Sims Sintomas Da Mente - Femi Oyebode
Sims Sintomas Da Mente - Femi Oyebode
Sims Sintomas Da Mente - Femi Oyebode
5ª EDIÇÃO
2a tiragem
Capa
Folha de rosto
Dedicatória
Copyright
Prefácio à 5ª ediçāo
O que é Psicopatologia?
Fenomenologia e Psicopatologia
Conceitos
Diagnóstico e Rótulos
O Histórico Psiquiátrico
Indagação Sistemática
Alterações da consciência
Orientação
Transtornos do Sono
Sonhos
Hipnose
Mecanismos da Memória
Sensação e Percepção
Percepção anormal
Alucinação
Pseudoalucinações
As Origens do Delírio
Tipos de pensamento
Perturbação do Juízo
Perturbações da Fala
Eu e Self*
Consciência do Corpo
Perturbações do Eu
Definições e Descrições
Classificação
Conversão e Dissociação
Dor e Sofrimento
Seção 5: Emoções e Ação
Teorias da Emoção
Emoções Básicas
Comunicação do Humor
Anormalidades de Avaliação
Depressão do Humor
Mania
Ansiedade
Irritabilidade
Obsessões e Compulsões
Seção 7: Diagnóstico
Pós-escrito
Autoavaliação 1
Autoavaliação 2
Autoavaliação 1: Respostas
Autoavaliação 2: Respostas
Índice
Dedicatória
Femi Oyebode
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ISBN: 978-85-352-8716-5
ISBN versão eletrônica: 978-85-352-8991-6
This adapted translation of Sims’ Symptons in the Mind 5th Edition, by Femi
Oyebode, was undertaken by Elsevier Editora Ltda and is published by
arrangement with Elsevier Ltd.
Esta tradução adaptada de Sims’ Symptons in the Mind 5th Edition, de Femi
Oyebode, foi produzida por Elsevier Editora Ltda e publicada em conjunto com
Elsevier Ltd.
ISBN: 978-0-7020-5556-0
Capa
Studio Creamcrackers
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sua experiência e no próprio conhecimento para avaliar e empregar quaisquer
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diagnósticos e a posologia de medicamentos precisam ser verificados de
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O Editor
Revisão Científica
Conceitos Fundamentais da
Psicopatologia Descritiva
Como a mente deve ser concebida para fins de psicopatologia, quais são
suas faculdades, funções ou elementos (se houver), como eles podem
ser distinguidos e como os transtornos mentais podem ser
compreendidos, com aplicação de tais conceitos, são questões
filosóficas.
Manfred Spitzer (1990)
Resumo
Psicopatologia descritiva pode ser definida como a descrição, categorização e
definição de experiências anormais narradas pelo paciente e observadas em seu
comportamento. Baseia-se no método da fenomenologia, focando em fenômenos
vividos a fim de estabelecer seu caráter universal. O objetivo é ouvir
atentamente, observar cuidadosamente e compreender o evento ou fenômeno
psicológico por meio da empatia, de maneira que o médico possa, com a maior
exatidão possível, saber por si próprio como deve ser a sensação vivida por seu
paciente.
A psiquiatria é o ramo da medicina que lida com experiências psicológicas
mórbidas. Por definição, na prática da psiquiatria, fenômenos psicológicos são
os sintomas e os sinais clínicos observáveis, que funcionam como causa e
também como agentes terapêuticos. O escopo da psiquiatria inclui: transtornos
emocionais menores, que podem ser reações a estresse psicossocial ou
ambiental; mudanças psicológicas mais profundas não exclusivamente
associadas a estresse; transtornos de personalidade com influência disseminada
no comportamento, de tal monta que a pessoa sofre ou faz outros sofrerem;
alterações psicológicas consequentes à lesão cerebral; e transtornos associados
ao uso de substâncias como álcool, maconha, cocaína ou heroína. A fim de
descrever, delinear e diferenciar estas condições, os fenômenos psicológicos
mórbidos que constituem a experiência subjetiva dos pacientes precisam ser
cuidadosamente examinados, avaliados e registrados. É este o território da
psicopatologia descritiva. Em outras palavras, o objeto da psicopatologia
descritiva é a seleção, delimitação, diferenciação e descrição de determinados
fenômenos da experiência, que são definidos por meio de uma terminologia
comum para serem mais bem identificados.
Certamente, para a prática racional da psiquiatria, é necessário conhecer a
neurociência básica; também é necessário conhecimento factual adequado de
psicologia, sociologia e antropologia social. Além disso, há a necessidade de
amplo conhecimento prático de medicina geral, principalmente neurologia e
endocrinologia. Esta pode ser considerada a base mínima de conhecimento para
a prática da psiquiatria. Entretanto, é a psicopatologia descritiva que fornece o
alicerce da prática psiquiátrica clínica com qualidade.
Portanto, a psicopatologia descritiva é a ferramenta fundamental e exclusiva
do psiquiatra para o diagnóstico psicopatológico. Isso porque, além de escutar e
conduzir uma entrevista com um paciente, sua aplicação envolve o uso da
empatia e da compreensão (voltaremos a estes temas mais tarde). Assim, os
fenômenos subjetivos que são revelados durante a avaliação clínica, somados
aos comportamentos observáveis, determinam, em última análise, o julgamento
clínico que influencia as decisões sobre o tratamento e manejo.
O que é Psicopatologia?
Psicopatologia é o estudo sistemático das experiências anormais da consciência
e do comportamento. Ela inclui as psicopatologias explicativas, nas quais
buscam-se explicações para as experiências descritas, de acordo com conceitos
teóricos (por exemplo, a partir de uma base cognitiva, comportamental,
psicodinâmica ou existencial e assim por diante), e a psicopatologia descritiva,
que consiste na descrição, categorização e definição precisas de experiências
anormais relatadas pelo paciente e/ou observadas em seu comportamento
(Figura 1.1).
FIGURA 1.1 As psicopatologias.
Tabela 1.1
Psicopatologia: descritiva x psicanalítica
Descritiva Psicanalítica
Resumo Avaliação empática da experiência subjetiva do Estudo das raízes do comportamento atual e
paciente experiência consciente por meio de conflitos
inconscientes
Terminologia Descrição de fenômenos Processos teóricos demonstrados
Método Entendimento do estado subjetivo do paciente por Associação livre, sonhos, transferência
meio de entrevista empática
Aplicação Faz distinção entre compreensão e explicação: Compreensão em termos de processos teóricos
Prática compreensão pela observação e empatia
A forma e o conteúdo são claramente separados: a Não é feita distinção; envolvida com o conteúdo
forma tem importância para o diagnóstico
Processo e desenvolvimento diferenciados: o Não é feita distinção; os sintomas são vistos como
processo interfere com a base de tendo uma base psicológica inconsciente
desenvolvimento
Fenomenologia e Psicopatologia
Como já foi descrito, a psicopatologia estuda a experiência, cognição e
comportamentos anormais. A psicopatologia descritiva evita explicações
teóricas dos eventos psicológicos. Ela descreve e categoriza a experiência
anormal relatada pelo paciente e observada em seu comportamento. Em seu
contexto histórico, Berrios (1984) a descreve como um sistema cognitivo
composto de termos, suposições e normas de aplicação – “a identificação de
classes de atos mentais anormais”.
A fenomenologia é um termo frequentemente associado à psicopatologia
descritiva. Tem longa tradição na filosofia e é associado a Edmund Husserl
(1859–1938). Em geral, ele é utilizado para indicar a averiguação dos processos
conscientes e intelectuais de uma pessoa, evitando ideias pré-concebidas sobre
causas externas e preconceitos. O método da fenomenologia visa focar em
fenômenos vivenciados a fim de estabelecer seu caráter universal.
Da forma como é utilizada na psiquiatria, a fenomenologia envolve a
elicitação e descrição de eventos psicológicos anormais por meio das
experiências internas do paciente e seu consequente comportamento. O
observador busca escutar atentamente, observar com precisão e compreender o
evento ou fenômeno psicológico, para que possa, tanto quanto possível, saber
por si próprio como o paciente se sente em sua experiência.
Mas como podemos usar a palavra observador em relação à experiência
interna de outra pessoa? É exatamente aqui que o processo de empatia se torna
relevante. A psicopatologia descritiva, portanto, inclui aspectos subjetivos
(fenomenologia) e objetivos (descrição do comportamento). Preocupa-se com a
rica variedade da experiência humana, mas deliberadamente limita seu âmbito
àquilo que é clinicamente relevante.
Como isto funciona na prática? A Sra. Jenkins reclama que é infeliz. É tarefa
da psicopatologia descritiva tanto elicitar seus pensamentos e ações sem tentar
explicá-los, quanto observar e descrever seu comportamento – seus ombros
caídos, o punho tenso e o contorcer das mãos. A fenomenologia exige uma
descrição muito precisa de como ela se sente internamente – “aquela sensação
horrível de não existir realmente” e de “não ser capaz de sentir nenhuma
emoção”.
Alguns psiquiatras consideram o método da fenomenologia com desvalia,
vendo-o como arcaico, exageradamente minucioso ou como uma forma pedante
de caça à lebre, mas trata-se de uma atitude que tais psiquiatras adotam com
prejuízo do seu trabalho e em prejuízo do paciente. O estudo de fenômenos
aguça ferramentas diagnósticas, aumenta a perspicácia clínica e melhora a
comunicação com o paciente. O paciente e suas queixas merecem nossa maior
atenção. Se “o estudo da humanidade é o homem”, o estudo de sua doença
mental começa com a descrição de como ele pensa e se sente internamente
(Pope, 1688–1744).
Negligenciar a fenomenologia por desconhecimento pode ter sérias
repercussões para o cuidado do paciente. Em um estudo clássico, oito
pesquisadores com boa saúde mental foram enviados separadamente para 12
unidades de internação em hospitais psiquiátricos americanos queixando-se de
ouvir estas palavras ditas em voz alta: “vazio”, “oco”, “surdo”
(Rosenham, 1973). Em todos os casos, com exceção de um, o diagnóstico foi de
esquizofrenia. Mesmo após a internação, quando eles não produziram sintomas
psiquiátricos posteriores, agindo de forma normal, respondendo perguntas com
sinceridade, exceto pelo fato de ocultarem seu nome e ocupação. A ética e o bom
senso do experimento certamente podem ser questionados, mas o que fica claro
não é que os psiquiatras devem deixar de fazer um diagnóstico, mas que devem
fazê-lo em uma base psicopatológica sólida. Nem Rosenham, seus colegas e nem
os psiquiatras deram qualquer informação sobre que sintomas poderiam ser
considerados para um diagnóstico de esquizofrenia; isto demanda um método
baseado na psicopatologia (Wing, 1978). Com o uso adequado da psicopatologia
fenomenológica, esta falha de diagnóstico não teria ocorrido.
Jaspers (1959) escreveu: “A fenomenologia, apesar de ser uma das pedras
fundamentais da psicopatologia, é ainda muito bruta.” De fato, um dos grandes
problemas da utilização deste método é a natureza confusa da terminologia.
Ideias quase idênticas podem receber diferentes classificações de pessoas com
diferentes bases teóricas – por exemplo, a infinidade de descrições acerca de
como uma pessoa pode se autoconceituar: autoimagem, esquema corporal etc.
Há também uma confusão considerável a respeito do significado do termo
fenomenologia. Berrios (1992) descreveu quatro significados em psiquiatria:
“P1 refere-se ao seu uso clínico mais comum, como um mero sinônimo
para ‘sinais e sintomas’ (como em ‘psicopatologia fenomenológica’); este
é um uso que se degenerou e, portanto, não é conceitualmente
interessante. P2 refere-se a um sentido pseudotécnico frequentemente
utilizado em dicionários e que alcança uma falsa unidade de significado
ao simplesmente catalogar usos sucessivos em ordem cronológica; esta
abordagem é equivocada, já que sugere linhas evolutivas falsas e leva a
questões importantes relacionadas com a história da fenomenologia. P3
refere-se ao uso idiossincrático iniciado por Karl Jaspers, que dedicou
seus primeiros escritos clínicos à descrição de estados mentais de forma
(segundo ele) empática e teoricamente neutra. Finalmente, P4 refere-se
a um sistema filosófico completo iniciado por Edmund Husserl e seguido
por autores do chamado ‘Movimento Fenomenológico’.”
(p. 304)
Dentre estes significados, este capítulo, e, na verdade, todo este livro, estará
voltado inteiramente para o significado Jaspersiano de fenomenologia, o P3 de
Berrios. Em seus escritos, Jaspers define a fenomenologia cerca de 30 a 40
vezes, de maneiras sutilmente distintas, mas sempre a relacionando com o estudo
da experiência subjetiva. Walker (1988, 1993a, b, 1994) demonstrou, de um
modo muito elegante, que, apesar de Jaspers considerar que foi influenciado por
Husserl e seu sistema de fenomenologia, isto não ocorreu efetivamente, pois sua
psicopatologia se baseia mais em conceitos kantianos, como forma e conteúdo.
Walker (1995a considera que Jaspers interpretou a fenomenologia de Husserl de
modo radicalmente equivocado. Esta visão tem sido refutada por outros
(Wiggins et al., 1992). A implicação para o que segue neste capítulo, e no resto
do livro, é que o conceito de fenomenologia usado aqui vem diretamente de
Jaspers e foi provavelmente influenciado por Kant e Husserl.
A fenomenologia, o método empático de apreensão de fenômenos, não pode
ser apreendida totalmente em um livro. Os pacientes são os melhores
professores, mas é preciso saber o que se está procurando - os aspectos práticos e
clínicos pelos quais o paciente descreve a si mesmo, seus sentimentos e seu
mundo. O psiquiatra busca desvendar a natureza da experiência do paciente,
entendê-la suficientemente bem e senti-la tão intensamente a ponto de o relato de
seus achados ser reconhecido pelo paciente. O método da fenomenologia em
psiquiatria é inteiramente voltado para seu objeto único de tornar a experiência
do paciente compreensível (esta é uma palavra técnica em fenomenologia e será
descrita mais detalhadamente; no entanto, aqui queremos dizer “a capacidade de
compreender o que se passa com o paciente”), de modo a permitir sua
classificação e tratamento.
A maior dificuldade da fenomenologia não está na assimilação de fatos
obscuros ou acúmulo de epônimos de fora, embora tais aspectos sejam difíceis.
A maior dificuldade está na compreensão de um método de investigação e na
capacidade de empregar conceitos novos. Na tentativa de evitar o obscuro e o
óbvio, no restante deste capítulo alguns desses conceitos são discutidos.
Conceitos
Doença e enfermidade
A psicopatologia se ocupa da doença da mente. Mas o que é doença? E qual é a
diferença entre doença e enfermidade? Trata-se de um tema vasto, que tem sido
discutido por filósofos, teólogos, administradores e advogados, além dos
médicos. Os profissionais que passam a maior parte do tempo de seu trabalho em
meio à saúde e à doença raramente fazem esta pergunta, e com menor frequência
ainda tentam respondê-la. Falar de doença, por definição, levanta questões sobre
a natureza da saúde. Uma questão ainda mais urgente é a possibilidade da mente
estar doente da mesma maneira que o fígado ou os rins adoecem. Estas questões
estão fora do escopo deste livro, mas é importante estar atento à variedade de
abordagens com que diferentes autoridades tratam o assunto. Colocarei alguns
argumentos básicos a seguir.
O modelo mais convincente de doença é aquele que baseia a condição médica,
como a tuberculose pulmonar, na anatomia mórbida demonstrada no exame dos
pulmões e que independe de um observador em particular, que é supostamente
sem valor. Melhor ainda se houver compreensão da fisiopatologia detalhada:
como o agente causador da tuberculose, por exemplo, resulta na anatomia
mórbida típica e reconhecida dos pulmões. Obviamente, na maioria das doenças
psiquiátricas, não há descrição de anatomia mórbida típica ou fisiopatologia.
Com base na ausência de lesões físicas demonstráveis, Szasz (1960) propôs
que não existem doenças psiquiátricas e mentais e que somente o desvio
comportamental e julgamentos morais ou sociais seriam objeto da psiquiatria.
Ele também argumentou que “mental” é um conceito abstrato e não objetivo ou
físico e, portanto, não poderia ser uma doença. De acordo com ele, doenças do
cérebro são reais, mas doenças mentais são uma impossibilidade lógica e,
portanto, Szasz usa o termo “mito” para caracterizar as doenças mentais.
Outros escritores, entre os quais Scadding (1967), Kendell (1975), Boorse
(1976) e Sedgwick (1973) apresentaram argumentos que se opõem a Szasz.
Scadding e Kendell utilizam a combinação de desvios estatísticos e desvantagem
biológica, como fertilidade reduzida, para o que é doença. Boorse acrescenta que
uma doença é qualquer condição que interfere em determinada função do
organismo (e sob este ponto de vista o funcionamento mental conta) que é
necessária para sua sobrevivência e reprodução. Além disso, uma doença se
torna enfermidade quando considerada indesejável, um motivo para tratamento
especial e uma desculpa válida para determinados comportamentos. Por fim,
Sedgwick afirma que todas as doenças começam como enfermidades porque os
sintomas são negativamente avaliados e, consequentemente, se tornam foco de
interesse social e moral fazendo com que, mais tarde, tais sintomas adquiram
status de doença. Nesse sentido, tanto as chamadas enfermidades físicas e
enfermidades mentais começam como estados negativamente avaliados que
afligem seres humanos, não havendo uma clara distinção entre eles. Veja Fulford
e outros (2006) para elaboração adicional sobre estes assuntos.
Fica claro que não há uma visão amplamente aceita sobre o status das
condições que se enquadram no interesse de psiquiatras. Uma máxima simples é
considerar doença o que os médicos tratam e enfermidade o que as pessoas
sofrem.* Não obstante, esta distinção entre normalidade e doença, saúde e
enfermidade, nada tem de trivial:
Compreensão e incompreensibilidade
Parece óbvio que compreender a história do paciente, captar a lógica interior da
narrativa e representar para si mesmo as experiências subjetivas do paciente é
fundamental para a prática clínica. Compreender, tanto no sentido cotidiano
quanto no fenomenológico, não se concretiza até que o médico tenha
conhecimento detalhado do histórico cultural do paciente e informações
específicas sobre sua família e ambiente imediato. A fenomenologia também não
pode se concentrar apenas no indivíduo isolado em determinado tempo e sim na
pessoa em um contexto social; afinal, a experiência de uma pessoa é fortemente
determinada por suas interações com os outros. Ela também deve levar em conta
o estado mental e o ambiente do indivíduo antes do evento de interesse imediato
e o que ocorre posteriormente.
Além disso, o método fenomenológico facilita a comunicação: seu uso facilita
a compreensão do paciente pelo médico, o que fomenta a confiança daquele ao
perceber que seus sintomas são entendidos e, portanto, aceitos como “reais”. A
exata descrição e avaliação de sintomas também ajuda na comunicação entre
médicos.
Wilhelm Dilthey (1833–1911) argumentou que as ciências naturais tratam a
natureza como objetos e forças que podem ser explicados através de leis causais.
Em outras palavras, o objetivo das ciências naturais é a formulação de leis gerais
e universais, ao passo que áreas das ciências humanas, como história e
psicologia, têm o homem como objeto de estudo, sem a aplicação de leis causais.
Para Dilthey, a ciência exata “explica” fenômenos naturais através da explicação
causal. Já as ciências humanas “compreendem” o fenômeno psíquico humano
através da interpretação das estruturas de significado reveladas em textos ou
diálogos com outra pessoa. Esta diferença entre explicação e compreensão
continua a influenciar nosso pensamento até hoje (Phillips, 2004). Nas ciências
exatas, nós conhecemos o objeto pelo lado de fora, mas nas ciências humanas
nós só podemos conhecer o objeto pelo lado de dentro. Somos capazes de
representar para nós mesmos, para não dizer “conhecer”, a vida interior de outra
pessoa porque nós também temos uma. Somos capazes de compreender o
pensamento do outro através de uma rede de significados associados a seus
comportamentos. Partimos da premissa de que o comportamento tem
significado; ou seja, decorre de eventos psicológicos com consistência interna.
Wittgenstein (1953) afirmou que “explicamos o comportamento humano
apresentando razões e não causas”.
Jaspers se baseou na formulação de Dilthey ao contrastar compreensão
(verstehen) e explicação (erklären) e mostrou que os termos podem ser usados
tanto no sentido “estático” quanto no sentido “genético”. Estático significa
compreender ou explicar a situação atual a partir das informações disponíveis no
momento; ao passo que genético [um termo infeliz dado seu uso contemporâneo]
leva em conta como a situação chegou a seu estado atual pelo exame dos
antecedentes, do processo de desenvolvimento e da situação resultante. Isto é
mostrado na Tabela 1.2.
Tabela 1.2
Diagrama de compreensão e explicação
Compreensão Explicação
Estático Descrição Fenomenológica Observação através do sentido externo de percepção
Genético Empatia estabelecida a partir do que resulta Causa e efeito do método científico
Empatia
O método clássico para obter informações sobre o paciente ocorre com a tomada
de seu histórico e exame físico. O uso da fenomenologia em psiquiatria é uma
extensão do histórico, ampliando a descrição da queixa corrente e fornecendo
informações mais detalhadas. Não deixa de ser um exame, já que revela o estado
mental. Para o médico, não é possível observar a alucinação do paciente, nem
medi-la de forma direta. No entanto, o que eu posso fazer para compreendê-lo é
utilizar as características humanas que tenho em comum com ele: o fato de
habitarmos o mesmo mundo de significados, de nos comunicarmos por meio de
linguagem e de, como ele, possuir uma vida interior mais rica. É ainda
importante ter curiosidade intelectual e genuíno interesse na vida interior de
outra pessoa. As indagações que surgem desta postura devem buscar recriar ou
representar para si as experiências subjetivas de outra pessoa a fim de
compreendê-las e lhes dar sentido. Portanto, o objetivo é usar o diálogo para
explorar e avaliar a experiência subjetiva do paciente, buscando criar em minha
própria mente como deve ser sua experiência. A partir de então, verifico a
exatidão da reconstrução de sua experiência, pedindo que o paciente confirme ou
negue a descrição. Também é importante observar seu comportamento – a
expressão triste de seu rosto ou o ato de bater com o punho na mesa – para
reconstruir suas experiências.
Escutar e observar são essenciais para a compreensão. No entanto, todo o
cuidado deve ser tomado com as perguntas. Muitas vezes, médicos erram em seu
diagnóstico por fazerem perguntas com as quais o paciente, submetendo-se ao
status do médico e ansiedade em cooperar, está totalmente disposto a concordar.
O método de empatia significa usar a habilidade de sentir-se na situação de
outra pessoa, movendo através de séries organizadas de perguntas, reformulando
e reiterando quando necessário, até que se tenha certeza do que está sendo
descrito pelo paciente. A sequência poderia ser a seguinte:
Pergunta – “Você diz que seus pensamentos estão mudando; o que acontece
com eles?”
Resposta – O paciente descreve seus pensamentos recorrentes sobre matar
pessoas e a afirmação de que isto se origina de uma dor em seu estômago.
Pergunta – (Tentando isolar os elementos de sua experiência) “Como é este
seu pensamento de matar pessoas?” (obsessão, delírio, fantasia, chance de se
transformar em ação etc.) “Você acredita que seu estômago afeta seu
pensamento?” É diferente de uma pessoa que sabe que fica irritada quando está
com fome? De que maneira é diferente? O que causa sua dor no estômago?
Resposta – O paciente descreve os detalhes, que incluirão, entre itens
irrelevantes, o tipo de informação essencial para a determinação dos sintomas
demonstrados.
Pergunta – (O convite à empatia) “Estou certo ao pensar que você está
descrevendo uma experiência na qual raios estão causando dor em seu estômago,
e que este, de alguma maneira bastante independente de você, causa este
pensamento que o assusta, de que você deve matar alguém com uma faca?” Este
é um relato dos sintomas relevantes que ele descreveu na linguagem que pode
reconhecer como sua.
Resposta – “Sim” (alcançamos nosso objetivo); “Não” (devo tentar elicitar
novamente os sintomas, experimentá-los por mim mesmo e descrevê-los
novamente ao paciente).
Para exemplificar o que isto significa na prática: como eu, um médico, decido
se determinado paciente está deprimido ou não? Isto não se dá como se uma
máquina pudesse registrar unidades de tom de voz ou expressão facial, chegando
a um diagnóstico de depressão. Para a avaliação clínica, o seguinte processo é
adotado:
▪ Eu sou capaz de me sentir infeliz, triste, deprimido e saber como é este
sentimento dentro de mim.
▪ Se eu estivesse me sentindo como vejo o paciente se sentindo, falando, agindo
etc, também me sentiria mal, deprimido, infeliz.
▪ Portanto, eu avalio o humor do paciente como sendo de depressão. É claro
que este processo mental de diagnóstico não é geralmente verbalizado.
Em outro exemplo, um paciente diz: “Os marcianos estão me fazendo dizer
palavrões, não sou eu que estou dizendo isto.” O questionamento empático
revela a falsa crença do paciente de que quando palavrões saem de sua boca a
causa está fora de si mesmo (marcianos), ao invés de dentro de si. O
questionamento incluiria: “Você realmente ouve os marcianos? Como você sabe
que são verdadeiramente marcianos?”
Outro exemplo não psicótico seria o de uma garota de 20 anos de idade que
desmaia quando recebe críticas no trabalho. Mesmo sendo um homem de 55
anos com outro tipo de formação, o médico precisa se colocar na posição da
paciente, conhecendo não apenas sua história social, mas também a maneira
como ela, no presente, percebe a história. Somente depois disso o
desenvolvimento de seus sintomas pode se tornar compreensível. Quando
tomamos conhecimento, por exemplo, de seu pai alcoólatra, das discussões deste
com a mãe epiléptica, da experiência cultural restrita da família em uma aldeia
isolada de pescadores; quando sabemos que a mãe tinha um ataque quando as
discussões com o marido se tornavam intoleráveis, podemos começar a
compreender algo sobre o desenvolvimento do sintoma da própria paciente. Isto
não é alcançado somente por explicação, como um observador externo, mas pela
compreensão empática e pela capacidade de experiência subjetiva por parte do
médico que, subitamente, “se torna” uma garota de 20 anos de idade para
conduzir o processo de entrevista psiquiátrica.
Portanto, o objetivo do método fenomenológico é (a) descrever experiências
interiores, (b) ordená-las e classificá-las e (c) criar terminologia confiável. A
empatia também é de grande valor terapêutico no estabelecimento da relação
com o paciente, já que saber que o médico compreende e que é capaz de
compartilhar seus sentimentos dá ao paciente confiança e sensação de alívio. A
empatia também é útil como forma de compartilhar o conhecimento geral no
campo da psiquiatria, já que permite o desenvolvimento de uma terminologia
diagnóstica.
Forma e conteúdo
Forma e conteúdo são distintos na fenomenologia. Para Jaspers:
“A forma deve ser mantida separada do conteúdo, que pode mudar de
tempos em tempos; por exemplo, uma alucinação pode ter conteúdos
diferentes, pode envolver um homem, uma árvore, figuras ameaçadoras
ou paisagens tranquilas. Percepções, ideias, julgamentos, sentimentos,
motivações, autoconsciência, são formas de fenômenos psíquicos;
denotam o modo particular de existência no qual o conteúdo nos é
apresentado.”
(Jaspers, 1959)
Assim, olho para a mesa à minha frente como uma percepção visual ou posso
virar minha cabeça e ainda vivenciá-la como uma imagem visual. Enquanto
“vejo a mesa”, em qualquer destas formas, o fato de eu poder imaginar ouvir um
som se eu batesse na mesa com uma colher e machucar meus dedos se desse um
soco nela, confirma sua qualidade de objetividade. Se eu usar minha imaginação
para criar em minha mente uma imagem visual de uma cadeira que nunca
realmente vi, mas que é um composto de objetos e quadros que vi, sei que nunca
serei capaz de sentir ou ouvir esta cadeira de fato, esta é uma imagem subjetiva
sem realidade externa objetiva.
Referências
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Wing JK. Clinical concepts of schizophrenia. In: Wing JK, ed. Schizophrenia: Towards a New Synthesis.
London: Academic Press; 1978.
Wittgenstein L. Philosophical Investigation (tradução Anscombe GEM). Oxford: Blackwell; 1953.
*
Nota da Revisão Técnica: Esta distinção não é tão clara na língua portuguesa, e mesmo em inglês os
termos disease (doença) e illness (enfermidade) são utilizados muitas vezes sem o rigor semântico sugerido
aqui pelo autor. De qualquer forma, tentamos aqui ser fiéis à melhor tradução dos termos em cada contexto
utilizado.
CAPÍTULO 2
Resumo
A avaliação clínica de pacientes, que abrange o histórico médico, exame do
estado mental, exame físico e a síntese dos achados em um diagnóstico que leva
em conta o ambiente biológico, psicológico e social do paciente, é a base da
prática psiquiátrica. Sem ela, nenhuma orientação clínica ou tratamento
adequado seria possível. No cerne desta questão está a importância de colocar o
paciente no centro da atenção clínica, reconhecendo o valor do respeito à sua
dignidade, sua narrativa valiosa, rica e privilegiada. É criticável o predomínio da
abordagem clínica de avaliação na qual se preenche campos com um “X”. Esse
tipo de abordagem ignora o fato de que, embora as avaliações tenham uma
estrutura e incluam indagações sistemáticas, deveriam ser conduzidas no modo
de uma conversa e de maneira mais humana.
Elicitar os sintomas e sinais de transtornos emocionais significa escutar
ativamente a narrativa das queixas de uma pessoa e seu estado interno, e
observar todo o repertório de seu comportamento para então reduzi-los a
algumas afirmações. Esta é uma tarefa difícil e exige capacidade de escutar e se
comunicar, sensibilidade para perceber as necessidades e sentimentos da pessoa
que está aflita, bem como conhecimento das possíveis condições que dão origem
a tais queixas. É fundamental que haja verdadeiro interesse na condição humana
e suas múltiplas expressões, assim como curiosidade sobre experiências
intrapsíquicas. Isto não pode ser aprendido apenas em livros, e é de inestimável
valor adotar uma estrutura de anamnese que sugira áreas prováveis de
exploração. Existem muitos esquemas que datam de textos mais antigos com
apenas algumas modificações. Um resumo do esquema no qual este capítulo se
baseia pode ser visto no Quadro 2.1. Um guia prático para obter o histórico e
avaliação do estado mental, diagnóstico, formulação e administração pode ser
encontrado nos livros Handbook for Trainee Psychiatrists (Rix, 1987) e The
Psychiatric Interview (Carlat, 2005). Uma abordagem útil para obter
informações disponíveis do paciente para fins de diagnóstico e plano de
tratamento está em Making Sense of Psychiatric Cases (Greenberg et al., 1986),
e existem textos mais aprofundados sobre entrevistas psiquiátricas como The
Psychiatric Interview in Clinical Practice (MacKinnon et al., 2006) e The First
Interview (Morrison, 2008). Outras áreas a serem consideradas e a modificação
do histórico e avaliação em situações particulares podem ser encontradas em
Sims e Curran (2001).
Diagnóstico e Rótulos
Por que fazer um diagnóstico? A classificação médica de doenças permite que
um grupo de sintomas seja colocado sob um único termo que engloba a essência
de determinada condição. O termo diagnóstico coleta informações de maneira
eficiente, mas apresenta desvantagens, como a falta de confiabilidades de termos
diagnósticos, o risco de rótulos indevidos e o estigma associado a um
diagnóstico psiquiátrico. O trabalho de um profissional deve ter presente que sua
primeira missão é coletar informações cuidadosamente para que se possa saber
exatamente se o problema se encaixa em sua competência profissional e, a partir
de então, pensar qual ação é adequada – é isto que constitui um diagnóstico. É
verdade que para muitas doenças médicas comuns como diabetes, o termo
diagnóstico se refere a uma fisiopatologia subjacente e demonstrável para a qual
existem marcadores independentes, como nível de glicemia no sangue etc. Na
psiquiatria, praticamente todos os principais transtornos ainda são vistos como
síndrome, ou seja, um grupo de sinais e sintomas reconhecidos como típicos de
determinada doença. O termo diagnóstico, até agora, não se refere a qualquer
fisiopatologia descrita, nem mesmo a qualquer marcador independente ou
confiável. Este é um problema relevante que coloca os transtornos psiquiátricos
no quadro das doenças médicas de boa fé.
Na psiquiatria, a abordagem multifatorial para o entendimento do transtorno é
regra e não exceção. Esta é a base do enfoque biopsicossocial dos transtornos
psiquiátricos, ou seja, é inadequado um diagnóstico restrito a termos puramente
orgânicos ou comportamentais. O diagnóstico precisa ser feito com base nos
antecedentes biológicos, psicológicos e sociais, que por sua vez irão determinar
o gerenciamento biológico, psicológico e social da condição.
O Histórico Psiquiátrico
O mais importante neste tema é de que forma o levantamento do histórico ajuda
a elucidar o estado mental. A natureza e tipo de encaminhamento devem ser
registrados, como por exemplo, encaminhamento por clínico geral como um
problema urgente, por advogado para relatório judicial etc. Após o registro do
motivo do encaminhamento, o histórico geralmente começa com a descrição dos
sintomas atuais do paciente, em suas próprias palavras, incluindo a duração de
cada sintoma e relato do desenvolvimento. Usar as próprias palavras do paciente
é importante para elucidar o estado de sua mente e como ele vê seus próprios
sintomas. É válido perguntar “Qual o pior de todos esses sintomas? Ou qual é a
sua maior preocupação?” após receber uma lista de queixas. Isto mostra como o
paciente conceitua o seu problema e ainda sugere um alvo preliminar de
tratamento.
Frequentemente, o histórico da queixa do paciente é literalmente a sua
história; não há mal em registrá-la em forma de narrativa, desde que seja clara. O
relato cronológico da doença revela como o paciente enxerga o desenvolvimento
de seus sintomas e também fornece informações sobre a história real. No
histórico, o que se pretende é saber a sequência e os efeitos que tais sintomas
tiveram no estilo de vida do paciente, as mudanças de comportamento e
alterações de funções físicas. A esta altura, é conveniente observar quais
sintomas psiquiátricos o paciente já conhecia, mas que não foram levados a um
médico nem tratados. Eles podem ser relevantes no quadro geral de como a
doença evoluiu, já que a maioria das pessoas com condições psiquiátricas
clinicamente graves sequer busca ajuda médica, muito menos de um psiquiatra
(Andrews et al., 2001).
O paciente geralmente sente que é razoável descrever, em ordem cronológica
e meticulosa, suas doenças anteriores, cirurgias e acidentes. Ele também dará
valor a detalhar o hospital e o tratamento clínico geral de doenças mentais,
geralmente dando informações precisas sobre datas, duração, natureza do
tratamento, onde ficou internado e onde foi paciente ambulatorial. O tratamento
recebido pelo médico da família é menos lembrado; as datas são menos
confiáveis e frequentemente o paciente não sabe qual foi a natureza do
tratamento ou para que servia.
O histórico da família se refere a características genéticas, ambientais e
patoplásticas. Histórico de doença mental, suicídio, natureza do tratamento e
outros, são itens importantes em relação a parentes de primeiro grau (aqueles
que dividem 50% do material genético com o paciente: pais, irmãos, filhos) e
parentes mais distantes. É importante saber a qualidade desses relacionamentos,
a ligação emocional e os conflitos pessoais, tanto em relação à família na qual o
paciente era filho, quanto em relação à família na qual o paciente é pai/mãe. São
descritos relacionamentos entre determinados membros da família, assim como a
atmosfera emocional geral e problemas sociais ou financeiros. A profissão de
diferentes membros da família revela o contexto social; o histórico de saúde
pode ser relevante, da mesma maneira que a descrição de suas personalidades. É
claro que a família é vista sob a ótica do paciente. Isto significa que não é
somente uma descrição factual, mas acima de tudo, um relato do impacto
emocional que sua família tem sobre ele. Se o histórico do paciente for
complementado com o relato de outro informante, o próprio viés do paciente
será revelador de informações que poderão ser úteis no tratamento.
O histórico pessoal traça os estágios de desenvolvimento, saúde e formação
de relacionamentos do paciente envolvendo sua concepção, nascimento,
infância, experiências escolares, adolescência, além de histórico profissional,
conjugal e sexual. Os detalhes factuais desses estágios devem ser registrados,
assim como a maneira como influenciaram a personalidade e atitudes do
paciente, como ele se sente em relação a isso, como ele se relacionou com outras
pessoas (por exemplo, professores e colegas de trabalho) e como todos esses
detalhes estão ligados à condição psiquiátrica. Existem pelo menos dois
processos para a tomada do histórico. O registro factual correto do histórico de
queixas de um paciente e o histórico familiar, pessoal e social. Além disso, é
preciso compreender o significado do histórico do paciente, ou seja, a sua
história, para que se possa entender como ele se vê em relação ao mundo e como
seu desenvolvimento e circunstâncias foram determinantes em provocar,
exacerbar ou amenizar sua doença atual. O histórico factual é a base do
diagnóstico clínico, mas seres humanos vivem em um mundo de significados, e
as dimensões simbólicas e sociais do histórico são a base para uma resposta
adequada e humana à doença e ao sofrimento do paciente.
Relatos que enfatizam, por exemplo, o fato de o paciente ser apenas uma
criança, uma joia, uma vítima das más intenções de outras pessoas, um lutador
que superou todos os obstáculos, ou um azarado cuja vida é marcada pelo
fracasso e pela rejeição, nos informam os temas dominantes, o prisma pelo qual
o indivíduo analisa e percebe o mundo. Desta forma, é importante registrar os
fatos, os significados e o entendimento que o paciente tem sobre a trajetória de
sua vida, pois transmitem algo que enriquece o encontro clínico, e possibilitam
uma relação entre médico e paciente mais profunda e satisfatória, tanto para o
médico quanto para o paciente.
Indagação Sistemática
A aparência e o comportamento do paciente são observados com base nas
informações clínicas médicas que revelam. O paciente parece doente? Ele está
alerta, orientado, completamente consciente, oscilando em seu estado mental?
Existem anormalidades neurológicas ou comportamentais? Mas a observação
também é útil para avaliar a comunicação não verbal (Argyle, 1975). A partir de
sua postura, gestos, expressões faciais e outras, ele pode trair seu estado de
emoção, revelar informações sobre sua personalidade e atitude perante o
observador e os outros apesar de seu silêncio ou comunicação verbal
contraditória. Obviamente, a observação do comportamento também revela
sintomatologias psiquiátricas como tiques, movimentos catatônicos, possíveis
alucinações de percepção, transtornos de alimentação e de excreção. A postura
pode ser reveladora ao observador atento, como por exemplo, a postura
faraônica e o movimento deliberado e lento da cabeça e pescoço de um paciente
com esquizofrenia. Se o paciente fica mudo, o comportamento observado é a
única fonte de informação clínica, mas a importância da observação precisa ser
salientada também para os pacientes que falam. A observação pode ser valiosa
para corroborar as queixas do paciente, para ter um grau claro do envolvimento
emocional que ele tem com seus sintomas, ou por vezes para contradizer suas
afirmações, por exemplo, a pessoa que fisicamente manifesta extrema ansiedade
e ainda assim nega qualquer preocupação durante a indagação.
Fala revela pensamento. Escutar e estudar as declarações do paciente é
geralmente a maneira mais importante de avaliar seu estado mental. Transtornos
do pensamento e a interpretação de anormalidades no uso das palavras, sintaxe e
associação de ideias são discutidos em mais detalhe no Capítulo 9. Também o
fluxo da fala merece atenção. Ele fala com boa sonoridade e de forma fácil ou
em monossílabas taciturnas? Ele simplesmente responde às perguntas ou fala
espontaneamente? Sua conversa é apropriada ao contexto social, e é coerente?
Sua linha de pensamento é facilmente interrompida? Durante a entrevista, o
máximo que puder ser anotado sobre o discurso do paciente deve ser registrado
palavra por palavra. Isto proporciona uma visão mais clara do ambiente interno
do indivíduo, e os dados de experiência própria permitem que outra pessoa
avalie o diagnóstico.
Quando o entrevistador indaga e forma a sua própria avaliação do humor, há
três áreas que devem ser exploradas: descrição subjetiva e objetiva do humor e
avaliação do rapport. Humor envolve muito mais do que apenas depressão ou
euforia; as nuances mais tênues da experiência emocional subjetiva devem ser
colhidas com o maior cuidado. Uma pessoa antecipando um evento pode estar
severamente apreensiva, muito empolgada, mas bastante ansiosa,
irremediavelmente resignada e assim por diante; para isso, “com medo do
futuro” não é uma descrição adequada. O humor pode ser estudado por sua
direção (depressão ou euforia), consistência (estável ou instável), sua adequação,
amplitude e grau de discrepância entre a descrição subjetiva e a observação
objetiva.
É claro que não existe uma avaliação totalmente objetiva do humor. O médico
geralmente avalia o estado de humor do paciente através de manifestações de
conduta e do tom geral de sua fala durante a entrevista. Faz-se a seguinte
anotação: “Parece deprimido; ele está agitado e tenso.” Na verdade, esta
observação sobre a emoção do paciente abrevia o processo que terá que ser
enfrentado para fazer sua avaliação. O médico observa o paciente e capta as
pistas de humor disponíveis, relacionando-as com as suas experiências com
outros pacientes e outras pessoas de sua vida e, em última instância, com o
conhecimento de seu próprio estado afetivo. Sua observação segue: “Se eu me
sentisse como meu paciente aparenta, fala e age, eu me sentiria profundamente
agitado; ele está, com base em observação, deprimido e agitado.”
Rapport é uma medida útil da capacidade do paciente de comunicar seus
sentimentos para outra pessoa. O entrevistador deve se transformar em um
parâmetro, um constante construtor de rapport, contra o qual a capacidade de
estabelecimento de rapport do paciente é medida. Para tanto, o médico precisa
ter experiência clínica e objetividade para saber como reage e se comunica com
uma grande variedade de pessoas. O entrevistador deve se conhecer o suficiente
para excluir isso da avaliação de rapport para que, tanto quanto possível, apenas
a capacidade de comunicação emocional do paciente seja testada.
Durante a entrevista, as ideias e crenças que o paciente adota e as
anormalidades de percepção que ele vivencia são verificadas e exploradas. Em
uma conversa comum, há um alto grau de preenchimento ou edição para suprir
eventuais deficiências na comunicação. A pessoa fala e seu pensamento é
cortado no meio de uma frase por não encontrar uma palavra. A outra pessoa
fornece a palavra e assim continua a conversa para alívio de ambas as partes. Há
uma tendência para aqueles que não estão habituados a conversar com
portadores de doença mental de introduzir tais gentilezas sociais para evitar
constrangimentos. A tendência do médico é achar que sabe o que o paciente vai
dizer, como se o processo de pensamento dele fosse semelhante ao seu, em vez
de se concentrar no que ele realmente diz, o que provoca a perda de parte
significativa da psicopatologia. O paciente não lhe entregará voluntariamente
sintomas de delírios e alucinações pelo motivo óbvio de que eles não são
vivenciados de maneira diferente do pensamento ou percepção de qualquer outra
pessoa. Para o paciente, subjetivamente, o delírio é indistinguível de qualquer
outra ideia, a alucinação é indistinguível de qualquer outra percepção normal.
Assim, a habilidade na entrevista é saber quando procurar por um delírio e como
fazer uma distinção clara entre o que a pessoa descreve e o que revela
fenomenologicamente.
Passividade ou delírios de controle, obsessões, compulsões e
despersonalização podem ser óbvias ou apenas se tornarem claras com algum
esforço. É importante tentar categorizar o tipo de experiência o mais cedo
possível na exposição às perguntas profissionais, porque as explicações dos
pacientes tendem a se contaminar pelo questionamento repetido. Quando se
suspeita de passividade, por exemplo, é geralmente melhor seguir as pistas
imediatamente e decidir definitivamente se o sintoma está presente.
A avaliação do estado cognitivo inclui, ainda que superficialmente, testes de
orientação, atenção, concentração e memória. O Miniexame do Estado mental
(Folstein et al., 1975) é amplamente utilizado como o teste padrão de função
cognitiva, cuja aplicação é útil no contexto clínico.
A partir de perguntas específicas e da entrevista em geral, o médico precisa
formar uma ideia sobre a atitude, dificuldades e perspectivas do paciente frente à
sua doença. Até que ponto ele tem insight sobre sua condição? Qualquer doença
com certo grau de gravidade irá alterar o mundo do paciente e como ele o vê.
Insight avalia a consciência da mudança pelo paciente e o correto
enquadramento de tal mudança como causada por uma doença mental que
demanda tratamento. Ou seja, insight é uma função extremamente complexa. É a
capacidade do indivíduo de ser autoconsciente e sensível a mudanças subjetivas
internas. A capacidade de atribuir corretamente a mudança subjetiva psicológica
a causas patológicas é prova de autoconsciência intacta apesar da evidência de
doença mental. É potencialmente uma parte valiosa do exame do estado mental,
já que está associado à aderência ao tratamento e também à probabilidade de
tratamento forçado. Em resumo, insight tem três componentes: reconhecimento
de mudança psicológica subjetiva, enquadramento de tal mudança como
patológica e reconhecimento da necessidade de tratamento e aderência a ele
(David, 1990; veja o Capítulo 11).
Muitos livros e instituições psiquiátricas têm seus próprios padrões de
entrevistas psiquiátricas. Este relato é um comentário geral e não apenas mais
um esquema. O Quadro 2.1 contém um apanhado de áreas chaves a serem
abordadas no histórico e no exame de um paciente psiquiátrico.
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SEÇÃO 2
Consciência e Cognição
Consciência e Distúrbios da
Consciência
Resumo
A consciência é uma característica que define os animais, embora a
autoconsciência seja particular aos seres humanos. Do ponto de vista
fenomenológico*, anormalidades da consciência são problemáticas porque, por
definição, autorrelatos de estados patológicos, diferentemente de autorrelatos de
experiências conscientes, não estão imunes a erro. O estado inconsciente não é
favorecido já que o sujeito não é capaz de relatar a natureza e a qualidade da
experiência. Mesmo em situações nas quais há apenas deficiência mínima de
consciência, autorrelatos ainda dependem de qualificação e pesquisa. Portanto, a
terminologia é determinada pela observação de um grau quantitativo da
anormalidade ou das aparentes alterações qualitativas no estado consciente. A
terminologia nesta área é imprecisa e muitas vezes termos diferentes são usados
de maneira idêntica ou em relação a estados francamente indistinguíveis. Neste
capítulo termos como vigilância, lucidez, turvação da consciência, delírio,
estupor, coma e alguns outros são introduzidos e definidos.
Para ser capaz de vivenciar o mundo, a pessoa precisa estar consciente.
Assim, o ponto de partida lógico para o estudo dos sintomas, sob uma
perspectiva subjetiva, é aquele que permite a existência da subjetividade
(consciência). Até recentemente, estudos sobre a consciência eram vistos com
suspeita por neurocientistas, deixando médicos, neurologistas e psiquiatras em
uma lacuna de conhecimento. Isto foi corrigido na década passada através da
combinação e compartilhamento das perspectivas de diferentes disciplinas:
filosofia, psicologia, medicina e neurociências (Bock e Marsh, 1993).
Embora seja fundamental para nosso trabalho clínico relativo a transtornos da
consciência empregar o princípio da psicopatologia descritiva e fenomenologia
aplicada, precisamos atentar às suas limitações (Dennett, 1991). Dennet mostrou
que desde Descartes passando por Locke, Berkeley e Hume, houve uma
tendência na fenomenologia de descrever a consciência na primeira pessoa do
plural: “de acordo com a tradição filosófica de longa data, todos concordamos
com o que encontramos quando ‘olhamos para dentro’ da nossa própria
fenomenologia”. Podemos não ser iguais por dentro, e mesmo que fossemos,
poderíamos nos equivocar ao tentar descrever nossas experiências internas. Ele
também questiona a perspectiva da terceira pessoa na psicologia comportamental
e defende o “Método da Heterofenomenologia”. Sua autenticidade depende da
precisão meticulosa das perguntas feitas, da objetividade do registro das
transcrições (três estenógrafos elaborando documentos separados a partir de uma
única gravação), da adoção de “postura intencional” (presumindo que o sujeito
pretendia fazer uma declaração sobre algo) e de espaço para elucidação. Quando
este processo é seguido, o texto “é considerado a expressão sincera e confiável e
o assunto único e unificado das crenças e opiniões daquele sujeito”. Fica claro
que esse processo é semelhante, embora mais estruturado para fins de pesquisa,
aos passos individuais do método de empatia descrito no Capítulo 1.
A terminologia nesta área é incrivelmente confusa. Este capítulo e os capítulos
subsequentes tentam esclarecer as palavras usadas, ocasionalmente sacrificando
totalmente termos com longa história, e por vezes agrupando como um único
conceito palavras que expressam diferenças apenas sutis de significado. Um
grande problema é que diferentes disciplinas usam diferentes termos com
significados que se sobrepõem parcialmente.
Experiências Conscientes e Inconscientes
Consciência
Em psiquiatria as expressões consciência, mente consciente e conscientização
são empregadas muito livremente, mas frequentemente sem um significado
preciso. Consciência “é um estado de conhecimento acerca da existência do self
e do ambiente” (Fish, 1967). A consciência diz respeito a “estar consciente,
saber sobre si mesmo e sobre o mundo” (Scharfetter, 1980); e, “por consciência,
me refiro simplesmente àqueles estados subjetivos de senciência ou consciência
que terminam quando alguém vai dormir à noite ou entra em coma, ou morre, ou
de qualquer outra maneira, se torna, por assim dizer, inconsciente”
(Searle, 1994). A consciência é caracterizada por sua natureza subjetiva e
privacidade. Além disso, a consciência parece ter uma qualidade única, chamada
de qualia, que é resistente a qualquer descrição física externa. Este é o caráter
particular de qualquer objeto de nossa experiência consciente, por exemplo, a
vermelhidão da cor vermelha como a percebemos. A consciência também é
intencional, ou seja, é dirigida a objetos; isto quer dizer que a consciência tem
conteúdo – é sempre sobre alguma coisa. Finalmente, nossa experiência
consciente é unificada dentro de um todo e não nos é dada em fragmentos ou
partes não integradas.
O termo, da forma como é empregado por médicos, refere-se primeiro ao
conhecimento interno da experiência, em oposição à categorização de eventos à
medida que ocorrem. Em segundo lugar, ele se refere ao sujeito que reage a
objetos intencionalmente. E em terceiro lugar, denota a autoconsciência do self.
Inconsciência
Inconsciência, segundo Jaspers (1959), “significa algo que não é uma existência
interior e que não ocorre como uma experiência; em segundo lugar, algo que não
é considerado um objeto e que passou despercebido; em terceiro lugar, é algo
que não chegou a qualquer conhecimento de si mesmo”.
Na prática clínica, o termo inconsciente é empregado de três formas bastante
diferentes que somente têm em comum o elemento fenomenológico, no sentido
de que não há experiência subjetiva (Figura 3.1):
▪ Uma pessoa que sofre de doença cerebral grave pode estar inconsciente; neste
caso, a consciência é medida em uma escala, com o estado normal de
consciência em um extremo e a morte no outro.
▪ A pessoa adormecida está inconsciente; aqui também há uma escala que vai
da plena vigília até o sono profundo.
▪ Uma pessoa alerta e saudável está consciente apenas de certas partes de seu
ambiente, tanto externa quanto internamente; do restante, ela está
inconsciente. Aqui também existe uma escala, que vai da plena vigilância
dirigida ao objeto imediato de consciência até a total inconsciência.
Dimensões da consciência
A consciência, portanto, é o conhecimento da experiência. Pode haver a
consciência de objetos ou autorreflexão. O estado de consciência acerca de
objetos inclui a capacidade de estar consciente de si mesmo como um objeto (ver
Capítulo 14); a autorreflexão se refere à experiência subjetiva de si mesmo. As
três dimensões da consciência (contrastando com inconsciência, como na
Figura 3.1) são vigilância, lucidez e autoconsciência.
Lucidez – Turvação
A consciência é inseparável do objeto da atenção consciente: a lucidez apenas
pode ser demonstrada pela clareza do pensamento sobre determinado tópico. O
sensório, a conscientização total de todas as sensações internas e externas que se
apresentam ao organismo em determinado momento, pode ser claro ou turvo.
Obviamente, a lucidez não está desvinculada da vigilância: se a pessoa não está
plenamente desperta, ela não pode ter uma consciência clara.
A turvação da consciência denota os estágios mais baixos de deficiência da
consciência, em uma escala que vai dos estados de alerta e consciência plenos
até o coma (Lishman, 1997). O paciente pode estar sonolento ou agitado, e é
provável que apresente distúrbios de memória e desorientação. A maioria das
funções intelectuais está prejudicada, incluindo atenção e concentração,
compreensão e reconhecimento, entendimento, formação de associações,
julgamento lógico, comunicação pela fala e ação com um objetivo.
A consciência do Self
Juntamente com a vigilância total e clareza de consciência encontramos uma
capacidade de experienciar o self e uma consciência do self que é tanto imediata
quanto complexa. São apresentados mais detalhes no Capítulo 12.
Alterações da consciência
É comprovadamente difícil descrever com exatidão o que está perturbado nos
estados patológicos da consciência; daí esta definição um pouco difícil de um
estado perturbado da consciência (EPC) por Aggernaes (1975):
Turvação da Consciência
A turvação da consciência representa graus menores de deficiência da
consciência com deterioração no pensamento, na atenção, percepção e memória,
além de, em geral, apresentar sonolência e percepção do ambiente reduzida. Há
diferenças significativas entre a vigília reduzida antes de se adormecer e a
turvação em estado orgânico (Lipowski, 1967). Embora a consciência do
paciente esteja turva, ele pode estar agitado e excitável ao invés de sonolento. A
turvação pode ser observada em uma grande variedade de condições orgânicas
agudas, incluindo intoxicação por drogas ou álcool, lesão na cabeça, irritação das
meninges causada por infecção e assim por diante. Sonolência, como termo
descritivo, significa simplesmente um estado de alerta e atenção diminuídos e
fora do controle do paciente.
O termo turvação deve ser empregado para o estado psicopatológico: uma
deficiência da consciência, sonolência leve com ou sem agitação e dificuldade de
atenção e concentração. Isto geralmente ocorre em casos de alterações orgânicas
de função como, por exemplo, tumor cerebral, após lesão craniana ou na
presença de aumento da pressão intracraniana. Na esquizofrenia, faz parte do
déficit cognitivo que às vezes ocorre nesta condição (Frith, 1979). O que se
sugere é que, nesta condição, existe certa consciência de processos automáticos
que normalmente ocorrem abaixo do nível da consciência. Tais processos estão
envolvidos na seleção de interpretação adequada de estímulos e respostas.
Sonolência
Como um estado persistente, este é o nível seguinte de deficiência progressiva.
O paciente está “desperto”, mas cai no “sono” quando privado de estimulação
sensorial. Ele apresenta lentidão nas ações, fala arrastada, morosidade de
intenção e sonolência na descrição subjetiva. Existe uma tentativa de evitar
estímulos dolorosos. Reflexos, incluindo os de tosse e de engolir, estão
presentes, mas reduzidos; o “tônus” muscular também fica diminuído.
Na prática psiquiátrica, a sonolência é geralmente observada após
superdosagem de drogas com efeito depressor do sistema nervoso central (por
exemplo, antidepressivos tricíclicos). Do ponto de vista psiquiátrico, o que isto
significa é que a entrevista do paciente fica impossibilitada. Esses níveis de
consciência diminuída são bastante inespecíficos e ocorrem independentemente
da causa: lesão craniana, tumor, epilepsia, infecção, transtorno cerebrovascular,
distúrbio metabólico ou estado tóxico.
Coma
Enquanto o paciente sonolento está consciente, às vezes entrando em estado de
inconsciência, no coma o paciente está inconsciente. Nos estados mais leves,
quando fortemente estimulado, ele pode mostrar-se momentaneamente excitável.
Não há respostas verbais nem a estímulos dolorosos. A resposta de manter a
postura ereta foi perdida; os reflexos e o tônus muscular estão presentes, mas
imensamente reduzidos; a respiração é lenta, profunda e rítmica; o rosto e a pele
podem se apresentar ruborizados.
Nos estágios posteriores, o paciente não pode mais ser excitado; ele mostra-se
profundamente inconsciente. Estágios distintos do coma têm sinais físicos
identificáveis que culminam eventualmente em morte cerebral, mas esses não
são discutidos em detalhes neste livro – eles estão além da psiquiatria
(Conference of Medical Royal Colleges and their Faculties, 1976). A avaliação
prática da profundidade e da duração das deficiências de consciência e do coma
foram quantificadas na escala elaborada por Teasdale e Jennett (1974).
Tais estágios são todos aqueles que ocorrem progressiva e quantitativamente
com o rebaixamento da consciência. Variações qualitativas serão discutidas a
seguir com maiores detalhes.
Delirium
Lipowski (1990) define delirium como “uma síndrome mental orgânica
transitória com surgimento agudo, caracterizada por deficiência global de
funções cognitivas, nível de consciência reduzido, anormalidades na atenção,
atividade psicomotora aumentada ou diminuída e ciclo desordenado de vigília e
sono”. O reconhecimento de que o termo delirium deveria referir-se a uma
síndrome envolvendo distúrbio global foi incorporado na quarta edição do
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and
Statistical Manual of Mental Disorders – DSM-IV) (American Psychiatric
Association, 1994). No DSM-IV, o termo descreve uma perturbação da
consciência acompanhada de uma mudança cognitiva que não pode ser explicada
por demência pré-existente ou progressiva. Ocorre uma redução da clareza da
consciência do ambiente.* De forma semelhante, a CID-10 Classificação de
Transtornos Mentais e do Comportamento (ICD-10 Classification of Mental and
Behavioural Disorders) (World Health Organization, 1992) emprega o termo
delirium de forma genérica e global:
Flutuação da Consciência
A flutuação da consciência é observada em diversas condições. Ela ocorre em
condições fisiológicas no sono e no estado de fadiga. Em pacientes com
epilepsia, existe uma flutuação em relação às crises, que podem ocorrer antes,
durante ou após uma convulsão. Alterações do nível de consciência são descritas
em tumores do terceiro ventrículo associadas a variações da pressão
intracraniana (Sim, 1974). Nos estados delirantes pode haver uma considerável
flutuação diurna da consciência. Caracteristicamente, o paciente torna-se mais
desorientado, perturbado em seu humor e distraído perceptivamente, com ilusões
e alucinações ao entardecer, apresentando maior grau de lucidez no meio da
manhã. Esta variação do nível de consciência também é descrita e observada em
drogas, como, por exemplo, mescalina, quando também podem ocorrer
flutuações da sensação de tempo.
Confusão
O conceito de confusão foi originalmente desenvolvido na França (confusion
mentale) e mais tarde na Alemanha (Verwirrtheit) no século XIX
(Berrios, 1981). Este é um termo definido de forma imprecisa, que se refere a
sintomas subjetivos e a sinais objetivos que indicam a perda da capacidade de
pensamento claro e coerente. Trata-se de uma palavra puramente descritiva e não
se aplica à turvação da consciência. Quando médicos, psiquiatras e enfermeiros
foram indagados sobre o significado de confusão, encontrou-se uma acentuada
discordância. O termo somente deve ser usado quando claramente definido
(Simpson, 1984). Ela ocorre com o prejuízo da consciência nos estados
orgânicos agudos e com perturbação dos processos de pensamento devido a dano
cerebral em estados orgânicos crônicos, mas também é observada em
perturbações não orgânicas, como parte do quadro nas psicoses funcionais ou
associada a forte emoção nos transtornos neuróticos. Portanto, este termo deve
ser empregado simplesmente para a descrição dessas perturbações do
pensamento, e não como um termo patognomônico de síndromes orgânicas.
Desta forma, para simplificar, pode-se dizer que a confusão do pensamento
ocorre quando o indivíduo descreve seu próprio pensamento como confuso ou
quando um observador externo considera que os processos de pensamento estão
perturbados e confusos. Em termos fenomenológicos, portanto, esta é
simplesmente uma descrição da autoexperiência do paciente ou da observação
do médico.
Outros termos
Estado Crepuscular
O estado crepuscular é uma interrupção bem definida da continuidade da
consciência (Sims et al., 2000). Ele é geralmente uma condição orgânica e está
presente no contexto de epilepsia, alcoolismo (mania à potu), trauma cerebral e
encefalites, e pode também ocorrer em estados dissociativos. É caracterizado
por: (a) início e términos abruptos; (b) duração que varia de algumas horas a
várias semanas; e (c) ocorrência de atos violentos ou ataques emocionais
inesperados (Lishman, 1997). Esse termo é reservado para estas três
características em combinação, como uma entidade psicopatológica, e por isso
ele deve ser empregado sempre que ocorrerem concomitantemente, não
importando a causa.
Desta forma, as implicações forenses desta condição são importantes, e ela
tem sido usada como uma defesa legal para comportamento violento seguido de
amnésia.
A consciência pode estar acentuadamente prejudicada ou ser relativamente
normal entre os episódios. Pode estar associada a estados semelhantes ao sonho,
delírios ou alucinações. Este estado ocasionalmente é associado a convulsões
epilépticas do lobo temporal, mas pode ocorrer em outros estados orgânicos sem
epilepsia; pode haver comportamento semelhante na dissociação histérica, e é
também descrito como uma reação aguda a grandes catástrofes. No contexto
forense, é importante demonstrar (a) a ocorrência de episódios semelhantes com
comportamento inexplicável antes do acontecimento principal e (b) outras
evidências objetivas de doença física ou mental. A síndrome de Ganser (descrito
em transtornos de memória no Capítulo 5) é, na prática, uma espécie de estado
crepuscular, no qual o elemento orgânico frequentemente é dúbio.
Estado Oniroide
Este é um termo insatisfatório e não claramente diferenciado do estado
crepuscular e do delirium. O paciente mostra-se desorientado, confuso e vivencia
alucinações elaboradas, geralmente visuais. Existe prejuízo da consciência e
acentuada mudança emocional, que pode ser de terror ou prazer com as
experiências alucinatórias; também podem ocorrer alucinações auditivas ou
táteis. O paciente pode dar a impressão de estar vivendo em um mundo de
sonhos e, o chamado delirium ocupacional pode ser mencionado neste contexto,
por exemplo, o marujo internado após uma lesão craniana ocorrida no mar
(associada ao consumo excessivo de álcool) que continuará gritando
“Guarneçam os botes”.
É importante observar outros sintomas ou o estado orgânico para fazer a
importante distinção entre doença física e uma condição dissociativa não
orgânica.
Estupor
Estupor é o nome de um complexo sintomático, cuja característica central é uma
redução ou ausência de funções relacionais, ou seja, ação e fala (Berrios, 1996).
Difere do coma e não se encontra em uma escala indo da vigília ao coma. Este
termo deve ser reservado para a síndrome na qual ocorrem mutismo e acinesia;
isto é, uma incapacidade de iniciar a fala ou de agir em paciente que parece
desperto e até mesmo alerta. Ele geralmente ocorre com algum grau de turvação
de consciência, mas não se refere unicamente a uma diminuição de nível. O
paciente pode se manter olhando para a frente ou seus olhos podem vagar
incessantemente, mas não parece assimilar coisa alguma.
Esta síndrome é característica de lesões na área do diencéfalo e do tronco
cerebral superior, bem como do lobo frontal e dos gânglios basais, sendo o termo
mutismo acinético reservado algumas vezes por neurologistas para a descrição
de uma síndrome orgânica definida com mais foco. Uma condição rara, mas
específica, que envolve as vias motoras da ponte ventral, é chamada de síndrome
do aprisionamento, na qual ocorre tetraplegia e anartria com consciência
preservada e movimento vertical dos olhos (Plum e Posner, 1972; Smith e
Delargy, 2005). É importante perceber, contudo, que os sintomas de acinesia e
mutismo em um paciente consciente também ocorrem na esquizofrenia, nas
psicoses afetivas (tanto depressivas quanto maníacas) e em estados dissociativos.
A diferença entre as causas psicogênicas (chamadas funcionais) e
neurológicas (orgânicas) de estupor pode ser clinicamente muito confusa.
Definições psiquiátricas têm exigido que a condição seja “uma ausência
completa, com consciência clara, de quaisquer movimentos voluntários” (Wing
et al., 1974). Naturalmente, não é possível, no momento da observação, saber se
a consciência está suficientemente clara ou não; e, mesmo no caso de estupores
funcionais, é comum o seguimento de amnésia. Portanto, uma definição
fenomenológica do estupor deve excluir o estado de consciência de um paciente
mudo, enquanto o diagnóstico de estupor deve ser seguido de investigação do
diagnóstico diferencial que inclui condições orgânicas não orgânicas.
Distúrbios do Sono
Estes serão discutidos no Capítulo 4.
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World Health Organization The ICD-10 Classification of Mental and Behavioural Disorders: Clinical
Description and Diagnostic Guidelines. Geneva: World Health Organization; 1992.
*
Nota da Revisão Técnica: A palavra fenomenologia é usada pelo autor neste capítulo numa linguagem
corrente com o sentido de “descritivo”, sem o mesmo rigor usualmente presente entre os autores da
filosofia.
*
Nota da Revisão Técnica: Não houve alterações no DSM-V.
CAPÍTULO 4
Vem sono! Oh, sono que nos traz a paz O repouso – local do
entendimento, bálsamo da aflição, A riqueza do pobre, libertação do
prisioneiro, O juiz imparcial entre o céu e a terra.
Sir Philip Sidney (1554–1586), Astrophel e Stella, soneto 39
Resumo
Consciência, atenção, concentração e sono são fenômenos interligados. No
capítulo anterior, descrevemos a consciência e suas anormalidades. A atenção é
geralmente comparada a um feixe de luz que tem uma área limitada de interesse
dentro de um campo geral, mas é mais bem entendida como um canal de
capacidade limitada que é dinâmico na seleção e inibição de informações para
posterior processamento (Broadbent, 1958; Smith e Kosslyn, 2007). Ela é
importante para a capacidade de um organismo se envolver com aspectos de seu
ambiente e necessária para sua orientação. Portanto, anormalidades por prejuízo
estão na base de fenômenos distintos como a desorientação e prejuízo de novos
aprendizados. O ciclo sono-vigília é um mecanismo fisiológico que determina a
alteração da vigília, ou seja, da consciência, para o estado especial temporário de
inconsciência, isto é, o sono. As anormalidades deste ciclo, incluindo
perturbações da quantidade e qualidade, são descritas neste capítulo.
Os termos atenção, concentração e orientação têm sido geralmente
empregados de uma forma muito vaga. Sugere-se que seu uso seja restrito ao
seguinte: atenção é a focalização passiva ou ativa da consciência sobre uma
experiência, como os estímulos sensoriais, gestos motores, memórias ou
representações internas. Ela pode ser definida como o processo que salienta
algumas informações e inibe outras, nos permitindo selecionar algumas
informações para processamento adicional (Smith e Kosslyn, 2007). O conceito
por vezes se apresenta como “alerta”, “consciência” e “responsividade”. A
atenção voluntária ocorre quando o sujeito foca sua atenção em um evento
interno ou externo; a involuntária ocorre quando o evento atrai a atenção do
sujeito sem seu esforço consciente. Concentração é apenas um aspecto da
atenção. Ela envolve atenção focada ou seletiva. Outros aspectos da atenção
incluem atenção sustentada ou vigilância, atenção compartilhada e atenção
alternante. Orientação é a consciência da localização da pessoa no tempo e no
espaço e das realidades de si mesma e de sua situação. Esta não é uma função
isolada, mas intimamente vinculada à memória e à clareza ou coerência do
pensamento.
Este capítulo aborda a função cognitiva, mas não se limita às funções que são
prejudicadas por lesões orgânicas, cobrindo um campo mais amplo do que
simplesmente a consciência e seus transtornos.
Tabela 4.1
Aspectos da atenção
Atenção focada Capacidade de salientar estímulos importantes enquanto suprime a consciência de distrações
concorrentes
Atenção sustentada Capacidade de manter atividade de atenção por um prolongado período de tempo.
ou vigilância
Atenção dividida Capacidade de executar mais de uma tarefa ao mesmo tempo, incluindo a elaboração dos
múltiplos elementos dentro de uma tarefa complexa
Atenção alternante Capacidade de mudar o foco de atenção de tarefa para tarefa
Capacidade de A extensão da capacidade de processamento inerente ao sistema de atenção; é geralmente
atenção considerada uma forma de memória operacional
Psicose e atenção
Sabe-se que a esquizofrenia envolve déficits de atenção (Posner et al., 1988).
Entretanto, há uma dificuldade considerável em determinar quais aspectos da
atenção estão prejudicados na esquizofrenia porque as tarefas empregadas para
avaliar atenção podem envolver outras funções cognitivas, já que a atenção está
intimamente ligada a conceitos de memória operacional e função executiva.
