Livro Teórico Vol. 1 - Geografia

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Coleção Vincere

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Direitos desta edição: Hplus Sistema de Ensino, São Paulo, 2023
Todos os direitos reservados à Editora Hplus.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal, Lei 9.610 de 19 de fereveiro de 1998.
ISBN 978-65-84672-34-5

Autores
Arnaldo Hiroyuki Jeronymo Hidani
Eduardo Klein

Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista

Diretor Operacional
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Coordenadora-geral
Emanuela Amaral

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Conhecendo o
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Caro aluno

O HPLUS contém uma exclusiva metodologia educacional em período integral e o Estudo Ativo, que torna o aluno protago-
nista de seu processo de aprendizagem, participando ativamente da construção e do desenvolvimento do conteúdo programáti-
co. O Sistema de Ensino HPLUS prioriza, em seu material, abordagens totalmente contemporâneas e completas, com conteúdos
compactados e exclusivamente direcionados. O material é composto por uma coleção de 52 exemplares, sendo eles: 16 cadernos
de Estudo Individualizado, 4 revisões intercaladas e 32 livros de teoria, conteúdo transversal e organizado por aulas temáticas que
atendem às especificidades dos alunos. Além disso, para aprimorar a aprendizagem, o conteúdo dispõe de seções cujas finalidades
serão apresentadas a seguir:

Ocorrência dos Conteúdos nos Vestibulares Descobrindo Agora

A seção Ocorrência de conteúdos nos vestibulares é uma Na intenção de romper uns dos principais paradigmas do mun-
seção desenvolvida para que o aluno possa obter, de forma prá- do acadêmico, a seção Descobrindo agora busca aproximar o
tica e objetiva, os dados a respeito da incidência dos temas da conhecimento que se constrói nas universidades de suas apli-
disciplina dentro dos principais vestibulares de Medicina do país. cações cotidianas. Esse movimento permite que o aluno possa
ter contato com o conteúdo estudado em suas práticas do dia
a dia, evitando que se construa uma distância entre o objeto de
estudo e aquele que o estuda, destravando eventuais bloqueios
no processo de aprendizagem.
Desenvolvimento Teórico

Aplicações Práticas
Todo conhecimento possui uma frente prática e outra teórica.
Na seção Desenvolvimento teórico, o aluno encontrará textos
didáticos, completos e organizados para que seja possível for-
mular, aprimorar e desenvolver o seu conhecimento conceitual
Pensada especialmente para as disciplinas das áreas de Ciên-
a respeito dos assuntos. Além dos textos, imagens ilustrativas,
quadros e organogramas compõem, de forma organizada, em cias da Natureza e Matemática, a seção Aplicações práticas
cores e hierarquias, a teoria deste material. busca apresentar modelos de exercícios didaticamente resolvi-
dos e comentados. Desse modo, aquilo que antes era abstrato e
de difícil compreensão ao aluno, agora se mostra, passo a pas-
so, claro e elucidado.

Multiplataformas

Interdisciplinaridade
A seção Multiplataformas é cuidadosamente pensada para
que, ao longo de todo o material teórico, o aluno possa manter-
-se em contato com diferentes abordagens do conteúdo. Desse Como movimento geral do globo terrestre, é válido pontuar que
modo, vídeos, músicas, poemas, artigos, filmes, livros, entre as zonas de fronteiras entre assuntos e pessoas são cada vez
outras plataformas nas quais o conhecimento pode ser ampara- mais passíveis de serem compreendidas como um campo de
do, são indicados ao estudante como forma de suporte às suas construção coletiva. Dessa forma, os principais vestibulares do
práticas de estudos. país têm se atentado à elaboração de questões interdisciplina-
res e, por isso, a seção Interdisciplinaridade é cuidadosamente
pensada para estabelecer pontos de convergência entre as dis-
ciplinas estudadas ao longo do curso.

Mapeando o saber
Campos e Habilidades do ENEM

A seção Mapeando o saber considera que cada indivíduo A seção Campos e habilidades do ENEM foi pensada para que
tem a sua própria maneira de aprender. Por isso, a seção o aluno possa conhecer as múltiplas habilidades e competên-
constrói um mapa mental a respeito do conteúdo abordado cias abordadas no principal exame avaliativo do país. Por isso,
no capítulo, de modo que os conhecimentos possam ser sis- dentro do material, o aluno encontrará comentários a respeito
tematizados de forma visual, fomentando, através de fluxo- dos critérios avaliativos da prova, bem como as principais habili-
-gramas, processos cognitivos que possam garantir a apren- dades que o exame costuma trabalhar. Esse recurso permite ao
dizagem. Assim, a seção funciona como um guia prático e estudante compreender os processos internos de avaliação a
compilado dos conceitos trabalhados durante a aula. que ele será submetido.
Ocorrência dos
Conteúdos nos
Vestibulares

Esses são temas que o Enem adora explorar, e


nessas questões podem aparecer de tudo: As últimas provas mostraram um domínio de
textos-base, mapas e gráficos, principalmente conteúdo relacionado, principalmente, a fuso
aqueles que chamam atenção para situações horário e noções de cartografia, além de trazer
do cotidiano. elementos do clima e fatores climáticos.

Os temas abordados neste caderno são Os candidatos precisam explorar os


pedidos com frequência nas provas da temas desta frente e relacioná-los às
FUVEST. É muito importante que o aluno questões regionais, pois é assim que os
compreenda bem os conceitos de exercícios costumam aparecer.
localização e cartografia.

A Unicamp costuma abordar esses temas Clima é um tema certeiro nas provas
em seus vestibulares com o auxílio de da Federal do Paraná. Estudar bem os
mapas e esquemas, para que o aluno conceitos e aplicá-los em escala local é
raciocine para além do enunciado. a chave para um bom resultado.

Este vestibular explora os temas desta Este vestibular não apresenta em seu
frente de maneira bastante tradicional, edital mais recente e nem exige nas
principalmente no que tange a cartografia, provas dos últimos vestibulares questões
em que as projeções cartográficas são relacionadas à disciplina de Geografia.
recorrentes nas provas.

Pede em seus exercícios os principais


A UERJ é um vestibular que utiliza muitos
conceitos, utilizando, muitas vezes,
mapas, principalmente em questões
textos-base para sua resolução. É vital que
discursivas. Para um bom desempenho
o aluno não fuja do texto, pois a Unesp
nas provas, o aluno não pode deixar de
quer saber se o candidato compreendeu
exercitar leituras e exercícios com mapas.
por que aquele texto foi escolhido.

Embora as provas versem sobre assuntos


da atualidade, os temas desta frente Essa prova é bastante tradicional e conteudista,
aparecem ocasionalmente, apresentando orientada para todos os temas desta frente, ou
um nível médio de dificuldade e sempre seja, astronomia, cartografia e clima estão
com material de apoio, como mapas e sempre presentes.
gráficos.

O vestibular Souza Marques apresentou,


As questões não apresentam surpresas, nos últimos anos, uma tendência a inserir
principalmente quando se trata de geografia questões relacionadas à geografia física
física, como climatologia, que aparece em de forma bem equilibrada. Observa-se
quase todas as provas. uma concentração de temas sobre os
elementos do clima e fatores climáticos.

Essa prova presa sempre pela


objetividade com relação aos temas
desta frente, na qual cartografia e
clima merecem destaque especial.
MATRIZ DE REFERÊNCIA DO ENEM

Compreender os elementos culturais que constituem as identidades


Competência 1

H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.

H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.

H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos.

H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.

H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.

Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais
de poder.
Competência 2

H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.

H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.

H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial.

Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10 histórico-geográfica.

Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos difer-
entes grupos, conflitos e movimentos sociais.
Competência 3

H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.

H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.

H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.

Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica
H14 acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.

H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.

Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento
do conhecimento e na vida social.
Competência 4

H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.

H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.

H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.

H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.

H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.

Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, medi-
ante a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e re-
Competência 5

cepção.
H21 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.

H22 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.

H23 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.

H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.

H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.

Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos
e geográficos.
Competência 6

H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e(ou) geográfi-
H27
cos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações
H29
humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Big Bang
Movimentos da terra Esta gigantesca explosão, que ocorreu entre 15 e 10 bilhões de anos
atrás, é chamada Big Bang. Toda matéria que existe formou-se em
uma fração de segundo, em um espaço infinitamente pequeno, e es-
tendeu-se a uma velocidade incrível, de maneira simultânea. À medi-
da que o Universo se expandia, as temperaturas extremamente altas
Geografia 1 AULAS: 1 e 2 da matéria expelida diminuíam. Com esse resfriamento, as diminutas
partículas fundamentais se combinaram e formaram prótons e nêu-
trons, que por sua vez formaram os átomos dos gases hidrogênio e
Competência(s): 2 Habilidade(s): 6 hélio. Esses gases formam na atualidade a maior parte do Universo.
Segundo estudos atuais, o Universo continua se expandindo. Talvez
um dia esse movimento possa se deter, ocorrendo uma contração
final, chamada pelos cientistas de Big Crunch.

A escala do Universo
1. Introdução Nós estamos em algum ponto desta gigantesca estrutura que se
expande. Ao olharmos em direção ao exterior do nosso planeta, po-
Compreender o planeta Terra passa necessariamente demos ver que o Universo é formado por estruturas sucessivamente
pelo entendimento das relações estabelecidas entre ela e o maiores.
A Terra é um dos oito planetas que gravitam em torno do Sol, e o
espaço sideral. É o caso, por exemplo, do Sistema Solar. Dos
Sol é uma das duzentas bilhões de estrelas na galáxia da Via Láctea.
oito planetas que o formam, a Terra é o quinto maior em A Via Láctea é um membro extenso de um cúmulo (aglomerado de
extensão, além de ser o terceiro mais próximo do sol, esse galáxias) conhecido como Grupo Local, que, por sua vez, é membro
situado a cerca de 150 milhões de quilômetros de nós. Entre- do Supercúmulo Local (um dos aproximadamente cinquenta cúmulos
que formam, em conjunto, a maior estrutura conhecida do Universo).
tanto, o valor é uma média: a distância entre a Terra e o sol
varia ao longo de determinados intervalos de tempo, como O Sistema Solar
durante um ano. É composto pelo Sol e todos os corpos celestes que orbitam ao seu
redor, que incluem oito planetas e seus respectivos satélites naturais
(como é o caso de nossa Lua), os planetas-anão (Plutão, Ceres, Ma-
kemake, Haumea e Eris) e seus satélites, bem como os asteroides,
cometas e outras incontáveis partículas.
Fonte: IBGE. Disponível em: https://atlasescolar.ibge.gov.br/a-terra/
nosso-planeta-no-universo

2. Movimentos da Terra
A Terra encontra-se em constante deslocamento em re-
Tal dinâmica é um ponto central para a ocorrência de lação a diferentes referenciais. Desses movimentos, quatro
uma série de fenômenos como os ciclos das estações e os dinâmicas básicas são identificadas:
padrões de incidência de luz solar sobre o planeta, além do • movimento de rotação terrestre
próprio tempo cronológico também depender de outras va-
• movimento de translação terrestre
riáveis que envolvem o comportamento da Terra em relação
ao espaço. • movimento de nutação terrestre
• movimento de precessão dos equinócios
Outros exemplos são o movimento da Terra em torno do
centro da Via Láctea e o movimento contínuo dos polos. Além
deles, há também os movimentos executados pela Lua que
são percebidos, como é o caso da libração e revolução
Apesar dessas divisões, do ponto de vista científico, é
possível enxergá-las como componentes de um único e gran-
de movimento terrestre.

9
Geografia

2.1 Movimento de rotação mente a organização das atividades humanas. Ela também
repercute nas circulações atmosférica e oceânica, interferin-
do no comportamento dos ventos e das correntes marítimas,
respectivamente. O formato geóide da Terra, marcado pelo
achatamento das áreas polares em oposição ao Equador
mais dilatado, é uma outra consequência de um giro cons-
tante em rotação.

2.2. Movimento de translação

A rotação terrestre corresponde ao movimento do plane-


ta em torno de si mesmo, ou seja, ao redor do eixo terrestre,
uma linha imaginária entre o polo norte e o polo sul. A Terra
leva 23 horas, 56 minutos, 4 segundos e 9 décimos para com- Um segundo movimento terrestre corresponde à trans-
pletar essa volta, um período denominado dia sideral e que é lação. Ela consiste em uma volta completa em torno do sol,
um pouco menor em relação ao dia solar, com 24 horas. um percurso denominado órbita e que se apresenta na forma
A diferença entre os dois está no referencial adotado. O de elipse, isto é, uma trajetória oval, com as extremidades
dia solar leva em consideração o movimento aparente do sol, mais achatadas. A Terra leva 365 dias, 5 horas, 48 minutos
observado a partir de um meridiano local, na Terra. Já o dia e 46 segundos para completar a translação. A esse intervalo
sideral corresponde à rotação terrestre em relação a outros denomina-se ano sideral e não deve ser confundido com o
astros, um giro que ocorre de oeste para leste. ano solar, que equivale a 365 dias.
Assim, o movimento da Terra ocorre no sentido contrário A pequena diferença de seis horas aproximadas entre os
ao da trajetória solar no dia-a-dia, do leste (nascente) para o dois períodos não é ignorada, contudo. A cada intervalo de
oeste (poente). quatro anos solares, o valor delas, somado, equivalerá a 24
horas, ou seja, um dia completo. Logo, a translação tem como
uma das consequências a ocorrência dos anos bissextos, com
Interdisciplinaridade um total de 366 dias e assinalados de quatro em quatro anos.
O dia a mais obtido nessas circunstâncias é 29 de fevereiro.

A razão disso é o fato do planeta, com uma massa 330 vezes


menor que a do sol, rotacionar-se, e não a estrela, o que dá o
2.3. Periélio e afélio
sentido de aparente para o “movimento" solar.
No caso do Sol, aparentemente ele quem está se movimen-
tando por causa do referencial e por estarmos dentro do pla- Periélio e Afélio
neta terra.

Sol
A velocidade média da rotação é de 1.666 km/h ou Terra - 5 de Julho Terra - 5 de Janeiro

465,1 m/s, um valor que se altera à medida em que se afasta


da Linha do Equador, onde o planeta apresenta o seu maior
raio. Dessa forma, quanto maior a latitude menor será a ve-
Afélio Periélio
locidade de rotação: nos polos Norte e Sul, ela é considerada
nula.
A principal consequência do movimento de rotação é a
sucessão entre os dias e as noites, o que influencia direta-
10
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

O movimento de translação do planeta Terra não é exata- Quatro pontos do trajeto de translação são significativos
mente circular, pois é em elipse, mas a diferença do momento ao longo do ano: dois solstícios e dois equinócios. Os dois
mais distante e mais perto é bem pequena. O periélio repre- equinócios são os momentos nos quais os raios solares inci-
senta a menor distância entre a Terra e Sol durante a trans- dem perpendicularmente no equador. Dias 21 ou 22 de mar-
lação. Essa condição também é aplicada aos demais corpos ço e 23 de setembro são datas que marcam, respectivamente,
celestes que também orbitam a estrela e é durante o mês de o início do outono e da primavera no Hemisfério sul e o início
janeiro que a Terra atinge o periélio. Na data do fenômeno, da primavera e do outono no Hemisfério norte. É, nesta exata
que varia entre os dias 4 e 7, o planeta estará a pouco mais data, que tanto o dia quanto a noite têm a mesma duração.
de 147 milhões de quilômetros do sol. Além disso, a menor Já os solstícios são os momentos nos quais os raios sola-
proximidade também coincide com a maior velocidade obtida res incidem perpendicularmente sobre um dos trópicos. Eles
pelo planeta durante a translação. ocorrem em 22 de junho, no Trópico de Câncer (no hemisfé-
Já o afélio, que ocorre entre 4 e 7 julho, corresponde rio norte), e em 21 de dezembro, no Trópico de Capricórnio
ao ponto de maior distância que a Terra atinge em relação (hemisfério sul). Essas duas datas marcam, respectivamente,
ao sol: 151,1 quilômetros. Na data do fenômeno, o planeta o início do inverno e do verão no hemisfério sul, e o início do
encontra-se com a menor velocidade de órbita. Logo, pode-se verão e do inverno no hemisfério norte. No dia de solstício,
dizer que a Terra aumenta a velocidade entre o afélio e o os raios solares tangenciam um dos polos, fazendo com que
periélio, mas desacelera-se no caminho oposto, entre o ponto este tenha 24 horas de luz e o outro 24 horas de escuridão.
mais próximo e o mais afastado do sol. As quatro estações se distribuem ao longo de doze me-
O principal desdobramento do movimento de translação ses, durando, aproximadamente, 90 dias. Em cada uma delas,
é o ciclo das estações: primavera, verão, outono e inverno. o padrão de incidência solar será diferenciado. Os solstícios e
No entanto, essa alternância também está condicionada a os equinócios representam os momentos mais significativos
outro importante fator: a obliquidade ou inclinação do eixo dessa variação.
terrestre, a 23º 27’, em relação ao plano formado pela órbita. Nesse sentido, os solstícios estabelecem os períodos de
O ângulo faz com que o plano da órbita - também chamado maior desigualdade, coincidindo com o verão e o inverno.
de elíptica - não coincida com o plano do equador, levando a Nessas ocasiões, os raios de sol vão incidir perpendicular-
luz solar a atingir a Terra de forma desigual ao longo do ano. mente sobre um dos trópicos, o que acontece em duas datas:
Tal diferença na luminosidade provocada pela inclinação
• 21 de junho: solstício de verão para o Hemisfério Norte.
do eixo e das diferentes posições do planeta em relação ao
A incidência perpendicular ocorre sobre o Trópico de Câncer
sol, durante a translação, responde pelas estações. Ao longo
(23º 27’ N), distribuindo uma maior radiação e luminosidade
de um ano, os hemisférios Norte e Sul podem estar ou igual
nesse hemisfério, sendo o período claro maior que o escuro.
ou desigualmente iluminados pelo sol. As datas em que esses
Ao mesmo tempo, o Hemisfério Sul passará pelo solstício de
fenômenos acontecem marcam o início das estações e corres-
inverno, com menor exposição aos raios solares, o que faz
pondem aos equinócios e aos solstícios.
com que a noite dure mais tempo que o dia.
• 21 de dezembro: solstício de verão para o Hemisfério Sul.
2.4 Ciclo das estações Os raios solares incidem a 90º sobre o Trópico de Capricórnio
Março - Equinócio
(23º 27’ S), iniciando o período de maior exposição ao sol
pela porção sul da Terra. O Hemisfério Norte, por sua vez,
registrará o solstício de inverno, com a menor incidência dos
raios de sol.
Já os equinócios representam as datas em que ambos
hemisférios receberão um mesmo padrão de incidência solar,
ou seja, a igualdade na iluminação. Correspondem às datas
Junho - Solstício
Dezembro - Solstício
em que os raios solares incidem perpendicularmente na Linha
do Equador (0º):

Setembro - Equinócio
• 21 de março: equinócio de outono para o Hemisfério Sul e,
em paralelo, equinócio de primavera para o Hemisfério Norte.
As estações do ano têm duração aproximada de três me-
Ao longo desse dia, as duas porções terrestres terão 12 horas
ses. A Terra recebe variadas quantidades de radiação solar
de luminosidade e 12 de escuridão, totalizando 24 horas.
por conta da sua inclinação e da sua órbita ao redor do Sol.
Assim, existem diferentes estações ao longo do ano, o que • 23 de setembro: equinócio de primavera para o Hemisfério
influencia diretamente o tipo de vegetação e o clima de todas Norte e equinócio de outono para o Hemisfério Sul, respec-
as regiões da Terra. tivamente. As horas sob luz e escuridão totalizam 12h cada,
mais uma vez para os dois hemisférios.

11
Geografia

Multiplataformas: Vídeo Descobrindo Agora


Estações do ano (vídeo aula de geografia)

“O meganavio que encalhou e bloqueou o Canal de Suez por


seis dias voltou a navegar por volta das 10h30 desta segun-
da-feira (29) na principal ligação marítima entre a Ásia e a
Europa, por onde passam cerca de 12% de todo o comércio
global.”

“A SCA anunciou mais cedo que havia conseguido empurrar


a popa do Ever Given de 4 metros da margem do canal para
102 metros após 'manobras de empurrar e de reboque bem-
-sucedidas que levaram à restauração de 80% da direção da
2.5. O fenômeno do sol da meia-noite embarcação'.
A administradora do canal também afirmou que ia aproveitar
a maré alta para terminar as manobras, 'permitindo a restau-
Além de marcar a maior desigualdade em termos de inci- ração total da direção da embarcação para que ela seja posi-
dência de raios solares, os solstícios estão associados a outro cionada no meio da hidrovia navegável'.”
curioso fenômeno natural: o sol da meia-noite. Frequente nas Fonte: Notícia/texto retirado de: https://g1.globo.com/mundo/
altas latitudes, ou seja, ao norte do Círculo Polar Ártico (66º noticia/2021/03/29/navio-encalhado-no-canal-de-suez-volta-
33’ N) e ao sul do Círculo Polar Antártico (66º 33’ S), o sol da -a-flutuar-apos-seis-dias.ghtml
meia-noite ou dia polar tem início dos dias que antecedem
o solstício de verão. Ele equivale ao sol visível por 24 horas:
Ao deslocar-se em torno do planeta, a Lua atrai a Terra,
em outras palavras, mesmo durante o período da noite, o sol
que, ao mesmo tempo, gira ao redor do sol, criando uma in-
permanece iluminando essas áreas da Terra. A estrela man-
teração entre os três corpos celestes. Entretanto, será a mo-
tém-se em uma posição próxima à linha do horizonte sem se
vimentação mútua da Lua e da Terra que vai responder pela
pôr por até três meses.
maior intensidade das forças nesse sistema, impactando dire-
Entretanto, como o sol da meia noite ocorre em meio ao
tamente no comportamento dos oceanos. À medida em que
solstício de verão e no hemisfério mais exposto ao sol, a outra
a Terra rotaciona-se de oeste para leste, a circulação marítima
porção da Terra, que estará sob o Inverno, vivenciará o fenô-
sofre os efeitos da atração gravitacional e desenvolve um pa-
meno oposto: a noite polar. Sob essas condições, o sol não
drão característico: duas marés altas e duas marés baixas a
fica exposto pelo mesmo período do dia polar. Quanto maior
cada 24 horas.
a latitude, maior o número de dias sob escuridão.
Fases da Lua
2.6. A influência da Lua na Terra
A Terra é o único planeta do Sistema Solar a ter apenas
Nova Crescente
um satélite natural, a Lua. Com um diâmetro 25% menor que
o do planeta, ela o orbita a uma distância média de 394.400
quilômetros. O satélite leva aproximadamente 30 dias para
completar o giro, ocupando diferentes posições em relação à Cheia Minguante

Terra. Isso resulta em um padrão próprio da iluminação lunar


pelo Sol: são as chamadas fases da Lua ou ciclo lunar. Entretanto, a maior percepção da alternância entre as
Essa dinâmica se relaciona a um dos principais efeitos marés associa-se a determinadas fases da Lua, com a seguin-
da interação terrestre-lunar, a variação das marés oceânicas. te distribuição:
A causa está ligada à atração gravitacional existente entre o
planeta e o satélite, combinada ainda ao Sol. A estrela, con-
tudo, atua com uma menor participação no jogo de forças • Lua Nova: caracterizada por não ser visível da Terra
pelo fato de estar mais distante tanto da Lua quanto da Terra. pelo fato de o Sol iluminar o lado oculto do satéli-
te, a Lua Nova marca um alinhamento entre os três
corpos celestes. Isso favorece a distribuição da for-
ça gravitacional que é somada. O resultado é a ocor-
rência de marés altas ou marés de sizígia.
• Lua Crescente: na fase seguinte à Lua Nova, o sa-
télite se desloca a leste do Sol, estabelecendo um

12
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

ângulo de 90º entre eles. O não alinhamento conse- A primeira, que nasce na metade do dia, mantém-se no céu
quente reduz a atuação das forças gravitacionais, o até à meia-noite. A segunda, por sua vez, é visível durante a
que provoca marés baixas ou marés de quadratura. madrugada e o período da manhã.
• Lua Cheia: subsequente à fase Crescente, a Lua
Cheia apresenta-se completamente visível na face
iluminada pelo Sol. Essa configuração marca um Campos e Habilidades do ENEM
novo alinhamento entre ele, o satélite e a Terra.
Como consequência direta, as forças voltam a se so-
mar: ocorre uma nova maré alta ou maré de sizígia.
HABILIDADE 6
• Lua Minguante: assim como na fase Crescente, a Interpretar diferentes representações gráficas e carto-
Lua Minguante está parcialmente iluminada pelo gráficas dos espaços geográficos.
Sol, pois está deslocada a oeste do satélite, confi-
gurando um novo não alinhamento. Com ângulos
EXEMPLO
distintos entre os astros, as forças gravitacionais
se reduzem. É um novo período de maré baixa ou (Enem) Quando é meio-dia nos Estados Unidos, o Sol,
maré de quadratura. todo mundo sabe, está se deitando na França. Bastaria ir
à França num minuto para assistir ao pôr do sol.
SAINT-EXUPÉRY, A. O Pequeno Prínci-
pe. Rio de Janeiro: Agir, 1996.

A diferença espacial citada é causada por qual carac-


terística física da Terra?
a) Achatamento de suas regiões polares.
b) Movimento em torno de seu próprio eixo.
c) Arredondamento de sua forma geométrica.
d) Variação periódica de sua distância do Sol.
e) Inclinação em relação ao seu plano de órbita.
COMENTÁRIO
é Como mencionado corretamente na alternativa [B],
a diferença horária indicada na citação do enunciado
resulta do movimento de rotação da Terra, responsável
Vale ressaltar que a distribuição dos efeitos das marés pela sucessão de dias e noites e pelo sistema de fusos
não é a mesma pelos oceanos e mares abertos, uma vez que horários. Estão incorretas as alternativas: [A], porque
outros fatores se complementam na circulação marítima. É o o achatamento das regiões polares explica a forma de
caso do formato dos litorais, das diferenças de profundidade geoide da Terra; [C], porque o arredondamento da forma
e o atrito entre a movimentação das águas e a superfície em geométrica da Terra explica a diferente insolação na su-
função da rotação do planeta. Além da influência sobre as perfície do planeta; [D], porque a variação periódica de
marés, o ciclo lunar também está associado a diferenças na sua distância ao Sol está relacionada ao movimento de
visibilidade da Lua durante um dia. translação; [E], porque a inclinação do eixo com relação à
Embora o satélite esteja permanentemente no céu, será eclíptica explica as estações do ano.
o padrão de iluminação pelo Sol e o ângulo dos raios sola- RESPOSTA: ALTERNATIVA B
res que vão estabelecer o quão visível a Lua estará para um
observador na Terra. A Lua Nova, por exemplo, não pode ser
vista nem durante o dia e nem durante a noite em função de
o sol incidir sobre o lado oculto do satélite. Por outro lado,
durante a Lua Cheia, a face dela voltada ao sol torna-se com-
pletamente iluminada, ficando visível durante a noite.

Já as fases sob iluminação parcial, ou seja, as luas Cres-


cente e Minguante, são observáveis em períodos distintos.
13
Mapeando o saber
Geografia

14
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

A definição do meridiano inicial (0º) ocorreu por meio de


Coordenadas Geográficas uma convenção realizada em 1884 e recaiu sobre o distrito
e fuso horário de Greenwich, nas proximidades de Londres, Reino Unido,
onde está localizado o Observatório Astronômico de Green-
wich. É a partir dele, portanto, que ocorre a contagem dos
Geografia 1 AULAS: 3 e 4
meridianos subsequentes situados a leste e a oeste.
Nesse sentido, o meridiano inicial divide a Terra em dois
hemisférios, o Ocidental e o Oriental. Ambos equivalem às
Competência(s): 2 Habilidade(s): 6 porções oeste e leste, respectivamente. Tais linhas se distri-
buem pelos dois hemisférios até atingirem o meridiano 180º
ou antimeridiano, localizado, na maior parte, sobre o Oceano
Pacífico. Quando totalizadas, as duas metades completam a
circunferência terrestre de 360º.
1. Coordenadas geográficas
1.2. Meridianos
O mapeamento terrestre pode ser considerado uma ne-
cessidade e, ao mesmo tempo, um instinto humano. O sim-
ples ato de localizar-se e o de orientar-se refletem a capaci-
dade do homem em adquirir e processar espacialmente as
informações.
A produção de mapas é resultado direto desse contexto.
Ela evidencia a habilidade de as sociedades representarem e
reproduzirem graficamente o mundo. Dessa forma, o mapea-
mento surge em paralelo ao advento da escrita, possibilitan-
do o registro de ideias, percepções e perspectivas espaciais.

1.1. Meridianos

Por sua vez, os paralelos representam as linhas imaginá-


rias que percorrem a terra no sentido oeste-leste, formando
círculos completos no globo terrestre. A Linha do Equador
(0º) corresponde ao paralelo inicial e serve de referência para
os demais. Qualquer ponto nela situado estará a uma mesma
distância dos polos, uma vez que o marco zero divide a Terra
nos hemisférios Norte e Sul.
Consequentemente, os paralelos se estabelecem entre 0º
e 90º ao norte e ao sul do Equador. Os valores equivalem ao
ângulo formado entre as respectivas linhas imaginárias e o
paralelo inicial, levando em consideração o centro do planeta.
Quatro paralelos se destacam como notáveis. É o caso
do Trópico de Câncer, situado a 23º 27’ Norte, e o Trópico
de Capricórnio, a 23º 27' Sul. Eles representam os últimos
Os meridianos constituem linhas imaginárias que atra- paralelos em que o sol incide perpendicularmente, durante
vessam a terra de norte a sul e vice-versa, conectando os dois os solstícios de verão. O Círculo Polar Ártico, a 66º 33’ Norte,
polos. Vistos na perspectiva do globo, eles formam semicírcu- e o Círculo Polar Antártico, que encontra-se a 66º 33’ Sul,
los ou meias circunferências. também se sobressaem.

15
Geografia

1.3. Latitude e longitude


Multiplataformas: Vídeo
Zonas térmicas
Multiplataformas: Vídeo
Latitude e longitude (vídeo aula de geografia)

Denomina-se zona a região situada entre dois paralelos


distintos. Nesse sentido, as zonas de iluminação representam
divisões na superfície terrestre delimitadas por diferentes lati-
tudes e marcadas por alterações na temperatura.
Tais diferenças ocorrem em função das condições de ex-
posição ao sol, ou seja, diferenças no ângulo de incidência
solar em relação à superfície terrestre. As variações na curva-
tura do planeta presentes entre o Equador e os polos interfe-
rem diretamente na inclinação dos raios solares.
Logo, as áreas mais próximas ao paralelo inicial recebem
incidência solar vertical ou perpendicular. Como consequên-
cia, a radiação se torna mais concentrada e eleva as tempe-
raturas.
As linhas imaginárias servem de referência para as coor- Nas latitudes subsequentes, situadas entre os trópicos e
denadas geográficas. Em outras palavras, os paralelos e os os círculos polares, os raios de sol não conseguem interceptar
meridianos vão designar as duas dimensões que formam uma a superfície terrestre em um ângulo reto, o que reduz gra-
coordenada: as latitudes e as longitudes. dativamente o aquecimento. A esse intervalo, denomina-se
A latitude representa a distância, em graus, da Linha do médias latitudes.
Equador. O valor oscilará entre 0° e 90° ao norte ou ao sul. Já nas proximidades dos polos, a altas latitudes, a maior
Já a longitude diz respeito à distância, igualmente em curvatura do planeta força a incidência solar a distribuir-se
graus, entre um ponto sob um meridiano e o Meridiano de por uma área maior. A radiação torna-se mais difusa nessas
Greenwich. Essa coordenada tem valores que variam de 0° a condições e a temperatura permanece baixa em decorrência
180°, distribuídos a oeste ou a leste. da menor concentração de calor.
Dessa maneira, as zonas de iluminação são organizadas

2. Zonas de iluminação da seguinte forma:

I. Zona Tropical - presente em baixas latitudes e delimitadas


pelo trópicos de Câncer e de Capricórnio (23º 27' N a 23º
27’ S)
II. Zona Temperada - presente em médias latitudes e deli-
mitadas pelo trópicos e os círculos polares, distribuindo-se
nos dois hemisférios:
A Zona Temperada do Norte está disposta entre o Trópi-
co de Câncer (23º 27' N) e o Círculo Polar Ártico (66º 33’ N)
A Zona Temperada do Sul está disposta entre o Trópi-
co de Capricórnio (23º 27' S) e o Círculo Polar Antártico (66º
33’ S)
III. Zona Glacial- presente em altas latitudes e delimita-
das pelos círculos polares e os polos, distribuindo-se nos dois
hemisférios:

16
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

A Zona Glacial do Norte ou Ártica está disposta entre o Círculo Polar Ártico (66º 33’ N) e o polo norte (90º N)
A Zona Glacial do Sul ou Antártica está disposta entre o Círculo Polar Antártico (66º 33’ S) e o polo sul (90º S)

Zona Polar Zona Moderada Zona Tropical Zona Equatorial

Zonas Subárticas Zona Subtropical Zona Árida

3. Fuso horário representa a referência para a mudança de dias e se estende


por trechos da longitude 180º, o chamado antimeridiano e
está representada em vermelho no mapa a seguir.
As diferenças horárias verificadas no mundo decorrem do
fato de o sol não conseguir iluminar toda a Terra ao mesmo
tempo.
O estabelecimento de uma hora padrão para o sistema
ferroviário do Reino Unido, na década de 1840, foi uma das
primeiras tentativas de se organizar uma referência horária
nacional, substituindo os horários locais. Já a proposta de se
organizar um sistema mundial de contagem de horas veio
pouco tempo depois. Em 1884, a Convenção do Meridiano,
realizada em Washington, nos Estados Unidos, resultou na
criação dos fusos horários. Nesse acordo internacional, a cir-
cunferência terrestre foi dividida pelas 24 horas que formam
um dia solar. O resultado são 15º (quinze graus) e correspon- Conforme a regra, as áreas situadas a oeste dessa linha
de à extensão de um fuso horário, equivalente a uma hora. estarão um dia à frente em relação àquelas localizadas a les-
Ao girar de oeste para leste, portanto, a Terra percorre 15º em te da LID, onde, exatamente, será o dia anterior. Em outras
uma hora ou 60 minutos. palavras, se dois observadores estiverem em lados opostos da
Levando em consideração o movimento de rotação (sen- Linha Internacional de Data, aquele que encontra-se a oes-
tido oeste-leste, ou seja, anti-horário) terrestre, ficou estabe- te e em uma segunda-feira verá que o outro, a leste, ainda
lecido que os fusos horários a leste do Meridiano de Green- estará no domingo. Em suma, ao atravessar a linha de leste
wich teriam horas adiantadas. Assim, para os fusos situados para oeste você voltará no tempo em 1 dia; já ao atravessar
a oeste do meridiano inicial, as horas seriam atrasadas em a linha de oeste para leste, ao invés de mudar 1 hora, será
relação ao Horário de Greenwich. aumentado em 1 dia do calendário.
Outra medida estabelecida pela Convenção do Meridia-
no foi a definição da Linha Internacional de Data (LID). Ela

17
Geografia

3.1. Fuso horário legal Agora que já temos a distância em graus de uma cidade
a outra, é necessário saber quantos fusos horários têm entre
Apesar de os meridianos servirem de limite para os fu- elas, assim, divide-se o resultado por 15º e o resultado é a
sos horários, a separação entre essas faixas, na prática, pode quantidade de fusos entre os locais.
apresentar um contorno diferente. Trata-se do fuso horário
legal ou simplesmente hora legal, uma adaptação do sistema = 75º / 15º
internacional de fusos com finalidade prática. =5
A principal característica do fuso legal é o fato de os li-
mites se ajustarem às fronteiras existentes entre diferentes Considerando que as duas localidades estão separadas
países ou mesmo unidades administrativas. Nessa lógica, é por cinco fusos horários ou cinco horas e que Jacarta encon-
possível que a área coberta por uma mesma hora estenda-se tra-se a leste do Cairo:
para além dos 15 graus entre longitudes. O principal meio
de observarmos a distribuição dos fusos horários legais é por = 11h + 5h
meio do mapa-múndi. = 16h

Em Jacarta serão 16 horas enquanto que na capital egíp-


3.2. Calculando os fusos cia ainda serão 11 horas.

Multiplataformas: Vídeo 3.3. Fusos horários do Brasil


Fusos horários (vídeo aula de geografia)
Os pouco mais de 4.326 quilômetros de extensão que
separam a nascente do rio Moa, no Acre, e a Ponta do Seixas,
na Paraíba, asseguram ao Brasil uma grande extensão longi-
tudinal, isto é, no sentido oeste-leste.
Uma das consequências dessa expressiva dimensão ter-
ritorial é a ocorrência de mais um fuso horário no país. Dessa
forma, foram padronizados quatro fusos legais, distribuídos
em três faixas continentais e uma marítima, que segue os
limites estaduais.
Como as horas variam conforme as longitudes terrestres,
O principal fuso horário corresponde ao chamado horá-
torna-se necessário um cálculo para encontrarmos o horário
rio de Brasília ou hora oficial do Brasil, que está situado no
referente à determinada localidade.
segundo fuso. As demais zonas terão as horas atrasadas ou
Caso as respectivas coordenadas sejam informadas, o
adiantadas de acordo com esse. Observe:
resultado pode ser obtido até mesmo sem a presença de um

Fonte: https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_fuso_horario.pdf
mapa.
Para isso, é necessário seguir o passo-a-passo de um mo-
delo conhecido como lei de Aldrin. Vejamos:
• para locais situados em hemisférios diferentes (oeste - leste
ou vice-versa), somam-se as duas longitudes;
• para locais em hemisférios semelhantes (oeste - oeste ou les-
te - leste), subtraem-se as duas longitudes;
• divide-se por 15º o resultado da operação anterior, obtendo
a diferença de fusos entre as localidades
• Obtém-se o horário ajustando a diferença ao local pretendi-
do: se ele estiver a oeste do inicial, subtraia o resultado. Se
encontrar-se a leste, some o resultado.

Por exemplo: deseja-se saber o horário local em Jacarta,


na Indonésia, que está à longitude 105º Leste, sabendo-se
que no Cairo, Egito, a 30º Leste, são 11 horas da manhã.

