Historia Das Americas Novas Perspectivas 1

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9.

Ditadura, violência política e direitos


humanos na Argentina, no Brasil e no Chile
Samantha Viz Quadrat

Em entrevista ao The Times, jornal britânico de grande circulação, o pre-


sidente chileno Sebastián Piñera afirmou que após o episódio do resgate dos
mineiros1 o Chile seria “lembrado e reconhecido não por Pinochet, mas como
exemplo de unidade, liderança, coragem, fé e êxito” (El Mercurio, 17 oct. 2010).
Sem dúvida, as ditaduras civil-militares da segunda metade do século XX
ocupam lugar de destaque na história recente dos países do Cone Sul da Amé-
rica Latina. Mesmo que a pessoa não se interesse pelo tema, não consegue
passar incólume por ele. Seja numa viagem de turismo por esses países, onde
pode acompanhar uma das rondas das Mães da Praça de Maio em frente à
Casa Rosada,2 cartão-postal da cidade, ou observar as intervenções no espaço
urbano;3 seja nas artes, nos filmes e nas peças, marcados intensamente por esse

1
trata-se do resgate dos 33 mineiros que ficaram soterrados após um acidente na mina San
Jose, no deserto do Atacama, Chile. o resgate, ocorrido no dia 13 de outubro de 2010, contou
com ampla cobertura da imprensa chilena e internacional.
2
Desde 1977, as mães fazem a ronda ao redor da pirâmide da Praça de Maio (Argentina) toda
quinta-feira, às 15h30. Nesse momento, é possível ver não apenas pesquisadores, mas também
vários turistas tirando fotos e interagindo com as mães.
3
É o caso de placas em locais que foram centros de detenção, como o Estádio Nacional (San-
tiago-Chile); homenagens em escolas, sedes de partidos, universidades, estações de metrô; gra-
fites; monumentos; memorial em cemitérios etc.

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contexto (mesmo que em alguns casos o período sirva apenas de pano de fun-
do para o desenvolvimento da trama);4 na política, em que vários candidatos
reivindicam seu passado de luta contra a ditadura ou são “acusados” por ele;5
ou ainda na própria imprensa, sempre que temos datas convocantes6 ou matérias
sobre arquivos, testemunhos, identificação de ossadas de desaparecidos etc.
As ditaduras acabaram alterando o rumo dos direitos humanos no Cone
Sul. tema ainda incipiente nos anos 1970 (existiam apenas poucas organiza-
ções), com as ações ditatoriais os direitos humanos acabaram se tornando uma
nova bandeira política. Além disso, como já analisamos em outra ocasião, a
própria trajetória internacional dos direitos humanos acabou seguindo outro
rumo a partir da instalação da ditadura pinochetista no Chile (Quadrat, 2008).
o objetivo deste capítulo é discutir o trio ditadura, violência política e direi-
tos humanos procurando identificar as primeiras tentativas de explicar os acon-
tecimentos dos anos 1960, 1970 e 1980 na América Latina e como, com o passar
dos anos, o campo acadêmico se abriu para novas reflexões, mas, ainda assim,
mantendo alguns temas intocáveis. Por limitação de espaço, enfocaremos três
países: Argentina, Brasil e Chile.
A escolha dessas três ditaduras corresponde ao desejo de pensar tempo-
ralidades, trajetórias e modelos bastante diferenciados. Momentos de afasta-
mento e de aproximações. A ditadura brasileira, por exemplo, já foi chamada
de ditabranda (ou ditamole) em polêmico editorial da Folha de S.Paulo.7 Em
muito essa ideia se deve à comparação com os países vizinhos, especialmente
quando se pensa em número absoluto de mortos e desaparecidos. No entanto,
ditaduras são ditaduras e existem diferentes formas de violência política sobre

4
São vários os exemplos que podemos citar aqui, mas vamos destacar filmes mais recentes,
como Tony Manero (Chile, 2008) e O segredo de seus olhos (Argentina, 2009). A temática aparece,
ainda que em menor frequência, em telenovelas. É o caso de Montecristo (Argentina, 2006).
5
Foi possível acompanhar essa situação na campanha à presidência no Brasil em 2010, em que
Dilma Rousseff ora era valorizada por sua participação na luta armada, ora acusada de “terroris-
ta” e “assaltante de banco” por setores da oposição.
6
Consideramos datas convocantes aqueles momentos em que a sociedade é chamada para re-
fletir sobre o período. Normalmente são as datas dos golpes ou, no caso do Brasil, o dia 13 de
dezembro, data da edição do Ai-5, considerado o “golpe dentro do golpe”. Sobre o tema, ver
Stern (2000) e Jelin (2005).
7
o editorial “Limites a Chávez” foi publicado pelo jornal em 17 de fevereiro de 2009. Segundo
a Folha de S.Paulo (17 fev. 2009), ditabrandas, entre elas a brasileira, eram as que “partiam de uma
ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política
e acesso à Justiça”.

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as quais devemos refletir que não significam exclusivamente a eliminação física
do oponente.8
Dos três países, o Brasil foi o primeiro a sofrer o impacto do golpe em 31 de
março de 1964. A ditadura brasileira duraria 21 anos, de 1964 a 1985.9 A ditadura
chilena começou na data atualmente considerada símbolo desses golpes, 11 de
setembro de 1973,10 e terminou em 1990, com a saída de Augusto Pinochet
após a derrota no plebiscito de 1988. Por fim, a Argentina, que enfrentou um
período de forte instabilidade política desde a deposição de Juan Domingo Pe-
rón, em 1955, passando pela ditadura de Juan Carlos onganía (1966-1970), até
o golpe de 24 de março de 1976,11 que deu início à ditadura autodenominada
Processo de Reorganização Nacional, que só terminou em 1983, com a eleição
de Raul Alfonsín.12
Por meio do debate acadêmico, perceberemos como após os sucessivos gol-
pes tentou-se pensar essas experiências a partir de traços comuns, mas como,
com o avançar da produção bibliográfica, mesmo que sem muitas vezes aban-
donar a perspectiva comparada, o enfoque voltou-se para o que era peculiar
a cada caso13 — buscando entender também de que modo o mesmo governo
provocou impactos diferentes dentro de seu país.14

8
Em minha tese de doutorado comparei as formas de repressão, a opção de cada país no
combate à oposição, até o estabelecimento de ações conjuntas, entre as quais se destaca o Plano
Condor. Ver Quadrat (2005).
9
Não há no Brasil nenhum dia no calendário nacional oficial que sirva de data convocante para
refletir sobre o período.
10
o dia 11 de setembro foi considerado o Dia da Liberação Nacional e transformado em feriado
pela ditadura. Em 1998, o feriado de 11 de setembro foi alterado para a primeira segunda-feira
do mesmo mês, doravante Dia da Unidade Nacional, uma maneira de lembrar as vítimas e tam-
bém de buscar uma reconciliação nacional. A partir de 2002, o dia deixou de ser feriado, mas a
referência permanece.
11
Desde 2002, o dia 24 de março é considerado o Día Nacional de la Memoria por la Verdad y
la Justicia. Em 2006 foi transformado em feriado nacional.
12
Há uma extensa bibliografia sobre os processos de transição que inicialmente e a exemplo dos
golpes começaram a ser pensados de maneira conjunta por meio de grandes modelos compara-
tivos com países da América Latina e da Europa.
13
Lamentavelmente, por motivos de espaço, os livros escritos por militares, integrantes e/ou
simpatizantes dos governos ditatoriais ficaram de fora deste capítulo — assim como os trabalhos
dos brasilianistas.
14
Ver Catela (2010:305-326) e Pino e Jelin (2003).

