Monografia Délcio Freire
Monografia Délcio Freire
Monografia Délcio Freire
LUANDA, 2023
UNIVERSIDADE DE BELAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E ECONÓMICAS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
FOLHA DE ROSTO
LUANDA, 2023 i
FICHA CATALOGRÁFICA
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou electrónico para fins de estudo e pesquisa desde que citada a fonte.
Data_________/_________/___________
Nº de páginas: 68
ii
DÉLCIO DA RESSURREIÇÃO FREIRE
FOLHA DE APROVAÇÃO
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL: A PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA
EM ANGOLA NO PERÍODO PÓS- INDEPENDÊNCIA
Aprovado,_____/_____/_____
BANCA EXAMINADORA
Presidente de Júri
____________________________
1º Vogal
_____________________________________
2º Vogal
_____________________________________
Secretário
___________________________
iii
DEDICATÓRIA
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente, a Deus todo-poderoso, pois sem Ele eu nada seria, em muitos
momentos a minha fé me sustentou. Deus agradeço por ser meu companheiro nessa estrada
difícil e por segurar a minha mão nos momentos de dificuldade, por todo o apoio e força que
me deste. Agradeço a minha família, pela inesgotável dedicação e sobretudo pelo apoio que
têm dado aos meus infinitos sonhos. A minha Mãe, por sempre ser a minha estrela guia, por se
emocionar a cada conquista minha, por me dizer todos os dias que o mundo pode ser meu, se
eu quiser. A sua confiança em mim é o que me move. Agradeço ainda a todos os professores
que durante quatro anos emprestaram o seu saber com todo zelo e brio, em especial o Dr. Délcio
Rodrigues, (meu orientador) pela dedicação e paciência, e todos os meus colegas que me
auxiliaram nessa trajetória, que apesar de difícil valeu a pena. A minha esposa, pela paciência
e cumplicidade nos momentos tenebrosos, por segurar a minha mão a cada victória e a cada
derrota, por me manter firme nas minhas metas e me lembrar todos os dias que eu sou capaz.
Sem me esquecer dos meus irmãos, em especial o Lídio Freire dos Santos, que tem sido um
verdadeiro Pai para nós, louvo a Deus pela sua vida e podes crer que morreu a semente em terra
fértil em breve o produto será colhido, que o nosso Senhor Jesus Cristo abençoe a todos quanto
não foram citados.
v
RESUMO
vi
ABSTRACT
Our Monograph deals with International Cooperation: the Brazilian participation in Angola in
the post-independence period. Thus, it is worth remembering that international cooperation
plays an important role in contemporary international relations. In this way, the evolution of
integration theories from the beginning of the Cold War to the present day. Given this, the
present work aimed to analyze the Brazilian participation in Angola in the post-independence
period in the context of international cooperation. With regard to the methodology used, the
work was characterized as descriptive research regarding the purposes of investigation and
documentary bibliographical research, regarding the means of investigation. The study allowed
to achieve as results in relation to the large international markets, the two positions can be
considered eccentric, which makes the freight of their products more expensive. However, their
geographical positions allow them to exert a strong influence on the South Atlantic Sea routes.
Angola is the third potential state in Black Africa, with excellent reserves of oil, diamonds, top
quality iron ore, copper, manganese, phosphate, salt, and uranium. It can be concluded that the
Angolan State has not known peace for a long period. Its people still suffer the bitterness of the
endless conflict. There is also the deficiency of work, food, energy, transport, public health.
There is, however, hope that with the end of the civil war in 2002, peace in Angola will be
consolidated and lasting, allowing the resolution of its serious internal problems. For this
reason, we recommend that the two countries promote the improvement of cooperation
mechanisms in order to speed up the execution of the signed agreements.
vii
LISTA DE FIGURAS
viii
LISTA DE TABELAS
ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
UA – União Africana
UE – União Europeia
xi
ÍNDICE
FOLHA DE APROVAÇÃO......................................................................................................iii
DEDICATÓRIA ........................................................................................................................ iv
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... v
RESUMO .................................................................................................................................. vi
I. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1
xii
2.4. O funcionalismo nos anos 50 e 60 ............................................................................... 7
xiii
IV. METODOLOGIA........................................................................................................ 38
VI. CONCLUSÕES............................................................................................................ 56
VII. RECOMENDAÇÕES.................................................................................................. 58
xiv
I. INTRODUÇÃO
Angola e Brasil são dois países que sempre estiveram unidos pela herança cultural, pela língua
e pelo oceano que lhes são comuns. O tráfico de escravos, a complementaridade de suas
economias coloniais, o pronto reconhecimento da Independência de Angola pelo Brasil e a sua
destacada participação no decorrer de todo o processo de paz daquele país são factos que
ilustram a comunhão dos interesses dessas nações na busca do seu desenvolvimento econômico
e social. Angola constitui uma área estratégica contígua ao território brasileiro. O Oceano
Atlântico, apesar de separá-la fisiograficamente do Brasil, representa um factor de coesão e de
identificação das aspirações de cada uma dessas nações.
Após o término da II Guerra Mundial, observou-se fases bem marcantes referentes à chamada
Ordem Mundial. Inicialmente, verificou-se a bipolaridade, competição entre as duas
superpotências – Estados Unidos e União Soviética, disputando a hegemonia. Posteriormente,
com o fim da Guerra Fria, verificou-se uma tendência multipolar, apesar da superioridade dos
Estados Unidos, e teve grande peso a teoria da Interdependência complexa. Nesta fase, actores
não- governamentais intensificaram sua importância nos relacionamentos e nas decisões
internacionais. A ONU, as ONGs (Organizações Não-Governamentais), as multinacionais e
outros actores colectivos, são exemplos típicos desta fase.
1
nova ordem (ou desordem) mundial, ainda com incertezas em áreas críticas, particularmente
quanto à segurança, que não permitem um diagnóstico muito preciso do futuro das relações
internacionais.
Neste contexto, o tema “cooperação internacional” também apresentou evoluções, e suas teorias
modificaram-se em função da conjuntura internacional.
1.4. Objectivos
2
II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1
Conceito utilizado por Troyjo, Marcos, em Tecnologia & Diplomacia: Desafios da cooperação internacional, São Paulo: Ed Aduaneiras, São
Paulo: Ed. Aduaneiras, 2003, p. 104.
3
exclusividade em sectores pré-estabelecidos pelos chamados países “transmissores”. Esta
tendência é evidente tanto no plano bilateral como multilateral. Quanto à cooperação técnico-
científica, Marcos Troyjo assim apresenta a sua visão da actualidade:
Observa-se, ainda, que a cooperação internacional, embora com grande ênfase na área
económica/comercial, não se restringe às áreas mencionadas anteriormente, englobando na
actualidade a cooperação em praticamente todos os campos: social, político, saúde, militar,
educacional e cultural.
Para uma compreensão mais realista das actividades de cooperação internacional, é importante
situá-la no contexto internacional recente, conforme será abordado a seguir.
4
divisão internacional do trabalho, dos trustes multinacionais, interconexão das
economias dos diferentes países, etc. Este nome surge pelo fato de que este processo
tomou uma amplitude particular desde os anos 80, em que a desregulamentação
generalizada acelera as condições da concorrência no plano mundial e o
desenvolvimento dos meios de transporte e telecomunicações suprimiram um a um os
obstáculos à deslocalização de centros de produção. Ao mesmo tempo, as crises
financeiras, que no passado levavam meses ou anos para se propagar, agora tocam
todas as praças financeiras em alguns instantes. (SIZE, 2005, p. 55-6.)
O conceito de Modernidade, também discutível, é abordado por Anthony Giddens, em seu livro
“As consequências da Modernidade”, onde cita: “a modernidade refere-se a estilo, costume de
vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que hoje se
tornaram mais ou menos mundiais em sua influência”. (GIDDENS, 1991, p.11).
Giddens destaca em sua obra, que a modernidade é inerentemente globalizante e menciona que
a viagem no moderno carro de “Jagrená” (o capitalismo de alta modernidade) não é
desagradável e muito menos desprovida de recompensas; os problemas são conseguir controlar
a direção e o ritmo do avanço, bem como as vítimas que ficam pelo caminho2.
2
Giddens, Consequências da Modernidade, 1991, p.140 e 151.
3
Classificação utilizada por Pons, em Claves Del Siglo XXI, 2000, p.226-230.
5
2.3.1. Teoria funcionalista
David Mitrany foi o iniciador da teoria funcionalista, tendo grande quantidade de seguidores e
intérpretes. A maioria destes partem da premissa de que o actual sistema internacional, por ser
Estado-Centrica, é a grande causa dos esforços infrutíferos para se alcançar um mundo mais
pacífico. Por isso, propõem a ideia da criação de organizações cooperativas sobre bases não
políticas, funcionais e de reduzido âmbito de acção. (GIDDENS, 1991).
Mitrany desenvolveu sua tese no período entre as duas guerras mundiais, mas seu pensamento
influiu sobre toda uma geração de “internacionalistas” que viria depois da II Guerra Mundial.
Sua ideia central era chegar a um mundo mais pacífico, reconhecendo, entretanto, as
necessidades cada vez maiores que a vida moderna requer da colaboração, entre si, mais de
especialistas do que de generalistas (elite política). Como consequência, admitia que estas novas
organizações de colaboração funcional poderiam, em alguns casos, superar as instituições
políticas tradicionais. (Idem, 1991).
Karl Deustch defendeu que para se estabelecer uma integração duradoura e firme, há
necessidade de um fluxo intenso de transações internacionais como o comércio, a
correspondência, o turismo e outros, de tal forma que tais fluxos tendem a criar sistemas
políticos e económicos integrados.
Deustch, ao referir-se à integração que daria lugar a esse aumento das comunicações, conclui
que através de tais processos se estaria alcançando o que o autor chama de “comunidades de
segurança”, que poderiam ser comunidades amalgamadas, várias unidades anteriormente
independentes com um governo único ou comunidades pluralistas, onde se mantém os governos
separados, como por exemplo, a OTAN.
6
Comunidade Europeia para dar sustento a suas bases teóricas. É assim que postulam que os
dirigentes das partes que desejam integrar-se, fazem um cálculo detalhado de custos e
benefícios antes de iniciarem as tarefas integradoras; afirmam ainda que é o pragmatismo que
guia as elites, deixando de lado todo chamado altruísta como motor da integração. Portanto, há
uma mudança do técnico para o político e baseados em uma postura realista, postulam a
necessidade de efetuar cálculos do poder, presente e a ser obtido, como exigência prévia e
inevitável, antes de acções de integração. (GIDDENS, 1991).
Após esta breve explanação das bases teóricas destas teorias de integração, será vista nos
próximos tópicos a forma como estas teorias foram aplicadas e como evoluíram em função de
mudanças no contexto internacional nos últimos anos, com destaque para as teorias
funcionalista e neofuncionalista. (Idem, 1991).
De acordo com as visões funcionalistas, essa separação transpor-se-ia para os planos político e
técnico, de forma que as funções governamentais deveriam ser decompostas em elementos mais
simples e instrumentalizadas de modo a permitir a cooperação internacional, a qual teria, por
consequência, conotação eminentemente técnica.