Evidências recentes sugerem que a esquizofrenia está associada ao prejuízo
significativo no controle de seleção, na capacidade de identificar e tratar
informações relevantes para tarefas, mas pode não haver deficiência na
operacionalização de seleção – os processos que determinam o processamento de
informações relevantes (Luck e Gold, 2008).
No nível fenomenológico, Cutting (2011) enfatizou o grau de atenção
aumentada de pacientes com esquizofrenia. O que ainda precisa ser esclarecido é
se as experiências que são relatadas falam de atenção ativa ou passiva. Veja as
citações de McGhie e Chapman (1961):
“As coisas estão acontecendo rápido demais. Eu perco o foco e me
perco. Eu faço tudo ao mesmo tempo e por isso eu não faço nada.”
Com base nesses relatos, parece provável que na esquizofrenia exista maior
suscetibilidade aos apelos do ambiente que atraem a atenção passiva do paciente.
Uma boa maneira de entender isso é pensar em como um barulho repentino e
insuspeito atrai nossa atenção passiva. Parece que os pacientes com
esquizofrenia estão efetivamente mais ligados a características irrelevantes de
seu ambiente.
Existe evidência comprovada de que nos transtornos de humor, inclusive no
transtorno bipolar, durante a fase aguda e no estado eutímico, ocorrem
deficiências demonstráveis na atenção sustentada e memória operacional (Clark
et al., 2002; Marvel e Paradiso, 2004; Thompson et al., 2005).
O humor depressivo geralmente está associado a um envolvimento com
pensamentos sombrios de tal monta que a concentração e atenção ficam
prejudicadas. Isto sugere que a atenção, ativa ou passiva, é atraída pela
valorização de características negativas do mundo interno e externo do
indivíduo. Nestas situações, surgem compreensões equivocadas da percepção
influenciadas pelo estado de humor. Todo carro fúnebre está ali para levar o
paciente até seu túmulo e um carro preto que passa é visto apenas para
corroborar a sua crença. Da mesma maneira, a ansiedade aguda geralmente
resulta em atenção diminuída. Cutting (2011) argumenta que nos transtornos de
humor, o que atrai a atenção do indivíduo são pessoas e não coisas,
diferentemente da esquizofrenia, onde o oposto prevalece. Isso pode ser
exemplificado por Minkowski:
Orientação
Orientação é a capacidade de um indivíduo de estimar precisamente o tempo,
espaço e a pessoa em seu ambiente presente. Ela o capacita a extrair sentido e se
sentir à vontade em seu ambiente. Esta é praticamente a mesma faculdade da
apreensão intelectual, no sentido de que vários indicadores perceptuais são
utilizados, e que com sentido correto de tempo e lugar a pessoa é capaz de
chegar a conclusões adequadas a partir de seu contexto. Um homem que sofria
de demência avançada estava sendo entrevistado por um médico na presença de
12 estudantes de enfermagem, que tomavam notas com caneta e caderno.
Quando questionado a respeito de onde estava, ele olhou para a sala de aula
bastante sombria do hospital e disse: “Bem, estamos esperando para ver o
médico.” Ele captara certos indícios que o lembravam de uma sala de espera de
um clínico geral; ele ignorara completamente que todas as enfermeiras estavam
de uniforme, que estavam tomando notas e que perguntas formais eram-lhe
feitas; este paciente estava desorientado em relação ao tempo e às pessoas.
A orientação no tempo é instável, sendo facilmente perturbada pela
concentração profunda, emoção forte ou fatores orgânicos cerebrais (por
exemplo, intoxicação alcóolica). Graus mais leves de desorientação mostram-se
por erro em mais de meia hora em relação à hora do dia ou duração da
entrevista. Estágios mais avançados são demonstrados com dia incorreto da
semana, ano ou período do dia. Uma perturbação ainda maior é demonstrada
quando a estação do ano não é reconhecida corretamente.
A orientação no espaço é alterada mais tarde do que a orientação no tempo no
processo da doença. Um paciente pode ser incapaz de encontrar o seu caminho,
especialmente em um local que lhe é relativamente estranho. Ele pode levar um
tempo excessivo para aprender o caminho até a mesa de jantar na enfermaria
após a internação hospitalar. A desorientação no tempo e espaço é, quando
claramente estabelecida, evidência de um estado mental orgânico; ela pode ser o
primeiro sinal do processo de demência.
Na desorientação de pessoa, o paciente não lembra o seu próprio nome. A
perda do conhecimento do próprio nome e da identidade do paciente ocorre em
um estágio muito avançado de deterioração orgânica. A perda da compreensão
intelectual (apreensão) ocorre em estados orgânicos como uma forma de
desorientação, geralmente combinada com outras evidências de deterioração. Tal
pessoa é incapaz de compreender o contexto de sua situação atual e associa
objetos e eventos externos a si mesmo. A desorientação pode ocorrer com uma
perturbação da consciência, atenção, percepção ou inteligência. No déficit
intelectual grave e distúrbios graves de memória, a orientação é prejudicada
mesmo quando a consciência é clara (Scharfetter, 1980).
Desorientação
A orientação pode flutuar na presença de algumas condições orgânicas. Por
exemplo, um paciente com um estado tóxico agudo associado à insuficiência
cardíaca congestiva ficava desorientado quanto ao tempo todas as noites, mas
tinha estado mental bastante claro pela manhã.
A desorientação no tempo e a perda da apreensão intelectual (desorientação
situacional) são as que geralmente ocorrem em primeiro lugar nas doenças
progressivas; a desorientação de espaço ocorre mais tarde e, de pessoa, por
último. A desorientação da própria identidade ocorre em um estágio mais
avançado do que desorientação em relação a outras pessoas. Uma senhora idosa
que sabia quem era, e que sabia que fora casada com um professor, continuava se
referindo à filha como “aquela insolente que vem toda vez que o médico me
visita”.
Dissociação e Desorientação
A desorientação claramente definida é indicativa de uma síndrome cerebral
orgânica aguda quando associada a rebaixamento da consciência ou deterioração
orgânica crônica. No entanto, a dissociação histérica pode se fazer confundir
com uma aparente desorientação. Um exame cuidadoso do estado mental tende a
revelar discrepâncias sugestivas, por exemplo, a desorientação de pessoa pode
ser muito mais marcante do que de tempo, ou pode ser excessivamente bizarra.
No próximo capítulo, é descrito um paciente que vivia em Birmingham,
Inglaterra, mas descobriu-se em Montreal, após uma fuga histérica. Apesar de
aparentemente desorientado, ele apresentava, na verdade, uma anormalidade de
memória como parte de um estado dissociativo.
Transtornos do Sono
O sono profundo, satisfatório e contínuo é convencionalmente associado ao
bem-estar e à boa saúde, como exemplificado na citação do início deste capítulo;
considera-se que sua ausência ou baixa qualidade, da mesma maneira, explica o
transtorno de humor e o sofrimento. Existe uma relação entre sono perturbado e
transtorno psiquiátrico; uma doença mental pode causar e se manifestar como
distúrbios do sono, o sono perturbado pode precipitar sintomas psiquiátricos ou
ambos podem ocorrer ao mesmo tempo, mas independentemente. A International
Classification of Sleep Disorders classifica 85 distúrbios do sono em sete
categorias, a saber:
1. Insônias.
2. Transtornos respiratórios relacionados com o sono.
3. Hipersônias não relacionadas com transtorno respiratório.
4. Parassonias.
5. Transtornos de movimentos relacionados com o sono.
6. Outros transtornos do sono.
7. Sintomas isolados, variantes aparentemente normais e questões não
resolvidas.
Para uma análise mais profunda, consultar American Academy of Sleep
Medicine (2005).
A avaliação objetiva do sono é geralmente feita eletrofisiologicamente.
Podemos identificar cinco estágios de sono (Rechtschaffen e Kales, 1968). São
feitos registros com eletroencefalograma e eletromiograma dos músculos
oculares externos e da duração de diferentes estágios. Tem-se observado que o
sono com movimentos oculares rápidos (REM – Rapid Eye Movement) está
associado ao sonho. Com as novas tecnologias de neuroimagem é possível, pela
demonstração das mudanças no fluxo sanguíneo, localizar e representar
visualmente atividade alterada, especialmente no dorso medial do tálamo, que é
associado a diferentes estágios do sono, desde a vigília relaxada até o sono de
onda lenta do estágio 4. Também existem alterações no córtex visual e auditivo
possivelmente associadas ao sonho (Hofle et al., 1997). Ao considerar a
qualidade e duração do sono e seus estágios, e se estes forem sintoma, é
importante levar em consideração a idade do paciente, se está tomando alguma
medicação e se tem dormido durante o dia. A experiência subjetiva, descrita pelo
paciente, pode ser bem diferente dos achados objetivos da observação e
medição. O psiquiatra deve investigar o significado desta discrepância
fenomenologicamente e considerar as consequências para o diagnóstico e
tratamento.
Insônia
Insônia significa uma insatisfação subjetiva com a duração ou qualidade do sono
(Oswald, 1981); no entanto, também ocorre transtorno objetivo do sono em
muitas condições psiquiátricas. Formalmente, a insônia é definida pela
dificuldade de iniciar e/ou manter o sono, e despertares que ocorrem antes da
hora estabelecida para acordar (Ahmed e Thorpy, 2010). A pessoa pode se
queixar que a duração de seu sono é muito curta; ou que o sono é interrompido,
não revigorante ou insuficientemente profundo; ou que o padrão do sono piorou.
A insônia é mais comum entre mulheres e em pessoas mais velhas e está
frequentemente mais associada a uma sensação de excitação mental excessiva do
que a uma alteração corporal. As causas da insatisfação incluem expectativas
não realistas dos idosos de que dormirão tanto quanto o faziam quando mais
jovens, e dos sedentários de que dormirão tão profundamente quanto após uma
atividade física exaustiva.
A discussão sobre insônia primária está fora do escopo deste livro. Queixas
sobre a qualidade do sono são extremamente comuns e ocorrem em muitos
transtornos psiquiátricos, entre os quais a depressão, ansiedade generalizada,
pânico e fobia, hipocondria e transtornos de personalidade. Elas estão entre os
sintomas mais frequentemente relacionados com transtorno de ansiedade e
transtorno afetivo. Comparando pessoas com neurose a uma população normal,
Jovanovic (1978) descobriu que estes pacientes neuróticos reclamavam de
menos sono no primeiro terço da noite; eles passavam mais tempo acordados
deitados na cama, acordavam durante a noite com mais frequência, passavam um
período relativamente menor em sono profundo e seu sono tinha maior
probabilidade de ser prejudicado pelo fato de estarem em um local estranho. Os
indivíduos com transtorno depressivo grave sofrem de perturbação do sono,
levam mais tempo para adormecer e passam menos tempo dormindo devido a
períodos de falta de sono durante a noite e despertar nas primeiras horas da
manhã.
Insônia inicial, ou dificuldade para adormecer, ocorre em pessoas normais que
estão despertas devido a ansiedade ou excitação. Seus pensamentos tendem a
envolver as experiências carregadas de afeto do passado imediato e também
ensaios de formas de enfrentar problemas. A fadiga é vivenciada, mas há
também um alto nível de excitação que impede o relaxamento necessário e o
retraimento da percepção, necessários para o sono. A insônia terminal ou
despertar precoce é particularmente característico da fase depressiva dos
transtornos de humor. O paciente pode acordar frequentemente durante a noite
após adormecer de maneira satisfatória e daí em diante só ter sono leve e
irregular. Ou então ele pode acordar de madrugada e não conseguir voltar a
dormir. Uma característica importante de depressão é a mudança significativa no
ritmo do sono em relação ao padrão normal daquela pessoa. Na depressão, o
despertar precoce está frequentemente associado à alteração do humor matutino,
acentuadamente preponderante, com as sensações mais graves de desânimo e
retardo ocorrendo no início da manhã. Na mania, também se observa uma grande
redução na necessidade de sono.
A necessidade média de sono diminui com a idade. É normalmente cerca de 7
a 8 horas nos anos intermediários da idade adulta, mas é acentuadamente
reduzida a partir dos 50 anos aproximadamente. Com a insônia, ocorrem
estágios intermediários de sono leve e inquieto. Estes são geralmente associados
a experiências anormais no estado de sono, como as alucinações hipnagógicas e
hipnopômpicas (Capítulo 7). Também ocorrem pseudoalucinações, assim como
imagens vívidas e difíceis de distinguir de alucinações. Normalmente, a
passagem para o sono é rápida e ocorre passivamente, em vez de ser uma
intenção ativa de dormir. O despertar também é normalmente rápido e a
desaceleração deste processo de despertar pode ser descrita como um sintoma:
uma queixa de sentir-se tonto, incompetente e descoordenado por um tempo
excessivo ao acordar ou, em outras palavras, uma embriaguez de sono ou, mais
precisamente, despertar confusional do sono não REM no qual ocorre confusão e
desorientação, fala e atividade mental mais lenta (mentation) (Lishman, 1997;
Ahmed e Thorpy, 2010). Tais pacientes podem dormir por 17 horas ou mais e
sempre precisam de estimulação vigorosa para acordar. Esta condição pode
persistir por toda a vida.
Hipersonia
A característica que define a hipersônia é a sonolência durante o dia. Estes casos
normalmente são vistos mais por neurologistas do que por psiquiatras e aqui
serão registrados apenas brevemente.
Na síndrome Kleine-Levin ocorrem ataques de sonolência geralmente em
adolescentes. A condição é rara. Em relatos iniciais, o paciente dorme
excessivamente durante o dia e à noite, mas pode ser despertado como que de
um sono normal. Quando desperto, o paciente come vorazmente (megafagia) e
pode mostrar irritabilidade acentuada (Critchley, 1962). Mais recentemente,
ficou claro que esta condição é caracterizada por episódios de recaída-remissão
de hipersônia grave, prejuízo cognitivo, apatia, desrealização e perturbações
psiquiátricas e comportamentais. Meninos são mais frequentemente afetados que
meninas. Pouco mais da metade dos pacientes que tem hiperfagia são
hipersexuais (na maioria meninos) ou tem humor deprimido (na maioria
meninas) e aproximadamente um terço tem outros sintomas psiquiátricos como
ansiedade, delírios ou alucinações. Embora alguns sintomas sejam semelhantes
aos pacientes com encefalopatia, os resultados de exames de imagem e
laboratoriais não são significativos. O primeiro episódio de hipersônia é
geralmente desencadeado por uma infecção, com recidivas ocorrendo a cada 1-
12 meses em média por 14 anos. Entre os episódios, os pacientes geralmente têm
um padrão de sono, cognição, humor e hábitos alimentares normais. Durante os
episódios, o eletroencefalograma pode exibir atividade lenta difusa ou local.
Estudos de imagiologia funcional revelaram hipoatividade nas regiões do tálamo
e hipotálamo, e no lobo frontal e temporal (Arnulf et al., 2012).
Narcolepsia é uma forma de hipersônia e pode ocorrer com ou sem cataplexia.
Ataques de narcolepsia consistem de episódios curtos de sono (10 a 15 minutos)
que ocorrem de forma irresistível durante o dia; geralmente aparecem durante a
adolescência e persistem por toda a vida. A narcolepsia é frequentemente
associada a cataplexia, durante a qual o sujeito sofre uma queda devido a uma
súbita perda do tônus muscular provocada por alguma forte emoção.
Alucinações hipnagógicas e paralisia do sono também podem ocorrer, porém
são menos comuns. A narcolepsia está associada à latência de sono curta e
períodos em que o sono se inicia já na fase REM. Em geral, não há a presença de
doença cerebral estrutural. Alucinações hipnagógicas são geralmente auditivas,
mas podem também ser visuais ou táteis. Elas ocorrem entre a vigília e o sono e,
menos comumente, entre o sono e o despertar (alucinação hipnopômpica). A
paralisia do sono é a incapacidade de movimento entre a vigília e o sono (ou
entre o sono e a vigília).
A síndrome de Pickwick, denominada a partir da descrição do menino gordo
de The Pickwick Papers (Dickens, 1837), ou mais especificamente, a apneia
obstrutiva do sono, é uma profunda sonolência durante o dia que está associada a
obesidade grave e cianose devido à hipoventilação. A respiração é periódica
durante o sono e a sonolência, com fases apnéicas que podem durar até um
minuto.
A sonolência persistente pode ocorrer no caso de lesões orgânicas do
mesencéfalo ou hipotálamo por diversas causas. Fome, ganho de peso, sede
excessiva e poliúria também podem ocorrer. As condições mais importantes que
culminam na hipersônia secundária são tumores cerebrais, neurosarcoidose e
doença Niemann-Pick tipo C.
A hipersônia também pode ocorrer como um sintoma psicogênico. Pode haver
um estado que chega a constituir um estupor histérico e pode haver outros
sintomas de conversão. Outros pacientes com transtornos neuróticos queixam-se
constantemente de sonolência durante o dia e de incapacidade de concentração.
Parassonias
Parassonias são transtornos da transição entre o despertar e o sono que consistem
de movimentos anormais relacionados com o sono, comportamentos, emoções,
percepções, sonhos e funcionamento do sistema nervoso autônomo que
acompanha o sono (Ahmed e Thorpy, 2010). O sonambulismo é um exemplo
desta condição e consiste de uma série de comportamentos complexos que
surgem durante o sono de onda lenta e que resulta em caminhar durante
determinado período de consciência alterada. É mais característico em crianças
do que em adultos e ocorre mais em homens do que em mulheres. A atividade é
geralmente limitada a perambular sem rumo e comportamento repetitivo sem
propósito por alguns minutos. O sonâmbulo poderá responder
monossilabicamente a perguntas e há pouca consciência do ambiente, mas
ferimentos são incomuns. Frequentemente há histórico familiar e associação a
enurese. Como o sonambulismo ocorre no sono profundo (estágios 3 e 4),
normalmente durante o primeiro terço da noite, provavelmente não é uma
encenação de sonhos. Não é o mesmo fenômeno que o automatismo epilético,
que pode também levar uma pessoa, que está aparentemente adormecida, a se
levantar e caminhar. É importante estabelecer um diagnóstico para cada caso.
Terrores noturnos também ocorrem durante o sono profundo no início da noite
e frequentemente no mesmo indivíduo que é sonâmbulo. Manifesta-se por
intensa ansiedade; o sujeito pode gritar e ter a frequência cardíaca e respiração
aceleradas. Geralmente há total amnésia da experiência ao despertar. Esta não é a
mesma experiência do pesadelo, já que este é um tipo de sonho que ocorre em
estados mais leves de sono, sendo lembrado claramente se a pessoa desperta
imediatamente após a experiência. A maioria das crianças supera os terrores
noturnos e o sonambulismo.
Tem-se afirmado que um comportamento automático violento ocorreu durante
um episódio de terror noturno. Uma pessoa que comete um ato criminoso
enquanto está dormindo não é consciente de suas ações e não pode ser
legalmente responsabilizada; a lei chama isso de automatismos sãos (Fenwick,
1986; Ebrahim e Fenwick, 2010). Se o ato, por exemplo, um homicídio, for
lembrado pelo assassino como uma cadeia de eventos psíquicos (“ser perseguido
por soldados japoneses”), estas imagens provavelmente ocorreram no contexto
de um pesadelo e, portanto, o ato aconteceu ao despertar do sonho e seria
considerado como motivado. Durante o pesadelo em si, a paralisia do sono
impedirá que emoções violentas sejam representadas em atos reais. Para que o
ato seja convincentemente atribuído ao terror noturno, nem tal ato nem a sua
história prévia devem ser lembrados e todas as evidências devem apontar para o
fato de que aquele indivíduo estava dormindo naquele momento. Evidências
anteriores de terror noturno e atividade durante o sono são importantes para
corroboração.
Menos conhecidos são os relatos de sexsônia quando ocorre comportamento
sexual durante o sono. Esses casos parecem ocorrer no quadro de transtornos do
despertar, as chamadas parassônias não REM, que incluem o despertar
confusional, terror do sono e sonambulismo; transtorno do comportamento do
sono REM; convulsões noturnas parciais complexas; e apneia obstrutiva do sono
(Ebrahim e Fenwick, 2010).
Sonhos
Como a fenomenologia vê os sonhos, seu significado e interpretação? Em
primeiro lugar, a fenomenologia somente pode se ocupar do que é consciente;
ela não comenta o que é inconsciente, apesar de poder inferir a existência do
inconsciente ao explicar determinados comportamentos e fenômenos
observados. Em segundo lugar, o significado pertence ao sonhador e não ao
intérprete ou ao teórico. Isto tem implicações para o modo como a abordagem
fenomenológica será utilizada em terapia.
A fenomenologia pode contribuir para a compreensão do sonho. Pela
introspecção e tomada de relatos de pacientes enquanto eles estão efetivamente
sonhando, sabemos que a memória é precisa e detalhada, por vezes bastante
detalhada. Ainda, o processo de raciocínio é irrepreensível, tanto quando
elementos bizarros estão presentes quanto quando não estão. Portanto, esses
elementos bizarros não demonstram memória deficiente nem incapacidade de
pensamento racional. Eles parecem ser premissas – o “deixar” Euclidiano. No
sonho, a fantasia é permitida de maneira que quando falamos, ou sonhamos,
“deixe Bill Snooks (que mora em Heckmondwike e nunca se encontrou com o
presidente dos Estados Unidos da América) viajar em uma barca pelo
Amazonas”. O que aconteceria depois? Essa teoria fenomenológica dos sonhos
poderia ser explorada experimentalmente; se atitudes podem ser alteradas na
consciência por reprocessamento cognitivo, então as construções que são usadas
nos sonhos também deveriam ser passíveis de mudança.
O sono convencional (estágios 1-4) e o sono paradoxal (sono REM) foram
diferenciados pelo uso de traços encefalográficos em seres humanos
(Oswald, 1980). A atividade reflexa normal ocorre nos estágios de sono
convencional, mas é observada atividade localizada no sono paradoxal enquanto
outras ações musculares estão paralisadas. Os movimentos oculares rápidos
(REM) que ocorrem no sono paradoxal estão, até certo ponto, associados aos
sonhos. Os pesadelos são sonhos desagradáveis; frequentemente, o horror
específico de um pesadelo é que não há nada que o sofredor possa fazer a
respeito da experiência aterradora. O sonho ocorre no sono REM (paradoxal) e a
sensação transfixada do pesadelo é uma exata representação da paralisia do sono
que ocorre naquela fase.
Sonhos têm sido utilizados para o estabelecimento de teorias psicanalíticas
elaboradas envolvendo a origem do conflito; foge do âmbito deste livro entrar
em discussões nesta área. Este, naturalmente, foi um tópico extensamente
abordado por Sigmund Freud (1976). Mais recentemente, o significado dos
sonhos foi explorado empiricamente por Kramer e colaboradores (1976). Os
sonhos são relembrados e descritos como um evento psíquico: os pesadelos
(sonhos desagradáveis) são geralmente objetos de queixas pelo paciente e podem
ser um sintoma importante de depressão, por exemplo. Os sonhos são
experiências altamente complexas e, até agora, têm desafiado análise e
explicação adequadas. No entanto, algumas características podem ser descritas.
Ocorre a perda de algumas das estruturas da consciência de vigília, com perda
da autoconsciência e da consciência dos limites do próprio corpo. A margem
entre o self e o não self se torna indefinida. O sonhador pode sonhar que está se
fundindo ou se transformando em outra pessoa sem sentir nisto qualquer
contradição. O sentido de tempo também é perdido: não há sentido de
progressão de eventos, mas somente consciência imediata do presente. Os
eventos que ocorrem no sonho incluem aqueles nos quais o próprio sonhador é
essencial. Normalmente há perda do sentido de controle das circunstâncias e
perda das associações físicas e mentais entre as diferentes partes da experiência
total. Portanto, há lacunas inexplicadas, de espaço, tempo e de causalidade.
Juntamente com a perda das conexões temporais e espaciais, há perda de
associações psicológicas entre os eventos. Não há sequência progressiva de
ideias ou figuras em série. O sonho é percebido frequentemente como um grupo
de pequenos trechos de filmes muito diferentes.
Além da perda de estrutura, típica do estado de sonho, há também elementos
que não ocorrem no estado normal de vigília. Estes são mais bem denominados
imagens-sonho, já que não são claramente delírios, alucinações, falsas memórias
ou outras anormalidades de percepção ou ideação característica do estado de
vigília. Estas imagens são mais vívidas do que a fantasia, e têm uma
característica de instantaneidade e importância. Por isso, não nos surpreende que
desde o início dos tempos, as pessoas ajam de acordo com seus sonhos, como se
estes fossem instruções.
Para considerar o sonho como um sintoma e não meramente uma experiência
relembrada, ele precisa se investir de afeto desagradável. Um paciente pode
descrever sonhos prazerosos se for perguntado, mas normalmente não reclama
deles como sintomas, nem pede que sejam removidos. No entanto, se o sonho é
associado à ansiedade, terror, tristeza e, especialmente, se o conteúdo do tema é
recorrente, isto será motivo de queixa e indicará um afeto prevalente;
possivelmente, as áreas de conflito que precipitaram o sofrimento são reveladas
no conteúdo do sonho. Sonhos desagradáveis, nos quais uma parte do evento
traumático é reexperimentado, são uma característica diagnóstica do transtorno
de stress pós-traumático após um grande desastre ou catástrofe.
Hipnose
Marcuse (1959) sugeriu que “definimos hipnose mais pelo que ela faz do que
pelo que ela é”. Em um extremo, a hipnose é considerada um estado de
consciência muito diferente da consciência normal de vigília. Em outro extremo,
Merskey (1979) considera que “os fenômenos da hipnose são idênticos aos da
histeria: eles envolvem autoengodo e a produção de sintomas ou
comportamentos alternativos para a solução de um problema, ainda que não seja
um conflito”. Merskey ainda propôs uma definição:
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CAPÍTULO 5
Distúrbios da Memória
Resumo
A memória possui uma arquitetura bem descrita e delineada, ou seja, memória
sensorial, memória de curto e memória de longo prazo. Por sua vez, a memória
de curto prazo é subdividida em um sistema central executivo e um sistema
subordinado, designados bloco de rascunho visuoespacial e alça fonológica. Esta
arquitetura permite uma compreensão sistemática dos processos subjacentes que
estão em jogo na memória. É útil conceituar os processos da memória como
registro, retenção, recuperação, evocação e reconhecimento. Esses termos
permitem compreender as anormalidades presentes nas deficiências orgânicas da
memória.
Os distúrbios da memória são sempre importantes para quem os sofre;
algumas vezes, no entanto, o esquecimento é igualmente importante e é um
processo ativo, conforme colocado na citação acima. O distúrbio da memória
como uma característica específica após traumatismo craniano e outras
condições foi abordado nos escritos de neuropsiquiatria em meados do século
XIX; Hughlings Jackson (1887) considerava o distúrbio da memória como uma
parte integrante da deterioração do funcionamento mental orgânico. O mais
antigo estudo detalhado sobre perturbação da memória sob o ponto de vista
psicológico foi o de Ribot (1882). Korsakoff (1890) descreveu sua condição
epônima, notando que pode ocorrer um grave déficit de memória em pacientes
cujas demais funções intelectuais e de julgamento estejam preservadas.
Mecanismos da Memória
Uma das principais justificativas para o uso da psicopatologia na descrição de
distúrbios da memória é que não existe um bom análogo de memória nos
animais. Convencionalmente, a perturbação da memória é descrita em termos do
prazo em que a informação foi retida. Se nos concentrarmos nos aspectos
fenomenológicos, na análise da experiência, na verdade é bastante arbitrário
estabelecer uma distinção entre memória e percepção, já que ambas constituem
estágios do processamento de informações (Weinman, 1981). O armazenamento
da memória é organizado de três formas.
Memória sensorial
A memória sensorial é a fase inicial e precoce da memória. Ela contém grandes
quantidades de informações recebidas por um curto período. É um sistema de
seleção e registro pelo qual as percepções entram no sistema da memória (Lezak
et al., 2004). A imagem visual passageira, memória icônica, dura até 200
milissegundos, enquanto a memória auditiva, ecoica, dura até 2.000
milissegundos. A informação selecionada e registrada neste nível precisa ser
posteriormente processada como memória de curto prazo ou rapidamente decai e
se perde.
Distúrbios da memória
Os distúrbios da memória podem ser divididos em psicogênicos, que podem
ocorrer em indivíduos saudáveis, e orgânicos, associados à doença cerebral.
Estes últimos são designados amnésia orgânica, podendo ser identificados pelas
diferentes funções da memória.
Prejuízo de registro
Na amnésia anterógrada, o prejuízo é geralmente demonstrado na falha de
recuperação de informações que ocorre após o surgimento de um insulto ao
sistema nervoso central. Certamente, este prejuízo de recuperação pode se dar
por problemas no estágio de registro (codificação), especialmente em pacientes
com síndrome de Korsakoff. Há evidências de que estes pacientes podem ter
dificuldade em registrar espontaneamente as características semânticas da
informação em nível suficiente no seu recebimento e que esta falha resulta em
falta de memória (Mayes, 2002). Desta forma, a deficiência de registro é causada
por problemas na análise e representação inicial de informações e pela
incapacidade de selecionar as características relevantes de informações. Em um
teste de memorizar listas, por exemplo, as características semânticas das
palavras, como o fato de pertencerem à categoria nomes de flores, não ajudam a
pessoa a codificar as novas informações.
Déficit de retenção
A amnésia retrógrada é a perda da memória de eventos que antecedem uma
lesão cerebral. Assim como na amnésia anterógrada, o déficit é demonstrado no
prejuízo de recuperação, mas se considera resultante de prejuízo de retenção
(armazenamento), principalmente nos casos de lesão cerebral. Geralmente tem
duração curta, de menos de 30 minutos. Normalmente segue um gradiente
temporal no qual memórias mais recentes são mais vulneráveis a perda do que
memórias mais antigas. Existe uma dissociação entre amnésia anterógrada e
retrógrada que sugere que as estruturas anatômicas envolvidas no novo
aprendizado e recuperação de antigas memórias são diferentes.
Déficit de recuperação
Recuperação é a capacidade de acessar informações a partir dos depósitos de
memória. O prejuízo de recuperação pode ser devido a déficit de recuperação
direta, no qual um sinal desencadeia a memória automaticamente, ou de
recuperação estratégica (indireta), em que um sinal provoca um processo de
busca estratégica que produz um resultado. Na recuperação direta, a pergunta
“Você conhece Lagos?” atua como um sinal que desencadeia a memória
automaticamente. Na recuperação estratégica, a pergunta “Quem ganhou a Copa
do Mundo antes do atual campeão?” instiga um processo estratégico que
enquadra o problema da memória, inicia a busca e a restringe, levando a pistas
locais próximas que então ativam processos associativos de memória. O
resultado da memória é então monitorado para verificar sua exatidão e colocado
em um contexto temporal-espacial apropriado em relação a outras memórias
(Gilboa e Moscovitch, 2002). Considera-se que a recuperação direta depende
dos lobos temporais mediais e estruturas relacionadas, ao passo que a
recuperação estratégica depende do córtex pré-frontal ventromedial. A
confabulação é um bom exemplo de condição decorrente de deficiência de
recuperação. Ela resulta de um sistema de memória falho que cria associações
deficientes de memória, estratégias de busca falhas e monitoramento defeituoso
de memórias falhas (Gilboa e Moscovitch, 2002; DeLuca, 2009).
Déficit de reconhecimento
Reconhecimento é o resgate de informações armazenadas que dependem da
identificação de itens anteriormente aprendidos. Na memória episódica, ou seja,
memória de eventos que incluem o contexto, tempo, lugar e emoções associadas
ao evento, o reconhecimento pode tomar a forma de recordação consciente
(lembrar-se) ou por saber, puramente com base em sensação de familiaridade.
Este é o chamado paradigma lembrar/saber, que propõe um sistema de memória
de processo duplo, sendo que um se baseia na lembrança consciente e o outro na
familiaridade. Em outras palavras, a vivência subjetiva que acompanha o
reconhecimento de um estímulo apresentado anteriormente parece ter pelo
menos duas formas. O reconhecimento pode ocorrer quando o estímulo evoca
uma vivência específica na qual ele esteve previamente envolvido ou, o
contrário, o estímulo dá origem apenas à sensação de familiaridade sem qualquer
vivência de lembrança. A reação “lembrar” indica que o reconhecimento do
estímulo traz à mente a lembrança consciente de que aquilo ocorreu
anteriormente, ao passo que a reação “saber” indica que o reconhecimento do
estímulo não está acompanhado de nenhuma lembrança consciente de que tenha
ocorrido anteriormente (Dalla Barba, 1997; Tulving, 2000). O déficit de
reconhecimento foi descrito na doença de Alzheimer (Dalla Barba, 1997) e na
esquizofrenia (Drakeford et al., 2006).
Confabulação
Esta consiste de uma falsificação da memória que ocorre sem alteração da
consciência e associada à amnésia derivada de causas orgânicas (Berlyne, 1972).
A confabulação é mais bem concebida como um termo inespecífico que cobre
uma grande variedade de fenômenos da memória qualitativamente diferentes. O
termo é usado para descrever pequenas distorções de uma memória real como
intrusões, floreios, elaborações ou falso alarme em testes de amnésia
anterógrada. Pode também se referir a descrições altamente implausíveis de
realidades falsas, como afirmar ser um viajante espacial residindo
temporariamente na terra (Gilboa e Moscovitch, 2002; Quadro 5.1). No entanto,
também é verdade que o termo “confabulação” foi, a meu ver,
desnecessariamente expandido para incluir:
1. Confabulações da memória.
2. Confabulações sobre intenções e ações como as que podem ocorrer em
pessoas calosotomisadas ou com hemiplegia do braço esquerdo e
heminegligência e anosognosia.
3. Confabulações perceptuais que ocorrem na síndrome de Anton
caracterizada pela falta de consciência de cegueira.
4. Confabulação sobre emoções (vide Hirstein, 2009, para uma abordagem
mais completa).
Perseveração
A perseveração geralmente ocorre associada a distúrbio da memória e é um sinal
de doença orgânica cerebral, talvez o único sinal patognomônico em psiquiatria.
Ela ocorre em estados de turvação da consciência e é particularmente útil na
distinção entre estes e as anormalidades dissociativas (Allison, 1962). A
perseveração é definida como uma resposta adequada que foi adequada a um
primeiro estímulo sendo dada de forma inadequada a um segundo estímulo,
diferente do primeiro. Isto pode ser demonstrado verbalmente ou em atividade
motora. O entrevistador, ao conduzir o exame do estado mental, pergunta: “Qual
é a capital da Itália?” – “Roma” e subsequentemente pergunta: “Qual é o objeto
que você usa para medir o tempo?” – “Roma”. Ou então, o examinador pede que
o paciente ponha sua mão direita em seu ombro esquerdo, o que ele faz
corretamente, e então, ao pedir que ele coloque a sua mão esquerda em seu
joelho esquerdo, ele outra vez coloca sua mão direita em seu ombro esquerdo.
Esquecimento seletivo
No esquecimento normal, há uma perda ou acesso diminuído a informações
recentemente adquiridas e armazenadas. As taxas de esquecimento são
influenciadas pela significância pessoal da informação, pelo estilo conceitual da
pessoa, pelo grau de processamento e elaboração da informação e pela idade. É
provável que o esquecimento normal seja determinado pelo desuso ou
interferência de aprendizados mais recentes ou materiais mais vívidos e apoiados
em processos fisiológicos ou metabólicos (Lezak et al., 2004). Além disso,
existem duas formas de interferência: proativa e retroativa. Na interferência
proativa, o material que se acabou de aprender interfere na evocação do material
que foi aprendido antes. Na interferência retroativa, o material que foi aprendido
antes interfere na evocação do material que se acabou de aprender (veja Eysenck
e Keane, 2010 para uma análise mais completa).
No entanto, o processo de repressão ou esquecimento seletivo sugere que o
esquecimento não se reduz simplesmente a erros nos mecanismos de
preenchimento e resgate. O esquecimento está sujeito à influência do afeto: quais
sensações são registradas, quais são retidas e por quanto tempo esta informação
estará disponível para evocação. Segundo Freud (1856–1939), memórias
traumáticas ou ameaçadoras são mantidas fora da mente consciente pelo
mecanismo da repressão. Existem outras formas de esquecimento ativo,
incluindo o esquecimento motivado que inclui a repressão como um exemplo e
também o esquecimento deliberado do local onde deixamos nossos óculos ontem
quando estamos procurando por eles hoje! O esquecimento dirigido é o termo
empregado para o processo pelo qual usamos ativamente processos de controle
executivo dentro do córtex pré- frontal para esquecer itens que não desejamos
evocar. Desta forma, o esquecimento é certamente um processo importante e
normativo.
Falsificação da memória
A falsificação da memória ocorre, até certo ponto, devido à interação da
memória com o afeto. Isto foi comentado por Nietzsche (1889): “Eu fiz isso, diz
minha memória; Eu não posso ter feito isso, diz meu orgulho, e permanece
inflexível. Por fim, a memória desiste.”
Na pseudologia fantástica – mentira fluente plausível – os relatos inverídicos
são geralmente grandiosos e extremos. As perguntas são respondidas com
fluência e a pessoa que as relata crê implicitamente na história que conta. Isto,
em geral, ocorre em um transtorno de personalidade associado ao tipo histriônico
ou antissocial e, muitas vezes, quando o indivíduo está passando por uma grave
crise na vida, como enfrentar um processo criminal. O quadro é de uma pessoa
muito isolada, sem família ou amigos, que se envolve em acidente e entra no
serviço de pronto-atendimento de um grande hospital em uma cidade estranha,
tarde da noite, com histórias de suas próprias conquistas e importância e das
vicissitudes que enfrentou. Há sobreposição com o chamado Transtorno Factício.
Em transtornos de personalidade e também em transtornos afetivos,
especialmente em períodos de forte emoção, a memória é falsificada e
distorcida, e eventos e circunstâncias são desvirtuados. A recomendação dos
médicos pode ser extremamente mal interpretada. Um oftalmologista examinou
os olhos de uma paciente deprimida e informou-a de que sua acuidade visual era
satisfatória e que não necessitava de tratamento. Esta relatou a seu psiquiatra que
sua “visão seria ruim para sempre e o oftalmologista me disse que não há nada a
ser feito”.
O déficit de memória é uma característica de estados orgânicos. Quando há
falha de raciocínio e julgamento pode ocorrer falsificação. Assim, os delírios
grandiosos e distúrbios da memória da paresia geral podem resultar em
falsificações e distorção dos eventos recordados. Da mesma forma, a
confabulação, como na síndrome de Korsakoff, está associada à falsificação.
Na esquizofrenia, situações relembradas frequentemente assumem um novo
significado: “Lembro que na semana passada, três carros vermelhos estavam me
seguindo em um semáforo em Stafford (...) eu percebi que estava envolvida com
política.” Isto foi relatado por uma paciente que repentinamente passou a
acreditar que todas as suas ações estavam sendo observadas e,
subsequentemente, que seu comportamento estava sendo controlado. A memória
é exata, mas o significado é distorcido. Devemos fazer a distinção entre
memórias delirantes, nas quais a experiência delirante primária é uma memória
verdadeira com interpretação delirante, e falsificações delirantes retroativas.
Estas ocorrem quando o paciente data o seu delírio para um período anterior ao
do início sua doença, com base na mistura de eventos verdadeiros recordados
com elaboração delirante do significado de tais eventos. Isto foi descrito por
alguns autores como uma forma de confabulação (Nathaniel-James e Frith,
1996; McKenna et al., 2009). No estudo original, no qual o sujeito recebia
narrativas e devia memorizá-las, a confabulação foi definida como recordação de
informações que não estavam presentes na narrativa original. O grau de
confabulação foi relacionado com problemas de supressão de respostas
inadequadas e alterações formais do pensamento. McKenna et al. (2009)
concluem que “Não há dúvida que o fenômeno da confabulação pode ser
observado na esquizofrenia. Está claro que não é nada comum de forma
espontânea e, quando efetivamente ocorre, sempre parece tomar a forma das
chamadas confabulações fantásticas (...) Confabulações simples, momentâneas
ou provocadas, por outro lado, parecem ser bastante comuns.”
A inexatidão da lembrança é algumas vezes denominada paramnésia.
Ocorrendo também em estados normais e em transtornos de personalidade, é
uma característica proeminente dos transtornos afetivos. Uma mulher com
depressão falsificava os acontecimentos de sua vida: “Eu não sou casada, meus
filhos são ilegítimos. Nós não compramos esta casa. Nós estamos falidos.”
Nenhuma dessas afirmações era verdadeira e a falsificação de sua memória
ocorreu devido a seu grave humor depressivo. A memória em si era correta, mas
ao se rebater qualquer fato, eram dadas outras explicações depressivas aos
eventos. A certidão de casamento, por exemplo, foi descrita como uma
falsificação e explicações legais complexas foram dadas para o fato de a casa
não pertencer a ela ou a seu marido. Na mania, eventos ou opiniões inaceitáveis
podem ser colocados de lado como se não tivessem ocorrido e objetivos não
realistas são buscados como se não houvesse nada impedindo a sua conquista.
Síndrome de Ganser
O texto original de Ganser (1898) tem sido muito mal compreendido. Nele, ele
descreveu quatro criminosos que apresentavam os seguintes sintomas:
▪ Vorbeigehen (passar por) ou respostas aproximadas, descritos por Ganser:
“Na escolha de respostas, o paciente parece ignorar deliberadamente a
resposta correta indicada e selecionar uma resposta falsa, que qualquer
criança reconheceria como tal.”
▪ Turvação da consciência com desorientação.
▪ Estigmas “histéricos”.
▪ Histórico recente de traumatismo craniano, tifo ou estresse emocional grave.
▪ “Alucinações” auditivas e visuais (por sua descrição assemelhadas a
pseudoalucinações).
▪ Amnésia durante o período no qual os sintomas acima se manifestaram.
A síndrome de Ganser é vista muito raramente nas prisões inglesas, mas,
quando ocorre, é mais provável naqueles que estão aguardando julgamento do
que nos que já receberam a sentença (Enoch, 1990).
Tem se discutido se esta condição é primariamente histérica ou uma psicose
orgânica, com diferentes autores se dividindo entre as duas posições (Latcham
et al., 1978). Um caso que ilustrou os elementos tanto histéricos (dissociativos)
quanto orgânicos foi o de uma estudante universitária de 20 anos de idade que
sofreu lesão cerebral, com concussão, quando estava na Itália. Sua personalidade
pré-morbida era acentuadamente histriônica e teatral e aos 13 anos ela havia
desenvolvido uma incapacidade histérica de andar durante algumas semanas.
Após ser transferida do hospital italiano para a Inglaterra, ela demonstrou
respostas aproximadas da seguinte forma:
Pergunta: “Qual é a capital da Itália?”
Resposta: “Nápoles.”
Pergunta: “Quantas pernas tem uma centopeia?”
Resposta: “Sete.”
Isto foi acompanhado por interferência no tratamento de outros pacientes,
comportamento sedutor com os funcionários do sexo masculino, mudanças de
humor e modos frívolos. Nos testes em série de função intelectual na Escala
Wechsler de Inteligência Adulta (Wechsler Adult Intelligence Scale), os testes
iniciais 12 dias após a lesão craniana tiveram que ser interrompidos; decorrido
um mês havia um prejuízo acentuado, pior para desempenho do que para itens
verbais. Por fim, a função intelectual retornou a seu nível pré-mórbido, que era
superior, após nove meses. Whitlock (1967) considera que a distinção entre
síndrome de Ganser e pseudodemência está no distúrbio da consciência, presente
na primeira e não na última. No entanto, algumas vezes a turvação da
consciência em um estado orgânico não pode ser diferenciada do estado mental
alterado de transtorno dissociativo quando não há outros sinais orgânicos.
Enoch e Trethowan (1979) consideraram as quatro principais características
da síndrome de Ganser:
▪ Respostas aproximadas
▪ Turvação da consciência
▪ Características de conversão somática
▪ Pseudoalucinações (nem sempre presentes)
Devemos salientar que respostas aproximadas não são inexatidões aleatórias
de adivinhações rápidas, e sim reações que aparecem deliberadamente por não se
possuir a resposta correta. Estes autores consideram a síndrome como uma
reação dissociativa histérica e apontaram a semelhança de características com
aquelas exibidas por pessoas normais solicitadas a simular doença mental, com a
diferença que os sujeitos com Ganser eram subsequentemente amnésicos em
relação ao seu comportamento anormal. Ungvari e Mullen (1997) classificaram a
síndrome de Ganser junto com o grupo controverso de psicoses reativas, de
forma que um evento estressante da vida é o fator usual de predisposição.
Cutting (2011) tem uma nova e original abordagem da síndrome de Ganser.
Baseado no estudo de diversos casos, incluindo dois dele próprio, ele concluiu
que a síndrome de Ganser pode ser parte de uma doença depressiva ou de um
déficit temporário no conhecimento léxico ou semântico do hemisfério esquerdo.
Cutting argumenta que o déficit de conhecimento que se observa na síndrome de
Ganser não é de modo algum histérico, e sim a manifestação de um tipo
específico de déficit cognitivo.
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*
Nota da Revisão Técnica: Tais alterações, em português, são chamadas parafasias
SEÇÃO 3
Consciência da Realidade: Tempo,
Percepção e Julgamento
Resumo
O tempo é essencial para a forma como os seres humanos vivenciam o mundo.
Embora seja difícil definir, existem aspectos claros como duração, sequência,
sincronia, ritmo, passado, presente, orientação futura e deslocamento
unidirecional do tempo, que são facilmente reconhecíveis e entendidos pela
maioria das pessoas sem a necessidade de maiores elaborações. Há também uma
relação importante com o espaço e noções do eu. Em termos gerais,
anormalidades da vivência do tempo podem ser divididas entre aquelas que
afetam o tempo objetivo e aquelas que afetam seus aspectos subjetivos. Também
existem as influências dos ritmos circadianos, estações do ano, ciclos mensais e
períodos de vida que devem ser salientadas.
Na citação, Jaspers chama a atenção para a maneira como os seres humanos
vivem no tempo e no espaço e como toda experiência subjetiva é mediada por
espaço e tempo. Jaspers prossegue:
Esses relatos indicam que o tempo é de difícil definição, mas que existem
alguns aspectos claros como duração, sequência, sincronia, ritmo, passado,
presente, orientação futura e flecha de tempo. Existe também uma relação
importante entre o espaço e a noção de eu, especialmente em relação à própria
identidade, tema que já foi estudado por muitos pensadores, inclusive por Kant
(veja Crítica da Razão Pura).
Temos a sensação de que o tempo deixa uma marca nos mais diversos
aspectos da vida humana, mas de uma forma que sua influência não é geralmente
reconhecida. Além da dimensão explícita, como as formas de medição, existe
uma dimensão do tempo na memória, na linguagem (dada a dependência da
sequência e ordem de palavras para o significado explícito), no ritmo e ordem
das notas na música e em todas as ações que envolvem movimentos simbólicos,
como dança, esportes etc. De forma mais velada, o tempo está envolvido em
conceitos como expectativa, desejo, esperança, oração e até mesmo a morte.
Essas últimas ideias evoluíram dos trabalhos de Eugene Minkowski (1885–
1972), um psiquiatra fenomenologista.
O distúrbio da vivência do tempo é um indicador significativo de que algo não
está bem no eu ou em seus mecanismos. A percepção do tempo e os transtornos
de ritmo biológico serão considerados separadamente neste capítulo. Não há
consenso sobre a classificação dos transtornos do tempo. No entanto, é possível
dividir tais transtornos em duas categorias: transtorno do tempo objetivo e
transtorno do tempo subjetivo (Quadro 6.1).
Desorientação no tempo
A desorientação no tempo é demonstrada pela incapacidade de dizer as horas
corretamente sem recorrer ao relógio, de nomear a data, o dia e a estação do ano.
Este déficit está intimamente ligado a distúrbios de atenção, concentração,
consciência e memória, e é uma característica de delirium e de demência.
Também representa um bom critério clínico para a distinção entre transtornos
orgânicos e funcionais (Cutting, 1997). A segunda anormalidade é a
incapacidade de avaliar a duração do tempo e esta também é afetada em estados
orgânicos.
“Levantou e deitou dezenas de vezes. A noite parecia não ter fim. ‘Já
deve estar para amanhecer’, ele pensou enquanto se erguia e olhava ao
redor. ‘Vou verificar no relógio’ (...) Ele não podia acreditar em seus olhos
(...) Ainda era meia-noite e dez. Ainda tinha a noite inteira pela frente.”
“Tudo parece muito mais longo. Eu diria que era de tarde, embora digam
que é meio-dia. Eles sempre me dizem que é mais cedo do que eu
penso (...) e parece que estou errado e não posso evitar a sensação de
que estou certo (...) não consigo ver o fim em qualquer coisa, somente o
fim do mundo.”
O fluxo de tempo pode ser paralisado de tal maneira que aparenta estar
parado, que de algum modo tudo o que é temporal terminou. Isto é descrito, não
raro, na depressão psicótica. Um paciente diz: “Eu parei de ser, simplesmente
parei, todo o resto parou também.” A incessante marcha sequencial de eventos
não impressiona mais a pessoa com sua inevitabilidade.
Esta sensação de que o tempo parou pode também ser vivenciada em estados
de êxtase, nos quais a pessoa pode sentir que existe no passado, no presente e no
futuro, tudo ao mesmo tempo. Tais estados podem ocorrer na mania, em algumas
condições neuróticas ou em pessoas normais que estejam passando por uma
experiência psicológica excepcional.
Quando a alteração da vivência da passagem do tempo ocorre no quadro de
depressão, o humor depressivo também é aparente. Outro paciente de Lewis
(1967) disse:
“Eu nunca sei o que vai acontecer. É a mais terrível perspectiva que eu
já tive que enfrentar. É tudo eterno. Tenho que sofrer eternamente.”
“Sempre que alguém me dizia alguma coisa, fazia referência a uma parte
da minha vida (...) Uma mente estava vivendo para trás e minha mente
para frente.”
Outro dos pacientes de Minkowski (1970) disse:
“De certa maneira, o tempo mudou. O tempo não deveria ser do jeito que
é. Não sei como.”
Ritmos circadianos
Na comparação do tempo interno com o tempo externo, o tempo do relógio,
estimativas repetidas de intervalos fixos de tempo mostram um aumento gradual
no tempo da estimativa, sugerindo que existe uma desaceleração do relógio
interno. Solicitou-se que os sujeitos dessem opiniões repetidas sobre a duração
de determinado intervalo de tempo; essas estimativas começavam sendo
ligeiramente mais longas que o tempo real e se tornavam progressivamente ainda
mais longas. O período intrínseco do ritmo circadiano é de aproximadamente 25
horas, mas isto é muitas vezes modificado por sugestões externas, como a luz do
dia (Wher e Goodwin, 1983). Isto se assemelha aos achados em experimentos de
vigilância, nos quais há uma diminuição gradual de eficiência. Também foi
encontrada uma maior superestimativa de intervalos fixos pela manhã, quando
comparados com a tarde, o que se considerou estar correlacionado com a
temperatura corporal. O relógio interno acelera quando a temperatura corporal
sobe.
Existem evidências circunstanciais consideráveis, mas pouca evidência direta,
de que os ritmos circadianos estão associados causalmente a transtornos afetivos
(Thompson, 1984). O despertar matinal precoce e a variação diurna de humor,
com humor mais depressivo no início da manhã, são considerados sintomas
biológicos de depressão e foram postulados como avanço de fase do ciclo sono-
vigília; isto é, cada ponto do ritmo ocorre mais cedo que o habitual em relação
ao ciclo luz-escuridão. Existe uma alteração na depressão, no sentido de que o
sono de movimentos oculares rápidos (REM) ocorre mais cedo, ao invés de mais
tarde, durante a noite, e isto também pode indicar o avanço de fase do ritmo
circadiano. A privação do sono tem sido usada com taxa variável de sucesso no
tratamento da depressão; têm sido realizadas pesquisas sobre os aspectos
genéticos e familiares da perturbação do sono, transtornos do sono na depressão
e outras alterações neuropsiquiátricas, e sobre a relação entre a perturbação do
sono na depressão e outras alterações neuroendócrinas (Linkowski e
Mendlewicz, 1993; Vogel et al., 1980).
Embora o humor matutino geralmente se manifeste com o indivíduo se
sentindo pior no início da manhã, às vezes o contrário acontece. Styron (1991)
descreve o seguinte, em relação à sua própria doença depressiva grave:
Ciclos mensais
Obviamente, o ritmo biológico humano que mais se repete mensalmente é o
ciclo menstrual e este tem sido relacionado com mudanças no estado mental,
mas a síndrome pré-menstrual permanece controversa em sua definição, manejo
e implicações político-sociais (Bancroft, 1993). Mudanças psicológicas de
humor semelhantes a um ciclo mensal têm sido buscadas em homens, mas não
foram encontradas de forma convincente. A estimativa da frequência da
síndrome pré-menstrual varia na população geral entre 30% e 80% entre
mulheres em idade reprodutiva (Clare, 1982). Os sintomas psicológicos incluem
letargia, ansiedade, irritabilidade e depressão, mas muitos sintomas são tanto
psicológicos quanto físicos (dor de cabeça, sensação de inchaço, perda de
energia). É o momento da ocorrência e não a natureza dos sintomas que indica o
diagnóstico e existe uma constelação de queixas diferentes dentro da síndrome
(Sampson, 1989).
Muitos dados numéricos foram fornecidos por Dalton (1984) para sustentar a
ideia de que há um aumento de psicopatologia de diversos tipos durante os oito
dias do período pré-menstrual e do próprio período menstrual, em relação ao
restante do ciclo. Ela relatou que 46% das internações psiquiátricas de
emergência, 53% das tentativas de suicídio, 47% das internações por depressão
e 47% das internações por esquizofrenia de mulheres de idade reprodutiva
ocorrem durante estes estágios. No entanto, tais dados ainda não foram
comprovados. Relatos de manifestações incomuns de síndrome pré-menstrual
incluem descrições de alucinações auditivas e delírios de referência apenas no
período pré-menstrual, e estado hipomaníaco ou maníaco no período de 2-3 dias
antes do início da menstruação (Hsiao e Liu, 2007).
Variação sazonal
A estação do ano tem sido associada ao início de episódios de muitas doenças
psiquiátricas. Isto é, compreensivamente, mais pronunciado em latitudes mais
altas do Hemisfério Norte. Foram observadas associações semelhantes de
doenças com o verão ou inverno no Hemisfério Sul.
Tanto no Hemisfério Norte quanto no Hemisfério Sul, pacientes com
diagnóstico de esquizofrenia têm mais propensão de ter nascido nos meses de
inverno (Hare, 1988); isto é mais notadamente encontrado naqueles sem
histórico familiar do transtorno (O’Callaghan et al., 1991). A taxa de internação
em hospitais psiquiátricos é mais alta durante os meses de verão.
Por todas as décadas desde 1921, as taxas de suicídio na Inglaterra e no País
de Gales têm sido mais altas em abril, maio e junho (Morgan, 1979). Parece não
haver associação entre a estação do nascimento e transtorno afetivo; no entanto,
o início de doença depressiva e administração de terapia eletroconvulsiva são
mais comuns na primavera e no outono (Rawnsley, 1982). Symonds e Williams
(1976) encontraram um pico de internação de pacientes maníacos do sexo
feminino em agosto e setembro.
O transtorno afetivo sazonal (transtorno depressivo recorrente F33 em CID-
10) (Organização Mundial da Saúde, 1992) se caracteriza por episódios repetidos
de depressão, que podem variar de intensidade leve a grave e ocorrer novamente,
começando no mesmo período do ano, mais frequentemente no final do inverno
ou da primavera. É mais comum em mulheres do que em homens e tende a
iniciar em idade mais tardia, geralmente por volta dos cinquenta anos. Muitas
vezes, há um grande número de episódios de depressão em transtorno afetivo
sazonal (10 a 17 por paciente), com cada episódio variando de 17 a 23 semanas;
ansiedade, irritabilidade, hipersonia e aumento de apetite e ganho de peso são
sintomas importantes (Thompson e Isaacs, 1988).
Os sintomas característicos desta condição foram medidos pelo Questionário
de Avaliação do Padrão Sazonal (Seasonal Pattern Assessment Questionnaire)
(Thompson et al., 1988). Ela ocorre mais frequentemente em latitudes altas do
Hemisfério Norte. Um estudo conduzido na Finlândia (Saarijärvi et al., 1999),
onde sintomas proeminentes incluíam falta de energia, hipersonia, alimentação
excessiva, ganho de peso e vontade de consumir carboidrato, somados a outros
sintomas depressivos, tiveram menor prevalência entre os Lapps, que são étnica
e geneticamente diferentes dos Finns, que moram na mesma latitude.
Períodos da vida
Praticamente toda a psicopatologia é mediada e influenciada por alterações
situacionais e pelas épocas da vida. É importante levar em conta a
preponderância relativa de diferentes fatores: mudança biológica, pressão do
contexto social e percepção individual da situação de vida. Está fora do objetivo
deste livro descrever estas associações detalhadamente, mas um esboço geral é
apresentado na Figura 6.1. Os efeitos psicológicos de mudanças de vida
importantes foram estudados em situações de cuidados primários: nascimento do
primeiro filho (Jewell, 1984), início da vida escolar (Pitt e Browne, 1984),
puberdade (Howe e Page, 1984) e fim da escolarização (Brown, 1984).
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CAPÍTULO 7
Alterações da Percepção
Por quase sete anos – exceto durante o sono – eu não tive um momento
sequer em que não ouvisse vozes. Elas me acompanham em todos os
lugares e o tempo todo; elas continuam mesmo quando estou
conversando com outras pessoas, elas continuam até mesmo quando
estou concentrado em outras coisas.
Daniel Schreber (1842–1911)
Resumo
As anormalidades da percepção continuam sendo as experiências mais
convincentes que os pacientes podem apresentar. Estas experiências se referem
às estruturas fundamentais do mundo perceptivo e aos correlatos neurais que
tornam a própria percepção possível. Dentre elas, distorções sensoriais e falsas
percepções apontam para a importância relativa e para as distinções que devem
ser traçadas entre sensação e percepção. A ilusão, que é a interpretação errônea
de uma percepção normal, e a alucinação, que é a percepção de um objeto na
ausência de estímulo, são as duas falsas percepções mais frequentemente
encontradas na prática clínica.
Os transtornos da percepção, especialmente as alucinações auditivas ou o
“ouvir vozes”, têm um papel central na psicopatologia. Juntamente com os
delírios (Capítulo 8), eles são considerados um sintoma de doença mental. Esta
aparente associação com doença mental significa que “ouvir vozes” é um sinal
de doença mental grave e que alucinações anunciam a loucura. Neste capítulo, a
natureza da sensação, da percepção e das representações será discutida como
uma introdução à investigação da natureza dos transtornos de percepção.
Sensação e Percepção
A sensação é apenas o primeiro estágio do recebimento de informações externas
ao eu. O sistema sensorial abrange a via visual, auditiva, tátil, olfatória,
gustativa, cinestésica e proprioceptiva. Estas vias lidam com o recebimento,
transformação e transmissão de dados sensoriais crus e distintos ao sistema
nervoso central. A transformação de um estímulo cru em informação sensorial,
que será posteriormente decodificada para uma percepção com significado no
nível cortical, envolve processos ativos que são influenciados pela atenção,
afeto, expectativas culturais, contexto, experiências anteriores, memória e, acima
de tudo, conceitos anteriores. Portanto, a percepção não é um processo passivo e
sim ativo, que envolve a construção de um mundo externo que se baseia em
moldes internos.
Muito do que sabemos sobre sensação e percepção vem do nosso
conhecimento sobre o sistema visual. No sistema visual, a sensação da luz é
recebida pela retina e transformada em um código neural, que é transmitido das
células ganglionares da retina ao córtex visual primário através do núcleo
geniculado lateral do tálamo. A percepção ocorre quando um estímulo passa por
processamento em termos de forma, cor, movimento e significado.
A distinção entre sensação e percepção é bem ilustrada na dissociação entre
sensação intacta e prejuízo da percepção na agnosia. Na agnosia de objetos
visuais, o sujeito é capaz de perceber que um objeto está em seu campo de visão
(ou seja, sentido intacto), mas é incapaz de reconhecer qual é o objeto ou sua
função (percepção prejudicada). Este modelo visual da percepção provavelmente
tem correspondente dentro de outros sistemas sensoriais.
Oliver Sachs (1995) conta a história de Virgil, um homem de 51 anos que é
cego desde a infância. Ele passou por uma extração de catarata, mas a volta do
sentido da visão não foi acompanhada de percepções descomplicadas. Virgil era
capaz de “captar detalhes incessantemente – mas não era capaz de sintetizá-los,
de formar uma percepção complexa à primeira vista. Este era um dos motivos
para o gato ser tão intrigante visualmente; ele via uma pata, o nariz, o rabo, uma
orelha, mas não conseguia ver tudo junto, enxergar o gato como um todo”. Este
caso lembra o paciente de Gregory (2004), S.B., que quando lhe foi mostrado
um torno mecânico após recobrada sua visão, “não conseguiu dizer nada sobre
ele, exceto que a parte mais próxima parecia uma maçaneta (...) Ele se queixou
que não conseguia enxergar a extremidade de corte nem o metal que estava
sendo trabalhado, nem nada mais e parecia bastante agitado (...) Foi permitido
que S.B. tocasse o torno. O resultado foi surpreendente (...) Ele passou as suas
mãos avidamente pelo torno, com os olhos fechados. Depois se afastou um
pouco, abriu os olhos e disse: ‘Agora que eu senti eu consigo enxergar”. Esses
dois casos marcam a diferenciação entre sensação e percepção e confirmam que
“o mundo não nos é dado: nós fazemos o mundo através de experiências,
categorização, memória e reconexão incessantes” (Sachs, 1995).
Existem vários modelos que competem entre si sobre o modo como ocorre o
reconhecimento através do sistema visual. Entretanto, a descrição detalhada
desses modelos está fora do objetivo deste capítulo (Smith e Kosslyn, 2007).
Processamentos ascendentes (bottom-up) consistem no processo primário que
transforma a sensação na percepção de objetos que tem forma, cor, motricidade e
localização no espaço. Por outro lado, processos descendentes (top-down) se
referem à influência que nossa experiência com percepção de objetos tem para
diminuir a competição entre possíveis interpretações a partir de informações
sensoriais. Os modelos alternativos de processos descendentes que tentam
explicar o reconhecimento de objeto, ou seja, a percepção, são o modelo de
correspondência de padrões, o modelo de correspondência de características, o
modelo de reconhecimento pelos componentes e os modelos de conformidade.
O modelo de correspondência de padrões requer um padrão interno na
memória com o qual um objeto possa ser pareado. O ponto fraco deste modelo é
ser necessário adaptar o tamanho e a orientação do objeto, e isto deve ser rápido
e de forma confiável. O modelo de correspondência de características requer que
uma característica distinta e única de um objeto seja, por si só, suficiente para
identificar o objeto. As árvores só precisam ser especificadas por ter tronco e
galhos, pouco importando a localização exata dos galhos e o tamanho do tronco.
O modelo de reconhecimento através dos componentes requer conhecimento da
ordem correta de partes em um espaço tridimensional. Assim,
independentemente da perspectiva, uma bicicleta ainda é reconhecida como uma
bicicleta. Por fim, o modelo de conformidade é um refinamento do modelo de
reconhecimento pelos componentes. Ele lida com os mecanismos que
possibilitam o reconhecimento através de exemplos de uma classe de objetos.
Esta é a distinção que ocorre, por exemplo, entre diferentes marcas de carros, a
variação que determina que um carro é Mercedes e outro é Volvo.
Representações
Representações mentais internas do mundo são recuperadas ativamente da
memória. A representação está na base da nossa capacidade para muitas
atividades cognitivas como aritmética mental, leitura de mapas, visualização,
representações de lugares visitados anteriormente e lembrança de discursos
falados. Na vida cotidiana é comum se dizer “enxergar com os olhos da mente”
ou “ouvir com os ouvidos da mente”. Estes termos se referem à representação.
Jaspers (1962) descreveu as características formais da representação da seguinte
forma:
1. Representações são figurativas e têm um caráter de subjetividade.
2. Elas aparecem em espaços subjetivos internos.
3. Elas não são claramente delineadas e nos parecem incompletas.
4. Embora os elementos sensoriais sejam individualmente iguais aos da
percepção, grande parte deles é insuficiente.
5. As representações se dissipam e sempre precisam ser recriadas.
6. As representações são criadas ativamente e dependem da nossa vontade
(Tabela 7.1).
Tabela 7.1
Características formais da percepção normal e da representação
Uma das coisas que eu amo no meu marido é a cor da sua voz e da sua
risada. É um marrom dourado lindo, como uma torrada crocante,
amanteigada, o que soa bem estranho, eu sei, mas é muito real.
(Cytowic e Eagleman, 2009)
Percepção anormal
Passaremos a dividir a percepção anormal em distorções sensoriais, nas quais
um objeto real é percebido de uma forma distorcida, e falsas percepções, nas
quais ocorre uma nova percepção que pode ou não ocorrer em resposta a um
estímulo externo. As ilusões, alucinações e pseudoalucinações serão incluídas
no campo das falsas percepções. Também deve ser levada em conta a
possibilidade de um déficit neurológico que possa estar afetando a percepção.
Subjetivamente, a alucinação se assemelha a uma percepção sensorial: ela é
vivenciada como uma percepção normal e pode ser diferenciada dos elementos
de fantasia de que se revestem. Na representação vívida, toda experiência é
imaginária. As pseudoalucinações têm uma estreita afinidade com as
representações, mas também apresentam alguns aspectos característicos de
percepção sensorial ou alucinação: a vivacidade, definição, constância e aparente
independência da vontade.
Distorções sensoriais
A perturbação do estado mental, com ou sem patologia cerebral orgânica, pode
causar distorção sensorial. Esta distorção pode envolver qualquer um dos
componentes ou aspectos elementares da percepção, como singularidade,
tamanho, forma, cor, localização, movimento ou qualidade geral. O que é
significativo é que o objeto que foi percebido é reconhecido e identificado de
forma correta, mas ainda assim há um desvio de sua aparência costumeira sem
prejudicar o conhecimento do que é (Cutting, 1997).
Clivagem da Percepção
Este fenômeno bastante raro é por vezes descrito em estados orgânicos e também
na esquizofrenia: o paciente é incapaz de estabelecer as relações costumeiras e
presumidas entre duas ou mais percepções. Uma paciente assistindo televisão
vivenciou uma sensação de competição entre a percepção visual e a percepção
auditiva. Ela sentia que as duas não vinham da mesma fonte, mas estavam
brigando por sua atenção e enviando mensagens opostas. A clivagem da
percepção ocorre quando não é feita a ligação entre diferentes modalidades
sensoriais, e assim as sensações em si, embora de fato associadas, parecem ser
bastante separadas e até mesmo em conflito.
Falsa percepção
Agora nos voltaremos da percepção alterada de objetos reais para o estudo da
percepção de objetos que não estão presentes; estas são novas percepções que
incluem ilusão, alucinação e pseudoalucinação. As ilusões foram diferenciadas
fenomenologicamente das alucinações por Esquirol (1817) e posteriormente
também por Hagen, que introduziu o termo pseudoalucinação (Berrios, 1996).
Ele as descreveu como transformações de percepções que ocorrem com a
combinação das percepções reproduzidas a partir da fantasia do indivíduo com
percepções naturais.
Ilusão
Em geral, são descritos três tipos de ilusão: ilusão de completude, ilusão de afeto
e ilusão de pareidolia. A ilusão de completude ocorre devido à desatenção. As
letras desbotadas de um anúncio na frente de uma oficina são representadas na
Figura 7.1. Mais interessado em música do que em carros, o autor
constantemente o lê incorretamente como “Vivaldi”. Geralmente ignoramos os
erros de impressão em um jornal porque lemos as palavras como se tivessem
sido escritas corretamente. A partir do momento em que nossa atenção é voltada
para o erro, nossa percepção se altera. Uma percepção incompleta que não tem
sentido em si mesma é preenchida por um processo de extrapolação de
experiências e expectativas anteriores para produzir significado.
FIGURA 7.1 Ilusão.
Alucinação
Fenomenologicamente, as alucinações são os tipos mais significativos de falsas
percepções. Aqui estão cinco definições de alucinação:
▪ Uma percepção sem objeto (Esquirol, 1817).
▪ Alucinações propriamente ditas são falsas percepções que não são distorções
de percepções reais, mas que surgem por conta própria, como algo bastante
novo, e ocorrem simultânea e paralelamente com a percepção real
(Jaspers, 1962).
▪ Uma alucinação é um percepto exteroceptivo ou interoceptivo que não
corresponde a um objeto real (Smythies, 1956).
▪ De acordo com Slate (1976 a), três critérios são essenciais para uma definição
operacional: (a) a experiência do tipo percepto na ausência de um estímulo
externo; (b) a experiência tipo percepto que tem toda a força e o impacto de
percepções reais; e (c) a experiência tipo percepto que é indesejada, ocorre
espontaneamente e não pode ser facilmente controlada por quem a recebe.
