Monografia Délcio Freire

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UNIVERSIDADE DE BELAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E ECONÓMICAS


CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL: A PARTICIPAÇÃO


BRASILEIRA EM ANGOLA NO PERÍODO PÓS-
INDEPENDÊNCIA

TRABALHO DE FIM DE CURSO

DÉLCIO DA RESSURREIÇÃO FREIRE

LUANDA, 2023
UNIVERSIDADE DE BELAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E ECONÓMICAS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

FOLHA DE ROSTO

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL: A PARTICIPAÇÃO


BRASILEIRA EM ANGOLA NO PERÍODO PÓS-
INDEPENDÊNCIA

TRABALHO DE FIM DE CURSO

Elaborado por: Délcio da Ressurreição Freire


Orientado por: Msc. Délcio Pedro Rodrigues

Trabalho de Fim de Curso apresentado à


Faculdade de Ciências Sociais e Económicas da
Universidade de Belas como requisito para a
obtenção do Grau de Licenciado em Relações
Internacionais

LUANDA, 2023 i
FICHA CATALOGRÁFICA

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou electrónico para fins de estudo e pesquisa desde que citada a fonte.

Délcio da Ressurreição Freire

Data_________/_________/___________

FREIRE, Délcio da Ressurreição

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL: A PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA EM


ANGOLA NO PERÍODO PÓS- INDEPENDÊNCIA

Trabalho de Fim de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Sociais e Económicas da


Universidade de Belas como requisito para a obtenção do Grau de Licenciado em Relações
Internacionais.

Orientador: Délcio Pedro Rodrigues, Msc.

Nº de páginas: 68

Tipo de letra: Times New Roman

Palavras-chave: Independência. Cooperação Internacional. Angola. Brasil.

ii
DÉLCIO DA RESSURREIÇÃO FREIRE

FOLHA DE APROVAÇÃO
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL: A PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA
EM ANGOLA NO PERÍODO PÓS- INDEPENDÊNCIA

Trabalho de Fim de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Sociais e Económicas da


Universidade de Belas como requisito para a obtenção do Grau de Licenciado em Relações
Internacionais

Aprovado,_____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

Presidente de Júri

____________________________

1º Vogal

_____________________________________

2º Vogal

_____________________________________

Secretário

___________________________

iii
DEDICATÓRIA

“Dedico esta monografia a minha mãe


Maria Gonçalves Manuel Zambo, meu
alicerce moral e espiritual, por todo seu
amor incondicional, e pela fé que deposita
no meu potencial, obrigada por todo apoio
incondicional. Dedico ainda, a minha filha
Késia da Ressurreição Lopes Freire, cuja
presença é uma promessa que Deus hoje
cumpre em minha vida”.

iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente, a Deus todo-poderoso, pois sem Ele eu nada seria, em muitos
momentos a minha fé me sustentou. Deus agradeço por ser meu companheiro nessa estrada
difícil e por segurar a minha mão nos momentos de dificuldade, por todo o apoio e força que
me deste. Agradeço a minha família, pela inesgotável dedicação e sobretudo pelo apoio que
têm dado aos meus infinitos sonhos. A minha Mãe, por sempre ser a minha estrela guia, por se
emocionar a cada conquista minha, por me dizer todos os dias que o mundo pode ser meu, se
eu quiser. A sua confiança em mim é o que me move. Agradeço ainda a todos os professores
que durante quatro anos emprestaram o seu saber com todo zelo e brio, em especial o Dr. Délcio
Rodrigues, (meu orientador) pela dedicação e paciência, e todos os meus colegas que me
auxiliaram nessa trajetória, que apesar de difícil valeu a pena. A minha esposa, pela paciência
e cumplicidade nos momentos tenebrosos, por segurar a minha mão a cada victória e a cada
derrota, por me manter firme nas minhas metas e me lembrar todos os dias que eu sou capaz.
Sem me esquecer dos meus irmãos, em especial o Lídio Freire dos Santos, que tem sido um
verdadeiro Pai para nós, louvo a Deus pela sua vida e podes crer que morreu a semente em terra
fértil em breve o produto será colhido, que o nosso Senhor Jesus Cristo abençoe a todos quanto
não foram citados.

v
RESUMO

A nossa Monografia aborda a Cooperação Internacional: a participação brasileira em Angola


no período pós-independência. Deste modo, vale lembrar que a cooperação internacional exerce
um importante papel nas relações internacionais contemporâneas. Dessa maneira, a evolução
das teorias de integração a partir do início da Guerra Fria até a actualidade. Diante disso, o
presente trabalho teve como objectivo analisar a participação brasileira em Angola no período
pós-independência no âmbito da cooperação internacional. Com relação à metodologia
utilizada, o trabalho caracterizou-se como uma pesquisa descritiva quanto aos fins de
investigação e pesquisa bibliográfica documental, quanto aos meios de investigação. O estudo
permitiu alcançar como resultados em relação aos grandes mercados internacionais, as duas
posições podem ser consideradas excêntricas, o que lhes encarece os fretes de seus produtos.
Porém, os seus posicionamentos geográficos lhes permitem exercer uma forte influência sobre
as rotas marítimas do Atlântico Sul. Os angolanos constituem o terceiro estado em potencial da
África Negra, apresentando excelentes reservas de petróleo, diamantes, minério de ferro de
primeira qualidade, cobre, manganês, fosfato, sal e urânio. Como conclusão, o Estado angolano
não conheceu a paz durante longo período. O seu povo sofre ainda as amarguras do interminável
conflito. Há ainda a deficiência de trabalho, alimentação, energia, transportes, saúde pública.
Há, porém, a esperança de que com o fim da guerra civil em 2002, a paz em Angola seja
consolidada e duradoura, permitindo a resolução de seus graves problemas internos. Por esta
razão, sugerimos como recomendação que os dois países devem promover o aprimoramento
dos mecanismos de cooperação de forma a tornar mais célere a execução dos acordos assinados.

Palavras-chave: Independência. Cooperação Internacional. Angola. Brasil.

vi
ABSTRACT

Our Monograph deals with International Cooperation: the Brazilian participation in Angola in
the post-independence period. Thus, it is worth remembering that international cooperation
plays an important role in contemporary international relations. In this way, the evolution of
integration theories from the beginning of the Cold War to the present day. Given this, the
present work aimed to analyze the Brazilian participation in Angola in the post-independence
period in the context of international cooperation. With regard to the methodology used, the
work was characterized as descriptive research regarding the purposes of investigation and
documentary bibliographical research, regarding the means of investigation. The study allowed
to achieve as results in relation to the large international markets, the two positions can be
considered eccentric, which makes the freight of their products more expensive. However, their
geographical positions allow them to exert a strong influence on the South Atlantic Sea routes.
Angola is the third potential state in Black Africa, with excellent reserves of oil, diamonds, top
quality iron ore, copper, manganese, phosphate, salt, and uranium. It can be concluded that the
Angolan State has not known peace for a long period. Its people still suffer the bitterness of the
endless conflict. There is also the deficiency of work, food, energy, transport, public health.
There is, however, hope that with the end of the civil war in 2002, peace in Angola will be
consolidated and lasting, allowing the resolution of its serious internal problems. For this
reason, we recommend that the two countries promote the improvement of cooperation
mechanisms in order to speed up the execution of the signed agreements.

Keywords: Independence. International cooperation. Angola. Brazil.

vii
LISTA DE FIGURAS

Figura nº 1 – Angola no mapa de África ................................................................................ 14

Figura nº 2 – Bandeira do primeiro reino brasileiro .............................................................. 32

Figura nº 3 – Bandeira da República Brasileira ..................................................................... 35

viii
LISTA DE TABELAS

Tabela nº 1 - Características da Guerra Fria e do pós-Guerra Fria ......................................... 13

ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGNU – Assembleia Geral das Nações Unidas

A/RES – Resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas

CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

COMESA – Mercado Comum da África do Oeste

CSNU – Conselho de Segurança das Nações Unidas

CSNU/RES – Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas

EUA – Estados Unidos da América

FAA – Forças Armadas Angolanas

FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola

MIREX – Ministério das Relações Exteriores de Angola

MRE – Ministério das Relações Exteriores do Brasil

MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola

MERCOSUL – Mercado Comum do Sul

ONU – Organização das Nações Unidas

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SEPLAN – Secretária de Planeamento do Ministério da Ciência e Tecnologia

SADC – Comunidade de Desenvolvimento da África Austral

UA – União Africana

UE – União Europeia

UNITA – União para a Independência Total de Angola


x
URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

ZOPACAS – Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul

xi
ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ................................................................................................................... i

FICHA CATALOGRÁFICA .....................................................................................................ii

FOLHA DE APROVAÇÃO......................................................................................................iii

DEDICATÓRIA ........................................................................................................................ iv

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... v

RESUMO .................................................................................................................................. vi

ABSTRACT ............................................................................................................................. vii

LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................viii

LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................................ x

I. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1

1.1. Introdução ao tema ....................................................................................................... 1

1.1.1. Delimitação do tema ............................................................................................. 1

1.1.2. Justificação do tema.............................................................................................. 1

1.2. Formulação do problema ............................................................................................. 2

1.3. Formulação de hipóteses .............................................................................................. 2

1.4. Objectivos .................................................................................................................... 2

1.4.1. Objectivo geral ..................................................................................................... 2

1.4.2. Objectivos específicos .......................................................................................... 2

II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 3

2.1. Cooperação internacional: Mecanismo fundamental na política externa .................... 3

2.2. Conjuntura internacional: Nova Ordem Mundial, globalização e modernidade ......... 4

2.3. Teorias da integração internacional ............................................................................. 5

2.3.1. Teoria funcionalista .............................................................................................. 6

2.3.2. Teoria das comunicações ...................................................................................... 6

2.3.3. Teoria neofuncionalista ........................................................................................ 6

xii
2.4. O funcionalismo nos anos 50 e 60 ............................................................................... 7

2.5. A evolução do neofuncionalismo a partir dos anos 70 ................................................ 8

2.6. A cooperação internacional a partir dos anos 90 ....................................................... 11

2.7. A influência da mudança de cenários nas formas de cooperação internacional ........ 12

III. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ..................................................... 14

3.1. Perfil de Angola ......................................................................................................... 14

3.1.1. Um breve histórico ............................................................................................. 15

3.1.2. Angola no contexto da guerra fria ...................................................................... 17

3.1.3. 11 de Novembro de 1975: a Independência. ...................................................... 18

3.1.4. Período pós-independência e a guerra civil ........................................................ 19

3.1.5. O Acordo de Lusaka ........................................................................................... 22

3.1.6. Rompimento e recrudescimento da guerra civil ................................................. 22

3.1.7. 2002 Até os dias de hoje: normalidade institucional e paz duradoura?.............. 23

3.1.8. Perfil socioeconómico de Angola ....................................................................... 25

3.2. História do Brasil ....................................................................................................... 27

3.2.1. Período pré-cabralino (-1500) ............................................................................ 28

3.2.2. Período pré-colonial (1500-1530) ...................................................................... 29

3.2.3. Período colonial (1530-1815) ............................................................................. 29

3.2.4. Período imperial ................................................................................................. 31

3.2.4.1. Primeiro reinado .......................................................................................... 32

3.2.4.2. Período regencial ......................................................................................... 33

3.2.4.3. Segundo reinado .......................................................................................... 33

3.2.4.4. Período republicano..................................................................................... 34

3.2.4.5. Primeira república ....................................................................................... 34

3.2.4.6. Era vargas .................................................................................................... 35

3.2.4.7. Ditadura militar ........................................................................................... 36

3.2.4.8. Nova república ............................................................................................ 37

xiii
IV. METODOLOGIA........................................................................................................ 38

4.1. Tipo de estudo ............................................................................................................ 38

4.2. População e amostra .................................................................................................. 39

4.2.1. Critérios de inclusão ........................................................................................... 39

4.2.2. Critérios de exclusão .......................................................................................... 39

4.3. Procedimentos e instrumentos ou técnicas para a colecta de dados .......................... 39

4.4. Processamento de dados ............................................................................................ 39

4.5. Métodos a utilizar ...................................................................................................... 39

V. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................... 40

VI. CONCLUSÕES............................................................................................................ 56

VII. RECOMENDAÇÕES.................................................................................................. 58

VIII. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 59

xiv
I. INTRODUÇÃO

1.1. Introdução ao tema

Esta monografia visa estudar as atividades de cooperação internacional desenvolvidas a partir


de 1975 entre dois países aparentemente com marcantes desigualdades nas áreas de economia,
saúde, transporte, educação, e outras, mas com raízes históricas semelhantes: o Brasil e a
Angola.

O problema que se apresenta é se realmente o Brasil tem desenvolvido atividades de cooperação


internacional com Angola e se está imprimindo a prioridade necessária e coerente com suas
proposições teóricas.

1.1.1. Delimitação do tema

Angola e Brasil são dois países que sempre estiveram unidos pela herança cultural, pela língua
e pelo oceano que lhes são comuns. O tráfico de escravos, a complementaridade de suas
economias coloniais, o pronto reconhecimento da Independência de Angola pelo Brasil e a sua
destacada participação no decorrer de todo o processo de paz daquele país são factos que
ilustram a comunhão dos interesses dessas nações na busca do seu desenvolvimento econômico
e social. Angola constitui uma área estratégica contígua ao território brasileiro. O Oceano
Atlântico, apesar de separá-la fisiograficamente do Brasil, representa um factor de coesão e de
identificação das aspirações de cada uma dessas nações.

1.1.2. Justificação do tema

Após o término da II Guerra Mundial, observou-se fases bem marcantes referentes à chamada
Ordem Mundial. Inicialmente, verificou-se a bipolaridade, competição entre as duas
superpotências – Estados Unidos e União Soviética, disputando a hegemonia. Posteriormente,
com o fim da Guerra Fria, verificou-se uma tendência multipolar, apesar da superioridade dos
Estados Unidos, e teve grande peso a teoria da Interdependência complexa. Nesta fase, actores
não- governamentais intensificaram sua importância nos relacionamentos e nas decisões
internacionais. A ONU, as ONGs (Organizações Não-Governamentais), as multinacionais e
outros actores colectivos, são exemplos típicos desta fase.

Mais recentemente, com a escalada do terrorismo internacional e principalmente após o


atentado de 11 de setembro de 2001, verifica-se uma situação que pode ser considerada uma

1
nova ordem (ou desordem) mundial, ainda com incertezas em áreas críticas, particularmente
quanto à segurança, que não permitem um diagnóstico muito preciso do futuro das relações
internacionais.

Neste contexto, o tema “cooperação internacional” também apresentou evoluções, e suas teorias
modificaram-se em função da conjuntura internacional.

1.2. Formulação do problema

Deste modo, o presente estudo orienta-se para a seguinte questão de investigação:

• Como se caracteriza a participação brasileira em Angola no período pós-independência


no âmbito da cooperação internacional?

1.3. Formulação de hipóteses

• H1: O Brasil, teoricamente, atribui alta prioridade à cooperação internacional com


Angola, devendo, entretanto, intensificar, na prática, atividades na área de comércio,
indústria, saúde e etc.;

1.4. Objectivos

1.4.1. Objectivo geral

• Analisar a participação brasileira em Angola no período pós-independência no âmbito


da cooperação internacional;

1.4.2. Objectivos específicos

• Apresentar as principais teorias sobre a cooperação internacional;


• Compreender a narrativa histórica dos dois estados;
• Apresentar as principais áreas de cooperação durante o período pós-independência.

2
II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Cooperação internacional: Mecanismo fundamental na política externa

A cooperação internacional constitui um importantíssimo mecanismo auxiliar da política


externa das nações. Ao proporcionar a integração internacional, a colaboração nos campos
científico e tecnológico e a realização de operações internacionais lastreadas na
competitividade, formam recursos humanos orientados para as prioridades do desenvolvimento,
particularmente para países em desenvolvimento como o Brasil. De acordo com Marcos
Troyjo1, deve-se entender, num plano mais geral, cooperação como “alguma actividade
conjunta”, para cujo resultado final concorrem, necessariamente, diferentes atores. Não se move
pelo interesse predominante pecuniário que marcam uma relação do tipo contratual. Cada
cooperante tem a noção de ser um agente da actividade e não o mero receptor de um serviço
realizado por outrem.

Os objectivos de uma actividade de cooperação, cuja matéria-prima e produto essencial é o


conhecimento, são conjuntamente definidos, e a meta que se busca é passível de interpretações
e apropriações distintas, e, portanto, de ganhos científicos tecnológicos, políticos, económicos
e sociais diferentes por parte de cada cooperante. As actividades de cooperação se realizam,
ademais, envolvendo conhecimentos que, em princípio, não poderiam ser apreendidos
unicamente através de modalidades tradicionais de comércio internacional, seja pela
impossibilidade do pagamento de elevadas taxas de royalties, seja pelo fato de que o carácter
de “vanguarda” ou de “última geração” daquele determinado conhecimento não o disponibiliza
para as trocas internacionais. Cooperação, entendida dessa forma, se estende a todas as
actividades envolvendo atores nacionais e/ou internacionais. No entanto, a partir do final da
segunda guerra mundial, surgiu a figura da “cooperação para o desenvolvimento”, que se
conformou segundo dois vectores: a cooperação científico-tecnológica e a cooperação técnica.

