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Felicia Disserta o Vers o Final 2013

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Felícia Emília Camões Chale

PERFIL DE ACIDENTES DE TRABALHO DE UMA INDÚSTRIA


SUCROALCOOLEIRA EM MINAS GERAIS

Universidade Federal de Minas Gerais


Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública
Belo Horizonte- M G

2013
Felícia Emília Camões Chale

PERFIL DE ACIDENTES DE TRABALHO DE UMA INDÚSTRIA


SUCROALCOOLEIRA EM MINAS GERAIS

Dissertação apresentada ao programa de Pós-


Graduação em Saúde Pública da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Minas
Gerais – UFMG, como requisito à obtenção ao
título de Mestre em Saúde Pública (área de
concentração em Saúde e Trabalho).

Orientador: Prof. Dr. Tarcísio Márcio


Magalhães Pinheiro

Belo Horizonte
2013

1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitor
Prof. Clélio Campolina Diniz

Vice-Reitora
Profª Rocksane de Carvalho Norton

Pró-Reitor de Pós-Graduação
Prof. Ricardo Santiago Gomez

Pró-Reitor de Pesquisa
Prof. Renato de Lima Santos

FACULDADE DE MEDICINA
Diretor
Prof. Francisco José Penna

Chefe do Departamento de Medicina Preventiva e Social


Prof. Antônio Leite Alves Radicchi

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA


Coordenador
Profª. Ada Ávila Assunção

Sub-Coordenadora
Profª. Sandhi Maria Barreto

Colegiado
Profª. Eli Iola Gurgel Andrade
Prof. Fernando Augusto Proietti
Profª. Mariângela Leal Cherchiglia
Profª Cibele Comini César
Profª Carla Jorge Machado
Profª Maria Fernanda Furtado de Lima Costa
Prof. Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro
Profª Soraya Almeida Belisário
Prof. Francisco de Assis Acurcio

Representantes discentes
Maryane Oliveira Campos
Tiago Lopes Coelho

2
3
4
DEDICATÓRIA

Esta dissertação é dedicada a Célio João, Maria Judite e Deolinda Camões (In memorian).

5
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me ter dado saúde e ter sido meu guia durante o tempo em que estive
longe de casa e da família.

Aos meus pais Emília Simbe e Luís de Camões pelo amor, atenção e por sempre
acreditarem nos meus propósitos. Devo tudo a vocês, meu exemplo e modelo de vida.

Aos meus irmãos pela amizade e por terem acreditado nos meus sonhos, sem o apoio de
vocês não teria conseguido chegar onde cheguei. Que continuemos sempre e cada vez mais
unidos, seguindo os ensinamentos e bons exemplos que nossos pais nos transmitem.

Aos meus sobrinhos amados (meus anjinhos da guarda) por cada carinho e alegria, amo
muito vocês.

Ao Mauro, pelo amor, atenção, paciência, incentivo, compreensão e palavras de apoio.


Meu sincero agradecimento.

Aos amigos Serafim, Eulálio, Esperança, Lúcio, Alexandre e Hélder pela convivência,
incentivo e suporte. A amizade de vocês foi de extrema importância para mim.

Ao meu orientador Professor Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro, o meu muito obrigada
pela orientação e contribuições, empenho, palavras encorajadoras e conhecimentos
partilhados durante as aulas e na presente dissertação.

A Juliane minha amiga e irmã, pela amizade, acolhimento palavras amigas, orientações no
trabalho e pela parceria, a minha eterna gratidão.

A dona Sueli, minha segunda mãe, obrigada por todo o carinho e dedicação.

A Maryane, pela paciência, orientações e contribuições riquíssimas, desde a elaboração do


projeto que permitiu a concretização do presente trabalho. O apoio estatístico durante a
análise dos dados foi de grande ajuda e aprendizado, meu muito obrigado.

6
A Letícia pela amizade e apoio na revisão final da presente dissertação, obrigada.

A Isabela, por todo o apoio, não tenho palavras para expressar, sou imensamente grata.

Ao Senhor Helvécio pelos conhecimentos da agroindústria e por ter permitido a


disponibilização dos dados para elaboração do presente trabalho.

A Veranilda e ao Bruno do setor de Segurança do Trabalho da Agroindústria estudada,


pelos esclarecimentos das minhas dúvidas durante o processo de coleta dos dados, simpatia
e disponibilidade.

Aos professores e colegas do Programa de Pós- Graduação em Saúde Pública da


Universidade Federal de Minas Gerais pelo conhecimento partilhado.

As minhas amigas e colegas do mestrado Denise e Tatiana pelos conhecimentos


partilhados e discussão de dúvidas.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para que o presente trabalho fosse
possível.

7
Cortador de cana

Ele é bom é no facão


Corta cana direitinho
Não deixa cair no chão
Nenhum fiapo no caminho

Sabe bem de ferramenta


É ligeiro no seu eito
Só para para amolar
Põe o cabo contra o peito

Não bagaça a touceira


Deixa rente par ao chão
Ôi parece um capoeira
Numa dança de facão

É pesado a sua bota


Bem mais leve que o mói
Contra o corte e contra cobra
Corta dor de cana dói.

Ney Souza Lima

8
RESUMO

Objetivo: Analisar o perfil epidemiológico e ocupacional dos acidentes de trabalho em


uma indústria sucroalcooleira. Método: Estudo de série temporal, com base em dados
secundários registrados nas Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs) no período
de 2007 a 2011. Resultados: Foram analisadas 1.746 CATs fornecidas pela indústria
sucroalcooleira analisada. A taxa anual média de ocorrência de acidentes de trabalho no
período foi de 40,7%. O grupo ocupacional mais acometido foi o dos trabalhadores rurais
(67,4%). De acordo com o diagnóstico da lesão em decorrência dos acidentes, as maiores
taxas foram encontradas no grupo das lesões, envenenamentos e consequências de causas
externas (81,6%) e no grupo das doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo
(6,6%). O perfil dos trabalhadores da empresa é caracterizado por homens, jovens, com
pouca escolaridade e a média de idade é de 33 anos. A empresa é composta na sua maioria
por trabalhadores rurais e este foi o grupo que mais se acidentou no período analisado.
Apesar do maior número de acidentes ocorrerem no setor agrícola, o setor administrativo
registrou as maiores taxas de ocorrência. Conclusão: Apesar da modernização dos
processos de trabalho no setor sucroalcooleiro brasileiro os acidentes de trabalho ainda
constituem um grave problema de saúde pública e demandam intervenções mais eficientes.
.

Palavras-chave: Acidentes de trabalho. Trabalho Rural. Notificação de Acidentes de


Trabalho. Setor sucroalcooleiro. Vigilância em saúde.

9
ABSTRACT

Objective: To analyze the pattern of illness and accidents of workers in a sugarcane


industry in occupational epidemiological features. Method: time series, based on
secondary data in the Communications of Occupational Accidents (CAT) at the periods
from 2007 to 2011. Results: We analyzed 1746 CAT provided by the alcohol industry
analyzed. The average annual rate of occurrence of accidents in the period was 40.7%. The
occupational group most affected were the rural workers (67.4%). According to the
diagnosis of injury due to accidents, the highest rates were found in the group of Injury,
poisoning and consequences of external causes (81.6%) and in the group of diseases of the
musculoskeletal system and connective tissue (6.6 %). The profile of the workforce is
characterized by men, young, poorly educated, with an average age of 33 years. The
company is comprised mostly of rural workers and this was the group that crashed over the
period analyzed. Despite the greater number of accidents occur in the agricultural sector,
the administrative sector recorded the highest rates of occurrence. Conclusion: In dispite
of the work process modernization work accidents are a serious public health problem in
brazilian sugarcane industriy and its necessity a efficient intervencion.

Keywords: Accidents at work. Rural Work. Notification of Accidents. Alcohol sector.


Health surveillance.

10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CAI- Complexo Agroindustrial Canavieiro

CAT- Comunicação de Acidentes de Trabalho

CBO- Classificação Brasileira de Ocupação

CID- Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à

Saúde

COEP- Comitê de Ética em Pesquisa

DIEESE- Departamento Intersetorial de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos

DORT- Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho

EPI- Equipamento de Proteção Individual

IAA- Instituto Nacional do Açúcar e do Álcool

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH- Índice de Desenvolvimento Humano

INSS- Instituto Nacional do Seguro Social

LER- Lesões por Esforços Repetitivos

SAT- Seguro de Acidentes de Trabalho

SPSS- Statistical Pack for Social Science

11
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1- Corte manual de cana- de- açúcar...................................................................31

FIGURA 2- Vestimenta usada no corte de cana-de-açúcar.................................................34

FIGURA 3- Colhedeira mecânica.......................................................................................37

FIGURA 4- Mapa do Município de Pompeu......................................................................45

12
LISTA DE TABELAS

TABELA 1- Frequência e proporção de acidentes de trabalho em uma indústria


sucroalcooleira, Minas Gerais, Brasil, 2007-2011...............................................................63

TABELA 2- Tendência temporal da taxa de acidentes de trabalho por setor de atividade


numa indústria sucroalcooleira, Minas Gerais, Brasil, 2007-2011......................................64

TABELA 3- Características Sócio-demográficas dos trabalhadores acidentados em uma


indústria sucroalcooleira, Minas Gerais, Brasil, 2007-2011................................................65

TABELA 4- Perfil dos acidentes de trabalho em uma indústria sucroalcooleira, Minas


Gerais, Brasil, 2007-2011,,...................................................................................................66

13
LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1- Tendência temporal dos principais grupos de doenças e problemas


relacionados à saúde dos trabalhadores de uma indústria sucroalcooleira, Minas Gerais,
Brasil, 2007-2011.................................................................................................................67

14
SUMÁRIO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................... 16

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO..................... 16

1.2 SETOR SUCROALCOOLEIRO EM MINAS GERAIS ................................... 22

1.3 CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DOS TRABALHADORES NO


SETOR SUCROALCOOLEIRO ..................................................................................... 25

1.4 CONDIÇÃO DE TRABALHO E SAÚDE DO TRABALHADOR NA


EMPRESA ESTUDADA................................................................................................... 27

1.5 CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE TRABALHO, ORGANIZAÇÃO


DO TRABALHO E SAÚDE DO TRABALHADOR DA EMPRESA ESTUDADA ... 32

1.6 ACIDENTES DE TRABALHO NO SETOR SUCROALCOOLEIRO ........... 39

1.7 ACIDENTES DE TRABALHO, DOENÇAS DE TRABALHO EM


TRABALHADORES RURAIS NO BRASIL E NO MUNDO ...................................... 42

1.8 CONTEXTUALIZAÇÃO DA EMPRESA ESTUDADA................................... 45

1.9 CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO MUNICÍPIO ............................... 45

2. OBJETIVOS .................................................................................................................. 48

3. MÉTODOS…………………………………………………………………………….49
4.ARTIGO .......................................................................................................................... 51

ACIDENTES DE TRABALHO EM UMA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA NO


BRASIL: VISIBILIDADES E INVISIBILIDADES ...................................................... 51

RESUMO......................................................................................................................... 522
ABSTRACT ...................................................................................................................... 53
4.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 54
4.2 MÉTODOS ................................................................................................................ 555
4.3 RESULTADOS ........................................................................................................... 57
4.4 DISCUSSÃO................................................................................................................ 63
4.5 CONCLUSÃO:............................................................................................................ 66
4.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 67
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 70
6. ANEXOS...........................................................................................................................72

15
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1 Contextualização do setor sucroalcooleiro

A produção da cana-de-açúcar e seus derivados colocam o Brasil em posição de


destaque no mercado internacional. O país é o maior produtor do açúcar e álcool do
mundo, seguido da Índia e Austrália. Além de ser o principal produtor e exportador de
açúcar e álcool do mundo, o país tem os menores custos de produção entre os principais
competidores do mercado internacional e lidera o conhecimento da biotecnologia da cana
juntamente com a Austrália e África do Sul.
Desde o inicio do século XVI a cana-de-açúcar é produzida no Brasil, e sempre
teve o intuito de atender as demandas do mercado externo.
O açúcar passou a ganhar importância na economia colonial durante os séculos XVI
e XVII, período do desenvolvimento do “Ciclo do Açúcar”. Neste período a Zona da Mata
Nordestina e o Recôncavo Baiano eram os principais polos da atividade seguidos por
Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo1.
Com a expansão desordenada dos canaviais e objetivando a promoção e controle da
produção do açúcar no país por meio da divisão regional do trabalho, o governo federal
criou na década de 1930 o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) e determinou quotas de
produção da cana-de-açúcar por estado e por usina. Assim, a produção e o valor dos
produtos (açúcar e álcool) passaram a ser regulados pelo IAA2.

Foi também pelos desígnios do IAA que o álcool assumiu maior


importância no cenário nacional, pois havia a preocupação de assegurar o
equilíbrio interno entre as safras anuais de cana e consumo de açúcar, [...]
os problemas como prejuízos causados pela especulação sobre os
estoques desse produto, além do excesso da exportação poderiam ser
contornados com a destinação de uma parte obrigatória da cana à
fabricação do álcool (SANTOS, 2009, p.109).