Esta definição é derivada das características formais de percepção normal de
Jasper (Tabela 7.1).
▪ Segundo Cutting (1997), uma alucinação é a percepção sem objeto (dentro de
um quadro filosófico realista) ou o aspecto de alguma coisa específica no
mundo sem qualquer evento relevante correspondente (dentro de um quadro
Kantiano).
Um dos fatos mais simples sobre alucinações é frequentemente um dos mais
difíceis de compreender. Ou seja, o que o médico chama de alucinação, para o
paciente é uma experiência sensorial normal. Embora as definições padrão de
alucinação signifiquem que, subjetivamente, a alucinação é indistinguível de um
percepto normal, alguns autores argumentam que elas podem ser distintas (veja a
seguir). Uma das pistas que a pessoa acometida usa para compreender que pode
estar de fato tendo uma alucinação é o fato de não existirem provas
corroborativas para o percepto em outras modalidades. Uma mulher ouve vozes
que comentam a sua atividade: “Ela está indo até a pia. Ela está servindo café.”
Ela não vê ninguém no cômodo, mas reconhece as vozes dos vizinhos. Ela não
consegue entender como os pode estar ouvindo, mas está tão convencida sobre a
veracidade das vozes que ela fecha as cortinas e tira os espelhos das paredes.
Existe um conflito em sua mente: ela ouve as vozes, mas não vê ninguém
responsável por elas. No entanto, ela resolve esse conflito de maneira racional,
presumindo que ela acredite implicitamente que a percepção é genuína: “Alguém
deve ter consertado um dispositivo ou alterado meu sentido de audição.” O que é
importante é que ela não duvida da realidade do perceito.
Horowitz (1975) investigou alucinações através de uma abordagem cognitiva,
observando cada um dos seguintes conceitos em termos de codificação,
avaliação e transformação de informações.
Alucinação auditiva
As alucinações podem ocorrer em qualquer uma das cinco áreas especiais dos
sentidos e também na sensação somática. Começaremos discutindo as
alucinações auditivas, já que frequentemente têm alta significância diagnóstica.
Nos estados orgânicos agudos, as alucinações auditivas são geralmente sons não
estruturados – alucinações elementares; por exemplo, o paciente ouve ruídos de
alguma coisa se arrastando ou chocalhos, assobios, maquinário ou música.
Frequentemente esses ruídos são considerados muito desagradáveis e
assustadores. É interessante observar as alucinações musicais, que tendem a
ocorrer em mulheres mais velhas com surdez ou doença cerebral e sem histórico
de doença psiquiátrica (Berrios, 1990). Portanto, há semelhanças com a
síndrome de Charles Bonnet, descrita na seção sobre alucinações visuais.
Certamente, ouvir vozes é uma característica da esquizofrenia que também
pode ocorrer em outras condições, como por exemplo, na alucinose alcoólica
crônica ou psicoses afetivas. Geralmente em estados orgânicos, estas
alucinações auditivas são palavras simples ou frases curtas, frequentemente ditas
ao paciente na segunda pessoa, seja como ordens peremptórias ou como
comentários ofensivos. Vozes ofensivas ou imperativas também ocorrem na
esquizofrenia, mas também são ouvidas outras falas mais complexas; as vozes
podem ser isoladas ou múltiplas, masculinas, femininas ou ambas, de pessoas
conhecidas e reconhecidas pelo paciente, ou desconhecidas. Elas são percebidas
como se viessem de fora de sua cabeça ou do eu. A voz é clara, objetiva e
definitiva e é vista pelo paciente como um percepto normal que, ao mesmo
tempo, pode ter sentido desconcertante e incompreensível. Especialmente
características da esquizofrenia são as vozes que dizem os pensamentos do
próprio paciente em voz alta, que fazem um comentário contínuo sobre as ações
do paciente ou vozes que discutem vigorosamente entre si. Elas se referem ao
paciente na terceira pessoa (Schneider, 1959).
Em uma série de 100 pacientes vivenciando alucinações auditivas, todos
descritos como “ouvindo vozes”, 61 sofriam de esquizofrenia e 78 de condições
relacionadas com a esquizofrenia (Nayani e David, 1996); 52% dos pacientes
tinham experiência de tristeza e 45% vivenciaram agitação ou “frio na barriga”
durante ou antes do surgimento. A maioria das vozes falava em tom coloquial,
mas algumas sussurravam e outras gritavam; metade da amostra ouvia sua
própria voz através dos ouvidos como se fosse um estímulo externo. A maioria
das vozes era masculina, geralmente de um homem de meia-idade e
frequentemente falando com um sotaque diferente do sotaque do paciente como,
por exemplo, “uma voz de classe alta”. Os sujeitos ouviam uma média de 3,2
vozes diferentes e frequentemente conheciam a identidade de pelo menos uma
delas; em metade dos sujeitos, as vozes significavam forças do Bem e do Mal.
Metade dos sujeitos conseguia exercer algum controle sobre suas vozes e 2/3
tinham desenvolvido mecanismos para lidar com elas; foram encontrados altos
níveis de sofrimento entre aqueles com baixo controle e poucos mecanismos de
manejo das vozes. A maioria dos participantes atribuiu características de
realidade às suas vozes. Um longo histórico de alucinações auditivas tendia a
estar associado com mais palavras alucinatórias, mais vozes, maior variedade de
expressão emocional, estilo gramatical e probabilidade de interpretar as vozes de
forma delirante.
As alucinações auditivas na esquizofrenia são geralmente eventos privados,
mas diversos autores mais antigos observaram vocalizações que correspondiam
ao conteúdo das vozes que ocorriam simultaneamente a alucinações. Pessoas
normais ocasionalmente vocalizam seus próprios pensamentos em voz baixa; no
seu equivalente psicótico, parece que às vezes os indivíduos com esquizofrenia
vocalizam as suas alucinações ao mesmo tempo em que as vivenciam. Green e
Preston (1981) aumentaram a audibilidade dos sussurros de um desses pacientes
a um nível inteligível usando feedback auditivo.
Às vezes, pacientes com esquizofrenia descrevem percepções anormais nas
duas modalidades, visual e auditiva. O examinador deve ter cuidado para não
presumir que as duas alucinações estejam presentes, tanto a auditiva quanto a
visual; pode haver uma forma diferente, principalmente para a experiência
visual. Um homem de 45 anos descreveu sua experiência da seguinte maneira:
“Eu ouço meus sobrinhos falando [sobre mim]. ‘Ele é viado [homossexual] e um
pervertido’ (...) Eu também enxergo os meus sobrinhos. As cortinas se movem e
eu sei que são eles que as estão movimentando.” Esta é a descrição de uma
alucinação auditiva persecutória, mas a experiência visual é uma interpretação
delirante de uma percepção normal e não uma alucinação visual.
As descrições das vozes pelos próprios pacientes variam imensamente. Às
vezes os pacientes falam aberta e casualmente sobre suas “vozes”. Não raro, um
paciente pode negar vozes, mas afirmar que escuta “mensagens faladas”,
“transmissões” ou qualquer outro som falado e pode ser difícil definir se essa é
uma percepção real ou uma alucinação auditiva. As vozes podem ser tão
persistentes, convincentes e interessantes que uma conversa normal com o
médico é considerada comparativamente entediante e até mesmo irreal. As vozes
podem formar um pano de fundo constante na vida, tão certas que grande parte
da fala e do comportamento do paciente é dedicada a responder e obedecer a
essas vozes. As equipes de enfermagem psiquiátrica frequentemente observam
que as alucinações auditivas descritas pelos pacientes lhes são tão reais quanto
qualquer outra conversa relembrada, e tanto as percepções auditivas
alucinatórias quanto as reais formam as memórias nas quais os pacientes
baseiam sua vida e seu comportamento atual.
As alucinações auditivas ocorrem quando existe uma combinação de imagens
mentais vívidas e fraco teste de realidade na modalidade auditiva (Slade, 1976b).
Isto foi investigado com uma bateria de testes que incluiu o efeito da
transformação verbal. A palavra “tress” foi repetida em um gravador para os
pacientes durante 10 minutos. Depois de um tempo, as pessoas começaram a
ouvir outras palavras e sílabas. Os indivíduos normais e os pacientes com
esquizofrenia que não estavam sofrendo de alucinação auditiva, em geral ouviam
palavras que estavam foneticamente ligadas ao monossílabo original; mas os
pacientes que tinham alucinação auditiva ouviam vozes bastante diferentes
foneticamente com a mesma frequência daquelas a que estavam ligadas.
Parece que as alucinações auditivas dependem da importância do estímulo
sensorial. Quando diversos tipos de estímulos auditivos eram apresentados aos
pacientes com esquizofrenia que sofriam de alucinações, foi constatado que não
era o grau do estímulo externo que diminuía as alucinações, mas sim a natureza
do estímulo e o grau de atenção que recebiam. Quando era necessário o
monitoramento ativo do material pelo paciente lendo um texto em voz alta para
determinar seu conteúdo posteriormente, havia uma maior diminuição da
experiência alucinatória do que em qualquer uma das condições nas quais os
sons eram reproduzidos para o paciente em fones de ouvido (Margo et al., 1981).
Morley (1987) relatou o tratamento psicológico de um homem de 30 anos com
alucinações auditivas. A distração através de música reproduzida em um
gravador portátil produzia uma redução temporária na frequência e na clareza
das alucinações. Subsequentemente, essas alucinações eram completamente
eliminadas com um tampão de ouvido unilateral: a atenção foi considerada mais
eficaz do que a distração. O paciente localizou a alucinação a “cerca de 30
centímetros de distância de meu ouvido direito” e o tampão foi eficaz somente
no ouvido direito.
Os pacientes com esquizofrenia vivenciando alucinações auditivas apresentam
prejuízo no processamento cognitivo, nos aspectos de tolerância à ambiguidade e
na disponibilidade de significados alternativos. A tolerância à ambiguidade foi
testada solicitando que o paciente reconhecesse uma palavra falada, que era
obscurecida por um ruído de pessoas lendo. O volume do ruído era
gradativamente reduzido até que ocorresse o reconhecimento. Os significados
alternativos testam o conhecimento do indivíduo sobre os significados menos
familiares das palavras. Estes dois processos reduziam a qualidade da percepção
(resultando em alucinação) ao introduzir erros de julgamento prematuro sem a
segurança das alternativas subsequentemente alteradas (Heilbrun e Blum, 1984).
Algumas alucinações auditivas são consideradas “sintomas de primeira ordem
da esquizofrenia” (Schneider, 1959); estes são pensamentos audíveis, vozes
discutindo umas com as outras e vozes comentando o comportamento do
paciente. Estas três perturbações da percepção, assim como outros sintomas de
primeira ordem, representam uma enorme interferência nos limites do eu, na
descriminação entre “Eu” e “não Eu” (Sims, 1991).
Os mecanismos empregados por pacientes com esquizofrenia crônica para
lidar com alucinações auditivas persistentes foram discutidos por Falloon e
Talbot (1981). As estratégias utilizadas para lidar com vozes invasivas podem
ser classificadas como mudanças no comportamento, nos estados sensorial ou
afetivo e na cognição. Mudanças no comportamento incluíam alteração da
postura, como se deitar ou buscar a companhia de outros. A excitação fisiológica
foi alterada para lidar com as alucinações através de relaxamento ou exercícios
físicos, como caminhadas. Os métodos cognitivos incluíam controle de atenção
ou supressão ativa das alucinações. Estes autores acreditam que a aplicação de
estratégias de senso comum utilizadas pelos pacientes pode ser benéfica no
controle desses sintomas aflitivos.
Por último, existe grande debate sobre a presença das alucinações
auditivas/verbais em outros transtornos, que não psicoses, tais como distúrbios
de personalidade borderline e também em populações normais (McCarthy-
Jones, 2012). A pergunta que continua sem resposta é se a forma dessas
alucinações verbais é idêntica à forma das alucinações verbais na esquizofrenia,
por exemplo.
Alucinação visual
As alucinações visuais ocorrem de modo mais característico em estados
orgânicos do que nas psicoses funcionais. Um homem casado, de 69 anos, foi
encaminhado ao setor de emergência psiquiátrica para avaliação. Ele disse que
sua vida tinha acabado e que merecia morrer, porque tinha sido pego se
masturbando naquela tarde por sua nora e netos. Sua esposa disse que isto não
era verdade; ele tinha ficado muito agitado e aflito por mais de 12 horas e
ninguém tinha ido visitá-los naquele dia. Durante a entrevista ele se mostrou
muito agitado e cobria seu rosto com as mãos. Ele afirmava que podia ver
claramente uma folha de vidro meio metro à sua frente, que ele tentava remover.
Mais tarde, ele descreveu ver poeira caindo de todos os lugares e tentava pegá-
la. Ele manifestou turvação da consciência. Um diagnóstico de encefalite viral
foi feito com base no histórico de cefaleias constantes, nos sinais neurológicos e
na descoberta de linfocitose no líquido cefalorraquidiano.
Em geral, é difícil determinar se estão presentes todos os critérios para a
presença de alucinação na modalidade visual. A distorção do percepto visual,
baseada na sensação de estímulos externos ou interferência interna no campo
visual, pode produzir perturbações semelhantes às que ocorrem com percepções
inteiramente novas. Às vezes, o relato da experiência fornecida pelo próprio
paciente soa mais como uma transformação sensorial do que como uma
alucinação, mas a natureza bizarra e complexa da experiência dificulta a
descrição fenomenológica.
As alucinações visuais ocorrem com a presença de tumores do lobo occipital
que envolvem o córtex visual como, por exemplo, granuloma tuberculoso no
lobo occipital esquerdo causado por efeito “estelar” no campo visual direito
(Werring e Marsden, 1999). Alucinações e outras perturbações visuais podem
ocorrer na presença de outras lesões físicas, como a perda da visão de cores,
hemianopsia homônima (perda de metade do campo de visão, a mesma metade
em ambos os olhos; Komel, 1985), dislexia (incapacidade de ler no nível
adequado à idade e inteligência do indivíduo), alexia (cegueira de palavra) em
lesões no hemisfério dominante e cegueira cortical (cegueira devido a uma lesão
no centro visual cortical). Como no delirium tremens, elas podem estar
associadas a um afeto de terror ou a um afeto divertido absurdo. Alucinações
visuais semelhantes, ilusões e mudanças de humor ocorrem em outras formas de
delirium. As alucinações visuais também ocorrem em estados de pós-concussão,
nos estados crepusculares epiléticos e em perturbações metabólicas, como, por
exemplo, na insuficiência hepática. As alucinações visuais também têm sido
descritas em diversos processos de demência, inclusive no mal de Alzheimer
(Burns et al., 1990), demência senil (Haddad e Benbow, 1992), demência por
múltiplos infartos (Cummings et al., 1987), doença de Pick (Ey, 1973) e coreia
de Huntington (Lishman, 1989). Entre os encaminhamentos para serviço
psiquiátrico geriátrico, a perturbação perceptiva visual ocorria em 30% dos
pacientes; havia forte correlação entre a presença de alucinação visual e
patologia ocular (Berrios e Brook, 1984). De fato, alucinações visuais são
comuns em pacientes idosos em uma vasta gama de condições médicas e
frequentemente sem histórico psiquiátrico (Barodawala e Mulley, 1997).
Alucinações também têm sido descritas por pessoas depois de cheirar cola e
gasolina. Drogas como a mescalina e dietilamida do ácido lisérgico (LSD) são
fortes causas de alteração na percepção visual. As alucinações visuais variam
infinitamente em seu conteúdo. Elas vão desde raios de luz ou cores,
(alucinações elementares) passando por padrões e formas mais organizados, até
percepções complexas, íntegras, de pessoas e cenas. Alucinações visuais e
auditivas podem ocorrer de forma sincronizada em estados orgânicos, por
exemplo, na epilepsia do lobo temporal, em que a alucinação visual de uma
figura humana também foi ouvida.
As drogas psicomiméticas levam a alterações na percepção espacial, na
percepção do movimento e coloração, também podendo resultar em ilusões
visuais e alucinações. As alucinações visuais não são comuns na esquizofrenia
(embora alguns autores mais antigos usassem o termo alucinação para outras
anormalidades visuais observadas). Persaud e Cutting (1991) cautelosamente se
referem a “experiências perceptivas anômalas na modalidade visual” em
pacientes esquizofrênicos, como, por exemplo, o paciente que embora
reconhecendo um rosto, o considera distorcido. Estes autores relataram quatro
desses casos de perturbação de percepção em um campo visual, sempre o
esquerdo. Não é reconhecida a ocorrência de alucinações visuais em psicoses
afetivas não complicadas. Na esquizofrenia, é comum que o paciente descreva
alucinações auditivas associadas a pseudoalucinações visuais. Embora as
alucinações auditivas sejam completas e subjetivamente aparentem ter todas as
características de um percepto normal, as experiências visuais são
frequentemente determinadas com base nas alucinações auditivas e delírios
atuais. Na maioria dos casos, é possível perceber como a fantasia alterada por
psicose é responsável pelo conteúdo das experiências visuais. Foram descritas
cenas de alucinação elaboradas e vívidas em estados oniróides da esquizofrenia.
Nestas condições também ocorre um estado alterado de consciência.
Ocasionalmente, as alucinações visuais não parecem estar associadas a
qualquer outra anormalidade psiquiátrica. A síndrome de Charles Bonnet
(imagens visuais “fantasmas”) é uma condição na qual os indivíduos vivenciam
alucinações visuais complexas associadas a déficits visuais, sem uma
psicopatologia demonstrável ou perturbação da consciência normal (Schultz e
Melzack, 1991). Embora mais comum entre os idosos, elas podem ocorrer em
qualquer idade e são em geral associadas à redução da visão central ou
periférica. Os episódios podem durar de dias a anos, com relatos mais frequentes
de imagens de pessoas, animais, edifícios e cenários, com as imagens estáticas,
se movendo no campo visual ou animadas. Certamente, esta condição é de
grande importância no diagnóstico diferencial.
Na maioria dos casos da síndrome de Charles Bonnet, e de alucinose musical
em surdos, à qual se assemelha, não há patologia cerebral demonstrável (Fuchs e
Lauter, 1992). As características desta síndrome foram consideradas as seguintes
por Podoll et al. (1990):
▪ Idosos com consciência normal e alucinação visual.
▪ Sem presença de: delirium, demência, síndromes orgânicas afetivas ou
delirantes, psicose, intoxicação ou transtorno neurológico com lesões no
córtex visual central.
▪ Visão reduzida, na maioria dos casos em decorrência de doença nos olhos.
As alucinações nesta condição estão sempre localizadas no espaço externo,
são geralmente coloridas e muito mais vívidas e claras do que a visão
prejudicada do paciente permitiria. Em cerca de 1/3 dos casos, seu conteúdo é
elementar, como padrões geométricos. Objetos complexos geralmente têm a
forma de figuras humanas e, menos frequentemente, animais, plantas e objetos
inanimados; estes objetos podem estar fragmentados e mudar com o passar do
tempo – figuras sobrevoando o quarto. Os perceptos podem ser modificados
através do controle voluntário, como, por exemplo, fechar os olhos, e geralmente
ocorre um insight de que “não são reais”. Ocasionalmente, isto está associado a
medo de doença mental, sugerindo que esses fenômenos sejam
pseudoalucinações e não alucinações “verdadeiras”.
A síndrome de abstinência alcoólica do delirium tremens é uma forma
específica de síndrome orgânica aguda e é caracterizada por grandes alterações
na percepção, humor e estado de consciência (Capítulo 3). Ilusões pareidólicas
ou afetivas são frequentemente prodrômicas no delirium tremens e são seguidas
por alucinações liliputianas visuais e táteis, frequentemente envolvendo
pequenos animais ou homens minúsculos. Existe uma imbricação bizarra de
afeto, de maneira que o paciente vive absoluto terror e, ao mesmo tempo, uma
espécie de comicidade, comum nesses transtornos.
As alucinações no delirium tremens podem mudar tão rapidamente que o
paciente tem dificuldade de descrevê-las. Um paciente passando por tal
fenômeno visual tentou retratá-lo como mostra a Figura 7.2. As ilusões estão
frequentemente associadas a alucinações, especialmente as ilusões afetivas, nas
quais, através do estado predominante de terror, rachaduras na parede da
enfermaria ou cortinas balançando com o vento podem ser interpretadas de
maneira assustadora. Ao mesmo tempo, esses pacientes são altamente
sugestionáveis e podem formar as experiências visuais anormais por sugestão.
FIGURA 7.2 A experiência do delirium tremens.
Alucinações Olfativas
A sensação ou memória olfativa é frequentemente associada a ressonâncias
emocionais poderosas; portanto, não é de surpreender que as alucinações são
revestidas de grande componente afetivo. As alucinações olfativas ocorrem na
esquizofrenia, na epilepsia e em alguns estados orgânicos. O paciente tem uma
alucinação de cheiro. O cheiro pode ser desagradável ou não, mas geralmente
tem um significado especial e pessoal (a qualidade de relevância de Aggernaes);
por exemplo, pode estar associado à convicção de que as pessoas estão
bombeando um gás venenoso ou anestésico na casa, que apenas o paciente pode
sentir. Ocasionalmente, pacientes têm uma alucinação olfativa relacionada
consigo mesmos: “Eu tenho um cheiro repulsivo, insuportável – como um
cadáver, como fezes.” Este paciente, em especial, se suicidou. Ele sentia que
criara tamanho mau cheiro a ponto de se tornar intolerável em qualquer
sociedade razoável. Às vezes os pacientes interpretam mal e supervalorizam
odores corporais normais. Um delírio de um paciente que acredita ter mau cheiro
sem uma alucinação olfativa concomitante é bastante comum na esquizofrenia e
em estados paranoides relacionados.
As alucinações olfativas ocorrem na epilepsia, especialmente em associação
com um foco no lobo temporal e comumente integram o início (a fase mais
precoce) de convulsões. Um paciente descreveu o cheiro de borracha queimada
pouco antes de ficar inconsciente. Alucinações visuais, auditivas, gustativas e
viscerais também ocorrem na epilepsia do lobo temporal.
Alucinações Gustativas
As alucinações gustativas ocorrem em diversas condições. Na esquizofrenia elas
podem ocorrer com delírios de envenenamento. Podem ser um gosto persistente,
como “cebolas”, “um gosto metálico” ou algum tipo de gosto mais estranho. Na
depressão e na esquizofrenia, o sabor da comida pode desaparecer
completamente ou se tornar desagradável. Podem ocorrer mudanças na
percepção gustativa em alguns estados orgânicos, como na epilepsia do lobo
temporal e também com alguns tipos de drogas psicotrópicas, como carbonato de
lítio ou disulfiram. É bastante difícil descrever como esta perturbação do gosto é
mediada e, portanto, se tem ou não caráter alucinatório.
Pseudoalucinações
A pseudoalucinação é um dos fenômenos menos compreendidos da
psicopatologia. Segundo Berrios (1996), o termo “tem sido utilizado para se
referir a percepções reais que são vistas como alucinações isoladas ‘irreais’, que
não se enquadram em diagnósticos favorecidos, efeitos colaterais de drogas,
alucinações de abstinência, alucinações diabéticas etc.”. Segundo Berrios:
Alucinação funcional
Este é o estranho fenômeno onde é necessário um estímulo externo para
provocar a alucinação, mas a percepção normal do estímulo e a alucinação na
mesma modalidade são vivenciadas simultaneamente. Um paciente
esquizofrênico ouvia vozes alucinatórias somente quando a água estava correndo
nos canos da enfermaria. Na maior parte do tempo ele não ouvia vozes, mas
quando ouvia a água correndo ao longo dos canos na parede, ele ficava muito
aflito pelas vozes que lhe diziam para se ferir. Ele se sentia aterrorizado pelo
conteúdo dessas vozes porque ele temia que pudesse obedecer. Ele conseguia
separar facilmente o ruído de água das vozes, e estas jamais ocorriam sem o
ruído da água; contudo, ambas as percepções eram reconhecidas como distintas e
reais. Outro paciente ouvia vozes quando o rádio ou a televisão eram ligados,
junto com as vozes transmitidas; ele tinha delírios persecutórios de que essas
atividades eram executadas deliberadamente para aborrecê-lo e ele ficava muito
aflito e, por vezes, violento.
Alucinação reflexa
Enquanto um médico fazia suas anotações durante a entrevista de uma paciente,
ela disse: “Eu sinto que você está escrevendo no meu estômago.” A paciente viu
e ouviu o ato de escrever e estava bastante certa de que isto explicava a sensação
tátil em seu abdome. Um estímulo em uma modalidade sensorial que produz
uma alucinação em outra é chamada de alucinação reflexa. Esta é, na verdade,
uma forma alucinatória de sinestesia, mencionada anteriormente como a
experiência de uma imagem de estímulo em uma modalidade sensorial que
produz uma imagem em outra, por exemplo, a sensação de desconforto causada
por ver e ouvir alguém arranhando um quadro-negro com as unhas. Outra
alucinação reflexa foi observada em uma mulher que sentia dor sempre que
algumas palavras eram ditas. Alucinações funcionais e reflexas não são, em si
mesmas, de grande importância diagnóstica ou teórica, mas devem ser
mencionadas para o detalhamento e reconhecimento, a fim de identificar outros
sintomas mais importantes com confiança.
Representação anormal
Tarefas com imagens mentais têm como objetivo avaliar a capacidade do
indivíduo para a representação mental do mundo percebido. Em casos de
heminegligência, houve interesse em observar se os déficits de representação
observados eram devido à desatenção ou a prejuízo da representação mental.
Bisiach e Luzzatti (1978) descreveram anormalidades em indivíduos com
heminegligência. Foi pedido que seus pacientes descrevessem a Piazza del
Duomo, em Milão, de duas perspectivas: uma olhando para a catedral e outra
com as costas viradas para a catedral. Nas duas perspectivas, os indivíduos
foram incapazes de descrever o lado direito da cena, apesar de terem descrito
corretamente da perspectiva anterior. Em outras palavras, mesmo na imaginação
a representação mental da piazza era unilateralmente deficiente para o lado
direito. Nesses casos, a falta de atenção influenciou a capacidade para
representação. Guariglia et al. (1993) avaliaram um paciente sem
heminegligência que demonstrou prejuízo de representação para objetos no
campo visual esquerdo. Pela primeira vez, isto mostrou que sem
heminegligência, ou seja, desatenção visual para espaço, ainda era possível se
observar falha de representação.
Privação sensorial
A percepção contínua é necessária para a consciência. O campo da sensação
varia o tempo todo, na medida em que sensações individuais de diferentes
modalidades do mundo externo e do mundo interno do indivíduo competem por
atenção. A consciência consiste na integração deste campo sempre em mutação
para formar uma consciência composta de si no seu ambiente. A natureza
essencial da sensação tem sido explorada pelo estudo de sua ausência, conforme
foi revelado em pesquisa sobre os efeitos da privação sensorial (Zubek, 1969).
Este tópico recebe aqui apenas uma breve menção, já que é de certa forma
periférico à psiquiatria.
A privação sensorial foi estudada usando universitários canadenses como
voluntários (Bexton et al., 1954). Os indivíduos, usando óculos translúcidos e
luvas com punhos de papelão, ficavam deitados em uma cama em um quarto
claro, mas parcialmente à prova de som; havia um barulho constante de fundo.
Esta experiência foi considerada extremamente desagradável e, apesar de
estarem sendo pagos, os sujeitos não se dispuseram a permanecer neste estado
por mais de três dias.
Esta técnica foi subsequentemente aperfeiçoada para abafar as sensações
externas de uma forma mais efetiva. Diversas anormalidades da percepção foram
vivenciadas. Foram descritas alucinações visuais de complexidade variada, mas
um estudo posterior destas alterações da percepção levou a serem consideradas,
mais cautelosamente, como “sensações visuais relatadas” e “sensações auditivas
relatadas” (Zuckermann, 1969). Estas foram classificadas em “sensações
insignificantes” e “sensações integradas significativas”. Algumas destas se
assemelham mais a experiências alucinatórias. Dependendo do grau de privação
de outras sensações, a percepção anormal ocorre em outras modalidades além da
visão. Os sujeitos mostram um estado afetivo alterado: eles entram em pânico,
ficam inquietos, irritadiços ou, então, entediados e apáticos.
Apesar de consideráveis pesquisas neuropsicológicas com achados
importantes para a investigação do ambiente sensorial no crescimento e
desenvolvimento, interconexões cerebrais em desenvolvimento, neuroquímica e
neurofisiologia, o estudo da privação sensorial ainda não causou nenhum grande
impacto sobre a psicopatologia descritiva como inicialmente esperado. Isto se
deve a muitas dificuldades. Que parte dos efeitos da privação se deve a falhas de
desenvolvimento e qual parte se deve à perda de comportamentos já
estabelecidos? Como podemos usar o trabalho animal para explorar sintomas
subjetivos? Como podemos extrapolar conclusões a partir da experiência de
informações normais em um ambiente extremamente anormal para pessoas
psiquiatricamente enfermas? Muitos estudos sobre a privação sensorial são
descritos por Riesen (1975), que ligou os dados experimentais à função
neurológica e ao desenvolvimento.
Foi feita uma distinção entre privação sensorial e privação perceptual. Esta é
adquirida pela retirada dos padrões e significado das sensações usando
dispositivos como óculos translúcidos e ruído “branco” contínuo, e não evitando
sensações. Os efeitos prejudiciais da privação sensorial foram considerados por
Slade (1984) como:
▪ Incapacidade de tolerar a situação
▪ Alterações perceptuais
▪ Prejuízos intelectuais e cognitivos
▪ Efeitos psicomotores
▪ Alterações fisiológicas em termos de eletroencefalografia e medições de
resposta galvânica da pele
A fantasia é usada frequentemente como um meio de reduzir o componente
afetivo desagradável da privação sensorial. O sujeito pode ficar desorientado e
demonstrar crescente dificuldade para a solução de problemas e concentração.
Para a percepção e a manutenção do estado normal de consciência, é necessária
uma variedade de estímulos sensoriais disponíveis e que estes possam variar. Se
os objetos da percepção não mudam em si mesmos, o observador mudará seu
ponto de observação a fim de criar a mudança.
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CAPÍTULO 8
Não posso fingir que concordo com ele quando eu sei que sua mente
está funcionando sob um delírio.
Trollope (1869)
Resumo
Delírios são falsos julgamentos tomados com extraordinária convicção e
incomparável certeza subjetiva, imunes a outras experiências e a contra-
argumentos convincentes. Normalmente os delírios são facilmente reconhecidos
quando incompatíveis com o contexto educacional e sociocultural do indivíduo.
Delírios primários têm importância diagnóstica, ao passo que o conteúdo dos
delírios secundários pode sinalizar a natureza do fenômeno anormal primário do
qual se origina. Já ideias supervalorizadas são crenças compreensíveis que
surgem do histórico e das experiências de uma pessoa. Elas são mantidas com
convicção e motivam comportamentos que podem causar dano e sofrimento ao
paciente.
Anthony Trollope, em seu livro He Knew He Was Right, descreve não
somente o efeito devastador do ciúme delirante para o próprio indivíduo, mas
também o extraordinário dilema que representa para as outras pessoas que
entram em contato com ele: seja para condescender e correr o risco de reforçar o
problema, seja para confrontá-lo e arriscar atos violentos. O que é essencial para
a prática clínica na psiquiatria, sob a perspectiva do método fenomenológico ou
empático, é obter um relato claro das ideias ou noções que o sujeito, o paciente,
mantém de fato. Embora os delírios sejam frequentemente chamados de
“crenças”, cada vez mais a literatura questiona este conceito. Crenças falsas
abrangem delírios primário e secundário, ideias supervalorizadas e ideias
sensitivas de referência.
Significado de delírio
A palavra delude em inglês vem do latim e significa brincar ou zombar, fraudar
ou trapacear. O equivalente em alemão, Wahn, significa capricho, opinião falsa
ou extravagante e, como no inglês, não faz referência à experiência subjetiva. O
equivalente em francês, délire, é mais empático: significa o arado saindo do
sulco (lira), talvez uma metáfora semelhante ao irônico “unhinged” do inglês
(fora da dobradiça, ou seja, “com um parafuso a menos”). De acordo com Bayne
e Fernandez (2009):
Definição de Delírio
Continua a haver muita discussão e controvérsia sobre a definição de delírio. A
abordagem padrão segue a afirmação de Jaspers (1959), segundo a qual delírios
se manifestam como julgamentos e decorrem do processo de pensamento e
julgamento. Para Jaspers, as características dos delírios são as seguintes:
1. Eles são falsos julgamentos.
2. Eles são mantidos com extraordinária convicção e incomparável certeza
subjetiva.
3. Eles são imunes a outras experiências e a contra-argumentos convincentes.
4. Seu conteúdo é impossível.
Cada um desses critérios sofreu críticas. Os delírios podem não ser
objetivamente falsos em termos de conteúdo, como no caso do ciúme delirante,
onde a crença pode corresponder a uma verdade objetiva e, portanto, não é falsa.
Os delírios podem não ser mantidos com extraordinária convicção, entretanto,
crenças normais podem ser mantidas com extrema convicção. Crenças delirantes
também podem ser receptivas a contra-argumentos, embora seja raro que se
alterem com base apenas neles. Por último, o conteúdo delirante não precisa ser
impossível.
A ideia de que delírios não são crenças vem ganhando corpo. Spitzer (1994),
por exemplo, defende esta ideia ao fazer a distinção entre “saber” e “acreditar”.
Segundo Spitzer, os delírios fazem afirmações que se referem a saber e não a
crer. Em outras palavras, os pacientes têm certeza que “sabem isto ou aquilo” e
não que “acreditam nisto ou naquilo” e é justamente por isso que as afirmações
delirantes são expressas com convicção e certeza e não estão abertas a
discussões e questionamento. Berrios (1996) chegou às mesmas conclusões. Ele
afirma que “os delírios são atos de discurso vazio que se impõem como crenças”.
Além disso, ele afirma que o conteúdo dos delírios é incidental ao fato do
fenômeno ser um delírio. Para Berrios, o conteúdo dos delírios é escolhido
aleatoriamente, seu conteúdo sequer reflete qualquer coisa presente no ambiente
no momento em que o delírio é formado. Falta qualidade de informação no
conteúdo e ele não é uma “expressão simbólica de alguma coisa”. Estas críticas
sobre as definições e compreensão atual dos delírios salientam a complexidade
de seu status conceitual e mostram que ainda é necessário um trabalho teórico
aprofundado na psicopatologia.
É importante ressaltar que a tradição que localiza os delírios no campo do
pensamento e julgamento se origina simplesmente da necessidade de distinguir
as alucinações (anormalidades de percepção) dos delírios (anormalidades de
pensamento e julgamento). E, de qualquer forma, argumentar que os delírios não
são anormalidades de crença é como argumentar que coreia (um movimento
involuntário) não é uma anormalidade de movimento porque os movimentos
observados não têm um propósito nem são intencionais. Bortolloti (2010) fez
uma avaliação crítica dos argumentos contra a ideia de que os delírios são
crenças e concluiu que estes argumentos, que classifica como procedimentais,
epistêmicos e agenciais, se aplicam igualmente a crenças normais. Ela conclui
que não há razões suficientes para tratar os delírios como qualquer outra coisa
que não seja crença. Com isto em mente, é melhor que continuemos a classificar
os delírios como crenças anormais.
A decisão de chamar uma crença ou julgamento de delirante não é tomada
pela pessoa que a mantém, mas por um observador externo. Não pode haver
nenhuma definição fenomenológica de delírio porque é provável que o paciente
se atenha à suas crenças com a mesma convicção e intensidade com que sustenta
as outras crenças sobre si mesmo, ou como qualquer outra pessoa que tem
crenças pessoais e intensas não delirantes. Neste sentido, os delírios estão para a
ideação como as alucinações estão para a percepção. Subjetivamente, um delírio
é simplesmente uma crença, noção ou ideia. A definição de delírio de Stoddart
(1908), “um julgamento que não pode ser aceito pelas pessoas da mesma classe,
educação, raça e período da vida como é aceito pela pessoa que o experimenta”,
apresenta algumas vantagens. No entanto, esta definição poderia incluir paixão
delirante por uma pessoa que outros consideram inadequada, a crença religiosa
de uma minoria ou manter ideias incomuns sem reconhecer qualquer argumento
contrário razoável.
Hamilton (1978) definiu delírio como “uma crença falsa e inabalável que
surge de processos internos mórbidos. Ele pode ser reconhecido com facilidade
quando é incompatível com a bagagem educacional e cultural da pessoa”. Esta
definição argumenta que uma crença pode ser um delírio mesmo quando não é
incompatível com o contexto educacional e cultural do paciente.
Em vez de sugerir uma definição única de delírio, Kendler et al. (1983)
propuseram diversas dimensões ou vetores pouco relacionados de gravidade
delirante:
▪ Convicção: o grau de convencimento do paciente sobre a realidade de suas
crenças delirantes.
▪ Extensão: o grau de envolvimento da crença delirante nas áreas da vida do
paciente.
▪ Bizarrice: o grau de afastamento das crenças delirantes da realidade
consensual determinada culturalmente.
▪ Desorganização: o grau de consistência interna, lógica e sistematização das
crenças delirantes.
▪ Pressão: o grau de preocupação do paciente com as crenças delirantes
expressadas.
Duas outras dimensões que também podem ser consideradas são:
▪ Resposta afetiva: o grau de envolvimento das emoções do paciente com tais
crenças.
▪ Comportamento desviante resultante de delírios: o paciente às vezes, mas nem
sempre, age de acordo com seus delírios.
O Absolutamente Incompreensível
A exposição detalhada de Jaspers foi cuidadosamente revisada por Walker
(1991), sendo relevantes seus conceitos de incompreensível e de conexões
significativas. Se pedirmos que um infrator descreva o mundo psíquico em que
vive – suas atitudes, seus sentimentos e como eles foram se desenvolvendo
desde sua infância até os dias atuais – nós até poderíamos compreender sua
crueldade sexual que, no início, parecia incompreensível: o comportamento se
torna significativo no contexto do abuso por seu padrasto e a sobrevivência como
adolescente em uma subcultura urbana marcada por violência, humilhação e
frustração. No entanto, quando consideramos uma solteirona de meia idade com
histórico de esquizofrenia que acredita que homens destrancam a porta de seu
apartamento, a anestesiam e a violentam sexualmente, nos deparamos com uma
experiência que não é compreensível. Obtendo maiores detalhes do histórico,
podemos compreender como o seu problema se centraliza na experiência sexual,
porque ela deve desconfiar dos homens, suas dúvidas sobre sua feminilidade e
suas sensações de isolamento social. Entretanto, o delírio, sua convicção
absoluta de que estas coisas estão efetivamente acontecendo com ela, que são
reais, não é compreensível. A única coisa que podemos fazer é tentar entender
externamente, sem realmente conseguir nos sentir no seu lugar (empatia
genética, Capítulo 1), o que ela está pensando e como ela vivencia o que está
experimentando, mas não podemos compreender como tal noção possa ter se
desenvolvido.
Esta é a essência do delírio primário ou autóctone; ele é absolutamente
incompreensível. A paciente descrita também acreditava que a polícia utilizava
raios para observá-la. Não é preciso tentar descobrir qual delírio veio primeiro, a
anestesia ou a observação por raios, para determinar o delírio primário; primário
não depende de relações temporais. Na medida em que ambos os delírios não são
compreensíveis, ambos são primários. Um delírio ainda pode ser primário neste
sentido de Jaspers, embora surja de uma memória, atmosfera ou percepção.
O protagonista do livro de Gogol (1809–1852) Diary of a Madman
(Gogol, 1972) diz: “A Espanha já tem rei. Ele foi encontrado, afinal. Este rei sou
eu. Somente hoje é que eu soube.” Esta crença repentina e inexplicável surgiu de
forma autônoma e não premeditada. A partir de então, ela ditou todo o
comportamento do indivíduo e influenciou a sua visão de mundo.
Delírios secundários
Delírios primários diferem dos secundários pelo fato de os primeiros serem
fundamentalmente não compreensíveis. Delírios secundários são compreensíveis
no contexto de outros fenômenos anormais como: humor anormal, percepção
anormal ou até mesmo uma crença primária anormal. Uma paciente maníaca
dizia ser Mary, Rainha da Escócia. Ela reconhecia que a rainha em questão viveu
e morreu séculos antes, mas afirmava ser sua descendente e se sentia no direito
de dizer que ela era Mary, Rainha da Escócia. A crença podia ser atribuída a seu
humor eufórico e expansivo e desapareceu quando seu estado afetivo diminuiu.
Um paciente deprimido acreditava ter cometido um “pecado imperdoável”. A
discussão e a persuasão, mesmo com uma pessoa cujas crenças religiosas ele
aceitava, não trouxeram alívio e a crença podia ser vista como parte de seu
humor depressivo. Delírios depressivos podem persistir mesmo depois de um
tratamento resultar em melhora do retardo psicomotor, e explicam a ocorrência
de alguns suicídios na fase de recuperação da depressão. Foi sugerido que pode
ter havido um declínio na prevalência do delírio que ocorre na doença
depressiva, mas Eagles (1983), ao estudar internações nos hospitais em
Edimburgo entre 1892 a 1982, considerou não haver redução genuína.
Os delírios secundários podem ser diferentes de ideias supervalorizadas (ver a
seguir). Enquanto os delírios secundários resultam de outro fenômeno anormal,
as ideias supervalorizadas são compreensíveis sob a ótica da história pessoal do
paciente ou algum evento histórico identificável cujo valor foi por algum motivo
aumentado. Nenhum fenômeno anormal anterior explica a presença de uma ideia
supervalorizada.
Percepção delirante
A percepção delirante ocorre quando o paciente recebe uma percepção normal
que é então interpretada com significado delirante e tem enorme significado
pessoal, sendo um sintoma de primeira ordem da esquizofrenia. Jaspers delineou
o conceito da percepção delirante e Gruhle (1915) usou sua descrição para
abranger quase todos os delírios, mas minimizando a importância da intuição
delirante. Schneider (1949) considerava a essência da percepção delirante a
importância anormal vinculada a uma percepção normal, sem qualquer causa
que seja compreensível em termos racionais ou emocionais; ela é autorreferente,
importante, urgente, de imenso significado pessoal e, obviamente, falsa.
Geralmente é difícil determinar se um delírio é efetivamente uma percepção
delirante ou se está sendo utilizado para explicar a importância de determinados
objetos de percepção dentro de um sistema delirante. Uma mulher disse: “toda
noite o sangue é injetado para fora de meus braços (sic)”. Quando lhe foi pedida
alguma corroboração, ela explicou que tinha pequenas manchas marrons nos
braços e, desta forma, sabia o que estava acontecendo. O entrevistador examinou
as manchas dos braços, arregaçou sua manga e mostrou marcas idênticas em seu
próprio braço. Ele disse que elas estavam em seu braço desde que conseguia se
lembrar e se chamavam “sardas”. Ela concordou que as marcas eram parecidas e
aceitou a explicação do entrevistador, mas ainda assim insistia que suas sardas
provavam que ela estava sendo injetada durante o sono. Esta foi uma percepção
delirante.
Outro exemplo de provável percepção delirante causou problemas
consideráveis no manejo cirúrgico, resultando na morte da paciente (Porter e
Williams, 1997). Uma mulher de 65 anos inundou a sua casa ao deixar todas as
torneiras abertas.
No exame físico seu abdome estava macio, mas distendido com uma
massa central dura, irregular e imóvel. O fígado e o baço apresentavam
tamanho normal e os rins não eram palpáveis. Os sons do intestino eram
altos. Foi feito um diagnóstico de possível malignidade intra-abdominal.
Atmosfera delirante
Para o paciente que vivencia atmosfera delirante, seu mundo parece ter sido
alterado de forma sutil: “alguma coisa estranha está acontecendo”, “eu recebi um
mundo de novos significados”. Ele experimenta tudo a seu redor como sinistro,
portentoso, misterioso, peculiar, de uma forma indefinível. Ele sabe que está
pessoalmente envolvido, mas não consegue dizer como. Ele tem uma sensação
de antecipação, algumas vezes até de excitação, de que em breve todas as partes
separadas de sua experiência irão se encaixar para revelar algo extremamente
importante. Isto é, de fato, o que geralmente acontece, já que uma atmosfera
delirante é parte do processo subjacente e, frequentemente, o primeiro sintoma
de esquizofrenia e o contexto no qual surge uma intuição ou percepção delirante
completamente formada. O humor da atmosfera também é muito importante e
esta experiência é geralmente chamada de humor delirante. O paciente se sente
profundamente desconfortável, e muitas vezes extremamente perplexo e
apreensivo. Quando o delírio se forma por completo, o paciente parece aceitá-lo,
com uma sensação de alívio daquela tensão prévia e insuportável na atmosfera.
Um homem de meia idade se apresentou, em um primeiro momento, como um
paciente psiquiátrico com aparentes sintomas obsessivos. Ele sempre verificava
se seus vizinhos conseguiam ouvir o que ele dizia dentro de sua própria casa. Ele
havia pedido demissão de diversos empregos porque acreditava que seus
empregadores não aceitariam suas crenças religiosas. Ele sentia que as pessoas
ao seu redor eram hostis e implacavelmente contrárias a ele, embora não
conseguisse definir exatamente como – ele apenas “sentia”. Ele mudava de casa
repetidamente, mas a sensação persistia. Isto seguiu por vários anos até que um
dia ele chegou ao departamento de emergência de um hospital alegando que seus
vizinhos falavam sobre suas ações e controlavam seus pensamentos. Esta
atmosfera foi desenvolvida insidiosamente ao longo de anos e eventualmente ele
manifestou alucinações auditivas e passividade de pensamento (Capítulo 9).
De acordo com Berner (1991), os psicopatologistas alemães nunca usaram o
termo atmosfera delirante, mas sempre fizeram referência a humor delirante,
mas o autor considera que a palavra atmosfera é preferível porque permite fazer
uma distinção entre uma perturbação cognitiva, perceptiva, que provoca uma
resposta emocional e uma alteração de humor, ocasionando uma mudança na
percepção do mundo externo. Considera-se que a atmosfera delirante é um
estado final comum decorrente de diversas vias: vulnerabilidade a perturbações
cognitivas, como na esquizofrenia “Bleuleriana”; descarrilhamento dinâmico,
como em transtornos afetivos como depressão puerperal ou vulnerabilidade
psicogênica; ou sem nenhum dos dois, com eventos de vida estressantes. Berner
considera que este é um estado que não se restringe a pessoas que sofrem de
esquizofrenia.
As fases prodrômicas dos transtornos esquizofrênicos variam bastante em sua
natureza e frequentemente foi dado outro diagnóstico antes da sintomatologia
definitiva se estabelecer. Em uma revisão instrutiva da literatura sobre a
simulação da psicose e em um estudo de seis pacientes que se acreditava estarem
simulando uma psicose esquizofrênica, Hay (1983) comentou a natureza da
psicose simulada. Para ele, a simulação da esquizofrenia é geralmente uma fase
prodrômica de uma psicose esquizofrênica que ocorre em pessoas com
personalidades pré-mórbidas extremamente desviantes. Todos, exceto um de
seus pacientes, foram considerados como sofrendo de esquizofrenia à época do
acompanhamento.
Memória delirante
Praticamente da mesma forma que uma percepção delirante é uma interpretação
delirante de uma percepção normal, a memória delirante é a interpretação
delirante de uma lembrança normal. Estas são ocasionalmente chamadas de
delírios retrospectivos, nos quais um evento que ocorreu no passado é explicado
de forma delirante. Um homem de 50 anos, cuja doença mental já durava cerca
de dois anos, dizia que sua saúde havia sido permanentemente afetada desde
seus 16 anos, quando ele havia passado por “uma operação para remover o
apêndice”. Ele agora acreditava que aquela operação foi uma desculpa para
“implantar uma convolácea* dourada” no seu intestino.
Se um significado delirante for atribuído a uma percepção normal que é
relembrada, esta se torna uma percepção delirante. Ela possui os dois
componentes que foram descritos como necessários para a percepção delirante: a
imagem da percepção recordada e o apego a esta percepção de importância
delirante. Uma mulher casada se lembrava, anos antes, de ver um homem de pé
no bar “com uma expressão triste no rosto”. Ela “percebeu”, no início de sua
doença esquizofrênica, duas semanas antes de sua internação, que naquela época
aquele homem estava apaixonado por ela e ela tentou encontrar seu nome na
lista telefônica e entrar em contato novamente, sentindo que eles estavam
envolvidos em um relacionamento especial.
Obviamente, é um erro esperar que sintomas fenomenológicos se revelem
claramente a partir da fala do paciente. Não existe uma demarcação exata entre
memória delirante e percepção ou intuição delirante. O paciente descreve um
delírio. Isto aconteceu há uma hora, uma semana ou 10 anos? Até que ponto é
uma memória delirante e não uma intuição delirante? Da mesma forma, não
existe uma diferenciação absoluta entre um evento, percepção ou ideia normal
que aconteceu no passado e é recordada com uma interpretação delirante, e um
evento, percepção ou ideia delirante que aconteceu no passado e que também é
lembrada com uma interpretação delirante. Em outras palavras, existem dois
sentidos para o termo memória delirante. Há o sentido no qual uma recordação
normal é interpretada de maneira delirante no presente, e outro sentido no qual a
recordação em si é uma falsa memória que está impregnada de interpretação
delirante. Ambas são memórias delirantes e nem sempre é possível saber quanto
do evento foi factual e quanto foi delirante. Uma mulher com esquizofrenia, de
34 anos, contou que 12 anos antes pegou o telefone para ligar para um homem
de quem ela gostava muito: “Deus segurou meu braço e me fez desligar o
telefone.” Não foi possível determinar exatamente qual parte da experiência era
real e qual era delirante e em que momento ocorreu o delírio.
Por vezes são impostas distinções sutis na classificação de delírios primários,
mas estas são mais itens de colecionador do que características de relevância
clínica. A consciência delirante é uma experiência não sensorial por natureza, na
qual as ideias ou eventos assumem extrema clareza, como se possuíssem uma
realidade adicional. A importância delirante é o segundo estágio da percepção
delirante. Objetos e pessoas são percebidos normalmente, mas se revestem de
importância especial que não pode ser racionalmente explicada pelo paciente.
As Origens do Delírio
Qual é a origem de delírios? Esta pergunta nos leva a questionar até que ponto
delírios são, por definição, diferentes de crenças normais e, se são diferentes de
crenças normais, quais são os mecanismos que estão envolvidos no seu
desenvolvimento e manifestação? Na própria visão de Jaspers (1959), o delírio
seria um fenômeno primário que implica uma transformação da consciência total
de realidade. Isto significa que uma crença delirante envolve e implica atividade
prática, comportamento, o significado que é imanente em objetos e transforma
radicalmente a experiência básica do mundo. Uma pessoa que tem o delírio de
ser amado por uma celebridade se coloca no mundo com esta certeza e
conhecimento e age neste sentido, escrevendo, telefonando ou tentando visitar a
celebridade. Estas crenças equivocadas revestem o mundo do paciente de novos
significados. Neste sentido, a realidade está na interpretação ou na importância
atrelada a eventos que ocorrem e que são interpretados sob a ótica de uma crença
primária equivocada.
A compreensão de como os delírios alteram radicalmente o mundo do
paciente não nos ajuda a explicar como os delírios se formam. Os fatores
envolvidos na formação do delírio foram resumidos por Brockington (1991);
veja o Quadro 8.1.
Fish (1967) fez um resumo útil das primeiras teorias alemãs sobre as origens
do delírio. Conrad propôs cinco estágios no desenvolvimento da psicose
delirante:
▪ Trema: humor delirante representando uma mudança total na percepção do
mundo.
▪ Apofania: a busca e descoberta de novos significados para eventos
psicológicos.
▪ Anástrofe: agravamento da psicose.
▪ Consolidação: formação de um novo mundo ou conjunto psicológico baseado
em novos significados.
▪ Resíduo: eventual estado autístico.
Gruhle (1915) considerava a percepção delirante a forma mais significativa de
delírio, uma percepção normal que assume um novo significado, que resulta em
relação perturbada da compreensão de eventos. Matussek acreditava que na
percepção delirante há uma mudança na importância das palavras usadas ou na
natureza real da percepção em si. Estes autores, e também Schneider, consideram
a percepção delirante a chave para a compreensão da natureza da experiência
delirante.
Hagen via a atmosfera delirante como primária, surgindo por razões
desconhecidas e resultando em uma reordenação de significados no mundo ao
redor do paciente, que busca resposta para o problema de compreensão e a
encontra criando um delírio. É mais fácil tolerar a certeza de um delírio do que a
incerteza dos presságios do ambiente. Segundo Jaspers, ocorre uma mudança
sutil na personalidade devido à própria doença e isto cria a condição para o
desenvolvimento da atmosfera delirante na qual surge a intuição delirante.
Todas essas teorias se baseiam na premissa de que o delírio é primário e
absolutamente incompreensível da mesma maneira que Jaspers considera que a
experiência da realidade é primária. A experiência tem uma implicação
simbólica além do próprio evento; por exemplo, o ato do médico de escrever
uma receita para seu paciente no consultório significa muito mais para o paciente
do que se o médico estivesse rabiscando em seu receituário. (Um paciente no
Norte da África no século XIX comeu a receita passada por seu médico, tão
grande era a sua confiança e veneração pelo médico [Sims, 1972].) Parece que a
crença simbólica ligada a eventos e percepções é alterada no delírio e é por isso
que o paciente não necessariamente age de acordo com ele. A atmosfera
delirante não é um requisito essencial para uma intuição delirante, já que esta
pode ocorrer de forma inédita.
Alguns autores não tentaram explicar delírios porque eles os consideram
absolutamente incompreensíveis e que são diretamente resultantes de uma
anormalidade cerebral (Schneider, 1949). Bleuler se concentrou na alteração do
afeto como primária, e não a atmosfera ou percepção delirante. Ele argumentava
que o afeto intensificado enfraquece a capacidade de estabelecer associações,
facilitando a chegada do delírio. No início de doença esquizofrênica existe afeto
extremo, talvez na forma de ansiedade ou ambivalência que o paciente não
consegue expressar.
Kretschmer (1927) enfatizou a importância da personalidade subjacente. Ele
descreveu a personalidade sensitiva pré-mórbida, que ocorre em uma pessoa
que tem complexos carregados de afeto e possui uma capacidade limitada de
autoexpressão emocional. Tal pessoa é guiada dolorosamente por fortes
sensações sexuais, por exemplo, mas tem enorme dificuldade de comunicar sua
paixão e de se relacionar com outras pessoas. Ela tem plena consciência das
imposições sociais e é controlada rigidamente por seu superego. Esta pessoa, um
pouco rígida, bitolada e desconfiada, forma ideias sensitivas de referência. Pode
ocorrer uma experiência chave em sua vida e, subitamente, essas ideias se
estruturam como delírios de referência.
Uma menina ficava sempre tímida, reticente e sensitiva na escola, e quase
sempre relutava em comparecer. Ela era meticulosa na atenção a cuidado pessoal
e higiene. Após deixar a escola, ela se lembrava vividamente de diversas
situações da infância em que se sentia humilhada. Aos 18 anos, quando estava
trabalhando em uma fábrica, ela estava no vestiário feminino entristecida porque
seu namorado lhe havia dito que queria terminar com ela por causa de outra
pessoa e ouviu uma das outras mulheres dizer, “nossa, que cheiro ruim que ela
tem!” Ela imediatamente atribuiu a frase a si mesma como uma explicação para
o comportamento do namorado. A partir de então, ela se convenceu de que tinha
um cheiro desagradável o tempo todo, embora ela mesma não conseguisse sentir
o odor. Este delírio dominou sua vida, impedindo o convívio e causando muita
angústia. Este desenvolvimento de delírio (Sensitiver Beziehungswahn) a partir
de ideias sensitivas de referência, como sequela de experiência chave, pode ser
observado no início da esquizofrenia, mas não é comum. A experiência chave,
como esse caso ilustrou, tem duas qualidades importantes. Primeiro, ela é
particularmente adequada às áreas de conflito da paciente como ideias sensitivas
de referência. E em segundo lugar, ela ocorre em momentos de grande tumulto e
sofrimento emocional, de modo que o terreno psíquico está preparado para um
evento catastrófico.
Várias tentativas têm sido feitas para considerar todos os delírios
compreensíveis em relação à experiência subjetiva da pessoa ou seu contexto
social. Westphal argumentava que se soubéssemos tudo sobre o paciente, a
mudança na maneira como ele se enxerga e a crença de se ter tornado de alguma
forma perceptível poderiam explicar o delírio (Fish, 1967). As teorias de Freud
(1907) sobre o desenvolvimento dos delírios também buscaram torná-los
compreensíveis através de mecanismos de negação, projeção e assim por diante.
Outros autores alegaram que os delírios são compreensíveis em um contexto
social. Laing (1961) considerava a fuga para a loucura uma defesa necessária
contra uma família altamente destrutiva – não apenas compreensível, mas
admirável e até mesmo digna de ser seguida.
Quando quatro diferentes teorias psicológicas foram avaliadas para explicar
fenômenos paranoides, descobriu-se que a base vergonha-humilhação era a mais
consistente (Colby, 1977). Winters e Neale (1983) consideram que as teorias
existentes sobre o pensamento delirante envolvem dois temas principais:
motivacional e de déficit. O tema motivacional explica a chegada de um delírio
para explicar uma experiência perceptiva incomum ou para reduzir estados
psíquicos desconfortáveis. Déficit implica alguma alteração cognitivo-atencional
que resulta em delírio.
A variedade e gama de explicações aduzidas como origem dos delírios
atestam nossa ignorância sobre sua natureza, estrutura e origem. Talvez seja
prudente considerar o temo “delírio” como um termo que descreve uma grande
variedade de anormalidades do pensamento que tem uma relação familiar apenas
superficial. Para usar uma analogia, o termo “delírio” é como o termo “ataxia”,
um conceito que esconde diversas anormalidades de movimento em diferentes
lesões e mecanismos subjacentes. O termo “delírio” não é uma descrição única e
homogênea e provavelmente seja mais um termo guarda-chuva que tem sob si
uma gama de diferentes anormalidades do pensamento.
Atribuição no Delírio
Uma explicação psicológica alternativa para o delírio vem da teoria de
atribuição social. Kaney e Bentall (1989, 1992) concluíram que os pacientes
delirantes faziam atribuições excessivamente externas, estáveis e globais para
eventos negativos (“o fato de eu ter quebrado a minha perna prova mais uma vez
que os maçons estão atrás de mim”) e atribuições excessivamente internas,
estáveis e globais para eventos positivos (“todos sorriem e acenam quando me
veem porque eu sou um enviado de Deus para me comunicar com as pessoas
sobre o mal e tenho uma carta do Papa como prova”). Os sujeitos delirantes não
se dispunham a atribuir eventos negativos dos quais foram vítimas às suas
próprias causas e também, ao julgar o comportamento de outras pessoas,
relutavam em atribuir eventos negativos às próprias vítimas. Estes e outros
estudos sugerem que os delírios de perseguição têm a função de proteger o
indivíduo contra baixa autoestima (Bentall, 1993).
Considerou-se que os sujeitos delirantes avaliavam suas próprias afirmações
causais de maneira distinta e esta diferença, em relação a indivíduos deprimidos,
era maior do que as diferenças nas afirmações causais em si; ou seja, a diferença
entre sujeitos delirantes e outros na internalização de eventos positivos e
negativos não reflete diferenças nas afirmações causais dessas pessoas, mas sim,
diferenças nas suas atribuições (Kinderman et al., 1992). Ainda aqui se vê que os
delírios estão ligados tanto a um significado pessoal quanto aos limites do eu. A
investigação foi ainda expandida com o emprego de testes óbvios e opacos de
estilos de atribuição. Os indivíduos delirantes atribuíram resultados negativos a
causas externas nos testes óbvios ou transparentes, mas a causas internas nos
testes mais velados; isto embasou ainda mais a hipótese de que os delírios de
perseguição funcionam como um mecanismo de defesa contra os sentimentos
subjacentes de baixa autoestima (Lyon et al., 1994). Esta exploração psicológica
é apoiada pelo estudo clínico a seguir.
Delírios do amor
Os delírios associados a amar e ser amado são bastante diferentes das
anormalidades comportamentais e afetivas da ninfomania, a situação de uma
mulher caracterizada por um desejo sexual mórbido ou incontrolável, e da
satiríase, o equivalente masculino da atividade sexual excessiva. As duas
condições existem inicialmente na opinião de um comentarista externo – o
médico.
Na metade do século XIX aproximadamente duas vezes mais pacientes com
esquizofrenia tinham inquietação sexual, quando comparados com a metade do
século XX (Klaf e Hamilton, 1961). A erotomania foi descrita por Sir Alexander
Morrison (1848) da seguinte forma:
Delírios grandiosos
Delírios grandiosos primários ocorrem na esquizofrenia. O paciente pode
acreditar ser uma celebridade ou ter poderes sobrenaturais, podendo acreditar
estar envolvido em alguma missão secreta e especial da qual ainda não conhece
todos os detalhes, mas aguarda ansiosamente por instruções. Crenças deste tipo
são ocasionalmente chamadas de delírios de finalidade especial e ocorrem na
forma de intuição delirante.
Crenças delirantes expansivas ou grandiosas podem abranger objetos.
Ocasionalmente um paciente psicótico demonstra delírios de invenção, nos quais
pode construir uma máquina que acredita ter capacidades especiais,
considerando-se um gênio criativo. Delírios grandiosos secundários, ou ideias
deliroides, ocorrem em estados maníacos. Um paciente disse que não havia vida
em Marte porque “se houvesse eu seria capaz de entrar em contato por telepatia,
usando meu grande talento”, sendo que ele não exibia evidências de verdadeira
experiência de passividade. Uma paciente maníaca, já mencionada, acreditava
que descendia da linhagem real dos Stuart e que de alguma maneira era Mary,
rainha da Escócia. Ela convidou a rainha e o primeiro-ministro para uma festa
em seu quarto de estudante porque imaginou que eles se sentiriam honrados: “é
justo que eles sejam convidados”. O afeto expansivo da mania torna esse tipo de
delírio claramente compreensível.
Delírios religiosos
Os delírios religiosos são comuns, mas formavam a porcentagem mais alta de
todos os delírios do século XIX em comparação ao século XX: três vezes mais
pacientes com esquizofrenia de ambos os sexos tinham foco religioso (Klaf e
Hamilton, 1961). A determinação se as crenças são ou não delirantes deve se
apoiar nos princípios descritos anteriormente, ou seja, no modo como a crença é
mantida e as evidências produzidas. O fato de uma crença religiosa ser muito
bizarra e diversa daquela do entrevistador não faz dela necessariamente um
delírio. Os delírios religiosos podem ser de natureza grandiosa, como, por
exemplo, um paciente no Reino Unido que acreditava ser uma emissária de Deus
para o Departamento de Habitação de Birmingham. Eles também podem ser
secundários a humor depressivo, como na paciente de Emil Kraepelin (1905)
citada no início do Capítulo 16: “Eu não posso viver e não posso morrer porque
eu falhei muito, eu vou levar meu marido e filhos para o inferno.”
A natureza religiosa do delírio é vista como um transtorno de conteúdo que
depende do contexto social do paciente, seus interesses e pares. A forma do
delírio é ditada pela natureza do transtorno. Portanto, os delírios religiosos não
são causados por crença religiosa excessiva ou por erros que o paciente atribui
como causa, mas simplesmente enfatizam o fato de que quando uma pessoa se
torna mentalmente enferma, o conteúdo de seus delírios reflete seus interesses e
preocupações predominantes.
Às vezes é difícil fazer a distinção entre um delírio religioso e uma crença ou
prática religiosa incomum. A morbidade psiquiátrica seria sugerida pelo seguinte
(Sims, 1992):
▪ Tanto a experiência subjetiva quanto o comportamento observado são
compatíveis com sintomas psiquiátricos, ou seja, a autodescrição desta
experiência particular é reconhecível como sintomatologia de transtorno
psiquiátrico conhecido – tem a forma de delírio.
▪ Existem outros sintomas reconhecíveis de transtorno mental em outras áreas
da vida: outros delírios, alucinações, transtorno de humor, de pensamento
etc.
▪ O estilo de vida, comportamento e direcionamento dos objetivos pessoais do
indivíduo subsequentemente ao evento ou experiência religiosa são
compatíveis com a história natural do transtorno mental e não com uma
experiência de vida pessoalmente enriquecedora, compatível com as
condições nas quais os delírios ocorrem.
Delírios hipocondríacos
Um homem muito deprimido disse que estava cheio de água, que não havia mais
nada dentro dele, que não conseguia urinar, mas que se o fizesse seria o seu fim.
Ele não podia beber, ou a água inundaria a sala. Outras crenças hipocondríacas e
delírios menos extremos ocorrem na depressão, e Schneider (1920) considerava
que localizar a experiência da depressão como uma sensação em um órgão
corporal é equivalente a um “sintoma de primeira ordem” da psicose depressiva
(Capítulo 16). Uma mulher idosa com depressão que passou por uma
substituição de válvula mitral devido a doença cardíaca reumática, disse que se
sentia inútil e sem esperanças, descrevendo suas funções físicas como “nada está
funcionando”.
Os delírios hipocondríacos podem também ocorrer na esquizofrenia e têm as
características de outras ideias esquizofrênicas, com explicação mais
persecutória do que niilista. Assim, um paciente acreditava que suas funções
corporais estavam sofrendo interferência de raios emitidos por um planeta e que
isso era parte de um plano para controlar seus pensamentos e comportamentos.
Os delírios hipocondríacos serão mais bem discutidos em associação com
hipocondria no Capítulo 14; no entanto, outras características da hipocondria,
como preocupação corporal, fobia de doenças e convicção da presença da
doença, sem resposta a tranquilização, na verdade, são mais comuns do que
delírio (Pilowsky, 1967). A dor facial é descrita no Capítulo 15 e outras ideias
deliroides e ideias supervalorizadas do corpo, no Capítulo 14. Os delírios que
envolvem as origens do paciente são descritos ocasionalmente e têm alguma
afinidade com o delírio hipocondríaco. O paciente acredita, com base em
evidência delirante, que não é filho de seus pais, que tem nascimento nobre,
parcialmente animal, ou sobrenatural, ou então, ele pode crer que não existe e
que jamais nasceu.
Os delírios hipocondríacos são comumente associados ao transtorno delirante
na CID-10 (anteriormente conhecido como paranoia; OMS 1992). Munro (1988)
descreveu o transtorno delirante como um transtorno monodelirante encapsulado
com diversos subtipos, tais como erotomaníaco, grandioso, ciumento,
persecutório, somático e não específico; o conceito foi desenvolvido a partir do
termo antigo paranoia (Munro, 1997). Ele descreveu o tipo somático como
psicose monossintomática hipocondríaca e, de 50 casos, os três principais
grupos são:
▪ Delírios de odor corporal e halitose.
▪ Delírio de infestação (insetos, vermes que escavam buracos ou corpos
estranhos sob a pele).
▪ Delírios de feiura ou deformidade (delírios dismórficos).
Quatro fatores independentes foram identificados em um estudo das
características do transtorno delirante, sugerindo uma considerável
heterogeneidade da condição (Serretti et al., 1999). O primeiro fator incorporava
sintomas depressivos nucleares que podem tomar a forma de síndrome
depressiva reativa a tensões decorrentes de ideação delirante, ou um transtorno
de humor comórbido, ou ambos. Outros fatores incluíam alucinações, delírios e
sintomas de irritabilidade.
A queixa era sempre apresentada com grande intensidade e os pacientes
estavam totalmente convencidos da natureza física do transtorno. Os delírios
hipocondríacos também podem ocorrer com a administração de drogas, tanto
prescritas, quanto de abuso.
O koro (Lapierre, 1972) é uma condição incomum que foi descrita como um
exemplo de delírio hipocondríaco, mas esta posição é provavelmente incorreta.
As características do koro são:
1. A crença de que o pênis está encolhendo para dentro do abdome.
2. A crença de que quando o pênis desaparece dentro do abdome, a morte é
certa.
3. Extrema ansiedade acompanhando esta crença.
Yap (1965) descreve este quadro como uma síndrome de despersonalização
ligada à cultura e a considera uma manifestação de ansiedade aguda associada a
crenças populares envolvendo exaustão sexual. Ela ocorreu em proporções
epidêmicas entre os malaios em Singapura (Gwee, 1963), mas também foi
descrita de forma isolada em um franco-canadense (Lapierre, 1972), em um
indivíduo das Índias Ocidentais, um Cipriota grego (Ang e Weller, 1984) e um
inglês (Berrios e Morley, 1984). Oyebode et al. (1986) demostraram no estudo
de caso único que esta crença é acompanhada de efetivo encolhimento peniano
medido por meio de pletismografia, o que sugere que a crença é baseada em uma
mudança fisiológica provavelmente causada por ansiedade. Em essência, a
alteração peniana é semelhante à taquicardia, hiperidrose ou qualquer outra
característica de excitação do sistema simpático associada a ansiedade.
