Dois Anos para Ficar Com Ela (F - TAY G
Dois Anos para Ficar Com Ela (F - TAY G
Dois Anos para Ficar Com Ela (F - TAY G
Livro um
Miguel Martinez
Madrid 2018
Caroline Costa
Rio de janeiro
Nunca fui uma pessoa de reclamar, mesmo com a vida que tenho,
tento ver o lado bom das coisas.
A dez anos atrás fui uma mulher casada... Isso ainda parece um
sonho distante. Meu ex marido, foi um dos homens mais bondosos
que conheci. Me apaixonei quando meus olhos o fitaram, ele era
lindo, com a aparência semelhante ao cantor latino Enrique Iglesias,
cabelos pretos volumosos e lisos, com um corte nas laterais. Queixo
definido e mandíbula marcante, para completar, belos olhos azuis,
tirando suspiro por onde passava.
Eu sempre tive um estilo diferente. Gostava do cabelo bem curto,
unhas pretas e até usava um piercing no nariz e outro na
sobrancelha... Infelizmente essa garota ficou para trás.
Quando Miguel me flagrou com seu melhor amigo e primo
Guilhermo, eu juro que não estava entendendo nada. Ele gritou, me
chamou de puta, e eu fiquei lá parada na cama tentando cobrir
minha nudez com o lençol, completamente perdida.
Sabe quando parece que você está em um pesadelo, e não
consegue acordar? Foi assim que me senti.
A única coisa que lembro foi que estava em casa, Guilhermo chegou
para entregar um documento, bebemos um copo de água, depois
tudo apagou.
Miguel não me deu o direito de ser ouvida, eu chorei, implorei para
ele deixar eu falar, eu precisava me explicar. Foi em vão. Saí de
casa no mesmo dia, não quis nada dele. O divórcio foi bem rápido.
E assim que saiu, voltei para o Rio de Janeiro, onde meus pais
moram.
Eles não me aceitaram de volta, a verdade é que eles nunca se
importaram comigo, quando me casei enxergaram como um lugar
para arrancarem dinheiro.
A família de Miguel é o oposto. Típica família bem grande e unida.
Ele é filho único, mas tem vários primos. Quando se reuniam era
uma festa. O tempo que ficamos juntos foram os mais felizes da
minha vida, até acontecer o que aconteceu. Depois disso fui
humilhada, tratada como uma prostituta.
Hoje tenho um barraco, na favela. Eu mesma construí. Moro
sozinha, mas Deus me abençoou e conheci uma pessoa incrível.
Minha melhor e única amiga. Trabalho em um restaurante cinco
estrelas a três anos. É o melhor emprego do mundo. Minha chefe a
renomada Cinthia Cruz, é uma pessoa maravilhosa. Nos
conhecemos por acidente, literalmente. Ela quase me atropelou.
Depois disso nos identificamos, e ela me contratou para trabalhar
em seu restaurante. E hoje, é a pessoa que mais amo.
Estou juntando dinheiro para comprar minha casa, e sair da favela.
Já tenho uma boa quantia, não vai demorar para ter minha casinha
de tijolos.
- Carol, o que acha de sairmos hoje? – perguntou Cinthia.
Quando saímos juntas, frequento os lugares da alta, por ela ser
conhecida é tudo por conta da casa.
- Vai ser ótimo, hoje estou a fim de relaxar.
Não sou uma pessoa que se mata de trabalhar e passa o fim de
semana trancada no quarto. Gosto de sair para dançar, paquerar e
as vezes terminar a noite com algum carinha, mesmo que a última
opção não aconteça com frequência.
- Vamos nos arrumar na minha casa. – Cinthia está na cozinha,
fazendo um de seus pratos famosos. – Risoto de Camarão – Ela
morre de medo de ir à favela. Do tempo que nos conhecemos nunca
foi no meu barraco.
- Combinado. – Respondo me afastando para atender uma mesa.
O restaurante sempre está lotado, tem reservas para o ano todo. É
um dos mais conhecidos do Rio.
Já se passava das dez horas quando o restaurante fechou. E
partimos para a casa dela. Cinthia mora em um apartamento no
Leblon.
Chegamos no apê, e começamos a nos arrumar. Ela optou por um
vestido preto justo. E eu por um azul soltinho.
Ao chegarmos na casa noturna, já se vê uma enorme fila. Mas
entramos direto para a área vip. Não demora para começarmos a
beber.
Cinthia me puxa para dançar. Está tocando música eletrônica.
Levanto os braços, curtindo o momento, deixando a música me
guiar. Estou com os olhos fechados.
Sabe quando você tem a sensação de que está sendo observada?
Foi essa sensação que me fez abrir os olhos. E naquele momento
eu queria não ter aberto.
Fico paralisada no lugar, respiração acelerada e o coração
disparado.
Capítulo 2
Miguel Martinez
Caroline Costa
Não acredito que o vi, estou dentro do carro. Meu coração ainda
está acelerado, o modo como me olhou. Ele não é o mesmo, e isso
me faz sentir um aperto no peito.
– Está bem, amiga?
A voz de Cinthia chama minha atenção.
– Estou! Você me deixa na entrada do morro?
– Dorme na minha casa.
– Outro dia. – Dou um sorriso, a fazendo concordar.
Ela me deixa na entrada, desço do carro e começo a subir até meu
barraco.
Aqui, todos já me conhecem. Por isso, não sinto medo quando
passo pelas biqueiras.
– E aí, chef. – Um dos rapazes que cuida da biqueira me
cumprimenta. Eles me chamam de chef, por trabalhar em um
restaurante cinco estrelas, pensam que sou a chef da cozinha. Mal
sabem que sou péssima cozinheira, me arrisco em alguns pratos, no
entanto, nada que vale a pena ser colocado em um menu de
restaurante, muito menos um cinco estrelas.
– E aí. – Respondo simpática.
Continuo subindo, até parar no barraco de tábua verde. Entro e
tranco a porta.
Vou até minha cama, deito e me permito chorar.
Miguel pensa que sou uma interesseira, por me ver em um lugar
chique, já concluiu que estava sendo bancada por um homem.
Mal sabe ele, que minha vida hoje em dia, não tem nada a ver com
o passado que vivemos.
Conheci Miguel na faculdade.
Estava fazendo administração em Madrid. Com muito esforço
ganhei uma bolsa, estava tão feliz. Eu tinha tudo para ser uma
pessoa bem sucedida. Quando ele começou a dar em cima de mim,
algo me fez ver um futuro feliz ao lado daquele jovem lindo de olhos
azuis. Ele era engraçado, sempre me fazia rir. Não acreditava que
um dos top cinco do campus se interessou por mim.
Não demorou para me apaixonar.
Quando me pediu em casamento, foi mágico. Foi no dormitório,
havíamos acabado de fazer amor. Ele me surpreendeu, ao se
ajoelhar e cantar nossa música.
Acabo dormindo, com as lembranças de um passado distante.
Capítulo 3
Caroline Costa
Na manhã seguinte.
Miguel Martinez
Não acreditei quando meus olhos viram Caroline servindo as mesas,
não imaginava a encontrar como garçonete. Pensei que iria abrir as
pernas para algum ricaço.
Não consigo tirar meus olhos dela, ela atende todos com um sorriso
no rosto, até mesmo aqueles que a tratam mal.
Tento tirar ela do foco, e encaro a mesa ao lado, com cinco
mulheres gatas.
- A ruiva tá de olho em você. – diz meu primo Henrico.
Neste momento Caroline vai atendê-las, e noto o quanto estão
sendo rudes. Caroline levanta o olhar e me encara, sei que está se
sentindo humilhada, por mais que eu a odeie não fico feliz em vê-la
assim.
Todo o interesse que tinha na outra mesa se desfaz, quando a ruiva
começa a gritar com Caroline.
Ela não responde, fica de cabeça baixa, tentando acalmar a mulher
estúpida, que está tentando se aparecer.
- Não estou gostando disso. – Comenta João, um amigo brasileiro.
- Sei que Caroline não presta, mas não merece ser tratada assim. –
completa Henrico.
E então o pior acontece, a mulher joga o molho na roupa de
Caroline. Todos do restaurante se calam para olhar a humilhação
daquela que um dia eu amei.
Levanto bruscamente.
- Calma Miguel. – Nem sei quem disse isso.
Vou a passos firmes até ela, a ruiva me dá um sorriso.
- Chega! – grito atraindo todos os olhares. – O show acabou. – Pego
a mão de Caroline que não diz nada e a puxo para fora do
restaurante.
A levo até meu carro, abro a porta e a coloco dentro, dou a volta,
entro do lado do motorista e fecho a porta.
- Por que não fez nada? – pergunto sem acreditar que era a mesma
mulher que eu conheci.
A encaro, e vejo que está chorando.
- Ei, não chore. – Por um impulso inexplicável a abraço.
Ficamos abraçados por um longo tempo até ela se afastar.
- Estou bem, sinto muito que tenha visto isso.
- O que aconteceu com você? No passado não iria deixar isso
assim, iria gritar com ela.
- Não sou mais a pessoa que conheceu...
- Quer que eu a leve para a casa dos seus pais?
Ela ri sem vontade.
- Não, obrigada. – Abre a porta do carro. – Adeus, Miguel.
A vejo se afastar, retornando ao restaurante. Caroline não é a
mesma mulher que conheci a mais de dez anos, e mesmo assim,
ainda me preocupo com ela.
