10 Dias para Casar Com Ela Julia Fernandes

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1ª.

Edição

2024
Copyright © Julia
Fernandes
Todos os direitos reservados.

Criado no Brasil.

Edição Digital: Gialui Design

Revisão: Grupo TBJ

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as


pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução


de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios –
tangíveis ou intangíveis – sem o consentimento escrito da
autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido


na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código
Penal.
Copyright © Julia Fernandes

Sinopse

Dedicatória

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17
Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Capítulo 33

Capítulo 34

Capítulo 35

Capítulo 36

Capítulo 37
Capítulo 38

Capítulo 39

Capítulo 40

Capítulo 41

Epilogo

Agradecimentos

Sobre a Autora

Sinopse
Theodoro Medina, dono da maior marca de
cosméticos do país, autoritário e tão atraente quanto
convencido, se orgulhava de seu poder de sedução, até que
em uma noite de bebedeira aceitou uma aposta milionária
com o sócio: fazer com que uma mulher aleatória se
apaixonasse a ponto de aceitar se casar em dez dias.

É quando a garota solitária da mesa ao lado é


escolhida por ser um tanto... desprovida de elegância.

Tábata Muniz cursou administração e desde que se


mudou com a avó, desejava um emprego estável na
empresa Bela Maria Cosméticos. Contudo, ainda que
almejasse conviver diariamente com a beleza, ser vaidosa
não era sua maior preocupação, assim como
relacionamentos ou amizades.
Para comemorar seu novo trabalho ela saiu para
beber, sozinha como sempre, e foi naquela noite que
conheceu o homem mais intenso, elegante, arrogante,
convencido e lindo que já viu. Com tantos adjetivos, ela
pensou que Théo só podia virar sua vida de ponta cabeça...
E virou! A ponto de ela aceitar um casamento repentino, ter
o coração partido, descobrir mentiras e trapaças e uma
gravidez não desejada que mudaria tudo... ou não.
Dedicatória
Dedicado a João Paulo, Larah e a todas às Marias.
Capítulo 1
Theodoro
— O dia que você se apaixonar, o tombo vai ser
grande, Théo.

Ri em desdém.

— Isso não vai acontecer. Eu não pretendo mudar a


minha vida. Gosto dela do jeito que é.

— Com uma mulher a cada noite?

— Ou mais de uma. — Dei de ombros, provei um gole


generoso do meu uísque e apontei o dedo para o meu
amigo ainda segurando o copo. — Aliás, Roger, não te vejo
muito diferente de mim. Com o bônus de que quem fica
com as melhores sou eu. A vida toda foi assim. — Ri
lembrando do nosso tempo de faculdade e ele me
acompanhou.

Já nos víamos um pouco alcoolizados, tínhamos saído


da empresa direto para o rotineiro after da sexta-feira.

— Você se lembra das apostas malucas que fazíamos


valendo mulheres?

— Era nojento, cara. Nós na escola e faculdade


precisávamos de interdição.

— Tem razão, mas você sempre topava todas.

— E nunca perdi nenhuma.

Balancei a cabeça em negativa, me divertindo com a


lembrança.

— Ainda bem que viramos homens, responsáveis e


conscientes. Além de os CEOs de algumas empresas.

— Com apenas trinta e cinco anos.

— E muito trabalho.

— E prova de que somos homens de família é que o


nome da nossa primeira empresa foi em homenagem às
nossas mães.

— A elas. As únicas mulheres que têm


verdadeiramente nossos corações. — Ergui meu copo, ele
me acompanhou em um brinde e degustamos nossas
bebidas. — Bela Maria Cosméticos se tornou a maior no
ramo.

— Cara, tantos anos e nenhuma mulher jamais ficou


entre a gente e isso sempre será assim. — Roger lembrou,
mas era como se contasse que isso pudesse acontecer.

— Verdade. Também, você sabia que não era páreo


para mim.

Ele riu.

— Théo, você continua um filho da puta convencido.

— Sempre, meu caro.

Ficamos em silêncio com nossas lembranças, até que


meu amigo me olhou como se uma ideia tivesse acabado de
passar por sua mente.

— Será que você ainda ganharia uma aposta?

Ergui uma sobrancelha em desdém.

— Claro, mas agora já passei dos trinta e não brinco


mais assim.

— São só trinta e poucos anos, podemos ser um


pouco inconsequentes, já que chegamos tão longe
trabalhando desde cedo. Que tal uma apostinha de leve?

— Não. — Fiz uma careta demonstrando o quanto


infantil era aquilo.

— Vamos, cara, só mais uma vez. — Ele olhou em


volta. — Vou pegar leve.

— Para com isso, não quero apostar nada.

— Para deixar mais maduro, vamos apostar dinheiro.


Valendo cinco por cento das minhas ações, mas não será
fácil.
Sempre fui competitivo, só que andava muito
sossegado, queria me ver longe de problemas, apenas
desejava me divertir aqui e ali, sem alarde.

— Melhor não, Roger. E isso não é nada maduro


mesmo com dinheiro em jogo.

Continuou olhando ao redor e como se encontrasse


ouro no final do arco-íris e até pensei que reconheceu
alguém importante.

— Aquela. — Apontou para uma moça sentada a


algumas mesas de distância e que bebia vinho sozinha. Na
verdade, pareceu nem procurar muito e foi certeiro ao
escolhê-la.

Não era feia, só tinha cara de nerd e... não parecia


em nada com as mulheres que eu costumava sair. Usava
óculos, roupas recatadas demais e provavelmente não tinha
mais que vinte e cinco anos.

Exibia o cabelo liso, comprido em um rabo de cavalo


e aparentava mesmo ser inocente demais para mim.

— Não é o tipo de mulher que a gente costumava


apostar.

— Sim, eu lembro que eram as mais bonitas da


escola e depois faculdade. Dessa vez podemos mudar,
pegar uma mais... rústica e que não faz tanto seu estilo, só
para dificultar seu trabalho.

— Aquela não faz nada meu estilo. Comportada


demais.

— Por isso. Para tornar tudo mais divertido.


Encarei a moça que parecia feliz com a sua própria
companhia e cheguei à conclusão de que aquela seria difícil.
Parecia muito superior a mim e a qualquer um daquele
lugar.

— Não, melhor não.

— Dez porcento.

— Acho que você bebeu demais.

— Que nada! Estou muito consciente.

Fiquei em silêncio e dei um gole no meu uísque.

— Subo para quinze, mas aí você tem que fazer com


que ela aceite se casar com você em dez dias. — Gargalhou.
— Mas se não conseguir, tudo bem, eu fico com... cinco por
cento das suas ações da Bela Maria. — Ergueu a mão em
minha direção. — É um bom negócio, vai?

Encarei-o e ri.

Ele sabia que eu consideraria uma vergonha não


topar e se eu aceitasse, daria a vida por aquela aposta que
parecia ser tão idiota quanto impossível.

— Não, aquela mulher nunca se casaria comigo em


dez dias.

— Perdeu o dom da conquista, man?

Encarei a moça que bebericava sua taça lentamente,


enquanto admirava a imensidão de prédios logo abaixo e
pensei:

E se...
São quinze por cento da parte dele. Eu seria o
majoritário e isso significaria alguns milhões.

Seria realmente a aposta de milhões.

Mas como eu convenceria aquela mulher a se casar


comigo em dez dias?

Bom, a analisando rapidamente consegui ver que


parecia uma pessoa solitária, não exibia joias pelo corpo, o
que me fazia concluir que podia não ter dinheiro, ainda que
frequentasse um ambiente como aquele, e eu tinha charme
e posses o suficiente para mostrar a ela um mundo melhor
do que o que qualquer pessoa comum possuía.

— Não! — respondi.

— Olha para ela. Você consegue.

Encarei-o não entendendo tanto interesse do meu


sócio, talvez ele tivesse tanta certeza de que eu não
conseguiria que tentava me fazer aceitar, para perder e ele
ser o majoritário e assim ter mais poder que eu. Respirei
fundo e cheguei à conclusão de que eu me via pensando
mal dele à toa. Aquela insistência era apenas todo o álcool
que ingerimos e acabei rindo e me divertindo do seu olhar
animado.

Olhei de novo para a garota e eu conseguia ver


apenas uma parte do seu rosto, mas notei que carregava
uma beleza... apagada. Tinha traços delicados e lábios
carnudos que nem pareciam ter batom.

— Se eu me casar fico com quinze por cento e não


vale voltar atrás. — Apertei sua mão aceitando a bendita
aposta e ele riu.
— Não vai ser tão fácil assim ganhar meus milhões,
caro amigo. No final de tudo eu que saio com os seus. —
Seu olhar era de quem havia ganhado.

— Não mesmo e amanhã, quando a bebedeira


passar, você vai se arrepender e eu não vou voltar atrás.
São quinze por cento.

— Não vou me arrepender, temos outros


empreendimentos além da empresa de cosméticos e,
também, porque seus cinco por cento já são meus. Aquela
não tem cara de que vai cair fácil no seu charme.

Sorri.

— Vamos ver. — Chamei o garçom com um pequeno


e discreto aceno e pedi que entregasse uma garrafa de
vinho, do mais caro, de presente para ela, depois me virei
par ao meu sócio e combinei: — Seguinte, vamos fazer
assim, se ela aceitar o meu presente eu sei que posso
conseguir e amanhã você não vai voltar atrás, já se ela
recusar, você vai esquecer essa bendita aposta e não vai
jogar na minha cara que eu não topei.

— Tudo bem. Justo. Vamos jogar para o universo. —


Bebeu seu uísque e riu divertido. — Aceitar uma bebida é
fácil, agora um casamento... Ah, meu amigo, isso eu duvido.

O garçom seguiu até a mesa e meu coração bateu


acelerado com a expectativa. Era muito dinheiro envolvido e
dependendo de um simples sim daquela desconhecida.

Eu nem fazia ideia do que fazer se ela aceitasse.

Deus! E o pior: como fugiria do casamento se aquela


aposta sem sentido se concretizasse. Eu teria dez dias para
casar com ela.
Era loucura! Mas ninguém provocava o lado
competitivo de Theodoro Medina e saía vencedor.
Capítulo 2
Tábata
— Passei? — Precisava controlar a animação, para
não parecer tão desesperada.

— Sim, pode começar no próximo mês? Por enquanto


a atual funcionária ainda está cumprindo aviso prévio.

— Claro, começo quando quiserem.

— Então perfeito. Seja muito bem-vinda a nossa


empresa. — A moça muito simpática do RH me estendeu a
mão e eu aceitei seu cumprimento com um enorme sorriso
no rosto.

Ela me acompanhou até o elevador, que era um


negócio que eu tinha receio, mas não ia passar por doida e
dizer que desceria de escada, então de cabeça baixa e
perdida no meu medo entrei no cubículo, de modo que nem
vi que um engravatado saía dele.

Acomodei-me no fundo perdida no meu pensamento


sobre despencar de uma grande altura e só me dei conta
que falavam de mim quando olhei para frente e as portas do
elevador se fecharam, mas ouvi a moça dizer ao
engravatado que era eu quem administraria... Não ouvi o
resto.

Bom, se fosse o chefe ela me apresentaria quando eu


começasse a trabalhar.

Quando as portas se abriram no térreo deixei o local


feliz como uma menina que ganhou a boneca que sempre
sonhou. Do lado de fora pulei na calçada sorrindo feito uma
boba e arrancando sorrisos também de quem passava. Eu
queria mesmo era trabalhar por conta, mas os benefícios de
trabalhar em uma multinacional me enchiam os olhos.

Admirando o fim de tarde na cidade cheia de prédios,


segui dirigindo o carro capenga que eu tinha comprado com
o dinheiro da rescisão do meu antigo emprego e não
demorou até que cheguei ao apartamento que minha avó e
eu compramos com a herança do meu pai.

Fui criada por ele e pela avó Emília, uma senhora


forte, viciada em bingo e divertida. Tinha quase setenta
anos, era aposentada e quando dei a ideia de nos
mudarmos da cidade pequena onde morávamos e das
lembranças que nos magoava, de imediato aceitou minha
oferta e juntas partimos em direção a uma vida nova.

Nunca fui de ter muitos amigos que me prendessem


ao lugar que nasci, e a família era só a vovó e eu, então nos
pareceu óbvio vender tudo e seguir para onde teríamos
mais oportunidades.

Também nunca fui o tipo de garota popular, a bonita,


nem nada desse tipo, era mais a nerd estudiosa, mas nunca
me importei com rótulos, sempre fiz o estilo “foda-se!”.

Talvez por ser tão “nem te ligo” para tudo e para


padrões de beleza, que quando cheguei à nova cidade,
decidi que queria administrar a maior fábrica de cosméticos
dela. Também pelo salário e benefícios. Todos sabiam que
aquela era a melhor e... eu tinha conseguido.

A noite quase tomava todo o céu quando cheguei


em casa e assim que abri a porta do apartamento, fui
recebida pelo meu gato Théo, que miou em cumprimento e
se entrelaçou nas minhas pernas, esfregando seus pelos
brancos em mim exibindo seu ar de gato burguês,
convencido e dono da casa. Nem parecia que eu havia o
adotado em um dia de chuva, todo molhado em frente ao
nosso prédio.

— Oi, bebê. — Peguei-o e o coloquei na frente do


meu rosto. — Você é o bebê da mamãe. Bebezinho fofo. E a
mamãe tá feliz sabia? — Ele miou como se me chamasse de
louca em gatês e eu ri. — Tenho um emprego novo. Cadê a
vovó?

— Aqui. — Minha avó apareceu pronta para sair.

— Já vai bater perna, dona Emília? — Ela era tão pra


cima e viva, não aparentava a idade que tinha.

— Vou. — Analisou-me. — Parece feliz. Como foi a


entrevista?

— Passei.
Bateu uma palma e olhou para o céu como se
agradecesse as orações que fez.

— Eu sabia que ia conseguir! Que orgulho de você,


minha neta! — Lançou-me um sorriso enorme. —
Precisamos comemorar! Ah, mas não hoje. Que tal almoço
amanhã naquele restaurante que a gente ama?

— Perfeito!

— Quando começa?

— Em alguns dias.

— Ainda demora?

— Sim, vou esperar a outra funcionária terminar o


aviso prévio.

Minha avó sorriu.

— A vovó está muito feliz. Vou até dançar em dobro


hoje.

— Vai para onde? — perguntei já sabendo a resposta.

— Hoje tem baile da terceira idade, minha linda.


Sextou! — Eu ri.

A vida social da minha avó era melhor que a minha...


que, na verdade, não existia.

— Tá certo! Comemore e dance muito por mim.

— Deixa comigo!

Ela me deu um beijo e pegou meu rosto entre as


mãos.
— Você devia sextar também. É jovem, bonita e tinha
que se divertir.

— Eu me divirto.

— Sim, vendo filme com o Théo. Você sabe que ele é


um gato, né? Ao menos se fosse um pornô com alguém.

— Vó!

— O que é, minha filha? Tem que aproveitar as coisas


boas da vida. Eu aproveitei muito e ainda aproveito.

Fechei os olhos e abanei as mãos.

— Meu Deus! Muita informação.

— Você precisa de um amor.

— E a senhora precisa ser menos romântica.

Ela me fitou com um semblante divertido.

— O que é a vida sem romantismo e sexo? — Eu ia


xingá-la de novo, mas apressou-se em se despedir. — Vou
indo, caso queira se juntar a mim no baile da terceira idade,
considerando que é mais velha que eu, me liga.

— Agradeço, mas vou ficar com o Théo.

— Querida, amo o gato, ainda que ele não nos ame,


mas preferia que você estivesse aproveitando sua
juventude, bêbada e dando para algum cara gostoso por aí.

— Vó! Você está demais hoje.

— Realidade, minha filha. Depois tudo vai cair e você


nem vai ter exibido esse seu corpinho. — Minhas bochechas
coraram ao ouvir a minha avó comentar a minha vida
sexual que, assim como a minha vida social, não existia.

— Tudo bem! Tudo bem! A senhora não está atrasada


para o baile?

Olhou a hora no seu celular e balançou a cabeça em


positivo.

— Tem razão. Já vou e não tenho hora para voltar,


mas não se preocupe.

Sorri e pensei se aquela cena não teria que ser o


contrário.

— Tudo bem. Divirta-se!

— Partiu! — Abanou a mão em um tchau sem me


olhar e sumiu porta afora.

Ri ainda mais. Minha avó andava muito moderninha


ultimamente.

Fiquei observando a porta por onde passou por um


tempo e depois me joguei no sofá. Théo me encarava como
se tivesse uma sobrancelha arqueada e um olhar de
desdém.

— Não vem me julgar você também! — Ele miou e eu


sorri.

— Sabe, sei que ameacei te deixar sem ração


quando arranhou o sofá, mas fica tranquilo que com o
salário que vou ganhar, vou poder comprar muitos sachês
de peixe, ração e brinquedos que você gosta.
Puxei meu gato para o meu colo, tirei meus óculos e
os pousei sobre a mesa de centro da sala, depois jogada de
encontro ao encosto, fiz carinho no Théo e encarei o objeto
que me fazia enxergar. Sorri. Com o emprego, enfim eu ia
conseguir ir ao oftalmologista e colocar as minhas lentes.

Minha avó sempre se oferecia para pagar minhas


contas, mas eu me recusava a aceitar. Ela já fazia muito
pela casa e precisava ter dinheiro para suas saídas e
diversões.

Eu vinha contando os centavos nas últimas semanas,


o dinheiro que guardei após sair do meu antigo emprego
estava acabando e se eu não tivesse conseguido aquele,
teria que pensar em vender meu corpo... que também
andava meio abaixo do valor de mercado considerando que
exercício físico não era minha paixão e minhas roupas eram
recatadas demais para atrair clientes.

Sorri e suspirei. Enfim minha vida seguia o rumo que


busquei quando me mudei. Eu ia conseguir.

Pousei o Théo no sofá, fui à cozinha, olhei os


armários e pensei que precisava comemorar como minha
avó disse, apesar do tipo nerd eu não era introvertida, só
não tive muitos amigos, porque Deus quis assim, mas os
poucos que levei pela vida, com eles sempre fui do tipo
alegre e que comemorava tudo e cada conquista. Aprendi
isso com meu pai que era um festeiro incurável. Lembrei-me
dele e suspirei com saudade.

Naquela ocasião ele certamente estaria radiante e


dizendo algo sobre abrir um vinho. Com mais uma olhada
rápida nos armários vi que não tínhamos nem sequer um
suco de uva.
Encostei-me à bancada da pia e eu merecia um
agrado. Pensei no conselho da minha avó e eu precisava
sair. Sorri.

É isso! Quero um vinho e vou me aventurar e sair


para comemorar sozinha!

Decidida, saltitando como uma gazela e sendo fitada


por Théo que me olhava como se eu fosse louca, segui para
o quarto e escolhi a roupa que eu me sentia confortável.

Depois de um banho rápido coloquei uma saia mídi


plissada, uma camiseta branca que usei para dentro da saia
e uma sandália bege com salto quadrado.

Prendi meu cabelo longo em um rabo de cavalo alto


e, por mais que me incomodassem, coloquei meus óculos
por cima da maquiagem leve que fiz.

Eu não era um ícone da beleza e nem perto de estar


sexy para sair na noite, mas estava bonitinha e confortável,
além do mais, não me via em busca de um romance ou
nada parecido, eu apenas queria apreciar a minha vitória e
minha companhia depois de muito tempo.

Por mais que pensar em ter uma companhia


masculina fosse algo tentador.

Passei pela sala e recebi um miado de julgamento do


Théo.

— Carinha, você me deixa! Para de me julgar, que


hoje vou meter o pé na jaca. — Ri. — Brincadeira, nem
tenho dinheiro para isso, mas vou aproveitar minha noite e
minha companhia.
Segui até ele, fiz um carinho rápido no topo da sua
cabeça e avisei:

— Mamãe já volta.

Passei pela porta, a tranquei nas minhas costas e por


azar encontrei com Patrick, um vizinho um pouco...
inconveniente, que sempre tentava de alguma forma me
levar para a cama. Isso, porque eu não era nem um
exemplo de beleza, mas ele era um exemplo de insistente.

— Vizinhaaa...

— Olá! — Lancei-o um sorriso forçado e ia seguir.

— Vai sair uma hora dessas?

— Sim, não são nem oito da noite. — Não o encarei e


continuei andando e guardando a chave na bolsa. Eu
tentava ser ao menos agradável, porque ainda que
insistente, ele não era de todo ruim, mas estava cada vez
mais difícil.

— Se quiser companhia, eu estou sem fazer nada. —


Sorriu insinuante. Ele não era feio fisicamente, era até
atraente, só era repetitivo o que o tornava horrível. Se lhe
faltasse um dente seria melhor do que a falta de noção.

— Agradeço, Patrick, mas hoje já tenho companhia.


— Omiti que a companhia era a minha.

— Legal! Mas se mudar de ideia, já sabe que estou


aqui.

— Obrigada.
— Ah! Tábata, você vai ajudar na festa da igreja esse
ano? Ano passado foi divertido.

A minha avó era amiga da dele, ambas ajudavam na


igreja que ficava perto do nosso prédio e no ano anterior
tinham nos feitos trabalhar vendendo bingo na festa e até
que tinha sido mesmo divertido. Foi lá que nos tornamos
mais íntimos e desde então ele me chamava para sair, mas
eu só o via como um amigo e já o tinha dito isso mais de
uma vez, mas... ele era insistente.

— Ainda não sei, mas acho que não, porque


provavelmente estarei trabalhando e vou querer descansar
no final de semana.

— Legal. Conseguiu o emprego?

— Sim. — Dei um grande sorriso.

— Parabéns! Mas vou sentir sua falta na festa.

— Prometo dar uma passadinha lá para comer


alguma coisa e jogar uma rodada de bingo.

— Vou te esperar.

— Agora vou indo. Até mais, Patrick.

— Até e, já sabe, se precisar de companhia tem o


meu número.

Lancei-o um sorriso sem graça e rumei para a escada


sem mais nenhuma palavra, mas sentindo seus olhos em
mim.

Meu prédio era antigo, não tinha elevador e eu


morava no quarto e último andar, tinha apenas oito
apartamentos. O lado bom de ter que subir tudo, era que eu
fazia um exercício e, também, me agradava o meu ser o
último, porque eu tinha acesso ao terraço, onde eu
conseguia ver as estrelas e amava isso, me lembrava um
pouco a cidade pequena onde cresci e as estrelas me
davam paz. A parte ruim era que a vovó também precisava
subir aqueles degraus, coitada. Bom, ao menos era
saudável.

Depois de descer muitos lances de escadas cheguei


ao estacionamento e entrei no meu carro que precisava
urgente de uma lavagem. Se bem que... dane-se! Eu não ia
ter companhia para andar nele mesmo, eu me dava bem
com a minha bagunça.

Pensei um pouco e não sabia ao certo para onde


seguir, só sabia que precisava de um lugar requintado. Um
pouco de luxo só para que eu sentisse como seria a minha
vida dali uns dias quando eu fosse uma assalariada com um
pagamento bom.

Não que eu pudesse pagar por algo chique, ou


mesmo gostasse de ambientes assim, mas eu merecia ao
menos uma taça de vinho de qualidade naquele momento
que havia conseguido realizar uma das minhas metas desde
que cheguei àquela cidade.

Com uma varredura rápida na memória dos lugares


que já vi, me lembrei de um prédio onde ficava um
restaurante chique no último andar, o Terraço. Uma vez ouvi
umas mulheres conversando sobre ele e nunca esqueci a
animação que mencionavam o espaço.

Com uma busca rápida na internet coloquei o


endereço do lugar no GPS e segui para aproveitar minha
noite de comemoração.
Chegando lá passei pelas portas chiques do saguão e
imediatamente senti os olhares em mim, dei um suspiro
profundo e sorri para as recepcionistas do prédio que me
sorriram de volta e entendi que era apenas a minha
síndrome de vira-lata que me dizia que me julgavam.

Entrei no elevador estralando os dedos, era mais


forte que eu vivenciar aquele medo de lugares fechados,
assim como de chuva, pontes e tantas outras coisas. Eu era
uma medrosa assumida.

Não demorou até que cheguei ao tal Terraço e


quando as portas se abriram eu de novo me arrependi da
escolha do lugar. Era incrivelmente lindo e obviamente eu
não combinava com ele.

Sorri para os atendentes que me lançaram um


meneio de cabeça e me cumprimentaram com simpatia:

— Boa noite. Tem reserva, senhora?

— É... não... eu... — Limpei a garganta e tentei criar


um personagem onde eu era uma mulher rica e decidida
que quer ter um momento sozinha. — Preciso de uma taça
de vinho. Sozinha.

Ele sorriu.

— Claro. Tenho uma mesa perfeita para a senhora.


Me acompanhe, por favor. — Deu um meneio de cabeça e
eu o segui.

Logo chegamos à mesa aconchegante e reservada,


ficava de frente para uma grande vidraça que dava para a
cidade toda iluminada por muitos prédios. O prédio do
restaurante era alto e a noite estava com céu limpo, o que
fazia com que eu conseguisse ver as estrelas claramente se
olhasse para o alto.

— Aqui está perfeito. — Agradeci com um sorriso e


ele me deu um meneio de cabeça simpático. — Ah! É...
antes de qualquer coisa, pode, por favor, me dizer onde é o
banheiro?

— Por ali. — Segui o caminho que o homem indicou,


usei o banheiro e depois de lavar as mãos e analisar minha
aparência, saí do reservado para seguir à mesa, no entanto,
fui parada quando trombei com um homem alto.

— Opa! Desculpa — pediu e me olhou como se me


analisasse, acompanhado de um sorriso que me causou
calafrio, quase como se me visse nua e odiei. Rapidamente
virei o rosto envergonhada e ia seguir. — Quer que eu te
acompanhe? Posso garantir que fique bem.

— Não, obrigada.

Segui sem olhar para trás até a mesa onde antes o


garçom tinha me acomodado e me sentei depressa sem
mais olhar ao redor. Homem esquisito ou era eu quem não
procurava companhia ou confusão. Não me via aberta nem
a começar e se era daquele jeito invasivo que se começava
uma conversa, eu queria distância de romance.

Logo o garçom voltou com a carta de vinho e respirei


fundo, voltando a mim e dando continuidade à minha
comemoração.

Comecei a investigar os preços que quase me


fizeram cair da cadeira, mas eu merecia um mimo. Eu
amava vinho, nunca tinha tomado nenhum daquele valor e
para comemorar a realização de um passo na minha
carreira profissional, valia a pena esbanjar.
Analisei e não conhecia nenhuma daquelas marcas,
porque eu só bebia os baratos que vendiam no mercado.

Fui de unidunitê, mas acabei escolhendo o mais caro


do cardápio. Eu merecia. Não demorou até que eu fosse
servida por outro funcionário simpático e eu adorava ser
bem tratada, fazia tudo valer a pena. Cada centavo
investido.

Sorri e suspirei.

Parecia loucura, apenas tinha conseguido o emprego,


mas sentia como se a partir daquela noite a minha vida
fosse mudar.

Tentei não focar nas mesas ao redor que


provavelmente me observavam. Uma mulher sozinha e
rindo à toa como uma maluca, claro que eu devia estar
chamando atenção das pessoas a minha volta, mas
sinceramente eu pouco me importava.

Comecei a degustar minha bebida em goles


pequenos enquanto pensava em tudo que passei até chegar
àquele momento. Novamente sorri, mas fechei o cenho ao
me lembrar do início.

A perda do meu pai, a mudança, o perrengue com...


um idiota que chamei de namorado e que graças a Deus
deixei no passado.

Não tive muitos romances na vida, mas logo que


meu pai morreu, eu conheci um rapaz enquanto corria no
meu antigo bairro, namoramos por alguns meses, mas ele
mentiu para mim, me enganou com outra e eu passei a ter
pavor de mentira. O que foi mais um motivo para que eu
quisesse deixar minha cidade e ficar longe daquele
embuste.
Às vezes, eu sentia saudade de ter alguém, fazer
sexo até o dia raiar, vivenciar aquele frio na barriga que
sentimos quando estamos apaixonadas ou excitada... ou os
dois.

Ri sozinha com a taça na boca e o vinho mal tinha


entrado e a piranha que eu tentava esconder já queria sair.
Lembrei das palavras da minha avó e um gostoso para eu
transar não seria nada mal. Apertei os lábios para não rir e
as pernas para conter a safada que me tomava.

Ajeitei os óculos com vergonha, como se alguém


pudesse ler meus pensamentos. Beberiquei mais um pouco
o vinho e nem sabia quantos minutos tinham passado até
eu terminar a deliciosa taça.

Cogitei pedir mais uma, mas para o bem da minha


escassa conta bancária e da falta de companhia para
apagar meu fogo pós-vinho e acabar com a minha seca
sexual, me contentei apenas com aquela. Só jurei que
quando recebesse meu primeiro salário eu voltaria ali e
tomaria uma garrafa inteira. Ah! E sem estar dirigindo.

Pedi a conta ao garçom e para a minha surpresa


quando ele voltou, me entregou uma garrafa do vinho que
eu tinha bebido, o mais caro da carta.

Juntei as sobrancelhas sem entender e ele me


iluminou:

— Um presente para a senhora. É de alguém que


adorou ver seu sorriso ao degustar a taça e prefere se
manter em sigilo.

— Sério?

— Sim.
— Isso não é um tipo de golpe e o vinho está
envenenado não, né?

O garçom simpático sorriu.

— Não, senhora, garanto que a procedência do


presente é muito confiável.

— Sendo assim, eu mereço. — Sorri e aceitei a


garrafa que estava em uma sacola de papel requintada.

Olhei em volta tentando encontrar quem foi o


admirador, mas tinham muitas pessoas por ali e pensei que,
às vezes, nem tivesse sido um admirador, mas alguém com
pena da pobre que só tomou uma taça. Ri sozinha.

Paguei o que devia e segui em direção ao elevador.


Eu beberia aquela garrafa no meu sofá e se me desse
vontade de sexo, eu usaria o brinquedinho que ganhei de
uma amiga da minha antiga cidade, quando lemos o mesmo
livro em que a protagonista tinha um vibrador rosa pink.

Era mais seguro psicologicamente me aliviar com um


vibrador, do que procurar um parceiro que mentiria e daria
dor de cabeça.

Novamente dentro do bendito elevador, respirei para


controlar o pavor, porque por mais que meu medo me
mandasse ir de escada, era melhor não, porque ao contrário
do meu prédio que só tinha quatro andares, aquele exibia
mais de vinte e de salto não ia ser viável.

No pequeno cubículo sufocante comecei a apertar os


dedos esperando que as portas se fechassem, mas antes
que se unissem e eu começasse o tormento de descer até o
térreo, uma mão grande se enfiou entre elas e as parou.
— Posso descer com você?

Eu tinha certeza de que exibi a maior cara de


admiração que o mundo já viu.

Não era um homem qualquer, era simplesmente um


deus. O mais lindo que vi na vida. Usava uma camisa
branca, um terno por cima e calça jeans. Tinha o cabelo
perfeitamente cortado e um sorriso alinhado em um barba
bem aparada que faria qualquer mulher suspirar.

E eu suspirei.

Em seguida ergui meus óculos com o indicador e o


lancei um meneio de cabeça dizendo que estava tudo bem.

Seu perfume preencheu o ambiente e eu me vi


imediatamente tomada por um frenesi que há tempos eu
não vivenciava. Uma espécie de timidez e nervoso, do tipo
que me fazia não saber onde enfiar as mãos.

As portas do elevador se fecharam e ele parou de


costas para mim, com toda a sua altura e com as mãos
pousadas na frente do corpo depois as colocou nos bolsos.

Analisei-o de cima abaixo e parei tempo demais com


os olhos na sua bunda redonda, que mesmo coberta pelo
terno, fazia um movimento e eu sabia que se encontrava
abraçada perfeitamente pela calça.

E se eu erguer a mão e apertar?

Esquecendo completamente o medo de elevador dei


um leve sorriso e a seguir fitei o espelho que se formava
com as portas fechadas, por onde dava para o bonitão me
ver claramente e o desejando de maneira descarada e nada
comportada.
Lançou-me um repuxar de lábios em um sorriso
quase imperceptível e minhas bochechas coraram, fazendo
com que eu imediatamente levasse o indicador até os
óculos de novo e os empurrasse para cima, desviando o
olhar e me vendo morta de vergonha.

Engoli em seco não me reconhecendo.

Que vergonha! Só pode ser o vinho.

Meu rosto pegava fogo, pela timidez e, claro, pela


taça com um pouco de álcool que ingeri. Mesmo que eu
amasse vinho era uma fraca para a bebida.

Até que um solavanco fez o elevador parar e as luzes


piscarem rapidamente uma vez. Nem tinha certeza se
realmente piscaram ou foi o meu medo imaginando coisas.

— Ai meu Deus! — gritei e sem pensar agarrei a mão


do homem e a apertei. Ele me olhou com atenção.

— Fica calma, deve voltar em breve.

Sorriu para me acalmar e assenti em resposta,


começando a me abanar, mas não soltando a sua mão.

— Você está bem?

— Não. Acho que vou desmaiar.

— Ei... — Depressa o homem me apoiou em seus


braços e me amparou durante a minha rápida vertigem.

Deus, que braços fortes.


Capítulo 3
Theodoro
Ela aceitou a garrafa de vinho que a presenteei e foi
a resposta que eu precisava.

No cubículo daquele elevador eu tinha vontade de


sorrir ao vê-la me olhando. O efeito que eu causava nas
mulheres era algo que me deixava com o ego nas alturas e
quando a vi me admirando, pensei que não seria tão difícil
conquistá-la quanto imaginei.

Observei-a rapidamente e não era feia, pelo


contrário, era até atraente, tirando os óculos que pesavam
em seu rosto.

Aquela ideia do Roger parecia terrível, coisa de


adolescente que não pensava nos sentimentos do próximo,
mas, foda-se, eu não podia perder uma aposta. Eu não
devia aceitar esse tipo de provocação, mas era muito
dinheiro envolvido e eu não ia negar.

Os sentimentos da mulher... Eu daria um jeito de


compensá-la. Dinheiro sempre foi o melhor remédio. Ela
podia fazer uma viagem para curar o coração partido.

Cogitei contar a ela a verdade sobre a aposta e aí,


quem sabe, ela aceitasse entrar comigo naquela loucura,
mas ciente do que podia ganhar. Por outro lado, nunca fui
um trapaceiro e se falei para Roger que o meu charme
conquistaria a mulher, ele conquistaria.

Porra! Eu era mesmo um canalha.

O elevador parou entre dois andares, como eu tinha


combinado com o gerente do restaurante e havia pagado a
ele uma boa quantia. Dinheiro sempre comprava tudo.

Fitei a moça que pareceu com medo e ali começaria


a minha investida.

— Você está bem?

— Não. — Ela parecia mesmo em pânico e aí o meu


plano pareceu muito ruim.

— Sente-se aqui. — Peguei a sua mão e me sentei


com a jovem. — Você tem síndrome do pânico, claustrofobia
ou algo assim?

Balançou a cabeça em negativa.

— Só medo de elevador.

Graças a Deus.
— Então vamos conversar até ele voltar. Qual o seu
nome?

— Tábata.

— Muito prazer, Tábata, me chamo Théo.

— Meu gato... — Ela riu, respirou fundo e eu não


deixei que terminasse de falar e a interrompi:

— Direta. Obrigado.

— Não, eu quis dizer que tenho um gato chamado


Théo.

Encarou-me e nossos rostos ficaram frente a frente e


muito perto um do outro, mas ela voltou a olhar para as
mãos.

— Entendi. — Senti-me um pouco envergonhado, um


bobo convencido, pensando que ela me fazia um elogio.
Talvez com o tempo o meu dom da sedução estivesse
mesmo falhando.

Não podia! Eu precisava ganhar a aposta e os


milhões.

— Me fala de você. Falar ajuda a passar o medo.

— Nada pra dizer.

— Você parecia bem feliz.

Olhou-me com receio.

— Você estava me observando?

— Desculpa. Não tem como não te notar.


— Não?

— Você é linda.

Juntou as sobrancelhas me analisando e senti que


meu ataque seguia rápido demais. Tábata não era uma
mulher emocionada que aceitaria fácil os meus flertes e
elogios.

— Eu comemorava que consegui um trabalho novo


e... ahhh... — O elevador começou a se movimentar e ela
apertou a minha mão com força.

— Está tudo bem. Ele só voltou ao normal.

Maldito gerente! Não me deu nem cinco minutos e


eu precisava de mais tempo.

Ajudei-a ficar de pé e logo o elevador parou no térreo


e as portas se abriram, a seguir andei lado a lado com ela
pelo saguão, ambos sendo fitados pelas recepcionistas que
sempre flertavam comigo. Saímos para o lado de fora do
prédio. Aí quando o medo passou, ela parecia
envergonhada.

— Obrigada por me acalmar. Você parece ser uma


boa pessoa. — Olhou em volta se preparando para partir. —
Agora eu tenho que ir.

Engoli em seco sentindo que perdia a minha


oportunidade, porque ela ia começar a se despedir e eu não
tinha conseguido uma aproximação maior. Eu precisava agir
logo ou nunca mais veria aquela mulher... nem meus
milhões. Também não podia deixar Roger ser o majoritário,
andamos nos estranhando quanto a decisões nos últimos
tempos e aquela perda para mim seria terrível. Ainda me
perguntava por que aceitei. Maldita bebida.
Sendo um filho da puta de um ator levei a mão ao
peito e fingi sentir dor.

Eu era uma vergonha para a humanidade, mas não


perderia nunca uma aposta valendo tanto dinheiro, por mais
que ela valesse a minha dignidade.

— O que você tem?

— Dor no peito.

— Eu vou chamar alguém.

— Não! — falei rápido demais e quando notei o erro,


voltei a levar a mão ao peito.

— Você precisa de ajuda. Quer que eu chame um


médico?

— Não precisa, já estou melhor, só... preciso de


companhia.

Percebi um empasse em seu olhar, como se sentisse


em dívida comigo, por eu tê-la ajudado no elevador.

— Eu fico com você.

— Seria muito eu pedir para me levar para casa?

Vi seu semblante mudar, afinal, eu era um


desconhecido, mas não consegui reconhecer qual o
sentimento que carregava em relação ao meu pedido, se
mais medo ou desconfiança, então me apressei em
esclarecer:

— Tenho um apartamento nesse prédio. É só subir


comigo de novo. — Eu tinha imóveis por toda a cidade.
— De elevador?

Porra! Não pensei nisso.

— Podemos ir de escada. É no décimo andar. — Dei


de ombros.

— Prefiro. Digo, se você não estiver passando muito


mal.

— Não, estou bem, só não quero ficar sozinho.


Porque... posso me sentir mal de novo. Mas são dez andares
— reforcei e sorri.

— Para mim não tem problema. Estou acostumada a


subir escadas.

— Tudo bem.

Analisei-a e vi que olhava em volta.

— Você não tem mais ninguém aqui, para te ajudar?

— Não, estou completamente sozinho e... me sinto


muito solitário. Sei que o convite parece estranho e até
mesmo perigoso, mas prometo que sou um bom homem.

Ela riu como se desconfiasse das minhas intenções.

— Vamos fazer assim, a gente deixa avisado na


recepção que se você não descer em uma hora, para
mandarem alguém até o meu apartamento.

— Uma hora?

— É muito tempo? — Para mim seria o suficiente


para fazer com que ela se apaixonasse por mim. Não sendo
convencido, mas sendo.
Levou o indicador aos óculos e os ergueu com
delicadeza, olhando mais uma vez em volta como se
analisasse as possibilidades de aceitar meu convite.

Até que deu um suspiro profundo e respondeu:

— Tudo bem, só preciso dar um telefonema antes.

Sorri tão abertamente que a fez franzir as


sobrancelhas e em seguida disfarcei alisando o peito
falsamente dolorido. Que papel ridículo para um homem na
minha posição, mas os milhões valiam a pena e sair
vencedor da aposta também.

Deu alguns passos para longe de mim e enquanto eu


a observava percebi que era mesmo bonita, só confirmei
que era diferente das mulheres que eu costumava sair, mas
tinha sua beleza.

A saia de pano esvoaçante desenhava sua bunda que


parecia redonda e avantajada embaixo do tecido e me senti
tentado em desvendar como ela era sem nada.

Sorri. Eu ia conseguir.

O primeiro passo havia dado, teria mais tempo com


ela e o próximo seria fazer com que se apaixonasse por mim
em pouco tempo. Eu era capaz.

Sentia-me um cafajeste, mas dane-se, eu nunca fui


um santo mesmo.
Capítulo 4
Tábata
Minha avó não atendia e enviei uma mensagem
avisando que eu chegaria mais tarde em casa, porque saí
com um amigo.

Amigo... Eu agia de modo inconsequente, sempre fui


responsável e centrada, diferente daquele momento em que
nem sequer conhecia o homem para descrevê-lo como
amigo. Contudo, por carregar um histórico de certinha,
pensei que sair da linha apenas uma vez valia a pena se
fosse com aquele deus do elevador. Ainda mais depois de
uma taça de vinho e pensamentos impróprios.

Olhei para a garrafa que eu ainda levava em uma


sacola bonita e pensei se tinha sido ele o tal presenteador
secreto.

Ele era muito gato, mas cheio de lábia. Por mais que
tivesse sido muito gentil me acalmando no elevador, ficou
claro para mim que a dor no peito que carregava era uma
grande mentira para ter mais tempo comigo.

No primeiro momento até acreditei na falsa dor, mas


eu não era tão ingênua assim e nem ele tão bom ator a
ponto de me fazer cair na mentira de: “tô passando mal,
sou solitário, me faz companhia.”

Na realidade, eu até me perguntava o motivo de um


homem tão lindo e obviamente bem-sucedido, considerando
que ele tinha um apartamento naquele prédio caro, se
interessar por mim e até mentir para ter mais tempo
comigo.

Ele podia planejar me matar e me esquartejar? Sim!


Mas eu gostava de testar as pessoas e o daria corda para
ver até onde chegaríamos naquela brincadeira de sedução.

— Podemos ir — avisei ao me aproximar e ele me


lançou um enorme sorriso.

E que sorriso lindo!

Tinha mesmo cara de... rico. Não que os ricos


tivessem uma cara específica, mas se caso houvesse uma,
teria a aparência dele.

Seu cabelo alinhado e penteado perfeitamente fazia


uma combinação justa ao seu estilo milionário.

Eu podia simplesmente cair na dele, passar uma


noite quente com o gostoso interessado e seguir sem
contato depois. Essa ideia me parecia muito boa.
Via-me precisada e se era isso que ele buscava
mentindo descaradamente para mim, talvez, eu pudesse
dar.

— Ótimo! — Sorriu satisfeito. — Mas quer mesmo ir


de escada? Creio que eles arrumaram o que quer que fosse
que estava estragado no elevador.

— E se parar de novo?

— Eu estarei ao seu lado.

— Você não estava passando mal?

— Ainda me sinto um tanto... sem forças. Talvez ir de


elevador seja uma melhor opção.

Respirei fundo guardando meu medo e fingindo


acreditar na sua mentira descarada.

— Tudo bem.

Passamos pela recepção e ele foi novamente


cumprimentado com muita empolgação pelas
recepcionistas, quase como se fosse um deus e realmente
era, um deus belo como Apolo ou Adonis... não sabia ao
certo qual era o deus da beleza, mas podia ser facilmente o
irresistível Théo.

— Meninas, podem certificar para a minha mais nova


amiga, que eu sou um bom homem? — As três sorriram
tímidas e confirmaram dizendo que o senhor Medina era
mesmo muito confiável.

Senhor Medina... que sexy!


Cheguei à conclusão de que três mulheres não
mentiriam assim tão convincentes e isso diminuiu um pouco
meu receio, mas ainda assim, confirmei que mandassem
alguém ao apartamento dele em uma hora.

Deixei-as rindo de mim, ou, desconfiava que


invejando a minha sorte. Considerando seus olhares
atrevidos em direção ao homem extremamente atraente
que me acompanhava, era de se imaginar que desejavam o
meu lugar.

Com um toque leve na minha cintura ele indicou o


elevador e eu entrei me sentindo tímida em meio ao pavor
de entrar naquele espaço minúsculo de novo. Ele era bem
mais alto e eu amava homens grandes, me faziam me sentir
protegida.

Estralando meus dedos para dissipar a tensão, subi


ao lado do Théo, sentindo seu cheiro e seu perfume era
atraente como ele.

O elevador deu um pequeno solavanco parando no


andar indicado, não que fosse algo notável, mas meu medo
daquele treco fez um frio tomar minha barriga e apertei a
mão dele com força.

— Desculpa. — Soltei depressa e dei um passo para


fora do elevador.

Sendo ousado deslizou seus dedos de novo pela


minha mão e os entrelaçou aos meus, deixando claro seu
interesse e me fitando com um sorriso tão lindo que pensei
se aquilo era mesmo real.

— Não peça desculpas por isso. É um presente.


— Não está mais passando mal? — questionei
semicerrando os olhos.

— Não. Estou bem.

Lancei-o um olhar que indicava a minha desconfiança


e ele retribuiu com um sorriso tão sexy que quase me fez
suspirar.

Eu não era o tipo de mulher emocionada, mas com


aquele homem desejando a minha companhia não tinha
como não me emocionar, era como se o Henri Cavill
estivesse me chamando para subir até o apartamento dele.
Como eu negaria?

Ri comigo mesma com a comparação e mordi o lábio


para conter um sorriso maior. Sabia que ele me observava e
fitei o outro lado para disfarçar.

— Você costuma subir para apartamentos de


estranhos?

— Só os que me interessam e fingem se sentir mal.


Sabe como é, eu não posso deixar de ajudar um
necessitado.

Foi sua vez de morder o lábio para conter o riso.

— Você me pegou.

— Ainda não. — Virou a cabeça de lado entendendo o


sentido da minha frase direta e me senti tão ousada como
nunca fui. Levou o dedo até a minha bochecha, passou de
leve e continuei: — Só te desmascarei.

— Provocadora. Gosto. — Sua voz rouca e quase


sussurrada era excitante.
Deus! Cada minuto perto dele eu ficava ainda mais
impressionada com sua beleza e a atração que despertava
em mim.

Contive um suspiro e seguimos para a única porta no


hall, o que me fez pensar que o apartamento era tão grande
que ocupava todo o andar.

Ele a abriu para mim e sibilou bem perto do meu


ouvido, me causando arrepio:

— Seja bem-vinda.

Engoli em seco.

— Obrigada.

Dei um passo para dentro e logo de cara vi uma sala


espaçosa que cabia uns cinco apartamentos meus lá dentro.
Era decorada de maneira minimalista com tons de cinza,
branco e chumbo. Janelas de vidro iam do teto ao chão,
davam o requinte e mostravam a cidade iluminada abaixo
de nós.

Exalava um agradável cheiro de limpeza misturado


com aroma de coisas novas, era tão másculo quanto o dono
e exibia cara de casa de homem de negócios, ainda que não
tivesse nada ali que indicasse ser um lar. Era impessoal
demais e cogitei que fosse apenas um lugar onde ele levava
suas conquistas.

Andei pelo espaço e parei de frente para a vista da


cidade, a mesma paisagem que eu admirei pouco antes
quando estava no restaurante. Suspirei pensando no
caminho nada previsível que a minha noite tomou e sendo a
mulher que normalmente eu não era, decidi deixar de lado
toda preocupação exagerada que sempre me permeava e
apenas me entregar ao momento e ao que o destino me
reservava.

Ouvi uma música soar agradável pelo apartamento e


virei-me para ver que Théo tinha colocado Ed Sheeran para
tocar e reconheci como a música Magical. Era calma e com
uma batida romântica. Inclusive, o tipo de música que eu
amava.

Naquele momento que me via sozinha com ele, me


perguntei quais eram as minhas intenções aceitando ficar a
sós com aquele deus e a resposta brilhou como um
luminoso:

Transar loucamente, sem amarras e tirar todo o


atraso que a vida corrida me colocou.

— Quer beber alguma coisa?

Quase respondi: você!

— Sim. Água.

Ele semicerrou os olhos.

— Água?

— Quero me manter sã.

— Claro. — Théo sorriu e saiu.

— Ou podemos... — Parei-o e ele se virou para mim.


— Beber o vinho que você me presenteou. — Ergui a sacola
que ainda carregava comigo.

— Como sabe que fui eu?

— Porque não chove homens interessados em mim.


— Que bom! Gosto de exclusividade e... — Andou
para junto de mim e me puxou para perto, me enlaçando
pela cintura. — Te quero só para mim.

Engoli em seco e apertei o maxilar achando que


fosse me beijar, mas ele se aproximou quase tocando
nossos lábios e disse de novo com aquela voz grossa e
orgasmática:

— Vou pegar duas taças e já volto.

Soltou-me e eu assenti de maneira frenética,


completamente tomada pela intensidade.

Observei suas costas largas se distanciarem e apertei


os dedos.

Será que dou conta de um homem desse tamanho?

Balancei a cabeça para deixar de pensar em sexo,


porque ele não me beijou, então podia ser que ele só
quisesse mesmo conversar.

Sozinha continuei observando todo o espaço para


confirmar que era muito requintado. Pousei o embrulho com
o vinho sobre um aparador de madeira e ao observar a peça
tive a certeza de que era única. Claro que Théo devia ser
muito rico, riquíssimo, e possuía peças assinadas. O que me
fazia mais uma vez pensar o que eu fazia ali.

Era loucura!

O que está fazendo, Tábata?

Eu precisava ir embora.
Respirei fundo, balancei a cabeça em negativa e
segui em direção a porta, coloquei a mão na maçaneta para
sair sem dar tchau, mas antes que eu pudesse seguir, ouvi
a voz forte e grossa dele me chamando:

— Tábata? — Virei-me e o encarei sem dizer nada. —


Aonde vai?

— Sem mais enrolação, o que quer de mim?

— Eu... — Ficou sério, pousou as taças sobre a mesa


e andou em minha direção. — Seria muita loucura se eu
respondesse que quero você? Porque é exatamente isso que
eu mais desejo.

— Eu não... — Limpei a garganta. — Acho que isso


seja verdade.

— Por quê?

— Olha para você e depois para mim.

— O que tem de errado comigo?

Ri sem vontade. Ele só podia estar tirando sarro da


minha cara.

— Eu sou toda errada ao seu lado.

— Não acho. Inclusive, penso que seja exatamente o


contrário disso.

Cruzei os braços na frente do peito e o analisei por


alguns segundos até que deixando a louca que morava
dentro de mim se soltar, propus:

— Então vamos fazer assim, sou uma mulher prática,


podemos pular todas as preliminares chatas e irmos direto
para a mais interessante de uma vez?

— O que me sugere? — Deu alguns passos ficando


muito perto, a ponto de eu me encostar à porta e ele
colocar uma mão nela, perto da minha cabeça, me fazendo
olhar para cima e o encarar.

Engoli em seco.

— Diga você. O que tem em mente? Quando me


convidou para subir tenho certeza de que tinha algo a mais
para me oferecer que não só uma bebida.

