Arte Moderna - Livro de Arte

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ARTE – 3º ANO Assunto: ARTE MODERMA

História da arte Módulo 5


A
Auullaa 11 Conceito de modernismo
Introdução urbano, das descobertas técnicas que logo entram
O modernismo não é nada mais do que um para a vida cotidiana — como a eletricidade, o
estilo, construído a partir de uma nova linguagem, carro, o avião, o telefone, a fotografia e o cinema
amparada por um conjunto de signos, com — alterando o modo de vida e dando forma e vida
significações claras. Seria como uma à modernidade.
representação estética que gerações, em épocas e Como reconhecer a modernidade
períodos determinados, tiveram de si mesmas. Tudo está em constante movimento e mutação, a
Se observarmos, o cubismo e o mobilidade que é extremamente presente.
abstracionismo foram um modernismo; o Tudo existe no sentido de descontinuidade, como
surrealismo e o expressionismo o são também. as quebras de representações na arte moderna,
Desta maneira podemos entender como opondo-se a continuidade que havia na
modernismo as representações produzidas por Antiguidade, como acontecia com a arte egípcia.
uma geração no seu tempo histórico, manifestado O cientificismo, o endeusamento da ciência com a
pela cultura produzida em uma época, como as única fonte substancial para tudo ser capaz de
obras de arte.
transformar, tornando-se a grande bandeira, o
Modernidade mito moderno.
Se considerarmos o modernismo como o Ganha sentido o esteticismo, em que arte está em
produto, a representação de uma época, a toda a parte, proposta esta iniciada na segunda
modernidade seria a reflexão sobre esta época. metade do século XIX, na união da arte com a
Seria a crítica ou mesmo a autocrítica, quando indústria, começando com William Morris no
esta existe; como uma tentativa de conhecimento movimento de artes e ofícios e ganhando força
e entendimento. Se o modernismo é a total mais tarde com o Art Nouveau, quando
representação final, materializada, a modernidade pintores desenham cartazes publicitários e
são as incertezas, questionamentos e reflexões. arquitetos desenho cortinas e carros.
Concluindo, a modernidade seria o grau de Representação sobre o real na mídia, como, por
consciência que uma época, um período, tem de si exemplo, o valor atribuído as notícias das novelas
mesmo. de TV, veiculadas como se fossem notícias reais,
notícias verdadeiras.
Projeto de modernidade
Refere-se aos últimos três séculos da Arte e a modernidade
história da cultura ocidental de referência Algumas características merecem destaque:
européia. O projeto tem como base a distinção de Se antes havia o sentido do coletivismo
três domínios do conhecimento: arte, ciência e artístico, agora a natureza é individual e
moral, tendo o projeto iluminista a tentativa plena subjetiva.
de separar a fé, a verdade (razão) e arte. É o O artista não tem mais algo por trás de si
momento que começamos a falar na autonomia como a religião ou o Estado, ele agora está
da arte separando-se da religião; é a arte pela sozinho, em uma situação de isolamento em
arte. É também o período quando o conhecimento relação à sociedade, mesmo que este vá ao
e a expressão se especializam. O homem sábio, encontro dela.
que domina a estética, ciência, técnica e a arte, Antes de falar de qualquer coisa, antes de
como Leonardo da Vinci, cede lugar ao indivíduo apontar para qualquer realidade exterior à obra de
compartimentado apenas no seu ramo de arte e na modernidade, a obra de arte fala de si,
conhecimento. alterando a linguagem, sendo a obra o seu próprio
O projeto de modernidade é lançado no século código e a sua própria referência.
XVIII e firma-se logo no século XIX, marcado pela O surgimento das vanguardas, de formas
revolução industrial, as margens de um novo de prever e dialogar com seu próprio tempo,
pensamento social, psicanálise, de um novo perfil anunciando o futuro da própria arte.

FABIO DE ARAUJO ARTE — 1


Texto
Uma visão modernista
Complementar

"A beleza tem que ser convulsiva para deixar de No coração dessa filosofia de rejeição ao passado,
sê-lo", disse o porta-voz do surrealismo, André chamada Modernismo, havia a busca incessante de
Breton. No século XX, a arte era agressivamente uma liberdade radical de expressão. Liberados da
convulsiva, e um estilo se sobrepunha ao outro necessidade de agradar a um mecenas, os artistas
com a mesma rapidez que as bainhas subiam e elegiam a imaginação, as preocupações e as
desciam o mundo da moda. Atravessando essa experiências individuais como única fonte da arte.
atordoante procissão, um tema permanecia A arte se afastava gradualmente de qualquer
constante: a arte se concentrava menos na pretensão de retratar a natureza, seguindo na
realidade visual externa e mais na visão interna. direção da pura abstração, em que dominam a
Como disse Picasso, "não o que você vê, mas o forma, as linhas e as cores.
que você sabe que está lá". Na primeira metade do século XX, reinou a escola
Em toda evolução da arte ocidental, o século XX de Paris. Não importava se os artistas de uma
produziu a ruptura mais radical com o passado, determinada tendência morassem ou não em
levando ao extremo o que Courbet e Manet Paris: a maioria dos movimentos emanava da
iniciaram no século XIX - retratos da vida França. Até Segunda Guerra Mundial, a cidade Luz
contemporânea e não de eventos históricos. Arte brilhou como toda a intensidade da arte moderna.
do século XX não apenas decretou que qualquer O Fauvismo, o cubismo e o surrealismo nasceram
tema era adequado, mas também libertou a forma lá. Nos anos 1950, a New York School of Abstract
(como no cubismo) das regras tradicionais e livrou Expressionism destronou a Escola de Paris. Pela
as cores (no Fauvismo) da obrigação de primeira vez a vanguarda se mudava para os
representar com exatidão os objetos. Os artistas Estados Unidos, onde o pintor de ação Jackson
modernos desafiavam violentamente as Pollock, segundo disse seu amigo Willem de
convenções, seguindo o conselho de Gauguin, para Kooning, "mandou nossa idéia de pintura para o
"quebrar todas as janelas velhas, ainda que inferno".
cortemos os dedos nos vidros". Strickland, Carol.
Arte Comentada: Da Pré-história ao Pós-modernismo.
Rio Janeiro: Ediouro. 1999. pp.128

Exercícios Propostos

FABIO DE ARAUJO ARTE — 2


ARTE – 3º ANO Assunto: MOVIMENTOS ARTÍSTICOS DO SÉC. XX
História da arte Módulo 5
A
Auullaa 22 Expressionismo e Fauvismo
Introdução exigências de sua sensibilidade. O artista não vive
Os historiadores da arte têm relacionado a apenas o drama humano, mas também o da
fragmentação da forma na arte do fim do século sociedade, criticando a exploração do homem pelo
XIX e início do XX à fragmentação da sociedade homem, com sua origem em raízes geográficas e
da época. As crescentes realizações tecnológicas raciais.
da Revolução Industrial ampliaram a distância O movimento expressionista teve em van
entre a classe média e trabalhadora. As mulheres Gogh seu grande inspirador, seguindo-se o belga
lutavam por direitos de igualdade e de voto. A James “Munch” Ensor( 1860 – 1949), que possuía
visão da mente, apresentada pelo pai da uma visão pessimista da figura humana, chegando
psicanálise, Sigmund Freud, estipulava que a a uma obsessividade, como mostra sua obra “O
psique humana, longe de estar unificada, era Grito”.
repleta de conflitos e contradições emocionais. A
descoberta da radiografia, a teoria da relatividade
de Albert Einstein e outras inovações tecnológicas
sugeria que a experiência visual já não
correspondia mais à visão de mundo da ciência.
Expressionismo
Em reação ao impressionismo, um grupo
de artistas na Alemanha chamado Die Brücke (A
ponte), mais conhecido como Expressionismo, que
enaltecia o instinto humano, e tinha a finalidade
de desenvolver uma pintura dramática, patética,
angustiante e com sensações. Os artistas
expressionistas viam a cidade moderna como local
de alienação.

