Trabalho de Direito Das Obrigações

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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

FACULDADE DE DIREITO

TRABALHO DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

GRUPO N.º 01

LUANDA/2024
UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO
FACULDADE DE DIREITO

TRABALHO DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

GRUPO N.º 01

Trabalho concedido para avaliação na cadeira de


Direito das Obrigações da Faculdade
de Direito da Universidade
Agostinho Neto

O Docente: Itiandro Simões

LUANDA/2024
INTEGRANTES DO GRUPO
➢ José Dandi Pedro
➢ Valdirene Alberto Simão
➢ Jakline Figueiredo Mateus
➢ Octávio dos Santos
➢ Manuel Morais
Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

Introdução
A resolução de casos práticos no âmbito do Direito das Obrigações representa um
dos desafios mais relevantes e estimulantes para teóricos e práticos da área jurídica. Esta
vertente do Direito Civil exige não apenas o domínio teórico dos conceitos e princípios
fundamentais, porém também a capacidade de aplicá-los de forma prática e coerente a
situações concretas. Neste contexto, o presente trabalho propõe-se a analisar e apresentar
soluções aos casos aqui presentes que reclamam de solução jurídica, destacando a
importância da Jurisprudência e da Doutrina especializada como instrumentos essenciais
para a fundamentação das soluções propostas. Ao longo do trabalho, serão abordados
casos práticos representativos, com o objetivo de ilustrar e exemplificar os diferentes
desafios enfrentados na aplicação do Direito das Obrigações. Espera-se, assim, contribuir
para uma melhor compreensão e aplicação prática desta importante área do direito civil.

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

CASO PRÁTICO 1 - MODALIDADES DE PRESTAÇÕES


“A, comerciante de Luanda, de visita à quinta de B, no município de Viana
entusiasmado com os produtos agrícolas da quinta, celebrou com este o seguinte
contrato: contra o pagamento de 4 000 000 kzs, A comprava a B 1.000 garrafas de
vinho da enorme garrafeira de B do ano 2000. As garrafas usadas entregues a A no
dia 9 de janeiro. Ficou ainda convencionado que, em vez das garafas de vinho, B
poderia aparecer por entregar a A 100 garrafões de azeite, dentre os inúmeros que
B tinha em armazém.”

Antes de mais, o presente Caso Prático insere-se no âmbito das seguintes temáticas:
Modalidade de Obrigações e Modalidade das Prestações.

Em sede Direito das Obrigações, a Prestação pode ser definida como a conduta a que o
devedor está vinculado. E as Modalidades de Prestações, dizem respeito a uma série de
situações juridicamente relevantes com Regimes Jurídicos específicos.

Ora vejamos:

No Caso Prático em análise, foi-nos possível identificar as seguintes Modalidades de


Prestações:

1. Prestação de Coisa:
A Prestação de Coisa refere-se à Modalidade de Prestação cujo objecto
consiste na entrega de determinada coisa (Ex.: Art. 879º b) CC). No presente Caso,
assevera-se que a Prestação é de Coisa Futura, pelo que, os bens futuros aludem àqueles
que não tendo existência, não possuindo autonomia própria ou não se encontrando na
disponibilidade do sujeito, e, no presente Caso, na disponibilidade do sujeito A, são
objecto de Negócio Jurídico na perspectiva da aquisição futura dessas características.

2. Prestação Infungível
A Prestação Infungível tem que ver com a espécie de prestação que apenas
o devedor pode realizar, não sendo permitida a realização por terceiros. Defendemos a
posição de que a prestação do Caso em análise é Infungível e não Fungível fruto de uma
Interpretação Extensiva da seguinte passagem: “Em vez das garafas de vinho, B poderia
aparecer por entregar a A 100 garrafões de azeite”. O presente Caso enuncia B e não
terceiro como aquele que deve realizar a prestação. Portanto, somos defensores que esta
é uma Prestação Infungível e não Fungível, visto que aqui a prestação não pode ser
realizada por outrem que não o devedor, neste caso, B. A Infungibilidade aqui é, portanto,
Convencional, pois, acordou-se que a prestação só pode ser realizada pelo devedor.

3. Prestação Instantânea

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

Esta modalidade de prestação corresponde àquela cuja execução ocorre em um


único momento. Neste Caso, a entrega de 1.000 garrafas de vinho da enorme garrafeira
de B do ano 2000 ou de 100 garrafões de azeite, nos termos da alínea b) do Art. 879º CC.

3.1. Prestação Instantânea Integral


Visto que as Prestações Instantâneas não têm o seu conteúdo e extensão
delimitados em função do tempo, as Prestações Instantâneas Integrais aborda aquelas que
são realizadas de uma só vez, neste caso, a entrega das respectivas coisas, conforme
previsto no Art 882º CC.

4. Prestação de Meios VS Prestação de resultados


A primeira consiste na espécie de prestação em que o devedor não está obrigado
à obtenção do resultado mas sim a actuar com diligência necessária para que esse
resultado seja alcançado. Já na segunda modalidade de prestação, o devedor vincula-se a
obter um determinado resultado, respondendo por incumprimento se esse resultado não
for alcançado. A despeito de considerável controvérsia e intensos argumentos no seio do
nosso Grupo em relação a predileção, vulgo, determinação de uma destas Modalidades
de Prestação no presente Caso, entendemos que a Prestação do presente Caso é de
Resultados e não de Meios, uma vez que nesta modalidade de Prestação, uma das partes
se compromete a alcançar um resultado específico e garantir que ele seja atingido,
independentemente dos meios utilizados para alcançá-lo. O foco está no resultado final
esperado, e a parte que assume essa obrigação é avaliada com base no alcance desse
resultado, não necessariamente nos métodos empregados para conseguí-lo. E no presente
caso, a entrega de 1.000 garrafas de vinho da enorme garrafeira de B do ano 2000 ou de
100 garrafões de azeite constitui o resultado a ser alcançado.

5. Prestação Determinada
No presente Caso, a prestação é determinada visto que esta se encontra
completamente especificada no momento da constituição da Obrigação.

Já no que concerne às Modalidades de Obrigações, a modalidade identificada no presente


caso é uma Obrigação Alternativa.
As Obrigações Alternativas correspondem àquelas que pressupõem uma escolha entre
prestações, ou seja, caracterizam-se pela existência de duas ou mais prestações de
natureza diferente, mas em que o devedor se exonera com a mera realização de uma delas,
que por escolha vier a ser designada. No Caso em análise, verificamos que as duas
prestações da Obrigação Alternativas são 1.000 garrafas de vinho da enorme garrafeira
de B do ano 2000 ou de 100 garrafões de azeite.
Feita esta Nota Introdutória, apresentaremos então a resolução das Hipóteses do Caso
Prático em Análise:

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1.ª Hipótese: Em 7 de Janeiro, A telefona a B dizendo-lhe que, afinal, optava pelo azeite,
sendo, porém, informada por este de que já destacara as garrafas de vinho e que, aliás,
vendera todo o azeite a um grossista.

Como mencionado acima, as Obrigações Alternativas são aquelas que pressupõem uma
escolha entre prestações, isto é, há duas prestações em alternativa e apenas uma é
concretizável através de uma Escolha. Esta consiste na determinação da prestação, que
pode ocorrer ou com a oferta real da prestação, ou anteriormente à oferta real da prestação
desde que declarada ao credor.
Segundo a Regra Geral consagrada no n.º 2 do Art. 543º CC, a Escolha pertence ao
Devedor. Já na Excepção consagrada no Art. 549º CC, a escolha pode pertencer ao Credor
ou a Terceiro. No âmbito do Hipótese em análise, constatou-se que a Escolha pertence ao
credor, nomeadamente, A, devido à passagem: “Em 7 de Janeiro, A telefona a B dizendo-
lhe que, afinal, OPTAVA pelo azeite”.

A palavra "optava" é uma forma conjugada do verbo "optar", no tempo verbal do pretérito
imperfeito do indicativo, na terceira pessoa do singular. No contexto geral, este termo
refere-se a escolher ou preferir algo. No contexto jurídico, "optava" mantém o mesmo
significado geral do verbo "optar", que é fazer uma escolha ou uma seleção entre duas ou
mais alternativas ou opções disponíveis para uma pessoa ou entidade em determinado
contexto jurídico.

Portanto, entende-se aqui que a Escolha pertence à A, o Credor, e não à B,o devedor.

Todavia, se a Escolha couber ao credor e ele não a fizer no prazo estipulado ou naquele
que para o efeito, for fixado pelo devedor, a Escolha passa imediatamente a competir ao
devedor, aplicando-se, nesta senda, o Regime Jurídico da Regra Geral, consagrada no Art.
543º n.º2 CC, e não mais a Regra Excepcional consagrada no Art. 549º CC.

Ora, B informara A que “já destacara as garrafas de vinho…”. Esta actuação é lícita a B
pois a Escolha de ora em adiante pertence a B e não mais a A.
Eis, portanto, aqui a resolução da Hipótese 1.

2.ª Hipótese: Em 8 de Janeiro, B informa A que não estava em condições de satisfazer o


acordado, já que as garrafas de vinho que destacara foram destruídas por um tractor
agrícola em manobras; quanto ao azeite, decidira guardá-lo para melhor oportunidade
de negócio.

Pois bem, nesta Hipótese, estamos diante da Impossibilidade da Prestação quando esta se
verifica antes da escolha ter ocorrido. Porém, há aqui dois cenários:
Dir-se-ia que esta Impossibilidade é Causal, nos termos do Art. 545.º CC, se tivesse sido
causa por um facto jurídico involuntário e, consequentemente, não seria imputável a
nenhuma das partes, a princípio. Como as garrafas de vinho que B destacara foram
destruídas por um tractor agrícola em manobras, o risco de perecimento corre por conta

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

do devedor. Nos termos do Art. 545.º CC, se uma ou algumas das prestações se tornarem
impossíveis por causa não imputável às partes, a obrigação considera-se limitada às
prestações que forem possíveis. Nestes termos, B deverá realizar a prestação que se
afigura possível. Neste Caso, os 100 garrafões de azeite, independentemente de ter
decidido guardá-lo para melhor oportunidade de negócio.

A despeito deste cenário, sendo que a Quinta pertence a B, como cita acima o Caso
Prático: “A, comerciante de Luanda, de visita à quinta de B, no município de Viana”, está
Impossibilidade pode ser sim Imputável ao devedor. E visto que a escolha lhe compete,
nos termos acima apresentados, ele deve efectuar uma das prestações possíveis, conforme
a primeira parte do Art. 546.º CC; Isto independentemente de ter decidido guardá-lo para
melhor oportunidade de negócio.

3.ª Hipótese: Em 11 de Janeiro, A telefona a B, manifestando a sua perplexidade por não


ter recebido os garrafões de azeite, único produto que lhe interessava. B retorquiu-lhe
que vendera todo o azeite e que, quanto às garrafas de vinho, elas estavam embaladas
desde a véspera à espera que A as fosse buscar. Mais avisou A que contava com o
pagamento de juros sobre os 4 000 000 kzs em dívida.

