Redações Nota mil-ENEM 2019

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 9

NOT

MIL A
!!!
ANA CLARA SOCHA

Embora a Constituição Federal de 1988 assegure o acesso à cultura como direito


de todos os cidadãos, percebe-se que, na atual realidade brasileira, não há o
cumprimento dessa garantia, principalmente no que diz respeito ao cinema.
Isso acontece devido à concentração de salas de cinema nos grandes centros
urbanos e à concepção cultural de que a arte direcionada aos mais favorecidos
economicamente.
É relevante abordar, primeiramente, que as cidades brasileiras foram
construídas sobre um viés elitista e segregacionista, de modo que os centros
culturais estão, em sua maioria, restritos ao espaço ocupado pelos detentores
do poder econômico. Essa dinâmica não foi diferente com a chegada do cinema,
já que apenas 17% da população do país frequenta os centros culturais em
questão. Nesse sentido, observa-se que a segregação social - evidenciada como
uma característica da sociedade brasileira, por Sérgio Buarque de Holanda, no
livro "Raízes do Brasil" - se faz presente até os dias atuais, por privar a
população das periferias do acesso à cultura e ao lazer que são proporcionados
pelo cinema.
Paralelo a isso, vale também ressaltar que a concepção cultural de que a arte
não abrange a população de baixa renda é um fato limitante para que haja a
democratização plena da cultura e, portanto, do cinema. Isso é retratado no
livro "Quarto de Despejo", de Carolina Maria de Jesus, o qual ilustra o triste
cotidiano que uma família em condição de miserabilidade vive, e, assim, mostra
como o acesso a centros culturais é uma perspectiva distante de sua realidade,
não necessariamente pela distância física, mas pela ideia de pertencimento a
esses espaços.
Dessa forma, pode-se perceber que o debate acerca da democratização do
cinema é imprescindível para a construção de uma sociedade mais igualitária.
Nessa lógica, é imperativo que o Ministério da Economia destine verbas para a
construção de salas de cinema, de baixo custo ou gratuitas, nas periferias
brasileiras por meio da inclusão desse objetivo na Lei de Diretrizes
Orçamentárias, com o intuito de descentralizar o acesso à arte. Além disso, cabe
às instituições de ensino promover passeios aos cinemas locais, desde o início
da vida escolar das crianças, medianta autorização e contribuição dos
responsáveis, a fim de desconstruir a ideia de elitização da cultura, sobretudo
em regiões carentes. Feito isso, a sociedade brasileira poderá caminhar para a
completude da democracia no âmbito cultural."
AMANDA ROCHA

A construção dos feudos, muros que delimitavam uma determinada área no


período da Idade Média, segregou milhares de pessoas e impossibilitou o
acesso a bens que somente a nobreza podia usufruir. Semelhante a essa época,
no contexto brasileiro contemporâneo, o cinema é um dos inúmeros meios de
democratizar a cultura, mas ainda é "feudalizado", já que grande parte da
população continua alheia a esse serviço . Então, tanto a concentração das salas
de teledramaturgia em regiões mais desenvolvidas economicamente, quanto os
exorbitantes preços dos ingressos e alimentos, vendidos com exclusividade pela
empresa proprietária, mutilam a cidadania e consagram importantes
simbologias de poder.
Nessa perspectiva, a cultura é imprescindível para a identidade de um povo e,
indubitavelmente, o cinema é uma fundamental ferramenta de inclusão e de propagação
de valores sociais. Entretanto, de acordo com o geógrafo Milton Santos, no texto
"Cidadanias Mutiladas", a democracia, extremamente necessária para a fundamentação
cultural do indivíduo, só é efetiva quando atinge a totalidade do corpo social, ou seja, na
medida em que os direitos são universais e desfrutados por todos os cidadãos. Dessa
maneira, a concentração das salas de cinemas em áreas com alto desenvolvimento
econômico e o alheamento de milhares de pessoas a esse serviço provam que não há
democratização do acesso à cultura cinematográfica no Brasil, marginalizando grande
parcela da sociedade desprovida de recursos financeiros.
Outrossim, os preços abusivos de ingressos, a divisão das salas em categorias
de conforto e a proibição de entrada de bebidas e alimentos, que não sejam
vendidos no estabelecimento, dividem, ainda mais, a sociedade. Isso pode ser
explicado pelo teórico Pierre Bourdieu, o qual afirma que todas as minúcias de
um indivíduo constituem simbologias que são constantemente analisadas pelo
corpo social, isto é, o poder de compra, as características pessoais e o acesso a
bens e serviços refletem quem é o homem para outrem. Dessa forma, o alto
custo praticado pelas redes cinematográficas violenta simbolicamente aqueles
que não conseguem contemplar as grandes telas e aumenta a desigualdade.
Portanto, cabe à iniciativa privada, em parceria com os estados e municípios,
promover a interiorização das salas de teledramaturgia, por meio da construção de
novos empreendimentos em áreas distantes dos pólos econômicos e da redução
dos custos para o consumidor de baixa renda, incentivando, então, a cultura mais
democrática. Além disso, é responsabilidade da Ancine, Agência Nacional de Cinema,
estabelecer um canal de comunicação mais efetivo com o telespectador, por
intermédio de aplicativos e das redes sociais interativas, para que denúncias e
reclamações sobre preços abusivos possam ser realizadas. Como efeito social, a
democratização do cinema no Brasil será uma realidade, destruindo, assim,
barreiras e "feudos" sociais."
ANA FLÁVIA PEREIRA