O grito
Edvard Munch
Em obras como Cenas de uma rua de
Berlim (1913, Staatsgalerie, Stuttgart,
Alemanha), Kirchner sublinhou a artificialidade da
vida urbana e a forma como as pessoas perdem
sua identidade entre a multidão. Suas figuras
humanas têm proporções distorcidas e
características faciais generalizadas. Kirchner
ressaltou o sentido de ansiedade com a
justaposição de cores contrastantes e com formas
Auto-retrato de pé angulosas, sendo que essas últimas foram
Egon Shiele inspiradas nas esculturas africanas e nas peças
entalhadas em madeira alemãs. Essas formas
As características da pintura
artísticas agradavam aos expressionistas não
expressionistas são o uso da deformação visual,
chegando até mesmo à caricatura; o pintor recusa apenas por sua simplificação da anatomia
humana, mas, também, pela aspereza revelada
o aprendizado técnico, pintando conforme as
FABIO DE ARAUJO ARTE — 3
nos traços da mão do artista e na dificuldade de O principal expoente do Fauvismo, para a
se trabalhar com madeira. Seguindo o exemplo de maioria dos historiadores de arte, é Henri Matisse.
Gauguin, os expressionistas freqüentemente Sem nenhuma preocupação com o realismo, suas
representavam o corpo humano em meio à obras possuem figuras que são importantes
natureza, presumivelmente livres dos rígidos enquanto formas, montando uma composição. A
códigos de moral da classe média. idéia de que a arte poderia se aproximar da
música e com base nas obras de Gauguin, Matisse
pintou grandes áreas sem variação de cor, formas
simplificadas e linhas de contornos fortes. A
simplicidade do estilo de desenho de Matisse
remete à fascinação de Gauguin pela arte das
culturas diferentes das ocidentais. Matisse usou
também os desenhos abstratos de tapetes e
tecidos, em uma tentativa de reforçar o aspecto
plano da pintura, mais do que de criar uma ilusão
de profundidade. Seu interesse por esses
desenhos demonstra a influência exercida por
formas de expressão de criatividade nem sempre
associadas às belas artes.
Apesar de O aparador, harmonia vermelha,
ter sido concebido como imagem agradável da
vida doméstica da classe média, a maneira de
Matisse retratar essa cena foi considerada
revolucionária, especialmente na forma como,
Cinco mulheres na rua arbitrariamente, distribuiu cores intensas em
Kirchner objetos, sem se espelhar na natureza. Um crítico
Fauvismo da época, escandalizado, afirmou que Matisse e
As pinturas do Fauvismo inspiravam-se nas outros artistas como André Derain, Maurice de
artes antigas, selvagens, populares e até infantis. Vlaminck e Georges Braque, da França, e Kees
O artista deveria expressar os seus impulsos e van Dongen, da Holanda, eram fauves (termo que
sensações vitais, negando com isso os recursos significa, em francês, animais selvagens). Essa
expressão depreciativa batizou o movimento,
intelectuais consagrados pela pintura.
fauvismo, que durou apenas de 1898 a 1908, mas
causou um impacto duradouro na arte do século
XX.

A janela azul
Henri Matisse

FABIO DE ARAUJO ARTE — 4


Texto
Fauvismo
Complementar

Os fauves pode ser condensada sem que perca suas


No que concerne à pintura, pode-se dizer propriedades básicas, reduzindo-a, dessa forma, a
que o século XX começou cinco anos mais tarde. um mero ornamento da superfície? "O que
Entre 1901 e 1906, foram realizadas em Paris procuro, acima de tudo", explicou certa vez, "é
várias exposições abrangentes da obra de van expressão... (Mas)... a expressão não consiste na
Gogh, Gauguin e Cézanne. Os jovens pintores que paixão refletida num rosto humano... Toda a
haviam crescido na atmosfera mórbida e organização de seu quadro é expressiva. A posição
“decadente" da década de 1890 ficaram das figuras ou objetos, os espaços vazios ao seu
profundamente impressionados, e alguns deles redor, as proporções; tudo tem uma função". Mas
desenvolveram um estilo novo e radical, cheio de nós nos perguntamos o que expressa A Alegria da
cores violentas e distorções ousadas. Sua primeira Vida. Exatamente o que o título. Qualquer que seja
aparição pública, em 1905, chocou tanto os sua dívida para com Gauguin, Matisse nunca foi
críticos que eles lhes deram o nome de fauves afetado pelo mesmo descontentamento
(“selvagens"), um rótulo que adotaram com atormentado em relação à "decadência" de nossa
orgulho. Na realidade, não era um programa civilização. Seus sentimentos intensos voltavam-se
comum que os unia, mais sim o sentido de para uma direção única — o ato de pintar: para
liberação e de experimento que acompanhavam. ele, essa experiência era tão feliz e profunda que
Assim, o Fauvismo abrangia muitos estilos queria transmiti-la ao observador em todo o seu
individuais vagamente relacionados, e o grupo se vigor e imediatismo. O objetivo de seus quadros,
dissolveu depois de alguns anos. conforme ele sempre declarava, era dar prazer.
O equilíbrio novo e radical que Matisse
Matisse alcançou entre os aspectos "bidimensionais" e
Seu principal líder era Henri Matisse, o mais "tridimensionais" da pintura está particularmente
velho dos fundadores da pintura do século XX. A evidente em seu quadro Harmonia em Vermelho;
ele pinta a toalha da mesa e a parede com a
Alegria da Vida, provavelmente o quadro mais
importante de sua longa carreira, resume o estilo mesma combinação de azul sobre vermelho, e, no
do Fauvismo melhor do que qualquer outra obra. entanto, distingui os planos horizontais dos
Obviamente, o cromatismo uniforme de sua verticais com total segurança. Cézanne foi o
pioneiro nessa integração do ornamento de
superfície, seus contornos pesados e cheios de
ondulações, e o caráter "primitivo" de suas obras superfície na concepção de um quadro, mas aqui
foram inspirados em Gauguin; até mesmo o tema Matisse a transforma no elemento principal de sua
sugere a visão do homem num estado de natureza composição. Igualmente ousada — mas
perfeitamente inteligível — é a vista de um jardim
que Gauguin tentara encontrado Taiti. Mas logo
percebemos que essas figuras não são Bons com árvores floridas, mostrada através da janela:
Selvagens sob o encanto de um deus nativo; o a casa longe está pintada no mesmo tom rosa
tema é uma cena pagã no sentido clássico — uma forte que o interior, e, desse modo, relaciona-se
bacanal, como a de Ticiano. Até mesmo poses das com resto do quadro. Da mesma forma, o azul do
céu, o verde das folhagens e os pontos amarelos-
figuras têm uma origem predominantemente
clássica, e a habilidade aparentemente descuidada vivos (em lugar das flores) repetem-se todos no
mostra um profundo conhecimento do corpo primeiro plano. A "capacidade de omissão" de
(Matisse fora treinado na tradição acadêmica). O Matisse entra em ação novamente: ao reduzir o
número de tons ao mínimo, faz da cor um
que torna a pintura tão revolucionária é sua radical
simplicidade, sua "capacidade de omissão": cada elemento estrutural independentemente. Essa é
coisa que talvez possa existir foram omitidas ou tão importante que Harmonia em Vermelho
sua existência apenas insinuada; e, no entanto, a perderia todo significado numa produção em preto
e branco.
cena preserva os aspectos essenciais da forma
clássica e da profundidade espacial. A pintura de
JANSON, H.W.& JANSON, A. F.
Matisse, parece dizer, é a ordenação rítmica da
Iniciação à História da Arte. São Paulo,
linha e da cor numa superfície plana, mas não é Martins Fontes. Pp. 357 - 360
apenas isso. Até que ponto a imagem natureza