Como afirmamos acima, por A não fazer a Escolha no prazo estipulado ou naquele que
para o efeito, foi fixado pelo devedor, a Escolha passou imediatamente a competir ao
devedor, B, aplicando-se, nesta senda, o Regime Jurídico da Regra Geral, consagrada no
Art. 543º n.º2 CC, e não mais a Regra Excepcional consagrada no Art. 549º CC.
Por ser uma Prestação de Resultados, o devedor, B, vincula-se a obter um determinado
resultado, respondendo por incumprimento se esse resultado não for alcançado, daí
justificar-se a perplexidade de A em não ter recebido os garrafões de azeite. No entanto,
a Escolha compete ao devedor, B, e não à A, o credor. Daí que cabe a B escolher prestação
realizar, justificando-se o facto de ter vendido todo o azeite. Quanto às garrafas de vinho
que estavam embaladas desde a véspera à espera que A as fosse buscar, há aqui
Impossibilidade da Prestação imputável ao Credor, A. Como a Escolha pertence ao
devedor, a obrigação considera-se cumprida. A não ser que B prefira realizar a outra
prestação e ser indemnizado pelos danos que haja sofrido.
Aqui estaremos diante da constituição de uma Obrigação de Juros.
As Obrigações de Juros consistem em uma remuneração pela cedência ou deferimento da
entrega de Capital por um certo lapso de tempo. Mais uma vez, um intenso debate foi
aberto no seio do nosso Grupo durante a resolução deste Caso Prático, visando aferir se
os Juros aqui são Moratórios, Indemnizatórios ou Compensatórios, sob os seguintes
argumentos:

- Juros moratórios: têm natureza indemnizatória de danos causados pela mora, visando
recompensar o credor pelos prejuízos sofridos em função da mora.
- Juros compensatórios: destinam-se a proporcionar ao credor um pagamento que
compense uma temporária privação de capital, que ele não deveria ter suportado.

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

- Juros indemnizatórios: destinam-se a indemnizar os danos sofridos por outro facto


praticado pelo devedor (maxime, o incumprimento da obrigação).

Ora, para o presente Caso, os Juros são Moratórios pois preenchem a alínea a) do n.º2 do
Art 805.º CC, nomeadamente “a) Se a obrigação tiver prazo certo”, e visam recompensar
o credor pelos prejuízos sofridos em função da mora.

Esta é, portanto, a Resolução do Caso Prático 1.

CASO PRÁTICO 7 - MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES

“Em janeiro de 2017 P e J celebram um contrato de arrendamento por cinco anos,


o primeiro como senhorio e o segundo como inquilino. Em simultâneo, P vende a J
todo o recheio da casa arrendada, comprometendo-se José a pagar-lhe o respectivo
preço em doze prestações mensais. Tudo corre bem até agosto de 2017, mês de férias
de J. Mal se vê na praia J esquece- se de todos os seus compromissos, falhando ambos
os pagamentos devidos a P. Ao regressar a casa, J encontra na caixa do correio uma
carta de P, exigindo-lhe o pagamento integral e imediato das suas dívidas perante P,
a saber, cinco prestações do preço do recheio e cento e quarenta e nove rendas da
casa.”

O presente Caso Prático insere-se no âmbito da temática das Modalidades de Obrigações.


As Modalidades de Obrigações referem-se às diversas categorias nas quais as obrigações
podem ser classificadas, levando em consideração diferentes critérios e contextos
jurídicos. Ora, a Modalidade de Obrigações aqui identificada é a de uma Obrigação de
Juros. As Obrigações de Juros dizem respeito a uma remuneração pela cedência ou
deferimento da entrega de Capital por um certo lapso de tempo. J ao esquecer-se de todos
os seus compromissos, falhando ambos os pagamentos devidos a P, constituiu para com
este Juros moratórios, que por terem natureza indemnizatória de danos causados pela
mora, visam recompensar o credor, neste Caso, P, pelos prejuízos sofridos em função da
mora. Portanto J terá, nos termos do Art. 806 CC, de proceder ao pagamento integral e
imediato das suas dívidas perante P, bem como ao pagamento de Juros Moratórios para
com este.

CASO PRÁTICO N.º 11

A vendeu a B um determinado automóvel, pelo preço de 16 000 000 kzs, ficando


convencionado o pagamento em 20 mensalidades, iguais e sucessivas. As partes
estipularam ainda que B se tornaria dono do veículo no momento da liquidação da última
mensalidade.

1ª Hipótese: Dias depois, A vendeu o carro a C, por 18 000 000 kzs, entregando-
lhe o veículo.

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2ª Hipótese: Na semana seguinte, B doou o veículo a D. Desconhece-se se algum


dos intervenientes procedeu a algum registo.

3ª Hipótese: Na data da celebração do contrato, o veiculo foi entregue a B, que o


passou a usar regularmente. Um ano depois, em virtude de uma explosão,
resultante de caso fortuito, o automóvel ficou totalmente destruído. B recusa-se a
pagar o resto do preço em dívida e exige a A a entrega de outro veículo com iguais
características.

4ª Hipótese: Passados 15 meses, B deparou-se com súbitos problemas financeiros,


pelo que não procedeu ao pagamento da respectiva mensalidade. Por isso, A exige
a B a liquidação do montante total em dívida, sob pena de operar a extinção do
contrato; para tanto, A invoca uma cláusula incluída no contrato, cuja validade B
questiona.

5ª Hipótese: Semanas após da venda do carro, A vendeu, também, a B – nas


mesmas condições mas pelo preço de 5 000 000 kzs – um sofisticado leitor de
CD’s, que B pretendia vir a instalar no veícul0. Porém, passados apenas escassoes
dias, B vendeu o aparelho a E, por 6 000 000 kzs.

Resolução:

O caso em questão remete-nos à matéria relactiva aos contratos como fonte da relação
obrigacional, mais especificamente em sede dos contratos com eficáia real na qual
encontramos a cláusula de reserva de propriedade que consitui o instituto jurídico
relevante subjacente ao respectivo caso.

Ora, a clásula de reserva de propriedade tal como escreve o professor Orlando Fernandes,
é uma cláusula que confere, ao alienante, a faculdade de manter na sua titularidade, a
propriedade da coisa até ao cumprimento, total ou parcial, da obrigação ou até a
verificação de uma prestação a favor de terceiro.

Essa cláusula, c. r. p., implica, assim, que, por acordo entre o vendedor e o comprador, a
transmissão da propriedade fique diferida para o momento do pagamento integral do
preço.

O regime geral da “Reserva Da Propriedade” consta do artigo 409.º do Código Civi.


Contudo, o art.º 934.º C.C. faz ainda referência à venda a prestações com reserva de
propriedade.

Em síntese, a razão de ser subjacente a esse instituto prende-se com a necessidade de


defender o vendedor de eventuais consequências do incumprimento do comprador, isto
é, reservar da propridade ao vendedor até ao pagamento do preço, facilitando a obtenção
de crédito, por um lado, e impede ainda os credores do comprador de executarem o bem,
podendo o vendedor reagir contra essa execução por meio de embargos de terceiros, por
outro lado.

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No caso em análise , temos um contrato de compra e venda de um automóvel entre A e B


cujo pagamento integral do preço ficou convencionado que seria efectivamente pago em
20 prestações mensais correspondentes ao preço de 16 000 000 kzs.

1ª Hipótese: Dias depois, A vendeu o carro a C, por 18 000 000 kzs, entregando-
lhe o veículo.

A situação desta hipótese, isto é, da venda do automóvel por A a C, mesmo aquele tendo
acordado vender a B, é admissivel, todavida, como “toda acção tem uma reação”, esta
não foge à regra, pois como podemos verficar A ao vender o automóvel a C fere a
expectativa jurídica constituida, ab inito, na esfera de B o que deve dar lugar a uma
responsabilização de A. Rementendo-nos automaticamente ao instituto da
responsabilidade contractual.

Dito doutro modo, havendo cláusula de reserva de propriedade, as partes, A e B, estão


cientes da cláusula e dos seus respectivos efeitos, pelo que as partes têm igualmente
ciência de que a translação do direito da propriedade somente ocorrerá verificado o facto
condicionante, o que significa dizer que A tem o direito subjectivo sobre a propriedade
(automóvel) e B tem somente constituida uma expectativa jurídica sobre aquele bem
(automóvel) – expectativa real de aquisição.

Portanto, não obstante o contrato entre A e B, A tem a possibilidade de vender, isto é, pode
vender o automóvel a C, contudo, assume as consequencências do incumprimento
contratual – “responsabilidade contratual”, pois não se observou o disposto à luz do artigo
406.º C.C. que prescreve que os contratos devem ser pontualmente cumpridos, e só pode
modificar-se ou extiguir-se por mútuo consentimento dos cotraentes ou nos casos
admitidos na lei. Facto que não é o que se evidencia na respectiva hipótese.

E, por essa razão, chamamos a propósito o princípio geral em matéria de responsabilidade


civil – 483.º/ n.º 1. C.C.: “aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito
de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interessses alheios fica
obrigado a indeminizar o lesado pelos danos resultades da violação”.

Logo, A deverá indeminizar B por não ter cumprido o contrato, o que certamente resultou
em danos que incidiram especialmente nas expectativas jurídicas consituidas na esfera
jurídica de B.

2ª Hipótese: Na semana seguinte, B doou o veículo a D. Desconhece-se se algum


dos intervenientes procedeu a algum registo.

Em virtude dos efeitos da cláusula de reserva de propriedade, a titularidade da


propriedade do automóvel de A apenas passaria a B cumpridas as 20 prestações
correspondentes ao preço global de 16 000 000 kzs, pelo que não se pode considerar B
como mero detentor, visto que a celebração da compra e venda tornaria B posssuidor em
nome próprio. Desse modo, tal como já foi, a princípio referenciado, B tem formada
simplesmente uma expectativa real de aquisição sobre o automóvel, expectativa essa que

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lhe atribui unicamente o poder de usar e fruir a coisa, estando vedada a possibilidade da
sua disposição pelo facto desta última ser incompatível com a função de garantia visada
com a concervação da propriedade no vendedor.

Logo, B não se pode arrogar efectivamente como proprietário do automóvel e,


concomitantemente, não tem a faculdade de, sobre o bem, ou seja, o automóvel, fazer
qualquer tipo de negócio jurídico que implique a sua disposição e neste âmbito incluimos
naturalmente a “doação”.

3ª Hipótese: Na data da celebração do contrato, o veículo foi entregue a B, que o


passou a usar regularmente. Um ano depois, em virtude de uma explosão,
resultante de caso fortuito, o automóvel ficou totalmente destruído. B recusa-se a
pagar o resto do preço em dívida e exige a A a entrega de outro veículo com iguais
características.