Actualmente, a percepção dominante da comunidade internacional é a de que os mecanismos


que decorrem desses conceitos, que tiveram sua utilidade nas décadas de 60 e 70, estão hoje
superados, e novas modalidades de cooperação tendem a surgir. Em consequência, a
cooperação técnica sofreu um processo dramático de tematização e condicionalidades que
tendem não apenas a “segregar” países de seus benefícios, como centrarem-se com

1
Conceito utilizado por Troyjo, Marcos, em Tecnologia & Diplomacia: Desafios da cooperação internacional, São Paulo: Ed Aduaneiras, São
Paulo: Ed. Aduaneiras, 2003, p. 104.
3
exclusividade em sectores pré-estabelecidos pelos chamados países “transmissores”. Esta
tendência é evidente tanto no plano bilateral como multilateral. Quanto à cooperação técnico-
científica, Marcos Troyjo assim apresenta a sua visão da actualidade:

“(...) a cooperação científico-tecnológica encontra-se revitalizada, uma vez que os


países de maior sofisticação nesse campo identificam em alguns sectores a inegável
necessidade de contar com a participação de parceiros não tradicionais de razoável
equivalência, de que são exemplos países emergentes como o Brasil, China, Índia e
África do Sul.” (TROYJO, 2003, p. 105).

Observa-se, ainda, que a cooperação internacional, embora com grande ênfase na área
económica/comercial, não se restringe às áreas mencionadas anteriormente, englobando na
actualidade a cooperação em praticamente todos os campos: social, político, saúde, militar,
educacional e cultural.

Para uma compreensão mais realista das actividades de cooperação internacional, é importante
situá-la no contexto internacional recente, conforme será abordado a seguir.

2.2. Conjuntura internacional: Nova Ordem Mundial, globalização e modernidade

A dissolução do império soviético, a multipolarização da economia mundial e a tendência de


crescimento do número de conflitos separatistas, de fundo étnico ou religioso caracterizaram o
advento de um novo ordenamento no concerto das nações. Nesse contexto, a Organização das
Nações Unidas (ONU) assumiu um papel mais actuante na manutenção da paz e da segurança
mundial.

Não podem deixar de ser mencionados também, os conceitos de Globalização e de


Modernidade, considerando que estes fenómenos têm influência directa nas acções de
cooperação internacional nos dias de hoje.

São variáveis os conceitos de Globalização, havendo extremos radicais, desde a concepção de


que a Globalização é um fenómeno totalmente natural e espontâneo, sendo benéfica a todos os
países, inclusive aos mais pobres, até posições de que este fenómeno é inteiramente orquestrado
pelos poderosos, que esmagariam os mais fracos, em prol de uma chamada “governança
global”. Dentre estes conceitos, parece ter uma aceitação mais razoável, o de Pierre Size, que
no Dicionário da Globalização conceitua:

A globalização é um termo utilizado há vários anos pelos economistas da moda para


descrever um processo apresentado como recente, mas de fato, existente desde o início
do século, e que foi descrito por Lenine, em “Imperialismo, Estágio Supremo do
Capitalismo”: crescimento e primazia das exportações de capital, desenvolvimento da

4
divisão internacional do trabalho, dos trustes multinacionais, interconexão das
economias dos diferentes países, etc. Este nome surge pelo fato de que este processo
tomou uma amplitude particular desde os anos 80, em que a desregulamentação
generalizada acelera as condições da concorrência no plano mundial e o
desenvolvimento dos meios de transporte e telecomunicações suprimiram um a um os
obstáculos à deslocalização de centros de produção. Ao mesmo tempo, as crises
financeiras, que no passado levavam meses ou anos para se propagar, agora tocam
todas as praças financeiras em alguns instantes. (SIZE, 2005, p. 55-6.)

O conceito de Modernidade, também discutível, é abordado por Anthony Giddens, em seu livro
“As consequências da Modernidade”, onde cita: “a modernidade refere-se a estilo, costume de
vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que hoje se
tornaram mais ou menos mundiais em sua influência”. (GIDDENS, 1991, p.11).

Giddens destaca em sua obra, que a modernidade é inerentemente globalizante e menciona que
a viagem no moderno carro de “Jagrená” (o capitalismo de alta modernidade) não é
desagradável e muito menos desprovida de recompensas; os problemas são conseguir controlar
a direção e o ritmo do avanço, bem como as vítimas que ficam pelo caminho2.

Merecem ser mencionados ainda, os últimos acontecimentos de vulto – o atentado terrorista de


11 de Setembro de 2001 e a decisão “unilateral” dos Estados Unidos de invadir o Iraque em
2003, indiferente da posição da ONU, estes que marcam uma inflexão na ordem mundial e que
ainda estão submetidos à crítica e às pressões internacionais, gerando incertezas sobre o futuro
das relações internacionais.

Em consequência da breve análise destes pontos anteriormente abordados – a “nova ordem


mundial”, a “globalização” e a “modernidade”, torna-se perfeitamente compreensível concluir
que as actividades de cooperação internacional e a evolução de suas teorias são directamente
influenciadas pelas mudanças da conjuntura mundial.

2.3. Teorias da integração internacional

Existem diversas correntes de pensamento sobre o tema integração internacional; destes,


destacam-se as seguintes teorias: Teoria Funcionalista, Teoria baseada nas Comunicações e
Teoria Neofuncionalista3.

2
Giddens, Consequências da Modernidade, 1991, p.140 e 151.
3
Classificação utilizada por Pons, em Claves Del Siglo XXI, 2000, p.226-230.
5
2.3.1. Teoria funcionalista

David Mitrany foi o iniciador da teoria funcionalista, tendo grande quantidade de seguidores e
intérpretes. A maioria destes partem da premissa de que o actual sistema internacional, por ser
Estado-Centrica, é a grande causa dos esforços infrutíferos para se alcançar um mundo mais
pacífico. Por isso, propõem a ideia da criação de organizações cooperativas sobre bases não
políticas, funcionais e de reduzido âmbito de acção. (GIDDENS, 1991).

Mitrany desenvolveu sua tese no período entre as duas guerras mundiais, mas seu pensamento
influiu sobre toda uma geração de “internacionalistas” que viria depois da II Guerra Mundial.
Sua ideia central era chegar a um mundo mais pacífico, reconhecendo, entretanto, as
necessidades cada vez maiores que a vida moderna requer da colaboração, entre si, mais de
especialistas do que de generalistas (elite política). Como consequência, admitia que estas novas
organizações de colaboração funcional poderiam, em alguns casos, superar as instituições
políticas tradicionais. (Idem, 1991).

2.3.2. Teoria das comunicações

Karl Deustch defendeu que para se estabelecer uma integração duradoura e firme, há
necessidade de um fluxo intenso de transações internacionais como o comércio, a
correspondência, o turismo e outros, de tal forma que tais fluxos tendem a criar sistemas
políticos e económicos integrados.

Norgert Wiener, um autor dedicado à investigação cibernética, destacou: “A comunicação é o


cimento que une as organizações. A comunicação também permite a um grupo pensar juntos,
ver juntos e atuar juntos” (PONS, 2000, p. 228).

Deustch, ao referir-se à integração que daria lugar a esse aumento das comunicações, conclui
que através de tais processos se estaria alcançando o que o autor chama de “comunidades de
segurança”, que poderiam ser comunidades amalgamadas, várias unidades anteriormente
independentes com um governo único ou comunidades pluralistas, onde se mantém os governos
separados, como por exemplo, a OTAN.

2.3.3. Teoria neofuncionalista

Os textos neofuncionalistas incluem trabalhos de Philippe Schmitter, Joseph Nye e Rober


Keohane. Muitos destes autores utilizam as experiências da formação e da evolução da

6
Comunidade Europeia para dar sustento a suas bases teóricas. É assim que postulam que os
dirigentes das partes que desejam integrar-se, fazem um cálculo detalhado de custos e
benefícios antes de iniciarem as tarefas integradoras; afirmam ainda que é o pragmatismo que
guia as elites, deixando de lado todo chamado altruísta como motor da integração. Portanto, há
uma mudança do técnico para o político e baseados em uma postura realista, postulam a
necessidade de efetuar cálculos do poder, presente e a ser obtido, como exigência prévia e
inevitável, antes de acções de integração. (GIDDENS, 1991).

Após esta breve explanação das bases teóricas destas teorias de integração, será vista nos
próximos tópicos a forma como estas teorias foram aplicadas e como evoluíram em função de
mudanças no contexto internacional nos últimos anos, com destaque para as teorias
funcionalista e neofuncionalista. (Idem, 1991).

2.4. O funcionalismo nos anos 50 e 60

Os estudos empreendidos nos anos 50 e 60 tiveram como característica comum a forte


influência da abordagem funcionalista4. As obras de David Mitrany, de Philippe Schmitter e,
particularmente, a de Ernest Haas são fortemente marcadas pela perspectiva funcionalista. Em
sua formulação original, o funcionalismo associou-se à proliferação das organizações
internacionais e às expectativas de que esse fenómeno resultaria em crescentes níveis de
cooperação internacional. Tinha como premissa a separação entre as considerações de poder,
que marca o universo da chamada “alta política” (high politics) na visão realista, e os interesses
referentes ao bem-estar que configurariam o universo de “baixa política”. (HAAS, 1986)

De acordo com as visões funcionalistas, essa separação transpor-se-ia para os planos político e
técnico, de forma que as funções governamentais deveriam ser decompostas em elementos mais
simples e instrumentalizadas de modo a permitir a cooperação internacional, a qual teria, por
consequência, conotação eminentemente técnica.

Ernest Haas reelaborou essas mesmas premissas de forma a conferir maior importância ao
sentido político de cooperação. Para ele, a busca da integração resultaria da acção de elites no
âmbito governamental e no privado, estando pautada por uma visão pragmática de expectativas
de ganho indutor de novas formas de acção política. Conforme visto acima, Haas define a
integração como o processo no qual os atores políticos são persuadidos a transferir lealdade a

4
Visão da abordagem funcionalista apresentada por Vaz, Alcides em Cooperação, Integração e Processo Negociador, 2002, p. 27-32
7
um novo centro de poder. A lealdade resultaria da satisfação com o atendimento, pelas agências
governamentais, de expectativas e demandas de um conjunto diversificado de atores sociais.

A transferência de lealdade seria feita para organizações internacionais ou instituições


supranacionais que atendessem às mesmas demandas e expectativas de forma eficiente. Essa
transferência, segundo a óptica funcionalista, dar-se-ia de forma gradual, à medida que a
coordenação e a cooperação em uma área específica se estendessem a outros sectores,
caracterizando o efeito spill over, ou seja, o transbordamento da cooperação de um sector a
outro, conceito fundamental na concepção funcionalista. Essa lógica expansionista dos sectores
de integração, para Haas, não se restringiria às áreas económicas ou técnicas, mas deveria
conduzir também à integração no campo político.

2.5. A evolução do neofuncionalismo a partir dos anos 70

Inicialmente, a evolução teórica sobre integração, na fase compreendida entre os anos 50 e o


início dos anos 70, denotou preocupação com a forma, o escopo e a dinâmica do regionalismo
económico. Apesar dos avanços alcançados até então, importantes dificuldades quanto à
elaboração teórica permaneciam: as teorias revelavam muitas imprecisões e ambiguidades com
relação ao próprio conceito de integração; inexistia consenso sobre indicadores a serem
considerados; e eram poucas as explicações e proposições sobre a influência do ambiente
internacional sobre os processos de integração regional. (TROYJO, 2003)

A preocupação em compreender e valorizar forças e processos, sobretudo económicos, que


operam internacionalmente perante a dinâmica das relações interestatais, marcou o início de
uma nova fase5 na construção teórica sobre integração internacional.

O interesse dos estudiosos passou a recair menos nos processos formais para centrar-se no
fenómeno da interdependência no sistema internacional e em suas implicações políticas, quer
do ponto de vista das relações entre os Estados e das estruturas de poder, até então estudadas
sob a óptica realista, quer da conformação de um sistema marcado, entre outros aspectos, pela
crescente influência dos factores e agentes económicos e pela emergência de uma pluralidade
de atores não estatais competindo com os Estados, em diferentes níveis, pela lealdade dos
indivíduos. (TROYJO, 2003)

5
Visão da abordagem neo-funcionalista apresentada por Vaz, Alcides em Cooperação, Integração e Processo Negociador, 2002, p. 32-36.
8
Com base nessa realidade, construiu-se uma perspectiva sistémica que permitiria situar os
sistemas regionais no âmbito de um macro sistema internacional, considerando a pluralidade
de agentes e temas em cada nível. A integração deveria, segundo esse novo prisma, ser
compreendida a partir de perspectivas da economia política internacional que permitissem
superar as limitações do realismo, sem, contudo, desvinculá-la da política internacional, e que,
ao mesmo tempo, considerassem a crescente influência do liberalismo no comportamento dos
atores no campo económico. (TROYJO, 2003)

Em sua obra, Alcides Vaz assim descreve esta nova concepção:

Diluiu-se, pois, a noção de integração internacional relacionada à cooperação


conducente à construção de arranjos supranacionais e que reflectia a visão
eurocêntrica presente nas formulações funcionalistas em uma primeira fase. Em seu
lugar, emergiram concepções que procuravam retractar e explicar novas formas de
cooperação internacional, não necessariamente formais, protagonizadas pelos Estados
e, em distintos graus, coadjuvadas por variados atores não-estatais cuja ascensão no
cenário internacional era percebida como importante transformação estrutural. (VAZ,
2002, p. 33).

Despontavam então, como objecto de reflexão, os problemas relacionados à articulação de


interesses dos Estados, à provisão de bens internacionais – benefícios que os Estados podem
assegurar aos seus cidadãos apenas por meio da interacção com outros Estados – e aos dilemas
da acção colectiva e ao papel das organizações internacionais.

Novas formulações teóricas procuraram retractar algumas modalidades novas de cooperação


internacional, destacando-se o paradigma da interdependência complexa e as teorias de regimes
internacionais. O paradigma da interdependência complexa6 foi desenvolvido por Robert
Keohane e Joseph Nye Jr. em meados dos anos 70 e procura retractar uma forma de interacção
interestatal amparada em três premissas básicas:

• A existência de canais interestatais, transgovernamentais e transnacionais conectando


as sociedades;

• A multiplicidade de temas na agenda internacional sem um claro ordenamento


hierárquico;

• O não emprego da força militar entre as partes em situação ou temas que conformem
uma relação de interdependência complexa.

6
Descrito por Carlos Pons, em Claves del Siglo XXI, 2000, p.88-91.
9
De acordo com essa óptica, os objectivos dos Estados variam segundo o tema ou área de
interesse, o que causa a eles maiores dificuldades na alocação dos recursos e no emprego dos
instrumentos de poder, os quais podem incluir a manipulação de interdependência, as próprias
organizações internacionais e os atores transnacionais.

Nessa mesma perspectiva, considera-se que as organizações internacionais desempenham


importante papel na determinação da agenda e atuam na formação de coalizões, constituindo
arenas políticas para a actuação de Estados mais fracos, o que pode levar ao enfraquecimento
da hierarquia de poder no sistema internacional.

Ainda em conformidade com esse paradigma, a diversidade de temas e de interesses que marca
a interacção entre os Estados, e destes com os demais atores, acarreta uma condição em que a
cooperação se faz necessária e será empreendida segundo os recursos e instrumentos adequados
a cada área. Gera-se, assim, uma forma de interdependência política, porém, não equivalente à
integração política, como preconizada pelos funcionalistas dos anos 50 e 70.

Regimes internacionais são o conjunto de normas, princípios e regras comuns que orientam o
comportamento dos Estados numa determinada área em que os mesmos procuram estabelecer
cooperação em bases recíprocas. Os regimes podem ser formais, quando instituídos sob a forma
de acordos, tratados ou organizações internacionais, ou informais, quando a cooperação
prescinde de um arcabouço institucional, ainda que amparada em alguns instrumentos jurídicos,
como é o caso do regime de não proliferação nuclear consubstanciado no Tratado de Não
Proliferação Nuclear (TNP).

Ao ser conduzida sob a forma de regime, a cooperação internacional é normalmente voltada


para o atendimento à demanda que exige algum grau de coordenação e em torno da qual regista-
se convergência ou mesmo grande compatibilidade de interesse entre os Estados. Reflecte, ao
mesmo tempo, a disposição destes de tomarem decisões conjuntamente e estabelece uma forma
de organização cooperativa que supõe aquiescência e acatamento a fim de produzir ou evitar
resultados em uma área temática. Esta visão é assim destacada por Alcides Vaz:

“...a exemplo das concepções funcionalistas das décadas anteriores, a cooperação


internacional estaria estruturada em áreas específicas e suporia uma condição em que
os Estados optam por não exercer, em plena extensão, a prerrogativa de decidir e agir
por si mesmo e por seus próprios meios em temas de interesse e alcance colectivo. No
entanto, diferentemente daquelas concepções, a cooperação não engendrará
necessariamente integração política, transferência de lealdades e de prerrogativas ou
a construção de arranjos supranacionais.” (VAZ, 2002, p. 35).

