Participação Da Família E Da Escola Na Educação Dos Jovens: Carlos Pedro Cláver Yoba
Participação Da Família E Da Escola Na Educação Dos Jovens: Carlos Pedro Cláver Yoba
Participação Da Família E Da Escola Na Educação Dos Jovens: Carlos Pedro Cláver Yoba
RESUMO
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Doutor em Ciências Pedagógicas pelo Instituto Central de Ciências Pedagógicas de Cuba. Mestre em
Educação pelo Instituto Superior Pedagógica “Enrique Jose Varona” de Havana-Cuba. Licenciado em
Psicologia Pelo Instituto Superior de Ciências da Educação da Huila-Angola. Professor Catedrático. Reitor
da Universidade Lueji A’Nkonde. Email: caryoba@yahoo.com
ABSTRACT
The educational process is recognizable as being a complex one. In this article, we intend to
present the theoretical conception of the mentioned process making resource from different
authors or scholars. The fundamental concepts are approached to understand the “Participation
of the family and the school in the youths’ education” based on a general analysis to the par-
ticular and Angolan one. The fundamental objective is to demonstrate the pledge of the family
and that of the school in the education of the new generations, in the maintenance of the habits
and costumes, as well as in the traditional education. The applied method used in this approach
consisted of the bibliographical and documental consultation.
Keywords: Family, School and Education.
Introdução
O desenvolvimento das sociedades deve ser consequência da organização dos diferentes compo-
nentes existenciais. Neste sentido, é importante verificar como esses componentes intervêm na
organização e funcionamento das sociedades rumo a construção de espaços sociais sãos desde
a mais tenra idade. Ao interpretar este anseio existente no seio das populações e/ou comunida-
des, decidiu-se investigar bibliográfica e documentalmente sobre “A Participação da Família e da
Escola na Educação dos Jovens”.
Será que a família e a escola podem participar na educação dos jovens? Compreendendo a
dinâmica social, neste artigo se coloca como pretensão fundamental a participação da família
e da escola na formação e no desenvolvimento dos jovens. Para satisfazer esse desiderato e
problematizar a investigação, estabelece-se a seguinte pergunta de partida; Qual pode ser a
participação da família e da escola na educação dos jovens? Tendo em conta as características
do presente artigo, e para a sua elaboração definiu-se como método a consulta bibliográfica e
a consulta documental de modo a ser o sustentáculo da teoria e dos demais posicionamentos.
Tratamento conceptual
Para uma real compreensão do texto, considera-se importante apresentar os conceitos bási-
cos inerentes ao assunto a tratar. Desta feita, nesta parte da comunicação são tratados os
conceitos fundamentais da comunicação, garantindo deste modo uma abordagem com base
científica do tema.
A Família
Qualquer abordagem que se pretende fazer sobre determinados assuntos, é extremamente
importante exprimir os pontos de vista de autores sobre a matéria e manusear claramente a
epistemologia. Ao entender assim este assunto, parte-se do geral (família no sentido lato) para o
particular (família sentido restrito) fundamentalmente a família no conceito angolano.
Para a Lei Constitucional da República de Angola no seu, artº 35º a família é o “núcleo fun-
damental da organização da sociedade e é objecto de especial protecção do Estado (…)”.
(2010:15);
O conceito família acaba sendo portador de uma postura polissémica. Ele, conceito família,
representa usualmente a sociedade humana, mas a bilogia indica uma apresentação taxinómica
e a gramática um conjunto de palavras com a mesma origem.
Contudo, no tocante aos seres humanos, os referidos laços podem agrupar-se em dois tipos:
a) família consanguínea ou nuclear na qual convivem somente os progenitores, os geridos ou
descendentes (pais e filhos) e b) família por afinidade (extensa ou alargada), na qual se eviden-
ciam relações com outras pessoas não nucleares.