Caroline Costa
Não acredito que fui humilhada desse jeito. Na hora eu estava com
raiva, mas não podia reagir e perder meu emprego. O que me
surpreendeu foi Miguel interferir. Ele pareceu realmente preocupado
comigo, no entanto sei o quanto me odeia.
Ao retornar para o restaurante, fui direto para os fundos.
Todos meus colegas de trabalho ficaram preocupados comigo,
avisaram para Cinthia que está vindo furiosa. Ela queria o nome da
mulher que foi grotesca. Fui para o banheiro, tirei meu uniforme e
coloquei minha roupa.
Ao sair, sinto uma tontura. Apoio no armário, até tudo parar de rodar.
- Caroline, está se sentindo bem? – Pergunta Leandro.
- Só um mal estar, mas já está passando. – Dou um sorriso para o
tranquilizar.
Realmente, não demora para passar.
Quando Cinthia chegou, as coisas ficaram tensas, ela estava
nervosa. Queria ir atrás da mulher, chamou a polícia e mostrou as
gravações da câmera de segurança. Cinthia é a melhor amiga que
eu poderia ter.
Me dá uma carona até a entrada da favela.
– Vamos para o meu apartamento? Tem certeza de que vai ficar
bem? Não quero te deixar sozinha.
– Tenho sim, não se preocupe. Obrigada por me dar folga amanhã.
– Você trabalha muito, minha amiga. Merece um repouso.
Nos abraçamos se despedindo.
Desço do carro, vou caminhando até meu barraco.
Miguel Martinez
Não consegui sair do estacionamento do restaurante. Algo me
prendeu naquele lugar, com o olhar fixo onde Caroline havia
entrado. Não vi o tempo passar, apenas observei a movimentação,
quando chegou a loira que a acompanhava na casa noturna, e
depois uma viatura da polícia.
Já estava entardecendo, quando finalmente Caroline saiu
acompanhada da loira.
Elas entraram no carro, e eu as segui. Algo dentro de mim, não me
deixava ignorar o alerta.
Mas não estava preparado para ver elas se dirigindo para a favela.
O carro para bem na entrada, e não demora para Caroline descer.
Logo a loira vai embora.
Estaciono o meu carro, desço e tento seguir os passos dela. Vejo
ela cumprimentar uns caras na esquina.
Continuo andando.
– E aí tio.... O que vai querer? – um garoto se aproxima.
– Nada! – Respondo com meu português arrastado.
– E o que tá querendo aqui, meu? É gringo?
Os outros notando que algo está errado começam a se aproximar.
– Vir atrás da mi esposa. – Isso saiu automático.
– E quem é sua mulher?
– A mulher que passar aqui. – Meu português está enferrujado.
Eles trocam olhares.
– Isso tá estranho.... Zé, vai lá ver com a chef, se esse sujeito tá
falando a verdade.
Chef? Acho estranho, mas prefiro ignorar.
Um garoto mais novo sobe o morro, enquanto fico sendo encarado
pelos demais. Não demora para ele retornar. Torço para que
Caroline continue minha mentira.
– Ele está falando a verdade.
– Sobe aí tio. O Zé vai te acompanhar.
Sigo o garoto.
Olhando ao meu redor, me sinto em outro mundo.
Mas quando o garoto para em frente uma casa de madeira, toda
destruída. E vejo Caroline parada na porta, meu coração se
despedaça.
Me aproximo dela, que abre espaço para mim. Assim que entro ela
fecha a porta.
– Você poderia ter sido morto. Está louco? Como descobriu onde
moro?
– Onde estão seus pais?
Ela me olha um pouco assustada.
– Miguel, estou cansada e com muita dor de cabeça. Diga o que
quer.
– Só fiquei preocupado.
Ela ri.
– Miguel, vamos ser sinceros um com o outro. Você me odeia, pode
dizer o quanto está feliz em ver que estou onde você sempre quis.
– Realmente, eu a odeio. Mas não desejo o seu mal. Por que está
aqui?
– Não tenho outro lugar... Mas em breve terei dinheiro para comprar
minha casa. Estou trabalhando muito para isso, ao contrário do que
você pensa, não estou abrindo as pernas para ser alguém
importante perante a sociedade.
Me sinto mal por ter dito essas palavras. Mas quando as pronunciei
eu estava irado, queria ver ela na sarjeta. No entanto, a ver na
situação que se encontra, não me alegra.
– Miguel?
Capítulo 4
Miguel Martinez
Dizem que o amor e o ódio andam lado a lado. Nunca acreditei
nisso... até agora. Quando vejo a pessoa que mais odeio vivendo
em uma casa de madeira, caindo aos pedaços. Nunca imaginei que
iria sentir algo além de raiva de Caroline.
Estou parado no pequeno cômodo que se nota ser toda a casa.
Uma pequena cama com edredom da Marvel, ao lado uma mesa
quadrada de mármore com quatro cadeiras de ferro branca, um
pouco mais a frente um fogão branco de quatro bocas e ao lado
uma geladeira velha também na cor branca. No fundo uma cortina
como porta, que aposto ser o banheiro.
Meu olhar encontra o dela, não sei se está envergonhada ou brava,
mas seus olhos estão lacrimejando.
- Como descobriu onde eu moro? – Sua voz sai forte.
- Segui você. – Sou direto.
Ainda estou tentando entender como uma pessoa inteligente, que
fala três idiomas, fez faculdade de administração, cheia de vida,
sempre alegre com seus piercing e seu cabelo curtinho... como a
pessoa que eu me apaixonei perdidamente veio parar aqui?
Estamos nos encarando em silêncio.
- Não consigo entender. – É a única coisa que digo.
- Você não precisa entender nada... para ser sincera, eu que não
estou entendendo o que você está fazendo aqui, veio caçoar de
mim?
A olho incrédulo.
- Como?
- Estou onde desejou, você ganhou Miguel.
Me aproximo dela irritado.
- Eu ganhei? – grito. – Encontrar a mulher que amo na cama com
meu primo, a mulher que queria dividir a vida. Não Caroline, eu não
ganhei porra nenhuma.
Seus olhos começam a lacrimejar, no fundo eu queria apenas
abraçá-la e a tirar deste buraco, mas toda vez que a olho, vem em
minha mente a imagem da traição, da punhalada nas costas que
recebi das duas pessoas que eram importantes na minha vida.
- Vamos embora daqui. – O lado que ainda se importa com ela, não
me deixaria viver em paz sabendo como está vivendo. – Vamos
Caroline!
- Você só pode estar louco. – Ela ri sem vontade. – Eu não vou a
lugar nenhum, não preciso de caridade e para você poder ir embora
com a consciência tranquila, logo irei comprar uma casa longe
daqui. Eu trabalho para isso.
Ando pelo pequeno cômodo.
- Droga, Caroline. Que porra.
Passo os dedos no meu cabelo. Eu a odeio, por que não estou feliz
em vê-la assim?
- Miguel, vá embora. Por favor.
Vejo que ela abriu a porta, ando em sua direção. Ela ergue o rosto
para me encarar, seus olhos estão vermelhos, sei que assim que eu
passar pela porta, ela irá desabar em lágrimas. Isso não deveria ser
problema meu, e mesmo assim não consigo sair daqui.
- Irei retornar para Espanha daqui dois dias.
- Desejo uma boa viagem.
Dou alguns passos para sair, e dois de volta.
- Éramos felizes. – Digo a olhando bem no fundo de seus olhos. –
Nos amávamos, por que ficou com ele?
Eu nunca a perguntei, nunca quis escutá-la, mas agora sinto todas
minhas barreiras derrubadas.
- Miguel, você era a pessoa que mais me conhecia, você foi meu
primeiro homem, primeiro amor e sim, éramos felizes. Mas você me
virou as costas em vez de me ouvir. Você acreditou no que viu, e
para ser honesta, se eu estivesse no seu lugar também iria acreditar
no que meus olhos estavam vendo. Do fundo do meu coração, eu te
amei e desejo que encontre alguém que o faça feliz. Você é um bom
homem, não deixe o ódio que sente por mim mudar o seu coração
bondoso. – Ela sorri e uma lágrima caí em seu rosto. – Mesmo me
odiando não consegue me ver mal. – Seus olhos negros como a
noite me encaram, - Adeus, Miguel.
Começo a me afastar, sem conseguir dizer uma palavra.
A vejo fechar a porta.
Com as duas mãos no bolso da calça, vou me afastando.
Passo pelo grupo de jovens armados, que me encaram. Continuo
caminhando até o carro.
Entro no veículo e fico parado, sentindo algo que não consigo
explicar.
Caroline Costa
Miguel Martinez
Caroline Costa
Não me lembro como vim parar no hospital, mas sei que desde que
acordei estou deitada nessa cama, com uma agulha no meu braço
direito onde vejo o soro pingando lentamente. Não estou
entendendo o que está acontecendo.
A porta se abre e para me deixar ainda mais confusa, quem entra é
meu ex marido.
Eu devo estar sonhando. Ele se aproxima, noto que esteve
chorando, o que me deixa preocupada.
Miguel pega minha mão, sentando-se ao meu lado.
- Como você está? – Ele pergunta me encarando.
- Sinto como se um trator tivesse passado por cima de mim. – Dou
um sorriso para tentar amenizar toda situação. – Estou bem. O que
aconteceu?
- Um de seus vizinhos a encontrou desmaiada.
- Não me lembro.