10
Não se deve daí concluir que a integração política seja difícil de ser realizada em um marco de
crescente interdependência e que, do ponto de vista teórico, os modelos que retractam e
explicam a interdependência não comportem as formas de integração política concebidas nas
formulações teóricas anteriores. De fato, se considerada a realidade dos anos 70 à primeira
metade da década de 1980 do ponto de vista da dinâmica dos processos formais de integração
e de construção de arranjos supranacionais, as perspectivas da integração internacional foram
certamente exíguas. Com excepção da União Europeia (EU) que persegue a integração pela via
da supranacionalidade, a realidade dos anos 90 corrobora a reorientação das visões
funcionalistas no sentido de conceber a integração sob arranjos intergovernamentais e com
diferentes graus de institucionalização, e não apenas segundo formas supranacionais.

2.6. A cooperação internacional a partir dos anos 90

As teorias de integração viriam a receber novas contribuições no início dos anos 90, que
procuraram romper com a dicotomia entre factores internos e externos que se configurou nos
períodos anteriores.

O neofuncionalismo deu ênfase ao desenvolvimento de formas de cooperação entre sectores


específicos, tomando como ponto de partida o interesse dos atores como factor determinante do
seu comportamento no plano externo, seguindo a lógica de que, à medida que os atores
compartilhem percepções, interesses e necessidades, variadas formas de cooperação e
articulação ocorreriam entre eles. (TROYJO, 2003).

Desse modo, a cooperação entre os Estados seria o produto de um processo de negociação no


qual entram em consideração os objectivos perseguidos (e que são variáveis segundo cada área),
os elementos que definem o poder de cada parte na negociação e a forma como as decisões são
tomadas.

As formulações teóricas sobre cooperação e integração internacional passaram, assim, a ocupar-


se de novas questões: a definição dos objectivos e dos interesses dos Estados em uma dada área
de cooperação, a formulação das estratégias e a condução do processo de negociação entre eles,
e a tomada de decisões. A convergência entre as teorias de processo decisório e as teorias de
negociação internacional para explicar o surgimento e a dinâmica das formas de cooperação
internacional, como os regimes, abriu novos caminhos para a elaboração teórica sobre
integração internacional e para a superação da dicotomia interno-externo na explicação da
dinâmica da cooperação e da negociação internacional. (Idem, 2003).
11
Trata-se, portanto, de considerar não apenas a crescente diversidade de atores e de interesses
presentes na cena internacional e que, consequentemente, orientam processos de negociação
em tal âmbito, mas também os factores, tanto de ordem interna quanto externa, que atuam na
redefinição dos interesses e no próprio comportamento dos Estados diante das possibilidades
de cooperação internacional, o que corresponde à tendência que, contemporaneamente, marca
as teorias de cooperação em sua confluência com aquelas voltadas para a negociação e a
integração.

2.7. A influência da mudança de cenários nas formas de cooperação internacional

A prevalência dos factores económico comerciais sobre os político-estratégicos, característica


que parece marcar o mundo pós-guerra fria, incitou toda uma mudança na filosofia mais geral
que leva os países a cooperarem conjuntamente no campo do conhecimento. A atitude
“simpática”7 e de “assistência ao desenvolvimento” que vingou nos anos de confrontação
bipolar compreendeu acções conjuntas na ciência e na técnica que se produziram ao longo do
eixo “centro periferia”. O primeiro pólo desse binómio fornecia à periferia aspectos apenas
particulares ou “parciais” de determinado conhecimento ou técnica, bem como projectava o
modelo “ideológico” de acordo com o qual se processaria a cooperação. (TROYJO, 2003)

Tal “oferta” visava a concertação mais ampla que culminaria com recompensas pontuais pela
filiação dos atores coadjuvantes à matriz ideológica.

Com o êxito desse modelo de cooperação se buscava, igualmente, “seduzir” o actor periférico
ainda não “convertido” para a adesão ao que se poderia chamar de “bloco ideológico”. Ao
segundo pólo caberia a “aceitação” de modalidades de cooperação que, no mais das vezes, não
contemplariam qualquer transferência de tecnologia que suscitasse, a partir das actividades de
cooperação, uma capacidade “multiplicadora” e “concorrencial” nos países periféricos.
(TROYJO, 2003)

Consequentemente, se no cenário “Estado-dominado” da guerra fria a cooperação visava ao


objectivo político de reprodução, na periferia, do modelo ideológico de que deriva uma
“clientela” político-económica; no cenário “mercado dominado” dos anos 90 a cooperação se
tornou mais complexa, e estende-se por meio de modalidades que:

7
Troyjo, em Tecnologia & Diplomacia: Desafios da cooperação internacional, 2003, p. 91.
12
• Privilegiam aspectos de parceria, co-financiamento, inovação e “pré competitividade”;

• Permitem a transmissão de conhecimento realizada com motivações que fundem


objectivos políticos e económicos, e - realçam a importância da formação de recursos
humanos de alto nível, no contexto maior da consolidação de um novo factor de
produção a que o chavão internacional vem chamando “human capital”.

Pode-se constatar outra mudança de postura na condução dos problemas de segurança


internacional, onde se verificou nos últimos anos, particularmente após o período da Guerra
Fria, uma intensificação do emprego de tropas de paz, patrocinadas pela ONU, com a finalidade
de cooperar com a paz e a normalidade institucional, mediante comum acordo entre forças
antagónicas de países em conflito. (TROYJO, 2003)

Em resumo, as características marcantes da cooperação internacional, nos dois cenários


apresentados, podem ser assim descritas8:

Tabela nº 1 – Características da Guerra Fria e do pós-Guerra Fria

GUERRA FRIA PÓS-GUERRA FRIA


Prevalência de intercâmbio sobre cooperação Prevalência de “cooperação” sobre intercâmbio
Prevalência de Estado sobre sociedade civil Prevalência da sociedade civil sobre o Estado
Prevalência de “acção” sobre “cooperação” Convivência entre “acção” e “cooperação”
Actividades “politicamente-orientadas” Actividades “economicamente-orientadas”
“Orientação” ideológica “Desorientação” ideológica
Objectivo é a aliança geopolítica Objectivo é a conquista de mercados
Fonte: Adaptado de Troyjo (2003)

8
Tabela elaborada pelo autor desta monografia, baseada no texto de Troyjo, em Tecnologia & Diplomacia: Desafios da cooperação
internacional, 2003, p. 96-97.
13
III. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

3.1. Perfil de Angola

A República de Angola está situada no continente africano, na região ocidental da África


austral, com uma superfície de 1.246.700 Km². Aproximadamente 65% do território está
situado numa altitude entre 1000 e 1600 metros. O país possui 18 províncias e o nível
populacional de 17.024.086 habitantes, distribuídos principalmente pela costa do país e planalto
central. Sendo, Luanda sua capital económica e política. E tem como fronteira ao norte a
República Democrática Congo, leste pela Zâmbia, a sul pela Namíbia e a oeste pelo Oceano
atlântico, conforme poderá ser visualizado na Figura 1.

A moeda oficial é o Kwanza, e com uma grande quantidade na circulação do dólar norte-
americano no mercado. A Língua Oficial é o Português e existem cerca 42 línguas nacionais
(dialectos), destacando-se o Kimbundu, Umbundu, e o Kicongo, como os mais abrangentes. No
ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2012, o país está na 148º posição.

Potencialmente rico em recursos minerais. Estima-se que o seu subsolo albergue 35 dos 45 mais
importantes do comércio mundial entre os quais se destacam o petróleo, gás natural, diamantes,
fosfatos, ferro, cobre, magnésio, ouro e rochas ornamentais. (MINISTERIO DA
COMUNICAÇÃO SOCIAL, 2013).

Figura nº 1 – Angola no mapa de África

Fonte: Google Maps (2021).

14
Angola após a sua independência viveu por um longo período de conflito civil armado datado
de 1976 até 2002. Nestes, 26 anos de conflito armado que vitimou quase um milhão de pessoas,
assolando drasticamente nos domínios da sociedade, atrasando o desenvolvimento da economia
do país. (RIZZI, 2008).

Uma década de paz tem beneficiado consideravelmente do país, que vem experimentado altas
taxas de desenvolvimento económico crescente. Porém, a mudança para um funcionamento de
uma economia de mercado estável ainda não foi concluída. Apesar das reformas económicas
significativas implementadas desde o início dos anos 2000, a estabilização macroeconómica
ainda precisa ser consolidada numa base sustentável, terreno o que, em muitos casos, explica
as altas taxas de crescimento. Este é basicamente o crescimento home-grown, porque, como irá
ser discutido mais tarde, com a excepção de actividades extractivas, Angola não tenha
experimentado muito dinamismo exportador agrícola ou de fabricação. (BANCO MUNDIAL,
2007).

No nível regional, Angola é co-fundadora da Comunidade Económica dos Estados da Central


Africano (CEEAC), da União Africano (UA) e da Comunidade para o Desenvolvimento
Africano (SADC). Em 2003, o país aderiu ao Protocolo da SADC de Comércio, que prevê a
criação de uma zona gratuita de Comércio na região (ANGOLA, 2004). Angola está aberta ao
investimento estrangeiro e tem sido o maior país beneficiário entre 49 países menos
desenvolvidos em uma década. (UNCTAD, 2012).

3.1.1. Um breve histórico

Angola é povoada pelo menos desde o século V a.C., embora existam achados arqueológicos
de ocupações muito anteriores.

Os portugueses, sob o comando de Diogo Cão, no reinado de D. João II, chegaram ao Zaire em
1483. É a partir deste momento que se iniciará a conquista pelos portugueses desta região de
África, incluindo Angola. O primeiro passo foi estabelecer uma aliança com o reino do Congo,
que dominava toda a região. Ao sul deste reino existiam dois outros, o de Ndongo e o de
Matamba, os quais não tardaram a fundir-se, para dar origem ao reino de Angola. (RIZZI,
2008).

Explorando as rivalidades e conflitos entre estes reinos, na segunda metade do século XVI, os
portugueses instalaram-se na região de Angola. O primeiro governador de Angola, Paulo

15
Novais, procurou delimitar este vasto território e explorar os seus recursos naturais, em
particular os escravos. A penetração para o interior, como em todas as outras colonizações
europeias na África, foi muito limitada. Em 1576, foi fundada São Paulo de Luanda, a atual
cidade de Luanda.

Angola transformou-se rapidamente no principal mercado abastecedor de escravos das


plantações da cana do açúcar do Brasil.

Até finais do século XVIII, Angola funcionou como um reservatório de escravos para as
plantações e minas do Brasil. A ocupação dos portugueses confinou-se às fortalezas da costa.

A colonização efetiva do interior só teve início no século XIX, após a Independência do Brasil
(1822) e o fim do tráfico de escravos (1836-42), mas não da escravatura. Esta ocupação pode
ser interpretada como uma resposta às pretensões de outras potências europeias, como a
Inglaterra, a Alemanha e a França, que reclamavam na altura o seu quinhão em África. Diversos
tratados foram firmados estabelecendo os territórios que a cada uma cabem, de acordo com o
seu poder e habilidade de negociação. (ABRANTES, 2005).

As fronteiras atuais de Angola só foram definidas em finais do século XIX (Congresso de


Berlim – 1884-5), sendo a sua extensão muitíssimo maior do que o território dos Umbundos,
cuja língua o território de Angola estava associado.

A colonização de Angola, após a implantação de um regime republicano em Portugal (1910),


entrou em uma nova fase. Os republicanos haviam criticado duramente os governos
monárquicos por ter abandonado as colônias. O aspecto mais relevante da sua ação
circunscreveu-se à criação de escolas. No plano econômico, iniciou-se a exploração intensiva
de diamantes. A DIAMANG (Companhia dos Diamantes de Angola) foi fundada em 1922.
(Idem, 2005).

O desenvolvimento econômico só teve início de forma sistemática, em finais dos anos trinta,
quando foi incrementada a produção de café, sisal, cana do açúcar, milho e outros produtos.
Tratava-se de produtos destinados à exportação.

O desenvolvimento destas explorações foi acompanhado por vagas de imigrantes incentivados


e apoiados muitas vezes pelo próprio Estado. Entre 1941 e 1950, saíram de Portugal cerca de
110 mil imigrantes com destino às colônias, sendo que a maioria fixou-se em Angola. O fluxo
imigratório prosseguiu nos anos 50 e 60.
16
Nos anos quarenta, a questão da descolonização emergiu no plano internacional e tornou-se
irreversível. Em 1956, foi publicado o primeiro manifesto do Movimento Popular de Libertação
de Angola (MPLA).

No princípio dos anos 60, três movimentos de libertação - UPA/FNLA, MPLA e UNITA (União
Nacional para a Independência Total de Angola), desencadearam uma luta armada contra o
colonialismo português.

3.1.2. Angola no contexto da guerra fria

Com o fim da segunda Guerra Mundial, o mundo passou a viver a Bipolarização de ideologias
entre o Capitalismo dos Estados Unidos e o Comunismo da União Soviética, período da história
que ficou conhecido como a Guerra Fria. Durante este período, os Estados Unidos e a União
Soviética se engajaram numa clássica corrida armamentária, desenvolvendo armas nucleares e
meios de lançamentos cada vez mais sofisticados tecnologicamente.

Segundo Huntington, nesse período da história:

“(...) um país podia ser não alinhado, como muitos eram, ou, como faziam alguns,
podia mudar seu alinhamento de um lado para o outro. Os dirigentes de um país
podiam fazer essas opções em função das suas percepções dos seus interesses de
segurança, suas avaliações do equilíbrio de poder e suas preferências ideológicas. No
mundo novo, entretanto, a identidade cultural é o fator essencial para moldar as
associações e os antagonismos de um país. Enquanto um país podia evitar se alinhar
no contexto da Guerra Fria, ele não pode prescindir de identidade. A pergunta “De
que lado você está?” foi substituída pela pergunta muito mais fundamental “Quem
você é?”. Todos os Estados precisam ter uma resposta para essa pergunta. A resposta
– sua identidade cultural – define o lugar desse Estado na política mundial, seus
amigos e seus inimigos.” (HUNTINGTON, 1996, p.153).

No caso da África, a descolonização no pós-guerra reduziu ainda mais a influência europeia,


mas não a dos Estados Unidos, que substituíram o tradicional império territorial por um novo
imperialismo transnacional.

Os Estados Unidos, em especial, se defrontavam com o problema do “Tirano Amistoso”9: os


dilemas de cooperar com ditadores e juntas militares que eram anticomunistas e, por isso,
parceiros úteis na Guerra Fria. Essa cooperação produziu mal-estar e, às vezes, embaraços
quando esses regimes cometiam violações revoltantes dos direitos humanos. Entretanto, a
cooperação podia ser justificada como o mal menor: esses governos eram geralmente menos
repressivos do que os regimes comunistas e se podia supor que seriam menos duráveis e

9
Expressão utilizada por Samuel Huntington em O Choque das Civilizações. São Paulo: Ed Objetiva, 1996, p.247
17
também mais suscetíveis às influências norte-americanas e de outras origens externas. Por que
não trabalhar com um tirano amistoso menos brutal se a alternativa era outro mais brutal e
inamistoso? (ABRANTES, 2005).

Durante os 40 anos da Guerra Fria, os conflitos foram se espalhando em um sentido descendente


à medida que as superpotências tentavam recrutar aliados e parceiros, bem como subverter,
converter ou neutralizar os aliados e parceiros da outra superpotência. Evidentemente, a
competição era mais intensa no Terceiro Mundo, onde Estados incipientes e frágeis eram
pressionados pelas superpotências para se juntarem à grande competição internacional.

3.1.3. 11 de Novembro de 1975: a Independência.

Dentro do contexto mundial já mencionado, em 1961, o mundo estava dividido em dois: de um


lado, os países capitalistas alinhados aos Estados Unidos; de outro, os países socialistas
organizados ao lado da União Soviética. Na África, os povos desejavam uma liberdade que
ainda não havia sido conquistada. É nesse contexto que estouraram guerras pela independência
em diversos países. (Idem, 2005).

Durante a guerra pela independência de Angola, movimentos políticos de orientações diversas


tomaram o mesmo lado, embora cada um defendesse o alinhamento com um dos dois blocos
internacionais. É nesse momento que surge o Movimento Popular pela Libertação de Angola,
o MPLA (1956), alinhado com os socialistas, e a Frente Nacional para a Libertação de Angola,
a FNLA (1962), e a União Nacional para Independência Total de Angola, a UNITA (1966), do
lado do Ocidente capitalista. (Idem, 2005).

Em 1964, no Congo, Agostinho Neto se encontrou com Che Guevara, que lhe ofereceu a
assistência de Cuba.

No lado do MPLA, vários instrutores cubanos tinham de fato estado com os guerrilheiros desde
os primeiros dias da guerra de libertação em Cabinda, mas o que desencadeou o envio de 480
instrutores cubanos, que chegaram no meio de Outubro em três navios, foi a invasão de tropas
regulares sul-africanas, que entraram dez milhas no sul de Angola em 5 de Agosto de 1975,
seguidas por novas ondas de invasão entre 14 e 23 de outubro do mesmo ano, com veículos
armados e artilharia que se movia para o norte em direção à Luanda. O governo sul-africano
justificou o ataque alegando que Angola fornecia armas aos guerrilheiros da vizinha Namíbia,
um país pequeno, mas rico em ouro e outros minerais. Na verdade, a África do Sul queria deter

18
o avanço de movimentos de esquerda no continente, avanço que poderia estimular a luta contra
o “apartheid” sul-africano10.

