Felicia Disserta o Vers o Final 2013
Felicia Disserta o Vers o Final 2013
Felicia Disserta o Vers o Final 2013
2013
Felícia Emília Camões Chale
Belo Horizonte
2013
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitor
Prof. Clélio Campolina Diniz
Vice-Reitora
Profª Rocksane de Carvalho Norton
Pró-Reitor de Pós-Graduação
Prof. Ricardo Santiago Gomez
Pró-Reitor de Pesquisa
Prof. Renato de Lima Santos
FACULDADE DE MEDICINA
Diretor
Prof. Francisco José Penna
Sub-Coordenadora
Profª. Sandhi Maria Barreto
Colegiado
Profª. Eli Iola Gurgel Andrade
Prof. Fernando Augusto Proietti
Profª. Mariângela Leal Cherchiglia
Profª Cibele Comini César
Profª Carla Jorge Machado
Profª Maria Fernanda Furtado de Lima Costa
Prof. Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro
Profª Soraya Almeida Belisário
Prof. Francisco de Assis Acurcio
Representantes discentes
Maryane Oliveira Campos
Tiago Lopes Coelho
2
3
4
DEDICATÓRIA
Esta dissertação é dedicada a Célio João, Maria Judite e Deolinda Camões (In memorian).
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me ter dado saúde e ter sido meu guia durante o tempo em que estive
longe de casa e da família.
Aos meus pais Emília Simbe e Luís de Camões pelo amor, atenção e por sempre
acreditarem nos meus propósitos. Devo tudo a vocês, meu exemplo e modelo de vida.
Aos meus irmãos pela amizade e por terem acreditado nos meus sonhos, sem o apoio de
vocês não teria conseguido chegar onde cheguei. Que continuemos sempre e cada vez mais
unidos, seguindo os ensinamentos e bons exemplos que nossos pais nos transmitem.
Aos meus sobrinhos amados (meus anjinhos da guarda) por cada carinho e alegria, amo
muito vocês.
Aos amigos Serafim, Eulálio, Esperança, Lúcio, Alexandre e Hélder pela convivência,
incentivo e suporte. A amizade de vocês foi de extrema importância para mim.
Ao meu orientador Professor Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro, o meu muito obrigada
pela orientação e contribuições, empenho, palavras encorajadoras e conhecimentos
partilhados durante as aulas e na presente dissertação.
A Juliane minha amiga e irmã, pela amizade, acolhimento palavras amigas, orientações no
trabalho e pela parceria, a minha eterna gratidão.
A dona Sueli, minha segunda mãe, obrigada por todo o carinho e dedicação.
6
A Letícia pela amizade e apoio na revisão final da presente dissertação, obrigada.
A Isabela, por todo o apoio, não tenho palavras para expressar, sou imensamente grata.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para que o presente trabalho fosse
possível.
7
Cortador de cana
8
RESUMO
9
ABSTRACT
10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Saúde
11
LISTA DE FIGURAS
12
LISTA DE TABELAS
13
LISTA DE GRÁFICOS
14
SUMÁRIO
2. OBJETIVOS .................................................................................................................. 48
3. MÉTODOS…………………………………………………………………………….49
4.ARTIGO .......................................................................................................................... 51
RESUMO......................................................................................................................... 522
ABSTRACT ...................................................................................................................... 53
4.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 54
4.2 MÉTODOS ................................................................................................................ 555
4.3 RESULTADOS ........................................................................................................... 57
4.4 DISCUSSÃO................................................................................................................ 63
4.5 CONCLUSÃO:............................................................................................................ 66
4.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 67
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 70
6. ANEXOS...........................................................................................................................72
15
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1
Vieira MCA, Lima JF, Braga NM. Setor sucroalcooleiro brasileiro: evolução e
perspectivas. In: Torres Filho ET.; Puga F P. (Org.). Perspectivas do investimento 2007/2010. Rio de
Janeiro: BNDES, 2007. 348 p.
2
Santos JC. Dos canaviais à “etanolatria”: o (re) ordenamento territorial do capital e do trabalho no setor
sucroalcooleiro da Microrregião Geográfica de Presidente Prudente-SP. 2009. 375 f. Tese [ Doutorado
em Geografia] – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2009
16
Nos últimos anos o setor sucroalcooleiro tem passado por grandes mudanças
impactando significativamente em toda a estrutura do setor e nas políticas empresariais. As
transformações no setor produtivo se refletem no mercado de trabalho. Novas tecnologias
vêm sendo introduzidas nos diferentes setores de atividade incluindo o setor
sucroalcooleiro. Essas novas tecnologias além de reduzirem a mão de obra passaram a
exigir trabalhadores com um perfil diferenciado, ou seja, trabalhadores capazes de se
adaptar a essas novas práticas produtivas3.
Com a devastação da indústria do açúcar na Europa motivada pela eclosão da
Primeira Guerra Mundial em 1914, registrou-se um aumento no preço do açúcar o que
culminou com a construção de novas usinas no Brasil, mais especificamente no estado de
São Paulo2.
Desde o período colonial que o setor sucroalcooleiro tem contribuído na economia
brasileira. A modernização no setor tornou-se necessária para enfrentar a competição de
outros países produtores. Com a crise do petróleo durante a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), observou-se uma expansão da cultura de cana e um crescimento na produção
de etanol derivado da cana principalmente no estado de São Paulo. Ainda neste período
houve uma diminuição do comércio internacional, reduzindo-se assim o volume das
exportações brasileiras do açúcar e diminuição no fluxo das importações2.
O Brasil tornou-se importante não só pela grandeza da produção interna e/ou pelo
volume da exportação, mas também por ter os menores custos de produção por tonelada de
cana nas regiões sudoeste e centro-oeste 2.
A cana-de-açúcar produzida no Brasil é originária do sudoeste asiático, e foi trazida
no período colonial pelas expedições portuguesas. É produzida em quase todo o Brasil,
principalmente nos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Alagoas, sendo o
primeiro o líder na produção do açúcar e álcool4.
Embora seja um setor em franco crescimento tanto na produção quanto na
economia, o trabalho neste setor continua precário e a saúde dos trabalhadores
deteriorando-se.
3
Liboni LB. Perfil da mão-de-obra no setor sucroalcooleiro: tendências e perspectivas . 2009. 201 f. Tese
[Doutorado em Administração]. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
4
Rocha FLR. Análise dos fatores de risco do corte da cana-de-açúcar no Brasil segundo o referencial da
promoção da Saúde. 2007. 183 f. Tese [ Doutorado em Enfermagem] Universidade de São Paulo, Ribeirão
Preto, 2007.
17
Com a expansão da indústria canavieira na década de 1950 o estado de São Paulo
tornou-se o maior produtor de açúcar do país passando a ocupar terras onde se fazia o
cultivo do café mantendo assim vigente a estrutura fundiária.
Na década de 60, intensificaram-se as transformações no meio rural, repercutindo
negativamente nas condições de vida e na saúde do trabalhador rural. Essas transformações
impactaram tanto no nível de produção, como também nas relações de trabalho,
contribuindo assim no aumento e diversificação da produção agrícola e na recriação de
antigas e na emergência de novas formas de organização do trabalho5.
A produção de álcool a partir da cana-de-açúcar tem sido a alternativa mais viável
para o enfrentamento da crise energética como também para a construção do
desenvolvimento sustentável. Contudo, a retomada das políticas do agronegócio tem
provocado uma nova expansão do setor canavieiro, por meio de uma redistribuição
espacial da produção, com tendência de aumento nos estados de Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás6.
Com o aumento significativo do preço do petróleo na década de 1970, o que afetou
fortemente a economia dos países em desenvolvimento, o Brasil adotou um novo modelo
energético que fosse alternativo ao petróleo, neste caso o álcool, subsidiado com recursos
do Programa Nacional do Açúcar e Álcool (Proálcool) 2.
O Proálcool foi criado durante o regime militar e tinha por objetivo aumentar a
produção do álcool como combustível e incentivar o seu consumo nos carros fabricados no
Brasil. O programa foi responsável pela intensificação do cultivo da cana-de-açúcar no
Brasil e impulsionou a modernização da indústria por meio do alargamento das destilarias
permitindo assim o surgimento de novos financiamentos para que fossem implantadas mais
destilarias.