Exercícios Propostos
FABIO DE ARAUJO ARTE — 5
ARTE – 3º ANO Assunto: MOVIMENTOS ARTÍSTICOS DO SÉC. XX
História da arte Módulo 5
A
Auullaa 33 Cubismo
Cubismo O cubismo se divide em três fases:
Definitivamente, no século XX todas as cezaneano, analítico e sintético.
coisas mudaram mais rapidamente do que O cubismo cezaneano é dominado pela
qualquer época da história da humanidade. Essas vontade de estruturar a obra mediante a
mudanças também são sentidas e refletidas na decomposição geométrica, com uma poderosa
arte. A quantidade de mudanças durante esse sensação de volume, peso e espaço, com o fundo
nosso século, incluindo nossos experimentos na de cor abstrata, tendo sempre a presença do cinza
pintura, escultura e arquitetura, é enorme. O em seus tons.
mundo se transforma, ficando em constante Outra fase é o cubismo analítico, que tem
movimento. como base à decomposição minuciosa dos objetos,
quebrando-os em múltiplas faces, com uma
A origem do cubismo pobreza de cores (tons cinza e marrom). Nessa
Em um momento decisivo para a arte, o fase, destacamos a obra de Picasso, Les
cubismo surgiu logo no início do século XX como Demoiselles d'Avignon. Segundo consta, quando
uma resposta ao Fauvismo, tendo em Cézanne seu Braque viu a obra ficou atônito e insatisfeito com
inspirador. No final de seu período, o artista seus próprios experimentos, pintando Casas do
considerava que a pintura deveria tratar as formas Estaque, no qual a luz vem de vários pontos.
da natureza como se fossem cones, esferas e
cilindros. Essa regra foi seguida no estilo da
pintura criada por Picasso e Braque, que se
caracterizou pelo abandono da representação de
apenas um ângulo do tema, sendo este que pela
combinação de numerosos ângulos sobrepostos,
que comumente tem a forma cubóide ou
geométricas. A obra de arte é considerada um fato
plástico, livre da limitação direta das formas
naturais, propondo transformar sua visão com a
ajuda de formas geométricas.

Les Demoiselles d'Avignon


Pablo Picasso
Por fim, a última fase é o cubismo sintético,
em que há uma lenta diminuição da decomposição
da forma, estabelecendo um leve dualismo entre a
figura e o fundo, sendo essa fase também
Natureza morta ou Le Jour
conhecida como colagem, porque se introduziram
Georges Braque
letras, palavras, números, pedaços de madeira e
O nome cubismo também veio de um Louix até objetos no quadro; tudo isso explicado como
Vauxcelles, o mesmo que deu a denominação uma forma de o artista ultrapassar os limites da
fauves, sendo logo aceita por todos, visualidade. Um dos grandes expoentes dessa fase
principalmente pelos seus dois expoentes: Pablo foi Juan Gris (1887-1927), que combinava
Picasso (1881-1974) e Georges Braque (1882-
1963).
FABIO DE ARAUJO ARTE — 6
composição e espaço pictórico, e Fernand Léger Com certeza, a mais famosa obra cubista é
(1881-1955). Guernica, de Picasso, pintada em 1937, em um
painel de 3,50 x 7,82 metros, após o bombardeio
feito pelas tropas nazistas a pequena cidade
homônima, durante a guerra civil espanhola.
O cubismo fez grandes inovações nas artes
ao introduzir materiais a pintura, dando maior
destaque à textura.

Nus em fundo vermelhos


Fernand Léger

Texto 1. Movimento artístico do século XX.


Complementar 2. O ingresso de Braque no cubismo.

Movimento artístico do século XX objeto na sua "existência total". André Lothe, na


O cubismo é, acima de tudo, a “arte da sua Theory of Figure Painting, sublinha o principal
concepção" e nasceu da meditação de Cézanne e requisito da arte cubista intelectualizada: "Quanto
de Nabis como Sérusier declarou: "um pintor mais entrar a inteligência na criação de uma obra
precisa ser inteligente". Gleizes e Metzinger de arte, mais se poderá dizer que essa pintura
repetem: "sem negar a sensação e a emoção, o atingiu o máximo de existência". Rice Pereira, um
cubista elevou a pintura um nível do intelecto - La dos pintores neoplásticos, declarou: "Todo espaço
peinture exigeait donc les connaissances solides. tem as suas próprias dimensões e estruturas
Isso resolve o problema de Baudelaire de transpor geométricas e pertence a diferentes níveis de
a voluptuosidade para o conhecimento. T. S. Eliot, experiência". Isto soa como uma frase de Alberti
falando em nome dos modernos, disse:” o único ou de outro teórico renascentista; pois, na
método é ser muito inteligente". Sabermos o que renascença, a ciência era um aspecto da arte e o
Eliot deve aos simbolistas e aos artistas dos fins do pintor, como o pintor cubista ou pós-cubista, tinha
século XIX que libertaram o motivo da anedota, na conhecimento de matemática de sua época. Em
ilustração do peso do objeto com sua aparência parte o renascimento foi criativo porque, como o
comum. Gleizes e Metzinger ressaltou a iluminismo, estava ansioso para assimilar a ciência
importância dessa herança da abstração, para a à arte.
qual Gauguin e os Nabis tanto contribuíram, ao Dentre os bloqueios da arte, no século XIX
dizer que "o mundo visível se transforma no apontamos a inabilidade ou falta de vontade do
mundo real somente através da operação do artista em utilizar a ciência inteligentemente, a fim
pensamento". Acrescentam: "não é suficiente que de tornar a arte um fato genuinamente
um pintor veja uma coisa; é preciso que a pense". contemporâneo. Ou, pior ainda, a ciência que mais
Os pintores fauvistas foram também prontamente encontrava eco era a biologia
capazes de abstrair a linha e a cor e é difícil dizer darwiniana que parecia sancionar o forte impulso e
se as Demoiselles d'Avignon, de Picasso (1907), é o sentimento romântico em vez da inteligência.
fauvista ou cubista; todavia é verdade que os
cubistas fizeram o que os fauvistas não SYPHER, Wylie. Do Rococó ao Cubismo.
São Paulo. Perspectiva,
conseguiram: desenvolveram uma teoria, teoria
1980. pp.192-193
esta que está no mais profundo acordo com as
teorias da nossa ciência. O Fauvismo e o cubismo
são buscas semelhantes de um estilo, mas, no O ingresso de Braque no cubismo
cubismo, a análise do mundo foi levada mais a Georges Braque (1882-1963) iniciador, com
frente e o movimento se propos a representar o Picasso, do cubismo, prolongou as pesquisas de

