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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL Prof. Dr.

Cristiano Colombo
LINDB

1. DA PESSOA

O conceito de pessoa está no artigo 1º do Código Civil Brasileiro, que lhe


consagra a capacidade de direito, a saber:

“Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.”

PESSOA DIREITOS E DEVERES

PESSOA NATURAL SER HUMANO

PESSOA JURÍDICA FICÇÃO

O Direito também atribui personalidade a entes formados de conjuntos


de pessoas ou de patrimônio, que são as pessoas jurídicas. Animais e
seres inanimados não podem ser sujeitos de direito.

Portanto, existem pessoas naturais (homem, mulher, idoso, criança), como


jurídicas (sociedades, fundações, associações, etc.)

1.1. DA PESSOA NATURAL

INÍCIO:

Dispõe o artigo 2º do Código Civil Brasileiro:

“Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida;


mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.”

TEORIA NATALISTA

PERSONALIDADE CIVIL = NASCIMENTO + VIDA

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PARA O CÓDIGO CIVIL:

NASCITURO NÃO É PESSOA.

CAPACIDADE DE DIREITO ≠ CAPACIDADE DE FATO

Toda a pessoa tem capacidade de direito. No entanto, nem todas as


pessoas podem exercem pessoalmente (no mundo dos fatos), pois lhes
falta a capacidade de fato. É o que ocorre com uma criança de cinco anos,
que tem capacidade de direito, uma vez que pode ser proprietária de um
imóvel, no entanto, em face de sua idade, não tem capacidade de fato.
Não pode administrar o bem imóvel, nem vendê-lo.

INCAPACIDADE ABSOLUTA ARTIGO 3º do CCB

Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da


vida civil: (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

I - os menores de dezesseis anos; (Vide Lei nº 13.146, de


2015) (Vigência)

II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário


discernimento para a prática desses atos; (Vide Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)

III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua
vontade. (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

INCAPACIDADE RELATIVA ARTIGO 4º do CCB

Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os


exercer: (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

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II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência


mental, tenham o discernimento reduzido; (Vide Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)

III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; (Vide Lei nº


13.146, de 2015) (Vigência)

IV - os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação


especial. (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

Pródigos.

A dissipação, o impulso, o desperdício. A definição deve ser fornecida pela


Psiquiatria.

Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, sem curador,


emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser
demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera
administração.

O pródigo, enquanto não declarado como tal, é plenamente capaz.

Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação


especial.

MAIORIDADE E CAUSAS DE EMANCIPAÇÃO

Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa


fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante


instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por
sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos
completos;

II - pelo casamento;

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III - pelo exercício de emprego público efetivo;

IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;

V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação


de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos
completos tenha economia própria.

A menoridade cessa aos 18 anos completos.

A Emancipação é a aquisição da capacidade civil, antes da idade legal, que


se dá:

I - Pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante


instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou
por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos
completos;

Por escritura pública (uma vez concedida não pode ser revogada) ou por
sentença.

II - Pelo casamento;

A lei entende que quem constituirá família com a autorização dos pais,
deve ter maturidade para reger os atos da vida civil. (averbação) Uma vez
alcançada a capacidade civil plena pelo casamento, não retornará, caso
haja separação judicial e/ou divórcio.

III - Pelo exercício de emprego público efetivo;

Em qualquer das esferas. Somente aquele nomeado em caráter efetivo.


(averbação)

IV - Pela colação de grau em curso de ensino superior;

Presunção de desenvolvimento humano, cultural e profissional. Mediante


averbação.

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V - Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação


de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos
completos tenha economia própria.

Entendido aquele que tem recursos próprios para a sua manutenção e


sobrevivência. Neste caso, deve ser buscado judicialmente, sentença
declaratória.

DO FIM DA PERSONALIDADE NATURAL

A existência da personalidade natural acaba com a morte, a saber:

Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se


esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de
sucessão definitiva.

Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de


ausência:

I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de


vida;

II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for


encontrado até dois anos após o término da guerra.

Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente


poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações,
devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.

AUSÊNCIA

VIDA MORTE PRESUMIDA

PERIGO DE VIDA

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Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se


podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros,
presumir-se-ão simultaneamente mortos.

1.2. DA PESSOA JURÍDICA

Pessoa Jurídica é o conjunto de pessoas, ora como destinação


patrimonial, com aptidão para adquirir e contrair obrigações.

Classificação

Classificam-se em dois grupos: pessoas jurídicas de direito público e


pessoas jurídicas de direito privado e, a teor do artigo 40 do CC, a saber:

Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de


direito privado.

a) Pessoas Jurídicas de Direito Público

São aquelas destinadas a atender finalidades do Estado, criadas pela


Constituição Federal ou por lei, gozando do jus imperii, e tratando de
interesses públicos ou preponderantemente de todos.

As pessoas jurídicas de direito público interno são formadas de entes


instituídos para a organização do Estado, consideradas da administração
direta e indireta, são:

Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:

I - a União;

II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;

III - os Municípios;

IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada pela Lei


nº 11.107, de 2005)

V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.

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Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de


direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se,
no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código.

Os incisos IV e V tratam da administração indireta, enquanto os incisos I a


III, da administração direta.

As pessoas jurídicas de direito público externo são as nações estrangeiras


e os organismos internacionais (ONU, UNESCO).

É o que dispõe o artigo 42 do Código Civil:

Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados


estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito
internacional público.

b) Pessoas Jurídicas de Direito Privado

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:

I - as associações;

II - as sociedades;

III - as fundações.

IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. (Incluído pela Lei


nº 12.441, de 2011) (Vigência)

§ 1o São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o


funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder
público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e
necessários ao seu funcionamento. (Incluído pela Lei nº 10.825, de
22.12.2003)

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§ 2o As disposições concernentes às associações aplicam-se


subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial
deste Código. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

§ 3o Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o


disposto em lei específica. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

I – Associações

São as entidades sem fins econômicos.

Art. 53 CC. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se


organizem para fins não econômicos.

II – Sociedades

São as organizações com fins lucrativos.

Sociedade Empresária x Sociedade Simples:

Art. 982 CC. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a


sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de
empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.

III - As Fundações.

Art. 62 CC. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura
pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim
a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.

IV - As Organizações Religiosas

As organizações religiosas são livres, desde que lícitas e com seus estatutos
devidamente inscritos no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

V - Os Partidos Políticos

Da Existência Legal e da Decadência da anulação da constituição dos atos


constitutivos de Pessoas Jurídicas de Direito Privado

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Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado
com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida,
quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo,
averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato
constitutivo.

Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das


pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo,
contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.

2. DOMICÍLIO

Pessoa Jurídica é o conjunto de pessoas,

“Domicílio é a sede jurídica e social da pessoa, para qual todos se dirigem


com a finalidade de se relacionarem juridicamente com ela.” (Arnaldo
Rizzardo)

“É o lugar de exercício dos direitos e cumprimento das obrigações, no


sentido da exigibilidade.” (Caio Mário da Silva Pereira)

“Art. 70 do CC: O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a


sua residência com ânimo definitivo.”

Verificam-se dois elementos:

a) objetivo: residência (lar, teto, abrigo);


b) subjetivo: o ânimo definitivo (permanecer).

É centro das ocupações, da vida, dos negócios, das sedes das atividades.

Pode alguém ter mais de um domicílio? Admite-se a pluralidade de


domicílios?

“Art. 71 do CC: Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde,
alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.”

Domicílio e Profissão

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Art. 72 do CC: É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações


concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.

Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada


um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.

Domicílio para quem não tem residência atual

Art. 73 do CC: Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha
residência habitual, o lugar onde for encontrada.

Modificação do Domicílio

Art. 74 do CC: Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a


intenção manifesta de o mudar.

Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às


municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais
declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a
acompanharem.

Carvalho Santos aponta alguns exemplos de falta de intenção de estar


domiciliado em determinado lugar:

a) quem se acha transitoriamente, com problemas de saúde;


b) quem está em uma cidade no verão;
c) quem vai em viagem de lazer;
d) empregado público, que, em licença, vai para outro lugar,
temporariamente; função transitória, temporária.

DOMICÍLIO DAS PESSOAS JURÍDICAS

Art. 75 do CC: Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:

I - da União, o Distrito Federal;

II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;

III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;

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IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas


diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu
estatuto ou atos constitutivos.

§ 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares


diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele
praticados.

§ 2o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-


se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas
por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no
Brasil, a que ela corresponder.

DOMICÍLIO – SITUAÇÕES ESPECIAIS

DOMICÍLIO NECESSÁRIO

Art. 76 do CC: Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o


militar, o marítimo e o preso.

Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou


assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer
permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da
Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar
imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver
matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.

I - O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente;

II – O domicílio do servidor público, o lugar em que exercer


permanentemente suas funções;

III – O domicílio do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da


Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente
subordinado;

IV – O domicílio do marítimo, onde o navio estiver matriculado

V – O domicílio do preso, o lugar em que cumprir a sentença.

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DOMICÍLIO DO AGENTE DIPLOMÁTICO

Art. 77 do CC: O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro,


alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, o seu
domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto
do território brasileiro onde o teve..

DOMICÍLIO DE ELEIÇÃO

Art. 78 do CC: Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar


domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles
resultantes.

DAS ESPÉCIES DE DOMICÍLIO - SÍNTESE

Domicílio Voluntário: que é escolhido livremente pela parte;

Domicílio Legal ou Necessário: imposto pela lei;

Domicílio Ocasional: pessoa sem residência;

Domicílio Múltiplo: várias residências para um indivíduo.

3. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO

(MATERIAL DE APOIO)

3.1. Aspectos Gerais


A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB),
Decreto-Lei n° 4.657, de 4 de setembro de 1942, é conhecida como Lex
Legum, por ser a “Lei das Leis”, reunindo em seu texto normas sobre as
normas.
A LINDB está em plena vigência no Direito Pátrio, não tendo sido
revogada pelo Código Civil Brasileiro (Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de
2002). Há que se ressaltar que a LINDB não é parte componente do Código
Civil. Sua aplicação não se restringe tão somente ao Direito Civil, voltando-
se aos mais variados ramos do Ordenamento Jurídico Brasileiro, como o
próprio Direito Civil, o Direito Internacional Público e o Direito
Internacional Privado, o Direito Penal, o Direito Empresarial, entre outros.
A Lei de Introdução dispõe acerca da vigência das normas no

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tempo, uma vez que estabelece os prazos para que uma norma jurídica
tenha seus efeitos (Direito Intertemporal), bem como resolve o conflito de
normas no espaço (Direito Interespacial), pois indica qual a norma a ser
seguida quando se trata de relações jurídicas havidas com pessoas
estrangeiras ou realizadas fora do território brasileiro.
A LINDB traz critérios de interpretação das normas, ou seja, trata de
Hermenêutica Jurídica – que é a Ciência da Interpretação; e, ainda,
critérios de Integração, nos casos em que não há norma jurídica. A LINDB
autoriza ao juiz que julgue valendo-se da analogia, do costume e dos
princípios gerais de Direito, na hipótese de omissão na lei (lacunas do
Direito).

3.2. Da Vigência da Lei


Em tendo sido cumpridos todos os trâmites legislativos (votação da
lei, sua promulgação e sua publicação no Diário Oficial), há que se
questionar, a partir de quando a norma passa a ter qualidade impositiva1,
ou seja, produzir seus efeitos? Em regra, para que os cidadãos não sejam
surpreendidos pela nova lei, faz-se necessário que transcorra lapso
temporal razoável entre o dia da publicação no Diário Oficial e o momento
em que a lei produza seus efeitos, para que todos tenham amplo
conhecimento do conteúdo da norma e passem a observá-la.

3.2.1. Do Período de Vacatio de 45 dias para a Lei Vigorar no Brasil


A LINDB trata desta matéria em seu artigo 1º, a saber: “Art. 1o Salvo
disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e
cinco dias depois de oficialmente publicada.”
Portanto, não havendo disposição contrária, a lei começa a vigorar,
ou seja, a produzir seus efeitos, de forma simultânea (princípio do prazo
simultâneo), em todo o território brasileiro, após quarenta e cinco dias
contados de sua publicação no Diário Oficial. É também conhecido como
sistema da obrigatoriedade simultânea.
O prazo poderá ser maior ou menor, neste caso, dependendo de
disposição expressa no texto da lei, como por exemplo: “esta lei entra em
vigor após decorridos quinze dias de sua publicação oficial.”
É o que se depreende da disposição havida no artigo 8°, § 2º, da Lei
Complementar n° 95, de 26 de fevereiro de 1998, a saber:
“§ 2o As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a
cláusula ‘esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua
publicação oficial’.”

1
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, v. 1, p. 115.

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Logo, “vacatio legis” ou “vacância da lei”, trata-se do período de


tempo havido entre a publicação oficial e o momento em que a lei passa a
produzir os seus efeitos.
Haverá casos em que a lei, dispondo de forma contrária,
determinará que a lei passe a produzir efeitos “no momento de sua
publicação”, conforme dispõe o caput do artigo 8º da LC 95/98, a saber:
“Art. 8o A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a
contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento,
reservada a cláusula ‘entra em vigor na data de sua publicação’ para as leis
de pequena repercussão.”

Neste caso, em havendo a expressão “entra em vigor na data de sua


publicação”, não há “vacatio legis”, não havendo, portanto, período de
vacância da lei.

3.2.2. Do Período de Vacatio de Três Meses para a Obrigatoriedade da


Lei Brasileira nos Estados Estrangeiros
Na hipótese em que, nos Estados estrangeiros, é admitida a
obrigatoriedade da lei brasileira, pelo princípio da extraterritorialidade, o
período de vacância da lei, ou seja, a vacatio legis, é de três meses, a teor
do artigo 1º, § 1º, da LINDB:
Ҥ1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando
admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.”

Aplica-se, neste caso, o período de vacância de três meses, pois, em


que pese o pleno acesso à informação daqueles que residam no exterior,
principalmente, em face da publicação eletrônica das leis, cumpre destacar
que a LINDB buscou, desde o início, preservar o cidadão que não está no
Brasil e, portanto, presumidamente, está afastado do contexto nacional,
fazendo-se necessário período maior de vacância para assimilar as
alterações legislativas.
Como observação importante, há que se salientar que o período de
vacância é de três meses, não devendo ser computado em dias.

3.2.3. Das Incorreções da Lei


Em sendo publicada a lei no Diário Oficial, o texto legal passa a ser
de conhecimento de todos os cidadãos brasileiros. Ocorre que, em alguns
casos, a lei contém imperfeições, necessitando de correções. Nestas
hipóteses há que ser observado:
A uma, se a correção é feita dentro do período de vacatio legis, ou
seja, dentro dos quarenta e cinco dias, ainda não tendo a lei produzido

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seus efeitos, começa-se a contar do zero o período de vacância da nova


publicação, de todo o texto legal, não somente dos artigos que estão
incorretos, nos termos do artigo 1º, § 3º, da LINDB:
“§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu
texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos
anteriores começará a correr da nova publicação.”

A duas, se a correção for feita após ter transcorrido o período de


vacância da lei, portanto, estando a primeira lei em pleno vigor, a nova lei,
que veio para corrigir – ora denominada de lei corretiva – terá de aguardar
o seu próprio período de vacância, enquanto, neste período, as
incorreções da primeira lei continuarão a vigorar. Assim, publicada a lei
nova, os atos praticados durante a vacatio legis, conforme a lei antiga,
terão validade, ainda que voltados a evitar os efeitos da lei nova. Quando
cumprido o período de vacância da lei corretiva, cessa a vigência dos
artigos incorretos da primeira lei, e a segunda lei corretiva tem plenos
efeitos. É o que o artigo 1º, § 4º, da LINDB dispõe:
“§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.”

Não há como ser corrigida a lei mediante mera interpretação


judicial analógica; faz-se necessário a produção de lei corretiva.

3.2.4. Do Princípio da Continuidade das Leis


Segundo o artigo 2º da LINDB, caput:
o
“Art. 2 Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que
outra a modifique ou revogue.”

Importa destacar que lei com vigência temporária é aquela norma


que vem atender situação temporária, fixando prazo determinado de
vigência. A doutrina aponta como exemplo a Lei nº 7.538, de 24.09.1986,
que suspendeu as execuções de despejo até 1º de março de 1987, em face
de grave crise econômica havida, na época.2 Logo, a própria lei, ao nascer,
já refere o seu período de vigência.
Contudo, no tocante à maioria das leis, a doutrina identificou o
“princípio da continuidade das leis”, ou seja, segundo Caio Mário da Silva
Pereira: “Nos regimes jurídicos em que a teoria geral das fontes de direito
assenta na supremacia da lei escrita, deve ter e tem efetivamente esta um
começo certo e um fim precisamente caracterizado; nasce, vive e morre,
somente cessando sua obrigatoriedade em razão de um fato que o
legislador reconhece como hábil a este resultado, que é a revogação.

2
RIZZARDO, Arnaldo. Parte Geral do Código Civil: Lei n º 10.406, de 10.01.2002. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 75.

