Licoes de Direito Processual Civil 6 Edicao
Licoes de Direito Processual Civil 6 Edicao
Licoes de Direito Processual Civil 6 Edicao
DIREITO
Prêmio Jabuti de Literatura, na
PRO
SANEAMENTO E DA ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO • FASE 2 0 24 • 6 ED categoria Direito, com a obra
PROBATÓRIA • AUDIÊNCIAS • FASE DECISÓRIA • PRECLUSÃO
“Direitos fundamentais das
C A R L O S E COISA JULGADA • PROCEDIMENTOS ESPECIAIS • RECURSOS
CIVIL
PROCESSUAL
LIÇÕES DE DIREITO
pessoas em situação de rua”,
CÍVEIS • PROCEDIMENTOS NOS TRIBUNAIS • CUMPRIMENTO
CESSUAL
HENRIQUE DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO organizado por Ada Pellegrini
Grinover, Gregório Assagra de
S O A R E S Almeida, Miracy Gustin, Paulo
CIVIL
César Vicente de Lima e
Rodrigo Iennaco.
Doutor e Mestre em Direito
O prêmio é o mais importante
Processual Civil – PUC Minas/
da área e celebra a qualidade
Universidade Nova de Lisboa
Professor Adjunto de Direito e ascendente importância da
CURSO COMPLETO Editora D’Plácido no
Processual Civil da PUC Minas,
Professor de Direito Processual • Legislação atualizada e com os principais mercado editorial
Civil da Escola Superior Dom entendimentos jurisprudenciais, súmulas e mineiro e brasileiro.
Helder Câmara, Professor de Pós- precedentes do STJ e STF
graduação em Direito Processual
Civil do IEC-Minas, Coordenador de
Pós-graduação do IEC/PUCMinas,
Escritor de diversos livros e artigos
jurídicos, Palestrante, Advogado- CARLOSHENRIQUESOARES
Diretor da Pena, Dylan, Soares &
Carsalade Sociedade de Advogados.
ISBN
E-M A I L: CA RLOS @ P D SC.CO M .B R
Dedico o presente livro às minhas alunas e alunos, atuais e futuros,
esperando que esta obra contribua para sua formação de qualidade.
Sumário
1. Direito e Processo 29
1.1. Direito material e direito Processual 29
1.2. Teoria geral do processo civil 30
1.3. Estado democrático de Direito 30
4. Teorias do processo 61
4.1. Teoria do processo como contrato 61
4.2. Teoria do processo como quase-contrato 62
4.3. Teoria do processo como relação jurídica 62
4.4. Teoria do processo como situação jurídica 65
4.5. Teoria do processo como instituição 66
4.6. Teoria do processo como procedimento em contraditório 67
4.7. Teoria do processo constitucional 69
4.8. Teoria neoinstitucionalista do processo 71
Referências 1011
Capítulo 1
Direito e Processo
1 . 1 . D i re i t o m a t e r i a l e d i re i t o P ro c e s s u a l
Há uma relação direta entre direito material e direito processual. Enquanto o
direito material busca disciplinar as relações humanas entre pessoas (direito obri-
gacional) ou entre pessoas e coisas (direito real), as normas de direito processual
buscam disciplinar o processo, o procedimento (ação) e a jurisdição.
As normas de direito material e as normas de direito processual são comple-
mentares. Havendo violação do direito material, é através do direito processual
que será possível a recomposição do direito ameaçado ou lesado.
As normas de direito material (direito civil, direito das obrigações, direito
das sucessões, direito das famílias, direito penal, direito tributário etc.) estabele-
cem padrão de conduta e de comportamento. Estabelecem condutas (omissivas
ou comissivas) a serem seguidas pelas pessoas frente a outras pessoas ou perante o
exercício da posse ou propriedade de objetos. Já as normas de direito processual
estabelecem um conjunto de atos que devem ser praticados pelos sujeitos pro-
cessuais (juiz, partes, advogados, ministério público e terceiros) no processo para
reparar lesão ou ameaça de lesão a direito material.