Ernest Haas reelaborou essas mesmas premissas de forma a conferir maior importância ao
sentido político de cooperação. Para ele, a busca da integração resultaria da acção de elites no
âmbito governamental e no privado, estando pautada por uma visão pragmática de expectativas
de ganho indutor de novas formas de acção política. Conforme visto acima, Haas define a
integração como o processo no qual os atores políticos são persuadidos a transferir lealdade a
4
Visão da abordagem funcionalista apresentada por Vaz, Alcides em Cooperação, Integração e Processo Negociador, 2002, p. 27-32
7
um novo centro de poder. A lealdade resultaria da satisfação com o atendimento, pelas agências
governamentais, de expectativas e demandas de um conjunto diversificado de atores sociais.
O interesse dos estudiosos passou a recair menos nos processos formais para centrar-se no
fenómeno da interdependência no sistema internacional e em suas implicações políticas, quer
do ponto de vista das relações entre os Estados e das estruturas de poder, até então estudadas
sob a óptica realista, quer da conformação de um sistema marcado, entre outros aspectos, pela
crescente influência dos factores e agentes económicos e pela emergência de uma pluralidade
de atores não estatais competindo com os Estados, em diferentes níveis, pela lealdade dos
indivíduos. (TROYJO, 2003)
5
Visão da abordagem neo-funcionalista apresentada por Vaz, Alcides em Cooperação, Integração e Processo Negociador, 2002, p. 32-36.
8
Com base nessa realidade, construiu-se uma perspectiva sistémica que permitiria situar os
sistemas regionais no âmbito de um macro sistema internacional, considerando a pluralidade
de agentes e temas em cada nível. A integração deveria, segundo esse novo prisma, ser
compreendida a partir de perspectivas da economia política internacional que permitissem
superar as limitações do realismo, sem, contudo, desvinculá-la da política internacional, e que,
ao mesmo tempo, considerassem a crescente influência do liberalismo no comportamento dos
atores no campo económico. (TROYJO, 2003)
• O não emprego da força militar entre as partes em situação ou temas que conformem
uma relação de interdependência complexa.
6
Descrito por Carlos Pons, em Claves del Siglo XXI, 2000, p.88-91.
9
De acordo com essa óptica, os objectivos dos Estados variam segundo o tema ou área de
interesse, o que causa a eles maiores dificuldades na alocação dos recursos e no emprego dos
instrumentos de poder, os quais podem incluir a manipulação de interdependência, as próprias
organizações internacionais e os atores transnacionais.
Ainda em conformidade com esse paradigma, a diversidade de temas e de interesses que marca
a interacção entre os Estados, e destes com os demais atores, acarreta uma condição em que a
cooperação se faz necessária e será empreendida segundo os recursos e instrumentos adequados
a cada área. Gera-se, assim, uma forma de interdependência política, porém, não equivalente à
integração política, como preconizada pelos funcionalistas dos anos 50 e 70.
Regimes internacionais são o conjunto de normas, princípios e regras comuns que orientam o
comportamento dos Estados numa determinada área em que os mesmos procuram estabelecer
cooperação em bases recíprocas. Os regimes podem ser formais, quando instituídos sob a forma
de acordos, tratados ou organizações internacionais, ou informais, quando a cooperação
prescinde de um arcabouço institucional, ainda que amparada em alguns instrumentos jurídicos,
como é o caso do regime de não proliferação nuclear consubstanciado no Tratado de Não
Proliferação Nuclear (TNP).
10
Não se deve daí concluir que a integração política seja difícil de ser realizada em um marco de
crescente interdependência e que, do ponto de vista teórico, os modelos que retractam e
explicam a interdependência não comportem as formas de integração política concebidas nas
formulações teóricas anteriores. De fato, se considerada a realidade dos anos 70 à primeira
metade da década de 1980 do ponto de vista da dinâmica dos processos formais de integração
e de construção de arranjos supranacionais, as perspectivas da integração internacional foram
certamente exíguas. Com excepção da União Europeia (EU) que persegue a integração pela via
da supranacionalidade, a realidade dos anos 90 corrobora a reorientação das visões
funcionalistas no sentido de conceber a integração sob arranjos intergovernamentais e com
diferentes graus de institucionalização, e não apenas segundo formas supranacionais.
As teorias de integração viriam a receber novas contribuições no início dos anos 90, que
procuraram romper com a dicotomia entre factores internos e externos que se configurou nos
períodos anteriores.
Tal “oferta” visava a concertação mais ampla que culminaria com recompensas pontuais pela
filiação dos atores coadjuvantes à matriz ideológica.
Com o êxito desse modelo de cooperação se buscava, igualmente, “seduzir” o actor periférico
ainda não “convertido” para a adesão ao que se poderia chamar de “bloco ideológico”. Ao
segundo pólo caberia a “aceitação” de modalidades de cooperação que, no mais das vezes, não
contemplariam qualquer transferência de tecnologia que suscitasse, a partir das actividades de
cooperação, uma capacidade “multiplicadora” e “concorrencial” nos países periféricos.
(TROYJO, 2003)
7
Troyjo, em Tecnologia & Diplomacia: Desafios da cooperação internacional, 2003, p. 91.
12
• Privilegiam aspectos de parceria, co-financiamento, inovação e “pré competitividade”;
8
Tabela elaborada pelo autor desta monografia, baseada no texto de Troyjo, em Tecnologia & Diplomacia: Desafios da cooperação
internacional, 2003, p. 96-97.
13
III. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A moeda oficial é o Kwanza, e com uma grande quantidade na circulação do dólar norte-
americano no mercado. A Língua Oficial é o Português e existem cerca 42 línguas nacionais
(dialectos), destacando-se o Kimbundu, Umbundu, e o Kicongo, como os mais abrangentes. No
ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2012, o país está na 148º posição.
Potencialmente rico em recursos minerais. Estima-se que o seu subsolo albergue 35 dos 45 mais
importantes do comércio mundial entre os quais se destacam o petróleo, gás natural, diamantes,
fosfatos, ferro, cobre, magnésio, ouro e rochas ornamentais. (MINISTERIO DA
COMUNICAÇÃO SOCIAL, 2013).
14
Angola após a sua independência viveu por um longo período de conflito civil armado datado
de 1976 até 2002. Nestes, 26 anos de conflito armado que vitimou quase um milhão de pessoas,
assolando drasticamente nos domínios da sociedade, atrasando o desenvolvimento da economia
do país. (RIZZI, 2008).
Uma década de paz tem beneficiado consideravelmente do país, que vem experimentado altas
taxas de desenvolvimento económico crescente. Porém, a mudança para um funcionamento de
uma economia de mercado estável ainda não foi concluída. Apesar das reformas económicas
significativas implementadas desde o início dos anos 2000, a estabilização macroeconómica
ainda precisa ser consolidada numa base sustentável, terreno o que, em muitos casos, explica
as altas taxas de crescimento. Este é basicamente o crescimento home-grown, porque, como irá
ser discutido mais tarde, com a excepção de actividades extractivas, Angola não tenha
experimentado muito dinamismo exportador agrícola ou de fabricação. (BANCO MUNDIAL,
2007).
Angola é povoada pelo menos desde o século V a.C., embora existam achados arqueológicos
de ocupações muito anteriores.
Os portugueses, sob o comando de Diogo Cão, no reinado de D. João II, chegaram ao Zaire em
1483. É a partir deste momento que se iniciará a conquista pelos portugueses desta região de
África, incluindo Angola. O primeiro passo foi estabelecer uma aliança com o reino do Congo,
que dominava toda a região. Ao sul deste reino existiam dois outros, o de Ndongo e o de
Matamba, os quais não tardaram a fundir-se, para dar origem ao reino de Angola. (RIZZI,
2008).
Explorando as rivalidades e conflitos entre estes reinos, na segunda metade do século XVI, os
portugueses instalaram-se na região de Angola. O primeiro governador de Angola, Paulo
15
Novais, procurou delimitar este vasto território e explorar os seus recursos naturais, em
particular os escravos. A penetração para o interior, como em todas as outras colonizações
europeias na África, foi muito limitada. Em 1576, foi fundada São Paulo de Luanda, a atual
cidade de Luanda.
Até finais do século XVIII, Angola funcionou como um reservatório de escravos para as
plantações e minas do Brasil. A ocupação dos portugueses confinou-se às fortalezas da costa.
A colonização efetiva do interior só teve início no século XIX, após a Independência do Brasil
(1822) e o fim do tráfico de escravos (1836-42), mas não da escravatura. Esta ocupação pode
ser interpretada como uma resposta às pretensões de outras potências europeias, como a
Inglaterra, a Alemanha e a França, que reclamavam na altura o seu quinhão em África. Diversos
tratados foram firmados estabelecendo os territórios que a cada uma cabem, de acordo com o
seu poder e habilidade de negociação. (ABRANTES, 2005).
O desenvolvimento econômico só teve início de forma sistemática, em finais dos anos trinta,
quando foi incrementada a produção de café, sisal, cana do açúcar, milho e outros produtos.
Tratava-se de produtos destinados à exportação.
No princípio dos anos 60, três movimentos de libertação - UPA/FNLA, MPLA e UNITA (União
Nacional para a Independência Total de Angola), desencadearam uma luta armada contra o
colonialismo português.
Com o fim da segunda Guerra Mundial, o mundo passou a viver a Bipolarização de ideologias
entre o Capitalismo dos Estados Unidos e o Comunismo da União Soviética, período da história
que ficou conhecido como a Guerra Fria. Durante este período, os Estados Unidos e a União
Soviética se engajaram numa clássica corrida armamentária, desenvolvendo armas nucleares e
meios de lançamentos cada vez mais sofisticados tecnologicamente.
“(...) um país podia ser não alinhado, como muitos eram, ou, como faziam alguns,
podia mudar seu alinhamento de um lado para o outro. Os dirigentes de um país
podiam fazer essas opções em função das suas percepções dos seus interesses de
segurança, suas avaliações do equilíbrio de poder e suas preferências ideológicas. No
mundo novo, entretanto, a identidade cultural é o fator essencial para moldar as
associações e os antagonismos de um país. Enquanto um país podia evitar se alinhar
no contexto da Guerra Fria, ele não pode prescindir de identidade. A pergunta “De
que lado você está?” foi substituída pela pergunta muito mais fundamental “Quem
você é?”. Todos os Estados precisam ter uma resposta para essa pergunta. A resposta
– sua identidade cultural – define o lugar desse Estado na política mundial, seus
amigos e seus inimigos.” (HUNTINGTON, 1996, p.153).
9
Expressão utilizada por Samuel Huntington em O Choque das Civilizações. São Paulo: Ed Objetiva, 1996, p.247
17
também mais suscetíveis às influências norte-americanas e de outras origens externas. Por que
não trabalhar com um tirano amistoso menos brutal se a alternativa era outro mais brutal e
inamistoso? (ABRANTES, 2005).