A importância da Independência de Angola foi assim descrita por Victoria Brittain em sua obra
Morte e Dignidade: A Guerra Civil em Angola:

“Quando a bandeira vermelha e preta com a estrela amarela, que representava a


Angola independente, se elevou sobre Luanda em 11 de Novembro de 1975, pondo
fim aos anos de colonialismo português, foi uma vitória para um movimento de
libertação africano, mas também uma vitória com uma ressonância política e
econômica que ultrapassava o continente.” (BRITTAIN, 1999, p. 45).

Os países do Terceiro Mundo, da América Latina e da Ásia, que lutavam com as complicações
econômicas e sociais deixadas pelo colonialismo, identificaram-se com a natureza desigual da
luta angolana. E a dura independência conquistada por Angola era, para muitas nações pós-
coloniais ou coloniais, uma garantia de que a libertação do resto da África era possível. Em
Angola, tal como no Vietnã, as guerrilhas tinham vencido. A vitória do Movimento Popular
para a Libertação de Angola (MPLA) fez parte dos fatores que deram origem ao novo
sentimento de confiança que varria o Terceiro Mundo.

O exército voluntário do MPLA tinha lutado contra os portugueses no interior do país durante
mais de uma década, contribuindo para o colapso do império português, derrubado pelo golpe
contra o regime fascista em Lisboa em Abril de 1974. Os guerrilheiros angolanos, homens e
mulheres, brancos e negros, tinham conseguido derrotar a força militar mais poderosa da África
– a da África do Sul do “apartheid” -, o bem equipado exército regular do Zaire, duas forças
angolanas rivais – a UNITA e a FNLA. (ABRANTES, 2005).

3.1.4. Período pós-independência e a guerra civil

O período pós-independência está assim descrito na página “Imigrantes”11:

A independência de Angola não foi o início da paz, mas o início de uma nova guerra aberta.
Muito antes do dia da Independência, 11 de Novembro de 1975, já os três grupos nacionalistas
que tinham combatido o colonialismo português lutavam entre si pelo controle do país, e em
particular da capital, Luanda. Cada um deles era na altura apoiado por potências estrangeiras,
dando ao conflito uma dimensão internacional. (Página “Imigrantes”, 2004).

10
Disponível em http://www.tvcultura.com.br/aloescola/historia/guerrafria/guerra10/terceiromundo-africa3.html.
Acesso em 02/05/2022.
11
Disponível em http://imigrantes.no.sapo.pt/page2angola2.html. Acesso em 10/04/2004.
19
A consolidação da libertação de Angola do jugo colonialista português deu força a outros
movimentos similares no continente africano.

Em consequência, forças do Zaire e da racista África do Sul invadiram Angola imediatamente,


em apoio à FNLA e à UNITA, respectivamente. Agostinho Neto, presidente e representante do
MPLA recorreu à ajuda de Cuba, que auxiliou com grande contingente de homens e também
com logística. Isso ocasionou, já em 1976, a derrota da FNLA, afastamento do Zaire e a
desarticulação quase total da UNITA. (RIZZI, 2008).

Com a morte de Agostinho Neto em 1979, sendo sucedido no poder por José Eduardo dos
Santos, não houve redução do comportamento agressivo da UNITA. As crescentes pressões que
os EUA sofriam para condenar o regime da apartheid na África do Sul levavam cada vez mais
o mundo a ver que uma solução negociada para o conflito era o único caminho para acabar com
sua internacionalização.

Em dezembro de 1988, Nova Iorque, foi palco do encontro histórico entre os governos da África
do Sul, Angola e de Cuba, sob mediação dos EUA. A retirada das tropas sul-africanas e cubanas
era o ponto determinante do acordo, que também previa a negociação de paz entre o governo
de Angola e a UNITA, e a definição, por parte da África do Sul, de uma data para a
independência da Namíbia. Com efeito, os soldados estrangeiros retiraram-se de Angola,
obedecendo a um cronograma, e a Namíbia tornou-se independente, em março de 1990. Esse
facto mostra a importância que Angola teve na libertação da Namíbia. (Idem, 2008).

Dois anos depois, representantes da UNITA e do governo de Angola encontraram-se em


Portugal. Esta cimeira terminou com um amplo acordo assinado pelas duas partes, ampliando
as esperanças de paz em Angola. Foi estabelecido um grande cronograma que culminaria com
a realização das primeiras eleições livres e democráticas em Angola, que seriam
supervisionadas pelas Nações Unidas. O governo e a UNITA também deveriam dissolver seus
exércitos e formar um único, as Forças Armadas Angolanas (FAA).

O governo cumpriu os seus compromissos: desmobilizou grande parte de seu exército, de quase
400 mil homens, garantiu a liberdade dos partidos políticos e programou eleições presidenciais
e legislativas para Novembro de 1992. Durante a campanha, que trouxe um clima de relativa
paz ao país, Savimbi, líder da UNITA, começou a mostrar os seus reais desígnios. Com um
aparato de segurança ameaçador, intimidava a população, começava a admitir atentados que

20
antes negava, deixando claro que não aceitaria outro resultado no pleito que não fosse sua
vitória. (RIZZI, 2008).

Mesmo assim, Savimbi não conseguiu seu intento, e a população mostrou claramente que
caminho desejava seguir. O MPLA derrotou a UNITA por 54% a 34% dos votos nas eleições
legislativas, enquanto, para a presidência, José Eduardo dos Santos teve 49,6% dos votos, e
Savimbi, 40,1%. Apesar da vitória, o acordo prévio que, se nenhum dos candidatos alcançasse
50% dos votos, haveria uma nova volta na eleição.

Mas essa nova volta não chegou a ser realizada. Savimbi alegou fraudes na votação,
contrariando o parecer de toda a comunidade internacional, inclusive da representante especial
do secretário-geral das Nações Unidas, Margareth Anstee. O líder da UNITA, assim, retirou-se
para a província de Huambo e ordenou o reinício da guerra em grande escala. As FAPLA
haviam sido desmobilizadas, as FAA ainda estavam em formação, mas as FALA ainda estavam
intactas. Eram dois os objetivos: controlar totalmente o país, ou, pelo menos, grande parte dele,
inclusive com o intuito de criar a "Angola do Sul". (ABRANTES, 2005).

Savimbi foi surpreendido pela resistência da própria população, que, indignada com a violação
do tratado de paz, empunhou armas em várias cidades e lutou contra as forças da UNITA. Em
Luanda, os combates foram violentos, e as forças de Savimbi foram expulsas da capital. Com
o tempo, essa resistência foi ocasionando o aumento progressivo dos bandos de Savimbi contra
as populações civis.

As Forças Armadas, auxiliadas pela mobilização popular, começaram uma escalada de êxitos
contra a UNITA que as colocaram muito próximas à vitória final. Mas os apelos internacionais,
e em especial a pressão dos EUA, levaram novamente à reabertura da via diplomática. Savimbi,
acuado, prestou-se prontamente a voltar à mesa de negociações. Seu objetivo era ganhar tempo.

Vários encontros que pretendiam retomar as negociações foram realizados sob os auspícios das
Nações Unidas: Namibe, no sul de Angola, em 1992; em Addis Abeba, na Etiópia, entre Janeiro
e Março de 1993; e em Abidjan, na Costa do Marfim, em Abril e Maio de 1993. Todos
fracassaram e a UNITA atacou o Uíge, no norte do país. Em Addis Abeba, a UNITA abandonou
a mesa de negociações e iniciou um ataque ao Huambo. (Idem, 2005).

Em Abidjan, seis semanas de negociações foram desperdiçadas quando a UNITA se recusou a


assinar um acordo com 38 pontos, o qual o governo angolano já havia aceito. Nesse último

21
caso, Savimbi exigia que tropas da ONU entrassem em ação enquanto os exércitos da UNITA
e as FAA se acantonariam. Tal atitude ia totalmente contra as várias resoluções das Nações
Unidas que determinaram, após as eleições de 1992, a retirada das tropas da UNITA dos
territórios ocupados. A guerra recrudescia ainda mais. (ABRANTES, 2005).

3.1.5. O Acordo de Lusaka

No dia 20 de novembro de 1994, após meses de difíceis negociações, o então ministro das
Relações Exteriores de Angola, Venâncio de Moura, e o então secretário-geral da UNITA,
Eugénio Manuvakola, assinaram o Protocolo de Lusaka, na Zâmbia, que retomava pontos
básicos do Acordo de Bicesse.

Havia a esperança de que este novo acordo traria a paz definitiva devido a algumas boas razões:
a Guerra Fria tinha terminado, e o mundo começava a se voltar mais para a defesa dos direitos
humanos. E principalmente porque, em Maio de 1993, os EUA, na figura do presidente Bill
Clinton, reconheceram o Governo de Angola. O presidente norte-americano tinha o objetivo de
esvaziar qualquer conotação política que pudesse haver nos atos terroristas de Jonas Savimbi.
(RIZZI, 2008).

Entre outras coisas, o Protocolo de Lusaka previa a criação de um governo de reconciliação


nacional, reiterava a necessidade de desmobilização das forças militares de ambos os lados, e,
igualmente, a entrega às autoridades governamentais das áreas controladas pela UNITA.

Apesar dos esforços das Nações Unidas, novamente pouco saiu como previsto, a começar pela
desmobilização das tropas. As Forças Armadas reduziram os seus efetivos para apenas 70 mil
homens, mas a UNITA continuava a relutar em integrar seus homens no exército único.

3.1.6. Rompimento e recrudescimento da guerra civil

Na tentativa de superar os impasses sucessivos impostos por Savimbi na busca da paz, o


presidente José Eduardo dos Santos resolveu empossar, em Abril de 1997, o Governo de
Unidade e Reconciliação Nacional (GURN), medida que deveria ser colocada em prática
apenas depois da entrega dos territórios ocupados pelos guerrilheiros. Assim, a UNITA passou
a integrar vários ministérios e a ocupar 70 lugares na Assembleia Nacional, vagos desde a
interrupção do processo eleitoral de 1992.

22
Durante todo esse processo, Savimbi não cedeu em sua agressividade. Em dezembro de 1995,
atacou o município de Soyo, onde estão sediadas as empresas petrolíferas norte-americanas e
francesas. E em março de 1998, suas forças promoveram o massacre de mais de 200 civis na
província de Malanje. E Savimbi continuava a treinar suas tropas, como atestou, em agosto de
1997, a própria força de paz da Missão de Observação das Nações Unidas em Angola
(MONUA). (ABRANTES, 2005).

A comprovação veio no mesmo ano na figura do Secretário-geral da UNITA, Eugénio


Manuvakola, que estava desaparecido desde que assinara o Protocolo de Lusaka. Ele havia
fugido do quartel-general de Savimbi. Manuvakola revelou que havia sido preso e torturado por
ter assinado o acordo sem que este previsse a entrega das províncias de Huambo, Bié e Benguela
sob o controle de Savimbi. Ele revelou também que as forças da UNITA estavam
reorganizando-se para reiniciar a guerra quando bem entendessem.

Neste ponto, a falha da MONUA foi não perceber que Savimbi aproveitava o cessar-fogo para
contrabandear diamantes e, com o dinheiro obtido, fortalecer suas tropas com armamentos
sofisticados e mercenários ucranianos, tutsis e sul-africanos. E, enquanto isso, o governo
angolano buscava voltar à mesa de negociações e fazia concessões. Os ataques de Savimbi
continuaram e a guerra prosseguiu até recentemente. Após quase 40 anos de conflitos, cinco
em cada seis angolanos nunca conheceram a paz. Desconhecem-se os números exatos, mas os
mortos elevam-se a mais de 1 milhão. Cerca de um terço da população foi deslocada pela guerra
ao ser obrigada a deixar seus locais de origem. (Idem, 2005)

3.1.7. 2002 Até os dias de hoje: normalidade institucional e paz duradoura?

Após longo período de guerra civil com milhares de mortos e deslocamento em massa de sua
população, a morte, em fevereiro de 2002, de Jonas Savimbi, líder da UNITA, levou à assinatura
do cessar-fogo de quatro de abril do mesmo ano e pôs fim ao sangrento conflito angolano. A
paz trouxe esperança, mas também novos desafios e prioridades para Angola. Um dos desafios
mais importantes enfrentados pelo país em sua transição para a paz será o retorno e integração
de milhões de deslocados internos, refugiados nos países vizinhos e os ex-combatentes
deslocados durante o conflito. (ABRANTES, 2005)

A assinatura do Memorando de Entendimento em 4 de abril de 2002 entre as Forças Armadas


Angolanas, FAA e as Forças Militares da UNITA, FMU, após a morte do líder Jonas Savimbi,
em fevereiro de 2002, pôs fim a quase três décadas de conflito entre o governo angolano
23
liderado pelo partido do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e a UNITA.
(RIZZI, 2008)

O Memorando de Entendimento de Luena, também conhecido como o Acordo de Luena, cidade


onde o acordo foi assinado reitera os elementos principais do Protocolo de Lusaka, de 1994,
assinado na capital Zambiana. O Acordo de Luena prevê a implementação do cessar-fogo
através do desarmamento, aquartelamento e desmobilização das forças militares da UNITA, a
integração dos oficiais de maior patente nas forças armadas e polícia nacional, e uma lei de
anistia geral para todos os crimes cometidos durante o conflito. (Idem, 2005)

Um ano após a assinatura do acordo de paz, mais de dois milhões de pessoas deslocados
internos e aproximadamente 25 por cento dos refugiados vivendo no exterior retornaram para
seus lugares de origem. No entanto, um grande efetivo desses deslocados ainda permanece no
exílio, em centro de trânsito ou acampamentos temporários. Tragicamente, o retorno de
deslocados internos, frequentemente sem qualquer assistência formal, tem causado centenas de
mortes e ferimentos, devido principalmente a ampla presença de minas terrestres em Angola, e
colocou centenas de milhares de civis em necessidade urgente de assistência e proteção.
(ABRANTES, 2005)

A “Human Rights Watch”12 acredita que o sucesso da transição da guerra para uma paz
duradoura depende do respeito aos direitos fundamentais desses três grupos. Particularmente,
as autoridades angolanas e das Nações Unidas (ONU) devem garantir a segurança, a entrega de
suprimentos de ajuda humanitária e fornecer educação e outros serviços básicos para aqueles
em centros de trânsito. Devem ainda garantir condições semelhantes nas áreas de retorno dos
deslocados internos, refugiados e ex-combatentes. As autoridades angolanas e as agências da
ONU deveriam prestar atenção especial às necessidades das mulheres, crianças e outros grupos
vulneráveis. A não garantia dessas normas poderá agravar a situação atual, ameaçar o processo
de paz e minar as esperanças de desenvolvimento. (Idem, 2005)

Ao final da guerra civil, a infra-estrutura em Angola estava em ruínas. Minas terrestres


infestavam o interior do país, sendo que hospitais, centros de saúde e escolas foram destruídos
durante o conflito. Uma falta de profissionais qualificados no interior do país significa que os
serviços básicos de saúde e educação não estão disponíveis para a maioria da população. Há

12
Disponível em http://www.hrw.org/portuguese/reports/angola0803/3.htm. Acesso em 22/03/2022.
24
uma grande preocupação internacional no sentido de um esforço para desenvolver a infra-
estrutura devastada em Angola.

Os angolanos lutaram para sobreviver em meio a um dos mais longos conflitos da história
moderna. Durante esse período contabilizou-se, aproximadamente, um milhão de pessoas
mortas, 4,1 milhões de deslocados e 400.000 levados aos países vizinhos da Zâmbia, Congo,
República Democrática do Congo e Namíbia13.

A situação atual é de grande esperança de que a paz interna realmente seja consolidada e que
Angola possa retomar, dentro de um quadro de normalidade política, ao seu tão desejado
desenvolvimento econômico e social. Sem dúvidas, as atividades de cooperação internacional
neste momento são importantíssimas e extremamente valiosas para o povo angolano. (RIZZI,
2008).

3.1.8. Perfil socioeconómico de Angola

De acordo com a Organização das Nações Unidas - ONU (2013), e como foi apresentado
anteriormente, Angola enfrentou 40 anos de conflito até 2002. Este teve efeitos duradouros
sobre a estrutura da sua economia e sociedade. Angola costumava ser uma commodity agrícola.
Exportador de lavouras de café e produtos básicos, como milho, e foi quase auto-suficiente em
alimentação. A luta armada levou a um declínio drástico nas actividades produtivas como tais:
produção agrícola foi gravemente devastada, e uma proporção significativa da população
deslocada. E por sua vez as actividades de fabricação, que responderam por 10 por cento do
PIB no momento da independência, quase desapareceu.

Pouco mais de 10 anos após o fim do conflito, Angola efectuou progressos substanciais em
termos económicos e termos políticos. Angola foi o segundo maior produtor de petróleo da
África em 2010 e, teve uma taxa de crescimento anual médio de 12%. No entanto, os sectores
de extracção, em especial petróleo e gás, tiveram uma integração muito limitada na economia
doméstica, e sua contribuição para a geração de emprego tem sido mínima. (ONU, 2013).

A redução da pobreza é considerada pelo Governo como uma ferramenta para apoiar o
crescimento económico e desenvolver um mercado interno. A estratégia de redução da pobreza,
Estratégia de Combate à Pobreza (ECP), foi formalmente aprovada em 2004 e revista em 2005.