As normas de direito processual não definem somente o procedimento e a
busca da jurisdição (aplicação do direito – sentença), mas também devem garantir
ao longo do procedimento que sejam respeitados o contraditório, a ampla defesa,
o devido processo constitucional e a duração razoável do processo.
As normas de direito material e processual são duas faces da mesma moeda.
Violado o direito material, o direito processual deve ser acionado para o restabe-
lecimento do status quo ante.
As normas processuais devem regular a atuação do Estado na ingerência
patrimonial e/ou na liberdade de outrem. O direito processual não é mais im-
portante que o direito material. Ambos são importantes e são complementares.
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Um protege o outro e ambos protegem o cidadão. O direito não é autoaplicado e
precisa ser discutido antes da imposição de qualquer sanção (restrição patrimonial
ou de liberdade). As normas processuais são especialmente destinadas a garantir esse
espaço de diálogo e de construção do direito, quando violado o direito material.
1 . 2 . Te o r i a g e r a l d o p ro c e s s o c i v i l
A teoria geral do processo constitui-se no estudo crítico do processo, da
jurisdição e da ação. A teoria geral do processo busca reunir um conjunto de
conhecimentos sobre o fenômeno do processo. Como bem ressaltado por Fredie
Didier, a “teoria geral do processo é uma disciplina jurídica dedicada à elaboração, à or-
ganização dos conceitos jurídicos fundamentais (lógico-jurídicos) processuais. São conceitos
lógico-jurídicos processuais todos aqueles indispensáveis à compreensão jurídica do fenômeno
processual, onde quer que ele ocorra. [...] A teoria geral do processo pode ser compreendida
como uma teoria geral (g.n.), pois os conceitos lógico-jurídicos, que compõem o seu conteúdo,
têm pretensão universal. Convém adjetivá-la como ‘geral’ exatamente para que possa ser
distinguida das teorias individuais do processo que têm a pretensão de servir à compreensão
de determinadas realidades normativas”.
Podemos afirmar que a teoria geral do processo, epistemologicamente fa-
lando, tem o objetivo de esclarecer todos os conceitos relacionados à ciência do
processo, para que a dogmática processual seja bem desenvolvida. Entender os
termos: processo, jurisdição, ação, defesa, provas, decisão, recurso etc., é objetivo
da teoria geral do processo e permite estabelecer padrões normativos e inter-
pretativos. A compreensão deturpada dos institutos processuais pode acarretar
problemas no desenvolvimento da legislação processual e na aplicação do direito.
Vamos perceber que a dogmática processual não explica inúmeros concei-
tos apresentados na teoria geral do processo. Não há explicação na dogmática
para pressupostos processuais, condições da ação, perempção, defesa, resposta do
réu, petição inicial e citação, dentre outros conceitos. Vários princípios proces-
suais constitucionais dependem da teoria geral do processo para entender o seu
significado. A teoria geral do processo se preocupa com tais conceitos e indica
uma possibilidade de interpretação. Como bem salienta Didier, “a teoria geral do
processo é, ainda, bom antídoto contra a equivocidade terminológica, terrível moléstia de que
a ciência em geral poder ser vítima”.
1 . 3 . E s t a d o d e m o c r á t i c o d e D i re i t o
O objetivo do presente livro é desenvolver crítica a respeito do processo e
sua relação direta com o Estado Democrático de Direito (art. 1º, CR). O elemen-
to “participação” é fundamental para a democracia, e consequentemente para
o processo. Pensar o direito processual democrático a partir de uma concepção
participativa é o desafio da teoria geral do processo democrático.
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O Estado de direito, segundo Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias, está confi-
gurado nas seguintes premissas: 1º) no império da lei, 2º) na divisão dos poderes
do Estado (função legislativa, executiva e judiciária), 3º) na legalidade da admi-
nistração pública, 4º) no enunciado dos direitos e liberdades fundamentais dos
indivíduos. Isso significa que o Estado de Direito é aquele em que o Estado e os
cidadãos submetem-se à lei e em que tais leis garantem o limite de atuação e a
liberdade dos indivíduos. De toda forma, o Estado de direito precisou da ideia de
democracia, em razão da preocupação que poderia surgir de que a observância
da lei, sem a democracia, poderia levar a estados autoritários, onde as leis seriam
também autoritárias. A garantia da lei por si só não garante a democracia. É preciso
que o direito esteja sempre aliado à democracia. Daí a necessidade de utilização
da expressão “Estado democrático de direito” ou Estado de direito democrático”.