= 105º - 30º
= 75º
18
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

• Primeiro fuso: situado a leste de Brasília, terá uma hora a A sigla UTC remete ao Tempo Coordenado Universal,
mais que a hora oficial do Brasil. Abrange o mar territorial principal padrão de horário aplicado no mundo atualmente
e as ilhas oceânicas brasileiras como Trindade, Martim Vaz e ao suceder o sistema GMT.
Fernando de Noronha.
• Segundo fuso: equivalente ao horário de Brasília, envolve 3.4. Horário de verão
integralmente as regiões Sul, Sudeste e Nordeste. No Nor-
te, apenas o Tocantins, Pará e Amapá. Já no Centro Oeste, é
aplicado ao estado de Goiás e ao Distrito Federal. Multiplataformas: Site
Motivos para a ocorrência (ou não)
• Terceiro fuso: situado a oeste de Brasília, terá uma hora a do horário de verão e o que é:
menos que a hora oficial do Brasil. Envolve parcialmente as
regiões Centro-Oeste e Norte. Na primeira, é representado
pelo Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul. Já na segunda,
é válido aos estados de Roraima, Rondônia e a maior parte
do Amazonas, uma vez que o extremo oeste do estado está
vinculado ao quarto fuso.
• Quarto fuso: situado ainda mais a oeste de Brasília, terá duas
horas a menos que a hora oficial do Brasil. Abrange o Acre O Horário de Verão corresponde a uma medida voltada à
na totalidade e a faixa mais ocidental do Amazonas, com diminuição no consumo de energia elétrica por meio de um
um total de 13 municípios. A linha demarcatória nesse caso melhor aproveitamento da luminosidade natural, ampliada
interliga as cidades de Tabatinga (AM) e Porto Acre (AC). nos dias mais longos que são comuns na referida estação. O
Vale ressaltar que o quarto fuso horário foi excluído en- funcionamento consiste em adiantar o horário em uma hora,
tre 2008 e 2013 por força de uma lei que alterou o decreto o que altera, por exemplo, o padrão de percepção do tempo.
original, válido desde 1913, o incorporando ao terceiro fuso. Quando os relógios, já adiantados, marcarem 18 horas,
Porém, em 2010, a população do Acre foi consultada em o horário na realidade equivalerá às 17 horas, período com
um referendo sobre a possibilidade da retomada ou não do uma iluminação solar superior às seis da tarde. O adianta-
quarto fuso. 56% dos eleitores votaram pelo sim, o que levou mento faz com que a luminosidade não só se mantenha às
ao restabelecimento da regra a partir de 2014. 18h, mas também seja potencializada pela maior exposição
Outra observação necessária é a relação entre o fuso ho- aos raios solares no verão.
rário legal, que utiliza a hora de Brasília como referência, e o Além disso, a maior claridade disponível faz com que o
fuso horário teórico, com base no Meridiano de Greenwich e pôr-do-sol ocorra efetivamente horas mais tarde, momento
a Hora Média de Greenwich (ou Greenwich Mean Time com em que os relógios já assinalarão a noite. Essa sensação
a sigla GMT). ainda é ampliada em médias e altas latitudes, onde a maior
O segundo caso alinha-se aos meridianos a cada 15º a curvatura terrestre interfere no ângulo de incidência solar. A
leste ou oeste do meridiano inicial. Nesse sentido, os fusos insolação mais difusa prolonga ainda mais as horas de luz. A
brasileiros serão orientados conforme as seguintes longitu- expectativa, portanto, é que o consumo de eletricidade atra-
des: vés de aparelhos elétricos e o acionamento de lâmpadas seja
reduzido enquanto o Horário de Verão estiver em vigor.
• Primeiro fuso: alinhado a 30º oeste, corresponde ao fuso A primeira proposta do sistema nos moldes modernos
GMT ou UTC-2. coube ao neozelandês George Hudson em 1895. No século
• Segundo fuso: alinhado a 45º oeste, corresponde ao fuso anterior, em 1784, Benjamin Franklin já divulgava o potencial
GMT ou UTC-3.. econômico de um ajuste na contagem das horas.
Contudo, foi o Canadá o primeiro país a experimentar o
• Terceiro fuso: alinhado a 60º oeste, corresponde ao fuso
Horário de Verão, a partir de 1908, na cidade de Port Arthur.
GMT ou UTC-4.
Já a Alemanha e a então Áustria-Hungria, em 1916, o imple-
• Quarto fuso: alinhado a 75º oeste, corresponde ao fuso GMT mentaram em escala nacional, em meio à Primeira Guerra
ou UTC-5. Mundial, com vistas a economizar o uso de carvão mineral
para o esforço de guerra. Os Estados Unidos, a França e o
Reino Unido seguiram o exemplo nos anos seguintes, popu-
larizando o modelo.
No Brasil, o chamado Horário Brasileiro de Verão foi ins-
tituído pela primeira vez em 1931. A aplicação do modelo,
entretanto, não foi contínua nos anos seguintes. Apesar da

19
Geografia
alternância entre períodos com e sem Horário de Verão em
vigor, ele manteve-se regular, recentemente, entre 1985 e
2018. Campos e Habilidades do ENEM
Nesse intervalo, o sistema abrangeu dez estados mais o
Distrito Federal. As regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste foram
contempladas integralmente. Já os estados do Norte e do HABILIDADE 6
Nordeste foram excluídos pelo fato de apresentarem pouca Interpretar diferentes representações gráficas e carto-
diferença significativa na luminosidade disponível no verão gráficas dos espaços geográficos.
e também no inverno pelo fato de localizarem-se mais próxi-
mos à Linha do Equador.
EXEMPLO
Além disso, no Brasil, a relação entre o Horário de Verão
(Enem) Os moradores de Utqiagvik passaram dois meses
e a energia elétrica não se restringia apenas à maior econo-
quase totalmente na escuridão
mia. Com uma matriz energética majoritariamente hidráulica
para a geração de eletricidade, o país vê no verão chuvoso Os habitantes desta pequena cidade no Alasca –
uma oportunidade para a recarga dos reservatórios das usi- o estado dos Estados Unidos mais ao norte – já
nas hidrelétricas. A redução da demanda durante o Horário estão acostumados a longas noites sem ver a luz
de Verão assegurava a manutenção do volume armazenado do dia. Em 18 de novembro de 2018, seus pouco
de modo a abastecer os consumidores de modo mais eficien- mais de 4 mil habitantes viram o último pôr do
te nos meses seguintes, em especial durante o inverno mar- sol do ano. A oportunidade seguinte para ver a
cadamente mais seco. luz do dia ocorreu no dia 23 de janeiro de 2019,
às (horário local).

Disponível em: www.bbc.com. Acesso em: 16


maio 2019 (adaptado).
O fenômeno descrito está relacionado ao fato de a ci-
dade citada ter uma posição geográfica condicionada
pela
a) continentalidade.
b) maritimidade.
c) longitude.
d) latitude.
e) altitude.
COMENTÁRIO
é A alternativa correta é [D], porque em razão da in-
clinação do eixo da Terra, as áreas de altas latitudes
sofrem máxima variação de luminosidade nos solstícios
de verão e inverno, resultando, dessa forma, em longas
noites no inverno. As alternativas incorretas são: [A] e [B],
porque maritimidade e continentalidade são reguladores
térmicos e não de variação da incidência solar; [C], por-
que longitude é usada para cálculo de fuso horário; [E],
porque altitude é um fator que não define a variação da
incidência solar.
RESPOSTA: ALTERNATIVA D

20
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Mapeando o saber

21
Geografia
Com efeito, os mapas acompanharam a história do ho-
Noções de cartografia mem. Pinturas rupestres já demonstravam uma forma de
representação espacial, mas fora a evolução de métodos as-
tronômicos na Grécia Antiga e na Ásia Menor que ajudaram
a impulsionar os primórdios da cartografia. Embora a Idade
Geografia 1 AULAS: 5 e 6
Média tenha prejudicado o avanço técnico na produção de
mapas pela forte influência religiosa na concepção de mun-
do, o Renascimento e as Grandes Navegações alçaram a car-
Competência(s): 2 Habilidade(s): 6 tografia a um crucial e estratégico instrumento de poder. O
mapeamento de áreas ainda desconhecidas e o emprego de
instrumentos como a bússola revolucionaram o processo, que
ganhou um salto quantitativo no século XX com o surgimen-
to do reconhecimento aéreo e a corrida espacial. A atual era
1. Cartografia de informatização e digitalização dos meios impulsiona ainda
mais a cartografia em termos de precisão, alcance e velocida-
O mapa é um dos símbolos mais emblemáticos e re- de na produção de mapas.
presentativos da geografia. Instrumento que busca retratar
o espaço, impondo uma organização e estrutura através da
imagem e da escrita, ele é resultado direto da observação e
1.2. Cartografia sistemática
do estudo do meio que cerca o homem. O processo histórico e Cartografia temática
e o desenvolvimento de técnicas que convergem nos mapas O desenvolvimento da ciência cartográfica resultou tam-
evoluiu e serve de base para a Cartografia: ciência dedicada bém na produção de mapas diferenciados em termos de téc-
ao estudo, produção, difusão e emprego desses importantes nicas empregadas e objetivos pretendidos. Essa distinção é
recursos de representação da Terra. uma das bases para a concepção de dois ramos existentes
Além de um instrumento essencial para a descrição e o dentro da cartografia, a chamada cartografia sistemática e a
entendimento do planeta, o mapa também atua como um cartografia temática.
meio de expressão de ideias, ou seja, todos os mapas são Os mapas de base ou mapas de referência, por exemplo,
subjetivos. Diferentes culturas e crenças conseguem impor são o resultado da cartografia sistemática. De forma geral,
sua visão de mundo através da construção de mapas. A con- são mapeamentos que servem de referência básica, voltados
sequência dessa articulação é o fato de essas representações para o uso comum e feitos com um levantamento preciso. O
não serem neutras, pois vão traduzir interesses que podem principal objetivo é demonstrar a localização com o máximo
não espelhar de modo fiel a realidade mapeada. Outra limi- de precisão possível de modo a se obter uma melhor percep-
tação dos mapas está na incompatibilidade de se representar ção do espaço.
o globo terrestre em uma superfície plana sem algum tipo de Por outro lado, a cartografia temática dedica-se à con-
distorção ao se transpor uma forma para a outra. fecção de mapas temáticos. São representações que retratam
temas variados a partir de dados passíveis de serem espacia-
lizados. Como a proposta é interpretar e expressar esse tipo
Multiplataformas: Site
de informação, a cartografia busca obter uma melhor visuali-
Projeções cartográficas
zação de fenômenos, utilizando um mapa de base.
Como a cartografia temática preocupa-se com a melhor
forma de abordagem de um tema através de um mapa espe-
cífico, os recursos gráficos assumem uma grande importância.
Dentro desses marcadores abstratos, três formas de represen-
tação de dados são frequentemente empregadas:
Aspecto quantitativo - recorre a uma simbologia que
reflete a intensidade das informações em questão. Formas
geométricas que variam em tamanho, de modo proporcional
Esses desafios acompanharam o desenvolvimento da
às quantidades representadas graficamente no mapa temá-
cartografia ao longo da história. Da percepção direta da Terra
tico, são usualmente utilizadas nesta forma de abordagem.
até o emprego de tecnologias modernas como satélites, a
produção de mapas é componente essencial para compreen-
der a realidade e traçar diagnósticos para o futuro.

22
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Fonte da imagem: http://covid19.fct.unesp.br/mapeamento-cartografico/


Aspecto qualitativo - Utiliza um conjunto de símbolos para enfatizar a presença de elementos distintos no espaço ma-
peado. Como a proposta é retratar a existência desses componentes e feições, não há necessidade de um ordenamento entre
eles. A simbologia pode descrever desde elementos naturais ou antrópicos que constem na área em questão.

Fonte da imagem: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/

23
Geografia
Aspecto ordenado - Emprega uma simbologia voltada a expressar o ordenamento de elementos e fenômenos espaciais,
como é o caso de variações entre dados. Um dos recursos mais empregados nessa abordagem é a gradação de cores, de tons
mais claros ao mais escuros, de acordo com a relação presente. Ao contrário dos aspectos quantitativos, no ordenamento, o
tamanho dos símbolos não terá a mesma importância.

Link da origem do mapa: http://covid19.fct.unesp.br/mapeamento-cartografico/


Apesar das diferenças na abordagem, os três aspectos podem aparecer ao mesmo tempo em um mapa temático. O objetivo
do cartógrafo é dar consistência à representação dos atributos espaciais do território mapeado de modo a permitir o entendi-
mento de quem utiliza o mapa. A cartografia, portanto, apresenta-se com uma linguagem própria e que se vale de um conjunto
de símbolos, formas, tons e cores capazes de abranger uma infinidade de variáveis e componentes espaciais.
Porém, é importante pensar no papel da organização no momento em que um mapa é construído. Planejar o arranjo, a dis-
tribuição e o objetivo de cada um desses recursos assegura uma representação que seja eficaz na interpretação e na decodifica-
ção da simbologia por parte do usuário. Mas como essa organização pode ser vista? Um exemplo é o emprego de uma legenda
que descreva o significado dos símbolos e de outros aspectos presentes no mapa. Além dela, outros elementos cartográficos são
acrescentados para tornar a representação ainda mais completa.
Além disso, o conteúdo se torna mais prioritário do que a precisão, inclusive estes tipos de mapas servem como instrumento
de inclusão, principalmente para alguém que tenha alguma restrição visual. Mas infelizmente, essas técnicas ainda são pouco
aplicadas em materiais didáticos e oficiais.

Descobrindo Agora

“Se os mapas são importantes ou fazem parte da vida das pessoas normovisuais, para aquelas impossibilitadas de
ver eles são igualmente importantes para a compreensão geográfica do mundo; eles possibilitam a ampliação da
percepção espacial e facilitam a mobilidade. Para esses usuários, os mapas precisam ser lidos com as mãos: eles
não conseguem ler um mapa impresso ou disposto na tela de um monitor de vídeo do computador ou do aparelho
de televisão.
Para serem lidos pelas pessoas cegas os mapas precisam ser transformados para a forma tátil, isto é, tudo que está
em um mapa que é lido por quem enxerga precisa de alguma maneira ser reelaborado para ser lido pelas mãos do
deficiente visual e compreendido por ele. Além disso, é preciso considerar as limitações que a ausência da visão gera
tanto na confecção quanto na leitura de mapas, assim como na forma própria de pessoas cegas organizarem e se
apropriarem do conhecimento.”

(NOGUEIRA, Ruth Emilia. Mapas como facilitadores na inclusão social de pessoas com deficiência visual. ComCiên-
cia, Campinas, n. 123, nov. 2010 . Disponível em <http://comciencia.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1519-76542010000900009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 12 dez. 2022.)

24
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

A classificação, assim, pode refletir as especificidades dos


mapas em relação ao objetivo pretendido na representação
do espaço.
Como vimos anteriormente, os mapas de base são o
resultado direto da cartografia sistemática. Voltados a uma
maior precisão, eles têm como o principal exemplo o mapa
topográfico que, por sua vez, tem a função de retratar os ele-
mentos presentes em parte da superfície terrestre, naturais
ou antrópicos. Já a cartografia temática trabalha com a re-
presentação de diversos fenômenos espaciais, mas a partir
dos mapas temáticos. Dentro dessa abordagem, é possível
encontrar mapas políticos, com as divisões fronteiriças entre
diferentes territórios; mapas demográficos, que representam
1.3. Elementos de um mapa a distribuição da população pelo espaço; ou então mapas
econômicos, voltados a demonstrar as atividades produtivas
Como vimos, os elementos cartográficos têm a função de espacialmente presentes.
facilitar a leitura e a compreensão de um mapa. Eles consis- Há também uma diferenciação entre o conceito de ma-
tem não só na legenda, mas também no título, na orientação pas e o de cartas. De acordo com o Instituto Brasileiro de
e na escala. Cada um deles apresenta uma funcionalidade Geografia e Estatística, o IBGE, o mapa corresponde a uma
própria e tornam o mapeamento não só mais completo, mas representação de superfícies delimitadas, com múltiplas fi-
efetivo quando disponíveis em uma representação. nalidades, e, em geral, em pequena escala. Já as cartas são
estabelecidas como representações dedicadas à localização
• Título: identifica e designa o mapa ao informar o espaço de espaços e detalhes, além de configurar direções e distân-
representado ou a natureza temática; cias de modo preciso em média ou grande escala. Além disso,
• Legenda: apresenta as convenções como símbolos e cores as cartas apresentam coordenadas geográficas e podem ser
representados além dos significados; distribuídas em mais de uma folha, desde que organizadas de
modo sistemático.
• Orientação: indica a posição e a direção relativa do mapa
Logo, pode-se perceber que a escala comporta-se como
em relação aos pontos cardeais;
um dos principais pontos de divergência entre um mapa e
• Escala: informa o número de reduções que o espaço real uma carta, muito embora, de modo geral, os dois termos se-
sofreu para ser representado no mapa; jam tratados como sinônimos.
Nesse sentido, o maior detalhamento possibilitado em
Embora os mapas, de maneira geral, apresentem-se
mapas em grande escala aproxima esse tipo de representa-
orientados ao norte, o que equivale, por exemplo, ao hemis-
ção da proposta sublinhada pelo IBGE, ou seja, recortes com
fério norte ocupar o quadrante superior em um mapa-múndi,
maior precisão e mais especializados no que diz respeito às
não há embasamento que imponha, em definitivo, esse pa-
finalidades pretendidas.
drão de orientação para todas as representações cartográfi-
Por outro lado, a definição de mapa também vai ao en-
cas.
contro da conceituação proposta. Como trata-se de represen-
Na verdade, a direção que um mapa apresenta, seja por
tações mais amplas, de caráter diverso tal como o temático,
meio de uma rosa-dos-ventos ou de uma seta, será o reflexo
elas independem de registrar um nível aprofundado de in-
da escolha do cartógrafo, o que, por sua vez, sofre influência
formações espaciais. Assim, o menor detalhamento coincidirá
de fatores externos como os valores culturais ou mesmo de
com a menor ou pequena escala.
ordem técnica. É o caso da orientação magnética dada pela
bússola: a combinação do fato de a agulha imantada apon-
tar para o norte e o emprego desse dispositivo durante as 5. Escala
grandes navegações europeias, a partir do século XV, ajudou
a estabelecer a tradição de mapas orientados a esse ponto A conexão entre o nível de detalhamento e a escala é
cardeal e não em relação aos demais. uma das variáveis de análise desse importante elemento car-
tográfico. Conceitualmente, escalas representam a relação
1.4. Tipos de mapas entre as dimensões do espaço mapeado e as dimensões do
espaço na realidade, ou seja, na superfície terrestre. Essa as-
Outra distinção comum na cartografia envolve a tipolo- sociação entre o real e o representado pode ser indicada de
gia de mapas, o que diz respeito a diferentes condicionantes. duas formas:

25
Geografia

5.1 Escala numérica cobrem grandes áreas, mas a um nível de detalhamento me-
nor. Nessas, o denominador apresenta-se com um número
Expressa na forma de uma fração que indica a relação expressivo, geralmente superior a um milhão. Observe a re-
proporcional entre as duas grandezas. O numerador corres- lação a seguir:
ponde às dimensões presentes mapa e o denominador está • Mapas topográficos de municípios: escalas entre
ligado às dimensões encontradas no espaço real. Um mapa 1:5.000 a 1:20.000
com escala 1:5.000.000, por exemplo, estabelece que cada
• Mapas topográficos de regiões: escalas entre 1:50.000
1 cm no mapa equivalem a 5.000.000 cm na realidade ou
a 1:250.000
ainda a 50.000 metros.
• Mapas de países com grandes dimensões: escalas su-
5.2 Escala gráfica periores a 1:5.000.000

6. Curvas de nível
Fonte da imagem: https://atlasescolar.ibge.gov.br/conceitos-gerais/o-que-e-cartografia/

Expressa em uma linha reta graduada com intervalos


equidistantes em divisões demarcadas. Indica, de modo grá-
fico, a relação entre as distâncias real e mapeada de modo a
corresponder à representação gráfica de quaisquer distâncias
no terreno considerado. Em outras palavras, a escala gráfica
permite a medição direta a partir do mapa.
Portanto, considerando a relação entre as dimensões
abordadas na escala, na proporção hipotética de 1:1.000,
qualquer medida no espaço real, de modo linear, será 1.000
vezes superior à representada no mapa em questão. O relevo e o modelado da superfície terrestre podem ser
Seguindo o mesmo exemplo, é possível encontrar o va- mapeados com precisão através de um recurso denominado
lor de quaisquer das grandezas constantes em uma escala. curvas de nível. Trata-se de uma série de linhas imaginárias
O cálculo da escala, por exemplo, pode ser feito através da que ligam pontos à mesma altitude em um determinado
relação expressa na escala numérica, isto é, E = d / D, onde E espaço. É graças a essa propriedade que elas também são
corresponde à escala; d, no numerador, à distância mapeada, chamadas de isoípsas. Além de conectar segmentos em um
e D, no denominador, a distância real. mesmo nível altimétrico, as curvas de nível mantêm-se se-
Outro modo corresponde em obtermos a distância refe- paradas por um intervalo constante, isto é, as isoípsas são
rente na superfície real. Para tanto, utiliza-se uma variação da equidistantes entre si.
proporção anterior, com a multiplicação D = E x D. Já a dis- O intervalo, porém, é variável e pode estar assinalado,
tância mapeada pode ser calculada através de outra variação, por exemplo, em metros. Dessa forma, ele consegue indicar a
a qual corresponde a d = D / E. variação do relevo representado em relação ao nível do mar.
Com efeito, escalas diferentes indicam recortes diferen- Outra característica ligada a esse padrão de organização é o
tes de uma superfície real, pois vão considerar uma maior fato de a cada cinco curvas de nível consecutivas surgir uma
ou menor redução dessa. Além disso, a resolução dos mapas uma isoípsa mestra, ou seja, uma curva de nível mais larga.
também pode ser alterada, o que implicará na visualização de
mais ou menos detalhes dependendo da escala empregada.
Observando atentamente a fórmula padrão da escala
numérica, em que E = d / D, percebe-se que a escala é inver-
samente proporcional à distância real. Nessa lógica, quanto
maior a escala, menor será o espaço real. Em outras palavras,
o mapeamento de áreas com dimensão reduzida permite a
exposição de um número maior de informações - elementos e
atributos que estão presentes naquele espaço, - o que resulta
em um mapa com maior detalhamento.
Dessa maneira, quanto menor o denominador, maior será
o nível de detalhes no mapa e, ao mesmo tempo, maior será
a escala. Na contramão, representações com escala pequena

26
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Para que o padrão de relevo seja demonstrado através A importância das projeções pode ser sintetizada no fato
das curvas de nível, secciona-se a superfície mapeada por de que todo mapa é elaborado com base em uma projeção
meio de um segmento de reta. Ao atravessar uma série de cartográfica. Assim, elas se apresentam como um dos pilares
isoípsas, a linha indicará os níveis de altitude a cada inter- do mapeamento terrestre, uma vez que, como o próprio termo
secção. Tais pontos podem ser transferidos para um plano sugere, têm a função de projetar o globo terrestre em uma
cartesiano no qual o eixo y indica as altitudes e o eixo X a superfície plana. As projeções são definidas como uma repre-
extensão horizontal. A variação na altitude será representada sentação bidimensional - o plano - de um objeto tridimensio-
pelo perfil topográfico, que demonstrará o contorno e o mo- nal - a esfera. Nesse sentido, uma projeção é o resultado de
delado do relevo. Nesse caso, o espaçamento entre curvas de uma adaptação, pelo cartógrafo, das duas formas através de
nível consecutivas determinará as feições topográficas: um conjunto de técnicas próprias e princípios matemáticos.
Contudo, o simples ato de projetar representa um desa-
- Quanto mais próximas às isoípsas, maior a declividade
fio até hoje não superado pela cartografia: reduzir o globo
e mais acidentada será uma vertente.
terrestre a um mapa plano de maneira exata. Ocorre que a
- Quanto mais afastadas às isoípsas, menor a declividade
esfericidade terrestre é incompatível com um formato aplai-
e mais suavizada será uma vertente.
nado. Em outras palavras, a Terra não pode ser mapeada em
Vale destacar que linhas formam curvas fechadas sobre uma superfície plana sem que ocorra algum tipo de deforma-
si mesmas, mantendo o mesmo nível altimétrico. A equidis- ção, assim, os cartógrafos buscam então reduzir os efeitos
tância também é conservada, mas não impede de duas isoíp- distorcidos ao optar por alguma característica do globo a ser
sas conseguirem se aproximar o suficiente até se tocarem. O preservada: o formato e o tamanho dos espaços são exem-
cruzamento de duas ou mais curvas de nível só é possível em plos bem conhecidos. O procedimento em questão envolve
condições extremas como feições severamente erodidas. a utilização de recursos específicos. É o caso do emprego de
Em uma representação com o emprego de curvas de ní- superfícies de adaptação e o das propriedades das projeções.
vel, as linhas que efetivamente atravessem as isoípsas, via A transposição do globo terrestre para uma superfície re-
de regra, correspondem a cursos d’água. Nesses casos, as duzida só poderia ser obtida com algum nível de exatidão se
curvas de nível apresentam um contorno próprio. Elas vão a representação consistisse em uma outra esfera. Nesse caso,
se organizar em um formato de V, no qual o vértice apontará há uma compatibilidade geométrica que permite a conser-
para a nascente, localizada em altitudes mais elevadas. Dessa vação das dimensões e das posições relativas de uma forma
forma, um mapa topográfico consegue indicar a presença de para a outra.
divisores de água em uma bacia hidrográfica. O contraste entre o plano e o globo evidencia que ne-
Além de recursos como as curvas de nível, o mapeamen- nhum tipo de projeção consegue evitar deformações. Porém,
to do relevo terrestre também recorre a outras convenções pode-se dizer que a existência delas incentiva os cartógrafos
cartográficas como blocos-diagrama e a gradação de cores a buscar meios que consigam minimizá-las, o que contribui
por altitude. Um dos princípios para esse tipo de abordagem para um maior rigor científico nas projeções. Além disso,
é previsto pela Carta Internacional do Mundo (CIM) ao es- esses mesmos recursos técnicos servem de referência para
tabelecer uma sequência entre os tons de verde, amarelo, classificar os diferentes tipos de projeções existentes. Veja-
marrom, violeta, violeta-escuro e branco para áreas emersas mos como.
ou altitudes acima do nível do mar. Já o mapeamento subma-
rino, com cotas abaixo do nível do mar, utilizam tons de azul 7.1 Classificações e modelos de projeções
dos mais claros aos mais escuros. Ao primeiro exemplo, dá-se
o nome de mapa hipsométrico ao passo que mapas batimé-
tricos aplicam-se ao segundo caso.
Multiplataformas: Vídeo
As diferentes projeções cartográficas
7. Projeções

27
Geografia

7.1.1 Superfícies de projeção II.Projeção cônica

Fonte: https://atlasescolar.ibge.gov.br/conceitos-gerais/o-que-e-cartografia/
Além de servirem como critério de classificação, as su-
perfícies de projeção consistem em uma das principais técni-
cas empregadas na produção das projeções. Trata-se de um
conjunto de formas ou superfícies auxiliares que servem de
adaptação entre a esfera e o plano.
A maioria das projeções é baseada em três modelos:
cilíndricas, cônicas ou planas/azimutais. Cada uma delas foi
obtida por meio de uma forma específica de projetar o plane-
ta Terra em um plano. Considerando a sequência anterior, ti-
vemos o uso de um cilindro, um cone e um plano, respectiva-
mente. Além disso, cada uma delas valoriza alguma das três Corresponde à projeção do globo terrestre em um cone
propriedades conservativas: tamanho, área ou distância dos que é aberto em seguida. O ponto de tangência com a super-
continentes, o que minimiza as distorções de uma delas. Por fície terrestre ocorre sobre um paralelo padrão, usualmente
outro lado, pode gerar maiores disparidades com a realidade em média latitude, ou seja, entre a Linha do Equador e os
em referência às outras características, por isso a cartografia polos.
é tão subjetiva, pois depende muito da intencionalidade que Logo, é o modelo mais apropriado para as zonas tempe-
o(a) autor(a) quer passar para que determinada projeção seja radas da Terra, sendo utilizado em mapas de apenas um dos
escolhida. hemisférios, ora o norte, ora o sul, e áreas continentais como
a América do Norte ou a Europa.
I. Projeção cilíndrica Na projeção cônica, há a manutenção do centro, mas as
Fonte: https://atlasescolar.ibge.gov.br/conceitos-gerais/o-que-e-cartografia/

bordas superior e inferior do mapa serão mais deformadas.


Além disso, ela apresenta os meridianos em linhas retas em
padrão convergente para o polo demonstrado. Os paralelos,
por sua vez, surgem de forma curva, em círculos concêntricos.
III. Projeção plana azimutal

Fonte: https://atlasescolar.ibge.gov.br/conceitos-gerais/o-que-e-cartografia/
É o resultado do emprego de um cilindro como superfície
de projeção. Ao envolver a esfera, a forma, em geral, apresen-
ta um melhor ajuste na Linha do Equador, mas não chega a
tocar os polos norte e sul.
Apresenta assim uma melhor definição nas áreas situa-
das à baixa latitude, uma vez que estiveram em contato com
o cilindro. Por outro lado, quanto mais afastadas desse ponto,
mais distorcidas ficarão as regiões representadas, como é o
caso das altas latitudes.
Também denominada projeção polar, ela projeta o globo
As projeções cilíndricas têm as linhas imaginárias retas
em um anteparo plano a partir de um ponto de tangência. O
e convergindo entre si, podendo formar ângulos retos. São
ângulo entre as duas superfícies formará o chamado azimute.
representações muito empregadas em mapas-múndi e em
A menor área de contato resultante, em comparação com os
superfície terrestre como um todo. As duas projeções cilíndri-
demais modelos, pode representar uma desvantagem, mas a
cas usualmente mais conhecidas são a projeção de Mercator
parte central terá deformações mínimas ou mesmo inexisten-
e a projeção de Peters, as quais posteriormente serão mais
tes. As extremidades, contudo, ficarão distorcidas.
exploradas.
As projeções planas são vistas em mapas das áreas po-
lares, destacando e valorizando as altas latitudes. Por outro
lado, quando centralizadas no polo norte ou no polo sul, a
tendência é a de a região equatorial, à baixa latitude, apre-
sentar-se sob forte deformação.
Nesse tipo de mapa, os meridianos mantêm-se em linhas
retas que convergem ao centro da representação. Já os para-
28
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

lelos formam círculos concêntricos, em curvas fechadas quan- 7.2 Projeções históricas e de referência
to mais próximo do ponto central. São também chamadas de
projeções polares. A combinação entre as superfícies de projeção e as pro-
Um exemplo do emprego desse modelo de projeção ocor- priedades de projeção, além de outros recursos cartográficos,
re na bandeira da Organização das Nações Unidas, adotada dá origem às representações dessa natureza, o que inclui al-
em 1946. O emblema da entidade supranacional é disposto gumas das projeções mais empregadas ao longo da história.
por meio de uma perspectiva azimutal, centralizada no Polo São elas:
Norte. Além disso, a projeção empregada pela ONU apresen-
ta as distâncias preservadas, ou seja, de modo equivalente às
encontradas na superfície terrestre. Por esse motivo ela pode
7.2.1 Projeção cilíndrica
ser classificada como um tipo de projeção plana azimutal ou conforme de Mercator
polar azimutal equidistante.

7.1.2 Propriedades de projeção


As propriedades de uma projeção correspondem aos
recursos que ajudam a minimizar ou controlar algum tipo
de deformação presente nos mapas. Em geral, as distorções
mais comuns ocorrem quanto aos ângulos, ao tamanho ou
então em relação às distâncias espaciais.
Nesse sentido, ao elaborar um mapa, a escolha de uma
propriedade reduz os efeitos provocados ao se transpor o
globo para o papel. No entanto, o cartógrafo só pode esco-
lher entre uma ou outra propriedade por vez, aspecto que o Publicada em 1569 por Gerardus Mercator, essa proje-
impede de utilizar as três possibilidades ao mesmo tempo. ção utilizou um cilindro como superfície base, mantendo os
Somente uma esfera, semelhante ao globo terrestre, seria ca- ângulos precisos. A propriedade conforme levou Mercator a
paz de conservar todas as propriedades de modo simultâneo. conservar a forma e as posições dos continentes de modo
Às projeções, porém, elas se aplicam de modo individual, dis- semelhante à esfera, preservando as relações angulares em
tinguindo-se entre: todos os pontos do mapa, o que favoreceu o uso de linhas de
rumo. Essa condição explica o fato de a representação estar
I. Projeção conforme associada a viagens marítimas como as grandes navegações
Preserva as formas e traçados do espaço sem deformar europeias. Por outro lado, a deformação ocorre nas áreas
os ângulos, mas distorce as áreas representadas e a mais afastadas da Linha do Equador, como, por exemplo, na
distância. Um exemplo dessa projeção é a de Mercator. Europa. Ao dobrar o tamanho do paralelo 60º N, Mercator
maximizou o continente europeu e o colocou em evidência. O
II.Projeção equivalente viés eurocêntrico da projeção é justificado, entre outros, por
Preserva as dimensões das áreas, valorizando assim os esse aspecto.
tamanhos. Por outro lado, altera os ângulos, o formato e
a distância. Um exemplo dessa projeção é a de Peters.
7.2.2 Projeção cilíndrica
III. Projeção equidistante
Preserva as distâncias mantendo-as de modo
equivalente de Peters
constante e sem deformação linear, mas distor-
ce tanto as áreas quanto os ângulos e a forma.
Um exemplo muito usual é o símbolo da ONU.
IV. Projeção afilática ou arbitrária
Minimiza as distorções quanto aos formatos, áreas e
distâncias pelo fato de não conservar nenhuma das
propriedades anteriores. Por outro lado, ela é muito
interessante por não conter alterações tão significati-
vas. Um exemplo dessa projeção é a de Plate Carrée

29
Geografia
A projeção de Arno Peters ou projeção cilíndrica equiva- representá-lo em uma superfície plana, de uma forma mais
lente de Peters data de 1973. Ao contrário da anterior, essa abrangente, aperfeiçoando a Projeção de Mercator. Porém,
representação conserva a proporção entre duas áreas tanto Robinson decidiu não se ater a um critério específico com for-
no globo terrestre quanto no mapa em si. Logo, a fidelidade matos ou áreas precisas, por exemplo. Logo, nessa projeção,
de área é mantida, valorizando as relações de proporção, mas os meridianos se apresentam em formato curvo, formando
a troco de uma distorção nas relações angulares e no formato uma elipse e sem convergir nos polos. Em contraste, os pa-
dos continentes. Essa deformação fica mais evidenciada nas ralelos foram mantidos retos. Robinson alterou o aspecto es-
extremidades do mapa, onde estão as altas latitudes. Peters pacial das altas latitudes, demonstradas com uma maior de-
argumentou que a projeção abria uma nova perspectiva do formação quando comparadas às regiões a baixas latitudes.
mundo, superando o eurocentrismo ao propor a igualdade Outra projeção com base em um cilindro e mantém a
de área a todos os países. Nesse sentido, a aparência mais mesma perspectiva elíptica da Terra foi desenvolvida por Karl
alongada da América do Sul e da África liga a projeção ao Mollweide em 1805. A representação é equivalente, ou seja,
chamado viés terceiro-mundista. Além disso, embora publi- preserva com precisão as áreas do globo terrestre. Porém, em
cada no século XX, a projeção não foi a pioneira entre as oposição à Projeção de Gall-Peters, com quem divide a mes-
cilíndricas equivalentes. Como em 1855, James Gall propôs ma propriedade, a Projeção de Mollweide distribui os meri-
uma projeção semelhante, o mapa de Peters também pode vir dianos de forma curva, formando um planisfério elíptico. Esse
a ser classificado como projeção de Gall-Peters. padrão também se opõe à Projeção de Robison, pois Moll-
weide optou por manter essas linhas imaginárias de modo
7.2.3 Projeção cilíndrica convergente nos polos. Já os paralelos apresentam-se como
linhas retas e perpendiculares ao meridiano central.
equivalente Plate Carrée
Credencia-se ao grego Marino de Tiro a autoria da pro- 7.2.5 Projeção de Goode
jeção cilíndrica equivalente ou Projeção Plate Carré. O nome,
em francês, equivale a quadrado plano em tradução direta,
uma vez que o mapa apresenta os meridianos e paralelos
formando quadrados idênticos, com intersecções a 90º entre
as duas linhas imaginárias. Desenvolvida por volta do ano
100 a.C., essa representação preserva as distâncias a partir
de uma perspectiva cilíndrica da Terra, mas distorce tanto as
áreas quanto o formato dos continentes e oceanos. Por tra-
tar-se de um mapa relativamente simples, dada a disposição
das linhas, foi muito utilizada no passado.

7.2.4 Projeção cilíndrica afilática de Robinson


Fonte: https://atlasescolar.ibge.gov.br/conceitos-gerais/o-que-e-cartografia/

A principal característica da chamada Projeção de Goo-


de é o fato de ela ser uma representação descontínua, ou
seja, apresenta várias interrupções nas áreas oceânicas da
Terra. John Paul Goode fez o uso de um cilindro e optou pela
preservação das áreas, o que faz da projeção, de 1923, um
exemplo de perspectiva cilíndrica e equivalente. O objetivo do
cartógrafo, que usara anteriormente a Projeção de Mollweide
Arthur Robinson propôs em 1963 uma projeção cilíndrica para testar a proposta de descontinuidade, era oferecer um
que tentava minimizar as deformações no tamanho, no traça- modelo alternativo à Projeção de Mercator. Além do formato
do e na distância representados, isto é, sem se ater a nenhu- diferenciado, a representação de Goode é marcada pelos me-
ma propriedade. Nesse sentido, ele recorreu a uma represen- ridianos centrais que correspondem, de modo aproximado,
tação afilática do globo terrestre. O objetivo do cartógrafo era aos meridianos centrais da Terra.

30
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

7.2.6 Projeção Cônica Conforme de Lambert Com efeito, a geomática amplia o potencial da cartogra-
fia ao processar digitalmente as informações obtidas pelas
Entre as projeções cônicas mais empregadas na histó- múltiplas fontes e gerar de mapas digitais interativos a até
ria está a Projeção de Lambert, desenvolvida em 1772 por abastecer bancos de dados espacializados. Como resultado
Johann Lambert. Usando de um cone como superfície de prático, ela contribui para análises espaciais ainda mais com-
projeção, o cartógrafo conseguiu uma melhor definição e plexas e um olhar mais apurado sobre a relação entre a natu-
precisão em regiões à média latitude. Além disso, ele valoriza reza e a sociedade no espaço.
o formato dos continentes em detrimento das áreas e distân-
cias que, por sua vez, apresentam-se mais deformadas nas 8.1 Aerofotogrametria
demais latitudes. A perspectiva cônica terrestre, porém, limita
a visualização da Terra como um todo. Observe nos exemplos Recurso técnico que vem se desenvolvendo desde a
a seguir que as altas latitudes tanto ao norte quanto ao sul Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a aerofotogrametria
não são demonstradas de modo integral. Isso ocorre devido consiste na obtenção de fotografias da superfície terrestre
ao ajuste do cone ao globo terrestre, o que pode ser feito para fins de mapeamento a partir de aeronaves, tripuladas
abrangendo um ou outro hemisfério. ou não, tais como os drones ou então veículos aéreos não
tripulados (VANT).
Entre essas plataformas, as mais empregadas são os
8. Geomática aviões. As aeronaves, tanto militares quanto civis, podem rea-
lizar os voos para o levantamento aerofotogramétrico, desde
Mais que o resultado da evolução das técnicas desenvol- que equipadas com as câmeras e sensores adequados. No
vidas ao longo da história, a cartografia moderna é marcada Brasil, por exemplo, há restrições para o caso de sobrevoos
pelo forte investimento na aquisição de tecnologias dedica- não militares. É necessário que as empresas sejam especiali-
das ao mapeamento e à obtenção de dados espaciais. Uma zadas em aerofotogrametria e o levantamento deve ser au-
série desses novos recursos pode ser encontrada na chamada torizado, previamente, pelo Ministério da Defesa. Isso ocorre
geomática: campo de atividades que lida com a aquisição, principalmente para manter o controle dos dados que são
tratamento, análise e comunicação de informações geográ- levantados do território brasileiro e evita que informações
ficas. preciosas acabem dispersando e trazendo prejuízos caso al-
De modo integrado, ela reúne diferentes meios e pla- gum país que se torne inimigo do Brasil tenha acesso a essas
taformas que facilitam a coleta, o armazenamento e o ge- informações. É importante relembrar que essas informações
renciamento de dados. Para além dos meios operacionais, geográficas são estratégicas para o meio militar também.
a geomática também se apresenta como uma ciência que Durante o voo, as aeronaves seguem uma rota específi-
referenda o estudo e a gestão de informações espaciali- ca de modo que as imagens sejam captadas em faixas para
zadas, as quais permitem uma série de aplicações. É o caso que as câmeras consigam cobrir a área a ser mapeada. Dessa
de atividades ligadas ao planejamento e à gestão territorial, maneira, as fotografias são tomadas de forma sobreposta:
procedimentos técnicos e pesquisas científicas. é após a aterrissagem que um técnico especializado fará a
Dessa forma, a integração de tecnologias permite o interpretação e a elaboração do mapa. O processo é feito
emprego de sensores terrestres ou aerotransportados, além através de um equipamento especializado, o estereoscópio,
daqueles instalados em satélites para se obter uma cober- empregando um modelo tridimensional que permite a junção
tura mais ampla e com alto grau de precisão da superfície de imagens obtidas em pontos diferentes do espaço.
terrestre. Entre as ferramentas utilizadas estão a aerofoto- Vale ressaltar que a aerofotogrametria não está isenta de
grametria, o sensoriamento remoto, o mapeamento digital limitações. A principal delas envolve a instabilidade de voo, o
e o posicionamento combinado à navegação por meio de que pode prejudicar a qualidade do levantamento, além da
satélites geolocalizadores. autonomia das aeronaves que pode demandar mais de um
sobrevoo a fim de se mapear a área pretendida.

