Luíadas - Adamastor - Análise e Resumo
Luíadas - Adamastor - Análise e Resumo
Luíadas - Adamastor - Análise e Resumo
Estrutura do episódio
Estâncias Partes Conteúdo
37-38 1. Preparação do ambiente - “Uma nuvem que os ares escurece”, “temerosa e carregada”
- “Bramindo, o negro mar de longe brada”
O episódio “O Gigante Adamastor” é um episódio simbólico na medida em que esta figura representa os
perigos e as dificuldades que se apresentam ao Homem que sente o impulso de conhecer e de descobrir
o mundo. Só superando o seu próprio medo, este poderá vencer (ideia veiculada pelo Humanismo). O
Adamastor é, portanto, uma figura mitológica criada por Camões, concentrando todos os perigos e
dificuldades que os portugueses tiveram de transpor.
Não é por acaso que o episódio do Adamastor ocupa o lugar central no poema épico. O canto V marca o
meio da obra e é com ele que termina o primeiro ciclo épico da narração. Marca também a passagem do
mundo conhecido para o desconhecido, a passagem do Ocidente para o Oriente.
Caracterização do Adamastor
O Adamastor surge a partir de uma nuvem com uma figura " robusta e válida", como um monstro
horrendo de tamanho descomunal, "De disforme e grandíssima estatura "; rosto severo e barba suja,
desalinhada; olhos "encovados" e negros; cabelos " cheios de terra e crespos"; " boca negra" e " dentes
amarelos". Apresenta uma " cor terrena e pálida", tem uma " postura medonha e má", sendo a sua voz
horrenda , grossa, " pesada " e amarga.
Discurso do Adamastor
O Adamastor inicia o seu discurso com um tom assustador (" E da primeira armada, que passagem/ Fizer
por estas ondas insofridas, /Eu farei de improviso tal castigo,/ Que seja mor o dano que o perigo!", est.
43, vv.5-8). Porém, deixa transparecer uma certa admiração e espanto por este povo aventureiro que
ousou o que jamais algum ser humano ousara fazer: " Ó gente ousada, mais que quantas/ No mundo
cometeram grandes cousas,/ (...) Pois os vedados términos quebrantas/ E navegar meus longos mares
ousas" (est. 42, vv.1-6).
Destacam-se as profecias de Adamastor que intensificam o momento de terror vivido pelos marinheiros
portugueses: "Antes, em vossas naus vereis, cada ano,/ (...)/ Naufrágios, perdições de toda a sorte, /
Que o menor mal de todos seja a morte!", est. 44, vv. 5-8).
Contudo, no final do episódio, o Adamastor deixa de lado a figura assustadora e medonha para dar lugar
a um ser sofredor e castigado, mostrando assim uma faceta muito humana. Se por um lado representa
uma figura causadora de sofrimento, por outro assume-se como um ser vítima de um fracasso amoroso:
"Da mágoa e da desonra ali passada, / A buscar outro mundo, onde não visse/ Quem de meu pranto e
de meu mal se risse." (est.57,vv.6-8) e "Comecei a sentir do fado immigo,/ Por meus atrevimentos, o
castigo." (est.58, vv.7-8).
Reação de Vasco da Gama e seus homens
Vasco da Gama e os seus homens, perante a visão horrenda do Adamastor, começam por sentir receio:
"Arrepiam-se as carnes e o cabelo / A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo" (est.40, vv.7-8). No entanto,
esse sentimento é depois substituído por uma certa admiração: "Lhe disse eu : " Quem és tu ? Que esse
estupendo / Corpo, certo, me tem maravilhado!" ( est. 49, vv. 3-4 ).
O temor causado por esta figura não demoveu Vasco da Gama dos seus propósitos, terminando o
episódio d'Os Lusíadas com um apelo, pois mais horrendo que o aspeto do Adamastor eram as suas
profecias para o futuro, tanto que pediu a Deus que lhes evitasse semelhante sofrimento.