Uma lágrima caí de seu rosto.
- Não chore... por que está chorando?
O aperto de sua mão fica mais forte, em silêncio fica encarando
meus dedos. Isso me lembra quando éramos um casal e ele fazia
esse mesmo gesto.
- Eu sou seu contato de emergência.
- Esqueci de retirar.
Ele levanta o olhar, vejo dor e muita tristeza.
- Está me deixando preocupada.
- Estive conversando com o médico que lhe atendeu... Caroline,
você está... com um nódulo cerebral.
Sabe aquelas cenas em que tudo parece acontecer em câmera
lenta? Neste momento, enquanto encaro Miguel e recebo essa
notícia, sinto que o tempo parou.
- Eu vou morrer? – é a única coisa que consigo perguntar.
- Não. – Ele fica de pé, debruçando o corpo na cama para me
abraçar, deixando um beijo no topo da minha cabeça. – Vou te levar
para o melhor hospital, lá vamos encontrar uma solução.
- Miguel... – sinto uma angústia muito forte, não consigo evitar as
lágrimas.
Eu nunca pensei que um dia iria ouvir essa frase “Caroline você está
com tumor”. As vezes pensava que era algo que nunca iria me
atingir. Já conheci pessoas com câncer, vi o sofrimento a luta para
sobreviver... mesmo assim, pensei que jamais iria passar por isso.
Fiquei dias no hospital.
Miguel não saiu do meu lado em nenhum momento. Agora estou
indo para o apartamento de seu primo Henrico.
Eu poderia não aceitar a ajuda dele, enfrentar tudo sozinha como
sempre fiz... mas pela primeira vez eu não quero ficar sozinha.
Entramos no apartamento de Henrico, e para minha surpresa sou
bem recebida.
Miguel me ajuda a sentar no sofá, ainda estou me sentindo fraca
para andar sozinha.
- Sua amiga, Cinthia irá vir hoje te ver. – Me informa Miguel.
- Eu não quero atrapalhar.
Ele segura minha mão.
- Não está. – Vejo sinceridade em seu olhar.
- Caroline, sinta-se em casa. Mi casa és tu casa. – diz Henrico.
- Obrigada.
- Irei dar uma saída, fiquem à vontade.
Henrico sai nos deixando a sós.
- Miguel...
Ele se aproxima, faz um sinal com o dedo indicador pedindo um
minuto.
- Caroline, antes de dizer qualquer coisa, quero que saiba... sei que
se passaram dez anos, e durante esse tempo eu nutri um ódio, um
ressentimento. Mas nunca, jamais desejei o seu mal. Sei o quanto
sofreu na infância e como não está sendo fácil agora, depois do
divórcio. Antes de sermos marido e mulher, fomos amigos. Estou
aqui como um amigo que quer o bem de sua amiga. Quero que vá
comigo para Madrid, onde irei ajudar encontrar o melhor tratamento.
Abaixo a cabeça, tentando esconder o choro.
- Não me deixe sozinha. – Abraço ele. – Não quero morrer sozinha.
- Você não vai morrer, não vou deixar isso acontecer.
Me afasto para encarar seu rosto.
- Eu nunca te traí. – é a primeira vez que falo isso em voz alta.
Ele passa o polegar no meu rosto.
- Vamos deixar isso para trás, o importante agora é cuidar da sua
saúde.
Apenas concordo com a cabeça.
Capítulo 6
Miguel Martinez
Miguel Martinez
Madrid 2006
Miguel Martinez
Madrid 2018
Chego na fazenda tarde, não bebi, mas transei com uma morena.
Abro a porta da sala notando a luz da cozinha acessa. Vou até lá e
encontro Caroline sentada no banco.
- Ah, você chegou. – diz virando o rosto para outra direção.
Vou me aproximando, quando ela me olha, vejo que estava
chorando.
- O que aconteceu?
- Cinthia me ligou.
- Está tudo bem no Brasil?
- Sim.
Ela está com uma xicara de chá na mão, encarando o conteúdo.
- Estava no bar da Aurora. – Senti a vontade de me explicar.
Ela me oferece um sorriso de lábios fechados.
- Miguel, você é um homem solteiro, tem que fazer o que sentir
vontade sem precisar se explicar. – Ela fica de pé. – Boa
madrugada.
Quando passa ao meu lado, novamente aquele impulso do caralho
me faz segurar seu braço.
- O que aconteceu?
Vejo ela inspirar fundo.
- Meus pais apareceram no restaurante, fizeram um escândalo.
Cinthia teve que chamar a polícia.
- O que eles queriam?
- Dinheiro, como sempre. Só me procuram para isso. Amanhã eles
vão ser soltos, pedi para Cinthia não falar onde estou.
- Fez certo, do jeito que são vão vir atrás te perturbar.
- É... hum... vou indo. – diz encarando minha mão que ainda está
em seu braço.
- Oh, me desculpe. – Solto rapidamente me afastando dela.
Ela sorri de lado, observo ela caminhar até o andar de cima. Sinto-
me incomodado por ter passado a noite com outra, enquanto ela
estava aqui aflita.
Caroline Costa
Entro no meu quarto, me jogo na cama e fico encarando o teto.
Esse é um dos quartos de hospedes que eu decorei com carinho,
quis deixar ele bem neutro, em tons pasteis com uma cama de casal
confortável, a cabeceira de madeira rustica. E está exatamente
como eu me lembro. Miguel não mudou nada, eu pensei que isso
poderia significar algo.
Nas três semanas que cheguei, ele voltava cedo. Eu preparava um
jantar e ficávamos conversando sobre o cotidiano. Hoje quis fazer
algo diferente, preparei seu prato favorito. Fiquei esperando até
tarde.
Me senti uma patética em criar expectativas, sei que está me
ajudando por pena, não por algum sentimento secreto que nutri por
mim. Eu ainda tenho sentimentos por ele, um sentimento que esteve
escondido por todo esses anos que passou, mas desde que nos
reencontramos reacendeu tudo dentro do meu coração idiota.
Eu amo Miguel Martinez e ele me odeia, e por sentir pena da
pessoa fracassada que me tornei, está cuidando de mim. Para
deixar tudo ainda pior, meus pais decidiram me procurar depois de
nove anos, a última vez me humilharam, sai de casa sem nada.
Tenho medo de que descubram que estou na fazenda com Miguel,
tenho certeza de que iriam aparecer aqui.
Acabo dormindo em meio as lágrimas e preocupações.
Ao acordar, faço minha higiene matinal. Coloco uma calça jeans
com uma regata preta, amarro meu cabelo em um rabo de cavalo.
Depois de pronta caminho até a cozinha.
Encontro a mesa pronta, com um café da manhã de dar água na
boca, no entanto não vejo Miguel.
- Miguel? – ando pela casa e nada de encontrá-lo.
Vejo preso na geladeira um bilhete “Saí para trabalhar”, apenas isso.
Me sento a mesa sozinha. Pego uma torrada com geleia, suspiro
com o sabor maravilhoso.
Miguel está estranho desde ontem, penso que posso estar
atrapalhando. Sinto que ele está me evitando. Será que seu ódio por
mim está aumentando?
Depois de tomar meu café da manhã decido caminhar pela fazenda.
Está um clima fresco, vejo a vinícola logo a frente. Continuo minha
caminhada, em direção a vinícola, quando escuto vozes de homens,
reconheço na hora. Se trata de Ramirez e Miguel.
Algo que não sei explicar me faz parar, não sou de ouvir conversa
dos outros, mas pelo tom de Ramirez é algo sério e sinto que tem a
ver comigo.
- Quando vai mandar ela embora? – pergunta Ramirez. – Ainda não
entendi o motivo dela estar aqui.
- Ela está com problemas pessoais. – Responde Miguel.
- Agora está explicado, o nome disso é pena.
Sinto um aperto no peito.
- Aquela puta, jamais vou esquecer o que fez com o Gui.
Ele pensa que eu seduzi seu irmão. Miguel não diz nada, sinto como
se em nenhum lugar eu fosse bem-vinda.
Dou alguns passos para trás, nesse momento sinto uma forte dor na
cabeça. Tudo começa a escurecer, parecendo que estou perdendo
minha visão.
Capítulo 9
Miguel Martinez
Madrid 2006
Caroline Costa
Quando ganhei a bolsa para a faculdade de Madrid, não acreditei.
Mas então me lembrei de todo meu esforço, as noites em que
passei acordada, não consegui controlar minha risada, que se
tornou uma gargalhada.
Isso foi a três anos atrás, estou cursando administração, e mesmo
com meu estilo rebelde, sou invisível. A não ser quando recebo
algum olhar de discriminação, as vezes pelo meu tom de pele,
outras por ser brasileira. Esse é um dos motivos que não fiz
amizades, prefiro assim. Não quero que nada atrapalhe meus
estudos. Estou no auge dos meus vinte e dois anos, terei um futuro
para fazer amizades. No entanto essa semana se tornou a mais
bizarra, desde que trombei no popular Miguel Martinez.
Ele e seus primos são o desejo de consumo de qualquer pessoa
que goste de homem. Onde passam arrancam suspiros. Eles são
gatos, simpáticos e divertidos. São o verdadeiro significado de
pacote completo.
Estudei dois semestres com o Juan e o Guilhermo, e nunca me
cumprimentaram, porém essa semana toda vez que um dos top
cinco passava ao meu lado, eu recebia um “Bom dia”.
