BANKS-LEITE, C.; EWERS, R. M.; METZGER, J. P. Edge effects as the principal cause of area effects
on birds in fragmented secondary forest. Oikos, v.119, n.6, p.918-26, 2010.
BUTCHART, S. H. M. et al. Global biodiversity: indicators of recent declines. Science, v.328, n.5982,
p.1164-8, 2010.
DEVELEY, P. F.; ENDRIGO, E. Aves da Grande São Paulo: Guia de campo. São Paulo: Aves e Foto
Editora, 2011.
DIXO, M.; MARTINS, M. Are leaf-litter frogs and lizards affected by edge effects due to forest
fragmentation in Brazilian Atlantic forest? Journal of Tropical Ecology, v.24, n.5, p.551-4, 2008.
ELIASSON, J. The rising pressure of global water shortages. Nature, v.517, p.6, 2015.
LAURANCE, W. F. et al. Habitat fragmentation, variable edge effects, and the landscape-divergence
hypothesis. PloS One, v.2, n.10, 2007.
MARTENSEN, A. C.; PIMENTEL, R. G.; METZGER, J. P. Relative effects of fragment size and
connectivity on bird community in the Atlantic Rain Forest: Implications for conservation. Biological
Conservation, v.141, n.9, p.2184-92, 2008.
ŞEKERCIOGLU, Ç. H.; PRIMACK, R. B.; WORMWORTH, J. The effects of climate change on tropical
birds. Biological Conservation, v.148, n.1, p.1-18, 2012.
WETLANDS INTERNATIONAL. Biodiversity loss and the global water crisis: A fact book on the links
between biodiversity and water security. The Netherlands: Wetlands International, 2010.
Introdução
Figura 1 – A água no contexto dos serviços ecossistêmicos e sua relação com o bem-estar humano.
Fonte: Elaborado a partir de Ecossistemas e Bem-Estar Humano (2005, p.30).
Para a análise de como a escassez hídrica afetou os serviços ecossistêmicos em São Paulo é
necessário o alargamento do escopo geográfico da avaliação para além dos seus limites municipais.
Com efeito, os serviços ecossistêmicos que beneficiam o município e mesmo a Região Metropolitana de
São Paulo (RMSP) (São Paulo, 2011) são fornecidos por ecossistemas que se localizam, em significativa
parte, além de seus limites geográficos. Esse fenômeno é comum a várias cidades do mundo, como
destacou a AEM (Millennium, 2005 a/b).
No caso da RMSP, o espaço geográfico mais adequado para uma avaliação ecossistêmica
integrada é o seu cinturão verde envoltório. Esse cinturão verde, composto por uma vasta região
periurbana com predomínio de grandes extensões de florestas, mananciais de água, áreas cultivadas,
áreas de turismo/lazer e ocupações humanas menos adensadas, envolve a área densamente urbanizada
da cidade de São Paulo e sua região metropolitana. Em 1994, esse espaço abrangido pelo Cinturão Verde
que abraça a RMSP foi declarado como Reserva da Biosfera1 pela Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) (Figura 2)(Rodrigues et al., 2006).
A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da cidade de São Paulo (RBCV) abrange
Figura 2 – Área terrestre e marinha da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo.
Fonte: RODRIGUES, 2014.
1. As reservas da biosfera são áreas formadas por ecossistemas terrestres, marinhos e costeiros, reconhecidas pelo Programa
o Homem e a Biosfera (MAB) da Unesco. Nas reservas da biosfera se fomentam soluções para conciliar a conservação da
biodiversidade com seu uso sustentável, o desenvolvimento econômico, a pesquisa e a educação (Unesco, 2017).
A escassez hídrica se refere à restrição de água para as atividades humanas e para a manutenção
dos processos vitais da natureza. Ela é determinada por quatro fatores principais: i) diminuição dos
níveis normais de pluviosidade; ii) capacidade natural do ambiente em armazenar a água no solo,
subsolo e nos corpos hídricos, determinada, grosso modo, pelas características de cobertura, uso e
ocupação da terra e aspectos geológicos e pedológicos da região; iii) reservação, que é a capacidade de
se armazenar as águas das chuvas em reservatórios; e iv) demanda, ligada ao consumo da água para as
diferentes finalidades.
Com a escassez hídrica, os agricultores que não possuíam a outorga regularizada para uso
da água nas bacias do Piracicaba/Capivari/Jundiaí (PCJ) e do Alto Tietê (AT) tiveram suas bombas
lacradas, com interrupção do uso do recurso hídrico para irrigação. Elas somente foram reabertas após
a definição, pelos próprios agricultores, do volume de água que consumiam e do cadastramento do seu
pedido de outorga nos órgãos competentes.
No PCJ, a crise foi mais aguda, uma vez que os níveis das represas atingiram situações críticas
em razão da redução do volume das águas nesses reservatórios. Em janeiro de 2015, a Resolução 50
da Agência Nacional de Águas (ANA)/Departamento de Água e Esgoto (DAEE) estabeleceu regras de
vazão mínima para os estados de alerta e de restrição, que foram aplicadas em suas sub-bacias. No
caso de restrição, o consumo dos usos preferenciais foi reduzido em 20% e o da indústria e agricultura,
em 30% (São Paulo, 2015).
Os reflexos da estiagem na produção de alimentos podem ocorrer tanto pela perda de produção
como pela qualidade das hortícolas, atraso no plantio, comprometimento dos frutos e/ou sabor
diferenciado dos produtos para melhor ou para pior.
O agravamento da crise de abastecimento de água e a sua manutenção por períodos prolongados
(2013-2015) apresentaram reflexos diretos no volume da produção local dos hortifrutigranjeiros e na
sua qualidade e preço final, com reflexos na segurança alimentar e bem-estar de toda a população, mas
provavelmente com maior impacto nos segmentos de renda mais baixa e pequenos agricultores. Isso se
sucedeu tanto pelo aumento da distância entre o produtor e o consumidor (decorrente de um possível
deslocamento da produção para além dessa região), como pela maior dificuldade de acesso a água e
de obtenção de produtos de boa qualidade.
Livro Branco da Água | Capítulo 5 61
Em um cenário projetado de escassez hídrica de longo prazo, deve haver uma intensificação
do impacto da estiagem sobre o bem-estar da população em função da gradativa e continua
substituição do uso da terra agrícola por área urbana. Nessa perspectiva, a desigualdade no
impacto sobre segurança alimentar e acesso a água pode vir a se refletir em crescente conflito social
Os serviços ecossistêmicos culturais também são diretamente afetados pela crise hídrica, com
destaque para o serviço de lazer e turismo, que se refere à relação com a natureza para descanso,
diversão, interação social e movimentação física. No contexto da crise hídrica, chama-se atenção para o
serviço de lazer e turismo de contato com a água, que é fonte de benefícios obtidos por meio de banhos
em rios, lagos, represas, cachoeiras, passeios de barco, além de atividades do turismo de aventura
como boia-cross, canoagem, flutuação, mergulho, rafting, windsurf (Brasil, 2008).
Com a redução do volume de água, essas atividades correm risco de ser inviabilizadas.
Outras atividades de interação com a natureza sofrem comprometimento, como as trilhas na
mata, já que não são recomendáveis por ocasião de secas rigorosas, tanto pelo risco de incêndios
como pelas consequências para a saúde humana quando a umidade do ar diminui a níveis críticos.
Em regiões onde a água é o principal atrativo, como é o caso de cidades localizadas na
bacia do PCJ, incluindo o Sistema Cantareira, notaram-se os impactos negativos sobre o turismo
acarretados pela escassez hídrica.
Como exemplo, no município de São Pedro duas cachoeiras ficaram secas e uma terceira
permaneceu apenas com um fio de água. Já em Piracicaba, o rio que leva o mesmo nome da cidade,
com nível muito baixo, dificultou os passeios de barco, comuns na região (G1 2014a). O baixo
volume de água do Rio Piracicaba também resultou em forte odor, que podia ser sentido a longas
distâncias. Em Bragança Paulista, onde está situada a Represa Jaguaribe, local de prática do turismo
náutico, a drástica queda de seu nível de água inviabilizou esse tipo de atividade (Gomes, 2014).
Entre os impactos negativos da escassez hídrica sobre o turismo, destacaram-se os desafios
enfrentados pelo Circuito das Águas Paulistas. Esse roteiro é formado pelos municípios de Amparo,
Holambra, Jaguariúna, Monte Alegre do Sul, Pedreira, Socorro, Águas de Lindoia, Lindoia e Serra Negra.
Com exceção dos três últimos, todos os demais pertencem à Bacia Hidrográfica do PCJ, onde se situam
os principais mananciais do Sistema Cantareira. Monte Alegre do Sul teve seu balneário municipal
fechado em outubro de 2014. Em Socorro, o nível do Rio do Peixe caiu para 50 cm, interrompendo o
rafting que usualmente é realizado entre 1,40 m e 1,80 m (Tomazela, 2014; G1, 2014b).
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produção madeireira, com reflexos, em diferentes graus, na produtividade e na economia das empresas.
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das grandes empresas, tais como materiais genéticos adaptados e/ou brigadas robustas para combate
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a incêndios florestais, a tendência é que as florestas dos pequenos e médios produtores tenham
sofrido impactos em proporções semelhantes ou mais severas.
Para além da avaliação individual dos serviços ecossistêmicos enfocados, algumas análises
integradas podem ser efetuadas, tanto sobre os aspectos da escassez hídrica que impactam esses
serviços quanto em relação aos possíveis reflexos de sua falta sobre o bem-estar humano. Nesse
sentido, os três serviços ecossistêmicos avaliados foram afetados diferentemente pela escassez
hídrica (Tabela 3). .
Tabela 3 - Dependência dos serviços de produção de alimentos, turismo aquático e produção madeireira na RBCV em relação
a três fontes de recursos hídricos e o tempo de recuperação do serviço ecossistêmico com a normalização do regime de chuvas.
rápido/
Produção de alimento alta baixa a alta baixa a alta
intermediário
intermediário/
Turismo aquático baixíssima alta alta
lento
COSTANZA, R. et al. Changes in the global value of ecosystem services. Global Environmental
Change, v.26, p.152-8, 2014.
EL PAÍS – BRASIL. Falta de água em São Paulo já afeta mais de 15,6 milhões de pessoas. 2014.
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Consequências
socioeconômicas
da crise da água
em São Paulo
Há indícios claros de que a crise de água no município de São Paulo afetou direta e indiretamente
a sociedade e a economia. Foram publicadas diversas reportagens que relatam aspectos pontuais que
a crise de abastecimento de água, nos anos 2014 e 2015, gerou, tratando das implicações de caráter
social e econômico da crise da água, como aumento da procura por fontes alternativas, aumento de
reclamações sobre o custo da água e a sua falta, entre outras questões.