Na obra "Brasil: uma biografia", as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling


apontam ao leitor as idiossincrasias da sociedade brasileira. Dentre elas
destaca-se "a difícil e tortuosa construção da cidadania". Embora o país possua
uma das legislações mais avançadas do mundo, muito do que nela se prevê não
se concretiza. Tal fato é evidenciado no âmbito da democratização do acesso ao
cinema, tendo em vista que apesar dos brasileiros possuírem o acesso à cultura
como direito constitucional, a ineficiência do Estado associado a uma cultura de
aceitação por parte dos brasileiros faz com que a cidadania não seja gozada por
todos de maneira plena.
Em primeiro plano, a ineficiência do Estado em aplicar leis que garantam o
acesso à cultura restringe a cidadania dos indivíduos. Seja pela dificuldade em
administrar recursos em um território de dimensões continentais, seja pela falta
de interesse dos órgãos públicos em promover o desenvolvimento sociocultural
democrático das regiões afastadas do centro vanguardista nacional, existe uma
parcela significativa da população sem acesso ao cinema. Dados oficiais do
governo indicam que atualmente existem 2200 salas de cinema no país,
entretanto, o Brasil possui mais de 200 milhões de habitantes, o que indica que
a democratização do entretenimento cinematográfico é um processo lento e até
mesmo o utópico.
Ademais, a aceitação da restrição da cidadania por parte dos brasileiros provém de um
ensino ineficaz e muitas vezes inexistente que acarreta falta de conhecimento sobre os
direitos individuais. No livro "Vidas Secas" de Graciliano Ramos, o protagonista Fabiano,
desprovido do acesso ao conhecimento, acabava sendo explorado e humilhado por
aqueles que detinham o saber. Nesse viés, sendo a arte uma mera reprodução da
realidade, hoje são milhares os fabianos no Brasil. Dessa forma, a ampliação do acesso à
cultura por meio do cinema é imperativa para alertar os brasileiros sobre sua condição de
marginalização cultural e para inserí-los no acesso à arte.
Portanto, pode-se inferir que a democratização do acesso ao cinema no Brasil é
um tema relevante e que carece de soluções. Sendo assim, cabe ao Governo
Federal direcionar recursos para regiões marginalizadas do eixo vanguardista
brasileiro, por meio da definição de uma agenda econômica que democratize o
acesso à cultura, a fim de promover o desenvolvimento sociocultural igualitário
dos cidadãos. Além disso, cabe ao Ministério da Educação promover palestras,
em associação com a indústria cinematográfica, bem como incentivar a
produção de curta-metragens, no intuito de conscientizar os brasileiros sobre o
direito do acesso à cultura e sobre o papel do cinema na emancipação individual
das amarras sociais. Assim, a construção da cidadania será facilitada e os
fabianos se tornarão, de fato, cidadãos plenos."
GUILHERME MENDES