Um grupo de pacientes que, em alguns aspectos são intermediários entre
aqueles que sofrem de delírios somáticos e delírios de infestação, são aqueles
que foram descritos por Videbech (1966) como pacientes com síndromes
paranoides olfativas crônicas, que também foram chamadas de “síndrome de
referência olfativa” (Pryse-Phillips, 1971). Caracteristicamente, estes pacientes
têm uma crença fixa e inalterável de que têm mau cheiro, mas não têm
alucinações ou outras experiências olfativas. Ela é geralmente observada no
contexto do desenvolvimento de personalidade sensitiva paranoide, na qual
ocorre uma severa reação fóbica à interpretação de que o comportamento das
outras pessoas indica que elas acham seu odor ofensivo e aversivo.
Delírios de Infestação
Esses delírios foram descritos por Hopkinson (1970) e por Reilly (1988). Na
síndrome de Ekbom (Ekbom, 1938), o paciente acredita que está infestado de
pequenos organismos, macroscópicos, e a vivência pode assumir a forma de um
estado alucinatório tátil, delírio ou ideia supervalorizada. A etiologia também é
variável, sendo provavelmente mais comum como sintoma de hipocondria
circunscrita na psicose afetiva juntamente com outros sintomas depressivos, mas
também ocorre na esquizofrenia paranoide, na psicose hipocondríaca
monossintomática (transtorno delirante), em síndromes cerebrais orgânicas e em
condições determinadas neuroticamente. Este tópico foi revisado por Berrios
(1985) e por Morris (1991).
Em alguns casos pacientes acreditavam que havia uma aranha no seu cabelo,
vermes e piolhos sob a pele ou infestação de vários insetos. O delírio pode ser
acompanhado por outros delírios depressivos ou ideias supervalorizadas de estar
sujo, culpado, indigno ou doente. Estes delírios também podem ocorrer na
esquizofrenia, onde tipicamente assumem um caráter bizarro e são
acompanhados por outros sintomas esquizofrênicos. Uma mulher de 49 anos,
mãe de quatro filhos, um dos quais desenvolveu um transtorno esquizofrênico,
se queixava de dor recorrente na vagina que explicou como sendo causada por
um parasita que havia migrado do estômago, onde tinha sido responsável por dor
epigástrica diagnosticada anteriormente como hérnia de hiato (McLaughlin e
Sims, 1984). Ela descreveu que o parasita viajava pela corrente sanguínea e tinha
sido responsável por dores que ela já tinha sentido no passado. Ela relatou que já
tinha defecado diversos vermes pequenos e vermelhos, bem como seus casulos
e, em uma ocasião, um sapo verde de 5 centímetros.
Delírios de infestação podem ocorrer em estados orgânicos com alucinações
táteis, no delirium tremens durante a abstinência de álcool e vício em cocaína.
Eles também podem ocorrer em doenças cerebrovasculares, na demência senil e
outras demências cerebrais, e têm sido atribuídos a acometimento do tálamo.
Ideias supervalorizadas e deliroides de infestação podem ocorrer em pessoas
com transtorno de personalidade do tipo anancástico ou paranoide sem
transtorno psicótico.
Estas ideias ocorrem caracteristicamente em pacientes com mais de 50 anos,
principalmente naqueles com especial preocupação com a higiene pessoal. A
condição pode ser precipitada por doença na pele e se torna uma elaboração
delirante de sintomas táteis existentes. Foi sugerido que o sintoma se desenvolve
em fases: em primeiro lugar, a sensação cutânea anormal, depois se desenvolve
uma ilusão e, finalmente, o delírio de infestação em si. Como mencionado
anteriormente, a infestação delirante é atualmente vista como uma forma de
transtorno delirante, em particular um subtipo de psicose hipocondríaca
monossintomática.
Delírio compartilhado
Laségue e Falret (1877) descreveram a chamada “la folie à deux (ou folie
communiquée)”. Ocasionalmente, um delírio (intuição delirante) é transferido de
uma pessoa psicótica a uma ou mais pessoas com as quais mantém relação
próxima, de modo que o destinatário compartilha uma crença falsa: a principal
adquire o delírio primeiro e é dominante, o parceiro se torna delirante através da
associação com a pessoa afetada. Esta situação, nas quais os parceiros aceitam,
apoiam e compartilham as crenças uns dos outros, foi chamada de psicose de
indução. O parceiro geralmente é alguém com privação social ou com
desvantagem mental ou física.
Em revisão da literatura inglesa sobre folie à deux, Gralnick (1942) subdividiu
a condição em quatro possíveis relações entre o principal e o associado.
▪ Na folie imposée, os delírios de uma pessoa mentalmente enferma são
transferidos para alguém que anteriormente não apresentava doença mental,
embora em geral a vítima tenha alguma desvantagem social ou psicológica.
A separação do par é frequentemente seguida da remissão dos sintomas no
associado.
▪ Folie communiquée ocorre quando uma pessoa normal sofre o contágio das
ideias depois de resistir por muito tempo. Uma vez adquiridas as crenças,
elas se mantêm não obstante a separação.
▪ Na folie induite, uma pessoa que já é psicótica acrescenta aos seus próprios
delírios aqueles de uma pessoa com quem tem relação próxima.
▪ Folie simultanée descreve a situação em que duas ou mais pessoas se tornam
psicóticas e compartilham simultaneamente o mesmo sistema delirante.
Considera-se que o principal é sempre psicótico (Soni e Rockley, 1974), mas
o associado pode ou não ser psicótico.
Entretanto, questionou-se a validade desta classificação, já que ela não possui
valor clínico especial e as diferenças psicopatológicas são questionáveis (Hughes
e Sims, 1997). Em um relato de caso de uma família afetada com folie à quatre
(Sims et al., 1977), o paciente inicialmente encaminhado acreditava que um
grande empreendimento industrial colocou dispositivos de escuta nas paredes da
casa de seu irmão. Ele alegava que os empregados da empresa o seguiam
constantemente e interferiam na sua própria casa. No início, a esposa acreditou
na história e produziu evidências supostamente confirmadoras. Um ano depois,
após sua internação para tratamento, ela não mais aceitava a trama e considerava
que seu marido sofria de doença mental. A esposa era uma pessoa extremamente
ansiosa que já havia recebido tratamento psiquiátrico e vinha de uma família na
qual três membros sofriam de coreia de Huntington. Quando o irmão do paciente
foi visitado em sua casa, constatou-se que ele e a irmã, que lá residia, também
acreditavam na trama e estavam recebendo tratamento para esquizofrenia, com
sintomas de primeira ordem.
A folie à deux demonstra como o conteúdo da crença é ditado pelas
circunstâncias sociais e ambientais, mas a forma precisa dos sintomas varia de
acordo com a natureza do transtorno. Portanto, a vítima não psicótica da folie
imposée irá exibir ideias deliroides, supervalorizadas ou mal interpretadas, mas
não delírios “verdadeiros” ou percepções delirantes.
Uma variação interessante da folie imposée foi descrita por Aldridge e Tagg
(1998). Foi o caso de um menino de 7 anos que apresentou sintomas psicóticos
falsos induzidos pelo fato de viver isolado com sua mãe, que sofria de
esquizofrenia. Inicialmente, ele era retraído, reservado e ritualístico, com atraso
no desenvolvimento. Na escola, ele tinha medo dos brinquedos e dos
professores, ficava em baixo de uma mesa e era ritualístico em relação ao
controle do horário e hábitos de ir ao banheiro, onde ele tirava toda a roupa e
entrava no vaso sanitário. Sua única fala era para repetir o horário mostrado no
relógio de forma ritualística. Então, ele foi adotado por uma senhora solteira,
experiente com crianças e, depois de um ano, o comportamento anormal já tinha
desaparecido e ele progrediu de forma compatível com seu leve grau de déficit
de aprendizagem.
Delírios de controle
Estes delírios, também conhecidos como experiências fabricadas ou de
passividade, são discutidos dentro do Capítulo 9, dedicado aos transtornos do
pensamento.
Ideias Errôneas
Ideia supervalorizada
Uma ideia supervalorizada é uma ideia aceitável, compreensível, seguida pelo
paciente além dos limites da razão e geralmente associada a uma personalidade
anormal. Os transtornos associados a ideias supervalorizadas foram avaliados
por McKenna (1984), cuja definição “se refere a uma crença solitária e anormal
que não é delirante nem obsessiva em sua natureza, mas que preocupa a ponto de
dominar a vida de quem a sofre”. Ela é supervalorizada porque causa uma
perturbação no funcionamento ou sofrimento para a própria pessoa ou a outros, e
se torna tão dominante que todas as outras ideias se tornam secundárias: a
própria vida do paciente passa a girar em torno daquela única ideia. Ela é
geralmente associada a afeto muito forte que a pessoa, por causa do seu
temperamento, tem imensa dificuldade em expressar.
Segundo McKenna, o termo foi introduzido por Wernicke (1906), que o
diferenciou de obsessão, já que não era vivenciada subjetivamente como algo
“sem sentido”, e de delírio. Jaspers considerou que o delírio é qualitativamente
diferente da crença normal, com uma transformação radical do significado
ligado aos eventos e incorrigível em grau bastante diferente. Uma ideia
supervalorizada, ao contrário, é uma noção isolada associada a grande afeto e
personalidade anormal e semelhante na qualidade da convicção política,
religiosa ou ética. Desta forma, segundo Jaspers (1959), as ideias
supervalorizadas são “convicções fortemente marcadas por afeto, o que é
compreensível dada a personalidade e histórico”. Além disso, Jaspers diz: “Elas
são noções isoladas que se desenvolvem de forma compreensível a partir de
determinada personalidade e situação.” Fish (1967) considerou haver uma
discrepância frequente entre o grau da convicção e o quanto uma crença
determinava ação. Contudo, o paciente com uma ideia supervalorizada
invariavelmente age com base nela, de forma determinada e repetida; o ato é
executado quase como a força de um instinto, como a construção de um ninho.
Em muitos aspectos, estas definições tentam posicionar as ideias
supervalorizadas em algum lugar entre crenças normais e delírios. Ideias
supervalorizadas diferem dos delírios porque surgem de forma compreensível a
partir do que conhecemos sobre a pessoa e a sua situação. Elas são convicções
mais apaixonadas como as de natureza política, religiosa e ética do que crenças
normais. Isto sugere que existe alguma coisa na tenacidade da convicção que
diferencia as ideias supervalorizadas das crenças normais, mas, ao mesmo
tempo, seu grau de convicção e incorrigibilidade é considerado inferior ao grau
dos delírios. No entanto, é certo que o grau de convicção não é uma base segura
para se distinguir os delírios das ideias supervalorizadas, sendo mais adequado
considerar as ideias supervalorizadas compreensíveis no contexto do histórico e
da vida do paciente.
McKenna lista os transtornos de conteúdo comumente associados à forma da
ideia supervalorizada representados na Tabela 8.1. A psicopatologia não é uma
ideia supervalorizada em todos os casos de cada uma dessas condições; por
exemplo, o ciúme mórbido pode ser delirante e a hipocondria pode ocorrer
secundariamente ao humor deprimido. Entretanto, quando uma ideia
supervalorizada é encontrada, ela geralmente está associada a uma personalidade
anormal.
Tabela 8.1
Transtornos com ideias supervalorizadas
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*
Nota da Revisão Técnica: Are (som da letra R, em inglês) you (som da letra U, em inglês) be (ing) ill
(doente)?
*
Nota da Revisão Técnica: Família de ervas, arbustos e trepadeiras do tipo de folhas geminadas.
CAPÍTULO 9
Perturbações do Processo de
Pensamento
Resumo
Pouco sabemos sobre o pensamento e seus processos. Por este motivo, as
anormalidades do pensamento não podem ser facilmente relacionadas com
conceitos já estabelecidos sobre como funcionam os processos normais e os
desvios da normalidade. Neste capítulo serão descritos o pensamento fantasioso,
pensamento imaginativo e pensamento conceitual. Com isto em mente,
apresentaremos um modelo de pensamento baseado na associação de ideias
regido por um princípio determinante. Esta será a base da discussão das
anormalidades da forma do pensamento, uma área especialmente complexa da
psicopatologia, que demanda a capacidade de acompanhar com atenção o que
alguém diz e a capacidade de determinar se a sequência de ideias ou sua
associação está distorcida. Na seção final serão descritos os sintomas de primeira
ordem de Schneider, com exemplos.
Este capítulo trata das alterações do pensamento e o próximo, das alterações
da linguagem. O pensamento e seus processos são pouco conhecidos. Embora
haja interesse crescente sobre o assunto por parte de neurocientistas cognitivos,
seu principal foco de estudo foge ao que é de interesse do psicopatologista
clínico, ou seja, a experiência subjetiva do pensamento, especialmente aquela
relacionada com anormalidades. O interesse dos neurocientistas cognitivos se
foca na natureza da solução de problemas; nos diversos tipos de raciocínio,
inclusive analógico, indutivo e dedutivo; e na natureza da lógica e da formação
de crenças, todos temas importantes que podem estar prejudicados nos
transtornos psiquiátricos. No entanto, o processo que possibilita esses aspectos
do pensamento; a relação única do sujeito com seu próprio pensamento; a
experiência de pensamentos fluindo com coerência e a dimensão do pensamento
sem esforço, mas dirigido a metas, que sustenta a solução de problemas e o
raciocínio são pouco conhecidos ou pesquisados. Certamente é difícil estudar os
aspectos subjetivos do pensamento e, na maioria das vezes, o interesse se
concentra nos fenômenos objetivos da vida psíquica – o que Jaspers (1962)
chama de “desempenho”.
Existem dois aspectos distintos no estudo das perturbações do pensamento: a
consciência subjetiva do paciente sobre seus próprios padrões transtornados de
pensamento, e a manifestação anormal do pensamento expressa em sua fala
(Capítulo 10). Esta última é a expressão do pensamento e determina o que o
observador pode deduzir sobre o pensamento do paciente. Também é necessário
investigar a experiência do pensar na descrição dos processos psicológicos
subjetivos feita pelo paciente. A perturbação do pensamento formal, do ponto de
vista subjetivo e fenomenológico, é a anormalidade do mecanismo do pensar
descrita pelo paciente, que faz uma introspecção sobre próprios processos de
pensamento; ou seja, o paciente descreve, em suas próprias palavras, um
processo de pensamento que é obviamente anormal para o observador externo.
Tipos de pensamento
O processo de pensamento foi dividido por Fish (1967) nos três tipos seguintes:
▪ Pensamento fantasioso não dirigido – derreísta – pensamento autista.
▪ Pensamento imaginativo.
▪ Pensamento racional ou conceitual.
Os três tipos têm implicações ligeiramente diferentes para a psicopatologia,
descrição e categorização dos processos mórbidos. Eles podem ser considerados
funções do pensamento; ou seja, eles são os mecanismos necessários para que o
pensamento ocorra, mas não se manifestam eles próprios nos fenômenos.
Podemos contrastar esses fenômenos, que são produto do desempenho do pensar
– a percepção ou a ideia – das funções que não se tornam explícitas.
Pensamento fantasioso
O pensamento fantasioso pode ser de curta duração, como sonhar acordado antes
de dormir, ou se estabelecer como padrão. Jaspers cita Montaigne: “Plutarco diz
sobre as pessoas que desperdiçam seus sentimentos em porcos da Índia ou
cachorros de estimação, que o elemento amor em todos nós, quando privado de
objeto adequado, buscará algo trivial ou falso, em vez de permanecer sem
vínculos. Assim, a psique, em suas paixões, prefere se enganar ou, apesar de si
mesma, inventar algum objeto absurdo, em vez de abandonar todo impulso ou
objeto.”
A fantasia tem uma função importante na maneira como conduzimos nossas
atividades cotidianas, como, por exemplo, a maneira como formulamos nossa
fala e comportamento na imaginação antes de um encontro ou evento importante
e posteriormente acessamos o evento na fantasia para avaliar se poderíamos ter
tido melhor desempenho (ver Pensamento imaginativo). Para conseguirmos
aproveitar nossa imaginação de forma construtiva, precisamos da capacidade de
fantasia não direcionada e das habilidades aprendidas de estruturação do
pensamento. A fantasia também permite que uma pessoa escape ou negue a
realidade, ou então a transforme em alguma coisa mais tolerável e que demande
menos ação corretiva. Uma moça de 20 anos, que teve uma infância carente e se
prostituía pelas ruas da cidade, ouviu o sermão de um religioso em uma rádio
local. Ela começou a enviar flores e cartões para ele e sua esposa, entrou em
contato com eles e passou a chamá-los de “mãe” e “pai”. Quando questionada
pela polícia certa noite, ela deu seus nomes como os parentes mais próximos e
disse que eles eram efetivamente seus pais.
Pessoas tímidas e reservadas, que não sofrem de doença mental, podem usar o
pensamento derreísta para compensar decepções na vida. Bleuler (1911) viu esse
isolamento do mundo real em pensamento autista como uma característica da
esquizofrenia: “A preocupação muito comum entre jovens hebefrênicos com ‘os
temas mais profundos’ não é nada além de uma manifestação autista.” A
fantasia, especialmente em algumas pessoas com traços neuróticos, pode evoluir
do estágio deliberado e esporádico para um modo estabelecido; a pessoa passa a
acreditar no conteúdo da sua fantasia, que se torna subjetivamente real e aceita
como fato. Em seus últimos estudos, Freud considerou que este era o caso em
alguns dos relatos que recebia de mulheres que tiveram relação incestuosa com
seus pais durante a infância (Jones, 1962). Entretanto, em seus primeiros
trabalhos, ele considerava que essas mulheres haviam passado por uma agressão
sexual real, mas haviam empregado mecanismos inconscientes para reprimir o
conhecimento (Isräels e Schatzman, 1993; Webster, 1995). Diversos tipos de
experiência se enquadram na categoria de atuação da fantasia, como: mentira
patológica (pseudologia fantástica), conversão e dissociação histérica (sintomas
dissociativos histéricos somáticos e psicológicos) e ideias deliroides que
ocorrem em psicoses afetivas. Estes últimos tipos podem ser considerados
resultado do contexto afetivo e social do paciente.
A fantasia é geralmente entendida como a criação de imagens ou ideias que
não têm realidade externa. No entanto, o pensamento fantasioso também pode se
revelar na negação de eventos externos. Neste contexto, as observações descritas
com a explicação psicodinâmica de mecanismos de defesa do ego são
importantes. Os atos falhos ou “esquecimento” de palavra carregada de emoção
não são acidentais e sim uma forma de autoengano. O objeto óbvio,
significativo, mas desagradável, de uma percepção pode ser “ignorado”, e isto
geralmente revela negação fantasiosa. O pensamento fantasioso nega uma
realidade desagradável, mesmo quando a própria fantasia também é
desagradável. Este rearranjo ou transformação da realidade é habitualmente
demonstrado por pacientes neuróticos e ocorre ocasionalmente com todas as
pessoas. Jonathan Swift comentou a este respeito: “Quando a fantasia do homem
vai além da razão, quando a imaginação vai contra os sentidos e entendimento
comum e o bom senso é expulso, o primeiro convertido é ele próprio.”
(Swift, 1667–1745)
Pensamento imaginativo
O termo imaginação abrange estados psicológicos como fantasia (mencionada
anteriormente), geração de novas ideias e resultados criativos que compõem o
mundo das artes ou as descobertas da ciência. A imaginação tem pelo menos três
componentes: imagem mental, pensamento contrafactual e representação
simbólica. Imagem mental é a capacidade de criar representações mentais do
mundo baseadas em imagens. Pensamento contrafactual se refere à capacidade
de se separar da realidade para pensar em eventos e experiências que não
ocorreram e podem nunca ocorrer. Representação simbólica é o uso de conceitos
ou imagens para representar objetos ou entidades do mundo real (Roth, 2004).
Esta é, sem dúvida, a base da linguagem, das artes e da matemática.
Uma faceta deste tipo de pensamento, que vem de uma orientação teórica
psicanalítica, é o conceito de devaneio materno (Bion, 1962). A mãe, quando na
situação física e mental de “segurar o bebê” (Winnicott, 1957), tem uma
capacidade de devaneio ou de sonhar acordada sobre o bebê, geralmente
contemplando suas alegrias e conquistas futuras. Bion considera que este é um
fator necessário para o desenvolvimento saudável da autossensação do bebê;
quando o devaneio materno se rompe, como nos casos de depressão puerperal, o
bebê vivencia o rompimento como angústia. O processo de devaneio materno é,
em determinados aspectos, semelhante às orações que são feitas em favor de
outras pessoas.
Aceleração do pensamento
A aceleração do fluxo de pensamento ocorre como fuga de ideias, na qual há
uma conexão lógica entre cada par de ideias sequenciais expressas. Contudo, o
objetivo do pensamento não é mantido por muito tempo e está em constante
transformação devido ao efeito do afeto frívolo e de alto grau de distração. A
tendência determinante é enfraquecida, mas associações ainda se formam
normalmente. A velocidade da formação de tais associações e, assim, do padrão
do pensamento, é extremamente acelerada. Isto é demonstrado na Figura 9.2.
Lentificação do pensamento
Na lentificação (assim como na depressão), embora dirigido a uma meta, o
pensamento avança tão lentamente, com tanta preocupação mórbida e
pensamentos tão sombrios, que a pessoa pode não atingi-la. O paciente tende a
mostrar pouca iniciativa e a não iniciar planejamento ou atividade espontânea.
Quando lhe é feita uma pergunta ele pondera, mas à medida que nenhum
pensamento lhe chega, não oferece resposta. Eventualmente, depois de um atraso
considerável, a resposta é dada. Ele tem dificuldade em tomar decisões e em se
concentrar; há perda de clareza do pensamento e baixo registro de eventos que
ele precisa lembrar. Em termos do modelo de fluxo de pensamento, no retardo há
pobreza na formação de associações; veja Figura 9.3.
Pensamento circunstancial
Tanto na fuga de ideias como na lentificação, o afeto influencia a velocidade do
pensamento: ele determina qual ideia terá prioridade e também é capaz de
distorcer o julgamento. No pensamento circunstancial, o fluxo lento de
pensamento não é prejudicado pelo afeto, e sim por um defeito na capacidade
intelectual, uma falha na diferenciação entre o que é o fundo e o que é a figura.
Esta é uma característica que ocorre em pacientes com epilepsia e também pode
ser observada em outros estados orgânicos e no retardo mental. Um processo
bastante semelhante ocorre com personalidades obsessivas, porém o excesso de
detalhes é introduzido ansiosamente para evitar possíveis omissões: os pingos
nos “is” e os traços nos “ts” são feitos com tanto rigor que o processo de atingir
um objetivo é significativamente prejudicado.
Frente a uma pergunta, o pensamento circunstancial é exibido pelo paciente
em uma resposta repleta de detalhes desnecessários, que ofuscam e impedem que
a pergunta seja respondida. Todo tipo de associações desnecessárias são
exploradas à exaustão antes que a pessoa volte ao ponto inicial. A conversa se
torna uma massa de parênteses e orações subordinadas. O paciente até explica e
se desculpa pelas digressões antes de voltar a se movimentar em direção à meta.
No entanto, a tendência determinante permanece e a pergunta é finalmente
respondida. Este é o típico exemplo de confundir a árvore com a floresta. O
pensamento circunstancial é representado em diagrama na Figura 9.4.
A fusão é demonstrada no início deste trecho, quando ela diz que o cérebro é
controlado “através” e depois esta palavra se associa a “por meios”. “Teletapia”
– não o mesmo que telepatia – é um neologismo. O trecho também revela
exemplos de passividade. “Canais” e “meios” são chavões, ou seja, são palavras
utilizadas com muito mais frequência do que o normal e adquirem um
significado muito mais amplo do que o habitual. Não é fácil representar esta
situação esquematicamente e eu espero que a Figura 9.6 não gere confusão.
Bloqueio de Pensamento
Quebra súbita é a experiência de um paciente com esquizofrenia de que sua
cadeia de pensamento se rompeu ou foi interrompida de forma inesperada e não
intencional, e que pode ocorrer no meio de uma solução de problema ou até
mesmo no meio de uma frase. Ela não é causada pela distração gerada por outros
pensamentos e, na introspecção, o paciente não é capaz de fornecer explicação
adequada; simplesmente acontece. Isto também é descrito como bloqueio do
pensamento, um termo que pode gerar dúvidas. A explicação do paciente pode
ser dada em termos de roubo do pensamento: “Parei de pensar porque os
pensamentos foram retirados de minha cabeça de repente.” A Figura 9.7 mostra
um modelo de bloqueio do pensamento.
Perturbação do Juízo
Um juízo é um pensamento que expressa uma visão da realidade. A palavra,
neste caso, é usada no sentido de que “a meu juízo, isto e aquilo está
acontecendo”. Para avaliarmos se o julgamento é ou não perturbado é necessário
medi-lo diante do fato objetivo, o que pode ser difícil e por vezes demanda
consulta a especialista que atua na mesma área do paciente. A avaliação do juízo
falho não é feita unicamente com base em determinada crença ou argumento,
mas levando-se em consideração todo o comportamento e opiniões daquela
pessoa. A alegação de um homem de que seria uma figura da realeza perseguida
por marxistas pode até ser verdadeira. No entanto, a conclusão de que seu
julgamento está perturbado seria confirmada se ele tivesse se convencido de sua
condição real como reação aos comentários de uma enfermeira psiquiátrica sobre
suas tatuagens, ou se ele começasse a guardar pedregulhos e aranhas mortas em
uma lata de tabaco. Certamente os delírios são uma perturbação do juízo e
diversas formas de alteração do pensamento e déficit intelectual também podem
levar a perturbação do juízo.
Pensamento concreto
Os processos anormais de pensamento na esquizofrenia e em alguns estados
orgânicos podem resultar na literalidade da expressão e compreensão. As
abstrações e símbolos são interpretados superficialmente, sem sutileza ou
qualquer consciência de nuances; o paciente não consegue se libertar do que as
palavras significam literalmente, excluindo as ideias mais abstratas que também
são transmitidas. Esta anormalidade é descrita como pensamento concreto, termo
originalmente introduzido por Goldstein (1936). Os testes empregados para
avaliar esta condição são a interpretação de provérbios e outros testes
psicológicos reconhecidamente pouco confiáveis, mas geralmente é reconhecida
na prática clínica de forma bastante dramática. Por exemplo, uma paciente com
esquizofrenia chegou ao consultório para a entrevista e imediatamente tirou os
sapatos, dizendo: “Eu sempre gosto de manter meus pés no chão quando estou
falando.” Outro exemplo: o médico observou seu paciente com esquizofrenia
crônica andando de lado no corredor do hospital. Ao perguntar por que ele
estava andando daquela maneira, ele respondeu que era “por causa dos efeitos
colaterais”†. Outro paciente disse: “Eu comecei e sentir que eu estava me
elevando e não queria voar, então eu amarrei estes pesos no meu tornozelo.”
No entanto, é importante destacar que, apesar dos exemplos convincentes de
pensamento concreto relatados anteriormente, a concepção atual é a de que
pacientes com esquizofrenia tendem a ter atitude mais abstrata do que os grupos
de controle (Weiner, 1966; Shimkunas, 1972; Cutting, 2011). Desta forma,
quando perguntados, por exemplo, “de que forma uma mesa se assemelha a uma
cadeira?” o paciente pode responder que são “objetos do universo”.
Pensamento Superinclusivo
A diferença entre o pensamento concreto das síndromes mentais orgânicas e
aquele que ocorre na esquizofrenia foi descrita por Cameron (1944), que
considerou que, na esquizofrenia, o paciente é incapaz de manter limites
conceituais. A isto ele chamou de pensamento superinclusivo: ideias
remotamente relacionadas com o conceito em questão, que se incorporam aos
pensamentos do paciente. Desta forma, quando questionado: “quais destas são
partes essenciais de uma sala: paredes, cadeiras, piso, janela?”, o indivíduo
superinclusivo com esquizofrenia poderá incluir “cadeira”. Esta característica de
superinclusão pode ser observada em muitos aspectos do pensamento
esquizofrênico e foram criados questionários de teste envolvendo,
especificamente, testes de classificação. A falta de conexão adequada entre dois
pensamentos consecutivos é chamada de assindese.
No entanto, o pensamento concreto na esquizofrenia não pôde ser
diferenciado daquele de outros pacientes psicóticos e neuróticos (Payne
et al., 1970), e foi constatada sua associação à inteligência. O pensamento
superinclusivo ocorria apenas em cerca de metade dos pacientes com
esquizofrenia, geralmente os mais agudos. A outra metade, que sofria geralmente
de doença crônica, mostrava um retardo mais acentuado. McGhie (1969)
descobriu que os testes de Payne de superinclusão não distinguiam a
esquizofrenia de outros diagnósticos, como por exemplo, do pensamento
obsessivo ou maníaco, e Gathercole (1965) considerou que esses testes
demonstravam a fluência da associação, e não pensamento superinclusivo.
Um jovem que havia sofrido de esquizofrenia por anos começou a usar
drogas. À pergunta do médico: “que drogas você está usando?”, ele respondeu
“LSD, alimentos saudáveis e maconha”. Este é um exemplo de pensamento
superinclusivo. No entanto, foi uma afirmação espontânea; ele poderia muito
bem ter dado resposta totalmente correta a um questionário formal que não
tocasse em áreas significativas de sua experiência.
Chen et al. (1995) sugeriram que pode haver uma ampliação nos limites de
categoria (por exemplo, “móveis”) com preservação da estrutura interna da
categoria em pacientes com esquizofrenia. Isto resulta em temas relacionados
que estão efetivamente fora da categoria que está sendo processada pelo paciente
de forma semelhante àqueles que estão dentro dela. Cutting (2011) argumenta
que o que é mais proeminente é que pacientes com esquizofrenia
supercategorizam, encontrando mais categorias, frequentemente inúteis, dentro
das quais produzem listas.
Aggernaes (Aggernaes et al., 1976) levou esta teoria para além do ponto de
vista prático e clínico. Ele considera que os pacientes com esquizofrenia não se
distanciam da realidade; eles parecem experimentar o mundo real como real da
mesma forma que pessoas normais. No entanto, seu defeito no teste de realidade
decorre de uma tendência difusa de vivenciar alguns itens fantasiosos como
também reais.
O efeito desta desatenção na vida social normal foi bem observado por
Morgan (1977) em sua descrição das três semanas vividas em proximidade com
dois pacientes com esquizofrenia crônica:
Tabela 9.1
Sintomas de primeira ordem da esquizofrenia e sintomas do Exame
do Estado Atual
Um pintor de 35 anos ouviu uma voz baixa com sotaque de Oxford, que
ele atribuiu à BBC. O volume era ligeiramente mais baixo do que o de
conversas normais e podia ser ouvido pelos dois ouvidos. Ele conseguiu
localizar sua fonte no processo mastoide direito. A voz lhe dizia: “Eu não
suporto este homem, o modo como ele segura a própria mão faz com
que pareça uma bicha” (...) Ele imediatamente vivenciou o que a voz lhe
dizia como seus próprios pensamentos, excluindo todos os outros.
Quando ele lia o jornal, a voz falava tudo em que seus olhos batiam. Ele
não tinha tempo de pensar no que ele estava lendo antes que fosse dito
em voz alta.
(Mellor, 1970: 16)
Vozes que discutem umas com as outras significa duas ou mais vozes
alucinatórias discutindo ou brigando entre si e o paciente geralmente aparece na
terceira pessoa. O sintoma tende a não ser citado voluntariamente desta forma: o
paciente, na verdade, não diz: “Eu ouço vozes que brigam e discutem entre si.”
Portanto, o sintoma precisa ser cautelosa e sutilmente inquirido.
Uma dona de casa de 41 anos ouviu uma voz vindo da casa no outro
lado da rua (...) A voz falava incessantemente em um tom monótono
descrevendo tudo o que ela estava fazendo, entremeando comentários
críticos. “Ela está descascando batatas, pegou o descascador, ela não
quer aquela batata, ela a está devolvendo porque acha que tem uma
saliência como um pênis, ela tem uma mente suja, ela está descascando
as batatas, agora ela as está lavando.”
(Mellor, 1970: 16)
Uma dona de casa de 29 anos disse: “Eu olho pela janela e acho que o
jardim parece bom e que a grama parece atraente, mas os pensamentos
sobre Eamonn Andrews me vêm à mente. Não existe nenhum outro
pensamento ali, somente este (...) Ele trata a minha mente como uma
tela e joga seus pensamentos sobre ela como se joga uma fotografia em
um projetor.”
(Mellor, 1970: 17)
Uma paciente de 23 anos disse: “Eu choro, as lágrimas correm pelo meu
rosto e eu pareço infeliz, mas por dentro eu sinto raiva porque eles me
usam desta forma e não sou eu quem está infeliz, são eles que estão
projetando infelicidade no meu cérebro. Eles projetam risadas em mim,
sem razão, e você não tem ideia como é terrível rir e parecer feliz e
saber que isso não vem de você, mas que é uma reação deles.”
(Mellor, 1970: 17)
Sintomas de primeira ordem são de uso geral na prática clínica e também têm
sido adaptados para a pesquisa psiquiátrica. O método de determinação e
medição dos sintomas esquizofrênicos, entre outros sintomas, desenvolvidos por
Wing et al. (1974) no Present State Examination emprega os sintomas de
primeira ordem como a base do diagnóstico de esquizofrenia. O Present State
Examination oferece ao médico um meio de determinar quais sintomas e
síndromes estão presentes.
Koehler (1979), revisando o modo como diferentes autores descrevem a
presença de sintomas de primeira ordem na literatura inglesa, concluiu que às
vezes eles eram utilizados com sentido muito restrito e às vezes muito amplo.
Ele faz a distinção entre alienação do pensamento e influência do pensamento e
faz um apelo para afirmações mais claras sobre os critérios delimitadores dos
sintomas de primeira ordem e o viés nosológico vinculado aos fenômenos. Dos
exemplos de Mellor citados anteriormente, a alienação é necessária; ou seja, um
delírio de controle e não apenas uma experiência de influência do pensamento.
De modo semelhante, a difusão do pensamento é considerada um sintoma de
primeira ordem quando o paciente descreve que aquilo ocorreu fora de seu
controle, não importando se os pensamentos são compartilhados. Portanto, este
capítulo recomenda o uso restrito dos sintomas de primeira ordem. Eles têm sido
empregados para se estabelecer o diagnóstico, mas não são necessariamente
úteis em termos de prognóstico (Bland e Orn, 1980).
A diferença entre alienação ou experiência de controle e influência pode ser
exemplificada pelo sintoma esquizofrênico de inserção do pensamento. A
inserção do pensamento é mais concreta do que a inserção de uma ideia dentro
do pensamento de uma pessoa. Uma pessoa normal pode dizer, “minha mãe me
deu uma ideia” ou até mesmo “minha mãe plantou essa ideia na minha cabeça”,
sem que isto signifique inserção de pensamento. O paciente que vivencia
passividade acredita que, por algum processo concreto, os limites do eu
envolvendo o pensamento foram tão invadidos que sua mãe está efetivamente
colocando pensamentos dentro da sua cabeça (Capítulo 12). Desta forma, ele
pensa os pensamentos da mãe ou, talvez, a mãe esteja pensando dentro dele.
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Winnicott DW. The Child and the Family: First Relationships. London: Tavistock Publications; 1957.
*
Nota da Revisão Técnica: Ainda que a melhor tradução para drivelling fosse verborragia ou baboseira, o
autor descreve uma desorganização extrema da fala, compatível com o que se chama de salada de palavras.
†
Nota da Tradução: Em inglês, a expressão efeitos colaterais é side effects e a palavra side significa “de
lado”.
CAPÍTULO 10
Resumo
A fala é o aspecto da linguagem que corresponde às funções mecânicas e
articulatórias que permitem que a linguagem seja vocalizada, ao passo que a
linguagem é, em si, um sistema complexo baseado em diversos elementos que
incluem fonemas, estrutura sintática, semântica, prosódia e pragmática, tudo
concebido para auxiliar a comunicação e a codificar fatos na memória. As
anormalidades da fala são comuns na neurologia, mas raras na psiquiatria. A
linguagem e o pensamento são conjuntamente afetados nos transtornos
psiquiátricos, especialmente na esquizofrenia. No entanto, a efetiva relação entre
pensamento e linguagem ainda precisa ser elucidada de forma mais completa.
Perturbações da Fala
Este tema é abordado em livros de neurologia e foi revisado por Critchley
(1995); aqui, será apenas resumido. Muitas anormalidades, como parafasia, têm
causas orgânicas e psicogênicas; o diagnóstico exige um histórico médico e
psiquiátrico completo, bem como exame neurológico e do estado mental.
Afonia e disfonia
Afonia é a perda da capacidade de vocalizar; o paciente apenas fala em
sussurros. Disfonia denota um prejuízo com rouquidão, mas sem perda completa
da função. Ela ocorre na paralisia do nono nervo craniano ou em doenças das
cordas vocais.
A afonia também pode ocorrer sem doença orgânica na afonia dissociativa,
uma apresentação bastante comum em ambulatórios de otorrinolaringologia.
Este paciente pode falar em um “sussurro de palco”; a fonação pode flutuar de
acordo com a resposta da pessoa a quem a pessoa se dirige.
Disartria
As alterações da articulação podem ser causadas por lesões no tronco encefálico,
como paralisia bulbar e pseudobulbar. Também podem ocorrer em alterações
estruturais ou musculares da boca, faringe, laringe e tórax. Distúrbios
idiossincráticos da articulação são observados ocasionalmente na esquizofrenia
e, talvez, produzidos conscientemente em transtornos de personalidade.
Gagueira e tartamudez
Essas condições já foram estudadas na história da psiquiatria sob o aspecto de
perturbações neuróticas da infância, juntamente com comportamentos como roer
as unhas. No entanto, a etiologia psicogênica certamente não foi comprovada e
qualquer associação a neuroticismo pode ser secundária às barreiras na
comunicação causadas pela gagueira.
Logoclonia
É a repetição espástica das sílabas que ocorrem no parkisonismo
(Scharfetter, 1980). O paciente pode ficar preso ao uso de determinada palavra.
Ecolalia
O paciente repete palavras ou partes de frases que são dirigidas a ele ou em sua
presença, e geralmente não há compreensão de seu significado. A condição é
demonstrada com frequência nos estados de excitação esquizofrênica, no retardo
mental e em estados orgânicos como demência, especialmente se também houver
presença de disfasia.
Fala ininteligível
A fala pode ser ininteligível por diversos motivos e a maioria das anormalidades
descritas aqui, se levadas ao extremo, resultarão em incompreensibilidade.
▪ A disfasia pode ser tão profunda que, embora as sílabas sejam produzidas, a
fala é ininteligível.
▪ O paragramatismo (alteração da construção gramatical) e a incoerência da
sintaxe podem ocorrer em diversos transtornos. Palavras reconhecíveis
podem estar tão desordenadas nas frases que perdem seu sentido – salada de
palavras, como ocorre na esquizofrenia. Na mania, a velocidade da
associação pode ser tão rápida a ponto de quebrar a estrutura da frase por
completo e torná-la sem significado, enquanto, na depressão, o retardo pode
inibir a fala a tal ponto que apenas sílabas ininteligíveis são produzidas,
frequentemente na forma de lamúria.
▪ O significado privado pode ocorrer na esquizofrenia com o uso de (a) novas
palavras com um significado idiossincrático e pessoal – neologismos, (b)
chavões e expressões nas quais palavras existentes são usadas com
significado simbólico individual ou (c) um determinado idioma que pode ser
falado (criptolalia) ou escrito (criptografia).
Disfasia sensorial
Os termos afasia e disfasia são frequentemente empregados indistintamente. No
entanto, a afasia implica a perda completa da linguagem, enquanto a disfasia,
prejuízo ou dificuldade de linguagem. A disfasia é convencionalmente dividida,
para fins de classificação, em sensorial (receptiva) e motora (expressiva). Muito
frequentemente, há prejuízo global da linguagem com evidências de prejuízo nos
dois elementos. A Tabela 10.1 resume algumas das anormalidades que ocorrem
com os diferentes aspectos comprometidos da linguagem.
Tabela 10.1
Prejuízo da linguagem com diferentes tipos de disfasia
Espontânea Fala
Tipo Fluente Compreensão Repetição Nomeação Leitura Escrita
Surdez pura de palavras + - - + + + Não ao
ditado
Cegueira pura de palavras + + + + - +
Disfasia sensorial primária + - - + - -
-
Disfasia de condução + + - + Em voz -
- alta -
Disfasia nominal + + + - + +
- -
Mudez para palavras - + - + + +
-
Agrafia pura + + + + + -
Disfasia motora primária - + - + Voz alta – -
- Compr + -
Alexia com agrafia + + + - - -
Área da fala isolada - - + - - -
Disfasia motora - + + - Voz alta – -
transcortical Compr +
Disfasia sensorial + - + - - -
transcortical
Disfasia nominal
O paciente com disfasia nominal não consegue produzir nomes e sons por
vontade própria. Ele pode ser capaz de descrever o objeto e sua função e
reconhecer o nome quando lhe é apresentado: um paciente descreveu um relógio
de pulso como “um vaso de relógio”. Tipicamente, substantivos “vazios” como
“coisa” e “objeto” são usados, ao passo que substantivos “diferenciadores”
raramente são empregados. A fala é plana, a estrutura das frases geralmente
correta e a compreensão não apresenta prejuízo.
Jargonofasia
Na jargonofasia a fala é fluente, mas há uma perturbação tão grande nas palavras
e na sintaxe a ponto de torná-la ininteligível. A entonação e ritmo da fala são
preservados. Este é considerado um tipo grave de disfasia sensorial; não é
possível avaliar a própria fala do paciente, já que ele não se mostra
emocionalmente perturbado quando ouve gravações de sua fala severamente
prejudicada.
Afasias motoras
Mutismo Puro de Palavras
O paciente com mutismo puro de palavras entede o discurso falado e escrito e
pode responder a comentários. A escrita é preservada, mas a fala é indistinta e
não pode ser produzida por vontade própria. Não há perturbação local dos
músculos necessários para falar e a incapacidade é uma apraxia limitada aos
movimentos necessários para a fala.
Agrafia Pura
A agrafia pura é uma incapacidade isolada de escrever, que pode também
ocorrer sem comprometimento da fala (agrafia sem alexia); há compreensão
normal do material escrito e falado. Isto é o equivalente do mutismo de palavras
transposto para a escrita.
Mutismo
Mutismo, a ausência da fala no estado consciente, é um sinal importante em
doença psiquiátrica com extenso diagnóstico diferencial. A obtenção do histórico
e avaliação do estado mental é impossível em um paciente mudo. As principais
categorias de transtornos psiquiátricos podem apresentar mutismo: dificuldade
de aprendizagem, transtorno mental orgânico (por vezes relacionado com o uso
de drogas), psicose e neurose funcional e transtorno de personalidade. Algumas
causas mais específicas incluem depressão, esquizofrenia catatônica e transtorno
dissociativo. O mutismo ocorre como um elemento essencial de estupor
(Capítulo 3) e é preciso avaliar o nível de consciência como parte de um exame
neurológico completo de todos os pacientes com este sinal. Se não há
rebaixamento da consciência, como nas psicoses e neuroses funcionais, é
provável que o paciente mudo compreenda tudo o que é dito ao seu redor. Assim
como em transtornos cerebrais específicos, as causas de estupor abrangem
alterações metabólicos gerais, que também afetam o cérebro, como insuficiência
hepática, uremia, hipotireoidismo e hipoglicemia.
Tabela 10.2
Modelos de investigação dos distúrbios de linguagem na
esquizofrenia
Clínico Categorização
Kraepelin Acatafasia
Bleuler Perda de associações
Gardner Forma de regressão
Cameron Assindese
Goldstein Pensamento concreto
Von Domarus Alteração do raciocínio dedutivo
Schneider Descarrilamento, substituição, omissão, fusão e salada de palavras
porque você realmente vive fisicamente, porque você faz refeições três
vezes ao dia; isto é o físico [O que mais existe fora o físico?]. Também,
você está vivo principalmente para fazer um trabalho sob uma
perspectiva metódica de negócios
Anormalidades psicogênicas
Andreasen (1979) mostrou que as anormalidades da linguagem presentes na
esquizofrenia também podiam ser observadas na mania. McKenna e Oh (2005)
defendem que há um contínuo do distúrbio de linguagem ou pensamento que
passa da esquizofrenia para transtorno de humor e transtornos orgânicos, como
epilepsia e demência fronto-temporal. O que McKenna e Oh enfatizam é que a
anormalidade da linguagem na esquizofrenia tem um substrato neurológico,
ligando as perturbações observadas à afasia, uma volta às ideias iniciadas por
Kleist no século XX.
A fala maníaca* foi analisada, e a fala e o número de associações
demonstrados na fuga de ideias e pressão de discurso são observados pelo maior
número de conectores que ocorrem na fala maníaca. O conteúdo da fala
depressiva é certamente influenciado pelo estado de humor, que também
influencia a escolha de palavras. As frases tendem a ser curtas e com associações
em menor número e mais simples, com lentificação.
O mutismo histérico pode ocorrer como uma reação anormal ao estresse. Um
homem de 35 anos não conseguiu mais tolerar as contínuas reclamações de sua
esposa e das duas cunhadas que moravam com eles. Certo dia, depois de beber
muito na noite anterior, ele destruiu os móveis da esposa em casa e ficou mudo
por 24 horas. Eventualmente ele foi encaminhado do departamento de
emergência psiquiátrico e a fala voltou gradualmente em dois ou três dias sem
qualquer outro tratamento.
No fenômeno de respostas aproximadas (Capítulo 5), o paciente dá uma
resposta errada para uma pergunta simples: “Quantas patas tem uma ovelha?” –
“Cinco”. Isto é, de acordo com Anderson e Mallinson (1941), “uma falsa
resposta à pergunta do examinador na qual a resposta, embora errada, indica que
a pergunta foi compreendida”. Este sintoma pode ocorrer em diversas condições,
inclusive na esquizofrenia, quando é geralmente associado ao humor tolo; ao
transtorno dissociativo, anteriormente chamado de pseudodemência histérica
(antes de fazer tal diagnóstico, o psiquiatra sensato exclui cuidadosamente causa
orgânica); à síndrome de Ganser e a outras condições orgânicas.
O uso excêntrico e pedante de palavras pode ocasionalmente ser observado
em pessoas com personalidade anancástica; a tendência à obsessão obstrui a
escolha de palavras e a construção de frases.
Análise Sintática
Em estudos da fala analisada em termos de sintaxe, quando comparada a
pacientes maníacos e controles normais, os pacientes com esquizofrenia
exibiram fala menos complexa, menor número de frases bem formadas, mais
erros semânticos e sintáticos e menos fluência. Também houve uso acentuado de
parafasias, agramatismos, anomia, problemas com pronomes, circunlóquios, etc.
Estes problemas pareciam estar associados a prejuízo intelectual geral
(McKenna e Oh, 2005). Obviamente esses estudos não justificam a conclusão de
que as diferenças decorrem diretamente da doença ou do distúrbio do
pensamento, nem levam em consideração o contexto social ou aspectos
emocionais. Entretanto, diferenças acentuadas são de interesse quando
consideramos que a maioria dos pacientes com esquizofrenia não exibe distúrbio
claro de linguagem.
Análise Proposicional
Esta é uma forma de análise de texto em que ele é dividido em suas proposições
constitutivas. Estas são então representadas em forma de diagrama para mostrar
a “geometria mental” (Hoffman et al., 1982). Considera-se que a fala normal
avança como em um diagrama de árvore única com todos os ramos partindo de
uma única proposta-chave, mas a fala psicótica rompe com as regras de relações
proposicionais com mais frequência.
Observadores, ouvindo a fala de pacientes com esquizofrenia, ficam
geralmente surpreendidos com a sua estranheza e desvios. Chaika (1995)
concluiu que isto não é meramente um déficit de sintaxe, e sim um fenômeno
mais grave como lapsos graves e repetidos, nos quais o erro é um lapso de
controle executivo, lapso de vontade. Morice (1995) demonstrou que com a
crescente complexidade da sintaxe, há um aumento do número de erros na fala
de pacientes com esquizofrenia; aqueles que expressam sentenças muito simples
cometem relativamente poucos erros. Um de seus pacientes disse: “e me
comunicando normalmente eu posso me perder no caos da linguagem”.
Este resultado foi confirmado por Thomas e Leudar (1995) com o emprego do
teste de Hunt, uma avaliação escrita onde os sujeitos produzem frases
sintaticamente complexas, a partir de expressões simples oferecidas como input.
Os pacientes com esquizofrenia com prejuízo de comunicação cometeram mais
erros do que os pacientes com esquizofrenia sem prejuízo de comunicação ou
controles normais, e esses erros tendiam a acontecer mais com estruturas
sintáticas complexas. Desta forma, concluiu-se que os pacientes possuíam uma
falha específica no processamento da linguagem, que era diversa dos distúrbios
cognitivos mais gerais da condição.
Embora esses métodos ainda sejam experimentais, o uso da linguagem e
sintaxe do paciente certamente permite a avaliação quantitativa do estado mental
e da experiência subjetiva e mais testes deverão ser desenvolvidos. O estudo do
distúrbio da linguagem é uma área na qual a psicopatologia descritiva pode
contribuir para a pesquisa psiquiátrica.
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*
Nota da Tradução: Em inglês, bay, palavra correspondente ao acidente geográfico em português, possui
todos os significados descritos no parágrafo em maior ou menor escala.
*
Nota da Revisão Técnica: Embora não esteja claro no texto, os quadros maníacos não são considerados
psicogênicos; aparentemente o autor colocou a descrição da fala maníaca neste item para diferenciar do
mutismo histérico e das respostas aproximadas, estes sim considerados psicogênicos.
C A P Í T U L O 11
Insight
Um homem que sabe quem e o que é, seu lugar no mundo, e o que são
as pessoas e coisas a seu redor; que julga de acordo com regras
conhecidas ou inteligíveis; e que, se tiver hábitos ou ideias peculiares,
pode justificar suas opiniões e conduta; um homem que, por mais que
aja errado, não é enganado por nenhum impulso incontrolável ou paixão,
que não desperdiça inutilmente os seus meios; que sabe as
consequências legais de seus atos; que consegue diferenciar o
comportamento decente do indecoroso, que sabe o que é adequado ou
inadequado dizer de acordo com as circunstâncias nas quais se
encontra; e que reverencia o tema e os ministros religiosos; um homem
que, se nem sempre consegue regular seus pensamentos,
temperamento e atos, não fica continuamente nos extremos e, se erra,
erra tanto por benevolência e hesitação, quanto por paixão e excitação e
mais frequentemente: enfim, um homem que consegue receber
repreensão e reconhecer quando precisa de correção.
John Perceval (1840)
Resumo
Em psiquiatria, insight se refere à capacidade do paciente de reconhecer que seus
sintomas são indicativos de transtorno mental e exigem tratamento. Hoje se sabe
que insight está associado a comprometimento da função cognitiva e prenuncia
baixa adesão ao tratamento e, por isso, tratamento hospitalar e internação
compulsória. O mecanismo subjacente da falta de insight está ainda começando
a ser esclarecido, mas sabe-se que está associado a déficits de autoconhecimento,
automonitoramento, empatia e teoria da mente.
Autoconsciência é uma capacidade humana básica, que se refere à
possibilidade de reconhecer a própria existência e experiência, bem como a
existência e experiência do outro. Ela inclui a habilidade de monitorar os eventos
da vida e a capacidade de tomar decisões sobre o futuro com base no
conhecimento. Além disso, envolve a habilidade de comunicar essa consciência
de si e do outro para os demais seres humanos (Marková, 1987). Esta capacidade
caracteristicamente humana é em parte o tema de Sófocles em Édipo Rei, no
qual a busca de Édipo pelo autoconhecimento resultou na descoberta de que
havia matado seu próprio pai e gerado filhos com sua mãe. O aforisma
“Conhece-te a Ti Mesmo” foi inscrito no átrio do Templo de Apolo em Delfos e,
em Apologia, Sócrates diz: “A vida sem reflexão não vale a pena ser vivida.”
Estas e tantas referências da antiguidade sobre o autoconhecimento salientam a
importância de seu papel na vida humana.
Certamente, autoconsciência envolve mais do que a mera consciência da
doença, sendo o conceito psiquiátrico de insight um subconjunto do conceito
geral de autoconsciência. Insight significa muito mais do que saber que está
doente e adotar uma atitude sensata em relação ao tratamento. Ele envolve
também nossa capacidade de introspecção, empatia e comunicação; não apenas
nos permite a visão de como realmente somos, mas também de como os outros
nos veem e, portanto, enxergar os outros como eles realmente são, uma vez que
eles possuem o mesmo repertório de mecanismos mentais que nós. Mesmo para
obter esse senso social, é importante ter capacidade de relacionar-se com outros
com empatia e conhecimento de como nossos comportamentos afetam suas
emoções e experiências. Por isso pode-se dizer que o insight é o produto direto
do conhecimento de nós mesmos, e é uma qualidade muito valorizada por
profissionais da saúde mental, já que se pressupõe a existência de uma forte
relação entre insight e melhor qualidade de vida (McGorry e McConville, 1999).
Embora na psiquiatria o foco principal seja o significado restrito de insight em
relação ao transtorno mental, é preciso preservar esse conceito mais amplo.
Nosso trabalho com os pacientes frequentemente exige o nosso insight de seus
pensamentos e comportamentos por meio de nossa capacidade de empatia, o que
possibilita ajudá-los a desenvolver o insight sobre si mesmos e a raiz de seus
problemas.
A relação entre a capacidade de insight, em um sentido geral, e as questões
práticas do tratamento é muito próxima. Cite-se aqui o exemplo de um médico
que sofria de transtorno delirante que anunciava e vendia ímãs para tratamento
de artrite e febre do feno. Ele acreditava piamente que esta forma de tratamento
era de valor inigualável para praticamente todas as condições médicas e havia
agredido fisicamente um farmacêutico que tinha tentado persuadi-lo do
contrário. Ele depreciou a validade de toda a psiquiatria “porque eu sou um
cientista e tudo deve ser demonstrado com base em provas”. Devido à falta de
insight de sua própria condição e à natureza de suas crenças, foi impossível
iniciar o tratamento. Seus sintomas persistiram, assim, por muito tempo.
Jaspers (1959) descreveu da seguinte forma as atitudes do paciente em relação
ao seu próprio transtorno:
1. Atitudes compreensíveis frente ao surgimento repentino de psicose aguda
(perplexidade, consciência da mudança).
2. Adaptação aos efeitos da psicose aguda.
3. Adaptação à doença nos estados crônicos.
4. Julgamento do paciente sobre sua doença.
5. Determinação de adoecer.
6. Atitude frente à própria doença: seu significado e possíveis implicações.
Todos esses pontos, especialmente os itens 3, 4 e 6, envolvem o processo de
insight, o conhecimento de si mesmo, especialmente em relação ao adoecimento.
Uma pessoa que fica gravemente doente subitamente, qualquer que seja a
natureza da doença, após ter sido saudável durante anos, fica perplexa com a
alteração de seu quadro de saúde, e pode passar por mudanças profundas no self
e na sua imagem corporal. Ela passa de uma pessoa saudável, que via a doença
como algo que acontecia com os outros, para uma pessoa que se enxerga
potencialmente frágil e vulnerável. Esta pode ser uma experiência enriquecedora
e não necessariamente de todo negativa.
Desenvolvimento do conceito
As contribuições ao desenvolvimento do conceito de insight derivam da
psicopatologia, da psicologia da gestalt e da psicanálise. Na psicologia da
gestalt, insight é concebido como uma solução repentina e inesperada para um
problema. Segundo Markova (2005), o caráter “repentino” especifica uma
solução abrupta de um problema, o caráter “inesperado” se refere ao elemento
surpresa do evento e a expressão “solução de problema” sinaliza a limitação do
evento no tempo. Essencialmente, na psicologia da gestalt o insight é, por
definição, relacionado com uma tarefa específica, um problema no mundo
externo que pede solução. Além disso, muito se tem debatido dentro da
psicologia gestalt a respeito da natureza do insight, se é uma capacidade humana
única, além de ser uma capacidade cognitiva. O fato de na psicologia gestalt
insight se referir a um problema no mundo externo se distingue do conceito de
insight na prática clínica. Nesta, insight se concentra na compreensão de
alterações ou acontecimentos no interior de um indivíduo.
Para Jaspers (1959), geralmente a atitude do paciente em relação a seu
transtorno envolve uma “consciência da doença”, na qual o paciente expressa a
“sensação de estar doente e alterado, mas esta consciência não se estende a todos
os seus sintomas nem ao transtorno como um todo. Ela não envolve uma
estimativa objetivamente correta da gravidade do transtorno nem um julgamento
objetivamente correto de seu tipo específico”. Para Jaspers, “apenas quando tudo
isso está presente e há julgamento correto de todos os sintomas e do transtorno
como um todo, de acordo com o tipo e gravidade, é que podemos falar de insight
[ênfase no original]”. Desta forma, para Jaspers, o insight somente se torna
manifesto quando o paciente é capaz de se afastar do conteúdo de suas
experiências psíquicas para emitir um julgamento sobre elas e investigar suas
causas e motivos. A definição de insight de Lewis (1934, p. 333) como “a atitude
correta frente a uma alteração mórbida em si mesmo”, é uma reafirmação da
descrição de insight feita por Jaspers. Freud (1981) empregou o termo insight
para se referir a conhecimento do transtorno, mas, no todo, o objetivo da terapia
psicanalítica é o desenvolvimento de uma consciência mais profunda do self.
Esta é outra forma de dizer que, na psicanálise, insight se refere ao
conhecimento e à compreensão do processo mental inconsciente. Este é um
conceito mais complexo de insight porque significa a aquisição, pelo paciente,
de compreensão das motivações inconscientes de seu comportamento e, sob o
ponto de vista da estrutura da mente de Freud, sugere um grau de profundidade
de compreensão.
Para David (1990), o insight é composto por três dimensões que se
sobrepõem: o reconhecimento de uma alteração psíquica mórbida, a nomeação
desta alteração como proveniente de um transtorno mental e a compreensão de
que tal alteração exige um tratamento que precisa ser seguido. Com isso, uma
escala de avaliação foi criada a fim de determinar se a natureza do insight e sua
perda quantitativa estavam relacionadas com o grau da psicopatologia (David
et al., 1992).
Foi sugerido também que podem ser traçados paralelos entre a perda de
insight em pacientes psiquiátricos e a perda de consciência de doença de partes
do corpo em determinadas condições neurológicas. Na cegueira cortical,
hemiplegia do lado esquerdo após derrame e síndrome amnésica, a falta de
consciência da doença é bem reconhecida. O termo anosognosia foi cunhado por
Babinski (1857–1932) para se referir à falta de consciência ou negação da
hemiplegia observada em pacientes que sofreram derrame. Entretanto, há uma
diferença entre a falta de insight observada na psiquiatria e a falta de consciência
observada nas doenças neurológicas. Na psiquiatria, a falta de insight é
geralmente acompanhada por maior perda de julgamento, para além dos
sintomas ou das implicações para o paciente. Em casos neurológicos, a falta de
consciência está voltada a uma deficiência específica. No entanto, embora a falta
de insight na psiquiatria e falta de consciência da doença na neurologia não
sejam idênticas, comparações podem apontar para possíveis bases neurológicas
em comum.
Existem alguns problemas filosóficos quando consideramos insight em
pacientes com psicose. A capacidade de autoconhecimento e as consequências
de suas personalidades variam em pessoas que não têm nenhum transtorno
psiquiátrico. E porque pelo menos alguns dos conceitos de psicose se apoiem na
falta de insight como característica determinante, a discussão sobre o conceito
pode se tornar circular. Soma-se a isso o fato de que pode haver diferentes níveis
de insight e que a não verbalização de insight pode ser diferente de sua ausência.
Outro problema que deve ser considerado é um modelo possivelmente ilusório
onde uma parte “normal” da mente é capaz de julgar a “anormalidade” de outra
parte. Isto funciona desde que o médico reconheça que é meramente uma
maneira de falar, e não necessariamente uma representação fiel de como ocorre o
automonitoramento.
Avaliação do insight
As tentativas iniciais de medir insight focaram o seu papel nas terapias
psicodinâmicas. Tolor e Reznikoff (1960) desenvolveram um teste usando
situações hipotéticas baseadas nos mecanismos comuns de defesa e encontraram
correlação com inteligência. Este teste foi utilizado por Roback e Abramowitz
(1979), que detectaram uma correlação, naqueles com esquizofrenia, entre maior
sofrimento subjetivo e melhor adaptação comportamental. A validade desse teste
no trabalho clínico geral é afetada pelo fato de o conceito de insight se basear na
psicodinâmica e não nas características psicopatológicas.
Qualquer medida confiável e válida de insight na prática clínica deve se
basear nas quatro premissas abaixo:
▪ Insight é complexo e multidimensional.
▪ Fatores culturais devem ser considerados.
▪ O nível de insight pode variar nas diversas manifestações do transtorno
mental.
▪ Devem ser levadas em conta informações sobre a natureza do transtorno de
uma pessoa em situações além da entrevista (McGorry e McConville, 1999).
McEvoy et al. (1989a) desenvolveram um questionário para medir insight,
definido como a consciência do paciente sobre a natureza patológica de suas
experiências e também sua concordância com os profissionais que o atendem
sobre a necessidade de tratamento. O Insight and Treatment Attitudes
Questionnaire (ITAC) é uma entrevista semiestruturada com 11 itens validados
com pontuação que vai de 0 (sem insight) a 22 (insight máximo). Aplicando este
questionário, eles não encontraram qualquer relação com aspectos de
psicopatologia aguda.
O Schedule for Assessment of Insight in Psychosis (SAI) foi publicado em
1992 (David et al., 1992) e, além do reconhecimento do transtorno mental e
adesão ao tratamento, incluía a capacidade de renomear eventos mentais
incomuns como patológicos. Havia sete itens com pontuação máxima possível
de 14 e um item adicional sobre contradição hipotética.
A Scale to Assess Unawareness of Mental Disorder (Amador e Strauss, 1993)
é uma escala muito mais abrangente com seis itens gerais e quatro subscalas, das
quais podem ser calculadas dez pontuações em resumo. Outras escalas
disponíveis são a Global Insight Scale (Greenfield et al., 1989) e a
autodesignada Insight Scale for Psychosis (Birchwood et al., 1994). A escala de
Markova e Berrios (1991) é mais dirigida à avaliação dos aspectos de
autoconsciência e menos à definição clínica de insight em relação ao transtorno.
Isso também vale para a Beck Cognitive Insight Scale (Beck et al., 2004), que
mede um conceito mais amplo de insight, abrangendo a capacidade do paciente
de avaliar suas experiências anormais e suas inferências errôneas. A escala é
composta de duas subescalas: autorreflexão e autocerteza.
Outras abordagens têm sido o uso da “falta de insight e julgamento”, item da
Positive and Negative Syndrome Scale (PANSS) (Kay et al., 1987), como uma
medida única e global de insight, e o uso de vinhetas psicopatológicas. McEvoy
et al. (1993) usaram vinhetas que lançam características psicopatológicas
específicas na linguagem do dia a dia para determinar se os pacientes
monstravam tais características e o quanto as atribuíam a transtorno mental. Eles
descobriram que os pacientes deixavam de reconhecer sintomas negativos e de
enxergar sintomas positivos como evidência de transtorno mental.
Desde as primeiras avaliações impressionistas de natureza global, a medição
de insight tem progredido recentemente para o uso de definições
operacionalizadas e instrumentos padronizados. Embora os diferentes
instrumentos possam medir diferentes aspectos de um fenômeno complexo, há
pelo menos a liberdade de escolher um que se adeque a objetivos clínicos
específicos ou à pesquisa. Existe uma correlação inversa entre insight, gravidade
da psicopatologia e transtornos afetivos positivos (Sanz et al., 1998).
Insight na esquizofrenia
Não é de surpreender que a maior parte da pesquisa sobre os correlatos clínicos
de insight tenham por objeto pacientes com esquizofrenia. McEvoy et al.
(1989a) relataram que insight medido pelo ITAQ não tinha correlação com a
severidade da psicopatologia aguda e nem com as mudanças da psicopatologia
com tratamento. Eles especularam se os mecanismos subjacentes à produção de
sintomas positivos e insight comprometido eram independentes e se este último
era mais resistente ao uso efetivo de medicação neuroléptica. David et al. (1992)
descobriram que a “pontuação total de insight” em seus estudos tinham uma
correlação moderadamente inversa com a pontuação total do Present State
Examination (Wing et al., 1974), uma indicação da gravidade global do
transtorno. Tanto David et al. (1992) quanto McEvoy et al. (1989b) descobriram
que, como grupo, pacientes internados involuntariamente têm menos insight. De
maneira geral, parece que a relação entre insight pobre e aspectos de
psicopatologia não é linear, e sim complicada por outros fatores, inclusive
adesão ao tratamento.
Insight e Prognóstico
A relação entre insight e prognóstico é muito complexa. Em primeiro lugar,
maior insight parece prognosticar desesperança, depressão e suicídio (Ampalam
et al., 2012; Balhara e Verma, 2012; Schrank et al., 2013). A consciência das
implicações sociais adversas do transtorno mental pode ser o fator mediador
entre insight e depressão (Thomas et al., 2012).
Em segundo lugar, McEvoy et al. (1989c) descobriram que pacientes com
bom nível de insight apresentavam menor probabilidade de sofrer reinternação e
tendiam a ser mais aderentes ao tratamento 30 dias depois da alta; a relação geral
entre insight e desfecho se aproximou muito de significância estatística. Sua
medida de “ambiente pós-internação”, que visava refletir o nível com que os
esforços dos outros estavam voltados a manter o paciente em tratamento, não foi
relacionada com insight. Amador e Strauss (1993) também verificaram que suas
medições de insight estavam relacionadas com o curso do transtorno.
A adesão ao tratamento está relacionada com o prognóstico e desfecho. A
relação entre insight pobre e baixa adesão ao tratamento foi demonstrada por
Bartko et al. (1988), Lin Bartko et al. (1979) e McEvoy Bartko et al. (1989c).
O resumo das evidências sugere que níveis mais altos da consciência do
transtorno estão associados a maior adesão medicamentosa e melhora clínica na
esquizofrenia (Amador et al., 1991). No entanto, há o risco de circularidade da
lógica, já que algumas das medidas de insight se baseiam em definições que
incluem não adesão. Além disso, a adesão ao tratamento prescrito é um
fenômeno muito mais complexo que é afetado por fatores sociais e crenças sobre
saúde e doença (Bebbington, 1995). Também é possível que a relação entre
adesão e aspectos diferentes de insight possa ser diferente. David et al. (1992)
acharam que a adesão ao tratamento não estava estritamente relacionada com a
capacidade de reconhecer os próprios delírios e alucinações e renomeá-los como
anormais.
É interessante notar que os pacientes podem aderir ao tratamento, mesmo que
não acreditem estar doentes, se o ambiente social for favorável (McEvoy et al.,
1989b). É reconhecido que crenças sobre a saúde e representação da doença
exercem um papel na adesão ao tratamento, porém a forma como elas interagem
com o insight influenciando a adesão ainda necessita ser estudada. Os domínios
da representação de um transtorno mental são identidade (o rótulo da doença),
causas (modelos explicativos), linha do tempo (surgimento e duração esperada),
controle (crença de que o self pode influenciar o desfecho) e consequências
(funcionais e outras) (Brownlee et al., 2000). O que é claro é que insight não é o
único fator determinante na busca de cuidado e adesão ao tratamento. McEvoy
et al. (1993) sugeriram que insight poderia melhorar com tentativas de
reabilitação psicossocial. Isto foi posteriormente estudado por Lysaker e Bell
(1995) em uma amostra de pacientes com diagnóstico de esquizofrenia ou
transtorno esquizoafetivo. Anteriormente, Lysaker et al. (1994) haviam
descoberto que insight, medido pelo item no PANSS, estava relacionado com
níveis baixos de qualidade de trabalho e participação em programas de
reabilitação. Em seu estudo, publicado em 1995, os pacientes matriculados em
programas de reabilitação vocacional apresentaram melhora no insight após
cinco meses. Esta melhora foi maior nos pacientes com comparativamente
menos déficits cognitivos, o que confirmou seus achados anteriores referentes à
relação com prejuízos cognitivos. Entretanto, a falta de um grupo de controle
limita a possibilidade de generalização dos achados. De fato, parece interessante
a sugestão de que a reabilitação vocacional pode afetar insight favoravelmente
quando não há comprometimento cognitivo. McEvoy et al. (1993) propuseram
que a melhoria da autoestima gerada pela reabilitação pode afetar positivamente
o aumento do nível de insight.
Críticas do conceito
O recente reaparecimento do interesse por insight tem tido a sua cota de críticas.