Dentre os aspectos econômicos, existem relatos, desde o ano 2014, sobre o prejuízo para as
indústrias e o comércio na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) decorrentes da restrição de
água para esses setores (Martins, 2015). Entretanto, ainda não existe um estudo sistematizado que
estabeleça a relação entre a crise hídrica e as consequências socioeconômicas no município de São
Paulo. Mas há muitas evidências de que esse processo ocorre de forma silenciosa e, ainda, sem a
devida repercussão. Não é possível, porém, avaliar as consequências isoladas dessa ocorrência em
razão de vivenciarmos uma forte crise econômica nacional desde 2014.
Paulo A. de A. Sinisgalli*
Ana Paula Fracalanza*
Leandro Luiz Giatti**
Natalia Dias Tadeu***
*
Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP); e Instituto de Energia e Ambiente (IEE-USP)
**
Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP)
***
Doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental (Procam-USP)
Segundo a empresa, um dos maiores vilões que provocaram a queda das receitas
da estatal foi o Programa de Incentivo à Redução do Consumo, adotado no ano
passado. Cwom descontos de até 30% na conta de quem usasse até 10% menos
água, a medida fez com que a Sabesp deixasse de arrecadar 376,4 milhões
de reais, segundo o balanço financeiro apresentado na semana passada. O
consumo diário de água per capita na região metropolitana caiu de 163 litros
por habitante para 126 litros.
Desse modo, é interessante avaliar como uma medida econômica adotada para diminuir o uso
de água, que obteve resultado positivo sobre a redução do consumo de água pela população, resultou
em perdas financeiras para a empresa concessionária de abastecimento de água. Entretanto, há uma
redistribuição dessas perdas, por meio da concessão de aumentos importantes no valor do metro
cúbico consumido .
Há um outro aspecto a ser destacado: a Sabesp possui contratos de demanda firme com
alguns grandes consumidores de água, o que lhes garante uma tarifa diferenciada,3 que estimula o
consumo caso ultrapassem o estabelecido em contrato. Esse incentivo perverso aumenta o consumo
irracional de água pelas empresas (Martins et al., 2015).
Em resumo, os impactos socioeconômicos da crise hídrica no município de São Paulo foram
pouco sistematizados e isolados do contexto geral, mas foram sentidos diretamente no aumento de
itens específicos, como preços da água mineral, apresentados a seguir. Entretanto, podem-se verificar
aumento de custos na busca de opções de suprimento no comércio e serviços, incentivos de redução
de consumo atrelados ao aumento de tarifas e aumento de reclamações por falta de água em diversos
pontos da cidade.
3. Os contratos de demanda firme com as empresas podem ser conferidos na página <http:// http://apublica.org/contratos-
sabesp/>.
Segundo as Nações Unidas, mais de um bilhão de pessoas no mundo não têm acesso adequado
à água potável. Diante disso, diversas corporações transnacionais tentam monopolizar o suprimento
de água. O Banco Mundial adota a política de incentivos à privatização e precificação da água, o que
tem levado a grandes preocupações quanto à capacidade de cidadãos de países em desenvolvimento
arcarem com os fins lucrativos da água, que tendem, após a privatização e mercantilização, a aumentar
o preço da água (Barlow, 2001).
Diante da falta de água, em quantidade e qualidade, a mercantilização da água acaba sendo um
efeito perverso da crise hídrica, posto o aumento observado de venda de água engarrafada. Somado a
esse aumento de venda cita-se também o aumento do custo dessa água, conforme relatado no jornal
Folha de S.Paulo por Zafalon (2015):
Os que recorrem à água mineral para complementar a necessidade da casa
tiveram uma elevação de 19% nos custos de janeiro do ano passado a abril
deste ano [2015]. Nesse mesmo período, a inflação média teve elevação de
10%. Os dados são da Fipe [Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas] e se
referem ao município de São Paulo. E água cooperou para essa taxa.
Outro setor que promove a mercantilização da água e que vem apresentando aumento nas
vendas e no preço é o de caminhão pipa. Costas e Costa (2015), com dados de 2014 e 2015, mostram
essas alterações de preços:
Distribuidoras consultadas pela BBC Brasil dizem ter registrado uma alta de
10% a 50% nas vendas desde outubro de 2014. Alguns clientes reclamam
que seus preços também subiram. Nilton Savieto, síndico de 12 edifícios em
sete bairros de São Paulo, diz que “em outubro pagava entre R$ 500 e R$
600 por um caminhão-pipa de 15 mil litros. No final de janeiro, o preço teria
chegado a R$ 900. E no início de fevereiro, algumas empresas já me disseram
que só conseguiriam entregar a água por R$ 1.200", afirma.
De forma contraditória, houve bairros que tiveram redução no fornecimento de água, enquanto
outros não foram afetados. Em 2014, foi iniciado um processo de diminuição da pressão para a redução
das perdas associadas a vazamentos e racionalização de uso da água, de acordo com a Sabesp.
Entretanto, essa não parece ser a informação mais confiável.
Em alguns casos, relatou-se a existência de fechamento de registros, o que se contrapôs aos
informes oficiais da não ocorrência de cortes de água. Essa operação foi iniciada nos bairros periféricos,
sem aviso prévio e sem fornecimento de informações à população, quando solicitada. Além disso, a
maioria das reclamações por falta d’água (70%) informou que houve interrupção total do fornecimento
(Martins et al., 2015).
De acordo com a Sabesp, “a redução de pressão nas tubulações é uma tecnologia praticada
rotineiramente pelas companhias de saneamento para redução de perdas de agua”, e vem sendo
utilizada pela Companhia desde 1997. Essa “tecnologia” é bastante rudimentar sendo uma medida
específica de fechamento de válvula ou redução da pressão de recalque. Apesar de a falta de água ser
percebida pela população desde 2014, a redução no fornecimento de água foi admitida pelo governo do
estado de São Paulo em princípios de 2015, quando começou a ser indicadas pela Sabesp regiões onde
haveria falta de água, devido à chamada “redução na pressão das tubulações” (Martins et al., 2015).
Segundo o Relatório de Violações dos Direitos Humanos (Martins et al., 2015), as informações
oficiais de falta de água foram publicadas em um mapa sem escala, de difícil compreensão e,
posteriormente, complementado por uma tabela com bairros e horários com redução de pressão ou
cortes de abastecimento. Desse modo, o que foi divulgado a partir de janeiro de 2015 não contribui
para a transparência da informação naquele momento.
Além disso, não reflete a realidade observada, uma vez que diversas denúncias em meios de
comunicação relataram ocorrência de cortes de abastecimento fora do período indicado. Ou seja,
há fortes indícios de que houve pouca transparência e carência de informação confiável na gestão
do recurso hídrico durante a crise de abastecimento de água, bem como falta de transparência
na gestão das águas no estado de São Paulo. De fato, o que se observa é um processo de (re)
centralização na gestão das águas no estado de São Paulo (Fracalanza, 2017).
5. Por consumir menor volume de água do que o necessário para uma vida saudável, têm saneamento de pior qualidade e
comprometem grande parte de sua renda para comprar água de fornecedores privados.
Considerações finais
Diante de casos de “crises hídricas” existe sempre o risco do apontamento de soluções como o
aumento do preço (ou tarifas) e a proposta de privatização dos serviços de abastecimento de água.7 O
aumento do preço e a proposta de privatização do serviço de abastecimento de água podem ser apontados
como solução para o problema dessa crise hídrica. Contudo, como se pode observar nos exemplos citados
por Barlow (2001), a adoção dessas medidas para o enfrentamento das crises hídricas em outros países
levou a uma intensificação do impacto econômico sobre a população de menor renda, por restringir
seu acesso à água.
6. O lucro líquido da Sabesp em 2016 foi de R$ 2,9 bilhões, que representou um aumento de 449,5% em relação aos lucros
de 2015, no qual o valor foi de R$ 536,3 milhões (Bocchini, 2016; Valor, 2017)
7. Para compreender a diferenciação conceitual entre mercantilização, privatizaçãow e outras formas de reformas neoliberais
relacionadas ao tema água, ver Bakker (2007).
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A rápida expansão da mancha urbana na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) resultou
em alterações do microclima da região, possivelmente agravadas pelas mudanças climáticas. Antes
conhecida como terra da garoa, a região convive atualmente com períodos alternados de seca e chuvas
intensas que impactam significativamente a saúde de seus moradores e impõe novos desafios para a
proteção da saúde pública. Embora por motivos divergentes, doenças de veiculação hídrica reemergem
em taxas elevadas durante a cheia e a seca, ameaçando conquistas importantes da saúde pública,
como a queda da mortalidade infantil por diarreia. Ainda, determinados contaminantes presentes na
água para consumo humano ameaçam a saúde para além das conhecidas diarreias e outras doenças
infecciosas, e estão cada vez mais relacionados ao câncer e outras doenças crônicas. Proteger a
população das doenças de veiculação hídrica impostas pelo ambiente urbano atual é um desafio
interdisciplinar e intersetorial que requer esforços que vão além das competências tradicionalmente
atribuídas ao setor de saúde. O mesmo vale para outras disciplinas do conhecimento e escalas de
governo. O desafio atual de promoção da saúde pública passa necessariamente pelo desafio da gestão
integrada e efetiva de conhecimentos.
A gestão integrada e descentralizada dos recursos hídricos é reconhecida por lei no Brasil. Apesar
do pioneirismo do estado de São Paulo em promulgar uma política integrada e descentralizada dos
Laís Fajersztajn*
Paulo Saldiva*
*
Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP); e Faculdade de Medicina (FM-USP)
1. Política Estadual de Recursos Hídricos, Lei n.7.663, promulgada em 1991.
2. Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei n.9.433, promulgada em 1997.
O principal impacto para a saúde humana da estiagem na Região Metropolitana de São Paulo
é seu potencial comprometimento da qualidade da água. Superadas por meio de medidas sanitárias
bem-sucedidas, as doenças infecciosas de veiculação hídrica tendem a reemergir com algumas
especificidades características do contexto atual que inclui ainda a preocupante possibilidade do
surgimento de doenças cônicas, como alterações no sistema endócrinos e câncer, a partir do consumo
de água, dado à presença de novas substâncias potencialmente tóxicas na água de consumo humano.
Neste texto, serão discutidos os impactos para a saúde humana de substâncias emergentes presentes
na água, como consequência do próprio tratamento da água, que visa garantir sua potabilidade. No
entanto, vale ressaltar a presença crescente de outros contaminantes emergentes na água por origem
ambiental, notadamente contaminantes que apresentam atividade de desreguladores endócrinos, para
os quais os efeitos para a saúde humana ainda são pouco conhecidos. Destaca-se a contaminação
O período de estiagem que ocorreu em São Paulo entre 2012 e 2014 veio acompanhado de
relatos de intermitência e baixa pressão nos sistemas de distribuição de água. Ambas as condições
estão entre as deficiências de distribuição de água reconhecidamente associadas a surtos de doenças
de veiculação hídrica (Lee; Schwab, 2005), em particular diarreia. A interrupção da distribuição de água
em redes de distribuição contínua favorece a contaminação externa da água do sistema, desde que haja
deficiências na integridade do encanamento, o que pode resultar em aumento da incidência de infecção
do trato intestinal. O risco de aumento na incidência de infecção do trato intestinal durante períodos
de interrupção na distribuição em sistemas contínuos pode ser cerca de três vezes maior, quando
comparado com períodos de operação normal do mesmo sistema (Ercumen et al., 2014).