Em 1964, no Congo, Agostinho Neto se encontrou com Che Guevara, que lhe ofereceu a
assistência de Cuba.
No lado do MPLA, vários instrutores cubanos tinham de fato estado com os guerrilheiros desde
os primeiros dias da guerra de libertação em Cabinda, mas o que desencadeou o envio de 480
instrutores cubanos, que chegaram no meio de Outubro em três navios, foi a invasão de tropas
regulares sul-africanas, que entraram dez milhas no sul de Angola em 5 de Agosto de 1975,
seguidas por novas ondas de invasão entre 14 e 23 de outubro do mesmo ano, com veículos
armados e artilharia que se movia para o norte em direção à Luanda. O governo sul-africano
justificou o ataque alegando que Angola fornecia armas aos guerrilheiros da vizinha Namíbia,
um país pequeno, mas rico em ouro e outros minerais. Na verdade, a África do Sul queria deter
18
o avanço de movimentos de esquerda no continente, avanço que poderia estimular a luta contra
o “apartheid” sul-africano10.
A importância da Independência de Angola foi assim descrita por Victoria Brittain em sua obra
Morte e Dignidade: A Guerra Civil em Angola:
Os países do Terceiro Mundo, da América Latina e da Ásia, que lutavam com as complicações
econômicas e sociais deixadas pelo colonialismo, identificaram-se com a natureza desigual da
luta angolana. E a dura independência conquistada por Angola era, para muitas nações pós-
coloniais ou coloniais, uma garantia de que a libertação do resto da África era possível. Em
Angola, tal como no Vietnã, as guerrilhas tinham vencido. A vitória do Movimento Popular
para a Libertação de Angola (MPLA) fez parte dos fatores que deram origem ao novo
sentimento de confiança que varria o Terceiro Mundo.
O exército voluntário do MPLA tinha lutado contra os portugueses no interior do país durante
mais de uma década, contribuindo para o colapso do império português, derrubado pelo golpe
contra o regime fascista em Lisboa em Abril de 1974. Os guerrilheiros angolanos, homens e
mulheres, brancos e negros, tinham conseguido derrotar a força militar mais poderosa da África
– a da África do Sul do “apartheid” -, o bem equipado exército regular do Zaire, duas forças
angolanas rivais – a UNITA e a FNLA. (ABRANTES, 2005).
A independência de Angola não foi o início da paz, mas o início de uma nova guerra aberta.
Muito antes do dia da Independência, 11 de Novembro de 1975, já os três grupos nacionalistas
que tinham combatido o colonialismo português lutavam entre si pelo controle do país, e em
particular da capital, Luanda. Cada um deles era na altura apoiado por potências estrangeiras,
dando ao conflito uma dimensão internacional. (Página “Imigrantes”, 2004).
10
Disponível em http://www.tvcultura.com.br/aloescola/historia/guerrafria/guerra10/terceiromundo-africa3.html.
Acesso em 02/05/2022.
11
Disponível em http://imigrantes.no.sapo.pt/page2angola2.html. Acesso em 10/04/2004.
19
A consolidação da libertação de Angola do jugo colonialista português deu força a outros
movimentos similares no continente africano.
Com a morte de Agostinho Neto em 1979, sendo sucedido no poder por José Eduardo dos
Santos, não houve redução do comportamento agressivo da UNITA. As crescentes pressões que
os EUA sofriam para condenar o regime da apartheid na África do Sul levavam cada vez mais
o mundo a ver que uma solução negociada para o conflito era o único caminho para acabar com
sua internacionalização.
Em dezembro de 1988, Nova Iorque, foi palco do encontro histórico entre os governos da África
do Sul, Angola e de Cuba, sob mediação dos EUA. A retirada das tropas sul-africanas e cubanas
era o ponto determinante do acordo, que também previa a negociação de paz entre o governo
de Angola e a UNITA, e a definição, por parte da África do Sul, de uma data para a
independência da Namíbia. Com efeito, os soldados estrangeiros retiraram-se de Angola,
obedecendo a um cronograma, e a Namíbia tornou-se independente, em março de 1990. Esse
facto mostra a importância que Angola teve na libertação da Namíbia. (Idem, 2008).
O governo cumpriu os seus compromissos: desmobilizou grande parte de seu exército, de quase
400 mil homens, garantiu a liberdade dos partidos políticos e programou eleições presidenciais
e legislativas para Novembro de 1992. Durante a campanha, que trouxe um clima de relativa
paz ao país, Savimbi, líder da UNITA, começou a mostrar os seus reais desígnios. Com um
aparato de segurança ameaçador, intimidava a população, começava a admitir atentados que
20
antes negava, deixando claro que não aceitaria outro resultado no pleito que não fosse sua
vitória. (RIZZI, 2008).
Mesmo assim, Savimbi não conseguiu seu intento, e a população mostrou claramente que
caminho desejava seguir. O MPLA derrotou a UNITA por 54% a 34% dos votos nas eleições
legislativas, enquanto, para a presidência, José Eduardo dos Santos teve 49,6% dos votos, e
Savimbi, 40,1%. Apesar da vitória, o acordo prévio que, se nenhum dos candidatos alcançasse
50% dos votos, haveria uma nova volta na eleição.
Mas essa nova volta não chegou a ser realizada. Savimbi alegou fraudes na votação,
contrariando o parecer de toda a comunidade internacional, inclusive da representante especial
do secretário-geral das Nações Unidas, Margareth Anstee. O líder da UNITA, assim, retirou-se
para a província de Huambo e ordenou o reinício da guerra em grande escala. As FAPLA
haviam sido desmobilizadas, as FAA ainda estavam em formação, mas as FALA ainda estavam
intactas. Eram dois os objetivos: controlar totalmente o país, ou, pelo menos, grande parte dele,
inclusive com o intuito de criar a "Angola do Sul". (ABRANTES, 2005).
Savimbi foi surpreendido pela resistência da própria população, que, indignada com a violação
do tratado de paz, empunhou armas em várias cidades e lutou contra as forças da UNITA. Em
Luanda, os combates foram violentos, e as forças de Savimbi foram expulsas da capital. Com
o tempo, essa resistência foi ocasionando o aumento progressivo dos bandos de Savimbi contra
as populações civis.
As Forças Armadas, auxiliadas pela mobilização popular, começaram uma escalada de êxitos
contra a UNITA que as colocaram muito próximas à vitória final. Mas os apelos internacionais,
e em especial a pressão dos EUA, levaram novamente à reabertura da via diplomática. Savimbi,
acuado, prestou-se prontamente a voltar à mesa de negociações. Seu objetivo era ganhar tempo.
Vários encontros que pretendiam retomar as negociações foram realizados sob os auspícios das
Nações Unidas: Namibe, no sul de Angola, em 1992; em Addis Abeba, na Etiópia, entre Janeiro
e Março de 1993; e em Abidjan, na Costa do Marfim, em Abril e Maio de 1993. Todos
fracassaram e a UNITA atacou o Uíge, no norte do país. Em Addis Abeba, a UNITA abandonou
a mesa de negociações e iniciou um ataque ao Huambo. (Idem, 2005).
21
caso, Savimbi exigia que tropas da ONU entrassem em ação enquanto os exércitos da UNITA
e as FAA se acantonariam. Tal atitude ia totalmente contra as várias resoluções das Nações
Unidas que determinaram, após as eleições de 1992, a retirada das tropas da UNITA dos
territórios ocupados. A guerra recrudescia ainda mais. (ABRANTES, 2005).
No dia 20 de novembro de 1994, após meses de difíceis negociações, o então ministro das
Relações Exteriores de Angola, Venâncio de Moura, e o então secretário-geral da UNITA,
Eugénio Manuvakola, assinaram o Protocolo de Lusaka, na Zâmbia, que retomava pontos
básicos do Acordo de Bicesse.
Havia a esperança de que este novo acordo traria a paz definitiva devido a algumas boas razões:
a Guerra Fria tinha terminado, e o mundo começava a se voltar mais para a defesa dos direitos
humanos. E principalmente porque, em Maio de 1993, os EUA, na figura do presidente Bill
Clinton, reconheceram o Governo de Angola. O presidente norte-americano tinha o objetivo de
esvaziar qualquer conotação política que pudesse haver nos atos terroristas de Jonas Savimbi.
(RIZZI, 2008).
Apesar dos esforços das Nações Unidas, novamente pouco saiu como previsto, a começar pela
desmobilização das tropas. As Forças Armadas reduziram os seus efetivos para apenas 70 mil
homens, mas a UNITA continuava a relutar em integrar seus homens no exército único.
22
Durante todo esse processo, Savimbi não cedeu em sua agressividade. Em dezembro de 1995,
atacou o município de Soyo, onde estão sediadas as empresas petrolíferas norte-americanas e
francesas. E em março de 1998, suas forças promoveram o massacre de mais de 200 civis na
província de Malanje. E Savimbi continuava a treinar suas tropas, como atestou, em agosto de
1997, a própria força de paz da Missão de Observação das Nações Unidas em Angola
(MONUA). (ABRANTES, 2005).
Neste ponto, a falha da MONUA foi não perceber que Savimbi aproveitava o cessar-fogo para
contrabandear diamantes e, com o dinheiro obtido, fortalecer suas tropas com armamentos
sofisticados e mercenários ucranianos, tutsis e sul-africanos. E, enquanto isso, o governo
angolano buscava voltar à mesa de negociações e fazia concessões. Os ataques de Savimbi
continuaram e a guerra prosseguiu até recentemente. Após quase 40 anos de conflitos, cinco
em cada seis angolanos nunca conheceram a paz. Desconhecem-se os números exatos, mas os
mortos elevam-se a mais de 1 milhão. Cerca de um terço da população foi deslocada pela guerra
ao ser obrigada a deixar seus locais de origem. (Idem, 2005)
Após longo período de guerra civil com milhares de mortos e deslocamento em massa de sua
população, a morte, em fevereiro de 2002, de Jonas Savimbi, líder da UNITA, levou à assinatura
do cessar-fogo de quatro de abril do mesmo ano e pôs fim ao sangrento conflito angolano. A
paz trouxe esperança, mas também novos desafios e prioridades para Angola. Um dos desafios
mais importantes enfrentados pelo país em sua transição para a paz será o retorno e integração
de milhões de deslocados internos, refugiados nos países vizinhos e os ex-combatentes
deslocados durante o conflito. (ABRANTES, 2005)
Um ano após a assinatura do acordo de paz, mais de dois milhões de pessoas deslocados
internos e aproximadamente 25 por cento dos refugiados vivendo no exterior retornaram para
seus lugares de origem. No entanto, um grande efetivo desses deslocados ainda permanece no
exílio, em centro de trânsito ou acampamentos temporários. Tragicamente, o retorno de
deslocados internos, frequentemente sem qualquer assistência formal, tem causado centenas de
mortes e ferimentos, devido principalmente a ampla presença de minas terrestres em Angola, e
colocou centenas de milhares de civis em necessidade urgente de assistência e proteção.