Antropólogos médicos têm criticado o conceito de insight por sua falha em
reconhecer que as pessoas podem ter diferentes explicações culturais, todas
possivelmente válidas, para explicar suas doenças. Sob este ponto de vista, o
conceito de insight é “eurocêntrico e essencialmente arrogante” (Perkins e
Moodley, 1993), uma vez que preconiza que o paciente, além de concordar que
está mentalmente transtornado e que precisa de tratamento, deve ainda se
comprometer a reconstruir suas experiências segundo os termos e conceitos da
psiquiatria ocidental. Johnson e Orrell (1995) revisaram os trabalhos de
cientistas sociais sobre as variações culturais e sociais na percepção leiga do
transtorno mental e argumentam que elas influenciam o insight. O contexto
social e cultural influencia as percepções estigmatizantes do transtorno mental e
a congruência dos pacientes com a visão médica ocidental sobre transtorno
mental. A capacidade de renomear um fenômeno mental como anormal pode ser
menos influenciada por fatores sociais quando comparados com as crenças sobre
sua causa. Embora tenhamos poucos estudos nesta área, parece que surgem
evidências de que fatores sociais e culturais são importantes no diagnóstico de
insight pobre. Por exemplo, diferenças entre o contexto étnico do psiquiatra e do
paciente parecem influenciar o julgamento daquele sobre o insight deste
(Johnson e Orrell, 1996).
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*
Nota da Revisão Técnica: De fato, em nossa prática costuma-se dizer que o paciente “tem” ou “não tem”
insight, devendo ser preferível avaliar qualitativamente sobre quais aspectos de seu problema o paciente tem
insight.
SEÇÃO 4
O Ser e o Corpo
Perturbações do Eu
Resumo
O conceito de Eu (self) tem mudado de significado e importância ao longo dos
anos e comporta cinco características formais: vitalidade, atividade, unidade,
identidade e limites do eu. Tais características podem se apresentar
comprometidas nos transtornos psiquiátricos. A primeira delas, o sentimento de
vitalidade, pode ficar comprometida trazendo sentimentos de morte, cujo
exemplo extremo são os delírios niilistas. Na perturbação da atividade, a
“qualidade de meu”, isto é, a sensação de ser um agente que põe em prática sua
vontade no mundo pode estar comprometida, como ocorre nas experiências de
passividade. A unidade do eu ao longo do tempo é significativamente afetada na
autoscopia e nos transtornos dissociativos de identidade. Já a perturbação da
identidade é ilustrada nos estados possessivos e em fenômenos como a
licantropia. Por fim, as anormalidades na distinção entre eu e não eu (distúrbio
dos limites do eu) são fundamentais para nossa compreensão das diversas
experiências na esquizofrenia, como experiências de passividade, inserção de
pensamentos e retirada de pensamento.
Eu e Self*
Self é um conceito cujo significado e importância têm mudado desde o início da
filosofia helenística (Berrios e Markova, 2003). A partir da metade do século
XIX, diversos conceitos de self entraram no ramo da psiquiatria, que hoje em dia
admite a existência de transtornos na forma como o indivíduo pensa e avalia a si
mesmo, com variações dependendo da natureza do transtorno. Entretanto, não há
consenso sobre o significado exato de self. Há uma pluralidade de conceitos, que
incluem o self ecológico, interpessoal, estendido, privado e conceitual, entre
outros (Zahavi, 2003). Neste capítulo, os termos eu e self são usados de forma
mais ou menos indistinta. O termo eu tem a vantagem de ser um termo técnico e,
portanto, com significado mais restrito, o que pode também representar uma
desvantagem quando se refere simplesmente à própria pessoa, como é
geralmente compreendido e subjetivamente vivenciado.
O uso da palavra eu por Freud ecoa Nietzsche (1901):
Outro disse:
Em um de dois dias meu corpo é duro como madeira. Hoje meu corpo é
grosso como essa parede (aponta para a parede).
Consciência do Corpo
Temos uma consciência de nosso self e uma consciência, que se sobrepõe, mas é
ligeiramente diferente, do nosso corpo. O que é este senso de imagem ou
consciência corporal? De acordo com Head e Holmes (1911), o esquema
corporal é formado como uma experiência composta de sensações. Schilder
(1935) desenvolveu ainda mais a importância da percepção das sensações na
formação do esquema corporal: “a figura do nosso próprio corpo que formamos
em nossa mente, ou seja, o modo como o corpo parece para nós mesmos”. Freud
(1933) também se preocupou com a imagem corporal no desenvolvimento da
personalidade: “O eu é, em primeiro lugar, o eu do corpo.” Anormalidades da
imagem corporal podem ser claramente o resultado de sensações anormais, mas
nem sempre é assim. Por exemplo, a anormalidade da imagem corporal de um
amputado é resultado direto do dano físico, mas um paciente hipocondríaco pode
não ter nenhuma sensação anormal e mesmo assim acreditar que tem câncer. No
transexualismo, um homem pode ter uma experiência sensorial normal de seu
corpo, mas afirmar que o detesta, principalmente seu pênis; ele pode sentir que é,
na verdade, uma mulher presa em um corpo de homem (Morris, 1974). Sua
imagem corporal perturbada não é o resultado de sensação comprometida; há um
conflito entre o eu (a maneira como ele vivencia a si mesmo e o gênero que
atrubui) e a imagem corporal. A distinção de consciência do eu e consciência
corporal feita por conveniência entre este capítulo e o Capítulo 14 é artificial.
A imagem corporal pode ser alterada através do aumento, diminuição (ou
ablação) ou distorção. Ela incorpora mais do que apenas o corpo, exceto, talvez,
naquelas poucas ocasiões em que uma pessoa está tanto despida quanto se
conceitualizando como nua; os alfaiates há muito tentam nos persuadir que “as
roupas fazem o homem”. Certamente, elas são uma forma efetiva de
comunicação não verbal. As roupas nos dão algum insight sobre como uma
pessoa se vê e também sobre a forma como ela se propõe a interagir com outras
pessoas. Uma pessoa complementa seu humor e o papel social do momento na
sua escolha de roupas. Ela usa as roupas, como navios portam bandeiras, para
sinalização, e determinadas roupas são usadas para expressar uma mensagem
para quem a possa ler. Um estudante de medicina usa terno para uma prova oral,
uma mulher desabotoa um botão da blusa ao sair para o almoço. Ao entrar no
consultório médico, o paciente já começa a dar informações sobre si mesmo a
partir de sua aparência antes que qualquer palavra seja dita. Uma pessoa cujas
roupas são escolhidas por outros, como nos hospitais psiquiátricos do passado,
tem uma aparência peculiarmente isenta e sem significado; este aspecto de sua
imagem corporal está sem expressão e nada diz sobre a pessoa.
Perturbações do Eu
Na psicopatologia descritiva, empregamos o termo perturbações do eu ou
perturbações do self para descrever as experiências internas anormais do “eu” e
“aquilo que é meu”, que ocorrem no transtorno psiquiátrico. Essas podem
ocorrer no estado de consciência interna do paciente, independentemente de
eventuais alterações que possa exibir em sua atitude ou experiência do mundo
fora de si. Jaspers (1959), com sua característica clareza, descreveu a
consciência do eu, isto é, a capacidade de distinguir o eu do não eu, como tendo
quatro características formais. Scharfetter (1981, 1995, 2003) adicionou uma
quinta dimensão - vitalidade do eu - e defendeu sua inclusão com base na análise
fatorial. Anteriormente, esta característica era incorporada na consciência da
atividade, que abarcava “ser” e “existir” juntamente com outras ações. Desta
forma, hoje em dia temos as seguintes características da consciência do eu:
▪ Consciência de ser ou existir (vitalidade do eu): eu sei que estou vivo e que
existo, e isto é essencial para a consciência do self.
▪ Atividade do eu: eu sei que sou um agente que inicia e executa meus
pensamentos e ações.
▪ Unidade do eu: em todos os momentos eu sei que sou uma pessoa.
▪ Identidade do eu: existe continuidade na minha biografia, fisionomia, gênero,
origem genealógica etc. Eu sou a mesma pessoa o tempo todo.
▪ Fronteiras do eu: eu sou diferente de outras coisas e seres e posso diferenciar
meu eu do mundo externo; sou consciente dos limites entre self e não self.
Os transtornos da experiência interna nos quais essas características se
encontram comprometidos passam a ser mais detalhadamente explorados.
Abordaremos mais especificamente as alterações das cinco funções descritas por
Jaspers e Scharfetter a seguir.
Perturbações da atividade do eu
Faço algo e sei que estou fazendo aquilo. Tudo o que eu faço, em tudo o que eu
vivencio, através de todos os eventos que me acontecem, estou consciente de que
a experiência tem uma qualidade singular de ser minha. “Foi incrível. Eu me
belisquei para ter certeza de que estava realmente acontecendo comigo” expressa
a relação que vivenciamos entre consciência da realidade e atividade. É em
nossos atos, incluindo nossos pensamentos, que reforçamos nossa experiência a
nós mesmos.
O movimento pode apresentar anormalidade, como por exemplo, na
experiência de passividade ou delírios de controle em pacientes com
esquizofrenia (ver a seguir). Schreber descreveu diversos exemplos deste tipo de
experiência:
Perturbações da unidade do eu
A pessoa saudável está integrada em seu pensamento e comportamento de forma
que não precisa estar consciente da sua sensação de unidade. Há uma suposição
implícita de que ela é uma pessoa e conhece seus limites e capacidades. Mas este
pressuposto da unidade pode estar ausente em algumas condições. Nos sonhos,
às vezes nos vemos, até mesmo com alguma surpresa, no drama. Em algumas
formas de meditação transcendental, através de atos repetitivos e monótonos, o
indivíduo entra em um transe autoinduzido, no qual ele pode se observar
adotando o comportamento. O “Self” é tanto o observador quanto o objeto
observado.
Autoscopia (Heautoscopie)*
Autoscopia é um fenômeno conceitualmente difícil, no qual a indivisibilidade do
self parece estar comprometida. Segundo Fish (1967), “nesta estranha
experiência, o paciente se vê e sabe que ele é ele. Não se trata apenas de uma
alucinação visual porque as sensações cinestésica e somática também devem
estar presentes para dar ao indivíduo a impressão de que a alucinação é ele”.
Mais recentemente, Brugger e Regard (1997) identificaram seis tipos de
autoscopia: a sensação de presença, autoscopia negativa, autoscopia interna,
alucinação autoscópica, experiência fora do corpo, e heautoscopia propriamente
dita.
Na sensação de presença, o paciente tem a sensação da presença física de
outra pessoa. Normalmente, nenhuma percepção visual é relatada. Esta sensação
pode estar confinada a um hemispaço, principalmente quando a experiência
ocorre em associação com uma convulsão. A autoscopia negativa refere-se à
falha na percepção do próprio corpo, seja em um espelho ou olhando
diretamente. Este fenômeno está geralmente associado à despersonalização. A
autoscopia interna se refere a experiências de alucinação visual dos orgãos
internos no espaço extracorporal (Sollier, 1903). A alucinação autoscópica
acontece quando o paciente vê uma imagem de espelho de si mesmo, ou de seu
rosto ou tronco. Esta experiência é diferente da heautoscopia propriamente dita
porque o paciente não se localiza na posição da imagem no espelho. Estas
experiências alucinatórias são geralmente curtas, durando de segundos a minutos
e seguidas de reincidências como um “flash” (Lhermitte, 1951; Brugger, 2002;
Dewhurst et al., 1955).
As experiências fora do corpo são caracterizadas pela projeção de um self
observador (psicológico) em um espaço extrapessoal que aparentemente está
totalmente dissociado do corpo físico. Neste fenômeno o paciente vê a si e o
mundo de uma localização distinta de seu corpo físico. Aqui temos três
características fenomenológicas: descorporização, a impressão de ver o corpo de
uma perspectiva visual-espacial distante e elevada (também chamada de
perspectiva egocêntrica extracorpórea) e a impressão de ver o próprio corpo a
partir desta posição elevada (Anzellotti et al., 2011).
Por último, a heautoscopia propriamente dita é uma condição na qual o
indivíduo vê seu duplo (doppelgänger). Este duplo geralmente aparece sem cor,
pode se comportar de maneira indepentente e pode ou não espelhar a aparência
do paciente. Existe uma grande autoidentificação com o segundo corpo,
frequentemente associada à experiência de existir e perceber o mundo de dois
lugares ao mesmo tempo (Heydrich e Blanke, 2013). Podem ocorrer sensações
vestibulares como leveza extrema do corpo, sensação de estar voando, elevação,
rotação e vertigem (Anzellotti et al., 2011; Blanke et al, 2004). Há um mito
norte-europeu, compartilhado por diversos países, no qual uma pessoa veria o
seu duplo (“fantasma”, “aparição”) pouco antes de sua morte, o que torna este
um presságio (Todd e Dewhurst, 1962). Os autores apresentam um material
histórico interessante para fundamentar a ligação entre o doppelgänger e a
morte: a lenda é que, enquanto a pessoa jaz moribunda, seu fantasma flutua ante
seus olhos e ela vê a si mesma realizando todas as ações mais condenáveis e
repreensíveis de sua vida, que desfilam diante dele enquanto morre.
O interesse popular sobre o conceito do duplo é persistente, sendo tema de
diversas obras de ficção como The Double de Fyodor Dostoyevsky (1846), The
Master of Ballantrae, de Robert Louis Stevenson (1889), e Scandal, de Shusaku
Endo (1986). A pior característica do duplo, para o próprio indivíduo, é bem
ilustrada no Darkness Visible, de William Styron (1991): o envolvimento
terrível, indissociável, do duplo com o indivíduo, na tentativa de mortificá-lo,
provocá-lo e destruir o duplo e/ou a si mesmo.
Quando esta experiência ocorria, o paciente sentia que toda a sensação estava
no “self alucinatório”, inclusive a audição, visão e sensação de frio: “Eu sentia
frio nas costas do meu self alucinatório.” Não houve experiência de paladar ou
olfato. Havia ocorrido uma experiência de afeto.
Uma garota que ora é “May”, ora “Margaret”, pode ser calma, estudiosa
e obediente como May e não ter consciência da existência de Margaret.
No entanto, quando se torna Margaret, ela poderia ser alegre,
voluntariosa, teimosa e se referir a May de forma desdenhosa. Parece
que essas personalidades múltiplas são sempre produções artificiais,
produto da atenção médica que despertam.
Perturbações da identidade do eu
Eu sou quem eu era semana passada ou 30 anos atrás; sou quem serei pela
próxima semana ou daqui a 10 anos. Essa verdade, que pode ser dita sem
hesitação, não é certa para algumas pessoas que sofrem de esquizofrenia e outros
transtornos mentais, ou até mesmo para pessoas saudáveis em situações
anormais (ver Estado de possessão, adiante). Este transtorno da consciência do
eu é caracterizado por alterações na identidade do self ao longo do tempo.
Uma pessoa que se sente ameaçada em seu emprego e tem medo de ser
demitida provavelmente não irá funcionar bem, devido à sua sensação de
impermanência. A sensação de continuidade de si mesmo e de seu papel é um
pressuposto essencial da vida, sem o qual o comportamento não pode ocorrer de
forma adequada. Em um estado saudável, não temos dúvidas sobre a
continuidade de nós mesmos desde o passado até o presente. Entretanto,
pacientes com esquizofrenia ocasionalmente acreditam não terem sido a mesma
pessoa sempre. Tipicamente, isto assume a forma de uma experiência de
passividade e o paciente afirma que, em algum momento do passado, ele foi
completamente alterado de uma pessoa para outra, que é quem ele é agora.
Jaspers (1959) faz o relato de um paciente que conta:
Estado de Possessão
Esse quadro é classificado na CID-10 como transtornos (F44) dissociativos (ou
conversivos) – transtorno de transe e possessão (F44.3) (Organização Mundial
da Saúde, 1992). Entretanto, embora o estado alterado de consciência seja um
pré-requisito, o estado de possessão não necessariamente ocorre no contexto de
transtorno dissociativo. Ele pode ocorrer em pessoas normais e saudáveis, em
situações incomuns como um fenômeno de grupo (hipnose em massa) ou
individualmente, quando ocorre perda temporária tanto do sentido de
indentidade pessoal quanto da plena consciência do que está em volta. A pessoa
age como se estivesse, e acredita que foi, tomado por outro – um espírito, uma
força, uma divindade ou mesmo por outra pessoa. A diferença entre essas
condições que constituem o transtorno e as que podem ser consideradas parte de
um contexto cultural ou religioso isolado é que as primeiras são indesejadas,
causam sofrimento ao indivíduo e a quem o cerca e podem ser prolongadas para
além do evento imediato ou cerimônia que as provocou.
A possessão de uma jovem saudável, casada e mãe de três filhos por duas
“deusas” foi testemunhada no Sri Lanka. A mulher havia se tornado uma
varama, uma curandeira com poderes especiais, cerca de dois anos antes, quando
ela “viu” seu falecido padrasto, que veio até ela e disse que ela teria poder
sobrenatural para ajudar outras pessoas e a própria família. Seu marido estava
viciado em arak, uma bebida local e sua dependência levou a família a uma
grave situação financeira. Depois desta experiência, ela oferecia seus serviços
como curandeira e conciliadora de dificuldades domésticas em sua aldeia, e
várias pessoas a consultavam diariamente em sua casa, onde ela havia
transformado um pequeno quarto em santuário e outro em sala de espera.
Enquanto seu marido tocava repetidamente um chifre de búfalo e ela cantava, ela
autoinduzia um transe durante o qual falava com vozes diferentes, como uma das
divindades que aconselhava os clientes, cujas mensagens eram interpretadas por
seu marido. Os habitantes da aldeia consideravam seus conselhos úteis, seu
marido passou a ter uma atividade e ela resolveu completamente os problemas
financeiros da família por meio dos presentes que recebia pelo serviço prestado.
Outro caso, com a presença de transtorno psiquiátrico, foi o de uma dona de
casa de 37 anos no Sri Lanka que acreditava estar possuída pela sua avó há
muito falecida; em três ocasiões ela entrou em transe, perdeu contato com o
mundo externo e viu a imagem de sua avó se aproximando dela para tentar lhe
estrangular. Os episódios eram descritos com medo e angústia. Ela exibia
sintomas de transtorno depressivo, com pouco sono, despertar precoce, perda de
apetite e de peso, falta de energia, fadiga e humor deprimido; ela havia sido
abandonada pela mãe aos sete anos de idade.
Wijesinghe et al. (1976) pesquisaram uma população semiurbana de 7.653
pessoas no Sri Lanka e identificaram 37 sujeitos, 9 homens e 28 mulheres, com
“estado de transe por possessão”, mostrando estado alterado de consciência,
comportamento pelo qual o sujeito não reconhecia responsabilidade e amnésia
para o período do transe. Os episódios, que duravam cerca de 30 minutos, eram
geralmente precipitados por estresse emocional ou estímulos culturais, como
testemunhar uma cerimônia de exorcismo. Durante o transe, os sujeitos
mostravam-se inquietos, com tremores rítmicos do tronco e gestos exagerados, a
fala era agressiva e imperativa e o humor tipicamente irado. Com maior
frequência, o espírito possessor era o de um parente próximo falecido. Na
medida em que a condição perdurava, principalmente as mulheres se tornavam
adeptas permanentes. Na análise desses autores, apenas um dos sujeitos sofria de
esquizofrenia, embora 17 dos 37 manifestassem transtorno psiquiátrico ativo, na
maior parte de natureza neurótica.
Estados de transe e possessão revelam a fronteira tênue entre comportamento
normativo e o anormal. Moreira-Almeida e Cardeña (2011) argumentam que a
falta de sofrimento pessoal, ausência de prejuízo social ou funcional, ausência de
comorbidade psiquiátrica, autocontrole da experiência e crescimento pessoal,
todos apontam na direção de uma experiência espiritual não patológica. No
entanto, estados de possessão e transe podem ocorrer no contexto de transtorno
neurológico inquestionável, tais como lesões no gânglio basal e no lobo fronto-
parietal (Basu et al., 2002), o que aponta para a necessidade de um modelo
integrado fundamentado na neurociência, mas que contemple os processos
socioculturais envolvidos na forma como o self é construído socialmente
(Seligman e Kirmayer, 2008).
Ao estudar as alterações da autoconsciência, Jaspers (1959) se preocupou
tanto com alterações de conteúdo quanto de forma. Ao discutir os estados de
possessão, ele descreve a rara condição da licantropia, na qual o paciente
acredita ter sido transformado em um lobo. A licantropia tem uma longa história
nas sociedades ocidentais e crenças idênticas de transformação em outros
animais temidos como a raposa no Japão, o tigre, a hiena e o crocodilo na China,
Malásia e Índia são documentados (Fahy, 1989). Na antiguidade, havia uma
crença na possibilidade de transformação radical do corpo humano em corpo de
lobo. Entretanto, relatos de casos recentes adotaram uma abordagem
fenomenológica robusta e identificam a crença em transformação como um
delírio de valor não específico, mas principalmente associado a transtornos de
humor, esquizofrenia e ocasionalmente doença cerebral orgânica (Keck et al.,
1988; Fahy, 1989; Kulick et al., 1990). A licantropia é geralmente uma crença
transitória, mas ocasionalmente a crença pode ser persistente, durando muitos
anos (Keck et al., 1988). Koehler et al. (1990) revisaram o trabalho de Jaspers
sobre licantropia e demostraram que Jaspers fazia uma diferenciação entre
estados de possessão que se apresentavam com consciência alterada e estados de
possessão nos quais a consciência permanecia clara; os primeiros eram
geralmente de origem dissociativa (histérica), enquanto os últimos eram mais
associados com esquizofrenia. Isto salienta a importância da avaliação
psicopatológica para o diagnóstico psiquiátrico.
Outro sujeito disse: “Se alguém presente saísse da sala era como se eu
estivesse sendo privado de algo. Eu ficava menor – definitivamente me senti
vulnerável.”
Fronteiras do Eu na Esquizofrenia
Na esquizofrenia, a sensação de invasão do eu parece ser fundamental para a
natureza da condição vivenciada; muitos dos sintomas de primeira ordem têm
em comum a permeabilidade da barreira entre o indivíduo e seu ambiente, ou
seja, a perda dos limites do eu (Sims, 1993). Ocorre uma fusão entre self e não
self, experiência que é retratada na Figura 12.2, pintada por um paciente com
esquizofrenia. O paciente não tem consciência de que a perturbação se refere aos
limites do eu; ele descreve um problema como “coisas que outras pessoas estão
fazendo comigo, eventos que estão ocorrendo fora de mim mesmo”. O
observador externo encontra uma turvação ou perda dos limites do self, que não
é aparente para o próprio paciente.
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*
Nota da revisão Técnica: Embora haja grande discussão na literatura atual sobre o signifcado destes
termos, o autor utiliza de forma indiscriminada os termos eu e self; por coerência com a tradução da obra de
Jaspers para o português traduzimos ego por eu e evitamos a confusão entre eu e self, sempre que possível.
*
Nota da Revisão Técnica: O termo heautoscopie é às vezes traduzido como “heautoscopia”, às vezes como
“autoscopia”. Optamos pela tradução genérica por “autoscopia” reservando “heautoscopia” para a
autoscopia propriamente dita (doppelgänger) descrita nos tratados de psicopatologia.
*
Nota da Revisão Técnica: De fato, no Brasil e na América do Sul este diagnóstico não é comum, sendo os
casos semelhantes enquadrados como transtornos dissociativos; por isso, a descrição de “várias
personalidades na mesma pessoa” revela mais a vivência subjetiva do que o diagnóstico em si.
CAPÍTULO 13
Despersonalização
Resumo
Despersonalização é um estado subjetivo de irrealidade no qual ocorre uma
sensação de estranhamento, seja do self ou do ambiente externo. Frequentemente
é acompanhado de sintomas de desrealização, termo que denota o sentimento
semelhante de irrealidade em relação à consciência do mundo externo. A
atribuição desta sensação de irrealidade a uma parte específica do corpo é
chamada de dessomatização. Podem ocorrer experiências de alteração no
tamanho ou qualidade, como por exemplo, sensação de aumento ou diminuição,
vazio ou separação, ou de se estar cheio de água ou espuma. O termo
embotamento afetivo é empregado para descrever a perda consistente da
capacidade de sentir emoção, de maneira que a pessoa parece incapaz de chorar,
amar ou odiar. Tais experiências são associadas a ansiedade, transtornos de
humor, doenças orgânicas como epilepsia e lesões cerebrais traumáticas. A
despersonalização também pode ser desencadeada pelo uso de cannabis,
alucinógenos, ecstasy e álcool, podendo ser uma experiência de curta ou longa
duração, mas invariavelmente angustiante para o paciente.
Definições e Descrições
Despersonalização é o termo empregado para descrever uma alteração peculiar
na consciência do self, em que o indivíduo sente como se ele fosse irreal
(Sedman, 1972). É melhor reservar o uso da palavra a esta sensação de como se,
em vez da experiência de irrealidade que ocorre na psicose. O termo “como se” é
usado pelo paciente para demonstrar que ele não está usando as palavras no seu
sentido literal (como ele poderia saber como seria não “se encaixar no mundo”
quando todas as suas experiências foram no mundo?). Desta forma, “como se” é
a melhor maneira de expressar a incerteza e nos pintar um quadro da situação.
Considera-se que, após depressão e ansiedade, a despersonalização é o sintoma
mais frequente que ocorre na psiquiatria (Stewart, 1964) e as estimativas de
prevalência de 12 meses de despersonalização e desrealização em uma
população rural são colocadas em 19,1% e 14,4% (Aderibigbe et al., 2001).
Schilder (1928), cuja monografia clássica de 1914 foi determinante no estudo
da despersonalização, escreveu:
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CAPÍTULO 14
Resumo
O corpo é a manifestação física do ser individual. É a interface material,
corporal, com o mundo exterior. O mundo é vivenciado através dos sentidos do
corpo, que também é, ele próprio, vivenciado como um objeto no mundo. Neste
capítulo iremos examinar:
1. Transtornos de crenças sobre o corpo, inclusive crenças em doenças,
enfermidades e morte.
2. Transtornos de função corporal, inclusive perda da função sensorial, motor
ou cognitiva, que ocorre nos transtornos de conversão e dissociativos.
3. Transtornos da experiência das características físicas do corpo e do valor
emocional e estético.
4. Transtornos complexos da consciência sensorial do corpo que quase
exclusivamente têm como causa lesões neurológicas.
Apesar das diferenças entre essas experiências anormais, o que as une em um
aspecto coerente da psicopatologia é que o corpo, a maneira como é vivenciado,
é o fator central.
A fisicalidade do corpo é permanente: há densidade, massa, movimento, ação,
velocidade, posição, calor, frio e vários graus de toque, dor e assim por diante.
Desde Descartes (1596–1650), a relação entre mente e corpo tem estimulado
muita investigação e discussão. A proposta original de Descartes é a de que
mente e corpo são distintos e diferentes; além disso, que a mente pode existir
sem o corpo. Outras teorias buscam explicar a natureza da mente e do corpo. As
teorias materialistas sustentam que o corpo é tudo o que há e variações destas
teorias representam a mente de diversas formas, enquanto as teorias idealistas
levantam o argumento oposto, de que a mente é tudo que existe. O fato de
diversas descrições de humor, cognição, vontade e outras funções psicológicas
serem expressas em termos físicos – “coração pesado”, “cabeça dura”, “culhões
e determinação” e “frio na barriga” – demonstra a relação inextricável entre
mente e corpo e enfatiza como o corpo pode se tornar uma forma de comunicar
sofrimento e metáforas corporais para expressar sentimentos, de forma
consciente ou inconsciente. Não se sabe se essas metáforas resultam de
manifestações físicas do sofrimento emocional ou se a linguagem, isto é, a
metáfora, estrutura a experiência. O certo é que não há divisão entre a
experiência subjetiva do self e do corpo. Uma menina de 10 anos expressou essa
relação da seguinte maneira: “Você se sente melhor quando faz o dever de casa;
se não faz, fica com uma dor horrível no estômago.” Por fim, já que corpo em si
é um objeto no mundo, ele habita um mundo de valores e normas no qual há
corpos “bons” e “ruins”, corpos “desejáveis” e “indesejáveis”, além do subgrupo
estético, corpos “bonitos” e “feios”. Isto significa que as pessoas encaram o
próprio corpo e o dos outros com uma atitude: elas avaliam os corpos segundo
um conjunto de crenças e expectativas, julgam e agem em relação ao corpo com
aprovação ou desaprovação.
A fim de formarmos uma estrutura coesa para conceituar os transtornos do self
e as diversas anormalidades de imagem corporal devemos aplicar os métodos da
psicopatologia descritiva. O Capitulo 12 abordou a natureza e a patologia da
experiência do self. Este capítulo é voltado aos transtornos da consciência do
corpo.
Classificação
Cutting (1997) fornece um bom panorama da classificação das alterações da
consciência do corpo, que foi adaptada para este capítulo. (Tabela 14.1), que
abrange crenças sobre enfermidades, doenças e morte (ver a seguir). Este grupo
também inclui os transtornos de insatisfação com o corpo, que ocorrem nos
transtornos alimentares. A melhor forma de compreender essas insatisfações com
o corpo é considerá-las o resultado de avaliações cognitivas negativas, ou seja,
crenças sobre o corpo. Em seguida temos os transtornos da função corporal, que
abrangem a perda de funções sensoriais, motoras ou cognitivas, encontradas nos
transtornos dissociativos. Também podem ocorrer transtornos referentes à
experiência das características físicas do corpo, como transtornos da experiência
do tamanho, forma, estrutura ou peso do corpo. E, por fim, existem transtornos
complexos da experiência sensorial do corpo que quase exclusivamente são
resultado de lesões neurológicas.
Tabela 14.1
Classificação do distúrbio da consciência do corpo
Classificação Detalhes
Hipocondria
A hipocondria descreve a consciência subjetiva e indevida de sintomas físicos
que são interpretados como sinais de doença grave. Ela é um sintoma, não uma
doença e pode se manifestar de diversas formas: uma dor leve ou desconforto
dominam a vida da pessoa e sua atenção; temores irracionais sobre a
probabilidade de desenvolver doença grave, e necessidade de adotar precauções
excessivas; interpretar incorretamente sinais benignos como se tivessem
importância patológica. Essas expressões de insatisfação podem ocorrer
individualmente ou em conjunto e podem afetar qualquer sistema corporal ou
processo psicológico. Os sintomas hipocondríacos são muito comuns,
geralmente transitórios e pequena parte deles chega aos consultórios médicos.
Somente uma proporção atípica desses pacientes é examinada por psiquiatras.
Existe uma diferença entre medo de doença sem sintomas físicos, e os temores
e sofrimento que não estão associados a sintomas físicos, mas que surgem
simplesmente da possibilidade de uma doença grave. Isto mostra a sobreposição
entre fobias de doença (medo irracional de desenvolver uma doença) e
hipocondria (preocupação com sintomas). O diagnóstico é difícil quando uma
pessoa comprovadamente portadora de patologia física se queixa excessivamente
sobre seus sintomas; suas queixas parecem ser desproporcionais ao sofrimento e
debilitação da doença antevistos. Exames e investigações médicas necessários e
totalmente rotineiros tendem a reforçar os sintomas do paciente. Os sintomas
somáticos sem patologia orgânica são muito comuns e podem decorrer de falta
de compreensão sobre a natureza e importância de atividade fisiológica agravada
pela emoção (Kellner, 1985). Os mecanismos subjacentes aos sintomas
hipocondríacos incluem interpretação incorreta de sensações corporais normais e
conversão de afeto desagradável, principalmente depressão, em sintomas físicos,
bem como a experiência de sintomas autonômicos diretamente causados por
transtornos de humor.
Explícita na identificação da hipocondria é a condição do próprio paciente.
Implícita, no entanto, é a atitude do médico que rotula seu paciente como
hipocondríaco e o considera doente. Em uma sociedade tão consciente da saúde
e aparência física, o paciente pode ter que se manifestar de forma hipocondríaca,
já que o médico somente presta atenção a queixas físicas. O que os sintomas
comunicam aos outros é um componente importante de todos os transtornos de
consciência corporal; a concentração nos aspectos subjetivos dos sintomas não
deve desviar a atenção de suas implicações sociais. A hipocondria não é uma
condição incomumente iatrogênica induzida pela falha do médico em ouvir seu
paciente e incapacidade de avaliar adequadamente os aspectos psicológicos que
contribuem para os sintomas.
O que é Hipocondria?
Por derivação, a palavra hipocôndrio se refere à área anatômica abaixo da caixa
torácica (Figura 14.2) e, portanto, disfunção do fígado ou baço. Palavras como
atrabiliário ou melancolia se referem à bile negra que se considerava associada
à queixa hipocondríaca e humor deprimido. Kenyon (1965) definiu hipocondria
como uma preocupação mórbida com o corpo ou estado de saúde.
Conversão e Dissociação
A psicopatologia tem como seu tema fenômenos psicológicos conscientes reais.
Embora nossa maior preocupação sejam os fenômenos patológicos, também é
necessário saber o que e como as pessoas vivenciam em geral; em suma, a
psicopatologia está interessada em toda a gama de fenômenos psicológicos
conscientes. Isto levanta a questão sobre se as experiências que não estão no
conhecimento consciente, tais como as que são temas desta seção, poderão ser
assunto da psicopatologia, já que essas experiências não são conscientes. Essas
experiências e comportamentos têm uma genealogia muito antiga e até
recentemente eram chamadas de histeria.
O significado e a validade do termo histeria têm sido discutidos há séculos
(Veith, 1965). Slater (1965) queria rejeitar o diagnóstico de histeria, mas manter
a palavra como um adjetivo para descrever certos tipos de sintomas e
personalidade. Lewis (1975) resumiu esta controvérsia: “A maioria dos
psiquiatras ficaria em situação difícil se não mais pudessem fazer um
diagnóstico de ‘histeria’ ou ‘reação histérica’; e em todo caso, uma palavra
antiga e dura como histeria é muito difícil de ser eliminada. Ela tende a
sobreviver aos escritores de seu obituário”. Classicamente, sintomas físicos, que
geralmente mimetizam distúrbios neurológicos como convulsões, paralisia,
tremores, cegueira e anormalidades do andar ocorrem no contexto de sofrimento
psicológico sem os achados físicos esperados nos exames. O termo conversão
foi empregado para denotar o fato de que um sofrimento emocional ou conflito
psicológico havia sido convertido em queixas físicas. Um termo relacionado é a
dissociação, referindo-se à perturbação da unidade básica do self, resultando em
aparente separação de seus aspectos. Por exemplo, uma pessoa aparentemente
consciente pode relatar que é incapaz de se lembrar de aspectos vitais de sua
biografia apesar de não demonstrar anormalidades da memória. É obvio que o
termo dissociação é um conceito puramente descritivo para algo factualmente
vivenciado e encontrado na prática clínica, assim como uma teoria para o que
acontece em um determinado estado e, desta forma, fornecer uma hipótese para
um fato clínico observado. Ele é um conceito que não descreve qualquer coisa
uniforme, mas envolve modos de mecanismos explicativos extraconscientes.
As implicações dos conceitos de conversão e dissociação são:
1. Os sintomas apresentados são determinados psicologicamente apesar de
terem natureza física.
2. Considera-se que a causa é inconsciente, logo, o paciente não tem
consciência dos determinantes psicológicos.
3. Os sintomas podem trazer alguma forma de vantagem para o paciente, o
chamado ganho primário ou secundário.
4. Os sintomas ocorrem pela mediação dos processos supostamente
explanatórios, mas mal definidos de conversão ou dissociação.
O acompanhamento de dez anos de pacientes diagnosticados com histeria em
um hospital neurológico revelou que muitos haviam subsequentemente
desenvolvido doença física ou psiquiátrica grave e, por esse motivo, histeria
como uma categoria diagnóstica foi questionada (Slater e Glithero, 1965). O
acompanhamento de 113 pacientes diagnosticados como histéricos pelos
psiquiatras revelou 60% com evidência de transtorno afetivo e apenas 13% com
um quadro consistente de histeria (Reed, 1975). Entretanto, Merskey e Buhrich
(1975) fizeram o acompanhamento de pacientes diagnosticados com sintomas
motores de conversão em um hospital neurológico e de um grupo controle de
outros pacientes no mesmo contexto clínico. Eles encontraram uma taxa superior
de sintomas orgânicos no acompanhamento para o grupo de controle. A partir de
estudos de acompanhamento de pacientes neurológicos ou psiquiátricos, quando
o diagnóstico de histeria foi altamente inclusivo, outras condições orgânicas e
psiquiátricas se manifestaram regularmente, mas 15 a 20% ainda permaneceram
com o diagnóstico de histeria.
Para que seja feito o diagnóstico de transtorno dissociativo ou sintomas
neurológicos funcionais, características psicológicas positivas devem estar
presentes e características orgânicas devem estar ausentes. É importante
enfatizar o perigo de erros de identificação de doença física genuína como um
transtorno funcional. Assim, para que a astasia-abasia (ver Figura 14.3), por
exemplo, seja considerada dissociativa, os sintomas devem ter uma etiologia
psicogênica; o paciente não tem consciência disso e os sintomas podem ser
vistos como uma forma de lidar com o estresse. Se os sintomas são claramente
produzidos de modo consciente, temos a presença de deficiência deliberada,
simulação ou transtorno fictício. Pode ser necessário distinguir os sintomas da
doença original, por exemplo, trauma craniano, de uma reação histérica
secundária (Sims, 1985).
FIGURA 14.3 Astasia-abasia (extraído de Merskey, 1979).
Obesidade
A obesidade se tornou uma grande preocupação no mundo ocidental. Tanto na
Europa quanto na América do Norte a prevalência de obesidade tem crescido
consideravelmente desde a metade dos anos 1970. Nos Estados Unidos, entre
1976 e 1980, 15% da população entre 20 e 74 anos eram obesos, enquanto de
2003 a 2004 este número aumentou para 33%. Atualmente, a taxa estimada é de
35,7% (Centres for Disease Control and Prevention). Esta tendência é replicada
na Europa (World Health Organization Regional Office for Europe). A obesidade
é definida como um índice de massa corporal maior que 30 quilogramas por
metro quadrado; estar acima do peso é ter um índice de massa corporal entre 25
e 29,9 quilogramas por metro quadrado. Hoje o aumento de casos de obesidade
infantil também passou a ser uma preocupação, sendo que a estimativa de
crianças obesas vai de 17% a 20%. A preocupação com a obesidade vem dos
riscos associados à saúde; hiperlipidemia, resistência à insulina, diabetes,
hipertensão, morbidade e morte prematura são complicações conhecidas. Por
este motivo, existem programas nacionais e internacionais de saúde para
combater o aparentemente implacável aumento da prevalência de obesidade.
Discutindo os fenômenos de imagem corporal na obesidade, Kalucy (1976)
considerou que a adolescência é o estágio crítico do desenvolvimento em que os
transtornos primários de forma corporal e experiência corporal aparecem. A
obesidade em adolescentes de sociedades ocidentais, conscientes sobre dietas,
resulta em autorrepúdio e autodepreciação. A presença de qualquer deformidade
física neste estágio da vida tende a provocar desgosto com a autoimagem, sendo
que a principal preocupação é a de se sentir repulsivos em relação ao sexo
oposto. Eles podem evitar espelhos e qualquer coisa que os faça lembrar sua
forma. Também se observa uma distorção do tamanho corporal, com
superestimativa das medidas corporais. Isto é interessante quando o comparamos
a pacientes com anorexia nervosa, que também superestimam sua forma e cujo
comportamento de dieta e rejeição de alimentos pode começar quando estão
levemente obesos durante a puberdade.
Anorexia Nervosa
A anorexia nervosa é uma condição cujo diagnóstico era equivocado no passado;
inicialmente, se supunha que os pacientes estavam fisicamente doentes. No
entanto, Marcé (1860) considerou que se tratava de uma forma de hipocondria.
Anorexia nervosa é uma doença que ocorre principalmente em mulheres jovens,
e a proporção de casos em homens varia de 1 em 20 a aproximadamente 1 em 10
em diferentes estudos (Dally e Gomez, 1979), sendo a proporção de meninos
maior na infância. Ocorre recusa em se alimentar, baixo peso corporal e
amenorreia. Crisp (1975) considerou que o transtorno é em primeiro lugar fobia
a peso, um medo de aumentar o peso corporal e não apenas um transtorno
alimentar semelhante àquele da infância. O medo da perda de controle é
importante; ao comer, o sujeito será incapaz de parar e, portanto, irá engordar.
Assim como a autoimagem anormal, também ocorrem atitudes anormais em
relação a alimento, gênero e sexo. Como a paciente com anorexia se vê? De
acordo com Bruch (1965), trata-se, em parte, de um transtorno narcisista, que ele
chamou de “a busca pela magreza”. Na definição da CID-10, a distorção da
imagem corporal é uma das cinco características essenciais: “há uma distorção
da imagem corporal na forma de uma psicopatologia específica, por meio da
qual um pavor de engordar persiste como uma ideia intrusiva e supervalorizada e
o paciente impõe um baixo limiar de peso a si próprio” (World Health
Organization, 1992: p. 177). As outras características são:
▪ Peso corporal pelo menos 15% abaixo do esperado.
▪ Perda de peso autoinduzida.
▪ Amenorreia.
▪ Puberdade atrasada ou bloqueada.
A anorexia nervosa se tornou muito comum no Reino Unido desde o final do
século XX (Kendell et al., 1973). Ela é muito mais rara, por exemplo, na Índia e
em outros países em desenvolvimento. Esta aparente diferença na predominância
sugere que pode estar ligada a atitudes sociais em relação à magreza, dietas e
emagrecimento. No mundo ocidental, a magreza é considerada atraente e a dieta
pode se tornar uma norma social que atua como uma pressão persuasiva sobre
uma adolescente impressionável, cujo peso corporal aumentou pouco mais que a
média na puberdade. Se há outras dificuldades psicológicas e conflitos sociais, o
emagrecimento pode sair do controle. Em outras partes do mundo, onde as
normas estéticas de beleza feminina se baseiam em um corpo mais volumoso, a
pressão de magreza é menor, mas a pressão em direção à obesidade pode ser
maior. Até mesmo na sociedade ocidental a prevalência da anorexia nervosa não
é uniforme na sociedade e sim determinada por gênero, idade, classe
socioeconômica e etnia.
Pacientes com anorexia nervosa frequentemente negam sua magreza e às
vezes afirmam que estão muito gordos. Devido à extrema preocupação com as
medidas e peso, Slade e Russell (1973) criaram uma técnica para investigar a
percepção do corpo em anoréxicos, que envolvia comparar o peso real de
sujeitos (medido por um antropômetro) e peso percebido, que era medido pelo
observador movendo luzes horizontais até uma distância que o sujeito estimava
ser a largura de quatro regiões corporais: face, tórax, cintura e quadris. Quando
comparados com um grupo de controle normal combinado para a idade, os
pacientes anoréxicos superestimavam significativamente sua dimensão percebida
em todas as regiões, com a face sendo superestimada em mais de 50%. Embora
mais magras no tórax, cintura e quadris, as pacientes anoréxicas se enxergavam
mais gordas que mulheres normais. A perturbação de imagem corporal não podia
ser explicada como um transtorno perceptual geral, já que as anoréxicas eram
razoavelmente precisas na medição da largura de blocos de madeira e
extremamente precisas na medição da altura física. Elas tendiam a superestimar
as medidas de outras pessoas, mas não tanto quanto as suas próprias. A distorção
da imagem corporal tendia a diminuir à medida que as pacientes ganhavam peso,
especialmente se isto ocorria lentamente. Demonstrou-se que o maior grau de
transtorno de imagem corporal tinha prognóstico pior. Slade e Russell (1973)
consideraram que “pacientes com anorexia nervosa mostram uma avaliação
falha de sua própria imagem corporal, no sentido de que percebem seus corpos
com dimensões exageradas”. Garfinkel et al. (1979) descobriram que alguns
sujeitos anoréxicos tendem a superestimar o tamanho de seu corpo e que esta
superestimativa era estável ao longo de um ano, não sendo afetada por alteração
de peso.
Um trabalho experimental realizado por Button et al. (1977) levantou dúvidas
sobre a conclusão de que apenas indivíduos anoréxicos superestimam seu peso,
enquanto mulheres normais são mais precisas, e de que perturbação de
percepção corporal é variável entre os anoréxicos. Esta conclusão foi agora
confirmada por uma grande meta-análise conduzida por Cash e Deagle (1997). A
perturbação na imagem corporal não parece estar associada a outras
características de anorexia ou de bulimia nervosa e não auxilia na diferenciação
entre mulheres normais e pacientes com transtornos alimentares. Além disso, a
insatisfação atitudinal com o corpo medida em questionários ou self: a
discrepância ideal diferenciou melhor os pacientes dos controles normais.
Assim, o papel da inexatidão da percepção de estimativa de tamanho, a distorção
da medida formal da imagem corporal, como critério de diagnóstico de anorexia
nervosa, deve ser questionado.
Slade (1988) também mostrou que sujeitos não anoréxicos superestimam as
dimensões de seus corpos, especialmente mulheres normais, sujeitos neuróticos,
mulheres grávidas, e pacientes com amenorreia secundária. Ele comparou o uso
de técnicas de corpo inteiro (com espelhos que distorcem a imagem, fotografias,
imagens de televisão) para esta investigação com métodos de partes do corpo
(estimativa visual de tamanho, calibradores) e mostrou que atitudes cognitivas
relativamente fixas em relação ao tamanho do corpo com o emprego das
primeiras técnicas demonstram crenças irracionais sobre a forma corporal,
enquanto um estado mais fluido de estimativa de peso corporal depende mais de
fatores emocionais que se alteram ao longo do tempo. Ele também mostrou que
quanto mais “acima do peso” a pessoa se considera, mais insatisfeita ela estará.
Muitos estudos recentes têm sido conduzidos em populações supostamente
normais. Strauman et al. (1991) estudaram as visões do self em um grande
número de estudantes universitárias para os fatores que descreveram como
“discrepância entre self real e self ideal” e “discrepância entre o que é e o que
deveria ser”. Eles mostraram que a discrepância entre o real e o ideal se
relacionava com a insatisfação com a forma do corpo. A discrepância entre o que
é e o que deveria ser estava associada ao que descreveram como atitudes e
comportamentos de anorexia; e discrepância entre o real e o ideal a atitudes e
comportamentos de bulimia. Gustavson et al. (1990) investigaram a distorção da
imagem corporal e revelaram diferenças entre estudantes normais e aqueles que
sofriam de transtornos alimentares. Moore (1988) pesquisou 854 mulheres entre
12 e 23 anos em ambulatório; 67% estavam insatisfeitas com o seu peso e 54%
com sua forma.
Zellner et al. (1989) estudaram os efeitos de anormalidades alimentares e de
gênero sobre a percepção da forma corporal desejável, usando desenhos de
corpos feitos por seus sujeitos. Eles descobriram que as mulheres desejam ser
mais magras do que elas pensam ser e que as mulheres com transtornos
alimentares desejam ser mais magras do que o nível de magreza que, em sua
opinião, os homens consideram atraente. Steiger et al. (1989) demonstraram que
as anoréxicas, mas não as bulímicas, exibiam distorção da imagem corporal e
que o peso corporal determinava o grau de perturbação na imagem corporal.
Dolan et al. (1990) demonstraram diferenças entre mulheres caucasianas, afro-
caribenhas e asiático-britânicas para alguns sintomas de transtornos alimentares,
mas nenhuma diferença para o transtorno de imagem corporal.
Com base nesses estudos, podemos dizer que há uma clara associação entre
perturbação de imagem corporal e transtorno alimentar. Isto é inversamente
relacionado com o peso, ou seja, quanto mais baixo o peso, maior o grau de
anormalidade da imagem corporal. Assim, no geral, aquelas com anorexia eram
mais afetadas do que aquelas com bulimia nervosa.
A pergunta sempre presente é até que ponto a cultura influencia a imagem
corporal e em que medida o ambiente social tem um impacto significativo. Há
evidências de que a insatisfação com o corpo é predominante em mulheres de
diversos grupos étnicos no mesmo país e além das fronteiras nacionais (Baillie e
Copeland, 2013; Angelova e Utermohlen, 2013; Demuth et al., 2013; Santana et
al., 2013). Existem fatores singulares para determinados contextos. No contexto
da Bulgária, por exemplo, fé e jejum afetaram diferencialmente o
comportamento das mulheres dependendo de sua predisposição a transtorno
alimentar. Para mulheres vulneráveis, o jejum atuava via reforço de asceticismo
e a restrição alimentar servia para induzir controle de peso para alcançar o
objetivo de corpo magro compatível com as regras socioculturais (Angelova e
Utermohlen, 2013). Nos Estados Unidos da América, mulheres de origem
europeia aprovavam o “corpo magro com curvas ou atlético como corpo ideal”
enquanto as mulheres afro-americanas “resistiam às noções de um único tipo de
corpo ideal” (Webb et al., 2013). Em um estudo elegante, Bagrowicz et al.
(2013) investigaram uma mostra de estudantes japonesas recém-chegadas a
Nova York para verificar a influência da obesidade endêmica. Depois de dois
meses na cidade, as estudantes japonesas tinham uma autoimagem mais magra,
mas “uma imagem ideal mais gorda” e consequentemente, menos insatisfação
corporal. Este estudo sugere que o ambiente social rapidamente influencia o
tamanho ideal do corpo.
Parece que as anormalidades da imagem corporal e do self é universal nos
transtornos alimentares: “Como, logo existo”. Há associações entre alimentação
anormal, principalmente na anorexia nervosa, e baixo peso corporal, com uma
crença ou temor de que “estou muito gorda” e com uma negação mais
abrangente do self. Ao buscar investigar os fatores que influenciam esta
superestimativa do tamanho corporal por mulheres anoréxicas e bulímicas,
Hamilton e Waller (1993) estudaram a influência do modo como a mídia exibe
corpos femininos idealizados e concluíram que as mulheres com transtornos
alimentares se superestimaram significativamente mais após verem essas
imagens do que depois de verem fotografias de objetos neutros. Tais imagens na
mídia realmente parecem influenciar o comportamento feminino, pelo menos em
pessoas mais vulneráveis.
Strober et al. (1979) avaliaram a percepção do tamanho corporal, a
experiência subjetiva de distorções da imagem corporal e a diferenciação de
conceitos corporais, pedindo que pacientes anoréxicas e controles desenhassem
uma figura humana logo após sua internação e seis meses depois. Os dois grupos
tendiam a superestimar o tamanho em ambos os momentos, mas experiências
que denotavam estranheza quanto ao corpo, insensibilidade a sensações
corporais e fraqueza dos limites corporais eram mais prevalentes em anoréxicas,
e persistiam em altos níveis após a diminuição dos sintomas intensos de
transtorno alimentar e de peso. Houve maior grau de distorção da imagem
corporal mais persistente naquelas que vomitavam. Esses autores consideraram
que as “falhas na formação da imagem corporal tornam a anoréxica vulnerável à
sua patologia manifesta, que é ativada por conflitos de amadurecimento típicos
da adolescência”.
O medo subjacente de perda de controle e a incessante necessidade de
vigilância de cada caloria ingerida influenciam todas as outras áreas da vida do
paciente. Limpeza e asseios obsessivos podem se manifestar, assim como
tentativa de controlar o comportamento de outras pessoas da casa. Uma paciente
anoréxica controlava o comportamento de seus pais e irmã gêmea ameaçando
comer ainda menos se eles não cooperassem. Ela pesava a sua própria comida e
a de todos os outros membros da família. Antes de sua doença, ela e a irmã
pesavam cerca de 57 kg mas, à medida que sua anorexia progrediu, ela insistia
que a irmã comesse a sua comida também, que a própria paciente preparava.
Como resultado, o peso da paciente caiu para 32 kg, enquanto sua irmã chegou a
83 kg.
Bulimia Nervosa
Esta condição foi descrita pela primeira vez por Russell em 1979. Embora o
paciente tenha peso normal ou quase normal, frequentemente há histórico de
anorexia nervosa com perda de peso (Fairburn e Cooper, 1984). A distorção da
imagem corporal também é uma característica da condição e o paciente acredita
que está muito gordo e pesado.
O transtorno alimentar típico é de grande preocupação com a comida,
compulsão alimentar ou comer desenfreadamente de forma episódica.
Geralmente isto é contrabalançado com vômitos autoinduzidos e outros métodos
de redução de peso, como abuso de laxantes ou anfetaminas, ou inanição
voluntária. Desta forma, o peso é mantido com estabilidade bastante frágil e a
perda de peso pode atingir proporções anoréxicas, podendo ocasionalmente
ocorrer obesidade associada a sentimentos de culpa. O medo de ganhar peso e a
preocupação dominante com a comida é uma ideia supervalorizada.
Na bulimia nervosa, há acentuada insatisfação com o corpo que é semelhante
à da anorexia nervosa (Cash e Deagle, 1997). Há evidências de que insatisfação
com o corpo se baseia em insatisfação de avaliação cognitiva e não depende de
percepção sensorial, embora possa ser influenciada pelo humor (Gardner e
Bockenkamp, 1996). Podem ocorrer diversos comportamentos anormais como
abuso de álcool, furtos (principalmente alimentos) e lesões autoinflingidas, e o
vômito ou purgação induzido pode resultar em um grande número de
complicações físicas.
Fatores subjacentes se concentram particularmente em dúvidas quanto à
feminilidade (Lacey et al., 1986). Relacionamento pobre com os pais,
dificuldades acadêmicas, conflitos conjugais entre os pais e relacionamentos
pobres da paciente com os próprios pares também ocorrem. Tais pacientes
descreviam eventos importantes de vida, como conflito sexual, mudanças
importantes nas circunstâncias da vida e experiências de perda.
Dismorfia Muscular
Dismorfia muscular é o termo usado para descrever a preocupação patológica
com a musculosidade caracterizada por preocupação com (a) o tamanho e
desenvolvimento de músculos, (b) a crença de que os músculos são muito
pequenos, (c) tempo excessivo em academias levantando peso, (d) uso de
esteroides anabolizantes e dietas para aumento de massa e (e) em uma forma
mais extrema, cirurgia cosmética para introduzir implantes peitorais. Ela é
ocasionalmente chamada de “anorexia reversa” ou “vigorexia” (Pope et al.,
1997; Choi et al., 2002). O exato status nosológico da dismorfia muscular ainda
é incerto. Alguns autores a descreveram como uma variação do transtorno
dismórfico do corpo (Choi et al., 2002), outros como uma variação masculina da
anorexia nervosa (Murray et al., 2010) e outros a relacionaram com transtorno
obsessivo compulsivo (Chung, 2001). De acordo com o nosso grau de
conhecimento sobre o assunto, talvez seja melhor considerá-la um fenômeno que
pode ocorrer em diversos transtornos psiquiátricos e não um transtorno em si.
Há evidências consistentes de que homens com dismorfia muscular têm uma
perturbação da imagem corporal, transtornos alimentares e fazem exercícios de
forma excessiva (Murray et al., 2012). Em levantadores de peso, a prevalência
foi relatada em 13,6% (Behar e Molinari, 2010). O monitoramento constante do
corpo, que pode ser interpretado como evidência de insatisfação com o corpo, é
comum na dismorfia muscular (Cafri et al., 2008; Walker et al., 2009). Quando
comparados a levantadores de peso sem dismorfia muscular, pacientes que
sofrem da condição têm mais propensão à insatisfação com o corpo, hábitos
alimentares anormais, uso de esteroides anabolizantes e histórico de ansiedade
ou depressão. Eles também se queixam de vergonha e constrangimento, má
qualidade de vida, tentativa de suicídio e também evidência de prejuízo no
funcionamento ocupacional e social (Olivardia et al., 2000; Pope et al., 2005).
Membro-fantasma
Isto ocorre imediatamente após a perda de um membro em praticamente todos os
pacientes e é particularmente comum após a perda traumática de um membro ou
quando há condição pré-existente de dor no membro. O início é imediatamente
após o efeito da anestesia na maioria dos casos, mas pode levar de dias a
algumas semanas em cerca de 25% dos casos. O fantasma pode durar alguns dias
ou semanas até gradualmente desaparecer da consciência, mas há casos que
persistiram por décadas. Além de ocorrer com a perda de um membro, este tipo
de distorção da imagem corporal é relativamente comum após a redução
cirúrgica de um olho, partes da face, seios, reto ou laringe. Há relatos de dores de
úlcera fantasma depois de uma gastrectomia parcial e de cólicas menstruais
depois de uma histerectomia. Quando uma pessoa que passou por amputação
vivencia neurite periférica generalizada envolvendo sensação, parestesias
também ocorrerão no membro-fantasma. O amputado tem consciência do
membro fantasma no espaço e também vivencia dor no espaço considerado
ocupado pelo membro.
Com o tempo, o membro parece mudar de tamanho. A imagem encolhe, mas
de modo desigual, sendo que as articulações distais encolhem mais lentamente
do que as proximais; este é o chamado fenômeno de telescopagem, para o qual
foram propostas diversas explicações. Na perda do membro superior, se
considera que a telescopagem ocorre devido a uma super-representação da mão
no córtex sensorial, e consequentemente esta é a área onde a sensação sobrevive
por mais tempo. Também existe a possibilidade de que a telescopagem ocorra
porque a representação do membro no mapa somatossensorial primário se altera
progressivamente. A postura do membro fantasma é frequentemente descrita
como “habitual”, como por exemplo, parcialmente flexionado no cotovelo, com
o antebraço em pronação. O membro pode parecer fixo em uma posição estranha
e isto pode gerar dificuldades para o paciente, como por exemplo, subir escadas.
Pode ocorrer a sensação de que o membro está retorcido e dolorido.
Existe literatura crescente sobre a plasticidade do sistema somatossensorial,
usando o membro fantasma como um experimento natural para demonstrar a
deaferentação seguida da perda de um membro e a reorganização do mapa
somatossensorial (Ramachandran e Hirstein, 1998). Após a perda do membro
superior, o estímulo sensorial a partir da face e do antebraço parece invadir o
território da mão, de forma que o estímulo sensorial para a face pode ser
deslocado para o membro fantasma.
Orbach e Tallent (1965) descreveram os conceitos do corpo de pacientes de 5
a 10 anos após uma colostomia. Tais pacientes estavam convictos de que haviam
sido seriamente danificados.
Tabela 14.2
Transtornos de imagem corporal ligados à cultura
Equivalente
Transtorno diagnóstico Local Principais sintomas
Koro Estado de Sudeste da Crença de que o pênis irá se retrair para dentro do abdome e causará a
ansiedade Ásia morte
Frigofobia Neurose Leste da Ásia Medo mórbido do frio, preocupação com perda da vitalidade, uso
obsessivo- compulsivo de camadas múltiplas de roupas
compulsiva
Latah Histeria Malásia Hipersugestionabilidade, obediência automática, coprolalia, ecolalia,
ecopraxia, ecomimia, consciência alterada, desorganização,
depressão e ansiedade
Olho mau* Neurose fóbica México e norte Olhares poderosos são prejudiciais e precauções devem ser tomadas para
da África evitar ou combater o olho mau
Vodu Neurose fóbica Haiti Violação de um tabu que pode resultar em morte
Windigo Reação Índios Medo de se envolver em canibalismo e de se tornar um feiticeiro;
depressiva canadenses depressão do humor
Amok Estado Malásia Neurastenia, despersonalização, raiva, automatismo, atos violentos
dissociativo
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CAPÍTULO 15
A Psicopatologia da Dor
“Você quer saber de mim, querida? Isto é novidade, estou certa, quando
alguém quer saber de mim. Nada bem, Louisa. Muito tonta e confusa.”
“Você está com dor, mamãe?” “Eu acho que tem uma dor em algum
lugar da sala”, disse a Sra. Gradgrind, “mas eu não posso dizer
positivamente que a tenho”.
Charles Dickens (1854), Hard Times
Resumo
A dor é uma experiência desagradável que envolve o conhecimento consciente
de sensações nocivas, sentimentos dolorosos e aversivos associados a dano real
ou potencial de tecido (International Association for the Study of Pain, 1994), e
é frequentemente conceitualizada como um estado de humor. Na psiquiatria, a
dor pode se apresentar intensificada, acentuadamente diminuída ou ocorrer na
ausência de causas demonstráveis. Os casos mais problemáticos são aqueles nos
quais a dor é o foco da apresentação, mas não há causa física identificável. Dor
facial, síndrome da boca ardente, vulvodinia e prurido psicogênico são exemplos
desse problema.
Desde Aristóteles, a dor tem sido classificada não como uma percepção e sim
como um estado de humor e, portanto, excluída dos cinco sentidos.
Conceitualmente, é um tema muito difícil, duro de descrever e categorizar; o
único aspecto que é claro é que ele representa um estado de sofrimento subjetivo
do paciente. Mas o que ele quer dizer com “minha dor”? Onde está e o que é?
Certamente, o significado da dor é maior do que a dor em si e frequentemente a
razão pela qual a sensação é interpretada como sofrimento. Uma paciente com
dor de garganta acreditava que tinha câncer de garganta; sua mãe havia morrido
em decorrência desta condição. A relação entre os sintomas e seu significado não
é direta. Outra pessoa acreditava estar sofrendo de doença venérea sem ter sido
exposta ao risco, mas já tinha sido tratada com sucesso para Doença de Hodgkin.
Ela não tinha temores a respeito de sua doença real e potencialmente letal, mas
somente admitia conscientemente temer o impossível.
Os aspectos fenomenológicos da experiência de dor não são muito bem
estruturados, embora na medicina geral esta seja, acima de todas as outras, a área
na qual a fenomenologia poderia ser mais útil: dor é uma experiência subjetiva
que ocorre somente em estado consciente (Bond, 1976). Com frequência o
psiquiatra é confrontado com o problema de determinar se a dor é física ou
mental, orgânica ou funcional, médica ou psiquiátrica e certamente a resposta
para cada um dos pares acima é, no mais das vezes, ambos. Também podemos
ser solicitados a avaliar quanto da dor é psicogênica, embora isto seja
praticamente impossível, pois, segundo Aristóteles, a dor é um estado da mente,
mesmo quando há uma causa óbvia, como um hematoma sob a unha de um
dedo.
Quando ELA está sozinha em casa, ela se corta, tirando uma fatia do
nariz para esfregar na cara das pessoas. Ela sempre espera pelo
momento em que pode se cortar sem ser observada. Assim que ela
ouve o barulho da porta fechando ela pega seu talismã, a lâmina de
barbear do pai. ELA tira a lamina de sua embalagem dominical de
cinco camadas de plástico virgem. Ela é muito habilidosa no uso de
lâminas; afinal, é ela que faz a barba do pai, barbeia a bochecha macia
do pai abaixo da sobrancelha paterna completamente vazia, que agora
já não reage a qualquer pensamento, não se franze por qualquer
motivo. Aquela lâmina é destinada para a carne DELA. Esse filme fino
e elegante de aço azulado, maleável, elástico. ELA se senta em frente
ao espelho de aumento; abrindo suas pernas ela faz um corte,
aumentando a abertura que é a porta para seu corpo. Ela sabe, por
experiência, que o corte de navalha não dói, já que seus braços, mãos
e pernas frequentemente serviam como cobaias. Seu passatempo é
cortar o próprio corpo.
Elfriede Jelinek (1988), The Piano Teacher
Dor e perda
O modelo mais comum para este tópico é a dor no membro fantasma, tão comum
nos casos de amputação. A dor é sentida em um membro que não está lá; ou seja,
espacialmente, a dor está localizada fora do paciente. No entanto, não se trata de
alucinação. A pessoa sabe muito bem que perdeu a perna e a sensação de dor
está dentro dela mesma. A imagem corporal demora para se ajustar a uma
mudança como uma amputação, e pode jamais se adaptar completamente.
Ramachandran e Hirstein (1998) fornecem uma revisão minuciosa do tema. A
experiência do membro fantasma ocorre quase imediatamente após a perda de
um membro na grande maioria dos casos e a incidência pode ser ainda maior se
for resultado de perda traumática. Em casos de amputações cirúrgicas, fantasmas
aparecem assim que passa o efeito da anestesia. O membro fantasma dura alguns
dias ou semanas e gradualmente desaparece, mas pode persistir por anos ou até
mesmo décadas. De fato, algumas pessoas são capazes se recordar de um
membro fantasma por vontade própria após seu desaparecimento.
Os membros fantasmas são mais comuns após a amputação de um braço ou
uma perna, mas também são relatados após mastectomias ou remoção de partes
do rosto; até mesmo uma víscera interna fantasma pode produzir sensações de
movimento intestinal e flatulência. A postura do membro pode se tornar habitual,
com o braço, frequentemente parcialmente flexionado no cotovelo, com o
antebraço em pronação e quando o fantasma desaparece da consciência,
principalmente o antebraço, ele se torna progressivamente mais curto até que o
paciente fique apenas com uma mão fantasma. Talvez seja ainda mais
surpreendente que crianças com ausência congênita de membros podem
experimentar fantasmas. Inicialmente, considerava-se que a dor fantasma era
causada por neuromas de coto, mas visto que pacientes já nascidos sem membro
podem ter dor fantasma, os neuromas não parecem ser necessários para a
ocorrência de dor fantasma. A persistência da representação central do membro
amputado é em grande parte responsável pela ilusão fantasma e a dor associada.
Vulvodínia
A vulvodínia pode ser definida como uma sensação persistente, espontânea,
indesejada, intrusiva e angustiante na vulva (Markos e Dinsmore, 2013) e é uma
condição pouco compreendida. Um subtipo frequente é chamado de
“vestibulodinia provocada” quando a dor ou desconforto é provocado por
relações sexuais e não de maneira meramente espontânea (Bois et al., 2013). Há
alguma evidência de que a vulvodinia está associada à hiperalgesia generalizada.
Além disso, ocorrem respostas cerebrais aumentadas para pressão do polegar,
que é a estimulação de área distante da vulva, demonstrável dentro da insula,
médio cingulado dorsal, cingulado posterior e tálamo, em comparação a
controles normais. A interpretação que se faz disso é evidência de aumento de
processamento de dor central na vulvodinia (Hampson et al., 2013). Ao contrário
da vulvodinia difusa, quando a dor é localizada à 1 e 11 horas, ela tende a ser
experimentada como dor profunda dentro do vestíbulo e a dor é provocada por
relação sexual e introdução de tampão. A dor às 5 e 7 horas é menos intensa
(Donders e Bellen, 2012). Ocorrem efeitos adversos significativos na qualidade
de vida e nos relacionamentos íntimos com parceiros sexuais (Bois et al., 2013;
Smith et al., 2013; Xie et al., 2012; Ponte et al., 2009).
Pacientes do sexo masculino também podem apresentar uma condição
semelhante à vulvodinia, com uma sensação de ardência no pênis e no escroto.
Esta condição é chamada de “penoescrotodínia”. A classificação proposta
atualmente é: generalizada, focal, provocada, não provocada e tipos mistos
(Markos, 2011).
Prurido psicogênico
A coceira e a vontade de coçar são respostas normais a reações cutâneas. A
coceira pruritrogênica (coceira ficológica) é transmitida por neurônios aferentes
dedicados, da mesma forma que a dor. Os mediadores de coceira incluem a
“conversa cruzada” entre Mastócitos dérmicos e aferentes cutâneos adjacentes.
Além disso, existem diversos neuropeptídeos (neurotensina e substância P, por
exemplo) envolvidos no processo (Greaves, 2010). Alguns casos, que são
considerados de origem neuropática, são considerados relacionados com dano ao
sistema nervoso periférico, como no caso de neuralgia pós-herpética, prurido
braquiorradial, notalgia parestésica, dano nervoso central na medula espinhal
devido a tumores e doenças desmielinizantes, como esclerose múltipla
(Yosipovitch e Samuel, 2008). Nessas condições, a sensação de coceira é
análoga à dor neuropática e ocorre sobreposição com sensações de ardência, dor
e picadas. Por outro lado, o prurido psicogênico ocorre sem causa física e não
está relacionado com dano nervoso demonstrável. O prurido psicogênico pode
estar associado à depressão e transtorno obsessivo compulsivo (Calikuşu
et al., 2003), ansiedade e delírios de infestação parasitária. O grupo francês de
psicodermatologia propôs um critério diagnóstico que inclui: prurido localizado
ou generalizado sine materia, pruridos crônicos com duração de mais de seis
semanas e ausência de causa somática. Além desses, deveria haver três critérios
adicionais entre os sete seguintes: relação cronológica do prurido com um ou
diversos eventos da vida que podem ter repercussões psicológicas, variações de
intensidade associadas ao estresse, variações noturnas, predominância durante o
descanso ou inatividade, associações com transtornos psiquiátricos, melhoria em
resposta a agentes psicotrópicos e melhoria em resposta à psicoterapia (Misery
et al., 2007).