Tal como defende o professor Menezes Leitão, a clásula de reserva de propriedade


permite distribuir o risco de acordo com o proveito que cada uma das partes tira da
respectiva situção jurídica. Enquanto que o vendedor conserva apenas a propriedade com
função de garantia, apenas deverá suportar o risco da perda dessa garantia, ao passo que
como o comprador já se encontra a tirar o proveito da coisa é a ele que competirá suportar
o risco pela sua perda ou deterioração.

Nestes termos, é de concluir que B tem o dever de suportar a perda ou deterioração do


automóvel e isso implica naturalmente: cumprir com as prestações em falta, sem que com
isso seja necessária a entrega de outro veículo com iguais características por A.

4ª Hipótese: Passados 15 meses, B deparou-se com súbitos problemas


financeiros, pelo que não procedeu ao pagamento da respectiva mensalidade. Por
isso, A exige a B a liquidação do montante total em dívida, sob pena de operar a
extinção do contrato; para tanto, A invoca uma cláusula incluída no contrato, cuja
validade B questiona.

Nos termos do artigo 934.º A não pode resolver o contrato com fundamento na falta de
um prestação, uma vez que, como dispõe o texto do artigo em questão, não há lugar a
reslução do contrato de compra e venda em prestações, com inclusão de c. r. p., em que
se tenha faltado uma das prestações que não exceda a oitava parte do preço global. Nessa
situação, em particular, a oitava parte do preço global é de 2 000 000 kzs, e visto que se
convencionou o pagamento em 20 prestações do preço global de 16 000 000 kzs, uma
prestação corresponde a 800 000 kzs.

Ora, 800 000 kzs que é o valor de uma prestação não excede a oitava parte do preço global
que é 2 000 000 kzs. Logo, é de concluir que não pode, A, resolver o contrato por falta de
pagamento de uma prestação.

5ª Hipótese: Semanas após da venda do carro, A vendeu, também, a B – nas


mesmas condições mas pelo preço de 5 000 000 kzs – um sofisticado leitor de

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CD’s, que B pretendia vir a instalar no veículo. Porém, passados apenas escassoes
dias, B vendeu o aparelho a E, por 6 000 000 kzs.

Nos contratos com inclusão da cláusula de reserva de propriedade, em virtude dos efeitos
daquela cláusula, e visto que o contrato de compra e venda do leitor de CD’s operou-se
sob as mesmas condições que o a venda do automóvel, é de salientar que B não pode
vender o leitor, porquanto B tem formada simplesmente uma expectativa real de
aquisição, expectativa essa que lhe atribui apenas o poder de usar e fruir a coisa, vedando-
se a possibilidade da sua disposição pelo facto de a disposição do bem ser incompatível
com a função de garantia visada com a concervação da propriedade no vendedor.

Instalar o respectivo leitor no veículo é admissivel, pois tratar-se-ia de uso e fruição do


mesmo, todavia vendê-lo implica a sua dispoção/alienação o que é, naturalmente,
incompativel com a função de garantia visada com a concervação da propriedade no
vendedor e, por essa razão, tal possibilidade é vedada.

CASO PRÁTICO N.º 14

A levou o seu carro a uma oficina e, perante o interesse de B, mecânico, comprometeu-se


verbalmente a vender-lhe o carro, dali a um mês, por 8 000 000 kz, sendo que B pagou 4
000 000 kz, como "demonstração da vontade de cumprir”. Um mês depois, mantendo-se
o carro na oficina, em virtude da necessidade de importação de peças:

1ª Hipótese: B recebe uma carta de A, desistindo do contrato.

2ª Hipótese: Aparece C na oficina, exibindo a B um contrato-promessa de compra


e venda daquele carro, contrato esse que foi celebrado com A, dois meses antes.

3ª Hipótese: Aparece D na oficina, exibindo um pacto de preferência da venda do


carro, celebrado 15 dias antes com A.

4ª Hipótese: E apresenta-se a B, exibindo um contrato de compra e venda da


viatura em causa.

5ª Hipótese: B telefona a A dizendo que desistia do contrato mas exigindo a


devolução dos 4 000 000 kz, que eram da sua namorada, e invocando ainda a
nulidade do contrato-promessa por falta de forma.

6ª Hipótese: Perante a recusa de A em celebrar o contrato definitivo, B quer saber


se pode pedir a execução específica do contrato-promessa ou, em alternativa, uma
indemnização correspondente a 16 000 000, valor actual do carro, que se valoriza
de forma súbita e no mercado, depois de, através da televisão, foram divulgadas
imagens do "007", conduzindo um carro de idêntica marca e modelo.

7ª Hipótese: Perante a recusa de A em celebrar o contrato definitivo, B pede a


execução específica do contrato, propondo-se, para tal, provar que os 4 000 000

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kz entregues a A requer apenas carácter de antecipação de pagamento. Porém, teve


de conhecimento imediato que A vendera o carro a F, por 16 000 000 kz, sem
registo da aquisição.

8ª Hipótese: Terminada a reparação, A apresenta-se na oficina para pagar o preço


e levantar o automóvel mas B recusa-se a entregar-lho enquanto A não assinar o
contrato de compra e venda que, entretanto, fora preparado pelo seu advogado.

Resolução:

O referido caso remete-nos à matéria sobre o contrato-promessa. O contrato promessa


pode ser basicamente entendida como uma convenção por meio da qual as partes, ou
apenas uma delas, obriga-se a celebrar, no futuro, determinado negócio jurídico.

Essa convenção, o contrato promessa, cria a obrigação de contratar ou, dito doutro modo,
a obrigação de emitir a declaração de vontade correspondente ao negócio prometido.

O regime do contrato promessa consta no Código Civil ao abrigos do art.º 410.º a 413.º

Temos, no referido caso, a situção de um contrato promessa da venda de um carro entre


A e B, com a inclusão de uma cláusula acessória típica que é, pois, o sinal. Entretanto:

1ª Hipótese: B recebe uma carta de A, desistindo do contrato.

Essa hipótese remete-nos a situação de não cumprimento da promessa. Visto que há


presença do sinal, o não cumprimento imputável ao promitente que recebeu sinal, isto é,
o promitente vendedor, resolve-se através da restituição do sinal em dobro, tal como
estabelece o artigo 442.º/ n.º 2

2ª Hipótese: Aparece C na oficina, exibindo a B um contrato-promessa de compra


e venda daquele carro, contrato esse que foi celebrado com A, dois meses antes.

Esta hipótese traz a tona a questão da eficácia real da promessa. Ora, prima facere, o
contrato-promessa gera efeitos meramente obrigacionais, ou seja, a promessa gera aos
promitentes, vendedor e comprador, a obrigação de exarar a declaração negocial
correspondente ao contrato prometido. Porém, a promessa pode ainda produzir efeitos
perante a terceiros nos casos e termos especialmente previstos por lei (art.º 406.º) onde
podemos destacar o caso da constituição e transmissão de direitos reais sobre bens
imóveis ou móveis sugeitos a registo. Nesse último caso, em particular, a promessa, isto
é, o contrato promessa, pode ser dotada de eficácia real, contudo, torna-se necessário,
para o efeito, a verificação de três requisitos comulativamente: (i) a coisa ou bem deve
ser registável; (ii) deve, o respectivo contrato, revestir uma forma mais solene (escritura
pública ou um escrito particular autenticado), e; deve ser inscrito no registo.

A verificação desses três requisitos simultaneamente determina o surgimento de um


verdadeiro direito real de aquisição com todas as notas caracteristicas como a

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

oponibilidade erga omnes. É, pois, nesta senda que voltamos à hipótese em análise e
podemos aqui deduzir algumas soluções possíveis...

A primeira solução possivel consubstancia-se ao facto de que o contrato promessa de


compra e venda de C tenha eficácia real, isto é, se o contrato exibido por C a B sobre a
compra e venda do carro revestir uma forma solente como a escritura pública ou escrito
particular autenticado e o mesmo tiver sido registada o que implica a sua publicação,
então, o contrato promessa de C tem naturalmente “eficácia real” o que implica que o
direito real de aquisição consituido em primeiro lugar prevalecerá sobre todos os direitos
que surjam a jusante e que com ele sejam incompativeis.

Consequentemente, A terá que indeminizar B.

A segunda solução possível tem que ver com o facto de o contrato promessa exibido por
C a B não se tratar de um contrato com eficácia real, isto é, não preencher todos os
requisitos necessários para que o contrato tenha eficácia real. Para essa situação, em
particular, celebra-se o contrato prometido que menos distante estiver de ser celebrado. E
como consequência haverá uma responsabilização de A àquele que pela impossibilidade
do comprimento da promessa ver o seu interesse lesado.

3ª Hipótese: Aparece D na oficina, exibindo um pacto de preferência da venda do


carro, celebrado 15 dias antes com A.

A situação emergente desta hipótese remete-nos ao instituto do pacto de preferência. O


pacto de preferência vem definido à luz do art.º 414.º C.C. na qual se entende por
preferência a convenção pela qual alguém assume a obrigação de dar prefêrencia a outrem
na venda de determinada coisa. O regime geral deste instituto consta dos arts. 414.º a
423.º C.C.

Na situação em causa, temos a celebração de um contrato promessa, mesmo já tendo


havido um pacto de preferência em relação à venda do carro com D, 15 dias antes.

A solução para essa situção é a seguinte: nos termos do artigo 416.º o obrigado à
preferência tem o dever de notificar a quem tem o direito à preferência, isto é, ao
preferente sobre o projecto de venda e as cláusulas do respectivo contrato. Em
contrapartida o preferente tem o ônus de, dentro de oito dias, depois de notificado, exercer
o direito à preferência sob pena de caducidade.

Desta feita, partindo do princípio de que A notificou D sobre o projecto de venda do carro,
e passados 15 dias aquele não exerceu o seu direito, dentro do prazo que lhe se devia
fazer, ou seja, oitos dias, depois de notificado, é lícito concluir que o respectivo pacto já
tenha caducado, e uma vez caducado perde os efeitos que lhe eram inerentes e, por
consequência, o contrato promessa é válido e, por consequência, eficáz.

4ª Hipótese: E apresenta-se a B, exibindo um contrato de compra e venda da


viatura em causa.

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Face a essa situação, A deverá indeminizar B pela impossibilidade de cumprir a o contrato


prometido em virtude do facto deste incidir sobre um bem que já não pertence a A, mas
sim a E por força dos efeitos da compra e venda (874.º).

5ª Hipótese: B telefona a A dizendo que desistia do contrato mas exigindo a


devolução dos 4 000 000 kz, que eram da sua namorada, e invocando ainda a
nulidade do contrato-promessa por falta de forma.

A resolução desta hipótese passa primeiramente por destacar que B, o primitente


comprador, ao desistir do contrato deverá lidar com as consequências do não
cumprimento da promessa sinalizada. Assim sendo, independentemente se o dinheiro
usado para sinalizar a promessa não percenter a B, mas sim a sua namorada, aquele,
promitente comprador, perde o sinal, os 4 000 000 kzs, a favor da contraparte, ou seja, de
A.