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Golpes e ditaduras: modelos explicativos

Geralmente, as ditaduras do Cone Sul têm sido pensadas a partir de um mo-


delo comum baseado na doutrina de segurança nacional, criada e divulgada
pelos Estados Unidos, país visto em alguns trabalhos como o grande responsá-
vel pelos golpes e manutenção dos governos autoritários deles oriundos.15 Não
negamos a grande influência do governo estadunidense na política da região,
especialmente no período da Guerra Fria;16 no entanto, é preciso ir além, avan-
çar, reconhecer outras influências e levar em consideração, em primeiro plano,
as próprias trajetórias desses países. Afinal, o golpe e a ditadura correspondem
e respondem mais às questões internas do que propriamente à Guerra Fria e/
ou aos interesses estadunidenses. Não é tarefa simples, pois a visão dos Esta-
dos Unidos sempre presente é forte, mas a historiografia tem avançado nesse
aspecto.17
os sucessivos golpes e as ditaduras instaladas no Cone Sul a partir dos anos
196018 levaram cientistas políticos, sociais, economistas, historiadores (ainda
que com certo atraso)19 e demais especialistas nas áreas das ciências sociais e
humanas a pensar as razões que teriam levado à quebra da democracia.20

15
Essa visão é muito presente para os casos do Brasil e do Chile. Entre os primeiros trabalhos
podemos citar Parker (1977), Corrêa (1977) e Bandeira (1978). Sobre o Chile, ver Selser (1975),
Kornbluh (2003), Verdugo (2003) e Bandeira (2008). Para ambos os casos, ver Ayerbe (2002).
16
Particularmente dois livros fortaleceram essa visão: Agee (1976) e Langguth (1979). o pri-
meiro é de um ex-agente da CiA e causou bastante polêmica entre seus pares, muitos dos quais
o acusaram de traidor ao revelar ações secretas da “Companhia”. Agee faleceu em 2008, aos 72
anos, em Cuba.
17
Para uma análise mais sofisticada das relações Brasil e Estados Unidos nesse período, ver Fico
(2008) e Spektor (2009). Sobre o Chile, ver Aggio (2008) e Huneeus (2001).
18
Apesar de a chegada de Alfredo Stroessner ao poder ocorrer em 1954, sua posição inicial não
possui o mesmo formato que os demais golpes. Contudo, com o passar dos anos, ganhou força
o discurso anticomunista.
19
Para Fico (2004:20), esse atraso se justifica mais pelas dificuldades peculiares da história do
tempo presente e da carência de fontes do que pelo desinteresse do historiador.
20
Vamos levar em consideração os trabalhos que fizeram análises regionais. Reconhecemos
que há outras obras de referência, algumas sobre casos específicos, mas que pelo limite do texto
não foram aqui incluídas. Chamamos atenção para o fato de a grande maioria desses primeiros
trabalhos ter sido desenvolvida no exterior por pesquisadores do Cone Sul (que não dispunham
de espaços para essas análises no país por conta da óbvia dificuldade que encontraram ou porque
já estavam no exílio) ou estrangeiros (que, ao contrário dos primeiros, tinham mais acesso ao
material e liberdade de pesquisa). Além disso, apresentavam forte influência da teoria marxista.

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inicialmente, e sobretudo para o Brasil, primeiro dos países a enfrentar
a ditadura, falou-se em crise do Estado populista.21 Em 1968, quatro anos
após o golpe no Brasil, octavio ianni lançou O colapso do populismo no Brasil
e, em 1975, voltaria à questão com A formação do Estado populista na América
Latina.22 No primeiro livro, ianni traça a história do populismo no Brasil até
o golpe de 1964. Para ele, a ditadura é uma consequência histórica de forças
que se encontravam em confronto na sociedade brasileira naquele momento.
o autor chega a usar a expressão “regime colonial-fascista”23 para o gover-
no oriundo do golpe de 1964, afirmando que o mesmo se utilizaria de uma
cultura do fascismo, pois “a tendência para o fascismo é outra característica
essencial da dependência estrutural” (ianni, 1968:224). Já Francisco Weffort
(1980:75), em O populismo na política brasileira, afirma que, “ao pretender en-
trar pelo caminho das reformas de estrutura, Goulart provocou a crise do
‘regime populista’”. Sem ter o controle do processo político e do movimento
popular, já que a manipulação das massas, uma das características do po-
pulismo apontada por Weffort, havia sido rompida. Associado a essa perda
do controle das massas, Weffort (1980:75) aponta ainda o esgotamento do
modelo econômico.24
Até 1964, as ciências sociais trabalhavam com dois modelos políticos: o
democrático e o totalitário, esse último em função das experiências ditatoriais
da primeira metade do século XX, como o nazismo e o fascismo.25 Contudo,
tanto a América Latina quanto a Europa pós-guerra enfrentaram outros go-
vernos que não se encaixavam nessas tipologias. Refletindo sobre a questão, em
1964, Juan J. Linz publicou o artigo “An authoritarian regime: Spain”, no qual
propunha a existência de uma nova tipologia entre os dois polos, democrático

21
Para um debate sobre o conceito de populismo, ver Jorge Ferreira (2001). Na mesma cole-
tânea, Daniel Aarão Reis Filho analisa, em “o colapso do populismo ou a propósito de uma
herança maldita”, o impacto e a aceitação dos livros citados nessa parte do presente texto, bem
como realiza uma crítica às obras. Ver também o texto de Norberto Ferreras neste livro.
22
o tema seria tratado também em outras obras de sua autoria.
23
Helio Jaguaribe — que de crítico do governo pela ausência da burguesia no aparelho de
Estado passou a nutrir simpatia pela ditadura em função dos resultados do “milagre econômi-
co” — usou a expressão “fascismo colonial” no artigo “Brasil: estabilidade social pelo fascismo
colonial?”, publicado originalmente em francês, em 1967, e em português no livro Brasil: crises e
alternativas, em 1974.
24
No prefácio à segunda edição Weffort refuta a teoria da dependência.
25
Para um balanço bibliográfico desses conceitos, ver “Apresentação” em Rollemberg e Quadrat
(2010).

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e totalitário, a saber: o regime autoritário. Na definição de Linz, os regimes
autoritários seriam:

Sistemas políticos com um pluralismo limitado e não responsável; sem uma ideo-
logia complexa que os norteasse, mas com mentalidades bem características; sem
mobilização política, quer extensiva ou intensiva, exceto em alguns momentos do
seu desenvolvimento, nos quais um líder ou, às vezes, um pequeno grupo, exerce o
poder dentro de limites formalmente maldefinidos, que, no entanto, são bastante
previsíveis [Linz e Stepan, 1999:57].26

No estudo sobre a Espanha, Linz demonstrou que os quatro elementos


identificados por ele como características centrais dos regimes autoritários e
relatados na citação anterior “poderiam se manter de forma coerente, por lon-
gos períodos, como um sistema integrado e capaz de autorreforço, e contando
com relativa estabilidade” (Linz e Stepan, 1999:58).
No entanto, em 1996, 32 anos depois, Linz reconheceu que o trio democra-
cia, totalitarismo e regimes autoritários não dava mais conta dos novos governos
do mundo oriental, africano, Leste europeu e latino-americano (Linz e Ste-
pan, 1999:58-59). Em função disso, em parceria com Alfred Stepan, propôs
uma tipologia revisada com os seguintes modelos: democráticos, autoritários,
totalitários, pós-totalitários e sultanísticos (Linz e Stepan, 1999:58).27 Contu-
do, muitos autores ainda seguem usando o termo “regimes autoritários” porque
concordam com a definição de 1964 ou para fugir da repetição da palavra “di-
tadura”, esquecendo, portanto, que a expressão refere-se a uma opção analítica
e não a um simples sinônimo para a primeira.
outra interpretação relativa não apenas aos golpes, mas aos próprios Estados
construídos a partir deles, começou a ser gestada a partir da década de 1970 e, de
maneira semelhante à anterior mencionada por nós, procurou afastar as ditaduras
do Cone Sul das experiências fascistas europeias da primeira metade do século XX.
o chamado novo autoritarismo recebeu o nome de Estado burocrático-
-autoritário, consagrado nas publicações de Guillhermo o’Donnel, Moder-

26
Ambos os autores já tinham organizado uma das primeiras obras a tentar pensar os golpes de
maneira conjunta. Ver Linz e Stepan (1978). São diversos volumes e um deles é especialmente
sobre América Latina.
27
Na categoria de sultanísticos os autores incluíram, por exemplo, o Haiti de Duvalier e a Re-
pública Dominicana sob o comando de trujillo.

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nización y autoritarismo, de 1972, e Análise do autoritarismo burocrático, editado
em espanhol em 1982,28 em que o autor analisa a Argentina de 1966 até março
de 1973, e por pesquisadores com trajetória já reconhecida, como Fernando
Henrique Cardoso,29 Albert o. Hirchman, Julio Cotler, entre outros, que tive-
ram seus trabalhos reunidos no livro O novo autoritarismo na América Latina,
organizado por David Collier (1982b). Nas palavras de Fernando Henrique
Cardoso (1982:44), “a preocupação inicial dos autores que tentaram caracteri-
zar o novo autoritarismo na América Latina foi de distingui-lo não só dos re-
gimes autoritários do passado, mas também dos fascismos e do corporativismo
europeus”. Em linhas gerais, os Estados autoritários burocráticos seriam não
democráticos — com a ausência de competição eleitoral e controle da parti-
cipação políticas dos setores populares —, e os protagonistas incluíam tecno-
cratas (militares e civis) atuando em associação ao capital estrangeiro (Collier,
1982a:32).
René Dreifuss, em 1964: a conquista do Estado, publicado em 1981, foi um
dos primeiros a criticar o modelo do Estado autoritário burocrático, especial-
mente no tocante às suas generalizações, que não levavam em consideração,
segundo o autor, as peculiaridades dos casos nacionais. Dreifuss foi também
um dos primeiros a chamar a atenção sobre a participação da sociedade no
golpe, denominado por ele “movimento civil-militar”.
Por fim, não podemos deixar de elencar os autores que se voltaram para os
estudos das Forças Armadas latino-americanas e sua forte influência na histó-
ria política da região. o mergulho no estudo das Forças Armadas era de suma
importância, pois, além da influência em nossa trajetória, a segunda metade do
século XX foi cenário também para muitas transformações na instituição, que
pouco a pouco conjugou o caráter nacional com uma postura internacionalista
de combate à “subversão”.
o militarismo na América Latina, ou seja, a intervenção direta dos militares
na política suscitou — hoje menos do que nos anos 1960 e 1970 — inúmeros

28
o recorte temporal analisado pelo autor vai do golpe de 1966, com o governo de onganía,
até março de 1973, momento das eleições presidenciais que permitem o retorno do peronismo.
Apesar de não haver consenso, o’Donnell incluiu ainda os casos de Brasil pós-1964, Argentina
1966-1970 e pós-1976, Chile e Uruguai pós-1973 e o caso mexicano do governo do PRi (Partido
Revolucionário institucional) no mesmo período.
29
Fernando Henrique Cardoso tem dois livros importantes para esse debate: Dependência e
desenvolvimento na América Latina (1979, escrito em parceria com Enzo Faletto em 1970) e Au-
toritarismo e democratização (1975).