Com o Proálcool verificou-se um desenvolvimento tecnológico no setor
sucroalcooleiro, passou a consumir-se mais o álcool como combustível no país em
detrimento da gasolina7.
O setor está em expansão e com possibilidades de aumento na produção do etanol e
do açúcar. O Brasil é tido como referência pelos países também produtores do açúcar e
etanol, pelos baixos custos de produção e pela qualidade da própria cana-de-açúcar, bem
5
Alessis N; Navarro V. Saúde e trabalho rural: o caso dos trabalhadores da cultura canavieira na região de
Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v.13, supl 2, p. 111-121, 1997.
6
Carvalho SP, Marin JOB. Agricultura familiar e agroindústria canavieira: impasses sociais. RRSR, v.45,
n.3, p.681-708, jul/ set 2011.
7
Lima DJP. Agroindústria canavieira e emprego: evolução recente e perspectivas. 2010. 99 f. Dissertação
[ Mestrado em Economia], Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia , 2010.
18
como, pela produtividade. Minas Gerais tem um papel importante nisso por constar entre
os principais estados produtores da cana-de-açúcar e seus derivados como também por ser
o centro dos novos investimentos8.
Para Vilela et al (2010)5, “a importância estratégica do setor sucroalcooleiro na
economia nacional é manifestada não somente na produção, consumo e exportação de seus
produtos, mas também na sua participação na matriz energética brasileira que é crescente”.
Com objetivo de construir um modelo energético próprio o Proálcool fortaleceu a
agroindústria canavieira através de financiamentos para implantação das usinas,
implantação de novas destilarias e fortalecimentos dos fabricantes de equipamentos
industriais do ramo, bem como a entrada de novos grupos empresarias no setor 2.
O programa ocorreu em três fases distintas sendo a primeira nos anos de 1975 a
1979 em que se pretendia solucionar a crise da agroindústria açucareira. Nesta primeira
fase foram aprovados 218 projetos de destilaria, o que correspondia a um total de 23,7
bilhões de cruzeiros, sendo que desse total 18,7 bilhões correspondiam ao total das
agencias financiadoras governamentais.
A segunda fase ocorreu de 1980 a 1985 e surgiu devido ao segundo choque de
petróleo ocorrido em 1979. Aqui, as atenções estavam viradas para a produção do álcool
hidratado como carboneto para consumo direto, o que contribuiu para o aumento do
número de destilarias autônomas.
A terceira e última fase do programa foi em 1985 que culminou com o inicio do
corte nos financiamentos e subsidos para o programa em todo o país. Esse corte no
financiamento deve-se a três fatores: a crise fiscal do Estado brasileiro que motivou a
diminuição dos financiamentos subsidiados, aumento dos preços internacional do petróleo
e por ultimo pela insuficiência de oferta do álcool e o abastecimento do produto
desestimulando dessa forma o consumo e a produção dos carros movidos a álcool 2.
As mudanças no setor sucroalcooleiro vêm acontecendo desde o começo de 1990
quando se aboliu o IAA. Assim, foi retomada a produção dos biocombustíveis e o etanol
brasileiro passou a ser competitivo no mercado mundial. Do inicio da década de 1990 ao
inicio do século XXI ocorreram mudanças no setor sucroalcooleiro brasileiro. Esta década
foi marcada pela diminuição da intervenção estatal nas atividades produtivas e nas relações
entre os agentes envolvidos no setor sucroalcooleiro no Brasil 2.
8
Vilela PS, Gomes ACA, Veloso AF. Evolução e tendências do agronegócio da cana-de-açúcar em Minas
Gerais; Belo Horizonte: FAEMIG, 2010. p.1-33
19
Essa virada de século caracterizou-se pela valorização de um novo modelo
energético, ou seja, pela retomada do modelo iniciado nos anos 1970 sustentado na
produção de biocombustíveis.
9
Alves F. Processo de Trabalho e danos à saúde dos cortadores de cana. Revista de Gestão Integrada em
20
Além da importância do mercado externo no aumento da produtividade, temos
também a mecanização do corte de cana. É importante frisar que a mecanização do corte
da cana intensificou-se após o ciclo de greves que teve seu início em 1984 em Guariba
(SP), e em resposta as greves, as usinas implementaram um vigoroso processo de
mecanização do corte da cana queimada 9.
Substituiu-se a força de trabalho humano pelas máquinas colhedoras operadas por
um conjunto de homens. Contudo, ainda não foram substituídas todas as frentes de
trabalho manual por mecanizada.
Elevou-se a taxa de desemprego e a expulsão de trabalhadores da agricultura
familiar4. Importa salientar que, os agricultores familiares foram expulsos ao longo dos
anos 70 e 80, passando a integrar o conjunto de trabalhadores rurais assalariados. As
máquinas, por sua vez, substituíram o trabalho destes. O aumento na taxa de desemprego e
a expulsão dos trabalhadores da agricultura familiar permitiram uma maior
disponibilização da mão de obra para a agroindústria canavieira, modificando as relações
de trabalho e contribuindo para uma maior intensificação da atividade, redução dos
salários, promovendo aumento da produtividade e a redução dos custos de contratação3.
As agroindústrias da cana-de-açúcar têm papel de destaque no Brasil, por sua
contribuição à indústria alimentícia e por ser um elemento de destaque na política
energética do país, pelo volume financeiro, mobilizando-se em suas atividades e por
contribuir com a oferta de postos de trabalho10.
Os interesses internacionais apontam o Brasil como a figura principal no
atendimento da demanda necessária para a viabilização das metas da substituição dos
combustíveis fósseis11.
O álcool, pelas suas vantagens ambientais, sociais e econômicas desperta interesse
de países desenvolvidos na tecnologia do combustível. O setor sucroalcooleiro tornou-se,
na atualidade, o centro da atenção para muitos debates, e isso pode fazer com que o país
torne-se um dos maiores exportadores de etanol de cana-de-açúcar, e também pelos
desdobramentos advindos do aumento da produção12.
10
Rumin C R. Influências das condições de trabalho de uma indústria de transformação de cana-de-açúcar na
ocorrência de acidentes de trabalho. Saúde e Sociedade, v.17, n.4, p. 56-67, dez 2008.
11
Kawamura SM, Ramos HR, Almeida MIR. Estratégias de internacionalização do setor sucroalcooleiro do
Brasil: um estudo de caso do COSAN. In: Congresso Internacional de Estrategias, 2010, Guayaquil: SLADE,
2010. p. 1-23.
12
Sousa AG, Júnior JC. Reprodução do capital sucroalcooleiro no Estado de Minas Gerais e
transformações recentes no espaço agrário do triangulo Mineiro, s/e, s/d.
21
Depois dessa pequena contextualização do setor sucroalcooleiro brasileiro,
surgiram algumas perguntas com relação a produção da cana-de-açúcar e seus derivados no
Estado de Minas Gerais que são:
i) Como se deu a entrada de Minas Gerais na produção da cana-de-açúcar?
ii) Qual é a posição ocupada atualmente pelo Estado de Minas Gerais no setor
sucroalcooleiro?
iii) Qual é a contribuição do setor sucroalcooleiro mineiro na economia nacional?
Para responder a estas questões vamos apresentar um pequeno histórico da produção da
cana no estado, sua expansão e o lugar ocupado hoje por Minas Gerais no setor.
13
Siqueira PHL, Reis BS. Análise da economia do setor sucroalcooleiro do Estado de Minas Gerais:
evolução histórica e fatos contemporâneos. Revista de economia, Anápolis, 2008.
13
Maciel MR, Fonseca AR, Corgozinho BM, Braga FA. Trabalho e Saúde: O caso dos trabalhadores
temporários da indústria canavieira em Lagoa da Prata, Minas Gerais. Revista de Saúde, Meio Ambiente e
22
Nos períodos de 2000 a 2003 a produção mineira da cana passou de 18,5 milhões
de toneladas. Assim como em todo o Brasil a produção da cana-de-açúcar em Minas
cresceu com o surgimento dos veículos flex 3.
No período de 2000 a 2008 registrou-se um crescimento considerável na produção
mineira de cana-de-açúcar. Esse crescimento justifica-se pelo aumento na produção dos
carros biocombustíveis.