1
Vieira MCA, Lima JF, Braga NM. Setor sucroalcooleiro brasileiro: evolução e
perspectivas. In: Torres Filho ET.; Puga F P. (Org.). Perspectivas do investimento 2007/2010. Rio de
Janeiro: BNDES, 2007. 348 p.
2
Santos JC. Dos canaviais à “etanolatria”: o (re) ordenamento territorial do capital e do trabalho no setor
sucroalcooleiro da Microrregião Geográfica de Presidente Prudente-SP. 2009. 375 f. Tese [ Doutorado
em Geografia] – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2009

16
Nos últimos anos o setor sucroalcooleiro tem passado por grandes mudanças
impactando significativamente em toda a estrutura do setor e nas políticas empresariais. As
transformações no setor produtivo se refletem no mercado de trabalho. Novas tecnologias
vêm sendo introduzidas nos diferentes setores de atividade incluindo o setor
sucroalcooleiro. Essas novas tecnologias além de reduzirem a mão de obra passaram a
exigir trabalhadores com um perfil diferenciado, ou seja, trabalhadores capazes de se
adaptar a essas novas práticas produtivas3.
Com a devastação da indústria do açúcar na Europa motivada pela eclosão da
Primeira Guerra Mundial em 1914, registrou-se um aumento no preço do açúcar o que
culminou com a construção de novas usinas no Brasil, mais especificamente no estado de
São Paulo2.
Desde o período colonial que o setor sucroalcooleiro tem contribuído na economia
brasileira. A modernização no setor tornou-se necessária para enfrentar a competição de
outros países produtores. Com a crise do petróleo durante a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), observou-se uma expansão da cultura de cana e um crescimento na produção
de etanol derivado da cana principalmente no estado de São Paulo. Ainda neste período
houve uma diminuição do comércio internacional, reduzindo-se assim o volume das
exportações brasileiras do açúcar e diminuição no fluxo das importações2.
O Brasil tornou-se importante não só pela grandeza da produção interna e/ou pelo
volume da exportação, mas também por ter os menores custos de produção por tonelada de
cana nas regiões sudoeste e centro-oeste 2.
A cana-de-açúcar produzida no Brasil é originária do sudoeste asiático, e foi trazida
no período colonial pelas expedições portuguesas. É produzida em quase todo o Brasil,
principalmente nos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Alagoas, sendo o
primeiro o líder na produção do açúcar e álcool4.
Embora seja um setor em franco crescimento tanto na produção quanto na
economia, o trabalho neste setor continua precário e a saúde dos trabalhadores
deteriorando-se.

3
Liboni LB. Perfil da mão-de-obra no setor sucroalcooleiro: tendências e perspectivas . 2009. 201 f. Tese
[Doutorado em Administração]. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
4
Rocha FLR. Análise dos fatores de risco do corte da cana-de-açúcar no Brasil segundo o referencial da
promoção da Saúde. 2007. 183 f. Tese [ Doutorado em Enfermagem] Universidade de São Paulo, Ribeirão
Preto, 2007.

17
Com a expansão da indústria canavieira na década de 1950 o estado de São Paulo
tornou-se o maior produtor de açúcar do país passando a ocupar terras onde se fazia o
cultivo do café mantendo assim vigente a estrutura fundiária.
Na década de 60, intensificaram-se as transformações no meio rural, repercutindo
negativamente nas condições de vida e na saúde do trabalhador rural. Essas transformações
impactaram tanto no nível de produção, como também nas relações de trabalho,
contribuindo assim no aumento e diversificação da produção agrícola e na recriação de
antigas e na emergência de novas formas de organização do trabalho5.
A produção de álcool a partir da cana-de-açúcar tem sido a alternativa mais viável
para o enfrentamento da crise energética como também para a construção do
desenvolvimento sustentável. Contudo, a retomada das políticas do agronegócio tem
provocado uma nova expansão do setor canavieiro, por meio de uma redistribuição
espacial da produção, com tendência de aumento nos estados de Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás6.
Com o aumento significativo do preço do petróleo na década de 1970, o que afetou
fortemente a economia dos países em desenvolvimento, o Brasil adotou um novo modelo
energético que fosse alternativo ao petróleo, neste caso o álcool, subsidiado com recursos
do Programa Nacional do Açúcar e Álcool (Proálcool) 2.
O Proálcool foi criado durante o regime militar e tinha por objetivo aumentar a
produção do álcool como combustível e incentivar o seu consumo nos carros fabricados no
Brasil. O programa foi responsável pela intensificação do cultivo da cana-de-açúcar no
Brasil e impulsionou a modernização da indústria por meio do alargamento das destilarias
permitindo assim o surgimento de novos financiamentos para que fossem implantadas mais
destilarias.
Com o Proálcool verificou-se um desenvolvimento tecnológico no setor
sucroalcooleiro, passou a consumir-se mais o álcool como combustível no país em
detrimento da gasolina7.
O setor está em expansão e com possibilidades de aumento na produção do etanol e
do açúcar. O Brasil é tido como referência pelos países também produtores do açúcar e
etanol, pelos baixos custos de produção e pela qualidade da própria cana-de-açúcar, bem

5
Alessis N; Navarro V. Saúde e trabalho rural: o caso dos trabalhadores da cultura canavieira na região de
Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v.13, supl 2, p. 111-121, 1997.
6
Carvalho SP, Marin JOB. Agricultura familiar e agroindústria canavieira: impasses sociais. RRSR, v.45,
n.3, p.681-708, jul/ set 2011.
7
Lima DJP. Agroindústria canavieira e emprego: evolução recente e perspectivas. 2010. 99 f. Dissertação
[ Mestrado em Economia], Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia , 2010.

18
como, pela produtividade. Minas Gerais tem um papel importante nisso por constar entre
os principais estados produtores da cana-de-açúcar e seus derivados como também por ser
o centro dos novos investimentos8.
Para Vilela et al (2010)5, “a importância estratégica do setor sucroalcooleiro na
economia nacional é manifestada não somente na produção, consumo e exportação de seus
produtos, mas também na sua participação na matriz energética brasileira que é crescente”.
Com objetivo de construir um modelo energético próprio o Proálcool fortaleceu a
agroindústria canavieira através de financiamentos para implantação das usinas,
implantação de novas destilarias e fortalecimentos dos fabricantes de equipamentos
industriais do ramo, bem como a entrada de novos grupos empresarias no setor 2.
O programa ocorreu em três fases distintas sendo a primeira nos anos de 1975 a
1979 em que se pretendia solucionar a crise da agroindústria açucareira. Nesta primeira
fase foram aprovados 218 projetos de destilaria, o que correspondia a um total de 23,7
bilhões de cruzeiros, sendo que desse total 18,7 bilhões correspondiam ao total das
agencias financiadoras governamentais.
A segunda fase ocorreu de 1980 a 1985 e surgiu devido ao segundo choque de
petróleo ocorrido em 1979. Aqui, as atenções estavam viradas para a produção do álcool
hidratado como carboneto para consumo direto, o que contribuiu para o aumento do
número de destilarias autônomas.
A terceira e última fase do programa foi em 1985 que culminou com o inicio do
corte nos financiamentos e subsidos para o programa em todo o país. Esse corte no
financiamento deve-se a três fatores: a crise fiscal do Estado brasileiro que motivou a
diminuição dos financiamentos subsidiados, aumento dos preços internacional do petróleo
e por ultimo pela insuficiência de oferta do álcool e o abastecimento do produto
desestimulando dessa forma o consumo e a produção dos carros movidos a álcool 2.
As mudanças no setor sucroalcooleiro vêm acontecendo desde o começo de 1990
quando se aboliu o IAA. Assim, foi retomada a produção dos biocombustíveis e o etanol
brasileiro passou a ser competitivo no mercado mundial. Do inicio da década de 1990 ao
inicio do século XXI ocorreram mudanças no setor sucroalcooleiro brasileiro. Esta década
foi marcada pela diminuição da intervenção estatal nas atividades produtivas e nas relações
entre os agentes envolvidos no setor sucroalcooleiro no Brasil 2.

8
Vilela PS, Gomes ACA, Veloso AF. Evolução e tendências do agronegócio da cana-de-açúcar em Minas
Gerais; Belo Horizonte: FAEMIG, 2010. p.1-33

19
Essa virada de século caracterizou-se pela valorização de um novo modelo
energético, ou seja, pela retomada do modelo iniciado nos anos 1970 sustentado na
produção de biocombustíveis.

“O etanol brasileiro passa a atrair as atenções em tempos de mundialização do


capital, visto que se demonstra altamente competitivo internacionalmente. Isto
tem implicações no tocante à soberania alimentar, pois se verificam aumentos
nos preços dos produtos alimentícios, e a produção do etanol segue sustentada
pelo modelo do agronegócio e pela intensificação da precarização das relações
de trabalho nas empresas do setor” (SANTOS, 2009, p.119).

Essa intensificação da precarização do trabalho nas empresas do setor


sucroalcooleiro pode estar relacionada à necessidade da nova matriz energética mundial
que é atualmente muito discutida não só pela preservação do meio ambiente com a redução
do uso dos combustíveis fosseis, mas também para fazer frente a crise do petróleo que
ocorreu com grande intensidade nos anos de 1973 e 1979 com a primeira e a segunda crise
do petróleo.
Na década de 1990, verificou-se uma diminuição do crescimento no Complexo
Agroindustrial Canavieiro (CAI) motivada pela descredibilidade do Proálcool devido ao
desabastecimento do álcool nas bombas e pela desregulamentação do setor pelo estado.
Assim, as empresas do CAI passaram a adotar novas formas de concorrências e a partir
desse momento foram introduzidas modificações como: mudança na base técnica-
produtiva adotando novas tecnologias de processo e produto; houve uma mudança
organizacional nos processos de produção e de trabalho. Essas mudanças resultaram na
diminuição da força de trabalho e no aumento da formalização dos contratos de trabalho e
o aumento da intensidade do trabalho9.
Em 2002 houve uma dinamização no processo de crescimento do CAI. Por conta
dessa dinamização tem se verificado a retomada dos investimentos. Mesmo que o mercado
externo seja responsável por essa nova dinâmica do setor, o Brasil também tem contribuído
para esse cenário positivo através da redução dos custos e pelo aumento da produtividade9.

9
Alves F. Processo de Trabalho e danos à saúde dos cortadores de cana. Revista de Gestão Integrada em

Saúde do Trabalhador, v.3, n.2, s/p, 2008.

20
Além da importância do mercado externo no aumento da produtividade, temos
também a mecanização do corte de cana. É importante frisar que a mecanização do corte
da cana intensificou-se após o ciclo de greves que teve seu início em 1984 em Guariba
(SP), e em resposta as greves, as usinas implementaram um vigoroso processo de
mecanização do corte da cana queimada 9.
Substituiu-se a força de trabalho humano pelas máquinas colhedoras operadas por
um conjunto de homens. Contudo, ainda não foram substituídas todas as frentes de
trabalho manual por mecanizada.
Elevou-se a taxa de desemprego e a expulsão de trabalhadores da agricultura
familiar4. Importa salientar que, os agricultores familiares foram expulsos ao longo dos
anos 70 e 80, passando a integrar o conjunto de trabalhadores rurais assalariados. As
máquinas, por sua vez, substituíram o trabalho destes. O aumento na taxa de desemprego e
a expulsão dos trabalhadores da agricultura familiar permitiram uma maior
disponibilização da mão de obra para a agroindústria canavieira, modificando as relações
de trabalho e contribuindo para uma maior intensificação da atividade, redução dos
salários, promovendo aumento da produtividade e a redução dos custos de contratação3.
As agroindústrias da cana-de-açúcar têm papel de destaque no Brasil, por sua
contribuição à indústria alimentícia e por ser um elemento de destaque na política
energética do país, pelo volume financeiro, mobilizando-se em suas atividades e por
contribuir com a oferta de postos de trabalho10.
Os interesses internacionais apontam o Brasil como a figura principal no
atendimento da demanda necessária para a viabilização das metas da substituição dos
combustíveis fósseis11.
O álcool, pelas suas vantagens ambientais, sociais e econômicas desperta interesse
de países desenvolvidos na tecnologia do combustível. O setor sucroalcooleiro tornou-se,
na atualidade, o centro da atenção para muitos debates, e isso pode fazer com que o país
torne-se um dos maiores exportadores de etanol de cana-de-açúcar, e também pelos
desdobramentos advindos do aumento da produção12.

10
Rumin C R. Influências das condições de trabalho de uma indústria de transformação de cana-de-açúcar na
ocorrência de acidentes de trabalho. Saúde e Sociedade, v.17, n.4, p. 56-67, dez 2008.
11
Kawamura SM, Ramos HR, Almeida MIR. Estratégias de internacionalização do setor sucroalcooleiro do
Brasil: um estudo de caso do COSAN. In: Congresso Internacional de Estrategias, 2010, Guayaquil: SLADE,
2010. p. 1-23.
12
Sousa AG, Júnior JC. Reprodução do capital sucroalcooleiro no Estado de Minas Gerais e
transformações recentes no espaço agrário do triangulo Mineiro, s/e, s/d.

21
Depois dessa pequena contextualização do setor sucroalcooleiro brasileiro,
surgiram algumas perguntas com relação a produção da cana-de-açúcar e seus derivados no
Estado de Minas Gerais que são:
i) Como se deu a entrada de Minas Gerais na produção da cana-de-açúcar?
ii) Qual é a posição ocupada atualmente pelo Estado de Minas Gerais no setor
sucroalcooleiro?
iii) Qual é a contribuição do setor sucroalcooleiro mineiro na economia nacional?
Para responder a estas questões vamos apresentar um pequeno histórico da produção da
cana no estado, sua expansão e o lugar ocupado hoje por Minas Gerais no setor.

1.2 Setor sucroalcooleiro em Minas Gerais

A produção da cana-de-açúcar em Minas Gerais teve seu início no século XVIII, e


era uma atividade complementar a extração do ouro e diamantes. A produção de cana no
estado começou a se tornar importante na década de 1990 13.
A atividade sucroalcooleira por muitos anos concentrou-se nas regiões da Zona da
Mata e Sul. Após 1990 o setor expandiu-se para o Triângulo Mineiro. Essa expansão deve-
se aos investimentos feitos pelos grupos empresariais nordestinos, que se sentiram atraídos
pelas condições topográficas, o clima e a proximidade com São Paulo, que é o maior
produtor14.
A cultura da cana-de-açúcar tornou-se importante para economia mineira a partir do
momento em que ocupou o cerrado mineiro, passou posteriormente a ter um crescimento
equiparado aos produtores modernos. Na década de 1990 na mesorregião do Triangulo
Mineiro e o Alto Paranaíba foram criadas novas usinas com os investimentos dos grupos
nordestinos 16.
Esses crescentes investimentos contribuíram para o crescente desenvolvimento do
setor no estado de Minas Gerais.

13
Siqueira PHL, Reis BS. Análise da economia do setor sucroalcooleiro do Estado de Minas Gerais:
evolução histórica e fatos contemporâneos. Revista de economia, Anápolis, 2008.
13
Maciel MR, Fonseca AR, Corgozinho BM, Braga FA. Trabalho e Saúde: O caso dos trabalhadores

temporários da indústria canavieira em Lagoa da Prata, Minas Gerais. Revista de Saúde, Meio Ambiente e

Sustentabilidade, 2011. p. 43-57.

