Luíadas - Adamastor - Análise e Resumo

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Adamastor

Narrador: Vasco da Gama


Narratário: Rei de Melinde
Planos da narração:
-Plano da Viagem
 Geograficamente, o Adamastor é o Cabo das Tormentas;
Contudo, cruzam-se outros planos no discurso do Adamastor:
- Plano Mitológico
 Na mitologia é o temível gigante vencido pelo amor a Tétis;
- Plano da História de Portugal
 Tem o poder de vaticinar acontecimentos futuros aos Portugueses, fazendo profecias (post-
eventum).

Estrutura do episódio
Estâncias Partes Conteúdo
37-38 1. Preparação do ambiente - “Uma nuvem que os ares escurece”, “temerosa e carregada”
- “Bramindo, o negro mar de longe brada”

39-40 2. Retrato do gigante - figura colossal


- medo que provoca
- ameaças/elogio da “gente ousada”.
41-48 3. Discurso do gigante (1ª parte)
49 4. Interpelação de Vasco da - pedido de identificação
Gama - espanto e sangue frio que revelou
50-59 5. Discurso do Adamastor (2ª - retrospetiva autobiográfica – humanização do monstro
parte) (frustração amorosa)
60 6. Epílogo (conclusão) - choro e desaparecimento do gigante
- pedido de Vasco da Gama a Deus para que as profecias do
gigante não se realizassem

Este episódio é importante, pois nele se concentram as grandes linhas da epopeia:


 o real maravilhoso (dificuldade na passagem do cabo);
 a existência de profecias (história de Portugal);
 lirismo (história de amor, que irá ligar-se mais tarde, à narração do maravilhoso da Ilha dos
Amores);
 é considerado um episódio trágico, de amor e morte;
 é denominado como um episódio épico, em que se consolida a vitória do homem sobre os
elementos (água, fogo, terra, ar).

O episódio “O Gigante Adamastor” é um episódio simbólico na medida em que esta figura representa os
perigos e as dificuldades que se apresentam ao Homem que sente o impulso de conhecer e de descobrir
o mundo. Só superando o seu próprio medo, este poderá vencer (ideia veiculada pelo Humanismo). O
Adamastor é, portanto, uma figura mitológica criada por Camões, concentrando todos os perigos e
dificuldades que os portugueses tiveram de transpor.
Não é por acaso que o episódio do Adamastor ocupa o lugar central no poema épico. O canto V marca o
meio da obra e é com ele que termina o primeiro ciclo épico da narração. Marca também a passagem do
mundo conhecido para o desconhecido, a passagem do Ocidente para o Oriente.

Caracterização do Adamastor
O Adamastor surge a partir de uma nuvem com uma figura " robusta e válida", como um monstro
horrendo de tamanho descomunal, "De disforme e grandíssima estatura "; rosto severo e barba suja,
desalinhada; olhos "encovados" e negros; cabelos " cheios de terra e crespos"; " boca negra" e " dentes
amarelos". Apresenta uma " cor terrena e pálida", tem uma " postura medonha e má", sendo a sua voz
horrenda , grossa, " pesada " e amarga.
Discurso do Adamastor
O Adamastor inicia o seu discurso com um tom assustador (" E da primeira armada, que passagem/ Fizer
por estas ondas insofridas, /Eu farei de improviso tal castigo,/ Que seja mor o dano que o perigo!", est.
43, vv.5-8). Porém, deixa transparecer uma certa admiração e espanto por este povo aventureiro que
ousou o que jamais algum ser humano ousara fazer: " Ó gente ousada, mais que quantas/ No mundo
cometeram grandes cousas,/ (...) Pois os vedados términos quebrantas/ E navegar meus longos mares
ousas" (est. 42, vv.1-6).
Destacam-se as profecias de Adamastor que intensificam o momento de terror vivido pelos marinheiros
portugueses: "Antes, em vossas naus vereis, cada ano,/ (...)/ Naufrágios, perdições de toda a sorte, /
Que o menor mal de todos seja a morte!", est. 44, vv. 5-8).
Contudo, no final do episódio, o Adamastor deixa de lado a figura assustadora e medonha para dar lugar
a um ser sofredor e castigado, mostrando assim uma faceta muito humana. Se por um lado representa
uma figura causadora de sofrimento, por outro assume-se como um ser vítima de um fracasso amoroso:
"Da mágoa e da desonra ali passada, / A buscar outro mundo, onde não visse/ Quem de meu pranto e
de meu mal se risse." (est.57,vv.6-8) e "Comecei a sentir do fado immigo,/ Por meus atrevimentos, o
castigo." (est.58, vv.7-8).
Reação de Vasco da Gama e seus homens
Vasco da Gama e os seus homens, perante a visão horrenda do Adamastor, começam por sentir receio:
"Arrepiam-se as carnes e o cabelo / A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo" (est.40, vv.7-8). No entanto,
esse sentimento é depois substituído por uma certa admiração: "Lhe disse eu : " Quem és tu ? Que esse
estupendo / Corpo, certo, me tem maravilhado!" ( est. 49, vv. 3-4 ).
O temor causado por esta figura não demoveu Vasco da Gama dos seus propósitos, terminando o
episódio d'Os Lusíadas com um apelo, pois mais horrendo que o aspeto do Adamastor eram as suas
profecias para o futuro, tanto que pediu a Deus que lhes evitasse semelhante sofrimento.

Simbologia do gigante e do mostrengo


O Adamastor, embora associado à representação do denominado Cabo das Tormentas, é uma
personificação do medo e do receio que os navegadores revelavam ao enfrentar o desconhecido.
Simboliza também as histórias fantásticas relacionadas com seres monstruosos que habitavam os mares
e que destruíam todos aqueles que tivessem a ousadia de entrar nos seus domínios, histórias essas em
que os navegadores da época acreditavam.
O monstro representa ainda o guardião, que se encontra a impedir o acesso ao "tesouro", obrigando
assim o homem a praticar um ato heróico e a vencer o medo. Vasco da Gama e seus homens, no reinado
de D. Manuel I, descobriram o caminho marítimo para a Índia, chegaram até ao "tesouro", e Luís de
Camões imortalizou-os na sua obra épica.
Em síntese, a figura do Adamastor representa os obstáculos, as dificuldades a vencer, os perigos do mar,
as forças do mal, o desconhecido. O seu desaparecimento simboliza a superação do medo, os perigos e
obstáculos enfrentados e ultrapassados e o completo domínio dos mares pelos Portugueses (dimensão
épica).

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