Dor e Sofrimento
A dor é um tema de estudo adequado para o fenomenologista, pois os sinais
externos podem ser irrelevantes e a experiência subjetiva extremamente
importante. O principal problema na avaliação da dor é a extraordinária
dificuldade que um paciente tem de descrever a qualidade dessa dor: quanto
maior o componente psicogênico da dor, mais difícil é encontrar as palavras
certas para descrevê-la. Às vezes parece que a dor pode ser necessária como uma
solução neurótica para um conflito neurótico: para que o equilíbrio permaneça, é
necessário que a dor seja mantida. Trethowan (1988) considerou que tal paciente
“não está sofrendo absolutamente de dor. Ele está sofrendo é de ‘sofrimento”’.
Existem diferenças entre a pessoa que sofre de dor organicamente
determinada e o indivíduo que sofre cronicamente com múltiplos sintomas cuja
dor é considerada psicogênica. Este último realmente sofre, mas não mostra os
correlatos físicos da dor intensa. Parece que o estado de sofrimento no qual esta
pessoa existe encontra expressão, respeitabilidade e somente pode ser
comunicado quando é transformado perifericamente em uma dor específica. A
dor pode ocorrer com um pouco de sofrimento, como na injeção de anestesia
local que, depois da pequena picada, traz o alívio de uma dor pior. O sofrimento
pode ocorrer sem dor, mas pode também ser descrito como dor e pode ser a
natureza de muitas queixas neuróticas de dor. Esta transposição de afeto é
completamente compreensível quando consideramos a semântica do sofrimento.
Sofrimento de todos os tipos não físicos – indignação, humilhação, desilusão –
encontra expressão em termos que utilizam a palavra dor: “tomar as dores”,
“sentir-se esmagado”, “autoestima ferida”, “colocar o dedo na ferida”,
“comentários cortantes”. Não só a dor é uma metáfora para o sofrer, mas em
muitas situações o sofrimento pode ser experimentado e explicado por quem o
sofre em termos de dor.
Assim, o uso de palavras relativas à dor pode ser interpretado
metaforicamente e o paciente neurótico pode seguir esta linha até sua conclusão
lógica e descrever concretamente o sofrimento intolerável e humilhante de sua
existência diária como queixa de dor física localizada. A experiência de dor é
uma sensação física que assume um componente afetivo para sua expressão e
interpretação. Este componente afetivo – sofrimento – pode ocorrer sem
percepção física e ainda assim ser vivenciado pela pessoa como dor.
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*
Nota da Revisão Técnica: O medicamento dosulepin não está disponível no Brasil.
SEÇÃO 5
Emoções e Ação
Quero te dizer que recebi o bolo. Muito obrigada, mas não mereço. Você
o enviou no aniversário de morte do meu filho, porque eu não sou digna
do meu aniversário; devo chorar até a morte; não posso viver e não
posso morrer, e porque fracassei em tantas coisas, eu levo meu marido
e minhas filhas para o inferno. Estamos todos perdidos; não nos
veremos mais; devo ir para a prisão dos condenados e também minhas
duas filhas, se não se acabarem porque nasceram no meu corpo.
Uma paciente de Emil Kraepelin (1905)
Resumo
O transtorno de humor é não apenas uma anormalidade comum que chega aos
psiquiatras, mas de importância considerável devido às graves consequências
que deficiências no reconhecimento ou tratamento podem ter nas vidas dos
pacientes. Ele está associado a suicídio, homicídio, comportamento imprudente e
tem significativo impacto social indesejado na reputação social. Afeto é um
termo amplo que abrange humor, sentimento, atitude, preferências e avaliações.
No seu uso moderno, ele se refere à expressão da emoção julgada pelas
manifestações externas que estão associadas a sentimentos específicos, como por
exemplo, riso, choro ou aparência de medo. Humor é um estado ou disposição
mais prolongado e predominante semelhante, enquanto emoção é um termo
frequentemente empregado para se referir a experiências espontâneas e
transitórias semelhantes, mas não idênticas a sentimento, já que não é necessário
incorporar os componentes físicos da experiência. As anormalidades de humor
podem ser classificadas como: a) estados mórbidos das emoções básicas,
incluindo tristeza, alegria, medo, raiva, surpresa e repugnância, que podem ser
afetados pela intensidade, duração, época, qualidade da experiência, expressão e
adequação ao objeto ou contexto social; b) anormalidades dos mecanismos
fisiológicos e de excitação associados a emoções; e c) anormalidades da
avaliação cognitiva do mundo social e da percepção das emoções dos outros.
A avaliação e observação do estado e das mudanças de humor são essenciais
na psiquiatria, mas requerem habilidade. Parte do problema sempre foi a
confusão conceitual e a falta de uma teoria psicopatológica coesa que tenha sido
tradicionalmente associada à perturbação do afeto (Berrios, 1985). Em um
estudo de pacientes com problema de falta de diagnóstico à época da alta
hospitalar, a depressão psicótica atípica foi considerada, no acompanhamento, a
condição mais frequentemente responsável pela dúvida (Anstee e
Fleminger, 1977). Em outro estudo, o afeto depressivo era a causa principal de
problemas somáticos sem patologia física (Brenner, 1979). No entanto, os
termos empregados não são padronizados, nem mutuamente exclusivos.
Diferentes idiomas, ao contrário dos nomes dados a objetos físicos, têm uma
gama de descrições de humor completamente diferente, não sabemos se apenas
os termos diferem nas diferentes culturas ou se talvez a experiência da própria
emoção seja diferente. Portanto, Angst não pode ser traduzida para a língua
inglesa com uma única palavra equivalente; e nem depression (depressão) pode
ser traduzida com precisão para a língua alemã. A palavra feeling* descreve uma
experiência ativa de sensação somática, de toque, assim como a experiência
passiva e subjetiva de emoção. De acordo com Whybrow (1997), emoção “é, na
verdade, memória e sentimento entrelaçados”. Sentimentos também são
convicções pessoais, projeções e sensibilidades sociais. Todas essas nuances de
significado são de certa forma diferentes das associações ligadas à palavra mood
(humor).
Tradicionalmente, a palavra sentimento tem sido empregada para descrever
uma reação positiva ou negativa a uma experiência, que é marcante, mas
transitória. Afeto é um termo mais amplo que abrange humor, sentimento,
atitude, preferências e avaliações. Na psiquiatria, é comum limitar o seu uso à
expressão de emoção vistas por manifestações externas que estão associadas a
sentimentos específicos; como por exemplo, riso, choro ou aparência de medo.
Humor é um estado ou disposição mais prolongado e predominante, enquanto
emoção é um termo frequentemente empregado para se referir a experiências
espontâneas e transitórias, semelhantes, mas não idênticas ao sentimento, já que
não é necessário incorporar os componentes físicos da experiência. Na prática,
esses termos são usados mais ou menos de forma intercambiável, fato que
contribui para muita confusão.
O humor descreve o estado do eu em relação a seu ambiente. Há uma enorme
gama de variação do que poderia ser razoavelmente chamado de humor normal.
O humor patológico, ou seja, o humor do qual o paciente sofre ou que causa
perturbação ou sofrimento a outros, também varia muito e o grau em que sua
expressão é aceitável para os outros é diferente em diferentes contextos sociais.
O médico precisa fazer duas perguntas envolvendo o humor do paciente.
Primeira: esta pessoa está sofrendo? Segunda, a expressão do humor é
inadequada neste contexto social? A psicopatologia do humor está confinada
àquelas situações nas quais a resposta é afirmativa para pelo menos uma das
perguntas e o tratamento é dirigido para a melhora do humor.
Como outras características humanas, a patologia do humor surge no contexto
de uma diátese. É a constituição física que determina a tendência para o
desenvolvimento, por exemplo, de um prolapso de disco intervertebral; no
campo mental, a personalidade está estreitamente associada ao tipo, qualidade e
direção do humor. Assim, uma pessoa com personalidade ciclotímica está mais
propensa a estados mórbidos de euforia e atividade excessiva ou tristeza
taciturna e retardo.
Teorias da Emoção
A teoria de emoção James–Lange foi desenvolvida independentemente por
James (1842–1910) e Carl Lange (1834–1900). O que ela coloca é que as
emoções são o resultado da autoconsciência de alterações físicas e corporais na
presença de um estímulo. William James (1884) escreveu:
Esta teoria foi criticada por Walter Cannon (1871–1945) e Philip Bard (1898–
1977). Reações viscerais (fisiológicas) a estímulos são muito lentas para explicar
a rapidez das emoções que surgem na presença de estímulos adequados. Em
outras palavras, a prontidão da minha consciência do aumento da frequência
cardíaca e boca seca que ocorrem quando estou na presença de um leão hostil é
inadequada para explicar o meu medo do leão. Além disso, as reações viscerais a
estímulos variados são semelhantes, mas as emoções podem ser díspares como
medo, surpresa, alegria e assim por diante. E a injeção de adrenalina (epinefrina)
é acompanhada por alterações viscerais, mas não necessariamente por alteração
emocional. Além disso, animais com lesões espinhais continuam a experimentar
emoções. Ao contrário, a teoria de Cannon–Bard afirmou que a emoção tem
primazia temporal e que qualquer alteração visceral ou comportamental segue a
emoção. Segundo essa teoria, eu vejo um leão hostil e fico com medo. O meu
receio provoca a reação fisiológica típica do aumento da frequência cardíaca etc.,
e o comportamento resultante é fugir. Esta teoria não deixa nenhum espaço para
aspectos cognitivos na origem das emoções.
Outra teoria muito influente é a teoria dos dois fatores da emoção, de
Schachter e Singer (1962). Os dois fatores relevantes são excitação fisiológica e
cognição. Segundo esta teoria, um indivíduo está inserido em um determinado
contexto social e responde à situação com excitação fisiológica. O significado
atribuído a esta excitação é determinado pela cognição. Se ele considerar que o
contexto é de ameaça, ele sentirá medo, mas se ele considerar que a situação é
engraçada, a emoção será positiva. Esta teoria tem implicações óbvias para a
avaliação clínica dos transtornos do humor. Ela especifica que o contexto social
é importante, que as cognições do indivíduo são relevantes e, finalmente, que
também é importante considerar cuidadosamente e descrever a emoção
associada.
Emoções Básicas
Ekman e colaboradores (Ekman e Friesen, 1971) demonstraram que há seis
emoções básicas que são expressas no rosto: raiva, repugnância, medo, alegria,
tristeza e surpresa. Essas expressões básicas de emoção são universais e já
haviam sido descritas por Charles Darwin (1872). Embora a expressão facial de
emoções tenha um caráter universal, há diferenças em diversos aspectos. No
trabalho de campo de Ekman, na Papua Nova Guiné, entre o povo Fore, foi
identificada pouca distinção entre surpresa e medo. Além disso, também é
verdade que quando as pessoas experimentam fortes emoções, existem regras de
demonstração que determinam quem pode demonstrar qual emoção para quem e
quando. Diferentes culturas também diferem sobre quais eventos provavelmente
produzem determinadas emoções. Isto é bem exemplificado pela comida que
uma cultura considera uma iguaria e outra considera repulsiva. O que importa é
que o tema geral é universal; ingerir algo repulsivo é uma causa de asco
(Ekman, 1998).
Comunicação do Humor
“Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo” (John Donne, 1571–1631),
e isto não poderia ser mais verdadeiro do que nos sentimentos, que são
extremamente afetados por aqueles à nossa volta. Os sentimentos são passíveis
de observação e compreensão e representam mensagens não verbais. O afeto em
si não é dirigido a outra pessoa, mas a expressão do afeto é transmitida tanto
deliberada quanto não intencionalmente às outras pessoas.
Uma das descobertas mais importantes da última década foram os neurônios
espelho. Tais neurônios foram encontrados em primatas e pássaros e sua
existência inferida em humanos. Os neurônios espelho são ativados quando um
animal executa uma ação e também quando um animal observa a mesma ação
executada por outro animal. Em outras palavras, esses neurônios espelham o
comportamento de outro animal. Em humanos, os neurônios relevantes estão no
córtex pré-motor e no córtex parietal inferior. Rizzolatti e Fadiga (1998)
demonstraram que entre os macacos do gênero macaca há dois grupos distintos
de neurônios no córtex pré-motor rostroventral, que respondem à observação de
pegar objetos e entender ações. Os neurônios canônicos respondem
especificamente a objetos tridimensionais, enquanto os neurônios espelho
respondem à observação direta de ações das mãos executadas por outro animal.
Rizzolatti e Craighero (2004) argumentam que este sistema de neurônios espelho
fundamenta o aprendizado por imitação e, portanto, tem importância no
desenvolvimento da cultura humana e aquisição da linguagem. Mais
recentemente, Gallese (2007) propôs que o sistema dos neurônios espelho é um
sistema de simulação incorporado, no qual não apenas vemos uma ação, emoção
ou sensação, mas também formamos representações internas dessas ações,
emoções ou sensações, com base na evocação dos mesmos sistemas neurais
evocados quando executamos as mesmas ações ou experimentamos as mesmas
emoções ou sensações. Desta forma, por meio desse sistema, o outro objetificado
se torna, para nós, um outro self de experiências. Em outras palavras, a empatia e
a capacidade de compreender o estado emocional de outra pessoa já possui uma
base identificada.
As emoções são comunicadas de forma não verbal por diferentes partes do
corpo, por exemplo, pelo rosto (especialmente os olhos), gestos, postura, tom de
voz e aparência geral, sobretudo na escolha das roupas. Enquanto avalia a
resposta afetiva do outro, o avaliador a influencia, em parte, com seu próprio
comportamento e inclinação. Uma pessoa que está alegre por encontrar alguém
irá cumprimentar o outro alegremente e induzir um sentimento de alegria, ainda
que transitório, que ele então lê como a outra pessoa também estando alegre. Isto
tem implicações importantes no modo como o humor é avaliado. Parece que a
emoção é avaliada empaticamente. Sem ter que colocar este argumento
elaborado em palavras, o observador diz para si mesmo: “Se eu me sentisse
como eu acho que esta pessoa está se sentindo, a partir de sua aparência, eu me
sentiria muito infeliz; ele está infeliz.” Este é o método empático descrito
anteriormente e ocorre espontaneamente e sem treinamento deliberado. A
avaliação do humor alheio não precisa se tornar verbal para evocar uma ação.
Ela ocorre rapidamente e é seguida pela resposta comportamental do observador.
Anedonia
A anedonia se refere especificamente à perda da capacidade de experimentar
alegria e prazer, sendo um subconjunto da diminuição da intensidade de
emoções. Na anedonia, ocorre total incapacidade de gostar de qualquer coisa ou
mesmo de obter satisfação habitual de eventos ou objetos cotidianos; “uma perda
da habilidade de experimentar prazer” (Snaith, 1993). O termo foi originalmente
introduzido por Ribot (1896) e foi considerado um sintoma proeminente de
transtorno depressivo por Klein (1974), provavelmente o melhor marcador
clínico que prediz a resposta ao tratamento. Este parecia ser um sintoma
fundamental do transtorno depressivo. Um homem muito inteligente e perspicaz
que sofria de depressão psicótica, disse: “Eu tenho uma sensação estranha. Eu
sei que o que eu estou lendo é engraçado, mas eu não acho a menor graça.” A
experiência foi muito bem descrita por J.S. Mill (1806–1873):
Sensações vitais foi o termo empregado por Wernicke (1906) para descrever
determinados sintomas somáticos que ocorrem nas psicoses afetivas. A palavra
vital vem do conceito de self vital, que descreve o estreito relacionamento do
corpo com a consciência do eu, o modo como experimentamos nossos corpos e a
impressão que julgamos causar com nossa presença física. Assim, as sensações
vitais são aquelas que nos tornam conscientes de nosso self vital. Essas são as
sensações de humor que parecem emanar do próprio corpo: afeto localizado e
somatizado. Por exemplo, pacientes deprimidos geralmente se queixam de
cefaleia. Em uma investigação mais profunda, o paciente pode dizer, “não é
exatamente uma dor, é mais como uma sensação insuportável de pressão, como
uma faixa apertada em torno da cabeça”, “uma sensação de sofrimento, como
uma nuvem negra pressionando a minha cabeça”. A cabeça é o local mais
comum de sensações vitais, mas estas também ocorrem no abdome – “eu tenho
uma sensação esquisita no meu intestino, ele está mais lento, bloqueado”, no
tórax – “é como um peso sobre meu peito que não me deixa respirar”, nos olhos
– “tudo parece negro, escuro e sombrio; meus olhos estão pesados, não consigo
enxergar bem” ou nas pernas – “minhas pernas estão terrivelmente pesadas; não
consigo caminhar e estou exausto”. Elas podem ocorrer em outras partes do
corpo, por exemplo, na bexiga, nos pés, nos cabelos e assim por diante. As
características que parecem constantes são a associação da sensação corporal
localizada com o humor deprimido dominante, a sensação de peso, tensão, até
mesmo depressão em determinado órgão; e consequente perda de função – “eu
não consigo pensar direito (...) meu intestino está travado”.
Schneider (1920) considerou as sensações vitais cruciais para o diagnóstico do
transtorno depressivo, equivalente aos sintomas de primeira ordem na
esquizofrenia, o núcleo da depressão ciclotímica e com origem autonômica. Ele
considerou que essas sensações são comuns na depressão. Parece que Dupré
(1913), ao escrever sobre o que chamou de estados cenestopáticos, estava
descrevendo o mesmo sintoma: “Estados cenestopáticos são, de fato, tão comuns
ao ponto de figurarem entre as características mais frequentes das psicoses.” Ele
descreveu a cenestestesia como “a consciência profunda, mais ou menos
indefinida que temos do nosso próprio corpo e do tom geral de atividade
funcional”. Os estados cenestopáticos são “as sensações aflitivas que emanam de
uma ou outra das áreas cenestésicas (...) uma mudança na qualidade normal da
sensação física em determinadas partes do corpo”. Elas são localizadas sem que
haja lesão patogênica no local. Dupré afirmou que os estados cenestopáticos
eram autônomos, e não associados a outros transtornos psiquiátricos; contudo, ao
descrever os afetos com os quais estavam associados, ele parece descrever os
transtornos afetivos. O humor da depressão pode ser descrito como uma perda
global da vitalidade na qual todas as funções são afetadas e todo o desempenho é
deprimido.
Mas mudanças nas sensações vitais não ocorrem somente na depressão. As
sensações bizarras que o paciente com esquizofrenia tem sobre seu corpo é uma
alteração no modo como se expressa, frequentemente adicionalmente elaborado
por delírios. Deve-se notar que o termo vital é usado de forma bastante diferente
em estados de ansiedade vital. Esses estados foram descritos por López Ibor
(1966), para quem a ansiedade é supostamente endógena, se desenvolvendo de
forma relativamente aguda em pessoas com personalidade estável.
O conteúdo depressivo do que os fenomenologistas considerariam sensações
vitais varia imensamente, por exemplo, “eu virei uma pedra (...) Tenho uma
sensação de depressão no peito (...) é uma dor, um nó, um peso (...) Eu tenho
uma nuvem sobre minha cabeça, uma sensação de nada (...)”. Em relação a
sensações vitais respiratórias, Burns (1971) comentou: “Uma característica
notável da falta de ar descrita por pacientes com depressão era seu início e
término razoavelmente súbitos, correspondendo exatamente ao início e solução
do transtorno depressivo.”
Trethowan (1979) considerou que a queda de vitalidade é característica nos
transtornos depressivos. Ele descreveu isto como uma “queda de vitalidade que
envolve todas as áreas e leva a perda acentuada da capacidade do sujeito de
funcionar como antes de ficar doente, tanto em termos da mente quanto do
corpo”.
Sensações Ligadas à Percepção de Objetos
Objetos podem evocar uma resposta emocional em uma pessoa normal. Por
exemplo, uma sensação gostosa de familiaridade com uma poltrona onde se
repousa após uma longa caminhada, ou apreensão em relação à cadeira do
dentista. Esta resposta afetiva normal pode ser exagerada patologicamente.
Sensações de medo excessivo, que chegam ao terror, podem permanecer
associadas a objetos. Os objetos aos quais o afeto é vinculado podem não ser
apenas objetos físicos, inanimados, mas também pensamentos e padrões de
pensamento, assim como pessoas. A ocorrência de determinadas ideias pode
estar associada regularmente a uma emoção patológica específica, talvez
resultando em fobia (Capítulo 17). Qualquer objeto de percepção pode ser
revestido de afeto idiossincrático.
Anormalidades de Avaliação
A relação entre cognição e emoção é muito entrelaçada. Inicialmente, se pensava
que o estado emocional determinava as cognições associadas. Desta forma, o
humor deprimido provocaria pensamentos negativos sobre o “eu” e o mundo.
Entretanto, Beck (Beck 1967; Beck et al., 1979) propôs que uma constelação de
erros cognitivos iniciavam ou mantinham a depressão, como inferências
arbitrárias, abstrações seletivas, generalizações excessivas, ampliação e
minimização. Além disso, existiam esquemas cognitivos, ou seja, pressupostos
subjacentes sobre o “eu”, o mundo e o futuro, desenvolvidos a partir de
experiências anteriores e que habitualmente influenciavam como os eventos no
mundo eram avaliados, o que poderia levar a alteração de humor, diretamente ou
através de perturbações na autoestima. Esta proposta está em linha com a teoria
de emoção dos dois fatores de Schachter e Singer, segundo a qual a cognição
tem papel central.
Também existem anormalidades na avaliação da expressão vocal ou facial de
emoções nos outros. A agnosia prosopo-afetiva se refere à deficiência seletiva na
avaliação da expressão emocional exibida no rosto dos outros. Esta
anormalidade é diferente da prosopagnosia, na qual apenas o reconhecimento de
rostos familiares se encontra prejudicado. Geralmente, ela está associada a
doença cerebral adquirida e tem sido relatada em casos de demência
frontotemporal, quando também está associada a prejuízo no reconhecimento de
expressão vocal de emoção (Keane et al., 2002); após infarto talâmico direito
(Vuillemier et al., 1998); e em pessoas com lesões corticais límbicas e
heteromodais no lado direito (Weniger e Irle, 2002). Ela também foi relatada no
autismo e na síndrome de Asperger, mas não é parte de um prejuízo difuso da
capacidade de processamento de rostos (Hofter et al., 2005). Em outras palavras,
ela ocorre em alguns pacientes, mas não em outros e se dissocia do prejuízo de
reconhecimento de rostos em si.
Aspectos prosódicos da fala como tom, duração e amplitude são parte das
pistas não verbais que modificam o significado da palavra falada e indicam o
valor emocional de uma afirmação e a intenção de quem fala (Mitchell e
Ross, 2013). Prosódia emocional expressiva é a geração de afeto na fala. Os
mecanismos ainda não estão claros, mas acredita-se que haja envolvimento dos
gânglios basais bilaterais na produção motora da fala como uma função de
estado afetivo e lateralização direita de processos corticais no monitoramento e
produção de parâmetros acústicos da fala (Pichon e Kell, 2013), e até que ponto
há envolvimento frontotemporal unilateral direito ou bilateral na prosódia
emocional receptiva é incerto (Witteman et al., 2012). A disprosódia emocional
receptiva refere-se ao déficit seletivo no reconhecimento do tom emocional da
fala. Frequentemente isto está associado à disprosódia emocional receptiva, em
reconhecer o tom emocional na fala, o prejuízo na produção do tom emocional
da fala. As duas anormalidades são encontradas no mal de Parkinson (Caekebeke
et al., 1991; Pell, 1996).
A relação evolutiva entre música e linguagem é incerta, porém considera-se
que música e linguagem podem ter uma origem em comum, como uma
protolinguagem emocional que permanece evidente em funções sobrepostas e
compartilhamento de circuitos neurais. Um estudo envolvendo 12 indivíduos
com amusia congênita, um transtorno caracterizado por déficits nos atributos
acústicos e estruturais da música, revelou um acentuado prejuízo na prosódia
emocional receptiva, sugerindo que música e linguagem dividem mecanismos
que desencadeiam respostas emocionais a atributos acústicos (Thompson
et al., 2012).
Anormalidades do Humor no Transtorno Bipolar
Desde os escritos de Kraepelin, foi reconhecida a ocorrência de estados de
humor aparentemente opostos de mania e depressão no mesmo transtorno –
frequentemente em diferentes momentos e estágios do transtorno no mesmo
paciente, e mais raramente ao mesmo tempo no mesmo paciente. Embora sejam
descritos separadamente, é importante perceber que esses estados de humor
podem ocorrer juntos. Mania e depressão não são estados opostos de humor;
ambos são patológicos e seu oposto é a ausência de emoção mórbida. Agitação e
excesso de atividade podem ocorrer na depressão, irritabilidade e sensação de
frustração, na mania. Um paciente, hoje deprimido, tendo estado anteriormente
maníaco, relatou: “O primeiro arrebatamento, agradável e despreocupado,
desapareceu. Sinto-me mais cansado e com o humor instável.”
Depressão do Humor
Experiência central: psicológica e física
A depressão do humor é muito comum, e a depressão com persistência e
intensidade a ponto de ser considerada um transtorno psiquiátrico ocorre com
frequência. Discute-se qual é a característica central da depressão. Naturalmente,
argumentos em defesa de fatores bioquímicos, psicodinâmicos ou
condicionadores como causas iniciadoras não são mutuamente exclusivos. A
depressão afeta praticamente todas as funções físicas e psicológicas e,
empregando um método taquistoscópico, Powell e Hemsley (1984) puderam
demonstrar que a depressão influenciava a percepção.
A palavra depressão é algo incorreta, já que o transtorno depressivo pode
ocorrer sem que um paciente se queixe da depressão como um sintoma
(depressio sine depressione). Por este motivo, o termo melancolia pode ser
preferível; embora signifique literalmente “bile negra”, passou a ser aceito como
uma enfermidade médica. Este foi o termo usado por Lewis (1934) em sua
descrição clássica dos estados depressivos em um estudo detalhado de 61 casos;
isto influenciou todas as investigações subsequentes da condição.
Melancolia é o termo preferido para Whybrow (1997), que considera “captar
melhor a ‘verdadeira tempestade no cérebro’ que marca a experiência de
turbulência interna e pensamento confuso, quando a harmonia e a emoção vão
embora, frequentemente para serem substituídas por uma imitação atrofiada da
vida”.
Os sintomas subjetivos da depressão variam muito. O humor varia, indo da
indiferença e apatia até o profundo desalento, desânimo, prostração e desespero.
Anedonia, a completa incapacidade de sentir prazer, é uma característica
constante; ela é experimentada como falta de alegria e se revela na expressão
facial, fala, comportamento, estilo de vida e no relato da experiência pessoal
pelo próprio paciente.
Uma desaceleração na capacidade de iniciar pensamento ou ação é percebida
pelo observador como retardo. Um paciente, descrevendo isto após sua
recuperação, disse: “É como se tivessem derramado melado na minha cabeça
pelos meus ouvidos.” O retardo psíquico é vivenciado subjetivamente como uma
incapacidade de cumprir as obrigações normais, como perda da capacidade de
enfrentamento. A tendência a se culpar frequentemente resulta no paciente se
descrever como preguiçoso e inútil. Há uma queda dramática na autoestima
como um componente cognitivo proeminente.
A agitação e a inquietação sem objetivo se somam ao desconforto e à
incapacidade da pessoa deprimida de realizar qualquer coisa. Esta ansiedade e
preocupação com pensamentos sombrios prejudicam a concentração. A variação
diurna do humor é frequentemente marcante, com o paciente se sentindo pior, ou
até mesmo suicida, quando ele se desperta nas primeiras horas da manhã ou um
pouco mais tarde, durante a manhã. O grau de depressão e sofrimento às vezes
podem ser dissimulados com sucesso; trata-se da depressio sine depression
(depressão sorridente) em um paciente que parece não estar deprimido no
consultório, mas que pode, para consternação do médico, vir a se suicidar. A
dissimulação é provavelmente consciente e pode estar associada ao
mascaramento habitual da expressão das emoções ou à tentativa de evitar o
tratamento.
A concentração, aplicação e tomada de decisões se tornam difíceis, dolorosas
e às vezes impossíveis. A pessoa descreve dificuldade ou impossibilidade de
fantasiar ou recordar emoções. Isto é descrito como perda da memória e perda de
emoção. Com frequência, esta perda de função mental faz com que o paciente
acredite que “está ficando louco” ou “perdendo a cabeça”, uma espécie de
hipocondria mental. O retardo físico pode se tornar o foco de crenças
hipocondríacas sobre o corpo: “estou constipado (...) meu intestino está
totalmente bloqueado”. Uma mulher de meia-idade, muito deprimida, descreveu
suas sensações corporais: “Eu tenho a sensação semelhante à de uma anestesia
no dentista. Meu rosto parece completamente adormecido, mas ao mesmo tempo
todo dolorido.”
A ansiedade é um concomitante comum na depressão e pode obscurecê-la por
completo. Na depressão ansiosa, a agitação e a inquietação são extremas e o
paciente apresenta um sério risco de suicídio. O comportamento histriônico
também pode obscurecer o transtorno depressivo subjacente. Uma paciente que
estava na verdade muito deprimida, se beliscava e puxava seu cabelo o tempo
todo, dizendo: “Olha, eu não consigo sentir nada quando faço isso em mim.”
O afeto da depressão pode ser localizado somaticamente em sensações vitais
(mencionado anteriormente) e pode assumir a forma de profundo sofrimento ou
desalento. Em geral, há uma sensação de perda de capacidade, desesperança e a
sensação de que o paciente não aguenta. Frequentemente é descrita ausência de
sensações ou uma inexplicável perda de sensações “que deveriam existir”.
Sentimentos de culpa e inutilidade são marcantes nos transtornos depressivos
do tipo endógeno e já se sabe disso há muito tempo; por exemplo, Plutarco, no
primeiro século da era cristã, descreveu uma pessoa: Ele se vê como um homem
a quem os deuses odeiam e perseguem com sua ira (...) “Deixe-me!”, diz este
homem infeliz, “eu, o ímpio, o amaldiçoado, detestado pelos deuses a sofrer
minha punição” (Zilboorg e Henry, 1941). Por outro lado, Shepherd (1993)
considera que sentimentos de culpa não se mostravam predominantes nos
estados depressivos descritos na Inglaterra pré-puritana. O paciente pode se
culpar por ter se permitido entrar nesse estado de espírito. Ele fica cheio de
autorrepreensão e recriminação por toda sorte de pequenos pecados que fazem
parte de um passado distante. Ele se culpa por tudo o que dá errado à sua volta,
ele assume a culpa pessoal, o que pode ter intensidade delirante. Usando uma
escala para a avaliação de sentimentos de culpa, foi possível identificar dois
componentes separados: culpa “delirante” ou vergonha (vivenciada em relação
às próprias ações) e culpa “afetiva” (uma sensação mais generalizada de
indignidade) (Berrios et al., 1992). Assim como os delírios de culpa e
indignidade, os delírios hipocondríacos e niilistas são relativamente comuns na
depressão, especialmente quando ocorre em idosos.
Já os delírios ocorrem na depressão psicótica. É importante fazer uma
distinção entre uma crença sobre o estado do mundo colorido pelo humor
presente – “sinto que devo ter feito algo no meu cérebro, já que não consigo
pensar direito”, e uma crença delirante real – “Não consigo pensar nada, é
impossível, meu cérebro está morto”. A primeira é uma afirmação metafórica; a
última, uma crença mantida com convicção. Na prática, frequentemente há uma
área cinzenta entre delírios manifestamente depressivos e visões de mundo
carregadas emocionalmente.
A Tabela 16.1 apresenta a frequência de sintomas, ainda que leves, no
transtorno depressivo registrado quantitativamente com o emprego de uma
escala de avaliação em 239 homens e 260 mulheres (Hamilton, 1989). Podemos
observar que a ansiedade é um sintoma frequente no transtorno depressivo.
Tabela 16.1
Frequência de sintomas no transtorno depressivo
Homens Mulheres
Depressāo e perda
Qualquer situação social de transição está associada a alguma perturbação da
emoção (Parkes, 1971). A depressão é o afeto associado à experiência de perda.
A intenção aqui não é entrar nos aspectos teóricos, mas discutir a experiência
subjetiva. Parkes (1976) demonstrou como a perda de uma pessoa, perda de um
membro ou mesmo a perda da própria casa são estressantes de formas
semelhantes e que ocorre um processo mental no qual a pessoa está “tornando
real dentro do self eventos que já ocorreram na realidade externa”. Este processo
está associado a acentuada dor psíquica e infelicidade. Um exemplo de
depressão associada à ameaça de perda de um objeto de amor foi o de um
motorista de táxi, que possuía seu próprio automóvel e que o considerava a única
coisa que ele prezava na vida. Durante um episódio de depressão profunda, ele
poliu o automóvel à perfeição, o levou até a garagem, conectou uma mangueira
ao cano de escape, ligou o motor e se suicidou. O humor disfórico associado à
experiência de perda é sempre exacerbado quando existe sensação de culpa ou
autorrecriminação associada às circunstâncias da perda: “Se pelo menos eu
tivesse chamado o médico para ver minha mãe antes; eu nunca vou me perdoar.”
Luto
A experiência imediata da perda é choque e amortecimento. A pessoa
subitamente enlutada pode dizer que não acredita que aquilo aconteceu com ela.
Apenas se sente amortecida e vazia, podendo descrever sensação de
despersonalização. Há uma tendência a negar que a perda ocorreu. Uma mulher
foi encaminhada ao cirurgião devido a um nódulo no seio. Na cirurgia, o
profissional descobriu que a massa era maligna e a mama foi amputada. Por
vários dias após a operação, ela foi incapaz de aceitar que a área dolorida sob o
vestido significava a perda de sua mama, e não uma pequena incisão.
Após o choque inicial e a negação, vêm as pontadas de dor, uma sensação
aguda de perda, com ansiedade marcante, bem como sofrimento – a busca
ansiosa. As implicações da experiência de perda começam a ser percebidas, o
que pode causar sensações de ansiedade que chegam ao pânico: “Como eu vou
suportar sem ele?”. Sintomas somáticos e psicológicos de ansiedade podem estar
presentes.
Foram observados três padrões distintos de luto mórbido (Lieberman, 1978):
▪ Fuga fóbica de pessoas, lugares ou coisas relacionadas com o falecido,
combinada com extrema culpa e raiva do falecido e de sua morte.
▪ Uma total falta de tristeza, com raiva dirigida contra outros e supervalorização
do falecido.
▪ Doença física e pesadelos recorrentes envolvendo o falecido.
Esses padrões têm relevância no tratamento usando o método comportamental
de luto forçado ou guiado.
Quando a experiência de perda foi aceita como uma realidade, ocorre a
depressão, o afeto que se relaciona com a perda. A pessoa se sente arrasada, sem
esperanças, talvez com redução da vitalidade e apatia de depressão. Ela se torna
resignada com sua situação, mas não vê saída: “Simplesmente não há mais
futuro para mim.” Não é de surpreender que esse estado esteja frequentemente
associado a ideias e impulsos suicidas, e existe um aumento na mortalidade por
suicídio e outras causas nos seis meses subsequentes ao luto (Parkes
et al., 1969).
À medida que o estado de luto é resolvido, a pessoa gradualmente supera sua
falta de esperança. Ocorre uma atitude mental que resulta em reorganização ou
redirecionamento. Ela gradualmente toma decisões e executa atividades que
demonstram sua aceitação emocional e intelectual da perda e intenção de
continuar sua vida da melhor forma possível, embora ainda se lembre da perda.
Este estágio de solução pode ser adiado por muitos anos, como no luto da
Rainha Vitória pelo Príncipe Albert.
Parkes (1976) estabelece a diferenciação entre experiência subjetiva de perda
externa e mudança interna. A perda externa é demonstrada pelo apego ao objeto
perdido. A ansiedade após a perda ocorre tanto em pessoas enlutadas quanto em
amputados, e está associada a uma busca ansiosa: uma mulher enlutada
caminhava pela rua imaginando se veria seu marido, que sabia estar morto.
Nessas circunstâncias, pode ocorrer a percepção equivocada de estranhos como
sendo o parente perdido. Um homem cujo pai havia falecido há muito tempo
pensou ouvir sua voz em outro cômodo, percebendo então que era seu filho. As
pessoas voltam a lugares associados à pessoa perdida ou guardam como
sagrados objetos que pertenceram a ela.
A mudança interna, com uma sensação de mutilação, é comum em pessoas
com diferentes tipos de perda. Os amputados se sentem muito lesados, tanto na
sua função quanto na autoimagem. Por ter perdido uma perna, um homem será
incapaz de executar suas atividades como antes e poderá se sentir menos
homem. Da mesma forma, a mulher com um braço amputado pode preferir uma
prótese estética mas inútil, a um gancho funcional. Ela pode sentir a afronta à
sua autoimagem com um braço mutilado mais do que a perda de função. Parkes
e Napier (1975) enfatizam as associações sociais da perda em sua discussão
sobre prevenção e alívio dos problemas resultantes de amputação. Viúvas
também descrevem uma sensação de perda interna devido ao luto;
frequentemente, como é natural, existe perda real de status. As pessoas que se
veem obrigadas a mudar de casa frequentemente descrevem uma alteração
interna devido à mudança: “Parte de mim morreu quando deixei a casa antiga.”
Mania
Mania é uma palavra com uma longa história. Hare (1981) considera que as
primeiras descrições de deterioração intelectual com excitação foram feitas em
associação à deterioração orgânica decorrente de saúde geral debilitada durante o
século XIX. À medida que a saúde física da população melhorou, foi possível
descrever condições individualizadas com diferentes históricos naturais.
Entretanto, a mania ainda constitui uma proporção mais alta das psicoses
afetivas que ocorrem no período puerperal do que de transtornos afetivos que
ocorrem em outras fases da vida (Dean e Kendell, 1981).
Mania é a elação do humor, aceleração do pensamento e hiperatividade.
Subjetivamente, embora possa ser descrita como um estado diferente do normal,
raramente ela é uma queixa de sintoma do paciente. Um jovem maníaco
internado descreveu seu estado interno: “Eu me sinto inundado de experiências
(...) Estou desenvolvendo um relacionamento profissional próximo com Camilla
Brown (outra jovem paciente) (...) Eu me sinto um foguete com o pavio aceso,
de pé em uma garrafa e pronto para levantar voo.” Tornou-se tradicional nos
referirmos a todos os casos, exceto os mais graves, como hipomania. Isto é
lamentável, uma vez que não nos referimos a “hipodepressão” e a pessoa que usa
o termo hipomania frequentemente dá a impressão de que o diagnóstico errado é
permissível em maior grau do que quando empregamos o termo mania.
Os estágios iniciais da mania podem ser vivenciados como agradáveis, até
mesmo “maravilhosos”, e um alívio imenso da depressão anterior. Um paciente
citado por Whybrow (1997) coloca isto da seguinte maneira: “Eu me sinto bem
nos primeiros estágios da mania – sobre o mundo e todos que estão nele. Tem
uma batida mais rápida; uma sensação de expectativa de que a minha vida será
plena e excitante.” Por esta razão, o paciente pode relutar em tomar medicação
ou relatar a condição para o médico. Mais tarde, no transtorno maníaco, a
experiência do paciente é geralmente descrita como desagradável e até
assustadora.
Na forma pura, ela é caracterizada por alegria excessiva, sequenciamento e
associação de pensamentos rápidos e hiperatividade. A velocidade do
pensamento e a capacidade imediata de fazer associações resultam em uma
conversa rápida e aparentemente animada (Capítulo 9). Trocadilhos e
associações brilhantes são abundantes, como por exemplo, em um caso citado
por Bingham (1841):
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*
Nota da Tradutora: A palavra inglesa feeling abrange o que em português se distingue como sensação e
sentimento.
*
Nota da Tradução: Nome étnico de mais de 60 tribos que falam diversos dialetos da língua iraniana
(Pashtu). No Paquistão, vivem aproximadamente 15 milhões de membros dessa etnia.
*
Nota da Tradução: Benighted e knighted, no original, sem trocadilho equivalente em português.
CAPÍTULO 17
Montanus fala sobre um homem que não se afasta de casa por medo de
desmaiar ou morrer. Outro teme que cada pessoa que encontra o roube,
discuta com ele ou o mate. Um terceiro não ousa caminhar sozinho, por
medo de encontrar o demônio, um ladrão, ou de sentir-se mal; teme
todas as mulheres idosas e as considera bruxas; além de suspeitar que
cada cão ou gato preto seja o demônio; cada pessoa que se aproxima
dele é má; todas as criaturas, todos pretendem feri-lo, buscam sua ruína;
um outro não tem coragem de cruzar uma ponte, se aproximar de um
lago, rocha, penhasco, de se deitar em um cômodo onde existam vigas
no teto porque teme tentar se enforcar, se afogar ou se jogar. Se está
em um auditório silencioso, como em um sermão, tem medo de falar em
voz alta e de sem querer dizer alguma coisa inadequada. Se é fechado
em um quarto, tem medo de se sufocar por falta de ar, e ainda carrega
consigo loções ou odores fortes por temer síncopes ou tonturas; ou se
está em uma multidão, em uma igreja, em aglomeração, de onde talvez
não possa escapar, embora esteja sentado à vontade, é certamente
afetado. Ele se compromete e assume qualquer empreendimento
apressadamente, mas ao dar prosseguimento, não se aventura e teme
um número infinito de perigos, desastres etc. (...) Essas pessoas têm
medo de alguma perda, perigo, de que certamente perderão suas vidas,
bens e tudo o que têm; mas o porquê elas não sabem.
Robert Burton (1621)
Resumo
A reação ao estresse é um aspecto integral da existência humana e a reação de
alarme estabelece o contexto para a compreensão da ansiedade e os transtornos a
ela relacionados. A ansiedade livremente flutuante inclui características
experienciais da reação de alarme, mas que é identificada como anormal devido
à sua intensidade, duração prolongada, a natureza trivial dos eventos
desencadeadores e, por fim, pela natureza socialmente perturbadora e
incapacitante da experiência. A ansiedade pode se focar em um objeto ou
situação específica, ao que se dá o nome de fobia, e pode ocorrer como ataques
paroxísticos e episódicos como no pânico, ou ser incômoda quando não
controlada, como no caso dos fenômenos obsessivo-compulsivos.
A reação ao estresse faz parte da existência humana. Mas o que é estresse?
Existem pelo menos três conceitos de estresse: estresse como estímulo; estresse
como reação e estresse como interação. O conceito de estresse como estímulo se
baseia na premissa de que é um fator externo que afeta o indivíduo, enquanto
estresse como reação localiza o estresse dentro do indivíduo. Esta última noção
foi desenvolvida por Selye (1907–1982), que definiu estresse como “uma reação
não específica do corpo a qualquer demanda sofrida” (Selye, 1956). O conceito
de estresse como interação, com base no trabalho de Selye, foi desenvolvido por
Lazarus (1922–2002):
Ansiedade
A ansiedade é uma emoção universal e normal, uma resposta necessária e
adaptativa do organismo ao estresse. É sabido que níveis de excitação são
responsáveis pela eficiência da capacidade de um organismo de responder
adequadamente a uma tarefa: tanto a excitação baixa quanto a excessiva levam a
desempenho pobre (Lei Yerkes-Dodson) (Yerkes e Dodson, 1908). Lader e
Marks (1971) discutiram as características da ansiedade em termos da
normalidade ou patologia da emoção. Em termos bastante concretos, um homem
que descobre que está dividindo o campo com um touro se sente extremamente
ansioso e corre para a porteira em máxima velocidade; se, seis semanas mais
tarde, de volta à cidade, ele tiver um ataque de pânico e tiver que se deitar
porque alguém menciona uma parte da cidade chamada “Bullring”,* sua resposta
é claramente mal-adaptativa e sua ansiedade, patológica.
A ansiedade também pode ser arbitrariamente polarizada entre estado e traço
(Sims e Snaith, 1988). O estado de ansiedade é a qualidade de estar ansioso
agora, neste momento em particular, provavelmente como uma reação a
circunstâncias provocadoras. Traço ansioso é a tendência prolongada, talvez
durante toda a vida, de enfrentar as vicissitudes da vida com um grau
habitualmente excessivo de ansiedade. Ansiedade, como descrição da
experiência de emoção normal não é diferente em qualidade, apenas
quantitativamente, do estado de ansiedade (Hamilton, 1959). Típicos do humor
da ansiedade são sentimentos de constrição. A palavra angst está
etimologicamente associada à ideia de redução, estreitamento, “aperto” e, no uso
mais antigo era localizada no precórdio e proeminentemente associada à angina
(Sims, 1985). O paciente com estado de ansiedade pode se sentir inquieto,
incerto, vulnerável, encurralado, com falta de ar, sufocado. Além de sentir medo
e preocupação, ideias hipocondríacas e até mesmo sentimentos de culpa são
frequentemente proeminentes. Os sintomas de ansiedade ocorrem
patologicamente em estados de ansiedade sem causa externa óbvia. A ansiedade
não está ligada a qualquer objeto desencadeador específico e, portanto, é
chamada de ansiedade de flutuação livre.
Há também uma diferença entre a experiência da ansiedade como uma
emoção subjetiva e a ocorrência objetiva de alterações somáticas normalmente
associadas a este afeto; alguns dos sintomas mais comuns são apresentados na
Quadro 17.1 (Tyrer, 1982). Tyrer considera a irritabilidade como um sintoma de
estado de ansiedade, mas Snaith e Taylor (1985) salientaram que a irritabilidade
é um estado de humor independente, que pode estar associado à ansiedade – ou
qualquer outro transtorno de humor. Embora seja comum encontrar os aspectos
psicológicos e físicos da ansiedade associados e relacionados em intensidade,
isto pode não ocorrer necessariamente desta forma. O paciente pode se queixar
de se sentir extremamente ansioso, mas exibir expressão somática mínima; na
dissociação, têm sido descritas alterações físicas acentuadas enquanto o paciente
não faz queixas de se sentir ansioso. Esses três aspectos dicotômicos da
ansiedade são representados na Figura 17.1.
Somáticos e autonômicos
▪ Palpitações
▪ Dificuldade para respirar
▪ Boca seca
▪ Náusea
▪ Frequência na micção
▪ Tontura
▪ Tensão muscular
▪ Sudorese
▪ Desconforto abdominal
▪ Tremor
▪ Pele Fria
Psíquicos (psicológicos)
▪ Sensação de temor e ameaça
▪ Irritabilidade
▪ Pânico
▪ Antecipação ansiosa
▪ Terror interno (psíquico)
▪ Preocupação com questões triviais
▪ Dificuldade de concentração
▪ Insônia inicial
▪ Incapacidade de relaxar
De Tyrer (1982), com permissão.
FIGURA 17.1 Modelo tridimensional dos sintomas de ansiedade.
Estados fóbicos
As fobias, ou o medo irracional, são descritas há séculos. Benjamin Rush (1798),
por exemplo, define a fobia como “o medo de um mal imaginário, ou um medo
indevido de um mal real” e elenca 18 fobias, em parte com intenção humorística,
reproduzidas no Quadro 17.2. A agorafobia foi descrita originalmente por
Westphal (1871); esta condição, que significa em sua origem “medo de
mercados”,* causa grave incapacitação. As fobias a animais foram contrastadas
por Marks (1970):
Se nos virmos tentados a pensar que todos os estados fóbicos são uma
unidade que reflete o mesmo transtorno e etiologia, podemos
rapidamente nos livrar dessa ilusão, simplesmente observando o notável
contraste entre fobias a animais e agorafobias. Essas duas condições
diferem radicalmente no início, curso, sintomatologia, resposta ao
tratamento e medidas psicológicas.
Irritabilidade
A irritabilidade do paciente pode ser observada pelos outros ou vivenciada
subjetivamente em relação aos outros (externa) ou em relação a si mesmo
(interna). A irritabilidade, expressa externamente, é considerada um transtorno
de humor propriamente dito em si mesma e independente da ansiedade,
depressão ou outros estados de humor (Snaith e Taylor, 1985): “A irritabilidade
expressa externamente é um transtorno de humor independente e não meramente
uma alteração sintomática de estados de depressão ou ansiedade.” A
irritabilidade expressa externamente é comumente associada ao transtorno de
humor puerperal, enquanto a irritabilidade dirigida internamente foi descrita em
indivíduos com transtorno obsessivo-compulsivo. Na Escala de Irritabilidade,
Depressão e Ansiedade (IDA), foram desenvolvidas duas subescalas de
irritabilidade (Snaith et al., 1978): irritabilidade exteriormente dirigida e
irritabilidade interiormente dirigida. Snaith e Taylor (1985) definiram a
irritabilidade para uso no contexto da psicopatologia da seguinte forma:
A irritabilidade é um estado de emoção caracterizado por diminuição de
controle do temperamento, que geralmente resulta em ataques verbais
ou explosões comportamentais, embora o humor possa estar presente
sem manifestação observada. Ela pode ser experimentada na forma de
episódios breves, em determinadas circunstâncias, ou pode ser
prolongada e generalizada. A experiência de irritabilidade é sempre
desagradável para o indivíduo e a manifestação ostensiva de
irritabilidade não apresenta o efeito catártico de ataques de raiva
justificados.
Obsessões e Compulsões
Não há associação necessária entre obsessões, ou transtorno obsessivo-
compulsivo, e ansiedade ou qualquer tipo de transtorno de ansiedade. Obsessões
isoladas ou transtorno obsessivo-compulsivo podem ocorrer com ou sem
ansiedade, com ou sem depressão, com ou sem transtorno de personalidade,
anancástica ou não. É um sintoma distinto e separado.
O paciente pode ser incomodado por pensamentos que ele sabe que são seus,
mas que considera repetitivos e estranhos; ele descobre que é incapaz de impedir
sua repetição. Tais pensamentos obsessivos têm, segundo Lewis (1936), três
características essenciais: um sentimento de compulsão subjetiva, resistência a
ele e a preservação de insight. Essas características diferenciam a obsessão de
atos repetitivos e cerimônias sociais. A palavra obsessão é normalmente
reservada para o pensamento e compulsão para o ato. O indivíduo sabe que se
trata de seu próprio pensamento (ou ato), que surge de dentro de si mesmo e que
a continuidade do pensamento (ou ação) depende de sua própria vontade; ele
pode decidir não pensar em determinado momento (mas pode e certamente volta
a acontecer). Ele é atormentado pelo medo do que possa acontecer se alterar a
rotina. Não há perturbação de consciência ou da capacidade de saber que o
pensamento é seu. Em geral, a pessoa funciona normalmente em outras áreas da
vida que não estão contaminadas pelo pensamento obsessivo, mas, à medida que
as obsessões se tornam mais graves, há um aumento da incapacidade social e do
sofrimento que podem perturbar todo o seu estilo de vida.
John Bunyan, em sua comovente biografia Grace Abounding to the Chief of
Sinners (Graça Abundante ao Principal dos Pecadores, 1666), descreve
pensamentos obsessivos e ruminações ligados a suas crenças religiosas, mas que
também podem ser claramente separados delas. Por exemplo:
33. Agora você deve saber que antes disto eu me comprazia em tocar o
sino, mas minha Consciência começou a pesar, eu pensei que esta
prática era vã, e portanto me forcei a deixá-la, mas minha mente ainda
ansiava por isso, dizia que eu devia ir ao Campanário e ficar
observando: embora eu não ousasse tocar o sino. Mas eu achei que isto
também se tornou Religião, contudo, me forcei e continuei indo para
observar; mas logo depois, comecei a pensar, e, se um dos sinos cair:
então preferi ficar sob uma Viga principal que atravessava o Campanário
de lado a lado, pensando que ali eu estaria seguro. Mas depois eu
pensava novamente, E se o Sino cair para o lado, ele pode bater na
Parede, e então voltar e me atingir, me matar apesar da Viga. Isto fez
com que eu me postasse na porta do Campanário, e agora eu pensava,
Estou seguro o suficiente, se o Sino cair eu posso deslizar para trás
dessas grossas paredes e assim me ver salvo.
34. Assim, depois disso, eu ainda ia vê-los badalar, mas não além da
porta do Campanário; mas então passou pela minha cabeça, e se o
próprio Campanário cair, e este pensamento (ele poderia cair, suponho
eu) enquanto eu observava parado ali, perturbava a minha mente e eu
não ousava permanecer na porta do Campanário um segundo mais, mas
me vi forçado a fugir, por medo de ele cair sobre minha cabeça.
(p.13)
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*
Nota da Tradução: Em português, bullring significa arena de touros.
*
Nota da Revisão Técnica: Mercado deve ser entendido aqui como um grande espaço público destinado a
reuniões, tal qual na Grécia antiga.
CAPÍTULO 18
Sei que o bem não mora em mim (na minha carne), em meus instintos
egoístas. O querer bem está em mim, mas não sou capaz de fazê-lo.
Não faço o bem que quero e sim o mal que não quero. Ora, se faço
aquilo que não quero, não sou eu que o faço, mas é o pecado que mora
em mim. Assim encontro em mim esta lei: quando quero fazer o bem,
acabo encontrando o mal (...). Mas percebo em meus membros outra lei
que luta contra a lei da minha razão e que me torna escravo da lei do
pecado que está nos meus membros.
Epístola de São Paulo aos Romanos (1662)
Resumo
Neste capítulo serão discutidos a experiência de incontáveis anseios não
direcionais; os impulsos naturais instintivos dirigidos a algum objetivo e o ato de
vontade, com um objetivo concebido conscientemente e conhecimento de como
alcançá-lo e suas consequências. As anormalidades do anseio, instinto, impulso e
vontade estão entre as mais complexas na psicopatologia. Necessidade é um
esforço na direção de determinado objeto, estado ou ação que é vivenciado como
desejo. Impulso é uma inclinação para satisfazer determinadas necessidades
primárias, ou seja, inatas, bem como atividade, o modo mais básico da expressão
de um indivíduo. Instinto é um padrão inato de comportamento que leva à
satisfação do impulso. Vontade é um esforço ou intenção direcionada a um
objetivo, baseada em uma motivação planejada cognitivamente. Os distúrbios
desses aspectos básicos do comportamento ocorrem em transtornos psiquiátricos
orgânicos e “funcionais” e se manifestam de diversas maneiras, entre os quais
prejuízos de apetites, impulsividade, agressão, alterações motoras e
anormalidades comportamentais graves.
Esta é a área mais insatisfatória da psicopatologia clínica. A insatisfação vem
em parte da perda de interesse sobre o assunto desde o final do século XIX, e
falta de clareza conceitual que resultou do empobrecimento da literatura, mas
também se deve à complexidade inerente ao tema. Conforme salientou Berrios
(1996): “A ‘vontade’ não desempenha mais um papel na psiquiatria e na
psicologia. Há cem anos, entretanto, era um conceito descritivo e explicativo
importante, e se referia ao ‘poder, força ou faculdade’ humana de iniciar uma
ação.” As distinções entre conceitos relacionados e ao mesmo tempo distintos
como instinto, anseio, ímpeto, impulso, estímulo, motivação, vontade,
movimentos voluntários e involuntários e responsabilidade deixaram de ser
considerados, até bem recentemente, objeto de investigação. Uma distinção
correta, mas apenas teórica pode ser feita entre o instinto e, portanto, o desejo de
realizar uma ação para satisfazer determinada necessidade particular, o impulso e
a motivação para praticar a ação e a vontade de executar a ação. Todas elas são
diferentes do produto final, da ação observada ou do comportamento em si
(Figura 18.1).
Causas orgânicas
Impulsos biológicos tais como apetite, sono e sede estão localizados
anatomicamente na região do mesencéfalo. Portanto, doenças localizadas nessa
área, de natureza estrutural ou bioquímica, tendem a resultar em perturbação de
impulso e, consequentemente, vontade. Além disso, mecanismos hormonais,
metabólicos e neuropsicológicos afetam a vontade. Assim, a necessidade de
alimento, expressa em fome e consequente busca por comida, é afetada pelo
estado de plenitude do trato gastrointestinal, pela secreção de insulina do
pâncreas, pela inervação sensorial da parede intestinal, bem como pela regulação
do suposto “centro do apetite”. As doenças físicas têm um efeito tanto específico
quanto generalizado sobre a vontade.
O apetite excessivo (bulimia) pode ocorrer em condições como tumores que
afetam o hipotálamo e resultam em obesidade grave, que pode estar associada à
hipoventilação e sono excessivo (hipersonia) na síndrome de Pickwick (Burwell
et al., 1956), sonolência periódica e fome intensa com consumo voraz de
alimentos como na síndrome de Kleine–Levin (Critchley, 1962). A sede e o
consumo excessivo de líquidos (polidipsia) ocorrem na doença pituitária
posterior ou dos rins (diabete insípido nefrogênico, por exemplo, com tratamento
com lítio). A perda de apetite (anorexia) pode ocorrer em doença localizada no
mesencéfalo, resultando em caquexia grave; entretanto, a perda de peso é muito
mais comum como uma característica geral de qualquer doença física grave e
debilitante.
Uma jovem de 19 anos foi hospitalizada por mutismo. Ela ficava sentada,
sem se mexer por longos períodos, sem interesse pelo que estava à sua
volta, embora parecesse alerta (...) Ela se alimentava e se movia
devagar mas não era rígida. No segundo dia, repentinamente e sem
qualquer aviso, ela saltou da cadeira e agarrou a garganta de um
terapeuta que passava, prejudicando gravemente sua tireoide.
(Fink e Taylor, 2003)
Ele reclamava de dores de cabeça, era irritável e ocasionalmente
explodia em raiva com precipitantes mínimos ou triviais. Ocorriam
destruições de propriedades, incluindo paredes com marcas de murros e
móveis quebrados, além de agressões mal coordenadas a membros da
família e alguns vizinhos.
(Benson e Blumer, 1982)
Agressão diminuída
A agressividade diminuída pode acompanhar impulso reduzido e às vezes é
observada em perturbações orgânicas, psicóticas e psicogênicas. Ela é
frequentemente associada à apatia nos transtornos orgânicos agudos como
encefalite, ou na demência progressiva, embora irritabilidade e irascibilidade
também possam ocorrer. Doença física debilitante generalizada é normalmente
acompanhada de indiferença e apatia.
Na esquizofrenia, a agressão é geralmente acentuadamente reduzida, com falta
de vontade e insucesso em iniciar qualquer atividade dirigida, podendo ocorrer
ocasionalmente violência não provocada. Também na psicose depressiva, a
agressividade reduzida é, em geral, a apresentação mais comum; no entanto,
homicídio, muitas vezes associado a suicídio, é certamente descrito entre
indivíduos gravemente deprimidos que sofrem de delírios depressivos.
Um nível consistentemente baixo de agressividade pode ocorrer como uma
característica de personalidade, como por exemplo, no transtorno de
personalidade dependente. Ele pode ser observado como parte de uma reação
neurótica ou durante situações adversas da vida, como por exemplo, luto de
perda ou a infelicidade por solidão. Certo grau de agressão é necessário para
muitas das atividades sociais da vida normal e sua ausência prejudica o
funcionamento. A falta patológica de agressão está estreitamente associada a
transtorno da vontade.
Distúrbios do movimento
O movimento pode ser aumentado ou acelerado, reduzido ou desacelerado, ou
pode exibir diversas anormalidades qualitativas. Alguns desses distúrbios do
movimento são involuntários e apropriadamente considerados neurológicos,
alguns são voluntários, mas realizados inconscientemente, enquanto outros são
atos deliberados (de vontade). As palavras usadas descrevem principalmente as
características objetivas da ação para um observador externo, não a experiência
subjetiva de quem a pratica.
Esses distúrbios do movimento passam a ser considerados resumidamente,
começando com anormalidades de movimento aumentado – agitação e
hiperatividade e movimento diminuído – retardo. Em seguida, os distúrbios de
movimento que ocorrem em algumas condições psiquiátricas são descritos.
Existem sequelas psiquiátricas de distúrbios primários de movimento, incluindo
parkinsonismo e há distúrbios de movimento associados a condições que são
primariamente psiquiátricas.
Agitação
Agitação se refere a perturbação mental que causa inquietação física e maior
excitação; fenomenologicamente, ela é uma descrição de estado de humor
subjetivo associado e resultando em expressão física. O paciente pode descrever
seu afeto como “sensação de agitação” e tanto ele quanto o observador externo
veem a inquietação motora como logicamente ligada a isso. A agitação é
observada em diversos estados mentais; patologicamente, ela pode ocorrer nas
psicoses afetivas, na esquizofrenia, em psicosíndromes orgânicas, como
demência senil, em transtornos neuróticos e de personalidade, principalmente
estados de ansiedade. Frequentemente, a agitação é um sintoma de doença física,
como por exemplo, o hipertireoidismo ou hipoparatireoidismo, sendo ainda um
componente importante de alguns estados de transtorno depressivo grave.
Embora o retardo seja observado com mais frequência na “depressão endógena”
ou melancolia, a agitação pode ocorrer alternando com fases de retardo, ou
concomitantemente a este, em um estado afetivo misto. Depressão agitada é um
termo antigo para uma variante de um episódio depressivo grave com ou sem
fatores psicóticos. Ela é alternativamente conhecida como melancolia. A
importância clínica prática deste estado de humor vem do fato de que, enquanto
os impulsos suicidas podem ter sua expressão evitada pelo retardo, a agitação
com inquietação pode tornar este comportamento mais provável. Uma resposta
inicial ao tratamento após o tratamento eletroconvulsivo ou medicação
antidepressiva eficaz pode resultar em menor retardo e, portanto, em maior risco
de suicídio.
Hiperatividade
A hiperatividade descreve o estado no qual há aumento da atividade motora,
possivelmente com agressividade, loquacidade ou atividade física
descoordenada. O termo descreve o comportamento e não o estado psicológico
subjetivo. A inquietação tem descrição pobre na literatura psiquiátrica e tem
causas diversas e múltiplas (Sachdev e Kruk, 1996). A hiperatividade inquieta ou
hipercinesia pode ocorrer em uma série de diferentes lesões cerebrais físicas,
mas é especialmente proeminente como sequela de lesão cerebral em crianças,
nas quais pode estar associada à desobediência impulsiva e surtos explosivos de
raiva e irritabilidade (Black et al., 1969); ela também está associada à epilepsia
na infância quando há dano cerebral.
Nos últimos anos, o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade,
anteriormente descrito como algo que ocorria apenas em crianças tem sido
diagnosticado em adultos; ocasionalmente esses transtornos da infância
persistem na vida adulta, mas a predominância do transtorno na idade adulta é
baixa se comparada com a da infância (Sachdev, 1999). Existe um padrão de
desatenção persistente em todas as áreas da vida, excesso de atividade com
inquietação e agitação, impulsividade com impaciência e dificuldade de retardar
respostas. Tais características psicológicas resultam em comportamento
perturbado em todas as áreas da vida. Na idade adulta, ocorrem dificuldades
persistentes em relacionamentos, geralmente histórico de trabalho pobre e
ocasionalmente também ficha criminal. O indivíduo é particularmente distraído e
propenso a ser perturbado em um contexto de grupo.
Em crianças, ocorre comorbidade significativa com transtorno de conduta,
transtorno opositivo desafiador, transtornos de humor e ansiedade e retardo
mental (Biederman et al., 1991). Das crianças que foram diagnosticadas com
TDAH, 30% a 70% continuarão apresentando sintomas da condição na vida
adulta (Bellak e Black, 1992). Em um estudo envolvendo adultos com TDAH, os
dois gêneros apresentaram manifestações da condição, porém as mulheres, que,
ao contrário da situação na infância eram a maioria, tinham taxas mais altas de
depressão, transtornos de ansiedade e de conduta do que os controles normais
(Biederman et al., 1994). Esta é uma condição à qual os que praticam psiquiatria
geral com adultos deverão prestar mais atenção no futuro e é digna de estudo
psicopatológico mais detalhado.
Retardo
O retardo possui dois significados bastante diferentes na psiquiatria. O retardo
motor, no sentido que é usado aqui, implica lentidão na iniciativa, execução e
finalização de atividade física e é frequentemente associado a retardo do
pensamento, como, por exemplo, no transtorno depressivo grave. O paciente se
descreve subjetivamente com dificuldades com o pensamento – “meus
pensamentos estão lentos” – e também para iniciar e executar atividade
espontânea. Já retardo mental é um sinônimo de deficiência mental,
subanormalidade mental ou déficit de aprendizagem. Trata-se de um termo
infeliz já que, embora exista déficit intelectual, pode não haver lentidão física; na
verdade, pode haver excesso de atividade, especialmente se também houver
lesão cerebral. Também é pouco provável que a pessoa afetada se queixe,
subjetivamente, de lentidão no processo de pensamento.
O retardo é um sintoma tão marcante do tipo endógeno grave de depressão
que no passado era usado para nomear a condição, depressão retardada.
Observa-se restrição no movimento, postura estática de desânimo e redução do
tônus muscular. A gesticulação é reduzida, assim como o componente emocional
da expressão facial.
O retardo com lentidão de atividade motora também é observado em outras
causas de lentidão mental, como em diversas síndromes mentais orgânicas e em
doenças físicas. O extremo do retardo – ausência completa de movimento
voluntário – é conhecido como acinesia e ocorre com mutismo no estupor.
Alterações de Movimento na Esquizofrenia
Para fins de conveniência, três tipos de anormalidade podem ser reconhecidas na
esquizofrenia: anormalidades isoladas de movimento e postura, que são
discutidos agora; padrões mais complexos de comportamento perturbado,
descritos a seguir neste capítulo; e os efeitos presumidos das drogas
neurolépticas sobre o movimento, que frequentemente são usadas em altas doses
e por tempo prolongado na esquizofrenia. Efeitos colaterais extrapiramidais são
descritos posteriormente neste capítulo, mas uma breve menção deve ser feita
sobre a síndrome neuroléptica maligna, que se apresenta com início rápido de
hipertonicidade muscular generalizada grave com hiperpirexia e mutismo
acinético e perturbação autonômica; a morte ocorre em cerca de 15% das
pessoas afetadas (Kellam, 1987). Alguns dos transtornos motores mais
peculiares são descritos primeiro, sendo então descritas as perturbações na
esquizofrenia crônica.
Tabela 18.1
Porcentagem de pacientes com distúrbio motor atual (n = 100)
Movimento voluntário 97
Produção da fala 95
Postura 86
Tônus 85
Movimentos faciais ou posturas 74
Movimentos da cabeça, tronco ou membros 67
Atividade 64
Marcha 48
Movimentos oculares 48
Piscar de Olhos 38
Doença de Parkinson
Na Doença de Parkinson, além de sintomas motores, frequentemente também
ocorrem anormalidades sensoriais, autonômicas e psiquiátricas. A descrição
original de Parkinson em 1817 implicava ausência de anormalidade perceptiva
(ao contrário de sensorial) e não faz comentários sobre “status psiquiátrico”, um
conceito então desconhecido.
Podem ocorrer anormalidades primárias ou secundárias, com ou sem excesso
ou escassez de atividade autonômica. Entretanto, os sintomas mais flagrantes
estão na função motora: lentidão de movimento emocional e voluntário
(Walton, 1985); rigidez muscular; acinesia; tremor; e distúrbios da marcha, fala e
postura. Não há necessariamente qualquer alteração mental, mas a depressão é
muito comum (Mindham, 1970), pode ocorrer deterioração intelectual com
eventual associação com transtorno de personalidade. Episódios psicóticos
também têm sido descritos. Uma descrição gráfica dos sintomas e experiência
subjetiva do parkinsonismo foi relatada em Awakenings de Sacks (1973).
Ocorrência comum
▪ Sensação de inquietude interior
▪ Inquietação mental
▪ Agitação e disforia
▪ Sente que não consegue ficar parado
▪ Um anseio irresistível de mover as pernas
▪ Aumento da tensão interna quando se pede para ficar parado
Menos comuns
▪ Tensão e desconforto nos membros
▪ Parestesia e sensações desagradáveis de puxar ou empurrar nos músculos das
pernas
(De Gervin e Barnes, 2000, com permissão.)
As reações de distonia aguda incluem uma série de espasmos musculares
intermitentes ou prolongados e posturas anormais. A distonia foi definida como
“uma síndrome dominada por contrações musculares prolongadas,
frequentemente causando torsão e movimentos repetitivos, ou posturas
anormais” (Fahn et al., 1987). Pode haver protrusão da língua, caretas, crises
oculógiras, blefaroespasmo, torcicolo, opistótono e outras ações hipercinéticas
exageradas da face, cabeça, tronco ou membros. Owens (1990) considerou que
os principais tipos clínicos de distonias são distonias agudas, espasmos
oculógiros, distonias focais incluindo torcicolo, blefaroespasmo, “cãibra dos
escritores” e outras distonias ocupacionais e distonia laringofaríngica; distonias
segmentais, distonia generalizada, distonias relacionadas com drogas
(sintomática) e distonia psicogênica.