E, por fim, importa frisar que a invocação da nulidade do contrato por falta de forma,
nessa hipótese não é admissível, porquanto ao contrato promessa aplica-se a regra geral
em matérias de forma que é o princípio da liberdade de forma, segundo a qual ao contrato
promessa não se exige uma forma especial, bastando-se com escrito particular.

6ª Hipótese: Perante a recusa de A em celebrar o contrato definitivo, B quer saber


se pode pedir a execução específica do contrato-promessa ou, em alternativa, uma
indemnização correspondente a 16 000 000, valor actual do carro, que se valoriza
de forma súbita e no mercado, depois de, através da televisão, foram divulgadas
imagens do “007”, conduzindo um carro de idêntica marca e modelo.

Perante essa hipótese é de dizer que, por se tratar de uma promessa sinalizada, a recusa
da celebração por A dá lugar a um inadimplemento cujos efeitos consubstaciam-se
essencialmente com a restituição do sinal em dobro. O que, em síntese, significa estar
vedada a possbilidade de execução específica ou ainda de uma indeminização no valor
correspondente ao preço global da carro, 16 000 000 kzs.

7ª Hipótese: Perante a recusa de A em celebrar o contrato definitivo, B pede a


execução específica do contrato, propondo-se, para tal, provar que os 4 000 000
kz entregues a A requer apenas carácter de antecipação de pagamento. Porém, teve
de conhecimento imediato que A vendera o carro a F, por 16 000 000 kz, sem
registo da aquisição.

À essa hipótese, pode até aceitar-se o facto de os 4 000 000 kzs terem um carácter
essencialmente de antecipação do pagamento, contudo, é importante considerar que não
obstante o facto de, via de regra, em matéria de incumprimento do contrato, ser-se
possível lançar mãos à execução específifca tal como estatui o art.º 830.º C.C., certo é
que, em determinadas situações, não é possível operar-se a execução específica: é o que
sucede, por exemplo, nas situações de impossibilidade definitiva de cumprimento como
o caso de o bem que se prometeu vender já ter sido alienado a um terceiro. E é justamente

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

isso que afiguramos na situção apresentada pela hipótese em questão na qual podemos
ver que o carro não mais se encontra na esfera de A por este último ter alienado, mediante
uma venda a F, pelo que se torna definitivamente impossivel comprir o contrato.

A execução específica, nessa situação, daria, portanto, lugar directamente a um negócio


inquinado, ou seja, à venda de bens alheios que é nula nos termos do art.º 892.º.

Portanto, a conclusão possível nessa hipótese é da indeminização por A a B...

8ª Hipótese: Terminada a reparação, A apresenta-se na oficina para pagar o preço


e levantar o automóvel, mas B recusa-se a entregar-lho enquanto A não assinar o
contrato de compra e venda que, entretanto, fora preparado pelo seu advogado.

E, por fim, a situação desta última hipótese remete-nos ao princípio da automia de


vontade, maxime liberdade contratual que, por sinal, constitui um dos princípios basilares
do Direito das Obrigações e de todo o Direito Civil.

Em síntese, a autonomia de vontade pressupõe o poder dos particulares de autorregular


as próprias relações, de per si. E este princípio, tal como defende o professor Burity da
Silva, encontra a sua mais cabal expressão no âmbito dos contratos – liberdade contratual
(405.º). Este corolário da autonomia de vontade, princípio da liberdade contratual, pode
ser subdividido em liberdade de celebração ou de contratar e liberdade de modelação ou
fixação do conteúdo contratual.

A liberdade de contratar postula que as partes têm a faculdade de celebrar ou não o


contrato. Desse modo, as pessoas podem livremente celebrar contratos ou recusar a sua
celebração e a ninguém pode ser imposto contratos contra a sua vontade ou ainda ser-se-
lhes impostos sansões pela recusa de contratar. Essa nuance encontra-se implícita
expressa no art.º 405.º C.C. ao estabelecer o seguinte: “celebrar contratos diferentes dos
previstos neste código”.

Já a liberdade de modelação dá o poder às partes de estabelecer os efeitos jurídicos do


contrato, isto é, de fixarem livremente, por mútuo acordo, o conteúdo do contrato. Essa
nuance do princípio da liberdade contratual encontra-se referida no art.º 405.º quando
estabelece o seguinte: “dentro dos limites da lei, as partes têm a faculdade de fixar
livremente o conteúdo dos contratos…”. Neste sentido, as partes têm a possibilidade de
celebrar contratos do tipo previsto no código civil ou ainda celebrando contratos de
conteúdo diverso dos que a lei disciplina.

É, pois, com esse entendimento que a propósito da hipótese em causa, concluimos que A
nos termos do artigo 405.º tem a faculdade “possibilidade” de recusar a celebração do
contrato preparado pelo advogado de B – liberdade de celebração ou liberdade de
contratar. Desse modo, não pode B impor a A a celebração do contrato preparado pelo seu
advogado tendo como fundamento a não entrega do automóvel reparado.

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Com efeito, na eventualidade de uma efectiva recusa de A a B na celebração do contrato


prometido, findo o período da promessa, e tratando-se de uma promessa sinalizada, B terá
simplesmente a possibilidade de invocar os efeitos do não cumprimento da promessa
sinalizada que dará lugar a uma restituição em dobro do valor atribuido como sinal (art.º
442.º).

CASO PRÁTICO N.º 39 - ANÁLISE JURISPRUDENCIAL

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 01.09.2003 (NASCI- MENTO COSTA),


Proc. nº 02B3961. Venda a prestações – Reserva de propriedade – Resolução do
contrato

Quais os prossupostos dos quais depende a aplicação do artigo 934º do CC? Qual a
relação entre essa regra, na parte em que se refere ao direito de resolução do contrato pelo
vendedor, e o artigo 886º?

R: Um dos primeiros pressuposto tem que ver com a traditio da coisa ao comprador –
de acordo o Professor Orlando Fernandes no seu livro de Direito das Obrigações
Introdução e Fontes, na pág. 99, refere que “ A entrega da coisa deve ser interpretada
no sentido de transferência da posse e por consequência do risco. A posse da coisa,
pelo adquirente, justifica que a assunção do risco passe a ocorrer por conta deste.”

Em sede de contrato de venda a prestação sobre uma claúsula de reserva de


propriedade, embora haja a conservação da titularidade sobre a propriedade até que
se cumpra com abrigação, a coisa já é entregue ao comprador, sendo, portanto, titular
de alguns direitos decorrentes da posse,porém lhe sendo vedada a possibilidade se
alienação do bem, pois com esta impossibilidade de alienação se quer assegurar a
garantia de conservação da propriedade pelo alienante.

Este pressuposto de aplicabilidade é relativo a impossibilidade de resolução do


contrato sobre os seguintes termos “ se o comprador faltar no pagamento de uma só
prestação que não ultrapasse a oitava parte do preço, não se vai constituir num factor
determinante à cessação dos efeitos jurídicos do contrato”. O inadiplemento em mora
vai implicar apenas a perda de benifício ( do prazo) relativamente às prestações
seguintes, o que a nosso ver não é um especto que fundamente a resolução do contrato.
É importante que o alienante faça a prova da impossibilidade do comprador em
cumprir com a prestação.

Um outro pressuposto de aplicabilidade é o seu carácter imperativo, quer isto


significar de acordo o acordão STJ, que densificado este pressuposto nos termos “
sem embargos de convenção em contrário” , o preceito deve ser interpretado no
sentido de cumprir-se nos seus exactos termos, ainda que as partes tenham
convencionado de forma diferente.

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

Quanto a relação com o artigo 886º, no que respeita ao direito de resolução do contrato
pelo vendedor. A relação entre ambos os artigos reside no sentido de afastar o direito
de resolução face a falta de pagamento de uma prestação e/ ou preço.

I. Será que o entendimento defendido pelo Tribunal relativamente à natureza


imperativa do artigo 934° é conforme com a ressalva substantivas aponta o
Tribunal para defender essa natureza imp o em contrário "? Que razi a
prestações entre dois particulares, ou entre dois profissional final" sem
embargo de convenção rativa? Serão essas razões atendíveis, designadamente
que é.

R: A ideia de imperatividade ou injunção afasta a vontade das partes, ou seja, a norma


se lhes impõe. E a nosso ver o Tribunal soube fundamentar a natureza do 934.º imperativa
da norma sem despoletar qualquer aspecto contraditório, vejamos o último detalhe do
preceito “ sem embargos de convenção contrário”, este detalhe em conformidade com o
acordão vem densificar ou tornar mais compacto a nuteza injuntiva da norma. Não nos
parece contrário a ressalva substantiva tendo em conta as particularidades dos factos que
foram apresentados. A falida em termos de pagamentamento, é obvio que já tinha
efectuado mais da metade da prestação.

II. Confronte a opinião do Tribunal acerca do artigo 934 ° maioritária, quer na


Doutrina quer na Jurisprudência [nesta, veja mais recentemente, STJ
28.06.2007 (PEREIRA DA SILVA Processo n ° 07B117)], com a posição
dissonante defendida em STJ 04.02.2003 (PONCE DE LEÃO), Processo n °
02A4608, onde se entendeu que a norma é supletiva.

III.
No caso em análise, as prestações não pagas eram em número de quatro para
cada aquisição, pelo que o comprador já não estava tutelado pelo artigo 934 °,
que só o tutela se a falta de pagamento disser respeito a apenas uma prestação,
no entender da Doutrina quase unânime . Contudo, será que o direito de
resolução decorre imediatamente do atraso do comprador na liquidação das
prestações, ou é ainda necessário ao vendedor colocá-lo em incumprimento
definitivo para poder resolver? Compreenda e comente a resposta dada pelo
Tribunal a essa questão.

R: De acordo a interpretação que se faz do 934.º , o direito a resolução não decorre


imediatamente do atraso do comprador na liqueidação da prestação. Nos termos deste
artigo ( 934.º) se o comprador estiver em mora, o que acontece é apenas a perda do
benefício do prazo, porém continua no dever de efectuar as prestações seguintes.

É claro, que ao abrigo da norma 934.º não se verifica uma recorrência directa ao direito
de resolução,sem que estejam antes preenchidos os pressupostos indicados na mesma
norma.

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

O vendedor para se arrogar do exercício do direito de resolução deve seguir as regra geral:

- a mora converter-se-á em incumprimento logo que o alienante provar que perdeu o


interesse na prestação ou essa não for realizado dentro do prazo que razoavelmente for
fixado por aquele art. 808.º n.º 1.

O artigo 342.º, o devedor deve demonstrar sobre a impossibilidade do comprador


continuar com a prestação; é necessário que se dê uma última oportunidade.

Em suma, não basta um exceder do prazo, é necessário que se certifique se o devedor


tem a possibilidade de dar sequência da prestação, caso seja contrário lhe vai caber o
direito de resolução se se certificar que defitivamente haja essa impossibilidade do
cumprimento.

IV. Compreenda a última observação do Tribunal, no sentido de que a


possibilidade de resolução permitiria um resultado inaceitável, que seria o de
o vendedor manter as vinte prestações já pagas pelo comprador. É pertinente a
referência feita pelo Tribunal ao artigo 935º?