FABIO DE ARAUJO ARTE — 7


Cézanne (O porto do estaque,1906). Trabalha em de ser uma natureza-morta.”(...) Para mim, isso
colaboração com Picasso na elaboração de respondia ao desejo que sempre tive de trocar as
volumes imbricados e de um jogo formal linear e coisas e não apenas vê-la. É esse espaço que me
monocromático tendendo a abstração (cubismo atraía muito, pois era isso a primeira pintura
analítico). Suas buscas levam-no as famosas cubista, a procura do espaço. A cor só tinha um
séries de colagens. pequeno papel. Da cor só nos preocupava a
“(...) o que muito me atraiu — e que foi a direção luminosidade. A luz e o espaço são duas coisas
mestra do cubismo - foi à materialização desse que não se tocam, não é mesmo? E nós a
espaço novo que eu sentia. Então eu comecei a trazíamos juntas... chamavam-nos de abstrato!".
fazer principalmente naturezas-mortas, pois na ALTET,Xavier B.I. Historiada Arte.
natureza há um espaço táctil, eu diria quase São Paulo, Papirus,
manual. De resto, escrevi:” Quando uma natureza- 1990. pp 133-134
morta não estar mais ao alcance da mão, ela deixa

Exercícios Propostos

FABIO DE ARAUJO ARTE — 8


ARTE – 3º ANO Assunto: MOVIMENTOS ARTÍSTICOS DO SÉC. XX
História da arte Módulo 5
A
Auullaa 44 Futurismo e Abstracionismo
Futurismo Escultura
Às vésperas e no alvorecer da primeira Com uma mistura de influência entre a
guerra mundial, surgiu na Itália um movimento pintura cubista e a futuristas, desenvolveu-se a
literário e artístico, tendo como destaque Giacomo escultura do futurismo. O mais importante artista
Balla e Umberto Boccione. O futurismo teve início dessa manifestação foi, sem dúvida, Umberto
quando o poeta e escritor italiano Filippo Boccione (1882 - 1916), que também era pintor e
Tommaso Marinetti escreveu o manifesto foi um dos primeiros a assinar o manifesto
futurista, em que se exaltavam o futuro e, futurista.
sobretudo, a velocidade, indo ao encontro da
sociedade industrial do início do século XX. Abstracionismo
O termo "abstração" é geralmente utilizado
como significado do processo e/ou resultado da
análise da realidade. Seria algo assim: se
tivermos seis latas e extraímos o número seis,
ficaremos com "um número abstrato", já que esse
número não se refere à coisas específicas; por
outro lado, só as latas também seriam uma
abstração, desde que não se tome as suas
diferenças.
Outra característica forte do
abstracionismo é a não-existência imediata entre
suas formas e cores, sendo por isso que um
quadro abstracionista não condiz com a realidade.
Tal como o cubismo, o abstracionismo tem
suas subdivisões, como o abstracionismo informal,
com domínio dos sentimentos e emoções, e onde
as formas e cores denotam figuras da natureza; e
Velocidade Abstrata – O carro passou o abstracionismo geométrico, no qual as formas e
Giacomo Balla cores devem estar montadas sob uma concepção
Os futuristas compartilhavam do geométrica.
entusiasmo de Léger pela tecnologia, mas foram Dentro do abstracionismo destacamos Piet
além. Como o próprio nome sugere, os futuristas Mondrian (1872 - 1974) e o iniciador da pintura
abraçaram tudo aquilo que enaltecia as inovações abstrata, Wassily Kandinsky (1866 - 1944), com
tecnológicas e as mecanizações, e censuravam sua tela "A Batalha".
que se relacionasse à tradição. Afirmavam que um
veículo em alta velocidade era mais bonito do que
uma estátua grega antiga.
Na pintura, o futurismo utilizou-se do
vocabulário flexível do cubismo como meio de
exprimir a nova concepção de tempo, espaço e
energia, associando-se a teoria da relatividade
criada por Einstein em 1905.
O futurismo teve uma vida efêmera,
encerrando-se durante a primeira guerra, dando
lugar a uma linha artística denominada Cubo-
Futurista, conhecida também como Zaum e que
teve grande aceitação entre os artistas da Rússia
pré-revolucionária. Na teoria, o movimento podia
ser compreendido universalmente, pois pensava-
se que o seu significado estava implícita nos sons
Composição em vermelho, azul e amarelo
e nas estruturas da fala.
Piet Mondrian

FABIO DE ARAUJO ARTE — 9


Escultura
Saído diretamente da escultura cubista, a
abstracionista também usava recursos da colagem
cubista, utilizando-se de metal, vidro e madeira.
Essas obras abstratas foram base para uma
derivação do cubismo, denominado
"construtivismo". Movimento teve a participação
de famosos escultores, tais como Antoine Pevsner
(1886-1962) e Naum Gabo (1890- 1977). Tais
artistas chamavam suas obras de "construções",
em vez de chamá-las de esculturas.
Lírica
Wassily Kandinsky

Texto 1. Manifesto futurista: Boccioni


Complementar 2. Um novo campo: A história da fotografia

Manifesto futurista: Boccioni 8. Só pode haver renovação com a prática da


Umberto Boccioni (1882-1916). Teórico do escultura de meio ou de ambiente, pois é só
futurismo, ele é o autor do manifesto dos pintores assim que plástica se desenvolverá,
futuristas, do manifesto das técnicas da pintura prolongando-se no espaço modelar”.
futurista e do manifesto teórico da escultura
(1912). Marinetti considera um automóvel de ALTET,Xavier B.I. Historiada Arte.
corrida mais belo que a vitória de Samotrácia São Paulo, Papirus,
(1909); Boccioni acha que escultura deve dar vida 1990. pp 133-134
aos objetos cujos movimentos são decompostos no
espaço (Formas únicas da continuidade no espaço, Um novo campo: A história da fotografia
1913). O novo ensino da história da arte deve
1. “A escultura propõe-se a reconstrução abstrata incluir, de agora em diante, a história da
e não ao valor figurativo dos planos e dos fotografia. Não apenas enquanto técnica que vem
volumes que determinam as formas. sendo utilizada por vários artistas, pintores ou
2. É preciso abolir na escultura, como em escultores desde o século passado, mas
qualquer outra arte, o sublime tradicional dos igualmente enquanto técnica criativa com o
temas (...). desenvolvimento autônomo.
3. [O] escultor futurista, percebendo os corpos e Em 1822, Niepce conseguiu imprimir uma
suas partes como zonas plásticas, introduzirá imagem utilizando-se de uma câmara escura e de
na composição escultórica planos de madeira um processo fotoquímico; porém, o que não era
ou metal, imóveis ou movimento, para senão uma forma de heliogravura só passará
representar um objeto; formas esféricas realmente a fotografia com a invenção do
peludas para representar cabelos; semicírculos daguerreótipo (1838-1839) por Daguerre e a partir
de vidro em se tratando, por exemplo, de um do momento em que a prática do retrato
vaso; arames ou treliças para indicar um plano fotográfico passa a ameaçar seriamente o retrato
atmosférico etc. pintado. Uma série de fotógrafos-inventores faz
4. É preciso destruir a pretensa nobreza, toda com que a técnica progrida rapidamente. O
literária e tradicional, do mármore e do bronze inventor da fotografia em negativo/positivo é W.
e negar decididamente que se deva utilizar H. Fox Talbot que, graças a criação do calótipo,
exclusivamente o único material para um abre a possibilidade de se obter várias provas a
conjunto escultural. O escultor pode se servir partir de um único negativa (1841). A placa de
de vinte materiais diferentes, ou mais, em uma vidro com colódio úmido que substitui o papel
única obra e, com tanto que a emoção plástica albuminado e só cederá lugar, no mercado, para a
o exija [...] ““. placa seca de bromato gelatinoso. Dois tipos de
7. “A linha um único meio que nos pode conduzir fotógrafos trabalham no século XIX: de um lado,
a virgindade primitiva de uma nova construção os artistas, retratistas como Nadar, os
arquitetônica de massas e de zonas esculturais. fotografados de arte cujas pesquisas são paralelas
às dos pintores (J. M. Cameron) e que