A frequência de associação da chamada discinesia tardia, na qual ocorrem
movimentos repetitivos e sem finalidade dos músculos faciais, boca e língua
(ocasionalmente com movimento coreoatetoide dos membros e grunhidos
respiratórios), à exposição a drogas psicotrópicas é controversa. Não há dúvida
de que a discinesia faciobucolinguomastigatória ocorre em muitos pacientes
psicóticos crônicos, principalmente os idosos, pacientes psicóticos que usam
medicação neuroléptica, mas estará causalmente associada a drogas? A palavra
tardia é empregada porque a síndrome era considerada uma consequência tardia
do tratamento medicamentoso; contudo, há casos descritos em pacientes que
jamais receberam drogas neurolépticas e a relação ainda precisa ser elucidada –
pode ser apenas uma fase posterior da doença. Na prática, os sintomas
extrapiramidais secundários a medicamentos são difíceis de avaliar e medir em
termos de gravidade – problemático explicar etiologicamente, mas importante
para o tratamento satisfatório do paciente. Em um acompanhamento de três anos
de pacientes psiquiátricos que receberam medicamentos antipsicóticos, a
discinesia orofacial aumentou de 39% para 47% na amostra, com alguns
indivíduos desenvolvendo o distúrbio pela primeira vez e uns poucos
apresentando remissão (Barnes et al., 1983). Havia uma associação entre
discinesia, idade superior a 50 anos e a presença de acatisia, mas nenhuma ao
uso de drogas antipsicóticas; na verdade, aqueles com dosagens altas não
estavam propensos a ter condição. Esses sintomas discinéticos também ocorrem
na coreia de Huntington e na coreia senil.
Coreia de Huntington
Trata-se de uma condição hereditária, herdada na forma mendeliana dominante,
que geralmente se manifesta no início da meia idade e se caracteriza por
movimentos coreiformes e demência. Movimentos espasmódicos, rápidos e
involuntários começam na face e membros superiores. Disartria e distúrbios da
marcha também podem ocorrer antes do desenvolvimento de déficit intelectual.
A demência progressiva, com inércia e apatia, pode ser acompanhada de
irritabilidade e surtos ocasionais de comportamento excitado. Ocasionalmente, a
demência ocorre como o primeiro sinal da doença.
Diversas anormalidades psicológicas foram descritas no estágio prodrômico
antes da manifestação de coreia e demência. Essas anormalidades podem ser
ansiedade, depressão reativa e características de transtorno de personalidade,
principalmente comportamento antissocial. Não se sabe se este é realmente um
sintoma precoce da doença ou parte da reação psicossocial a esta condição
terrível e carregada de maus prognósticos.
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SEÇÃO 6
Variações da Natureza Humana
Resumo
Personalidade é a maneira própria pela qual um indivíduo se expressa. Ela inclui
sua forma de andar, vivenciar e reagir ao mundo. Suas respostas afetivas,
conduta e atitude moral, os valores que o guiam e aquilo que faz, o que ele cria e
como age. Por outro lado, as anormalidades da personalidade são padrões
duradouros de experiência e comportamento, que afetam a cognição, afeto,
funcionamento interpessoal e controle de impulso que são inflexíveis, difusos e
que levam a prejuízos clinicamente significativos. É importante salientar que os
tipos de personalidade anormal atualmente descritos são, na melhor das
hipóteses, tentativas provisórias e inconclusivas de colocar em palavras aspectos
complexos do funcionamento humano. As categorias têm utilidade clínica, mas
são problemáticas por diversos motivos, entre os quais a falta de confiabilidade,
validade e instabilidade ao longo do tempo.
Mill, no trecho de um Sistema de Lógica transcrito acima, afirma
sucintamente a dificuldade de elaborar uma teoria da personalidade que seja útil
na prática clínica para prever comportamento. Ainda assim, há um grande
número de teorias da personalidade. A definição de personalidade de Jaspers
(1913) é um bom começo – como também seriam outras definições:
Tabela 19.1
Comparação dos tipos de personalidade
As descrições a seguir se baseiam na categorização encontrada no CID-10. É
importante perceber que essas categorias não se excluem mutuamente: tipos de
personalidades mistas são mais frequentes do que um único tipo de
personalidade em forma pura. Os leitores do Reino Unido ou de países
influenciados pela psiquiatria britânica devem levar em conta uma fonte de
confusão perpetuada pela recente discussão sobre os aspectos legais e
administrativos em relação a “pessoas perigosas com grave transtorno de
personalidade” (Haddock et al., 2001; Mullen, 1999).
Na psicopatologia descritiva, este debate é quase que inteiramente voltado ao
transtorno de personalidade antissocial, mas os que tomam parte na discussão
tendem a ignorar outros tipos de personalidade e, desta maneira, causam
confusão na avaliação e classificação daqueles com outros transtornos de
personalidade, como transtorno de personalidade anancástica ou ansiosa. Isto
pode resultar em um tratamento inadequado ou falta de administração de
tratamento por profissionais de saúde mental e estigmatização desnecessária dos
pacientes.
Subtipo borderline
Este diagnóstico pode parecer confuso, pois tem sido usado de diferentes
maneiras: para descrever pacientes aparentemente neuróticos que se mostraram
psicóticos no curso de tratamento psicanalítico; pacientes com uma estrutura de
personalidade persistentemente instável e vulnerável; ou pacientes que “quase”
tiveram esquizofrenia (Anonymous, 1986).
Atualmente, considera-se que pelo menos cinco dos seguintes elementos
devem estar presentes para que o diagnóstico seja feito (DSM-V; Associação
Americana de Psiquiatria, 2013):
▪ Esforços frenéticos para evitar abandono real ou imaginado.
▪ Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos.
▪ Perturbação da identidade em áreas como autoimagem, identidade de gênero
ou objetivos de longo prazo.
▪ Impulsividade ou imprevisibilidade em áreas que são potencialmente
autoprejudiciais.
▪ Comportamento, gestos, ou ameaças de suicídio recorrentes ou
comportamento de automutilação.
▪ Instabilidade afetiva devido à acentuada reatividade de humor.
▪ Sentimentos crônicos de vazio.
▪ Raiva intensa e inadequada ou dificuldade para controlar a raiva.
▪ Ideação paranoide transitória e relacionada ou sintomas dissociativos graves.
Embora psiquiatras com inclinação psicodinâmica empreguem amplamente
esta categoria, parece não haver um fio fenomenológico que ligue os critérios
bastante diferentes exigidos para seu diagnóstico. Carrasco e Lecic-Tosevski
(2000) o descreveram como o mais controverso de todos os transtornos de
personalidade e “mais bem compreendido como uma síndrome heterogênea
manifestada por instabilidade afetiva egossintônica e impulsividade (descontrole
comportamental) e propensão a distorções cognitivo-perceptuais no contexto de
relações interpessoais cronicamente instáveis”.
Tanto fatores genéticos quanto adversidades na primeira infância estão
envolvidos em sua etiologia, com implicações nos circuitos neurais que regulam
o afeto, comportamento e cognição (Hooley et al., 2012).
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*
Nota da Revisão Técnica: O próprio autor mostrará na sequência do texto que esses termos não podem ser
usados sempre como sinônimos, mas neste capítulo “psicopata” e “antissocial” são utilizados sem distinção.
SEÇÃO 7
Diagnóstico
Psicopatologia e Diagnóstico
“Há gloria para você!” “Não sei o que você quer dizer com ‘glória’” Alice
disse. “Eu quis dizer que há um belo argumento infalível para você!”
“Mas ‘glória’ não significa ‘um belo argumento infalível’”, Alice objetou.
“Quando eu uso uma palavra”, disse Humpty Dumpty com certo
desprezo, “ela significa o que eu quiser que ela signifique... Nem mais
nem menos”.
Lewis Carroll (1872), Através do Espelho
Resumo
O diagnóstico permite a nomeação, definição e identificação de uma doença para
que ela possa se tornar objeto de consideração, comparação, explicação e
controle. Não resta dúvida, portanto, que o processo de diagnóstico é
fundamental para a prática da psiquiatria. A importância e relevância da
psicopatologia está justamente na possibilidade de identificar os fenômenos
anormais na entrevista clínica e, reforçados pela abordagem fenomenológica,
constituir as síndromes psiquiátricas. Em outras palavras, a psicopatologia é a
fundação sobre a qual a psiquiatria é construída.
Diagnóstico é muito mais que uma palavra rotulada sobre um paciente.
Palavras transmitem significado sobre os antecedentes do momento atual, sobre
outras condições semelhantes e, mais importante, sobre o que pode acontecer no
futuro e, portanto, o que deve ser feito a respeito. O diagnóstico é um meio de
comunicação entre médicos; ele deve abranger uma formulação completa
(Capítulo 2) e não apenas um termo usado de modo idiossincrático.
A importância de se fazer um diagnóstico na psiquiatria é a mesma de outras
especialidades médicas, mas as diferenças conceituais entre diferentes categorias
diagnósticas são geralmente maiores, já que transtornos mentais incluem
perturbação situacional, social, emocional e psicológica. Compreensivelmente, a
maior parte das doenças médicas que já foram descritas se baseiam em sinais e
sintomas, e isto vale também para a psiquiatria. Portanto, há uma associação
muito estreita entre observação e classificação de “sintomas na mente”
(Burton, 1621) e diagnóstico psiquiátrico.
A importância dada ao diagnóstico na psiquiatria se desenvolveu juntamente
com a introdução de tratamento eficaz para muitas condições. Houve uma
mudança substancial na atitude dos psiquiatras desde que Stengel escreveu, em
1959, que havia “uma insatisfação quase que geral com o estado da classificação
psiquiátrica, nacional e internacional”. Grande parte do progresso alcançado se
deve diretamente à aplicação mais cuidadosa da psicopatologia descritiva como
mostrou, por exemplo, Kendell (1975).
Schwartz e Wiggins (1987) demonstraram que para fazer um diagnóstico, um
médico experiente usa um mecanismo de tipificação: “Esta capacidade mais
fundamental de reconhecer vários transtornos mentais surge, não pelo domínio
de definições conceituais, e sim pelo contato direto com pacientes que
manifestam esses transtornos. Por meio desses contatos diretos, aprendemos as
formas típicas dos diversos transtornos mentais. Aprendemos o que é
característico de cada condição e como distinguir essas condições umas das
outras.” Este processo de “tipificação” busca reconhecer o que é emblemático de
diferentes condições, o que é incomum, porém representativo e o que é atípico e
tão incomum a ponto de ser pouco característico. Portanto, o exame detalhado
das funções psicopatológicas que compõem este texto é um pré-requisito, o
primeiro passo para o diagnóstico clínico na psiquiatria.
Os fenômenos anormais são a base do processo diagnóstico, que permite
nomear, definir e identificar uma doença, para que possa ser considerada,
comparada, explicada e controlada (Sadler, 2004). Na medicina geral, o
diagnóstico se baseia no processo clínico completo: anamnese detalhada, exame
do paciente e realização de investigações especiais adequadas. O mesmo se
aplica à psiquiatria. Mas devido às limitações do tema, este livro não aborda o
exame físico, nem os exames complementares (radiológicas, laboratoriais) ou
avaliações psicológicas (psicométricas).*
Esses argumentos nos apontam para o fato de que a medicina não é biologia
“objetiva, científica” aplicada, e sim carregada de valores, necessariamente. Isto
se aplica à perturbação de seu estado interno que os “pacientes” trazem como
“queixas” ao médico e também às queixas que o médico considera “sintomas”.
Para Sedgwick (1982), todas as doenças começam com estados de enfermidade
assim reconhecidos devido ao valor negativo que é ligado aos sintomas ou
queixas.
Psicose
▪ Transtornos orgânicos:
síndrome orgânica aguda
síndrome orgânica crônica (demência)
síndrome amnéstica
▪ Esquizofrenia:
transtornos esquizoafetivos
estados paranoides
▪ Transtornos afetivos:
mania
transtorno depressivo
Neuroses e transtornos relacionados
▪ Neuroses:
neurose depressiva
neurose de ansiedade
neurose fóbica
neurose obsessiva
histeria
síndrome de despersonalização
não específica e mista
▪ Transtornos de personalidade
▪ Transtornos de ajustamento
▪ Outros transtornos:
disfunção e desvios sexuais
dependência de álcool e drogas
síndromes diversas
fatores psicológicos associados a condições médicas
▪ Retardo mental
▪ Transtornos específicos à infância
(Baseado em Gelder et al., 1983, com permissão da Oxford University Press.)
FIGURA 20.1 Trecho do Exame do Estado Atual (extraído de Wing et al., 1974,
com permissão).
Tabela 20.1
Sintomas de primeira ordem da esquizofreniaa e sintomas do Exame
do Estado Atualb
Delirantes
Percepção delirante Delírio primário
Alucinações auditivas
Pensamentos audíveis Eco do pensamento ou comentário
Vozes brigando ou discutindo Vozes sobre o paciente
Vozes comentando os atos do paciente Vozes sobre o paciente
Distúrbio do pensamento: passividade do pensamento
Roubo do pensamento Bloqueio ou subtração do pensamento
Inserção do pensamento Inserção do pensamento
Irradiação de pensamentos (difusão do pensamento) Difusão ou compartilhamento de pensamentos
Experiências de passividade: delírio de controle
Passividade do afeto (sentimentos “fabricados”) Delírios de controle
Passividade do impulso (sentimentos “fabricados”) Delírios de controle
Passividade da vontade (atos de vontade “fabricados”) Delírios de controle
Passividade somática (influência exercida sobre o corpo) Delírios de penetração alienígena
a
Schneider (1958).
b
Wing et al. (1974).
Pós-escrito
O que é essencial para a psiquiatria é a necessidade de compreender o que o
paciente está vivendo. Eisenberg (1986) resumiu sucintamente as aspirações da
escola biológica de psiquiatria: “Para cada pensamento distorcido, há uma
molécula distorcida.” Ironicamente, se essa associação pudesse ser feita, ela faria
com que as habilidades fenomenológicas especializadas fossem mais e não
menos importantes, já que, do ponto de vista do paciente, provavelmente é mais
confortável que seus pensamentos sejam explorados e não suas moléculas. No
polo oposto da psiquiatria biológica, a psicodinâmica, também é dado muito
valor para a psicopatologia descritiva como ponto de partida para maior
compreensão.
Utilização da psicopatologia
Já foi dito que William de Ockham, que tão bravamente navegou as águas turvas
e perigosas da filosofia e das ciências medievais, era “um empirista que se
recusava a levar o conhecimento além dos limites da experiência verificável”
(Leff, 1958). Esta é a posição da psicopatologia descritiva: ter por objetivo não
tirar conclusões além da experiência subjetiva do paciente e sua exploração
criteriosa pelo entrevistador. Cada psiquiatra usa a fenomenologia até certo
ponto, mas ela é uma ferramenta muito mais útil se usada com rigor.
As quatro aplicações práticas da psicopatologia descritiva são, portanto, as
seguintes:
▪ Comunicação. Ela permite que os médicos falem e escrevam uns aos outros
sobre os problemas de seus pacientes de uma forma que ambos
compreendam. Isto certamente tem valor tanto na prática clínica quanto para
fins de pesquisa.
▪ Diagnóstico. O diagnóstico psiquiátrico se baseia consideravelmente na
psicopatologia, o que é totalmente adequado, principalmente até que haja
mais evidência da etiologia e patologia subjacente das diversas condições.
▪ Terapia. O método da empatia, que é o uso da fenomenologia para explorar a
experiência subjetiva do paciente, é uma forma racional de estabelecer um
relacionamento terapêutico. Ele permite que o terapeuta compreenda a
experiência subjetiva de seu paciente e dá a este segurança para confiar ainda
mais os segredos de seu ambiente interno ao terapeuta.
▪ A lei. A psicopatologia descritiva é a única maneira razoável de determinar o
que é transtorno mental e as diferenças entre os transtornos mentais na
perspectiva forense. O esclarecimento mútuo na área situada entre as leis e a
psiquiatria, onde atualmente há tanta incompreensão, ocorrerá a partir de um
reconhecimento mais claro do valor da psicopatologia por advogados e
médicos.
Os sintomas do paciente, seus sofrimentos, são um ponto de partida lógico
para a solidariedade, curiosidade e esforço terapêutico do médico. Começar de
qualquer outro ponto vira a medicina de cabeça pra baixo e, finalmente, chega-se
a um mundo de completa inversão, como o Erewhon de Samuel Butler (1872),
no qual “a doença de qualquer espécie é considerada (...) altamente criminosa e
imoral; e que eu podia, por ter pego um resfriado, ser levado a um magistrado e
aprisionado por tempo considerável (...)” e “se um homem falsifica um cheque,
ou ateia fogo à sua casa ou rouba uma pessoa com violência, ou faz quaisquer
dessas coisas consideradas crime em nosso próprio país, ele é levado a um
hospital e cuidadosamente tratado às custas do povo, ou se tinha situação boa,
deixa que todos os amigos saibam que está sofrendo de um grave ataque de
imoralidade (...) e esses vão visitá-lo com grande solicitude (...)”. Alguém pode
achar que isto é um exagero, mas os aspectos menos agradáveis disto certamente
parecem ter sido a situação de alguns dos dissidentes em custódia psiquiátrica,
na antiga República Socialista Soviética (Bloch e Reddaway, 1977).
O objetivo máximo da psiquiatria obviamente não é o conhecimento, mas sim
ajudar as pessoas a funcionarem e se sentirem melhor; por isso, a fenomenologia
é uma ferramenta terapêutica valiosa. Em uma situação ideal, ela oferece ao
paciente, na figura de seu médico, uma pessoa que compreende o que ele sente,
mas não tenta explicar as causas em termos teóricos, que podem não convencer o
paciente. O paciente frequentemente sente grande alívio quando o médico, ainda
que de forma hesitante, descreve seus sintomas ou a experiência interna que ele,
o paciente, considerava tão difícil de descrever.
Necessidade de pesquisa
A psicopatologia foi introduzida na psiquiatria antes da ênfase atual na
quantificação, nos levantamentos populacionais e no método experimental. Por
isso, é imperativo para o desenvolvimento da psicopatologia descritiva e, mais
importante, para o progresso contínuo da pesquisa em psiquiatria, que métodos
mais rigorosos de pesquisa sejam aplicados. A fenomenologia tem um lugar nas
pesquisas psiquiátricas que ainda não foi totalmente explorado. Ela forma uma
ponte lógica entre os achados de pesquisa que surgem da psicopatologia clínica
aplicada e o maior conhecimento da neuroanatomia e neurofisiologia, provindos
de métodos mais sofisticados de neuroimagem. Este é o rumo que a pesquisa na
psicopatologia descritiva deveria tomar.
A investigação da experiência do indivíduo precisa ser ligada a um
entendimento de sua biologia, assim como é importante avaliar como os
fenômenos normais são distribuídos dentro da população. As bases científicas da
psiquiatria incluem, além das ciências biológicas e comportamentais, a
epidemiologia e a fenomenologia. O reconhecimento de homogeneidade inclui
tanto os sintomas de um paciente individual quanto as características de uma
população afetada. O Exame do Estado Atual foi discutido anteriormente como
um método de quantificar informações psicopatológicas.
A introdução de métodos experimentais nas pesquisas sobre a psicopatologia
descritiva poderá envolver estudos de casos isolados nos quais variáveis que
foram avaliadas fenomenologicamente são alteradas. Por exemplo, Green e
Preston (1981) amplificaram o sussurro de um paciente esquizofrênico crônico
quando ele estava tendo uma alucinação auditiva. Ele sussurrava ao mesmo
tempo em que ouvia vozes, e o conteúdo de sua vocalização correspondia ao que
as vozes supostamente estavam dizendo, demonstrando, assim, a perturbação nos
limites do self encontradas na esquizofrenia. Esse tipo de investigação foi ainda
mais ampliada, e este livro contém diversos exemplos, como nos Capítulos 7 e 8.
Tem havido um perigo, no sentido de que alguns outros estudos psicológicos não
citados aqui usaram a fenomenologia de forma imprecisa e, portanto,
prejudicaram a importância de seus achados.
Um avanço interessante na pesquisa baseada na psicopatologia descritiva é a
aplicação de determinadas técnicas psicológicas a entidades fenomenológicas
específicas. Um exemplo disto é o uso da terapia cognitivo comportamental no
tratamento de alucinações auditivas persistentes (Bentall et al., 1994) e uma
aplicação mais geral de intervenções psicológicas na esquizofrenia (Haddock e
Lewis, 1996).
É importante que o progresso no tratamento de pacientes e na pesquisa que
avança nos aspectos biológicos da psiquiatria sejam auxiliados por diagnóstico
psiquiátrico preciso, baseado em fenomenologia confiável (isto é, capaz de
reprodução pelo mesmo entrevistador em um momento diferente, ou por
entrevistadores diferentes) e quantificável. Nunca as habilidades de um clínico
fenomenologista foram mais necessárias ou mais propensas a gerar resultados
benéficos tanto na compreensão quanto na terapia. A introdução de métodos
neuropsiquiátricos de investigação aprimorados aumenta a necessidade de
achados confiáveis da psicopatologia descritiva, em vez de torná-la obsoleta.
Jaspers (1959) comentou: “a fenomenologia, embora seja uma das pedras
angulares da psicopatologia, ainda está muito crua”. Isso ainda é verdade, mas
agora é o momento certo para que a psicopatologia descritiva se torne mais
sofisticada.
A fenomenologia leva a arte e a disciplina da observação do médico para
dentro da mente do paciente. David Hume (1804) descreveu a ausência de
exame físico na medicina em seu ensaio “Of Polygamy and Divorces”. Ele fala
sobre um médico levado ao palácio do Grand Signior em Constantinopla:
Não foi pouca a sua surpresa ao ver, olhando ao longo da galeria, muitos
braços nus destacando-se das laterais da sala. Ele não podia imaginar o
significado disto; até que lhe foi dito que aqueles braços pertenciam a
corpos, que ele deveria curar, sem saber qualquer coisa mais sobre eles
do que aquilo que pudesse depreender dos braços. Não lhe era
permitido fazer uma pergunta sobre a paciente ou mesmo sobre suas
atendentes, uma vez que ele poderia considerar necessário questionar
sobre circunstâncias acerca das quais as sutilezas do palácio não
permitem revelação. Assim, os médicos do Oriente fingem conhecer
todas as doenças a partir do pulso, como nossos charlatões na Europa
pretendem curar uma pessoa meramente pela visão de sua urina.
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*
Nota da Revisão Técnica: Na prática cotidiana, o diagnóstico em psiquiatria é essencialmente
fundamentado na anamnese e exame psíquico, sendo o exame físico e exames complementares utilizados
apenas para exclusão de outros diagnósticos orgânicos. Também por isso esses temas não são tratados aqui.
*
Nota da Revisão Técnica: Esta distinção não é tão clara na língua portuguesa, e mesmo em inglês os
termos disease (doença), illness (enfermidade) e disorder (transtorno) são utilizados muitas vezes sem o
rigor semântico sugerido aqui pelo autor.
Autoavaliação 1
Instruções
Cada item numerado é seguido por cinco opções com letras. Escolha UMA das
opções que seja a MELHOR para cada caso.
Capítulo 1
A psicopatologia descritiva:
a) É o estudo de mecanismos de defesa do ego que fundamenta a mudança de
comportamento
b) Está relacionada com a seleção, delimitação, diferenciação e descrição do
fenômeno psicológico anormal
c) É resultado direto da análise do conteúdo dos sonhos
d) É um método para descrever a interação entre os médicos e os pacientes
e) É um sistema introspectivo de compreensão e descrição de cognições
anormais
A empatia na psicopatologia descritiva é:
a) Alcançada através da exploração precisa, criteriosa, persistente e informada
da experiência do paciente
b) Uma técnica de comunicação que visa colocar o paciente à vontade
c) Metacomunicação
d) A base da compaixão pela situação do paciente
e) Um aspecto de transferência
O termo “compreensão” na psicopatologia:
a) Tem origem na teoria estrutural da psique de Freud
b) Descreve os mecanismos causais subjacentes às experiências anormais
c) Não tem nenhum limite na capacidade de descrever e compreender a
experiência
d) Tem origem no conceito de distinção entre as ciências e as ciências
humanas de Dilthey
e) Não tem espaço na psiquiatria contemporânea
Capítulo 2
As técnicas específicas da habilidade de comunicação incluem as seguintes,
EXCETO:
a) Afirmações resumidas
b) Ouvir com atenção
c) Afirmações de normalização
d) Perguntas ligadas
e) Perguntas abertas
Os aspectos da observação da aparência e do comportamento incluem as
seguintes, EXCETO:
a) Postura
b) Gestos
c) Fala
d) Expressão facial
e) Higiene pessoal
A avaliação do insight envolve os seguintes domínios, EXCETO:
a) Fluência da fala
b) Reconhecimento de alteração psicológica subjetiva
c) Atribuição da alteração à patologia
d) Reconhecimento da necessidade de tratamento
e) Adesão ao tratamento
Capítulo 3
O automatismo é caracterizado pelo que segue, EXCETO:
a) Comportamento involuntário
b) Comportamento inadequado às circunstâncias
c) Comportamento complexo e coordenado
d) Julgamento não prejudicado
e) Comportamento aparentemente intencional e dirigido
Mania à potu é uma síndrome caracterizada pelo que segue, EXCETO:
a) Insônia
b) Amnésia total ou parcial do comportamento aberrante
c) Consumo de álcool
d) Violência sem sentido
e) Sono prolongado
Delirium é uma condição caracterizada pelo que segue, EXCETO:
a) Início insidioso
b) Prejuízo global das funções cognitivas
c) Nível reduzido de consciência
d) Atenção prejudicada
e) Perturbação do ciclo sono-vigília
Capítulo 4
Os sonhos:
a) Ocorrem em sono não REM
b) Estão associados à paralisia
c) Envolvem uma acentuação da autoconsciência
d) Envolvem a consolidação das conexões espaciais e temporais
e) São sinônimos de terror noturno
A síndrome de Kleine-Levin é caracterizada por:
a) Hipersonia grave
b) Paralisia do sono
c) Latência REM curta
d) Alucinações Hipnagógicas
e) Cataplexia
A atenção:
a) É o foco da consciência em qualquer aspecto da experiência
b) É sinônimo de concentração
c) Envolve desinibição da memória
d) É diferente de vigilância
e) Depende exclusivamente de processos ativos
Capítulo 5
Sobre confabulação, as seguintes afirmações são VERDADEIRAS, EXCETO:
a) É uma falsa memória
b) Está associada à amnesia orgânica
c) Pode envolver a ornamentação de memórias reais
d) É tipicamente “fantástica” por natureza
e) A sugestionabilidade é uma característica proeminente
Memória de curto prazo:
a) É um sistema de capacidade ilimitada
b) Compreende um sistema de ação central
c) Envolve um “loop fonológico” que detém traços de memória por até cinco
minutos
d) Envolve um bloco de anotações visual-espacial que permite a manipulação
de informação visual
e) Não pode ser diferenciada da atenção
As funções da memória de longo prazo incluem as seguintes, EXCETO:
a) Registro
b) Retenção
c) Repressão
d) Recuperação
e) Evocação
Capítulo 6
As características formais de tempo incluem:
a) Duração
b) Sequência
c) Sincronia
d) Ritmo
e) Bidirecionalidade
As experiências de déjà vu são um exemplo de anormalidade do:
a) Ritmo
b) Senso de unicidade do tempo
c) Duração do tempo
d) Ordem Temporal
e) Direção do tempo
As características do transtorno afetivo sazonal incluem as seguintes, EXCETO:
a) Hipersonia
b) Insônia
c) Desejo por carboidratos
d) Comer em excesso
e) Letargia
Capítulo 7
As anormalidades dos aspectos da percepção visual incluem as seguintes,
EXCETO:
a) Palinopsia
b) Macropsia
c) Hemacropsia
d) Palinacusia
e) Acromatopsia
Na sinestesia:
a) A percepção de um objeto sensorial é apresentada em outra modalidade
sensorial
b) A percepção ocorre no espaço peripessoal
c) Ocorrem transformações de música para cor
d) Elaboração de Formas Constantes é uma característica
e) Sofrimento emocional é um acompanhamento comum
As características formais de imagens incluem as seguintes, EXCETO:
a) As imagens não são claramente delineadas
b) As imagens têm um caráter de objetividade
c) As imagens aparecem no espaço subjetivo interno
d) As imagens são criadas ativamente
e) As imagens se dissipam rapidamente e devem ser recriadas
Capítulo 8
Os seguintes são exemplos de delírios primários:
a) Delírios autóctones
b) Percepção delirante
c) Delírios persecutórios
d) Atmosfera delirante
e) Memória delirante
Delírios secundários são:
a) Secundários a outras experiências anormais
b) Compreensíveis sob o ponto de vista do contexto social do paciente
c) Não são mantidos com convicção
d) Suscetíveis a contra-argumentos
e) Transitórios
Delírios são exemplos de:
a) Perseveração
b) Prejuízo da consciência
c) Percepções falsas
d) Crenças falsas
e) Autoscopia
Capítulo 9
Os Sintomas de Primeira Ordem de Schneider incluem as seguintes, EXCETO:
a) Alucinações somáticas
b) Pensamentos auditivos
c) Experiências de passividade
d) Subtração do pensamento
e) Inserção do pensamento
Delírios de controle do pensamento incluem:
a) Difusão do pensamento
b) Eco do pensamento
c) Inserção do pensamento
d) Subtração do pensamento
e) Bloqueio do pensamento
O termo “circunstancialidade” se refere a:
a) Fuga de ideias
b) Perda da associação
c) Pensamento concreto
d) Pensamento superinclusivo
e) Impedimento do fluxo de pensamento por detalhe desnecessário
Capítulo 10
As anormalidades da linguagem reconhecidas na esquizofrenia incluem as
seguintes, EXCETO:
a) Falta de uso de conectores
b) Alogia
c) Neologismo
d) Associações de reverberação
e) Telegonia
A técnica Cloze é uma medida de:
a) Previsibilidade da fala
b) A proporção entre o número de palavras diferentes e o número total de
palavras
c) Conectores
d) Regras de proposição
e) Fluência da linguagem
Disfasia sensorial primária é:
a) A incapacidade de produzir nomes ou sons por vontade própria
b) Uma perturbação grave de palavras e sintaxes que resultam em discurso
inteligível
c) Um transtorno de discurso vago
d) A perda de compreensão do significado das palavras
e) A incapacidade de ler com compreensão
Capítulo 11
O insight na esquizofrenia tem se mostrado positivamente correlacionado com as
seguintes, EXCETO:
a) Probabilidade de depressão
b) Probabilidade de hospitalizações
c) Adesão ao tratamento
d) Resultados de longo prazo
e) Memória de trabalho
As medições válidas de insight devem levar em consideração as seguintes,
EXCETO:
a) O aspecto multidimensional do insight
b) A relação do insight com afeto
c) A influência de fatores culturais
d) A variação do insight através de diferentes sintomas domina
e) O valor agregado de observações comportamentais
O insight envolve todas as seguintes, EXCETO:
a) Consciência da alteração
b) Reconhecimento de doença nos outros
c) Atribuição da mudança à doença
d) Reconhecimento da necessidade de tratamento
e) Cooperação com o tratamento
Capítulo 12
A autoscopia pode envolver todas as seguintes, EXCETO:
a) Sentimento de presença
b) Falha em se perceber no espelho
c) Alucinação visual dos órgãos dentro do espaço corporal
d) Alucinação visual da cópia exata do “eu” na imagem do espelho
e) Projeção de um “eu” observador no espaço extrapessoal
A vitalidade do eu é:
a) Consciência de ser um agente
b) Consciência de unidade e coerência do self
c) Consciência de ser
d) Consciência da continuidade do self ao longo do tempo
e) Consciência dos limites do self
O delírio niilista é um exemplo de:
a) Perturbação do limite do ego
b) Perturbação da continuidade do self ao longo do tempo
c) Perturbação de atividade
d) Perturbação de vitalidade
e) Perturbação da unidade do self
Capítulo 13
As características definitivas da despersonalização incluem as seguintes,
EXCETO:
a) A experiência é agradável
b) Ocorre sensação de estranhamento
c) É uma experiência subjetiva
d) O insight é preservado
e) Pode afetar sensações corporais
Demonstrou-se que a despersonalização consiste de um número de componentes
incluindo as seguintes, EXCETO:
a) Alteração perceptual
b) Irrealidade dos arredores
c) Integração temporal
d) Irrealidade do self
e) Embotamento emocional
Sabe-se que a despersonalização é associada ao que segue, EXCETO:
a) LSD
b) Cannabis
c) Mescalina
d) Privação sensorial
e) Narcolepsia
Capítulo 14
Os determinantes individuais da hipocondria incluem as seguintes, EXCETO:
a) Sentimentos de repugnância
b) Preocupação com função corporal
c) Doença grave ou ferimento na infância
d) Medo de infecção
e) Fascinação com a internet
O distúrbio psicogênico em massa:
a) Ocorre geralmente em homens jovens
b) Frequentemente começa em uma criança com baixo status no grupo de
pares
c) Afeta mais gravemente as pessoas mais ajustadas
d) Os sintomas se espalham por transmissão da linha de visão
e) Não é afetada pela resposta da mídia
Os conceitos de “conversão” e “dissociação” sugerem que:
a) Sintomas físicos podem ter apenas uma base orgânica
b) A causa é inconsciente
c) Os sintomas não apresentam vantagem óbvia para o paciente
d) Os sintomas dificilmente são psicologicamente significativos
e) O paciente está representando um papel
Capítulo 15
A assimbolia à dor:
a) Apresenta-se com ausência de reação à dor
b) Está associada a um aumento da sensibilidade térmica
c) Está associada à hiperidrose
d) Apresenta-se com autoestimulação
e) Geralmente é um transtorno adquirido após lesões vasculares
A dor associada à psicopatologia é:
a) Mais bem localizada
b) Claramente delineada em distribuição neuroanatômica reconhecida
c) Fácil para o paciente descrever
d) Constante e permanente
e) Tende a ser provocada por agentes definidos
A dor central (síndrome talâmica):
a) Apresenta-se como uma sensação de corte
b) É ativada por estimulação cutânea
c) Apresenta-se como hipoalgesia
d) Não é afetada por mudanças de temperatura
e) Não se apresenta com alodinia
Capítulo 16
Alexitimia se refere:
a) À incapacidade de sentir prazer
b) A reagir a más notícias com risada
c) À ausência de unidade entre os diferentes modos de experimentar emoções
d) À incapacidade de verbalizar afeto e elaborar fantasia
e) À deficiência seletiva em interpretar corretamente expressões vocais de
emoções
As emoções básicas de Ekman incluem as seguintes, EXCETO:
a) Raiva
b) Repugnância
c) Medo
d) Ciúme
e) Tristeza
O humor é definido como:
a) Uma reação positiva ou negativa a uma experiência
b) Um estado interno ou predisposição prolongada e predominante
c) Uma experiência espontânea e transitória em resposta a uma experiência
d) Uma manifestação comportamental externa do estado interno
e) Uma atitude de avaliação em relação a um objeto
Capítulo 17
O subtipo respiratório do distúrbio do pânico é caracterizado pelas seguintes,
EXCETO:
a) Medo de morrer
b) Dores e desconforto torácicos
c) Respiração curta
d) Provocação por inalação de 35% de dióxido de carbono
e) Induzido por situações específicas
A Síndrome Geral de Adaptação de Selye inclui um dos seguintes estágios:
a) Choque e embotamento
b) Tristeza
c) Culpa e hostilidade
d) Reação de luta ou fuga
e) Resolução
Os elementos que constituem o fenômeno obsessivo-compulsivo incluem todas
as seguintes, EXCETO:
a) Aumento de sensação de responsabilidade até mesmo por eventos sobre os
quais o paciente não tem controle
b) Evitar gatilhos de obsessão
c) Medo do desastre que o paciente acredita que irá acontecer
d) Resistência
e) Aumento do desconforto após o ato compulsivo
Capítulo 18
O movimento anormal na catatonia inclui todas as seguintes, EXCETO:
a) Flexibilidade cérea
b) Travesseiro psicológico
c) Estereotipia
d) Cataplexia
e) Mitgehen
A motivação pode ser definida como:
a) Uma disposição inata que determina de quais objetos se ocupar no mundo
b) Um estado que inicia uma ação dirigida
c) Um esforço em direção a um objeto que é experimentado como um desejo
d) Um sistema de recompensa que rege e regula o comportamento
e) O poder de efetivar uma ação voluntária
A impulsividade envolve todas as seguintes, EXCETO:
a) Predisposição em direção a uma ação rápida, não planejada
b) Não levar em conta as consequências
c) Preferência por uma recompensa maior e tardia do que pequena porém
imediata
d) Perseverança do comportamento apesar de punição
e) Incapacidade de impedir resposta em um paradigma atencional de
desinibição de resposta
Capítulo 19
O transtorno de personalidade paranoide pode ser definido como um transtorno
em que:
a) Um indivíduo não confia nos outros e é excessivamente desconfiado
b) Existe uma falta de necessidade e dificuldade de estabelecer
relacionamentos
c) Uma falha na empatia é evidente
d) Ocorrem ataques incontroláveis de humor imoderado e descontrolado
e) Ocorre comportamento teatral e anseio por atenção
No Transtorno de Personalidade Dependente todas as seguintes características
ocorrem, EXCETO:
a) Falta de autoconfiança
b) Disposição perfeccionista
c) Anseio por apoio e incentivo alheio
d) Dificuldade em lidar com as demandas da vida
e) Presença de relacionamento dominante próximo
As seguintes condições têm se mostrado frequentemente associadas ao
transtorno de personalidade anancástica, EXCETO em:
a) Distúrbios alimentares
b) Hipocondria
c) Síndrome da dependência do álcool
d) Transtorno obsessivo compulsivo
e) Transtorno depressivo recorrente
Capítulo 20
O comportamento de doença é influenciado por todas seguintes, EXCETO:
a) A saliência da queixa
b) Nível de perturbação de papéis sociais
c) Compreensão cultural da seriedade da queixa
d) Demandas concorrentes sobre os recursos do paciente
e) A biologia subjacente da condição
Todos os seguintes indivíduos fizeram grandes contribuições para o nosso
entendimento da saúde e da doença, EXCETO:
a) Christopher Boorse
b) Aaron Beck
c) Peter Sedgwick
d) Talcott Parsons
e) David Mechanic
As aplicações práticas da psicopatologia incluem todas as seguintes, EXCETO:
a) Comunicação entre os médicos
b) Pesquisa da neurociência cognitiva
c) Diagnóstico
d) Nosologia
e) Terapia
Autoavaliação 2
Instruções
Cada conjunto de questões de associação consiste de uma lista de 10 opções
com letras (A – J), seguidas por quatro itens numerados. Para cada item
numerado, selecione a opção de letra adequada. Cada opção de letra deve
ser selecionada apenas uma vez.
Capítulos 3 e 4
A. Confusão
B. Coma
C. Delirium
D. Desorientação
E. Hipersonia
F. Insônia
G. Estado oniroide
H. Parassonia
I. Estupor
J. Estado crepuscular
1. Uma paciente de 75 anos é encontrada perambulando pelas ruas.
Durante o exame ela não sabe a data, dia, hora, estação em que está
ou seu próprio endereço.
2. Um paciente de 18 anos apresenta um histórico de diversos e
irresistíveis períodos de sonolência durante o dia. À noite, ele relata
momentos em que está completamente desperto, mas incapaz de
mover os membros.
3. A companheira de um paciente de 25 anos o acompanha na consulta.
Ela relata que ele fala enquanto dorme, perambula pelo quarto por
alguns minutos durante a noite e que ele não se lembra desses
incidentes.
4. Uma paciente de 47 anos com um histórico de depressão recorrente é
internada em estado de mutismo. Ela está imóvel, mas
completamente consciente e alerta. Ela é capaz de fazer contato
visual, mas não responde a nenhuma tentativa de comunicação
verbal.
Capítulo 5
A. Amnésia anterógrada
B. Confabulação
C. Criptamnésia
D. Fuga dissociativa
E. Falsa memória
F. Síndrome de Ganser
G. Perseveração
H. Pseudologia fantástica
I. Memória recuperada
J. Amnésia retrograda
1. Um paciente de 20 anos se envolveu em um acidente de trânsito. Ele
sofreu uma lesão na cabeça. Ele só conseguia lembrar de eventos que
aconteceram aproximadamente cinco minutos antes da colisão.
2. Um paciente de 20 anos se apresentou na prisão durante sua
detenção preventiva. Quando examinado, ele respondeu a perguntas
sobre a data e a capital da França com respostas aproximadas,
desorientação de tempo e lugar.
3. Um paciente de 45 anos se envolveu em um acidente no trabalho
onde sofreu uma grave lesão na cabeça e perdeu a consciência. Ao
recobrar a consciência, ele só conseguia lembrar de eventos que
aconteceram aproximadamente 36 horas depois do acidente.
4. Um paciente de 57 anos com um histórico estabelecido de prejuízo
da memória de curto prazo no contexto de abuso de álcool respondeu
a perguntas sobre o que ele havia feito durante o dia anterior com
relatos objetivamente falsos que incluíam adornos e intrusões de
ocasiões anteriores.
Capítulo 7
A. Imagem
B. Palinopsia
C. Macropsia
D. Micropsia
E. Paraprosopia
F. Alestesia
G. Pelopsia
H. Discromatopsia
I. Teleopsia
J. Metamorfosia
1. Um homem de 45 anos se apresenta com a queixa de que viu um
gato preto na esquina em que seu trajeto se juntava à rua principal.
Depois disso, pelas aproximadamente 72 horas seguintes, ele
continuou vendo o mesmo gato em diversas ocasiões e situações.
Qual é o termo para essa experiência?
2. Um homem de 19 anos com um diagnóstico recente de esquizofrenia
se queixava que os rostos das pessoas olhando para ele pareciam
repentinamente diferentes, como se estivessem fazendo caretas para
ele. Às vezes os rostos pareciam sinistros, desiguais e estranhos.
Qual é o termo para esta experiência?
3. Uma paciente de 25 anos com um histórico de convulsão focal
complexa se queixava de cenas e objetos se tornando menores antes
de uma convulsão. Como esta experiência é denominada?
4. Um paciente de 25 anos se queixava de que os objetos pareciam
muito distantes. Ele achou isto surpreendente e angustiante. Como
essa experiência é chamada?
Capítulo 8
A. Percepção delirante
B. Intuição delirante
C. Memória delirante
D. Atmosfera delirante
E. Delírio secundário
F. Ideia supervalorizada
G. Delírio de amor
H. Identificação incorreta delirante
I. Delírio de perseguição
J. Ciúme delirante
1. Um paciente de 20 anos foi internado em um hospital depois de
atacar seu pai. Ele relatou que seu pai havia sido substituído por um
“robô” que parecia exatamente como ele, mas que definitivamente
não era ele. Ele temia que este “robô” tivesse intenções malignas e
dizia que sua vida estava em perigo. Como essa crença é chamada?
2. Uma paciente de 40 anos se queixou que o sacerdote local a estava
mandando mensagens secretas, declarando seus sentimentos por ela.
Ela se queixava que embora ele fosse o pai de seus filhos, ele ainda
não havia ido visitá-los.
3. Uma paciente de 21 anos repentinamente se convenceu de que ela
era a legítima herdeira do trono da Noruega. Ela não era norueguesa
de nascença ou ancestralidade. Quando questionada sobre o porquê
de sua crença, ela respondeu que subitamente havia chegado a esta
descoberta. Ela negou qualquer outra experiência incomum.
4. Um paciente de 54 anos com um histórico de longa data de
esquizofrenia relatou alucinações auditivas verbais persistentes e de
conteúdo depreciativo e ameaçador. As vozes frequentemente lhe
diziam que ele merecia morrer e que os novos imigrantes em sua
região da Romênia iriam assassiná-lo. Ele acreditava firmemente que
corria risco com os imigrantes, principalmente os romenos. Esta
crença foi mantida com convicção e era incólume a contra-
argumentos.
Capítulo 9
A. Pensamento fantasioso
B. Pensamento imaginativo
C. Pensamento conceitual
D. Pensamento circunstancial
E. Bloqueio de pensamento
F. Pensamento concreto
G. Pensamento superinclusivo
H. Inserção do pensamento
I. Subtração do pensamento
J. Pensamento audível
1. Um estudante universitário de 21 anos descreveu passar muito tempo
pensando sobre o futuro, sobre a possibilidade de se tornar um
músico famoso, rico e de morar em uma mansão na Flórida.
2. Uma paciente de 25 anos, recentemente internada em um hospital, se
queixava de que seus pensamentos estavam sofrendo interferência.
Ela estava particularmente angustiada pela experiência de ter seus
pensamentos manipulados e tirados dela.
3. Em um teste, um paciente de 19 anos diagnosticado com
esquizofrenia respondeu à questão da seguinte maneira: “Quais dos
seguintes são partes essenciais de um quarto: paredes, cadeiras, piso,
janela?” “cadeiras”.
4. Uma paciente de 57 anos disse: “Comecei a me sentir tão alta que
amarrei um peso no meu tornozelo”.
Capítulo 10
1. Afonia
2. Logoclonia
3. Ecolalia
4. Paragramatismo
5. Disfasia nominal
6. Assindesia
7. Metonímia
8. Afasia de jargão
9. Disfasia receptiva
10. Neologismo
1. Um paciente destro, de 65 anos, que estava se recuperando de um
derrame do lado esquerdo, era incapaz de seguir o comando verbal:
“Pegue o papel com sua mão esquerda, dobre em dois e deixe no
chão”.
2. Um paciente de 25 anos disse: “Phlogons invadiram meus pulmões,
primeiro de lado e agora no meio”.
3. Um paciente de 64 anos com um longo histórico de esquizofrenia
respondeu à pergunta: “O que você tem no seu copo?”. “Um líquido
que apesar de não ter cor, se torna escuro no preparo.”
4. Um paciente de 72 anos com diagnóstico de doença de Parkinson
disse: “Eu estou come... come...., começando a pensar em mu...
mu..., mudar de casa”.
Capítulo 14
A. Misoplegia
B. Dismorfofobia
C. Palinaptia
D. Alestesia
E. Exomestesia
F. Microsomatognosia
G. Macrosomatognosia
H. Dismorfia muscular
I. Paraesquemazia
J. Hipoesquemazia
1. Um paciente de 23 anos se apresentou com a crença de que os seus
músculos eram muito pequenos, preocupação com a construção
corporal, exercícios excessivos e distúrbio alimentar.
2. Uma paciente de 56 anos se queixou de odiar sua mão esquerda.
Apesar de parecer normal, ela disse que a odiava e que sempre
desejou que fosse diferente em tamanho, forma e sensação.
3. Um paciente de 27 anos se apresentou com uma crença de longa data
de que seu rosto era feio, principalmente o seu nariz, que ele achava
muito largo e torto. Objetivamente seu nariz não era largo nem torto.
4. Uma paciente de 40 anos se apresentou com uma queixa de
continuar sentindo a escova de dentes em sua mão por até 15
minutos depois de tê-la usado.
Capítulo 16
A. Anedonia
B. Ecolalia
C. Hiperecplexia
D. Cenestestesia
E. Agnosia prosopoafetiva
F. Disprosódia emocional receptiva
G. Ciclotimia
H. Êxtase
I. Ecomimia
J. Alexitimia
1. Um paciente de 8 anos se apresentou com um histórico de reflexo de
susto aumentado, caracterizado por piscar de olhos, flexão da cabeça,
abdução dos antebraços, movimento do tronco e flexão dos joelhos
em resposta a ruídos altos.
2. Uma paciente de 40 anos com um histórico de depressão recorrente e
atualmente deprimida relatou a incapacidade de sentir prazer em seus
passatempos e interesses habituais, bem como uma incapacidade
geral de experimentar qualquer sentimento.
3. Um paciente de 36 anos se apresentou no hospital odontológico com
dor em ambos os lados do maxilar inferior, irradiando para a
articulação temporomandibular e pescoço. Em resposta à pergunta:
“E como você está se sentindo emocionalmente?”, ele pareceu
confuso e pediu para repetir a pergunta. Depois disse: “Meu corpo
está pesado e sinto dor por toda parte.”
4. Um paciente de 75 anos com diagnóstico de doença de Parkinson
fala com uma voz monótona. Somado a isto, ele parecia não
reconhecer o significado emocional das variações no tom da voz.
Capítulo 17
A. Ansiedade
B. Personalidade anancástica
C. Compulsão
D. Repulsa
E. Irritabilidade
F. Pânico
G. Fobia
H. Obsessão
I. Ruminação
J. Fobia social
1. Uma paciente de 32 anos se apresentou com episódios individuais de
medo intenso e extremo.
2. Uma paciente de 23 anos se apresentou com medo excessivo,
insegurança e evitação de situações sociais devido à possibilidade de
constrangimento ou humilhação.
3. Um estagiário de 27 anos se apresentou com um histórico de
pensamentos intrusivos e repetitivos sobre limpeza e higiene, que
estavam associados a aumento de tensão e preocupação, que ele
reconhecia serem seus próprios pensamentos. Ele tentou resistir a
esses pensamentos, mas descobriu que eles se tornavam ainda mais
urgentes e intrusivos.
4. Uma paciente de 32 anos, que tinha acabado de dar a luz, se
apresentou com um histórico de seis semanas de ataques de raiva,
sentimentos de hostilidade em relação ao marido, uma sensação
desagradável de angústia e impaciência com seus filhos.
Capítulo 18
A. Acatisia
B. Anedonia
C. Catatonia
D. Impulso
E. Impulsividade
F. Instinto
G. Síndrome de Kleine–Levin
H. Motivação
I. Anseio
J. Vontade
1. Um paciente de 21 anos recentemente diagnosticado com
esquizofrenia e tratado com risperidona se queixava de inquietude
motora, agitação interna e incapacidade de ficar parado.
2. Um paciente de 17 anos é levado ao seu clínico geral porque ele
recentemente havia reconhecido um problema com jogos, excessivo
consumo de álcool e abuso de cannabis. Somado a isso, ele é
avaliado como suscetível a perder a calma e sujeito a dizer coisas das
quais irá se arrepender depois.
3. Um paciente de 21 anos se apresentou com um histórico de
episódios de excesso de sono (chegando a 15 horas por dia), comida
em excesso, libido sexual aumentada, tristeza e crenças transitórias
de perseguição.
4. Uma paciente de 28 anos se apresentou pela primeira vez com
movimento acentuadamente desacelerado, ocasionalmente resultando
em imobilidade, posturas estranhas e mutismo. Durante o exame ela
permite que seus membros superiores sejam colocados em posições
desconfortáveis que ela consegue manter por longos períodos.
Autoavaliação 1: Respostas
Capítulo 1
A psicopatologia descritiva:
b) Está relacionada com a seleção, delimitação, diferenciação e descrição do
fenômeno psicológico anormal (p. 3)
A empatia na psicopatologia descritiva é:
a) Alcançada através da exploração precisa, criteriosa, persistente e informada
da experiência do paciente (p. 5)
O termo “compreensão” na psicopatologia:
d) Tem origem no conceito de distinção entre as ciências exatas e as ciências
humanas de Dilthey (p. 10)
Capítulo 2
As técnicas específicas da habilidade de comunicação incluem as seguintes,
EXCETO:
d) Perguntas ligadas (p. 25)
Os aspectos da observação da aparência e do comportamento incluem as
seguintes, EXCETO:
c) Fala (p. 26)
A avaliação do insight envolve os seguintes domínios, EXCETO:
a) Fluência da fala (p. 28)
Capítulo 3
O automatismo é caracterizado pelas seguintes, EXCETO:
d) Julgamento não prejudicado (p. 42)
Mania à potu é uma síndrome caracterizada pelas seguintes, EXCETO:
a) Insônia (p. 41)
Delirium é uma condição caracterizada pelas seguintes, EXCETO:
a) Início insidioso (p. 39)
Capítulo 4
Os sonhos:
b) Estão associados à paralisia (p. 53)
A síndrome de Kleine-Levin é caracterizada por:
a) Hipersonia grave (p. 52)
A atenção:
a) É o foco da consciência em qualquer aspecto da experiência (p. 45)
Capítulo 5
Sobre confabulação, as seguintes são VERDADEIRAS, EXCETO:
d) É tipicamente “fantástica” por natureza (p. 62)
Memória de curto prazo:
d) Envolve um bloco de anotações visual-espacial que permite a manipulação
de informação visual (p. 60)
As funções da memória de longo prazo incluem as seguintes, EXCETO:
c) Repressão (p. 69)
Capítulo 6
As características formais de tempo incluem:
e) Bidirecionalidade (p. 76)
As experiências de déjà vu são um exemplo de anormalidade do:
b) Senso de unicidade do tempo (p. 81)
As características do transtorno afetivo sazonal incluem as seguintes,
EXCETO:
b) Insônia (p. 84)
Capítulo 7
As anormalidades dos aspectos elementares da percepção visual incluem as
seguintes, EXCETO:
d) Palinacusia (p. 92)
Na sinestesia:
e) Sofrimento emocional é um acompanhamento comum (p. 89)
As características formais de imagens incluem as seguintes, EXCETO:
b) As imagens têm um caráter de objetividade (p. 88)
Capítulo 8
Os seguintes são exemplos de delírios primários:
c) Delírios persecutórios (p. 123)
Delírios secundários são:
a) Secundários a outras experiências anormais (p. 115)
Delírios são exemplos de:
d) Crenças falsas (p. 112)
Capítulo 9
Os Sintomas de Primeira Ordem de Schneider incluem as seguintes, EXCETO:
a) Alucinações somáticas (p. 151)
Delírios de controle do pensamento incluem:
b) Eco do pensamento (p. 152)
O termo “circunstancialidade” se refere a:
e) Impedimento do fluxo de pensamento por detalhe desnecessário (p. 144)
Capítulo 10
As anormalidades da linguagem reconhecidas na esquizofrenia incluem as
seguintes, EXCETO:
e) Telegonia (p. 166)
A técnica Cloze é uma medida de:
a) Previsibilidade da fala (p. 170)
Disfasia sensorial primária é:
d) A perda de compreensão do significado das palavras (p. 163)
Capítulo 11
O insight na esquizofrenia tem se mostrado positivamente correlacionado com as
seguintes, EXCETO:
b) A probabilidade de hospitalizações (p. 180)
As medições válidas do insight devem levar em consideração as seguintes,
EXCETO:
b) A relação do insight com afeto (p. 179)
O insight envolve todas as seguintes, EXCETO:
b) Reconhecimento de doença nos outros (p. 176)
Capítulo 12
A autoscopia pode envolver todas as seguintes, EXCETO:
c) Alucinação visual dos órgãos dentro do espaço corporal (p. 193)
A vitalidade do ego é:
c) Consciência de ser (p. 192)
O delírio niilista é um exemplo de:
d) Perturbação de vitalidade (p. 192)
Capítulo 13
As características definitivas da despersonalização incluem as seguintes,
EXCETO:
a) A experiência é agradável (p. 206)
Demonstrou-se que a despersonalização consiste de um número de
componentes incluindo as seguintes, EXCETO:
c) Integração temporal (p. 206)
A despersonalização é conhecida por estar associada aos seguintes, EXCETO:
e) Narcolepsia (p. 206)
Capítulo 14
Os determinantes individuais da hipocondria incluem as seguintes, EXCETO:
e) Fascinação com a internet (p.220)
O distúrbio psicogênico em massa:
d) Os sintomas se espalham por transmissão da linha de visão (p. 225)
Os conceitos de “conversão” e “dissociação” sugerem:
b) A causa é inconsciente (p. 224)
Capítulo 15
A assimbolia à dor:
a) Apresenta-se com ausência de reação à dor (p. 248)
A dor associada à psicopatologia é:
d) Constante e permanente (p. 247)
A dor central (síndrome talâmica):
b) É ativada por estimulação cutânea (p. 247)
Capítulo 16
Alexitimia se refere:
d) À incapacidade de verbalizar afeto e elaborar fantasia (p. 268)
As emoções básicas de Ekman incluem as seguintes, EXCETO:
d) Ciúme (p. 259)
O humor é definido como:
b) Um estado interno ou predisposição prolongada e predominante (p. 257)
Capítulo 17
O subtipo respiratório do distúrbio do pânico é caracterizado pelas seguintes,
EXCETO:
e) Induzido por situações específicas (p. 284)
A Síndrome Geral de Adaptação de Selye inclui um dos seguintes estágios:
d) Reação de luta ou fuga (p. 279)
Os elementos que constituem o fenômeno obsessivo-compulsivo incluem
todas as seguintes, EXCETO:
e) Aumento do desconforto após o ato compulsivo (p. 289)
Capítulo 18
O movimento anormal na catatonia inclui todas as seguintes, EXCETO:
d) Cataplexia (p. 304)
A motivação pode ser definida como:
d) Um sistema de recompensa que rege e regula o comportamento (p. 295)
A impulsividade envolve todas as seguintes, EXCETO:
c) Preferência por uma recompensa maior e tardia do que pequena porém
imediata (p. 300)
Capítulo 19
O transtorno de personalidade paranoide pode ser definido como um transtorno
em que:
a) Um indivíduo não confia nos outros e é excessivamente desconfiado (p.
320)
No Transtorno de Personalidade Dependente todas as seguintes características
ocorrem, EXCETO:
b) Disposição Perfeccionista (p. 326)
As seguintes condições têm se mostrado frequentemente associadas ao
transtorno de personalidade anancástica, EXCETO em:
c) Síndrome da dependência do álcool (p. 324)
Capítulo 20
O comportamento de doença é influenciado por todas seguintes, EXCETO:
e) A biologia subjacente da condição (p. 335)
Todos os seguintes indivíduos fizeram grandes contribuições para o nosso
entendimento da saúde e da doença, EXCETO:
b) Aaron Beck (conhecido entre os psiquiatras como criador da terapia
cognitiva comportamental e não uma autoridade no conceito de doença e
enfermidade)
As aplicações práticas da psicopatologia incluem todas as seguintes,
EXCETO:
d) Nosologia (p. 340)
Autoavaliação 2: Respostas
Capítulos 3 e 4
1. Uma paciente de 75 anos é encontrada perambulando pelas ruas. Durante o
exame ela não sabe a data, dia, hora, estação, onde ela está ou seu próprio
endereço.
D. Desorientação (p. 49)
2. Um paciente de 18 anos apresenta um histórico de diversos e irresistíveis
períodos de sonolência durante o dia. À noite, ele relata momentos em que
está completamente desperto, mas incapaz de mover seus membros.
E. Hipersonia (p. 52)
3. A companheira de um paciente de 25 anos o acompanha na consulta. Ela
relata que ele fala enquanto dorme, perambula pelo quarto por alguns
minutos durante a noite e que ele não se lembra desses incidentes.
H. Parassonia (p. 52)
4. Uma paciente de 47 anos com um histórico de depressão recorrente é
internada em estado de mutismo. Ela está imóvel, mas completamente
consciente e alerta. Ela é capaz de fazer contato visual, mas não responde a
nenhuma tentativa de comunicação verbal.
I. Estupor (p. 52)
Capítulo 5
1. Um paciente de 20 anos se envolveu em um acidente de trânsito. Ele sofreu
uma lesão na cabeça. Ele só conseguia lembrar de eventos que
aconteceram aproximadamente cinco minutos antes da colisão.
J. Amnésia retrógrada (p. 61)
2. Um paciente de 20 anos se apresentou na prisão durante sua detenção
preventiva. Quando examinado, ele respondeu a perguntas sobre a data e a
capital da França com respostas aproximadas, desorientação para o tempo
e o lugar.
F. Síndrome de Ganser (p. 68)
3. Um paciente de 45 anos se envolveu em um acidente no trabalho onde
sofreu uma grave lesão na cabeça e perdeu a consciência. Ao recobrar a
consciência, ele só conseguia lembrar de eventos que aconteceram
aproximadamente 36 horas depois do acidente.
A. Amnésia anterógrada (p. 61)
4. Um paciente de 57 anos com um histórico estabelecido de prejuízo da
memória de curto prazo no contexto de abuso de álcool respondeu a
perguntas sobre o que ele havia feito durante o dia anterior com relatos
objetivamente falsos que incluíam adornos e intrusões de ocasiões
anteriores.
B. Confabulação (p. 62)
Capítulo 7
1. Um homem de 45 anos se apresenta com a queixa de que viu um gato preto
na esquina em que seu trajeto se juntava à rua principal. Depois disso,
pelas aproximadamente 72 horas seguintes, ele continuou vendo o mesmo
gato em diversas ocasiões e situações. Qual é o termo para essa
experiência?
B. Palinopsia (p. 91)
2. Um homem de 19 anos com um diagnóstico recente de esquizofrenia se
queixava que os rostos das pessoas olhando para ele pareciam
repentinamente diferentes, como se estivessem fazendo caretas para ele. Às
vezes os rostos pareciam sinistros, desiguais e estranhos. Qual é o termo
para esta experiência?
E. Paraprosopia (p. 91)
3. Uma paciente de 25 anos com um histórico de convulsão focal complexa se
queixava de cenas e objetos se tornando menores antes de uma convulsão.
Como esta experiência é denominada?
D. Micropsia (p. 91)
4. Um paciente de 25 anos se queixava de que os objetos pareciam muito
distantes. Ele achou isto surpreendente e angustiante. Como essa
experiência é chamada?
G. Teleopsia (p. 92)
Capítulo 8
1. Um paciente de 20 anos foi internado em um hospital depois de atacar seu
pai. Ele relatou que seu pai havia sido substituído por um “robô” que
parecia exatamente como ele, mas que definitivamente não era ele. Ele
temia que este “robô” tivesse intenções malignas e dizia que sua vida
estava em perigo. Como essa crença é chamada?
H. Identificação delirante incorreta (p. 125)
2. Uma paciente de 40 anos se queixou que o sacerdote local estava lhe
mandando mensagens secretas, declarando seus sentimentos por ela. Ela se
queixava que embora ele fosse o pai de seus filhos, ele ainda não havia ido
visitá-los.
G. Delírio de amor (p. 124)
3. Uma paciente de 21 anos repentinamente se convenceu de que ela era a
legítima herdeira do trono da Noruega. Ela não era norueguesa de nascença
ou ancestralidade. Quando questionada sobre o porquê de sua crença, ela
respondeu que subitamente havia chegado a esta descoberta. Ela negou
qualquer outra experiência incomum.
B. Intuição delirante (p. 116)
4. Um paciente de 54 anos com um histórico de longa data de esquizofrenia
relatou alucinações auditivas verbais persistentes e de conteúdo
depreciativo e ameaçador. As vozes frequentemente lhe diziam que ele
merecia morrer e que os novos imigrantes em sua região da Romênia iriam
assassiná-lo. Ele acreditava firmemente que corria risco com os imigrantes,
principalmente os romenos. Esta crença foi mantida com convicção e era
incólume a contra-argumentos.
E. Delírio secundário (p. 115)
Capítulo 9
1. Um estudante universitário de 21 anos descreveu passar muito tempo
pensando sobre o futuro, sobre a possibilidade de se tornar um músico
famoso, rico e de morar em uma mansão na Flórida.
A. Pensamento fantasioso (p. 140)
2. Uma paciente de 25 anos, recentemente internada em um hospital, se
queixava de que seus pensamentos estavam sofrendo interferência. Ela
estava particularmente angustiada pela experiência de ter seus pensamentos
manipulados e tirados dela.
I. Difusão do pensamento (p. 155)
3. Em um teste, um paciente de 19 anos diagnosticado com esquizofrenia
respondeu à pergunta da seguinte maneira: “Quais dos seguintes são partes
essenciais de um quarto: paredes, cadeiras, piso, janela?” “Cadeiras”.
G. Pensamento superinclusivo (p. 149)
4. Uma paciente de 57 anos disse: “Eu comecei a me sentir tão alta que
amarrei um peso no meu tornozelo.”
F. Pensamento concreto (p. 148)
Capítulo 10
1. Um paciente destro, de 65 anos, que estava se recuperando de um derrame
do lado esquerdo, era incapaz de seguir o comando verbal: “Pegue o papel
com sua mão esquerda, dobre em dois e deixe no chão.”
I. Disfasia receptiva (p. 163)
2. Um paciente de 25 anos disse: “Phlogons invadiram meus pulmões,
primeiro de lado e agora no meio.”
J. Neologismo (p. 168)
3. Um paciente de 64 anos com um longo histórico de esquizofrenia
respondeu à questão: “O que você tem no seu copo?”. “Um líquido que
apesar de não ter cor, se torna escuro no preparo.”
G. Metonímia (p. 166)
4. Um paciente de 72 anos com diagnóstico de doença de Parkinson disse:
“Eu estou come... come..., começando a pensar em mu... mu..., mudar de
casa.”
B. Logoclonia (p. 161)
Capítulo 14
1. Um paciente de 23 anos se apresentou com a crença de que os seus
músculos eram muito pequenos, preocupação com a construção corporal,
exercícios excessivos e distúrbio alimentar.
H. Dismorfia muscular (p. 234)
2. Uma paciente de 56 anos se queixou de odiar sua mão esquerda. Apesar de
parecer normal, ela disse que a odiava e que sempre desejou que fosse
diferente em tamanho, forma e sensação.
A. Misoplegia (p. 236)
3. Um paciente de 27 anos se apresentou com uma crença de longa data de
que seu rosto era feio, principalmente o nariz, que ele pensava ser muito
largo e torto. Objetivamente seu nariz não era largo nem torto.
B. Dismorfofobia (p. 226)
4. Uma paciente de 40 anos se apresentou com uma queixa de que ela
continuava sentindo a sua escova de dentes na mão por até 15 minutos
depois de tê-la usado.
C. Palinaptia (p. 218)
Capítulo 16
1. Um paciente de 8 anos se apresentou com um histórico de reflexo de susto
aumentado, caracterizado por piscar de olhos, flexão da cabeça, abdução
dos antebraços, movimento do tronco e flexão dos joelhos em resposta a
ruídos altos.
C. Hiperecplexia (p. 265)
2. Uma paciente de 40 anos com um histórico de depressão recorrente e
atualmente deprimida relatou a incapacidade de sentir prazer em seus
passatempos e interesses habituais, bem como uma incapacidade geral em
experimentar qualquer sentimento.
A. Anedonia (p. 265)
3. Um paciente de 36 anos se apresentou no hospital odontológico com dor
em ambos os lados do maxilar inferior, irradiando para a articulação
temporomandibular e pescoço. Em resposta à pergunta: “E como você está
se sentindo emocionalmente?”, ele pareceu confuso e pediu para repetir a
pergunta. Depois disse: “Meu corpo está pesado e sinto dor por toda parte.”
J. Alexitimia (p. 268)
4. Um paciente de 75 anos com diagnóstico de doença de Parkinson fala com
uma voz monótona. Somado a isto, ele parecia não reconhecer o
significado emocional das variações no tom da voz.
F. Disprosódia emocional receptiva (p. 269)
Capítulo 17
1. Uma paciente de 32 anos se apresentou com episódios individuais de medo
intenso e extremo.
1. F. Pânico (p. 283)
2. Uma paciente de 23 anos se apresentou com medo excessivo, insegurança e
evitação de situações sociais devido à possibilidade de constrangimento ou
humilhação.
J. Fobia social (p. 285)
3. Um estagiário de 27 anos se apresentou com um histórico de pensamentos
intrusivos e repetitivos sobre limpeza e higiene, que estavam associados a
aumento de tensão e preocupação, que ele reconhecia serem seus próprios
pensamentos. Ele tentou resistir a esses pensamentos, mas descobriu que
eles se tornavam ainda mais urgentes e intrusivos.
H. Obsessão (p. 287)
4. Uma paciente de 32 anos, que tinha acabado de dar a luz, se apresentou
com um histórico de seis semanas de ataques de raiva, sentimentos de
hostilidade em relação ao marido, uma sensação desagradável de angústia
e impaciência com seus filhos.
E. Irritabilidade (p. 286)
Capítulo 18
1. Um paciente de 21 anos recentemente diagnosticado com esquizofrenia e
tratado com risperidona se queixava de inquietude motora, agitação interna
e incapacidade de ficar parado.
A. Acatisia (p. 308)
2. Um paciente de 17 anos é levado ao seu clínico geral porque ele
recentemente havia reconhecido um problema com jogos, excessivo
consumo de álcool e abuso de cannabis. Somado a isso, ele é avaliado
como suscetível a perder a calma e sujeito a dizer coisas das quais irá se
arrepender depois.
E. Impulsividade (p. 300)
3. Um paciente de 21 anos se apresentou com um histórico de episódios de
excesso de sono (chegando a 15 horas por dia), comida em excesso, libido
sexual aumentada, tristeza e crenças transitórias de perseguição.
G. Síndrome de Kleine–Levin (p. 296)
4. Uma paciente de 28 anos se apresentou pela primeira vez com movimento
acentuadamente desacelerado, ocasionalmente resultando em imobilidade,
posturas estranhas e mutismo. Durante o exame ela permite que seus
membros superiores sejam colocados em posições desconfortáveis que ela
consegue manter por longos períodos.
C. Catatonia (p. 305)
Índice
Os números de páginas seguidos por “f” indicam figuras, “t” indicam tabelas e
“q” indicam quadros.
