154 TCC VictorTeixeira TRPOA001
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Resumo
O presente artigo tem o objetivo de apresentar formas de manutenção de vias urbanas com
base na administração pública, focando em como definir as intervenções necessárias bem
como a etapa de licitação, baseado em um estudo de caso no Município de Glorinha, no
Estado do Rio Grande do Sul. A pesquisa partiu da dúvida quanto às diversas formas de
proceder com a conservação viária e na dificuldade de executá-las na realidade dos
pequenos municípios. Quais formas que a administração pública tem para executar essa
manutenção. No presente caso foi traçada uma diretriz onde as principais vias foram
definidas levando em conta o tráfego. Foram realizados levantamentos fotográficos e feita
listagem da situação de cada via. Elaborou-se o dimensionamento e etapas de conservação e
forma de licitação para execução do serviço. Diante das situações constatou-se como maior
impeditivo o alto custo em manter a via urbana livre de defeitos. Concluiu-se que com base
no problema inicial a possibilidade de manter um plano de manutenção, mantendo-se
registrado a quantidade de defeitos, seus locais, o nível de serviço de cada via do município,
e corrigir os defeitos mais graves para o progresso em uma mesma via não ser perdido ao
tentar mantê-la adequada.
1. Introdução
Transporte seja ele particular ou coletivo está presente na vida da maioria das pessoas de
forma direta ou indireta. E um aspecto que influencia esse cotidiano é o estado de
conservação das vias urbanas. Uma rua ou estrada em péssimas condições pode trazer
prejuízos de várias maneiras. Afetando a durabilidade de pneus, incorrendo em custos na
manutenção de veículos. Ou induzindo motoristas a aumentarem a probabilidade de acidentes
ao serem forçados a desviar de defeitos graves nos pavimentos. Sendo assim é imprescindível
mantê-los em um nível de serviço no mínimo aceitável. Uma vez exposto esse problema,
muitas vezes é por conta da administração pública a obrigação de saná-lo.
Uma prefeitura se envolve com diversas áreas cuidando para atender a demanda de sua
população. Os problemas já se encontram presentes ou começam a surgir e a administração
precisa cuidar para não comprometer o orçamento ao mesmo tempo que precisa resolver
diversas situações, como por exemplo, as vias internas que estão esburacadas.
Este trabalho visa o estudo sobre manutenção de vias urbanas, sob o ponto de vista dos
tomadores de decisão e técnicos, para a possibilidade de desenvolver algumas formas de
planejamento, projeto, licitação e obras. Seja apresentando uma maneira de como seguir uma
diretriz visando a solução, seja mostrando alguns dos vários entraves nessa busca.
Além disso, será apresentado um estudo de caso, em uma avenida importante no município de
Glorinha, no Estado do Rio Grande do Sul, no ano de 2017. Nesta avenida se situa uma
fábrica de grande porte, a qual gera tráfego pesado de caminhões, mas com uma frequência
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moderada. Mas por essa via também temos outros usuários uma vez que essa é uma das
ligações entre o centro da cidade e a BR-290.
2. Pavimentos Flexíveis
Ruas estradas ou avenidas sejam qual for o tipo de via ela pode ter várias formas de estrutura
de pavimento. Pavimento, como explicado no Manual de pavimentação asfáltica
(BERNUCCI et al., 2008:9), “[...] é uma estrutura de múltiplas camadas de espessuras finitas,
construída sobre a superfície final de terraplenagem, destinada técnica e economicamente a
resistir aos esforços oriundos do tráfego de veículos e do clima [...].”. A estrutura usual pode
ser conferida na figura 1.
a) Flexíveis, aqueles cujas camadas sofrem deformação elástica sob carregamento aplicado de
forma que as cargas se distribuem em parcelas proporcionais;
b) Semi-rígidos, os quais são caracterizados por uma base rígida com revestimento flexível,
como por exemplo, base de solo-cimento sob uma camada asfáltica;
c) Rígidos, sendo aqueles cujo revestimento é altamente rígido em relação das camadas
inferiores.