FABIO DE ARAUJO ARTE — 10


freqüentemente atuam como exploradores (M. Du fotografia contemporânea. A fotografia é, também,
Camp), beneficiando-se com o nascente uma história de grandes artistas, de Stieglitz
entusiasmo pelas primeiras publicações ilustradas (1864 - 1946) e Atget (1856- 1927) ao
com fotografias; de outro, os retratistas, que se surrealismo de Man Ray; de Kertesz ou Lartigue às
multiplicam em todas as cidades. Os campos de gerações mais recentes - R. Avedon, D. Airbus ou
estudo da história das fotografias são imensos: os R. L. Frank. A fotografia desempenha um
pintores ou escultores — Delacroix, Degas, Rodin importante papel na arte dos dias de hoje. Na
ou Bonnard — que utilizam a fotografia, passando França, podem-se citar os ektacromos de G.
pelas diferentes técnicas que, pouco a pouco, Rousse, as paisagens de J. M. Bustamante, as
tornam popular essa arte a ponto de fazer dela a esculturas fotográficas de P. Raynaud, a qualidade
única arte considerada acessível a todos; a pictural de K. Tahara ou os retratos de B. Rheims.
realidade fotográfica dos diferentes movimentos
artísticos século XX; a fotografia documentária; o ALTET,Xavier B.I. Historiada Arte.
fotojornalismo; a fotografia em cores; a fotografia São Paulo, Papirus,
de arquitetura; a fotografia publicitária; a 1990. pp 133-134

Exercícios Propostos

FABIO DE ARAUJO ARTE — 11


ARTE – 3º ANO Assunto: MOVIMENTOS ARTÍSTICOS DO SÉC. XX
História da arte Módulo 5
A
Auullaa 55 Dadaísmo
DADÁ 1913, no Armory show, de Nova York, seu quadro
O massacre da Primeira Guerra Mundial denominado de Nu descendo as escadas.
afetou os artistas de maneiras diferentes. Alguns A origem do termo associa-se ao artista
sentiram, como Mondrian, que o crescimento do plástico húngaro Tristan Tzara que, abrindo
ser humano dependia da criação de um modo de dicionário, colocou ao acaso o seu dedo sobre a
vida impessoal e mecanizado, enquanto que outros palavra dada, que na língua infantil francesa
concordavam com Dix, acreditando que ele significa diminutivo de cavalo. A palavra não tinha
dependia de se chamar atenção para os problemas nenhuma importância, podendo ser qualquer
políticos. Outros chegaram à conclusão de que a outra, pois para ele e seus amigos arte de perdera
própria idéia de crescimento do ser humano era todo o sentido; o acaso teria mais sentido nessa
uma ilusão sem sentido. Para esse grupo, a maior sociedade decadente. Junto com o poeta húngaro
lição da guerra, se é que houve alguma, foi a estava o pintor Hans Arp (1887 - 1966), que fazia
falência da razão, da política, da tecnologia e até as suas obras "ao acaso" e depois as ajustava para
mesmo da própria arte. A partir dessa premissa, que se pudesse obter a configuração "natural".
vários artistas e poetas criaram o dadaísmo, um Ao mesmo tempo, em Nova York,
movimento cujo nome propositadamente não Duchamp, Man Ray e Francis Picabia faziam suas
significava nada e cujos membros ridicularizavam mostras dadás na cidade norte-americana.
qualquer coisa que se relacionasse à cultura,
política ou estética. Vários destes artistas se
refugiaram em Zurique, na Suíça, que se havia
tornado um centro de refugiados. Os intelectuais
reuniam-se para várias discussões, em um lugar
chamado "cabaret Voltaire".

Tableau rastadada
Francis Picabia
Só com o final da guerra, em Lausanne,
Suíça, é que os dois grupos se juntaram, lançando
um manifesto e uma revista. Despondo-se a
destruir toda forma de arte institucionalizada, os
artistas dadás recolhiam qualquer objeto para ser
exposto; uma vez, Duchamp expôs um urinol
como uma peça de escultura, dando-lhe o nome
de Fonte.
Nu descendo a escada O pintor e poeta Kurt Schwitters também
Marcel Duchamp fez colagem as quais chamou de Merz e,
O precursor do Dadaísmo foi Marcel posteriormente, escolheu tal palavra como sua
Duchamp(1887- 1968), que já havia exposto, em
FABIO DE ARAUJO ARTE — 12
marca registrada. Merz estendeu-se da pintura por contar com a adesão de muitos artistas dadás:
para colagens a música e poesia até arquitetura o Surrealismo.
com salas inteiras cobertas por objetos ao acaso.
O Dadá conseguiu provocar escândalo e, de
Escultura
Tanto o surrealismo como o Dadaísmo não
maneira positiva, mudou a concepção de arte,
forçando o observador a mudar sua postura, desenvolveram grandes obras nesta manifestação
criticando a ordem estabelecida. Em 1922, o poeta artística; os dadaístas não podiam ser
e escritor Dadá, André Breton (1896 - 1966), considerados escultores, já que qualquer objeto
que fosse encontrado por eles se transformaria em
passou a liderar um novo movimento que acabou
escultura e seria exposto como uma obra de arte.