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debates acadêmicos que visavam explicar os motivos da ascensão militar na
região. No decorrer desses estudos, vários pontos explicativos assumiram des-
taque, a saber: a existência de um tipo específico de relação civil-militar do
“mundo ibérico”; a existência de uma tradição histórica de intervenção criada
a partir dos processos de independências da região ocorridas no século XiX e
a influência de governos estrangeiros que manipulariam as Forças Armadas de
acordo com seus interesses — tese comum para as intervenções militares no
contexto da Guerra Fria (Rouquié, 1991:175-193). Do senso comum a setores
da academia, essas seriam as principais justificativas para a presença militar na
política.
No âmbito das ciências políticas, dois autores que visavam explicar as in-
tervenções militares adquiriram destaque.30 o primeiro é Samuel Huntington
(1996), para quem as intervenções devem ser compreendidas a partir das rela-
ções entre civis e militares.31 As Forças Armadas podem ser “chamadas” para
o cenário político caso haja um ambiente de caos social, de disputas políticas
acirradas que podem levar os militares a serem requisitados pelo grupo vito-
rioso ou o derrotado, e quando grupos civis buscam o poder e discutem temas
caros às Forças Armadas, como guerra, corrupção e política externa. Ainda
segundo Huntington, quanto maior a profissionalização das Forças Armadas,
menor o número de intervenções. o segundo autor é Samuel E. Finer (2002),32
para quem as intervenções militares dizem respeito ao grau de desenvolvimen-
to da cultura política de cada país — nada tendo a ver com o grau de profis-
sionalização alcançado pelas Forças Armadas. Contrariamente a Huntington,
Finer afirma que as intervenções militares podem até aumentar com maior
nível de profissionalização à medida que o soldado se vê mais capacitado e se
considera, em larga escala, mais cidadão e patriota do que um civil.

30
Entre os trabalhos realizados por brasileiros, Edmundo Campos Coelho (1976) é uma das
primeiras referências. os estudos sobre as Forças Armadas no Brasil se consolidaram especial-
mente na Unicamp, sob a liderança de Eliezer Rizzo, autor de várias publicações sobre o tema e,
posteriormente, no Cpdoc/FGV, que lançou a trilogia A memória militar sobre o golpe, a repressão
e a abertura, sob a coordenação de Maria Celina D’Araujo, Gláucio Ary Dillon Soares e Celso
Castro (também autor de vários livros sobre as Forças Armadas). D’Araujo e Castro lançariam
ainda o livro Geisel com a reunião de várias entrevistas com o ex-presidente. Sobre a Argentina,
podemos citar os livros de Potash (1994; são vários volumes) e os trabalhos de Carlos H. Acuña
e Catalina Smulovitz (1995) sobre as Forças Armadas e o processo de transição. No Chile, pode-
mos citar algumas das publicações de Felipe Agüero (2003, 2002, 1998).
31
A publicação original é de 1957.
32
A primeira edição é de 1962.

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Na busca da compreensão da presença militar na América Latina, deve-
mos mencionar ainda Alain Rouquié (1984) e Alfred Stepan (1975, 1980, 1988),
mesmo que esse último se preocupe mais em compreender os casos brasileiro e
peruano. Para Rouquié, as intervenções militares não devem ser consideradas uma
experiência única, um modelo regional e atemporal. Devemos levar em conta as
configurações sociais e políticas (as Forças Armadas não podem ser responsabili-
zadas pela instabilidade política) e também a formação dos exércitos e seu papel
naquela sociedade e no Estado que representam. Já para Stepan, que a exemplo
dos demais nota o descuido da academia de até então não estudar os militares,
existia no Brasil a ideia de um “padrão moderador” para as Forças Armadas, ou
seja, o poder militar seria chamado ocasionalmente para destituir um governo de
maneira “cirúrgica”, e, assim que se restabelecesse a ordem, os militares devolve-
riam o poder aos civis. No entanto, na análise de Stepan, em 1964 houve uma alte-
ração desse “padrão moderador”, já que os militares se viram ameaçados pelo go-
verno de João Goulart, especialmente no que diz respeito à ordem e à hierarquia,
e também se sentiam — a partir da profissionalização pela qual estavam passando
diante dos novos treinamentos, do fortalecimento da Escola Superior de Guerra e
da doutrina de segurança nacional — capazes de ascender ao governo. Apesar de
voltado para o caso brasileiro, o modelo explicativo do novo profissionalismo criado
por Stepan foi adaptado para outros países da América Latina.
Essa visão de uma nova formação é compartilhada num tema ainda caro aos
historiadores, especialmente no que diz respeito à organização que esses gover-
nos estabeleceram e à própria repressão: a doutrina de segurança nacional. Ainda
nos anos 1970 começaram a ser divulgados os primeiros textos sobre a doutrina
de segurança nacional, que já era mencionada, mas não era tratada com a ênfase
que começa a receber após a publicação, em 1977, de A ideologia da segurança na-
cional: o poder militar na América Latina, do padre Joseph Comblin.
Na introdução, Comblin (1978:13) afirma que não podíamos chamar as di-
taduras da América Latina de fascistas porque o termo teria naquela época
“apenas uma conotação injuriosa” e porque a permanência dessas ditaduras
latino-americanas “supõe a existência de uma ideologia que ultrapassa as pe-
culiaridades nacionais e mantém a estrutura e coerência de cada um”, no caso
a doutrina de segurança nacional.
o autor responsabiliza os Estados Unidos pela criação e divulgação da
doutrina, que teria levado “a promoverem e manterem as ditaduras militares
dos Estados satélites” (Comblin, 1978:15). Além disso, para Comblin (1978:16),

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a doutrina da segurança nacional, vinda do exterior, em vez de passar por um
processo de rejeição devido às particularidades dos países envolvidos, resulta, na
realidade, em uma desnacionalização da vida social e política de cada um deles, ao
ponto de dar a impressão de que, nesses regimes, a sociedade escapa ao controle
do homem.

o livro apresenta as características da doutrina de segurança nacional, a


influência dos Estados Unidos em sua criação e divulgação nas escolas e inter-
câmbios militares, o impacto e o desenrolar da doutrina em diferentes países,
bem como questiona sua aplicabilidade e denuncia as consequências de sua
utilização, especialmente no que diz respeito aos direitos humanos.33
outro autor que se dedicou a compreender e discutir a doutrina de segu-
rança nacional foi Jorge A. tapia Valdés em El terrorismo de Estado: la doctrina
de la seguridad nacional en el Cono Sur, de 1980.34
Valdés reconhece que não era novidade a intervenção das Forças Armadas
na política. No entanto, segundo ele, “o peculiar e diferente é o uso e abuso da
força militar e a intensificação da intervenção militar nos processos políticos
regulares, com base numa doutrina política mais ou menos coerente e com
pretensões de universalidade e internacionalidade” (Valdés, 1980:25).
Apesar de divergirem em alguns pontos, como a questão do fascismo, os
dois autores concordam que a doutrina de segurança nacional serviu de mo-
tivação para o golpe e de alicerce para os governos ditatoriais, bem como foi
fundamental no combate à subversão. tal interpretação segue a marcar muitos
trabalhos produzidos atualmente.
Com a doutrina de segurança nacional, a questão do desenvolvimento
do país passou a estar intimamente ligada à segurança, pois sem a mesma
a nação não alcançaria a prosperidade. Surgiu também o soldado profissio-
nal, “criado pela combinação das habilidades do especialista em violência
com a do gerente e promotor de empresas civis de grande escala” (Valdés,

33
o maior teórico sobre a ideologia da segurança nacional no Brasil foi o general Golbery do
Couto e Silva (destacamos o livro Conjuntura política nacional, 1981, que aliou a ela a geopolí-
tica). Essa junção tinha como características principais a valorização do Brasil e de sua posição
geográfica no Atlântico Sul, a integração nacional e o destino do Brasil, já traçado por sua
natureza — a grandeza. outro teórico, o general Meira Mattos (1977), acrescentaria que, se não
houvesse uma liderança forte, de nada adiantariam tais características.
34
Valdés recorre aos trabalhos de Harold D. Lasswell sobre a percepção de como as Forças
Armadas estavam passando por transformações internas desde os anos 1940.

