Mercúrio

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A FIT foi elaborada com informações básicas

Mercúrio e seus
sobre a substância química e os efeitos à saúde
humana na exposição ambiental. Vários fatores
influenciam os possíveis danos à saúde e a

compostos
gravidade dos efeitos, como a dose, a duração e
via de exposição e a presença de outras
substâncias, além das características do
indivíduo.

Identificação da substância
Símbolo: Hg
Nº CAS: 7439-97-6 (mercúrio elementar)

Descrição e usos
O mercúrio é um elemento metálico encontrado naturalmente no ambiente. Existe em 3 formas,
com diferentes propriedades, usos e toxicidades, denominadas: mercúrio elementar (metálico),
compostos inorgânicos de mercúrio e compostos orgânicos de mercúrio.
O mercúrio metálico é um líquido a temperatura ambiente usado em termômetro, amálgama
odontológico, lâmpada fluorescente, interruptor elétrico, mineração e em alguns processos
industriais. Os compostos inorgânicos de mercúrio são formados quando o mercúrio combina-se
com outros elementos, como cloro, enxofre e oxigênio, formando compostos ou sais, e podem
ocorrer naturalmente no ambiente. São usados em alguns processos industriais e na produção de
outras substâncias químicas. Também são usados em práticas religiosas e rituais, e para fins
medicinais. Os compostos orgânicos de mercúrio são formados quando o mercúrio combina-se
com carbono e são os mais importantes sob o ponto de vista toxicológico, sobretudo os que
contêm radicais de cadeia curta metil, etil e propil.
Os sais de mercúrio mais importantes são: cloreto de mercúrio (HgCl2); cloreto mercuroso
(Hg2Cl2), chamado calomelano, que foi empregado como purgativo e vermífugo; fulminato de
mercúrio Hg(CNO)2, utilizado como detonador em explosivos; e sulfeto de mercúrio (HgS),
pigmento vermelho muito utilizado até meados do século XX. Outros usos do mercúrio são como
conservante de vacinas, em cosméticos, em sabões clareadores e na forma de agrotóxicos. Esses
usos estão proibidos no Brasil, sendo apenas permitido o uso de mercúrio como antisséptico, na
forma de timerosal (etilmercúrio tiossalicilato de sódio) para conservação de algumas vacinas.
Em 2019, a Anvisa proibiu em todo o território brasileiro a fabricação, a importação e a
comercialização de mercúrio e do pó para liga de amálgama na forma não encapsulada indicados
para uso em odontologia, e também de termômetros e de medidores de pressão que utilizam
coluna de mercúrio para diagnóstico em saúde, assim como o uso desses materiais e
equipamentos em serviços de saúde, que devem realizar o descarte dos resíduos sólidos
contendo mercúrio, conforme as normas definidas na RDC nº 222/2018. Essas proibições são
resultados da Convenção de Minamata, tratado internacional que visa a eliminação do uso de
mercúrio em diferentes produtos como pilhas, lâmpadas e equipamentos para saúde, entre
outros, do qual o Brasil é signatário.
Comportamento no ambiente
O mercúrio é relativamente incomum na crosta terrestre e a sua liberação ocorre por processos
naturais (erosão e atividade vulcânica) e por mineração. As atividades antropogênicas são as
principais fontes de contaminação do ambiente. Uma vez liberado, o mercúrio permanece no
ambiente, onde assume diversas formas químicas.
As emissões para o ar ocorrem principalmente na forma de mercúrio elementar, que é muito
estável e pode permanecer na atmosfera por muito tempo, possibilitando seu transporte a longas
distâncias.
O vapor de mercúrio presente na atmosfera pode se depositar ou ser convertido na forma solúvel
retornando à superfície terrestre nas águas da chuva. O metal pode ser convertido novamente
em vapor de mercúrio e retornar à atmosfera, ou ser "metilado" por microrganismos presentes
nos sedimentos da água, se transformando em metilmercúrio (MeHg), o qual pode ser
bioconcentrado em animais e acumular-se na cadeia alimentar.
A distribuição do metal no solo depende do potencial redox, do pH, da drenagem e de outros
fatores. As formas metálicas e iônicas apresentam baixa mobilidade e, em grande parte, são
adsorvidas por diferentes humatos e minerais.