Riu de um jeito sedutor que faria qualquer mulher


ficar nua imediatamente.

— Tem certeza de que quer saber o que tenho em


mente? — Sua voz se exibia carregada de desejo e apertou
seu corpo no meu, indicando que me queria, levando em
conta o monte rijo que senti mais embaixo.

— Não quero saber na teoria, quero que me mostre


na prática.

Com os olhos nos meus desceu a mão em que antes


se apoiava à porta até a minha nuca e a outra levou até
meu rosto. Prensou-me ainda mais de encontro à madeira e
senti com propriedade o quanto estava duro.

Sua língua insistente adentrou em minha boca e me


mostrou a intensidade com que aconteceria aquele
encontro.

Abaixou-se e enfiou a mão dentro da minha saia,


sendo ousado e me fazendo gemer de encontro a sua boca.
Há muito tempo eu não era tocada por um homem, mas ao
receber a carícia de Théo eu soube que era exatamente de
uma boa noite de sexo que eu precisava para relaxar.

Eu não sabia muito bem como me comportar,


deixava o desejo me guiar e por mais que fosse estranho eu
me sentir assim por alguém que eu não tinha nenhum
sentimento, eu ansiava por aquele homem ardentemente.

Pensei que fosse a voz da minha avó martelando na


minha cabeça e repetindo que eu precisava aproveitar a
juventude antes que tudo em meu corpo caísse e foi isso
que me fez aceitar me jogar daquele jeito, em uma noite
quente com um desconhecido rico, bonito e sedutor.

Nem sequer tinha conhecimento se era mesmo rico


ou se estava roubando aquele espaço para me
impressionar, mas o que eu sabia era que ele era um lindo
de um gostoso e seu beijo tão bom que me via excitada e
desejando mais dele.

Com um movimento rápido me pegou no colo e


andou pelo apartamento sem descolar nossas bocas. Em
um corredor encostou minhas costas contra a parede e me
prensou nela, aprofundando o beijo e me deixando louca.

Eu senti falta daquele frenesi.

Chegamos ao quarto e meu lado curioso até queria


reparar na beleza do cômodo, mas o outro lado que viveu
muito tempo na seca sem o sexo oposto queria se esbaldar
naquele gato, como se fosse um prato de carne de primeira.

Antes que eu pudesse observar qualquer outra coisa


minha atenção foi tomada para ele, quando o vi tirar o
terno, a camisa e ficar seminu na minha frente. Engoli em
seco, porque a beleza dele era inacreditável.
Sua pele era bronzeada, lisa e sua barriga tinha
gominhos. Seus braços eram fortes e a cereja daquele bolo
era o oblíquo marcado que seguia para dentro da calça,
como um convite, o deixando sedutor como um sorvete
numa tarde de verão e eu só queria o chupar.

Sentei-me na cama, ia abrir sua calça e antes que eu


pudesse fazer isso ele me ergueu me segurando pelos
ombros, tirou a minha camiseta e depois deslizou a saia por
minhas pernas, me deixando apenas de calcinha e sutiã.

De novo como se eu não pesasse nada, me ergueu


em seu colo e me levou por uma porta lateral, onde notei
que estávamos em um banheiro espaçoso que, mais uma
vez, comparando ao meu apartamento, pensava que era do
mesmo tamanho.

Dentro do box ligou uma ducha que mais parecia


uma cachoeira e andou em minha direção. Tudo dele e nele
me impressionava. Nunca um homem com tantos atrativos
tinha se interessado em mim.

Talvez tivesse notado que me senti receosa


observando cada gesto dele, que imediatamente me puxou
para junto e soltou meu sutiã, se livrando da peça e a
deixando cair no chão.

Com delicadeza tirou meus óculos e o pousou sobre a


bancada da pia, sempre me fitando a cada movimento e
seus olhos faiscavam desejo.

— Você é linda. — Passou o dedo lentamente sobre o


meu mamilo que se encontrava rijo e eu fechei os olhos
para o sentir.

Voltou de novo com o dedo e me causou um arrepio.


Abri os olhos para o encarar e ele me observava com
atenção.

— Você parece tão inocente e pura. — Meu peito


subiu e desceu com a respiração ofegante pela espera do
que estava por vir.

— Nem tão pura assim, considerando o que estou


desejando que faça comigo.

Desci minha mão por sua barriga lentamente e sem


tirar meus olhos dos dele, cheguei até a calça e a
desabotoei ainda o encarando como se o desafiasse.

— É mesmo... Me diga.

— Eu... há muito tempo que eu... não... tenho um


orgasmo — falei sem pudor, ainda que envergonhada.

Lançou-me um riso de lado que eu podia ver a faísca


em seus olhos, enquanto eu tentava disfarçar a minha
timidez.

— Então vou mudar isso hoje. E depois dessa noite...


vai pedir por mais.

Com um movimento rápido me colocou sobre a pia


do banheiro, deslizou minha calcinha de oncinha por minhas
pernas e se livrou dela. Se eu soubesse que ia ter aquela
noite quente, teria caprichado na lingerie. Ao menos a
depilação estava em dia.

Théo me beijou, me forçando para trás até que


minhas costas se encostaram ao espelho gelado. Afastou-se
um pouco e admirei os músculos dos seus braços apoiados
na pia, depois deslizou suas mãos por minha coxa, para em
seguida me puxar para a beirada da pia e desceu me
beijando.
Nossos olhos se cruzaram e ele colocou minhas
pernas sobre seus ombros, me deixando exposta e eu sabia
o que ele ia fazer e me via ansiosa por isso.

Com a cabeça entre as minhas pernas ele me


chupou, lentamente, como se fosse um beijo apaixonado.
Sua língua hábil visitou o meu ponto mais sensível, como
em um beijo, e vez ou outra Théo erguia os olhos para me
encarar e testemunhar a cara de prazer que eu exibia.

— Se continuar gemendo assim, vai ser difícil me


controlar.

— Você está... — Não consegui terminar de falar e


gemi de novo, porque sua língua atingiu meu clitóris sem
piedade e investiu quando notou que me entreguei. Abri
mais as pernas, deixando o caminho livre e me escancarei
para que me desse prazer.

Seu hálito quente tocava a minha pele, uma de suas


mãos fortes apertava a minha coxa, subia para o meu peito
e dedilhava os meus mamilos enquanto com a outra mão
me penetrava entrando e saindo, socando sem dó e me
fazendo pedir por mais.

Eu embrenhava os dedos em seus cabelos com uma


mão e com a outra apertava a beirada fria da pia de
mármore, como se isso pudesse dissolver a sensação
deliciosa que tomava o meu corpo e crescia a cada
investida dele.

Os sons que tomavam o espaço eram da água da


ducha escorrendo, junto com meus grunhidos e sua língua
lambendo sem pausa e buscando meu orgasmo no ínfimo
do meu corpo.
Estremeci na sua boca e ele sugou meu gozo ao
mesmo tempo que eu me apertava para aproveitar a
sensação e sentia meu corpo em chamas.

Ficou de pé e me beijou com intensidade, fazendo


com que eu sentisse o gosto do meu prazer e enfiando a
língua no fundo da minha boca como se deixasse claro que
ia me possuir.

Ficou completamente nu e antes de me levar para


debaixo da ducha, andando logo atrás dele observei sua
bunda redonda, ansiosa para degustar e explorar cada
pedacinho daquele corpo musculoso, que mais parecia o de
um modelo da perfeição do corpo masculino.

Soltou meu cabelo, deixando que a água morna


escorresse por eles os colando à minha pele e entre nós.
Com o dedo indicador os tirou da frente dos meus mamilos
e o toque leve me causou arrepio.

Como se eu fosse a mulher mais bonita que já viu,


levou as duas mãos aos meus seios que cabiam
perfeitamente em suas palmas grandes, depois as
escorregou pelos meus braços, agarrou meus pulsos e os
ergueu acima da minha cabeça, me prensando contra a
parede e me admirando.

Senti-me tímida, porque era claro que ele teria


qualquer mulher que desejasse, o que me fazia de novo
pensar em: por que eu?

— Você é bela. — Parecia ler meus pensamentos.

Olhei para baixo e seu pênis ereto pedia atenção, me


tirando imediatamente dos pensamentos deprimentes.
Soltei-me da sua pegada, deslizei minhas mãos por sua
barriga, passando as pontas dos dedos em cada gominho,
até que com os olhos nos deles passei o indicador no seu
membro firme, que pulsou ao meu toque.

Encarei-o e sorri cheia de malícia.

Era a minha vez de dar a ele o prazer que procurava.


Capítulo 5
Theodoro
A água escorria entre nós enquanto nos beijávamos
com fervor. Minhas mãos exploravam o seu corpo e a visão
dela se derretendo na minha boca ainda me excitava.

Em meio a ducha ela se desvencilhou de mim e


beijou meu peito, barriga e com uma tremenda cara de
safada, que escondeu atrás da de santa do pau oco, ela
ficou de cócoras e me olhou de baixo, com meu pau na
frente do seu rosto. Eu sorri.

Era uma bela visão e eu até queria tirar uma foto e


colocar na tela do meu celular.

Vi quando levantou sua mão e segurou a base, ainda


me encarando com safadeza evidente. Tirou sua língua para
fora e como se chupasse um sorvete o provou, deslizando
em toda a extensão, chegando até a cabeça e lambendo a
glande em seguida, me fazendo gemer e erguer os braços
para me apoiar na parede.

— Isso foi bom. — Mal tinha fechado minha boca


quando de novo ela abocanhou meu pau, o colocando todo
dentro da boca e o tirando lentamente. — Caralho!

Minha respiração ofegante indicava o quanto eu


aproveitava o momento e o quanto eu me segurava para
conseguir aguentar o tesão desmedido que ela me fazia
sentir. Tábata era boa naquilo.

Ela não parava e do alto conseguia ter uma visão


privilegiada da sua cintura e da bunda redonda apoiada nos
calcanhares, evidenciando ainda mais a polpa que eu sentia
vontade de apertar ao mesmo tempo a foderia com força e
sem dó.

Aquela aposta seria muito proveitosa.

Engoli em seco me segurando para mais uma vez


não gozar na boca dela, quando decidi que não era assim
que eu a queria. Afastei-me e depressa saí do box e segui
até os preservativos que eu deixava no banheiro, vesti e
quando me aproximei, com um movimento rápido a virei de
costas para mim e com o corpo encostado na parede
gelada.

Puxei seu quadril em minha direção e com um


movimento nada delicado a preenchi e dei um tapa em sua
bunda que pedia por isso. Sua pele logo exibiu um rosado
que me agradou e eu esfreguei.

Ela me olhou por sobre os ombros e eu saí de dentro


dela para arremeter de novo e a ver abrir a boca, puxando o
ar e espalmando a mão na parede com a intensidade da
minha estocada.

Enfiei meus dedos nos cabelos da sua nuca e a


prensando mais soquei para dentro dela firme e forte,
diversas vezes seguidas.

Seus gemidos ecoavam em meio ao barulho da água


e me deixavam maluco, tinha uma voz doce e excitante e
eu só queria fazer com que ela gemesse mais, sentisse mais
e de novo se derretesse para mim.

Mordi seu ombro e a virei de frente, pegando suas


pernas e a fazendo entrelaçar na minha cintura, suas costas
contra a parede e ela subindo e descendo conforme eu a
penetrava.

A água morna ainda caía entre nós e banhava o


nosso prazer. Eu me via tão perto de gozar, mas queria que
ela tivesse um segundo orgasmo, dessa vez com meu pau
dentro dela, onde eu sentiria sua boceta gostosa
estremecer em volta dele.

— Eu vou...

— Isso... — Suguei seu lábio inferior e ela estava


quase lá.

Arremeti fundo e rebolei para atingir seu clitóris no


processo e aí eu senti sua respiração vacilar e suas unhas
cravarem nas minhas costas, para a seguir ela se derreter
em tremores de prazer tão intensos que me fizeram gozar
junto e a apertar nos meus braços.

Mulher gostosa da porra!


Aquela aposta começou melhor do que eu podia
imaginar. E mesmo que eu perdesse, já estava ganhando.
Capítulo 6
Tábata
Acordei com a luz do sol que começava a nascer,
entrando pelo vidro que passou a noite aberta.

Foi uma loucura, mas uma loucura deliciosa!

Olhei ao meu lado e um homem grande com as


costas cheia de músculos e usando apenas uma cueca
preta, dormia pesado. Claro que só podia se encontrar
exausto depois de termos nos acabados no corpo um do
outro tantas vezes, como se o mundo fosse findar naquela
noite.

Foi o encaixe perfeito, ele conseguiu me tocar nos


lugares certos onde eu desejava sua atenção e realizou
minhas vontades com maestria.
Relembrei rapidamente a noite e mesmo me
sentindo cansada de tanto sexo. Sorri. Foi delicioso e eu
repetiria.

Não! Não podia ter uma segunda vez, foi só aquela


noite e pronto.

Não me via em um bom momento para começar um


relacionamento. Meu caso de amor da vez era apenas o
trabalho, precisava recomeçar e ia ser dali alguns dias. Não
podia perder o foco.

Levantei-me devagar para não o acordar. Eu não


queria ter que vivenciar uma despedida logo cedo.

Juntei minha roupa e a comecei a vesti-la fazendo o


mínimo possível de barulho. Rodei o apartamento atrás dos
meus óculos ao mesmo tempo que colocava cada peça e
lutava para não derrubar nada pelo caminho.

Eu já era desastrada enxergando, sem os óculos


então... era um Deus nos acuda.

Lembrei-me de Théo os tirando e os pousando na pia


do banheiro e até senti um arrepio ao voltar ao momento.

Balancei a cabeça em negativa para me situar e pé


com pé segui até a pia e os encontrei no mesmo lugar.

Pronto, agora é só ir embora.

Com os óculos no rosto, quando eu ia sair do cômodo


encostei sem querer em um frasco de sabonete líquido e o
derrubei no chão. A sorte foi que caiu sobre o tapete que
abafou o barulho.

— Xiuuuu... — falei para mim, mas sem emitir som.


Peguei o objeto do chão e o coloquei de volta no
lugar, depois saí do banheiro com medo de o encontrar
acordado, mas, para a minha sorte, Théo continuava
dormindo gostoso e atraente. Senti vontade de ir até lá e
dar uma mordida naquela bunda redonda e chamativa.

De novo balancei a cabeça para voltar a mim e saí do


quarto carregando minhas sandálias. Na sala, encontrei a
minha bolsa caída no chão de qualquer jeito e eu nem
lembrava o momento em que a deixei cair. Juntei o que
estava espalhado e a coloquei no ombro enquanto dava
mais uma olhada rápida para ver se não esquecia nada.

Eu me via como uma pessoa que roubava algo e


precisava sair depressa do local. Sentia até uma adrenalina.

Não encontrei mais nada que eu precisava levar e


quando rumava em direção à porta da frente, encontrei a
garrafa de vinho que ele tinha me presenteado pousada
sobre o aparador.

Parei por um instante e decidi levá-la. Era minha.

Com cuidado abri a porta para não fazer barulho e do


lado de fora do apartamento calcei as sandálias e apertei o
botão do elevador. Para descer teria que guardar meu medo
e mais uma vez enfrentar aquele monstro.

Assim que as portas se abriram eu entrei mais que


depressa e apertei o botão para partir, elas se fecharam e
eu respirei fundo. Tinha conseguido sair sem ser vista e sem
deixar rastros.

Só então me olhei no espelho e eu senti vontade de


dar um grito.

Meu Deus!
Via-me só a derrota. Desesperada para me ajeitar
antes que as portas se abrissem, procurei uma caneta na
bolsa e prendi o cabelo para dar uma disfarçada no caos
que ele se encontrava. Limpei os cantos dos olhos e voltei a
colocar os óculos, coloquei a camiseta para dentro da saia e
passei a mão para alisar a roupa. Nem deu tempo de
lembrar do medo.

O barulho das portas se abrindo indicaram que eu


cheguei ao térreo e sem olhar para o lado passei pela
recepção. Segui de cabeça baixa para não ter que
cumprimentar as mesmas moças que ainda não tinham
deixado o trabalho.

Lembrei do momento na noite anterior em que um


carregador de malas foi até o apartamento do Théo se
certificar de que eu estava bem, foi vergonhoso quando,
vestindo a camiseta do gostoso atraente, apareci na porta
para dizer um “oi” e garantir que tudo seguia certo.

O sorriso faceiro com que o gostoso do Théo me


olhou se certificando de que eu me sentia bem e me
fazendo me sentir melhor tomou meus pensamentos e tive
certeza de que seria difícil esquecer aquela noite.

Segui até meu carro e dirigi para casa rindo feito


boba e pensando: que loucura maravilhosa!

Deliciosa e que me reacendeu para a vida, porque


depois daquela noite, eu seria outra mulher. Renasci após
ter agido como uma inconsequente e queria aproveitar
muito mais do que a vida tinha a me oferecer.

Cheguei ao meu prédio e subi as escadas correndo,


me via revigorada, ainda que cansada.
Toda a responsabilidade que pensava que precisava
ter a vida inteira, tinha me privado de viver uma noite louca
como aquela. Ri enquanto subia os degraus e quando me
via por volta do terceiro ou quarto lance de escadas,
trombei com Patrick que provavelmente saía para trabalhar.

— Oi, Tábata. Bom dia!

— Bom dia. — Lancei-o um sorriso educado, não


parei e continuei andando animada.

— Com as mesmas roupas de ontem?

Parei de andar e o encarei quase que perdendo a


paciência e a educação que minha família me deu.

— Pois é! — Dei de ombros, depois abri o maior dos


sorrisos e segui subindo sem olhar para trás.

Enxerido!

Abri a porta do AP ainda rindo, mas pensei que devia


entrar com calma para não acordar minha avó. Passava um
pouco das seis da manhã e era cedo, ela devia ter chegado
tarde da sua farra e precisava descansar.

Tirei as sandálias na porta para não fazer barulho e


quando me voltei para a sala, para a minha surpresa, dei de
cara com a dona Emília segurando uma xícara de café e me
fitando com uma sobrancelha arqueada.

— Que susto, Vó! — Levei a mão ao peito.

— Você vai me contar tudinho. Só não mandei a


polícia atrás de você, porque me mandou aquela mensagem
e só a minha neta terminaria uma mensagem me pedindo a
bênção antes de dormir fora.
Ri. Eu era mesmo muito puritana. Bom, nem tanto
considerando tudo que eu fiz na noite passada.

— Nada para contar, Vó — omiti.

— Ah, tem sim. Eu te conheço. Você não é de viver


perigosamente. Qual o nome dele?

— Não tem nome nenhum.

— Hummm... sem nome? Um anônimo? Agora tem


algum aplicativo sobre solteiros anônimos? Eu ia gostar de
participar.

— Ô, Vó!

— Ué... — Ela deu de ombros como se tivesse dito


algo normal.

— Ele tem nome, porém, é irrelevante.

Ela riu.

— Olha como ela está moderna, saindo para um date


só para uma noite e nada mais.

— Date? — Ergui uma sobrancelha. Às vezes, eu


ficava assustada com a modernidade da minha avó.

— Sim, quando duas pessoas saem em um encontro


para se conhecerem.

— Eu sei o que é um date, Vó. — Ri. Ela me achava


mesmo uma velha. Bom, comparando nós duas eu era
mesmo mentalmente mais velha que ela

— Então, vai ter uma segunda noite ou foi mesmo


uma e nada mais?
— Foi apenas uma noite.

— E foi bom? — Ela bebeu o café esperando que eu


respondesse.

— Vó!

— Minha filha, quero saber os detalhes. Preciso te


aconselhar e não posso aconselhar sem saber de tudo.
Porque olha... para ser uma noite só, ou foi muito ruim e aí
eu digo para você correr mesmo, porque mulher precisa ser
bem-amada, bem-tratada e principalmente bem-comida. —
Ia a interromper, mas ela ergueu um dedo identificando que
era para eu me calar que ela ia continuar. — E se foi muito
bom, aí eu preciso dizer para repetir ou então correr e fugir
para não se envolver.

— Segunda opção.

— Muito bom?

— Excelente! — Apertei os lábios contendo o riso por


ter aquela conversa com uma senhora que tinha mais vida
que eu.

— Eita, lasqueira! — Ri. Minha avó era uma figura.

— Não tirou nem uma foto?

— Nada de foto.

— Você demora tanto a sair com alguém e nem me


traz material?

— Não, foi de repente e quando vi já estava no


apartamento dele. Mas o que eu posso dizer é que ele é
bem bonito. Alto, forte e com cara de empresário cheiroso.
Ah! E claramente convencido, o típico homem que sabe o
poder que tem com as mulheres. Posso descrever como
mentiroso também, considerando que mentiu que passava
mal para me levar pra cama. — Imediatamente fiquei
vermelha.

— Pra cama?

— Aí, Vó, vamos deixar essa conversa pra lá?

— Minha neta, você não tem amigas, então só te


resta me contar tudo.

— A senhora é a minha melhor amiga.

— Vou pegar café para você e aí me conta tudo sobre


o gostoso anônimo e mentiroso.

Saiu sem deixar que eu respondesse e me joguei no


sofá. Olhei na direção do meu quarto e Théo veio se
esgueirando pelos móveis, se espreguiçando e com cara de
quem foi acordado.

Théo... eu tinha dois gatos com o mesmo nome.

Ri.

— Já está rindo sozinha?

— A senhora acredita que ele também se chama


Théo? Vou contar como tudo aconteceu. Foi assim...
Capítulo 7
Théo
Acordei sozinho na cama e o mais absoluto silêncio
reinava no meu apartamento.

Virei-me de barriga para cima, encarei o teto e me


lembrei da aposta sem sentido, da moça bonita e da noite
de sexo intenso com ela. Sorri feito bobo.

Que noite!

Olhei para o lado da cama e o sorriso sumiu.

Ela tinha me deixado dormindo e saído na surdina?

Ainda me sentindo com sono levantei e conferi o


resto do apartamento que se encontrava vazio.
Sim, ela tinha sido o cafajeste de nós dois.

Ri, mas de novo voltei a fechar o cenho.

A aposta, porra!

Eu não peguei nenhum contato dela, nem o


sobrenome eu sabia. Como eu encontraria aquela mulher de
novo?

Passei a mão no cabelo, nervoso ao pensar que eu


perderia parte das minhas ações e milhões por cair no papo
de quinta série do Roger. Precisava achar um jeito de
encontrar aquela mulher.

Eu, logo eu, o que nunca corri atrás de mulher


nenhuma, o que sempre saía sem trocar contato, ia precisar
correr atrás de uma mulher.

Parado na minha sala coloquei a mão na cintura e


soprei o ar pensando em que merda de confusão dos diabos
fui me meter. Eu precisava deixar de ser tão competitivo e
convencido. Às vezes, meu ego era maior que meu pau. Não
aceitava perder e unido a isso tinha a sensação de que
todas as mulheres do mundo se jogariam aos meus pés aí
dava nisso: agia sem pensar considerando que ia ganhar
todas.

Bom, para o meu azar aquela garota tinha sido a


primeira a me deixar dormindo na cama sem desejar mais
de mim, todas sempre desejavam mais do empresário
milionário, sócio da maior indústria de cosméticos da
cidade.

Não a Tábata. Se bem, que ela não sabia sobre o meu


status ou conta bancária, mas também pelo pouco que vi
não faria diferença, considerando que estava no meu
apartamento que claramente exibia ser de uma pessoa
abastada e nem assim ela ficou, o que me fez concluir que
eu não ia poder usar o meu dinheiro como arma para
conquistá-la.

Voltei para o quarto, tomei um banho e peguei uma


das roupas que eu deixava ali para situações como a
daquela noite.

Eu tinha alguns imóveis pela cidade, mas aquele era


de fácil acesso, no mesmo prédio do bar que eu gostava de
me divertir e ficava em uma ótima localização. O que
contribuía para ser meu local de encontros.

Enquanto tomava banho tive uma ideia, lembrei de


um conhecido que era controlador das câmeras de
segurança da cidade, ficamos amigos depois de ele fazer
um trabalho na minha casa do campo. Seria muita loucura
pedir que ele refizesse todo o caminho do carro dela até
descobrir onde a minha fugitiva morava, mas eu nunca fui
muito são mesmo e era o que eu ia fazer.

Liguei sem pensar demais, porque me via disposto a


pagar caro se fosse preciso. O que era uns poucos trocados
comparado ao que eu podia perder caso Roger ficasse com
os meu cinco por cento. Além do controle de tudo.

Para o meu azar logo que me atendeu o cara disse


que estava de férias e decidi não parecer tão desesperado,
então inventei uma desculpa qualquer.

Respirei fundo e lembrei que tinha o gerente do


restaurante que já havia recebido para parar o elevador,
então era certo que aceitaria dinheiro para me passar
algum dado da cliente. Era ilegal? Era! Mas foda-se, porque
valia tudo para encontrar a gatinha fujona.
Subi até O Terraço e para o meu azar o gerente da
noite anterior não estava lá naquele horário e o que se
encontrava era honesto demais para me passar qualquer
informação em troca de dinheiro.

Voltei para o apartamento com raiva por não


encontrar uma saída e ao mesmo tempo que eu pensava
deixar de lado a garota, notas e notas passavam voando
pelos meus olhos, indicando o quanto eu perderia se não
vencesse a bendita aposta.

Respirei fundo mais uma vez, buscando na minha


mente como encontrar o maldito lugar onde aquela bendita
mulher tinha se metido.

Em meio aos meus pensamentos, sorri. Eu havia me


divertido na nossa noite juntos e não era exagero se eu
classificasse como o melhor sexo da minha vida. Tábata
tinha um olhar sereno, cara de santa, mas era um incêndio
na cama.

Pensei no cabelo espalhado por suas costas, sobre a


pele branca e eu me posicionando na sua bunda redonda,
passando levemente meu pau ali... Porra!

Em contrapartida o seu jeito tímido levantando os


óculos com o indicador tomava a minha mente pervertida e
o gesto inocente se tornava o mais afrodisíaco que já vi,
deixando-me duro como um adolescente só de pensar na
sua garota.

Joguei-me sobre o sofá e esfreguei o rosto para não


pensar mais ou ficaria maluco.

Aquela mulher me lembrava sexo e dinheiro e essas


eram as duas coisas que eu mais gostava na vida.
Caralho!

Coloquei o braço sobre o rosto tampando os olhos e


quando já estava desistindo e ia me preparar para partir,
levantei minha cabeça do encosto do sofá e vi algo brilhar
embaixo da estante.

Ao me aproximar para pegar, notei que era um


chaveiro com informações de uma espécie de caixa de
correio e nele tinha um espaço exibindo um cartão com um
endereço.

Sorri.

Te achei, gatinha!
Capítulo 8
Tábata
Eu tinha dormido um pouco mais do que o normal,
também, depois da noite exaustiva eu precisava descansar.

Além de que eu aproveitava os meus últimos dias de


vida mansa. E pensar nisso fez um sorriso surgir no meu
rosto. Não via a hora de começar meu trabalho novo.

Levantei-me e me sentindo ainda sonolenta, escovei


os dentes e nem precisei me olhar no espelho para saber
que eu me encontrava só a derrota.

Decidi comer alguma coisa e usando minha camiseta


velha do Stitch do filme Lilo e Stitch, um coque no cabelo
que estava mais solto do que preso e calcinha, andei pela
casa confortável e agradecendo por morar só com a minha
avó.

Descalça segui até a cozinha e vi que me deixou um


bilhetinho carinhoso, dizendo que foi ao mercado e logo
voltaria.

Olhei no relógio e passava do meio-dia, por isso eu


me via cheia de fome. Abri a geladeira e tomei água para
curar a ressaca moral que eu vivia por ter sido tão
aventureira. Dora teria inveja de mim.

Théo miou a minha volta e eu me abaixei para pegá-


lo no colo. Passando a mão em sua cabeça segui para a sala
e como sempre aquele gato danado começou a brincar com
a minha mão, a agarrando com as patinhas e tentando
morder.

Eu ia me sentar e fazer carinho naquele fofuxo


quando a campainha tocou e pensei ser a minha avó que
tivesse esquecido a chave.

Brincando com o meu gato eu segui até a porta e no


meio do caminho ele mordeu a minha mão e eu reclamei
olhando para os seus olhos azuis.

— Ah, você gosta de morder, não é, Théo, seu


safado!

Abri a porta rindo para mostrar para a minha avó a


marca dos dentinhos dele na minha pele, quando a cor foi
drenada do meu rosto ao ver que parado, tão apetitoso
como na noite anterior, e usando o seu sorriso convencido,
estava outro Théo, mas esse eu gostaria que estivesse me
mordendo.
Engoli em seco e por ter ouvido a minha última frase,
ele falou:

— Eu adoro morder e posso te mostrar.

A minha cara exibia toda a minha confusão de o ver


ali na minha porta, quando eu não tinha deixado nada que
pudesse dizer a ele onde me encontrar.

— Você aqui?

— Não vai me convidar para entrar?

Abri a porta meio no automático e ele entrou


parecendo ficar grande demais dentro do meu apartamento.
Eu fitava as suas costas largas e parte de mim pensava que
eu já tinha me acabado naquele corpo gostoso enquanto a
outra parte desejava repetir.

Balancei a cabeça em negativa para me situar e


nesse momento soltei o gato que miou alto.

— Bonita a sua casa.

Semicerrei os olhos para ele, pensando se estava


fazendo graça.

— O que você está fazendo aqui? — enfim perguntei.

— Você saiu como uma gata sorrateira e tive que te


procurar.

— Como me encontrou? — Ele me entregou o meu


cartão da caixa do correio do prédio.

— Você deixou cair.


Lembrei-me do momento em que peguei a bolsa do
chão antes de sair do seu apartamento.

— Obrigada.

Ele me lançou um meneio de cabeça convencido.

— Talvez você tenha deixado para que eu te


encontrasse.

Ri sem vontade.

— Tenho certeza de que não, mas agradeço por ter


me entregado pessoalmente.

Nós nos encaramos por algum tempo, até que ele


deu um passo em minha direção e ficou muito perto.

— Apenas agradece?

— O que mais você quer? — Juntei todo o meu


autocontrole para me manter sã e não demonstrar que eu
desejava exatamente o que a sua voz rouca parecia
insinuar.

— Você. — Levou seu indicador comprido até o meu


rosto e colocou uma mecha do meu cabelo que se soltou do
coque atrás da minha orelha.

— Eu?

— Sim.

— Por quê? — Ele pareceu vacilar ficando em silêncio


por um segundo.

— E por que não?


Deu mais um passo em minha direção, me segurei
para não suspirar e me afastei.

— Creio que o que tínhamos para viver juntos, já


vivemos e acho que mais não é necessário.

— Você não sente vontade de repetir?

Engoli em seco e tive vontade de gritar um sim, me


jogar no sofá de perna aberta e pedir: me fode, seu gostoso!
Mas só respondi:

— Para que estragar o que terminou bem?

— Vamos continuar conversando com perguntas?

Théo me fez rir e eu não ria com facilidade para


caras como ele.

— Olha, acho que o que tivemos foi bom, mas é claro


que vivemos em mundos diferentes.

— Mundos diferentes? Isso explica a noite surreal.

Ele estava engraçadinho.

— Você entendeu. Olha... só comparar nossas casas.


— Ergui os braços e mostrei o apartamento. — Não tenho
uma vista maravilhosa para te mostrar, móveis assinados e
todo o resto.

Ele lambeu os lábios e com cara de safado que me


causou um arrepio, respondeu com a voz carregada de
desejo:

— Tem uma vista maravilhosa bem na minha frente.


Só então me lembrei a derrota em que me
encontrava e das roupas em que me exibia. Seus olhos
seguiram para as minhas pernas nuas e subiram passando
pelos meus seios sem sutiã embaixo da camiseta de pano
fino, que não escondia o bico rijo do meu peito que pedia
por atenção.

Com um passo rápido em minha direção ele enlaçou


a minha cintura, me puxando para perto e enfiou a língua
na minha boca, me tomando em um beijo cheio de saudade,
como se fôssemos íntimos e aquele desejo fosse normal.
Não me esquivei e joguei meus braços sobre seus ombros
levando minhas mãos a sua nuca e o puxando mais para
mim.

Nossa química era tanta que parecíamos nos


encaixar perfeitamente.

Sua mão deslizou até a barra da minha camiseta e


ele a enfiou por baixo dela, subindo por minha pele e
alcançando a minha bunda, que apertou me puxando para
junto do seu corpo.

— Espera... — consegui pedir, mas claramente eu


desejava que ele continuasse.

— Tem certeza de que quer me afastar ou fugir de


mim? Porque eu quero ficar tão perto de você que posso até
dizer dentro. — Beijou-me de novo com os lábios esticados
em um sorriso e deslizou o dedo pela lateral da minha
calcinha como se fosse a tirar.

Eu me via nos braços dele, quase gemendo e


pedindo que fizesse o Christian Grey[1] e me fodesse com
força. Foi quando a porta da frente se abriu e a minha avó
entrou carregando sacolas e foi falando sem olhar para
frente:

— Tabatinha de Deus, lá fora está um calor que...


Meu Deus! Aqui dentro também.

Eu me separei rapidamente do gostoso, como se


desse choque, e encarei minha avó que olhava dele para
mim e de mim para ele com um sorrisinho faceiro.

— Fica à vontade, filha, a Vó esqueceu uma coisa no


mercado e vou demorar a voltar. — Tapou os olhos rindo
descaradamente.

— Não, Vó. Espera! — Ela me olhou. — Théo já


estava de saída.

— Théo? Que coincidência! Outro gato na sua vida


com esse nome.

— Muito prazer, dona...? — ele estendeu a mão para


a minha avó que o encarava como se ele fosse o pão de
coco que ela gostava.

— Emília. — Sorriu ainda mais que para o pão de


coco.

— Sou Théo, amigo da sua neta e vim buscá-la para


passar o final de semana comigo.

— O quê?

— Só um minuto que já volto. — Dona Emília disse


com um sorriso travesso e indo em direção a cozinha.

Ajeitei minha camiseta me sentindo morta de


vergonha.
— Que história é essa? É melhor você ir embora e...
— Antes que eu pudesse expulsá-lo minha avó voltou.

— Tábata te ofereceu um café? Quer almoçar


conosco?

— Eu iria ado...

— Não, ele já está indo embora.

Ia pegá-lo pela mão, mas antes que eu pudesse fazer


minha avó me parou.

— Que modos são esses, filha? Faz assim, vai lá


arrumar as suas coisas para passear com o moço que eu
vou fazer um suco de laranja para vocês.

— Nós não íamos almoçar fora para comemorar? —


perguntei para ela com os dentes serrados.

— Não. Estou ocupada. Vai passear com seu... amigo


que você está precisada.

— Vó! — repreendi-a e tirei o olhar dela para encarar


o gostoso irritante que me observava.

Fuzilei Théo com o olhar e ele ria de cima de toda a


sua altura. Lindo demais para estar na minha casa me
convidando para sair apenas um dia após nos conhecermos
e aquilo me fazia desconfiar dele e de mim que me via em
um misto de feliz pelo interesse e raiva por ele ter me
encontrado.

Tudo muito suspeito.

Ia sair da sala, mas fui parada por Théo, o gato, que


se enroscou nas minhas pernas e me fez desiquilibrar e ser
amparada pelo outro Théo, o gato homem.

— Te peguei. — Sua voz era tão sexy que ao invés de


me aproximar foi como um choque e depressa me afastei e
peguei meu gato no colo pensando que até ele parecia me
juntar ao outro Théo.

— Olha, acho melhor... — Ia o afastar, mas ele se


apressou em me instruir:

— Leva biquini, roupa de frio e tênis. — Juntei as


sobrancelhas sem entender. — É que o chalé fica nas
montanhas.

— Chalé nas montanhas? Não, olha, eu...

— Ela vai adorar. — Minha avó interveio. — Você não


vai fazer nada a não ser ficar em casa assistindo TV, então
vai se divertir, Tábata.

Fitei a minha avó sem dizer nada e soprei sendo


vencida. Na verdade, eu precisava confessar que passar um
tempo a sós com aquele homem intenso e lindo como o céu
me atraía e eu só estava negando para não me envolver
mais do que o que planejei na noite anterior. Era só sexo.

Enquanto seguia para o meu quarto pensava que eu


ia usá-lo e ele não saberia mais nada da minha vida, ia levar
nosso momento como algo superficial que acabaria assim
que voltássemos e ia deixar isso claro para ele.

Théo Medina não podia entrar na minha vida dessa


maneira.

Ao pensar no seu nome e sobrenome tive uma ideia


e resolvi pesquisar no Google, mas apareceu um monte de
Théo Medina, nenhum era ele, o que me fez pensar que
mentiu o nome ou era muito bem escondido na internet.
Também podia ter um nome do meio ou algo assim.

Decidi deixar de lado e aceitar que um homem bom


e interessante podia me desejar. Pensei que um serial killer
não seria tão doce com a minha avó ou bem tratado no
prédio como ele foi na noite anterior pelos funcionários.

Fiz uma mochila com tudo o que ia precisar e pronta


para sair depois de um banho e não mais usando uma
camiseta velha, eu até sorri para aquela loucura e me senti
animada para viver algo novo, ânimo que há tempos eu não
experimentava.

Depois de mais uma olhada no espelho para conferir


que eu me encontrava confortável usando um tênis, short
jeans e uma camiseta preta, eu saí do quarto com a mochila
nas costas e um semblante não muito contente.

O que na verdade era disfarce, porque no fundo eu


estava gostando de todo o interesse do bonitão.

Quando entrei na sala ouvi minha avó rindo e ao


olhar sua mão ela dava dois tapinhas na perna dele como se
fossem íntimos.

Assim que me viu ele se levantou.

— Vamos? — Seu sorriso era vitorioso demais e eu


não sabia se gostava de pensar que ele tinha vencido
aquela batalha.

Assenti.

— Olha, filha, não se preocupe comigo, porque vou


em uma excursão com o grupo do baile da terceira idade.
— De novo, Vó?

— Ao contrário de você eu não tenho tempo a


perder, minha filha.

Sorri e olhei para o Théo que me encarava


fixamente, então sem rodeios explanei meu medo:

— Como sei que você não vai me matar?

— Ah, Tábata, fica tranquila que já peguei todas as


credenciais dele. —Juntei as sobrancelhas para a minha avó.
— Vê se aproveita e tira o atraso de tanto tempo sem se
divertir.

— Vó! — Chamei a sua atenção e Théo riu do meu


desconforto. — Vamos de uma vez.

Dei um beijo de despedida na minha avó e enquanto


rumava para a porta ouvi Theo se despedindo todo
carinhoso, como se fosse neto da dona Emília. Parecia saber
como conquistá-la, porque ao tempo que ele andava em
minha direção eu a vi sorrindo feito boba apaixonada por
ele, mais do que eu.

Na verdade, da minha parte não havia sentimento,


só uma atração por aquele pedaço de homem lindo.

Abri a porta para que ele passasse e Théo indicou


com a mão que eu fosse primeiro. Revirei os olhos. Soprei
mais um beijo para a minha avó, falei que qualquer coisa eu
estava com o celular e ela só abanou a mão dizendo que eu
fosse de uma vez.

Seguimos escada abaixo, lado a lado e em silêncio.


Em minha mente montei um plano para continuar
sentimentalmente distante de Théo, não queria entregar
sentimentos para ele, apenas meu corpo e usar o dele.

Não o conhecia e nem sabia nada sobre aquele


homem que caiu na minha vida como um presente, o que
tornava aquela saída algo totalmente sem sentido. Bom, por
outro lado, eu pensava que quando saíamos com
desconhecidos era para conhecê-los melhor e era isso que
tentaria fazer com aquele gostoso, primeiro conhecer mais
detalhadamente cada parte do seu corpo, enquanto
escondia cada parte dos meus sentimentos.

Quando chegamos ao seu carro fiquei passada com o


modelo caríssimo que ele dirigia, o que me fazia mesmo ter
certeza de que tinha dinheiro e me fazia pensar de novo no
motivo dele ir atrás de mim com tanto afinco, quando se só
passasse com aquele carro bonito e abrisse a porta,
conseguiria muitas mulheres para um sexo rápido.

Por que eu?


Capítulo 9
Theodoro
— Você está quieta.

— Só pensando em como acabei saindo com você


uma segunda vez — respondeu sem me olhar e colocando o
cinto de segurança.

— Por isso está tão silenciosa? Não é óbvio?

— Não para mim.

Deu de ombros.

— Nós nos demos muito bem.

— Continuo sem entender seu interesse.


Mantive-me em silêncio e começando a colocar em
prática o meu plano de conquistá-la, mexi em alguns botões
do rádio e a música Never Be Alone do Shaw Mendes
começou a tocar.

Imediatamente ela me olhou e juntou as


sobrancelhas sem entender, porque aquele era um dos seus
cantores preferidos e sua avó tinha até me mostrado uma
foto dela em um show do cantor.

Quando dona Emília fez isso, comecei a fazer


diversas perguntas sobre a neta na intenção de fazer uma
lista mental de gostos da minha futura esposa, porque eu
usaria isso a meu favor como arma para conquistá-la.

— Então vamos esclarecer, o que te faz pensar que


eu não me interessaria por você?

Os primeiros acordes da música soaram e ela sorriu,


me mostrando que acertei.

— Já falei, somos muito diferentes.

— Mas você nem me conhece. Tenho certeza de que


temos muito em comum. — Subi um degrau no volume da
música, para salientar que eu gostava dela, quando, na
verdade, nem sabia se já tinha ouvido ou estava
confundindo os acordes com o de outra.

Sentia-me um calhorda, cafajeste dos infernos, mas


em minha defesa eram muitos milhões. O pior, era que com
aquela música romântica eu até começava a me perder no
personagem.

Peguei a mão dela que estava pousada sobre o colo e


levei até os lábios para deixar um beijo. Eu ia jogar duro.
— Você não acredita que pessoas podem se
encontrar por acaso e viver uma história?

Puxou a mão se afastando e mudou de assunto:

— Gosta do Shaw Mendes?

— Sim. — Sorri vendo que o meu plano dava certo.

— Qual a sua música favorita? — Lascou! Porque eu


nem sequer sabia o nome daquela que tocava.

— Gosto dessa.

— Mentira! Jura? A minha também. — Virou o corpo


para o meu lado, animada.

— Viu, talvez tenhamos muitas coisas em comum.

— Não sei. — Se fechou novamente e era


desconfiada. — Ainda acho muito suspeito. Inclusive, você
conquistou a minha avó rápido demais.

— Tenho meus truques. — Ergueu-me uma


sobrancelha e tirei os olhos da estrada para encará-la.

Tábata era bonita e aquela aposta até que seria


proveitosa. Além de ganhar financeiramente eu ganharia
vivendo alguns momentos com uma mulher totalmente
diferente das que eu me via acostumado a me relacionar.

Levou o dedo indicador ao meio dos óculos e os


ergueu, parecendo tímida e voltando a olhar para fora do
carro.

Pensei que devia falar mais sobre mim antes de


saber dela, no entanto, não queria contar sobre o meu
trabalho e dar tantos detalhes sobre a minha vida logo de
cara, então decidi omitir alguns detalhes para que quando
terminasse ela soubesse pouco sobre o homem que partiu
seu coração.

— Vamos conversar sobre nós? — Sugeri.

— O que quer saber?

— Do que gosta, se trabalha, estuda, suas


preferências, enfim, quero te conhecer.

Ela pensou um pouco, olhando para fora do vidro.

— Estou com fome, não consigo conversar sem


comer e quando você apareceu na minha casa eu tinha
acabado de acordar.

Eu ri.

— Tudo bem, podemos comer enquanto


conversamos. Quer almoçar?

— Não, quero tomar café da manhã.

— Tudo bem.

Segui dirigindo até uma padaria que eu gostava de


frequentar e tinha um delicioso café da manhã, ainda que
fosse a hora do almoço.

Estacionei o carro na frente e me virei para a mulher


cheia de marra ao meu lado. Ela era geniosa e eu gostava,
mesmo que tornasse tudo mais difícil, eu adorava um
desafio.

Pensar nisso me lembrou que eu só tinha nove dias.


Nove dias apenas para que ela aceitasse se casar comigo.
— Vamos comer?

Assentiu e desci do carro, dando a volta nele e


seguindo para a porta dela. Tábata parecia receosa ao se
aproximar de mim, mas me seguiu de perto e para diminuir
o nosso distanciamento, eu peguei a sua mão e entrelacei
nossos dedos como se fôssemos namorados.

Há muito tempo eu não tinha aquele contato mais


íntimo e carinhoso com uma mulher, era sempre só sexo,
mas para a minha surpresa eu até que estava gostando de
me exibir com ela.

Pegamos uma mesa mais reservada e a todo tempo


Tábata olhava em volta como se estivesse incomodada.

— Algum problema?

— Não, só que... não me sinto vestida de maneira


adequada para frequentar este lugar.

— Você está ótima, não tem nada de errado.

Ela puxou o ar e soltou um pouco irritada.

— Algum problema?

— Bom, vamos ser claros aqui. Você foi a minha casa


e viu na simplicidade do meu apartamento, que eu não
tenho o mesmo nível que o seu.

— Não sei...

— Você sabe — interrompeu-me. — Olha o


apartamento que me levou ontem, seu carro, esse lugar...
você. Somos muito diferentes.
— Você insiste nisso, como se a minha condição
financeira fosse uma barreira. Eu ter dinheiro é um
problema para você? Porque para mim é a solução dos
problemas.

Ri convencido e ela se manteve séria.

— Não quero que pense que estou atrás disso.

Lancei-a um sorriso largo.

— Sou eu que estou atrás de você, Tábata. Como um


cachorrinho eu acrescentaria.

— Pois é, e por quê?

— Porque eu quero. E, você é irresistível.

Ela segurou o riso e eu pensei que talvez fosse bom


ela ser tão decidida e não ter dinheiro, aí quando tudo
tivesse fim, ao menos ficaria feliz com a boa quantia que eu
poderia lhe dar como consolo e não sofreria tanto com o
meu afastamento.

— Tá, mas o que deseja de mim?

— Já falei, desejo você.

— Não pode ser.

— Por quê?

— Por que não.

Uma atendente retirou nossos pedidos e não


demorou até que trouxesse dois croissants e sucos.
— Olha, sei que se sente receosa pela forma
imediata como tudo aconteceu, mas vamos fazer assim,
quero esse final de semana para te mostrar como pode ser
perfeito nós dois juntos, depois dele, se você não me quiser
mais por perto, eu me afasto.

Ela me encarou com uma sobrancelha arqueada e riu


como se eu não fosse conseguir conquistá-la.

— Não tem nem vinte e quatro horas que nos


conhecemos.

— Nunca fui muito de me preocupar com o tempo.

Analisou-me.

— Tudo bem. Vamos ver o que acontece.

Terminamos de comer em silêncio, mas ainda a todo


tempo parecia desconfiada.

De volta ao carro ela começou a fazer perguntas


sobre mim e desconversei o quanto pude, menti que era
herdeiro de uma grande empresa e não especifiquei qual,
ela perguntou se eu era do tipo que namorava e menti
dizendo que sim e que preferia um relacionamento
duradouro.

Resumindo, eu menti dizendo tudo o contrário do que


eu era, precisava ser um homem perfeito para que ela se
apaixonasse por mim e aceitasse se casar em dez dias. O
Théo Medina que eu andava sendo nos últimos anos não
tinha nada de perfeito, muito pelo contrário, era um
mulherengo sem vergonha que merecia uma desilusão
amorosa para voltar a si, mas como eu não me apaixonava
nunca, continuava sendo o cafajeste sem escrúpulos.
Coloquei outra música do Shaw Mendes e percebi
que até que o cara cantava aceitável, mas eu preferia um
rock, principalmente na hora de foder, era empolgante para
meter em um ritmo frenético. Pensei que para a conquistar
eu usaria o cantor que ela gostava, mas nas noites no
chalé... aí teria que ser algo mais intenso.

Chegamos ao destino e assim que estacionamos na


porta da frente, virei-me para ela.

— Bem-vinda ao meu chalé.

Ela abaixou a cabeça para observar melhor o


entorno, depois se voltou para mim e com uma sobrancelha
arqueada, questionou:

— Você não trabalha com algo ilegal, certo?

— Eu não. Por quê?

— Só para me certificar. Considerando que já vi duas


das suas propriedades e ambas são... assim. — Apontou
para a casa de madeira luxuosa. — É melhor eu saber se
seus rendimentos são lícitos antes de eu me envolver ainda
mais.

— Completamente lícitos.

— Que bom. — Olhou novamente para o chalé. — Ah,


e isso não é um chalé. Olha o tamanho dessa casa!

— E essas são as mais simples, espera até eu te


levar à que fica na Suíça. — Desci do carro com um sorriso
satisfeito após ver sua cara de surpresa e dei a volta para
abrir sua porta. — Vem.
Ser um verdadeiro príncipe estava na minha lista de
coisas a fazer para conquistá-la, mas assim que ela desceu,
fechei a porta nas suas costas e a prensei contra o veículo,
para falar com a boca bem perto da dela.

— Tábata, você não faz ideia do quanto já me vejo


envolvido em você. — Passei meus lábios nos dela bem de
leve e a vi fechar os olhos e engolir em seco.

— Você consegue ser intenso.

— Você não viu o quanto. Mas pretendo te mostrar.


— De novo esfreguei nossos lábios e enquanto fazia isso
fitei diretamente os seus olhos.

Afastei-me, a peguei pela mão e andamos em


direção a porta da frente da casa de madeira, eu chamava
de chalé, mas, na verdade, era mesmo uma grande casa de
dois andares no meio de uma floresta e como ficava na
montanha, conseguíamos ver toda a cidade logo abaixo.

Assim que entramos fomos recebidos por uma das


funcionárias que tomava conta da propriedade, junto com o
seu marido.

— Tábata, essa é a Meire. Ela e o marido tomam


conta de tudo aqui para mim.

— Muito prazer. — Estendeu a mão para a minha


funcionária e gostei da forma como Tábata sorriu de
maneira cordial, como se eu a estivesse apresentando a
rainha da Inglaterra. Ela era simples e encantadora.

Pedi que pegassem nossas coisas no carro e depois


instruí que ela e o marido podiam tirar o final de semana de
folga. Desejava ficar a sós com a minha futura esposa nerd
e gata.
Pensar nela como esposa era engraçado, quase como
uma piada.

Mostrei para Tábata os cômodos e ela parecia


encantada com cada canto que via.

— Quando você mencionou um chalé, pensei ser algo


como uma cabana e não como um castelo.

Sorri.

— Eu amo esse lugar, é mesmo lindo.

Ela olhou em volta e gostei da sensação de a


impressionar, mas logo seu sorriso se transformou em um
apertar de lábio sem graça.

— Meire ao me ver deve ter pensado: lá vem a


próxima a ser abatida.

Riu sem jeito e passei o indicador de leve na sua


bochecha.

— Não pensou. — Vi-a engolir em seco e nos


encaramos em silêncio. — Está com fome? Pedi que
abastecessem a geladeira.