Texto
Complementar O Dadaísmo
Tristan Tzara (1896 - 1963). Escritor de formais. Faz-se arte para ganhar dinheiro e
origem no romena, é um dos criadores, ao lado de acariciar os gentis burgueses? (...).
Duchamp, Picabia, Arp e Ernst, do movimento Todo produto do nojo, suscetível de se
dadaísta, do qual redige o manifesto em 1918. tornar uma negação da família, é dadá; protestar
Esse movimento insiste na criação espontânea e com os punhos de todo o seu ser em ação
reage pela via do absurdo contra a burguesia e a destrutiva: dadá; conhecimento de todos os meios
arte estabelecida. rejeitados até agora pelo sexo pudico do
“A obra de arte não deve ser a beleza em si compromisso cômodo e da polidez: dadá; abolição
mesma, pois ela está morta; nem alegre nem da lógica, dança dos impotentes da criação: dadá;
triste, nem clara nem obscura, regozijar ou de toda hierarquia e equação social estabelecida
maltratar as individualidades servindo-lhes os para os valores por nossos criados: DADÁ; cada
doces das auréolas santas ou os suores de objeto, todos os objetos, os sentimentos e as
ocorrida encurvada através das atmosferas. Uma obscuridades, as aparições e o choque preciso das
obra de arte nunca dela, por decreto, linhas paralelas, são meios de combate: DADÁ;
objetivamente, para todos. A crítica é, pois, inútil; abolição da memória: DADÁ; abolição da
ela só existe subjetivamente, para cada um, e sem arqueologia:DADÁ; abolição dos profetas: DADÁ;
o menor caráter de generalidade. Acredita-se ter abolição do futuro:DADÁ; crença absoluta
encontrado a base psíquica comum a toda a indiscutível em cada deus, produto imediato da
humanidade? (...)”. espontaneidade (...) liberdade:DADÁDADÁDADÁ;
Assim nasceu dadá de necessidade de barros das cores crispadas, entrelaçamento dos
independência, de desconfiança face à contrários e de todas as contradições dos
comunidade. Aqueles que pertence a nós grotescos, que inconseqüência: A VIDA".
conservam sua liberdade. Não reconhecemos
nenhuma teoria. Estamos fartos das academias ALTET,Xavier B.I. Historiada Arte.
cubistas e futuristas: laboratórios de idéias São Paulo, Papirus,
1990. pp 136-137

Exercícios Propostos

FABIO DE ARAUJO ARTE — 13


ARTE – 3º ANO Assunto: MOVIMENTOS ARTÍSTICOS DO SÉC. XX
História da arte Módulo 5
A
Auullaa 66 Surrealismo
Surrealismo
A crítica radical à arte e à razão feita pelos
dadaístas teve um efeito forte sobre um
movimento artístico e literário criado em 1924, o
surrealismo. Os surrealistas, porém, queriam dar
uma conotação mais positiva à mensagem
pessimista do dadaísmo. Se inspiravam na obra
de Freud, que argumentava que a mente humana
se dividia entre o consciente e o inconsciente
inacessível, onde os desejos, sentimentos e
pensamentos mais profundos de uma pessoa
estão reprimidos. Os surrealistas procuraram
alcançar esses desejos e sentimentos particulares
através de imagens oníricas, de associações
aleatórias de palavras e da arte. Defende que a A penitência da memória
Salvador Dalí
arte deve libertar-se das exigências da lógica e
expressar o inconsciente e os sonhos, livre do Entre os artistas do surrealismo destacam-
controle da razão e de preocupações estéticas ou se o alemão Max Ernst (1891 - 1976) e Joan Miró
morais. Rejeita os valores burgueses, como a (1893 - 1983), que deram início ao chamado
pátria e a família. estilo da "abstração biomórfica"; o belga René
Esse movimento artístico e literário surge Magritte; e o mais destacado de todos, Salvador
na França nos anos 20, reunindo artistas Dalí, com obras como a penitência da memória,
anteriormente ligados ao dadá. A palavra que cria o conceito de "paranóia crítica" como
surrealismo foi utilizada pela primeira vez como recusa a lógica.
subtítulo de um drama de Guillaume Apollinaire,
intitulado Les Mameles de Tiresias, de 1917. O
artista, e uma busca constante de reavivar e
revelar os dados do inconsciente tentou fundir o
consciente conhecido e desconhecido com o
inconsciente.
Em 1924, Breton redigiu um manifesto
surrealista com o a intenção de estimular a
imaginação e o entusiasmo dos artistas da época.
Algumas das obras surrealistas
representam um excesso de realidade, porém
essa característica associa-se a elementos
inexistentes, recriados ou transformados da
natureza, montando um conjunto irreal.
O surrealismo está subdividido em três
correntes distintas: arte visionária, que buscava a
libertação da natureza, dando a realidade a visão
irracional, encontrando-se nesta corrente o pintor
Paollo Uccello; arte primitiva, que constitui uma
corrente de menor importância; e, por fim, a arte O filho do homem
Magritte
psicopatológica, que tem uma ligação forte com o
inconsciente freudiano, aceitando o humor como a Alguns autores citam o desenvolvimento de
máscara do desespero humano. suas dependências dentro do surrealismo em vez
de três correntes; essas tendências seriam a
"figurativa" e a "abstrata", com Miró e Ernst na
última, e Dalí e Chagall na primeira.

FABIO DE ARAUJO ARTE — 14


Texto 1. O simbolismo e o Surrealismo.
Complementar 2. Surrealismo — Arte Fantástica