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1980:22). Esses militares governaram Estados militarizados, tendo sob seu
controle grandes populações por meio da repressão e da propaganda (Val-
dés, 1980:22).
Um dos pontos fundamentais da doutrina de segurança nacional — pri-
mordial para nossa próxima seção — diz respeito à questão da formulação do
conceito de inimigo. Com a nova doutrina, o inimigo não era mais o que vinha
de fora do país, e sim o que estava presente em seu interior. Desse modo, os
países da América Latina enfrentavam uma guerra especial contra a subversão
interna; o que estava sendo combatido não era um exército, mas uma ideia: o
comunismo. Assim, deveriam ser alteradas também as estratégias de combate.
A existência de um inimigo interno, real ou imaginário, foi um excelente
controlador social: além de atingir todas as classes sociais, permitiu que o Es-
tado se utilizasse de uma legislação extraordinária e de exceção para combatê-
-lo (Valdés, 1980:226-227). Ademais, conclamava todo e qualquer cidadão a
ser responsável pela segurança do país, incentivando a delação em nome da
“segurança nacional”.
Para conter o avanço desse “inimigo” e se manter no poder, os militares pro-
curaram exercer um excessivo controle na vida da sociedade civil, adaptando
a doutrina à sua realidade. isso acarretou um grande investimento no setor de
inteligência, que, em alguns casos, além da coleta e processamento da informa-
ção, ficou responsável por exercer a repressão.
Apesar de reconhecermos o peso da doutrina de segurança nacional na es-
truturação dessas ditaduras, é fundamental apontar novos trabalhos que discu-
tem outras influências no dia a dia da repressão. Sem dúvida, a ideia de inimigo
interno é bastante forte, mas como combatê-lo efetivamente?
Em Seguridad nacional y sedición militar, de 1987, Ernesto López analisa a
mudança da doutrina de defesa nacional para a doutrina de segurança nacional
dentro do Exército argentino após a queda de Perón, em 1955. Contudo, López
chama nossa atenção para o “descobrimento” das novas formas de guerra, a
nuclear e a revolucionária, destacando os Estados Unidos para a primeira, e a
França para a segunda, por conta da derrota nas guerras na Ásia e atuação na
Argélia. Essas novas experiências incentivaram a ideia de que não estávamos
mais diante de uma guerra convencional e que era necessário buscar novas for-
mas de combate. A questão não se afasta da doutrina de segurança nacional,
mas aponta para a presença francesa por intermédio da formulação da doutrina
de guerra revolucionária, logo chamada de guerra subversiva, e do oferecimento

ditadura, violência política e direitos humanos… 251

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de cursos e envio de militares, alguns ex-combatentes da Guerra da Argélia,35
para países da América Latina, com destaque para a Argentina e o Brasil.
Seguindo pelo mesmo caminho, João Roberto Martins Filho, que já es-
crevera o instigante trabalho O palácio e a caserna (1996), no qual questiona
a existência de apenas dois grupos de militares brasileiros conhecidos como
brandos/castelistas e duros, publicou em 2009 o artigo “tortura e ideologia: os
militares brasileiros e a doutrina da guerre révolutionnaire (1959-1974)”.36 A pro-
posta de Martins Filho é identificar a influência da doutrina francesa na prá-
tica repressiva brasileira.37 Para ele, a exportação das ideias francesas, mesmo
derrotadas na Argélia, tem a ver com o anticomunismo e com a “busca de uma
doutrina que aperfeiçoasse sua missão histórica (dos militares) e manutenção
da ordem interna” (Martins Filho, 2009:199-200). Com as ideias francesas,
Martins Filho (2009:200) aponta para a opção do aniquilamento do inimigo,
numa ação na qual “o exército vencedor cruzou a fronteira entre a guerra e o
morticínio”.
Ao lado do trabalho de Martins Filho, posso citar minha tese de doutora-
do, A repressão sem fronteiras: perseguição política e colaboração entre as ditaduras
do Cone Sul, defendida em 2005, na qual uma das principais preocupações foi
identificar as trajetórias e os aspectos que permitiram as ações conjuntas entre
as forças de inteligência e repressão dos países sob ditadura, com ênfase no
Plano Condor. Uma das ideias centrais foi a identificação da formação de um
pensamento comum, no caso a doutrina de segurança nacional, e da aproxima-
ção profissional e pessoal por meio de cursos conjuntos, como os ministrados
na Escola das Américas (Panamá) e outras escolas estadunidenses; na Escola
Superior de Guerra, Escola Nacional de informações (EsNi) e no Centro de
treinamento de Manaus, todos no Brasil etc., e do intercâmbio de agentes
para ministrar cursos esporádicos. Em alguns desses casos, como na Escola
das Américas, os franceses ex-combatentes da Guerra da Argélia foram os pri-
meiros professores; em outros, como no Centro de treinamento de Manaus,

35
Uma excelente referência sobre a atuação francesa na Argélia é o filme A batalha de Argel.
Feito para servir de denúncia, o filme acabou usado em escolas militares.
36
o autor identifica logo no início de seu artigo os primeiros trabalhos brasileiros a citar tal
influência francesa. E ainda Martins Filho (mimeogr.)
37
Gaspari (2002:60) também afirma que a operação Bandeirante (oban), organizada em 1969,
era uma anomalia na estrutura militar convencional, um corpo de polícia política dentro do
Exército que se assemelhava ao dispositivo montado pelo general Massu em Argel por sua ori-
ginalidade e autonomia.

252 história das américas

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vieram como instrutores.38 Foi o caso do general Aussaresses, adido militar da
França no Brasil, entre 1973 e 1975.39 o Centro de treinamento de Manaus
ainda é um mistério, mas várias indicações e a pouca documentação encontra-
da apontam para a presença de militares latino-americanos, estadunidenses e
europeus, bem como de financiamento externo (Quadrat, 2005:125-126).
Com essa questão da doutrina de segurança nacional e as formas de com-
bate ao inimigo interno damos início aos dois outros aspectos que propusemos
analisar no início do capítulo.

Violência política e direitos humanos

Com o retorno à democracia nos anos 1980, à exceção do Chile, onde Augusto
Pinochet deixou a presidência apenas em 1990, ganharam espaço os livros de
memória,40 muitos dos quais escritos por ou sobre vítimas diretas da violência
política com a preocupação de denunciar o que se passara nos chamados porões
da ditadura.41
Mas não eram os primeiros livros. No Brasil, por exemplo, em 1966, Márcio
Moreira Alves publicou o livro Tortura e torturados.42 São as primeiras de-
núncias de torturas feitas pela imprensa e que motivaram o governo Castelo
Branco a enviar o então chefe da Casa Militar e futuro presidente Ernesto
Geisel para apurar tais abusos. A investigação de Geisel terminou sem que
ninguém fosse punido pelas violações dos direitos humanos ocorridas no go-
verno ditatorial desde seus primeiros dias. Na Argentina, grupos de direitos

38
Vários depoimentos no instigante documentário Les escadróns de la mort, l’ecole française
(2003), de Marie-Monique Robin, confirmam essa experiência inicial.
39
Aussaresses publicou dois livros contando sua experiência e defendendo suas ações militares
(2001 e 2008).
40
A produção cinematográfica também acompanhou esse momento. Nos anos 1980 foram pro-
duzidos, por exemplo, os seguintes filmes: A história oficial (Argentina), Missing (Chile), Pra
frente, Brasil! (Brasil).
41
Nos anos 1980 houve o lançamento de muitos livros de memória. Alguns romanceados. ou-
tros chegaram às telas de cinema. Podemos citar: timerman (1982); Gabeira (1980); Koutzii
(1984); Bonasso (1984); Sirkis (1981); Paiva (1986); Celiberti e Garrido (1989). Convém ressaltar
que as mulheres escreveram pouquíssimo sobre suas experiências. Normalmente, as experiências
femininas são livros escritos por terceiros, como pesquisadores e jornalistas.
42
o livro está disponível em: <www.marciomoreiraalves.com/livro.1966.htm>.