Dados do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo mostraram que
em 2014, ano de pico de estiagem, o estado registrou 315 mil casos de diarreia. O pico ocorreu em
fevereiro, quando foram observados 75% de casos a mais de diarreia que a média esperada (35
mil contra 20 mil casos). Além das interrupções no abastecimento e da baixa pressão no sistema,
também se apontam as origens da água (uso do volume morto das represas e poços sem outorga e
caminhões pipa) como possíveis causas da epidemia de diarreia no estado (Felix, 2015; Martín, 2015).
De fato, a contaminação na fonte também configura uma deficiência no sistema de abastecimento
de água relacionada a surtos de diarreia (Ercumen et al., 2014).
ESTIAGEM
diarreia bacteriológica ou
↑ da poluição
parasitária, cólera, hepatite A,
dos reservatórios
febre tifóide, entre outras
alterações inflamatórias
↑ cianobactérias
sistêmicas, notadamente
tóxicas
hepáticas
Figura 1 - Possíveis relações entre estiagem, poluição de reservatórios e saúde. Desinfeção por Produtos Químicos (DPQ).
A efetividade da gestão da crise hídrica poderá ser alcançada por meio de um esforço
interdisciplinar entre conhecimentos e esferas de governo. A saúde pública pode ser um guia norteador
dessas políticas.
Do ponto de vista científico, estudos sobre os impactos das crises hídricas na saúde, ajustados
para a realidade da Região Metropolitana de São Paulo, ainda são escassos. Assim, o evento de crise
ocorrido entre 2012 e 2014 salienta a urgente necessidade de planejar estudos de longa duração
que embasem políticas públicas de gestão da água. Tais estudos podem ajudar a prever os impactos
adversos para a saúde das medidas de gestão da água antes da ocorrência dos mesmos, gerando
oportunidades de prevenção. Tais estudos são fundamentais para garantir as conquistas da diminuição
dos surtos de doenças infecciosas de origem hídrica, como a diarreia, que tanto prejudicaram o futuro
das crianças brasileira. Ainda, evidências científicas locais robustas sobre os impactos dos químicos
emergentes presentes na água na saúde individual e coletiva podem facilitar a regulamentação desses
compostos, medida fundamental para a proteção da saúde coletiva.
A mídia deve informar a sociedade de maneira mais efetiva acerca da dimensão da crise
hídrica, combatendo o senso comum de que São Paulo está inserida em uma área de disponibilidade
hídrica em quantidade e qualidade suficiente. A segurança hídrica na Região Metropolitana de São
Paulo esteve na pauta dos principais meios de comunicação desde o início de 2014, mas é preciso ir
além. É preciso enfatizar outros fatores importantes no entendimento integrado da crise hídrica, que
não somente a falta de chuvas.
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Parte III
Alternativas para
o futuro da água
em São Paulo
Introdução
Diante do cenário de incertezas, desconfiança e incapacidade por parte dos gestores públicos
em dar respostas concretas à sociedade sobre a crise hídrica, diversas iniciativas têm surgido a
partir da organização da sociedade.
Essas iniciativas têm sido protagonizadas por organizações não governamentais e movimentos
sociais que reclamam o direito a informação, transparência e, por que não afirmar, o direito de acesso
à água e ao saneamento.
A situação de crise hídrica em São Paulo, e também em outros estados e regiões do país, exige uma
ação coletiva, integrada e de larga escala, com a participação de uma multiplicidade de atores sociais.
Este capítulo visa apresentar diversas ações da sociedade civil que podem apontar alternativas
de governança da água. Além disso, questiona a ausência de transparência por parte dos gestores
da água na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).
• A falta de chuva foi, em todas as fases, a causa mais mencionada, mas as referências à má
gestão aumentam a partir da segunda fase. Desmatamento e alterações de uso do solo não
receberam o devido destaque.
• Até o início de 2015, a integração dos sistemas de abastecimento era apontada como a
principal solução. Depois, o consumo e o reúso passam a receber mais atenção. Em todas
as fases, a maioria das soluções apontadas era de caráter emergencial.Sete em cada 10
notícias analisadas tratavam de alguma possível solução para a crise.
• Apenas na terceira fase, foram destacadas as ações tomadas em relação à crise. Uma em
cada cinco matérias mencionava a diminuição da pressão da água. As obras de integração
dos sistemas aparecem logo em seguida entre as mais comentadas. Oito em cada 10 notícias
tratavam de medidas emergenciais.
Dentre os diversos fatores que levaram à crise hídrica no estado de São Paulo, poucas vezes a
mídia mencionou a degradação ambiental das áreas de mananciais. Esse alerta havia sido percebido
quando a primeira fase da pesquisa foi finalizada, em novembro de 2014.
503
Antes da aceitação da crise Após o reconhecimento da crise Início da tomada de ações
Período: jan/14 a 15/out/14 Período:
Período: jan/14aafev/15
16/out/14 15/out/14 Período:
Período: mar/15 a abr/15 16/out/14 a fev/15 notícia
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FASE 2 FASE 3 METODOLOGIA
5031
Após o reconhecimento da crise Início da tomada de ações
DE QUEM SE FALA?
1
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notícias avaliadas, Para visualizar a evolução
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Período: 16/out/14 a fev/15 Período: mar/15 a abr/15
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entre janeiro de 2014
e abril
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o Setor Público.
das notícias, veja a nossa
A falta dedo
linha chuva
tempofoi a causa mais mencionada, mas as referências a má gestão aumentam
2
Infográfico: Contudo, com o passar do tempo, os discursos se descentralizam e outras após o reconhecimento
7 em cada 10 atores citados pela
vozes passam a ganhar espaço: ONGs e movimentos sociais, universidades,
da crise. Desmatamento
imprensa representavam
o devido destaque.
e alterações
o Setor
Contudo, com o passar do tempo, os discursos se descentralizam e outras
Público.do uso do solo não receberam
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de chuva
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associações de classe e grupos.
2 QUAL É A CAUSA? 3 QUAL A SOLUÇÃO?
vozes passam a ganhar espaço:10%
associações de classe e grupos.
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1% e movimentos sociais, universidades,
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7% 5% 10%
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do solo não receberamOs Comitês de Bacia sãosolução.
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avaliadas,
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devido destaque. a evolução
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das notícias,
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veja a nossa
só começa a ser mencionada
na fase 2.
9% 8%
as fases, a maioria das soluções indicadas era
mencionados nas três fases.
10 reportagens analisadas tratavam de alguma
6% de caráter emergencial. 7 em cada
possível
A Prefeitura de São Paulo
16% solução para a crise.
7%
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Os Comitês de Bacia são pouco
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12%
e 2015. 2%
só começa a ser mencionada
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2% 5% 5%
55% mencionados nas três fases. 24% 22%
de SP
com a participação de mais de estaduais são os mais das notícias
vozes passam a ganhar espaço: ONGs da e movimentos sociais,mencionados,
universidades,
seguidos MAIS o devido destaque. e abril de 2015. 10% SOBRETAXA E MULTAS
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50 organizações sociedade
FASE 2 FASEFORAM3 AS AÇÕES TOMADAS?
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aguasp.com.br
dos federais.
MENCIONADAS
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8%
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1 em cada 5 reportagens mencionava a diminuição água. As obras de integração dos sistemasFASE 01 logo em seguida entreFASE
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de sistemas Redução de
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5%
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Os Comitês de Bacia são2014ONGs e movimentos sociais
pouco Comitês de Bacia 10% DE RESERVATÓRIOS
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10%
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citados pela 8% da crise representavam o Setor
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10%
mencionados nas notícias
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4% RACIONAMENTO
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6/out/14
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Nas três
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de de cooperação técnico-científica.
E HÍDRICA E A MÍDIA
har espaço:
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destaque. com IEE/USP,
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POR âmbito acordo
EXCESSIVO 503 a
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e gestão hídrica à luz da imprensa no estado de SP
e abril de 2015.
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S. Paulo
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8% REAJUSTE DA VAZÃO OUTORGADA organizações
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dos federais.
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7% 8% 24%
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Obs. Foram consideradas apenas as reportagens que
tratavam das ações tomadas, publicadas durante
Até o inícioMETODOLOGIA
a fase 3, entre março e abril de 2015
de 2015, a integração dos sistemas era apontada comoFASE 1 F
de Bacia AUMENTO DO NÚMERO DE RESERVATÓRIOS
A falta de chuva foi a causa mais mencionada, mas as referências a má gestão aumentam
503
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de ações Sobretaxa Realização na distribuição 1% a principal
mencionada
na distribuição
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(60 de 125 notícias).
8%
15 a abr/15 após o reconhecimento da crise. Para
Desmatamento e alterações do visualizar
uso do solo a evolução 6%
não receberam Universidades ONGs
7% e movimentos sociais Comitês de Bacia mais atenção. Em todas
Início da tomada de ações solução. Depois, o consumo e reuso passam a receber
503
eitação da crise entre janeiro de 2014
Integração Após o reconhecimento da crise das notícias, veja a nossa 16% 12%
7%
Obs.
/USP,Foram
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consideradas
âmbito destaque.
apenas
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reportagens eque tratavam
de sistemas
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técnico-científica. para a crise (351
Foram de 503 notícias).
avaliadas 503 notícias, publicadas entre janeiro as de
fases,
2014
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notícias avaliadas,
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de 2015, nosindicadas
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Para
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n/14 15/out/14 abril de 2015.16/out/14
Período: a fev/15 Período: mar/15 a abr/15
linha do tempo das notícias, veja a nossa
adas notícias que tratavam exclusivamente de variações nos volumes dos reservatórios. 10 reportagens analisadas tratavam
e abril de 2015. de alguma possível solução para a crise.
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o consumo a causa mais mencionada, mas as referências a má gestão aumentam de 2015, a integração dos do uso
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para a crise. 11%
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10% 24% 9% 22% 8%
8% 10% 13%SOLUÇÕES
14%
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de 12% Racionamento
16% 0% consumo
0% 0% 7% Redução de perdas Ampliação
do reúso
na distribuição
FASE 01 FASEde 02 FASE 03
Obs. Mais da metade das notícias analisadas (282 de 503) não falavam sobre causas para a crise.
10%10% 8%
24% 22%
Curiosidade: em outubro 10% 55%apenas 8% 24%
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2014 foi criada Obs. 14%
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consideradas apenas as reportagens que as reportagens que tratavam de causas para a crise.