(ABRANTES, 2005)
A “Human Rights Watch”12 acredita que o sucesso da transição da guerra para uma paz
duradoura depende do respeito aos direitos fundamentais desses três grupos. Particularmente,
as autoridades angolanas e das Nações Unidas (ONU) devem garantir a segurança, a entrega de
suprimentos de ajuda humanitária e fornecer educação e outros serviços básicos para aqueles
em centros de trânsito. Devem ainda garantir condições semelhantes nas áreas de retorno dos
deslocados internos, refugiados e ex-combatentes. As autoridades angolanas e as agências da
ONU deveriam prestar atenção especial às necessidades das mulheres, crianças e outros grupos
vulneráveis. A não garantia dessas normas poderá agravar a situação atual, ameaçar o processo
de paz e minar as esperanças de desenvolvimento. (Idem, 2005)
12
Disponível em http://www.hrw.org/portuguese/reports/angola0803/3.htm. Acesso em 22/03/2022.
24
uma grande preocupação internacional no sentido de um esforço para desenvolver a infra-
estrutura devastada em Angola.
Os angolanos lutaram para sobreviver em meio a um dos mais longos conflitos da história
moderna. Durante esse período contabilizou-se, aproximadamente, um milhão de pessoas
mortas, 4,1 milhões de deslocados e 400.000 levados aos países vizinhos da Zâmbia, Congo,
República Democrática do Congo e Namíbia13.
A situação atual é de grande esperança de que a paz interna realmente seja consolidada e que
Angola possa retomar, dentro de um quadro de normalidade política, ao seu tão desejado
desenvolvimento econômico e social. Sem dúvidas, as atividades de cooperação internacional
neste momento são importantíssimas e extremamente valiosas para o povo angolano. (RIZZI,
2008).
De acordo com a Organização das Nações Unidas - ONU (2013), e como foi apresentado
anteriormente, Angola enfrentou 40 anos de conflito até 2002. Este teve efeitos duradouros
sobre a estrutura da sua economia e sociedade. Angola costumava ser uma commodity agrícola.
Exportador de lavouras de café e produtos básicos, como milho, e foi quase auto-suficiente em
alimentação. A luta armada levou a um declínio drástico nas actividades produtivas como tais:
produção agrícola foi gravemente devastada, e uma proporção significativa da população
deslocada. E por sua vez as actividades de fabricação, que responderam por 10 por cento do
PIB no momento da independência, quase desapareceu.
Pouco mais de 10 anos após o fim do conflito, Angola efectuou progressos substanciais em
termos económicos e termos políticos. Angola foi o segundo maior produtor de petróleo da
África em 2010 e, teve uma taxa de crescimento anual médio de 12%. No entanto, os sectores
de extracção, em especial petróleo e gás, tiveram uma integração muito limitada na economia
doméstica, e sua contribuição para a geração de emprego tem sido mínima. (ONU, 2013).
A redução da pobreza é considerada pelo Governo como uma ferramenta para apoiar o
crescimento económico e desenvolver um mercado interno. A estratégia de redução da pobreza,
Estratégia de Combate à Pobreza (ECP), foi formalmente aprovada em 2004 e revista em 2005.
13
Dados constantes da Página “Human Rights Watch”, disponível em http://www.hrw. org/portuguese /reports/
angola0803/3.htm. Acesso em 22/03/2022.
25
Tem-se centrado na reconstrução da infra-estrutura, para com isso aceder a educação, saúde e
outros serviços básicos; e na descentralização das estruturas de governança. (UNIDADE DE
RECONCILIAÇÃO NACIONAL, 2004).
Estes níveis acima apresentados, são insuficientes para gerar oportunidades de emprego ou para
promover crescimento e diversificação da economia. Sendo assim o Governo adoptou políticas
para promover o emprego dos angolanos, exigindo às empresas para contratar um percentual
mínimo (70%) dos nacionais. No entanto, a falta de mão-de-obra de qualificada tornou difícil
para cumprir este requisito. Os sectores modernos da economia e obras de reconstrução ainda
são altamente dependentes de trabalhadores qualificados estrangeiros. (PNUD 2005).
26
vez da privatização das instituições financeiras existente no país. Os bancos públicos são fracos.
As instituições financeiras bancárias e não bancárias autorizadas a operar em Angola devem
estar devidamente registradas no Banco Nacional de Angola (DOING BUSINESS, 2012).
Porém, o número de filiais operados por bancos públicos e privados aumentou, e outros serviços
para os consumidores, tais como cartões de crédito e Caixas electrónicos, também estão se
expandindo. No entanto, embora depósitos compulsórios cresçam significativamente no sector
financeiro angolano, apenas 20% da população tem acesso a serviços bancários. (EULER,
2010).
Pode-se assim, entender que Angola é um país em transição, tanto orientado a uma economia
de mercado (quer seja nacional como global) quanto a um sistema político democrático. Em
ambas as áreas ainda há muitos desafios que exigem atenção (BANCO AFRICANO DE
DESENVOLVIMENTO, 2011; VINES et.al, 2005; BANCO MUNDIAL, 2007). Além disso,
segundo a Fundação Mo Ibrahim (2011), a capacidade institucional existente em Angola é
muito limitada e a governação precisa melhorar exponencialmente. Porém, alcançou 44,1 dos
100 pontos possíveis no Índice de Governação Africana (IGA).
3.2.História do Brasil
História do Brasil não possui um marco inicial bem definido. Não obstante, tradicionalmente,
existe uma datação recorrente sobre a chegada dos portugueses com Pedro Álvares Cabral, em
22 de abril de 1500, à região costeira de onde hoje é a Bahia. Seria esse então o “descobrimento
do Brasil”. No entanto, cabe ressaltar que se trata da descoberta dos portugueses. Diversos
grupos étnicos já habitavam o território que veio a ser o Brasil muito antes de qualquer europeu
desembarcar nele.
Os hinos, bandeiras, brasões, emblemas, palavras de ordem, e tudo aquilo que nos remete à
identidade nacional, dizem respeito a essa construção. Ser patriota é ser adepto de um projeto
de nação, que muitas vezes diverge de outros projetos que também estão em construção.
Portanto, seria mais preciso referirmo-nos ao processo da chegada dos portugueses como a
invenção do Brasil, da qual se sucederam projetos diferentes.
27
3.2.1. Período pré-cabralino (-1500)
Antes da chegada dos portugueses, havia diversos grupos étnicos ocupantes do território que,
futuramente, seria chamado Brasil. O período Pré-Cabralino diz respeito, como o próprio nome
sugere, à história que antecede o contato desses povos separados pelo Atlântico.
Durante algum tempo, era comum encontrar a denominação “Pré-História do Brasil”, que já
não é considerada adequada por grande parte dos historiadores e antropólogos. A história não
passa a existir após a chegada dos portugueses. E mesmo que exista o argumento de que essa
expressão preserva a noção de que a história diz respeito às fontes escritas, desde meados do
século XX até os dias de hoje, a historiografia desenvolveu-se bastante tendo em vista
metodologias que analisem outros tipos de fontes. (ZILLI, 2015).
Estima-se que os primeiros povos começaram a habitar o território onde hoje é o Brasil há
60.000 anos. Contudo, devido a esse enorme traçado temporal e à ausência de qualquer tentativa
de preservação do seu início, muito foi perdido da integridade dessa história.
Nesse sentido, um dos indícios mais trabalhados pela arqueologia sobre o território brasileiro
são os sambaquis, que consistem em depósitos de matéria orgânica e calcário, formados pela
ação humana e que, ao longo do tempo, sofreram um processo de fossilização. Eles oferecem
informações importantes sobre as primeiras populações que habitaram nosso território por volta
de 2.000 a 8.000 anos atrás. (Idem, 2015).
Com a chegada dos jesuítas, em meados do século XVI, uma série de “obras gramaticais” foi
produzida com o objetivo de normatizar algumas “línguas dificultosas” da colônia. Nesse
empreendimento, foram catalogados conhecimentos valiosos sobre línguas indígenas do
período que corresponde à chegada dos portugueses à América.
Assim se descobriu que existiam quatro grupos linguísticos principais, sendo eles: os tupis-
guaranis, os caraíbas, os macrojês e os aruaques. Desses troncos linguísticos, como também são
chamados, derivam uma série de grupos étnicos e variações linguísticas que dão origem aos
idiomas indígenas modernos. (Idem, 2015).
28
3.2.2. Período pré-colonial (1500-1530)
Após 22 de abril de 1500, com a chegada dos portugueses ao território americano, essas novas
terras desconhecidas não despertaram grande interesse na Coroa de imediato. O Império
português estava, nesse momento, voltado para o comércio com as Índias, o qual, por sua vez,
já estava em processo de declínio, desde a tomada da Constantinopla pelos turcos otomanos em
1453, dando fim ao Império bizantino.
Já os franceses não tardaram muito e, no início do século XVI, fizeram o envio de embarcações
para o Atlântico Sul, pois estavam de olho nessas novas terras e questionavam a divisão luso-
espanhola determinada pelo Tratado de Tordesilhas. Nisso estabeleceram, em 1555, uma
colônia, na Baía de Guanabara, conhecida como França Antártica.
É interessante saber que o nome Brasil surge antes da própria terra brasileira. Desde o século
XIV, mapas europeus atribuíam-no, com diversas variantes possíveis (Bracil, Brazille, Bersil,
Braxili etc.), a uma ou mais ilhas, “expressando um horizonte geográfico ainda mítico”,
segundo a historiadora Laura de Mello e Souza. Contudo, em 1º de maio de 1500, em carta,
Pero Vaz de Caminha referia-se a essa terra por Vera Cruz. Posteriormente, outros nomes
também foram utilizados, como Terra dos Papagaios e Santa Cruz. (ZILLI, 2015)
No fim do Período Pré-Colonial, em 1530, quando Portugal envia expedições com o objetivo
de estabelecer colonos e implementar uma administração colonial, o nome Estado do Brasil
passa a ser oficial. Se quiser conhecer mais sobre esse período, leia: Período Pré-Colonial.
Em 1530, Portugal envia Martim Afonso de Souza como chefe de uma expedição colonizadora.
Sua missão era combater os traficantes franceses, que preocupavam a Coroa, estabelecer alguns
núcleos de povoamento na região litorânea e buscar metais preciosos. Para isso, foi Afonso de
Souza designado capitão-mor, o que lhe acumulava a função de exercer a justiça civil e
criminal, distribuir sesmarias, reivindicar terras em nome do rei e nomear funcionários para
administração colonial. (ZILLI, 2015)
29
Em 1532, o explorador recebeu a ordem, vinda de D. João III, de implementar o sistema de
capitanias hereditárias. Nesse sistema, o território recém-descoberto foi dividido em 15 lotes,
que formavam 14 capitanias, e eram nomeados capitães donatários os responsáveis pela
administração de cada uma delas. O sistema é implementado em 1534 (nele, o próprio Martim
Afonso de Souza torna-se donatário da capitania de São Vicente) e dura até 1548, quando surge
o governo-geral, com o objetivo de centralizar a administração colonial de todo o território.