Em Angola, a família pode ser constituída pelos pais e filhos, pelo pai e filhos, pela mãe e filhos
(família parental), quando estes (cada progenitor) tomam e desempenham o papel de chefe de
família. No entanto, embora não assumido formalmente, entende-se em termos de lei, verifi-
cam-se famílias resultantes de relações extraconjugais (um homem com duas ou mais famílias
constituídas) cujo tratamento se considera equitativo em função dos costumes regionais.
A família transmite conhecimentos e muitas experiências da vida social, tendo como método
específico a prática cotidiana, ou simplesmente, a vivência. O processo de transmissão de conhe-
cimentos e a sua consequente absorção verifica-se no dia a dia das comunidades em geral e das
famílias em particular.
Para reconhecer o papel educativo da família, Silva (2017 p. 30) considera que “mesmo sem pro-
jecto educativo, e de forma espontânea, a família realiza a educação dos seus membros para os
tornar cidadãos úteis à sociedade”.
O dito, traz ao de cima a complexidade do processo educativo, mesmo no seio familiar. Sem
grandes possibilidades de mensuração formal, se identifica a educação como um processo amplo
e transversal cuja influência é contínua sobre os indivíduos que configuram uma determinada
família, comunidade ou sociedade.
A educação tradicional sempre foi de importância vital para qualquer sociedade, principalmente
as sociedades africanas ou/e também as chamadas indígenas. Sobre a incidência e meios de
transmissão de conhecimentos, Neto (2014, p. 90) sustenta que “a educação oral da sociedade,
as canções populares descreviam virtudes, (…) sentimentos (…) orientação da educação”. Aqui,
se pode constatar a semelhança deste pensamento com a reflexão apresentada por Silva no
concernente a espontaneidade do processo educativo no seio da família. Na antiguidade a trans-
missão de conhecimentos e experiências era feita de forma oral e durante as noites de luar, com
a chamada “noite de estórias” para aprendizagem cultural.
A Escola
A escola deve ser entendida como uma Instituição portadora de uma estrutura multifuncional
composta pelo edifício, professores, alunos e outros funcionários. Esta Instituição é formalmente
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Iniciação masculina com circuncisão no leste de Angola. Os adolescentes são retirados do seio familiar e durante um período
definido ficam sob tutela de alguns adultos numa vida de selva. Os adolescentes fazem ratoeiras, caçam pássaros e aprendem
muitas coisas referentes a vida masculina. Cumpridas as fases, os adolescentes banham-se no rio e depois de aprumados “roupa
nova” regressam a aldeia onde são recebidos em “gala” festiva pelos populares, considerando-os como preparados para a vida.
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Rito de preparação da jovem logo que se identifica o seu primeiro período menstrual no leste de Angola. A adolescente, sem
o conhecimento de muitas pessoas é encaminha para a casa de uma avó onde permanecerá durante um tempo determinado.
A roupa íntima da rapariga somente será retirada do corpo depois do período definido e se manterá com a avó que a cuidou
durante o referido período. Existem “riscos” nesse acto, pois dizem os mais velhos que caso a avó seja catalogada de má fé pode
fazer uso destas vestes com procedimentos obscuros e provocar esterilidade da menina em causa.
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Rito de celebração da puberdade em Cabinda, principalmente na zona Sul. Este ritual se reveste muito secretismo desde a
sua preparação até a realização fundamentalmente para a rapariga que o cumpre. Pode ser individual como colectivo com um
número de membros da mesma família definido pela necessidade.
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Rito feminino no seio das populações da Huila. As raparigas são submetidas a um ritual inclusive para verificar o seu estado
de virgindade.
NOTA: todos esses rituais sofreram marcadas modificações em termos de organização e realização em função da globalização cultural.
existente para orientar o processo de ensino e aprendizagem, pois tem como objectivo educar
as diferentes gerações no processo de desenvolvimento da humanidade. Para o efeito, a escola
é detentora de um conjunto de planos organizados de modo sistemático, sistémico e sequencial,
garantindo a dosagem da aprendizagem das crianças e jovens em função do seu nível etário e de
desenvolvimento cognoscitivo.