Em 2008 houve um grande crescimento de 47,9 milhões de toneladas,
correspondente a 7,4% da produção nacional e o crescimento médio anual da produção
mineira entre 2003 e 2008 foi de 21,8%. Nesse período a produção mineira superou a
produção nacional de 10,6%. Em Minas Gerais, no ano de 2008, haviam 18 usinas em
funcionamento, e atualmente são 38 o que corresponde a 9% do total nacional com
predomínio no triângulo mineiro4.
Dessa forma, o Estado de Minas Gerais aumentou consideravelmente sua
participação na produção de cana-de-açúcar, principalmente pela concentração de
indústrias associadas à monocultura nas mesorregiões Noroeste, Central Mineira, Oeste de
Minas, Triângulo Mineiro e Alto Paraíba, que são atualmente, as principais regiões
produtoras. Segundo a SIAMIG/SINDAÇÚCAR15, o estado de Minas Gerais foi
considerado na safra 2010/11 o segundo maior produtor de cana-de-açúcar do país, ficando
atrás somente do estado de São Paulo. Foi considerado também o segundo maior produtor
de açúcar do país e terceiro maior produtor de etanol.
16
Segundo Barros et al , no ano de 2010 o agronegócio mineiro registrou um
crescimento de cerca de 5,50%. O Estado apresenta condições naturais que favorecem o
cultivo da cana-de-açúcar, principalmente na região do Triângulo Mineiro e Alto Paraíba,
visto que os dados do zoneamento agroclimático do estado caracteriza o solo da região
como apto nos níveis de manejo B e C, o que significa que se trata do terceiro e segundo
melhores solos para o cultivo, e terceiro com uma vasta área para a produção agrícola do
estado8.
Os solos das regiões oeste de Minas, Triângulo Mineiro e Alto Paraíba, além de
aptos são de uma boa qualidade para o cultivo da cana-de-açúcar, assim como o clima
tropical com inverno seco e frio e verão quente e chuvoso viabiliza o desenvolvimento da
15
SIAMIG/SINDAÇÚCAR-MG. Sindicato da Indústria de Fabricação do Etanol no Estado de Minas/
Sindicato da Indústria do Açúcar no Estado de Minas Gerais. Perfil da Produção Mineira. Disponível em
<http://www.siamig.org.br/dmdocuments/slide%20para%20site.pdf> Acesso em 27 de janeiro de 2013.
16
Barros GSAC, Fachinello AL, Silva AF. Agroindústria mantém dianteira no agronegócio mineiro, mais
ritmo diminuiu em Março, PIB do agronegócio de Minas Gerais, 2010.
23
monocultura na região devido ao comportamento pluviométrico que apresenta no saldo de
precipitações anuais uma variação de 1200 a 1500 milímetros, que é adequado para o
cultivo tanto da soja como da cana de açúcar8.
Apesar de o setor sucroalcooleiro estar sendo modernizado, o trabalho, a saúde,
escolaridade bem como as condições de vida dos trabalhadores rurais continuam precárias
e as jornadas de trabalho excessivas. A baixa escolarização dos trabalhadores tem sido um
grande entrave nas suas condições de vida e de trabalho. A qualificação do trabalhador tem
sido vista como um dos requisitos para o processo de modernização e condição necessária
para sua inserção no mercado de trabalho17.
Desde que começou a ser cultivada no país, as regiões de maior produção da cultura
são São Paulo, e o Nordeste18.
Segundo Abreu et all18, o principal objetivo do Brasil com a produção da cana-de-
açúcar é a produção do álcool. O sudoeste brasileiro concentra a maior parte da produção
do etanol em todo o Brasil. O grande incentivador para o uso dos combustíveis fósseis
foram as mudanças climáticas. O aumento das vendas dos carros biocombustíveis
impulsiona a demanda pelo álcool hidratado. A expectativa dos produtores brasileiros é
que o álcool torne-se uma commodity internacional tendo em conta o aumento dos preços e
a diminuição das reservas do petróleo, daí o investimento significativo por parte da
Petrobras no setor de álcool para o abastecimento do mercado externo 18.
Essas novas tecnologias introduzidas no setor trazem consigo efeitos positivos e
negativos. Positivos na medida em que se registra um aumento na produtividade o que é
visto com bons olhos pelos empregadores, mas por outro lado além da redução da força de
trabalho empregada no setor, verifica-se um agravamento da situação da saúde dos
trabalhadores.
Abreu et all 18 concordam que
17
Borba FVN, Bertoldo E, Silva SC. A reestruturação produtiva do setor sucroalcooleiro e
os impactos sobre o trabalhador do corte da cana. In: SEMINÁRIO DO TRABALHO, 7,
2010, Marília-SP.Anais eletrônicos..Marília-SP: UNESP, 2010. Disponível em
<http://www.estudosdotrabalho.org/anais-vii-7-seminario-trabalho-ret-
2010/fernanda_valeria_do_nascimento_borba_edna_bertoldo_simone_da_costa_silva.pdf
>. Acesso em 10 jan 2013.
18
Abreu D, Moraes LA, Nascimento EN, Oliveira RA. A produção da cana- de- açúcar no Brasil e a saúde
do trabalhador rural, Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, v. 9, n.2, p. 49-61, 2011.
24
“O processo de modernização tecnológica da cultura da cana-de-açúcar
modificou profundamente as praticas agrícola, gerou mudanças ambientais nas
cargas de trabalho e nos efeitos sobre a saúde deixando os trabalhadores rurais
expostos a riscos muito diversificados”.
19
Silva MAM. Mortes e acidentes nas profundezas do “mar de cana” e dos laranjais paulistas. Revista de
Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. 2008; sp.
25
Em resposta a decisão da União Europeia em não comprar o etanol brasileiro, em
virtude das criticas feitas às condições de trabalho a que os trabalhadores estão expostos, o
governo brasileiro no final de 2008 compôs a chamada “Mesa de Diálogo”. A “Mesa de
Diálogo” é uma arena tripartite com a finalidade de humanizar as condições de trabalho no
setor através de um consenso entre empregadores, governo e sindicatos de trabalhadores
rurais20.
No corte da cana-de-açúcar o ritmo de trabalho é bastante acelerado. Como o
pagamento é feito por produção os trabalhadores sentem-se obrigados a seguir o ritmo
imposto para conseguirem atingir a meta de produção estabelecida e assim garantir o
pagamento. Para responder as necessidades do mercado e conseguir atingir uma boa
produtividade e entrar para a competitividade do mercado as usinas optam pela contratação
de trabalhadores com maior capacidade de trabalho, ou seja, trabalhadores jovens e do
sexo masculino. Durante a sua jornada de trabalho os trabalhadores cortam o máximo de
cana exigida não só para garantir a renda, mas também preservar os seus empregos.
A intensificação da atividade produtiva e os novos processos de organização do
trabalho no setor agroindustrial contribuem para a deterioração da saúde dos trabalhadores.
Aliada a política de pagamentos por produção alguns trabalhadores se submetem a esse
aliciamento como forma de aumentar a sua renda diária, levando em conta que a maioria
deles é chefe de família 9,19.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) 21 a agricultura é um dos
setores mais perigosos em termos de acidentes de trabalho e adoecimento dos
trabalhadores tanto nos países industrializados como nos países em desenvolvimento. O
setor emprega atualmente cerca da metade da força de trabalho do mundo com cerca de 1,3
bilhões de pessoas.
Segundo Scopinho22, as novas tecnologias não ajudam na melhoria das condições
de vida e saúde dos trabalhadores, elas têm consequências negativas no espaço de
produção e fora dele.
20
Silva GP. A precarizaçao do trabalho canavieiro legitimada: o caso do compromisso nacional para o
aperfeiçoamento das condições de trabalho na cana- de-açúcar (2008-2009), s/e, s/d . sp.
21
International Labour Organization. Safety in numbers: pointers for the global safety at work. Geneva; 2003
22
Scopinho RA. Qualidade Total, Saúde e Trabalho: uma análise em empresas sucroalcooleiras paulistas.
RAC, s/v. n.1, p. 93-112, 2000.
26
Godoy23 reforça a ideia apresentada anteriormente por Scopinho22, pontuando que
as formas de trabalho realizadas dentro das organizações e a utilização dessas novas
tecnologias contribuem para o aumento dos agravos à saúde dos trabalhadores.