R: É sim pertinente. Caso a pretensão da recorrente fosse declarada procedente, como


citado no acordão decorreriam consequênciais inadmísseis. Faz sentido a referência ao
935.º, pois estabelece uma medida que visa equilibrar os interesses. Por um lado
possibilita que o comprador efectue a prestação mesmo estando em mora, só lhe sendo
tirado o benefício do prazo, e não a continuidade de efectuar as prestações a posteriores;
por outro lado limita até certo ponto o exercício do direito de resolução, quando fixa uma
medida específica para o seu afastamento ( se ao comprador lhe faltar uma só prestação
que não exceda a oitava parte, não terá o vendedor a possibilidade de exercer o direito de
resolução).

CASO PRÁTICO N.º 41 – ANÁLISE JURISPRUDENCIAL

Assento do Supremo Tribunal de Justiça de 31.01.96 (CARDONA FERREIRA),


Proc. Nº 87495. Reserva de propriedade – incorporação de elevadores

i. Qual a qualificação do contrato de elevadores com serviço de montagem: compra e


venda ou empreitada? Qual é a questão da questão? A propósito, comente esta passagem
do acórdão: "[..] um elevador é como um quebra-cabeça que só tem sentido no seu
conjunto, mas quer as partes quer o todo são - ou podem ser - alienados pelo fornecedor.
O que, todavia, dá o toque específico ao contrato é uma colocação, é o por a funcionar
e o que dai juridicamente decorra". Será que esta linha de argumentação não levaria a
considerar que todos os contratos de compra e venda com obrigação de montagem de
contratos de empreitada?

R: A qualificação do contrato de elevadores com serviços de montagem, é um contrato


de empreitada.

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

A questão da questão prende –se unicamente na qualificação do contrato. Se é de


compra e venda ou se é de empreitada. Que a nosso ver, é o contrato de empreitada,
que ao abrigo do artigo 1207.º cc, apresenta a sua noção.

No nosso entender a resposta é negativa, pois a linha de argumentação com base o


que será descrito abaixo, tem uma coloção casuística. Ou seja, leva –se em conta as
especificidade da próprio caso.

ii. O Tribunal aborda uma questão interessante: em contratos de empreitada, é possível


apor uma cláusula de reserva de propriedade, nos termos do artigo 409 ° do CC? Analise
a resposta dada pelo Tribunal e os argumentos que a suportam.

R: No âmbito do exposto no acordam, podemos entender, que é sim, possível a por


uma cláusula de reserva de propriedade em sede dos contratos de empreitada, nos
termos do 409.º do cc.

Partindo do pressuposto de os contratos de empreitada lograrem uma vertente normal


de alienção de partes. Assim, em relação a esta questão, o tribunal ao sistematizar a
sua abordagem, o enquadra em sede da problemática da reserva de propriedade, a
propósito de contratação de fornecimento e colocação de elevador do edifício de
alguém que não é parte do negócio.

E na sequência propugna a ideia de que os contratos de empreitadas, abarcam uma


vertente normal de alienação de partes ou componentes do objecto da empreitada. E
por isso, não se pode perfilhar a recusa, genérica ou absoluta da validade da claúsula
de reserva de propriedade ao abrigo do 409º cc.

A nosso ver, o tribunal quer com a excerto enfatizar a ideia de que enquanto elevador
no seu todo ou parte ( componentes) não integrarem o bem imóvel ( prédio urbano),
poderá o seu fornecedor aliená-los. Porém com a coloção do elevador poderá decorrer
consequências jurídicas específicas. Que segundo o acordão, poderá ser a ineficácia
da claúsula de reserva de propriedade, uma vez que o bem tornando –se integrante o
dono do prédio torna –se o proprietário do bem.

iii. Uma reserva de propriedade em contratos de fornecimentos de bens móveis não


sujeitos a registo é oponível a terceiros de boa fé que um desconhecessem? Recorde essa
discussão na doutrina nacional. Comente a afirmação constante das alegações de uma das
partes no processo, onde se refere que no Direito português, em regra, a posição do
proprietário prefere sobre a posição dos terceiros, mesmo de boa fé.

R: A nosso ver, tendo por fundamento a lei e a doutrina nacional, a resposta é


afirmativa.

Um primeiro caso ao abrigo do 409.º n.º 2, é que tratando –se de imóveis ou móveis
sujeitos a registo, só a clausula constante de registo é oponível a terceiros.

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

De acordo o Professor Orlando Fernandes, no seu livro sobre Direito das obrigações
Introdução e Fontes, volume I, p. 97. Refere que nos demais casos, isto é, nas
hipóteses de móveis não sujeitos a registo, a claúsula é sempre oponível a terceiros.

Na sequência o supracitado autor, dispõe que a claúsula de reserva de propriedade


mantem o direito de propriedade sobre a coisa móvel do vendedor. Não se pode
justificar a excepção do princípio nemos plus iuris… A lei ao estabelecer o regime
das inoponibilidades em relação a terceiros de boa –fé, fá –lo tendo em conta o seu
âmbito e sentido próprio. As inoponibilidades colidiriam com os direitos de sequela,
justamente numa área que não existem razões para preterir.

Conclue o mesmo autor, nos casos de a claúsula ser aposta a um contrato que tenha
por objecto a transmissão de bens móveis não sujeitos a registo não será exigida
qualquer publicidade, para se puder opor a claúsula a terceiro, mesmo que este esteja
de boa –fé.

Ainda o mesmo autor releva a necessidade de se se acrescentar o o número terceiro


do mesmo artigo.

AS alegações apresentada por uma das partes no processo a respeito da sobreposição


do proprietário em relação a posição de terceiro de boa –fé, no âmbito de reserva de
propriedade preterindo os regimes das inoponibilidade do 423.º e 291.º ambos do cc.
Não há muito que se aborde, pois e não é diferente da nossa realidade jurídica quanto
a questão de reserva.

iv. A dada altura, o Tribunal questiona: que são, juridicamente, os elevadores? Como é
respondida essa questão?

R: O acordão, que é escopo da nossa análise, não se ilide de dar um tratamento


jurídico a matéria do elevador.

Começando com a sua classificação.O elevador é uma coisa móvel, ao abrigo do 205.º
n.º 1 do cc., apresenta uma noção de exclusão de parte, ou seja, é coisa móvel, o que
for excluído da inumeração do artigo 204.º do cc.

A percepção jurídica do elevador, não se apreende pelos seus componentes ou partes.


Ou seja, que se ter em conta a existência autónoma, que vem afastar os aspecto
componentes, considerando juridicamente o seu todo complexo.

v. Em que passam os elevadores para a propriedade proprietário do prédio onde os


mesmos se incorporam? Qual o papel do artigo 1212°, nº 2 do CC a esse propósito?

R: os elvadores quando integrados no imóvel urbano passam a ser componentes


daquele ( prédio urbano). Tornam –se do proprietário.

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

O artigo 1212.º n.º 2, vem tornar mais sólido o argumento de que os bens que irão de
integrar a superfície do dono da obra, ter –se –ão como seus, ainda que seja os
empreiteiros a fornecer os materiais.

vi. Considera a decisão do tribunal aceitável, do ponto de vista à tutela do titular da reserva
de propriedade? Ou considera que esse titular deveria pura e simplesmente ter encontrado
outros meios mais adequados de garantir o seu crédito do preço do que uma reserva de
propriedade de um bem que está, por sua natureza destinada a fazer parte integrante (ou
componente) de uma coisa imóvel? Quais são esses outros meios de garantia do crédito
do preço? Leia, nesta linha, o comentário de António MENEZES CORDEIRO, Venda
com reserva de propriedade: incorporação de elevadores: novo regime dos assentos:
Tribunal do Supremo Tribunal de Justiça de 31 de Janeiro de 1996, Separata da Revista
da Ordem dos Advogados, ano 56, n ° 1 (Janeiro 1996), Lisboa, 1996, pp. 291-329.

R: A nossa ver, o tribunal teve muito bem posicionado em relação à tutela da reserva
de propriedade. Soube apresentar os fundamentos de direito, não obstante se escusar
de determinar as consequências jurídicas do comprador ou adquirente. Mas que num
ponto de vista funcional e racional, esteve em altura da solução.

vii. O que sucederia, de acordo com o caminho argumentativo seguido pelo Tribunal, se
os elevadores fossem desligados do prédio? Relacione a resposta a esta questão com a
defesa, feita pelo Tribunal, de que a reserva de propriedade se torna ineficaz quando se
concretiza a instalação dos elevadores nos prédios. Consulte igualmente o texto de
MENEZES CORDEIRO referido no ponto anterior.

R: Em relação a esta questão julgamos que a solução apresentada a esta questão, só


poderá decorrer de uma lógica contrário sensu. Se ao instalar o elevador torna –se o
mesmo ineficais e inoponível em relação ao proprietário e aos utentes do imóvel,
contrario sensu torna –se –ia eficaz e oponível, pois seria autónoma, bem como
susceptível de alienação em parte.

Caso prático n.º 55

Por lapso seu, António entregou à Boncentrados de Bomate, SA., mais duas carradas
de tomate do que esta lhe havia comprado. Os administradores da BB aperceberam-
se da coisa, não tocaram no tomate a mais e deixaram-no nos depósitos à espera que
António aparecesse. É claro que, quando António deu pelo lapso, já o tomate se tinha
tornado imprestável para consumo. Naquela zona, as carradas de tomate vendem-se a
Kz. 100.900, mas António produ-las a menos de Kz. 100.000, por os seus terrenos
serem muito férteis. Quid juris?

R: O presente caso, remonta –nos ao instituto dos contartos, celebrador entre o Sr.
António e a empresa BONCENTRADOS de BOMATE, SA, de entrega de carradas
de tomates.

O facto jurídico subjacente é o contrato celebrado entre ambos.

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

O Sr. António está na posição passiva desta relação contratual por estar adstrito ou
obrigado a fazer a tradição da carrada de tomate.

A empresa BONCENTRADOS de BOMAT, enquanto credor, obviamente assumindo


a posição jurídica activa, sendo este que tem o direito de exigir o cumprimento da
prestação.

Estamos num contrato em que existe uma relação entre o devedor e o credor, onde
suscita o problema da classificação do modo da prestação.

A nosso ver, encontramo –nos perante uma prestação de coisa.

O que se verifica é que realmente o contrato foi cumprido. Porém o Sr. António
efectuou duas prestações do que enserido no contrato. O que não foi intencional, pois
a luz do texto foi um “lapso”. Percebe –se por lapso “ engano’. E os administradores
da BB, mesmo se apercebendo do ocorrido mantiveram os produtos nos seus
depósitos sem comunicar ao entregador, e como resultado desta abstênção em
comunicar as duas carradas de tomate a mais, estragaram ou tornou –se impróprio
para o consumo. O Sr. António só deu por conta mais tarde e foi mesmo tarde, pois os
tomates tornaram–se imprestáveis. As perguntas que se levantam são:

a) As carradas de tomate ora entregues por descuido seriam do destinatário?