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humanos, como Mães da Praça de Maio43 e Centro de Estudios Legales e
Sociales (Cels),44 realizavam denúncias por intermédio de seus relatórios. No
Chile, os primeiros registros foram escritos ou filmados por pessoas que esta-
vam ou visitaram o país clandestinamente durante os anos pinochetistas ou
ainda que saíram da prisão para o exílio.45 É o caso de Tejas verdes, de Hernán
Valdés (1996), em que o autor conta praticamente no formato de um diário seu
cotidiano no centro de detenção com o mesmo nome que dá título à obra.46
No caso brasileiro, os livros de Antonio Fon (1979), Ana Lagôa (1983) Ma-
ria Helena Moreira Alves (1984) e Alfredo Naffah Neto (1985) foram algumas
das primeiras referências junto aos livros de memória anteriormente citados.
No caso chileno, La represion política en Chile: los hechos, de María Eugenia
Rojas, escrito em 1988, descreve de maneira didática e com riqueza de informa-
ções a atuação da repressão nos anos Pinochet.47 É o primeiro livro a levantar
também um tema que permanece um tabu entre os pesquisadores do período:
a participação feminina na repressão.48 Ainda que recentemente tenhamos li-
vros que analisem a participação das mulheres no golpe e na própria ditadura,49
o tema da repressão permanece à espera de um estudo. Afinal, em alguns es-
tados foram criadas as guardas femininas, em outros casos eram enfermeiras
que atuavam como auxiliar nos partos de mulheres grávidas em centros de
detenção e que depois tiveram seus filhos entregues ilegalmente para adoção,
eram carcereiras em prisões femininas etc.50 Além do livro de Rojas, destaca-
mos também a triologia Chile: la memoria prohibida, organizada por diversos
autores e publicada em 1989.51 Além de analisar e denunciar os crimes contra
os direitos humanos, a trilogia se destaca não por fazer uma análise global
da repressão, mas por apresentar separadamente episódios que nos permitem

43
Sobre as mães, ver Bousquet (1980) e Gorini (2008). os sites das duas organizações também
podem ser consultados em: <www.madresfundadoras.org.ar> e <www.madres.org>.
44
Num contraponto à atuação das mães e sobre a criação dos Cels, ver Vicente (2006). Dispo-
nível em: <www.cels.org.ar>.
45
Ver, por exemplo, Katz (1975).
46
A primeira edição foi publicada na Espanha em 1974.
47
outros exemplos, como Katz, foram citados em notas anteriores.
48
A maior parte dos livros diz respeito à resistência feminina à ditadura, sua experiência na luta
armada e ante a tortura. Podemos citar: Artigas, Largo e Palestra (1994); Rojas et al. (2002); Actis
(2006); Carvalho (1999). As referências sobre as Mães da Praça de Maio estão na nota 43.
49
São eles: Power (2008) e Cordeiro (2009).
50
Embora Rojas aponte a presença feminina diretamente na tortura.
51
Ver Ahumada et al. (1989).

254 história das américas

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fazer uma radiografia da ditadura chilena. Alguns desses casos incentivam a
discussão sobre as relações entre sociedade e ditadura, como os que abordam a
igreja Católica e os integrantes dos partidos políticos. Ainda no caso chileno,
por sua importância para os processos judiciais, há a publicação, em 1989, de
A caravana da morte, de Patricia Verdugo, em que se denuncia o assassinato
de 75 prisioneiros logo após o golpe.52 Por último, sobre a Argentina podemos
identificar El estado terrorista argentino, de Eduardo Luis Duhalde, publica-
do em 1983. Com amplo material iconográfico, o livro discute a construção
da ditadura argentina utilizando-se do conceito de terrorismo de Estado, que
atualmente ganha destaque em vários trabalhos sobre a violência política em
diferentes países do mundo. Para Duhalde, a política de sequestros e desapa-
recimentos é a face clandestina do Estado argentino para a implementação
do terror, aspecto considerado fundamental pelo autor para a preservação da
ordem social (Duhalde, 1983:9; grifo do autor) e para a consequente mudança do
projeto econômico (não analisado por ele) (Duhalde, 1983:9).
No entanto, foi a publicação dos livros Nunca mais que trouxe o debate para
o cenário nacional. Por intermédio desses livros, a sociedade tomava “conheci-
mento” de forma estarrecida do que se passara em seu país. Em muitos casos,
foi o primeiro livro sobre a ditadura que muitas pessoas leram. Uma espécie de
“introdução” nada fácil ao tema.53
o primeiro a ser publicado foi o argentino, que acabou servindo de espé-
cie de formato para os demais. Em 15 de dezembro de 1983, Raul Alfonsín,
primeiro presidente eleito pós-ditadura, criou a Comissão Nacional sobre o
Desaparecimento de Pessoas (Conadep) com a missão de receber e inves-
tigar as denúncias sobre os crimes de violações de direitos humanos.54 Sob
o comando do escritor Ernesto Sábato, a comissão recebeu cerca de 9 mil
denúncias — número que gerou bastante polêmica, pois divergia, e muito,

52
No Brasil o livro foi publicado em 2001. o episódio da Caravana da Morte acabou constituin-
do um dos principais processos contra as violações de direitos humanos no Chile, gerando inclu-
sive a condenação de Augusto Pinochet (que recorreu alegando que sofria uma doença mental
incurável) e do general Sérgio Arellano Stark. No entanto, foi a primeira vez que o ex-ditador
foi interrogado (ainda que em sua casa) por um juiz chileno por atos cometidos na ditadura.
53
Vários países que passaram por situação de extrema violência têm publicações semelhantes,
como Paraguai e Uruguai. Ver, por exemplo, Serpaj (1989).
54
Na Argentina, após a queda da ditadura, ainda que com críticas de algumas organizações de
direitos humanos, acompanhamos o “juicio a las Juntas”. É o início de um processo hoje conhe-
cido como justiça de transição. Ver Araujo (2010a:29-33), Brito et al. (2002) e Fernández (2008).

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do que foi apurado pelos grupos de defesa dos direitos humanos, que apon-
tavam cerca de 30 mil mortos e desaparecidos. Em 20 de setembro de 1984,
a comissão entregou os resultados dos trabalhos ao presidente e uma edição
condensada rendeu a publicação Argentina: nunca mais. Com um prólogo
bastante controverso, a publicação consagrou a criticada teoria dos dois demô-
nios, na qual se reconheceu que houve violência de ambos os lados, ou seja,
tanto das esquerdas armadas, como Montoneros e Ejército Revolucionario
del Pueblo (ERP), quanto das direitas. Essa teoria também caracterizou as
ações de Alfonsín, pois, se por um lado ele anunciou a abertura de processos
contra os integrantes das três primeiras juntas militares que governaram o
país, por outro anunciou também a abertura de processos penais contra os
principais líderes revolucionários, como Mario Firmenich (preso no Brasil),
Roberto Perdía e Fernando Vaca Narvaja.
Ao completar 30 anos de sua primeira edição, foi incluído um novo pró-
logo, sem a retirada do primeiro, mas onde se apresenta uma nova versão.55
Como muito bem observou Crenzel (2008:175), o novo prólogo, assim como o
primeiro, “não historiciza o passado de violência política e o horror que o país
atravessou e omite, também, as responsabilidades do Estado, das Forças Ar-
madas, da sociedade política e civil nos desaparecimentos anteriores ao golpe”.
E mais: o novo prólogo, redigido durante um momento importante da história
argentina de luta contra a impunidade aos crimes da ditadura,56 a exemplo do
primeiro, busca uma história totalizante, sendo que, nessa reescrita da história,
a sociedade como um todo enfrentou a ditadura e a impunidade, não reconhe-
cendo a luta solitária dos grupos de direitos humanos, desconhecendo que a
luta por verdade, justiça e memória não foram simultâneas e omitindo as várias
leituras sobre o passado ditatorial na Argentina (Crenzel, 2008:175).
o Nunca mais brasileiro não partiu de uma iniciativa do governo em tempos
democráticos, mas das ações da sociedade civil, de grupos de direitos humanos,
advogados, jornalistas e representantes de diferentes igrejas ainda durante o
período ditatorial.57 Sem caráter judicial, Ludmila Catela (2002:23) denomi-

55
Contudo, a documentação do acervo da Conadep ainda não se encontra totalmente aberta
para pesquisadores. o mesmo vale para o caso chileno.
56
A partir da chegada de Néstor Kirchner à presidência da República, em 2003, o tema ganhou
destaque na agenda do governo.
57
Ver Arquidiocese de São Paulo (1987). No caso brasileiro houve ainda a “resposta” militar com
Giordani (1986).