O simbolismo e o Surrealismo. O surrealismo se caracteriza por uma visão


Estas correntes de pensamento pertencem de ligações estranhas entre objetos familiares.
à tradição da arte e literatura simbólicas desde o Destacando-os de seu contexto natural, o
século 18, mas delas já falamos surrealismo os combina e justapõe em nossos
pormenorizadamente num outro capítulo, retendo conjuntos, que criam um clima irreal ou irracional.
então em mente uma das diferenças básicas entre Partindo da possibilidade de nossa memória
o simbolismo e o surrealismo; a fronteira entre os interligar experiências do passado com visões e
dois é muitas vezes difícil de traçar, dentro do seu associações, cria-se nesses conjuntos associativos
mundo pictórico. Ambos se reportam aos mesmos um ambiente de fantasia e de sonhos. Ainda que
antepassados, recuando até ao romantismo, e impossíveis na natureza, e desligados de qualquer
ambos mantêm uma atitude eclética perante os realidade física objetiva ou qualquer lógica, tais
estilos. Também tem em comum serem um conjuntos podem vir impregnados de uma carga
comportamento e não um estilo artístico. Porém, emotiva, referindo-se a significados secretos que
é, sobretudo nesta forma de comportamento que condensem desejos e necessidades nossas.
reside à diferença: o simbolismo coloca-se numa Em termos de estilo, será preciso ver em
posição decidida e polêmica de defesa contra a formas expressivas se apresentam as imagens
estética e moral burguesa, contra a sanção de surrealistas. Estas tanto podem ser idealistas, ou
formas artísticas históricas e contra o pensamento até mesmo naturalistas. Em Bosch (1450 - 1516),
positivista e lógico, o qual aponta para o êxito e o por exemplo, temos um artista de atitude
progresso racional. Fixa a sua recusa dos ideais e estilística idealista (nas figuras humanas ou na
padrões burgueses numa concepção perfeitamente estrutura espacial da imagem, é fácil observar a
definida e continuamente repensada, que muitas aproximação de feições particulares ao genérico,
vezes consiste em características das aberrações típico, real).
desses ideais burgueses e dos seus bens culturais. Aliás, as situações fantásticas que Bosch
Contudo, enquanto os simbolistas procuram os representa nos quadros - aqui no jardim das
símbolos de maneira consciente e determinada a delícias - na época talvez não fossem nem de
partir do intelecto moderno, os surrealistas, pelo longe tão enigmáticas para espectador quanto às
contrário, copia o modelo automaticamente, com vezes se nos apresentam hoje. Bosch as recolheu
uma indolência que vem do inconsciente e criam de um vasto acervo de fábulas, lendas, adágios,
quadros oníricos. Mas os limites não são fáceis de provérbios, metáforas, sátiras e gracejos, usando,
estabelecer, pois, onde quer que um quadro seja portanto, substituições simbólicas correntes,
pintado, entra o jogo à época de criação que torna fantasias vivas que pertenciam ao patrimônio
necessário o distanciamento e a reflexão. Assim cultural coletivo.
encontra-se símbolo nos quadros surrealista que, Contrastando com isso, a simbologia nas
consciente e refletidamente, completam, designam imagens dos surrealistas modernos tornou-se de
e condensam a visão onírica experimentada no ordem exclusivamente privativa. Salvador Dalí, por
início. Em contrapartida, nos conjuntos pictóricos exemplo, pinta A Girafa em Chamas, figuras
construídos simbolicamente os elementos humanas se abrindo em gavetas e correndo pelo
encontram a sua origem que, e a partir de uma deserto: as associações permanecem herméticas.
associação repentina, continuam uns elementos Em geral, os significados são sujeitos a serem
refletidos. O surrealismo radical, tal como Breton o interpretados de modo inteiramente arbitrário pelo
percebe, de um modo geral só é possível em tudo espectador, a não ser que, através da linguagem,
na obra de arte tipográfica ou no desenho manual, o artista consiga elevar o conteúdo expressivo na
portanto em tudo aquilo que exigem uma alta poesia, ampliando a visão e ao mesmo tempo
exteriorização tão espontânea que nem permite ao objetivando-a e, desse modo, reintroduzindo-o na
artista uma reflexão ou criação consciente. área da experiência coletiva (Yves Tanguy e René
Magritte talvez). Em termos de estilo, as obras do
Surrealismo — Arte Fantástica surrealismo moderno variam entre o
Ainda algumas palavras sobre as artes expressionismo (por exemplo, Sutherland) e o
fantásticas. Em si, elas não apresentam uma naturalismo (por exemplo, Magritte).
Num dos painéis do altar de Isenheim,
corrente estilística e sim uma temática específica.
A temática procura ilustrar a existência de pintado pelo artista alemão Grünewald, encontra-
aspectos imaginativos irracionais como parte de se um quadro quase surrealista: As Tentações de
nossa realidade. Santo Antônio. Só visões alucinatórias de animais
imaginários, monstros assustando e torturando o
FABIO DE ARAUJO ARTE — 15
santo, numa paisagem fantasmagórica toda de exemplo, nos quadros de Paulo Uccello, a cujo da
ruínas e galhos secos e espinhos, contra um fundo saúde numerosos detalhes precisos, nas faces e
de rochedos nus, iluminados por uma luz rosa. perfis de tantos cubos, pirâmides, esferas,
Nessa imagem, de estilo expressionista vê-se que cilindros, cria, com toda racionalidade, uma visão
os limites entre a surrealista e arte fantástica nem fantástica. Ou no quadro de Botticelli, A Chegada
sempre estão claramente demarcados, pois o Primavera, em que a ornamentação de flores no
painel de Grünewald também beirar a arte de vestido da primavera e a silhueta recortada das
fantasia. É ainda o caso, por exemplo, de Chagall, folhagens do fundo são destacadas com tamanha
Klee, Miró e às vezes Picasso, em que o fantástico nitidez, como se aos detalhes coubesse uma
tem passagem para o surrealista. existência independente, em mundos ocultos.
A distinção a ser feita entre arte surrealista Como um dos maiores poetas desses
e fantástica se refere à relação componentes- mundos ocultos mágicos, apresentei Henri
contextos. Enquanto arte surrealista parte de Rousseau (1844 - 1910), chamada Le Dounier (O
componentes individuais realistas e os recombina Alfandegário). Sua biografia é singular: alistado
em contextos deliberadamente incoerentes, na ainda jovem no exército francês, passa a ser
arte fantástica componentes e contextos guardam saxofonista da banda militar. Trabalhando depois
a coerência. Apenas é uma coerência do como funcionário da alfândega, aposenta-se aos
imaginário. São reminiscências, associações, 40 anos para poder pintar. Passa a viver então de
alusões, fantasias, mas sempre coerentes entre si. uma aposentadoria mínima, dando aulas de canto
Nesses contextos fantásticos, os componentes e recitação para melhorar o orçamento.
podem ser abstratos, como em Klee ou Miró, ou Ridicularizado pelo público, mas admirado pelos
também figurativos, como nas reminiscências de grandes artistas da época, pintou o resto da sua
Chagall, verdadeiros mundos flutuantes, ou nas vida. Artista ingênuo de excepcional sensibilidade
pintura chamadas "metafísicas" de De Chirico e de grande pureza, soube encontraram soluções
(1880 - 1978), arquiteturas cúbicas que projetam pictóricas das mais ousadas - tanto nas
imensas sombras em estranhas perspectivas composições como nas cores - como se fosse um
alongada. Ou ainda podem ser detalhes realistas, sonâmbulo equilibrando-se calmamente no
cuja precisão nos parece singular ou alucinatória - parapeito de uma janela. E dos raros artistas
com a clareza que tenho nos sonhos - que se ingênuos cujo estilo tinha tendências idealistas e
tornam evocativos justamente pela profusa clareza talvez o único com o poder de subordinar a
em que são vistos, como, por exemplo, nos quantidade infinita de detalhes tão característica
quadros do artista norte-americano Edward de obras ingênuas (em geral, mosaicos
Hopper (1882 - 1967), esquinas de ruas desertas, cumulativos) a uma visão de monumentalidade
ou o sol iluminando as paredes de quartos vazios, simples e estruturada.
cuja visão "fantástica" trazem imagens pungentes
de solidão urbana. OSTROWER, Fayga. Universos da Arte.
Rio de Janeiro. Campus,
A expressão de conteúdos, irracionais,
1991 pp. 328 - 330
existe nas mais diversas épocas, às vezes
juntamente com o racional. No renascimento, por

Exercícios Propostos

FABIO DE ARAUJO ARTE — 16


ARTE – 3º ANO Assunto: MOVIMENTOS ARTÍSTICOS DO SÉC. XX
História da arte Módulo 5
A
Auullaa 77 Expressionismo Abstrato
Expressionismo Abstrato expressionistas abstratos se libertaram da
Pela primeira vez, o metacentro dos abstração geométrica e da necessidade de sugerir
acontecimentos no mundo da arte se transferiu imagens reconhecíveis. Dando rédea solta ao
para as terras americanas. E o Expressionismo impulso e ao acaso, o ato apaixonado de pintar
Abstrato era mesmo um acontecimento, um tornou-se em si mesmo um valor absoluto.
happening que compreendia a "arte" não só como Ninguém sintetizou melhor do que Pollock
produto da criação artística, mas também como o essa selvagem abordagem subconsciente.
processo ativo da criação. Apelidado "Jack the Dripper" (Jack o pingador)
Também chamado "pintura de ação" e pela revista Time, Pollock realizou uma
Escola de Nova York, o Expressionismo Abstrato extraordinária ruptura ao abandonar o pincel,
enfatizava a energia, a ação, o movimento e o trocando-o por chapiscos, chuviscos - e pingos -
frenesi. Muito do que até então fora definido como em pinturas comerciais em imensos rolos de telas
arte era agora usado basicamente como ponto de espalhadas no chão de seu estúdio/celeiro.
partida. De fato, o Expressionismo Abstrato é para Tomado de ambição hercúlea, ele abandonou
a técnica artística convencional o que o jazz é também o formato de cavalete em favor de
para o ritmo 4/4. Olhar para um quadro de dimensões murais. A imagem de Pollock era de
Jackson Pollock ou de Franz Kline e dizer "Não um homem possuído — por seu próprio
entendo" seria equivalente a criticar o gigante do inconsciente —, arremessando loucamente
jazz Charlie Parker por não se ater a melodia. punhados de tinta numa configuração totalizadora
e jogando fora, junto com as latas de tinta vazias,
todas as considerações artísticas convencionais,
tais como primeiro plano, fundo, ponto focal a e
perspectiva.
As telas resultante de Pollock e amigos,
altamente improvisadas, não só roubaram da
Europa a posição de Guardiã da Chama Cultural,
mas expandiram a própria definição do que se
pensava ser "arte". Não se exigia mais que a arte
imitasse docilmente a aparência visual; a energia
e emoção do expressionismo abstrato e
esmagaram as convenções e lançaram as bases
para a boa parte do que viria a seguir.
Preto e Branco - Jackson Pollock