31
Geografia

8.2 Sensoriamento remoto paciais. Além de absorver um grande número de informações,


o sistema permite a construção de mapas aprofundados e a
constante atualização dessas representações.
Um dos traços mais marcantes do mapeamento por meio
do SIG é a sobreposição de camadas distintas. Logo, é pos-
sível desenvolver um mapa de um município combinando
outros mapeamentos específicos como as áreas urbanizadas
e as áreas ainda não ocupadas, a malha viária e até mesmo
a rede hidrográfica local. Tais dados são armazenados como
matrizes e são passíveis de serem utilizados em conjunto,
sobrepostas, ou de modo individual. O resultado é o desen-
volvimento de representações mais avançadas, completas
e interativas, o que beneficia, entre outros, o planejamento
territorial.

O sensoriamento remoto utiliza satélites artificiais como


8.4 Sistema de Posicionamento Global (GPS)
a principal plataforma para a aquisição e transmissão de da-
A finalidade do Sistema de Posicionamento Global ou
dos ou imagens da superfície terrestre. Através de sensores
GPS - sigla da nomenclatura em inglês, Global Positioning
óptico-eletrônicos instalados nesses equipamentos, diferen-
System - é fornecer a localização com alta precisão a partir
tes níveis da superfície ou da subsuperfície podem ser cober-
dos dados de latitude, longitude e altitude. As informações
tos e captados sem a necessidade de um contato físico. Em
são transmitidas por satélites em órbita a partir da radiona-
outras palavras, são sensores e estão remotos.
vegação, isto é, do fluxo de sinais de rádio entre eles e apare-
A obtenção dos dados vai depender do coeficiente de
lhos receptores, em terra.
reflexão ou albedo dos elementos mapeados. As diferentes
Já o funcionamento do sistema envolve três diferentes
faixas de radiação eletromagnética ou infravermelha são
segmentos: usuário, espacial e controle. O primeiro corres-
captadas à medida que o satélite cobre a superfície e capta
ponde aos dispositivos de geolocalização em aparelhos pró-
a energia por ela refletida. As informações são então pro-
prios ou então acoplados a outros dispositivos como veícu-
cessadas e retransmitidas, mesmo com o equipamento ainda
los, computadores e telefones celulares. É possível também
em órbita. Podem, em seguida, servirem de base para mapas,
a instalação de receptores em armamentos, o que aumenta
utilizadas diretamente como imagens ou então abastecer
consideravelmente a precisão desses em relação a um alvo.
bancos de dados. Assim, as imagens que são passadas a nós
O segundo envolve uma rede de satélites geolocalizadores
são uma “tradução”/remodelação das informações captadas
em órbita. Atualmente, 127 equipamentos dessa natureza,
pelos satélites e são acrescidas cores e contornos.
distribuídos em seis diferentes sistemas de posicionamento,
É através do sensoriamento remoto que diferentes se-
viabilizam o funcionamento do serviço em todo o mundo. O
tores podem ser abastecidos com as informações espaciais.
terceiro, por sua vez, diz respeito a estações de controle e
Exemplos disso são a meteorologia, a partir da previsão do
monitoramento situadas em terra. A função delas é sincro-
tempo e a agropecuária, com o planejamento de atividades
nizar e auxiliar a transmissão de dados entre os outros dois
no campo e até mesmo o monitoramento de impactos am-
segmentos.
bientais. Os satélites imageadores também têm grande im-
Além da radionavegação, o Sistema de Posicionamento
portância para as Forças Armadas.
Global utiliza da triangulação entre satélites para determinar
a localização dos usuários. Nesse procedimento, um receptor
8.3 Sistema de informações geográficas (SIG) é localizado por três ou quatro satélites de modo simultâneo
e que conseguem monitorar a posição e os deslocamentos a
O sistema de informações geográficas é encontrado em partir de um ponto.
programas computacionais especializados no tratamento das Lançado em 1978 pelos Estados Unidos como uma tec-
informações espaciais, isto é, dados referenciados espacial- nologia militar, o GPS foi gradativamente liberado para o uso
mente no chamado geoprocessamento. O principal meio ope- civil. Sucessivas modernizações posteriores ampliaram a pre-
racional é a integração dos dados e de equipamentos para cisão da tecnologia e a qualidade do sinal. Em 2022, Estados
que ocorra a convergência das informações. Unidos (GPS), Rússia (GLONASS), China (BeiDou), União Eu-
Nesse sentido, o SIG consegue trabalhar com diferentes ropeia (Galileo), India (IRNSS) e o Japão (QZSS) controlavam
fontes ao mesmo tempo. Ele é capaz de reunir mapeamentos os respectivos sistemas de posicionamento, cada qual com
já realizados, imagens obtidas pela aerofotogrametria ou por uma rede de satélites dedicados.
meio do sensoriamento remoto, além de outras variáveis es-
32
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Campos e Habilidades do ENEM

HABILIDADE 6
Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.

EXEMPLO
(Enem)

A ONU faz referência a uma projeção cartográfica em seu logotipo. A figura que ilustra o modelo dessa projeção é:

a) b)

c) d) e)

COMENTÁRIO

é O logotipo da ONU (Organização das Nações Unidas) foi elaborado a partir de uma projeção cartográfica plana ou
azimutal com perspectiva a partir do polo norte geográfico da Terra.

RESPOSTA: ALTERNATIVA A

33
34
Mapeando o saber
Geografia
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Elementos do clima e
2.Clima e tempo
fatores climáticos Uma das principais diferenças que devem ser considera-
das no estudo dos sistemas climáticos envolve as definições
de tempo e de clima. Nesse sentido, o tempo refere-se ao es-
Geografia 1 AULAS: 7 e 8 tado da atmosfera em um determinado momento e conforme
uma dada localidade terrestre. Ele equivaleria, por exemplo,
Competência(s): Habilidade(s): 15, 26, 27, a afirmarmos que horas depois de uma forte chuva, o tempo
3, 6 28, 29 e 30
voltou a ficar ensolarado sobre o Rio de Janeiro.
Caracterizado por rápidas mudanças, o estado do tempo
apresenta variações expressivas que estão ligadas às condi-
ções atmosféricas. Além disso, essa dinâmica está ligada à
1.Introdução previsão do tempo, sendo ainda o objeto de estudos da me-
teorologia: campo dedicado à análise dos fenômenos meteo-
Um dos aspectos naturais de maior relevância no estu- rológicos e das condições atmosféricas. À medida que novas
do da Terra e dos fenômenos planetários refere-se ao clima. tecnologias, tais como radares meteorológicos e satélites, são
Caracterizado por apresentar um grande dinamismo e diver- desenvolvidas, a previsão do tempo e a meteorologia em si
sidade entre os climas mundiais, o sistema climático interfe- ganham uma maior precisão.
re e, ao mesmo tempo, sofre interferência direta do planeta. Por outro lado, o clima pode ser definido como uma
Exemplos dessa conexão não faltam. Em primeiro lugar, além média ou repetição habitual, a longo prazo, de vários tem-
de influenciar a evolução das paisagens ao longo do tempo pos. Em uma comparação com o exemplo anterior, quente
geológico, o clima apresenta-se como fator crucial para o sur- e úmido representam as características climáticas do Rio de
gimento e a manutenção da vida terrestre. Janeiro, ou seja, um aspecto mais duradouro. Ao contrário da
Essa realidade só é possível em função da existência da grande variação e do curto prazo comuns ao tempo, o enfo-
atmosfera, camada gasosa situada ao redor do planeta. Rica que do clima está em analisar padrões que são detectados
em nitrogênio (N2) e oxigênio (O2), é no interior dela que em um maior intervalo. Nesse sentido, segundo a Organiza-
ocorrem os fenômenos meteorológicos que, uma vez reuni- ção Meteorológica Mundial (OMM), as observações devem
dos, ajudam a configurar o clima. Por outro lado, a Terra tam- acontecer ao longo de 30 anos.
bém pode alterar os padrões ou o comportamento climático. O clima também é caracterizado por apresentar-se em
Nesse sentido, transformações antrópicas, especialmente as diferentes tipos pelo mundo. Essa diversidade é o resultado
verificadas nos últimos séculos, vêm alterando as caracterís- da articulação entre a atmosfera e outros fatores naturais.
ticas da atmosfera. Logo, o estudo climático, denominado climatologia, possui
Logo, a interação é uma das palavras-chave para com- uma maior abrangência que o referente aos tempos, a me-
preendermos o que é o clima. O estudo das diferentes ocor- teorologia.
rências que o caracterizam leva em consideração a relação Com efeito, na climatologia, o principal eixo de pesquisas
entre o clima, a radiação solar e a superfície terrestre. En- vai girar em torno da relação entre os chamados elementos
tender as articulações entre atmosfera, litosfera e hidrosfera climáticos e os fatores climáticos. Os dois aspectos, em con-
fazem da biosfera o ápice para os sistemas climáticos, assim junto, interagem continuamente entre si e levam à formação
sendo a natureza da climatologia, a qual nos dedicaremos a dos climas mundiais.
seguir.

3. Elementos e fatores do clima


A distinção entre elementos e fatores climáticos depende
ATMOSFERA - AR do papel que os dois assumem na dinâmica climatológica e
também em relação aos componentes que os representam.
Os elementos do clima, por exemplo, correspondem aos as-
BIOSFERA pectos da atmosfera que podem ser alterados e controlados
por meio de outros condicionantes. Nesse sentido, vão com-
portar-se como características observáveis pelo homem e va-
HIDROSFERA - ÁGUA LITOSFERA - TERRA
riar de localidade em localidade no espaço.
Podemos encontrar quatro grandes elementos do clima.
São eles a temperatura, a umidade do ar, a pressão atmosféri-
ca e a radiação solar. A definição e a diferenciação dos climas
35
Geografia
mundiais passam, necessariamente, pelos padrões caracterís- cipais mecanismos para um ganho ou uma perda na tempe-
ticos presentes nesses quatro elementos. Isso pode ser visto ratura. Diferentes escalas são utilizadas para mensurá-la. É o
nas variáveis que existem entre o clima temperado oceânico caso da temperatura em graus Celsius (ºC) ou então a escala
e o clima temperado continental. Valores distintos como na Fahrenheit (ºF), sendo essa mais usada em países anglófonos.
média das temperaturas ou do volume mensal de chuvas ve-
rificados nos dois climas nada mais são que a consequência
da interferência de algum condicionante externo: os fatores 4.1 Latitude
do clima.
Logo, dentro da climatologia, os fatores climáticos as- A relação entre a latitude e a temperatura decorre da es-
sumem o papel de agentes responsáveis pela regulação dos fericidade do planeta e do ângulo de incidência que os raios
elementos climáticos. Seis componentes os formam: latitude, solares formam ao atingir a superfície terrestre. Como a lati-
altitude, maritimidade, continentalidade, massas de ar e cor- tude indica a distância em graus de um ponto na superfície
rentes marítimas. Em conjunto, eles conseguem influenciar, terrestre em relação à Linha do Equador, quanto mais afas-
interferir e condicionar a temperatura, a pressão, a umidade tado desse paralelo, maior será o valor da latitude. O ponto
e a radiação solar, ou seja, os elementos do clima. Os fe- máximo são os polos (90º N e 90º S).
nômenos atmosféricos tais como uma chuva resultam dessa
articulação.

FATORES CLIMÁTICOS

ALTITUDE

CONTINENTALIDADE

LATITUDE

CORRENTES
OCEÂNICAS As latitudes mais elevadas localizam-se em porções onde
a curvatura da Terra é mais perceptível quando comparada à
VENTO E
MASSAS DE AR existente no Equador. Essa condição natural impede que os
raios de sol formem 90º com superfície, medida angular que
estabelece a máxima incidência solar e, por consequência,
Observe ainda a presença de aspectos que possuem mais temperaturas mais elevadas.
relação com a superfície terrestre do que com fenômenos at- Nesse sentido, é somente em baixas latitudes que a
mosféricos em si. É o caso da altitude, da maritimidade e da maior incidência será verificada. Por outro lado, nas médias e
continentalidade. O estudo dessas interações precisa ser visto altas latitudes, o ângulo formado pelos raios nunca será igual
a partir de cada articulação entre um fator e um elemento do a 90º, o que torna a incidência dos raios de sol mais oblíqua.
clima, pois depende de uma série de condicionantes e va- Portanto, quanto menor a latitude, maior a incidência solar e
riáveis para gerar resultados. Essa lógica é o que veremos a maior a temperatura
seguir.

Glossário geográfico
Descobrindo Agora
Quando há uma elevada alteração de temperatura, fala-se que houve
uma “elevada amplitude térmica"
Em baixas latitudes, a temperatura é maior por causa da ele-
vada absorção dos raios solares. Já em elevadas latitudes os
4. Temperatura raios entram com ângulos agudos e aumentam a sua reflexão.
Além disso, quando os raios percorrem maiores distâncias na
atmosfera em direção à superfície terrestre, a energia acaba se
A temperatura, que indica a medida do grau de agitação dissipando devido ao atrito com partículas suspensas.
das moléculas que compõem um corpo, é um dos principais
elementos e atributos do clima. A variação dela, no espaço,
depende da interação com os fatores climáticos e até mesmo Além disso, a combinação entre a incidência solar e a
elementos, como ocorre, por exemplo, conforme alterações variação latitudinal contribui para o estabelecimento das zo-
na pressão atmosférica. O padrão da superfície, a constitui- nas térmicas da Terra. As baixas latitudes ou zona térmica
ção da atmosfera e a incidência de raios solares são os prin- tropical situam-se entre o Equador (0º) e os trópicos de Cân-
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VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

cer (23º27'N) e de Capricórnio (23º27'S). As médias latitudes cume nevado de cadeias montanhosas que apresentam tem-
ou zonas térmicas temperadas ocorrem nos dois hemisférios. peraturas muito baixas.
Ao norte ela é delimitada pelo Trópico de Câncer e o Cír-
culo Polar Ártico (66º67’N). Ao sul, os limites são o Trópico Glossário geográfico

de Capricórnio e o Círculo Polar Antártico (66º67’S). As al- Albedo: característica dos raios solares serem refletidos por uma su-
tas latitudes da zona térmica polar situam-se entre o Círculo perfície
Polar Ártico (66º67’N) e o Polo Norte (90ºN) e também no
hemisfério sul, entre o Círculo Polar Antártico (66º67’S) e o Já a latitude, a partir dos diferentes ângulos de incidên-
Polo Norte (90ºS). cia solar com a superfície terrestre, também repercute em
padrões desiguais de radiação solar. As baixas latitudes, isto
é, as zonas tropicais, apresentam taxas maiores de radiação
4.2 Altitude devido ao elevado ângulo de incidência formado com a su-
perfície. Já as altas latitudes e as respectivas zonas polares
A altitude, estabelecida como a distância vertical entre no extremo norte e extremo sul da Terra não favorecem uma
um ponto da superfície terrestre e o nível médio do mar, inter- recepção adequada da radiação solar.
fere na temperatura em função do ar rarefeito. Nesse sentido, Como consequência, as regiões equatoriais apresentam
em altitudes elevadas, a pressão atmosférica diminui e o ar boas condições de radiação e absorção de energia, resultan-
se torna menos denso, ou seja, rarefeito. Essa redução da do em temperaturas maiores. Regiões polares, entretanto,
pressão e da densidade no ar também repercute no compor- apresentam boas condições menos favoráveis à radiação,
tamento dos gases, que ficam menos concentrados. com elevada reflexão pela cobertura glacial, o que resulta em
Como essas moléculas atuam diretamente na absorção temperaturas menores e um desequilíbrio térmico.
e na transmissão de calor, menores concentrações impactam
diretamente na temperatura. Consequentemente, a propor-
ção reduzida de gases, característica do ar rarefeito, reduz
6. Pressão Atmosférica
a temperatura de modo proporcional. Segundo esse padrão,
A pressão atmosférica pode ser definida pela força que o
quanto maior a altitude, maior a rarefação do ar e menor a
peso do ar exerce sobre as moléculas de ar e também sobre
temperatura.
a superfície terrestre. À medida que o peso e a pressão au-
Outra consequência dessa dinâmica envolve a capacida-
mentam, as moléculas ficam mais concentradas e próximas
de cardiorrespiratória dos seres humanos, que também é im-
umas das outras no ambiente. Essa dinâmica, por exemplo, é
pactada pelo efeito da altitude devido à baixa disponibilidade
verificada na relação entre a pressão atmosférica e a altitude.
de oxigênio quando comparada ao nível do mar.
Essa, que atua como fator climático, interfere na primeira, um
elemento climático.
5. Radiação Solar Outra interação envolve o fator climático. Ele influencia a
pressão atmosférica existente em faixas latitudinais ao norte
Elemento climático com forte relação com a temperatu- e ao sul, sobretudo em função do aquecimento desigual da
ra e a latitude, a radiação solar envolve o contato dos raios Terra. Logo, a temperatura também relaciona-se com a pres-
solares com a superfície da Terra. Também são considerados são. Ao regularem-na, tanto a altitude quanto a latitude inte-
os efeitos da interceptação dos raios, isto é, a transmissão de ragem diretamente e ao mesmo tempo com ambientes mais
calor, sendo que o padrão de superfície terrestre atua como quentes ou mais frios.
um dos principais aspectos dessa dinâmica.
Nesse caso, características como a tonalidade da cober- 6.1 Altitude
tura do solo influenciam diretamente a temperatura a partir
da incidência do sol. O contato da radiação com superfícies A força que o ar exerce sobre a superfície não é a mesma
mais escuras aumenta a absorção de energia, na faixa de em todas as altitudes em relação ao nível do mar. Isso ocorre
ondas longas. Além de elevar a temperatura e tornar o am- em função do tamanho da coluna de ar, isto é, a distância
biente aquecido, superfícies mais escurecidas apresentam entre os níveis mais elevados da atmosfera e o ponto da su-
taxas reduzidas de reflexão, ou seja, um albedo menor. É o perfície terrestre em questão.
caso do asfalto e de áreas densamente urbanizadas, sob forte Quanto maior a coluna de ar, maior será também a pres-
presença do homem e transformação antrópica. são exercida por ele. A força da gravidade também será mais
Entretanto, superfícies mais claras têm como propriedade elevada, comprimindo ainda mais as moléculas de ar. Essa
uma elevada reflexão, o que leva à perda de energia e, como condição é verificada em níveis menores de altitude, princi-
resultado, temperaturas menores. Ao mesmo tempo, a alta palmente ao nível do mar (0 m). Como o ar é compressível, a
reflexão (maior albedo) traduz-se em uma absorção reduzida força nesse ponto será a maior possível em virtude da maior
de energia. É o caso, por exemplo, de calotas polares e do coluna de ar.
37
Geografia
Porém, a coluna de ar diminui de tamanho à medida que enquanto que outras, mais secas ou áridas, são caracteriza-
a altimetria aumenta. Em outras palavras, em altitudes ele- das por grandes oscilações térmicas. Essa realidade pode ser
vadas, a menor coluna de ar promove uma menor pressão e vista, por exemplo, com relação à maritimidade e a continen-
força sobre a superfície. Logo, quanto maior a altitude, menor talidade.
será a coluna de ar sobre a superfície e, consequentemente,
menor a pressão atmosférica. 7.1 Maritimidade
Além dessa dinâmica, outra articulação em torno da pres-
são atmosférica envolve a circulação do ar. Quanto mais frio e Entende-se por maritimidade a maior proximidade de
denso é o ar, maior será a tendência dele em estabelecer um um ponto da superfície terrestre em relação a grandes corpos
movimento de descida. Combinado à rotação terrestre, essa d’água, isto é, oceanos e mares. Uma menor distância, por-
parcela de ar desloca-se para baixo, em direção à superfície, tanto, assegura a essas localidades uma maior presença de
em um movimento giratório. Ao redor dessa área surge uma umidade atmosférica na forma de vapor d’água.
zona de alta pressão que empurra o ar para os arredores. Esse A origem dessa elevada umidade está na interação entre
novo deslocamento pode ser visto na forma dos ventos. a hidrosfera e a atmosfera, ou seja, no processo de evapora-
Logo, os ventos movimentam-se de uma área de alta ção da água a partir dos oceanos e mares, além da formação
pressão para outra, à baixa pressão, que comporta-se como o de chuvas, que completam o ciclo. Quando presente, o efeito
destino ou então uma zona de recepção dos fluxos de ar. Nes- da maritimidade leva a menores amplitudes térmicas anuais.
se deslocamento, mais próximo da superfície, o ar torna-se Isso corresponde a uma menor diferença entre a maior e
aquecido e, menos denso, iniciará uma trajetória ascendente, a menor temperatura registradas em uma determinada loca-
isto é, para cima. Esse escape, que também ocorre em um lidade ao longo de um ano. E isso se dá pelo maior arma-
movimento giratório, cria uma zona de baixa pressão atmos- zenamento de calor pela grande quantidade de vapor d’água
férica na superfície logo abaixo. existentes nesses locais. A maior parte deles está situada nas
Portanto, áreas de baixa pressão atmosférica surgem baixas latitudes da Terra, área de elevada incidência solar e
como zonas de convergência e ascendência dos ventos. Nes- grande umidade do ar.
se sentido, à medida que a parcela de ar sobe, ela perde tem-
peratura e o vapor d’água nela presente transforma-se em
nuvens, com o potencial de produzir chuvas. Por outro lado, Interdisciplinaridade
as áreas de alta pressão atuam como zonas de divergência,
ou seja, pontos de partida dos ventos, e também de subsi-
dência de um ar mais frio, em movimentação desde altitudes A umidade do ar consegue minimizar a amplitude térmica de-
vido ao calor específico sensível da água ser muito alto (vale
mais elevadas. relembrar a fórmula Q = m . c . ΔØ), ou seja, para conseguir
aquecer a água e fazer a sua temperatura variar, é necessá-
ria uma quantidade de energia muito grande. Isso difere de
7. Umidade quando o ar está seco, que, assim como a areia da praia, terá
a variação de temperatura elevada com pouca energia.

A umidade corresponde à quantidade de vapor d’água


na atmosfera registrada em relação a um local e em um de- Nesses locais, a presença de oceanos aquecidos, florestas
terminado momento. Essa presença da água em estado de equatoriais, com forte evapotranspiração e da convergência
vapor está relacionada a uma série de fatores, como a super- de ventos úmidos na ZCIT/ITCZ - Zona de Convergência Inter-
fície terrestre. Os processos de evaporação e evapotranspira- tropical - resulta em um volume expressivo de vapor d’água
ção repercutem diretamente nessa dinâmica. atmosférico.
O quantitativo pode ser mensurado na condição de
umidade absoluta ou de umidade relativa. A primeira delas
indica a quantidade total de vapor d’água em uma parcela 7.2 Continentalidade
de ar, o que corresponde a 4%. Quando acima desse valor,
as gotículas mudam de estado físico e passam à condição Já a continentalidade está relacionada à menor proximi-
de líquidas. Já a umidade relativa expressa a relação entre o dade de oceanos e mares ante qualquer localidade terrestre.
volume de vapor d’água existente e a capacidade máxima de Nessas condições, a maior distância pode resultar na menor
armazenamento pela atmosfera, o que é chamado de ponto presença de vapor d’água na atmosfera desses espaços. Uma
de saturação. consequência da umidade reduzida sob efeito da continen-
A umidade também se relaciona diretamente com a talidade é o registro de uma maior amplitude térmica anual.
temperatura devido à propriedade da água em absorver e A menor disponibilidade de vapor d’água nesses locais
reter calor de modo mais eficiente. Nesse sentido, localidades dificulta a retenção do calor e a manutenção da temperatura
mais úmidas assistem uma menor variação de temperatura ao longo do ano, resultando em verões mais quentes e in-
vernos mais frios. Essa maior oscilação na temperatura anual
38
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

pode ser verificada ao compararmos diferentes localidades 7.3.1 Chuvas convectivas


no mundo.
Tomemos de exemplo Ulan Bator, capital da Mongó- As chuvas convectivas são formadas a partir do aqueci-
lia. Distante pouco mais de 2.450 quilômetros do Oceano mento contínuo da superfície terrestre. Em dias mais quentes,
Pacífico, a leste, a cidade sofre efeitos da continentalidade. essa dinâmica resulta em uma forte evaporação e evapo-
Com temperaturas máxima e mínima, na média, em 18,2ºC e transpiração de água. À medida que o vapor d’água atinge
-21,6ºC, respectivamente, ela apresenta uma amplitude tér- níveis mais altos de altitude, ele condensa e forma grandes
mica de 39,8ºC. Equivale a dizer que o mês de julho, quando nuvens verticais. O vapor transforma-se então em gotícu-
se registra pouco mais de 18ºC, é quase 40 graus mais quen- las que permanecem em suspensão, aumentando o volume
te que o mês mais frio, janeiro, com aproximadamente 22 conforme o movimento ascendente ou convectivo continua.
graus negativos. As chuvas convectivas são caracterizadas por serem de forte
Já a cidade francesa de Nantes está situada a 47 quilô- intensidade, podendo ser acompanhadas de descargas elétri-
metros do Oceano Atlântico, ou seja, sob influência dos efei- cas e granizo, mas elas apresentam uma relativa curta dura-
tos da maritimidade. Com temperaturas máxima e mínima, na ção e menor extensão, restringindo-se a um pequeno espaço.
média, de 19,6ºC e 6,1ºC, respectivamente, a cidade possui As chuvas convectivas podem ser classificadas também como
amplitude térmica de 13,5ºC. chuvas torrenciais e costumam ocorrer no verão.
A oscilação em pouco mais de 13 graus é inferior aos
cerca de 40 graus registrados em Ulan Bator, contrastando
a presença da maritimidade e da continentalidade em am-
bas. Vale ressaltar que Nantes e Ulan Bator estão situadas
nas proximidades de uma mesma latitude: 47º norte. O fator
climático de maior evidência entre as duas, portanto, é a ma-
ritimidade e também a continentalidade.
Outro exemplo do efeito maritimidade pode ser visto
em Cingapura, situada à latitude de 1º, isto é, nos arredo-
res da Linha do Equador, ou seja, a menor latitude terrestre.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/diogomilustrador/
Na localidade, a temperatura mais elevada ocorreu nos me-
ses de maio e junho, com 28,3ºC. Já a menor temperatura,
com 26,4ºC, é verificada em dezembro. A reduzida amplitude
térmica de 1,9ºC é característica das condições espaciais no
entorno de Cingapura: baixas latitudes, região litorânea e a
presença de florestas equatoriais nas proximidades do país.

7.3. Precipitações
A umidade também está relacionada às precipitações at- 7.3.2 Chuvas frontais
mosféricas, as quais incluem as chuvas e a neve. Em ambos
os casos, a mudança no estado físico da água, passando de Já as chuvas frontais são formadas pelo encontro ou
vapor para gotículas líquidas, na condição de chuva, ou em choque entre duas massas de ar de características distintas.
cristais sólidos, quando da formação de neve, ocorre na pró- Logo, é necessária a presença de uma massa quente e de
pria atmosfera. uma segunda massa, a fria, pois será a interação entre as
As chuvas, por exemplo, desenvolvem-se a partir da con- duas que permitirá o desenvolvimento de uma chuva frontal.
densação do vapor d’água. Esse processo é favorecido pela A massa mais fria avança em direção a uma área de baixa
menor temperatura presente na elevada altitude atmosférica. pressão a uma menor altitude pelo fato de ser mais densa. A
Contudo, será a dinâmica da ascensão do vapor, a partir da massa mais quente, por sua vez, menos densa, progride em
evaporação e da evapotranspiração desde a superfície, que direção à mesma área de baixa pressão em uma altitude um
vai determinar o tipo de chuva a ser formada. pouco maior. Quando encontram-se, as duas massas se cru-
Nesse sentido, verifica-se a existência de três padrões de zam, fazendo com que a massa mais fria seja empurrada para
chuvas: as convectivas, as frontais e as orográficas. cima, ao mesmo tempo em que força a massa mais quente
para baixo. Como será a parte dianteira das massas de ar que
farão contato, dizemos que são duas frentes: uma frente fria
e outra frente quente. A consequência é a formação de uma
extensa zona de instabilidade, com nebulosidade constante e
a precipitação de água na condição de chuva frontal.
39
Geografia
Esse tipo de chuva apresenta uma longa duração, poden-
do estender-se por dias. Ao mesmo tempo, ocorrem em uma
8. Massas de ar
área extensa, mas são caracterizadas por uma intensidade
Outro fator climático de grande importância são as mas-
variável. As chuvas convectivas podem ser classificadas tam-
sas de ar. Elas constituem grandes porções de ar que deslo-
bém como chuvas ciclônicas.
cam-se de um ponto a outro no espaço, podendo alterar as
condições de tempo em meio à sua passagem. Essa dinâmica
só é possível pelo fato de uma massa de ar apresentar carac-
terísticas próprias em termos de temperatura e de umidade.
Fonte da imagem: https://www.shutterstock.com/pt

Assim, a classificação das massas de ar é feita com base


entre aquelas de tipologia quente ou então fria, além da ti-
pologia seca ou úmida. O fato de variarem em temperatura
e umidade decorre da interação com superfície situada onde
as massas são formadas. Locais situados às baixas latitudes
vão formar massas de ar quentes ao passo que os em altas
latitudes vão desenvolver massas de ar frias. Além disso, via
de regra, massas de ar que surgem sobre oceanos tendem a
ser úmidas. Já as que se desenvolvem sobre continentes têm
7.3.4 Chuvas orográficas a característica de serem secas. No entanto, à medida que as
massas de ar avançam sobre outras áreas, elas têm algumas
Por sua vez, as chuvas orográficas são resultado da pas- dessas características alteradas, especialmente a umidade.
sagem do ar úmido por áreas de considerável altitude, isto é, Isto é, uma massa de ar fria e seca na origem pode incorporar
barreiras de relevo. Como o ar é forçado a elevar-se em alti- umidade ao atravessar um oceano com águas aquecidas e
tude ao cruzar com planaltos ou montanhas, ele perde tem- passíveis de evaporação.
peratura e condensa-se de modo mais intenso. Consequen- Massas quentes e úmidas tendem a aumentar a tempe-
temente, ocorre a formação de nebulosidade e de chuvas em ratura e gerar instabilidade, com a formação de nebulosidade
meio ao trânsito pelo relevo acidentado. Nessas condições, e chuva por onde circulam. As massas quentes e secas, por
ao passar pela barreira topográfica, a nebulosidade perde in- outro lado, mantém os termômetros em alta, mas transpor-
tensidade e as chuvas têm a força diminuída aos poucos. As tam um ar mais seco, reduzindo a possibilidade de chuvas.
chuvas orográficas, portanto, são mais concentradas mais em Massas frias derrubam temperaturas e promovem fenômenos
uma vertente ou encosta do que na outra, oposta a essa. O como geadas e a friagem com a passagem da frente fria por
lado mais atingido pelas chuvas denomina-se barlavento. Já um espaço. Quando úmidas, também favorecem a ocorrência
o lado oposto, com menos incidência chuvosa, é classifica- de chuvas frontais quando entram em contato com massas
do como sotavento. Ainda em relação às chuvas orográficas, quentes e também úmidas.
esse tipo de precipitação apresenta uma longa duração e in-
tensidade variável. A extensão dela é proporcional à barreira
de relevo encontrada pela umidade. As chuvas orográficas 9. Correntes marítimas
podem ser classificadas também como chuvas de relevo.
Correntes marinhas são grandes massas de água em
constante movimento no oceano, influenciadas pela rotação
terrestre. Apesar da natureza oceânica, elas representam um
importante fator climático e interagem diretamente com a at-
mosfera terrestre, alterando o tempo nos litorais onde atuam.
As correntes são classificadas segundo a origem e a tempera-
tura. Os dois aspectos guardam relação direta entre si.
Fonte: https://escolakids.uol.com.br/geografia/tipos-chuva.htm

As consideradas quentes são formadas em baixas lati-


tudes, onde ocorre a presença de águas aquecidas. Esse tipo
de corrente apresenta baixa densidade, o que favorece um
deslocamento mais veloz e em menor profundidade. Elas tam-
bém promovem uma maior evaporação de água, benefician-
do a formação de chuvas no oceano e em litorais por onde
passam. São exemplos dessas a Corrente do Brasil, que atua
no litoral oriental brasileiro, e a Corrente do Golfo, que par-
te do Atlântico Ocidental em direção ao noroeste da Europa.

40
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

É importante ressaltar para o lado onde as correntes circulam: no Hemisfério Sul elas circulam em sentido anti-horário e no
Hemisfério Norte no sentido horário.
As correntes frias, por sua vez, têm a formação concentrada em altas latitudes, onde os oceanos apresentam baixas tempe-
raturas. Ao deslocarem para latitudes menores, essas correntes empurram uma massa de água gelada, reduzindo a evaporação e
o volume de chuvas nas regiões costeiras. Uma consequência disso é a formação de desertos litorâneos como o do Atacama, no
sudoeste da América do Sul, e o da Namíbia, no sudoeste da África. A Corrente de Humboldt e a Corrente de Benguela, ambas
desenvolvidas próximo à Antártida, são um dos responsáveis pelas duas formações, respectivamente. Via de regra, por serem
mais densas, as correntes frias deslocam-se em maior profundidade e são mais lentas que as correntes quentes.

Fonte: https://www.coladaweb.com/geografia/correntes-maritimas

41
Geografia

Campos e Habilidades do ENEM

HABILIDADE 29
Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provo-
cadas pelas ações humanas.

EXEMPLO
(Enem)

Umidade relativa do ar, por região


do país, para o dia 28/08/2014
Regiões Umidade relativa
(intervalo médio)
Norte
60 − 70%
Nordeste
90 − 100%
Centro-Oeste
55 − 65%
Sudeste
65 − 75%
Sul
90 − 70%

No dia em que foram colhidos os dados meteorológicos apresentados, qual fator climático foi determinante para explicar
os índices de umidade relativa do ar nas regiões Nordeste e Sul?
a) Altitude, que forma barreiras naturais.
b) Vegetação, que afeta a incidência solar.
c) Massas de ar, que provocam precipitações.
d) Correntes marítimas, que atuam na troca de calor.
e) Continentalidade, que influencia na amplitude da temperatura.

COMENTÁRIO
é A alternativa [C] está correta porque a tabela apresenta dados registrados no inverno (28/08/2014) o que sugere o
ingresso da massa Polar Atlântica responsável pelas frentes frias e chuvas frontais na região sul e ao se deslocar pelo
litoral, chuvas na região nordeste. As alternativas incorretas são: [A], porque as chuvas orográficas ocorrem em todo o
litoral brasileiro, mas perante os dados apresentados, não explicam a incidência sobre o sul e o nordeste; [B], porque
embora a vegetação não se constitui como causa para umidade no nordeste; [D], porque as correntes marítimas afetam
todo litoral; [E], porque a continentalidade resulta em menor umidade.
RESPOSTA: ALTERNATIVA C

42
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Mapeando o saber

43
Geografia
no ar também fazem parte dessa camada e têm importância
Dinâmicas climáticas na dinâmica climática. Assim, os gases mais abundantes no
planeta Terra são: Nitrogênio (78,08%), Oxigênio (20,95%)
e Argônio (0,93%). Assim, a maior parte dos gases (99%) fi-
cam a até 32 quilômetros de altitude. Além disso, eles só não
Geografia AULAS: 9 e 10
conseguem escapar do planeta Terra devido à gravidade as-
sociada à energia cinética das moléculas do gás e com a sua
velocidade de escape (11km/s), como afirma a Distribuição
Competência(s): Habilidade(s): 15, 26, 27,
3e6 28, 29 e 30 de Maxwell-Boltzmann. Se considerarmos apenas a parte do
ar limpa e seca, o hidrogênio e o oxigênio correspondem a
99% dos gases atmosféricos.