256 história das américas

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nou o projeto “uma verdade roubada aos ‘segredos de Estado’”, pois ele foi
estruturado a partir da cópia dos processos que tramitaram na Justiça Militar
entre abril de 1964 e março e 1979, ou seja, tendo como fonte a documentação
produzida pela própria ditadura. Nesse sentido, utilizando o depoimento dos
presos políticos, o projeto fez uma radiografia da repressão e dos próprios re-
pressores.58
A primeira edição de Brasil: nunca mais foi lançada em 1985 e ficou sema-
nas na lista dos mais vendidos. A exemplo da sociedade argentina, a brasileira
“tomava ciência” dos anos de chumbo, do alcance da tortura e das violações dos
direitos humanos no país.59
Somente em 1995, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o
Brasil voltou-se ao tema com uma iniciativa do governo por intermédio da
publicação da Lei no 9.140/1995. trata-se da criação da Comissão Especial dos
Mortos e Desaparecidos Políticos,60 sob os auspícios do Ministério da Justiça,
que tem buscado respostas para as mortes das vítimas da ditadura com o in-
tuito de reconhecer a responsabilidade do Estado e indenizar os familiares. A
comissão, também sem fins judiciais, não agradou familiares ou militares.
os resultados da comissão foram publicados em dois livros:61 Dos filhos deste
solo, organizado por Nilmário Miranda e Carlos tibúrcio em 1999, e Direito
à memória e à verdade,62 organizado pela Secretaria Especial dos Direitos Hu-
manos da Presidência da República em 2007.63 Em ambos, assim como no

58
A história mais detalhada do Projeto Brasil: Nunca Mais pode ser encontrada em Weschler (1990).
59
o acervo do Projeto Brasil: Nunca Mais está no Arquivo Edgard Leuenroth, Unicamp. A do-
cumentação é completamente aberta ao público, única exigência de dom Evaristo Arns ao doar o
material. No Rio de Janeiro, há uma cópia dos 12 volumes na sede do Grupo tortura Nunca Mais.
60
Uma das primeiras referências com os nomes dos mortos e desaparecidos é o Dossiê dos mortos
e desaparecidos políticos a partir de 1964 (1995). outra referência é: Comissão de Familiares de
Mortos e Desaparecidos Políticos/ieve (2009).
61
Devemos ressaltar que nem essa comissão nem a de Anistia, também instituída no âmbito da
Secretaria Nacional de Direitos Humanos, são Comissões da Verdade. A criação de uma Co-
missão Nacional da Verdade está indicada no Programa Nacional de Direitos Humanos 3. Dis-
ponível em: <www.direitoshumanos.gov.br/pndh>. outro ponto a ser destacado são as demais
publicações da Secretaria sobre o tema Direito à Memória e à Verdade (2010, 2009a, 2009b).
No dia 10 de dezembro de 2010, a secretaria lançou, junto com o MEC, o CD-RoM Direito à
memória e à verdade para ser distribuído nas escolas.
62
ironicamente, a edição contou com o apoio da Fundação Ford.
63
A Comissão de Anistia, instituída desde o governo Fernando Henrique Cardoso, tem sofrido
duras críticas da sociedade. Afinal, como aponta Araujo (2010b), a política reparatória prevê
indenizações mais de caráter trabalhista (grifo da autora) do que político.

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novo prólogo argentino, há a pretensão de uma história totalizante, na qual a
sociedade brasileira teria resistido como um todo à ditadura.64
Já a publicação do Nunca mais chileno corresponde aos resultados dos traba-
lhos da Comissão Rettig.65 A Comisión Nacional de Verdad y Reconciliación foi
criada pelo primeiro presidente eleito pós-ditadura, Patrício Aylwin. Liderada
pelo senador Raúl Rettig, a comissão deveria investigar com o intuito de esclare-
cer, mas sem implicar condenações legais, as violações contra os direitos humanos
ocorridas entre 11 de setembro de 1973 e 11 de março de 1990. o trabalho da co-
missão foi todo realizado com base em testemunhos dos sobreviventes, haja vista
que foi prejudicado pela ausência de documentos oficiais do Estado.
Em 1999, mais uma tentativa. Dessa vez com a Mesa de Diálogo sobre
Derechos Humanos.66 os objetivos da Mesa “eram condenar as violações de
direitos humanos em termos de ‘nunca mais’ e encontrar uma maneira de reve-
lar o destino dos detidos-desaparecidos” (Roniger e Sznajder, 2004:330). Nes-
sa ocasião, militares, advogados, representantes da sociedade e dos familiares
foram convocados com o intuito de esclarecer os desaparecimentos. Muitas
informações prestadas pelas Forças Armadas eram imprecisas ou errôneas.
Além disso, um ponto que gerou polêmica foi a lei aprovada no Congresso que
resguardava a identidade de quem fornecesse informações sobre os desapare-
cidos — ainda que alguns procedimentos tenham sido esclarecidos (Quadrat,
2005). Em 2003, 30 anos depois do golpe, Ricardo Lagos criou a Comisión
Asesora para la Calificación de Detenidos Desaparecidos, Ejecutados Políti-
cos Víctimas de Prisión Política y tortura.67 Além de aprofundar o informe
Rettig, a comissão incluiu os sobreviventes vítimas da tortura, que não haviam
sido contemplados no primeiro caso.

64
No livro Dos filhos deste solo, Miranda e tibúrcio (1999:19) falam em “herança maldita” (pa-
lavras dos autores) da ditadura: a tortura, desaparecimentos forçados, execuções extrajudiciais,
especialmente contra setores excluídos da sociedade, e a militarização da polícia. No entanto,
discordamos dessa visão de herança da ditadura. Algumas dessas ações apontadas pelos autores
já faziam parte da polícia brasileira em períodos democráticos e alguns desses policiais, como
Sérgio Fleury, foram chamados para agir no combate à oposição justamente por essa experiên-
cia. A diferença é que com a ditadura essas ações viraram uma política de Estado — agora não
mais restritas às classes pobres, mas atingindo também as médias.
65
Há uma versão estendida encontrada apenas em sebos: Informe Rettig (1991). E uma nova
versão reduzida, corrigida e atualizada do informe que é facilmente encontrada: Nunca más en
Chile (1999). o informe também está disponível em: <www.ddhh.gov.cl/ddhh_rettig.html>.
66
Disponível em: <www.derechos.org/nizkor/chile/doc/mesa.html>.
67
Disponível em: <www.comisionvalech.gov.cl>.

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Como vimos, tanto para o caso brasileiro quanto para o chileno tais comis-
sões não têm caráter judicial, ou seja, não foram/são criadas para levar aos tri-
bunais os acusados de envolvimento com violações de direitos humanos, mas
para esclarecer, escrever a história considerada verdadeira. Com caráter judicial
ou não, essas comissões, criadas em vários países do mundo que passaram por
forte repressão, têm recebido no nome a palavra “verdade”.68 outra perspectiva
é a da reconciliação ou para a paz,69 tema ainda bastante polêmico.
Algumas dessas comissões, sem o fornecimento da documentação oficial
por parte do Estado, contam, sobretudo, com o testemunho das vítimas diretas
ou indiretas da repressão. Como afirma Marieta Ferreira (2006:200), “os resul-
tados dos projetos testemunhais podem ser vistos como a escrita da história,
especialmente pelo grande público”. E nós, profissionais da história, como de-
vemos trabalhar com eles e seus produtos? Por serem tratados como verdade,
qual seu lugar para os pesquisadores?
Para Marieta Ferreira (2006:201), “essas memórias em circulação, expressas
por exemplo nos projetos testemunhais, não são boas ou más em si mesmas,
sobretudo cabe dizer que essas memórias, mais do que possibilitarem uma
compreensão do passado, atuam no presente”. Crenzel (2008), ao analisar a
história do Nunca mais argentino apresenta argumento semelhante. Mais do
que falar do passado, esses livros e suas trajetórias refletem o presente, a cons-
trução da memória e os ressignificados do passado.
Nos primeiros trabalhos sobre a violência política, as principais vozes eram
das vítimas da ditadura,70 o que levou a uma dura crítica de Sarlo (2005).71 No
entanto, sem entrar no mérito da questão levantada por Sarlo, devemos lembrar
que, num primeiro momento, o acesso aos documentos da repressão era extrema-
mente difícil. Não porque leis condicionavam nosso acesso, como nos dias atuais,
mas porque essa documentação ainda não havia sido localizada ou, se localizada,

68
Um balanço dessas comissões pode ser encontrado em Cuevas, Rojas e Baeza (2003).
69
Algumas investigam as ações tanto das esquerdas quanto das direitas. Ver Comisión de Entrega de
la Comisión de la Verdad y Reconciliación (2008). Disponível também em: <www.cverdad.org.pe>.
ou ainda não eram necessariamente sobre um governo ditatorial, como o caso da África do Sul, que
criou uma Comissão da Verdade e Reconciliação para investigar as violações dos direitos humanos
durante o regime de segregação racial, o apartheid. Ver Grossman (2000:7-24).
70
Além do que já citamos no decorrer do texto, podemos mencionar Calveiro (1998). o livro de
Calveiro, originado de sua tese de doutorado, mescla sua experiência de ex-presa política com o
trabalho acadêmico.
71
Para uma crítica a Sarlo, ver oberti (2008).