Exposição humana e efeitos na saúde


A exposição ao mercúrio pode ocorrer por inalação de vapores de mercúrio metálico em
ambientes ocupacionais, como consultórios odontológicos, fundições e locais onde houve
derramamento ou liberação de mercúrio. Quanto ao mercúrio inorgânico, a exposição é
ocupacional. No caso do mercúrio orgânico, a principal via de exposição humana é o consumo de
pescados (e mamíferos marinhos) contaminados por metilmercúrio (MeHg), que é uma das
formas mais tóxica do mercúrio. A maioria das pessoas tem quantidades-traço de mercúrio nos
tecidos, porém a quantidade de MeHg é a de maior interesse para a saúde humana já que é
rapidamente e muito absorvido (cerca de 95%) no trato gastrointestinal, sendo distribuído no
corpo e atravessando facilmente as barreiras placentária e hematoencefálica.
O consumo de grandes quantidades de MeHg durante semanas ou meses pode causar dano no
sistema nervoso, em áreas sensoriais e de coordenação, com o surgimento de formigamento nas
extremidades e ao redor da boca, falta de coordenação e diminuição do campo visual. Crianças
nascidas de mães contaminadas com MeHg apresentaram anormalidades no desenvolvimento e
paralisia cerebral. Cabe ressaltar que os riscos por consumo de pescados e mariscos dependem da
quantidade ingerida e dos níveis de mercúrio presentes nos organismos.
A inalação de altas concentrações de vapor de mercúrio metálico pode causar rápido dano aos
pulmões. A inalação crônica de baixas concentrações dos vapores pode produzir distúrbios
neurológicos, problemas de memória, erupções cutâneas e insuficiência renal.
A ingestão de grandes quantidades de determinados compostos inorgânicos de mercúrio pode
produzir irritação e corrosão no sistema digestivo. A ingestão ou a aplicação dérmica desses
compostos por longo período pode causar efeitos similares aos observados na exposição
crônica ao vapor de mercúrio metálico.
Entre 1920 e 1960 no Japão, uma fábrica produtora de compostos orgânicos, que usou
mercúrio metálico como agente catalítico em reações químicas, lançou mercúrio, incluindo
metilmercúrio e óxido de mercúrio, nas águas da Baía de Minamata. A poluição das águas
resultou em contaminação de moluscos e peixes por metilmercúrio e intoxicou moradores da
região que consumiram esses organismos.
Casos de intoxicações e mortes foram atribuídos à contaminação de produtos alimentícios em
razão do uso de fungicidas mercuriais empregados no tratamento de sementes que se
destinavam ao plantio. O episódio mais conhecido ocorreu no Iraque por consumo de pão feito
com grãos tratados com fungicida contendo principalmente metilmercúrio.
A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) classifica os compostos de metilmercúrio
como possíveis carcinógenos humanos (Grupo 2B). O mercúrio metálico e os compostos
inorgânicos de mercúrio não são classificáveis quanto a sua carcinogenicidade para o ser
humano (Grupo 3). Esta categoria comumente é usada para agentes para os quais a evidência
de carcinogenicidade é inadequada para o ser humano e inadequada ou limitada para animais
de experimentação.

Padrões e valores orientadores


Meio Concentração Comentário Referência
Solo 0,5 mg/kg* Valor de Prevenção CONAMA 420/2009
12 mg/kg* VI cenário agrícola- APMax
36 mg/kg* VI cenário residencial
70 mg/kg* VI cenário industrial
Solo 0,5 mg/kg* Valor de Prevenção Valores orientadores para
1,2 mg/kg* VI cenário agrícola- APMax solo e água subterrânea no
0,9 mg/kg* VI cenário residencial Estado de São Paulo-
7 mg/kg* VI cenário industrial CETESB- DD 256/2016/E
0,05 mg/kg* VRQ
Água potável 0,001 mg/L VMP (Padrão de PRC-5/2017, Anexo XX
potabilidade)
Água 1 µg/L VMP (consumo humano) CONAMA 396/2008
subterrânea 10 µg/L VMP (dessedentação)
2 µg/L VMP (irrigação)
1 µg/L VMP (recreação)
Água 1 µg/L VI Valores orientadores para
subterrânea solo e água subterrânea no
Estado de São Paulo-
CETESB- DD 256/2016/E
Meio Concentração Comentário Referência
Águas doces1 0,0002mg/L VM (classes 1 e 2) CONAMA 357/2005
0,002 mg/L VM (classe 3)
Águas salinas1 0,0002 mg/L VM (classes 1) CONAMA 357/2005
1,8 µg/L VM (classe 2)
Águas 0,0002 mg/L VM (classe 1) CONAMA 357/2005
salobras1 1,8 µg/L VM (classe 2)
Efluentes1 0,01 mg/L VM (Padrão de lançamento) CONAMA 430/2011

1Mercúrio total; VI = Valor de Investigação (CONAMA)/ Valor de intervenção (CETESB); *Peso seco;
APMAx = Área de Proteção Máxima; VMP = Valor Máximo Permitido; VM = Valor Máximo; LM = Limite
Máximo; VRQ = Valor de referência de qualidade; PRC-5 = Portaria de Consolidação nº 5.

Referências/Sites relacionados
KLAASSEN, C.D. (ed). Casarett and Doull’s Toxicology: the basic science of poisons. 8th ed. 2013.
1454 p.
OGA, S.; CAMARGO, M.M.A; BATISTUZZO, J.A.O. (eds). Fundamentos de Toxicologia. 4a edição.
São Paulo: Atheneu Editora, 2014. 685p.
AZEVEDO, F.A.; CHASIM, A.A.M. (eds). Metais: Gerenciamento da toxicidade. São Paulo:
Atheneu Editora, 2003. 554p.
AZEVEDO, F.A. Toxicologia do mercúrio. São Paulo: Editora RIMa/InterTox, 2003. 272p.
http://www.iarc.fr/
http://www.epa.gov/
http://www.who.int/en/
http://www.anvisa.gov.br/
http://www.atsdr.cdc.gov/
http://www.mercuryconvention.org/
http://www.mma.gov.br/
http://www.mma.gov.br/conama/
http://www.cetesb.sp.gov.br/
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prc0005_03_10_2017.html

Divisão de Toxicologia Humana e Saúde Ambiental

Julho de 2012
Atualizado em novembro de 2020

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