— Não, eu comi bem no nosso café. Mas eu gostaria


de tomar um banho.

Tábata tentou segurar o riso, mas eu consegui ver


exatamente o que desejava e claro, eu ansiava ainda mais
que ela em repetir tudo o que tínhamos feito na noite
anterior.
Capítulo 10
Tábata
Com ele fazendo leves carinhos na minha mão
voltamos para a parte de cima do chalé e aquilo tudo
parecia um sonho. Inclusive mandei mensagem para a
minha avó para a certificar de que ele continuava sendo um
príncipe e estava tudo sob controle.

Théo era doce, solicito e carinhoso, até demais para


um homem que provavelmente só queria foder com a moça
humilde que conheceu.

O que me causava desconfiança, porque eu não era


nem um exemplo de beleza que pudesse fazer com que um
homem se apaixonasse tão repentinamente, contudo, eu
sempre fui desconfiada e se tinha algo por trás daquele
interesse todo eu ia descobrir, mas enquanto isso ia
aproveitar dele também.

A enorme casa de madeira que ele chamava de chalé


tinha um quarto espaçoso e um banheiro enorme, com uma
banheira que mais parecia uma piscina.

Quando entrei no cômodo, vi que minhas coisas já


estavam sobre a cama e me perguntei como ele tinha feito
aquela mágica tão depressa. Nem sequer vi a funcionária
passar com elas.

Sem que eu pudesse prever, Théo me virou de


encontro a parede e com a boca bem perto da minha,
sibilou:

— Enfim, sós.

— Ainda me pergunto como isso aconteceu tão


rápido. De uma saída sozinha, acabei no chalé de um
homem que mal conheço.

— Só dizer o que quer saber que te falo tudo.

— Você é casado ou tem algum tipo de


compromisso?

— Um pouco tarde para essa pergunta.

— Por isso rezo para que a resposta seja não.

— Ainda não, mas isso depende apenas de você. —


Ele passou a boca na minha, de leve, e me causou um
arrepio.

— Não acha que está indo rápido demais? — Deslizou


sua mão por baixo da minha camiseta e alcançou meu sutiã.
Eu não o parei e ele enfiou os dedos para dentro,
alcançando o bico do meu peito.

— Eu penso que estamos quase parando. Algo me diz


que preciso ser rápido com você, ou, vou te perder.

— Você parece mesmo com pressa.

— Sim, quero aproveitar cada minuto ao seu lado.

Com as mãos na barra da minha camiseta ele a


puxou, passando por minha cabeça depois de tirar meus
óculos e o pousar sobre uma mesa ao nosso lado.

— Sempre achei óculos sexy.

— Não mente.

Ele riu.

— Tudo bem, não é verdade, mas em você sim. —


Passou a língua de leve na minha boca e desceu beijando
meu pescoço, clavícula, chegou ao meu peito. Desabotoou o
sutiã se livrando dele e chupou minha pele, me fazendo
arfar e fechar os olhos.

Ao mesmo tempo que eu tentava me manter em


mim, era difícil, porque me via completamente entregue a
ele. Théo sabia como me ligar.

Encostei a cabeça na parede, me mostrando livre


para que ele fizesse o que desejava.

Senti quando desabotoou meu short e o deslizou por


minhas pernas junto com a calcinha, me deixando nua e de
pé, enquanto me olhava de baixo com sua cara de safado
como a de quem ia me deixar maluca.
Colocou uma perna sobre o seu ombro, repetindo o
que tinha feito na noite anterior e eu deixei, porque sabia o
quanto era bom e querendo de novo um orgasmo intenso
provocado por sua língua.

Alisou minha abertura me olhando debaixo,


esfregando o dedo médio e testando o quanto eu me exibia
molhada e me encontrava encharcada. Théo tinha esse
efeito em mim e era incrível que só me tocar e eu já queria
mais.

Enfiou dois dedos para dentro e eu joguei a cabeça


para trás, para não o encarar, ainda que fosse algo
completamente afrodisíaco admirar seu rosto tomado de
prazer por ver o meu.

Lambeu meu clitóris e aí eu vi o céu. Ele me chupava


como se eu fosse a fruta mais deliciosa que já provou e a
cada lambida eu apertava o batente da porta ao meu lado,
me segurando para não desmoronar.

Théo sabia como fazer e seu entusiasmo em me


excitar era ainda mais estimulante.

Eu gozei. Estremeci na boca dele e quando viu que


conseguiu o que buscava, imediatamente ficou de pé,
desabotoou sua calça e socou para dentro de mim.

Sem pausa, sem piedade e metendo fundo enquanto


me encarava para testemunhar minhas expressões de
prazer.

Apoiada com as costas na parede eu abracei sua


cintura com minhas pernas, enquanto ele tinha o rosto
afundado em meu pescoço, me prensando e estocando
fundo.
Não dizíamos nada e apenas os nossos gemidos
eram ouvidos entre uma estocada e outra. Era intenso e
delicioso, como nunca foi e eu mal me reconhecia quando
me deixava levar daquela maneira, como animais no cio
que não podiam ficar próximos sem que se acabassem um
no outro.

Suas mãos tomaram a minha bunda com vontade, a


apertando e a abrindo enquanto ele metia forte.

— Isso — pedi com a voz tomada de desejo. — Sou


sua.

— Gostosa — sibilou como se apreciasse que eu


gemesse e falasse durante o sexo.

— Você que é um gostoso. — Fechei os olhos e joguei


a cabeça para trás. — Me fode — pedi sem pudor e ele
chupou meu pescoço enquanto me tomava, como que para
conter um gemido ao ouvir meu anseio.

— Mulher...

— Anda, não se segura. Goza em mim. — Eu não me


reconhecia.

Com um gemido rouco e ainda com o rosto no meu


pescoço ele gozou dentro de mim, enquanto eu cravava as
unhas na sua pele e sentia ele diminuir o ritmo e me
preencher.

Quando os tremores cessaram ele me fitou, comigo


ainda em seus braços e com os olhos nos meus e a
respiração acelerada, declarou:

— Você está sendo o meu melhor investimento. —


Não entendi e juntei as sobrancelhas, mas parecendo voltar
a si como se tivesse falado demais, ele completou: — Desde
que te vi ontem naquele bar que eu sabia que você era
incrível. — Deu um beijo casto na minha boca, que foi
aprofundando e sua língua entrou fundo, depois findou
puxando meu lábio inferior. — Vem.

Separou-se de mim e me levou até o banheiro, onde


rapidamente uma banheira começou a encher e eu me
estiquei para pegar uma toalha e me cobrir. Depois que o
tesão passou eu me senti envergonhada de me deixar levar
tão depressa por aqueles músculos e olhar tentador.

— Não sei por que se cobriu. Você é linda e não tem


do que se envergonhar.

— Théo, nós... não nos prevenimos. — Ele me olhou


só então se dando conta da loucura que fizemos e até me
envergonhei da minha fala nada comportada.

— Você usa algum método contraceptivo?

— Sim, mas nós nem nos conhecemos.

Ele sorriu tão sexy, que no meio daquela conversa


séria eu tive vontade de montar nele de novo.

— Acredito que não teremos problemas. Certo?

— Por mim, certo. — Ele se aproximou e me beijou.

— Acredite, eu sou sempre muito responsável e não


sei o que aconteceu comigo. Nunca... me relacionei com
nenhuma mulher sem preservativo, você foi a única com
quem não consegui pensar. Também, me pedindo tão sexy.

— Que vergonha!
— Não fique. Você é uma delícia. Doce e quente
como pimenta com chocolate. Seu semblante inocente se
perde na hora do sexo e eu amo isso.

Ama?

Por mais que eu parecesse uma boba acreditando


nas suas palavras, eu quase suspirei. Ele despertava em
mim sentimentos que eu não deveria deixar emergir.

— Com você estou vivendo algumas primeiras vezes,


Tábata. — Sorriu. — Vem. — Estendeu-me a mão e me levou
até a banheira.

— Primeiras vezes?

— Sim, algumas. — Ele não contou e me mantive


quieta.

Desvencilhei-me da toalha e completamente nua,


recebendo o olhar daquele homem lindo, entrei na água e
ele se livrou das roupas, me presenteando com a beleza que
era o ver nu. Posicionou-se nas minhas costas, me puxando
para perto.

Eu me aninhei no seu peito e fui abraçada por seus


braços fortes, que eram deliciosos e reconfortantes.

Uma tarefa difícil não me deixar levar por seus


carinhos, nunca tive aquilo na vida, meus relacionamentos
sempre foram quase que adolescentes e eu me certificava
de manter todos longe o bastante, o que me deixava ainda
mais confusa do motivo de eu me abrir tanto para aquele
homem, que eu conhecia a menos de vinte e quatro horas.

— Você está silenciosa.


— Estou pensando que em menos de um dia eu já
deixei você entrar na minha vida e no meu corpo mais do
que qualquer outro homem.

— Vai me dizer que era virgem.

Ri.

— Claro que não, mas com você está rápido demais,


muito mais do que experimentei com qualquer outra
pessoa.

— Isso é ruim?

— Ainda não sei, mas tudo o que é intenso me causa


desconfiança. Sou cautelosa.

Ele ficou rijo e começou a fazer círculos no meu


ombro como se pensasse e eu deixei escapar o que me
incomodava:

— É que... bom, eu não sou uma modelo maravilhosa


que você olha e se sente imediatamente atraído, então, seja
sincero de uma vez e me diz o que te fez me escolher. Eu
sei que tem mais do que atração.

Ele ficou em silêncio, até pensei que fosse dizer algo


que me mostrasse o motivo do seu desejo eminente, mas
ao invés disso ele se mexeu na banheira, me fazendo virar
para ele e o montar, me encarando fixamente.

— Você pode não ter sido a primeira escolha assim


que te vi, mas aceitar que podia ser bom e decidir me
aproximar, foi a melhor.

Deslizou a mão por minhas costas e me puxou para


perto, me beijando e me fazendo acreditar que era verdade
e eu era mesmo a escolha certa para alguém.

No meio do beijo ele começou a “acordar” e senti


seu membro duro se fazer presente entre nós. Não insinuou
nada, ainda que eu soubesse que me queria, era como se
ele me deixasse escolher o que fazer e só se fizesse
disponível.

Contudo, sendo a pervertida viciada naquele corpo


forte, era óbvio que eu o queria.

Pousei minhas mãos em seus ombros e de cócoras


pairei sobre ele, descendo com uma das mãos por sua
barriga e deslizando sobre o seu membro rijo, enquanto o
senti centímetro a centímetro me preencher.

A água a nossa volta balançou e ele levou as mãos


aos meus quadris, os apertando e fechando os olhos.

— Você é insaciável e eu gosto disso — falou quase


como um gemido e eu ri enquanto começava a quicar
lentamente.

— Eu fiquei muito tempo sem sexo, então agora que


eu tenho, quero aproveitar cada minuto. Se não quiser,
posso parar.

Abriu os olhos e apertou meus quadris mais forte,


indicando que eu ficasse exatamente onde estava.

— Você fica, gata. E sou eu que vou aproveitar o


máximo que puder de você.

Levantou seu tronco do encosto da banheira, fazendo


água encharcar o entorno e espalmou suas mãos na minha
bunda, indicando que eu rebolasse sobre o seu pau e o
desse prazer.
Chupou meus peitos e no movimento de vai e vem
eu esfregava o meu clitóris nele em busca de mais um
orgasmo, que a cada vez que eu vivenciava, era mais
intenso.

Rebolei e joguei meu corpo para trás, sendo


amparada por ele e gemi alto, como se os meus barulhos
pudessem trazer mais da sensação que Théo me fazia
sentir.

Com os dedos em pinça ele segurou meu mamilo e


com a outra mão me apertou, como se segurasse para não
gozar antes de mim. Vê-lo quase perdendo o controle era
excitante e eu me sentia uma deusa do sexo.

Apoiei-me na beirada da banheira e estremeci,


novamente experimentando a sensação do orgasmo com o
homem mais gostoso que conheci. Théo também gozou,
mais uma vez dentro, porque depois que acertamos os
pontos, senti-lo me preencher era meu passatempo
preferido.

Era irresponsável, mas delicioso.

Pensando bem, eu me prevenia, então não era tão


irresponsável assim e continuava sendo delicioso.

No que daria aquela aproximação eu não sabia, mas


enquanto ele estivesse me proporcionando momentos como
aquele, eu queria mais.
Capítulo 11
Theodoro
— Daqui a pouco o sol se põe e tenho algo para você.

— Para mim?

Estávamos os dois deitados na minha cama e eu


começava a me sentir um pouco tímido com ela. Há muito
tempo eu não tinha aquela intimidade com mulher
nenhuma e mais uma vez eu me via me perdendo no
personagem e transformando tudo em realidade.

Até os sentimentos.

Por algumas vezes durante o tempo que ficamos


muito próximos, eu me sentia estranho e desejava encerrar
aquela interação mais íntima antes que eu me perdesse na
mentira, mas aí me lembrava dos milhões que eu podia
perder e, o pior, eu chegava à conclusão de que eu gostava
da companhia dela, mesmo que tivesse menos de vinte e
quatro horas da nossa primeira troca de palavras e da
aposta.

Tínhamos uma certa conexão que surgiu de forma


repentina que até me espantava.

— Sim. — Levantei-me. — Vamos?

Ela arqueou uma sobrancelha, mas aceitou sem


titubear.

— Vamos.

— Coloca uma roupa leve e tênis.

Olhou-me com um sorriso de lado e, também se


levantou, colocou os óculos e eu ri, porque enquanto na
noite anterior achei seus óculos pesados em seu rosto,
naquele momento os achava perfeitos e atraentes.

Desci do quarto antes que ela e fiz uma mochila com


água, algumas coisas de comer e uma garrafa de vinho. Eu,
o que pegava uma mulher a cada noite, me tornei o homem
que arruma uma mochila de piquenique.

Balancei a cabeça para aquela cena e pensei que


Roger ia me pagar por bagunçar a minha vida assim.

Voltei para a sala e quando eu a vi descendo as


escadas com uma roupa própria para exercícios, o cabelo
preso em um rabo de cavalo alto e um sorriso nos lábios,
um sorriso também apareceu no meu rosto e até me senti
meio bobo.
Pensando melhor cogitei agradecer a Roger pela
aposta.

A avó dela tinha me dito que Tábata adorava pôr e


nascer do sol, então como tinha pouco tempo para
conquistá-la e fazer com que aceitasse meu pedido de
casamento, continuei com o plano de ser perfeito e pensei
em fazer os dois na mesma noite.

— Você é acostumada a fazer exercícios?

Riu da minha pergunta.

— Não. A não ser subir as escadas do meu prédio.

— Temos uma caminhada de uns quarenta minutos,


mas no final tenho certeza de que vai ser recompensador.

— Quarenta minutos?

— Acha que não consegue?

— Claro que consigo.

— Se não conseguir te levo no colo. — Lancei-a um


sorriso de lado e ela retribuiu se fazendo de durona.

— Não vai precisar.

Saímos do chalé e a tarde se exibia com temperatura


amena, até ventava um pouco, mas o céu seguia sem
nuvens. A vista ia ser bonita, mas a melhor de todas era
Tábata, que colocou um short apertado nas suas coxas
grossas e que evidenciava ainda mais sua bunda redonda.

Conforme andava, seu cabelo comprido brilhava com


os raios de sol e preso em um rabo de cavalo balançava de
um lado para o outro, o que me fez sentir vontade de o
enrolar na minha mão e o puxar enquanto a fodia com ela
de quatro.

Ri.

— Do que está rindo? — Encarou-me.

— Do quanto ficar ao seu lado me faz ter


pensamentos nada comportados.

— Não entendo o motivo.

— Você não faz ideia do poder que tem. — Ela revirou


os olhos, o que me fez rir.

Eu não me reconhecia, mas observar aquela garota


com semblante puritano, que na cama era fogo puro, me
dava ideias que eu não podia controlar.

Começamos a andar e era uma trilha que eu


conhecia bem, levava ao topo de uma montanha próxima
do chalé e lá de cima a gente conseguia ver toda a cidade e
o sol se pondo no horizonte.

Gostava de fazer aquele caminho sozinho, nunca


havia levado ninguém comigo. Na verdade, nem no chalé,
porque aquele era uma espécie de refúgio que eu guardava
apenas para mim, mas como eu tinha pouco tempo, com a
Tábata eu precisava usar todas as minhas armas.

Andamos por alguns minutos e eu tive que diminuir o


ritmo, notei que ela estava se cansando. Era uma ladeira de
terra, com trilha estreita e raízes pelo caminho.

Pelo percurso passamos por uma cachoeira e ela me


contou que tinha medo de água, mais do que de elevador.
— Você tem muitos medos.

— Não vou negar. Me faço de durona, mas sou uma


medrosa.

— Se sentir medo estou aqui para te proteger.

— Do que você tem medo?

Pensei um pouco e não me lembrei de nada.

— Não sei.

— Vai dizer que não tem nenhum?

— Não que eu me lembre.

— Eu tenho medo por nós dois.

— Fica tranquila, serei seu herói.

— Ai, que brega, Théo. Você pode fazer melhor que


isso.

Com ela eu fazia graça e ria mais que o necessário,


mas a garota era divertida. Durante o percurso
conversamos sobre diversos assuntos e descobri que Tábata
era muito inteligente. Gostei disso. Ainda que mais jovem,
falava sobre diversos assuntos o que tornava a aposta mais
prazerosa.

— Olha, já vai escurecer e eu tenho medo de bicho.

— De bicho também?

— Sim, te falei que tenho medo de muitas coisas.

— Eles não te farão nada, porque estou ao seu lado.


— Que bom, Rei da selva — desdenhou.

— Como o Tarzan, quer ver meu cipó?

— Pelo amor de Deus, Théo! — Ela parou de andar,


me fitou com descrença e segurando o riso. — Você tem
quantos anos?

Aproximei-me e passei a mão na sua cintura a


trazendo para perto.

— Você pode se pendurar nele se quiser.

— Assim vai ser difícil continuar a amizade. Bem que


vi que você estava interessante demais para ser verdade.

Eu ri.

— Me acha interessante?

— Achava, antes da piadinha do cipó.

— Posso viver sem a sua amizade, mas não sem o


seu interesse.

— Mas uma coisa não precisa da outra?

— Posso mostrar o cipó para uma inimiga, mas não


para uma mulher que não se interesse nele.

— Sua inimiga poderia te enforcar com ele.

— É grande assim?

Revirou os olhos, riu safada e me empurrou para


continuar andando.

— Vamos logo antes que escureça.


— Eu conheço bem essa trilha, não tem perigo.

— O que tem lá em cima?

— Aguarde e confie. Você vai gostar.

Ela me olhou.

— Já te disseram que você é convencido?

— Sim, mas me defendo dizendo que, na verdade,


sou confiante.

— Não sei não. — Bateu o ombro no meu e esse


gesto leve me fez rir.

Não demorou até que chegamos ao topo e assim que


atingimos o cume avistamos o céu alaranjado se pondo no
horizonte e banhando toda a cidade abaixo de nós.

— Que coisa mais linda! — exclamou com um sorriso


e os olhos brilhando.

— Eu amo pôr do sol — menti, porque quase nunca


tinha tempo de parar para apreciar qualquer que fosse o
fenômeno da natureza. Inclusive quando eu fazia aquela
trilha, era pela manhã, apenas para fazer um exercício.

— Você está brincando.

— Não, por quê?

— Eu paro horas apreciando o céu e o pôr do sol, é o


meu momento preferido.

— O meu também. — Lancei o meu melhor sorriso e


ela só faltou suspirar. — Vem, vamos até a beirada.
— Não, eu tenho medo de altura.

Não controlei o riso e semicerrei os olhos.

— Do que você não tem medo?

Deu de ombros.

— Não sei.

Peguei-a pela mão.

— Vem comigo, não tem perigo.

— Ai, meu Deus! Você é muito aventureiro. Na


verdade, acho que eu que me arrisco pouco.

— Talvez seja por isso que tem tanto receio de tudo,


você só não se permitiu viver certos riscos e aí sente medo.

— Pode ser.

Tirei a mochila das costas e a pousei no chão, depois


de mão dada com ela cheguei até a beirada da pedra e a
coloquei na minha frente. Tábata estava com a mão gelada,
com medo de verdade e eu a abracei por trás, passando
segurança.

— Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! Ai, meu Deus!

— Abre o olho.

— Como sabe que estou de olho fechado?

— Eu te conheço. — Senti que ela riu pelo trepidar


das suas costas de encontro ao meu peito.
— Aqui é lindo! — exclamou e me senti bem por ela
estar apreciando a vista. Logo abaixo de nós víamos muitas
árvores e mais a frente as luzes da cidade que começavam
acender e no horizonte o pôr do sol.

Peguei suas mãos e abri nossos braços, como Jack


fez com Rose no filme Titanic e claro que ela pegou a
referência.

— Se a gente cair daqui e só tiver uma tábua de


salvação eu divido com você.

Sorri.

— Que bom, mas se precisasse eu daria a minha


tábua para você.

Ela se livrou da minha pegada e ficou de frente para


mim.

— Não minta assim, Jack. — Deu um beijo casto na


minha boca que me arrepiou. — Posso acreditar em você.

— Acredite.

Olhos nos olhos por tempo demais e ela parecia ver


dentro de mim, o que me causou desconforto pelo modo
como me aproximei.

Como se sentisse necessidade de fugir do meu olhar,


seguiu para mais longe da beirada e o cume do morro era
um espaço de pedra, limpo, sem mato e tinha uma
construção em madeira, como um quiosque com um deck.
Era muito visitado e por isso facilitaram para caso de chuva
os trilheiros terem onde se esconderem.
Sendo o romântico que nunca fui, tirei uma toalha da
mochila, forrei o chão e organizei as frutas, taças e a
bebida.

Ela observava o meu movimento com um sorriso nos


lábios e eu sentia vontade de rir também. Eu me enganava
repetindo mentalmente que eu nunca faria aquilo se não
estivesse valendo milhões. Eu, um empresário milionário,
fazendo o homem que se apaixona à primeira vista tudo
para não sair perdedor e menos rico anualmente.

— O que é tudo isso?

— Vamos ver o pôr do sol e fazer um piquenique.

Ela juntou as sobrancelhas e me analisou.

— Você sabe que não tem por que você fazer tudo
isso, se já me levou pra cama, né?

Tive que rir, porque ela conseguia ser ainda mais


cafajeste do que eu.

— Preciso te agradar para continuar levando.

Tábata parou de sorrir lentamente e eu queria saber


o que passou nos seus pensamentos para apagar seu brilho.
Em silêncio me lançou um sorriso e sentou observando o
horizonte em silêncio.

— Falei algo que não gostou?

— Não, só que... já te falei, eu não consigo


entender... Ainda que eu esteja não tentando pensar nisso,
é tanto interesse e não sei o que você quer de mim.
— E eu já falei que não quero nada de você. Quero
você. E vou te dar motivos para me querer também.

Ela me lançou um olhar que eu podia descrever


como apaixonada e suspirou. Pela primeira vez desde que
comecei minha história com Tábata senti uma pontada de
culpa por estar mentindo sobre a minha aproximação.

No entanto, não era de tudo mentira, no fundo, eu


começava a sentir que eu a queria mesmo... de verdade e a
aposta era o bônus.
Capítulo 12
Tábata
O sol se pôs e o topo da montanha se exibia
completamente escuro e era apenas o foco de luz embaixo
do quiosque que nos iluminava, junto com o céu estrelado
daquela noite linda. Como nunca vi, parecia uma pintura.

Eu não era acostumada a beber muito, gostava de


vinho, bebia para relaxar, mas não uma garrafa em pouco
tempo. Théo quase não bebeu, acho que queria se manter
são para fazermos o caminho de volta.

O que me fazia pensar que confiava demais nele,


bebi tudo e me via rindo mais que o normal e falando em
excesso também.
— Quero ver como vamos descer. Eu não me sinto
apta. — Dei um riso meio bêbada e Théo riu comigo.

— Você consegue.

Observei a cidade iluminada logo abaixo de nós.

— Sabe, há dois dias, eu nunca me imaginaria vendo


a cidade do alto e com um cara gostoso como você. — Dei
mais um gole no vinho, aproveitando o restinho da última
taça.

— Então me acha gostoso?

— Um filho da mãe de um gostoso. E sabe o que é


pior? — Ele balançou a cabeça se divertindo com a minha
falação. — Você sabe disso e usa contra pobre mulheres
indefesas e carentes como eu.

— Você não tem nada de indefesa.

— Mas tenho tudo de carente. Sabe quanto tempo eu


não namorava? — Balancei a mão na direção dele. — Deixa
pra lá, nem eu sei. Bom, não que eu esteja dizendo que
estamos namorando, sabe... isso, você entendeu.

Ele fez um movimento rápido e se virou sobre mim,


quase me fazendo derrubar a taça de vinho, mas como
bêbado derruba tudo menos o álcool, eu dei um gritinho
com o susto e a segurei.

— Já que tocou nesse assunto. Quer namorar


comigo?

Arregalei os olhos com a surpresa da pergunta, me


desvencilhei dele e fiquei de pé rapidamente, mas o
movimento ligeiro de bêbada fez com que eu me
desequilibrasse e torcesse o pé, sendo amparada por ele
antes de cair.

— Porra! — esbravejei e fechei os olhos sentindo a


dor excessiva que me atingiu, que parecia subir do
calcanhar para a perna e me fazia ver estrelas.

— Você está bem?

— Sim. — Tentei pôr o pé no chão e latejou. — Não.

— Torceu o pé?

— Eu sou muito desastrada. Que ódio! — falei e no


mesmo momento, a taça escorregou da minha mão e caiu
no chão, se estilhaçando. — Droga! Droga! Droga!

— Calma.

Meio que entrei em pânico com o meu desastre, a


dor que eu sentia e a pergunta dele que eu não sabia se era
verdade ou apenas ele descontraindo. Namorar?

— Eu estou sentindo vontade de chorar.

— Chora. — Ele teria rido se não estivesse


preocupado comigo.

Eu balançava a mão como se isso fosse conter a dor,


até que Théo levou as duas mãos ao meu rosto, me fazendo
olhar para ele, e com seriedade me acalmou:

— Respira. Vou juntar as coisas e vamos descer.

Fiquei em silêncio o vendo recolher os cacos, a toalha


e todo o resto e em seguida tirou da mochila uma lanterna.
Voltou até onde eu me encontrava com a minha cara de dor
e bêbada.
— Vamos?

— Sim. — Coloquei o pé no chão e fechei os olhos ao


constatar. — Eu... desculpa, eu não consigo andar.

— Eu sei. Eu te levo.

— Você não pode descer toda a trilha comigo no seu


colo.

— Eu posso.

Seu semblante era sério.

— Não.

Encarou-me parecendo sem paciência.

— Vem.

— Eu dou um jeito e vou andando. — Comecei a


pular em uma perna só, tentando me equilibrar e movida
pela força de vontade de não depender dele.

Como se eu não pesasse nada, Théo andou a passos


largos até mim e me ergueu em seu colo.

— Para de ser teimosa.

— Você não pode me levar no colo por quarenta


minutos.

— Posso! — continuava sério e eu me sentia culpada


por ter estragado tudo.

— Me põe no chão, eu consigo andar.


— Se não parar de se debater vou te colocar nos
ombros e te dar uns tapas.

Soltei uma risada que parecia um grunhido.

— Eu ia gostar de uns tapas.

Ele não riu e eu fiquei séria.

Ficamos em silêncio e a noite estava escura trilha


adentro, as árvores tampavam a claridade natural do céu e
mesmo me fazendo de corajosa eu sentia medo.

Théo não tinha cara de quem fazia esforço e ainda a


mão dele que segurava as minhas pernas também levava a
lanterna apontando para o chão.

— Será que tem onça por esse mato?

— Sim.

— Théo!

Vi um sorriso faceiro em seu rosto mesmo no meio


da escuridão.

— Estou levando uma nos meus braços.

Olhei para o seu rosto com os olhos semicerrados,


mesmo ele não conseguindo ver.

— Você é muito atrevido.

Continuou andando em silêncio, talvez para não


acabar com as forças em uma conversa comigo.

Meu braço estava sobre o seu pescoço e eu sentia


seu perfume.
— Você cheira tão bem. Sinto até vontade de
experimentar... chupar e não tô falando do pescoço. — Ri
abertamente da minha piada para maiores e mesmo
concentrado eu sabia que ele ria. — Isso parece um sonho,
eu sendo levada em braços fortes e por um homem gostoso.
Será que não tô tendo um sonho eróxtico, erótico? — As
palavras saiam enroladas da minha boca.

— Acho que o vinho está fazendo efeito.

— Eu não estou bêbada, estou ótima, inclusive acho


que você quem bebeu demais e até me fez perguntas que
não deviam.

— Só por que te pedi em namoro? — Não me olhou e


continuava atento na trilha e ouvir de novo fez meu coração
acelerar.

— Já ouviu falar em responsabilidade afetiva? Você


está mentindo para mim. — Com a minha fala o senti rígido
e ainda mais sério e continuei a falar: — Mas como estou
em um sonho. Será mesmo um sonho? — fui dar um tapa de
leve no meu rosto na intenção de brincar me trazendo para
a realidade, mas a minha mão enroscou nos meus óculos e
o derrubei. — Meus óculos!

Vendo que eu os tinha derrubado, pacientemente


Théo me pousou no chão, enquanto iluminava com a
lanterna a proximidade para ver se encontrava o objeto e eu
me equilibrava em um pé só, ainda sentindo dor no outro.

— Droga!

— Você está bem? — Théo se aproximou depressa e


eu comecei a chorar.
— Me desculpaaa... — Enxuguei o rosto de maneira
desajeitada.

— Está tudo bem. Olha, seus óculos devem ter


quicado e rolado barranco abaixo. Vamos, é melhor você
fazer outros óculos do que ficarmos aqui procurando.

— Por enquanto não posso fazer outros, preciso


encontrar os meus.

— É perigoso ficarmos parados aqui.

— Então por que você me trouxe?

— Porque pensei que fôssemos voltar pela manhã.


Passaríamos a noite e veríamos o nascer do sol.

Meus olhos se encheram de lágrimas de novo.

— E eu desastrada estraguei tudo.

— Não, você se machucou, isso acontece.

Encarei-o e mesmo me falando de maneira séria e


sem ser fofo, eu o achei fofo e comecei a gargalhar. Eu
parecia uma louca.

— Por que você está tentando ser perfeito?

— Porque quero te conquistar, mas...

— Viu, eu estraguei tudo, né? Destrambelhada como


eu sou.

— Não.

— Eu sei que é isso que está pensando e por isso


está sério, deve estar me culpando mentalmente por
estragar tudo.

— Não!

— Sim.

— Não! Estou pensando no quanto você é incrível


demais para mim e no quanto sou um... ser humano
desprezível perto de você.

Ri ainda mais movida pelo álcool e com o movimento


da risada acabei me desequilibrando e caí de bunda no
chão. De riso passei de novo para o choro e preocupado
Théo colocou a luz da lanterna no meu rosto para ver
melhor o meu descontrole e eu fechei os olhos para evitar a
claridade.

— Por que você está chorando?

— Porque estou bêbada e apaixonada por um homem


lindo, rico, cheiroso, bom de sexo e que conheci ontem.
Além de tudo isso, você é perfeito! É muita loucura!
Também estou chorando, porque não estou enxergando.
Preciso dos meus óculos.

Vi que ele primeiro ficou sério depois riu.

— Vem, vamos continuar.

— Não quero que me leve, isso é humilhante para


mim e cansativo para você.

— Não tem nada de cansativo.

— Então é humilhante, né?

— Não fala besteira.


Novamente como se eu não pesasse nada ele me
pegou em seus braços e continuamos descendo. Não sei se
pelo cansaço ou pelo álcool. Acabei adormecendo nos
braços do Théo e foi bom para esquecer a vergonha que eu
carregava.
Capítulo 13
Tábata
Acordei na cama enorme do gostoso rico, com a
cabeça doendo e o pé também. Os dois brigavam para ver
qual doía mais, mas a ferida na minha dignidade ganhou.

Quando me mexi, me levantando apoiada nos


cotovelos, vi que tinha uma bolsa térmica gelada sob o meu
tornozelo e sorri por Théo estar cuidando de mim.

Eu sentia dor, mas nem tanto quanto na noite


anterior, talvez não tivesse torcido o pé e o álcool
intensificou tudo. Inclusive meus sentimentos.

Relembrei o pedido de namoro e um arrepio


percorreu meu corpo. Não era possível que aquilo estivesse
mesmo acontecendo comigo.
Será que amor à primeira vista existe mesmo?

Lembrei-me de quando falei que estava apaixonada


por ele e fechei os olhos me jogando no travesseiro. A
ressaca moral era a pior.

Porra! Como estou apaixonada em pouco mais de um


dia?

Não era muito difícil repensando o modo como eu


vinha sendo tratada e todos os esforços que Théo fazia para
me conquistar. E era isso que pegava. Por que tanto esforço
por uma mulher tão sem graça quanto eu?

Suspirei e eu precisava parar de me menosprezar,


ainda que nada comparada aos padrões de beleza atuais,
eu era muito bonita sim e inteligente.

Decidi que a partir daquele momento eu não teria


mais pensamentos que me diminuíam.

Contudo, foi só me sentar para tentar levantar que


me diminuí automaticamente ao me lembrar que eu tinha
perdido meus óculos e eu nem sequer conseguia ler sem
eles. Enxergava, porém, não tão bem quanto com os
benditos óculos.

Levantei-me e levei a mão a cabeça para conter a


dor aguda que atingiu. Eu ainda usava as mesmas roupas
da trilha o que indicava que Théo me pousou ali e apaguei.

Perguntava-me onde ele estava.

Mancando saí do quarto e desci as escadas tão


lentamente quanto um bicho preguiça. O bicho seria mais
rápido. Não vi nem sinal do Théo e segui cômodo a cômodo
até chegar do lado de fora, onde dei de cara com uma
ampla sala com aparelhos de musculação, com paredes de
vidro, por onde eu consegui ver aquele deus pulando corda.

Tocava Smells like teen spirit da banda Nirvana e ele


parecia pular no ritmo. Uma delícia.

Encostei-me no batente da porta, com Théo ainda


alheio a minha presença e o observei. Usava um short curto
que evidenciava as suas coxas bem-torneadas, seu peito
brilhava de suor, enquanto ele arfava com o exercício. Era
tão apetitoso que eu podia lamber cada gominho do seu
abdômen.

E a partir daquele momento admirar pessoas


pulando corda se tornou o meu maior passatempo, pessoas
não, mas especificamente Théo Medina.

Engoli a saliva que tomou minha boca com a


excitação que vivenciei ao admirá-lo, que umedeceu
também outra parte do meu corpo.

Quando me notou o olhando parou o exercício e com


o rosto sério e ofegante desligou a música e andou até mim.
Pegou uma toalha pelo caminho e passou no rosto e no
pescoço para se limpar do suor.

Ahhh....

Como era grande. Tive que olhar para cima.

— O que você faz de pé? E cadê a bolsa de gelo?

— Bom dia para você também, Raio de sol.

— Bom dia. Por que está de pé?

— Pode falar mais baixo? A minha cabeça dói.


Sem resposta ele me pegou no colo de novo como se
eu não soubesse andar.

— Ei! — resmunguei e ele me pousou em um dos


sofás enormes da sala. Mesmo tendo acabado de fazer
exercícios, todo suado, ele era cheiroso, de modo que eu
tinha vontade de lamber.

— Como está seu pé? Estava esperando você acordar


para te levar ao médico.

Revirei os olhos.

— Não precisa. E para com essa mania de me pegar


no colo sem me avisar.

— Se eu avisar você vai deixar eu te pegar no colo?

— Claro que não!

Ergueu a sobrancelha como se me respondesse o


motivo de fazer sem permissão. Ao contrário do dia anterior,
ele não parecia doce e com vontade de me conquistar, mas
sim sisudo e como se estivesse com zero paciência.

Puxei o ar e o soltei sem muita mansidão também.

— Eu... vou embora. — Comecei a me levantar. Se o


encanto havia passado, eu que não ia impor minha
presença.

— Não precisa, pode passar o dia como tínhamos


combinado.

Pode passar o dia...

Repeti a frase no silêncio da minha cabeça confusa e


cheguei à conclusão de que era claro que não me queria ali
e pelo modo como falou pareceu que faria o sacrifício de me
aturar. Encarei-o e ele se exibia sério, mas no fundo dos
seus olhos eu parecia ver indecisão.

— Obrigada, mas vou embora.

— Vou te levar.

— Não precisa. Aproveita seu domingo.

— Eu vou...

Encarei-o com seriedade.

— Não precisa. Eu vou sozinha.

— Como?

— Dou um jeito.

Levantei-me meio mancando e comecei a seguir para


o quarto, devagar, da mesma forma que cheguei ali,
enquanto ele me observava.

— Eu te levo. — Deu alguns passos rápidos em minha


direção e parecia... arrependido. Tive a impressão de que ia
me pegar no colo e irritada imediatamente o parei:

— Se você me erguer nos braços de novo eu vou


gritar.

Ele parou.

— Tudo bem, desculpa. — Ergueu as mãos em


rendição e engoliu em seco.

Encarei-o sentindo meu coração apertado e ao


mesmo tempo acelerado. Eu não entendia meus
sentimentos. Era um misto de triste com abandono e raiva
dele por me conquistar e me rechaçar.

Eu odiava me sentir daquele modo e talvez fosse por


isso que evitei relacionamentos.

Meu peito quase que doía e era como se eu não


quisesse o deixar, mas por que eu me sentia assim em tão
pouco tempo? Por que me tornei o tipo que tanto julguei de
mulher emocionada que se apaixona em dias?

Virei-me e continuei a andar sem mais uma palavra.


Talvez notando que meu semblante assumiu o que meu
coração sentia e eu não sorria mais, Théo me parou:

— Espera. — Voltei a olhá-lo. Em minha ilusão


imaginei que ele fosse me pedir desculpas e dizer que
estava confuso e que voltou a si, mas apenas virou as
costas e seguiu até a academia, retornando pouco tempo
depois. — Toma. — Segurava meus óculos. — Hoje, mais
cedo, subi a trilha e os encontrei.

— Ah! — Foi o que consegui responder.

Seu gesto fofo de voltar e procurar meus óculos


aqueceu meu coração a ponto de me deixar sem fala e me
confundiu ainda mais. Foi a primeira vez que ele aqueceu
outra parte do meu corpo que não a lá debaixo e em um
momento em que eu não me sentia feliz em relação a nós.

— Quando te pousei na cama você não parava de


falar deles e decidi acordar cedo, os procurar e devolver. —
Engoli em seco e assenti.

— Obrigada. — Peguei o objeto da sua mão e ele


virou as costas, sem mais.
Não sabia o motivo de estar tão sério e distante e só
pensava que eu devia ter feito alguma coisa que Théo não
gostou enquanto estava bêbada.

— Théo... — chamei em um impulso e ele não me


olhou, mas perguntei: — Fiz algo errado?

— Não, foi eu que fiz. Tudo errado.

— Se está falando por meu pé, eu...

— Não é sobre isso. — Engoliu em seco e entendi que


o que ele mencionava ser errado era nós. Théo se
arrependeu da nossa aproximação e o que eu pensava se
concretizou. Eu não era mesmo boa o bastante para um
homem como ele.

— Entendi. — Forcei um sorriso, mas ele se manteve


sério.

— A gente sai em uma hora. Eu vou te levar para


casa.

Não me olhou mais e meu coração de novo se


apertou. De um jeito, como há muito tempo eu não o sentia.

A vontade de chorar por seu afastamento me atingiu


forte e me vi como em um término de relacionamento, ao
mesmo tempo que não me via surpresa, era como se eu
sempre soubesse que aquilo fosse acontecer.

Eu me sentia ridícula!
Capítulo 14
Théo
Eu me sentia irritado e descontei nela, depois fiquei
me sentindo pior por ver seu olhar perdido e até culpado.

Tábata tinha me conhecido como o príncipe que fingi


ser e naquela manhã a mostrei que posso ser o vilão frio e
sem sentimentos.

Na realidade, eu me via transbordando de


sentimentos e tudo graças a ouvir sua voz doce dizendo que
se apaixonou por mim. Deu um bug, um choque de
realidade e consciência, que quando era mais novo eu não
tinha. Caí em mim e o que fazia com aquela garota era algo
muito errado.
Não tive responsabilidade emocional nem com ela ou
comigo.

Foi pouco tempo, quase nada. O que eram dois dias?


E eu estava me envolvendo, gostava da companhia dela e
até seu cheiro me atraía, nem ia falar dos óculos.

Fechei os olhos e soltei o ar.

Nunca imaginei que óculos fossem ser tão atraentes.


Todas as vezes que eu a via os erguer com o indicador
sentia um frenesi que eu não sabia explicar e não entender
meus sentimentos me deixava irritado.

Por fim, compreendi que o meu conflito interno, era


culpa. Via-me como um filho da puta sem coração por ela
ser uma mulher incrível e eu a estar enganando, a
conquistando por causa de uma maldita aposta... uma
aposta que valia milhões, mas uma aposta.

Que tipo de homem eu era? Não podia seguir com o


plano.

Antes de partirmos, tomei banho na parte debaixo do


chalé e deixei o quarto para ela se aprontar sem impor
minha presença, mesmo que eu tivesse sentido vontade de
subir e a ajudar com o pé.

Via-me preocupado com o seu tornozelo e culpado


também, porque estava machucada por minha causa, por
eu tentar tudo para conquistá-la.

Ela desceu carregando a mochila pesada e eu me


apressei para a ajudar.

— Não precisa.
— Faço questão. Acho melhor você não pegar peso.

— Eu consigo — disse séria e determinada, me


fazendo entender que era melhor não contrariar.

Mancando saiu da minha casa e seguiu até o carro,


enquanto eu me segurava para não ir até ela e a erguer em
meu colo de novo para agilizar o processo.

Era uma pequena coisinha irritante e mesmo mal


conseguindo andar ela não me deixou pegar a mochila nem
para entrar no carro, porém, mesmo contra a sua vontade, a
apoiei pela cintura para que não forçasse o pé e a ajudei a
entrar.

Fizemos o caminho para a casa da Tábata em


silêncio, mas coloquei Shaw Mendes para tocar, assim ela
ao menos ficaria mais leve ouvindo as músicas que gostava.
A que saía pelos autofalantes era Mercy e a letra dizia:

Você me tem nas mãos

Nem sabe o tamanho do seu poder

Eu me posto como um gigante

Mas caio quando estou perto de você...

Ela olhava para fora do carro em silêncio e não me


disse nem ao menos uma palavra.

Eu me via uma confusão e admirar por um pequeno


instante o perfil do seu rosto enquanto tirava os olhos da
estrada por alguns segundos me deixava ainda mais uma
bagunça, porque eu desejava beijá-la.
Estacionei em frente ao seu prédio e eu não podia
deixá-la subir todos os degraus puxando aquele pé. Desci,
dei a volta no carro e abri a porta para que ela descesse.

— Obrigada — respondeu e pegou a mochila para


jogar nas costas.

— Eu levo para você.

— Agradeço, mas não precisa.

— Precisa.

— Não.

— Para de ser teimosa.

— Não quero incomodar e atrapalhar seu domingo.

— Se você não me der a mochila, vou te jogar no


ombro junto com ela, você gostando ou não. — Manteve-se
em silêncio e dessa vez não fez brincadeira alguma e eu
senti falta do seu senso de humor.

Contrariada me entregou a mochila e devagar, quase


parando, andamos pela calçada e passamos pela recepção,
onde recebi um meneio de cabeça do porteiro, o mesmo
que eu havia pagado no dia anterior para me deixar subir.

Quando ela colocou o pé no primeiro degrau eu perdi


a paciência e a ergui no meu colo. Tábata era leve ou se
encaixava perfeitamente nos meus braços, porque mesmo a
carregando pela longa distância na noite anterior, ainda
assim não era ruim carregá-la. Sentia apenas uma leve dor
no bíceps, mas era boa e eu merecia.
Seu braço em meu ombro me causava arrepio e era
reconfortante tê-la perto, em contrapartida, ela parecia
completamente sem jeito e pensativa, de nada lembrava a
mulher que me afrontava a cada palavra.

Chegamos ao último andar e a pousei no chão na


frente da sua porta.

— Entregue. — Tentei descontrair, mas o meu peito


se via apertado pela culpa.

— Obrigada. — Ergueu a mão para pegar a mochila.

— Quer que eu coloque lá dentro para você não


carregar peso?

— Melhor não. — Ficamos em silêncio e pela primeira


vez fiquei sem fala ao fugir de uma mulher, justamente
porque eu não queria aquilo. — Théo, foi um prazer te
conhecer. — Sorriu e fez a despedida parecer leve.

— Igualmente.

— Sinto muito pela bebedeira e todo o transtorno do


tornozelo, óculos e... todo o resto. — Deu de ombros se
sentindo culpada.

— Não teve transtorno nenhum. Foi ótimo nosso


tempo juntos e...

— É isso. — Ergueu a mão em minha direção,


encerrando de uma vez e me lançou um sorriso. — Até
mais.

Eu não sabia explicar o que eu sentia, meu coração


estava apertado.
Aceitei seu cumprimento e antes que eu pudesse
soltá-la a porta do apartamento de frente ao dela se abriu e
um rapaz, que pensei ter a idade dela, exibiu um largo
sorriso para Tábata.

— Oi, Tatá! — Ela soltou a minha mão depressa e eu


me senti um nada. Coberto imediatamente por uma
pequena raiva do cara que eu nem conhecia.

— Oi! — cumprimentou com um sorriso e se virou


para mim. — Então... — Engoliu em seco. — Até mais.

— Até.

— Pode me ajudar com a mochila, Patrick?

— Claro.

Parecendo feliz pela atenção que recebia o rapaz


pegou a mochila dela e depois de um aceno rápido os dois
entraram no apartamento sem mais me olhar.

Meu peito queimou, me senti trocado e eu queria


agarrar aquele merdinha pela camisa e o afastar dela, mas
só apertei o maxilar para conter a irritação, puxei o ar e o
soltei.

— Que se foda!

Bufando desci as escadas e saí do prédio em um


misto de agradecimento por ter sido fácil me livrar daquela
história e de raiva de ter sido fácil até demais para ela.

Era só orgulho ferido. Só isso.

Quando entrei no meu carro meu celular tocou e era


o maldito do meu sócio que me colocou naquela situação.
Péssima hora.

— Olha, vai tomar no cu, Roger. Péssimo momento


para você me ligar.

Do outro lado da linha ele gargalhou.

— Me fala que eu tenho a maioria das ações.

— Tem. Você ganhou e que se foda essa aposta


infantil que você inventou.

— Você mudou mesmo. Não acredito que pela


primeira vez vai perder.

Odiava ouvir que eu era um perdedor.

— Não é bem assim, só me tornei um homem com


escrúpulos.

— Não acredito! Você mudou mesmo. Vai me dizer


que parou a brincadeira, porque ficou com pena de quebrar
o coração da nerdizinha.

— Não a chame assim, Tábata é uma mulher incrível


que não merece ser enganada.

— Tudo bem, então se você prefere perder seus


muitos milhões, eu agradeço. Eu já estava mesmo
arrependido de ter feito essa aposta absurda e com ela
perder tanto dinheiro. O álcool um dia me deixará na
sarjeta.

Tive que rir.

— Então ao desistir te salvei. Que tal se a gente


deixar por isso mesmo e cancelarmos a aposta. Ninguém
perde nada.
— Rá! Nem fodendo. Você perdeu e está arrumando
um jeito de sair ganhando. E agora que terei mais voz que
você na empresa, acha mesmo que vou voltar atrás?

Soprei.

— Então tá, amanhã a gente conversa e decidimos a


parte burocrática para eu te transferir seus cinco por cento
das minhas ações.

Eu podia ver o sorriso puto que ele dava do outro


lado da linha.

— No aguardo.

Liguei o carro e comecei a dirigir para longe dali, mas


o que mais me incomodava naquela história toda, por mais
incrível que pudesse parecer, não eram os milhões que eu
ia perder com a maldita aposta ou mesmo o meu sócio ter
mais voz que eu no comando, mas a lembrança da Tábata
dando aquele bendito sorriso lindo para o vizinho.

De repente sentir que a perdi foi o que me saiu mais


caro e me incomodava insistentemente.

Inferno!
Capítulo 15
Tábata
Entrei em casa acompanhada por Patrick, mancando,
e meu vizinho sorria animado pensando que eu me via
interessada em algo mais, quando, na verdade, eu só
estava sendo uma canalha sem coração o usando para me
livrar do Théo.

— Muito obrigada.

— Quem era o grandão lá fora?

— Um homem que conheci.

— E ele está te perturbando, por isso me usou para o


afastar?
— Sim e não.

— Entendi. — Ele riu de maneira insinuante. — Fique


à vontade para me usar como quiser.

Revirei os olhos e sorri.

— Tudo bem, muito obrigada. Com a sua permissão


até me sinto melhor por ter te usado. Agora pode ir.

— Tem certeza de que não quer companhia.

— Não. Estou bem.

— Você é uma sem coração.

— Eu sei. Sinto muito. — Ele riu.

Andou até a porta e antes de sair piscou um olho e


eu sorri em resposta. Precisava confessar que Patrick não
era de todo ruim, só não me atraía.

Sozinha me sentei no sofá e estranhei o silêncio da


casa. Chamei meu gato que apareceu sem paciência
nenhuma, com cara de quem estava dormindo e eu
atrapalhei seu sono.

— Oi, Théozinho. — Imediatamente ao dizer o nome,


outro Théo me veio em mente e foi involuntário não me
sentir triste.

Repensei os nossos últimos momentos e ele havia


mudado da água para o vinagre, porque vinho era algo
bom. E eu não fazia ideia de onde eu havia errado... Além
de beber demais, ter o feito me carregar por quilômetros,
ter perdido meus óculos e ele ter ido buscar e...

Porra!
Fechei os olhos e a lembrança em que eu dizia estar
apaixonada me tomou, fazendo com que eu me sentisse
uma burra. Era certo que isso podia ter o afastado.

Mas também, dane-se! Ele devia ser muito moleque


por me tratar tão bem, dizer diversas vezes que me queria e
mudar do nada só por isso.

Será que ele é comprometido e mentiu?

Senti-me culpada por ter deixado o fogo me tomar e


eu o aceitar como um presente por bom comportamento.

Quem se apaixonava em tão pouco tempo? Só eu


mesmo, a carente.

Enquanto acariciava meu gato que havia se enrolado


em meu colo, repensei o modo carinhoso como ele me
tratou nos nossos quase dois dias juntos e tinha sido
perfeito. Théo era o sonho de qualquer mulher: carinhoso,
atencioso, bom no sexo e extremamente lindo e talvez rico.
Qualquer uma se apaixonaria.

Eu não sabia nada sobre ele e nem telefone


havíamos trocado, o que foi melhor assim, senão era capaz
de eu ligar chorando. Também não ia procurar, era melhor
eu continuar inocente quanto a sua vida e pensar que
nossos dias foram como um sonho.