13
Dados constantes da Página “Human Rights Watch”, disponível em http://www.hrw. org/portuguese /reports/
angola0803/3.htm. Acesso em 22/03/2022.
25
Tem-se centrado na reconstrução da infra-estrutura, para com isso aceder a educação, saúde e
outros serviços básicos; e na descentralização das estruturas de governança. (UNIDADE DE
RECONCILIAÇÃO NACIONAL, 2004).

As principais actividades económicas estão desmedidamente concentradas em Luanda e no


litoral: em 2007, 77% dos empregos formais estavam centralizados na capital, além de existirem
também outras importantes assimetrias regionais. (ROCHA, 2010).

Uma característica definidora da economia angolana é a predominância do sector informal,


também conhecido candonga, que é caracterizado como actividades informais que na realidade
é um meio primário de subsistência para uma grande parte da população angolana. E sua
participação estima-se cerca de 50% do PIB do país. O sector informal, tanto rural como urbana,
fornece 70% de empregos em Angola e representa a principal ocupação para a força de trabalho
feminina. (ONU, 2013).

O desemprego continua sendo um desafio significativo para Angola, apesar do rápido


crescimento económico dos anos recentes. De acordo com o Banco Mundial (2007), o país
ainda está no processo de transição para uma economia de mercado liderado pelo sector
privado. Nesse contexto, Angola tem um maior desenvolvimento no sector privado, mas a
formação bruta de capital fixo (FBCF) deste sector tem sido apenas 4,3% do PIB em média
2000-2009.

Estes níveis acima apresentados, são insuficientes para gerar oportunidades de emprego ou para
promover crescimento e diversificação da economia. Sendo assim o Governo adoptou políticas
para promover o emprego dos angolanos, exigindo às empresas para contratar um percentual
mínimo (70%) dos nacionais. No entanto, a falta de mão-de-obra de qualificada tornou difícil
para cumprir este requisito. Os sectores modernos da economia e obras de reconstrução ainda
são altamente dependentes de trabalhadores qualificados estrangeiros. (PNUD 2005).

O crescimento económico e a reestruturação produtiva requerem um sector financeiro eficiente.


Existem algumas questões não resolvidas em Angola que limitam a extensão em que este sector
possa contribuir para a realização destes objectivos. (BANCO MUNDIAL, 2007; USAID,
2008).

O progressivo crescimento dos serviços bancários em Angola é evidente. O sector financeiro


desenvolveu através do estabelecimento de bancos estrangeiros, principalmente Português. Em

26
vez da privatização das instituições financeiras existente no país. Os bancos públicos são fracos.
As instituições financeiras bancárias e não bancárias autorizadas a operar em Angola devem
estar devidamente registradas no Banco Nacional de Angola (DOING BUSINESS, 2012).
Porém, o número de filiais operados por bancos públicos e privados aumentou, e outros serviços
para os consumidores, tais como cartões de crédito e Caixas electrónicos, também estão se
expandindo. No entanto, embora depósitos compulsórios cresçam significativamente no sector
financeiro angolano, apenas 20% da população tem acesso a serviços bancários. (EULER,
2010).

Pode-se assim, entender que Angola é um país em transição, tanto orientado a uma economia
de mercado (quer seja nacional como global) quanto a um sistema político democrático. Em
ambas as áreas ainda há muitos desafios que exigem atenção (BANCO AFRICANO DE
DESENVOLVIMENTO, 2011; VINES et.al, 2005; BANCO MUNDIAL, 2007). Além disso,
segundo a Fundação Mo Ibrahim (2011), a capacidade institucional existente em Angola é
muito limitada e a governação precisa melhorar exponencialmente. Porém, alcançou 44,1 dos
100 pontos possíveis no Índice de Governação Africana (IGA).

3.2.História do Brasil

História do Brasil não possui um marco inicial bem definido. Não obstante, tradicionalmente,
existe uma datação recorrente sobre a chegada dos portugueses com Pedro Álvares Cabral, em
22 de abril de 1500, à região costeira de onde hoje é a Bahia. Seria esse então o “descobrimento
do Brasil”. No entanto, cabe ressaltar que se trata da descoberta dos portugueses. Diversos
grupos étnicos já habitavam o território que veio a ser o Brasil muito antes de qualquer europeu
desembarcar nele.

O Brasil é o resultado histórico de diversos projetos distintos que se sucederam em uma


delimitação geográfica específica. Primeiro tratava-se de um projeto de conquista; depois, um
projeto de colonização; já no século XIX, um projeto de Império e de constituição de um
Estado-nação; e, por fim, um projeto de Brasil República, que é o que se tenta manter até hoje.

Os hinos, bandeiras, brasões, emblemas, palavras de ordem, e tudo aquilo que nos remete à
identidade nacional, dizem respeito a essa construção. Ser patriota é ser adepto de um projeto
de nação, que muitas vezes diverge de outros projetos que também estão em construção.
Portanto, seria mais preciso referirmo-nos ao processo da chegada dos portugueses como a
invenção do Brasil, da qual se sucederam projetos diferentes.
27
3.2.1. Período pré-cabralino (-1500)

Antes da chegada dos portugueses, havia diversos grupos étnicos ocupantes do território que,
futuramente, seria chamado Brasil. O período Pré-Cabralino diz respeito, como o próprio nome
sugere, à história que antecede o contato desses povos separados pelo Atlântico.

Durante algum tempo, era comum encontrar a denominação “Pré-História do Brasil”, que já
não é considerada adequada por grande parte dos historiadores e antropólogos. A história não
passa a existir após a chegada dos portugueses. E mesmo que exista o argumento de que essa
expressão preserva a noção de que a história diz respeito às fontes escritas, desde meados do
século XX até os dias de hoje, a historiografia desenvolveu-se bastante tendo em vista
metodologias que analisem outros tipos de fontes. (ZILLI, 2015).

Estima-se que os primeiros povos começaram a habitar o território onde hoje é o Brasil há
60.000 anos. Contudo, devido a esse enorme traçado temporal e à ausência de qualquer tentativa
de preservação do seu início, muito foi perdido da integridade dessa história.

Nesse sentido, um dos indícios mais trabalhados pela arqueologia sobre o território brasileiro
são os sambaquis, que consistem em depósitos de matéria orgânica e calcário, formados pela
ação humana e que, ao longo do tempo, sofreram um processo de fossilização. Eles oferecem
informações importantes sobre as primeiras populações que habitaram nosso território por volta
de 2.000 a 8.000 anos atrás. (Idem, 2015).

Com a chegada dos jesuítas, em meados do século XVI, uma série de “obras gramaticais” foi
produzida com o objetivo de normatizar algumas “línguas dificultosas” da colônia. Nesse
empreendimento, foram catalogados conhecimentos valiosos sobre línguas indígenas do
período que corresponde à chegada dos portugueses à América.

Assim se descobriu que existiam quatro grupos linguísticos principais, sendo eles: os tupis-
guaranis, os caraíbas, os macrojês e os aruaques. Desses troncos linguísticos, como também são
chamados, derivam uma série de grupos étnicos e variações linguísticas que dão origem aos
idiomas indígenas modernos. (Idem, 2015).

28
3.2.2. Período pré-colonial (1500-1530)

Após 22 de abril de 1500, com a chegada dos portugueses ao território americano, essas novas
terras desconhecidas não despertaram grande interesse na Coroa de imediato. O Império
português estava, nesse momento, voltado para o comércio com as Índias, o qual, por sua vez,
já estava em processo de declínio, desde a tomada da Constantinopla pelos turcos otomanos em
1453, dando fim ao Império bizantino.

Já os franceses não tardaram muito e, no início do século XVI, fizeram o envio de embarcações
para o Atlântico Sul, pois estavam de olho nessas novas terras e questionavam a divisão luso-
espanhola determinada pelo Tratado de Tordesilhas. Nisso estabeleceram, em 1555, uma
colônia, na Baía de Guanabara, conhecida como França Antártica.

Portugal, nesse momento inicial, promovia as chamadas expedições exploradoras no território


sul-americano com o objetivo de reconhecer e mapear o território e estabelecer contato com os
índios nativos. O principal produto extraído dessas terras, até então, era uma árvore nativa da
Mata Atlântica que passou a ser chamada de pau-brasil.

É interessante saber que o nome Brasil surge antes da própria terra brasileira. Desde o século
XIV, mapas europeus atribuíam-no, com diversas variantes possíveis (Bracil, Brazille, Bersil,
Braxili etc.), a uma ou mais ilhas, “expressando um horizonte geográfico ainda mítico”,
segundo a historiadora Laura de Mello e Souza. Contudo, em 1º de maio de 1500, em carta,
Pero Vaz de Caminha referia-se a essa terra por Vera Cruz. Posteriormente, outros nomes
também foram utilizados, como Terra dos Papagaios e Santa Cruz. (ZILLI, 2015)

No fim do Período Pré-Colonial, em 1530, quando Portugal envia expedições com o objetivo
de estabelecer colonos e implementar uma administração colonial, o nome Estado do Brasil
passa a ser oficial. Se quiser conhecer mais sobre esse período, leia: Período Pré-Colonial.

3.2.3. Período colonial (1530-1815)

Em 1530, Portugal envia Martim Afonso de Souza como chefe de uma expedição colonizadora.
Sua missão era combater os traficantes franceses, que preocupavam a Coroa, estabelecer alguns
núcleos de povoamento na região litorânea e buscar metais preciosos. Para isso, foi Afonso de
Souza designado capitão-mor, o que lhe acumulava a função de exercer a justiça civil e
criminal, distribuir sesmarias, reivindicar terras em nome do rei e nomear funcionários para
administração colonial. (ZILLI, 2015)
29
Em 1532, o explorador recebeu a ordem, vinda de D. João III, de implementar o sistema de
capitanias hereditárias. Nesse sistema, o território recém-descoberto foi dividido em 15 lotes,
que formavam 14 capitanias, e eram nomeados capitães donatários os responsáveis pela
administração de cada uma delas. O sistema é implementado em 1534 (nele, o próprio Martim
Afonso de Souza torna-se donatário da capitania de São Vicente) e dura até 1548, quando surge
o governo-geral, com o objetivo de centralizar a administração colonial de todo o território.
(ZILLI, 2015)

É também na capitania de São Vicente que Martim Afonso de Souza estabelece, em meados do
século XVI, o primeiro engenho de açúcar (que, até meados do século XVII, seria o principal
produto de exportação da colônia), inaugurando, então, o ciclo do açúcar. O sistema de
plantação era o modelo utilizado nesse tipo produção. Extensas faixas territoriais eram
concedidas aos senhores de engenho, que, munidos com a fertilidade da terra, a mão-de-obra
escrava e a monocultura da cana-de-açúcar, transformaram-se na principal elite econômica,
social e política a partir de então. (ZILLI, 2015)

Em um primeiro momento, os portugueses utilizaram a mão-de-obra escrava indígena.


Entretanto, com a pressão do crescente tráfico negreiro, já em meados do século XVI, a
escravização negra tornou-se a maior fonte de trabalho, tendo o Brasil recebido cerca de 4,9
milhões de escravos africanos até século XIX, quando houve a promulgação da Lei Eusébio de
Queirós, em 1850.

O fim do ciclo do açúcar é marcado pela invasão e tentativa de colonização holandesa. Os


holandeses conseguem estabelecer-se em 1637, e, até 1644, o conde Maurício de Nassau
governa a região de Pernambuco, a qual também começa a produzir açúcar. No entanto, em
1645, com o apoio da Inglaterra, os portugueses voltam a combater os holandeses, no que ficou
conhecido como insurreição pernambucana, até que, em 1654, conseguem restabelecer a cidade
de Olinda como posse da Coroa portuguesa. (CARDOSO, 1998)

A partir de então, os holandeses instalam-se na América Central e passam competir com sua
produção de açúcar, prejudicando diretamente o comércio exterior do Império português. Com
isso, as entradas e bandeiras começam a voltar-se em busca de metais preciosos, até que, já no
final do século XVII, na região da capitania de São Paulo, quantidades significativas são
encontradas, dando início ao ciclo do ouro. (Idem, 1998)

30
O Período Colonial também é marcado por uma série de conflitos e revoltas, como as rebeliões
nativistas e as rebeliões separatistas. Sobretudo a partir do final do século XVII, os interesses
de uma crescente elite local e de portugueses começaram a criar problemas para a administração
colonial.

Além disso a Família Real portuguesa, sob ameaça de invasão francesa em Portugal, foge para
o Brasil que, em 1815, é designado Reino de Portugal, Brasil e Algarves, sendo o Rio de Janeiro
sede da administração do reino. Esse movimento deu fim ao Período Colonial.

Desde o final do século XVIII começou a ocorrer processos de independência das colônias
inglesas, francesas, espanholas e portuguesas. Os conflitos entre o Partido Brasileiro, nome que
se dava ao grupo político que defendia interesses locais, e os portugueses acentuavam-se cada
vez mais, culminando, em 1822, no processo de independência do Brasil. Para conhecer mais
detalhes desse período. (ZILLI, 2015)

3.2.4. Período imperial

Período Imperial vai de 1822, com a independência do Brasil, até 1889, com a proclamação da
República, e é dividido em três fases principais: o Primeiro Reinado (1822-1831), o Período
Regencial (1831-1840) e o Segundo Reinado (1840-1889). Embora, desde 1815 que o Brasil
tornara-se Reino de Portugal, Brasil e Algarves, como consequência direta da transferência
Corte para o Rio de Janeiro.

Outras medidas importantes foram tomadas, tais como a abertura dos portos às nações amigas
em 1808, a fundação do Banco do Brasil no mesmo ano, os tratados de 1810, a fundação da
Real Biblioteca, a Missão Artística Francesa em 1816, entre outras coisas. Estima-se que entre
10 a 15 mil pessoas embarcaram rumo ao Brasil, entre 25 e 27 de novembro de 1807. Estruturas
administrativas inteiras instalaram-se do outro lado do Atlântico. (CARDOSO, 1998)

A partir de então, o Brasil sofreu grandes transformações. Na política, por exemplo, houve um
movimento emancipacionista, inspirado nos ideais iluministas, na capitania de Pernambuco.
Conhecido como Revolução Pernambucana, ou Revolução dos Padres, tal motim foi fortemente
reprimido pelo Reino.

Esses e outros conflitos estabelecidos nesse período, somados à Revolução Liberal do Porto e
ao retorno da Corte para Portugal, foram decisivos para o processo de independência brasileira,
que Portugal só reconheceu oficialmente em 1825, após receber uma indenização volumosa.
31
3.2.4.1.Primeiro reinado

O principal ícone da independência brasileira foi Pedro de Alcântara (o quarto filho de D. João
VI), que, após esse processo, torna-se o primeiro imperador do Brasil, assumindo a alcunha de
Pedro I do Brasil. Diferentemente de seu pai, Pedro I admirava os ideais iluministas, defendia
ideias liberais, como a abolição da escravidão, e liberdades individuais.

Figura nº 2 – Bandeira do primeiro reino brasileiro

Fonte: mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil

Nesse contexto, surgem dois grupos políticos informais na disputa por espaços de poder: o
Partido Português, que concentrava defensores do absolutismo, de um governo centralizado e
forte, dos comerciantes portugueses e, muitas vezes, da restauração do Brasil enquanto colônia
de Portugal; e o Partido Brasileiro, composto por comerciantes brasileiros, latifundiários e
senhores de escravos, cujos principais objetivos eram na defesa e a ampliação de direitos e
privilégios conquistados. (CARDOSO, 1998).

Em 1823, foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte, que deu origem à Constituição
Política do Império do Brasil, de 1824. Embora, a princípio, o seu papel seria limitar os poderes
do monarca, conforme os ideais iluministas, a Constituição de 1824 possuía forte caráter
autoritário e centralizador, sobretudo por meio da instituição do poder moderador.

Ainda com resquícios da Revolução Pernambucana no ar, após a promulgação da Constituição


de 1824 e seu caráter expressamente autoritário, os pernambucanos novamente revoltaram-se,
e, em julho de 1824, deflagra-se a Confederação do Equador, de caráter separatista e
republicano. Logo em seguida, o Império envolve-se na Guerra da Cisplatina, trazendo ainda
mais impopularidade a D. Pedro I. (Idem, 1998).

Em 1826, com a morte de João VI, pai do imperador, abre-se um problema de sucessão na
monarquia lusitana. Diante disso e da incapacidade de acalmar os ânimos no Brasil, Pedro I

32
abdica do trono e deixa seu filho, Pedro II, com apenas cinco anos, como seu sucessor. Contudo,
a própria Constituição de 1824 determinava que o imperador deveria ter, pelo menos, 21 anos
de idade para assumir o cargo. Foi preciso, assim, estabelecer um governo regencial,
inaugurando uma nova fase do Período Imperial.

3.2.4.2.Período regencial

O Período Regencial foi marcado por uma série de conflitos constantes com o governo central,
criando sucessivos quadros de instabilidade política, agravada pela grave situação econômica.
As forças políticas dividiam-se, basicamente, em duas vertentes: os liberais e os conservadores,
estes com maior presença política. (ZILLI, 2015).

Na tentativa de conter essas rebeliões, em 1834 foi promulgado um ato adicional que revisou
pontos importantes da Constituição de 1824, proporcionando, entre outras coisas, maior
autonomia das províncias. Contudo isso não foi suficiente. Dentre essas revoltas regenciais,
destacaram-se: Revolta dos Malês (1835), Cabanagem (1835-1840), Sabinada (1837-1838),
Balaiada (1838-1841) e Revolta dos Farrapos (1835-1845).