A
Abstrações, 142
Abuso de álcool, delírios de ciúme e, 123–124
Abuso sexual, infância, lembranças recuperadas, 69
Acatafasia, 166
Acatisia, 308, 357, 366
associação à discinesia, 309
componentes subjetivos, 308q
Achatamento de sentimento, 266
Acidente cerebral vascular
identificação incorreta delirante, 126
no fenômeno de lapso de tempo, 80
Ácido lisérgico dietilamida (LSD)
aumento da sensação de dor, 247
despersonalização, 211
Acinesia, 304
Acinetopsia, 92
Acromatopsia, 92
Adesão ao tratamento e insight, 181
Adolescentes
obesidade, 230
transtorno de personalidade antissocial, 322
transtorno obsessivo-compulsivo, 290
Adrenalina (epinefrina), 258–259
Advertência, 305–306
Afasia, 162
motora, 164–165
visual subcortical, 162–163
Afeto
alteração no, delírios, 120
de desesperança, 67
definição de, 257–258
dificuldades na capacidade de verbalizar, 268
embotamento, 266
esquecimento seletivo associado, 66
percepção associada, 92
“Afirmação normalizadora”, 25
“Afirmações de resumo”, na avaliação do estado mental, 25
Afonia, 161
dissociativa, 161
Aggernaes, A
alucinações vs déficits de percepção, 96–97
consciência, estado perturbado da, 37
déficit no teste da realidade na esquizofrenia, 149
subjetividade e objetividade, 16
Agitação, 144, 303
na depressão, 303
na doença física, 303
Agnosia, 162
objeto visual, 87–88
prosopoafetiva, 269
Agnosia a objetos visuais, 87–88
Agnosia prosopoafetiva, 269
Agorafobia, 212, 284
Agrafia
com alexia, 164
pura, 164
Agramatismo, 168–169
Agressão, 300–301
diminuída, 302
excessiva, 302
impulso inato e resposta adquirida, 301
Agressividade
definição, 300–301
diminuída, 302
Akinesia, 307–308
Álcool
diminuição da sensação da dor, 248
estados de retirada, reflexo de susto exagerado, 265
fissura, 288–289
intoxicação patológica, 40–41
mania, 298–299
Alegria, estados elevados de, 263–264
Alerta, 45
aumentado, despersonalização, 211
Alestesia, 92–93, 218t
Alexia, 100, 162–163
com agrafia, 164
sem disgrafia, 162–163
Alexia agnósica sem disgrafia Agnósica, 162–163
Alexitimia, 351, 356, 361, 366
Alogia, 168
Alteração peniana, delírios hipocondríacos, 129
Alteração, teorias da despersonalização, 211
Alucinação, 91, 95–104
abordagem cognitiva para a investigação de, 96
autoscópica, 194
características, 95
cinestésicas, 102
como uma experiência sensorial normal, 95–96
conceitos de Rasmussen, 96–97
elementares, 97–98
extracampina, 105
fatores culturais, 97
funcional, 14, 106
ilusão pareidólica vs., 95
gustativa, 103
hápticas, 103
hídricas, 102
hipnagógicas, 51–52, 106
hipnopômpicas, 51, 106
liliputianas, 97
musical, 97–98
olfativas, 103
reflexas, 106
relação com percepções normais, 95–96
térmicas, 102
viscerais, 103
visuais, ver Alucinações visuais
Alucinações auditivas, 15, 97–99
atmosfera delirante se manifestando como, 118
condições associadas a, 98
elementar, 97–98
esquizofrenia, 341
no estado de avaliação mental, 26
persecutória, 98
Alucinações gustativas, 103
Alucinações táteis, 102
Alucinações visuais, 14–15, 100–101
alucinações auditivas e, 101
associada a estados orgânicos, 100
elementar, 100–101
Alucinose alcoólica crônica, 98
Ambiguidade, tolerância à, 99
Ambitendência, 305
Amnésia
anterógrada, 61
fuga dissociativa (histérica), 68
orgânica verdadeira, 61
psicogênica, 67
retrógrada, 61
unilateral, 197
Amnésia anterógrada, 354, 363
Amnésia retrógrada, 353, 363
Amnésia retrógrada, 61
Amok, 239t
Amor
delírios de, 124–125
estar “apaixonado”, 189
Ampliação nos limites da categoria Limite da categoria, ampliação do, 149
Amputado/amputação
imagem corporal, 234
membro fantasma, 237, 250
sofrimento, 274
Analgesia psicológica, 246
Análise da proposição, 171
Análise sintática, 171
Análise subjetiva, 16
Anástrofe, 120
Anedonia, 261–262, 270, 296, 356, 365
na depressão, 298
Angst, 280–281
Anorexia, 297
Anorexia nervosa, 230–233
Anorexia reversa, 234
Anormalidade, 9–10
tipológica, 10
Anormalidades psicogênicas, no transtorno da linguagem esquizofrênica, 169–
170
Anosognosia, 178–179, 236
Anosognosia super valorização, 237
Anseio, não direcional, 294
Ansiedade, 280–286
aguda, 282
associada ao estresse, 280
autodescrição, 283
características da, 280–281
despersonalização, 212
em outros transtornos, 286
flutuação livre, 280–281
geral, 283
hipocondria, 222–223
normal, 280
patológica, 280
sintomas, 280–281, 281q
modelo tridimensional, 282f
situacional, 283
Antidepressivos tricíclicos, despersonalização causada por, 211
Aparência do paciente, observação da, 26, 345, 359
Apatia, da depressão, 274
Aperto de mão, 311
Apetite, anormalidades do, 297q
‘centro do apetite’, 296–297
excessivo, 297
na esquizofrenia, 297–298
perda (anorexia), 297
Apneia do sono obstrutiva, 52
Apofania, 119
Apreensão (perda da compreensão intelectual), 49
Área de Broca, 164
Área de Wernicke, 164
déficit da, 163
Argyle, M., comunicação não verbal, 190–191
Aspectos situacionais, despersonalização, 209–210
Aspectos sociais, despersonalização, 209–210
Asquemazia, 235–236
Assimbolia à dor (Pain asymbolia), 248, 350, 361
adquirida, 248
Assindesia, 149, 166
Associações
constelação, 167–168
modelos baseados em Jaspers, 142–143, 142f
perda da continuidade dos pensamentos, 166
psicose, 130
reverberantes, 168
Astasia-abasia, 225, 225f
Astenopia, 223–224
Ataques de pânico, 283–284
Atenção, 47–49, 346, 359
alteração do grau da, 47–48
alternante, 46, 46t
capacidade, 46, 46t
déficit, 48
dividida, 46, 46t
focada/seletiva, 46, 46t
involuntária, 45
mantida (vigilância), 46, 46t
na percepção da dor, 248
psicose, 48–49
redução da, 46
voluntária, 45
Atenção, transtorno de déficit/hiperatividade, 303–304
Atento, 26
Atividade
fisiológica, anormalidade, 268–269
na avaliação da personalidade, 24
transtorno da, 192–193
Atividade excessiva, na mania, 298
Atividade pessoal, transtornos de, 154–155
Atmosfera
delirante, 117–118
ideias que surgem da, 114
Ato de vontade, 294
Atos agressivos, 300–302
Atos impulsivos, 294, 299–302
exemplos, 301
inibições voluntárias, 300
violentos, 300
Atrabilioso, 220
Atribuição
delírio, 122
hipocondria, 221
Aura epilética, 41
Aura epilética, 41
Autenticidade no transtorno de personalidade histriônica, falta de, 323–324
Autoagressão, 248
Autoconceito, 188–189
Autóctones, delírios, 115–116
Autóctones, ideias, 114
Autoengano, 141
Autoestima, sentimento de perda da, 207–208
Autoginefilia, 230
Auto-hipnose, 55
Autoimagem
e comunicação não verbal, 189–191
núcleo central, 190
Automatismo, 41–42, 346, 359
epilético, 41, 52–53
são, 53
Automonitoramento, falha no, 150
Autopercepção, despersonalização, relação, 207
“Autorreferente”, 133
Autoscopia (heautoscopia), 105, 193–195, 349, 361
Autoscopia propriamente dita, 194
Avaliação do estado cognitivo Estado cognitivo, avaliação do, 28
Avaliações objetivas, 16
Aversão, 306
B
Belle indifference, 226
Bem-estar, perda, 266
Berner, P., atmosfera delirante, 117–118
Berrios, G.E
delírios, 112
pseudoalucinações, 104
Bicefalia perceptiva delirante, 195–196
“Bile negra”, 266
Bloco de notas visuoespacial, memória de curto-prazo, 60
Bulimia, 297
Bulimia nervosa, 233–234
Busca ansiosa, no luto, 274
Busca, estágio, após luto, 94–95
C
Cabeça fantasma, 195–196
Cannabis, despersonalização, 211
Cannon-Bard, teoria da emoção, 258–259
Capacidade de resposta, 45
Capacidade, para insight, 176
Caretas faciais, 305
Cataplexia, 52
Catatonia, 304–305, 310, 351, 357, 362, 366
letal (perniciosa), 305
Catatonia periódica, 305
Catego, classificação dos sintomas, 337–338
Catexia corporal, 189
Cegueira
cortical, 100, 178–179
imagem corporal, 234
palavra, 162–163
Cegueira para as palavras, 162–163
Cenestestesia, 267
Cenestopáticos, estados, 267
Censura social, 191
chavões, ver Palavras/expressões chavão
Chomsky, teoria da linguagem, 160–161
Cibercondria, 222
Ciclo de sono e vigília, avanço de fase, 82–83
Ciclo menstrual, 83
Ciclos mensais, 83
Ciclotimia, 326–327
Ciclotímica, personalidade, 258
CID-10
delirium, 39
personalidade, 319–320
transtornos delirantes, 128–129
transtornos persistentes de humor, 326
CID-9, transtornos persistentes de humor, 326
Circunstancialidade, 348, 360
Ciúme mórbido, 123–124, 320–321
Cocaína, vício, 130
Codificação verbal, 190
Cognição
emoções, relação, 259, 269
nos delírios, 121–122
relação com a linguagem, 160
Coid, J., mania à potu, componentes, 41
Colecionismo, esquizofrenia, 311
Colostomia, imagem corporal após, 238
Coma, 39
“Como se”, sentimento de, 205
Compaixão, 5
Complexos carregados de afeto, 120
Comportamento
Agressivo, 322 ver comportamentos agressivos antissociais
característica, personalidade revelada pela, 23
desviante, devido a delírios, 113
distúrbios, 310–312
esquizofrenia, 310–311
durante automatismo, 41
exploratórias, anormalidades, 296, 297q
mal-adaptativo, 299–300
na psicopatologia descritiva, 4, 4f
observação, 5–6, 26, 345, 359
relacionamento entre necessidade e instinto, 294f
violento, ver Comportamentos violentos (violência)
Comportamento antissocial, 322
Comportamento de auto flagelação, 248, 249q
Comportamento de doença, 222, 352, 362
Comportamento de ensaio e época da vida, 84f
Comportamento exploratório, anormalidades, 296, 297q
Comportamento histriônico na depressão, 271
estado de êxtase, 263–264
Comportamento impulsivo, 300
na esquizofrenia, 310
psicopatologia, 302
transtorno de personalidade emocionalmente instável, 322–323
Comportamento na consulta, hipocondria (Comportamento de consulta,
hipocondria, 221
Comportamento referente à mão, 311
Comportamentos agressivos
em transtorno de personalidade emocionalmente instável, 322–323
na esquizofrenia, 302
psicopatologia, 302
transtorno psiquiátrico, 302
Comportamentos violentos (violência)
associados a delírios, 132
ciúme mórbido, 124
depois de despersonalização, 210
durante automatismo, 42
estado crepuscular e, 42
irritabilidade levando a, 287
transtorno de personalidade emocionalmente instável, 322–323
Compreensão
da saúde e doença do indivíduo, 352, 362
dos sintomas do paciente, 10–12
estática e genética, 11q
explicação vs., 11t
na psicopatologia, 359
na psicopatologia descritiva, 3–4, 345
Compreensão da fala, distúrbios da, 163t
Compulsões, avaliação das, 28
Compulsões/compulsivos
comportamentos, 287–290
sem falta de insight, 288
Comunicação
aplicação, 340
das emoções, 260
envolvendo fenomenologia, 10
habilidades e técnicas, 345, 359
exame do estado mental, 25q
para a compreensão dos sintomas do paciente, 10
psicopatologia descritiva
Comunicação não verbal, 260
autoimagem e, 189–191
avaliação, 26–27
Conceito corporal, 189
Concentração, 46–49
Conclusões precipitadas, estilo, 121–122
Condensação do pensamento, 147
Conectores (ligações), 169
Conexões significativas, 15
delírios e, 114
Confabulação, 62–64, 346, 354, 359, 363
características, 63b
de constrangimento, 62–63
esquizofrenia, 63–64
fantástica, 63
conteúdo persecutório, 63–64
momentâneo, 63
social, 63
Conflito de interesses, 20–21
Confusão, 40
Confusão psicótica, 143
Conhecimento, lembrança, vs., 61–62
Consciência, 34
alterações qualitativas da, 39–40
aumentada, 37
definição/significado, 34
dimensões, 36
diminuição quantitativa da, 38–39
distúrbio, 33–43
do self, 36
flutuação da, 40
intencional, 34
limite no número de itens na, 35
níveis (estágios) diminuídos da, 38f
patologia da, 37–42
sistema de excitação, 37f
turvação da, 36, 38
Consciência, 46–49
aumentada, 37
da experiência, 36
da personalidade, labilidade, 197
delirante, 119
interna, 191–192
variações no nível, 47f
Consciência corporal, 191
transtorno do, 217–244
classificação do, 218, 218t
sensorial, 234–238
Consolidação, origem do delírio, 120
Constantes de forma, 90
Constelação
associações, 143
sintomas, 336
Constrição na ansiedade, 280–281
Conteúdo
da experiência, 14–15
dos delírios, 131
hipocondríaco, 15
transtorno, no ciúme mórbido, 122
Contexto social, de emoções, anormalidades, 260b
Continuidade, sensação de, 197
Conversão, 67–68, 224–226, 361
conceito, 350
Conversão histérica, 140
Coprolalia, 309
Coreia de Huntington, 309
Cor, perda da visão de, 100
Corpo
experiência, 234
fisicalidade do, 217–218
insatisfação, bulimia nervosa, 233
tamanho, distúrbios do, 230–234
transtornos das características físicas/valor emocional do, 226–234
Corpo percebido, 189
Cortisol, nível de, alterações na depressão, 83
Crenças, 111–113
avaliação, 27–28
cultura, 129
delirante, 112
falsa, 111
como delírios, 131
não delirante, 113
religioso, 120, ver também Crenças simbólicas religiosas
sobre o corpo, distúrbio, 219–223, 219f
Crenças delirantes expansivas (grandiosas), 126
Crenças religiosas, delírios religiosos vs., 126–127
Crianças
ferimentos não acidentais, 322
transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, 303–304
transtorno de personalidade dissocial, 322
Criativa, inadequada e agressiva, psicopatia, 322
Criminosa, psicopatia, 319
Criptamnésia, 67
Criptografia, 162
Criptolalia, 162
Cronologia, transtorno da, 78
Culpa
delírios de, 127
sentimentos de
na depressão, 271
transtorno alimentar, 234
Cutting, J
alucinações, 95
patologia das emoções, 260
D
Dano cerebral adquirido, de identificação incorreta delirante, 126
Déficit de aprendizagem, ansiedade em, 289–290
Déjà vu, 62, 81, 209, 347, 360
estimulação cerebral, 81
lobo temporal, transtorno, 65
na epilepsia do lobo temporal, 81
Delirante, atmosfera, 117–118
Delirante, ciúme, 123–124
Delirante, consciência, 119
Delirante, erro de interpretação, 117
Delirante, evidência, 128
Delirante, falsificação retrospectiva, 66–67
Delirante, humor, 118
Delirante, ideia, 116
Delirante, identificação incorreta, 125–126, 354, 364
Delirante, intuição, 354, 364
Delirante, memória, 66–67, 118–119
falsificação retrospectiva delirante vs., 66–67
Delirante, percepção, 120, 153
Delirante, percepção, 14–15, 116–117
exemplos, 153
Delirante, significação, 119
Delirante, transtorno, 128–129
Delírios, 111–137, 348, 360
ação reativa, 132
a realidade dos, 131
atribuição, 122
autóctone, 115–116
avaliação do, 27–28
a visão do paciente do, 27–28
características, 112
cognição e raciocínio, 121–122
como falsa crença, 131
como falso julgamento, 111
comportamento desviante, devido ao, 113
comportamento violento em resposta ao, 132
conteúdo, 122–131
de amor, 124–125, 354, 364
de conteúdo sexual, 124
de controle, 28, 103, 150–152, 154–155, 338–339
do pensamento, 348, 360
envolvimento na internet, 123
de culpa, 127
de desorientação, 50
déficit, tema, 121
definição, 112–113
de forças alienígenas controladoras, 338–339
de infestação, 129–130
de infidelidade, 123–124
de integração, 336–337
de menos valia, 127
de pobreza, 127–128
de referência, 133
dismórfico, 129
envolvimento em limpeza, 130
fatores envolvidos no, 120q
grandiosos, 126
ideias deliroides vs., 115
ideia supervalorizada vs., 132
insanidade comunicada, 130–131
mimetizam desorientação, 50
na hipocondria, 223
niilista, 127–128, 349, 361
origens do, 119–122
fatores envolvidos, 119
modelo de Garety, 121–122
teorias alemãs, 119–120
paranoide, 133
persecutórios, 123
perturbação, 148
primário, 113–115, 338–339, 347, 360
tipos, 115–119
religioso, 126–127
resposta afetiva, 113
retrospectivo, 118
secundário, ver Ideias deliroides (delírios secundários)
significado, 112–113
significado na vida, 122
tema motivacional, 121
Delírios dismórficos, 129
Delírios grandiosos, 126
Delírios hipocondríacos, 128–130
Delírios niilistas, 127–128, 192, 349
Delírios primários, 148, 152, 347
Delírios religiosos, 126–127
Delirium, 39, 346, 359
definição, 39
ocupacional, 42
Delirium tremens, alucinação visual, 100, 102f
Deliroides, ideias (delírios secundários), 133, 140, 148, 222–223, 348, 355, 360,
364
Demência
desorientação, 49–50
identificação incorreta delirante, 126
Dependência passiva, 324
Depressão, 144, 257–258, 270, 274
agitação, 303
alterações no ritmo circadiano, 83
anedonia, 298
atípica, 250
avaliação clínica, 13
das emoções, 265
delírios de culpa e menos valia, 127
de pobreza, 127–128
hipocondríaco, 128
persecutório, 123
religioso, 126–127
despersonalização, 212
distúrbio do ritmo biológico na, 82–83
experiência central (psicológica/física), 270–271
gráfico do humor, 261f
pensamentos suicidas, 272–273
perda, 273–275
postura, 312
prejuízo da memória, 65
prejuízo na motivação, 298
preocupação com pensamentos deprimidos, 48
reativa, transtorno de personalidade histriônica, 323–324
retardo, 298, 304
sentimentos vitais, 247
sintomas, frequência, 272t
sorridente, 271
transtornos da passagem do tempo, 78
Depressio sine depressione, 270
Desafetização, 209, 261
Desatenção, crianças, 46–47
Desatenção esquizofrênica, 150–151
Descarrilamento, pensamento, 145, 146f, 167
Desempenho intelectual e insight, 180
Desinibição, 300
Desorientação, 49–50, 353, 363
delírios que mimetizam, 49–50
dissociação, 50
histérica, 50
identidade, 49
no tempo, 49, 77
para pessoas, 49
quanto à idade, 77–78
situacional, 49
Despersonalização, 192, 205–215, 350, 361
alteração da consciência, 211
alteração de humor na, 208
ansiedade, 212
aspectos sociais e situacionais, 209–210
associada à dissociação, 210
avaliação, 28
características definitivas de, 349, 361
componentes, 206q, 350, 361
considerações, 212–213
definições/descrições, 205–210
desrealização com, 207
devido a drogas, 211
diminuição da intensidade, 261
episódios auto-induzidos, 210
experiência subjetiva, 208–210
fadiga, 207
início, 210
maníaco-depressivo, 212
na depressão, 212
personalidade, 209
relação da auto percepção, 207
resposta funcional pré-formada, 210–211
sensação do tempo distorcido, 209
sintoma, 207
teoria psicanalítica, 212
teorias orgânicas e psicológicas, 210–211
tontura, 212
Despersonalização, síndrome, 129, 208, 212
ligado à cultura, koro, 209
sintomas, 208
Desrealização, 92, 208
com despersonalização, 207
perda da sensação de tempo, 81
Dessomatização, 209
Desvantagem biológica, 8–9
Devaneio maternal, 141
Devaneios, 63
avaliação de personalidade, 24
ilusão pareidólicas vs., 95
Diabete insípido, nefrogênico, 297
Diagnóstico psiquiátrico, 21
aplicação da psicopatologia descritiva, 340
definição, 333
hierárquico, 336–337
importância da, 333
pós-escrito, 339–342
Dicas para evocação de memória, 61
Diferença de fuso horário, 82
Disartria, 161
Discinesia Faciobucolinguomastigatória, 309
Discinesia, tardia, associação à acatisia, 309
Discromatopsia, 92
Disfasia, 162
condução, 163
jargão, 164
motora, 162
primária, 164
transcortical, 164
nominal, 164
receptiva, 163
sensorial, 162–164
primária, 163
transcortical, 164
sintática, 163
subcortical auditiva, 162
tipos, 163t
Disfasia receptiva, 355, 365
Disfasia sensorial primária, 348, 360
Disfonia, 161
Disforia, emocional, 261
Disfunção moral, 322
Dislexia, 100
Dismorfia muscular, 234, 356, 365
Dismorfofobia, 133, 218, 218t, 219f, 226–228, 356, 365
anormalidades, 229
queixa, 228
Disprosódia
emocional expressiva, 269–270
emocional receptiva, 269–270, 356, 366
Disprosódia emocional expressiva, 269–270
Disprosódia emocional receptiva, 269–270, 356, 366
Dissociação, 67–68, 140, 223–226, 361
conceito, 350
desorientação, 50
despersonalização, associação, 210
na ansiedade, 281
Distanciamento emocional, no transtorno de personalidade esquizoide, 321
Distimia, 327
Distonia, 308–309
Distonia aguda, reações, 308–309
Distorções sensoriais, 91–94
Distração, redução da alucinação auditiva, 99
Distraibilidade, 47
Distúrbio psicogênico em massa, 225–226, 350, 361
Doença psiquiátrica, 221
Doenças cerebrais orgânicas, agudas em fenômeno de lapso de tempo, 80
Doenças, definição, 8–9
Doença sociogênica em massa, 225–226
Doppelgänger, 194
Dor
anseio, 248
aspectos fenomenológicos da, 245
associada à psicopatologia, 361
atenção e, 245–246
central (síndrome talâmica), 247–248, 350, 361
definição, 245
depressão e, 249
e sensação aumentada, 247–248
e sofrimento, 252
experiência subjetiva, 252
facial atípica, 250
limiar de, 245–246
não orgânica, classificação da, 249
no transtorno psiquiátrico, 247
orgânica ou psicogênica, 245–247
percepção, 245
perda e, 250
psicopatologia, 245–254, 350
reincidentes, 248–249
sem causa orgânica, 248–252
sensação diminuída, 248
sistema nervoso central, modulação da, 246
teoria do controle do portão, 245–246
transmissão da, 245–246
Dor atípica no rosto, 250
Dor facial atípica, 250
Dor facial psicogênica, 250
dor orgânica vs., 245–247
Dor orgânica, dor psicogênica vs., 245–247
Dosulepina (dotiepina), 250–251
Drogas
antipsicóticas, efeitos colaterais extrapiramidais, 307–309, 308q
devido a alucinações visuais, 101
devido à despersonalização, 211
Drogas antipsicóticas, efeitos colaterais extrapiramidais, 308–309, 308b
Drogas psicomiméticas, alucinações visuais provocadas por, 101
DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, quarta
edição)
delirium, 39
transtornos de personalidade, 319, 320t
Dualidade mente-cérebro, 17
Dualismo cartesiano, 17
E
Ecolalia, 161
Ecopraxia, 305–306
Ego, 187–188
conceito de Freud, 188
distúrbios, esquizofrenia, 212
pluralidade de conceitos, 187–188
Ego, atividade, 192–193
Ego, consistência, 193–197
Ego, demarcação, 197–201
Ego, limites
alteração no, êxtase, 264
perda, 200
Ego, mecanismos de defesa, 4, 141
Ego, vitalidade, 192, 349, 361
Eletroconvulsoterapia (ECT), perturbação da memória, 64–65
Embotamento, do afeto, 266
Emoções
alterações na intensidade, 261–265
alterações no timing, duração e adequação à situação, 265–266
anormalidades da adequação, 266–268
anormalidades da avaliação, 269–270
anormalidades da expressão, 266–268
cognição, relacionamento, 269
comunicação não verbal, 260
definição, 257
exacerbação, 262–264
expressão superficial, 265
influências culturais, 259
definição, 257–258
labilidade, transtorno de personalidade histriônica, 323–323–324
livremente flutuante, 268
na psiquiatria, 258
patológica
alterações, 261–268
classificação, 260
sensações corporais associadas a, 266–267
teorias, 258–259
tipos básicos, 259
alterações patológicas, 260
transtornos das, 257–278
Emoções básicas de Ekman, 351, 362
Emoções livremente flutuantes, 268
Empatia, 12–14, 359
avaliação da experiência subjetiva, 5
compreensão de significado, 11–12
falta de, transtorno de personalidade esquizoide, 321
ferramenta terapêutica, 14
genética, 114
método, 13, 26
na psicopatologia descritiva, 3–5, 345
Empreendedorismo, 299–300
Encaminhamento
psiquiátrico, impulsivo e agressivo, comportamento, 302
psiquiátrico, natureza e tipo de, 22
Endorfinas, 246
Enfermidade, 8–9
comportamento, 335
física, na ansiedade, 286
medo, 285
perda do bem-estar, 266
pessoal, 336–337
Entrevistas
avaliação da fala e do pensamento, 27
curta, 21
Epifenômenos, 5
Epilepsia
flutuação da consciência, 39–40
gelástica, 265
identificação incorreta delirante, 126
no êxtase, 263–264
riso/choro patológico na, 265
Epilepsia de lobo temporal
alucinação visual, 100–101
déjà vu, 62, 81
estado crepuscular e, 40
Erotomania, 124–125
Erro na nominação de objetos, 67
Escala de Ansiedade e Depressão no Hospital, 283, 283f
Escala para Avaliação de Sintomas Negativos, 298
Escala Wechsler de Inteligência Adulta, 68
Escrita, déficit de, 163t
Espaço, sentido de, 75
Espontânea, fala fluente, transtornos de, 163t
Esquecimento, 60
do desagradável, 67
influência do afeto, 66
seletivo, 66
taxas, 66
Esquema corporal, 189, 235
Esquizofrenia
abordagens linguísticas para, 170–171
achatamento do afeto, 266
alucinações auditivas, 98, 341
anedonia, 262
anormalidades da linguagem na, 348, 360
anormalidades dos ritmos circadianos, 83
ansiedade, 286
Bleuler, 118
confabulação na, 63–64
crônico, em desorientação quanto a idade, 77
déficit de memória, 65
embotamento do afeto, 266
fala, 170
falta de previsibilidade, 170
transtorno de pensamento na, 170
fases prodrômicas, 118
insight e, 180–182, 349, 361
limites do self, 200, 201f
paranoide, 133
paratimia e paramimia na, 265
pensamento concreto, 166–167
percepção delirante, 116
de amor, 124
de infestação, 129–130
delírios hipocondríacos, 128
perturbações do ego, 212
raciocínio dedutivo, deficiência, 167
risco no transtorno de personalidade esquizoide, 321
sensação diminuída de dor, 248
sintomas, 7
sintomas de primeira ordem, 116, 151–153, 152t, 200
Exame do Estado Atual, 339t
exemplos, 153–157
sintomas primários, 115
teorias psicológicas sobre o pensamento na, 150–151
traços negativos, 298
transtorno da qualidade do tempo, 82
transtorno de linguagem, 165–171
modelos de investigação, 165t
transtorno do movimento, 304
transtorno motor, 306–307
categorias, 307t
transtornos comportamentais, 310–311
transtornos da vontade, 297–298
transtornos de pensamento na
destruição de palavras/gramática, 168–169
e descrição clínica, 166–169
mau uso de palavras/frases, 167–168
na fala, 166t
tipos de, 167
turvação da consciência, 38
variação sazonal e, 83–84
Esquizofrenia catatônica, 304–305, 310
Estado, 318–319
vs. traço, 280–281, 325
Estado crepuscular, 40
Estado de Ganser, 40, 68–69, 353, 363
Estado inconsciente, 33
Estado mental, 22
exame, 25–26
Estados afetivos mistos, 144, 303
Estados de ansiedade, 280–281
Estados de ansiedade vital, 267
Estados de possessão, 198–200
e transe, 198
Estados fóbicos, 284–286
Estados oniroides, alucinação visual, 101
Estado tipo sonho (oniroide), 42–43
Estereotipia, 304–305
Estresse
e ansiedade, 280
reação anormal, mutismo histérico, 169
Estupor, 42–43, 165, 353, 363
causas psicogênicas vs. neurológicas, 42
Eu, 191–192
Euforia, 263
Eus (selves) fenomenológicos, 189
Evocação panorâmica, 65
Exame de Estado Atual (EEA), 156, 283, 337–339
“pontuação total do insight” e, 180
sintomas de primeira ordem da esquizofrenia e, 339t
Exame do Estado Atual, 283
psicopatologia, 333–343
sintomas para a formação de categorias diagnósticas, 336–339
Exame do estado mental, 28
Exame psiquiátrico, esquema para, 20b
Excitação fisiológica, anormalidades da, 260q
Excitação mental, excessiva, na insônia, 51–52
Excitação, na esquizofrenia, 310
Execução, transtornos de, 293–314
Executivo central, memória de curto prazo, 60
Exosomestesia, 93, 218t
Experiência
anormalidade da, 268–269
forma e conteúdo, 14–15
subjetividade e objetividade na, 15–16
Experiência chave, origem dos delírios, 120
Experiência compreensível, delírios primários, 114
Experiência incompreensível, 6
Experiência inconsciente, fenomenologia e, 16
Experiência sensorial normal, 95–96
Experiências extáticas, experiências religiosas vs, 264
Experiências feitas, 154–155
Experiências fora do corpo, 194
Experiências religiosas
indicadores para, 264
vs. experiências de êxtase, 264
Experiência subjetiva
consciência aumentada, 37
estudo da, 7–8
Experiência Subjetiva de Sintomas Negativos, escala, 298
Explicação, 11
Compreensão vs., 11t
estática e genética, 12q
Expressão facial, imutável (embotamento do afeto), 266
Êxtase, 200–201, 262–264
antropologia, 264
característica, 264
na mania, 212
F
Fácies depressivas, 312
Fadiga, associada a despersonalização, 207
Fala
área isolada da, 164–165
associada ao hemisfério, 162
automatismo, 42
avaliação da, 27
fluência, transtornos de, 163t
fuga de ideias, 169
hesitante, 164
indistinta, 164
ininteligível, 162
interna, 90–91
mudanças na entonação, 161–162
na mania, 162
pobreza de conteúdo da, 167
pressão, 169
privada, 90–91
repetição, 163t
transtorno da, 159–173
volume da, mudanças no, 161–162
Fala confusa, 146
Falsificação
memória, ver Memória, falsificação
retrospectiva delirante, 66–67
Familiaridade
conhecimento baseado em, 61–62
sentimento de, 208
despersonalização, perda de, 208
Fantasia, 111
capacidade de, 55
explicação do duplo, 193
na hipnose, 55
sonho, 53
Fatores culturais
alucinações, 97
emoções, 259
insight, 182
transtornos de imagem corporal, 238–239, 239t
Fatores sociais, insight, 182
Fenômeno de Zeitraffer, 80
Fenômeno de lapso de tempo, 80
Fenômeno de telescopagem, 237
Fenomenologia, 340–341
definição, 6
confusão a respeito, 7
e psicopatologia, 6–8
facilita a comunicação, 10
método, 7
objetivo, 14
uso diagnóstico, 14
Fenômeno obsessivo-compulsivo, elementos do, 351, 362
Fenômenos psicóticos, época da vida e, 84f
Fenwick, P., definição de automatismo, 41
Ferimentos não acidentais, crianças, 322
Flexibilidade cérea, 304–305, 310
Fluência da associação, 149
Fluxo de pensamento, interrupção no, 145–147
Fobia a peso, 231
Fobias, 284
a animal, 284
a doenças, 285
espécies de, 284q
na depressão, 286
simples, 284–285
social, 284–285
Fobias a animais, 284
Fobia social, 357, 366
Folie à deux, 131
Folie communiquée, 130
Folie imposée, 130
Folie induite, 130
Folie simultanée, 130
Fome, 296
Fonemas, 98, 160
Forma, 14–15
definição, 14
Formigamento, 103
Fotofobia, 223–224
Frégoli, síndrome de, 125
Freud, S
insight, 178
instinto, 294–295
sonhos, 54
Frigofobia, 239t
Fuga de ideias, 143, 143f, 169
mania, 298–299
Fuga dissociativa (histérica), 68
Função corporal, transtornos da, 224–227
Função intelectual e época da vida, 84f
Funções parciais, 335–336
Fusão dos pensamentos, 145, 146f
G
Gagueira, 161
Gesticulação, reduzida no retardo, 304
Gestos, 164
comunicação não verbal, 189–190, 260
Global Insight Scale, 179
Gráfico do humor, 261f
Gramática, 160
destruição da, na esquizofrenia, 168–169
mental, 160–161
Grasping, 305–306
H
Halo semântico, de palavras, 167–168
Heautoscopia interna, 194
Heautoscopia negativa, 194
Hemianopia homônima, 100
Hemianopia, homônima, 162–163
Hemidespersonalização, 236
Hemimicropsia, 91
Hemiplegia, lado esquerdo, 178–179
Hemisomatognosia, 236
Heterofenomenologia, método de, 33–34
Hiperacusia, 92–93, 247
Hiperatividade, 303–304
inquietação, 303
Hipercinesia, 303
Hiperecplexia, 265, 356, 365
Hiperesquemazia, 235
Hiperestesia visual, 91–92
Hipersonia, 52, 296, 353, 363
Hipnose, 54–56
fantasia, 55
indução, 55
Hipnose em massa, 198
Hipocondria, 128, 219–223, 219f, 361
conteúdo, 222–223
determinantes, 350
psicopatologia, 222–223, 222b
Hipocôndrios, 220, 220f, 266
Hipoesquemazia, 235–236
Hipomania, 275
Histeria, 224, 249
campos visuais do paciente com, 226f
conversão, 219
em massa, 263–264
epidêmica, 263–264
sintomas, 67–68
Histeria de conversão, 218
Histeria epidêmica, 263–264
Histórico, anamnese, 22
família, 22
histórico pessoal, 22–23
passado, 22
Histórico factual, 22–23
Histórico familiar, 22
Histórico pessoal, 22–23
Histórico psiquiátrico, 22–23
Homicídio, delírios de culpa, 127
Humor, 351, 362
anormalidades do, classificação do, 257
caráter diurno do, 83
comunicação do, 259–260
definição, 257
delirante, 118
descrições subjetivas e objetivas do, 27
despersonalização, 208
distúrbios, 257
e época da vida, 84f
elevação do, 263
labilidade do, 265
na avaliação da personalidade, 24
na depressão, 270–275
na psiquiatria, 258
normal, 258
no transtorno bipolar, anormalidade do, 270
oscilações
extremos, pensamentos suicidas, 273
na síndrome pré-menstrual, 83
transtorno de personalidade histriônica, 323–324
transtornos persistentes, 326–327
I
Idade
desorientação, 77–78
gravidade da irritabilidade, 287
Ideação, 16
errônea, 132–134
“Ideal”, normal, 23
Idée fixe, 321
Ideia fixa, 321
Ideias, 111–113
autorreferentes, 320
avaliação das, 27–28
delirantes, 116
deliroides, 115
de perseguição, 320
fixas, 321
Ideias compulsivas, explicação do duplo, 189
Ideias de autorreferência, 320
Ideias equivocadas, delírios e, 111–137
Ideias obsessivas, 289
Ideias paranoides, 133
Ideias supervalorizadas, 132–133, 148, 223, 228, 234
como ciúme mórbido, 133
no transtorno de personalidade paranoide, 133, 321
transtornos de conteúdo associado, 133t
Identidade
perda temporária, 198
perturbação da, 197–200
Identidade falsa, 67–68
Identificação incorreta, delirante, 125–126
Ilogismo, 167
Ilusão, 94–95, 94f
afeto, 94–95
completude, 94
pareidólica, 95
Ilusões de afeto, 94–95
Imagem, 88–89
anormal, 106–107
características, 88–89, 89t
visual, 89
vívida, 91
Imagem compulsiva, 289
Imagem corporal, 188–189, 234
acentuação patológica, 235
alterações orgânicas, 234–238
aspectos sociais, 189
desenvolvimento, 189, 190f
diminuído/ausente, 235–236
distorção, 233, 236–238
distúrbio, 238
sensório, 247
transtornos ligados à cultura de, 238–239, 239t
Imagem funcional, imagem visual, 89
Imagem mental, 89, 141
alucinações auditivas, 99
Imagem obsessiva, 289
Imagem perturbadora, 289
Imagem perturbadora, 289
Imagens
características da, 360
características formais, 347
vívida interna, pseudoalucina ções, 104
Imagens estruturais, 230
Imagens mentais, como alucinações, 96
Imaginação, 141
Impulsividade, 300, 352, 357, 362, 366
características, 300
empreendedorismo versus, 299–300
Impulso
insano, 301–302
resistência, 300
Impulso, 294–295
agressão inata, 301
anormalidades, 296, 297b
causas orgânicas, 297
biológica, 296–297
definição, 294
diminuição, 296
exacerbação, 296
Impulso instintivo, 294
Impulso violento, 300
Inconsciência, 34–36
definição, 34
três dimensões, 35f
Indagação sistemática, 26–28
Indução baseada em categoria, 141
Infestações, delírios de, 129–130
Infidelidade, delírio de, 123–124
Informação, anormalidade de processamento, delírios, 121–122
Insanidade comunicada, 130–131
Insanidade comunicada, 130–131
“Insanidade de tensão”, 304–305
Insanidade impulsiva, 301–302
Insanidade moral, 322
Insatisfação atitudinal com o corpo, 232
Insight, 175–184, 349, 361
adesão ao tratamento, 179, 181
avaliação, 28, 176–177, 345
base neurológica, 180
capacidade, 176
conceito, 177–180
críticas, 182
desenvolvimento, 178–179
fatores sociais e culturais, 182
Psicologia da Gestalt, 178
falta de, 178–179
medição, 179–180
medições válidas, 349, 361
na esquizofrenia, 180
na prática clínica, 176–177
no transtorno bipolar, 181–182
para enfermidade, 176
performance intelectual e, 180
prejudicado, etiologia, 182
prejuízo cognitivo e, 180–182
solução repentina, inesperada, para um problema, 178
tratamento afetado pelo resultado, 181
Insight and Treatment Attitudes Questionnaire (ITAQ), 179
Insight e prejuízo cognitivo, 180–182
Insight Scale for Psychosis, 179
Insônia, 51–52
inicial, 51
terminal, 51
Instinto
anormalidades, 296–299
definição, 294
relações entre necessidade e comportamento, 294f
Insulina, 296–297
Intelectual, perda da compreensão (apreensão), 49
Interesse
na avaliação da personalidade, 24
perda, na depressão, 298
Interpretações fantásticas, ilusões pareidólicas vs., 95
Intervalo de dígitos, 180
Intoxicação com água, esquizofrenia, 311
Ioga, 210
Irritabilidade, 286–287, 357, 366
e ansiedade, 286
expressa externamente, 286
gravidade e sensível à idade, 287
J
Jamais vu, 62, 81, 209
distúrbio do lobo temporal, 65
James-Lange, teoria da emoção, 258
Jaspers, K
alucinação, 95
anseio, impulso instintivo e ato de volição, 294
autoconsciência, 191–192
compreensão vs. explicação, 11
delírios, 132
distúrbios do tempo, 75
fenomenologia, 7
imagens e representação, 88–89
inconsciência, 34
insight, 176
pseudoalucinações, 104
transtorno de identidade, 197
Jee, 266
Julgamento, 147
falsos, delírios, 111
perturbação do, 147–151
K
Kleine-Levin, síndrome, 52, 296–297, 346, 357, 359, 366
Koro, 129, 209, 238–239, 239t
Korsakoff, síndrome, 61
confabulação, 62–63
transtornos da passagem do tempo, 80
Kraepelin, Emil
ciúme sexual, 123
delírios religiosos, 126–127
L
Latah, 239t, 265
Lavar as mãos, 286
Lei, aplicação da psicopatologia descritiva, 340
Leitura, déficits de, 163t
Lembrar, 61–62
Lesões cerebrais
comportamento obsessivo, 289–290
hiperatividade depois de, 303
Lesões diencefálicas, em transtornos de cronologia, 78
Lesões do lobo central, cronologia (ordem temporal), transtorno do, 78
Lesões do tronco cerebral, disartria, 161
Licantropia, 199–200
Ligações de referência, 169
Limpeza, obsessiva, 288
Linguagem
anormalidades psicogênicas, 169–170
distúrbios da, 159–173
orgânica, 162–165
modelo estatístico da, 170
pragmática, 160
teoria de Chomsky, 160–161
Lobo parietal, 235
lesões, na hipoesquemazia, 235
Logoclonia, 161, 355, 365
Loop fenomenológico, memória de curto prazo, 60
“loucura das solteironas”, 124–125
Lucidez-turvação, 36
Luto, 274–275
mórbido, padrões, 274
patológico, 265
postergado, 265
Luto, forçado/guiado, 274
Luto, sensação de perda, 274–275
M
Macropsia, 91
Macrosomatognosia, 235
Maher, BA, em transtornos da linguagem, 168
Mal de Alzheimer, alucinação visual, 100
Mal de Parkinson, 307
exacerbação do impulso, 296
Maneirismos, 305, 311
Mania
alegria e prazer, sentimentos de, 263
anormalidade da motivação, 296
exacerbação das emoções, 262–264
fala, 162
falsificação da memória, 67
fuga de ideias, 298–299
ideias deliroides de grandiosidade (delírios secundários), 126
insight, 181–182
roupas, 312
transtorno da vontade, 298–299
transtorno do afeto e emoção na, 275
transtornos da passagem do tempo, 80
Mania à Potu (Intoxicação Patológica), 41, 346, 359
Manipulação, transtorno de personalidade histriônica, 323–324
Mastectomia, 238
Masturbação, 335
Mecanismos de Defesa
defeito na memória de evocação, 67
ego, 4
Meditação transcendental, 193, 210
Medo
da morte, 222
de doença, 285
desempenho, 285
intensificação, 265
obsessivo, 286
Megafagia, 52
Melancolia, 220, 262–264, 266, 270, 303
delírios de perseguição vs., 123
Membro fantasma, 237–238, 250
dor, 238
imagem corporal, 234
Memória
armazenamento, 60
congruente com humor, 65
curto-prazo, 60, 346
declarativa (explícita), 60
delirante, 66–67, 118–119
de longo-prazo, 60, 347
funções, 60
dependente do estado, 65
de trabalho, 60
distúrbios da, 59–71
ECT e, 64–65
psicogênica, 67–69
duplo processo de sistema, 61–62
ecóica, 59–60
episódica (incidentes autobiográficos), 60–62
erros acústicos, 67
evocação, 60
inexatidão, 67
panorâmica, 65
prejuízo, 61
falsa, memória delirante, 119
falsificação, 66–67, ver também Confabulação
icônica, 59–60
afetivo, 65–69
déficit/transtorno
distúrbio do lobo, 65, ver também Amnésia
na esquizofrenia, 65
orgânico, 61–62
implantada, síndrome da falsa memória, 69
mecanismos, 59–60
não declarativa (implícita), 60
perda de palavras, 67
reconhecimento, 60
prejuízo, 61–62
recuperação, 60
direta, 61
indireta (estratégica), 61
prejuízo, 61
recuperada, 69
registro/codificação, 60
prejuízo, 61
retenção, 60
déficit induzido por ECT, 64
prejuízo, 61
semântica (memória factual), 60
erros, 67
sensorial, 59–60
sinal de recuperação, 61
viés, em transtorno afetivo, 65
Memória de curto-prazo, 346, 360
Memória de longo prazo, 347, 360
Memória de trabalho, anormalidade da, 150–151
Menos valia
delírios de, 127
sentimentos de, na depressão, 271
Mensagens verbais, 191
Mente, filosofia da, 17
Mentira patológica, 140
Mentir, fluente plausível (pseudologia fantástica), 66
Mescalina
alucinações visuais devido à, 100–101
despersonalização, 211
Metamorfopsia, 91
Método de vinheta de caso, 181–182
Métodos neuropsiquiátricos, 341
Metonímias, 166, 355, 365
Micropsia, 91, 354, 364
Microsomatognosia, 235
Misoplegia, 218t, 237, 356, 365
Mistura, 146
Mitgehen, 305–306
Modelo configural, 88
Modelo de associação de modelos, 88
Modelo de combinação de características, 88
Modelo de reconhecimento pelos componentes, 88
Modelo dos cinco fatores de personalidade, 318–319
Morfemas, 160
Motivação, 351, 362
anormalidades, 296–299, 297q
na esquizofrenia, 298
definição, 294
fatores intrínsecos e extrínsecos, 295
Movimentos involuntários espontâneos, na esquizofrenia, 304–305
Movimentos mioclônicos, 265
Movimentos voluntários, idiossincrásicos, na esquizofrenia, 304–305
Movimento, transtornos, 303–310
agitação, ver Agitação
hiperatividade, 303–304
na catatonia, 304–305
na esquizofrenia, 304–307, ver também Transtornos motores
na execução do movimento, 305
obstrução do fluxo de ação, 305
transtornos isolados do movimento, 304–306
Múltiplas personalidades (transtorno dissociativo de identidade), 195–197
Mutismo, 165
acinético, 42
estupor, 42–43
histérico, 169
Mutismo acinético, 42
N
Narcisismo, 105
Narcolepsia, 52
Necessidade
anormalidades, 296–299, 297q
na esquizofrenia, 298
definições, 294
primária/inata, 294
relação entre instinto e comportamento, 294f
secundária, 294
Necessidade sexual, exacerbação, 296
Negativismo, 306
na esquizofrenia, 304–305
Negligência hemiespacial, 236
Neologismo, 162, 167–168, 355, 365
Neuroanatomia, 340–341
Neuromas, coto, 250
Neurônios espelho, 259–260
Neurose
e estresse, 336
vs. psicose, 336
Neurose fóbica, subdivisões da, 285b
Ninfomania, 124
Nomeação, déficit da função linguagem, 163t
Norma, 9–10
de valor, 9
estatística, 9
individual, 10
social, 10
Normal, definição de, 9, 23
Núcleo supraquiasmático, controle do ritmo biológico no, 82
O
Obediência automática, 305–306
Obesidade, 230, 297
esquizofrenia, 297–298
Objetividade, 15–16
definição de, 16
na sensação normal, 97
Objeto(s), identificação incorreta, delirante, 126
Observação
da aparência e do comportamento, 5, 26
para a compreensão dos sintomas do paciente, 12–13
Observador, 6
Obsessão, 287–290, 357, 366
avaliação da, 28
definição de, 287
e crenças religiosas, 288
na esquizofrenia, 289–290
Obstrução, no fluxo de ação, 305
Olho gordo, 239t
Oposição, ao movimento, 306
Ordem temporal, transtorno da, 78
Orientação, 49–50
definição, 49
para o espaço, 49
para o tempo, 49
O self transtornado, ver Self, transtornos do,
“O tempo parou”, observação de, 78
Ouvir, para compreender os sintomas do paciente, 12–13
P
Pacientes hebefrênicos, esquizofrenia, 150–151
Palavras
cegueira, 162–163
destruição das, na esquizofrenia, 168–169
escolha, na avaliação do estado mental, 26
halo semântico, 167–168
intrusão de, 168
mudez, 164
perda de memória para, 67
previsibilidade, 170
surdez, 162
uso errôneo das, na esquizofrenia, 167–168
Palavras/expressões chavão, 167–170
exemplo, 167
Palinacusia, 92–93
Palinaptia, 93, 218t
Palinopsia, 91, 354, 363
Pânico, 357, 366
Papel de doente, 334–335
Paradigma lembrar-saber, 61–62
Paraesquemazia, 236–238
Parafasia, 168
literal, 168
verbal, 168
Paragramatismo, 162, 168–169
Paralogia, 168
Paramimia, 265
Paramnésia, 67
Paranoia, 128–129
Paranoide, 133, 320
paraprosopia, 356, 365
Paraprosopia, 91, 354, 364
Parassonias, 52–53, 353, 363
Paratimia, 265
Pareidolia, 95
Paresia geral, 40, 263–264
falsificação da memória, 66
Parestesia, 102
Passividade, 28
da emoção, 155
da vontade, 156
do impulso, 156
do pensamento, 151
na atmosfera delirante, 117–118
experiências, 197
como anormalidade da vontade, 296
sintomas de primeira ordem da esquizofrenia, 154–155
somática, 156
transtornos de, 154–155
Passividade somática, 156
Pelopsia, 92, 354, 364
Penoescrotodínia, 251
Pensamento
aceleração do, 143
alterações no fluxo do, 147
autista, 140
circunstancial, 144–145, 145f
concreto, 166–167
confusão do, 40
desempenho do, 140
e linguagem, relacionamento entre, 160
funções, 140
imaginativo, 141
processo, transtornos do, 139–158
superinclusivo, 166
tipos de, 140–142
transtorno do controle do, 151–157
Pensamento conceitual, 141–142
Pensamento concreto, 148–149, 355, 365
Pensamento contrafactual, 141
Pensamento fantasioso, 140–141, 355, 364
e agressão sexual, 140
Pensamento racional, 141–142
Pensamentos
alienação dos, 157
audíveis, 152–153
avaliação dos, 27
bloqueio, 147, 147f, 151–152, 167
coerente, 40
difusão, 151–152, 155
influência do, 157
inserção, 151–152, 155, 157, 338–339
perda da direcionalidade, 167
roubo, 147, 151–152, 154–155, 355, 364
transtornos, 27
Pensamentos suicidas, depressão, 272–273
Pensamento superinclusivo, 149, 166, 355, 364
Percepção, 14
anormalidades da, 87, 91–95
avaliação, 27–28
distorções sensoriais, 91–94
falsa percepção, 94–95
auditiva, 14
aspectos elementares da, 92–93
características da, 89t
clivagem da, 94
de objetos, sentimentos vinculados à, 267–268
erros de interpretação, ilusões pareidólicas vs., 95
falsa, 94–95
patologia da, 87–110
qualidade da, 92
sensação e, 87–91
significado no delírio, 117
tátil, aspectos elementares da, 93
visual, 89
Percepção auditiva, 14
Percepção da cor, 91–92
Percepção visual
aspectos elementares da, 91–92
anormalidades, 347, 360
cor, 91–92
do movimento, 92
localização espacial, 92
tamanho, anormalidades, 91
Perda e depressão, 273–275
externa, experiência subjetiva, 274
Perfeccionismo, 324–325
Perguntas
capciosas, 12–13
empáticas, 13
no exame do estado mental
“abertas”, 25
“fechadas”, 25
Períodos de vida, 84–85
perturbação psiquiátrica e, 84f
Perseguição, ideias, 320
Perseveração, 26, 64, 147
Personalidade anormal, 23
avaliação da, 23
definição de, 23
despersonalização, 209
duplo, 194
labilidade na consciência da, 197
múltipla, 196–197
normal vs. anormal, 23
pré-morbida (prévia/usual), 23–24
sensível pré-mórbida, 120
Personalidade anormal, 23, 318–319
Personalidade normal, 23
Personalidade obsessiva (anancástica), 289–290
Pesadelos, 53–54
Pesquisa, psiquiátrica, 341
Pinta, 10
Plagiando, criptamnésia e, 67
Pobreza, delírios de, 127–128
Polidipsia, 297
Posição intencional, 33–34
e consciência, 34
Pós-imagem, 96
Positive and Negative Syndrome Scale (PANSS), 180
Postura, 26–27
comunicação não verbal, 189–190
faraônica, 26–27
na catatonia, 304–305
na esquizofrenia catatônica, 304–305
transtornos isolados da, 304–306
Prejuízo do processamento cognitivo na alucinação auditiva, 99
Presença, sensação de, 194
Princípio de fechamento e ilusão de completude, 94
Privação sensorial, 107–108
Privação social, 322
Procedimento Cloze, 170
modificado, 170
reverso, 170
Processamento de faces, déficit no, 229
Processamentos ascendentes, reconhecimento visual, 88
Processos cognitivos automáticos, 46
Processos descendentes, reconhecimento visual, 88
Processos pré-conscientes, 35
Prognóstico, insight e, 181
Prosódia, 160
Prosódia emocional expressiva, 269–270
Prosódia emocional expressiva, 269–270
Prurido
psicogênico, 251–252
puritrogênico, 251–252
Pseudoalucinações, 51, 91, 94, 104–105
Pseudoalucinações visuais, 101
Pseudologia fantástica, 66, 140
Psicanálise, insight, 178
Psicodinâmica, 339
Psicologia Gestalt, conceito de insight, 178
Psicopatia
criativa, inadequada e agressiva, 322
definição, 323
Psicopatologia, 4–6, 4f
aplicações práticas da, 352, 362
aumentada, no período pré-menstrual, 83
conceitos, 334–336
definição, 4
descritiva, ver Psicopatologia descritiva
dualidade mente-cérebro e, 17
e diagnóstico, 333–343
explicativa, 4
fenomenologia e, 6–8
substratos neural e orgânico, 17
usos da, 340
Psicopatologia (analítica) dinâmica, 4–5
Psicopatologia analítica (dinâmica), 4–5
Psicopatologia descritiva, 336, 345, 359
aplicações, 340
compreensão na, 345
conceitos fundamentais, 3–18
definição, 3–4
descrição do comportamento, 4, 4f
dualidade mente-cérebro, 17
empatia, 3–4, 6, 345
experiência inconsciente, 16
fenomenologia, 6–8
perturbações do ego e perturbações do self, 191–192
pesquisa, 341
substratos neural e orgânico, 16–17
visões de continuidade e descontinuidade, 5
vs. psicanalítica, 5t
Psicopatologia explicativa, 4
Psicopatologia psicanalítica
vs. descritiva, 5t
Psicose
atenção e, 47–48
de indução, 130
insight do paciente, 178
simulada, 118
Psicose cicloide, 143
Psicose maníaco-depressiva, 143
Psicose monossintomática hipocondríaca, 129
Psicoses afetivas, alucinações auditivas, 98
Psicose simulada, 153
Psicossíndromes orgânicas, na ansiedade, 286
Psiquiatria
definição de, 3
escola biológica de, 339
escopo da, 3
Psiquiatria orgânica, psiquiatria sintomática vs., 17
Psiquiatria sintomática, psiquiatria orgânica vs., 17
Publicidade, percepção normal de um objeto e alucinação, 97
Q
Qualia, 34
Quebra súbita, 147
Questionário de Avaliação do Seasonal Pattern Assessment Questionnaire, 83–
84
R
Raciocínio, 141
dedutivo, 141
na esquizofrenia, 167
indutivo, 141
Raciocínio analógico, 141
Raiva, intensificação da, 265
Rapport, 16, 27
avaliação, 27
Rasmussen, conceitos de, 96–97
Razão tipo-número, 170
Reabilitação psicossocial, melhoria do insight, 181
Reabilitação vocacional, melhora no insight, 181
Real: auto discrepância ideal, 232
Real: discrepância do deveria ser, 232
Realidade
dos delírios, 131
senso de, alucinações e, 96–97
Recompensas, motivação e, 295
Referência
delírios de, 120
ideias deliroide de, 133
ideias sensíveis de, 120
Reflexo de susto, aumentado, 265
Registro de partidas dobradas, 177
Regressão, transtorno de pensamento como, 166
Relacionamentos indivíduo/mundo exterior, perturbados, 212
Relógio corporal, interno primário, 82
Repetição da fala, distúrbios da, 163t
Representação simbólica, 141
Repulsa, 222, 290
Resíduo, 120
Resolução, 274
Resposta afetiva, a delírios, 113
Resposta à intervenção, 221
Respostas aproximadas, 68, 169
Ressaca, 92–93
Retardo, 144, 144f, 149
mental, ver Retardo mental
motor, 304
na depressão, 270, 298, 304
psíquico, 270
Retardo mental, 304
sensação diminuída de dor, 248
Ritmos biológicos, 77
e psiquiatria, 82–85
Ritmos circadianos, 82–83
Rituais, compulsivos, 288
Roer unhas, 161
Rosto, acariciar, 312
Rotulagem, de transtornos, 21
Roupas
escolha e imagem corporal, 191
mania, 312
Ruminação obsessiva, 223
Ruminações, 289
obsessiva, 223
S
Sachs, O., percepção visual, 88
Salada de palavras, 165
Sapir-Whorf, hipótese, na linguagem, 160
Satiríase, 124
Saúde
conceitos, 334–336
normal, 9–10
Saúde, crenças, 181
Scale to Assess Unawareness of Mental Disorder (SUMD), 179
Schachter-Singer, teoria dos dois fatores da emoção, 259
Schedule for Assessment of Insight in Psychosis (SAI), 179
Schnauzkrampf, 305
Schneider, Kurt
ideia deliroide, 116
sintomas de primeira ordem, 115
Schneider, Sintomas de Primeira Ordem, 348, 360
Sede, anormalidades, 296, 297q
Self, 187
anulação, no êxtase, 264
consciência dos, 37
continuidade, perda de, 198
e “outro”, 298, 299f
identificação incorreta, 126
limites
na esquizofrenia, 200, 201f
transtornos do, 200–201
transtornos do, 187–203
Self vital, 266–267
Semântica, 160
Sensação
e percepção, 87–91
experienciando, esquema corporal, 191
Sensação corporal, alucinação da, 102–103
Sensação de ansiedade, 283
Sensações corporais, associadas a emoção, 266–267
Sensibilidade emocional, falta de, 266
Senso de tempo, 75
alteração, despersonalização e desrealização, 81–82
distorção, despersonalização, 209
perda, nos sonhos, 54
Sensório, 36
da imagem corporal, 247
Sentenças, uso errôneo, na esquizofrenia, 167–168
Sentimentos
achatamento, 266
ansioso, tenso, 283
definição, 257–258
dirigido a pessoas, 268
embotamento, 266
perda de, 261
vinculados à percepção de objetos, 267–268
Sentimentos vitais, 266–267
na depressão, 247
partes/regiões do corpo, 266–267
“Ser meu”, 191–192
Ser, transtorno de, 192
Sexsônia, 53
Significado, testes alternativos, 99
Síndrome amnésica, 178–179
Síndrome da boca ardente, 251
Síndrome da falsa memória, 69
Síndrome de amnésia orgânica, 63
Síndrome de Capgras, 125
Síndrome de Charles Bonnet, 101
Síndrome de Cotard, 127–128
Síndrome de desorganização, 150–151
Síndrome de despersonalização de ansiedade fóbica, 212
Síndrome de Ekbom, 129
Síndrome de Ganser, características, 68–69
Síndrome de Gerstmann, 236
Síndrome de Pickwick, 52
“síndrome de referência olfativa”, 129
Síndrome do aprisionamento, 42
Síndrome Geral de Adaptação de Selye, 351, 362
Síndrome Gilles de la Tourette, 309–310
Síndrome neuroléptica maligna, 304–305
Síndrome nuclear, 338–339
Síndrome pré-menstrual, 83
Síndromes, 336
Síndromes disminésicas, 60
Síndromes paranoides olfativas, 129
Síndromes Parkinsonianas, 305
Síndrome talâmica, 247–248
Sinestesia, 37, 89–90, 347, 360
Sintaxe, 160
incoerência da, 162
Sintoma psicogênico, hipersonia, 52
Sintomas
categorias diagnósticas formadas, 336–339
classificação, 337–338
compreensão, 10–12
constelações, 336
elicitando, 19–29
presentes, 22
primário vs. secundário, 15
Sintomas neurológicos funcionais, transtorno, 225
Sistemas de excitação, da consciência, 37f
Sistema visual
reconhecimento no, 88
sensação e percepção, 87–91
Sofrimento, 252
dor e, 252
Sofrimento emocional, sintomas e sinais de, elicitação, 19–20
“Solitários”, 321
Solução de problemas, 141
Somatização, 221, 268–269
Sonambulismo, 52–53
Sonhos, 24, 53–54, 193, 346, 359
desagradável, 53–54
em sono REM, 53–54
Sono, 45–57
anormalidades da necessidade do, 296, 297q
avaliação objetiva do, 50
embriaguez, 51
estágios, 50
necessidade, 51
paralisia, 52
privação, 82–83
REM, 50
Sono convencional, 53–54
Sono de movimentos oculares rápidos (REM), 50
Sonolência, 36, 38
na turvação da consciência, 38
Sono paradoxal (sono REM), 53–54
Sósias subjetivos, síndrome dos, 125
Spitzer, M., delírios vs. crenças, 112
Subjetividade, 15–16
definição, 16
Sugestionabilidade, 63
Suicídio
delírios de culpa e menos valia, 127
de pobreza, 127–128
hipocondríaco, 128
persecutório, 123
religioso, 126–127
taxas de, variação sazonal e, 83–84
Surdez para as palavras, 162
Surpresa
intensificação da, 265
mórbida, 265
T
Tagarelice, 146
Tálamo medial, estágios do sono e, 50
Tangencialidade, 167
Tartamudez, 161
Técnica Cloze, 348, 360
Técnicas de corpo inteiro, 232
Técnicas psicológicas, aplicação de, 341
Telegramês, 168–169
Teleopsia, 92
Temperatura corporal, mudanças na depressão, 83
Tempo
características do, 360
características formais, 347
cronologia, transtornos da, 78
desorientação, 49–50
direção do, transtorno da, 80–81
duplicação do, 81
duração do, transtorno do, 78
fluxo do, transtorno do, 78–80
objetivo (relógio), 76
transtorno do, 77–78
qualidade do, transtorno do, 81–82
ritmos biológicos e, 77, 82–85
singularidade de, transtorno de, 81
subjetivo (pessoal), 76
transtorno do, 78–82
transtornos do, 75–86
classificação do, 76q
tempo objetivo (relógio), 77–78
tempo subjetivo (pessoal), 78–82
Tempo objetivo (relógio), 76
transtorno do, 76q, 77–78
Tempo subjetivo (pessoal), 76
transtorno do, 76b
Tendência determinante, 47, 143
Teoria da aprendizagem, 301
Teoria de descrição, de imagem mental, 89
Teoria dos dois fatores da emoção, 259
Teoria pictorial, imagem mental, 89
Teoria psicanalítica, despersonalização, 212
Terapia, aplicação da psicopatologia descritiva, 340
Termo técnico, implicações diagnósticas, 26
Terrores noturnos, 53
Teste de Hunt, 171
Teste de realidade, pobre, alucinações auditivas, 99
Teste de séries, 46
Tipificação, 333–334
Tipo borderline, transtorno de personalidade, 323–324
Tipos de personalidade, 24
Tipos de personalidades mistas, 320
Tiques, 309–310
Tomada de decisões, mania, 298–299
Tontura e despersonalização, 212
Torpor, 211
Torpor emocional, 208, 274
Traços, 318–319
ansiedade, 280–281
estado vs., 325
negativo, da esquizofrenia, 298
personalidade, 324
vs. estado, 280–281
Traços de personalidade, 324
Traços de personalidade anancástica, 324
Traços negativos da esquizofrenia, 298
Transe, auto induzido, 193
Transexualismo, 229–230
imagem corporal, 191
Transferência, 4
Transtorno afetivo sazonal, 83–84, 347, 360
Transtorno bipolar
humor, anormalidade do, 270
insight, 181–182
Transtorno da alimentação, 230–234
Transtorno da construção gramatical (paragramatismo), 162
Transtorno de ansiedade generalizada, 281–282
transtorno de pânico vs., 283–284
Transtorno de estresse pós-traumático
irritabilidade no, 287
reflexo de susto, exagerado em, 265
sonhos desagradáveis, 54
Transtorno de identidade da integridade corporal, 228–229
Transtorno de pânico, 283–284
do subtipo respiratório, 351, 362
transtorno de ansiedade geral vs., 283–284
Transtorno de personalidade anancástica, 324–325, 352, 362
Transtorno de personalidade ansiosa, 327
Transtorno de personalidade antissocial, 321–323
Transtorno de personalidade antissocial (dissocial), 322
Transtorno de personalidade associal (dissocial), 321–322
Transtorno de personalidade dependente, 326, 352, 362
Transtorno de personalidade de Tyrer e Alexander, 319–320
Transtorno de personalidade emocionalmente instável, 322–324
tipo borderline, 323–324
tipo impulsivo, 322–323
Transtorno de personalidade esquiva, 325–327
Transtorno de personalidade esquizoide, 321
Transtorno de personalidade histriônica, 104–105, 323–324
Transtorno de personalidade narcisista, 327
Transtorno de personalidade paranoide, 320–321, 352, 362
ativa, 320–321
passiva, 321
Transtorno de personalidade psicopática, 321–322
Transtorno de personalidade sociopática, 323
Transtorno dismórfico corporal, ver Dismorfofobia
Transtorno do lobo temporal
déficit de memória, 65
déjà vu, 65
jamais vu, 65
Transtorno formal do pensamento, 139–140
Transtorno maníaco-depressivo, despersonalização, 212
Transtorno mental, 8–9
classificação, 337q
categórica vs. dimensional, 337
elicitando os sintomas da, 19–29
início depois de saúde normal, 336
síndromes, 336
Transtorno obsessivo-compulsivo, 287
Transtornos afetivos, 257–278
associado a ritmos circadianos, 82–83
exacerbação de emoções, 262–264
falsificação da memória, 66
transtornos da vontade, 298
Transtornos da emoção, sinais comportamentais, 311–312
classificação, 260q
Transtornos de ansiedade, 286
componentes ideacionais, 282
despersonalização, 210
Transtornos de pensamento na fala, categorização de, 166t
Transtornos de personalidade, 317–329
anancástica, 324–325
ansiosa (esquiva), 325–326
classificações, 318–319
definição, 319
dependente, 326
diferenciação do, 24–25
dissocial, 321–323
esquiva, 327
esquizoide, 321
falsificação da memória, 66
histriônica, 324
mista, 320
sociopática, 323
teoria, 317
Transtornos de personalidade esquizotípicas, 327
Transtornos dissociativos, despersonalização, 210
Transtornos do controle de impulso, 300
controle excessivo, 300
Transtornos do humor
Transtornos do sono, 50–53
hipersonia, 52
insônia, 51–52
parassonias, 52–53
Transtornos hipercinéticos da infância, 46–47
Transtornos motores, 306–307, ver também Movimento, transtornos
na doença cerebral, 307–309
no mal de Parkinson, ver mal de Parkinson
Transtornos persistentes de humor, 326–327
Trato espinotalâmico, interrupção no, 247–248
Trauma cerebral, 40
Travesseiro psicológico, 304–305
Travestismo, 229
Trema, 119
Tristeza, transtornos afetivos, 262
Trocadilhos não intencionais da esquizofrenia, 168
Tumores do lobo occipital, alucinações visuais em, 100
Turno de trabalho, 82
U
Unidade
consciência de (consistência e coerência do ego), 193
falta de, na expressão das emoções, 265
perda da, na esquizofrenia, 197
Unidade, transtorno de, 193–197, 193q
V
Variação sazonal, 83–84
Verbigeração, 165
Vergonha-humilhação, 121
Verificar o corpo, 234
Vertigem, hipoesquemazia com, 235
Viagem, com objetivo, fuga dissociativa (histérica), 68
Vida fantasiosa, estudo da avaliação da personalidade, 24
Viés, informante, 22
Vigilância (alerta), 36
Vigilância-sonolência, eixo, 36
Vigorexia, 234
‘Vindo do nada,’ delírios, 116
Vinhetas, psicopatologia, 180
Visão de continuidade, 5
Visão de descontinuidade, 5
Vodu, 239t
Vômito, autoinduzido, 234
Vômitos autoinduzidos, 234
Vontade
distúrbios afetivos da, 298
perda, 296–298
perturbação
em transtornos de humor, 298–299
na esquizofrenia, 297–298
transtornos, 293–314
Vontade, 294–295
anormalidades, 296–299, 297q
na esquizofrenia, 298
conceito, 295
definição, 294
Vorbeigehen, 68
Vozes, ouvir, 338–339
discutindo, 154
esquizofrenia, 98
que fazem um comentário, 154
Vulvodinia, 251
W
Wahneinfall (intuição delirante), 115–116
Windigo, 239t
Wisconsin Card Sorting Test (WCST), 180