22
Nos períodos de 2000 a 2003 a produção mineira da cana passou de 18,5 milhões
de toneladas. Assim como em todo o Brasil a produção da cana-de-açúcar em Minas
cresceu com o surgimento dos veículos flex 3.
No período de 2000 a 2008 registrou-se um crescimento considerável na produção
mineira de cana-de-açúcar. Esse crescimento justifica-se pelo aumento na produção dos
carros biocombustíveis.
Em 2008 houve um grande crescimento de 47,9 milhões de toneladas,
correspondente a 7,4% da produção nacional e o crescimento médio anual da produção
mineira entre 2003 e 2008 foi de 21,8%. Nesse período a produção mineira superou a
produção nacional de 10,6%. Em Minas Gerais, no ano de 2008, haviam 18 usinas em
funcionamento, e atualmente são 38 o que corresponde a 9% do total nacional com
predomínio no triângulo mineiro4.
Dessa forma, o Estado de Minas Gerais aumentou consideravelmente sua
participação na produção de cana-de-açúcar, principalmente pela concentração de
indústrias associadas à monocultura nas mesorregiões Noroeste, Central Mineira, Oeste de
Minas, Triângulo Mineiro e Alto Paraíba, que são atualmente, as principais regiões
produtoras. Segundo a SIAMIG/SINDAÇÚCAR15, o estado de Minas Gerais foi
considerado na safra 2010/11 o segundo maior produtor de cana-de-açúcar do país, ficando
atrás somente do estado de São Paulo. Foi considerado também o segundo maior produtor
de açúcar do país e terceiro maior produtor de etanol.
16
Segundo Barros et al , no ano de 2010 o agronegócio mineiro registrou um
crescimento de cerca de 5,50%. O Estado apresenta condições naturais que favorecem o
cultivo da cana-de-açúcar, principalmente na região do Triângulo Mineiro e Alto Paraíba,
visto que os dados do zoneamento agroclimático do estado caracteriza o solo da região
como apto nos níveis de manejo B e C, o que significa que se trata do terceiro e segundo
melhores solos para o cultivo, e terceiro com uma vasta área para a produção agrícola do
estado8.
Os solos das regiões oeste de Minas, Triângulo Mineiro e Alto Paraíba, além de
aptos são de uma boa qualidade para o cultivo da cana-de-açúcar, assim como o clima
tropical com inverno seco e frio e verão quente e chuvoso viabiliza o desenvolvimento da

15
SIAMIG/SINDAÇÚCAR-MG. Sindicato da Indústria de Fabricação do Etanol no Estado de Minas/
Sindicato da Indústria do Açúcar no Estado de Minas Gerais. Perfil da Produção Mineira. Disponível em
<http://www.siamig.org.br/dmdocuments/slide%20para%20site.pdf> Acesso em 27 de janeiro de 2013.
16
Barros GSAC, Fachinello AL, Silva AF. Agroindústria mantém dianteira no agronegócio mineiro, mais
ritmo diminuiu em Março, PIB do agronegócio de Minas Gerais, 2010.

23
monocultura na região devido ao comportamento pluviométrico que apresenta no saldo de
precipitações anuais uma variação de 1200 a 1500 milímetros, que é adequado para o
cultivo tanto da soja como da cana de açúcar8.
Apesar de o setor sucroalcooleiro estar sendo modernizado, o trabalho, a saúde,
escolaridade bem como as condições de vida dos trabalhadores rurais continuam precárias
e as jornadas de trabalho excessivas. A baixa escolarização dos trabalhadores tem sido um
grande entrave nas suas condições de vida e de trabalho. A qualificação do trabalhador tem
sido vista como um dos requisitos para o processo de modernização e condição necessária
para sua inserção no mercado de trabalho17.
Desde que começou a ser cultivada no país, as regiões de maior produção da cultura
são São Paulo, e o Nordeste18.
Segundo Abreu et all18, o principal objetivo do Brasil com a produção da cana-de-
açúcar é a produção do álcool. O sudoeste brasileiro concentra a maior parte da produção
do etanol em todo o Brasil. O grande incentivador para o uso dos combustíveis fósseis
foram as mudanças climáticas. O aumento das vendas dos carros biocombustíveis
impulsiona a demanda pelo álcool hidratado. A expectativa dos produtores brasileiros é
que o álcool torne-se uma commodity internacional tendo em conta o aumento dos preços e
a diminuição das reservas do petróleo, daí o investimento significativo por parte da
Petrobras no setor de álcool para o abastecimento do mercado externo 18.
Essas novas tecnologias introduzidas no setor trazem consigo efeitos positivos e
negativos. Positivos na medida em que se registra um aumento na produtividade o que é
visto com bons olhos pelos empregadores, mas por outro lado além da redução da força de
trabalho empregada no setor, verifica-se um agravamento da situação da saúde dos
trabalhadores.
Abreu et all 18 concordam que

17
Borba FVN, Bertoldo E, Silva SC. A reestruturação produtiva do setor sucroalcooleiro e
os impactos sobre o trabalhador do corte da cana. In: SEMINÁRIO DO TRABALHO, 7,
2010, Marília-SP.Anais eletrônicos..Marília-SP: UNESP, 2010. Disponível em
<http://www.estudosdotrabalho.org/anais-vii-7-seminario-trabalho-ret-
2010/fernanda_valeria_do_nascimento_borba_edna_bertoldo_simone_da_costa_silva.pdf
>. Acesso em 10 jan 2013.
18
Abreu D, Moraes LA, Nascimento EN, Oliveira RA. A produção da cana- de- açúcar no Brasil e a saúde
do trabalhador rural, Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, v. 9, n.2, p. 49-61, 2011.

24
“O processo de modernização tecnológica da cultura da cana-de-açúcar
modificou profundamente as praticas agrícola, gerou mudanças ambientais nas
cargas de trabalho e nos efeitos sobre a saúde deixando os trabalhadores rurais
expostos a riscos muito diversificados”.

Depois da contextualização do setor sucroalcooleiro no Brasil e de discutir


brevemente a entrada deste setor na economia mineira, segue-se a discussão das condições
de trabalho e saúde dos trabalhadores do setor tendo em conta a preocupação das
agroindústrias no aumento da produtividade para garantir a sua competitividade no
mercado interno e internacional em virtude não só da nova matriz energética como também
o aumento dos preços dos combustíveis fosseis e a escassez dos mesmos no mercado
mundial.

1.3 Condições de trabalho e saúde dos trabalhadores no setor


sucroalcooleiro

O setor sucroalcooleiro no Brasil além de encontrar-se num momento de


crescimento, introduz mudanças relativas ao processo de trabalho. Esse processo de
reestruturação produtiva, bem como o uso de novas tecnologias não se reflete nas
condições de trabalho e de vida dos trabalhadores do setor, principalmente, se olharmos
para a precariedade do trabalho, a insalubridade dos locais de trabalho entre outros fatores.
As condições de trabalho no setor sucroalcooleiro são marcadas pela intensificação
da produtividade exigida19.
No setor agroindustrial o setor sucroalcooleiro é o que apresenta as condições de
trabalho mais precárias em comparação com outros ramos da agroindústria. Em todo o país
um total de um milhão de assalariados são empregados na colheita da cana-de-açúcar 8.
No setor as legislações trabalhistas não são cumpridas plenamente. Embora tenha
havido alguma melhoria no sistema de transportes com a substituição dos caminhões pelos
ônibus ainda se verifica precariedade visto que os ônibus encontram-se em péssimo estado
de conservação 8.

19
Silva MAM. Mortes e acidentes nas profundezas do “mar de cana” e dos laranjais paulistas. Revista de
Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. 2008; sp.

25
Em resposta a decisão da União Europeia em não comprar o etanol brasileiro, em
virtude das criticas feitas às condições de trabalho a que os trabalhadores estão expostos, o
governo brasileiro no final de 2008 compôs a chamada “Mesa de Diálogo”. A “Mesa de
Diálogo” é uma arena tripartite com a finalidade de humanizar as condições de trabalho no
setor através de um consenso entre empregadores, governo e sindicatos de trabalhadores
rurais20.
No corte da cana-de-açúcar o ritmo de trabalho é bastante acelerado. Como o
pagamento é feito por produção os trabalhadores sentem-se obrigados a seguir o ritmo
imposto para conseguirem atingir a meta de produção estabelecida e assim garantir o
pagamento. Para responder as necessidades do mercado e conseguir atingir uma boa
produtividade e entrar para a competitividade do mercado as usinas optam pela contratação
de trabalhadores com maior capacidade de trabalho, ou seja, trabalhadores jovens e do
sexo masculino. Durante a sua jornada de trabalho os trabalhadores cortam o máximo de
cana exigida não só para garantir a renda, mas também preservar os seus empregos.
A intensificação da atividade produtiva e os novos processos de organização do
trabalho no setor agroindustrial contribuem para a deterioração da saúde dos trabalhadores.
Aliada a política de pagamentos por produção alguns trabalhadores se submetem a esse
aliciamento como forma de aumentar a sua renda diária, levando em conta que a maioria
deles é chefe de família 9,19.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) 21 a agricultura é um dos
setores mais perigosos em termos de acidentes de trabalho e adoecimento dos
trabalhadores tanto nos países industrializados como nos países em desenvolvimento. O
setor emprega atualmente cerca da metade da força de trabalho do mundo com cerca de 1,3
bilhões de pessoas.
Segundo Scopinho22, as novas tecnologias não ajudam na melhoria das condições
de vida e saúde dos trabalhadores, elas têm consequências negativas no espaço de
produção e fora dele.

20
Silva GP. A precarizaçao do trabalho canavieiro legitimada: o caso do compromisso nacional para o
aperfeiçoamento das condições de trabalho na cana- de-açúcar (2008-2009), s/e, s/d . sp.
21
International Labour Organization. Safety in numbers: pointers for the global safety at work. Geneva; 2003
22
Scopinho RA. Qualidade Total, Saúde e Trabalho: uma análise em empresas sucroalcooleiras paulistas.
RAC, s/v. n.1, p. 93-112, 2000.

26
Godoy23 reforça a ideia apresentada anteriormente por Scopinho22, pontuando que
as formas de trabalho realizadas dentro das organizações e a utilização dessas novas
tecnologias contribuem para o aumento dos agravos à saúde dos trabalhadores.
As ações de saúde do trabalhador devem concentrar-se na mudança dos processos
de trabalho e nas relações saúde/ trabalho de um modo geral 24.
Para Silva25 é importante que o trabalhador se sinta parte de um grupo. Sendo
assim, faz-se necessário o reconhecimento das atividades por ele desenvolvidas para que
ele possa ser criativo e autossuficiente. Para isso, é preciso que se tenha claro vários
aspetos como: a organização da tarefa a ser executada e a adequação do ambiente onde
essas atividades serão desempenhadas de modo a permitir a satisfação do trabalhador com
a sua profissão e assim garantir relações de trabalho satisfatórias com os colegas e talvez
com as chefias.
Para Metzger26 o maior problema constitui-se na intensificação do trabalho (ritmo
de trabalho mais elevado, prazos muito restritos). Essa situação se amplia desde 1991 na
Europa e é acompanhada da pressão exercida diariamente sobre os trabalhadores em
função das exigências do mercado.
No subtítulo que se segue pretendemos mostrar como são as condições de trabalho
e saúde do trabalhador na empresa estudada.

1.4 Condição de trabalho e saúde do trabalhador na empresa


estudada

O setor sucroalcooleiro brasileiro vem desde algum tempo introduzindo mudanças


nos processos de trabalho em todos os setores, desde o setor agrícola, indústria ao
administrativo. A adoção dessas novas tecnologias implica na mudança da organização do
trabalho no setor, e, isso muda o perfil de adoecimentos dos trabalhadores.

23
Godoy SCB. Absenteísmo-doença entre trabalhadores de um hospital universitário. 2001. 140 f.
Dissertação [Mestrado em Enfermagem]. Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte, 2001
24
Carvalho M V L. Perfil do absenteísmo no Superior Tribunal de Justiça: análise do ano de 2009. Brasília,
2010.
25
Silva LS, Pinheiro TMM, Sakurai M. Reestruturação produtiva, impactos na saúde e sofrimento mental: o
caso de um banco estatal em Minas Gerais, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 23, n.12, p. 2949-2958,
2007.
26
METZGER JL. Mudança permanente: fonte de penosidade no trabalho? Revista Brasileira Saúde
Ocupacional, v. 36, n.123, p.12-24, 2011.

27
Neste subtítulo pretendemos mostrar de que forma é o organizado o trabalho na
agroindústria estudada e como isso influencia no processo do adoecimento dos
trabalhadores da empresa, para tal iremos basearmos no estudo de Faria (2012) que
analisou a saúde mental e trabalho rural no processo de reestruturação produtiva na
empresa ora estudada.
Na agroindústria analisada segundo nos mostra Faria27, a forma de organização de
trabalho é variada. A autora descreve o processo de trabalho começando pelos
trabalhadores da área de plantio e mostra que

“As turmas de trabalhadores envolvidos no plantio possuem em média 23


pessoas. A tarefa diária de cada turma é a de plantar oito caminhões de
mudas de cana durante a jornada diária de trabalho de 8 horas” (FARIA,
2012, p.51).

Caso finalizem o seu trabalho antes do término da sua jornada diária estipulada
pela agroindústria, os trabalhadores são encaminhados para outras atividades como
correção plantio ou até mesmo capina do solo a fim de fechar as oito horas de trabalho
exigidas e/ ou estipuladas pela empresa.
Ainda segundo Faria26, é preciso que haja sintonia entre os trabalhadores do plantio,
pois em caso de falha o prejuízo é para todos os membros do grupo, e como estes são
pagos de acordo com a produção do grupo, quanto maior for a produção maior será o
salário para cada um dos constituintes do grupo.
Essa situação contribui para explicar a pressão que é feita aos cortadores de cana-
de-açúcar nas usinas brasileiras, principalmente quando olhamos para a modalidade de
pagamento dos mesmos que é feito de acordo com o que eles produzem28.
Nas jornadas de trabalho os trabalhadores cortam uma boa quantidade de cana-de-
açúcar, num eixo de aproximadamente cinco linhas ou ruas, com 6 metros de largura e um
espaçamento de 1,5 metros entre as linhas. No caso do corte manual, o trabalhador limpa
as palhas não consumidas na sua totalidade pelo fogo abraçando um feixe com três a dez
canas, curvando-se e flexionando as pernas para poder corta-las bem próximo ao solo, pois
é lá onde se concentra a maior quantidade da sacarose 7.