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FASE 02
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Partidos Políticos
FASE 03
Comitês dedos
obras de integração Bacia
Outros 1 em cada 5 reportagens mencionava a diminuição da pressão 14%
10%
sistemas aparecem logo em seguida entre as mais comentadas.
da água. 5%
INTEGRAÇÃO
As obras DE SISTEMAS
REDUÇÃO
de DE PERDAS
integração NAsistemas
dos
INCENTIVO À REDUÇÃO DE CONSUMO
DISTRIBUIÇÃO
aparecem logo em seguida entre as mais comentadas.
5% AUMENTO DO NÚMERO DE RESERVATÓRIOS
18% DIMINUIÇÃO DA PRESSÃO DA ÁGUA
de
a MAIS
Livro Branco da Água |AS
Capítulo 8 8% REAJUSTE DA VAZÃO OUTORGADA
10% SOBRETAXA E MULTAS POR4%
CONSUMO EXCESSIVO
RACIONAMENTO
14% INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS 109
nta Nas três fases os órgãos 10 AÇÕES
18% DIMINUIÇÃO DA PRESSÃO DA ÁGUA
10% INCENTIVO À REDUÇÃO DE CONSUMO
lo
de
de
MENCIONADAS
IDS em parceria
estaduaiscom
são os IEE/USP,
mais
mencionados, seguidos
no 14%
âmbito do acordo
INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS de cooperação
MAIS 7% AUMENTO DA técnico-científica.
PRODUÇÃO/ VAZÃO
Foram avaliadas 503 notícias, publicadas entre
10% SOBRETAXA E MULTAS POR CONSUMO EXCESSIVO
janeiro de 2014 e abril de 2015,
Globo. Não foram consideradas notícias
10% INCENTIVO À REDUÇÃO
dos federais. que tratavam
DE CONSUMO exclusivamente
5% VOLUME MORTO de variações nos volumes dos reservatórios. 8% REAJUSTE DA VAZÃO OUTORGADA
PELA IMPRENSA MENCIONADAS
10% SOBRETAXA E MULTAS POR CONSUMO EXCESSIVO 5% REDUÇÃO DE PERDAS NA DISTRIBUIÇÃO 7% AUMENTO DA PRODUÇÃO/ VAZÃO
Obs. Foram consideradas apenas as reportagens que
tratavam das ações tomadas, publicadas durante
METODOLOGIA
503
omada de ações
notícias avaliadas, Para visualizar a evolução
mar/15 a abr/15 entre janeiro de 2014 das notícias, veja a nossa
e abril de 2015.
linha do tempo
A E A MÍDIA Governança
3 QUAL e gestão hídrica à luz da imprensa no estado de SP
A SOLUÇÃO?
as referências a má gestão aumentam Até o início de 2015, a integração dos sistemas era apontada como a principal
FASE
alterações 2 do solo não receberam
do uso FASE 3
solução. Depois, o consumo eMETODOLOGIA
reuso passam a receber mais atenção. Em todas
as da
fases, a maioria
de ações das soluções indicadas era de caráter emergencial. 7 em cada
503
Após o reconhecimento da crise Início tomada
notícias avaliadas, Para visualizar a evolução
Período: 16/out/14 a fev/15 Período: mar/15 a abr/15
10 reportagens analisadas tratavam de alguma possível
entre janeiro de 2014 solução para a crise. das notícias, veja a nossa
8% e abril de 2015.
linha do tempo
2%
5%
5%
5%
2%
TOP 5 - RANKING DAS SOLUÇÕES MAIS MENCIONADAS
10% 2 QUAL É A CAUSA?
3%
3 QUAL A SOLUÇÃO?
FASE 1 FASE 2 FASE 3
o Setor Público. A falta de chuva foi a causa8%mais mencionada, mas as referências a má gestão aumentam Até o início de 2015, a integração dos sistemas era apontada como a principal
7%
alizam e outras após o reconhecimento da12% crise. Desmatamento e alterações do uso do solo não receberam solução. Depois, o consumo e reuso passam a receber mais atenção. Em todas
0%
, universidades, o devido destaque. as fases, a maioria das soluções indicadas era de caráter emergencial. 7 em cada
0% 10 reportagens analisadas tratavam de alguma possível solução para a crise.
10% 8%
10% 2%
1% 22% 9%
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14% - RANKING DAS SOLUÇÕES MAIS MENCIONADAS
2% 5% 5%
7% 2%
12%
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e Bacia são pouco 10% Racionamento
37%
1% Integração FASE 1 FASE 2 FASE 3
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8%
12%
Redução de 10%
16% Integração 0% consumo
de sistemas Redução
0%
de
consumo
24% 7%
22% Ampliação
do10% 8%
FASE 03
55%
14% reúso 13%
11% Sobretaxa
37%
10%
12% Integração Racionamento
40% de consumo de sistemas Redução de 10%
Integração Integração consumo
Volume morto 7% de sistemas Redução de
de sistemas
consumo
s falta de informação aumento da população 7% Ampliação
do reúso
FASE 01 FASE 02 FASE 03 10%
6% Redução de 7%
11% Sobretaxa
ES TOMADAS?
da pressão da água. As
FASE 03
QUAIS FORAM AS AÇÕES TOMADAS?
4 obras de integração dos sistemas aparecem logo em seguida entre as mais comentadas.
1 em cada 5 reportagens mencionava a diminuição da pressão da água. As obras de integração dos sistemas aparecem logo em seguida entre as mais comentadas.
18% DIMINUIÇÃO DA PRESSÃO DA ÁGUA 18% DIMINUIÇÃO DA PRESSÃO DA ÁGUA
14% INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS 14% INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS
os AS 1010%
AÇÕES
INCENTIVO À REDUÇÃO DE CONSUMO 10% INCENTIVO À REDUÇÃO DE CONSUMO
10% MAIS
s 10% SOBRETAXA E MULTAS POR CONSUMO EXCESSIVO
SOBRETAXA E MULTAS POR CONSUMO EXCESSIVO
8% REAJUSTE DA VAZÃO OUTORGADA
8%MENCIONADAS
REAJUSTE DA VAZÃO OUTORGADA 7% AUMENTO DA PRODUÇÃO/ VAZÃO
A Pegada
BIER Hídrica
Water Footprint contribui,
Working Group assim, na observação
Indústria e identificação dewww.bieroundtable.com
novas fontes de água e na
reflexão sobre o desenvolvimento de sistemas integrados que consideram diferentes fontes de água
Carbon Disclosure Project – Water
e suas diferentesDisclosure
utilizações. Nesse sentido, oInvestidores
manejo e a gestão da www.cdproject.net/water-disclosure
água nas metrópoles poderiam
assumir uma nova dimensão ao proporcionar uma reflexão sobre o modelo predominante utilizado hoje
Collecting the Drops – Water
Setor privado www.gemi.org/waterplanner
para garantir a sua segurança
sustainability planer GEMI hídrica e o acesso à agua por seus habitantes e atividades econômicas.1
A seguir, destacam-se diversas iniciativas baseadas em métricas que têm aberto interessantes
Corporate Water Gauge Setor privado www.sustainableinnovation.org
possibilidades de promover ações efetivas para mudar comportamentos, hábitos e práticas
empresariais
Europeane Union
de gestão da água em diversas escalas, escopos e http://ec.europa.eu/environment/water/wat
Water Framework atividades no intuito de promover
Estado
Directive er-framework/index_en.html
eficiência e governança. O maior desafio é que empresas, todos os níveis de governo e comunidades
locaisFederation
colaborarem para garantir
House Commitment que a água
to Water seja
Governo governada
e setor alimentício e compartilhada de forma responsável.
www.fhc2020.co.uk
Efficiency – UK
Global Reporting Initiative (GRI) Setor privado e org. Sociedade civil www.globalreporting.org
Global Water Tool (WBCSD) Org sociedade civil e setor privado www.wbcsd.org
www.unglobalcompact.org/what-is-gc/our-
UN CEO Water Mandate ONU, Pacific Institute e setor privado
work/environment/water
Global Reporting Initiative (GRI) Setor privado e org. Sociedade civil www.globalreporting.org
Global Water Tool (WBCSD) Org sociedade civil e setor privado www.wbcsd.org
www.unglobalcompact.org/what-is-gc/our-
UN CEO Water Mandate ONU, Pacific Institute e setor privado
work/environment/water
http://www.allianceforwaterefficiency.org/w
Water Neutral Offset Calculator Org. Sociedade Civil
ater-offset-report-release.aspx
Para Arrojo (2006), o avanço para sociedades sustentáveis é parte componente do desafio
ético para promover uma nova cultura da água. O autor enfatiza que o modelo de globalização
reforça o enfoque tradicional da gestão da água que tem os cidadãos como um recurso, promovendo
sua mercantilização, assim como a liberalização dos serviços de abastecimento e saneamento.
Cabe observar que esse modelo baseado no consumo tem provocado uma crescente escassez da
água doce no planeta. A água, portanto, deve ser reconhecida como prioritária e garantida desde a
perspectiva da ética, equidade, governabilidade participativa, sustentabilidade e dos direitos humanos.
Esse olhar implica um “fazer coletivo” que configura importantes estratégias, que englobam um
conjunto de atores e práticas, podendo ser um elemento inovador para a construção de pactos de governança
no futuro da gestão ambiental, fomentando a compreensão e o acolhimento de novos paradigmas
que possam informar novas escolhas do poder público e da sociedade, numa perspectiva de avanço
rumo à sustentabilidade socioambiental.
Na Espanha a missão da Fundación Nueva Cultura del Agua, por exemplo, consiste em recolher,
integrar, gerar e transmitir conhecimento e valores para promover a adoção dessa nova cultura, entendida
como uma mudança de paradigma em direção à sustentabilidade ambiental, econômica, social e cultural
com foco numa visão ecossistêmica e patrimonial da água. Iniciou-se a partir de meados dos anos
1990, formada por profissionais de diversas áreas de conhecimento que propunham uma mudança na
política de gestão das águas visando ações mais racionais e sustentáveis. Os valores que permeiam
essa proposta se assentam em ações baseadas na geração e transmissão de conhecimento e valores
humanos para promover a adoção de uma Nova Cultura da Água, que demanda uma participação
ativa da sociedade.2
Para Pedro Arrojo, um dos iniciadores e principal multiplicador dessa abordagem, os valores
a serem transmitidos para a sociedade civil são principalmente: a independência, a transparência, a
integridade, a responsabilidade, o espírito crítico, a transdisciplinaridade e a equidade com as gerações
presentes e futuras.
Isso demanda um compromisso com educação focada na água em uma perspectiva ampla
que possa promover mudanças no nível pessoal e cultural na direção de sociedades mais sustentáveis
e solidárias. Para que esses objetivos sejam atingidos torna-se essencial desenvolver instrumentos
de educação, que possibilitem promover mudanças profundas nas escalas de valores e no modo de
No ano de 2007, a Secad (2007) lançou o documento intitulado “Educação na diversidade: o que
fazem as escolas que dizem que fazem educação ambiental.” A publicação foi fruto de uma pesquisa
realizada com 418 escolas brasileiras e, infelizmente, foi uma das últimas que trouxeram de forma mais
sistematizada as temáticas desenvolvidas pelas escolas relacionadas à Educação Ambiental.