1 Introdução 2.1. As camadas da atmosfera

Fonte: https://www.iag.usp.br/siae98/atmosfera/
Estudar o clima é analisar como a temperatura e a umi-
dade são alteradas no ciclo anual, já que as estações do ano
estão associadas à translação e à inclinação do planeta Terra.
Porém o clima não é determinado apenas por esses elemen-
tos. Como o raciocínio geográfico é cumulativo e progressivo,
é importante inicialmente saber os conceitos base sobre a
dinâmica geral de circulação da atmosfera para que poste-
riormente seja feita a análise de funcionamento e regulação Estamos acostumados a ouvir falar que quanto maior a
da temperatura e umidade. altitude, menor é a temperatura. Isso é parcialmente verda-
Além disso, vale diferenciar tempo e clima. O primeiro é de, pois quanto maior a altitude, a atmosfera vai mudando
como se fosse um “retrato” momentâneo de uma localidade as suas características e se segmentando em camadas. No
quando se trata de temperatura e umidade; já o clima, como caso da estratosfera, quanto maior a altitude, mais quente
mencionado, é como a temperatura e umidade se associam e o ar fica. Além das camadas convencionais que costumam
são alteradas em um período de um ano. ser apresentadas na escola, há as camadas transitórias, por
Assim, a atmosfera está em constante movimento por- exemplo a tropopausa que fica entre a troposfera e a estra-
que há um equilíbrio energético (quanto entra e o quanto tosfera.
sai), mas isso só acontece se observarmos em uma escala glo- A troposfera apresenta 12 quilômetros de altitude,
bal, pois em relação a cada latitude esse sistema funciona de aproximadamente, variando principalmente com a latitude.
forma diferenciada, já que o calor (motivador do movimento Essa é a camada de menor altitude e quanto maior a sua al-
do ar) vai da Linha do Equador até os polos. titude, menor fica a sua temperatura, sendo a sua amplitude
térmica de 6,5ºC a cada quilômetro. Como é a camada mais
próxima e de maior importância a nós seres humanos, ela é
2. A constituição atmosférica a mais estudada. Além disso, as nuvens são formadas nessa
camada de ar e chega até o seu limite, a tropopausa. Nesse
A atmosfera é referente à parte gasosa da biosfera, a qual exato momento a nuvem se transforma em Cumulus Nimbus
é composta também pela litosfera e hidrosfera, mas, além e é exatamente o período de chuva, ou seja, essa é uma das
do ar, vale ressaltar que as partículas que ficam suspensas camadas onde há elevada instabilidade.
42
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

A estratosfera tem altitude que varia entre 12 a 50 qui-


lômetros. Conforme ganha elevação, a sua temperatura tam-
bém aumenta até chegar na estratopausa. Esse aumento de
temperatura se dá devido a presença da camada de ozônio e
não há turbulência nessa camada devido o comportamento BURACO DE
RADIAÇÃO
da temperatura, a qual varia de -60ºC a 0ºC. OZÔNIO

Na mesosfera a temperatura volta a cair e varia de 0


ºC a -90ºC, nesse caso ela fica entre as altitudes de 50 e 80 ULTRAVIOLETA ZÔNIO
A DE O
quilômetros de altitude. CAMAD

Aqui cabe a definição de temperatura, ou seja, é o grau ATMOS


F ERA

de agitação das moléculas. Assim, a termosfera e seu início,


junto à mesopausa, têm temperatura constante, a qual cha-
TERRA
mamos de isotermia, e se eleva com a altitude pela absorção
de ondas curtas emitidas pelos raios solares por átomos de
nitrogênio e oxigênio. Ou seja, a temperatura que é sentida Caso o Protocolo de Montreal não tivesse sido assinado,
aqui próximo à superfície terrestre não é equivalente a essa possivelmente as áreas de média latitude teriam sido as mais
aferida em elevada altitude, isto é, acima dos 80 quilômetros prejudicadas no planeta Terra, o que alteraria o regime de
de altitude. Entretanto, um caso particular, a ionosfera, que absorção de carbono pela vegetação e possivelmente faria
fica até os 900 quilômetros de altitude, recebe esse nome de- com que o planeta Terra tivesse um aumento em 2,5ºC.
vido à presença elevada de íons, assim, há perda de elétrons A água corresponde a 0,25% da massa total do planeta
de moléculas e átomos do nitrogênio e do oxigênio e é onde Terra, mas, ao considerar apenas o vapor de água, ele fica em
ocorrem as auroras (boreal e austral). sua maioria na troposfera, ou seja, entre 8 a 16 quilômetros
de altitude. Diferentemente do Ozônio, o vapor de água reage
com os raios infravermelhos que chegam do Sol até a Terra.
Assim, a umidade do ar, a qual está relacionada com a quan-
tidade de vapor de água no ar, é uma importante reguladora
do clima, pois ela é quem irá reter a quantidade de energia
e calor.

A umidade é a quantidade de água em forma de vapor dispersa pelo


ar. A umidade é um dos elementos mais importantes da atmosfera e
influencia a temperatura, a sensação térmica e os períodos de chuva.
É o vapor de água que determina a umidade relativa do ar e sofre in-
fluência direta da temperatura. Trata-se da relação entre a quantidade
máxima de vapor que o ar pode admitir na mesma temperatura. É o
que denominamos ponto de saturação. Quando a umidade está baixa,
a amplitude térmica (diferença entre a maior e a menor temperatura
Já a exosfera é a camada mais distante da superfície em um determinado período de tempo) costuma ser maior, fazendo
terrestre, acima de 900 quilômetros, onde o ar é extrema- com que os dias sejam quentes e as noites muito frias.
mente rarefeito e é dessa camada que o gás “escapa” do Disponível em: https://www.thermomatic.com.br/duvidas-frequen-
planeta terra. tes/o-que-e-umidade.html

2.2. Os gases atmosféricos


Multiplataformas: Revista/Artigo
Não existem apenas o Nitrogênio, Oxigênio e o Argônio científico
na atmosfera. Há também, por exemplo, o Dióxido de Car- Vapor de Água na atmosfera: do efeito
bono (gás carbônico). Com a sua emissão na atmosfera, é o estufa Às mudanças climáticas.
maior gerador das mudanças climáticas no planeta Terra e a Henrique M. J. Barbosa.
sua porcentagem no ar é relativamente baixa, por isso que o
“mínimo” de sua emissão pode gerar problemas catastrófi-
cos ao planeta. Por outro lado, ele é indispensável durante o
processo de fotossíntese da flora.

43
Geografia

2.3. Circulação geral da atmosfera também influencia na circulação atmosférica do ar, daí a ori-
gem do Efeito de Coriolis. Assim, as correntes em altitude no
Hemisfério Norte que vêm de norte a sul são correntes de
leste, e as correntes em altitude no Hemisfério Sul que vão de
Fonte: https://www.tempo.com/noticias/ciencia/circulacao-geral-da-atmosfera-terrestre.html

sul a norte são ventos de oeste.


Rossby (1941) traz outra contribuição, já que foi ele
quem dividiu a circulação do planeta Terra em 3 grandes cé-
lulas e ainda resolveu a questão da influência longitudinal
(maritimidade e continentalidade) com a variação da pressão
atmosférica.
Assim, a Célula de Hadley (também chamada de Célula
Equatorial) vai de 0º a 30º de latitude, sendo que o ar ascen-
de na Linha do Equador vai até o trópico em altitude e des-
cende. Já na Célula de Hadley (30º a 60º), o ar desce nos tró-
picos e sobe a 60º de latitude. Por fim, na Célula Polar de 60º
a 90º o ar sobe em 60º e desce no polo. Assim, são formadas
Já foi observado que a atmosfera é composta por vá- Zonas de Alta Pressão entre a célula de Hadley e a de Ferrel
rias camadas, as quais têm características diferentes, assim, (30º de latitude) e nos polos. Assim, o ar se dissipa e impede
é importante destacar a movimentação do ar que não ocorre com que o ar úmido chegue até o local, o que faz com que
apenas de forma horizontal (latitudinal ou longitudinalmen- seja nessa região que ocorra a maior parte dos desertos do
te), mas também de forma vertical (em altitude) dentro da mundo. Por outro lado, nas zonas de 0º e 60º são formadas
troposfera. Isso ocorre por diversos motivos, mas o principal é Zonas de Baixa Pressão, locais que ocorre mais chuva porque
pela variação de temperatura que faz o ar mais denso descer há choque de massas de ar que estavam circulando perto da
e o mais quente ascender. Isso, porém, não ocorre de forma superfície terrestre.
isolada, pois há outras diversas variáveis que serão explica-
das e correlacionadas a seguir.
Em primeiro lugar, é perceptível que a distância latitudi- 3. Fenômenos climáticos
nal interfira na temperatura, pois a incidência de raios solares
é completamente diferente ao longo de 1 ano. Isso ocorre
e meteorológicos
devido ao eixo de inclinação do planeta Terra que faz um
Os fenômenos que envolvem a meteorologia podem ser
polo, durante 3 meses, ser mais iluminado, portanto é verão.
tanto atmosféricos, quanto oceânicos. Porém, o que é impor-
Isso só ocorreria se o planeta estivesse estático, mas, como
tante ressaltar é que todos eles estão interconectados e um
está em constante movimento, acabam surgindo “blocos” ou
pode causar consequências sérias em outros. No início do ca-
células de circulação geral de toda essa massa de ar. Ou seja,
pítulo foi citado que o conhecimento geográfico é cumulativo,
é principalmente pela dinâmica da radiação solar, tempera-
assim, o que foi aprendido até então de forma segmentada
tura, pressão alternada e transformação dos raios em calor
passará a ser estudado com paralelos e interação entre os
que faz a atmosfera ser dividida em três grandes células de
conceitos. Ou seja, o que ocorre na atmosfera pode ser um
circulação do ar, são elas: Célula de Hadley, Célula de Ferrel
desdobramento dos efeitos oceânicos, ou até mesmo este
e Célula Polar.
pode contribuir para a ocorrência ou intensificação da atua-
Considerando que a temperatura próxima à Tropopausa
ção atmosférica.
é muito diferente da próxima à superfície terrestre, Hadley e
Até aqui foi mencionada a ocorrência de Zonas de Baixa
Ferrel consideravam a movimentação direta das massas de ar
Pressão na região equatorial do planeta, esse ar que vai do
da Linha do Equador até o polo. No caso de Hadley, ele ob-
trópico à Linha do Equador é chamado de Vento Alísio, isso
servou que próximo aos 30º de latitude havia um vento que
significa que nessa região entre trópicos (intertropical) ocorre
descia, o que ocorre devido à temperatura diminuir conforme
o encontro de massas de ar quente e úmida (Ventos Alísios).
a massa de ar aumentava a sua latitude. Assim, posterior-
Com isso, a densidade do ar é menor, portanto ela ganha
mente, Wehrle e Dedebant em 1933 trazem a Teoria da Ro-
altitude e a água presente no ar condensa e precipita, ou
tação Diferenciada, ou seja, a atmosfera tem um movimento
seja, chove. Devido à dinâmica de translação da Terra junta-
diferente em volta dos polos de sentido oeste para leste, mas,
mente ao seu eixo de inclinação, os raios solares chegam até
como há variação de altitude e latitude, há divisões dentro
a superfície de forma heterogênea ao longo do ano, desta
dessa massa de ar com velocidades diferentes, daí a origem
forma, essa Zona de Baixa Pressão atua em escala regional
do nome dessa teoria.
ao longo do ano, a depender da estação. Assim, no final e
Posteriormente, Bergeron (1928) e Rossby (1941) obser-
começo do ano ela atua mais no Hemisfério Sul (por ser verão
varam que a rotação, de oeste para leste, do planeta Terra
nesse local), já no meio do ano ela está perto da Linha do
44
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Equador, mas a norte, por ser verão nessa época. Assim Assim, formando um furacão, tufão, ciclone ou tornado,
esse fenômeno regional é chamado de Zona de Con- todos acabam sendo chamados de tempestades tropicais
vergência Intertropical (ZCIT / ITCZ). mas estão localizados em regiões diferentes, a periodicidade
que ocorrem costuma ser no verão,assim, a atmosfera acaba
ficando mais instável e há maior movimentação das massas
de ar. Além disso, algumas características entre eles são dife-
rentes e serão descritas a seguir.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/
Descobrindo Agora

Como eles são nomeados:


3.1. Ventos espiralados A Organização Meteorológica Mundial, órgão da Organização
das Nações Unidas (ONU), mantém uma lista para nomear os
Relembrando, os blocos de ar se movimentam de 2 ciclones tropicais em todo o mundo.
maneiras, são elas: de forma horizontal, ou seja, parale- Os nomes dos mais mortíferos, como o tufão Haiyan ou o fu-
racão Katrina, são retirados e substituídos.
lo à superfície terreste; de forma vertical (em altitude), Países nas regiões de furacões, tufões e ciclones enviam su-
ou seja, eles fazem um movimento convectivo, quando gestões para a lista à autoridade global.
o ar esfria ele descende e quando esquenta perto da "Oito países da nossa região, que cobrem a Baía de Bengala
superfície terrestre acaba ganhando altitude. A absor- e o mar da Arábia, enviaram a lista para a OMM no início dos
anos 2000", disse à BBC um reconhecido cientista do Depar-
ção dos raios solares por superfícies está relacionada tamento de Meteorologia da Índia.
com o albedo (índice de reflexão dos raios solares pela "Quase 50% desses nomes para ciclones foram esgotados."
superfície de um objeto). Como dito, mas vale reforçar, "O acordo entre os países da nossa região era garantir que
os nomes não pudessem ofender sentimentos religiosos em
o ar faz esse movimento vertical devido à densidade di- nossos países".
ferenciada como consequência da temperatura, assim,
enquanto um ar desce, o outro sobe podendo gerar a KHADKA, Navin Singh. BBC. 2018. Disponível em: https://
www.bbc.com/portuguese/internacional-45492023
circulação de um vento forte em um único centro.

Interdisciplinaridade 3.1.1. Ciclone

Relacionando esse conceito geográfico com física pois uma


massa de ar só sobe quando uma outra perde altitude. Como
Baptista(2006) afirma:

Destes, Anaxágoras teve um papel especial por que queria


adotar como matéria primordial um corpo infinito formado
pelas sementes que continham todas as propriedades da ma-
téria que hoje encontramos no mundo. E para isso ele teria
que comprovar a inexistência do vácuo, este grande vazio que
existe entre as coisas, entre o Sol, a Lua e a Terra etc., que se
acreditava ser ar, na concepção então vigente. Anaxágoras
tomou uma vasilha, um vaso e mergulhou na água com a
boca para baixo e notou que a água não preenchia todo o
espaço do interior da vasilha. Fez um orifício no fundo do
vaso e quando o mesmo foi emborcado na água retirou a
tampa do orifício e a água tomou todo o interior do vaso. E
com isto ele provou que o ar é corpóreo e que a água antes
não penetrava porque corpos diferentes não podem ocupar o
mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo.

Baptista, José Plínio. Os princípios fundamentais ao longo


da história da física. Revista Brasileira de Ensino de Física Os ciclones ocorrem com o ar rotacionando acima de 120
[online]. 2006, v. 28, n. 4 [Acessado 10 Janeiro 2023], pp.
541-553. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102- km/h, ou seja, é uma nomenclatura genérica para ventos que
47442006000400017>. Epub 05 Mar 2007. ISSN 1806- circulam sob um centro de baixa pressão em elevada velo-
9126. https://doi.org/10.1590/S0102-47442006000400017. cidade. Os ciclones ocorrem no sul do Oceano Índico e na
região próxima ao nordeste da Oceania. No Hemisfério Norte

45
Geografia
os ciclones têm centros de baixa pressão que giram no sen- Reboita, Michelle Simões et al. Ciclones em Superfície nas Lati-
tido anti-horário. Já no Hemisfério Sul são centros de baixa tudes Austrais: Parte I - Revisão Bibliográfica. Revista Brasileira
pressão e giram em sentido horário. de Meteorologia [online]. 2017, v. 32, n. 2 [Acessado 10 Janeiro
2023], pp. 171-186. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0102-
77863220010>. ISSN 1982-4351. https://doi.org/10.1590/0102-
3.1.1.1. Ciclone Tropical 77863220010.

Originado no oceano devido a elevadas temperaturas e Cabe também mencionar que há alguns ciclones com ca-
a evaporação da água, gera um complexo sistema de nuvem racterísticas mescladas, ou seja, que têm semelhanças tanto
e tempestade. É formado em região tropical e com o seu dos ciclones tropicais quanto dos subtropicais assim sendo
centro de baixa pressão atmosférica e chega a ter em torno chamados de híbridos ou ciclones subtropicais.
de 119 km/h. Além disso, costumam ocorrer entre novembro
e abril, além disso são formados nas regiões intertropicais. 3.1.2. Anticiclones
Com relação aos ciclones tropicais, o estudo desses sistemas ganhou Diferente dos ciclones, os anticiclones são centros de alta
notoriedade entre as décadas de 1940 a 1960 com os trabalhos de
Riehl (1948), Ramage (1959) e Gray (1968). A gênese dos ciclones pressão atmosférica e estão relacionados com a circulação
tropicais não resulta da existência de gradientes horizontais de tem- dos ventos na célula de Hadley. O que você precisa saber
peratura em superfície como a dos ciclones extratropicais e, sim, da ao vestibular é para qual direção esses ventos circulam. No
combinação da presença de anomalias ciclônicas em superfície e da
liberação de calor latente proveniente da evaporação dos oceanos tro-
Hemisfério Norte os anticiclones têm centros de alta pressão
picais (Palmén, 1956; Gray, 1968; Emanuel, 1991). Portanto, quando que giram no sentido horário. Já no Hemisfério Sul esses cen-
um ciclone tropical atinge a superfície continental sua fonte de ener- tros de alta pressão giram em sentido anti-horário.
gia, em geral, cessa e o sistema enfraquece, podendo dissipar ou se
transformar em um ciclone extratropical, dependendo das condições
sinóticas.

Reboita, Michelle Simões et al. Ciclones em Superfície nas Latitudes


Austrais: Parte I - Revisão Bibliográfica. Revista Brasileira de Meteoro-
logia [online]. 2017, v. 32, n. 2 [Acessado 10 Janeiro 2023], pp. 171-
186. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0102-77863220010>.
ISSN 1982-4351. https://doi.org/10.1590/0102-77863220010.

3.1.1.2. Ciclone Extratropical


Os Ciclones Extratropicais ocorrem em regiões de latitu-
de mediana com o seu centro de baixa pressão. Além disso,
em sua formação ocorre a formação de uma frente fria que
se choca a uma frente quente.

A formação e o comportamento dos ciclones extratropicais vêm sen-


do estudados desde o século XIX, devido às alterações nas condições
de tempo que esses sistemas provocam nas regiões onde atuam. O 3.1.3. Furacão
primeiro modelo conceitual mais realístico dos ciclones extratropi-
cais foi proposto por Bjerknes (1919) e Bjerknes e Solberg (1922). O furacão apresenta uma dimensão maior, assim não
Nestes estudos, a formação dos ciclones extratropicais foi associada
à presença de gradientes horizontais de temperatura em superfície sendo muito fácil observá-lo a olho nu, atua na América do
(isto é, associado a uma zona baroclínica) e o aprofundamento do Norte, ocorrem entre junho e novembro. Além disso. são clas-
ciclone ocorre com a rotação da frente fria em torno do centro de sificados de acordo com a sua velocidade, a qual costuma ser
baixa pressão até que a mesma alcance a frente quente, que tem
maior que 120 km/h, em uma escada de 1 a 5. Assim como é
menor velocidade de deslocamento do que a frente fria. Na década
de 1990, Shapiro e Keyser, estudando casos de ciclogêneses com possível de ser observado pela tabela a seguir.
rápida intensificação, verificaram que em alguns ciclones a frente
fria deslocava-se perpendicular à frente quente de forma que es-
sas, geralmente, não se encontravam. Com isso, surgiu outro modelo
conceitual de ciclones, o chamado modelo de Shapiro e Keyser. É
importante ressaltar que o modelo desses autores não substitui o
modelo de Bjerknes e Solberg, ou seja, é um modelo adicional que
descreve as características de ciclones que são diferentes das do pri-
meiro modelo desenvolvido.

46
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Velocidade entre 119 e 153 km/h, Muitas pessoas acabam se confundindo e afirmam que
pode causar pequenos danos a no Brasil ocorrem furacões, mas não, o que há é o tornado.
Categoria 1 árvores, gerar pequenos danos a
instalações e pequenas inunda- Vale relembrar que os tornados se formam em terra firme.
ções. Recentemente houve mais casos de registros de tornados no
Tem velocidade entre 154 e 177 Brasil e isso têm algumas justificativas: as mudanças climáti-
km/h. Pode arrancar árvores, pla-
Categoria 2
cas e causar danos a telhados de
cas que potencializa as os eventos mais extremos do planeta
casas. e o maior número de pessoas que estão ocupando áreas mais
Tem velocidade entre 178 e 209 interioranas principalmente do Sul e Sudeste do país, antes
km/h, pode retirar árvores de
Categoria 3 grande porte além de causar da-
eram registrados mais próximo ao litoral pois era onde as
nos nas estruturas de casas pe- pessoas se localizavam e tem um contribuinte que são os
quenas. celulares, os quais têm câmeras que permitem o maior nú-
Com velocidade entre 210 e 249 mero de registro. Falando mais sobre o tornado no Brasil.
Categoria 4 km/h, gera danos severos a infra
estruturas como casas. Nessa região é mais favorável a ocorrência pois há o choque
Apresenta ventos com mais de de algumas massas de ar com características diferentes: a
250 km/h, casas menores podem mPa (Massa Polar Atlântica fria e úmida) com as massas mTa
Categoria 5
sair do chão e os telhados acabam
caindo. (Massa Tropical Atlântica, quente e única) e mTc (Massa Tro-
pical Continental, quente e seca).
3.1.4. Tufão
3.2. Fenômenos oceânicos
Ocorre no Oceano Pacífico, principalmente na região do
leste asiático entre os meses de maio e outubro e tem maior Os fenômenos que ocorrem nos oceanos podem refletir
proporção em relação ao tornado. Ele começa no Oceano Pa- na atmosfera e vice-versa. A exemplo do Aquecimento Global
cífico e pode causar sérios danos no Japão, assim, muitas que pode elevar a temperatura dos oceanos depois do der-
pessoas acabam evitando sair de suas casas devido a elevada retimento das calotas polares de gelo, um detalhe curioso é
velocidade de seus ventos. Além disso, há casos de tufões que conforme a profundidade oceânica aumenta, ocorre o
que deixaram muitas pessoas no país sem abastecimento de processo de isotermia nos oceanos. Além disso, correntes ma-
água, os estoques nos mercados acabaram faltando e há pes- rítimas frias podem e são agentes que somam à formação de
soas que atualmente estocam garrafas com água para evitar alguns desertos no planeta Terra, por exemplo o deserto do
passar por esse problema novamente. Kalahari. Por outro lado, estudar os oceanos é extremamente
importante pois sabe-se que dependendo da temperatura
3.1.5. Tornado das correntes marítimas pode ser que tenha mais, ou menos,
cardumes, assim, no caso de oceanos periodicamente ficarem
mais quentes, como no caso do El Niño, pode prejudicar a
pesca já que os peixes vão para águas mais frias. as o con-
trário também pode ocorrer, com o resfriamento das águas
podem trazer peixes ao litoral do país.

3.2.1. El Niño

Originados nos continentes, ou seja, podem levantar par-


tículas sólidas e podem dificultar ver nas suas proximidades,
os tornados são ventos que tem como velocidade superior ou
igual a 400 km/h, por outro lado a sua área de atuação é bem
restrita, assim, devido a sua espessura não ser elevada, acaba
sendo possível de ser observado sem nenhum equipamento
especial; Além disso a sua duração leva cerca de minutos. Um
caso muito particular é a tromba d’água, a qual é um tor-
El Niño é um fenômeno oceânico relativo ao aumento
nado mas que ocorreu no oceano, porém mantém as mesmas
anormal da temperatura do oceano pacífico. O seu nome de-
características que o tornado.
riva do Menino Jesus, já que esse fenômeno ocorre no final
47
Geografia
do ano, mas pode ser chamado de ENOS (El Niño Oscilação
Sul). Essas águas mais quentes vêm da porção leste da Ocea-
nia e tem destino a costa do Chile e do Peru. Como mencio- Campos e Habilidades do ENEM
nado anteriormente, esse efeito é muito prejudicial à econo-
mia dos países da América do Sul e banhados pelo Oceano
Pacífico, já que com o aquecimento anômalo das águas deste HABILIDADE 29
oceano acaba afastando os peixes pois inibe o fenômeno de Reconhecer a função dos recursos naturais na produção
ressurgência (quando águas mais profundas e frias vão para do espaço geográfico, relacionando-os com as mudan-
camadas mais superficiais do oceano, inclusive, elas são ex- ças provocadas pelas ações humanas.
tremamente ricas em nutrientes.
Um desdobramento é a chuva forte que causa na região
EXEMPLO
sul e sudeste do Brasil, assim, com os períodos de estiagem
(Enem)
prolongada no país “torcer” para que esse fenômeno ocorra
não é algo tão absurdo assim. No caso, cabe o termo torcer
pois esse evento ocorre de forma não cíclica e ainda pouco se
sabe sobre a sua origem e formação. Por outro lado, a região
do nordeste brasileiro acaba sofrendo durante esse período
pois fica ainda mais seco que o normal.

3.2.2. La Niña
La Niña é um fenômeno que vem posteriormente a El
Niño, assim, ele corresponde ao resfriamento anômalo das
águas do Oceano Pacífico, por ser contrário ao El Niño recebe Qual característica do meio físico é condição neces-
essa nomenclatura. Na escola costuma ser ensinado que esse sária para a distribuição espacial do fenômeno repre-
processo de El Niño e La Niña ocorrem no período de 1 ano, sentado?
mas na verdade eles se alternam entre 3 a 7 anos. a) Cobertura vegetal com porte arbóreo.
Nesse momento as águas vão do Chile em direção à
Oceania. Além disso, esse fenômeno acaba provocando for- b) Barreiras orográficas com altitudes elevadas.
tes chuvas no nordeste brasileiro e períodos longos e fortes c) Pressão atmosférica com diferença acentuada.
períodos de estiagem no sul e no sudeste brasileiro. Nesse
d) Superfície continental com refletividade intensa.
momento é reforçada a necessidade da reutilização da água
e do tratamento do esgoto para se evitar a sequência de po- e) Correntes marinhas com direções convergentes.
tenciais crises hídricas decorrentes da sobrecarga do sistema COMENTÁRIO
hídrico.
é A alternativa [C] está correta porque os ciclones
tropicais se formam devido à diferença de pressão
atmosférica. As alternativas seguintes são incorretas
porque não explicam a formação dos ciclones.

RESPOSTA: ALTERNATIVA C

48
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Mapeando o saber

49
Geografia

Climas do Brasil
Antes de retomar os conteúdos climáticos e astronômicos, é impor-
tante ampliar a sua base conceitual que rotineiramente aparecem no
e do mundo vestibular.

Glossário geográfico:
Geografia 1 AULAS: 11 e 12 Amplitude térmica: variação de temperatura.
Índice pluviométrico: quantidade/índice de chuva.
Competência(s): Habilidade(s): 15, 26, 27, Latitude: Distância da Linha do Equador
3e6 28, 29 e 30
Solstício: Momento astronômico de máxima desigual distribuição
de raios solares no planeta.
Equinócio: Momento astronômico de igual distribuição de raios
solares no planeta.

1. Introdução

O clima é um fator dinâmico e extremamente sensível a


alterações de diferentes grandezas. O que é importante en-
fatizar é a diferença na sensação térmica que ocorre durante
o dia. Há 2 casos específicos: o primeiro é o subjetivo, cada
pessoa tem uma percepção diferente do clima e da tempe-
ratura, assim, enquanto que para uma pessoa está frio, para
É comum reproduzirmos falas como 4 estações do ano
outra pode estar quente, isso está relacionado com outras
e o marco de cada uma delas. Mas, esse conceito não é tão
questões que fogem do nosso foco. A segunda manifestação
apropriado para toda a extensão territorial brasileira e isso
da percepção do tempo é baseada na umidade do ar, um
será explorado durante esse capítulo. Mas, já adiantando,
exemplo corriqueiro é a sensação após a chuva em um dia
podem ser dados exemplos mais “radicais” de como essa
quente, o famoso “mormaço”, ou seja, se o ambiente está
expressão está equivocada. Na Amazônia, no Saara ou no
muito úmido, caso a temperatura seja muito extrema, a sen-
Polo Sul não é aplicável as 4 estações do ano, assim como no
sação térmica também será extrema, por outro lado, quanto
Brasil também não é.
mais seco está o ar, menor será essa sensação incompatível
O ser humano, analisando a paisagem e o comportamen-
com a temperatura real. Mas, isso não significa que o ar seco
to do clima, passou a perceber padrões que regem o com-
é melhor para o ser humano, ao contrário, há níveis adequa-
portamento climático pelo planeta, de um lado foi possível
dos à umidade relativa do ar.
observar que a proximidade com o mar, a cobertura vege-
tal, a distância latitudinal, a altitude e as correntes maríti-
mas influenciam, se não determinam, o comportamento da
temperatura do planeta. Por outro lado, as atividades antró-
picas acabam influenciando de forma negativa nos regimes
2. Os elementos do clima
climáticos mundiais, assim, questões ambientais precisam ser O clima apresenta elementos inerentes à sua funciona-
debatidas pois os climas estão sendo alterados, assim como, lidade e regulação, assim, vamos retomar os conceitos de
a qualidade do ar principalmente próximo às regiões metro- tempo e clima, o primeiro é um retrato momentâneo de uma
politanas. determinada localidade, já o segundo é responsável pelas
Como mencionado anteriormente, a partir de agora os características dentro de um recorte geográfico e ciclo. Nes-
conteúdos serão somativos, ou seja, para entender a atuação se último caso, o clima apresenta alguns elementos que são
de cada um dos elementos climáticos mencionados há pouco, alterados ao longo do ano e da paisagem terrestre, são eles:
é importante retomar alguns conceitos astronômicos. temperatura, pressão atmosférica, umidade do ar e radiação
solar.

50
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

2.1. Radiação solar altitude de um lugar, mais rarefeito é o ar, assim, menor será
o peso nele exercido. Além disso, em altitude as moléculas de
ar ficam mais dispersas e isso acaba diminuindo a agitação
entre as moléculas, logo, a temperatura é menor.

2.3. Umidade do ar

Os raios solares são um dos principais elementos climá-


ticos, pois boa parte da energia que aquece o planeta Terra
vem deles. Assim, cada objeto tem uma propriedade chama-
da de albedo, ou seja, a capacidade deles de refletirem os
raios, desta maneira, o asfalto tem um albedo muito baixo, ou
seja, ele absorve muitos raios solares de ondas curtas, trans-
forma em calor e emite ondas longas, por isso a temperatura
próximo a ele é mais alta. Já o albedo da vegetação é me-
Quando o ar está seco é possível observar que as roupas
diano, ou seja, uma parte dos raios solares são refletidos(por
costumam secar mais rapidamente, assim como quando está
isso não fica muito quente próximo à vegetação), já os raios
mais quente. Desta forma, a umidade do ar é a quantidade
que são absorvidos de fato o são para que possa ser realiza-
de vapor d’água presente na atmosfera terrestre, no exemplo
da a fotossíntese. Um outro caso é o da neve, o seu albedo
dado anteriormente, há a evaporação facilitada justamente
é extremamente alto, refletindo os raios solares e esse é um
pelo ambiente estar mais seco. Por exemplo, em Manaus é
dos motivos para que não esquente nas regiões polares e de
muito fácil das pessoas ficarem suadas ao sair de cada devido
elevada altitude.
à umidade e temperatura elevadas, esse suor dificilmente eva-
Um outro detalhe importante é a quantidade de raios
pora por causa da umidade extremamente elevada no local.
solares que chegam até um ambiente, isso influencia dire-
O ar pode ser mantido úmido por causa da vaporização
tamente o comportamento do clima pois é nítida a diferen-
de corpos hídricos ou superfícies úmidas ou pela evapotrans-
ça térmica de um dia ensolarado e outro nublado. Assim, a
piração (transpiração de animais e plantas).
quantidade de exposição da superfície terrestre aos raios
solares afeta diretamente o tempo e o clima, nesse caso em
escala anual.
2.3.1 Umidade absoluta
2.2. Pressão atmosférica É a massa absoluta de água que tem na atmosfera, ou
seja, nesse caso só é considerada de forma quantitativa o
ar presente na atmosfera terrestre. Esse dado não costuma
ser muito utilizado e analisado. Esse nível pode e aumenta
juntamente à elevação da temperatura do ar.

2.3.2 Umidade relativa


A temperatura do ar está intimamente ligada à umidade
pois, como dito, quando o ar está muito quente, ele fica menos
denso e caberá mais água entre os gases, por outro lado, quan-
to menor for a sua temperatura, menos vapor d’água haverá.
A pressão atmosférica é toda a pressão exercida pela ca- A umidade relativa é definida pela quantidade de água
mada de ar localizada acima de um objeto. Ou seja, em uma no ar atmosférico, assim, se o ar está seco significa que 0%
cidade no nível do mar(altitude próxima a zero) a pressão de seu volume é composto por vapor d’água. Já caso haja
atmosférica acaba sendo muito maior do que em uma cidade entre 0% e 4% de vapor (limite que um ar consegue ter) é
no alto de uma montanha. Isso ocorre pois quanto maior a chamado de ar úmido, mas, caso esse valor (4% do seu volu-
51
Geografia
me composto por vapor) seja ultrapassado dizemos que o ar 2.3.5 Gráfico psicrométrico
está saturado, ou seja, quanto maior a temperatura do ar, a
umidade absoluta poderá ser maior pois ele consegue retê-la. Uma ferramenta excelente para analisar a Umidade Re-
lativa é o gráfico Psicrométrico, para retirar essa informação
é necessário apenas duas informações utilizando uma fer-
2.3.3 Ponto de Orvalho ramenta chamada de psicrômetro. Ele é constituído por um
conjunto de dois termômetros e pode ser feito de forma ca-
seira. Um dos bulbos está em contato direto com a atmosfera,
aferindo a temperatura do ar seco, no outro termômetro o
seu bulbo deve ser envolvido por um pano úmido, aferindo
assim a temperatura do ar úmido.

A temperatura do Ponto de Orvalho é a temperatura em


que o ar precisa estar para que atinja o seu ponto de sa-
turação dentro de determinada pressão. Ou seja, é após o
decréscimo de determinada temperatura que o vapor de água
é condensado e podendo formar o orvalho ao encostar em
superfícies.

2.3.4 Resfriamento adiabático


O ar quente sobe devido sua baixa densidade, assim, O gráfico psicrométrico é uma ferramenta que analisa
conforme vai ganhando altitude, em área de menor pressão, algumas variáveis: Umidade, pressão de vapor, temperatura
a sua temperatura diminui. Essa troca de calor entre o ar do bulbo úmido e temperatura do bulbo seco. Assim, usando
quente com o frio, externo que já estava em altitude, é cha- as informações de temperatura coletadas pelo psicrômetro,
mado de resfriamento adiabático. pode ser obtida a informação de umidade.

Descobrindo Agora

Há vários processos de formação das nuvens e consequentes


formas e dimensões.
As nuvens são formadas pelo resfriamento do ar até a con-
densação da água, devido à subida e expansão do ar. É o que
sucede quando uma parcela de ar sobe para níveis onde a
pressão atmosférica é cada vez menor e o volume de ar se ex-
pande. Esta expansão requer energia que é absorvida do calor
da parcela, e, por isso, a temperatura desce. Este fenômeno é
conhecido por resfriamento adiabático. A condensação e con-
gelamento ocorrem em torno de núcleos apropriados, proces-
sos que resultam ao resfriamento adiabático, o qual, em troca,
resulta de ar ascendente. Uma vez formada a nuvem poderá
evoluir, crescendo cada vez mais, ou se dissipar. A dissipação
da nuvem resulta da evaporação, das gotículas de água que
a compõem motivada por um aumento de temperatura decor-
2.4 Temperaturas
rente da mistura do ar com outra massa de ar mais aquecida,
pelo aquecimento adiabático ou, ainda, pela mistura com uma
massa de ar seco. Uma nuvem pode surgir quando a massa de
ar é forçada a deslocar-se para cima acompanhado o relevo Interdisciplinaridade
do terreno. Essas nuvens, ditas de "origem orográfica" também
decorrem da condensação do vapor de água devido ao resfria-
mento adiabático do ar.
Fonte: Inmet. Disponível em: https://portal.inmet.gov.br/so- À física, temperatura é o grau de agitação das moléculas, assim, ar
bre-meteorologia#:~:text=As%20nuvens%20s%C3%A3o%20 quando está mais quente há maior agitação e colisão entre as mo-
formadas%20pelo,volume%20de%20ar%20se%20expande léculas, como consequência a sua densidade fica menor pois elas
ficam mais esparsas umas com as outras. Por outro lado, quando
o ar fica mais frio, a densidade é maior pois as moléculas estão
mais juntas e não se atritam tanto devido o seu baixo movimento.

52
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

A vida está intimamente ligada à temperatura pois com O relevo foi formado há muito tempo e ele é fundamental
o ambiente quente, a água pode evaporar e ser transporta- para o clima pois ele pode provocar chuvas orográficas (chu-
da a outro local. Assim, o vapor da água provoca a variação va ocorrida devido à massa de ar úmida ganhar altitude junto
da sensação térmica. Como dito no início do capítulo, em dias ao relevo, assim, o vapor d’água condensa e faz chover em
muito quentes após a ocorrência da chuva, a sensação é de sua encosta. Assim, as áreas interioranas ficam secas, como
que esteja mais quente do que na realidade, esse “mormaço”, ocorre no interior da China e no sertão nordestino brasileiro.
como chamado de forma popular, é gerado por causa da água Além disso, algumas massas de ar podem deixar de escoar
presente no ar. Isso pode ocorrer também quando está mais ou ter caminhos específicos por causa do formato do relevo.
frio que o habitual, a sensação térmica é da temperatura estar
mais baixa pois o nosso suor evapora com mais facilidade. Isso
sem contar com o vento, o qual depende da temperatura que o 3.3 Latitude
ar estiver em movimento, pode amenizar essa sensação.
Assim, quando está quente e o ar está úmido, acaba fi-
cando mais difícil das pessoas suarem, logo, maior é a sensa-
ção de calor pois o corpo não está conseguindo realizar algo
básico ao seu resfriamento.
Luz do sol

3. Os fatores climáticos
Por outro lado o clima é influenciado por alguns fatores de
alteração, os quais são: altitude, relevo, latitude, continentalida-
de/maritimidade, correntes marítimas, massas de ar e vegetação.

É a distância da Linha do Equador até algum ponto do


3.1 Altitude planeta Terra. Esse conceito cartográfico é fundamental para
que se compreenda a desigual distribuição de raios solares
pelo planeta Terra. Assim, quanto mais distante da Linha do
Equador a energia que vem com os raios solares chegam com
menor intensidade pelo maior caminho percorrido pela at-
mosfera e tendo os raios dissipados pelos aerossóis e molé-
culas. Além disso, os raios solares entram com ângulo agudo,
A altitude é a distância em relação ao nível do mar. É favorecendo a reflexão por parte da superfície terrestre.
muito importante destacar que a diferença dela para a altura
é que essa última está associada à distância em relação ao
solo. Assim, uma pessoa com 1,80 metro de altura, se fosse 3.4 Continentalidade e maritimidade
medida pela sua altitude, esse número sempre variaria, já que
o relevo tem altimetria não constante.

3.2 Relevo

VENTO FOHN

A variação climática e de temperatura está associada à


umidade do ar por causa do calor específico sensível da água.
Ou seja, a água demora muito tempo para aquecer e resfriar
devido a essa característica, assim, cidades de maior mariti-
midade(mais próximas ao mar) apresentam menor amplitude
Oceano térmica. Já as cidades influenciadas pela continentalidade (lo-
53
Geografia
calizadas mais no interior do continente) apresentam maior amplitude térmica. Isso ocorre pela água que fica no ar demora para
aquecer e esfriar, assim, como a variação de temperatura da água demanda muita energia ao longo do dia mudam poucos graus.

3.5 Correntes marítimas

Fonte: https://www.coladaweb.com/geografia/correntes-maritimas
As correntes marítimas são massas de água quente ou frias. Elas são importantes pois correntes quentes favorecem a
formação de chuvas devido a evaporação da água, essas correntes são aquecidas e criadas principalmente próximo à região
Equatorial do planeta terra. Já as correntes frias são geradas próximo às áreas polares do planeta Terra.
Um outro detalhe importante é a orientação que essas águas têm em seu “giro” pelos oceanos. As correntes marítimas do
Hemisfério Sul vão no sentido anti-horário, já as correntes do Hemisfério Norte escoam no sentido horário, isso ocorre devido a
rotação do planeta Terra.
Muitas pessoas se perguntam se a água do vaso sanitário e das pias sempre vão girar para o mesmo lado dependendo do
hemisfério. Isso não é verdade. isso está mais associado ao formato desses objetos que quando a água cair tenderão ir para um
lado pelo caimento da parte mais funda dele do que propriamente por causa da rotação.