Perguntava-me primeiro como consegui pescar um


peixão daqueles e depois como o deixei escapar.

Respirei fundo e soltei o ar tentando conter um


aperto no peito que há tempos eu não sentia.

Será mesmo que eu me via apaixonada por Théo?


Théo que eu mal sabia quem era, se tinha família ou se era
casado.

Eu precisava esquecê-lo, mas até a dor no meu pé


fazia com que eu me lembrasse daquele filho da mãe lindo.
Capítulo 16
Théo
Eu morava sozinho em uma cobertura de frente para
a maior metrópole do país, tinha tudo o que desejava e
comandava uma megaempresa de cosméticos além de
outros empreendimentos, só não tinha uma coisa: a alegria
de ter vencido todas as apostas que o filho da puta do meu
sócio me propôs. E... também não tinha mais a mulher que
em apenas dois dias tinha me encantado.

Com uma das mãos no bolso da calça e a outra


segurando um copo de uísque eu admirava a beleza da
noite caindo na cidade que se preparava para começar mais
uma semana, enquanto minha mente vagava para outro pôr
do sol que testemunhei e me sentia completamente
diferente daquele.
Com o semblante sério desejei que ela estivesse ali
com todos os seus medos, falas provocantes e olhar doce
de menina, mas com fogo de mulher.

Eu tinha entendido que era um merda por enganá-la,


mas no fundo quem estava sendo enganado era eu.

Quando vi o maldito vizinho tão interessado em


Tábata, eu me senti mais incomodado do que aliviado por
ver que ela teria alguém no meu lugar e não sofreria.

Servi-me de mais uísque e bebi, apertando o maxilar


e pensando no que eu precisava fazer para apaziguar meus
pensamentos e sentimentos e a resposta brilhou como um
luminoso: eu a queria e queria os meus milhões.

Balancei a cabeça me culpando por colocá-la naquela


jogada, mas por outro lado me livrei da responsabilidade
quando lembrei que se eu a desejava, então não era de
todo ruim e eu podia ter as duas coisas, Tábata e o dinheiro.

Lancei um sorriso de lado para a imensidão de luzes


da cidade e relembrei como ela gemia satisfeita ao meu
toque, também usando isso como desculpa para continuar
com o plano.

Ela vai desfrutar do que tenho em mente.

Lembrei-me do modo como a tratei no chalé e fui um


babaca, a deixando sem entender o motivo do meu
afastamento e eu teria que correr atrás do prejuízo.

Algumas horas depois, alguns copos de uísque e


muitos pensamentos, saquei o celular e com uma decisão
em mente liguei para Roger.
— Você sabe que horas são, caralho! — Esbravejou e
eu tive que rir.

— Não.

— São mais de meia-noite, Theodoro.

Dei de ombros como se ele pudesse ver e dei um


gole no meu uísque.

— Amanhã não vou à empresa e não precisa fazer o


documento de transferência das ações.

Ele riu do outro lado, imediatamente acordando ao


me ouvir falar dos muitos milhões que ele ia deixar de
ganhar.

— Está perdendo a sua palavra? Aposta é aposta e


você perdeu. — Até parecia irritado demais.

— Ainda não. Vou recuperar o dia perdido e enquanto


as assinaturas não forem feitas e não passarem os dez dias
que combinamos, eu ainda estou na disputa.

— Voltou a ser o Théo de antes ou se apaixonou pela


nerdizinha?

— Já falei para não a chamar assim.

— Tudo bem. Lembrando que amanhã você tem


apenas oito dias para se casar com ela.

— Eu sei. E só preciso de sete.

— Filho da puta convencido.

— Se não for assim não sou eu.


Ele riu do outro lado.

— Certo, agora vai dormir e me deixa em paz. —


Desligou a chamada e com um plano em mente pousei o
copo sobre o aparador.

Destemido como se eu fosse fechar um novo


contrato, segui para o escritório e peguei uma folha e
caneta.

Se eu tinha pouco tempo eu precisava ser


organizado.

Então escrevi:

Como conquistar minha garota em 10 dias:

1 – Mostrar que tenho interesse e fazer programas de


casal.

2 – Apresentar a minha família.

Pensei que essa parte ia ser complicado, como vou


dizer aos meus pais que vou me casar com alguém que
conheci a tão pouco tempo.

3 – Conquistar a família dela.

A avó dela estava no papo.

4 – Cozinhar para ela.

Mulheres gostam de caras que cozinham, mas eu não


sabia nem ferver água.

5 – Afastar o cuzão do vizinho.


Pousei a caneta sobre o papel e sorri para a minha
lista escrita intuitivamente e de forma rápida.

— Me aguarde, gatinha, eu vou te reconquistar.

Só de pensar nela e relembrar nossos momentos, me


vi desejando repetir cada um deles. Não era mais só a
aposta, era mesmo o meu desejo de ficar com Tábata. Eu
gostava dela.

E pensar nisso, me fez até cogitar ir atrás de uma


das mulheres com quem me relacionei nos últimos tempos
para tentar esquecer a minha gatinha, mas imediatamente
perdi a vontade, eram completamente sem graça
comparadas a Tábata.

Recostei-me na cadeira de couro do escritório e


pensei alto:

— O que você fez comigo, Tábata?

Naquele momento eu precisava pensar em um jeito


de me aproximar dela de novo sem que fosse aparecendo
na sua casa como um cão arrependido.

Parecendo um louco obsessivo, acordei cedo e ao


invés de ir trabalhar, pedi que a minha secretária
cancelasse a minha agenda e estacionei em frente ao
prédio do meu melhor investimento. Na verdade, mal dormi
pensando em um jeito de me aproximar da Tábata. Eu tinha
pouco tempo.

Eu nunca fui um homem romântico e nenhuma ideia


me veio em mente a não ser forçar um encontro “sem
querer.”
Já era perto da hora do almoço quando vi a
senhorinha simpática, avó dela, passando pelo portão do
prédio e seguindo apressada. Fiquei a observando de longe
e quando a perdi do campo de visão liguei o carro e
comecei a segui-la devagar.

Quando chegou na esquina e vi que ela ia atravessar


a rua, eu acelerei e parei na faixa para a dar passagem.
Abaixei o vidro do carro e a cumprimentei.

— Dona Emília, bom dia!

Ela semicerrou os olhos para tentar ver quem a


gritava e quando me reconheceu acenou animada e andou
até a minha janela. Olhei pelo retrovisor para ver se tinha
algum carro na minha traseira e não, eu tinha um tempo
para saber de Tábata.

— Bom dia! — cumprimentou-me animada e me


senti acolhido. — Tábata te ligou? Está indo vê-la?

— Indo?

— Sim, não soube? — Juntou as sobrancelhas me


analisou desconfiada. — Ela foi hoje cedo ao hospital e ficou
lá. Está com o pé imobilizado, pela torção.

Senti-me culpado.

— Eu não soube.

— Estou indo lá buscá-la, porque foi com o carro e


não consegue dirigir.

— Entra aqui que te levo.


— Eu ia andando, porque é pertinho, mas vou
aceitar, assim vamos conversando.

Deu a volta no carro e entrou ao meu lado, se


acomodando no banco do carona.

— Essa minha neta é uma orgulhosa, aposto que não


quis te incomodar.

— Na verdade, acho que ela não quer me ver mais.


Meio que encerramos nosso contato ontem.

— Mas por quê? — Fez uma carinha triste, bem de


avó, e eu quase sorri.

Com aquele semblante fofo, entendi que ela gostava


da minha companhia para a neta e a culpa quase me
tomou, mas me consolei pensando que o meu interesse nela
não era mais apenas a aposta, era real.

— Um grande desentendido, mas que pretendo


arrumar.

Ela sorriu.

— Eu gostei de você, meu filho. E sabe? Bem que vi a


Tábata muito tristinha ontem.

— Sério? — Lancei-a um sorriso largo, porque se ela


estava triste indicava que sentiu o nosso quase
afastamento... ou podia ser o vizinho.

— Sim, ela gosta de você. — Senti-me um filho da


mãe de sorte.

— Aquele rapaz que mora ao lado, conheci quando a


levei em casa, eles já tiveram algum romance?
— Patrick? Não!

— Eu pensei... pelo modo que ele a olhou.

— Tábata me mata se souber que estou falando dela.


Sempre foi muito reservada quanto aos sentimentos, mas
não, ele bem que quer, só que ela nunca o deu abertura.

Abri um sorriso ainda maior pensando que a minha


chance com ela só crescia.

Estacionei em frente ao hospital, o mais perto o


possível para que a senhora simpática não precisasse andar
muito e antes que eu pudesse dizer alguma coisa ela o fez:

— Bom, agora eu vou lá buscar minha bebê. Muito


obrigada pela carona e vou torcer para vocês se acertarem.

— Não tem o que agradecer, espero que Tábata fique


bem. — Eu pensava em um jeito de me convidar para ir com
ela e ver sua neta sem parecer inconveniente, mas
nenhuma ideia me tomou.

— Vai ficar bem sim, mas só fico com pena de a


deixar sozinha, porque vou pegá-la, levar para casa e vou
ter que sair e voltar só bem tarde. Hoje é segunda-feira, dia
de reunião do clube da terceira idade e não posso faltar.

— Se não for um problema para você ou para ela,


estou com o dia livre e posso ir até lá, de surpresa e a fazer
companhia.

A senhora me lançou um grande sorriso.

— Garoto esperto. — Tirou o cinto de segurança e


desceu do carro, me deixando sem a resposta, mas
claramente aprovando a minha ideia. — Até mais à noite,
Théo.

Fechou a porta do carro e a vi caminhar em direção a


entrada do hospital.

Sorri satisfeito.

Eu tinha o que precisava para me reaproximar da


netinha.
Capítulo 17
Tábata
Subi todos os muitos degraus até chegar ao meu
apartamento, acompanhada da minha avó que dizia as mil e
uma qualidades do Théo, sendo que ela tinha passado
apenas poucos minutos com ele quando foi até nossa casa.

Não entendia o porquê de ela fazer o cabo eleitoral


dele, sem ter conversado com o bonitão mais de uma vez.
Talvez fosse por isso, porque era um bonitão que
conquistava todas as mulheres e conseguiu isso até com a
minha avó.

Enquanto subia evitando forçar o pé e pulando


degrau a degrau, foi inevitável não me lembrar dos braços
fortes que me carregaram no dia anterior.
Via-me irritada, porque não queria pensar nele, mas
era mais forte que eu.

Cheguei, tomei banho e coloquei uma camisola de


gatinho, sem sutiã, apenas calcinha, me mantive
confortável para ficar o dia todo no sofá e embaixo da
coberta, assistindo um filme ou uma série que me fizesse
não pensar nele.

Minha avó sempre foi preocupada comigo e estava a


estranhando sair num dia em que eu precisava da sua
companhia, mas eu não ia a privar de viver e incentivei a ir
à sua reunião e garanti que eu ficaria bem.

— A senhorita vai ficar quietinha. Qualquer coisa me


liga que volto correndo.

— Está tranquilo, Vó. É só não mexer com o pé e com


os remédios, em uma semana estarei novinha.

— Não faz movimentos bruscos com esse pé.

— Que movimento eu faria sozinha aqui? — Minha


avó riu. — Prometo só ficar deitada, com ele para cima e só
me levantar em casos extremos.

— Muito bem.

Deu-me um beijo na testa e saiu porta afora com sua


bolsa pendurada nos ombros, batom que a deixava gatinha
e perfumada como ela só. Eu a amava tanto.

Ajeitei-me no sofá e aquela bota imobilizadora


incomodava, sentia vontade de tirar, mas a dor que vivi
durante a noite me fazia usar.
Na realidade, quase não dormi não pela dor, mas
pensando no que eu tinha feito de errado para Théo ter
mudado comigo daquela maneira. Tentava me lembrar dos
momentos alcoolizada e me sentia envergonhada por ter
me jogado daquela forma.

Confiei tanto nele que me vi sem amarras e me soltei


como se já o conhecesse há anos.

Suspirei.

Acomodei-me abraçando uma almofada e tentei


focar na série que passava na TV. Eu havia colocado para
rodar, mas nem sabia do que se tratava, porque não
consegui prestar atenção e quando ia focar, ouvi o barulho
da porta se abrindo.

— O que a senhora esqueceu, dona Emília?

— Oi. — Ouvi uma voz grossa tomar meus ouvidos e


me levantei depressa, me mexendo bruscamente e sentindo
o meu pé doer.

Fiz uma careta de dor ao ver o motivo da minha


agonia, parado na minha sala, com um sorriso sem jeito e
cara de arrependido.

Théo usava o mesmo estilo apetitoso de roupa de


quando o conheci, calça jeans, camisa e um terno por cima,
que lhe dava um ar requintado e o deixava atraente como
um chocolate.

— Sei que está estranhando a minha presença sem


aviso, mas sua avó...

— Ela sabe que você está aqui? — Via-me tão em


choque que atropelei sua frase.
— Sim.

Emburrada me recostei no sofá e cruzei os braços na


frente do peito. Mantive-me olhando para a TV, tentando de
novo entender o motivo da minha avó ter se encantado
daquela forma.

Como se eu pudesse mordê-lo ele se aproximou


devagar, para testar se eu faria.

— Trouxe umas coisinhas para você. — Ergueu uma


sacola e eu ergui uma sobrancelha em desdém.

— Você precisa decidir se quer ficar perto de mim ou


não.

— Eu quero ficar.

— Não foi o que pareceu.

— Me desculpa.

— Pelo quê?

— Por ter ficado um pouco... mexido com o tempo


que passei com você.

— Mexido? — Eu estava ainda mais desconfiada do


que antes e ele teria que rebolar para me conquistar, bom...
rebolar não, porque isso me trazia lembranças e se ele
rebolasse como me lembrava, eu aceitaria o que me
propusesse em segundos.

Ele colocou as sacolas que trouxe sobre a mesa e


andou até mim, pegou a minha mão e olhou dentro dos
meus olhos.
— Eu te pedi em namoro e mantenho meu pedido. Eu
quero você Tábata e o que aconteceu, foi que ontem eu
fiquei assustado com o quanto você está me mudando.

— Mudando? — Eu me mantinha na retaguarda e


queria que ele me dissesse tudo.

— Eu era um conquistador mulherengo, até te


conhecer. Eu gosto de você.

Encarei-o sem dizer nada.

— Volta para mim, Tábata, aceita namorar comigo?

Soltei a mão dele e desviei o olhar.

— Você só pode ser maluco.

— Não, eu estava com medo de nós, mas agora


tenho certeza. Eu quero ser seu namorado.

Meu peito subia e descia com a respiração acelerada,


eu não conseguia entender a estrada que a minha vida
tomou. Encarei diretamente seus olhos.

— Você quer namorar comigo?

— Quero. — Procurei um resquício de dúvida, algo


que pudesse mudar sua expressão e entregar que ele
mentia, mas não encontrei.

— A gente nem se conhece.

— Mesmo sem te conhecer me apaixonei. Podíamos


viver assim, namorando e desfrutando um do outro. Nos
conhecendo aos poucos.

— Isso é loucura.
— Não acredita em amor à primeira vista?

Borboletas voaram no meu estômago ao ouvir “me


apaixonei” e “amor à primeira vista”.

Respirei fundo e soltei o ar.

— Eu posso me arrepender disso no futuro, mas... eu


aceito. — Ele abriu um enorme sorriso. — Mas, com uma
condição.

— Aceito.

— Você não sabe qual é.

— Mas aceito assim mesmo. — Tive que rir e ele me


acompanhou.

— Que vamos devagar. — Ele parou de sorrir.

— Devagar?

— Sim.

— Vamos fazer assim, se você tiver certeza de que


quer ser minha em três dias, você se casa comigo no
décimo que nos conhecemos.

— Você está maluco! — Arregalei os olhos, porque


ele só podia estar.

— Sim, por você. — Vi um leve trepidar da sua


sobrancelha como se o que tivesse acabado de dizer fosse
uma constatação que ainda não tivesse se dado conta. —
Tábata, eu sinto que não posso perder tempo.

— Você não tem uma doença terminal, né?


Ele riu.

— Não que eu saiba.

— Nem sei seu nome.

— Theodoro Alencar Medina.

— Theodoro...

— Théo é apelido. — Sorriu.

— Gosto de Theodoro, parece sério.

— Sou um homem sério.

— Quantos anos?

— Trinta e cinco.

Juntei as sobrancelhas.

— Você é bem mais velho que eu.

— Quantos anos você tem?

— Vinte e sete.

— Quase nada. — Eu ri. Ele era muito convencido e


por mais que sempre tivesse odiado isso em outras pessoas,
eu amava nele. — A não ser que isso seja um problema para
você, posso mandar mudar meu documento. Tudo que o
dinheiro pode comprar.

Revirei os olhos.

— O dinheiro não compra tudo.


— Tem razão ou já teria te comprado e levado para a
minha casa comigo.

— Suponho que você seja muito rico?

— Bastante. — Fechei o cenho e ele notou. — Isso é


um problema?

— Sim, porque eu não tenho.

— Tenho por nós dois.

— Não quero seu dinheiro.

Ele riu.

— Por isso você me atrai, meu dinheiro parece um


problema para você, quando para qualquer outra seria um
bônus.

— Eu não sou qualquer uma.

— Eu tenho plena certeza disso, já que estou


praticamente me humilhando para te ter como namorada.

Sorri, nossa conversa começava a ficar leve de


maneira natural, eu não podia negar, nós nos dávamos
muito bem. Ficamos em silêncio, até que o quebrei:

— Eu só namorei uma vez.

— Eu nunca namorei. — Semicerrei os olhos em


descrença.

— Você está mentindo.

— Juro!
— Por quê?

— Estava esperando por você.

Encarei-o e segurei um suspiro. Notando que sua fala


me tocou, ele se aproximou, ficou com a boca bem perto da
minha e sibilou:

— Namora comigo, prometo te fazer feliz.

Fechei meus olhos e minha respiração era ofegante.

— Théo...

Passou seu nariz no meu e esfregou muito de leve


seus lábios nos meus.

— Diz que sim. — Abriu minha boca com seus lábios


e eu me via entregue.

— Sim. — Ouvi seu grunhido e ele enfiou a língua na


minha boca, apoiando minhas costas com cuidado e me
aninhando em seus braços.

Eu sorria enquanto o beijava, porque eu gostava


daquele gostoso convencido, mas ao mesmo tempo eu
tinha a impressão de que me jogava de um precipício e sem
paraquedas.
Capítulo 18
Théo
Tábata e eu comemos as besteiras que levei para
mimá-la e assistimos série durante horas. Por mais que
parecesse algo bobo, gostei de tê-la em meus braços,
enquanto eu fazia carinho em seu cabelo e comentávamos
sobre o que passava na TV.

O gato não gostava de mim, parecia saber que eu


escondia informações e me encarava como se fosse
arrancar meus olhos na unha a qualquer momento.

— Ele não gosta de mim — pensei alto e Tábata riu


ao entender sobre o que eu falava, por meu olhar fixo no
gato.

— Miaaauuu... — soltou um miado esganiçado como


se concordasse comigo.
— Viu, ele concordou. — Tábata riu ainda mais.

— Para de ser bobo. Ele gosta de você sim, vocês


carregam até o mesmo nome.

— Então deve ser por isso que não gosta.

— Miaaauuu... — concordou e quase fiquei com medo


do seu olhar felino matador.

— Acho que ele quer alguma coisa.

— Quer sim. Te matar. Xiu! Essa parte é boa.

Parei de observar o gato e a fitei para ver que olhava


muito concentrada para a televisão. Ainda mais quando um
bombeiro bonitão apareceu.

— Minha namorada está olhando para outros


homens?

— Claro que não. — Ela riu e ainda que quase dez


anos mais velho, eu me sentia como um adolescente perto
dela. Gostava da sensação de ter ciúme e a de posse.

Fingindo ser um namorado tóxico, levei a mão ao seu


pescoço, como se fosse enforcá-la e a fiz me olhar.

— Você é minha, entendeu? — Não era de todo


mentira, mas claramente debochando de mim, Tábata riu
ainda mais.

— Se você vai me ameaçar, faça direito. — Colocou


sua mão sobre a minha e pressionou contra seu pescoço,
pedindo que eu a enforcasse com mais vontade. — Se fosse
em outra posição seria ainda melhor.

Porra!
Engoli em seco, imediatamente meu pau acordou e
respirei fundo.

— Acho melhor pararmos de brincar assim, ou, nem


seu pé machucado ou aquele gato me encarando como se
fosse me matar vai me parar e aí eu vou... — Abaixei minha
boca perto da sua orelha e sussurrei: — Vou te foder nesse
sofá e te enforcar enquanto faço isso.

Meu pau pulsou e a vi apertar as pernas.

Aquele namoro inocente ia acabar comigo. Ela tinha


o pé machucado e se não fosse isso eu, com certeza, não
estava mais falando e sim fazendo.

— Acho um absurdo você me deixar na vontade


assim.

— Ah, é?

Ela se virou um pouco mais em minha direção e eu a


beijei. Intensifiquei e minha língua entrou em sua boca com
afinco. Sem que eu pudesse controlar minha mão desceu
por sua barriga e entrou por baixo da camisola fofa que ela
usava e em seguida em sua calcinha.

Ao mesmo tempo que a beijava comecei a dedilhar


seu clitóris, recebendo seus gemidos de encontro a minha
boca e degustando cada um deles.

— Théo...

— Xiu... aproveita.

— Eu... — Ela tentava formular frases e não


conseguia. O prazer que eu a proporcionava, seus gemidos
e respiração acelerada me excitavam.
O melhor era que antes de Tábata eu sempre me
preocupava com o meu prazer, mas com ela era diferente,
eu a queria saciada e vê-la se contorcendo sob o meu toque
era algo que me ligava em diversos pontos.

Com a mão livre desvencilhei um dos seus seios e o


chupei, sem parar de dedilhar seu ponto mais sensível.
Ergui o olhar e seus olhos fechados e boca aberta de prazer
me deixavam duro como pedra.

Escorreguei meus dedos mais para dentro e ela abriu


ainda mais a perna para que eu sentisse o quanto estava
encharcada.

— Não se mexe ou eu paro.

— Se parar eu te mato.

Ri e a beijei para receber seu gemido quando


arqueou o corpo por eu acertar seu ponto mais sensível de
novo. Alisei ali no sentido vai e vem e ela ficava cada vez
mais molhada. Eu tinha vontade de fazê-la gozar para se
sentir bem e depois enfiar fundo o meu pau em sua boceta
que com certeza deslizaria com seu gozo.

Meus pensamentos pervertidos me excitavam ainda


mais e ela rebolava no meu dedo em busca do seu prazer.
Fitei seus olhos fechados e beijei sua boca tomando todos
os ruídos que soltava.

Não demorou até que ela estremeceu, apertando


meu braço enquanto apreciava a sensação e me fazendo
quase gozar só por vê-la aproveitando seu orgasmo.

— Você é deliciosa — sibilei com a boca perto da dela


e com a respiração ofegante.
Puxou o ar e o soltou, se recuperando do momento e
quando me encarou Tábata pareceu sem jeito, mas saciada.

— E agora?

— Voltamos a assistir TV.

— Estou te devendo e quero pagar. — Sua voz safada


deixava tudo ainda mais excitante.

— Vem para a minha casa comigo?

— O quê? — Abriu os olhos e me encarou com


surpresa.

— Vem comigo? Posso ficar com você enquanto está


de repouso, assim a sua avó não vai ter trabalho. Posso te
dar banho e te colocar para dormir te pegando nos braços,
dona Emília não vai poder fazer isso.

— Eu não acho que...

— Você é minha namorada. Quero cuidar de você.

Semicerrou os olhos.

— Você não trabalha?

Apertei os lábios para conter o sorriso.

— O lado bom de ser o chefe é que posso não ir


trabalhar.

Ela balançou a cabeça em negativa, claramente


desdenhando de mim.

— Você é muito convencido.


— E você gosta disso.

Ela ia rebater quando a avó entrou.

— Olá, crianças!

Tábata se acomodou no sofá, puxando a manta para


se cobrir e eu me aprumei, dando graças a Deus por minha
ereção já ter passado.

— A senhora anda muito alcoviteira, viu, dona


Emília? Não acredito que combinou com Théo sem combinar
comigo. — Ela piscou para mim e riu.

— Noto que meu plano deu certo.

— Muito certo. Estamos namorando. — Apressei-me


em contar.

Eu não via mais como uma mentira, acreditava


naquele relacionamento mesmo ele tendo uma aposta
milionária por trás. Como começou não contava, mas sim
como terminou e ia terminar comigo com muitos milhões a
mais na conta por ano e com a garota que andava fazendo
meu coração bater mais forte ao meu lado.

— Que bom! — Dona Emília juntou as mãos, feliz.

— Inclusive, ofereci que Tábata fique comigo na


minha casa, lá posso cuidar dela e evitar que o pé torcido
da sua neta atrapalhe seus programas. O que acha, dona
Emília?

— Eu acho ótimo.

— Parem os dois, eu não vou a lugar nenhum. Théo


precisa de mim.
— Preciso mesmo.

— Você não, meu gato. — Olhei em volta e ele não


estava mais por ali. Que bom, deve ter fugido para não ver
a cena imprópria de há pouco.

— E o que eu sou? — perguntei e ela e a avó riram.

— Um dos meus gatos.

Senti satisfação em ouvi-la me chamar de meu. Eu


realmente me perdi com a Tábata.

— Não se preocupe, querida, eu deixo o Théo com a


Margarida, ela adora quando ele vai lá mesmo. E não vai ser
por muito tempo.

— Não, quando nos casarmos, ele vai com a gente —


falei sem pensar e levando em consideração que eu ia
conseguir me casar com ela em poucos dias, mas
imediatamente dois pares de olhos me fitaram como se eu
tivesse dito uma grande loucura. E pensando bem, era. —
Um dia. Em breve. Muito em breve.

— Você é mesmo maluco — Tábata disse e a avó só


me olhava sorrindo.

— Você não faz ideia do quanto. E então, você vai


comigo?

Ela pareceu pensar.

— Filha, não quero me livrar de você, não é isso, mas


eu tenho meus compromissos, não quero te deixar sozinha
e o Théo tem razão, se ele pode cuidar de você, se são
namorados, tenho certeza de que será uma melhor
companhia do que eu. Pensa esses brações te carregando
para o banho.

— Vó! — Tábata chamou a atenção da avó e pela


primeira vez me senti envergonhado.

— Tá decidido! Você vai.

Dona Emília saiu e eu encarei minha namorada.

— É isso, você vai.

— Preciso separar você e minha avó. Isso é formação


de quadrilha.

— Olha, quando estive aqui ela disse que consegue


ver que sou um bom rapaz.

— É porque ela não sabe que você queria me


enforcar há pouco.

— E ainda quero, enquanto...

Fui interrompido quando dona Emília voltou dizendo


que ia arrumar as coisas da neta e nos deixou a sós.

— Acho que ela quer se livrar de mim.

— E eu fico feliz que seja eu a te receber.

Tábata colou nossos lábios em um beijo casto e eu


gostei daquele gesto carinhoso.

Fitei minhas mãos por poucos segundos e mais uma


vez cogitei se não seria melhor contar a verdade a ela, já
que um sentimento verdadeiro estava surgindo da mentira,
mas imediatamente o medo de estragar tudo me tomou e
conclui que Roger nunca contaria e aquele segredo com o
tempo seria esquecido.

Talvez eu contasse um dia, quando nosso


relacionamento estivesse consolidado e aquela informação
saísse como uma piada, não naquele momento em que ela
podia pensar que eu era um mentiroso e, com isso, me
deixar.

Três dias, apenas três dias e eu não entendia aquela


conexão.

— Algum problema? — perguntou, por notar meu


semblante sério.

Sorri.

— Nenhum — menti.

Podia ser que minha relação com ela nem desse


certo e acabasse por outro motivo, assim ela não se sentiria
diminuída e eu sairia com meus milhões intactos.

Se eu contasse estaria quebrando a aposta.

Seria isso. Se desse certo, eu contaria depois do


casamento, se não desse eu sairia vitorioso e com milhões.

Eu ia me casar e o melhor, eu gostava da ideia.

— Você está silencioso e sorriu.

Olhei para ela.

— Só pensando naquela história de casamento. Você


se casaria comigo um dia?

Juntou as sobrancelhas e me analisou.


— Não sei.

— Eu me casaria com você.

— Theodoro!

— Só verdades.

— Precisamos de um tempo para nos conhecermos.

— Teremos. Com você na minha casa por uns dias e


nós dois juntos vinte e quatro horas, teremos nosso tempo e
aí saberemos se não nos mataríamos em um possível
casamento.

— Eu te mataria.

— E seria a forma mais linda de morrer.

— Que brega! — Semicerrou os olhos e


gargalhamos.

Pensei mesmo que os dias que eu passaria com


Tábata em minha casa seria como uma espécie de
intensivão. Se ao final eu ainda gostasse da sua companhia
e não a matasse, ela seria a mulher com quem eu passaria
a minha vida.

Eu ainda não me reconhecia. Do cafajeste


mulherengo me tornei o homem que pensa em casamento.

Sua avó a chamou para se trocar e indiquei que


tomasse banho na minha casa, me via ansioso para ficar a
sós com ela.

Não demorou e Tábata voltou com a avó, uma mala e


um sorriso no rosto.
Ela também estava feliz.
Capítulo 19
Tábata
Exatos dois dias que eu estava na cobertura do Théo
e eu me sentia mimada de todos os jeitos. Aquele imóvel
era ainda mais requintado do que o que ele me levou no
prédio do restaurante. E quando em tom de brincadeira o
perguntei o motivo de ter tantos imóveis, ele disse que
colecionava. Claro que revirei os olhos.

Contudo, o que aqueceu meu coração foi ouvir que


naquele ele só levava as melhores pessoas da sua vida,
onde era sua casa, assim como foi no chalé e eu me senti...
especial. Até contive um suspiro.

Ele ficava o tempo todo comigo e o único momento


que me deixou por algumas horas, foi no dia anterior
quando precisou sair por conta do trabalho, mas logo
voltou.

Eu ainda tinha desconfianças sobre como em poucos


dias a minha vida mudou daquele jeito, mas as dúvidas não
eram mais relacionadas a Théo, só em relação ao destino
que o colocou no meu caminho.

Diferente de antes carregava a certeza de que ele


me queria e que era um homem bom. Não teria como
manter um personagem por tanto tempo, além de que não
tinha nada em mim que o estimulasse a mentir.

Ele queria apenas a mim.

Até minha autoestima mudou, me via mais confiante


e bonita, de tanto que Théo me dizia diversos elogios e fazia
com que eu me sentisse bem.

Eu precisava aceitar que a vida tinha coisas boas


para me dar e eu era digna de receber cada uma delas,
começando por aquele homem gostoso que sorria para mim
enquanto tentava cozinhar.

— O cheiro está bom.

— Você está zombando de mim, Gata? — Tirou o


olhar da panela para me encarar e chacoalhou o dedo em
seguida, porque o queimou ao encostar no metal quente.

— Claro que não. — Neguei, mas eu ria.

— Quem diria que eu, um CEO bem-sucedido de


diversas empresas, ia passar meu tempo cozinhando para
conquistar uma mulher.
— Bom, se é por isso, então pode parar, porque já
me conquistou.

Ele me lançou aquele sorriso lindo e voltou a olhar


para a panela.

— Você não me disse ao certo que tipo de empresa


comanda.

— São várias.

— Que metido!

Ergueu de novo o olhar da panela e deu de ombros


como se não pudesse negar.

— E você? Quando nos conhecemos no elevador,


você disse que conseguiu um emprego novo, me fala sobre
ele.

Perguntei-me como ele se lembrava disso. Quando


falei no meio do medo pelo elevador ter parado, nem
sabíamos que viveríamos mais momentos juntos.

Dei de ombros e até me senti envergonhada em falar


sobre o meu emprego de administrar uma empresa quando
ele comandava muitas.

— Nada de mais, apenas vou atuar na minha área.

— Que é?

— Sou formada em administração.

— Que ótimo! Se o emprego novo não for bom, você


pode trabalhar para mim.

— Nem pensar! Não misturo negócios com prazer.


— Eu quero misturar tudo com você.

Sorri e mudei de assunto, comentando algo sobre a


panela, não queria o mostrar o quão sem graça era a vida
de um pobre em busca de trabalho. Falar sobre nossas
condições financeiras tão diferentes, meio que me deixava
envergonhada.

— Agora me fala, pra que tanta salada? — perguntei,


quando o vi mexer a salada caesar que fazia.

— Porque teremos visitas.

Juntei as sobrancelhas sem entender.

— Hoje?

— Sim. Inclusive, você consegue ir sozinha até o


quarto? Deixei um presente para você em cima da cama.

— Por quê?

— Uma surpresa que preparei e espero que você


goste.

Semicerrei os olhos e o analisei.

— Você está cozinhando, vamos ter visitas e tem um


presente para mim. Isso é muito suspeito.

Respirou fundo e soltou o ar parecendo ansioso.

— É uma coisa boa, ao menos eu espero que seja.

— E você não vai me contar?

— Assim não vai ser surpresa.


— Entendi. — Analisei-o mais um pouco. — Vou até o
quarto então.

— Não apoia no pé ruim.

Revirei os olhos e sorri, porque no fundo eu gostava


dos seus cuidados.

— E pode vesti-lo?

Juntei as sobrancelhas de novo sem entender.

— Presente de vestir? É uma lingerie?

Ele riu.

— Não, você não precisa de lingerie, prefiro sem.

— Tudo bem, sem lingerie.

Mancando fui até ele e o beijei.

— Você está muito suspeito para o meu gosto. Vou lá


ver o meu presente e tomar um banho.

— Tudo bem, te espero.

Soprei um beijo e segui para o quarto usando as


muletas que ele tinha comprado, sem necessidade, para
que eu não colocasse o pé no chão. Théo tinha insistido em
me levar a um médico particular e só ficou em paz quando
garantiu que o diagnóstico que o primeiro médico passou
era o mesmo que o do médico que ele me levou: manter o
pé sem pressão por uns dias e tudo ficaria bem.

As muletas eram um exagero, mas vê-lo cuidando de


mim me aquecia o coração e eu não sabia se eu era muito
carente ou ele que era muito perfeito mesmo.
No quarto, logo avistei o pacote sobre a cama e com
um sorriso feliz como de uma menina, abri o embrulho
chique e de lá tirei um vestido azul claro, delicado e lindo,
com o comprimento um pouco acima do joelho e rodado.

Coloquei-o na frente do corpo para testar e amei.


Théo parecia conhecer o meu gosto e provavelmente havia
acertado o tamanho também.

Animada fui para o banho, ao sair me sequei e


coloquei a bendita bota. Comecei a me arrumar e decidi que
para completar o vestido eu passaria uma maquiagem leve
e arrumaria o cabelo. Ele pediu que eu ficasse linda.

Livrei-me do roupão, coloquei um sutiã que não


apareceria no vestido e ainda que precisasse da calcinha,
descartei. Entraria na dele, já que disse que a lingerie era
dispensável.

Para ficar mais bonita, soltei meu cabelo e prendi


apenas metade. Como se tivesse com um penteado, aquele
vestido bonito pedia uma ajeitada melhor.

Olhei-me no espelho e me senti a Bela no baile de


formatura no filme Crepúsculo, com um vestido azul e uma
botinha reparadora no pé.

Sorri, pediria para o meu Edward cozinheiro me


morder depois do jantar, ou melhor, me chupar.

Após alguns minutos, com um sorriso faceiro voltei


para a sala, ansiosa para mostrar que gostei do presente e
que também tinha preparado um para ele, era só me
desembrulhar, porém, quando entrei no cômodo dei de cara
com um casal mais velho e até dei uma rápida parada de
surpresa.
A mulher tinha cara de rica, se vestia de maneira
requintada e usava joias que se destacavam, pareciam
caras, mesmo eu não entendendo nada sobre. O homem
tinha porte de milionário, era alto como Théo e os dois eram
parecidos. Se eu visse aquele casal em algum lugar podia
pensar que eram da realeza, enquanto eu parecia a pobre e
descabelada Bela.

Ambos se olharam e riram para mim. Como se eu


fosse um animal em exibição. Sorri de volta, completamente
sem entender, até que Théo apareceu.

— Tábata, me deixa te apresentar, esses são meus


pais.

Pais?

Ele tinha tomado banho e usava camisa social de


mangas compridas, calça preta e estava bonito como
sempre, com o perfume que me inebriava.

Théo me olhava como se estivesse sem jeito e eu


sorri para tranquilizá-lo, ainda que eu me visse ainda mais
envergonhada que ele.

— Olá, como vai, querida? Sou Ana Maria. — A


senhora simpática, magra, com cabelos grisalhos e o sorriso
igual ao do Théo me cumprimentou parecendo feliz. Pensei
que contente até demais.

— Olá, muito prazer. — Foi a vez do senhor sério,


mas com um olhar amistoso me cumprimentar. — Feliz em
conhecer a mulher que anda fazendo meu filho sorrir desse
jeito. Ele não mentiu quando te descreveu ontem. Você é
muito bonita.
— Obrigada. Muito prazer em conhecê-los. — Sorri e
olhei para Théo que ria do meu desconforto.

Meu namorado se aproximou de mim e passou o


braço pela minha cintura. O gesto não passou despercebido
pelos pais que se olharam e sorriram.

— Vamos nos sentar? — Théo perguntou e indicou o


grande sofá para os pais.

Seguimos e eles sentaram-se de frente para mim.


Com cuidado cruzei minhas pernas para não mostrar
demais, já que me via sem calcinha e aquele pensamento
me matou de vergonha. Naquele momento entendia como
Anastácia do filme Cinquenta tons de Cinza se sentiu ao
conhecer os pais do gostoso do Grey sem usar calcinha.

Pronto! Eu sou os extremos, o original e a fanfique: a


inocente Bela de Crepúsculo na frente dos pais dele e a
virgem safada doida por sexo Anastácia no off com o CEO
milionário e gostoso.

Théo serviu vinho para todos, menos para mim por


causa dos remédios e me deu suco. Quando ele disse isso,
sua mãe o olhou com carinho. Conversamos sobre como
torci o pé e quando contei que o filho deles me levou nos
braços por um longo caminho a mãe só faltou suspirar de
alegria.

— Achei que esse dia nunca ia acontecer — dona Ana


comentou e deu um gole no vinho. — Você apaixonado, meu
filho... é muito bom de se ver.

— Mãe. — Théo olhou para as mãos, claramente


envergonhado.
— Seu pai e eu achamos que você ia ficar solteiro
para sempre e vivendo a vida promíscua que levava. —
Como se tivesse percebido que falou demais, ela me olhou
com as sobrancelhas arqueadas. — Desculpa por mencionar
isso, querida, mas é só para ilustrar que estamos felizes
com esse novo passo do nosso filho.

Sorri e me perguntei se eles sabiam que não fazia


nem uma semana que nos conhecíamos.

— Está tudo bem, eu imagino que Théo era um


conquistador antes de mim. Partiu vários corações.

— Até você tomar o meu. — Olhei-o e apertei os


lábios com aquela demonstração pública de afeto.

Tive que conter um suspiro, porque era rápido e


inesperado demais para mim. A cada declaração dele eu me
apaixonava mais e me sentia em um filme de romance.

Eu ainda me via meio paralisada e interagindo no


automático, quando graças aos céus a campainha tocou e
uma moça bonita foi atender, que eu nem sequer sabia de
onde tinha saído. Notando que eu me exibia com muitas
perguntas sem resposta, Théo me iluminou:

— Enquanto você tomava banho deixei a equipe que


contratei cuidar do resto do jantar. Trouxeram quase tudo
pronto e me salvaram. Cozinhar não é o que faço de melhor.
— Deu de ombros. — Não deu tempo de chamar a Maria, a
que trabalha pra mim, para ajudar.

— Equipe? — perguntei, meio rindo de nervoso.

Quando a moça abriu a porta, me vi ainda mais


surpresa quando a minha avó apareceu ali e me lançou um
sorriso.
— A minha avó — pensei alto.

Olhei para Théo, que piscou para mim e pousou um


beijo no topo da minha cabeça.

— Logo você vai entender.

Dona Emília cumprimentou Théo com intimidade


como se ele fosse meu namorado há anos ou como se fosse
seu neto. Minha avó sempre foi muito amorosa e se
orgulhava ao dizer que conseguia ver a aura das pessoas e
as conhecia por dentro só de as olhar, vê-la tratando Théo
daquela forma me dava mais segurança em confiar nele.

Depois do Théo, ela se virou e respeitosamente


cumprimentou aos pais dele, que ainda me olhavam como
se eu fosse um milagre.

— Desculpem o atraso, peguei um pouco de trânsito.

— Chegou na hora certa. Quer beber alguma coisa?


— Théo perguntou.

— Aceito.

Ele serviu a minha avó enquanto ela e os pais dele


conversavam sobre como a cidade se encontrava com o
trânsito cada vez pior. Théo pegou a minha mão e pousou
um beijo no dorso o que chamou a minha atenção e eu o
encarei com um sorriso.

Quando a conversa amenizou, dei um jeito de


disfarçar a minha confusão e perguntei a minha avó:

— A senhora aqui, Vó?


— Senhor Theodoro, com licença, está tudo pronto.
— Uma mulher muito bonita, vestida de chefe de cozinha
apareceu na sala e avisou toda sorridente interrompendo a
resposta da minha avó, que apenas me lançou um sorriso
suspeito.

— Vamos para a mesa? — Théo perguntou.

Seguimos para a mesa de jantar e eu parecia um


robô, tentava me manter simpática e de pernas fechadas
para nenhum vento mostrar minhas partes aos pais do meu
namorado na primeira vez que eu os vi. Seria traumático.

Eu sorria, mas aquilo parecia... estranho e me


perguntava se dormi e estava sonhando.

— Mas nos contem, como se conheceram?

Théo sorriu.

— Foi amor à primeira vista. Assim que vi Tábata em


um restaurante eu me apaixonei.

— Ele me ajudou no elevador, porque tenho medo.


Foi muito acolhedor.

— Que lindo! — Sua mãe sorriu para mim. — Bom,


isso, esse jantar, me parece quase como um sonho, algo
quase como um milagre. Theodoro nunca nos apresentou
uma namorada.

Pensei que pelo menos eu não era única que pensava


estar sonhando.

Só então me dei conta de que eu estava conhecendo


seus pais e assim nosso namoro começava a ficar sério. Um
frio que começou na barriga tomou meu corpo e era uma
sensação boa.

Olhei para ele, que sorria.

— É que nunca apareceu uma que valesse a pena.

— Minha neta realmente vale muito. Espero que você


não a magoe.

Théo me olhou e engoliu em seco.

— Eu também espero. Não vou me perdoar.

Houve um silêncio e todos nos olhamos, por mais


louco que pudesse parecer, tive a impressão de que ele quis
dizer algo nas entrelinhas, mas de imediato entendi que era
meu medo de me envolver falando mais alto.

Entre risos e conversas sobre nós dois o jantar seguiu


de maneira agradável. Conforme o tempo foi passando, o
meu desconforto de estar com nossas famílias passou e
entendi que era uma coisa natural, eu precisava conhecer
os pais dele se estávamos namorando, só não entendia o
motivo dele não ter me contado e combinado direito
comigo.

Provavelmente Théo, em pouco tempo, já me


conhecia para saber que eu ia fugir daquela reunião.

Ao final do jantar voltamos a tomar vinho na sala,


menos eu por conta dos remédios, e tudo seguia muito
bem. Minha avó e os pais de Théo eram melhores amigos,
conversavam sobre vários assuntos e riam como se
conhecessem há anos.
Até que em certo momento vi um meneio de cabeça
discreto do meu namorado para o pai e ficando em pé, ele
respirou fundo e começou a falar:

— O que vou fazer agora, parece loucura,


considerando o tempo que conheço a Tábata. — Ele me
olhou e parecia verdadeiramente nervoso. — Mas,
conversando com essas pessoas que nos amam e que pelo
visto são mais loucos que eu, tomei uma decisão.

Ele riu e eu ri juntando as sobrancelhas em


desentendimento. Não sabia se de nervoso ou de
divertimento, mas eu ria.

Não entendia direito o que meu namorado maluco


estava fazendo, na verdade, entendia, mas pensava que
não podia ser realmente o que passava pela minha cabeça.

— Então, depois de muito analisar. Por uma noite. —


Todos rimos. — Sei que vou mesmo parecer um maluco,
mas serei ainda mais se te deixar escapar, então... — Théo
se ajoelhou na minha frente, tirou uma caixinha do bolso da
calça e me ofereceu um anel. — Tábata, aceita casar
comigo?

— Meu Deus! — Levei as mãos à boca e meus olhos


se arregalaram.

O mais absoluto silêncio ocupou o espaço e todos


esperavam ansiosamente a minha resposta. Fitei cada um e
parei o olhar por tempo demais na minha avó, que sorria.

Não sabia o que responder. Era tudo tão recente.


Respirei fundo e soltei o ar como se esse gesto pudesse me
trazer clareza.
Até que pensei que se aquelas pessoas, mais velhas
e com mais experiência de vida, não pensavam que aquilo
era uma loucura, então, quem era eu para não ser
inconsequente?

E depois, o que podia acontecer, dar errado? Se fosse


o caso era só cada um seguir sua vida, ao menos daquela
forma rápida economizávamos tempo e saberíamos de uma
vez se ia dar certo.

Voltei meu olhar para Théo e um letreiro brilhante


com o sim gigante brilhava em meu coração. Eu gostava
dele, tinha me apaixonado a cada dia ao seu lado e era
difícil ser diferente com a forma como vinha me tratando,
então, sendo completamente irresponsável e deixando o
sentimento falar por mim, respondi:

— Aceito.
Capítulo 20
Théo
Porra! Ela aceitou!

Fiquei de pé e a ergui em meus braços enquanto ela


segurava o vestido para não voar, depois a beijei e por fim
coloquei o anel em seu dedo.

A nossa volta meus pais e sua avó aplaudiram felizes


e quando eu pensava o quanto foi difícil convencê-los de
aceitar que eu pediria a minha namorada em casamento,
depois de menos de uma semana de conhecê-la, eu
respirava por estar vivendo aquele momento.

No dia anterior deixei Tábata sozinha no meu


apartamento e fui primeiro atrás da sua avó. Garanti que
faria a sua neta feliz e que seria um bom marido. Quando
ela perguntou se meus sentimentos eram verdadeiros eu
disse um grande sim, deixando de lado a parte de como
tudo começou.

Depois segui para os meus pais, precisava confessar


que eu ficaria feliz se eles aceitassem comparecer, mas se
não estivessem lá, eu sempre fui muito independente e
faria mesmo assim.

Para a minha surpresa ambos ficaram radiantes. Eles


sempre disseram que chegaria a hora que eu tomaria juízo
e formaria uma família. Eu era filho único, então sonhavam
que eu aumentasse o clã dos Medinas e os desse netos,
mas isso ainda ia demorar.

No caminho de volta, me lembrei da aposta e só


então ela me veio à cabeça como algo secundário. Sorri,
porque no fim, ela serviria para além de dinheiro, mas para
fins mais lucrativos que era me dar uma família. Algo que
antes da noite no restaurante com o Roger eu nem sequer
pensava, mas que meus pais me mostraram que era o
melhor negócio.

Depois do pedido, não demorou até que


encerrássemos a noite e nossas famílias fossem embora.
Partiram entre desejos de felicidades e sorrisos animados
com a festa de casamento.

— Festa de casamento. Temos mesmo que ter isso?


— Tábata perguntou assim que ficamos à sós.

— Você não quer uma festa?

— Ainda estou analisando esse pedido repentino.

Ergui uma sobrancelha.

— Não pode voltar atrás.


— Por quê? Não assinei nada ainda, você não perde e
nem eu. — Fiquei sério e talvez por omitir a verdade eu
sempre sentia que ela desconfiava.

Tábata me analisou e eu começava a sentir medo de


que descobrisse sobre a aposta e ficasse irritada comigo.
Claro que ficaria. Não entenderia o quanto homens podem
ser imbecis quando estão juntos, ainda mais com umas
bebidas na cabeça.

— O que você tem? Ficou sério.

— Eu?

— Sim, você fechou o cenho quando falei sobre


perder. Se é pelo contrato de casamento, fica tranquilo, não
quero nada do que é seu e se vamos mesmo fazer isso,
acho melhor ser com separação total de bens. — Forçou um
sorriso e ia se afastar, mas a puxei para os meus braços.

— Não é sobre isso, nem sequer pensei sobre você


desejar algo que é meu. Eu só... — Apertei meus lábios e
desviei o olhar do dela, procurando o que dizer. — Fico
imaginando o quanto a vida com você vai ser perfeita.

Pousei um beijo em sua testa.

— Você não parecia nada satisfeito.

— É que fico nervoso com a possibilidade de não te


fazer feliz. Era nisso que eu pensava, se vou conseguir
manter nossa vida tão boa quanto esse momento.

Ela me analisou por um pequeno instante e talvez fui


tão sincero, porque era real o medo, que ela pousou um
beijo casto nos meus lábios.
— Você vai conseguir. — Pensou um pouco. — Ainda
que isso pareça muito irreal e eu esteja me sentindo como
em um sonho, me sinto feliz.

Sorri.

— Você também é meu sonho bom e ando morrendo


de medo de acordar.

Tomei seus lábios em um beijo possessivo e


imediatamente minhas mãos exploraram seu corpo com
delicadeza por cima do tecido fino do vestido.

— Você ficou linda com o meu presente.

Sorriu com malícia, colou seus lábios aos meus e com


eles ainda muito perto desceu minha mão até a barra do
vestido e a deslizou por sua coxa, chegando com ela até sua
abertura nua, me fazendo a encarar com surpresa.

— Presente para você também. Você disse que


prefere sem.

— Tábata... Todo esse tempo você estava assim?

Ela assentiu e riu divertida.

— Quando você me ergueu depois do pedido quase


tive um piripaque.

Abri um enorme sorriso me divertindo com sua


ousadia.

— Você anima a minha vida e cada vez mais tenho


certeza de que aquele dia no bar foi o meu melhor negócio.
— Não a deixei falar, a peguei no colo e a deitei no sofá.
Beijei sua boca com desejo, desci com mais beijos
pelo pescoço, depois decote e cheguei à barra do vestido, o
jogando para cima da barriga e liberando aquela boceta
linda que me dava água na boca.

— Théo, as funcionárias da cozinha. O que vai fazer?


— Tentou abaixar o vestido.

— Estamos sozinhos e vou aproveitar meu presente.

Sem deixar que ela dissesse mais uma palavra, calei


sua boca chupando seu ponto mais sensível e a fazendo
arquear o corpo e gemer.

— Théo...

— Isso, geme meu nome.

Enfiei dois dedos para dentro dela e voltei a chupá-la


enquanto a fodia com eles, a sentindo se encharcar com o
meu toque, se entregar ao prazer causado por minha língua
e pedir por mais enquanto seus dedos se embrenhavam em
meus cabelos.