Para continuar com a sua tarefa, a instituição escolar tem planos organizados de forma sistemá-
tica e sequencial. Conhecendo essa particularidade, Silva defende que a escola é uma “institui-
ção educativa hegemónica. (…) esta é a segunda e, talvez, a mais importante instância educa-
tiva, socialmente reconhecida, (…) que certifica”.
Preocupado com o sistema educativo, o Executivo de Angola preparou ao longo do tempo algu-
mas reformas cujo objectivo é corresponder com universalidade do mesmo a nível mundial.
Neste sentido, uma primeira grande reforma foi concebida logo apos a independência com a
mudança dos paradigmas educativos que transitaram do sistema colonial português para o sis-
tema “popular” e de acesso maioritariamente angolano. A segunda reforma está contida na
Lei 13/01 de 31 de Dezembro, cujos princípios foram profundamente trabalhados por Benedito
2012, pp 82-83, com o seguinte esmiuçamento:
PRINCÍPIOS
OBRIGATORIEDADE
Figura 01. Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino Lei 17/16 de 7 de Outubro (Princípios)
Para além de outros aspectos inovadores, em termos de filosofia da educação, na actual lei,
ressalta-se a introdução do princípio da legalidade. Este princípio vem assegurar a funciona-
lidade das instituições de ensino somente depois de cumprirem com os desideratos legais,
evitando um funcionamento institucional à margem da lei como se verificou durante muito
tempo. Com este princípio abre-se um combate cerrado ao comportamento de ilegalidade
muitas vezes recorrido pelos distintos promotores em todos os níveis (ensino geral ou secun-
dário e ensino superior).
O jovem
Este conceito é certamente amplo e de aplicação também ampla. O jovem é um sujeito com uma
determinada idade que muitos autores designam como meia idade, com frescura, moço com
características próprias da idade.
Componentes educativos
Como se pode verificar ao longo desta descrição no processo educativo no geral e em Angola
em particular existem elementos intervenientes, que nesta comunicação se designaram de
componentes educativos. Falar de componentes educativos é ressaltar aqueles interve-
nientes pessoais e impessoais dentro desse complexo processo. Os componentes pessoais
são os pais, os familiares, os amigos, os professores, os funcionários administrativos e os
próprios alunos, e, os componentes impessoais são os edifícios onde se desenvolvem as
actividades escolares.
FAMILIA ESCOLA
JOVEM
A explicação retro manifesta o processo educativo na sua perspectiva mais ampla, pois partici-
pam as dimensões educação informal e a educação formal. Os componentes do processo edu-
cativo interagem entre si abonando experiências e conhecimentos num verdadeiro intercâmbio,
cujo destino final é o jovem, como se pode verificar na figura nº 02.
Considerações finais
O processo de educação em geral engendra um conjunto de elementos caracterizados de com-
plexos. Para compreender a funcionalidade desse processo é extremamente importante definir
os conceitos fundamentais cuja articulação garante o cumprimento dos objectivos estabelecidos
pelos realizadores do mesmo.
A família é assumida como o núcleo de base da sociedade, pelo que se configura no ponto de
partida do processo educativo, embora de modo informal. A educação familiar, muitas vezes é
considerada tradicional pois resguarda os hábitos e costumes dos diferentes povos africanos em
geral e angolanos em particular.
Entretanto, a escola consiste numa estrutura organizada de modo vertical e horizontal cuja realiza-
ção da educação é formal, sistemática e sistémica. Assim sendo, ela é possuidora de um programa
e um cronograma capaz de assegurar a execução das tarefas educativos em prol dos jovens.
Referências
BENEDITO, Narciso Damásio dos Santos. Centralização, autonomia e diversidade nos sistemas
educativos de Angola e Portugal. Editora Setembro. Luanda, 2012
NETO, Teresa da Silva. Contribuição a História da Educação e Cultura de Angola. Zaina Editores.
Portugal, 2014.
SILVA, Eugénio Alves. Gestão do Ensino Superior em Angola. Realidades, Tendências e Desafios
Rumo à Qualidade. Mayamba Editora. Luanda 2016.