Em julho de 1840, sob iniciativa dos liberais, que pressionavam a Regência, foi dado o Golpe
da Maioridade, nomeando D. Pedro II, com apenas 14 anos de idade, imperador do Brasil. Foi
uma tentativa dos liberais de ocuparem mais espaço nas decisões políticas, além de viabilizarem
uma forma de conter as agitações políticas que se alastravam por todo o território. Inicia-se,
assim, o Segundo Reinado (1840-1889). (Idem, 2015).

3.2.4.3.Segundo reinado

Durante esse período, ocorreram transformações profundas. A economia do Império que, desde
o ciclo do ouro, estava em sérias dificuldades, encontrou no aumento do consumo do café no
exterior a possibilidade de aumentar suas exportações, diminuindo, assim, seu deficit comercial.
Essa atitude deu início ao ciclo do café. Tal atividade, que já vinha ocorrendo antes mesmo da
chegada da Corte portuguesa, portanto, acelerou-se. (Idem, 2015).

O poder econômico passou a transferir-se do Nordeste para o Sudeste do país, onde


concentravam-se as plantações de café. Ao mesmo tempo, o próprio sistema de produção
agrícola, a plantações, começa a sofrer fortes pressões, sobretudo dos ingleses, com a exigência
do fim do comércio de escravos e, consequentemente, da abolição da escravidão.

33
No entanto, somente com a promulgação das leis abolicionistas, a partir de 1850 com a Lei
Eusébio de Queirós, o combate à escravidão começou a ser colocado em prática no Brasil. Outro
evento importante, tanto para a abolição quanto para a formação sociopolítica que deu origem
ao movimento de derrubar a monarquia brasileira, foi a Guerra do Paraguai (1864-1870).
Escravos foram enviados ao campo de batalha, muitos deles até obrigados, sob a promessa de
alforria após o término do conflito. (ZILLI, 2015)

Após a vitória brasileira, e seu alto nível de endividamento para financiar a guerra, D. Pedro II
sai fragilizado politicamente, ao mesmo tempo que os militares passam a ocupar mais espaço
dentro do debate político. São eles, inclusive, que encabeçam a proclamação da República, em
1889. Caso queira aprofundar-se mais nesse período da história do Brasil, leia: Brasil Império.

3.2.4.4.Período republicano

A República Brasileira, período sob o qual o país ainda está em vigência, pode ser dividida da
seguinte forma: Primeira República/República Velha (1889-1930), Governo Provisório (1930-
1934), Constitucional de Vargas (1934-1937), Estado Novo (1937-1945), Quarta República
(1945-1964), Ditadura Militar (1964-1985), e Nova República (1985-até os dias atuais).

É importante destacar que, mesmo diante do sistema republicano, o Brasil possui historicamente
sérias dificuldades em manter-se sob o regime democrático. Durante esse período, foram
promulgadas outras seis constituições, sendo duas delas (a de 1937 do Estado Novo e a de 1967
da Ditadura Militar) de caráter fortemente autoritário. (Idem, 2015)

3.2.4.5.Primeira república

Logo no começo da República, durante a presidência de Prudente de Morais, primeiro civil


eleito e por voto popular, deflagrou-se um dos maiores conflitos armados do período, cujas
motivações ainda são incertas e imprecisas: a Guerra dos Canudos (1896-1897).

Esse período da Primeira República também foi marcado pela alternância do poder, entre as
oligarquias de São Paulo e Minas Gerais, que ficou conhecida como política do café com leite.
Esse tipo de política contribuía ainda mais para o isolamento dos outros Estados da federação
e consolidava a hegemonia do Sudeste do país. (CARDOSO, 1998)

34
Figura nº 3 – Bandeira da República Brasileira

Fonte: mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil

Apenas em 1930, com o movimento civil militar liderado por Getúlio Vargas, após vitória de
Washington Luís ao cargo do executivo nacional ser questionada pela Aliança Liberal, deu-se
início então à Revolução de 1930. O Brasil, a partir de então, inicia uma nova fase da República.

3.2.4.6.Era vargas

Durante a Era Vargas (1930-1945), houve um rearranjo das forças políticas, que se
concentravam em setores médios dos centros urbanos. Esse, inclusive, foi o período de maior
crescimento industrial da história do Brasil. Foi quando, também, criou-se a Consolidação das
Leis Trabalhistas (CLT), no dia 1º de maio de 1943, unificando e ampliando os direitos dos
trabalhadores, entre outras coisas.

Contudo, é importante ressaltar que o Estado Novo foi uma ditadura que perseguiu lideranças
políticas, sobretudo ligadas ao Partido Comunista do Brasil, além de ter feito aliança, em alguns
momentos, com a Ação Integralista Brasileira, de inspiração fascista, com o Integralismo
Lusitano e com a Doutrina Social da Igreja Católica. (CARDOSO, 1998).

Ao mesmo tempo, Vargas possuía forte capilaridade nos movimentos dos trabalhadores,
conseguindo, inclusive, controlar de perto as atividades dos sindicatos. Por esses motivos,
muitas vezes, Vargas é chamado de populista. Todavia, uma historiografia já consolidada no
assunto identifica problemas desse tipo de atribuição, uma vez que trata a massa de eleitores
que o apoiou não por ser facilmente manipulável em torno de um projeto de poder, mas porque
parte considerável de suas demandas foi atendida pelo Executivo. (Idem, 1998).

Aliás, Getúlio Vargas é uma personalidade com muitas nuances. Toda a era que leva o seu nome
na história da República do Brasil divide-se em momentos muito distintos, estando em lados
distintos do espectro político e atendendo demandas aparentemente contraditórias. Ainda hoje
é a principal referência política e histórica para o trabalhismo brasileiro.

35
No entanto, a tradição do trabalhismo deixada por Vargas transformou-se em uma grande
ameaça política, segundo os militares e forças da Unidade Democrática Nacional (UDN), que
queriam sua renúncia. Na segunda metade da década de 1940, sucedem-se uma série de pressões
buscando interferir na já fragilizada democracia recentemente instaurada após o fim do Estado
Novo. Vargas foi eleito em 1950 pelo voto direto, assumiu a presidência em 1951 e, sob pressão
dos militares, que já ameaçavam um golpe no país, suicidou na madrugada de 24 de agosto de
1954. (ZILLI, 2015).

Apesar desse ato “retardar o golpe”, o clima de instabilidade política acirrou-se cada vez mais.
Em 1961, quando o ex-ministro do trabalho de Vargas, João Goulart, na ocasião vice-presidente
do Brasil, deveria assumir a presidência da República após a renúncia de Jânio Quadros, os
militares tentaram impedi-lo.

Foi quando Leonel Brizola, naquela ocasião, Governador do Rio Grande do Sul, promoveu a
campanha da legalidade, pegando em armas, inclusive, para garantir a posse do novo presidente.
Apesar disso, em abril de 1964, é deflagrado o golpe militar no Brasil, com apoio dos Estados
Unidos da América, instaurando uma ditadura que durou 21 anos. (Idem, 2015).

3.2.4.7.Ditadura militar

Durante a Ditadura Militar, uma série de conquistas obtidas com a Constituição de 1946, no
breve período da Quarta República, foram suspensas com as promulgações dos atos
institucionais. Em 1968, o AI-5, considerado o golpe dentro do golpe, proibiu reuniões políticas,
executou censura prévia em filmes, livros, peças de teatros e programas de televisão, suspendeu
o habeas corpus, conferiu ao presidente o direito de fechar o Congresso Nacional, entre outras
coisas. Tal documento institucionalizou a repressão no país. (CARDOSO, 1998).

Durante esse período, surgiram também importantes movimentos artísticos que se colocaram
ao lado da resistência ao regime, como o cinema novo e o Tropicalismo, e que revolucionaram
seus respectivos campos de atuação no Brasil, tendo reverberação até os dias atuais. A partir de
1974, inicia-se o processo de abertura política do regime, de forma lenta e gradual, com o
objetivo de entregar aos civis o poder político. (Idem, 1998).

Em 1985 o poder Executivo é, de fato, entregue pelos militares. Ainda de forma indireta,
Tancredo Neves é eleito presidente do Brasil, porém, antes mesmo de assumir, faleceu vítima

36
de uma infecção generalizada. José Sarney, o vice, assume, por fim, a presidência do Brasil em
março de 1985, encerrando o período da Ditadura Militar.

3.2.4.8.Nova república

Assim se inicia o período da Nova República. Até hoje, esse é o período democrático mais
longevo de nossa história, seu início foi marcado pelo combate à hiperinflação, além de uma
dívida externa que, durante os governos militares, cresceu 30 vezes. Até hoje, sucederam-se
oito presidentes, sendo o primeiro eleito Fernando Collor de Mello, em 1989.

Em 1988 foi promulgada também uma nova Constituição, que, pela ampla garantia de acessos
aos serviços públicos, recebeu a alcunha de Constituição Cidadã. Apesar de ser o maior período
democrático da história brasileira, a Nova República já passou por dois processos de
impedimento (ou impeachment). (CARDOSO, 1998)

No regime presidencialista, como é o caso do Brasil desde que se tornou república, o processo
de impeachment deve ser empenhado com muitas ressalvas, uma vez que a dinâmica do cargo
de presidente confere-lhe mais poderes do que o cargo de primeiro-ministro, como é o caso do
parlamentarismo. Caso contrário, a própria credibilidade do regime democrático é colocada em
risco, destacando que se trata de um processo político-jurídico, o que minimiza o poder do voto.

37
IV. METODOLOGIA

Este ponto apresenta de forma detalhada, o trajecto seguido na preparação do processo de


investigação. Naturalmente, este percurso foi desenhado de acordo com o tema e os objectivos
formulados, usando os procedimentos técnicos de recolha e tratamento dos dados considerados
ajustados. Inicia-se com o método de pesquisa e o desenho metodológico da investigação a que
se seguem os instrumentos e métodos usados para a recolha e análise dos dados.

4.1. Tipo de estudo

Quando defrontado com um problema, a melhor forma para elucida-lo é por meio da pesquisa,
por meio da qual o conhecimento e a consulta bibliográfica resultam em um relatório com base
nas buscas realizadas. (CERVO; BERVIAN, 2002).

O presente é caracterizado por um tipo de estudo baseado numa pesquisa descritiva quanto aos
fins de investigação. A pesquisa descritiva é um levantamento de dados com características já
conhecidas que compõem um processo ou fenómeno. (SANTOS, 2004). Justifica-se esta opção
de pesquisa pelo interesse em conhecer e descrever todos os Acordos Internacionais Bilaterais
firmados pelo Brasil e Angola.

Quanto aos meios de investigação, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental. Na


pesquisa bibliográfica utilizam-se como fontes de estudos publicações realizadas por outros
autores por meio de livros, sites oficiais, artigos, entre outros meios. (OLIVEIRA, 1999). Para
Gil (2002), a pesquisa bibliográfica ajuda a enriquecer o estudo com informações adicionais
sobre a situação em questão.

Pesquisas bibliográficas são materiais já elaboradas que abrangem a bibliografia já publicada.


Sua função é possibilitar rápida obtenção ao pesquisador dos assuntos já escritos. (LAKATOS;
MARCONI, 1995). “A pesquisa bibliográfica é a actividade de localizar e consultar fontes
diversas de informações escritas, para colectas dados gerais ou específicos a respeito de
determinado tema”. (CARVALHO, 2001, p. 123.).

A pesquisa documental visa obtenção de resultados por meio de análise dos documentos, fontes
de dados e informações. De acordo com Gil (2002):

A pesquisa documental apresenta uma série de vantagens. Primeiramente, há que se


considerar que os documentos se constituem fonte fica e estável de dados. Como os

38
documentos subsistem ao longo do tempo, tornam-se a mais importante fonte de dados
em qualquer pesquisa de natureza histórica. (GIL, 2002, p. 42).

Diante disso, a pesquisa se relaciona à documental, pois o trabalho se baseia em documentos


publicados por meio do site do Ministério das Relações Exteriores dos dois países para analisar
os Acordos Internacionais Bilaterais assinados por Angola e Brasil.

4.2. População e amostra

A população do nosso estudo são as relações entre Angola e o Brasil.

A amostra, por seu lado, circunscreveu-se as relações de cooperação entre Angola e o Brasil no
período pós-independência.

4.2.1. Critérios de inclusão

• As relações de cooperação entre Angola e o Brasil no período pós-independência.

4.2.2. Critérios de exclusão

• O relacionamento entre Angola e os outros países.

4.3. Procedimentos e instrumentos ou técnicas para a colecta de dados

As normas utlizadas permitiram a elaboração de resumos de forma a utilização do máximo de


informação resumida, elaborando síntese bibliográficas de modo a existir uma percepção da
bibliografia existente, e conduzir a concepção de fichas de conteúdo e de autores.

4.4. Processamento de dados

O Processamento de dados da nossa Monografia foi efectuado por meio da operação com
computadores, utilizando preferencialmente o Microsoft Word e o Excel, pois permitiu guardar
os dados de maneira acessível, organizando e analisando tanto descritiva quanto
inferencialmente, facilitando o uso de técnicas de análise variadas.

4.5. Métodos a utilizar

Para a realização deste trabalho recorremos a análise documental e bibliográfica disponível


sobre o tema, procedeu-se a elaboração de síntese dos conteúdos consultados, onde
naturalmente procedeu-se a revisão histórica, através do método dialéctico e sempre numa
perspectiva descritiva.

39
V. RESULTADOS E DISCUSSÃO

• A participação do Brasil em Angola: Raízes comuns, colonização e independência


diferentes

Na busca de um caminho alternativo para as Índias, o português Diogo Cão, em 1482, aporta
na Baía de Luanda, iniciando a colonização lusa na África Austral. Angola e Brasil apresentam
muitas afinidades em razão das suas raízes históricas, da colonização portuguesa, das
semelhanças fisiográficas, da língua que lhes é comum, da composição étnica de suas
populações e do Oceano Atlântico, que os uniu politicamente no período colonial brasileiro e
que, se os separa em termos territoriais, os aproximará na busca da concretização de seus
objetivos políticos, econômicos e sociais.

Entretanto, o contexto político e socioeconômico vivido por esses países é diferente. O Brasil
é um país pacífico. A sua formação política foi consolidada ao longo de quatro séculos. Nesse
período, os Tupis, os Guaranis, os Tapuias e os Aruaques, entre outros, miscigenaram-se com
os escravos de além-mar, e o português, com ambos. Os indígenas e os africanos assimilaram
a cultura, a língua e a religião do colonizador. A colonização lusa impôs uma nova civilização
na terra do pau-brasil, contribuindo para o ocaso das diferenças étnicas e para a homogeneidade
do povo brasileiro. Assim sendo, nos primórdios do século XIX, a formação da nacionalidade
brasileira estava em franco processo de consolidação.

Nesse quadro, a sede do Estado português foi transferida para o Brasil, iniciando o processo
histórico que permitiu o amadurecimento das elites locais e a criação da estrutura necessária à
vida autônoma da colônia que caminhava apressadamente para a sua independência política.

O fato de um herdeiro da coroa portuguesa proclamar a Independência do Brasil propiciou uma


transição pacífica para a vida independente e a formação de uma mentalidade ordeira e
conservadora nas elites locais.

Em Angola, a falta inicial de atrativos minerais, as dificuldades de navegação junto a costa e a


dificuldade de acesso ao interior do continente postergaram o início da exploração da colônia.
Até meados do século XIX, ela restringiu-se ao mercado de escravos, que fomentou as guerras
entre as diversas tribos angolanas, na medida em que os conflitos eram motivados para a captura
de prisioneiros para serem vendidos como escravos ao colonizador branco.

40
Esse retardo no começo da exploração econômica dificultou a plena imposição da cultura lusa
que, dessa forma, não atingiu a zona rural no interior do território. Assim, as diferentes tribos
mantiveram as suas culturas, os seus dialetos e os seus antagonismos recíprocos até os dias
atuais, inviabilizando a miscigenação e a homogeneização do povo angolano.

Existe uma grande diversidade tribal, linguística e cultural no seio dessa população. A sua
composição é constituída, principalmente, pelos ovimbundos (38%), pelos mbundos (23%) e
pelos bacongos (14%)14.

Os Portugueses não conduziram e não prepararam a colônia e as suas elites para a vida em
liberdade. Essa falta de perspectiva deu início à guerra pela independência.

Uma acirrada disputa interna pelo poder ocorreu ainda no período que antecedeu a
independência. As desconfianças mútuas inviabilizavam o entendimento entre as partes. Assim
foi feita a proclamação da independência de Angola, ao final de 1975.

O despertar da nação angolana foi caótico. O vácuo político existente permitiu, ao MPLA,
declarar a independência de Angola em Luanda. Paralelamente, A UNITA declarou a
independência do país em Huambo e a FNLA o fez em Ambris (Província do Bengo). A guerra
civil prosseguiu até 2002, quando se criou a expectativa de um período de paz com maior
consistência.

Nesse ambiente de caos e de balbúrdia, o êxodo português foi da ordem de 300.000 pessoas,
que compunham a parte mais qualificada da força de trabalho de Angola, gerando a
desestruturação do sistema produtivo da antiga colônia.

Verifica-se que, mesmo antes da independência da colônia, houve a dissolução do governo de


transição entre o elemento colonizador e os patrícios, a abrupta retirada da autoridade colonial
portuguesa, o início da guerra civil e a internacionalização do conflito.