Sim, era aquilo que eu queria para a minha vida e


nada me pararia. Ela seria minha.

Quando Tábata se derreteu em tremores na minha


boca pressionando meus dedos, eu desabotoei a minha
calça e a preenchi. A penetrei fitando seus olhos com desejo
evidente e a preenchendo com estocadas ritmadas,
também gozei fitando aquele rosto perfeito, como se eu
quisesse guardar cada momento na memória.

Mais uma vez decidi não pensar mais sobre a aposta,


não contar e só viver meu romance com Tábata. Entretanto,
em um rápido pensamento que não pude controlar, o medo
de não cumprir a aposta ficou pequeno perto do desespero
de perdê-la.
Capítulo 21
Tábata
Acordei no dia seguinte e Théo não estava na cama.
Andei pelo apartamento, já conseguindo me movimentar
melhor e dispensando as muletas.

Pensava que nunca precisei delas e comprá-las foi


um grande exagero do meu... noivo. Sorri ao pensar nele
nesse cargo.

Fui até o escritório e o encontrei lá, concentrado e


olhando para o computador. Parecia conversar por chamada
de vídeo e como não me notou, achei melhor o deixar
trabalhando.

Fui até a cozinha e preparei o café da manhã,


enquanto aproveitava para conversar com a minha avó por
chamada de vídeo.

— Vocês dois deviam ir — disse nos convidando para


a festa da igreja que seria dali há alguns dias.

— Ah, não sei se Théo ia gostar desse tipo de


programa.

— Se você não o convidar nunca vai saber. O


primeiro passo para um casamento saudável é a conversa.

Sorri.

— Não acredito que vocês apoiaram essa loucura.

— Minha filha, antigamente os casamentos eram


para sempre e o divórcio sim que era uma loucura, por isso
se namorava por anos até ter certeza. Hoje em dia, se as
pessoas se gostam e querem dividir mais tempo juntas,
casem-se de uma vez. Para que perder tempo em casas
separadas? Se não der certo, que se separem depois.
Graças a Deus não tem limite de vezes para se casar e essa
fase que vocês estão é a mais gostosa do relacionamento.

Ri e pensando por esse lado, minha avó tinha razão.


Muito moderna.

— Como sempre muito certa no que diz.

— E então, vai o convidar para a festa na igreja?

— Vou pensar. Ainda mais que logo vou começar o


trabalho, posso estar cansada.

— Pelo amor de Deus, Tábata! Você é jovem. — Tive


que rir, porque como sempre ela parecia mais que eu.

— Vou pensar, Vó.


— E outra coisa, você vai participar do mundo dele,
então nada mais justo do que ele participar do seu.

— Tem razão. Vou falar com Théo.

Acabamos mudando de assunto e falamos sobre


vestido de noiva que ela disse fazer questão de me dar. Eu
ainda tinha minhas dúvidas sobre festa e toda a cerimônia,
mas ver a animação da minha avó, quase me contagiava.

Depois de desligar a chamada com dona Emília


terminei de fazer o café, coloquei a mesa e ainda que me
sentisse um pouco envergonhada em mexer nos armários
do Théo, eu precisava começar, porque éramos noivos.

Noivos... Suspirei de novo ao pensar.

Balanceia a cabeça em negativa e sorri para


esquecer meu novo status de relacionamento.

Esperei que ele aparecesse, mas Théo demorou e


mesmo não desejando ser invasiva, andei quietinha até o
escritório na intenção de ver se ele já tinha acabado a
reunião e não querendo atrapalhar o que estava fazendo, no
entanto, assim que me aproximei o escutei falando um
tanto exaltado:

— Vamos esquecer isso de aposta e deixar como


sempre foi. — Juntei as sobrancelhas e sabia que era errado
ouvir conversas que não me diziam respeito, mas continuar
onde eu estava era mais forte que eu, principalmente ao
ouvir a palavra aposta.

Cogitei que Théo estivesse envolvido em algo ilegal e


se fosse o caso teria que conversar com ele antes de
qualquer passo mais sério na nossa vida, o que me lembrou
que eu tinha que saber mais sobre a vida dele.
— Eu não posso fazer isso com ela. — Ela?

Ele começou a se virar na minha direção e me


escondi, ainda que a curiosidade fosse grande de saber
quem era a “ela” eu precisava me recompor e não ser uma
bisbilhoteira.

Não consegui mais ouvir o que ele falava, mas


quando percebi que Théo desligou a chamada apareci na
frente da sala e sorri quando ele me notou.

— Bom dia, fiz o café.

— Você está aqui há muito tempo? Não te ouvi pela


casa. — Parecia sem jeito, o que despertou em mim a
desconfiança de que ele não queria que eu tivesse ouvido
sua conversa.

— Não, acabei de chegar. Te atrapalho?

— Nunca. — Andou até mim, passou o braço pela


minha cintura e me puxou para um beijo. Deixando-me em
dúvida sobre a minha desconfiança e até pensando que ela
era fruto da minha insegurança.

— Então... vamos tomar café? Você já tomou?

— Não, eu tinha uma reunião e precisei acordar cedo


e me preparar para ela.

— Ótimo! Tomamos juntos. — Tentei esconder as


minhas dúvidas, sorri e seguimos para a cozinha.

Ele se sentou na mesa que eu havia arrumado e


sorriu satisfeito.
— Desculpa por mexer nos seus armários. — Senti-
me tímida.

— Logo serão nossos. Inclusive, quando? Podemos


marcar o casamento para sábado?

— Sim, acho que uma cerimônia em um final de


semana, seria bom.

— Digo... esse sábado. — Ele não me olhou e eu


paralisei.

— Muito engraçadinho. — Sentei-me entendendo que


era uma brincadeira.

— É sério, se nós dois queremos, por que esperar?

Juntei as sobrancelhas o analisando.

— Théo, você é maluco! — Sorri ainda sem saber se


ele falava sério.

— Sou prático. Te quero na minha vida, na minha


casa, te quero todos os dias por perto e não vejo motivo
para esperar mais. Além de que quero te apresentar a uns
amigos, a alguns familiares também. Então, queria que
fosse como minha noiva.

— Está mesmo falando sério?

— Sim. — Ele não apresentava nenhuma dúvida,


nem um pingo de brincadeira e eu achava aquela pressa de
casar mais louca do que a ideia do próprio casamento.

— Sábado só vai ter... uma semana que nos


conhecemos.

— E o que que tem?


— Nem dá tempo de os papéis correrem. — Ri. — Ah!
Você está brincando e eu levando a sério.

— Não estou brincando, Tábata. — Seu semblante


sério entregava que era real. — Bom, sabe o que podemos
fazer? Uma festa como se fosse de casamento, um jantar.
Só uma simulação para quando for real.

— Pra que tanta pressa?

— Porque eu quero mostrar para todo mundo que


você é minha.

— Sou sua?

Esticou a mão e pegou a minha em cima da mesa.

— Minha.

Suspirei, pensei e ele perguntou:

— E aí, vamos? Quero muito te apresentar aos meus


amigos. Pensa que será mais como uma festa de
apresentação da mulher que será minha para sempre.

Repensei e como não teria valor legal e seria mais


como um jantar para que eu conhecesse seus amigos, até
gostei da ideia.

— Você é tão surpreendente.

— Prometo que sempre vou te encher de surpresas.

— Boas?

Notei seu sorriso vacilar.

— No que depender de mim sim. E aí, topa?


Umedeci os lábios em meio a um sorriso, ele sorriu
de volta e aí eu não conseguia dizer não fitando aqueles
olhos lindos.

— Sim, Theodoro.

— Meu nome fica sexy falado por você.

— Vamos tomar café, Theodoro?

Ele riu largamente.

— Provocadora.

— Eu? — fingi-me de inocente.

Vi seu maxilar se enrijecer.

— Só não te jogo em cima dessa mesa, porque quero


provar o café delicioso que você preparou.

Ri e pousei os braços na mesa.

— Mas depois do café posso falar seu nome mais


algumas vezes.

— Vou esperar por isso, Tábata. Tábata... nossos


nomes combinam, os dois começam com a letra T. Como
serão os dos nossos filhos?

— Meu Deus! Filhos?

— Tadeu?

— Você precisa ir com calma.

— Tércia?
— Pelo amor de Deus, um bebê se chamando Tércia.

— Taylor?

— Americano demais.

Ele riu.

— Viu, já está pensando comigo.

— Muito espertinho. Ah, e se um dia tivermos um


bebê, ele não terá nome com a mesma inicial que nós.

— Você acaba com a graça.

Ri de maneira feliz e era assim que eu me sentia


sempre que estávamos juntos: feliz. Mesmo falando sobre
algo tão doido quanto bebês quando fazia poucos dias que
nos conhecemos.
Capítulo 22
Tábata
Passei a quinta-feira em casa, na casa do Théo, que
ele dizia que eu precisava aprender a chamar de minha. Fiz
uma lista de convidados para o tal casamento e eu não
tinha ninguém para convidar. Só a minha avó.

Ao contrário do Théo que escreveu uma lista de


umas vinte pessoas, que definiu como as mais íntimas.

Antes dele sair para trabalhar, resolvemos como


seria a cerimônia e ele fazia questão que fosse como um
jantar de casamento, disse que seria uma forma de
ensaiarmos para o grande dia dali um tempo e para que eu
pudesse me acostumar com a ideia.
Quando acordei na sexta-feira todos os amigos e
familiares mais próximos tinham sido convidados,
confirmado a presença e no sábado, por mais estranho que
pudesse parecer, eu me via animada. O sentimento por
Théo crescia e tudo que era ligado a ele me deixava
encantada.

Na noite anterior, quando conversamos sobre a festa,


ele perguntou o que eu usaria e falei que pensei no vestido
azul que ele me deu, menti que era porque eu tinha gostado
muito da peça, para ser sincera eu realmente amei, mas o
motivo de eu usá-lo de novo, era que eu não tinha dinheiro
para um vestido novo naquele momento, ainda mais um de
marca, requintado a altura dos convidados abastados que
ele ia convidar.

Precisava guardar minhas economias até o momento


em que eu tivesse meu primeiro salário na Bela Maria
Cosméticos. Inclusive, ansiava pelo dia que eu começaria de
uma vez aquele serviço.

Evitava falar dele com Théo, quando eu me


estabilizasse ou até ganhasse confiança dentro da empresa
eu contaria, não naquele momento que eu ainda nem
sequer sabia se iam gostar do meu trabalho.

Quando acordei, um pouco cansada, mas saciada de


mais uma noite de sexo e carinhos do Théo, notei que meu
príncipe encantado não estava na cama e li uma mensagem
dele dizendo que ficou com pena de me acordar, mas que
eu não me preocupasse e dormisse o quanto precisasse que
teve que ir a empresa e já voltava.

Tomei um banho e segui para a cozinha, onde


encontrei com a funcionária que cuidava da casa.
— Bom dia — cumprimentei e eu me via morta de
vergonha.

Já havia me apresentado e conversado poucas


palavras com ela na minha primeira manhã na cobertura,
mas me sentia tímida. Seu nome era Maria e trabalhava
com Théo há muitos anos. Ele a dispensou nos últimos dias
para que tivéssemos privacidade de nos pegar pela casa
sem perigo de sermos flagrados.

— Bom dia, querida, quer que eu prepare o seu café?

— Não, agradeço, mas vou tomar só o café puro. —


Eu não era acostumada com alguém me servindo.

— Tudo bem.

Fui à cafeteira, me servi e sentei-me na banqueta


alta da ilha da cozinha, a observando limpar um armário ali
perto.

— Posso arrumar a mesa para que fique mais


confortável.

— Não, está ótimo aqui. Pelo que Théo me contou,


você trabalha com ele há muitos anos, né? — puxei assunto
para tirar de mim o foco.

— Ah, sim. — Lançou-me um sorriso. — Para mais de


dez anos.

— Ele sempre foi impulsivo assim?

Olhou-me e semicerrou os olhos.

— Não entendi.
Sorri, porque eu queria sondar se era verdade
mesmo que ele nunca havia levado alguém ali.

— Impulsivo, como por exemplo, decidir se casar


com alguma mulher tão rápido. Sabe que vamos nos casar?

— Ele me contou hoje, antes de sair. — Eu ri e pelo


jeito ele se via mesmo empolgado com o casamento. —
Quanto a outras mulheres, muito pelo contrário, nunca vi
nenhuma aqui, mas de uma coisa eu sei sobre o Théo, ele
sempre foi do tipo que quando quer uma coisa, é decidido.
Desde o primeiro dia que ele me falou de você que eu
soube que daria casamento.

— Falou de mim? — Juntei as sobrancelhas em


descrença.

— Sim, teve um dia que cheguei para trabalhar e ele


parecia ter virado a noite sem dormir, foi... — Parou de falar
e semicerrou os olhos pensando. — Na segunda-feira.
Quando cheguei ele me disse que ia sair, que estava indo
atrás de uma mulher muito... ele usou uma palavra
engraçada. Valiosa! Foi isso.

Sorri e lembrei dele me contando sobre ter


interceptado a minha avó logo de manhã.

Maria andou até onde eu estava e pegou a minha


mão.

— Sei que deve estar estranhando toda a pressa com


que ele está lidando com o relacionamento de vocês, mas
como falei, ele sempre foi determinado quando sabe o que
quer e ele te quer muito. — Senti-me tímida. — Claro que
deve ter dúvidas, mas eu confio na índole dele e sei que é
um bom homem. — Ela sorriu como quem aconselhava uma
filha. — Viva o momento sem pensar muito. O que posso te
dar certeza é de que antes nunca o vi tão interessado,
sorridente e feliz.

O sorriso que meu rosto abriu era o maior. Eu ia


responder, mas o interfone tocou, Maria atendeu e ao
desligar me avisou.

— Termine seu café. Théo te mandou visitas.

— Visitas?

— Estão subindo e vão te esperar na sala. Mas coma


alguma coisa antes. Quando saiu Théo me instruiu a cuidar
bem de você. — Balancei a cabeça em negativa e sorri por
ele ser tão protetor.

Comi uma fatia de bolo e após mais um copo de café,


ansiosa para saber quem eram as visitas, rumei para a sala
e me surpreendi ao ver duas mulheres sorridentes e uma
arara de vestidos brancos.

— Bom dia — cumprimentei meio receosa.

— Olá! Bom dia. — Uma delas andou até mim e me


estendeu a mão. — Sou especialista em vestir noivas e essa
é Tessália, minha ajudante. Theodoro nos contratou para
trazer o melhor para você escolher.

— Eu... escolher?

— Aqui. — Andou até a arara e eu a acompanhei.

Começou a me mostrar os modelos e me instruiu a


experimentar. Seguimos para o quarto do Théo e lá comecei
a sessão prova do vestido.
Tinham uns muito... “noivas”, que não era o que a
ocasião pedia. O jantar seria apenas uma espécie de
apresentação e ainda que ele quisesse muito que fosse
como um casamento, não era.

Eu não queria ter que usar um vestido daqueles,


deixaria para o dia do casamento de verdade.

— Eu gostaria de um modelo mais simples. Bem mais


simples.

— Ah, sim. É que como Theodoro me descreveu um


casamento, trouxe esses. Tenho um, que é bem diferente
dos que te mostramos.

Ela instruiu a ajudante a pegar a peça e me


apresentou um vestido comum e lindo. Era branco, liso, sem
bordados, rendas ou predarias, tinha o modelo tomara que
caia, rodado da cintura para baixo e ficava na altura do
joelho.

Eu simplesmente amei.

— É esse! — exclamei olhando para o espelho e


ainda que ela tivesse levado aquela opção, não parecia
muito satisfeita com a minha escolha.

— Ficou linda. Mas terá que colocar joias maiores


para dar um brilho de noiva. — Sorriu.

— Farei isso. — Claro que não faria. Eu só tinha


bijuteria e a única joia que eu possuía era um colarzinho de
ouro que foi da minha mãe e tinha um pingente de coração.
Ela havia usado no casamento com meu pai.

Pensando bem, não tinha preciosidade maior que


essa.
Após decidir o vestido ela me instruiu o sapato e
quando olhei a etiqueta com o valor das peças quase caí
para trás, mas antes que eu pudesse perguntar em quantas
vezes parcelava, talvez por ver a minha cara de pobre ela
garantiu que Théo tinha cuidado de tudo e naquele dia mais
tarde ela mandaria me entregar o vestido lavado, passado e
pronto para o uso.

Aquilo tudo era muito intenso e sempre que eu


pensava que me via prestes a me casar com um homem
lindo, que me tratava como uma princesa e ainda tinha
dinheiro o suficiente para me presentear com o que eu
quisesse, cogitava se era real ou um sonho.

Uma coisa era certa: se fosse um sonho eu não


queria acordar.
Capítulo 23
Théo
Era o dia do meu casamento.

Bom, não o casamento verdadeiro, mas Roger se


contentou com aquela pequena curva no combinado desde
que eu aceitasse diminuir a porcentagem do nosso acordo.
Segundo ele, era loucura da mesma forma encontrar uma
louca que aceitasse a minha proposta, então ele aceitaria
diminuir para um noivado se eu aceitasse diminuir o
percentual. Aceitei, porque cinco porcento já me deixava
acima dele.

Meu sócio não estava mais alegre quanto quando


fechamos a aposta, até pareceu irritado em demasia. Talvez
pensasse que eu não fosse conseguir e eu até cogitei que a
ideia não foi algo momentâneo, um acerto de amigos
bêbados e sim, preparado antes para que ele tivesse mais
poder do que eu. Porém, Roger era meu amigo há anos e
logo a desconfiança sumiu quando ele brincou dizendo que
eu ia mesmo me amarrar.

A noite caiu e eu me via uma pilha de nervos para


receber as pessoas mais próximas para o jantar. Convidei
um casal de amigos, dois tios que eu gostava muito e suas
esposas e meus primos, os casados com as famílias. Eu era
o único solteiro e todos pareciam ansiosos para conhecer a
mulher que me conquistou.

Os convidados eram apenas pessoas que eu amava,


já da parte da Tábata, ela convidou apenas a avó e disse
que não tinha ninguém mais que quisesse tanto naquele
momento.

Meus pais se viam em um misto de sentimentos,


horas diziam que eu estava indo rápido demais e em
seguida que era bom ser assim, porque não tínhamos
tempo a perder.

Dona Emília começava a esboçar uma certa


preocupação. Quando no dia anterior deixei Tábata
experimentando o vestido e passei na casa da sua avó para
pegar o colar que me pediu, a senhorinha que sempre foi
muito simpática, daquela vez me avaliava de maneira
suspeita. Na verdade, eu pensava que eu que me sentia
culpado e a via me observando assim.

Perdi o sono durante a noite, porque pensei e


repensei na maneira como tudo começou e eu só desejava
tê-la conhecido de outra forma e assim não precisar guardar
um segredo.

Respirava fundo e soltava o ar fechando os olhos


quando pensava o quanto tudo daria errado se ela
descobrisse.

Fui muito canalha e seguia sendo, mas não sabia


como deixar de ser e perder tudo, a maldita aposta e a
bendita mulher por quem me apaixonei. As duas se uniam.

Meus convidados começaram a chegar e uma música


calma e serena, tocava ao fundo das pessoas conversando
na minha sala e para agradá-la pedi que a playlist fosse
toda do Shaw Mendes e Never be Alone tocava naquele
momento. Eu começava a gostar daquele cantor. Era
incrível como mudei meus gostos e curtia muitas diferentes
coisas depois que Tábata apareceu.

Enquanto eu estralava meus dedos, vestido com uma


camisa social branca de mangas longas, calças e sapatos
pretos, quase como um noivo descolado, eu a imaginava
entrando na sala e se exibindo ainda mais linda do que
sempre.

Eu não via a hora de vê-la. Ela se arrumava no


quarto e eu não pude vê-la durante todo o dia, por isso me
via ansioso.

Na sala tudo foi preparado para a sua entrada como


que em um casamento, ela entraria depois e faríamos a
cerimônia.

Contratei uma pessoa para organizar aquela


pequena simulação e ainda que minha noiva dissesse que
era demais, quando eu me propunha a fazer algo tinha que
ser impecável. Foi assim que consegui minha fortuna.

— Nervoso? — Dona Emília se aproximou de mim,


vinda do quarto, o que me dizia que logo Tábata viria
também.
— Um pouco.

— Fica tranquilo, ela está ainda mais linda do que


sempre. Não vai te envergonhar na frente dos seus amigos
e familiares.

Olhei para a senhora que sempre me tratou bem e


pela primeira vez a senti um tanto... arredia.

— Tenho certeza de que não, o meu medo é que eu a


envergonhe. — Sorri.

— Algum motivo para esse medo? — Ela parecia me


ler.

— Não. — Engoli em seco.

— Então é só vocês serem felizes. — Assenti,


observei a sala e ela completou: — Faça a minha neta feliz,
Théo. Você conseguiu algo que eu nunca imaginei, ela
nunca se abriu dessa forma para ninguém. Tão rápido a
ponto de aceitar isso.

Entendi que ela se via incomodada com a cerimônia.

Engoli em seco.

— Eu prometo que Tábata será a mulher mais feliz do


mundo — Eu ia dizer mais, porém, a cerimonialista
apareceu, ergueu uma taça e com algumas batidas de leve
para chamar a atenção dos poucos convidados, começou:

— Boa noite a todos. Hoje estamos aqui para


celebrar. — Olhei em volta e ouvi risadas e olhares faceiros
em mim. — Segundo o noivo a vida é curta demais para
perder tempo e se torna ainda menor quando a companhia
é a melhor. Então... vamos receber a noiva.
A música aumentou e quando fitei o corredor meu
coração pulou uma batida. Usando um vestido branco e
parecendo sem jeito, Tábata apareceu e conseguiu ficar
ainda mais linda do que sempre foi. Seu cabelo estava preso
em um coque com alguns fios soltos, usava uma
maquiagem de noiva e sorria feliz. Por mais que parecesse
clichê, era real, seu sorriso era o de mais lindo que usava.

Não estava de óculos e eu até senti falta deles.

Segui até ela e quando me aproximei passei meu


braço por sua cintura e a puxei para perto para beijar seu
rosto, em seguida sussurrei em seu ouvido:

— Você está linda. Maravilhosa.

— Você me paga por me fazer passar por isso,


Theodoro.

— Não fala meu nome que você sabe o que me


causa. — Ela sorriu cheia de malícia.

Seguimos até ao centro da sala onde a cerimonialista


estava e por onde olhávamos tinha flores. Instruí que
deixassem tudo como se fosse mesmo um casamento e tão
bonito quanto. Se eu deixasse para Tábata escolher ela diria
que não era preciso.

Eu a olhava como um bobo quando ouvi a voz da


cerimonialista.

— Bom, quando fui convidada para organizar e


celebrar esse jantar e me contaram a história do casal, me
senti radiante, porque nunca vi algo tão original. — Algumas
risadas ecoaram. — Hoje, nessa reunião, alguns vão
conhecer uma amiga, ganhar um neto ou um novo membro
para a família e aposto que todos, inclusive os noivos, se
perguntam como chegaram tão rápido a esse momento.

Mais risadas ecoaram pela sala e olhei para Roger


que ergueu seu copo em minha direção e irritado desviei o
olhar para continuar a ouvir a cerimonialista.

— A resposta é simples: o amor. — Engoli em seco,


porque aquela palavra, a pequena palavra que ela usou,
bateu forte dentro de mim e suspirei para conter a confusão
que ela me causava. Era cedo para amar a Tábata? A
cerimonialista continuou a falar e respondeu minha
pergunta: — Ah, mas amor tão depressa? Precisam mesmo
fazer tudo tão rápido? E eu fui em busca das respostas.
Encontrei algo sobre os mulçumanos, que se casam sem
namorar porque namoram depois do casamento, ao
contrário de nós que namoramos para casar, não como eles,
porque são situações diferentes, mas me inspirando nessa
relação, digo que Theodoro e Tábata encontraram o amor e
querem bagunçar a ordem que normalmente seguimos.
Querem se casar depressa para namorar o resto da vida.
Afinal, o amor não tem regras, não é normal e não tem
ordem. — Houve uma comoção de aplausos. — Agora, sem
mais questionar o tempo e a ordem das coisas, ergam suas
taças em um brinde e vamos comemorar o novo casal que
se forma. Um brinde aos noivos!

Assim os convidados fizeram e eu puxei Tábata para


um beijo, ouvindo os aplausos ao fundo.

— Meu coração está saindo pela boca. Estou


repensando o casamento de verdade — sussurrou e ao
pegar sua mão notei que estava gelada.

— Tarde demais, eu adorei e vou contar os minutos


para ser real e você ser realmente a senhora Tábata Medina.
Ela ia fazer uma réplica provavelmente me
desafiando, mas a música aumentou e fomos interrompidos
por meus primos que se aproximaram para conhecer a
mulher que tinha me fisgado.

— Quando soubemos que nosso primo solteiro


convicto tinha sido fisgado nem acreditamos e
precisávamos conhecer quem era essa mulher tão especial.
Muito prazer, sou Pete, primo do Théo — Peterson, um dos
meus melhores amigos além de primo, se apresentou.

— Nada de especial. — Ela pareceu sem jeito e o


cumprimentou.

— Muito especial. — Puxei-a para perto. Pete era um


mulherengo incurável e quando notou a minha
possessividade ele riu.

— Oi, eu sou Carla e esse é meu marido Vitor. Sou


prima do Théo. — Carla era quase como uma irmã e quando
se casou eu ganhei um irmão também. — Se precisar de
uma aliada contra ele, me candidato.

— Aceito. Como pode ver, não tenho muitas. — Deu


de ombros, mas sorriu e percebi que seu jeito discreto
agradou minha prima. Não tinha como não se apaixonar por
Tábata.

— Vem comigo, vou te apresentar a minha mãe. Ela


vai te adorar. — Carla foi puxá-la dos meus braços, mas eu
a parei e dei um beijo delicado em sua bochecha. — Meu
Deus, como ele tá na sua.

Ri para a minha prima e fiquei olhando as duas se


afastarem.
— E aí, gostaram da mulher que pegou nosso
solteirão aqui. — Roger se aproximou, deu dois tapas de
leve nas minhas costas e eu sorri.

— Ela parece ser bem gentil — Vitor falou e eu a


olhei interagindo com a minha tia.

— Gostei dela também. Escolheu bem, primo — Pete


me cumprimentou.

— Eu sei. — Olhei-a mais um pouco.

— Para de babar. Você não consegue tirar os olhos


dela. — Ri e Pete tinha razão.

— Na verdade, eu vou colher os louros dessa


escolha, porque se hoje está acontecendo tudo isso, é
graças a mim — Roger disse convencido, eu parei de sorrir e
o encarei.

— Não se atreva.

— O que está acontecendo? — Vitor perguntou.

Eles eram amigos do Roger também e vez ou outra


saíamos juntos.

— Eu que o instiguei a conhecê-la.

Porra!

— Você? — Pete perguntou.

— Sim. Fizemos uma aposta.

— Cala a boca! — exclamei um pouco mais alto e


olhei em volta para ver se alguém ouviu. Ninguém. Mas
quando olhei para frente, Tábata me lançou um sorriso
apagado que fez um frio percorrer a minha espinha.
Capítulo 24
Tábata
Pensei que ia ser pior, mas eu estava gostando do
jantar. Eu tinha conversado com um casal de amigos de
Théo, os primos e os tios, outros amigos, o sócio Roger e eu
me via encantada com a recepção.

Tinha uma impressão de que já tinha visto o sócio


em algum lugar, mas puxei na memória e nada me veio.
Cogitei que eu pudesse só ter visto alguém parecido. Ele era
bonitão, nem perto da beleza do meu Théo, mas era
agradável, pele morena e olhos expressivos. O que me
incomodava era que o tal Roger me olhava de um jeito
estranho, que eu não sabia decifrar, por outro lado pensei
ser só impressão minha, não tinha motivo para ele me
observar com algum problema.
Minha avó interagia com a família dele e eu me
sentia satisfeita com o modo com que eles a receberam,
até... conversar com a tia Eleonor. Pelo visto ela era a parte
insuportável da família.

Não parava de falar de viagens, carros, cargos e tudo


que ela podia ostentar e que eu não tinha. Olhei na direção
do homem que me fazia aguentar aquela tia chata e o
lancei um sorriso apagado.

Estranhei seu semblante sério, mas ele me deu um


meneio de cabeça e imaginei que, assim como eu, ele podia
ter alguém ali o irritando.

Pedi licença para a mala Eleonor e segui até a minha


avó, como um pedido de socorro, que graças aos céus se
encontrava sozinha

— A tal da Eleonor, certo? — dona Emília me lia como


ninguém e notou o meu pedido de ajuda no olhar.

— Certo. Ela parece que quer esfregar na minha cara


o quão insignificante eu sou perto do seu sobrinho
preferido, multimilionário, bem-sucedido e bom demais para
mim.

— Não entra nessa pilha errada, minha filha. — Tive


que rir.

— Pilha errada, Vó?

— É quando...

Ri mais.

— Eu sei o que é pilha errada, só ainda estranho o


quanto a senhora é moderninha.
— Sei lá, nunca sei quando você realmente sabe ou
não. — Deu de ombros e deu um gole no seu vinho. — Isso é
bom. Dinheiro é bom, filha, olha o vinho de qualidade que
ele paga. Não cai na da tia bruxa, você não tem, só que não
deixe que o dinheiro seja um empecilho, mas um bônus.

Ri divertida e balancei a cabeça em negativa. Ela


sempre me fazia rir quando eu me via pra baixo.

— Obrigada por estar aqui. — Abracei-a.

— Não tem outro lugar onde eu queria estar.

Fiquei observando o espaço e a sala estava linda,


cheia de flores e cheguei à conclusão de que Théo tinha
bom gosto. Soube por minha futura sogra que ele quem
escolheu tudo. Ri. Muito controlador.

Eu gosto quando ele me controla na cama, amarra as


minhas mãos e me...

— Por que está sorrindo? — Olhei para a minha avó.


— Está feliz?

— Muito. — Omiti que me via pensando


semvergonhisse no meio da festa.

— Então a tia chata não será problema e se ela te


intimidar ou diminuir, não deixe, lembre-se que você vale
muito para mim e o sobrinho dela que é sortudo em te ter.

— Obrigada, Vó.

Meu olhar cruzou com o de Théo e ele parecia


preocupado, quando eu pensei em me aproximar e
perguntar se algo estava errado, a cerimonialista anunciou
que era hora do jantar e seguimos para a parte reservada.
Uma mesa ainda maior do que a que já tinha na sala
de jantar da cobertura foi instalada para o momento,
decorada de maneira requintada e com louças que valiam
tanto que o meu lado desastrado chorava e tremia de medo
de derrubar uma daquelas taças, pratos e afins.

Ao contrário do que pensei, que o Théo que


ocuparia a cabeceira da mesa, foram colocadas duas
cadeiras e sentamos lado a lado. Na realidade, eu não sabia
se isso era bom, porque assim eu encararia todos de frente
e eu sentia vontade de me esconder o quanto pudesse,
principalmente da tia Eleonor que se via a poucas cadeiras
de distância.

— Você está bem? — Théo perguntou para que


apenas eu escutasse, enquanto um dos tios contava uma
história qualquer.

— Sim.

Ele riu malicioso.

— Espero ansioso, que como no outro dia, tenha uma


surpresa para mim sob o vestido. — Lembrou a falta de
calcinha do outro dia.

— Hoje não. Estou usando todas as peças.

— Não é problema, sempre posso tirar ou rasgar e a


usar para te amarrar.

— Théo... — chamei sua atenção, porque éramos


fitados por tia Eleonor e eu sorri para ela disfarçando a
vergonha, enquanto apertava as minhas pernas para conter
o desejo que me atingiu ao imaginar a cena que ele pintou.
Por mais que eu me sentisse nervosa, o jantar foi
tranquilo e divertido. Histórias que os pais contavam sobre
Théo e minha avó contava sobre mim quando pequenos nos
fizeram rir e descobri que tínhamos muito em comum,
inclusive a peraltice.

O jantar corria bem e eu me sentia feliz, mas claro


que quando uma pessoa gostava de ser inconveniente se
fazia assim em qualquer situação e a tia Eleonor conseguiu
estragar o clima bom.

— E você conseguiu uma mulher mais jovem, isso é


bom, Théo. Só toma cuidado.

Vi o sorriso dele se apagar.

— Com o quê?

— Com o futuro, meu filho. Claro que não é o caso da


nossa futura noiva, mas tem sempre uma novinha atrás de
um empresário de sucesso.

Théo ia responder, mas eu tomei a frente e plena,


com um sorriso no rosto, falei o que eu pensei a noite toda.

— Claro que não é o meu caso, porque para mim o


que importa em uma pessoa é o caráter, como sou tratada,
se ela é verdadeira e não o dinheiro ou casa, carro ou o que
quer que seja que ela possua. Além de eu não ser uma
novinha qualquer, sou formada, trabalho e o dinheiro do
Théo é algo que nem sequer penso.

— Mas isso é algo que não podemos negar que


atraia, não é mesmo, querida? — Sorriu, deu um gole em
seu vinho e seu filho ao lado chamou sua atenção com um
“mãe” discreto.
— Bom, não para mim. Vivi minha vida toda de forma
simples, indo atrás do que eu desejava e trabalhando para
isso. Amo trabalhar e não precisei de outra pessoa me
auxiliando a conseguir meus sonhos que não a minha avó.
— Sorri e soprei um beijo para a senhora que me olhava
com orgulho. — Mas claro que isso sou eu, que preservo
mais pessoas e relações do que coisas e bens, nem todas as
pessoas são assim. Tem muitas como a senhora, que se
atraem pelo dinheiro.

Ela ia dizer algo, mas Pete ergueu sua taça e puxou


um brinde:

— Um brinde a isso. Que preservemos as relações


sobre ganhos e bens. — Com um sorriso enorme ergui
minha taça e encarei Théo que parecia desconfortável, até
pensei que tivesse o irritado por responder sua tia, mas
ainda que parecesse sério, me surpreendi quando ele me
deu um beijo na bochecha e sussurrou no meu ouvido:

— Você é maravilhosa. Por isso me sinto assim.

Como ele se sente?

Foi a pergunta que passou na minha cabeça e pensei


que se Théo estava com tanto sentimento quanto eu, era
certo afirmar que naquele momento nos amávamos. Porque
eu havia passado do estágio apaixonada e por mais que não
quisesse assumir, eu achava, quase que com uma certeza,
que o amava.
Capítulo 25
Tábata
Passamos o domingo em uma perfeita lua de mel,
comentando sobre o nosso jantar e rindo de tudo que
aconteceu, principalmente sobre o “fecho” que dei na tia
Eleonor.

Na manhã daquele dia ele parecia mais leve,


enquanto na noite anterior depois que todos foram embora,
o notei silencioso e pensativo demais. Por vezes pensei que
ele queria me dizer alguma coisa e até cogitei um
arrependimento de tudo. Afinal, as palavras da tia podiam
ter um efeito real.

Eu era mesmo muito inferior a ele no quesito


dinheiro, mas em todo resto éramos iguais e eu não ia
permitir que ninguém me fizesse sentir o contrário, por mais
que uma mudinha de insegurança tivesse sido plantada
dentro de mim.

Contudo, quando o perguntei o motivo do seu


silêncio e cogitei o arrependimento, ele ficou surpreso com
o meu questionamento e me mostrou com carinho e
atenção que amava me ter por perto e que só estava
cansado.

Durante o dia o vi negar algumas vezes a chamada


do seu amigo Roger, o que me fez pensar que eles tinham
se desentendido e esse fosse o motivo para o seu silêncio.

No jantar comprovei minha suspeita sobre esse


amigo me olhar de forma curiosa, me observava como se
me analisasse e durante a noite até tive que me esquivar
dele algumas vezes e pensei que talvez, Théo tivesse
pegado um desses olhares e chamado a atenção do amigo.

Eu amava seu jeito protetor e possessivo, a feminista


em mim dizia que eu não tinha que amar e dizer a ele que
eu era dona de mim, mas eu ficava molinha quando Théo
me trava como se eu fosse dele e sussurrava em meu
ouvido: você é minha.

Amava...

Por diversas vezes andava usando essa palavra a


coisas relacionadas a Théo, além de que senti vontade de
me declarar para ele tantas outras, dizer que eu já o amava,
mas pensava ser tão cedo que eu podia estar confusa e
concluía que não e no final guardava meus sentimentos só
para mim.

No meu interior eu pensava que se não era cedo


para casar, também não era para amar e eu o amava. Era
isso.

Além de comentando sobre o jantar, também


passamos o domingo desfrutando um do outro e não me
cansava da delícia que era me entregar a ele.

Na segunda-feira, cheio de carícias ele me acordou e


eu amava acordar daquele modo. Além de que não ia ser
hipócrita, me sentia bem em despertar naquele quarto
enorme e na cama que caberia uma família facilmente.
Quando as cortinas se abriam eu conseguia ver toda a
cidade abaixo.

Pronto para sair, entre beijos avisou que ia trabalhar


e que só voltaria à noite.

— Vou ficar o dia todo sem te ver?

— Semana passada tive que renunciar a algumas


reuniões para ficar com você e hoje as colocarei em dia.
Então caso precise de alguma coisa e eu não te atender de
imediato, assim que eu tiver um tempo te ligo.

— Não se preocupa, vou sobreviver a um dia sem


você.

— Só um dia, porque à noite te quero inteira para


mim.

— Em breve, eu que vou estar ocupada o dia todo no


meu novo emprego.

Ele ficou sério.

— Vou ter que te dividir com a sua profissão? Posso


sustentar a minha futura esposa.
— Pode, mas eu quero trabalhar.

Sorriu e deu um beijo no meu nariz.

— Já falei que pode trabalhar para mim.

— Não mesmo, meu CEO carrasco.

— Eu poderia te comer sobre a minha mesa.

— Você não é nada romântico.

— Então vou mudar minha proposta. Eu poderia te


comer sobre a minha mesa enquanto faço juras de amor.

Sorri.

— Melhorou e estou começando a gostar da proposta


de trabalho.

Ele riu satisfeito.

— Você com sua cara de menina doce, esconde a


grande safada que você é — Abaixou e me deu um beijo. —
Agora tenho que ir, mas à noite quando eu chegar, quero
saber tudo sobre esse emprego que você vai começar.
Quero saber se não tem nenhum CEO safado que vai dar em
cima da minha gata.

— Não se preocupe, o único CEO safado que tenho


na minha vida é você.

Pousou um beijo carinhoso na minha testa e nossa


conexão era incrível, como se vivêssemos juntos há uma
vida. Antes de passar pela porta e sumir do meu campo de
visão, deu mais uma olhada em minha direção e sorriu com
tristeza por ter que me deixar.
Fiquei sozinha pelo apartamento, conversei com
Maria na cozinha que mais uma vez me felicitou pelo jantar
que tinha sido muito bonito.

Eu não mancava mais, me sentia bem sem a bota


reparadora, por mais que Théo insistisse que eu tinha que
usar por mais tempo, que uma semana era muito pouco,
mas eu não achava necessário.

Depois do café andei pelo apartamento e entrei no


escritório dele, como uma boba, só para sentir um pouco do
seu perfume. Sorri ao me lembrar do seu olhar
compenetrado e trabalhando atrás da mesa, também
recordei sua voz grossa me dizendo que me comeria nela se
eu trabalhasse para ele.

Mordi o lábio e pensei que ele podia me comer sobre


aquela.

Eu tinha virado uma pervertida. Também quem podia


me culpar com aquele deus como noivo?

Segui até a cadeira e me sentei nela. Era confortável


e me imaginei fazendo amor com meu CEO super atarefado
sobre ela, ele jogando os papeis para o lado e me tomando
como o homem poderoso que era.

Sorri para a minha fantasia sexual e fiz uma nota


mental de dar essa ideia ao Théo depois.

Fiquei ereta na cadeira e passei a mão pelos papéis


na mesa, sorrindo para o quanto ele era organizado, peguei
um bloquinho e admirei sua letra. Tudo nele era lindo.

Suspirei e ia deixar a sala quando uma anotação


específica me chamou atenção. Em uma folha branca
estava escrita a seguinte lista:
Como conquistar minha garota em 10 dias:

1 – Mostrar que tenho interesse e fazer programas de


casal.

2 – A apresentar à minha família.

3 – Conquistar a família dela.

4 – Cozinhar para ela.

5 – Afastar o cuzão do vizinho.

Ri daquela lista e ele tinha feito mesmo tudo que


tinha nela para me conquistar, exceto interagir com o
Patrick. Cogitei que ele tivesse feito aqueles tópicos depois
de ter me deixado em casa após o chalé e ter me visto com
meu vizinho. Maria disse que ele parecia ter passado a noite
em claro no dia que a contou sobre mim.

Meu sorriso se abriu ainda mais e me diverti. Como


era organizado, tinha uma lista para me conquistar e tinha
me descrito como “minha garota”. Suspirei. Um fofo.

Pousei a folha onde estava e deixei o escritório com


um sorriso bobo no rosto. Théo era mesmo surpreendente.

No quarto liguei para a minha avó e conversamos por


algum tempo e ela me disse que o Théo gato miava pela
casa com saudade de mim.

— Terei que trazer vocês dois para morar comigo.

— Deus me livre! — ela exclamou de imediato e eu ri.


— Aqui é meu lugar, perto do baile da terceira idade e da
igreja que eu gosto de ajudar. Ah, falando na igreja, não
esquece que mês que vem tem festa na paróquia e você
tem que vir prestigiar. Você convidou o Théo?

— Ainda não.

— Tábata!

— Eu vou, pode confiar. Estarei no bingo com toda a


minha sorte. — Ela riu.

— Traz o Théo, porque estou doida para apresentar


esse homão para as meninas da igreja. Pensa ele chegando
com toda essa altura e chiqueza aqui. Elas vão desmaiar.

— Vó, já falei que não sei se ele gosta desse tipo de


evento, mas vou convidar.

— Muito bem. Agora preciso ir, porque tenho pilates,


à noite nos falamos mais.

— Tudo bem, boa aula.

Desligamos e era por volta das dez da manhã


quando pensei em tomar um banho e fazer alguma coisa da
minha vida. Definitivamente eu não servia para ser esposa
troféu de um milionário, começava a me sentir inútil.
Contudo, antes que eu me levantasse meu celular tocou e
ao entender fiquei ereta ao ouvir.

— Olá, Tábata, aqui é do RH da empresa Bela Maria


Cosméticos e estamos entrando em contato com você para
saber se pode comparecer à empresa hoje, para ocupar seu
cargo.

— Hoje?
— Caso esteja indisponível, pode ser amanhã, é que
como a funcionária teve que sair antes do combinado,
adiantamos o dia que começaria a trabalhar. Além de que,
os donos estarão aqui e eles gostam de conhecer
pessoalmente os novos funcionários que dividem a torre
administrativa.

— Eu... não, digo, sim, posso ir sim.

— Então te esperamos às treze horas.

— Combinado. Estarei aí.

Levantei-me e dei pulinhos de alegria, porque enfim


eu ia começar a trabalhar. Precisava da minha
independência financeira, ainda mais depois de ouvir a
bruxa Eleonor dar a entender que eu procurava o dinheiro
do Théo.

Antes de começar a me arrumar tentei ligar para ele


e avisar que eu ia precisar sair, mas seu telefone só chamou
e decidi ligar mais tarde, Théo me avisou que seu dia seria
cheio.

Analisei o que eu tinha levado comigo para o


apartamento, mas nada se encaixava à ocasião, nenhuma
que fosse adequada para ir ao meu primeiro dia de
trabalho.

Tomei um banho rápido, pedi um carro pelo aplicativo


e segui para casa. Fazia apenas uma semana que fui para o
apartamento do Théo, mas quando o carro parou em frente
ao meu prédio era como se fizesse meses que eu não
voltava ali.

Subi as escadas o mais depressa possível, mas com


cuidado, porque na minha mente eu conseguia ouvir a voz
do Théo me aconselhando a não apoiar no pé machucado.
Sorri.

Ao chegar no quarto andar entrei em casa e como


me avisou, minha avó não estava, mas Théo, o gato, se
embrenhou nas minhas pernas pedindo atenção e cheio de
saudade.

— Oi, Théozinho lindo da mamãezinea. — Peguei-o


no colo e o apertei nos meus braços ouvindo o seu ronronar.

Ele miou.

— Não, a mamãe não te trocou por outro Théo e fica


tranquilo que logo você vai ter um apartamento enorme
para bagunçar. Agora — Pousei-o no chão. —, preciso correr,
porque vou começar aquele trabalho que vou te dar a
melhor ração e todos os brinquedos que você quiser.

Andando a minha volta ele miou de novo.

— A mamãe também sentiu saudade. — Sorri ao


responder.

Como tomei banho antes, no meu quarto coloquei


uma calça social preta, com sapatos fechados de salto
também pretos, que por mais que eu pudesse ouvir meu
namorado brigando comigo por usar saltos, era preciso.

Vesti uma camisa branca de mangas compridas e ao


me avaliar decidi que estava bom ir de mais básico, assim
não erraria. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto e
passei uma maquiagem leve, depois, como que para fechar
o modelito, coloquei meus óculos e suspirei com um sorriso
de ansiedade pelo novo.
Quando fiquei pronta tentei mais uma vez ligar para
Théo para avisar que precisei sair, mas de novo só chamou.
Decidi não ligar mais e à noite eu o encontraria e contaria
tudo.

— Fofuxo, mamãe vai, mas volta para te ver.

— Miauuuuu...

— Também te amo. — Soprei um beijo para o meu


gato e saí porta afora com dor no coração por deixá-lo sem
mim.

Desci para a garagem e peguei meu carro capenga e


até dele eu me via com saudade. Era estranho que me ver
ali sem o Théo, parecia outra vida, um mundo paralelo, mas
que mesmo em outra realidade ele se via impregnado em
mim e eu não conseguia esquecê-lo e só pensava em o
contar animada sobre meu novo emprego.

Dirigi ouvindo minhas músicas favoritas e até Shaw


Mendes me lembrava ele. Sorri e depois que eu conheci
Theodoro eu sorria com muito mais frequência. Bendita a
noite que eu saí para beber aquele vinho.

Estacionei em uma das vagas para funcionários no


pátio da empresa e ao olhar o prédio imponente ao fundo,
todo em vidro e com cara de multinacional, eu sabia que
seria feliz ali. Desejava aquela vaga e eu era capaz de fazer
um bom trabalho.

Apresentei-me na portaria que possuía diversas


catracas eletrônicas que permitiam o acesso dos
funcionários e recebi um cartão magnético provisório de
entrada na empresa. O segurança me informou que já tinha
meus dados e cargo e disse que quando eu saísse pegasse
o cartão definitivo com ele. Lancei-o um enorme sorriso
feliz.

Após passar pelas catracas havia um saguão com


chão brilhoso, escadas rolantes e elevadores que levavam
para diversos setores da Bela Maria Cosméticos.

Pessoas bonitas, engravatados, barulho de saltos


altos e funcionários vestidos com o uniforme da empresa
transitavam por ali e eu observava tudo como se estivesse
vivendo um sonho. E era.

Logo de cara fiquei um tanto perdida, tentando


entender para que lado eu devia ir, até me situar e
encontrar a placa que indicava o setor administrativo.

Antes que eu pudesse seguir, uma moça simpática


se apresentou e conheci Aline, a que conversei pelo
telefone. Era bonita e todos ali pareciam ser, me recebeu
com alegria e enquanto seguíamos até a torre onde ficavam
as salas da presidência, financeiro e administração ela foi
me contando algumas curiosidades do lugar.

Eu conhecia pouco da empresa em si, ainda que


fosse minha vontade antiga de trabalhar ali, eu pesquisei
mais sobre salário, benefícios e a forma como os
funcionários eram tratados, não sabia nada sobre as
histórias, sobre os donos ou, por exemplo, que o nome Bela
Maria era uma homenagem as mães dos sócios.

— Entre os funcionários há uma lenda que diz que os


dois homenagearam as mães, porque nunca se casaram por
serem gays, outros dizem que os donos são mulherengos e
cafajestes.

— Dois opostos. Como em todas as lendas —


brinquei.
— Sim. Bom, eu acredito que ambos têm tanto
dinheiro que não têm tempo de se importarem com o que
os funcionários conversam sobre suas vidas pessoais.

— Concordo com você e desde que nos paguem


pelos serviços prestados não temos motivo para debater
sobre o que fazem de suas vidas fora daqui.

— Boa, garota! — exclamou divertida e eu sorri.


Gostei da Aline, ela me tratava com amizade e parecia
tentar deixar meu dia mais leve por ser o primeiro no novo
ambiente.

— Por qual motivo a funcionária que estava no meu


cargo antes saiu?

— Engravidou.

— Ah, então ela volta? — perguntei com medo da


resposta.

— Não, fica tranquila, o cargo é seu. Ela nos avisou


que não volta após a licença.

— Que bom.

A porta do elevador que pegamos se abriu no andar


e enfim respirei me libertando do medo de elevadores, não
deixando de lembrar que foi em um deles que tive meu
primeiro contato com meu Théo.

Quando pisei para fora do cubículo angustiante, eu


até me senti malvestida. De frente ficava uma sala ampla
em que algumas mesas estavam dispostas e nelas mulheres
trabalhavam. Muito bonitas também. Usavam uniforme da
empresa e eram maquiadas. Via-me simples demais e ergui
meus óculos com o indicador, como se o gesto pudesse me
deixar mais arrumada.

— Essas são as secretárias da torre. Tem a da


presidência, da administração, do financeiro e Patrícia será
a sua. — Apontou para uma moça com sorriso genuíno,
muito bonita também e tinha a pele morena e o cabelo liso,
até parecia ter saído de uma novela indiana. Apresentou-se,
tinha voz calma e pareceu muito prestativa.

— Muito prazer. Espero que possamos ser amigas


além de colegas de trabalho.

— Sim, seremos.

Juntas nós três seguimos até onde seria a minha sala


e em um corredor requintado com quatro portas, ela foi me
apresentando cada uma e me informou que de um lado era
o financeiro, do outro o administrativo e as portas duplas no
final do corredor davam para a sala dos presidentes da
empresa. Já a porta mais escondida na lateral da sala da
presidência era a que dava acesso aos banheiros daquele
andar.

No final do tour Aline indicou que Patrícia me


ajudasse com tudo que eu precisasse e nos deixou a sós.

Ainda que fosse a secretária, Patrícia entendia muito


do trabalho e me passou tudo que eu precisava saber.

Não era pouco trabalho e antes que eu pudesse


notar as horas passaram voando e o relógio marcava cinco
da tarde. Via-me morta de fome e de vontade de fazer xixi.

— Patrícia, será que não podemos dar uma pausa


rápida para eu ir ao banheiro? — Meu horário ia até as
dezoito, mas a minha bexiga não ia aguentar mais uma
hora sem ser esvaziada.

— Claro, me desculpa, acabei falando tudo de uma


vez como uma louca.

— Imagina, prefiro assim. Juro que é rápido.

Levantei-me e rumei para a porta, mas antes que eu


a abrisse, Aline apareceu me pegando de surpresa.