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Enquanto esta não ocorrer, a lei permanece em vigor, mesmo que decorra
largo tempo sem que seja invocada e aplicada.”3

3.2.5. Espécies de Revogação


3.2.5.1. Quanto à Extensão: Ab-rogação e Derrogação
A Revogação, quanto à extensão, pode ser total ou parcial,
dividindo-se em:
Ab-rogação (Revogação Total): A revogação atinge todo o texto da
lei; a revogação é total, todos os dispositivos são atingidos.
Derrogação (Revogação Parcial): Parte da lei é revogada, apenas
determinados dispositivos de lei são revogados, persistindo os demais
comandos da lei.

3.2.5.2. Quanto à Forma: Revogação Expressa ou Tácita


Nos termos do artigo 2º, § 1º, da LINDB, assim refere:
“Artigo 2º, § 1o, da LINDB: A lei posterior revoga a anterior quando
expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando
regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.”
Logo, verificam-se duas espécies de revogação:
Revogação Expressa: A lei nova, por declaração expressa, revoga a
lei velha, declarando que todo o texto de lei está revogado, ou, ainda,
enumerando dispositivos de uma determinada lei, revogando aqueles que
estão revogados, declinando o número do artigo e da lei.
Revogação Tácita: É quando há incompatibilidade da lei nova com a
lei velha, em que pese não haja expressa referência de revogação aos
dispositivos anteriores. Segundo Caio Mário da Silva Pereira: “(...) quando
a lei nova passa a regular inteiramente a matéria versada na lei anterior,
todas as disposições desta deixam de existir, vindo a lei revogadora
substituir inteiramente a antiga. (...) Incompatibilidade poderá surgir
também no caso de disciplinar a lei nova, não toda, mas parte apenas da
matéria, antes regulada por outra, apresentado o aspecto de uma
contradição parcial. A lei nova, entre seus dispositivos, contém um ou
mais, estatuindo diferentemente daquilo que era objeto da lei anterior.”4

3
PEREIRA, 2007, p. 124.
4
PEREIRA, 2007, p. 128-129.

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A diferença entre revogação expressa e tácita é trazida pelo célebre


jurista Carlos Maximiliano, em sua obra Hermenêutica e Aplicação do
Direito: “A revogação é expressa, quando declarada na lei nova; tácita,
quando resulta da incompatibilidade entre texto anterior e posterior. (...)
Dá-se a revogação expressa em declarando a norma especificadamente
quais as prescrições que inutiliza; e não pelo simples fato de se achar no
último artigo a frase tradicional – revogam-se as disposições em contrário:
uso inútil; superfetação, desperdício de palavras, desnecessário
acréscimo!”5

3.2.6. Da Convivência da Lei Nova com a Lei Anterior


Como analisado no ponto anterior, a lei nova por si só não revoga a lei
anterior, podendo os diplomas legais conviverem harmonicamente,
quando não há incompatibilidade ou, ainda, quando a nova lei não regule
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
É o caso da lei nova que estabelece disposições gerais ou especiais, nos
termos do artigo 2º, “§ 2º, da LINDB:
“Artigo 2º, § 2o, da LINDB: A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou
especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.”

O Superior Tribunal de Justiça, em Recurso Especial sob o n.


977980/PR, assim decidiu no tocante à relação da Lei de Execução Fiscal
com a Lei de Liquidação Extrajudicial de Instituição Financeira:
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL DE
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. SUSPENSÃO
DO PROCESSO EXECUTIVO. ART. 18, “A”, DA LEI 6.024/74.
INAPLICABILIDADE. ESPECIALI-DADE NA NORMA CONTIDA NO ART. 29 DA
LEF. JURISPRU-DÊNCIA PACÍFICA DA 1ª SEÇÃO DO STJ.
1. A Lei de Execução Fiscal é lex specialis em relação à Lei de Liquidação
Extrajudicial das Instituições Financeiras, aplicando-se ao tema a regra do
§ 2º do art. 2º da LICC, verbis: “A lei nova, que estabeleça disposições
gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei
anterior.”
2. A Lei de Execução Fiscal (6.830/90) é lei especial em relação à Lei de
Liquidação Extrajudicial das Instituições Financeiras (6.024/74), por isso
que não há suspensão do executivo fiscal em razão de liquidação legal
dos bancos, nos termos do art. 18, a, desta lei in foco, por força da
prevalência do art. 29 da lei fiscal (lex specialis derogat generali).
Precedente: EREsp 757.576/PR, julgado em 26.11.08, DJ 09.12.08, da 1ª
Seção desta C. Corte: “EXECUÇÃO FISCAL – DEVEDORA INSTITUIÇÃO

5
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 292.

17
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FINANCEIRA EM LIQUIDAÇÃO – SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO –


IMPOSSIBILIDADE. 1. É entendimento assente nesta Corte que a Lei de
Execução Fiscal constitui norma especial em relação à Lei n. 6.024/74, de
maneira que a execução fiscal não tem seu curso suspenso em razão de
liquidação processual, ou seja, o art. 18, a, da Lei n. 6.024/74 não tem
aplicabilidade quando se está diante de executivo fiscal. 2. Deve
prevalecer o comando do artigo 29 da Lei de Execuções Fiscais no sentido
da não suspensão da execução fiscal contra instituição financeira em
razão de procedimento de liquidação extrajudicial. Embargos de
divergência improvidos.”
3. A jurisprudência da Corte perfilha referido entendimento consoante se
verifica dos seguintes julgados: Ag 1.101.675-PR, Rel. Ministro LUIZ FUX, DJ
27.05.2009; REsp 798.953–BA, Rel. Min. DENISE ARRUDA, DJ 14.03.2008;
REsp 903.401/PR, Rel. Min. JOSÉ DELGADO, DJ 25.2.2008; REsp 902771/RS,
Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJ 18.9.2007; REsp 698951/BA, Rel. Min. ELIANA
CALMON, DJ 7.11.2005. 4. Recurso especial desprovido. (Grifou-se)

3.2.7. Da Repristinação no Direito Brasileiro


O instituto da “Repristinação” dá-se quando a lei revogada se restaura
em face da lei revogadora ter perdido a vigência.
No Direito brasileiro, tem-se que:
“Artigo 2º, § 3o, da LINDB: Salvo disposição em contrário, a lei revogada
não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.”
Logo, em regra, a repristinação não se aplica no Direito brasileiro. Assim,
em havendo uma “LEI A”, e, sendo esta revogada pela “LEI B”, caso a “LEI
B” (revogadora) venha a ser revogada, não retornam automaticamente os
efeitos da “LEI A”, no Direito brasileiro.
No entanto, é incorreto afirmar que a repristinação jamais é admitida no
ordenamento jurídico pátrio, pois, como refere o texto de lei: “salvo
disposição em contrário”.
Importa colacionar decisão do Superior Tribunal de Justiça, em
Recurso Especial sob o n. 1120193 / PE, que trata acerca da questão:
PROCESSO CIVIL - TRIBUTÁRIO - CONSELHOS DE PROFISSÕES - ANUIDADE -
FUNDAMENTO NORMATIVO - LEI 6.994/82 - REVOGAÇÃO PELAS LEIS
8.906/94 E 9.649/98 - AUSÊNCIA DE REPRISTINAÇÃO - ACÓRDÃO -
CARÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO – NÃO OCORRÊNCIA.
1. Acórdão que explicita exaustivamente as razões de decidir não pode ser
acoimado de carente de fundamentos.
2. A Lei 6.994/82 foi expressamente revogada pelas Leis 8.906/94 e
9.649/98. Precedentes do STJ.