Atualmente, o Brasil, apesar dos seus graves problemas sociais e econômicos, constitui uma
das maiores economias do planeta. Angola está devastada por mais de duas décadas de guerras
ininterruptas. Enquanto a ex-colônia portuguesa da América apresenta um nível de
desenvolvimento bastante superior à sua congênere da África, que tenta sobreviver à pobreza e
à fome generalizadas.

14
Dados citados por Carneiro, Flávio, em O Brasil e as Operações de Paz em Angola, 1996.
41
• Influência fisiográfica nos interesses comuns

A despeito das diferenças entre o tamanho das suas bases físicas e das suas populações, Angola
e Brasil apresentam uma grande identidade fisiográfica.

Os dois países estão situados no Hemisfério Sul e são banhados pelo mesmo oceano, o que lhes
confere a situação de partícipes do condomínio do Atlântico Sul. As duas nações apresentam
diversos interesses comuns relacionados à exploração econômica dos recursos marítimos, à
segurança regional do Atlântico Sul, ao controle das rotas marítimas da região, aos interesses
inerentes ao continente Antártico e aos controles ambiental e climatológico da região.

As latitudes extremas ao norte e ao sul de Angola estão contidas entre as suas correspondentes
brasileiras, conferindo-lhes uma grande semelhança nos fatores fisiográficos do clima e da
vegetação.

Como não poderia deixar de ser, também existem sensíveis diferenças fisiográficas. Os dois
países diferem quanto à forma de seus territórios, uma vez que o enclave de Cabinda confere
uma fragmentação ao mapa físico de Angola.

Em relação aos grandes mercados internacionais, as duas posições podem ser consideradas
excêntricas, o que lhes encarece os fretes de seus produtos. Porém, os seus posicionamentos
geográficos lhes permitem exercer uma forte influência sobre as rotas marítimas do Atlântico
Sul.

Os angolanos constituem o terceiro estado em potencial da África Negra, apresentando


excelentes reservas de petróleo, diamantes, minério de ferro de primeira qualidade, cobre,
manganês, fosfato, sal e urânio.

O território de Angola é composto, em sua quase totalidade, por solos do tipo lateríticos, tal
qual acontece no Brasil. Esta semelhança também ocorre em termos dos recursos minerais.
Entretanto, a guerra civil desestruturou a economia de Angola. Pode-se verificar atualmente a
dificuldade desse país em disputar o mercado agropecuário internacional. O Brasil poderá
exportar alimentos e produtos industrializados em troca do petróleo angolano.

A infraestrutura angolana esteve comprometida. As rodovias foram interditadas pelas minas e


pelas destruições; as ferrovias, inoperantes; e o transporte aéreo ficou reduzido às poucas pistas
de pouso que não foram destruídas.

42
• O relacionamento entre Angola e o Brasil

O Brasil ainda não completara meio século de ocupação portuguesa e o tráfico de escravos já
se institucionalizara, proporcionando bons lucros à Coroa Portuguesa. Provavelmente, este fato
constituiu-se na principal causa da substituição do elemento indígena pelo africano na
composição da mão-de-obra colonial do Brasil.

Na administração ultramarina portuguesa, a costa atlântica da África estava vinculada ao Estado


do Brasil. Esta região esteve mais ligada ao Brasil do que o Estado do Grão-Pará e do Maranhão,
que se subordinava diretamente a Lisboa. Isso se explica pela adversidade das correntes
marítimas existentes no litoral leste- - oeste do Brasil, que sobrepujava a contiguidade territorial
dos dois estados lusos na América.

Posteriormente, já no século XX, os compromissos do Brasil com Portugal dificultaram o apoio


brasileiro à causa nativista angolana. Enquanto na XV Assembleia da ONU, em abril de 1961,
o Brasil abstinha-se de votar a favor dessa causa, o Embaixador Afonso Arinos de Melo Franco,
na mesma organização, aconselhava: seria fundamental que o governo de Portugal tomasse a
iniciativa no movimento de dar liberdade a Angola, para transformá-la num país independente
tão amigo de Portugal como o é o Brasil. (ARINOS, 1961)

Com a extinção do império ultramarino português, o Brasil, tornou-se o primeiro país a


reconhecer o governo marxista de Agostinho Neto (MPLA), antes mesmo da Ex-URSS.
Actualmente, os angolanos acenam com incentivos fiscais e atrativos especiais para os
investidores internacionais.

A recuperação da infra-estrutura angolana apresenta oportunidades para o comércio


internacional do Brasil nas áreas do ensino, dos transportes rodoviário e ferroviário, da
mineração, da construção civil, da geração de energia, da agropecuária e da saúde.

Em verdade, o Brasil é uma nação de vastos horizontes. O Atlântico Sul o conduz à África e,
particularmente, a Angola, a que tudo o liga, desde as similitudes geográficas, até as forças
étnicas, as raízes históricas e os interesses econômicos. Esse oceano sugere ao Brasil uma
política que melhore as suas condições de segurança, de proteção e as suas alianças econômicas
e de amizade. Assim, o Brasil, pela sua extensão e posição no Atlântico Sul, aparece como um
protagonista privilegiado nas relações internacionais com a nação angolana.

43
• Presença institucional do Brasil em Angola

O Brasil teve uma aproximação oficial mais intensa, após a independência de Angola, fato este
bem caracterizado pela iniciativa ao ser o primeiro país a reconhecer o novo governo instituído.

Uma série de acordos e protocolos foram firmados entre os governos dos dois países desde
então, destacando-se os seguintes15:

• Acordo de Cooperação Cultural e Científica (1980);


• Acordo de Cooperação Econômica, Científica e Técnica (1982);
• Protocolo de Intenções na Área de Desenvolvimento Educacional (1991);
• Protocolo de Intenções sobre Cooperação Técnica no Domínio de Energia Elétrica e
Águas (1992);
• Acordo sobre a Supressão de Vistos em Passaportes Diplomáticos e de Serviços (1999);
• Protocolo de Intenções para Cooperação Técnica no Domínio da Segurança e da Ordem
Pública (2000);
• Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Econômica, Científica e Técnica para
Apoiar o Desenvolvimento do Programa Nacional "Escola para Todos", em sua fase
Emergencial (2002-2015), (2002);
• Protocolo de Cooperação Técnica na Área do Meio Ambiente (2003);
• Protocolo de Cooperação sobre Cooperação Técnica na Área de Agricultura e Pecuária
(2003);
• Protocolo de Cooperação Técnica para apoio ao Instituto de Formação da
Administração Local (IFAL) (2003);
• Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Econômica, Científica e Técnica para
a Implementação do Projeto "Fortalecimento Institucional dos Institutos de Investigação
Agronômica e Veterinária de Angola" (2003);
• Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Econômica, Científica e Técnica para
as Áreas do Trabalho, Emprego e Formação Profissional (2003);
• Programa de Cooperação Cultural para 2004 a 2006 (2003).

15
Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Disponível em http//www.mre.gov.br/. Acesso em 25/04/2022.
44
A importância que o Brasil empreende nesta aproximação está bem caracterizada pelas recentes
visitas oficiais à Angola, realizadas pelos dois últimos presidentes.

Durante a visita do Presidente Fernando Henrique Cardoso a Luanda, em novembro de 1996,


foi firmado o Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Cooperação Econômica, Científica e
Técnica na Área de Formação Profissional, com vistas a dar início à implementação do projeto.
O projeto está sendo executado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI),
envolvendo recursos da ordem de US$ 1,845,000.00. A estimativa da participação brasileira,
com custos compartilhados da Agência Brasileira de Cooperação e do SENAI, foi de US$
1,330,000.00. A contrapartida angolana, pelo Ministério da Administração Pública, Emprego e
Segurança Social (MAPESS), foi de US$ 514,280.0016.

Em novembro de 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou sua primeira visita ao
continente africano, com destaque para suas atividades em Angola. Naquela oportunidade,
afirmou, na abertura de reunião entre presidentes e ministros de Angola e Brasil, em Luanda,
que irá realizar políticas afirmativas concretas. O encontro marcou o início oficial da visita de
Estado da comitiva comandada por Lula àquele que é historicamente um dos mais importantes
parceiros do Brasil no continente africano.

Entre as principais ações estão os acordos de cooperação bilateral. O intuito é auxiliar a


reconstrução nacional do país que encerrou uma sequência de conflitos que durava 41 anos.

A educação foi o mote principal dos acordos diplomáticos. Inclui a reconfiguração do sistema
escolar do país, arrasado pelos conflitos, bem como a qualificação de professores, por meio do
aprofundamento do apoio ao projeto angolano "Escola para Todos", que o Brasil auxilia desde
200217.

Também haverá ampliação da colaboração no campo da formação profissional, com


participação de entidades como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que
atua em projetos em Angola.

16
Disponível em http://www.abc.mre.gov.br/cooptec/ctpd_cf_ba.htm. Acesso em 14/04/2022.
17
20 Pravda Online, disponível em
http://64.233.167.104/search?q=cache:2QPRyY0c5NcJ:port.pravda.ru/angola/2003. Acesso em 15/04/2022.
45
A administração pública é outra área a ser beneficiada. O objectivo é formar quadros para o
Estado angolano, que, após a consolidação do regime democrático no País (até hoje só houve
eleições multipartidárias em 1992), tem carência de profissionais especializados.

Os novos acertos alcançam ainda a agricultura e a pecuária, por meio da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e de programas de apoio à extensão rural e
desenvolvimento sustentável. Desportos, cultura, ambiente e pesquisa em ciência e tecnologia
estão no rol dos sectores a receberem colaboração brasileira – esta última, com a previsão de
participação da Petrobras e da Agência Nacional do Petróleo.

Na área de saúde, o governo brasileiro anunciou a intenção de novos acordos no campo da


imunização, combate à malária e à SIDA – principais flagelos que assolam o país – embora
esses temas não constem, ainda, da lista final de acordos assinados.

• Participação na área económica

Os interesses econômicos brasileiros em Angola tiveram significativo aumento de sua


expressão, após a Independência em 1975 e, particularmente, após o recente término da guerra
civil, com a consequente retomada da normalidade política.

Na Assembleia Nacional e no encerramento das actividades da Missão Empresarial em Angola,


durante a visita presidencial de 2003, o Presidente do Brasil anunciou as medidas mais
esperadas pelos cerca de cem empresários brasileiros em sua companhia no périplo por cinco
países africanos. A mais importante delas é o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento
Económico e Social (BNDES) ao estabelecimento de empresas brasileiras em Angola. Segundo
informações do banco, a linha não tem limite definido ainda e vai depender da demanda dos
projetos.

Em seu discurso, o presidente brasileiro mencionou especificamente a importância das obras


de infra-estrutura nesse âmbito e recordou que nos tempos coloniais o fluxo de embarcações
entre Brasil e África era intenso:

"O Atlântico nos une. Durante três séculos, houve mais naus viajando de Luanda ou Bengala
ao Rio de Janeiro, Salvador ou Recife do que em qualquer outra rota", ressalvando de que "essas
naus, no entanto, carregavam tristeza, violência e medo", em referência ao comércio de
escravos. (Silva, Luis Inácio, Pravda OnLine, 2003).

46
A reivindicação dos empresários brasileiros em Angola da implantação de agências de bancos
públicos como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil recebeu sinalização do
presidente. Ele reconheceu a carência: "têm razão os que reclamam da inexistência de canais
bancários diretos, que facilitem as transferências financeiras entre nossos países".

No âmbito do comércio, o Presidente Lula comprometeu-se:

Estamos também dispostos a ampliar o acesso dos países africanos a nosso mercado. Vamos
estudar fórmulas compatíveis com as regras da OMC, que permitam aos produtos dos países
mais pobres a entrada desimpedida no mercado brasileiro. (SILVA, Luís Inácio, Pravda
OnLine, 2003).

Foi divulgado ainda que o governo já estuda a medida no nível legal e que já existe um
arcabouço jurídico para tanto, no Sistema Geral de Preferências entre Países em
Desenvolvimento.

Várias empresas brasileiras, estatais e privadas, participaram nestes últimos anos de atividades
econômicas e comerciais. Serão comentadas nos próximos itens desta monografia, alguns
aspectos da participação de três importantes e potentes empresas brasileiras em Angola: a
Petrobras, a Odebrecht e Furnas Centrais Elétricas.

• A Petrobras em Angola

A Petrobras pretende investir bilhões de dólares em Angola nos próximos quatro anos se forem
encontradas oportunidades mais lucrativas.

Esperamos investir bilhões de dólares em Angola se tivermos sorte de encontrar o activo certo
e as descobertas começarem a aparecer, declarou o diretor das operações angolanas da
Petrobras, Renato de Azevedo, em janeiro de 2004.

A empresa está procurando diferentes oportunidades além dos actuais blocos de exploração
onde atua, como o bloco 2, onde a produção está caindo, e no bloco 34, onde os parceiros da
empresa estão pouco otimistas em relação às reservas.

47
No primeiro bloco, onde opera em parceria com a Chevron Texaco, a Petrobras possui 27,5 %
dos 43 mil barris produzidos diariamente. No Bloco 34, administrado pela estatal SONANGOL,
a companhia brasileira tem participação de 15 %18.

Activa em Angola desde 1979, a Petrobras está interessada na parte sul do país, próximo ao
Kwanza-Sul e Benguela, onde a maioria dos blocos de exploração continuam abertos.

Embora as condições geológicas sejam difíceis nestas regiões, a reconhecida habilidade da


Petrobras em análise sísmica pode trazer novas descobertas.

A Petrobras, localizada entre as 15 maiores petrolíferas do mundo, também espera conseguir os


blocos de outras petrolíferas, que perderam o direito de explorar petróleo depois de suas
licenças terem expirado e espera ser operadora de uma terceira parceria e está negociando com
a SONANGOL.

Apesar da grande concorrência com as quatro gigantes petrolíferas que dominam Angola –
Chevron Texaco, Total, Exxon Mobil e BP – a Petrobras acredita nestas novas oportunidades e
poderá deslocar os investimentos de 2,4 bilhões de dólares que havia destinado à sua unidade
na Nigéria.

• Odebrecht e o gigantesco projeto capanda

A Empresa Odebrecht está há duas décadas em Angola, participando de seu desenvolvimento


económico, social e cultural. Através da Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO), procura, ao
longo destes anos, incrementar a sua política de parceria com o Governo, em programas
voltados ao desenvolvimento sustentado e à geração de riquezas para o país.

Ao iniciar a construção da Hidroelétrica de Capanda, em 1984, fruto de acordo entre os


governos angolano, russo e brasileiro, criou-se a oportunidade para o estreitamento das relações
política, econômica, social e cultural entre esses países.

Brasil e Angola mantêm um Memorando de Entendimento que suporta os financiamentos de


bens e serviços brasileiros para a realização de projetos em Angola.

Actualmente, existem em andamento projetos de grande importância econômico- social para


Angola, financiados pelo Governo Brasileiro: Projeto Capanda, Águas de Luanda, Saneamento

18
Dados obtidos da Visão News, disponível em
http://64.233.167.104/search?q=cache:j15kzJ42a_gJ: www.visaonews.com. Acesso em 10/04/2022.
48
de Luanda e Canal de Matala. Participa também em conjunto com outras empresas com atuação
na mineração de diamantes.

No setor de óleo e gás, participa da concessão do Bloco 16, em associação com a Sonangol e
CNR-Canadian Natural Resources.

Dos projetos mencionados, merece destaque uma descrição mais detalhada de Capanda. Para
deflagrar o maior projeto de engenharia já empreendido no país - o aproveitamento
Hidroelétrico de Capanda – o governo de Angola estabeleceu com a Odebrecht uma parceria
que teve reflexos em diversas fases da obra. Além de apoiar o cliente na obtenção de
financiamento e acordos comerciais para tornar viável o projeto, a Odebrecht desenvolveu
pesquisas tecnológicas que reverteram em ganhos de produtividade e economia na sua
construção.

Outro resultado foi o processo de integração pelo qual o consórcio formado pela Odebrecht e
pela empresa russa Tecnopromoexport promoveu a transferência de tecnologia para o país, com
o treinamento de mais de 6 mil angolanos para a realização dos trabalhos especializados. O
início da construção da Hidroelétrica de Capanda foi o marco do processo de industrialização
do país.

O aproveitamento Hidroelétrico de Capanda, localizado no Rio Kwanza, na Província de


Malange, produzirá em sua primeira etapa, 260 MW, energia necessária para a retomada do
processo de desenvolvimento social e econômico de Angola. Quando estiver totalmente pronta,
sua capacidade subirá para 520 MW. A barragem tem 130m de altura e 1.470m de
comprimento, formando um lago de 170 quilômetros19.

• A participação de furnas

Em 1984, a Technopromexport (TPE) comunicou às autoridades angolanas que não estava


preparada para assumir o gerenciamento comercial da execução das obras civis de Capanda,
conforme havia comprometido no “Contrato Matriz”.

Diante desse fato, o Ministério de Energia de Angola consultou formalmente, a Electrobrás


sobre a possibilidade de substituir a TPE na execução da tarefa de Gerenciamento Comercial

19
Dados obtidos da REVISTA DA ODEBRECHT – Odebrecht em Angola - Edição Especial, 2003.
49
das Obras Civis. A Eletrobras respondeu favoravelmente à pretensão angolana e indicou Furnas
Centrais Elétricas20 S.A. para desempenhar as funções de gerenciamento.