3.6. As massas de ar O ar não pode ser pensado como um bloco rígido, pois
ao usar esse termo traz a sensação que os ventos são rígidos
e não podem ser submetidos a alterações externas. Assim, as
massas de ar têm as suas características, quente, fria, seca ou
úmida. Mas isso vai alterando conforme elas vão passando
pela superfície terrestre. Por exemplo, uma massa de ar úmida
ao entrar no continente pode ficar seca caso passe por um
relevo mais elevado e provocando a chuva orográfica, por
exemplo.

3.7. Vegetação
A vegetação interfere diretamente no clima pois ela é
fundamental na regulação da umidade do ar e do solo. As-
sim, a Amazônia é responsável pela formação de massas de
ar úmidas derivadas da evapotranspiração, por exemplo na
Amazônia, a qual forma os chamados “rios voadores”, eles

54
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

são massas de ar extremamente úmidas que saem da floresta O climograma a seguir pode mostrar melhor essa diferen-
amazônica e vão ao interior do Brasil e carregam chuva para ça com São Paulo, por exemplo.
essas áreas onde seria muito mais seco sem a sua existência.

4. Os climogramas
A análise climática costuma relacionar duas variáveis
de suma importância: temperatura e chuva. Assim, gráficos
foram criados para que pudessem juntar essas duas infor-
mações.

Fonte: https://pt.climate-data.org/
Assim, como observado no gráfico a seguir sobre o Ala-
goas. A linha representa a temperatura, enquanto as barras
indicam a quantidade de chuva por mês no período de 1 ano.
Cada informação deve ser coletada de forma separada em
primeira análise, para que depois haja a compilação dos da-
dos e a interpretação de ambos. Do lado esquerdo desse grá-
fico em específico há a temperatura (assim ao analisar a linha
do gráfico devem ser observados os números à esquerda). Já 5. Os grandes climas
ao observar a quantidade de chuva é preciso olhar para as
informações à direita. Na parte inferior do gráfico, cada nú- do planeta Terra
mero representa o mês do ano, iniciando sempre em janeiro.
CÍRCULO ÁRTICO (66ºN)

TRÓPICO DE CÂNCER (23ºN)

EQUADOR (0º)

TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO (23ºS)


Fonte: https://pt.climate-data.org/

CÍRCULO ANTÁRTICO (66ºS)

Zona Polar Zona Subpolar Zona Temperada Zona Subtropical Zona Tropical Zona Subequatorial Zona Equatorial

Quando é analisado o clima pelo planeta Terra, é possível


observar que o maior influenciador dele é a latitude, poste-
riormente vem a altitude e continentalidade. Relembrando,
​A interpretação correta para este climograma é que no quanto menos é a latitude, mais quente é o clima. Assim
meio do ano a temperatura cai, e as máximas costumam como, quanto maior a altitude, mais frio é. Além disso, os cli-
ocorrer no começo e final do ano, quando é verão, assim a mas de maior continentalidade (mais distantes do mar) mais
amplitude térmica média anual vai de 230C a 320C. Obser- secos são.
vando as barras que são menores no início e no final do ano
é possível observar que chove menos, já no meio do ano, no
inverno, chove mais variando de 23mm a 85mm. No caso 5.1. Clima equatorial
do Nordeste, chove no inverno e o verão é seco por causa
das massas de ar atuantes na região e será melhor explicado O Clima Equatorial por ficar perto da Zona de Conver-
posteriormente.​ gência Intertropical (ZCIT), apresenta uma atmosfera muito
Por outro lado, a escala utilizada nesse climograma dis- instável, com o ar subindo constantemente e provocando
torce um pouco a realidade do local, e isso costuma aparecer chuvas praticamente diárias. Assim, esse clima é quente e
no vestibular. Nesse caso, aparentemente chove muito ao úmido o ano inteiro. Assim como é possível observar no cli-
longo do ano, mas se observar as médias térmicas mensais, mograma a seguir do Equador.
nenhuma ultrapassando 90mm, isso é escasso.

55
Geografia
Fonte: https://pt.climate-data.org/

Fonte: https://pt.climate-data.org/
5.2. Clima tropical 5.4. Clima temperado
O Clima Tropical ocorre em regiões de baixa latitude, as- O clima temperado sim apresenta 4 estações bem defi-
sim como o Equatorial. A diferença entre eles é que no caso nidas, diferentemente do que ocorre no Brasil, onde a maior
do tropical há 2 estações bem definidas: verão quente e úmi- parte do clima é Tropical. No clima temperado há a sequência
do, inverno frio e seco. Assim como pode ser observado o verão, outono, inverno e primavera. O climograma a seguir é
clima de Mato Grosso da Argentina.
Fonte: https://pt.climate-data.org/

Fonte: https://pt.climate-data.org/

5.2. Clima mediterrâneo


O clima mediterrâneo é parecido com o clima tropical,
a diferença é na inversão das chuvas com a estação do ano.
Assim, o verão é quente e seco, já o inverno é frio e úmido.
Isso ocorre principalmente no Sul da Europa pois é nessa re-
gião onde os ventos que vêm da África e trazem as nuvens de
chuva do mar Mediterrâneo, por isso o nome do clima. Além
disso, no climograma a seguir, da Itália, representa um país
do Hemisfério Norte, as estações do ano são invertidas, ou
seja, o verão é no meio do ano e o inverno no final e começo.

56
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

5.5. Clima desértico 5.7. Clima subpolar


​O clima desértico, ou árido, é marcado por não ter água O clima subpolar é extremamente frio, sendo a média tér-
no estado líquido. Assim, a amplitude térmica diária dele é mica mensal não ultrapassando 20ºC. Além disso, no caso da
extrema. Sendo de manhã as temperaturas podem chegar a Suécia, climograma a seguir, não chove muito, mas o mínimo
500C, enquanto à noite chega a 00C ou negativo. Podemos que chove é distribuído ao longo do ano.
observar o comportamento desse clima em um ano com o
climograma de Arábia Saudita.​

Fonte: https://pt.climate-data.org/
Fonte: https://pt.climate-data.org/

5.8. Clima polar


5.6. Clima frio de montanha e clima de altitude O clima polar é o clima mais frio do mundo, ou seja, a
temperatura é extremamente baixa, além disso, é um clima
O clima frio de montanha é caracterizado por ser ex- extremamente árido devido a temperatura fria que dificulta a
tremamente frio e não é muito úmido, importante ressaltar, evaporação da água.
assim como no clima semiárido, que a escala do índice plu-
viométrico não favorece essa análise. Mas, é possível obser-
var que as médias térmicas são extremamente baixas. Assim
como é possível observar o climograma a seguir do Chile.

Fonte: https://pt.climate-data.org/
Fonte: https://pt.climate-data.org/

57
Geografia

5.9. Sistemas de classificações climáticas O Brasil é afetado por muitos fatores climáticos devido
a sua dimensão continental. Essa correlação não isolada de
O processo de mapeamento é subjetivo, assim como to- fatores fazem do Brasil um país de ampla variação climáti-
dos os tipos de regionalização. Assim, as formas de classificar ca. Mas, é possível afirmar que é um país majoritariamente
cada clima, utiliza variáveis diferentes e resultando em re- tropical, seja pela sua extensão territorial estar nessa região,
giões climáticas diferentes. Isso acaba sendo útil pois cada seja pelo clima tropical predominar nele. Dessa forma, há 2
contribuição terá importância para determinados usos princi- estações bem definidas, não as 4. A ideia de 4 estações bem
palmente à agricultura. definidas se aplica a regiões temperadas, ou seja, de médias
A classificação climática de Miller é baseada na temperaturas, assim como na Europa. E esse é um dos moti-
temperatura e isso é fundamental para a classificação dos vos por esse discurso estar muito difuso na sociedade, pela
climas, ou seja, baseado na ausência de uma estação mais influência europeia.
fria do que as outras.
A classificação climática de Köppen (1936) usa a Multiplataformas
metodologia empírica (na prática e vivenciada) utilizando le-
tras como códigos para classificar os climas. A ordem dessas
letras é: Primeira letra (tipo de clima), segunda letra (usa o
índice pluviométrico) e a terceira letra (usa a temperatura Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET)
média). Assim, em uma escala com menor nível de detalhe
e baseada no balanço hídrico acaba sendo o suficiente e é Saiba os passos para a elaboração
da previsão do tempo.
muito utilizada atualmente da maneira como está ou com
alguma adaptação .
A classificação climática de Trewartha (1954), sim-
plificou a classificação de Köppen com ajuda de Flohn em 6.1. Massas de ar atuantes no Brasil
1950. Posteriormente, Setzer simplifica o trabalho de Trewar-

Fonte: http://educacao.globo.com/geografia/assunto/geografia-fisica/
tha para usá-lo na classificação dos climas do Estado de São
Paulo.
A classificação climática de Thornthwaite somou
a evapotranspiração aos resultados de temperatura e índi-
ce pluviométrico. Desta maneira, o pesquisador introduziu a
necessidade de analisar o quanto precisa chover para poder
confirmar se um clima é realmente úmido ou árido.
A classificação climática de Strahler, nesse caso, foi
privilegiada pela origem dos efeitos que resultam no clima
em questão. Por exemplo, ele considerou a atuação das mas- Relembrando, as massas de ar não são blocos uniformes
sas de ar. pois dentro delas há dinâmicas totalmente diferentes e elas
vão se alterando com o tempo. Assim, uma massa de ar que
6. Climas do Brasil inicialmente é úmida com o tempo pode ficar seca caso vá
para o interior do continente.

6.1.1. Frentes de ar

58
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Em telejornais é rotineira a fala sobre a chegada da rega umidade principalmente no verão para a região do Su-
“frente fria”. Então, agora será explicado o que acontece ao deste brasileiro e tornando a estação úmida com as chuvas
ser mencionado isso. Quando uma determinada massa de ar convectivas.
está “estacionada” (chamamos isso de massa estacionária).
Assim, se tem uma massa de ar quente parada em cima da 6.1.5. Massa Tropical Continental (mTc)
cidade de São Paulo e uma outra massa de ar, mas nesse caso
fria, vem na sua direção, significa que está chegando uma A Massa Tropical Continental é uma massa quente, mas
frente fria, consequentemente ocorre a chuva frontal (causa- é a única que atua no Brasil que é seca. A temperatura é
da pela frente fria). Agora pense que essa mesma massa de ar assim por ela vir de uma região próxima ao Trópico de Capri-
de menor temperatura ficou na cidade por alguns dias e che- córnio, mas ela é seca devido a sua continentalidade. Como
ga uma massa de ar quente, ocorre a chegada de uma frente o Centro-Oeste brasileiro não é extremamente úmido como
quente, a qual elevará as temperaturas e possivelmente pro- a Amazônia e não tem um índice de evapotranspiração como
vocará a chuva frontal devido o seu resfriamento, possivel- esse hotspot, acaba deixando o ar mais seco, assim, como
mente, chegando ao ponto de orvalho. Assim, o ar “suporta” consequência, o Centro-Oeste tem uma amplitude térmica
menos umidade, a água condensa e provoca a chuva. muito maior.
No caso da imagem, quando a linha vermelha apresen-
ta ondulações significa a chegada de uma frente quente, já
quando a linha é azul e apresenta algo mais pontiagudo, sig-
6.1.6. Massa Polar Atlântica (mPa)
nifica a movimentação de uma frente fria.
A Massa Polar Atlântica é uma massa de ar úmida pois
vem do oceano e é a única massa de ar fria. Mesmo com
6.1.2. Massa Equatorial Atlântica (mEa) a baixa temperatura provocada pela sua origem próxima ao
polo, ela carrega muita umidade por vir do Oceano Atlântico.
A Massa Equatorial Atlântica é uma massa de ar quente Esse é outro ponto de atenção que gera muita confusão com
e úmida. Ela tem essas características pois como tem ori- os(as) estudantes, nesse caso não importa muito a tempera-
gem Equatorial (baixa latitude), ou seja, recebe muitos raios tura para ser úmida, mas sim, a sua origem.
e energia solar por um bom período do dia, assim ficando
quente e é úmida devido a presença da Zona de Baixa Pres-
são localizada perto da Linha do Equador e por originar-se
6.2. Clima equatorial
no oceano, assim, as massas de ar oceânicas costumam ser
úmidas. Essa massa, atua no Nordeste e Norte do Brasil e
principalmente tem força no verão.

6.1.3. Massa Equatorial Continental (mEc)


A Massa Equatorial Continental é uma massa de ar
quente e úmida. Isso costuma ser motivo de confusão devi-
Fonte: https://pt.climate-data.org/

do a ela ser continental e úmida. Ela ser quente está relacio-


nada com a sua localização equatorial, assim como a massa
de ar anterior. Já, ela é úmida devido a presença da Floresta
Amazônica, ou seja, a intensa evapotranspiração da vegeta-
ção é a origem da umidade dessa massa de ar. Relembrando,
essa massa ganha o nome de “Rios Voadores” pois a umi-
dade é tão elevada que recebe esse apelido, a sua atuação é O clima Equatorial corresponde a maioria da região Nor-
em direção ao Nordeste, mas pela formação da Zona de Alta te brasileira, é um clima predominantemente quente por
Pressão no sertão, ela acaba sendo desviada para o Centro- causa da sua localização próxima ao Equador, com baixíssima
-Oeste brasileiro e provoca chuva no verão. amplitude térmica devido à elevada umidade do ar. A chuva
é abundante, ou seja, úmido, todo o ano por causa da mEa
6.1.4. Massa Tropical Atlântica (mTa) e da mEc, em Agosto, mesmo que apresente médias menores
do que nos outros meses, ainda assim, apresenta índice plu-
A Massa Tropical Atlântica tem como características ser viométrico bem elevado.
úmida e quente. Mesmo que não venha do Equador, mas
sim da região próxima ao Trópico de Capricórnio, ela tem uma
temperatura bem elevada. Além disso, por vir do oceano, car-

59
Geografia

6.3. Clima tropical de altitude


Fonte: https://pt.climate-data.org/
6.5. Clima tropical úmido

Fonte: https://pt.climate-data.org/
O climograma anterior é do Estado de São Paulo, a sua Esse é o climograma do Espírito Santo. O clima tropical
principal diferença é que o clima acaba sendo mais frio do úmido, ou clima tropical litorâneo, fica em uma região de in-
que o Tropical Continental. Mas o verão continua sendo tensa influência da maritimidade. Assim, a amplitude térmica
quente e úmido, e o inverno frio e seco. As massas de não é tão elevada quanto ao Tropical Continental.
ar mais atuantes nesse caso são: Verão: mTa e mPa, já no O Tropical Úmido, tem grande influência da mTa, da mEa
inverno atual a mPa e a mTc. e da mPa. Assim, pode ser observada a presença de pluviosi-
dade o ano inteiro, mas concentrada no verão.
6.4. Clima tropical continental
6.6. Clima Subtropical
Fonte: https://pt.climate-data.org/

Fonte: https://pt.climate-data.org/

Esse climograma é de Mato Grosso O clima tropical apre-


senta 2 estações bem definidas. Sendo elas, o verão quente O clima Subtropical apresenta um verão mais ameno e o
e úmido, já o inverno frio e seco. O clima Tropical Con- inverno rigoroso, já em relação à umidade do ar, chove muito
tinental apresenta elevada amplitude térmica diária, sendo o ano inteiro, com chuvas bem distribuídas ao longo do ano,
que a média mensal da temperatura varia entre 20ºC a 26ºC como é possível de se observar pelo climograma do Rio Gran-
a sua diferença para o Tropical de Altitude é a temperatura de do Sul, isso ocorre devido a atuação de massas úmidas
mais alta.. No meio do ano a atuação da Massa Polar Atlân- como a mPa e a mTa. Um outro destaque importante a esse
tica na região derruba as médias térmicas, juntamente com clima é a sua elevada amplitude térmica, a qual ocorre devido
o índice pluviométrico, nesse caso, mesmo que a mPa seja a variação da temperatura das massas de ar.
úmida, ela é assim antes de entrar no Brasil, portanto após
a sua entrada, ela acaba sendo aquecida e a sua umidade é
perdida devido à chuva que ocorre até o Centro-Oeste, região
predominante desse clima.

60
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

6.7. Clima semiárido


Campos e Habilidades do ENEM

HABILIDADE 29
Reconhecer a função dos recursos naturais na produção
do espaço geográfico, relacionando-os com as mudan-
ças provocadas pelas ações humanas.
Fonte: https://pt.climate-data.org/

EXEMPLO
(Enem)

O clima semiárido é extremamente seco e quente. No


climograma da Bahia aparentemente chove muito por causa
da escala. Geralmente o climograma no vestibular aparece
assim, por isso, é válido reforçar que é necessário observar
os intervalos que vão até 70mm. Tirando janeiro, é possível
observar que chove mais no inverno, isso ocorre por causa
da atuação da mEc, mesmo que seja repelida pela Zona de
Alta Pressão no sertão nordestino, ainda assim, ela consegue
atuar de forma breve. Já no verão o clima é seco pela ocor-
rência da chuva orográfica no litoral e no agreste nordestino,
assim, passa apenas ar quente e seco.

As temperaturas médias mensais e as taxas de pluviosi-


dade expressas no climograma apresentam o clima típico
da seguinte cidade:
a) Cidade do Cabo (África do Sul), marcado pela reduzida
amplitude térmica anual.
b) Sydney (Austrália), caracterizado por precipitações
abundantes no decorrer do ano.
c) Mumbai (Índia), definido pelas chuvas monçônicas tor-
renciais.
d) Barcelona (Espanha), afetado por massas de ar seco.
e) Moscou (Rússia), influenciado pela localização geográ-
fica em alta latitude.
COMENTÁRIO
é A alternativa [E] está correta porque o climograma
apresenta pluviosidade modesta, elevada amplitude tér-
mica, verões amenos e invernos frios, características da
zona temperada onde está situada a cidade de Moscou.
As alternativas incorretas são: [A] e [B], porque os meses
mais quentes são julho a setembro caracterizando o ve-
rão no hemisfério norte; [C], porque Mumbai tem clima
tropical; [D], porque Barcelona tem clima mediterrâneo.
RESPOSTA: ALTERNATIVA E

61
Mapeando o saber
Geografia

62
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

1. Princípios da Geografia
Introdução à história do
pensamento geográfico A transformação da Geografia de um conhecimento
baseado na descrição do espaço no mundo antigo para um
saber científico, acadêmico e mais sistematizado, sobretudo
Geografia 2 AULAS: 1 e 2 a partir do século XIX, coincidiu com a definição dos funda-
mentos e princípios geográficos. '
Competência(s): Habilidade(s): Eles constituem-se no embasamento teórico que ajuda a
1, 2, 4 e 6 1, 2, 3, 4, 5, 7, 17 e 26 orientar os estudos geográficos e aproxima a linguagem geo-
gráfica da abordagem acadêmica. Além disso, os princípios
ajudam a enxergar a evolução do pensamento geográfico em
paralelo ao papel da Geografia no mundo moderno.
1. Introdução
1.1. Princípio da extensão
O conhecimento de mundo sempre foi intrínseco ao homem.
A necessidade de localizar-se e orientar-se combinada à da Estabelece que a localização e a extensão espacial de-
sobrevivência o impulsionou a reconhecer, explorar e dominar o vem ser os primeiros aspectos a se considerar em um estudo
espaço à sua volta desde que se estabeleceu no planeta. É dentro de natureza geográfica. Nesse sentido, qualquer recorte ou
dessa concepção atrelada à relação entre o ser vivo e o meio de fenômeno espacial precisa ser encontrado e delimitado an-
vida que a Geografia nasce e passa a se desenvolver gradualmente. tes de o geógrafo dar sequência ao trabalho. O princípio da
extensão foi formulado por Friedrich Ratzel, no século XIX.

Interdisciplinaridade
1.2. Princípio da analogia
Estabelece a necessidade de comparação entre o espaço
Nesse sentido, ela se comporta como uma das ciências mais an-
tigas da humanidade. Em um primeiro momento vinculada à ob- estudado e outro recorte espacial para se obter uma pers-
servação e à descrição do espaço, a Geografia teve o seu primeiro pectiva das semelhanças e diferenças existentes entre ambos.
grande ciclo de expansão a partir da Grécia Antiga, onde dividiu Também chamado de princípio da geografia geral, foi propos-
espaço com a filosofia e a história na condição de meios de pensa-
mento acerca do mundo, assumindo assim um caráter de método to por Karl Ritter, no século XIX.
e ciência.
1.3. Princípio da causalidade
Estabelece que as relações de causa e efeito devem ser
Contribuições de pensadores como Heródoto, Estrabão, consideradas no estudo de um fato ou fenômeno geográfico.
Ptolomeu e Aristóteles, entre outros, foram decisivas para que o Segundo essa tese, o geógrafo precisa, sobretudo, explicar as
método geográfico ganhasse forma por meio de relatos de terras, causas que determinaram o objeto estudado. O princípio da
povos e mapas elaborados nesse contexto. Os gregos começaram a causalidade foi enunciado por Alexander von Humboldt, no
enxergar na Geografia uma ferramenta estratégica para a expansão Século XIX.
do comércio e até mesmo do Estado. Com efeito, a exploração
de novos espaços seguida da ocupação e do aproveitamento 1.4. Princípio da atividade
econômico tornavam-se mais efetivos com a sistematização e a
disseminação da linguagem geográfica. O colapso de Roma não Estabelece que os fatos ou fenômenos geográficos estão
significou, contudo, a interrupção do desenvolvimento geográfico. em constante transformação, apresentando, portanto, um ca-
Pensadores muçulmanos desenvolveram novas técnicas e formas ráter dinâmico. A mutação espacial, nesse sentido, pode ser
de mapeamento. A expansão dos califados islâmicos valeu-se da vista através da ação ininterrupta de vários fatores, o que
Geografia, especialmente ao expandir a navegação pelo Oceano também inclui a atividade antrópica sobre o espaço. Os es-
Índico, chegando até ao sudeste asiático e juntamente com a tudos, segundo esse princípio, devem considerar o passado
Expansão Marítima Europeia usa a Geografia para mapeamento do fato em questão para se entender o presente e, conse-
detalhado. quentemente, conceber uma imagem futura. O princípio da
atividade foi levantado por Jean Brunhes, no século XX.

65
Geografia

1.5. Princípio da conexidade grafia possibilista, em voga a partir do final do século XIX.
Tais princípios defendem que o homem não é um elemento
Estabelece a premissa de que uma ação integrada entre submisso e moldado pela natureza. Na contramão dessa tese,
os fatores físicos e os fatores humanos resulta na construção os possibilistas argumentam que as sociedades têm capaci-
das paisagens ao longo do tempo. Dessa forma, ao invés de dade de escolher as melhores possibilidades, entre as con-
uma atuação isolada entre os agentes produtores do espaço, dições naturais existentes, para assegurar sua sobrevivência.
ocorreria, na verdade, uma interpenetração ou atuação con- Nesse sentido, o possibilismo procura estabelecer uma
junta entre eles. Sob esse princípio, o geógrafo deve identi- interação recíproca entre as forças naturais e a presença hu-
ficar e compreender esse tipo de relação conjunta. Também mana no espaço. O homem estaria ciente da influência do
chamado de princípio da conexão ou da interação, foi coloca- meio, mas poderia interagir diretamente com ele de modo
do por Jean Brunhes, no século XX. a modificá-lo em prol do desenvolvimento. No entanto, as
transformações espaciais estariam condicionadas às técnicas
disponíveis e à evolução histórica das sociedades, gerando
2. Evolução do pensamento diferentes potenciais ou possibilidades de crescimento do
homem.
geográfico Outra contribuição teórica por Vidal de la Blache foi o
desenvolvimento da Geografia regional ou regionalista. Nes-
O desenvolvimento histórico da Geografia resultou no sa perspectiva, os estudos se compartimentam em unidades
surgimento de diferentes formas de abordagem e de produ- espaciais que apresentam uma configuração própria de ele-
ção de estudos que pudessem referendar efetivamente uma mentos, fatores e fenômenos.
abordagem científica da observação e entendimento do es- A diferenciação de regiões e de recortes espaciais favore-
paço geográfico. ceu os estudos da geografia regional principalmente a partir
Logo, analisar a história do pensamento geográfico é da década de 1940. Cabe ressaltar que um dos fundamentos
constatar não só a existência de linhas de pensamento dis- mais efetivos para esse método foi o estímulo à observação e
tintas, mas sobretudo a maneira pela qual elas se desenvol- à descrição espacial pelos geógrafos de forma a se obter uma
veram de modo contínuo e, em alguns momentos, antagoni- melhor caracterização e diferenciação entre as regiões.
camente entre si.

2.3. Geografia quantitativa


2.1. Determinismo geográfico
Também vista como o movimento da “nova geografia”,
Uma das primeiras escolas de pensamento geográfico foi a perspectiva quantitativa busca romper com as abordagens
o determinismo geográfico. Visto também como corrente de- tradicionais para introduzir e incorporar uma nova lingua-
terminista ou corrente descritiva, essa perspectiva de análise gem: as técnicas da estatística e da matemática. Em outras
espacial nasceu na Alemanha, nas últimas décadas do século palavras, a geografia quantitativa seria o resultado de uma
XIX, tendo à frente o geógrafo Friedrich Ratzel. revolução dada pela aplicação de métodos quantitativos na
Segundo os princípios deterministas, as condições natu- análise do espaço usando dados, tabelas, fórmulas e modelos
rais ou ambientais são capazes de determinar e influenciar a partir dos fenômenos espaciais.
o desenvolvimento do homem. Nesse sentido, a capacidade Por outro lado, a adoção de um modelo teórico mais
intelectual, os valores culturais e o potencial de crescimento pragmático e instrumental implicou em uma visão de mundo
das sociedades seriam regulados por forças naturais, em es- mais numérica e mecanizada, ou seja, minimizando ou mes-
pecial as condições climáticas. mo eliminando os condicionantes históricos ou sociais que
Essa premissa favoreceu a formulação do conceito de são inerentes ao espaço em si.
espaço vital pelo próprio Ratzel. Segundo essa tese, somente
um recorte dessa natureza teria os recursos necessários para
uma sociedade consolidar-se e expandir-se posteriormente,
2.4. Geografia crítica
isso acabou sendo usado por diversas sociedades para justifi-
O advento da geografia quantitativa permitiu à análise
car o seu domínio sobre outras.
espacial uma nova forma de abordagem e tratamento aos fe-
nômenos em estudo. Por outro lado, a excessiva preocupação
2.2. Possibilismo geográfico com a quantificação e a neutralidade expressa pelos números
levou a um empobrecimento da leitura do espaço. É o caso
Subsequente ao surgimento da corrente de- de fatores e condicionantes históricos ou socioculturais, de
terminista, a França viu uma nova perspectiva geo- natureza mais qualitativa, e não facilmente abordados por
gráfica ser desenvolvida por meio do geógrafo Paul números e tabelas.
Vidal de la Blache. Trata-se do possibilismo ou então geo-
66
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

É, portanto, com enfoque nas problemáticas contempo- 3.3. Território


râneas e mais localizadas que surge a geografia crítica já na
segunda metade do século XX. Fundamentada em princípios Entre as principais características do território na condi-
marxistas, ela propõe o resgate da leitura qualitativa do espa- ção de categoria de espaço estão as fronteiras. Dessa forma,
ço para se entender as novas dinâmicas nas relações sociais, entende-se o conceito como um espaço delimitado por divisas
políticas e econômicas. e, ao mesmo tempo, constituído sob relações de poder. Será
O movimento em torno da geografia crítica se respalda essa dominação por algum tipo de agente ou agrupamento
em uma abordagem de maior engajamento na luta contra a de pessoas que vai estabelecer a demarcação territorial. Ao
desigualdade social e fundamentada nos princípios da justiça mesmo tempo, ela pode expandir os limites do território, o
social, buscando uma revisão nos princípios e fundamentos que pode resultar tanto em questões diplomáticas ou mesmo
norteadores da geografia e da ciência em si. conflitos armados.
Um dos objetivos dessa corrente também era o de supe- Dessa forma, o território também possui a característi-
rar a geografia quantitativa vista como extremamente prag- ca da multiplicidade tanto em termos de agentes quanto em
mática, alienada e insuficiente para produzir uma leitura am- termos de escala. As variações serão vistas desde as territo-
pla sobre o espaço dentro dos seus múltiplos condicionantes, rialidades produzidas até à dimensão espacial, uma vez que o
principalmente no viés socioeconômico e político-ideológico. território pode abranger de áreas restritas até áreas de gran-
de amplitude, como é o caso de países com dimensões conti-
3. Categorias de espaço nentais. Vale ressaltar, por fim, que as fronteiras nem sempre
estão visíveis ou assinaladas, sobretudo em se tratando dos
territórios sociais.
Trata-se, portanto, das categorias de espaço: um conjun-
to de conceitos aplicados à observação, à investigação e à
interpretação do espaço geográfico. Além do referencial teó-
Multiplataformas: Vídeo
rico, as categorias também se comportam como ferramentas As origens históricas do
práticas que orientam o olhar sobre as diferentes perspec- conflitoentre Rússia e Ucrânia
tivas espaciais. Em outras palavras, atuam como filtros que
permitem identificar os agentes envolvidos, os elementos
constituintes e os desdobramentos em um espaço amplo, di-
verso e sob profunda transformação. Com efeito, as catego-
rias de espaço são pré-requisitos básicos para a abordagem
científica geográfica, uma vez que fundamentam a teoria que
a constitui enquanto saber e método.

3.1. Paisagem
Conceito-chave para o estudo geográfico, a paisagem
equivale ao espaço que é percebido e identificado por meio
de seus atributos ou, em outras palavras, os elementos que o
constituem. Dessa forma, ela se comporta como um espaço
material e ao mesmo tempo sensorial. Vale ressaltar que o
espaço geográfico na condição de espaço produzido terá a
presença tanto de elementos naturais, resultantes da própria
natureza, quanto elementos tecnificados, isto é, produzidos
pelo próprio homem.

3.2. Lugar
O lugar corresponde à categoria em que o espaço é iden-
tificado através das relações humanas e dos vínculos estabe-
lecidos entre homem e ele. Trata-se, portanto, de um espaço
que é construído pela percepção e pela compreensão huma-
na, o que faz do lugar também um espaço afetivo.

67
Geografia

3.4. Região
Campos e Habilidades do ENEM
A região representa o espaço dividido de acordo com
alguma especificidade ou particularidade. Logo, regionalizar
é estabelecer uma organização espacial mais ou menos deli-
mitada, uma vez que os limites estabelecidos dependem do HABILIDADE 3
alcance da temática em questão. Embora associáveis entre si, Associar as manifestações culturais do presente aos
as duas referências são distintas na regionalização, pois em- seus processos históricos.
pregam critérios próprios. Nesse sentido, a região correspon-
de a um espaço desenvolvido como um referencial humano EXEMPLO
para análises e estudos, valendo-se de critérios e característi- (Enem 2012) Portadora de memória, a paisagem ajuda a
cas para ser assinalada e compreendida. construir os sentimentos de pertencimento; ela cria uma at-
mosfera que convém aos momentos fortes da vida, às festas,
às comemorações.
CLAVAL, P. Terra dos homens: a geografia.
São Paulo: Contexto, 2010 (adaptado).
No texto é apresentada uma forma de integração da
paisagem geográfica com a vida social. Nesse senti-
do, a paisagem, além de existir como forma concreta,
apresenta uma dimensão
a) política de apropriação efetiva do espaço.
b) econômica de uso de recursos do espaço.
c) privada de limitação sobre a utilização do espaço.
Fonte: https://portaldemapas.ibge.gov.br/portal.php#mapa101

d) natural de composição por elementos físicos do es-


paço.
e) simbólica de relação subjetiva do indivíduo com o
espaço.
COMENTÁRIO
é A paisagem constitui a aparência do espaço, é o
que se pode visualizar no horizonte, sendo composta
por elementos naturais e elementos artificiais produzi-
dos pelo homem. Além da dimensão concreta, os ele-
mentos da paisagem carregam uma dimensão simbó-
lica e cultural, uma vez que a percepção da paisagem
é individual e carregada de elementos subjetivos. Duas
pessoas que visualizam a mesma paisagem, possivel-
mente não vão descrevê-la da mesma maneira.
RESPOSTA: ALTERNATIVA E

68
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Mapeando o saber

69
Geografia
sua vez, cada período terá uma série de épocas e, ao fim, uma
Geologia época corresponderá a um conjunto de idades.

Início (Milho-
Eras Períodos Épocas
esde anos)

Geografia 2 AULAS: 3 e 4 I Quaternário


Holoceno
Pleitoceno
0,01
1,6
Plioceno 5,3
Competência(s): Habilidade(s): Mioceno 23
3e6 15, 26, 27, 28, 29 e 30 I Terciário Oligoceno 36,5
Eoceno 53
Paleoceno 65
Cretáceo 135
III Jurássico 205

1. Introdução
Triássico 250
Permiano 290
Carbonífero 355
Devoniano 410
A formação da Terra teve início há 4,6 bilhões de anos a IV
Siluriano 438
partir da aglomeração de poeira e gases em um ponto que Ordoviciano 510
Cambriano 570
orbitava o Sol. De acordo com evidências científicas, a idade
V 4500
do planeta corresponde a 1/3 daquela relativa ao Universo.
Esse é um dos fundamentos de diferentes teorias que buscam
explicar as condições em que tanto a Terra quanto o Sistema É importante notarmos que a escala de tempo geológico
Solar surgiram e desenvolveram-se. possui intervalos cronológicos desiguais em função do crité-
O entendimento da existência da referida massa de de- rio que determinam as transições entre cada fase: a ocorrên-
tritos e gases é uma das bases da Teoria da Acreção. Ela de- cia de transformações expressivas no meio de vida terrestre.
fende que a condensação dessa nuvem cósmica criou as con- Portanto, uma sequência igual e precisa em milhões de anos
dições necessárias para que novas aglomerações de matéria não se repete necessariamente.
ocorressem e delas os planetas. Tal processo também estaria
propenso a choques e colisões contínuas, o que agregaria
ainda mais substâncias a uma Terra ainda em formação. Multiplataformas: Vídeo
O grande calor produzido nessas condições somado à Tempo geológico da Terra - biologia
densidade variável dos componentes fez com que os mate-
riais mais densos e quentes acumulassem no fundo do pla-
neta. Já os menos densos conseguiam escapar, formando
camadas ao redor dessa massa aquecida e central, isto é, o
futuro núcleo terrestre, como um processo desenvolvendo-se
de dentro para fora, a consolidação e o resfriamento da últi-
ma camada permitiu uma expressiva liberação de gases.

2. Escala de tempo geológico 2.1. Pré-Cambriano


A ciência faz uso do tempo geológico como a escala para O primeiro intervalo da escala de tempo geológico cor-
medir, caracterizar e organizar as mudanças no meio físico e responde aos três éons mais antigos da Terra, que são agru-
das formas de vida desde a origem do planeta. As principais pados em um só conjunto: o pré-cambriano. A sequência teve
referências para a datação dos eventos, nessa escala, são re- início há 4,6 bilhões de anos e se encerrou há 543 milhões
gistros deixados na forma de animais e plantas fossilizados de anos. O intervalo corresponde aos éons Hadeano (4,6 bi-
e em rochas presentes na superfície terrestre. Ela também lhões - 4 bilhões de anos), Arqueano (4 bilhões de anos - 2,5
tem como característica marcante registros do passado muito bilhões de anos) e Proterozóico (2,5 bilhões de anos - 543
remoto, ou seja, há milhares de anos. milhões de anos).
A divisão do Tempo Geológico foi estabelecida em cinco
classes denominadas éons, eras, períodos, épocas e idades.
Essa ordem, portanto, corresponde a fases evolutivas do pla-
2.2. Éon Fanerozoico
neta e envolve uma ordem sequencial que é lida da seguinte
O final do pré-cambriano deu origem ao éon fanerozóico,
forma: cada éon abrange uma quantidade de períodos. Por
em andamento até o presente momento. As eras, períodos,

70
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

idades e épocas nele presentes são marcadas por importan- A evolução da Terra ao longo do tempo geológico ajudou
tes eventos da evolução da Terra. A consolidação da vida a consolidar a estrutura física do planeta. Vista a partir da sua
terrestre entre espécies animais e vegetais, a formação dos camada mais externa, é possível identificarmos a coexistência
atuais continentes e oceanos e o surgimento de grandes re- e a interação entre quatro camadas ou níveis formados por
servas de combustíveis fósseis ocorreram desde então. Esse diferentes elementos entre sólidos, líquidos e gasosos.
éon é dividido em três eras. O primeiro desses está associado à litosfera, cama-
da formada pelas rochas e estruturada em torno de placas
2.2.1. Era Paleozoica tectônicas, isto é, grandes compartimentos que sustentam
continentes ao fundo dos oceanos. A litosfera representa o
Marcada por um grande salto em relação às formas de substrato da vida terrestre e separa as camadas mais internas
vida, com o desenvolvimento de espécies de invertebrados e a atmosfera gasosa.
tais como insetos e vertebrados entre peixes, anfíbios e rép- A hidrosfera pode ser vista como a camada líquida ou o
teis primitivos. A formação de grandes jazidas de carvão mi- conjunto de corpos hídricos da Terra. Ela agrega de oceanos
neral hoje encontradas na Europa e América do Norte, resul- e mares a rios, lagos e também as águas subterrâneas, entre
tantes do soterramento de vastas florestas, também ocorre outros. Como o planeta possui 71% da superfície coberta
nessa fase. por águas, a hidrosfera é um dos componentes mais impor-
tantes em se tratando dos estudos terrestres.
Já a camada associada ao contexto gasoso corresponde
2.2.2. Era Mesozoica à atmosfera, que envolve todo o planeta o separando do es-
paço sideral. Composta por uma mistura dominada, majori-
Iniciada com uma grande extinção que eliminou cerca
tariamente por nitrogênio e oxigênio, ela se divide em níveis
de 90% das espécies terrestres, tem como característica o
conforme a composição. Da superfície até o limite mais exter-
predomínio e o desaparecimento de grandes répteis, isto é,
no, são elas: troposfera, estratosfera, mesosfera, termosfera
os dinossauros, e o início da fragmentação da Pangeia, um
ou ionosfera e, por fim, a exosfera.
supercontinente. Grande parte das jazidas de petróleo e de
Há ainda a biosfera, divida entre as demais, ao envolver
gás natural presentes no Oriente Médio, na América do Norte
as formas de vida e as relações entre eles estabelecidas em
e na Sibéria também se formaram nessa etapa.
meio ao espaço, o que pode ser visto a partir dos ecossiste-
mas.
2.2.2. Era Cenozoica
3.1. Estrutura interna
Ativa há 66 milhões de anos, a era Cenozóica ainda
assiste ao desenvolvimento dos atuais continentes desde a
O dinamismo presente entre a litosfera, a atmosfera, a
ruptura da Pangeia e também o de novas espécies: os ma-
hidrosfera e a biosfera se repete também nas camadas que
míferos, o que abarca o surgimento do homem, no período
formam a estrutura interna do planeta. Um dos critérios em-
quaternário, e as transformações antrópicas que se sucede-
pregados para distinguir e classificá-las é a temperatura, uma
ram gradativamente.
vez que o resfriamento progressivo do planeta permitiu o sur-
gimento da mais externa delas, denominada crosta terrestre
3. Estruturas da Terra ou litosfera.
Além da temperatura, outros aspectos são usados para
organizar a estrutura interna da Terra. As camadas, assim, são
dividas quanto à composição química e ou o comportamento
fluido mecânico, ou sejam a rigidez dos materiais. Os dois
modelos são vistos como estrutura química e estrutura física
ATMOSFERA - AR
da Terra, respectivamente.
Vale ressaltar que o entendimento dessas camadas é o
resultado do emprego de métodos diretos e principalmente
BIOSFERA indiretos, tais como o comportamento de ondas sísmicas que
alteram a velocidade de acordo com a natureza do meio que
atravessam.
HIDROSFERA - ÁGUA LITOSFERA - ROCHA

71
Geografia
também consegue deslocá-las promovendo, por exemplo, as
atividades vulcânicas.

3.1.4. Núcleo
As inferências sobre o núcleo da Terra ocorreram por
meios indiretos. Nesse sentido, a teoria mais aceita susten-
ta que a maior densidade do níquel e do ferro, principais
elementos que formam essa camada, os deslocou para as
maiores profundidades do planeta, onde ela está localizada.
Submetido a temperaturas ainda mais altas, estimadas em
mais de 5.400 ºC, o núcleo divide-se em dois níveis. O nú-
cleo externo apresenta-se como uma camada líquida devido
ao calor extremo. A movimentação interna dos componentes
metálicos no interior dele seriam a causa da formação do
campo magnético terrestre, conforme análises científicas. Já
o núcleo interno, submetido a uma elevada pressão, configu-
ra-se como uma camada sólida.