(ZILLI, 2015)
É também na capitania de São Vicente que Martim Afonso de Souza estabelece, em meados do
século XVI, o primeiro engenho de açúcar (que, até meados do século XVII, seria o principal
produto de exportação da colônia), inaugurando, então, o ciclo do açúcar. O sistema de
plantação era o modelo utilizado nesse tipo produção. Extensas faixas territoriais eram
concedidas aos senhores de engenho, que, munidos com a fertilidade da terra, a mão-de-obra
escrava e a monocultura da cana-de-açúcar, transformaram-se na principal elite econômica,
social e política a partir de então. (ZILLI, 2015)
A partir de então, os holandeses instalam-se na América Central e passam competir com sua
produção de açúcar, prejudicando diretamente o comércio exterior do Império português. Com
isso, as entradas e bandeiras começam a voltar-se em busca de metais preciosos, até que, já no
final do século XVII, na região da capitania de São Paulo, quantidades significativas são
encontradas, dando início ao ciclo do ouro. (Idem, 1998)
30
O Período Colonial também é marcado por uma série de conflitos e revoltas, como as rebeliões
nativistas e as rebeliões separatistas. Sobretudo a partir do final do século XVII, os interesses
de uma crescente elite local e de portugueses começaram a criar problemas para a administração
colonial.
Além disso a Família Real portuguesa, sob ameaça de invasão francesa em Portugal, foge para
o Brasil que, em 1815, é designado Reino de Portugal, Brasil e Algarves, sendo o Rio de Janeiro
sede da administração do reino. Esse movimento deu fim ao Período Colonial.
Desde o final do século XVIII começou a ocorrer processos de independência das colônias
inglesas, francesas, espanholas e portuguesas. Os conflitos entre o Partido Brasileiro, nome que
se dava ao grupo político que defendia interesses locais, e os portugueses acentuavam-se cada
vez mais, culminando, em 1822, no processo de independência do Brasil. Para conhecer mais
detalhes desse período. (ZILLI, 2015)
Período Imperial vai de 1822, com a independência do Brasil, até 1889, com a proclamação da
República, e é dividido em três fases principais: o Primeiro Reinado (1822-1831), o Período
Regencial (1831-1840) e o Segundo Reinado (1840-1889). Embora, desde 1815 que o Brasil
tornara-se Reino de Portugal, Brasil e Algarves, como consequência direta da transferência
Corte para o Rio de Janeiro.
Outras medidas importantes foram tomadas, tais como a abertura dos portos às nações amigas
em 1808, a fundação do Banco do Brasil no mesmo ano, os tratados de 1810, a fundação da
Real Biblioteca, a Missão Artística Francesa em 1816, entre outras coisas. Estima-se que entre
10 a 15 mil pessoas embarcaram rumo ao Brasil, entre 25 e 27 de novembro de 1807. Estruturas
administrativas inteiras instalaram-se do outro lado do Atlântico. (CARDOSO, 1998)
A partir de então, o Brasil sofreu grandes transformações. Na política, por exemplo, houve um
movimento emancipacionista, inspirado nos ideais iluministas, na capitania de Pernambuco.
Conhecido como Revolução Pernambucana, ou Revolução dos Padres, tal motim foi fortemente
reprimido pelo Reino.
Esses e outros conflitos estabelecidos nesse período, somados à Revolução Liberal do Porto e
ao retorno da Corte para Portugal, foram decisivos para o processo de independência brasileira,
que Portugal só reconheceu oficialmente em 1825, após receber uma indenização volumosa.
31
3.2.4.1.Primeiro reinado
O principal ícone da independência brasileira foi Pedro de Alcântara (o quarto filho de D. João
VI), que, após esse processo, torna-se o primeiro imperador do Brasil, assumindo a alcunha de
Pedro I do Brasil. Diferentemente de seu pai, Pedro I admirava os ideais iluministas, defendia
ideias liberais, como a abolição da escravidão, e liberdades individuais.
Fonte: mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil
Nesse contexto, surgem dois grupos políticos informais na disputa por espaços de poder: o
Partido Português, que concentrava defensores do absolutismo, de um governo centralizado e
forte, dos comerciantes portugueses e, muitas vezes, da restauração do Brasil enquanto colônia
de Portugal; e o Partido Brasileiro, composto por comerciantes brasileiros, latifundiários e
senhores de escravos, cujos principais objetivos eram na defesa e a ampliação de direitos e
privilégios conquistados. (CARDOSO, 1998).
Em 1823, foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte, que deu origem à Constituição
Política do Império do Brasil, de 1824. Embora, a princípio, o seu papel seria limitar os poderes
do monarca, conforme os ideais iluministas, a Constituição de 1824 possuía forte caráter
autoritário e centralizador, sobretudo por meio da instituição do poder moderador.
Em 1826, com a morte de João VI, pai do imperador, abre-se um problema de sucessão na
monarquia lusitana. Diante disso e da incapacidade de acalmar os ânimos no Brasil, Pedro I
32
abdica do trono e deixa seu filho, Pedro II, com apenas cinco anos, como seu sucessor. Contudo,
a própria Constituição de 1824 determinava que o imperador deveria ter, pelo menos, 21 anos
de idade para assumir o cargo. Foi preciso, assim, estabelecer um governo regencial,
inaugurando uma nova fase do Período Imperial.
3.2.4.2.Período regencial
O Período Regencial foi marcado por uma série de conflitos constantes com o governo central,
criando sucessivos quadros de instabilidade política, agravada pela grave situação econômica.
As forças políticas dividiam-se, basicamente, em duas vertentes: os liberais e os conservadores,
estes com maior presença política. (ZILLI, 2015).
Na tentativa de conter essas rebeliões, em 1834 foi promulgado um ato adicional que revisou
pontos importantes da Constituição de 1824, proporcionando, entre outras coisas, maior
autonomia das províncias. Contudo isso não foi suficiente. Dentre essas revoltas regenciais,
destacaram-se: Revolta dos Malês (1835), Cabanagem (1835-1840), Sabinada (1837-1838),
Balaiada (1838-1841) e Revolta dos Farrapos (1835-1845).
Em julho de 1840, sob iniciativa dos liberais, que pressionavam a Regência, foi dado o Golpe
da Maioridade, nomeando D. Pedro II, com apenas 14 anos de idade, imperador do Brasil. Foi
uma tentativa dos liberais de ocuparem mais espaço nas decisões políticas, além de viabilizarem
uma forma de conter as agitações políticas que se alastravam por todo o território. Inicia-se,
assim, o Segundo Reinado (1840-1889). (Idem, 2015).
3.2.4.3.Segundo reinado
Durante esse período, ocorreram transformações profundas. A economia do Império que, desde
o ciclo do ouro, estava em sérias dificuldades, encontrou no aumento do consumo do café no
exterior a possibilidade de aumentar suas exportações, diminuindo, assim, seu deficit comercial.
Essa atitude deu início ao ciclo do café. Tal atividade, que já vinha ocorrendo antes mesmo da
chegada da Corte portuguesa, portanto, acelerou-se. (Idem, 2015).
33
No entanto, somente com a promulgação das leis abolicionistas, a partir de 1850 com a Lei
Eusébio de Queirós, o combate à escravidão começou a ser colocado em prática no Brasil. Outro
evento importante, tanto para a abolição quanto para a formação sociopolítica que deu origem
ao movimento de derrubar a monarquia brasileira, foi a Guerra do Paraguai (1864-1870).
Escravos foram enviados ao campo de batalha, muitos deles até obrigados, sob a promessa de
alforria após o término do conflito. (ZILLI, 2015)
Após a vitória brasileira, e seu alto nível de endividamento para financiar a guerra, D. Pedro II
sai fragilizado politicamente, ao mesmo tempo que os militares passam a ocupar mais espaço
dentro do debate político. São eles, inclusive, que encabeçam a proclamação da República, em
1889. Caso queira aprofundar-se mais nesse período da história do Brasil, leia: Brasil Império.
3.2.4.4.Período republicano
A República Brasileira, período sob o qual o país ainda está em vigência, pode ser dividida da
seguinte forma: Primeira República/República Velha (1889-1930), Governo Provisório (1930-
1934), Constitucional de Vargas (1934-1937), Estado Novo (1937-1945), Quarta República
(1945-1964), Ditadura Militar (1964-1985), e Nova República (1985-até os dias atuais).
É importante destacar que, mesmo diante do sistema republicano, o Brasil possui historicamente
sérias dificuldades em manter-se sob o regime democrático. Durante esse período, foram
promulgadas outras seis constituições, sendo duas delas (a de 1937 do Estado Novo e a de 1967
da Ditadura Militar) de caráter fortemente autoritário. (Idem, 2015)
3.2.4.5.Primeira república
Esse período da Primeira República também foi marcado pela alternância do poder, entre as
oligarquias de São Paulo e Minas Gerais, que ficou conhecida como política do café com leite.
Esse tipo de política contribuía ainda mais para o isolamento dos outros Estados da federação
e consolidava a hegemonia do Sudeste do país. (CARDOSO, 1998)
34
Figura nº 3 – Bandeira da República Brasileira
Fonte: mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil
Apenas em 1930, com o movimento civil militar liderado por Getúlio Vargas, após vitória de
Washington Luís ao cargo do executivo nacional ser questionada pela Aliança Liberal, deu-se
início então à Revolução de 1930. O Brasil, a partir de então, inicia uma nova fase da República.
3.2.4.6.Era vargas
Durante a Era Vargas (1930-1945), houve um rearranjo das forças políticas, que se
concentravam em setores médios dos centros urbanos. Esse, inclusive, foi o período de maior
crescimento industrial da história do Brasil. Foi quando, também, criou-se a Consolidação das
Leis Trabalhistas (CLT), no dia 1º de maio de 1943, unificando e ampliando os direitos dos
trabalhadores, entre outras coisas.
Contudo, é importante ressaltar que o Estado Novo foi uma ditadura que perseguiu lideranças
políticas, sobretudo ligadas ao Partido Comunista do Brasil, além de ter feito aliança, em alguns
momentos, com a Ação Integralista Brasileira, de inspiração fascista, com o Integralismo
Lusitano e com a Doutrina Social da Igreja Católica. (CARDOSO, 1998).
Ao mesmo tempo, Vargas possuía forte capilaridade nos movimentos dos trabalhadores,
conseguindo, inclusive, controlar de perto as atividades dos sindicatos. Por esses motivos,
muitas vezes, Vargas é chamado de populista. Todavia, uma historiografia já consolidada no
assunto identifica problemas desse tipo de atribuição, uma vez que trata a massa de eleitores
que o apoiou não por ser facilmente manipulável em torno de um projeto de poder, mas porque
parte considerável de suas demandas foi atendida pelo Executivo. (Idem, 1998).
Aliás, Getúlio Vargas é uma personalidade com muitas nuances. Toda a era que leva o seu nome
na história da República do Brasil divide-se em momentos muito distintos, estando em lados
distintos do espectro político e atendendo demandas aparentemente contraditórias. Ainda hoje
é a principal referência política e histórica para o trabalhismo brasileiro.