d) Concreto asfáltico: trata-se de mistura asfáltica a quente formado por agregado graduado e
cimento asfáltico, espalhado e comprimido a quente, com estabilidade, vazios, índice de
betume e vazios de acordo com especificações;
e) Pré-misturado a quente aberto: mistura a quente feita em usina apropriada. Sua composição
é de cimento asfáltico e agregado graúdo, de modo a conferir maior índice de vazios,
espalhado e também comprimido a quente. Normalmente empregado logo abaixo de algum
revestimento asfáltico, como camada intermediária. Dentre suas aplicações tem-se em obras
de restauração, como camada de regularização; como revestimento, ao receber capa selante; e
para prevenção contra derrapagens, necessitando a mistura de agregado com certo diâmetro
máximo, executada sobre revestimentos;
f) Lama asfáltica ou micro revestimento asfáltico a frio: vem da mistura de emulsão asfáltica,
água, “filler” (material de enchimento), agregados ou misturas de agregados miúdos, com
consistência fluída. Pela consistência da lama e da graduação dos agregados propiciam-se
espessuras delgadas. A lama asfáltica pode ser utilizada na renovação de superfícies
deterioradas, bem como impermeabilização no caso de fissuramento do revestimento;
g) Capa Selante: é a realização de uma aplicação de ligante asfáltico e uma de agregado
miúdo por penetração invertida, de forma a restabelecer as condições de impermeabilidade da
camada melhorando a aderência de alguns revestimentos deteriorados pela ação do trafego e
das intempéries, ao influenciar na macro-rugosidade. Usado, por exemplo, em certos
tratamentos superficiais, macadames asfálticos, pré-misturados de textura aberta e misturas
asfálticas densas.
Souza (2004) ainda destaca mais um uso, o de pintura de cura, que é a aplicação “sobre
camadas que tenham sido tratadas com cal hidratada ou cimento Portland, desde que
executadas recentemente, de modo a providenciar condições adequadas para a cura. Também
acaba conferindo aderência.”.
O concreto asfáltico por sua vez, de acordo com Souza (2004), pode ser utilizado como
camada de rolamento:
Posto isso, como boa parte da malha rodoviária pavimentada sendo do tipo flexível, este será
o tipo analisado neste artigo.
Souza (2004) comenta que vários acidentes são decorrentes da má conservação de rodovias,
que também incorrem em danos aos veículos, podendo destacar o desconforto e prejuízos aos
usuários, e diversas vezes ocorrendo lentidão no trânsito. Segundo Maria Luiza Danieleski:
Dentre as fendas, tem-se fissuras e trincas. Souza (2004) cita que "fissuramentos são defeitos
que ocorrem em pavimentos flexíveis, a maioria deles por falha de construção, de estrutura ou
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Outro defeito a ser citado é o de trincamento por fadiga, onde Domingues (1993) explica que:
Além disso, Villibor et al., 2009, comentam que há um maior número de municípios de
pequeno e médio porte que acabam executando pavimentos de vias urbanas de acordo com
sua experiência por meio de empresas pequenas e acabam não podendo garantir o controle
tecnológico necessário, com certas limitações quando são envolvidas técnicas para
pavimentos diferenciados.