— Tábata, o outro sócio chegou, se estiver livre,


preciso te apresentar a eles.

— Claro. Mas será que eu posso só ir ao banheiro


antes? Estou muito apertada. — Fiz uma careta e ela riu,
meio tensa, talvez tivesse que me apresentar aos chefes
naquele momento e eu atrapalhava seu tempo. — Também
posso ir ao banheiro depois, não tem problema.

Ela olhou para trás como se espiasse a porta.

— Não... vá agora. Use o banheiro ao lado da


presidência que é o mais perto.

— Tudo bem. Não demoro. — Sorri como um pedido


de desculpas e ela abriu um pouco mais a porta e deu
espaço para que eu seguisse.

Passei por Aline e rumei até onde antes tinha me


instruído que ficava o banheiro. Usaria bem rápido e voltaria
para a sala. Sentia-me ansiosa para conhecer os
multimilionários donos da empresa, que pelo que eu pude
ver, eu ia amar trabalhar.

Por mais incrível que pudesse parecer, eu não estava


nervosa em conhecer os figurões donos daquele império, no
trabalho eu era uma mulher confiante. Eu amava a minha
profissão.

Andando devagar com o salto para poupar o pé ruim,


segui até a porta lateral a da presidência e quando ia abrir a
folha de madeira para entrar no reservado, como um imã
puxa o metal a minha audição capturou vozes alteradas
dentro da sala mais importante do prédio.

Parei com a mão na maçaneta e sem que eu pudesse


evitar dei um passo para o lado, onde notei a porta
entreaberta e consegui ouvir com mais clareza as vozes lá
dentro e para a minha surpresa, uma delas eu conhecia
bem: Théo.
Capítulo 26
Tábata
Por mais que parecesse errado e eu não tivesse
certeza se quem se encontrava naquela sala era mesmo o
meu Théo ou alguém com a voz muito parecida com a dele,
decidi correr o risco e bisbilhotar.

Eu sentia medo de ser pega por alguém, isso podia


acabar com a minha reputação logo no meu primeiro dia,
mas precisava saber se era ele quem estava nervoso ali.

Dei mais um passo e fiquei bem perto da porta


entreaberta, mas não coloquei a cabeça na fresta ou
podiam me ver. Provavelmente tinham esquecido de fechá-
la com mais cuidado, já que portas de empresas como
aquela, normalmente tinham vedamento acústico e se
estivesse fechada como deveria, podiam falar livremente
sem serem ouvidos.

— Eu não vou admitir suas gracinhas em relação a


ela. — O suposto Théo parecia muito irritado.

Ela? De novo o “ela”.

Mas o que ele faz ali? A voz é muito parecida para


não ser ele.

— Calma, amigo, nenhuma mulher nunca ficou entre


nós.

— Ela não está entre nós, você está colocando a


minha amizade à prova quando me provoca
insistentemente. — Esgueirei-me para mais perto da porta,
rezando para que ninguém mais decidisse ir ao banheiro e
eu pudesse ver o final daquela discussão.

— Ao invés de estar irritado por eu provocá-lo, devia


estar grato, é por minha causa que hoje você tem uma
mulher. — Eu mal respirava para ouvir.

Mulher? Théo tem uma mulher que disputa com a


pessoa com quem discute?

Eu reconhecia a outra voz, mas não sabia ao certo


quem era.

Meu corpo começou a formigar com a ansiedade de


saber mais sobre aquela história. Eu sentia medo de viver
uma mentira.

— Você parece sentir inveja do que eu tenho.

O outro homem riu.


— Não estou com inveja, mas era para ser só sexo,
Théo. Você levou a sério a história do casamento. Pensei
que eu fosse ganhar a aposta.

Meu coração acelerou e engoli em seco.

— Olha, vamos fazer assim, só para com esse anseio


de que todos saibam o que aconteceu para eu estar onde
estou. Você quer confete? Quer ganhar um prêmio por ser
responsável pela minha felicidade?

Precisava sair dali, alguém podia aparecer e me


pegar no flagra e eu não tinha que ouvir escondida, se fosse
mesmo o Théo era só eu o perguntar mais tarde.

Decidi ir ao banheiro e voltar para a minha sala, mas


antes que eu me afastasse, ouvi:

— Eu sei e você sabe que sou responsável, se não


fosse a aposta que fizemos no dia que conheceu a Tábata,
você nunca olharia para ela.

O quê?

Meu coração pulou uma batida e voltei para onde eu


estava.

— Tudo bem, pode até ser verdade, mas o que você


quer em troca por isso?

— O dinheiro que apostamos. Você já ganhou a


paixãozinha dela, pode abrir mão do dinheiro.

De repente várias falas do Théo voltaram à minha


cabeça e com os olhos vidrados e o coração a mil me
lembrei:
Você está sendo o meu melhor investimento.

Eu quero você...

Você é valiosa...

Amor à primeira vista...

Você é incrível demais para mim... sou um ser


humano desprezível perto de você...

— Não é justo! — Ouvi-o continuar a conversa


enquanto meu corpo tremia ao descobrir a verdade.

— Claro que é, você nem se casou de verdade e o


combinado era que você tinha dez dias para casar com ela.

Por isso a pressa.

A lista de como me conquistar em dez dias. Não era


fofa, era o esboço de um plano.

Por isso as declarações.

Por isso o amor instantâneo.

Meu coração batia tão forte que eu podia ouvi-lo nos


meus ouvidos.

Eu fui tão burra, tão carente e desesperada por


amizade, carinho e atenção que não me dei conta de que
tudo não passou de um jeito que ele encontrou para ganhar
algum dinheiro, pegando a mulher mais desengonçada do
bar.

Toda a cena dele passando mal, do elevador ele indo


na minha casa e todo o desespero que ele sentia de ficar
perto de mim... Tudo uma grande mentira.
Cada momento que vivemos foi repassando na
minha mente como filme. Tudo fazendo sentido e me
batendo forte como um soco no estômago.

Senti-me tão usada, ingênua e menosprezada que


não consegui controlar as lágrimas que rolaram livremente
pelo meu rosto.

Todas as declarações de amor... amor? Ele devia rir


de mim.

Eu queria entrar na sala e o desmascarar, desejei


estapeá-lo e gritar com ele, mas a raiva era tanta que só
fiquei ali, vendo tudo rodar, meu peito se apertar e meu
corpo sentir o impacto daquela revelação a ponto de eu
sentir dor.

Tudo doía. A minha dignidade, minha autoestima,


minha autoconfiança e cada parte de mim que se sentiu
feliz nos últimos dias, ruía como um castelo de areia levado
pela água do mar.

Dez dias... Ele tinha dez dias para fazer a idiota se


apaixonar e aceitar se casar com ele e conseguiu.

Como fui fácil de enganar.

Como fui burra.

Tudo girava e as lágrimas caíam sem que eu pudesse


controlar, o choro intenso que me tomava era quase como
uma cachoeira de dor e constatação da minha ingenuidade.

— Tábata! — Aline gritou meu nome ao me ver


chorando e correu até mim com Patrícia no seu encalço,
ambas me ampararam ao mesmo tempo que falavam
comigo tentando me tirar do transe. — Você está bem?

Talvez por ver a movimentação do lado de fora da


porta da presidência, os dois que debatiam a minha vida
como se fosse um negócio a ser encerrado, saíram para ver
o que acontecia e eu confirmei meu pesadelo ao cruzar meu
olhar com o do homem que aprendi a amar: a voz era
mesmo do Théo. Enquanto a Tábata idiota e fácil de enganar
que citaram na discussão, era mesmo eu.

Logo atrás dele Roger apareceu e me lembrei de


onde o conhecia, ele foi o homem engravatado que saiu do
elevador quando eu entrei há poucos dias quando recebi a
notícia que eu trabalharia ali. E a voz, reconheci porque era
a do amigo que ficou fazendo gracinhas a noite toda no
jantar.

— Tábata. — O olhar do homem que me fez o amar


até parecia de desespero genuíno, surpresa por eu estar ali
ou medo de eu ter escutado o que falavam, mas eu sabia
que era apenas o pavor de perder o dinheiro que tinha
apostado. — O que faz aqui?

Desvencilhei-me das pessoas que me ajudavam e


sem dizer uma só palavra andei alguns passos para me
afastar dele, mas sem que eu pudesse ir muito longe ele me
parou segurando meu braço.

— Espera.

— Quanto eu te rendi? — Dei um safanão para me


soltar seguido de alguns passos para longe e consegui
perguntar com a voz embargada pelo choro.

Seu semblante demonstrava medo, mas sorriu,


andou até mim e tentou me pegar pela mão.
— Vem cá, vamos... — Tentou me segurar de novo e
mais uma vez dei um safanão para me livrar da sua pegada,
o observando com toda a raiva dentro de mim e o desprezo
que nunca senti por alguém.

— Me solta.

— Tábata, eu não sei o que você ouviu, mas eu posso


explicar que...

— Quanto ganhou? — Limpei o rosto de maneira


desajeitada e ri em meio as lágrimas. — Não deve ter sido
muito... não, melhor, deve ter sido muito, para você aceitar
o sacrifício que era ficar comigo.

— Você deve ter ouvido errado.

— Eu ouvi certo. Creio que fui seu investimento de


tempo mais desperdiçado.

— Claro que não, não fala assim. — Passou a mão


nos cabelos e parecia tão desesperado quanto eu, mas eu
sabia que atuar era o que ele fazia de melhor.

A nossa volta vários olhos curiosos nos observavam


preocupados e sem saber o que aquele escândalo
significava.

Fechei os olhos fazendo com que lágrimas pesadas


encharcassem o meu rosto, mas ao voltar a abri-los, com a
voz serena e cheia de dor, confessei:

— Eu me abri para você, eu acreditei. E o que você


fez, Théo? O que você fez?

Apertei meus lábios para conter o choro e o aperto


no meu peito.
— Não foi como parece, eu juro que...

Ri em desdém.

— Jura? Você realmente jura? Quem pode acreditar


no juramento de um mentiroso que usa as pessoas para o
benefício próprio?

Balancei a cabeça e decidi que eu precisava me


reerguer e não me humilhar mais.

— Eu não acredito em você e em seu juramento. Para


mim chega!

Segui para a sala onde seria a minha e perdida na


minha raiva procurei a bolsa que eu não lembrava onde
tinha deixado. Enquanto eu andava de um lado para o
outro, Theodoro entrou na sala e fechou a porta.

— Você precisa me deixar falar.

— Eu não preciso nada. — Em meio ao desespero eu


não enxergava e só me mexia sem rumo. Foi quando ele
andou até mim, me segurou pelos ombros e me fez encará-
lo.

— Para! Eu não sei o que você ouviu, mas...

— Uma aposta. Isso que eu fui para você todo esse


tempo. Se bem... que tempo? Apenas dias. Eu fui muito
burra! — Fechei os olhos e chorei.

— Não foi! Olha para mim. — Encarei-o, mas não


queria, não conseguia. — O começo foi mesmo errado, mas
depois, a aposta... ficou pequena e eu só queria você.
— Mentira! — Afastei-me dele. — Por que não me
contou? Por que não abriu mão do dinheiro? Por que.... —
Joguei os braços para o alto.

— Não é tão simples assim — sibilou e o encarei para


ver que ele parecia não acreditar no que ele mesmo falou.

— Renunciar ao dinheiro quando você tinha tanto


não era simples? Sabe por que não era? Porque por menor
que fosse o valor era mais do que eu valia para você.

— Não!

— Sim!

— Foi pelo medo que senti de te perder se você


soubesse a verdade.

Ri sem vontade.

— Por favor...

Com passos rápidos ele andou até mim de novo e me


puxou para os seus braços, fazendo com que eu o
encarasse e sentisse seu peito subindo e descendo com a
intensidade do momento, como sempre foi todos os que
vivemos e repensando, eu nem sabia se era realmente
intenso ou uma mentira.

— Tábata... — Balancei a cabeça em negativa e


tentei me desvencilhar, mas ele me parou. — Olha para
mim.

— Não.

— Por favor.

— Me solta.
— Não! Eu não posso te deixar ir, não posso te
perder... Eu te amo.

Parei e o encarei em meio as lágrimas.

Por alguns segundos, busquei em seus olhos a


veracidade daquela declaração e por mais que me chocasse
não vi falsidade, mas também não vi verdade e com meu
peito subindo e descendo com a dor de ouvir que ele me
amava naquele momento errado, cheguei à conclusão que
eu só precisava de uma coisa: distância.

Soltei-me dele e dei um passo para trás fitando seus


olhos que brilhavam com lágrimas não derramadas.

Olhei em volta e como se a minha mente tivesse


clareado encontrei a minha bolsa e com passos rápidos
andei até ela, para sem olhar para trás sair da sala e o
deixar.

Para sempre.

Eu não ia acreditar em mais mentiras, por mais doce


que elas pudessem ser.
Capítulo 27
Théo
Eu nunca me senti dessa maneira e meus olhos
ardiam, meu peito subia e descia com a respiração
acelerada e a raiva que borbulhava dentro de mim, era
capaz de me fazer matar o maldito do meu sócio e amigo...
ex-amigo.

Dei um soco na mesa que balançou tudo em cima


dela e o barulho ecoou pelo andar. A fúria que eu sentia era
enorme e eu ansiava socar outra coisa que não aquele
móvel e ia fazer isso.

Marchei cheio de ódio em direção a sala da


presidência e assim que entrei notei que Roger ainda estava
lá dentro. Quando me viu, por seu olhar sério percebi que
ele carregava a ciência de que tinha feito merda e sem falar
uma única palavra, o acertei com um soco com toda a
minha raiva e ele cambaleou para trás até bater de
encontro a mesa.

— Seu merda! Imbecil! Filho da puta traidor de


merda! — esbravejei.

Andei de um lado para o outro para não partir para


cima dele de novo e eu sabia que o andar inteiro estava em
alerta, logo o conselho estaria ali junto com a segurança e
eu tinha pouco tempo para descontar a minha raiva naquele
cuzão.

Com a mão na boca e com o lábio sangrando, Roger


se firmou de pé e me encarou com seriedade, como se
tivesse pronto para a luta, mas ainda assim tentou
apaziguar.

— Nós nunca brigamos por mulher e vai mesmo


deixar isso acontecer por aquela...

— Não se atreva... — Apontei o dedo na sua cara. —


Você fodeu com a melhor coisa que aconteceu na minha
vida nos últimos tempos.

— Que eu fui o responsável por acontecer.

— Cala a porra da sua boca! Você não foi responsável


por nada. O que aconteceu entre mim e Tábata foi algo que
você não é capaz de entender nessa sua cabeça podre.
Você só tinha que se manter calado e longe, mas preferiu
estragar com tudo, inclusive com a nossa amizade.

Ele riu com escárnio e seu semblante era carregado


de algo que eu não conseguia decifrar.
— Nunca te vi assim com mulher nenhuma, posso
imaginar que a nerdzinha seja boa no que faz. — Senti um
duplo sentido na sua voz e quando eu ia avançar para cima
dele de novo por pensar em Tábata dessa maneira, os
seguranças chegaram e me seguraram.

— Eu vou te matar, seu filho da puta!

Uma gritaria ecoava pelo prédio e eu queria mesmo


o matar com as minhas próprias mãos, mas acabei sendo
levado para longe dele e quando dei por mim, eu andava de
um lado para o outro em uma sala, isolado como um búfalo
raivoso e sofrendo por pensar em Tábata.

Foda-se!

Esfreguei o rosto sem paciência.

Eu precisava ir atrás dela, aquele merda não merecia


nem a minha ira. Saí da sala me desvencilhando de um
segurança que pensava que eu ia atrás do desgraçado do
Roger e rumei para o lado dos elevadores.

Enquanto apertava o botão esperando para descer,


pensei em como uma amizade de anos podia acabar
daquela forma e em como eu tinha me enganado com uma
pessoa que eu imaginei querer minha felicidade e ser como
um irmão.

Eu não entendi o que ele ganhava com a minha


separação. Bom, ganharia dinheiro e eu fui burro! No meu
orgulho de sempre desejar vencer acabei perdendo o
melhor prêmio que eu podia ganhar.

Naquele momento que eu a tinha deixado escapar,


eu conseguia ver com clareza, era só eu ter perdido as
ações e deixado Roger ser o maior ali dentro, ter perdido a
aposta e ter ganhado a garota.

Eu a perdi e só depois de não tê-la mais foi que


consegui entender que nada, absolutamente nada valia
mais que Tábata.

Dinheiro nenhum no mundo valia a dor que eu sentia


naquele momento e a de perder a mulher que eu amava.

Maldito Roger!

Seu olhar parecia muito com um de satisfação, como


se estivesse feliz em me ver sofrendo e perdendo a mulher
que eu amava.

A amava... sim, eu a amava.

Eu tinha me aberto, com o medo de perdê-la me


declarei e deixei a boca explanar o que meu coração sentia.
Eu a amava e aquele amor intenso, repentino que que havia
crescido tão rapidamente doía dentro do meu peito.

Nunca pensei que um sentimento pudesse machucar.

Desci pelo elevador e saí correndo do prédio em


direção ao estacionamento dos funcionários, mas já tinha
passado muito tempo, Tábata não estava mais ali e não a vi.

Esfreguei o rosto em busca de uma saída.

Eu sabia onde ela morava e precisava achar um jeito


de fazer com que ela voltasse para mim.

Segui em direção ao meu carro e feito um louco dirigi


até o apartamento dela, Tábata só podia ter ido para lá, não
tinha amiga a quem recorrer além da avó e eu tinha certeza
de que ela pediria colo.

Dona Emília...

Ela ia arrancar meu coro e eu me sentia um lixo por


tudo que estava por vir. Todos precisavam entender que
comecei errado, mas o meu amor era certo, verdadeiro e eu
não ia desistir de ter Tábata de novo.

Estacionei de qualquer jeito e desci do carro para ir


em direção a portaria do prédio dela.

— O senhor não pode entrar — o porteiro me parou.

— Eu sou namorado da Tábata.

— Ela proibiu a sua entrada e disse que se insistisse,


eu podia chamar a polícia.

— Ela precisa me ouvir.

— Ela não quer. — Parecia incisivo nas suas palavras,


mas em seu olhar eu vi um pouco de pena e não me
surpreendi quando com calma o senhor de cabeça branca e
olhar cheio de segurança, me instruiu: — Filho, vai para
casa e dá um tempo. Se for para vocês ficarem juntos ela
vai te ouvir.

Puxei o ar e o soltei, depois esfreguei o rosto com as


mãos e assenti. Eu ia dar o tempo que ela precisava, mas
não ia desistir da mulher que fez com que eu me sentisse
vivo de verdade.

Eu ia reconquistá-la.
Capítulo 28
Tábata
Há uma semana que eu não comia direito, mal
dormia e escutava It'll Be Okay de Shaw Mendes
insistentemente me sentindo a pessoa mais insignificante
da face da terra.

Minha avó tentava me tirar da bad, pedia que eu


reagisse, mas eu só queria ficar jogada no sofá. Quando
cheguei da empresa no dia que descobri a aposta, chorei no
colo dela enquanto ela tentava entender como pôde ter se
enganado tanto com Théo.

Eu não a julgava, qualquer um se enganaria com


aquele sorriso bonito.
Depois que descobri tudo, fiz o que eu devia ter feito
quando o conheci e investiguei a vida do mentiroso lindo
que arruinou a minha vida, no fim descobri o que ele fazia
na empresa: Theodoro e Roger eram os CEOs e fundadores
da Bela Maria Cosméticos que eu tanto queria trabalhar.

Ele era ainda mais rico do que eu imaginava, era


mesmo milionário e eu me perguntava o porquê eu tinha
sido escolhida para fazer parte da tal aposta e as respostas
que eu chegava me deixavam ainda mais no chão.

Parei de procurar sobre ele e cheguei à conclusão


que foi bom não ter descoberto isso antes, assim eu pude
ver com meus próprios olhos o novelo de mentiras que a
minha carência fez com que eu me metesse.

E de novo voltei às perguntas que eu me fazia assim


que o conheci e os dias esfregaram na minha cara a
verdade que era explícita, mas eu fingi não ver:

O que um homem como ele veria em uma garota


como eu? Nada!

A não ser uma possibilidade de ganhar um dinheiro e


rir do quão fácil eu fui de enganar.

Com quinze dias sem ele, tentei me reerguer, porque


eu não podia o deixar vencer assim e primeiro parei de
chorar, depois comecei a pensar que eu precisava de outro
emprego e por mais que ficar na cama em posição fetal
fosse atraente, não me levaria a lugar algum.

Com a indicação de uma amiga da minha avó,


consegui fazer uns freelancers online para uma empresa
pequena e desisti do trabalho na Bela Maria Cosméticos. Por
mais que eu tivesse recebido ligações deles para que eu
ocupasse a minha vaga.
Eu não ia conseguir trabalhar com Theodoro e Roger,
além da vergonha do escândalo no primeiro dia.

Como não saía de casa, meu gato e a minha avó


eram as minhas únicas companhias e para não a preocupar
mais, eu sempre tentava rir de alguma coisa que ela
contava ou quando brincava com o Théo com o novelo.

Pensava seriamente em mudar o nome do meu gato,


ainda que ele não tivesse culpa de ter um nome que me
deixava triste eu andava o chamando de Fofinho.

Nada me animava e ver série era a única coisa que


eu fazia para me divertir, no entanto, um casal feliz, um
romance ou qualquer vento que passasse me lembrava
dele.

Eu esfregava o rosto como se com esse gesto eu


pudesse parar de pensar e, o pior, sentir saudade, mas
nada, absolutamente nada, me fazia voltar a viver.

Não que eu vivesse intensamente antes, mas depois


dele o básico era muito e eu só desejava ardentemente o
esquecer e não me sentir mais a bactéria do cocô do cavalo
do bandido.

Um nada.

Ao menos uma coisa me distraía, passei a subir no


terraço com meu gato para dar andamento ao meu projeto
de encher o espaço de flores, uma coisa meio Xuxa lua de
Cristal. Minha avó amava esse filme e me inspirei nele para
ter meu terraço florido.

Também comecei a auxiliar a minha avó e suas


amigas na igreja. Nas horas vagas eu ajudava nas
campanhas, nas festas e assim conseguia distrair a minha
cabeça e rir com as senhoras que me adotaram como uma
espécie de mascote.

Teve um dia que cuidávamos de um projeto social


que visitava idosos e quando cheguei ao lar fui chamada
pela simpática administradora do espaço que no seu
escritório me agradeceu a generosa doação.

— Doação? — Semicerrei os olhos sem entender. —


Foi uma enorme quantia.

— Mas eu não fiz nenhuma doação em dinheiro. Só


ando doando o meu trabalho.

A mulher juntou as sobrancelhas sem entender e


pegou uma folha na gaveta, depois a esticou em minha
direção.

— Aqui, veio em seu nome, mas o pagador é


Theodoro Medina.

Olhei o documento e tinha meu nome como se eu


tivesse conseguido a doação da quantia com a empresa.

— Ah! — Foi o que consegui dizer, mas não entendi o


motivo dele ter feito aquilo.

Mesmo sem entender não entrei em contato com ele


e as doações foram seguindo, para diversas instituições que
me ligavam para agradecer.

Um pouco mais de mês depois, em uma tarde em


que eu regava as minhas plantas e mexia nas redes sociais,
chegou uma mensagem do Theodoro no meu celular e
quando a li meu coração palpitou, me fazendo xingar baixo
por ele ainda ter aquele efeito em mim.
Controlando meus sentimentos, me permiti ler:

Ainda penso em você e isso não vai parar.


Podemos conversar?

Ele tinha me mandado muitas, mas não respondi


nenhuma.

No entanto, fazia mais de um mês e ele não tinha


desistido. Mais uma vez suspirei ao reler a mensagem e
senti raiva em como ele conseguia fazer meu coração
disparar mesmo distante.

— Não vai me responder? — sua voz grossa e


carregada de sentimentos invadiu o espaço me dando um
susto e quando olhei para o lado de onde ela vinha, Théo
estava parado na porta da escada e me observava com um
semblante sério e até coberto de receio.

Meu peito se apertou com a respiração entrecortada


e com a surpresa de vê-lo.

Sem saber o que dizer, desliguei a água e em


silêncio ia seguir para casa.

— Espera, aonde vai?

Eu não tinha ideia de como ele me encontrou ali,


quem o tinha deixado entrar ou...

— Deve ter pagado para te deixarem entrar no


prédio, afinal, foi assim que conseguiu subir da primeira
vez, não foi? — explanei meu pensamento. — Tudo para
você é dinheiro.

Quando pedi que barrasse a entrada de Théo, senhor


Jorge, o porteiro, tinha deixado escapar que recebeu uma
boa gorjeta dele no primeiro dia que esteve ali, mas me
prometeu que nem assim ia o deixar subir. Foi aí que tive
mais certeza de que tudo que vivi foi uma mentira
comprada pelo milionário convencido e cheio de vontade
por quem me apaixonei.

— Eu sei que fui um idiota e quero me desculpar.

— Não, você não foi um idiota, eu fui. E, por favor,


me deixa passar e não me procura mais.

Ainda que meu corpo gritasse por dentro, a minha


voz era calma e fria.

— Só me dá uma chance de me explicar, sua avó me


ouviu e me deixou subir para tentar arrumar a burrada que
eu fiz.

— Não acredito! — Balancei a cabeça em negativa e


olhei para o lado contrário. Dona Emília traidora.

— Não briga com ela. E... posso dizer que no mesmo


nível que ela foi fofa comigo no início, usou de aspereza
agora.

Ele lançou-me um sorriso triste e eu me mantive


impassível.

— O que você quer?

— Você.

— Você já disse isso uma vez e, na verdade, o que


você queria era o dinheiro.

Pareceu culpado.
— Tábata... no começo sim, não vou mentir, mas logo
me apaixonei e foi só você. — Fui tentar passar por ele para
seguir, não conseguia mais ouvir aquelas juras de amor
mentirosas, mas ele me parou. — Se lembra quando te
trouxe em casa depois do chalé. Ali eu não queria mais
mentir, me senti culpado, e foi só eu chegar em casa e
pensar em não te ver mais que entrei em pânico, virei a
noite acordado e vim te procurar.

Engoli em seco. A droga do amor me fazia querer


acreditar nele, mas o orgulho ferido ao menos naquele
momento falava mais alto.

— Sinto muito, nada do que você disser agora eu


consigo acreditar. — Fui tentar passar de novo e mais uma
vez ele entrou na minha frente.

— Você está pálida. Como anda seu pé? Tem se


cuidado?

Ri em desdém e não o encarei, ele havia me


convencido uma vez com aquelas falsas preocupações.
Engoli em seco para segurar as lágrimas.

— Pode, por favor... — Apertei os lábios. — Me deixar


passar.

— Tábata, eu errei, mas quero consertar.

Encarei-o e ele também me pareceu muito abatido.


Claro que não podia ser por minha causa. Talvez fosse pela
briga com o amigo, ou, apenas maquiagem para me
comover.

— Eu pensei em você todo esse tempo, cada minuto


e senti sua falta no meu apartamento e na minha vida. —
Apertei os lábios ainda mais para não chorar. — Eu comecei
errado, já assumi, e hoje vejo de verdade o quanto fui burro
e deixei meu ego me guiar, mas aprendi que dinheiro não é
tudo e eu daria cada centavo que tenho se isso te trouxesse
de volta.

Ri e uma lágrima escorreu por meu rosto, depressa


levei a mão para a enxugar e Théo ergueu meu queixo para
que eu o encarasse.

— Pode não acreditar, mas me sinto o pior homem do


mundo por te fazer chorar, mas se me der uma segunda
chance, vou viver cada segundo da minha vida pra te fazer
sorrir.

Meu peito subia e descia com a respiração ofegante,


cada célula dentro de mim, cada pedacinho do meu corpo
queria gritar um enorme sim para ele, apenas uma parte
dizia não: a minha dignidade.

E ele notou a negativa em meu olhar.

— Por favor, Tábata. — Apertou o maxilar e eu podia


jurar que ele se via bem perto de chorar, mas eu também
tinha chorado bastante.

— Não dá. Não ainda.

Desviei do seu corpo grande e ia descer as escadas


correndo, mas talvez o movimento rápido e o tempo sem
me alimentar direito cobrou sua conta, vi tudo escuro e uma
grande ânsia me tomou, fazendo com que eu não segurasse
o café da manhã e o despejasse no vaso de planta mais
perto.

Théo me apoiou, segurou meu cabelo e esperou que


a ânsia passasse.
— Tábata, você está bem? — Queria brigar com ele, o
estapear por me fazer passar por aquilo e ao mesmo tempo
dizer que o amava e ele estragou tudo, mas só limpei a
boca com as costas da mão e falei, me esquivando:

— Me esquece.

Corri escada abaixo o ouvindo chamar meu nome


mais uma vez, dei graças aos céus que o meu apartamento
era o primeiro e como se fugisse de uma alma penada
entrei e fechei a porta nas minhas costas, o deixando para
trás com meu coração nas mãos.
Capítulo 29
Tábata
Minha avó tentou se justificar quando chegou da rua
e perguntou se eu tinha me reconciliado com Théo, como se
fosse simples assim. Claro que briguei com ela por mesmo
depois de tudo, ainda o aceitar de volta com tanta
facilidade.

— Quem disse que foi fácil. Esse rapaz está há mais


de um mês me pedindo ajuda para ter um tempo com você.

— E a senhora não me disse nada?

— Pra quê? Só o deixei subir hoje, porque você


parecia melhor.

— Aí resolveu me deixar pior de novo?


Ela colocou a mão na cintura me analisando e depois
andou até o sofá onde eu me via sentada, bom, me via
jogada às traças e vivendo minha fossa.

— Minha filha, se esconder não vai ajudar em nada.


Colocar você frente a frente com ele de novo, foi uma
espécie de tática de alergia, sabe? Uma vez vi uma
reportagem que para curar uma alergia, os alérgicos
recebem pequenas doses do que os machucavam até
desenvolverem uma espécie de imunidade.

Revirei os olhos.

— Eu simplesmente preferia não o ver.

— Bobagem.

— Mas a senhora errou em pensar que ele era bom.

— Não errei, Théo é bom. Só se perdeu sobre o que


realmente importa. Se pensar bem, o que ele fez de errado?

— Mentiu desde o começo, me usou como se eu


fosse um objeto ou um investimento que ele pode ter
retorno financeiro.

— E ele não nega isso, diz que errou em te conhecer


em uma aposta, mas jura que o que veio depois foi tudo
real.

— Isso é o que ele diz. E vamos parar de falar dele, o


único Théo que entra nessa casa agora é esse gatinho lindo.

Meu gato andou em minha direção, subiu no sofá e


eu o peguei no colo.
— Esse que você nem sequer consegue mais falar o
nome?

— Vó, por favor.

— Tabatinha, algo me diz que algo maior une vocês e


eu não posso simplesmente afastar o rapaz de você.

— Tudo bem, fique com ele, eu posso o afastar. Agora


vamos acabar com essa conversa, porque eu preciso
trabalhar.

Tirei o Théo do meu colo e me estiquei para pegar o


notebook na mesa de centro, mas o movimento me deixou
tonta e meu mal-estar não passou despercebido sobre o
olhar atento da minha avó.

— Você vai participar da campanha de doação de


sangue da igreja amanhã?

— Sim, vou.

— Ótimo, assim já aproveita para fazer uns exames.


Você anda muito pálida e esquisita.

Ri da sua mania de me chamar de esquisita.

— Sempre fui esquisita, Vó.

Ela me observou com a boca torcida em desagrado e


para fugir do seu olhar falei que tinha que entregar o
trabalho para a empresa que me contratou de freelancer.
Logo dona Emília me deixou em paz, na companhia do meu
Fofinho que ronronava e se enrolava em mim, me dando o
carinho que eu precisava e me atrapalhando digitar
também.
Insistentemente o olhar pidão do homem que
quebrou meu coração voltava a minha mente e quase me
fazia me render a ele, mas a lembrança do momento que
descobri a verdade tomava meus pensamentos e a
decepção era maior que a vontade de o aceitar de volta.

No dia seguinte acordei cedo e a minha avó já


arrumava a mesa, íamos doar sangue e uma das indicações
era que tomássemos um café reforçado.

Sempre fui uma apaixonada por café, mas o cheiro


da bebida logo que acordei me embrulhou o estômago, que
desde o dia anterior estava um pouco delicado.

Tapei o nariz e fiz uma careta que, de novo, não


passou despercebida por minha avó que secava a mão no
pano de prato. Para me analisar se encostou ao batente da
porta da cozinha e me observou com atenção.

— O que foi, dona Emília? — Joguei-me na cadeira.

— Nada, eu estava preocupada com você, mas


agora...

— Agora?

— Estou mais.

Tive que rir.

— Não precisa se preocupar. Estou bem e ansiosa


para doar sangue.

— Se estiver doente não pode e nem grávida.

Imediatamente paralisei e minha avó notou o meu


desconforto sobre a palavra grávida.
Grávida...

— Algum problema? — O sorriso em seu rosto era de


desconfiança.

— Nenhum. Vou me arrumar para doar sangue. —


Comecei a me levantar completamente perdida.

— Você não comeu nada.

Voltei a me sentar e me forcei a comer um pão de


forma com queijo. Dei um gole no café, mas ainda que o
gosto fosse bom, o cheiro estava me dando ânsia. Mesmo
assim tentei disfarçar para que a minha avó não notasse.

Dei a desculpa que precisava e fui para o meu


quarto, onde me sentei na cama e com os olhos vidrados
encarei um ponto qualquer na parede branca enquanto
pensava que aquilo não podia ser possível.

Bom, podia considerando que para engravidar era


preciso fazer sexo e na minha semana com Théo foi o que
mais fizemos juntos e foi incrível, precisava frisar.

Fiz as contas mentalmente e me lembrei que eu tinha


tomado meu anticoncepcional certinho, ou não. Não me
lembrava. Carregava a mania de ficar avoada quando eu me
sentia feliz.

Levantei-me da cama e comecei a andar de um lado


para o outro, pensando nas possibilidades. Também tomei
remédio para o pé e eu sabia que tinham medicamentos
que cortavam o efeito.

Quem observasse meu rosto veria claramente o


desespero no meu olhar.
Eu não podia estar grávida naquele momento que eu
precisava ficar longe. Apesar que isso não significava que
eu teria que ficar com ele... ou que Theodoro precisasse
saber da gravidez.

Que gravidez? Eu não estou grávida!

É isso, não estou.

Como um mantra neguei veementemente a


possibilidade de ser verdade, como se isso pudesse tornar
real a minha vontade.

Tomei banho e me preparei para sair, quando


cheguei à sala a minha avó me esperava também pronta e
ela ainda me avaliava.

— O quê?

— Nada. Vamos?

— Sim.

Segui até a porta e juntas andamos em direção a


igreja que ficava a alguns metros do nosso prédio.
Chegando lá, a van que nos levaria até o hospital já nos
aguardava.

O percurso foi rápido, não era muito longe e dei


graças aos céus quando a van estacionou no hospital,
porque estava difícil disfarçar o enjoo.

Seguimos para a ala que ficava o hemocentro e


enquanto andávamos acabei me distraindo dos
pensamentos preocupados, por ouvir as barbaridades que
aquelas quinze mulheres tagarelas falavam. Elas não
tinham mais filtro do que pensavam e o que saía das suas
bocas, era engraçado e ao mesmo tempo sem noção, mas
eu ria.

Imaginei que era por isso que a minha avó gostava


tanto dos passeios, excursões, bingos e bailes com elas,
eram a personificação da diversão. Não tinha a preocupação
que os mais novos carregavam em agradar a todos e
falavam o que vinha na cabeça, sem pensar e sem pudor.

Eu era a única com menos de trinta anos naquele


bonde, talvez por ser a que se encontrava sem trabalhar na
manhã de uma sexta-feira. Bom, eu trabalhava, mas não
em uma empresa com benefícios como eu queria antes de
Théo entrar na minha vida. Não queria pensar nele, mas era
impossível.

— Tábata, sua avó falou que você vai se casar com


um homem alto, bonito e sensual — dona Marilene, uma das
senhoras amicíssima da minha avó, comentou enquanto
andávamos pelo estacionamento antes de chegar ao prédio.

— Moreno alto, bonito e sensual, talvez eu seja a


solução dos seus problemas. Carinhoso. Bom nível social. —
dona Benê, outra amiga cantou se divertindo enquanto
dançava com passinhos ritmados andando ao mesmo
tempo. Elas tinham mais pique do que eu.

— Hummm... me apresenta esse bonitão — dona


Cilene, outra amiga, pediu.

— Vocês parem de assanhamento e deixem a minha


neta em paz.

Eu só ri e dei graças aos céus que chegamos ao


prédio e com agilidade fui encaminhada para a sala da
entrevista sem responder o questionamento sobre eu estar
ou não com Théo. Não que eu tivesse esperança de voltar,
mas não queria desmentir a minha avó para as amigas.

Entrei na sala da triagem, que era onde uma


profissional fazia diversas perguntas antes de realmente me
aprovar para doar sangue, e sem que eu respondesse todas
tive uma leve tontura e coloquei a mão na testa como se o
gesto pudesse parar o mal-estar.

— Está tudo bem? — a moça simpática me perguntou


preocupada.

— Acho que estou grávida — falei sem rodeios. —


Olha, e eu não sei... eu pensei nisso essa manhã. Me
desculpa ocupar seu tempo... me desculpa. Sabe eu queria
muito doar sangue, mas antes preciso saber se... ninguém
sabe e preciso fazer o exame de sangue, mas eu... eu... —
falei tudo em desespero, meio sem nexo e de repente falar
aquilo em voz alta despertou em mim uma confusão que eu
não estava preparada e comecei a gaguejar e não dizer
coisa com coisa.

— Calma. — A enfermeira com olhar doce pousou a


mão sobre a minha. — Vamos fazer assim, vou te ajudar. O
primeiro passo é fazer um exame de sangue para confirmar
a gestação. No prédio ao lado tem um pronto-atendimento
que faz o teste. Tenho uma amiga que trabalha lá e como
vejo que você está confusa, vou pedir que ela faça o exame
para você, tudo bem?

Assenti com os olhos marejados, me sentindo grata


àquele carinho gratuito.

— Mas eu estou com uma van com senhoras da


igreja, não queria que elas soubessem e... também não
posso esperar.
— É rápido e até todas doarem sangue e serem
liberadas para irem embora vai demorar e dá tempo de
você pegar o resultado. Posso ligar para a minha amiga?

Assenti no automático e depois de muito agradecer


àquela moça cheia de empatia que me desejou tudo de
melhor, não demorou até que eu saísse da sala com o nome
da amiga que me esperava dentro de cinco minutos no
outro prédio.

Antes de seguir com o plano encontrei a minha avó


na sala de espera e com a sobrancelha franzida ela me
recepcionou:

— Não vai conseguir doar sangue, Tabatinha?

— Não. Eu... estou anêmica e a moça pediu que eu


fosse no outro prédio fazer uma consulta.

— Nossa, filha, por isso a tontura?

— Pois é — menti, porque logo atrás da minha avó


vários pares de olhos me fitavam com curiosidade, mas
também preocupação, elas gostavam de mim como neta e
tinham passado a ser as minhas amigas da melhor idade
depois que comecei a ajudar mais na igreja.

— Beterraba é ótimo, filha — uma sugeriu.

— Fígado também — outra opinou.

— Sei um suco que é tiro e queda — Marilene disse


positiva.

Sorri para as minhas senhorinhas fofas e agradeci o


carinho.
— Mas não se preocupem, é leve... acho... e... eu vou
lá. Vai ser rápido, coisa de uma hora estou de volta. É o
tempo de vocês doarem.

— Leve o tempo que precisar — Bene garantiu e as


demais assentiram.

Lancei-as um sorriso e saí apressada antes que me


perguntassem mais.

Realmente foi rápido. No prédio ao lado fui recebida


pela amiga da enfermeira, que me levou para a sala de
coleta e depois instruiu que eu ficasse por perto que assim
que saísse o resultado ela me chamaria.

Sentei-me na sala de espera e ainda bem que não


tinha quase ninguém para ser atendido, pensei ser por isso
que consegui fazer o exame com tanta facilidade.

Os segundos e minutos não passavam e depois de


um senta e levanta de nervoso, enfim ouvi alguém me
chamando e quando me virei, vi a amiga da enfermeira com
um envelope na mão. Elas tinham me dito seus nomes, mas
eu me via tão transtornada que não me lembrava nem o
meu.

Após agradecer a moça com carinho, segui andando


devagar fazendo o percurso de volta que ligava os dois
prédios, com o envelope na mão e decidi que não ia abrir
naquele dia, no entanto, do que ia adiantar postergar o
desespero.

Em um movimento impensado abri o envelope e


entre vários números na folha branca, uma palavra na
frente do resultado gritou pela minha atenção: positivo.

Positivo...
Pensei se aquele positivo significava que: tudo certo,
eu não estou grávida, porque só assim o resultado seria
considerado positivo.

Positivo...

Eu estou grávida!

Grávida do Théo, o mentiroso que mudou a minha


vida.

Levei a mão a barriga e com o olhar perdido tentei


me situar sobre o que aquela novidade significava, porque
eu não entendia ou menos sabia o que fazer com aquela
informação.
Capítulo 30
Théo
As ações do Bela Maria Cosméticos ficaram como
estavam antes de tudo. Mesmo que Roger tivesse insistido
que eu merecia a parte dele, que queria me pagar, porque
venci da maldita aposta, eu me esquivei.

Acabei tirando os cinco por cento dos lucros que eu


perderia caso ele tivesse vencido a aposta idiota e destinei
a instituições de caridade, fazendo doações em nome da
Tábata.

Na realidade, ele venceu a aposta, mas pela primeira


vez eu me sentia completamente foda-se em relação a ser o
melhor, porque me sentia o pior por não ter a mulher que
conquistou meu coração e nada mais importava.
Do Roger eu não queria mais nem a amizade e
pensava em um jeito de encerrarmos nossa sociedade. Eu
estava sendo radical? Talvez, mas se ele fosse meu amigo,
teria sustentado e me apoiado. Um dia eu teria contado
tudo à Tábata e não precisava dele me insultando e
provocando naquele momento.

Entendia que eu tinha errado. Errei em aceitar a


aposta, em não dizer a verdade e preservar apenas o
dinheiro, ainda mais quando me afastei no chalé e voltei a
procurá-la, eu tive a oportunidade de colocar tudo a limpo e
não fiz, se eu pudesse voltar no tempo... eu teria feito e não
me veria naquela situação.

Respirei fundo e soltei o ar. Meus pensamentos


insistentes acabavam comigo.

Principalmente quando Roger me pedia para


repensar e sempre usava a desculpa de que mulher
nenhuma tinha ficado entre nós antes, mas ele não
entendia que o que nos separava não era Tábata ter me
deixado, mas a forma como ele lidou com a minha
felicidade e por parecer... esconder algo. Uma nuvem
carregada sobre seu olhar me incomodava desde o dia da
aposta.

Naquela noite não consegui perceber, mas com o


passar dos dias ela foi ficando evidente.

Depois de tudo eu me via naquela situação: sofrendo


por amor como nunca.

Dei o espaço que ela precisava e depois de mais de


um mês arrastando correntes como um condenado, decidi
que já havia passado tempo o suficiente para ela se acalmar
e passava da hora de eu seguir o plano de reconquistá-la.
Eu andava atrás da dona Emília há dias e ela
também se esquivava de mim. Eu a tinha decepcionado
quando jurei fazer a sua neta feliz. Quando enfim ela
aceitou me ouvir, me senti um neto levando esporro da avó.

— Um homão desse tamanho, bem-sucedido, bonito


e com tantas outras qualidades, fazendo aposta valendo
mulher? Quantos anos você tem, Theodoro?

Estávamos em um Café a alguns quarteirões da casa


dela. Eu a tinha seguido por dias na esperança de que me
ouvisse, em alguns deles vi que a neta a acompanhava e
tive o prazer de ver Tábata de longe e meu peito doeu de
saudade.

Quando vi dona Emília sozinha, a interceptei e jurei


que seria rápida a nossa conversa. Com pena ela aceitou.

— A senhora tem toda a razão, e preciso dizer, que


de imediato eu me recusei a aposta, mas alcoolizado e
quando vi o valor que eu podia ganhar me deixei levar pela
ganância.

— Que coisa feia!

— Mas em minha defesa, dinheiro nenhum vale a


falta que sua neta me faz.

Ela semicerrou os olhos.

— Você diz a verdade?

— Nunca fui tão sincero em toda a minha vida.

— E em pouco tempo se apaixonou verdadeiramente


assim? Porque vale lembrar que a partir do momento que
ela descobriu tudo, você está em período de análise para
mim. Acho que me deixei levar muito fácil por seus belos
olhos. — Sorri. — Não tem graça. — Fiquei sério.

— Desculpa. — Ela cruzou os braços na frente do


peito e se recostou na cadeira. — Mas a realidade é que a
senhora sabe melhor que ninguém que a sua neta é
encantadora e mesmo que ela tenha sido durona comigo,
eu me apaixonei e os dias que passei sem ela foram tão
monótonos que eu nem sei como eu podia pensar que tinha
uma vida boa antes de conhecê-la.

Vi um sorriso se formar no canto dos lábios da


senhora que eu também tinha aprendido a gostar.

— Tudo bem, todos merecemos uma segunda chance


e eu vou te ajudar com a sua, mas... não pense que terá a
minha ajuda se estragar tudo e precisar de uma terceira.
Errar uma vez é humano, persistir errando é burrice.

— Só preciso de uma segunda chance e serei o


homem mais transparente e farei de tudo para fazer sua
neta feliz. — Usei de toda a minha honestidade.

Ela ergueu uma sobrancelha e fiquei com medo.

— Você já me jurou uma vez que ia fazê-la feliz.

— E nunca menti sobre isso. Vê-la feliz é o que eu


mais quero, mas comecei errado, dessa vez vou recomeçar
certo. Aprendi mesmo com meu erro.

Vi um leve sorriso no rosto dela.

— Seguinte, esse horário ela está no terraço,


começou a cuidar de plantas para te esquecer. Sinto pena
delas, porque algumas já até morreram. — Revirou os olhos
e eu ri. — Vou deixar que você entre no prédio e vá até lá.
— E se ela me mandar embora?

— Aí eu não tenho mais o que fazer.

— Preciso de mais motivos para encontrá-la.

— Quer ir doar sangue? Amanhã pela manhã teremos


uma campanha da igreja e ela vai.

— Amanhã tenho uma reunião importante na


empresa, mas em qualquer outro programa da igreja que
ela estiver, eu vou.

Ela me analisou como se tentasse notar algum tipo


de mentira oculta na minha fala, mas não encontrou,
porque eu dizia a verdade, me via disposto a qualquer coisa
para ter Tábata de novo na minha vida.

— No sábado ela vai trabalhar na barraca do bingo


na festa da igreja. Se quiser aparecer, será após as
dezenove horas.

— Estarei lá. Talvez chegue um pouco mais tarde por


conta de uma reunião à noite, mas eu vou, nem que eu
desmarque a reunião.

Ela assentiu.

— Você parece muito decidido.

— E estou. Quero para a vida toda, o que eu tive com


a sua neta em pouco tempo.

— Você teria mesmo se casado com ela em dez dias?

— Sim, e não pela aposta — respondi com tanta


certeza, que até eu me surpreendi com o quanto eu
desejava aquilo.
— Então espero que consiga reconquistá-la.

— Eu vou e não vou desistir tão fácil.

— Posso concluir que você a ama mesmo?

Abri um enorme sorriso.

— Sim. Eu a amo.
Capítulo 31
Tábata
Consegui disfarçar bem minha ida ao prédio do
exame e dei graças aos céus quando terminou a doação de
sangue e eu entrava na van acompanhada da minha avó e
das minhas amigas da melhor idade. Contava os segundos
para voltar para casa, desejava chegar lá e pensar com
calma como resolver minha nova condição.

Entretanto, sempre fui um tanto atrapalhada e


quando fui me sentar entre os bancos apertados, acabei
enroscando a minha bolsa no banco, ela se abriu e tudo caiu
no chão.

— A gente te ajuda, filha, senta aí que a anemia dá


moleza — Dona Toninha falou com carinho e se abaixou
para me ajudar.

Nem consegui responder e as senhorinhas estavam


juntando minhas coisas, até que a minha avó pegou o
resultado do exame que caiu aberto no chão e analisou,
fazendo meu coração palpitar e eu engolir em seco de
nervoso.

— Aqui seu exame. Deu mesmo positivo para


anemi... beta hcg! — Ela exclamou ao terminar de passar o
olho pela folha e imediatamente me encarou como se
pedisse desculpa por sua língua solta e um grande silêncio
pairou no ar.

— Tabatinha tá grávida? — dona Bene perguntou.

E o silêncio prosseguiu por alguns segundos que


pareceram uma eternidade, até que notei que era eu quem
tinha que responder.

— Acabei de descobrir. — Dei de ombros.

— A anemia era um bebê? — dona Rita perguntou,


houve um silêncio e logo depois todas as senhoras da van
soltaram uma enorme gargalhada.

Inclusive a minha avó que quando se recuperou da


risada me abraçou e colocou a mão na minha barriga.

— A bisa já ama.

Eu me via paralisada ao mesmo tempo ria das


senhoras que riam de mim.

— Eu já tinha visto de tudo, mas essa foi nova. Essa


criança vai te trazer muita saúde. — Dona Marilene passou
a mão em meu ombro. — Veja o quanto você é abençoada,
pensava estar doente e vai ganhar um bebê!

Tentei sorrir, mas acho que o sorriso saiu mais como


uma careta que elas notaram e dona Bene que era mais
curiosa, perguntou:

— O pai vai ficar feliz, né?

— Radiante! — a minha avó respondeu por mim.

E sem pensar, falei:

— Assim espero.

Notei-as me observando, mas desviei o olhar e me


acomodei na janela da van que já ia partir, mas antes vi a
minha avó abanando a mão como que em um pedido para
me deixarem quieta.

Fiz o percurso de volta para casa em silêncio e


quando entrei no nosso prédio, falei para a minha avó que
eu ia ficar no jardim que dava de frente para a rua. Ia
pensar na vida enquanto via os carros passando.

— Você está bem? — Ela perguntou como se tivesse


certeza de que eu não estivesse nada bem.

— Sim.

— Não quer conversar um pouco?

— Não, está tudo bem, só preciso digerir a


informação.

Ela passou a mão na minha, me lançou um sorriso


solidário e seguiu para as escadas, me deixando ali olhando
para o nada.
Sentei-me em um muro baixo que dava de frente
para a rua e fiquei observando o vai e vem das pessoas, dos
carros e dos pássaros nas árvores do entorno.

Tentava entender o que Deus preparava para mim.


Por que ele me fez conhecer o Théo? No fim ele era um falso
e ainda saí com um fruto dele na minha barriga.

Como eu criaria uma criança sozinha?

Eu devia contar a ele?