Nesse documento, a “água” foi a citada como a temática mais trabalhada nas escolas por
meio de projetos e atividades de Educação Ambiental (Figura 2).
Figura 2 - Distribuição das escolas segundo a temática abordada nos projetos (primeira prioridade)
Fonte: Secad, 2007.
Diante da crise, em 2014 e 2015, ao se observar a sociedade civil e sua participação, verificou-se
a emergência de iniciativas que demonstraram a capacidade de articulação de múltiplos atores diante
do paradigma da escassez e da construção de uma visão crítica sobre a gestão da água.
A mobilização de vários atores e iniciativas demonstrava a preocupação no que diz respeito a
formas de enfrentar a situação de crise. Nesse contexto emergem diversas articulações que apoiadas
no ativismo via internet ampliam o debate e os espaços públicos para contribuir com a construção da
segurança hídrica em São Paulo.
Essas iniciativas começaram a se multiplicar no sentido de mobilizar e alertar empresas, governos
e a sociedade civil para a urgência de ações concretas para o uso racional de água, para consumo
consciente de água, que contou com diversas ações integradas e apoio de organizações da sociedade
civil. E a principal demanda se deu por transparência em face da cidadania que cobrava informações
sobre o abastecimento e a redução da pressão de água alegando omissão dos órgãos responsáveis.
A mobilização durante o longo período de crise foi importante, destacando-se o papel das mídias e
redes sociais como ferramentas de articulação e motivadores de mobilização. Entretanto, na medida
em que a situação hídrica se recuperou a partir de 2016, praticamente todas as articulações perderam
sua capacidade de mobilização e o tema da segurança hídrica ficou esvaziado. Mesmo se alguns atores
sociais envolvidos enfatizam a importância de multiplicar a percepção sobre a necessidade de uma
Nova Cultura da Água, que envolve principalmente maior participação da sociedade em solidariedade
nos períodos de escassez prolongados, a criatividade e a busca por soluções simples e de baixo custo
para enfrentar esses momentos ganham lugar no imaginário e na prática da população. Da mesma
forma, volta-se para a Educação, mais especificamente para a Educação para a Sustentabilidade, como
caminho para a formação de novos cidadãos mais informados sobre sua participação como parte do
problema, mas, também, parte da solução.
Quanto à imprensa, por sua vez, reproduziu os poderes constituídos e proporcionou pouco
espaço para que a identidade da sociedade civil pudesse se manifestar pela sua perspectiva, fato
evidenciado durante a crise hídrica. Porém, também é importante destacar o papel das mídias
alternativas, na medida em que as mídias tradicionais pouco espaço criaram para debater temas que são
coletivos. As mídias alternativas como os blogs e os grupos que se organizam nas redes sociais, diante da
injustiça social que envolvia o tema, cumpriram um papel relevante que possibilitou atingir um nível de
organização e mobilização em face de uma imprensa que escamoteava informação mais detalhada sobre
as assimetrias regionais, notadamente nos bairros mais distantes de um acesso equitativo à água.
3. Conforme Wenger (1998): “Comunidades de prática são grupos de pessoas que compartilham uma preocupação ou
paixão por algo que fazem e aprendem como fazê-lo melhor na medida em que interagem com regularidade”.
AITH, F. M. A.; ROTHBARTH, R. O estatuto jurídico das águas no Brasil. Estudos Avançados, v.29,
n.84, p.163-177, ago. 2015.
ARROJO, P. Los retos éticos de La nueva cultura Del água. Polis, Revista de La Universidad Bolivariana,
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BACCI, D. L. C.; PATACA, E. M. Educação para a água. Estudos Avançados, v.22, n.63, 2008.
DE STEFANO, L. et al. Public participation and transparency in water management. In: DE STEFANO,
L.; LLAMAS, M. R. (Ed.) Water, Agriculture and the Environment in Spain can we square the circle?
Leiden: CRC Press, 2012. p.217-25.
JACOBI, P. R.; CIBIM, J.; SOUZA LEÃO, R. Crise hídrica na MMP e respostas da sociedade civil.
Estudos Avançados, v.29, n.84, 2015.
JACOBI, P.R. et al. A função social da educação ambiental nas práticas colaborativas: participação
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JACOBI, P. R.; GÜNTER, W. M. R.; GIATTI, L. L. Agenda 21 e Governança. Estudos Avançados, v.26,
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MARENGO, J. A et al. A seca e a crise hídrica de 2014-2015 em São Paulo. Revista USP, n.106, p.31-
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UNITED NATIONS. Resolution adopted by the General Assembly on 28 July 2010. A/RES/64/292.
The human right to water and sanitation, 2010. Disponível em: <http://www.un.org/es/comun/
docs/?symbol=A/RES/64/292&lang=E>. Acesso em: 13 jun. 2017.
WENGER, E. Communities of practice: Learning, meaning and identity. Cambridge, UK: Cambridge
University Press, 1998.
Nascentes de inovação
“Para os bichos e rios nascer já é caminhar”, proclamava o notável poeta e diplomata João
Cabral de Melo Neto há exatos 65 anos, em sua obra O Rio ou Relação da Viagem que faz o Capibaribe
de sua nascente à cidade do Recife.
Dois eventos não conectados, ambos ocorridos no biênio 1999-2000, às vésperas da entrada
no novo milênio, são marcos da trajetória do Brasil contemporâneo rumo à transformação numa
sociedade que valoriza adequadamente o conhecimento. Em junho de 1999 é lançado na Reitoria da
Universidade de São Paulo (USP) o livro Águas doces no Brasil: capital ecológico, uso e conservação.1
O texto contém 21 artigos, escritos por 31 especialistas de diferentes áreas, numa realização do
Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Já o arcabouço legal da inovação passou por uma reformulação fundamental no biênio 2015-
2016. Decorre ela de um movimento coordenado das comunidades acadêmica, empresarial e política,
frustradas pelas limitações da Lei da Inovação e aparato legal associado para prover as condições
2. Foi instituidor da Fundação SOS Mata Atlântica, fundador do Instituto Socioambiental e Secretário Executivo do
Ministério do Meio Ambiente.
3. Citação extraída da resenha disponível em <http://site-antigo.socioambiental.org/website/parabolicas/edicoes/
edicao55/resen55.htm> (Acesso em jan.2016).
4. Loi n.99-587 du 12 Juillet 1999 sur l’innovation et la recherche. Journal Officiel de la République Française. 13 Juillet 1999.
5. A importância de dotar o Brasil de um arcabouço legal para promover a inovação foi validada pela II Conferência Nacional
de Ciência, Tecnologia e Inovação em 2001. Com a concordância do proponente, o projeto original foi substituído por
proposta submetida em regime de urgência ao Congresso, em agosto de 2002, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Resistências iniciais da equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva frearam o seu andamento por numerosos meses. A
tramitação de uma versão modificada foi concluída em dezembro de 2004, com a sanção da Lei n. 10.973, que “dispõe sobre
incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo”.
6. O professor Rebouças, especialista em Hidrogeologia e um dos fundadores da Associação Nacional de Águas Subterrâneas,
faleceu em 2011.
7. A indicação consta do material de promoção da obra, disponível em <http://www.escrituras.com.br/products.
php?product=%C3%81guas-Doces-no-Brasil%3A-capital-ecol%C3%B3gico%2C-uso-e-conserva%C3%A7%C3%A3o>.
Aacesso em: 26 jan. 2016.
8. Já em dezembro de 2006 se realizou o Seminário Inovação Tecnológica e Segurança Jurídica, convocado em face da
situação assim resumida pela presidente do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE) na Apresentação do relato
do evento: Os avanços ainda não são suficientes e não contam com o amparo de uma institucionalidade adequada para
reduzir as incertezas inerentes aos processos de inovação. É consenso entre os estudiosos do assunto que a insegurança
jurídica, que ganha ainda maior dimensão em razão de uma institucionalidade inadequada que a alimenta, dificulta a
criação de confiança de investidores privados nas atividades de inovação e sua expansão no país. Disponível em: <https://
goo.gl/kCjDBg> Acesso em: jan. 2016.
9. Cabe observar que o processo relativo à recente Lei ainda não foi completado no momento da redação do presente texto
(janeiro de 2018). Os nove vetos presidenciais, introduzidos por solicitação dos ministérios da Fazenda e do Planejamento,
Organização e Gestão, não foram revertidos no Congresso Nacional. Ademais, será preciso regulamentar os dispositivos
legais não autoaplicáveis e fazer os novos mecanismos passar pelo teste da prática.
A única menção feita na Lei referida à “ciência” ou à “tecnologia” aponta o então Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT)10 como destinatário de uma fração da compensação financeira pelo resultado da exploração
de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica, conforme previsto na Constituição Federal.
Chama a atenção o fato de a legislação básica de outros setores ou segmentos ser contemporânea
à de recursos hídricos sem explicitar a importância da ciência e da tecnologia. Por exemplo, a do Sistema
Único de Saúde (SUS), instituído em 1990, define ciência e tecnologia como uma das atividades que
devem ser objeto de articulação na formulação de políticas e programas.11 E sem utilizar o termo,
pela razão temporal já aludida, direciona o SUS à inovação, como evidencia o Art. 46 da Lei que o
constituiu: “O Sistema Único de Saúde (SUS) estabelecerá mecanismos de incentivos à participação do
setor privado no investimento em ciência e tecnologia e estimulará a transferência de tecnologia das
universidades e institutos de pesquisa serviços de saúde nos Estados, Distrito Federal e Municípios, e
às empresas nacionais”. Essa presença é reforçada pela inclusão na Emenda Constitucional de 2015,
anteriormente referida, de disposição que amplia o escopo do Art. 200 da Constituição Federal, o qual
passa a vigorar com seguinte teor: “Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos
10. A partir de 2011 a denominação passou a ser Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
11. Art. 13 da Lei n. 8.080, de 1990.
12. Ver, por exemplo, o artigo “O complexo econômico-industrial da saúde no Brasil: dinâmica de inovação e implicações
para o Sistema Nacional de Inovação em saúde”, de Carlos Augusto Grabois Gadelha, da Fundação Oswaldo Cruz e outros,
publicado na Revista Brasileira de Inovação, v.12 n.2, jul./dez. 2013.
13. Portal do MCTI. Disponível em: < www.mct.gov.br/index.php/content/view/1417/CT___Saude.html>. Acesso em: 26
jan. 2016.
14. Portal do MCTI. Disponível em: <www.mct.gov.br/index.php/content/view/1412/CT___Hidro.html>. Acesso em: 26 jan.
2016.
15. Relatório de Gestão 2016 do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), disponível em:
<http://www.finep.gov.br/acesso-a-informacao-externo/transparencia/114-relatorios/relatorios-de-gestao/5470-
prestacao-de-contas-2016>. Acesso em: 24 jan.2018).