ditadura, violência política e direitos humanos… 259

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ainda não havia sido tratada.72 Nesse sentido, por exemplo, podemos identificar
os arquivos tanto dos Dops brasileiros,73 encontrados nos anos 1980, quanto do
terror,74 no Paraguai, localizados em 1992. Na Argentina, a localização da docu-
mentação da Dirección de inteligencia de la Policía de la Provincia de Buenos
Aires (DiPBA), sob a guarda da Comisión Provincial por la Memoria,75 La Pla-
ta, e aberto ao público, pesquisadores e juristas, acabou constituindo um aspecto
importante dos processos judiciais argentinos. Com a criação do Espacio para la
Memoria y para la Promoción y Defensa de los Derechos Humanos, no antigo
prédio da Escola de Mecânica da Armada (Esma), destacado centro de deten-
ção durante a ditadura, temos o Archivo Nacional de la Memoria, que reúne a
documentação da Conadep e outros acervos que têm sido localizados.76 Já no
Chile não temos acesso à documentação oficial da repressão, de órgãos impor-
tantes como a Direção de inteligência Nacional (Dina) ou Central Nacional de
informações (CNi). Contudo, podemos trabalhar com os fundos disponíveis na
Biblioteca Nacional chilena77 e nos Archivos Nacional Histórico e de la Admi-
nistración.78 outra possibilidade é a documentação produzida e/ou obtida pelas
organizações de direitos humanos, como a Vicaria de Solidariedad, Corporación
de Promoción y Defensa de los Derechos Del Pueblo (Codepu)79 e Fundación
de Ayuda Social de las iglesias Cristianas (Fasic).80 Além disso, o Museo de la
Memoria y los Derechos Humanos, inaugurado por Michelle Bachelet, em ja-
neiro de 2010, possui biblioteca e centro de documentação.81

72
Sobre o tema dos arquivos, ver Catela e Jelin (2002).
73
As referências podem ser encontradas no portal do Centro de Referência das Lutas Políticas
no Brasil (1964-1985): <www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.
htm?tpl=home>.
74
Centro de Documentación y Archivo para la Defensa de los Derechos Humanos: <www.
pj.gov.py/cdya>. Ver também o livro de Boccia, Gonzáles e Palau (1994).
75
Disponível em: <www.comisionporlamemoria.org/>.
76
Há um projeto conjunto intitulado Patrimonio Documental sobre los Derechos Humanos,
integrado por arquivos de várias instituições, como Memória Abierta, Cels, Asamblea Perma-
nente pelos Derechos Humanos, entre outras, que pode ser consultado em: <www.derhuman.
jus.gov.ar/temp/patrimonio/intro.htm>. Em janeiro de 2010, Cristina Kirchner ordenou a en-
trega e a desclassificação dos documentos, salvo sobre a Guerra das Malvinas (1982).
77
Há um projeto bastante interessante chamado Memoria Chilena, que disponibiliza digitalmente
documentos de vários períodos da história do país. Ver: <www.memoriachilena.cl/index.asp>.
78
Disponível em: <www.dibam.cl/archivo_nacional/>.
79
Disponível em: <www.codepu.cl>.
80
Sobre a Fasic, ver Garcés e Nicholls (2005).
81
Disponível em: <www.museodelamemoria.cl/>.

260 história das américas

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os primeiros trabalhos sobre a violência política tinham duas grandes mar-
cas: a denúncia da tortura como prática de Estado e a descrição do funcio-
namento da repressão abriram o caminho para novos estudos sobre o tema.
incentivado pelo acesso às novas fontes e pela consolidação da história do tem-
po presente nesses países, vimos crescer o número de trabalhos sobre o tema.
o exílio, também considerado uma face da repressão, ganhou destaque.82 A
violência política foi repensada não mais em termos totais/nacionais, mas em
questões específicas como etnias, gênero e local,83 e em ações conjuntas, como
o Plano Condor.84 A resposta de setores da sociedade foi estudada especial-
mente por meio da fundação de grupos de direitos humanos.85 No entanto, so-
bretudo os trabalhos sobre construção da memória da repressão ocuparam lu-
gar de destaque86 — mantendo ainda profundo diálogo interdisciplinar, como
a psicanálise, e introduzindo a questão da subjetividade que pode ser vista nos
estudos já citados sobre exílio, trauma87 e situações-limite.88
Um aspecto que tem sido questionado por uma parcela da atual histo-
riografia é a ideia de porões da ditadura, na qual a sociedade não sabia o que
ocorria com os detidos acusados de subversão.89 Essa questão já deveria ter
sido posta em xeque à medida que os informes Nunca mais demonstraram que

82
Entre esses trabalhos, ver Artigas (2006); Franco (2008); Jensen (2007); Quadrat (2011); Rol-
lemberg (1999); Sznajder e Roniger (2009); Yankelevich e Jensen (2007).
83
Ver notas 14, 41, 43 e 48 deste capítulo.
84
Ver Calloni (1992); Dinges (2004; já traduzido para o português); Mariano (2003); McSherry
(2009); Quadrat (2005). tanto para Dinges quanto para McSherry, o Brasil tem papel secundá-
rio e pouco aparece em ambos os trabalhos.
85
Alguns já citados no decorrer do texto.
86
Um exemplo é a coleção Memorias de la represión, publicada pela editora Siglo XXi. A coleção
reúne os resultados do projeto Memoria de la represión en el Cono Sur y Perú, coordenado por
Elizabeth Jelin e Carlos ivan Degregori, dentro do Panel Regional de América Latina do Social
Science Research Council, com financiamento das fundações Ford, Rockefeller e Hewlett. Ao
longo de três anos, jovens pesquisadores do Cone Sul, Peru e Estados Unidos discutiram e pes-
quisaram a construção da memória da violência política. A coleção congrega avanços teóricos e
um amplo leque de temas, como jovens, igreja, datas, monumentos, arquivos, Forças Armadas
etc. Alguns dos livros foram citados no decorrer deste capítulo.
87
Ver Jelin e Kaufman (2006).
88
Ver Catela (2001).
89
Da mesma maneira que os primeiros trabalhos sobre a repressão foram influenciados por
pesquisas relacionadas a Shoa — como os livros de Pollak (1999) e Primo Levi —, a questão tem
recebido influência direta da historiografia sobre as ditaduras europeias. Podemos citar: Gella-
tely (2002); Kershaw (2004); Laborie (2003 e 2001), entre outros. Um balanço dessas questões
pode ser encontrado em Rollemberg e Quadrat (2010) e também em Lvovich (2007).

ditadura, violência política e direitos humanos… 261

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a grande maioria das detenções realizadas pelas forças de repressão ocorreu
em locais públicos e durante o dia. Reforça ainda essa noção o fato de que
muitas vezes os familiares dos atingidos pela repressão eram isolados pelos
vizinhos. A ideia que predominava na sociedade é que “algo eles haviam feito”.
o mesmo vale para o trabalho de identificação dos centros de detenção con-
siderados clandestinos.90 Alguns eram ao lado de escolas, em delegacias, em
bairros residenciais,91 em oficinas92 e casas.93 Num estudo sobre a repressão e
sua relação com a sociedade de Rosário, Argentina, Gabriela Aguila (2008:343)
sustenta que o exercício da violência não é o único fator explicativo para a
convivência com a repressão. Para a autora, “seja pela corda do consenso, seja
pelo medo, o clima social e político dominante se adequou aos objetivos da
ditadura, gerando uma sociedade aparentemente despolitizada e que aceitava,
resignadamente ou de bom grado, a nova ordem das coisas, ao menos durante
os primeiros anos” (Aguila, 2008:343).
Nesse mesmo sentido, uma questão ainda encontra enorme resistência,
submetendo muitas vezes o pesquisador a um julgamento. São os casos dos
estudos das direitas (atualmente em menor escala) e da participação da socie-
dade na construção do Estado ditatorial por meio de sua indiferença, consenti-
mento ou do consenso obtido por esses governos.94 Podemos falar em golpes e
ditaduras civil-militares? Como falou Daniel Aarão Reis Filho (2000:9) sobre

90
A realização de um mapeamento dos centros transitórios e permanentes de detenção é um
dos principais trabalhos do grupo Memória Abierta, Argentina. Disponível em: <www.memo-
riaabierta.org.ar>.
91
Caso do Doi-Codi do Rio de Janeiro, localizado na tijuca, ou da calle Londres, centro de
Santiago, Chile, perto da igreja de São Francisco e em frente a um hotel. trata-se de um dos
locais da Dina. Atualmente, na calçada, é possível ler nomes de pessoas que desapareceram nesse
centro de tortura.
92
Caso da oficina orletti, Buenos Aires, Argentina, por onde passaram prisioneiros e agentes
estrangeiros. Esse local foi de extrema importância para o Plano Condor.
93
É o caso da Mansión Seré, Argentina, retratado no filme Crônica de uma fuga (2006).
94
A definição de consenso vem sendo alterada ao longo dos anos. Para essa trajetória, ver o
artigo “o fascismo italiano: entre consentimento e consenso” de Didier Musiedlak. Estou tra-
balhando com a seguinte definição, de Reis Filho (2010): “o conceito de consenso […] designa
a formação de um acordo de aceitação do regime existente pela sociedade, explícito ou implícito,
compreendendo o apoio ativo, a simpatia acolhedora, a neutralidade benévola, a indiferença
ou, no limite, a sensação de absoluta impotência. São matizes bem diferenciados e, segundo as
circunstâncias, podem evoluir em direções distintas, mas concorrem todos, em dado momento,
para a sustentação de um regime político, ou para o enfraquecimento de uma eventual luta con-
tra o mesmo. A repressão, e a ação da polícia política em particular, podem induzir ao, ou forta-
lecer o, consenso, mas nunca devem ser compreendidas como decisivas para a sua formação”.