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3. Salvo disposição de lei em contrário, a lei revogada não se restaura por


ter a lei revogadora perdido vigência.
4. Recurso especial não provido. (Grifou-se)

3.3. Da Alegação de Desconhecimento da Lei para Não Cumprimento


Nos termos do que dispõe o artigo 3º da LINDB: “Art. 3o Ninguém se
escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.”
Se contrário fosse, ter-se-ia que analisar a mente de cada pessoa,
buscando investigar o que cada um saberia acerca do Direito, tornando-se
impraticável aplicar a lei a todos, dada a impossibilidade de notificar cada
destinatário da norma individualmente. O Superior Tribunal de Justiça, em
Recurso Especial sob n. 404628/DF, assim decidiu, referindo importantes
posicionamentos doutrinários:
RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. LEI Nº 7.446/85. TRANSCURSO DO
PRAZO PARA REQUERER A RECLAS-SIFICAÇÃO. NÃO CONHECIMENTO.
1. "A primeira composição das categorias funcionais do Grupo-Arquivo
será efetivada mediante reclassificação dos atuais ocupantes de cargos ou
empregos permanentes da atual sistemática do Plano de Classificação de
Cargos com atividades que se identifiquem com as categorias funcionais a
que se refere este artigo (...)" (artigo 2º, caput, da Lei n. 7.446/85).
2. "Os servidores de que trata este artigo deverão manifestar, por escrito,
no prazo de 60 (sessenta) dias contados da data da vigência desta lei, o
desejo de serem reclassificados nas novas categorias, sem alteração do
respectivo regime jurídico." (artigo 2º, parágrafo único, da Lei n. 7.446/85).
3. "Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece."
(artigo 3º da Lei de Introdução ao Código Civil).
4. "A norma nasce com a promulgação, que consiste no ato com o qual se
atesta a sua existência, ordenando seu cumprimento, mas só começa a
vigorar com sua publicação no Diário Oficial. De forma que, em regra, a
promulgação constituirá o marco de seu existir e a publicação fixará o
momento em que se reputará conhecida, visto ser impossível notificar
individualmente cada destinatário, surgindo, então, sua obrigatoriedade,
visto que ninguém poderá furtar-se a sua observância, alegando que não
a conhece. É obrigatória para todos, mesmo para os que a ignoram,
porque assim o exige o interesse público." (in Maria Helena Diniz, Lei de
Introdução ao Código Civil Brasileiro Interpretada, Editora Saraiva, 6ª
edição, 2000, São Paulo, página 84).
5. O dispositivo da Lei de Introdução ao Código Civil não comporta
exceção, valendo destacar, outrossim, que a lei, embora de caráter geral
e abstrato, não exige, para que assim seja qualificada, repercussão na
esfera jurídica de toda coletividade, bastando, para tanto, que vigore
para todos os casos da mesma espécie.

19
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6. "Toda a norma é um imperativo - ordena e proíbe. Ora um imperativo só


tem sentido na boca daquele que tem o poder de impor a sua vontade à
vontade de outrem, e de traçar-lhe a sua linha de conduta. O imperativo
supõe uma dupla vontade; (...) O imperativo pode traçar um modo de
proceder em um caso determinado ou prescrever um tipo de ação para
todos os casos de uma mesma espécie. É o que nos faz distinguir os
imperativos concretos e abstratos. Estes são idênticos à norma. A norma é,
pois, o imperativo abstrato das ações humanas." (in Rudolf von Jhering, A
Evolução do Direito - Zweck im Recht, Livraria Progresso Editora, 2ª Edição,
1956, Salvador, páginas 263/264).
7. Não procede a justificativa do servidor em eximir-se do cumprimento
do prazo legal sob a alegação de que o desconhecia, nem há necessidade
de se o divulgar no âmbito administrativo.
8. Recurso não conhecido. (Grifou-se)

3.4. Da Integração
Quando o aplicador não encontra normas para solução de um caso
concreto, diz-se haver lacunas jurídicas. Conforme leciona Francisco
Amaral: “A lacuna é a ausência de norma jurídica ao caso concreto.”6
Neste caso, em havendo lacunas jurídicas, opera-se a Integração, nos
termos do artigo 4º da LINDB: “Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz
decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito.”
Na integração, não se aplicarão métodos interpretativos, uma vez
que não há lei, devendo as lacunas serem preenchidas com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.

3.4.1. Da Analogia
A Analogia “trata-se de um processo de raciocínio lógico pelo qual o
juiz estende um preceito legal a casos não diretamente compreendidos na
descrição legal” 7. Ainda: “Na analogia legal, o aplicador busca uma norma
que se aplique a casos semelhantes. (...) Não logrando o intérprete um
texto semelhante para aplicar ao caso sob exame, ou então sendo os
textos semelhantes insuficientes, recorre a um raciocínio mais profundo e
complexo. Tenta extrair do pensamento dominante em um conjunto de
normas uma conclusão particular para o caso em exame. Essa é a chamada
analogia jurídica”8 (Grifou-se). A título exemplificativo, colaciona-se o
Recurso Especial sob o n. 1026981/RJ, que trata de analogia, a saber:

6
AMARAL, Francisco. Direito Civil: introdução. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p 90.
7
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil.. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010, v. 1, p. 22.
8
VENOSA, 2010, v. 1, p. 23.

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Direito Civil. Previdência privada. Benefícios. complementação. Pensão


post mortem. União entre pessoas do mesmo sexo. Princípios
fundamentais. Emprego de analogia para suprir lacuna legislativa.
Necessidade de demonstração inequívoca da presença dos elementos
essenciais à caracterização da união estável, com a evidente exceção da
diversidade de sexos. Igualdade de condições entre beneficiários. -
Despida de normatividade, a união afetiva constituída entre pessoas de
mesmo sexo tem batido às portas do Poder Judiciário ante a necessidade
de tutela, circunstância que não pode ser ignorada, seja pelo legislador,
seja pelo julgador, que devem estar preparados para atender às
demandas surgidas de uma sociedade com estruturas de convívio cada
vez mais complexas, a fim de albergar, na esfera de entidade familiar, os
mais diversos arranjos vivenciais. - Comprovada a existência de união
afetiva entre pessoas do mesmo sexo, é de se reconhecer o direito do
companheiro sobrevivente de receber benefícios previdenciários
decorrentes do plano de previdência privada no qual o falecido era
participante, com os idênticos efeitos operados pela união estável. - Se por
força do art. 16 da Lei nº 8.213/91, a necessária dependência econômica
para a concessão da pensão por morte entre companheiros de união
estável é presumida, também o é no caso de companheiros do mesmo
sexo, diante do emprego da analogia que se estabeleceu entre essas duas
entidades familiares. (...) - Mediante ponderada intervenção do Juiz,
munido das balizas da integração da norma lacunosa por meio da analogia,
considerando-se a previdência privada em sua acepção de coadjuvante da
previdência geral e seguindo os princípios que dão forma à Direito
Previdenciário como um todo, dentre os quais se destaca o da
solidariedade, são considerados beneficiários os companheiros de mesmo
sexo de participantes dos planos de previdência, sem preconceitos ou
restrições de qualquer ordem, notadamente aquelas amparadas em
ausência de disposição legal. - Registre-se, por fim, que o alcance deste
voto abrange unicamente os planos de previdência privada complementar,
a cuja competência estão adstritas as Turmas que compõem a Segunda
Seção do STJ. Recurso especial provido. (Grifou-se)

3.4.2. Dos Costumes e sua Classificação


Os costumes são as práticas reiteradas de condutas, que se tornam
obrigatórias. Segundo Caio Mário da Silva Pereira, no tocante ao costume9:
“Sua análise acusa dois elementos constitutivos, um externo e outro
interno. O primeiro, externo, é a constância da repetição dos mesmos
atos, a observância de um mesmo comportamento, capaz de gerar
convicção de que daí nasce uma norma jurídica. (...) O segundo, interno, é
a convicção de que a observância da prática costumeira corresponde a
uma necessidade jurídica, opinio necessitatis.”

9
PEREIRA, 2007, v. 1, p. 69.

21
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Sílvio de Salvo Venosa classifica os costumes em: secundum legem,


praeter legem e contra legem: “O costume secundum legem já foi erigido
em lei e, portanto, perdeu a característica de costume propriamente dito.
O costume praeter legem é exatamente aquele referido no art. 4º da Lei
de Introdução ao Código Civil, ou seja, que serve para preencher lacunas, é
um dos recursos de que se serve o juiz para sentenciar quando a lei for
omissa. O costume contra legem é o que se opõe ao dispositivo de uma lei,
denominando-se costume ab-rogatório; quando torna uma lei não
utilizada, denomina-se desuso.”10

3.4.3. Dos Princípios Gerais de Direito


Segundo Arnaldo Rizzardo, os princípios gerais de direito “correspondem
à cultura jurídica, aos elementos de direito extraídos historicamente do
pensamento filosóficos, das pesquisas científicas, e compreendem
também as máximas supremas de valores como a verdade, a liberdade, a
igualdade, a justiça, a democracia.”11 Por seu turno, Francisco Amaral
refere: “Os princípios gerais de direito constituem-se em recurso último
para o caso de o ordenamento jurídico ser incompleto, lacunoso, não
dispondo da norma jurídica aplicável ao caso material surgido.”12
O Superior Tribunal de Justiça, em Recurso Especial sob o n.
472533/MS, aplicou os princípios gerais de direito, com base no princípio
do não enriquecimento sem causa, a saber:
CONTRATO DE INCORPORAÇÃO. LEILÃO EXTRAJUDICIAL. ADJUDICAÇÃO DO
IMÓVEL DO ADQUIRENTE PELO CONDOMÍNIO. SALDO DEVEDOR.
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. IMPOSSIBILIDADE. RESTITUIÇÃO AO
CONDÔMINO INADIMPLENTE DAS PARCELAS EFETIVAMENTE PAGAS.
INCIDÊNCIA. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. LEI 4.591/64.
1. Afronta os princípios gerais de direito e a justiça contratual almejada
pelo Código de Defesa do Consumidor a não restituição, ao condômino
inadimplente, das parcelas efetivamente saldadas para a construção de
empreendimento mediante contrato de incorporação.
2. Cabível a restituição das parcelas adimplidas devidamente corrigidas,
autorizada a retenção, pelo condomínio, de 15% do valor referente à
comissão e multa remuneratória, a que se refere o § 4º do artigo 63 da Lei
4.951/64.
3. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (Grifou-se)