É interessante observar que três classes de usuários dos recursos hídricos foram contemplados
pela criação de fundos setoriais específicos, a saber: agronegócio, aquaviário e energia. Todavia, o
segmento usuário mais intimamente relacionado ao de recursos hídricos e prioritário em situações
de escassez, que é o de abastecimento de água, parte do setor de saneamento básico, não foi
contemplado com essa modalidade de financiamento.
Por um lado, convém verificar a presença da ciência, tecnologia ou inovação (CT&I) na Lei
n.11.445, de 2007, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico. Talvez pelo curto
espaço transcorrido da entrada em vigor da Lei da Inovação, o documento não menciona esse
termo. Por outro lado, trata de ciência e/ou tecnologia em quatro ocasiões:
(i) No Art. 2º, que relaciona os princípios fundamentais que orientam a prestação dos serviços
de saneamento básico: “utilização de tecnologias apropriadas, considerando a capacidade de
pagamento dos usuários e a adoção de soluções graduais e progressivas”;
(ii) No Art. 29, que trata da cobrança dos serviços, ao subordinar a instituição das tarifas,
preços públicos e taxas para os serviços de saneamento básico a um conjunto de diretrizes, entre
as quais o “estímulo ao uso de tecnologias modernas e eficientes, compatíveis com os níveis
exigidos de qualidade, continuidade e segurança na prestação dos serviços”;
(iii) No Art. 48, ao definir como uma das diretrizes que a União deve seguir no estabelecimento
de sua política de saneamento básico o “fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico, à
adoção de tecnologias apropriadas e à difusão dos conhecimentos gerados”; e
16. A execução dos recursos orçamentários do CT-HIDRO foi de 48,9%, com atingimento de 70,3% da meta física com apoio
de 26 projetos (op.cit.).
Dentre as 138 estratégias ali previstas, pelo menos três se relacionam diretamente ao tema, a
saber:
i. Estudos e avaliações dos poluentes orgânicos persistentes (POPs), de seus impactos nos
ecossistemas aquáticos e nos organismos, e de efeitos potenciais na saúde humana, incluindo a
instalação de laboratórios para o seu estudo e caracterização;
ii. Estudos e desenvolvimento de tecnologias para avaliação dos efeitos de substâncias tóxicas:
metais tóxicos, xenobiontes orgânicos e de suas consequências na biodiversidade e na saúde humana.
Incluem-se avaliações dos impactos da eutrofização e de cianobactérias tóxicas; estudos de acumulação
de metais tóxicos na rede alimentar; estudos sobre bioindicadores envolvendo a sua identificação,
caracterização e avaliação de bioindicadores da qualidade de água e toxicidade; e metodologia para
desenvolvimento de novos grupos de bioindicadores e teste de ecotoxicidade com espécies nativas;
23. O texto está disponível em: <http://www.abc.org.br/IMG/pdf/doc-5923.pdf>. Acesso em: 27 jan. 2016.
24. A popularização do termo “inovação” levou a uma proliferação de definições. A partir da reflexão sobre as dezenas de
conceitos de variados jaezes registradas na literatura especializada, o autor propõe a ideia abrangente de que “inovar é
gerar novas realidades”. Ela deixa clara a necessidade de efeitos concretos de uma proposta nova, diferenciando inovação
de invenção.
25. Disponível em: <https://www.bcg.com/publications/collections/most-innovative-companies-2018.aspx>.
26. Cf. Annual Report pursuant to Section 13 or 15(d) of the Securities Exchange Act of 1934 - for the fiscal year ended
September 26, 2015. Disponível em: < http://files.shareholder.com/downloads/AAPL/1438249075x0x861262/2601797E-
6590-4CAA-86C9-962348440FFC/2015_Form_10-K_As-filed_.pdf>. Acesso em: 1 fev. 2016.
27. Um dos pioneiros e, até hoje, dos mais importantes estudiosos da inovação, Chris Freeman, da Universidade de
Sussex (Reino Unido), alertava, já há mais de três décadas, que um dos problemas em gerir a inovação é a variedade de
entendimentos que as pessoas têm desse termo, frequentemente confundindo-o com invenção. [...] Inovação é o processo
de tornar oportunidades em novas ideias e colocar estas em prática de uso extensivo (cf. Freeman, C. The economics of
industrial innovation. 2.ed. London: Frances Pinter, 1982).
28. Lei n.9.279, de 1996, que regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial.
29. Cf. “Nascentes do Brasil: estratégias para a proteção de cabeceiras em bacias hidrográficas”. Coordenação Samuel
Roiphe Barreto, Sergio Augusto Ribeiro, Mônica Pilz Borba. São Paulo : WWF - Brasil : Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2010.
A partir dos anos 1980 avolumaram-se as críticas ao modelo linear. Veja-se, por exemplo, a
seguinte frase inaugural de artigo de pesquisadora do MIT sobre inovação em engenharia de tecidos,
publicado num dos mais rigorosos periódicos internacionais arbitrados sobre política de CT&I (em
tradução livre): “A questão de como exatamente a ciência é transformada em tecnologia e chega ao
mercado é antiga e importante. Os trabalhos iniciais modelaram esse processo como uma ‘cascata’, mas
trabalhos mais recentes aprimoraram consideravelmente o quadro.”31
30. O teor completo da carta está disponível em: <https://www.nsf.gov/od/lpa/nsf50/vbush1945.htm#letter>. Acesso em:
2 fev. 2016. Ali também se encontra o relatório seminal preparado por Vannevar Bush: “Science - the Endless Frontier - A
Report to the President by Vannevar Bush, Director of the Office of Scientific Research and Development, July 1945”.
31. In: Murray F. Innovation as co-evolution of scientific and technological networks: exploring tissue engineering. Research
Policy, v.31, p.1389-403,, 2002.
32. Segue trecho da declaração da Diretora-Geral da Organização Mundial da Saúde em 1.2.2016: “I am now declaring that
the recent cluster of microcephaly cases and other neurological disorders reported in Brazil, following a similar cluster in
French Polynesia in 2014, constitutes a Public Health Emergency of International Concern”. O teor completo está disponível
em: <http://www.who.int/mediacentre/news/statements/2016/emergency-committee-zika-microcephaly/en/>. Acesso em:
2 fev. 2016.
O Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil – Base Corrente, mantido pelo CNPq, registra
1.723 grupos no verbete “água” e 494 envolvidos com “recursos hídricos”.35 Parcela significativa desse
número expressivo de grupos está no Estado de São Paulo. É também marcante a importância do
tema “água” na carteira de pesquisas apoiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (Fapesp).36 Pretende-se apresentar na sequência fluxos de inovação derivados de nascentes “não
canônicas”, uma empresarial e a outra oriunda de organização profissional do terceiro setor.
33. Os termos são extraídos da tipologia estabelecida pelo sociólogo norte-americano James D. Thompson em sua obra
clássica “Organizations in Action” (1967).
34. Destacam-se o Triângulo de Sábato, proposto em 1967 pelos argentinos Jorge Sábato e Natalio Botana, e a Hélice Tríplice
de Relações Universidade-Empresa-Governo, proposta em 1996 pelo norte-americano Henry Etzkowitz e pelo holandês Loet
Leydesdorff.
35. O Diretório está disponível em: <http://lattes.cnpq.br/web/dgp>. Acesso em: 2 fev. 2016.
36. A Fundação compilou em março de 2015 uma copiosa coletânea de “Notícias sobre água publicadas na revista Pesquisa
Fapesp a partir de projetos apoiados pela Fapesp – 2001-2015”.
Uma das nascentes tem a parceria da Fapesp. É fruto de acordo de cooperação celebrado em
2009, válido por dez anos, para “desenvolver e apoiar projetos de pesquisa científica e tecnológica
cooperativos, a serem estabelecidos entre pesquisadores de Instituições de Ensino Superior e de
Pesquisa, públicas ou privadas, no Estado de São Paulo”39. O aporte para financiar projetos no âmbito
desse acordo é no máximo de R$ 50 milhões, compartilhados em partes iguais pelas duas entidades,
desembolsados ao longo de cinco anos. Nesse modelo, o temário das chamadas é inicialmente proposto
pelo parceiro empresarial. O processo seletivo das propostas submetidas é feito de forma articulada
pelos dois parceiros.
40. Os sete temas foram idênticos nas duas chamadas já realizadas. A versão detalhada, com subtemas, encontra-se no
Anexo I da Segunda Chamada, disponível em: <http://www.fapesp.br/7488.phtml>. Acesso em: 2 fev. 2016.
41. Esse Parque foi o primeiro credenciado no Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (dezembro de 2010). Os demais
centros são: Centro de Inovação Tecnológica em Saúde, Centro de Desenvolvimento de Tecnologias de Informação
e Comunicação e Multimídia, Centro de Desenvolvimento Tecnológico de Aeronáutica e Centro de Desenvolvimento
Tecnológico para a Construção Civil. Informação disponível em: <http://www.pqtec.org.br/quem-esta-no-parque/centros-
de-desenvolvimento-tecnologicos.php>. Acesso em: 28 jan.2016.
Esse tipo de nascente é ilustrado pelo caso da Rede de Saneamento e Abastecimento de Água
(RESAG), abrigada pela Rede Metrológica do Estado de São Paulo (Remesp). Trata-se de uma associação
sem fins lucrativos, criada em 1998 por empresários, entidades de ensino, de ciência e tecnologia,
com a incumbência de congregar pessoas físicas e jurídicas para a promoção e o desenvolvimento da
Metrologia no âmbito do Estado de São Paulo.42 A compreensão do valor dessa Rede para a inovação
em temas relacionados à água requer uma contextualização prévia.
Num artigo/manifesto pela criação de um movimento pela inovação tecnológica no Brasil
publicado em princípios de 2005, poucas semanas apenas após a sanção da Lei da Inovação, indicam-se
quatro bases para introjeção desse conceito no tecido institucional do país.43 Uma delas, a segunda na
ordem apresentada, é a valorização de cada componente relevante para a inovação tecnológica.44 São
componentes relevantes do processo de inovação tecnológica, sem a eles se limitar, o empreendedorismo
inovador, o marketing (entendido em seu sentido lato), a pesquisa científica e tecnológica, a invenção, o
desenvolvimento tecnológico, a engenharia não rotineira, a Tecnologia Industrial Básica (TIB), o design
(por vezes incluído na TIB), o financiamento (incluindo o capital empreendedor), os mecanismos de
estímulo (fiscais, financeiros e outros), a extensão tecnológica, a educação em diversos níveis (inclusive
a educação continuada), a comunicação social, a gestão do conhecimento e o gerenciamento de
programas e projetos complexos.
Justifica-se ali a inclusão da referida base pelo fato de “a inserção da inovação tecnológica
no processo de desenvolvimento econômico e social requer das políticas públicas e da gestão das
organizações inovadoras tratamento equitativo e integrado de seus elementos contributivos. Todavia, na
prática nacional, alguns componentes são desconsiderados e outros são encorpados; há componentes
que são tomados pelo todo e é muito baixo o grau de integração no seu tratamento”.