O Expressionismo Abstrato começou a


tomar forma no fim dos anos 40, e no início dos
anos 50, em parte como reação à guerra que
devastou dois continentes, matou 16 milhões de
pessoas, deixou um rastro de destruição e o
mundo de pernas para o ar. Quando os
surrealistas chegaram à América do Norte,
durante a Segunda Guerra Mundial, a nova
geração de pintores americanos descobriram com
eles a arte da anarquia. Mas enquanto o Dadá e o
surrealismo se revoltavam contra a lógica, os
artistas americanos levaram o "automatismo" um
passo além, confiando no instinto para dar
formato as obras de arte que não eram apenas
irracionais, mas, em sua essência, eventualidades
não premeditadas. Meryon - Franz Kline
Liderados pelos artistas Arshile Groky,
Hans Hoffman e Jackson Pollock, os
FABIO DE ARAUJO ARTE — 17
ARTE – 3º ANO Assunto: MOVIMENTOS ARTÍSTICOS DO SÉC. XX
História da arte Módulo 5
A
Auullaa 88 Escultura do Pós-Guerra
Os escultores no pós-guerra trabalhavam nova forma de arte: a escultura em movimento.
com novos materiais, como sucata de metal, Dufuffet batizou as esculturas flutuantes de Calder
novas técnicas, como a solda, e novas formas, de "móbiles".
como colagens e móbiles. Embora a abstração Calder teve essa idéia quando, em visita ao
fosse um modo dominante, um traço principal da estúdio de Mondrian, viu os retângulos coloridos
arte era a experimentação. colados nas paredes e quis fazer "Mondrians se
mexendo", segundo ele. Conseguiu em 1932,
Moore: O mais famoso escultor da Inglaterra. usando discos e folhas de metal pintado de preto,
Henry Moore (1898 - 1986) se baseou claramente branco e cores primárias suspensos em arame e
no biomofismo dos surrealistas Jan Arp e Joan madeira. Dado que o conjunto se balançava ao
Miró e formas naturais de conchas, seixos e ossos. menor sopre de brisa, o resultado era uma
Os dos temas de que mais se ocupouem sua constante mudança de forma, que Calder apelidou
carreira foram as figuras reclinadas, mãe e filho e de "desenhos tetradimensionais". Em "Armadilha
família. Apesar de minimizar os detalhes da de Lagosta e História de Peixe", as formas nadam
superfície e de simplificar em demasia as formas, no espaço, realinhiando-se ao menor movimento
os amplos contornos das peças de Moore e do ar. Em 1953, Calder inventou o que Jean Arp
seminaturalistas, perfurados por buracos tão apelidou de stábiles, estruturas não-moventes em
importantes quanto as partes sólidas. aço, cujos planos de interseção brotam em pontos
Para descobrir formas sugestivas, Moore minúsculos no chão.
estudava artefatos, objetos anglo-saxões, Calder desejava que seu trabalho causasse
sumérios e pré-colombianos, do mesmo modo de surpresa e prazer. Enquanto a escultura era
estudava natureza. Seu objetivo não era a beleza, tradicionalmente maciça e pesada, a sua era
mas a forma da expressão. Outro princípio dele aberta e arejada. Ele era tão imprevisível quanto
era ser "honesto com o material". Quer sua obra. Certa vez, um amigo o surpreendeu
trabalhasse madeira, pedra ou bronze, Moore pintando em seu estúdio com um pedaço de
respeitava o veículo da obra. A figura parece algodão preso ao nariz com um pregador de roupa
emergir do material, o desenho se harmoniza com porque ele estava resfriado e não podia parar
a textura e veios naturais. assoar. Quando um visitante dogmático perguntou
como ele sabia que uma peça estava pronta,
Calder: desafio a gravidade. "O mínimo que se Calder responder: "Quando toca a sineta para o
pode esperar da escultura", disse Dalí, "é que jantar."
fique quieta”.O artista americano Alexander
Calder (1898 - 1976) discordou e inventou uma

Texto
Complementar Os Móbiles de Calder

Os móbiles de Calder (iniciados em 1932) consideração o peso de cada elemento dado —


atingem, em sua forma desenvolvida, um determinado quer por seu comprimento real, quer
equilíbrio delicado o bastante para ser perturbado pela força mecânica adicional resultante de um
e movimentado pelo vento, por correntes de ar disco metálico afixado a sua extremidade livre —
que percorrem o ambiente em que estão a fim de obter o conjunto de contrapesos
suspensos ou pelo toque de alguns de seus necessário para realizar a construção em toda a
observadores. A espinha dorsal, semelhante a um sua extensão. O observador percebe essa
filamento, de sua estrutura é composta por uma extensão do móbile como uma fatia livre a
cascata de vigas de arame em balanço, afixadas percorrer o espaço, uma amplitude visível
em um determinado ponto ao elemento linear resultante de sua estrutura lógica interna e não do
acima delas e, em outro, ao elemento deslocamento e da rigidez naturais de uma massa
imediatamente abaixo na cadeia. Para calcular sólida.
esses equilíbrios de dois pontos, Calder leva em
FABIO DE ARAUJO ARTE — 18
Além disso, o desenho de Calder assegura interceptarem em ângulos retos, isso para mim é
a capacidade de qualquer um desses braços uma esfera (...) o que produzo não é
lineares girar em relação aos demais, uma vez precisamente o que tenho em mente - mas uma
que o encadeamento inteiro é feito para se espécie de esboço, uma aproximação a fabricada".
movimentar. Pois o interesse de Calder é que, E é esse sentido gerado de volume que faz dos
uma vez em movimento — girando lentamente móbiles uma metáfora do corpo ao deslocar
em torno dos seus pontos de conexão —, esses espaço, mas um corpo esboçado agora pelo traço
setores isolados evoquem no conservador sentido linear do construtivismo em termos de uma
de volume virtual. O fato de essa criação de um surpreendente transparência.
volume aparente ser construtivista em sua raiz é Krauss, Rosalind E. Caminhos da escultura
denunciado pela afirmação de Calder de que moderna / Rosalind E. Krauss; tradução de Julio
"quando utilizo dois círculos de arame a se Fischer. — São Paulo: Martins Fontes, 1998

FABIO DE ARAUJO ARTE — 19

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