Já estava tudo muito estranho, jurava que não tinha como ficar
ainda mais louco... me enganei, pois Lalisa me convidou para o
famoso luau. Lalisa é a líder de torcida, nunca nem olhou na minha
cara. Desconfiei de sua aproximação, me notou quando o top cinco
começou a me dar atenção.
Minha desconfiança se confirmou, quando Miguel veio em nossa
direção, com o olhar fixo em mim. E agora para chocar a sociedade,
ele diz que precisa conversar comigo.
Lalisa se aproximou dele, pronta para dar seu bote de sedução.
- Miguel, o que acha de conversar comigo primeiro? – diz colocando
a mão sobre o peito dele. – Podemos nos diverti um pouco e... – Ela
sussurra algo no ouvido dele. O que me faz revirar os olhos.
O que estou fazendo aqui?
As duas amigas de Lalisa estão cochichando e rindo ao meu lado.
Inspiro fundo, dou meia volta me afastando. Mal consigo dar dois
passos, quando sinto a mão firme e quente de Miguel segurar a
minha. Primeiro encaro nossas mãos, os dedos estão entrelaçados.
Depois subo meu olhar,, encontrando olhar de desafio dele. Desvio
o olhar para as patricinhas que estão me encarando como se eu
fosse uma espécie de aberração.
Essa troca de olhares durou menos de trinta segundos.
Miguel está me desafiando a tomar uma atitude, ele não sabe o que
acontece quando desafia uma brasileira.
Puxo sua mão em minha direção, seguro sua nuca aproximando
nossas bocas. Quando nossos lábios se encostam, eu o beijo, mas
o beijo com vontade. Chega a ser pornográfico.
Ele puxa minha cintura com uma mão e a outra segura meu cabelo
pela nuca. Miguel está mostrando sua pegada, e que pegada.
Firme, sexy e gostosa.
Esqueço de tudo ao nosso redor.
Aquela boca, aquela língua são tudo que consigo focar.
Capítulo 10
Miguel Martinez
Madrid 2018
Escuto um barulho atrás de onde estou com meu primo. Fomos ver
o que era, encontramos Caroline caída no chão.
Na hora sinto um aperto no peito, um desespero acompanhado de
uma angústia.
Corro até ela.
- Caroline? – a pego em meus braços, tentando acordá-la.
- Vou buscar o carro. – Ramirez corre até onde está sua
caminhonete.
Caroline começa a abrir os olhos, parece confusa ao me encarar.
- Miguel?
- Sou eu. Vou te levar para o hospital.
Ela coloca a mão sobre a testa, ajudo levantar seu corpo, a
deixando sentada sobre a terra.
- Não é necessário. Estou melhor.
O carro de Ramirez para bem próximo de onde estamos. Ele desce
preocupado.
- Ela consegue andar? – pergunta para mim, evitando encará-la.
- Eu consigo. – Ela responde. – Irei retornar para a casa.
A ajudo ficar de pé. Ela fica um pouco tonta, segura firme meu
braço. Aos poucos noto ela recuperar o equilíbrio. Assim que
consegue ficar sobre os próprios pés, ela encara meu primo.
- Oi, Ramirez.
- Oi. – Ele é frio.
- Vou acompanhá-la até a fazenda. – disse para melhorar o clima
estranho entre eles.
- Obrigada.
Meu primo fica nos encarando. Ignoro quando balança a cabeça
inconformado.
Caroline segura no meu braço, enquanto caminhamos. Está um
silêncio constrangedor. Existe uma tensão quando estamos juntos,
sinto ela evitando me olhar.
- Sabe que não pode se esforçar. – Digo.
- Só queria andar um pouco, ficar em casa é sufocante.
Paramos na varanda, ela senta no banco.
- Você não tirou o banco.
Quando o colocamos, ela disse que seria o lugar onde ficaríamos
curtindo a velhice, com os filhos no trabalho e os netos correndo no
quintal.
- Irei retirar. – Respondo seco, algo em lembrar do passado que
vivemos me faz sentir raiva.
Ela estragou o futuro que idealizamos.
Caminho irritado até a porta, a deixando para trás.
- Eu nunca dormi com seu primo. – Ela sussurra, como se estivesse
afirmando para si mesma.
Paro de andar, processando o poder que aquelas palavras têm
sobre mim.
- Isso não importa mais.
- Importa sim! – ela me encara. – Não posso morrer, com você me
odiando. Eu não sei o que aconteceu naquele dia.
- Caroline, estou sendo sincero quando digo que não quero falar
deste assunto. Vamos cuidar da sua saúde, o que aconteceu a dez
anos atrás, ficou no passado.
Ela continua me encarando.
- Não quero sua piedade. – diz desviando o olhar.
- É melhor você descansar. – Abro a porta, a deixando sozinha.
Caroline mexe com a minha cabeça, sempre mexeu. Ela está certa,
sinto pena dela. Considerando tudo que já senti durante esse tempo
que passou, pena não é tão ruim.
Vou até meu escritório, fecho a porta.
Fico sentado na minha cadeira, tentando me concentrar nos
negócios, mas só consigo pensar no que ela disse “eu não sei o que
aconteceu naquele dia”. Ramirez falou que Guilhermo diz a mesma
coisa.
Reviro meus olhos, isso parece teoria da conspiração.
Meu celular começa a tocar, me tirando dessa nuvem de
pensamentos que não fazem logica com o que eu vi.
- Oi, Juan. – Atendo no segundo toque.
- Mano você voltou com aquela mentirosa?
Caroline se tornou a pessoa mais odiada entre meus primos. Eles
insistem em dizer que ela drogou Guilhermo. Meu primo tentou
conversar comigo várias vezes durante os anos, mas todo o lugar
que ele estava eu evitei, suas ligações rejeitei. Pior que ser
enganado pela mulher que se ama, é ser enganado pela pessoa do
seu sangue, a que você mais confiava, que o considerava um irmão.
- Ramirez já deu com a língua nos dentes?
- Sabe que só queremos o seu bem, e Caroline está longe de ser
boa para você.
- Só estou ajudando uma pessoa que precisa.
- Ramirez contou que ela desmaiou, Henrico não quis dizer o que
aconteceu no Rio.
Henrico é um túmulo, ele não abrirá a boca. Pedi para manter tudo
em sigilo, Caroline é a única que pode contar algo.
- Vocês estão se preocupando demais. Preciso desligar.
- Se cuide, irmão. E não a deixe te enganar.
Desligo.
Fico um tempo apenas olhando a paisagem da fazenda, do meu
escritório vejo minha vinícola.
Decido ir ver como Caroline está, depois do mal estar que sentiu,
não fui ver se está bem.
Vou para a cozinha, sala e varanda e não a encontro. Subo até o
quarto, dou duas batidas na porta.
- Entre. – Sua voz sai baixa lá de dentro.
Abro a porta a encontrando deitada enrolada na coberta.
- Está se sentindo melhor? – pergunto preocupado.
- Sim. Só um pouco cansada, o médico disse que é normal.
- A cirurgia está chegando.
- Está... e a quimio também.
Tomo a liberdade de sentar ao seu lado na cama, passo a mão em
sua testa para sentir sua temperatura.
- Não está com febre. – Afirmo. – A quimio te preocupa?
- Um pouco, acho que os efeitos colaterais.
Encaro seu rosto.
- Você ficou bem com os cabelos longos, mas sei que fica ótima de
cabelo curto.
Ela levanta o rosto e me encara com um brilho no olhar.
- Lembra quando pintei de platinado?
Dou risada com a lembrança.
- Sim. Você queria ficar parecida com a Halle Berry como
tempestade. E ainda me fez pintar também.
- Ah, você gostou, e ficou muito mais bonito.
O elogio faz ambos ficarem em silêncio.
- O que acha se eu fizer aquele ensopado? Lembro o quanto
gostava.
- Não quero incomodar. Estou bem, de verdade. Pode ir descansar.
– diz com um sorriso de lado.
Fico de pé.
- Boa noite, Caroline. – disse já me retirando.
Caroline Costa
Miguel Martinez
Dia da cirurgia.
Miguel Martinez
Madrid, 2006
Caroline Costa
Miguel Martinez
Caroline Costa
Madrid 2006
Caroline Costa
Madrid 2018
Miguel Martinez
Madrid, 2006.
Minha avó está encarando Caroline, a mão dela que segura a minha
está começando a ficar gelada.
- Vó, essa é nossa amiga. – diz Juan.
- Caroline Costa. – Completa Henrico.
- Carol, essa é nossa avó, dona Maria Dulce. – Apresenta
Guilhermo.
Mesmo com a tentativa dos meus primos de apaziguar as coisas,
sinto que não funcionou.
Caroline tentou a cumprimentar, chegou a estender a mão, mas
minha avó continua encarando nós dois, com cara de poucos
amigos.
- Por que a amiga de vocês está de mãos dadas com Miguel? – A
pergunta pode não ter sido ofensiva, porém o modo como a
pronunciou fez se tornar.
Chega! Não vou mais deixar ninguém humilhar Caroline na minha
frente, essa é uma promessa que faço para mim mesmo.
Aperto a mão dela, a colocando na frente do meu peito.
- Carol é amiga dos meus primos e minha namorada.
Todos estão encarando dona Maria Dulce.
- Namorada? Hum... – é o que ela diz, quando quer, minha vó se
torna bem desagradável. – Podemos conversar? – pergunta me
encarando.