27
Faria ID. Saúde mental e trabalho rural no processo de reestruturação produtiva de uma empresa do setor
sucroalcooleiro em Minas Gerais- Brasil . 2012. . Dissertação [Mestrado em Saúde Pública ], Faculdade de
Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, 2012.
28
RIBEIRO, Helena. Queimadas nos canaviais e perspectivas dos cortadores de cana- de- açúcar em
Macatumba, Saúde e Sociedade, v. 19, n.1, p. 48-63, 2010.

28
O corte da cana é um trabalho pesado que se realiza a céu aberto e os trabalhadores
ficam expostos ao sol com poeiras e foligem. A atividade do corte é cansativa, repetitiva
exigindo do trabalhador vários movimentos que causam no fim da jornada um desgaste
acentuado 27.
O pagamento dos trabalhadores do corte é feito por produção o que exige dos
trabalhadores o aumento no ritmo do trabalho, ultrapassando os limites fisiológicos,
atingindo uma média de produtividade de 12 toneladas diárias de cana cortada29.
Segundo o DIEESE (2007) os movimentos repetitivos durante o corte da cana-de-
açúcar podem causar nos trabalhadores lesões por esforço repetitivo (LER) / distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT):

“As lesões musculares são patologias típicas dos trabalhadores rurais


assalariados sendo causadas pela divisão e o ritmo intenso de trabalho com
cobrança de produtividade, jornada de trabalho prolongada, ausência de pausas
entre outros aspetos da organização do trabalho” (DIEESE, 2007, p.11).

Ao se avaliarem os riscos e danos da saúde do trabalhador, para além das suas


condições materiais de trabalho é também importante abordar as questões ligadas a
subjetividade dos trabalhadores 28.
Para conseguir atingir a produtividade diária exigida alguns trabalhadores fazem o
uso estratégico de drogas como o crack e a maconha visando obter estímulo e alívio para as
dores musculares 30.
Uma das características da agroindústria sucroalcooleira é a tentativa de submissão
dos trabalhadores a um intenso processo de exploração e sujeição a condições
extremamente precárias de trabalho31.
Quando se fala de precarização das condições de trabalho na agroindústria
sucroalcooleira, há que se fazer distinção entre os tipos de atividades profissionais ali
desenvolvidas bem como os tipos de perfis dos trabalhadores envolvidos nessas
atividades10.

29
Gomez CM. Produção de conhecimento e intersetorialidade em prol das condições de vida e de saúde dos
trabalhadores sucroalcooleiros. Ciência e Saúde Coletiva, v.16, n.8, p. 3361-3368, 2011.
30
Silva MAM. A morte ronda os canaviais Paulistas. Revista Abra, v.33, n.2, p. 11-143, ago/dez 2006.
31
Prado ML. Flexibilização e novas estratégias de intensificação do trabalho nas usinas de açúcar e álcool
a partir dos anos 90. Estudo de caso na região de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. 2008. 126 f.
Dissertação [Mestrado em Sociologia]. UNESP/Araraquara- SP, 2008.

29
Atualmente várias são as críticas concernentes ao setor canavieiro. Estas vão das
condições até a organização do trabalho, incluindo as formas de contratação, pagamentos
por produção, precariedade e limitação de eficiência dos Equipamentos de Proteção
Individual (EPI) entre outros 9,28.
Há uma intensificação no desrespeito e violação dos direitos trabalhistas no setor.
Essa situação pode estar associada às dificuldades na organização e empoderamento dos
trabalhadores agravados pela baixa escolaridade e nível de pobreza dos mesmos. O
fenômeno da exploração sempre esteve atrelado à grande oferta de força de trabalho,
proveniente sobretudo de áreas mais pobres do país e também em razão dos condicionantes
históricos e culturais que rotulam estes trabalhadores como desqualificados e
desvalorizados9.
Scopinho32 reitera que, o cenário de precarização e super-exploração da força de
trabalho é motivada pelo processo de reestruturação do setor, e isso vem ocorrendo desde
que se abriu a economia implicando deste modo na reformulação de metas, processos
administrativos e gestão do trabalho tanto manual como mecanizado. Essas novas formas
de organização do trabalho industrial e empresarial incluindo a inserção econômica e
comercial baseadas em economias abertas e competitivas contribuem para novos padrões
de gestão da força de trabalhadores mantendo novas formas de desrespeito trabalhista.
Para Silva19, a superexploração da força de trabalho é camuflada por um lado pelos
detentores do controle do processo produtivo e por outro pelo próprio trabalhador, devido
ao medo e pressão da perda do emprego.
O trabalho nos canaviais é feito ao ar livre e os trabalhadores ficam expostos ao sol
por muito tempo. As doenças e acidentes de trabalho podem estar ligados (as) as condições
de trabalho bem como as cargas horárias estipuladas pelas empresas. O cansaço físico,
alimentação inadequada e as condições de vida precárias dos trabalhadores das indústrias
sucroalcooleiras contribuem para o seu adoecimento19.
A carga horária na indústria sucroalcooleira é uma questão muito discutida pelos
autores principalmente no que tange ao cansaço que é a principal causa de acidentes e
adoecimento dos trabalhadores.
É dentro dos elementos que constituem as cargas horárias e processos de trabalho
que reside a origem do desgaste que pode significar ou não a perda de capacidades
biopsíquicas no processo de trabalho 11.

32
Scopinho RA. Qualidade Total, Saúde e Trabalho: uma analise em empresas sucroalcooleiras Paulistas.
RAC, v.4, n.1, p. 93-112, jan/abr 2000.

30
Sobre a mecanização do trabalho Scopinho et al33 pontuam que, a mecanização não
ajuda a melhorar o trabalho na lavoura e nem tão pouco diminui o desgaste, e pelo
contrário introduziu novas formas de desgaste e de intensificação do ritmo de trabalho.
Com a mecanização das áreas planas, foi transferido para os trabalhadores o corte
em condições mais difíceis: terreno inclinado, plantio irregular e cana de pior qualidade.
O processo de mecanização do trabalho nas indústrias canavieiras intensificou o
ritmo de trabalho, diminuiu a força de trabalho empregada, não eliminou o desgaste físico
e psíquico dos trabalhadores, e combina assimetricamente o trabalho especializado com o
manual. Ao lado trabalhadores com maior especialização como tratoristas, motoristas e
operadores de máquinas agrícolas, há outros trabalhadores sem especialização alguma34.
O corte de cana é realizado ao ar livre, sob o sol, com o trabalhador equipado com
uma vestimenta composta de botas com biqueira de ferro, calças de brim, perneiras de
couro até o joelho contendo três barras de ferro frontais, camisa de manga comprida,
chapéu, lenço no rosto e pescoço, óculos e luvas de raspa de couro9.
A vestimenta, os equipamentos utilizados para o corte (o caso do facão), realização
do trabalho sob o sol elevam o consumo de energia, constituindo-se assim em elementos
insalubres à saúde. Esses fatores fazem com que os trabalhadores transpirem bastante
perdendo água e sais minerais, podendo levar à desidratação e à frequente queixa e
ocorrência de câimbras9.
Para conter as câimbras e a desidratação, algumas usinas oferecem aos
trabalhadores soro fisiológico e, em alguns casos, suplementos energéticos, para que estes
reponham os sais minerais.
13
Segundo Maciel et al , os fatores que geralmente afetam negativamente a saúde e
qualidade de vida dos trabalhadores sucroalcooleiros são a baixa remuneração, a carência
de organização sindical, a exploração do trabalhador através do ganho por produtividade,
as condições precárias de moradia e alimentação, bem como as condições ambientais
rigorosas a que os mesmos encontram-se expostos.

33
Scopinho R A, Eid F, Vian CEF. Novas tecnologias e saúde do trabalhador: a mecanização da cana- de-
açúcar. Cadernos de Saúde Pública, v.15, n. 1, p. 147-161, 1999.
34
Abreu D; Moraes LA; Nascimento EN; Oliveira RA. A produção da cana-de- açúcar no Brasil e a Saúde
do Trabalhador. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, v.9, n.2, p. 49-61, dez/2011.

31
1.5 Características do processo de trabalho, organização do
trabalho e saúde do trabalhador da empresa estudada

O maior contingente da mão de obra na agroindústria é de trabalhador rural e/ou


cortadores de cana. Estes cortam a cana com facões ou fainhas através de golpes dados na
cana bem rente ao chão, para em seguida depositá-las em um local pré- estabelecido. A
colheita manual da cana nesta agroindústria é realizada principalmente nos períodos de
safra.

“O corte da cana-de-açúcar é realizado em quadras que contêm vários eitos de


cana. Os eitos são retângulos formados por cinco ruas ou linhas de cana. Cada
linha está espaçada uma da outra por uma distância de 1,40 a 1,50 metros. Sendo
assim, o eito possui cerca de sete metros a sete metros e meio de largura por um
comprimento que depende da resistência do trabalhador, de acordo com a
metragem que conseguir cortar. A cana a ser cortada manualmente é a cana
queimada” (FARIA, 2012, p.57).

No corte manual da cana-de-açúcar, depois de definido o eito, o trabalhador abraça


um feixe de cana (com cinco ou dez canas) como mostra a figura 1. O trabalhador curva-se
e flexiona as pernas para poder cortar a cana bem rente ao chão, pois é onde se concentra a
sacarose. Para cortar a cana o trabalhador dá vários golpes e a cada 30 cm se abaixa e se
torce para abraçar e golpear a cana35.

Figura 1- Corte manual da cana de açúcar.

35
Alves F. Por que morrem os cortadores de cana? Saúde e Sociedade, v.15, n.3, p. 90-98, set/dez 2006.

32
Fonte: Isabella Diniz Faria

Tal como em todo o setor sucroalcooleiro os trabalhadores desta agroindústria


também têm uma longa jornada de trabalho. No corte manual da cana a jornada de trabalho
é de quarenta e quatro horas semanais, e o corte é realizado de segunda a sábado, com
descanso semanal aos domingos.

33
“Esses trabalhadores saem de casa entre 5 e 6 horas da manhã, retornando
somente ao final da tarde. Precisam levar consigo todos os materiais necessários
para um dia inteiro no campo: alimentos (almoço e lanche), garrafa d’água e seus
instrumentos de trabalho “( FARIA, 2012, op.cit.).

A atividade do corte é feita ao ar livre, sob o sol, e o trabalhador usa os seguintes


Equipamentos de Proteção Individual (EPI): uma vestimenta composta por manga de
helanca em braço dominante, peneira (para se proteger de animais peçonhentos e cortes),
botina com biqueira de aço, óculos de segurança, boné árabe e luvas. Como mostra a figura
2 28.
Segundo Alves 35, esse trabalho sob o sol e a vestimenta que usam durante o corte
faz com que os trabalhadores transpirem muito e percam água e sais minerais provocando
assim a desidratação e a ocorrência constante de câimbras que começam geralmente pelas
mãos e pés seguido das pernas e chegam ao tórax.
Como se pode observar o trabalho no corte da cana além de penoso é desgastante e
leva o trabalhador ao adoecimento e acidentes de trabalho devido a intensificação do
próprio trabalho bem como as elevadas cargas horárias que são estipuladas pelas empresas.
Como referimos anteriormente o processo de trabalho na empresa estudada não se
difere das outras empresas do setor, devido a natureza da própria atividade canavieira e as
crescentes procuras pelo álcool derivado da cana-de-açúcar.

Figura 2. Vestimenta usada no corte manual da cana

34
Fonte: Isabella Diniz Faria

Durante a sua atividade laboral os trabalhadores são organizados em frentes de


trabalho compostas por cerca de 35 trabalhadores. Cada uma das frentes é coordenada por
um apontador, cuja função é medir a produção final de cada um dos trabalhadores,
controlar e organizar os grupos. Os apontadores por sua vez são supervisionados pelos
encarregados, que tem como função, estabelecer o valor do metro da cana a ser pago
naquele dia aos trabalhadores do corte, e essa atividade é feita todos os dias no inicio da
jornada laboral 28.
No corte a produção é individual diferentemente da fase do plantio que como
mostramos anteriormente, a produção é feita por grupos de trabalho.

35
“[...] No corte manual da cana de açúcar é o trabalhador quem controla seu ritmo
de trabalho, suas pausas, sua produção diária. Esse trabalhador, apesar de
precisar produzir muito para manter seu salário mensal, possui ainda certo
controle e autonomia sobre seu trabalho “(FARIA, 2012, p.61).

A cana cortada é transportada por máquinas presentes na colheita manual, que


depois de organizadas em montes são levadas às caçambas que tem por função receber a
cana cortada, para serem levadas por tratores ou até mesmo pelos próprios caminhões.
Terminado o carregamento das caçambas a cana é transportada através de caminhões para
usina 28.
No tocante a mecanização, este processo na agroindústria estudada teve seu início
em 2007 e até o ano de 2011 as colhedeiras respondiam por cerca de 70% da colheita da
cana.
A colheita mecanizada nessa agroindústria é organizada da seguinte forma: a usina
da agroindústria tem uma moenda que funciona durante 24/ dia, isto se não houver
problemas de ordem técnica operacional, e para tal é necessário manter a colheita da
matéria prima para que se possa manter a produção tanto do etanol assim como do açúcar.

“A colheita mecanizada da cana funciona ininterruptamente por três turnos


diários, exceto em situações em que as intempéries do ambiente não permitam
pelo risco de acidentes aos trabalhadores envolvidos;
Os trabalhadores de cada turno são mantidos por todo o período da safra, com
horários de trabalho fixos;
Cada turno possui operadores de colhedeiras, motoristas, tratoristas, operadores
agrícolas, entre outros” (FARIA, 2012, p.64).

Os trabalhadores da colheita mecanizada são orientados por um encarregado,


responsável pela divisão do trabalho e pelo funcionamento da colheita mecanizada, e é ele
quem organiza as frentes de trabalho em cada turno e gerencia a produção de cada
máquina. No corte mecanizado os trabalhadores trabalham 44 horas semanais, por vezes
oito horas diárias ou revezamento de doze horas diárias por 36 horas de descanso.
Como se pode observar, o corte mecanizado é um trabalho árduo e desgastante,
além de ter uma carga horária extremamente pesada.