Um dos componentes que volta e meia é obliterado das discussões sobre como melhorar o
desempenho inovador é a Tecnologia Industrial Básica (TIB). Esse termo foi concebido pela Secretaria
de Tecnologia Industrial do antigo Ministério da Indústria e do Comércio no fim da década de 1970, com
42. Informações sobre a Remesp estão disponíveis em: <http://www.remesp.org.br/historia> Acesso em: 2 fev. 2016.
43. Plonski, G.A. - Bases para um Movimento pela Inovação Tecnológica no Brasil. São Paulo Em Perspectiva, v. 19, n. 1, p.
25-33, jan./mar. 2005.
44. As outras são: Base 1 – Compreensão do que é (e do que não é) inovação tecnológica; Base 3 – Reconhecimento do
caráter sistêmico e autocoordenado da inovação tecnológica; e Base 4 – Estabelecimento de suporte adequado à inovação
tecnológica.
45. O conciso, mas abrangente, documento “Programa Tecnologia Industrial Básica e Serviços Tecnológicos para a Inovação
e Competitividade” foi publicado pelo então MCT em 2001, como parte do esforço de introduzir a ideia de inovação na
sociedade. A expressão TIB é usada apenas no Brasil. Na Alemanha utiliza-se a denominação Messen, Normen, Prüfen,
Qualität (MNPQ). Nos EUA se adota o nome Infrastructural Technologies ou, alternativamente, Metrology, Standardization,
Testing and Quality (MSTQ). O documento está disponível em: <http://mct.gov.br/upd_blob/0001/1012.pdf>. Acesso em
2 fev.2016.
46. Conforme indicado pela Coordenadora, Dra. Vera Ponçano no artigo “Rede de saneamento e abastecimento de água
– criação e atividades”. In: Anais Congresso Encontro da Qualidade em Laboratórios - Enqualab 2014, IFUSP, p. 1-6 Brasil:
São Paulo.
47. Essa afirmação insere-se na exposição da ANA sobre o tema da avaliação da qualidade, disponível em: <http://
portalpnqa.ana.gov.br/avaliacao.aspx>. Acesso em: 2 fev.2 016.
48. Uma descrição ampla da Resag e de suas atividades está disponível em: <http://resag.org.br/>. Acesso em: 2 fev. 2016.
49. A Agenda, aprovada pela Assembleia da Organização das Nações Unidas em setembro de 2015, está disponível em:
<https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/> Acesso em: 2 fev.2016. Algumas das metas inscritas no Objetivo 6
convergem com questões consideradas prioritárias pela comunidade especializada brasileira no campo da água. Entre elas
estão: Implementar a gestão integrada dos recursos hídricos em todos os níveis, inclusive via cooperação transfronteiriça,
conforme apropriado; Proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água, incluindo montanhas, florestas,
zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos; e Ampliar a cooperação internacional e o apoio à capacitação para os países em
desenvolvimento em atividades e programas relacionados à água e saneamento, incluindo a coleta de água, a dessalinização,
a eficiência no uso da água, o tratamento de efluentes, a reciclagem e as tecnologias de reúso.
50. As proposições relativas à inovação são: Fortalecer a pesquisa científica, melhorar as capacidades tecnológicas de
setores industriais em todos os países, particularmente os países em desenvolvimento, inclusive, até 2030, incentivando
a inovação e aumentando substancialmente o número de trabalhadores de pesquisa e desenvolvimento por milhão de
pessoas e os gastos público e privado em pesquisa e desenvolvimento; e Apoiar a desenvolvimento tecnológico, a pesquisa
e a inovação nacionais nos países em desenvolvimento, inclusive garantindo um ambiente político propício para, entre
outras coisas, a diversificação industrial e a agregação de valor às commodities.
As águas subterrâneas
na Macrometrópole
de São Paulo
e o enfrentamento
da crise hídrica
Ricardo Hirata*
*
Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas (Cepas), do Instituto de Geociências (IGc-USP)
b) usuários localizados em áreas onde ocorrem aquíferos de baixa produção, mas onde
há forte demanda por água: a maior parte do território da área de interesse e sobretudo onde se
encontram grandes aglomerados populacionais não está localizada sobre aquíferos de alta produção.
Entretanto, em razão da alta demanda, há um grande número de poços tubulares que extraem água
para suprir de forma complementar o abastecimento público. São nítidas as oportunidades que as
águas subterrâneas trazem para o sistema de abastecimento público, sobretudo em tempos de crise,
quando a perfuração de novos poços privados aumenta a oferta de água e reduz, na mesma medida,
o uso da água da rede pública, sem inclusive exigir grandes investimentos das concessionárias ou do
Estado. Acredita-se inclusive que a concessionária pública poderia incentivar o uso da água (cobrando
pelo serviço de esgoto) em áreas onde haja potencial. É certo que medidas como essas somente serão
sustentáveis se o Estado gerir de forma eficiente a explotação e a perfuração das captações.
c) usuários localizados em áreas de baixa produção aquífera, mas próximos a grandes áreas
produtoras: há casos em que grandes aquíferos poderiam ser utilizados para gerar água que seria
utilizada em outras partes da bacia. Esse é particularmente o caso do Sistema Aquífero Guarani, em
sua área de afloramento. Um estudo recente (DAEE 2014, Hirata et al 2015a), baseado em avaliações
preliminares (Labac-IGCE-Unesp 2004, Cobrape/DAEE 2013), quantificou em nível de projeto
exploratório, o potencial e os custos em se extrair água do Sistema Aquífero Guarani desde Itirapina
(SP) e trazê-la por gravidade até Limeira, passando por Rio Claro, Santa Gertrudes, Cordeirópolis,
Iracemápolis. Muito embora o Guarani tivesse capacidade de produzir 1 m3/s, a partir de um campo
de 24 poços tubulares de 250 m de profundidade, com custos de perfuração e instalação de bombas
e quadros de comandos de R$ 40 milhões (a preços de 2014), a reservação e sobretudo a adutora de
80 km até as áreas consumidoras, acrescentaria outros R$ 340 milhões. Assim, embora o aquífero
BERTOLO, R. et al. Água subterrânea para abastecimento público na Região Metropolitana de São
Paulo: é possível utilizá-la em larga escala? Revista DAE, v.63, p.6-17, 2015.
COBRAPE. 2010. Planos das bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí 2010-2020.
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Doutoramento. Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo (Inédita). São Paulo
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Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (FABHAT) e executado pela Servmar Ambiental & Engenharia. São
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HIRATA, R. et al. Águas subterrâneas no Brasil: avaliação para uma gestão sustentável. São Paulo:
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PINHATTI, A. et al. Gestão dos recursos hídricos na citricultura: o papel complementar das águas
subterrâneas. Citricultura, Cordeirópolis, p.24-25, 1 maio 2015.
Água, saúde e
desenvolvimento
sustentável
Saúde e desenvolvimento
O economista sueco Gunnar Myrdal, prêmio Nobel em 1974 no auge do prestígio das teorias
desenvolvimentistas que descreviam um círculo vicioso da pobreza e da doença, chamou-o “causação
circular” (Nunes, 1994). Desde então, discussões sobre a relação entre doença e desenvolvimento
econômico amiudaram. Em grande proximidade, geográfica e conceitual, com a Organização Mundial
da Saúde (OMS), em Genebra, surgiram iniciativas como a Commission on Health Research for
Development, em 1990. Essa apontou uma realidade preocupante: no mundo, menos de 10% dos recursos
financeiros são destinados a pesquisa em saúde nos Developing Countries, países que concentram
mais que 90% de todas as mortes preveníveis. Outra instituição, Global Forum for Health Research,
cunhou a expressão “10/90 gap” para identificar essa discrepância. Desde então, o mote da “brecha
10/90” domina o terreno e deu origem a novas “iniciativas” voltadas a “doenças negligenciadas”. Assim
chamadas por referência ao pouco interesse das multinacionais farmacêuticas em produtos que não
tenham perspectiva de sucesso financeiro. Entidade global “non profit”, o Council on Health Research
José R. Carvalheiro*
*
Departamento de Medicina Social, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP)
Desenvolvimento sustentável
Com a devida precaução, analisamos os resultados encontrados para o Brasil e para o estado
de São Paulo. Comparamos o estado de São Paulo com o Brasil e, eventualmente, com a macrorregião
Sudeste. Tabelas, gráficos e mapas, que não são exibidos mas apenas comentados, figuram nos
mencionados trabalhos (OPAS, 2014; OPAS, 2015).
No primeiro trabalho (OPAS, 2014), além dos eixos que estamos analisando, há outros
indicadores que fazem parte do esforço de análise das desigualdades. Considerando, apenas, a “Taxa
da água”, ela mostra notável avanço no período, no Brasil como um todo. A mediana, valor que limita
50% da distribuição (da proporção da população com acesso a água encanada), varia de 57,3%, em
1991, para 76,2%, em 2000, e 90,3%, em 2010. Isso quer dizer que, em 2010, em metade dos municípios
Nos estritos limites da simplificação mencionada, interpreta-se aqui o que se passou no período
indicado (1991 a 2010) no estado de São Paulo. Com os riscos inerentes a qualquer simplificação,
adotamos o acesso a água potável em pelo menos um cômodo da casa como indicador relativo da
associação da água ao desenvolvimento sustentável. Que se transforma em indicador absoluto da
“crise hídrica” de 2013-2014 se assumirmos o conforto das famílias como o impacto de maior relevância.
Ainda mais dramático, considerando a saúde humana um bem supremo, quando a sociedade recebe a
ordem imperial: “fechem as torneiras!”.
O dia mundial da água, proposto na “Rio 92”, teve sua primeira celebração no ano seguinte, 1993.
Adotou-se então um dos motes mais curiosos de toda a série: “não usar as torneiras da casa durante todo
esse dia (22 de março)”. Evidentemente, procurava-se conter a exacerbação da crise hídrica. A população
mundial era chamada a colaborar, numa incômoda maneira autoritária de culpabilizar as vítimas.
No ano 2015, em São Paulo, as notícias da mídia estiveram sempre repletas de reclamações
populares sobre “torneiras secas”. Tomavam “os governos”, genericamente, como principais culpados
pela falência hídrica. Muitas vezes, gestores dos diversos níveis, sentindo-se injustamente atacados,
vinham a público e procuravam se explicar.
Entre essas duas sentenças sobre torneiras, devem ser buscadas as razões do problema.
Várias pistas estão no “Dossiê Recursos Hídricos”, publicado por Estudos Avançados e comentado
brevemente pelo editor (Bosi, 2015). Um modelo cientificamente amparado de análise do problema
(crise hídrica) é transdisciplinar. Há, até mesmo, quem afirme que, em problemas dessa complexidade,
não bastam as disciplinas científicas. O epistemólogo argentino Juan Samaja repetidas vezes afirmou
que, no processo de explicação do mundo, é indispensável aproveitar contribuições advindas de áreas
não reconhecidas como disciplinas científicas. Inclui aí a linguagem artística, religiosa, os chistes etc.