- Sim. – Olho para Caroline. – Me espera? – ela concorda com a
cabeça. – Já volto.
Vou até meu quarto, acompanhado de minha avó. Assim que fecho
a porta começa.
- Isso é brincadeira?
- Por que seria? Caroline é linda e inteligente, não vejo onde possa
parecer uma piada.
- Você pelo menos conhece a família dessa moça? Já percebi que
não é espanhola.
- Ela é brasileira. E ainda não conheci seus pais.
Minha Avó me encara.
- O que sente por ela?
- Ainda estou descobrindo, mas ela é diferente. Gosto demais de
sua companhia.
Dona Maria Dulce pode ser difícil, desagradável e as vezes cruel
com as pessoas que não conhece, acima disso tudo ama e cuida da
família como uma verdadeira matriarca.
- Irei marcar um jantar. Não me faça arrepender.
Vou até ela e a abraço.
- Te amo, vó.
Voltamos para a sala, dessa vez minha avó cumprimentou Caroline,
simpática do jeito dela durão de ser.
Quando vai embora, meus primos começam a rir.
- Cara, no começo pensei que a vó iria matar você. – Comenta
Ramirez.
- Sou seu neto predileto.
- Ah, vai sonhando. Todos sabemos que sou eu. – diz Juan.
- Querem fazer uma eleição? – comenta Caroline aos risos.
- Deixa quieto. – Ramirez diz, fazendo todos cair na gargalhada.
Levei Caroline de volta para o dormitório. A deixei lá, nos
despedimos com um beijo.
Estou no carro voltando para o apartamento, quando meu celular
toca.
Vejo o nome do meu pai.
- Oi pai. – Atendo no viva voz.
- Oi, meu filho.
- Já sei o assunto dessa ligação. A vovó falou sobre meu namoro. –
Afirmo.
- Sim. Estou ansioso para conhecê-la. Você nunca nos apresentou a
nenhuma moça, essa deve ser especial.
Meu pai é um homem incrível, meu velho tem um coração que não
cabe no peito.
- Ela é, muito.
- Mamãe irá marcar o jantar o mais rápido possível. Preciso
conhecer a mulher que roubou o coração do meu filho.
Converso mais um pouco com meu pai, desligo ao estacionar.
Miguel Martinez
Madrid 2018
Caroline Costa
Uma semana depois.
Estou em um sonho, onde o homem que amo, diz todos os dias que
me ama. Se eu parar e olhar para trás, a alguns meses atrás. Nunca
iria imaginar que hoje estaria aqui, sentada no banco, em um dia
nublado. Ao lado do único homem na minha vida. Mesmo com a
doença, só encontro motivos para agradecer.
- Hoje vamos jantar fora. – Afirma Miguel.
- Sei que não foi uma pergunta, no entanto saiba que aceito. – disse
com um enorme sorriso no rosto.
Miguel fica de pé, estende a mão em minha direção, claro que
aceito sua mão e a seguro firme. Ele me puxa em sua direção,
colando nossos corpos. Encosto meu rosto em seu peito.
Ele segura uma mão minha, enquanto sua outra mão aperta minha
cintura.
Seu corpo começa a balançar de um lado para o outro, seguindo o
ritmo de uma música imaginária.
- Essa noite... – ele começa a sussurrar próximo ao meu ouvido. –
Iremos jantar no restaurante de gusta. No fim da noite dançaremos
ao som da nossa música. Enquanto direi no seu ouvido te amo,
repetidas vezes.
Ergo meu rosto, encontrando seu olhar. Sinto vontade de chorar e rir
ao mesmo tempo.
- Responderei, repetidas vezes que também amo você.
Fico na ponta dos pés, para alcançar sua boca. O beijo é calmo e
gostoso. Afasto nossos lábios para atender meu celular que não
para de tocar.
Na tela vejo o nome de Cinthia.
- Oi, Cinthia.
- Oi Carol, como você está?
- Melhor impossível. – Respondo encarando Miguel que sorri.
- Isso tem cheiro de amor e sexo.
Acabo rindo.
- É... você me conhece.
- Não quero atrapalhar vocês. Liguei para dizer que daqui três dias
chego em Madrid. Serei toda sua.
- Ah, fico tão feliz que você estará aqui. Não vejo a hora. Me
mantém informada.
- Pode deixar. Agora vai lá curtir seu boy.
- Obrigada por tudo. Até logo.
Assim que desligo, conto para Miguel que Cinthia está chegando.
Ele ficou feliz, agora terei companhia quando ele não estiver aqui.
Ao anoitecer.
Coloco um vestido longo preto, com uma fenda na perna direita.
Solto o cabelo, o deixando ainda mais liso com a chapinha.
Capricho na maquiagem, com um delineado de gatinho marcando
bem meus olhos, e um batom bordo.
Minhas coisas continuam no quarto de hospedes, mesmo que
minhas noites terminam sobre a cama de Miguel.
Saio do quarto, o encontrando no corredor.
- Uau. – Ele diz, me encarando dos pés à cabeça. – Você está
maravilhosa. – diz se aproximando, pegando minha mão e a
levando aos lábios. – Não quero borrar seu batom. – Beija o dorso
da minha mão.
- Eu não me importaria. – disse com meu melhor olhar sedutor.
- Não olhe assim, ou não sairemos para jantar.
Dou um último olhar fatal em sua direção, em seguida dou um
sorriso largo.
- Não me arrumei atoa, vamos!
Ele ri, estende o braço, onde apoio o meu.
Chegamos no de gusta quarenta minutos depois.
Estamos sentados de frente uma mesa quadrada, em lados
opostos. Fizemos nosso pedido, agora estamos nos encarando.
- Você está muito bonito.
Miguel parece realmente um príncipe, usando um terno azul
marinho, uma camisa preta, com os primeiros botões abertos. Para
completar seu rosto perfeitamente desenhado, com um pouco de
barba para fazer. Os cabelos bem alinhados. Realmente, tenho na
minha frente, o homem mais lindo desse restaurante. Diria até
mesmo de Madrid.
- Obrigado. – Agradece com um sorriso de lado.
O jantar foi maravilhoso. A comida estava uma delícia, do jeito que
eu me lembrava.
E pensar que á um tempo atrás, era eu quem servia. Mesmo agora,
estando do outro lado, sinto falta do meu emprego. Claro, tinha
vezes que atendia clientes mesquinhos e mal educados, no entanto
existia as exceções, clientes gentis e educados.
Estamos no carro a caminho da fazenda. Estou com a cabeça
encostada na janela, olhando o céu que hoje está incrivelmente
estrelado. A lua está brilhante, se destacando e iluminando tudo a
sua volta.
Continuo concentrada, admirando o céu, que mal notei que
havíamos chegado.
Miguel desce, abre a porta do passageiro, me ajudando a descer.
Em vez de me guiar para a direção da casa, ele começa a dar a
volta no carro.
- O que está fazendo?
- Te prometi uma dança, sabe que não quebro uma promessa.
Noto que ele deixou o farol aceso. Paramos bem em frente a luz
forte do veículo.
Ele tira seu celular do bolso, digita algo. E então começa a tocar
uma música no som do carro. Quando escuto a melodia, meus olhos
se enchem de lágrimas.
Chasing Cars – Snow Patrol.
- Lembra? – ele pergunta.
- Sim. – Respondo com um sorriso no rosto banhado em lágrimas.
Miguel se aproxima, repetindo o mesmo movimento dessa manhã.
Com a cabeça apoiada em seu peito, uma de suas mãos na minha
cintura, e a outra acariciando meus cabelos. Acompanhamos o ritmo
da música.
“Se eu deitasse aqui, se eu apenas me deitasse aqui, você deitaria
comigo e apenas esqueceria do mundo?”
Ele sussurra a música em meu ouvido, me fazendo chorar ainda
mais.
“Eu não sei bem como dizer como me sinto, aquelas três palavras,
são faladas demais, elas não são o suficiente”
A música continua, e naquele momento só existe nós dois nesse
mundo.
“Eu preciso de sua graça, para me lembrar, para encontrar a mim
mesmo”
A cada verso, sinto a música entrar no mais profundo da minha
alma.
“Tudo que sou. Tudo o que sempre fui, está aqui em seus olhos
perfeitos. Eles são tudo o que posso ver. Eu não sei onde. Confuso
sobre como também, só sei que essas coisas nunca mudarão para
nós de jeito nenhum. Se eu deitasse aqui, se eu apenas deitasse
aqui. Você deitaria comigo e simplesmente esqueceria do mundo?”
Nesse momento, Miguel se ajoelha. Retira do bolso de seu terno
uma caixinha preta de veludo. Abre, revelando um anel de
diamante. Mas não era qualquer anel, era o meu anel. O mesmo
que o devolvi no divórcio.
- Esqueça o mundo. Esqueça quanto tempo temos, apenas me dê
sua mão e me guie ao seu lado. – Ele diz a mesma frase que usou
no pedido de casamento que me fez no último dia do ano de 2006.
Coloco as duas mãos sobre minha boca. O choro aumentou, sinto
que irei explodir por dentro.
- Andaremos lado a lado... – digo com a voz embargada. – Até o fim.
Ele coloca o anel em meu dedo, beija minha mão. Fica de pé,
segura meu rosto entre suas mãos.
- Até o fim! – diz.
Capítulo 19
Miguel Martinez
Madrid 2006
Caroline Costa
2018
Miguel Martinez
Caroline passou por muitas emoções em um único dia.