A ideia fundamental da democracia é a preocupação com a legitimação do poder.
Isso significa que o direito estabelece as diretrizes para que o povo possa deter-
minar sua direção política com liberdade. Ressalta Ronaldo Brêtas de Carvalho
Dias que a “Constituição brasileira, ao se visualizá-la concretamente, vê-se que seu texto
aglutina os princípios do Estado Democrático e do Estado de Direito sob normas jurídicas
constitucionalmente positivadas, a fim de configurar o Estado Democrático de Direito, objetivo
que lhe é explícito (artigo 1º). Observa-se, por importante, que o enunciado normativo do
artigo 1º da Constituição, que se refere ao Estado Democrático de Direito, está no Título I,
que trata, exatamente, dos seus princípios fundamentais”.
Dessa forma, entende Brêtas que os fundamentos para o Estado democrático
de direito são os seguintes:
1º) o princípio da dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III) e os
direitos, liberdades e garantias fundamentais declarados no art. 5º e 6º, dentre eles
o princípio da igualdade, o princípio da reserva legal e o direito à jurisdição pela
garantia do devido processo constitucional (art. 5º, inc. I, II, XXXV, LIV e LV e art.
133), 2º) o princípio da separação das funções do Estado (legislativo, executivo e
judiciário), 3º) os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
e eficiência, que regem a administração pública (art. 37 da CR/88), 4º) o princípio
da responsabilidade do Estado pelos danos causados aos particulares (§ 6º do art. 37
da CR/88), 5º) o direito de obter indenização do Estado pelos prejuízos sofridos
em razão do erro judiciário (art. 5º, LXXV), 6º) o princípio da independência dos
juízes (art. 95 da CR/88), 7º) o princípio da fundamentação das decisões (art. 93,
inc. IX da CR/88), 8º) o princípio da prestação de serviços públicos pelo Estado
de forma adequada (art. 175, p.u., inc. IV da CR/88), 9º) o princípio da prevalência
dos direitos humanos nas relações internacionais (art. 4º, inc. II), 10º) o princípio da
incorporação no direito interno das normas internacionais de proteção aos direitos
humanos (art. 5º, § 2º da CR/88), 11º) o princípio da vinculação dos órgãos dos
legislativos ao Estado de Direito (art. 60, § 4º, inc. I e II).
31
Ao relacionar os institutos do processo e da democracia, temos o objetivo de
indicar a necessidade de participação no processo de tomada de decisão. Enquan-
to a democracia pensa a participação dos cidadãos pelo aspecto político, o pro-
cesso relaciona a participação pelo aspecto jurisdicional de aplicação do direito
ao caso concreto. Ambos os conceitos, processo e democracia, se bem exercidos,
podem garantir aos cidadãos e partes a plenitude da cidadania. Deve-se enten-
der que processo e democracia são resultados da atividade dialógica pela busca
do consenso e pela construção de uma decisão que seja racionalmente aceitável
para as partes. Não há nenhuma pretensão de indicar que isso é construído por
uma atividade calma e tranquila. Pelo contrário, a participação dos interessados
no processo de tomada de decisão é sempre conflituosa. Incumbe ao processo e
à democracia garantir as regras de discussão e construção do direito, impedindo
que o autoritarismo possa inviabilizar o direito de participação. A importância do
juiz no processo democrático é de um agente fiscalizador. No entanto, a fiscali-
zação não é atividade exclusiva e autocrática: ela deve ser exercida na democracia
por todos, e o resultado é justamente uma decisão jurisdicional de qualidade. O
processo tem justamente, na democracia, a função de dar qualidade e legitimida-
de às decisões jurisdicionais, garantindo os direitos fundamentais. Esse objetivo
é o desfio do Estado pós-moderno e precisa ser desenvolvido de forma efetiva.
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