As ações de saúde do trabalhador devem concentrar-se na mudança dos processos
de trabalho e nas relações saúde/ trabalho de um modo geral 24.
Para Silva25 é importante que o trabalhador se sinta parte de um grupo. Sendo
assim, faz-se necessário o reconhecimento das atividades por ele desenvolvidas para que
ele possa ser criativo e autossuficiente. Para isso, é preciso que se tenha claro vários
aspetos como: a organização da tarefa a ser executada e a adequação do ambiente onde
essas atividades serão desempenhadas de modo a permitir a satisfação do trabalhador com
a sua profissão e assim garantir relações de trabalho satisfatórias com os colegas e talvez
com as chefias.
Para Metzger26 o maior problema constitui-se na intensificação do trabalho (ritmo
de trabalho mais elevado, prazos muito restritos). Essa situação se amplia desde 1991 na
Europa e é acompanhada da pressão exercida diariamente sobre os trabalhadores em
função das exigências do mercado.
No subtítulo que se segue pretendemos mostrar como são as condições de trabalho
e saúde do trabalhador na empresa estudada.
23
Godoy SCB. Absenteísmo-doença entre trabalhadores de um hospital universitário. 2001. 140 f.
Dissertação [Mestrado em Enfermagem]. Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte, 2001
24
Carvalho M V L. Perfil do absenteísmo no Superior Tribunal de Justiça: análise do ano de 2009. Brasília,
2010.
25
Silva LS, Pinheiro TMM, Sakurai M. Reestruturação produtiva, impactos na saúde e sofrimento mental: o
caso de um banco estatal em Minas Gerais, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 23, n.12, p. 2949-2958,
2007.
26
METZGER JL. Mudança permanente: fonte de penosidade no trabalho? Revista Brasileira Saúde
Ocupacional, v. 36, n.123, p.12-24, 2011.
27
Neste subtítulo pretendemos mostrar de que forma é o organizado o trabalho na
agroindústria estudada e como isso influencia no processo do adoecimento dos
trabalhadores da empresa, para tal iremos basearmos no estudo de Faria (2012) que
analisou a saúde mental e trabalho rural no processo de reestruturação produtiva na
empresa ora estudada.
Na agroindústria analisada segundo nos mostra Faria27, a forma de organização de
trabalho é variada. A autora descreve o processo de trabalho começando pelos
trabalhadores da área de plantio e mostra que
Caso finalizem o seu trabalho antes do término da sua jornada diária estipulada
pela agroindústria, os trabalhadores são encaminhados para outras atividades como
correção plantio ou até mesmo capina do solo a fim de fechar as oito horas de trabalho
exigidas e/ ou estipuladas pela empresa.
Ainda segundo Faria26, é preciso que haja sintonia entre os trabalhadores do plantio,
pois em caso de falha o prejuízo é para todos os membros do grupo, e como estes são
pagos de acordo com a produção do grupo, quanto maior for a produção maior será o
salário para cada um dos constituintes do grupo.
Essa situação contribui para explicar a pressão que é feita aos cortadores de cana-
de-açúcar nas usinas brasileiras, principalmente quando olhamos para a modalidade de
pagamento dos mesmos que é feito de acordo com o que eles produzem28.
Nas jornadas de trabalho os trabalhadores cortam uma boa quantidade de cana-de-
açúcar, num eixo de aproximadamente cinco linhas ou ruas, com 6 metros de largura e um
espaçamento de 1,5 metros entre as linhas. No caso do corte manual, o trabalhador limpa
as palhas não consumidas na sua totalidade pelo fogo abraçando um feixe com três a dez
canas, curvando-se e flexionando as pernas para poder corta-las bem próximo ao solo, pois
é lá onde se concentra a maior quantidade da sacarose 7.
27
Faria ID. Saúde mental e trabalho rural no processo de reestruturação produtiva de uma empresa do setor
sucroalcooleiro em Minas Gerais- Brasil . 2012. . Dissertação [Mestrado em Saúde Pública ], Faculdade de
Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, 2012.
28
RIBEIRO, Helena. Queimadas nos canaviais e perspectivas dos cortadores de cana- de- açúcar em
Macatumba, Saúde e Sociedade, v. 19, n.1, p. 48-63, 2010.
28
O corte da cana é um trabalho pesado que se realiza a céu aberto e os trabalhadores
ficam expostos ao sol com poeiras e foligem. A atividade do corte é cansativa, repetitiva
exigindo do trabalhador vários movimentos que causam no fim da jornada um desgaste
acentuado 27.
O pagamento dos trabalhadores do corte é feito por produção o que exige dos
trabalhadores o aumento no ritmo do trabalho, ultrapassando os limites fisiológicos,
atingindo uma média de produtividade de 12 toneladas diárias de cana cortada29.
Segundo o DIEESE (2007) os movimentos repetitivos durante o corte da cana-de-
açúcar podem causar nos trabalhadores lesões por esforço repetitivo (LER) / distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT):
29
Gomez CM. Produção de conhecimento e intersetorialidade em prol das condições de vida e de saúde dos
trabalhadores sucroalcooleiros. Ciência e Saúde Coletiva, v.16, n.8, p. 3361-3368, 2011.
30
Silva MAM. A morte ronda os canaviais Paulistas. Revista Abra, v.33, n.2, p. 11-143, ago/dez 2006.
31
Prado ML. Flexibilização e novas estratégias de intensificação do trabalho nas usinas de açúcar e álcool
a partir dos anos 90. Estudo de caso na região de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. 2008. 126 f.
Dissertação [Mestrado em Sociologia]. UNESP/Araraquara- SP, 2008.
29
Atualmente várias são as críticas concernentes ao setor canavieiro. Estas vão das
condições até a organização do trabalho, incluindo as formas de contratação, pagamentos
por produção, precariedade e limitação de eficiência dos Equipamentos de Proteção
Individual (EPI) entre outros 9,28.
Há uma intensificação no desrespeito e violação dos direitos trabalhistas no setor.
Essa situação pode estar associada às dificuldades na organização e empoderamento dos
trabalhadores agravados pela baixa escolaridade e nível de pobreza dos mesmos. O
fenômeno da exploração sempre esteve atrelado à grande oferta de força de trabalho,
proveniente sobretudo de áreas mais pobres do país e também em razão dos condicionantes
históricos e culturais que rotulam estes trabalhadores como desqualificados e
desvalorizados9.
Scopinho32 reitera que, o cenário de precarização e super-exploração da força de
trabalho é motivada pelo processo de reestruturação do setor, e isso vem ocorrendo desde
que se abriu a economia implicando deste modo na reformulação de metas, processos
administrativos e gestão do trabalho tanto manual como mecanizado. Essas novas formas
de organização do trabalho industrial e empresarial incluindo a inserção econômica e
comercial baseadas em economias abertas e competitivas contribuem para novos padrões
de gestão da força de trabalhadores mantendo novas formas de desrespeito trabalhista.
Para Silva19, a superexploração da força de trabalho é camuflada por um lado pelos
detentores do controle do processo produtivo e por outro pelo próprio trabalhador, devido
ao medo e pressão da perda do emprego.
O trabalho nos canaviais é feito ao ar livre e os trabalhadores ficam expostos ao sol
por muito tempo. As doenças e acidentes de trabalho podem estar ligados (as) as condições
de trabalho bem como as cargas horárias estipuladas pelas empresas. O cansaço físico,
alimentação inadequada e as condições de vida precárias dos trabalhadores das indústrias
sucroalcooleiras contribuem para o seu adoecimento19.
A carga horária na indústria sucroalcooleira é uma questão muito discutida pelos
autores principalmente no que tange ao cansaço que é a principal causa de acidentes e
adoecimento dos trabalhadores.
É dentro dos elementos que constituem as cargas horárias e processos de trabalho
que reside a origem do desgaste que pode significar ou não a perda de capacidades
biopsíquicas no processo de trabalho 11.
32
Scopinho RA. Qualidade Total, Saúde e Trabalho: uma analise em empresas sucroalcooleiras Paulistas.
RAC, v.4, n.1, p. 93-112, jan/abr 2000.
30
Sobre a mecanização do trabalho Scopinho et al33 pontuam que, a mecanização não
ajuda a melhorar o trabalho na lavoura e nem tão pouco diminui o desgaste, e pelo
contrário introduziu novas formas de desgaste e de intensificação do ritmo de trabalho.