35
No entanto, a tradição do trabalhismo deixada por Vargas transformou-se em uma grande
ameaça política, segundo os militares e forças da Unidade Democrática Nacional (UDN), que
queriam sua renúncia. Na segunda metade da década de 1940, sucedem-se uma série de pressões
buscando interferir na já fragilizada democracia recentemente instaurada após o fim do Estado
Novo. Vargas foi eleito em 1950 pelo voto direto, assumiu a presidência em 1951 e, sob pressão
dos militares, que já ameaçavam um golpe no país, suicidou na madrugada de 24 de agosto de
1954. (ZILLI, 2015).
Apesar desse ato “retardar o golpe”, o clima de instabilidade política acirrou-se cada vez mais.
Em 1961, quando o ex-ministro do trabalho de Vargas, João Goulart, na ocasião vice-presidente
do Brasil, deveria assumir a presidência da República após a renúncia de Jânio Quadros, os
militares tentaram impedi-lo.
Foi quando Leonel Brizola, naquela ocasião, Governador do Rio Grande do Sul, promoveu a
campanha da legalidade, pegando em armas, inclusive, para garantir a posse do novo presidente.
Apesar disso, em abril de 1964, é deflagrado o golpe militar no Brasil, com apoio dos Estados
Unidos da América, instaurando uma ditadura que durou 21 anos. (Idem, 2015).
3.2.4.7.Ditadura militar
Durante a Ditadura Militar, uma série de conquistas obtidas com a Constituição de 1946, no
breve período da Quarta República, foram suspensas com as promulgações dos atos
institucionais. Em 1968, o AI-5, considerado o golpe dentro do golpe, proibiu reuniões políticas,
executou censura prévia em filmes, livros, peças de teatros e programas de televisão, suspendeu
o habeas corpus, conferiu ao presidente o direito de fechar o Congresso Nacional, entre outras
coisas. Tal documento institucionalizou a repressão no país. (CARDOSO, 1998).
Durante esse período, surgiram também importantes movimentos artísticos que se colocaram
ao lado da resistência ao regime, como o cinema novo e o Tropicalismo, e que revolucionaram
seus respectivos campos de atuação no Brasil, tendo reverberação até os dias atuais. A partir de
1974, inicia-se o processo de abertura política do regime, de forma lenta e gradual, com o
objetivo de entregar aos civis o poder político. (Idem, 1998).
Em 1985 o poder Executivo é, de fato, entregue pelos militares. Ainda de forma indireta,
Tancredo Neves é eleito presidente do Brasil, porém, antes mesmo de assumir, faleceu vítima
36
de uma infecção generalizada. José Sarney, o vice, assume, por fim, a presidência do Brasil em
março de 1985, encerrando o período da Ditadura Militar.
3.2.4.8.Nova república
Assim se inicia o período da Nova República. Até hoje, esse é o período democrático mais
longevo de nossa história, seu início foi marcado pelo combate à hiperinflação, além de uma
dívida externa que, durante os governos militares, cresceu 30 vezes. Até hoje, sucederam-se
oito presidentes, sendo o primeiro eleito Fernando Collor de Mello, em 1989.
Em 1988 foi promulgada também uma nova Constituição, que, pela ampla garantia de acessos
aos serviços públicos, recebeu a alcunha de Constituição Cidadã. Apesar de ser o maior período
democrático da história brasileira, a Nova República já passou por dois processos de
impedimento (ou impeachment). (CARDOSO, 1998)
No regime presidencialista, como é o caso do Brasil desde que se tornou república, o processo
de impeachment deve ser empenhado com muitas ressalvas, uma vez que a dinâmica do cargo
de presidente confere-lhe mais poderes do que o cargo de primeiro-ministro, como é o caso do
parlamentarismo. Caso contrário, a própria credibilidade do regime democrático é colocada em
risco, destacando que se trata de um processo político-jurídico, o que minimiza o poder do voto.
37
IV. METODOLOGIA
Quando defrontado com um problema, a melhor forma para elucida-lo é por meio da pesquisa,
por meio da qual o conhecimento e a consulta bibliográfica resultam em um relatório com base
nas buscas realizadas. (CERVO; BERVIAN, 2002).
O presente é caracterizado por um tipo de estudo baseado numa pesquisa descritiva quanto aos
fins de investigação. A pesquisa descritiva é um levantamento de dados com características já
conhecidas que compõem um processo ou fenómeno. (SANTOS, 2004). Justifica-se esta opção
de pesquisa pelo interesse em conhecer e descrever todos os Acordos Internacionais Bilaterais
firmados pelo Brasil e Angola.
A pesquisa documental visa obtenção de resultados por meio de análise dos documentos, fontes
de dados e informações. De acordo com Gil (2002):
38
documentos subsistem ao longo do tempo, tornam-se a mais importante fonte de dados
em qualquer pesquisa de natureza histórica. (GIL, 2002, p. 42).
A amostra, por seu lado, circunscreveu-se as relações de cooperação entre Angola e o Brasil no
período pós-independência.
O Processamento de dados da nossa Monografia foi efectuado por meio da operação com
computadores, utilizando preferencialmente o Microsoft Word e o Excel, pois permitiu guardar
os dados de maneira acessível, organizando e analisando tanto descritiva quanto
inferencialmente, facilitando o uso de técnicas de análise variadas.
39
V. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na busca de um caminho alternativo para as Índias, o português Diogo Cão, em 1482, aporta
na Baía de Luanda, iniciando a colonização lusa na África Austral. Angola e Brasil apresentam
muitas afinidades em razão das suas raízes históricas, da colonização portuguesa, das
semelhanças fisiográficas, da língua que lhes é comum, da composição étnica de suas
populações e do Oceano Atlântico, que os uniu politicamente no período colonial brasileiro e
que, se os separa em termos territoriais, os aproximará na busca da concretização de seus
objetivos políticos, econômicos e sociais.
Entretanto, o contexto político e socioeconômico vivido por esses países é diferente. O Brasil
é um país pacífico. A sua formação política foi consolidada ao longo de quatro séculos. Nesse
período, os Tupis, os Guaranis, os Tapuias e os Aruaques, entre outros, miscigenaram-se com
os escravos de além-mar, e o português, com ambos. Os indígenas e os africanos assimilaram
a cultura, a língua e a religião do colonizador. A colonização lusa impôs uma nova civilização
na terra do pau-brasil, contribuindo para o ocaso das diferenças étnicas e para a homogeneidade
do povo brasileiro. Assim sendo, nos primórdios do século XIX, a formação da nacionalidade
brasileira estava em franco processo de consolidação.
Nesse quadro, a sede do Estado português foi transferida para o Brasil, iniciando o processo
histórico que permitiu o amadurecimento das elites locais e a criação da estrutura necessária à
vida autônoma da colônia que caminhava apressadamente para a sua independência política.
40
Esse retardo no começo da exploração econômica dificultou a plena imposição da cultura lusa
que, dessa forma, não atingiu a zona rural no interior do território. Assim, as diferentes tribos
mantiveram as suas culturas, os seus dialetos e os seus antagonismos recíprocos até os dias
atuais, inviabilizando a miscigenação e a homogeneização do povo angolano.
Existe uma grande diversidade tribal, linguística e cultural no seio dessa população. A sua
composição é constituída, principalmente, pelos ovimbundos (38%), pelos mbundos (23%) e
pelos bacongos (14%)14.
Os Portugueses não conduziram e não prepararam a colônia e as suas elites para a vida em
liberdade. Essa falta de perspectiva deu início à guerra pela independência.
Uma acirrada disputa interna pelo poder ocorreu ainda no período que antecedeu a
independência. As desconfianças mútuas inviabilizavam o entendimento entre as partes. Assim
foi feita a proclamação da independência de Angola, ao final de 1975.
O despertar da nação angolana foi caótico. O vácuo político existente permitiu, ao MPLA,
declarar a independência de Angola em Luanda. Paralelamente, A UNITA declarou a
independência do país em Huambo e a FNLA o fez em Ambris (Província do Bengo). A guerra
civil prosseguiu até 2002, quando se criou a expectativa de um período de paz com maior
consistência.
Nesse ambiente de caos e de balbúrdia, o êxodo português foi da ordem de 300.000 pessoas,
que compunham a parte mais qualificada da força de trabalho de Angola, gerando a
desestruturação do sistema produtivo da antiga colônia.
Atualmente, o Brasil, apesar dos seus graves problemas sociais e econômicos, constitui uma
das maiores economias do planeta. Angola está devastada por mais de duas décadas de guerras
ininterruptas. Enquanto a ex-colônia portuguesa da América apresenta um nível de
desenvolvimento bastante superior à sua congênere da África, que tenta sobreviver à pobreza e
à fome generalizadas.
14
Dados citados por Carneiro, Flávio, em O Brasil e as Operações de Paz em Angola, 1996.
41
• Influência fisiográfica nos interesses comuns
A despeito das diferenças entre o tamanho das suas bases físicas e das suas populações, Angola
e Brasil apresentam uma grande identidade fisiográfica.
Os dois países estão situados no Hemisfério Sul e são banhados pelo mesmo oceano, o que lhes
confere a situação de partícipes do condomínio do Atlântico Sul. As duas nações apresentam
diversos interesses comuns relacionados à exploração econômica dos recursos marítimos, à
segurança regional do Atlântico Sul, ao controle das rotas marítimas da região, aos interesses
inerentes ao continente Antártico e aos controles ambiental e climatológico da região.
As latitudes extremas ao norte e ao sul de Angola estão contidas entre as suas correspondentes
brasileiras, conferindo-lhes uma grande semelhança nos fatores fisiográficos do clima e da
vegetação.
Como não poderia deixar de ser, também existem sensíveis diferenças fisiográficas. Os dois
países diferem quanto à forma de seus territórios, uma vez que o enclave de Cabinda confere
uma fragmentação ao mapa físico de Angola.
Em relação aos grandes mercados internacionais, as duas posições podem ser consideradas
excêntricas, o que lhes encarece os fretes de seus produtos. Porém, os seus posicionamentos
geográficos lhes permitem exercer uma forte influência sobre as rotas marítimas do Atlântico
Sul.
O território de Angola é composto, em sua quase totalidade, por solos do tipo lateríticos, tal
qual acontece no Brasil. Esta semelhança também ocorre em termos dos recursos minerais.
Entretanto, a guerra civil desestruturou a economia de Angola. Pode-se verificar atualmente a
dificuldade desse país em disputar o mercado agropecuário internacional. O Brasil poderá
exportar alimentos e produtos industrializados em troca do petróleo angolano.
42
• O relacionamento entre Angola e o Brasil
O Brasil ainda não completara meio século de ocupação portuguesa e o tráfico de escravos já
se institucionalizara, proporcionando bons lucros à Coroa Portuguesa. Provavelmente, este fato
constituiu-se na principal causa da substituição do elemento indígena pelo africano na
composição da mão-de-obra colonial do Brasil.