Primeiro, a queda do seu cabelo, junto com a decisão de raspá-lo.
Em seguida encontrando todos com a cabeça raspada. Em forma de
solidariedade com sua dor. A revelação da homossexualidade de
Guilhermo, o fato dele estar em um relacionamento sério a mais de
quinze anos, com o advogado da família. Caroline já sabia, mesmo
com as sete pedras que recebeu não revelou a ninguém o segredo
do meu primo. Isso me faz a admirar ainda mais.
Ela guardou sua dor, as humilhações para não causar desconforto
em Guilhermo ao ter seu segredo revelado.
Sou grato por esse dia ter terminado sem uma tragedia. Caroline
ficou em observação, passamos a noite no hospital. Agora, estamos
voltando para casa.
Cinthia a ajuda tomar banho, enquanto preparo um ensopado.
- Ela vai ficar bem? – pergunta Ramirez.
Meus primos estão aqui, falaram que só vão embora quando tiverem
certeza de que Caroline está bem.
- O médico disse que ela não pode passa por estresse, ou fortes
emoções.
- A culpa é minha. – diz Guilhermo cabisbaixo.
- Não fala merda, irmão. – Aperto seu ombro.
Juan que estava cortando legumes, para o que estava fazendo e me
encara.
- Chegou a hora de investigarmos a fundo, quem queria prejudicar a
Carol.
- Concordo. – diz Henrico.
- O que vocês têm em mente? – pergunto.
- Voltar a dez anos atrás. Refazer todos os passos. Descobrir quem
esteve aqui. – Juan explica.
Começamos a conversar. Guilhermo contou passo a passo do que
fez naquele dia.
Sei que descobrir quem foi o responsável pelo meu divórcio, não irá
trazer de volta os dez anos que perdemos longe um do outro, mas
eu quero entender o porquê. Qual o objetivo, em destruir um amor
como o nosso.
Assim que todos foram embora, deitei ao lado de Caroline. Ela
comeu bem pouco, pois seu estomago está doendo.
Ela está com os olhos fechados, seu rosto está sereno e tranquilo.
Seus dedos entrelaçados aos meus.
Cinthia a ajudou enrolar um lenço florido na cabeça. Sua amiga já
encomendou algumas laces(peruca). Tanto para Caroline, quanto
para ela, que também exibia sua careca.
Juan a levou embora. Ele está encantado com sua beleza.
Fico observando a respiração da mulher que tem todo o meu
coração. É como se eu precisasse garantir que ela está respirando.
Não sei quanto tempo se passou, senti meus olhos pesarem. E sem
perceber acabei dormindo.
Acordo notando a ausência da minha mulher na cama, sinto um
desespero, uma angústia.
- Amor? – Sento-me na cama.
Escuto um barulho no banheiro, corro às pressas até la. Respiro
aliviado ao vê-la de frente ao espelho. Ela não está usando o lenço.
Vejo seu lábio se curvando em um sorriso.
Ver ela sorrir, me faz sentir um alívio. Como se minha felicidade
dependesse disso. Como pude viver tanto tempo longe dela?
Caroline Costa
Acordei com o braço de Miguel em volta da minha cintura. Ele ficou
muito bonito careca, passo a mão sobre sua cabeça. Não acredito
que todos eles fizeram isso, é muita loucura, no entanto nunca me
senti mais amada e acolhida. Sem eles, provavelmente estaria
sozinha, deitada na cama, deixando a doença se espalhar, apenas
aguardando a chegada da morte.
Ter cada uma dessas pessoas, faz tudo se tornar mais leve. Cinthia
se mostra ser muito mais que uma amiga. Vê-la raspar seu lindo
cabelo loiro, me fez chorar. Porque foi aí, que entendi, desde que a
conheci não estou sozinha.
Levanto da cama sem fazer movimentos bruscos. Vou até o
banheiro, encaro meu reflexo no espelho.
O lenço que estou usando é bonito, com estampa florais. Cinthia me
ajudou a colocar e por incrível que possa parecer, eu me sinto bem.
Vou tirando o lenço. Passo a mão na minha cabeça, onde antes
havia uma longa cabeleira. No início foi doloroso, no entanto, agora,
olhando o formato fino do meu rosto, como meu pescoço se
destaca, estou gostando do que vejo.
Agora vou poder ficar loira, ruiva e morena. Usar laces de vários
tamanhos e texturas. Também vou curtir minha bela cabeça sem
cabelos, principalmente no calor. Acabo sorrindo.
Nesse momento, sinto os braços de Miguel em volta da minha
cintura. Seu rosto surge no vão do meu pescoço.
- Você está linda. – Sussurra no meu ouvido.
- Você também! – encaro seu reflexo atrás de mim. – Ficou ótimo.
Ele passa a mão sobre a própria cabeça.
- Talvez, eu mantenha assim.
Acabo rindo.
- Acho melhor não.
- Você disse que ficou bom assim, dona Caroline.
Ele ri, beija meu rosto.
- Eu disse a verdade. – Ele diz. – Gosto da visão que tenho do seu
pescoço. – Ele beija minha nuca. – Te amo, minha bela.
- Também amo você.
Capítulo 22
Miguel Martinez
Madrid 2006/2007
Faz exatos dez meses que estou com Caroline. Ainda não rolou um
pedido oficial de namoro, irei pular essa etapa.
Hoje é dia 30 de dezembro, amanhã é véspera de ano novo. Tudo
que mais quero, é começar o ano novo com a mulher que ocupa
meus pensamentos quando acordo, e quando vou dormir.
Eu a amo, loucamente. Tive uma conversa com meu pai sobre meu
desejo de pedir a mão de Caroline. Ele ficou empolgado, me
aconselhou a comprar a fazenda de um amigo dele.
Minha vinícola é pequena. Os vinhos são comercializados aqui na
região mesmo, porém, consigo um bom lucro. Nunca fui ganancioso.
O importante é ter dinheiro para o sustento e uma vida confortável.
É o que quero oferecer a Caroline.
Ela está me ajudando na administração. Se tornando minha parceira
nos negócios e na vida.
Planejei com meus primos como será o pedido. Vai ser no momento
da contagem regressiva.
Está sendo bem difícil esconder essa surpresa dela. Desde que
estamos juntos ela tem sido minha confidente, meu ponto de
equilíbrio.
Estou na casa da minha avó. Reunido com meus primos, ajudando
a desmontar a arvore de Natal. É uma tradição. Nós montamos e
desmontamos.
- Sua cara não engana. – Começa Henrico.
- Que cara? – pergunto enquanto subo na escada para retirar a
estrela do topo.
- Essa cara de apaixonado, que está prestes a ser abatido. – brinca
Ramirez.
- Estou apaixonado e não é segredo. Espero que um dia sintam o
que estou sentindo.
- Credo, vira essa boca pra lá. – Ramirez bate na madeira.
- Vocês não estão imunes a se apaixonar. – Comenta Guilhermo,
atraindo a atenção de todos.
- Você diz, parecendo que está apaixonado. – diz Juan desconfiado.
Guilhermo dá de ombros.
-Ah, que merda. Meu irmão está de quatro por alguma mulher.
- Não comento minha vida amorosa. – Responde bravo. – Vamos
terminar logo, antes que a vovó venha aqui.
Terminamos de desmontar a arvore. Conversei um pouco com
Caroline pelo telefone. Irei buscá-la amanhã as 20hrs. Só de
imaginar, sinto minhas mãos tremerem.
E se ela disser NÃO.
Caroline Costa
Encarando meu reflexo no espelho. Satisfeita com o resultado.
Estou usando um vestido longo branco de cetim, com um decote em
V. As costas, faz uma trança com correntes douradas. Nos pés,
calcei um salto alto dourado. Fiz um coque bagunçado no topo da
cabeça. Meu cabelo cresceu bastante nos últimos meses. Já está
no ombro. Optei por uma maquiagem forte e marcante. Um batom
vermelho, um delineado de gatinho, com uma sombra branca e um
esfumado preto.
Estou sozinha no dormitório. A garota que divido o quarto – Sabrina
– está na casa dos pais a alguns dias. Ela é uma boa colega de
quarto. Conversamos o essencial, sempre respeitando o espaço da
outra.
Como meus pais não ligam se estou viva, não havia motivos para
juntar dinheiro e ir visitá-los. É melhor assim, não aguento ser
desprezada por eles. É doloroso, eu sei.
Três batidas na porta, me tiram dos meus pensamentos. Abro a
porta e encontro um Miguel de calça caqui, camisa social branca,
com as mangas dobradas até o cotovelos. O cabelo preto levemente
molhados e bagunçados, o que o deixa muito sexy. O encaro dos
pés à cabeça. Ele é perfeito. Me faz perder o ar.
- Uau... você está linda. – Diz se aproximando, uma mão envolve
minha cintura, a outra passa delicadamente em meu rosto.
- Saiba que tirou as palavras da minha boca. Uau... você está lindo.
Ele sorri.
- Queria te beijar. Ah, sim, como queria.
- E por que não beija? – mordo o lábio inferior.
- Seu batom, está lindo. Não quero borrar.
Passo os braços em volta de seu pescoço.
- E se, quem quiser borrá-lo for eu?
Ele me dá um de seus sorrisos maliciosos.
- Não me responsabilizo por tal ato.
Afundo meus dedos em seu cabelo pela nuca, o puxo em minha
direção, grudando nossas bocas.