Se sim, o Sr. António conseguiu reparar a situação? Traz prejuízo na esfera
jurídica do Sr. António? Se sim, esta situação estaria resolvida se tão logo os
administradores da BB comunicassem do sucessido ao entregador?
Pensamos que perante esta situação os administradores encontram –se dentro do
que se diz ser uma obrigação moral. Pois o comunicar coresponde no dever de
ordem moral ou social, o que significa dizer que é excluido a repetição do indevido
do art. 402.º e 403.º( soluti rentention). Mas levante –se a possibilidade da
empresa ter realizado a prestação ( 475.º). sobre este prisma a empresa não o fará
por apego a ideia patca sunt servanda, o contrato deve ser cumprido tal como foi
acordado, se foi entrgue já não é imputável.
Quanto ao facto de naquela zona o mesmo produto em cada carrada ser vendido a
kz 100. 900. Passa ser um aspecto menos relevante, na medida que a determinação
do preço e feito mediante os custos implicados na produção bem como em outros
factores. E só assim, o investidor vai determinar o preço, com vista a recuperar o
investido e os devidendos.

CASO PRÁTICO N.º 56

Adérito fotografou de avião o bonito palácio de Belmira. Gastou cerca de Kz. 400.000
com o voo e as fotografias, mas vendeu-as a uma revista por Kz. 2.000.000. Quid juris?

R: Este caso em concreto não levante problema que careça de solução de direito. Porque
o Adérito e a empresa não se encontram numa relação materialmente controvertida.

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

O preço pelo qual foi vendido as fotografias que tem como conteúdo o retrato do bonita
palácio de Belmira integra todas as despesas envolvidas no processo de captura de
imagens, todo o conjunto relacionado com a fotografias.

Deve –se levar em conta o preço do vôo, e não só, como também o facto de que Adérito
deve ter optado por uma classe executiva que lhe desse mais conforto e uma visão
estratégica para capturar as imagens do palácio, tudo isto envolve custos daí que o preço
tenha sido de 2.000.000.

Conclui –se que os preço de 2.000.000, integra o conjunto de despesas envolvidos o


processo de fotografagem ou fotografia.

23. FRASES E TRECHOS PARA COMENTÁRIOS CRÍTICOS – PRESTAÇÕES


DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS.

a) As partes que têm na obrigação divisível os vários credores ou devedores são


sempre iguais, salvo convenção em contrário;

A obrigação divisível é caracterizada pela susceptibilidade de os devedores


cumprirem a prestação na fracção, parcela o proporção que lhes for vinculada e aos
credores cabe exigir a parcela da prestação que lhes for devida, isto sem prejuízo da
substância ou valor econômico do objecto.

Antunes Varela, Segundo a firma, são iguais os sujeitos no sentido em que se um


devedor cumprir sem o concurso dos outros terá o devedor de exigir o que lhe compete
na responsabilidade comum; ao credor que tenha recebido por si só a prestação fica
constituído na obrigação de entregar a cada um dos outros a sua parte, ou não sendo
possível a permitir que eles exerçam sobre a coisa os direitos de contitulares.

Às obrigações divisíveis aplica-se o regime comum e têm seu princípio geral


limitado ao Art. 534o, nos termos do qual “são iguais as partes que têm na obrigação
divisível os vários credores ou devedores, se outra proporção não resultar da Lei ou do
negócio jurídico”. De modo geral, o trecho objecto do nosso trabalho não levanta
controvérsias, pois concorda com o estabelecido pelo código civil e pela doutrina.
Quantos a nós, temos o mesmo posicionamento. Prevalece o princípio da igualdade entre
os credores e os devedores, pois respectiva parte cobra, recebi e paga a proporção da
dívida e credito que lhes for atribuída em função da sua posição jurídica.

c) Quando a prestação é indivisível e são vários os devedores a obrigação é


conjunta, salvo convenção em contrário;

A prestação indivisível e caracterizada pela obrigatoriedade de os devedores de


modo integral e simultâneo executarem a obrigação e os credores exigirem de modo
global o seu cumprimento, pois do contrário resultaria a alteração da substância a
diminuição do valor ou prejuízo para o uso a que se destina, quer o facto ou o objecto.

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

Sobre a questão, Almeida Costa adverte que só se executam obrigações conjuntas,


naturalmente, aquando da susceptibilidade da divisibilidade da prestação. Pela mesma
corrente, Jorge de Faria explica que a prestação conjunta fracciona-se entre os diversos
sujeitos, pois cada um só deve pagar ou receber o seu quinhão. Manuel Telles e Antunes
Varela explicam o mesmo em seus manuais, a obrigação conjunta entre devedores é
cumprida na proporção que é vinculada a cada um.

A afirmação objecto da nossa crítica não respeitou os pressupostos de


caracterização de uma obrigação conjunta, pois ditando que esta é possível em
circunstância de uma prestação indivisível não obedeci os elementos implicantes a uma
obrigação conjunta, isto é, é diretamente contraria aos padrões estabelecidos ao
cumprimento de uma obrigação conjunta. Por outro lado, entendemos que na afirmação
a adopção de tal critério tendo em vista um não desconforto em situação em que o credor
é obrigado a exigir o cumprimento simultâneo á todos os credores para que se não
danifique o objecto ou ocorra a diminuição do seu valor; do lado dos devedores, para que
se evite a situação em que um dos mesmo cumpra totalmente a prestação e mais tarde
estar sujeito a inconvenientes que poderão surgir em virtude do cumprimento do seu
direito de retorno, ou evitar a demora até que todos concluam o modo como cumprir a
prestação.

Legalmente, recorremos ao Art. 535o no1cc, aos termos do qual determina-se que
“se a prestação for indivisível e vários devedores, só de todos os obrigados pode o credor
exigir o cumprimento da prestação”. Isto é, o credor não pode exigir a apenas um deles a
realização de uma parte da prestação, uma vez que essa situação implicaria a destruição
do objecto da obrigação.

Apoiando-nos a concepção apresentada por maioridade a doutrina, adoptamos tal


critério citando Almeida Costa “as obrigações conjuntas pressupõem, naturalmente, a
divisibilidade da prestação”

d) Sendo a prestação indivisível, a extinção da obrigação em relação a um dos


devedores extingue naturalmente o vínculo.

Nos termos do Art. 536o cc; nesta situação “se a obrigação é indivisível se
extinguir apenas em relação a algum ou alguns dos devedores, não fica o credor inibido
de exigir a prestação aos restantes obrigados, contanto que lhes entregue os valores que
cabia as devedor ou devedores exonerados”. Determinação que no entendimento Almeida
Costa seria o mesmo que dizer o credor terá apenas de entregar-lhes o valor da parte que
cabia ao devedor exonerado.

Assumimos dizer que afirmação é incorreta pois legal e doutrinalmente é


verificável a consagração da possibilidade de o credor poder exigir aos demais devedores
o cumprimento da prestação, desde que os entregue o valor da obrigação que lhe foi
prestada pelo devedor exonerado. Assim é estabelecido por a prestação ser insusceptível
de repartição, logo, se já tiver sido executada integralmente por um dos devedores só com

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

este se extingue o vínculo obrigacional, e após a entrega aos demais lhes é exigível a
execução da prestação por completo e de modo simultâneo.

e) Se a prestação indivisível se tornar impossível por fato imputável a todos os


devedores, o dever de indemnizar passa a incidir sobre todos eles em regime de
solidariedade;

Esta é uma afirmação que nos remete ao regime da impossibilidade culposa do


cumprimento. O Art. 537o cc, prevê que “se a prestação indivisível por facto imputável a
algum ou alguns dos devedores, ficam os outros exonerados”. Por se tratar do regime de
solidariedade, todos os devedores são responsáveis pelo valor da prestação, mais só o
devedor a quem o facto é imputável responde pela reparação dos danos que excedam esse
valor, nos termos do Art. 520o cc. Artigo que explicado na concepção de Vaz Serra tem o
seguinte dizer “tornando-se a prestação impossível por causa imputável a um dos
devedores obrigação indivisível este responde pelo não cumprimento e os outros só pelo
valor da prestação.

Baseando-nos nos artigos consagrados pelo código civil e pela grande doutrinas
que aborda o assunto temos entendimentos que a afirmação está incorreta, por a mesma
impor o dever de indemnizar a todos os devedores, incluído os que nada se relacionam
com o facto perpetrante; por outro lado, simpatizamos com a afirmação, por ser um modo
de não subcarregar o devedor culpado, pois pode ter incumprido a prestação por uma
causa exterior ao seu arbítrio ou possa não ter as possibilidades financeiras para reparar
todos os danos que constituem a consequência do facto que procedeu.

Contudo, fundamentando-nos nos dispositivos citados adoptamos o forte


posicionamento de que o dever indemnizatório incide somente sobre o devedor culpado
pelo incumprimento, posto que não seria justo ou correto atribuírem-se deveres àqueles
que em nada têm que ver com o incumprimento, mas não são exonerados do obrigatório
cumprimento global em simultâneo da prestação indivisível, incluindo aquele a quem o
facto lhe é imputável.

f) Sendo a prestação indivisível e vários os credores, há solidariedade activa.

Afirmação obejcta da nossa analise dita o regime geral, nos termos 538o no1 cc há
previsão de que “sendo vários os credores da prestação indivisível, qualquer deles tem o
direito de exigi-la por inteiro”. Portanto, há solidariedade activa pois só um dos credores
assumira a responsabilidade perante o devedor exigir o cumprimento integral da
obrigação, libertado este da dívida e da sujeição que passaria ao ser cobrado por cada
credor; por outra, excluir os cocredores de forçosamente coligarem-se para exigir o
cumprimento, o que equivaleria a tornar uns dependentes da inércia dos outros até o
momento em que se concluísse o modo de cumprimento e vários credores.

Em contraditório a este regime, surge a preocupação levantada por Almeida Costa


“e se surgissem conclui-os entre o devedor e uns do cocredores (aquele que exige)?. A

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solução é dada pelo Art. 538o no1 cc, segunda parte: “mais o devedor enquanto, não for
judicialmente citado, só é relativamente a todos, em conjunto, se pode exonerar”. Dito de
outro modo, só perante todos os cocredores o devedor deverá cumprir a prestação. Por
fim, o mesmo autor ainda afirma que esta regra paralela à solidariedade activa decorre
apenas da invisibilidade da prestação e tão-só enquanto essa indivisibilidade dura.

Do nosso lado, concordamos com a afirmação por ser recorrente na doutrina e o


objecto do regime estabelecido pelo código civil.

30. Frases e trechos para comentários críticos-Reserva de propriedade/ Risco.

Comente os seguintes trechos:

a) “A reserva de propriedade atribui ao comprador um direito à pose da coisa que lhe


permite o seu uso e fruição, enquanto durar o contrato. Tem sido porém, discutido
se a pose atribuída ao comprador sob reserva é de natureza real ou apenas de
natureza obrigacional.