De acordo com Cláudio Mazzili, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
vivemos em uma sociedade classista e hierarquizada em função do capital, na qual se
instaura a lógica da discriminação e não a desejada inclusão social. Esse pensamento
permite estabelecer um paralelo com a precária democratização do acesso ao cinema no
Brasil, uma vez que essa importante fonte cultural está, majoritariamente, concentrada em
zonas de alto poder aquisitivo. Entretanto, se usada de forma a auxiliar na democratização
cultural — principalmente nas zonas periféricas —, o cinema pode ser uma importante
ferramenta no avanço educacional do país.
Deve-se pontuar, de início, que o Brasil é, infelizmente, um país estratificado e desigual.
Desde a sua gênese (considerando-se a perspectiva ibérica), a América foi pensada como
uma colônia de exploração, na qual a educação não só era desestimulada, como era
proibida. É dentro desse contexto exploratório que se estruturou a sociedade brasileira, a
qual tem — como uma das consequências “modernas” — a gentrificação, isto é, o
afastamento dos indivíduos com baixo poder aquisitivo dos grandes centros urbanos, o
que os deixa ainda mais distantes da infraestrutura social destina à educação, à cultura e
ao entretenimento educativo. Ora, percebe-se, portanto, que essas áreas privilegiadas com
acesso à cultura — como o cinema — são de exclusividade daqueles que têm altas rendas.
Em contrapartida, nas periferias, nas zonas rurais e nas áreas menos valorizadas a
democratização do acesso ao cinema é praticamente nula, o que agrava a situação de
vulnerabilidade social desses cidadãos.
Contudo, a democratização do acesso ao cinema — se feita de modo a beneficiar os menos
favorecidos, os quais representam a maior parte da população — é uma importante
ferramenta na desconstrução das amarras coloniais, e, posteriormente, em uma
reformulação educacional que vise ao acesso democrático à cultura para todo cidadão
brasileiro. Tomemos como exemplo uma situação hipotética na qual um sujeito que reside
na periferia tem, todas as noites, a possibilidade de interagir com a comunidade e de
adquirir conhecimento por meio de um cinema ao ar livre, o qual traz como conteúdo
filmes, documentários e palestras. Torna-se evidente que esse indivíduo, além de ter
acesso à cultura, terá uma forma de entretenimento que o beneficiará tanto
individualmente quanto socialmente, visto que o conhecimento será útil em todas as áreas
da sua vida.
Portanto, concluí-se que a precária democratização do acesso ao cinema no Brasil está
intrinsecamente ligada às heranças coloniais. Entretanto, medidas educacionais podem ser
tomadas para reverter esse cenário. Posto isso, cabe ao Ministério da Educação,
responsável pelo desenvolvimento educacional do país, criar um projeto de instalação
cinematográfica ao ar livre nas regiões periféricas, as quais apresentarão programação
cultural — como filmes e documentários —, por meio de verbas provenientes da
contribuição pública, para que essa sociedade classista, como evidenciado por Mazzili, seja
transformada em uma comunidade democrática e educacionalmente homogênea.
JULIANA SOUZA

Segundo o filósofo Friedrich Nietzsche, a arte existe para impedir que a


realidade nos destrua. Sob essa ótica, é inegável a crucialidade das expressões
culturais para a promoção do bem-estar do homem moderno. No entanto, ao se
observar o caráter excludente do acesso ao cinema no Brasil, é notório que essa
imprescindibilidade não tem sido considerada no país. Nesse sentido, pode-se
afirmar que a negligência governamental e a escassa abordagem do problema
agravam essa situação.

Primeiramente, é válido destacar que a displicência estatal colabora com esse


cenário. De acordo com o Artigo 6º da Constituição Federal do Brasil,
promulgada no ano de 1988, todo cidadão brasileiro tem direito ao lazer.
Entretanto, ao se analisar a concentração de cinemas nas áreas de renda mais
alta das grandes cidades, é indiscutível que essa premissa constitucional não é
valorizada pelo governo nacional. Dessa maneira, é importante salientar que
essa má atuação do Estado provoca o acesso desigual a essa atividade de
exibição por parte da população e, consequentemente, garante a condição de
subcidadania de diversos indivíduos.
Além disso, é pertinente ressaltar que a insuficiente exposição dessa
problemática contribui para a não democratização desse programa cultural.
Nessa perspectiva, muitas vezes, a mídia negligencia o debate acerca da
ausência de lazer nas periferias urbanas e no interior do país, o que faz com que
a carência de cinemas nessas regiões não seja denunciada. Dessa forma, é
indubitável que a pouco abordagem midiática com relação ao caráter restritivo
do universo cinematográfico proporciona a perpetuação da concentração
regional dessa atividade de exibição.