Isso acaba refletindo diretamente na manutenção das vias pois técnicas diferentes e estruturas
variadas acabam dificultando na elaboração de um projeto de reforma. Situações como por
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exemplo uma via calçada e parte dela ainda não pavimentada, requerendo uma recomposição
do leito carroçável com solos mais adequados. Isso sem esquecermos que:
Visto isso, abre-se a utilidade de manter a qualidade de vias urbanas. Bernucci et al (2008)
comentam sobre técnicas para conserto de revestimento:
5. Métodos de Manutenção
Tendo em mente a necessidade da conservação, segue-se para as maneiras de como proceder
com a manutenção dessas vias. Um aspecto a considerar é a diferenciação entre vias urbanas e
as rodovias por parte de suas características. Fernandes Jr. (1996) enuncia:
a) A existência de redes de infra-estrutura públicas construídas sob os pavimentos, cuja
manutenção exige a abertura de valas e posterior reconstrução do pavimento;
b) O tráfego circundante nos pavimentos urbanos é composto por automóveis de passeio,
utilitários e ônibus urbanos, com pequena parcela de veículos pesados;
c) A velocidade de operação é mais baixa e o fluxo é descontínuo.
Podendo ser citados inclusive maior frequência de frenagens e aceleração nas interseções, [...]
e a variedade de tipos de pavimentos e estruturas (FERNANDES JR., 1996).
Para iniciar uma manutenção, é necessário um levantamento da situação. Scaranto e
Gonçalves (2008) em sua metodologia sobre manutenção de rodovias, propõem duas fases, de
estudo e procedimento para diagnósticos, e levantamentos. Descrevem então que "os
procedimentos propostos para a coleta de dados estão baseados na realização de um
Levantamento Visual Contínuo (LVC)". A partir de algumas informações principais, a
começar pelo registro dos defeitos; nota referente à condição geral do pavimento; nota para
condição funcional do pavimento; classificação da drenagem superficial; registros
fotográficos; tráfego atuante; informações gerais (geometria da via, nº de faixas); e então
classificar os defeitos em três níveis de severidade e de extensão (SCARANTO;
GONÇALVES, 2008).
Danieleski (2004) coloca que:
Seja a forma encontrada para se chegar a um diagnóstico, é com esse que se parte para os
métodos de conservação. Tendo um projeto em mãos, vem a etapa seguinte, no caso da
administração pública, a licitação (ou em certos casos, a dispensa).
Sendo assim, conforme súmula 257 do TCU (BRASIL, 2010) é admissível a realização de
Pregão para contratação de serviços comuns de engenharia. Cabe ressaltar a possibilidade de
incluir a reparação de dispositivos de drenagem, uma maneira de qualificar o processo de
reforma.
A modalidade de Pregão auxilia muito pela agilidade que se toma o processo licitatório, sendo
necessária a formulação de memorial descritivo, orçamento e cronograma. Melo (2017)
destaca essa modalidade de licitação citando que “o pregão, tanto o presencial quanto o
eletrônico, foram instituídos com a finalidade de aperfeiçoar o regime de licitações,
permitindo o incremento da competitividade e a ampliação das oportunidades de participação
no processo licitatório (MELO, 2017).”.
Isso é graças a uma de suas vantagens que “é o fato de ele ter procedimento invertido.
Primeiro são analisadas as propostas e somente depois há a habilitação do vencedor. Isso faz
com que não haja a necessidade de analisar diversos documentos de concorrentes que não
serão vencedores ao final do certame (MELO, 2017).”.
7. Estudo de Caso
O ideal antes de iniciar qualquer levantamento é verificar a existência do projeto original da
via. Nem sempre é possível muitas vezes por conta da dificuldade de manter um banco de
dados ou registro de todas as obras feitas, especialmente se forem muito antigas. No presente
caso não foi possível obter o projeto para conferir a estrutura ou estruturas adotadas na
execução da avenida em questão.
Foram realizadas visitas técnicas para monitorar e avaliar a condição da avenida. A figura 2 a
seguir faz parte do levantamento fotográfico.
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O levantamento foi feito em diferentes dias para garantir o colhimento das informações
necessárias que pudessem passar despercebidas. Foi coletada a maior quantidade possível de
informações. Foi procurado amarrar todas as informações com referências ou estaqueamentos
existentes para localização dos defeitos. Após feita a avaliação conforme os critérios adotados
partiu-se para a elaboração das formas de manutenção.