262 história das américas

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o caso brasileiro, a sociedade construiu para si a memória da resistência na
qual “a ditadura fora uma noite”. o mesmo raciocínio pode ser levado em
consideração para os demais países. No caso chileno, aparentemente temos a
errônea visão de que o país se encontra dividido em dois.95 No entanto, apesar
de a divisão não ser exata, as manifestações a favor ou contra o golpe no 11 de
setembro ou por ocasião da morte de Pinochet demonstram que a ditadura
deixou fissuras ainda difíceis de serem superadas (Quadrat, 2009a). Na Argen-
tina, Lvovich e Bisquert (2008:24) afirmam que

boa parte da sociedade civil, a julgar pelas declarações da maioria das organizações
políticas e sociais que podiam fazer ouvir sua voz, não só não questionou a imagem
construída pela ditadura para justificar sua ação repressiva, mas, em ocasiões, a
apoiou decididamente.

Com destaque para o futebol (Copa do Mundo de 1978 e Mundial de


Juniores de 1979) e a Guerra das Malvinas (1982). Se tais momentos foram
fundamentais para a denúncia do que se passava no país, serviram também
para manifestações de apoio ao governo: as bandeiras e saudações a Videla
nos estádios de futebol e na Praça de Maio após a conquista da Copa de 1978,
as propagandas ufanistas publicadas nos jornais, a doação de recurso para a
Guerra das Malvinas são alguns exemplos desse apoio. Para os autores, a luta
dos organismos de direitos humanos desde o período ditatorial deu início à
construção de uma memória da resistência hoje predominante na Argentina,
inclusive porque encontra o apoio do Estado, mas que ao longo dos anos pas-
sou por períodos de mudanças, como o momento da divulgação da teoria dos
dois demônios96 (Lvovich e Bisquert, 2008:24).
Catela (2000) chama atenção para como os familiares, madres, hermanos,
esposas, amigos e hijos, diferentes gerações, em diferentes momentos, reivin-
dicaram/construíram a imagem de seus filhos/esposos, amigos/pais ao longo
do tempo.97 Ao trabalhar em momentos distintos com as entrevistas para sua
tese de doutorado (Catela, 2001), a autora observou o que podia ou não ser dito

95
Ver Huneeus (2003).
96
Ainda que não apresente consenso, para uma análise da teoria dos dois demônios ver Vezzetti
(2002).
97
Não podemos esquecer que muitos dos organismos de direitos humanos foram formados por
laços familiares.

ditadura, violência política e direitos humanos… 263

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em nome muitas vezes da preservação do lugar de vítima, nem que para isso
fosse necessário silenciar sobre a militância (Catela, 2000). E como os hijos,
que também compartilham a imagem de um passado idealizado, recuperaram
justamente essa militância silenciada graças ao contato com pessoas da mes-
ma geração de seus pais. Afinal, durante muito tempo na Argentina, e dentro
dessa perspectiva de uma memória que se transforma, os sobreviventes e/ou
exilados foram malvistos em detrimento dos mortos e desaparecidos, esses os
grandes heróis. Somente à medida que esse passado de militância é reconhe-
cido e que os sobreviventes se transformam em testemunhas fundamentais do
período se quebra o estigma de que “algo eles teriam feito” para ter sobrevivido.
Não poderíamos deixar de encerrar essa seção sem indicar outros temas
que seguem intocáveis quase como tabus por diferentes razões. Já citamos a
participação feminina na repressão, mas podemos ainda identificar a violência
sexual contra os homens durante o período de detenção e o uso da violência
pelas esquerdas.98

Ditaduras, violência política e direitos humanos: considerações finais

o trio ditadura, violência política e direitos humanos deixou marcas profundas


em nossa história e continua a ser discutido dentro e fora da academia, de-
monstrando que ainda há muito a refletir sobre ele. Pouco a pouco a aborda-
gem foi se transformando, acompanhando não apenas a própria evolução da
historiografia, mas também a formação de novos historiadores, que se voltam
de forma mais aberta ao período. Além disso, a própria sociedade se dirigiu
para a ampliação do debate sobre direitos humanos, rompendo a visão estrita-
mente política de seu início na região (Quadrat, 2008). isso quer dizer que a
tortura e a arbitrariedade das forças de segurança acabaram com as ditaduras?
Não! Esse ainda é um aspecto importante na construção permanente da de-
mocracia na região.

98
É o caso da polêmica gerada a partir de uma reportagem publicada na revista La Intempérie,
entre outubro e novembro de 2004, em que Hectór Jouvé, ex-militante, falava abertamente
sobre o justiçamento de dois jovens pela esquerda. Em dezembro de 2004, uma carta de oscar
de Barco, intelectual respeitado, fazia uma dura crítica à luta armada. A polêmica gerada pela
carta foi analisada por Araujo (2010b). Disponível em: <www.encontro2010.historiaoral.org.br/
resources/anais/2/1270665827_arquivo_textocompletolutaarmada.pdf>.

264 história das américas

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os Estados seguem ainda, em menor ou maior escala, variando de mo-
mento a momento, sendo pressionados por respostas sobre o período ditato-
rial. Perguntas que continuam no ar e ganham maior força em momentos de
enfrentamentos. Na Argentina, as leis do Ponto Final (1986) e de obediên-
cia Devida (1987) foram consideradas inconstitucionais durante o governo de
Néstor Kirchner, em 2003.99 Com isso, desde então, os tribunais encontram-
-se repletos de processos, inclusive sobre os crimes cometidos pré-golpe pela
triple-A, outro caso que enfrenta resistência entre os interessados no tema.100
Contudo, o desaparecimento, em 2006, de Julio López, testemunha importan-
te no processo contra Miguel Etchecolatz, deixou a dúvida sobre até onde as
forças de repressão, de extrema direita, haviam sido neutralizadas. No Chile,
Augusto Pinochet faleceu em 2006 sem ser responsabilizado por seus atos,
mas vários juristas buscaram brechas legais para punir os acusados de violações
de direitos humanos,101 driblando assim a anistia de 1978, que ainda é válida,
levando para a prisão nomes importantes da repressão, como Manuel Contre-
ras, ex-chefe da Dina, condenado à prisão perpétua.102
Em nosso país, apesar da condenação moral e política de Carlos Brilhante
Ustra, em 2008, o Supremo tribunal Federal, dois anos depois, negou uma
nova interpretação da anistia de 1979, na qual não se incluíam os agentes do
Estado responsáveis pelos crimes de violações dos direitos humanos. isso deixa
claro que nesse aspecto ainda estamos muito atrás dos países do Cone Sul.
Quando eu terminava este texto, o Brasil e outros países da América Lati-
na (Argentina, Bolívia, Chile, Cuba, Equador, Honduras, México, Paraguai e
Uruguai) ratificaram a Convenção internacional para a Proteção de todas as
Pessoas contra Desaparecimentos Forçados da oNU. A convenção precisava
de 20 ratificações para entrar em vigor. Coube ao iraque ser o 20o país. No en-
tanto, nem todos os países das Américas ratificaram o documento, e o Brasil,
mesmo o tendo feito, não reconheceu a competência do Comitê da oNU para
receber diretamente as denúncias quando o Estado brasileiro não cumprisse

99
Um excelente estudo sobre a trajetória argentina é o artigo de Jelin (2008).
100
As violações dos direitos humanos ocorridas no pré-golpe levaram à justiça Maria Estela Pe-
rón, mas em 2008 as ações não foram consideradas de lesa-humanidade pela justiça da Espanha,
onde ela vive, e por isso foram consideradas prescritas e a extradição recusada.
101
Juan Guzman tapia (2005) é integrante da Corte de Apelações chilena que, a partir de 1998,
começa a instruir vários processos contra Pinochet.
102
Sobre os processos nacionais e internacionais, ver Quadrat (2009b).

ditadura, violência política e direitos humanos… 265

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suas obrigações. todas essas questões deixam clara a trajetória inconclusa dos
direitos humanos na América Latina.

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