Torna-se evidente, portanto, que o acesso não democrático ao cinema no Brasil


é um entrave que precisa ser solucionado. Sendo assim, o Estado deve investir
na ampliação do alcance desse programa cultural, por meio da capitalização das
empresas exibidoras. Isso pode ocorrer, por exemplo, com a concessão de
subsídios fiscais a instituições privadas que, comprovadamente, promovam a
construção de cinemas nas áreas carentes do país, a fim de que a acessibilidade
a essa atividade de exibição seja garantida de forma igualitária. Ademais, a
mídia deve elaborar reportagens de denúncia, as quais exibam a carência desse
tipo de lazer nas periferias urbanas. Desse modo, certamente, a afirmação de
Nietzsche será vivenciada por todos os cidadãos brasileiros.
ISABELA CARDOSO

De modo ficcional, o filme "Cine Holiúdi" retrata o impacto positivo do cinema no


cotidiano das cidades, dada a sua capacidade de promover o lazer, socialização e
cultura. Entretanto, na realidade, tais benefícios não atingem toda a população
brasileira, haja vista a elitização dos meios cinematográficos e a falta de infraestrutura
adequada nos cinemas existentes. Sendo assim, urge a análise e a resolução desses
entraves para democratizar o acesso ao cinema no Brasil.
A princípio, é lícito destacar que a elitização dos meios cinematográficos
contribui para que muitos brasileiros sejam impedidos de frequentar as
salas de cinema. Isso posto, segundo o filósofo inglês Nick Couldry em sua
obra "Por que a voz importa?", a sociedade neoliberal hodierna tende a
silenciar os grupos menos favorecidos, privados dos meios de
comunicação. A partir disso, é indubitável que a localização dos cinemas
em áreas mais nobres e o alto valor dos ingressos configuram uma
tentativa de excluir e silenciar os grupos periféricos, tal como discute Nick
Couldry. Nesse viés, poucos são os indivíduos que desfrutam do direito ao
lazer e à cultura promovidos pela cinematografia, o qual está previsto na
Constituição e deve ser garantido a todos pelo Estado.
Ademais, vale postular que a falta de infraestrutura adequada para todos os
cidadãos também dificulta o acesso amplo aos cinemas do país. Conquanto a
acessibilidade seja um direito assegurado pela Carta Magna e os cinemas
disponham de lugares reservados para cadeirantes, não há intérpretes de LIBRAS
nas telas e a configuração das salas — pautada em escadas —, não auxilia o
deslocamento de idosos e portadores de necessidades especiais. À luz dessa
perspectiva, é fundamental que haja maior investimento em infraestrutura para
que todos os brasileiros sejam incluídos nos ambientes cinematográficos.
Por fim, diante dos desafios supramencionados, é necessária a ação conjunta do
Estado e da sociedade para mitigá-los. Nesse âmbito, cabe ao poder público, na
figura do Ministério Público, em parceria com a mídia nacional, desenvolver
campanhas educativas — por meio de cartilhas virtuais e curta-metragens a
serem veiculados nas mídias sociais — a fim de orientar a população e as
empresas de cinema a valorizar o meio cinematográfico e ampliar a
acessibilidade das salas. Por sua vez, as empresas devem colaborar com a
democratização do acesso ao cinema pela cobrança de valores mais acessíveis e
pela construção de salas adaptadas. Feito isso, o Brasil poderá garantir os
benefícios do cinema a todos, como relata o filme "Cine Holiúdi"
ISABELLE MOREIRA

A Constituição Federal de 1988 ― norma de maior hierarquia do sistema


jurídico brasileiro ― garante o acesso ao lazer. No entanto, a população se
mostra distante da realidade prometida pela norma constitucional, haja vista
que os cinemas brasileiros recebem um público cada vez menor. Dessa forma,
entende-se que a desigualdade regional, bem como a elitização do acesso ao
cinema apresentam-se como entraves para a inclusão na esfera
cinematográfica.

Em primeiro plano, é necessário ressaltar que o acesso ao cinema é mal


distribuído no território brasileiro. A esse respeito, em 1956, durante o governo
de Juscelino Kubitschek, multinacionais se instalaram no Brasil,
majoritariamente, nas regiões Sul e Sudeste. Desse modo, na
contemporaneidade, o país expandiu sua preferência regional para a indústria
cinematográfica, de modo que as regiões Norte e Nordeste ainda apresentam-
se excluídas a esse acesso ao lazer, pelo fato de as empresas preferirem
construir os cinemas em grandes metrópoles as quais lhes darão mais lucro.
Nesse viés, enquanto parcela do país for privilegiada, o direito constitucional
será uma realidade distante para parte da população.