Devem ser incluídos outros “saberes dignos” num processo mais amplo de “trans sapiência” (Samaja,
2000, citado em Carvalheiro, 2003).
Remete-se aqui aos artigos desse dossiê de Estudos Avançados, desafiando o leitor a um
exercício “trans sapiente” de comparação de seu conteúdo com o dos trabalhos produzidos pela OPAS
Brasília.
Trata-se de comparar o “acesso potencial” do nosso indicador (presença de água encanada, pelo
menos num cômodo, identificada em censo demográfico) com o “acesso real” que depende da chegada
da água ao domicílio. As polêmicas se sucedem quando se buscam soluções individuais, incluindo
condomínios residenciais, clubes e empreendimentos comerciais, abandonando a luta comum de
considerar água um bem público cujo acesso é responsabilidade do Estado (Carvalheiro, 2015).
Em todos os documentos da OMS a que tivemos acesso, sempre existe uma preocupação
com a transmissão de doenças relacionadas com o manejo da água nos domicílios. De conhecimento
próprio, vamos mencionar duas experiências singulares.
De 1991 a 1993, São Paulo esteve ameaçada pela pandemia de cólera que chegou à América
do Sul pelo Peru e, em poucos meses, alcançou o Brasil. Tivemos casos importados (22, com 1 óbito) e
autóctones (11, com 2 óbitos). Sanitaristas da Secretaria Municipal de Saúde, auxiliados por publicitários,
promoveram a campanha “São Paulo vai ‘dar um pau’ no cólera”, com mensagens curtas veiculadas pelo
rádio. Atento ao problema, o IEA/USP promoveu, em maio de 1992, um seminário com os idealizadores
da campanha e convidou o (já falecido) professor Victor Valla, da Escola Nacional de Saúde Pública
(ENSP/Fiocruz), especialista em educação em saúde. A doença é transmitida pela água contaminada
pelo vibrião colérico e o controle baseia-se no manejo cuidadoso da água. Valla considerava necessária
uma “construção compartilhada do conhecimento em saúde” a maneira como se dá essa interação com
os moradores: “compreendida como uma produção onde se intercruzam o saber científico acumulado e
o saber popular produzido a partir de condições e experiências de vida da população” (Oliveira; Valla,
Neste capítulo, água e saúde foram chamados de “bens públicos”. A esse respeito, há intenso
debate nacional e internacional. Constituem-se em entidades “da sociedade civil” que se dispõem a
defender ideias específicas, verdadeiros “grupos de interesse”. No “Dossiê Crise Hídrica” (Bosi, 2015), já
mencionado, há artigos com extensas análises sobre essas entidades. Também comentamos uma delas,
o “Coletivo de Luta pela Água” (Carvalheiro, 2015). Consideramos promissora a ideia de ter um vínculo
partidário, sem o qual esses coletivos esgotam sua ação “nos desfiles”, quando desfilam.
Ao adotarmos o critério dos artigos da OPAS (2014 e 2015), água representa o eixo do ambiente
nas dimensões do desenvolvimento sustentável. Isso quer dizer que água de boa qualidade deve existir
hoje (para nossa geração) e sempre (para as vindouras). Na realidade, o acesso a água de qualidade
para beber transita pelo significado social do bem-estar: deve ser considerado como um direito humano
e não uma mercadoria.
BOSI, A. Dossiê Crise Hídrica – Editorial. Estudos Avançados, v.29, n.84, maio/ago. 2015
CARVALHEIRO, J. R. A saúde na metrópole. Estudos Avançados, v.17, n.48, p.203-8, 2003. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php>.
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GUZMAN, M. G. Thirty years after the cuban hemorrhagic dengue epidemic of 1981. Medicc
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arttext&pid=S1555-79602012000200012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 30 jan. 2016.
NUNES, E. D. Saúde coletiva: história de uma idéia e de um conceito. Saúde e Sociedade, v.3, n.2,
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OPAS. Atlas de Desenvolvimento Sustentável e Saúde. Brasil: 1991 a 2010. Brasília, DF: Opas, 2015.
UNITED NATIONS. Transforming our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development. New
York: Sustainable Development UN.ORG, 2015.. Disponível em: <https://sustainabledevelopment.
un.org/post2015/transformingourworld/publication>. Acesso em: 27 dez. 2015.
WHO. World Water Day Report. Geneva: WHO, 2001. Disponível em: <http://www.who.int/water_
sanitation_health/takingcharge.html>. Acesso em: 22 dez. 2015.
WORLD BANK. World Development Report 1993: Investing in Health. New York: Oxford University Press.
© World Bank, 1993. Disponível em: <http://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/5976>.
Acesso em: 22 dez. 2015.
A visão econômica da
crise hídrica 2014/2015
1. Entretanto, a observação de um mapa da rede hidrográfica do município, na primeira metade do século XX, revela um
paradoxo: como uma cidade estabelecida inicialmente entre três volumosos rios – Rio Tietê, Rio Pinheiros e Rio Tamanduateí
– pode sucumbir à falta de água? A resposta é óbvia: esses rios estão degradados e transformaram-se, ao longo do tempo,
em canais de esgotamento sanitário (cf. <https://confins.revues.org/10884?lang=pt>).
2. Fonte: <http://atlas.ana.gov.br/Atlas/forms/analise/RegiaoMetropolitana.aspx?rme=2>.
3. Convêm ressaltar que mesmo depois de lucros recordes, nesses dois últimos anos, a Sabesp reduziu seus investimentos,
para despoluições das águas dos rios Tietê, Pinheiros e da Represa Billings. Fonte: <http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/
com-lucro-recorde-sabesp-reduz-investimento-para-despoluicao-do-rio-tiete.ghtml>.
4 Contudo, esse objetivo parece estar longe de ser alcançado. Em 2012, a empresa Sabesp foi alvo de processo do Ministério
Público que exigiu a indenização de 11,5 bilhões de reais pela companhia, por conta do lançamento, em ambos os rios, do
esgoto doméstico lançado pelos municípios da Região Metropolitana, cujos sistemas de saneamento ainda não foram
assumidos totalmente pela estatal. Fonte: <http://www.ambientelegal.com.br/rio-pinheiros-por-um-fio/>.
5. Servimo-nos de Scaramuccií (1995), em seu artigo “A poluição na Billings: uma análise econômica”, para construir este
texto, pois ainda são de inegável qualidade suas análises.
6. Vejamos o acidente de Mariana, responsabilidade da Samarco, ocorrido em novembro de 2015, cujas medidas
preventivas não foram dadas, redundando em mortes e prejuízos ambientais que demorarão séculos para ser refeitos
(<file:///C:/Users/Marcio/OneDrive/11377-44451-1-PB.pdf>).
7. Fonte: <http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,represa-que-vai-salvar-cantareira-tem-clima-similar,1146762>.
Estimativas feitas com base nos dados divulgados em março de 2014 pela Diretoria Econômica/
Financeira e de Relações com os Investidores apontam que, entre 2003 e 2013, cerca de um terço do
lucro líquido da Sabesp foi repassado aos acionistas. No citado período a Sabesp teve lucro líquido
de R$ 13,113 bilhões, e R$ 4,372 bilhões foram destinados aos acionistas. Data de 2003 a abertura
do capital e colocação de ações ordinárias nas Bolsas de São Paulo e New York. É necessário dizer
que os valores investidos pela Sabesp para melhoria da rede, da captação de água e esgotamento de
esgotos, é inferior ao total pago aos acionistas a título de remuneração de capital, entre eles se incluí o
próprio estado. O Estado trata dos bens comuns advindos de recursos naturais, por princípio de toda
sociedade, apenas com o objetivo do lucro.
Comprar ações da Sabesp é um negócio de muito lucro para acionistas, boa parte deles
estrangeiros9 (Sabesp distribuiu até 60% dos lucros aos acionistas no período 2010/2014, conforme
demonstram em seus relatórios anuais).
Desde que se lançou no mercado de capital, a companhia colocou papéis à venda em duas
ocasiões. A primeira em 2002, com prospecto inicial totalizando 3.364 bilhões de ações ordinárias na
oferta brasileira, e 1.252 bilhão ofertadas no exterior. Em 2004, a Sabesp retornou ao mercado com
oferta de 5.273 bilhões de ações ordinárias, equivalente a 18,51% do capital social da empresa, por
meio de uma distribuição pública realizada simultaneamente no Brasil e no exterior. Dessa vez, 3.841
milhões de ações ADS10 foram para o exterior. Do total, pelo menos R$ 1,11 bilhão foi parar no caixa
do governo estadual a partir da venda de ações da Sabesp no período 2002 e 2004. Então devemos
perguntar: por que privatizar uma empresa que bem administrada por quadros nacionais não pode dar
lucro e esse lucro ser investido integralmente nas necessidades de saneamento?
Diante do exposto, como fazer frente a todas as necessidades de investimento, para evitarmos
o risco de nova crise nas proporções de 2014/2015? Temos uma melhor sugestão, qual seja, desfazer-
8. Fonte: <http://jornalggn.com.br/noticia/sabesp-distribui-ate-60-dos-lucros-aos-acionistas-durante-governo-alckmin>.
Convém destacar, no geral, como todos os governantes das Américas não assimilam o conceito importante de Bens Co-
muns (commons). De forma geral, quase em todo o mundo, especialmente entre os subdesenvolvidos e emergentes, suas
riquezas naturais são transformadas em moeda de troca e em cima dessas riquezas são criadas empresas que beneficiam
apenas investidores e o povo paga essa conta.
9. Fonte: <http://csbbrasil.org.br/sabesp-distribui-ate-60-dos-lucros-aos-acionistas-durante-governo-alckmin/>. 10 ADS
(American Depositary Shares) e ADR (American Depositary Receipt) representam ações de uma empresa não norte-a-
mericana que é negociada nos mercados financeiros dos Estados Unidos. Fonte: <http://www.momentoeconomico.com.
br/2012/adr-american-depositary-receipt-e-a-sua-influencia-na-bolsa-brasileira/>
10. ADS (American Depositary Shares) e ADR (American Depositary Receipt) representam ações de uma empresa não
norte-americana que é negociada nos mercados financeiros dos Estados Unidos. Fonte: <http://www.momentoeconomico.
com.br/2012/adr-american-depositary-receipt-e-a-sua-influencia-na-bolsa-brasileira/>
Epílogo
CARMO, R. L. et al. Água virtual, escassez e gestão. Revista Ambiente e Sociedade, n.2, jul./dez
2007.
GUANDALINIA, N. N.; BORINELLIA, B.; SANTOS GODOY, D. F. dos. Gastos públicos ambientais
nas capitais dos estados brasileiros: um estudo exploratório no período de 2002 a 2010. UNOPAR
Cient., Ciênc. Juríd. Empres, Londrina, v.14, n.2, p.207-16, set. 2013.
VANDANA SHIVA. Guerras por Água. São Paulo: Radical Livros, 2006.
Título A crise hídrica na Região Metropolitana de São Paulo em 2013-2015: Origens, impactos e soluções