Com a mecanização das áreas planas, foi transferido para os trabalhadores o corte
em condições mais difíceis: terreno inclinado, plantio irregular e cana de pior qualidade.
O processo de mecanização do trabalho nas indústrias canavieiras intensificou o
ritmo de trabalho, diminuiu a força de trabalho empregada, não eliminou o desgaste físico
e psíquico dos trabalhadores, e combina assimetricamente o trabalho especializado com o
manual. Ao lado trabalhadores com maior especialização como tratoristas, motoristas e
operadores de máquinas agrícolas, há outros trabalhadores sem especialização alguma34.
O corte de cana é realizado ao ar livre, sob o sol, com o trabalhador equipado com
uma vestimenta composta de botas com biqueira de ferro, calças de brim, perneiras de
couro até o joelho contendo três barras de ferro frontais, camisa de manga comprida,
chapéu, lenço no rosto e pescoço, óculos e luvas de raspa de couro9.
A vestimenta, os equipamentos utilizados para o corte (o caso do facão), realização
do trabalho sob o sol elevam o consumo de energia, constituindo-se assim em elementos
insalubres à saúde. Esses fatores fazem com que os trabalhadores transpirem bastante
perdendo água e sais minerais, podendo levar à desidratação e à frequente queixa e
ocorrência de câimbras9.
Para conter as câimbras e a desidratação, algumas usinas oferecem aos
trabalhadores soro fisiológico e, em alguns casos, suplementos energéticos, para que estes
reponham os sais minerais.
13
Segundo Maciel et al , os fatores que geralmente afetam negativamente a saúde e
qualidade de vida dos trabalhadores sucroalcooleiros são a baixa remuneração, a carência
de organização sindical, a exploração do trabalhador através do ganho por produtividade,
as condições precárias de moradia e alimentação, bem como as condições ambientais
rigorosas a que os mesmos encontram-se expostos.
33
Scopinho R A, Eid F, Vian CEF. Novas tecnologias e saúde do trabalhador: a mecanização da cana- de-
açúcar. Cadernos de Saúde Pública, v.15, n. 1, p. 147-161, 1999.
34
Abreu D; Moraes LA; Nascimento EN; Oliveira RA. A produção da cana-de- açúcar no Brasil e a Saúde
do Trabalhador. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, v.9, n.2, p. 49-61, dez/2011.
31
1.5 Características do processo de trabalho, organização do
trabalho e saúde do trabalhador da empresa estudada
35
Alves F. Por que morrem os cortadores de cana? Saúde e Sociedade, v.15, n.3, p. 90-98, set/dez 2006.
32
Fonte: Isabella Diniz Faria
33
“Esses trabalhadores saem de casa entre 5 e 6 horas da manhã, retornando
somente ao final da tarde. Precisam levar consigo todos os materiais necessários
para um dia inteiro no campo: alimentos (almoço e lanche), garrafa d’água e seus
instrumentos de trabalho “( FARIA, 2012, op.cit.).
34
Fonte: Isabella Diniz Faria
35
“[...] No corte manual da cana de açúcar é o trabalhador quem controla seu ritmo
de trabalho, suas pausas, sua produção diária. Esse trabalhador, apesar de
precisar produzir muito para manter seu salário mensal, possui ainda certo
controle e autonomia sobre seu trabalho “(FARIA, 2012, p.61).
36
trabalhadores ainda continuam expostos às vibrações, ruídos, poeiras,
movimentos repetitivos, entre outros.
A colheita mecanizada possui um ritmo intenso de trabalho. A máquina muitas
vezes impõe o ritmo ao trabalhador. Poucas são as pausas feitas pelo trabalhador
durante sua jornada de trabalho. Uma pausa é obrigatória ao trabalhador, que é a
parada de abastecimento e lubrificação da máquina durante aquela jornada. Já as
pausas para descanso e alimentação raramente são feitas pelo trabalhador, muitas
vezes justificadas pelo sistema de pagamento desses trabalhadores: o pagamento
por produção” (FARIA, 2012, p.66).
Alves acredita que, o excesso de trabalho motivado pelo pagamento por produção
seja responsável pelas mortes no setor sucroalcooleiro.
“O que vai ao centro da questão, que são as mortes dos trabalhadores cortadores
de cana pelo excesso de trabalho, é o fim do pagamento por produção. Enquanto
o setor sucroalcooleiro permanecer com essa dicotomia interna – de um lado,
utiliza o que há de mais moderno em termos tecnológicos e organizacionais,
uma tecnologia típica do século XXI (tratores e máquinas agrícolas de última
geração, agricultura de precisão, controlada por geoprocessamento via satélite
etc.), de outro lado, mantém relações de trabalho, já combatidas e banidas do
mundo desde o século XVIII –, trabalhadores continuarão morrendo” (ALVES,
2006, p.97).
36
Baccarin JG, Alves FJC. Etanol da cana de açúcar: considerações sobre o meio ambiente e a ocupação
agrícola. In: Flavio Borges Botelho Filho. Cadernos do Cean/energia e biomassa. Brasilia: Centro de estudos
Avançados Multidisciplinar, 2008. s/p.
37
Figura 3- Colhedeira mecânica
38
referido anteriormente tem função de medir a cana cortada e entre os que controlam as
frentes de trabalho, neste caso os encarregados.
Os trabalhadores não se sentem satisfeitos com o seu trabalho e relacionam o
cansaço físico ao excesso de trabalho e o cansaço mental as sobrecargas físicas aliando-se
a desvalorização do seu trabalho com os baixos salários 28.
A autora constatou que na empresa estudada tanto a organização bem como as
condições de trabalho têm agravado o estado de saúde dos trabalhadores motivada pela
constante cobrança sobre a produtividade, sem levar em conta as necessidades do
trabalhador.
Quanto a substituição do trabalho manual pelo mecanizado e sua relação com a
saúde a autora afirma que os trabalhadores relataram ter havido melhorias significativas,
como o aumento na qualidade de vida e de trabalho.
Faria (2012) identificou no seu estudo casos de depressão, nervosismo e crise de
choros entre os cortadores de cana da empresa estudada e relata ainda que “um dos
instrumentos utilizados pela empresa e reconhecido como atividade preventiva de lesões
no ambiente de trabalho dos canavieiros é a ginástica laboral. Os trabalhadores do corte de
cana confirmaram que a ginástica laboral fornecida pela empresa ao início da jornada de
trabalho é uma das formas que eles utilizam para prevenir os problemas de saúde e o
cansaço mental” 28.
Os acidentes de trabalho são na maioria das vezes causados pelos riscos presentes
nos ambientes e locais de trabalho, e é um problema enfrentado por todos os trabalhadores,
independentemente do tipo de atividade realizada37. Mas tem magnitude diferentes nos
diversos ramos de atividade.
Silva32 define acidente de trabalho rural como um acontecimento inesperado e que
ocorre em virtude da organização do trabalho, que exige alta produtividade e mantém
condições insatisfatórias de segurança.
37
Aerosa J. A importância das percepções de riscos dos trabalhadores. International Journal on working
conditions, s/v., n.3 , p. 54-61, jun/2012 .
39
38
Bonita et al chamam atenção para o uso da palavra acidente, defendendo que é
um erro utilizar a palavra acidente quando se aplica aos agravos à saúde, pois no entender
dos autores acidente implica ocorrência de um evento ao acaso e não como resultante de
uma combinação de fatores causais que poderiam ser prevenidos.
Para Silva32, pode se considerar acidente de trabalho um acontecimento imprevisto
originado da desatenção e falta de cuidado do trabalhador. Esta afirmação é refutada por
Cunha39 que defende que, ao se transferir a responsabilidade para o trabalhador, o
patronato se livra da responsabilidade dando somente atenção a implementação de ações de
controle de benefícios pautadas nas execuções.
40
Na visão de Galdino et al , os acidentes de trabalho são um importante problema
de saúde pública. No Brasil, cerca de 25% das lesões por causas externas atendidas em
serviços de emergência são causados pelos agravos relacionados ao trabalho. Os autores
concordam ainda que, embora os sistemas de informação em saúde no país estejam
avançandos, dados sobre acidentes de trabalho carecem de melhores registros tanto no que
diz respeito à abrangência quanto à qualidade dos mesmos.