Minha virgindade está intacta, entre aspas. Porque já rolou vários
orais. Tanto em mim, quanto nele. No entanto, eu quero mais. E
agora o vendo todo sensual, não consigo mais esperar. Eu o quero.
Com as duas mãos espalmadas na minha bunda ele a aperta. Sinto
sua ereção me pressionando.
- Precisamos ir. – Ele diz entre nossos lábios.
Separo minha boca da dele.
- Se eu disser, que quero terminar o ano com você, especificamente,
com você dentro de mim. Mesmo assim, precisamos ir?
Ele aperta ainda mais minha bunda, com muita força.
- Vou te mostrar o que eu preciso.
Ele termina de entrar no quarto, se afasta, trancando a porta. Depois
de garantir nossa privacidade, ele caminha em minha direção.
- Você tem certeza? Depois que eu começar, não irei parar.
- Não quero que pare.
Levo um pequeno susto, quando suas mãos vão parar atrás das
minhas coxas, erguendo-me do chão. Passo as pernas em volta de
sua cintura.
Ele devora minha boca, em uma urgência. Chupo sua língua com
vontade. Sinto minhas costas encontrarem a parede fria. Solto um
pequeno gemido.
A mão dele começa a subir minhas coxas, parando sobre minha
calcinha.
- Você está molhadinha, amor. – diz com a mão sobre o tecido da
minha calcinha branca. – Prontinha para mim.
Seus dedos fazem movimentos circulares sobre o tecido, causando
uma sensação prazerosa.
- Ah...
- Amor, hoje não consigo fazer preliminares. Preciso urgentemente
estar dentro de você.
- É tudo que quero.
Ele me ajuda tirar o vestido. Se ajoelha na minha frente, coloca meu
pé esquerdo em cima do seu joelho, retirando uma das minhas
sandálias. Faz o mesmo processo com o outro pé, dessa vez ele
beija minha panturrilha. Seus lábios vão subindo, deixando um
rastro de beijos até minha coxa. Olhando para cima, encarando meu
rosto. Ele puxa o tecido da calcinha com os dentes. Vejo ela
deslizando, até estar no chão.
Seu rosto para em frente minha vagina, onde ele respira fundo,
inspirando meu cheiro. O que me deixa ainda mais excitada.
Ele fica de pé, com os olhos ainda fixos em mim, retira a camisa.
Aquele corpo, parecendo ter sido esculpido pelos Deuses, deixa
qualquer um babando – eu não disse por onde – Meu olhar
acompanha ele abrir o zíper da sua calça. Abaixando a calça com
sua cueca boxer preta junto.
Ele está duro como uma pedra.
Passo a língua pelos lábios ao me lembrar do gosto do seu pau na
minha boca.
Notando meu olhar, ele se aproxima, como um felino, sexy e
gostoso.
Não demora para minhas costas deitarem sobre o colchão.
Ele se afasta, apenas para pegar sua carteira. Retirando um
preservativo.
Fico observando ele abrir a embalagem, cobrir seu pau com o látex.
Em seguida volta, deitando seu corpo sobre o meu.
Ele beija minha boca, nesse momento sinto seu membro passando
na minha entrada. Miguel, fica passando ele por minha lubrificação.
O sinto abrindo caminho nos meus lábios vaginais, no começo é um
pouco dolorido e incomodo. Ele parece grande demais para mim. No
entanto, depois, conforme vou o sentindo cada vez mais profundo, a
sensação vai se tornando prazerosa.
Meu gemido se mistura com o dele, quando o sinto me preencher
por completo.
- Porra... – ele geme. – Estou te machucando?
Nego com a cabeça, estou sem condições de formular frases.
Ele começa a se movimentar. A dor vai desaparecendo, dando
espaço ao prazer.
A cama começa a ranger. Meus gemidos não consigo mais
controlar. Sinto o orgasmo me atingir com força. Meu corpo treme,
meu coração dispara. Ele continua se movimentar, até atingir o
próprio clímax.
Ainda com o corpo em cima de mim, ele toma meus lábios, em um
beijo carinhoso.
Estamos suados, o rosto dele vermelho de batom.
- Te amo. – Ele diz.
- Também amo você. – Respondo.
Ele levanta, começa a vestir a cueca.
O que me deixa tensa. Será que agora é o momento que ele diz,
que tudo acabou?
Vejo ele vestir a calça. Começo realmente a ficar preocupada. Puxo
o lençol, para cobrir minha nudez. Ele veste a camisa, tudo de
costas para mim.
Minhas mãos estão tremendo.
Ele passa os dedos sobre o cabelo, parece nervoso.
Miguel, pega seu celular, começa a mexer. E então o ambiente é
invadido por uma música. Reconheço nas primeiras melodias.
Snow Patrol – Chasing Cars
Noto ele respirar fundo antes de me encarar. E é aí que o choque
acontece, quando vejo em sua mão uma caixinha de veludo.
Arregalo os olhos, cubro minha boca com a mão.
Ele se aproxima.
“Nós faremos tudo isso sozinhos. Nós não precisamos de nada ou
de ninguém. Se eu deitasse aqui. Se eu apenas me deitasse aqui.
Você deitaria comigo?”
Nesse momento ele fica de joelhos, abre a caixinha, revelando um
anel de diamante.
Meu rosto está todo molhado, não consigo e nem quero controlar as
lágrimas.
E então ele continua.
“Eu não sei bem como dizer como me sinto. Aquelas três palavras
são ditas demais. Elas nãos são suficientes. Se eu deitasse aqui. Se
eu apenas me deitasse aqui.. Você deitaria comigo e apenas se
esqueceria do mundo?”
Seus olhos estão vermelhos.
- Dividi esse mundo louco comigo? Faça ser mais divertido, bonito e
apaixonante. Esqueça tudo. Esqueça quanto tempo temos, apenas
me dê sua mão e me guie ao seu lado. Caroline Costa, minha linda,
meu amor... aceita se casar comigo?
Começo a sacudir a cabeça freneticamente.
- Sim! Sim! – Jogo meu corpo sobre o dele. – Eu aceito!
- Deixa eu colocar o anel.
Começo a rir.
- Claro. – Estendo a mão, e o anel cabe perfeitamente. – Eu amei.
- E eu amo você.
Capítulo 23
Miguel Martinez
Madrid 2019
Caroline Costa
Madrid 2008
Miguel Martinez
Estou na minha caminhonete, a caminho da fazenda, quando
recebo uma ligação da minha mãe.
- Oi mãe.
- Filho, tem como você vim aqui? Não estou me sentindo bem.
Paro o carro, estou próximo da fazenda. Mas fico preocupado com a
saúde da minha mãe.
- Estou indo.
Faço o retorno, de volta para a cidade.
Em trinta minutos estou na casa da minha mãe. Assim que chego, a
vejo sentada na varanda tomando chá.
- Como a senhora está? – pergunto.
- Melhor. Foi só um mal-estar.
- Quer ir ao médico?
- Não preciso de médico, só do meu amado filho. Seu pai está no
escritório. Como sempre. Só pensa em trabalho, como se já não
fossemos ricos o suficiente.
Acabo rindo do drama de dona Carmelita.
- Mãe, preciso ir. Caroline está fazendo bolo de fubá, é algo que
amo.
- Agora só a comida dela que é boa.
Respiro fundo, hoje minha mãe está se superando.
- Qualquer coisa é só ligar. – Beijo o topo de sua cabeça. Saio com
seus protestos dramáticos.
Quarenta minutos depois, chego na fazenda. Noto o carro do meu
primo, espero que ele traga boas notícias.
Guilhermo se formou em direito, juntamente com Santiago cuidam
da parte jurídica da família.
Entro em casa estranhando o silêncio.
- Amor? – grito. Vou até a cozinha, vejo o bolo no balcão. Dou um
sorriso, já sentindo o sabor na minha boca.
- Caroline? – grito no corredor.
Subo a escada, abro a porta do quarto... sinto meu mundo desabar.
No chão estão as roupas espalhadas, e sobre a cama... Caroline e
Guilhermo, enrolados no lençol.
- QUE PORRA É ESSA?
Guilhermo é o primeiro a acordar.
- O que aconteceu? – ele tem a ousadia de me perguntar.
E então seu olhar vai para o próprio corpo, depois para a mulher ao
seu lado.
- Que merda é essa? Miguel, não é o que... – ele não termina de
falar, interrompo com um soco em seu rosto.
A vadia acorda, me encarando com seu olhar doce que me enganou
todo esse tempo.
- Miguel... o que está acontecendo?
Puxo o lençol da cama.
- SUA PUTA! Vadia de merda!
- Não fale assim dela! – grita Guilhermo.
- Vocês dois me dão nojo.
Saio do quarto transtornado. Ligo para Ramirez. Alguém precisa vir
aqui ou irei matar esses dois.
Como ela pode?
Sento no chão da cozinha, com as mãos na cabeça.
Juan é o primeiro a chegar.
Ele e Guilhermo conversam na sala, escuto eles falarem de água.
- Ela te drogou.
- Pare de falar merda. – Grita o filho da puta.
Levanto irritado, possesso.
- Quero você longe daqui! E leve aquela puta com você.
Caroline desce a escada, teve a decência de se vestir.
- Miguel... me escute, por favor.
- Cale a sua maldita boca, não quero escutar sua voz. Você não
passa de uma vadia. Quero você longe daqui.
Ramirez e Henrico entra nesse momento.