“O operador de colhedeira deve permanecer por horas seguidas dentro de cabines


fechadas (a maioria delas possui ventilação e refrigeração), sentados, com pouco
espaço para movimentar o corpo e realizando movimentos repetitivos de
membros superiores, inferiores e pescoço. Os EPI da colheita mecanizada são os
fones de ouvido, para redução de ruídos; luvas, para proteção durante a
manutenção da máquina; vestimentas básicas; botinas e bonés. Mesmo assim os

36
trabalhadores ainda continuam expostos às vibrações, ruídos, poeiras,
movimentos repetitivos, entre outros.
A colheita mecanizada possui um ritmo intenso de trabalho. A máquina muitas
vezes impõe o ritmo ao trabalhador. Poucas são as pausas feitas pelo trabalhador
durante sua jornada de trabalho. Uma pausa é obrigatória ao trabalhador, que é a
parada de abastecimento e lubrificação da máquina durante aquela jornada. Já as
pausas para descanso e alimentação raramente são feitas pelo trabalhador, muitas
vezes justificadas pelo sistema de pagamento desses trabalhadores: o pagamento
por produção” (FARIA, 2012, p.66).

O pagamento por produção no setor canavieiro é bastante criticado, na medida em


que o trabalhador sente-se obrigado a dar o máximo da sua força ao trabalho para produzir
o máximo exigido e assim garantir uma remuneração condizente com a quantidade da sua
produção. Autores como Alves 36, Baccarin e Alves36, são críticos a forma de pagamento
por produção adotada pelo setor sucroalcooleiro e defendem o fim desta forma capitalista
de remuneração.

“O trabalhador, quando recebe por produção, tem o seu pagamento atrelado ao


que ele conseguiu produzir no dia. Como eles trabalham pela subsistência,
trabalham cada vez mais para melhorar suas condições de vida; isso provoca o
aumento do ritmo de trabalho. O pagamento por produção transfere ao
trabalhador a responsabilidade pelo ritmo do trabalho, que é atribuição do
capitalista” (ALVES, 2006, p.93).

Alves acredita que, o excesso de trabalho motivado pelo pagamento por produção
seja responsável pelas mortes no setor sucroalcooleiro.

“O que vai ao centro da questão, que são as mortes dos trabalhadores cortadores
de cana pelo excesso de trabalho, é o fim do pagamento por produção. Enquanto
o setor sucroalcooleiro permanecer com essa dicotomia interna – de um lado,
utiliza o que há de mais moderno em termos tecnológicos e organizacionais,
uma tecnologia típica do século XXI (tratores e máquinas agrícolas de última
geração, agricultura de precisão, controlada por geoprocessamento via satélite
etc.), de outro lado, mantém relações de trabalho, já combatidas e banidas do
mundo desde o século XVIII –, trabalhadores continuarão morrendo” (ALVES,
2006, p.97).

Baccarin e Alves 37 defendem também o fim de pagamento por produção, pois no


seu entender, boa parte dos problemas no setor sucroalcooleiro acabaria com o fim do
pagamento por produção.
Como se pode observar no que foi descrito por Alves o excesso de trabalho não só
causa adoecimentos e acidentes de trabalho, como também é responsável pelas mortes no
setor.

36
Baccarin JG, Alves FJC. Etanol da cana de açúcar: considerações sobre o meio ambiente e a ocupação
agrícola. In: Flavio Borges Botelho Filho. Cadernos do Cean/energia e biomassa. Brasilia: Centro de estudos
Avançados Multidisciplinar, 2008. s/p.

37
Figura 3- Colhedeira mecânica

Fonte: Isabella Diniz Faria

No que tange ao ritmo de corte, os trabalhadores aceleram o ritmo de trabalho


quando há trabalho de corte manual da cana como forma de compensar a falta de trabalho
nos dias em que não há corte manual, isso por se tratar de um trabalho que é ganho por
produção.

“Dessa forma a carga de trabalho que lhes é imposta aumenta


consideravelmente, provocando desgaste físico e psicológico, muitas vezes
provocando adoecimento a esse trabalhador. Muitos trabalhadores associaram o
cansaço e o desgaste físico diário ao acelerado ritmo de trabalho e às cargas
impostas durante a busca pela manutenção de seus salários”(FARIA, 2012, p74).

Faria28 mostra que na empresa estudada, a intensificação do ritmo de trabalho no


corte somado as condições penosas de trabalho tem provocado esgotamento físico e
cansaço mental dos trabalhadores. A intensificação do trabalho na empresa não se restringe
aos cortadores, se faz sentir também aos superiores destes como apontadores que como foi

38
referido anteriormente tem função de medir a cana cortada e entre os que controlam as
frentes de trabalho, neste caso os encarregados.
Os trabalhadores não se sentem satisfeitos com o seu trabalho e relacionam o
cansaço físico ao excesso de trabalho e o cansaço mental as sobrecargas físicas aliando-se
a desvalorização do seu trabalho com os baixos salários 28.
A autora constatou que na empresa estudada tanto a organização bem como as
condições de trabalho têm agravado o estado de saúde dos trabalhadores motivada pela
constante cobrança sobre a produtividade, sem levar em conta as necessidades do
trabalhador.
Quanto a substituição do trabalho manual pelo mecanizado e sua relação com a
saúde a autora afirma que os trabalhadores relataram ter havido melhorias significativas,
como o aumento na qualidade de vida e de trabalho.
Faria (2012) identificou no seu estudo casos de depressão, nervosismo e crise de
choros entre os cortadores de cana da empresa estudada e relata ainda que “um dos
instrumentos utilizados pela empresa e reconhecido como atividade preventiva de lesões
no ambiente de trabalho dos canavieiros é a ginástica laboral. Os trabalhadores do corte de
cana confirmaram que a ginástica laboral fornecida pela empresa ao início da jornada de
trabalho é uma das formas que eles utilizam para prevenir os problemas de saúde e o
cansaço mental” 28.

1.6 Acidentes de trabalho no setor sucroalcooleiro

Os acidentes de trabalho são na maioria das vezes causados pelos riscos presentes
nos ambientes e locais de trabalho, e é um problema enfrentado por todos os trabalhadores,
independentemente do tipo de atividade realizada37. Mas tem magnitude diferentes nos
diversos ramos de atividade.
Silva32 define acidente de trabalho rural como um acontecimento inesperado e que
ocorre em virtude da organização do trabalho, que exige alta produtividade e mantém
condições insatisfatórias de segurança.

37
Aerosa J. A importância das percepções de riscos dos trabalhadores. International Journal on working
conditions, s/v., n.3 , p. 54-61, jun/2012 .

39
38
Bonita et al chamam atenção para o uso da palavra acidente, defendendo que é
um erro utilizar a palavra acidente quando se aplica aos agravos à saúde, pois no entender
dos autores acidente implica ocorrência de um evento ao acaso e não como resultante de
uma combinação de fatores causais que poderiam ser prevenidos.
Para Silva32, pode se considerar acidente de trabalho um acontecimento imprevisto
originado da desatenção e falta de cuidado do trabalhador. Esta afirmação é refutada por
Cunha39 que defende que, ao se transferir a responsabilidade para o trabalhador, o
patronato se livra da responsabilidade dando somente atenção a implementação de ações de
controle de benefícios pautadas nas execuções.
40
Na visão de Galdino et al , os acidentes de trabalho são um importante problema
de saúde pública. No Brasil, cerca de 25% das lesões por causas externas atendidas em
serviços de emergência são causados pelos agravos relacionados ao trabalho. Os autores
concordam ainda que, embora os sistemas de informação em saúde no país estejam
avançandos, dados sobre acidentes de trabalho carecem de melhores registros tanto no que
diz respeito à abrangência quanto à qualidade dos mesmos.
Para OIT, fatores relacionados à globalização, como aceleração e liberalização do
comércio mundial, e a disseminação de novas tecnologias estão gerando novos tipos de
organização do trabalho e, com eles novos padrões de exposição aos riscos de acidentes de
trabalho e doenças41. No setor sucroalcooleiro essas novas tecnologias contribuem para o
aumento dos índices dos acidentes e agravos à saúde do trabalhador.
Na agroindústria estudada os cortadores manuais da cana podem chegar a cortar
5000 metros de cana por dia. No corte mecanizado cada operador de colhedeira corta 130
toneladas de cana durante as oito horas de trabalho. A produção exigida diariamente para o
corte mecanizado nessa agroindústria é de 3200 toneladas, sendo para cada colhedeira a
responsabilidade de cortar 400 toneladas de cana por cada dia de trabalho28.
28
Segundo Faria com a mecanização elevou-se o número de acidentes de trabalho
na empresa

38
Bonita R, Beaglehole R, Jellstrom TK. Epidemiologia Ambiental e Ocupacional. In: Bonita R, Beaglehole
R, Jellstrom TK Epidemiologia básica, World Health Organization, 2010. p. 155- 163.
39
Cunha JCCB. Adoecimento e afastamento do trabalho de servidores públicos estaduais de Santa
Catarina,1995 a 2005. 2007. 119 f. Dissertação [ Mestrado em Saúde Pública] Universidade Federal de
Santa Catarina, 2007.
40
Galdino A, Santana VS, Ferrite S. Os centros de referência em saúde do trabalhador no Brasil. Cadernos
de Saúde Pública, v.28, n.1, p. 145-159, 2012.
41
International Labour Organization. Safety in numbers: pointers for the global safety at work. Geneva;
2003.

40
“Um encarregado da colheita mecanizada, ao falar sobre a intensificação do
trabalho dos indivíduos desse setor, relatou um maior número de acidentes
atualmente, comparado ao início da mecanização da colheita, há seis anos, e ao
número de acidentes do corte manual. Ele justifica esse maior número de
acidentes pelo menor crescimento da estrutura da Agroindústria e suporte de
trabalho nesse setor, comparado às metas de produtividade exigidas aos
trabalhadores”(FARIA , 2012, p. 98).

Para reduzir os riscos de acidentes e facilitar o corte manual da cana, esta é


queimada para tirar a palha. A jornada de trabalho dos cortadores da cana nessa
agroindústria é de 44 horas semanais, de segunda a sábado com descanso semanal aos
domingos 39.
No Brasil, em 2007 foram registrados 18.477 casos de acidentes de trabalho graves,
em 2008, 29.629, correspondendo a um aumento de 60,4% 38.
32
No setor canavieiro, Silva aponta a carência nutricional, o esforço excessivo, às
doenças respiratórias dores na coluna, tendinites e câimbras como fatores que contribuem
para o aumento dos acidentes de trabalho. Estima-se que de 2004 a 2008, foram registradas
pela Pastoral do Migrante 21 mortes motivadas pelo desgaste excessivo da força de
trabalho.
De acordo com Scopinho42, a saúde do trabalhador ganha importância na medida
em que a ocorrência de acidentes ou de doença além de representar uma diminuição da
produtividade e custos adicionais de produção, pode prejudicar a imagem da empresa no
mercado.
43
Para Gimo et al , a subnotificação dos acidentes dificulta a compreensão real da
ocorrência dos acidentes de trabalho no Brasil. O país não tem um sistema único que
permita a centralização das informações sobre acidentes de trabalho. O banco de dados
mais tradicional é do Ministério de Previdência e Assistência Social, e este subnotifica
aproximadamente 80% dos acidentes ocupacionais entre trabalhadores assistidos pela
legislação trabalhista.

42
Scopinho RA. Controle do trabalho no setor sucroalcooleiro: reflexões sobre o comportamento das
empresas, do estado e dos movimentos sociais organizados. Cadernos de Psicologia social de Trabalho, v.7,
p. 11-29, 2004.
43
Giomo DB, Freitas FC T, Alves LA, Robazzi MLCC. Acidentes de trabalho, riscos ocupacionais e
absenteísmo entre os trabalhadores de enfermagem hospitalar. Rev. enferm., v. 17, n.1, p.24-9, 2009.

41
1.7 Acidentes de trabalho, doenças de trabalho em trabalhadores
rurais no Brasil e no mundo

Com as crescentes mudanças organizacionais, a entrada de novas tecnologias no


setor rural e o desenvolvimento do setor agrário no Brasil torna-se necessário a
implementação de estudos que toquem mais a fundo questões relacionadas com acidentes
de trabalho e doenças do trabalho no setor rural.
A preocupação com a saúde dos trabalhadores rurais é destacada na Conferência
Mundial de Saúde realizada em Alma-Ata, no Cazaquistão, em 1978 44.

“Os trabalhadores rurais passaram a integrar o conjunto de ações de proteção


social brasileiro I somente a partir de 1970, diferentemente do trabalhador
urbano que já teve seus primeiros direitos sociais assegurados a partir dos anos
de 1930 a 1940” (SCHLINDWEIN, 2011,p.111).

Estudos internacionais e brasileiros45,46,47 apontam a adoção de novas tecnologias


no setor como sendo os grandes motivadores de acidentes de trabalho e adoecimento dos
trabalhadores no setor rural.
Segundo a OIT 22, o setor rural é uma das atividades de maior índice de acidentes
de trabalho no mundo, seguido dos setores de construção civil e mineração. Os acidentes
fatais no setor rural giram em torno de 170 trabalhadores por ano no nível mundial.
De acordo com Walker 45, na Nova Zelândia a maior preocupação dos trabalhadores
rurais está relacionada com a pressão do tempo e associam os problemas mentais a adoção
das novas tecnologias. Segundo este autor, de 2008 a 2011 foi registrado um aumento
triplo nas mortes no setor rural na sua maioria causados por suicídios, motivados por
problemas mentais relacionados a intensificação do trabalho.
No norte da Índia, 47% dos acidentes de trabalho registrados no setor rural estão
associadas ao uso de espadas e 13% ao uso de foices e debulhadoras48. Segundo o autor,
quando considerada a gravidade dos acidentes descartando-se os acidentes leves,

44
Schlindwein VLDC. A desproteção social dos trabalhadores rurais nos acidentes de trabalho. Textos e
Contextos, 2011. p.109-117.
45
Walker JF. Mental health in the rural área setor. A review, s/l, s/e, 2012. p. 1-49.
46
Fundação Europeia para a melhoria das condições de vida e de trabalho/EUROFUND. A prevenção do
absenteísmo no trabalho. Luxemburgo, Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Européias, 2009.
p. 3-13.
47
Jesus CS, Brito TA. Estudos dos acidentes de trabalho no meio rural: analise dos processos e condições de
trabalho. Rev. Saúde.Com, v.5, n.2,p. 141-146, 2009.
48
O´Neill DH. Occupational safety and health in the rural sector. Afr Newslett on occup health and safet, ,
v. 15, s/n, p. 20-22, 2005.