Ademais, outro fator é responsável pela deficiência da democratização no


âmbito cinematográfico: a elitização do acesso. Segundo o filósofo Pierre Lévy,
toda tecnologia cria seus excluídos, de fato, a população de baixa renda é
mantida excluída no que diz respeito à tecnologia do cinema, devido à
segregação socioespacial. Nesse sentido, grande parcela dos cinemas se
localizam em "shoppings centers", com ingressos caros que nem todos podem
pagar. Desse modo, é necessário que medidas sejam tomadas para garantir o
acesso a todas as classes.

Fica evidente, portanto, que nem todos têm acesso ao cinema como
entretenimento. Nesse contexto, cabe ao Ministério da Cultura ― órgão
responsável pelo sistema cultural brasileiro ― garantir à população a
oportunidade de frequentar um cinema, por intermédio de políticas de
descontos na compra de ingressos de acordo com a renda, a fim de incluir
toda sociedade no "mundo cinematográfico". Dessa forma, os brasileiros
verão o direito garantido pela Constituição como uma realidade próxima."
VINICIUS ADRIANO

No longa-metragem ganhador do Oscar “A invenção de Hugo Cabret”, narra-se o cotidiano de um jovem


garoto órfão que, apesar de viver - sob precárias condições - em uma estação de trem parisiense,
frequenta, clandestinamente, uma sala de cinema próxima ao seu lar como uma forma de afastar-se de
sua infeliz realidade. Tal obra fictícia, além de expor um dos benefícios da ida a esse tipo de
estabelecimento, também denuncia a desigualdade do acesso à arte cinematográfica,
semelhantemente ao que ocorre no Brasil contemporâneo. Nesse âmbito, faz-se necessário analisar
dois entraves acerca do óbice social apresentado: os elevados custos para a entrada em cinemas -
incompatíveis com a condição financeira de camadas populares - e a falta de mobilização cidadã em
prol da equidade dos direitos relacionados a essa situação.
Primordialmente, é válido pontuar a política de preços altos como um obstáculo à
democratização da Sétima Arte no território nacional. Isso ocorre devido ao ineficiente
quantitativo de medidas governamentais para modificar as tabelas de custos
estabelecidas por empresas privadas (responsáveis pela distribuição de obras
cinematográficas), promovendo um impedimento a comunidades de baixa renda no
que tange ao acesso aos locais em pauta. Entretanto, atualmente, observa-se uma
gradativa mudança na postura estatal em relação a esse cenário, a exemplo da criação
do cinema Líbero Luxardo na cidade de Belém, desenvolvido pelo governo do estado
do Pará para oferecer entretenimento (tanto nacional, quanto estrangeiro) de
qualidade por preços econômicos.
Apesar desse notório progresso, ainda é imperiosa a problemática supracitada, uma
vez que projetos (como o exposto) são minoritários comparadas a outras regiões do
país. Ademais, deve-se explicitar que considerável parcela da sociedade não busca
reverter a situação da desigualdade do acesso ao cinema no Brasil. Tal estorvo advém
de uma despreocupação dos cidadãos em exigir reformulações nos setores públicos
(como o Ministério da Cidadania) encarregados de garantir a possibilidade de
apreciação das múltiplas formas de arte por todos, o que define esse comportamento
negligente como um “eclipse de consciência”, termo - conforme o literato português
José Saramago, no romance “Ensaio sobre a cegueira” - utilizado para sintetizar a ideia
da falta de sensibilidade do indivíduo perante os imbróglios enfrentados pelo
próximo, nesse caso, o contingente populacional desprovido da oportunidade de
desfrute às produções cinematográficas. Por conseguinte, sob efeito desse fenômeno,
considerável parte dos brasileiros fomenta a invisibilização do empecilho social em
evidência, afastando as pessoas necessitadas das salas de projeção.
Portanto, cabe ao Poder Executivo - instituição de alta relevância para o país -
potencializar projetos sociais para a construção de locais de exibição de filmes
nacionais e internacionais no território, por meio da cessão de capital público aos
órgãos competentes, a fim de efetivar a democratização da apreciação do cinema aos
cidadãos. Paralelo a isso, o Ministério da Educação deve mudar o comportamento
passivo da comunidade acerca do combate ao óbice em questão, por intermédio de
palestras em escolas e em universidades, visando reverter o preocupante cenário
reiterado e, assim, desvencilhar parte da sociedade do “eclipse de consciência” que a
acomete.

Você também pode gostar