E se Theodoro pensasse que eu estava atrás do seu


dinheiro? Já que dinheiro era algo que ele priorizava.

Apoiei os cotovelos nos joelhos e tapei os olhos,


respirando fundo como se esse gesto pudesse me dar uma
saída.

— Dia difícil? — Olhei para cima e vi Patrick de pé ao


meu lado.

— Um pouco.

— Quer companhia? Conversar algumas besteiras as


vezes ajuda. E você sabe que sou bom em falar besteira.

Ele parecia diferente dos outros dias que foi


inconveniente, naquele momento ele se exibia como um
amigo disposto a ajudar e como eu não tinha ninguém,
precisava mesmo conversar com um amigo que não fosse a
minha avó.

Sorri para ele.

— Adoraria falar besteira com você. — E dessa vez


não estava mentindo, eu aceitaria qualquer coisa para parar
de pensar no Théo, na gravidez e em tudo que eu teria que
enfrentar.

Ele sentou-se ao meu lado.

— Você anda sumida, até achei que não morasse


mais no prédio.

— Pois é, aconteceram algumas coisas. Mas e você, o


que tem feito?

— Te esperando. — Ele riu e notei que estava


brincando. Eu começava a entender que Patrick era um
conquistador barato e gostava de flertar, não exatamente
flertar comigo. Era meio um jeito que ele usava para
descontrair. — Mas como eu ia morrer seco se esperasse por
você, ando saindo em busca de uma doida que me aceite
como eu sou.

Dei um empurrão de leve no seu ombro, me


divertindo e ri. Pela primeira vez em dias eu consegui rir de
algo bobo.

Em meio ao momento de descontração, ainda rindo


olhei para a rua e vi um carro preto, que parecia muito o do
homem que eu amava, passando bem devagar na nossa
frente e eu sabia que era Théo que me observava por trás
daqueles vidros pretos. Tinha absoluta certeza de que era
ele.

Parou por alguns segundos e eu parei de sorrir.

— Ei, o que foi? — Patrick colocou a mão no meu


ombro ao notar que eu havia ficado triste. O carro acelerou
e seguiu depressa pela rua calma de frente ao meu prédio.
— Que maluco! — Patrick comentou observando o
veículo sumir do nosso campo de visão.

Respirei fundo e soltei o ar.

— Sim — foi o que consegui responder enquanto o


meu coração batia acelerado dentro do peito.

O que ele fazia ali? Será que a minha avó havia


contado sobre a gravidez?

Eu esperava que não. Eu nem sabia sequer se o


contaria ou não.

— Você está bem?

— Um pouco cansada e com fome.

— Quer subir?

— Não, quero conversar.

— Então espera aqui.

Patrick me deixou por alguns minutos e quando


voltou trouxe coxinha e suco.

Senti-me tão grata por seu cuidado que desejei ter


amigos e coloquei como meta para o futuro, uma vida social
mais movimentada.

Não... eu estava grávida e cuidar de um bebê seria o


máximo de socialização que eu teria.

Respirei fundo, deixei de lado os pensamentos que


me afligiam e fiquei o resto da tarde conversando com meu
vizinho. Até meu mal-estar passou. Quando nos levantamos
para ir para casa, combinamos de nos encontrarmos na
festa da igreja no dia seguinte.

— Vai ser um prazer trabalhar com você na barraca


do bingo esse ano de novo.

— Vai ser legal. — E, sinceramente, até me senti


mais animada por ele me lembrar que estaria lá também.
Depois daquelas horas de conversa atoa, tive a certeza de
que Patrick não era de todo ruim.

Subimos as escadas e nos despedimos com um “até


amanhã” e cada um entrou no seu apartamento. Eu me
sentia melhor.

— Vem comer alguma coisa, já é tarde e você nem


almoçou. Onde estava todo esse tempo? — Minha avó
gritou da cozinha.

— Conversando com o Patrick. Ele me lembrou que


vai ajudar de novo na barraca do bingo esse ano.

— Ah, vai sim. Ele é um bom rapaz. A vó dele me


disse que é do tipo que leva tudo na brincadeira, mas é um
bom rapaz.

— Ele é assim mesmo. — Sorri e ela apareceu na


sala.

— Algumas horas com ele te fez bem.

— Sim, consegui sair do looping de tristeza que me


encontrava. Ele é engraçado.

Sem esperar se eu queria comer ou não, minha avó


preparou um prato para mim e colocou na mesa, depois me
olhou como se dissesse que eu não era nem louca de dizer
que não ia almoçar.

— Eu comi coxinha.

— Não é comida.

Segui até a mesa e tentei comer, ainda que


parecesse ter uma bola na minha garganta. Como se fosse
uma fiscal de comida, dona Emília se sentou na minha
frente e me observou levar garfada a garfada à boca e eu ri.

— Vai ficar me observando?

— Vigiando seria a palavra correta. — Ela riu. — Tô


lembrando de quando você era pequena e eu tinha que te
vigiar comer ou você me enrolava.

Sorri com carinho.

— Em breve você fará isso com seu bisnetinho.

— Ou bisnetinha.

Tomei o suco de laranja que ela garantiu que eu


precisava tomar até a última gota, depois começou um
discurso sobre comer mais legumes frutas e verduras e
beber bastante líquido.

— Eu não sei como farei isso, Vó.

— Comer? Pode deixar que dou um jeito de fazer


você se alimentar direito.

— Não. — Sorri. — Como lidarei com um bebê.

— Tudo vai se acertar, minha neta.


— Eu sei, mas estou com medo. Não tenho emprego
fixo e mal cuido de mim, como vou cuidar de uma criança?

— Essa criança tem um pai que tem tantas


obrigações quanto você.

Fiquei séria.

— Eu não quero contar para ele.

— Como não? Ele é o pai.

— Eu sei, mas pode pensar que...

— Dane-se o que vai pensar e gravidez não é algo


que você possa esconder por muito tempo, além de que
Theodoro não vai desistir de você tão fácil e você sabe.

Puxei o ar e o soltei.

— Vou deixar para pensar nisso na segunda-feira.


Tudo não se resolve na segunda?

Minha avó riu.

— Isso, e aí vamos dar início ao pré-natal. Ah! E as


meninas da igreja estão ansiosas pelo chá de bebê.

Tive que rir.

— Não era para elas estarem sabendo.

— Desculpa, filha, é que quando eu li, não consegui


segurar a boca.

— Não tem problema.


— Mas pense, elas gostam de você e ficaram felizes
com a notícia.

— Percebi. Dona Toninha não parava de falar de


coisas de bebê o caminho todo.

Minha avó riu e depois me olhou com carinho.

— E se posso ser sincera, ainda que eu entenda que


esse não é o melhor momento para você, eu também fiquei
feliz com a notícia. Sempre vai poder contar comigo.

Assenti com os olhos lacrimejados.

— Vó, obrigada por sempre estar ao meu lado.

— Não tem nenhum outro lugar em que eu deseje


estar.

Sorri com carinho e com aquele apoio eu me sentia


acolhida e mais forte, na segunda-feira eu decidiria a minha
vida, por enquanto eu ia tentar esquecer que um bebê
crescia na minha barriga.
Capítulo 32
Tábata
Eu me via na festa da igreja, usando o avental com
bolsos na frente e vendendo cartelas de bingo para muitas
pessoas que jogavam para ajudar as famílias carentes da
região.

A quermesse era linda, tinha várias barracas de


comidas típicas e era iluminada com cordão de lâmpadas.
Lembrava muito as Festas Juninas e eu amava aquele clima.

O salão em que acontecia o jogo era grande e com


muitas portas. Várias mesas de plástico com quatro cadeiras
acomodavam os jogadores e a minha avó e suas amigas
juntaram duas delas e fizeram seu clubinho do bingo.
Naquele dia elas não ajudariam na organização e só
ficariam jogando e apreciando a festa, deixando o trabalho
duro para os jovens, no caso eu.

Patrick deixava tudo mais leve e eu nem me


lembrava mais das vezes durante o ano que ele tinha me
irritado com a sua insistência para sairmos. Até pensei que
eu podia ter aceitado. Quem sabe não teríamos dado certo,
mas naquele momento éramos bons amigos.

Por muitas vezes pensei por que diabos decidi sair


sozinha para comemorar meu novo emprego? Por que
aceitei subir ao apartamento do Théo? Se não fosse isso ele
seria só o meu chefe junto com o tal Roger.

Roger... aquele homem me passava algo sombrio que


eu nem sequer sabia descrever. Inclusive, eu havia sonhado
com ele na noite anterior e apesar de não recordar direito o
sonho, me lembrava que não era bom.

Passava na minha mente se ele sabia quem eu era


quando propôs a aposta ao Théo, mas imediatamente
chegava à conclusão de que não, eu não me lembrei dele
quando o vi no jantar, por que ele se lembraria da
funcionária que viu por um rápido segundo quando saía do
elevador dias antes?

A noite em que conheci Theodoro resolvi me sentir


livre e fazer sexo com o desconhecido, antes disso eu só
queria a solidão e era feliz assim. Maldita hora que deixei
Theodoro entrar!

— Você está séria.

— Ah! Eu? Não, só pensando em um trabalho que


esqueci de fazer, mas faço amanhã — menti para Patrick
que apareceu ao meu lado também usando o avental da
igreja e me tirando dos meus pensamentos.

— Aqui. — Entregou-me as cartelas que venderíamos


o próximo prêmio. — Preparada para mais uma rodada?

— Sim. — Sorri, porque as senhorinhas eram umas


graças, mas elas cismavam que queriam cartelas da parte
de baixo, do meio, a última, que tinha o número treze e
entre outras exigências que atrasavam as vendas, mas me
tiravam sorrisos.

— Hoje elas parecem mais animadas do que nunca.

— Sim. E a minha avó é a pior delas. — Revirei os


olhos.

As horas foram passando o público aumentou e eu


me via na correria para atender a todos o mais rápido
possível, se nós os vendedores demorássemos, as idosas
viciadas que mais pareciam fazer parte de uma quadrilha
pró-bingo, nos xingavam e mandavam que andássemos
logo com as vendas, porque elas queriam jogar e não ficar
esperando.

A mesa da minha avó era a que me dava mais


trabalho. As amigas dela queriam comprar comigo, porque
uma tinha ganhado uma cesta de frutas e isso queria dizer
que dei sorte para a mesa.

Sempre que me via correndo para trazer o troco ou


correndo para entregar o prêmio ao ganhador, minha avó
pedia que eu fosse com calma e eu sabia que ela dizia isso
por conta do bebê.

A noite ia seguindo e eu me via pensando menos no


que me incomodava a cada pedido de: “balança o saco”,
para tirar logo a bolinha, ou “mexe a bola”, que queria dizer
para que o homem com voz forte que narrava o jogo girasse
o globo onde todas as bolinhas com os números estavam.

Por mais que eu tivesse muitas questões não


resolvidas, eu tentava me divertir com Patrick e com as
outras pessoas que ajudavam nas vendas. Até consegui
esquecer o problema por uns minutos.

Era engraçado que algo que sempre acontecia nas


rodadas nos fazia rir, como quando cada número dito pelo
homem que narrava o bingo, despertava velhas
brincadeiras, por exemplo, ao dizer o número sessenta e
nove alguém gritava: “um cagando outro olhando”. Ou, uma
série de tapas na orelha quando o narrador tirava o número
sessenta e seis e dizia: “meia, meia”, aí a rima vinha como
mágica: “um tapa na sua oreia”.

Tinha a parte nada politicamente correta, quando


alguém não ouvia o número narrado e as idosas brincavam:
“surdo e mudo não joga”. Ah, e era só sair o vinte e quatro
que começavam a insinuação: “é eleee.... o viado” e aí
começavam a falar o nome dos homens ali. Sem contar o
quarenta e quatro: “é a sapatona”.

Divertia-me com as brincadeiras antigas e inocentes,


mas o que os senhores não sabiam era que se o bingo fosse
parar na internet, aqueles velhinhos animados podiam ser
facilmente cancelados.

Eu ainda ria, quando meu olhar foi fisgado para a


entrada do salão. Uma figura alta, vestida com terno cinza,
perfeitamente abraçado ao corpo forte e lindo como um
deus, andava por entre as mesas e recebia olhares das
mulheres presentes. Só faltavam babar.
Observei-o abrir o botão do terno enquanto
caminhava, exibindo o olhar sério e atento ao redor como se
procurasse alguém.

Théo...

Meu coração acelerou e engoli em seco a reação que


causava ao meu corpo simplesmente por vê-lo.

Mais uma vez olhei ao redor, para confirmar que por


onde andava aquele homem lindo, que abalava as minhas
estruturas, o desejavam, e algumas solteiras nem
disfarçavam quando se cutucavam para mostrar para
alguém ao lado o quanto ele era atraente e lindo.

Olhei para a mesa da minha avó e a vi de pé,


balançando os braços em desespero para ser vista por Théo
e sorria como se tivesse visto um príncipe encantado.

Traidora!

Com toda a sua altura, quando se aproximou da


mesa ele estendeu a mão para a minha avó e se abaixou
para cumprimentá-la com um beijo carinhoso no rosto.
Depois a vi o apresentar para as senhoras na mesa e ele as
cumprimentar uma a uma.

As safadas só faltavam babar.

Imediatamente arrumaram uma cadeira para Théo e


o vi se acomodar ao lado da minha avó. Eu não acreditava
que ele estava ali. O milionário dono de diversas empresas
jogando bingo em uma quermesse de igreja. Parecia até
matéria de jornal.

Travei o maxilar e minha respiração acelerada


entregava que algo não parecia certo.
Quando vi que a minha avó observava em volta,
como se me procurasse para mostrar a ele, desviei o olhar e
meu gesto foi notado por Patrick.

— Está tudo bem?

— Não. Você pode cobrir o lado direito que eu fico


com o seu? Tem uma pessoa na mesa da minha avó que eu
não quero interagir.

Ele olhou para lá e o vi sorrir.

— Brigou com o namorado?

Cruzei os braços na frente do peito e o encarei.

— Nem pense em fazer gracinhas.

Ele ergueu a mão em rendição e foi a minha vez de


sorrir.

— Longe de mim.

— Bingoooo!

Alguém gritou indicando que tínhamos que começar


a vender a próxima rodada e quando olhei para a mesa de
prêmios na intenção de ver se faltava muito para ir embora,
notei que tinha apenas a rodada atual e a última que era
uma rodada de dinheiro. Após isso eu estava livre para
partir.

Eu ia conseguir lidar com aquilo.

Troquei de lado com Patrick e respirei fundo. Era só


eu ficar longe, fazer meu trabalho e depois sair escondida
sem falar com Théo.
Eu ia conseguir.
Capítulo 33
Théo
Antes que a avó a encontrasse eu a vi. Linda como
sempre e não me olhava.

Eu queria andar até a Tábata, a puxar para os meus


braços e a beijar mostrando o tanto de saudade que eu
sentia dela, mas era óbvio que eu não podia fazer isso no
meio de um salão cheio de idosos.

Também não podia fazer isso sozinho, considerando


quanto arredia ainda estava a qualquer gesto meu, era
capaz de gritar.

Não demorou até que eu notasse o tal vizinho ao


lado dela, todo cheio de intimidade e sorriso. Vi que a fez rir
e apertei o maxilar para conter a raiva.
— São só amigos. Quer comer alguma coisa ou
beber? — Dona Emília tentou me acalmar com um sorriso
maternal.

— Obrigado. Tive um jantar de negócios há pouco.

— Ah, mas ao menos um vinho quente. Vou pedir pra


você.

Vi a senhora acenar para alguém, fazer o sinal como


se pedisse uma bebida e não demorou até que um garoto
trouxesse um copo de isopor com um vinho fumegante.

Tomei um gole, tinha maçãs, cravo e canela e estava


realmente bom. Dei graças aos céus por aquele dia estar
frio.

Meus olhos novamente varreram o espaço em busca


da mulher que tinha me mudado em tão pouco tempo e ela
vendia cartelas do outro lado do salão.

Na mesa as senhoras não paravam de me olhar e


faziam insinuações nada discretas, eu segurava o riso e
assentia de maneira divertida, porque não sabia como me
comportar. Elas conseguiam me deixar tímido, coisa que
raramente ou nunca acontecia.

— Não liga para elas, filho, são todas umas


assanhadas.

— Sua neta está bem-servida, né, Emília? — Uma


delas comentou, mas antes que eu pudesse responder dona
Emília fez:

— Sossega, Benê.
— Se a Tabatinha não quiser e você estiver atrás de
um mingau de aveia, estou disponível. — Uma delas brincou
e dona Emília chamou sua atenção se sentindo tímida pelas
amigas nada envergonhadas, enquanto o comentário me
tirou um sorriso sincero e divertido.

O lado bom era que todas na mesa eram muito


viciadas no jogo, então não falavam durante a rodada ou
prestavam atenção no vendedor de cartelas e depois nos
números cantados.

Quando a nova rodada ia começar a ser vendida,


para o meu azar, quem se aproximou para vender as
cartelas na mesa foi o maldito vizinho que me olhou e seu
sorriso sumiu. Era claro que ele queria o que era meu e,
talvez, até pensasse que ganhou ao ver que ela nem sequer
me olhava ou nem tinha seguido para me cumprimentar.

— É a última rodada, a que vale dinheiro — ele


avisou para a mesa enquanto eu o avaliava com um olhar
nada amistoso.

Depois do primeiro momento que o vi fazer Tábata


rir, minha raiva aumentou e até senti inveja, desejei estar
no lugar dele. Para a minha alegria nos minutos que
sucederam não os vi mais juntos, o que foi um alívio.

Estiquei-me para olhar em sua direção e seu olhar


cruzou rapidamente com o meu, mas Tábata desviou sem
demonstrar interesse e eu me senti um merda.

— Ela vai falar com você quando acabar o bingo —


Dona Emília sibilou para que apenas eu escutasse e me
lançou um sorriso carinhoso.

— Vai jogar, dona Emília? — o vizinho que queria a


minha garota perguntou.
— Joga, quem sabe você não ganha, Emília, e aí vai
poder usar o dinheiro para comprar o enxoval do bebê —
uma senhora de cabelo curto falou para dona Emília e eu
juntei as sobrancelhas sem entender.

Bebê?

Vi a avó da mulher que eu amava se contorcer ao


meu lado e o vizinho juntar as sobrancelhas como se
também não soubesse a que bebê se referiam, mas antes
que eu pudesse dizer qualquer coisa, outra senhora falou?

— Nem acredito que você vai ser bisavó. Você é tão


jovem, Emília.

Engoli em seco e meu coração já nem batia mais, ele


saltitava.

Tábata estava grávida?

Pelo que ela me contou nas nossas conversas sobre


família, era a única família da avó, sendo assim, não tinham
outros netos que a pudessem a transformar em bisavó.

— Bisneto? — perguntei para dona Emília.

— Vão ou não jogar? — o rapaz insistiu impaciente e


aquela conversa parecia uma loucura na minha mente.

— Quero. — Dona Emília esticou o braço para pegar a


cartela, parecendo fugir do assunto e não me disse nada
sobre o bisneto, além de parecer muito nervosa.

— O que está acontecendo? — perguntei a ela.

— Você vai jogar? — o vizinho que parecia talvez não


se lembrar de mim, ou lembrava e não tivesse medo de
morrer, insistiu não deixando que dona Emília me
respondesse.

Que inferno!

— Quero todas que você tem — falei para acabar


com a intromissão de uma vez por todas.

— O quê?

— Quero todas as cartelas que você tiver, depois


quero que as distribua pelo salão.

— Deve ter umas duzentas cartelas aqui, ou mais, eu


acabei de abrir o talão e tem mais... um ou dois lacrados,
custa cinco reais cada cartela. — Ele parecia fazer contas
mentais e era claro que me achava louco.

— Sim, compro tudo o que você tiver e quero


também as que estão com ela. — Apontei para Tábata que
não estava muito longe dessa vez. — Mas quero que Tábata
me venda, pode pedir para ela vir até aqui.

— Mas aí você vai gastar mais que o prêmio que é de


mil reais.

— Não quero o prêmio, ou melhor, o prêmio que eu


quero é outro. —Olhei para Tábata e apertei o maxilar para
conter a irritação, depois respirei fundo e soltei o ar. — E
saber o que está acontecendo seria ótimo. — Ele me olhou
sem saber o que fazer.

Na mesa as senhoras começaram um burburinho de


sussurros e risadinhas, provavelmente entendendo o prêmio
que eu queria. Umas se exibiam animadas outras julgavam
e eu pouco me importava, só queria um jeito de ter a
atenção da mulher que me fez ir à uma quermesse de igreja
e que fazia meu coração acelerar com a possibilidade de me
imaginar como pai de um filho dela.

Filho... mas seria possível?

Apertei de novo o maxilar para conter a irritação,


aquela história mal contada envolvendo um “bebê” bateu
em mim de um jeito que eu só queria explicações e não
sabia se desejava que fosse verdade ou invenção da minha
cabeça.

Ela estava grávida?

E sabia desde quando que não me contou?

O filho.... era meu?

Pensar nela grávida fazia meu coração palpitar e


batia ainda mais rápido com o pensamento de eu não ser o
pai.

O que eu faria se eu não fosse o pai?

Ela teria me trocado tão rápido assim por outro? O


vizinho...

Eu os vi conversando com intimidade e animação


quando fui até o seu prédio no dia anterior, ela nem parecia
sentir minha falta e depois daquele momento eu me peguei
pensando se Tábata havia me superado.

Eu não a havia esquecido nem por um segundo.

Minha mente vagava a mil enquanto eu observava o


vizinho acenar para a mulher que mudou a minha vida,
enquanto Tábata não olhava, de propósito, até que ele
chamou atenção do narrador, que falou no microfone:
— Tábata, cartela na mesa da sua avó.

Nesse momento ela enfim cruzou seu olhar com o


meu, engoliu em seco e sem poder fugir andou até onde eu
estava. Na mesa todas as senhoras ainda me observavam
abismadas e pareciam esperar o próximo capítulo como se
assistissem a uma novela.

Receosa Tábata se aproximou, não me olhou e ouvi


uma das senhoras cochichando com a outra:

— Ela não vai falar com o namorado?

— Devem estar brigados.

— Oi, Patrick — falou com o cuzão e parecia


claramente sem vontade de estar ali.

— Ele quer comprar todas as cartelas.

Enfim me olhou e meu coração acelerou. Eu sabia


que ela estava irritada, mas foda-se, eu também me sentia
assim por não saber o que caralho acontecia.

Era incrível o poder que sua proximidade tinha sobre


mim.

— Como vai, Tábata? — provoquei-a, porque sabia


que ela não queria falar comigo, como uma menina
mimada, mas eu faria.

— Bem, muito bem.

Analisei seu corpo e meus olhos pararam por tempo


demais na sua barriga. Quando meu olhar voltou para o seu
rosto, ela engoliu em seco.

— E o bebê?
Seu semblante se transformou como se tivesse sido
tomado de desespero, ela engoliu em seco e não me
respondeu.

— Patrick, se ele quer comprar todas, então vamos


vender todas para ele. Ele pode pagar por tudo o que
quiser, tem feito investimentos fácies que lhe renderam
muitos lucros. — Senti a insinuação na sua voz e pisando
duro ela andou até o narrador, que anunciou:

— Temos um jogador generoso, ele comprou todas as


nossas cartelas e vamos distribuir gratuitamente para
todos.

O salão se ergueu em gritos e aplausos e me


mantive sentado e tentando passar despercebido.

Os olhos das senhoras na mesa me fitavam em meio


a sorrisos e eu sabia que se viam curiosas para saber o que
acontecia entre Tábata e eu.

— Você sabe que ela não funciona sob pressão e


ainda está magoada — Dona Emília avisou.

— Sei... e sei que agora eu também estou me


sentindo enganado. Que história é essa de bebê e bisneto?
— Minha voz era carregada de rancor, dúvidas e eu nem
sequer sabia organizar o que eu sentia.

— Acho que vocês precisam conversar longe daqui.

Apertei o maxilar e queria puxar Tábata pelo braço e


a fazer me escutar e entender de uma vez por todas que a
aposta foi uma burrice, mas todo o resto foi a melhor coisa
que me aconteceu, que se estava grávida eu queria saber
se o filho era meu e por quanto tempo ela pensava em me
esconder.
Será que ela estava grávida?

Olhei na sua direção e o tal vizinho parou ao seu lado


e a tocou no braço com carinho.

Mas... será que...

Apertei o maxilar. Só de imaginá-la com outro meu


sangue ferveu e meu peito queimou com a raiva de ter
perdido a única mulher que fez com que eu me
apaixonasse.

Eu a amava tanto que mesmo se o filho não fosse


meu...

Era meu. Não podia não ser.

Levantei-me para acertar o valor que eu devia à


igreja. Os organizadores pareciam preocupados com o valor
que eu tinha gastado em cartelas, mas mal sabiam que eu
havia perdido muitas vezes mais que aquilo quando fui a
um cassino em Vegas.

A última rodada começou e eu não ia esperar que ela


terminasse para conversar com Tábata. De longe a vi entrar
em uma porta lateral e rezei para que fosse um lugar com
menos pessoas e a segui. Era uma espécie de depósito e
quando entrei, notei que ela tirava o avental.

Eu sentia tanta saudade daquela coisinha brava, do


seu cheiro, do seu toque, que queria abraçá-la
imediatamente, prensá-la contra a parede e sentir sua pele
de encontro à minha.

— Tábata... — Sua postura se retesou ao ouvir minha


voz por um pequeno segundo e depois se virou em minha
direção, me fitando com os olhos lindos que eu tanto
amava.

— Eu não posso conversar aqui. — Ia passar por


mim, mas a segurei pelo braço.

— Que história é essa de bebê? — Vi-a engolir em


seco.

— Me deixa. — Desvencilhou-se da minha pegada e


rumou de volta para o salão onde acontecia a última rodada
de bingo.

Fechei os olhos e soltei o ar buscando paciência e


calma.

Segui atrás dela e Tábata andava tão depressa que já


havia se despedido da avó e ia em direção a saída.

Andei a passos largos para alcançá-la, mas sumiu do


meu campo de visão entre as pessoas que deixavam a
festa. Corri até onde eu tinha estacionado meu carro, o
liguei depressa e eu sabia que ela só podia estar indo para
casa que não era muito longe dali.
Capítulo 34
Tábata
Eu andava, quase correndo, e meus pulmões
queimavam. Queria fugir do homem que virou a minha vida
de ponta cabeça, ao mesmo tempo que eu desejava correr
para os seus braços e o beijar para acabar com a saudade
que eu sentia.

A confusão de sentimentos me deixava maluca.

O momento que ele entrou no salão ainda se repetia


em minha mente como um filme e esfregava na minha cara
um dos motivos pelo qual eu me apaixonei por ele: era lindo
e atraía olhares por onde passava.

Eu andava depressa para casa, rezando para que ele


não me seguisse. Os carros passavam ao meu lado
iluminando a noite com os faróis, meu prédio não era muito
longe e em poucos minutos eu me veria a salvo de ter que
lidar com Théo.

Para o meu azar, quando eu virei a esquina que daria


de frente para o portão principal do condomínio, ele já
estava lá. Inferno! Encostado ao carro, com o braço cruzado
na frente do peito e um olhar distante.

Dei uma pequena parada no passo, mas logo voltei a


andar e respirei fundo para o encarar, não ia mesmo
conseguir fugir.

Ao mesmo tempo que pensava em como o afastar, o


meu corpo gritava para me aproximar.

Assim que me viu, ele desencostou do carro e ficou


em alerta, como se pensasse imediatamente em um jeito de
se aproximar.

Meu coração batia acelerado de modo como nunca.


Pensei em ignorá-lo e passar direto, era infantil, mas era um
jeito de me preservar, correndo da situação.

— Por favor, Tábata. — Parou na minha frente.

— Me deixa passar.

— Não. Eu quero respostas.

— E você acha que tem o direito de exigir alguma


coisa?

Vi seu maxilar se enrijecer.

— Sim. Tenho direito de saber toda a verdade que eu


sei que está encobrindo. — Ele não disse com todas as
letras, mas eu sabia que teve ciência sobre a gravidez por
ter perguntado sobre o bebê.

— Para quê?

— Você está grávida?

Meu coração pulou uma batida e comecei a andar


para fugir da pergunta, mas ele pegou meu braço e entrou
na minha frente.

— Você não vai fugir. Esse filho é meu?

— Esse filho não é seu. — Doeu negar a verdade e


seus olhos buscaram os meus.

— Tábata. — Parecia me ler e saber que eu mentia.

— Não é. Você está livre para seguir sua vida como


antes, com os milhões que ganhou com a aposta, com uma
mulher a cada noite e sem que precise ter obrigação
nenhuma. — Meus olhos se encheram de lágrimas.

— Você está mentindo.

— Não estou. Você também tem dúvidas ou nem


teria me perguntado se o filho é seu.

— É meu, não tenho dúvidas, só perguntei, porque


queria ouvir de você.

Fechei os olhos e respirei fundo na tentativa de


dissipar o caroço na minha garganta.

— Tábata, me dá uma segunda chance que prometo


ser o melhor pai e o melhor marido.

Encarei-o sem dizer nada e ele continuou:


— Vou te mostrar que nada na minha vida vale mais
que você. Te falei e repito que eu troco o que for preciso
para te ter de volta na minha casa e ter os dias que passei
ao seu lado. — Ele engoliu em seco e deu um passo em
minha direção enquanto eu tentava controlar as batidas do
meu coração. — Eu te quero de volta e... — Colocou a mão
na minha barriga. — E ao nosso filho.

Dei um passo para trás e fechei os olhos lutando


contra a vontade de dizer sim. Ainda precisava de... mais.

— Você nunca vai me perdoar?

— Está perdoado.

— Então volta para mim?

Encarei-o por alguns minutos e eu queria dizer sim,


nossos momentos juntos passaram por minha mente e a
vontade de me lançar nos seus braços me atingiu em cheio,
mas eu me sentia tão magoada e o bebê... Eu não queria
que ele se aproximasse de mim por causa da gravidez.

— Preciso de respostas.

— Posso te dar quantas precisar.

Ele parecia tão disposto a tudo para me ter de volta.

— Quando... — Engoli em seco. — A aposta começou,


você sabia que eu ia trabalhar na sua empresa?

Vi-o juntar as sobrancelhas em desentendimento.

— Não. Eu não fazia ideia. A escolha de você ser... —


Pareceu desconfortável com a palavra que ia usar. — O alvo,
foi toda do Roger.
Assenti.

— Você sabe se ele sabia? Digo, se fez de maneira


proposital.

Théo parecia não entender aonde eu queria chegar e


continuei a falar:

— Desde que o vi no jantar tive a impressão de já o


conhecer e quando o vi na empresa, me lembrei que
quando fui ao RH no dia que eu soube que ia começar a
trabalhar eu o encontrei saindo do elevador, foi muito
rápido e meu medo não permitiu que eu focasse muito no
seu rosto e... repensando aquele dia... acho que também o
vi no banheiro no bar. Que ele disse qualquer gracinha, mas
como eu não me via com vontade de interagir, só fingi não
ouvir. Só não tenho certeza se realmente era ele.

— Não estou entendendo, você acha que ele já te


conhecia, sabia que seria funcionária da Bela Maria
Cosméticos?

Dei de ombros.

— Não sou uma mulher marcante, talvez seja uma


enorme coincidência, mas... talvez não.

Théo parecia ser tomado de uma ira que antes não


existia ali.

— Filho da puta! O que ele queria?

Fiquei em silêncio.

— Ele não te esqueceria. Roger queria algo mais


quando propôs a aposta.
— O quê?

— Ainda não sei, mas ele não esperava que eu me


apaixonasse por você. Isso nunca aconteceria com outras
mulheres.

Fitei seu rosto e busquei no fundo dos seus olhos


uma mentira, mas Théo me pareceu completamente
sincero, o que me confundiu e achei melhor entrar antes
que me rendesse a ele.

— Acho que não temos mais nada para falar.


Precisamos encerrar e... — Antes que eu pudesse dizer mais
alguma coisa suas mãos tomaram o meu rosto e me
puxaram para um beijo.

Virou-me para me encostar ao carro e me beijou com


fervor com seu corpo prensando o meu.

Não me opus, sentia tanta saudade que com as mãos


agarrando seu terno eu o puxei para mim e aproveitei a
sensação dos seus lábios nos meus de novo.

Quando o beijo começou a findar ele terminou


lentamente e colou nossas testas.

— Não vamos encerrar o que temos, entendeu? Não


vou desistir de você, Tábata. Você vai ser minha de novo e
quando sua mágoa passar eu estarei pronto para te receber
de volta e... — Pousou a mão na minha barriga. — Nosso
filho. Nosso!

Ouvir Théo chamando o bebê de nosso filho aqueceu


meu coração e meus olhos se encheram de lágrimas.

Ele pousou beijo por todo o meu rosto.


— Eu te amo.

Confusa balancei a cabeça em negativa, me afastei e


sem dizer nada apenas me virei para partir, mas Théo
segurou minha mão e me virou para ele.

— Me dá dez dias? Se em dez dias eu não te provar


meu amor e que o que eu estou dizendo é verdade, você
não precisa nunca mais olhar para mim.

Engoli em seco, me mantive em silêncio e ele


perguntou:

— Só, por favor, fala, quero ouvir da sua boca. Diz


que esse filho é meu.

Revirei os olhos e ia me afastar, se ele tinha uma


fagulha de dúvida não merecia que eu o desse o que pedia,
mas se lesse meus pensamentos ele me puxou de novo
para os seus braços.

— Não tenho dúvidas, mas preciso ouvir de você.

Fitei seus olhos e uma lágrima escorreu do meu


rosto.

— Eu não fiz de propósito, não planejei ficar grávida


para ter seu dinheiro ou... — Enxuguei o rosto e desviei o
olhar. — Esse filho é seu.

Ergueu meu rosto com uma mão de cada lado e me


beijou parecendo feliz em ouvir.

— Não quero seu dinheiro — repeti.

— Foda-se o dinheiro! Nada no mundo é tão valioso


quanto nós e vou te provar isso. Eu nunca pensei em ser
pai, mas com você eu quero tudo. — Pousou a mão na
minha barriga.

Apertei os lábios, contive um suspiro. Eu me sentia


tão tentada a aceitá-lo de volta.

— Me dá... dez dias?

— Théo, eu não sei como acreditar em você. —


Notando que eu me via quase o perdoando ele ergueu meu
rosto com o indicador para que eu o encarasse.

— Não precisa ser agora ou hoje, você não precisa


acreditar em mim de imediato, mas só me deixa tentar te
reconquistar e te mostrar que eu te amo e não pela aposta,
mas por você. Você mudou minha vida.

Eu o encarei e meu peito subia e descia com a


respiração acelerada.

— Me deixa ser o pai do nosso filho?

Essa pergunta me quebrou e meus olhos se


encheram de lágrimas.

— Eu vou entrar... pensar.

— Vou te esperar. Você sabe meu número como me


encontrar e eu sempre estarei por perto. Só não demora,
porque cada segundo sem você... me quebra.

Eu começava a acreditar nele, porque Théo não tinha


mais motivos para me querer se não por mim... bom, tinha
o filho.

— Até mais, Theodoro.


Virei-me sem mais o olhar e segui para casa. Nada
tinha ficado certo e eu nem sabia o que seria dali em
diante, mas eu precisava pensar.

E repensando o que ele me disse enquanto eu me


afastava ainda com o gosto do seu beijo e seu cheiro
impregnado em mim, naquele momento era eu quem o
avaliaria e como sugeriu, teria dez dias para me convencer
que era apenas eu que ele queria. Sem apostas.
Capítulo 35
Théo
Ainda que meu relacionamento com Tábata não
estivesse como eu desejava, eu carregava a esperança de
um recomeço.

Antes ela não desejava conversar, no entanto,


naquele momento ela havia me deixado com um: “vou
pensar”.

Um filho... eu ia ser pai.

Aquela novidade ainda me assustava e ainda mais a


rapidez como tudo com que a minha história com Tábata
seguia.

Foi tudo muito intenso e rápido desde o início e eu


desejava que dali em diante fôssemos devagar.
Quando pensava como tudo começou, depois dessa
nova conversa com Tábata, eu tinha uma nova perspectiva
e eu precisava investigar melhor a história do Roger a
conhecer.

Eu dirigia para casa e no silêncio do meu carro


pensei que o que eu conhecia do meu amigo e sócio a cada
momento caía por terra e Roger se mostrava um filho da
puta traiçoeiro. Na verdade, sempre foi inconsequente do
tipo que só pensava em si e agia sem pensar ao seu favor.

Repensei nossos momentos e eu podia contar


algumas vezes que nos desentendemos nos últimos tempos
na empresa, por ele desejar impor sua vontade sobre a
minha, mas o conselho e os demais acionistas acabavam
aceitando as minhas sugestões.

Não conseguindo voltar para casa, sem muito pensar


dirigi para a empresa. Era tarde da noite e a torre onde
ficava meu escritório não funcionava, mas a sala da
segurança sim.

Caminhando com a cabeça fervilhando segui até o


setor em que ficavam as telas com as imagens de
segurança e pedi que o funcionário que trabalhava naquele
momento me mostrasse as imagens do dia em que Tábata
esteve ali para ser contratada. Pelo que ela me falou, o
mesmo que nos conhecemos.

Meu rosto exibia toda a minha irritação e a minha


ânsia de descobrir a verdade sobre o meu sócio que podia
ser uma cobra traidora, porém, eu precisava saber com
certeza o que ele desejava com toda a sua artimanha para
aí agir.

Enquanto analisava a filmagem do dia, pedi o


funcionário acelerasse e seguisse por diversas vezes até
que chegou o momento em que a vi.

— Espera. Nesse momento.

Linda como sempre estralava os dedos esperando o


elevador depois de ser informada que trabalharia conosco.
Seu sorriso ainda que com medo era lindo. Lembrei-me do
momento descontraído que dividimos no chalé, em que me
contou sobre o medo que sentia de tantas coisas e até isso
eu amava nela.

Eu a protegeria.

Continuei observando a tela com atenção e o


momento em que as portas se abriram vi o filho da puta do
Roger sair e Tábata entrar sem o dar atenção. Ele a fitou
como se fosse um doce e ao pausar a cena vi que o
desgraçado lançou um sorriso de lado como se a desejasse.

Era mesmo ele, como ela se lembrava.

Continuei a assistir o vídeo e sem notar Roger ela


seguiu e consegui ver que ele conversou com a funcionária
que acompanhava Tábata.

— Preciso do som. Essas gravações têm som?

— Sim, senhor.

— Preciso ouvir.

Após acionar alguns botões comecei a ouvir a voz do


Roger. Ele perguntava quem era a moça do elevador,
quando ela começaria a trabalhar e outras perguntas mais,
todas relacionadas à Tábata. O que fez meu sangue ferver.
Questionei-me se ele já a conhecia antes da bendita
aposta e a resposta brilhou como um luminoso. Sim!

Passou por minha mente se depois disso mais


alguma vez ele procurou saber informações sobre Tábata e
movido pela ânsia da verdade pedi que o funcionário
entrasse em contato com o responsável da nova tecnologia
de reconhecimento facial, que eu estava implantando na
empresa. Era o melhor que a tecnologia podia me dar e,
claro, que eu ia usar a meu favor.

Esperei que o outro profissional chegasse e pedi que


procurassem outros momentos em que Roger e a moça
conversaram na empresa e não demorou até que
encontrassem. No dia que Tábata descobriu tudo, minutos
antes de tudo acontecer, eles tinham conversado
rapidamente na porta da sala da presidência.

— Quero esse áudio.

— Desculpe, senhor, o microfone não conseguiu


capturar.

— Porra! — Dei um soco na mesa que assustou os


homens, que me olharam com espanto, talvez por eu nunca
ter me excedido e sempre ter sido cordial.

Saí da sala transtornado e se não fosse tarde da


noite eu ia atrás da funcionária para saber a sua versão da
porra daquela história suja.

Segui até meu carro e eu não sabia o que fazer, só


pensava em matar o maldito Roger. Ele tinha armado para
que ela ouvisse a verdade sobre a aposta.

Desgraçado!
Eu precisava respirar ou acabaria na casa do Roger
socando a cara dele sem dó.

Tentei focar em algo que me fizesse bem para não ir


atrás dele ou da que vinha sendo o motivo da minha
tempestade e calmaria: a minha Tábata. Prometi que a
convenceria de voltar para mim em dez dias e assim seria.

Antes que me desse conta o rádio do carro tocava


uma música triste do Shaw Mendes, que pensei se chamar If
the world was ending, e eu ri como um bobo ao me lembrar
dela. Eu começava a virar fã dele por ela.

Filho...

De novo pensei que eu seria pai e era um misto de


alegria com raiva que eu só desejava chegar em casa e
tomar um grande copo de uísque puro e sem gelo para
anestesiar aquele misto de amor e ódio que me assolava.

Quando entrei no meu apartamento em que cada


canto me lembrava ela, depressa fui até as bebidas e me
servi.

Olhei em volta e na minha enorme sala vazia, com as


vidraças deixando a luz da lua entrar, me lembrei do quanto
me senti feliz no dia que a pedi em casamento e no jantar
em que a apresentei a todos.

Como uma lembrança feliz fechei os olhos e a


imaginei ali. Respirei fundo quando abri os olhos e vi que
era apenas meus pensamentos, mas no dia seguinte eu
começaria meu plano para reconquistá-la e, também o de
acabar com Roger.
Capítulo 36
Roger
Eu tomava sozinho um uísque caro na sala da
presidência da Bela Maria Cosméticos. Normalmente eu o
tomaria com meu sócio.

Aturei aquele desgraçado convencido por tantos


anos, até fingi ser seu amigo para conseguir começar meu
império. Ele era bom com negociações e eu precisava de
alguém que me ajudasse nos primeiros passos. Depois
acabei me acostumando em ser sempre o segundo, mas há
um tempo que eu desejava ocupar o primeiro lugar, ao
menos ali na empresa que ajudei a fundar.

Eu tinha um plano e ia dar certo, foi o que pensei,


até ele decidir se apaixonar pela vagabunda com cara de
nerd que provavelmente só queria tirar cada centavo
daquele idiota.

Certo que foi eu quem aproximou os dois, não por


que eu era um bom amigo, mas porque mais cedo naquele
dia eu soube que ela trabalharia na empresa, a reconheci e
quando ela não me deu a menor atenção no maldito bar,
decidi que a jogaria para Theodoro, ao menos se ele a
fodesse sem saber que seria sua empregada, certamente
quando descobrisse tentaria pular fora, isso quebraria o
coração dela e uma mulher pobre e chateada colocaria
sobre ele um processo que o tiraria uma grana.

Foi um golpe de sorte a encontrar no bar e entendi


que era um sinal, o meu momento de agir para enfim chutar
ele da sociedade e ter mais credibilidade na empresa. O que
eu sempre quis, ser o primeiro.

Tive a ideia da aposta idiota e nunca pensei que ele


conseguiria o tal casamento, assim eu acabaria com
Theodoro de duas maneiras: ele perderia a aposta, eu
ganharia as ações e eu teria mais voz de comando na
empresa. Porque ele tinha muitos defeitos, mas honrava
com sua palavra.

Além de que eu acabaria com a sua reputação do


chefe bonzinho o expondo em um processo de abuso
sexual. Acreditei que a nova funcionária acabaria de
coração partido e o foderia em um processo trabalhista
quando ele não quisesse mais ela após o tal casamento.

Soltei um riso esganiçado e bebi meu uísque.

Eu podia tentar acabar com ele de outra maneira,


mas dessa forma eu sairia totalmente inocente, manteria a
minha pose de amigo e quem sabe, usasse mais dele
quando precisasse.
Porém, mais uma vez Theodoro Medina conseguiu se
sair melhor do que eu e de que tudo que programei.

Joguei o copo contra parede e ele se estilhaçou em


mil pedaços fazendo um barulho ecoar na sala vazia que eu
sonhei tanto em ocupar sozinho.

Eu sou um merda!

Joguei o meu charme para aquela puta no


restaurante na noite da aposta quando a vi no banheiro e
nem sequer me olhou ou ouviu. O que de tão melhor Théo
tinha que sempre conseguia quem queria?

A maldita mulher tinha me visto duas vezes e eu era


tão insignificante que ela nem sequer se lembrou de mim
quando me viu no jantar.

Levantei-me, peguei a garrafa e bebi direto no


gargalo. Olhei para a bebida.

Até isso ele tinha sido contra, não queria deixar


bebida no escritório, mas eu mandava naquela porra
também e decidi deixar assim mesmo. Ótimo, porque eu
precisava dela naquele momento de derrota.

Se ao menos ela tivesse me dado uma pequena


maldita atenção no tal jantar de casamento, mas todas as
vezes que cogitei me aproximar ela se esquivou. Eu pensei
em plantar uma discórdia, falar sobre a aposta, sobre ele
ser seu novo chefe, mas não tive oportunidade.

Desgraçada!

Balancei a cabeça em negativa e quanto mais eu


pensava, mais raiva me dava. Eu precisava agir e eu ia.
Naquele momento eu tinha dinheiro o suficiente para
mostrar ao idiota do meu sócio que eu não precisava mais
dele e como ele me tirou ano a ano a minha autoestima eu
tiraria o que Théo mais desejava naquele momento e o faria
viver sentindo falta de algo, se sentindo diminuído e como
um rato, do mesmo modo como eu sempre vivi.

Eu me via cansado de sempre me ver em segundo


lugar, nas sombras, e já que Theodoro pensava que eu era
um vilão. Eu seria um.
Capítulo 37
Tábata
Acordei com Théo em cima de mim e me olhando
como se estivesse feliz em me ter de volta.

O Théo gato.

— Miaaauuuuuu... — miou e ronronou.

— Bom dia para você também, Fofuxo.

— Miaaauuuuu...

— Tá, já vou colocar sua comida.

A gravidez me dava muito sono e descobri isso


quando na noite anterior, para não pensar no meu ex quase
marido, eu passei horas pesquisando sobre gestação.
Bati a mão na mesa de cabeceira em busca dos
meus óculos e os coloquei no rosto, depois procurei por meu
celular e quando o encontrei vi que tinha uma mensagem
do Théo dizendo que pensava em mim. Não soube o que
responder e apenas me mantive em silêncio.

Por mais que ainda me visse confusa sobre como


lidar com tudo, eu também me via muito propensa a o
perdoar.

Coloquei a mão na minha barriga. Tínhamos muito


que nos ligava.

Esse pensamento também me trouxe outro: o dele


me querer por causa da gravidez, como se ainda
estivéssemos no século passado.

Passava das onze da manhã do domingo quando


fiquei de pé e me arrastando me levantei para ir ao
banheiro e depois até a sala.

Conseguia ouvir minha avó mexendo na cozinha e eu


sabia que ia me dizer duzentos motivos para comer e
sempre acabando no: coma que agora não é só você e o
bebê precisava de nutrientes.

Contudo, apesar de ver a mesa posta para o café e


me esperando, assim que saí do corredor e cheguei à sala,
dei de cara com um enorme buquê de flores sobre a mesa.

— O que é isso? — Andei até o arranjo e tinha um


cartão que li:

“Dia 1: Para que seu dia comece florido. Te


amo. Seu Theodoro”
— Bom dia, Princesa, venha dar o café da manhã
para o meu bisnetinho. — Minha avó apareceu na sala
sorrindo como se já tivesse lido o cartão.

Revirei os olhos.

— Achei que se preocupava comigo, Vó.

— Claro que me preocupo, porque você carrega na


barriga o meu bisnetinho. — Tive que rir. — Amanhã vamos
atrás de fazer o pré-natal.

Segui até a mesa e me sentei, estava posta e tinha


comida como se um batalhão fosse comer.

— Feliz em acordar recebendo flores? Pode me


contar tudo o que aconteceu depois que saíram do salão do
bingo.

— Ah, nada.

Minha avó colocou a mão na cintura e me avaliou.

— E esse sorriso que eu não via há tempos no seu


rosto é o quê?

— Só disposição.

— Vou fingir que acredito.

Tomei um gole de suco, porque café não descia de


jeito nenhum. Théo veio miando para o meu lado e eu o
peguei no colo, para a minha surpresa assim que deitou
meu gato colocou a patinha na minha barriga, esfregou o
focinho nela e apoiou a cabeça fechando os olhinhos.

Olhei para a minha avó para ver se ela tinha


testemunhado a cena e ela sorria. Era como se ele soubesse
que tinha um bebê ali.

Meus olhos se encheram de lágrimas e eu ri e chorei


com a cena.

— Por que eu estou chorando assim?

Minha avó abriu ainda mais o sorriso.

— Hormônios, minha querida. Os primeiros meses


são uma combustão de hormônios e você vai rir, chorar,
dormir, comer ou não, enjoar, entre outras reações que a
fase mais maravilhosa da vida da mulher vai te expor.

Enxuguei o rosto e acariciando a cabeça do meu


gato, falei para ele:

— Vocês serão melhores amigos.

Por um segundo sorri ao imaginar um bebê


apertando meu gato, brincando e abraçando. E por mais
maluco que pudesse ser, eu me via quase que gostando e
ansiando por testemunhar aquela cena. Eu amava aquele
bichinho e já amava aquele bebê como se ele estivesse ali
desde sempre.

O domingo passou preguiçoso e depois do café decidi


arrumar o meu quarto e deixar a minha mesa de trabalho
organizada para a segunda. Os freelancers cresciam e eu
precisava dar conta de administrar as empresas que
apareciam e as que já estavam comigo. Eu não podia perder
dinheiro, ele ia ser útil para o bebê. Não queria depender do
pai dele.

Quando passei pela sala ouvi alguns barulhos vindos


do lado de fora do apartamento e do terraço, mas o meu
lado antissocial não me deixou sair para ver o que era.
Quando perguntei para a minha avó, ela disse que
era alguma bem-feitoria que o síndico tinha arrumado.

Depois do almoço dona Emília foi para um chá da


tarde com as amigas e acabei sozinha com Théo no
apartamento. Antes de sair ela fez questão de garantir que
eu me sentia bem e depois de perguntar mais algumas
vezes, enfim partiu.

Passava das cinco da tarde quando os barulhos


pararam e ouvi a campainha tocar. Sem vontade nenhuma
de interagir segui até a porta imaginando que fosse o
síndico para pedir ou avisar algo sobre as melhorias.

Mesmo impaciente vesti minha cara de simpática e


abri a porta, mas para a minha surpresa quem estava ali
não era o síndico. Com as mãos nos bolsos e exibindo a
maior cara de gostoso, Theodoro me olhava com receio.

Meu coração pulou uma batida.

— Oi.

— Oi — cumprimentei de volta e um silêncio pairou


entre nós.

Imediatamente pensei que eu me exibia péssima.


Cabelo em um coque que se mostrava uma bagunça,
camiseta larga, shorts curto e óculos. Ergui meus óculos
com o indicador e ele sorriu como se gostasse de ver aquele
gesto.