3.1.2. Crosta terrestre


4. Rochas
A crosta terrestre é a camada mais externa do planeta,
sendo a base de continentes e do fundo dos oceanos. Essa Principal constituinte que dá forma à crosta terrestre, as
distinção espacial ajuda a dividi-la em dois compartimentos: rochas são agregados sólidos, formados em condições natu-
a crosta terrestre e a crosta oceânica. A divisão entre as duas rais, reunindo um ou mais minerais. Uma grande parte delas
está ligada principalmente à composição química. A crosta apresenta a combinação entre silício e oxigênio, elementos
terrestre, por exemplo, é majoritariamente composta por si- químicos que respondem a mais de 74% da composição da
lício e alumínio ou ainda silicatos de magnésio encontrados crosta.
principalmente em rochas. Já a crosta oceânica, que sustenta Para além da composição química e das características
os grandes oceanos, apresenta uma concentração expressiva físicas, as rochas serão divididas, organizadas e classificadas
de silicatos de magnésio e ferro, ou seja, rochas com predo- a partir dos processos de formação. Três grandes grupos sur-
mínio de silício, magnésio e ferro. Além disso, a idade relativa gem nesse sentido: as rochas Ígneas ou magmáticas, as ro-
em tempo geológico e a espessura média também são uti- chas Sedimentares e as rochas Metamórficas.
lizados para diferenciar os dois tipos de crosta. Enquanto a O Ciclo das Rochas significa que uma mesma rocha pode
continental é mais velha e profunda, a crosta oceânica apre- se transformar em outra, de um grupo diferente, em condi-
senta-se como mais jovem e menos espessa. Quando vista ções específicas como a metamorfização, no caso das rochas
sob o ponto de vista da estrutura física da Terra, a crosta pode metamórficas, e, quando sedimentares, pelo intemperismo e
ser vista como a camada da litosfera, rígida e com menor a consolidação. As diferentes transições como essas são ex-
temperatura. plicadas pelo Ciclo das Rochas, modelo que ilustra os pro-
cessos e os agentes envolvidos na passagem de um tipo de
3.1.3. Manto terrestre rocha para outro.

Imediatamente após a crosta está o manto, a maior ca- O CICLO DAS ROCHAS
mada do planeta, com 84% do volume e 67% da massa ter- ROCHA ÍGNEA
restre. Composto predominantemente por silício e magnésio,
ele apresenta temperaturas que variam de 200 a 4.000 ºC
aproximados. Tais condições levam à fusão e transformação MAGMA RESFRIAMENTO

DERRETIMENTO FRAGMENTAÇÃO
E EROSÃO
SEDIMENTOS
das rochas em magma, uma substância viscosa. Além de PRESSÃO E

preencher o manto, ela consegue deslocar-se lentamente


TEMPERATURA

entre o manto e o núcleo, à grande profundidade, o manto DERRETIMENTO


FRAGMENTAÇÃO
E EROSÃO
COMPACTAÇÃO E

e a crosta, à menor profundidade, em função de diferenças


SEDIMENTAÇÃO
FRAGMENTAÇÃO
E EROSÃO

de temperatura e densidade. Esse movimento, denominado PRESSÃO E

correntes de convecção, interfere nas placas tectônicas e ROCHA METAMÓRFICA TEMPERATURA

ROCHA SEDIMENTAR

72
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

4.1. Rochas ígneas ou magmáticas solos férteis como a Terra Roxa, encontrada em São Paulo e
no Paraná, derivada do Basalto.

4.2. Rochas Sedimentares

(Granito)

As rochas sedimentares são geradas a partir da compac-


tação ou da cimentação de fragmentos de outras rochas ou
materiais de origem orgânica e podem ser facilmente identifi-
cadas pela sua feição de camadas na horizontal.
Os dois termos podem ser vistos ainda como litificação.
Trata-se da transformação de sedimentos acumulados e com-
primidos, organizados em camadas ou estratos, que passam
lentamente à condição de rocha sedimentar. Esse processo
como um todo, que inicia-se a partir do intemperismo segui-
do da erosão, é classificado por fim como diagênese.
A junção de restos orgânicos permite que as rochas sedi-
mentares sejam uma importante fonte de fósseis de espécies
(Basalto) animais e vegetais que são consolidados e preservados entre
as camadas de sedimentos. Além disso, a compactação de
A formação das rochas ígneas ou magmáticas está ligada matéria orgânica cria condições para a formação de depósi-
ao resfriamento ou consolidação do magma, dinâmica deno- tos de carvão mineral, gás natural e petróleo, os chamados
minada como cristalização. Dependendo do local, na crosta combustíveis fósseis.
terrestre, onde esse fenômeno ocorre, as rochas passam por
uma nova classificação dentro do grupo.
As chamadas rochas ígneas intrusivas ou plutônicas sur- Descobrindo Agora
gem através da cristalização em grandes profundidades. Nes-
sas condições, o processo ocorre de maneira lenta, permitin-
do que os minerais se consolidem à temperatura adequada, Motivo para que o Brasil exporta petróleo
tornando-se visíveis a olho nu. Um exemplo pode ser visto para importar petróleo
no granito.
"Lá atrás, as refinarias não foram construídas para óleo brasi-
Por outro lado, se o magma é consolidado diretamente leiro. Precisavam de óleo importado, que vinha em sua maior
na superfície terrestre, as rochas serão denominadas ígneas parte do Oriente Médio", diz Rosemarie Bröker Bone, coorde-
magmáticas extrusivas ou vulcânicas. Em contraste com o nadora do Laboratório de Economia e professora da Escola
Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
resfriamento em maiores profundidades, o rápido resfriamen-
to nessas novas condições impede que os cristais se tornem Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50316414
visíveis a olho nu. O basalto é um das rochas mais represen-
tativas nessa categoria.
Dos grandes grupos de rochas, as de natureza ígnea ou
magmática representam a categoria mais encontrada, pre- 4.2.1. Detríticas ou clásticas
sente em aproximadamente 65% de toda a Crosta Terrestre.
Elas também são consideradas como as rochas mais antigas São formadas pelo acúmulo de detritos de outras rochas
e resistentes do planeta, permitindo também a formação de decompostas ou fragmentadas pela ação do intemperismo. O
73
Geografia
arenito, por exemplo, que é uma rocha resultante da conso-
lidação da areia. Já o acúmulo de argila leva à formação do
argilito.

4.2.2. Químicas
Resultam da precipitação de materiais e íons em sus-
pensão na água. À medida que se acumulam, sofrem uma
série de reações químicas até se transformarem em rocha. O
calcário, rocha associada a ambientes marinhos primitivos, é
o resultado desse tipo de reação envolvendo o carbonato de
cálcio.

4.2.3. Orgânicas
Desenvolvem-se a partir do acúmulo e do soterramento
de matéria orgânica. A grande liberação de carbono duran-
te o processo que transforma esses detritos em rochas leva
à formação de combustíveis fósseis. O carvão mineral, por
exemplo, é o resultado da decomposição de restos vegetais
ao longo de milhões de anos.

4.3. Rochas Metamórficas

(Mármore)

As rochas metamórficas são o resultado do processo de


recristalização, que consiste na transformação física e quí-
mica de outras rochas sob condições de alta temperatura e
pressão elevada. Nesse caso, por exemplo, a área de contato
entre o manto e a crosta terrestre apresenta as condições
para o metamorfismo. O mármore, resultado da recristaliza-
ção do calcário sedimentar e a gnaisse, advinda do granito
ígneo ou magmático, são exemplos de rochas metamórficas
muito comuns na natureza.

74
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Campos e Habilidades do ENEM

HABILIDADE 26
Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.

EXEMPLO
(Enem 2010)

O esquema mostra depósitos em que aparecem fósseis de animais do Período Jurássico. As rochas em que se encon-
tram esses fósseis são
a) magmáticas, pois a ação de vulcões causou as maiores extinções desses animais já conhecidas ao longo da história
terrestre.
b) sedimentares, pois os restos podem ter sido soterrados e litificados com o restante dos sedimentos.
c) magmáticas, pois são as rochas mais facilmente erodidas, possibilitando a formação de tocas que foram posterior-
mente lacradas.
d) sedimentares, já que cada uma das camadas encontradas na figura simboliza um evento de erosão dessa área
representada.
e) metamórficas, pois os animais representados precisavam estar perto de locais quentes.
COMENTÁRIO
é A ilustração reporta para períodos geológicos onde a estrutura das rochas e as eventuais agregações de fósseis,
sejam vegetais ou animais, litificação, ajudam a desenhar o mapa geológico e a contar um pouco da história da Terra.
é Alternativa [A] é falsa, as rochas magmáticas resultam de ação vulcânica e podem ser intrusivas ou básicas ou ex-
trusivas ou vulcânicas, não sendo agregadas a materiais orgânicos. A alternativa [C] é falsa, as rochas magmáticas tem
maior grau de dureza e são mais difíceis de erodir. A alternativa [D] é falsa, as camadas representam o mesmo evento,
a erosão em diversas épocas. A alternativa [E] é falsa, metamórficas são rochas quimicamente alteradas por pressão
do edifício geológico (camadas superiores de rocha) e pela temperatura (grau geotérmico) não acumulando fósseis.
RESPOSTA: ALTERNATIVA B

75
Mapeando o saber
Geografia

76
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Geologia do Brasil e
2. As macroestruturas e
exploração mineral suas características
Os diferentes tipos de rochas que compõem a crosta ter-
Geografia 2 AULAS: 5 e 6 restre se distribuem de modo desigual pelos continentes. A
maior ou menor concentração de uma rocha sedimentar ou
Competência(s): Habilidade(s): 8, 9, 14 ,15,
de uma rocha ígnea ou magmática pode ser melhor com-
2, 3 e 4 26, 27, 28, 29 e 30 preendida a partir da presença de grandes compartimentos
denominados estruturas geológicas.

Elas correspondem a formações geológicas de dimen-


1. Introdução sões expressivas, formadas através de processos naturais
que variam de milhares a bilhões de anos e que armazenam
Pode-se usar do passado e da geologia para interpre- variados padrões de rocha entre ígneas ou magmáticas, me-
tarmos os processos e as dinâmicas do presente. O entendi- tamórficas ou sedimentares. Podemos destacar três desses
mento do meio físico depende da evolução e da incorporação conjuntos entre as estruturas geológicas
de novos agentes, intenções e dinâmicas, sobretudo no viés
socioeconômico. Esse raciocínio se faz necessário uma vez • Escudos cristalinos
que o Brasil é uma dos maiores produtores de minérios do
mundo. O extrativismo mineral representa hoje 30% do saldo • Bacia sedimentares
do comércio exterior do país: 10% das exportações passam • Cadeias orogênicas
pelas rochas que sustentam esses minerais, antigos e natu-
rais, à lucratividade, recente e antrópica.
A necessidade e a demanda fez das atividades humanas
dependentes das rochas que se tornaram matérias primas

Fonte: https://portaldemapas.ibge.gov.br/portal.php#mapa86
essenciais aos setores produtivos e à vida em si. O poten-
cial brasileiro, com alicerces em uma ampla diversidade des-
ses elementos naturais, coloca o país em foco no mundo. A
compreensão de quais são elas, onde se concentram e como
podem ser extraídas em bases eficientes e sustentáveis é um
fundamento central na busca pelo desenvolvimento socioe-
conômico e na construção de uma história que do ciclo do
ouro ao pré-sal brasileiro ainda vem sendo escrita

Descobrindo Agora
2.1. Escudos Cristalinos
Faturamento do setor mineral em 2021
São estruturas geológicas compostas majoritariamente
Ainda segundo o levantamento, o chamado saldo mineral – por rochas ígneas-magmáticas e também por rochas meta-
conta que subtrai das exportações de minério as importações mórficas distribuídas em conjunto. Apresentam-se também
– foi de R$ 48,9 bilhões, uma alta de 50,7%, o que equivale a
80% do saldo da balança comercial brasileira em 2021, ante como as formações mais antigas da Terra: datam, em grande
64,4% em 2020. parte, do pré-cambriano, com idades variando entre 900 mi-
lhões e 4,5 bilhões de anos.
Com o aumento do preço das commodities, as exportações
passaram de US$ 36,6 bilhões em 2020 para US$ 370,9 bi-
Os escudos, que também são vistos na condição de crá-
lhões em 2021, uma alta de 58,6%, enquanto que a quanti- tons ou plataformas, são terrenos marcadamente desgasta-
dade exportada em toneladas subiu apenas 0,4%. dos, com o topo aplainado ou levemente ondulado e rebaixa-
dos em decorrência de um longo intervalo sob intemperismo
A China foi o principal destino de exportações de minério de
ferro (68%), nióbio (35,4%) e manganês (50,5%), enquanto e erosão. Além disso, tais macroestruturas possuem uma ex-
o Canadá foi o principal destino do ouro (31,4%) e alumínio pressiva relevância econômica pelo fato de reunirem jazidas
(39,1%). de minerais metálicos como ferro, manganês, alumínio, esta-
nho, zinco, além de ouro, entre outros.

77
Geografia
Pelo mundo, os escudos se distribuem de modo mais sig- volvimento das demais. Logo, as cadeias orogênicas repre-
nificativo em áreas mais distantes dos limites de uma placa sentam os terrenos mais instáveis do planeta.
tectônica. No continente americano, por exemplo, podem ser São encontradas principalmente em áreas limítrofes de
vistos nas porções central e setentrional da América do Sul placas tectônicas, como é o caso do oeste da Américas do Sul,
- onde perfaz 36% do território brasileiro - e ao norte da Central e do Norte. A Cordilheira dos Andes e as Montanhas
América do Norte. Os continentes africano, europeu e asiáti- Rochosas são exemplos dessas estruturas. Desenvolvem-se
co também apresentam terrenos cristalinos, bem como uma
também na porção centro-sul da Europa, de onde atravessam
parte expressiva da Austrália.
no sentido leste até a Ásia Meridional, formando um alinha-
mento de cordilheiras que vai dos Pirineus e dos Alpes euro-
2.2. Bacias Sedimentares peus até o Himalaia. No continente africano, localizam-se a
noroeste, nos montes Atlas.
Correspondem às estruturas com predomínio de rochas
sedimentares favorecidas pela acumulação de sedimentos
2.4. Estrutura Geológica do Brasil
em terrenos mais baixos, predispostos ao empilhamento de
estratos ou camadas de fragmentos ao longo do tempo. No
A disposição em uma área mais centralizada na placa
geral, foram formadas através do desgaste das rochas de ou-
Sul-Americana mantém o Brasil afastado de áreas tectônica
tras estruturas geológicas. No Brasil, por exemplo, datam do
ativa encontradas nos limites dessa. Nesse sentido, o territó-
éon Fanerozóico, com o desenvolvimento em meio às eras
Paleozoica e Mesozoica. Nesse sentido, são posteriores aos rio nacional não apresenta cadeias orogênicas recentes entre
escudos cristalinos na escala de tempo geológico. as estruturas geológicas nacionais e, por esse motivo, não
Contudo, a contínua deposição de sedimentos pelo mun- ocorre os terremotos. O contexto intra-placa também favore-
do permite que neste exato momento uma bacia sedimentar ce a ocorrência de terrenos arrasados e de baixa altimetria,
esteja em pleno processo de formação. É o caso de planícies como é o caso dos escudos cristalinos que ocupam 36% de
fluviais ou então desertos,. todo o país. Duas das principais áreas de extrativismo mineral
Com efeito, as bacias podem se desenvolver sobre os no Brasil, o Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, e a Serra
continentes ou até ao longo das margens oceânicas, onde de Carajás, no Pará, situam-se, respectivamente, no Escudo
formam as plataformas continentais. Trata-se de grandes es- Atlântico e no Escudo do Brasil Central.
truturas de sedimentos acumulados sob os litorais, podendo Já as bacias sedimentares correspondem a 64% de todo
chegar a mais de 3.000 metros de profundidade. Ao todo, o território nacional, com destaque para as bacias Amazônica
esse tipo de estrutura geológica distribui-se por cerca de
e do Paraná. Além disso, o Brasil conta com a presença de
75% das superfícies continentais terrestres.
estruturas geológicas ricas em rochas sedimentares em áreas
Bacias sedimentares têm uma grande importância eco-
nômica por concentrarem depósitos de combustíveis fósseis, costeiras, na forma das bacias oceânicas. A exploração de
jazidas de carvão mineral e xisto betuminoso que podem ser petróleo nessas estruturas litorâneas vem se intensificando
encontradas em bacias continentais junto a acumulações de desde a década de 1970, com o incremento em pesquisas
petróleo e gás natural. Esses, por sua vez, também são ex- geológicas e na tecnologia de extração em águas profundas,
plorados em bacias marítimas, como no Mar do Norte, na o que levou à descoberta da camada do pré-sal. As primeiras
Europa; no Golfo Pérsico, na Ásia, e no litoral brasileiro, espe- extrações começaram em 2008, em pontos situados em alto-
cialmente nas costas da região Sudeste. -mar, no litoral da Região Sudeste.

2.3. Cadeias orogênicas


Também conhecidas como Dobramentos Modernos, es-
tabelecem-se como as formações mais recentes do planeta,
datando do final da era Mesozóica e Cenozóica. Como resul-
tado do choque de duas placas tectônicas, as cadeias orogê-
nicas se apresentam com o topo coberto por neve por terem
grandes altitudes, uma vez que a referida convergência de
placas empurra pelo menos uma delas para cima e fazendo
com que os topos fiquem pontiagudos.
São encontradas principalmente rochas metamórficas e
as ígneas-magmáticas. As primeiras são favorecidas pela alta
pressão e elevada temperatura a que as placas são subme-
tidas quando em colisão. Já a atividade vulcânica associada,
com intrusões de magma e derrames de lava, leva ao desen-

78
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Fonte: https://portaldemapas.ibge.gov.br/portal.php#mapa10
3. Disponibilidade e aproveitamento econômico geológico no Brasil

3.1. Minerais metálicos

3.1.1. Ferro
O ferro é um dos elementos mais abundantes da crosta e componente essencial para as atividades econômicas, em especial
a produção de metais na metalurgia e siderurgia. Ele pode ser obtido a partir do chamado minério de ferro, com as maiores
concentrações encontradas na natureza na condição de óxidos. É o caso da hematita (Fe2O3) e da magnetita (Fe3O4), que apre-
sentam teores de ferro superiores a 50%.
No Brasil, a maioria expressiva das reservas situam-se em apenas três estados. Assim, Minas Gerais, Pará e Mato Grosso
do Sul detêm pouco mais de 98% das 28,9 bilhões de toneladas disponíveis do minério que, ao todo, corresponde a 7,2%
das reservas mundiais. Nesse sentido, o país ocupa hoje a quinta posição entre as maiores jazidas do planeta. No entanto, o
elevado grau de pureza do minério de ferro, em especial o disponível em reservas paraenses, coloca o Brasil na condição de
segundo maior produtor mundial, com uma expressiva comercialização do produto. Aproximadamente 70% do minério de ferro
destina-se a outros países.
Vale ressaltar que os maiores índices de produção nas últimas décadas são encontrados em três áreas. Em Minas Gerais,
o extrativismo está concentrado no Quadrilátero Ferrífero, uma área de mais de 7 mil km2, situada no centro-sul do estado.
Municípios localizados nesse recorte espacial, tais como Congonhas, Ouro Branco, Ouro Preto e Santa Bárbara, ainda têm na
mineração uma importante fonte de divisas. A produção local pode abastecer tanto o mercado interno quanto o mercado exter-
no, com as exportações utilizando da infraestrutura portuária de Tubarão (ES) e Itaguaí (RJ).
No Pará, o destaque é a Serra de Carajás, localizada no sudeste do estado. Trata-se da maior jazida do país e aquela com o
minério de ferro considerado como a de maior pureza no mundo: as concentrações nas rochas encontradas em Carajás chegam
a 67% de ferro. A região vem sendo explorada com maior intensidade desde o início da década de 1980 a partir do Projeto
Grande Carajás, uma iniciativa do Governo Federal que, à época, era conduzido pelo Regime Militar. A infraestutura construída,
que conta com a Usina Hidrelétrica do Tucuruí, instalada no rio Tocantins, além do Porto de Ponta da Madeira, erguido em Itaqui
(MA) e a Ferrovia Carajás, linha férrea que conecta as áreas produtoras até o cais, foi idealizada para promover o desenvolvi-
mento regional. A produção local tem como principal destino o mercado externo.
Outra fonte de exportações de minério de ferro localiza-se no Mato Grosso do Sul, estado responsável por pouco mais de
15% das jazidas nacionais. A principal área de extração está no Maciço do Urucum, no sudoeste do estado. As principais áreas
abastecidas pelo recurso estão na América do Sul: Argentina, Paraguai e Bolívia.

3.1.2. Manganês
Outro recurso comum na crosta terrestre, o manganês é encontrado principalmente no mineral pirolusita (MnO2). A extra-
ção é destinada à fabricação de pilhas e à indústria de metais onde o elemento químico é empregado principalmente de modo
indireto, isto é, para aumentar a dureza de ligas metálicas à base de alumínio, estanho, cobre, entre outros.

No mundo, as maiores reservas encontram-se na África do Sul, Ucrânia, Austrália, Índia, China e Gabão. O Brasil conta
com 11% das reservas mundiais, totalizando 57 milhões de toneladas. Equivale à sexta maior em escala global. Pouco mais
79
Geografia
de 98% desse montante está concentrado em Minas Gerais, 3.1.4. Nióbio
Pará, Amapá e Mato Grosso do Sul. O teor médio do manga-
nês entre os minérios das reservas nacionais chega a 32,5%. Obtido através do mineral columbita (Fe2+Nb3O6), o
Tal como na produção de minério de ferro, a atividade nióbio é um dos metais de menor concentração no planeta.
econômica em torno do manganês aproveita as mesmas Despertou um grande interesse de mercado nas últimas dé-
áreas de ocorrência e também de infraestrutura instalada, cadas em função do emprego pelas indústrias aeroespacial e
como é o caso do Quadrilátero Ferrífero (MG), Serra dos Ca- automotiva, além da produção de gasodutos. O motivo está
rajás (PA) e Maciço do Urucum (MS). ligado à alta resistência do nióbio à temperatura, pressão e
Já o Amapá teve a maior parte dos depósitos naturais, corrosão: a substância possui uma dureza equivalente ao ti-
existentes na Serra do Navio, exauridos em função da inten- tânio e ductilidade próxima à do ferro.
sidade da exploração realizada por um empreendimento de As maiores reservas estão localizadas no Brasil, seguido
capital estadunidense entre os anos de 1957 e 2003. Além do Canadá e da Austrália. Os dois últimos totalizam 1,6%
dos impactos econômicos causados pelo fim repentino das dos depósitos naturais do mundo. Nesse sentido, os 98,4%
atividades, a extração de manganês ainda provocou um gran- disponíveis em território nacional distribuem-se principal-
de passivo ambiental: a contaminação do solo e de águas mente por Minas Gerais, com 61%, e o Amazonas, com 12%.
subterrâneas pelo emprego de substâncias tóxicas como o O primeiro também é sede da Companhia Brasileira de Me-
arsênio no processo de beneficiamento do minério. talurgia e Mineração (CBMM), a maior produtora de nióbio
no mundo.
3.1.3. Alumínio Contudo, vale lembrar que embora com alto potencial de
mercado, o nióbio pode ser substituído por outros metais na
A principal fonte de minério de alumínio é denominada produção industrial, tais como o titânio ou o vanádio. Além
bauxita (Al2O3), isto é, um mineral formado em condições disso, o fato de o emprego da substância ocorrer em me-
de intemperismo químico e em climas úmidos. A obtenção do nor proporção que o de outros elementos metálicos somado
alumínio, contudo, depende de um processo em duas etapas. ao fato de o Brasil não exportar produtos à base de nióbio,
Na primeira, a bauxita é refinada até gerar um subproduto, mas de maior valor agregado, limita os ganhos na balança
a alumina. Em seguida, esse metal é novamente processado comercial internacional para a economia brasileira. A aposta
até a obtenção do alumínio. Via de regra, uma tonelada de em torno das grandes reservas e uma revolução de mercado
alumínio é obtida a partir de duas de alumina e de outras baseada no nióbio, portanto, precisam ser moderadas no pre-
quatro de bauxita. sente momento.
Embora disseminado hoje pelo mundo, o processo de ob-
tenção de alumínio ainda é complexo e relativamente caro,
um contraste direto com a popularização e emprego em larga
escala desse metal. As principais aplicações estão na fabrica-
ção de meios de transporte, na construção civil e na produção
de vasilhames, além de outros usos. Trata-se do segundo me-
tal mais produzido do mundo, atrás apenas do ferro.
Vale ressaltar também que o consumo de energia tanto
para se chegar à alumina quanto ao alumínio é considerado
extremamente alto uma vez que depende de processos de
eletrólise para ser efetivo. O impacto ambiental a partir da
geração de resíduos e substâncias tóxicas diretas ou indiretas
também chama atenção.
O Brasil possui a quarta maior reserva de bauxita do mun-
do, com 32 milhões de toneladas, e atrás apenas da Austrália,
Guiné e da China. As principais jazidas estão localizadas no
Pará, estado que responde por 85% da produção nacional.
Entre elas encontra-se o vale do rio Trombetas, afluente da
margem esquerda do rio Amazonas, tendo o município de
Oriximiná com um grande centro produtor.

80
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Campos e Habilidades do ENEM

HABILIDADE 26
Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.

EXEMPLO
(Enem 2012) As plataformas ou crátons correspondem aos terrenos mais antigos e arrasados por muitas fases de
erosão. Apresentam uma grande complexidade litológica, prevalecendo as rochas metamórfi cas muito antigas (Pré-
-Cambriano Médio e Inferior). Também ocorrem rochas intrusivas antigas e resíduos de rochas sedimentares. São três
as áreas de plataforma de crátons no Brasil: a das Guianas, a Sul-Amazônica e a do São Francisco.
ROSS, J. L. S. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1998.

As regiões cratônicas das Guianas e a Sul-Amazônica têm como arcabouço geológico vastas extensões de escudos
cristalinos, ricos em minérios, que atraíram a ação de empresas nacionais e estrangeiras do setor de mineração e des-
tacam-se pela sua história geológica por
a) apresentarem áreas de intrusões graníticas, ricas em jazidas minerais (ferro, manganês).
b) corresponderem ao principal evento geológico do Cenozoico no território brasileiro.
c) apresentarem áreas arrasadas pela erosão, que originaram a maior planície do país.
d) possuírem em sua extensão terrenos cristalinos ricos em reservas de petróleo e gás natural.
e) serem esculpidas pela ação do intemperismo físico, decorrente da variação de temperatura.
COMENTÁRIO

é Os Escudos Cristalinos (Crátons) formaram-se no Eon Pré-Cambriano, sendo formados principalmente por rochas
magmáticas intrusivas (granito) e metamórficas. As porções que se originaram na Era Proterozoica são muito ricas em
minerais metálicos como ferro e manganês, é o caso de áreas de exploração mineral como Carajás (PA) e Quadrilátero
Ferrífero (MG).

RESPOSTA: ALTERNATIVA A

81
Mapeando o saber
Geografia

82
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

2.1. Correntes de Convecção


Geomorfologia: Forças
estruturais e esculturais

Geografia 2 AULAS: 7 e 8

Competência(s): Habilidade(s):
3e6 15, 26, 27, 28, 29 e 30 A variação de temperatura e de pressão entre o manto
e o núcleo promove mudanças na consistência do material
que ocupa o primeiro, a maior das camadas da Terra. Quanto
maior a profundidade, ou seja, à medida em que o manto se
1. Introdução aproxima do núcleo, o magma se torna cada vez mais fluido
até que adquira uma consistência mais viscosa.
As formas de relevo encontradas na superfície terrestre
são o resultado da atuação de duas diferentes forças que
Interdisciplinaridade
interagem entre si de maneira contínua há bilhões de anos.
É a combinação entre os chamados agentes endógenos ou
internos e os agentes exógenos ou externos que vai conduzir
O magma mais quente fica menos denso e sobe, já o mais
a dinâmica e a movimentação na parte mais externa da cros- frio fica mais denso e desce. É importante de você lembrar da
ta, onde o ser humano e as mais diferentes formas de vida fórmula da densidade: D=M/V
ocupam o espaço. As consequências da interação entre esses
agentes podem ser vistas desde a distribuição das formas de
relevo e de oceanos até as áreas em que os recursos naturais
e energéticos estão dispostos.
A presença de altas temperaturas e um material de me-
nor densidade ativa uma movimentação ascendente, isto é,
em direção ao limite entre o manto superior e a crosta terres-
Multiplataformas: Vídeo tre. Quando o magma atinge essa região, com temperaturas
Os fatores climáticos/animação abaixo de 1.000ºC, ele resfria-se e vê sua densidade aumen-
tar. Consequentemente, inverte-se o sentido do deslocamen-
to, que passa a mergulhar em direção ao manto inferior para
novamente aquecer-se, diminuir a densidade e voltar a subir.

Multiplataformas: Vídeo
Movimentos de convecção do magma

2. Agentes endógenos/internos
Os processos endógenos ocorrem no interior do planeta
criando ou modificando as estruturas da superfície a partir da
energia gerada pelas camadas mais internas da Terra. Poden-
do resultar na formação ou modificações nessas camadas.
Além disso, são vistos como uma força, eles são impulsio-
nados pelo movimento das placas tectônicas geradas pelas Esse fluxo contínuo, a baixas velocidades, ocorre pelo
correntes de convecção no manto terrestre. manto da Terra e recebe o nome de Correntes de Convecção.
Elas representam a força que conduz os processos endógenos
na formação do relevo. A ascensão de material quente em
grandes proporções atinge e se espalha por baixo da crosta
terrestre. O atrito entre ela e o manto a partir das correntes
ajuda a empurrar as massas oceânicas e continentais, atuan-
do sobre o modelado da superfície terrestre.

83
Geografia
Durante a História, vários estudiosos tentaram entender concentrados em uma fenda que separava a Dorsal em duas
a dinâmica ligada aos agentes endógenos, mas as teorias não partes, no sentido norte-sul.
obtiveram sucesso ao não explicar de maneira satisfatória a A atividade intensa ao longo da cadeia de montanhas
relação entre os processos internos e a movimentação da submarinas demonstrou que a crosta terrestre se separava
crosta. Apesar disso, duas delas, formuladas no Século XX, ao longo de um vale em rifte, caracterizado pela fenda que
conseguiram reunir as bases científicas que comprovam esse dividia a Dorsal, com um novo assoalho oceânico expandin-
processo geomorfológico. do-se a partir do acúmulo de magma lançado pelas erupções
vulcânicas. Nesse sentido, as rochas fundidas se solidificavam
2.2. Teoria da Deriva Continental em contato com as baixas temperaturas no fundo do mar,
formando novas elevações. Logo, quanto mais próximas dela,
O conceito de deriva continental se relaciona ao perma- mais jovens seriam as rochas e quanto mais afastadas, maior
nente movimento dos grandes continentes a partir de evi- a idade das formações rochosas.
dências como o contorno dos litorais no Oceano Atlântico. O A comprovação da contínua expansão do fundo do
formato parecido, como um encaixe entre as linhas costeiras Oceano Atlântico reforçou a tese da movimentação dos con-
indica que a América do Sul e a África, por exemplo, já esti- tinentes como aquela proposta por Wegener, em 1915. Ela
veram unidas mas se afastaram em um movimento de deriva. também resultou na chamada Teoria da Tectônica de Placas,
Essa foi a base para que o alemão Alfred Wegener propuses- que propõe a divisão da crosta terrestre em dezenas de pla-
se, em 1915, a “Teoria da Deriva Continental”, afirmando cas tectônicas que se movimentam sobre o magma através
que os atuais continentes da Terra se formaram após a frag- das correntes de convecção. Além de reafirmar que a cros-
mentação de um supercontinente denominado Pangeia. ta não é estática e mantém-se em constante movimento, a
Teoria da Tectônica de Placas indicou que as placas e não
os continentes sozinhos são lentamente deslocados por uma
Multiplataformas: Vídeo força endógena, o tectonismo.
Terra: formação natural Teoria
da Deriva Continental 2.4. Tectonismo e movimentos
entre as placas tectônicas
Por Tectonismo ou diastrofismo, entende-se o mecanismo
que conduz os processos endógenos a partir da movimenta-
ção das correntes de convecção. Apesar de atuar de forma
combinada com os processos exógenos em toda a crosta, é
no limite entre placas tectônicas que o tectonismo se torna
Para comprovar sua tese, Wegener buscou também ou- mais expressivo. Um exemplo disso é a formação das dor-
tras evidências. É o caso da presença de rochas semelhantes sais na faixa de separação duas grandes placas como a placa
em dois continentes diferentes: por terem o mesmo tipo e a sul-americana e a placa Africana, além da placa norte-ame-
idade aproximada, o alemão concluiu que as duas se origina- ricana da placa euro-asiática como é o caso da Dorsal Me-
ram no mesmo lugar, separando-se em função da deriva con- soatlântica.
tinental. A existência de fósseis da mesma espécie em áreas Além de explicar o funcionamento da dinâmica de pla-
da África, Antártida e também na Índia também serviram de cas, o tectonismo estabelece-se em diferentes tipos de mo-
provas. No entanto, Wegener não conseguiu explicar que tipo vimentos, um no eixo horizontal, denominado orogênese, e
de força deslocava os continentes e teve sua credibilidade outro, verticalizado, chamado epirogênese. Será esse padrão
questionada pela comunidade científica por cerca de 40 anos. que vai determinar o comportamento dos processos endóge-
nos na criação e na transformação das formas de relevo na
superfície, especialmente nessas áreas de contato entre duas
2.3. Teoria da Tectônica de Placas diferentes placas tectônicas.

O elemento que faltava à Teoria da Deriva Continental foi


descoberto na década de 1950 a partir de novos estudos e do 2.4.1. Orogênese
emprego da tecnologia submarina. Durante o mapeamento
do fundo do Oceano Atlântico, pesquisadores descobriram São os movimentos geológicos horizontais que têm como
uma grande de montanhas submersas, a Dorsal Oceânica, resultado, por exemplo, a formação de cadeias montanhosas
situada em uma longa faixa, localizada em um ponto inter- ou dobramentos modernos. Além de elevadas altitudes, a
mediário entre as Américas, a África e a Europa. Além das orogênese produz falhamentos nas zonas de contato entre
dorsais, foram detectados tremores de terra e vulcões ativos
84
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

placas tectônicas. Em termos geológicos relativos, ela pode ser considerada mais rápida que a epirogênese. Podemos ainda
decompor a orogênese em três tipos de deslocamentos:

I. Limite de placa convergente

Oceano

Arco Vulcânico

Crosta Oceânica Crosta Continental

Litosfera
Litosfera

Astenosfera

Indo ao encontro da outra. O contato entre as bordas desses dois fragmentos de crosta se dá por meio do choque ao longo
de uma faixa extensa e provocando o surgimento dos Dobramentos Modernos, como consequência disso, as rochas podem ser
rompidas e geram uma série de abalos sísmicos tais como terremotos e maremotos. Além disso, a ruptura também permite a
liberação de magma a partir das fraturas abertas na crosta, resultando em erupções vulcânicas.
Quando em convergência, as placas podem resultar na formação de unidades de relevo características em função das dife-
renças de densidade das massas envolvidas. Observe:

Crosta oceânica x Crosta continental

A colisão entre placas de densidades diferentes faz com que a mais densa - oceânica - mergulhe sob a placa menos den-
sa - continental. O rebaixamento, denominado subducção, coloca a crosta oceânica em contato com as altas temperaturas do
magma o que leva à destruição dela. Além disso, a crosta continental tende a se comprimir quando empurrada pelo atrito com a
crosta oceânica, promovendo a formação de grandes cordilheiras montanhosas na superfície. Esse deslocamento oposto ao da
placa oceânica é chamado de obducção. Zonas de convergência oceano-continente também resultam em uma fossa oceânica
através da subducção da placa mais densa e os dobramentos modernos onde ocorre a obducção. É o caso da Cordilheira dos
Andes e da Fossa do Peru, localizadas ao longo da colisão entre as placas de Nazca e Sul-Americana.

Crosta oceânica e Crosta oceânica

A maior densidade das crostas oceânicas em contato mútuo promove uma subsidência com os dois fragmentos deslocan-
do-se para o fundo em um grande mergulho, o que também resulta também na fusão das placas à grande profundidade e na
formação de fossas oceânicas como a Fossa Challenger, situada no arquipélago das Ilhas Marianas, no Oceano Pacífico. A me-
nor espessura desse tipo de crosta - que varia entre 4 e 7 quilômetros - também contribui para um maior número de erupções
vulcânicas ao longo das bordas das placas, levando à formação de ilhas oceânicas com vulcanismo ativo em uma estrutura
chamada de arco de ilhas.

Crosta continental x Crosta continental

A menor densidade da crosta continental, por sua vez, conduz à obducção das bordas das duas placas em convergência,
contribuindo para a formação de cordilheiras montanhosas. O Himalaia, que contém as maiores elevações da Terra, é resultado
da colisão entre a Placa Indiana e a Placa Euro-Asiática. Áreas como essas também representam os pontos de maior espessura
da crosta terrestre, o que é favorecido pela compressão de duas placas continentais.