42
constatou-se que os cortes com debulhadoras eram quatro vezes maior quando comparados
com os cortes causados por espadas ou foices. Os acidentes de trabalho constituem o maior
agravo dos trabalhadores brasileiros47.
20
Silva aponta a carência nutricional, o esforço excessivo, dores na coluna,
tendinites e câimbras como fatores que contribuem para o aumento dos acidentes de
trabalho.
As dores musculoesqueléticas são causadas na sua maioria pela adoção de más
posturas durante as longas horas de trabalho e também pelos movimentos repetitivos. As
dores nas costas relatadas na maioria das vezes pelos trabalhadores rurais são atribuídas a
péssima postura adotada principalmente durante o corte ou capina. A ergonomia pode
contribuir para reduzir as doenças músculo-esqueléticas 48.

“O aumento do ritmo do trabalho, a redução de pausas e uma situação de alta


demanda cognitiva impõem aos trabalhadores posturas anômalas para execução
das tarefas com movimentos repetitivos. Demandas físicas e psicossociais
(trabalho repetitivo, baixo controle dos trabalhadores sobre suas tarefas, pressão
de tempo e insatisfação no trabalho) compõem um universo de condições
desfavoráveis para a saúde de trabalhadores.
Mudanças na gestão da produção, de pessoal e dos negócios impõem novas
exigências aos trabalhadores no desenvolvimento das tarefas, configurando
novos fatores de risco para a saúde dos trabalhadores” (FERNANDES ET AL,
2010, p.1564)49 .

As dores nas costas e pescoço são características do trabalho rural, e estas são
causadas pelo transporte incorreto de matérias48.
48
O’Neill aponta o uso de pesticidas como outro problema sério e que no setor
rural é também visto como uma ameaça a saúde dos trabalhadores, principalmente os
pequenos agricultores, pois o seu mau uso pode ser fatal.

Tanto no Brasil quanto no nível internacional, as mudanças que vão sendo


introduzidas nas empresas tendo em vista a participação destas no mercado internacional
exigem delas uma nova forma de gestão e controle do trabalho como meio de garantir uma
maior produtividade.

49
Fernandes RCP, Assunção AA, Carvalho FM. Mudanças na forma de produção na indústria e a saúde dos
trabalhadores. Ciência e Saúde Coletiva, v.15, supl 1, p. 1563- 1574, 2010.

43
“A modalidade de gestão adotada pelas empresas para melhoria do desempenho
no mercado provocou mudanças na organização temporal da produção. A
obtenção de uma maior capacidade produtiva, por unidade de tempo, com
redução do custo de produção, tem intensificado o ritmo de trabalho, buscando a
maior produção por unidade de tempo. Esta reestruturação produtiva determina
modificações na gestão da força de trabalho, com novas exigências aos
trabalhadores” (FERNANDES ET AL, 2010, p.1572).

Dos poucos estudos encontrados que discutem a saúde e acidentes de trabalho no


setor rural identificou-se que, a maioria dos trabalhadores que se acidentam neste setor é
do sexo masculino provavelmente por se tratar de um trabalho que emprega na sua maioria
homens visto se tratar de uma atividade de exige força física e habilidade no manuseio dos
instrumentos de trabalho.
O trabalhador no exercício de sua profissão pode estar está sujeito a um acidente do
trabalho, todavia algumas ocupações apresentam probabilidades maiores que outras 48.
A agricultura é a principal base econômica de muitos países principalmente os mais
pobres e fonte de renda e sustento para muitas famílias, e é o setor que apresenta maior
contingente da força de trabalho. É uma atividade desempenhada em alguns lugares até por
crianças principalmente na agricultura famílias, contudo,

“As condições de trabalho no meio rural demonstram muita vulnerabilidade no


que se refere à estrutura legal, bem como de fiscalização, tudo isso atingindo,
sobretudo uma parcela da população frágil, que além dessas situações de
trabalho apresentam condições de vida também precárias” (JESUS e BRITO,
2009, p.145).

No Brasil, o acidente de trabalho rural passou a ser reconhecido pela Legislação


Federal da Previdência Social nos anos de 1974/75. Na área da saúde, as políticas que
visam a proteger a saúde dos trabalhadores rurais se resumem a práticas assistencialistas 45.
Dados registrados no boletim epidemiológico de acidentes de trabalho no Brasil
mostram que, pode haver um menor registro nos acidentes de trabalho que mostram a
responsabilidade do empregador ou demonstram precariedade na segurança das condições
de trabalho, se comparados aos acidentes de trânsito. Alguns ramos de atividade como a
agricultura/ pecuária, podem também ser alvo de sub-registros por causa da predominância
rural, difícil acesso ao serviço bem como benefícios sociais como o da previdência social50.

50
Centro colaborador de vigilância dos acidentes de trabalho. Boletim epidemiológico de acidentes de
trabalho: informe do centro colaborador UFBA/ISC/PISAT-MS/DSAST/CGSAT, 2011. p. 1-4.

44
1.8 Contextualização da empresa estudada

A empresa estudada está instalada no município há mais de 30 anos. Ela possui


cerca de 1100 funcionários durante o período de safra (abril a novembro), sendo que
desses, cerca de 700 funcionários continuam a trabalhar na entressafra (dezembro a
março). Todos empregados possuem o vínculo empregatício celetista. A população da
empresa é totalmente local, não tendo mão de obra migrante 28.
A agroindústria em estudo possui mais de 110 variedades de cana, que são
plantadas de acordo com a eficiência de cada muda e dependendo do tipo de solo,
oferecendo assim uma melhor produtividade por metro quadrado 28.
Para facilitar o corte manual da cana e diminuir o risco de acidentes de trabalho, é
realizada a queima da cana, para retirada de sua palha. Nas usinas sucroalcooleiras existem
trabalhadores responsáveis por essa queima, de maneira sistematizada para que seja bem
sucedida e não haja risco de incêndios. O maior contingente de trabalhadores da agroindústria
em estudo encontra-se na colheita manual de cana 28.

1.9 Caracterização Geográfica do Município

O município de Pompeu (figura 4) está localizado na região sudoeste do Brasil, na


mesorregião central do estado de Minas Gerais, na microrregião de Três Marias, a 164
quilômetros de Belo Horizonte. Está situado entre os Rios Paraopeba e Rio São Francisco.
A cidade de Pompeu possui uma área de 2.557, 734 Km2 com uma população de
30.033 mil habitantes. Faz limite com os seguintes municípios: ao norte, Felixlândia; a
noroeste, Morada Nova de Minas; ao sul, Pitangui; a sudeste, Papagaios; a sudoeste,
Martinho Campos; a leste, Curvelo; a oeste, Abaeté. Atualmente, o município de Pompeu é
formado, além do distrito sede, pelo distrito de Silva Campos51.

51
GONTIJO S. A implantação de um centro de atenção psicossocial no município de Pompéu-
MG. Disponível em <http://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2307.pdf>.
Acesso em 28/02/2013.
45
Figura 4: Mapa do município de Pompeu.

Fonte: Google imagens. Acesso em 28/02/ 2013

A altitude máxima do Município é de 989 metros na Serra Mucambinho e a mínima


de 595 metros na represa de Três Marias, e no ponto central da cidade a altitude é de
657,53 metros. A temperatura média anual do município é de 22, 1 ºC, a média máxima
anual de 29,2 ºC e a média mínima anual de 16,4 ºC. O índice médio pluviométrico anual
é de 1230,3mm. Seu relevo é distribuído em 50% plano; 45% ondulado e 5% montanhoso 52.
(GONTIJO, 2010).
A economia do Município é baseada nas seguintes atividades econômicas:
agropecuária, com destaque para a atividade leiteira, destacando que o município é o maior
produtor de leite do estado, com uma produção de cerca de 400 mil litros/dia; produção do
álcool com uma usina instalada, com plantio de cerca de 16 mil hectares de cana e outra
em processo de instalação. O município produz também eucalipto com cerca de 40 mil

46
hectares plantados, e para atividades ligadas à produção de carvão vegetal para abastecimento
da siderurgia do Estado. Na área industrial, destacam-se a mineração, o processamento de
ardósia e a fabricação de imóveis que vem perdendo força nos últimos anos 52.
O Produto Interno Bruto (PIB) do município é de 223.496 mil reais, com Renda per
capita de R$236,88 (ano de 2000), e um índice de desenvolvimento humano (IDH) de
52
0,745 . O índice de IDH é calculado pela média dos indicadores básicos (educação,
longevidade e renda) e transformados em unidades de medida comparáveis. É um
indicador utilizado para identificar situações extremas associadas à desigualdade de bem-
estar entre os indivíduos 52.
Índice de IDH do município de Pompeu encontra-se no cenário estadual na 319ª
colocação entre os 853 municípios do estado de Minas Gerais, encontrando-se acima da
média geral de IDH desses municípios, que seria de 0,719. 52.
Os setores produtivos mais prevalentes no município são a agropecuária e o de
serviços. No PIB do município, em 2002, o valor adicionado à agropecuária foi de 37.574
mil reais, 28.948mil reais para a indústria, e para o serviço 62.728mil reais 52.

52
POMPÉU. Prefeitura Municipal de Pompéu, 2010. Disponível em
<www.pompeu.mg.gov.br/>.Acesso em: 28/02/. 2013.
47
2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral:

Analisar o perfil dos acidentes de trabalho em uma indústria sucroalcooleira em Minas


Gerais.

2.2 Objetivos específicos:

• Estabelecer a prevalência de acidentes de trabalho;

• Identificar as principais características dos acidentes de trabalho;

• Descrever o perfil epidemiológico e ocupacional dos trabalhadores acidentados.

48
3. Métodos

Delineamento:

Trata-se de um estudo descritivo e de série histórica com base em dados


secundários registrados nas Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs), de janeiro de
2007 a dezembro de 2011, em uma indústria sucroalcooleira situada na região Centro-
Oeste de Minas Gerais. Verificou-se a tendência temporal e o perfil epidemiológico dos
acidentes de trabalho registrados pela empresa.

População:

Foram analisadas Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs) emitidas no


período referido. A empresa empregava em média por ano 858 trabalhadores distribuídos
entre os setores industrial, administrativo e agrícola.

Variáveis:

A tendência temporal dos acidentes de trabalho foi observada por meio da


distribuição do quantitativo de registros de CATs, por ano e por setor de atividade da
empresa.
O perfil dos trabalhadores acidentados foi descrito a partir do sexo, faixa etária,
escolaridade, estado civil, renda e ocupação. A ocupação foi categorizada de acordo com a
Classificação Brasileira de Ocupação (CBO)11. A situação do acidente foi verificada pelo
número de horas trabalhadas no dia do acidente, se houve afastamento, dias de
afastamento, internação, parte do corpo atingida, situação geradora, natureza da lesão,
diagnóstico da lesão, tipo do acidente e óbito. Os diagnósticos das lesões foram agrupados
de acordo com os capítulos da Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) 12.

49
Análise dos dados

A análise descritiva dos dados foi realizada por meio da distribuição de frequências
absoluta e relativa das variáveis categóricas e medidas de tendência central de variáveis
discretas e contínuas, além de taxas de ocorrência dos acidentes por população
trabalhadora ao longo dos anos. Utilizou-se o software SPSS versão 19.

Considerações éticas

Este estudo é parte do projeto intitulado “Saúde Mental e trabalho rural no processo
de reestruturação produtiva de uma empresa do setor sucroalcooleiro em Minas Gerais”
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da Universidade Federal de Minas
Gerais sob o parecer 0018.0.203.000.11.

50
4. RESULTADOS - ARTIGO

ACIDENTES DE TRABALHO EM UMA INDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA NO


BRASIL: VISIBILIDADES E INVISIBILIDADES

51
Resumo

Objetivo: o objetivo deste estudo foi descrever o perfil dos acidentes de trabalho ocorridos
em uma indústria sucroalcooleira, localizada em Minas Gerais, Brasil. Método: Trata-se de
um estudo transversal, descritivo e de série temporal com base em dados secundários
registrados nas Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs), no período de 2007 a
2011. Foi feita uma distribuição de frequências absoluta e relativa das variáveis categóricas
e medidas de tendência central de variáveis discretas e contínuas, além de taxas de
ocorrências dos acidentes por população trabalhadora ao longo dos anos. Resultados:
Foram analisadas 1.746 CATs fornecidas pela empresa. A taxa anual média de prevalência
de acidentes de trabalho no período foi de 40,7%. O grupo ocupacional mais acometido foi
o dos trabalhadores rurais (67,4%). De acordo com a CID10, as maiores taxas foram
encontradas no grupo das lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de
causas externas (81,6%) e no grupo das doenças do sistema osteomuscular e do tecido
conjuntivo (6,6%). Em 2011 observou-se um aumento no grupo das doenças
osteomusculares e do tecido conjuntivo e um decréscimo nas lesões e envenenamentos.
Conclusão: Acidentes de trabalho no setor sucroalcooleiro brasileiro constituem-se num
grave problema de saúde pública. É necessário o estabelecimento de políticas públicas
capazes de investigar, enfrentar e superar este grave problema dos acidentes de trabalho no
setor sucroalcooleiro.

Palavras- chave: Acidentes de trabalho. Trabalho Rural. Notificação de Acidentes de


Trabalho. Setor sucroalcooleiro. Vigilância em saúde.

52
Abstract

Objective: The aim of this study was to describe the profile of occupational accidents
occurred in a sugarcane industry, located in Minas Gerais, Brazil. Method: This was a
descriptive study, and time series based on secondary data in the Communications of
Accidents (CAT) in the period from 2007 to 2011. It was made a distribution of absolute
and relative frequencies of categorical variables and measures of central tendency of
discrete and continuous variables, and rates of occurrence of accidents by working people
over the years. Results: We analyzed 1746 CAT provided by the company. The
occupational accidents annual prevalence rate was 40,7%. The occupational group most
affected was the rural workers (67,4%). According diagnoses presented, the highest rates
were found in Chapters XIII (Diseases of the musculoskeletal system and connective
tissue) and XIX (Injury, poisoning and certain other consequences of external causes) of
ICD-10. In 2011 we observed an increase in the group of musculoskeletal diseases and
connective tissue and a decrease in injuries and poisonings. Conclusion: Occupational
accidents in brazilian alcohol setor are a great public health problem. It’s necessary
establishment of public policies to address and overcome the problem of accidents at work
in the brazilian alcohol sector.