3.5. Dos Fins Sociais e as Exigências do Bem Comum

10
VENOSA, 2010, v. 1, p. 17.
11
RIZZARDO, 2007, p. 66.
12
AMARAL, 2003, p 94.

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Nos termos do artigo 5º da LINDB, tem-se que:


“Art. 5º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se
dirige e às exigências do bem comum.”
Zeno Veloso, de forma bastante objetiva, leciona que: “O art. 5º da LICC
indica um caminho, um rumo para o juiz: ele deve atender os fins sociais a
que a lei se dirige, às exigências do bem comum. A interpretação,
portanto, deve ser axiológica, progressista, na busca daqueles valores para
que a prestação jurisdicional seja democrática e justa, adaptando-se às
contingências e mutações sociais.”13
Assim, além da LINDB voltar-se à integração, de igual forma estabelece
critérios de interpretação. Convém salientar a diferença entre normas
integrativas e normas interpretativas: “As normas interpretativas
estabelecem os critérios a seguir na pesquisa do sentido da norma (CC, art.
112) ou fixa-lhe previamente o sentido. Normas integrativas são as que
compõem com outras normas, preenchendo lacunas.”14
Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça, em Recurso Especial sob o
n. 251024/SP, assim aplicou o artigo 5º da LINDB:
DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE. LIMITAÇÃO
TEMPORAL DE INTERNAÇÃO. CLÁUSULA ABUSIVA. CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR, ART.51-IV. UNIFORMIZAÇÃO INTERPRETATIVA.
PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
I - É abusiva, nos termos da lei (CDC, art. 51-IV), a cláusula prevista em
contrato de seguro-saúde que limita o tempo de internação do segurado.
II – Tem-se por abusiva a cláusula, no caso, notadamente em face da
impossibilidade de previsão do tempo da cura, da irrazoabilidade da
suspensão do tratamento indispensável, da vedação de restringir-se em
contrato direitos fundamentais e da regra de sobredireito, contida no
art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, segundo a qual, na aplicação
da lei, o juiz deve atender aos fins sociais a que ela se dirige a às
exigências do bem comum.
III – Desde que a tese jurídica tenha sido apreciada e decidida, a
circunstância de não ter constado do acórdão impugnado referência ao
dispositivo legal não é obstáculo ao conhecimento do recurso especial.”
(Grifou-se)

Sendo assim, quando o magistrado, na aplicação da lei, busca


atender aos fins e às exigências do bem comum, está-se tratando de
normas interpretativas, não de normas integrativas, pois há lei para o caso
concreto.

13
VELOSO, Zeno. Comentários à Lei de Introdução ao Código Civil. 2. ed. Belém: Umuama, 2006, p. 126.
14
AMARAL, 2003, p 74.

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3.6. Das Normas de Direito Internacional Privado


Estão contidas na Lei de Introdução, regras que tratam de Direito
Internacional Privado. Este ramo do Direito volta-se para situações em que
estão presentes elementos de estraneidade, ou seja, componentes
internacionais, tais como: nacionalidade estrangeira, local do casamento
em países diversos e domicílio conjugal diverso da nacionalidade dos
cônjuges.15
Segundo Caio Mário da Silva Pereira: “Diante de uma situação
jurídica disciplinada diversamente por mais de uma legislação e
envolvendo efeitos diferentes em decorrência da existência de normas
legais em conflito, cabe ao direito internacional privado indicar qual dos
sistemas jurídicos fornecerá os princípios de aplicação à espécie.”16
Assim, aplicar-se-á o direito estrangeiro nos casos indicados em lei ou
quando haja contrato entre as partes determinando a observância de
diploma legal estrangeiro.17

3.6.1. Da Aplicação da Lei do Domicílio ao Estatuto Pessoal (Começo e


Fim da Personalidade, Nome, Capacidade e Direitos de Família)
Nos termos do artigo 7º da LINDB, tem-se que: “Art. 7o. A lei do país em
que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.”
Portanto, é o domicílio da pessoa que determina as regras aplicáveis. O
Superior Tribunal de Justiça, em Recurso Especial sob o n. 512401/SP,
assim decidiu:
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO E CIVIL. INVESTIGAÇÃO DE
PATERNIDADE DE ESTRANGEIRO. REGISTRO EM SUA PÁTRIA DE ORIGEM.
APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA.
O elemento de conexão, no conflito de leis no espaço, estipulado no
ordenamento pátrio, é o domicílio da pessoa. Ainda que a concepção, o
nascimento e o registro da investigante tenham ocorrido no exterior,
estando ela domiciliada no Brasil, deve ser aplicado o ordenamento
nacional.
A demanda pela paternidade real, fundada na falsidade de registro, não
tem prazo decadencial, mesmo antes da promulgação da Carta Magna.
Precedente da Segunda Seção.
A ação de investigação de paternidade não depende da prévia propositura
da ação anulatória do assento de nascimento do investigante, tendo o
filho interesse de buscar a paternidade real, a despeito de reconhecido
como legítimo por terceiro com falsidade ideológica.

15
AMARAL, Renata Campetti. Direito Internacional Público e Privado. 2. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2006, p. 119.
16
PEREIRA, 2007, v. 1, p. 170-171.
17
Sentença Estrangeira Contestada 646 /US, em 05/11/2008, da relatoria do, à época, Ministro do Superior Tribunal de Justiça Luiz Fux.

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Recurso não conhecido.

3.6.1.1. Da Aplicação da Lei Brasileira aos Casamentos Realizados no


Brasil quanto aos “Impedimentos Dirimentes” e Formalidades
Assim preceitua o artigo 7º, em seu parágrafo primeiro, da LINDB, a
saber:
“Art. 7º § 1o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei
brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da
celebração.”
Importa destacar que, hodiernamente, não é mais aplicável a
expressão “impedimentos dirimentes” no Código Civil de 2002 –
nomenclatura redacional do vetusto Código Civil de 1916. No entanto,
permanecem estas disposições, sob nova nomenclatura, como salienta
Sílvio Rodrigues: “Veja-se, no geral, a identidade parcial do quadro de
impedimentos então existente, com as restrições atualmente
apresentadas pelo Código, de tal sorte, que se aproximam, quanto às
causas e efeitos, os impedimentos dirimentes absolutos, como os atuais
impedimentos; os impedimentos dirimentes relativos, com a atual
capacidade para o casamento e com as causas para anulação do vínculo;
(...)”18 (Grifou-se)
Neste sentido, dada a vigência do Novo Código Civil, quando
realizado no Brasil, deverá ser observado o artigo 1.52119 do Código Civil
Brasileiro, que trata dos impedimentos, assomados aos artigos 1.525 a
1.542 do mesmo diploma legal, que indicará as formalidades.
No tocante à capacidade para se casar, por se tratar de regra de
Estatuto Pessoal, aplicar-se-á a lei do domicílio da pessoa, nos termos do
artigo 7º, caput. Importa colacionar entendimento do Superior Tribunal de
Justiça, que aplicou os impedimentos em Recurso Especial sob o n.
280197/RJ:
CIVIL. CASAMENTO REALIZADO NO ESTRANGEIRO. MATRIMÔNIO
SUBSEQUENTE NO PAÍS, SEM PRÉVIO DIVÓRCIO. ANULAÇÃO. O casamento
realizado no estrangeiro é válido no país, tenha ou não sido aqui
registrado, e por isso impede novo matrimônio, salvo se desfeito o
anterior. Recurso especial não conhecido.

3.6.1.2. Do Casamento Consular


O parágrafo 2º do artigo 7º da LINDB assim dispõe:

18
RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil, Direito de Família. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, v. 6, p. 53.
19
Código Civil Brasileiro: “Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes seja o parentesco natural ou civil; II - os
afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais
ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o
cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.”