85
Geografia
II. Limite de placa divergente 2.4.2. Abalos Sísmicos
Os tremores de terra provocados pela movimentação de
placas tectônicas correspondem aos abalos sísmicos e se di-
videm entre terremotos (ocorrem na superfície continental) e
maremotos (ocorrem no fundo dos mares e oceanos). A di-
nâmica dos abalos sísmicos está ligada ao acúmulo e à libe-
ração de energia na forma de ondas sísmicas. Quanto maior
a energia gerada a partir da origem do abalo sísmico - local
denominado hipocentro - mais forte será o tremor de terra
sentido na superfície terrestre. Nesse sentido, chamamos de
A movimentação horizontal de placas tectônicas em sen- epicentro o ponto situado na parte externa da crosta e logo
tidos opostos recebe o nome de divergência de placas e é acima do hipocentro do terremoto ou maremoto.
caracterizada pela separação dos fragmentos de crosta ao
longo dos limites entre eles. ocorrendo a expansão do assoa-
lho oceânico, por exemplo, de maneira oposta à destruição
de placas na convergência entre oceanos ou entre oceano e
continente.
Zonas de separação de placas permitem um maior con-
tato do magma com a superfície terrestre, o que gera, como
consequência direta a presença de vulcanismo ativo e da
abertura de um rift valley ou vales em rifte. Logo a orogênese
divergente pode ocorrer em áreas submersas, como no fundo
do Oceano Atlântico, formando a Dorsal Mesoatlântica, ou
em regiões emersas. É o caso do Rifte Valley Africano, situado O fluxo de energia que caracteriza os abalos sísmicos
na porção leste-sudeste da África. A abertura, ainda em ati- decorre da tensão entre duas placas tectônicas que estejam
vidade, tende a criar uma nova placa a partir da já existente em contato, como é o caso dos limites convergentes, diver-
Placa Africana e, consequentemente, da separação e o afas- gentes ou transformantes. À medida em que as crostas se
tamento da chamada sub-placa Somaliana. chocam, separam ou deslizam entre si, as rochas passam a
Em geral, os vales em rifte apresentam posições opostas acumular energia até atingir um grau de resistência máxima.
em relação à altitude. As porções mais baixas, encontradas Nesse momento, sob a tensão máxima, elas se rompem no
ao longo do fundo do vale, são classificadas como um gra- foco de contato, liberando em poucos minutos toda a energia
ben tectônico. Representam, nesse sentido, as porções mais acumulada. As ondas sísmicas então se espalham em todas
rebaixadas que cederam em função da ruptura de uma placa as direções a partir desse hipocentro, dissipando a energia ao
tectônica em duas. Já as áreas circundantes, em posição mais longo do percurso. Logo, quanto mais próximo do epicentro
elevada que os graben, são denominadas como horst e cor- - localizado na superfície terrestre - maior será a intensidade
respondem às bordas do rift valley. do tremor.
O tamanho de um terremoto pode ser determinado por
III. Limite de placa transformante
meio de dois sistemas de medição que usam diferentes cri-
A orogênese transformante corresponde ao deslocamen- térios de análise. Para a magnitude, por exemplo, aplica-se
to lateral e paralelo de duas placas tectônicas vizinhas. As a Escala Richter que mede a força do abalo sísmico em uma
bordas nesse tipo de contato deslizam-se tangencialmente escala de valores entre tremores menores que dois graus ou
uma em relação à outra, de maneira horizontal, sem ocorrer maiores que nove graus. Os abalos acima de seis graus de
separação ou colisão entre elas. No entanto, o atrito cons- magnitude são considerados graves e podem causar uma
tante entre placas nessas condições pode promover abalos destruição considerável. Já o efeito dos tremores na superfície
sísmicos de elevada magnitude devido à tensão acumulada é avaliado por meio da Escala Mercalli Modificada, que mede
nas rochas sob atrito constante. A movimentação tangencial a intensidade desses fenômenos em uma escala em números
também está associada à presença de terrenos com fisiono- romanos que varia de I - para terremotos não percebidos - até
mia irregular, as falhas transformantes, como ocorre na Falha XII, classificado como de destruição total.
de San Andreas, localizada nos Estados Unidos da América. A distribuição de abalos sísmicos no Brasil revela que
não estamos imunes a terremotos. A disposição geográfica
do país, situado ao centro da Placa Sul-Americana, evita a
ocorrência de tremores de grande magnitude como os regis-
trados nas bordas da mesma placa. No entanto, os estados
86
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

mais próximos da zona de convergência do Oceano Pacífico As erupções representam um risco histórico às comuni-
- como o Acre, Rondônia e Mato Grosso - possuem tendên- dades que vivem nas proximidades de vulcões ativos como é
cia a sofrer os maiores reflexos das ondas sísmicas liberadas o caso da destruição através do derrame de lava, gerando a
naquele foco de tensão. Outra possibilidade de tremores de queda de fragmentos de rochas e emissão de gases tóxicos,
terra no Brasil decorre da reativação de antigos falhamentos além do soterramento de terra ou mesmo avalanches que são
em função da atividade tectônica comum no interior de pla- movimentadas a partir da liberação de grande quantidade de
cas. Esse tipo de tremor, no entanto, é considerado de baixa material vulcânico.
magnitude. Por outro lado, a concentração elevada de minerais como
o magnésio e potássio na lava e nas cinzas vulcânicas contri-
2.4.3. Tsunamis bui diretamente para a formação de solos férteis e ricos em
nutrientes nas imediações de vulcões. Outra possibilidade de
Vimos que os abalos sísmicos podem ocorrer em áreas de aproveitamento ocorre na produção de eletricidade a partir
placas oceânicas onde o tremor de terra decorre de um ma- do vapor gerado pelo calor abaixo da superfície em áreas
remoto. A propagação de ondas sísmicas nessas condições de vulcanismo ativo. Trata-se da energia geotérmica já em
pode refletir na superfície do mar, gerando o deslocamento atividade em países como a Itália e o Japão.
de grandes massas de água a partir do epicentro do abalo.
Essas ondas gigantes são chamadas de tsunamis. 2.4.5 Epirogênese
Países situados no Oceano Pacífico, por exemplo, têm
grande propensão ao impacto de tsunamis pela presença de Outro componente do tectonismo consiste na epirogêne-
40.000 km de placas tectônicas em colisão umas com as ou- se, isto é, a movimentação vertical de placas tectônicas. Ela
tras, o que eleva os focos de tensão e aumenta os riscos de pode ser dividida em dois tipos de deslocamentos. No de su-
maremotos nesses locais. bida, quando as placas oscilam para cima, ocorre o soergui-
mento ou a epirogênese positiva. Já no de descida, quando
2.4.4. Vulcanismo as placas se movimentam para baixo, ativa-se a subsidência
ou epirogênese negativa.
O Vulcanismo corresponde à liberação de magma na su- Tal movimentação é consequência do princípio da isos-
perfície terrestre, o que ocorre por meio de uma erupção vul- tasia, ou seja, um equilíbrio em torno da compensação de
cânica. Nesse processo, o magma passa à condição de lava pressões entre a crosta e o manto. Assim, as consequências
no momento em que é ejetado da subsuperfície. A natureza podem tanto a placa tectônica sendo empurrada para baixo
não sólida, a menor densidade e a alta temperatura permitem em subsidência e os terrenos vizinhos iniciam um soergui-
que o material se eleve aos poucos, fundindo as rochas nas mento, quanto um dobramento moderno que já não aumenta
placas tectônica e abrindo fraturas no caminho, podendo for- mais sua altitude, o relevo pode crescer, mas acaba erodindo.
mar as intrusões magmáticas. Ao final, o magma acumulado
rompe a superfície e lança, ao mesmo tempo, um material
líquido e pastoso - a lava - e uma nuvem de vapor d’água,
3. Agentes exógenos/externos
gases e partículas sólidas como detritos e cinzas. O contato
Interligados aos agentes ou forças endógenas da Terra
com a temperatura ambiente conduz ao resfriamento da lava
estão os agentes externos ou exógenos, uma segunda for-
e a transformação dela em rochas vulcânicas.
ça que articula-se com a anterior para modificar a paisagem
A formação de vulcões é facilitada em áreas de intensa
terrestre. Dois componentes atuam em conjunto nessa con-
atividade sísmica como as bordas de placas tectônicas. Cer-
dição: o intemperismo e a erosão. O principal papel deles é
ca de 95% do vulcanismo global está presente em limites
contribuir para o desenvolvimento do relevo a partir da mo-
convergentes e divergentes, sendo 80% concentrados entre
delagem, ou seja, o esculpimento do relevo.
placas em colisão e 15% em zonas de separação de placas.
As forças exógenas são influenciadas diretamente pela
O acúmulo de tensão e a contínua abertura da crosta terres-
ação do clima. Em outras palavras, há uma interferência no
tre nos limites divergentes intensificam o contato do mag-
sentido externo ao planeta e que opera com mais intensidade
ma com a superfície, ocasionando o vulcanismo. Cerca de
e eficiência nas camadas superficiais da crosta, expostas à
5% das erupções mundiais estão ligados a esse fenômeno,
atmosfera.
denominado vulcanismo intraplaca ou hotspots. Quando é
São eles: gelo, vento, chuva, mar e rios.
estabelecido em uma placa oceânica, as erupções contínuas
formam uma cadeia de de ilhas vulcânicas pela concentração
de lava resfriada. Um exemplo de hotspot é o arquipélago do 3.1. Intemperismo
Havaí, situado no interior da Placa do Pacífico.
O intemperismo pode gerar a decomposição ou desinte-
gração das rochas, assim, ele corresponde a processos quí-
87
Geografia
micos, mecânicos ou biológicos que atuam sobre o substrato te para remover partículas já soltas. No segundo, a presença
geológico terrestre, reduzindo uma rocha a fragmentos me- de sedimentos em meio ao vento ajuda a limpar a superfície
nores. Essa dinâmica pode ser vista a partir de três mecanis- e remover ainda mais materiais. Além do potencial erosivo,
mos. os ventos são capazes de desenvolver elevações de areia, as
chamadas dunas, modelando o terreno principalmente em
3.1.1. Intemperismo químico áreas desérticas e costeiras.

Trata-se da decomposição da rocha a partir de reações 3.2.2. Erosão pluvial


químicas que a altera sob contato direto com a água. Nesse
sentido, as rochas serão lentamente dissolvidas pelos íons e Efetuada pela água das chuvas no contato inicial com
ácidos formados pela combinação da água com gases nela o solo e também ao escoar pela superfície como através de
dissolvidos. A redução das rochas nessas condições é mais enxurradas. O primeiro contato de gotas d’água com o solo
encontrada em áreas mais quentes e úmidas, sob precipita- exposto, isto é, sem a cobertura vegetal, promove a desagre-
ções regulares e constantes, tais como a região equatorial da gação dessa camada pelo chamado efeito splash. Ao atritar
Terra. o solo, a gota vai salpicar a superfície, separando partículas
no processo. Uma vez desagregadas, podem ser facilmente
3.1.2. Intemperismo físico retiradas por novos fluxos d›água. Além de ser acelerada pelo
desmatamento, a erosão pluvial se torna mais eficiente e da-
Responsável pela desagregação ou quebra mecânica da nosa em terrenos íngremes nos quais a inclinação favorece
rocha, o intemperismo físico comporta-se de modo oposto a movimentação superficial da água. À medida que a dre-
ao anterior. Verificado em regiões mais secas, quentes ou nagem se intensifica, a água passa a escavar caminhos que
frias, tais como os desertos, esse tipo de intemperismo ata- tornam-se mais profundos quanto maior perda de solo. Nessa
ca a rocha e a fragmenta por meio de fraturas. As causas condição, três estágios sucessivos podem acontecer:
podem relacionar-se à termoclastia(o material se enfraquece Erosão laminar ou em lençol: pequena profundidade e
por dilatar-se e comprimir-se, sucessivamente, em resposta a com remoção limitada de fragmentos do solo. Ocorre na sub-
uma alta amplitude térmica [variações abruptas de tempera- superfície, sendo mais difícil de ser detectada sem ajuda de
tura]). Já na crioclastia é o congelamento da água presente medidores.
em aberturas da rocha que a romperá a partir da expansão • Erosão por ravinamento ou em ravinas: profundidade inter-
do gelo sob temperaturas negativas. mediária e com média remoção de fragmentos. Promove a
abertura de sulcos por onde a água circula com mais facilida-
3.1.3. Intemperismo biológico de, as chamadas ravinas.
• Erosão por voçorocamento ou em voçorocas: grande profun-
Já os seres vivos podem operar tanto na decomposi- didade e com forte remoção de fragmentos. Corresponde ao
ção, através da corrosão da rocha em contato com ácidos transporte gravitacional e à movimentação de quantidades
orgânicos produzidos por bactérias ou líquens, por exemplo, expressivas de solo, o que resulta em grandes escavações
quanto na desagregação que ocorre, entre outros, por meio pela água; chega a expor o lençol freático e quando a ravina
crescimento contínuo de raízes de árvores. A esse conjunto chega ao estágio de voçoroca esse impacto ambiental acaba
de alterações, classificamos como intemperismo biológico ou sendo irreversível. Geralmente esses casos ocorrem em regi-
intemperismo químico-biológico. ões onde apresentam rochas sedimentares no subsolo.

3.2. Erosão Descobrindo Agora

A erosão vai dar continuidade à modelagem de uma pai-


sagem logo após a ação do intemperismo. Nesse sentido, a Voçoroca e impacto em cidade.
erosão vai retirar, transportar e depositar em outros ambien-
“Uma voçoroca de cerca de 500 metros de comprimento e
tes os fragmentos de rocha ou mesmo de solos.
40 metros de largura ameaça engolir parte da BR-040, em
Valparaíso de Goiás. O problema se arrasta há anos e a obra
3.2.1. Erosão eólica para conter a erosão não começou.
A voçoroca é causada pela água das chuvas. Porém, o proces-
so de urbanização da região acabou agravando a situação.
Conduzida pelos ventos, esse tipo de erosão desagrega e Uma das hipóteses para o problema é a falta de infraestrutura
retira os sedimentos por meio da deflação ou da abrasão. No de drenagem de águas da chuva.”
primeiro caso, a passagem de correntes de vento é suficien- Fonte: https://g1.globo.com/go/goias/noticia/

88
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

3.2.3. Erosão fluvial 3.2.5. Erosão marinha

Promovida pelos rios que desgastam as margens a partir Realizada pela ação direta do oceano sobre áreas cos-
da própria correnteza. Também está associada ao fato de o teiras. Decorre da oscilação das marés, do impacto direto de
curso d’água conseguir escavar o próprio leito por meio de ondas ou mesmo de inundações provocadas pela movimen-
uma maior vazão, gerando os vales fluviais e de planícies de tação oceânica. O contato da água com a superfície, em tem-
inundação, somada à presença de detritos que ajudam a des- po geológico, é capaz de desgastar e remover fragmentos de
bastar a superfície ao serem transportados pelas águas. solos, rochas e, em se tratando de litorais, partes da areia que
forma as praias. Comporta-se ao mesmo tempo como uma
dinâmica destrutiva - vista pela abrasão marinha que corrói
3.2.4. Erosão glacial gradativamente a base de encostas denominadas falésias
e levar ao desabamento dessas - ou mesmo uma dinâmica
construtiva. Nesse último caso, será o trabalho de acumulação
marinha, ou seja, a deposição de sedimentos que irá resultar
em feições próprias de regiões costeiras como os bancos de
areia que formam praias, restingas, tômbolos, entre outros.
Vale ressaltar que a dinâmica erosiva constitui em um
processo natural conduzido por uma série de agentes. Uma
consequência disso é o fato de a classificação levar em con-
sideração qual desses componentes atuou de modo mais
predominante: no caso do vento, erosão eólica; no caso do
oceano, erosão marinha, entre outros. Nesse sentido, o ho-
mem pode atuar na condição de elemento complementar
mas como o poder de acelerar o processo erosivo. Esse tipo
de interferência cria condições para que a erosão ocorra com
Resultado do desprendimento de geleiras que deslocam-
maior intensidade. Um exemplo disso é o desmatamento,
-se de áreas mais altas para áreas mais baixas por causa da
o manejo incorreto do solo e construções que fortaleçam a
ação da gravidade. A movimentação afeta diretamente o solo
ação destrutiva da água. Logo, nota-se uma relação direta
e as rochas por baixo dessas grandes massas de gelo que
entre o agente erosivo, isto é, que conduz a erosão e é mar-
conseguem escavar vales profundos em forma de U, os quais
cado pela natureza somado a um segundo agente, com viés
são denominados fiordes e muito encontrados em países
antrópico, que acelera e intensifica o processo.
como a Noruega. A erosão glacial tem grande importância no
modelado do relevo em regiões sob climas frio e temperado.
Além do surgimento dos fiordes, ela também é caracterizada
pela acumulação de sedimentos removidos anteriormente
pela ação do gelo, o que desenvolve terrenos denominados
morainas.

89
Geografia

Campos e Habilidades do ENEM

HABILIDADE 26
Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.

EXEMPLO
(Enem 2017) O terremoto de 8,8 na escala Richter que atingiu a costa oeste do Chile, em fevereiro, provocou mu-
danças significativas no mapa da região. Segundo uma análise preliminar, toda a cidade de Concepción se deslocou
pelo menos três metros para a oeste. Buenos Aires moveu-se cerca de 2,5 centímetros para oeste, enquanto Santiago,
mais próxima do local do evento, deslocou-se quase 30 centímetros para a oeste-sudoeste. As cidades de Valparaíso,
no Chile, e Mendoza, na Argentina, também tiveram suas posições alteradas significativamente (13,4 centímetros e
8,8 centímetros, respectivamente).
Revista InfoGNSS, Curitiba, ano 6, n. 31, 2010.

No texto, destaca-se um tipo de evento geológico frequente em determinadas partes da superfície terrestre. Esses
eventos estão concentrados em
a) áreas vulcânicas, onde o material magmático se eleva, formando cordilheiras.
b) faixas costeiras, onde o assoalho oceânico recebe sedimentos, provocando tsunamis.
c) estreitas faixas de intensidade sísmica, no contato das placas tectônicas, próximas a dobramentos modernos.
d) escudos cristalinos, onde as rochas são submetidas aos processos de intemperismo, com alterações bruscas de
temperatura.
e) áreas de bacias sedimentares antigas, localizadas no centro das placas tectônicas, em regiões conhecidas como
pontos quentes.
COMENTÁRIO
é A alternativa [C] está correta porque a propagação de ondas sísmicas tem sua origem em áreas de bordas de placas
tectônicas a exemplo da localização do Chile na Cordilheira dos Andes. As alternativas incorretas são: [A], porque as
cordilheiras são formadas por dobramentos da crosta e a afirmativa descreve os vulcões; [B], porque tsunamis são
formados pela propagação de ondas sísmicas que deslocam grandes volumes de águas oceânicas; [D] e [E], porque
abalos sísmicos ocorrem em áreas de dobramentos modernos nas bordas das placas.
RESPOSTA: ALTERNATIVA C

90
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Mapeando o saber

91
Geografia

Classificação do relevo
2. A evolução do relevo
Em primeiro lugar, todo relevo é modificado ao longo do
tempo geológico, evidentemente cada um com a sua velo-
cidade de modificação. Porém, quando o relevo ganha alti-
Geografia 2 AULAS: 9 e 10 tude e é muito recente, mais pontiagudo e irregular é o seu
topo, pois não teve tempo de ocorrer grandes modificações.
Competência(s): Habilidade(s): 15, 26, 27, Ou seja, ainda não houve tempo suficiente para ocorrer o
3e6 28, 29 e 30
processo de pediplanação, tendência de todos os relevos
ficarem planos.

1. Introdução
Os relevos são classificados de maneiras diferentes, prin-
cipalmente relacionados ao seu nível taxonômico. Assim, é
possível entender a dimensão, o processo de formação e evo-
lução de cada um deles. Isso tem aplicabilidade no dia-a-dia. Além disso, durante o processo de desenvolvimento do
Afinal, é com o estudo dos relevos que o ser humano con- relevo alguns fatores devem ser considerados e é isso que
segue construir as suas casas e infraestruturas básicas com será abordado a partir de agora.
segurança. A ação tectônica é fundamental, pois é com o movimen-
Um outro fator importante é o nível de investimentos to das placas tectônicas, a orogenia (quando duas placas se
públicos usados em cada relevo para evitar acidentes sérios, chocam, a mais densa vai para baixo e a menos densa soer-
assim, áreas onde ocorre ocupação irregular não tem o aval gue na outra placa) e a epirogenia (quando ocorre o soergui-
público pela não existência da construção de infraestrutura mento de um relevo no interior de uma placa tectônica).
que evite a erosão e o deslizamento de terras. Além disso, o índice pluviométrico interfere diretamen-
Além desse motivo, estudar o relevo foi de extrema im- te na formação do relevo, já que, através do intemperismo
portância dentro do âmbito geopolítico, o sucesso em guerras (alteração da rocha) e da erosão (transporte de fragmentos
também está associado ao país conhecer bem o seu território rochosos para áreas mais baixas), faz (referência é "índice
e saber posicionar as suas tropas. Há muitos pesquisadores pluviométrico) o relevo ficar mais alto ou baixo. Juntamente
que pensaram na Geografia como ciência espacial, a qual com esse fator, a inclinação do relevo influencia abruptamen-
permite a facilitação da interpretação paisagística, assim, via- te, isso ocorre pela ação da água como agente modelador do
bilizou aos comandantes terem vantagens sob seu inimigo. relevo. Assim, uma encosta íngreme faz a água escoar com
Além disso, há teorias como a da «Heartland» de Mackinder, velocidade maior e se não tiver cobertura vegetal os frag-
a qual expôs uma região do planeta (próximo ao Oriente Mé- mentos rochosos são levados para áreas mais baixas. Du-
dio) da Terra como o centro geopolítico e estratégico, assim, rante esse processo, ocorre o efeito de “salpicamento”, que
várias pesquisas foram feitas sobre a região e intervenções acontece quando os sedimentos são transportados e batem
internacionais com o objetivo de controlá-la para influenciar em outros sedimentos, assim, formando uma cadeia de movi-
o mundo dentro da Ordem Mundial. mento chegando a provocar o deslizamento de terra. Falando
em vegetação, a fauna e a flora têm ampla relevância no rele-
vo, pois os animais podem interferir no meio ambiente com a
Multiplataformas: Livro sua interação com o próprio relevo, mas principalmente com
A Geografia - Isso serve, em primeiro a formação da estrutura do solo, por exemplo com cupins e
lugar, para fazer a guerra. Yves Lacoste minhocas, já a vegetação pode deixar os sedimentos mais
juntos ou até mesmo protegê-los do “efeito splash”, o qual
ocorre quando as gotículas de água da chuva caem na super-
fície do solo em alta velocidade e faz o solo ou fragmentos
rochosos irem para áreas mais baixas.
Em relevos sedimentares, o material rochoso também é
fundamental, pois eles muitas vezes não passam pelos pro-
cessos de agregação de cada grão, o que o torna mais sus-
cetível a reagir com água por eles muitas vezes não terem

92
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

passado pelos processos de agregação de cada grão, acaba no caso, não atrapalha pois, o Cerrado tem vegetação pouco
sendo mais suscetível a reagir com a água. densa, ou seja, árvores esparsas. O alto dos rios Araguaia,
Por fim, o tempo geológico é fundamental para a inter- Tocantins e São Francisco nascem nesse planalto e são de
pretação do relevo e da sua evolução, desta forma, quanto fundamental importância na produção energética e para a
mais antigo é um relevo, assim como os relevos brasileiros, irrigação.
mais resistente ele será à alteração, mas isso não significa
que ele não é alterado, talvez seja menos perceptível, prin-
cipalmente pela distinção temporal do planeta Terra e do ser
humano, mas continua se transformando. Assim, em regiões
localizadas em borda de placa tectônica ocorre a interferên-
cia dos agentes endógenos do planeta Terra (vulcanismo,
ação de vulcões, e tectonismo, ação das placas tectônicas) e
os agentes exógenos, os quais são ação eólica (vento), ação
pluvial (chuva), ação glacial (gelo) e ação fluvial (rios). Assim,
os primeiros serão responsáveis majoritariamente pela mor-
foestrutura (estrutura geológica) e os segundos pela morfoes-
cultura (estrutura física externa) do relevo.

Planalto Nordestino: localizado no Nordeste, tem


3. Os relevos como referência a Chapada da Diamantina e o Planalto da
Borborema, esse que provoca chuva orográfica (chuva cau-
Agora, será falado sobre alguns relevos em escala con- sada pelo ganho de altitude da massa de ar por causa do
tinental ou nacional. São eles: planaltos, planícies e depres- relevo).
sões. Cada um deles têm características próprias mas estão Planalto meridional: fica localizado próximo ao Su-
intimamente ligados ao processo de sedimentação ou erosão. deste brasileiro e nele está a Bacia do rio Paraná, o qual é de
Juntamente a isso, também estão associados à altitude. Nes- suma importância à economia regional e nacional pois, gera
se último caso, acaba sendo mais problemático pois na escola energia para boa parte da população brasileira.
costuma ser mencionado que os planaltos são mais altos do Planalto atlântico: esse relevo está localizado perto do
que as planícies, planícies não podem estar acima de 500 me- Oceano Atlântico, origem do nome, e é subdividido em vários
tros de altitude e assim por diante. "Entretanto, isso pode sim outros grupo, já que não é uma unidade única. Nele estão
ocorrer, pois a classificação desse tipo de relevo não é por al- presentes os Mares de Morro (relevos ondulados que ficam
titude, mas sim pela ação geológica sob o relevo em questão. no litoral, o qual chamamos de serra).
Planalto das Guiana: fica na região extremo norte do
3.1. Planaltos país e é onde está localizado o Pico da Neblina, ponto mais
alto do Brasil com aproximadamente 3.000 metros de alti-
Os planaltos são relevos mais elevados e o seu topo tude. Esse relevo é compartilhado com outros países, como
não costuma apresentar grandes declividades e predomina Venezuela e Colômbia. Uma grande questão é o controle de
o processo de erosão, isso ocorre devido à idade do relevo rotas do narcotráfico nesta região. Além da vegetação da flo-
brasileiro. Além disso, o território nacional não tem grandes resta equatorial a sul do relevo, ele mesmo dificulta o moni-
transformações, o que não significa ser estático, mas como há toramento.
relevos em localização e com feições diferentes, será destrin- Alguns nomes que podem aparecer no vestibular, como
chado cada um deles. os planaltos residuais (formados pelos resíduos da ação in-
tempérica e erosiva), sendo o mais famoso deles o Planalto
e Chapada do Parecis, mas ocorre também na Amazônia e
próximo ao Oceano Atlântico (litoral). Há também os planal-
3.1.1. Os planaltos brasileiros tos sedimentares, ou em bacia sedimentar, os quais ocorrem
pela formação de uma depressão periférica próxima, a cuesta
O Planalto Central está localizado na região Centro-Oes-
é um relevo sedimentar e de um lado há queda abrupta, já
te, com seu maior ponto de altitude na Chapada dos Vea-
do outro a queda é mais suave, na primeira vertente (lado do
deiros, que apresenta uma extensão territorial muito elevada
relevo) onde a variação altimétrica é maior, costuma ser for-
além do seu topo ser muito plano. Assim, Brasília foi construí-
mada pela ação do tempo com a escavação das partes mais
da pela facilidade em sua defesa caso haja algum ataque de
baixas primeiro pela ação pluvial, fluvial e da depressão peri-
outro país. Além de estar no interior e região central, o topo
férica como mencionado, elas ocorrem na Bacia do Parnaíba
aplainado facilita observar se tropas inimigas estão chegando
e do Paraná, por exemplo.
e em qual direção (um detalhe importante é que a vegetação,
93
Geografia

3.2. Planícies
As planícies são relevos mais baixos que todo o seu entorno, costumam comportar os rios e são sedimentares, ou seja,
acumula sedimento.
No Brasil, existem diversos tipos de planície, a mais famosa é a planície costeira, a qual foi formada pela ação marinha, além
de receber sedimentos das serra do mar (parte leste do planalto atlântico).

Há também Planícies fluviais, as quais são formadas pela ação dos rios. Nessas áreas costuma haver inundação periódica,
ou seja, em época de cheia. Alguns exemplos dessas planícies são: Planície Pantaneira e Planície Amazônica.

3.3. Depressão
Já a depressão é um relevo baixo mas predomina o processo de erosão por causa da estrutura rochosa frágil e suscetível à
erosão.

3.3.1. As depressões brasileiras

94
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

A depressão periférica, assim como ocorre no estado de No caso das Bacias Sedimentares, as mais recorrentes
São Paulo, é uma faixa extensa e localizada entre um relevo são as brasileiras, assim como a de Campos e do Pantanal,
cristalino (serra) e sedimentar (parte interiorana do estado mas ocorrem no Oriente Médio e por isso há petróleo nessa
onde ocorrem as cuestas, relevo sedimentar). região.
Um outro tipo de depressão é a interplanáltica, a qual
está entre planaltos, como o nome remonta, um exemplo
dela é a depressão sertaneja. 5. Classificando o relevo do Brasil
Por fim, a Depressão Marginal é aquela que ocorre na
periferia das bacias sedimentares como a depressão norte-
-amazônica.

3.3.2. Depressão absoluta


No caso da depressão absoluta, ela fica abaixo do nível
do mar, e os Países Baixos são um exemplo. Eles só não foram
invadidos por água devido ao relevo que separa eles do mar.
A grande problemática, porém, é caso aumente o nível do
mar ou comece a chover de forma mais intensa, pois pode
ser que eles precisem utilizar bombas para a retirada da água
de lá.

3.3.3. Depressão relativa


A depressão relativa está acima do nível do mar, ou seja,
é uma região baixa em relação ao seu entorno, mas fica em
um relevo. Essa depressão, por exemplo a Depressão Periféri- O relevo brasileiro é antigo e possui extrema dimensão
ca Paulista, acaba sendo escavadas por rios e a sua área pode territorial (sendo então classificado como país continental).
ser de quilômetros. Desta maneira, várias feições diferenciadas são encontradas
e haverá diversas formas de classificação, o que ocorre devido
à subjetividade e aplicação de metodologias observacionais e
4. Classificando o relevo mundial empíricas adotadas em cada procedimento.
Como o país está localizado no meio de uma placa tec-
tônica (chamada de Placa Sul-Americana), não apresenta Do-
bramentos Modernos (relevos recentes, extremamente altos
e com topo irregular), assim, sua predominância são de Es-
cudos Cristalinos (relevos com altitude mediana, desgastados
e mais resistentes à alteração), mas é composto também por
Bacias Sedimentares, as quais são relevos mais recentes, bai-
xos e tem origem na sedimentação dos fragmentos rochosos.
Nesse caso é possível encontrar recursos naturais como o
petróleo, gás natural e carvão mineral.
Ao se tratar de mundo a escala deve ser muito maior,
Como mencionado, cada regionalização e classificação é
ou seja, costuma-se apenas falar em Dobramentos Modernos
baseada na metodologia e tecnologia aplicadas e disponíveis
(relevos formados pela ação convectiva das placas tectônicas)
à época. Desta maneira, será explorada cada uma delas a
que provocando a orogenia (soerguimento de uma placa sob
seguir baseando-se em planaltos, planícies e depressões.
a outra). Há também os Escudos Cristalinos (regiões antigas
e muito desgastadas), localizadas no meio de uma placa tec-
tônica e as regiões de Bacia Sedimentar (região baixa onde
acumulam os fragmentos rochosos).
Exemplos de Dobramento Modernos: Montes Urais (Rús-
sia), Cordilheira do Himalaia (Ásia), Cordilheira dos Andes
(América do Sul) e os Alpes Europa)
Exemplos de Escudos Cristalinos: Montes Apalaches
(EUA) e Escudo Brasileiro (Brasil).
95
Geografia

5.2. Aziz Ab’Saber (1958)

Nesse caso, o pesquisador utilizou a base observacional


onde o relevo brasileiro era composto principalmente por pla-
naltos e planícies. Aziz utilizou a definição hoje usada para
ambos, ou seja, nas planícies ocorre a predominância de se-
dimentação em relação à erosão, e nos planaltos a erosão so-
bressai à sedimentação. Hoje, com a tecnologia, foi possível
perceber que o país é dominado por planaltos e depressões.
5.1. Aroldo de Azevedo (1940) Na época, isso não era possível de ser analisado, prin-
cipalmente o assoalho que o assoalho da Amazônia, devido
à vegetação alta e a copa das árvores fechada, dava-se a
impressão que o relevo era mais alto do que realmente era.
Uma analogia que pode ser feita é com a falsa sensação de
que o solo da Amazônia é rico em nutrientes, informação que
está incorreta, pois o solo desta floresta equatorial é inten-
samente lixiviado (os nutrientes são carregados pela água da
Fonte: https://escolaeducacao.com.br/classificacao-do-relevo-brasileiro/

chuva), causado pelo elevado índice pluviométrico, assim, o


extrato arbóreo só consegue ser imperioso devido ao acúmu-
lo de matéria orgânica na superfície do solo, o nutrindo cons-
tantemente mas sendo lixiviado, cabendo então à vegetação
absorvê-los antes desse fato ocorrer.
É possível perceber o aumento no nível de detalhamento
que houve para esta regionalização. Além disso, a nomencla-
tura dada a cada unidade de relevo é baseada na sua posição
geográfica.

Essa primeira classificação do território nacional não


considerou que havia depressões de grandes proporções. Por
outro lado, através dele foi possível construir uma linha de
evolução e início para o reconhecimento do nosso relevo.

96
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

5.3. Jurandyr Ross (1989) Mudança de orientação abrupta do relevo, ou seja, é um


paredão rochoso onde há declividade de aproximadamente
90º.
Fonte: https://chicomarchese.wordpress.com/material-para-aulas/

5.4.2. Falésia

Nesse caso, Jurandyr Ross usou ferramentas mais tecno-


lógicas, as quais estavam disponíveis, como além da aero-
fotogrametria usou sinais de satélites obtidas pelo projeto
Radam Brasil. As depressões então passaram a fazer parte do
território brasileiro e foi possível introduzir um nível de deta-
lhamento muito maior que nos casos anteriores, isso ocorreu A falésia é um caso particular da escarpa, pois enquanto
devido a não existência de material analítico na época. essa é virada para o continente, a falésia tem sua vertente ao
Nessas unidades morfoestruturais, houve a ampliação na mar (ou seja, sua evolução depende da ação marinha).
nomenclatura de cada relevo, a qual decorreu de qual unida-
de de relevo era e da sua posição geográfica ou referência
5.4.3. Cuestas
natural da região. O incremento das depressões, grande novi-
dade, foi obtido pela percepção desses relevos, que, embora
fossem baixos, tem a sua estrutura geomorfológica suscetível
à erosão, ou seja, o relevo é extremamente frágil e mesmo
que baixo a erosão predomina em relação à sedimentação,
assim, ela acaba ocorrendo pela ação fluvial.

5.4. Os relevos brasileiros


É um relevo sedimentar que apresenta uma vertente com
Como dito, o relevo brasileiro tem uma estrutura mais queda mais suave e do outro lado a queda é mais abrupta,
antiga e desgastada, o seu nível altimétrico é moderado. algo que ocorre devido à ação pluvial e fluvial que acaba
gerando uma depressão próxima a ela.
5.4.1. Ecarpa
5.4.4. Chapadas

É um relevo cujo topo é extremamente plano, que ocorre


quando o relevo já está desgastado e foi submetido ao pro-

97
Geografia
cesso de pediplanação (tendência do relevo ficar plano pela 5.4.8. Colina
ação exógena, ou seja, climática).
A colina difere da Serra pois, sua declividade costuma
5.4.5. Tabuleiros estar próxima aos 15º. E mbora seja possível, é um pouco
difícil de uma pessoa subir esse tipo de relevo pela inclinação.

Relevos que simulam grandes tabuleiros, ou seja, seu


topo é composto por chapada e as vertentes são escarpadas.
5.4.9. Morro Testemunho
5.4.6. Inselberg

Esse relevo recebe esse nome pela ação da erosão. Anti-


gamente, era um relevo contínuo, mas com o tempo geológi-
co ficaram apenas “sobras” mais resistentes. Desta maneira
“testemunhou” a existência de um outro relevo antes.

Geralmente ocorre em regiões áridas e semiáridas, ou


seja, é o afloramento rochosos causado pela pressão gerada
pela ação tectônica, assim, o bloco rochoso acaba aflorando
na superfície.

5.4.7. Serra

Ocorre principalmente no litoral brasileiro e está associa-


do ao topo irregular.

98
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Campos e Habilidades do ENEM

HABILIDADE 26
Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.

EXEMPLO
(Enem digital 2020) Os canais meândricos são encontrados, com frequência, nas áreas úmidas cobertas por vege-
tação ciliar, descrevem curvas sinuosas harmoniosas e semelhantes entre si. Várias são as condições essenciais para o
desenvolvimento dos meandros: camadas de detritos de granulação móvel, coerentes, firmes e não soltas; gradientes
moderadamente baixos; fluxos contínuos e regulares; cargas em suspensão e de fundo em quantidades mais ou menos
equivalentes.
GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Org.). Geomorfologia: uma atualização de ba-
ses e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

A drenagem fluvial apresentada desenvolve-se em qual ambiente topográfico?


a) Vales encaixados.
b) Escarpas íngremes.
c) Depressões absolutas.
d) Planícies sedimentares.
e) Cordilheiras montanhosas.

COMENTÁRIO

é As planícies fluviais localizam-se ao longo dos rios e são caracterizadas pelo topografia plana e predomínio do
processo de sedimentação de partículas minerais e matéria orgânica. O transbordamento dos rios na cheia proporciona
o acúmulo de sedimentos na planície. A forma plana incorre na menor velocidade da água no curvo fluvial levando a
formação de curvas dos rios, denominadas de meandros.

RESPOSTA: ALTERNATIVA D

99
100
Mapeando o saber
Geografia
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

mitindo o abastecimento de rios e lençol freático através do


Solos quão é permeável; além de ser fundamental na conservação
de recursos minerais.
Atualmente, além da sua importância agrícola, o estudo
pedogenético é fundamental para saber quais bases de sus-
Geografia 2 AULAS: 11 e 12
tentação e alicerces devem ser construídos para que as nos-
sas edificações não se danifiquem com o tempo, por exemplo,
em encosta de morro onde ocorrem as ocupações irregulares
Competência(s): Habilidade(s): 15, 26, 27,
3e6 28, 29 e 30 (favelas) deveriam ser estudadas para evitar o deslizamen-
to, o qual evidentemente é gerado pelo desmatamento, mas
também pela falta de estudo, por parte do Estado, sobre o
local para que viabilize essa ocupação.
Mas afinal, o que é o solo? O solo é formado pela trans-
1. Introdução à pedologia formação da rocha através do intemperismo físico e químico,
assim, após essa transformação ele é formado por grãos de
A pedologia diz respeito ao processo de formação do diversos tamanhos (granulometria)
solo. Em primeiro lugar é importante diferenciar a conceitua-
ção de solo e terra à geografia. Embora não esteja errado
falar terra fazendo referência ao solo, grãos pequenos origi- 2. A pedogênese
nados de rocha, o ideal é chamar de solo, pois ao citar “ter-
ra” geralmente está sendo feita referência a uma propriedade SUCESSÃO PRIMÁRIA
dentro do espaço, inclusive, é importante de entender o solo
ESPÉCIES PIONEIRAS ESPÉCIES INTERMEDIÁRIAS COMUNIDADE CLÍMAX

como recurso natural finito, pois ele não se renova dentro da


escala de vida humana.