Em relação ao risco na venda, sob reserva de propriedade tem vindo a ser sustentado, com
base na sua pretensa configuração como uma condição suspensiva, que o vendedor
continuaria a suportar o risco pela perda ou deterioração da coisa, ainda que esta tivesse
sido entregue ao comprador. A solução de que o vendedor, na venda com serva de
propriedade suporta o risco de perda ou deterioração da coisa, mesma após a entrega ao
comprador é, no entanto, claramente inaceitável, uma vez que, a partir da entrega, o
comprador fica integralmente investido nos poderes de uso e fruição da coisa, servindo a
manutenção da propriedade no vendedor apenas para assegurar a manutenção do bem,
em caso de não pagamento do preço. Ora, devendo o risco ocorrer por conta de quem
beneficia de direito, parece claro, que a partir da entrega é por conta do comprador que o
risco deve correr, não fincando este exonerado do pagamento de preço em aso de perda
ou deterioração fortuita da coisa”.

[L. Menezes Leitão, Garantias das Obrigações, Almedina, Coimbra, 2006, 263-264].

A cláusula se reserva de propriedade tem raízes no direito romano, foi reconhecida pelo
direito comum, incluída no BGB e, a partir deste, incluído no código civil português. Tem
seu regime regulado nos termos do Art. 409o no1, no qual tal cláusula é definida como a
convenção pela qual alienante reserva para si a propriedade da coisa, até ao cumprimento
total ou parcial das obrigações da outra parte.

Esta é uma cláusula típica dos negócios jurídicos, em especial os contratos de compras e
vendas: vendas à espera do preço e vendas a prestações. Tem função de garantia e esta
garantia está relacionada com cumprimento de prestações emergente do contrato
celebrado, mormente com o pagamento do preço, configurando um meio de segurança
nas vendas a crédito.

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Uma cláusula frequentemente acordada e não obstante haver liberdade quanto ao seu
ajuste, só pode ser aposta após a celebração do contrato. De facto, como a propriedade se
transmite primeiro efeito do contrato, não pode, depois do celebrado negócio, estipular-
se a reserva de propriedade, porque a posse já se transferiu.

Entre a doutrina muito tem sido debatida a especificidade da natureza da pose do


comprador perante a esta clausula, se é real ou apenas obrigacional. Autores como
Romano Martinez, defendem que apesar desta clausula conferir uma proteção própria de
direitos reais não constitui uma garantia real, mas somente obrigacional, recaindo ao
vendedor a obrigação de entregar a coisa e ao comprador a obrigação de pagar o preço.
Por outra, autores como Menezes Leitão, constituindo a maioridade da doutrina,
defendem que tanto o vendedor como o comprador são titular de situações de direito reais,
pois tal como o vendedor conserva apenas a propriedade com função de garantia, deve
apenas suportar o risco de garantia da coisa; ao comprador competirá suportar o risco pela
perda ou deterioração da coisa. Por acharmos mais completa, adoptamos a concepção
apresentada por Almeida Costa e concluímos que a posse do comprador tem dupla
natureza, por um lado o comprador deve pagar o preço (natureza obrigacional) e, por
outro lado, tem direito de uso e fruição sobre a coisa (natureza real).

Pelos factos revelados no texto objeto da nossa apreciação, tém-se por obsoleta, legal e
doutrinalmente, a concepção de que ao vendedor incumbiria a responsabilidade de
suportar o risco pela perda ou deterioração da coisa, mesmo que se encontrasse nas fera
de uso e fruição do comprador. Deste modo, sempre que tenha havido a entrega da coisa
o risco também se transferiu. O risco relaciona-se com a titularidade das vantagens sobre
uma coisa atribuída a certa pessoa e, havendo tradição, essas vantagens são conferidas ao
comprador. O risco recai sobre o comprador do mesmo modo em que um empreiteiro é
responsável pela reparação dos danos causados aquando da edificação, manutenção ou
requalificação de uma obra sob sua condução.

O nº do Art. 796ºcc, determina que “nos contratos que importem a transferência do


domínio sobre certa coisa ou que constituam ou transfiram um direito real sobre ela, o
perecimento ou deterioração por causa não imputável ao alienante corre por conta do
adquirente”. Desta norma, tém-se clarificada a responsabilidade do comprador face ao
objecto contratual sobe sua posse, sem, contudo, deixar de ser responsável por reparar os
danos causados ao objecto; sob o mesmo olhar, nos termos do Art. 798ºcc, prevê-se que
“ o devedor que falta culposamente ao cumprimento da obrigação torna-se responsável
pelo prejuízo que causa ao credor”. Daqui, entende-se que, por força do seu
incumprimento, isto é, pelo não pagamento do preço, o comprador é obrigado a
indemnizar o vendedor não só com respeito aos prejuízos decorrentes do seu
incumprimento, como também em relação aos benefícios que o vendedor deixou de obter
em consequência do incumprimento (prejuízo indemnizável por dano emergente e lucro
cessante, Art. 564ºcc).

É geral a concepção de que, em posse do comprador, o risco de deterioração ou perda da


coisa recai sobre o mesmo, mas, em situações especificas, ao vendedor também recai esta

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responsabilidade. Nos termos do nº 2 do Art. 796ºcc prevê-se que “se, porém a coisa tiver
continuado em poder do alienante em consequência de termo constituído ao seu favor, o
risco só se transferi com um vencimento ou a entrega da coisa”. Desta norma, extrai-se a
concepção de que, efectivamente, o facto do termo ter sido estabelecido a favor do
alienante significa que este não se pode considerar como mero depositado da coisa, mas
antes que se encontra a utilizá-la em seu próprio proveito, o que justifica que suporte o
risco pela sua perda ou deterioração. Por outra, se, apesar da transferência da propriedade,
o alienante ainda se encontra a tirar proveito da coisa, não faria sentido que a Lei fizesse
correr por conta do adquirente o risco pela sua perda ou deterioração. Assim, o risco só
se transfere para o adquirente, ou com o vencimento do termo (caso em que o alienante
deixa de beneficiar do prazo para a utilização da coisa, passando a funcionar como mero
depositário da coisa) ou com a entrega da coisa, são em que passa a ser o adquirente a
utilizar a coisa;

Sobe a mesma perspectiva (responsabilidade ao devedor), o nº 3 do Art. 796ºcc,


estabelece que “quando o contrato estiver dependente de condição resolutiva, o risco do
perecimento durante a pendência da condição corre por conta do adquirente de a coisa lhe
tiver sido entregue; quando for suspensiva a condição, o risco corre por conta do alienante
durante a pendencia da condição”. A primeira parte do artigo é de fácil apreciação, pois
com a verificação da situação objecto da condição resolutiva, associada a entrega da coisa
ao comprador, justifica que seja o mesmo a suportar o risco. Já quanto à condição
suspensiva, a não verificação do facto futuro incerto significa que a coisa não se
transferiu, por isto, não se justifica que seja o adquirente a suportar o risco pela perda ou
deterioração da coisa.

De modo geral, a cláusula de reserva de propriedade serve de defesa ao vendedor contra


as consequências do incumprimento do comprador, pois sem tal clausula muito facilmente
ocorreria situações em que transferido o bem e a sua propriedade, em virtude da
celebração do contrato, o comprador e novo proprietário do bem, mesmo sem ter pago
por completo o preço, poderá aliená-lo em prejuízo do vendedor. O vendedor só poderá
cobrar o pagamento por não possuir qualquer direito sobre o bem, consequentemente, não
possui direito de preferência e terá de concorrer igual e proporcionalmente com os
concredores comuns do comprador sobre o seu patrimônios, estando desprovido de
qualquer garantia especial (Art. 604ºcc).

O contrato o qual se aplica a cláusula envolve riscos elevados ao vendedor e, em virtude


destas consequências gravosas, tornou-se comum nos contratos de compra e venda a
estipulação de tal clausula, que por convenção das partes diferem a transferência da
propriedade para um momento posterior ao da celebração do contrato. Esta cláusula,
assim, serve de garantia e certificação ao vendedor de que o comprador terá capital para
cumprir a prestação. A ele só cabe o dever assegurar a manutenção da propriedade, isto é,
periodicamente, em instituição própria, renovar a sua qualidade de proprietário do bem.

b) “Em resumo, o pacto de reserva de propriedade, enquanto cláusula socialmente


típica com a configuração normativa que cabe no ordenamento jurídico, é uma

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

convenção de garantia acesso do contrato de compra e venda, convenção esta que


reserva a faculdade de resolver o contrato mas que se socorre instrumentalmente
de uma condição suspensiva do efeito translativo, para alcançar o seu efeito
translativo: a oponibilidade “erga omnes” da resolução.

O pacto de reserva de propriedade exerce ainda, complementarmente, a sua função de


garantia em situações de falência ou insolvência do comprador, ou de penhora da coisa
por credor do comprador.

A condição suspensiva subordina a transferência do direito de propriedade, não obsta


porem à transmissão da posse, que se opera com a tradição da coisa. Enquanto o
adquirente detém conjunto de poderes de gozo e disposição que correspondem ao do
conteúdo do direito de propriedade, a propriedade reservada do alienante consiste apenas
na titularidade «abstracta» do direito de propriedade.

O «direito de expectativa» do comprador revela-se, assim, não só um direito real de


aquisição da propriedade mas também um direito de gozo nos termos do direito de
propriedade. O “minus” deste direito subjectivo de natureza real em relação ao direito
pleno do propriedade com substancia-se apenas na temporária sujeição dos direitos de
gozo e disposição à plena eficácia da resolução do contrato por inexecução definitiva do
comprador”.

[L. Lima Pinheiro, A clausula de reserva de propriedade, “Estudos de Direito Civil,


Direito Comercial e Direito Comerci Internacional”, Almedina, Coimbra, 2006, 68-69].

A posição adoptada por Lima Pinheiro em relação ao pactum reservati dominii (pacto de
reserva de domínio) é aclamada e adoptada por autores como Antunes Varela, Ribeiro de
Faria ou mesmo Menezes Leitão.

Quando o autor refere “resolver o contrato” diz respeito a exigência de indemnização feita
pelo vendedor em virtude da desvalorização que o objecto material do contrato tenha
sofrido. Logo, a oponibilidade “erga omnes” da resolução diz respeito a faculdade de
terceiros poderem exigir o cumprimento de indemnização por lesão que tenham sofrido
em virtude de um contrato a que estariam, de algum modo, vinculados.

Tivemos o entendimento de que Lima Pinheiro toma tal posicionamento fundamentando


se no nº 2 do Art. 409ºcc, este determina que “tratando-se de coisa imóvel, ou de coisa
móvel sujeita a registo, só a cláusula constante do registo é oponível a terceiros”.
Verificavelmente, a Lei não exclui a estipulação da reserva de propriedade em relação a
esse tipo de bens, nem condiciona nesse caso a oponibilidade a terceiros, é manifesto que
a reserva poderá ser normalmente oposta a terceiros; por outra, se se vier a verificar a
perda o deterioração da coisa em prejuízo de terceiro, embora sendo o vendedor aquele
que conserva o direito de propriedade sobre a coisa, não pode reclamar a totalidade da
indemnização por uma parte desta dever ser entregue ao terceiro prejudicado.