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“Art. 7º § 2o O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante


autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.”
(Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1º.8.1957)

Trata-se do denominado casamento consular, que autoriza, por


exemplo, aos nubentes brasileiros, que se encontrem no exterior, a
possibilidade de se matrimoniarem perante as autoridades brasileiras.
É o que Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenwald lecionam:
“Conferindo-lhe existência reza o artigo 1.544 da Codificação, repetindo
disposição já incorporada ao sistema: ‘o casamento de brasileiro,
celebrado no estrangeiro, perante as respectivas autoridades e cônsules
brasileiros, deverá ser registrado em cento e oitenta dias, a contar da volta
de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo
domicílio, ou, em sua falta, no 1º Ofício da Capital do Estado em que
passarem a residir’.” 20 (Grifou-se)
Importa destacar que “ambos” os cônjuges devem ser brasileiros, não
sendo possível a realização do casamento consular na hipótese de um dos
cônjuges ser estrangeiro.

3.6.1.3. Da Aplicação da Lei do Primeiro Domicílio Conjugal em Matéria


de Invalidade de Matrimônio
Nos termos do artigo 7º, § 3o, da LINDB, tem-se que:
“Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do
matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.”

Este parágrafo do artigo 7º da LINDB trata do plano da validade do


casamento, diferentemente de apenas tocar no plano de sua existência. É
o que lecionam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenwald: “Ao
contrário do plano da existência, no qual são aferidos os pressupostos
existenciais, aqui a análise diz respeito aos requisitos erigidos pelo sistema
jurídico positivo como condições necessárias para sua adequação, a
conformidade, daquele matrimônio. É dizer: no plano da validade, tem-se
a conformação de um casamento com os requisitos expressos em lei, logo
após o reconhecimento de sua existência. Exemplificando, enquanto a
ausência de vontade implica inexistência, a manifestação viciada de
vontade (por erro ou coação, e.g.) provoca a invalidade por mandamento
legal.” 21

3.6.1.4. Da Aplicação do Domicílio dos Nubentes ao Regime de Bens

20
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 195.
21
FARIAS; ROSENVALD, 2010, p. 169.

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O parágrafo 4º do artigo 7º da LINDB trata acerca da lei aplicável ao


regime de bens:
“§ 4o O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em
que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro
domicílio conjugal.”

O Superior Tribunal de Justiça, em Recurso Especial sob o n. 134246


/ SP, assim decidiu:
Ação declaratória. Casamento no exterior. Ausência de pacto antenupcial.
Regime de bens. Primeiro domicílio no Brasil. 1. Apesar do casamento ter
sido realizado no exterior, no caso concreto, o primeiro domicílio do
casal foi estabelecido no Brasil, devendo aplicar-se a legislação brasileira
quanto ao regime legal de bens, nos termos do art. 7º, § 4º, da Lei de
Introdução ao Código Civil, já que os cônjuges, antes do matrimônio,
tinham domicílios diversos. 2. Recurso especial conhecido e provido, por
maioria.

3.6.1.5. Da Naturalização e da Adoção do Regime de Comunhão Parcial


dos Bens
A Lei de Introdução, em face da redação dada pela Lei n. 6.515, de
26.12.1977, denominada Lei dos Registros Públicos (LRP), concede o
direito ao estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, com expressa
anuência do cônjuge, que, no ato de entrega do decreto de naturalização,
se apostile a adoção do regime de comunhão parcial de bens, como
preceitua o artigo 7º, § 5º, da LINDB:
“§ 5º O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante
expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do
decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de
comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta
adoção ao competente registro. (Redação dada pela Lei n. 6.515, de
26.12.1977)”

3.6.1.6. Do Divórcio Realizado no Estrangeiro


Com o advento da Emenda Constitucional n. 66, de 13 de julho de
2010, com a supressão do requisito de prévia separação judicial por mais
de 1 (um) ano ou de comprovada separação de fato por mais de 2 (dois)
anos para fins de divórcio, compreende-se ter havido revogação tácita do
parágrafo 6º do artigo 7º da LINDB, uma vez que este busca, em verdade,
afastar situações em que brasileiros pudessem valer-se de ordenamento
estrangeiro para burlar o cumprimento dos prazos exigidos anteriormente,
no entanto, em face da ausência de manifestação jurisprudencial ou
revogação expressa, dada a recente a alteração constitucional, colaciona-
se:
“§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges
forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da

27
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data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial


por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato,
obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças
estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu
regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado,
decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças
estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir
todos os efeitos legais. (Redação dada pela Lei n. 12.036, de 2009).”

3.6.1.7. Da Extensão do Domicílio dos Representantes e Assistentes aos


seus Representados e Assistidos
O artigo 7º, § 7º, da LINDB, traz a seguinte redação:
o
“§ 7 Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se
ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador
aos incapazes sob sua guarda.”
Importa destacar que o dispositivo deve ser lido através das lentes
da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, bem como do
Código Civil, Lei n. 10.406, de 10.01.2002.
Neste sentido, restou superada a denominação “chefe de família”,
revelada por uma evolução histórica22, desaparecendo as normas
discriminatórias23, em face do artigo 226, § 5º, da Constituição Federal:
“Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
(...) § 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são
exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.”

Leciona Carlos Silveira Noronha acerca da evolução da família: “E


nos dias atuais, sob o influxo do novo estágio pós-moderno, a autoridade
paterna foi estendida a ambos os genitores, visando mais o interesse dos
pais, mas dirigindo-se ao interesse dos filhos e da própria família, com
enfoque na paternidade responsável, positivada no artigo 226, § 7º, da
Constituição Federal.”24
Ainda, o Código Civil, em seu artigo 76, dispõe:
“Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar,
o marítimo e o preso. Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu
representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer
permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da
Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar

22
“É induvidoso que a família moderna passa por uma profunda evolução e para isso vêm contribuindo inúmeros fatores que se
acentuaram a partir da última grande guerra, quando um dos seus membros fundamentais – a mulher, esposa, mãe, partiu para trabalhar
fora do lar, inicialmente para suprir a falta do marido presente nos campos de batalha e, terminado o conflito, para compensar no
orçamento doméstico os influxos da economia dos países combalida pela guerra.” NORONHA, Carlos Silveira. Fundamentos e evolução
histórica da família na Ordem Jurídica, Revista da Faculdade de Direito da PUCRS, v. 20, p. 65, dez. 1999.
23
“Desapareceram, assim, as normas discriminatórias dos direitos do chefe de família em relação aos demais membros, dando lugar à
família igualitária-integrativa , na qual se verifica uma crescente personalização de todos os seus membros (...).” NORONHA, Carlos Silveira.
Conceito e fundamentos de família e sua evolução. Revista Forense, Rio de Janeiro, v. 326, p. 25, dez. 1994.
24
NORONHA, Carlos Silveira. Da Instituição do Poder Familiar, em perspectiva histórica, moderna e pós-moderna. Revista da Faculdade de
Direito da UFRGS, Porto Alegre, v. 26, p. 90, dez. 2006.

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imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver


matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.”

3.6.1.8. Do Domicílio Ocasional


O domicílio ocasional é aplicado àqueles que não têm residência
habitual, ou seja, são itinerantes, tais como o artista circense, o andarilho,
bem como alguns povos que se comportam de forma nômade. Tal situação
é contemplada pelo artigo 7º, § 8º, da LINDB:
“§ 8o Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no
lugar de sua residência ou naquele em que se encontre.”

Importa destacar que o Código Civil de 2002, de igual forma,


contempla tal situação em seu artigo 73, a saber:
“Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha
residência habitual, o lugar onde for encontrada.”

3.6.1.9. Da Aplicação da Lei do País em que Estiverem Situados os Bens


quanto à sua Qualificação e suas Relações
O caput do artigo 8º da Lei de Introdução dispõe que se aplicará
para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes a lei do
país em que estiverem situados, in verbis:
“Art. 8o. Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes,
aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados.”

De tal arte, aplica-se aos bens imóveis o lugar da situação da coisa,


ou seja, forum rei sitae.
No tocante aos bens móveis, há regra específica, uma vez que se
presume que estes acompanhem o seu proprietário:
“Art. 8º § 1o Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o
proprietário, quanto aos bens móveis que ele trouxer ou se destinarem a
transporte para outros lugares.”

A Lei de Introdução ao Código Civil dispõe, ainda, no artigo 8º, em


seu parágrafo 2º, que a lei aplicável ao penhor é a do domicílio do
possuidor direto, a saber:
“Art. 8º § 2o O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa,
em cuja posse se encontre a coisa apenhada.”