Em verdade, o Brasil é uma nação de vastos horizontes. O Atlântico Sul o conduz à África e,
particularmente, a Angola, a que tudo o liga, desde as similitudes geográficas, até as forças
étnicas, as raízes históricas e os interesses econômicos. Esse oceano sugere ao Brasil uma
política que melhore as suas condições de segurança, de proteção e as suas alianças econômicas
e de amizade. Assim, o Brasil, pela sua extensão e posição no Atlântico Sul, aparece como um
protagonista privilegiado nas relações internacionais com a nação angolana.
43
• Presença institucional do Brasil em Angola
O Brasil teve uma aproximação oficial mais intensa, após a independência de Angola, fato este
bem caracterizado pela iniciativa ao ser o primeiro país a reconhecer o novo governo instituído.
Uma série de acordos e protocolos foram firmados entre os governos dos dois países desde
então, destacando-se os seguintes15:
15
Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Disponível em http//www.mre.gov.br/. Acesso em 25/04/2022.
44
A importância que o Brasil empreende nesta aproximação está bem caracterizada pelas recentes
visitas oficiais à Angola, realizadas pelos dois últimos presidentes.
Em novembro de 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou sua primeira visita ao
continente africano, com destaque para suas atividades em Angola. Naquela oportunidade,
afirmou, na abertura de reunião entre presidentes e ministros de Angola e Brasil, em Luanda,
que irá realizar políticas afirmativas concretas. O encontro marcou o início oficial da visita de
Estado da comitiva comandada por Lula àquele que é historicamente um dos mais importantes
parceiros do Brasil no continente africano.
A educação foi o mote principal dos acordos diplomáticos. Inclui a reconfiguração do sistema
escolar do país, arrasado pelos conflitos, bem como a qualificação de professores, por meio do
aprofundamento do apoio ao projeto angolano "Escola para Todos", que o Brasil auxilia desde
200217.
16
Disponível em http://www.abc.mre.gov.br/cooptec/ctpd_cf_ba.htm. Acesso em 14/04/2022.
17
20 Pravda Online, disponível em
http://64.233.167.104/search?q=cache:2QPRyY0c5NcJ:port.pravda.ru/angola/2003. Acesso em 15/04/2022.
45
A administração pública é outra área a ser beneficiada. O objectivo é formar quadros para o
Estado angolano, que, após a consolidação do regime democrático no País (até hoje só houve
eleições multipartidárias em 1992), tem carência de profissionais especializados.
Os novos acertos alcançam ainda a agricultura e a pecuária, por meio da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e de programas de apoio à extensão rural e
desenvolvimento sustentável. Desportos, cultura, ambiente e pesquisa em ciência e tecnologia
estão no rol dos sectores a receberem colaboração brasileira – esta última, com a previsão de
participação da Petrobras e da Agência Nacional do Petróleo.
"O Atlântico nos une. Durante três séculos, houve mais naus viajando de Luanda ou Bengala
ao Rio de Janeiro, Salvador ou Recife do que em qualquer outra rota", ressalvando de que "essas
naus, no entanto, carregavam tristeza, violência e medo", em referência ao comércio de
escravos. (Silva, Luis Inácio, Pravda OnLine, 2003).
46
A reivindicação dos empresários brasileiros em Angola da implantação de agências de bancos
públicos como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil recebeu sinalização do
presidente. Ele reconheceu a carência: "têm razão os que reclamam da inexistência de canais
bancários diretos, que facilitem as transferências financeiras entre nossos países".
Estamos também dispostos a ampliar o acesso dos países africanos a nosso mercado. Vamos
estudar fórmulas compatíveis com as regras da OMC, que permitam aos produtos dos países
mais pobres a entrada desimpedida no mercado brasileiro. (SILVA, Luís Inácio, Pravda
OnLine, 2003).
Foi divulgado ainda que o governo já estuda a medida no nível legal e que já existe um
arcabouço jurídico para tanto, no Sistema Geral de Preferências entre Países em
Desenvolvimento.
Várias empresas brasileiras, estatais e privadas, participaram nestes últimos anos de atividades
econômicas e comerciais. Serão comentadas nos próximos itens desta monografia, alguns
aspectos da participação de três importantes e potentes empresas brasileiras em Angola: a
Petrobras, a Odebrecht e Furnas Centrais Elétricas.
• A Petrobras em Angola
A Petrobras pretende investir bilhões de dólares em Angola nos próximos quatro anos se forem
encontradas oportunidades mais lucrativas.
Esperamos investir bilhões de dólares em Angola se tivermos sorte de encontrar o activo certo
e as descobertas começarem a aparecer, declarou o diretor das operações angolanas da
Petrobras, Renato de Azevedo, em janeiro de 2004.
A empresa está procurando diferentes oportunidades além dos actuais blocos de exploração
onde atua, como o bloco 2, onde a produção está caindo, e no bloco 34, onde os parceiros da
empresa estão pouco otimistas em relação às reservas.
47
No primeiro bloco, onde opera em parceria com a Chevron Texaco, a Petrobras possui 27,5 %
dos 43 mil barris produzidos diariamente. No Bloco 34, administrado pela estatal SONANGOL,
a companhia brasileira tem participação de 15 %18.
Activa em Angola desde 1979, a Petrobras está interessada na parte sul do país, próximo ao
Kwanza-Sul e Benguela, onde a maioria dos blocos de exploração continuam abertos.
Apesar da grande concorrência com as quatro gigantes petrolíferas que dominam Angola –
Chevron Texaco, Total, Exxon Mobil e BP – a Petrobras acredita nestas novas oportunidades e
poderá deslocar os investimentos de 2,4 bilhões de dólares que havia destinado à sua unidade
na Nigéria.
18
Dados obtidos da Visão News, disponível em
http://64.233.167.104/search?q=cache:j15kzJ42a_gJ: www.visaonews.com. Acesso em 10/04/2022.
48
de Luanda e Canal de Matala. Participa também em conjunto com outras empresas com atuação
na mineração de diamantes.
No setor de óleo e gás, participa da concessão do Bloco 16, em associação com a Sonangol e
CNR-Canadian Natural Resources.
Dos projetos mencionados, merece destaque uma descrição mais detalhada de Capanda. Para
deflagrar o maior projeto de engenharia já empreendido no país - o aproveitamento
Hidroelétrico de Capanda – o governo de Angola estabeleceu com a Odebrecht uma parceria
que teve reflexos em diversas fases da obra. Além de apoiar o cliente na obtenção de
financiamento e acordos comerciais para tornar viável o projeto, a Odebrecht desenvolveu
pesquisas tecnológicas que reverteram em ganhos de produtividade e economia na sua
construção.
Outro resultado foi o processo de integração pelo qual o consórcio formado pela Odebrecht e
pela empresa russa Tecnopromoexport promoveu a transferência de tecnologia para o país, com
o treinamento de mais de 6 mil angolanos para a realização dos trabalhos especializados. O
início da construção da Hidroelétrica de Capanda foi o marco do processo de industrialização
do país.
• A participação de furnas
19
Dados obtidos da REVISTA DA ODEBRECHT – Odebrecht em Angola - Edição Especial, 2003.
49
das Obras Civis. A Eletrobras respondeu favoravelmente à pretensão angolana e indicou Furnas
Centrais Elétricas20 S.A. para desempenhar as funções de gerenciamento.
Por ocasião do primeiro contacto feito por Electrobrás e Furnas com as autoridades angolanas,
ficou acordado que Furnas enviaria, inicialmente, uma equipe técnica para analisar e negociar
as condições do contrato a ser firmado, bem como assessorar na estruturação do órgão
responsável pela administração do empreendimento, o GAMEK – Gabinete de aproveitamento
do médio kwanza. A partir de então, foram assinados vários contratos entre Furnas e GAMEK,
destacando-se o contrato de consultoria e assessoria técnica e o contrato de cedência de pessoal.
O primeiro abrange as seguintes principais atividades:
Em 1991, Furnas firmou um contrato específico com a GAMEK para o gerenciamento dos
serviços de engenharia de projecto, construção e comissionamento da Linha de Transmissão
Capanda-Cambambe.
A partir de 1992, com o reinício dos conflitos militares em Angola, as actividades de construção
da Usina e da linha de transmissão capanda-cambambe foram interrompidas, sendo reiniciadas
recentemente.
20
REVISTA DE FURNAS – Projeto Capanda / Angola - Edição Especial, 2003.
50
As actividades de cooperação internacional de Furnas não se limitaram ao nível contratual. A
facilidade de relacionamento entre os dois povos permitiu outras ações, como destaca Jorge
Luis da Silva21, Engenheiro de Furnas que trabalhou em Angola nos anos 1991/92:
Na expressão política do seu poder nacional, o Brasil trabalha para implementar a formação de
blocos regionais de cooperação com as nações amigas. Em relação à África, interessa ao País a
consolidação da Zona de Paz e de Cooperação do Atlântico Sul ( ZOPACAS ) e da Comunidade
dos Povos de Língua Portuguesa (CPLP).
A primeira destina-se a criar uma área de segurança no Atlântico Sul, a fim de garantir as
melhores condições de paz e de prosperidade às nações atlânticas situadas ao sul do paralelo do
Equador.
A criação da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP) foi mais um importante
passo no sentido de criar oportunidades que facilitem uma maior aproximação do Brasil com
Angola.
21
Ver Entrevista de Da Silva, Jorge, 2004, no Anexo II desta monografia.
51
parte dos países ou das facções envolvidas no conflito, da presença de observadores ou tropas
estrangeiras em seu território.
Essa conduta da política externa brasileira vem sendo adotada há longo tempo. Assim, a
primeira participação do Exército Brasileiro ocorreu em 1947, quando observadores militares
foram enviados para os Balcãs. Durante as décadas de 50 e 60, viria a participar com efetivos
maiores, integrando forças internacionais de paz, sob a égide da ONU no Oriente Médio e da
OEA no Caribe. A mais longa missão foi no Oriente Médio e durou de 1957 a 1967, com a
participação de 600 homens, em média, que se revezaram em 20 contingentes.
Nas décadas seguintes, foram bastante reduzidas as missões, até reiniciarem em 1989, quando
inúmeras foram abertas. Em 1994, foram enviadas tropas (uma companhia) para auxiliar a
manutenção da paz em Moçambique. Em setembro de 1995, o Exército enviou para Angola um
contingente composto por mais de mil homens (um batalhão, uma companhia de engenharia e
um posto de saúde). Nos últimos anos, militares brasileiros vêm prestando serviços às Nações
Unidas, como observadores, na África, na América Central, na Europa, e na Ásia, e cooperando
para a solução pacífica do conflito fronteiriço entre o Equador e o Peru. Recentemente, o Brasil
tem enviado tropa de paz para o Timor Leste e, em maio do presente ano, enviou significativo
contingente militar para o Haiti.
Quando instaurada, uma Operação de Paz deve ser regida pelos princípios de imparcialidade,
aplicação do mínimo de força necessária, negociação com todas as partes envolvidas e
intermediação na busca de soluções, evitando-se a discussão de problemas e responsabilidades.