Keywords: Accidents at work. Rural Work. Notification of Accidents. Alcohol sector.


Health surveillance.

53
4.1 Introdução

No cenário mundial, a saúde e segurança nos locais de trabalho desafiam governos,


trabalhadores e organizações, no que se refere aos impactos sociais e econômicos dos
53
acidentes de trabalho . Esses, por sua vez, representam um problema de saúde pública
para o país, acarretando custos tanto para o acidentado como para as empresas e o Estado.
Somente no ano de 2010, a Previdência Social brasileira registrou 701,5 mil
acidentes de trabalho, verificou-se uma queda destes acidentes de 4,3% em relação a
20092.
O país é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar com uma área plantada de
aproximadamente 10 milhões de hectares 3.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio Econômicos
(DIEESE) este setor sucroalcooleiro arrecada em média 40 bilhões de reais por ano, o que
corresponde a 2,35% do PIB nacional, gerando aproximadamente 3,6 milhões de empregos
diretos e indiretos com mais de 72. 000 agricultores 4. Atualmente o cenário econômico do
setor sucroalcooleiro vem apresentando franca expansão em função da demanda nacional e
internacional por açúcar e pelos biocombustíveis 5.
Entretanto, tal desenvolvimento não vem acompanhado de melhorias nas
condições de trabalho e vida no campo. O setor, apesar de sua importância econômica,
possui indicadores expressivos e preocupantes quanto aos acidentes de trabalho 6.
As ações de fiscalização e vigilância realizadas nos ambientes de trabalho rurais
ratificam a existência da insalubridade, periculosidade e penosidade nestes locais. A
organização do trabalho e alguns fatores de risco como os mecânicos, o ruído e os
agrotóxicos destacam-se como os principais elementos associados ao desgaste e
adoecimento físico e mental dos trabalhadores7.
Existe uma lacuna importante em relação à produção científica sobre acidentes de
trabalho no meio rural e particularmente no setor sucroalcooleiro. Observa-se maior
concentração de investigações em outros setores de atividades econômicas 8, 9, 10.
Considerando-se a expansão da indústria sucroalcooleira no Brasil e a necessidade
de conhecimento sobre seu impacto na saúde dos trabalhadores, o objetivo deste estudo foi
descrever o perfil dos acidentes de trabalho ocorridos em uma indústria sucroalcooleira,
localizada no estado de Minas Gerais.

54
4.2. Métodos

Delineamento:

Trata-se de um estudo descritivo e de série histórica com base em dados


secundários registrados nas Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs), de janeiro de
2007 a dezembro de 2011, em uma indústria sucroalcooleira situada na região Centro-
Oeste de Minas Gerais. Verificou-se a tendência temporal e o perfil epidemiológico dos
acidentes de trabalho registrados pela empresa.

População:

Foram analisadas Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs) emitidas no


período referido. A empresa empregava em média por ano 858 trabalhadores distribuídos
entre os setores industrial, administrativo e agrícola.

Variáveis:

A tendência temporal dos acidentes de trabalho foi observada por meio da


distribuição do quantitativo de registros de CATs, por ano e por setor de atividade da
empresa.
O perfil dos trabalhadores acidentados foi descrito a partir do sexo, faixa etária,
escolaridade, estado civil, renda e ocupação. A ocupação foi categorizada de acordo com a
Classificação Brasileira de Ocupação (CBO)11. A situação do acidente foi verificada pelo
número de horas trabalhadas no dia do acidente, se houve afastamento, dias de
afastamento, internação, parte do corpo atingida, situação geradora, natureza da lesão,
diagnóstico da lesão, tipo do acidente e óbito. Os diagnósticos das lesões foram agrupados
de acordo com os capítulos da Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) 12.

55
Análise dos dados

A análise descritiva dos dados foi realizada por meio da distribuição de frequências
absoluta e relativa das variáveis categóricas e medidas de tendência central de variáveis
discretas e contínuas, além de taxas de ocorrência dos acidentes por população
trabalhadora ao longo dos anos. Utilizou-se o software SPSS versão 19.

Considerações éticas

Este estudo é parte do projeto intitulado “Saúde Mental e trabalho rural no processo
de reestruturação produtiva de uma empresa do setor sucroalcooleiro em Minas Gerais”
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da Universidade Federal de Minas
Gerais sob o parecer 0018.0.203.000.11.

56
Resultados

Em relação à série histórica analisada, observou-se um declínio na ocorrência


absoluta de acidentes de trabalho registrados pela empresa. Houve uma redução
proporcional na frequência dos acidentes de trabalho na ordem de 23,4% para 16,9%.
Todavia as taxas médias de acidentes de trabalho oscilaram no período, inclusive com
aumento nos anos 2008 e 2009, e ocorreu uma baixa no ano de 2011. Estas taxas médias
foram em torno de 40,7% de ocorrência ao longo dos cinco anos (Tabela 1).

Tabela 1 – Frequência e taxa de acidentes de trabalho em uma indústria sucroalcooleira


em Minas Gerais, Brasil, 2007-2011.
Table 1-Frequency and rates of work’s accidents at sugarcane industry in Minas Gerais,
Brazil, 2007-2011.

Ano Acidente de trabalho Trabalhadores Taxa (por 100)


n % n

2007 408 23,4 1017 40,1


2008 356 20,4 828 43,0
2009 360 20,6 828 43,5
2010 330 18,9 808 40,8
2011 292 16,9 808 36,1
Total 1746 100,0

A propósito da taxa de acidentes de trabalho por setor, verificou-se tendência de


crescimento no administrativo, e redução no industrial e agrícola. Lembrando que, a maior
parte dos acidentes registrados no setor administrativo foram os de trajeto. (Tabela 2).

57
Tabela 2 – Tendência temporal da taxa de acidentes de trabalho por setor de atividade numa indústria
sucroalcooleira, Minas Gerais, Brasil, 2007-2011.

Setores
Administrativo Industrial Agrícola
Taxa Taxa Taxa
nº nº (por nº nº (por nº nº (por
Ano acidentes trabalhadores 100) acidentes trabalhadores 100) acidentes trabalhadores 100)
2007 37 50 74,0 76 177 42,9 295 790 37,3
2008 32 50 64,0 72 342 21,1 252 436 57,8
2009 24 50 48,0 60 342 17,5 276 436 63,3
2010 19 30 63,3 96 342 28,1 215 436 49,3
2011 29 30 96,7 119 342 34,8 144 436 33,0
Total
(médio) 28 42 67,1 85 309 27,4 236 507 46,6

Segundo o percentual de acidentes em relação ao total de registros, o setor agrícola


apresentou 67,7% de ocorrências e o administrativo apenas 1,8%.

O perfil dos trabalhadores acidentados foi caracterizado por maior presença do sexo
masculino (91,6%), solteiros (41,9%), jovens até 29 anos (42,9%). A média de idade dos
acidentados foi de 33 anos, com mediana de 31 anos. Em relação à escolaridade e
excluindo os dados não preenchidos nas CATs, a maioria (74,7%) dos trabalhadores
acidentados completou a 4ª série. (Tabela 3)

Concernente à ocupação, a maior parte foi classificada como trabalhador rural


(67,4%), seguido pelos trabalhadores da produção de bens e serviços industriais (21,4%)
(Tabela 3). A média salarial dos trabalhadores acidentados foi em torno de R$565,00, o
que corresponde, atualmente, a menos de um salário mínimo. Sobre o local de ocorrência
de acidentes, a maior parte ocorreu na área de campo/lavoura (68%), seguida por caldeira
(8,8%), moenda (6%) e oficina (3,2%). Quanto ao tipo de acidente de trabalho, a maioria
(99,1%) foi classificada como típico ocorrido no período diurno e depois de
aproximadamente três horas trabalhadas. (Tabela 3)

58
Tabela 3 – Características sócio-demográficas dos trabalhadores acidentados em uma
indústria sucroalcooleira, Minas Gerais, Brasil, 2007-2011.
TABLE 3. Socio-demographic characteristics of workers with work injuries in an ethanol
industry in Minas Gerais, Brazil, 2007 – 2011.
Características Frequência
N %
Sexo
Masculino 1599 91,6
Feminino 147 8,4

Faixa etária (anos)


18 a 24 440 25,2
25 a 29 309 17,7
30 a 34 273 15.6
35 a 39 251 14,4
40 a 44 176 10,1
45 a 49 132 7,6
50 a 54 84 4,8
55 a 59 50 2,9
>60 30 1,7

Escolaridade
Analfabeto 54 3,1
Até 4ª série complete 362 20,7
Até 8ª série complete 50 2,9
Ensino médio completo + Superior incompleto 17 1,0
Não informados 1263 72,3

Estado civil
Solteiro 731 41,9
Casado 650 37,2
Outros 365 20,9

Ocupação
Gerente de produção e operações 9 0,5
Engenheiro químico 3 0,2
Técnico de laboratório industrial 24 1,4
Auxiliar de produção industrial 20 1,1
Trabalhador rural 1182 67,4
Trabalhador de produção de bens e serviços industriais 375 21,4
Trabalhador de processo de moagem 85 4,9
Trabalhador de manutenção e reparação 48 2,7

Foram observados afastamentos de 1 a 15 dias, sendo a maioria de curta duração,


com média de 2,6 dias, mediana e percentil 75 de 2 dias, ou seja, em torno de 75% dos

59
trabalhadores acidentados ausentaram-se do trabalho por até 2 dias, no período de 2007 a
2011. O total de dias perdidos foi calculado em 1625.
Em referência às partes do corpo atingidas nos acidentes, os membros superiores
(36,9%), seguido de cabeça e pescoço (33,8%) foram os mais acometidos. Sobre a situação
geradora, 44,8% dos acidentes foi provocado pelo impacto de pessoas contra objeto, 26,1%
causados por atrito e 12% dos acidentes foram causados pelo impacto sofrido por pessoa,
sendo os restantes causados por queda, contato com objeto, esforço excessivos, ataque de
ser vivo entre outros. (Tabela 4)
No tocante a natureza da lesão constatou-se que corte teve maior percentual
(36,9%) seguido de lesões múltiplas (25,7%) e distensão (14,1%). Além destas, houve
também registro de queimadura, escoriação, luxação e fratura (Tabela 4).

Tabela 4 – Perfil dos acidentes de trabalho em uma indústria sucroalcooleira em Minas


Gerais, Brasil, 2007 – 2011.

Table 4 - Profile of accidents at work in a sugarcane industry in Minas Gerais, Brazil,


2007 - 2011.

60
A respeito do diagnóstico da lesão, 1.426 (81,6%) foram por lesões,
envenenamentos e outras consequências de causas externas, 116 (6,6%) por doenças do
sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, 46 (2,6%) transtornos mentais e
comportamentais, 36 (2,2%) referiam-se à combinações de doenças infecciosas e
parasitárias, neoplasias e tumores, doenças do olho e anexos, doenças do ouvido e da
apófise mastoide, doença da pele e do tecido subcutâneo, sintomas, sinais e achados
anormais de exames clínicos e de laboratório não classificados em outra parte e causas
externas de morbidade e mortalidade.

Nota-se uma grande concentração de diagnósticos em apenas dois grupos


classificados pela CID-10, qual sejam, XIX lesões, envenenamentos e outras
consequências de causas externas e XIII doenças do sistema osteomuscular e do tecido
conjuntivo, somando juntos (88,2%) dos acidentes.

De 2007 a 2011, notou-se decréscimo na ocorrência de lesões, envenenamentos e


algumas outras consequências de causas externas e em contra partida um aumento
progressivo de doenças do sistema osteomusculares e do tecido conjuntivo (Gráfico 1).

61
Gráfico 1 – Tendência temporal dos principais grupos de doenças e problemas
relacionados a saúde dos trabalhadores de uma indústria sucroalcooleira, Minas Gerais,
Brasil, 2007- 2011.

Graph 1-Temporal trend of the main groups of diseases and related health problems of
workers of a sugar industry, Minas Gerais, Brazil, 2007-2011.

Diseases of the musculoskeletal system and connective tissue.


Injury, poisoning and certain other consequences of external causes.

Durante o período analisado não foram registradas CATs com óbitos decorrentes do
trabalho. Observou-se variações percentuais de incompletudes no preenchimento de
campos importantes como: escolaridade (72,3%), diagnostico da lesão (7,0%), dias de
afastamento (6,9%), natureza da lesão (6,8%), unidade de atendimento (6,7%) e internação
(6,6%).