— Sei que eu tinha que te dar espaço, mas não


consegui, ainda mais considerando que tenho apenas dez
dias para te conquistar. — Deu de ombros parecendo tímido.
— Preciso fazer a mulher que eu amo me perdoar.
Ouvir “a mulher que eu amo” fez borboletas voarem
no meu estômago.

— Quer... entrar?

— Não. Quero que venha comigo.

Juntei as sobrancelhas sem entender.

— Ir? Não posso... — Olhei para as minhas roupas e


ele não me deixou continuar.

— Você está linda. E não sairemos do prédio.

Eu não sabia o que fazer. Tentava me manter


posturada e calma, mas me via quase perdendo as rédeas
da situação, pulando no colo dele e dizendo que eu o
desejava e o amava com todas as minhas forças.

— Só um minuto. — Deixei a porta aberta e segui


até o quarto para colocar um sutiã e prender meu cabelo
decentemente.

Quando voltei até onde tinha deixado meu candidato


a marido, me surpreendi com a cena. Ele estava com Théo
no colo e meu gato ronronava fechando os olhinhos e
aproveitando o carinho que recebia.

Notando a minha presença, ele se explicou:

— Não sei o que aconteceu. Pela primeira vez veio


em minha direção e praticamente me pediu colo.

— Vai ver ele não gostava de você por desconfiar que


escondia a verdade e agora que você está sem mentiras ele
te deu uma chance.

Théo ficou sério, mas logo respondeu:


— Ele me deu uma segunda chance. Prova de que
realmente notou que estou de volta de verdade. É o que
dizem, animal sabe das coisas, só falta a dona dele saber.

Respirei fundo e soltei o ar. O filho da mãe sabia se


sair bem.

— Aonde vamos?

— No terraço. — Pousou o Théo no chão, mas meu


gato ao invés de voltar para casa, saiu correndo em direção
a escada que levava à parte superior.

— Deixa. Ele quer ir até lá também.

Fechei a porta e seguimos lado a lado pelo corredor.


Passei a ouvir apenas as batidas do meu coração quando
Théo pegou a minha mão e entrelaçou nossos dedos.

Não o afastei, mas fiquei em silêncio passo a passa e


degrau a degrau. Eu me sentia como uma adolescente ao
pegar pela primeira vez na mão do menino que gostava.

Quando chegamos ao topo ele abriu a porta de metal


que dava acesso ao terraço e a escancarou para que eu
passasse primeiro, mas quem fez isso foi meu gato que
assim que notou que cabia na brecha, correu explorar o
espaço.

Logo saí atrás dele e assim que meus olhos varreram


o que a minha parte preferida do prédio havia se tornado,
minha boca se abriu em um "o" e meus olhos brilharam em
satisfação.

Andei alguns passos para o meio e era muito melhor


do que um dia imaginei.
O sol se punha, decorando ainda mais o espaço com
o seu alaranjado pegando fogo, pintando o céu como uma
obra de arte. Sorri observando o terraço que se exibia lindo,
com muitas flores, plantas, árvores plantadas em vasos
grandes e elas seguravam um balanço de madeira que
ficava de frente para o pôr do sol. Um cordão de luzes
pendurado deixava tudo ainda mais romântico assim como
um deck de madeira com um pequeno quiosque.
Perguntava-me como tudo aquilo tinha ido parar ali.

O que aconteceu aqui?

— Eu... pensei que gostaria de passar um tempo


descansando nesse espaço. Sua avó disse que você estava
tentando revitalizar, fazer um jardim... ou... bom, eu... só
queria te agradar.

— Está... lindo! Sempre sonhei em ver assim, mas eu


nunca consegui. — Abri o maior sorriso que podia e andei
pelo espaço. — Isso está incrível! — Dei uma volta com os
braços abertos, sentindo como se tivesse conseguido
realizar um sonho.

— Que bom que gostou.

— Me sinto como no filme E se fosse verdade. — Ele


sorriu e eu não sabia se já tinha assistido.

Parei e o encarei.

— E os demais moradores do prédio? Eles não se


opuseram?

— Eu aluguei o terraço todo.

— Você...
— Eu queria comprar, mas só consegui alugar.

Engoli em seco e soltei o ar procurando palavras para


agradecer.

— Obrigada — falei apenas.

Não sabia como retribuir nem o que ele queria que


eu fizesse.

— Agora eu preciso ir.

— Já? — Peguei-me perguntando rápido demais e vi


um sorriso aparecer em seus lábios.

— Sim. — Andou até mim e minha respiração


acelerou imaginando que fosse me beijar.

Passou o indicador de leve no meu rosto tirando um


fio de cabelo e meu coração saltitou esperando que seus
lábios tocassem os meus, mas quando achei que ia
acontecer, ouvimos:

— Miaaauuu.... — um miado aterrorizante de Théo e


olhamos em volta para procurá-lo.

— Ouviu isso ou foi coisa da minha cabeça.

— Miaaauuu...

Preocupada olhei em volta e vi meu gato com os


olhos arregalados e preso no topo da árvore que fazia o
paisagismo do lugar.

— Théo! — Corri até lá e parecia que se ele se


mexesse cairia para fora do prédio. — Ai, meu Deus! — Meu
coração parou.
Sem pensar muito no quão idiota era o que ia fazer,
Theodoro se esticou para fora da grade de proteção com
toda a sua altura e correndo o risco de desabar de cima de
quatro andares, ele tentou pegar meu gato, sem sucesso.

Olhou para mim e meu medo provavelmente


entregava o quanto eu me via em pânico pelos dois.

— Você fica aí — disse-me preocupado.

— O que você vai fazer?

— Só fica aí.

— Não! — exclamei quanto o vi subir no degrau que


o colocava com meio corpo para fora da cerca de metal,
mas antes que os dois caíssem, com um movimento rápido
ele resgatou meu bichinho, o pegando pela pele das costas
e o puxou em direção ao seu peito.

Perdi o ar e mal respirava, mas quando Théo me


entregou o Théo, eu chorei aliviada, sem deixar de empurrar
seu peito com um tapa.

— Você é louco!

— Fica calma, eu nunca deixaria que ele caísse.

— Eu sei, mas o problema era se você tivesse


despencado no lugar dele.

De repente a constatação do que podia ter


acontecido me tomou e eu chorei ainda mais, agarrada ao
meu gato e com vergonha de expor meu medo de algo ruim
acontecer com o homem que eu amava e fingia ainda estar
brava.
Fui puxada para seus braços fortes e eu sabia que
ele ria feliz, após um beijo na minha cabeça e falou com
amor:

— Não se preocupe, você não vai se livrar de mim


tão fácil.

— Você nem gosta dele, por que se arriscar assim? —


falei com a cabeça pousada em seu peito.

— Porque eu te amo e não aguentaria te ver sofrendo


pela morte desse bichano provocador, sem que eu tivesse
feito nada.

— Miaaauuu... — Théo miou e meu coração saltitou


ao ouvir que ele me amava.

— Tá, eu gosto dele um pouco, afinal, é um Théo.

Ri com o rosto ainda encostado ao seu peito, mas me


afastei e o encarando com gratidão, falei:

— Obrigada.

— Não por isso. — Nossas bocas ficaram muito


próximas.

Ele engoliu em seco como se fosse uma grande


tentação me ter tão perto.

— Tábata....

— Sim. — Fitei seus lábios, claramente pedindo um


beijo.

— Eu... preciso ir. — Deu um passo para trás e


indicou a porta.
— Ah, sim. — Olhei em volta. — Mais uma vez,
obrigada, eu amei a surpresa.

Ele assentiu e nos encaramos por alguns segundos.

— Vamos?

— Sim. — Indicou que eu fosse na frente.

Sem mais seguimos até o apartamento e depois de


uma despedida amigável em que ele me disse que qualquer
coisa ligasse, Theodoro me deu um beijo no rosto e partiu.

Eu desejei ardentemente o seu beijo e me perguntei


por que ele recuou?

Ri com a resposta brilhando nos meus olhos: ele


deixaria que eu dissesse quando e como. Não me beijaria só
por eu estar agradecida.
Capítulo 38
Tábata
Novamente me arrastando comecei a segunda-feira.

Passei a noite pensando em Théo e no motivo dele


não ter me beijado.

Eu queria tanto senti-lo de novo, mas no fim, sabia


que o que ele quis demonstrar era que não faria nada mais
correndo ou sem meu consentimento. Ele deixava nas
minhas mãos e dependia de mim o recomeço. O problema
era que nunca fui muito decidida, mesmo quando eu queria
muito algo.

Ao pegar meu celular li que mais uma vez tinha uma


mensagem dele:
“Dia 2: Pensando em você e esperando o dia
em que vai me perdoar e eu vou poder te ter em
meus braços sem nada entre nós que não apenas o
nosso amor e um pinguinho de gente.”

Puxei o ar como se fosse difícil respirar com a


intensidade da nossa relação.

Tentei trabalhar, mas me via olhando para a tela do


computador sem conseguir me concentrar e com os
pensamentos borbulhando na minha mente. Por mais que
eu fosse confusa com decisões, pela primeira vez depois de
descobrir a verdade sobre a aposta, pensei com calma na
nossa história e algumas questões pediam por respostas.

E se eu o perdoasse e o desse os meus termos?

Podia dar certo se fôssemos devagar dessa vez.

Eu vou exigir a verdade.

Mas eu vou conseguir confiar e acreditar plenamente


em Théo de novo?

Se eu queria tanto um beijo dele, por que me privava


disso?

Olhei para a minha barriga.

Tudo bem que já tínhamos pulado etapas, mas se ele


me desejava tanto quanto dizia, podíamos fazer dar certo.

Theodoro não precisava correr tanto atrás de mim se


não apenas porque me quisesse. De imediato o pensamento
de que já cogitei isso antes e tinha uma aposta por trás do
seu interesse me atingiu. Mas naquele momento não tinha
mais aposta, ele podia continuar vivendo sua vida
promíscua, seguir ganhando seus milhões e pagar pensão
para o seu filho se fosse só por ele que continuava a me
procurar, porém, ainda depois de mais de um mês ele
continuava me querendo.

Pensei se não tinha algo a mais atrás do seu


interesse e soprei o ar irritada. Eu teria que ter uma
conversa séria, sem gritaria e acusações e finalmente como
adultos.

Era isso!

Eu ia pedir que colocasse todos os seus sentimentos


na mesa, assim como eu colocaria os meus, e chegaríamos
em um acordo. Eu o queria, lutei tanto contra
relacionamentos, mas o amava e não ia ser feliz se não
fosse com Theodoro Medina.

Odiava tanto mentiras por conta do meu ex, mas


meu amor por Théo era maior que meu ranço por mentiras.
Porém, tudo dependeria da conversa séria que teríamos.

Via-me ainda olhando para a tela do computador


quando a campainha tocou. Minha avó não estava em casa,
tinha insistido em ir pessoalmente marcar uma consulta
para mim com uma ginecologista e começar o pré-natal, eu
avisei que faria, mas pelo visto ela não confiava muito nas
minhas promessas e me tratava como uma criança.

Levantei-me para abrir a porta e no mesmo


momento meu celular acendeu como uma mensagem da
minha avó dizendo que não tinha conseguido agendar, que
ia almoçar com amigas e que era para eu fazer o que Théo
me dissesse.

Juntei as sobrancelhas sem entender aquela


mensagem. Ela e Théo estavam conversando?
A campainha tocou de novo.

— Já vouuuu...

Deixei o celular de lado e andei até a porta, quando


abri tinha um homem engravatado parado com as mãos na
frente do corpo.

— Bom dia — cumprimentei, mas meu cumprimento


saiu mais como uma pergunta.

— Bom dia. Sou segurança do senhor Medina. Ele


pediu que eu viesse te buscar.

— Buscar?

— Sim, aqui. — Entregou-me um papel e nele li que


tinha um agendamento em meu nome, com uma médica
super conhecida, em um dos prédios mais requintados da
cidade. — Ele pediu que eu a levasse lá.

Juntei as sobrancelhas.

— Só um minuto.

Andei até meu celular e liguei para Théo. Chamou e


ele não entendeu. Liguei novamente e ouvi sua voz.

— Oi. — Parecia irritado e mesmo sem vê-lo eu


reconhecia como se sentia.

— O que seu segurança faz na minha porta?

— Pedi que a minha secretária agendasse a melhor


obstetra da cidade para cuidar de você e do nosso filho.

— Mas a minha avó...


— Já falei com ela. Por favor... — Sua voz se tornou
mansa, mas carregada de sentimento. — Tábata, faz isso...
por mim e por nosso filho. Me deixa participar desse
momento, nem que seja com o meu dinheiro.

Pensei que eu queria que ele estivesse comigo, mas


como Theodoro só ofereceu o dinheiro, decidi aceitar, já que
era algo que eu não tinha.

— Tudo bem eu aceito. Obrigada. Até mais.

Sentindo-me um tanto irritada pelos altos e baixos


com Théo comecei a me arrumar novamente pensando que
precisávamos acertar os ponteiros ou aquela indecisão, sim
e não e palavras não ditas me deixariam louca.

Em meia hora me via pronta, em silêncio desci ao


lado do homem engravatado e entramos no carro luxuoso
que ele dirigia.

Chegamos ao prédio requintado onde a tal médica


atendia e ainda que eu tivesse experimentado muito do
mundo do Théo nos dias que passamos juntos, eu ainda não
era acostumada com a facilidade que o dinheiro podia
comprar.

O segurança me acompanhou e ficou do lado de fora,


no corredor em frente ao elevador, enquanto eu segui para
sala de espera. Eu me via tão em transe com tudo que a
minha vida se tornou, que ainda que o medo do cubículo
que se mexe tivesse acelerado meu coração, a bagunça dos
meus sentimentos e da minha vida amenizaram a aflição.
Até me lembrei da primeira vez que vi o homem que eu
amava em um elevador.

Após passar meus dados à secretária, não esperei


nem um minuto e fui chamada com um sorriso enorme pela
médica. Era como se eu fosse uma paciente importante e
não pudesse esperar.

Levantei-me e coloquei a minha bolsa no ombro para


seguir, mas antes que eu entrasse na sala, ouvi:

— Tábata. — Quando me virei, Théo andava a passos


largos em minha direção, me cumprimentou com um beijo
no rosto e estendeu a mão à médica que só faltou babar.
Depois com o semblante sério, me perguntou: — Posso
entrar também?

Meu coração disparou, como sempre acontecia


quando ficava ao lado dele. Pensei um pouco e olhei para a
médica como se ela pudesse dizer a resposta por mim.

— Você decide. — Ela deu de ombros e me lançou


um sorriso alegre.

Olhei de novo para Théo e seu semblante


completava o que pensei quando ouvi a sua voz pelo
telefone, ele parecia incomodado, muito sério.

— Sim. Pode, claro. — Esboçou um pequeno sorriso e


entramos na sala.

A médica me fez diversas perguntas, uma delas se


Théo era o pai e sem o encarar respondi que sim. Depois
me deu instruções por ser minha primeira gestação e nos
encaminhou para a sala de ultrassonografia, onde
tentaríamos ouvir o coração do bebê.

Théo ainda parecia distante, como se pensasse em


algo que o irritava, mesmo tentando se manter no que
acontecia ali.
— Está tudo bem? — perguntei-o no caminho para a
sala e ele apenas assentiu, depois como se fosse algo
comum, pegou na minha mão.

Outra médica faria o exame e tivemos que esperar


sentados lado a lado e em silêncio. A nossa frente um casal
passou entre risos e o homem abraçou a mulher
completamente apaixonado e a puxou para perto, pousando
a mão em sua barriga redonda e um beijo em sua cabeça.

Por mais que antes de conhecer Théo eu nunca


tivesse pensado na possibilidade de ser mãe, naquele
momento que eu vivia aquilo eu queria me sentir amada
como aquela mulher.

— Só não estamos como eles, porque você não quer.


— Encarei-o e ele me lia como ninguém.

— Você não sabe nada sobre o que eu quero.

Percebi que o peguei de surpresa e seus lábios se


repuxaram em um quase sorriso com a constatação de que
eu podia estar mudando de ideia sobre nós.

— Tábata, vamos lá? — a médica chamou.

Levantei-me e sem esperar que Théo entrelaçasse


nossos dedos como antes, segui para a sala e ele me
acompanhou de perto.

Lá dentro uma médica muito simpática me orientou a


deitar e indicou que Théo podia se sentar em uma poltrona
mais atrás, mas como se quisesse acompanhar tudo de
perto ele se aproximou e se posicionou ao meu lado, mais
uma vez pegando a minha mão, mas dessa vez me lançou
um sorriso.
Vi seu maxilar se tensionar como se estivesse
ansioso e encarou o monitor a nossa frente, parecia desejar
ver logo o que apareceria.

A médica colocou o aparelho na minha barriga e


começou a movimentá-lo ali.

— Aqui está. — Eu nem piscava e com uma rápida


olhada na direção de Théo vi que ele também não. — Esse é
o filho ou filha de vocês.

Ela mostrou um pontinho dentro de um círculo e


meus olhos se encheram de lágrimas. Eu tinha um filho.

Théo apertou a minha mão e quando o fitei ele


observava fixamente a tela e seus olhos brilhavam. Desviou
a atenção por um segundo para me olhar, sorriu e voltou a
encarar fixamente quando a doutora disse:

— Tem entre seis e sete semanas. Escutem.

Ela apertou um botão e uma batida ritmada ocupou o


vazio do espaço.

— O coração do filho de vocês.

Fechei os olhos apreciando aquele som e quando


voltei a abri-los Théo me encarava com o maior sorriso que
já o tinha visto dar.

— Temos um filho — constatei e ele me deu um beijo


na testa.

— Nosso filho.
Capítulo 39
Tábata
Com pedidos de exames, receitas de vitaminas e
com o retorno agendado, deixei o prédio do consultório da
médica.

Théo dispensou seu segurança e de novo de mãos


dadas comigo seguimos para o estacionamento onde tinha
deixado seu carro de luxo estacionado.

Fiz o caminho em silêncio, mas a minha cabeça


estava a mil.

Eu o queria de volta e tive a certeza disso no


momento em que o vi encarando a tela que mostrava nosso
filho. Se ele mentisse em relação ao que sentia por mim,
nem sequer estaria ali.
Respirei fundo e soltei o ar e ele me fitou como se
quisesse saber o que eu pensava.

Aproximamo-nos do carro e ele abriu a porta para


mim, me olhando com seu olhar sério e conquistador que eu
amava. Sorri para o seu gesto delicado.

Fechou a porta, deu a volta no carro e quando


assumiu o volante o ligou e se virou para mim antes de
partir.

— Obrigado por ter me deixado participar desse


momento.

Engoli em seco.

— Théo, eu... nós... — Ele me olhava fixamente e eu


não sabia como entrar no assunto dizendo que eu o queria
de volta.

— Janta comigo hoje? — Interrompeu-me. — Acho


que precisamos de um tempo só nosso e em um lugar que
possamos conversar com calma.

Assenti e apertei meus lábios fazendo com que Théo


olhasse diretamente para eles, como se desejasse os beijar,
mas se mantendo firme em seu lugar e na sua postura
contida, esperando meu aval.

— Você me pega em casa?

— Às oito está bom?

— Sim. — Ele abriu um largo sorriso, puxou o ar e o


soltou.
— O que você fez comigo, mulher? — Passou o dedo
na minha bochecha.

— Vamos saber o que fizemos um com o outro na


nossa conversa à noite.

— Certo. Posso aguardar. Temos muito tempo.

Ia sair com o carro da vaga, mas antes olhou seu


celular e novamente vi uma sombra tomar seu olhar.

— Algum problema?

— Não, na verdade sim, problemas na empresa. —


Tentou sorrir, mas seu riso não atingiu os olhos.

— Se quiser conversar.

Ele puxou o ar e o soltou.

— Não quero te preocupar. — Começou a dirigir


saindo do estacionamento.

— Não vai. — Sorri.

— É o Roger. Ele surtou e não é mais o que sempre


foi. Anda fazendo umas cenas no escritório e estou
encerrando a minha sociedade com ele. Minha parte da
empresa está em processo de venda e isso o deixou ainda
mais irritado.

— Sinto muito. Tudo por causa da aposta?

Ele tirou rapidamente os olhos da estrada e me


encarou.

— Acredito que você apareceu na minha vida como


um anjo. Sem saber você me mostrou uma realidade que eu
não conseguia enxergar.

— Eu?

— Sim.

— Roger não era um bom amigo como eu pensava,


mas um falso e traidor. — Balançou a cabeça sem acreditar.
— Ainda me dói pensar que o único amigo era eu. — Seu
semblante era tão sério que senti vontade de o abraçar. — A
Aline, a moça do RH também estava metida com ele. Ela o
ajudou para que você ouvisse a verdade sobre a aposta.

— A Aline? Parecia tão... inocente.

— Dinheiro... sempre o dinheiro. Ela foi demitida. Mas


deixa pra lá.

Como que para mudar o clima ele colocou Shaw


Mendes para tocar e meu rosto se abriu em um enorme
sorriso.

— Você faz com que eu escute meu cantor preferido


e lembre de você.

— Então tem pensado em mim?

— Não. — Ele segurou o riso e seguimos em silêncio


enquanto eu cantava a letra.

Não demorou até que chegamos ao meu prédio e


quando o carro parou, ele se virou de frente para mim.

— Às oito estarei aqui. — Seu olhar intimidador e


desejoso fazendo o par perfeito com sua voz grossa e
sedutora me dava vontade de agarrá-lo.
— Vou te esperar. — Olhei para sua boca como se
pedisse um beijo e ele sorriu.

Um pouco desejosa virei-me para descer do carro,


abri a porta, mas ele segurou a minha mão.

— Eu queria te beijar, te abraçar e dizer que te amo


com você nos meus braços, mas acho que fomos rápido
demais no começo e agora quero ir no seu ritmo e te
mostrar que posso esperar por você dez dias, dez meses ou
anos. O tempo que você precisar para me perdoar e me
aceitar de volta nos seus termos.

Respirei fundo e soltei o ar preso nos meus pulmões.

— À noite conversaremos com calma. Muita calma. —


Seu sorriso lindo me conquistava como sempre, mas eu
precisava ir devagar.

Soltei-me dele e feliz desci do carro, seguindo em


direção ao seu lado do veículo. Aproximei-me e mais uma
vez entrelaçou nossos dedos de maneira natural para irmos
para o outro lado da rua.

Parecia que tudo novamente tomava o seu lugar e


ficar com Théo era o que eu desejava.

Contudo, o que aconteceu a seguir foi rápido, tão


rápido quanto respirar e como o fechar de um sorriso.

Um carro surgiu do nada em alta velocidade, quando


estávamos no meio da rua e eu travei. Consegui ver o
veículo crescendo em minha direção e eu ali, em segundos
que pareceram uma eternidade, esperando o carro me
atingir, mas como sempre foi, Théo cuidou de mim.
Puxou a minha mão me jogando para a calçada e a
soltou, rápido demais, e antes que conseguisse me
acompanhar e ficar em segurança, foi atingido e vi o carro o
atropelar.

Ele rolou pelo capô e foi atirado ao chão.

— Théo! — Meu grito foi desesperado e de tanta dor


que chamou atenção de quem passava, enquanto o carro
saiu em disparada fugindo do flagrante.

Corri na direção do homem que eu amava e me


abaixei ao seu lado.

— Théo... acorda, fala comigo. Por favor... Théo... por


favor.

Alguém se aproximou de mim e com uma rápida


olhada vi que era Patrick.

— Me ajuda... — Tirei meus olhos dele e voltei a


encarar o Théo desacordado no chão.

Ouvi alguém dizer para chamar a polícia, outro para


chamar um resgate e eu só olhava para o homem que eu
amava, completamente em choque e sem acreditar que no
dia que eu decidi o aceitar como meu, ele partiria para
sempre. Não! Ele não vai morrer.

Patrick se levantou, pegou seu celular e sendo o bom


amigo que tinha sido nas últimas vezes que conversamos,
tentou chamar o resgate.

— Volta para mim. Acorda, Théo. — Seus olhos


estavam fechados e seu rosto com um arranhão perto da
sobrancelha que começava a sangrar. — Não precisamos
mais de dez dias, só de hoje, volta para mim.
Eu chorava copiosamente e não demorou até que as
sirenes do resgate se aproximando começassem a soar,
tinha um pronto-atendimento próximo a minha casa.

Depressa me afastaram do Théo e começaram a


prepará-lo. Eu estralava o dedo, erguia meus óculos e
chorava. Sempre tive medo de muitas coisas, mas nenhuma
me causou tanto pavor como o medo de perder Theodoro.

— Ele vai ficar bem — Patrick me acalmou e eu


assenti no automático, sem me acalmar de verdade.

Ele foi colocado no carro do resgate e eu me vi


paralisada, não conseguia me mexer e só rezava. Vi as
portas do carro se fecharem sem conseguir dizer que ia com
ele.

Ele não pode morrer!

— Ele não pode morrer — falei em voz alta em meio


ao choro.

— Ele não vai. Quer que eu te leve ao hospital?

Só então percebi uma moça bonita ao lado do Patrick


e me observando com compaixão.

— Não... eu... não sei. Não quero atrapalhar... eu... —


Comecei a olhar em volta tentando me situar e me tornar a
mulher centrada que eu era.

— Fica tranquila, vamos ficar com você — a moça


bonita disse, pousando a mão sobre a minha. — Me chamo,
Carina.

Assenti rapidamente e enxuguei o rosto de maneira


desengonçada.
— Obrigada.

Olhei para frente e a minha avó corria em minha


direção, com o semblante assustado.

— O que aconteceu, filha?

— O Théo... ele... — Novamente comecei a chorar


copiosamente e ela me abraçou.

— Ele vai ficar bem.

— Não tínhamos tanto tempo e ainda assim, perdi o


pouco que eu tinha não o perdoando.

— Não diga isso.

— Eu o perdi. E eu achei que tínhamos tanto tempo,


que precisávamos ir devagar... E agora... e se eu o perder?

Doía tanto, eu me sentia vazia e não sabia como


parar aquela sensação. A única forma seria com Theodoro
de volta e nós dois recuperando cada minuto que perdemos.

— Preciso ir ao hospital — falei meio desnorteada.

— Nós te levamos — a moça simpática que estava


com Patrick avisou e eu assenti aceitando sua oferta.

Fomos todos no carro do Patrick e a forma doce como


ele falava com Carina me lembrava muito com a que Théo
destinava a mim. Como de um homem apaixonado.

Minha avó enxugou uma lágrima que escorreu em


meu rosto e eu a olhei chorando mais.

Quando Patrick estacionou em frente ao pronto-


socorro, desci como um jato sem esperar que ninguém me
acompanhasse, passei pela porta grande e antes que
chegasse à recepção, ouvi dois socorristas falando em uma
conversa preocupada:

— Foi um acidente feio, acho que ele não vai


sobreviver. O carro pegou em cheio.

— Não sobreviveu. Teve uma parada.

Meu mundo desabou, o chão saiu debaixo dos meus


pés e eu só desejei voltar no tempo.
Capítulo 40
Théo
Abri os olhos devagar e não fazia ideia de onde eu
estava. Eu me via deitado em uma cama no que parecia um
quarto de hospital e ao tentar levantar tudo em mim doeu.

— Hummm... — gemi voltando a deitar.

— Théo... — Imediatamente Tábata apareceu ao meu


lado com os olhos inchados, como quem tinha chorado
muito.

— O que aconteceu?

— Fica quieto, vou chamar a médica.

Fiquei sozinho e abri e fechei os olhos tentando me


lembrar de alguma coisa do que aconteceu para eu ir parar
ali, mas a única memória daquele dia que me passou, foram
os batimentos cardíacos do meu filho.

Não demorou até que algumas pessoas entraram na


sala e uma delas era uma médica jovem.

— Acordou. Como se sente, Theodoro?

— Dolorido.

— Como se tivesse sido atropelado?

— Sim. — Tentei rir, mas parei quando olhei para


Tábata e ela se mantinha séria. — Fui mesmo atropelado?
— Ela assentiu. — Não me lembro de nada. — Olhei para a
médica.

— É normal não se lembrar do que aconteceu ou


mesmo de memórias daquele dia — a médica me iluminou.

— Você estava junto? — Olhei para Tábata e tentei


me levantar, mas senti dor no corpo todo. — Você está
bem? — Sentia-me preocupado e olhei para e sua barriga.
— E nosso filho?

— Eu estou bem, você cuidou de mim como sempre.


De nós. — Colocou a mão na barriga. — Só você foi atingido.

Fechei os olhos tentando me lembrar.

— Como?

— Não force, pode ser que volte aos poucos ou nunca


volte. — a médica instruiu. — Você bateu com a cabeça
recobrou a consciência, ficou confuso por um tempo e
depois adormeceu. É comum em traumatismos leves. —
Posso te examinar? — Assenti.
Enquanto ela me examinava olhei para Tábata que
tinha o olhar carregado de preocupação e o semblante
triste.

— Você está bem, só vai ficar em observação por


mais algumas horas e vou receitar uma injeção para dor.
Pela forma como foi descrito o acidente, você deu sorte por
ser forte e não ter quebrado nada. — Sorri preocupado.

A médica falou mais algumas coisas que não prestei


muita atenção e saiu me deixando a sós com a mulher ao
meu lado, com os olhos molhados disfarçados pelos óculos.

— Ei, vem cá. — Ergui a mão em sua direção, mesmo


sentindo dor e ela se aproximou se sentando na beirada da
cama.

— Eu pensei... que tinha te perdido. Eu ouvi alguns


socorristas falando sobre outra pessoa que tinha morrido e
pensei ser você. — Começou a chorar copiosamente.

— Ei, calma. — Peguei sua mão

— Eu tive tanto medo de te perder.

— Não vai ser tão fácil assim se livrar de mim.

— Para de brincar que isso, não tem graça.

Sorri e precisava confessar que vê-la chorando por


medo de me perder me causava uma certa satisfação.

— Nunca vou te deixar. — Ela ergueu os óculos com o


indicador parecendo nervosa.

— Eu tenho uma coisa para te perguntar.

Juntei as sobrancelhas.
— O quê?

— Jurei para mim que faria se você acordasse de


novo.

— Estou escutando. — Abri um sorriso.

— Theodoro, você quer se casar comigo?

Semicerrei os olhos e abri um largo sorriso.

— Ainda faltam... acho... que oito dias para eu tentar


te conquistar de verdade.

— Já me conquistou. Eu não posso mais perder


tempo. Quero uma vida intensa mesmo, me casando
depressa, me apaixonando depressa, engravidando
depressa, mas com uma vida feliz bem devagar ao seu lado.

Por mais que antes da Tábata isso não acontecesse,


naquele momento perdi a fala por alguns segundos, até que
respondi:

— Eu quero tudo com você e o mais depressa


possível. Posso sair dessa cama agora para a gente casar.

Ela riu e me parou quando ameacei me levantar.

— Não! Quando tiver alta e não sentir mais dor


estará perfeito para mim.

— Combinado. Agora, pode me dar um beijo, minha


noiva?

Ela abriu seu lindo sorriso e se abaixou em minha


direção, ficando com os lábios inchados pelo choro bem
perto dos meus e falou fitando meus olhos:
— Nunca mais me assuste assim.

Colou nossos lábios e foi o paraíso. Eu não a beijava


há tanto tempo.

Ergui um dos meus braços e apertei sua nuca para a


trazer para ainda mais perto e minha língua adentrar na sua
boca. Mesmo dolorido senti a ereção surgir, porque eu a
desejava e ouvir seu pedido de casamento aqueceu meu
coração e todo o meu corpo.

— Eu te amo — declarei-me encostando nossas


testas. — Promete nunca mais me deixar? Eu prometo
nunca mais te magoar.

— Prometo.

— Você vai perdoar toda a história da aposta e isso


nunca mais ficará entre nós?

— Prometo. E você, Theodoro Medina, promete nunca


mais ser tão lindo a ponto de até a médica ser simpática
demais com você? — Semicerrou os olhos e eu ri.

— Prometo. Mas sobre isso não posso controlar.

— Convencido! — Ia se afastar, mas a puxei para


perto.

— Ciumenta! Ah, você promete não dar mais mole


para vizinhos cheios de graça?

Ela riu largamente.

— Patrick não oferece perigo. Eeee... foi ele quem me


trouxe para você, além de que ele está namorando uma
moça muito legal.
— Então ele está sob análise. — Balançou a cabeça
em negativa se divertindo.

— Não precisa. Só tenho olhos, pensamentos e todo


o meu corpo para você.

— Não vejo a hora de usufruir disso.

— Então esses foram nossos votos?

— Por mim estão ótimos.

— Então já estamos casados.

— Ah, não senhora, você não vai fugir da festa de


casamento. Quero uma festa grandiosa. E posso fazê-la em
dez dias. — Rimos.

— Essa conversa parece ao contrário. Não é a noiva


que sempre quer a festa e o noivo não?

— Com você é tudo mais complicado, Tabatinha.

Ela gargalhou.

— Você anda muito com a minha avó e as amigas


dela.

— Estou pensando em ir com elas para Vegas.

Sua risada preencheu o ambiente e ouvi-la rindo era


o melhor som que eu podia ouvir, mas ela parou, respirou
fundo e disse receosa:

— Só para deixar claro, que se o seu interesse em


mim for pela gravidez, podemos... fazer dar certo sem que
precise se casar.
— Pelo amor de Deus, Tábata! Eu te amo, porra!
Entenda de uma vez por todas! — me declarei em uma
explosão de amor e palavrão e ela riu.

— Tudo bem, entendi. — Beijei-a de novo e perguntei


quando nos separamos:

— Mas me conta, como tudo aconteceu? Que loucura


foi essa de atropelamento?

Depois de um suspiro e como se fosse difícil reviver,


ela me contou como eu tinha sido transferido para aquele
hospital caro, que não era mais o pronto-socorro para onde
eu tinha sido levado.

— Ah, peço desculpa por ter mexido no meu celular,


mas precisei ligar para os seus pais para me ajudarem com
a transferência. Você não podia ficar a mercê do
atendimento público quando podia pagar pelo melhor.

— Agradeço. Fique à vontade para fazer isso, não


tem nada mais que eu tenha que te esconder. Nem no
celular ou na vida.

Abriu um sorriso feliz.

Tábata contou que foi tudo muito rápido, que eu


acordei no percurso, mas eu não me lembrava de nada.

Como se quisesse me privar da verdade enrolou


quando perguntei se pegaram o motorista e aí descobri que,
na realidade, não foi um acidente, que quem tentou me
matar no auge da sua loucura, foi Roger.

— Eu ainda não consigo acreditar que ele fez isso.

— Sinto muito por sua decepção.


Balancei a cabeça em negativa e respirei fundo.

— Ele andava agressivo nos últimos tempos. Seu


olhar era provocador e por isso decidi me afastar. Brigamos
na empresa e ele pareceu transtornado. Gritava que sempre
me odiou e que acabaria comigo, mas eu nunca imaginei a
possibilidade de ser verdade.

Vi Tábata respirar fundo e soltar o ar, parecia pensar


ser a culpada.

— A aposta não tem nada a ver com o nosso


rompimento. Tudo começou muito antes dela, era raiva,
inveja e sentimentos ruins de uma vida que ele carregava
contra mim.

— Eu sei, mas se eu não tivesse atravessado seu


caminho...

— Ainda assim eu teria te encontrado e eu não teria


descoberto a verdade. Agora, o que eu mais quero é
receber alta, te levar para o altar e fazer um monte de filhos
em você.

Ela apertou os lábios e ergueu os óculos com o


indicador.

— Vai com calma.

— Foi você quem disse que não queria calma.

Rimos e nos olhamos por alguns segundos.

— Te amo — declarei-me.

— Te amo mais.

— Podemos pular para o casamento?


— Assim que você tiver alta.

Puxei-a para um beijo e rezei para que passasse logo


e eu estivesse na lua de mel com a minha Tábata.
Capítulo 41
Théo
Ah, o casamento...

Tinha sido um grande acontecimento, alguns meses


depois que fui atropelado. Antes garanti que o cuzão do
Roger tivesse o que merecia e esperasse preso o seu
julgamento.

Se ele pensava que ia se safar da cadeia por ter


dinheiro, eu o manteria lá, porque tinha muito mais.

Acabei reavendo a minha parte da empresa Bela


Maria Cosméticos e comprei a dele. Eu que ergui aquele
empreendimento e seria meu por direito. Quem gostou da
ideia foi Tábata, que acabou voltando a trabalhar
administrando bem a empresa.
Avisei à minha esposa que ela não precisaria
trabalhar, mas já que queria, propus que misturássemos
negócios com prazer e ela trabalhasse para mim. Com
muito sacrifício aquela marrenta aceitou e seguia fazendo
um excelente serviço.

Ficou muito amiga da Patrícia, a secretária que a


ajudou no seu primeiro dia de trabalho e se tornou sua fiel
escudeira. Principalmente quando jurou que não sabia de
nada sobre o flagrante que Aline armou para Tábata me
ouvir brigando com Roger.

Se eu como empresário era bom, como festeiro era


ainda melhor. Nossa festa de casamento tinha sido mesmo
incrível.

Por mais que minha noiva lutasse contra a ideia de


uma festa extravagante, eu fazia questão de mostrar para
todo mundo a minha grande e maravilhosa aquisição: minha
esposa.

Eu sempre fui durão, mas vê-la andando pelo


corredor da igreja enfeitada com flores brancas, com a
música romântica tocando e seu olhar apaixonado para
mim, me pegou de jeito e meus olhos marejaram.

Recebi-a com um beijo na testa, ouvindo sua avó


entregá-la e me fazer jurar que a faria feliz. Como se tivesse
outra opção.

Com as pessoas que amávamos a nossa volta


fizemos nossos votos e Tábata sorria satisfeita ao me ver
declarando amor a ela. E era tanto que nunca imaginei
amá-la daquela maneira. Foi tudo tão de repente que só me
fazia pensar que estávamos destinados àquele casamento.
Em dez dias ou dez anos, nosso encontro ia acontecer.
Até o Théo, o gato, participou de tudo. Usava uma
gravatinha borboleta e ficou o tempo todo no colo da dona
Emília, que naquele momento eu chamava de avó. Ela
chorou o casamento inteiro e parecia muito feliz com nosso
enlace.

Assim como os meus pais que se viam muito feliz


com o aumento da família. Lembrei de como ambos
entraram em êxtase quando souberam do neto e depois
quase me mataram quando contei que por pouco não perdi
a Tábata por causa da aposta.

Eles a amavam como filha e me fizeram pedir


desculpa para ela na frente deles e refazer o jantar com o
pedido de casamento. Foi muito mais perfeito da segunda
vez.

Após a cerimônia do casamento, seguimos para a


festa que era em um espaço de eventos próximo à igreja
que minha noiva insistiu que tínhamos que nos casar. A que
ela e a avó participavam.

Passei a festa toda rindo e comemorando com meus


amigos, primos e Tábata fez o mesmo com os seus. Amava
a ver interagindo com mais pessoas e não mais era a garota
sozinha de quando a conheci. Era amiga das minhas primas
e das esposas dos meus amigos, tinha a Patrícia, a
namorada do Patrick e se divertia também com suas amigas
da terceira idade que carregavam mais pique que todos nós
juntos.

Eu havia aprendido a lidar com aquelas senhoras


assanhadas e sempre ria com elas.

Patrick... no fim acabei me tornando amigo do


vizinho. Ele podia até ter desejado o que era meu, mas eu
que terminei com a garota. Naquele momento o cara nem
oferecia perigo, parecia apaixonado pela namorada e era
gente boa.

— Do que você está rindo? — Tábata perguntou


quando se aproximou no meio da festa.

— Estou feliz.

Ela ia dizer algo, mas a cerimonialista se aproximou e


indicou que era o momento da valsa. Respirei fundo e soltei
o ar me sentindo nervoso.

— Você está bem? — minha esposa perguntou


preocupada e eu sorri para garantir.

— Muito. — Eu havia preparado uma surpresa para


ela e me via uma pilha de nervos.

Shaw Mendes, fazia uma turnê pelo país e tive a


ideia de convidá-lo para participar do momento mais feliz de
nossas vidas, já que vinha sendo presente desde o início.
Ele aceitou e desembolsei alguns milhões para que o cantor
preferido da minha garota cantasse suas músicas
especialmente para ela.

O anúncio da valsa foi feito e um grande círculo se


abriu no espaçoso salão. Mais à frente, um palco grande foi
preparado e quando Tábata questionou para que aquela
superprodução, menti dizendo que contratei um DJ famoso
na região.

Meu coração batia acelerado e a música Try my best


começou a ecoar pelo espaço, interpretada pelo cantor que
ainda se via escondido.

— Eu amo essa música — Tábata sussurrou.


— Eu sei, por isso eu a escolhi.

Ela me fitou com olhar apaixonado.

— Você sabe muito sobre mim, marido. Obrigada por


se esforçar para me agradar.

— Prometo fazer o meu melhor.

Ao ritmo lento eu a tomei em meus braços, a


apertando de encontro ao meu corpo e fitando seus olhos
que me encaravam de volta cheios de amor.

A letra da música romântica traduzida, dizia:

Prometo mantê-la por perto e estar com você todos


os dias

Eu quero te amar mais, não importa o que você diga

E se perdemos tudo não tiver nada que possamos


fazer,

Oh, eu vou tentar o meu melhor por você

Engoli em seco a emoção e repeti:

— Eu sempre vou tentar o melhor por você.

Ela não conseguiu conter a alegria e enxugou uma


lágrima que escorreu por seu rosto.

...Prometo mantê-la por perto e estar com você todos


os dias

Eu quero te amar mais, não importa o que você diga


E se perdemos tudo não tiver nada que possamos
fazer

Oh, eu vou tentar o meu melhor...

Nesse momento o cantor apareceu no palco e luzes


piscaram com barulho e fumaça saindo do chão.

Paramos de dançar, olhei para Tábata e ela parecia


paralisada.

Shaw Mendes começou a cantar a mesma música


com mais animação.

— Théo?

— Tudo para te ver sorrir. — Apertei o maxilar e meus


olhos brilharam com a sua alegria.

— Deus... Meu... Deus! Meu Deus!

Sua voz foi aumentando com a constatação do que


acontecia e eu ri.

— Vai lá. É para você.

A nossa volta todos ainda nos fitavam e mesmo com


um astro internacional rindo de nós no palco, ainda éramos
o centro das atenções.

Tábata deu um grito, pulou nos meus braços cheia de


alegria e me deu um beijo agradecido.

Depois ergueu o vestido e ia seguir para o palco, mas


voltou e mais uma vez me deu um beijo pegando meu rosto
entre as mãos, me fazendo sorrir.

— Eu te amo, seu maluco!


Voltou a correr em direção ao palco, abraçou o cantor
e começou a cantar com ele como se estivesse vivendo um
sonho. De braços cruzados eu sorria ao testemunhar a
alegria de realizar um sonho da mulher que eu amava.

No meio da música pegou o microfone e com a voz


esganiçada fez todos sorrirem, inclusive o cantor, quando
gritou:

— Te amo, Theodoro!

Eu também a amava.
Epilogo
Théo
Ah, a lua de mel...

Tábata saía do mar com a sua barriga redonda de


cinco meses de gravidez e eu a encarava com orgulho
enquanto minha esposa caminhava até mim. Sorri satisfeito
pela visão do paraíso.

— Do que você está rindo marido? — perguntou


quando se aproximou.

— Do quanto sou sortudo. Olha a deusa que me


casei.

Ela riu envergonhada pelo elogio e colocou seus


óculos de sol, os erguendo com o indicador, como fazia com
os de grau, e eu amava aquele movimento. Estiquei os
lábios em um sorriso de lado cheio de segundas intenções.
— Não sorria assim, Theodoro Medina, meus
hormônios estão uma loucura e você sabe que ando
desejosa.

— Estou aqui para saciar e realizar todos os seus


desejos e sonhos, esposa.

— Como você anda galante e romântico.

— Tenho planos de tirar esse biquini em breve.

— Adoraria ser amarrada.

— Posso fazer isso, querida.

Desviou o olhar e pegou o celular para disfarçar seu


atrevimento, depois riu de algo que viu nele.

— Do que está rindo?

— Da nossa festa de casamento. Saiu uma nota na


internet pela participação do Shaw Mendes no casamento
do riquíssimo CEO Theodoro Medina.

Dei de ombros, convencido.

— Faço tudo para te ver feliz.

— O show foi incrível, mas nosso casamento foi o


ponto ápice daquele dia. — Assenti feliz e ela completou
com a lembrança: — A minha avó e as amigas causaram,
né?

— Elas são ótimas!

— Estou ansiosa pelo chá de bebê que estão


preparando.
— Elas não vão te deixar escapar, então melhor
gostar mesmo da ideia.

Juntos rimos e pensei alto:

— Nosso casamento foi a melhor noite da minha


vida.

— Sério? Pensei que tinha sido aquela que você


fingiu que estava passando mal para me ganhar em uma
aposta. — Conseguíamos falar da aposta sem dor, até nos
divertíamos com ela.

— E ganhei. Você ia se casar comigo em dez dias.

— Me casaria em um, você que não pediu.

— Só eu sei o quanto pastei para te conquistar,


mulher.

Piscou um olho para mim e nossa conversa foi


interrompida pelo garçom que havia trazido o sorvete que
ela pediu antes de decidir entrar no mar.

Enquanto a via interagir simpática com o rapaz,


pensei em como nossos dias de lua de mel seguiam
perfeitos, o que me dizia que a vida também seria. A
companhia da Tábata era agradável e nos dávamos muito
bem.

Pensando no retorno à rotina, o que me deixava


triste era a ideia de dona Emília não ter aceitado morar com
a gente. Insistiu que queria ficar perto das amigas, da igreja
e do baile da terceira idade, então, mesmo Tábata
desejando me matar pelo valor do presente, no aniversário
da minha avó do coração comprei um apartamento com
elevador para que ela não precisasse subir escadas.
O melhor que o dinheiro podia fazer: dar conforto aos
que amamos.

Foi triste quando as duas se mudaram do antigo


prédio, minha garota não queria abandonar o jardim que eu
havia feito para ela no terraço e chorou por isso. Contudo,
comprei uma casa de campo com um jardim ainda mais
bonito, onde faríamos amor a luz da lua e ela se contentou
quando pintei a ideia e no fim adorou a troca. Eu a amava.

Quando o garçom se retirou, Tábata riu e chupou o


sorvete de maneira nada comportada. Ela gostava de me
provocar. Era linda e eu me apaixonava cada vez mais por
minha esposa, principalmente quando colocava em prática
seu modo safada.

— O que foi? — perguntou, fingindo inocência


quando notou que eu a encarava.

— Só admirando sua beleza e constatando o quanto


sou apaixonado e excitado por você.

— Para, Théo!

Desviei o olhar dos seus lábios para não a tomar na


praia mesmo e fitei sua barriga.

— Sou apaixonado por vocês. Ah! Tábata, agora que


sabemos que esperamos um menino, já podemos escolher o
nome dele com a letra T.

Ela gargalhou.

— Você não começa com essa história.

— Timóteo? — Ela fez uma careta. — Tomázio?


— Pelo amor de Deus.

— Teobaldo. — Ri me divertindo com sua reação.

— Nunca!

— Tales?

Ela analisou e a sua barriga mexeu a fazendo sorrir e


arregalar os olhos.

— Você quer se chamar Tales, Bebê? Eu gosto de


Tales.

— Então está decidido. Ele escolheu e assim ficamos


os três com T, quatro com o gato. — Ela me olhou com
carinho por incluir nosso filho pet. — E você para de chamar
o Tales de bebê. Já passou da hora de nosso filho ter um
nome.

— Decidido será Tales! Talesss... — Ela testou o


nome, enquanto olhava para o mar e eu a perguntei:

— Vamos fazer uma aposta?

— Não começa...

— É sério. — Eu sorria.

Parecendo contrariada, mas curiosa demais para


recusar, perguntou:

— Qual?

— Eu tenho dez dias para te fazer feliz na lua de mel,


dez meses para te fazer a mãe mais feliz do mundo, dez
anos para te amar como se fosse o primeiro dia e a vida
inteira para dividir com você.
Com olhar apaixonado ela ergueu a mão em minha
direção e eu aceitei o cumprimento.

— Aceito. Eeee... se você não conseguir, vai voltar


desde o início e tentar de novo, o que não vale é desistir.

Abri um enorme sorriso.

— Combinado. — Puxei-a para perto e a beijei. — Te


amo.

— Te amo mais.

— Agora que tal irmos para o quarto e selarmos essa


aposta.

— Agora!

Levantei-me, a peguei no colo e rindo seguimos para


o quarto, na praia privativa que eu tinha reservado para a
nossa lua de mel.

E quando eu pensava que aquilo tinha começado


com dias contados e naquele momento seguia para a
eternidade, me fazia sentir como um filho da puta sortudo.

Eu sempre ganho!

Fim...
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por me dar a vida e
com ela o dom de escrever. Agradeço ao meu marido, que
me apoia e me incentiva em todas as loucuras que me meto
e com seu amor está sempre me impulsionando e
embarcando em todas as aventuras que a vida nos oferece.

Agradeço à minha filha que me inspira e me ajuda da


melhor maneira que pode, com seu amor e sendo meu
anjinho com seus doze aninhos de vida.

Agradeço à minha família e amigos que estão


sempre me apoiando, incentivando e nunca me deixam
desistir, a todas as amigas virtuais e leitoras (MINHAS
MARIAS) que me incentivam todos os dias, mesmo à
distância, sempre comigo pelas redes sociais, com palavras
e carinhos gratuitos.

Agradeço minhas betas lindas Michele, Nanda e Pam


que com paciência são o termômetro quando estou
escrevendo e me dizem se estou indo pelo caminho certo. A
todas as parceiras que indicam, divulgam, compartilham e
fazem aquele marketing lindo.

E enfim, não menos importante, agradeço a todos os


leitores que se apaixonaram pela história de Theodoro e
Tábata. Que se emocionaram, riram, me amaram ou
odiaram a cada capítulo.

Agradeço aos primeiros a ler e a você que pode estar


lendo esse agradecimento no dia do lançamento ou anos
após ele ter sido lançado.
A todos os citados, meu maior e mais sincero: muito
obrigada!
Sobre a Autora
De Biritiba Mirim-SP, Julia é casada, tem uma filha e é
escritora em tempo integral. Sempre foi encantada pelo
mundo literário e quando criança os gibs da turma da
Mônica a fascinavam. Cresceu, e se tornou uma romântica
incurável que se perdia de amores pelas histórias de época
e romances em geral. No entanto, foi em agosto de 2015
que decidiu unir o amor pela leitura com o pela escrita e
criou o seu primeiro romance . A partir daí Julia não parou
mais e escreveu diversos livros.

Apaixonada por seus leitores, ela não pensa em


parar e por isso se joga diariamente no mundo das histórias
que os personagens lhe contam, dando vida a cada um
deles e acreditando que seus leitores os mantêm vivos
todas as vezes que os leem.

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Obrigada por ler até aqui,
espero que tenha gostado e
conto com a sua avaliação.
Beijos.
Julia Fernandes

[1]
Personagem do livro Cinquenta tons de Cinza

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