No caso foram divididas as ações em recapeamento e reconstrução da estrutura de pavimento,
de acordo com a gravidade dos defeitos.
Uma vez definidas as formas, seguiu-se para o detalhamento de cada intervenção.
Os defeitos menos graves foram agrupados para sofrerem recapeamento, feitos pelos
seguintes serviços:
Fresagem na área afetada;
Imprimação asfáltica para garantir superfície adequada para receber pintura de
ligação;
Pintura de ligação para recebimento do revestimento asfáltico;
Revestimento asfáltico;
Transporte de material asfáltico, DMT 40 km.
Já para os defeitos mais graves foi necessário optar pela reconstrução da estrutura do
pavimento.
Para o dimensionamento foi adotado que o revestimento novo teria 7,0 cm de espessura de
CBUQ. Para a execução desse serviço foram elaboradas as seguintes etapas:
Demolição de pavimento, 15 cm;
Execução de Base de Brita Graduada, 8,0 cm;
Imprimação asfáltica;
Pintura de ligação;
Revestimento asfáltico, 7,0 cm;
Transporte de material asfáltico, DMT 40 km.
A partir disso, passado o processo de licitação, prosseguiu-se para a execução da obra pela
empresa contratada. As figuras 3, 4 e 5 mostram 3 etapas diferentes do serviços de
recapeamento após fresagem.
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Outros serviços devem ser considerados, como por exemplo o transporte de material
betuminoso. Para chegar a um valor mais correto o ideal é a pesquisa de unidades de usina
asfáltica de regiões próximas. Embora não seja garantido que a empresa vencedora da
licitação optará por uma dessas, é necessário para um orçamento melhor delineado, de
maneira a chegar em uma DMT mais adequada.
Também fez parte do orçamento a necessidade de reparar dispositivos da drenagem em um
ponto da via, através da reforma de um poço de visita e do bueiro fazendo a travessia.
Segundo a NBR 15.645, esta indica que deve ser removida a pavimentação na largura da vala
e mais 15 cm de cada lado no leito da rua (BRASIL, 2008). Seguem imagens do Anexo A da
NBR 15.645/2008, na figura 6, e o procedimento in loco na figura 8.
7. Conclusão
Diante do resultado alcançado, o uso de métodos valorizando a boa técnica foram bem
observados e se chegou numa reforma com o executado de acordo com o esperado. O nível de
serviço geral ficou adequado.
A facilidade alcançada pelo método do pregão foi útil dada a celeridade com que se chegou na
execução, uma vez que processos mais demorados poderiam tornar o levantamento defasado
devido a ações das intempéries. Chuvas fortes poderiam piorar ainda mais a situação do
bueiro avariado, e acelerando a deterioração já avançada em certos pontos.
Certos métodos de manutenção, tiveram que ser desconsiderados pela inviabilidade que se
revelou diante desses. Por exemplo na falta de corpo técnico para estudos de VSA, mais
indicados para rodovias mais exigidas. Por isso ao focar em vias urbanas de baixo volume,
métodos mais adequados à essa realidade ficam mais acessíveis.
Alguns aspectos que podem ser abordados seriam métodos para montar um planejamento de
manutenção, visando um nível de serventia geral, ao mesmo tempo que se analisam
tecnologias de conservação mais inovadoras, que auxiliem na viabilização de serviços por
parte de prefeituras pequenas. Como por exemplo, no caso de reforma de estrutura de
pavimento, onde se tem o maior custo em comparação com recapeamento em um mesmo
parâmetro em comum, dadas as certas proporções, o uso de RCD, resíduos de construções e
demolição, para comporem camadas de base e sub-base, visando um menor custo.
Referências
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n.
8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição
Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá
outras providências. Brasília, DF, 1993. Disponível em:
< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8666cons.htm >. Acesso em: 24 jul. 2017.