ROCHA PEQUENAS GRAMÍNEAS E GRAMÍNEAS, ARBUSTOS E ÁRVORES TOLERANTES


LIQUENS PLANTAS ANUAIS
BÁSICA PLANTAS PERENES ÁRVORES INTOLERANTES À SOMBRA, COMO
E LIQUENS À SOMBRA, COMO PINHEIROS CARVALHO E NOGUEIRA

CENTENAS DE ANOS

O processo de formação do solo não é rápido, em mé-


dia cresce 1 centímetro de solo a cada 400 anos, segundo a
Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Du-
rante esse processo, existem vários fatores que influenciam e
são eles: tempo geológico, o clima, relevo e os organismos.
Além disso, esse processo ocorre de cima para baixo, ou
seja, quanto mais próximo à superfície terrestre, mais antigo
será. Além disso, não necessariamente um solo mais profun-
Em segundo lugar, é necessário entender que o solo é
do significa que é um solo mais maduro, ou seja, mais desen-
base e sustentação da vida, muitos pesquisadores falam que
volvido. Como mencionado antes, o solo necessita de várias
o solo é praticamente um organismo vivo pois a sua dinâmi-
características, alguns podem se formar mais rapidamente e
ca natural e orgânica é fundamental para o seu constante
outros de forma mais lenta, um solo pode ser menos profun-
desenvolvimento.
do mas ter várias camadas e isso está relacionado com a ação
Existem várias funções ao solo, antigamente e hoje o solo
climática e qual é a rocha de origem, assim, algumas rochas
é fundamental para a agricultura, analisar as propriedades
são alteradas com maior velocidade na presença de um pe-
do solo permite escolher os melhores tipos de cultivos (o que
ríodo geológico específico muito úmido, naquela localidade,
será plantado) e quais são as melhores técnicas para a agri-
formando uma camada única e maior. Ou seja, não obriga-
cultura e manutenção do solo. Inclusive, se forem escolhidos
toriamente um solo mais profundo é mais desenvolvido, o
plantios certos para o solo certo, é possível de serem obtidos
solo mais maduro é aquele que apresenta mais horizontes,
alimentos mais nutritivos e saborosos, o solo protege a água
ou seja, camadas de fragmentos orgânicos e minerais que se
subterrânea pois evita de muitas bactérias, microrganismos
acumulam horizontalmente e apresentam as mesmas carac-
e até mesmo agrotóxicos chegarem até o lençol freático e o
terísticas.
aquífero; falando em água, ele regula o ciclo hidrológico per-

101
Geografia
Como mencionado, a rocha matriz (também chamada de
rocha mãe) dá origem a diversos tipos de solo, por exemplo,
o basalto (rocha ígnea extrusiva) dá origem ao Latossolo Ver-
melho Amarelo, mais conhecido como Terra Roxa, é extrema-
mente fértil e viabiliza o plantio no interior do Estado de São
Paulo, então o próprio solo pode contar um pouco da história
do planeta Terra, pois se esse solo vem do basalto e essa
rocha é ígnea, significa que em algum momento o Estado
de São Paulo já esteve perto de alguma área com atividade
vulcânica, além disso, cada camada de solo diz muito sobre
como era o clima na época em que foi formado isso é possível
Existem vários nutrientes fundamentais ao solo e são di- através da análise mineralógica (dos minerais) resultantes do
vididos em duas categorias: micronutrientes (B, Cl, Cu, Fe, processo de alteração rochosa na época em que foi formado
Mn, Mo, Ni, Si e Zi) que precisam em menores quantidades ao longo do tempo geológico, um exemplo é durante o perío-
e os macronutrientes (Ca, K, Mg, Ni, N, P) que precisam em do glacial o qual houve o congelamento do solo e a dinâmica
maiores quantidades para os cultivos, principalmente os ma- de formação do solo foi totalmente diferente de outro perío-
cronutrientes primários: Nitrogênio, Fósforo e Potássio (NPK), do com água no estado líquido.
os quais ficaram mais conhecidos com a guerra na Ucrânia, já
que a maioria deles produzidos no mundo são de origem rus- 2.1.1. Granulometria
sa. O nitrogênio é retirado do gás natural e os outros dois são
minerados, como a Rússia é rica nesses 3 elementos quími- A granulometria diz respeito ao tamanho dos grãos de
cos, acaba tendo ampla relevância mundial fazendo com que um solo, isso é extremamente importante pois é através deles
a guerra desdobre em problemas humanitários, energéticos e que o solo será propício à agricultura ou a erodir com facili-
preocupantes no âmbito agrícola. dade. Existem diferentes escalas granulométricas e a seguir
serão exploradas as principais. Em geral os grãos são divi-
didos em: matacão (grão acima de 200 milímetros(mm) de
Descobrindo Agora diâmetro), calhau (grão com diâmetro entre 20 e 200 mm),
cascalho (diâmetro variando entre 2 e 20 mm), areia grossa
(variando entre 0,2 a 2 mm de diâmetro), areia fina (com diâ-
Os processos pedogenéticos são estudados em duas vias: I) o metro entre 0,05 a 0,2 mm), silte/limo (com diâmetro entre
modelo de processos múltiplos, baseado em quatro processos
básicos de formação do solo: adições, perdas, transformações 0,002 a 0,05 mm) e a argila (com diâmetro menor que 0,002
e translocações; II) o modelo de processos específicos, que mm).
considera as características dos diferentes tipos de solos, como Porém, comumente são utilizadas apenas as frações ar-
resultado da atuação de mecanismos específicos na integra-
ção dos fatores de formação dos solos, como por exemplo: la-
gila, silte e areia.
terização, silicificação, ferralitização, gleização, podzolização, No Brasil são utilizadas as escalas do Departamento de
salinização, etc. Agricultura dos EUA e a Escala Internacional/Atterberg.
A interpretação dos processos pedogenéticos permite enten- Essa análise ocorre por um período relativamente longo,
der o solo no seu ambiente de ocorrência e a organização de
sistemas de classificação de solos em primeiro lugar é necessário retirar todos os agentes que
. não fazem parte propriamente do solo e dos grãos (hidrogê-
Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/formacao-do-solo nio, cálcio, magnésio, matéria orgânica, carbonato de cálcio e
óxidos de ferro e alumínio). Depois o solo é mantido em água,
agitado de forma cuidadosa para não fragmentar os grãos e
2.1. Geologia alterar os resultados, há o peneiramento desses grãos, pos-
teriormente ocorre a ebulição da água através de estufas e
finalmente há tratamento químico, caso necessário, para reti-
rar algum outro composto residual.
Para permitir a análise e classe textural de um solo, é uti-
lizado o “Triângulo Textural” que classifica o solo de acordo
com a porcentagem de argila, silte e areia de um solo. Assim,
é através da interpretação deste instrumento que há a toma-
da de decisão para melhor aproveitar o solo e realizar uma
construção ou prática agrícola local.

102
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

do o acúmulo de matéria orgânica na superfície terrestre que


em decomposição permite a absorção rápida pelas raízes.

2.2.1. Intemperismo

Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/atributos-do-solo/outros-atributos
Existem 3 tipos de intemperismo: físico, químico e bio-
lógico.
O intemperismo físico ocorre quando a água da chuva ou
a mudança de temperatura provoca a desagregação da rocha
(quebra) mas ela fica no local onde estava. Já o intemperismo
químico ocorre apenas na presença da água, pois ela reage
com a rocha e transforma os seus compostos provocando a
decomposição rochosa. Por fim o intemperismo biológico que
está associado à ruptura da rocha pelas raízes da flora.
No caso do intemperismo ele é fundamental na formação
do solo pois é com ele que o solo cresce. Assim, as rochas
Assim, com um solo muito arenoso, fica inviável a planta- que estão mais próximas à superfície serão modificadas antes
ção agrícola pois tanto a vegetação quanto nutrientes e água do que as rochas que estão a profundidades maiores, como
não conseguem se fixar nele pois os seus grãos são instáveis mostra na imagem a seguir. Desta maneira, é possível ver a
e facilmente erodidos. Já solos siltosos e argilosos a água e íntima relação entre a água, a rocha e o solo. Mas, o solo
os nutrientes conseguem se fixar pois o espaço entre os grãos formado inicialmente continua em constante transformação
são menores, assim, fixando e permitindo com que a água e por isso não é muito comum um solo apresentar apenas
fique adsorvida neles. um tipo de camada.
Por fim, a areia da praia se chama areia não pela sua
composição, mas sim pelo seu tamanho de grão, por isso o
ideal é falar que aqueles grãos são “grãos tamanho areia”,
que popularmente chamamos de areia.

2.1.2. Fração granulométrica TFSA


Surgiu com observações empíricas e sem muito rigor
numérico, ou seja, os grãos foram classificados como Fração
Areia (partículas maiores), Fração Silte/Limo (partícula de ta-
manho médio) e Fração Argila (partícula de tamanho peque-
no).

2.1.3. Escala SBCS & Embrapa 2.2.2. Erosão


A erosão é o transporte do fragmento rochoso ou de solo
Ela separa os grãos em: Areia Grossa (0,2 a 2 mm de
para áreas mais baixas, assim, esse efeito geológico é im-
diâmetro), Areia Fina (0,053 a 0,2 mm de diâmetro), Silte
portante na formação pedológica pois é com ela que ocorre
(0,002 a 0,053 mm de diâmetro) e argila (abaixo de 0,002
a formação de solos aluviais, ou seja, são solos transporta-
mm de diâmetro).
dos para outras áreas mais baixas. Por isso que ao analisar
um solo de um determinado local, é necessário escavar uma
2.2. Influência climática “trincheira” e criar um perfil do solo para que veja se faz
sentido desde as partes superiores até a sua base (chegando
O clima interfere na formação do solo, pois a chuva é na rocha) para ver se os alimentos químicos e as alterações
o principal agente transformador da rocha em solo. Assim, realmente correspondem e se associam uns com os outros.
ambientes mais úmidos ocorre a sua formação em maior ve- Por outro lado, quando ocorre o desmatamento, o solo
locidade, mas isso não significa que o solo será mais fértil, pode ficar exposto, erodindo e se acumulando em áreas mais
como é o caso do solo da Amazônia, o seu solo não é fértil, baixas do rio e provocando o assoreamento (quando o rio
ao contrário, é pobre devido ao elevado índice pluviométrico perde profundidade e chegando a formar ilhas/bancos de
(chuva) local provocando a limpeza dos nutrientes do solo (li- areia no meio do seu curso).
xiviação), a vegetação só consegue manter-se presente devi-
103
Geografia

2.3. A atuação geomorfológica 3. O solo e os horizontes


Os relevos atuam na formação do solo pois quanto mais
íngreme, menor será a produção do solo, isso ocorre por cau-
sa do acúmulo de água e o quão ela entra em contato com as
rochas. Como falado anteriormente, o processo de pedogê-
nese demora muito tempo para ocorrer, as reações químicas
são constantes mas dentro da escala geológica, não de vida
humana. Assim, as reações acontecem conforme a água entra
em contato com a rocha principalmente quando ela não tem
inclinação, permitindo com que haja o acúmulo sobre ela e
as alterações possam ocorrer por mais tempo, já quando o
relevo é mais íngreme a água escoa com maior velocidade
e acaba provocando o deslizamento das rochas para áreas
mais baixas, não a sua transformação. O solo se acumula em regiões mais baixas e em camadas
horizontais, daí o nome horizonte, isso ocorre pela ação plu-
2.4. A influência orgânica vial (chuva), eólica (vento), gravitacional e fluvial (rio). Além
disso, como esses sedimentos se acumuluam em determina-
O solo é extremamente dinâmico, dentro dele há atuação dos períodos do tempo
de cupins, formigas e minhocas. Esses seres vivos podem que-
brar fragmentos pequenos de rochas e acelerando o processo
pedogênico, mas também podem mudar as camadas do solo,
ou seja, eles têm a capacidade de pegar solos que estão lo-
calizados em áreas mais profundas e movê-los para camadas
superficiais e os que estão próximo à superfície e levá-los
para maiores profundidades.
Isso é extremamente importante pois os nutrientes fi-
cam geralmente nas camadas próximas à superfície, assim,
quando esses seres conseguem carregar o solo para áreas
mais baixas eles permitem com que esses nutrientes fiquem
melhor dispersos. Além disso, com a sua atuação, é possível
a existência de ar dentro do solo, fator importantíssimo para
que seja possível a ocorrência da agricultura, caso contrá-
rio, quando não ocorre a presença de ar dentro do solo pela
intensa pressão gerada nele, ocorre o processo de compac-
tação. Um exemplo disso é nos parques, praças e canteiros,
onde é possível observar que as pessoas pisam em um local Os horizontes são formados por características diferentes
e acaba sendo formado um caminho por onde elas pisam e entre si. Assim, como o solo se forma de cima para baixo, não
não nasce mais vegetação, pois naquele local o solo foi com- se esqueça que o solo mais antigo e alterado é o solo que
pactado e impossibilitando a vegetação crescer ali, por isso fica próximo à superfície, além disso, só pode ser considerado
em muitos filmes as pessoas colocam uma placa na grama um solo bem desenvolvido quando ele apresenta muitas ca-
escrito “por favor, não pisar”, em outros países as pessoas madas, mesmo que ele seja extremamente profundo mas não
têm a consciência ou buscam essa consciência a esse impacto apresenta muitas camadas, nesse caso chamamos de solo
ambiental que está um pouco mais difusa. pouco desenvolvidos, como o Neossolo, por exemplo.

104
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

transição de clara. Quando essa transição é mais espessa,


CAMADAS acima de 6,5cm ela ganha o nome de gradual ou difusa.
Além disso, quando as camadas são exatamente horizon-
DO SOLO tais, podemos chamar de organização plana. Caso a transição
faça um meio círculo, chamamos de transição ondulada. Já
Horizonte O Orgânico caso o formato da camada não siga uma orientação específi-
(Camada de Lixo)
ca nós chamamos de transição irregular. Já no caso da transi-
Horizonte A Solo Superior
ção descontínua é quando ela tem uma interrupção no meio.
Horizonte E Eluviado
(Camada de Lixiviação)

Horizonte B Subsolo

Horizonte C Material Original


Desgastado

Rocha
Horizonte R (material de origem)

A seguir será exposto quais são as camadas mais recor-


rentes nos solos e no vestibular.:
Horizonte O: horizonte composto por matéria orgânica,
ele fica na superfície terrestre e costuma apresentar colora-
ção escura, a sua importância é visível na Amazônia onde
essa camada acaba sendo bastante profunda e nutre a flo-
resta inteira, isso ocorre por causa da intensa limpeza dos
3.1. Solos avermelhados
nutrientes por causa do elevado índice pluviométrico.
Já o Horizonte A é o primeiro horizonte do solo que con-
tém muita matéria orgânica, esse é um solo que costuma
apresentar uma coloração mais escura pela retenção dos nu-
trientes.
O Horizonte E é um horizonte que não ocorre em vários
solos, ele é predominante onde ocorre a remoção dos grãos
de argila.
O Horizonte B vem logo em seguida, ele é um horizonte
composto predominantemente por minerais.
O Horizonte C fica abaixo do B, nesse caso há rochas
misturadas, geralmente matacão, com o solo, isso ocorre pois
é um horizonte onde a rocha ainda não foi alterada por com- Os solos avermelhados têm muitos minerais e em sua
pleto. maioria vêm de rochas magmáticas. Assim, podem apresentar
Finalmente chegamos no Horizonte R, é um horizonte muito ferro e bauxita (alumínio), além de outros minerais.
composto apenas pela rocha matriz.
3.2. Solos amarelados
CAMADAS DO SOLO
Formados ao longo dos rios, ou seja, tem origem fluvial e
costuma ser um solo aluvial.
Horizonte O Húmus
Horizonte A Solo Superior

Horizonte B Subsolo
3.3. Solos claros
Horizonte C Rocha mãe Tem em sua composição cálcio ou quartzo.
Horizonte R Base Rochosa

No caso das faixas de transição entre as camadas, quan-


do elas medem 2,5cm ou menos é chamados de transição
abrupta. Já quando ela fica entre 2,5 a 6,5cm chamamos a
105
Geografia

4. Classificação do solo 5. Principais solos do mundo


Existem uma diversidade gigantesca de tipos de solo no No mundo os solos crescem e se desenvolvem conforme
mundo, na tabela a seguir estarão expostos um resumo de o clima, o relevo e a matéria orgânica, como já dito anterior-
diversos processos pedogênicos. mente. Assim, a seguir serão expostos tipos de solo que têm
no mundo e no Brasil além de suas características.

5.1. Argissolos

Fonte: https://parquecientec.usp.br/publicacoes/solos-do-brasil-argissolos
Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/formacao-do-solo

Como o nome remete, são solos muito argilosos, neles é


contido muito mineral.
Argissolos são solos constituídos por material mineral, apresentando
4.1. Zonais horizonte B textural imediatamente abaixo do A ou E, com argila de
atividade baixa ou com argila de atividade alta desde que conjugada
com saturação por bases baixa ou com caráter alumínico na maior
São solos que o seu desenvolvimento foi causado princi- parte do horizonte B, e satisfazendo ainda aos seguintes requisitos:
palmente pela ação climática.
a. Horizonte plíntico, se presente, não satisfaz aos critérios para Plin-
tossolos;
4.2. Interzonais b. Horizonte glei, se presente, não satisfaz aos critérios para Gleissolos.

Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/solos-do-brasil
São solos formados como consequência do relevo majo-
ritariamente.
5.2. Cambissolos
4.3. Azonais
São solos que não têm definido de forma evidente qual
foi o principal motivo para a sua formação, além disso, não
são tão desenvolvidos.

4.3.1. Aluviais
Fonte: https://parquecientec.usp.br/publicacoes/solos-do-brasil-cambissolos

Solos formados pelo transporte dos seus grãos, ou seja,


houve o intemperismo (alteração da rocha) e a erosão (trans-
porte)

4.3.2. Eluviais
Solos formados pela ação intempérica, não sendo sub-
metidos à erosão, ou seja, se desenvolvem no mesmo local
de onde a rocha cresceu.

106
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

São solos novos e é bastante difícil de diferenciar cada Solos constituídos por material mineral, que apresentam horizonte A
um de seus horizontes, além disso é composto por muitos chernozêmico seguido por:
minérios.
a) Horizonte B incipiente ou B textural, em todos os casos com argila
de atividade alta e saturação por bases alta (exclusive Vertissolo); ou
Argissolos são solos constituídos por material mineral, apresentando
horizonte B textural imediatamente abaixo do A ou E, com argila de b) Horizonte cálcico, petrocálcico ou caráter carbonático coincidindo
atividade baixa ou com argila de atividade alta desde que conjugada com o horizonte A chernozêmico e/ou com horizonte C, admitindo-se,
com saturação por bases baixa ou com caráter alumínico na maior entre os dois, horizonte Bi com espessura < 10 cm; ou
parte do horizonte B, e satisfazendo ainda aos seguintes requisitos:
c) Contato lítico desde que o horizonte A chernozêmico contenha 150
a. Horizonte plíntico, se presente, não satisfaz aos critérios para Plin- g kg-1 de solo ou mais de carbonato de cálcio equivalente.
tossolos;
b. Horizonte glei, se presente, não satisfaz aos critérios para Gleissolos. Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/solos-do-brasil

Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/solos-do-brasil
Espodossolos
5.3. Chernossolos
Fonte da imagem: https://www.parquecientec.usp.br/publicacoes/solos-do-brasil-chernossolos

Fonte: https://parquecientec.usp.br/publicacoes/solos-do-brasil-espodossolos

Localizados principalmente nas áreas litorâneas, são solo


É um solo que costuma apresentar coloração escura na com muito alumínio e ferro, apresentando coloração acinzen-
parte mais superficial e mais clara conforme vai aumentando tada. Esses solos não são comumente utilizados para agri-
a profundidade. Além disso, contém muito carbonato de cál- cultura pois as raízes encontram dificuldade em penetrar no
cio, magnésio, cálcio e argila. Esses solos são extremamente solo, principalmente nas camadas inferiores por serem mais
ricos e o exemplo mais famoso é o solo russo “Chernzion”. duras e escuras. Além disso, a matéria orgânica reage com o
Como no Brasil a sua presença é relativamente baixa, em alumínio e deixa não favorável à agricultura.
torno de 0,5%, é de suma importância que ele seja manejado
de forma sustentável. São solos constituídos por material mineral, apresentando horizonte B
espódico imediatamente abaixo de horizonte E, A, ou horizonte hístico,
dentro de 200 cm da superfície do solo ou de 400 cm se a soma dos
horizontes A+E ou dos horizontes hístico (com menos de 40 cm) + E
ultrapassar 200 cm de profundidade.

Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/solos-do-brasil

107
Geografia
Fonte da imagem: https://www.parquecientec.usp.br/publicacoes/solos-do-brasil-gleissolos 5.5. Gleissolos

Fonte da imagem: https://parquecientec.usp.br/publicacoes/solos-do-brasil-latossolos


É um solo muito úmido e onde predomina o processo de
oxidação do mesmo, ele consegue reter muita água devido à
presença de argila nele e não costumam ser tão desenvolvi-
dos (apresentando muitos horizontes por ficarem em regiões
fluviais).

Gleissolos são solos constituídos por material mineral com horizonte


glei iniciando-se dentro dos primeiros 150 cm da superfície do solo
ou a profundidades entre 50 cm e 150 cm desde que imediatamente
abaixo de horizonte A ou E, ou de horizonte hístico com espessura
insuficiente para definir a classe dos Organossolos. Não apresentam A maior parte dos solos brasileiros fazem parte dessa
horizonte vértico ou horizonte B plânico acima ou coincidente com classificação, eles ocorrem em regiões onde há intensa ativi-
horizonte glei, tampouco qualquer outro tipo de horizonte B diagnós-
tico acima do horizonte glei ou textura exclusivamente areia ou areia dade erosiva, são extremamente profundos e intemperizado.
franca em todos os horizontes até a profundidade de 150 cm a partir Eles são bons para a agricultura, porém a sua maioria precisa
da superfície do solo ou até um contato lítico. Horizonte plíntico, se de correções, para isso é necessário o uso de tecnologia para
presente, deve estar à profundidade superior a 200 cm da superfície
do solo. que possa ser melhor aproveitado.
Um caso particular desse tipos de solo é o Latossolo Ver-
Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/solos-do-brasil melho-Amarelo, mais conhecido como Terra Roxa. Embora
o nome, ele não é roxo, veio ao popular pois os espanhóis
5.6. Latossolos chamavam esse solo de “rojo”, vermelho em espanhol, mas
acabou sendo absorvido como roxo pela população, nesse
específico caso o solo é rico em ferro, caso chegue com um
imã perto ele grudará no objeto e é excelente ao cultivo.

São solos constituídos por material mineral, apresentando horizonte B


latossólico precedido de qualquer tipo de horizonte A dentro de 200
cm da superfície do solo ou dentro de 300 cm se o horizonte A apre-
senta mais que 150 cm de espessura.

Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/solos-do-brasil

108
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

5.7. Luvissolos 5.8. Neossolos

Fonte da imagem: https://www.parquecientec.usp.br/publicacoes/solos-do-brasil-neossolos


Fonte da imagem: https://www.parquecientec.usp.br/publicacoes/solos-do-brasil-luvissolos

Outro grupo que é muito presente no território brasileiro.


O neossolo é pouco desenvolvido e tem pequena profundida-
de. Embora o seu nome remete a novo, ele não necessaria-
mente é recente, a maioria desses solos são antigos porém
pouco desenvolvidos. Eles não costumam reter muita água e
Presentes principalmente na caatinga, esses solos têm costumam inundar com facilidade.
muita argila e são bem desenvolvidos, porém rasos devido a
falta de chuva além de terem coloração amarelada ou aver- Neossolos são solos pouco evoluídos constituídos por material mineral
ou por material orgânico com menos de 20 cm de espessura, não apre-
melhada. Dessa maneira, viabiliza a existência de vegetação sentando qualquer tipo de horizonte B diagnóstico. Horizontes glei,
quando chove no sertão. plíntico, vértico e A chernozêmico, quando presentes, não ocorrem em
condição diagnóstica para as classes Gleissolos, Plintossolos, Vertisso-
São solos constituídos por material mineral, apresentando horizonte los e Chernossolos, respectivamente.
B textural com argila de atividade alta e saturação por bases alta na
maior parte dos primeiros 100 cm do horizonte B (inclusive BA), ime- Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/solos-do-brasil
diatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte A (exceto A cherno-
zêmico) ou sob horizonte E, e satisfazendo o seguinte requisito:
Horizontes plíntico, vértico e plânico, se presentes, não satisfazem aos
critérios para Plintossolos, Vertissolos e Planossolos, respectivamente,
ou seja, não são coincidentes com a parte superficial do horizonte B
textural.

Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/solos-do-brasil

109
Geografia

5.9. Nitossolo 5.10. Organossolos

Fonte da imagem: https://parquecientec.usp.br/publicacoes/solos-do-brasil-organossolos


Fonte da imagem: https://www.parquecientec.usp.br/publicacoes/solos-do-brasil-nitossolos

São solos de origem de deposição da matéria


orgânica, dessa forma, contém muito carbono, por
isso a sua coloração é preta, apresenta muito ácido
sulfídrico, enxofre e sais, além de estarem presen-
Presentes principalmente no sul do Brasil, são solos argi-
tes principalmente em regiões de depressão.
losos, profundos e pouco ácidos. Geralmente são vermelhos
ou com cores escuras sem variar muito a sua cor ao longo Organossolos são solos constituídos por material orgânico (conteúdo
dos horizontes, esses solos podem ser extremamente férteis, de carbono orgânico maior ou igual a 80 g kg-1 de TFSA), que apre-
sentam horizonte hístico, satisfazendo os seguintes critérios:
vai depender muito de como foi a sua origem e o seu desen-
volvimento. 60 cm ou mais de espessura se 75 % (expresso em volume) ou mais
do material orgânico consiste de tecido vegetal na forma de restos de
Nitossolos são solos constituídos de material mineral, com 350 g kg-1 ramos finos, raízes finas, cascas de árvores, etc., excluindo as partes
ou mais de argila, inclusive no horizonte A, que apresentam horizonte vivas; ou
B nítico abaixo do horizonte A. O horizonte B ítico apresenta argila de
atividade baixa ou caráter alítico na maior parte do horizonte B dentro b) Saturação com água no máximo por 30 dias consecutivos por ano,
de 150 cm da superfície do solo. durante o período mais chuvoso, com horizonte O hístico, apresen-
A policromia (variação de cor em profundidade no perfil do solo), con- tando as seguintes espessuras:
forme descrita abaixo, deve ser utilizada como critério adicional na dis-
tinção entre Nitossolos e Argissolos Vermelhos ou Vermelhos-Amare- 20 cm ou mais, quando sobrejacente a um contato lítico ou a mate-
los nas situações em que forem coincidentes as demais características. rial fragmentar constituído por 90 % ou mais (em volume) de frag-
Os Nitossolos praticamente não apresentam policromia acentuada no mentos de rocha (cascalhos, calhaus e matacões); ou
perfil e devem satisfazer os seguintes critérios de cores:
40 cm ou mais quando sobrejacente a horizontes A, B ou C; ou
a) Para solos com todas as cores dos horizontes A e B, exceto BC,
dentro de uma mesma página de matiz, admitem-se variações de, no c) Saturação com água durante a maior parte do ano, na maioria dos
máximo, 2 unidades para valor e/ou 3 unidades para croma*; anos, a menos que artificialmente drenados, apresentando horizonte
H hístico com a seguinte espessura:
b) Para solos apresentando cores dos horizontes A e B, exceto BC, em
duas páginas de matiz, admite-se variação de ≤ 1 unidade de valor e 40 cm ou mais, quer se estendendo em seção única a partir da su-
≤ 2 unidades de croma*; perfície do solo, quer tomado cumulativamente dentro dos 80 cm
superficiais.
c) Para solos apresentando cores dos horizontes A e B, exceto BC, em
mais de duas páginas de matiz, não se admite variação para valor e Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/solos-do-brasil
admite-se variação de ≤ 1 unidade de croma*.

Admite-se variação de croma de uma unidade a mais que a indicada


para solos intermediários (latossólicos, rúbricos, etc), ou quando a di-
ferença ocorrer entre o horizonte A mais superficial e horizonte(s) da
parte inferior do perfil, situado(s) a mais de 100 cm da superfície do
solo.

Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/solos-do-brasil

110
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

5.11. Planossolos 5.12. Plintossolos


Fonte da imagem: https://www.parquecientec.usp.br/publicacoes/solos-do-brasil-planossolos

Fonte da imagem: https://www.parquecientec.usp.br/publicacoes/solos-do-brasil-plintossolos


São solos intimamente ligados à ação da água e com re-
levos aplainados. Pela intensa ação da água e possivelmente São localizados principalmente no Norte, Nordeste e
com a lixiviação do silte e argila, as camadas superficiais são Centro-Oeste brasileiro, é um solo avermelhado e apresenta
muito arenosas, já as camadas mais a elevadas profundida- muita oxidação do ferro, origem da cor, formando a plintita e
des são argilosas.
são de difícil manejo para a agricultura.

Plintossolos são solos constituídos por material mineral, apresentan-


São solos constituídos por material mineral com horizonte A ou E se- do horizonte plíntico ou litoplíntico ou concrecionário, em uma das
guidos de horizonte B plânico. Horizonte plânico sem caráter sódico seguintes condições:
perde em precedência taxonômica para o horizonte plíntico.
Iniciando dentro de 40 cm da superfície; ou
Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/solos-do-brasil
b) Iniciando dentro de 200 cm da superfície quando precedidos de
horizonte glei ou imediatamente abaixo do horizonte A, E ou de ou-
tro horizonte que apresente cores pálidas, variegadas ou com mos-
queados em quantidade abundante.

Quando precedidos de horizonte ou camada de coloração pálida


(acinzentadas, pálidas ou amarelado-claras), estes deverão ter cores
centradas nos matizes e cromas conforme os itens (a) e (b) definidos
abaixo, podendo ocorrer ou não mosqueados de coloração desde
avermelhadas até amareladas.
Quando precedidos de horizontes ou camadas de coloração variega-
da, pelo menos uma das cores deve satisfazer as condições dos itens
(a) e (b) definidos abaixo.
Quando precedidos de horizontes ou camadas com com matriz de
coloração avermelhada ou amarelada, mosqueados deverão ocorrer
em quantidade abundante (> 20 % em volume) e apresentar matizes
e cromas conforme itens (a) e (b) definidos abaixo.

a) Matiz 5Y; ou

b) Matizes 7,5YR, 10YR ou 2,5Y com croma menor ou igual a 4.

Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/solos-do-brasil

111
Geografia

5.13. Vertissolos 6. Problemas pedológicos


Todos os solos têm problemas se não apresentarem um
manejo adequado, relembrando, o solo é um recurso finito e
não renovável. Assim, aqui não cabe incentivar o não uso do
solo, até por não fazer sentido, já que precisamos dele para
nos alimentarmos e vivermos. Mas práticas mais adequadas
no manejo do solo são imprescindíveis à sua manutenção e
preservação por mais tempo.

6.1. Erosão
Fonte: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/tematicas/bioma-caatinga/solos/

Como dito anteriormente, a definição para erosão é o


transporte realizado por um fragmento rochoso ou solo para
áreas mais baixas, assim, quando isso ocorre de uma maneira
corriqueira e no mesmo local, pode ser tanto por fatores na-
turais, quanto antrópicos.
Assim, podem ocorrer “escavações” ou canais que são
chamados de Ravinas e Voçorocas.
No caso das ravinas, são formadas através da erosão do
solo, geralmente composto por solos arenosos, os quais apre-
sentam grãos menos estáveis e coesos entre si.
Já as voçorocas/vossorocas são formadas pela evolução
das ravinas, ou seja, quando esse sulco cresce no solo e che-
ga no lençol freático, formam-se as voçorocas, irreversíveis,
nesse caso esse impacto ambiental é irreversível.

Vertissolos são solos constituídos por material mineral com horizonte


vértico entre 25 e 100 cm de profundidade e relação textural insu-
ficiente para caracterizar um B textural. Além disso, devem atender
aos seguintes requisitos:

a) Teor de argila, após mistura e homogeneização do material de


solo, nos 20 cm superficiais, de no mínimo 300 g kg-1 de solo;

b) Fendas verticais no período seco com pelo menos 1 cm de largura,


iniciando na superfície e atingindo, no mínimo, 50 cm de profundida-
de, exceto no caso de solos rasos, onde o limite mínimo é de 30 cm
de profundidade;

c) Ausência de material com contato lítico, horizonte petrocálcico ou


duripã dentro dos primeiros 30 cm de profundidade;

d) Em áreas irrigadas ou mal drenadas (sem fendas aparentes), o


coeficiente de expansão linear (COLE) deve ser igual ou superior a
0,06 ou a expansibilidade linear é de 6 cm ou mais; e

e) Ausência de qualquer tipo de horizonte B diagnóstico acima do


horizonte vértico.

Fonte: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/solos-do-brasil

112
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Chama-se, também, a atenção para voçorocas com crescimento tendo em algo metálico. Nesse caso o processo acaba sendo
não concordante com o gradiente topográfico local, que conduziu irreversível.
ao estudo da hidrologia subterrânea, dada a impossibilidade dos
fluxos superficiais explicarem esta propagação anômala. Dados de
levantamento geofísico por eletrorresistividade sugerem que o cres- 6.4. Arenização
cimento desta voçoroca se deu em direção a uma zona subsuperficial
com grande afluxo de água subterrânea. Levantamentos de campo
demonstraram que estes afluxos de água acontecem ao longo de A arenização pode ser uma consequência da lixiviação,
estruturas geológicas, principalmente fraturas e falhas. quando os grãos pequenos de solo (silte e argila) saem do
Quanto à influência da cobertura pedológica no desenvolvimento solo, ficam apenas os grãos fração areia, assim, o solo fica
de ravinas e voçorocas, observa-se concordância no que se refere a
maior suscetibilidade dos solos de textura arenosa e média. Apesar
arenoso e muito difícil de ser usado ao plantio pois além dele
de mais restrita, há possibilidades de desenvolvimento de ravinas e não sustentar tanto a vegetação, ele não costuma reter mui-
voçorocas em solos argilosos como os Latossolos Vermelho Escuro tos nutrientes.
observados na região de Casa Branca. Neste caso, o desenvolvimento
Mas é importante diferenciar arenização de desertifica-
de voçorocas deve-se principalmente à presença de um horizonte C
altamente erodível, proveniente da alteração de arenitos feldspáti- ção. O primeiro caso ocorre devido ao excesso de água, prin-
cos com intercalações de argilitos e siltitos pertencentes à Formação cipalmente da chuva. Já no segundo caso a desertificação é
Aquidauana, que facilita o aprofundamento erosivo e a intercepta- provocada pelo ressecamento do ambiente, ou seja ele fica
ção do lençol freático, desenvolvendo fenômenos de piping (proces-
sos de erosão interna no solo). cada vez mais árido devido a diversos fatores, no caso do
sertão nordestino isso está relacionado com o desmatamento
Conclusão semelhante é manifestada com relação ao desenvolvi- da Amazônia.
mento de voçorocas em terrenos cristalinos constituídos por granitói-
des da região de Cachoeira do Campo, Minas Gerais, que considera
como principal condicionante a existência de um horizonte C de tex- 6.5. Compactação
tura arenosa pouco coerente e extremamente erodível.

Fonte: Embrapa. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-


-de-informacao-tecnologica/tematicas/agricultura-e-meio-ambiente/ COMPACTAÇÃO DO SOLO
manejo/reabilitacao-de-areas/formacao-de-vocorocas
SOLO SOLO

6.2. Lixiviação
NORMAL COMPACTADO

É a limpeza das bases de um solo, ou seja, quando a


água da chuva infiltra no solo, ela é capaz de levar consigo
nutrientes, bases e grãos pequenos de solo, assim, com um
solo extremamente exposto ou com intensa irrigação pode
acabar gerando isso como consequência. À agricultura esse
fenômeno é péssimo e deve ser evitado, principalmente pelos
grãos pequenos de solo que podem ser erodidos. SEM UMIDADE
AR ÁGUA E SEM AR

6.3. Laterização
Como mencionado anteriormente, a compactação do
solo é gerada pela pressão muito grande exercida no solo
sem qualquer técnica de manejo, assim, conforme as pessoas
vão pisoteando ou até mesmo passando máquinas pesadas.
Quando isso ocorre, todo o ar que fica entre os grãos
de solo acaba sendo expulso e inviabiliza o crescimento das
raízes da vegetação nessa área.

A laterização é quando ocorre reação química dos mine-


rais metálicos com a água da chuva, portanto só pode ocorrer
em áreas úmidas. Assim, acaba sendo formada uma crosta
ferruginosa na parte superficial do solo, inclusive, caso bata
nessa parte externa do solo, acaba aparentando estar ba-

113
Geografia

6.6. Assoreamento
Campos e Habilidades do ENEM

HABILIDADE 26
Identificar em fontes diversas o processo de ocupação
dos meios físicos e as relações da vida humana com
a paisagem.

EXEMPLO
(Enem 2020) As cidades de Puebla, no México, e Le-
gazpi, nas Filipinas, não têm quase nada em comum.
Estão muito longe uma da outra e são habitadas por
É um desdobramento da erosão do solo. Ou seja, todo
povos muito diferentes. O que as une é um trágico
solo é erodido e grãos são perdidos naturalmente, alguns ca-
detalhe de sua geografia. Elas foram erguidas na vi-
sos são mais perdidos devido a coesão entre os grãos e em
zinhança de alguns dos vulcões mais perigosos do
outros casos a erosão é menor. Mas, a problemática é no des-
mundo: o mexicano Popocatepétl e o filipino Mayon.
matamento ou no caso da monocultura quando o solo fica
Seus habitantes precisam estar prontos para correr a
muito exposto, nesse caso a água da chuva carrega mais se-
qualquer hora. Eles fazem parte dos 550 milhões de
dimentos e o solo vai sendo perdido, além dele ser um recur-
indivíduos que moram em zonas de risco vulcânico
so finito, há um sério problema na questão dos sedimentos se
no mundo. Ao contrário do que seria sensato, conti-
acumulares no fundo dos rios e acabarem gerando “ilhas” ou
nuam ali, indiferentes ao perigo que os espreita.
bancos de areia no meio do leito do rio. Isso é ruim também
ao transporte de embarcações já que com o rio ficando mais ANGELO, C. Disponível em: http://super.abril.
raso, os navios podem acabar não conseguindo passar. com.br. Acesso em: 24 out. 2015 (adaptado).
A característica física que justifica a fixação do homem
nos locais apresentados no texto é a ocorrência de
a) solo fértil.
b) encosta íngreme.
c) vegetação diversificada.
d) drenagem eficiente
e) clima ameno.
COMENTÁRIO
é A afirmativa correta é [A], porque a atividade
vulcânica promove a sedimentação no solo de ele-
mentos como sódio, potássio e enxofre, tornando-os
mais férteis e mais produtivos justificando a ocupa-
ção humana nessas áreas. As afirmativas incorretas
são: [B], porque áreas íngremes apresentam dificul-
dades para a ocupação humana; [C] e [E], porque
o tipo de vegetação e o tipo de clima depende de
fatores como latitude e, portanto, a vegetação não é
necessariamente diversificada ou o clima ameno; [D],
porque a drenagem depende da declividade da área.
RESPOSTA: ALTERNATIVA A

114
VOLUME 1 | Ciências humanas e suas tecnologias

Mapeando o saber

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