Para OIT, fatores relacionados à globalização, como aceleração e liberalização do
comércio mundial, e a disseminação de novas tecnologias estão gerando novos tipos de
organização do trabalho e, com eles novos padrões de exposição aos riscos de acidentes de
trabalho e doenças41. No setor sucroalcooleiro essas novas tecnologias contribuem para o
aumento dos índices dos acidentes e agravos à saúde do trabalhador.
Na agroindústria estudada os cortadores manuais da cana podem chegar a cortar
5000 metros de cana por dia. No corte mecanizado cada operador de colhedeira corta 130
toneladas de cana durante as oito horas de trabalho. A produção exigida diariamente para o
corte mecanizado nessa agroindústria é de 3200 toneladas, sendo para cada colhedeira a
responsabilidade de cortar 400 toneladas de cana por cada dia de trabalho28.
28
Segundo Faria com a mecanização elevou-se o número de acidentes de trabalho
na empresa
38
Bonita R, Beaglehole R, Jellstrom TK. Epidemiologia Ambiental e Ocupacional. In: Bonita R, Beaglehole
R, Jellstrom TK Epidemiologia básica, World Health Organization, 2010. p. 155- 163.
39
Cunha JCCB. Adoecimento e afastamento do trabalho de servidores públicos estaduais de Santa
Catarina,1995 a 2005. 2007. 119 f. Dissertação [ Mestrado em Saúde Pública] Universidade Federal de
Santa Catarina, 2007.
40
Galdino A, Santana VS, Ferrite S. Os centros de referência em saúde do trabalhador no Brasil. Cadernos
de Saúde Pública, v.28, n.1, p. 145-159, 2012.
41
International Labour Organization. Safety in numbers: pointers for the global safety at work. Geneva;
2003.
40
“Um encarregado da colheita mecanizada, ao falar sobre a intensificação do
trabalho dos indivíduos desse setor, relatou um maior número de acidentes
atualmente, comparado ao início da mecanização da colheita, há seis anos, e ao
número de acidentes do corte manual. Ele justifica esse maior número de
acidentes pelo menor crescimento da estrutura da Agroindústria e suporte de
trabalho nesse setor, comparado às metas de produtividade exigidas aos
trabalhadores”(FARIA , 2012, p. 98).
42
Scopinho RA. Controle do trabalho no setor sucroalcooleiro: reflexões sobre o comportamento das
empresas, do estado e dos movimentos sociais organizados. Cadernos de Psicologia social de Trabalho, v.7,
p. 11-29, 2004.
43
Giomo DB, Freitas FC T, Alves LA, Robazzi MLCC. Acidentes de trabalho, riscos ocupacionais e
absenteísmo entre os trabalhadores de enfermagem hospitalar. Rev. enferm., v. 17, n.1, p.24-9, 2009.
41
1.7 Acidentes de trabalho, doenças de trabalho em trabalhadores
rurais no Brasil e no mundo
44
Schlindwein VLDC. A desproteção social dos trabalhadores rurais nos acidentes de trabalho. Textos e
Contextos, 2011. p.109-117.
45
Walker JF. Mental health in the rural área setor. A review, s/l, s/e, 2012. p. 1-49.
46
Fundação Europeia para a melhoria das condições de vida e de trabalho/EUROFUND. A prevenção do
absenteísmo no trabalho. Luxemburgo, Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Européias, 2009.
p. 3-13.
47
Jesus CS, Brito TA. Estudos dos acidentes de trabalho no meio rural: analise dos processos e condições de
trabalho. Rev. Saúde.Com, v.5, n.2,p. 141-146, 2009.
48
O´Neill DH. Occupational safety and health in the rural sector. Afr Newslett on occup health and safet, ,
v. 15, s/n, p. 20-22, 2005.
42
constatou-se que os cortes com debulhadoras eram quatro vezes maior quando comparados
com os cortes causados por espadas ou foices. Os acidentes de trabalho constituem o maior
agravo dos trabalhadores brasileiros47.
20
Silva aponta a carência nutricional, o esforço excessivo, dores na coluna,
tendinites e câimbras como fatores que contribuem para o aumento dos acidentes de
trabalho.
As dores musculoesqueléticas são causadas na sua maioria pela adoção de más
posturas durante as longas horas de trabalho e também pelos movimentos repetitivos. As
dores nas costas relatadas na maioria das vezes pelos trabalhadores rurais são atribuídas a
péssima postura adotada principalmente durante o corte ou capina. A ergonomia pode
contribuir para reduzir as doenças músculo-esqueléticas 48.
As dores nas costas e pescoço são características do trabalho rural, e estas são
causadas pelo transporte incorreto de matérias48.
48
O’Neill aponta o uso de pesticidas como outro problema sério e que no setor
rural é também visto como uma ameaça a saúde dos trabalhadores, principalmente os
pequenos agricultores, pois o seu mau uso pode ser fatal.
49
Fernandes RCP, Assunção AA, Carvalho FM. Mudanças na forma de produção na indústria e a saúde dos
trabalhadores. Ciência e Saúde Coletiva, v.15, supl 1, p. 1563- 1574, 2010.
43
“A modalidade de gestão adotada pelas empresas para melhoria do desempenho
no mercado provocou mudanças na organização temporal da produção. A
obtenção de uma maior capacidade produtiva, por unidade de tempo, com
redução do custo de produção, tem intensificado o ritmo de trabalho, buscando a
maior produção por unidade de tempo. Esta reestruturação produtiva determina
modificações na gestão da força de trabalho, com novas exigências aos
trabalhadores” (FERNANDES ET AL, 2010, p.1572).
50
Centro colaborador de vigilância dos acidentes de trabalho. Boletim epidemiológico de acidentes de
trabalho: informe do centro colaborador UFBA/ISC/PISAT-MS/DSAST/CGSAT, 2011. p. 1-4.
44
1.8 Contextualização da empresa estudada
51
GONTIJO S. A implantação de um centro de atenção psicossocial no município de Pompéu-
MG. Disponível em <http://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2307.pdf>.
Acesso em 28/02/2013.
45
Figura 4: Mapa do município de Pompeu.
46
hectares plantados, e para atividades ligadas à produção de carvão vegetal para abastecimento
da siderurgia do Estado. Na área industrial, destacam-se a mineração, o processamento de
ardósia e a fabricação de imóveis que vem perdendo força nos últimos anos 52.
O Produto Interno Bruto (PIB) do município é de 223.496 mil reais, com Renda per
capita de R$236,88 (ano de 2000), e um índice de desenvolvimento humano (IDH) de
52
0,745 . O índice de IDH é calculado pela média dos indicadores básicos (educação,
longevidade e renda) e transformados em unidades de medida comparáveis. É um
indicador utilizado para identificar situações extremas associadas à desigualdade de bem-
estar entre os indivíduos 52.
Índice de IDH do município de Pompeu encontra-se no cenário estadual na 319ª
colocação entre os 853 municípios do estado de Minas Gerais, encontrando-se acima da
média geral de IDH desses municípios, que seria de 0,719. 52.
Os setores produtivos mais prevalentes no município são a agropecuária e o de
serviços. No PIB do município, em 2002, o valor adicionado à agropecuária foi de 37.574
mil reais, 28.948mil reais para a indústria, e para o serviço 62.728mil reais 52.
52
POMPÉU. Prefeitura Municipal de Pompéu, 2010. Disponível em
<www.pompeu.mg.gov.br/>.Acesso em: 28/02/. 2013.
47
2. OBJETIVOS
48
3. Métodos
Delineamento:
População:
Variáveis:
49
Análise dos dados
A análise descritiva dos dados foi realizada por meio da distribuição de frequências
absoluta e relativa das variáveis categóricas e medidas de tendência central de variáveis
discretas e contínuas, além de taxas de ocorrência dos acidentes por população
trabalhadora ao longo dos anos. Utilizou-se o software SPSS versão 19.
Considerações éticas
Este estudo é parte do projeto intitulado “Saúde Mental e trabalho rural no processo
de reestruturação produtiva de uma empresa do setor sucroalcooleiro em Minas Gerais”
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da Universidade Federal de Minas
Gerais sob o parecer 0018.0.203.000.11.