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Trabalho de Direito das Obrigações Grupo n.º 1

O autor Romano Martinez contraria fortemente a esta concepção e foca-se no elemento


não regulado pela Lei: a oponibilidade sobre coisa móvel não sujeita a registo. O autor
defende que tratando-se de clausula de reserva de propriedade acordada numa compra e
venda de coisa móvel não sujeita a registo não pode ser oponível a terceiro. O mesmo
defende que a clausula de reserva de propriedade por si só é sem registo, não admitindo
oponibilidade a terceiros; por outra, não admite intender o caso em que numa compra e
venda sobre coisa sujeita a registo a falta de registo da cláusula implicasse a sua eficácia
só entre as apartes e sendo vendidas coisas moveis não sujeitas a registos a oponibilidade
da clausula de reserva de propriedade fosse “erga omnes”. Por fim, explica que no que
respeita oponibilidade a terceiros é necessário o registo da causa da propriedade (trecho
ultimo que meramente constitui ao que é previsto pelo nº 2 do Art. 409ºcc.

Sobre sua concepção, Menezes Leitão diz que seus argumentos não convencem, mas dá-
lhe credito pela solução proposta. É muito criticado por, primeiro, referir um critério
diametralmente oposto ao que é previsto pela Lei; segundo, por entender que haveria
transmissão de coisa sem registo, embora susceptível a registo, pois nesse caso nem
sequer a própria transmissão dos bens móveis poderia ser oponível a terceiros.

Entre a doutrina é esmagadora a maioria que defende a susceptibilidade da oponibilidade


da resolução, concordando ao prescrito pela Lei e atribuindo direitos àqueles que por
virtude da sua posição contratual (nem sujeito activo, nem sujeito passivo/nem vendedor
ou comprador) podiam ver-se excluídos de tutela jurídica adequada.

Vasco Xavier revela o entendimento de que em situações em que o vendedor, por


incumprimento do comprador, ao invés de exigir a respectiva indemnização, nomeie à
penhora o próprio bem vendido sob reserva de propriedade. Para este a opção é estranha,
uma vez que a reserva de propriedade constitui uma garantia mais forte do que a penhora,
especialmente em caso de insolvência, mas não se pode negar ao vendedor recorrer aos
meios à disposição dos credores comuns.

A penhora consiste na apreensão dos bens do devedor e debatida com a clausula de reserva
de propriedade é bem demorada, pois até que se juntem todos os bens do devedores
afectos à garantia de obrigação, separei-nos entre penhoráveis e não penhoráveis, até que
se juntem os pressupostos para o levantamento de uma acção executiva, consumir-se-ia
muito tempo. Ao passo que munido pela clausula, mediante incumprimento do devedor,
o vendedor pode apenas exigir indemnização. Mas tal como referiu Vasco Xavier “não
se pode negar ao vendedor recorrer aos meios à disposição dos credores comuns.

Deste modo, a clausula de reserva de propriedade tem função de garantia muitos mais
prática e fácil por ser consensual entre as partes, mas em situação de insolvência do
comprador o vendedor mesmo conservado a propriedade da coisa, mediante seu
incumprimento, não deve executar os bens do devedor até ao pagamento do preço.

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A condição suspensiva é a estipulação segundo a qual as partes concordam que haverá a


transferência da propriedade do vendedor ao comprador tão logo se verifique o
cumprimento total ou parcial da obrigação adstrita ao comprador, o pagamento do preço.

Menezes Leitão contraria a concepção de Lima Pinheiro e afirma que a condição


suspensiva subordina a transferência do direito. Menezes Leitão explica “em primeiro
lugar, não é tecnicamente um evento condicional o cumprimento da obrigação de
pagamento do preço, dado que ele constitui um dos elementos essenciais do negócio. Por
outro lado, essa obrigação de pagamento do preço é constituída logo no momento da
celebração do contrato, uma vez que o vendedor pode proceder à sua cobrança em caso
de não cumprimento, o que demostra não existir qualquer suspensão de seus efeitos.
Finalmente, a aquisição da propriedade pelo comprador verifica-se no monto do
pagamento do preço e não retroage à data da conclusão do negócio.

É, portanto, óbvio que na venda com reserva de propriedade não se subordinam os efeitos
do negócio a um evento exterior ao mesmo, mas antes se faz depender um dos efeitos do
negócio do prévio cumprimento de uma obrigação por ele instituído, o que constitui, aliás,
um dos efeitos essenciais desse negócio. Não há, assim, na reserva de propriedade
qualquer condição, mas antes uma alteração da ordem de produção dos efeitos negociais.
Sem a reserva, a transmissão da propriedade ocorre antes do pagamento. Com a reserva,
ela passa a ocorrer posteriormente a ele. A qualificação da reserva de propriedade como
condição suspensiva deve, por isso, ser rejeitada”.

Luminoso concorda com Menezes Leitão e pronuncia-se expressamente no sentido de


que, em virtude no necessário carácter extrínseco do evento condicional, não é possível
subordinar uma venda à condição do pagamento do preço.

Em concordância com Cunha Gonçalves, Menezes Leitão defende que a alternativa


possível seria a condição resolutiva. Segundo tal tese,

A propriedade seria logo transmitida para o comprador, mas a parir do momento em que
se verificasse o incumprimento do pagamento do preço, ocorreria a resolução dos efeitos
do negócio, com eficácia retroactiva, sendo assim recuperada a propriedade pelo
vendedor.

Apesar dos argumentos apresentados por Menezes Leitão, a condição suspensiva é a


posição tradicional na nossa doutrina, defendida por Galvão Teles, Antunes Varela,
Almeida Costa e Lima Pinheiro.

Por via da clausula de reserva de propriedade, as partes acordam em adiar a transmissão


da propriedade até ao cumprimento da prestação, ficando conservada ao vendedor e o
comprador obtém o direito de uso e fruição sobre a coisa. Lima Pinheiro refere que se
trata de uma titularidade «abstracta» da propriedade. Pensamos que o autor defende tal
concepção por o direito de propriedade dever ser associado a faculdade de uso e fruição,
no caso de clausula entregues ao comprador. Em sede de clausula de propriedade, temos

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sim o entendimento que se trata de uma titularidade abstracta, incompleta ou parcial, por
ser o comprador aquele que goza dos benefícios da coisa, em contrapartida, também
responsável por seus danos. O uso pertence ao comprador e o vendedor só mantém a
propriedade em termos legais, pois segundo Menezes Cordeiro, “o titular de direito de
propriedade, em termos de direito, tem uma proteção jurídica que perdura enquanto a
existência do seu direito não for posta em causa”. Logo, até ao cumprimento da prestação,
isto é, o pagamento do preço, o vendedor é proprietário do bem, mas de modo abstracto
por somente desempenhar o papel de periodicamente renovar o título o reconhecimento
legal de proprietário; o comprador tem direito de uso e fruição da coisa com “animus” e
“corpus”, pois em função do seu cumprimento possui a expectativa de aquisição de
propriedade sobre a coisa.

Quanto a questão de o «direito de expectativa» do comprador revelar-se como um direito


real de aquisição, é o resultado ou qualificação da situação em que numa venda com
reserva de propriedade como uma venda em que o efeito translativo da propriedade é
diferida ao momento do pagamento do preço, obtendo, no entanto, o comprador logo com
a celebração do contrato uma posição jurídica especifica distinta da propriedade.

A expectativa revelada como direito real de aquisição examina e clarifica a posição


jurídica de comprador. Entregue a coisa ao comprador e a apesar de o vendedor continuar
sendo o proprietário da coisa e até o pagamento poder exercer o seu direito de propriedade
sobre ela, se tal for compatível com os fins da reserva, já não lhe será lícito reivindicar
sem motivo algum a coisa ao comprador ou voltar a dispor do mesmo bem a terceiro, uma
vez que não é para esses fins que a reserva de propriedade é estipulada. Trata-se de um
direito real de aquisição que, por ser inerente a coisa, deve ser incluída no âmbito dos
direitos reais. O comprador não é um mero detentor da coisa, pois a expectativa real
atribui-lhe o poder de usar e fruir apenas lhe estando vedada a sua disposição por tal ser
incompatível com a função da garantia visada com a conservação da propriedade no
vendedor. Daí que o comprador, mesmo na situação de reserva, possa disfrutar livremente
da coisa e defender o seu direito de gozo sobre ela, quer perante o vendedor, quer perante
terceiros, bem como pedir uma indemnização pelos danos causados, caso venha a ser
violado o seu direito de gozo.

Sim, o minus será traduzido na susceptibilidade de resolução de contrato por inexecução


do comprador. Colocados a esta questão recorremos a concepção de Menezes Leitão,
anteriormente enunciada, sobre a condução resolutiva, isto é, o minus do direito real de
gozo do comprador será considerado temporário em razão da possibilidade do
levantamento da condição resolutiva em função do não cumprimento do comprador. Esta
é uma excepção, pois é regra contratual que o mesmo cumpra a prestação.

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Conclusão
No presente trabalho procedemos à resolução de casos práticos colocados a nossa
disposição. Analisámo-los legal, doutrinal e jurisprudencialmente procurando
fundamentos (princípios, conceitos e normas) que tornassem seus modos de aplicação na
vida real lógicos. Exemplificámos as possíveis maneiras de de resolução a um caso
concreto, fundamentando-nos em concepções de diferentes autores construímos
comentários lógico-críticos sobre diferentes situações, socorrendo-nos a vários acórdãos
procuramos esclarecer os modos de proferência de sentença aos casos concretos objecto
da resolução.

Fundamentalmente, no nosso trabalho analisámos três aspectos: a nossa própria


concepção ou entendimento sobre os pensamentos de alguns autores em específica
matéria; a nossa percepção sobre o modo de proferência de sentença no âmbito do Dto
das Obrigações; e os modos de aplicação do direito na solução de situações reais.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Jorge Leite Areias Ribeiro de Faria, Direito das Obrigações Vol.I, Coimbra, 1990.
Mario Júlio de Almeida Costa, Direito das Obrigações, 5ª edição, Coimbra, 2006.
João de Matos Antunes Varela, Das Obrigações em Geral Vol. I, 6ª edição, Almedina.
Pedro Romano Martinez e Pedro Fuzeta da Ponte, Garantias de Cumprimento, 5ª edição,
Almedina, Novembro/2006.
Pedro Romano Martinez, Direito das Obrigações-Parte Especial: Contratos, 2ª edição,
Almedina, Maio/2001.
Luís Manuel Teles de Menezes leitão, Garantias das Obrigações, 2ª edição, Almedina,
Janeiro/2008.
Luís Manuel Teles de Menezes leitão, Direito das Obrigações Vol.II, Transmissão e
Extinção das Obrigações, Não Cumprimento das Garantias de Crédito, 5ª edição,
Almedina.

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