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O penhor é direito real de garantia de bem móvel, e, em se tratando


de penhor comum, o possuidor direto é o credor pignoratício, é o que
dispõe o artigo 1.431 do Código Civil, caput, a saber:
“Art. 1.431. Constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse que,
em garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o devedor,
ou alguém por ele, de uma coisa móvel, suscetível de alienação.”

Logo, no penhor comum, a Lei aplicável é a do domicílio do credor


pignoratício.
Ocorre que, em matéria de penhor rural, industrial, mercantil e de
veículo, as coisas empenhadas continuam no poder do devedor, a saber:
“Art. 1.431 (...) Parágrafo único. No penhor rural, industrial, mercantil e de
veículos, as coisas empenhadas continuam em poder do devedor, que as
deve guardar e conservar.”

No caso destas modalidades de penhores especiais, aplicar-se-á a lei


do domicílio do dono da coisa empenhada.

3.6.1.10. Da Aplicação da Lei do País em que se Constituírem as


Obrigações
Para qualificar e reger as obrigações, aplica-se a lei do país em que
se constituírem, ou seja, onde se concluiu o negócio jurídico, leia-se: em
regra, onde for assinado ou perfectibilizado o contrato. É o que dispõe o
artigo 9º, caput, da LINDB:
“Art. 9º. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em
que se constituírem.”

O parágrafo primeiro do artigo 9º dispõe que, quando a obrigação


for executada no Brasil, dependendo de forma especial, será esta
observada25. É o que ocorre, por exemplo, quando para o adimplemento
de um contrato ajusta-se a dação em pagamento de bem imóvel, situado
no Brasil, avaliado em montante acima de trinta salários mínimos. Nos
termos do artigo 108 do Código Civil Brasileiro26, exige-se que o
instrumento seja público. Logo, deverá ser cumprida esta solenidade
exigida no Brasil, ainda que o contrato tenha sido constituído no exterior.
Por último, o parágrafo 2º do artigo 9º dispõe que a obrigação
resultante de contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o

25
Lei de Introdução ao Código Civil, artigo 9º, § 1o: “Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial,
será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.”
26
Código Civil Brasileiro, artigo 108: “Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que
visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário
mínimo vigente no País.”

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proponente.27 O proponente é quem apresenta a proposta, faz a oferta


para contratar, também denominada de “policitação”. Portanto,
policitante, proponente ou ofertante são expressões sinônimas.28
Ainda, neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça, em Recurso
Especial sob o n. 215988/PR, decidiu:
ADMINISTRATIVO. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE
TRANSPORTE RODOVIÁRIO. DISPOSIÇÕES DO ART. 28. O ANEXO "A" DO
TRATADO DE ITAIPU. INAPLICABILIDADE À ESPÉCIE DOS AUTOS.
APLICAÇÃO DA LEI BRASILEIRA (ART. XIX DO TRATADO E ART. 9º, § 2º, DA
LICC). INCIDÊNCIA, IN CASU, DO DECRETO-LEI Nº 2.300/86. - ITAIPU
Binacional, por ser empresa sediada em Brasília e Assunção, submete-se à
Lei brasileira que regula as obrigações decorrentes dos contratos
celebrados com pessoas físicas ou jurídicas domiciliadas e residentes no
Brasil, nos termos do art. XIX do Tratado que a instituiu e art. 9º, § 2º, da
Lei de Introdução ao Código Civil. - Daí, a incidência das normas
pertinentes ao procedimento da licitação e aos contratos administrativos,
constantes do Decreto-lei n. 2.300/86, em vigor na época da prestação dos
serviços objeto da presente lide.

3.6.1.11. Da Aplicação da Lei do Domicílio do Defunto ou Desaparecido


na Sucessão por Morte ou Ausência
No rastro do que preceitua o artigo 10 da Lei de Introdução ao
Código Civil, tem-se que:
“Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em
que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a
natureza e a situação dos bens.”
É o que se depreende da jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, em Recurso Especial sob o n. 275985/SP, a saber:
DIREITOS INTERNACIONAL PRIVADO E CIVIL. PARTILHA DE BENS.
SEPARAÇÃO DE CASAL DOMICILIADO NO BRASIL. REGIME DA COMUNHÃO
UNIVERSAL DE BENS. APLICABILIDADE DO DIREITO BRASILEIRO VIGENTE
NA DATA DA CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO. COMUNICABILIDADE DE
TODOS OS BENS PRESENTES E FUTUROS COM EXCEÇÃO DOS GRAVADOS
COM INCOMUNICABILIDADE. BENS LOCALIZADOS NO BRASIL E NO LIBANO.
BENS NO ESTRANGEIRO HERDADOS PELA MULHER DE PESSOA DE
NACIONALIDADE LIBANESA DOMICILIADA NO BRASIL. APLICABILIDADE DO
DIREITO BRASILEIRO DAS SUCESSÕES. INEXISTÊNCIA DE GRAVAME
FORMAL INSTITUÍDO PELO DE CUJUS. DIREITO DO VARÃO À MEAÇÃO DOS
BENS HERDADOS PELA ESPOSA NO LIBANO. RECURSO DESACOLHIDO. I -
Tratando-se de casal domiciliado no Brasil, há que aplicar-se o direito
brasileiro vigente na data da celebração do casamento, 11.7.1970, quanto
ao regime de bens, nos termos do art. 7º-§ 4º da Lei de Introdução. II - O
regime de bens do casamento em questão é o da comunhão universal de
bens, com os contornos dados à época pela legislação nacional aplicável,
segundo a qual, nos termos do art. 262 do Código Civil, importava "a
comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e suas
27 o
Lei de Introdução ao Código Civil, artigo 9º, § 2 : “A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o
proponente.”
28
GAGLIANO, Stolze Pablo; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2009, v. 4, p. 86.

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dívidas passivas", excetuando-se dessa universalidade, segundo o art. 263-


II e XI do mesmo Código "os bens doados ou legados com a cláusula de
incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar", bem como "os bens
da herança necessária, a que se impuser a cláusula de
incomunicabilidade".
III - Tratando-se da sucessão de pessoa de nacionalidade libanesa
domiciliada no Brasil, aplica-se à espécie o art. 10, caput, da Lei de
Introdução, segundo o qual "a sucessão por morte ou por ausência
obedece à lei em que era domiciliado o defunto ou desaparecido,
qualquer que seja a natureza e a situação dos bens". IV - Não há
incomunicabilidade dos bens da herança em tela, sendo certo que no
Brasil os bens da herança somente comportam incomunicabilidade
quando expressa e formalmente constituído esse gravame pelo de cujus,
nos termos dos arts. 1.676, 1.677 e 1.723 do Código Civil,
complementados por dispositivos constantes da Lei de Registros Públicos.
V - Não há como afastar o direito do recorrido à meação incidente sobre os
bens herdados de sua mãe pela recorrente, na constância do casamento
sob o regime da comunhão universal de bens, os que se encontram no
Brasil e os localizados no Líbano, não ocorrendo a ofensa ao art. 263, do
Código Civil, apontada pela recorrente, uma vez inexistente a
incomunicabilidade dos bens herdados pela recorrente no Líbano. VII - O
art.89-II, CPC, contém disposição aplicável à competência para o
processamento do inventário e partilha, quando existentes bens
localizados no Brasil e no estrangeiro, não conduzindo, todavia, à
supressão do direito material garantido ao cônjuge pelo regime de
comunhão universal de bens do casamento, especialmente porque não
atingido esse regime na espécie por qualquer obstáculo da legislação
sucessória aplicável. VIII - Impõe-se a conclusão de que a partilha seja
realizada sobre os bens do casal existentes no Brasil, sem desprezar, no
entanto, o valor dos bens localizados no Líbano, de maneira a operar a
equalização das cotas patrimoniais, em obediência à legislação que rege a
espécie, que não exclui da comunhão os bens localizados no Líbano e
herdados pela recorrente, segundo as regras brasileiras de sucessão
hereditária.

3.6.1.12. Da Aplicação da Lei Brasileira mais Benéfica à Sucessão de Bens


de Estrangeiros Situados no País
A Lei de Introdução ao Código Civil, em seu artigo 10, parágrafo 1º,
dispõe que:
“§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada
pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de
quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal
do de cujus. (Redação dada pela Lei nº 9.047, de 18.5.1995)”

Em síntese: aplica-se a lei brasileira em matéria de sucessão de bens


estrangeiros situados no Brasil em benefício do cônjuge ou dos filhos
brasileiros, sempre que a lei estrangeira (do domicílio pessoal do de cujus)
não lhe for mais benéfica. A LINDB, de tal arte, tem como vetor a proteção
dos brasileiros, enfim, da família brasileira.