Por ocasião do primeiro contacto feito por Electrobrás e Furnas com as autoridades angolanas,
ficou acordado que Furnas enviaria, inicialmente, uma equipe técnica para analisar e negociar
as condições do contrato a ser firmado, bem como assessorar na estruturação do órgão
responsável pela administração do empreendimento, o GAMEK – Gabinete de aproveitamento
do médio kwanza. A partir de então, foram assinados vários contratos entre Furnas e GAMEK,
destacando-se o contrato de consultoria e assessoria técnica e o contrato de cedência de pessoal.
O primeiro abrange as seguintes principais atividades:

➢ Análise, recomendação ou aprovação de documentos técnicos;


➢ Avaliação e verificação da alocação de recursos para a construção;
➢ Coordenação e controle de qualidade das obras de infra-estrutura;
➢ Análise e controle de estoques;
➢ Inspeção da qualidade de materiais e equipamentos;
➢ Assessoria nas áreas jurídicas, de seguros, de segurança e higiene de trabalho, de política
habitacional, de política de saúde e de conservação do meio ambiente;
➢ Treinamento de pessoal.

O Contrato de Cedência de Pessoal abrange as actividades referentes ao gerenciamento do


Empreendimento, de responsabilidade do GAMEK, a serem executadas por pessoal de Furnas
cedido ao GAMEK e sob sua responsabilidade. Os trabalhos relacionados à construção da Usina
iniciaram-se, em Luanda, em 1985, com obras de infra-estrutura, dos almoxarifados, dos
galpões de equipamentos, da vila residencial e da clínica médica.

Em 1991, Furnas firmou um contrato específico com a GAMEK para o gerenciamento dos
serviços de engenharia de projecto, construção e comissionamento da Linha de Transmissão
Capanda-Cambambe.

A partir de 1992, com o reinício dos conflitos militares em Angola, as actividades de construção
da Usina e da linha de transmissão capanda-cambambe foram interrompidas, sendo reiniciadas
recentemente.

20
REVISTA DE FURNAS – Projeto Capanda / Angola - Edição Especial, 2003.
50
As actividades de cooperação internacional de Furnas não se limitaram ao nível contratual. A
facilidade de relacionamento entre os dois povos permitiu outras ações, como destaca Jorge
Luis da Silva21, Engenheiro de Furnas que trabalhou em Angola nos anos 1991/92:

“Houve um período, durante a construção da hidroelétrica, em que cerca de 5.000


angolanos e suas respectivas famílias receberam apoio em assistência social, médica
e odontológica. A população local nos tratava com muito respeito e camaradagem.
Um fator que facilitou enormemente esta integração foi a linguagem comum e a
identidade de alguns costumes. (...) foi uma experiência extremamente gratificante,
não só do ponto de vista profissional como também pessoal, ao termos a convicção de
que colaboramos para o desenvolvimento de nossos irmãos angolanos.” (Jorge Luís
da Silva, entrevista concedida a revista brasileira visão militar em 12 de Maio de
2019).

• A Zona de Paz e de Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS) e a Comunidade dos


Países da Língua Portuguesa (CPLP)

Na expressão política do seu poder nacional, o Brasil trabalha para implementar a formação de
blocos regionais de cooperação com as nações amigas. Em relação à África, interessa ao País a
consolidação da Zona de Paz e de Cooperação do Atlântico Sul ( ZOPACAS ) e da Comunidade
dos Povos de Língua Portuguesa (CPLP).

A primeira destina-se a criar uma área de segurança no Atlântico Sul, a fim de garantir as
melhores condições de paz e de prosperidade às nações atlânticas situadas ao sul do paralelo do
Equador.

A CPLP integra um bloco de cooperação económica integrando as nações de língua portuguesa:


Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e S. Tomé-Príncipe.
Portugal proporcionará ao Brasil uma porta de entrada no Mercado Comum Europeu; enquanto
os mercados das porções atlântica e austral do continente negro ser-lhe-ão abertos por Angola.

A criação da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP) foi mais um importante
passo no sentido de criar oportunidades que facilitem uma maior aproximação do Brasil com
Angola.

• Tropas brasileiras em missão de paz em Angola: Histórico das forças de paz do


Brasil

Baseada nos preceitos do artigo 4º da Constituição Federal, a participação brasileira em missões


de paz só ocorre após o atendimento de algumas imposições, cuja principal é a aceitação, por

21
Ver Entrevista de Da Silva, Jorge, 2004, no Anexo II desta monografia.
51
parte dos países ou das facções envolvidas no conflito, da presença de observadores ou tropas
estrangeiras em seu território.

Essa conduta da política externa brasileira vem sendo adotada há longo tempo. Assim, a
primeira participação do Exército Brasileiro ocorreu em 1947, quando observadores militares
foram enviados para os Balcãs. Durante as décadas de 50 e 60, viria a participar com efetivos
maiores, integrando forças internacionais de paz, sob a égide da ONU no Oriente Médio e da
OEA no Caribe. A mais longa missão foi no Oriente Médio e durou de 1957 a 1967, com a
participação de 600 homens, em média, que se revezaram em 20 contingentes.

Nas décadas seguintes, foram bastante reduzidas as missões, até reiniciarem em 1989, quando
inúmeras foram abertas. Em 1994, foram enviadas tropas (uma companhia) para auxiliar a
manutenção da paz em Moçambique. Em setembro de 1995, o Exército enviou para Angola um
contingente composto por mais de mil homens (um batalhão, uma companhia de engenharia e
um posto de saúde). Nos últimos anos, militares brasileiros vêm prestando serviços às Nações
Unidas, como observadores, na África, na América Central, na Europa, e na Ásia, e cooperando
para a solução pacífica do conflito fronteiriço entre o Equador e o Peru. Recentemente, o Brasil
tem enviado tropa de paz para o Timor Leste e, em maio do presente ano, enviou significativo
contingente militar para o Haiti.

A par do excelente desempenho demonstrado pelas tropas e pelos observadores brasileiros em


missões no exterior, o Exército tem participado de exercícios conjuntos com outros países.

A participação em missões de paz vem trazendo crescente prestígio à política externa e ao


Exército Brasileiro, aumentando a projeção nacional no cenário mundial.

• Atribuições de uma força de Paz

A Política Externa Brasileira para Operações de Paz é fundamentada na Política de Defesa


Nacional, consoante com a diretriz de participar de Operações Internacionais de Paz, de acordo
com os interesses brasileiros.

Quando instaurada, uma Operação de Paz deve ser regida pelos princípios de imparcialidade,
aplicação do mínimo de força necessária, negociação com todas as partes envolvidas e
intermediação na busca de soluções, evitando-se a discussão de problemas e responsabilidades.

52
O Brasil considera que as Operações de Paz são instrumentos úteis para solucionar conflitos e
ajudam a promover negociações político-diplomáticas, mas não podem substituí-las; a solução
definitiva sempre dependerá da vontade política das partes.

O Brasil há muito tempo vem contribuindo com o esforço de organismos internacionais de paz,
quer pelo envio de observadores militares desarmados, quer pela inserção de tropas levemente
armadas nas áreas conflagradas. Os objetivos têm sido monitorar o cessar-fogo entre as partes
envolvidas e desenvolver as melhores condições para o pleno restabelecimento da paz regional.

• Missões de paz em Angola

O Brasil teve participação militar intensa durante o período em que foi possível o emprego de
Força de Paz em Angola. Nesta fase, destacam-se os seguintes períodos:

➢ Primeira Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola - (UNAVEM I) A


Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola I transcorreu de 03/01/89 a
31/05/91 (término do mandato) tendo sido implementada para a constatação
internacional da retirada dos efetivos cubanos e sul-africanos do território angolano.
Contou com a participação de oito observadores e militares de Saúde do Brasil (EB-12),
encarregados do apoio específico aos integrantes da missão.

Além disso, durante todo o mandato da UNAVEM I, o General-de-Brigada Péricles Ferreira


Gomes exerceu o comando do contingente de 70 observadores militares das Nações Unidas.
Comandada por oficial-general brasileiro, teve pleno sucesso, pois propiciou a assinatura do
Acordo de Paz entre o governo daquele país e a União Nacional para a Independência Total de
Angola (UNITA), em maio de 1991, e, por conseguinte, a implementação da UNAVEM II.

➢ Segunda Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola - (UNAVEM II) O


Brasil continuou contribuindo para o segundo mandato da Missão de Verificação das
Nações Unidas em Angola, de maio de 1991 a fevereiro de 1995, com oito observadores
militares, nove observadores policiais, uma unidade médica e, para monitorar as
eleições de setembro de 1992, quatro eleitorais (funcionários do TSE). O General-de-
Brigada Péricles Ferreira Gomes continuou exercendo o comando do contingente de
observadores militares nas Nações Unidas de maio a setembro de 1991.

53
➢ Terceira Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola - (UNAVEM III) Em
decorrência da assinatura dos novos acordos de paz, em 1995, em Lusaka, pelo governo
e a UNITA, foi implementada a Missão de Verificação das Nações Unidas para Angola.

Esta teve por finalidade a verificação do cessar-fogo, a desmobilização ou a reintegração das


tropas das partes em conflito às forças armadas angolanas e a realização do segundo turno das
eleições gerais no país.

De agosto de 1995 a julho de 1997, o Brasil contribuiu com um batalhão de infantaria (800
homens), uma companhia de engenharia (200 homens), dois postos de saúde avançados (40
médicos e assistentes) e aproximadamente 40 oficiais do Estado-Maior para o terceiro mandato
da Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola.

Durante todo o período da missão, o Brasil também contribuiu com uma média de 14
observadores militares e 11 observadores policiais e chegou a ser o maior contribuinte de tropas
para a UNAVEM III, que durante quase dois anos foi a maior operação de paz das Nações
Unidas.

A participação Brasileira na UNAVEM III fez com que o Brasil ocupasse, no início de 1996, a
posição de quarto maior contribuinte de tropas para operações de paz das Nações Unidas.

Participaram do estado-maior do batalhão brasileiro dois militares argentinos, a convite do


Brasil.

➢ Missão de Observação das Nações Unidas em Angola - (MONUA II)

O Brasil contribuiu, durante todo o mandato da Missão de Observadores das Nações Unidas em
Angola (de julho de 1997 a fevereiro de 1998) com uma média de quatro observadores militares,
aproximadamente 20 observadores policiais e dois oficiais que atuaram no Estado-Maior da
missão. Em março de 1999, o Brasil passou a ceder uma unidade médica, composta por 15
militares do Exército, para prestar apoio ao pessoal das Nações unidas em Luanda durante o
período de liquidação técnica da MONUA.

• Actividades da tropa Brasileira em Angola.

Inicialmente, as atividades da tropa foram basicamente militares: escolta, patrulha, segurança


de instalações, check-point (bloqueio de estradas e ruas), patrulha de reconhecimento, controle
de área, etc. Entretanto, por tratar-se de uma missão de paz, foi despendida uma parcela
54
considerável do tempo em missões de caráter humanitário: vacinação, distribuição de comidas
e remédios, pelotão mirim, atendimento médico diverso, recuperação de estradas e instalações,
distribuição de água, promoção de cursos como pintura, eletricidade, horta, além da realização
de 2 simpósios: um de educação física e outro de pedagogia.

As declarações do Gen Adhemar Machado22, Comandante do Terceiro Contingente Brasileiro


em Angola, no período de agosto de 1996 a abril de 1997, reforçam este significativo trabalho
de cooperação realizado pela tropa brasileira:

“...em diversas ocasiões pude constatar o grande espírito de solidariedade do soldado brasileiro,
sua habilidade no trato com as pessoas, e uma singular afabilidade. Costumo destacar a
disposição dos nossos militares em apoiar creches, asilos, escolas e hospitais, seja com
atividades de recuperação de instalações, distribuição de água, seja realizando atividades de
caráter psicossocial.

Todas as vezes que o Brasil se faz representar em missões de paz, seja sob a égide da
ONU, seja sob a égide da OEA, ele se projeta como nação que busca a convivência
pacífica e harmônica entre os povos, um traço marcante do nosso perfil como povo.
Isto representa um belo exemplo de respeito e cooperação no concerto das nações. No
meu ponto de vista, a nossa prioridade deve se direcionar para missões em países de
língua portuguesa e países do contexto latino-americano. Temos muito a mostrar ao
mundo.” (Adhemar Machado entrevista concedida a revista brasileira visão militar em
12 de Março de 2019).

A participação brasileira nas operações de paz em Angola materializou o reinício e a


intensificação da cooperação nacional para com os esforços da ONU em prol da paz mundial.
No âmbito de sua política externa, o Brasil está trabalhando para integrar, como Membro-
Permanente, o Conselho de Segurança da ONU. Para tanto, o País incrementou a sua
participação nas resoluções desse conselho, priorizando os assuntos inerentes à África Austral,
em especial, à Angola.

22
Ver Entrevista de Machado, Adhemar, 2004, no Anexo I desta monografia.
55
VI. CONCLUSÕES

Angola foi a última colônia portuguesa a se tornar independente. Mesmo assim, a assinatura da
independência em 1975 deu início a uma guerra entre os movimentos sociais pelo poder, que
durou até 2002. Se forem considerados os movimentos pela independência, iniciados em 1961,
o país esteve mergulhado em conflitos por mais de 40 anos, até o recente Acordo de Paz
celebrado em 2002.

O Brasil é um país sem conflitos armados com outros países, voltado para o seu
desenvolvimento e para o resgate da imensa dívida social que tem com o seu povo. Para tanto,
torna-se fundamental a concretização de um ambiente de paz, de confiança e de respeito às
normas de Direito nas suas relações internacionais.

Dentro deste contexto, esta monografia apresentou um quadro atualizado dos interesses e do
grau de relacionamento e de cooperação entre Brasil e Angola.

Pode-se concluir que o Estado Angolano não conheceu a paz durante longo período. O seu povo
sofre ainda as amarguras do interminável conflito. Há ainda a deficiência de trabalho,
alimentação, energia, transportes, saúde pública. Há, porém, a esperança de que com o fim da
guerra civil em 2002, a paz em Angola seja consolidada e duradoura, permitindo a resolução
de seus graves problemas internos.

As teorias de integração, particularmente, as teorias funcionalistas e neofuncionalista,


evoluíram e modificaram seus objectivos. Estas teorias e as actividades de integração e de
cooperação internacional sofreram e ainda sofrem influência direta das diferentes fases da
conjuntura mundial, sendo bem identificadas as mudanças entre o período da Guerra Fria e o
período pós-Guerra Fria.

Conclui-se também que a cooperação internacional entre Brasil e Angola, foi intensificada nos
últimos anos. Algumas actividades na área económica podem ser destacadas, com a presença
de empresas de vulto como a Petrobras, a Odebrecht e Furnas Hidroelétricas, que participam
intensivamente na reconstrução de Angola. Também foi importante a participação de tropas
brasileiras como parte integrante das Forças de manutenção de Paz da ONU, prestando apoio
no sentido de evitar ou diminuir a intensidade dos conflitos.

56
O fim da guerra civil está permitindo a reconstrução política, econômica e social de Angola, o
que possibilita o restabelecimento da soberania do Estado e a consolidação da nação angolana.
O Brasil está sendo um ator privilegiado nesse processo, em razão de suas afinidades históricas
e culturais.

Paralelamente ao adensamento das relações políticas, está presente, tanto em Brasília quanto
em Luanda, o reconhecimento mútuo da necessidade de um relacionamento franco e construtivo
entre os dois Estados.

As identidades histórica e cultural, e o oceano comum, que os une, constituem factores de


sucesso para os programas de desenvolvimento existentes em ambos os países, bem como da
manutenção da paz na região do Atlântico Sul, conforme atesta o decidido apoio de ambos os
países às iniciativas da Zona de Paz e de Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS) e da
Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa (CPLP).

A aproximação com Angola, e com outros países da África, com certeza terá reflexos positivos
para o Brasil na busca a sua ascensão à condição de membro- permanente do Conselho de
Segurança da ONU. A firme e correta participação do Brasil durante todo o período da crise
angolana permitiu-lhe obter o respeito dos povos africanos que se traduzirá em votos de apoio
às posições brasileiras nos grandes foros internacionais. No campo económico, a nação
angolana representa um grande mercado para os produtos e serviços do Brasil e uma fonte de
matérias-primas para o parque industrial brasileiro.

Finalmente, como consequência das pesquisas realizadas, pode-se comprovar que, na área da
cooperação internacional, a aproximação do Brasil com Angola foi bastante intensificada a
partir de 1975, devendo ser mantida e até aumentada no futuro, contribuindo desta forma para
a consolidação dos interesses nacionais e estratégicos dos dois países.

57
VII. RECOMENDAÇÕES

Para que o tema seja disseminado e continue em discussão, recomenda-se:

• Os dois países devem promover o aprimoramento dos mecanismos de cooperação de


forma a tornar mais célere a execução dos acordos assinados;

• Promover o intercâmbio de delegações que possam identificar novas áreas de


cooperação;

• Aumentar o estudo da perspectiva histórica das relações entre os dois estados;

58
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59
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doFinal_ampm=&palavra_chave=&periodoFinal_year=0000&periodoFinal_minute=00&peri
odoFinal=&form.button.Search=Pesquisar&periodoInicial_hour=00&periodoFinal_hour=00

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