52
O Brasil considera que as Operações de Paz são instrumentos úteis para solucionar conflitos e
ajudam a promover negociações político-diplomáticas, mas não podem substituí-las; a solução
definitiva sempre dependerá da vontade política das partes.
O Brasil há muito tempo vem contribuindo com o esforço de organismos internacionais de paz,
quer pelo envio de observadores militares desarmados, quer pela inserção de tropas levemente
armadas nas áreas conflagradas. Os objetivos têm sido monitorar o cessar-fogo entre as partes
envolvidas e desenvolver as melhores condições para o pleno restabelecimento da paz regional.
O Brasil teve participação militar intensa durante o período em que foi possível o emprego de
Força de Paz em Angola. Nesta fase, destacam-se os seguintes períodos:
53
➢ Terceira Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola - (UNAVEM III) Em
decorrência da assinatura dos novos acordos de paz, em 1995, em Lusaka, pelo governo
e a UNITA, foi implementada a Missão de Verificação das Nações Unidas para Angola.
De agosto de 1995 a julho de 1997, o Brasil contribuiu com um batalhão de infantaria (800
homens), uma companhia de engenharia (200 homens), dois postos de saúde avançados (40
médicos e assistentes) e aproximadamente 40 oficiais do Estado-Maior para o terceiro mandato
da Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola.
Durante todo o período da missão, o Brasil também contribuiu com uma média de 14
observadores militares e 11 observadores policiais e chegou a ser o maior contribuinte de tropas
para a UNAVEM III, que durante quase dois anos foi a maior operação de paz das Nações
Unidas.
A participação Brasileira na UNAVEM III fez com que o Brasil ocupasse, no início de 1996, a
posição de quarto maior contribuinte de tropas para operações de paz das Nações Unidas.
O Brasil contribuiu, durante todo o mandato da Missão de Observadores das Nações Unidas em
Angola (de julho de 1997 a fevereiro de 1998) com uma média de quatro observadores militares,
aproximadamente 20 observadores policiais e dois oficiais que atuaram no Estado-Maior da
missão. Em março de 1999, o Brasil passou a ceder uma unidade médica, composta por 15
militares do Exército, para prestar apoio ao pessoal das Nações unidas em Luanda durante o
período de liquidação técnica da MONUA.
“...em diversas ocasiões pude constatar o grande espírito de solidariedade do soldado brasileiro,
sua habilidade no trato com as pessoas, e uma singular afabilidade. Costumo destacar a
disposição dos nossos militares em apoiar creches, asilos, escolas e hospitais, seja com
atividades de recuperação de instalações, distribuição de água, seja realizando atividades de
caráter psicossocial.
Todas as vezes que o Brasil se faz representar em missões de paz, seja sob a égide da
ONU, seja sob a égide da OEA, ele se projeta como nação que busca a convivência
pacífica e harmônica entre os povos, um traço marcante do nosso perfil como povo.
Isto representa um belo exemplo de respeito e cooperação no concerto das nações. No
meu ponto de vista, a nossa prioridade deve se direcionar para missões em países de
língua portuguesa e países do contexto latino-americano. Temos muito a mostrar ao
mundo.” (Adhemar Machado entrevista concedida a revista brasileira visão militar em
12 de Março de 2019).
22
Ver Entrevista de Machado, Adhemar, 2004, no Anexo I desta monografia.
55
VI. CONCLUSÕES
Angola foi a última colônia portuguesa a se tornar independente. Mesmo assim, a assinatura da
independência em 1975 deu início a uma guerra entre os movimentos sociais pelo poder, que
durou até 2002. Se forem considerados os movimentos pela independência, iniciados em 1961,
o país esteve mergulhado em conflitos por mais de 40 anos, até o recente Acordo de Paz
celebrado em 2002.
O Brasil é um país sem conflitos armados com outros países, voltado para o seu
desenvolvimento e para o resgate da imensa dívida social que tem com o seu povo. Para tanto,
torna-se fundamental a concretização de um ambiente de paz, de confiança e de respeito às
normas de Direito nas suas relações internacionais.
Dentro deste contexto, esta monografia apresentou um quadro atualizado dos interesses e do
grau de relacionamento e de cooperação entre Brasil e Angola.
Pode-se concluir que o Estado Angolano não conheceu a paz durante longo período. O seu povo
sofre ainda as amarguras do interminável conflito. Há ainda a deficiência de trabalho,
alimentação, energia, transportes, saúde pública. Há, porém, a esperança de que com o fim da
guerra civil em 2002, a paz em Angola seja consolidada e duradoura, permitindo a resolução
de seus graves problemas internos.
Conclui-se também que a cooperação internacional entre Brasil e Angola, foi intensificada nos
últimos anos. Algumas actividades na área económica podem ser destacadas, com a presença
de empresas de vulto como a Petrobras, a Odebrecht e Furnas Hidroelétricas, que participam
intensivamente na reconstrução de Angola. Também foi importante a participação de tropas
brasileiras como parte integrante das Forças de manutenção de Paz da ONU, prestando apoio
no sentido de evitar ou diminuir a intensidade dos conflitos.
56
O fim da guerra civil está permitindo a reconstrução política, econômica e social de Angola, o
que possibilita o restabelecimento da soberania do Estado e a consolidação da nação angolana.
O Brasil está sendo um ator privilegiado nesse processo, em razão de suas afinidades históricas
e culturais.
Paralelamente ao adensamento das relações políticas, está presente, tanto em Brasília quanto
em Luanda, o reconhecimento mútuo da necessidade de um relacionamento franco e construtivo
entre os dois Estados.
A aproximação com Angola, e com outros países da África, com certeza terá reflexos positivos
para o Brasil na busca a sua ascensão à condição de membro- permanente do Conselho de
Segurança da ONU. A firme e correta participação do Brasil durante todo o período da crise
angolana permitiu-lhe obter o respeito dos povos africanos que se traduzirá em votos de apoio
às posições brasileiras nos grandes foros internacionais. No campo económico, a nação
angolana representa um grande mercado para os produtos e serviços do Brasil e uma fonte de
matérias-primas para o parque industrial brasileiro.
Finalmente, como consequência das pesquisas realizadas, pode-se comprovar que, na área da
cooperação internacional, a aproximação do Brasil com Angola foi bastante intensificada a
partir de 1975, devendo ser mantida e até aumentada no futuro, contribuindo desta forma para
a consolidação dos interesses nacionais e estratégicos dos dois países.
57
VII. RECOMENDAÇÕES
58
VIII. BIBLIOGRAFIA
ABRANTES, José Mena. Angola em Paz: Novos Desafios. Luanda: Edições Maianga, 2005.
ANGOLA, Consulado geral de Angola em São Paulo. Relação Angola Brasil 40 anos.
Disponível em: http://consuladogeraldeangolasp.net/relacoesangolabrasil.html. 2015. Acesso
em 17 de Out. 2021.
ANGOLA, Ministério das Relações Exterior Angola (MIREX). Angola comércio exterior.
2015.
ANGOLA, Portal oficial da República de Angola. Perfil de Angola. 2015. Disponível em:
http://www.governo.gov.ao/opais.aspx. Acesso em 14 de Set. 2021.
ANGOLA, República de. Lei 4/11 de 14 de Janeiro: Lei sobre os Tratados Internacionais.
Luanda: Diário da República, 2011.
BERGO, Márcio Tadeu Bettega. UNAVEM: Missão de Verificação das Nações Unidas em
Angola. Rio de Janeiro: Monografia defendida na Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército (ECEME), 1992.
BRASIL. GGN - Jornal de todos os brasis. Relações entre Brasil e Angola, por Pepetela.
Disponível em: http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/relacoes-entre-brasile-angola-por-
pepetela. Acesso em 18 de Out. 2021.
59
BRASIL, Ministério das Relações Exteriores. Visita da Presidenta Dilma Rousseff a Angola.
2011. Disponível em:
http://www.itamaraty.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2819:visita-
da-presidenta-dilma-rousseff-aangola-luanda-20-de-outubro-de-2011&catid=42&lang=pt-
BR&Itemid=280. Acessado em 15 de Set. 2021.
60
&periodoInicial_year=0000&periodoInicial_minute=00&periodoInicial_month=00. Acesso
em 10 de Out. 2021.
62
___________. Protocolo de Intenção entre a República Federativa do Brasil e a República
Popular de Angola na área de Desenvolvimento Educacional. 1991. Disponível em:
http://dai-mre.serpro.gov.br/atosinternacionais/bilaterais/1991/b_63_2011-10-17-10-45-10.
Acesso em 10 de Out. 2021.
BUCCI, Eugénio. Sobre Ética e Imprensa. São Paulo: Cia das Letras, 2000.
63
CARDOSO, Afonso José Sena. O Brasil nas Operações de Paz das Nações Unidas. Brasília:
Instituto Rio Branco (Fundação Alexandre Gusmão), 1998.
CUNHA, Luiz Edmundo da. Principais factores que podem favorecer ou prejudicar o
relacionamento entre o Brasil e os países africanos, perspectivas na Política Externa e no
Comércio Exterior do Brasil. Rio de Janeiro: Monografia defendida na Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército (ECEME), 1978.
GOMES, Pedro Gilberto. Comunicação Social: Filosofia, Ética e Política. São Leopoldo:
Editora Unisinos, 2008.
64
HA, Tran. Jornada através do “Campo Minado da Ética”. Disponível em <http://usinfo.
state.gov/journals/itgic/0401/ijgp/ig0405.htm > Acesso em 15 de Outubro, 2021, 2030h.
KEOHANE, Robert e NYE, Joseph. Poder e Interdependência. Buenos Aires: Editora GEL.,
1988.
65
NASSIF, Luís. O jornalismo dos anos 90. Brasília: Editora Futura, 2003.
O GLOBO. Angola, um longo caminho na volta à paz. Rio de Janeiro: 01 de Junho de 2003.
PATRÍCIO, José. Angola – EUA: Os caminhos do bom senso. Lisboa: Publicações Dom
Quixote, 1998.
PONS, Luís Alberto. Claves Del Siglo XXI. Buenos Aires: Editora Dunken. 2000.
RIBEIRO, Alex. Caso Escola Base: os abusos da imprensa. São Paulo: Ed. Ática, 1995.
66
SEBRAE. Observatório Internacional Sebrae: Angola Comercio Exterior 2014. 2014.
Disponível em: ois.sebrae.com.br/wpcontent/uploads/2015/01/INDAngola.pdf. Acessado em
15 Set. 2021.
SOUZA, Percival de. Narcoditadura: O caso Tim Lopes, Crime Organizado e Jornalismo
Investigativo no Brasil. São Paulo: Labortexto Editorial, 2002.
STEELE, Robert e Jay BLACK, Jay. Os Códigos de Ética dos Meios de Comunicação e para
Além deles. Disponível em <http://usinfo.state.gov/journals/itgic/0401/ ijgp/ig0409.htm>
Acesso em 16 de Outubro, 2021, 2000h.
TV CULTURA. http://www.tvcultura.com.br/aloescola/historia/guerrafria/
guerra10/terceiromundo-africa3.htm. Acesso em 02/05/2021