50
4. RESULTADOS - ARTIGO
51
Resumo
Objetivo: o objetivo deste estudo foi descrever o perfil dos acidentes de trabalho ocorridos
em uma indústria sucroalcooleira, localizada em Minas Gerais, Brasil. Método: Trata-se de
um estudo transversal, descritivo e de série temporal com base em dados secundários
registrados nas Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs), no período de 2007 a
2011. Foi feita uma distribuição de frequências absoluta e relativa das variáveis categóricas
e medidas de tendência central de variáveis discretas e contínuas, além de taxas de
ocorrências dos acidentes por população trabalhadora ao longo dos anos. Resultados:
Foram analisadas 1.746 CATs fornecidas pela empresa. A taxa anual média de prevalência
de acidentes de trabalho no período foi de 40,7%. O grupo ocupacional mais acometido foi
o dos trabalhadores rurais (67,4%). De acordo com a CID10, as maiores taxas foram
encontradas no grupo das lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de
causas externas (81,6%) e no grupo das doenças do sistema osteomuscular e do tecido
conjuntivo (6,6%). Em 2011 observou-se um aumento no grupo das doenças
osteomusculares e do tecido conjuntivo e um decréscimo nas lesões e envenenamentos.
Conclusão: Acidentes de trabalho no setor sucroalcooleiro brasileiro constituem-se num
grave problema de saúde pública. É necessário o estabelecimento de políticas públicas
capazes de investigar, enfrentar e superar este grave problema dos acidentes de trabalho no
setor sucroalcooleiro.
52
Abstract
Objective: The aim of this study was to describe the profile of occupational accidents
occurred in a sugarcane industry, located in Minas Gerais, Brazil. Method: This was a
descriptive study, and time series based on secondary data in the Communications of
Accidents (CAT) in the period from 2007 to 2011. It was made a distribution of absolute
and relative frequencies of categorical variables and measures of central tendency of
discrete and continuous variables, and rates of occurrence of accidents by working people
over the years. Results: We analyzed 1746 CAT provided by the company. The
occupational accidents annual prevalence rate was 40,7%. The occupational group most
affected was the rural workers (67,4%). According diagnoses presented, the highest rates
were found in Chapters XIII (Diseases of the musculoskeletal system and connective
tissue) and XIX (Injury, poisoning and certain other consequences of external causes) of
ICD-10. In 2011 we observed an increase in the group of musculoskeletal diseases and
connective tissue and a decrease in injuries and poisonings. Conclusion: Occupational
accidents in brazilian alcohol setor are a great public health problem. It’s necessary
establishment of public policies to address and overcome the problem of accidents at work
in the brazilian alcohol sector.
53
4.1 Introdução
54
4.2. Métodos
Delineamento:
População:
Variáveis:
55
Análise dos dados
A análise descritiva dos dados foi realizada por meio da distribuição de frequências
absoluta e relativa das variáveis categóricas e medidas de tendência central de variáveis
discretas e contínuas, além de taxas de ocorrência dos acidentes por população
trabalhadora ao longo dos anos. Utilizou-se o software SPSS versão 19.
Considerações éticas
Este estudo é parte do projeto intitulado “Saúde Mental e trabalho rural no processo
de reestruturação produtiva de uma empresa do setor sucroalcooleiro em Minas Gerais”
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da Universidade Federal de Minas
Gerais sob o parecer 0018.0.203.000.11.
56
Resultados
57
Tabela 2 – Tendência temporal da taxa de acidentes de trabalho por setor de atividade numa indústria
sucroalcooleira, Minas Gerais, Brasil, 2007-2011.
Setores
Administrativo Industrial Agrícola
Taxa Taxa Taxa
nº nº (por nº nº (por nº nº (por
Ano acidentes trabalhadores 100) acidentes trabalhadores 100) acidentes trabalhadores 100)
2007 37 50 74,0 76 177 42,9 295 790 37,3
2008 32 50 64,0 72 342 21,1 252 436 57,8
2009 24 50 48,0 60 342 17,5 276 436 63,3
2010 19 30 63,3 96 342 28,1 215 436 49,3
2011 29 30 96,7 119 342 34,8 144 436 33,0
Total
(médio) 28 42 67,1 85 309 27,4 236 507 46,6
O perfil dos trabalhadores acidentados foi caracterizado por maior presença do sexo
masculino (91,6%), solteiros (41,9%), jovens até 29 anos (42,9%). A média de idade dos
acidentados foi de 33 anos, com mediana de 31 anos. Em relação à escolaridade e
excluindo os dados não preenchidos nas CATs, a maioria (74,7%) dos trabalhadores
acidentados completou a 4ª série. (Tabela 3)
58
Tabela 3 – Características sócio-demográficas dos trabalhadores acidentados em uma
indústria sucroalcooleira, Minas Gerais, Brasil, 2007-2011.
TABLE 3. Socio-demographic characteristics of workers with work injuries in an ethanol
industry in Minas Gerais, Brazil, 2007 – 2011.
Características Frequência
N %
Sexo
Masculino 1599 91,6
Feminino 147 8,4
Escolaridade
Analfabeto 54 3,1
Até 4ª série complete 362 20,7
Até 8ª série complete 50 2,9
Ensino médio completo + Superior incompleto 17 1,0
Não informados 1263 72,3
Estado civil
Solteiro 731 41,9
Casado 650 37,2
Outros 365 20,9
Ocupação
Gerente de produção e operações 9 0,5
Engenheiro químico 3 0,2
Técnico de laboratório industrial 24 1,4
Auxiliar de produção industrial 20 1,1
Trabalhador rural 1182 67,4
Trabalhador de produção de bens e serviços industriais 375 21,4
Trabalhador de processo de moagem 85 4,9
Trabalhador de manutenção e reparação 48 2,7
59
trabalhadores acidentados ausentaram-se do trabalho por até 2 dias, no período de 2007 a
2011. O total de dias perdidos foi calculado em 1625.
Em referência às partes do corpo atingidas nos acidentes, os membros superiores
(36,9%), seguido de cabeça e pescoço (33,8%) foram os mais acometidos. Sobre a situação
geradora, 44,8% dos acidentes foi provocado pelo impacto de pessoas contra objeto, 26,1%
causados por atrito e 12% dos acidentes foram causados pelo impacto sofrido por pessoa,
sendo os restantes causados por queda, contato com objeto, esforço excessivos, ataque de
ser vivo entre outros. (Tabela 4)
No tocante a natureza da lesão constatou-se que corte teve maior percentual
(36,9%) seguido de lesões múltiplas (25,7%) e distensão (14,1%). Além destas, houve
também registro de queimadura, escoriação, luxação e fratura (Tabela 4).
60
A respeito do diagnóstico da lesão, 1.426 (81,6%) foram por lesões,
envenenamentos e outras consequências de causas externas, 116 (6,6%) por doenças do
sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, 46 (2,6%) transtornos mentais e
comportamentais, 36 (2,2%) referiam-se à combinações de doenças infecciosas e
parasitárias, neoplasias e tumores, doenças do olho e anexos, doenças do ouvido e da
apófise mastoide, doença da pele e do tecido subcutâneo, sintomas, sinais e achados
anormais de exames clínicos e de laboratório não classificados em outra parte e causas
externas de morbidade e mortalidade.
61
Gráfico 1 – Tendência temporal dos principais grupos de doenças e problemas
relacionados a saúde dos trabalhadores de uma indústria sucroalcooleira, Minas Gerais,
Brasil, 2007- 2011.
Graph 1-Temporal trend of the main groups of diseases and related health problems of
workers of a sugar industry, Minas Gerais, Brazil, 2007-2011.
Durante o período analisado não foram registradas CATs com óbitos decorrentes do
trabalho. Observou-se variações percentuais de incompletudes no preenchimento de
campos importantes como: escolaridade (72,3%), diagnostico da lesão (7,0%), dias de
afastamento (6,9%), natureza da lesão (6,8%), unidade de atendimento (6,7%) e internação
(6,6%).
62
4.4. Discussão
63
níveis de escolaridade mais baixos podem contribuir para a elevação dos índices de
acidentes de trabalho. A qualificação e treinamentos podem ajudar na prevenção e redução
de acidentes de trabalho9, mas os determinantes relacionados ao processo e organização do
trabalho não podem ser deixados em segundo plano.