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3.6.1.13. Da Aplicação da Lei do Domicílio do Herdeiro ou Legatário


quanto à Capacidade de Suceder
O artigo 10, em seu parágrafo 2º, dispõe: “§ 2o A lei do domicílio do
herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.”
Segundo Sílvio de Salvo Venosa, tem-se que: “A capacidade para
suceder é a aptidão para se tornar herdeiro ou legatário numa
determinada herança. A vocação hereditária está na lei, norma abstrata
que é. Daí por que a lei diz que são chamados os descendentes, em sua
falta os ascendentes, cônjuges, colaterais até quarto grau e o Estado.”29
Há que se salientar que, em Recurso Especial sob o n. 61434/SP, o
Superior Tribunal de Justiça voltou-se à aplicação deste dispositivo:
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. ART. 10, PARAG. 2., DO CÓDIGO CIVIL.
CONDIÇÃO DE HERDEIRO. CAPACIDADE DE SUCEDER. LEI APLICÁVEL.
CAPACIDADE PARA SUCEDER NÃO SE CONFUNDE COM QUALIDADE DE
HERDEIRO. ESTA TEM A VER COM A ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
QUE CONSISTE NO FATO DE PERTENCER A PESSOA QUE SE APRESENTA
COMO HERDEIRO A UMA DAS CATEGORIAS QUE, DE UM MODO GERAL,
SÃO CHAMADAS PELA LEI A SUCESSÃO, POR ISSO HAVERÁ DE SER AFERIDA
PELA MESMA LEI COMPETENTE PARA REGER A SUCESSÃO DO MORTO
QUE, NO BRASIL, "OBEDECE A LEI DO PAÍS EM QUE ERA DOMICILIADO O
DEFUNTO." (ART. 10, CAPUT, DA LICC). RESOLVIDA A QUESTÃO
PREJUDICIAL DE QUE DETERMINADA PESSOA, SEGUNDO O DOMICÍLIO
QUE TINHA O DE CUJUS, E HERDEIRA, CABE EXAMINAR SE A PESSOA
INDICADA É CAPAZ OU INCAPAZ PARA RECEBER A HERANÇA, SOLUÇÃO
QUE É FORNECIDA PELA LEI DO DOMICÍLIO DO HERDEIRO (ART. 10,
PARAG. 2., DA LICC). RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (Grifou-se)

QUESTÕES PARA ESTUDO

01. Gustavo completou 17 anos de idade em janeiro de 2010. Em março


de 2010 colou grau em curso de ensino médio. Em julho de 2010 contraiu
matrimônio com Beatriz. Em setembro de 2010, foi aprovado em
concurso público e iniciou o exercício de emprego público efetivo. Por
fim, em novembro de 2010, estabeleceu-se no comércio, abrindo um
restaurante. Assinale a alternativa que indica o momento em que se deu
a cessação da incapacidade civil de Gustavo.
a) No momento em que iniciou o exercício de emprego público efetivo.
b) No momento em que colou grau em curso de ensino médio.
c) No momento em que contraiu matrimônio.
d) No momento em que se estabeleceu no comércio, abrindo um
restaurante.

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VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009, v. 7, p. 49.

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02. Considere:

I. Autarquias.
II. Organizações religiosas.
III. Distrito Federal.
IV. Partidos políticos.
De acordo com o Código Civil brasileiro, são pessoas jurídicas de direito
público interno, as indicadas APENAS em:

a) I,II e III.

b) I,II e IV.

c) I,III e IV.

d) I e III.

03. Maria completou 16 anos de idade em fevereiro de 2004. Em julho de


2004, contraiu matrimônio com João. Em agosto de 2004, aprovada em
concurso, iniciou o exercício de emprego em empresa privada. Em
novembro de 2004, estabeleceu-se no comércio, abrindo um restaurante.
Segundo o Código Civil Brasileiro, é correto afirmar que Maria

a) adquiriu a maioridade civil quando iniciou o exercício do emprego na


empresa privada.

b) ainda é considerada absolutamente incapaz de exercer pessoalmente os


atos da vida civil, em razão de sua idade.

c) ainda é incapaz, relativamente a certos atos, ou à maneiros de os


exercer, em razão de sua idade.

d) adquiriu a maioridade em julho de 2004, quando contraiu matrimônio


com João.

e) adquiriu a maioridade civil quando estabeleceu-se no comércio, abrindo


restaurante.

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04. Sobre o domicílio, de acordo com o Código Civil, é INCORRETO


afirmar:

a) O militar do Exército tem por domicílio, em regra, a sede do comando a


que se encontrar imediatamente subordinado.
b) A pessoa jurídica de direito privado, possuindo diversos
estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado
domicílio para os atos nele praticados.
c) O Agente Diplomático do Brasil que, citado no estrangeiro, alegar
extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, o seu domicílio,
poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do
território brasileiro onde o teve.
d) Se a administração de pessoa jurídica de direito privado tiver sede no
estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às
obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do
estabelecimento situado no Brasil, a que ela corresponder.
e) O domicílio do marítimo é necessário e é considerado o lugar onde o
navio estiver matriculado.

05. Se a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente,


viva, considerar-se-á seu domicílio
a) o lugar em que a pessoa for encontrada.
b) a residência de maior valor.
c) qualquer daquelas residências.
d) a residência que tiver adquirido a mais tempo.
e) a residência que tiver adquirido a menos tempo.

06. (TRE-AM-2014) De acordo com a Lei de Introdução às normas do


direito brasileiro (Decreto-lei n° 4.657/1942), assinale a alternativa
INCORRETA:

a) Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país


quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.
b) As correções a texto de lei já em vigor não se consideram lei nova.
c) Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que
outra a modifique ou revogue.
d) Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

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07. (TRE-AM-2014) De acordo com a Lei de Introdução às normas do


direito brasileiro (Decreto-lei n° 4.657/1942), a lei do país em que
domiciliado a pessoa determina as regras sobre:
a) Os impedimentos e as formalidades da celebração, ainda que o
casamento seja realizado no Brasil.
b) A qualificação de seus bens e as relações a eles concernentes.
c) A qualificação e regência de suas obrigações, independentemente
do país em que se constituírem.
d) O começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os
direitos de família.

08. (TRE-AM-2014) Beltrana, agente diplomática, foi citada no


estrangeiro, mas alegou extraterritorialidade sem designar onde
tem, no Brasil, o seu domicílio. Diante de tal situação, poderá ser
demandada:
a) Em qualquer Município, a ser escolhido pelo autor.
b) No Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro
onde teve domicílio.
c) Somente no último ponto do território brasileiro teve domicílio.
d) Na capital do Estado da federação onde teve seu último
domicílio.

09. (TRE-RS- FCC - 2010) Considere as seguintes assertivas a respeito


das Associações:

I. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se


organizem para fins não econômicos, não havendo, entre os
associados, direitos e obrigações recíprocos.
II. Os associados devem ter iguais direitos, sendo que a legislação
competente veda a instituição pelo estatuto de categorias com
vantagens especiais.
III. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do
estatuto, garantindo a um quinto dos associados o direito de
promovê-la.

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IV. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não


dispuser o contrário.

De acordo com o Código Civil brasileiro, está correto o que se afirma


APENAS em
a) I e II.
b) I, III e IV.
c) I e IV.
d) II, III e IV.
e) II e IV.

10. (TRE-RS FCC 2010) Segundo o artigo 45 do Código Civil brasileiro


"começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado
com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro,
precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do
Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por
que passar o ato constitutivo". O direito de anular a constituição
das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato
respectivo, está sujeito ao prazo
a) decadencial de cinco anos contado o prazo da publicação de sua
inscrição no registro.
b) decadencial de três anos contado o prazo da publicação de sua
inscrição no registro.
c) prescricional de dois anos contado o prazo da publicação de sua
inscrição no registro.
d) decadencial de cinco anos contado o prazo do ato de inscrição no
respectivo registro.
e) prescricional de um ano contado o prazo da publicação de sua
inscrição no registro.

11. (TRE-AM FCC 2010) Em um aeroporto estão aguardando para


embarcar cinco pessoas: Maria, que possui quinze anos de idade.
Joana, que em razão de enfermidade não possui o necessário
discernimento para a prática dos atos da vida civil; João que é
excepcional, sem desenvolvimento mental completo e Davi possui

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dezessete anos de idade. São absolutamente incapazes de exercer


pessoalmente os atos da vida civil a
a) Maria, a Joana e o Davi.
b) Maria, a Joana e o João.
c) Maria e o João.
d) Joana e o João.
e) Maria e a Joana.

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