62
4.4. Discussão

Estudos e estatísticas internacionais apontam para as grandes perdas econômicas e


sociais decorrentes dos acidentes e doenças do trabalho e do absenteísmo13.
A CAT representa ainda hoje um importante instrumento de coleta de dados na área
de Saúde do Trabalhador, apesar de suas limitações e da subnotificação. Ao longo da série
histórica analisada, a indústria reduziu progressivamente o número absoluto do registro
sobre os acidentes de trabalho. Todavia ao se analisar as taxas de acidentes nota-se que
houve um pico no ano de 2009 e nos anos subsequentes tem havido uma queda.
Os dados disponibilizados não nos informam se tem havido uma melhoria das
condições de trabalho e/ou se tem ocorrido uma subnotificação maior. Observou-se uma
redução do número de trabalhadores ao longo dos anos e essa redução pode estar
relacionada à reestruturação produtiva que se verifica no setor, tendo em vista que o
processo afetou todos os setores de atividade da agroindústria 14,15.
A constatação de taxa média anual de acidentes de trabalho ao redor de 40,7%
expressa a gravidade da situação encontrada. A ocorrência dos acidentes por setores de
trabalho é bastante heterogênea e indica que devam ser tomadas medidas prioritárias de
investigação e intervenção para enfrentar este fenômeno.
Merece atenção o fato de que o setor administrativo teve uma taxa maior de
acidentes de trabalho em comparação com os setores industrial e agrícola. O risco de
acidentes no setor administrativo seria de fato maior e/ou estariam ocorrendo vieses neste
registro?
Nesse estudo houve predomínio dos acidentes envolvendo a ocupação dos
trabalhadores rurais ou do campo, o que corrobora com os estudos realizados em indústrias
brasileiras do mesmo ramo16. Outro grupo de ocupação que registrou maior ocorrência de
acidentes de trabalho foram os trabalhadores de produção de bens e serviços industriais.
O perfil dos trabalhadores do setor sucroalcooleiro aqui estudado caracterizou-se
pela predominância de trabalhadores jovens e do sexo masculino, resultados consistentes
com os do estudo de Silva6. Essa característica pode estar relacionada com a natureza atual
das atividades ocupacionais deste setor que exigem força física e resistência.
Os trabalhadores dessa agroindústria possuem poucos anos de escolaridade, algo
muito presente em outras indústrias sucroalcooleiras no Brasil15. Estudos mostram que

63
níveis de escolaridade mais baixos podem contribuir para a elevação dos índices de
acidentes de trabalho. A qualificação e treinamentos podem ajudar na prevenção e redução
de acidentes de trabalho9, mas os determinantes relacionados ao processo e organização do
trabalho não podem ser deixados em segundo plano.
De acordo com Scopinho15, as mudanças introduzidas em todo o setor
sucroalcooleiro passaram a exigir trabalhadores tecnicamente experientes, qualificados e
polivalentes.
Quanto à questão salarial foi possível verificar que assim como em outras indústrias
sucroalcooleiras no Brasil, a renda dos trabalhadores dessa agroindústria é baixa 14,16,17.
Além de baixos, frequentemente os salários dos trabalhadores da agroindústria
sucroalcooleira são pagos de acordo com a produtividade, como foi verificado nos estudos
14,15,17
de Silva, Gomez, Alves . Esta forma de pagamento tem sido associada aos altos
índices de acidentes e mortes no trabalho canavieiro 17,18. Alguns estudos defendem que, o
abandono da prática de pagamento por produção resolveria uma parte dos agravos à saúde
dos trabalhadores do setor, embora a remuneração por produtividade ainda seja uma ação
legalmente instituída, 15, 17,18.
18
Os acidentes de trabalho típicos, ou seja, aqueles ocorridos no local de trabalho
foram a grande maioria dos eventos registrados (99,1%), outros estudos encontraram
2,9
valores menores que o observado nesse estudo . Chama a atenção o baixíssimo registro
de acidentes de trajeto e doenças relacionadas ao trabalho, o que pode estar relacionado a
uma significativa subnotificação destes casos.
Nos achados deste estudo verificou-se que as mãos e os olhos foram as partes mais
atingidas nos acidentes de trabalho. Nesse sentido Baccarin e Alves, por exemplo,
evidenciaram que a inadequação dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) como as
luvas e os óculos pode contribuir para a ocorrência de acidentes que acometem estas partes
do corpo neste setor14. Talvez mais relevantes do que as inadequações individuais sejam
as limitações e inseguranças gerais que envolvem o uso de EPIs. Mudanças estruturais e
de adequação dos processos e organizações do trabalho têm efeitos mais eficazes e
eficientes para a saúde e a proteção do trabalhador.
Em relação ao absenteísmo, o estudo evidenciou que a maioria dos afastamentos da
atividade laboral por acidentes de trabalho foi de curta duração e que os trabalhadores
acidentados não precisaram de internação hospitalar. Essas constatações também foram
observadas em estudo no setor madeireiro no Brasil 8. Uma hipótese a ser aventada é de
que poderia haver uma estratégia de evitar afastamentos por mais de 15 dias através da

64
reinserção precoce no trabalho em desvio de função ou mesmo concedendo descansos
remunerados.
Verificou-se que a taxa de doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo
aumentou ao longo dos anos, tanto neste estudo como em pesquisas de diferentes ramos de
atividade 19,20. Oenning et al, identificaram associação entre as doenças osteomusculares e
absenteísmo. O absenteísmo pode ser apontado como uma expressão deste adoecimento e
uma das possíveis estratégias de defesa e de resistência dos trabalhadores para a
preservação e recuperação da saúde14.
Observou-se uma diminuição dos agravos no grupo de lesões, envenenamentos e
algumas outras consequências de causas externas, nos últimos anos do período analisado.
Semelhantes achados foram encontrados em estudos na área petrolífera e bancária19, 20.
Hoje no Brasil, os transtornos mentais e de comportamento vêm se constituindo um
grande problema de saúde dos trabalhadores alcançando elevadas taxas de prevalência em
diversos segmentos ocupacionais20. Neste estudo o percentual registrado destes agravos
(2,6%) parece não estar refletindo a realidade. Poderia também ser um reflexo do efeito do
trabalhador sadio. Em contra partida os achados de Faria (2012) que fez uma análise
qualitativa na empresa estudada mostram que os trabalhadores estão com a saúde mental
afetada devido as condições e organização do trabalho canavieiro21.
É digno de nota o fato de não se ter registro de mortes e acidentes graves
decorrentes do trabalho na empresa pesquisada, embora os mesmos sejam frequentes em
17,22,23.
indústrias de mesmo porte em função e atividade . A ausência deste registro merece
uma melhor averiguação.
Estudos baseados em dados secundários podem apresentar limitações na produção
de informações, como inconsistência e/ou lacunas. O não preenchimento de campos
importantes das CATs dificulta a investigação e o planejamento das ações de vigilância à
saúde do trabalhador. O fato de se ter trabalhado com as CATs fornecidas diretamente
pela empresa e não pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) pode ter gerado um
viés de informações, sobretudo no que tange à gravidade dos acidentes.

65
4.5 . Conclusão:

Este estudo descreveu o perfil dos acidentes de trabalho registrados numa empresa
sucroalcooleira no período de 2007 a 2011, em Minas Gerais, Brasil. Homens, jovens, com
pouca escolaridade, lotados na área agrícola foram os que mais se acidentaram. A taxa
média anual de prevalência de acidentes de trabalho foi de 40,7%, valor este muito
elevado. As lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas
foram responsáveis por 81,6% dos agravos registrados. As doenças do sistema
osteomuscular e do tecido conjuntivo constituíam-se como o segundo grupo mais
prevalente com uma taxa de 6,6%. Apesar do maior número de acidentes ocorrerem no
setor agrícola, o setor administrativo registrou as maiores taxas de prevalência. Não foram
registrados acidentes de trabalho graves nem fatais, dado este sugestivo de subnotificação.
A realização de novas investigações são sugeridas para o aprofundamento dos
achados epidemiológicos observados e para o estabelecimento de políticas públicas
capazes de enfrentar e superar o problema dos acidentes de trabalho no setor
sucroalcooleiro brasileiro.

66
4.6. Referências bibliográficas

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laboral.2011.Escola Superior de Saúde. Disponível em
https://bibliotecadigital.ipb.pt/handle/10198/6170.

2. Ministério da Previdência Social (BR). Anuário Estatístico da Previdência Social


[serial online] 2010. Disponível em HTTP://www.mpas.gov.br/aeps2010aep 2010/
1- 868. [Acessado em] 2010.

3. Revista de Saúde, Meio Ambiente e Sustentabilidade. Trabalho e Saúde: O caso


dos trabalhadores temporários da indústria canavieira em Lagoa da Prata, Minas
Gerais, 2011. p. 43-57.

4. Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos/ (DIEESE).


Desempenho do setor sucroalcooleiro brasileiro e os trabalhadores. São Paulo:
ano 3, nº 30, fevereiro de 2007. (série estudos e pesquisas).

5. Kawamura S. M, Ramos HR, Almeida MIR. Estratégias de Internacionalização do


setor sucroalcooleiro do Brasil: um estudo de caso da COSAN. In: Congresso
Internacional de Estratégias; 2010; Guayaquil: SLADE, 2010. p. 1- 23.

6. Silva MAM. Mortes e acidentes nas profundezas do “mar de cana” e dos laranjais
paulistas. Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente
2008.

7. Scopinho RA. Controle do trabalho no setor sucroalcooleiro: reflexões sobre o


comportamento das empresas, do estado e dos movimentos sociais organizados.
Cadernos de Psicologia Social do Trabalho 2004; 7 (s/n): 11-29.
8. Ribeiro S, Augusto FJT, Klothcovsky ACG. Acidentes de Trabalho na Indústria
Madeireira de uma cidade do Paraná: Análises das Comunicações de Acidentes de
Trabalho. Revista Salus Guarapava; 2009; 3 (1): 15:22.

9. Giomo DB, Freitas FC T, Alves LA, Robazzi MLCC. Acidentes de trabalho, riscos
ocupacionais e absenteísmo entre os trabalhadores de enfermagem hospitalar. Rev.
enferm. UERJ, 2009; 17(1): 24-9.

67
10. Silva M T, Carreiro AA. Influência da mão de obra em acidentes na construção
civil. Disponível em http://info.ucsal.br/banmon/Arquivos/Art3_0077.pdf, acesso
em 07 de Nov 2012.

11. Ministério do Trabalho e Emprego. Classificação Brasileira de Ocupação, Portal


do trabalho e Emprego. Disponível em:
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/informacoesGerais.jsf#7. Acessado em:
27 de out. 2012.

12. Organização Mundial da Saúde. Classificação estatística internacional de doenças


e problemas relacionados à saúde. 10ª revisão da 4ª Ed. São Paulo Centro
colaborador da OMS Para classificação de doenças em português, 1995.

13. Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho. A


prevenção do absenteísmo no trabalho, sinopse da investigação. Luxemburgo:
Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias; 1997. ISBN 92-828-
0343-0.

14. Baccarin J G, Alves FJ C. Etanol da cana de açúcar: considerações sobre o meio


ambiente e a ocupação agrícola. In: Flavio Borges Botelho Filho. Cadernos do
cean/energia e biomassa. Brasília: Centro de Estudos Avançados Multidisciplinar,
2008.

15. Scopinho RA. Qualidade Total, Saúde e Trabalho: uma análise em empresas
sucroalcooleiras Paulistas. RAC 2000; 4(1): 93-112.

16. Alves F. Processo de Trabalho e danos à saúde dos cortadores de cana. Revista de
Gestão Integrada em Saúde do Trabalhador 2008; 3(2): s/p.

17. Alves F. Porque morrem os cortadores de cana? Revista Saúde e Sociedade. 2006;
15(3): 90-98.

18. Gomez CM. Produção de conhecimento intersetorialidade em prol das condições de


vida e saúde dos trabalhadores do setor sucroalcooleiro. Ciência e Saúde Coletiva
2011; 16 (8): 3361-3368.

19. Oenning NSX, Carvalho FM, Lima VMC. Indicadores de absenteísmo e


diagnósticos associados às licenças médicas de trabalhadores de área de serviços de
uma indústria de petróleo. Rev. bras. saúde ocup 2012; 37(125) : 150-158.

68
20. Silva LS, Pinheiro TMM, Sakurai M. Reestruturação produtiva, impactos na saúde
e sofrimento mental: o caso de um banco estatal em Minas Gerais, Brasil. Cad.
Saúde Pública 2007; 23(12):2949-2958.

21. Silva MAM. A morte ronda os canaviais Paulistas. Revista Abra, 2006, 33(2):11-
143.

22. Faria ID. Saúde mental e trabalho rural no processo de reestruturaçao produtiva
de uma empresa do setor sucroalcooleiro em Minas Gerais – Brasil. [ Dissertaçao
de mestrado] UFMG, 2012.

23. International Labour Organization. Safety in numbers: pointers for the global safety
at work. Geneva; 2003.

69
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O perfil dos trabalhadores acidentados da agroindústria estudada caracterizou-se


por ser na sua maioria jovem, constituído de solteiros, com a média de idade de 33 anos
e com baixa escolaridade.
A maior parte dos trabalhadores dessa agroindústria está alocada no setor
agrícola da empresa, ou seja, são trabalhadores rurais.
No que concerne aos agravos à saúde, as doenças mais registradas entre os
trabalhadores foram as de origem osteomusculares e do tecido conjuntivo, e as lesões,
envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas.
Com relação aos acidentes, os trabalhadores rurais são os que mais se acidentam
e grande parte desses acidentes é causada por corte de facão, ataques por animais
peçonhentos e partículas, sendo as mãos e os olhos as partes mais acometidas.
As elevadas taxas de prevalência de acidentes de trabalho estabelecidas neste
estudo apontam para a gravidade deste problema de saúde pública.
A maioria dos acidentes registrados pela empresa foi classificada como típicos e
apresentam uma tendência maior para acidentes típicos não fatais, seguidos pelas
doenças ocupacionais e acidentes de trajeto, estes últimos acometeram na sua maioria
trabalhadores do setor administrativo.
Apesar das mudanças ocorridas nas técnicas da cultura de cana e a introdução de
máquinas que realizam o corte, é importante que se perceba que as condições de
trabalho no setor sucroalcooleiro pouco tem mudado, além dos níveis de intensificação
de trabalho.
O ritmo de trabalho no setor sucroalcooleiro é regulado e/ou determinado em
função das exigências do mercado. No caso especifico da empresa estudada, verificou-
se que com a mecanização do corte da cana-de-açúcar além da intensificação do
trabalho tem se registrado um aumento nos acidentes de trabalho e um agravamento nas
doenças mentais.
Este não é um problema isolado apenas do setor sucroalcooleiro e nem tão pouco
do Brasil. Nas leituras feitas percebeu-se que esses são problemas do setor rural como
um todo e da maioria das empresas em razão da nova gênese organizacional e pela

70
procura de novos espaços no mercado internacional. A introdução de novas tecnologias
no setor além de intensificar o trabalho, reduzir a mão de obra braçal, pela necessidade
de contratação de trabalhadores qualificados e capazes de se adaptar aos novos
processos de trabalho, tem mudado o perfil do adoecimento e dos acidentes de trabalho
no setor.
Apesar de seus limites, este estudo pretendeu contribuir para dar mais
visibilidade aos acidentes de trabalho e doenças do trabalho no setor rural, mais
especificamente no setor sucroalcooleiro e que exigem mudanças na organização do
trabalho e nas políticas de saúde do trabalhador do setor. Julga-se necessário a
realização de outros estudos mais robustos e abrangentes de modo a subsidiarem
intervenções mais efetivas e eficientes na defesa da saúde dos trabalhadores.

71
6. Anexos

Anexo 1: Aprovação do COEP

Anexo 2: Ata de qualificação

72
73

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