- O que você fez com meu irmão. Caralho? – Grita Ramirez a
assustando.
- Eu... não.. – Ela coloca a mão na cabeça, corre para cima de novo.
- Vocês precisam ouvir o que aconteceu. Foi a água que bebemos.
- Ela pode ter colocado algo. – Comenta Henrico. – Mas com qual
objetivo?
- Eu não quero mais olhar na sua cara. Você morreu para mim. –
Grito para Guilhermo.
Ele não diz nada, se afasta, e vai até a cozinha.
- Tirem ela daqui. – Peço com o coração despedaçado.
- Vou levar ela. – diz Juan.
Caroline desce com apenas uma mala.
- Você não vai mesmo me ouvir? – ela pergunta parada na minha
frente. A encaro com ódio. – Adeus, Miguel.
Depois que eles saíram, coloquei fogo na cama, rasguei nossas
fotos que estavam espalhadas em porta retratos.
Por que ela fez isso comigo?
Por que ela tinha que destruir meu coração? Isso poderia ser
apenas um pesadelo. Quero acordar e ver que não foi real.
Irei odiar eles pelo resto da minha vida. É uma promessa!
Capítulo 25
Miguel Martinez
Madrid 2019
Carlos Martinez
2008
Se existe algo nessa vida que prezo, é minha família. Minha mãe
soube como criar os filhos. Eu por ser o primogênito, me sinto
honrado por tudo que aprendi com ela. No entanto, meu pai Ramiro
Martinez, não foi um bom homem, ele tinha uma linha de
pensamento preconceituosa, e isso ele passou para os filhos. Cresci
com a crença que tudo que foge do padrão, ou seja diferente é
errado.
Quando meu único filho, Miguel, apareceu com a garota de pele
negra e brasileira, na hora senti raiva. Era como se ele quisesse nos
envergonhar ou sujar o nome da nossa família. Mas aí, eu a
conheci, e ela me lembrava alguém do passado. Meiga, gentil,
educada e carinhosa. Todas as vezes que eu me encontrava com
Caroline Costa, ela me fazia rir. O olhar que ela e meu filho trocam é
de paixão, como se um completasse o outro.
Até mesmo minha mãe se encantou pela garota.
- Não façam nada com a menina. – diz a matriarca da família.
Estamos reunidos em sua casa. Caroline é a pauta, juntamente com
meu sobrinho Guilhermo. Seu gosto por homens não é segredo para
nós.
Ramon parece levar numa boa, já sua esposa Laurinda está furiosa.
Estou quieto, observando eles discutirem.
Fui criado para odiar, mas no fundo não consigo. Sinto empatia pelo
próximo. Para ser honesto, já me apaixonei no passado. Betty. Uma
garota linda, americana. De pele negra e cabelos cumpridos.
Fantasiei várias vezes estar com ela. Tocar sua pele delicada.
Betty era filha do jardineiro. Quando aparecia em casa para ajudar
seu pai, eu inventava qualquer desculpa, só para estar em sua
presença.
Um dia, meu pai me flagrou a olhando encantado. Apanhei muito
naquela noite. Fiquei trancado no quarto por três dias.
Uma semana depois, meu noivado com Carmelita foi anunciado. Eu
tinha apenas quinze anos na época.
Hoje suporto minha esposa, até gosto de sua companhia. Mas
quando a conheci, a odiei. Era branca demais, lábios finos demais.
Tudo nela era o oposto do que me encantava em Betty.
Casamos e não demorou para ela engravidar.
Tinha vezes que até sua voz me irritava, isso me fez mergulhar no
trabalho, era a solução. Foi o que ajudou a me acostumar e aos
poucos ir criando um afeto por ela.
Rosemary, minha irmã está em discussão com Anthony. Meu irmão
não aceita essas merdas que nos foi ensinada.
Tanto ele quanto sua esposa, Martina são contra o preconceito que
gira em torno dessa família.
- Se meu filho gostar de homem, não irei interferir. Henrico pode
fazer o que o deixar feliz. – Grita Anthony.
- Espero que ele apareça com um homem negro. – Rosemary grita
do outro lado.
- Eu vou amar se isso acontecer. – respondeu Martina, visivelmente
irritada.
- Querida, vamos embora. Deixar essa família tóxica. – Anthony
pega a mão de sua esposa, sai batendo a porta.
No meu canto quieto, encaro minha mãe. Sinto que ela se cansou
de viver assim. Sinto a culpa em seu olhar, por ver que criou um
bando de idiotas.
Ela se levanta. Já de idade e cansada.
- Não façam nada, é o que peço. Ou vão viver se condenando como
eu. Sinto muito por ter sido tola ao ouvir Ramiro. Não sou a favor de
nada que sair daqui.
Ela se retira.
- Não vai dizer nada, Carlos? – pergunta Carmelita.
- Você deixou essa moça entrar na família, isso já foi longe demais.
Está esperando ela te dar um neto? – Minha irmã está me tirando do
sério.
Eu queria gritar “NÃO FAZEM NADA CONTRA ESSA GAROTA,
ELA NÃO MERECE”. Mas acabo fazendo o mesmo que minha mãe.
Fico de pé.
- Não me envolva nisso. – Digo antes de me retirar.
***
No fim, Carmelita pagou uma grande quantia aos pais da pobre
garota.
Planejaram tudo. Carmelita fez uma rápida visita na fazenda. Onde
colocou sonífero na jarra de água. Assim que preparou tudo, ela
saiu. Primeira parte concluída. Agora era aguardar Caroline beber a
água.
Depois que Carmelita chegou em casa, já comemorando. O telefone
tocou. Era Fernando Costa, informando que Guilhermo havia
chegado e os dois beberam água. Ambos estavam apagados no
chão da cozinha.
Carmelita ligou para Laurinda, ouvi elas comemorarem. Na cabeça
delas era um motivo para “concertar” Guilhermo.
Com o peso de Guilhermo, mais o de Caroline o tempo para levá-los
até o quarto e criar toda uma cena seria mais longo que o esperado.
O rapaz que foi contratado para dormir com Caroline, ajudou a
carregá-los. Carmelita ligou para nosso filho inventando uma
desculpa, enrolando e ganhando mais tempo.
Eu estava suando, me sentindo sufocado. Pego meu terno e deixo
Carmelita falando sozinha.
O flagra ocorreu como planejaram. Miguel brigou com o primo,
humilhou a garota, e agora todos diziam que foi Caroline que drogou
Guilhermo. Os pais dela receberam uma boa quantia para
simplesmente desaparecerem do mapa.
E eu vivi com a culpa, incapaz de me olhar no espelho.
2019
Caroline Costa
2019
Miguel Martinez
Estamos a três dias na estrada. Já passamos por Saragoça, Borja,
Sória, paramos em Burgos.
Onde fizemos uma caminhada pela cidade e pontos históricos.
Fomos a um restaurante cinco estrelas. Na hora de pedir o vinho, vi
um dos meus no catálogo. Isso me fez sorrir. Claro que pedimos. O
ponto principal da noite foi sentar na praça com Caroline, e ficar
observando as pessoas.
Neste momento estamos em Santander, nossa parada desde
Burgos.
Em três dias de estrada nos perdemos duas vezes, Caroline usou
todo seu charme para pedir informações para algum carro que
parasse.
Parar em Santander não estava nos planos, mas ao passar pela
baia e ver a bela paisagem, que parecia ter sido pintada a mão. Não
resistimos.
Estamos sentados na grama, olhando o nascer do sol. Caroline está
no meio das minhas pernas com a cabeça apoiada em meu peito.
Enrolados em uma manta.
- Gostei daqui. – diz olhando o mar a nossa frente. - Foi legal todas
as cidades que passamos. Por mais próximas que elas ficam de
Madrid, nunca havia visitado. Algumas nunca ouvi o nome. Achei
todas encantadoras.
- Acredite, mas eu que sou um legitimo espanhol também não
conhecia aquelas cidades. Já tinha escutado falar, mas nunca parei
para visitar.
- A ideia do mapa foi genial.
Beijo o topo de sua cabeça. Somos interrompidos pelo toque de seu
celular.
Ela se ajeita, pega o aparelho.
- É o Dr Amaro. – Ela me olha assustada. – Você atende?
Concordo com a cabeça.
Ela estende o aparelho. Respiro fundo antes de colocar o aparelho
no ouvido.
- Sra Martinez?
- É o Miguel.
- Ah, Miguel. Tenho notícias.
Encaro Caroline que me encara de volta. Meu coração está
acelerado.
- Os exames ficaram prontos... e por mais impossível que possa
aparecer, porque existe coisas que até mesmo nós médicos nos
surpreendemos. A ressonância mostrou que o tumor diminuiu, ele
está o tamanho certo para realizarmos novamente uma cirurgia.
Sinto que vou ter um infarto.
- Quando? Quando ela pode operar?
- Preciso que retornem imediatamente.
- Estamos em Santander, em quatro horas estaremos aí.
- Irei preparar tudo para a chegada de Caroline.
Assim que encerro a ligação, olho o rosto da mulher da minha vida.
- Cirurgia... você disse cirurgia?
- O tumor teve uma redução no tamanho. O tamanho certo para
retirá-lo.
Ela coloca as duas mão sobre a boca.
Fico de pé e a ajudo levantar.
- Vamos.
- Agora?
- Agora!
Capítulo 29
Caroline Costa
Miguel Martinez
15 ANOS DEPOIS