De acordo com Scopinho15, as mudanças introduzidas em todo o setor
sucroalcooleiro passaram a exigir trabalhadores tecnicamente experientes, qualificados e
polivalentes.
Quanto à questão salarial foi possível verificar que assim como em outras indústrias
sucroalcooleiras no Brasil, a renda dos trabalhadores dessa agroindústria é baixa 14,16,17.
Além de baixos, frequentemente os salários dos trabalhadores da agroindústria
sucroalcooleira são pagos de acordo com a produtividade, como foi verificado nos estudos
14,15,17
de Silva, Gomez, Alves . Esta forma de pagamento tem sido associada aos altos
índices de acidentes e mortes no trabalho canavieiro 17,18. Alguns estudos defendem que, o
abandono da prática de pagamento por produção resolveria uma parte dos agravos à saúde
dos trabalhadores do setor, embora a remuneração por produtividade ainda seja uma ação
legalmente instituída, 15, 17,18.
18
Os acidentes de trabalho típicos, ou seja, aqueles ocorridos no local de trabalho
foram a grande maioria dos eventos registrados (99,1%), outros estudos encontraram
2,9
valores menores que o observado nesse estudo . Chama a atenção o baixíssimo registro
de acidentes de trajeto e doenças relacionadas ao trabalho, o que pode estar relacionado a
uma significativa subnotificação destes casos.
Nos achados deste estudo verificou-se que as mãos e os olhos foram as partes mais
atingidas nos acidentes de trabalho. Nesse sentido Baccarin e Alves, por exemplo,
evidenciaram que a inadequação dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) como as
luvas e os óculos pode contribuir para a ocorrência de acidentes que acometem estas partes
do corpo neste setor14. Talvez mais relevantes do que as inadequações individuais sejam
as limitações e inseguranças gerais que envolvem o uso de EPIs. Mudanças estruturais e
de adequação dos processos e organizações do trabalho têm efeitos mais eficazes e
eficientes para a saúde e a proteção do trabalhador.
Em relação ao absenteísmo, o estudo evidenciou que a maioria dos afastamentos da
atividade laboral por acidentes de trabalho foi de curta duração e que os trabalhadores
acidentados não precisaram de internação hospitalar. Essas constatações também foram
observadas em estudo no setor madeireiro no Brasil 8. Uma hipótese a ser aventada é de
que poderia haver uma estratégia de evitar afastamentos por mais de 15 dias através da
64
reinserção precoce no trabalho em desvio de função ou mesmo concedendo descansos
remunerados.
Verificou-se que a taxa de doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo
aumentou ao longo dos anos, tanto neste estudo como em pesquisas de diferentes ramos de
atividade 19,20. Oenning et al, identificaram associação entre as doenças osteomusculares e
absenteísmo. O absenteísmo pode ser apontado como uma expressão deste adoecimento e
uma das possíveis estratégias de defesa e de resistência dos trabalhadores para a
preservação e recuperação da saúde14.
Observou-se uma diminuição dos agravos no grupo de lesões, envenenamentos e
algumas outras consequências de causas externas, nos últimos anos do período analisado.
Semelhantes achados foram encontrados em estudos na área petrolífera e bancária19, 20.
Hoje no Brasil, os transtornos mentais e de comportamento vêm se constituindo um
grande problema de saúde dos trabalhadores alcançando elevadas taxas de prevalência em
diversos segmentos ocupacionais20. Neste estudo o percentual registrado destes agravos
(2,6%) parece não estar refletindo a realidade. Poderia também ser um reflexo do efeito do
trabalhador sadio. Em contra partida os achados de Faria (2012) que fez uma análise
qualitativa na empresa estudada mostram que os trabalhadores estão com a saúde mental
afetada devido as condições e organização do trabalho canavieiro21.
É digno de nota o fato de não se ter registro de mortes e acidentes graves
decorrentes do trabalho na empresa pesquisada, embora os mesmos sejam frequentes em
17,22,23.
indústrias de mesmo porte em função e atividade . A ausência deste registro merece
uma melhor averiguação.
Estudos baseados em dados secundários podem apresentar limitações na produção
de informações, como inconsistência e/ou lacunas. O não preenchimento de campos
importantes das CATs dificulta a investigação e o planejamento das ações de vigilância à
saúde do trabalhador. O fato de se ter trabalhado com as CATs fornecidas diretamente
pela empresa e não pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) pode ter gerado um
viés de informações, sobretudo no que tange à gravidade dos acidentes.
65
4.5 . Conclusão:
Este estudo descreveu o perfil dos acidentes de trabalho registrados numa empresa
sucroalcooleira no período de 2007 a 2011, em Minas Gerais, Brasil. Homens, jovens, com
pouca escolaridade, lotados na área agrícola foram os que mais se acidentaram. A taxa
média anual de prevalência de acidentes de trabalho foi de 40,7%, valor este muito
elevado. As lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas
foram responsáveis por 81,6% dos agravos registrados. As doenças do sistema
osteomuscular e do tecido conjuntivo constituíam-se como o segundo grupo mais
prevalente com uma taxa de 6,6%. Apesar do maior número de acidentes ocorrerem no
setor agrícola, o setor administrativo registrou as maiores taxas de prevalência. Não foram
registrados acidentes de trabalho graves nem fatais, dado este sugestivo de subnotificação.
A realização de novas investigações são sugeridas para o aprofundamento dos
achados epidemiológicos observados e para o estabelecimento de políticas públicas
capazes de enfrentar e superar o problema dos acidentes de trabalho no setor
sucroalcooleiro brasileiro.
66
4.6. Referências bibliográficas
6. Silva MAM. Mortes e acidentes nas profundezas do “mar de cana” e dos laranjais
paulistas. Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente
2008.
9. Giomo DB, Freitas FC T, Alves LA, Robazzi MLCC. Acidentes de trabalho, riscos
ocupacionais e absenteísmo entre os trabalhadores de enfermagem hospitalar. Rev.
enferm. UERJ, 2009; 17(1): 24-9.
67
10. Silva M T, Carreiro AA. Influência da mão de obra em acidentes na construção
civil. Disponível em http://info.ucsal.br/banmon/Arquivos/Art3_0077.pdf, acesso
em 07 de Nov 2012.
15. Scopinho RA. Qualidade Total, Saúde e Trabalho: uma análise em empresas
sucroalcooleiras Paulistas. RAC 2000; 4(1): 93-112.
16. Alves F. Processo de Trabalho e danos à saúde dos cortadores de cana. Revista de
Gestão Integrada em Saúde do Trabalhador 2008; 3(2): s/p.
17. Alves F. Porque morrem os cortadores de cana? Revista Saúde e Sociedade. 2006;
15(3): 90-98.
68
20. Silva LS, Pinheiro TMM, Sakurai M. Reestruturação produtiva, impactos na saúde
e sofrimento mental: o caso de um banco estatal em Minas Gerais, Brasil. Cad.
Saúde Pública 2007; 23(12):2949-2958.
21. Silva MAM. A morte ronda os canaviais Paulistas. Revista Abra, 2006, 33(2):11-
143.
22. Faria ID. Saúde mental e trabalho rural no processo de reestruturaçao produtiva
de uma empresa do setor sucroalcooleiro em Minas Gerais – Brasil. [ Dissertaçao
de mestrado] UFMG, 2012.
23. International Labour Organization. Safety in numbers: pointers for the global safety
at work. Geneva; 2003.
69
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
70
procura de novos espaços no mercado internacional. A introdução de novas tecnologias
no setor além de intensificar o trabalho, reduzir a mão de obra braçal, pela necessidade
de contratação de trabalhadores qualificados e capazes de se adaptar aos novos
processos de trabalho, tem mudado o perfil do adoecimento e dos acidentes de trabalho
no setor.
Apesar de seus limites, este estudo pretendeu contribuir para dar mais
visibilidade aos acidentes de trabalho e doenças do trabalho no setor rural, mais
especificamente no setor sucroalcooleiro e que exigem mudanças na organização do
trabalho e nas políticas de saúde do trabalhador do setor. Julga-se necessário a
realização de outros estudos mais robustos e abrangentes de modo a subsidiarem
intervenções mais efetivas e eficientes na defesa da saúde dos trabalhadores.
71
6. Anexos
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